Direito Internacional Humanitario - Michel Deyra

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    raDireito InternacionalumanitrioProteger a Humanidade face realidade da guerra constitui o objectivo, primeira vista paradoxal, do Direito Internacional Humanitrio.Para isto, necessrio, por um lado, restringir os direitos dos combatentes na conduo das hostilidades e, por outro, proteger os direitos dos no combatentes, civis e militares fora de combate.

    Mais de um milhar de artigos constantes de tratados internacionais regulam o estatuto dos combatentes, os objectivos militares, as armas utilizadas, os mtodos de combate, a proteco dos feridos, doentes e nufragos, o estatuto do prisioneiros de guerra e o regime do seu cativeiro, as garantias concedidas populao civil, a aplicao e a sano das violaes do Direito Internacional Humanitrio.

    A presente publicao pretende dar a conhecer a todos o conjunto destas regras humanitrias, nicas armas das vtimas dos conflitos armados, bem como alguns smbolos protectores, mediante uma descrio e um comentrio precisos e de fcil abordagem.

    Direito InternacionalumanitrioMichel Deyra

    Procuradoria-Geral da RepblicaGabinete de Documentao

    e Direito Comparado

  • Direito Internacional HumanitrioMichel Deyra

  • Professor Auxiliar na Faculdade de Clermont-Ferrand. Director do IPAG (Instituto de Preparao para a Administrao Geral) da Universidade de Auvergne. Vice-Presidente do Instituto Francs de Direito Humanitrio.

    Michel Deyra

  • ndice

    Introduo Edio Portuguesa 9Apresentao 11

    01 Fontes do Direito Internacional Humanitrio 191. FONTES CONVENCIONAIS 19

    Direito da Haia 20Direito de Genebra 20

    2. FONTES CONSUETUDINRIAS 22

    02 Caractersticas do Direito Internacional Humanitrio 251. UM DIREITO SUI GENERIS 252. UM RAMO DO DIREITO INTERNACIONAL PBLICO 28

    03 Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 311. INSTITUIES DA CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL 31

    Comit Internacional da Cruz Vermelha 31Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 33Federao Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 33

    2. CONFERNCIA INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA 34

    04 Princpios da Cruz Vermelha 351. PRINCPIOS SUBSTANTIVOS 36

    Princpio de humanidade 36Princpio de imparcialidade 37

    2. PRINCPIOS DERIVADOS 38Princpio de neutralidade 38Princpio de independncia 39

    3. PRINCPIOS ORGNICOS 39Carcter voluntrio 39Unidade 40Universalidade 40

    05 Campo de Aplicao 431. CONFLITO ARMADO INTERNACIONAL 442. GUERRA DE LIBERTAO NACIONAL 44

  • 3. CONFLITO INTERNO INTERNACIONALIZADO 454. CONFLITO ARMADO NO INTERNACIONAL 46

    De acordo com o artigo 3.o comum 46De acordo com o Protocolo II 47

    5. TENSES E OS DISTRBIOS INTERNOS 486. TEMPO DE PAZ 49

    Difuso 49Sinalizao dos bens protegidos 50Criao de certas estruturas 50

    06 Combatentes 531. DEFINIO DE COMBATENTES 53

    Noo 53Extenses 55

    a. Guerrilheiros 55b. Crianas 55

    Excluses 57a. Espies 57b. Mercenrios 57

    2. PROIBIES DO ATACANTE 58Proibio de atacar as pessoas que no combatem 58Proibio de atacar as pessoas que j no combatem 59

    3. OBRIGAES DA VTIMA DE ATAQUE 59Obrigao de no utilizao de no combatentes para fins militares 60Precaues contra os efeitos dos ataques 60

    07 Objectivos 631. PROIBIO DE ATACAR BENS DE CARCTER CIVIL 63

    Bens culturais e locais de culto 64Bens indispensveis sobrevivncia da populaes 65Organismos de proteco civil 66Obras e instalaes contendo foras perigosas 66Meio ambiente natural 67

    2. PROIBIO DE ATACAR CERTAS ZONAS 68Localidades no defendidas 68Zonas e localidades sanitrias e de segurana, zonas neutralizadas e zonas desmilitarizadas 69Estabelecimentos ou unidades sanitrias fixas ou mveis 70

    08 Armas 731. RESTRIES GENRICAS 74

    Armas irremediavelmente letais 74Armas que produzem efeitos traumticos excessivos 75Armas com efeitos indiscriminados 75

  • 2. RESTRIES ESPECFICAS 75Restries previstas pelo Direito da Guerra clssico 75Restries previstas pelo Direito Internacional Humanitrio 76

    a. Proibies 76b. Limitaes 76c. Armas a laser que provocam a cegueira 77d. Minas antipessoal 77e. Armas nucleares 78f. Armas novas 79

    09 Mtodos 811. PROCEDIMENTOS 81

    Perfdia 81Recusa de quartel 83Recrutamento forado 84Deportao 84

    2. OS ATAQUES 85Os ataques indiscriminados 85As destruies sem necessidade militar 86Os actos terroristas 86A tomada de refns 87As represlias armadas 87As precaues no ataque 88

    10 Os feridos, doentes e nufragos 911. A INVIOLABILIDADE DOS FERIDOS, DOENTES E NUFRAGOS 91

    As categorias de pessoas protegidas 92a. Os feridos e doentes 92b. Os nufragos 93

    Uma definio alargada 93Um estatuto de durao limitada 94O mbito da proteco 95

    2. A IMUNIDADE DO PESSOAL E DAS INSTALAES SANITRIAS 96O emblema da Cruz Vermelha 97Os navios-hospitais 98

    3. O DIREITO DE ACESSO S VTIMAS 98

    11 O direito ao estatuto de prisioneiro de guerra 1011. SEGUNDO A NATUREZA DO CONFLITO 102

    Os CAI e GLN 102Os CANI e as tenses e distrbios internos 103

    2. SEGUNDO A SITUAO DA PESSOA 104Os beneficirios 104Os excludos 104

  • 12 O regime do cativeiro 1071. AS CONDIES DE INTERNAMENTO 107

    No plano material 107a. O local de internamento 107b. As condies de vida 108c. O trabalho do prisioneiro 108d. Os recursos pecunirios 109

    No plano intelectual e moral 109No plano jurdico 110

    a. O interrogatrio do prisioneiro de guerra 110b. O regime disciplinar e penal 110

    2. O FINAL DO CATIVEIRO 110O final individual 111

    a. A liberdade sob palavra ou compromisso 111b. O repatriamento ou hospitalizao em pas neutro 111c. A evaso 112

    O final colectivo 112a. O final das hostilidades activas 113b. O atraso no repatriamento 113c. O contedo da obrigao 113

    3. O DIREITO DO RECLUSO A MECANISMOS DE GARANTIA 114O papel do CICV 114

    a. A centralizao de informaes 114b. O acesso aos prisioneiros de guerra 115

    A interveno dos prisioneiros 116a. O representante dos prisioneiros 116b. Os pedidos, reclamaes e relatrios 117

    13 A populao civil 1191. AS PESSOAS EM PODER DE UMA PARTE NO CONFLITO 120

    As garantias fundamentais de um tratamento humano 120As garantias especficas concedidas a determinadas pessoas 122

    a. As mulheres 122b. As crianas 123c. Os estrangeiros 124d. Os refugiados 125

    2. AS PESSOAS QUE SE ENCONTRAM EM TERRITRIO OCUPADO 126As obrigaes do ocupante 127As interdies 127

    14 A aplicao do Direito Internacional Humanitrio em tempo de paz 1291. A RATIFICAO 129

    A denncia 130As reservas e declaraes interpretativas 130

    2. A DIFUSO 131

  • 3. A APLICAO 132A obrigao de respeitar 133A obrigao de fazer respeitar 134

    15 O controlo do respeito pelo Direito Internacional Humanitrio 1351. O PAPEL DOS ESTADOS 135

    A convocao de reunies 135As medidas adoptadas por Estados terceiros 136A actuao das APC em cooperao com as Naes Unidas 136

    2. AS POTNCIAS PROTECTORAS 1373. O PAPEL DO CICV 139

    As actividades operacionais 139a. A proteco e assistncia 139b. A actuao como intermedirio neutro 139c. A Agncia Central de Pesquisas 140

    O respeito do Direito Humanitrio 140a. O apuramento dos factos 141b. A recepo e transmisso de queixas 141c. As diligncias apropriadas 141

    16 As sanes pelas violaes do Direito Internacional Humanitrio 1431. A INCRIMINAO 143

    Os crimes de direito internacional 144Crimes contra a paz 144Crimes de guerra 144Crimes contra a Humanidade 144Crime de genocdio 144Crime de apartheid 144

    As infraces s Convenes e Protocolo I 145As violaes do artigo 3.o comum e do Protocolo II 146

    2. OS MECANISMOS DE INVESTIGAO 147O funcionamento da Comisso internacional para o apuramento dos factos 147A competncia da Comisso internacional para o apuramento dos factos 148

    A investigao 148Os bons ofcios 149

    3. A REPRESSO PENAL 149A represso a nvel nacional 150A represso a nvel internacional 151

    a. As jurisdies do passado 152b. Os tribunais penais internacionais ad hoc 152c. O Tribunal Penal Internacional 153

    A Anexos 157B Bibliografia 165

  • Lista de Abreviaturas

    ACI Agncia Central de Pesquisas

    C I Primeira Conveno de Genebra de 1949

    C II Segunda Conveno de Genebra de 1949

    C III Terceira Conveno de Genebra de 1949

    C IV Quarta Conveno de Genebra de 1949

    CAI Conflito armado internacional

    CANI Conflito armado no internacional

    CICV Comit Internacional da Cruz Vermelha

    C.I.I. Conflito interno internacionalizado

    TIJ Tribunal Internacional de Justia

    TPI Tribunal Penal Internacional

    Com. Comentrios s Convenes ou aos Protocolos

    DIH Direito Internacional Humanitrio

    GLN Guerra de Libertao Nacional

    ACNUR Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados

    APC Alta Parte Contratante

    ONU Organizao das Naes Unidas

    P I Primeiro Protocolo Adicional de 1977

    P II Segundo Protocolo Adicional de 1977

    TPIJ Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslvia

    TPIR Tribunal Penal Internacional para o Ruanda

  • Introduo Edio Portuguesa

    Seduziu-me de imediato a proposta que me foi dirigida pelo Gabinetede Documentao e Direito Comparado da Procuradoria-Geral da Rep-blica, tendo em vista a traduo do Direito Internacional Humanit-rio para portugus. Com efeito, agora mais do que nunca, necessriodivulgar este Direito, sobretudo porque sabemos que inmeras dasviolaes de que alvo se devem frequentemente ignorncia domesmo. E se nos lembrarmos, que em todo o mundo, o Portugus maisfalado enquanto lngua materna do que o Francs, melhor compreen-demos a importncia desta traduo, dirigida a todos os pases lusfo-nos: obviamente Portugal e Brasil, mas sobretudo Angola, Guin Bissau,Moambique e Timor (Loro Sae). Estes ltimos vivem desde h muitosanos (um quarto de sculo no caso de Angola e de Timor !) situaesextremas de violncia. A vulnerabilidade das suas populaes civis, con-frontadas com as minas antipessoal, os mercenrios, as crianas soldados,os rebeldes sem controlo e mesmo os autores de genocdio, explica queestas pessoas, mais do que quaisquer outras, sintam a urgente necessi-dade do imperativo de humanidade que serve de base a este Direito.Por tudo isto, e pela importncia que assume a divulgao desta obra,renovo os meus agradecimentos ao Gabinete de Documentao e DireitoComparado por se ter disponibilizado para traduzir e editar este manual.

    Michel DeyraFACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE AUVERGNE

    Introduo Edio Portuguesa 9

  • Apresentao

    Os conflitos armados, as guerras internacionais ou as guerras civisconstituem a mais cruel realidade da nossa poca. O balano dos mor-tos, sofrimentos, ferimentos e deslocamentos de pessoas, atentadosao meio ambiente, destruies de bens que conduzem inevitavelmentea guerras, aterrador. Apesar de todos os esforos desenvolvidos noperodo do ps-guerra (uma qualificao alis bastante eurocentrista!)para substituir o recurso fora pela resoluo pacfica dos diferendos,existiram em pouco mais de 50 anos cerca de 170 conflitos armadose, desde os anos 80, 90% das vtimas so civis, mortas ou muti-ladas nos combates, quer acidentalmente quer de forma deliberadapara cobrir actividades militares. No podemos deixar de nos cho-car pela precariedade crescente dos civis nas guerras contempor-neas que, na sua maioria, so pudicamente qualificadas pelosestrategas como conflitos de baixa intensidade, sem dvida parafazer eco do famoso mortes zero dos militares! evidente que a preveno dos conflitos deve permanecer como oobjectivo primeiro da cooperao internacional, tal constituindomesmo uma obrigao urgente face violncia extrema ocasionadapelas armas com poderes de destruio continuamente crescentes.No nos devemos contentar em afirmar que a guerra constitui umcrime e ilegaliz-la internacionalmente. verdade que a guerradeve ser prevenida e punida, mas tal no nos pode eximir de tratar

    Apresentao 11

  • dos males que ela causa, devendo o nosso objectivo consistir em sal-vaguardar a humanidade da realidade da guerra. precisamente esteo objectivo do Direito Internacional Humanitrio (DIH): em nome dosprincpios de humanidade e de dignidade reconhecidos por todasas formas de civilizao, proteger a pessoa que se encontra numa situa-o perigosa devido violncia causada pela guerra.Nas origens da humanidade, a guerra caracterizava-se pela ausn-cia de qualquer regra para alm da lei do mais forte ou do mais des-leal. Vae victis, vencer ou morrer implacavelmente: em Roma, a leidas Doze Tbuas menciona que tudo permitido contra o inimigo.Na Antiguidade apareceram os primeiros esboos do Direito Huma-nitrio, comeando o Cdigo de Hammourabi com as seguintespalavras: decreto estas leis a fim de evitar que o forte oprima ofraco. Todas as sociedades ou civilizaes sentiram a necessidadede humanidade: na China (Lao-Tseu e Confcio), na ndia (o Mahab-harata), na Prsia (Zoroastra), na Grcia (Homero e Polibo) e no mundomuulmano (Viqaet).Na Idade Mdia, os princpios de cavalaria (que surtiam efeitosmuito limitados, j que respondiam antes a uma solidariedade declasse, a dos nobres, no beneficiando as massas, independentementedo facto de estarem armadas ou no) e sobretudo o cristianismo, per-mitiram a criao das primeiras instituies humanitrias: a Paz deDeus proclamava a inviolabilidade das igrejas, dos mosteiros, dospobres, do clero, dos mercadores, dos peregrinos, dos agricultorese dos seus bens e as Trguas de Deus proibiam os combates durantecertos perodos do calendrio litrgico, sendo prevista a excomunhocomo sano para os casos de violao destes princpios. Porm, osfins humanitrios destas instituies no eram nem exclusivos,nem predominantes, sobretudo com o surgimento do conceito deguerra justa que reservava a proteco unicamente s vtimas doEstado que conduzia uma guerra dessa ndole. O Conclio de Latro,de 1139, aboliu a besta por se tratar de uma arma odiosa para oSenhor, mas precisou que ela j poderia ser utilizada contra os

    12Direito Internacional umanitrio

  • infiis! Tratavam-se de meros esboos e Grcio, em De juri belli acpacis (1625) no hesitava em escrever que, apesar dos seus famo-sos temperamenta belli inspirados na f catlica, o massacre dasmulheres e crianas est includo no direito da guerra!Foi necessrio esperar pelo sculo das Luzes para que uma doutrinahumanista afirmasse claramente que a guerra se deve limitar aos mili-tares e poupar a populao civil: Jean Jacques Rousseau (O ContratoSocial, 1762) e Emeric de Vattel (Direito das Gentes, 1758) foram osseus principais autores, tendo ambos posto um fim tese da guerrajusta e sua justificao decorrente da razo soberana dos Estados.Os dois autores lanaram assim os fundamentos do moderno direitoda guerra.Este ramo do direito nasceu a 24 de Junho de 1859 em Solferino.A batalha travada nesta cidade entre as foras armadas franco-ita-liana e prussa causou cerca de 40 000 mortos, dos quais 60% mor-reram no seguimento de ferimentos que os servios sanitrios dasforas armadas constitudos por um mdico para cada 500 feridos no puderam tratar. Henry Dunant, jovem homem de negcios suo,que estava por casualidade presente no campo de batalha, regressoutranstornado a casa. Em 1862 redigiu Uma Recordao de Solferino,um livro no qual formula um duplo desejo: por um lado, que em cadapas fosse constituda em tempo de paz uma sociedade voluntriade socorros; e por outro, que os Estados ratificassem um princpiointernacional convencional e sagrado que assegurasse uma protec-o jurdica aos servios sanitrios. Esta obra, publicada s custasdo autor, teve uma tiragem de 1600 exemplares e continha na pri-meira pgina a inscrio: No se vende1. O livro esteve na origemimediata da instituio da Cruz Vermelha, atravs da criao em 1863de um Comit composto por cinco pessoas (Dunant, os mdicos Appiae Maunoir, Moynier e o General Dufour) que solicitou s autorida-des helvticas a convocao de uma Confe-rncia Diplomtica. No dia 22 de Agosto de1864, a primeira Conveno para melhorar

    Apresentao 13

    1 Sobre o destino deste livro e do seu autor, cf. Boissier (Pierre):Henry Dunant; Institut Henry--Dunant, 1974, pp. 1-23.

  • a situao dos militares feridos nas foras armadas em campanhafoi assinada em Genebra pelos representantes de 12 EstadosN.T..Na sua origem, o DIH representa a expresso jurdica do sentimentode humanidade que corresponde benevolncia e compaixo quenutrimos pelos nossos semelhantes. Porm, s sentimos compaixopor aqueles que reconhecemos como fazendo parte da humanidadee este conceito, com a abertura dos espaos e a interpenetrao dasculturas sofreu uma evoluo, que se encontra hoje ainda por ter-minar. Partindo de uma acepo restrita que confinava o semelhanteao crculo limitado das pessoas que partilhavam um mesmo sistemade valores e a mesma identidade, a humanidade foi encarada de formauniversal sendo todos os seres humanos reconhecidos como pr-ximos, independentemente da sua raa, nacionalidade, etnia, opi-nies polticas ou religiosas ou qualquer outro critrio desfavorvel.O Direito Internacional Humanitrio no impe uma viso da huma-nidade (tal como alguns julgam vislumbrar em certos instrumentosinternacionais de direitos humanos), propondo-se simplesmente amanter o indivduo na sua integridade fsica e dignidade aquandode conflitos armados. Se verdade que um ser humano se move porvezes por sentimentos de crueldade, tambm certo que ele secomove perante a dor e o sentimento de humanidade, que seme-lhana do sofrimento, tambm universal. Sendo impossvel fazercom que o ser humano renuncie guerra, o sentido de humanidadeque o leva a opor-se aos seus efeitos.Desta forma, o Direito Internacional Humanitrio enuncia as regrasaplicveis durante os conflitos armados, internacionais ou no, quevisam um duplo objectivo: restringir os direitos dos combatentes atra-vs da limitao dos mtodos e meios de guerra e proteger os direi-tos dos no combatentes, civis e militaresfora de combate.O seu campo de aplicao, inicialmente limi-tado proteco dos militares feridos nasforas armadas em campanha, foi alargado de

    14Direito Internacional umanitrio

    N.T. Os seguintes Estados assinarama referida Conveno a 22 de Agostode 1864: Baden, Blgica, Dinamarca,Espanha, Frana, Hesse, Itlia,Pases Baixos, Portugal, Prssia e Sua. Portugal ratificou esteinstrumento a 9 de Agosto de 1866.

  • forma considervel medida que o crculo de vtimas dos conflitosarmados se alargava. Estes tipos de violncia dizem respeito aos doisprincipais actores com que nos deparamos no teatro de guerra: o com-batente e a vtima, podendo uma mesma pessoa, de acordo com ascircunstncias, assumir ambos os papis. Do lado do combatente, oDireito Internacional Humanitrio prev restries na conduta dashostilidades; do lado da vtima, este ramo de direito, enuncia os meca-nismos de proteco das pessoas que caram no poder do inimigo.Trata-se assim de regulamentar as hostilidades a fim de atenuar assuas circunstncias, atravs da limitao da utilizao da violncia,desde que tal seja compatvel com as necessidades militares e tendoem vista respeitar a dignidade da pessoa, mesmo quando inimiga namxima medida possvel.Apesar de as Naes Unidas utilizarem preferencialmente a expres-so sinnima de Direito dos Conflitos Armados, a designao deDireito Internacional Humanitrio a mais adequada, j que as dis-posies que integram esta disciplina constituem precisamente umatransposio para o Direito das preocupaes de ordem moral e huma-nitria2. A expresso direito da guerra encontra-se actualmenteabandonada a partir do momento em que caducou o conceito doestado de beligerncia, ou pelo menos desde a adopo do princ-pio da proibio do recurso fora.O DIH pretende humanizar a guerra, disciplinando os seres huma-nos nos seus actos de violncia armada e da proteco daqueles quese encontram em situao perigosa. Mas ser tal possvel, pergun-tam aqueles que consideram que a guerra consiste na substituiodo direito pela violncia? No existir um aparente atentado lgicano facto de a aplicao de um direito ser condicionada prvia vio-lao do direito? Ser tal desejvel, defendemaqueles, como Clausewitz, que julgam que abondade da alma uma fonte de erros per-niciosos e que no se pode introduzir umprincpio moderador na filosofia da guerra

    Apresentao 15

    2 Pictet (Jean): Dveloppements et principes du Droit internationalhumanitaire, Institut Henry--Dunant, Genve, 1983, p. 7 (em portugus: Desenvolvimentose princpios do Direito InternacionalHumanitrio).

  • sem incorrer numa absurdidade? O cepticismo que envolve o DireitoInternacional Humanitrio parece justificar-se simultaneamentepela ferocidade da guerra e pela fragilidade deste ramo do Direito.Por um lado, a ferocidade dos combates, j que em 5000 anos de his-tria, podemos registar cerca de 14 000 guerras que tero morto maisde 5 mil milhes de seres humanos! Por outro, a fragilidade doDireito Internacional Humanitrio face s guerras actuais que so querhipertecnolgicas, utilizando armas silenciosas e avies furtivos, querhipotecnolgicas utilizando machados e catanas. O cepticismoprende-se igualmente com a denncia do compromisso impossvelentre a eficcia das operaes militares (objectivo concreto) e o res-peito por certos imperativos de ordem humanitria (exigncia abs-tracta) e com o facto de se ver neste ramo de Direito o ponto de fugado Direito. verdade que na luta entre a fora e o Direito, este ltimo perde ter-reno em duas frentes3. Por um lado, as regras jurdicas internacio-nais s parcialmente travam a violncia armada, j que no impemproibies eficazes s formas mais perigosas de violncia. Por outrolado, mesmo quando existem limites jurdicos, estes podem sercolocados em cheque pelos Estados-Nao auto-suficientes e narci-sistas que, com demasiada frequncia, tm tendncia a servir-se doDireito e a no considerar aquele que o seu propsito, isto , o deser uma arma para os fracos.Afirmar que este ramo do Direito foi e ser violado, no constitui umarazo vlida para o menosprezar, tanto mais que as violaes estoem parte ligadas ignorncia do mesmo. De forma mais realista, esem querer soobrar ingenuidade, devemos esperar que o DIH possatemperar as manifestaes mais assustadoras da guerra. Se por umlado o jus contra bellum proclamado e o jus ad bellum proibido,por outro lado o jus in bello regulamentado.Apesar de a guerra ter sido ilegalizada pelodireito internacional, existem regras inter-nacionais que vigoram em tempo de confli-

    16Direito Internacional umanitrio

    3 Cassese (A.): Le droitinternational dans un monde divis,Berger-Levrault, 1986, p. 231 (emportugus: O Direito Internacionalnum mundo dividido).

  • tos. No devemos esquecer que as Convenes de Genebra foram una-nimemente ratificadas4N.T., e que o Direito Internacional Humanit-rio visa acima de tudo os indivduos, e no os Estados, visto tratar-severdadeiramente de um Direito das Gentes. O objectivo deste ramodo Direito assim exclusivamente humanitrio, j que pretende sim-plesmente tornar menos desumanas as consequncias de qualquerguerra declarada, iniciada licitamente ou mesmo em violao de umaobrigao internacional. A velha fico medieval da guerra justa quealguns viram reaparecer com o Pacto Briand-Kellog, a Carta dasNaes Unidas e a definio de agresso deve ser definitivamenteabandonada, j que o DIH se deve aplicar sem que tenha de ser feitoqualquer julgamento sobre a legitimidade do conflito.Contudo, a problemtica actual do DIH consiste, antes de mais, nofacto de possuir uma imagem meditica e de ser alvo de aproveita-mento poltico. Um dos problemas consiste no facto de as imagensmediticas, como sabemos, serem caracterizadas pela selectividade,a repetio e o voyeurismo5, e se limitarem a mostrar violaes dodireito, e no o seu respeito. Em termos de audincia nos meios decomunicao social, um soldado poupado no se reveste de qualquerinteresse em comparao com um civil ensan-guentado, e os meios de comunicao socials retm as violaes, sendo assim mais fcil,em matria de DIH, contabilizar os fracassosdo que os sucessos. Verifica-se neste con-texto igualmente um aproveitamento pol-tico das situaes, devendo-se pr fim confuso entre o Direito e a aco humanit-ria6, os objectivos mediticos e poltico emnome dos quais o adjectivo humanitrio sufoca o substantivo direito , dando umaviso mutilada (ou enganosa?) do humanit-rio. Na melhor das hipteses, confunde-se ohumanitrio com a urgncia social e a soli-

    Apresentao 17

    4 Vide anexo.

    N.T. Portugal assinou as quatroConvenes de Genebra a 11de Fevereiro de 1950, tendoprocedido respectiva ratificaoa 14 de Maro de 1961. Portugalaps ainda, no momento da ratificao, uma reserva ao artigo 10.o/10.o/10.o/11.o

    das referidas Convenes.

    5 Hollenfer (O.): Ethique et imagesde lhumanitaire, RICR, 1997,p. 655-659 (em portugus: ticae imagens do princpiohumanitrio).

    6 Russbach (Olivier): ONU contreONU. Le droit internationalconfisqu, d. La Dcouverte,Paris, 1994, designadamente p. 22e seguintes (em portugus: A ONUcontra a ONU. O DireitoInternacional confiscado).

  • dariedade internacional, e no pior dos casos, ele reduzido aohumanitarismo selectivo dos defensores do alegado direito de inge-rncia humanitria. A aco humanitria limita-se frequentementea traduzir o fracasso da diplomacia ou o desrespeito pelo Direito.O Direito Internacional Humanitrio que, antes de mais, consiste numdireito de assistncia e de proteco das vtimas dos conflitos arma-dos, tambm o direito que autoriza o combatente a atentar contraa vida ou a integridade fsica de uma pessoa. este o ramo dodireito que regulamenta a actividade humana, por muito desumanaque ela seja, determinando como matar, ferir, capturar e sequestrar.Mesmo se, por vezes, difcil libertarmo-nos da abstraco doDireito, devemos relembrar que o seu objectivo de ultrapassar osgrandes princpios para os tornar operacionais; estes princpiosforam assim transformados numa multiplicidade de regras (400artigos para o Direito da Haia e 600 para o Direito de Genebra) quevo seguramente regulamentar a violncia, mas tambm a assistn-cia. As regras humanitrias permanecem as nicas armas das vtimas.

    18Direito Internacional umanitrio

  • As fontes do Direito Internacional Humani-trio so de origem consuetudinria, masforam amplamente codificadas durante osculo XX e, na maior parte dos casos, conti-nuam a ter um valor consuetudinrio para osEstados que no ratificaram nem aderiram aostextos convencionais.

    1. FONTES CONVENCIONAISExistem actualmente cerca de trinta textosinternacionais em matria de DIH. Entre elespodemos citar: as 15 Convenes da Haia de1899 e de 1907N.T.1, o Protocolo de Genebrade 17 de Junho de 1925N.T.2, as 4 Convenesde Genebra de 12 de Agosto de 1949, a Con-veno e o Protocolo da Haia de 14 de Maiode 1954N.T.3, os 2 Protocolos Adicionais de8 de Junho de 1977N.T.4, a Conveno dasNaes Unidas de 10 de Abril de 1981N.T.5, oTratado de Paris de 15 de Janeiro de 1993N.T.6

    e a Conveno de Ottawa de 3 de Dezembrode 1997N.T.7.

    Fontes do Direito Internacional Humanitrio 19

    Fontes do Direito InternacionalHumanitrio

    FONTES CONVENCIONAIS

    DIREITO DA HAIA

    DIREITO DE GENEBRA

    FONTES CONSUETUDINRIAS01N.T.1 Portugal assinou asConvenes II e III da Haia de 1899 a29 de Julho de 1899, tendo procedido respectiva ratificao a 4 deSetembro de 1900. Portugal ratificouainda as Convenes de Haia III, IV,V, VI, VII, IX, X, XI e XII de 1907 a 18de Outubro de 1907, tendo procedido respectiva ratificao a 13 de Abrilde 1911.

    N.T.2 Portugal assinou esta Conveno a 17 de Junho de 1925, tendo procedido respectiva ratificao a 1 de Julhode 1930 e emitido uma reserva mesma no momento da ratificao.

    N.T.3 Portugal assinou estaConveno a 14 de Maio de 1954,tendo este texto sido ratificado pelo Presidente da Repblica a 30 de Maro de 2000 (Decreto do Presidente daRepblica n.o 13/2000). Portugal no procedeu ainda ao depsito do respectivo instrumento de ratificao.

    N.T.4 Portugal assinou os ProtocolosAdicionais I e II a 12 de Dezembrode 1977, ratificou-os a 27 de Maiode 1992, tendo procedido declarao de aceitaoda competncia da ComissoInternacional para o Apuramentodos Factos, ao abrigo do artigo 90.o

    do Protocolo I a 1 de Julho de 1994.

    N.T.5 Portugal assinou a Convenoa 10 de Abril de 1981 e assinou-a a 4 de Abril de 1997, tendo unicamenteaceite os Protocolos I, II e III.

    N.T.6 Portugal assinou estaConveno a 13 de Janeiro de 1993e ratificou-a a 10 de Setembrode 1996. Portugal fez ainda umadeclarao no momentoda respectiva ratificao.

    N.T.7 Portugal assinou estaConveno a 3 de Dezembrode 1997, tendo-a ratificado a 19 de Fevereiro de 1999.

  • De entre todas estas Convenes, costuma-se operar uma distinoentre o Direito da Haia e o Direito de Genebra. Esta distino, actual-mente desapropriada j que os Protocolos contm disposies queregulamentam igualmente a conduta das hostilidades, conserva noentanto, um valor histrico, e sobretudo didctico, j que constituium atalho semntico muito prtico para diferenciar estes dois con-juntos de regras de direito.

    Direito da Haia [1899 e 1907]Deve-se considerar o Direito da Haia na perspectiva da restrio dosdireitos dos combatentes. O DIH nasceu num campo de batalha evisava, antes de mais, a proteco do combatente. Foi este o objectoda Conveno de 1864. Quatro anos mais tarde, a Declarao de SoPetersburgoN.T.8 admitia a necessidade de limitaes na conduta dashostilidades e de proporcionalidade entre o fim da guerra (o enfra-quecimento das foras militares do inimigo) e os meios para o alcan-ar. Estes princpios foram retomados na quarta Conveno da Haiade 1907 e no Regulamento a ela anexo1. O Direito s pode existir naguerra no caso de se verificar uma adeso incondicional ao princ-pio de que, para aliviar os efeitos das hostilidades, os direitos doscombatentes no so ilimitados.De entre as quinze Convenes da Haia, convm mencionar, para almda quarta Conveno relativa s Leis e Costumes da Guerra emCampanha e o Regulamento a ela anexo, as quinta e dcima terceiraConvenes relativas aos Direitos e Deveres das Potncias e das Pes-soas Neutras, em caso de guerra em campanha e martima respecti-vamente. Todos estes textos encontram-se infelizmente limitados pelapresena da clusula de participao geral (clusula si omnes).

    Direito de Genebra [1949 e 1977]Deve-se considerar o Direito de Genebra naperspectiva da proteco dos direitos dosno combatentes. No dia 12 de Agosto de

    20Direito Internacional umanitrio

    N.T.8 Portugal assinou estaDeclarao a 11 de Dezembro de 1868, tendo procedido respectiva ratificao na mesmadata.

    1 Artigos 22.o e 23.o.

  • 1949 foram adoptadas quatro Convenes: a primeira para Melho-rar a Situao dos Feridos e Doentes das Foras Armadas em Cam-panha (guerra em terra), a segunda para Melhorar a Situao dosFeridos, Doentes e Nufragos das Foras Armadas no Mar, a terceirarelativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra e a quarta relativa Proteco das Pessoas Civis em Tempo de Guerra. As quatro Con-venes de Genebra proporcionaram respostas adequadas aos pro-blemas, tal como eram sentidos em 1949, nomeadamente na base dadolorosa experincia da Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, face diluio do conceito de guerra, multiplicao dos conflitosarmados no internacionais (guerras de secesso, conflitos de des-colonizao, conflitos revolucionrios e guerrilhas) e devido ao sur-gimento na cena internacional de Estados que acederam recentemente independncia, com os seus problemas especficos e querendo fazervaler as suas prprias concepes, afigurou-se necessrio reafirmaro direito aplicvel em situao de conflito armado. Tal foi o objec-tivo dos dois Protocolos Adicionais de 8 de Junho de 1977: o pri-meiro incidindo sobre a proteco das vtimas de conflitos armadosinternacionais, sendo o segundo relativo proteco de vtimas deconflitos armados no internacionais. Estava fora de questo modi-ficar as Convenes de Genebra, j que importava salvaguardar o quetinha sido previamente adquirido. por esta razo que os Protoco-los Adicionais, tal como o seu adjectivo indica, vieram completar,e no substituir, as Convenes de Genebra que, no caso das trs pri-meiras, vieram por sua vez substituir as con-venes anteriormente adoptadas na mesmamatria.2

    Em relao s Convenes de 1949 o pri-meiro Protocolo traz quatro novidades3, con-sideradas frequentemente controversas poralguns Estados e que explicam a sua reticn-cia, pelo menos num primeiro tempo, emratific-los. So elas, a melhoria da assistn-

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    2 A 1.a e a 3.a Convenes de Genebra vm substituir a 1.a e 2.a Convenesde 1929 e a 2.a Convenode Genebra vem substituir a 10.a Conveno de Haia de 1907.

    3 Kozirnik (R.): Les Protocolesde 1977: une tape cruciale dans ledveloppement du Droitinternational humanitaire, R.I.C.R.,1997, p. 517 e seguintes (emportugus: Os Protocolos de 1977:uma etapa crucialno desenvolvimento do DireitoInternacional Humanitrio).

  • cia mdica s vtimas, a flexibilizao das condies exigidas paraa obteno do estatuto de combatente legtimo (e por consequnciade prisioneiro de guerra), o reforo das restries aos mtodos e meiosde guerra, combinado com as medidas de precauo no ataque e nadefesa, e finalmente a melhoria dos mecanismos de aplicao e decontrolo. Quanto ao Protocolo II, que tem desde j o mrito de exis-tir e de ser o primeiro tratado de alcance universal aplicvel s guer-ras civis, este constitui inegavelmente um progresso em relao aonico artigo 3.o comum s Convenes de Genebra.Estes instrumentos internacionais foram largamente ratificados4:at ao dia 1 de Julho de 1998, havia 186 Estados Partes nas quatroConvenes de Genebra (com excepo feita Eritreia, s IlhasMarshall e a Nauru); 150 Estados Partes no Protocolo I e 142 no Pro-tocolo II. No deixa de ser significante referir que as grandes potn-cias (possuidoras de armas nucleares) no aderiram ao Protocolo I(nomeadamente os Estados Unidos, a Frana, a ndia e o Paquisto5)e que inmeros Estados do Terceiro Mundo, envolvidos presente-mente ou no passado em guerras civis ainda no aderiram ao Pro-tocolo II, tal, como sucede com a Angola, Etipia, Moambique,Somlia e Sudo.

    2. FONTES CONSUETUDINRIASSe verdade que o costume se encontra frequentemente na origemdos tratados acima mencionados que o vieramcodificar, estes mesmos tratados, por modi-ficarem ou desenvolverem uma regra con-suetudinria podem tornar-se igualmentefonte de costume. Assim, em caso de lacunasdo direito convencional, de no ratificao porcertos Estados, ou mesmo em casos de denn-cia, as regras consuetudinrias podem aplicar--se aos conflitos armados6 a partir do momentoem que exista uma prtica constante e

    22Direito Internacional umanitrio

    4 Vide anexo.

    5 Vide Chabanon (C.): La ratificationdu Protocole additionnel I de 1977,Ann. De la Facult de Droit deClermont Ferrand, 1994, volume 30,pp. 13-177 (em portugus:A ratificao do ProtocoloAdicional I de 1977). No dia 28 deJaneiro de 1998 o Reino Unido daGr-Bretanha e da Irlanda do Norteaderiu aos Protocolos I e II queentraram em vigor para este pasno dia 28 de Julho de 1998.

    6 Vide TIJ, 1949, Caso do Estreitode Corfu; TIJ, 1986, ActividadesMilitares na Nicargua.

  • uniforme dos Estados e a convico da existncia de um direito oude uma obrigao. Podemos, a este propsito, citar o Manual de SoRemo e a sua Explicao7, desprovidos de qualquer fora obriga-tria, e que visa esclarecer o direito dos conflitos armados no mar,concretizando quais as disposies de natureza convencional e assi-nalando quais delas so consideradas como enunciando direitoconsuetudinrio.No seu Parecer Consultivo sobre a licitude da ameaa ou da utili-zao de armas nucleares de 8 de Julho de 1996, o Tribunal Inter-nacional de Justia reafirmou a natureza consuetudinria dasConvenes da Haia de 1899 e 1907 e do Regulamento de 1907 rela-tivo s leis e aos costumes da guerra em terra, bem como das Con-venes de Genebra (1864, 1906, 1929 e 1949). O Tribunal enumeraum certo nmero de princpios cardinais que constituem o essen-cial do Direito Internacional Humanitrio, a saber8: o princpio daproporcionalidade, a proibio do veneno, o princpio da distinoentre combatentes e no combatentes, a proibio da utilizao dearmas com efeitos indiscriminados ou que provoquem danos supr-fluos e a clusula de Martens.Desta forma, nas hipteses no cobertas pelos instrumentos de DIH,os civis e os combatentes permanecem sob a proteco e domniodos princpios do Direito das Gentes, tais como decorrem dosusos estabelecidos, dos princpios de huma-nidade e das exigncias da conscinciapblica. A clusula de Martens9, que tomavaem linha de conta o facto de qualquer codi-ficao ser por natureza incompleta por nose poderem prever todas as situaes numdeterminado momento apresenta umadupla vantagem, j que: rejeita primeira-mente a ideia de que tudo o que no expres-samente proibido pelos tratados aplicveis autorizado e em segundo lugar torna apli-

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    7 Doswald-Beck (L): Le Manuelde San Remo sur le droitinternational applicable aux conflitsarms sur mer, R.I.C.R., 1995,pp. 635-647 (em portugus:O Manual de So Remo sobreo Direito Internacional aplicvelaos conflitos no mar).

    8 Vide n.o 4 do artigo comum63.o/62.o/142.o e 158.o e artigo 3.o 2do PI.

    9 Por via da aplicao, quer dosartigos comuns 2.o 3 e 3.o, quer doSegundo Protocolo, se o movimentode libertao empreender uma lutatal como definida pelo artigo 1.o 4deste texto contra um Estado Partenas Convenes e neste Protocolo.

  • cveis os princpios proclamados, independentemente da ulteriorevoluo das situaes.

    O conjunto do DIH, de natureza convencional ou consuetudinria,visa variados destinatrios. Visa obviamente em primeiro lugar osEstados, mas igualmente os movimentos de libertao nacional10, aspartes num CANI (incluindo evidentemente a parte insurrecta,mesmo que no momento do desencadeamento do conflito, s as auto-ridades governamentais possam estar vinculadas aos tratados), os indi-vduos aos quais o DIH confere directamente direitos e obrigaes,enquanto pessoas privadas com a capacidade de cometer ou desofrer violaes do DIH, e, por fim, as organizaes internacionais.As ltimas, sujeitos derivados de Direito Internacional Pblico,encontram-se igualmente vinculadas pelo DIH por consistiremnuma emanao dos Estados que, por sua vez, se encontram vin-culados a estas regras, devendo assim o conjunto respeitar o Direitoque se impe s partes. Por diversas ocasies a ONU declarou res-peitar o esprito, princpios e regras das Convenes de Genebrade 1949. Com efeito, a aplicabilidade do DIH s actividades dasNaes Unidas diz respeito s foras de manuteno da paz (for-as armadas) e aco coerciva do captulo VII. Mesmo no sendoformalmente Parte nos tratados, a ONU deve igualmente aplicar oDIH em virtude do carcter consuetudinrio da maior parte dasdisposies deste ramo de Direito, pelo facto de os Estados mem-bros que participam nas foras militares das Naes Unidas teremratificado os instrumentos internacionais e ainda porque o DIH, quepermite que as entidades infraestaduais se lhe vinculem, deverigualmente permitir que as entidades plu-riestaduais o faam.

    24Direito Internacional umanitrio

    10 Artigo 3.o comum e Protocolo II.

  • Caractersticas do Direito Internacional Humanitrio 25

    Alm de ser um Direito sui generis, o DIH igualmente um ramo do Direito InternacionalPblico.

    1. UM DIREITO SUI GENERISO DIH acima de tudo um direito aut-nomo, mesmo que a priori parea paradoxala existncia de um direito da guerra, j quepor um lado a guerra consiste, na maiorparte dos casos, numa violao do direito epor outro, por ser esta mesma violao quevai condicionar a aplicabilidade do DireitoHumanitrio. O DIH consiste efectivamenteem querer combinar a gua e o fogo, mascomo refere o Professor Eric David1, a guerra como o comrcio ou o amor, trata-se deuma actividade humana e, enquanto tal,pode dar origem a uma regulamentao!Consiste numa disciplina autnoma damesma forma que o direito da famlia ou odireito de expropriao por utilidadepblica!

    Caractersticas do DireitoInternacional Humanitrio

    POSTULADOS DA GUERRA

    DIREITO DO MAL MENOR

    DIH E DIREITO INTERNACIONAL PBLICO

    DIH E DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

    1 David (E.): Principes de Droit desconflits arms, Bruylant, Bruxelles,1994, p. 29 (em portugus:Princpio de Direito dos ConflitosArmados).

    02

  • O DIH, sendo acima de tudo um direito de conciliao e de per-suaso, parte de uma concepo racional e razovel das situaesde beligerncia e dos comportamentos humanos. A Declarao deSo Petersburgo de 1868 afirmava que o nico fim legtimo da guerraconsiste no enfraquecimento das foras militares do inimigo. Noseguimento desta lgica, Jean Pictet identificou2 os dois postula-dos da guerra que conduzem a um raciocnio especfico no planohumanitrio.O primeiro postulado consiste no facto de a guerra no ser fim, masantes um meio. A guerra uma situao contrria ao estado normalda sociedade que a paz, s sendo justificvel pela sua necessidadena medida em que se trata de um meio (do ltimo meio) para queum Estado faa outro ceder sua vontade. Frequentemente os meiosdiplomticos e as presses econmicas so suficientes para alcan-ar este fim. Mas por vezes tal no se passa assim. Desta forma, orecurso fora consiste no emprego da presso necessria paraobter esse mesmo resultado. Os meios militares devem ser propor-cionais e qualquer tipo de violncia que no seja indispensvelpara fazer um Estado ceder desprovida de objecto. Ou, pior ainda, cruel e estpida.O segundo postulado considera a guerra como o meio de destruiodo potencial de guerra do inimigo. Este potencial de guerra com-posto por dois elementos: os recursos em material e os recursos emnmero de homens. Tratando-se do potencial humano, isto dos indi-vduos que contribuem directamente para o esforo de guerra, s exis-tem trs meios para o diminuir: matar, ferir ou capturar. No entanto,no que diz respeito ao seu rendimento militar, estes trs processosso (praticamente) equivalentes, j que todos eles eliminam as for-as vivas do adversrio.Porm, no plano humanitrio, identificam-sequatro consequncias fundamentais para asvtimas de guerra: a humanidade exige queseja dada preferncia captura sobre o feri-

    26Direito Internacional umanitrio

    2 Pictet (J.): Le Droit humanitaireet la protection des victimes de laguerre, A.W.Sijhoff Leiden, 1973,p. 33 e seguintes (em portugus:O Direito Humanitrio e a protecodas vtimas da guerra).

  • mento e ao ferimento sobre a morte. A humanidade exige que se pou-pem, tanto quanto possvel, os no combatentes (os que no com-batem ou que j no combatem) j que estes so desprovidos dequalquer interesse militar. A humanidade exige ainda que se fira daforma menos grave e menos dolorosa. Por fim, a humanidade requerque a captura de guerra seja o mais suportvel possvel, j que estano equivale a um castigo, mas simplesmente a um meio de impos-sibilitar o adversrio de ferir. Concretamente isto significa que, nocaso de ser possvel colocar um combatente fora de combate fazendo-oprisioneiro, no se deve feri-lo. Se o podemos colocar fora de com-bate ferindo-o, no devemos mat-lo. E se um ferimento ligeiro sufi-ciente para o colocar fora de combate, no lhe devem ser infligidosferimentos graves3.Devemos assim ter uma abordagem racional do DIH. Apesar de osprincpios por si estabelecidos no serem sempre respeitados, sogeralmente bem aceites pelos Estados e mesmo pelos Estados-Maio-res. Em certas hipteses, o Direito Humanitrio constitui mesmo ofundamento ou objectivo das misses das foras armadas, umaprova da crescente necessidade de estas terem em consideraoaquele ramo do direito. Existe, por outro lado, uma lgica militarintrnseca nas vantagens que cada beligerante retira da reduo daamplitude e gravidade dos prejuzos e sofrimentos infligidos aoinimigo, j que o conhecimento dos riscos corridos e a confiana nasregras aplicveis melhoram a fora de umexrcito. O interesse das duas partes simi-lar, e o DIH surge ento como um direito domal menor e no do bem maior4. A aplicaodos seus princpios por um militar, que no assimilada a uma lei do mal menor, no levaem caso algum renncia do dever de patrio-tismo. A prpria existncia deste direito tempor consequncia que tendo certos Estados ecertos actores da guerra conhecimento do

    Caractersticas do Direito Internacional Humanitrio 27

    3 CICR: Les armes de nature causer des maux superflus ou frapper sans discrimination,Rapport, Genve, 1973, p. 27 (em portugus: As armas que causam danos suprfluosou que atingem semdiscriminao).

    4 David (E.): Evolution du Droithumanitaire en un droit du moindremal, in: Le Droit internationalhumanitaire, Problmes actuelset perspectives davenir, I.F.D.H.,les Cahiers de Droit public, 1987,p. 23 e seguintes (em portugus:Evoluo do Direito Humanitriopara um direito do mal menor).

  • DIH, o tentaro respeitar. Outros Estados e outros actores, de inciolargamente maioritrios, iro ignor-lo, mas existir ento um fun-damento indiscutvel para condenar moral e penalmente a sua ati-tude. O DIH deve de ora em diante ser integrado como umacomponente tctica e estratgica na conduo das hostilidades.

    2. UM RAMO DO DIREITO INTERNACIONAL PBLICOO DIH igualmente um ramo do Direito Internacional Pblico e,enquanto tal, apresenta as caractersticas deste ramo do direito,encontrando-se nomeadamente submetido iniciativa dos Estadose sua boa vontade, sendo por isso um direito de coordenao eno de subordinao, e apresentando naturalmente fraquezas noplano das sanes. Mas os juristas sabem que o direito no obri-gatrio por ser impor penas, mas antes que impe penas por serobrigatrio Enquanto diviso do Direito Internacional Pblico, o DIH tem fon-tes que se inscrevem nas fontes formais enunciadas no artigo 38.o,n.o 1 do Estatuto do TIJ: a par das Convenes humanitrias de1949 e de 1977, convm sublinhar o papel do costume internacio-nal e dos princpios gerais de direito reconhecido pelas naes civi-lizadas, que desempenham um papel essencial de complemento ede colmatao das lacunas ou da no aplicao do direito conven-cional. Convm acrescentar ainda que o DIH tem um campo deaplicao especial alargado por trs mecanismos. Em primeiro, o DIHpermite que os beligerantes concluam acordos especiais sobre todasas questes que possam ser reguladas de forma particular. Estes acor-dos especiais5, que no devem prejudicar oulimitar os direitos das pessoas protegidas,permitem implicitamente ir para alm daproteco convencional que consiste fre-quentemente em simples obrigaes mni-mas a cargo das Partes6. Em segundo lugar, odireito de Genebra rejeita a clusula si omnes

    28Direito Internacional umanitrio

    5 Artigo comum 6.o/6.o/6.o/7.o.

    6 Assim, durante o conflito dasMalvinas/Falklands, o Reino Unidoe a Argentina criaram uma zonaneutra no mar (a Red Cross Box)com um dimetro de cerca de20 milhas martimas que permitiu,sem criar entrave s operaesmilitares, estacionar os navios--hospitais e efectuar trocas deferidos entre os dois beligerantes.

  • e a exceptio non ademppleti contractus: os textos so assim aplic-veis em qualquer circunstncia desde que exista um conflito armado.Mesmo quando um dos beligerantes no seja Parte nas Convenes,as Potncias nelas Partes permanecero a elas vinculadas nas suasrelaes recprocas7. Para alm de que a obrigao de um beligeranterespeitar o DIH no depende do respeito deste ramo do direito peloadversrio, justificando-se esta no reciprocidade pela primazia doprincpio de proteco das vtimas e pela igualdade dos beligeran-tes8, que determinam a igual submisso dos beligerantes ao direito,independentemente da legitimidade da causa pela qual lutam Emterceiro lugar, os direitos conferidos s pessoas protegidas so ina-lienveis e ningum pode ser coagido a renunciar voluntariamente proteco convencional concedida. A adopo desta disposio9

    no foi evidente j que, para proteger a pessoa humana, se lhe temde negar um atributo essencial: a liberdade. Mas os inconvenientesde uma regra absoluta de inalienabilidade (isto , uma regra semexcepo) so menores em relao aos riscos gerados por uma regramenos estrita: por um lado os indivduos conservam contra a sua von-tade um estatuto convencional digno de um ser humano e por outro,poderiam renunciar proteco convencional quando submetidoss presses da potncia detentora10.O Direito Internacional Humanitrio e oDireito Internacional dos Direitos Humanos,que tm ambos o indivduo como o seuobjecto, desenvolveram-se inicialmente deforma separada, j que os seus perodo ecampo de aplicao no eram coincidentes.Mas foi precisamente esta autonomia queconduziu a uma complementaridade entreestes dois ramos do direito11. Com efeito, seum dos dois sistemas jurdicos no for apli-cvel, o outro pode s-lo de forma autnoma:os direitos humanos aplicam-se nas situa-

    Caractersticas do Direito Internacional Humanitrio 29

    7 Artigo 2.o 3 comum et 1.o do PI.

    8 Artigo 5.o prembulo e 96.o 3 PI.

    9 Artigo comum 7.o/7.o/7.o/8.o.

    10 Deve ser feita uma reservaa propsito do repatriamentodos prisioneiros de guerra contraa sua vontade, vide captulo 12 2.

    11 Calogeropoulos-Stratis (A.): Droit humanitaire, droits de lhomme etvictimes des conflits arms, Etudeset essais sur le droit internationalhumanitaire et sur les principesde la Croix-Rouge, en lhonneurde Jean Pictet, M. Nijhoff, 1984,pp. 655-662 (em portugus: DireitoHumanitrio, Direitos Humanose vtimas de conflitos armados).

  • es em que o direito humanitrio no aplicvel. Por sua vez o DIHaplica-se quando o Estado interessado invocou as clusulas de der-rogao aplicao dos direitos humanos, j que nessa hiptese existenormalmente um conflito armado12. Foram assim surgindo, de formaprogressiva, uma certa convergncia e complementaridade, inicial-mente com a quarta Conveno13, e posteriormente com a adopodos Protocolos Adicionais, que contm inmeras disposies visandoa proteco dos direitos humanos em perodo e conflito armado14.Hoje em dia esta convergncia exprime-se atravs de trs princpioscomuns aos dois ramos do direito: o princpio da inviolabilidade,que garante a todo o indivduo no combatente o direito de respeitopela sua vida, integridade fsica e moral; o princpio da no discri-minao no acesso aos direitos protegidos; e o princpio da segurana,que implica nomeadamente o respeito pelashabituais garantias judicirias. Apesar destaaproximao a um ncleo duro irredutvel, osdois ramos do direito continuam a ter as suasespecificidades no contedo dos direitosenunciados, na sua aplicao e tambm nofacto de serem consagrados em instrumentosjurdicos distintos, nos quais nem todos osEstados so Partes.O Direito Internacional Humanitrio surgeento como um direito autnomo enunciadonuma multiplicidade de disposies e dotadode uma prtica infelizmente abundante.

    30Direito Internacional umanitrio

    12 Excepo feita s tensese distrbios internos que constituemum no mans land do DireitoHumanitrio, em que mesmoo direito internacional dos direitoshumanos pode no ser aplicvel,vide captulo 5.

    13 Vide nomeadamente artigo 27.o

    sobre o respeito da pessoa humanae o carcter inalienvel dos seusdireitos fundamentais.

    14 Vide nomeadamente o artigo 75.o

    PI sobre as garantias fundamentaise os artigos 4.o, 5.o e 6.o do PII,respectivamente sobre as garantiasfundamentais das pessoas que noparticipam ou que j no participamnas hostilidades, os direitosdas pessoas privadas de liberdadee as garantias em matria de acese de infraces penais.

  • Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 31

    Se, de uma forma geral, a aplicao do DireitoInternacional Pblico assenta nos mecanis-mos de controlo interestadual, j a especi-ficidade do DIH se prende com a existnciada Cruz Vermelha Internacional. Os ele-mentos constitutivos do Movimento Inter-nacional da Cruz Vermelha e do CrescenteVermelho so associaes essencialmentecom origem na iniciativa privada, mas a suaaco tem seguramente pertinncia em rela-o ao Direito Internacional, nomeadamenteaquando das conferncias internacionais daCruz Vermelha.

    1. INSTITUIES DA CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL

    Comit Internacional da Cruz VermelhaO Comit no consiste numa organizaointernacional, mas antes numa organizaohumanitria cujos corpos dirigentes so denacionalidade sua. O rgo supremo dainstituio um Comit composto por um

    Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho

    COMIT INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA

    SOCIEDADES NACIONAIS

    FEDERAO INTERNACIONAL

    CONFERNCIA INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA 03

  • nmero mximo de 25 membros eleitos por cooptao e escolhidosentre personalidades helvticas que possuam simultaneamente umaexperincia dos problemas internacionais e uma ligao causahumanitria. O seu Presidente eleito no seio do Comit por um man-dato de quatro anos renovvel. O Conselho Executivo, composto porsete membros, um rgo permanente encarregue da gesto correntedos assuntos. A 19 de Maro de 1993 foi concludo um acordo desede entre o Conselho Federal e o C.I.C.V., com vista a afirmar o seucarcter autnomo e de associao de direito privado suo em rela-o Confederao Helvtica. Este acordo reconhece a personalidadejurdica internacional do C.I.C.V. e as suas atribuies, enuncia osprivilgios e imunidades de que beneficiam a instituio e os seusagentes e prev um procedimento arbitral de regulamento de dife-rendos. evidente que o C.I.C.V. no uma simples associao privada regidapelos artigos 60.o e seguintes do Cdigo Civil Suo, j que foi inves-tido numa misso internacional, que decorre em simultneo das Con-venes e dos Protocolos e da prtica mais que centenria do C.I.C.V.para exercer as suas actividades humanitrias no territrio das Par-tes no conflito, com o seu consentimento. A sua personalidade jur-dica internacional prende-se tambm com as relaes de naturezaquase diplomtica que o Comit mantm com os Estados e as orga-nizaes internacionais, e com os acordos que concluiu com estese que tm uma natureza prxima dos tratados. Foram assinados maisde 50 acordos de sede com os Estados que reconhecem ao C.I.C.V.personalidade jurdica de direito interno e que lhe conferem umregime de privilgios e imunidades, frequentemente definidos poruma simples remisso Conveno de Viena de 1961.A personalidade jurdica internacional funcional do C.I.C.V., reco-nhecida implicitamente pelas Naes Unidas na resoluo 45-6, de16 de Outubro de 1990, e que conferiu quele organismo a qualidadede observador na Assembleia Geral, permite que o C.I.C.V. possuaos direitos necessrios ao exerccio da sua misso, nomeadamente

    32Direito Internacional umanitrio

  • o direito de contratar, adquirir, alienar bens mveis e imveis, com-parecer em juzo e ainda o direito de legao.

    Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente VermelhoAs Sociedades Nacionais so O.N.G.s nacionais cujas actividadesvariam consoante o pas em que se encontrem sediadas e podem con-sistir na prestao de servios de sade e de assistncia social ou nodesenvolvimento de programas para a juventude. Em tempo deguerra, as Sociedades Nacionais intervm enquanto auxiliares dosservios sanitrios das foras armadas, tratando dos militares doen-tes e feridos, ajudando os prisioneiros de guerra, os internados e osrefugiados.As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Verme-lho devem ser reconhecidas pelos Estados e respeitar os princpiosfundamentais do Movimento para obterem o reconhecimento inter-nacional do C.I.C.V. Depois de preencherem estas condies, asSociedades Nacionais so agrupadas no seio da Federao Interna-cional.

    Federao Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho

    Fundada em 1919 por iniciativa de Henry Davison (presidente doComit de Guerra da Cruz Vermelha Americana), trata-se de umaO.N.G. internacional cuja misso genrica de facilitar e fazer pro-gredir a aco humanitria das Sociedades Nacionais, nomeadamenteem favor das populaes mais vulnerveis.Atravs de um acordo celebrado a 20 de Outubro de 1989 entre oC.I.C.R. e a Federao, as competncias de ambas as instituies foramdefinidas da seguinte forma: a Federao coordena as aces inter-nacionais de socorro s vtimas de catstrofes naturais, aos refugia-dos e s pessoas deslocadas fora das zonas de conflitos. Por seu ladoo C.I.C.R. assegura a direco geral da aco internacional da CruzVermelha e do Crescente Vermelho dentro das zonas de conflito.

    Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 33

  • 2. CONFERNCIA INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA

    O C.I.C.R., as Sociedades Nacionais e a Federao formam a CruzVermelha Internacional, que dirigida pela Conferncia Internacionalda Cruz Vermelha, organismo de natureza hbrida que se rene, emprincpio, de quatro em quatro anos e que inclui, para alm das ins-tituies privadas da Cruz Vermelha, os Estados Partes nas Con-venes de Genebra. As delegaes do C.I.C.V., das SociedadesNacionais e da Federao esto igualmente habilitadas a participarnas deliberaes e nas votaes, dispondo cada delegao de um voto.A Conferncia adopta resolues que concretizam a sua aco ou posi-es sobre qualquer problema que apresente um interesse para o Movi-mento, tal como a sade e o bem-estar social, os direitos humanos,a assistncia humanitria, o desenvolvimento do Direito Humani-trio e as aces a favor da paz. O valor jurdico destas resolues varivel1, j que consistem por um lado em regras obrigatrias noque concerne ao direito interno da Organizao e por outro emsimples recomendaes quando so dirigidas aos membros da CruzVermelha Internacional ou aos Estados com vista a impor um deter-minado comportamento, o que tem sido frequentemente o caso, porexemplo em matria de CANI, tendo em conta as lacunas e insufi-cincias dos textos jurdicos. Porm, estas resolues tm mesmoassim um certo efeito obrigatrio, porque mesmo que os Estados nosejam obrigados a aceitar a resoluo e a aplic-la, devem pelomenos tomar nota da mesma e analis-la de boa f.A Cruz Vermelha est definitivamente investida de uma verdadeiramisso de servio pbico internacional: contribui para a protecoe assistncia das vtimas de conflitos armados, bem como para o desen-volvimento do DIH. A Conferncia, que consiste numa pessoa jurdicade direito privado e no numa instituio especializada ou rgo sub-sidirio das Naes Unidas, soube sempreevitar a politizao, mantendo desta forma aconfiana dos Estados na sua neutralidade.

    34Direito Internacional umanitrio

    1 Bugnion (Fr.): Le droit de la Croix--Rouge, R.I.C.R., 1995, pp. 535-566(em portugus: O Direito da CruzVermelha).

  • Princpios da Cruz Vermelha 35

    A primeira formulao destes princpios foifruto da obra de Gustave Moynier que, em1864 identificou quatro princpios: o da cen-tralizao, que determina a existncia deuma nica Sociedade Nacional por Estado,desenvolvendo uma aco que se estenda aoconjunto do territrio nacional; o da previ-dncia que impe a tomada de medidas depreparao com vista aplicao do direitoem tempo de paz; o da neutralidade, atravsdo qual cada Sociedade Nacional deve tra-zer socorros s vtimas de guerra, indepen-dentemente das respectivas nacionalidadese o da solidariedade, por via do qual asSociedades se comprometem a prestar assis-tncia.A vigsima Conferncia Internacional daCruz Vermelha, reunida em Viena em 1965,proclamou os princpios fundamentais sobreos quais assenta a aco da Cruz Vermelha.Estes princpios no consistem em abstrac-es de ordem moral ou filosfica, consis-

    Princpios da Cruz VermelhaHUMANIDADE

    IMPARCIALIDADE

    NEUTRALIDADE

    INDEPENDNCIA

    VOLUNTARIADO

    UNIDADE

    UNIVERSALIDADE04

  • tindo simplesmente em regras de comportamento para a acohumanitria.Os sete princpios da Cruz Vermelha esto sujeitos a uma hierarquiaque antes de mais a da ordem da sua proclamao, mas esto igual-mente sujeitos a uma hierarquia que consiste na distino entre osprincpios substanciais, os princpios derivados e os princpiosorgnicos. Os primeiros constituem fins e no meios, ao contrriodo que se passa com os princpios derivados que permitem a trans-posio dos princpios substanciais para a realidade dos factos.Finalmente os princpios de carcter organizacional consistem emnormas de aplicao sobre a forma e funcionamento da instituio.No seu prembulo, os estatutos do Movimento Internacional daCruz Vermelha e do Crescente Vermelho recordam que as divisas doMovimento inter arma caritas e per humanitatem ad pacemexprimem, no seu conjunto, as ideias contidas nos sete princpios.

    1. PRINCPIOS SUBSTANTIVOSPrincpio de humanidade

    A Cruz Vermelha, nascida da preocupao de trazer socorros semdiscriminao aos feridos nos campos de batalha, esfora-se, nas suasvertentes internacional e nacional, por prevenir e aliviar em todasas circunstncias o sofrimento humano. A Cruz Vermelha visa pro-teger a vida e a sade, mas tambm fazer respeitar a pessoa humana.Esta organizao favorece a compreenso mtua, a amizade, a coo-perao e uma paz duradoura entre todos os povos.O princpio de humanidade ainda designado como o princpioessencial j que todos os outros princpios dele decorrem. Talsignifica que o objectivo da Cruz Vermelha de natureza tripla1: emprimeiro lugar o princpio tem por objectivo prevenir e aliviar ossofrimentos. A aco reparadora da Cruz Vermelha complementadapor uma aco preventiva, visto que o melhormeio de lutar contra o sofrimento impedirque ele surja. O princpio de humanidade

    36Direito Internacional umanitrio

    1 Mandato afirmado em 1977aquando da XXIII ConfernciaInternacional da Cruz Vermelha.

  • visa em seguida a proteco da vida e da sade e finalmente tendea fazer respeitar a pessoa atravs da divulgao de noes de respeito(atitude de absteno que visa no prejudicar e poupar) e de trata-mento humano (condies mnimas que permitam a uma pessoa con-duzir uma vida aceitvel e to normal quanto possvel).Tal como o sublinha Jean Pictet2, o princpio de humanidade con-siste em definitivo simultaneamente numa moral social, num com-bate espiritual e sobretudo na recusa de qualquer tipo de violnciaatravs da denncia dos males provocados pela guerra.

    Princpio de imparcialidadeA Cruz Vermelha no faz qualquer distino de nacionalidade, raa,religio, condio social ou filiao poltica, destinando-se unicamentea socorrer os indivduos na medida do seu sofrimento e a promoverajuda de forma prioritria s mais urgentes situaes de emergncia.O princpio de imparcialidade engloba trs dimenses. Em pri-meiro lugar, a proibio de discriminaes subjectivas, que implicauma despersonalizao total da assistncia e da proteco humani-trias, tanto no que diz respeito pessoa que fornece essa ajuda eproteco, como no que concerne ao seu beneficirio. Em segundolugar, a proibio de discriminaes objectivas, de natureza poltica,racial, religiosa, social (baseadas na origem, posio social ou for-tuna ). Em terceiro lugar, o respeito pelo princpio da proporcio-nalidade, nos termos do qual a Cruz Vermelha socorre os indivduosde acordo com as suas necessidades e com o respectivo grau de urgn-cia. necessrio um critrio para a repartio da ajuda forosamentemacia s vtimas de uma guerra e neste contexto somente as razesde urgncia mdica autorizam que sejam estabelecidas prioridadesna ordem dos cuidados prestados. Convm assim conceder priori-dade ao tratamento do inimigo gravementeferido sobre o amigo ligeiramente atingido, es urgncias sobre os casos em que os feri-mentos so ligeiros ou demasiado graves.

    Princpios da Cruz Vermelha 37

    2 Pictet (Jean): Les principesfondamentaux de la Croix-Rouge,Institut Henry-Dunant, 1979, p. 15e seguintes (em portugus:Os princpios fundamentais da CruzVermelha).

  • 2. PRINCPIOS DERIVADOSPrincpio da neutralidade

    A Cruz Vermelha, com o objectivo de preservar a confiana de todos,abstm-se de participar nas hostilidades e nas controversas deordem poltica, racial, religiosa ou filosfica a todo o tempo.A Cruz Vermelha nunca toma partido por forma a manter a confianaindispensvel para que lhe sejam confiadas a palavra indiciadora tarefas de utilidade pblica e para garantir o seu bom funcionamento.A neutralidade reveste-se de trs facetas. Em primeiro lugar, trata-sede uma neutralidade militar: a Cruz Vermelha abstm-se de qualqueringerncia directa ou indirecta nos conflitos armados. A neutralidademilitar encontra-se inteiramente ligada proteco de que beneficiaa Cruz Vermelha. Na realidade, a imunidade protege as vtimas e, comocontrapartida desta neutralidade, a assistncia no nunca consideradacomo uma ingerncia no conflito. Trata-se tambm de uma neutrali-dade ideolgica, j que a Cruz Vermelha se limita a seguir a sua dou-trina, e nunca aquela de um determinado Estado, mesmo que se trateda Sua. Ainda que a Cruz Vermelha seja solicitada de forma cres-cente a penetrar na esfera poltica, deve recusar-se a faz-lo, sob penade limitar a sua liberdade de aco e de provocar cises internas.A neutralidade da Cruz Vermelha ainda reforada pelo facto de osmembros e principais colaboradores do C.I.C.R. pertencerem a um pascuja neutralidade permanente oferece aos beligerantes uma garantiasuplementar de independncia e de capacidade de funcionamento.Por fim, trata-se de uma neutralidade de confisso. Mesmo que os fun-dadores da Cruz Vermelha estivessem imbudos de um esprito cris-to, queriam que a instituio tivesse um carcter puramente laico,no tendo o seu emblema evidentemente qualquer significado reli-gioso. Foram os pases muulmanos que, exigindo um crescente ver-melho ao lado da cruz vermelha, projectaram sobre esta ltima umsignificado que no possua originariamente, j que a cruz vermelhacolocada sobre fundo branco consiste numa composio herldica queinverte as cores da bandeira sua.

    38Direito Internacional umanitrio

  • Princpio da independnciaA Cruz Vermelha independente. As Sociedades Nacionais, auxi-liares dos poderes pblicos nas suas actividades humanitrias e sub-metidas s regras que governam os seus pases respectivos, devemno entanto conservar uma autonomia que lhes permita agir semprede acordo com os princpios da Cruz Vermelha.Se por um lado a neutralidade determina que sejam evitadas intro-misses na poltica, o princpio da independncia significa, por outrolado, que a Cruz Vermelha deve proibir qualquer incurso da pol-tica na sua esfera privada. Esta independncia no s poltica, mastambm religiosa e econmica.O princpio da independncia deve ser analisado luz de outros doisprincpios, com designaes diversas. Um desses princpios, o doauxlio, determina que no caso de a Cruz Vermelha no se poder subs-tituir aco dos Estados no seu trabalho geral de assistncia s pes-soas desfavorecidas, pode fornecer uma contribuio eficaz, tantoenquanto auxiliar autorizado dos servios de sade das foras arma-das o que consistia no fim primeiro da Cruz Vermelha quer nassuas actividades de assistncia em tempo de paz ou dirigidas s vti-mas de catstrofes naturais. O outro princpio o da autonomia emrelao s autoridades governamentais do Estado que podem exer-cer uma influncia sobre as actividades de uma Sociedade Nacio-nal atravs da aprovao dos estatutos da Sociedade, de controlosfinanceiros e da nomeao para certos cargos de chefia. A nica garan-tia de autonomia continua a ser a forma democrtica da organiza-o e o recrutamento das Sociedades Nacionais que devem permitiraos seus membros manifestar a sua vontade.

    3. PRINCPIOS ORGNICOSCarcter benvolo

    A Cruz Vermelha uma instituio voluntria e desinteressada.A Cruz Vermelha deve inspirar-se na dedicao e deve suscitar voca-es com vista a cumprir a sua misso. A dimenso do voluntariado,

    Princpios da Cruz Vermelha 39

  • determina que as prestaes voluntrias sejam asseguradas por cola-boradores no remunerados. Por seu lado, o facto de a Cruz Verme-lha ser desinteressada, implica que a organizao no prossigaqualquer interesse prprio, mas to-somente o interesse das vtimas.O voluntariado e o desinteresse reforam os princpios da inde-pendncia e de humanidade respectivamente.

    UnidadeS pode existir uma nica Sociedade da Cruz Vermelha em cadapas, devendo esta estar aberta a todos e estender a sua acohumanitria a todo o territrio.O princpio de unidade tem trs dimenses. Em primeiro lugar a daunicidade, significando que s pode existir uma nica sociedadenacional num Estado, com uma unidade da direco, apesar de nosEstados Federados as Sociedades Nacionais serem descentralizadasem seces ou divises dotadas de maior ou menor autonomia.A Cruz Vermelha deve ainda estar aberta a todos, independen-temente da raa, sexo, religio, opinio ou mesmo da nacionalidade3,o que no quer dizer que a Sociedade esteja aberta a qualquer um,j que so exigidas condies de moralidade ou de capacidade paraos seus membros. No deixa porm de ser indispensvel que todosos meios sociais, polticos ou religiosos estejam representados numaSociedade Nacional, j que o princpio da no discriminao, apli-cado queles que prestam socorros, permitir um maior acesso s pes-soas que devem ser socorridas. Por fim, o carcter genrico da acoimplica que uma Sociedade Nacional possa desenvolver as suas acti-vidades por todo o territrio, o que constitui um corolrio da uni-cidade, sendo para tal desejvel uma descentralizao mxima.

    UniversalidadeA Cruz Vermelha uma instituio univer-sal no seio da qual todas as Sociedades tmdireitos iguais e o dever de entreajuda.

    40Direito Internacional umanitrio

    3 Os estatutos de uma SociedadeNacional podem prever a admissode estrangeiros como membros.

  • A Cruz Vermelha tem uma vocao universal, devendo estender assuas actividades a todos e por todo o lado. Esta universalidade complementada pela igualdade (a paridade de direitos) e pela soli-dariedade entre as Sociedades Nacionais, que se exprimem atravsda Federao.

    Princpios da Cruz Vermelha 41

  • Campo de Aplicao 43

    As guerras do sculo dezanove e da pri-meira metade do sculo vinte deram origema demasiadas hipteses de aplicao, dejure e de facto, das Convenes humanit-rias existentes na altura. Com efeito, napoca em que o jus ad bellum admitia alicitude do recurso fora, era necessrio umacto formal dos Estados para que fossedesencadeada a aplicao do jus in bello,consistindo este acto numa declarao deguerra ou num reconhecimento de belige-rncia. No entanto, a declarao de guerracorresponde cortesia de uma pocafinda. Assim, a partir de 1949 o DIH aplica--se de jure e automaticamente desde o sur-gimento de uma situao de facto que seenquadre na definio do respectivo campode aplicao1. bastante surpreendente por uma lado quea noo de conflito armado no seja especi-ficada pelo direito que o regulamenta e quepor outro lado este ramo do direito tenha

    Campo de AplicaoCONFLITO ARMADO INTERNACIONAL

    GUERRA DE LIBERTAO NACIONAL

    CONFLITO INTERNO INTERNACIONALIZADO

    TENSES E DISTRBIOS INTERNOS

    TEMPO DE PAZ

    1 Vide artigo 2.o comum e artigo 1.o P I.

    05

  • aplicao fora de situaes de conflito armado. Convm examinarseis casos-tipo:

    1. CONFLITO ARMADO INTERNACIONALTrata-se da hiptese de uma guerra declarada ou de qualquer outroconflito que surja entre duas ou mais Altas Partes Contratantes, mesmoque o estado de guerra no seja reconhecido por uma das partes ouseja contestado por todas as partes.Qualquer diferendo entre Estados que conduza interveno de for-as militares assim um conflito armado, independentemente dadurao do confronto, do nmero dos efectivos, da extenso e daintensidade dos conflitos. A velha noo jurdica de guerra foi subs-tituda por uma noo mais lata, que se limita a qualificar o diferendono plano do Direito Humanitrio, devendo este ser aplicvel desdeo primeiro tiro de espingarda e mesmo quando no haja qualquerresistncia militar, como no caso de ocupao.Existe um conflito armado internacional e so aplicadas as regrasapropriadas nas seguintes hipteses: conflito opondo directamentedois ou mais Estados; guerra de libertao nacional; conflito armadointerno que se torna internacional pelo facto de ter sido objecto deum reconhecimento de beligerncia, de se ter registado uma inter-veno de um ou mais Estados ou de ter havido uma aco coerci-tiva das Naes Unidas com base no artigo 42.o da Carta.

    2. GUERRA DE LIBERTAO NACIONALNos termos do artigo 1.o, n.o 4, do primeiro Protocolo Adicional, asguerras de libertao nacional so conflitos armados internacionais.Somente certos conflitos obedecem qualificao de GLN, j que estasconsistem em lutas armadas contra o domnio colonial (Saara Oci-dental, Timor, Tibete?), a ocupao estrangeira (problema palestiniano,Curdisto, Lbano?) ou os regimes racistas. No exigido nenhumnvel de intensidade luta de libertao como condio para a apli-cao das regras pertinentes. Os nicos requisitos exigidos so a exis-

    44Direito Internacional umanitrio

  • tncia de um movimento de libertao nacional suficientemente orga-nizado, estruturado e representativo do povo em nome do qual esta ser conduzida a guerra e a obrigao de o movimento de liberta-o nacional subscrever o mecanismo de adeso especial previstono artigo 96.o, n.o 3, do primeiro Protocolo.A assimilao das GLN aos conflitos internacionais, que consistenuma consequncia do direito autodeterminao dos povos colo-nizados ou do ressurgimento do conceito de guerra justa, foi feroz-mente discutida no plano do jus ad bellum e da legitimidade dascausas prosseguidas pelos beligerantes, sendo actualmente o inte-resse prtico de uma tal assimilao mais limitado.

    3. CONFLITO INTERNO INTERNACIONALIZADOTrata-se de um conflito inicialmente interno que adquireprogressivamente, na sequncia de intervenes estrangeiras (desdeo apoio financeiro e logstico at interveno militar), as caracte-rsticas de um conflito armado internacional. As diversas hiptesesde conflitos internos internacionalizados esto em constante desen-volvimento, podendo-se indicar a ttulo de exemplo as guerras porprocurao, as guerras latentes, as guerras civis internacionalizadasou os conflitos mistos (Vietname, Angola, Imen, Afeganisto,Chade, Campuchea, Niacargua e ex-Zaire) que permanecem igno-rados pelo Direito Humanitrio convencional. Devem ser conside-radas duas questes: a de saber em que casos que estamos peranteum conflito interno internacionalizado e a de determinar quais asregras aplicveis.Um conflito interno internacionaliza-se a partir do momento em queum Estado terceiro intervm, permitindo que os seus agentes parti-cipem nas hostilidades. Desde a deciso do TIJ no caso das activi-dades militares na Nicargua (27 de Junho de 1986), o nvel deinterveno exigido para a internacionalizao do conflito poucoelevado, sendo suficiente o envio de fundos, equipamentos ou con-selheiros para operar a internacionalizao do conflito. Para o Tri-

    Campo de Aplicao 45

  • bunal, os agentes do Estado interveniente devem, no s respeitaro Direito Humanitrio, como tambm fazer com que ele seja respei-tado2 pelas foras s quais esto a prestar assistncia, na medida dassuas capacidadesNum C.I.I. verifica-se uma aplicao diferenciada do DIH, con-soante o estatuto jurdico dos beligerantes. O fraccionamento jur-dico do conflito, admitido pelo TIJ na deciso acima mencionada,consiste numa soluo que tem seguramente o inconveniente da com-plexidade e da desigualdade, mas que oferece a maior proteco pos-svel e politicamente aceitvel3 pelos Estados soberanos. assimaplicado o direito dos conflitos armados internacionais entre aspartes estaduais (entre os Estados Unidos e a Nicargua) e o direitodos conflitos internos entre as partes estadual e insurrecta (entre ogoverno de Mangua e os contras).

    4. CONFLITO ARMADO NO INTERNACIONALA multiplicao de conflitos armados no internacionais durante asegunda metade do sculo vinte deve-se simultaneamente ao bloqueioestratgico induzido pela dissuaso nuclear e expanso sem pre-cedentes dos impulsos comunitrios no seio dos Estados multina-cionais, que se tornaram assim vtimas de fragmentao, conflitosde identidade e guerras civis. Este potencial de fragmentao ainda actualmente considervel, quando sabemos que existem mais de3000 povos em menos de 200 Estados. O DIH classifica estes con-flitos como intra-estaduais subdividindo-os em duas categorias,consoante o seu grau de intensidade.

    De acordo com o artigo 3.o comumEste preceito constitui um progresso consi-dervel, j que permite a proteco da pessoapelo direito internacional no seu ordena-mento interno, devendo o Estado respeitar ummnimo humanitrio em relao aos seus

    46Direito Internacional umanitrio

    2 Vide artigo 1.o comum.

    3 Turpin (D.): Les conflits armsde caractre non international,Annales de la Facult de Droitde Clermont-Ferrand, 1987, p. 140 (em portugus: Os conflitosarmados de carcterno internacional).

  • nacionais que se rebelaram contra a sua autoridade atravs dorecurso s armas. A grande fora do artigo 3.o comum reside na ausn-cia de uma definio restritiva do seu campo de aplicao, j que esta-mos unicamente em presena de uma definio pela negativa dosconflitos armados que no apresentam um carcter internacional.De acordo com o artigo 3.o, o CANI tem condies de aplicabilidademenos exigentes que o Protocolo II, mas que no contemplam as sim-ples tenses ou distrbios internos, j que a parte rebelde deve pos-suir um mnimo de organizao e de foras armadas e as relaesconflituosas entre as partes devem atingir um nvel de hostilidadesabertas e colectivas.

    De acordo com o Protocolo IIO artigo 1.o define o campo de aplicao material do CANI que opeas foras armadas de uma Parte contratante s foras dissidentes,devendo estas, por um lado estar colocadas sob um comando res-ponsvel e, por outro exercer um controlo sobre uma parte do ter-ritrio que lhes permita conduzir operaes militares continuadase concertadas e aplicar o presente Protocolo (nomeadamente em mat-ria de prisioneiros de guerra, de cuidados e tratamentos aos feridose doentes). As condies de aplicabilidade do Protocolo so mais exi-gentes que as de aplicao das Convenes e, se verdade que oartigo 3.o comum se aplica obrigatoriamente a qualquer situao pre-vista pelo Protocolo II, o contrrio j no certo. Enquanto que o con-flito armado internacional qualificado de forma extremamente lata,o CANI, nos termos do Protocolo II, espartilhado numa definiomuito restritiva qual s parece corresponder a guerra civil clssica4.Independentemente do tipo de CANI em questo, a oponibilidadedo direito aos rebeldes no necessita de um acto formal de aceita-o sendo que, na prtica, estes ltimos tm tendncia a declararpublicamente a sua inteno de aplicar o DIH, frequentemente por-que vem nesta declarao um meio de obteruma certa legitimidade internacional. A parte

    Campo de Aplicao 47

    4 Guerra de secesso, guerra civilespanhola e conflito da Eritreia.

  • estadual, por seu lado, encontra-se vinculada aos seus compromis-sos internacionais e no deve contestar a aplicabilidade do direitopor ter receio de assim legitimar os rebeldes. Finalmente o artigo 3.o

    determina que a sua aplicao no tem qualquer efeito em relaoao estatuto jurdico das partes no conflito.

    5. TENSES E DISTRBIOS INTERNOSO artigo 1.o, n.o 2, do segundo Protocolo exclui da sua proteco assituaes de tenses e distrbios internos, tais como os motins, osactos isolados e espordicos de violncia e outros actos anlogos noconsiderados como conflitos armados. Trata-se por isso de umasituao extraconvencional, na qual a proteco conferida s vtimasno pode ter por base o DIH.Parece assim que os critrios para a qualificao do CANI enuncia-dos no n.o 1 do artigo 1.o do segundo Protocolo so suficientes paraexcluir as tenses e os distrbios internos do campo de aplicao doDIH. Porm, o Protocolo no avana qualquer definio destas situa-es que podem consistir5 em motins sem propsito concertado,detenes macias de pessoas em funo dos seus actos ou opinies,com a agravante de estas aces poderem ser acompanhadas demaus tratos, condies desumanas de deteno, alegaes de desa-parecimentos e suspenso das garantias judicirias fundamentais,nomeadamente como consequncia de ter sido decretado um estadode excepo.Face multiplicao das situaes de conflitos deste tipo, em queo nmero de vtimas pode ser muito elevado e em que as falhas doDIH so patentes, foi proposta uma declara-o sobre as regras humanitrias mnimas.A declarao de Turku uma proposta decarcter doutrinal6, cujo campo de aplicaomaterial muito vasto, j que visa as situa-es em que, por um lado, o DIH no apli-cvel devido inexistncia de um conflito

    48Direito Internacional umanitrio

    5 Vide Com., p. 1378 e seguintes.Vide igualmente Harrof Tavel (M.):Laction du CICR face aux situationsde violence interne, 1993,pp. 211-237 (em portugus:A aco do CICV face s situaesde violncia interna).

    6 Declarao adoptada por um grupode peritos, entre os quais seencontravam Condorelli, Gassere Meron.

  • qualificado como tal e em que, por outro lado, o Direito Interna-cional dos Direitos Humanos j no o por a situao de emergnciater justificado a suspenso de direitos. Estas regras seriam assimaplicveis a qualquer situao de violncia, no podendo ser der-rogadas em qualquer circunstncia. Trata-se, assim de retomar osprincpios comuns aos Direitos Humanos e ao DIH, tais como odireito dignidade, o direito dos detidos, a proibio de terrorismo,de deslocaes foradas de populao, as garantias jurisdicionais,o acesso s vtimas, entre outros.Porm, a declarao de Turku no possui por enquanto qualquervalor jurdico e, as nicas garantias possveis no caso de existn-cia de tenses e distrbios internos so concedidas pelo Direito inter-nacional dos Direitos Humanos ao qual o Prembulo do ProtocoloII se refere expressamente no seu segundo considerando; estedireito pode revelar-se inoperante7 e o CICV, com base no seudireito de iniciativa humanitria, convencional ou estatutrio,pode oferecer os seus servios ao Estado que, em tais circunstn-cias, os deve aceitar.

    6. TEMPO DE PAZParadoxalmente, o DIH tem uma aplicao importante em tempo depaz8, expressamente consagrada nos instrumentos jurdicos9, e quediz respeito a trs aspectos relevantes na pre-parao para uma situao de conflito.

    DifusoA difuso consiste numa obrigao de natu-reza convencional que tem por destinatrios,tanto as foras armadas como o conjunto dapopulao civil10. Esta obrigao implicanomeadamente que as autoridades militarese civis possuam e conheam os instrumentospertinentes, formem pessoal qualificado com

    Campo de Aplicao 49

    7 No caso de os direitos e liberdadesserem suspensos, em conformidadecom as clusulas derrogatriasprevistas sobre a matria (p.e. artigo 4.o do Pacto Internacionalsobre os Direitos Civis e Polticos).

    8 Burp (D.): Lapplication du droitinternational humanitaire en tempsde paix, in: Au service delHumanit, Ed. De la Chapelle, 1996,p. 45 e seguinte (em portugus: A aplicao do Direito InternacionalHumanitrio em tempo de paz).

    9 Artigos 2.o, n.o 1, comum e 1.o 2P I.

    10 Vide captulo 14 2.

  • vista a facilitar a aplicao dos textos legais e incorporem conselheirosjurdicos nas foras armadas a fim de prestar auxlio s chefias mili-tares11. Como complemento da obrigao de difuso, os Estadosdevem igualmente prever mecanismos apropriados para assegurara criminalizao das violaes do Direito Humanitrio, em especialdas infraces graves, atravs da adopo de legislao penal, quedever ser objecto de traduo oficial e comunicada aos outrosEstados.

    Sinalizao dos bens protegidosRevela-se naturalmente indispensvel que, antes da abertura das hos-tilidades, as unidades sanitrias fixas ou mveis sejam sinalizadasatravs do emblema e munidas de sistemas de identificao por meiode sinais luminosos ou de rdio12. Devem ser tomadas precauesidnticas em relao aos bens culturais e s instalaes contendo for-as perigosas13.

    Criao de certas estruturasPara alm das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha ou do Cres-cente Vermelho, que se devem preparar14 para as tarefas especficasque lhes podem incumbir durante um conflito armado, a prepara-o para uma situao de conflito justifica acriao ou o desenvolvimento de um serviode proteco civil, a constituio em perodode paz de escritrios oficiais de informaespara os prisioneiros de guerra e pessoas civis,bem como de escritrios para a procura decrianas e de pessoas desaparecidas15. Paraalm disso, ser institudo em cada Estado, umservio de sepulturas16 para o registo das indi-caes relativas aos enterros e sepulturas,bem como para a conservao das cinzas.Finalmente, os documentos administrativos

    50Direito Internacional umanitrio

    11 Vide Hampson (Fr.): Combattredans les rgles: linstruction auxforces armes en matire de Droithumanitaire, RICR; 1989, pp. 117 eseguintes (em portugus:Combater de acordo com as regras:a instruo s foras armadas emmatria de Direito Humanitrio).

    12 Artigos 3.o a 13.o, Anexo 1, PI.

    13 Respectivamente artigos 3.o daConveno de Haia e 16.o do anexo 1ao primeiro Protocolo.

    14 Artigo 26.o 2 da C I.

    15 Artigos 122.o a 125.o da C III e136.o a 141.o da C IV.

    16 Artigo 17.o da C I.

  • para a identificao pessoal (bilhetes e chapas de identificao paraos combatentes) e os diversos formulrios relativos aos prisioneirosde guerra e aos internados civis (ficha de captura ou de internamento,anncio da morte, certificado de repatriamento e ficha de corres-pondncia) sero preparados em conformidade com os anexos s qua-tro Convenes e ao primeiro Protocolo.O campo de aplicao material do DIH pode ser esquematizado daseguinte forma:

    medida que a situao gerar um aumento das hostilidades, odireito aplicvel torna-se mais protector. Contudo, em contra-partida, o campo de aplicao material do Direito Humanitriorevela-se bastante paradoxal17. Com efeito, quanto mais interna-cional for o conflito, menos elevado deve ser o grau de intensidadedas hostilidades para que um direito mais protector no papel se aplique; inversamente, quanto menos internacional for o con-flito, mais elevado dever ser o grau de intensidade das hostili-dades (Protocolo II) para que um direito menos protector seaplique. O paradoxo consiste igualmente no facto de no mbito deum CANI as pessoas poderem beneficiar, por via do artigo 3.o

    comum, de uma melhor proteco do queaquela concedida aquando de tenses e dis-

    Campo de Aplicao 51

    PAZ GUERRASITUAO

    DIDP DIH

    ELEVADA

    PROTECO

    REDUZIDA

    Violncias de Direito

    Comum

    Tenses e Distrbios

    Internos

    CANIart. 3

    CANIP II

    C II GLN

    C I/II/III/IV e P I/II

    CAI

    17 David (E.), op. cit., pp. 174e seguintes.

  • trbios internos, em situaes nas quais o Estado em questodecide suspender os direitos e liberdades18.Face evoluo dos tipos de armamentos, podemos ainda pensar queas condies constitutivas de um conflito armado, tais como defi-nidas pelo DIH, se tornaro rapidamente obsoletas, j que o DIH cor-responde a uma concepo muito especializada e territorializada doacto de agresso. A situao de confrontao fsica e a intruso il-cita num territrio estrangeiro, sero futura-mente substitudas pelas noes de realidadevirtual e de visualizao tridimensional quesero utilizadas para fins de desinformao doinimigo. Ser necessrio um dia desmate-rializar o acto de agresso19 e ter em conta ofacto de as guerras do terceiro milnio no sedesenrolarem forosamente nos campos debatalha.

    52Direito Internacional umanitrio

    18 Nos termos do artigo 4.o do PactoInternacional sobre os Direitos Civise Polticos, do artigo 15.o

    da Conveno Europeia paraa Proteco dos Direitos do Homeme das Liberdades Fundamentaisou do artigo 27.oda ConvenoAmericana dos Direitos do Homem.

    19 Rabault (J.P.): Les armesnouvelles et le droit, in: Droit desconflits arms et dfense, Ministrede la Dfense, Colloque des 3 et 4fvrier 1998, p. 158 (em portugus:As armas novas e o direito).

  • Combatentes 53

    Certas pessoas no podem ser implicadasnas hostilidades, da mesma forma alis quetambm no podem nelas participar. Aslimitaes rationae personae explicam-sepelo facto de serem os Estados que fazema guerra em funo das suas necessidadespoltico-estratgicas e no as pessoas, geral-mente vtimas dos seus efeitos. Desta forma,s os combatentes tm direito de atacar oinimigo ou de lhe resistir; enquanto ata-cantes esto submetidos a proibies eenquanto vtimas de um ataque tm certasobrigaes.

    1. DEFINIO DOS COMBATENTESNoo

    A definio legal de combatentes rela-tivamente recente. Num primeiro tempo,as Convenes de Genebra1 determinaramas categorias de pessoas pertencentes aformaes armadas com direito de parti-cipar directamente nas hostilidades e de

    CombatentesNOO

    GUERRILHEIROS, CRIANAS

    ESPIES, MERCENRIOS

    PROIBIES DO ATACANTE

    OBRIGAES DA VTIMA DE ATAQUE

    1 Artigos 13. C I, 13. C II, 4., alnea a) C III.

    06

  • combater, sendo enunciadas seis categorias: os membros dasforas armadas de uma parte no conflito, incluindo as milciase os corpos de voluntrios; os membros dos movimentos de resis-tncia que respeitam certas condies (ter no seu comandouma pessoa responsvel, usar abertamente as armas, usar umsinal distintivo fixo e identificvel distncia, respeitar as leise costumes da guerra nas suas operaes); os membros de umafora regular que reclamam uma autoridade no reconhecidapela Potncia detentora; as pessoas que seguem