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Discursos Papa Bento XVI nos EUA

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VIAGEM APOSTLICAAOS ESTADOS UNIDOS DA AMRICAE VISITA SEDE DA ORGANIZAO DAS NAES UNIDASENCONTRO COM OS MEMBROSDA ASSEMBLEIA GERAL DAS NAES UNIDASDISCURSO DO PAPA BENTO XVINova IorqueSexta-feira, 18 de Abril de 2008

Senhor PresidenteSenhoras e Senhores!Ao dar incio ao meu discurso nesta Assembleia, desejo antes de mais expressar-lhe, Senhor Presidente, a minha sincera gratido pelas gentis palavras que me dirigiu. Dirijo igual sentimento ao Secretrio-Geral, Senhor Ban Ki-moon, por me ter convidado para visitar os escritrios centrais da Organizao e pelas boas-vindas que me dirigiu. Sado os Embaixadores e os Diplomatas dos Estados-Membros e quantos esto presentes: atravs de vs, sado os povos que aqui representais. Eles esperam que esta Instituio d continuidade inspirao que guiou a sua fundao, a de um "centro para a harmonizao dos actos das Naes no perseguimento das finalidades comuns", a paz e o progresso (cf.Carta das Naes Unidas,art. 1.2-1.4). Como disse o Papa Joo Paulo II em 1995, a Organizao deveria ser "centro moral, no qual todas as naes do mundo se sintam na prpria casa, desenvolvendo a conscincia comum de ser, por assim dizer, uma "famlia de naes""(Mensagem Assembleia Geral das Naes Unidas, no cinquentenrio da fundao,Nova Iorque, 5 de Outubro de 1995, 14).Atravs das Naes Unidas, os Estados deram vida a objectivos universais que, mesmo se no coincidem com o bem comum total da famlia humana, sem dvida representam uma parte fundamental daquele prprio bem. Os princpios fundadores da Organizao o desejo da paz, a busca da justia, o respeito da dignidade da pessoa, a cooperao humanitria e a assistncia expressam as justas aspiraes do esprito humano e constituem os ideais que deveriam estar subjacentes s relaes internacionais. Como os meus predecessores Paulo VI e Joo Paulo II observaram deste mesmo pdio, trata-se de assuntos que a Igreja Catlica e a Santa S seguem com ateno e com interesse, porque vem na vossa actividade como problemas e conflitos relativos comunidade mundial podem ser submetidos a uma comum regulamentao. As Naes Unidas encarnam a aspirao a "um grau superior de orientao internacional" (Joo Paulo II,Sollicitudo rei socialis,43), inspirado e governado pelo princpio de subsidiariedade, e portanto capaz de responder s perguntas da famlia humana atravs de regras internacionais vinculantes e mediante estruturas capazes de harmonizar o desenvolvimento quotidiano da vida dos povos. Isto ainda mais necessrio numa poca em que experimentamos o bvio paradoxo de um consentimento multilateral que continua a estar em crise devido sua subordinao s decises de poucos, enquanto os problemas do mundo exigem intervenes em forma de aco colectiva da parte da comunidade internacional.Sem dvida, questes de segurana, objectivos de desenvolvimento, reduo das desigualdades locais e globais, proteco do ambiente, dos recursos e do clima, exigem que todos os responsveis internacionais ajam conjuntamente e demonstrem uma rapidez no agir em boa f, no respeito da lei e na promoo da solidariedade em relao s regies mais dbeis do planeta. Penso de modo especial naqueles pases da frica e de outras partes do mundo que permanecem na margem de um autntico progresso integral, e por isso correm o risco de experimentar apenas os efeitos negativos da globalizao. No contexto das relaes internacionais, necessrio reconhecer o papel superior desempenhado pelas regras e estruturas intrinsecamente ordenadas para promover o bem comum, e portanto para defender a liberdade humana. Tais regras no limitam a liberdade; ao contrrio, promovem-na, quando probem comportamentos e actos que vo contra o bem comum, obstam sua prtica efectiva e por isso comprometem a dignidade de cada pessoa humana. No nome da liberdade deve haver uma co-relao entre direitos e deveres, com os quais cada pessoa est chamada a assumir a responsabilidade das prprias opes, feitas como consequncia da entrada em relao com os outros.Aqui o nosso pensamento dirige-se ao modo como os resultados das descobertas da pesquisa cientfica e tecnolgica por vezes foram aplicados. No obstante os enormes benefcios que a humanidade pode receber deles, alguns aspectos de tal aplicao representam uma clara violao da ordem da criao, at ao ponto em que no s contrastado o carcter sagrado da vida, mas a prpria pessoa humana e a famlia so privadas da sua identidade natural. De igual modo, a aco internacional destinada a preservar o ambiente e a proteger as vrias formas de vida sobre a terra no deve garantir apenas um uso racional da tecnologia e da cincia, mas deve tambm redescobrir a imagem autntica da criao. Isto nunca exige uma opo a ser feita entre cincia e tica: antes, trata-se de adoptar um mtodo cientfico que seja verdadeiramente respeitador dos imperativos ticos.O reconhecimento da unidade da famlia humana e a ateno pela dignidade inata de cada homem e mulher encontram hoje uma renovada acentuao no princpio da responsabilidade de proteger. S recentemente este princpio foi definido, mas j estava implicitamente presente nas origens das Naes Unidas e agora tornou-se cada vez mais uma caracterstica da actividade da Organizao. Cada Estado tem o dever primrio de proteger a prpria populao de violaes graves e contnuas dos direitos humanos, assim como das consequncias das crises humanitrias, provocadas quer pela natureza quer pelo homem. Se os Estados no so capazes de garantir semelhante proteco, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurdicos previstos pela Carta das Naes Unidas e por outros instrumentos internacionais. A aco da comunidade internacional e das suas instituies, suposto o respeito dos princpios que esto na base da ordem internacional, nunca deve ser interpretada como uma imposio indesejada e uma limitao de soberania. Ao contrrio, a indiferena ou a falta de interveno que causam danos reais. Aquilo de que h necessidade de uma pesquisa mais profunda de modos de prevenir e controlar os conflitos, explorando todas as possveis vias diplomticas e prestando ateno e encorajamento tambm aos mais dbeis sinais de dilogo ou de desejo de reconciliao.O princpio da "responsabilidade de proteger" era considerado pelo antigoius gentiumcomo fundamento de qualquer aco empreendida pelos governantes em relao aos governados: no tempo em que o conceito de Estados nacionais soberanos se ia desenvolvendo, o frade dominicano Francisco de Vitoria, justamente considerado precursor da ideia das Naes Unidas, tinha descrito esta responsabilidade como um aspecto da razo natural partilhada por todas as Naes, e como resultado de uma ordem internacional cuja tarefa era regular as relaes entre os povos. Agora, como ento, este princpio deve invocar a ideia da pessoa como imagem do Criador, o desejo de uma liberdade absoluta e essencial. A fundao das Naes Unidas, como sabemos, coincidiu com a profunda indignao sentida pela humanidade quando foi abandonada a referncia ao significado da transcendncia e da razo natural, e como consequncia foram gravemente violadas a liberdade e a dignidade do homem. Quando isto acontece, esto ameaados os fundamentos objectivos dos valores que inspiram e governam a ordem internacional e so minados na base aqueles princpios improrrogveis e inviolveis formulados e consolidados pelas Naes Unidas. Quando se est diante de desafios novos e insistentes, um erro retroceder a uma abordagem pragmtica, limitada a determinar "um terreno comum", mnimo nos contedos e frgil nos seus efeitos.A referncia dignidade humana, que o fundamento e o objectivo da responsabilidade de proteger, leva-nos ao tema sobre o qual somos convidados a concentrar-nos este ano, no qual se celebra o sexagsimo daDeclarao Universal dos Direitos do Homem.O documento foi o resultado de uma convergncia de tradies religiosas e culturais, todas motivadas pelo comum desejo de colocar a pessoa humana no centro das instituies, leis e intervenes da sociedade, e de considerar a pessoa humana essencial para o mundo da cultura, da religio e da cincia. Os direitos humanos esto cada vez mais presentes como linguagem comum e substracto tico das relaes internacionais. Ao mesmo tempo, a universalidade, a indivisibilidade e a interdependncia dos direitos humanos servem todas de garantias para a salvaguarda da dignidade humana. Contudo, evidente que os direitos reconhecidos e traados naDeclaraose aplicam a todos em virtude da comum origem da pessoa, a qual permanece o ponto de referncia mais alto do desgnio criador de Deus para o mundo e para a histria. Tais direitos esto baseados na lei natural inscrita no corao do homem e presente nas diversas culturas e civilizaes. Remover os direitos humanos deste contexto significaria limitar o seu mbito e ceder a uma concepo relativista, segundo a qual o significado e a interpretao dos direitos poderia variar e a sua universalidade seria negada em nome de contextos culturais, polticos, sociais e at religiosos diferentes. Contudo no se deve permitir que esta ampla variedade de pontos de vista obscurea o facto de que no s os direitos so universais, mas tambm o a pessoa humana, sujeito destes direitos.A vida da comunidade, a nvel quer interno quer internacional, mostra claramente como o respeito dos direitos e as garantias que deles derivam sejam medidas do bem comum que servem para avaliar a relao entre justia e injustia, desenvolvimento e pobreza, segurana e conflito. A promoo dos direitos humanos permanece a estrategia mais eficaz para eliminar as desigualdades entre Pases e grupos sociais, assim como para um aumento da segurana. Certamente, as vtimas das privaes e do desespero, cuja dignidade humana violada impunemente, so presa fcil da chamada violncia e podem tornar-se em primeira pessoa violadoras da paz. Contudo o bem comum que os direitos humanos ajudam a alcanar no se pode realizar simplesmente com a aplicao de procedimentos correctos nem sequer mediante um simples equilbrio entre direitos contrastantes. O mrito daDeclarao Universalconsiste em ter permitido que diferentes culturas, expresses jurdicas e modelos institucionais convirjam em volta de um ncleo fundamental de valores e, portanto, de direitos. Contudo hoje necessrio duplicar os esforos face s presses para reinterpretar os fundamentos daDeclaraoe de comprometer a sua unidade ntima, de modo a facilitar um afastamento da proteco da dignidade humana para satisfazer simples interesses, muitas vezes interesses particulares. ADeclaraofoi adoptada como "comum concepo a ser perseguida"(prembulo)e no pode ser aplicada por partes destacadas, segundo tendncias ou opes selectivas que simplesmente correm o risco de contradizer a unidade da pessoa humana e portanto a indivisibilidade dos direitos humanos.A experincia ensina-nos que com frequncia a legalidade prevalece sobre a justia quando a insistncia sobre os direitos humanos os faz sobressair como o resultado exclusivo de resolues legislativas ou de decises normativas tomadas pelas vrias agncias dos que esto no poder. Quando so apresentados simplesmente em termos de legalidade, os direitos correm o risco de se tornarem dbeis proposies separadas da dimenso tica e racional, que o seu fundamento e finalidade. Ao contrrio, aDeclarao Universalfortaleceu a convico de que o respeito dos direitos humanos est radicado principalmente na justia que no muda, sobre a qual se baseia tambm a fora vinculante das proclamaes internacionais. Este aspecto muitas vezes desatendido quando se procura privar os direitos da sua verdadeira funo em nome de uma mesquinha perspectiva utilitarista. Dado que os direitos e os consequentes deveres surgem naturalmente da interao humana, fcil esquecer que eles so o fruto de um sentido comum da justia, baseado primariamente na solidariedade entre os membros da sociedade e por isso vlidos para todos os tempos e para todos os povos. Esta intuio foi expressa desde o quinto sculo por Agostinho de Hipona, um dos mestres da nossa herana intelectual, o qual disse em relao aoNo faas aos outros o que no queres que seja feito a tique esta mxima "no pode de modo algum variar segundo as diversas compreenses presentes no mundo"(De doctrina christiana,III, 14). Por isso, os direitos humanos devem ser respeitados como expresso de justia e no simplesmente porque podem ser feitos respeitar mediante a vontade dos legisladores.Senhoras e Senhores, enquanto a histria procede, surgem novas situaes e tenta-se relacion-las com novos direitos. O discernimento, isto , a capacidade de distinguir o bem do mal, torna-se ainda mais fundamental no contexto de exigncias que se referem s prprias vidas e aos comportamentos das pessoas, das comunidades e dos povos. Enfrentando o tema dos direitos, dado que esto envolvidas situaes importantes e realidades profundas, o discernimento ao mesmo tempo uma virtude indispensvel e frutuosa.Portanto, o discernimento mostra como o confiar de modo exclusivo aos Estados individualmente, com as suas leis e instituies, a responsabilidade ltima de ir ao encontro das aspiraes de pessoas, comunidades e povos inteiros por vezes pode ter consequncias que excluem a possibilidade de uma ordem social respeitadora da dignidade e dos direitos da pessoa. Por outro lado, uma viso da vida firmemente ancorada na dimenso religiosa pode ajudar a obter tais finalidades, dado que o reconhecimento do valor transcendente de cada homem e mulher favorece a converso do corao, que leva depois a um compromisso de resistir violncia, ao terrorismo e guerra e de promover a justia e a paz. Isto fornece ainda o contexto prprio para o dilogo inter-religioso que as Naes Unidas esto chamadas a defender, do mesmo modo com que defendem o dilogo noutros campos da actividade humana. O dilogo deveria ser reconhecido como meio mediante o qual as vrias componentes da sociedade podem articular o prprio ponto de vista e construir o consenso em volta da verdade relativa aos valores e objectivos particulares. caracterstico da natureza das religies, livremente praticadas, o facto que possam autonomamente conduzir um dilogo de pensamento e de vida. Se tambm a este nvel a esfera religiosa mantida separada da aco poltica, obtm-se grandes benefcios para os indivduos e para as comunidades. Por outro lado, as Naes Unidas podem contar com os resultados do dilogo entre religies e tirar frutos da disponibilidade dos crentes de colocarem as prprias experincias ao servio do bem comum. Compete-lhes propor uma viso da f no em termos de intolerncia, de discriminao e de conflito, mas em termos de respeito total da verdade, da coexistncia, dos direitos e da reconciliao.Obviamente os direitos humanos devem incluir o direito de liberdade religiosa, compreendido como expresso de uma dimenso que ao mesmo tempo individual e comunitria, uma viso que manifesta a unidade da pessoa, mesmo distinguindo claramente entre a dimenso de cidado e a de crente. A actividade das Naes Unidas nos anos recentes garantiu que o debate pblico oferea espao a pontos de vista inspirados numa viso religiosa em todas as suas dimenses, includa a ritual, de culto, de educao, de difuso de informaes, assim como a liberdade de professar ou de escolher uma religio. Por isso inconcebvel que crentes devam suprimir uma parte de si mesmos a sua f para serem cidados activos; nunca deveria ser necessrio renegar Deus para poder gozar dos prprios direitos. Os direitos relacionados com a religio necessitam como nunca de serem protegidos se forem considerados em conflito com a ideologia secular prevalecente ou com posies de uma maioria religiosa de natureza exclusiva. No se pode limitar a plena garantia da liberdade religiosa prtica livre de culto; ao contrrio, deve ser tida em justa considerao a dimenso pblica da religio e portanto a possibilidade dos crentes desempenharem a sua parte na construo da ordem social. Na verdade, j o fazem, por exemplo, atravs do seu envolvimento influente e generoso numa vasta rede de iniciativas, que vo das universidades, s instituies cientficas, s escolas, s agncias de assistncia mdica e a organizaes caritativas ao servio dos mais pobres e dos mais marginalizados. A recusa de reconhecer a contribuio sociedade que est redicada na dimenso religiosa e na busca do Absoluto por sua prpria natureza, expresso da comunho entre pessoas privilegiaria indubitavelmente uma abordagem individualista e fragmentaria a unidade da pessoa.A minha presena nesta Assembleia um sinal de estima pelas Naes Unidas e entendida como expresso da esperana de que a Organizao possa servir cada vez mais como sinal de unidade entre Estados e como instrumento de servio para toda a famlia humana. Ela mostra tambm a vontade da Igreja Catlica de oferecer a contribuio que lhe prpria para a construo de relaes internacionais de uma forma que permita que cada pessoa e a cada povo sinta que pode diferenciar-se. A Igreja trabalha tambm para a realizao de tais objectivos atravs da actividade internacional da Santa S, de modo coerente com a prpria contribuio na esfera tica e moral e com a livre actividade dos prprios fiis. Indubitavelmente a Santa S teve sempre um lugar nas assembleias das Naes, manifestando assim o prprio carcter especfico como sujeito no mbito internacional. Como confirmaram recentemente as Naes Unidas, a Santa S oferece assim a sua contribuio segundo as disposies da lei internacional, ajuda a defini-la e a ela faz referncia.As Naes Unidas permanecem um lugar privilegiado no qual a Igreja est comprometida a levar a prpria experincia "em humanidade", desenvolvida ao longo dos sculos entre povos de todas as raas e culturas, e a p-la disposio de todos os membros da comunidade internacional. Esta experincia e actividade, destinadas a obter a liberdade para cada crente, procuram alm disso aumentar a proteco oferecida aos direitos da pessoa. Tais direitos esto baseados e modelados sobre a natureza transcendente da pessoa, que permite a homens e mulheres percorrerem o seu caminho de f e a sua busca de Deus neste mundo. O reconhecimento desta dimenso deve ser fortalecido se quisermos apoiar a esperana da humanidade num mundo melhor, e se quisermos criar as condies para a paz, o desenvolvimento, a cooperao e a garantia dos direitos das geraes futuras.Na minha recente EncclicaSpe salvi,ressaltei "que tarefa de todas as geraes a sempre nova fadigosa busca de ordenamentos rectos para as coisas humanas" (n. 25). Para os cristos esta tarefa motivada pela esperana que brota da obra salvfica de Jesus Cristo. Eis por que a Igreja se sente feliz por estar associada actividade desta ilustre Organizao, qual est confiada a responsabilidade de promover a paz e a boa vontade em todo o mundo. Queridos amigos, agradeo-vos pela oportunidade que me destes hoje de me dirigir a vs e prometo o apoio das minhas oraes pelo prosseguimento da vossa nobre tarefa.Muito obrigado!

VIAGEM APOSTLICAAOS ESTADOS UNIDOS DA AMRICAE VISITA SEDE DA ORGANIZAO DAS NAES UNIDASCERIMNIA DE BOAS-VINDASDISCURSO DO PAPA BENTO XVIhttp://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2008/april/documents/hf_ben-xvi_spe_20080416_welcome-washington.html Casa Branca, Washington D.C.Quarta-feira, 16 de Abril de 2008Senhor PresidenteEstou-lhe grato pelas amveis palavras de boas-vindas em nome do povo dos Estados Unidos da Amrica. Aprecio profundamente o seu convite a visitar este grande pas. A minha visita coincide com um importante momento na vida da comunidade catlica na Amrica: a celebrao do bicentenrio da elevao da primeira Diocese do pas Baltimore a Arquidiocese Metropolitana, e o estabelecimento das Sedes de Nova Iorque, Boston, Filadlfia e Louisville. Alm disso, sinto-me feliz por estar aqui como convidado de todos os Americanos. Venho como amigo, como pregador do Evangelho e com grande respeito por esta vasta sociedade pluralista. Os catlicos da Amrica deram, e continuam a oferecer, uma excelente contribuio para a vida do seu pas. Ao comear a minha visita, estou persuadido de que a minha presena ser um manancial de renovao e de esperana para a Igreja nos Estados Unidos, para que revigore a determinao dos catlicos a contribuir de modo cada vez mais responsvel para a vida desta nao, da qual se sentem cidados orgulhosos.Desde o nascimento da Repblica, a busca de liberdade da Amrica foi orientada pela convico de que os princpios que governam a vida poltica e social esto intimamente vinculados a uma ordem moral fundamentada no domnio de Deus Criador. Os autores dos documentos constituintes desta nao basearam-se nesta convico, quando proclamaram a "verdade auto-evidente" segundo a qual todos os homens so criados iguais e dotados de direitos inalienveis, assentes nas leis da natureza e no Deus desta natureza. O curso da histrica americana demonstra as dificuldades, as lutas e a grande determinao intelectual e moral que foram necessrias para formar uma sociedade que assumisse fielmente estes nobres princpios. Neste processo, que forjou a alma da nao, os credos religiosos representaram uma inspirao constante e uma fora motriz, como por exemplo na luta contra a escravido e no movimento pelos direitos civis. Tambm no nosso tempo, particularmente nos momentos de crise, os Americanos continuam a haurir a sua fora da fidelidade a este patrimnio de ideais e aspiraes compartilhadas.Nos prximos dias, irei encontrar-me com a comunidade catlica da Amrica, e tambm com outras comunidades crists e com representantes de muitas tradies religiosas presentes neste pas. Historicamente, no s os catlicos mas tambm todos os fiis encontraram aqui a sua liberdade de adorar a Deus de acordo com os preceitos da prpria conscincia, e ao mesmo tempo de ser aceites como parte de uma comunidade na qual cada indivduo e cada grupo pode fazer com que a sua voz seja ouvida. No momento em que a nao est a enfrentar as questes polticas e ticas cada vez mais complexas da nossa poca, estou convicto de que o povo norte-americano encontrar nos respectivos credos religiosos uma preciosa fonte de discernimento e a inspirao para promover um dilogo sensato, responsvel e respeitoso, no esforo em vista de construir uma sociedade mais humana e livre.A liberdade no somente uma ddiva, mas tambm um convite responsabilidade pessoal. Os Americanos sabem isto por experincia quase todas as cidades deste pas tm monumentos em honra de quantos sacrificaram a prpria vida em defesa da liberdade, tanto na ptria como no estrangeiro. A preservao da liberdade exige o cultivo da virtude, da autodisciplina, o sacrifcio pelo bem comum e um sentido de responsabilidade em relao s pessoas menos afortunadas. Ela requer inclusivamente a coragem de se comprometer na vida cvica e de expor os credos e os valores mais profundos da pessoa a um debate pblico sensato. Em sntese, a liberdade sempre nova. Ela constitui um desafio que se apresenta a todas as geraes e deve ser sempre conquistada para a causa do bem (cf. Spe salvi, 24). Poucas pessoas compreenderam isto de modo to claro como o saudoso Papa Joo Paulo II. Ao reflectir acerca da vitria espiritual da liberdade sobre o totalitarismo na sua Polnia natal e na Europa do Leste, ele recordava-nos que a histria demonstra, sempre de novo, que "num mundo sem verdade, a liberdade perde o seu fundamento" e que a democracia desprovida de valores pode perder a prpria alma (cf. Centesimus annus, 46). Num certo sentido, essas palavras profticas fazem eco convico do Presidente Washington, expressas no seu Discurso de despedida, segundo a qual a moral representa o "alicerca indispensvel" para a prosperidade poltica.Por sua vez, a Igreja deseja contribuir para a edificao de um mundo cada vez mais digno da pessoa humana, criada imagem e semelhana de Deus (cf. Gn 1, 26-27). Ela est convencida de que a f lana nova luz sobre todas as realidades, e que o Evangelho revela a vocao nobre e o destino sublime de cada homem e de cada mulher (cf. Gaudium et spes, 10). A f oferece-nos tambm a fora de responder nossa excelsa vocao e a esperana que nos inspira a trabalhar por uma sociedade cada vez mais justa e fraterna. A democracia s poder florescer, como os vossos pais fundadores compreenderam, se os lderes polticos e as pessoas por eles representadas forem orientados pela verdade e recorrerem sabedoria derivada de um princpio moral firme nas decises relativas vida e ao futuro da nao.H mais de um sculo, os Estados Unidos da Amrica desempenharam um papel importante na comunidade internacional. Na sexta-feira, se Deus quiser, terei a honra de me dirigir Organizao das Naes Unidas, onde espero encorajar os esforos que esto a ser envidados para dar a esta instituio uma voz cada vez mais eficaz para as legtimas aspiraes de todos os povos do mundo. Nisto, no sexagsimo aniversrio da Declarao Universal dos Direitos do Homem, a necessidade de uma solidariedade global mais urgente do que nunca, se quisermos que todas as pessoas vivam de uma maneira correspondente sua dignidade como irmos e irms que habitam a mesma casa e se sentam volta daquela mesa que a generosidade de Deus destinou a todos os seus filhos. Tradicionalmente, a Amrica enfrenta com generosidade as necessidades humanas imediatas, promovendo o desenvolvimento e oferecendo alvio s vtimas das catstrofes naturais. Estou persuadido de que esta solicitude pela famlia humana mais vasta h-de continuar a encontrar expresso na assistncia aos esforos pacientes feitos pela diplomacia internacional, em vista de resolver conflitos e promover o progresso. Desta forma, as geraes vindouras podero viver num mundo em que a verdade, a liberdade e a justia consigam florescer um mundo onde a dignidade e os direitos concedidos por Deus a cada homem, mulher e criana sejam valorizados, protegidos e eficazmente promovidos.Senhor Presidente, queridos amigos, no momento em que dou incio minha visita aos Estados Unidos, expresso mais uma vez a minha gratido pelo vosso convite, a minha alegria por estar no meio de vs e as minhas ardentes oraes a fim de que Deus Todo-Poderoso confirme esta nao e o seu povo nos caminhos da justia, da prosperidade e da paz.Deus abenoe a Amrica!