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SALVADOR QUINTA-FEIRA 29/12/2011 3 2 CANTEIRO / ANDRÉ MEHMARI INDEPENDENTE / R$ 39,90 WWW.ANDREMEHMARI.COM.BR DISCO Músicas instrumentais do pianista ganham letras e são lançadas em CD duplo André Mehmari se aventura pelo universo do cancioneiro LUCIANO AGUIAR Um artista completo, arranjador, compositor, cantor e multi-instru- mentista, se consuma em Can- teiro, novo disco de André Meh- mari. Entre os maiores pianistas brasileiros da atualidade, ele de- monstra no álbum duplo, lança- do de forma independente, que sua arte não tem rédeas, sobre- voando a canção brasileira. A concepção está em primeiro plano no disco de Mehmari, que usa de todas as suas virtudes em prol do sagrado encontro entre letra e melodia. Encontro no qual ele mesmo afirma estar um dos maiores legados da música nacional. “Acho que o brasileiro não pode ignorar o fato de que mora em um país que tem a tradição de canção mais viva do mundo. Isso é muito forte”, diz o músico, conhecido pela verve instrumental, mas que há muito se debruça sobre canções e as apresenta aqui e ali em seus trabalhos, mas nunca havia fei- to um trabalho autoral em que as pusesse no centro. “É o meu primeiro projeto que realmente mergulha com profun- didade na canção. Eu já havia gravado discos com a Ná Ozzetti, por exemplo, em que a canção era o tema, mas era o cancioneiro já consagrado. Sempre fui apai- xonado por este universo, sem- pre quis dialogar com esse can- cioneiro brasileiro, que serve de casa musical para mim”, revela. O resultado desse diálogo tra- vado por Mehmari é um CD que, apesar de ter letras nas músicas, mantém um forte caráter ins- trumental, pela riqueza de ele- mentos e pela característica das melodias, que nem sempre se adaptam naturalmente ao uni- verso da canção. Ao contrário de incomodar, isso pode tornar o disco ainda mais prazeroso, pa- ra quem busca uma música feita com liberdade, consciência e também espontaneidade. Amigos Catalizador de ideias, Mehmari conseguiu reunir em torno de si e do disco uma turma de com- panheiros musicais para lá de talentosos, alguns já bem co- nhecidos e outros ainda por des- pontar na cena nacional. Duplo e com 30 faixas, sendo quatro delas bonus tracks, Can- teiros foi praticamente todo gra- vado no estúdio Monteverdi, de Mehmari, montado na casa de- le, tendo ele mesmo como téc- nico. Não bastasse a competên- cia como músico, o cara ainda é responsável pela mixagem e masterização do disco, que tem uma qualidade sonora e tanto. Ficou fácil atrair grandes feras para o projeto do disco, que tem a participação de Claudio Nucci, Jussara Silveira, Mônica Salma- so, Ná Ozzetti, Chico Pinheiro, Ha- milton de Holanda, Ivan Vilela, Simone Guimarães, Sérgio San- tos, Luiz Tatit, do argentino Carlos Aguirre e do português António Zambujo, só para citar alguns. Com uma arte belíssima (pro- jeto gráfico e ilustrações de Gal Oppido), o álbum também en- fatiza as parcerias que Mehmari vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos. Melódicas, as músicas instrumentais de Meh- mari sugerem, mesmo com to- da complexidade, versos que as adornem e acabaram receben- do letras de nomes como Arthur Nestrovski, Bernardo Mara- nhão, Sérgio Santos e Luiz Tatit, além do próprio Mehmari, so- zinho em Velha Inquietude. “Esse é o ponto-chave do disco. Ao compor temas instrumentais, eu sempre procuro essa pureza da expressão da canção. E de certa forma todas essas canções sobre- vivem como peças instrumentais também”, explica Mehmari. “É o primeiro disco meu que tem esse timbre. E acho ele mui- to diferente dentro do contexto nacional pela diversidade de vo- zes e letristas”, conclui. Concepção Canteiro é tão rico em detalhes e intenções estéticas que cami- nha para o utópico, como o pró- prio Mehmari define. A gama de recursos do artista – que chega a executar todos os instrumen- tos na Valsa Russa (parceria com Leandro Maia), faixa de sono- ridade orquestral – é usada de forma meticulosa para enredar cada discurso melódico e poé- tico. Se a letra da citada valsa se encaminha para “o brado do tro- vão, tempestade”, o arranjo cresce com sopros e percussão sinfônica, descreve cenas. Sons onomatopeicos, harmo- nias, frases paralelas, citações de outros autores, dinâmicas, tim- bragens diversas remetem o ou- vinte a uma experiência sonora profunda. Por isso, mesmo, Can- teiro não é um disco que sirva à audição fugaz e desatenta, nem é um disco de cancioneiro co- mum. Exige fruição plena e des- perta novos sabores a cada apre- ciação. Surpreende que, mesmo pontos de qualidade questioná- vel, como algumas letras, no con- texto, podem se transformar em detalhe que aguça os ouvidos. O prato cheio de descobertas pode estar nas referências a ou- tros autores e composições. Bri- lha o Carnaval (letra de Tatit), por exemplo, é uma paráfrase me- lódica do Frevo de Orfeu, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Pra Amada Imortal (com letra de Bernardo Maranhão) recebe trechos da Sonata ao Luar e de Pour Elise, de Beethoven. Sal Sau- dade (letra de Leandro Maia) é homenagem a Caymmi e assim prosseguem as referências artís- ticas no disco, até chegar à fai- xa-título, Canteiro, que o resume perfeitamente, sendo ela curio- samente a única sem letra, a ex- ceção das que foram adicionadas como bonus tracks. Lembra muito a atmosfera do Clube da Esquina, movimento pelo qual ele também confessa ter sido influenciado. “Cada vez que você escuta os discos do Clube da Esquina é co- mo se fosse a primeira, de tão fresca que é aquela música. Essa é uma referência absoluta para mim, que permeia toda a minha criação musical e é o que chamo de humanismo profundo em música. Canteiro é como se fosse uma canção latente. Cada um que a escuta pode imaginar uma letra. E justamente por isso é um canteiro onde nascem várias can- ções e várias vozes que fazem contraponto”, define. Utopia As influências pianísticas de Mehmari, como a de Egberto Gismonti e Keith Jarrett, e outros tantos elementos expõem a tra- ma sonora que ele arma neste álbum profícuo, com faixas den- sas como O Cântico dos Quân- ticos (com Maranhão) e outras de tom mais popular, como Festa dos Pássaros (outra parceria com Maranhão), À Beira da Canção (com Carlos Fernando) e Baião da Reza (com Sérgio Santos). “A minha tendência é fazer ál- buns extensos. Sinto que o ál- bum não precisa necessariamen- te ser escutado de uma vez só. Acho que ele é um retrato da- quilo que você está fazendo na- quela época. Canteiro poderia ser um disco simples. Mas até porque ele é completamente utópico em sua concepção, pois é um disco meu de canções, e elas não são fáceis, resolvi fazer logo um duplo”, explica Mehmari. Gal Oppido / Divulgação Mehmari reuniu vários intérpretes, músicos e coautores no projeto com 30 músicas “Ao compor temas instrumentais, sempre procuro essa pureza da expressão da canção” EXPOSIÇÃO Migration traz dos EUA a arte de brasileiros CYDA BRITO Depois do sucesso em Nova York, a mostra Migration Art Ex- po 2012 – Uma Jornada Artística Infinita chega ao Brasil. Em car- taz no Museu da Cidade, no Pe- lourinho, a exposição é formada por obras de artistas brasileiros radicados nos Estados Unidos e por artistas residentes no Brasil. Juntos, eles apresentam expe- riências adquiridas em viagens ou em momentos marcantes de suas vidas, por meio de poesias, fotografias e imagens abstratas, entre outros formatos. A mostra está aberta à visi- tação de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, até o dia 3 de fevereiro, quando segue para outras cidades, como Recife, Fortaleza, Belém, Belo Horizon- te, Brasília, Rio de Janeiro, Pe- trópolis e São Paulo. “É um projeto aberto a qual- quer tipo de linguagem, desde que expresse as vivências dos artistas em sua localidade ou fora dela”, afirma Antônio Oli- veira, um dos idealizadores do projeto. Segundo ele, a mostra tem a proposta de promover ta- lentos e compartilhar oportuni- dades entre os expositores. Além de Antônio Oliveira, participam da mostra Alcinda Saphira, Carlos Falchi, Gustavo Braga e René Nascimento. Já César Romero, Graça Ramos, Ja- ni Saulti e Miriam Rylands são artistas participantes que mo- ram em Salvador. A mostra foi inaugurada em março de 2011, na Biblioteca Pública de Nova York, e recebeu a visita de mais de 3 mil pessoas em um mês de exibição. Na oca- sião, cinco artistas plásticos bra- sileiros residentes nos Estados Unidos apresentaram mais de 10 pinturas. O sucesso incen- tivou os idealizadores a dar con- tinuidade ao projeto, só que desta vez no Brasil. “Inicialmente nossa intenção era despertar o interesse dos estrangeiros pelo Brasil. Agora queremos mostrar ao nosso próprio povo um pouco da rea- lidade, da vida e do trabalho de conterrâneos que vivem tão lon- ge de casa, dando também oportunidade aos artistas bra- sileiros residentes no Brasil de mostrarem o que estão fazen- do”, disse Oliveira. MIGRATION ART EXPO 2012 – UMA JORNADA ARTÍSTICA INFINITA/ DE SEG A SEX, DAS 9H ÀS 17H, ATÉ 3 DE FEVEREIRO / MUSEU DA CIDADE – LARGO DO PELOURINHO/ GRÁTIS Inaiá Lua / Fundação Gregório de Mattos Bicicletas de Nova York, obra do artista plástico René Nascimento CURTAS Filme sobre Riachão será exibido na TVE O longa-metragem Samba Ria- chão, documentário lançado há uma década pelo cineasta e mú- sico Jorge Alfredo, será exibido hoje, às 22 horas, na TVE. Ao longo de 86 minutos, a obra traz passagens biográficas do cantor e compositor Clementi- no Rodrigues, o Riachão, com depoimentos de nomes como Dorival Caymmi, Tom Zé, Cae- tano Veloso, Gilberto Gil, Da- niela Mercury, Tuzé de Abreu, Gerônimo e Dona Edith do Pra- to, entre outros, e uma aca- lorada discussão sobre se o samba é carioca ou baiano. Sora Maia / Divulgação O longa Samba Riachão venceu o Festival de Brasília há 10 anos Morre Chita, astro dos filmes de Tarzan Chita, o chimpanzé que prota- gonizou os filmes de Tarzan nas décadas de 30 e 40, morreu aos 80 anos, anunciou o santuário da Flórida no qual o animal vi- veu por mais de 50 anos. "É com grande pesar que comunica- mos a perda de um querido amigo e um membro da família em 24 de dezembro de 2011”, afirma o site do Santuário Sun- coast Primate de Palm Harbor, na Flórida. Chita participou, en- tre outros, dos filmes Tarzan , o Homem Macaco (1932) e Tar- zan e sua Companheira (1934), filmes clássicos que relatam as aventuras de um homem criado na selva, protagonizados por Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan. O chimpanzé che- gou ao santuário em 1960. O chimpanzé amava pintar com os dedos e assistir a jogos de futebol americano, além de músicas cristãs Trancoso terá festival de música clássica O festival Música em Trancoso – MeT vai reunir atrações na- cionais e internacionais da mú- sica clássica na localidade de Trancoso (sul da Bahia), do dia 17 a 24 de março. A progra- mação, inteiramente gratuita, reúne entre as atrações nomes como a orquestra Neojiba, com o maestro Ricardo Chaves, o pianista César Camargo Maria- no, o violoncelista alemão An- dreas Grünkorn, o flautista fran- cês Benoit Fromanger, o trom- pista inglês Jonathan Williams e o duo francês de piano Katia & Marielle Labèque, entre mui- tos outros. Os concertos acon- tecerão ao pôr-do-sol, em um anfiteatro construído no local, especialmente projetado para acomodar 600 pessoas. A Orquestra Juvenil da Bahia dividirá o palco com dez virtuoses internacionais da música erudita “Sempre quis dialogar com esse cancioneiro, que serve de casa musical para mim” ANDRÉ MEHMARI, compositor

DISCO M sicas instrumentais do pianista É ganham letras e ... · Ao compor temas instrumentais, eusempreprocuroessapurezada expressão da canção. E de certa formatodasessascançõessobre-

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SALVADOR QUINTA-FEIRA 29/12/2011 32CANTEIRO / ANDRÉ MEHMARI

INDEPENDENTE / R$ 39,90

WWW.ANDREMEHMARI.COM.BR

DISCO Músicas instrumentais do pianistaganham letras e são lançadas em CD duplo

André Mehmarise aventurapelo universodo cancioneiroLUCIANO AGUIAR

Um artista completo, arranjador,compositor, cantor e multi-instru-mentista, se consuma em Can-teiro, novo disco de André Meh-mari. Entre os maiores pianistasbrasileiros da atualidade, ele de-monstra no álbum duplo, lança-do de forma independente, quesua arte não tem rédeas, sobre-voando a canção brasileira.

A concepção está em primeiroplano no disco de Mehmari, queusa de todas as suas virtudes emprol do sagrado encontro entreletra e melodia. Encontro noqual ele mesmo afirma estar umdos maiores legados da músicanacional. “Acho que o brasileironão pode ignorar o fato de quemora em um país que tem atradição de canção mais viva domundo. Isso é muito forte”, dizo músico, conhecido pela verveinstrumental, mas que há muitose debruça sobre canções e asapresenta aqui e ali em seustrabalhos, mas nunca havia fei-to um trabalho autoral em queas pusesse no centro.

“É o meu primeiro projeto querealmentemergulhacomprofun-didade na canção. Eu já haviagravado discos com a Ná Ozzetti,por exemplo, em que a cançãoeraotema,maseraocancioneirojá consagrado. Sempre fui apai-xonado por este universo, sem-pre quis dialogar com esse can-cioneiro brasileiro, que serve decasa musical para mim”, revela.

O resultado desse diálogo tra-vado por Mehmari é um CD que,apesar de ter letras nas músicas,mantém um forte caráter ins-trumental, pela riqueza de ele-mentos e pela característica dasmelodias, que nem sempre seadaptam naturalmente ao uni-verso da canção. Ao contrário deincomodar, isso pode tornar odisco ainda mais prazeroso, pa-ra quem busca uma música feita

com liberdade, consciência etambém espontaneidade.

AmigosCatalizador de ideias, Mehmariconseguiu reunir em torno de sie do disco uma turma de com-panheiros musicais para lá detalentosos, alguns já bem co-nhecidos e outros ainda por des-pontar na cena nacional.

Duplo e com 30 faixas, sendoquatro delas bonus tracks, Can-teiros foi praticamente todo gra-vado no estúdio Monteverdi, deMehmari, montado na casa de-le, tendo ele mesmo como téc-nico. Não bastasse a competên-cia como músico, o cara ainda éresponsável pela mixagem emasterização do disco, que temuma qualidade sonora e tanto.

Ficou fácil atrair grandes feraspara o projeto do disco, que tema participação de Claudio Nucci,Jussara Silveira, Mônica Salma-so,NáOzzetti,ChicoPinheiro,Ha-milton de Holanda, Ivan Vilela,Simone Guimarães, Sérgio San-tos, LuizTatit,doargentinoCarlosAguirre e do português AntónioZambujo, só para citar alguns.

Com uma arte belíssima (pro-jeto gráfico e ilustrações de GalOppido), o álbum também en-fatiza as parcerias que Mehmarivem desenvolvendo ao longodos últimos anos. Melódicas, asmúsicas instrumentais de Meh-mari sugerem, mesmo com to-da complexidade, versos que asadornem e acabaram receben-do letras de nomes como ArthurNestrovski, Bernardo Mara-nhão, Sérgio Santos e Luiz Tatit,além do próprio Mehmari, so-zinho em Velha Inquietude.

“Esseéoponto-chavedodisco.Ao compor temas instrumentais,eusempreprocuroessapurezadaexpressão da canção. E de certaforma todas essas canções sobre-vivem como peças instrumentaistambém”, explica Mehmari.

“É o primeiro disco meu quetem esse timbre. E acho ele mui-to diferente dentro do contextonacional pela diversidade de vo-zes e letristas”, conclui.

ConcepçãoCanteiro é tão rico em detalhese intenções estéticas que cami-nha para o utópico, como o pró-prio Mehmari define. A gama derecursos do artista – que chegaa executar todos os instrumen-tos na Valsa Russa (parceria comLeandro Maia), faixa de sono-ridade orquestral – é usada deforma meticulosa para enredarcada discurso melódico e poé-tico. Se a letra da citada valsa seencaminhapara“obradodotro-vão, tempestade”, o arranjocresce com sopros e percussãosinfônica, descreve cenas.

Sons onomatopeicos, harmo-nias, frases paralelas, citações de

outros autores, dinâmicas, tim-bragens diversas remetem o ou-vinte a uma experiência sonoraprofunda. Por isso, mesmo, Can-teiro não é um disco que sirva àaudição fugaz e desatenta, nemé um disco de cancioneiro co-mum. Exige fruição plena e des-perta novos sabores a cada apre-ciação. Surpreende que, mesmopontos de qualidade questioná-vel,comoalgumasletras,nocon-texto, podem se transformar emdetalhe que aguça os ouvidos.

O prato cheio de descobertaspode estar nas referências a ou-tros autores e composições. Bri-lhaoCarnaval(letradeTatit),porexemplo, é uma paráfrase me-lódica do Frevo de Orfeu, de TomJobim e Vinícius de Moraes.

Pra Amada Imortal (com letrade Bernardo Maranhão) recebetrechos da Sonata ao Luar e dePour Elise, de Beethoven. Sal Sau-

dade (letra de Leandro Maia) éhomenagem a Caymmi e assimprosseguem as referências artís-ticas no disco, até chegar à fai-xa-título, Canteiro, que o resumeperfeitamente, sendo ela curio-samente a única sem letra, a ex-ceção das que foram adicionadascomo bonus tracks. Lembra muitoa atmosfera do Clube da Esquina,movimentopeloqualeletambémconfessa ter sido influenciado.

“Cada vez que você escuta osdiscos do Clube da Esquina é co-mo se fosse a primeira, de tãofresca que é aquela música. Essaé uma referência absoluta paramim, que permeia toda a minhacriação musical e é o que chamode humanismo profundo emmúsica. Canteiro é como se fosseuma canção latente. Cada umque a escuta pode imaginar umaletra. E justamente por isso é umcanteiroondenascemváriascan-ções e várias vozes que fazemcontraponto”, define.

UtopiaAs influências pianísticas deMehmari, como a de EgbertoGismonti e Keith Jarrett, e outrostantos elementos expõem a tra-ma sonora que ele arma nesteálbum profícuo, com faixas den-sas como O Cântico dos Quân-ticos (com Maranhão) e outrasdetommaispopular,comoFestados Pássaros (outra parceria comMaranhão), À Beira da Canção(com Carlos Fernando) e Baiãoda Reza (com Sérgio Santos).

“A minha tendência é fazer ál-buns extensos. Sinto que o ál-bum não precisa necessariamen-te ser escutado de uma vez só.Acho que ele é um retrato da-quilo que você está fazendo na-quela época. Canteiro poderiaser um disco simples. Mas atéporque ele é completamenteutópico em sua concepção, poiséumdiscomeudecanções,eelasnão são fáceis, resolvi fazer logoum duplo”, explica Mehmari.

Gal Oppido / Divulgação

Mehmari reuniuvários intérpretes,músicos ecoautores noprojeto com 30músicas

“Ao compor temasinstrumentais,sempre procuroessa pureza daexpressão dacanção”

EXPOSIÇÃO

Migration traz dos EUA a arte de brasileirosCYDA BRITO

Depois do sucesso em NovaYork, a mostra Migration Art Ex-po 2012 – Uma Jornada ArtísticaInfinita chega ao Brasil. Em car-taz no Museu da Cidade, no Pe-lourinho, a exposição é formadapor obras de artistas brasileirosradicados nos Estados Unidos epor artistas residentes no Brasil.Juntos, eles apresentam expe-riências adquiridas em viagensou em momentos marcantes desuas vidas, por meio de poesias,fotografiase imagensabstratas,entre outros formatos.

A mostra está aberta à visi-

tação de segunda a sexta-feira,das 9 às 17 horas, até o dia 3 defevereiro, quando segue paraoutras cidades, como Recife,Fortaleza, Belém, Belo Horizon-te, Brasília, Rio de Janeiro, Pe-trópolis e São Paulo.

“É um projeto aberto a qual-quer tipo de linguagem, desdeque expresse as vivências dosartistas em sua localidade oufora dela”, afirma Antônio Oli-veira, um dos idealizadores doprojeto. Segundo ele, a mostratem a proposta de promover ta-lentos e compartilhar oportuni-dades entre os expositores.

Além de Antônio Oliveira,

participam da mostra AlcindaSaphira, Carlos Falchi, GustavoBraga e René Nascimento. JáCésar Romero, Graça Ramos, Ja-ni Saulti e Miriam Rylands sãoartistas participantes que mo-ram em Salvador.

A mostra foi inaugurada emmarço de 2011, na BibliotecaPública de Nova York, e recebeua visita de mais de 3 mil pessoasem um mês de exibição. Na oca-sião, cinco artistas plásticos bra-sileiros residentes nos EstadosUnidos apresentaram mais de10 pinturas. O sucesso incen-tivou os idealizadores a dar con-tinuidade ao projeto, só que

desta vez no Brasil.“Inicialmente nossa intenção

era despertar o interesse dosestrangeiros pelo Brasil. Agoraqueremos mostrar ao nossopróprio povo um pouco da rea-lidade, da vida e do trabalho deconterrâneos que vivem tão lon-ge de casa, dando tambémoportunidade aos artistas bra-sileiros residentes no Brasil demostrarem o que estão fazen-do”, disse Oliveira.

MIGRATION ART EXPO 2012 – UMA JORNADA

ARTÍSTICA INFINITA/ DE SEG A SEX, DAS 9H

ÀS 17H, ATÉ 3 DE FEVEREIRO / MUSEU DA

CIDADE – LARGO DO PELOURINHO/ GRÁTIS

Inaiá Lua / Fundação Gregório de Mattos

Bicicletas de Nova York, obra do artista plástico René Nascimento

CURTAS

Filme sobre Riachãoserá exibido na TVE

O longa-metragem Samba Ria-chão, documentário lançado háumadécadapelocineastaemú-sico Jorge Alfredo, será exibidohoje, às 22 horas, na TVE. Aolongo de 86 minutos, a obratraz passagens biográficas docantor e compositor Clementi-no Rodrigues, o Riachão, comdepoimentos de nomes comoDorival Caymmi, Tom Zé, Cae-tano Veloso, Gilberto Gil, Da-niela Mercury, Tuzé de Abreu,Gerônimo e Dona Edith do Pra-to, entre outros, e uma aca-lorada discussão sobre se osamba é carioca ou baiano.

Sora Maia / Divulgação

O longa Samba Riachão venceuo Festival de Brasília há 10 anos

Morre Chita, astro dos filmes de Tarzan

Chita, o chimpanzé que prota-gonizou os filmes de Tarzan nasdécadas de 30 e 40, morreu aos80 anos, anunciou o santuárioda Flórida no qual o animal vi-veupormaisde50anos."Écomgrande pesar que comunica-mos a perda de um queridoamigo e um membro da famíliaem 24 de dezembro de 2011”,afirma o site do Santuário Sun-coast Primate de Palm Harbor,na Flórida. Chita participou, en-tre outros, dos filmes Tarzan , oHomem Macaco (1932) e Tar-zan e sua Companheira (1934),filmes clássicos que relatam asaventuras de um homem criado

na selva, protagonizados porJohnny Weissmuller e MaureenO'Sullivan. O chimpanzé che-gou ao santuário em 1960.

O chimpanzéamava pintar comos dedos e assistira jogos de futebolamericano, além demúsicas cristãs

Trancoso terá festival de música clássica

O festival Música em Trancoso– MeT vai reunir atrações na-cionais e internacionais da mú-sica clássica na localidade deTrancoso (sul da Bahia), do dia17 a 24 de março. A progra-mação, inteiramente gratuita,reúne entre as atrações nomescomo a orquestra Neojiba, como maestro Ricardo Chaves, opianista César Camargo Maria-no, o violoncelista alemão An-dreasGrünkorn,oflautistafran-cês Benoit Fromanger, o trom-pista inglês Jonathan Williamse o duo francês de piano Katia& Marielle Labèque, entre mui-tos outros. Os concertos acon-

tecerão ao pôr-do-sol, em umanfiteatro construído no local,especialmente projetado paraacomodar 600 pessoas.

A Orquestra Juvenilda Bahia dividiráo palco comdez virtuosesinternacionais damúsica erudita

“Sempre quisdialogar com essecancioneiro, queserve de casamusical para mim”

ANDRÉ MEHMARI, compositor