Diretrizes metodológicas para investigar estados alterados de consciência e experiências anômalas

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    1/8

    21

    ARTIGO ORIGINAL

    Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados deconscincia e experincias anmalasAlexander Moreira de Almeida1Francisco Lotufo Neto2

    Recebido: 13/12/2002 Aceito: 3/2/2003

    RESUMO

    As experincias anmalas (EA) (vivncias incomuns ou que se acredita diferentes do habitual e das explicaesusualmente aceitas como realidade: alucinaes, sinestesia e vivncias interpretadas como telepticas...) e os estadosalterados de conscincia (EAC) so descritos em todas as civilizaes de todas as eras, constituindo-se elementosimportantes na histria das sociedades. Apesar disso, tm recebido pouca ateno da comunidade cientfica, ou soabordados de forma pouco rigorosa. As EA e os EAC podem ser estudados sem que se compartilhem as crenasenvolvidas, sendo possvel investig-los enquanto experincias subjetivas e, como tais, correlacionados com quaisqueroutros dados. Neste artigo, procurou-se apresentar algumas diretrizes metodolgicas para um estudo rigoroso dotema, entre elas: evitar uma abordagem preconceituosa e a patologizao do diferente, a necessidade de uma teoriae de uma reviso exaustiva da literatura existente, utilizar diversos critrios de normalidade e patologia, investigarpopulaes clnicas e no clnicas, desenvolvimento de instrumentos adequados para avaliao, cuidados na escolhados termos e no estabelecimento de nexos causais, distinguir entre a experincia vivenciada e suas interpretaes,considerar o papel da cultura, avaliar a confiabilidade e a validade dos relatos, por fim, o desafio gerado pelanecessidade de criatividade e diversidade na escolha dos mtodos.Unitermos: Metodologia; Estado alterado de conscincia; Espiritualidade; Experincia anmala.

    ABSTRACT

    Methodological guidelines to explore altered states of consciousness and anomalous experiences

    Anomalous experiences (AE) (uncommon experiences or one that is believed to deviate from the usually acceptedexplanations of reality: hallucinations, synesthesia, experiences interpreted as telepathic...) and altered states of consciousness (ASC) are described in all societies of all ages. Even so, the scientists have long neglected the studieson this theme. To study AE and ASC is not necessary to share the believes we discuss, they can be investigated assubjective experiences and correlated like any other set of data. This article presents some methodological guidelinesto explore these experiences, among them: to avoid prejudice approaches and to pathologize the unusual, the valueof a theory and a comprehensive review of literature, using various concepts of pathology and normality, theinvestigation of clinical and non-clinical populations, development of new search instruments, to be careful to chooseterms and to decide causal nexus, to distinguish experiences and interpretations, to take into account the role of culture, to evaluate the validity and reliability of reports, and the last, but not least, creativity and diversity inchoosing methods.Keywords: Methodology; Altered states of consciousness; Spirituality; Anomalous experience.

    1 Mdico Psiquiatra e Doutorando em Psiquiatria pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP, Fundador e Coordenador do NEPER.2 Mdico Psiquiatra, Livre-Docente do Departamento de Psiquiatria da FMUSP e Fundador do NEPER.

    Endereo para correspondncia:Ncleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos NEPERInstituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da FMUSPRua Dr. Ovdio Pires de Campos, s/noSo Paulo, SP CEP 050403-010

    E-mail: [email protected]

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    2/8

    22

    Introduo

    O termo experincia anmala (EA) empregadopara designar uma experincia incomum (ex.: alucinao,sinestesia) ou que, embora seja relatada por muitas

    pessoas (ex.: vivncias interpretadas como telepticas),acredita-se diferente do habitual e das explicaesusualmente aceitas como realidade. No h neces-sariamente uma relao com patologia ou anormalidade(Cardea, Lyinn e Krippner, 2000).

    Bastante relacionados com EA esto os estadosalterados de conscincia (EAC), que Charles Tart (1972)definiu como uma alterao qualitativa no padro globalde funcionamento mental que o indivduo sente serradicalmente diferente do seu modo usual de funciona-mento. O mesmo autor faz uma analogia entre a mudanade um estado habitual de conscincia para um EAC,descrevendo que um mesmo computador pode funcionarcom dois programas diferentes. Nessa situao, um mesmoconjunto de dados ou informaes pode ser processadode formas muito diferentes e gerar sadas bem diversas.

    Embora haja uma sobreposio entre EA e EAC,as primeiras podem ocorrer em estados usuais deconscincia (alucinaes).

    As EA e os EAC so descritos em todas as civilizaesde todas as eras, constituindo-se muitas vezes elementosimportantes na histria das sociedades e, principalmente,de suas religies. Tm um profundo impacto, tanto navida daqueles que os vivenciam diretamente quantonaqueles que os acompanham prximos. As dimensesreligiosas e espirituais da cultura esto entre os maisimportantes fatores que estruturam as crenas, os valores,os comportamentos e os padres de adoecimentohumanos, ou seja, a experincia humana (Lukoff e Turner,1992). As experincias dissociativas ocorrem muitofreqentemente em contextos religiosos, constituindo-semuitas vezes em EAC. Apesar de serem conceitosespecficos, EA, EAC, fenmenos dissociativos e religiososesto de tal modo interligados que os usaremos de modo

    mais ou menos intercambivel na presente reflexo.Freqentemente, as publicaes cientficas tmconsiderado tais vivncias como fenmenos raros,vestgios de culturas primitivas ou indicadores depsicopatologia (Freud, 1969; Horton, 1974; Mulhern,1991; Lukoff, 1992; Munro, 1992, Persinger, 1992;Greenberg, 1992). No entanto, vrias pesquisas popula-cionais recentes tm demonstrado que experinciasdissociativas (Ross, Joshi e Currie, 1990) e tidas comoparanormais (Ross e Joshi, 1992) so muito freqentes.Neste ltimo estudo, alguma experincia paranormal(incluindo telepatia, sonhos precognitivos,deja vu ,conhecimento de vidas passadas...) foi relatada por 65%

    da populao de uma regio no Canad. Em levanta-mento nos EUA, 17% da amostra respondeu sim quandointerrogado: Voc j se sentiu em contato com algumque j morreu? (Gallup e Newport, 1991).

    As EA so to freqentes na populao geral quenenhuma teoria de psicologia normal ou patolgica podeser completa se no lev-las em considerao (Ross eJoshi, 1992). A viso de que essas vivncias so raras epatolgicas tem sido uma forma de controle social,tornando-se uma profecia que se auto realiza. Como secr que elas so consideradas bvios indcios depsicopatologia, apenas os pacientes francamentepsicticos e que perderam a crtica falam abertamentede suas experincias (Hufford, 1992).

    Apesar de sua enorme importncia, as experinciasanmalas, msticas, religiosas e paranormais tm sido

    amplamente negligenciadas pela pesquisa e pela prticapsiquitrica. No fim do sculo XIX e incio do XX otema foi investigado de modo bastante consistente(James, 1991/1902; Jung 1994/1902; Myers, 1906),mas logo em seguida foi excludo da agenda (Ross eJoshi, 1992). Nas ltimas dcadas tem havido umreflorescimento das pesquisas nessa rea (Grof e Grof,2001; Lewis-Fernndez, 1998).

    importante enfatizar que possvel estudar as EAsem compartilhar das crenas envolvidas, mas precisolevar a srio suas implicaes e no subestimar as razespelas quais tantas pessoas as professam (Hufford, 1992;King e Dein, 1998). Tais fenmenos podem ser estudadosenquanto experincias subjetivas e, como tais, correla-cionados com quaisquer outros dados (King e Dein, 1998).

    Alm do valor cognitivo, de acrscimo ao saberhumano, que uma maior compreenso das EA pode trazer,h srias implicaes ticas. Os profissionais de sademental no recebem treinamento adequado para lidar comessas questes, mas, como elas ocorrem na prtica clnica,estamos atuando fora dos limites de nosso treinamentoprofissional. Sabe-se que, dependendo da abordagemrealizada, uma mesma vivncia (experincia de quase

    morte) pode ser utilizada como estmulo para o crescimentopessoal ou reprimida como um evento bizarro, indicadorde instabilidade mental (Turner et al., 1995). Compar-tilhamos com Cardea (2000) a esperana de que nofuturo, o clnico possa consultar os manuais diagnsticoscomo auxlio na definio de at onde uma certa experincia(mstica) implica ou no em psicopatologia.

    Tendo em vista a importncia, bem como a carnciade estudos sobre o tema, este trabalho tem por objetivoa discusso de diretrizes metodolgicas para o estudodas EA e dos EAC, incluindo religio e espiritualidade.Para uma maior organizao didtica, optou-se porapresentar tais diretrizes em tpicos.

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    3/8

    23

    Cuidados metodolgicos

    Evitar o preconceito dogmtico

    Apesar de saber da inexistncia de uma observao

    aterica (Popper,1982; Kuhn, 2000), de sumaimportncia abertura para rever posies e hipteses.Principalmente numa rea pouco estudada de modorigoroso e legitimamente cientfico como esta, ashipteses existentes geralmente so aceitas mais com basena autoridade de quem as pronuncia do que nas evidnciascientficas disponveis (Hare, 1962). Na rea da psiquiatriae da religio, por exemplo, impressionante ver o quantocertas idias persistem apesar da abundante evidncia emcontrrio (Lotufo Neto, 1997). No estudo das EA, deve-se trilhar o estreito caminho entre os dois abismos: ocepticismo pirrnico e a credulidade ingnua e buscar

    sempre ter abertura para explorar as diversas hiptesespossveis (Stevenson e Greyson, 1979; Stevenson, 1977).

    Buscar uma teoria

    Em qualquer investigao, muito importante aexistncia de uma teoria ou pelo menos de um paradigmageral. Ele guia o desenho do estudo, a coleta de dados esua interpretao (Hertz-Picciotto, 1999; Victora et al.,1997). Na sua ausncia, fica-se sem saber quaisinformaes so importantes e devem ser colhidas,escolhendo-se geralmente as mais facilmente acessveis,que muitas vezes no so as mais relevantes para oentendimento do problema em questo (Kuhn, 2000;Berenbaum et al., 2000). Na rea das EA, estamosclaramente num perodo pr-paradigmtico no sentidokuhniano, pois no h qualquer conjunto-padro demtodos ou de fenmenos que todos os estudiosos darea se sintam forados a empregar e explicar, havendoquase tantas teorias quanto o nmero de pesquisadoresem atividade na rea (Kuhn, 2000).

    Alguns bons critrios na escolha de uma teoria ouparadigma so: simplicidade, abrangncia (capacidadede resolver o maior nmero possvel de problemas),

    falseabilidade (capacidade de fazer previses arriscadaspassveis de serem testadas) e potencial heurstico(fertilidade em levar a novas descobertas) (Kuhn, 2000;Popper, 1982; Lakatos, 1970).

    Um cuidado especial deve ser tomado para notentar forar todos os dados obtidos a se encaixaremnuma teoria parcial e/ou concebida prematuramente.Esse um problema comum, tende-se a enxergar apenasas evidncias que confirmam a nossa teoria, eignoram-se ou se distorcem as evidncias em contrrio(Popper, 1982; Tart, 1972; Kuhn, 2000). A explicaopara um caso especfico pode no ser adequada para amaioria dos outros e EA similares podem ter etiologias

    e mecanismos diferentes. O mesmo vale para fraudes:o fato de terem demonstrado fraudes em certos relatosde EA no garante que todos os outros sejam igualmenteimposturas (Pekala e Cardea, 2000).

    Reviso exaustiva da literatura existente Essa uma das recomendaes bvias, mas que

    precisam ser reiteradas devido ao fato de serem constan-temente negligenciadas. Em grande parte das situaes,os autores parecem estar sempre comeando do zero,ignoram os trabalhos j realizados ou, no mximo, citamapenas as referncias que abonam seu enfoque (Rao eStevenson, 1979).

    Fundamental a reviso sistemtica da literatura sobreo tema em estudo (Clarke e Oxman, 2001), procurandoabranger no s a psiquitrica, mas tambm histrica,sociolgica, psicolgica e religiosa (Lotufo Neto, 1997).William James (1902/1991) esclarece que, na investigaodas experincias religiosas, no deveremos procurar osdocumentos humanos mais instrutivos nos campos daerudio especializada, mas, que os documentos maisinteressantes para ns sero os dos homens que mais sedistinguiram na vida religiosa e se mostraram maiscapazes de fazer uma exposio compreensvel de suasidias e motivos. Esse um lembrete muito oportuno,pois habitualmente ignora-se ou se desqualifica a literaturaproduzida pelas prprias comunidades ou indivduos quevivenciam os fenmenos em estudo.

    Evitar patologizar o diferente de anmalo

    Uma postura de humildade intelectual essencial,pois a intolerncia ao no conhecimento e dor mentalde no saber propicia o aparecimento de respostas econcluses rpidas (Amaro, 1996). O psiquiatra OsrioCsar (1941) fez uma colocao muito pertinente: Ospsiquiatras so gente desconfiada e que tm o pssimocostume de catalogar, quase sempre com um gro deloucura, as idias e os fatos que venham ultrapassar asfronteiras do bom senso da poca (grifo no original).Tal foi uma atitude corriqueira na histria da psiquiatria,

    considerar psicopatolgica qualquer manifestao forados padres ordinrios. um fato reconhecido o quantoessa postura impediu uma melhor compreenso damente humana e deu origem a atitudes discriminatrias(Almeida e Almeida, 2000; Moore, 2000).

    Atualmente j h um reconhecimento, mesmo peloDSM-IV, de que a maioria das experincias dissociativase mesmo alucinatrias que ocorrem dentro de contextosaceitos culturalmente no so evidncias de psicopa-tologia (Cardea et al., 1994).

    Charles Tart (2000, pp. 33-50) enfatiza que opreconceito de que nosso estado ordinrio de conscincia algo natural e o nico modo de lidar corretamente com a

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    4/8

    24

    realidade um grande obstculo compreenso da naturezada mente e dos estados de conscincia. Nossas percepesdo mundo e de ns mesmos, bem como nossas reaes aeles, so construes semi-arbitrrias. Apesar de teremuma base na realidade fsica, so dependentes dos recursosda nossa aparelhagem biolgica e moldados pelo ambientecultural onde nos desenvolvemos. Pelo fato de sermoshumanos, um grande (mas finito) leque de potenciais nosso disponveis. Pelo fato de nascermos em uma culturaparticular, somente uma pequena poro desses potenciaisse realizaro. Cada cultura valoriza e desenvolve umdeterminado repertrio de capacidades e condena, suprime,outros. Cada um de ns o beneficirio dessa heranacultural e vtima e escravo dessa estreiteza de nossa prpriacultura. Assim como quase todas as pessoas, de todas asculturas, em todas as pocas, pensamos que nossa culturalocal a melhor e que as outras so selvagens e atrasadas.Geralmente no percebemos que nosso estado ordinriode conscincia apenas um dentre os muitos possveis deinterpretar e interagir com o ambiente, com suas vantagense limitaes. Cada estado de conscincia pode trazer infor-maes adicionais, ajudando-nos a ter uma compreensomais global de ns mesmos e do mundo em que vivemos.Ento, o autor faz um desafio: O mtodo cientfico serexpandido para a investigao dos estados de conscinciaou o imenso poder dos EAC continuar a ser deixado nasmos dos diversos cultos e seitas? (Tart, 1972).

    Como bem destacou Glen Gabbard (1982):

    incumbncia dos psiquiatras estarem familiarizados como amplo leque de experincias humanas, saudveis oupatolgicas. Precisamos respeitar e diferenciar asexperincias incomuns, mas integradoras, das que so(...) desorganizadoras.

    Utilizar diversos critrios de normalidade e patologia

    No h um critrio universalmente aceito para apsicopatologia, e as classificaes psiquitricas tm suaslimitaes. Muitas no levam em considerao o fato deque as EA podem no se associar necessariamente comtranstornos mentais. No DSM-III-R, todas as 12 citaessobre religio no Glossrio de Termos Tcnicos soutilizadas para ilustrar psicopatologia (Post, 1990). Diversasescalas tm vises tericos, avaliando negativamente asvivncias espirituais e religiosas. Por exemplo, no MinnesotaMultiphasic Personality Inventory (MMPI) respostaspositivas a quesitos sobre crena religiosa, orao eexperincias da presena de Deus so consideradasevidncias de psicopatologia (Batson e Ventis, 1982).

    Como cada critrio ou escala psiquitrica tem suasdiretrizes tericas, as EA podem se associar de modosdiversos com os vrios instrumentos de avaliao existentes.

    Recomenda-se a utilizao de diversos conceitos de psico-patologia na investigao das EA (Berenbaum et al., 2000).Alm dos critrios diagnsticos dos manuais, so de extremavalia as avaliaes sobre o desempenho social e o nvel desofrimento do indivduo envolvido. Uma ateno especial

    deve ser dada s conseqncias de uma dada experincia,pois ela pode ser inicialmente fonte de sofrimento eincapacitao, mas, ao seu trmino, trazer benefcios comoum maior sentimento de bem-estar fsico e psquico. Tal o caso das denominadas emergncias espirituais quepodem se manifestar como crises (Grof e Grof, 2001).

    Avaliar os EAC sob critrios adequados

    Cada EAC tem um padro de funcionamento queprivilegia certos aspectos da realidade. Em todo estado deconscincia h uma seleo limitada do amplo leque depotencialidades humanas. Um erro comum considerarum EAC como bom ou ruim avaliando-o apenassegundo os critrios mais desenvolvidos em nosso estadohabitual de conscincia (raciocnio lgico, habilidades mate-mticas...). preciso examinar o funcionamento do EACsob as condies para as quais ele normalmente utilizado.Geralmente inadequado denominar um estado de cons-cincia melhor ou pior que outro, a questo deve ser; melhorou pior em relao a qual habilidade? (Tart, 2000). O estadode sonolncia pssimo para dirigir um automvel, mas o ideal para se conseguir uma boa noite de sono...

    Investigar populaes clnicas e no clnicas

    A maioria dos estudos sobre espiritualidade e EAfoi realizada em populaes clnicas. Apesar de teremsua utilidade, tais pesquisas no permitem infernciaspara a populao geral. A populao clnica possui umasrie de vises de seleo que a torna no representativadaquela (Sims, 1988). As motivaes subjacentes acomportamentos similares podem diferir entre indivduosclinicamente afetados ou no (Cardea, 2000).

    Um exemplo so as alucinaes, que so consi-deradas um dos sintomas mais clssicos e bvios depsicopatologia. Entretanto, h mais de um sculo que

    levantamentos epidemiolgicos tm demonstrado quemais de 10% da populao geral relata a ocorrncia defenmenos alucinatrios ao longo da vida (Sidgwick,1894. Esses e outros dados apontam para a existnciade uma substancial minoria da populao que vivenciaalucinaes. H grande carncia de informaes sobrealucinaes na populao no clnica, sendo muitoimportante saber como esses diferem dos portadoresde transtornos mentais (Bentall, 2000).

    Experincias dissociativas e tidas como paranormaisso freqentes na populao geral e no se associam auma maior presena de transtornos mentais (Ross, 1990;Lewis-Fernndez, 1998; Hales, 1994; Ross e Joshi, 1992).

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    5/8

    25

    Desenvolver instrumentos adequados para avaliar as crenas e as experincias

    Muitas vezes as vivncias so avaliadas de modoinadequado. Por exemplo, sabe-se que a avaliao dereligiosidade apenas pela afiliao religiosa de um indivduo incompleta e pouco informativa, entretanto, esse foi omtodo mais empregado na ltima dcada (Weaver etal., 1998). A avaliao de religiosidade deve ser sempremultidimensional, o mesmo vale para a maioria das EA.Precisamos desenvolver e refinar escalas para avaliar taisvivncias de modo abrangente e confivel.

    Cuidado na escolha dos termos que descrevem as experincias

    O repertrio oferecido pelo vocabulrio ocidentalpara a descrio de vivncias espirituais extremamentedeficitrio (Hufford, 1992). A linguagem que usamos paranos comunicar sobre questes da vida diria no adequadapara a descrio das vivncias em um EAC, que muitasvezes tida como inefvel. As palavras e as estruturas danossa lngua so ferramentas muito inapropriadas paradescrever sua natureza e dimenses, particularmente paraaqueles que no as vivenciaram (Grof, 2000).

    Faz-se mister um grande cuidado na escolha dostermos. Algumas expresses podem inibir o relato deexperincias associadas. Stevenson (1983) argumenta quea palavra alucinao, por ser muito ligada instabilidademental, faz com que as pessoas normais evitem des-crever suas experincias alucinatrias. O autor, inclusive,questiona o emprego desse termo para todas as experinciassensrias no compartilhadas em pessoas mentalmentetranstornadas ou ss, e prope um outro termo, idiofania.

    Um outro ilustrativo exemplo vem do levantamentopopulacional de Gallup e Newport (1991). Nove porcento relataram j ter visto ou estado na presena deum fantasma, mas 17% disseram j ter estado emcontato com algum que j morreu. Os respondentespodem alegar que fantasma algo como um assustadorlenol branco voador e no um ente querido que jfaleceu (Hufford, 1992).

    De um modo geral, sempre melhor evitar termoscom implicaes causais ou tericas e preferir asdescries fenomenolgicas (Hufford, 1992). Quandose realiza a traduo de um termo de uma lngua paraoutra, esta deve ser baseada nos conceitos envolvidos,e no nas palavras (Alarcn, 1995).

    Distinguir a experincia vivenciada de suas interpretaes

    Apesar de ambas serem importantes, a descriofenomenolgica e sua posterior interpretao peloindivduo, elas podem se relacionar de modo diferentecom outras variveis (Berenbaum, 2000). Quando

    solicitadas a descrever, no as razes (por que), mas ocontedo (o que) das suas experincias subjetivas, aspessoas so muito mais precisas (Pekala, 1991).

    Muitos dos pacientes que relatam e acreditamterem vivido experincias de quase morte, na realidadeno estavam, do ponto de vista mdico, perto da morte.Embora suas experincias compartilhem muitassemelhanas com os indivduos que realmente estavamprximos da morte, h algumas diferenas que tm sidoestudadas (Owens et al., 1990).

    Considerar o papel da cultura

    O ato de considerar patolgica uma experinciadissociativa particular grandemente influenciado pelacultura (Lewis-Fernndez, 1998). Cultura pode serdefinida como um conjunto de significados, normas

    comportamentais e valores que determinam as visesparticulares que grupos humanos tm sobre o mundo eeles prprios (Favazza e Oman, 1978). A cultura podeinfluenciar a prtica clnica de diversas formas: comoinstrumento explicativo, agente patognico ou pato-plstico, fator diagnstico e como elemento teraputicoe protetor (Alarcn et al., 1999).

    Estudos transculturais podem determinar quaiscaractersticas de uma dada experincia so invariveis equais so moldadas pelo ambiente e crenas do indivduo.Pesquisas nesse sentido tm sido feitas nas experinciasde quase morte (Greyson e Stevenson, 1980; Stevensone Greyson, 1979; Parischa e Stevenson, 1986; Greyson,2000) e nas alegadas memrias de vidas passadasStevenson, 1977; Stevenson, 1983.

    Postura do pesquisador: neutra, mas emptica

    A atitude do investigador pode ter srias impli-caes sobre os dados obtidos e sobre o indivduo querelata suas experincias. Um risco este incrementarseu relato ou ento omiti-lo, dependendo se o pesquisadorassume uma postura entusistica ou hostil (Stevensone Greyson, 1979; Owens et al., 1991). Como as pessoas

    de um modo geral sabem que os cientistas tendem adesqualificar as EA ou consider-las sinais de insta-bilidade mental, grande parte dessas vivncias so dissi-muladas (Hufford, 1992).

    Tanto pela sua formao (que tende a forneceruma viso pejorativa das dimenses religiosas e msticasda vida), como pelo fato de os profissionais de sademental serem bem menos religiosos que a populaogeral, estes tm uma grande dificuldade de empatizarcom tais vivncias (Lukoff et al., 1992). Uma posturahostil e/ou psiquiatrizante diante de muitas experinciase crenas pode trazer graves conseqncias para aqueleque as vivencia (Lu et al., 1994; APA, 1990).

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    6/8

    26

    Cuidado no estabelecimento de nexos causais

    Uma associao causal aquela em que a mudanana freqncia ou na qualidade de uma exposio resultaem uma mudana correspondente na freqncia da doenaou desfecho de interesse. Descobrir relaes causais, entrefatores de risco e doenas, constitui um objetivo primordialda epidemiologia, pois nos fornece informaesimprescindveis para aes de sade pblica a fim dediminuir os agravos sade.

    Julgamentos sobre causalidade envolvem doispassos principais:

    se a associao entre exposio e doenaencontrada em um dado estudo vlida, ouseja, se no pode ser explicada pelo acaso,vis e variveis de confuso;

    avaliar se a totalidade das evidncias dispon-veis aponta para uma relao causal.

    Nunca demais lembrar que no existe testeestatstico que indique uma relao causal, os testes designificncia apenas explicitam qual a probabilidade dea associao encontrada em um certo estudo se deverao acaso. A determinao de causalidade sempre umjulgamento feito pelo pesquisador luz das evidnciasdisponveis. Para auxiliar nesse julgamento, Hill (1965)props alguns critrios que se tornaram clssicos:

    fora da associao: o quanto a exposioaumenta o risco de doena;

    consistncia: a mesma associao encontradapor diferentes pesquisadores atravs dediferentes mtodos;

    especificidade da relao entre exposio edoena;

    temporalidade: a exposio precede o des-fecho;

    gradiente biolgico: curva dose-resposta; plausibilidade biolgica; coerncia com os conhecimentos j existentes

    sobre a doena; evidncia oriunda de experimentos; analogia: se j existe alguma relao causal

    semelhante descrita.Hill enfatiza que esses nove itens so apenas

    diretrizes, nenhum deles pode ser considerado comoevidncia inquestionvel, nem pode ser julgado condiosine qua non . Uma das principais crticas que se fazaos estudos sobre EA a falta de plausibilidade biolgicaou de coerncia com os conhecimentos existentes sobreo mundo. Entretanto, o prprio Hill enfatiza que o que biologicamente plausvel depende do conhecimentobiolgico do momento, que a associao que est sendo

    observada pode ser nova para a cincia e no podemosdescart-la to facilmente como bizarra demais.

    Relatos de casos ou srie de casos

    O estudo detalhado das caractersticas de um certonmero de casos semelhantes e ilustrativos pode ser muitotil para uma explorao inicial e para gerar hipteses aserem testadas em estudos mais elaborados (Grisso, 1993).William James (1991) enfatiza bastante o valor de estudaros casos extremos, os mais paradigmticos, pois elesevidenciam de modo ampliado as principais caractersticasdo fenmeno investigado. Devemos atentar para as suasformas completamente evolvidas e perfeitas (...) podemospassar ao largo das suas manifestaes mais fracas. Aexperincia de iniciantes num EAC pode ser muito diferentedaquela de um indivduo j habituado. O principiante estaprendendo a lidar com o EAC a cada nova ocorrncia, oque inclui dvidas, medos e desconhecimento (Tart, 2000,pp. 179-80).

    Os casos selecionados devem apresentar os fen-menos de interesse de modo florido e necessitam seravaliados por meio de diversos mtodos para se extrairo mximo de informaes possvel.

    Apesar dessa importncia capital no desenvol-vimento da cincia, faz-se mister no realizar infernciasarbitrrias. Uma prtica muito comum a extrapolaodos achados de um certo caso clnico ou da experinciaclnica para assumirem ostatus de fatos cientficos

    comprovados. Urge reconhecer os diversos vises aque esto sujeitos os achados de nossa experinciaclnica. Entre eles, temos o efeito placebo, o retorno mdia, a evoluo natural da doena e a tendenciosidadedo paciente e do examinador na avaliao dos resultados(Guyatt et al., 1986; Sackett, 1985). Alm desses, h ofato de que muitos pacientes que no se julgammelhorados com a abordagem recebida simplesmentemudam de profissional, havendo uma tendncia arecebermos o retorno daqueles que tiveram melhorevoluo. Ou seja, os relatos de casos e a nossa expe-rincia clnica servem para levantar hipteses a serem

    testadas, devendo haver muita cautela na avaliao,principalmente, de eficcia de tratamento e prognstico.

    Estudos longitudinais

    Os estudos longitudinais geralmente fornecembons suportes para inferncias causais, pois permitemestabelecer a seqncia temporal de surgimento entreas variveis associadas. Por exemplo, posso encontrarmaior prevalncia de transtornos mentais num gruporeligioso. Nesse caso, seria muito til saber o que veioprimeiro: a adeso ao grupo religioso ou a psico-patologia? Esse conhecimento nos ajudaria a formular,ou descartar, hipteses como: o hipottico grupo

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    7/8

    27

    religioso um desencadeador de transtornos mentais,ou as pessoas acometidas de problemas mentais buscamesse grupo como forma de alvio?

    Levar em considerao a complexidade das

    relaes entre EA e psicopatologia Berenbaum et al. (2000) dividem em quatro as

    possveis relaes entre EA e psicopatologia: sobreposio entre EA e psicopatologia: a EA

    em si considerada a prpria enfermidade; EA contribui para a psicopatologia: pela prpria

    reao do indivduo (ex.: ansiedade ou odesenvolvimento de delrios para lidar comexperincias perceptuais incomuns) ou do meio,que pode rejeitar a experincia e o indivduo comobizarros, demonacos ou loucos;

    psicopatologia contribui para a EA: essa contri-buio pode ser de modo direto (uso desubstncias e/ou transtornos de humor gerandoalucinaes) ou indireto (psicopatologia gerandoestresse que pode desencadear EA);

    particularidades do indivduo que predispemtanto para EA quanto para psicopatologia:eventos vitais traumticos, traos de persona-lidade (abertura para experincias), alteraesdo lobo temporal, etc.

    Poderamos acrescentar uma quinta forma de

    associao, a coexistncia casual e independente entreEA e psicopatologia.Como essas relaes so complexas, devemos

    explorar mediadores, moderadores, variveis deconfuso. As associaes podem ser categricas e nocontnuas (Putman et al., 1996); ou pode existir umlimiar alm do qual h uma relao com patologia.

    Avaliar confiabilidade e validade dos relatos

    Um dos modos de avaliar a consistncia interna dosrelatos tentar obter a mesma informao por meio deperguntas similares ao longo da avaliao (Pekala, 1991).

    A validade da medida pode ser determinada pelacongruncia com outros achados na mesma EA (validadeconvergente, exemplo: alteraes fisiolgicas detectadasdurante o perodo relatado como estando em EA), pelacapacidade de se diferenciar dos relatos de outros tipos deEA (validade discriminante) e pela consistncia com outrosrelatos do mesmo tipo de EA (Pekala e Cardea, 2000).

    Criatividade e diversidade na escolha dos mtodos

    A associao de estratgias investigativas, comomtodos quantitativos e qualitativos; auto-relatos e

    entrevistas; psicolgico, psicobiolgico e socioecolgico,entre outros, sero de extrema valia para obtermos umaavaliao mais acurada dos fenmenos em estudo.

    As EA, inmeras vezes, desafiaro nossosconhecimentos e engenhosidade cientfica. Freqen-temente, elas podero no ser adequadamente investigadaspelos desenhos tradicionais de estudos (Berenbaum, 2000).Sem perder o rigor cientfico e o senso crtico, sernecessrio desenvolver novas abordagens. A tarefa de criarnovos paradigmas metodolgicos a empreitada daquelesque se aventuram por um caminho ainda pouco trilhado.

    Referncias bibliogrficas

    ALARCN, R.D. Culture and Psychiatric Diagnosis.PsychiatricClinics of North America 18 (3): 449-65, 1995.

    ALARCN, R.D; WESTERMEYER, J.; FOULKS, E.F.; RUIZ, P. ClinicalRelevance of Contemporary Cultural Psychiatry.J Nerv Ment Dis 187: 465-71, 1999.

    ALMEIDA, A.M.; ALMEIDA, A.A.S Histria da Loucura Esprita noBrasil". XVIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria e RegionalMeeting World Psychiatric Association. Associao Brasileirade Psiquiatria e World Psychiatric Association, 25-28 out. 2000.

    AMARO, J.W.F. Psicoterapia e Religio. Lemos Editorial, So Paulo,1996.

    AMERICANPSYCHIATRICASSOCIATION Diagnostic Statistical Manual,4th ed, Washington DC, American Psychiatric Press, 1994.

    APA (AMERICANPSYCHIATRICASSOCIATION) Guidelines Regarding PossibleConflict Between Psychiatrists' Religious Commitments andPsychiatry Practice.Am J Psychiatry 147: 542, 1990.

    BATSON, C.D.; VENTIS, W.L. The Religious Experience. Oxford

    University Press, New York; 1982.BENTALL, R.P. Hallucinatory Experiences. In: CARDEA, E.; LYINN, S.

    J. & KRIPPNER, S. Varieties of Anomalous Experience: Examiningthe Scientific Evidence . Washington DC, AmericanPsychological Association, 2000.

    BERENBAUM, H.; KERNS, J.; RAGHAVAN, C. Anomalous Experiences,Peculiarity and Psychopathology. In: CARDEA, E.; LYINN, S. J.& KRIPPNER, S. Varieties of Anomalous Experience: Examiningthe Scientific Evidence , Washington DC, AmericanPsychological Association, 2000.

    CARDEA, E.; LEWIS-FERNNDEZ, R.; BEAR, D.; PAKIANATHAN, I; SPIEGEL, D. Dissociative Disorders. In: DSM-IV Sourcebook, DC,Washington American Psychiatric Press, 1994.

    CARDEA, E.; LYINN, S.J.; KRIPPNER, S. Varieties of AnomalousExperience: Examining the Scientific Evidence, DC,Washington American Psychological Association, 2000.

    CSAR, O. Fenomenologia Supranormal.Revista Paulista deMedicina 19 (5): 49-73, 1941.

    CLARKE, M.; OXMAN, A.D. (eds.) Cochrane Reviewers Handbook4.1.4 [updated October 2001]. In: The Cochrane Library, Issue4, 2001. Oxford: Update Software. Updated quarterly.

    FAVAZZA, A.; OMA N, M. Overview: Foundations of CulturalPsychiatry.Am J Psychiatry 135: 293-303, 1978.

    FREUD, S. Mal-Estar na Civilizao. In: Edio Standard das ObrasPsicolgicas Completas de Sigmund Freud (1969). ImagoEditora. Edio Eletrnica em CD-ROM.

    GABBARD, G.O.; TWEMLOW, S.W.; JONES, F.C. Differential Diagnosisof Altered Mind/Body Perception.Psychiatry 45: 361-9, 1982.

    GALLUP GH JR.; NEWPORT, F. Belief in Paranormal PhenomenaAmong Adult Americans.Skeptical Inquirer 15: 137-46, 1991.

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.

  • 8/7/2019 Diretrizes metodolgicas para investigar estados alterados de conscincia e experincias anmalas

    8/8

    28

    GREENBERG, D.; WIZTUM, E.; BUCHBINDER, J.T. Mysticism and Psychosis:The Fate of Bem Zoma.Br J Med Psychology 65: 223-35, 1992.

    GREYSON, B.; STEVENSON, I. The Phenomenology of Near-DeathExperiences.Am J Psychiatry 137: 1193-6, 1980.

    GRISSO, J.A. Making Comparisons.Lancet 342: 157-60, 1993.GRO F, S. Psychology of the Future Lessons form Modern

    Consciousness Research New York. State University of NewYork Press, pp. 276-7, 2000.

    GROF, S.; GROF, C. Emergncia Espiritual: Crise e TransformaoEspiritual. Editora Cultrix, So Paulo, 2001.

    GUYATT, G.; SACKETT, D. et al. Determining Optimal Therapy:Randomized trials in individual patients.N Engl J Med 314:889-92, 1986.

    HALES, R.H. Psychiatric System Interface Disorders. In: DSM-IVSourcebook. Washington DC. American Psychiatric Press, 1994.

    HARE, E.H. Masturbatory Insanity: The History of an Idea.The Journalof Mental Science 108: 2-25, 1962 (apud LOTUFONETO, 1997).

    HERTZ-PICCIOTTO, I. What You Should Have Learned aboutEpidemiologic Data Analysis.Epidemiology 10: 778-83, 1999.

    HILL, A.B. The Environment and Disease: Association or Causation?Proc R Soc Med 58: 295-300, 1965.HORTON, P.C. The Mystical Experience: Substance of an Illusion.

    Am Psychoanal Assoc J 22: 364-380, 1974.HUFFORD, D.J. Commentary. Paranormal Experiences in the

    General Population.J Nerv Ment Dis 180: 362-8, 1992.JAMES, W. As Variedades da Experincia Religiosa. Um Estudo

    Sobre a Natureza Humana. Editora Cultrix, So Paulo, 1991.JUNG, C.G. Sobre a Psicologia e Patologia dos Fenmenos Chamados

    Ocultos. In: JUNG, C.G.Estudos Psiquitricos . Vozes, Petrpolis,pp. 15-96, 1994.

    KING, M.B.; DEIN, S. The Spiritual Variable in Psychiatric Research.Psychological Medicine 28: 1259-62, 1998.

    KIRMAYER, L.J. The Fate of Culture in DSM-IV.TransculturalPsychiatry 35: 339-42, 1998.

    KUHN, T.S. A Estrutura das Revolues Cientficas. EditoraPerspectiva, So Paulo, 2000.

    LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. Criticism and the Growth of Knowledge.Cambridge University Press, Cambridge, 1970.

    LEWIS-FERNNDEZ, R. A Cultural Critique of the DSM-IV DissociativeDisorders Section.Transcultural Psychiatry 35: 387-400, 1998.

    LOTUFONETO, F. Psiquiatria e Religio: a Prevalncia de TranstornosMentais entre Ministros Religiosos. Tese (livre-docncia), Faculdadede Medicina da Universidade de So Paulo. So Paulo, 1997.

    LU, F.G.; LUKOFF, D.; TURNER, R. Religious or Spiritual Problems.In: DSM-IV Sourcebook. American Psychiatric Press,Washington DC, 1994.

    LUKOFF, D.; LU, F.; TUNER, R. Toward a More Culturally SensitiveDSM-IV: Psychoreligious and Psychospiritual Problems.J NervMent Dis 180: 673-82, 1992.

    LUKOFF, D.; LU, F.G.; TURNER, R. Cultural Considerations in theAssessment and Treatment of Religious Problems.Psych ClinN Am 18: 467-85, 1995.

    MOORE, L.J. Psychiatric Contributions to Understanding Racism.Transcultural Psychiatry 37: 147-82, 2000.

    MULHERN, S. Embodied Alternative Identities: bearing witness to aworld that may have been.Psych Clin N Am 14: 769-86, 1991.

    MUNRO, C.; PERSINGER, M.A. Relative Right Temporal-lobe ThetaActivity Correlates with Vingiano's Hemispheric Quotient andthe Sensed-Presence.Perceptual and Motor Skills 75: 899-903, 1992.

    MYERS, F.W.H. Human Personality and Its Survival, 2 vols. Owens,1906.

    OWENS, J.E.; COOK, E.W.; STEVENSON, I. Features of near-deathexperience in Relation to Whether or not Patients WereNear Death.Lancet 336: 1175-7, 1990.

    OWENS, J.E.; COOK, E.W.; STEVENSON, I. Near-Death Experience.Lancet 337: 1167-8, 1991.

    PARISCHA, S.; STEVENSON, I. Near-Death Experiences in India.J NervMent Dis 174: 165-70, 1986.

    PEKALA, R.J. The Phenomenology of Consciousness Inventory (PCI).West Chester, PA: Mid Atlantic Educational Institute, 1991.

    PEKALA, R.J.; CARDEA, E. Methodological Issues in the Study of Altered States of Consciousness and Anomalous Experiences.In: CARDEA, E.; LYINN, S.J.; KRIPPNER, S. Varieties of AnomalousExperience: Examining the Scientific Evidence . WashingtonDC, American Psychological Association, 2000.

    PERSINGER, M.A. Right Hemisphericity, Low Self-esteem, andUnusual Experinces: a Response to Vingiano.Perceptual and Motor Skills 75: 568-70, 1992.

    POPPER, K.R. Conjecturas e Refutaes. Braslia, Universidade deBraslia, 1982.

    POST, S.G. DSM-III-R and Religion (letter).Am J Psychiatry 147:813, 1990.

    PUTNAM, F.W.; CARLSON, E.B.; ROS S, C.A. et al. Patterns of Dissociation in Clinical and Nonclinical Samples.J Nerv Ment Dis 184: 673-79, 1996.

    RAO, D.; STEVENSON, I. Telepathy in Shared Dreams?Am J Psychiatry136: 1345-6, 1979.

    ROSS, C.A.; JOSHI, S. Paranormal Experiences in the GeneralPopulation.J Nerv Ment Dis 180: 357-61, 1992.

    ROSS, C.A.; JOSHI, S.; CURRIE, R. Dissociative Experiences in theGeneral Population.Am J Psychiatry 147: 1547-52, 1990.

    SACKETT, D.; HAYNES, R.B.; TUGWELL, P. Clinical Epidemiology: aBasic Science for Clinical Medicine. Little, Brown, Boston, 1985.

    SCHOUTEN, S.A.; STEVENSON, I. Does the Socio-Psychological

    Hypothesis Explain Cases of reincarnation Type?J Nerv Ment Dis 186: 504-6, 1998.SIDGWICK, H. Report on the Census of Hallucinations.Proceedings

    of the Society for Psychical Research 10: 25-252, 1894. (ApudBERRIOS, G. E. The History of Mental Symptoms . CambridgeUniversity Press, Cambridge, 1996)

    SIMS, A. Symptoms in the Mind. Ballire Tindall, London, 1988.STEVENSON, I.; GREYSON, B. Near-Death Experience: Relevance to

    the Question of Survival after Death.JAMA 242: 265-7, 1979.STEVENSON, I. American Children who Claim to Remember Previous

    Lives.J Nerv Ment Dis 171: 742-8, 1983.STEVENSON, I. Do We Need a New Word to Supplement

    Hallucination?Am J Psychiatry 140: 1609-11, 1983.STEVENSON, I. The Explanatory Value of The Idea of Reincarnation.

    J Nerv Ment Dis 164: 305-26, 1977.TART, C.T. States of Consciousness and State-Specific Sciences.

    Science 176: 1203-10, 1972.TART, C.T. States of Consciousness. Lincoln, Authors Guild

    Backprint.com Edition, 2000 (1983).TURNER, R.P.; LUKOFF, D.; BARNHOUSE, R.T.; LU, F.G. Religious or

    spiritual problem. A culturally sensitive diagnostic category inthe OSM-IV.J Nerv Ment Dis 183(7) : 435-44, 1995.

    VICTORA, C.G.; HUTTLY, S.R.; FUCHS, S.C.; OLINTO, M.T.A. The Roleof Conceptual Frameworks in Epidemiological Analysis: aHierarchical Approach.International Journal of Epidemiology26: 224-7, 1997.

    WEAVER, A.J.; SAMFORD, J.A.; LARSON, D.B. et al. A SystematicReview of Research on Religion in Four Major Psychiatric

    Journals: 1991-1995.J Nerv Ment Dis 186: 187-9, 1998.

    Rev. Psiq. Cln. 30 (1):21-28, 2003Almeida, A.M.; Lotufo Neto, F.