Direito e Transição Socialista 2 - Diego Polese

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Direito e transio socialista: (2) A forma jurdica concreta5 de maio de 2015Categoria:Ideias & DebatesComentar|ImprimirAsociedade dominada pelos imperativos do capital configura-se como uma sociedade de proprietrios de mercadorias, ou seja, de Sujeitos de Direito, titulares e destinatrios do mximo de pretenses possveis, vinculados por pretenses recprocas.Por Diego PoleseRecapitulando o essencial da forma-mercadoria, temos que a configurao fundamental das relaes de produo entre as unidades econmicas privadas baseia-se na forma da troca, isto , na igualao dos valores trocados e, em ltima anlise, na igualao das prprias pessoas que dela participam. Deste modo, a vinculao entre os produtores de mercadorias enquanto sujeitos econmicos iguais, autnomos e independentes configura-se como expresso material espontnea da relao de produo e de circulao da sociedade capitalista. As relaes jurdicas, no obstante, se imbricam com as relaes sociais de produo e troca, por consequncia da interposio do elemento da vontade entre as partes.

Piotr Stuka (1865-1932)Piotr Stuka, Comissrio do Povo para Justia no incio da tentativa da construo socialista da Unio Sovitica e posteriormente exercente do cargo de Presidente do Supremo Tribunal do Estado, em seus estudos para elaborar uma cincia do Direito que identificasse como ele se manifesta sob o jugo do capital com vistas a encontrar respostas para uma questo-chave do processo de transio socialista h a possibilidade de existncia de um direito socialista? afirmou que o Direito destrincha-se em trs formas: a concreta, a abstrata (legal) e a ideolgica.A forma jurdica concreta, segundo a concepo de Stuka, a que coincide necessariamente com as relaes sociais de produo e circulao. Logo, quando se troca certa mercadoria por outra (por exemplo, entre a fora de trabalho e salrio, entre um valor de uso e dinheiro, etc.) necessariamente interpe-se na relao um elemento potencialmente jurdico: a vontade (ainda que ela no seja necessariamente livre). Assim, o fato de a relao social ser concomitantemente econmica e jurdica torna-se extremamente importante para a sobrevivncia do sistema do capital, porque encobre o fato de que as trocas so desiguais, por meio da simples equiparao das vontades contrapostas.O movimento direito encontra sua dinmica em suas formas concretas, ou seja, sem a participao imediata do aparato estatal, o qual somente visa: 1) garantir e proteger tal relao; 2) operar sua positivao quando as formas concretas conseguem adquirir um razovel grau de universalizao nas relaes sociais de produo e circulao (ou quando possui essa tendncia); 3) intervir na relao por meio da concepo de direitos e garantias (forma-legal) conformados para os ciclos da mais-valia relativa, mantendo a reproduo da lgica capitalista.A forma jurdica concreta, diga-se, detm a primazia em relao forma legal, apesar de no curso da histria, especialmente aps o final da segunda guerra mundial, a ltima forma jurdica ter adquirido uma importncia cada vez maior, uma vez que o capital necessita e clama por padres formais de normatividade que proporcionem estabilidade para que os valores produzidos no mbito de suas relaes de produo se realizem. A relao entre forma jurdica concreta e forma jurdica legal, portanto, remete-nos metfora base e superestrutura, j que a primeira est imbricada s relaes de produo da base material, enquanto a outra possui feies superestruturais, que interage com a forma-concreta e tem o condo de at modific-la, mas sem nunca solapar a lgica da equivalncia.Isso quer dizer que a forma jurdica concreta pode regularab initioas relaes sociais de produo quando estas esto em seu processo de germinao, sem que ocorra a sua absoro pelos aparelhos institucionais do Estado. A positivao do Direito ocorre posteriormente, ou seja, somente quando as relaes pr-existentes se expandem ou h fortes indcios do aparecimento das correspondentes relaes em um futuro imediato ou a tendncia para que isso ocorra , de forma a tornar necessria sua positivao simplesmente para assegurar a ordem de reproduo de tais relaes, agora desenvolvidas sob o vu legalista.O cerne do fenmeno social objetivo do Direito provm, assim, dos fatos concretos e, portanto, da lgica da forma jurdica concreta.Algumas instituies polticas e jurdicas existem independentemente das relaes de produo, ainda que ajudem a sustent-las e reproduzi-las; e talvez o termo superestrutura devesse ser reservado para elas. Mas as relaes de produo em si tomam a forma de relaes jurdicas e polticas particulares modos de dominao e coero, formas de propriedade e organizao social que no so meros reflexos secundrios nem mesmo apoios secundrios, mas constituintes dessas relaes de produo. A esfera da produo dominante no no sentido de se manter afastada das formas jurdico-polticas ou de preced-las, mas exatamente no sentido de que essas formas so formas de produo, os atributos de um sistema produtivo particular. (WOOD, 2011, p. 33)A reproduo societal do capital est, assim, inerentemente vinculada s formas jurdicas, sendo decorrncia do prprio sistema a universalizao das mesmas para proporcionar garantias para o dinamismo das relaes de produo que conduzem ao acmulo das riquezas em poucas mos. Portanto, a forma jurdica indispensvel para o bom funcionamento do metabolismo social sob o controle do capital, uma vez que visa que as relaes sob sua chancela se deem com o mnimo de interrupes possveis, alm claro de funcionar como conformador/assimilador das possveis contestaes ao poderio do capital.Destarte, o fato de a explorao do trabalho ser feita por meios econmicos, mediatizado pelo Direito (em especial, o contrato), ao invs de exercer sua dominao direta por meios polticos, torna-o a forma mais sofisticada de explorao de classes da histria:Ele implica a separao dos produtores diretos (dos trabalhadores) dos meios de produo, na produo particular, no trabalho assalariado e na troca de mercadorias, o que faz com que a apropriao do sobreproduto seja realizada pela classe dominantes no atravs do uso da violncia direta, mas por meio da aparente troca de mercadorias equivalentes, inclusive a fora de trabalho. (HIRSCH, 2010, p. 28)A ordem jurdica compe-se, assim, de alicerces abstrativos cunhados durante a histria pela prpria forma de ser da dominao capitalista. A partir do momento em que a sociedade feudal iniciou seu processo de desintegrao, o sistema de produo de mercadorias do capital concomitantemente encetou um processo de camuflagem da desigualdade substantiva que abarcava a grande massa populacional, subordinando-a aos nuances do fetichismo da mercadoria e da igualdade formal. Dessa maneira:o argumento de Marx que a abstrao que testemunhamos no apenas um trao da teoria jurdica, que em principio poderia ser remediado atravs de uma soluo terica adequada, mas uma contradio insolvel da prpria estrutura social (MSZROS, 2011, p. 159).Portanto, tendo em vista que o sistema sociometablico do capital est permanentemente orientado para a expanso irrestrita de seu domnio sobre o seu adversrio histrico (o trabalho), cuida-se o Direito e a Poltica concentrada ideologicamente no mbito do Estado na interligao de suas formas para assegurar a apropriao privada da mais-valia por parte das personificaes do capital. O Direito, alis, tratado como fonte da justia, cujo fundamento material a forma-equivalente advinda da forma-mercadoria, acaba produzindo na conscincia dos homens a doce iluso de legitimidade do sistema, ajudando a dominao capitalista a se manter quase que inclume por tempo relativamente considervel.Expostos tais pontos, passemos aos elementos configuradores da forma jurdica concreta.Sujeito de DireitoToda relao jurdica uma relao entre sujeitos. Explica Marx:As mercadorias no podem por si mesmas ir ao mercado e se trocar. Devemos, portanto, voltar a vista para seus guardies, os possuidores de mercadorias. As mercadorias so coisas e, conseqentemente, no opem resistncia ao homem. Se elas no se submetem a ele de boa vontade, ele pode usar de violncia, em outras palavras, tom-las. Para que essas coisas se refiram umas s outras como mercadorias, necessrio que os seus guardies se relacionem entre si como pessoas, cuja vontade reside nessas coisas, de tal modo que um, somente de acordo com a vontade do outro, portanto cada um apenas mediante um ato de vontade comum a ambos, se aproprie da mercadoria alheia enquanto aliena a prpria. Eles devem, portanto, reconhecer-se reciprocamente como proprietrios privados. Essa relao jurdica, cuja forma o contrato, desenvolvida legalmente ou no, uma relao de vontade, em que se reflete a relao econmica. O contedo dessa relao jurdica ou de vontade dado por meio da relao econmica mesma. (1983, p. 209 grifos nossos)Desse modo, configura-se a sociedade dominada pelos imperativos do capital como uma sociedade de proprietrios de mercadorias, ou seja, de Sujeitos de Direito, titulares e destinatrios do mximo de pretenses possveis, vinculados por pretenses recprocas. Portanto, nada mais representam do que a propriedade encarnada em uma Pessoa, o que fez Marx utilizar-se do termo personificao do capital.A teoria econmica de John Locke, alis, somente declarou o que o prprio processo histrico estava cunhando, uma vez que definia a propriedade como unio de vida, liberdade e bens[1], ou seja, como uma pessoa humana que possui a propriedade de si mesma e, portanto, capaz de alienar a si mesma. Bernard Edelman, por sua vez, partindo de outros argumentos e de uma matriz conceitual totalmente distinta de Locke, situando o sujeito de direito no terreno histrico e, portanto, nas estruturas cunhadas pelo capital para a reproduo de si mesmo, expe no mesmo sentido:O que quero demonstrar que o sujeito de direito, na sua prpria estrutura, constitudo sobre o conceito de livre propriedade si prprio; que esta Forma, que a forma-mercadoria da pessoa o contedo concreto da interpelao ideolgica a pessoa como sujeito de direito -, apresenta este carcter, inteiramente extraordinrio, de produzir em si, isto , na sua prpria Forma, a relao da pessoa com ela prpria, a relao do sujeito que se toma ele prprio como objeto. Este carter de facto espantoso, designa a relao jurdica de si consigo; ndica que o homem investe a sua prpria vontade no objeto que ele se constitui, que ele para ele prprio um produto das relaes sociais. O que vou pois descrever, definitivamente, a necessidade para a pessoa humana de tomar a Forma Sujeito de Direito, isto , em ltima instncia, de tomar a Forma geral da mercadoria. (1976, p. 93)Assim, a atribuio de subjetividade jurdica indispensvel para assegurar a reproduo segura das relaes de explorao mediatizadas pelo capital, j que comporta a circulao de vontades aparentemente livres e iguais para a troca das mercadorias. A esfera da circulao, ento, a nica esfera em que o homem aparece livre, apesar de na verdade estar sendo compelido, tal qual na esfera de produo, a participar de tais relaes. Ele prprio leva a si mesmo ao mercado, pois no passa de uma mercadoria que precisa vender-se para realizar-se, tal como a mercadoria-coisa que precisa ser trocada para que o valor seja realizado e o capitalista consiga seu almejado lucro. A circulao abole todas as diferenas, pois todo sujeito de direito igual a outro sujeito de direito, uma vez que ambos colocam-se como vontades, ou seja, como equivalentes.Quanto a este ponto, Celso Naoto Kashiura Jnior faz uma interessante analogia do sujeito de direito como uma mscara que o indivduo impelido a vestir para participar das relaes com o outro:[] o sujeito de direito no passa de uma mascara que iguala abstratamente indivduos ontolgica, social e culturalmente diferentes mascara sob a qual se esconde um indivduo concreto. A funo desta mascara justamente fazer ignorar o que permanece por detrs dela, dissipar as diferenas para que, no plano das relaes jurdicas, todos os indivduos se coloquem num mesmo patamar, isto , para que todos se reconheam como semelhantes e no-dependentes entre si. (2009, p. 61)Por isso que a mercadoria e o sujeito de direito so as duas facetas da mesma relao social, qual seja, a relao de troca:Tudo que importa troca que as mercadorias sejam referidas umas s outras em propores determinadas de acordo com uma medida comum, o valor, que instaura uma espcie de fungibilidade universal. No outro extremo, importa que os portadores das mercadorias, agentes da troca, sejam referidos uns aos outros em termos de igualdade abstrata, o que implica dizer que tambm entre os homens se instaura uma fungibilidade universal: pouco importa quem o homem que concretamente traz a mercadoria ao mercado, importa apenas que a traga e que, para tanto, esteja vestido com a mascara do sujeito de direito. (KASHIURA JNIOR, 2009, p. 61).Bernard Edelman, por sua vez, ao explicar a forma jurdica concreta tambm pelo prisma do seu constituinte-chave, o sujeito de direito, remete-nos dialtica entre produo e circulao, a qual segundo seus ensinamentos possui o condo de explicar toda a problemtica jurdica dos modos de produo da vida material, seja o asitico, escravista, feudal ou capitalista. Segundo sua teoria:A universalizao da forma sujeito de direito, fenmeno determinado imediatamente pela circulao, tornada possvel pela e, ao mesmo tempo, torna possvel a produo capitalista. Quando todos se tronam sujeitos de direito, todos se tornam consumidores em potencial, vendedores em potencial e, principalmente, potenciais fornecedores de trabalho, no preciso esquema em que o trabalho assimilado no capitalismo: como trabalho abstrato, mercadoria a ser livremente vendida e comprada no mercado atravs pactos voluntrios entre sujeitos de direitos livres e iguais. (1976, p. 69)Em outras palavras: o fato de a produo do tipo capitalista implicar no afastamento imediato dos produtores diretos dos meios de produo necessrios torna crvel a propagao universal do sujeito de direito no mbito do mercado. A produo, contudo, inimaginvel sem o processo de circulao, j que ela pressupe a ltima, estando ambas intimamente interligadas de forma indissocivel. A circulao das mercadorias, especialmente da fora de trabalho, a qual necessita ser perpetrada livremente para depois aparecer no processo de produo agrilhoada sob o comando incontestvel do capital, torna todos os indivduos sujeitos de direito e obrigaes. Ou seja, a forma-mercadoria fonte equalizadora dos processos de sociabilidade alienados do capital traspe suas marca indelvel para o sujeito de direito, tornando todos consumidores e vendedores em potencial de qualquer coisa, sobretudo de sua fora de trabalho. Os sujeitos de direito voluntariamente se colocam disposio da explorao.No h liberdade e igualdade, simplesmente porque as relaes estabelecidas so na verdade desiguais e independem da vontade consciente dos indivduos que nela embrenham-se. So impostas s pessoas por foras materiais objetivas que desde a sua concepo convivem com elas. A liberdade e igualdade do Sujeito de Direito s pode ser a mesma da propriedade privada: a liberdade de explorar e abusar do seu semelhante para seus prprios propsitos, que por sua vez no so livres. Depreende-se, portanto, que a igualdade e a liberdade produzida pelo sistema exploratrio do capital tm como produtos a escravido e explorao do homem pelo homem.O papel do Direito, de tal modo, est diretamente relacionado relao que o valor de troca estabelece com a base real da produo. O valor de troca apareceu inicialmente na histria humana como constituinte exclusivo da esfera de circulao, no integrando nem interagindo imediatamente sobre a produo. O Direito Romano, explica Karl Marx em seu Contribuio crtica da economia poltica, assenta-se exatamente das determinaes do processo de circulao simples do valor de troca:Tendo se desenvolvido no mundo antigo, pelo menos entre os homens livres, as diversas fases da circulao simples, explica-se que em Roma, e especialmente na Roma imperial, cuja histria precisamente a da dissoluo da comunidade antiga, se tenham desenvolvido as determinaes da pessoa jurdica, sujeito do processo de troca; assim se explica que o direito da sociedade burguesa a tenha sido elaborado nas suas determinaes essenciais e que fosse defendido, sobretudo em face da Idade Mdia, como o direito da sociedade industrial nascente (1984, p. 146)Assim, a partir do desenvolvimento dos processos de trabalho alienados, o valor de troca foi avanando e associando-se cada vez mais esfera produtiva-material, a ponto de se tornar a mediao fundamental para reproduo do capital.

Relao JurdicaA compreenso exata da relao jurdica elemento-chave para o conhecimento da Forma Jurdica Concreta na sociedade sob a autoridade do Capital e do Estado, uma vez que somente nela o Direito realiza seu movimento. Unicamente por meio dela que os sujeitos de direito se projetam e os direitos e deveres subjetivos se criam. Sem ela no h fenmeno jurdico algum. Os cdigos, leis e todo aparato jurdico no teriam razo de ser. As relaes jurdicas configuram-se como uma relao entre pessoas, ou seja, entre os sujeitos de direito e os objetos que transacionam, invertendo a realidade estabelecida pela forma-mercadoria, uma vez que sob o ponto de vista cientfico desta situaramos tal relao como uma relao entre coisas mediadas pelos Sujeitos de Direito. A esta realidade Marx chamou de fetichismo da mercadoria:O misterioso da forma mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens as caractersticas sociais do seu prprio trabalho como caractersticas objetivas dos prprios produtos de trabalho, como propriedades naturais sociais dessas coisas e, por isso, tambm reflete a relao social dos produtores com o trabalho total como uma relao social existente fora deles, entre objetos. (1983, p. 198)A forma jurdica, deste modo, cria uma aparncia de que as pessoas que dominam as coisas, ou seja, ela inverte a verdadeira ordem das relaes para que parea um ato de pura liberalidade das partes sustentada na igualdade dos contratantes. A nica coisa que importa, portanto, no que concerne s pessoas que movimentam as coisas simplesmente a sua manifestao de vontade. Nada mais. Esta, alis, o grande segredo da produo de mercadorias sob a forma capitalista: a liberdade de contratar livremente.Celso Naoto Kashiura Jnior observa, em seu livro Crtica da Igualdade Jurdica, a mesma linha de pensamento aqui exposto, apontando o seguinte:A relao de troca, que preponderantemente uma relao entre coisas, estabelece, em seu aspecto subjetivo, a prpria forma do direito. Em seu aspecto objetivo, a troca vincula mercadorias e, este vnculo constitudo com base no valor em seu aspecto subjetivo, a troca vincula sujeitos de direito, e este vnculo, que constitudo pela vontade, por si mesmo um vinculo jurdico (2009, p. 71)Do ponto de vista econmico, os homens so postos somente enquanto coisas que movimentam uma totalidade de relaes reificadas, que a partir do momento que se universalizam fluem como se fossem dadas naturalmente. Do ponto de vista jurdico, os homens somente so determinados a partir do momento que se oponham a uma coisa, ou seja, quando se mascaram em sujeito. Eis a anlise completa da imbricao reciproca da relao de troca capitalista. Nas palavras de Pachukanis:A vida social, ao mesmo tempo, se desloca, por um lado, para uma totalidade de relaes reificadas, nascendo espontaneamente (como o so as relaes econmicas: nvel de preos, taxa de mais-valia, taxa de lucro, etc.), isto , nas relaes nas quais os homens no tm outra significao seno que a de coisa e, por outro lado, para uma totalidade de relaes nas quais o homem somente determinado na medida em que se oponha a uma coisa, quer dizer, definido como sujeito. Esta precisamente a relao jurdica. Tais so as formas fundamentais que, originariamente, distinguem uma da outra, mas que ao mesmo tempo, condicionam-se mutuamente e esto estreitamente ligadas em si. O vnculo social enraizado na produo apresenta-se simultaneamente sob duas formas absurdas, de um lado, como valor mercantil e, do outro, como capacidade do homem ser sujeito de direito. (1989, p. 85-86)Depreende-se, portanto, que a relao jurdica uma sociabilidade objetivamente estabelecida, na qual o direito realiza o seu movimento real, podendo trazer para si inclusive relaes sociais que possuem contedos outros que no o intercmbio de mercadorias na medida em que se constituam como relaes entre sujeitos de direito. O fato de a Norma Jurdica-Legal ser difundida como a criadora e fundamento-base do Direito serve to-somente para legitim-lo, uma vez que no pode irradiar seus efeitos sem que exista essa determinada relao social. Contudo, os nuances do direito objetivo sero objeto especfico do prximo artigo. Por enquanto, debatamos.Nota[1]E no sem razo que ele procura e almeja unir-se em sociedade com outros que j se encontram reunidos ou projetam unir-se para a mtua conservao de suas vidas, liberdades e bens, aos quais atribuo o termo genrico de propriedade. (Locke, 2005, p. 494)BibliografiaEDELMAN, Bernard, O direito captado pela fotografia elementos para uma teoria marxista do direito. Coimbra: Centelha, 1976.HIRSCH, Joachim. Teoria. Materialista do Estado. Rio de. Janeiro: Revan, 2010.KASHIURA JUNIOR, Celso Naoto. Critica da igualdade jurdica: contribuio ao pensamento jurdico marxista. So Paulo: Quartier Latin, 2009.LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo. 2ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005.MARX, K. O Capital. Crtica da economia poltica. 3 vols. SP: Abril Cultural, 1983._. Para a Crtica da economia poltica. In: Os Economistas. SP: Abril Cultural, 1984.MSZROS, I. Para alm do capital. SP: Boitempo, 2002._. Estrutura Social e Formas de Conscincia II. SP: Boitempo, 2012.PACHUKANIS, Evgeny. Teoria Geral do Direito e Marxismo. Rio de Janeiro: Renovar, 1989.RUBIN, I. I. A teoria Marxista do valor. So Paulo: Braziliense, 1980.SIMES, Carlos Jorge Martins. Direito do Trabalho e modo de produo capitalista. So Paulo: Smbolo, 1979.STUCKA, P. I. Direito e Luta de Classes. So Paulo: Acadmica, 1988.WOOD, E. M. Democracia contra capitalismo. So Paulo: Boitempo, 2011.Etiquetas:Capitalismo,Marxismo,SocialismoComentrios1 Comentrio on "Direito e transio socialista: (2) A forma jurdica concreta"ulisses em 10 de maio de 2015 09:27

2 x KAFKA:I) O Messias s vir quando j no precisarmos dele.II) Muitos se queixam de que as palavras dos sbios so sempre s parbolas, inteis na vida quotidiana; e s esta nos dada. Todas as parbolas dizem apenas que o incompreensvel incompreensvel; e isto j sabemos. Disse um: Porque resistes? Se obedecesses s parbolas, transformar-te-ias em parbola, e estarias livre da vida quotidiana. Outro disse: Eu gostaria de apostar em que isto tambm uma parbola. O primeiro respondeu: Ganhaste. O outro disse: Mas infelizmente, s na parbola. E o primeiro: No, na realidade! Na parbola, perdeste.