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Direito Tributário II – 13.08.2013 (Aula 01) Professor Ubaldo Cesar Balthazar Princípios Constitucionais Tributários. Os princípios são assim chamados por permitirem a estruturação de todo o Sistema Tributário Nacional, sendo tanto gerais – aplicáveis a todas as áreas do Direito – quanto específicos – de cunho predominantemente tributário. Princípios específicos: (1) Capacidade contributiva: Art. 145, § 1º, da Constituição Federal: “§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”. (a) O princípio da capacidade contributiva se aplica a todos os tributos ou apenas aos impostos? o Numa leitura literal do dispositivo, a doutrina diz que o princípio se aplica apenas aos impostos. Doutrina outra diz que se aplica a todos os tributos, pois os demais (para além dos impostos) podem sofrer limitações que venham a ensejar o respeito à capacidade contributiva. o Há entendimento do Supremo, inclusive, de que ao IPTU não poderia ser aplicado tal princípio, entendendo-se que, assim, o princípio só pode ser aplicado a alguns impostos. Parte da doutrina entende, porém, que o princípio seria geral, pois como o dispositivo diz que haverá aplicação sempre que for possível, como nunca é impossível, sempre haverá aplicação. o A expressão de sempre que possível não seria restritiva. Outra opinião, minoritária, é a de que a expressão impostos deve ser tomada em sentido amplo, devendo ser considerada para todos os tributos. o Certo autor diz que a origem de tal decorre da Constituição de 1946, em que havia referência a tributos, dizendo-se que os tributos teriam caráter pessoal sempre que possível, devendo ser graduados de acordo com a capacidade do contribuinte, o que diferenciava bem os princípios da pessoalidade e da capacidade.

Direito Tributário II

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  • Direito Tributrio II 13.08.2013 (Aula 01)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Princpios Constitucionais Tributrios.

    Os princpios so assim chamados por permitirem a estruturao de todo o Sistema

    Tributrio Nacional, sendo tanto gerais aplicveis a todas as reas do Direito quanto

    especficos de cunho predominantemente tributrio.

    Princpios especficos:

    (1) Capacidade contributiva:

    Art. 145, 1, da Constituio Federal: 1 - Sempre que possvel, os impostos

    tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do

    contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir

    efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos

    termos da lei, o patrimnio, os rendimentos e as atividades econmicas do

    contribuinte.

    (a) O princpio da capacidade contributiva se aplica a todos os tributos ou

    apenas aos impostos?

    o Numa leitura literal do dispositivo, a doutrina diz que o princpio se aplica

    apenas aos impostos. Doutrina outra diz que se aplica a todos os tributos,

    pois os demais (para alm dos impostos) podem sofrer limitaes que

    venham a ensejar o respeito capacidade contributiva.

    o H entendimento do Supremo, inclusive, de que ao IPTU no poderia ser

    aplicado tal princpio, entendendo-se que, assim, o princpio s pode ser

    aplicado a alguns impostos. Parte da doutrina entende, porm, que o

    princpio seria geral, pois como o dispositivo diz que haver aplicao

    sempre que for possvel, como nunca impossvel, sempre haver

    aplicao.

    o A expresso de sempre que possvel no seria restritiva. Outra opinio,

    minoritria, a de que a expresso impostos deve ser tomada em sentido

    amplo, devendo ser considerada para todos os tributos.

    o Certo autor diz que a origem de tal decorre da Constituio de 1946, em

    que havia referncia a tributos, dizendo-se que os tributos teriam carter

    pessoal sempre que possvel, devendo ser graduados de acordo com a

    capacidade do contribuinte, o que diferenciava bem os princpios da

    pessoalidade e da capacidade.

  • o O judicirio, porm, tem restringido a aplicao do princpio da capacidade

    contributiva aos impostos, restringido ainda mais, apenas aos impostos

    pessoais. IPI e ICMS seriam impostos reais, incidindo sobre a operao

    realizada, sendo irrelevantes os aspectos do contribuinte.

    o O professor se filia corrente que defende a aplicao do princpio apenas

    aos impostos, pois se h diferenciao expressa entre os tipos de tributo, a

    referncia no 1 do artigo 145 apenas a impostos mostra a inteno do

    legislador constituinte em estender a aplicao apenas aos impostos. Este

    o entendimento majoritrio.

    (b) Existe um princpio ou existem dois, com a individualizao da pessoalidade

    e da capacidade contributiva?

    o H divergncia na doutrina, uns defendendo que o princpio da

    pessoalidade estaria contido no da capacidade contributiva, pois apenas aos

    impostos pessoais este princpio se faz aplicvel, no incidindo sobre os

    reais.

    o Outros autores dizem ser possvel aplicar aos impostos reais, como Hugo de

    Brito Machado, pois, por exemplo, no ICMS, quem paga o imposto o

    consumidor final, pelo que se faz possvel aplicar o princpio da capacidade

    contributiva aos impostos reais decorre de uma interpretao literal do

    dispositivo, da expresso sempre que possvel.

    o (1) Imposto real: aquele em que, para a formao da base de clculo,

    apenas aspectos da coisa so levados em considerao.

    o (2) Imposto pessoal: aquele em que, para a formao da base de clculo,

    aspectos do contribuinte so levados em considerao.

    (c) A Constituio fala em capacidade econmica, mas porque o princpio se

    chama de capacidade contributiva? So expresses sinnimas?

    o A interpretao da doutrina a de que temos disposto na Constituio o

    princpio da capacidade contributiva, em que pese disponha expressamente

    o texto constitucional sobre capacidade econmica.

    o Enquanto a capacidade econmica envolve patrimnio, rendimento (mais

    ampla), capacidade contributiva se constitui na capacidade financeira de

    desembolso (mais restritiva).

    o Assim, deveria ser o princpio chamado de capacidade econmica. Outros

    fazem uma interpretao mais restritiva, dizendo que, para que se alcance

    uma capacidade contributiva, deve-se primeiro respeitar uma capacidade

  • econmica, ou seja, por meio desta se alcana aquela.

    o Em sntese, de acordo com o professor, o constituinte se referiu

    capacidade econmica, mas, por meio desta, chega-se capacidade

    contributiva.

    (d) Princpio operacional igualdade:

    o Existem princpios como o presente que tm por intuito auxiliar no

    alcance do princpio da igualdade em verdade, uma aspirao expressa na

    Constituio. A Carta Magna, no intuito de efetivar o corolrio, insere em

    seu teor outros princpios que buscam operacionalizar o princpio da

    igualdade.

    (2) Progressividade (IR, IPTU, ITR):

    So trs grandes critrios orientadores:

    o (a) Generalidade: alcana a todas as rendas ou pessoas.

    o (b) Universalidade: alcana a todas as pessoas ou rendas.

    o (c) Progressividade: aumento gradativo da alquota de acordo com o

    aumento gradativo da renda lquida tributvel.

    O ITR tem disposio constitucional expressa dizendo que sobre ele incidir

    progressividade (no uma opo) determinante, vinculando o legislador

    infraconstitucional.

    Em contraponto, no IPTU, h possibilidade de incidir a progressividade ( uma

    opo) no determinante, no vinculando o legislador infraconstitucional.

    Quanto ao tema, o STF, at a edio da Emenda n. 29/2000 (com entendimento

    sumulado posteriormente, inclusive Smula n. 668), entendia pela

    inconstitucionalidade da progressividade de alquotas, salvo situaes

    excepcionais.

    o Smula n. 668 do STF: inconstitucional a lei municipal que tenha

    estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alquotas

    progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da

    funo social da propriedade urbana.

    Assim entendia, pois, que, sendo o IPTU um imposto real, no poderia atender

    ao princpio da capacidade contributiva entendimento restritivo acerca da

    extenso do princpio.

    A progressividade tambm princpio operacional operacionalizao do

    princpio da igualdade. Aliada a progressividade capacidade contributiva,

  • seletividade e vedao da utilizao de tributo com efeito de confisco, busca-se

    operacionalizar a igualdade.

    (3) Seletividade:

    Art. 153, 3, I, da Constituio Federal: 3 O imposto previsto no inciso IV: I -

    ser seletivo, em funo da essencialidade do produto.

    Art. 155, 2, III, da Constituio Federal: 2 O imposto previsto no inciso II

    atender ao seguinte: III - poder ser seletivo, em funo da essencialidade das

    mercadorias e dos servios.

    No que toca seletividade, enfoca-se na essencialidade dos produtos, conceito

    difcil de determinar (essencial versus suprfluo).

    (4) No-cumulatividade:

    Art. 153, 3, II, da Constituio Federal: 3 O imposto previsto no inciso IV: II

    - ser no-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operao com

    o montante cobrado nas anteriores (IPI).

    Art. 155, 2, I, da Constituio Federal: 2 O imposto previsto no inciso II

    atender ao seguinte: I - ser no-cumulativo, compensando-se o que for devido

    em cada operao relativa circulao de mercadorias ou prestao de servios

    com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo

    Distrito Federal (ICMS).

    Aplica-se ao IPI, ao ICMS e, tambm, por fora da Emenda n. 42, tambm s

    contribuies destinadas ao financiamento da seguridade social (PIS, COFINS).

    O imposto ser no cumulativo quando adotar o sistema de crdito para fim de

    clculo do imposto. O contribuinte se credita nos impostos incidentes sobre suas

    compras e se debita nos impostos incidentes sobre suas vendas, recolhendo a

    diferena apurada mensalmente entre o dbito e o crdito.

    no cumulativo, pois o valor no se acumula no preo de revenda, fazendo

    com que o contribuinte recolha apenas a diferena entre o crdito registrado no

    perodo e o dbito apurado nas vendas.

    Decorre o sistema do direito francs, evitando o acmulo de imposto na revenda

    final ao consumidor.

  • Direito Tributrio II 19.08.2013 (Aula 02)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Repartio de Receitas Tributrias.

    (1) Matria no tributria:

    Esta matria, tecnicamente falando, no de direito tributrio, mas sim financeiro,

    pois quando a Constituio estabelece mecanismo de relao financeira entre entes

    federativos, a relao tributria j se esgotou, pois esta se restringe obteno da

    receita. Quando se fala de repartio, exauriu-se a atividade tributria.

    Os artigos 145 a 162 da Constituio Federal formam o Sistema Tributria Nacional.

    Destes, os artigos 145 a 156 tratam de Direito Tributrio, enquanto que os artigos 157

    a 162 tratam de Direito Financeiro.

    O Direito Financeiro envolve normalmente o que diz respeito atividade financeira

    do Estado, enquanto que o Direito Tributrio envolve a relao jurdico-tributria

    entre o sujeito ativo (aquele com competncia para instituir tributo) e o sujeito

    passivo (aquele com a obrigao de recolher o tributo).

    (2) Esvaziamento da isonomia das pessoas polticas ou fortalecimento?

    O Brasil uma federao, implicando o princpio federativo a isonomia entre os entes

    federativos (Unio, Estados, Distrito Federal e municpios), no havendo hierarquia

    entre estes. Trata-se de uma federao sui generis, dada sua peculiaridade de

    nmero de entes federativos exercendo competncia tributria.

    A previso da repartio de receitas, segundo Geraldo Ataliba, implica num

    esvaziamento do princpio federativo. A previso de uma repartio de receitas, para

    ele, implica num predomnio da Unio sobre Estados e municpios a Unio deve

    entregar parte de seus recursos a Estados e municpios, pois a autonomia destes, per

    se, no permite sua sobrevivncia.

    Com o tempo, formou-se novo entendimento, em especial pelo aumento da receita

    da Unio, entendendo-se que a repartio no uma benesse, mas sim uma

    imposio constitucional a Unio no opta ou no por fazer, tendo a obrigao de

    faz-lo estabelecida na Constituio.

    A Magna Carta prev que determinado tributo pertence ao municpio ou ao Estado,

    sendo retido, em geral, por estes, ainda que pertencente Unio. Assim, atualmente,

    prevalece o entendimento de que a obrigatoriedade de repartio fortalece o

    princpio federativo, pois a repartio das receitas tem por intuito fortalecer o

    princpio isonmico.

  • (3) Efeitos:

    (a) Obrigatoriedade de repartir:

    A previso de uma repartio de receitas no implica na vontade do ente

    federativo de repartir, mas na obrigao, pois o dinheiro no dele, mas sim

    daquele destinatrio constitucionalmente previsto. Este o principal efeito.

    Quando do recolhimento, por exemplo, do IPVA, h uma repartio automtica

    do valor, 50% para Estado e 50% para municpio, no chegando o valor a ir

    diretamente para o Estado e depois este repassar, sendo automaticamente

    retido o percentual respectivo pelo municpio.

    A ausncia de repartio de receita tributria, em que pese inconstitucional, no

    impossvel, em especial por reteno em razo de represlias polticas.

    (b) Nos percentuais fixados:

    O percentual constitucionalmente previsto deve ser respeitado, sob pena de

    inconstitucionalidade.

    H decises firmando a necessidade de respeito aos percentuais, pois ocorreram

    situaes em que o Estado, por exemplo, retinha parte do percentual que

    deveria ser repassado ao municpio, alegando despesas com o recolhimento, o

    clculo e o repasse. Esta prtica foi rechaada pelo Supremo Tribunal Federal.

    A Constituio obriga a repartir e estabelece o percentual, no relegando ao

    legislador infraconstitucional a definio / regulao de percentual.

    (c) Impossibilidade, para quem recebe, de legislar:

    Os municpios, por exemplo, recebem 25% da receita do ICMS, de competncia

    dos Estados-membros. Eles apenas recebem, mas isto no lhes outorga

    competncia para legislar sobre o tema.

    Os municpios, porm, fazem convnios com o Estado para fiscalizar o

    recolhimento de ICMS nas empresas nos municpios, por meio de seus fiscais.

    Alguns prefeitos, ento, para aumentar sua receita, seu ndice de participao,

    mandam ao legislativo municipal projeto de lei disciplinando a forma de

    fiscalizao, alterando, por vezes, disposies do convnio, o que enseja a ida do

    Estado ao judicirio para vetar a invaso de competncia promovida pelo

    municpio.

    (4) Modalidades:

    (a) Reteno:

    Estados e municpios, por exemplo, pagam os vencimentos de seus servidores e

  • calculam o Imposto de Renda. Este imposto pertence ao Estado ou ao municpio,

    sendo por eles retido, no havendo entrega Unio (ainda que seja imposto

    federal).

    (b) Diviso pura e simples:

    a situao, por exemplo, do IPVA, cuja receita pertence, no percentual de 50%,

    ao municpio, sendo imposto de competncia estadual.

    (c) Recolhimento, com posterior entrega:

    Quando comeou a repartio da receita do ITR, com a Emenda n. 18 de 1965,

    ficava o imposto, em sua totalidade, com o municpio.

    O Cdigo Tributrio Nacional trouxe, ento, a previso de que seria possvel a

    reteno de 20% pelo rgo arrecadador para investimento na poltica fundiria,

    contra o que se voltaram os municpios, sendo o dispositivo declarado, pelo

    Supremo, inconstitucional.

    Com a atual Constituio, trouxe-se a previso de que, do ITR, pertenceria ao

    municpio 50% da receita. Em 2003, com Emenda Constitucional, passou a ser

    possvel a celebrao de convnio entre municpio e Unio para que aquele

    administrasse o tributo, quando, ento, caber ao municpio 100% do tributo.

    A repartio do IR e do IPI forma os chamados fundos, conforme dispem os

    incisos I a III do artigo 159 da Constituio.

    A Unio arrecada tais impostos, incorporando a seus cofres pblicos,

    posteriormente entregando a parte de cada um, seja atravs do repasse do

    percentual respectivo do ITR ou da formao de fundos de participao com o

    IPI e o IR.

    As contribuies especiais foram ampliadas com a Constituio, pois so tributos

    que no so objeto de repartio, ampliando a arrecadao da Unio.

    (d) Distribuio conforme ndice de participao:

    A repartio desta categoria aquela do ICMS, em que os municpios recebem

    25%, mas no de forma integral ao que arrecadado em seu territrio. Dos

    100% arrecadado pelo Estado-membro, 75% pertence ao Estado e 25% ao

    municpio.

    Quando o contribuinte recolhe o tributo no banco, creditam-se os respectivos

    percentuais nas contas de Estado e municpio. Tem-se, em verdade, um

    montante de 25% a ser dividido entre os municpios, conforme ndices de

    participao estabelecidos na Constituio.

  • Deste montante de 25%, pelo menos a frao de 3/4 (75%) percentual que

    varia de acordo com o valor adicionado, ou seja, a maior movimentao

    econmica, calculado pelo Estado-membro (em Santa Catarina, restou fixado em

    85%) fica com o municpio respectivo, e, no mximo 1/4 (25%) distribudo de

    acordo com Lei Estadual (em Santa Catarina, uma diviso igualitria de 15% do

    tributo).

    Alguns Estados tm feito uma diviso ecolgica, ou seja, recebe mais deste 1/4

    aquele que faz e investe mais em polticas de proteo ambiental. o chamado

    ICMS ecolgico, com projeto de lei em exame na Assembleia Legislativa de

    Santa Catarina.

    Os 3/4, em Santa Catarina, so calculados com base em anlises mensais. Os

    municpios devem entregar relatrios mensais de compras e vendas, verificando-

    se seu movimento mensal. Por fim, tem-se um movimento anual. O Estado,

    ento, recebe tais relatrios, formando ndices de desenvolvimento com base

    nos dois anos anteriores.

    Em 2013, por exemplo, os municpios recebem de acordo com seu movimento

    econmico nos anos de 2010 e 2011, restando 2012 para o clculo.

    Avaliaes.

    Prova 01: 14.10.2013.

    Prova 02: 25.11.2013.

  • Direito Tributrio II 20.08.2013 (Aula 03)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Cdigo Tributrio Nacional (Lei n. 5.172/1966).

    O Governo Getlio Vargas tinha o objetivo de solucionar a questo da tributao no Brasil.

    Assim, requereu-se, em 1952, ao advogado tributarista Rubens Gomes de Sousa que

    elaborasse projeto para sistematizar a atividade tributria.

    At 1965, portanto, nunca se teve um direito tributrio definido como tal, mas sim alguns

    estudos legais e de princpios tributrios constitucionais esparsos, ou seja, no se tinha

    uma atividade tributria sistematizada.

    Assim, formada uma comisso presidida por Gomes de Sousa, entregou-se ao governo, na

    pessoa do Ministro Osvaldo Aranha, o anteprojeto do atual Cdigo Tributrio Nacional. A

    partir de ento, apoiado por Osvaldo Aranha e avalizado por Getlio Vargas, encaminhou-

    se o anteprojeto ao Congresso Nacional. Todavia, diante das contingncias polticas

    (suicdio de Getlio, eleio de Juscelino, etc.), ficou o projeto parado at 1964.

    Em seminrio realizado, em 1964, na Fundao Getlio Vargas, aps o incio da ditadura

    militar, chegou-se concluso de que a reforma tributria demandaria uma reforma

    constitucional, pois se comeou a dispor acerca de tributos embasados em fatos

    econmicos e no meramente documentais (tributao escritural). Rubens Gomes de

    Souza, por exemplo, agrupou em impostos sobre industrializao, patrimnio, renda e

    especiais.

    Tal tipo de proposta, no entanto, no encontrava suporte no texto constitucional ento

    vigente. Dessa forma, formou-se uma comisso de reforma tributria e, em 1 dezembro

    de 1965, tivemos uma reforma tributria, com a promulgao da Emenda Constitucional

    n. 18/1965.

    Foi, segundo muitos, o bero do direito tributrio no Brasil, sendo a nica reforma

    tributria ocorrida at hoje, em contraponto aos meros ajustes anteriores e posteriores

    realizados. A Constituio atual, ainda que tenha promovido algumas adaptaes no

    sistema, no consistiu em verdadeira reforma.

    H uma distino entre reforma e revoluo, pois enquanto esta traz uma mudana radical

    no sistema, aquela aproveita a estrutura atual existente, promovendo intensas

    modificaes e adaptaes, ajustando suas lacunas e problemticas. Em 1965, ento,

    tivemos uma revoluo, com modificaes severas no sistema tributrio.

    Com as modificaes promovidas pela Emenda Constitucional n. 18/1965, abriu-se

    caminho para a aprovao e adoo do anteprojeto elaborado por Rubens Gomes de

  • Souza, vindo a ser publicado o texto do Cdigo Tributrio Nacional em 25.10.1966,

    mediante a denominao de Lei n. 5.172. Por ato do governo militar, de 1967, porm,

    que esta lei, ento ordinria, foi denominada de Cdigo Tributrio Nacional.

    A Constituio de 1967, j com a vigncia do Cdigo, teve, pela primeira vez na histrica

    constitucional brasileira, um captulo especfico acerca da ordem tributria, com base no

    texto anterior da Emenda Constitucional n. 18/1965.

    Esta Constituio trouxe, formalmente, a regulamentao da figura da lei complementar

    at ento apenas assim denominada quando tratava de questes constitucionais, mas

    sem diferenciao de qurum. A Constituio de 1967, assim, trouxe a regulamentao da

    lei complementar, inserindo a exigncia de qurum qualificado, bem como dispondo

    acerca das matrias a serem tratadas por lei complementar.

    Nesse contexto, disps que o Sistema Tributrio Nacional e normas de direito tributrio

    apenas poderiam ser tratados mediante lei complementar. Todavia, o Cdigo Tributrio

    Nacional tinha sido aprovado como lei ordinria, o que ensejou a discusso acerca de sua

    no receptao pela Constituio de 1967.

    Levada a discusso ao Supremo Tribunal Federal, entendeu-se que o diploma foi

    recepcionado com a natureza (o esprito) de lei complementar, ainda que assim no tenha

    sido aprovado. Com esta deciso, por consequncias, tivemos a estabilidade do diploma,

    bem como a maior dificuldade de alterao, que passou apenas a ser possvel com lei

    complementar.

    Tanto assim o foi que a primeira lei complementar a alter-lo foi aprovada apenas em

    2001 isto no significa que no tenha o Cdigo sofrido alteraes, como revogao de

    dispositivos, no perodo da ditadura, por Decretos-Leis.

    O Cdigo Tributrio Nacional composto de dois livros: o primeiro trata do Sistema

    Tributrio Nacional, dos artigos 1 a 95; o segundo trata das normais gerais de direito

    tributrio, dos artigos 96 a 218.

    O primeiro livro foi o que sofreu mais alteraes ao longo da histria, sejam modificaes

    em razo de alteraes constitucionais sejam modificaes em razo de alteraes legais

    provenientes do perodo da ditadura. A partir de 2001, ento, o segundo livro foi o que

    mais sofreu alteraes em razo de leis complementares.

    H discusses acerca da amplitude da reforma tributria: se constitucional (ampla ou

    restrita) ou se apenas infraconstitucional.

    Legislao Tributria.

    (1) Conceito de legislao tributria:

  • Art. 96 do Cdigo Tributrio Nacional: A expresso legislao tributria compreende

    as leis, os tratados e as convenes internacionais, os decretos e as normas

    complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relaes jurdicas

    a eles pertinentes.

    A expresso "legislao tributria" compreende as leis, os tratados e as

    convenes internacionais, os decretos e as normas complementares que

    versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relaes jurdicas a eles

    pertinentes.

    A legislao tributria referida pelo dispositivo seria toda e qualquer norma que

    trate sobre tributo e matrias a ele pertinentes.

    O Cdigo, no caput do artigo 97 e no artigo 101, numa oportunidade e noutra,

    faz referncia a atos normativos especficos. Ainda que o artigo 96 conceitue

    legislao tributria, conceito mais amplo do que a mera lei, em determinadas

    situaes o Cdigo traz a exigncia expressa de lei.

    o Art. 97, caput, do Cdigo Tributrio Nacional: Somente a lei pode

    estabelecer: [...].

    o Art. 101 do Cdigo Tributrio Nacional: A vigncia, no espao e no tempo,

    da legislao tributria rege-se pelas disposies legais aplicveis s normas

    jurdicas em geral, ressalvado o previsto neste Captulo.

    H controvrsia com relao ao artigo 113, 2, o qual dispe que as obrigaes

    acessrias decorrem de legislao tributria. Isso significa que a Receita Federal

    pode editar instrues normativas instituindo encargos ao contribuinte? O

    entendimento varia, havendo quem exija lei, no bastando instruo normativa.

    o Art. 113, 2, do Cdigo Tributrio Nacional: 2 A obrigao acessria

    decorre da legislao tributria e tem por objeto as prestaes, positivas ou

    negativas, nela previstas no interesse da arrecadao ou da fiscalizao dos

    tributos.

    (2) Princpio da legalidade tributria:

    Art. 97 do Cdigo Tributrio Nacional: Somente a lei pode estabelecer: I - a

    instituio de tributos, ou a sua extino; II - a majorao de tributos, ou sua reduo,

    ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definio do fato gerador

    da obrigao tributria principal, ressalvado o disposto no inciso I do 3 do artigo

    52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixao de alquota do tributo e da sua base de

    clculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominao de

  • penalidades para as aes ou omisses contrrias a seus dispositivos, ou para outras

    infraes nela definidas; VI - as hipteses de excluso, suspenso e extino de

    crditos tributrios, ou de dispensa ou reduo de penalidades. 1 Equipara-se

    majorao do tributo a modificao da sua base de clculo, que importe em torn-lo

    mais oneroso. 2 No constitui majorao de tributo, para os fins do disposto no

    inciso II deste artigo, a atualizao do valor monetrio da respectiva base de clculo.

    Inciso I:

    O princpio da legalidade, na Constituio, vem disposto no artigo 150, inciso I,

    trazendo ser vedado exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabelea.

    o Art. 150, I, da Constituio Federal: Sem prejuzo de outras garantias

    asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o

    estabelea.

    O Cdigo, ento, vem e amplia o conceito constitucional, trazendo depender de

    lei tambm a extino do tributo. Nesse sentido, importante ponderar que o

    costume no revoga tributo, ainda que tenhamos pontuais exemplos histricos

    dessa prtica.

    Um exemplo foi o Dzimo a Deus, um tributo que, com o tempo, dada a

    desvinculao do governo e da igreja, deixou de ser pago, mas no por

    revogao oficial, e sim costume, a partir de 1860.

    Sua exigncia, porm, deixou de vigorar apenas com a promulgao da

    Constituio de 1891, pela instituio do estado laico e a consequente no

    recepo de tal tributo de ordem religiosa.

    Outro exemplo, no Brasil, foi o Selo do Pedgio, institudo para carros que

    transitassem em rodovias federais, com natureza de taxa reconhecida pelo

    Supremo.

    Porm, as pessoas no respeitavam, em sua maioria, a lei, tambm no

    fiscalizada pelo governo cuja competncia ficou atribuda polcia rodoviria.

    Assim, em que pese tenha entrado em vigor em meados de 1986, apenas foi

    revogada por medida de Collor em 1990.

    Em casos tais, a prtica de inobservncia da lei no revoga o tributo, mas sim

    retira a eficcia do ato normativo que o instituiu. A revogao apenas poder

    ocorrer por ato prprio do legislativo.

  • Direito Tributrio II 26.08.2013 (Aula 04)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (2) Princpio da legalidade tributria:

    Art. 97 do Cdigo Tributrio Nacional: Somente a lei pode estabelecer: I - a

    instituio de tributos, ou a sua extino; II - a majorao de tributos, ou sua reduo,

    ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definio do fato gerador

    da obrigao tributria principal, ressalvado o disposto no inciso I do 3 do artigo

    52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixao de alquota do tributo e da sua base de

    clculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominao de

    penalidades para as aes ou omisses contrrias a seus dispositivos, ou para outras

    infraes nela definidas; VI - as hipteses de excluso, suspenso e extino de

    crditos tributrios, ou de dispensa ou reduo de penalidades. 1 Equipara-se

    majorao do tributo a modificao da sua base de clculo, que importe em torn-lo

    mais oneroso. 2 No constitui majorao de tributo, para os fins do disposto no

    inciso II deste artigo, a atualizao do valor monetrio da respectiva base de clculo.

    Incisos II e IV:

    Apenas a lei poder majorar ou reduzir tributos, salvo nos casos de impostos de

    importao, exportao e IOF a Constituio tambm inclui o atual IPI, ainda

    que no mencionado no Cdigo , bastando um decreto do Chefe do Executivo,

    que poder, ento, alterar alquotas por ato prprio.

    As referncias que o diploma faz nos incisos II e IV ao ITBI (ITCMD estadual +

    inter vivos municipal) e ao ICM (antecessor do ICMS) no esto mais vigentes,

    dadas as modificaes promovidas pela atual Constituio.

    A Constituio extinguiu a possibilidade de modificao da base de clculo, pelo

    que no mais vigente parte do inciso IV.

    Inciso III:

    Apenas a lei pode instituir o tributo, e para tanto, dever estar definido o seu

    fato gerador. Assim, conforme parte da doutrina, tal inciso seria redundante.

    A meno ao inciso I do 3 do artigo 52 resta revogada, pois no mais vigente a

    excludente dantes prevista.

    Sendo que apenas a lei pode instituir o tributo e na medida em que apenas ela

    pode definir o fato gerador, tambm apenas lhe caber definir a base de clculo,

  • o sujeito passivo e a alquota, devendo obedecer aos critrios material, especial,

    temporal, pessoal e quantitativo.

    Inciso V:

    O direito tributrio, hoje, possui um sub-ramo, o direito tributrio penal, com

    tipos penais tributrios definidos pela lei. O direito penal tributrio envolve as

    normas penais que dizem respeito aos crimes tributrios. O direito tributrio

    penal, por sua vez, diz respeito s normas tributrias relacionadas com a

    aplicao de penalidades, em especial, as constantes da Lei n. 8.137/1990.

    As penalidades e as infraes contidas na legislao tributria, em sntese,

    devem estar previstas em lei, no cabendo a sua instituio por judicirio ou

    executivo.

    Inciso VI:

    Caber lei instituir as hipteses de excluso, suspenso e extino de crditos

    tributrios, bem como de dispensa ou reduo de penalidades.

    (a) Excluso:

    o As causas de excluso de crdito tributrio legalmente previstas so a

    iseno e a anistia.

    (a.1) Iseno:

    Significa que, uma vez configuradas suas hipteses autorizadoras,

    no poder ser lanado o imposto. Logo, no existe crdito

    tributrio.

    uma tcnica em que o contribuinte dispensado de seu

    pagamento sem que tenha havido a configurao do crdito

    tributrio. Constitui-se, em verdade, numa atecnia do legislador,

    pois no h como extinguir algo que no existe.

    (a.2) Anistia:

    No caso da anistia, trata-se de perdo a uma penalidade pelo

    cometimento de infrao disposta em legislao tributria. A

    infrao no anulada, apenas ser anistiada, ou seja, no haver

    a cobrana da penalidade respectiva.

    No houve, porm, constituio do crdito tributrio, pelo que

    seria mais uma atecnia do legislador, pois no h como excluir algo

    que no existe.

    o So colocadas como excluso, pois, em razo das classificaes doutrinrias

  • originrias, iseno seria a dispensa legal do pagamento do tributo devido,

    ou seja, estaria formado o crdito tributrio e, posteriormente, seria

    excludo.

    o Porm, a doutrina refletiu e constatou no se tratar de dispensa legal do

    pagamento do tributo devido, mas sim um impedimento legal de incidncia

    da norma que institui o tributo sobre a situao, ou seja, no h formao

    de crdito tributrio.

    (b) Suspenso:

    o A exigibilidade do crdito tributrio temporariamente prorrogada, mas ele

    no desaparece, podendo vir a ser posteriormente cobrado. um estgio

    de hibernao.

    o Modalidades:

    Moratria.

    Depsito do seu montante integral.

    Reclamaes e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo

    tributrio administrativo.

    Concesso de medida liminar em mandado de segurana.

    Concesso de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras

    espcies de ao judicial.

    Parcelamento.

    (c) Extino:

    o a hiptese em que o crdito tributrio desaparece. A forma mais comum

    o pagamento, mas tambm podem ser citadas a decadncia e a prescrio.

    o Modalidades:

    Pagamento.

    Compensao.

    Transao.

    Remisso.

    Prescrio e decadncia.

    Converso de depsito em renda.

    Pagamento antecipado e homologao do lanamento.

    Consignao em pagamento.

    Deciso administrativa irreformvel.

    Deciso judicial passada em julgado.

    Dao em pagamento em bens imveis.

  • Pargrafo 1:

    Apenas a lei pode estabelecer tributo ou aumentar-lhe, conforme a Constituio.

    O dispositivo apenas vem confirmar a previso. Sempre que for alterada a base

    de clculo do tributo, ento, aumentando o valor a pagar, dever ocorrer por

    meio de lei, pois que a base de clculo elemento nuclear do tributo.

    O quantum envolve a definio de uma base numrica, bem como um

    percentual a incidir sobre a base numrica, conforme o elemento material

    previsto.

    Disso extrai-se a nuclearidade da base de clculo, inclusive superior

    materialidade do tributo. Por tais razes, alguns autores entendem que o 1

    seria desnecessrio, por sua obviedade.

    Pargrafo 2:

    Em leitura conjunta ao anterior, o 2 traz a possibilidade, por exemplo, de o

    Chefe do Executivo municipal, por meio de decreto, alterar a base de clculo,

    mas desde que no o torne mais oneroso.

    No caso do IPTU, por exemplo, poder ocorrer atualizao monetria da base de

    clculo, considerando a inflao de um determinado perodo. Caber ao

    contribuinte, por evidente, verificar se a atualizao corresponde efetiva

    inflao verificada no perodo.

    Ocorrer desrespeito previso legal quando o Chefe do Executivo utilizar ndice

    no correspondente ao previsto na lei municipal, o que enseja transcendncia

    mera atualizao monetria.

    (3) Tratados e convenes internacionais:

    Art. 98 do Cdigo Tributrio Nacional: Os tratados e as convenes internacionais

    revogam ou modificam a legislao tributria interna, e sero observados pela que

    lhes sobrevenha.

    (a) Distino entre tratado e conveno:

    o A Conveno de Viena sobre o direito dos tratados no faz distino entre

    tratados e convenes, apenas trazendo conceito genrico em seu artigo 2,

    item 1, alnea a, sendo conceitos utilizados para acordos entre pases,

    podendo ser tambm chamado de pacto, protocolo, etc.

    Art. 2, item 1, alnea a, da Conveno de Viena Sobre o Direito dos

    Tratados: Tratado significa um acordo internacional concludo por

    escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de

  • um instrumento nico, quer de dois ou mais instrumentos conexos,

    qualquer que seja sua denominao especfica.

    o A Conveno de Viena de 1969, tendo apenas sido ratificada pelo Brasil

    recentemente, em 2009 (Decreto n. 7.030/2009).

    o O Cdigo Tributrio, de 1966, por sua vez, refere-se a tratados e convenes

    internacionais, individualmente. poca, fazia-se distino entre tratados e

    convenes.

    o Por exemplo, Tratado de Assuno, que criou o MERCOSUL, e Tratado de

    Reciprocidade entre Brasil e Portugal, em contraponto Conveno de

    Viena, sobre os tratados, Conveno de Varsvia, sobre a guerra.

    o Tratado, em termos histricos, d-se de forma fechada, ou seja, entre

    membros especficos e antecipadamente conhecidos, dois ou mais Estados

    reunidos para assuntos comuns entre si, disciplinando interesses comuns.

    o Conveno, a seu turno, d-se de forma aberta, isto , permite a aderncia

    de novos membros que ratifiquem os seus termos, independente de

    deliberao dos membros originrios, com dois ou mais Estados

    disciplinando assuntos de interesse aberto.

    (b) Tratado internacional seria um pleonasmo?

    o Os acordos entre membros da federao, no Brasil, so chamados de

    convnios (e no tratados).

    o Quanto aos acordos internacionais, em geral, so chamados de tratados,

    sendo, de certa forma, uma redundncia adotar a expresso tratados

    internacionais. Porm, esta a denominao adotada pela legislao, pelo

    que permanece em uso.

    (c) Tratado revoga ou suspende a legislao interna?

    o Um tratado, uma vez ratificado pelo direito interno, suspende a eficcia da

    norma interna, ou seja, no a revoga.

    o Caso ocorresse revogao da lei interna, em caso de denncia e revogao

    do tratado, a lei no poderia voltar a viger, pelo impedimento de

    repristinao. Assim, denunciado e revogado o tratado, a lei interna, antes

    suspensa, volta a viger.

    (d) Quem suspende: o tratado ou a norma interna que o ratifica?

    o Diz-se que o tratado, em si, no revoga e nem suspende nada internamente,

    pois um ato externo. Assim, o ato interno (decreto) que ratifica o tratado

    em mbito nacional que suspende a lei interna, colocando as disposies

  • do tratado em vigor no ordenamento interno.

    o Para alguns, os tratados de direitos humanos, porm, aprovados por 3/5

    dos votos, em dois turnos na Cmara e no Senado, nos termos em que

    dispe a Constituio, no podem ser revogados.

    (e) O conflito entre a norma do tratado e a da Constituio Federal: como

    resolver (monismo ou dualismo)?

    o Quando o Presidente da Repblica v-se diante de um tratado com norma

    que conflita com dispositivo interno de lei estadual e/ou municipal, poder

    assin-lo?

    o De acordo com alguns autores, dever o Presidente observar a Constituio,

    ou seja, o tratado no poder interferir na competncia estadual e/ou

    municipal. Outros autores, por sua vez, dizem que o Presidente assina como

    Chefe de Estado, havendo uma discusso interna e posterior quando da

    adequao da norma.

    o Tm-se, assim, duas teorias, o monismo e o dualismo. Conforme o monismo

    h uma ordem preferencial a ser observada. No caso do dualismo, cada caso

    demandar uma anlise pontual de preferncia.

  • Direito Tributrio II 27.08.2013 (Aula 05)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (3) Tratados e convenes internacionais:

    Art. 98 do Cdigo Tributrio Nacional: Os tratados e as convenes internacionais

    revogam ou modificam a legislao tributria interna, e sero observados pela que

    lhes sobrevenha.

    (e) O conflito entre a norma do tratado e a da Constituio Federal: como

    resolver (monismo ou dualismo)?

    o O problema decorre da atpica estrutura federativa brasileira, com a unio

    indissolvel de entes (Unio, estados e municpios), todos dotados de

    autonomia (administrativa, financeira e organizacional) e competncia

    tributria.

    o Com exceo do Brasil, os demais estados federativos, em aspectos

    constitucionais formais, no contemplam a autonomia do Distrito Federal e

    do municpio. Em tais estados, a autonomia de mencionados entes decorre

    de uma descentralizao poltica, mas no disposio constitucional.

    o Assim, o Presidente da Repblica, quando firma um tratado, poder

    interferir na autonomia de estados e municpios?

    o De acordo com alguns autores, o Presidente da Repblica, ao firmar tratado,

    o faz como Chefe de Estado e no de Governo, respondendo pelos

    interesses da Repblica Federativa do Brasil, no envolvendo os problemas

    de organizao interna, pelo o que poderia interferir na competncia dos

    estados e municpios.

    o Seria uma espcie de monismo internacionalista, com a prevalncia do

    direito externo sobre o interno.

    o Outros autores, contudo, entendem que o Presidente da Repblica poder

    firmar qualquer tratado envolvendo os interesses do Brasil, mas, ao faz-lo,

    no poder ferir a autonomia de estados e municpios, pois deve verificar se

    no restam feridos princpios constitucionais (como o da autonomia dos

    entes federativos, decorrendo do princpio do pacto federativo).

    o Seria uma espcie de monismo interno, com a prevalncia do direito

    interno sobre o externo (internacional).

    o Autores ainda defendem um dualismo, com uma ordem externa

  • (internacional) e outra interna, sendo que cada conflito entre normas

    dever ser analisado pontualmente, ou seja, no caso concreto, o intrprete

    dever verificar qual a melhor situao, se prevalece o direito externo ou o

    interno. Esta tem sido a corrente adotada pelo Supremo Tribunal Federal,

    com um exame do caso concreto (ora internacionalista, ora nacionalista).

    o Por exemplo, a OIT aprovou uma resoluo que praticamente obrigava os

    estados membros a flexibilizarem as relaes do trabalho em seu direito

    interno (Resoluo n. 158), a qual flexibilizava diversos direitos assegurados

    pela Constituio.

    o Um sindicato patronal, ento, foi ao Supremo reclamar acerca da questo. A

    Corte, por sua vez, entendeu pela prevalncia da norma interna,

    prevalecendo a no adoo da resoluo pelo Brasil, com exegese do

    monismo interno.

    o Na questo tributria, o Supremo tem demonstrado uma prevalncia do

    monismo externo, o que faz exsurgir sua dualidade. Um exemplo foi tratado

    firmado com Portugal, em que todo produto brasileiro que entrasse em

    Portugal deveria receber o mesmo tratamento fiscal do produto portugus,

    com igual proceder no Brasil.

    o Nesta situao, uma empresa norueguesa comeou a vender bacalhau no

    Brasil, mas queria a mesma iseno conferida a Portugal. O Supremo, ento,

    disse que, sendo o Brasil membro da OMC, deveria prevalecer a clusula da

    nao mais favorecida, segundo a qual, sendo concedido um benefcio a

    uma nao, as demais devero tambm dela poder se valer.

    (4) Decreto como fonte de Direito Tributrio:

    Art. 99 do Cdigo Tributrio Nacional: O contedo e o alcance dos decretos

    restringem-se aos das leis em funo das quais sejam expedidos, determinados com

    observncia das regras de interpretao estabelecidas nesta Lei.

    O conceito e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis em funo das

    quais sejam expedidos, determinados com observncia das regras de

    interpretao estabelecidas nesta lei. Portanto, os decretos tem alcance infra

    legem ou praeter legem, jamais ultra legem.

    Os decretos no so lei, mas sim atos de competncia do Chefe do Executivo.

    Sero editados, conforme artigo 84, inciso IV, da Constituio Federal, para o fiel

    cumprimento da lei.

    o Art. 84, IV, da Constituio Federal: Compete privativamente ao Presidente

  • da Repblica: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como

    expedir decretos e regulamentos para sua fiel execuo.

    Assim, o artigo 99 do Cdigo vem reafirmar este preceito, dizendo que o decreto

    se restringe lei, com observncia das regras de interpretao previstas nos

    artigos 107 a 112 do Cdigo. Portanto, os decretos tem alcance infra legem ou

    praeter legem, jamais ultra legem.

    Alguns discutem acerca dos decretos regulamentares de impostos, os quais so

    mais extensos e aprofundados do que as leis originrias. Entende-se que no se

    fere a extenso do decreto, pois sendo regulamentador, ainda que extenso, vem

    disciplinar o tributo sem ferir a lei que o instituiu.

    (5) Normas complementares:

    Art. 100 do Cdigo Tributrio Nacional: So normas complementares das leis, dos

    tratados e das convenes internacionais e dos decretos: I - os atos normativos

    expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decises dos rgos singulares ou

    coletivos de jurisdio administrativa, a que a lei atribua eficcia normativa; III - as

    prticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os

    convnios que entre si celebrem a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios. Pargrafo nico. A observncia das normas referidas neste artigo exclui a

    imposio de penalidades, a cobrana de juros de mora e a atualizao do valor

    monetrio da base de clculo do tributo.

    As normas complementares no se confundem com leis complementares, mas

    so, como diz Geraldo Ataliba, normas de quinta categoria, vindo depois da

    Constituio, do Cdigo Tributrio Nacional (como lei complementar, regulando

    a Constituio), da lei instituidora do tributo e do decreto regulamentar.

    Embora as normas complementares sejam fontes de direito tributrio, previstas

    no Cdigo, no possuem fora nem de lei nem de decreto, sendo fontes

    secundrias de direito tributrio. A instruo normativa, por exemplo, consiste

    na opinio da autoridade, ainda que siga um procedimento legal para a sua

    edio.

    As normas complementares, de acordo com o Cdigo, so de quatro categorias:

    o (a) Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas (as

    Instrues Normativas):

    A autoridade administrativa, em mbito federal, seria o Secretrio da

    Receita so as autoridades que respondem pelo rgo, em nvel de

  • secretaria, ministrio, com disciplina legal de suas atividades.

    A instruo normativa disciplinar como a lei e o decreto devero ser

    interpretados e aplicados no mbito daquele rgo. Outros atos

    normativos so, por exemplo, portarias, circulares.

    o (b) Decises de rgos singulares ou coletivos, com eficcia normativa (os

    Conselhos de Contribuintes):

    So decises provenientes de uma jurisdio administrativa, que

    resolve questes entre Fazenda e contribuintes. As decises de tais

    rgos tero eficcia normativa quando forem reiteradas, o

    equivalente s smulas na esfera judicial.

    Para tanto, porm, deve haver previso legal de efeitos. O rgo

    singular o Secretrio da Receita, o Ministro da Fazenda, o Secretrio

    de Finanas, o qual d o primeiro despacho, ou seja, profere o primeiro

    ato decisrio.

    Em Santa Catarina, como Conselho de Contribuintes, temos o Tribunal

    Administrativo Tributrio.

    o (c) As prticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas

    (o costume):

    Quando se trata de costume, deve-se verificar, antes, o princpio da

    legalidade tributria (tributo apenas pode ser institudo e majorado por

    lei). O costume consiste na prtica reiterada de atos pela autoridade

    administrativa. O costume, porm, volta-se pouco aos tributos em si,

    mas sim, com maior efeito, s obrigaes acessrias.

    Por exemplo, a autoridade dispensa em determinada regio o

    preenchimento de certo formulrio quando do recolhimento do

    tributo. Os contribuintes, ento, habituam-se a tal dispensa. Com a

    alterao da autoridade, no recebendo a nova autoridade tal

    informao de dispensa da autoridade anterior, determina a expedio

    de notificao pelo no cumprimento de tal obrigao acessria.

    A defesa do contribuinte, ento, ser com base no costume. Assim,

    ainda que se possa passar a exigir tal encargo administrativo daquele

    momento em diante, no poder se penalizar pelo descumprimento

    pretrito. O costume, de se ressaltar, uma fonte secundria de

    direito tributrio.

    o (d) Os convnios entre Unio, estados membros, Distrito Federal e

  • municpios:

    O convnio uma espcie de tratado interno, um acordo entre as

    pessoas jurdicas de direito pblico. Convnios, ento, so normas

    complementares, fontes secundrias de direito tributrio, sem fora de

    lei.

    Observao:

    o A observncia das normas acima exclui a imposio de penalidades, juros

    de mora e correo monetria.

  • Direito Tributrio II 02.09.2013 (Aula 06)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (5) Normas complementares:

    Art. 100 do Cdigo Tributrio Nacional: So normas complementares das leis, dos

    tratados e das convenes internacionais e dos decretos: I - os atos normativos

    expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decises dos rgos singulares ou

    coletivos de jurisdio administrativa, a que a lei atribua eficcia normativa; III - as

    prticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os

    convnios que entre si celebrem a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios. Pargrafo nico. A observncia das normas referidas neste artigo exclui a

    imposio de penalidades, a cobrana de juros de mora e a atualizao do valor

    monetrio da base de clculo do tributo.

    As normas complementares, de acordo com o Cdigo, so de quatro

    categorias:

    o (a) Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas (as

    Instrues Normativas).

    o (b) Decises de rgos singulares ou coletivos, com eficcia normativa (os

    Conselhos de Contribuintes):

    So decises provenientes de uma jurisdio administrativa,

    compreendendo questes entre Fazenda e contribuintes. As decises

    de tais rgos tero eficcia normativa quando forem reiteradas,

    conforme disposio legal especfica concernente ao rgo.

    O rgo singular o chefe tributrio, ou seja, o Secretrio da Receita, o

    Ministro da Fazenda, o Secretrio de Finanas. Os rgos coletivos, por

    sua vez, so os conselhos, os tribunais administrativos.

    Nos rgos coletivos, em geral, h uma diviso entre os membros:

    metade representando a Fazenda e metade representando o

    contribuinte; o presidente, porm, nomeado pelo Chefe do

    Executivo. Este, entretanto, tender a decidir em favor da Fazenda e,

    quando decide muito pr-contribuinte, na prtica, acaba sendo

    substitudo.

    o (c) As prticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas

    (o costume):

  • Costume, ou seja, a prtica reiteradamente observada pela autoridade

    administrativa fonte de direito tributrio, mas fonte secundria

    (administrativa).

    Em que pese o costume possa ensejar o no pagamento do tributo

    por hbito, mas no deciso isolada , nunca ocasionar, per se, a sua

    criao e o seu consequente pagamento.

    Em outras palavras, o costume pode tirar a eficcia da norma, eis que,

    por questes sociais, polticas, econmicas, pode perceber o

    contribuinte no haver interesse do Estado no recolhimento do tributo

    no agindo, efetivamente, para a sua arrecadao.

    o (d) Os convnios entre Unio, estados membros, Distrito Federal e

    municpios:

    Os convnios (realizados em mbito nacional) contrapem, como

    expresso, os tratados (realizados em mbito internacional). A

    extenso os convnios varia: poder compreender municpio e Estado;

    Estado e Unio; municpio, Estado e Unio.

    Inmeros so os exemplos previstos na lei, como a possibilidade de o

    ITR ser administrado e arrecadado pelo municpio, ficando este com a

    receita, mediante acordo com a lei.

    O convnio, porm, no possui fora de lei, ficando restrito aos

    interesses das partes envolvidas. Houve, excepcionalmente, convnio

    com fora de Lei Complementar (o Convnio n. 66), criado em 1988 e

    revogado apenas em 1996 (quando criada a Lei Complementar prevista

    na Constituio), que tratava, em acordo entre os Estados, da

    estruturao do ICMS, dada a inrcia do Congresso.

    Discutia-se, poca, nos tribunais, a inconstitucionalidade da cobrana

    do tributo, pois que decorrente de convnio. Permaneceram, contudo,

    silentes os magistrados, em que pese fosse praticamente unssona a

    doutrina em condenar o convnio.

    Observao:

    o A observncia das normas acima exclui a imposio de penalidades, juros

    de mora e correo monetria, o que significa que o contribuinte no

    poder ser penalizado por ter observado o disposto nas normas

    complementares.

    o A situao mais comum aquela relacionada com o costume, hiptese na

  • qual autuado o contribuinte pela ausncia de determinado documento

    exigido pela lei, obrigao acessria esta que, reiteradamente, era

    dispensada pela autoridade tributria.

    o Assim, mesmo podendo o contribuinte, com tal argumento, afastar aquela

    penalidade, daquele momento em diante, poder ser exigido acerca do

    cumprimento de tal obrigao acessria.

    (6) Vigncia da legislao tributria:

    Art. 101 do Cdigo Tributrio Nacional: A vigncia, no espao e no tempo, da

    legislao tributria rege-se pelas disposies legais aplicveis s normas jurdicas em

    geral, ressalvado o previsto neste Captulo.

    Aplicao do princpio geral da LINDB:

    o A entrada em vigor da lei se dar na data em que ela estabelecer. Sendo

    omissa, porm, ser no prazo de 45 dias depois. Para brasileiros no exterior,

    excepcionalmente, aplicando-se-lhes a norma, o prazo ser de 03 meses.

    o As regras gerais incidem, conforme dispe o artigo 101, da mesma forma,

    no direito tributrio (em todas as normas com contedo tributrio),

    ressalvado o disposto nos artigos 102 a 104 estes, porm, no comportam

    excees temporais.

    o O contedo do artigo 104, por exemplo, ainda que possa aparentar exceo,

    no o , pois decorre dum momento histrico em que se entendia que a lei

    que institusse tributo apenas entraria em vigor no exerccio seguinte, pelo

    princpio da anualidade.

    o Em verdade, a lei entra em vigor quando estabelecer (ou, sendo omissa, 45

    dias depois), mas sua eficcia que fica suspensa, em observncia aos

    princpios tributrios (anualidade, nonagesimal).

    Art. 102 do Cdigo Tributrio Nacional: A legislao tributria dos Estados, do

    Distrito Federal e dos Municpios vigora, no Pas, fora dos respectivos territrios, nos

    limites em que lhe reconheam extraterritorialidade os convnios de que participem,

    ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela Unio.

    Art. 103 do Cdigo Tributrio Nacional: Salvo disposio em contrrio, entram em

    vigor: I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da

    sua publicao; II - as decises a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus

    efeitos normativos, 30 (trinta) dias aps a data da sua publicao; III - os convnios a

    que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.

    Vigncia no espao e normas complementares:

  • o O artigo 102 traz exceo espacial, mas no temporal no que prevalece a

    regra geral da LINDB.

    o A jurisdio da norma, regra geral, de seu mbito de abrangncia uma

    lei estadual valer no Estado em que for instituda; uma lei municipal valer

    no municpio em que for instituda.

    o O artigo 102, porm, traz exceo a esta regra, podendo a norma

    transcender sua restrio territorial, seja mediante convnio (hiptese mais

    comum) seja mediante lei federal que assim determine.

    o O artigo 103 trata da vigncia das normas complementares, referendando

    incisos do artigo 100, exceo do costume.

    o Na hiptese do convnio, entrar em vigor na data neles prevista. Caso,

    porm, seja omisso, aplica-se a LINDB. Na prtica, nunca houve tal omisso

    os convnios so atos de interesse dos entes federativos, dependendo de

    aprovao do legislativo.

    o Assim, o estabelecimento de uma data impretervel para a aprovao de

    tais convnios, ficando a cargo do legislativo, em geral, a definio de tais

    prazos.

    Art. 104 do Cdigo Tributrio Nacional: Entram em vigor no primeiro dia do exerccio

    seguinte quele em que ocorra a sua publicao os dispositivos de lei, referentes a

    impostos sobre o patrimnio ou a renda: I - que instituem ou majoram tais impostos;

    II - que definem novas hipteses de incidncia; III - que extinguem ou reduzem

    isenes, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorvel ao contribuinte, e

    observado o disposto no artigo 178.

    A Emenda n. 18/1965 trazia este princpio na forma como ora resta redigido no

    artigo 104. Posteriormente, a Constituio de 1967 resgatou o sentido antes

    aplicado e que ora, com adaptaes, incide.

    A Constituio de 1988, ento, veio aperfeioar a redao da Carta de 1967,

    delineando, de forma adequada, a previso do artigo 104, no mais restringindo

    a entrada em vigor da lei, mas sim a sua eficcia, bem como expandindo o

    alcance do princpio para todos os tributos ( exceo de IPI, IOF, II e IE), antes

    restrito aos tributos sobre o patrimnio ou a renda.

    Diz-se que o artigo 104 foi recepcionado, mas dever ser lido luz da

    Constituio.

    A revogao de iseno, em que pese o texto legal (o qual, lido luz da

  • Constituio, autorizaria a cobrana do tributo cuja iseno teria sido extinta no

    exerccio seguinte, momento at o qual ficaria suspensa a eficcia da norma),

    segundo deciso do Supremo, autoriza imediata cobrana do tributo,

    independente de anualidade.

    A revogao de iseno encontra-se prevista no artigo 178, conforme referncia

    do artigo 104, podendo ocorrer a qualquer tempo, observada sua eficcia.

    o Art. 178 do Cdigo Tributrio Nacional: A iseno, salvo se concedida por

    prazo certo e em funo de determinadas condies, pode ser revogada ou

    modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do

    art. 104.

    A leitura dos dispositivos permite a seguinte concluso: a iseno, salvo se

    concedida por prazo certo e em funo de determinadas condies (a expresso

    E foi introduzida posteriormente, sendo antes adotado o vernculo alternativo

    OU), poder ser revogada a qualquer tempo, mas sua eficcia apenas incidir

    no primeiro dia do exerccio seguinte.

    Na hiptese de revogao da iseno concedida por prazo certo e em funo de

    determinadas condies, permanecer o isento com os benefcios at o fim do

    prazo, desde que mantidas as condies. Assim, trata-se de situao com lei

    eficaz, ainda que no mais vigente.

    O Supremo Tribunal Federal quando decidiu que a revogao de uma iseno

    implicaria na possibilidade de cobrana imediata pela Fazenda, entendeu que,

    mais importante do que o princpio da anterioridade, seria o da igualdade os

    quais se encontravam, na hiptese, em conflito.

    Entendeu o Supremo que a cobrana do tributo s no ano seguinte feriria a

    isonomia que deve haver entre os contribuintes o contribuinte isento est

    numa situao de privilgio, mas no havendo tal benefcio, todos os

    contribuintes se submetem obrigao de pagar (princpio da igualdade

    tributria: situaes iguais recebem igual tributao).

    O entendimento criticado por Hugo de Brito Machado, o qual entende que,

    alm da fora conferida pela Constituio ao princpio da anterioridade

    tributria, igualando-o aos grandes princpios constitucionais, no se pode

    olvidar a letra do artigo 104. Porm, a jurisprudncia tem acompanhado o

    entendimento do Supremo.

  • Direito Tributrio II 03.09.2013 (Aula 07)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (6) Vigncia da legislao tributria:

    Art. 102 do Cdigo Tributrio Nacional: A legislao tributria dos Estados, do

    Distrito Federal e dos Municpios vigora, no Pas, fora dos respectivos territrios, nos

    limites em que lhe reconheam extraterritorialidade os convnios de que participem,

    ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela Unio.

    Art. 103 do Cdigo Tributrio Nacional: Salvo disposio em contrrio, entram em

    vigor: I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da

    sua publicao; II - as decises a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus

    efeitos normativos, 30 (trinta) dias aps a data da sua publicao; III - os convnios a

    que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.

    Protocolos podem ser firmados entre dois ou mais estados da federao, desde

    que disciplinem interesses dos Estados. Diferentemente, a princpio, dos

    convnios, que envolveriam todos os Estados.

    Seria semelhante diferenciao entre convenes e tratados. Os protocolos,

    assim que firmados e assinados pelo governador, entram em vigncia, estando,

    porm, abaixo dos convnios so normas de sexta categoria.

    O protocolo 21, firmado pelos Estados do Norte, Nordeste e o Esprito Santo,

    disciplina a forma de como o ICMS deve ser recolhido por compras feitas pela

    internet. O protocolo exige, porm, que empresas localizadas no Sul e no

    Sudeste recolham 10% de ICMS toda vez em que um consumidor das regies

    pelo protocolo abarcadas compre nas regies Sul e Sudeste.

    O ICMS recolhido apenas pelo Estado produtor, mas no pelo Estado

    consumidor.

    Assim, as empresas produtoras localizadas no Sul e no Sudeste, no caso de

    consumidor da regio do protocolo, devem recolher duplamente o imposto, ou

    seja, criou-se novo fato gerador para o ICMS (venda de mercadoria pela internet

    para Estados do Norte, Nordeste ou Esprito Santo de produtos produzidos por

    Estados do Sul e do Sudeste), mas no mediante lei, e sim atravs de protocolo.

    O Estado do Piau, por meio do protocolo, criou lei que disciplina a distribuio

    do ICMS no Estado. Nesse cenrio, o Supremo entendeu que a lei seria

  • inconstitucional, pois fundada em ato normativo hierarquicamente inferior.

    Por tais razes, alguns tm defendido a alterao constitucional para autorizar os

    Estados a legislarem acerca do ICMS em compras pela internet quando o Estado

    consumidor no alcana a produo do produto.

    No caso do protocolo 21, um protocolo faz as vezes de lei complementar,

    criando, alm de fato gerador, tambm obrigaes acessrias, atribuindo aos

    Estados do Sul e do Sudeste o papel de substitutivo tributrio, obrigando-os a

    recolher 10% a mais de ICMS, retendo tal percentual e depositando em conta

    especfica.

    Situao possvel para solucionar seria a que j ocorre quando h venda entre

    contribuintes (entre empresas), com a empresa produtora recolhendo 7% e a

    empresa compradora recolhendo os 10% restantes.

    Art. 104 do Cdigo Tributrio Nacional: Entram em vigor no primeiro dia do exerccio

    seguinte quele em que ocorra a sua publicao os dispositivos de lei, referentes a

    impostos sobre o patrimnio ou a renda: I - que instituem ou majoram tais impostos;

    II - que definem novas hipteses de incidncia; III - que extinguem ou reduzem

    isenes, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorvel ao contribuinte, e

    observado o disposto no artigo 178.

    Ainda que no reflita o texto constitucional, a maior parte dos autores entende

    por sua recepo pela Constituio. Enquanto a Constituio diz que dever

    haver publicao no exerccio anterior para surtir efeitos no seguinte, o artigo

    104 fala que iniciar a vigncia no exerccio seguinte.

    (7) Aplicao da legislao tributria:

    Art. 105 do Cdigo Tributrio Nacional: A legislao tributria aplica-se

    imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos

    aqueles cuja ocorrncia tenha tido incio mas no esteja completa nos termos do

    artigo 116.

    Aplicao da legislao tributria aos fatos geradores futuros e aos pendentes:

    o Fatos geradores pendentes so aqueles cuja ocorrncia tenha tido incio,

    mas no esteja completa, conforme artigo 116, o qual diz que o fator

    gerador considerado existente e com efeitos quando houver ensejo ftico

    ou jurdico.

    Art. 116 do Cdigo Tributrio Nacional: Salvo disposio de lei em

    contrrio, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus

  • efeitos: I - tratando-se de situao de fato, desde o momento em que o

    se verifiquem as circunstncias materiais necessrias a que produza os

    efeitos que normalmente lhe so prprios; II - tratando-se de situao

    jurdica, desde o momento em que esteja definitivamente constituda,

    nos termos de direito aplicvel. Pargrafo nico. A autoridade

    administrativa poder desconsiderar atos ou negcios jurdicos

    praticados com a finalidade de dissimular a ocorrncia do fato gerador

    do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigao

    tributria, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei

    ordinria.

    o Por exemplo, algum que inicie atividade comercial, ainda que no

    registrado, ainda assim dever recolher o tributo correspondente.

    Noo de fato gerador pendente:

    o O fato gerador pendente tambm chamado de fato gerador complexivo

    ou continuado.

    o Exemplo de Luciano Amaro e a partida de futebol:

    O resultado da partida somente pode ser confirmado ao seu trmino,

    independentemente do placar em determinado momento do jogo.

    Assim, tambm, o fato gerador pendente. S se aperfeioa ao trmino

    de um perodo de tempo, quando se der o apito final. Qualquer

    situao vista individualmente no curso do tempo (ou do jogo) no

    suficientemente capaz de apontar a consequncia definitiva (seja o

    vencedor do jogo, seja a obrigao tributria).

    o Nesse sentido, o caput do artigo 116 combinado com o seu inciso I

    bastante elucidativo, pois afirma que se considera ocorrido o fato gerador e

    existentes os seus efeitos, tratando-se de situao de fato, desde o

    momento em que se verifiquem as condies materiais necessrias a que

    produza os efeitos que normalmente lhe so prprios.

    o Por exemplo, no imposto de renda, o fato gerador a aquisio da

    disponibilidade econmica ou jurdica de renda de qualquer natureza.

    Porm, como o imposto considerado no exerccio, acontece,

    continuamente, de 1 de janeiro at 31 de dezembro, ou seja, neste lapso,

    fica pendente at o ltimo dia do exerccio.

    o Smula n. 584 do STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos

    do ano-base, aplica-se a lei vigente no exerccio financeiro em que deve ser

  • apresentada a declarao.

    Na hiptese, por exemplo, de um contribuinte com alquota de 15%

    incidente sobre sua renda. Em agosto de determinado exerccio, o

    Congresso aprova reestruturao que transcende o mero ajuste de

    alquota, pelo o que sua faixa de renda passa a ser tributada em 18%.

    Por fora do princpio da anterioridade, a alquota de 18% apenas

    passar a valer no exerccio seguinte. Nesse cenrio, a Procuradora da

    Fazenda Nacional defendeu que, sendo o fato gerador do imposto de

    renda pendente, como a declarao feita em abril do ano seguinte,

    aplicar-se- a nova alquota. Esta foi a teoria acatada pelo Supremo,

    editando-se a Smula n. 584.

    o Art. 150, III, alnea a, da Constituio Federal: Sem prejuzo de outras

    garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao

    Distrito Federal e aos Municpios: III - cobrar tributos: a) em relao a fatos

    geradores ocorridos antes do incio da vigncia da lei que os houver

    institudo ou aumentado.

    Os advogados tributaristas, em tal contexto, defendiam se tratar de

    direito adquirido, o que era contrariado pelo Supremo, dizendo-se que,

    sendo fato pendente, no haveria sobre ele direito adquirido.

    Assim, Ives Gandra, na constituinte, props princpio que encerrasse a

    ideia de fato gerador pendente: o princpio da irretroatividade da lei

    tributria (artigo 150, inciso III, alnea a, da CRFB).

    o Atualmente, portanto, o conceito de fato gerador pendente considerado

    como no recepcionado pela Constituio a Smula n. 584, formalmente,

    no foi revogada, mas no tem sido aplicada nem pelo judicirio nem pelos

    rgos de julgamento da Receita Federal.

    o Em 2003, o constituinte derivado inseriu o imposto de renda como uma das

    excees ao princpio da anterioridade nonagesimal, evitando que

    houvesse, eventualmente, aplicao de alquota diferenciada. Assim, o

    imposto de renda comporta um exame conjunto dos princpios da

    irretroatividade e da anterioridade anual.

    o O artigo 105 deve ser lido, ento, apenas em sua primeira parte, pois que

    no recepcionada a sua segunda parte que trata de fato gerador

    pendente.

    Art. 106 do Cdigo Tributrio Nacional: A lei aplica-se a ato ou fato pretrito: I - em

  • qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluda a aplicao de

    penalidade infrao dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato no

    definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infrao; b) quando deixe

    de trat-lo como contrrio a qualquer exigncia de ao ou omisso, desde que no

    tenha sido fraudulento e no tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c)

    quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo

    da sua prtica.

    Noo de lei expressamente interpretativa:

    o Uma lei tributria apenas pode ser aplicada a um fato j ocorrido se a lei for

    expressamente interpretativa norma editada pelo prprio legislador para

    delimitar o significado.

    o Uma lei nova pode retroagir para alcanar no o fato ou o ato pretrito, mas

    para esclarecer o sentido da norma aplicvel quando ocorrer o fato. Quando

    ocorreu o fato, era regulado por determinada lei. Posteriormente, vem uma

    lei apenas esclarecer o sentido daquela norma j aplicvel anteriormente.

    o Exemplo:

    No incio dos anos 1970, os, ento, auditores federais notificaram

    produtores de Amazonas por no terem recolhido IPI sobre pesca

    artesanal.

    Estes comerciantes pescavam os peixes, armazenavam em embalagens

    plsticas e exportavam para Estados Unidos e Europa. Os fiscais, ento,

    diziam serem produtos industrializados, pelo o que incidente IPI.

    Produtos industrializados so aqueles decorrentes da modificao de

    matria prima; de beneficiamento de matria prima; de

    recondicionamento (como pneus e motores velhos); de montagem

    (como montadoras de veculos, que pegam peas inteiras de fbricas e

    montam outro produto); e acondicionamento.

    Assim, entenderam os auditores que o acondicionamento dos peixes

    era um processo de industrializao. At ento, porm,

    acondicionamento era entendido como de matria bruta, mas no de

    ser vivo.

    Ao chegar ao Supremo, o regulamento do IPI j tinha sido alterado, no

    especificando mais o tipo de acondicionamento. Assim, o julgador no

    Supremo entendeu que no mais restringiria a incidncia.

    o O prazo para que o contribuinte pleiteie o que pagou indevidamente, aps

  • muita discusso, levou a incluso do artigo 3 da Lei Complementar n.

    118/2005.

    o Em regra, a Receita Federal no se manifesta, sendo considerada

    homologao tcita. A Lei Complementar n. 118 no expressamente

    interpretativa, mas orienta o intrprete a como entender um dispositivo do

    Cdigo.

  • Direito Tributrio II 09.09.2013 (Aula 08)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (7) Aplicao da legislao tributria:

    Art. 105 do Cdigo Tributrio Nacional: A legislao tributria aplica-se

    imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos

    aqueles cuja ocorrncia tenha tido incio mas no esteja completa nos termos do

    artigo 116.

    Noo de fato gerador pendente:

    o O fato gerador pendente tambm chamado de complexivo ou continuado,

    sendo aquele que tem incio num momento e concluso em outro.

    Atualmente, a doutrina majoritria entende que o fato gerador pendente

    no foi recepcionado pela Constituio, dada a irretroatividade da norma

    tributria.

    o Art. 150, III, alnea a, da Constituio Federal: Sem prejuzo de outras

    garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao

    Distrito Federal e aos Municpios: III - cobrar tributos: a) em relao a fatos

    geradores ocorridos antes do incio da vigncia da lei que os houver

    institudo ou aumentado.

    Com a incluso expressa na Constituio do princpio da

    irretroatividade da lei tributria, restou afastado o entendimento

    expressado pela Smula n. 584 do STF. Porm, mesmo no mais

    aplicada, no foi expressamente revogada.

    Smula n. 584 do STF: Ao imposto de renda calculado sobre os

    rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exerccio

    financeiro em que deve ser apresentada a declarao.

    Art. 106 do Cdigo Tributrio Nacional: A lei aplica-se a ato ou fato pretrito: I - em

    qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluda a aplicao de

    penalidade infrao dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato no

    definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infrao; b) quando deixe

    de trat-lo como contrrio a qualquer exigncia de ao ou omisso, desde que no

    tenha sido fraudulento e no tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c)

    quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo

    da sua prtica.

  • Noo de lei expressamente interpretativa:

    o No existe lei expressamente interpretativa. O que existe a possibilidade

    de um dispositivo em determinada lei nova que venha a esclarecer o

    contedo de dispositivo de lei anterior quando da incidncia do fato. Assim,

    no h, em termos materiais, uma retroatividade tributria.

    o Alguns autores entendem que, sendo lei nova, ela inova; sendo apenas para

    esclarecer o sentido, ela seria desnecessria, pois se deve entender apenas

    o sentido da lei anterior, ou seja, uma questo de interpretao, que no

    cabe seja feita pela lei, porquanto j contida no texto legal anterior.

    o Ives Gandra dizia que fato ocorrido antes do incio da vigncia da lei que os

    instituiu no fato gerador, mas sim qualquer outro fato sem repercusso

    tributria. Por tal razo, criticava o mestre a letra do artigo 150, inciso III,

    alnea c, da Constituio Federal.

    Art. 150, III, alnea c, da Constituio Federal: Sem prejuzo de

    outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos

    Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: III - cobrar tributos: c)

    antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a

    lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alnea b.

    o Por exemplo, o ato de respirar no fato gerador de tributo algum. Caso se

    aprove lei com um ano de vaccatio, trazendo o ato de respirar como fato

    gerador, at que a lei exera sua eficcia, o ato de respirar ser mero fato,

    mas no fato gerador.

    Retroatividade da lei mais benigna para o acusado (lei que deixe de considerar

    o ato como infrao, ou comine penalidade menos severa):

    o Tem-se uma possibilidade de aplicao retroativa da lei. Fica claro que a lei

    aplica-se a fato ou ato pretrito desde que no definitivamente julgado

    (ainda sub judice, sem trnsito em julgado) quando a lei nova deixa de

    prever o ato como infrao ou quando reduz a penalidade aplicvel. Neste

    caso, o intrprete tem que aplicar a lei nova.

    o Quando o contribuinte deixou de praticar o ato como o recolhimento de

    determinado documento , ser penalizado, recebendo auto de infrao.

    Vai-se, ento, ao judicirio questionar a cobrana da penalidade, porquanto

    desnecessria a obrigao acessria.

    o Em determinado momento da marcha processual, ento, sendo alterada a

    lei que definia o fato como infrao, dever esta incidir no caso.

  • o Insta registrar, porm, que ocorre a aplicao da presente regra quando se

    tratar de lei tributria penal (que defina fato como infrao), mas no incide

    quando for material (que institua ou majore tributo).

    o A lei impe algumas condies para a retroatividade benigna:

    (a) No ter sido praticado o ato com fraude.

    (b) No haver pendncia de pagamento de tributo.

    o Quando dispe a lei a condio de que no esteja definitivamente julgado,

    isto no significa que precisar estar necessariamente sub judice, podendo

    estar tambm em discusso na esfera administrativa. A condio, ento,

    que no tenha ocorrido trnsito em julgado.

    (8) Interpretao e integrao da legislao tributria:

    Art. 107 do Cdigo Tributrio Nacional: A legislao tributria ser interpretada

    conforme o disposto neste Captulo.

    O ttulo deste captulo interpretao e integrao da legislao tributria. O

    artigo 107, ento, fala de interpretao, prevendo que dos artigos 107 a 112

    constam as regras de interpretao da legislao tributria. Com a leitura do

    Cdigo, esta previso, de certa forma, engessaria o intrprete.

    O artigo 108, que melhor se ver a seguir, no mais trata de interpretao, mas

    sim de integrao, porquanto traz formas de aplicao da legislao tributria na

    ausncia de disposio expressa.

    Diante do contraponto deste artigo com o anterior, v-se possvel confuso entre

    os conceitos de interpretao e integrao. A segunda d-se quando o intrprete

    encontra lacuna na norma, precisando buscar alguma forma de decidir, dada a

    ausncia de previso na norma. A primeira, por sua vez, um mtodo

    hermenutico adotado para encontrar o sentido da norma.

    O artigo 111 faz referncia interpretao literal tambm chamada de

    gramatical , a qual implica em captar o sentido da norma a partir de sua prpria

    formulao, daquilo que o legislador escreveu. Para o professor, porm, quase

    impossvel de ser realizada, pois as palavras da lei so vagas e ambguas.

    Uma interpretao literal nem sempre permite uma correta identificao do que

    pretendeu o legislador dizer, dado que necessrio analisar o contexto em que

    ser aplicada para identificar seu efetivo sentido.

    Em sntese, a integrao a consequncia de um processo de interpretao, ou

    seja, apenas aplicam-se regras de integrao quando constado pelo intrprete

  • que no existe, por meio da interpretao, regra aplicvel ao caso mesmo

    porque no se pode deixar de decidir em razo da ausncia de lei.

    Art. 108 do Cdigo Tributrio Nacional: Na ausncia de disposio expressa, a

    autoridade competente para aplicar a legislao tributria utilizar sucessivamente,

    na ordem indicada: I - a analogia; II - os princpios gerais de direito tributrio; III - os

    princpios gerais de direito pblico; IV - a equidade. 1 O emprego da analogia no

    poder resultar na exigncia de tributo no previsto em lei. 2 O emprego da

    equidade no poder resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.

    Traz as formas integrativas da legislao tributria, numa sucesso de incidncia,

    as quais incidiro na ausncia de norma aplicvel.

    As quatro modalidades que o Cdigo coloca como formas de integrao da

    norma tributria, por vezes, no so utilizadas pelo intrprete, pois que

    utilizados, por vezes, tambm os costumes, a doutrina, a jurisprudncia.

    Assim, o artigo 108, apesar das boas intenes do legislador, no conseguiu

    moldar o intrprete s modalidades nele previstas. Logo, conclui-se no ser o rol

    numerus clausus, mas sim numerus apertus ainda que a redao legal enseje a

    compreenso taxativa.

    Caso devesse ficar o julgador preso s hipteses ali previstas, no poderia adotar

    os mtodos de interpretao mais usados: jurisprudncia e doutrina.

    (a) Uso da analogia no direito tributrio:

    o Poder ser aplicada a analogia numa deciso em matria tributria, desde

    que, pelo uso da analogia, no se venha a exigir tributo no previsto em lei

    para aquele caso, conforme dispe o 1.

    (b) Princpios gerais de direito tributrio e (c) princpios gerais de direito

    pblico:

    o Alguns autores criticam a separao entre princpios de direito tributrio e

    de direito pblico, porquanto estes contm aqueles. A explicao para esta

    disposio plausvel: no sendo aplicvel a analogia, sendo matria

    tributria, dever o intrprete dar preferncia aos princpios especficos da

    rea, antes de aplicar os gerais de direito pblico.

    (d) Equidade como regra de poltica fiscal:

    o Julgar por equidade julgar com igualdade nas situaes iguais e

    desigualdade nas situaes desiguais (artigo 150, inciso II, da CRFB

    princpio da isonomia).

  • Art. 150, II, da Constituio Federal: Sem prejuzo de outras garantias

    asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito

    Federal e aos Municpios: II - instituir tratamento desigual entre

    contribuintes que se encontrem em situao equivalente, proibida

    qualquer distino em razo de ocupao profissional ou funo por

    eles exercida, independentemente da denominao jurdica dos

    rendimentos, ttulos ou direitos.

    o Porm, algo que envolve alta carga subjetiva por parte do julgador, pois

    que envolve elementos como justia, proporcionalidade. Assim, por vezes,

    casos praticamente idnticos recebem decises diametralmente opostas,

    mas ambas corretas.

    o Ressalva-se, tambm, assim como feito na analogia cuja aplicao no

    pode ensejar a cobrana de tributo no previsto em lei para a espcie , no

    poder a equidade dispensar tributo devido, em homenagem ao princpio

    da legalidade tributria.

    Art. 109 do Cdigo Tributrio Nacional: Os princpios gerais de direito privado

    utilizam-se para pesquisa da definio, do contedo e do alcance de seus institutos,

    conceitos e formas, mas no para definio dos respectivos efeitos tributrios.

    Art. 110 do Cdigo Tributrio Nacional: A lei tributria no pode alterar a definio,

    o contedo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados,

    expressa ou implicitamente, pela Constituio Federal, pelas Constituies dos

    Estados, ou pelas Leis Orgnicas do Distrito Federal ou dos Municpios, para definir ou

    limitar competncias tributrias.

    Os princpios de direito privado podem ser aplicados tambm na esfera

    tributria, conforme se retira da letra dos artigos 109 e 110. Sero aplicadas,

    ento, para o julgador (artigo 109) e para o legislador (artigo 110).

    Por exemplo, o conceito de mercadoria vem do direito privado, mas no

    tributrio. A mercadoria pressupe objeto de mercancia com transferncia de

    propriedade (operao de compra e venda).

    Ento, o julgador, quando for decidir, poder se valer do direito privado para

    compreender o alcance dos institutos de direito tributrio, mas no poder

    utilizar para alterar a forma como determina o direito tributrio.

    O direito tributrio compreende, em essncia, relaes negociais entre

    particulares. Assim, muitos dos conceitos utilizados dependem do direito

  • privado em especial o civil.

    O legislador, tambm, quando edita norma de direito tributrio, no poder

    fazer uso da norma tributria para alterar o contedo da norma de direito

    privado, como pretender incluir determinado bem como mercadoria, assim no

    definido pelo direito civil.

    Art. 111 do Cdigo Tributrio Nacional: Interpreta-se literalmente a legislao

    tributria que disponha sobre: I - suspenso ou excluso do crdito tributrio; II -

    outorga de iseno; III - dispensa do cumprimento de obrigaes tributrias

    acessrias.

    Interpreta-se literalmente a legislao tributria que disponha sobre:

    o (a) Suspenso ou excluso do crdito tributrio.

    o (b) Outorga de iseno.

    o (c) Dispensa do cumprimento de obrigaes tributrias acessrias.

    No se trata, em verdade, de interpretao literal a qual, por vezes, no

    muito eficaz, pela ausncia de capacidade de intrprete em faz-la

    adequadamente , mas sim de interpretao restritiva.

    Excluso e suspenso do crdito tributrio e dispensa do cumprimento de

    obrigaes acessrias so normas concessivas de benefcios. Assim, deve haver

    uma interpretao restritiva em tais casos, dado que as normas com

    mencionadas previses vo contra a natureza tributria, que do contribuinte

    pagar seus impostos, mas no dele ser dispensado.

    Haver, ento, interpretao restritiva, incidente apenas no caso concreto, no

    se aplicando de forma generalizada, a todos, de pleno direito. Caso algum

    queira obter o benefcio, dever intentar procedimento especfico ou ao

    prpria para tanto.

    Art. 112 do Cdigo Tributrio Nacional: A lei tributria que define infraes, ou lhe

    comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorvel ao acusado, em caso de

    dvida quanto: I - capitulao legal do fato; II - natureza ou s circunstncias

    materiais do fato, ou natureza ou extenso dos seus efeitos; III - autoria,

    imputabilidade, ou punibilidade; IV - natureza da penalidade aplicvel, ou sua

    graduao.

    Consiste na aplicao do princpio do in dubio pro reo, norma de direito penal,

    no direito tributrio. Alguns autores propem a adoo da expresso in dubio

    pro contribuinte, pois no se confunde o direito tributrio com o direito penal.

  • Direito Tributrio II 10.09.2013 (Aula 09)

    Professor Ubaldo Cesar Balthazar

    Legislao Tributria.

    (8) Interpretao e integrao da legislao tributria:

    Art. 111 do Cdigo Tributrio Nacional: Interpreta-se literalmente a legislao

    tributria que disponha sobre: I - suspenso ou excluso do crdito tributrio; II -

    outorga de iseno; III - dispensa do cumprimento de obrigaes tributrias

    acessrias.

    A regra que todos devem ser tributados. A exceo, portanto, a concesso de

    algum benefcio. Logo, as normas que o fazem devem ter uma anlise restritiva,

    dado o seu carter excepcional. O inciso II suprfluo na letra da lei, porquanto

    contida a iseno na previso de extino do inciso I.

    Art. 112 do Cdigo Tributrio Nacional: A lei tributria que define infraes, ou lhe

    comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorvel ao acusado, em caso de

    dvida quanto: I - capitulao legal do fato; II - natureza ou s circunstncias

    materiais do fato, ou natureza ou extenso dos seus efeitos; III - autoria,

    imputabilidade, ou punibilidade; IV - natureza da penalidade aplicvel, ou sua

    graduao.

    Trata da aplicao do princpio do in dubio pro reo no direito tributo. Assim,

    uma norma de contedo tributrio penal.

    A interpretao deve ser feita em favor do acusado, do ru, quando houver

    qualquer dvida quanto :

    o (a) Capitulao legal do fato.

    o (b) Natureza ou circunstncias materiais do fato.

    o (c) Autoria, imputabilidade ou punibilidade.

    o (d) Natureza da penalidade ou sua graduao.

    Parte da doutrina discute a utilizao da expresso in dubio pro reo na seara

    tributria, ainda que penal. Ives Gandra diz que, na medida em que a sonegao

    mais tolerada socialmente do que um latrocnio, por exemplo, deveria se

    utilizar uma expresso mais branda, tal como in dubio pro contribuinte.

    Alguns autores dizem que no direito tributrio deve ser aplicado o princpio do in

    dubio pro legem, ou seja, em caso de dvida, aplica-se a lei. Consiste numa

    aplicao mais estrita do princpio da legalidade tributria.

  • Na medida em que imposto apenas pode ser institudo ou majorado por lei, bem

    como apenas podem por lei ser previstas penalidades, na dvida, deve o

    intrprete aplicar a lei.

    No caso da esfera tributria penal, ainda, cabe destacar que a lei mais favorvel

    no se aplica em qualquer caso, apenas quando houver dvida e nos casos

    previstos no dispositivo entendimento que pouco modifica a prtica,

    porquanto amplo o rol do dispositivo, abarcando quase todas as possibilidades.

    Com relao lei que institui ou majora tributo, deve-se recordar os 1 e 2

    do artigo 108, que tratam da restrio do uso da a