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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS DIREITO PROCESSUAL CIVIL RECURSOS CÍVEIS PROFESSOR ALDO SABINO 1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL RECURSOS CÍVEIS PROFESSOR ALDO SABINO Atualizada até 04 de outubro de 2010. Incluindo várias questões de concursos nas notas de rodapé. De acordo com as Leis 11.969/2009 (“carga rápida”), 12.016/2009 (nova “Lei do Mandado de Segurança”) e Lei 12.322/2010 (agravo “nos próprios autos” ao STF e ao STJ).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL - ESMEG | Escola Superior · PDF file · 2011-10-05não se confundem com as ações autônomas de impugnação. É que os recursos atacam a decisão no mesmo

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RECURSOS CÍVEIS – PROFESSOR ALDO SABINO

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSOS CÍVEIS

PROFESSOR ALDO SABINO Atualizada até 04 de outubro de 2010.

Incluindo várias questões de concursos nas notas de rodapé. De acordo com as Leis 11.969/2009 (“carga rápida”),

12.016/2009 (nova “Lei do Mandado de Segurança”) e Lei 12.322/2010 (agravo “nos próprios autos” ao STF e ao STJ).

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Currículo do autor

a) Graduação:

Bacharel em direito pela Universidade Católica do Estado de Goiás

(conclusão em 1997).

b) Pós-graduação:

Especialista em Direito Civil e em Direito Processual Civil pela

Faculdade Anhanguera (conclusão em 2002).

c) Atividade Profissional:

No âmbito privado, é professor da Escola Superior da Magistratura

do Estado de Goiás (nas áreas de Direito Processual Civil e Direito Eleitoral), do Curso

IGDE (Direito Processual Penal), do Curso Juris (Direito Processual Penal) e do Curso

Aprobatum-ANAMAGES/MG (Direito Processual Civil).

É professor convidado de pós-graduação da Universo, da Uni-

Evangélica (Anápolis) e da Universidade Federal de Goiás.

Na área pública, após concurso público, exerceu o cargo de

Promotor de Justiça no Estado de Goiás de 1997 a 1999, quando logrou aprovação em

certame para ingresso na magistratura do mesmo Estado.

Atualmente, é Juiz de Direito titular do 2o Juizado Especial Cível

da Comarca de Anápolis, é Presidente da 2ª Turma Recursal Cível-Criminal da 3ª Região

do Estado de Goiás e exerce a função de Juiz Eleitoral.

d) Obras Jurídicas Publicadas:

É autor das obras jurídicas “Manual de Processo Civil” (AB

Editora, 2ª Edição, 2008) e “Direito Processual Penal” (IEPC Editora, 2ª Edição, 2006).

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Sumário breve:

CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DOS RECURSOS.......................................................04

CAPÍTULO II – APELAÇÃO ...........................................................................................37

CAPÍTULO III – AGRAVO .............................................................................................46

CAPÍTULO IV – EMBARGOS INFRINGENTES ..........................................................56

CAPÍTULO V – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ......................................................60

CAPÍTULO VI – RECURSO ORDINÁRIO ...................................................................65

CAPÍTULO VII – RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO..........69

CAPÍTULO VIII – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ................................................78

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................82

NOVA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA (12.016/2009)...................................84

LEI DA “CARGA RÁPIDA” (11.969/2009)....................................................................89

LEI DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO (12.008/2009)...........................................90

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1. NOÇÕES:

Recurso é “o remédio processual que a lei coloca à disposição das

partes, do Ministério Público ou de um terceiro, a fim de que a decisão judicial possa ser

submetida a novo julgamento, por órgão de jurisdição hierarquicamente superior, em regra,

àquele que a proferiu”.1

O recurso funciona como uma espécie de pedido de continuidade

da ação formulado pela parte vencida, visando a revisão criteriosa daquilo que foi objeto

de julgamento e terminou lhe causando prejuízo.

Mas as decisões judiciais, observe-se bem, podem ser impugnadas

não só por intermédio de recursos (exs.: recurso ordinário, agravo, embargos infringentes,

recurso especial etc.), mas também por meio das chamadas “ações autônomas de

impugnação” (exs.: ação rescisória, mandado de segurança, embargos de terceiro, ação

declaratória etc.).

Não que haja uma opção à disposição da parte para manejar um ou

outro instrumento jurídico.

Em geral, a lei prevê um recurso determinado para atacar cada

decisão judicial, ficando a parte sujeita a essa imposição (ex.: da sentença cabe apelação,

nos termos do art. 513). Todavia, quando a lei não prevê recurso (ou proíbe o mesmo2),

quando a decisão é teratológica ou mesmo quando esta já transitou em julgado (isto é,

quando o prazo de recurso já se esgotou) poderá ser adequado o manejo das ações

autônomas.

A parte prejudicada, destarte, diante de uma decisão ou se vale da

interposição de recurso nos casos legais, ou, na impossibilidade jurídica deste, lança mão

de outras medidas judiciais cabíveis e com poder de alteração do julgado.

Embora ambos visem modificar uma decisão judicial, os recursos

não se confundem com as ações autônomas de impugnação. É que os recursos atacam a

decisão no mesmo processo em que foi proferida, mantendo a relação jurídico-processual

originária (os recursos prolongam a litispendência, conforme veremos à frente); já as

denominadas ações autônomas de impugnação instauram um novo processo, criando

uma nova relação jurídico-processual que objetiva discutir a decisão jurisdicional (exs.:

ação rescisória, mandado de segurança,3 embargos de terceiro etc.), inaugurando inclusive

1 Nery Junior, Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 173-174.

2 Um bom exemplo dessa proibição recursal se tem no art. 527, parágrafo único, com redação outorgada pela

Lei 11.187/2005. 3 O mandado de segurança somente é admitido contra uma decisão judicial (a) quando ela for irrecorrível

(ex.: decisão interlocutória proferida por juiz do Juizado Especial Cível), (b) quando ele (o mandado de

segurança) for utilizado para conferir potência (efeito suspensivo) a recurso que não a tenha ou, então,

excepcionalmente, (c) quando a decisão judicial for teratológica (absurda, manifestamente abusiva,

incompreensível); caso ele seja impetrado contra ato de juiz de primeira instância, será julgado pelo Tribunal

de Justiça, pela Turma Recursal (JEC) ou pelo Tribunal Regional Federal, conforme o caso.

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novos autos (ex.: a ação rescisória é aforada originariamente num tribunal, inaugura nova

relação jurídico-processual, diversa da original e se instala em novos autos, fisicamente

falando).

A par disso, os recursos pressupõem decisão não transitada em

julgado, ou seja, devem ser interpostos antes do fim do prazo marcado na lei (e isso é

óbvio), sob pena de preclusão. As ações autônomas, diversamente, não exigem (de regra)

esse requisito, havendo até uma delas que pressupõe justamente o trânsito em julgado da

decisão que se pretende impugnar. Refiro-me aqui especificamente à ação rescisória, que

somente cabe contra a sentença de mérito já transitada em julgado, nunca antes disso (art.

485).

O assunto será abordado com mais profundidade em sala de aula.

2. OS SUCEDÂNEOS RECURSAIS:

A par dos recursos e das ações autônomas de impugnação, a

doutrina também comenta a existência de uma terceira categoria denominada de

“sucedâneos recursais” (José Frederico Marques).

Os sucedâneos recursais nem são recursos (porque não são

previstos como tal pela lei federal), nem são ações autônomas (pois não inauguram uma

nova relação processual), tratando-se de instrumentos geralmente previstos em lei (mas

nem sempre) que permitem a revisão de uma decisão judicial pelo próprio prolator ou por

outro órgão superior.

Encontram-se nessa moldura jurídica o pedido de reconsideração, a

devolução obrigatória (CPC, art. 475) e o pedido de suspensão de segurança (Lei

12.016/2009, art. 15), que atacam decisão judicial, mas, reitere-se, não são nem recursos,

nem ações autônomas de impugnação (Didier Jr).

3. NATUREZA JURÍDICA DO RECURSO:

O recurso é uma faculdade, (a) um ônus da parte,4 cuja interposição

só lhe pode trazer benefícios, arcando, de outro lado, a mesma com os prejuízos

processuais de sua não utilização.

Sob outra ótica, recurso deve ser encarado como (b) um

prolongamento do procedimento, “funcionando como uma modalidade do direito de ação

exercido no segundo grau de jurisdição”,5 sendo este o entendimento dominante na

doutrina acerca da natureza jurídica do instituto.6

Aliás, esse fator de “prolongamento da mesma relação processual

distingue os recursos das chamadas ações autônomas de impugnação”,7 as quais geram

uma nova relação jurídico-processual, como fiz questão de esclarecer anteriormente.

4 Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 564 e Teodoro Júnior, Curso de direito processual

civil, v. 1, p. 549. 5 Nery Junior, Princípios fundamentais, p. 187.

6 Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 15 e Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis p. 23.

7 Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 11.

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Para Nelson Luiz Pinto, enfim, o recurso é mesmo “uma extensão

do direito de ação ou de defesa, e, portanto, apenas prolonga a vida do processo e a

litispendência existente, dentro da mesma relação processual”.8 Em síntese, o recurso é um

ônus, mas é também um fator de prolongamento da relação processual instalada

originariamente.

4. OBJETIVOS RECURSAIS:

Os recursos podem ter por objetivo (a) a anulação da decisão

(quando se afirma que houve error in procedendo), (b) a reforma da mesma (quando se

alega que ocorreu error in judicando) ou (c) o simples esclarecimento (ou integração) do

ato decisório objurgado.9

Segundo ensina Nelson Luiz Pinto, o error in procedendo

“constitui-se num vício de procedimento que justifica a invalidação da sentença pelo

tribunal”. O juiz em casos que tais não observa a forma correta de proceder, deixando ele

que o feito corra sem proclamar eventual nulidade ou sem observar formalidade essencial

(exs.: juiz lança sentença levando em conta documento novo sem que tenham as partes

tenham tomado conhecimento dele; juiz profere sentença de procedência sem apreciar o

pedido da parte ré de produção de provas orais sobre fatos controvertidos; juiz prolata

sentença sem fundamentação etc.).

Nesta hipótese, a parte recorrente postulará em seu recurso “não a

reforma e a substituição da sentença, mas sua invalidação pelo tribunal”,10

devolvendo-se,

em geral, os autos ao juízo de origem, a fim de que se corrija o defeito formal e se profira

nova decisão.

Diversamente, ocorrerá o chamado error in judicando quando o

juiz se manifestar expressamente sobre a questão (processual ou substancial), mas seu

julgamento padecer de injustiça. A decisão atacada aqui não padece de nulidade (o juiz

observa a forma correta de proceder), mas é injusta (o juiz não analisa bem os fatos, as

provas ou o direito aplicável).

Em tal caso a decisão contém um erro de apreciação do julgador, o

que abrange pelo menos três situações distintas, quais sejam, (a) a má aplicação da lei, (b)

a afronta direta ou indireta à norma, ou (c) a má interpretação das provas e dos fatos da

causa.11

Ainda de acordo com o doutrinador acima citado, referido vício de

julgamento (error in judicando) pode decorrer tanto na apreciação e resolução da questão

de mérito (exs.: juiz profere sentença em ação de investigação de paternidade privilegiando

a prova testemunhal em detrimento do exame de DNA; juiz, mesmo diante da existência da

prova cabal da culpa do réu, deixa de condená-lo ao pagamento da indenização postulada

pelo autor etc.), como de uma questão meramente processual (exs.: má avaliação da

preliminar de ilegitimidade passiva articulada pelo réu; equívoco no julgamento do

8 Manual dos recursos cíveis, p. 23.

9 Note-se, porém, que apenas os dois primeiros (anulação e reforma), segundo Wambier, constituem

objetivos típicos dos recursos; este último (o pedido de esclarecimento) é considerado por ele como objetivo

atípico dos recursos (Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 565). 10

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 93. 11

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 94.

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incidente de impugnação ao valor da causa; erro no julgamento da exceção de

incompetência relativa etc.).

Em qualquer destes casos, o recorrente postulará em seu recurso a

reforma da decisão e a substituição da mesma pelo próprio tribunal, que ditará uma nova

solução para a questão (art. 512); em tal caso, o próprio tribunal poderá dar uma nova

conclusão para o caso.

Enfim, fala-se em pedido de “esclarecimento” ou de “integração”

da decisão quando ela padecer de omissão, contradição ou obscuridade, caso específico em

que serão admissíveis os embargos de declaração (arts. 535 a 538).

5. OBJETO DOS RECURSOS:

Somente as decisões judiciais, consideradas como gênero que

abrange as decisões interlocutórias, as sentenças (terminativas e definitivas) e os acórdãos,

são suscetíveis de ataque por recurso, sendo este o seu objeto.

São, de outro lado, irrecorríveis os despachos (art. 504), salvo se

ele for teratológico e cause evidente prejuízo para a parte, caso em que se convolará em

decisão interlocutória, passível naturalmente de impugnação por meio de agravo.

Com efeito, para Nelson Nery Junior o simples fato de causar

prejuízo à parte converte o despacho em decisão interlocutória, que passa a ser impugnável

pelo agravo. Assim, o despacho na visão de referido autor é sempre irrecorrível e quando

eventualmente cause prejuízo à parte terá natureza de decisão.12

Entendimento diverso tem Nelson Luiz Pinto, para quem o

despacho neste caso não se convola em decisão, continuando a ser mesmo um “despacho”,

mas recorrível “pelo regime jurídico da decisão interlocutória, através de agravo”.13

Embora entenda que a primeira corrente é mais plausível (e

também mais adotada na doutrina pátria), admito que na prática a adoção de um ou de

outro entendimento é irrelevante, posto que a conseqüência jurídica será exatamente a

mesma, isto é, a permissão de impugnação do despacho danoso pelo agravo.

Convém lembrar que há quem entenda que os despachos, embora

irrecorríveis, são subordinados aos embargos de declaração, desde que omissos,

contraditórios ou obscuros.

6. RECURSOS EXISTENTES NO PROCESSO CIVIL:

Estão previstos no Código de Processo Civil como recursos a

apelação (arts. 513-521), o agravo (arts. 522-529), os embargos infringentes (arts. 530-

534), os embargos de declaração (arts. 535-538), o recurso ordinário (arts. 539-540), o

recurso especial, o recurso extraordinário (arts. 541-545) e os embargos de divergência

(art. 546).

12

Código de processo civil comentado, 2002, p. 840. No mesmo sentido, Wambier (Curso avançado de

processo civil, v. 1, p. 568). 13

Manual dos recursos cíveis, p. 28.

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Existem também recursos previstos em leis especiais como (a) o

recurso inominado (Lei 9.099/1995, art. 41), (b) os embargos infringentes fiscais (Lei

6.830/1980, art. 34), (c) os embargos de divergência previstos na Lei Complementar

35/1979 (art. 101, §§ 1o e 3

o, alínea „a‟) e (d) o pedido de uniformização de interpretação

de lei federal insculpido no art. 14 da Lei 10.259/2001 (Lei dos Juizados Especiais

Federais) e agora mais recentemente nos arts. 18-19 da Lei 12.153/2009 (Lei dos Juizados

Especiais da Fazenda Pública Estadual, Distrital e Municipal).

7. CLASSIFICAÇÕES MAIS COMUNS:

7.1. QUANTO AO MOMENTO:

No que tange ao momento da interposição, o recurso pode ser

principal ou adesivo.

Principal é o recurso interposto dentro do prazo ordinário que a

parte detém para tal.

Adesivo é aquele interposto em caso de sucumbência recíproca na

segunda oportunidade recursal prevista, que é o momento para apresentação das contra-

razões (art. 500, inciso I). O recurso adesivo será objeto de estudo mais aprofundado

adiante.

7.2. QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO:

Sob esta ótica, o recurso poderá ter fundamentação livre ou

vinculada. Nos recursos de fundamentação livre basta que a parte preencha os requisitos

ordinários de admissibilidade (prazo, preparo, legitimidade, interesse, etc.) para sua

remessa à instância superior (exs.: apelação, agravo, recurso ordinário) e para seu

conseqüente conhecimento.

Já nos recursos de fundamentação vinculada a motivação da

inconformidade deve obedecer aos requisitos gerais, mas também aos específicos

constantes na lei ou na Constituição Federal – e esses requisitos geralmente são bem

rigorosos –, sob pena de não recebimento ou não conhecimento.

O recurso especial e o recurso extraordinário estão nessa última

categoria, posto que somente são recebidos e conhecidos quando o recorrente demonstra o

preenchimento dos requisitos estritos previstos nos arts. 102, inciso III (em rápida síntese,

a violação constitucional), e 105, inciso III (em suma, a mácula à Lei Federal), da

Constituição Federal, respectivamente.

7.3. QUANTO AOS EFEITOS:

Levando-se em conta os seus efeitos, os recursos podem ainda ser

classificados como suspensivos ou não suspensivos. Serão suspensivos (“recursos

potentes”) ou não suspensivos (“recursos impotentes”), conforme impeçam ou não a

execução do julgado na sua pendência na instância superior.

São recursos tipicamente suspensivos, por exemplo, a apelação (art.

520) e o recurso ordinário (art. 540), visto que impedem como regra a efetivação provisória

do que consta no ato recorrido na sua pendência.

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De outro lado, são recursos não suspensivos o agravo (art. 527,

inciso III), o recurso especial e o extraordinário (art. 542, § 2º). Em geral, esses recursos

impotentes admitem que a decisão recorrida seja efetivada provisoriamente na sua

pendência.

7.4. QUANTO AO OBJETO TUTELADO:

Sob essa ótica, poderão ser ordinários (apelação, agravo etc.) ou

extraordinários (recurso especial e extraordinário), conforme defendam diretamente o

direito subjetivo da parte (admitindo a discussão de matérias fáticas) ou o direito objetivo

(inadmitindo a discussão de matérias fáticas14

).

8. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS:

Requisitos de admissibilidade são os pressupostos básicos que um

recurso deve preencher para que o órgão revisor – um Tribunal de Justiça ou um Tribunal

Regional Federal, por exemplo – possa apreciar o seu mérito.

Em termos mais simples, assim como a ação está subordinada a

condições (“condições da ação”) e o processo está sujeito a diversos pressupostos

(“pressupostos processuais”), sob pena de extinção do mesmo sem resolução de mérito

(art. 267, incisos IV e VI), os recursos também têm seu conhecimento subordinado a

requisitos de admissibilidade, como o interesse do recorrente (só aquele que saiu vencido

na causa pode recorrer), o preparo (pagamento das despesas exigidas para recorrer) e a

tempestividade (interposição do recurso no prazo previsto em lei).

Greco Filho, com sua costumeira didática, chega a sustentar que os

pressupostos dos recursos “não são mais do que as condições da ação e os pressupostos

processuais reexaminados em fase recursal e segundo as peculiaridades dessa etapa do

processo”.15

São várias as classificações criadas pela doutrina nacional para os

pressupostos ou requisitos recursais, contudo, a mais didática é a que os subdivide em

subjetivos e objetivos.16

Os requisitos recursais subjetivos são aqueles que dizem respeito à

pessoa do recorrente, abrangendo a legitimidade e o interesse recursal.

Já os pressupostos objetivos “dizem respeito ao recurso em si

mesmo”,17

e englobam a adequação, a recorribilidade, a tempestividade, o preparo e a

regularidade formal.

14

Súmula 7, do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. 15

Direito processual civil brasileiro, v. 2, p. 266. 16

Esta subdivisão é adotada tradicionalmente por Moacir Amaral Santos (Primeiras linhas de direito

processual civil, v. 3, p. 85), Vicente Greco Filho (Direito processual civil brasileiro, v. 2, p. 266) e

Humberto Theodoro Júnior (Curso de direito processual civil, v. 1, p. 555), entre outros. Recomenda-se,

contudo, a análise da interessante classificação capitaneada por Barbosa Moreira (O novo processo civil

brasileiro, p. 135), que considera a existência de pressupostos recursais intrínsecos (atinentes à própria

existência do direito de recorrer) e extrínsecos (relativos ao exercício do direito de recorrer), que muito pouco

se divorcia da referida no texto principal. 17

Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 3, p. 85.

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Por ser essencial à compreensão da matéria, passo ao exame

individualizado de cada um deles adiante, iniciando pelos requisitos subjetivos

(legitimidade recursal e interesse recursal) e passando aos requisitos objetivos (adequação,

recorribilidade, tempestividade, preparo e regularidade formal).

8.1. REQUISITOS SUBJETIVOS:

8.1.1. LEGITIMIDADE:

Nos termos do art. 499 do Código de Processo Civil, o recurso

somente pode ser interposto pela parte vencida (autor, réu, interveniente, litisconsorte,

arrematante etc.), pelo terceiro prejudicado (aquele que tem interesse jurídico na alteração

da decisão, mas não participou da relação jurídico-processual)18

e pelo Ministério Público.

Esclareça-se desde logo que o “recurso do terceiro prejudicado” é

uma modalidade facultativa de intervenção de terceiro, somente admissível quando esse (o

não-parte) demonstre a existência do “nexo de interdependência” (art. 499, § 1o) entre o

seu prejuízo e a sentença (o prejuízo é uma conseqüência da sentença).

Diz-se que referido instituto constitui uma faculdade porque o

terceiro bem poderá, ao invés de se valer do recurso regulado no art. 499, § 1º, utilizar

originariamente os meios autônomos de impugnação para defender seu direito,19

como o

ajuizamento de embargos de terceiro, de ação declaratória ou até mesmo de um mandado

de segurança (STJ, Súmula 202).

De acordo com a doutrina predominante qualifica-se como terceiro

juridicamente interessado a recorrer aquele que poderia ter se habilitado como assistente,

simples ou litisconsorcial, mas não o fez até a sentença (art. 50),20

como seria o caso do

herdeiro não integrado à relação processual que recorre para afastar a condenação do

espólio ao pagamento de dívida.21

Defendo, porém, o posicionamento de que deve se dar uma

interpretação mais ampla ao instituto, permitindo-se o recurso não somente do chamado

“assistente atrasado” (exemplo citado acima), mas também daquele que poderia ter sido

denunciado da lide, ou chamado ao processo (mas que não foi), entre outros que sejam

18

Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 3, p. 94 e Gilson Delgado Miranda (Marcato,

p. 1526). 19

Cf. Marcato, Código de processo civil interpretado, p. 1526. 20

Cf. Nery Junior (Código de processo civil comentado, 2006, p. 717), Gilson Delgado Miranda (Marcato,

Código de processo civil interpretado, p. 1526) e Nelson Luiz Pinto (Manual dos recursos cíveis, p. 63). 21

Essa foi uma das questões da 2ª Fase do Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás do ano

de 2006 (valendo 2,0 pontos), vejamos: “Ulisses, irmão de Orestes, ajuizou em face deste com o objetivo

de reaver determinado bem, sob fundamento que é titular do domínio. No primeiro grau o pedido foi

julgado procedente. Hermes, irmão dos contendores, interpõe recurso na qualidade de terceiro

prejudicado, a fim de que não seja reconhecido o direito de Ulisses, mas o seu. Argumenta que o bem

objeto da demanda lhe pertence, pois o adquiriu com recursos próprios, através de venda e compra

celebrada com Zeus. Indaga-se: Hermes está legitimado a recorrer? Justifique” (aparentemente, o

examinador pretendia que o candidato respondesse que o recurso de terceiro prejudicado – previsto no art.

499, § 1º do Código de Processo Civil – não era remédio adequado à espécie, pois Hermes tinha uma

pretensão própria, autônoma, contraposta à dos contendores, daí porque deveria ter apresentado “oposição

imprópria”, e não recurso de terceiro prejudicado, que é mais adequado para aquele que tem interesse reflexo

na causa, lutando em favor de alguma das partes, como se fosse um assistente “atrasado”).

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atacados pela eficácia natural da sentença (exs.: seguradora não denunciada da lide que

recorre para ver a condenação do segurado ser afastada, evitando ação de regresso; devedor

principal não chamado do processo pelo fiador que recorre para reverter condenação deste,

visando também obstar futura ação de regresso etc.).

Há uma lógica nesse raciocínio posto que esse que poderia ser

denunciado da lide ou chamado ao processo (mas não foi), teria a faculdade de ingressar no

feito como assistente, pois dispõe de interesse jurídico em que a sentença seja favorável a

uma das partes (art. 50). Contudo, não ingressou em tempo oportuno, daí porque reputo

perfeitamente possível que apresente o comentado recurso na condição de terceiro

juridicamente prejudicado.

O Ministério Público terá legitimidade para interpor recurso tanto

como parte principal, como na condição de interveniente (quando é conhecido como custos

legis ou fiscal da lei), nos termos da Súmula 99, do Superior Tribunal de Justiça.22

8.1.2. INTERESSE (sucumbência):

Assim como o interesse processual, que é condição da ação, o

interesse recursal pressupõe a necessidade de interposição de recurso, o que é

materializado pela “derrota” na decisão recorrida.23

Terá portanto interesse em recorrer

aquele que não logrou no processo tudo o que poderia ter obtido, figurando, portanto, na

condição de sucumbente.

Destarte, a título de exemplo, se o julgamento foi de improcedência

(pediu R$20.000,00 e não ganhou nada) ou de procedência parcial (pediu R$30.000,00 e

ganhou apenas R$20.000,00), terá o autor, claramente, interesse em recorrer, pois terá sido

sucumbente totalmente no primeiro caso e parcialmente no segundo.

Há, como se vê, uma regra geral que no sistema recursal civil

brasileiro segundo a qual a sucumbência se afere pelo que consta no dispositivo da decisão,

da sentença ou do acórdão, pouco importando quais foram os fundamentos utilizados para

se chegar a essa conclusão.

Em virtude disso, será “vencedor” o autor que veja o juiz julgando

seu pedido procedente, ainda que por razões diversas das indicadas em suas petições (ex.:

autor pede nos memoriais a condenação do réu com base na prova pericial, mas juiz o

condena com base na prova documental e testemunhal colhida na instrução); da mesma

forma, não será sucumbente o réu se o juiz julgar o pedido improcedente por motivos não

apontados na defesa (ex.: réu pede a improcedência por não haver praticado o

atropelamento, mas o juiz, embora reconhecendo que o réu foi o autor do ilícito, julga

improcedente o pedido admitindo a insuficiência de prova sobre a culpa do mesmo).

O autor, no primeiro caso, não poderá recorrer, e o réu, no segundo,

também não, justamente porque não detém eles interesse no recurso, não tendo figurado

tecnicamente como sucumbentes.

22

“O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda

que não haja recurso da parte”. 23

Para Alexandre Freitas Câmara o interesse recursal abrange, além da necessidade (sucumbência), também

a adequação do recurso interposto (Lições de direito processual civil, v. 2, p. 68). Na classificação adotada no

texto principal, porém, a adequação figura entre os requisitos objetivos dos recursos (infra).

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12

Em suma, percebe-se que a sucumbência se mede pelo dispositivo,

e não pelos motivos da decisão, de sorte que somente cabe recurso para aquele que teve um

dispositivo prejudicial ao seu interesse. Essa é, como já disse, a regra de nosso código.

Contudo, existem pelo menos duas exceções a essa restrição. Há

efetivamente dois casos em que o réu, embora tenha saído “vencedor” quanto ao

dispositivo da sentença (vale dizer, ocorreu o julgamento de improcedência do pedido

principal), pode recorrer para obter uma alteração de fundamentação.

Refiro-me às hipóteses previstas nos arts. 18, da Lei 4.717/1965

(conhecida como “Lei da Ação Popular”),24

e 16 da Lei 7.347/1985 (chamada “Lei da

Ação Civil Pública”),25

nas quais haverá uma sucumbência especial do réu se o pedido for

julgado improcedente por insuficiência de provas.

É que este fundamento utilizado para a sentença de improcedência

– a “insuficiência de provas” – admite que a ação popular e a ação civil pública sejam

novamente intentadas mesmo que já tenha havido o trânsito em julgado, caso algum dos

legitimados logre encontrar novas provas, conforme prevêem aludidos artigos de lei. Em

casos que tais, a coisa julgada vem, por assim dizer, acompanhada de uma cláusula rebus

sic standibus, de modo que será ela dotada de uma imutabilidade relativa, passível de

alteração se o contexto probatório for alterado.

Mas se outro for o fundamento da improcedência, como por

exemplo o reconhecimento da legalidade do ato praticado pelo réu, a sentença, após o

trânsito em julgado, se tornará efetivamente imutável, sem possibilidade de alteração pelos

meios ordinários, mesmo que haja nova prova. A coisa julgada material, afora sua

característica erga omnes, será aquela tradicionalmente tratada no art. 467 do código.

Nota-se, então, que haverá pleno interesse de o réu recorrer contra

a sentença de improcedência na ação popular ou na ação civil pública, se o seu fundamento

tiver sido a insuficiência de provas, objetivando a sua alteração (poderá pedir, por

exemplo, que a improcedência seja mantida, mas com base na licitude do ato, como visto

acima), o que trará o benefício de proibir o autor, após o trânsito em julgado, de renovar a

ação, mesmo que tenha novas provas.

É como nos ensina Marcos Vinicius Rios Gonçalves:

“Em casos excepcionais, quando a fundamentação repercutir sobre

a situação jurídica das partes, e até sobre a formação da coisa julgada, admitir-se-á

a interposição de recurso, com o exclusivo fim de alterá-la. É o que ocorre nas

ações coletivas, em que há coisa julgada secundum eventum litis (...). Por isso,

deve-se reconhecer ao réu a possibilidade de apelar de sentença de improcedência,

24

“A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação

julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra

ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova” (destaque meu). 25

“A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator,

exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer

legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”

(destaquei).

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fundada em insuficiência de provas, para alterar-lhe a fundamentação, de sorte que

o provimento fique sujeito à autoridade da coisa julgada material”.26

Passando ao exame da figura do Ministério Público, tudo que se

disse se aplica ao mesmo, quando funcione na condição de parte principal (órgão agente).

Mas quando participa da relação processual como fiscal da lei predomina o entendimento

de que prescinde-se de “demonstração de interesse recursal, ou seja: pode recorrer ainda

que contra os interesses do pólo da relação processual que justificou sua intervenção”,27

desde que o faça com fundamento em interesse público ou da sociedade, não sendo ele

obrigado a defender o “mau direito”.28

Concordo em parte com tal raciocínio. Admito que o Ministério

Público, como fiscal da correta aplicação da lei, não pode mesmo ficar a mercê dos

interesses daquele que legitimou a sua intervenção, tendo ele independência funcional

garantida na Constituição Federal (art. 127, § 1º). Agora, o que entendo pertinente

estabelecer é que essa atuação contrária à parte “protegida” deve ser sempre excepcional,

somente levada a cabo quando presente uma situação de violação à ordem pública e aos

bons costumes, e nunca em favor de interesses meramente patrimoniais da parte contrária.

Poder-se-ia imaginar um exemplo em que o incapaz, que legitimou

a intervenção do Ministério Público, pleiteasse quantia devida em razão de dívida oriunda

de tráfico de drogas ou de alguma origem ilícita similar, e obtivesse ganho de causa.

Obviamente seria de se admitir o recurso ministerial, visto que evidente essa mácula à

norma cogente.

Agora, um recurso do Ministério Público alegando a prescrição em

desfavor do incapaz seria inadmissível, não se podendo identificar a existência de interesse

recursal em tal situação prática.

Interessante posição – ligeiramente mais restritiva que a minha,

diga-se de passagem – defende Hugo Nigro Mazzilli, cujos argumentos faço questão de

transcrever:

“É protetiva a atuação ministerial, quando decorra da qualidade da

parte (...). Não pode, porém, argüir prescrição de direitos patrimoniais em favor da

parte contrária, pois estaria defendendo interesses disponíveis, de pessoa maior e

capaz; se recorresse em favor da parte contrária, estaria zelando por interesses

patrimoniais disponíveis que não lhe incumbe defender. Isso não impede que possa

opinar livremente, caso regularmente argüida prescrição ou interposto recurso

contra os interesses do incapaz. Eventual proteção não significa auxílio para

locupletação ilícita do incapaz. O que não pode é tomar iniciativa de impulso

processual (exceções, embargos, recursos) em favor de interesses disponíveis da

parte contrária, maior e capaz”.29

8.2. REQUISITOS OBJETIVOS:

8.2.1. ADEQUAÇÃO:

26

Novo curso de direito processual civil, v. 2, p. 45-46. 27

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 27. 28

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 67. 29

Introdução do Ministério Público, p. 166 (o destaque não consta no texto original).

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Adequação recursal – ou “cabimento” do recurso – é a

possibilidade jurídica do recurso. Existe um recurso próprio para cada espécie de decisão.

Diz-se, por isso, que o recurso é cabível, próprio ou adequado

quando corresponda à previsão legal para a espécie de decisão impugnada (exs.: da

sentença caberá apelação nos termos do art. 513 e da decisão interlocutória caberá agravo,

na forma do art. 522).

O eventual erro do recorrente na escolha do recurso gerará,

portanto, a inadmissibilidade do mesmo, salvo se for possível a aplicação do conhecido

“princípio da fungibilidade recursal”.

Embora o Código de Processo Civil de 1973 seja omisso a respeito

do assunto, é certo que a jurisprudência tem efetivamente admitido, em alguns casos, o

recebimento de um recurso (equivocado) por outro (o correto), como decorrência desse

princípio da fungibilidade, que era previsto no Código de Processo Civil de 1939 (art.

810).

A incidência desse princípio, que autoriza o recebimento de um

recurso por outro, entretanto, somente tem sido admitida quando evidenciada a inexistência

de má-fé da parte, a existência de dúvida objetiva sobre o recurso cabível (como ocorre no

caso previsto no art. 395 do Código de Processo Civil e na concessão da antecipação de

tutela no bojo da sentença de mérito) e desde que o prazo do recurso correto tiver sido

observado.

Caso concreto de aplicação do princípio poderia ser um daqueles

em que a parte, com dúvida acerca sobre o recurso cabível contra a decisão do incidente de

falsidade (art. 395),30

apresentasse uma apelação, quando correto seria o agravo. Aqui seria

possível que se recebesse um recurso (a apelação) como se agravo fosse desde que

apresentada dentro do prazo menor (o do agravo, que é de dez dias), procedendo-se as

necessárias adaptações.

8.2.2. RECORRIBILIDADE:

Somente os atos judiciais impugnáveis é que podem ser atacados

por recurso. Sendo assim, somente as decisões interlocutórias, sentença e acórdãos podem

ser objurgados por recursos, mas nunca os despachos, que são irrecorríveis (art. 504, já

com redação outorgada pela Lei 11.276, de 07 de fevereiro de 2006).

É bom, porém, notar que existem também algumas decisões

interlocutórias (arts. 519, parágrafo único, e 543, §§ 2º e 3º) e sentenças (art. 865)

irrecorríveis por força de lei.

Enfim, em que pese a afirmada irrecorribilidade de despachos,

parte da doutrina admite a oposição de embargos de declaração contra os simples

despachos (destaque para Luiz Rodrigues Wambier e Fredie Didier Jr).

30

Veja-se que o art. 395, do Código de Processo Civil, realmente induz o intérprete a concluir que o

incidente de falsidade é julgado por sentença, o que nem sempre é verdade (conforme já afirmei

anteriormente, quando examinei o tema), pelo que há uma dúvida objetiva sobre se cabe apelação ou agravo

para questionar o ato decisório.

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8.2.3. TEMPESTIVIDADE:

Todo recurso tem um prazo (ou um momento) para ser interposto e

a sua inobservância pelo recorrente acarreta naturalmente o não recebimento ou o não

conhecimento do inconformismo. O prazo é, pois, um dos requisitos objetivos de

admissibilidade do recurso.

Este prazo, no processo civil, é geralmente de 15 (quinze) dias (art.

508), mas existem previsões excepcionais como a referente ao agravo (10 ou 5 dias,

conforme sua natureza – arts. 522 e 545)31

e aos embargos de declaração (5 dias, conforme

dita o art. 536).

Devem ser naturalmente observadas as exceções subjetivas

previstas nos arts. 188 (prevê prazo em dobro para o Ministério Público e para a Fazenda

Pública recorrerem32

),33

191 (estabelece prazo em dobro para os litisconsortes com

procuradores diferentes), do Código de Processo Civil, e 5o, § 5

o da Lei 1.060/1950

(concede prazo em dobro para o Defensor Público ou quem exerça cargo equivalente).

Todavia, é bom registrar quanto à ampliação prevista no art. 191 do

Código de Processo Civil que não “se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um

dos litisconsortes haja sucumbido” (STF, Súmula 641).34

Qualquer que seja o prazo para recurso contar-se-á o mesmo (a) da

leitura da decisão em audiência, (b) da intimação das partes, quando não proferida em

audiência ou (c) da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial (art. 506, já com

redação outorgada pela Lei 11.276, de 7 de fevereiro de 2006).

Esclareça-se, por oportuno, que se reputa “intimado o advogado na

audiência quando nela é publicada a sentença, fluindo daí o prazo recursal”, sendo

irrelevante o fato do eventual não comparecimento, desde que tenha havido prévia

intimação, através do causídico, para o ato.35

Caso a intimação se dê pelo “Diário da Justiça Eletrônico” (Dje),

será considerado como data da “publicação” o primeiro dia útil seguinte ao da

disponibilização da informação; nesta hipótese, os prazos processuais terão início o

31

Não é demais lembrar neste particular que o “agravo retido oral obrigatório”, previsto no art. 523, § 3º, do

Código de Processo Civil, deve ser interposto não em dez ou em cinco dias, mas “imediatamente” após a

prolação da decisão que prejudicou a parte recorrente, sob pena de preclusão. 32

Apenas para efetivamente “recorrer” (interpor recurso), mas não para “contra-arrazoar” (responder) o

recurso interposto pela parte contrária, conforme entendimento predominante. 33

Inclusive a “Fazenda Pública e o Ministério Público têm prazo em dobro para interpor agravo regimental

no Superior Tribunal de Justiça” (STJ, Súmula 116). 34 (Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2004, questão 49) Assinale a alternativa

incorreta: (a) O prazo para o litisconsorte recorrer será contado em dobro, ainda que apenas um tenha sido

sucumbente (alternativa incorreta no gabarito oficial – sugere-se a leitura da Súmula 641 do STF, bem

como os arts. 182, 184 e 192 do Código de Processo Civil); (b) São dilatáveis, a critério do juiz, quaisquer

prazos, dilatórios ou peremptórios, nas comarcas onde for difícil o transporte; (c) Feita a intimação no

domingo, o primeiro dia do prazo, havendo expediente na segunda-feira, será a terça-feira; (d) Quando a lei

não assinalar outro prazo, as intimações somente obrigarão a comparecimento depois de decorridas vinte e

quatro horas. 35

TJGO, APC n. 82.463-3/188, Rel. Des. Leobino Valente Chaves, acórdão de 23.11.2004.

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primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação (Lei 11.419/2006, art.

4º, §§ 3º e 4º).

Convém enfim observar que para o réu revel, pessoalmente citado,

o prazo recursal correrá independentemente de qualquer intimação, a partir da simples

publicação da sentença em cartório ou em audiência (art. 322, já com redação outorgada

pela Lei 11.280/2006).36

Para que se evitem omissões, registre-se enfim que sendo comum

às partes o prazo, “só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos autos,

poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de cópias para a

qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 1 (uma) hora

independentemente de ajuste” (art. 40, § 2º).37

A parte final do preceito transcrito se encarregou, finalmente, de

regulamentar a chamada “carga rápida”, criando o direito de retirada dos autos de cartório

por uma hora, ainda que se trate de caso de prazo comum às partes, que geralmente existe

na hipótese de sucumbência recíproca (já estudada anteriormente).

8.2.4. PREPARO:

Preparo é o pagamento das custas relativas à interposição do

recurso, quando exigidas por norma legal ou regimental.

Atualmente, a comprovação do preparo – inclusive “porte de

remessa e de retorno” dos autos – deverá ser feita no ato de interposição,38

sob pena de

preclusão consumativa39

(art. 511),40

pelo que se diz na doutrina que houve adoção do

sistema do “preparo imediato” ou do “preparo simultâneo”.41

A falta de efetivação do preparo ou de sua comprovação nos autos

acarreta a deserção (art. 511, caput), com a decorrente negação de seguimento ao recurso,

salvo hipótese excepcional de relevação da pena de deserção na forma do art. 519 do

Código de Processo Civil.

36

(Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2000, questão 23) O prazo recursal para o réu

capaz e revel citado pessoalmente: (a) Correrá mesmo sem intimação (resposta certa segundo o gabarito

oficial – recomenda-se consulta ao art. 322 do Código de Processo Civil); (b) Somente começa a correr a

partir da intimação do curador especial; (c) Só começa a correr a partir do primeiro dia útil após o edital de

intimação; (d) N. D. A. 37

O preceito já está com sua nova redação outorgada pela Lei 11.969/2009, mas o destaque não consta no

original. 38

Não se deve olvidar que nos Juizados Especiais Cíveis vige regra diversa segundo a qual o preparo recursal

deverá ser efetuado não no ato de protocolo da petição de recurso, mas “nas 48 (quarenta e oito) horas

seguintes à interposição, independentemente de intimação” (Lei 9.099/1995, art. 42, § 1o).

39 STJ, REsp 631.111-RN, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em 9.8.2005, REsp 474.085-RS, DJ de

25.2.2004, REsp 177.539-SC, DJ de 13.3.2000 e TJGO, APC n. 92.663-3/188, Rel. Des. João Waldeck Félix

de Sousa, DJ de 16.01.2006. 40

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 18) O preparo deve ser comprovado no ato de

interposição do recurso. Se este se der em momento diverso, dar-se-á: (a) Preclusão lógica; (b) Preclusão

consumativa; (c) Prescrição; (d) Decadência; (e) Perempção (a alternativa “b” está correta, nos termos do

ensinamento constante no texto principal). 41

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, pp. 73-74.

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Independem, todavia, de preparo os embargos de declaração (art.

536), o agravo retido (art. 522, parágrafo único) e o agravo nos próprios autos contra a

inadmissão de recurso especial e extraordinário (CPC 544 § 2º).

Também serão dispensados do preparo os recursos interpostos

pelas Fazendas Públicas, pelo Ministério Público e pelos beneficiários da assistência

judiciária (Lei 1.060/1950); os recursos interpostos nas causas que tramitam pelo Juizado

da Infância e da Juventude também são isentos de preparo, nos termos do art. 141, § 2º, da

Lei 8.069/1990 (“Estatuto da Criança e do Adolescente”).

8.2.5. REGULARIDADE FORMAL:

No termo “regularidade formal” estão abrangidas a interposição do

recurso por petição escrita (salvo o caso do agravo retido oral, regulado no art. 523, § 3º), a

formulação de pedido de reforma ou invalidação da decisão, a juntada de peças

obrigatórias no agravo (art. 525, inciso I), a apresentação clara das razões recursais, a

comprovação da existência do acórdão paradigma no caso do art. 541, parágrafo único,

dentre outras obrigações processuais relevantes que devem ser examinadas tendo em conta

o recurso especificamente.

Trata-se da “vala comum” alusiva a todas as demais exigências

gerais e específicas dos recursos.

Já se admite, sem que se possa falar em irregularidade formal, a

interposição de recursos por fac-símile, desde que o original seja entregue em juízo até

cinco dias após o fim do prazo originalmente previsto (Lei 9.800/1999, art. 2º, caput),

ainda que o fac-símile tenha sido remetido e recebido no curso desse prazo.42

Há divergência sobre se o recurso em autos físicos pode ser

interposto por e-mail, existindo julgados admitindo (STJ, Edcl 389.941-SP e TST, AIRR

n 1.164/2002017-15-40.9, desde que se envie o original em cinco dias) e outros recusando

essa possibilidade (STJ, REsp 675.863 e AgRg no Ag 425.792-MG); registre-se, porém,

que se estivermos diante do Processo Judicial Digital (“PROJUDI”) o recurso somente

poderá ser interposto pela via eletrônica, não se admitindo o protocolo “em papel” (Lei

11.419/2006, art. 10).

Além de tudo que foi dito, o recurso deve ser subscrito por

advogado com procuração nos autos, sob pena de ser considerado inexistente, nos termos

do entendimento estampado na Súmula 115, do Superior Tribunal de Justiça, que deve

reger qualquer espécie de recurso, e não apenas o especial.43

9. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS:

Vistos os requisitos de admissibilidade dos recursos, passemos ao

estudo do juízo de admissibilidade dos recursos.

O juízo de admissibilidade consiste no exame procedido pelo juízo

a quo e pelo juízo ad quem acerca do preenchimento, pelo recorrente, dos requisitos

42

Nesse sentido: STJ, EREsp 640.803-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgados em 19.12.2007. 43

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 225.

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previstos na lei processual para admissão e processamento do recurso eventualmente

interposto.

Nessa oportunidade, primeiramente o juízo prolator e, em seguida,

a instância superior procede rigorosa análise da obediência aos requisitos subjetivos

(legitimidade e interesse) e objetivos (preparo, tempestividade, adequação etc.) relativos ao

recurso interposto, podendo o mesmo ser recebido (juízo de admissibilidade positivo) ou

denegado (juízo de admissibilidade negativo).

9.1. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE POSITIVO:

O juízo de admissibilidade positivo abrange o recebimento e o

conhecimento do recurso interposto, para posterior investigação de mérito.

“Recebimento” é ato do juízo de interposição, praticado antes,

evidentemente, da remessa do recurso ao órgão julgador.

O “conhecimento” é o mesmo juízo de admissibilidade positivo,

mas agora levado a efeito no órgão julgador (coletivamente), imediatamente antes de

examinar o seu mérito.44

Um exemplo simples esclarecerá o que foi dito acima: numa

apelação cível, o juízo a quo (juiz prolator) a “receberá” se presentes os pressupostos de

admissibilidade, determinando a remessa ao tribunal; no tribunal, a câmara competente, se

também se convencer da presença dos requisitos de admissibilidade do recurso, o

“conhecerá” e passará ao exame de mérito, ocasião em que poderá provê-lo (dar “ganho”

ao apelante, reformando ou anulando a sentença) ou improvê-lo (manter a sentença, dando

“ganho de causa” ao apelado).

9.2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NEGATIVO

Por outro lado, pode a negação do recurso ocorrer no juízo a quo

(fala-se tecnicamente em “não recebimento”) ou no juízo ad quem (situação que se

denomina de “não conhecimento”), tendo o efeito em qualquer caso de não permitir o

seguimento do recurso rumo ao julgamento de seu mérito.

9.3. SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO:

Também é uma espécie de juízo negativo do recurso de apelação a

aplicação da chamada “súmula impeditiva de recurso” prevista no art. 518, § 1º, do Código

de Processo Civil.

Com base em aludido preceito, o juiz deixará de receber o recurso

de apelação “quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior

Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal” (exs.: a apelação contra a sentença

44

(8º Concurso para ingresso na Procuradoria do Estado de Goiás, questão 51) Sobre o conhecimento e o

provimento de recurso é possível afirmar que: (a) São conseqüências do julgamento recursal sem diferença

de conteúdo; (b) Ambos dizem respeito ao juízo de admissibilidade; (c) Só o conhecimento é juízo de

admissibilidade (alternativa correta no gabarito oficial – deve-se lembrar que, como dito no texto

principal, “conhecimento” é a declaração formal do órgão colegiado de que o recurso preenche os

requisitos de admissibilidade; “provimento” significa que o órgão julgador acolheu as razões de mérito

do recurso); (d) Só o provimento é juízo de admissibilidade.

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19

que julgou o pedido improcedente com base no entendimento consolidado na Súmula 214

do STJ45

não será recebida; o mesmo ocorrerá com a apelação interposta contra a sentença

que julgou o pedido parcialmente procedente aplicando a Súmula 246 do mesmo

tribunal46

).

Sendo assim, a par de verificar os requisitos recursais de

admissibilidade tradicionais (exs.: interesse recursal, legitimidade, tempestividade, preparo

etc.), o juiz de primeira instância poderá também analisar se o recurso confronta com

súmula de tribunal superior para efeito de “barrar” a sua remessa à segunda instância.

Existem dois entendimentos sobre a natureza desse exame

negativo. Para Cássio Scarpinella Bueno, trata-se de parte integrante do juízo de

admissibilidade (é análise de cunho formal), primeiro por interpretação gramatical,

segundo porque o modelo constitucional brasileiro poderia estar sendo violado.47

Para Luiz Rodrigues Wambier, o recurso no caso não é indeferido

por ausência de pressuposto de admissibilidade, “já que saber se a sentença está ou não em

consonância com um entendimento sumulado pelo STF ou pelo STJ é uma questão

atinente ao juízo de mérito do recurso”.48

9.4. JUÍZO NEGATIVO DE MÉRITO E PROVIMENTO MONOCRÁTICO:

Atualmente, poderá também o relator, nos termos do art. 557, caput

(com redação determinada pela Lei 9.756/1998), monocraticamente, negar seguimento a

recurso manifestamente inadmissível (intempestividade, falta de preparo, falta de interesse

etc.), improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência

dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

A par disso, se “a decisão recorrida estiver em manifesto confronto

com a súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de

Tribunal Superior, o relator poderá” também singularmente “dar provimento ao recurso”

(art. 557, § 1º-A, com redação dada pela Lei 9.756/1998).

Em tais casos, deve-se ver que o relator julgará monocraticamente

(singularmente, isoladamente, “em gabinete”) o recurso, deixando de levar os autos à

apreciação colegiada na turma, câmara ou seção, o que constitui exceção em nosso sistema

de julgamentos coletivos nos tribunais.

As disposições aludidas aplicam-se ainda ao reexame necessário,

nos termos da Súmula 253 do Superior Tribunal de Justiça.

Contra estes atos do relator, caberá agravo interno no prazo de 5

(cinco) dias dirigido ao órgão colegiado competente para o julgamento do recurso

originário (art. 557, § 1º). Não havendo retratação, o relator apresentará o processo em

mesa, proferindo voto.

45

“O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu”. 46

“O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada”. 47

A nova etapa da reforma do código de processo civil, v. 2, p. 35. 48

Breves comentários à nova sistemática processual civil, v. 2, p. 226.

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20

Sendo manifestamente inadmissível ou infundado o agravo tratado

acima, será possível a imposição da pena de multa entre 1% a 10% do valor corrigido da

causa, “ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do

respectivo valor” (art. 557, § 2º).

O Superior Tribunal de Justiça tem como predominante o

entendimento de que as pessoas jurídicas de direito público (federal, estadual, distrital e

municipal) são isentas do pagamento da multa prevista no art. 557, § 2º, do Código de

Processo Civil,49

posto que tem a mesma natureza do depósito previsto no art. 488 do

mesmo diploma.

10. EFEITOS DOS RECURSOS:

Embora a doutrina tradicional se limite a catalogar dois efeitos dos

recursos, o devolutivo e o suspensivo (os chamados efeitos da interposição),50

modernamente tem sido obrigatoriamente comentados, além dos efeitos devolutivo e

suspensivo, o impeditivo, o regressivo, substitutivo, o translativo e o expansivo.51

Seguindo, então, essa hodierna vertente, passo à análise específica

dos efeitos dos recursos.

10.1. EFEITO IMPEDITIVO:

Fala-se na doutrina no relevante efeito impeditivo dos recursos. De

fato, deve-se reconhecer que o recurso, uma vez formalizado e interposto corretamente,

obstará a ocorrência da preclusão ou mesmo da coisa julgada com referência à decisão

recorrida.

Todos os recursos, desde que admissíveis, detém implicitamente

esta importante força impeditiva da formação da res judicata,52

“sendo uma característica

comum a todos eles”.53

Conforme ensinam Nery Junior e Barbosa Moreira, todavia, em

rigor o recurso não impede tecnicamente o trânsito em julgado, mas apenas adia (retarda) a

ocorrência desta circunstância, que é inevitável juridicamente (algum dia ocorrerá).

Somente após o fim desta eficácia impeditiva será eventualmente

admissível o ajuizamento da ação rescisória, passando-se a contar o prazo de 2 (dois) anos,

previsto no art. 495 do Código de Processo Civil, cabendo, contudo, lembrar do

entendimento pacificado na Súmula 401 do Superior Tribunal de Justiça (“O prazo

decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do

último pronunciamento judicial”).

10.2. EFEITO DEVOLUTIVO:

49

Nesse sentido: STJ, EREsp 907.919-PR, julgado em 19.08.2009, EREsp 695.001-RJ e EREsp 808.525-PR. 50

Nesse sentido: Amaral Santos (Primeiras linhas de direito processual civil, v. 3, p. 98) e Theodoro Júnior

(Curso de direito processual civil, v. 1, p. 565). 51

Cf. Nery Junior, Código de processo civil comentado, 2006, pp. 707-709. 52

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 76. 53

Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 81.

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21

Por esse efeito entende-se que o recurso interposto pela parte

entrega ao tribunal ad quem o conhecimento da matéria efetivamente impugnada (cf. art.

515, caput).

Em outras palavras, com a apresentação do recurso o Tribunal

respectivo passa a ter competência para reapreciar as todas questões decididas em primeira

instância, desde que expressamente impugnadas.

Basicamente todos os recursos, em maior ou menor escala, detém

este efeito.

Conhecem-se três espécies de recurso quanto à devolutividade, (a)

os reiterativos (ou devolutivos típicos), que são os apreciados apenas pelo órgão superior,

como é o caso geral da apelação e do recurso extraordinário, (b) os iterativos, em que a

apreciação se dá pelo próprio juízo prolator, como ocorre nos embargos de declaração (art.

536) e nos embargos infringentes previstos no art. 34 da Lei 6.830/1980, e (c) os mistos,

que são aqueles em que há permissão para o exercício do juízo de retratação pelo órgão

prolator, mas a apreciação se dá por órgão superior, como se vê no agravo de instrumento

(art. 529) ou na apelação contra o indeferimento liminar da petição inicial (art. 296, caput).

10.3. EFEITO TRANSLATIVO:

Translativo é o efeito que “autoriza o tribunal a julgar fora do que

consta das razões ou contra-razões do recurso, ocasião em que não se pode falar em

julgamento ultra, extra ou infra petita. Isto ocorre normalmente com as questões de

„ordem pública‟, que devem ser conhecidas de ofício pelo juiz e a cujo respeito não se

opera a preclusão”.54

Funda-se o mesmo nos arts. 515 e 516, segundo os quais o Tribunal

somente deve conhecer, ordinariamente, das questões expressamente impugnadas pela

parte recorrente (efeito devolutivo e princípio dispositivo), salvo em se tratando de

matérias de ordem pública (exs.: pressupostos processuais, condições da ação, decadência

etc.), sobre as quais deve se manifestar ainda que omisso o interessado, como decorrência

da mencionada translação obrigatória do recurso.

Em termos mais simples, é possível dizer que em virtude da

existência do efeito translativo é como se o recurso transportasse para o tribunal todas as

questões de ordem pública, ainda que a parte recorrente não tenha formulado pedido

expresso nesse sentido.

Seria uma espécie de “pedido implícito recursal” vertente sobre

todas as matérias de ordem pública (ex.: o autor, vencido parcialmente na primeira

instância, interpõe apelação pedindo a reforma da sentença para lhe outorgar toda a sua

pretensão; o tribunal reconhece de ofício a incompetência absoluta do juízo de primeira

instância, anulando a sentença).

Discute-se se os recursos excepcionais (recurso especial, recurso extraordinário e

embargos de divergência) também são dotados de efeito translativo, sendo certo que (a) há

quem sustente que eles não têm efeito translativo (Marcos Vinicius Rios Gonçalves),55

54

Nery Junior, Código de processo civil comentado, p. 821. 55

Novo curso de direito processual civil, v. 2, p. 85.

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22

pois é certo que a matéria não foi objeto de prequestionamento (STF),56

(b) há os que

dizem que eles têm efeito translativo, mas a matéria de ordem pública, para ser acatada,

deve ser sido prequestionada (Dinamarco)57

e (c) existem quem diga que o efeito

translativo existe e autoriza o reconhecimento da matéria de ordem pública (ainda que não

prequestionada), desde que o recurso excepcional tenha sido conhecido com base no

preenchimento do requisito previsto na Constituição Federal (violação federal ou

constitucional, conforme o caso) (Didier Jr),58

este é o entendimento do Superior Tribunal

de Justiça.59

10.4. EFEITO REGRESSIVO:

Regressivo é o efeito excepcional que permite ao próprio órgão

prolator da decisão reexaminá-la em caso de interposição de determinados recursos; trata-

se do efeito que permite que o juízo prolator exare do chamado “juízo de retratação”.

Por esse efeito, passa o juízo a quo a ter competência para exarar o

já mencionado juízo de retratação, podendo eventualmente reconsiderar o ato recorrido,

acatando as razões do recorrente.

Diz-se que o efeito regressivo é excepcional na medida em que ao

publicar a sentença o juiz não pode mais alterá-la (esta é a regra), salvo para corrigir erros

materiais e nos embargos de declaração (art. 463). A permissão para eventual

reconsideração da decisão figura, então, como uma terceira exceção ao lado dessas duas

outras.

Detém efeito regressivo no processo civil, a título exemplificativo,

(a) o agravo (art. 529), (b) a apelação de sentença terminativa por indeferimento da petição

inicial (art. 296), (c) a apelação interposta contra a sentença liminar de mérito (art. 285-A,

§ 1º, com redação outorgada pela Lei 11.277/2006) e (d) a apelação nas causas do Estatuto

da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990, art. 198, incisos VII e VIII).

10.5. EFEITO SUSPENSIVO:

Efeito suspensivo é aquele que impede que a decisão objurgada

produza sua eficácia durante a tramitação do recurso. Assim, detendo este efeito o recurso,

a sua interposição impedirá que a efetivação do julgado (seja condenatório, constitutivo ou

declaratório) se inicie durante a sua tramitação; ao contrário, se o recurso não tiver efeito

suspensivo, será possível a efetivação provisória do julgamento, mesmo na pendência do

recurso (CPC, art. 475-O).

Diz-se, portanto, que recurso que tem força de impedir a execução

provisória da decisão objurgada é potente (recurso com efeito suspensivo), enquanto que

aquele que não impede a execução na sua pendência é impotente (recurso sem efeito

suspensivo).

Como já afirmado, dispõem de efeito suspensivo como regra,

exemplificativamente, a apelação e o recurso ordinário (arts. 520, caput e 540). Não têm

56

STF, AI-AgR 633.188-MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 02.10.2007. 57

Instituições, pp. 632-635. 58

Nesse sentido: STJ, 36.943-6-RS, Rel. Min. Pádua Ribeiro, julgado em 17.11.1993. 59

STJ, REsp 949.204-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 11.11.2008.

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23

efeito suspensivo, em contrapartida, o agravo (art. 527, inciso II, a contrário senso), o

recurso especial, o recurso extraordinário (art. 542, § 2o) e o recurso inominado interposto

perante os Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/1995, art. 43).

10.6. EFEITO SUBSTITUTIVO:

Por força do efeito substitutivo a decisão sobre o recurso que se

fundamente no error in judicando, seja ela (a) de provimento para reformar a sentença,

seja (b) de improvimento (“confirmação da sentença”), substitui a decisão recorrida no que

tiver sido objeto do recurso. É justamente isso que determina o art. 512, segundo o qual o

“julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que

tiver sido objeto do recurso”.

Mas se o tribunal, diversamente, dá provimento ao recurso para

invalidar a decisão recorrida (alegação de error in procedendo) não haverá, obviamente,

substitutividade, pois a determinação será apenas de que outra decisão seja proferida pelo

juízo a quo. O acórdão em tal caso não substitui a decisão, mas apenas a anula (por vício

de condução processual) e restitui os autos à origem para continuidade do feito, corrigindo-

se o defeito formal praticado.

10.7. EFEITO EXPANSIVO:

Incide o chamado “efeito expansivo” ou “extensivo” quando a

apreciação do recurso interposto ensejar a prolação de acórdão mais abrangente do que o

reexame da matéria impugnada, podendo atingir outros objetos (expansão objetiva) ou

outras pessoas (expansão subjetiva). Podemos, então, falar em efeito expansivo objetivo

(interno ou externo) e subjetivo.

O efeito expansivo objetivo é uma espécie de pedido implícito

recursal, que pode produzir efeitos internos ou externos.

Existirá efeito expansivo objetivo interno, por exemplo, quando o

Tribunal, ao apreciar apelação interposta contra sentença de mérito, dá-lhe provimento e

acolhe preliminar de litispendência, julgamento que atingirá todo o ato impugnado

(sentença).

De outro lado, haverá o efeito expansivo objetivo externo quando o

julgamento do recurso atingir outros atos além do impugnado, o que ocorre com o

provimento do agravo, que atinge todos os atos processuais que foram praticados

posteriormente à sua interposição (como decorrência do princípio da propagação ou da

causalidade). Esse fenômeno costuma ser denominado também de “efeito retrooperante”.

Marcos Vinicius Rios Gonçalves esclarece bem essa última

situação:

“Por exemplo, se uma das partes requereu a produção de perícia, e

o juiz a indeferiu, caso em agravo seja alterada essa decisão, o processo retornará à

fase de instrução, para a realização da prova anteriormente indeferida. Com isso, os

atos subseqüentes, incompatíveis com a nova decisão perderão sua eficácia.

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24

Pode ser que, nesse ínterim, tenha havido sentença, que não

subsistirá, porque o processo retorna à fase em que a decisão atacada fora proferida.

Retrocede à instrução, e os atos subseqüentes perdem a eficácia”.60

Incidirá, enfim, o efeito expansivo subjetivo quando o julgamento

do recurso atingir outras pessoas além do recorrente e recorrido, conforme estabelece o art.

509, segundo o qual o “recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita,

salvo se distintos ou opostos os seus interesses” (ex.: um dos fiadores recorre da sentença e

obtém o reconhecimento da prescrição da obrigação principal, resultado que beneficiará a

todos os demais, mesmo que não tenham recorrido).

11. RECURSO ADESIVO (art. 500):

O recurso adesivo – em que pese sua nomenclatura – não é

considerado modalidade autônoma “recurso”, mas sim uma forma de interposição de

apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário e recurso especial em momento

diverso do original.61

O fundamento do recurso adesivo consiste permitir que a parte, no

caso de sucumbência recíproca (tanto o autor quanto o réu “perdem”), aguarde sem

prejuízos até o último momento que o adversário não recorra; caso este eventualmente

apresente seu recurso, remanescerá para aquele o direito de formular também um recurso

adesivo.

Como ensina Didier Jr:

“O recurso adesivo visa evitar, portanto, a interposição precipitada

do recurso pelo parcialmente vencido, graças à certeza de que terá nova

oportunidade de impugnar a decisão. Ambas as partes vêem-se incentivadas a

abster-se de impugnar a decisão, pois, recorrendo imediatamente, poderiam

provocar a reação de um adversário em princípio disposto a conservar-se inerte. É

um contra-estímulo ao recurso”.62

É comum criticar-se a nomenclatura deste fenômeno jurídico,

porquanto na verdade a parte realmente não adere ao recurso da outra, mas sim apresenta

recurso próprio e contraposto, mas subordinado ao conhecimento do recurso principal (art.

500, inciso III). Por isso é que se sugere na doutrina, como mais apropriada, a

denominação de recurso “subordinado” ou “contraposto”,63

ou então “incidente de

adesividade”.64

11.1. LEGITIMIDADE:

Somente estão legitimados a interpor recurso adesivo, (a) o autor,

(b) o réu e (c) o Ministério Público (quando atue como órgão agente), desde que sejam

sucumbentes em algum ponto (art. 500, caput).

60

Marcos Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de direito processual civil, v. 2, p. 35. 61

Nery Junior, Código de processo civil comentado, 2006, p. 719. 62

Didier Jr, Curso de direito processual civil, v. 3, p. 89. 63

Ary Ferreira de Queiroz, Direito processual civil, processo de conhecimento, p. 283. 64

Luiz Rodrigues Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 654.

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25

Não se admite, de outro lado, que o Ministério Público, quando

atue na condição de mero fiscal da lei, e o terceiro prejudicado interponham o recurso

adesivo,65

primeiro porque o citado art. 500, caput, é claro ao restringir a interposição a

“autor e réu” e, em segundo lugar, porque não figuram esses entes tecnicamente como

sucumbentes.66

Quanto ao terceiro prejudicado, deverá ele, caso queira impugnar a

decisão proferida entre outras partes, interpor recurso autônomo.

11.2. PRAZO:

O recurso adesivo deve ser interposto no prazo que a parte tem para

responder o recurso principal (art. 500, inciso I), sendo este denominado doutrinariamente

de “prazo adesivo”; não é mister que o recurso adesivo e as contrarrazões sejam

apresentados simultaneamente, basta que sejam aforados no prazo legal.67

O prazo para resposta ao recurso adesivo será o mesmo

originariamente previsto para contra-razões do recurso principal.

A Fazenda Pública terá prazo em dobro também para apresentar

recurso adesivo, conforme entendimento predominante.68

11.3. ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ADESIVO:

O recurso adesivo, como já visto, se subordina (a) à existência de

sucumbência recíproca (ambas as partes são vencedoras e vencidas, reciprocamente), (b) a

não interposição de recurso por uma das partes no prazo legal e (c) a existência de recurso

principal da parte contrária no que tange ao seu prejuízo.

Somente se admite a interposição de recurso adesivo em sendo o

recurso principal de apelação, de embargos infringentes, recurso especial e recurso

extraordinário (art. 500, inciso II).69

Não cabe recurso adesivo no “recurso inominado” interposto contra

a sentença proferida pelos juízes de Juizados Especiais Cíveis, conforme afiança a doutrina

(Daniel Assumpção) e o Enunciado 88 do FONAJE.

Parte da doutrina admite a interposição de recurso adesivo nos

casos de recurso ordinário constitucional (CF, arts. 102, inciso II e 105, inciso II), que é

65

Nesse sentido: Daniel Assumpção, Manual de direito processual civil, p. 573. 66

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, pp. 84-85. 67

Daniel Assumpção, Manual, p. 574. 68

Nesse sentido: na jurisprudência, STJ, REsp 171.543-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJU de 14.08.2000 e,

na doutrina, Theotonio Negrão, Código de processo civil e legislação processual civil em vigor, 2002, p. 537,

bem como Fredie Didier Jr, v. 3, p. 85, Daniel Assumpção, Manual, parágrafo único 574 e ainda Barbosa

Moreira. 69

(Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2000, questão 14) Sobre o recurso adesivo é

correto dizer: (a) É admissível nos agravos de instrumento e nos embargos infringentes; (b) Está sujeito ao

preparo, assim como o agravo retido, por ficarem subordinados ao recurso principal; (c) É cabível no caso de

apelação, agravo, RE e REsp; (d) N. D. A (alternativa correta segundo o gabarito oficial – recomenda-se

a leitura do art. 500 do Código de Processo Civil).

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26

verdadeira apelação interposta nos tribunais,70

mas o Superior Tribunal de Justiça já se

manifestou em sentido contrário.71

Não se admite, contudo, a interposição recurso adesivo ao recurso

principal interposto por terceiro prejudicado, ainda que este se enquadre em algum dos

casos indicados acima.72

Enfim, indaga-se o que é “recurso extraordinário/especial adesivo

cruzado”?

Ele ocorre no caso em que o acórdão do tribunal foi num

determinado sentido baseando-se na lei federal e rejeitando a questão constitucional; o

sucumbente apresenta o REsp e o ganhador o RE (condicional) para o caso de alteração do

acórdão no STJ ter chance de ver reapreciada a questão constitucional rechaçada; trata-se

do recurso extraordinário e especial adesivo cruzado (Didier Jr, curso, v. 3, p. 88).

11.4. PROCEDIMENTO:

O recurso adesivo é sempre dependente do principal pelo que

somente será conhecido e julgado se o principal o for. Deste modo, em havendo, quanto ao

recurso principal, desistência, deserção ou inadmissibilidade por qualquer motivo, o

recurso adesivo também verá naturalmente seu seguimento obstado por força do art. 500,

inciso III, do Código de Processo Civil.73

O recurso adesivo submete-se exatamente ao mesmo procedimento

e condições de admissibilidade do recurso principal (art. 500, par. único), de sorte que se

há exigência de preparo para este, o adesivo também deve ser preparado.

Entretanto, as condições pessoais alusivas ao preparo do recurso

não aproveitam ao recorrente adesivo, de modo que “se o recorrente principal está isento

de preparo, por gozar de assistência judiciária, esta isenção não aproveita ao recorrente

adesivo”.74

Como ensina Nery Junior, o recurso adesivo “fica subordinado à

sorte da admissibilidade do recurso principal”, pelo que para que possa ele ser julgado pelo

mérito é preciso que (a) o recurso principal seja conhecido e (b) o adesivo preencha os

requisitos de admissibilidade.75

12. PRINCÍPIOS RECURSAIS:

70

Câmara (Lições de direito processual civil, v. 2, p. 83), Amaral Santos (Primeiras linhas de direito

processual civil, v. 3, p. 201) e Dinamarco (A reforma da reforma, p. 213). 71

STJ, RMS 5.085-SP, Rel. Min. Barros Monteiro, DJU de 29.11.1995. 72

RT 498/116. 73

(8º Concurso para ingresso na Procuradoria do Estado de Goiás, questão 40) Quanto ao Recurso Adesivo, é

possível assegurar que: (a) É admissível no Agravo, no Recurso Especial e Recurso Extraordinário; (b) Não

se admite na Apelação; (c) Não será conhecido por qualquer óbice ao conhecimento do recurso principal

(alternativa correta no gabarito oficial – recomenda-se a leitura do art. 500, inciso III, do Código de

Processo Civil); (d) Dispensa a abertura de vistas ao recorrido. 74

JTA 129/310. 75

Código de processo civil comentado, 2006, p. 719.

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27

Embora admita a existência de outros princípios na esfera recursal,

apenas comentarei aqueles reputados essenciais pela doutrina mais moderna.

Refiro-me ao princípio do duplo grau de jurisdição, da

taxatividade, da singularidade, da fungibilidade, da voluntariedade e da proibição da

reforma para pior.

12.1. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO:

O princípio do duplo grau de jurisdição, que emana do próprio

princípio do contraditório, tem por objetivo fornecer à parte vencida a possibilidade de que

a decisão proferida pelo órgão jurisdicional seja reexaminada por recurso ordinário (CF,

art. 5º, inciso LV).76

O princípio em tela não impõe necessariamente direito da parte

vencida a uma dupla instância (juiz julgando na primeira instância e o tribunal apreciando

o recurso em segunda instância), bastando que seja um duplo exame, ainda que levado a

efeito no mesmo grau de jurisdição do primeiro julgamento.

Não desobedecem o princípio do duplo grau, nessa ótica, a previsão

de interposição de embargos infringentes contra a sentença proferida nas execuções fiscais

que não ultrapassem a certa alçada (Lei 6.830/1980, art. 34) e de cabimento de recurso

inominado contra a sentença proferida nos feitos que correm pelos Juizados Especiais

Cíveis (Lei 9.099/1995, art. 42), afastando-se a incidência da apelação ao tribunal (CPC,

art. 513).

Além disso, tal princípio, segundo entendimento majoritário do

Supremo Tribunal Federal, embora encartado implicitamente na Constituição Federal (arts.

5º, inciso LV e 92) não é absoluto,77

permitindo-se que própria Carta Magna e até mesmo a

lei ordinária crie restrições ao direito de recorrer,78

como se vê nitidamente nos arts. 519,

par. único, 543, §§ 2º e 3º, 865 etc.

Como ensina Cândido Rangel Dinamarco, o “duplo grau de

jurisdição” é princípio constitucional sem a menor dúvida (CF, arts. 5º, LV e 92), mas não

tem o status de garantia constitucional, por isso pode ser excepcionado por lei ordinária,

conforme mencionado acima.

12.2. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE:

Pelo “princípio da taxatividade” ou “da legalidade” o rol de

recursos cíveis, que se encontra em lei federal (CF, art. 22, inciso I), tem natureza

esgotativa, sendo inadmissível a criação de recursos pela interpretação jurisprudencial ou

por lei estadual.

Dentro desse contexto, eventual lei municipal ou estadual que

venha a criar recurso será inconstitucional.

76

“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (destaque meu). 77

Cf. Wambier, Cândido Dinamarco e Nelson Luiz Pinto (Manual dos recursos cíveis, p. 24). 78

RHC n. 79.785-RJ, Rel. Min.Sepúlveda Pertence.

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28

As previsões de possibilidade de interposição de agravo regimental

são constitucionais, pois tal recurso é previsto em lei federal (arts. 545, 557, § 1º entre

outros) e simplesmente disciplinado procedimentalmente nos Regimentos Internos dos

Tribunais Estaduais e Federais, na forma permitida pela própria Constituição Federal (art.

24, inciso XI).79

Aliás, esse remédio tem sido denominado mais comumente de “agravo

interno”.

O conhecido “pedido de reconsideração”, embora muito utilizado

na praxe forense para atacar decisões prejudiciais à parte, não tem natureza jurídica de

recurso,80

inexistindo por isso qualquer inconstitucionalidade em seu uso diuturno. Mas é

preciso cuidado do operador do direito no uso desse instrumento, pois ele não interrompe,

nem suspende o prazo para interposição do recurso regularmente previsto para a hipótese.

A “Correição Parcial” – ou “reclamação” – também não tem

natureza de recurso, nem de providência processual, sendo simples medida administrativa

que tem por finalidade controlar os atos dos juízes dentro do processo.

Eventualmente, entretanto, pode a correição atingir, ao final, o

mesmo resultado que o recurso traria. Para quem admite a utilização “correição parcial”

deve-se permitir a sua interposição contra despachos de expediente que tumultuem a

marcha processual (error in procedendo), lesando interesse da parte.81

As legislações estaduais criaram as correições parciais na época em

que o agravo tinha um rol taxativo (CPC/1939). Sua finalidade era a de naturalmente atacar

as decisões interlocutórias irrecorríveis no sistema esgotativo do Código de Processo Civil

de 1939.

Predomina hoje o entendimento de que o instituto é

inconstitucional à luz do disposto no art. 22, inciso I, da Carta Magna.82

Aliás, nem há

muito sentido a manutenção da “correição” no sistema do Código de Processo Civil de

1973, “no qual se admite agravo contra toda e qualquer decisão interlocutória, quer tenha o

juiz incorrido em error in procedendo, quer em error in judicando”.83

No âmbito da Justiça Federal, a correição também é tratada como

recurso e tem a mesma natureza do agravo. Em que pese isso, a norma que criou a mesma

é federal (Lei 5.010/1966, arts. 6º, inciso I e 9

º), logo não há qualquer inconstitucionalidade

diante do já mencionado art. 22, inciso I, da Carta Magna,84

porém, para Nery Junior, a

previsão da correição mesmo no âmbito federal “restou inoperante, porque cabível contra

ato de que não caiba recurso, quando no regime do CPC toda decisão é recorrível”.85

79

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 80. 80

Idem, p. 80. 81

Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, p. 551 82

No âmbito do processo penal a corrente majoritária é no sentido da constitucionalidade da correição parcial

(Aldo Sabino de Freitas, Direito processual penal, p. 323). A divergência de tratamento se dá porque no

processo penal não há o agravo com a amplitude que lhe concede o Código de Processo Civil (cabível de

qualquer decisão lesiva), restando várias hipóteses legais sem qualquer recurso para as partes (cf. art. 581 do

Código de Processo Penal). 83

Nery Junior, Código de processo civil comentado, 2006, p. 760. No mesmo sentido: Nelson Luiz Pinto,

Manual dos recursos cíveis, p. 80. 84

Nelson Luiz Pinto, Manual de recursos cíveis, p. 80. 85

Código de processo civil comentado, 2006, p. 760.

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29

12.3. PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE:

O princípio da singularidade, que também é conhecido como

“princípio da unicidade” ou “da unirrecorribilidade”,86

prescreve que somente há um único

recurso para atacar cada decisão. O Código de Processo Civil de 1973 não previu

expressamente este princípio, ao contrário do código de 1939 (cf. art. 809), entretanto, é

unânime o entendimento segundo o qual ainda detém aplicação na atual sistemática.

Com o advento da Lei 10.352/2001, que alterou o art. 498, restou

apenas uma exceção a tal princípio que é justamente a exigência de interposição

simultânea de recurso especial e de recurso extraordinário contra o mesmo acórdão, que

decide uma única questão com fundamento legal e constitucional (arts. 541 e 543).

12.4. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE:

Pelo princípio da fungibilidade recursal permite-se ao Poder

Judiciário aproveitar, em casos determinados e preenchidos os pressupostos pacificados

pela jurisprudência, o recurso interposto erradamente em lugar de outro, e “como se fosse

aquele que deveria ter sido proposto”.87

É relevante perceber que o Código de Processo Civil de 1939

continha previsão expressa do princípio em questão no seu art. 810 que tinha a seguinte

redação: “Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela

interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser enviados à Câmara ou turma, a

que competir o julgamento”. O mesmo se pode dizer ainda com relação ao atual Código de

Processo Penal que também prevê a matéria em seu art. 579.

Apesar de omissa a lei processual civil atual a respeito do assunto,

este princípio continua existindo, mormente em relação à confusão que eventualmente

surja entre os casos de interposição de agravo e de apelação. O Supremo Tribunal Federal

já admitiu a subsistência deste princípio desde que haja dúvida objetiva, inexistência de

erro grosseiro e observância do prazo recursal mais curto.88

12.5. PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE:

Somente a parte pode postular o reexame da decisão, sendo esta

regra originária do próprio princípio dispositivo. Assim, apenas se receberá recurso se

interposto pela parte interessada na reforma do julgado, não havendo permissão de recurso

ex officio.

O reexame obrigatório (art. 475) não constitui exceção a este

princípio. É que a remessa compulsória não tem natureza jurídica de recurso – ou de

recurso ex officio, como pregava a doutrina antiga –, mas de simples condição legal de

eficácia da decisão decorrente do princípio do impulso oficial (art. 475, parágrafo único).

Releva ainda observar, dentro da mesma vertente alusiva ao

princípio da voluntariedade, que a parte recorrente poderá sempre que quiser desistir do

86

Nelson Luiz Pinto, Manual de recursos cíveis, p. 80. 87

Queiroz, Direito processual civil, processo de conhecimento, p. 274. 88

JSTF 179/69.

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30

recurso interposto, independentemente da anuência do recorrido ou dos litisconsortes (art.

501).

A mesma disciplina se aplica à renúncia prévia ao direito de

recorrer, que também independe da aceitação da outra parte (art. 502).

12.6. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À REFORMATIO IN PEJUS:

O princípio em questão veda, como se pode ver, a piora da situação

daquele que, isoladamente, interpôs seu recurso. Há como se percebe o objetivo de impedir

que haja piora da situação da parte recorrente, pelo que a instância revisora, por mais

prejudicial que seja seu posicionamento, terá como limite a manutenção da sentença

objurgada, sem aumentar o prejuízo inicial.

Evidentemente não se aplica este princípio quando há sucumbência

recíproca e recurso de ambas as partes (adesivo ou principal), já que nesta hipótese é

possível que qualquer delas saia vencedora prejudicando a outra.

Inaplica-se, outrossim, referido princípio ao reconhecimento de

questões de ordem pública,89

as quais podem ser apreciadas ex officio (exs.: falta de

condição da ação, ou ausência de pressuposto processual) e ainda na hipótese recém criada

pelo legislador no art. 515, § 3o, porquanto será possível em casos que tais que o Tribunal

acolha o apelo do recorrente para reformar a sentença terminativa, mas no mérito julgue

seu pedido inicial improcedente, “o que, pelo menos em tese, será reforma para pior”.90

Prevalece que esse princípio que proíbe a reforma em prejuízo do

recorrente também em relação à remessa obrigatória, prevista no art. 475 do Código de

Processo Civil,91

de modo que não pode “a entidade estatal ter sua situação agravada como

resultado da remessa oficial, instituída em seu benefício”.92

13. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA:

No Código de Processo Civil, o incidente de uniformização de

jurisprudência encontra-se disciplinado nos arts. 476 a 479. Há também previsão do

instrumento no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça (arts. 118 e 121).93

A uniformização de jurisprudência consiste no incidente destinado

a unificar a interpretação do direito nos Tribunais, visando obter não a unanimidade, mas

sim um entendimento padrão do órgão julgador como um todo.

Na vigência do CPC/1939 (art. 853), o recurso de revista

(atualmente revogado) tinha a mesma função da atual uniformização de jurisprudência, ou

seja, resolver divergência entre câmaras, turmas ou grupos de câmaras quanto ao modo de

interpretar do direito em tese.

89

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 84. 90

Oliveira, p. 13. 91

STF, RTJ 114/913 e STJ, Súmula 45. 92

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 85. 93

Em Goiás, há previsão no RITJGO, arts. 378/383.

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31

Não se trata a uniformização de jurisprudência, absolutamente, de

recurso mas de mero incidente, tanto que pode ser suscitado de ofício pelos próprios

julgadores participantes (art. 476), no que claramente se diferencia dos embargos de

divergência que tem natureza de verdadeiro recurso (conforme será examinado no ponto

oportuno).

Da mesma forma, não se confunde o incidente em tela com o

pedido de uniformização de interpretação de lei federal, que somente tem cabimento nos

recursos interpostos às Turmas Recursais nas causas de competência dos Juizados

Especiais Federais e são julgados exclusivamente por reunião de Turmas ou pela Turma de

Uniformização (Lei 10.259/2001, art. 14).

Outrossim, não deve o instituto em questão ser confundido com o

novel instrumento criado pelo art. 555, § 1o,94

com redação outorgada pela Lei 10.352, pois

conforme lembram Luiz Rodrigues Wambier e Tereza Arruda Alvim Wambier as

diferenças ficam por conta de (a) a questão de direito dever ser relevante, (b) deve ser

considerado conveniente que a divergência, entre câmaras ou turmas do mesmo tribunal,

seja prevenida ou composta, (c) a iniciativa pode partir „exclusivamente‟ do relator, (d) o

„recurso‟ será julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar e (e) este órgão,

reconhecendo o interesse público na assunção da competência (ou seja, „admitindo‟ o

expediente), julgará o recurso.95

13.1. ADMISSIBILIDADE:

Somente caberá a suscitação do incidente de uniformização de

jurisprudência quando o julgamento se processar perante “turma, câmara ou grupo de

câmaras” e existir divergência sobre questão de direito, por interpretação diversa da que

lhe haja dado outra turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.

Não se admite, como se percebe, a suscitação do incidente em

julgamento afeto a órgão especial ou tribunal pleno (confira, exemplificativamente,

RITJGO, art. 378).

Genericamente, somente cabe a suscitação do incidente em recurso

ordinário (apelação, agravo etc.), nas causas de competência originária e na remessa

obrigatória.96

13.2. LEGITIMIDADE PARA PROVOCAR O INCIDENTE:

Poderão provocar a instauração do incidente de uniformização de

jurisprudência o juiz competente (que participa do julgamento), de ofício, ou qualquer das

partes, inclusive o Ministério Público (art. 476).

13.3. MOMENTO PRÓPRIO PARA A SUSCITAÇÃO:

94

“Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor divergência entre

câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o

regimento indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de competência, esse órgão colegiado

julgará o recurso”. 95

Breves Comentários à nova sistemática processual civil, p. 152-153. 96

Luiz Rodrigues Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 660.

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Para o juiz, o momento próprio para a suscitação do incidente é

justamente aquele que passa a proferir seu voto sobre a questão. Para a parte ou para o

Ministério Público a postulação do incidente deverá ocorrer juntamente com a interposição

do recurso ou em petição avulsa posterior (art. 476, par. único), mas sempre antes do fim

do julgamento (inclusive oralmente, por ocasião da sustentação oral).97

13.4. RECONHECIMENTO DA DIVERGÊNCIA PELO ÓRGÃO FRACIONÁRIO:

Ocorrendo a suscitação e havendo o reconhecimento da divergência

pelo órgão fracionário (turma, câmara etc.), será lavrado acórdão sobre o assunto e os autos

serão encaminhados ao Presidente do Tribunal nos termos do art. 477, sem possibilidade

de interposição de recurso.

O Presidente do Tribunal, recebendo os autos, designará sessão de

julgamento, determinando à respectiva secretaria que distribua cópia do acórdão objurgado

a todos os juízes que participarão do julgamento do incidente (art. 477, in fine).

Em qualquer caso, será dada oportunidade para manifestação do

Ministério Público que funciona perante o Tribunal (art. 478, par. único).

13.5. RECONHECIMENTO DA DIVERGÊNCIA PELO ÓRGÃO DE MAIOR

ENVERGADURA:

O tribunal – através do tribunal pleno, pelo órgão especial ou por

seção cível –, reconhecendo a divergência, dará a interpretação a ser observada, cabendo a

cada juiz emitir o seu voto em exposição fundamentada (art. 478).

No reconhecimento da dissidência, o tribunal limitar-se-á verificar

a efetiva existência da divergência e, em caso positivo, a assentar a tese jurídica que deve

prevalecer entre os conflitantes, não lhe sendo permitido apreciar outras questões jurídicas

(e muito menos fáticas) estranhas à controvérsia.

Não há, porém, vinculação do colegiado maior ao julgamento

anterior do órgão fracionário que reconheceu indícios de divergência interna. Estará

absolutamente livre para, discordando da remessa, inacolher o pedido de uniformização.

Há, como se percebe, verdadeira cisão do julgamento, sendo

incumbência do órgão especial apenas fixar, se for o caso, a tese jurídica incidente em

decisão irrecorrível e, em seguida, do órgão fracionário onde surgiu a divergência aplicá-la

ao caso concreto observando as suas peculiaridades.

Não haverá, como se disse, possibilidade de interposição de recurso

da decisão do órgão maior que, reconhecendo a divergência, indicar a tese jurídica

incidente. Somente será admissível a apresentação de recurso (inclusive para discutir a tese

jurídica assentada) da decisão final do órgão suscitante (órgão fracionário),98

proferida

após a devolução dos autos.

97

Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro, p. 200. 98

Este, como se viu, é um dos principais pontos que distinguem o incidente de uniformização de

jurisprudência da controvérsia sobre relevante questão de direito (art. 555, § 1o), que é julgada pelo órgão

colegiado mais abrangente, e não pelo fracionário.

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33

Recebendo os autos com pronunciamento do Tribunal, a turma,

câmara ou grupo, ficará vinculada à tese de direito proclamada no incidente, devendo,

entretanto, julgar as demais questões envolvidas e, quanto à matéria jurídica já decidida, se

limitar a adequá-la aos contornos do caso concreto.

Note-se que os votos proferidos no órgão fracionário antes da

suscitação do incidente ficam sem efeito – salvo aqueles que não tenham qualquer relação

com a tese jurídica divergente –, podendo os respectivos magistrados se retratar ou manter

o entendimento anterior.

13.6. NÃO RECONHECIMENTO DA DIVERGÊNCIA – PELO ÓRGÃO ESPECIAL

OU PLENÁRIO:

Não havendo reconhecimento da divergência, o tribunal devolverá

os autos ao órgão suscitante para que prossiga normalmente no julgamento do feito, como

se o incidente não tivesse ocorrido.

13.7. ELABORAÇÃO DE SÚMULA JURISPRUDENCIAL:

O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros

que integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização

de jurisprudência (art. 479).

Saliente-se, todavia, que a súmula não tem força para vincular os

casos futuros, mas apenas servirá como simples precedente, como reforço de raciocínio em

ulteriores decisões judiciais sobre assunto idêntico ou semelhante e, principalmente, para

evitar nova suscitação de uniformização de jurisprudência acerca do mesmo tema.99

14. INCIDENTE DE COMPOSIÇÃO DE DIVERGÊNCIA:

Segundo à nova redação dada ao art. 555, § 1º, “ocorrendo

relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor divergência entre

câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso julgamento pelo

órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de

competência, esse órgão colegiado julgará o recurso” (Lei 10.352/01).

Como já afirmado, embora se trate de instituto semelhante ao

incidente de uniformização de jurisprudência (arts. 476 e seguintes), muito bem esclarece

Luiz Rodrigues Wambier e Tereza Arruda Alvim Wambier as diferenças ficam por conta

de (a) a questão de direito dever ser relevante, (b) deve ser considerado conveniente que a

divergência, entre câmaras ou turmas do mesmo tribunal, seja prevenida ou composta, (c) a

iniciativa pode partir „exclusivamente‟ do relator, (d) o „recurso‟ será julgado pelo órgão

colegiado que o regimento indicar e (e) este órgão, reconhecendo o interesse público

(originário de um número muito grande de ações, de relevância econômica ou de ação civil

pública) na assunção da competência (ou seja, „admitindo‟ o expediente), julgará o

recurso.100

15. PROCEDIMENTO GERAL NO ÂMBITO DOS TRIBUNAIS:

99

Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 661. 100

Breves Comentários à nova sistemática processual civil, pp. 152-153.

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34

Uma vez interposto o recurso, sendo o mesmo recebido e após

esgotados os trâmites no juízo de origem (apresentação das contra-razões, determinação da

remessa e registro da remessa), será encaminhado à instância superior por ordem do

magistrado prolator.

Todos os autos enviados ao Tribunal serão registrados no protocolo

no dia de sua entrada, cabendo à secretaria verificar-lhe a numeração das folhas (art. 547).

Ato contínuo, será efetivada a distribuição do feito na forma do

regimento interno do Tribunal a algum de seus membros, sendo obrigatória a observância

dos princípios da publicidade, da alternatividade e do sorteio, salvo distribuição por

dependência (art. 548). E observe-se que a distribuição não se faz por câmara ou seção,

mas por relatores, razão pela qual sorteado este ipso facto estará identificado o órgão

fracionário responsável pelo julgamento (v. RITJGO, art. 38, 3 e 6).

A competência para Distribuição, em geral, é do Presidente do

Tribunal respectivo, sendo certo que durante este período (recebimento e efetivação da

distribuição), será competente para conhecer de pedidos urgentes e da desistência (p. ex.

RITJGO, art. 16, inciso II e VI).

Concluída a distribuição, os autos deverão ser encaminhados ao

relator sorteado.

O relator tem a incumbência de proceder o juízo de admissibilidade

do recurso e de lavrar o relatório para dar conhecimento àqueles demais julgadores que não

tiveram vistas dos autos.

Não sendo o caso de negativa de seguimento liminar (art. 557,

caput) ou de julgamento monocrático de mérito (art. 557, § 1o – A), o relator, após exarar o

relatório, remeterá os autos ao revisor, se houver necessidade de sua atuação.

Revisão é a atividade desenvolvida pelo julgador menos antigo no

órgão depois do relator e tem seu fundamento de existência na necessidade de outro juiz da

turma ter acesso aos autos para melhor votar no julgamento de mérito.

Perceba-se que apenas há necessidade da revisão nos recursos de

apelação, de embargos infringentes e na ação rescisória (art. 551, caput). Mesmo assim

inexiste a figura do revisor nos procedimentos sumários (cautelar, monitória, sumário), nos

recursos em ação de despejo e no caso de apelação de indeferimento de inicial.

Sendo o caso de revisão obrigatória, o revisor após declarar-se de

acordo com o relatório escrito do relator, retificá-lo ou fazer-lhe os aditamentos que repute

cabíveis, postulará do presidente do órgão fracionário a indicação de data para julgamento

do recurso.

Não havendo necessidade do funcionamento de revisor, o próprio

relator pedirá desde logo a inclusão do feito em pauta para julgamento. Na prática diuturna

dos tribunais costuma-se apor nos autos, neste momento processual, despacho similar ao

seguinte: “Vistos. Feito já apreciado. Peço data para julgamento” ou “Analisados. Peço

inclusão em pauta para julgamento”.

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35

Após exarado o despacho de onde se postula data para julgamento

(pelo relator ou pelo revisor, conforme o caso), os autos serão remetidos ao presidente da

Câmara para inclusão em pauta com antecipação mínima de 48 horas do julgamento (art.

552).

Na data marcada, o relator fará a exposição oral da causa e, em

seguida, não sendo o caso de embargos declaratórios e de agravo de instrumento, será

facultada a sustentação oral pelos procuradores das partes pelo prazo de 15 (quinze)

minutos cada um.

Ultrapassadas as fases anteriores, as questões preliminares (do

recurso e não da ação), se for o caso, deverão ser decididas antes do mérito, sendo certo

que o juiz vencido na preliminar deve, assim mesmo, se pronunciar sobre o mérito. Além

disso, se várias as preliminares, devem ser postas em votação separadamente, sob pena de

falsear-se o resultado.

Feita a leitura do relatório, passadas as sustentações orais e a

análise das preliminares, o relator proferirá seu voto sobre o recurso, passando-se ao

posicionamento do revisor e do 3º juiz, seguindo-se a proclamação do resultado (art. 556).

Somente com a proclamação do resultado é que haverá o fim do

julgamento, pelo que até este momento pode qualquer juiz modificar seu entendimento ou

pedir vista dos autos.101

Como visto, a sustentação oral apenas será admissível, em

princípio, na apelação, embargos infringentes, ação rescisória (art. 554), no recurso

especial e no recurso extraordinário,102

não cabendo no agravo de instrumento e nos

embargos de declaração.

A Lei 8.906/1994 (art. 7º, inciso IX) previu a possibilidade de

sustentação oral em qualquer recurso ou processo depois do voto do relator, mas o preceito

foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, na ADI 1.105, sede em que

se entendeu que o contraditório constitucional existe entre as partes, e não entre elas e o

juiz.103

Qualquer dos julgadores poderá, no curso da análise oral, pedir

vista dos autos para melhor análise, situação em que ocorrerá a suspensão do julgamento.

Na sessão seguinte o recurso será analisado com preferência sobre os demais (art. 562),

podendo mesmo aqueles magistrados que já proferiram seu voto poderão retratar-se.

A devolução dos autos deverá ocorrer em 10 (dez) dias,

prosseguindo o julgamento na sessão ordinária seguinte à devolução, dispensada nova

publicação.

Mas “não devolvidos os autos no prazo, nem solicitada

expressamente sua prorrogação pelo juiz, o presidente do órgão julgador requisitará o

101

STJ, REsp n. 351.881-PB, Rel. Min. Castro Filho, j. em 25.05.2004, sede em que se inadmitiu a retratação

de ofício após a conclusão do julgamento. 102

Caso se trate de mandado de segurança impetrado originariamente em tribunais, haverá também

direito à sustentação oral (Lei 12.016/2009, art. 16, caput). 103

Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 17.05.2006.

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processo e reabrirá o julgamento na sessão subseqüente, com publicação em pauta” (art.

555, §§ 2º e 3º, com redação da Lei 11.280/2006).

De outro lado, versando a preliminar sobre nulidade suprível, o

tribunal, havendo necessidade, converterá o julgamento em diligência, ordenando a

remessa dos autos ao juiz, a fim de ser sanado o vício (art. 560, par. único). Corrigido o

defeito, designar-se-á nova sessão e passar-se-á ao julgamento oral de mérito, colhendo o

voto dos julgadores.104

Relevante perceber que a apelação não será incluída em pauta antes

do agravo de instrumento interposto nos mesmos autos e se ambos os recursos houverem

de ser julgados na mesma sessão, terá precedência o agravo (art. 559 e par. único). Essa

disposição se justifica no fato de o julgamento do agravo ter a força de, eventualmente,

fazer com que a apelação perca seu objeto (ex.: agravo interposto contra decisão que

indeferiu o pedido de adiamento da audiência, irregularmente realizada, com posterior

prolação de sentença).

Caso haja violação dessa regra de precedência na apreciação dos

recursos (isto é, caso haja apreciação da apelação antes do agravo interposto na mesma

demanda), “não restando prejudicada a matéria deste” (ex.: o agravo de instrumento

questionando os efeitos em que a apelação foi recebida ficaria prejudicado no caso de

inversão de julgamento), o julgamento proferido na apelação não produzirá efeitos

imediatos, “ficando suspensa sua eficácia e também seu trânsito em julgado, até que se

decida a matéria objeto do agravo de instrumento que, inclusive, pode tornar prejudicado o

julgamento da apelação, que então se tornará sem efeito, como ocorreria, por exemplo,

caso o agravo versasse sobre a ausência de uma das condições da ação ou de um dos

pressupostos processuais, que impediriam, pois, o próprio exame de mérito, que foi objeto

da apelação”.105

Proclamado o resultado pelo presidente, será designado o relator

para redigir o voto ou, se este for vencido, o autor do primeiro voto vencedor (art. 556, in

fine).

Caso o relator efetivamente saia vencido do julgamento, lavrará o

mesmo voto vencido para utilização em eventual interposição de embargos infringentes.

Em virtude do advento da Lei 11.419/2006, passou-se a admitir que

os votos, acórdãos e demais atos processuais sejam “registrados em arquivo eletrônico

inviolável e assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo ser impressos para

juntada aos autos do processo quando este não for eletrônico” (art. 556, par. único).

104

Convém lembrar neste ponto que “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão

fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade, de lei ou ato

normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte” (STF, SV 10). 105

Nelson Luiz Pinto (Marcato, Código de processo civil interpretado, p. 1664).

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CAPÍTULO II – APELAÇÃO

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

O recurso de apelação encontra-se disciplinado nos arts. 513 a 521

do atual Código de Processo Civil e, em Goiás, nos arts. 372 a 375 do RITJGO.

A apelação tem por objetivo atacar as sentenças, terminativas (art.

267) ou de mérito (art. 269), visando sua anulação ou sua reforma. A apelação, em suma, é

o recurso por excelência que cabe contra a sentença proferida pelo juiz de primeira

instância, nos precisos termos do art. 513.

Há, porém, casos excepcionais em que a sentença não deve ser

impugnada por apelação. Refiro-me (a) à sentença regulada no art. 34 da Lei 6.830/1980

(“Lei de Execuções Fiscais”), que desafia “embargos infringentes”,106

e (b) à sentença

proferida pelo Juizado Especial Cível, que deve ser objurgada por “recurso inominado”

(Lei 9.099/1995, art. 41).

2. CONFRONTO COM O RECURSO INOMINADO (JEC):

Em hipótese alguma se pode confundir a apelação cível, que ataca

as sentenças em geral (CPC, arts. 513-521), com o recurso inominado, cabível das

sentenças do Juizado Especial Cível (Lei 9.099/1995, arts. 41-43).

Existem pelo menos quatro pontos que os distingue claramente,

vejamos:

(a) A competência para julgamento (o recurso inominado é

julgado pela Turma Recursal, formada por juízes de 1ª instância, e não pelo

Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal Regional Federal);

(b) O prazo (o recurso inominado deve ser interposto em 10

dias, e a apelação em 15 dias, como regra geral);

(c) O preparo (no recurso inominado ele é mais abrangente e

pode ser feito até 48 horas depois da interposição, diversamente da regra do art.

511 do Código de Processo Civil); e

(d) O efeito suspensivo (o recurso inominado é, de regra,

impotente, não detendo efeito suspensivo, salvo se o juiz assim o determinar,

nos termos do art. 43, da Lei 9.099/1995; já a apelação é, de regra, potente).

3. FUNDAMENTAÇÃO:

A apelação é recurso de fundamentação livre, podendo as razões do

apelante conter alegação de error in procedendo (vício que gera tecnicamente pedido de

106

“Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta)

Obrigações do Tesouro Nacional – OTN” (atualmente o índice usado é a UFIR, conforme ensina Carlos

Henrique Abrão, Lei de execução fiscal comentada e anotada, p. 225), “só se admitirão embargos

infringentes e de declaração”.

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38

anulação da sentença) e de error in judicando (defeito que origina pedido de reforma da

sentença).

Ocorre no julgamento da apelação efetivamente um segundo exame

da matéria posta que pode ser integral ou parcial, conforme postule a parte sucumbente em

suas razões de recurso.

Cabe na apelação pedido de novo exame tanto dos fatos articulados

como do direito aplicado em toda profundidade, respeitando-se sempre a extensão da

impugnação. Na prática se o pedido “A” e o pedido “B” foram julgados procedentes, e o

apelante apenas recorreu quanto ao primeiro, apenas em relação a ele haverá o reexame

livre em sua profundidade, isto é, a cognição vertical será ampla neste ponto.

4. FORMA:

O recurso de apelação deve ser apresentado através de petição de

interposição (dirigida ao juízo recorrido) e de razões de recurso (art. 514), ambas peças

protocoladas ao mesmo tempo junto ao juízo a quo, diversamente do que ocorre com a

apelação criminal, que é interposta num momento e arrazoada em outro (CPP, art. 600).

Nas razões, que são obrigatórias, sob pena de inépcia recursal,107

deverá o apelante indicar os fundamentos de fato e de direito,108

bem como o pedido de

anulação da sentença, quando houver alegação de error in procedendo,109

ou de que seja a

mesma reformada, quando os motivos forem no sentido de que houve error in judicando

(art. 514, incisos II e III).

5. PRAZO:

O prazo para interpor e para responder o recurso de apelação será

de 15 (quinze) dias (art. 508), salvo em se tratando de causa de competência da Justiça da

Infância e da Juventude, sede em que o prazo referido será de 10 (dez) dias (Lei

8.069/1990, art. 198, inciso II).

Cabe aqui relembrar que a lei prevê casos em que esse prazo será

duplicado, conforme enunciam os arts. 188 (Ministério Público e Fazenda Pública) e 191

(litisconsortes passivos com procuradores diferentes) do Código de Processo Civil e art. 5º,

§ 5º, da Lei 1.060/1950 (defensores públicos ou quem exerça cargo equiparado).

107

Súmula 4 do extinto 1º TACivSP: “Não se conhece de apelação quando não é feita a exposição do direito

e das razões do pedido de nova decisão”. 108

E estas razões, por óbvio, devem estar ligadas direta e logicamente à matéria decidida, se dissociadas o

recurso de apelação não será conhecido por inépcia (TJGO, APC n. 77.505-9/188, Rel. Des. Leobino Valente

Chaves, acórdão de 21.09.2004). 109

(Concurso para ingresso na magistratura de Minas Gerais, 2000, questão 12) Em processo litigioso, o réu

não foi intimado do despacho de nomeação de perito e, por isto, não teve oportunidade de indicar assistente

técnico e de apresentar quesitos, até que a ação foi, a final, julgada procedente. A solução cabível será: (a)

Em grau de apelação, anular o processo, desde seu início; (b) O Juiz mandar intimar o réu daquele despacho,

antes de subirem os autos à apreciação recursal; (c) O réu interpor embargos de declaração para que o Juiz

repita a instrução; (d) Em grau de apelação, anular parcialmente o processo, a partir do momento em que o

ato do juiz não foi comunicado ao réu (alternativa correta no gabarito oficial – segundo os princípios da

propagação e da conservação, anulado o ato processual “reputam-se de nenhum efeito todos os

subseqüentes, que dele dependam”, nos termos do art. 248 do Código de Processo Civil); (e) O Juiz não

admitir o recurso de apelação e suspender o processo até que o réu se manifeste sobre dito despacho.

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6. EFEITO DEVOLUTIVO:

Por força do denominado “efeito devolutivo”, a apelação remeterá

– ou “devolverá”, como se costuma tecnicamente dizer – ao Tribunal competente o

conhecimento da matéria impugnada nas razões do recurso, tudo em observância ao

princípio tantum devolutum quantum appellatum110

consagrado no art. 515, caput.

Se integral a apelação (réu é condenado a pagar quantia em

dinheiro, fazer um muro e ainda a entregar uma motocicleta, e apela quanto a todas as

obrigações), a análise do tribunal será também total.

Mas se parcial o apelo (réu é condenado a entregar um carro e a

pagar uma quantia em dinheiro, mas somente interpõe apelação para evitar o cumprimento

dessa segunda imposição), apenas parcial será a apreciação do tribunal (utilizando o

exemplo citado acima o tribunal poderá, no máximo, afastar a obrigação de pagamento em

dinheiro, mas não lhe será lícito examinar o pedido alusivo à entrega do carro, que terá

transitado em julgado).

Mas é bom sempre observar que, além disso, serão objeto de

apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no

processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro (art. 515, § 1º).

111

Aqui estamos falando de hipótese em que haja eventualmente uma

cumulação subsidiária (pedido principal de anulação de contrato por erro ou dolo, e pedido

subsidiário de mera rescisão do contrato por inadimplemento pelo réu). Caso o juiz tenha

acolhido apenas o pedido principal (anulação do contrato por dolo ou coação), é possível

em apelo da parte contrária que o tribunal rejeite o principal e aprecie o subsidiário

(examinar o pedido de mera rescisão por descumprimento de cláusula contratual).112

De outro lado, se “o pedido ou a defesa tiver mais de um

fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o

conhecimento dos demais” (art. 515, § 2o).

Pelo preceito indicado, percebe-se que o Tribunal, embora restrito à

matéria suscitada, poderá conhecer dos motivos ou fundamentos não acolhidos pelo juiz de

primeiro grau, em virtude de seu livre conhecimento. Exemplifico: se houve no primeiro

grau de jurisdição pedido de indenização com fundamento na imprudência, negligência e

imperícia e a sentença o tenha julgado procedente por reconhecer apenas a imprudência,

poderá o Tribunal negar provimento ao apelo do réu afastando a imprudência, mas

reconhecendo, por exemplo, a negligência (outro fundamento utilizado pelo autor),

mantendo o dispositivo da sentença.

110

Para meus alunos costumo arriscar a traduzir essa expressão dizendo que “a apelação leva ao tribunal, em

princípio, o quanto foi apelado” (tantum devolutum quantum appellatum). 111

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 19) Em relação à apelação: (a) A regra é seu

recebimento apenas no efeito devolutivo; (b) Recebida no efeito devolutivo, poderá o apelado promover

desde logo a execução definitiva da sentença, extraindo a respectiva carta; (c) Quando o pedido ou defesa

tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, devolve-se ao tribunal somente o

conhecimento do fundamento acolhido; (d) Serão objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as

questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro; (e) Nos

casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o tribunal, ao afastar a extinção, determinará

sempre o retorno dos autos para novo julgamento, em obediência ao duplo grau de jurisdição (a alternativa

“d” é a correta; sugere-se a leitura do arts. 515, §§ 1º a 3º do Código de Processo Civil). 112

Nesse sentido: Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, p. 565.

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É o que nos ensina Humberto Theodoro Júnior em brilhante lição

que passo a transcrever:

“O § 2º do art. 515 cuida do caso de multiplicidade de fundamentos

para o pedido. O juiz acolheu apenas um e deu pela procedência da ação.

Impugnada a sentença em apelação, o tribunal pode reconhecer a procedência do

apelo quanto ao fundamento da sentença, mas deixar de dar-lhe provimento,

porque a matéria não acolhida pelo juiz de primeiro grau se apresente

suficiente para assegurar a procedência da ação. O mesmo pode acontecer,

também, com a defesa, quando se fundamente em razões múltiplas e seja acolhida

em face de apenas uma delas”.113

Enfim, pelo que se contém no art. 517, as questões de fato não

propostas no juízo inferior somente poderão ser suscitadas na apelação se a parte provar

que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Em caso de inexistência dessa prova de

justo impedimento, a revisão da sentença deverá se dar com base apenas nos fatos agitados

no primeiro grau antes da sentença, sob pena de violação do princípio constitucional do

devido processo legal.

6.1. AMPLIAÇÃO DO EFEITO DEVOLUTIVO (art. 515, § 3o):

Com o advento da Lei 10.352/2001, o § 3º do art. 515 passou a

regular o chamado “julgamento da causa madura” pelo tribunal em grau de apelação. O

preceito veio criado com a seguinte redação:

“Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art.

267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente

de direito e estiver em condições de imediato julgamento”.

Afastando-se mais uma vez da tese segundo a qual o duplo grau de

jurisdição é princípio absoluto, o legislador estendeu o efeito devolutivo da apelação para

permitir que nos casos de interposição da mesma contra a extinção sem julgamento de

mérito o tribunal, dando provimento à irresignação, passe diretamente a julgar o mérito,

desde que, evidentemente, o feito esteja maduro para apreciação.114

Na regulamentação anterior à Lei 10.352/2001, o tribunal, dando

provimento ao apelo, reformava a sentença terminativa, mas não julgada o mérito da causa,

e sim ordenava que os autos fossem enviados novamente à primeira instância para

prosseguimento, instruindo-se e julgando, ou apenas julgando o feito.115

Segundo Tucci, houve com a nova lei clara adesão à teoria de que o

princípio do duplo grau de jurisdição não é garantia constitucional (mas apenas um

princípio de natureza relativa encartado na Constituição Federal) e nem uma regra

absoluta, razão pela qual não se pode falar em inconstitucionalidade do preceito.116

113

Curso de direito processual civil, v. 1, p. 565, mas o destaque não consta no texto original. 114

O que não ocorreria, por exemplo, no caso de apelação contra o indeferimento da petição inicial porquanto

o réu sequer foi citado para contestar a ação. 115

Cândido Rangel Dinamarco, A reforma da reforma, p. 150. 116

Lineamentos da nova reforma do CPC, p. 98.

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Aliás, embora o posicionamento anterior à alteração legislativa,

como visto, fosse o de que o tribunal ao dar provimento ao apelo deveria devolver os autos

à primeira instância para julgamento do mérito, sob pena de “supressão de instância”, já

havia entendimento isolado no Superior Tribunal de Justiça parecido com o do novo texto

legal, verbi gratia:

“Se o juízo de 1o grau acolhe a argüição de prescrição após

concluída a instrução do processo, pode o Tribunal, estando a lide em condições de

ser apreciada, afastar a prescrição e prosseguir no exame dos demais pontos

postos em debate, julgando procedente ou improcedente a ação” (destaquei).117

De acordo com a melhor doutrina o preceito deve merecer inclusive

interpretação ampla, de modo a abranger não somente a causa madura que versa sobre

questão exclusivamente de direito, e que foi prematuramente extinta sem resolução de

mérito, mas também (a) o segundo caso previsto no art. 330, inciso I, em que existem

questões fáticas, porém já provadas por documentos,118

(b) aquelas hipóteses em que há

questões fáticas mas as partes renunciam à faculdade de produzir provas na instrução, (c)

quando há extinção prematura mesmo diante da revelia e (d) ainda aqueles casos em que as

provas requeridas são inadmissíveis ou impertinentes.119

Nas quatro situações citadas será mesmo possível a aplicação da

“teoria do julgamento causa madura pelo tribunal”, mas desde que tenha o feito sido

erroneamente extinto sem resolução de mérito pelo juiz de primeiro grau, e não haja mais

nenhum ato alusivo ao princípio constitucional do contraditório a ser observado (é mister

que já tenha o réu sido citado, já tenha tido oportunidade para responder à ação e, se for o

caso, já se tenha aberto vista dos autos ao autor para a “impugnação à contestação”). O

tribunal na espécie suprimirá nitidamente um grau de jurisdição e analisará o mérito da

causa pela primeira vez, dando interpretação extensiva ao disposto no art. 515, § 3º, do

Código de Processo Civil, que disse menos do que realmente queria.120

6.2. QUESTÕES ANTERIORES À SENTENÇA AINDA NÃO DECIDIDAS:

Por força do art. 516, “ficam também submetidas ao tribunal as

questões anteriores à sentença, ainda não decididas”.

Segundo a doutrina, o art. 516 cuida do já comentado “efeito

translativo” do recurso de apelação, pelo qual as questões preliminares de ordem pública

(art. 267, § 3º), referentes às condições da ação e aos pressupostos processuais, que não

foram resolvidas por decisão anterior ou pela sentença121

ficam assim mesmo subordinadas

ao exame pelo tribunal, ainda que o recurso não as tenha agitado.

117

REsp n. 141.595-PR. 118

Nesse sentido: Gilson Delgado Miranda, Marcato, Código de processo civil interpretado, pp. 1557-1558 e

Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 92. 119

Esses últimos três casos são citados e defendidos por Cândido Rangel Dinamarco (A reforma da reforma,

p. 161). 120

Exigindo exatamente esse conhecimento sobre o assunto: (Concurso de Ingresso na Magistratura do

Trabalho do Estado do Paraná, 2006) Qual o sentido das expressões “questões de direito” e “estiver em

condições de imediato julgamento” constantes do art. 515, § 3º, introduzido no CPC pela Lei

10.352/2001? 121

Nery Junior, Código de processo civil comentado, p. 860, Theodoro Júnior, Curso de direito processual

civil, v. 1, p. 566 e Gilson Delgado Miranda (Marcato, p. 1560).

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42

Ao examinar profundamente este artigo da lei processual, Nery

Junior propõe que se dê ao mesmo a seguinte interpretação: “Interposto o recurso, ficam

transferidas ao exame do tribunal as questões decididas, de ordem pública, a cujo respeito

não se operou a preclusão”, e acrescentaria eu, que serão transferidas também as questões

de ordem pública não decididas pelo juiz, nos termos do art. 267, § 3º do Código de

Processo Civil.

6.3. SANEAMENTO DE NULIDADES:

Registre-se por fim que com o advento da Lei 11.276, de 07 de

fevereiro de 2006 passou-se a admitir também que o tribunal no exame da apelação,

constatando a ocorrência de nulidade sanável, determine a realização ou a renovação de ato

processual, intimadas as partes.

E uma vez cumprida a diligência ordenada, “sempre que possível

prosseguirá o julgamento da apelação” (art. 515, § 4º).

Com a alteração legislativa buscou-se autorizar a correção de

eventual nulidade sanável detectada durante o julgamento de recurso sem remessa dos

autos à primeira instância, eliminando vícios que comprometem o julgamento de mérito

(CPC, art. 267, inciso IV).

O preceito otimizou as atividades jurisdicionais, evitando a mora

do envio dos autos onde se encontram a apelação à origem, praticando-se o ato necessário

ou saneando-se o vício processual no próprio tribunal122

(ex.: falta de procuração do

advogado do réu, não percebida pelo juiz de primeira instância).

7. EFEITO REGRESSIVO:

É importante ressaltar ainda – reiterando o que já havia dito por

ocasião do exame da parte geral dos recursos – que excepcionalmente a apelação pode ser

dotada do chamado “efeito regressivo”, instituto que permite que o próprio juiz prolator da

sentença a reconsidere, alterando de posicionamento original.

Refiro-me a três hipóteses taxativamente previstas na lei

processual, (a) a primeira regulada no art. 285-A, § 1º (com redação da Lei 11.277 de 07 de

fevereiro de 2006), (b) a segunda disciplinada no art. 296 e (c) a terceira estampada no art.

198, inciso VII, da Lei 8.069/1990 (“Estatuto da Criança e do Adolescente”).

Nestes três casos diz-se que o magistrado de 1º grau exerce o “juízo

de retratação”.

O art. 285-A, § 1º autoriza o juiz a, diante de apelação interposta

pelo autor, reconsiderar a sentença de mérito (de improcedência) proferida liminarmente

nas causas que versarem sobre questão unicamente de direito objeto de processos idênticos

anteriores (art. 285-A, caput).

Já o art. 296 cuida da permissão para que o juiz, também diante da

interposição de apelação pelo autor, reconsidere a sentença terminativa de indeferimento

da petição inicial.

122

Cássio Scarpinella Bueno, A nova etapa da reforma do código de processo civil, v. 2, p. 13.

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Por fim, o art. 198, inciso VII do “Estatuto da Criança e do

Adolescente” (Lei 8.069/1990) faculta ao juiz, qualquer que seja a natureza da sentença

(terminativa ou de mérito), reexaminá-la caso haja interposição de recurso de apelação,

desde que se trate de causa de competência da Justiça da Infância e da Juventude (exs.:

ação de guarda, de tutela ou de adoção de menor de idade em situação de risco).

8. EFEITO SUSPENSIVO:

A apelação é recurso dotado, em regra, de duplo efeito (devolutivo

e suspensivo). Costuma-se dizer, assim, que o recurso em tela é impugnação tipicamente

suspensiva (art. 520, 1ª parte), de sorte que ordinariamente não será possível executar-se o

conteúdo da sentença enquanto pendente julgamento da apelação.

A apelação, entretanto, será recebida apenas no efeito devolutivo

quando interposta de sentença que (a) homologar a divisão ou a demarcação, (b) condenar

à prestação e alimentos, (c) decidir o processo cautelar, (d) rejeitar liminarmente embargos

à execução, (e) julgar os embargos à execução improcedentes, (f) julgar procedente o

pedido de instituição de arbitragem, (g) confirmar (ou conceder originariamente123

) a

antecipação dos efeitos da tutela124

(art. 520),125

e (h) que decretar a interdição (art.

1184).126

Na legislação extravagante também existem vários casos de

apelações impotentes (sem efeito suspensivo), podendo ser citadas (a) aquela prevista na

“Lei do Mandado de Segurança” (Lei 12.016/2009, art. 14, § 3º), (b) a regulada “Lei da

Alienação Fiduciária” (Decreto-lei 911/1969, art. 3o, § 5

o) e (c) a interposta das sentenças

proferidas em feitos da Vara da Infância e da Juventude nos casos de adoção e nos de

destituição de poder familiar (Lei 8.069/1990, arts. 199-A e 199-B).

Em tais hipóteses, diversamente da regra geral, será permitida a

formulação de pedido de efetivação provisória ou de cumprimento provisório da sentença,

observando-se, no que couber, o disposto no art. 475-O.

Como já se referido na parte geral dos recursos, mesmo nas

hipóteses apontadas nos incisos do art. 520 (e demais preceitos da legislação extravagante

123

Embora o art. 520 seja omisso a respeito, se a tutela tiver sido concedida na própria sentença

(originariamente), “a apelação eventualmente interposta contra essa sentença será recebida no efeito

devolutivo quanto à parte que concedeu a tutela, e no duplo efeito quanto ao mais” (Nery Junior, Código de

processo civil comentado, 2006, p. 752; no mesmo sentido, Didier Jr, Curso de direito processual civil, v. 3,

p. 107). 124

Não há suspensividade neste caso apenas com referência à parte da sentença em que a tutela antecipada

foi deferida (STJ, REsp 648.886-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25.08.2005). 125

É relevante lembrar que a Lei 11.232/2005 revogou o inciso III do art. 520, que tratava da apelação da

sentença proferida no processo de liquidação. Aliás, isso ocorreu porque atualmente o ato jurisdicional que

resolve o procedimento de liquidação de sentença não é mais uma outra “sentença”, e sim uma decisão

interlocutória, conforme elucida o art. 475-H. 126

(Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2006, questão 52) Assinale a alternativa

correta: (a) No sistema do Código de Processo Civil vige o princípio da unicidade, que não veda a

interposição cumulativa de recursos visando a impugnação do mesmo ato judicial; (b) Os embargos

declaratórios não interrompem o prazo para outros recursos caso a decisão embargada não padeça de

omissão, contradição ou obscuridade; (c) A insuficiência do valor do preparo implicará em deserção, sendo

vedada a sua complementação; (d) A apelação será recebida só no efeito devolutivo quando interposta de

sentença que decreta a interdição (alternativa correta no gabarito oficial – recomendando-se a leitura

do art. 1184 do Código de Processo Civil).

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44

citados), em que o apelo é dotado apenas de efeito devolutivo, é possível a concessão do

efeito suspensivo com fundamento no parágrafo único do art. 558, desde que haja receio de

lesão grave e a fundamentação da parte seja relevante.

9. RELEVAÇÃO DA PENA DE DESERÇÃO:

Como a maioria dos recursos cíveis, a apelação se sujeita ao

preparo, que consiste no dever de pagamento de emolumentos e das despesas de porte e

retorno dos autos, sob pena de deserção (mas é sempre bom lembrar que não estão

sujeitos ao preparo recursal os beneficiários da assistência judiciária, o Ministério

Público e a Fazenda Pública).

A prova do pagamento desses valores (geralmente uma guia de

pagamento bancário) deve instruir o recurso, posto que foi adotado por nós o sistema do

“preparo simultâneo”, nos termos do art. 511, caput, do Código de Processo Civil (advirto

o leitor esse sistema é bem diferente daquele que vige no recurso cabível contra a

sentença proferida pelo Juiz do Juizado Especial Cível, conforme se pode verificar

pela interpretação do art 42, § 1º, da Lei 9.099/1995).

Desde que o apelante, entretanto, demonstre o justo impedimento à

efetivação do preparo tempestivamente (exs.: horário bancário diferenciado do interior do

Estado, inexistência de instituição bancária na comarca onde foi interposta a apelação), o

juiz poderá relevar a pena de deserção fixando prazo para que o recorrente o efetue (art.

519),127

o que fará em decisão irrecorrível128

(par. único).129

Embora a disposição insculpida no art. 519 do Código de Processo

Civil se encontre no capítulo II, alusivo à apelação, é pacífico o entendimento de que o

instituto da “relevação da pena de deserção” se aplica a todos os recursos que se sujeitam

ao preparo, tratando-se de uma regra geral do sistema recursal brasileiro.

10. PROCESSAMENTO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA:

Após a intimação da sentença, correrá o prazo geral de quinze dias

para a interposição da apelação, segundo as regras ordinárias do código.

Uma vez interposta, serão os autos encaminhados para o primeiro

juízo de admissibilidade a ser exarado pelo órgão prolator (juiz de primeira instância), o

qual também declarará os efeitos em que a receberá (meramente devolutivo, ou suspensivo

e devolutivo).

127

(8º Concurso para ingresso na Procuradoria do Estado de Goiás, questão 42) A relevação da pena de

deserção: (a) É decisão inalterável; (b) Deve ser objeto de questionamento pelo recorrido, sob pena de

confirmação; (c) Não se aplica nos processos cautelares; (d) Será apreciada pelo tribunal „ad quem‟ ainda que

não questionada (alternativa correta no gabarito oficial – remete-se o leitor ao art. 519, parágrafo único

do Código de Processo Civil). 128

(10º Concurso para ingresso na Procuradoria do Estado de Goiás, 2003, questão 67) É irrecorrível a

decisão que: (a) Acolhe exceção de incompetência; (b) Defere a produção de prova pericial; (c) Rejeita o

incidente de falsidade documental; (d) Releva a pena de deserção (alternativa correta no gabarito oficial –

recomenda-se a leitura do art. 519, parágrafo único do Código de Processo Civil). 129

Note-se, porém, que se a decisão negar o pedido de relevação da pena de deserção desafiará agravo de

instrumento.

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O juiz em tal momento poderá (a) receber a apelação (juízo

positivo de admissibilidade), permitindo seu prosseguimento, declarando os seus efeitos e

dando vista à parte apelada para contra-razões, ou (b) deixar de receber a apelação (juízo

negativo de admissibilidade), (b.1) seja por ausência de requisitos recursais meramente

formais (exs.: intempestividade, falta de preparo, ilegitimidade, falta de interesse etc.) ou

(b.2) seja por aplicação do instituto da “súmula impeditiva de recurso” (art. 518, § 1º).

Compete relembrar neste ponto que com o advento da Lei 11.276,

de 07 de fevereiro de 2006, que criou o § 1º do art. 518, passou-se a prever efetivamente a

chamada “súmula impeditiva de recursos” no direito processual brasileiro. Com base em

aludido preceito, o juiz deixará de receber o recurso de apelação “quando a sentença

estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo

Tribunal Federal” (exs.: a apelação contra a sentença que julgou o pedido improcedente

com base no entendimento consolidado na Súmula 214 do STJ130

não será recebida; o

mesmo ocorrerá com a apelação interposta contra a sentença que julgou o pedido

parcialmente procedente aplicando a Súmula 246 do mesmo tribunal131

).

Sendo eventualmente recebido o apelo (juízo positivo de

admissibilidade), como dito, abrir-se-á vista para a oferta de contra-razões,132

retornando

os autos ao órgão prolator para eventual reexame de requisitos de admissibilidade (art. 518,

§ 2º, com redação da Lei 11.276 de 07 de fevereiro de 2006)133

e remessa ao Tribunal

competente.

Havendo, por outro lado, denegação da apelação por qualquer dos

motivos acima indicados (juízo negativo de admissibilidade), caberá agravo de instrumento

ao Tribunal; contra o recebimento da apelação, todavia, não se admite a interposição de

qualquer recurso por ausência de interesse, até porque essa decisão já é naturalmente

revisada pelo relator monocraticamente (art. 557) e pelo órgão colegiado competente.

130

“O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu”. 131

“O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada”. 132

Como já havia assinalado, não se pode esquecer que há pelo menos dois casos em que o juiz poderá neste

momento reconsiderar a sentença, exercendo o chamado juízo de retratação. O primeiro deles se encontra no

art. 296, que trata da apelação contra a sentença que indefere liminarmente a petição inicial (cf. Lei

8.952/1994), e o segundo está no 285-A, que cuida da apelação contra a sentença que dá pela improcedência

liminar do pedido, nas causas repetitivas (cf. Lei 11.277/2006). 133

(Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2000, questão 17) O exame pelo juiz dos

pressupostos de admissibilidade da apelação: (a) Deve ser feito apenas no ato de recebimento da apelação;

(b) Pode ser feito no ao do recebimento da apelação, facultado apenas o reexame após a resposta do apelado;

(c) A admissibilidade é matéria restrita ao juízo de segundo grau; (d) N. D. A (No gabarito oficial do

concurso a assertiva indicada como correta é a “D”, porém, segundo o art. 518 e § 2º, do Código de

Processo Civil, a afirmativa “B” aparenta ser a mais correta).

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46

CAPÍTULO III – AGRAVO

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

O agravo encontra-se basicamente regulamentado nos arts. 522 a

529, de nosso Código de Processo Civil.134

O recurso de agravo, em princípio, tem por objetivo atacar as

decisões interlocutórias, salvo expressa disposição em sentido contrário. Importa observar

outrossim que os despachos teratológicos que causem prejuízo às partes – e esses

despachos, como já dito, se convolam em verdadeiras decisões interlocutórias – também

podem ser impugnados por agravo.

Há na verdade, no sistema recursal do Código de Processo Civil,

uma correlação entre o recurso cabível e o ato judicial impugnado. Em face disso, sabe-se

que das sentenças (terminativas ou definitivas) cabe apelação (art. 513), das decisões

interlocutórias cabe agravo (art. 522) e dos despachos não se admite recurso algum (art.

504), salvo, como já afirmado, se forem eles teratológicos, quando então será aplicável aos

mesmos o regime jurídico das decisões interlocutórias quanto à recorribilidade.

Todavia, nem sempre foi assim em nosso sistema processual. No

Código de Processo Civil de 1939 havia uma razoável diferença de regulamentação, pois a

apelação cabia contra as decisões definitivas (atuais sentenças de mérito), o agravo de

petição cabia contra as decisões terminativas – atuais sentenças terminativas – (art. 846), e

para atacar as interlocutórias havia dois recursos, o agravo de instrumento (art. 842) e o

agravo no auto do processo (art. 851), ambos casuísticos.135

2. MODALIDADES:

São três as modalidades de agravo regidas pelo Código de Processo

Civil, o agravo interposto por instrumento, o agravo retido e o agravo sem a formalização

de instrumento (conhecido como agravo interno).

Fala-se em (a) agravo de instrumento nas hipóteses previstas nos

arts. 524 (agravo de instrumento de decisão do juízo de primeira instância, o qual é julgado

pelos Tribunais de Justiça ou Regionais Federais) e 544 (agravo de instrumento contra

denegação pelo presidente ou vice-presidente do tribunal a quo de recurso especial ao STJ

ou recurso extraordinário ao STF), casos em que será a obrigatória a trasladação do

competente instrumento (grupo de peças xerocopiadas dos autos principais).

Já (b) o agravo retido é interposto contra decisões de 1o grau,

devendo ser julgado como preliminar do recurso de apelação. Nesta modalidade, o agravo

não opera a devolutividade imediata, tendo seu conhecimento condicionado a existência de

apelação e sua reiteração nas respectivas razões ou contra-razões.

Há, ainda, como se viu, (c) o agravo interno, que é aquele

interposto perante órgão que se encontra no mesmo local físico do juízo ad quem. Trata-se

de recurso “cabível contra decisões proferidas pelos relatores dos recursos nos tribunais,

134

Em Goiás, a regulamentação ritual encontra-se nos arts. 361 a 364 do RITJGO. 135

Ernani Fidélis dos Santos, As reformas de 2005 do código de processo civil, p. 115.

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nas hipóteses em que a eles se dá autorização para proferir decisões como juízos

monocráticos”,136

como ocorre nos casos previstos nos arts. 120, parágrafo único, 532, 545

e 557, § 1º, do Código de Processo Civil.

Ele também é conhecido como “agravo regimental” (porque é

previsto em regimento interno), “agravinho” (praxe forense), “agravo sem instrumento” e

“agravo inominado”, não se confundindo nem com o “agravo retido” (CPC 522), nem com

o agravo de instrumento (CPC 524).

Em síntese, ele é interposto em 5 (cinco) dias contra decisões

monocráticas dos relatores ou do presidente,137

depende de preparo (pelo menos no

Estado de Goiás), é juntado aos autos (por isso dispensa a formação de instrumento), não

contém previsão de abertura de vista para contra-razões e leva a questão impugnada, que

foi julgada monocraticamente, ao exame pelo órgão colegiado indicado pelo regimento

interno.

3. PRAZO:

Para interposição de agravo o prazo será de 10 (dez) dias (arts. 522

e 544), exceto quando a própria lei dispuser de modo diverso.

Assim, nos casos especiais, como aqueles previstos nos arts. 545

(agravo interno contra denegação pelo relator do agravo de instrumento em recurso

especial ou recurso extraordinário) e 557, § 1º (agravo interno contra o improvimento ou

provimento monocrático de outro recurso), o agravo terá prazo de 5 (cinco) dias.

Releva observar também que com a alteração operada pela Lei

11.187/2005, o agravo retido de decisões proferidas na audiência de instrução e julgamento

– apenas neste caso – não se subordina a qualquer dos prazos apontados acima, devendo

ser interposto oral e imediatamente (art. 523, § 3º).

Note-se também, apenas para registro e comparação, que o prazo

para interposição do agravo contra denegação de recurso especial e recurso extraordinário

no processo penal será de cinco dias, “de acordo com a Lei 8.038/1990, não se aplicando o

disposto a respeito nas alterações da Lei n. 8.950/1994 ao Código de Processo Civil” (STF,

Súmula 699).

4. DESTINATÁRIO:

Após o advento das modificações operadas no Código de Processo

Civil, o agravo de instrumento contra decisão interlocutória proferida pelo juiz de primeira

instância deverá ser interposto diretamente no Tribunal competente (Tribunal de Justiça ou

Tribunal Regional Federal).

Mas se o caso ensejar a interposição de agravo simplesmente retido

(art. 522, especialmente em sua nova redação outorgada pela Lei 11.187, de 19 de outubro

de 2005), o destinatário será o próprio juízo a quo que se encarregará de remetê-lo no

momento oportuno, e desde que preenchidas as formalidades legais, à instância superior.

136

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 96. 137

Constitui erro grosseiro a utilização do agravo interno contra decisão de órgão colegiado (TJGO, AI n.

64.436-8/180, Rel. Des. Felipe Batista Cordeiro, DJ de 5.12.2008).

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Releva ainda notar que se o agravo de instrumento tiver por

objetivo questionar a denegação de recurso especial ou recurso extraordinário pelo

presidente do Tribunal a quo será ele interposto perante a presidência deste, e não no

Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal (art. 544, § 2º).138

5. EFEITOS:

O agravo é recurso que detém, como regra, apenas efeito

devolutivo, contudo, o relator poderá conferir-lhe efeito suspensivo na forma tradicional ou

mesmo deferir, em antecipação de tutela, “total ou parcialmente, a pretensão recursal” (o

que se denomina doutrinariamente de “efeito suspensivo ativo” ou simplesmente “efeito

ativo”), comunicando ao juiz sua decisão (art. 527, inciso III, em sua nova redação

outorgada pela Lei 10.352/2001).

Além disso, como já se viu, o agravo, assim como qualquer outro

recurso, também dispõe de eficácia impeditiva da ocorrência do trânsito em julgado da

decisão impugnada, além de levar automaticamente ao conhecimento da instância superior

as questões de ordem pública, ainda que não suscitadas pelo recorrente (efeito translativo

previsto no art. 516).

Fala-se ainda que o agravo tem “efeito retrooperante”, visto que a

decisão do tribunal deve retroagir à data da interposição, ou seja, uma vez “provido o

agravo, independentemente de o processo ter ou não sido sentenciado, terá de voltar ao

estado da data da interposição do recurso”.139

6. FORMA:

O agravo se de instrumento deverá ser interposto por petição

escrita; se retido, o agravo poderá ser apresentado por escrito ou oralmente (há, em

princípio, uma opção), salvo se ele atacar decisão proferida em audiência de instrução e

julgamento, caso em que deverá ser obrigatoriamente oral e imediato, constando do termo

de audiência, sucintamente, as razões do agravante (art. 523, § 3o, com redação da Lei

11.187/2005).

A petição escrita de agravo deverá conter o nome das partes, a

exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma da decisão, o nome e o

endereço completo dos advogados, habilitados no processo (art. 524).

7. AGRAVO RETIDO:

7.1. NOÇÕES:

O principal objetivo do agravo retido, além de provocar eventual

revisão da decisão interlocutória, é justamente o de evitar que a preclusão venha a atingir a

matéria que se impugna, sem provocar o encaminhamento da mesma imediatamente ao

crivo do Tribunal competente.

138

“A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem (...)”. 139

Nery Junior, Código de processo civil comentado, 2006, pp. 773 e 820.

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Com o advento da Lei 11.187/2005, a interposição do agravo

apenas na modalidade retida passou a ser a regra geral, não havendo em princípio opção à

disposição da parte agravante, ao contrário do que estabelecia o sistema anterior a essa

norma.

Com efeito, nos termos do art. 522, caput (já observando sua nova

redação), das “decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na

forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e

de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos

efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por

instrumento”.140

Assim, em suma, atualmente, temos a figura do agravo retido

obrigatório (regra geral no processo civil após o advento da Lei 11.187/2005) e do agravo

de instrumento, “facultado”141

nos casos (a) de urgência, (b) de inadmissão de apelação e

(c) de declaração de efeitos em que a apelação é recebida.142

7.2. ESPÉCIES:

O agravo retido, como já enunciado, pode ser interposto por escrito

ou oralmente, existindo, em princípio, as duas alternativas como opções à disposição do

agravante.

Tratando-se, porém, de impugnação de decisão interlocutória

proferida em audiência de instrução e julgamento, como já visto, a interposição do agravo

retido será obrigatoriamente oral e imediata (art. 523, § 3o, com redação da Lei

11.187/2005); há quem diga (em interpretação extensiva) que a interposição do agravo

retido será obrigatoriamente oral se atacar decisão interlocutória oral proferida não só na

audiência de instrução e julgamento (como dito no CPC 523 § 3º), mas também na

audiência preliminar do art. 331 do Código de Processo Civil (Câmara, Didier Jr e

Dinamarco).

Caso a interposição seja oral em audiência, deverão constar do

respectivo termo, sucintamente, as razões do agravante (art. 523, § 3º).

Em qualquer caso, seja ele um agravo retido escrito, oral

facultativo ou oral obrigatório (art. 523, § 3º), será dispensada a efetivação do preparo

(art. 522, parágrafo único).

7.3. DEVOLUTIVIDADE DIFERIDA:

140

Os destaques não constam no texto original. 141

Fiz questão de manter no texto a expressão “facultado” entre aspas porque, em rigor, a interposição do

agravo de instrumento nos casos citados não é bem uma faculdade, mas um ônus. É que a interposição do

agravo retido em referidas hipóteses não disporá de qualquer utilidade e eficácia para o agravante (basta

lembrar, para exemplificação, que se for interposto agravo retido contra a decisão que inadmite a apelação

não haverá veículo condutor desse agravo ao tribunal para se operar a devolução da matéria; o agravo retido

ficará eternamente retido, no primeiro grau de jurisdição, e o agravante nunca verá seu recurso apreciado). 142

Esse assunto foi objeto de questão na prova subjetiva do Concurso de ingresso na magistratura do Estado

de Minas Gerais do ano de 2006: Abordar “a modernização do recurso de agravo com as recentes

alterações legislativas” (valendo 2,0 pontos).

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Diz-se que o agravo retido reveste-se de efeito devolutivo

“diferido”, “retardado”, “impróprio” ou “imperfeito”, porquanto o mesmo não remete

imediatamente as questões impugnadas ao juízo ad quem, tendo seu conhecimento

condicionado à existência de apelação e à sua reiteração nas razões do apelante ou contra-

razões do apelado (art. 523 e § 1o).

143

Caso não haja reiteração nas razões ou contra-razões de apelação,

haverá desistência tácita (art. 501) do agravo retido, “que não será conhecido pelo

tribunal”.144

O agravo retido não tem processamento autônomo, dependendo

sempre da existência de apelação interposta por alguma das partes. Não sendo a apelação

conhecida por qualquer motivo (exs.: intempestividade, irregularidade formal, falta de

preparo etc.), o agravo retido também não será apreciado, posto que ligado diretamente por

relação de dependência àquela.

7.4. SITUAÇÃO JURÍDICA EM RELAÇÃO À APELAÇÃO:

Em relação ao julgamento da apelação, o agravo retido, segundo

prescreve o art. 523, caput, deve ser encarado como preliminar. Assim, antes de apreciar as

questões coligidas na apelação, deverá o tribunal obrigatoriamente analisar a impugnação

levada por intermédio do agravo retido devidamente reiterado.145

7.5. JUÍZO DE RETRATAÇÃO:

Uma vez interposto o agravo retido, o juiz poderá reformar sua

decisão, após ouvida a parte contrária em 10 (dez) dias (art. 523, § 2º).146

Em casos que tais, perceba-se que a parte contrária, evidentemente

lesada com a nova decisão interlocutória, poderá interpor – caso seja cabível segundo as

regras gerais de nosso sistema recursal – novo agravo agora contra a retratação levada a

efeito pelo magistrado.

8. AGRAVO DE INSTRUMENTO:

8.1. NOÇÕES:

143

(8º Concurso para o cargo de Procurador do Estado de Goiás, questão 53) Por efeito devolutivo

retardado entende-se: (a) O julgamento tardio dos recursos nos tribunais; (b) O efeito devolutivo contido no

agravo retido (alternativa correta no gabarito oficial) o efeito devolutivo retardado, diferido ou

impróprio serve para designar que a matéria impugnada no agravo retido somente será remetida à

apreciação do tribunal futuramente, por ocasião do julgamento de eventual apelação, desde que haja

reiteração das razões ou contra-razões da mesma); (c) A conseqüência do efeito devolutivo no Recurso

Extraordinário e no Recurso Especial; (d) O conhecimento do Recurso Especial e do Recurso Especial em

razão de agravo ao STF ou ao STJ, conforme o caso. 144

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 99. 145

Para Luiz Rodrigues Wambier o resultado do agravo retido figurará fisicamente no mesmo acórdão que

julgar a apelação, mas serão, todavia, “dois acórdãos, substancialmente considerados, para efeito de recursos

posteriormente cabíveis” (Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 605). 146

(Magistratura-GO, 2009, prova A01, tipo 004, questão 14) O agravo retido: (a) Não existe juízo de

retratação em relação a tal recurso, já que não há exame imediato pelo Tribunal; (b) É interposto mediante o

pagamento do respectivo preparo, sob pena de deserção; (c) Sua interposição é exceção, pois a regra continua

sendo a interposição de agravo de instrumento; (d) Uma vez interposto, seu conhecimento é automático por

ocasião do julgamento da apelação; (e) Deve ser interposto oral e imediatamente das decisões interlocutórias

proferidas em audiência de instrução e julgamento (a alternativa “e” é a correta).

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Com a reforma operada pela Lei 9.139/1995, o agravo de

instrumento passou a ser interposto no prazo de 10 (dez) dias e diretamente perante o

Tribunal competente (não mais em cinco dias e perante o juízo recorrido, conforme

regulamentação original do Código de Processo Civil).

Deverão obrigatoriamente instruir a petição recursal de agravo a

cópia (a) da decisão agravada, (c) da certidão da respectiva intimação e (c) das procurações

outorgadas dos advogados (art. 525, inciso I), sob pena de não recebimento147

(ou não

conhecimento) sendo inaplicável na fase recursal o disposto no art. 13 do Código de

Processo Civil,148

que trata da permissão de emenda para correção de defeitos formais.149

A par das peças obrigatórias, poderá a parte agravante apresentar à

instância superior quaisquer outras que entender necessárias para melhor conhecimento da

inconformidade (art. 525, inciso II).

As peças processuais extraídas dos autos para a formação do

instrumento poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado do agravante (sob

sua responsabilidade pessoal), nos termos do art. 365, inciso IV, do Código de Processo

Civil (com redação outorgada pela Lei 11.382/2006).

O agravo de instrumento deve ser interposto por petição (a)

protocolada no tribunal, (b) postada sob registro com aviso de recebimento (esta regra não

se aplica aos recursos no Superior Tribunal de Justiça, nos termos da Súmula 216),

ou, ainda, (c) por qualquer outra forma prevista na lei local (art. 525, § 2o), sempre

acompanhada da prova do preparo (art. 525, § 1o).

8.2. PEÇAS NECESSÁRIAS OU ÚTEIS:

Embora não disponha a lei, pode ocorrer num ou outro caso que

além das peças obrigatórias e das facultativas juntadas pelo agravante, outras sejam

necessárias para permitir um julgamento conforme o direito.150

A falta dessas peças necessárias, porém não obrigatórias, assim

como das facultativas, nunca autorizou, e nem autoriza a conversão do agravo em

diligência porque deve ser respeitado o princípio da igualdade entre os litigantes.

Contudo, se o agravante não juntar tais peças no instrumento, o

agravo será julgado com o que nele estiver podendo esta circunstância levar à

incompreensão do fato pelo julgador da instância revisional, e ao próprio improvimento.151

147

STF, RE n. 258.051/BA. 148

STF, RE n. 98.353-1/SP, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 09.05.1997. 149

Faço questão de registrar, contudo, que está em tramitação na Câmara de Deputados o Projeto de Lei n.

6.951/2006 que reduzirá o rigor formal no processamento do agravo de instrumento, determinando que o

relator conceda o prazo de dez dias para que o agravante cumpra as formalidades legais eventualmente não

observadas na interposição. 150

Queiroz, Direito processual civil, processo de conhecimento, p. 306. 151

No Superior Tribunal de Justiça, admite-se, existem duas posições sobre o tema, (a) uma no sentido de

que o relator deve determinar, de ofício, a juntada das peças úteis faltantes, e (b) outra mais radical, no

sentido do texto principal, pregando que o julgamento deve ser feito levando-se em conta o agravo como se

encontra (Ag Rg no REsp 478.155-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, j. em 12.02.2004). No TJGO adota-se, em

geral, também essa segunda corrente.

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8.3. ADMISSIBILIDADE DO AGRAVO DE INSTRUMENTO:

De acordo com o novo sistema inaugurado pela Lei 11.187, de 19

de outubro de 2005, o agravo, como regra geral, deverá ser retido, admitindo-se a

interposição do agravo de instrumento apenas quando se visa questionar (a) o

indeferimento de apelação, (b) os efeitos em que esta foi recebida e (c) a decisão que cause

dano grave e de difícil reparação (exs.: indeferimento de pedido de liminar possessória,

indeferimento de pedido de liminar em cautelar de busca e apreensão, concessão ou

denegação de liminar em mandado de segurança152

etc.) (art. 522, caput, já com a

redação da lei indicada acima).153

Embora a nova lei processual tenha utilizado termos que induzem o

intérprete a concluir que há uma faculdade de interposição de agravo de instrumento nestes

casos (“quando será admitida a sua interposição por instrumento”154

), tecnicamente, não

deve ser esta a exegese.

Veja-se que nos casos indicados, em que pese impropriedade

técnica do legislador, a interposição do agravo retido será absolutamente inadmissível e

ineficaz.155

Examinemos, por exemplo, o caso da rejeição da apelação, em que se for

interposto simples agravo retido, ficará ele retido eternamente no primeiro grau de

jurisdição, justamente pela falta do veículo que o conduz ao tribunal.

8.4. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE:

Ao contrário de diversos outros recursos, quem faz o juízo de

admissibilidade inicial no agravo é o próprio relator no tribunal ad quem e, num segundo

momento, o órgão colegiado competente para o julgamento do mérito do recurso.

Contra o eventual não recebimento deste agravo cabe outro agravo

(mas agora o “agravo interno”, também conhecido impropriamente como “agravo

regimental”) ao órgão julgador (art. 557, § 1o, com redação da Lei 9.756/1998), no prazo

de 5 (cinco) dias.

8.5. PROVIDÊNCIAS DO RELATOR NO AGRAVO:

Com o advento da Lei 10.352/2001, que alterou a redação do art.

527, protocolado o agravo de instrumento no tribunal e distribuído, o relator poderá

monocraticamente (a) negar-lhe seguimento na forma do art. 557,156

(b) converter o mesmo

152

Lei 12.016/2009, art. 7º, § 1º. 153

É bom registrar também que contra a decisão da presidência ou da vice-presidência do Tribunal a quo que

denega recurso especial ou recurso extraordinário cabe também agravo obrigatoriamente de instrumento (art.

544). 154

Transcrição da parte final do caput do art. 522, mas o destaque não consta no texto original. 155

Cássio Scarpinella Bueno defende ponto de vista ligeiramente diferenciado, argumentando que nos casos

de urgência e de inadmissão de apelação de fato o agravo é obrigatoriamente de instrumento, havendo

manifesta carência de interesse recursal no agravo retido (entendimento esposado por mim no texto

principal); todavia, no caso de ataque aos efeitos em que a apelação é recebida há, na visão de referido autor,

opção para o recorrente posto que pode “ser que não haja necessidade de reexame imediato da interlocutória

que recebeu o apelo sem efeito suspensivo” (A nova etapa da reforma do código de processo civil, v. 1, p.

202). 156

De conformidade com o art. 557, o “relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,

improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo

tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”.

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53

em agravo retido; (c) atribuir efeito suspensivo passivo ou ativo157

,158

(d) requisitar

informações do juiz da causa, que as prestará em 10 (dez) dias, (e) instará o agravado a

apresentar contra-razões também em 10 (dez) dias159

e (f) ouvirá, se for o caso, o

Ministério Público (art. 527, inciso VI), pedindo dia para julgamento em prazo não

superior a 30 (trinta) dias “da intimação do agravado” (art. 528).

Como nos ensina Fredie Didier Jr, o art. 527 do Código de

Processo Civil nos outorga um verdadeiro roteiro a ser seguido no processamento do

agravo de instrumento.

Inicialmente, deve o relator verificar se o caso é de aplicação do

art. 557 (julgamento liminar do agravo); não sendo esta a situação “irá verificar se é a

hipótese de determinar a conversão do agravo em retido” (comentarei adiante). “Caso não

seja, apreciará o eventual pedido de efeito suspensivo ou de tutela antecipada recursal para,

somente então, solicitar, se for o caso, informações ao juiz da causa e oportunizar o

contraditório, determinando a intimação do agravado para responder ao recurso”.160

A conversão de agravo de instrumento em agravo retido, segundo o

sistema da Lei 11.187, de 19 de outubro de 2005, somente será admissível quando não

houver urgência, perigo de lesão na pretensão recursal, ou se se tratar de caso de

inadmissão de apelação ou discussão quanto aos seus efeitos.

Caso haja referida conversão, o que se dá por ato monocrático do

relator, os autos serão remetidos ao juízo da causa para apensamento (art. 527, inciso II,

com nova redação outorgada pela Lei 11.187/2005), não se admitindo mais recurso contra

esta decisão,161

sendo passível apenas de reforma no momento do julgamento do agravo ou

de reconsideração pelo relator (art. 527, par. único, com redação da Lei 11.187/2005).

Vejamos a redação do preceito:

“Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído

incontinenti, o relator:

(...)

II – converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo

quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil

reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos

efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa”.

157

Diz-se que o efeito suspensivo é passivo (ou tradicional) quando a decisão atacada é positiva

(deferimento) e o relator atua negativamente (suspensão da eficácia); diz-se que é ativo (“efeito suspensivo

ativo” ou simplesmente “efeito ativo”) quando a decisão objurgada é negativa (indeferimento) e o relator atua

positivamente (defere, em antecipação de tutela, total ou parcial, a pretensão recursal). 158

(Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2000, questão 13) Contra a negativa de

liminar em cautelar de busca e apreensão: (a) Nenhum recurso é cabível, pois é decisão irrecorrível; (b) Cabe

agravo de instrumento, requerendo liminar com efeito ativo (alternativa correta no gabarito oficial – CPC,

art. 522 e 527, inciso III, sendo cabível o agravo de instrumento porque a decisão é suscetível de causar

à parte lesão grave e de difícil reparação, admitindo-se o pedido de antecipação de tutela recursal,

também chamado de “efeito suspensivo ativo” ou “efeito ativo”); (c) Cabe correição parcial, com pedido

de liminar para obter a imediata busca e apreensão; (d) N. D. A. 159

A intimação se dará mediante publicação no órgão oficial nas comarcas sede de tribunal e naquelas em

que houver expediente forense divulgado no diário oficial (art. 527, inciso V). 160

Curso de direito processual civil, v. 3, p. 142. 161

Nesse sentido: TJGO, AI n. 49.288-9/180, Rel. Des. Leobino Valente Chaves, acórdão de 11.4.2006.

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De conformidade com a nova redação do preceito, manteve-se a

previsão do instituto da conversão do agravo “de instrumento” em “retido” (conversão ope

iudicis), com o que o relator esquiva-se de apreciá-lo imediatamente, postergando a sua

análise para o momento do julgamento de eventual apelação.

O relator, em tal caso, após fundamentar sua decisão monocrática

determinando a conversão, ordenará concomitantemente a remessa dos autos à primeira

instância para apensamento aos autos principais;162

chegando ao juízo recorrido, o recurso

segue os trâmites ordinários do agravo retido, dando-se vista ao agravado pelo prazo de 10

(dez) dias e exercitando-se o juízo de retratação (art. 523, § 2º).163

Perceba-se, porém, que não poderá o relator agir dessa forma,

aplicando o instituto do inciso II, do art. 527, se houver, como se viu, risco de lesão, se o

caso for de inadmissão de apelação ou dos efeitos em que ela foi recebida, hipóteses em

que deverá examinar o agravo de instrumento segundo o sistema tradicional.

Com a edição da Lei 11.187, de 19 de outubro de 2005, excluiu-se

da redação do preceito a frase “cabendo agravo dessa decisão ao órgão colegiado

competente”, tornando referida decisão monocrática de conversão irrecorrível, sendo ela

passível de reforma somente “no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio

relator a reconsiderar” (art. 527, parágrafo único, com redação da mesma lei).164

A norma referida também afastou a expressão “poderá converter o

agravo de instrumento em agravo retido”, utilizando dicção impositiva, qual seja:

“converterá o agravo de instrumento em agravo retido”. Ao que se percebe, antes “havia

espaço para que se sustentasse que o relator poderia não converter o agravo de instrumento

em retido mesmo diante de uma daquelas hipóteses”. Agora a lei impõe a conduta ao

julgador.165

Releva, ainda, observar que com o advento da já citada Lei

11.187/2005, vedou-se a interposição de recurso também contra a decisão do relator

relativa a eficácia suspensiva do agravo (art. 527, inciso III), estabelecendo-se que esta

decisão “somente será passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se

o próprio relator a reconsiderar” (art. 527, par. único, com nova redação).

166

A doutrina, entretanto, vem entendendo que essa vedação abrirá

ensejo para a utilização do mandado de segurança (como ação autônoma de impugnação)

para combater esse ato jurisdicional irrecorrível.167

Na jurisprudência, especialmente do Superior Tribunal de Justiça,

essa parece ser também a tendência.168

162

Cássio Scarpinella Bueno, A nova etapa da reforma do código de processo civil, v. 1, p. 219. 163

Nesse sentido: Dinamarco, A reforma da reforma, p. 173. 164

A doutrina, entretanto, vem entendendo que essa vedação abrirá ensejo para a volta de utilização do

mandado de segurança contra esse ato. Nesse sentido: José Rogério Cruz e Tucci e Tereza Alvim Wambier

(Congresso do IBDP, abril de 2006), e Ernani Fidélis dos Santos (As reformas de 2005 do código de processo

civil, p. 128); na jurisprudência, esse já é posicionamento predominante (STJ, RMS n. 26.319-AM, Rel.

Min. Eliana Calmon, julgado em 26.08.2008 e RMS n. 26.094-AM, DJ de 24.04.2008). 165

Cássio Scarpinella Bueno, A nova etapa da reforma do código de processo civil, v. 1, p. 218. 166

Nesse sentido: TJGO, AI n. 48.774-0/180, Rel. Des. Ney Teles de Paula, acórdão de fl. 14.02.2006 (já

aplicando na prática a determinação legal de irrecorribilidade). 167

Nesse sentido: José Rogério Cruz e Tucci e Tereza Alvim Wambier (Congresso do IBDP, abril de 2006),

e Ernani Fidélis dos Santos (As reformas de 2005 do código de processo civil, p. 128).

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8.6. COMUNICAÇÃO DA INTERPOSIÇÃO AO JUÍZO A QUO:

Com o fito de sancionar o não cumprimento do ônus previsto no

art. 526 – relativo à comunicação da interposição ao juízo a quo em três dias –, o legislador

estabeleceu, através da Lei 10.352/2001, a penalidade da inadmissibilidade do agravo, o

que já vinha sendo aplicado por parte da jurisprudência pátria.169

A redação do parágrafo único do indicado art. 526 ficou sendo a

seguinte: “O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo

agravado, importa inadmissibilidade do agravo”.

Note-se, porém, que esta omissão do agravante tem natureza de

“exceção” em sentido estrito (matéria que somente pode ser acolhida pelo juiz quando

alegada pela parte), e não de “objeção” (matéria que pode ser reconhecida pelo juiz mesmo

sem alegação da parte), pelo que somente poderá ser acatada pelo relator ou pelo tribunal

se alegada expressamente pelo agravado,170

o que deverá ser feito nas contra-razões.171

Havendo omissão do agravado em alegar o defeito, o relator ou

tribunal não poderão negar seguimento ao agravo por esse motivo, nem mesmo diante da

comunicação oficiosa pelo juiz da causa, em suas informações.172

8.7. JUÍZO DE RETRATAÇÃO:

À vista da comunicação determinada pelo art. 526 do Código de

Processo Civil, o juiz poderá reformar sua decisão interlocutória, o que poderá ser feito a

qualquer tempo.173

Se este comunicar ao Tribunal que reformou inteiramente a

decisão, o relator considerará prejudicado o agravo (art. 529).

168

Nesse sentido: STJ, RMS n. 15.263-SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 27.5.2008. 169

STJ, REsp 148.770-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, julgado em 13.10.1997, DJU de 10.09.1998. 170

(Exame de Ordem do Estado de Goiás, março de 2004, questão 06) Assinale a alternativa correta: (a)

Apelação, quando interposta de sentença que condenar à prestação de alimentos, será recebida em seu efeito

suspensivo; (b) Agravo de instrumento será dirigido ao juiz ad quem, sendo defeso ao juiz a quo retratar-se

da decisão agravada; (c) A ausência de comunicação no prazo de três dias, por parte do agravante, ao juiz da

causa, acerca da interposição do agravo de instrumento, importa a inadmissibilidade do recurso, desde que

argüido e provado pelo agravado (alternativa correta no gabarito oficial – consultar o art. 526 do Código

de Processo Civil); (d) O prazo para interpor o agravo de instrumento é de 15 (quinze) dias. 171

Dinamarco, A Reforma da reforma, p. 181. 172

Nesse sentido: na doutrina, Tucci, p. 116; Luiz Rodrigues Wambier, p. 117; Cintra Pereira, Marcato,

Código de processo civil interpretado, p. 1576 e, na jurisprudência, TJGO, Rel. Des. Leobino Valente

Chaves. 173

Nesse sentido: STJ, REsp 1.021.085-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25.03.2008.

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CAPÍTULO IV – EMBARGOS INFRINGENTES

1. PREVISÃO LEGAL E ADMISSIBILIDADE:

Os embargos infringentes, no Código de Processo Civil,

encontram-se disciplinados no arts. 530 a 534.174

Em nível regimental, o remédio recursal está previsto no art. 333,

do RISTF e nos arts. 260 a 262 do RISTJ.175

De conformidade com o art. 530, do Código de Processo Civil, na

sua redação determinada pela Lei 10.352/2001, os embargos infringentes passaram a ter

por finalidade atacar acórdão não unânime que eventualmente (a) reforme, em grau de

apelação, a sentença de mérito,176

ou (b) que julgue procedente ação rescisória.177

Com a alteração do cabimento dos embargos infringentes, pode-se

dizer que o julgamento não-unânime proferido em apelação de sentença terminativa ou

quando ficar vencido o apelante será de última instância (para efeito de RE e REsp); de

outro lado, se houver maioria em improcedência de ação rescisória, tratar-se-á se

julgamento de única instância (para efeito de RE e REsp).178

Releva notar que não se admite a interposição de embargos

infringentes (a) em mandado de segurança (STF, Súmula 597, STJ, Súmula 169 e Lei

12.016/2009, art. 25),179

(b) em reexame necessário, posto que não se trata sequer de

174

Não se deve confundir esses embargos infringentes (arts. 530 a 534) com aqueles previstos na Lei

6.830/1980, cabíveis das sentenças de primeira instância nas causas fiscais que não ultrapassagem a 50

(cinqüenta) ORTN (art. 34), os quais são julgados pelo próprio órgão prolator. 175

Em Goiás há previsão no art. 377 do RITJ respectivo. 176

(Concurso de ingresso no Ministério Público do Paraná, 2004, questão 67) Em uma ação declaratória de

inexistência de relação jurídica o pedido é julgado improcedente. Inconformado, o autor interpõe recurso de

apelação. No julgamento pelo órgão de segunda instância, dois votos são proferidos mantendo a sentença de

primeiro grau, enquanto que um voto é prolatado no sentido de ser reformada a sentença e julgado procedente

o pedido, sendo negado provimento ao recurso. Em função disso, apresenta o autor embargos infringentes,

que são rejeitados pelo Tribunal, que os entende incabíveis. Pode-se afirmar que: (a) Está correta a decisão

do Tribunal, pois nessa hipótese não é possível a utilização dos embargos infringentes (alternativa correta –

CPC, art. 530, de onde se extrai que somente cabem embargos infringentes quando o acórdão não

unânime houver reformado a sentença, e não se tiver a confirmado, como na questão posta); (b) Não é

correta a decisão do Tribunal, pois sempre que houver voto divergente é possível a utilização do referido

recurso; (c) A decisão não é correta, pois a decisão de primeiro grau conheceu o mérito do pedido, e por isso

é cabível a interposição dos embargos infringentes em face do voto divergente que reformava a sentença; (d)

A decisão do Tribunal é correta, pois não é possível a utilização dos embargos infringentes em caso de

sentença meramente declaratória; (e) As alternativas a e d são corretas. 177

(8º Concurso para o cargo de Procurador do Estado de Goiás, questão 49) Os Embargos Infringentes: (a)

Discutem a decisão em toda sua amplitude; (b) Cabem contra decisão não unânime proferida no julgamento

do Recurso Especial, Recurso Extraordinário e Apelação; (c) Cabem contra decisão não unânime proferida

no julgamento de Apelação e Ação Rescisória (alternativa correta, segundo o gabarito oficial – ler o art.

530 do Código de Processo Civil); (d) Só cabem contra decisões dos tribunais superiores. 178

Dinamarco, A reforma da reforma, p. 205. 179

Nelson Luiz Pinto ensina que esse posicionamento predominante se funda no fato de o Superior Tribunal

de Justiça entender que o processo de mandado de segurança por ser regulado em lei especial não sofre

influência das normas gerais recursais do Código de Processo Civil, contudo, admite que há intensa

divergência na doutrina e na jurisprudência (Manual dos recursos cíveis, p. 229).

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recurso (STJ, Súmula 390),180

(c) em agravo de instrumento e (d) em agravo retido, salvo

hipótese prevista na Súmula 255, do Superior Tribunal de Justiça.181

2. FINALIDADE:

Os embargos infringentes têm dupla finalidade recursal, (a) a de

obter eventual retratação dos julgadores que capitanearam o entendimento majoritário e (b)

a de ocasionar a devolução da questão novamente ao crivo do órgão revisional, tentando

lograr o que se poderia chamar de “reversão do placar”.

Diz-se por isso mesmo que os embargos infringentes têm efeito

regressivo, justamente porque permitem que os juízes que participaram do julgamento da

apelação ou da ação rescisória reexaminem a questão impugnada e eventualmente retratem

seu posicionamento anterior.

A par disso, os embargos infringentes têm a força efetivamente de

devolver o conhecimento da divergência aos demais juízes que não participaram do

julgamento originário. Em Goiás, por exemplo, após a interposição dos embargos

infringentes os autos, em geral, são deslocados da Câmara Cível (julgamento operado por

três integrantes) para a Seção Cível, onde funcionam dez integrantes (RITJGO, art. 10,

inciso VI).

3. DIVERGÊNCIA E DEVOLUTIVIDADE:

A divergência capaz de gerar a adequação dos embargos

infringentes é somente aquela existente na conclusão dos votos, e não nos fundamentos.

Assim, caso a conclusão seja unânime (todos os julgadores votam

no mesmo sentido) ainda que por fundamentos diferentes (cada qual por um motivo

diferente), “não haverá que se falar em divergência capaz de admitir embargos

infringentes”.182

De outro lado, nos embargos infringentes somente há a devolução

da matéria que foi objeto da divergência (há limitação na extensão ou no âmbito

horizontal), entretanto, dentro desta questão a fundamentação do embargante será livre,

não se cingindo a discussão à argumentação do voto vencido proferido na votação

majoritária (há, pois, liberdade na profundidade ou no âmbito vertical).

É também perfeitamente admissível, por isso mesmo, a adesão ao

voto vencido pelos demais julgadores, mas por outros fundamentos, já que a profundidade

nos embargos infringentes é livre, como se expôs acima.

O mesmo sustenta Nelson Luiz Pinto ao afirmar que “a medida da

divergência é quantitativa, e não qualitativa”, de sorte que nos “limites do voto vencido a

devolução é total, podendo os embargos ser recebidos por outro fundamento, contanto que

a conclusão se contenha dentro dos limites quantitativos do voto divergente”.183

180

“Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se admitem embargos infringentes”. 181

“Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por maioria, em agravo retido, quando se tratar

de matéria de mérito”. 182

Nelson Luiz Pinto, “Manual dos recursos cíveis”, p. 141. 183

Manual dos recursos cíveis, p. 141, onde se cita a RTJ 87/476 e 109/156.

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Perceba-se, ainda, que o conhecimento das questões de ordem

pública (“objeções”), à evidência, também é devolvido no julgamento dos embargos

infringentes, como decorrência do denominado e já comentado “efeito translativo” (art.

516, por analogia).

4. EFEITO SUSPENSIVO:

Existe diferença de tratamento dos efeitos dos embargos

infringentes, conforme sejam interpostos contra julgamento de apelação ou de ação

rescisória.

Na apelação, os embargos infringentes se limitam a prolongar o

efeito originário daquela. Desta sorte, se a apelação tinha efeito suspensivo, prevalecerá a

suspensão, mas se não tinha, será possível o início ou a continuidade do cumprimento

provisório da sentença.184

Na ação rescisória há sempre suspensão da execução da decisão

proferida nesta última.

5. PROCEDIMENTO:

Os embargos infringentes deverão ser interpostos por petição,

acompanhada das respectivas razões e da prova do preparo, em 15 (quinze) dias, sendo

destinados ao relator da apelação ou da ação rescisória, conforme o caso.

Efetivamente interpostos, “abrir-se-á vista ao recorrido para contra-

razões; após, o relator do acórdão embargado apreciará a admissibilidade do recurso” (art.

531, com nova redação dada pela Lei 10.352/2001).

Percebe-se que após a alteração normativa operada pela Lei

10.352/2001, o juízo de admissibilidade levado a efeito pelo relator do acordão embargado

somente ocorrerá depois da apresentação das contra-razões do recorrido ou em seguida ao

esgotamento do prazo estipulado para tal fim, mas nada impede que antes mesmo deste ato

sejam os pressupostos recursais examinados pelo mesmo por ser seu dever de ofício

Não sendo recebido o recurso de embargos infringentes, será esta

decisão impugnável por agravo em 5 (cinco) dias (antigo recurso inominado), nos termos

do art. 532 do Código de Processo Civil, sendo esse agravo dirigido ao órgão colegiado

competente para julgamento dos embargos denegados.

De outro lado, sendo os embargos recebidos proceder-se-á, se

assim dispuser o respectivo regimento interno, ao sorteio de novo relator, que se possível

deverá recair sobre magistrado que não haja participado do julgamento anterior (art. 534

renovado pela Lei 10.352/2001).

Registre-se aqui que predomina no Superior Tribunal de Justiça

que não se pode negar seguimento aos embargos infringentes tão somente por não constar

nos autos a declaração do voto vencido (o titular do voto vencido em tal caso, não o

184

Nesse sentido: Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 143 e Alexandre Freitas Câmara, Lições

de direito processual civil, v. 2, p. 115.

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juntou aos autos, limitando-se a divergir oralmente do voto vencedor por ocasião da

sessão de julgamento), não se exigindo do recorrente a repetição dos argumentos

utilizados no voto vencido.185

Ultrapassadas essas premissas, caso haja o recebimento do recurso,

os autos serão conclusos ao relator sorteado e, posteriormente, ao revisor pelo prazo de 15

(quinze) dias para cada um, seguindo-se o julgamento oral (em sessão previamente

publicada).

185

Nesse sentido: STJ, REsp n. 336.774-RN, DJ de 19.11.2001 e REsp n. 991.544-PR, Rel. Min. Humberto

Gomes de Barros, julgado em 24.03.2008.

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CAPÍTULO V – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

Com a edição da Lei 8.950/1994, que revogou expressamente os

arts. 464 e 465, os embargos de declaração passaram a ser regulados exclusivamente pelos

arts. 535 a 538,186

pouco importando se o ato atacado é uma sentença ou acórdão (e até

mesmo decisão interlocutória ou despacho187

).

Apesar de estar regulado no Título X, do Livro I, do Código de

Processo Civil, pertinente aos recursos cíveis, os embargos de declaração não podem ser

considerados tecnicamente como recurso, mas como simples pedido de esclarecimento ou

de integração de decisão que exiba o vício da obscuridade, da contradição ou da

omissão.188

Excepcionalmente, porém, conforme se verá, os embargos

declaratórios poderão ser utilizados com o intuito de infringência (modificação) do julgado

(infra), hipótese em que terão nítida característica recursal.

2. OBJETIVO:

Em consonância com a Lei 8.950/1994, os embargos de declaração

têm por finalidade específica sanar na sentença ou acórdão (e também nas decisões

interlocutórias, como já visto) eventual (a) obscuridade, (b) contradição ou (c) omissão.

Assim, se a sentença ou o acórdão deixa de apreciar pedidos

expressamente formulados, se externa contradição entre o dispositivo e a fundamentação

(chamada na praxe forense de “sentença suicida”) ou não expõe com necessária clareza os

seus fundamentos, será facultado à parte prejudicada postular o respectivo esclarecimento

ou a integração através do remédio em comento.

Admite-se também a interposição dos embargos de declaração para

obter a simples correção de erros materiais constantes da decisão189

(exs.: erro no nome das

partes, erros de cálculo, equívocos de digitação etc.), tudo nos termos do art. 463, inciso I.

3. EFEITOS:

EFEITO DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO:

186

Em Goiás há previsão no art. 384 do RITJGO. 187

Não há motivo para restringir-se a admissibilidade dos embargos de declaração apenas às sentenças e

acórdãos, notadamente em virtude de seu fundamento no art. 5º, inciso XXXV da Constituição Federal

(Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 627). Admitem também os embargos declaratórios

contra decisão interlocutória (Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 117, Nelson Luiz Pinto,

Manual de recursos cíveis, p. 154 e Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, p. 587). 188

Contra: Câmara, para quem os embargos declaratórios têm natureza recursal, primeiro pela sua colocação

no Título X, do Código de Processo Civil, pertinente aos recursos, segundo porque constituem remédio

voluntário capaz de ensejar o esclarecimento ou a integração da decisão judicial no mesmo processo em que

foi proferida (Lições de direito processual civil, v. 2, p. 117). Admite-se, ainda, que a maioria na doutrina

defende a natureza recursal dos embargos declaratórios (cf. José Frederico Marques, Pontes de Miranda e

Moacyr Amaral Santos). 189

STJ, 1ª Turma, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de 1º.02.1999.

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61

Os embargos de declaração dispõem de efeito devolutivo, posto

que de certo modo autorizam a reapreciação de questões já decididas pelo próprio juízo

prolator, e suspensivo, porquanto impedem seja o julgado executado em sua pendência.190

Barbosa Moreira, entretanto, defende ponto de vista tecnicamente

diferente, no sentido de que somente há efeito devolutivo quando o recurso remete a

questão à apreciação de outro órgão que não o prolator da decisão; e como nos embargos

declaratórios essa devolução se dá ao próprio órgão jurisdicional que proferiu a decisão

não há que se falar em efeito devolutivo.191

EFEITO INTERRUPTIVO DE PRAZOS:

Em relação aos prazos referentes a outros recursos que poderiam

ser interpostos contra o ato objurgado (p. ex.: apelação), contudo, os embargos de

declaração tem efeito interruptivo para ambas as partes,192

conforme revela o art. 538,

caput, salvo se o feito correr pelo Juizado Especial Cível, hipótese em que haverá apenas a

suspensão de prazos se os embargos forem opostos contra a sentença (Lei 9.099/1995, art.

50).

Sendo assim, na prática, mesmo que a parte interessada apresente

seus embargos declaratórios no quinto dia de seu prazo (último dia), após o julgamento

deles, correrá o prazo integral para a interposição de apelação, isto é, quinze dias (é como

se o prazo do recurso de apelação fosse “zerado” com a oposição dos embargos).

Os embargos de declaração interromperão os prazos para

interposição de outros recursos, na forma acima aludida, ainda que não sejam conhecidos

por falta de pressuposto recursal ou por serem declarados procrastinatórios. Esse é

entendimento pacificado na jurisprudência pátria.193

190

Interessante raciocínio – diverso do exposto no texto – externam Fernando Orotavo Neto e Joaquim Pedro

Rohr. Segundo referidos autores os embargos de declaração “apenas apresentarão efeito suspensivo quando o

recurso próprio para atacar a decisão embargada também o possuir”, sob pena de dar-se ensejo a um

retardamento não admitido pela lei processual. Desta sorte os embargos declaratórios opostos contra acórdão

que julga apelação não terão eficácia suspensiva pois os recursos especial e extraordinário não o têm (Dos

recursos cíveis, pp. 214-215). 191

O novo processo civil brasileiro, p. 182. 192

(Concurso de ingresso na magistratura do Estado de Goiás, 2007, questão 52) Assinale a resposta

errada: (a) Há conflito de competência quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes; (b) Há

litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de

decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; (c) a sentença proferida entre as partes originárias,

estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário; (d) os embargos de declaração suspende o prazo para

a interposição de outros recursos, por qualquer das partes (no gabarito oficial, a alternativa “d” é a

incorreta; sugere-se a leitura do art. 538 do Código de Processo Civil) e, ainda, (Exame de Ordem do

Estado de Goiás – março de 2003, questão 11) Marque a afirmativa correta: (a) Os embargos de

declaração não interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes; (b)

Admite-se embargos de declaração apenas na sentença de primeiro grau; (c) Da sentença transitada em

julgado não cabe mais nenhum recurso ou rescisão do julgado proferido; (d) Denomina-se coisa julgada

material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou

extraordinário (alternativa correta no gabarito oficial – recomenda-se a leitura dos arts. 467 e 538 do

Código de Processo Civil). 193

STJ, REsp n. 174.193-SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes, DJU de 18.10.1999 e REsp n. 153.462-RS,

Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU de 9.3.1998.

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62

Mas se, ao contrário, tiverem sido interpostos intempestivamente,

não terão naturalmente o condão de interromper os demais prazos recursais,194

até porque a

decisão terá transitado em julgado (houve perda do prazo, por isso se formou a coisa

julgada).

PREQUESTIONAMENTO:

Os embargos de declaração também se prestam a prequestionar a

matéria para efeito de futura interposição de recurso especial ou de recurso extraordinário,

isto na hipótese de omissão eventualmente existente no acórdão (cf. Súmulas 282 e 356 do

STF e 211 do STJ).

Na verdade, os embargos de declaração não figuram como requisito

lógico e obrigatório dos recursos excepcionais indicados, mas apenas devem ser

interpostos quando o acórdão do Tribunal a quo não houver enfrentado implícita ou

explicitamente a matéria federal ou constitucional que dará ensejo à interposição dos

remédios constitucionais (CF, arts. 102, inciso III e 105, inciso III).195

Em casos que tais, aquele que pretende se valer do recurso especial

ou do recurso extraordinário utilizará primeiramente os embargos declaratórios, instando o

tribunal a quo a se manifestar expressamente sobre a questão federal ou constitucional;

apenas depois disso é que poderá interpor recurso às instância de superposição.

É bom verificar, contudo, que se apesar dos embargos o tribunal

não se manifestar sobre a questão não se admitirá o recurso especial em relação a ela (STJ,

Súmula 211), mas apenas caberá o recurso especial com alegação de “nulidade do acórdão

por omissão (decisão infra petita)”.196

Dispensa-se o prequestionamento, ainda que omisso seja o acórdão

objurgado, se (a) se o recurso especial ou extraordinário tiver sido interposto por terceiro

prejudicado,197

ou (b) se a alegação nos recursos excepcionais for unicamente de nulidade

por falta de fundamentação do próprio acórdão, isto nos termos da própria Súmula 211 do

Superior Tribunal de Justiça.

EFEITO INFRINGENTE:

Como regra geral, os embargos de declaração não podem ter por

objetivo alterar pura e simplesmente o sentido do julgamento, mas apenas visam apenas

corrigir omissões, contradições ou obscuridades eventualmente existentes, sem

modificação da posição conclusiva do ato decisório. A “função dos embargos de

declaração não é questionar o acerto ou desacerto do provimento jurisdicional, mas corrigir

omissão, contradição ou obscuridade porventura existentes no julgado”.198

194

STJ, REsp n. 38.051-3-RJ, Rel. Min. Fontes de Alencar, DJU de 21.2.1994 e REsp n. 225.136-AM, Rel.

Min. Eduardo Ribeiro, DJU de 19.06.2000. 195

Caso o tribunal a quo tenha enfrentado a matéria, serão admissíveis desde logo o recurso especial e/ou o

recurso extraordinário. 196

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 156. 197

STJ, REsp n. 316.441-RJ, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, julgado em 25.05.2004. 198

TJGO, APC n. 76.895-7/188, Rel. Des. Leobino Valente Chaves, ac. De 04.09.2004.

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63

Apesar disso, excepcionalmente, a jurisprudência199

e a doutrina200

– e até mesmo a própria lei processual trabalhista201

– têm admitido a infringência

(modificação) do julgado embargado, mormente nos casos em que a sanatória da omissão

ou da contradição obriguem efetivamente ao juiz alterar o sentido da sentença. Essa

eficácia infringente somente será verificada “nos casos em que o juiz houver cometido erro

grosseiro no julgamento, seja pela não-apreciação de questão fundamental ao deslinde da

lide (pedido, preliminar ou fundamento relevante), seja pelo cometimento de erro ou

descuido quando prolata a sentença”.202

É o que existirá, exemplificativamente, com uma sentença que

eventualmente reconheça a prescrição, mas julgue o pedido do autor procedente. Ora, se a

pretensão está, na visão do julgador, prescrita, o lógico seria o julgamento de

improcedência. Há também potencial infringência quando nos embargos se postula a

correção de erros materiais.

Diversamente do que ocorre com os embargos de declaração

tradicionais – que não tem espaço para contra-razões –, nos “embargos declaratórios com

efeito infringente” a jurisprudência tem recomendado taxativamente a oitiva da parte

contrária em 5 (cinco) dias antes da prolação do julgamento complementário.203

4. PROCEDIMENTO:

Com a unificação de procedimentos operada em 1994, os embargos

de declaração deverão ser opostos em 5 (cinco) dias, qualquer que seja a instância

destinatária; a petição de embargos deverá ser escrita e destinada ao próprio órgão prolator

da decisão, sentença ou acórdão, não dependendo de preparo (art. 536, in fine).

No primeiro grau de jurisdição o prazo para julgamento dos

embargos será de cinco dias (art. 537); nos tribunais não há prazo determinado para sua

apreciação, devendo ser apresentado em mesa para julgamento – isto quer dizer na prática

independentemente de publicação – na sessão seguinte à data da oposição (art. 537, in

fine).

Não incide o princípio da identidade física nos embargos

declaratórios, pelo que não há necessidade de que o mesmo juiz que proferiu a sentença ou

decisão julgue os embargos declaratórios, a vinculação é do órgão jurisdicional, e não da

pessoa física do juiz.204

Tendo os embargos de declaração opostos pela parte apenas

intenção de protelar o andamento do feito, o que será facilmente alcançado com a

suspensão da execução do julgado, o magistrado condenará o embargante a pagar ao

embargado multa não excedente de 1% (um por cento) do valor da causa (art. 538,

199

STJ, REsp 151.080/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de 23.10.2000. 200

Nesse sentido: Wambier (Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 628), chamando o efeito infringente

de “colateral” e “secundário”, e Orotavo Neto (Dos recursos cíveis, p. 216). 201

Refiro-me aqui especificamente ao art. 897-A da CLT, que foi acrescido pela Lei 9.957/2000. 202

Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 217. 203

Nesse sentido: STF, Informativo 188, p. 04, STJ, REsp n. 491.311-MG, Rel. Min. José Delgado, DJU de

09.06.2003 (“Os embargos de declaração, só em caráter excepcional, têm efeitos modificativos. Aventar tal

possibilidade implica, necessariamente, o chamamento da parte contrária para se pronunciar”) e, na doutrina,

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 120. 204

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 119.

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parágrafo único, primeira parte);205

havendo reiteração dos embargos reputados

protelatórios, a multa será “elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a

interposição de qualquer recurso ao depósito do valor respectivo” (art. 538, par. único, in

fine).

Neste particular, é sempre relevante lembrar, todavia, que o

Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que os embargos de declaração

“manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório”

(Súmula 98).

205

Observe-se, contudo, que o STJ tem entendido que não deve ser qualificada como conduta protelatória o

simples fato de a parte ter se insurgido “contra decisão que lhe foi desfavorável, sob a suposição de que havia

ponto obscuro e contradição no acórdão” (REsp n. 433.477).

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CAPÍTULO VI – RECURSO ORDINÁRIO

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

O recurso ordinário encontra suas principais previsões nos arts.

102, inciso II e 105, inciso II da Constituição Federal; no art. 539, Código de Processo

Civil e nos arts. 33 a 35 da Lei 8.038/1990.

Há regulamentação também no Regimento Interno do Superior

Tribunal de Justiça (arts. 247 a 254) e do Supremo Tribunal Federal (arts. 318 a 320),206

e

ainda na Lei 12.016/2009 (art. 18).

O recurso ordinário, também conhecido como “recurso ordinário

constitucional”207

é uma espécie de apelação dirigida em geral contra acórdão em causas

de competência originária de tribunais em casos expressamente determinados em lei e na

Constituição Federal. Trata-se de recurso não admissível para atacar quaisquer decisões em

causas originárias, mas somente as dispostas em lei e desde o julgamento seja no sentido

indicado também na norma jurídica.

O julgamento do recurso ordinário caberá ao Superior Tribunal de

Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal, conforme se fundamente no art. 105, inciso II ou

no art. 102, inciso II (respectivamente), da Constituição Federal da República.

2. HIPÓTESES DE CABIMENTO:

Será cabível recurso ordinário ao Supremo Tribunal Federal,

portanto, em mandados de segurança, habeas data e mandados de injunção decididos em

única instância pelos Tribunais Superiores, quando denegatória a decisão (CF, art. 102,

inciso II, „a‟ e CPC, art. 539, I).

Para efeito de recurso ordinário, são considerados tribunais

superiores o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Superior Tribunal Militar (STM), o

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Tribunal Superior do Trabalho (TST).208

Por outro lado, o recurso ordinário será interposto ao Superior

Tribunal de Justiça nos casos de mandados de segurança decididos em única instância

pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios, apenas quando denegatória a decisão (CF, art. 105, inciso II, alínea „b‟ e CPC,

art. 539, inciso II, alínea „a‟).209

206

Em Goiás, o rito está regulamentado nos arts. 357 a 359 do RITJGO. 207

Para Alexandre Freitas Câmara essa denominação tem a vantagem de evitar “confusões entre o recurso de

que aqui se trata e o gênero de recurso denominado „recurso ordinário‟ (de que este é espécie), e que se

contrapõe ao „recurso excepcional‟. Evita, ainda, confusão entre esta figura e o recurso ordinário do Direito

Processual do Trabalho, que corresponde ao que, no Direito Processual Civil, chamamos de apelação”

(Lições de direito processual civil, p. 121). 208

Borges, Recursos cíveis, p. 65. 209

(8º Concurso para o cargo de Procurador do Estado de Goiás, questão 43) O recurso contra decisão

denegatória de mandado de segurança na competência originária do Tribunal de Justiça é: (a) Não cabe

recurso voluntário, uma vez que tal decisão está sujeita a reexame necessário; (b) Agravo de Instrumento

dirigido ao Presidente do mesmo Tribunal; (c) Recurso ordinário dirigido ao STJ (alternativa correta no

gabarito oficial – CF, art. 105, inciso II, alínea “b” e CPC, art. 539, inciso II, “b”); (d) Recurso

Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.

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66

Enfim, nos termos do art. 105, inciso II, alínea „c‟, da Constituição

Federal e dos arts. 36 e 37, da Lei 8.038/1990, o recurso em tela poderá ser interposto

também nas causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo

internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.

Neste último caso, a causa referida é de competência originária do

juiz federal de primeira instância (CF, art. 109, inciso II) e, em grau de recurso, do

Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, inciso II, alínea „c‟ e RISTJ, art. 13, inciso III),

não tendo o Tribunal Regional Federal qualquer competência nessa matéria.210

3. FUNDAMENTAÇÃO LIVRE:

O recurso ordinário constitucional, ao contrário do que ocorre com

os recursos especial e extraordinário, não se submete a qualquer requisito especial para sua

interposição, sendo pois inconformidade de fundamentação livre, não exigindo também o

já comentado prequestionamento.211

Estando demonstrado, destarte, o interesse (sucumbência), a

legitimidade e os demais requisitos naturais de qualquer recurso, o reexame pelo Superior

Tribunal de Justiça ou pelo Supremo Tribunal Federal se imporá, sem que possa o

presidente do Tribunal de origem exarar o restrito juízo de admissibilidade comum dos

recursos excepcionais – e refiro-me aqui aos recursos especial e extraordinário.

Além disso, como o recurso ordinário constitucional enquadra-se, a

exemplo do que já se viu, como espécie no gênero dos “recursos ordinários” admite ele a

argüição tanto de matérias de fato quanto de direito, sem outras limitações também comuns

nos recursos excepcionais. São, por isso, inaplicáveis ao mesmo as recomendações

constantes das Súmulas 7 do STJ e 279 do STF.212

Como aludem Fernando Orotavo Neto e Joaquim Pedro Rohr o

recurso ordinário “possui natureza puramente revisora, ao contrário do recurso especial e

do recurso extraordinário, onde, se argüi, em verdade, um vício da decisão por sua

inconstitucionalidade ou sua ilegalidade”.213

4. PROCESSAMENTO:

O procedimento do recurso ordinário constitucional será idêntico

ao da apelação ou do agravo, conforme o caso, isto por força do disposto nos arts. 539,

parágrafo único e 540 do Código de Processo Civil. De acordo com o mesmo art. 540, os

pressupostos de admissibilidade do recurso ordinário são exatamente os mesmos da

apelação e do agravo (Capítulos II e III do Título X, do Livro I, do Código de Processo

Civil).

Em linhas gerais, o recurso ordinário será interposto junto à

presidência ou à vice-presidência (conforme o caso) do tribunal recorrido, cabendo ao seu

presidente ou ao vice-presidente exarar o juízo de admissibilidade sobre a inconformidade;

210

Nery Junior, Código de processo civil comentado, 2006, p. 794. 211

STJ, ROMS n. 11.255-SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini. 212

Cf. Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 234. 213

Dos recursos cíveis, p. 227.

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caso seja positivo o juízo de admissibilidade, remeter-se-ão os autos ao STJ ou ao STF

(CF, arts. 102, inciso II e 105, inciso II); se negativo, caberá agravo de instrumento para

tentativa de destrancamento.

Agora, se estivermos especificamente diante do recurso ordinário

em causas estrangeiras (CF, art. 105, inciso II, alínea “c”), a regra é bem diferente. Caso se

trate de agravo de instrumento de decisão interlocutória do juízo federal prolator, a

interposição se dará diretamente no Superior Tribunal de Justiça, segundo a sistemática dos

arts. 522-529 do Código de Processo Civil; caso seja uma apelação, a interposição se dará

junto ao próprio juízo federal de primeira instância, a quem competirá também proceder ao

juízo de admissibilidade inicial, remetendo-o na seqüência, caso receba o recurso, ao

Superior Tribunal de Justiça; caso não receba, caberá agravo de instrumento ao mesmo

Superior Tribunal de Justiça (art. 522).214

PRAZO:

Para interpor e para responder o recurso ordinário o prazo será

sempre de 15 (quinze) dias (art. 508), salvo evidentemente as duplicações legais (exs.: arts.

188 e 191).

EFEITOS:

Apesar da omissão da lei processual, o recurso ordinário será

recebido apenas no efeito devolutivo – mas não suspensivo –, já que cabível apenas de

decisão denegatória de mandado de segurança, mandado de injunção e habeas data, que

tem cunho declaratório negativo, decisão essa que por sua natureza sequer necessita ter

seus efeitos negativos suspensos.

Destarte, “se o tribunal denega a segurança pretendida pelo

impetrante, a simples interposição do recurso ordinário não teria o condão de suspender

esta decisão e, ainda, reverter a decisão tendo por conseqüência lógica a concessão da

segurança pretendida”. Em outros termos, o “efeito suspensivo apenas impede

temporariamente a eficácia e a exeqüibilidade da decisão até o julgamento do recurso. Se a

decisão, por possuir um efeito declaratório negativo, já é inexeqüível, muito obviamente o

efeito suspensivo do recurso não terá qualquer relevância para esta decisão”.215

Exatamente este entendimento já esposou o Superior Tribunal de

Justiça no julgado a seguir transcrito:

“A interposição de recurso ordinário não tem o condão de restaurar

a vigência da medida liminar em mandado de segurança a final negado pelo

tribunal, mesmo porque o recurso ordinário de acórdão denegatório de segurança

não tem efeito suspensivo”.216

A exceção fica por conta da causa indicada no art. 539, inciso II,

alínea „b‟, hipótese em que o remédio recursal em tela se acobertará também de efeito

214

Didier Jr, Curso de direito processual civil, v. 3, p. 215. 215

Orotavo Neto, Dos recursos cíveis, p. 235. 216

STJ, MS n. 5.069-MG, Rel. Min. José Dantas, DJU 08.09.1998.

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suspensivo da execução do julgado atacado, caso ele seja positivo (de procedência),217

aplicando-se-lhe o disposto no art. 520, caput, 1ª parte.

ÂMBITO DE DEVOLUTIVIDADE:

No recurso ordinário será a devolução ao Tribunal ad quem a mais

ampla possível, abrangendo toda a matéria fática como a de direito, tornando-se lícita uma

revisão completa do que se decidiu no tribunal a quo, diversamente do que ocorre com o

recurso especial e com o recurso extraordinário, que são regidos pelo entendimento

esposado nas já referidas Súmulas 7 do Superior Tribunal de Justiça (“A pretensão de

simples reexame de prova não enseja recurso especial”) e 279 do Supremo Tribunal

Federal (“Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”).

DISTRIBUIÇÃO E JULGAMENTO:

Uma vez distribuído o recurso ordinário, serão os autos remetidos

ao Ministério Público que terá o prazo de 5 (cinco) dias para apor sua manifestação.

Ato contínuo, será o feito concluso ao relator que lavrará seu voto,

pedindo dia para julgamento na forma do art. 34, da Lei 8.038/1990.

Caso haja indeferimento pelo Tribunal ad quo, caberá agravo de

instrumento para o seu destrancamento; se o trancamento tiver sido operado por ato do

relator perante o Tribunal ad quem, caberá agravo interno (art. 557).

217

Câmara, Lições de direito processual civil, v. 2, p. 124.

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CAPÍTULO VII – RECURSO ESPECIAL E

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

Na Constituição Federal os recursos extraordinário e especial

encontram-se previstos nos arts. 102, inciso III e 105, inciso III, respectivamente; na norma

infraconstitucional a regulamentação está nos arts. 541 a 545 do Código de Processo Civil

e 26 a 29 da Lei 8.038/1990; no âmbito regimental os recursos em tela estão previstos nos

arts. 321/329 do RISTF e 255/257 do RISTJ.218

Os remédios recursais examinados visam atacar decisão de única

ou de última instância, ou seja, decisão já não mais sujeita a recursos ordinários (STF,

Súmula 281 e STJ, Súmula 207), que viole de qualquer forma alguma lei federal (recurso

especial) ou a Constituição Federal (recurso extraordinário), exigindo-se sempre o

prequestionamento da matéria (Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal).

Apenas questões jurídicas federais e constitucionais, como se vê,

poderão ser tratadas nos recursos especial e extraordinário, estando integralmente afastadas

as matérias fáticas, cuja análise se esgota no segundo grau de jurisdição (Tribunais de

Justiça e Tribunais Regionais Federais).

2. NATUREZA:

Tanto o recurso especial quanto o extraordinário são de

fundamentação vinculada, porquanto deve o recorrente demonstrar, além dos pressupostos

recursais ordinários, o preenchimento dos rigorosos requisitos constitucionais (CF, arts.

102, inciso III e 105, inciso III).

Assim, não basta ao recorrente alegar em razões, para efeito de

recurso especial ou extraordinário, o simples erro de procedimento ou erro no julgamento

recorrido, sendo mister a adequação da espécie em alguma das hipóteses previstas nos arts.

102, inciso III (mácula à Constituição Federal) ou 105, inciso III (violação de lei federal).

Além disso, é preciso que a questão federal ou constitucional

impugnada tenha sido objeto de expressa (ou implícita) discussão e decisão pelo Tribunal a

quo, o que se costuma denominar de “prequestionamento”.

Sendo eventualmente omisso o acórdão objurgado a esse respeito

do assunto que será objeto do inconformismo, caberá à parte recorrente apresentar, antes

do recurso especial e/ou extraordinário, os competentes embargos declaratórios (STF,

Súmula 356).

Caso a omissão seja saneada, aí sim serão admissíveis os recursos

excepcionais; mas se a omissão, a despeito da oposição dos embargos de declaração, não

for saneada pelo tribunal a quo deverá a parte prejudicada interpor o recurso especial ou o

recurso extraordinário argüindo a nulidade do acórdão “em razão de ser ele infra petita ou

218

Em Goiás, há previsão nos arts. 354 a 356 do RITJGO apenas do rito do Recurso Extraordinário

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omisso e incompleto quanto à fundamentação”219

(STJ, Súmula 211), não podendo suscitar

ou discutir nestes recursos a matéria sobre a qual houve omissão.

3. RECURSO ESPECIAL:

O recurso especial tem por escopo a manutenção da autoridade e

unidade da lei federal, tendo em conta que na Federação existem múltiplos organismos

judiciários encarregados de aplicar o direito positivo elaborado pela União.

O recurso especial tem cabimento nas causas decididas (decisão de

mérito ou não), em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos

Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida (a)

contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; (b) “julgar valido ato de governo

local contestado em face de lei federal” (cf. emenda de “reforma do judiciário”) e (c) der a

lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Segundo interpretação literal do art. 105, inciso III, da Constituição

Federal, não se admite a interposição de recurso especial contra decisões proferidas por

outros órgãos que não sejam tribunais (Súmula 203, do STJ).220

4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO:

Os pressupostos do recurso extraordinário são, basicamente, a

existência de julgamento em última ou única instância em que haja uma controvérsia sobre

questão federal constitucional. Através do recurso em tela visa-se tutelar a autoridade e a

integridade da própria Constituição Federal.

Terá, pois, cabimento o recurso extraordinário contra causas

decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida (a) contrariar

dispositivo da Constituição Federal, (b) declarar inconstitucionalidade de tratado ou lei

federal, (c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição

Federal ou então (d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal (cf. emenda de

“reforma do judiciário”).

Em qualquer dos casos indicados, o recorrente, no recurso

extraordinário, deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais

discutidas no caso, nos termos da lei, “a fim de que o Tribunal examine a admissão do

recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros”

(CF, art. 102, § 3º).

Com o fito de regulamentar esse instituto da “repercussão geral” foi

editada a Lei 11.418, de 19 de dezembro de 2006, estabelecendo a mesma que o Supremo

Tribunal Federal não conhecerá do recurso extraordinário – o que fará em decisão

irrecorrível –, “quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão

geral” (art. 543-A, caput).

Segundo o art. 543-A, § 1º, do Código de Processo Civil – com

redação naturalmente outorgada pela lei citada –, para “efeito de repercussão geral, será

considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico,

219

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 231. 220

“Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”.

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político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa”, bem como

haverá também repercussão geral “sempre que o recurso impugnar decisão contrária a

súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal (art. 543-A, § 3º).

A existência da repercussão geral deverá ser demonstrada em

preliminar do recurso extraordinário, sendo a mesma de apreciação exclusiva do Supremo

Tribunal Federal (art. 543-A, § 2º).

Caso a Turma do Supremo Tribunal Federal decidir no sentido da

“existência da repercussão geral por, no mínimo 4 (quatro) votos, ficará dispensada a

remessa do recurso ao Plenário” (art. 543-A, § 4º), mas se negada a existência da mesma,

“a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos

liminarmente, salvo revisão da tese” (art. 543-A, § 5º).221

Em qualquer caso, a súmula da decisão sobre o incidente de

verificação da repercussão geral “constará de ata, que será publicada no Diário Oficial e

valerá como acórdão” (art. 543-A, § 7º).

Ainda nos termos da Lei 11.418/2006, quando “houver

multiplicidade de recursos com fundamentação em idêntica controvérsia, a análise da

repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal”, observado do disposto no art. 543-B, do Código de Processo Civil.

Neste caso específico, tocará ao Tribunal a quo “selecionar um ou

mais recursos representativos da controvérsia” e remetê-los ao Supremo Tribunal Federal,

suspendendo os demais até o pronunciamento definitivo deste último (art. 543-B, § 1º).

Uma vez negada a existência da repercussão geral, “os recursos

sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos” (art. 543-B, § 2º); mas se

julgado o mérito do recurso extraordinário, “os recursos sobrestados serão apreciados pelos

Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais, que poderão declará-los

prejudicados ou retratar-se” (art. 543-B, § 3º).

Mantida eventualmente a decisão pelos colegiados de origem

(Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais), poderá o Supremo Tribunal

Federal cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada (art.

543-B, § 4º).

É bom sempre lembrar que ao contrário do que ocorre com o

recurso especial (CF, art. 105, inciso III), que somente cabe de decisões de tribunais

(Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça), o recurso extraordinário é

admissível “até mesmo contra decisão de juiz de primeiro grau, desde que de única ou de

última instância”222

(CF, art. 102, inciso III).

Será então admissível teoricamente a interposição de recurso

extraordinário – mas nunca recurso especial – contra o acórdão proferido pela Turma

Recursal dos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/1995, art. 41, § 1º) e contra a sentença

221

“O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por

procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal” (art. 543-A, § 6º). 222

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 193.

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prolatada por juiz de primeira instância nas execuções tenham valor não excedente a 50

ORTN (Lei 6.830/1980, art. 34).

5. NORMAS PROCEDIMENTAIS COMUNS:

5.1. PRAZO:

Para interpor e para responder o recurso especial e o extraordinário

terá a parte 15 (quinze) dias (art. 508) contados da intimação do acórdão.

Registre-se, contudo, que é “inadmissível o recurso especial

interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior

ratificação” (STJ, Súmula 418).

De acordo com a nova redação do art. 498, caput, do Código de

Processo Civil (outorgada pela Lei 10.352/2001), quando “o dispositivo do acórdão

contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos

embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial,

relativamente ao julgamento unânime,223

ficará sobrestado até a intimação da decisão nos

embargos”.

De outro lado, não havendo interposição de embargos infringentes

quanto à parte não unânime, “o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de

início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos” (parágrafo único

do art. 498).

Assim, em linhas gerais, a parte que tem interesse em recorrer do

capítulo insuscetível de embargos (seja ele unânime, seja não unânime) deverá aguardar o

decurso de prazo para eventual interposição de embargos infringentes. Caso não haja

embargos infringentes, o prazo para o recurso federal começará a fluir da data em que

transitar em julgado a decisão por maioria de votos.

Mas se os embargos forem opostos, o litigante que não tinha direito

a opor embargos aguardará o julgamento dos que seu adversário opôs – “fluindo a partir de

então o prazo para que um, ou ambos (conforme o caso), interponha seu recurso especial

ou extraordinário”.224

Registre-se apenas para efeito histórico que antes da alteração

operada pela Lei 10.352/2001 o recurso especial e/ou extraordinário, na mesma situação,

deveriam ser interpostos conjuntamente com o de embargos infringentes, sob pena de

preclusão consumativa, sendo certo que somente após a interposição é que aqueles ficavam

com seu andamento suspenso (antiga redação do art. 498, caput).

Referidos recursos excepcionais, além de suspensos, ficavam sem

resposta e sem juízo de admissibilidade, “só deixando a vida latente depois de julgados os

223

Releva notar, porém, que é possível que não sejam admissíveis embargos infringentes contra o capítulo

não-unânime do acórdão, desde que o mesmo se refira, por exemplo, à confirmação da sentença de mérito em

apelação ou à improcedência em ação rescisória (Dinamarco, A reforma da reforma, p. 210 e Câmara, Lições

de direito processual civil, v. 2, p. 112); em tal caso aplicar-se-á a mesma regra, ou seja, o prazo para

interposição de recurso especial ou extraordinário desta parcela “ficará sobrestado até a intimação da decisão

nos embargos”. 224

Dinamarco, A reforma da reforma, p. 213.

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73

embargos infringentes pelo tribunal local – quando então poderia até ser interposto novo

recurso especial ou extraordinário, agora contra o acórdão proferido no julgamento dos

embargos”.225

5.2. EFEITOS:

Por força de lei os recursos em comento somente têm efeito

devolutivo (art. 542, § 2o), e não suspensivo, permitindo-se a formulação, na origem (na 1ª

instância), do pedido de cumprimento provisório da sentença ou do acórdão (RISTJ, art.

306).

Todavia, tem-se admitido, excepcionalmente, a atribuição de efeito

suspensivo ao recurso especial e ao recurso extraordinário através do ajuizamento de ação

cautelar inominada,226

desde que presentes os requisitos naturais ao deferimento da liminar

em referida demanda (fumus boni juris e periculum in mora).

Enquanto o recurso excepcional não estiver sido objeto de juízo de

admissibilidade, a medida cautelar deverá ser aforada no próprio Tribunal a quo,

submetendo-se à apreciação de seu presidente; após esse momento, a medida cautelar será

de competência do tribunal superior respectivo (STF, Súmula 634 e 635).

5.3. DESTINATÁRIO:

Serão destinatários dos recursos constitucionais em análise,

conforme o caso, o Superior Tribunal de Justiça (recurso especial) e o Supremo Tribunal

Federal (recurso extraordinário), porém, não se deve olvidar que o protocolo dos mesmos

se dá no tribunal recorrido (no Tribunal de Justiça ou no Tribunal Regional Federal,

conforme o caso).

5.4. PROCESSAMENTO:

Quando cabíveis, os recursos especial e extraordinário deverão ser

interpostos (e respondidos) conjuntamente em petições escritas distintas; na petição

recursal deverá o recorrente expor o fato e do direito, demonstrar o cabimento do recurso

interposto (CF, arts. 102, inciso III e 105, inciso III) e as razões do pedido de reforma da

decisão recorrida, instruindo-a com a prova da efetivação do preparo restrito às despesas de

remessa e de retorno dos autos (STJ, Súmula 187).

Caso o recurso especial se funde em dissídio de jurisprudência (CF,

art. 105, inciso III, alínea „c‟), é essencial ressaltar que o recorrente deverá fazer no ato de

interposição prova dessa divergência “mediante certidão, cópia autenticada ou pela citação

do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em

que tiver sido publicada a decisão divergente, ou ainda pela reprodução de julgado

disponível na Internet, com indicação da respectiva fonte, mencionando, em qualquer caso,

as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados” (art. 541, par.

único, com redação outorgada pela Lei 11.341, de 7 de agosto de 2006).

225

Dinamarco, A reforma da reforma, p. 211. 226

STJ, MC n. 567-SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJU 02.6.1997 e MC n. 7.917-SP, Rel. Min. Denise

Arruda, julgado em 27.04.2004.

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74

Tanto o recurso especial quanto o recurso extraordinário devem ser

interpostos junto ao presidente do Tribunal recorrido (Tribunal de Justiça ou do Tribunal

Regional Federal, conforme o caso).227

E uma vez recebida a petição de interposição, será

o recorrido intimado para apresentar suas contra-razões no prazo de 15 (quinze) dias (art.

542, caput).

Findo o prazo para contra-razões, os autos serão conclusos ao

Presidente do Tribunal recorrido para a admissão ou não do recurso especial e/ou

extraordinário, sempre à luz dos pressupostos constitucionais que condicionam os recursos

extremos. Esse primeiro juízo de admissibilidade228

é levado a efeito por decisão

fundamentada (cf. STJ, Súmula 123) que deverá ser proferida em 15 (quinze) dias (art.

542, § 1o).

Admitidos os recursos (ou o recurso), serão os autos encaminhados

ao Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal, conforme o caso. No caso

de interposição de ambos os recursos, a remessa deverá ser feita primeiramente ao STJ e,

somente após o julgamento por este, ao STF (art. 543).229

Na hipótese de o relator do recurso especial considerar que o

recurso extraordinário é prejudicial àquele, em decisão irrecorrível sobrestará o seu

julgamento e remeterá os autos diretamente ao Supremo Tribunal Federal, para o

julgamento do recurso extraordinário (art. 543, § 2º).

Se o relator do recurso extraordinário, no caso antes indicado, não

o considerar prejudicial, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o

julgamento do recurso especial. Esta decisão também será irrecorrível (art. 543, § 3º).

***

Não sendo eventualmente admitido o recurso especial ou o recurso

extraordinário, caberá, agora, com o advento da Lei 12.322/2010, agravo nos próprios

autos (e não mais agravo de instrumento), no prazo de 10 (dez) dias (art. 544, caput),

sendo certo que o “agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido”

(CPC 544 § 1º, com redação da Lei 12.322/2010).

227

Em dois casos excepcionais, a interposição não se dá nem no Tribunal de Justiça, nem num Tribunal

Regional Federal. Refiro-me ao recurso extraordinário interposto contra acórdão da Turma Recursal do

Juizado Especial Cível (Lei 9.099/1995), que deverá ser dirigido ao presidente desta mesma turma, e ao

recurso extraordinário interposto nas causas fiscais inferiores a 50 ORTN (Lei 6.830/1980, art. 34), que

deverá ser dirigido ao próprio juiz da causa. 228

É pertinente notar neste particular que tanto o recurso especial quanto o recurso extraordinário se

subordinam a um sistema de admissibilidade desdobrado, com uma primeira etapa junto ao Tribunal de

origem (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, como regra) e uma segunda perante o Tribunal

Superior ad quem. 229

(Concurso para ingresso na magistratura do Pará, 2005, questão 14) Assinale a alternativa correta: (a)

Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver julgado improcedente a ação rescisória;

(b) Cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar, em recurso ordinário, as causas em que forem partes, de um

lado, Estado estrangeiro e, do outro, Município brasileiro; (c) Inadmitido o recurso extraordinário, caberá

agravo de instrumento, no prazo de 15 (quinze) dias, para o Supremo Tribunal Federal; (d) Os recursos

interpostos nas causas de procedimento sumário deverão ser julgados no Tribunal dentro de 60 (sessenta)

dias; (e) Admitidos, no Tribunal recorrido, os recursos extraordinário e especial, os autos serão remetidos ao

Superior Tribunal de Justiça, com ambos os recursos (alternativa correta – recomenda-se a leitura do art.

543, caput, do Código de Processo Civil).

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75

Assim, não há mais necessidade de formação do instrumento e nem

é exigível a apresentação de qualquer cópia (o rol de peças obrigatórias foi revogado),

devendo o novo agravo, como dita a lei processual, ser interposto “nos próprios autos”, isto

é, independentemente de instrumento (repito).

Após o advento da Lei 10.352/2001, relembre-se que a lei

processual passou a não mais exigir o pagamento de custas e de despesas postais para

referido recurso (art. 544, § 2o);

230 trata-se, pois, de um recurso isento de preparo.

Uma vez interposto este agravo (que será juntado nos autos

principais), tem-se que o agravado “será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez)

dias oferecer resposta”, remetendo-se os autos, em seguida, à superior instância (CPC 544

§ 3º, com redação da Lei 12.322/2010).

Segundo entendimento predominante, o presidente do Tribunal a

quo não poderá denegar seguimento a este agravo interposto contra o bloqueio do recurso

especial ou extraordinário (salvo manifesta intempestividade), sob pena de gerar direito à

reclamação por usurpação de competência (CF, arts. 102, inciso I, alínea “i” e 105, inciso

I, alínea “f”), posicionamento que foi reforçado, agora, com a nova redação do art. 544, §

3º, do Código de Processo Civil (Lei 12.322/2010).

Os autos serão enviados primeiramente ao Superior Tribunal de

Justiça e, somente depois, se for o caso, ao Supremo Tribunal Federal, salvo se houver a

prejudicialidade de que trata o § 2º do art. 543 do Código de Processo Civil, situação em

que o Supremo dará a primeira palavra (exceto se seguida a alternativa prevista no § 3º do

mesmo preceito).

Aplica-se também a este agravo a disciplina do art. 543-C do

Código de Processo Civil, que cuida dos recursos especiais repetitivos, que será examinada

logo adiante (Lei 11.672/2008).

Estando do Supremo Tribunal Federal ou no Superior Tribunal de

Justiça, o agravo será julgado segundo as regras do respectivo regimento interno, podendo

o relator (CPC 544 § 4º):

a) Não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado

especificamente os fundamentos da decisão agravada;

b) Conhecer do agravo para:

b.1) Negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso;

b.2) Negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado, ou em

confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal;

230

Há entretanto Ação Direta de Inconstitucionalidade (n. 2641), movida pela Governadora do Rio de Janeiro

junto ao Supremo Tribunal Federal, que tem por objetivo questionar a constitucionalidade do preceito, sob o

argumento de que o mesmo viola os arts. 99 – posto que cria despesa para os tribunais, sem prévia fonte de

custeio ou previsão orçamentária – e 24, inciso IV – já que constitui lei federal tratando assunto da esfera

estadual – da Constituição Federal.

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76

b.3) Dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com

súmula ou jurisprudência dominante do tribunal.

Desta decisão do relator que “não conhecer do agravo, negar-lhe

provimento ou decidir, desde logo, o recurso não admitido na origem, caberá agravo, no

prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão competente, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art.

557” (redação da Lei 12.322/2010).

Em tal caso, o agravante não poderá se limitar a repetir os termos

do agravo denegado, devendo “manifestar-se atacando especificamente os fundamentos

ditados pelo relator para inadmitir ou desprover o agravo, pois trata-se de novo recurso

dirigido para a turma julgadora, e não de uma repetição do recurso julgado ou inadmitido

pelo relator”,231

conforme inclusive recomenda a Súmula 182 do Superior Tribunal de

Justiça.

5.5. RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO RETIDOS:

O recurso extraordinário ou o recurso especial eventualmente

interpostos contra decisão interlocutória (leia-se acórdão interlocutório) em processo de

conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos autos e somente será

processado se o reiterar a parte, no prazo para interposição do recurso contra a decisão

final, ou para as contra-razões. Esta é a regulamentação trazida pelo art. 542, § 3º, que foi

alterado pela Lei 9.756/1998.

Da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, contudo, extrai-se

uma exceção – na verdade um abrandamento – a esta regra da retenção. Refiro-me aos

casos em que a decisão interlocutória versa sobre tutelas de urgência, como é o caso da

antecipação de tutela. Em tais hipóteses, entende o Excelso Pretório que não é admissível a

retenção do recurso extraordinário,232

devendo ser afastada a incidência do art. 542, § 3º.

Para combate à eventual retenção indevida dos recursos especial ou

extraordinário, tem-se admitido (a) a oposição de medida cautelar inominada ou de

reclamação (sem qualquer distinção) diretamente no tribunal ad quem (isto é, no Superior

Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal), posição predominante na

jurisprudência,233

ou até mesmo (b) a interposição do agravo de instrumento previsto no

art. 544, devendo, diante da omissão legislativa e da incerteza da jurisprudência no Excelso

Pretório, ser aplicado o princípio da instrumentalidade.234

5.6. RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS (Lei 11.672, de 8 de maio de 2008):

Com o advento da Lei 11.672/2008, inseriu-se no art. 543-C (§§)

do Código de Processo Civil, a regulamentação restritiva alusiva aos denominados

“recursos especiais repetitivos” no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, regime jurídico

231

Nelson Luiz Pinto, Manual dos recursos cíveis, p. 230. 232

Nesse sentido: STF, AC n. 929/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 6.9.2005. 233

Nesse sentido: STF, AC n. 929/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 6.9.2005, PET n. 2.905, Rel. Min.

Sepúlveda Pertence, DJU de 05.06.2003, PET n. 2.651, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de 09.04.2002,

PET n. 1.647, Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 23.04.1999 e RCL n. 2.510, Rel. Min. Marco Aurélio, DJU

de 21.05.2004, e no STJ, MC n. 10.697-RJ, Rel. Min. José Delgado, j. em 28.3.2006. 234

Wambier, Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 636 e STF, AI n. 406.983, Rel. Min. Carlos Velloso,

DJU de 09.05.2003 e AI n. 455.842, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU de 19.03.2004.

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77

que será complementado pelos regimentos internos do próprio STJ e dos tribunais de

segunda instância (art. 543-C, § 9º).

Releva ressaltar que o disposto na Lei 11.672/2008 será aplicável

inclusive aos recursos já interpostos por ocasião da sua entrada em vigor (art. 2º).

Para efeitos legais, consideram-se “recursos especiais repetitivos”

aqueles que tiverem sido interpostos com “fundamento em idêntica questão de direito” (art.

543-C, caput).

Na prática, caberá ao presidente do tribunal de origem (Tribunal de

Justiça ou Tribunal Regional Federal) “admitir um ou mais recursos representativos da

controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando

suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo” deste tribunal

(art. 543-C, § 1º).

Não efetivada a providência indicada, o próprio relator no STJ, “ao

identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já

está afeta ao colegiado, poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância,

dos recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida” (art. 543-C, § 2º).

Instalado o incidente em estudo, poderá o relator (a) solicitar

informações aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia (que serão

prestadas em 15 dias) e ainda, considerando a relevância da matéria, (b) admitir a

manifestação de pessoas, órgãos ou entidades (amicus curiae) com interesse na

controvérsia (art. 543-C, §§ 3º e 4º).

Após apresentadas as informações (e juntada a manifestação do

amicus curiae, se for o caso), o Ministério Público terá vista dos autos por 15 (quinze) dias

(art. 543-C, § 5º).

Transcorrido o prazo para a fala do Ministério Público (com ou

sem ela) e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, “o processo será incluído em

pauta na seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre os demais

feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus” (art. 543-C,

§ 6º).

Uma vez publicado o acórdão do STJ sobre o caso, os recursos

especiais sobrestados na origem (a) “terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão

recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça”, ou (b) “serão

novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir

da orientação do Superior Tribunal de Justiça” (art. 543-C, § 7º), sendo certo que neste

último caso, “mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de

admissibilidade do recurso especial” (art. 543-C, § 8º).

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CAPÍTULO VIII – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

1. PREVISÃO LEGAL E NOÇÕES:

Os embargos de divergência encontram-se regulamentados nos arts.

546 do Código de Processo Civil, 334 a 336 do RISTF e 266 a 267 do RISTJ.

Os embargos de divergência pressupõem identidade de fato e

solução normativa diferente de julgamento proferido por turma, dada por turma ou outro

órgão julgador do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal.

Referido recurso tem por escopo buscar a uniformização da

jurisprudência no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, como

espécie de sucedâneo em alguns casos do antigo recurso de revista (CPC de 1939, art.

853235

).

2. ADMISSIBILIDADE:

Somente de admite a interposição de embargos de divergência

contra decisão de turma que, em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma,

da seção ou do órgão especial ou, em recurso extraordinário, divergir do julgamento da

outra turma ou do plenário.

Percebe-se, então, que apenas cabem os embargos em tela em

julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça ou pelo Supremo Tribunal Federal

em recurso especial ou extraordinário, respectivamente, e desde que exista divergência

com referência a outro julgamento proferido em caso semelhante mas por outro órgão

julgador dos mesmos tribunais (outra turma, seção ou órgão especial no STJ; outra turma

ou do plenário no STF).

2.1. CONFRONTO COM A UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA:

Os embargos de divergência não se confundem com a

uniformização de jurisprudência.

É que este último remédio se apresenta como simples incidente

que, em geral, precede ao julgamento de recurso pendente enquanto os embargos de

divergência são admissíveis depois de já ultimado o julgamento e, por isso, assumem a

natureza de novo recurso.236

Além disso, os embargos de divergência somente são admissíveis

após o julgamento de recurso especial ou extraordinário no Superior Tribunal de Justiça ou

no Supremo Tribunal Federal; já a uniformização é admissível que qualquer tipo de

procedimento (exs.: recursos, causas de competência originária e em duplo grau de

jurisdição) e em qualquer Tribunal.237

235

“Conceder-se-á recurso de revista nos casos em que divergirem, em suas decisões finais, duas ou mais

Câmaras, turmas ou grupos de Câmaras, entre si, quanto ao modo de interpretar o direito em tese”. 236

Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, p. 606. 237

Moreira, O novo processo civil brasileiro, p. 198.

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2.2. CONFRONTO COM A UNIFORMIZAÇÃO DE INTEREPRETAÇÃO DE LEI

FEDERAL:

Da mesma forma, não se confunde os embargos de divergência

com o procedimento de “uniformização de interpretação de lei federal” previsto no art. 14,

da Lei 10.259/2001, que regulamentou os Juizados Especiais Federais.

Primeiramente deve-se perceber que a uniformização previsto na

Lei dos Juizados Federais somente serve para resolver divergência sobre interpretação de

lei federal em causa sujeita à apreciação, em grau de recurso, nas Turmas Recursais,

obviamente dentro da competência legalmente atribuída (art. 3o). Os embargos, como se

observou, podem versar sobre matéria legal e constitucional e somente tem cabimento após

o julgamento de recurso especial ou extraordinário.

Além disso, o pedido de uniformização será julgado por reunião

conjunta das Turmas em conflito, quando o conflito for entre turmas da mesma região

federal, ou por Turma de Uniformização, quando houver divergência entre “turmas de

diferentes regiões” ou quando a decisão atacada tiver sido proferida em contrariedade a

súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça (art. 14, § 2o); já os

embargos serão sempre julgados ou pelo STJ ou pelo STF, conforme surja a divergência

em julgamento de recurso especial ou extraordinário.

3. INADMISSIBILIDADE:

Deve-se ter em mente, contudo, nos termos da Súmula 158 do

Superior Tribunal de Justiça, que não “se presta a justificar embargos de divergência o

dissídio com acórdão de Turma ou Seção que não mais tenha competência para a matéria

neles versada”.

Do mesmo modo inadmissíveis serão os embargos de divergência

“quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado”

(STJ, Súmula 168). É isso exatamente o que dispõe também o art. 332 do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal acerca da denominada “divergência superada”.

Além disso, não “cabem embargos de divergência no âmbito do

agravo de instrumento que não admite recurso especial” (STJ, Súmula 315).

Mas são admissíveis os embargos de divergência “contra acórdão

que, em agravo regimental, decide o recurso especial” (STJ, Súmula 316).

Até bem pouco tempo, era pacífico no STF o posicionamento de

que era incabível o remédio em exame se a divergência surgisse em decisão de Turma em

agravo regimental (Súmula 599 do STF).

Mais recentemente, contudo, o Supremo Tribunal Federal cancelou

referido enunciado de sua súmula ao entendimento de que “haveria de se considerar a

ocorrência de inovação na ordem jurídica que teria ampliado os poderes decisórios do

relator, estendendo-lhe, dentre outras, competência para, monocraticamente, dar

provimento ao recurso (CPC, artigos 544, § 3º e 557, § 1º-A, na redação da Lei

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9.756/98)”,238

hipótese específica em que o agravo interno pode gerar ensejo ao exame do

próprio recurso extraordinário.

Enfim, não cabem embargos de divergência para fim de discussão

do valor de indenização por danos morais (STJ, Súmula 420).

4. PROCEDIMENTO:

Para julgamento dos embargos de divergência deve ser seguido o

procedimento estabelecido no respectivo regimento interno. Basicamente, entretanto, os

regimentos do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal não exibem

grandes diferenciações rituais, prevendo praticamente o mesmo procedimento.

Os embargos de divergência deverão ser interpostos e respondidos

em 15 (quinze) dias (RISTJ, art. 334 e RISTJ, arts. 266, caput, e 267, caput).

O embargante, na petição recursal, deverá demonstrar, de forma

analítica, a divergência entre os acórdãos confrontados, evidenciando ainda a identidade ou

similitude do suporte fático em ambos,239

sob pena de não ser sequer recebido o recurso,

conforme exsurge do art. 266, § 3o, do RISTJ.

A divergência noticiada deverá ser comprovada por certidão, cópia

autenticada dos acórdãos ou pela simples citação de repositório oficial, autorizado ou

credenciado, em que os mesmos se achem publicados (cf. RISTF, arts. 322 e 331 e, RISTJ,

arts. 255, § 1o e 266, § 1

o).

4.1. EFEITOS:

Os embargos de divergência devolvem do respectivo Tribunal toda

a matéria agitada no acórdão embargado, mesmo que nele não tenha sido apreciada por

inteiro. Em que pese isso, seu efeito não é suspensivo da execução do acórdão embargado,

conforme se depreende do art. 266, § 2o, do RISTJ.

240

4.2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JULGAMENTO:

Devidamente juntados aos autos e sorteado o respectivo relator,

poderá este negar seguimento aos embargos de divergência liminarmente, desde que

intempestivos ou quando “contrariarem Súmula do Tribunal, ou não se comprovar ou não

se configurar a divergência jurisprudencial” (RISTJ, art. 266, § 3o).

Ao contrário, se forem recebidos através de despacho que deverá

ser fundamentado deverá o embargado ser cientificado para, querendo, apresentar suas

contra-razões em 15 (quinze) dias. Será o Ministério Público, se for o caso, instado a se

manifestar em 20 (vinte) dias (RISTJ, art. 266, § 4o).

238

STF, RE n. 285.093., Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26.4.2007. 239

Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, p. 606. 240

Nesse sentido: Câmara, Lições de direito processual civil, p. 134 e Nery Junior, Princípios fundamentais,

pp. 382-383.

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Impugnados, ou não, os autos serão encaminhados ao relator

sorteado que postulará a inclusão do feito em pauta para julgamento (art. 267, par. único do

RISTJ).

Do julgamento dos embargos de divergência no Superior Tribunal

de Justiça caberão eventualmente embargos de declaração e recurso extraordinário; se

forem julgados no Supremo Tribunal Federal, caberão apenas embargos declaratórios.

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Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009.

Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não

amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de

partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos

administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.

§ 3o Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá

requerer o mandado de segurança.

Art. 2o Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem

patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada.

Art. 3o O titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de

terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.

Parágrafo único. O exercício do direito previsto no caput deste artigo submete-se ao prazo fixado no art. 23 desta Lei, contado da notificação.

Art. 4o Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado

de segurança por telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.

§ 1o Poderá o juiz, em caso de urgência, notificar a autoridade por telegrama, radiograma ou

outro meio que assegure a autenticidade do documento e a imediata ciência pela autoridade.

§ 2o O texto original da petição deverá ser apresentado nos 5 (cinco) dias úteis seguintes.

§ 3o Para os fins deste artigo, em se tratando de documento eletrônico, serão observadas as

regras da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil.

Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:

I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução;

II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;

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III - de decisão judicial transitada em julgado.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual,

será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.

§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou

estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição.

§ 2o Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria coatora, a ordem far-se-

á no próprio instrumento da notificação.

§ 3o Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual

emane a ordem para a sua prática.

§ 4o (VETADO)

§ 5o Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei n

o 5.869,

de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

§ 6o O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial,

se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;

II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito;

III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

§ 1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de

instrumento, observado o disposto na Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo

Civil.

§ 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos

tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

§ 3o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação

da sentença.

§ 4o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento.

§ 5o As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste artigo se

estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro

de 1973 - Código de Processo Civil.

Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou a

requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

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Art. 9o As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da notificação

da medida liminar, remeterão ao Ministério ou órgão a que se acham subordinadas e ao Advogado-Geral da União ou a quem tiver a representação judicial da União, do Estado, do Município ou da entidade apontada como coatora cópia autenticada do mandado notificatório, assim como indicações e elementos outros necessários às providências a serem tomadas para a eventual suspensão da medida e defesa do ato apontado como ilegal ou abusivo de poder.

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.

§ 1o Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação e, quando a

competência para o julgamento do mandado de segurança couber originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão competente do tribunal que integre.

§ 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial.

Art. 11. Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório corra o feito juntará aos autos cópia autêntica dos ofícios endereçados ao coator e ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, bem como a prova da entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-los ou dar recibo e, no caso do art. 4

o desta Lei, a comprovação da remessa.

Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o desta Lei, o juiz ouvirá o

representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.

Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada.

Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o disposto no art. 4o desta Lei.

Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação.

§ 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de

jurisdição.

§ 2o Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.

§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente,

salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.

§ 4o O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença

concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial.

Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição.

§ 1o Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste

artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.

§ 2o É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1

o deste artigo, quando

negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se refere este artigo.

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§ 3o A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas

contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

§ 4o O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar,

em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.

§ 5o As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única decisão,

podendo o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original.

Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão do julgamento.

Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.

Art. 17. Nas decisões proferidas em mandado de segurança e nos respectivos recursos, quando não publicado, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do julgamento, o acórdão será substituído pelas respectivas notas taquigráficas, independentemente de revisão.

Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos, e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.

Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.

Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo habeas corpus.

§ 1o Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se

seguir à data em que forem conclusos ao relator.

§ 2o O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de 5 (cinco) dias.

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:

I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;

II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais,

mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

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§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência

do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Art. 24. Aplicam-se ao mandado de segurança os arts. 46 a 49 da Lei no 5.869, de 11 de

janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de má-fé.

Art. 26. Constitui crime de desobediência, nos termos do art. 330 do Decreto-Lei no 2.848, de

7 de dezembro de 1940, o não cumprimento das decisões proferidas em mandado de segurança, sem prejuízo das sanções administrativas e da aplicação da Lei n

o 1.079, de 10 de abril de 1950,

quando cabíveis.

Art. 27. Os regimentos dos tribunais e, no que couber, as leis de organização judiciária deverão ser adaptados às disposições desta Lei no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da sua publicação.

Art. 28. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 29. Revogam-se as Leis nos

1.533, de 31 de dezembro de 1951, 4.166, de 4 de

dezembro de 1962, 4.348, de 26 de junho de 1964, 5.021, de 9 de junho de 1966; o art. 3o

da Lei no 6.014, de 27 de dezembro de 1973, o art. 1

o da Lei n

o 6.071, de 3 de julho de

1974, o art. 12 da Lei no 6.978, de 19 de janeiro de 1982, e o art. 2

o da Lei n

o 9.259, de 9 de

janeiro de 1996.

Brasília, 7 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

José Antonio Dias Toffoli

Este texto não substitui o publicado no DOU de 10.8.2009

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Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.969, DE 6 DE JULHO DE 2009.

Altera a redação do § 2

o do art. 40 da Lei n

o 5.869,

de 11 de janeiro de 1973, que institui o Código de Processo Civil.

O VICE–PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei disciplina a retirada dos autos do cartório ou secretaria pelos procuradores

para a obtenção de cópias na hipótese de prazo comum às partes.

Art. 2o O § 2

o do art. 40 da Lei n

o 5.869, de 11 de janeiro de 1973, passa a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 40. ................................................

...................................................................................

§ 2o Sendo comum às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição

nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 1 (uma) hora independentemente de ajuste.” (NR)

Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de julho de 2009; 188o da Independência e 121

o da República.

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

Este texto não substitui o publicado no DOU de 7.7.2009

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Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.008, DE 29 DE JULHO DE 2009.

Altera os arts. 1.211-A, 1.211-B e 1.211-C da Lei no

5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, e acrescenta o art. 69-A à Lei n

o

9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal, a fim de estender a prioridade na tramitação de procedimentos judiciais e administrativos às pessoas que especifica.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o O art. 1.211-A da Lei n

o 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de

Processo Civil, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.211-A. Os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado

pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doença grave,

terão prioridade de tramitação em todas as instâncias.

Parágrafo único. (VETADO)” (NR)

Art. 2o O art. 1.211-B da Lei n

o 5.869, de 1973 - Código de Processo Civil, passa a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.211-B. A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua

condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que

determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.

§ 1o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o

regime de tramitação prioritária.

§ 2o (VETADO)

§ 3o (VETADO)” (NR)

Art. 3o O art. 1.211-C da Lei n

o 5.869, de 1973 - Código de Processo Civil, passa a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.211-C. Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado,

estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, em união

estável.” (NR)

Art. 4o A Lei n

o 9.784, de 29 de janeiro de 1999, passa a vigorar acrescida do

seguinte art. 69-A:

“Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância, os

procedimentos administrativos em que figure como parte ou interessado:

I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;

II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;

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III – (VETADO)

IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna,

hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,

espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da

doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de

imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da medicina

especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do processo.

§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição,

deverá requerê-lo à autoridade administrativa competente, que determinará as providências

a serem cumpridas.

§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o

regime de tramitação prioritária.

§ 3o (VETADO)

§ 4o (VETADO)

Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 29 de julho de 2009; 188o da Independência e 121

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.7.2009