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PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA BRA/IICA/09/009: “FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE INSTITUCIONAL E DA GESTÃO DAS AÇÕES VOLTADAS ÀS POPULAÇÕES ATINGIDAS PELOS EMPREENDIMENTOS DA ELETRONORTE” Relatório de Produto Contrato nº 113015 TR - Produto 2: Diretrizes conceituais e metodológicas para (subsidiar) na definição das tipologias e elegibilidade de subprojetos de apoio ao desenvolvimento local, considerando (inclusive) a Revisão dos Cenários do Programa de Inserção Regional no Território do Entorno do Lago da UHE Tucuruí. Villi F. Seilert Brasília, maio de 2013.

Diretrizes conceituais e metodológicas para (subsidiar) na … ·  · 2014-03-172 A este respeito conhecer sobre o paradigma do cisne negro, do ensaísta Nassim Nichollas Taleb

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PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA BRA/IICA/09/009: “FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE INSTITUCIONAL E DA GESTÃO

DAS AÇÕES VOLTADAS ÀS POPULAÇÕES ATINGIDAS PELOS EMPREENDIMENTOS DA ELETRONORTE”

Relatório de Produto

Contrato nº 113015

TR - Produto 2:

Diretrizes conceituais e metodológicas para (subsidiar) na definição das

tipologias e elegibilidade de subprojetos de apoio ao desenvolvimento local,

considerando (inclusive) a Revisão dos Cenários do Programa de Inserção

Regional no Território do Entorno do Lago da UHE Tucuruí.

Villi F. Seilert

Brasília, maio de 2013.

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Siglas e abreviaturas utilizadas:

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

COOPAB - Cooperativa Mista dos Pescadores, Trabalhadores Rurais, Urbanos e Extrativistas do Lago da UHE Tucurui Ltda.

COOPAT - Cooperativa dos Pescadores Artesanais e Aquicultores de Tucurui

GTPA - Grupo de Trabalho de Política Ambiental do SCMA

IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

IN - Instrução Normativa

MAB - Movimentos do Atingidos por Barragens

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (instrumento criado pelo protocolo de Kioto)

MEI - Microempreendedor Individual

MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PAS - Plano Amazônia Sustentável

PCT – Projeto de Cooperação Técnica

PDMA - Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico

PDST - Plano de Desenvolvimento Sustentável da Microrregião do Entorno da UHE Tucuruí

PIB - Produto Interno Bruto

PIRTUC - Plano de Desenvolvimento Regional do Território do Entorno de Tucurui

PPA - Plano Plurianual

PROSET - O Programa Social dos Expropriados da Primeira Etapa da UHE Tucurui

PTP - Planejamento Territorial Participativo

SCMA - Subcomitê de Meio Ambiente do Sistema Eletrobrás

SEPAQ - Secretaria de Pesca e Aquicultura do Estado do Pará

TR – Termo de Referência

UC - Unidades de Conservação

UHE – Usina Hidrelétrica

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Sumário

Siglas e abreviaturas utilizadas: ............................................................................................ 2

1. Apresentação: ................................................................................................................. 4

2. Desenvolvimento regional sustentável: fragmentos conceituais norteadores das

políticas socioambientais da Eletrobras-Eletronorte ................................................ 5

3. Elementos da matriz lógica das políticas socioambientais da Eletrobras-

Eletronorte ...................................................................................................................... 7

3.1. A Política Socioambiental do Sistema Eletrobrás-Eletronorte e os

fundamentos do tratamento das questões socioambientais associadas aos

empreendimentos de energia elétrica. .......................................................................... 10

3.2. Resoluções e deliberações internas .................................................................. 11

3.3. As políticas de Inserção Regional no Território do Entorno do Lago da UHE

Tucuruí. .............................................................................................................................. 15

4. Lições aprendidas com os projetos de apoio ao desenvolvimento regional

patrocinados pela Empresa nos últimos 10 anos. .................................................. 25

4.1. O Plano de Desenvolvimento Sustentável da Microrregião do Entorno da

UHE Tucuruí – PDST ....................................................................................................... 25

4.2. O PIRTUC .............................................................................................................. 26

4.3. Apoio a inciativas socioprodutivas ..................................................................... 27

5. Elementos de subsídios às tomadas de decisões a respeito da tipologia e a

elegibilidade de projetos socioprodutivos patrocinados ........................................ 31

6. Conclusão ...................................................................................................................... 34

Referências bibliográficas ........................................................................................... 36

4

1. Apresentação:

O presente documento faz remição ao Produto 02 do TR que instrui o contrato nº.

113015, celebrado entre o Instituto de Interamericano de Cooperação para a

Agricultura – IICA e o subscrevente, no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica

BRA/IICA/09/009 - Eletrobras-Eletronorte.

Na sua primeira parte são descritas as bases conceituais que norteiam as ações

sociais e ambientais da Eletrobras-Eletronorte. Neste referencial os conceitos

“desenvolvimento territorial” e “desenvolvimento regional sustentável”, background

das diretivas da Empresa na questão das políticas sociais e ambientais, são

discorridos.

Na sequência são considerados os principais instrumentos de planificação, bem

como os de conversão destes em ações socioambientais, cujo encadeamento é

apresentado por um organograma que permite ponderar a matriz lógica do modus

operandi socioambiental da Empresa.

Então são apreciados os principais programas e ações em curso e analisados

alguns aspectos que sugerem os níveis de aderência de tais ações com as

diretivas sociais e ambientais.

Os últimos dois capítulos tratam de extrair elementos colhidos nas abordagens

anteriores, ou seja, considerar a correlação entre a base conceitual, as diretivas e

as ações levadas à efetividade, para ao fim propor algumas diretrizes que se

supõem úteis para subsidiar as tomadas de decisões a respeito da tipologia e da

elegibilidade de projetos socioprodutivos patrocinados pela Empresa.

O resultado deste trabalho está endereçado aos gestores da Empresa, e

particularmente aqueles que atuam nas tomadas de decisões e nas rotinas de

acompanhamento dos projetos de aplicação socioambiental.

Cumpre assim mais um esforço que almeja ampliar o domínio dos conhecimentos

técnicos provocados pelo escopo do Projeto de Cooperação Técnica a favor dos

signatários.

5

2. Desenvolvimento regional sustentável: informações conceituais

norteadoras das políticas socioambientais da Eletrobras-Eletronorte

A partir dos anos 80 intensificou-se o debate sobre a tendência da gestão local do

desenvolvimento. Nesse enclave passou a se questionar se as abordagens

teóricas que sustentam a tese de que o Estado Nacional e as grandes empresas

possam ser os agentes únicos do desenvolvimento econômico, relegando às

esferas locais, quando muito, a gestão de equipamentos e serviços públicos.

Evidências empíricas mostram que os efeitos de difusão do modelo de

desenvolvimento econômico assentado sobre o fortalecimento da infraestrutura

de capital, com o crescimento econômico concentrador, produziram efeitos de

desigualdades e não são mais suficientes para transpor situações de pobreza

crônica em que ainda vive uma significativa parcela da população brasileira1.

Apontando para outra direção o desenvolvimento sustentável prende a sua

atenção na relação do homem, seu espaço, cultura, com a natureza,

preconizando a utilização racionalizada dos recursos naturais (NIJKAMP et. al.,

1990).

Este conceito foca suas estratégias em um determinado território, com suas

paisagens, sua população e nas relações desta com todos os demais elementos

desse território. Por sua vez este enfoque adota princípios como o planejamento

ascendente, a oportunidade do imprevisível2, as novas riquezas (também as

economicamente valoradas - que não se apreendem sem a utilização de novas

tecnologias criativas no campo de prospecção de territórios, já disponíveis), a

participação e a autonomia da população local e as perspectivas de mercado,

tendo como finalística a busca da melhoria das condições de vida dessa

população.

Afinal este norte não está distante da teoria do desenvolvimento endógeno, uma

ideia que teve suas origens na década de 1970, quando deu início ao realce de

propostas de desenvolvimento Down-Top, passando na década seguinte, a

1 A este respeito vale considerar os limites encontrados pelas políticas de transferência de renda que não

atingem, ou seja, não impactam a realidade ex-ante dos extremamente pobres. A este respeito vale considerar os indicadores socioeconômicos dos municípios formadores do entorno da UHE Tucurui. 2 A este respeito conhecer sobre o paradigma do cisne negro, do ensaísta Nassim Nichollas Taleb.

6

evoluir com a entrada de novos enfoques sobre a problemática dos desequilíbrios

regionais.

Na década de 1990 a principal questão do modelo de desenvolvimento endógeno

foi o conhecimento das causas da variação dos níveis de crescimento das

diversas regiões, mesmo quando elas dispunham das mesmas condições na

busca de fatores produtivos, como capital financeiro, mão-de-obra ou tecnologia.

A melhor solução seria procurar encontrar, entre estes fatores, aqueles

disponíveis na região. Não se pode confundir aqui desenvolvimento que implica

em interpretar o volume de ativos, sem repercuti-los sobre a massa da população

local. Afinal, se do contrário estaremos presos à lógica expropriativa de um

território.

A rigor tal modelagem (desenvolvimento endógeno) baseia-se na execução de

políticas de fortalecimento e qualificação das estruturas internas, visando a

consolidação de um desenvolvimento genuinamente local, inclusivo,

empoderador, apropriador e criando condições sociais e econômicas para a

geração e atração de novas atividades produtivas (AMARAL FILHO, 1996).

Outro aporte referencial que poderia ser considerado é aquele que obteve

sucesso no Vale do Silício (USA), apontado por vários autores como exemplo de

Sistemas Regionais de Inovação (SRI), baseado no capital social. Conforme

Saxenian (1994), o notável desempenho econômico do Vale se baseia em uma

densa rede que inclui empresas, universidades, institutos de pesquisa, o setor

público e tecnologias inovadoras. É interessante notar no caso que mesmo no

setor de alta tecnologia, a dimensão territorial tem se mostrado fundamental para

a formação de redes.

Parece evidente também que os tempos modernos estão demandando maior

lastro de confiança entre os empreendimentos e o potencial local, assim como o

lançamento de mão de novas tendências de avaliação de potencialidades locais.

Afinal é possível apostar no imprevisível, ou os moradores do Vale do Silício,

consideradas apenas as suas aptidões tradicionais, jamais seriam dominadores

de avançadas técnicas para a elaboração de nobres produtos do silício. Por outro

lado, embora razoável, não é suficiente convincente supor que produtores

artesanais de peixe sejam unicamente aquicultores ou criadores de galinhas.

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E para alcançar bons resultados na prospecção é essencial considerar o fator

pedagógico-metodológico de trabalho, pois além da identificação de boas

oportunidades, permanece o desafio de classifica-las, assim como de pactuar

com os stakerholders a distribuição das responsabilidades, segundo interesses e

aptidões, aliás, condições fundamentalmente demarcadoras do movimento

virtuoso para os projetos.

3. Elementos da matriz lógica das políticas socioambientais da

Eletrobras-Eletronorte

Buscando compreender a superestrutura que parametriza as tomadas de

decisões no campo socioambiental da Eletrobras-Eletronorte, esta seção

passará a apresentar um conjunto de referências que nos últimos 20 anos vêm

referenciando a atuação da empresa.

Dada á bipartição dos interesses que impulsionam o objeto central da missão

da Empresa - a produção de energia - tais referências podem ser classificadas

em duas categorias: de um lado a causa pública, em torno da qual se

encontram referências vinculadas ao marco regulatório nacional para as

salvaguardas sociais e ambientais, e suas conexões com as normas

internacionais análogas. E de outro o interesse privado com as regras

estabelecidas sob a lógica de mercado.

No exercício de identificar os instrumentos que materializam este corpo

superestrutural, no corpus-sapiens da Empresa - aqueles que balizam decisões

concernentes às prioridades de investimentos socioambientais - vê-se o

esquema lógico a seguir ilustrado e posteriormente caracterizado.

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(figura 01)

Avaliando a figura do organograma acima (fig.01) é possível identificar três

complexos de informações: o primeiro, situado na parte superior, está formado

por dois elementos: (a) um corpo normativo de natureza externa, (b) e as

decisões normativas internas representadas por deliberações e resoluções da

direção da Empresa. O segundo, situado na parte intermediária do organograma,

resultando de instruções programáticas, com certa lógica aplicada em planos de

ação. A segunda parte, portanto, é consequente da primeira – em se

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considerando que as decisões não possam ser meros impulsos casuais ou

insubordinados.

O terceiro complexo vem representado na parte inferior do organograma, e é

formado pela ação pontual, não isolada, nem desconexa, ou seja, as medidas

implementadas a partir das oficinas executivas da Empresa. Neste ambiente

(executivo) ocorrem as deliberações a respeito do patrocínio de projetos, sejam

aqueles constituídos sob a ótica da demanda - como tem se caracterizado a

maioria dos casos - sejam os que se estabelecem sob a ótica da oferta.

Neste ponto se estabelece a confirmação da decisão, pois é aonde ocorre a

conexão entre os comandos teóricos (políticos e conceituais) com a sua real

efetivação. Esta conexão pode ser quebrada caso ocorra vulnerabilidade às

pressões circunstanciais (p. ex. políticos e orçamentários). As vulnerabilidades

fazem perder o elo de aderência de tais projetos com a avaliação dos seus fatores

de riscos, seus fundamentos legais, a iluminação da realidade social, econômica

e ambiental, assim como com os fatores técnicos que, enfim, assegurarão a

factibilidade virtuosa dos projetos.

O imperativo “o que se deve fazer” não necessariamente faz combinação com o

que é demandado por circunstâncias, quando a demanda apresentada não

contém elementos capazes de identificar a sua aderência com as diretivas, não só

as políticas, mas, sobretudo, as legais e programáticas.

Eis porque perguntar sobre os critérios da elegibilidade de projetos diz respeito à

busca da aderência das propostas ao corpus-sapiens, afinal este conhecimento

resultou processual e criteriosamente elaborado no ambiente histórico, político e

técnico da Empresa.

Vejamos a seguir a caracterização de alguns dos instrumentos que aportam tal

superestrutura socioambiental da qual comentamos, no ambiente da Empresa.

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3.1. A Política Socioambiental do Sistema Eletrobrás-Eletronorte e os

fundamentos do tratamento das questões socioambientais associadas

aos empreendimentos de geração de energia elétrica.

Conforme aludimos, a matriz conceitual socioambiental da Empresa reside num

conjunto de princípios que foram formulados em conformidade com diretrizes

derivadas das normas e políticas públicas de meio ambiente e atenção social,

inclusive aquelas que sugerem atenção especial para povos indígenas,

quilombolas, mulheres e populações ribeirinhas, bem como de acordos

internacionais dos quais o Brasil é signatário, como a Convenção do Clima, a

Agenda 21, o Protocolo de Quioto, a OIT-169, entre outros.

A política ambiental do sistema Eletrobrás-Eletronorte iniciou sua delineação já

com o lançamento do Plano Diretor de Meio Ambiente de 1987 (MME-

ELETROBRAS), quando Se lançava as primeiras noções dobre o que veio a se

tornar o conceito de desenvolvimento com o viés social e ambiental nas

atividades da Empresa.

Porém diretrizes conceituais propriamente ditas só foram confirmadas com a

edição do II PDMA - Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico -

1991/1993 (vols. I e II), lançado como eixo condutor de um padrão de excelência

ambiental das empresas associadas ao grupo Eletrobras.

Os sete princípios a seguir apresentados constituem a declaração de intenções

do Sistema Eletrobrás-Eletronorte que supõem vinculação às políticas individuais

e linhas de ação das empresas que o integram:

Princípio nº1 - Integração da dimensão socioambiental aos planos, projetos,

processos e atividades das empresas.

Princípio nº 2 - Interação com outros setores e instituições na implementação de

planos e ações socioambientais que contribuam para o desenvolvimento

sustentável local e regional.

Princípio nº 3 - Relacionamento com os diversos segmentos da sociedade

envolvidos nas etapas de planejamento, implantação e operação dos

empreendimentos de energia elétrica.

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Princípio nº 4 – Atuação para que a operação e a expansão do parque gerador do

Sistema Eletrobrás utilizem os recursos energéticos do país considerando as

potencialidades e as especificidades locais e regionais e atendam aos princípios

do desenvolvimento sustentável, e promover a utilização do Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) estabelecido pelo Protocolo de Kioto.

Princípio nº 5 – Apoio a programas de conservação de energia e de eficiência

energética como estratégia para a racionalização do uso dos recursos naturais e

redução dos impactos socioambientais.

Princípio nº 6 – Apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico aplicado a

questões socioambientais relacionadas à implantação e à operação dos

empreendimentos de energia elétrica.

Princípio nº 7 - Incentivo a implementação e o aperfeiçoamento contínuo de

sistemas de gestão ambiental integrados aos demais sistemas de gestão

empresarial.

3.2. Resoluções e deliberações internas

No segmento ambiental, em 2011 a Eletrobras-Eletronorte consolidou os

parâmetros para a sua Política Ambiental, conforme aprovado pela Resolução de

Diretoria (RD) nº 0352/11 de 25.05.2011.

Neste documento programático foram categorizados seis princípios com suas

respectivas diretrizes, além da distribuição de competências executivas no âmbito

da estrutura institucional.

Daquela normativa constam os seguintes princípios e suas diretrizes:

1. Princípio da Articulação Interna: Assegurar a incorporação da dimensão

ambiental aos processos da empresa.

Diretrizes:

1.1 Considerar as políticas públicas relativas a meio ambiente nos processos

internos.

1.2 Tratar as questões ambientais dos empreendimentos de forma articulada

entre as áreas da empresa.

12

1.3 Incorporar a dimensão ambiental aos processos de tomada de decisão.

1.4 Incorporar os princípios e as diretrizes da Política Ambiental aos contratos e

parcerias firmados.

2. Princípio da Articulação Externa: Implantar programas e ações ambientais de

forma articulada com outros setores e instituições.

Diretrizes:

2.1 Potencializar as oportunidades de desenvolvimento sustentável local e

regional decorrentes dos empreendimentos.

2.2 Buscar o compartilhamento das responsabilidades institucionais e financeiras

com os demais agentes públicos e privados que atuam na área dos

empreendimentos.

2.3 Contribuir para a gestão integrada de bacias hidrográficas e para o uso

sustentável dos recursos hídricos, em articulação com os agentes envolvidos.

2.4 Considerar as especificidades dos ecossistemas e das comunidades locais

nas articulações das ações e programas ambientais com ações e políticas

públicas.

3. Princípio do Relacionamento com a Sociedade: Promover relacionamento com

os diversos segmentos da sociedade.

Diretrizes:

3.1 Dialogar com os diversos atores sociais envolvidos desde o início do

planejamento dos empreendimentos e identificar suas expectativas e

necessidades.

3.2 Estabelecer processos de comunicação com linguagem adequada ao público

a que se destinam.

3.3 Estabelecer processo contínuo de comunicação e esclarecimento ao público

sobre questões relacionadas à energia elétrica e às ações ambientais.

4. Princípio do Uso Sustentável de Recursos Energéticos: Explorar as

potencialidades de recursos energéticos locais e regionais atendendo aos

princípios do desenvolvimento sustentável.

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Diretrizes:

4.1 Estimular a utilização de fontes renováveis na expansão da oferta de energia

elétrica.

4.2 Utilizar os mecanismos de incentivo à redução de emissões de gases de

efeito estufa como oportunidade de negócios.

4.3 Internalizar os custos e benefícios sociais e ambientais na definição da

utilização dos recursos energéticos.

4.4 Apoiar programas de conservação de energia e de eficiência energética como

estratégia para a racionalização do uso dos recursos naturais.

5. Princípio do Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Apoiar o

desenvolvimento científico e tecnológico aplicado às questões ambientais.

Diretrizes:

5.1 Promover a cooperação técnica para a elaboração de estudos e pesquisas

relativos às interações entre energia elétrica, meio ambiente e desenvolvimento

sustentável.

5.2 Compartilhar a gestão e os recursos em estudos e projetos de interesse

comum às empresas da Eletrobras.

5.3 Apoiar instituições de ensino e pesquisa no desenvolvimento de estudos e

pesquisas de interesse ambiental.

6. Princípio da Gestão Ambiental: Implantar sistema de gestão ambiental

integrado aos demais sistemas de gestão empresarial.

Diretrizes:

6.1 Executar ações que promovam a melhoria do desempenho ambiental.

6.2 Utilizar indicadores para aferir os resultados da gestão ambiental.

6.3 Incentivar o atendimento a requisitos ambientais pelos colaboradores,

parceiros de negócios e fornecedores.

6.4 Incentivar ações de conservação de energia, de eficiência energética e de

combate ao desperdício na empresa.

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6.5 Sensibilizar e capacitar colaboradores, parceiros e fornecedores quanto às

suas responsabilidades com o meio ambiente.

6.6 Promover ações de sensibilização ambiental nas áreas de influência dos

empreendimentos.

A designação das responsabilidades:

Diretoria Executiva da Eletrobras-Eletronorte – aprovar adesão à Política

Ambiental do Sistema Eletrobrás e garantir sua implementação.

Superintendência de Meio Ambiente da Eletronorte – atuar como gestora da

implementação e divulgação desta Política.

Subcomitê de Meio Ambiente do Sistema Eletrobrás (SCMA) – acompanhar e

avaliar a implementação e propor atualizações desta Política.

Grupo de Trabalho de Política Ambiental do SCMA – propor procedimentos para a

implementação, divulgação, acompanhamento e avaliação desta Política.

Comitê de Sustentabilidade da Eletronorte – prestar apoio e acompanhar todas as

ações de implantação desta política.

Coordenadores de meio ambiente nas regionais – operacionalizar as atividades

de implementação, divulgação, acompanhamento e avaliação desta Política.

De outro lado, na vertente social a Empresa expediu dois documentos normativos,

sendo uma Resolução (425 de 03.08.2009) e uma Deliberação (37, de

31.08.2009), conforme se destaca a seguir aspectos de suas diretivas.

A conformação de comandos autônomos poderia refletir tão somente a

organização operativa, embora o conceito “socioambiental” que já tenha sido

largamente recebido pelo marco conceitual da Empresa, não parece encontrar

sua substanciação nas orientações normativas, porquanto, via de regra,

componentes sociais e ambientais não haveriam de marcar ações desintegradas.

Esta possível dislexia pode ser identificada inclusive na análise dos relatórios

sociais da administração da Empresa. Isto também pode ser observado quando a

Empresa delibera e normatiza ações sociais e ambientais, como se categorias

distintas de abordagem de problemas.

15

3.3. As políticas de Inserção Regional no Território do Entorno do Lago

da UHE Tucuruí.

Do conceito de inserção regional utilizado pela Eletrobrás-Eletronorte, como

vimos estabelecido desde o final dos anos 80, considera a reformulação dos

modelos de implantação de hidrelétricas no Brasil, considerando a expansão do

conceito de impacto. Este conceito passou absorver também a ideia de

empreendimento como ação de promoção de desenvolvimento local.

Nessa ampliação conceitual o empreendimento da hidrelétrica de Tucuruí passou

a ser visto como um “instrumento indutor de um processo descentralizado de

modernização e crescimento econômico integrado, com o objetivo de deixar mais

benefícios locais que os custos sociais e ambientais que costumam produzir”

(MME/Eletrobrás, 1988 apud Eletronorte, 1988, pag. 6).

Por consequência Tucurui recebeu aportes para se transformar em um elemento

aglutinador e transformador das relações socioeconômicas predominantes nas

regiões onde se instalou, transpondo a ideia de mero equipamento de geração de

energia elétrica para abastecimento regional e nacional.

Dentro dessa nova visão pela qual Tucurui se transformava em laboratório de

nova ação, a Eletronorte lançou bases para “liderar o processo de construção da

Estratégia Global de Desenvolvimento do Território da UHE Tucurui através do

seu Plano de Inserção Regional, assumindo a coordenação da implementação

das ações previstas, principalmente no que se refere à difícil e laboriosa função

de articulação e mobilização de parceiros institucionais no esforço conjunto.

(Revisão de Cenários da UHE Tucuruí, Produto IX, Versão Executiva, 2012, p.5 ).

As bases das ações estratégicas dessa visão foram lançadas com o “Plano de

Desenvolvimento Regional do Território do Entorno de Tucurui” (PIRTUC), sob o

pressuposto da identificação do espaço territorial e suas conotações sociais,

econômicas e ambientais.

16

3.3.1. As características do território do entorno da UHE Tucurui

De acordo com informações levantadas pelo estudo de revisão de cenário para o

desenvolvimento do entorno da UHE Tucurui (IICA-ELETRONORTE, 2012), o

território da UHE de Tucuruí está localizado no nordeste do Estado do Pará, entre

a Região Metropolitana de Belém e a área formada pelo complexo minero-

metalúrgico de Carajás, servido pela ferrovia do ferro da Vale do Rio Doce, e

expandido para Leste na circunvizinhança do município de Paragominas onde

ocorrem atividades agrícolas, pecuárias e minerais.

A principal característica do território é a presença dominante da hidrelétrica de

Tucuruí, configurando as características ambientais e econômicas dos municípios

e dividindo em duas sub-regiões a montante e a jusante da sua barragem.

No conjunto o território do entorno contempla um aglomerado de 12 municípios -

sob impacto direto da hidrelétrica - que fazem parte de duas das 12 Regiões de

Integração do Estado do Pará, de acordo com a classificação do Governo do

Estado: a Região de Integração Lago de Tucuruí, a montante da usina e a Região

de Integração de Tocantins, a jusante da hidrelétrica.

A sub-região a montante da UHE corresponde a toda a Região do Lago de

Tucurui formada por sete municípios: Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga,

Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, e Tucuruí, sede da hidrelétrica; e a

sub-região a jusante da hidrelétrica reúne cinco dos municípios que formam a

Região de Tocantins, vale dizer, Baião, Cametá, Igarapé-Mirim, Limoeiro do Ajuru,

e Mocajuba.

Como parte da bacia hidrográfica do Tocantins, com as complexidades sistêmicas

decorrentes da biodiversidade e dos recursos hídricos, este território é dominado

pelo bioma amazônico (floresta tropical) já com mudanças antrópicas decorrentes

da exploração econômica dos recursos naturais e dos movimentos migratórios

que acompanharam os grandes projetos de infraestrutura econômica,

principalmente a hidrelétrica e as rodovias federais e estaduais que cortam a

região.

Neste ambiente ocorre um movimento de modernização da economia com

registro de correntes migratórias e a presença marcante de uma grande

17

diversidade cultural, com a presença de muitos grupos indígenas, povos

ribeirinhos, pescadores, extrativistas e seringueiros.

No total o território da UHE Tucuruí tem uma área total de 51,1 mil quilômetros

quadrados (4,1% da área total do Estado do Pará) e reúne uma população de

626.939 habitantes, algo próximo de 8,3% de toda a população paraense,

divididos de forma muito desigual entre os 12 municípios que constituem o

território.

Os municípios da sub-região a montante representam 78,1% da área total do

Território (entorno da usina) e agrupam 57,3% da população regional, embora o

município mais populoso de todo o território seja Cametá com 19,3% da

população total, quase metade dos habitantes dos cinco municípios a jusante. O

maior município da sub-região montante em área é Novo Repartimento com 15,4

mil quilômetros quadrados, representando 38,6% da área total da sub-região e

uma extensão maior que toda a área dos municípios da sub-região a jusante (11,2

mil quilômetros quadrados).

Tomando como referência o Produto Interno Bruto (PIB) o Território alcançou, em

2008, cerca de R$ 4,37 bilhões, sendo que maior parte concentrada na sub-região

a montante, principalmente no próprio município sede da hidrelétrica, Tucurui.

Com efeito, o PIB da sub-região a montante foi de R$ 3,71 bilhões, em 2008, algo

em torno de 85% da base econômica de todo o território, sendo que apenas o

município de Tucuruí tinha um PIB de R$ 2,59 bilhões, mais da metade da

economia total do território (IICA-ELETRONORTE, 2012).

Análises produzidas no referenciado estudo deduz que do período de 1999 a

2008, a economia do território da UHE Tucuruí cresceu em termos reais a taxas

médias de 10,2%, bem acima da média do Estado do Pará (estimada em 6,3%);

os municípios à montante lideraram esta taxa de crescimento com uma média de

12,5% ao ano, puxada pelo município de Tucuruí, sede da hidrelétrica, que

apresentou um ritmo de mais de 15,4% ao ano de elevação do seu PIB-Produto

Interno Bruto, refletindo as fases de expansão da hidrelétrica e a construção da

eclusa, assim como seu efeito na dinamização de outras atividades econômicas

locais.

Porém de outro lado este ritmo de crescimento verificado à montante contrasta

com uma estagnação na sub-região a jusante, no mesmo período, com um

18

aumento do PIB em apenas 2,4% ao ano, marcadamente abaixo da média do

Brasil estimada em 3,7%, e menos da metade do crescimento registrado pelo

Estado do Pará no período.

A base da economia do território continua sendo a agropecuária e o extrativismo

vegetal, incluindo a madeira em tora com grande peso no valor da produção total

do setor primário.

Ainda segundo levantamentos do citado estudo o setor industrial tem uma

participação desproporcional no território se considerado o fator geração de

energia elétrica que é classificada como Serviço Industrial de Utilidade Pública.

Porém a contribuição da indústria de transformação na economia do território é

muito modesta, denotando um baixo nível de adensamento das cadeias

produtivas e de agregação de valor.

Fora dessa curva merece destaque a presença da unidade minero-metalúrgica da

Camargo Correa no município de Breu Branco que inseriu o território no complexo

minero-metalúrgico do Estado do Pará.

Com relação às demais atividades da economia regional o estudo da revisão de

cenários de desenvolvimento da região (IICA-ELETRONORTE, 2012) faz os

seguintes registros:

Na economia regional, além da importância da madeira, do açaí e da pimenta do reino, tem havido um crescimento significativo da pecuária; o rebanho bovino cresceu 14% ao ano a montante - de 2000 a 2009 – e 6,5% ao ano a Jusante que apresentou como dito antes, uma economia praticamente estagnada.

Apesar do rápido crescimento da economia da sub-região a montante, todo o território tem ainda grandes deficiências de infraestrutura viária, principalmente em termos de estradas secundárias e vicinais, que comprometem a competitividade econômica.

De modo geral o dinamismo econômico do território, principalmente da sub-região a montante, não tem sido acompanhado pelos indicadores sociais que mostram uma baixa qualidade de vida da sua população, principalmente quando se trata de saneamento básico, mas também na educação, que se manifesta com nível de escolaridade e nota do IDEB baixos, além de mão de obra pouco qualificada e, para completar, serviços públicos de saúde da pior qualidade no geral.

A formação recente dos municípios tem levado a uma a gestão deficiente da administração pública municipal, com elevada dependência de transferências e gastos excessivos com pessoal que comprometem a capacidade de investimento.

O território já apresenta um grau elevado de antropização decorrente da expansão das atividades econômicas, com destaque para a agropecuária, estimuladas pela construção da hidrelétrica e pela construção da BR 230 (Transamazônica), mas também pela intensa

19

exploração madeireira e mineral nas regiões próximas como Marabá, Carajás, Parauapebas e, a leste, Paragominas. (...).

Nas últimas décadas, como resultado de uma crescente preocupação com a conservação dos recursos florestais e da biodiversidade da Amazônia, têm sido realizados esforços para conter e minimizar os impactos antrópicos na região. Além dos projetos ambientais da própria Eletronorte, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Governo do Estado, implantaram áreas de reservas e delimitaram espaços prioritários para conservação da biodiversidade. De todo modo, o território conta ainda com grandes reservas naturais e florestais com elevada biodiversidade e belezas naturais; merece uma referência especial o lago formado pela hidrelétrica que confere ao território um potencial para o turismo, especialmente para pesca esportiva, e para a piscicultura, atividades ainda muito pouco exploradas.

3.3.2. A abordagem de novas alternativas de geração inclusiva de riquezas no

território.

Dentro de um cenário no qual se se discute tendências de uma nova economia, a

inovação para produtos e serviços está colocado como um novo desafio para os

processos de planejamento e tomadas de decisões para os gestores públicos e

privados.

Em primeiro lugar, nada poderá ser mais decisivo para a prosperidade sustentável

da sociedade de uma determinada região do que considerar o conhecimento

como prioridade de suma importância. Seja no âmbito global, nacional, regional

ou local, a participação de processos intensivos em conhecimento se torna cada

vez mais determinante para o desenvolvimento sustentável e duradouro.

Por isso, tende a ser crescente a sinergia entre centros produtores de

conhecimento e a maioria das ações sociais que mais impulsionam tanto o

desenvolvimento quanto a sustentabilidade socioambiental global. É do

conhecimento que depende cada vez mais a capacidade social de gerar e utilizar

a inovação.

Neste cenário não é mais possível compreender instituições de formação que se

instalam em uma região sem sentido de percepção do seu papel no

desenvolvimento local contextualizado com a sua gente, sua cultura e as

possiblidades que o território e os cenários globais oferecem.

20

Há de se avaliar a necessidade de eleger projetos que contemplam investimentos

em inovação, como forma de dotar determinada região da capacidade para

aproveitar a vantagem competitiva que seu vasto território e suas amplas riquezas

naturais e humanas lhe conferem. Ou seja, é preciso investir em conhecimento e

em inovação como estratégias prioritárias para potencializar esse patrimônio

natural e viabilizar a transição para uma economia mais sustentável. Para isso

deve-se investir na inventividade, empreendedorismo e criatividade, tratando-a

como ativo econômico.

Nessa direção alguns cenários devem ser considerados para efeito de seleção de

prioridades de projetos:

a) Estímulo à geração de empregos verdes – São os empregos calcados em

uma economia sustentável, proporcionando trabalho decente com baixo

consumo e emissão de carbono. Neste campo os setores de maior

potencial no Brasil são a construção civil, a indústria, o turismo, a geração

de energias limpas, seguras e renováveis, o transporte, a agropecuária e o

uso sustentável dos diferentes biomas (particularmente das florestas). Eles

precisam ser estimulados por meio de instrumentos fiscais, tributários e

creditícios.

b) Gestão estratégica dos recursos naturais não renováveis – Uma região

como o território da UHE Tucurui tem grandes reservas de recursos

hídricos, minerais, de biodiversidade. O acesso à exploração dos recursos

minerais deve ser revisto para torná-lo mais transparente e competitivo,

devendo prevalecer os empreendimentos que consigam combinar os

maiores valores de royalties com os melhores padrões de desempenho

social e ambiental.

c) Gestão estratégica dos recursos hídricos e pesqueiros – A região do

entorno da UHE de Tucurui possui uma enorme reserva de águas doces e

enorme potencial para exploração sustentável destes recursos, além da

geração de energia, como no caso da produção de peixes, conforme já

diagnosticado e testado no subprojeto mais conhecido como Projeto Ipirá.

d) O sistema de Unidades de Conservação (UC) do território deve ser

complementado e fortalecido de forma a atingir as metas de conservação

em todos os seus biomas, inclusive aqueles cuja classificação permite a

exploração ou utilização de seus recursos, além é claro das possibilidades

21

de se tornar um sistema gerador de riqueza e conhecimento pela expansão

da visitação e promoção da pesquisa nas unidades.

e) O investimento em turismo sustentável – Valorizando o grande potencial

regional para o turismo, de forma sustentável e nos seus diversos

segmentos: ecoturismo, turismo de base comunitária, de aventura,

náutico, rural, de negócios e eventos, cultural, de saúde, de pesca,

esportivo, cinematográfico, entre outros. É possível eleger ações que criam

estímulos para estruturar e qualificar a economia do turismo local e

regional, visando fortalecer seu potencial para geração de empregos locais

e em diversos setores; promover fonte de renda direta para a conservação

dos patrimônios naturais, culturais e arqueológicos, onde houverem; criar

oportunidades e benefícios para comunidades que habitam áreas isoladas,

rurais e/ou remotas e valorizar os seus modos de vida tradicionais;

fomentar parcerias e ações para promover o empreendedorismo. Criar

mecanismos de proteção e combate à prostituição infantil.

f) Agronegócio sustentável e o cooperativismo real. O agronegócio deve ter

sua orientação estratégica direcionada ao aumento de produção pelo

ganho de produtividade, aliada à conservação e restauração dos recursos

naturais, incluindo o desmatamento zero em todos os biomas, a redução

do uso de agroquímicos e uma transição para o sistema de agroecologia.

Essa estratégia permitirá intensificar o uso das áreas já ocupadas pela

agropecuária, freando a expansão da fronteira agrícola.

g) Fortalecimento da agricultura familiar – A agricultura familiar deve ter a

garantia de acesso à tecnologia e a terra, por meio de apoio a políticas

ativas que viabilizem a ocupação real e produtiva da terra. É possível

apoiar inciativas que projetam a criação de estruturas de produção e

comercialização de produtos da agricultura familiar com o mínimo de

intermediação, permitindo uma melhor remuneração do produtor e o

acesso a uma alimentação saudável por parte dos consumidores. O

programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar deve ser

incentivado no nível local, por meio de um conjunto de agentes de

desenvolvimento voltados a elaborar projetos capazes de gerar renda,

garantir os serviços ecossistêmicos e evitar a inadimplência dos

agricultores.

22

h) Programas e projetos de incentivo à Economia solidária, de modo a

consolidar laços de sustentabilidade e a inserção dos empreendimentos da

economia solidária no mercado justo e sua articulação com os movimentos

e redes de consumo consciente e sustentável. É possível apoiar a criação

de uma Rede Regional de Economia Solidária, em bases sustentáveis, e

fomentar os empreendimentos solidários: Cooperativas, Associações,

Empresas Autogestionárias, Bancos Solidários; Feiras e Lojas de

Economia Solidária; Clubes de Trocas e Programas de Incentivo ao

Consumo Responsável; Incubadoras de empreendimentos solidários e

tecnologias sociais. Apoiar a criação ou consolidação de espaços

articuladores da economia solidária (Secretarias, Conselhos, Redes, etc.).

i) Apoio a iniciativas de Economia Verde. Um número de evidências cada vez

maior também sugere que a transição para uma economia verde possa ser

inteiramente justificada em termos econômicos e sociais numa região como

a do entorno da UHE Tucurui. Na atualidade emerge um forte argumento

para que haja uma duplicação do número de esforços feitos tanto pelo

governo e empresas no engajamento em tal transformação econômica,

com os seguintes cenários:

Investimento na produção de peixes no lago do reservatório. É

preciso considerar que apenas menos de 3% do potencial de

produção estão sendo utilizados. Estudos de avaliação das

possibilidades de produção para o Parque Aquícola Breu branco III

indicaram um potencial de 100.000 ton. ano, isso sem considerar os

novos cenários criados com a expedição da IN 009/2012 do IBAMA

que autoriza a exploração do Tambaqui e outras espécies na Bacia

Hidrográfica do Rio Tocantins.

A redução do desmatamento e o aumento do reflorestamento por si

só fazem muito sentido economicamente, e também apoiam a

agricultura e o modo de vida rural. Produtos e serviços florestais

certamente mantêm em grande parte o sustento econômico de boa

parte da população local, sem que isso seja considerado ou

contabilizado.

Empregos e produtos novos advindos do gerenciamento e

reciclagem de lixo serão uma realidade inevitável em cidades como

23

as que se formaram e estão se formando no entorno do lado da

UHE Tucurui. É preciso considerar a opção de

Apoiar inciativas que tendem a criar mecanismos de educação,

capacitação e instalação de tecnologia que permitem gerir e

aproveitar os resíduos resultantes do crescimento da população e

da renda. Deve se considerar que a reciclagem (separação e o

processamento) de itens recicláveis sustenta 10 vezes mais

empregos que aterros sanitários ou incineração em termos de

tonelada métrica. Também deve se considera que a instalação de

tecnologia e equipamentos para a produção de bens e

equipamentos de utilidade (móveis, utensílios, peças da cadeia de

montagem de veículos e da construção civil, etc.) que utilizam

materiais termoplásticos moldáveis é mais simples que comumente

se apresenta nos manuais da indústria controlada pelos monopólios.

Iniciativas de apoio ao empreendedorismo e à formalização dos

micro empreendimentos locais. Hoje, na maior parte das cidades

brasileiras, os pequenos empreendimentos urbanos e rurais

representam de 99 a 100% das atividades empresariais. Esta

realidade é ainda mais presente nas cidades como aquelas que

compõem o território do entorno da UHE Tucurui, formadas por

menos de 20 mil habitantes. Assim, as micro e pequenas empresas

movimentam a economia local. Parece razoável considerar que

eleger como ação prioritária o apoio de inciativas que ciem

condições para que os pequenos negócios se fortaleçam e gerem

mais emprego e renda é o melhor caminho para gerar um ciclo de

prosperidade no município. Nos municípios onde os

empreendedores são estimulados a abrir e formalizar o seu negócio,

o resultado natural é o aumento da base de contribuintes pessoas

jurídicas, levando ao aumento da arrecadação de impostos diretos e

indiretos. Atualmente o governo federal já dispõe, através do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

(MDIC) oferece um serviço de formalização em tempo real e online

para Micro Empreendedores Individuais MEI), alcançando a adesão

de cerca de 3 milhões de pessoas. Esta ação tem uma lógica

24

simples: Empreendimentos informais são estimulados à

formalização, passando a honrar seus compromissos fiscais com o

Município, Estado e União e, microempresas fortalecidas aumentam

seus resultados financeiros e recolhem mais impostos, mais

empregos e mais produtos passam a circular no mercado local e

regional.

Microcrédito popular e estratégico. O crédito produtivo popular já é

conhecido no mundo subdesenvolvido e, em alguns países

alcançando níveis de sucesso, como é caso da tipologia

desenvolvida por Bangladesch através do Banco Graemen de

Mohammad Yunus. Mais conhecido como microcrédito, essa forma

de universalização do acesso ao crédito tem como foco o

financiamento debaixo valor a microempreendedores de menor

renda e aqueles que estão fora dos mecanismos de crédito

bancário, onde obtêm pequenas quantidades de dinheiro para

alavancar pequenos negócios ou serviços. Sabe-se que a

concessão de microcrédito aos potenciais empreendedores traz

importantes influências na renda e no emprego dos municípios,

com efeito multiplicador bastante positivo no desenvolvimento

econômico local e nas suas condições sociais. No curto prazo, é um

instrumento de apoio à criação e ao desenvolvimento de micro

empreendimentos empresas e contribui para estimular o

empreendedorismo local e a geração de emprego e renda, o que

potencializa a inserção econômica de parcela significativa da

população. Também pode ser considerado também como um

instrumento de desenvolvimento social, pois, nos médio e longo

prazos, ao possibilitar o enfrentamento da pobreza, promove a

inclusão e a redução da desigualdade social.

.

25

4. Lições aprendidas com os projetos de apoio ao desenvolvimento

regional patrocinados pela Empresa nos últimos 10 anos.

4.1. O Plano de Desenvolvimento Sustentável da Microrregião do Entorno da

UHE Tucuruí – PDST foi concebido desde o ano de 1999 como um instrumento de

planejamento entre várias instâncias de governo, cujas linhas de ação visam

integrar as ações do Governo Federal, Estadual e municipal, bem como orientar

ações de iniciativas privadas na Região Lago de Tucuruí.

Baseado na inclusão social, na redução das desigualdades inter-regionais, no

respeito à diversidade cultural, no fomento às atividades econômicas que gerem

emprego e renda e no uso sustentável dos recursos naturais, o PDST parte da

parceria entre o Governo do Estado do Pará, através da então Secretaria de

Estado de Integração Regional e do Governo Federal, através da Eletrobras-

Eletronorte, sendo resultado de um processo de consultas a entidades de

pesquisa da região e das prefeituras dos sete municípios que constituem a

Região de Integração Lago de Tucuruí e da Eletrobrás-Eletronorte.

Insere-se na concepção original do Plano Amazônia Sustentável (PAS) e da

formulação de crescimento encontrada no Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), além dos instrumentos legais que estabelecem ações

governamentais no território paraense. Além disso, o plano integra as principais

diretrizes definidas pelo Governo Estadual previstas no Plano Plurianual (PPA) e

as demandas advindas das etapas do Planejamento Territorial Participativo (PTP)

e outros instrumentos de planejamento dos diversos órgãos de governo.

O PDST estabeleceu os seguintes eixos de ação e respectivas 216 linhas de

ações programáticas:

a) Ordenamento Territorial, Regularização Fundiária e Gestão Ambiental; b)

Infraestrutura para o Desenvolvimento; c) Fomento às Atividades

Produtivas Sustentáveis; d) Inclusão Social e Cidadania; e) Modelo de

Gestão do programa - Desenvolvimento Político Institucional.

26

4.2. O PIRTUC

Como contraparte ao PDST, desde 2002 a Eletrobras-Eletronorte vem

desenvolvendo um conjunto de ações sob a cobertura programática do Plano de

Inserção Regional da UHE Tucuruí (PIRTUC). Este programa abarca os sete

municípios a montante do entorno do Lago da UHE Tucuruí: Breu Branco,

Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento e

Tucuruí.

Os subprojetos que são apoiados sob a sua rubrica abrangem programas

compensatórios e potencializadores de desenvolvimento local, bem como ações

de melhorias de infraestrutura social econômica e de fortalecimento das

atividades produtivas da região. Foi projetado para um prazo de vinte anos,

envolvendo recursos financeiros no montante de R$ 200 milhões. (Eletronorte,

relatório da Administração, 2011).

Verificando a concentração dos investimentos, na prática o PIRTUC se desdobra

como uma extensão das políticas públicas federais para os setores de educação,

27

saúde, transportes e saneamento básico. Exceções são os projetos destinados a

fomentar atividades comunitárias de geração de renda através de

desenvolvimento de cadeias socioprodutivas (piscicultura, agroextrativismo,

agricultura familiar, agroindústria e outros), geralmente sob arranjos de

cooperativismo de baixa densidade.

4.3. Apoio a inciativas socioprodutivas

4.3.1. O “Projeto Ipirá”

O Projeto Ipirá é uma iniciativa da Eletronorte de apoio ao desenvolvimento de

atividades de piscicultura, através de um arranjo de transição das práticas de

pesca artesanal para regime intensivo em tanques-rede para 319 famílias de

pescadores que viviam ou trabalham na região da ‘Prainha da Matinha’,

contemplando ações de capacitação, assistência técnica e implantação de

infraestrutura necessária ao desenvolvimento dos empreendimentos familiares de

produção da espécie pirapitinga.

Na prática se tornou um arranjo de parcerias com diversas instituições para

viabilizar um programa de ação social e geração de renda, tomando por partida

estudos de viabilidade de arranjo pesqueiro nas águas do reservatório da Usina

Hidrelétrica de Tucuruí. (Estudos Ambientais para Implantação de Parques

Aquícolas no Reservatório da UHE Tucuruí / Agosto de 2007).

Seu fato gerador (e mobilizador) de origem residiu na necessidade de dar solução

mitigadora dos impactos sociais decorrentes da construção do sistema de

transposição da barragem, particularmente pelo remanejamento das famílias do

local, maior parte formada por pescadores que tiveram o acesso às áreas de

pesca interditado para dar lugar ao canal das eclusas.

A propositura do Projeto resultou de acordo entre a Eletronorte e os

representantes dos pescadores, com a interveniência de representantes das

diversas esferas de governo (federal, estadual e municipal) e do Movimento dos

Atingidos por Barragens (MAB), pelo qual ficou estabelecido o compromisso de

28

elaboração e implantação de um projeto produtivo, gerador de trabalho e renda,

envolvendo os pescadores atingidos pelas obras de construção das eclusas.

Sua agenda executiva partiu de um plano operacional básico (em sentido de carta

de intenção, mais do que de um projeto executivo), apresentado em junho de

2009, tendo a Secretaria de Pesca e Aquicultura do Estado do Pará (SEPAQ)

como agente técnico e contando com parcerias dos municípios de Tucuruí e Breu

Branco e da EMATER-PA. O Ministério da Pesca foi parceiro na fase da

formulação da proposta.

Com base no protocolo de intenções e pactos de compromisso com os

pescadores a Eletrobras-Eletonorte em acordo com o MPA e a SEPAq levantaram

um arranjo de financiamento de infraestrutura, suprimentos, capacitação e

assistência técnica, o qual possibilitou um sistema precário de povoamento de

aproximadamente 280 tanques-rede, sendo distribuídos de forma proporcional

entre as famílias de duas cooperativas de pescadores – a COOPAB e a

COOPAT.

Após três anos de implementação análises técnicas indicam que os esforços do

projeto produziram baixo resultado, se tomada como referência o volume da

produção efetiva e os resultados econômicos efetivamente conseguidos. Nas

duas safras as famílias beneficiárias do projeto retiraram no total cerca de 50

toneladas de peixes, as quais foram entregues ao mercado local e vendidas

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

No ano de 2012 estudos técnicos especializados avaliaram a trajetória do projeto

e apontaram soluções de gargalos que foram identificados nas áreas de manejo e

produção, qualificação e soluções de mercado e problemas de gestão.

Das conclusões se destacam quatro: (a) o Parque Aquícola tem alto potencial

para a geração de renda para os pescadores, desde que obedecidas regras de

produção e gestão profissional; (b) É necessário expandir a produção com a

exploração de novas espécies; (c) É imperativo exportar o peixe para fora dos

limites da região e do Estado do Pará; (d) É necessário rever o modelo de gestão

do projeto até então baseado em regime de seccionamento em cooperativas que

declaram indisposição para a ação cooperada e compartilhamento de

responsabilidades, além da revisão dos vícios do regime assistencialista que ficou

estabelecido entre pescadores e os patrocinadores.

29

4.3.2. O PROSET

O Programa Social dos Expropriados da Primeira Etapa da UHE Tucurui

(PROSET) foi concebido com a finalidade de promover a emancipação econômica

de 2.344 famílias por intermédio da implementação de projetos produtivos. Foi

solução programática para inicialmente atender a um grupo de aproximadamente

600 expropriados durante a fase da construção Hidrelétrica. Nesse período foram

realizadas inúmeras negociações entre a ELETRONORTE e a coordenação

política do grupo, que reivindicava reparações nas indenizações efetuadas por

ocasião das desapropriações.

A partir de 2006, com a criação de seis cooperativas foram feitos investimentos

para a organização de sistemas socioprodutivos típicos da agricultura familiar e

da agroindústria.

As cooperativas e seus respectivos arranjos produtivos ficaram assim definidos

por cooperativa:

a) Cooperativa de Tucuruí: arranjo produtivo de produção de pirapitinga em

tanques-rede. Dos 260 tanques inicialmente previstos no Projeto, 170

foram povoados. Em paralelo foi adquirida uma área de 31 hectares nas

proximidades do núcleo urbano de Tucuruí, visando implementar o projeto

de criação de peixes em tanques escavados, horta comunitária e as

lavouras de milho e mandioca.

b) Cooperativa de Novo Repartimento: arranjos de comercialização de

produtos agropecuários, principalmente cacau e bovino para recria e

engorda e, em médio prazo a verticalização da atividade no setor cacaueiro

através da implantação de uma indústria de processamento do cacau.

Constava ainda do projeto a implantação de hortas comunitárias e de um

centro de comercialização do produtor. Como suporte a estas atividades,

além do galpão na sede da cooperativa, foi adquirido um caminhão de

médio porte, e um terreno de 32 alqueires, destinado a abrigar o gado e a

hospedar outros projetos da cooperativa como a produção de hortaliças e

de mudas.

30

c) Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Breu Branco e

Goianésia: arranjos de produção, beneficiamento e comercialização de

grãos e outros produtos agrícolas, além da implantação de hortas

comunitárias envolvendo um centro de beneficiamento e preparação da

produção para o mercado.

d) Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Jacundá:

arranjo de cultivo de mandioca, além de outras culturas em menor escala,

como milho, feijão, maracujá e açaí. O Projeto contemplava, ainda, em

horizonte de médio prazo, a verticalização através da instalação de uma

unidade industrial de processamento da mandioca. Também era parte

integrante deste projeto a criação de um centro de difusão, capacitação e

tecnologia, visando atender o conjunto de cooperados em suas

propriedades e um centro de comercialização de produtos agropecuários

na sede urbana da Cooperativa. Como suporte principal do Projeto foi

adquirido um terreno rural de 52 alqueires, um trator, implementos

agrícolas e uma microunidade processadora de mandioca destinada à

produção de farinha. No desempenho das atividades do Projeto a

Cooperativa chegou a plantar 14 alqueires de mandioca. Também foram

implantadas culturas de menor escala, como maracujá, abóbora, abacaxi e

outras previstas.

e) Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Itupiranga

Ltda.: arranjo de atividades diversificadas como: criação de peixes em

tanques escavados, olericultura em estufa, criação de frangos caipiras,

cultivo de milho, cultivo de mandioca para produção de farinha e produção

de mudas de espécies nativas. Como garantia de infraestrutura dos

projetos foram adquiridos um terreno rural de 12 alqueires, distando

aproximadamente 15 quilômetros da sede do município, um trator e

implementos agrícolas. Para a atividade de criação de peixes, foram

iniciadas as escavações dos tanques, assim como foram implantadas a

criação de frangos caipira, produção de hortaliças e a realização de

lavouras sazonais, como o milho para alimentar os frangos e melancia para

comercialização local.

f) Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Nova Ipixuna

Ltda: arranjo produtivo alicerçado no acesso ao mercado como forma de

31

melhorar as condições de aquisição e venda dos produtos de cooperados.

Tal acesso seria garantido pela instalação de um Centro Comercial, na

região urbana, junto à sede da Cooperativa com o objetivo de ofertar

produtos agropecuários destinados a suprir as necessidades de consumo

dos cooperados, além de promover a inserção coletiva da produção no

mercado.

Após três anos de implantação do programa, em 2011 foram promovidos estudos

de auditagem da implementação das ações desenvolvidas pelas cooperativas. Os

apontamentos daquela avaliação assim descrevem os resultados:

(...) No que se concerne à atuação da ELETRONORTE, no desenvolvimento

de uma política social de apoio aos expropriados, as análises da atuação

do PROSET apontam que, mesmo que se tenha buscado um modelo de

organização e de produção com vistas à sustentabilidade social e

econômica dos expropriados, os objetivos econômicos não foram

plenamente atendidos. Quanto à Gestão cooperativa, constata-se uma

ausência de procedimentos afinados com os princípios do

cooperativismo. A prática cooperativa, que é o fundamento do

desenvolvimento da organização não é perceptível em depoimentos dos

cooperados. A constatação mais marcante, a partir da ausência dos

cooperados nas ações da cooperativa é que a organização existe de

direito mas, de fato não funciona como tal. O modelo de uma cooperativa

de produção não deu certo e deve ser reorientado para uma cooperativa

de produtores rurais, atribuindo responsabilidade de produção ao

cooperado e não somente à Cooperativa. (ORBE Consultoria Ltda.,

Diagnóstico situacional das cooperativas agroindustriais do expropriados

da UHE Tucurui, 2011. Relatório de Produto 2, p. 135).

5. Elementos de subsídios às tomadas de decisões a respeito da

tipologia e a elegibilidade de projetos socioprodutivos patrocinados

A nossa análise iniciou com a averiguação dos dispositivos que formam o corpo

de conhecimento e normas da Empresa (superestrutura). Foram considerados

32

inclusive aqueles de caráter externo, como o marco legal e as regras privadas que

balizam a auditagem das suas responsabilidades sociais e ambientais.

Estes dispositivos advertem que a Eletrobras-Eletronorte dispõe de diretivas

suficientemente esclarecidas e disseminadas no seu corpo operante, conforme se

denota das diretivas programáticas de politica social e ambiental e seus

ordenamentos de incorporação nos ambientes executivos. (Resoluções de

Diretoria nº 0425/2009 e 0325/2011).

Portanto as bases norteadoras das ações socioambientais da Empresa guardam

aderência com os princípios do desenvolvimento sustentável e inclusivo, com

cautelas ambientais e com a mobilização de medidas para apoiar processos de

diminuição dos acentuados desníveis econômico das populações nos seus

territórios.

Não obstante a verificação de tal aderência superestrutural observa-se um

desnível entre aquelas diretivas e os comandos operacionais. Estes desníveis de

subordinação são perceptíveis quando da investigação dos projetos apoiados

pela Eletrobras-Eletronorte, ou daqueles que por ela são ofertados às populações

localizadas na área de sua atuação direta.

Através de uma análise dedutiva constatam-se nós críticos que certamente

influenciam aquela insubordinação. Por sua vez, estes gargalos, via de regra,

estão mais relacionados com os ambientes de análise prévia e propositura, em

particular com a interpretação dos quesitos que garantem a aderência dos

projetos com as diretivas, que afinal norteiam sobre o que é permitido fazer.

Considerando os pré-requisitos de tipologia e elegibilidade dos projetos,

traduzimos tais nós-críticos em algumas premissas que poderão servir de

subsídios para orientar as tomadas de decisões a respeito de futuras projetos.

1. O projeto, através de seus elementos descritores, indica uma boa aderência

às políticas de responsabilidade social e ambiental da Empresa?

Embora possa parecer elementar, esse quesito só é deduzível pela análise da

capacidade de interpretação comparativa entre o conteúdo das diretivas com as

soluções aplicadas nos projetos.

2. O projeto, por seus elementos descritores, se apresenta consistente em

termos da sua propositura técnica, considerando o diagnóstico prévio,

análises de risco e viabilidade?

33

A este respeito deve se considerar que os pré-requisitos de elegibilidade e a

tipologia dos projetos socioprodutivos devem considerar, com base em estudos,

uma cesta de indicadores que reflitam, com uma maior precisão, as dimensões

social, institucional e socioambiental dos territórios, e não só a dimensão

econômica.

3. O projeto, considerando os seus elementos descritores, informa razoável

aderência no que diz respeito à legitimação social do proponente e da

modelagem de gestão institucional e do controle social do projeto, de modo a

garantir níveis democráticos e transparentes?

Os projetos devem identificar na descrição da sua estratégia, sobre como

ocorrerão os processos de articulação permanentes entre as Políticas Públicas, e

o apoio ou o estabelecendo de fóruns de discussão de seus resultados, com a

sociedade civil e órgãos de governo local e ou regional, de forma permanente.

4. Quanto à sua elegibilidade o projeto, por seus descritores, esclarece e

delimita claramente a identidade do público social as camadas de baixa

renda, além disso, descreve uma direção clara para desenvolver arranjos

produtivos promissores e sob espírito empreendedor?

Os projetos devem identificar claramente os seus vínculos com grupos sociais

mais fragilizados nas relações econômicas, além de descrever as ações que

possam fortalecer a economia regional, incentivando pequenos e médios

empreendimentos e arranjos produtivos locais, visando à exploração de

potencialidades regionais na produção de bens e serviços apropriados pela

economia local.

5. Quando à aderência do projeto, os seus elementos descritores formulam

indicadores para iluminar o acompanhamento do processo executivo e dos

resultados esperados?Os projetos analisados devem demonstrar como irá

desenvolver ou apoiar o fortalecimento de mecanismos de avaliação,

monitoramento permanente, transparência e controle da aplicação dos recursos

dos recursos utilizados, garantindo a eficiência, eficácia e efetividade dos

projetos.

Além disso, devem indicar parâmetros que possam ser utilizados para mensurar a

progressão das ações e seus resultados, assim como prever possíveis mudanças

de direção.

34

Por fim e de todo modo é fundamental que a Empresa concentre esforços para

fortalecer a sua base técnica para ampliar os ambientes de propositura ou

apreciar os pleitos demandados pelos atores e agências locais.

6. Conclusão

Este estudo, nas suas referencias conceituais iniciais, destacou a importância dos

aspectos sociais, territoriais e ambientais do desenvolvimento regional

sustentável.

Neste conceito se destacou a capacidade ou a necessidade de apoiar as

sociedades locais a liderarem e conduzirem os seus próprios destinos,

condicionando-os à mobilização dos fatores produtivos disponíveis em sua área e

ao seu potencial endógeno, traduzindo-se em formas de desenvolvimento

territorial endógeno.

Este tipo de desenvolvimento é originário da mobilização e participação de forças

sociais solidárias, quando as comunidades transformam-se nos próprios sujeitos

do desenvolvimento no seu espaço de vida.

Sugerimos que uma das implicações práticas dessa compreensão é que para

apoiar o desenvolvimento de um determinado território é necessário identificar os

diferentes graus de aproveitamento dos seus recursos e potencialidade

endógenas. Fatores regionais que têm influência direta sobre a dinâmica do

desenvolvimento do território podem ser potencializados pela capacidade

organizativa, técnica e gerencial das instituições de apoio, como das locais,

especialmente as organizações sociais que demandam apoio para solucionar

seus problemas.

Viu-se que a Eletrobras-Eletronorte construiu ao longo dos últimos 10 anos um

conjunto de diretivas que salvaguardam questões sociais e ambientais em suas

políticas. Por outro lado verificou-se que nem sempre tais diretivas se convertem

em ações bastante alinhadas ou tecnicamente bem dimensionadas com aquelas

35

salvaguardas, de modo que projetos de inciativas socioprodotivas apoiados pela

Empresa têm encontrado dificuldades para atingir os objetivos a que se

propuseram.

Por fim, faz necessário observar um conjunto de variáveis abstraídas da

abordagem dos fatores superestruturais e das experiências em curso que

poderão servir de parâmetros para as decisões sobre as tipologias e os

elementos da elegibilidade que os projetos devem previamente responder,

quando se apresentarem ao patrocínio ou forem ofertados à região onde se

concentra os esforços socioambientais da Empresa. Este movimento de

aderência certamente, como se viu, se vincula ao reforço das capacidades de

interpretação da realidade(diagnóstico) e de escolha de soluções adequadas

(propositura) para cada situação, aspiração e aptidão local e, por fim, ao

acompanhamento de cada intervenção (gestão).

36

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_______________________________ Villi Fritz Seilert Consultor IICA - CT-113015 Ações socioambientais PCT/BRA/09/009- Eletrobrás-Eletronorte