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Antonio Albuquerque da Costa Paulo Sérgio Cunha Farias Formação Territorial do Brasil DISCIPLINA A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central Autores aula 07 Fo_Te_A07_ML_080710.indd Capa1 Fo_Te_A07_ML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:49 08/07/10 11:49

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Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

Formação Territorial do BrasilD I S C I P L I N A

A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

Autores

aula

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Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky(UFRN)

Projeto Gráfi coIvana Lima (UFRN)

Revisoras Tipográfi casAdriana Rodrigues Gomes (UFRN)

Margareth Pereira Dias (UFRN)Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e IlustraçãoAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Heinkel Hugenin (UFRN)Leonardo Feitoza (UFRN)

DiagramadoresIvana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)José Antonio Bezerra Junior (UFRN)Mariana Araújo de Brito (UFRN)Vitor Gomes Pimentel (UFRN)

Revisora de Estrutura e LinguagemRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisora de Língua PortuguesaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPEEliane de Moura Silva

Ficha catalográfi ca elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9

C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha

Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografi a - Brasil. 2. Geografi a – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.

II. Titulo.

21. ed. CDD

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

Na aula anterior estudamos sob as estratégias de ocupação portuguesa para o sertão nordestino e para a Amazônia, agora vamos conversar um pouco sobre o importante papel que teve a mineração na consolidação do território brasileiro, contribuindo para

a interiorização da população que até então se mantivera na fachada costeira.

Vamos também discutir cobre o papel da agricultura de subsistência que embora não seja referência na economia colonial do Brasil teve uma importância fundamental para a sobrevivência dessa população que se fi xou nesses rincões do Brasil e garantiu a Portugal a apropriação territorial pelo direito real de ocupação.

ObjetivosNessa aula esperamos que você:

Compreenda a mudança do centro econômico do Brasil colonial do Nordeste para o Centro-Sul da colônia em função da atividade mineradora que se tornou a atividade mais importante do século XVIII.

Observe as transformações que a mineração proporcionou ao espaço do Brasil colônia.

Perceba a importância da agricultura de subsistência para a alimentação dos habitantes da Colônia, mas também, como um elemento diferenciador da estrutura sócio-produtiva na qual se apoiou o latifúndio monocultor/exportador e escravista que aqui se instaurou.

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A mineração e a ocupação do Brasil Central

Já dissemos, em aulas anteriores, que o interesse de Portugal desde o momento que tomou posse das terras brasileiras era descobrir metais preciosos. Como a Espanha encontrou civilizações que já trabalhavam o ouro, criou-se o mito de que este metal seria

facilmente encontrado em todo o continente americano e muitos portugueses se embrenharam pelo interior do Brasil em busca do “El Dourado”, sem sucesso. A primeira descoberta de ouro na capitania de São Vicente foi tão insignifi cante que passou despercebida. Porém, só no fi nal do século XVII foi que bandeirantes paulistas fi zeram descobertas signifi cativas de ouro no atual Estado de Minas Gerais.

Tais descobertas ocorreram em um momento que a metrópole portuguesa atravessava uma forte crise econômica resultante do período em que esteve sob o domínio espanhol, pois haviam os lusitanos perdido seus melhores entrepostos comerciais da Ásia e os produtos tropicais produzidos no Brasil, em particular a cana-de-açúcar, enfrentava forte concorrência de outras áreas produtoras.

Sendo assim, o ouro tornou-se a atividade mais importante da colônia e passou a atrair a população das demais regiões brasileiras que se encontravam decadentes. Desta forma, o Nordeste que durante dois séculos fora o centro econômico da colônia, perdeu sua hegemonia para a o Centro-Sul bem como a capital da colônia que foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. Viu ainda um importante contingente de sua mão-de-obra escrava ser transferida da zona canavieira, em crise, para as áreas mineradoras, em ascensão econômica.

Foi com a mineração que se deu o maior fl uxo migratório do Brasil Colônia, não só um fl uxo interno, mas também proveniente de Portugal, que pela primeira vez orientou uma migração espontânea em direção a sua colônia da América. Movimento que chegou a preocupar

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o governo português que por vezes criou medidas para difi cultar a emigração para o Brasil. Mesmo assim, a população de origem européia atingiu seu maior contingente e ao contrário do que ocorreu no Nordeste constituiu-se como maioria étnica.

Você já percebeu o quanto esta atividade foi diferente da plantation açucareira?

Vamos pensar um pouco sobre estas diferenças e o quanto ela transformou o espaço colonial brasileiro.

Enquanto na plantation açucareira era necessária a utilização de grandes datas de terra que eram doadas às famílias abastadas que tinham forte ligação com a Coroa portuguesa, e dispunham de muito capital para investir no dispendioso empreendimento que eram os engenhos, nas áreas mineradoras o descobridor da jazida tinha direito de escolher a sua data, e a Fazenda Real seguia-o na escolha. Os demais pretendentes à jazida concorriam a uma distribuição dos lotes conforme o número de escravos que possuíssem, no entanto, os recursos aí utilizados eram bem inferiores ao da montagem de um engenho, o que tornava esta atividade, até certo ponto, um pouco mais democrática.

Outro aspecto que divergia da cultura açucareira eram as relações de trabalho, pois embora a mão-de-obra escrava fosse utilizada como força de trabalho, as relações eram mais complexas: nas lavras de maior importância utilizavam aparelhos mais especializados e a mão-de-obra era basicamente de escravos. Na faiscação, com instrumentos rudimentares, os trabalhadores, mesmo quando reunidos em grande número, trabalhavam por conta própria, isolados, eram em grande número homens livres e, quando escravos, seus donos fi xavam uma cota de ouro a ser entregue. O excedente dessa cota servia para provê-lo de sua subsistência e até comprar sua liberdade, o que não era tão fácil.

Outro aspecto importante desses territórios foi o controle exercido pela Coroa portuguesa sobre os mesmos. Embora a Coroa estabelecesse a livre exploração, exigia que todos lhe pagassem um tributo referente à quinta parte de todo o ouro extraído. A fi scalização fi cava por conta de um intendente que só se subordinava ao governo de Lisboa, e não raro, cometia arbitrariedades e atrocidades, nesses territórios mineradores que fi cavam sob o seu inteiro comando.

Uma característica importante da atividade mineradora é que esta se apoiava em núcleos urbanos e que a população dedicada à mineração não tinha tempo para as atividades de subsistência. Isto signifi cou que a população das áreas mineradoras teve que se abastecer de outras regiões. Isto foi um aspecto importante, pois enquanto a zona canavieira manteve-se isolada, auto-sufi ciente e desenvolveu a pecuária, atrelada a si, numa área que até então era um vazio econômico, a mineração integrou e valorizou atividades econômicas pré-existentes, vamos ver de que forma:

1. As áreas onde se praticava uma agricultura de subsistência e que se mantinham em um estágio de pobreza absoluta, a exemplo da região de Piratininga (São Paulo) do Sul de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, passaram a fornecer alimentos para os locais de mineração, e alcançaram relativo nível de prosperidade.

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2. O Mato Grosso e o Rio Grande do Sul que já praticavam uma pecuária rudimentar de pouco valor econômico encontrou nas áreas mineradoras locais de consumo para seu produto, além da especialização espacial que passou a ocorrer com áreas dedicadas à criação, outras a engorda do gado e áreas de preparação do charque.

3. A pecuária nordestina que se encontrava em crise devido à decadência da atividade açucareira, encontrou saída para sua carne nas Minas Gerais, através da produção do charque.

4. Como se encontrava longe do mar e não produzia quase nada do que consumia as áreas de mineração passaram a utilizar largamente o transporte com mulas. Criou-se assim um grande mercado de animais de carga que valorizou as mulas e foi responsável pela prosperidade de localidades que se tornaram importantes feiras de muares.

A importância dada às mulas estava relacionada com as condições naturais das áreas mineradoras, com topografi a acidentada. As mulas se adaptavam melhor ao transporte de cargas, seja das áreas produtoras de alimentos, ou para conduzir o ouro até os portos do litoral do Rio de Janeiro, de onde retornavam com outras mercadorias não produzidas no Brasil colônia.

Este período áureo da Colônia perdurou por três quartos do Século XVIII, quando as minas começaram a se exaurir. No mesmo período da mineração do ouro, o Brasil se tornou também o maior produtor mundial de diamantes, cuja ocorrência estava também associada aos mesmos terrenos, mas que teve importância secundária em relação ao ouro.

De imediato ao descobrimento dos diamantes, a Coroa portuguesa tentou estabelecer o mesmo tipo de imposto, ou seja, a extração livre com o pagamento da quinta parte dos diamantes garimpados, mas como estes são irregulares no tamanho e na qualidade e não podia ser derretido e cunhado em barras uniformes como se fazia com o ouro, Portugal teve que usar outra estratégia de controle: Como a ocorrência dos diamantes era em áreas limitadas, a metrópole portuguesa demarcou essas áreas e transformou em territórios isolados, sem contato com o restante da colônia, cujo direito de exploração foi entregue a pessoa privilegiada que deveria pagar uma quantia fi xa a Coroa. Dentre estes territórios estavam o rio Jequitinhonha (Minas Gerais), o rio Claro e Pilões em Goiás, o sudoeste da Bahia e o alto Paraguai em Mato Grosso, porém a atenção especial foi à área que circunda a cidade de Diamantina em Minas Gerais.

Em Diamantina, o governo português criou o Distrito Diamantino, que em 1771, saiu das mãos de particulares e passou a ser administrado pela Fazenda Real sob a direção de um intendente como se fazia com o ouro, porém com fi scalização mais rígida de onde não se podia entrar ou sair sem autorização, e onde, nenhum outro órgão administrativo ou jurídico podia atuar.

A decadência da mineração do ouro, que já começava a se esboçar em meados do século XVIII, tem como uma das principais causas o esgotamento das jazidas. A isso se soma o despreparo técnico e a falta de recursos dos mineradores. Pois enquanto o ouro era retirado dos depósitos de aluvião que se encontram na superfície, a extração era relativamente fácil.

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A Coroa portuguesa manteve o Brasil num isolamento e despreparo educacional sem precedentes no sistema colonial. Sendo assim, tornou inacessível aos mineradores qualquer conhecimento técnico sobre a sua atividade. Todo o pessoal mais especializado que se mandava para a colônia eram burocratas, cujo único objetivo era atender ao fi sco. Tais questões não foram levadas em consideração pela metrópole que manteve por estes três quartos de século uma corte parasitária e esbanjadora e só via como motivo para a queda na produção aurífera o contrabando.

Mediante este ponto de vista da administração portuguesa e, para evitar os descaminhos do ouro, a Coroa portuguesa estipulou uma quota mínima que o quinto deveria atingir. Caso o valor arrecadado não atingisse a cifra de 100 arrobas anuais seria decretado o derrame, ou seja, toda a população seria obrigada, de acordo com as suas posses, a contribuir para que a colônia pagasse o tributo. Apesar de estabelecido o derrame, a partir de 1762 o quinto não atingiu mais a quota fi xada.

O diamante teve causas semelhantes para sua decadência, que ocorreu em paralelo a derrocada do ouro, porém com um agravante: a queda do seu valor no mercado europeu, visto que este mercado se viu abarrotado dessas pedras precisas. As medidas de restringir o fl uxo de diamantes na Europa, nunca puderam ser de fato efetivadas, pois Portugal em crise fi nanceira sempre lançava mão de colocar mais diamantes no mercado, levando a uma desvalorização ainda maior dessas pedras preciosas.

O que a mineração trouxe de transformação ao espaço colonial brasileiro?

Em primeiro lugar, temos que analisar que a mineração se deu num momento em que a Zona Canavieira, que representou o centro dinâmico da colônia encontrava-se em crise, desta forma cria-se um novo centro gravitacional para a economia colonial, capaz de atrair sua capital para o Rio de Janeiro que era de comunicação mais fácil com as minas.

Observamos ainda, que estando nessa região a principal atividade econômica, é natural que para ela convergia importante fl uxo populacional, tanto de homens livres quanto de escravos provenientes da plantation açucareira.

Outra característica importante dessa atividade era a grande mobilidade dos mineradores no espaço, visto que o ouro era encontrado nos vales fl uviais (os aluviões) que logo se esgotavam.

Assim como a pecuária e as drogas do sertão, a mineração foi capaz de estabelecer núcleos populacionais que embora distantes e separados entre si, em meio a verdadeiros vazios econômicos, teve o mérito de ocupar efetivamente imensos espaços e alargou a colônia portuguesa para além de Tordesilhas. Dava dessa forma um caráter diferente ao povoamento brasileiro que até então se mantinha na faixada litorânea. (ver Mapa 01 – Ocupação do Brasil no Século XVIII através das atividades econômicas)

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Mapa 01 – Ocupação do Brasil no Século XVIII através das atividades econômicas

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Entretanto, a atividade mineradora diverge das demais atividades que tiveram a colônia brasileira pelo importante papel de articuladora e incorporadora de regiões que se mantinham isoladas e sem aproveitamento econômico até o início do século XVIII. Nas regiões mais interioranas do Brasil, sobretudo em Goiás e no Mato Grosso, a mineração foi responsável pela atração populacional e pela formação de vilas prósperas, algumas áreas, no entanto, entraram em profunda estagnação e voltaram a se esvaziar com o fi m da mineração.

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Atividade 1

Por fi m, vamos observar que a mineração teve um papel importante no desenvolvimento das artes, da literatura, da arquitetura e no sentimento nacionalista brasileiro, mas não podemos esquecer de que o maior benefi ciado com o ouro extraído do Brasil foi a Inglaterra, através do Tratado de Methuen, pois conseguiu fi nanciar a sua Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII.

Vamos testar nossa aprendizagem.

a) Observe o Mapa 1 da aula e responda: Que importância teve a mineração para a formação do território do Brasil colonial?

b) Analise as principais características do espaço mineiro. Quais foram os seus aspectos mais marcantes para o Brasil Colônia?

Tratado de Methuen

Foi um acordo comercial estabelecido no dia 27 de dezembro de 1703 entre Portugal e Inglaterra, no qual os portugueses se comprometiam a consumir os tecidos da Inglaterra e outras manufaturas e os ingleses a consumir os vinhos de Portugal. Com esse acordo que fi cou conhecido como Tratado de Panos e Vinhos, Portugal sufocou sua manufatura de tecidos e pagava com o ouro brasileiro suas importações que eram muito superiores que suas exportações.

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A agricultura de gêneros alimentícios no Brasil:uma atividade fundamental para a população, mas sem importância para a economia colonial

Como vimos até agora, foi a plantation açucareira para exportação o centro das atenções econômicas nos primeiros dois séculos de colonização. Todas as demais atividades que se desenvolviam na colônia lhes eram complementares, subsidiárias e subordinadas.

Foi assim com a pecuária nordestina e também com a economia de subsistência.

A necessidade de alimentar a população dos engenhos ao lado da inviabilidade de importá-los fez com que surgisse nos próprios domínios da lavoura açucareira uma agricultura de gêneros alimentícios praticada pelos escravos para abastecer os engenhos, os quais se tornaram auto-sufi cientes em sua subsistência.

Essa agricultura que jamais disputou terras com a lavoura de exportação era praticada tanto pelos escravos que cuidavam exclusivamente da grande lavoura, quando não estavam ocupados com esta, como também por escravos que faziam outras atividades e cuidavam do seu próprio sustento utilizando os dias de domingo e santos para se dedicar às suas roças. Por outro lado, era a pequena produção praticada por homens livres nos interstícios das atividades principais que respondia pelo suprimento da população urbana, embora também complementasse o abastecimento da plantation açucareira.

Como mostramos até aqui, a população rural conseguia suprir suas necessidades alimentares com a produção de uma lavoura diversifi cada de subsidência que era praticada nos domínios da cana-de-açúcar, o mesmo ocorrendo com a pecuária, que embora subsidiária da cana-de-açúcar, recorria à agricultura de subsistência como uma atividade acessória.

Os centros urbanos, que a princípio eram pequenos e sem expressão, e com população dedicada à administração e ao comércio, já que eram locus do aparelho de dominação colonial, também se abasteciam dessa produção excedente praticada no campo. Como os engenhos tiveram que se dedicar cada vez mais à produção açucareira e não se interessavam em desviar esforços para a produção de alimentos, este setor foi sendo incorporado pela população indígena e mestiça, que viu nessa forma de abastecimento dos colonos um meio de adquirir as mercadorias que passaram a necessitar e a desejar. Prado Júnior (1987), vê nessa população cabocla o embrião de uma classe média entre os grandes proprietários e os escravos.

Diante da estrutura fundiária que se estabeleceu no Brasil, na qual a posse da terra era proporcional à quantidade de escravos que cada senhor possuía, a grande maioria da população que não era escrava ou dona de escravos fi ca excluída do direito a terra. A única forma de ter acesso a este bem de produção foi na condição de posseiro.

Posseiro

É a pessoa que detém de fato a posse de uma gleba

de terra, mas não é tono por direito da mesma.

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Atividade 2

Porém a situação alimentar no Brasil não foi tão simples, visto que todo o interesse voltava-se para a monocultura de exportação. A colônia enfrentou sempre problemas alimentares, o que se tornou mais grave quando alguns núcleos urbanos se tornam mais densos, especialmente no século XVIII. Se para o campo o problema da subnutrição era sério, era ainda mais grave para os centros urbanos.

O problema da fome e da subnutrição acompanhou a população que vivia à margem e ao lado da abundância dos ricos senhores de terras, e isto se tornou tão sério que por vários momentos a administração da colônia tentou obrigar os grandes proprietários a produzir também gêneros alimentícios, mas esses senhores, donos das melhores terras e dedicados ao produto mais lucrativo da colônia, jamais se dispuseram a contribuir com a solução desse problema, cedendo terras e atenção para lavoura alimentar, até porque, não sentiam os problemas da escassez de alimentos e podiam pagar pelo alto preço dos gêneros que consumiam.

Você deve estar se perguntando: se o nossa disciplina se propõe a discutir a formação do território brasileiro, por que falarmos da produção de subsistência que não incorporou grandes áreas ao território brasileiro e se manteve como uma atividade sem importância econômica?

É verdade, a produção alimentar se manteve a parte das culturas de exportação, e só aquelas áreas que não interessaram a plantation é que foram cedidas à agricultura de subsistência. As populações que a elas se dedicaram viviam em profundo estado de pobreza e penúria a exemplo de partes do Sul do Brasil, do Agreste nordestino, do Planalto de Piratininga. Mas, no momento que estas regiões passaram a abastecer áreas econômicas importantes, passaram a conhecer relativa prosperidade. Vale ainda salientar que as áreas produtoras de alimentos apresentam uma estrutura fundiária menos concentrada, com maior número de pequenas propriedades, e relações sociais menos hierarquizadas.

Por fi m, temos que admitir a importância que esta pequena e diversifi cada produção teve na viabilização das plantations, da pecuária, do extrativismo e da mineração, pois sem o fornecimento de alimentos, ainda que precário, nenhuma dessas atividades poderia se manter e fi xar populações nesses rincões do território colonial.

Vamos refl etir sobre a produção alimentar no Brasil.

a) Analise as diferenças sócio-espaciais e econômicas entre a plantation e a cultura de subsistência.

b) Qual foi o papel da agricultura de subsistência diante das principais atividades econômicas da colônia?

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Ao terminar esta aula queremos lembrar que o assunto não se esgota nessas poucas páginas, porém esperamos que nossa conversa tenha despertado em você o desejo para se aprofundar na discussão, para tanto sugerimos algumas leituras que ajudaram você a conhecer mais detalhes sobre a importância da mineração nessa fase de formação do nosso território.

Até a próxima aula quando discutiremos a importância da borracha, do algodão e do café na consolidação dos seus respectivos espaços produtivos ao território brasileiro.

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ResumoCom esta aula tivemos a oportunidade de conhecer do quanto o espaço produzido pela atividade mineradora foi diferente dos espaços produzidos por outras economias, pois nele se instalou uma sociedade mais urbana, mais democrática, mais questionadora e de maior mobilidade social, onde havia uma maior circulação monetária capaz de integrar outros espaços que embora já estivessem ocupados com a pecuária e com a agricultura de subsistência permaneciam isolados e a margem de uma possível integração e de um efetivo aproveirto econômico. Por fi m, tivemos a oportunidade de entender que embora a agricultura de subsistência tenha permanecido à margem das principais economias da colônia, foi o esteio para todas elas e permitiu o desenvolvimento do traballho livre numa sociedade escravagista, cuja posse da terra estava nas mãos de alguns poucos privilegiados. Você viu também que a agricultura alimentar pelas suas características tão diferentes da plantation confi gurou uma outra organização espacial, com estrutura fundiária menos consentradora e melhor distribuição da renda, tal como ocorre na região Agreste e no Sul do País.

AutoavaliaçãoAgora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.

a) Diante do que você estudou, explique a seguinte afi rmativa de Ruy Moreira: “Embora o essencial das relações de classe permaneça, o arranjo do espaço mineiro expressa essa fantástica reorganização da vida colonial”.

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b) Apesar da pouca atenção que foi dada à policultura alimentar, ela cumpriu um importante papel na organização do nosso espaço. Qual foi?

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Leituras complementaresAlém da leitura do texto outras fontes são importantes para você aprofundar seu

conhecimento sobre o assunto que abordamos. Sugerimos que você leia:

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Como nos referimos na aula anterior trata-se de um clássico da formação econômica do território brasileiro. Para essa aula é interessante que você leia o Capítulo 5 e 7cujos respectivos títulos são: “Atividades acessórias” e “A mineração e a Ocupação do Centro-Sul”.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990. (Coleção tudo é história, número 132).

Este renomado geógrafo faz uma análise sucinta, porém esclarecedora da formação do espaço agrário brasileiro que nos ajuda a entender problemassociais e econômicos do nosso país, cuja origem está no processo histórico de formação do nosso espaço.

ReferênciasANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982,

______. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.

______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990. (Coleção tudo é história, número 132).

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil fi cou assim?: formação das fronteiras e formação das fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,1990.

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Aula 07 Formação Territorial do Brasil14

Anotações

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Aula 07 Formação Territorial do Brasil 15

Anotações

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Aula 07 Formação Territorial do Brasil16

Anotações

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EMENTA

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica

territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

AUTORES

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografi a

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e defi nitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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