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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA CURSO: PEDAGOGIA DISCIPLINA: ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA Introdução ao Ensino da História e da Geografia

DISCIPLINA: ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA · naturais, a bem da verdade não passam de construções humanas, que podem ser cambiadas na medida em que novas interpretações

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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA:

ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA

Introdução ao Ensino da História e da Geografia

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Ensino da História e da Geografia – Professor: Tibério

INTRODUÇÃO AO ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA

História e geografia estão intimamente relacionadas, uma área é diretamente dependente da outra, não por acaso uma é considerada ciência auxiliar da outra. É interessante lembrar que ambas pertenciam à filosofia até o século XVIII.

Foi dentro do contexto da Revolução Francesa que, os iluministas, ao criarem a enciclopédia, iniciaram a subdivisão do conhecimento; depois, no início do século XX, levada ao extremo pelo fordismo.

No entanto, apesar de diversos setores da geografia constituir pura história e de, inversamente, pressupostos teóricos e metodológicos da história depender da geografia; o trabalho do historiador e do geógrafo possui distinções marcantes.

Entretanto, em sala de aula, principalmente na educação básica, história e geografia deveriam ser abordadas de forma mais integrada, visando propiciar de fato a formação da cidadania, fortemente apregoada pela LDB.

Alias, no âmbito das Ciências Humanas, não só a história e a geografia deveriam fazer parte da formação do educando no ensino infantil e fundamental, mas também a filosofia e a sociologia.

Estas duas últimas, na realidade podem e devem estar inseridas nos conteúdos de história e geografia na educação básica, inclusive porque são ciências auxiliares destas áreas. O que é história?

A história é a ciência que estuda o passado, analisando as transformações para tentar entender o presente, neste sentido, ao resgatar o passado, permite conferir sentindo para o presente, ajudando a transformar a realidade a partir de sua compreensão, guiando rumo ao futuro.

Para Platão, a história seria pura memória circunscrita ao fato de conhecer. Enquanto Aristóteles afirmou que a história seria uma coletânea de fatos que guardam a memória. Conceitos ultrapassados, pois atualmente a história trabalha com a memória, mas vai muito além, envolve a interpretação dos fatos, problematizações e até ideologias.

Seja como for, a palavra “história” tem origem grega, significando investigação ou informação, tendo surgido no século VI a.C. Foi utilizada neste sentido pela primeira vez por Heródoto de Halicarnasso, considerado o pai da história. Ele escreveu sobre as guerras entre gregos e persas, tentando entender como os últimos haviam conseguido criar um Império, entrevistando contemporâneos dos fatos e buscando relatos como fontes para reconstruir os acontecimentos.

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Afirma-se que Heródoto é o pai da história porque a partir dele começou a mudar a lógica de pensamento humano, antes as explicações para o presente tinham origem nos mitos. Os mitos forneciam explicações divinas para aquilo que o homem primitivo não conseguia explicar através da razão.

Mesmo depois de Heródoto, entre os romanos, por exemplo, mitologias divinizavam a fundação da cidade de Roma, através da clássica estória de Rômulo e Remo sendo criados por uma loba.

Na realidade, a História de Heródoto é um marco de um longo processo de consolidação da racionalidade, o qual se iniciou antes dele, com o surgimento da filosofia no século VII a.C., questionando os mitos e as opiniões de senso comum, um processo que se estendeu até século XX, passando por fases transformadoras. É por isto que história e filosofia se confundiram até o século XVIII. Ambas tinham o mesmo objetivo: entender a realidade através da observação do presente e do passado.

Cabe lembrar que, até o século XVIII, as várias áreas do conhecimento humano pertenciam à filosofia e não só as Ciências Humanas, a qual englobava também matemática, biologia e psicologia, embora não assim nomeadas.

A história, como a geografia, era só mais uma das faces da filosofia, já que o conhecimento estava dividido em quatro grandes áreas: Teologia, Direito, Medicina e Filosofia.

Somente a partir do iluminismo é que a história apareceu como ciência autônoma. O iluminismo pretendia iluminar o mundo com o conhecimento, ilustrando e

trazendo luzes a ignorância, o que revolucionou o conhecimento a partir da sistematização do saber através da enciclopédia, a subdivisão do conhecimento. Assim, a história enquanto ciência surgiu a partir da especialização do conhecimento, no século XVIII, bem como depois de seu embasamento metodológico no século XIX e XX.

Passando pelo cientificismo positivista, a escola metódica alemã, a escola de Annales, a tendência marxista, a nova história, a história das mentalidades, a história cultural, a micro história e a história regional, entre outras tendências.

Esta especialização fez com que a história passasse a se ocupar do estudo dos fatos históricos, acontecimentos relevantes para o entendimento das questões do presente. Fatos que provocam rupturas ou que contribuem para continuidades. A análise e interpretação da história, o entendimento dos processos de transformação e continuidades, além de utilizado para entender o presente, passou a servir ao fomento de novas mudanças, ou ainda, inversamente, para impedir qualquer mudança.

Dependendo dos interesses dos grupos dominantes, resgatar o passado pode servir para criar um modelo que busque retrocessos, a adoção de valores antigos. Em contraponto, o resgate do passado pode servir também a formação de uma nova identidade, manipulando as massas segundo os interesses de determinados grupos.

Em outro sentido, a história pode ainda fornecer probabilidades sobre o que esperar do futuro, embora não seja possível prever com exatidão o que irá acontecer.

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O que é geografia?

A geografia é a ciência que estuda a relação entre a Terra e seus habitantes, analisando tanto características físicas como humanas.

Portanto, ao estudar os aspectos físicos, observa a superfície do planeta, a distribuição espacial dos fenômenos da paisagem e a dinâmica de interação com a atmosfera e o universo.

No que tange aos aspectos humanos, estuda a integração e relação estabelecida entre os homens (políticas sociais, culturais e ideológicas) e entre estes e seu meio ambiente.

Como se pode observar, principalmente, no que diz respeito à geografia humana, a relação da área com a história é óbvia, muitas vezes se confundindo.

Destarte, os primórdios da geografia, como no caso da história, remontam a antiguidade. A palavra geografia surgiu no século III. a.C., criada pelo filósofo Erastótenes, um estudioso que se dedicou também a astronomia, física e matemática.

Etimologicamente, a partir do grego, geografia (geo + grafia) significa estudo ou descrição da Terra. No entanto, alguns autores defendem a ideia que, antes ainda da palavra ser criada, a geografia remonta aos primórdios da humanidade. Quando os primeiros humanos precisaram observar o terreno para preparar a defesa contra grupos rivais e ampliar o sucesso nas tentativas de caça e, posteriormente, cultivo das terras.

Porém, pensada racionalmente, a geografia surgiu no século VII a.C. com a filosofia, sendo objeto de reflexão de Tales de Mileto, Ptolomeu e do próprio Heródoto.

Na antiguidade, devido às exigências requeridas pelas guerras e comércio, a geografia criou uma de suas subáreas: a cartografia (chartis = mapa + grapheim = escrita). Palavra que a partir do grego simboliza o estudo e utilização dos mapas.

Foram os romanos que aprimoraram inicialmente os mapas para controlar seu vasto Império, o que depois foi complementado pelos árabes, italianos e portugueses devido às necessidades comerciais e navais. Na Idade Média, quando muitos conhecimentos acumulados na antiguidade foram trancados nos mosteiros e bibliotecas de circulação restrita, os conhecimentos geográficos foram preservados pelos árabes. Depois, dentro do contexto da intermediação de especiarias pelas cidades italianas de Gênova, Veneza e Florença; estes conhecimentos retornaram a Europa e estiveram relacionados com o aprimoramento da navegação no Mediterrâneo e, posteriormente, no Atlântico.

A geografia foi introduzida como disciplina nas primeiras Universidades, mas não era considerada uma área autônoma, estando inserida na filosofia. A exemplo da história, a geografia só começou a ser reconhecida como ciência no século XVIII, com a Revolução Francesa e o Iluminismo. Entretanto, seu reconhecimento completo, como conhecimento científico, precisou aguardar o século XIX e XX. Foi quando passou por quatro fases inteiramente relacionadas com a geografia humana e a história.

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No século XIX, influenciado pelo materialismo histórico de Hegel e pelo marxismo, surgiu o determinismo geográfico. Concepção segundo a qual o meio ambiente determina a fisiologia e psicologia humana, teoria que serviu de justificativa para o domínio neocolonial europeu sobre a África e Ásia, além do nazismo.

Na segunda metade do século XIX, surgiu a geografia regional, o estudo integrado de elementos humanos e naturais para tentar entender as características de determinada região e sua integração com o resto do mundo.

Na metade do século XX aconteceu à chamada Revolução Quantitativa, quando pressupostos matemáticos, estatísticos e econômicos foram agregados a geografia para tentar entender a formação do panorama político.

Na década de 1970 apareceu na Europa a geografia radical, também chamada crítica por afirmar que os métodos estatísticos não trazem contribuição para a compreensão da sociedade por mitificarem a realidade.

Segundo esta tendência seria papel da geografia repensar questões sociais como o desenvolvimento do sistema capitalista, a globalização, a disparidade entre ricos e pobres e questões relacionadas ao meio ambiente.

O que novamente fez história e geografia se aproximarem e, na opinião de alguns teóricos, perderem seu sentido e identidade como disciplinas autônomas. No entanto, ao invés de representar o fim da história e da geografia, a tendência pode resgatar o sentido original do conhecimento humanista, significando maior integração entre as áreas.

Integração que, no caso da geografia, sempre foi estreita também com a geologia e a botânica, trazendo a partir deste conceito a sociologia e a filosofia para dentro da área. O trabalho do historiador

O historiador dedica-se a desvendar a realidade histórica, a conhecer o passado através da investigação, buscando indícios, provas e testemunhos para abordar problemáticas, relacionando fatos para encontrar as razões de continuidades e rupturas no presente.

Embora o professor de história possa ser também um historiador e vice-versa, exercem funções distintas.

Enquanto o professor de história transmite o conhecimento acumulado, discutindo fatos previamente selecionados pelos historiadores; estes últimos são responsáveis pela construção das narrativas históricas. Neste sentido, apesar da tentativa de imparcialidade, o trabalho do historiador é fabricar a história.

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É verdade que o historiador precisa fundamentar sua narrativa do passado através

de pesquisa, carecendo de fontes que confirmem suas hipóteses; porém, enquanto sujeito histórico, não está isento de concepções políticas e ideológicas que interferem na seleção de fatos e na sua interpretação.

Diante de uma imensidão de dados, o historiador termina ignorando alguns, enfatizando outros, compondo uma visão do passado dentre inúmeras outras possíveis. O que constrói os fatos que serão incorporados aos livros didáticos.

Por isto, passa ser função do professor realizar uma crítica dos conteúdos, ao mesmo tempo em que transmite o saber acumulado pela humanidade.

É função da escola, formar não só sujeitos que conhecem e dominam conteúdos, como também indivíduos críticos, capazes de questionar e ajudar a reformular o conhecimento. O trabalho do geógrafo

O geógrafo é o responsável pelo estudo da interação entre o homem e a natureza, fazendo parte de sua área de abrangência uma ampla gama de subáreas e possibilidades.

Este profissional pode se dedicar, por exemplo, a elaboração de mapas, trabalhando com cartografia, ou realizar análises do impacto ambiental da interferência humana sobre a natureza, lidando com a ecologia.

Pode ainda interpretar questões de natureza política, econômica e cultural para ajudar no entendimento e mapeamento das relações estabelecidas entre regiões e/ou com o meio ambiente.

Portanto, o geógrafo possui um amplo mercado de trabalho fora da sala de aula, podendo atuar em agências públicas e privadas, em instituições de planejamento e gestão ambiental e territorial, além de empresas de engenharia, levantando dados essenciais para construção civil.

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Exatamente por esta razão, este profissional, quando bacharel, possui o direito de registro no CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), subordinado ao Conselho Federal.

O que, muitas vezes, faz a maioria dos geógrafos optarem por não lecionar, deixando as escolas desfalcadas, ao passo que professores de história termina preenchendo esta brecha.

Pensando na história e na geografia, no âmbito das Ciências Humanas, voltados para o ensino infantil e fundamental, este conhecimento se torna essencial na formação de indivíduos críticos, contribuindo com a construção da cidadania.

História e geografia, abordados de forma integrada, até mesmo devido a sua proximidade e aos temas transversais que atravessam as duas áreas, devem ajudar a se situar no mundo.

Ajudam as pessoas a entenderem a si mesmas e o mundo em que vivem, criando consciência da necessidade de uma participação mais ativa na sociedade e na caminhada rumo a um futuro melhor.

Entretanto, para que isto aconteça, cabe ao professor abordar conteúdos de forma mais dinâmica, estimulando questionamentos ao invés de fornecer respostas prontas. As ciências humanas no ensino fundamental

As Ciências Humanas no Ensino Fundamental têm um papel importante no sentido

de ajudar a descortinar o mundo aos olhos do educando, oferecendo instrumentos que possibilitem o desenvolvimento de sua capacidade de análise, interpretação e sistematização da realidade social. Não estamos diante de uma área de estudos com estatuto menor de cientificidade – os tradicionais estudos sociais – mas sim, face de uma área de conhecimento que realiza a integração de um conjunto de ciências do homem e da sociedade que se distinguem das Ciências Físicas e Naturais. Distinguem-se pelo seu objeto e seu método de investigação. Diferentemente das ciências naturais, que abordam fatos no plano exterior, as ciências humanas estão diante de as realizadas

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conscientemente, portadoras de significação. Elas procuram compreender as ações dos homens, o que os moveram, que fins buscavam e o significado destas ações.

O trabalho do professor do Ensino Fundamental não pode prescindir de uma significativa formação na área de Ciências Humanas tanto para exercer sua tarefa em sala de aula, atuando diretamente com conceitos e conteúdos desta área junto aos seus alunos, quanto para compreender o universo das relações socais, econômicas, políticas, históricas e culturais que compõem o cotidiano escolar.

A sala de aula, embora pareça para muitos um lugar onde as coisas acontecem sempre do mesmo modo, não é bem assim como parece ser. Os professores e alunos sabem bem que muitas são as coisas que podem ocorrer durante uma aula e que uma aula nunca é como outra.

As Ciências Humanas, para representarem uma contribuição coerente e consistente na formação do educando, deve abarcar as noções básicas referentes às ciências que compõem essa área. Isso pressupõe a formação do professor no que diz respeito aos conceitos básicos de cada uma destas ciências. Isso para realizar seu trabalho em sala e para compreender as relações socais em que está envolvido.

O desenvolvimento dos processos que finalmente resultam na formação do conceito, começa na fase mais precoce da infância, mas, as funções intelectuais que, numa combinação específica, formam a base psicológica no processo de formação dos conceitos, só amadurecem na puberdade. No entanto, se o ambiente não fizer novas exigências ao indivíduo e não estimular seu intelecto, proporcionando uma série de novos objetos, o seu raciocínio não conseguirá atingir estágios mais elevados ou só aos alcançará com grande atraso.

Percebe-se, então, a importância de um ensino estimulante e significativo que possibilite o desabrochar da capacidade de elaboração e sistematização do educando, somente possível na medida em que o professor domine tais conceitos e seu processo de construção, bem como seu papel na formação do aluno. História e cultura

A relação entre cultura e história é pensada pela primeira vez, de forma bastante crítica, por Hegel e, posteriormente, por Marx. Essa relação implica o reconhecimento da historicidade da existência humana, cujos valores decorrem de apreensões de caráter cultural que não decorrem da natureza das coisas, mas sim de valores atribuídos no intuito de compreender o mundo. Desse modo, a realidade humana está referida aos conceitos construídos culturalmente e esses conceitos se transformam na medida em que a história segue seu curso, pois, a cada nova mudança, a cada nova situação, o homem se vê obrigado a construir novos valores, a reinterpretar a realidade e a dar novos sentidos àquilo que o cerca, bem como a si mesmo.

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Diferentemente do que pensamos, muitas situações que cremos ser naturais, em verdade, são fruto de condicionamentos culturais que se sedimentam através de gerações, criando na tradição o fio condutor de valores mundanos entendidos como verdades absolutas. Percebemos isso facilmente quando pensamos em situações como a suposta inferioridade da mulher, que foi construída durante séculos de dominação cultural da Igreja Católica, bem como a inferioridade de índios e negros, entendidos como primitivos e sem alma, inferiores em relação ao homem branco. Outros exemplos poderiam ser dados no sentido de retratar como determinadas situações, vistas como naturais, a bem da verdade não passam de construções humanas, que podem ser cambiadas na medida em que novas interpretações e situações são colocadas diante dos sujeitos.

Assim, a natureza refere-se ao campo onde as situações decorrem sem que haja uma interferência humana, por meio de leis próprias que regem ciclos e relações de causa e efeito (causalidade). Durante anos, o argumento de que existiam situações humanas decorrentes de impulsos naturais indeléveis permitiu o surgimento de uma concepção de humanidade dividida em raças (inferiores e superiores), estabelecendo-se uma escala evolutiva, na qual o europeu estava no topo, sendo que as demais etnias (vitimadas pelos arroubos colonialistas e imperialistas que culminaram em genocídio e escravidão) eram tidas como naturalmente inferiores, de comportamento mais próximo dos animais, irracionais.

Hoje, entendemos de forma diferente, apesar de o preconceito dessas teorias evolucionistas sobreviver de forma velada entre os indivíduos do corpo social. Foi necessária, assim, a compreensão de que existe um gênero humano referido a várias etnias, ou seja, homens que, apesar de iguais em sua condição humana, se diferenciam por fatores étnicos: idioma, religião, organização social, fenótipo, valores. Essas diferenças, anteriormente referidas a uma teoria evolucionista de viés eurocentrista, hoje são entendidas, pela antropologia, como elementos culturais, que não implicam maior ou menor grau de evolução, mas tão somente a diferença de percepção de mundo e de modo de vida.

A cultura, diferentemente da natureza, não obedece a uma rotina cíclica, de repetição: nascer, crescer, reproduzir, morrer. Ao contrário, a cultura é uma forma de estrutura de tempo linear dentro de um mundo (natural) regido por um tempo circular (cíclico): através dela, a história humana se desenrola no fluxo de novas percepções e valores construídos pelo afã humano de estabelecer um lugar para si no mundo. Com isso, os valores humanos se mostram historicamente condicionados, sendo mesmo inadmissível o estabelecimento de verdades absolutas e imutáveis, pois se o homem, a quem essas verdades estão referidas, é um ser histórico, que muda em função das novas experiências que a sequência da vida através das gerações coloca diante de si, as verdades devem acompanhar essas mudanças, a fim de que possam realmente se prestar para a solução dos assuntos humanos.

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Um exemplo dessa situação é a questão dos direitos humanos. Sendo valores expressos normativamente, os direitos humanos possuem diversas gerações em função do surgimento de novas necessidades no curso da vida humana. Primeiro, os direitos ditos “vermelhos” ou de primeira geração, estabelecidos sob a influência da burguesia revolucionária na França (1789) e consagrados como valores “universais”: vida, liberdade, propriedade, igualdade. Em um outro momento, numa Europa devastada pelas mazelas de uma Revolução Industrial que culminou na super-exploração da classe operária, surgem os direitos humanos “azuis”, ou de segunda geração, que visam salvaguardar ao indivíduo condições mínimas de vida social: habitação, trabalho, saúde, educação. E assim sucessivamente, gerações de direitos humanos se estabelecem à proporção que a história segue seu curso e coloca novas situações a serem enfrentadas pelo homem.

Disso decorre a historicidade da existência humana, que é cultural apesar da referência do homem enquanto um animal também e, nessa medida, parte da natureza. Todavia, diferentemente dos demais animais, o homem se consagra como um ser dotado da capacidade de “criar” o mundo através dos valores que atribui a si e àquilo que o cerca (cultura), sendo certo que, uma vez subtraídas as suas referências culturais, o homem se apresenta como único animal que não tem o comportamento pré-determinado por um “instinto humano”, haja vista o caso de Amala e Kamala, as meninas-lobo, e de Victor, o “menino selvagem de Aveyron”. Esses casos mostram a nós que o homem não nasce pronto, como os demais animais (um gato criado em meio a cachorros ainda assim se comportará como um gato). Ao contrário, o homem, ou a suposta “natureza humana” é construída através do contato com outros humanos, que nos ensinam os valores e os modos de vida sociais, a cultura, que nos humaniza.

Destarte, cientes de que não existem culturas melhores e piores, mas sim culturas diferentes, e de que são esses fatores culturais que moldam nossa existência ao longo da história, podemos perceber porque é tão complexa a solução de problemas referidos a diferenças étnicas, como o conflito Israel x Palestina, ou a impossibilidade de diálogo que muitas vezes se estabelece entre ocidentais e orientais. Esses conflitos, gerados pelo reconhecimento da diferença étnica sem aceitação da igualdade humana, culminam em experiências trágicas, como a Shoá (também conhecida como Holocausto), o genocídio dos ameríndios em nosso continente, ocorrido à época da colonização, no século XV, os genocídios ocorridos na África e a escravidão dos negros, o genocídio dos armênios pelos turcos (Ararat, 1915) e outros exemplos vergonhosos que mancham a história humana. Essa “desumanização” proposta por aqueles que não aceitam as diferenças étnicas e submetem “o outro” aos campos de concentração, às senzalas, aos troncos, aos guetos é um dos maiores desafios impostos à humanidade, que deve superá-lo, a fim de afirmar a condição plural do mundo e do gênero humano. A Terra é pluralidade, que implica o reconhecimento da igualdade humana a despeito da aceitação da diferença, como única forma de realmente afirmamos aquilo que se alcunhou “dignidade humana”.

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O primeiro europeu a chegar às terras que hoje formam o Brasil foi o espanhol Vicente Yáñez Pinzón no dia 26 de Janeiro de 1500.

Apesar disso, oficialmente o Brasil foi descoberto em 22 de Abril de 1500 pelo navegador português Pedro Álvares Cabral, que, no comando de uma esquadra com destino à Índia, chegou ao litoral sul da Bahia, na região da atual cidade de Porto Seguro.

A partir de 1530, a Coroa Portuguesa implementou uma política colonizadora, inicialmente com as capitanias hereditárias, depois com o governo-geral, instalado em 1548.

A descoberta de metais preciosos nos últimos anos do século XVII possibilitaria ao Reino português superar a crise econômico-financeira dando novo fôlego à colonização do Brasil.

Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, a agricultura exportadora voltou a ocupar uma posição de destaque na economia colonial. Esse fenômeno foi chamado pelo historiador Caio Prado Jr. de “renascimento da agricultura”, estando ligado, de um lado, ao incremento demográfico do século XVIII e, de outro, à grande alteração da ordem econômica inglesa em meados do século, com a Revolução Industrial.

No início do século XIX, com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte, o regente Dom João VI abriu os portos do país, permitiu o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. Com isso, o país tornou-se Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e Dom João VI, coroado rei. Logo depois voltou para Portugal, deixando seu filho mais velho, Dom Pedro I do Brasil, como regente do país.

Em 7 de Setembro de 1822, Dom Pedro proclamou a independência e reinou até 1831, quando foi sucedido por seu herdeiro, Dom Pedro II, que tinha apenas cinco anos. Aos catorze anos, em 1840, Dom Pedro II teve sua maioridade declarada, sendo coroado imperador no ano seguinte. No final da primeira década do Segundo Reinado, o regime estabilizou-se. As províncias foram pacificadas e a última grande insurreição, a Revolta Praieira, foi derrotada em 1849. Nesse mesmo ano, o imperador extingue o tráfico de escravos. Aos poucos, os imigrantes europeus assalariados substituíram os escravos.

A independência do Brasil marcou o fim do tumultuado conflito entre as tentativas de Portugal para (re)colonizar o Brasil e deixou para depois a resolução dos imensos problemas da nova nação: a crise econômica, a guerra com Portugal, a necessidade de reconhecimento pelas nações estrangeiras e a elaboração da nova Constituição.

No contexto geopolítico, o Brasil alia-se à Argentina e Uruguai e entra em guerra contra o Paraguai. No final do conflito, quase dois terços da população paraguaia estava morta. A participação de negros e mestiços nas tropas brasileiras na Guerra do Paraguai deu grande impulso ao movimento abolicionista e ao declínio da monarquia. Pouco tempo depois, em 1888, a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, assina

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a Lei Áurea, que extingue a escravidão. Ao abandonar os proprietários de escravos, sem os indemnizar, o império brasileiro perde a última base de sustentação.

Em 15 de Novembro de 1889, ocorre a proclamação da república pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca e tem início a República Velha, terminada em 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A partir daí, a história do Brasil destaca a industrialização do Brasil e a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos; o movimento militar de 1964, onde o general Castelo Branco assumiu a presidência.

O Regime Militar, a pretexto de combater a subversão e a corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e censurou os meios de comunicação, extinguiu os partidos políticos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime militar, os deputados federais e senadores reuniram-se, em 1988, em assembleia nacional constituinte e promulgaram a nova Constituição, que amplia os direitos individuais. O país redemocratiza-se, avança economicamente e cada vez mais se insere no cenário internacional.

No entanto, antes mesmo de o Brasil se tornar Brasil, o número de índios no país ultrapassava a marca de dois milhões. Divididos em diversas tribos, como a dos tupis-guaranis, a dos tapuias, caraíbas, entre outras; eles já haviam batizado a terra de Pindorama, referindo-se às palmeiras existentes no território.

A cultura brasileira reflete os vários povos que constituem a demografia desse país sul-americano: indígenas, europeus, africanos, asiáticos, árabes etc. Como resultado da intensa miscigenação e convivência dos povos que participaram da formação do Brasil surgiu uma realidade cultural peculiar, que inclui aspectos das várias culturas.

Dentre os diversos povos que formaram o Brasil, foram os europeus aqueles que exerceram maior influência na formação da cultura brasileira, principalmente os de origem portuguesa. Durante 322 anos o país foi colônia de Portugal e houve uma transplantação da cultura da metrópole para as terras sul-americanas. Os colonos portugueses chegaram em maior número à colônia a partir do século XVIII, sendo já neste século o Brasil um país Católico e de língua dominante portuguesa.

As primeiras décadas de colonização possibilitaram uma rica fusão entre a cultura dos europeus e a dos indígenas, dando margem à formação de elementos como a Língua geral, que influenciou o português falado no Brasil, e diversos aspectos da cultura indígena herdadas pela atual civilização brasileira. A influência indígena faz-se mais forte em certas regiões do país em que esses grupos conseguiram manter-se mais distantes da ação colonizadora e em zonas povoadas recentemente, principalmente na Região Norte do Brasil.

A cultura africana chegou através dos povos escravizados trazidos para o Brasil num longo período que durou de 1550 a 1850. A diversidade cultural de África contribuiu para uma maior heterogeneidade do povo brasileiro. Os próprios escravos eram de etnias diferentes, falavam idiomas diferentes e tinham tradições distintas. Assim como a

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indígena, a cultura africana fora subjugada pelos colonizadores, sendo os escravos batizados antes de chegarem ao Brasil. Na colônia aprendiam o português e eram batizados com nomes portugueses e obrigados converter-se ao catolicismo. Alguns grupos, como os escravos das etnias hauçá e nagô, de religião islâmica, já traziam uma herança cultural e sabiam escrever em árabe e outros, como os bantos, eram monoteístas. Através do secretismo religioso, os escravos adoravam os seus orixás através de santos Católicos, dando origem às religiões afro-brasileiras como o Candomblé.

Os negros legaram para a cultura brasileira uma enormidade de elementos: na dança, música, religião, cozinha e no idioma. Essa influência faz-se notar em praticamente todo o País, embora em certas zonas (nomeadamente nos estados do Nordeste como Bahia e Maranhão) a cultura afro-brasileira seja mais presente.

As relações sociais

Todas as pessoas são protagonistas no que se refere às relações sociais. Podemos definir este conceito como todas as interações e ligações que se estabelecem entre os seres humanos de maneira natural ou por seus interesses individuais ao longo de sua vida. Trata-se de uma aptidão que nasce com o homem, um instinto inato de organizar-se em grupos e estabelecer relações entre os que o rodeiam.

As relações sociais são necessárias para a vida em sociedade, pois motivam e orientam o homem no seu processo de desenvolvimento, na sua evolução. A luta pela sobrevivência da espécie humana desde os primórdios, fez com que as semelhanças e diferenças gerassem grupos sociais com diferentes objetivos: o de produzir, o de estudar, o de se divertir, o de se proteger. Este tema é amplamente estudado e tratado ao longo da história do Homem dentro do campo das Ciências Sociais: a análise de como as formas de comportamento, as condutas dos seres humanos se tornam estáveis e pouco a pouco formam grupos que interagem através das relações sociais durante a sua vida em sociedade. Podemos citar grandes nomes de nossa História que dedicaram inúmeros estudos abordando este tema como, o sociólogo alemão Max Weber ou o francês Auguste Comte.

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Hoje, podemos dizer que as relações sociais ganharam uma nova perspectiva através das redes sociais. Surge, portanto, nos tempos atuais uma nova forma de relação social que usa como meio de atuação a tão afamada internet. Um novo meio de relacionar-se, de fazer amigos, de criar grupos com diferentes objetivos e diversas percepções da realidade, mas todo este novo e enorme universo, ganha força dia a dia graças a esta necessidade intrínseca dos seres humanos de estabelecer relações sociais. Por mais que se modifiquem os tempos, as formas de convivência ou os lugares onde as pessoas se encontram, na rua, em Marte ou na “nuvem”, as relações sociais sempre existirão permeando toda esta teia de enlaces e laços da Humanidade. Espaço escolar O espaço escolar deve compor um todo coerente, pois é nele e a partir dele, que se desenvolve a prática pedagógica, sendo assim, ele pode constituir um espaço de possibilidades ou de limites; tanto o ato de ensinar como o de aprender exigem condições propícias ao bem-estar docente e discente. O espaço material é um pano de fundo onde as sensações se revelam e produzem marcas profundas que permanecem, mesmo quando as pessoas deixam de ser crianças. Através dessa qualificação, o espaço vivido é elemento determinante na conformação da personalidade e mentalidade dos indivíduos e dos grupos.

Considerando assim, a grande relevância do espaço para a vida do homem e a sua dimensão educativa, o espaço/ambiente escolar, adquire uma fundamental importância e, para estudá-lo, é preciso considerá-lo como parte integrante de um contexto macro e como um reflexo das representações sociais – conjunto de informações, crenças, opiniões e atitudes partilhadas por um grupo a respeito de um dado objeto social.

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O professor e o ensino de história e geografia De início, cabe aqui indagar acerca do interesse do professor em ensinar História e Geografia, para a partir de então, construir uma visão sobre o papel desempenhado em sala de aula e sua consequente ligação com a formação que teve acesso ao longo de sua escolaridade. A presença de práticas tradicionais no ensino de Geografia enfatiza o uso de questionário e memorização de acidentes físicos e fenômenos da natureza com conteúdos extensos e sem ligação com a realidade do aluno. São conteúdos trabalhados de forma linear, sem questionamentos das transformações ocorridas e sua ligação com as relações sociais na ocupação do espaço. É urgente em nossas escolas a presença de uma Geografia que estude o espaço numa perspectiva investigadora, que se discuta a paisagem que construímos com nossos atos a cada dia. Para aceitar que somos nós que produzimos e circulamos em nosso lugar. Mesmo que os agentes externos e os objetos antigos estejam presentes, a decisão deste lugar é nossa, é interna, é atual. Em relação ao ensino de História, é de fundamental importância o conhecimento da temporalidade das relações sociais, das relações políticas, das formas da produção econômica, da produção cultural, das ideias, dos valores, que permitem ao educando compreender que a realidade social resulta da ação do homem concreto, imbuído de vontades, coragem, interesses, compromissos, mas, sobretudo de ação organizada. Um ensino de História e Geografia que conduza a caminhos da formação de consciência crítica deve estar relacionado a um novo fazer pedagógico, o que implica na utilização, em sala de aula, de inferências e interpretações acerca da sociedade atual, resgatando valores culturais, movimentos sociais e vida cotidiana, vividos num determinado espaço, na dinâmica de grupos e tempos passados e presente. Tudo isso, a fim de possibilitar aos educandos a capacidade de análise para produção individual e coletiva de seus conhecimentos. Sem o compromisso de refletir sobre nossa própria prática, não é possível crescer em competência técnica e política. Estudar é fundamental. E não só estudar nossa disciplina especificamente, no sentido de “preparar aulas”. Isso já é nosso dever. Estudar num sentido mais amplo: ler e refletir sobre assuntos que extrapolam as limitantes fronteiras de nossa disciplina. Pois, a habilidade em comunicar um conteúdo passa pelo domínio do assunto. Apenas um conhecimento superficial sobre o assunto a ser tratado em sala não nos garantirá condições de selecionar conteúdos mais significativos e adaptados às necessidades e interesses do aluno, bem como organizá-lo sequencialmente. É preciso não esquecer das dificuldades concretas a que estamos submetidos pela sobrecarga de trabalho, mas devemos ter como princípio o estudo constante. Estar aberto ao novo, percebendo que o conhecimento nunca está acabado, é um processo

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permanente de mudança que só se efetiva se vierem de dentro, tiveram raízes dentro de nossa preocupação. Conteúdos em História e Geografia O professor deve ensinar os conteúdos de História e Geografia desenvolvendo conceitos que são importantes, constitutivos da vida e na dinâmica da sociedade. Permitindo ao aluno construir seu conhecimento no espaço e no tempo em que vivem numa perspectiva de tornar-se um cidadão crítico e sintonizado com o mundo. A proposta pedagógica da escola e do currículo deve eleger o que ensinar e o que de fato propõe ao educando a aprender partindo do que é interessante e vivido pelo aluno. Desta forma, está se considerando em sua plenitude, tornando-se um indivíduo capaz de criar e transformar a realidade em comunhão com seus semelhantes. Em História e Geografia, as informações não devem ser postas de forma acabada, mas, na medida do possível, demonstrando-lhes o contexto em que foram construídas, como as pessoas buscam estes resultados, quais os interesses envolvidos e que surgiram do esforço do pensar, de refletir e de necessidades que os diversos povos têm e tiveram. O trabalho com conceitos de “grupo-espaço-tempo” precisa considerar o interesse e desempenho dos alunos, ou seja, realizar um fazer pedagógico com um estudo bem articulado. Os conceitos de espaço e de tempo são básicos no estudo da Geografia e da História, respectivamente. É nestas duas dimensões que as relações sociais humanas se travam, transformando a natureza, produzindo cultura, construindo a história. A construção mental desses conceitos por parte do ser humano se dá na interação das condições internas de aprendizagem com as condições ambientais de que dispõe o aprendiz. Os homens vivem num espaço que resulta de uma dinâmica e é cheio de historicidade. Conhecer o espaço é observar esta dinâmica como resultado mais do que aceitá-lo como definido e acabado. O ensino de História e Geografia deve avançar neste sentido e não considerar o espaço estático, acabado e necessário de ajustamento do indivíduo ao meio em que vive. Mas sim, como resultado pela sobrevivência num determinado lugar e num determinado tempo, sendo, pois, o espaço uma dimensão da realidade.

A construção do conceito espaço no currículo escolar precisa aproveitar a vivência diária do aluno para conhecer, exercitar e atuar de forma consciente no meio em que vive.

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O conceito de espaço é uma abstração da realidade, construída a partir da realidade em si. Ao confrontá-lo com outros lugares, têm início um processo de abstração que se assenta na relação entre o real e o aparente, visível, perceptível e o concreto, passando a construir uma compreensão crítica do que está sendo visível. O trabalho com mapas é fundamental para saber situar-se e entender o fenômeno que acontece no mundo inteiro. É preciso, no entanto, aprender a ler mapas, entender o porquê da elaboração e tentar construi-los. É preciso também, saber orientar-se, entender legendas e interpretar escalas, distâncias e localizações. Em História e Geografia é importante diferenciar tempo físico e tempo social. O primeiro se dá independente da vontade humana e o segundo ocorre no ritmo e direção própria de uma determinada sociedade, dependendo dos interesses e vontades dos diversos grupos e épocas. O uso do calendário é necessário na escola, pois oportuniza o aprendizado da compreensão dos diferentes ritmos em que as coisas acontecem, evitando desta forma, a compreensão de um tempo linear, mas sem, estabelecido de uma irreversibilidade do tempo, sua duração, seu antes e depois para então entender o hoje, o agora. À medida que estas noções forem trabalhadas e compreendidas pelos alunos, pode-se introduzir a linha do tempo entendido como uma sucessão de acontecimentos, um legítimo mapa do tempo que registra os diferentes processos sociais, um registro que diz muito da história.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, Mª do Socorro A. Formação Continuada Para Professores da Educação de Jovens e Adultos. Campina Grande: CEI, 2007. CARLOS, A. F. A. A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010. Conceito de Relações Sociais. Disponível em: <http://queconceito.com.br/relacoes-sociais> Acesso em 26 de junho 2015. FERNANDES, Manoel. Aula de Geografia. Campina Grande: Bagagem, 2003. KARNAK, L. (org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008. PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do Ensino de História e Geografia. São Paulo: Cortez, 1994 PINSKY, C. B. (org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009. RAMOS, Fábio Pestana. História e Geografia e sua importância em sala de aula: reflexões sobre o estudo das Ciências Humanas na educação básica. Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/08/historia-e-geografia-e-sua-importancia.html> Acesso em 26 de junho 2015.

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O Último Pau de arara - Venâncio/Corumba/J. Guimarães

A vida aqui só é ruim Quando não chove no chão Mas se chover dá de tudo

Fartura tem de montão Tomara que chova logo

Tomara, meu Deus, tomara Só deixo o meu Cariri

No último pau de arara Só deixo o meu Cariri

No último pau de arara Enquanto a minha vaquinha

Tiver o couro e o osso E puder com o chocalho Pendurado no pescoço Vou ficando por aqui

Que Deus do céu me ajude Quem sai da terra natal

Em outro canto não para Só deixo o meu Cariri

No último pau de arara Só deixo o meu Cariri

No último pau de arara Enquanto a minha vaquinha

Tiver o couro e o osso E puder com o chocalho Pendurado no pescoço Vou ficando por aqui

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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA:

ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA

Ensinando História e Geografia

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ENSINANDO HISTÓRIA E GEOGRAFIA

O tempo e o espaço A criança, desde muito cedo, procura se adaptar ao espaço e ao tempo em que

está situada, as primeiras estruturas mentais se constroem em função das coordenações do corpo no espaço e das sequências temporais das ações. Sendo então a criança um ser ativo, acreditamos que podem ser desenvolvidas práticas pedagógicas na Educação Infantil que se ocupem do desenvolvimento da inteligência. Muitas vezes, os professores ficam temerosos em desenvolver atividades que propiciem a construção das noções de espaço e tempo, dada a dificuldade de abordagem. Além das práticas de cuidado, a Educação Infantil também está envolvida no desenvolvimento cognitivo dos pequenos, e a construção das noções de tempo e espaço pode auxiliar nessa tarefa.

Em geral, os professores de Educação Infantil são receosos em trabalhar as noções de tempo e espaço. Acreditam que esses conceitos são muito complicados, pois envolvem conteúdos da física. Na verdade, usamos as noções de tempo e espaço a todo momento no dia a dia. Quando vamos atravessar a rua, precisamos pensar na distância que devemos percorrer até o outro lado. Necessitamos calcular, ainda que inconscientemente, o tempo que vamos levar e relativizá-lo em função do fluxo de veículos e pedestres. As noções de tempo e espaço estão nas atividades mais cotidianas e podem ser exploradas com as crianças a fim de promover o seu desenvolvimento.

A construção da noção de espaço e tempo é um dos elementos fundamentais que constituem a inteligência da criança pequena. De fato, o espaço e o tempo são apontados por Kant (1980), como elementos essenciais de sensibilidade da realidade.

A primeira noção de tempo gira em função do desejo próprio da criança, que está,

em geral, longe de se adaptar ao tempo cronológico. O corpo influencia a construção de

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um tempo subjetivo e ainda não muito estruturado. De acordo com Piaget, a criança pequena elabora as noções de espaço e tempo por meio de um descarte progressivo e gradual do egocentrismo. A ruptura da exclusividade do próprio ponto de vista da criança permite a superação do egocentrismo infantil e a construção objetiva, isto é, da realidade dos fatos, das noções de espaço e tempo. Um exemplo muito recorrente acontece quando a criança escolhe comer uma guloseima – um sorvete ou chocolate – bem devagar, pois assim “dura mais”, como se a quantidade de doce dependesse da duração do evento de consumi-lo.

A rotina na Educação Infantil configura-se como um importante instrumento de construção do tempo. A criança, mesmo que não tenha construído essa noção em termos convencionais, pode marcar a passagem do tempo através dos acontecimentos do seu dia. Existe a hora da brincadeira, a do lanche, a do descanso, etc. Cada um desses eventos tem uma duração e um lugar dentro da rotina. Essas características, mesmo que subjetivas (passou rápido, passou devagar, está demorando, a sequência das atividades, etc.) permitem que a criança conviva e interaja com a noção de tempo. Diversos exemplos podem ser percebidos na Educação Infantil. A criança que estuda pela manhã está habituada a acordar e ir à escola. Se ela dorme durante a tarde e acorda à noitinha, pede para ir à escola. O tempo ainda não é o cronológico, mas o da sequência de procedimentos, isto é, vai-se à escola quando se acorda.

Na Educação Infantil, diversas práticas podem colaborar com a construção da noção de tempo. A música e o lúdico podem se tornar elementos que auxiliam nessa construção. O compasso e o ritmo musical são, de fato, marcações de tempo, e o acompanhamento que as crianças pequenas fazem com palmas, batidas de pé ou, até mesmo, com instrumentos, pode ser uma possibilidade de interação com a noção de tempo. O tempo das crianças da Educação Infantil é o tempo de suas ações. Em função disso, cabe ao professor, justamente, organizar as atividades dos pequenos para que a organização de sua duração e a sequência sejam elementos também de aprendizagem.

No que tange ao espaço-tempo, as crianças pequenas têm dificuldades de representar objetos e acontecimentos que não sejam a partir de sua própria perspectiva. Os estudantes têm dificuldades para copiar um objeto-modelo, pois a criança encontra empecilho durante a tarefa de conciliar um objeto real com a sua subjetividade e, em geral, prevalece essa segunda opção. Quando pedimos que os pequenos desenhem, por exemplo, uma caneca que está sobre a mesa, além da dificuldade motora, existe o problema de adaptar as formas reais a uma representação pictória. Na verdade, até mesmo alguns adultos têm essa dificuldade cognitiva, não sendo capazes de representar objetos pelo desenho. Um dos principais elementos que influenciam essa situação é o espaço. Para que possamos representar no papel um objeto, é necessário considerar as dimensões espaciais do próprio objeto e dos elementos que o compõem. Se as relações de tamanho dos elementos em relação ao plano de referência não estão bem-elaboradas, então a representação não se torna muito compreensível. Todavia, para a própria criança

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que elabora o desenho, a figura representa o objeto que ela se propôs a desenhar, pois seu pensamento se coloca da seguinte maneira: “Se eu entendo que esse desenho representa uma caneca, então todos os outros também.” De fato, quando os adultos questionam as crianças sobre o que seriam os seus desenhos, elas demonstram certa impaciência, pois lhes parece óbvio o que está diante dos olhos do apreciador.

Os problemas de espaço e tempo que as crianças enfrentam não envolvem complicados conteúdos da física, mas se referem a coordenar movimentos em suas ordens temporal e espacial, enfim, em organizar os comportamentos confrontando aspectos subjetivos (influenciados pelo egocentrismo) com a realidade objetiva. A sistematização dessas condutas desde a infância influencia fortemente o desenvolvimento da inteligência e repercute por toda a vida do sujeito.

A possibilidade de experimentação de atividades que envolvam o tempo e o espaço pode contribuir para o desenvolvimento da criança, não apenas com o intuito de prepará-la para o Ensino Fundamental, mas para que possa se desenvolver e viver plenamente a sua infância. Temos aí mais um elemento que destaca a importância da Educação Infantil e a formação de qualidade dos profissionais envolvidos. O Ensino de História: Divisão da História

A história é uma ciência que estuda a vida do homem através do tempo. Ela investiga o que os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais. Nesse sentido, o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo.

A história é feita por homens, mulheres, crianças, ricos e pobres; por governantes e governados, por dominantes e dominados, pela guerra e pela paz, por intelectuais e principalmente pelas pessoas comuns, desde os tempos mais remotos. A história está presente no cotidiano e serve de alerta à condição humana de agente transformador do mundo.

Ao estudar a história nos deparamos com o que os homens foram e fizeram, e isso nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer. Assim, a história é a ciência do passado e do presente, mas o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar ao passado e ele não se repete. Por isso, o passado tem que ser “recriado”, levando em consideração as mudanças ocorridas no tempo. As informações recolhidas no passado não servirão ao presente se não forem recriadas, questionadas, compreendidas e interpretadas.

A história não se resume à simples repetição dos conhecimentos acumulados. Ela deve servir como instrumento de conscientização dos homens para a tarefa de construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa.

Toda vez que abrimos um livro de História ou começamos um assunto novo na História, nos deparamos com a divisão dos tempos históricos. Em resumo, são cinco os

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períodos que os livros e professores nos apresentam: Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e a Idade Contemporânea. Antes de pensarmos um pouquinho mais sobre essa divisão, vamos citar brevemente quais os fatos centrais e características que cada um desses períodos apresenta.

A Pré-História começa no aparecimento dos primeiros seres humanos na Terra, até 4000 anos antes de Cristo, quando temos a invenção da escrita. Nesse tempo, observamos intensamente a relação dos homens com a natureza, a realização das primeiras invenções, a criação de ferramentas e outros aparatos que viabilizaram a vida humana na Terra e, mais tarde, possibilitaram o surgimento das primeiras comunidades humanas.

Chegando à Antiguidade, que vai de 4000 antes de Cristo até o ano de 476 depois de Cristo, observamos a formação de uma série de civilizações. Egípcios, sumérios, mesopotâmios, gregos e romanos são os povos estudados com maior frequência. Apesar da enorme distância temporal em relação aos dias de hoje, podemos ver na Antiguidade a concepção de várias práticas, valores e tecnologias que ainda têm importância para diversos povos de agora.

Situada entre os anos de 476 e 1453, a Idade Média compreende um período de aproximadamente mil anos. Na parte ocidental do mundo, costumamos olhar atentamente para a Europa Ocidental. Esse lugar foi tomado pelos valores da religião cristã, que se torna uma das mais importantes crenças de todo o planeta. Mesmo tendo muito poder e autoridade, a Igreja não tinha poder absoluto nesses tempos. As artes, a literatura e a filosofia tiveram um espaço muito rico e interessante nessa época da história.

A Idade Moderna fica datada entre os anos de 1453 e 1789. Nesse tempo, diversas nações europeias passam a encontrar, dominar e explorar várias regiões da América e da África. A tecnologia desenvolvida nesse tempo permitiu reduzir distâncias e mostrar ao homem europeu que o mundo era bem maior do que ele imaginava. As monarquias chegaram ao seu auge e também encararam sua queda nesse mesmo período. Com a Revolução Francesa, ocorrida em 1789, novos padrões políticos apareceram.

A Idade Contemporânea, que vai de 1789 até os dias de hoje, é um período histórico bastante curto, mas ainda assim marcado por muitos acontecimentos. As distâncias e relações humanas, em parte graças à Revolução Industrial desenvolvida no século XVIII, se tornam ainda menores. O desenvolvimento do sistema capitalista permite a exploração de outras parcelas do mundo e motiva terríveis guerras. Chegando ao século XX, a grande renovação das tecnologias permite que pessoas, nações e ideias se relacionem de uma forma nunca antes vista.

Percebendo essas divisões do tempo, você pôde notar que existem períodos históricos que são mais longos e outros que são bem mais curtos. Dessa forma, vemos que a divisão da História não obedece ao tempo cronológico, no qual um dia sempre terá vinte quatro horas, uma hora sempre terá sessenta minutos e um minuto possuirá

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sessenta segundos. Desse modo, aparece uma questão: o que determina o início e o final dessas tais divisões que a história tem?

É nesse momento que entra em ação os historiadores, que pensam as experiências e transformações sofridas pelos homens ao longo do tempo. De acordo com as transformações consideradas mais importantes e significativas, com o passar do tempo, abre-se a possibilidade de discutir se um período histórico se encerra e um novo se inicia. Em termos práticos, a divisão ajuda a definir quais os eventos têm maior proximidade entre si.

Mas é importante tomar um grande cuidado com a divisão da História. O começo e o fim de um determinado período não significam que o mundo se transformou completamente na passagem de um período para o outro. Muitos dos valores de uma época se conservam em outros períodos e se mostram vivos no nosso cotidiano. Sendo assim, as divisões são referenciais que facilitam nosso estudo do passado, mas não ditam quando a cabeça dos homens exatamente mudou. Os Números Romanos e Indo-arábico

Os números foram criados, ao longo da história, diante da necessidade do homem, pois precisavam de uma forma de representar as quantidades.

As primeiras representações numéricas apareceram em razão da necessidade de se fazer a contagem dos animais, por exemplo. Os pastores soltavam seu rebanho pela manhã e contavam esses animais através de pedrinhas que eram colocadas num saco. Para cada animal, usava-se uma pedrinha. Ao final do dia, ao buscar o rebanho, os pastores contavam de forma inversa, retirando do saco uma pedrinha para cada animal.

Nessa época existiam outras formas de representação numérica, como nós em cordas ou riscos feitos em ossos e pedras, sendo que cada região utilizava uma forma diferente. O homem percebeu que precisava de uma forma única de representar essas quantidades, para facilitar o entendimento entre os diferentes povos.

Os egípcios foram um dos primeiros povos a criar um sistema de numeração.

Sistema de numeração dos povos egípcios

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Os romanos também inventaram uma forma de contar as coisas, ou seja, o seu sistema de numeração, conhecidos como números romanos. Podemos encontrá-los até hoje, sendo usados na escrita dos séculos, em relógios, capítulos de livros, nomes dos papas, etc.

Algarismos romanos

Porém, os números que usamos foram criados pelos indianos, no Norte da Índia,

em meados do século V da era cristã. As primeiras inscrições aparecem

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aproximadamente da forma como escrevemos. Descobriram as posições de se colocar os mesmos para formar os números maiores.

Mas foram os árabes que difundiram essa forma de contagem e por isso ficaram

conhecidos como indo-arábicos, através de um grande matemático chamado Al-Khwārizmī, que deu o nome aos mesmos de “algarismos”. A História do Brasil

A colonização do Brasil aconteceu no final do século XV, no ano de 1500, quando algumas nações europeias estavam envolvidas com a expansão marítimo-comercial. Nesse tempo, nações como Portugal e Espanha lançaram expedições pelo mar em busca de novas rotas marítimas e novas terras que poderiam ser exploradas. Nesse processo, os portugueses anunciaram a descoberta de novas terras ao sul do continente americano no ano de 1500.

Nos primeiros anos da colonização, os portugueses não deram muita atenção aos domínios brasileiros. Nesse tempo, queriam se aproximar mais do comércio com as Índias e se limitou a poucas expedições de reconhecimento, proteção do território e de busca do pau-brasil. Nesse momento, tiveram que enfrentar a resistência de algumas populações indígenas e a ameaça de invasão por outros povos europeus que também tinham interesse em explorar o Brasil.

A partir de 1530, a colonização portuguesa tornou-se mais intensa. A partir desse período surgiram as primeiras plantações de cana-de-açúcar e a exploração da mão de obra escrava começou a se consolidar em nosso cotidiano. Além disso, vale ressaltar o papel assumido pelos padres jesuítas. Chegando ao Brasil, esses representantes da Igreja voltaram-se para a conversão religiosa da população indígena para o catolicismo.

Entre os anos de 1580 e 1640, a colonização portuguesa sofreu uma relativa mudança com a organização da União Ibérica. Nesse período, os espanhóis tiveram à frente das principais ações administrativas relacionadas ao Brasil. Com essa mudança, os holandeses invadiram o nordeste brasileiro e passaram a dominar a produção açucareira naquela região. Nesse tempo a economia portuguesa ficou seriamente fragilizada e a

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situação não melhorou muito no século XVII, quando o governo português tinha recuperado o controle da colônia. Uma grande mudança foi notada quando atingimos o século XVIII, quando foram descobertas as primeiras minas de ouro no interior do Brasil. Sendo uma atividade altamente lucrativa, a mineração trouxe a intensificação da cobrança de impostos e a fiscalização por parte das autoridades portuguesas. Em reação, percebemos que essa época também ficou marcada pelas mais importantes revoltas coloniais.

Os revoltosos tinham motivações e objetivos diversos para protestar: desde a falta de auxílio do governo português, até o exagero nos impostos cobrados. Entre essas revoltas ficaram mais conhecidas a Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798. As duas projetaram o rompimento local com as autoridades portuguesas e a fundação de governos independentes. Contudo, a Conjuração Baiana foi a única que se colocou contra a escravidão e teve a participação intensa de populares.

O ano de 1808 é reconhecido por alguns historiadores como o tempo que a ordem colonial passou a ser desmontada no Brasil. Isso porque a Família Real Portuguesa chegou ao Brasil e concedeu importantes liberdades de ordem econômica e política. Mesmo com maior autonomia, devemos lembrar que era a Coroa Portuguesa que tomava as mais importantes decisões por aqui. É por tal razão que a colonização é oficialmente findada no dia 7 de setembro de 1822, quando nossa independência foi declarada.

Na capital brasileira (cidade do Rio de Janeiro) em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou a Monarquia e instaurou a República Federativa e Presidencialista no Brasil. No mesmo dia foi instaurado o governo provisório em que o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a presidência da República. A importância da leitura de mapas

Para continuar a nossa discussão sobre a importância da cartografia, bem como dos elementos componentes de um mapa, é importante enfatizar que devemos “praticar a leitura cartográfica”, como forma de nos tornamos “melhores leitores do espaço geográfico”, visto que o mapa, além de ser uma representação simbólica desse espaço, é um “modo de ver o mundo” e, com isso, mostrar ou ocultar informações que são pertinentes, que devem ou não ser explicitadas.

Assim, como todos nós sabemos, os mapas são ferramentas há muito tempo utilizadas pela humanidade em sua tentativa de compreender o mundo em que vive. Os avanços nas formas de se elaborar alguns produtos cartográficos são evidentes e, entre estes avanços, é necessário notar o uso de computadores. Porém, essa representação virtual nem sempre esteve disponível, sendo os mapas impressos recursos fundamentais para a divulgação do conhecimento dos mapas e dos objetos e fenômenos representados por suas técnicas cartográficas.

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Dessa forma, os mapas impressos são recursos didáticos utilizados desde que as disciplinas escolares foram sistematizadas e institucionalizadas em ambiente escolar. Porém, é importante destacar que o uso desses mapas impressos para a leitura do espaço geográfico sempre se destacou de forma tradicional, que se caracteriza pela diferenciação e descrição dos lugares, objetivando a repetição excessiva das características regionais, que possibilita aos leitores, muitas vezes, somente uma breve memorização de informações geográficas, por meio de imagens e símbolos, de forma ilustrativa, de forma pronta e acabada, sem que ocorra a discussão crítica dos aspectos socioeconômicos das diferentes regiões da superfície terrestre.

Apesar dos problemas de representação contidos em alguns mapas impressos, principalmente no que tange a ausência ou erro dos principais elementos do mapa (legenda, título, escala, orientação, projeção), o uso do mapa não está ultrapassado e não se deve deixar de considerar a sua importância no desenvolvimento e na sistematização do processo de ensino-aprendizagem, pois foi pelo uso dos mapas impressos, utilizados em sala de aula, que o conhecimento cartográfico passou a ser popularizado e utilizado para a construção do conhecimento de seus usuários nas escolas, com o objetivo de auxiliar os estudantes em sua aprendizagem.

Quando consideramos o acesso cada vez maior às informações, podemos perceber a importância que os mapas têm nos dias de hoje. Os mapas representam e sintetizam informações históricas, políticas, econômicas, físicas e biológicas de diferentes lugares do mundo. No passado, eles eram documentos confidenciais, que circulavam somente entre aqueles que participavam do poder. No presente, conhecer o funcionamento, as diferentes funções dos mapas e saber utilizá-los ajudam a resolver problemas cotidianos de planejamentos e projetos.

O mapa hoje é algo essencial. Não apenas porque nos ajuda a compreender as transformações e os problemas do mundo atual, mas também nos permite usufruir, com

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liberdade e segurança, um dos direitos universais do homem, garantido inclusive em nossa Constituição de 1988: o de ir e vir. O mapa na sala de aula

A importância dos mapas e dos Atlas na sala de aula justifica-se justamente pelo

papel que a cartografia tem no mundo contemporâneo. Ensinar o aluno a ler e a obter informações em diferentes tipos de mapa é uma

forma de promover a construção de procedimentos que lhes permitam localizar objetos e endereços para se deslocarem, com sucesso, por cidades e bairros desconhecidos, conferir trajetos dos meios de transporte, planejar uma viagem ou se situar em locais públicos (shopping-centers, hospitais e museus). Esses procedimentos também lhes possibilitam utilizar como fonte de pesquisa os mapas, que sintetizam informações a respeito de lugares e regiões de diferentes partes do Brasil e do mundo.

Aprender a ler mapas e saber utilizá-los como uma representação do espaço, que segue as regras de vários sistemas de projeção e tem uma linguagem específica, é elemento-chave para a formação do cidadão autônomo.

Desde as séries iniciais, os alunos podem ter contato com diferentes tipos de mapa e seu portador por excelência, o Atlas. Esse contato, porém, não deve ser casual ou esporádico. Deve ocorrer de acordo com um planejamento sistemático do professor em função dos conhecimentos que os alunos de uma dada faixa etária podem construir a respeito desse conteúdo.

Em seu planejamento, o professor pode elaborar atividades que privilegiem dois eixos de trabalho: o da produção e o da leitura de mapas. Esses dois eixos podem ocorrer de forma simultânea, pois não há necessidade de os alunos aprenderem primeiro a produzir para depois aprenderem a ler e consultar mapas ou vice-versa.

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A produção de mapas É importante que os alunos representem um objeto ou lugar para comunicar algo

a alguém. Dessa forma, eles estarão aprendendo também a entender a função social e científica dos mapas: transmitir informações.

A produção pode ser planejada a partir de atividades bastante simples, como desenhar objetos e localidades do cotidiano. A sala de aula, a escola, a casa e todos aqueles espaços que as crianças conhecem do ponto de vista de sua distribuição espacial constituem boas escolhas para que elas façam a representação.

É fundamental que o professor questione os desenhos produzidos pelos alunos,

avaliando forma, tamanho, posição, orientação, distância, direção e produção dos objetos e locais representados. Esse questionamento pode ser realizado por meio do confronto com a própria realidade.

O trabalho com os pontos cardeais ganham aqui um contexto, pois o conhecimento desses pontos – norte, sul, leste e oeste –, que determinam as principais direções na superfície da Terra, é de extrema relevância para aprender a posicionar e orientar aquilo que está sendo representado.

A atividade de desenhar o entorno pode também ser planejada a partir de diferentes perspectivas. É interessante desafiar os alunos a desenhar como se estivessem tendo uma visão vertical de um objeto ou lugar, ou seja, como se estivessem olhando de cima para baixo ou, ainda, a desenhar com uma visão oblíqua de objetos e lugares, como se estivessem observando-os do alto e um pouco de lado (tal como a visão que as pessoas têm de uma cidade quando a olham da janela de um avião).

Esses desafios são oportunidades para que eles construam noções cartográficas e compreendam como ocorre a representação gráfica do espaço.

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O uso de cores e símbolos pode ocorrer sempre que o professor convidar seus alunos a representar objetos e lugares de forma simplificada e esquemática. Isso constitui um novo desafio; para superá-lo, os alunos precisarão criar símbolos e utilizar cores para indicar o que está sendo representado, sem fornecer detalhes a respeito de cada elemento. Essas atividades se tornam mais significativas quando em contextos de comunicação.

Nesse sentido, o professor pode planejar situações nas quais os alunos tenham que representar a própria casa, para mostrar aos colegas como ela é, ou a própria escola, com o objetivo de informar a distribuição de suas dependências para um visitante que não a conhece.

O professor pode ainda organizar brincadeiras, como a caça ao tesouro: um grupo produz mapas para que os colegas dos outros grupos localizem um objeto escondido.

A leitura dos mapas

O eixo de leitura de mapas também deve ocorrer de forma contextualizada, por

meio de mapas temáticos. Os alunos podem consultar mapas políticos, de relevo, clima ou vegetação, para obter informações a respeito de lugares ou assuntos que estejam estudando.

Pode-se também sobrepor mapas, por exemplo, para relacionar uma determinada forma de vegetação ao relevo e à ocupação agrícola. Consolida-se, assim, um trabalho de inter-relacionamento do ensino da Geografia com as demais áreas do currículo. Os alunos aprendem a reconhecer os mapas e os Atlas como fontes preciosas de informação para suas pesquisas.

É importante que os alunos vivenciem situações de comparação das informações

representadas em diferentes tipos de mapa, estabelecendo relações entre fenômenos variados. Um exemplo disso é a comparação que pode ser feita entre as informações

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contidas em um mapa que trate das formas de relevo de uma determinada região e outro que informe a distribuição da população na mesma área.

O professor pode trabalhar também com planos, plantas de construção, cartas de cidades, imagens de satélites e até mesmo mapas digitais feitos por computador.

Ensinar a consultar um guia de ruas, um mapa rodoviário, a planta de uma casa, o painel com as linhas do metrô ou com a distribuição das lojas de um shopping-center são objetivos de aprendizagem que podem ser de grande valia no planejamento das aulas.

Para essas aprendizagens, é possível recorrer a situações nas quais os alunos se sintam desafiados a ler o mapa, para obter uma informação que lhes interessa. O professor pode utilizar, como suporte para suas aulas, mapas e cartas geográficas que são publicados em jornais, revistas, impressos ou folhetos de propaganda.

A compreensão das legendas merece atenção especial, pois elas fornecem as explicações necessárias para os alunos trabalharem com as informações. Sempre que julgar oportuno, o professor deve incentivar os alunos a ler as legendas e tentar compreendê-las.

Conhecer e utilizar diferentes tipos de mapas e o Atlas, sem dúvida alguma, ampliam as possibilidades dos alunos de extrair e analisar informações relacionadas a diferentes áreas de conhecimento, além de contribuir para que eles consolidem uma noção de espaço flexível e abrangente.

Aprender a perceber o caráter espacial dos fenômenos estudados e a comparar esses espaços, por meio da sobreposição das informações contidas nos mapas, são coisas que a própria Geografia, enquanto ciência busca fazer e que os alunos do ciclo inicial também podem realizar. A Representação do Espaço

Existem várias maneiras de representar o espaço em que vivemos, por meio de desenhos, fotografias, palavras (descrevendo-as), etc. Uma dos meios mais apropriados para reproduzir os elementos do espaço é o mapa.

Mapa é a representação dos elementos de um determinado espaço na superfície plana, tornando-se um importante instrumento de orientação e de localização. O mapa de Ga-Sur é o mapa mais antigo que se tem conhecimento, datado de 2.500 a. C. e encontra-se no Museu de Bagdá (Iraque). Segundo os especialistas, representa um trecho do vale do Rio Eufrates. Ao elaborarmos um mapa, os elementos do espaço precisam ser reduzidos, a fim de caberem numa folha de papel. Essa redução é feita por meio de escalas. Escala é a relação existente entre as medidas do mapa e as medidas reais. Todo mapa é feito de acordo com uma escala que indicará quantas vezes as medidas reais foram diminuídas. Para a redução de uma projeção utiliza-se a unidade de medida; os múltiplos e submúltiplos do metro que são:

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Submúltiplos: decímetro (dm); centímetro (cm) e milímetro (mm); Múltiplos: decâmetro (dam); hectômetro (hm) e quilômetro (Km).

A escala deve ser indicada junto ao mapa (em geral no canto inferior direito), para que as pessoas possam saber o tamanho real das coisas nele representadas.

Os tipos de escalas A escala utilizada para a construção de um mapa pode ser indicada de duas maneiras: com números (escala numérica) ou com gráficos (escala gráfica). A escala numérica é representada por uma fração ordinária. O numerador da fração corresponde à medida no mapa; o denominador corresponde à medida real no terreno. O numerador é sempre a unidade (1), e o denominador indica quantas vezes as medidas reais foram reduzidas. Por exemplo: se um determinado mapa estiver na escala 1: 200.000 (um por duzentos mil), isso significa que cada unidade de distância no mapa (1 cm, por exemplo) corresponde a 200.000 unidades (200.000 cm, no caso) no terreno.

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A escala gráfica apresenta-se sob a forma de um segmento de reta graduada, normalmente dada em quilômetros. Por exemplo:

Nesse caso, a sequência foi seccionada em cinco partes iguais, cada uma medindo 1cm. Isso significa que cada uma dessas partes no mapa (1 cm) corresponde a 200 km no terreno. Um mesmo espaço pode ser representado em diferentes escalas, conforme o nível de detalhes que se quer atingir. Quanto maior o denominador da fração ordinária indicativa, menor é a escala, e vice-versa. Como calcular distâncias Usando a escala, sabe-se que E = escala; D = distância na realidade e d = distância gráfica. Para encontrar “E”, utiliza-se a seguinte fórmula:

Exemplo: a medida real ( D ) é de 8 km e a distância gráfica ( d ) é de 5 cm E = 8 / 5 cm E = 800.000 / 5 = 160.000 Para encontrar “D”, utiliza-se a seguinte fórmula:

Exemplo: a distância gráfica ( d ) entre duas cidades é de 5 cm e a escala ( E ) é de 1: 160.000.

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D = 5 x 160.000 cm D = 800.000 cm ou 8 km Para encontrar “d” utiliza-se a seguinte fórmula:

Exemplo: a escala ( E ) é de 1: 160.000 e a medida real ( D ) é de 8 km. d = 8 km / 160.000cm d = 800.000 cm / 160.000 = 5 cm A legenda é outro instrumento indispensável na elaboração de um mapa, pois busca explicar as convenções cartográficas que são símbolos que representam objetos. A legenda, portanto, é uma espécie de código usado para decifrar a linguagem do mapa. Assim, antes de ler um mapa, é indispensável consultar a legenda, para entender a sua linguagem. Para facilitar a leitura dos mapas, os cartógrafos convencionaram cada elemento do espaço, sempre com os mesmos símbolos. Por isso, os símbolos dos mapas são chamados de convenções cartográficas.

Além da escala e da legenda, junto aos mapas também devem apresentar a data em que eles foram elaborados, as fontes consultadas e o nome de seu autor. É bom lembrar que foram os europeus que elaboraram os primeiros mapas-múndi corretos, visto que as grandes navegações a partir do século XV proporcionaram que estes tivessem uma ideia mais aproximada de como é a superfície terrestre e de como se distribuem as grandes massas continentais e oceânicas em nosso planeta.

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As categorias geográficas

Originalmente, as categorias são formas, modos de ser (...) É algo que se sobrepõe ao conceito, dando –lhe conteúdo, e esse conteúdo deve ser concreto. O conceito define a ideia ou conjunto de ideias a respeito do objeto pelo pensamento, por suas características gerais. Assim, o conjunto de categoria de uma ciência está relacionado ao objeto de conhecimento dessa ciência. Por exemplo, a física trabalha com as categorias massa, corpo, luz energia, átomo, etc.; As categoria fundamentais do conhecimento geográfico são, entre, outras espaço, lugar, área, região, território, paisagem e população que definem o objeto da Geografia em seu relacionamento. Paisagem

A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempre heterogênea. A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções, e quanto maior o número destas, maior a diversidade de formas e de fatores. Quanto mais complexa a vida social, tanto mais nos distanciamos de um modo natural e nos endereçamos a um mundo artificial.

A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo esforço humano. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não existe mais. Se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele, todavia, é objeto de preocupação e de intenções econômicas ou políticas, tudo hoje se situa no campo de interesses da História, sendo desse modo, social.

Para Milton Santos, paisagem é tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formado apenas por volume, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. Território

O território é a base geográfica de uma nação. De tamanho variável, essa porção da superfície terrestre deve incorporar os solos e subsolos, os rios e lagos, as águas marítimas contíguas e o espaço aéreo. Daí a inegável importância estratégica do território, razão das lutas empreendidas por todas as espécies do mundo animal e todas as sociedades humanas.

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Lugar

Lugar é a porção ou parte do espaço onde vivemos. Ele é palco de nossa existência real, é nele que ocorre o nosso cotidiano, as nossas experiências de vida. Todos nós criamos uma identidade com o lugar no qual no qual vivemos; Isto quer dizer que ele significa algo para nós, que a nossa memória guarda sobre eles determinadas percepções e vivências com as quais nos identificamos. Portanto, estabelecemos com o lugar uma relação de afetividade. Quando mudamos, por exemplo, de uma cidade para outra ou mesmo de um bairro ou rua para outra, dentro de uma mesma cidade, temos de nos adaptar às novas condições não só materiais, mas também de significados, de vínculos. Região

A região é uma determinada posição do espaço terrestre (de dimensão variável), passível de ser individualizada, em função de um caráter próprio ou homogêneo arbitrado para fins de territorização.

Com relação à globalização dos anos 1990, a conceito regional perde importância em virtude da mundialização da economia, dos hábitos culturais e dos problemas ambientais. A ordem mundial provocou a queda de fronteiras produzindo uma única região, o mundo. A Localização dos Lugares no Espaço Geográfico

A localização de um lugar é definida pelas coordenadas geográficas (latitude e longitude) e pela altitude. Sua posição está ligada ao conjunto de relações que foram estabelecidas entre esse lugar e os outros lugares, dentro do espaço geográfico.

Embora o conceito de espaço geográfico envolva elementos concretos e abstratos, para a localização de um lugar no espaço precisamos trabalhar com algo concreto: um local onde podemos nos mover, levando em conta as direções e a altitude.

Em geografia, a ideia de direção nos é dada pela orientação, baseada nos pontos cardeais, colaterais e subcolaterais, representados na figura denominada rosa-dos-ventos.

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Vale salientar também que existem também outras denominações para os pontos geográficos a saber: Meridional ou austral significa dizer que está ao sul; Setentrional ou boreal significa dizer que está ao norte; Ocidente quer dizer que está ao oeste; Oriente quer dizer que está ao leste; Sul-oriental que dizer que está ao sudeste; Sul-ocidental quer dizer que está ao sudoeste; Norte-oriental quer dizer que está ao nordeste; Norte-ocidental quer dizer que está ao noroeste. As coordenadas geográficas

As coordenadas geográficas ou terrestres são estabelecidas por linhas imaginárias: os paralelos e os meridianos. O cruzamento entre o paralelo e o meridiano de um lugar dará a sua localização exata na superfície terrestre.

Como você pode notar na figura abaixo, alguns paralelos recebem nomes especiais: trópico de Câncer e círculo polar Ártico, no hemisfério norte, e trópico de Capricórnio e círculo polar Antártico, no hemisfério sul.

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Paralelos são linhas imaginárias traçadas paralelamente ao Equador, círculo máximo que divide a Terra em dois hemisférios: norte e sul.

Meridianos são linhas imaginárias que cortam perpendicularmente os paralelos e vão de um polo a outro. O ponto de partida para a numeração dos meridianos é o de Greenwich (que recebe esse nome porque passa por um subúrbio de Londres assim denominado) ou meridiano inicial. Esse meridiano divide a Terra em hemisfério ocidental ou oeste e hemisfério oriental ou leste.

As latitudes e as longitudes

O meridiano de Greenwich e a longitude têm um papel importante na definição das diferenças de horas que ocorrem entre vários lugares da Terra.

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Longitude é a distância, medida em graus, de qualquer lugar da Terra ao meridiano

de Greenwich.

Latitude é a distância, medida em graus, de qualquer lugar da superfície terrestre

ao Equador.

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A intersecção da latitude com a longitude nos dá a localização de qualquer lugar da

superfície da Terra. Nesse contexto, é preciso aproximar o aluno da sua própria realidade e fazer

relações para que eles possam, a partir daí, interpretar diferentes realidades. Com essa abordagem local, fica mais fácil, posteriormente compreender fenômenos que ocorrem em uma escala mais ampla. É preciso mostrar que há muito mais que conteúdos a serem transmitidos, mas sim concepções de “mundo” a serem criadas e reformuladas no ambiente escolar. Por isso é tão importante que o conteúdo se torne significativo para os alunos.

Os Fusos Horários

Os fusos horários, também denominados zonas horárias, foram estabelecidos através de uma reunião composta por representantes de 25 países em Washington, capital estadunidense, em 1884. Nessa ocasião foi realizada uma divisão do mundo em 24 fusos horários distintos.

A metodologia utilizada para essa divisão partiu do princípio de que são gastos, aproximadamente, 24 horas (23 horas, 56 minutos e 4 segundos) para que a Terra realize o movimento de rotação, ou seja, que gire em torno de seu próprio eixo, realizando um movimento de 360°. Portanto, em uma hora a Terra se desloca 15°. Esse dado é obtido através da divisão da circunferência terrestre (360°) pelo tempo gasto para que seja realizado o movimento de rotação (24 h).

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O fuso referencial para a determinação das horas é o Greenwich, cujo centro é 0°. Esse meridiano, também denominado inicial, atravessa a Grã-Bretanha, além de cortar o extremo oeste da Europa e da África. A hora determinada pelo fuso de Greenwich recebe o nome de GMT. A partir disso, são estabelecidos os outros limites de fusos horários.

A Terra realiza seu movimento de rotação girando de oeste para leste em torno do seu próprio eixo, por esse motivo os fusos a leste de Greenwich (marco inicial) têm as horas adiantadas (+); já os fusos situados a oeste do meridiano inicial têm as horas atrasadas (-).

Alguns países de grande extensão territorial no sentido leste-oeste apresentam

mais de um fuso horário. A Rússia, por exemplo, possui 11 fusos horários distintos, consequência de sua grande área. O Brasil também apresenta mais de um fuso horário, pois o país apresenta extensão territorial 4.319,4 quilômetros no sentido leste-oeste, fato que proporciona a existência de quatro fusos horários distintos.

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A compreensão dos fusos horários é de extrema importância, principalmente para

as pessoas que realizam viagens e têm contato com pessoas e relações comerciais com locais de fusos distintos dos seus, proporcionado, portanto, o conhecimento de horários em diferentes partes do globo.

Dinâmica da População

Os diferentes aspectos demográficos, tais como: população absoluta, densidade demográfica, crescimento demográfico, crescimento populacional, distribuição geográfica da população, estrutura etária, estrutura profissional e migrações, entre outros, costumam ser alvos de estudo e preocupação dos diversos especialistas. A análise de dados demográficos e sua comparação com dados socioeconômicos permitem aos dirigentes de um Estado o conhecimento da realidade quantitativa e qualitativa da população e a elaboração de medidas de ordem prática. Antes de iniciar o estudo dos principais aspectos demográficos, vamos apresentar alguns conceitos fundamentais, que facilitarão esse estudo.

População absoluta e densidade demográfica ou população relativa

População absoluta é o número total de habitantes de um lugar (país, cidade, região, etc.). Quando um determinado lugar possui um grande número de habitantes, dizemos que é populoso ou de grande população absoluta; quando possui um pequeno número de habitantes, dizemos que é pouco populoso ou de pequena população absoluta.

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Densidade relativa ou densidade demográfica é a média de habitantes por quilômetro quadrado (Km²). Para obtê-la, basta dividir a população pela área. Quando um determinado território possui elevada densidade demográfica, dizemos que ele é densamente povoado; quando possui baixa densidade demográfica, dizemos que é fracamente povoado. Alguns exemplos de países densamente e fracamente povoadas, respectivamente: Mônaco (16.500 hab/Km²); Cingapura (5.380 hab/Km²) e Vaticano (2.273 hab/Km²). Mongólia (2 hab/Km²); Islândia (3 hab/Km²) e Canadá (3 hab/Km²). Observe que os países populosos não são necessariamente densamente povoados. Apesar de terem uma população absoluta elevada, muitos países possuem grande área territorial. Por outro lado, nem todos os países densamente povoados são necessariamente populosos. Alguns países são ao mesmo tempo populosos e povoados é o caso da Índia, que, apesar de ter uma área territorial grande (3.287.263 Km²), é muito populosa, contanto com 1.282.256.277 habitantes, é densamente povoada (390,1hab/Km²). Outros países não são sem populosos nem povoados, como é o Canadá, que conta com 9.970.610 Km² e 30.563.000 habitantes, apresentado, portanto, uma densidade demográfica de 3 hab/Km².

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Apesar de ser bastante difundida e utilizada, saber a densidade de um país é uma informação bastante vaga. Por se tratar de uma média, a partir dela nada podemos concluir a respeito da distribuição efetiva da população do país pelo território. Taxa de natalidade É a relação entre o número de nascimentos ocorridos em um ano e o número de habitantes. Obtemos esta taxa tomando os nascimentos ocorridos durante um ano multiplicando-os por 1.000 e dividindo o resultado pela população absoluta:

Nº de nascimento x 1.000 = taxa de natalidade Nº de habitantes

Taxa de mortalidade É a relação entre o número de óbitos ocorridos em um ano e o número de habitantes. Obtemos essa taxa tomando os óbitos ocorridos durante um ano multiplicando-os por 1.000 e dividindo o resultado pelo número de habitante:

Nº de óbitos x 1.000 = taxa de mortalidade Nº de habitantes

Devemos observar que esse é a taxa de mortalidade geral e que, além dela, existe

a taxa de mortalidade infantil, que é o número de crianças que morrem antes de completar o primeiro ano de vida. A taxa de mortalidade infantil é um importante indicador do nível de desenvolvimento de um país. Crescimento vegetativo

É a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade: CV = TN – TM.

A Estrutura Etária A expressão Pirâmide Etária refere-se a um gráfico utilizado para identificar a

população de um dado país ou região, agrupando os habitantes em faixas de idade e dividindo-os por sexo. O motivo dessa denominação advém do fato de que, quando na criação desse tipo de informação, todos os países (mesmo os desenvolvidos) apresentavam a população estruturada em formato piramidal. Apesar de isso não ser mais verdadeiro, a expressão permaneceu.

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Em linhas gerais, à medida que os países vão se desenvolvendo, o formato de pirâmide desfaz-se, indicando uma queda nas taxas de natalidade e mortalidade. Em outras palavras, à medida que um país se desenvolve, a sua população vai ficando mais velha.

Com o Brasil não é diferente. Seguindo o que ocorreu outrora com os países centrais ou desenvolvidos e acompanhando nações emergentes (como México, Rússia e África do Sul), a base da pirâmide populacional brasileira vem diminuindo, enquanto a porção superior vem se alargando, indicando a queda na taxa de natalidade e o aumento da qualidade e da expectativa de vida da população do país. Exemplos de pirâmides:

O que é melhor para o país: ser “jovem” ou “velho”?

Não é vantajoso para qualquer país ser muito jovem e, muito menos, ser muito velho. Isso se explica pelo fato de a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) situar-se em faixas intermediárias de idade. Assim, taxas de natalidade muito altas, por exemplo, diminuem a média de idade, sobrecarregando economicamente a população adulta, fato que se intensifica quando os investimentos em educação e saúde públicas são baixos.

Por outro lado, quando a população envelhece com o aumento da expectativa de vida e ocorre a diminuição brusca das taxas de natalidade, há novamente um sobrepeso sobre a PEA, uma vez que são os impostos pagos por essa população que manterão a previdência e a aposentadoria dos mais velhos. Vale a ressalva de que um dia esses mais

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velhos também já sustentaram os aposentados de sua geração, de forma que os seus direitos previdenciários não lhes pode ser negado.

Assim, é preciso encontrar sempre um ponto de equilíbrio entre o nível da população, que deve preferencialmente se manter como adulta, ou seja, nem muito velha e nem muito jovem, como é o caso da população brasileira na atualidade. O Relevo

O relevo corresponde às formas das paisagens físicas do planeta Terra, de maneira que com o passar dos anos, foram constituídos por agentes internos (endógenos) e externos (exógenos) à natureza. Agentes do Relevo

Os agentes do relevo modificam o planeta terra, tal qual os fenômenos que agem de dentro pra fora da crosta terrestre, os denominados agentes endógenos, por exemplo os abalos sísmicos, movimento das placas tectônicas, vulcões, dentre outros.

Por outro lado, há os agentes exógenos do relevo, ou seja, aqueles que agem de fora para dentre da crosta terrestre, modificando a superfície da terra, a saber: as ações humanas e as ações naturais, (o vento, a chuva, as geleiras, o clima, os animais, etc).

Em resumo, conclui-se que o relevo compõe o conjunto de elevações e depressões do solo da crosta terrestre, classificados de acordo com sua estrutura, composição e processos geológicos. Tipos de Relevo e suas Características

No geral, as quatro principais formas de relevo são: planícies, planaltos, montanhas, depressões. Planícies

As planícies designam as superfícies planas de baixas altitudes (até 100 metros), formados por rochas sedimentares. As chamadas “planícies litorâneas” correspondem aos terrenos planos próximos à região litorânea. De acordo com seus agentes formadores, as planícies são classificadas em: costeira (mar), fluvial (rio) e lacustre (lago). Planaltos

Os planaltos ou platôs, designam as superfícies planas com elevadas altitudes (acima de 300 metros), característica marcante que os diferem das planícies. Há três tipos

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principais de planaltos: sedimentares (formados por rochas sedimentares), cristalinos (formados por rochas cristalinas) e basálticos (formados por rochas vulcânicas). Montanhas

As montanhas são grandes elevações constituídas ao longo dos anos por atividades vulcânicas, terremotos e outras manifestações naturais. Dessa maneira, de acordo com os fenômenos naturais sofrido ao longo dos anos, as montanhas são classificadas em: “vulcânicas” (formadas a partir de vulcões), “dobradas” (formadas pelo tectonismo, ou os dobramentos da terra), “falhadas” (formadas pelas falhas da crosta terrestre) e de “erosão” (formadas a partir de erosão). Depressões

As depressões caracterizam planos rebaixados, consideradas as menores altitudes encontradas no planeta (100 a 500 metros), formadas principalmente pelo fenômeno da erosão. Há duas classificações quanto esse tipo de relevo: a “depressão absoluta”, aquela que está situada abaixo do nível do mar e a “depressão relativa” que está localizada acima do nível do mar. Classificação do Relevo Brasileiro

A Classificação do Relevo Brasileiro para melhor compreender a estrutura física do nosso país, foram elaborados diferentes modelos de classificação.

O território brasileiro, com uma área de aproximadamente 8.516.000 km², é considerado um país com dimensões continentais. Por esse motivo, ele apresenta uma grande diversidade no que se refere à fisionomia de suas paisagens e às características de suas formas de relevo, o que tornou o seu detalhamento uma tarefa bastante difícil. Assim, para melhor compreender a estrutura física do nosso país, foram elaborados diferentes modelos de classificação do relevo Brasileiro.

Em termos gerais de caracterização, o espaço físico do Brasil é conhecido por ter uma formação geologicamente antiga, o que significa que ele esteve, ao longo das eras geológicas, mais tempo exposto à ação dos agentes externos ou exógenos de transformação do relevo, como as chuvas, os ventos e demais fatores. Por isso, as formas superficiais foram bastante desgastadas ao longo do tempo, o que explica, por exemplo, a ausência de grandes cadeias montanhosas no país.

A primeira classificação do relevo brasileiro – incluindo o seu mapeamento e total caracterização – só ocorreu na década de 1940, quando foi possível, então, ter uma noção inicial da composição geomorfológica do território nacional. Essa classificação foi

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realizada pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), liderada pelo professor e pesquisador Aroldo de Azevedo.

Na classificação do relevo brasileiro, segundo Aroldo de Azevedo, o Brasil ficou dividido em 59% de planaltos, conceituados como terrenos acidentados com mais de 200 metros, e 41% de planícies, consideradas como áreas planas com altitudes inferiores. As áreas mais altas, acima de 1200 metros, perfizeram um valor muito pequeno, de aproximadamente 0,58%. Assim, o Brasil foi dividido em oito unidades de relevo: o planalto das Guianas, a planície Amazônia, o planalto Central, a planície do Pantanal, o planalto Atlântico, a planície costeira, o planalto Meridional e a planície de Pampa. Confira o mapa abaixo:

Classificação de Aroldo de Azevedo

No ano de 1958, no entanto, uma nova classificação do relevo brasileiro foi

realizada, essa também executada pelo Departamento de Geografia da USP, sob a liderança de Aziz Ab’Saber. Esse geógrafo adotou outras conceituações e passou a considerar como planalto toda e qualquer área em que o processo de erosão (perda de sedimentos) é superior ao de sedimentação (acúmulo de sedimentos). Nas planícies, de maneira inversa, é a sedimentação quem supera a erosão. Portanto, o critério da altitude

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não estava mais inserido na classificação do relevo brasileiro, mas sim os tipos de processos geomorfológicos predominantes.

Por conta dessa mudança nos conceitos de planície e planalto, a classificação do relevo brasileiro foi modificada. Os planaltos, então, passaram a compor cerca de 75% do território brasileiro enquanto que as planícies ficaram com 25%, perfazendo um total de dez unidades de relevo: o planalto das Guianas, a Planície e Terras Baixas Amazônicas, o planalto Central, o planalto do Maranhão-Piauí, o planalto Nordestino, a planície do Pantanal, as serras e planaltos do Leste e Sudeste, as planícies de terras baixas costeiras, o planalto Meridional e o planalto Uruguaio Sul-Rio-Grandense.

Observe o mapa a seguir:

Classificação de Aziz Absaber

Mas, novamente, uma nova classificação foi realizada com base na modificação

dos critérios para a definição dos tipos de relevo. Dessa vez, os estudos foram realizados pelo geógrafo Jurandyr Ross no ano de 1989, que utilizou como ponto de partida a própria classificação de Aziz Ab’Saber. Assim, com base nos conhecimentos previamente estabelecidos e nas imagens obtidas pelo projeto Radam Brasil, entre 1970 e 1985, Ross realizou um minucioso mapeamento que resultou em uma classificação mais completa e complexa.

Uma novidade na classificação do relevo brasileiro de Jurandyr Ross foi a introdução de mais um tipo de unidade de relevo: as depressões. Nessa definição, era

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considerada depressão qualquer área de relevo aplainada que estivesse rebaixada em relação ao seu entorno, caracterizando as “depressões relativas”, haja vista que no Brasil não existem “depressões absolutas”, aquelas que se encontram abaixo do nível do mar.

A classificação de Ross foi tão mais detalhada, por conta dos resultados do projeto Radam Brasil, que nela o território brasileiro ficou dividido em 28 unidades de relevo, sendo 11 planaltos, 11 depressões e 6 áreas de planícies. Conforme podemos verificar no mapa abaixo, o espaço geomorfológico brasileiro ficou marcado pela presença de grandes depressões, como a da Amazônia Oriental, e alguns grandes planaltos, como as Chapadas da Bacia do Parnaíba e da Bacia do Paraná. Dentre as planícies, o destaque vai para a do Rio Amazonas e os tabuleiros litorâneos.

Classificação de Jurandyr Ross

Essas sucessivas caracterizações e detalhamentos de território brasileiro foram

muito importantes não apenas para o conhecimento sobre as paisagens naturais do nosso país, mas também para auxiliar o planejamento público de ocupação do espaço geográfico. Além disso, uma maior e melhor noção da disposição de tipos minerais e das

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diferentes estruturas puderam ser analisadas, o que favoreceu a atividade econômica da mineração.

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SANTOS, R. O. Atlas do estudante. São Paulo, 2009. SCOFFHAM, S. Atlas geográfico mundial. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2010. SILVA, João Alberto da, & FREZZA, Júnior Saccon. A construção das noções de espaço e tempo nas crianças da Educação Infantil. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/181/172> Acesso em: 15 de julho 2015. SIMIELLI, M. E. R. Geoatlas básico. São Paulo: Ática, 2005.

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AQUARELA Toquinho – Vinícius de Moraes – M. Fabrízio – G. Moura (1983)

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.

Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva, E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,

Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu. Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,

Vou com ela, viajando, Havaí, Pequim ou Istambul. Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.

Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar. Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,

E se a gente quiser ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida. De uma América a outra consigo passar num segundo,

Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha e caminhando chega no muro E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.

E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.

Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.

Vamos todos numa linda passarela De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá). E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá).

Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá).

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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ - UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA

CURSO: PEDAGOGIA

DISCIPLINA:

ENSINO DA HISTÓRIA E DA GEOGRAFIA

MEIO AMBIENTE

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MEIO AMBIENTE

O meio ambiente na história Nas sociedades primitivas, os campos, os rios e as florestas pertenciam ao conjunto da coletividade e não podiam ser comprados ou vendidos. Houve importantes diferenças entre as organizações sociais nos continentes e ao longo dos tempos. As terras tinham de ser defendidas de tribos vizinhas ou de invasores. As áreas de caça, e mais tarde de agricultura, esgotavam-se e as comunidades buscavam outras terras, numa prática itinerante. A população era escassa, a tecnologia rudimentar e o que entendemos por meio ambiente era percebido e tratado como base de sustento da comunidade. A divisão do trabalho era simples e os agrupamentos buscavam a geração de excedente alimentar – a produção e armazenamento de alimentos em quantidade superior às necessidades imediatas de consumo das comunidades. Nas primeiras formações sociais, o excedente era a garantia para enfrentar o período ruim de caça e pesca, o inverno ou a luta contra outros grupos. Posteriormente, excedentes significativos foram viabilizados pela domesticação de animais e pela irrigação, constituindo a base do comércio, da manufatura, do escravismo e das sociedades de classes. A forma como o excedente é produzido, repartido e acumulado e a organização das formações sociais constituem os principais temas da sociologia e das ciências sociais. Ainda não foi devidamente estudada, no entanto, a evolução dos impactos desses sistemas no meio ambiente, seus reflexos nas espécies animais e vegetais, no solo, nos climas. O capitalismo e a industrialização geraram impactos ambientais em um patamar e em uma intensidade antes desconhecidos da humanidade. As fábricas ocuparam o lugar das manufaturas e se converteram em sorvedouros insaciáveis de matérias-primas trazidas de longa distância e em quantidades crescentes. A produção em escala consumiu energia, gerou vapores químicos, esgotos industriais e resíduos perigosos em uma progressão geométrica, sem precedente na economia pré-industrial.

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Na sociedade capitalista, a natureza passa a ser considerada uma mercadoria, e as relações sociedade-natureza fundamentam-se na propriedade privada dos meios de produção.

As sociedades pré-capitalistas produziram substanciais impactos com a substituição de florestas por pastagens e com a extração mineral, inclusive para abastecer as manufaturas de armas de guerra. A incipiente urbanização concentrou a população em pequenos pontos do território; nesses espaços saturados o acúmulo de lixo e dejetos humanos provocou surtos de doenças. A peste e outros males foram expressão desses desequilíbrios ambientais, como são hoje a malária, a dengue, a leptospirose e a hepatite, consequências do desmatamento, das valas de esgoto, da água contaminada. As pessoas são parte integrante do meio ambiente. Essa afirmação óbvia é por vezes esquecida por ambientalistas naturalistas que se preocupam com árvores e bichos, mas não com os problemas da população. Algumas das mais significativas tragédias ambientais antecederam o capitalismo industrial: a colonização da América, com a dizimação das comunidades indígenas que a povoavam, e a transformação do continente africano em celeiro do escravismo colonial, gerando autênticos desertos demográficos. As comunidades indígenas foram submetidas a um etnocídio que acelerou o processo predatório da fauna e da flora preservadas por esses povos. Nos territórios onde as nações indígenas foram alijadas por atividades empresariais, a relação com a fauna e a flora ficou completamente desequilibrada. A história dos dramas das populações deveria ocupar espaços maiores nas análises ambientais. Infelizmente há pessoas que choram ao ver na televisão a extinção do mico-leão-dourado, mas não se sensibilizam com os sem-terra, os meninos de rua ou os desempregados. A questão ecológica tem base cultural e educacional. As práticas predatórias, que em nome do lucro aterraram lagos, poluíram rios, desfiguraram praias e queimaram florestas, foram legitimadas socialmente pela herança da cultura colonial e escravocrata. Os dramas sociais se fundem nas agressões ambientais, resultando numa combinação perversa em que a preservação das diferentes formas de vida (humana,

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animal e vegetal) pesa pouco nas decisões econômicas. Se o trabalhador sindicalizado, o aposentado e o jovem desempregado são pouco considerados e ouvidos, imaginem o lobo-guará, a tartaruga-de-pente, o mogno e outras espécies ameaçadas de extinção, que não fazem greve, não votam nem reivindicam! Temos de falar por eles. O homem e o meio ambiente

O homem interfere nas cadeias alimentares ao extinguir espécies animais ou vegetais por meio da caça predatória e da degradação ambiental, ou eliminando, por processos químicos, insetos que se alimentam de parasitas e que são alimentos dos sapos, das lagartas e dos pássaros. O combate aos insetos por agrotóxicos elimina outras espécies atingidas pelo veneno. Na ausência de predadores naturais (eliminados), outros insetos aumentam sua população e se convertem em novas pragas, que por sua vez serão objetos de novos agrotóxicos mais poderosos, provocando mais desequilíbrios e a fertilização do sistema. Quem ganha e quem perde? Perdem a natureza, os agricultores endividados e contaminados e os consumidores de alimentos mais caros e com maiores doses de veneno. Ganham os fabricantes e os vendedores de agrotóxicos, que no Brasil movimentam anualmente bilhões de reais. O despejo de efluentes (esgotos) industriais, contento metais pesados e substâncias cancerígenas, interfere diretamente nas cadeias alimentares.

A grande cidade é um organismo vivo, muito doente. Ela é a expressão de desequilíbrios econômicos, ecológicos e espaciais que fazem do país um ser disforme: um corpo atrofiado com macrocefalia (uma imensa cabeça). As metrópoles (cidades que concentram poder econômico e político e organizam as relações espaciais) funcionam como se fossem colonialistas em relação ao próprio país. Elas drenam (atraem) recursos e populações, produzem espaços congestionados e geram, no rastro do êxodo, desertos demográficos – áreas decadentes e desarticuladas. Aí se concentram os velhos e as mulheres (os jovens migram antes), que ficam à mercê

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do desemprego sazonal (derivado da monocultura) e dos baixos salários praticados pela monoindústria (única opção de emprego regional). Usando a imaginação, a grande metrópole pode ser comparada a um indivíduo doente que tem vários de seus órgãos atingidos por infecções, lesões ou distúrbios graves e que apresenta os seguintes sintomas: Conjuntivite: a cidade tem os olhos inflamados pela poluição do ar e agredidos por

espigões e obras que desfiguram a paisagem; Fratura dos membros: as pernas foram quebradas em tombos nos buracos das

ruas e os braços foram fraturados nas quedas do surfe ferroviário (modalidade semi suicida praticada por jovens dos subúrbios que viajam sobre o teto dos trens);

Otite: Os bairros têm os tímpanos inflamados pelos excessivos decibéis (medida da intensidade do ruído) do trânsito e das fábricas.

Amnésia: A cidade perdeu a memória histórica por causa da especulação imobiliária, que desfigurou prédios e sítios de relevante significado histórico e arquitetônico;

Câncer: As células enfermas (bairros degradados e favelas) replicam-se velozmente, qual tumores urbanos;

Estresse: A cidade está à beira de um ataque de nervos, assaltada em cada esquina, tensionada pelo trânsito e pela competição;

Fome: Uma parte da cidade padece da miséria e da desnutrição – gente literalmente sem ter o que comer;

Obesidade: O outro lado da “cidade partida” adoece por excesso de gordura, envenenando-se com conservantes, corantes e acidulantes e aumentando o colesterol com alimentação desregrada;

Diarreia: A “cidade da pobreza” esvai-se em disenterias provocadas por coliformes fecais na água da rede (das torneiras) e pela falta de saneamento, higiene e prevenção;

Esquizofrenia: Partida ao meio em guetos e favelas, cidade sofre de crise de identidade e perda de valores;

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Depressão Geriátrica: A cidade sofre com os velhinhos confinados em terríveis asilos, que enriquecem os donos da indústria da solidão;

Aids: A defesa imunológica fraqueja com as transfusões de sangue sem testagem, com o sexo não-seguro e com o rodízio de seringas das drogas intravenosas;

Enfarte do Miocárdio: o sistema circulatório entrou em colapso, atacado pelo vírus do automóvel, que polui e engarrafa. Esses seres metálicos demandam obras caras, túneis e viadutos que projetam os engarrafamentos quilômetros adiante. São pontes de safena para a circulação dos poluidores sobre rodas, que na hora do rush trafegam mais do que o cavalo e a bicicleta;

Falocracia Aguda (violência machista): As ruas da cidade grande são palco de estupros cotidianos, alimentados pelo erotismo barato das revistas pornô e da televisão e acobertados pela impunidade. O homossexualismo é tolerado apenas em guetos urbanos ou durante o carnaval, e a violência contra homossexuais não é investigada;

Apartheid Social: Os excluídos da sociedade de consumo veem na televisão e nas vitrines produtos sedutores a que jamais terão acesso. São os suspeitos, independentemente da culpa, das operações policiais de rotina;

Síndrome da Alienação Adquirida: Essa hipnótica enfermidade telemaníaca transforma as pessoas em terminais receptores de mensagens e códigos dirigidos do poder.

Esse sombrio diagnóstico revela as múltiplas armadilhas da cidade dos letreiros de

néon que promete infinitas oportunidades. A terapia para esse complexo conjunto de doenças chama-se CIDADANIA – a Cidade do Cidadão Associado.

A base ambiental da saúde da população e os desequilíbrios originados pela crescente intervenção da instituição médica no cotidiano dos indivíduos são fenômenos que derivam da concepção da medicina curativa (que atua sobre os efeitos, ao contrário da medicina preventiva) e favorece a invasão farmacêutica. Numerosas doenças têm origem em fatores ambientais, como a poluição, a falta de saneamento, a má qualidade da água e da alimentação. Por exemplo, o desmatamento e a falta de higiene sanitária permitem a proliferação do mosquito da dengue. Outras doenças são produtos da moderna farmacologia, da contaminação por produtos químicos, da má alimentação e do estresse.

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Crescimento populacional e as ações sobre o meio ambiente

O crescimento populacional é a principal razão da degradação ambiental uma vez que, à medida que a população aumenta, cresce a demanda por recursos naturais e a ocupação humana da superfície terrestre. O aumento da população era considerado, até poucos anos como um problema de certas regiões da Terra, porém, atualmente, está se transformando num problema global.

Como se observa, o crescimento populacional ao longo dos anos se deu em um

ritmo diferente. Antes da Revolução Industrial tínhamos um crescimento relativamente lento, ao passo que o pós-Revolução Industrial, esse crescimento se intensificou provocando um impacto nas relações do homem com o meio ambiente. Esse impacto pode ser entendido como esgotamento de recursos.

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Não se pode atribuir o atual grau de degradação ambiental global apenas ao crescimento da população, mas principalmente aos padrões de produção e consumo que vêm caracterizando a industrialização e o consumo.

O planeta está no seu limite de suporte e seu capital natural/humano acaba sofrendo profunda alteração, cujos impactos socioambientais vão desde fome, miséria, desigualdade, violência e desemprego às reações adversas da natureza que por sua vez vêm castigando várias regiões em nível global.

O consumo hoje vem tornando-se um dos grandes problemas causadores da destruição do meio ambiente. Por quê? Simplesmente porque todo o material necessário para a fabricação de celulares, computadores, roupas, carros, asfalto, casas etc., vêm da natureza; e como, a cada dia que passa, o mundo tem mais gente, a necessidade das indústrias de retirarem matérias-primas do meio ambiente torna-se mais agressiva. E para onde vai todo o material que descartamos? Para os bueiros, rios, para o ar que respiramos.

O consumo precisa ser consciente. Precisamos ter a ideia de que não é simplesmente porque temos dinheiro que podemos comprar tudo o que vemos pela frente e ninguém estará saindo em desvantagem. É claro que nos sentimos bem quando compramos algo novo, mas o planeta Terra não está suportando mais a exploração do ser humano de seus recursos naturais. A questão da água

A escassez de água doce é atualmente um problema em todos os continentes e passou a ser uma das prioridades das Nações Unidas para o novo século. A água doce sempre foi estratégica para o desenvolvimento dos países, mas só nas últimas décadas

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sua escassez se tornou um fator limitante para o crescimento econômico. Sem disponibilidade de água doce não há urbanização adequada nem expansão agroindustrial.

Mais de 97% das águas do planeta são salgadas, e dessalinizá-las ainda custa caro.

Apenas 2,7% da água é doce, e a maior parte (99,7%) está imobilizada nas geleiras e nos lençóis freáticos profundos. Assim, apenas cerca de 0,3% está acessível em rios, lagos e lençóis subterrâneos pouco profundos.

Nas últimas cinco décadas, a população humana aumentou de forma rápida, até atingir o número atual: cerca de 7,4 bilhões de pessoas. Esse intenso crescimento está em parte relacionado às novas tecnologias industriais, que levaram à criação de novas drogas e à melhoria das condições de saneamento, em especial nas regiões urbanas mais desenvolvidas. Uma das consequências da explosão populacional foi a demanda crescente de água para atender necessidades básicas, como beber e cozinhar, e para as demais atividades ligadas à produção e ao lazer.

Quando se fala em aproveitamento da água, é importante diferenciar o uso e o consumo. O uso é a retirada de água do ambiente para suprir necessidades humanas, e esse termo implica que uma parte do que é aproveitado volta para o ambiente (caso da água usada para cozinhar ou para o banho). Já o consumo refere-se à parcela que não retorna de modo direto para o ambiente (como a água usada na irrigação de uma plantação, que passa a fazer parte dos tecidos vegetais).

A necessidade de alimentar uma população cada vez maior fez o setor agrícola, com a ajuda de novas tecnologias, aumentar bastante sua produtividade. Isso tem sido obtido, no entanto, à custa do uso e do consumo elevados de água. Anualmente, a agropecuária é responsável por 71% do consumo total de água no mundo. Além disso, muitas atividades industriais, que fornecem produtos tidos como indispensáveis ao homem moderno, requerem enormes quantidades de água. Em termos globais, a indústria consome 16% da água hoje aproveitada. O baixo percentual de consumo, em relação ao uso, indica que a maior parte da água utilizada em processos industriais

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retorna ao ambiente, embora frequentemente poluída. Já as áreas urbanas e rurais têm consumo de cerca de 13%.

A água doce, apesar de sua importância, é mal utilizada. O mau uso caracteriza-se tanto pelo uso excessivo, ou seja, o abuso ou desperdício (que reduz a quantidade disponível), quanto pelo uso inadequado, ou inescrupuloso, que leva à degradação do recurso (o que reduz sua qualidade).

O uso excessivo pode acarretar a diminuição do volume, ou o esgotamento, dos aquíferos subterrâneos, e mesmo dos estoques de água existentes na superfície, em lagos e rios. A questão da água subterrânea é crucial, pois grande parte da população mundial depende dessa fonte para seu abastecimento.

Os impactos humanos sobre os ambientes aquáticos têm reflexos negativos em todas as atividades que utilizam água. No caso da agricultura irrigada, por exemplo, a iminente escassez do recurso ameaça o suprimento global de alimentos.

Um outro fator que propicia o uso excessivo da água é a chamada água virtual que é aquela usada, direta ou indiretamente, na produção de um bem ou serviço. Ou seja, é aquela água que você não vê a que foi usada durante os processos da cadeia produtiva, da produção de matéria-prima até o consumo final. De acordo com esta teoria uma xícara de café, por exemplo, equivale a um gasto de 140 litros de água. Os cálculos do consumo da água vão desde o cultivo à produção e ao empacotamento do café.

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Para se obter meio quilo de queijo são necessários 2.500 litros de água e um quilo

de carne de vaca, até chegar ao consumidor, consome mais de 17 mil litros. Por dia, um ser humano consome entre dois mil e cinco mil litros de "água virtual" Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 1,1 bilhão de habitantes não

têm acesso à água tratada e cerca de 1,6 milhão de pessoas morrem no mundo todos os anos em razão de problemas de saúde decorrentes da falta desse recurso.

O País possui 12% das reservas de água doce disponíveis no mundo, sendo que a Bacia Amazônica concentra 70% desse volume. O restante é distribuído desigualmente para atender a toda população brasileira. O Nordeste possui menos de 5% das reservas e grande parte da água é subterrânea, com teor de sal acima do limite aceitável para o consumo humano.

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De acordo com a Organização das Nações Unidas, cada pessoa necessita de 3,3 m³/pessoa/mês (cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene). No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/dia. A questão do lixo O crescimento da população aumenta o consumo de bens e produtos, acarretando, assim, o aumento e acúmulo de resíduos. A transformação desses resíduos, na maioria das vezes, é muito lenta, principalmente se observarmos o tempo que materiais não biodegradáveis, como plástico, levam pra se decompor. Diante do exagerado crescimento do acúmulo de resíduos, o homem se vê na necessidade de encontrar um destino para estes resíduos. Um deles, bastante utilizado, é a queima de resíduos, técnica que acarreta a liberação de uma grande quantidade de gases tóxicos e resíduos contaminantes do solo. Hoje, devido à preocupação com o desenvolvimento sustentável, se utiliza uma técnica menos danosa – o aterro sanitário –, na qual a escolha de um local adequado para a colocação dos resíduos acaba afetando menos o solo e as águas superficiais e subterrâneas.

No caso dos resíduos sólidos, ou seja, o lixo, o caso é mais grave ainda. Estima-se que, no mundo, entre o lixo domiciliar e comercial são produzidos 3,5 milhões de toneladas/dia. Imagine o que significa esse volume de lixo. Já parou para pensar? Isso equivale a 583 gramas por habitante de áreas urbanas. Só a população de Nova York, devido ao alto poder aquisitivo e tendo acesso a este consumismo desenfreado, tem uma média bem superior a essa. Estima-se que cada cidadão nova-iorquino gere 3 kg de lixo/dia. Vindo para o Brasil, estima-se que o paulistano gere 1,5 kg/dia. O Brasil concentra 3% da população mundial e é responsável por 6,5% da produção de lixo no mundo. Aliás, países pobres e ricos têm estimativas diferentes para a quantidade de lixo. Os habitantes dos países pobres produzem de 100 a 220 kg de lixo a cada ano ou de 0,27 kg a 0,6 kg por dia. E os dos países ricos produzem de 300 mil a 1 tonelada por ano ou de 0,82 kg a 3,2 por dia.

O lixo disposto a céu aberto constitui um sério problema de saúde pública, pois propicia o surgimento de vetores, como artrópodes e roedores que podem transmitir doenças como leptospirose entre outras.

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O serviço de coleta no Brasil se modernizou consideravelmente, mas ainda está longe do ideal, até porque o mundo atual é bem mais diversificado, e o problema do lixo também. Enquanto no Japão e no Canadá a coleta é de 100%, na União Europeia é de 99% e nos Estados Unidos é de 95%, no Brasil a taxa é de 62%.

Quanto mais desenvolvido o país, mais complexo e difícil de separar, reciclar ou decompor seu lixo. No Brasil são gerados cerca de 260 mil toneladas de lixo anualmente, sendo que 59% deste lixo é orgânico ou úmido. São reciclados 13% da produção, o que significa que deixamos no lixo aproximadamente 10 bilhões de dólares por ano, pelo simples fato de não reciclar. Existem aproximadamente 600 cooperativas recicladoras no Brasil. Somente 2% do lixo são destinados a coleta seletiva.

O Japão recicla 50% de seu lixo e a Europa recicla 30%. Nos EUA são produzidos 420 mil t de lixo por ano, dos quais 27% são reciclados, 16% são incinerados e 57% enterrados. A Califórnia recicla 40% e pretende chegar a 100% em 2030.

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O número de municípios no Brasil operando programas de coleta seletiva ainda é incipiente: 1055 no Brasil todo, ou seja, apenas cerca de 18% do total, sendo a maior parte na regiões Sul e Sudeste (81%). Distribuição dos municípios com coleta seletiva por regiões: Norte (14); Centro-Oeste (84); Nordeste (102); Sul (421); Sudeste (434). Os dados são de 2016.

O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 12 305, no final de

2010, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que tem o objetivo de incentivar a reciclagem de lixo e o correto manejo de produtos usados com alto potencial de contaminação.

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O artigo 54 da Política Nacional de Resíduos Sólidos impõe a exposição de resíduos de forma adequada em aterros até 2 de agosto de 2014, o que significa que até a Copa do Mundo os lixões deveriam ter sido eliminados das cidades brasileiras, o que não ocorreu e o prazo foi ampliando até as datas-limite, que variam entre 2018 e 2021, de acordo com o município, além de estabelecer responsabilidades compartilhadas entre governo, indústria, comércio e consumidores sobre o destino final do lixo.

As capitais e municípios de região metropolitana teriam até 31 de julho de 2018 para acabar com os lixões. Os municípios de fronteira e os que contam com mais de 100 mil habitantes, com base no Censo de 2010, terão um ano a mais para implementar os aterros sanitários. As cidades que têm entre 50 e 100 mil habitantes terão prazo até 31 de julho de 2020. Já o prazo para os municípios com menos de 50 mil habitantes será até 31 de julho de 2021.

Municípios com coleta seletiva PB/PE

Ciclosoft 2016

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Efeito Estufa

Ao contrário do que popularmente se acredita, o efeito estufa não é causado pela poluição. Esse fenômeno atmosférico acompanha a vida do planeta desde seus primeiros tempos de existência e decorre da ação bloqueadora dos gases da atmosfera sobre o calor refletido na superfície terrestre. Esse efeito possibilita a manutenção da temperatura na Terra nos níveis que permitem a existência da vida.

O que ocorre é que, a partir do século XIX, esse efeito tem-se acentuado. A queima de florestas tropicais e a utilização de combustíveis fósseis em indústrias e usinas termelétricas lançam na atmosfera grandes quantidades de gás carbônico, ou dióxido de carbono (CO2). Esse gás é um dos principais responsáveis pelo aumento do efeito estufa e não permite que a radiação solar, depois de refletida na Terra, volte para o espaço, bloqueando o calor.

A consequência direta é a alteração do clima do planeta que vem provocando o derretimento das calotas polares, provocando a elevação do nível dos mares, inundando cidades costeiras e afetando atividades como a agricultura e a pesca. Os países mais atingidos seriam os menos desenvolvidos – justamente os que menos contribuem para o efeito estufa e que não têm meios de contornar os prejuízos, já que são os países ricos responsáveis por cerca de 75% do total de gases de origem fósseis emitidos anualmente. Ilhas de calor

Nas cidades maiores, as temperaturas podem variar nos diferentes bairros e no centro. As médias térmicas são bem mais altas nas regiões centrais que na periferia ou

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zona rural. Isso acontece em virtude da grande concentração de prédios que impedem a circulação do ar.

O asfalto, a falta de áreas verdes e a concentração de veículos também contribuem para esse aumento de temperatura. Essas áreas são as “ilhas de calor”.

A poluição também é muito maior nessas regiões, que, às vezes, não se limitam às

áreas centrais das grandes cidades, mas ocorrem em outros pontos com muitas edificações e indústrias.

Com o aumento das temperaturas, a “ilha de calor” passa a atuar como uma zona de baixa pressão, atraindo ventos que podem levar para essa área maior quantidade de poluentes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A Questão Ambiental. Disponível em: <http://www.tiberiogeo.com.br/AssuntoController/buscaAssunto/52> Acesso em 15 julho 2015. CARVALHO, PAULO G.M. Meio ambiente e políticas públicas - a atuação da FEEMA no controle da poluição industrial. Campinas: UNICAMP, 1987. Desenvolvimento e Meio Ambiente uma Falsa Incompatibilidade. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/gema/dcie_publicacoes.php > Acesso em 12 janeiro 2012. Desenvolvimento e Meio Ambiente: Suas Interfaces Econômicas, Sociais, Éticas, Ambientais e Jurídicas. Disponível em: <http://jusvi.com/pecas/20635> Acesso em 12 janeiro 2012. FELLENBERG, GÜNTER. Introdução aos Problemas da Poluição ambiental. São Paulo: E.P.U., 2007. MINC, Carlos. Ecologia e Cidadania. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2005. MILLER, G. TYLER. Ciência Ambiental. 11ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

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O PROGRESSO (Roberto Carlos – 1976)

Eu queria poder afagar uma fera terrível

Eu queria poder transformar tanta coisa impossível

Eu queria dizer tanta coisa que pudesse fazer eu ficar bem comigo

Eu queria poder abraçar meu maior inimigo.

Eu queria não ver tantas nuvens escuras nos ares

Navegar sem achar tantas manchas de óleo nos mares

E as baleias desaparecendo por falta de escrúpulos comerciais

Eu queria ser civilizado como os animais.

Eu queria não ver todo o verde da Terra morrendo

E das águas dos rios os peixes desaparecendo

Eu queria gritar que esse tal de ouro negro não passa de um negro veneno

E sabemos que por tudo isso vivemos bem menos.

Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo

O comércio das armas de guerra, da morte vivendo

Eu queira falar de alegria ao invés de tristeza mas não sou capaz

Eu queria ser civilizado como os animais.

Não sou contra o progresso

Mas apelo pro bom-senso

Um erro não conserta o outro

Isso é o que eu penso.

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