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INTRODUÇÃO
Marcadores: CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO ; HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO ; FLEXIBILIZAÇÃO ; DESREGULAMENTAÇÃO ; SUBDIVISÃO DO DIREITO DO TRABALHO ; AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO .
Material de estudo: ü Doutrina (++)
O objeto do nosso estudo é o trabalho, razão pela qual se faz imprescindível, para início de conversa, conhecer o seu significado.
Em tempos remotos, a ideia de trabalho era ligada a castigo, sofrimento, e mesmo à tortura. Com o advento da sociedade contemporânea, entretanto, o trabalho passou a designar toda forma de dispêndio de energia (seja ela física ou intelectual) pelo homem, com a finalidade de produzir bens ou serviços.
É a partir desta noção moderna de trabalho que se constrói o Direito do Trabalho.
1.1. CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO
Pode-se conceituar Direito do Trabalho como o ramo da ciência jurídica que estuda as relações jurídicas entre os trabalhadores e os tomadores de seus serviços e, mais precisamente, entre empregados e empregadores.
1.2. FUNDAMENTO DE EXISTÊNCIA DO DIREITO DO TRABALHO
Diante do mencionado conceito surge uma primeira indagação: não seria o Direito Civil o ramo da ciência jurídica apropriado para este estudo?
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2 DIREITO DO TRABALHO – Ricardo Resende
A resposta é negativa, e a explicação é simples. Com efeito, o Direito Civil não foi capaz de tutelar adequadamente as relações entre empregados e empregadores, pelo simples fato de que há entre estes atores sociais uma enorme desigualdade econômica. O trabalhador é hipossuficiente, no sentido de que, sozinho, não é forte o suficiente para negociar livremente a disposição de sua energia de trabalho.
Desse modo, o Direito do Trabalho surgiu, no contexto histórico da sociedade contemporânea, a partir da Revolução Industrial, com vistas a reduzir, por meio da intervenção estatal, a desigualdade existente entre capital (empregador) e trabalho (empregado).
É exatamente daí que se extrai a principal característica do Direito do Tra-balho: a proteção do trabalhador (e, notadamente, do trabalhador subordinado, que é o empregado, como será estudado adiante).
1.3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO
O desenvolvimento do Direito do Trabalho se deu a partir do século XIX, principalmente em decorrência dos movimentos operários, desencadeados visando à melhoria das condições de trabalho, limitação da jornada de trabalho, proteção ao trabalho da mulher e das crianças, entre outras reivindicações.
Assim, somados a pressão do movimento operário, os movimentos interna-cionais em defesa dos direitos humanos e a atuação da Igreja, encontrou-se campo fértil para a intervenção do Estado na relação contratual privada, a fim de proteger a parte mais fraca da relação de emprego (trabalhador hipossuficiente).
Este movimento normativo-regulador, consolidado na primeira metade do século XX, coincide historicamente com o reconhecimento dos direitos humanos de segunda dimensão (direitos sociais) e com o Estado de Bem-Estar Social (welfare state), noções estas emprestadas do Direito Constitucional.
A partir da década de 1970, entretanto, o modelo baseado no Estado de Bem--Estar Social entrou em crise. O grande desenvolvimento tecnológico, especialmente nas áreas de telecomunicações e informática, consagrou a chamada globalização econômica.
Com o fenômeno da globalização, que facilitou a migração das unidades de pro-dução para áreas periféricas e países em desenvolvimento, onde os custos da produção são visivelmente menores (por exemplo, a China), o capital tem apresentado como “so-lução” a flexibilização das relações trabalhistas, bem como a própria desregulamentação.
Na contramão da tendência mundial, foi promulgada, no Brasil, a CRFB/88. Em que pese alguns excessos e inconsistências, a CRFB/88 constitui um importan-tíssimo instrumento garantidor dos direitos mínimos do trabalhador, do chamado mínimo existencial, norteado pelo princípio da dignidade humana.
Não obstante a ampliação das garantias dos direitos mínimos dos trabalhadores levada a efeito pela Constituição de 1988, o fato é que o capitalista continua atuando
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3Cap. 1 • INTRODUÇÃO
no sentido da desregulamentação trabalhista, sugerindo, em posição extrema, o ve-lho dogma liberal de que a relação de trabalho deveria ser regida por um simples contrato de prestação de serviços, nos moldes do direito comum.
1.4. FLEXIBILIZAÇÃO, DESREGULAMENTAÇÃO E LIMITES
A propósito, faz-se relevante distinguir flexibilização e desregulamentação. Na flexibilização o Estado mantém a intervenção nas relações de trabalho,
mediante o estabelecimento do chamado mínimo existencial, mas autoriza, em determinados casos, exceções ou regras menos rígidas, de forma que seja também possível a manutenção da empresa e, afinal, dos empregos. É o que consagra, por exemplo, o preceito constitucional que garante a irredutibilidade salarial, mas ressalva a possibilidade de flexibilização, mediante negociação coletiva (art. 7º, VI, CRFB/88).
A desregulamentação, por sua vez, pressupõe a completa retirada da interven-ção estatal das relações trabalhistas, deixando que as partes estipulem livremente os contratos, conforme as leis de mercado.
Maurício Godinho Delgado1 ensina que, por imposição da ordem constitucio-nal vigente, somente são passíveis de flexibilização os direitos de indisponibilidade relativa, assim considerados aqueles de caráter privado, não previstos constitucio-nalmente ou em lei (como, por exemplo, os estipulados em instrumento coletivo, regulamento de empresa ou contrato de trabalho). Para o autor, os direitos previstos na Constituição, nos princípios, leis, decretos e normas de segurança e saúde do trabalhador são direitos de indisponibilidade absoluta, pois garantem o chamado patamar civilizatório mínimo (ou mínimo existencial, ou garantia de existência digna).
Neste sentido, a célebre frase do Abade Lacordaire2: “entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o patrão e o operário, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”.
Dicas para as provas discursivas:
A flexibilização e a desregulamentação das relações de trabalho constituem tema interessante para eventual questão discursiva. Além de conhecer a distinção entre as figuras, cabe ao candidato conseguir estabelecer a relação entre este tema e outros afins, como, por exemplo, os limites materiais da negociação coletiva (ver item 29.4.12), os princípios do Direito do Trabalho (ver Capítulo 3 e item 29.2.7, que trata do princípio da adequação setorial negociada), as mazelas do sistema sindical brasileiro (ver Capítulo 29) e as regras de aplicação do Direito do Trabalho no tempo (ver item 4.3.1).
Bibliografia complementar: há vários artigos sobre o tema disponíveis gratuitamente no site do TST (<http://www.tst.jus.br/web/biblioteca/revista-do-tst>).
1 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 201.2 Abade Lacordaire foi um francês que viveu no século XIX, tendo sido religioso, acadêmico, professor e educador.
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1.5. AUTONOMIA E SUBDIVISÃO
Não restam maiores controvérsias quanto à autonomia do Direito do Trabalho, ou seja, quanto ao seu posicionamento como ramo autônomo da ciência jurídica.
Por sua vez, para a maioria da doutrina, o Direito do Trabalho é subdividido em Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho. O Direito Individual trata das relações entre empregado e empregador, consideradas individualmente, ao passo que o Direito Coletivo trata das relações de um determinado grupo, classe ou categoria abstratamente considerada, que se reúne basicamente através dos sindicatos.
Embora alguns defendam a autonomia do Direito Coletivo do Trabalho, não é esta a posição dominante. Ademais, a diferenciação não tem efeito prático para concursos públicos.
1.6. DEIXADINHA
1. O Direito do Trabalho visa à proteção (tutela jurídica) do empregado, pelo que estabelece vantagens jurídicas ao obreiro como forma de reequilibrar a relação capital/trabalho.
É muito importante ter isso em mente ao longo de todo o curso, e é esta a essência da presente introdução.
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