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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS CONDIÇÕES SANITÁRIAS NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ – MG. ASSOCIAÇÃO COM INDICADOR DE SAÚDE POR MEIO DE ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO TRANSVERSAL Armando Macedo Chaves

DISCUSSÃO - sis.funasa.gov.br  · Web viewHelmintos associados à água Contato da pele com água contaminada Esquistossomose Construir instalações sanitárias adequadas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO,

MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS

CONDIÇÕES SANITÁRIAS NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ – MG. ASSOCIAÇÃO COM INDICADOR DE

SAÚDE POR MEIO DE ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO TRANSVERSAL

Armando Macedo Chaves

Belo Horizonte

2004

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG2

Condições Sanitárias na Terra Indígena Xakriabá – MG. Associação com Indicador de Saúde por Meio de Estudo

Epidemiológico Transversal

Armando Macedo Chaves

Armando Macedo Chaves

Condições Sanitárias na Terra Indígena Xakriabá – MG. Associação com Indicador de Saúde por Meio de Estudo

Epidemiológico Transversal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em Saneamento,

Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

Área de concentração: Saneamento

Linha de pesquisa: Impacto das condições do ambiente

sobre a saúde

Orientador: Professor Léo Heller

Belo Horizonte

Escola de Engenharia da UFMG

2004

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG5

Página com as assinaturas dos membros da banca examinadora, fornecida pelo Colegiado do

Programa

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG7

AGRADECIMENTOS

Todo este trabalho não teria sido possível se não contasse com a prestimosa e voluntária

participação das 1225 famílias residentes na Terra Indígena Xakriabá, que de maneira singela

e despreendida receberam os entrevistadores nos seus lares e a eles passaram todas as

informações constantes do protocolo de pesquisa – são para esses humildes, porém tenazes

habitantes daquela área indígena, os meus primeiros e mais sinceros agradecimentos.

À Fundação Nacional de Saúde, que propiciou todo o apoio logístico para o desenvolvimento

dos trabalhos de campo, com disponibilização de pessoal e veículos, sem o que, tudo teria

sido muito mais difícil.

Ao sempre disponível “Corpo Docente” do “Programa de Pós-graduação em Saneamento,

Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais”, pelo apoio e

esclarecimentos sempre que solicitados.

À Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, que, em parceria com a

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, propiciou-me esta tão sonhada possibilidade

de obtenção do grau de Mestre.

À CAPES, que acreditou na pesquisa e terá como resultado o que pude elaborar.

Aos Agentes Indígenas de Saúde e entrevistadores de campo, Sandra Gomes Leite, Matilde de

Sousa Santos, Cleonice de Souza Araújo, Rosângela Leite da Silva, Odete Paulo Santiago,

Maria Eliza Santiago Oliveira, Antônio de Araújo Santana, Maria do Socorro Santana,

Senhorinha Ferreira da Cruz, Eulício de Souza Almeida, Eusébio Ferreira de Oliveira, Ivone

Pereira Freire e Marcilene dos Santos, que foram pacientes e persistentes na árdua e penosa

tarefa de percorrer toda a “Reserva Indígena”, cobrindo a integralidade das moradias ali

existentes, para colher as informações a serem transcritas para o protocolo de entrevistas.

Aos Agentes Indígenas de Saneamento, Adailton Cavalcante Bezerra, Ivo Ferreira Leite, João

Batista Ferreira santos, Jorge Souza Freire, Reinaldo Caetano Queiroz, Salvi Evaristo da

Silva, Santo Gomes Araújo e Valdemir Ferreira dos Santos, que comigo percorreram diversas

aldeias e sub-aldeias da terra indígena, na busca de informações imprescindíveis à pesquisa.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGi

A Ismael Vieira, Carlos Jorge e Edílson Coutinho, servidores da FUNASA, pela atenção e

disponibilidade freqüentes com que marcaram seus trabalhos em campo.

À Dona Natalina, que nos momentos iniciais, ainda na fase de treinamento dos

entrevistadores, forneceu-nos alimentação, por sinal, muito gostosa e com tempero típico que

deixou saudades.

Ao Professor Léo Heller, que, ao oferecer seus ensinamentos durante as disciplinas de

“Epidemiologia Ambiental” e “Análise de Estudos Epidemiológicos”, na sua forma

diferenciada de abordagem das questões de Saúde Pública e destacado empenho em concitar a

todos ao debate e aprofundamento das questões postas, buscou explorar através do

entendimento e sensibilidade de cada um, a compreensão de “episódios epidemiológicos” que

envolveram grandes contingentes populacionais. Quando o tive como orientador para a minha

Dissertação, percebi e constatei a sua grande vocação para as questões que envolvem os

excluídos deste país, que tem como estigma, meramente a “sorte”. Léo está na minha

memória, como alguém que norteia a sua atividade profissional para o estudo das intrincadas

teias que envolvem as relações sociais primárias com o saneamento básico naquilo que de

mais perverso pode resultar: “O acometimento de pessoas, especialmente de crianças”.

Ao meu colega, sempre presente, João Luiz Pena, que comigo trilhou caminhos sinuosos (e

por vezes perigosos) na busca da melhor informação, sem jamais deixar que os fatos

inusitados desestabilizassem os nossos objetivos (o que não foi fácil) para que o

encaminhamento de todas as demandas fosse conduzido de maneira natural, tranqüila e dentro

da mais absoluta ética.

À Prof. Marize Fagundes, que se comprometeu e dedicou parte do seu escasso e precioso

tempo, no auxílio à compreensão e tratamento estatísticos dos dados.

Á minha mãe, que além do “colo” permanente, auxiliou no processo de revisão ortográfica e

gramatical do texto.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGii

RESUMO

O presente trabalho diagnosticou as condições de saneamento básico, de hábitos e costumes

higiênicos, bem como a sua associação com a ocorrência de casos de diarréia em crianças

com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, na terra indígena Xakriabá,

localizada no município de São João das Missões, norte do Estado de Minas Gerais, num total

de 994 indivíduos que ali residem em 614 domicílios distribuídos em 27 aldeias e 25 sub-

aldeias. O delineamento epidemiológico aplicado foi o transversal, tendo sido investigado

todo o universo de crianças. Os dados foram obtidos através de pesquisa estruturada para

aquelas condições peculiares, colhidos a partir de entrevistas domiciliares, tendo como

entrevistados, preferencialmente, a mãe, o pai ou membro adulto da família. Foram

constatadas que 50 crianças, residentes em 49 domicílios, apresentaram diarréia no intervalo

de até 3 dias que antecederam a pesquisa. A estatística descritiva indicou alguns aspectos

considerados interessantes para uma melhor compreensão do estado geral de saneamento,

hábitos e costumes higiênicos da população estudada. A análise univariada indicou

associações não significantes em um nível de 95% para a renda familiar, a água tratada e o

número de refeições, dentre outras, em relação à variável dependente – diarréia. O modelo de

regressão logística binária utilizado para a análise multivariada identificou um grupo de três

variáveis independentes com significância estatística, cujos fatores de risco associados à

diarréia infantil foram: brincar em água suja, uso terapêutico da urina e a existência de

banheiro no domicílio. Os resultados finais apontam para a compreensão de que os hábitos e

costumes higiênicos são importantes para tornar o "meio" menos propício à ocorrência de

diarréia, sendo reforçado, inclusive, pelo aspecto de que "não ter banheiro" apresentou-se

como "fator de proteção", considerando que as instalações sanitárias existentes não merecem

dos seus usuários a limpeza devida, proporcionando, assim, um ambiente adequado ao

desenvolvimento da patologia estudada – diarréia. O quadro sanitário – sistemas de

saneamento, encontrado na terra indígena Xakriabá, comparativamente à ocorrência de casos

de diarréia, indicaram, provavelmente, que a baixa cobertura e falhas na operação dos

sistemas, associadas ainda aos hábitos higiênicos daquela população, destacaram-se em

relação à doença.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGiii

ABSTRACT

The present work diagnosed the conditions of basic sanitation, of habits and hygienic habits,

as well as their association with the occurrence of cases of diarrhea in children with age

comprehended among 4 months to 4 years and 11 months, in the Xakriabá indigenous land,

located in the municipal district of São João das Missões, north of the state of Minas Gerais,

in a total of 994 individuals residents in 614 homes distributed at 27 villages and 25 sub-

villages. The applied epidemic delineation was the transverse, having been investigated the

whole universe of children. The data were obtained through research structured for those

peculiar conditions, picked from home interviews, being interviewed, preferentially, the

mother, the father or adult member of the family. The research showed that 50 children,

residents in 49 homes, presented diarrhea in the interval of up to 3 days that preceded the

research. The descriptive statistics indicated some aspects considered interesting for a better

understanding of the general state of sanitation, habits and hygienic habits of the studied

population. The univaried analysis indicated associations non significant in a level of 95% for

the family income, the treated water and the number of meals, among other, in relation to

dependent variable - diarrhea. The model of logistic binary regression used for the multivaried

analysis identified a group of three independent variables with statistical significance of

which risk factors associated to the infantile diarrhea were: to play in dirty water, the

therapeutic use of the urine and the bathroom existence in the home. The final results point to

the understanding that the habits and hygienic habits are important to make the "ambience"

less favorable to the diarrhea occurrence, reinforcing inclusive the aspect that "not to have

bathroom" was presented as "protection" factor, considering that the existent sanitary facilities

don't deserve of their users the due cleaning, providing like this, an appropriate atmosphere to

the development of the studied pathology - diarrhea. The sanitary aspect - systems of

sanitation, found in the Xakriabá indigenous land, comparatively to the occurrence of cases of

diarrhea, indicated, probably, that the low covering and flaws in the operation of the systems,

still associated to the hygienic habits of that population, stood out in relation to the disease.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGiv

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................1

2 OBJETIVOS..................................................................................................................................................5

2.1 OBJETIVO GERAL.....................................................................................................................................52.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................................................5

3 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................................................6

3.1 SANEAMENTO INADEQUADO E IMPACTO A SAÚDE.....................................................................................63.2 PANORAMA SANITÁRIO MUNDIAL DO SANEAMENTO...................................................................................73.3 DADOS SÓCIO-SANITÁRIOS BRASILEIROS...................................................................................................83.4 QUADRO SANITYÁRIODAS POPULAÇÕES INDÍGENAS - ASPECTOS GERAIS..................................................103.5 INFRA-ESTRUTURA DE SANEAMENTO NA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ......................................................113.6 DELINEAMENTO EPIDEMIOLÓGICO APLICADO - ESTUDO TRANSVERSAL SECCIONAL.................................143.7 DIARRÉIA INFANTIL ASSOCIADA AO SANEAMENTO INADEQUADO..............................................................17

3.7.1 Definição.........................................................................................................................................173.7.2 Identificação do quadro de diarréia..............................................................................................183.7.3 Agentes causadores de diarréia......................................................................................................203.7.4 Medidas de prevenção e profilaxia.................................................................................................213.7.5 Vigilância epidemiológica..............................................................................................................223.7.6 Ocorrência de diarréia em populações indígenas brasileiras........................................................22

3.8 CLASSIFICAÇÃO AMBIENTAL DE DOENÇAS RELACIONADAS À ÁGUA E AO ESGOTO....................................243.9 MEDIDAS DE RISCO E DE SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA...........................................................................27

3.9.1 Variáveis estatísticas.......................................................................................................................273.9.2 Variáveis dependentes e variáveis independentes..........................................................................283.9.3 Relações entre variáveis.................................................................................................................293.9.4 Aspectos básicos da relação entre variáveis..................................................................................30

4 METODOLOGIA........................................................................................................................................32

4.1 ÁREA DE ESTUDO...................................................................................................................................324.2 DEFINIÇÃO DOS ESTADOS "DOENTES" E "NÃO-DOENTES".......................................................................344.3 DEFINIÇÃO DOS ESTADOS DE "RXPOSIÇÃO" E DE "NÃO-EXPOSIÇÃO"......................................................354.4 PROTOCOLO DE ENTREVISTA..................................................................................................................374.5 TREINAMENTO DA EQUIPE DE CAMPO ...................................................................................................384.6 TREINAMENTO DA EQUIPE DE REVISÃO E CODIFICAÇÃO ........................................................................394.7 COLETA DOS DADOS..............................................................................................................................404.8 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................................................................424.9 PRÉ-REQUISITOS LEGAIS PARA INGRESSO NA TERRA INDÍGENA ..............................................................444.10 COLETA E ANÁLISES DA QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA ....................................................................45

5 RESULTADOS............................................................................................................................................46

5.1 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA E DOS FATORES DE EXPOSIÇÃO........................................465.2 DIARRÉIA...............................................................................................................................................565.3 ANÁLISE UNIVARIADA.............................................................................................................................595.4 ANÁLISE MULTIVARIADA.........................................................................................................................61

6 DISCUSSÃO................................................................................................................................................63

6.1 METODOLOGIA......................................................................................................................................636.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................................................646.3 ABASTECIMENTO DE ÁGUA.....................................................................................................................65

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGv

6.4 ESGOTAMENTO SANITÁRIO ....................................................................................................................676.5 RESÍDUOS SÓLIDOS ...............................................................................................................................696.6 HÁBITOS E COSTUMES HIGIÊNICOS ........................................................................................................70

7 CONCLUSÕES ...........................................................................................................................................73

8 RECOMENDAÇÕES..................................................................................................................................76

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................78

10 ANEXOS......................................................................................................................................................83

10.1 ANEXO A – PROTOCOLO DE PESQUISA...................................................................................................8310.2 ANEXO B – ESTATÍSTICA DESCRITIVA.....................................................................................................8410.3 ANEXO C – ANÁLISE UNIVARIADA..........................................................................................................8910.4 ANEXO D – ANÁLISE MULTIVARIADA .....................................................................................................9310.5 ANEXO E – MAPA GEOREFERENCIADO - CRIANÇAS COM DIARRÉIA - TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG. .9410.6 ANEXO F – FOTOGRAFIAS DATERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG............................................................95

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGvi

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AIS – Agente Indígena de Saúde

AISAN – Agente Indígena de Saneamento

CESAMA – Companhia de Saneamento e Pesquisa do Meio Ambiente – Juiz de Fora (MG)

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais

CONEP – Comitê Nacional de Ética em Pesquisa

CRL – Cloro Residual Livre

DATASUS – Base de informações do Sistema Único de Saúde

DESAI – Departamento de Saúde Indígena

DIP – Doenças infecciosas e parasitárias

DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMS – Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde

pH – Potencial hidrogeniônico

PVC – Cloreto de Poli-vinila

Q.I – Quociente de inteligência

SISAGUA – Sistema de Informação de Água para Consumo Humano

SISABI – Sistema de Informação de Saneamento em Áreas Indígenas

SIASI – Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena

SPI – Serviço de Proteção ao Índio

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGvii

SPSS – Statistical Package for Social Science

SUS – Sistema Único de Saúde

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNICEF – United Nations of the Children Found

uH – Unidade Hanzen

URCQA – Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água

UT – Unidade de turbidez

WHO – World Health Organization

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGviii

LISTA DE FIGURASpág.

Figura 3.1 Relação de variáveis estatísticas 29

Figura 5.1 Tipos de instalações sanitárias encontradas no ambiente sanitário dos domicílios de crianças – Terra Indígena Xakriabá, 2003

48

Figura 5.2 Criações que se movimentam no lixo e criações que entram na casa – Terra Indígena Xakriabá

56

Figura 5.3 Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003

57

Figura 10.1 Crianças em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003

85

Figura 10.2 Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas, por tipo de manancial – Terra Indígena Xakriabá, 2003

86

Figura 10.3 Mapa georeferenciado – crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá - MG

94

Figura 10.4 Fotografias – Terra Indígena Xakriabá, 2003 95

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGix

LISTA DE TABELASpág.

Tabela 3.1 Doenças relacionadas com água contaminada 26

Tabela 3.2 Doenças relacionadas com a ausência de rede de esgotos sanitários 27

Tabela 4.1 Aldeias e sub-aldeias com crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses, e número de domicílios

33

Tabela 4.2 Codificação das categorias utilizadas na análise univariada 43

Tabela 4.3 Cronologia da pesquisa junto às instituições federais, aos comitês de ética em pesquisa e ao povo Xakriabá

45

Tabela 5.1 Idade e renda familiar das crianças estudadas – Terra indígena Xakriabá 46

Tabela 5.2 Hábitos e costumes higiênicos das crianças estudadas – Terra Indígena Xakriabá

47

Tabela 5.3 Caracterização do esgotamento sanitário para domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

47

Tabela 5.4 Identificação de motivos para o não-uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia – Terra Indígena Xakriabá

48

Tabela 5.5 Local das dejeções, por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

49

Tabela 5.6 Disposição final das águas servidas por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

50

Tabela 5.7 Tipologia do abastecimento de água em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

50

Tabela 5.8 Uso da água de poço tubular profundo nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

51

Tabela 5.9 Intermitência da água proveniente de poço tubular profundo em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

51

Tabela 5.10 Condição do armazenamento da água consumida nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

52

Tabela 5.11 Resultados bacteriológicos e físico-químicos da água dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de 33 moradias com crianças – Terra Indígena Xakriabá

53

Tabela 5.12 Resultados das análises microbiológicas realizadas nos recipientes usados para armazenar a água de beber de nove moradias com crianças doentes, em aldeias e sub-aldeias – Terra Indígena Xakriabá

54

Tabela 5.13 Disposição final dos resíduos sólidos gerados pela casa com crianças – Terra Indígena Xakriabá

55

Tabela 5.14 Disposição final dos resíduos sólidos gerados pelo banheiro de domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

55

Tabela 5.15 Domicílios, em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram, simultaneamente, crianças com e sem diarréia-Terra Indígena Xakriabá

56

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGx

Tabela 5.16 Aldeias e sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá

58

Tabela 5.17 Análise univariada – estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística

59

Tabela 5.18 Análise multivariada – estimativas de OR e intervalo de confianças a 95%

62

Tabela 6.1 Número médio de pessoas por domicílio, cômodo e dormitório – Terra Indígena Xakriabá

71

Tabela 10.1 Distribuição espacial das crianças, por aldeia e sub-aldeia – Terra Indígena Xakriabá

87

Tabela 10.2 Abastecimento de água (614 domicílios e 994 crianças) – Terra Indígena Xakriabá

88

Tabela 10.3 Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes – variáveis qualitativas – análise univariada – Terra Indígena Xakriabá

90

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMGxi

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa integra e complementa três outras pesquisas que formarão uma base de

informações para a linha de pesquisa “Impacto das condições do ambiente sobre a saúde”,

registrada no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, no Programa de

Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG e no Diretório

de Grupos de Pesquisa do CNPq. A relação entre saneamento e saúde em populações

excluídas do contexto das intervenções do setor de saneamento é o enfoque maior dos

projetos integrados.

A avaliação dos impactos das ações de saneamento e o estado de saúde observado na

população indígena Xakriabá, cujas terras estão localizadas no município de São João das

Missões, norte do Estado de Minas Gerais, apontam para o eixo de estudos setoriais que

merece atenção para análise dentro do contexto sócio-sanitário existente, tendo sido tratados

por meio da técnica epidemiológica quantitativa com o desenho transversal, com base em

dados primários de pesquisa própria realizada na área indígena estudada. Visa, ainda,

conhecer a situação da infra-estrutura de saneamento disponibilizada, hábitos e costumes

higiênicos e suas relações com as condições individuais de saúde daquela população,

particularmente em crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses.

A política governamental contemporânea em relação à questão indígena brasileira tem por

objetivo a "emancipação" dos mesmos, mas, na prática, o que tem acontecido é o seu

confinamento em pequenas porções de seus antigos territórios, geralmente com o meio

ambiente quase completamente devastado, privando-os das condições de vida integrada à

natureza. A partir daí, verifica-se uma grande morosidade, no que se refere à legalização e

desintrusão (retirada dos intrusos não-indígenas) de suas terras; e um assistencialismo

precário, que os tornam ainda mais dependentes do Estado para sobreviverem (RIBEIRO,

1979).

Em 1988, a nova Constituição Brasileira concedeu aos povos indígenas uma importante

vitória referente aos seus direitos, com a inclusão de dispositivos legais que lhes asseguram

fundamentos básicos para a vida, conforme seus hábitos e costumes (CF, 1988).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG1

A população indígena brasileira, no início do século XVI, era estimada em cerca de cinco

milhões de pessoas, comparável à da Europa nessa mesma época. Atualmente, não somam

mais que 350 mil indivíduos (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2000). A história do

povo Xakriabá não foi diferente dos seus co-irmãos que, tendo sido alienados e

descaracterizados pelas civilizações não índias, sofreram transformações étnicas, culturais e

sócio-econômicas pela interferência cada vez mais acentuada de culturas invasivas

(MARCATO, 1978; MARIZ, 1982; PARAISO, 1987).

A Terra Indígena Xakriabá, inserida no município de São João das Missões – MG, tem limites

com os Municípios de Manga, Miravânia e Itacarambi, e dista da Capital do Estado em 720

Km. O clima tropical quente é verificado na região, apresentando chuvas pelo período de 4 a

5 meses. A estiagem, considerada prolongada, se dá no período compreendido entre abril a

outubro, apresentando, para os meses de novembro e dezembro, fevereiro e março elevação

do volume pluviométrico, geralmente com estiagem durante todo o mês de janeiro

(SCHETTINO et al., 1999).

Schettino et al. (1999:92) constata que “geomorfologicamente, a área caracteriza-se pela

existência de níveis de terraços a partir da calha do rio São Francisco. Localmente, esses

terraços mostram uma superfície plana, coberta por coluviões e aluviões, conformando uma

ampla depressão (Depressão Sanfranciscana), limitada por escarpas rochosas. As áreas mais

elevadas correspondem às superfícies tabulares, localmente denominadas “chapadas”

(Planalto do São Francisco), recobertas por solos arenosos.”

A vegetação observada na Terra Indígena Xakriabá apresenta-se com características de

transição entre o Cerrado e a Caatinga.

Os cursos d’água existentes na terra indígena tem fluxo intermitente, na sua grande maioria,

entretanto existem dois rios de cursos perenes e porte regional expressivos, os rios Peruaçu e

Itacarambi. Existe um barramento, construído em terra, pela Companhia de Desenvolvimento

do Vale do São Francisco – CODEVASF, na década de 1980, no rio Itacarambi e a lagoa de

Rancharia, “um furado de grandes dimensões, hoje completamente assoreado, circundado de

cultivos e pastagens, configurando-se como um brejo na época das chuvas.” (SCHETTINO et

al., 1999:99).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG2

Na Terra Indígena Xakriabá há 52 localidades subdivididas em 27 aldeias e 25 sub-aldeias,

com 1.224 casas ocupadas, abrigando 6442 pessoas, distribuídas em uma área de 53.075 ha

(SCHETTINO et al., 1999).

Os Xakriabá encontram-se “descaracterizados” quanto a hábitos e costumes gerais, e

fragilizados na sua identidade, que há muito vem sendo degradada pelos caminhos do tempo,

impondo-lhes condições nunca antes experimentadas, mesmo assim, merecendo acolhida à

chegada de novos rumos.

A atual área ocupada não resultou do avanço natural sobre as terras circunvizinhas em busca

de ambiente propício para a sua sobrevivência, mas decorreu de conflitos fundiários com

posseiros poderosos, que os expulsaram para terras inóspitas e inférteis - as mais indesejáveis

da região - conduzindo-os a toda sorte de acontecimentos dificultando significativamente a

vida desse povo, dada a precariedade e rigidez das condições oferecidas pelo meio-ambiente

(MARIZ et al., 1982).

Atualmente, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), é a responsável pelas ações de saúde

e saneamento em áreas indígenas. Entretanto, observa-se que os avanços ainda são tímidos e

distantes da necessidade, quando se pensa na cultura, hábitos e costumes do povo indígena.

Segundo a FUNASA (2000), os dados consolidados dos relatórios de 1998, de 22 das 47

administrações regionais da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), sobre uma população de

cerca de 60 mil indivíduos, registram 466 óbitos, quase 50% deles entre menores de cinco

anos de idade, tendo como causas mais freqüentes as doenças transmissíveis, especialmente as

infecções das vias respiratórias e as parasitoses intestinais, a malária e a desnutrição. As

causas externas, especialmente a violência e o suicídio, são a terceira causa de mortalidade

conhecida entre a população indígena no Brasil, afetando, sobretudo regiões como Mato

Grosso do Sul e Roraima. (...) A tuberculose é um dos agravos que acometem com maior

freqüência e severidade as comunidades indígenas.

A existência de um grande projeto integrado de pesquisa do Departamento de Engenharia

Sanitária e Ambiental da UFMG, coordenado pelo prof. Léo Heller e tendo como objeto a

“Avaliação de risco à saúde de populações excluídas das políticas formais de saneamento”

visa a abranger o tema da relação entre saneamento e saúde, a partir da sua avaliação em

populações pauperizadas, habitando áreas de urbanização precárias, e portanto excluídas das

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG3

intervenções ditadas pelas políticas formais ou oficiais do setor de saneamento. No projeto, a

compreensão da referida relação procura dar seqüência a um esforço investigativo acumulado,

desenvolvido no âmbito da linha de pesquisa “Impacto das condições do ambiente sobre a

saúde”, registrada no Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e

Recursos Hídricos da UFMG e no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq.

A expectativa geral do projeto é a de se ampliar o conhecimento sobre a questão, sob as

perspectivas das práticas sanitárias das populações objeto das investigações e dos riscos (ou

proteção) à saúde, determinados pelas referidas práticas. Entende-se que o acúmulo teórico,

metodológico e prático proporcionado, em combinação com aquele já obtido com as

pesquisas desenvolvidas pela UFMG, poderá resultar em importantes conclusões aplicadas ao

avanço global do conhecimento na área e ao redirecionamento das políticas públicas

específicas.

Em decorrência da realidade existente, desde 1997, na terra indígena Xakriabá, relativa à

cobertura insuficiente de saneamento, e, ainda, pelo trabalho ali desenvolvido de

acompanhamento da implementação de ações governamentais para a área, impôs-se a

motivação de avaliar o impacto das condições disponibilizadas de saneamento naquela

população, com ênfase para os casos de diarréias em crianças com idade compreendida entre

4 meses e 4 anos e 11 meses, por se tratar de grupo de indivíduos cujas respostas às condições

insuficientes ou inadequadas são mais rápidas e perceptíveis.

A criança até 5 anos de idade está naturalmente sujeita a diversos riscos patológicos

decorrentes da sua fragilidade orgânica, uma vez que se encontra em processo de crescimento

e adaptação ao meio em que vive, sendo as doenças diarréicas um dos principais problemas de

saúde pública dessa faixa etária (CORREIA e McAULIFFE, 1999).

As evidências apresentadas mostram que condições ambientais inadequadas, com falta de

saneamento, podem propiciar condições para consumo de água e alimentos contaminados que

determinam não somente episódios de diarréia aguda, como também anormalidades perenes

na função intestinal, que podem comprometer a condição de saúde deste grande contingente

da população mundial acometida pela enteropatia ambiental (FAGUNDES NETO e OLIVA,

1996).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG4

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Estudar a associação de indicador de saúde (diarréia), particularmente sobre crianças de 4

meses a 4 anos e 11 meses de idade, com hábitos de higiene e condições de saneamento na

Reserva Indígena Xakriabá.

2.2 Objetivos específicos

Identificar o estado de saúde, por meio da diarréia como indicador, em crianças com idade

entre 4 meses a 4 anos e 11 meses;

Avaliar as condições de cobertura e operacionalidade dos sistemas de saneamento básico

implantados – abastecimento de água e esgotamento sanitário;

Oferecer subsídios para análise e definição de procedimentos técnicos necessários à

melhoria das condições gerais de infra-estrutura de saneamento básico na terra indígena

Xakriabá;

Subsidiar as diversas instituições envolvidas com o povo Xakriabá, quanto aos aspectos de

higiene pessoal e coletiva, com o fim de estudar e implementar medidas necessárias a uma

melhor condição sanitária geral, capaz de contribuir para a melhoria das condições de

saúde da população.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG5

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Saneamento inadequado e impacto na Saúde

Briscoe (1987) aponta a disposição final inadequada dos esgotos sanitários como importante

na agressividade antrópica ao meio ambiente, estendendo seus efeitos indesejados à saúde

humana.

O sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequado é responsável pela

maioria das enfermidades incluídas nas denominações "feco-oral, transmissão hídrica ou

relacionada com a higiene", denominada como a categoria "A" da classificação ambiental das

doenças infecciosas (MARA e FEACHEM, 1999), e tem como fonte comum de

contaminação, as fezes humanas em água, em alimentos, nas mãos e, freqüentemente, em

utensílios domésticos e no ambiente peridomiciliar (WOLMAN, 1975).

Indicadores de saúde, em geral, apresentam incidência variada em função da idade. Para a

criança, os principais problemas de saúde pública decorrem de sua defesa imunológica ainda

em formação, que vai se desenvolvendo com o seu crescimento, e ainda em função do

ambiente onde se dá (CORREIA et al., 1999).

Teixeira (2003) comenta que as crianças na faixa etária compreendida entre 29 dias a 5 anos

desconhecem hábitos higiênicos adequados, como lavar as mãos depois de defecar e lavar as

mãos antes das refeições.

Considerando que a mãe Xakriabá pratica o aleitamento materno sistemático e ainda faz jus

ao auxílio maternidade pelo período de quatro meses, o que cria condições para tal

procedimento é que se definiu como grupo etário para o estudo aquele cujas crianças se

encontram com idade entre quatro meses e cinco anos incompletos, residentes na Terra

Indígena.

Heller (1995) aponta para um risco relativo 2,74 vezes maior de crianças menores que 5 anos

contraírem diarréia, se expostas a esgoto a céu aberto, em relação ao estado de não exposição.

Correia e McAuliffe (1999) relatam que, dentre outras doenças como a coqueluche, tétano e

tuberculose, as diarréias são responsáveis pelos principais problemas de saúde pública

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG6

Muito se fez nos países em desenvolvimento, a partir de 1987, quanto a saneamento básico,

embora não se tenha imprimido às ações implementadas, o ritmo compatível ao crescimento

populacional (AZEVEDO, 2003).

Cairncross e Feachem (1990) constatam que as melhorias em saneamento não atingiram a

uma grande parcela da população mundial, que ainda permanece sob condições sócio-

sanitárias deploráveis e distante desses benefícios.

Caso não houvesse mais qualquer deficiência nos sistemas de saneamento básico, pode-se

estimar que aproximadamente 2 milhões de crianças deixariam de morrer anualmente no

planeta (FRIEDMAN-HUFFMAN e ROSE, 1998).

Os investimentos em saneamento são capazes, segundo Briscoe, Feachem e Rahaman (1986)

de reduzir a diarréia infantil.

Azevedo (2003) comenta, de maneira realista, que num futuro próximo, não há que se esperar

pela universalização dos serviços de saneamento, visto que, percebe-se tanto o aumento pela

demanda de água quanto a destinação inadequada dos efluentes gerados. Tal perspectiva deve

ser considerada para a formulação de políticas públicas para o setor saneamento.

A degradação ambiental observada pelo aspecto sanitário, verifica-se a partir do

comportamento do homem quanto à disposição de todo o rejeito por ele produzido ainda no

ambiente domiciliar, quer seja dos efluentes domésticos, quer dos resíduos sólidos. O

domicílio, à vista do seu habitante, parece ser um invólucro ambiental perfeito, onde o

balanço de entrada e saída é desprezado, o que compromete sobremaneira o meio ambiente

externo.

3.2 Panorama sanitário mundial do saneamento

Segundo a WHO (2000), 1 bilhão de pessoas não dispõem de água potável no mundo;

1,8 bilhão não têm acesso a qualquer tipo de sistema de esgotamento sanitário.

oito milhões de crianças morrem anualmente em decorrência de enfermidades relacionadas à

falta de saneamento, o que significa 913 crianças por hora, 15 por minuto ou 1 a cada quatro

segundos.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG7

Daniel et al. (1996) chamam a atenção para a relação nítida entre as condições de vida das

populações de países em desenvolvimento com a infra-estrutura de saneamento

disponibilizada, podendo ser observada alta prevalência de doenças infecciosas, indicando

assim grande evidência da ineficácia dos “sistemas” existentes. A perspectiva futura de

melhoria da situação sanitária mundial atual não deve ser animadora, vez que o crescimento

populacional do planeta nos próximos 25 anos deverá ser da ordem de 160 % para os países

em desenvolvimento, o que leva a vislumbrar um contingente populacional cada vez maior,

desassistido das condições sanitárias desejáveis (WORLD BANK, 1992).

Em pesquisa de condições sanitárias rurais semelhantes às do presente estudo, encontra-se

registro de que muitas crianças em Moçambique estão privadas do seu direito básico à

sobrevivência e à saúde. A cada ano, cerca de 170.000 crianças menores de cinco anos de

idade morrem, sobretudo porque crescem num ambiente precário. Só a diarréia, causada

muitas vezes por fontes de água desprotegidas, eliminação imprópria dos excretas e práticas

precárias de higiene pessoal e ambiental, é responsável por 13% de todos os casos de

mortalidade infantil (UNICEF, 2003).

3.3 Dados sócio-sanitários brasileiros

Quanto aos indicadores de saneamento, em 2000 o Brasil registrou uma cobertura nacional de

abastecimento de água de 90% dos domicílios da área urbana, embora ainda apresente

grandes disparidades regionais, sendo a pior situação na Região Norte (63%). Na área rural é

baixa a proporção de domicílios (18,1%) que dispõem desse serviço. Apenas 45,7% dos

municípios do país têm água fluoretada, com cobertura de 70% dos municípios nas Regiões

Sul e Sudeste, enquanto este índice é de 7,8% e 16,6% nas Regiões Norte e Nordeste,

respectivamente (IBGE, 2001).

O acesso à rede de abastecimento de água não garante a qualidade da água recebida. A

intermitência no abastecimento e a ausência de tratamento adequado, principalmente nas áreas

rurais, obriga a população a recorrer a formas alternativas de armazenamento que geram

potenciais riscos para a saúde.

Mais de 10 milhões (24,8%) dos 41,8 milhões de domicílios existentes no Brasil no ano de

1998 não eram atendidos por rede de abastecimento d’água; Os domicílios atendidos por

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG8

redes de abastecimento d’água e desprovidos de sistemas de coleta do esgoto sanitário

produzido pela utilização dessa água, representam 12,8 milhões (IBGE, 2000).

O esgotamento sanitário advindo da rede geral e/ou fossa séptica ainda é um serviço

incompleto. Sua cobertura atingiu 72% dos domicílios urbanos do país, com melhor nível no

Sudeste (88%) e com situação precária nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde

menos da metade da população tem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. Nos

domicílios rurais, essa situação é ainda mais grave, atendendo apenas a 12,9% (IBGE, 2003).

O sistema de coleta de esgoto sanitário não é disponibilizado para 23,2 milhões de domicílios

(55,5% do total). Especificamente em relação à zona urbana, 11,4% não dispõem de água

tratada e 48,9% não são atendidos por redes coletoras de esgoto sanitário. São 88 milhões de

brasileiros vivendo em domicílios desprovidos de sistemas de coleta do esgoto sanitário

(IBGE, 1998).

A elevada proporção de domicílios rurais sem qualquer tipo de instalação sanitária ou

banheiro corresponde a 2.632.440 residências (35,7%). Na área urbana, 8,3% dos domicílios,

ou seja, 3.700.000 moradias não têm banheiro. É importante salientar a baixa proporção de

municípios com estação de tratamento de esgoto no Brasil (20% do total). Mesmo na Região

Sudeste, que é a mais desenvolvida do país, esse serviço cobre apenas 33% dos municípios, o

que aumenta os riscos de contaminação ambiental, especialmente para a saúde das crianças

(IBGE, 2000).

Em relação à coleta de lixo, enquanto práticamente todos os domicílios urbanos têm esse

serviço - apenas 13% dos domicílios rurais o têm, nos quais prevalece a prática de queimar,

enterrar ou de lançar o lixo em terrenos baldios, logradouros, rios, lagos ou mar (IBGE,

2001).

Em 1997, morreram 50 pessoas por dia no Brasil vitimadas por enfermidades relacionadas à

falta de saneamento. Destas, 40% eram crianças de 0 a 5 anos de idade; ou seja, o Brasil

registra a morte de 20 crianças de 0 a 5 anos por dia, em decorrência da falta de saneamento

básico, principalmente de esgoto sanitário (MS.; BASE DATASUS, 1998).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG9

3.4 Quadro sanitário das populações indígenas – Aspectos gerais

Dados de um cruzamento feito a partir de informações da Fundação Nacional de Saúde e da

Pastoral da Criança (2003) indicam que a mortalidade infantil entre os índios brasileiros é

115,5% maior do que entre os não índios. Essa taxa entre a população branca é de 29 óbitos a

cada mil nascidos vivos. Entre os índios é de 62,5 a cada mil. Entre as causas da mortalidade

estão diarréias e falta de saneamento, que são um "subproduto" da miséria evidenciada nas

comunidades indígenas. Para completar, a mortalidade entre as crianças índias aumentou 9%

entre 2001 e 2002 (CNBB e FUNASA, 2003).

Segundo a FUNASA, de acordo com o relatório de morbi-mortalidade referente ao ano de

2002, as equipes multidisciplinares dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas notificaram

614.822 agravos à saúde. As diarréias contribuíram com 28,8%, representando, em conjunto

com as verminoses, 71,5% de todos os atendimentos por Doenças Infecto-Parasitárias (DIP).

A literatura é farta em associar as doenças infecciosas e parasitárias às populações de classes

sociais brasileiras menos favorecidas, não excluindo as sociedades indígenas (HELLER,

1995; VASCONCELOS, 1997; AZEVEDO, 2003; FUNASA, 2003; TEIXEIRA, 2003;

VIEIRA, 2003).

A partir de agosto de 1999, o Ministério da Saúde assumiu a responsabilidade de estruturar o

Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, articulado com o Sistema Único de Saúde (SUS). A

assistência à saúde da população indígena brasileira, estimada em mais de 380 mil indivíduos,

pertencentes a cerca de 210 povos, falantes de 170 línguas, está organizada em 34 Distritos

Sanitários Especiais Indígenas (FUNASA, 2002).

A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, implantou uma base de dados eletrônica sobre o

saneamento em áreas indígenas. Trata-se do Sistema de Informação de Saneamento em Áreas

Indígenas (SISABI), um instrumento de acompanhamento e avaliação dos impactos das ações

de saneamento, e que integra uma rede maior, que é o Sistema de Informação de Atenção à

Saúde Indígena (SIASI).

O módulo “censo sanitário” reúne dados sobre as fontes de água utilizadas pelas comunidades

indígenas, hábitos de higiene, destino do lixo, sistemas de transportes e comunicação e

atividades econômicas nas aldeias indígenas. Os responsáveis pela aplicação do questionário

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG10

do "censo sanitário" são os Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN’s) e os integrantes das

equipes multiprofissionais de saúde.

A atuação dos agentes é feita em conjunto com as equipes multiprofissionais de saúde.

Atualmente, existem 1000 agentes indígenas de saneamento no país. Mil e trezentas aldeias

das mais de 3.600 existentes já implantaram o módulo, beneficiando cerca de 130 mil índios.

A FUNASA implantou o Sistema de Informação de Água para Consumo Humano

(SISAGUA) e um programa de implementação de melhorias sanitárias domiciliares em áreas

indígenas, desde o ano de 2002.

O SISAGUA é um sistema de informação de vigilância da qualidade da água para o consumo

humano, para o país, incluindo também as áreas indígenas, possibilitando controlar os níveis

de cloro, flúor e pH da água nas comunidades indígenas. O SISAGUA também registra os

dados sobre os sistemas de abastecimento de água existentes nas aldeias.

O Departamento de Saúde Indígena (DESAI), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA)

promoveu a capacitação em “Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão

Hídrica” para multiplicadores em monitorização das doenças diarréicas em áreas indígenas.

Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, de 11 Distritos Sanitários Especiais

Indígenas estão aptos ao desenvolvimento das atividades (FUNASA, 2002).

Um problema a ser superado na implantação do sistema de informação diz respeito à

qualidade dos dados. Os problemas de saúde ocorrem na base, nas aldeias, e é justamente lá

que estão as maiores necessidades de treinamento de pessoal para que haja diagnósticos e

registros corretos, melhorando, assim, a confiabilidade dos dados de morbi-mortalidade das

populações indígenas. Há, portanto, a necessidade de preparação constante e progressiva dos

agentes indígenas de saúde que atuam nas aldeias e das equipes profissionais de saúde que

atuam nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

3.5 Infra-estrutura de saneamento na terra indígena Xakriabá

Anteriormente ao ano de 2000, conforme conhecimento do autor, as intervenções em

saneamento na terra indígena Xakriabá limitavam-se à implantação de sistemas de

abastecimento de água precários, sem qualquer avaliação técnica preliminar minimamente

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG11

consistente quanto aos aspectos de engenharia, não havendo procedimentos necessários à

elaboração de projetos dessa natureza, que retratassem estudos de evolução demográfica,

levantamentos topográficos e estudo de mananciais, dentre outros necessários. Apenas onze

aldeias e seis sub-aldeias possuíam sistemas de abastecimento de água antes do início da

intervenção da FUNASA naquela terra indígena.

Souza (2003) relata que novos sistemas de abastecimento de água e melhoramentos nos já

existentes foram executados, exceto em três localidades ainda não contempladas: a aldeia

Rancharia e as Sub-aldeias Boqueirão e Tenda. Os novos sistemas e melhoramentos diversos

foram implantados conforme cronologia abaixo:

Ano de 2000

construção de seis poços tubulares profundos;

implantação de tubos PVC, classe 15 (8.000 m de 50 mm e 3.000 m de 20 mm);

instalação de bomba submersa com grupo gerador de energia elétrica, para o poço tubular

profundo da aldeia Sumaré;

construção de 3.500 metros de adutora, 4.500 metros de rede de distribuição e 2.800

metros de ramais domiciliares nas aldeias: Brejo Mata Fome, Sapé e Caatinguinha;

instalação de três reservatórios metálicos elevados, com capacidade de 10 m3, nas aldeias

Brejo Mata Fome, Sapé e Caatinguinha.

Ano de 2001

realização de inquérito sanitário;

construção de 06 poços tubulares profundos;

aquisição de 48.000 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;

aquisição de 05 reservatórios elevados metálicos, com capacidade para 10 m3;

aquisição de 02 reservatórios elevados metálicos, com capacidade para 5 m3;

aquisição de 02 reservatórios apoiados metálicos, com capacidade para 10 m3.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG12

Em atendimento à demanda existente, foram ainda adotados os seguintes procedimentos para

melhoria das condições gerais:

extensão e modificação de redes de energia elétrica, com instalação de transformadores e

entrada de serviço, para atender aos poços tubulares profundos das aldeias Brejo Mata

Fome, Caatinguinha, Sumaré III, Terra Preta, Riacho dos Buritis e Santa Cruz;

aquisição de equipamentos de extração de água bruta, para substituição dos equipamentos

existentes nos poços tubulares profundos onde foram eletrificados;

desativação do poço tubular profundo da Aldeia Sumaré II, por improdutividade - a

localidade passou a ser abastecida a partir da aldeia Sumaré III;

distribuição de 150 filtros cerâmicos domiciliares;

distribuição de 50 caixas d'água em polietileno de alta densidade, com capacidade de 500

litros, para receberem água distribuída por caminhão pipa;

distribuição assistida de hipoclorito de sódio em 17 aldeias, com população beneficiada

estimada em 1.000 habitantes;

construção de módulos sanitários, assim distribuídos:

a. Brejo Mata Fome 31 módulos;

b. Sumaré 26 módulos;

c. Veredinha 09 módulos;

d. Pedra Redonda 09 módulos;

e. Riacho do Brejo 06 módulos;

Ano de 2002

construção de três poços tubulares nas aldeias: Olhos D`água, Riachinho e Forges;

aquisição de 71.500 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;

construção de 14.200 metros de adutoras em tubos de PVC, com diâmetros variados;

construção de 30.500 metros de distribuição em tubos de PVC, com diâmetros variados;

construção de 17.800 m de ramais domiciliares em tubos de PVC, diâmetro de 20 mm;

aquisição de 14 reservatórios em plástico reforçado com fibra de vidro;

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG13

aquisição de grupos geradores e bombas submersas para extração de água bruta;

instalação de nove reservatórios metálicos;

instalação de um tanque pipa, com capacidade de 6,0 m3, em caminhão da FUNASA;

distribuição de 550 caixas d`água domiciliares para receberem água do caminhão pipa;

realização de 160 visitas domiciliares para orientação quanto ao uso adequado das

melhorias sanitárias domiciliares e os cuidados básicos para o uso da água;

construção de módulos sanitários assim distribuídos:

a. Aldeia Brejo Mata Fome 27 módulos;

b. Aldeia Pedra Redonda 01 Modulo;

c. Aldeia Riacho do Brejo 10 módulos;

d. Aldeia Sumaré I 15 módulos;

e. Aldeia Sumaré II 26 módulos;

f. Aldeia Prata 02 módulos (escola).

Ano de 2003

construção de quatro poços tubulares nas aldeias: Barra do Sumaré, Olhos D`água I,

Cabeceira de Pindaíba e Peruaçú;

aquisição de 22.500 metros de tubos em PVC, com diâmetros diversos;

construção de 40.000 metros de adutoras em tubos de PVC, com diâmetros variados;

construção de estações elevatórias de água nas aldeias Brejo Mata Fome, Prata, Morro

Falhado e Custodio;

distribuição de 107 filtros cerâmicos domiciliares de água.

3.6 Delineamento epidemiológico aplicado – Estudo Transversal (Seccional)

Este estudo epidemiológico adota a abordagem transversal e tem a condução a seguir descrita:

O método pode ser compreendido como um tipo de delineamento onde se avaliam no mesmo

momento o estado de saúde individual das pessoas e as condições de saneamento

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG14

disponibilizadas para cada um dos membros da população investigada (crianças com idades

entre 4 meses a 4 anos e 11 meses), levando-se também em conta seus hábitos e costumes de

higiene.

O estudo faz uma verificação momentânea (fotografia) evidenciando as suas características e

possibilitando associações para aquele instante temporal. No estudo transversal ou de

prevalência, a condição de exposição e doença é determinada, simultaneamente, entre os

indivíduos de uma população bem definida. Pode haver uma janela de tempo específica, tal

como um dado ano calendário durante o qual foi realizado um inquérito populacional, ou um

ponto fixo no curso de eventos que variam em tempo real de pessoa para pessoa, tal como um

exame físico admissional, ingresso na escola ou universidade, ou aposentadoria. Assim, um

inquérito fornece informação sobre a freqüência e as características da doença, através de uma

fotografia da experiência de saúde de uma população em um momento especificado.

(ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).

Segundo Jekel et al. (1999), uma vez que os estudos transversais precisam considerar dados

de prevalência no lugar de dados de incidência, os dados obtidos irão sempre refletir

determinantes de sobrevida. Em certas circunstâncias, um inquérito pode ser utilizado para

testar hipóteses epidemiológicas. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando os valores atuais das

variáveis de exposição permanecem inalterados ao longo do tempo, representando, assim, os

valores presentes por ocasião do início da doença. Um estudo epidemiológico que ofereça

uma boa conformação quanto aos aspectos estudados deve permitir:

comparar uma variável, por exemplo, a prevalência de uma doença, num determinado

momento, entre dois ou mais grupos, ou ainda, entre um grupo, considerando os aspectos

anteriores e posteriores de uma intervenção ou exposição a um fator de risco;

a mensuração da comparação de grupos diferentes com exposições também diferentes,

tanto em termos absolutos quanto em termos relativos;

que o pesquisador possa determinar a temporalidade da ocorrência do fator de risco e da

doença;

a visualização da ocorrência de fatores de confundimento ou tendenciosidades, a fim de

considerá-los na interpretação final.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG15

Quando se computa apenas a presença ou ausência do efeito, são chamados estudos de

prevalência. O pesquisador apenas observa o que ocorre na população estudada. Como a

condição de exposição e de doença é determinada em um único ponto no tempo, em muitos

casos, não é possível determinar se a exposição precedeu a doença, ou é resultante dessa.

Segundo Pereira (1995), o método transversal apresenta aspectos favoráveis, entretanto, se

verificam também inconsistências, que são a seguir expostas:

Aspectos favoráveis:

baixo custo e simplicidade;

agilidade para a coleta dos dados, por serem colhidos num único instante temporal;

amostra representativa da população obtida sem dificuldades;

permite obter dados importantes, mesmo com escassez de recursos e tempo.

Aspectos de inconsistência:

não são contabilizados os casos já inexistentes, seja por reversão do estado clínico, seja por

òbito → Este é o viés da prevalência;

a situação de exposição verificada pode não representar, necessariamente, a exposição

passada → Viés da validade;

a exposição ocorrida anteriormente à coleta dos dados pode ser mal informada, seja por

falha no registro dos fatos, seja por lapso de memória → O viés da memória;

pode não ser possível precisar a relação temporal entre a exposição e a ocorrência da

doença → É a relação temporal indefinida;

Têm-se como aspecto favorável para esse tipo de estudo o menor custo relativo. O estudo

transversal tem capacidade descritiva importante e permite auxiliar o planejamento em curso,

apesar da existência de limitações para testar hipóteses causais, sendo, entretanto, utilizado

para estabelecer associações.

Em Epidemiologia, muitas vezes está-se em busca de associações entre exposição (ou não

exposição) e efeito (ou não efeito), com o objetivo final de tentar estabelecer uma associação

dita “causal”, já que o conhecimento de uma relação causa-efeito (respeitado o conceito de

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG16

multicausalidade dos agravos à saúde) pode facilitar o planejamento e a implementação de

medidas preventivas contra o efeito indesejado.

Doménech-Massons (1999) avalia que o julgamento sobre a causalidade de uma associação

transcende qualquer demonstração de significância estatística e leva em consideração vários

critérios já consagrados para tal fim, não obrigatoriamente nesta ordem, nem necessariamente

todos satisfeitos, como:

1. Consistência;

2. Intensidade;

3. Especificidade;

4. Relação temporal:

5. Gradiente (mais exposição, mais efeito); e

6. Coerência (plausibilidade biológica).

Alguns autores classificam as associações em três tipos:

Por simples coincidência ou por problemas de distorção no delineamento e execução do

estudo epidemiológico, chamado de artificial ou espúria;

Quando há variáveis que se associam tanto à exposição como ao efeito, levando a

confusão na interpretação dos resultados obtidos, identificado como não causal ou

indireta;

Quando satisfeitos os critérios de julgamento acima enumerados: é a associação causal.

3.7 Diarréia infantil associada ao saneamento inadequado

3.7.1 Definição

A diarréia infantil decorre de diversos fatores etiológicos diferentes. Entretanto, pelo seu

significado para a saúde pública, os estudos desta patologia têm sido freqüentes, não somente

quanto aos aspectos do tratamento em si, mas, sobretudo na busca de medidas que visam o

seu controle quanto às alterações ambientais (HELLER, 1997).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG17

A definição usual para “diarréia”, conforme Lima e Guerrant (2001), é a passagem de três ou

mais movimentos intestinais líquidos, por período de 24 horas e que tomam a forma do

recipiente.

A diarréia é uma síndrome clínica de etiologia diversificada, caracterizada por evacuações

numerosas de fezes pastosas ou aquosas. Com freqüência, é acompanhada de febre e vômitos.

É uma doença que ataca crianças e adultos. Nas comunidades mais pobres, onde não existe

saneamento, as crianças podem ter até 8 episódios de diarréia em um ano. E cada vez que fica

doente, a criança perde o apetite, come menos e acaba perdendo peso.

Muitas vezes a criança nem conseguiu recuperar o peso perdido e adoece novamente. Assim,

acaba ficando desnutrida. As crianças sofrem mais com a diarréia, pois seu corpo ainda não

sabe se defender dos microrganismos patogênicos. A diarréia causa uma grande desidratação,

uma vez que, quando a criança evacua ou vomita, perde água e sais minerais, podendo levá-la

rapidamente à morte, conforme relata Behar (1975) apud Azevedo (2003).

Sinônimos e nomes populares são: gastroenterite aguda, toxinfecção alimentar; dor de barriga,

desarranjo, soltura, churrio, carreirinha, caganeira, cocô mole.

A diarréia infantil, segundo a WHO (2000), leva cerca de 2,2 milhões de crianças menores de

5 anos a òbito, anualmente, no mundo.

3.7.2 Identificação do quadro de diarréia

Na prática, o paciente e o médico pensam em diarréia quando há um maior número de

evacuações, acompanhado de fezes de consistência diminuída, disformes, pastosas ou

líquidas. A diarréia ocorre quando aumenta a proporção de água contida nas fezes, o que

aumenta o peso fecal diário eliminado para mais que 250 g. O normal não ultrapassaria 200 g,

tecnicamente falando. A urgência evacuatória, a incapacidade de segurar as fezes

(incontinência) e múltiplas evacuações poderiam ser referidas erroneamente como diarréia,

mas podem acontecer com consistência fecal normal.

O termo “diarréia aguda” refere-se ao início súbito e à duração menor que três semanas, a

grande maioria limitando-se a menos de três a cinco dias.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG18

A diarréia pode ser definida como um sinal clínico que consiste em alteração do hábito

intestinal caracterizada por aumento do número de evacuações e/ou diminuição da

consistência das fezes devido à presença de maior conteúdo fluido. Seu mecanismo

fisiopatológico é a má-absorção e/ou secreção de água e eletrólitos, havendo ou não, má-

absorção de nutrientes (AZEVEDO, 2003).

Para Correia e McAuliffe (1999) é possível identificar um quadro de diarréia quando a criança

apresenta fezes mais líquidas e evacua mais vezes do que de costume. As fezes podem

também vir acompanhadas de sangue ou catarro. Para saber se a criança está com desidratação

é preciso observar os seguintes sinais:

- moleira afundada;

- olhos fundos e choro sem lágrimas;

- boca e língua secas;

- pouca urina;

- pele murcha, e

- muita sede.

Além da diarréia propriamente dita, é comum o indivíduo sentir:

- desconforto abdominal;

- cólica;

- plenitude (sensação de estufamento);

- excesso de flatos (gases);

- mal-estar generalizado;

- náusea e vômito.

Menos freqüentemente, pode-se observar:

- sangue;

- pús ou muco nas fezes;

- febre.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG19

Ainda segundo Correia e McAuliffe (1999), diarréias com perdas de grandes quantidades de

líquido, em pessoas debilitadas por outras doenças, em idosos ou em crianças, podem evoluir

para desidratação. Nesses casos, pode-se notar:

ressecamento de mucosas;

saliva escassa e espessa;

sede excessiva;

cansaço e sonolência.

Se não forem tratados apropriadamente, esses pacientes podem passar a ter risco de vida.

3.7.3 Agentes causadores de diarréia

A maior parte das diarréias agudas é causada por vírus, bactérias, podendo ainda, terem os

parasitas como agentes etiológicos. Há microrganismos produtores de toxinas que alteram o

funcionamento intestinal. O resultado é a perda excessiva através das fezes, por diarréia.

Alguns microrganismos invadem a mucosa, causando lesões com secreção de sangue, muco

(catarro) e pus. Isso caracteriza o que se chama de disenteria, um tipo particular de diarréia

(FAGUNDES NETO e OLIVA, 1996).

Além dos microrganismos, certas substâncias alteram a absorção e/ou a secreção intestinal,

como vários laxantes ou efeitos adversos de medicamentos, que se traduzem por diarréia. As

fibras de muitos vegetais - microscópicas e não absorvíveis pelo intestino - ligam-se à água,

aumentando a proporção dessa no bolo fecal, tornando-o mais macio, fazendo mais fáceis as

evacuações. Um exagero na ingestão de fibras pode trazer diarréia transitória.

Os microrganismos causadores de diarréia costumam chegar ao ser humano através da boca,

podendo estar contidos na água ou alimentos contaminados, sendo mais freqüentes no Brasil

(FAGUNDES NETO e OLIVA, 1996):

Bactérias → Escherichia coli enteropatogênica clássica, Escherichia coli enterotoxigênica,

Escherichia coli enteroinvasiva, Shigella, Campylobacter jejuni e Salmonella.

Protozoários → Giardia lamblia, Entamoeba hystolítica e Cryptosporidium parvum.

Vírus → Rotavírus e adenovírus.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG20

Segundo Fagundes Neto e Oliva (1996), outros fatores influentes podem ser:

beber ou ficar exposto à água não tratada;

usar encanamentos furados;

usar depósitos mal fechados ou sem limpeza regular;

tomar banho em rio, açude ou piscina contaminada;

não limpar bem as mãos e os utensílios de mesa e fogão;

ser negligente na higiene pessoal.

3.7.4 Medidas de prevenção e profilaxia

Conforme relatado por Heller (1995), em estudo elaborado sobre a associação entre cenários

de saneamento e diarréia em crianças até 5 anos, na cidade de Betim – MG, é importante que

medidas de prevenção sejam adotadas para a interrupção das condições de exposição,

devendo se promover a implantação de reservatório domiciliar, a não utilização de vasilhames

para acondicionamento de água, o consumo de frutas e verduras somente após serem lavadas,

conservação de alimentos em geladeira, não exposição de alimentos a moscas e eliminação de

lançamento de efluentes na rua.

Estima-se que, atualmente, dois milhões de crianças não morreriam a cada ano, se toda a

população mundial recebesse água tratada e tivesse instalações sanitárias adequadas

(FRIEDMAN-HUFFMAN e ROSE, 1998; MARA e FEACHEM, 1999).

"A distribuição da doença diarréica é universal. No entanto, existe uma relação inversa entre

sua incidência e boas condições de saneamento e hábitos de higiene pessoal e alimentar. Tal

relação pode determinar diferentes comportamentos da doença numa mesma área geográfica,

expondo incidências diferenciadas em populações situadas muito proximamente no espaço,

mas beneficiadas por diferentes níveis de melhorias sanitárias ou de serviços promotores de

desenvolvimento social" (FUNASA, 2002).

Para Teixeira (2003), o cenário existente nas áreas de assentamento subnormal nas cidades

brasileiras, não reconhecido pelo poder público, aliado ao desemprego e à miséria, leva os

brasileiros, moradores dessas áreas, em sua maioria com baixa qualificação profissional, e

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG21

habitando moradias em precárias condições gerais, sem urbanização e saneamento, ao

previsível quadro de elevada prevalência de diarréia.

3.7.5 Vigilância Epidemiológica

A diarréia, embora reconhecida como importante causa no quadro da morbi-mortalidade do

país, até o presente, não teve sua inclusão consolidada com sucesso no Sistema de Vigilância

Epidemiológica. As tentativas realizadas têm sido pontuais, decorrendo do interesse de

analisar algumas características ou ocorrências isoladas. As dificuldades em vigiar as doenças

diarréicas decorrem, fundamentalmente, de sua elevada incidência, da inobservância da

obrigatoriedade de notificação de surtos e da aceitação tanto de parte da população leiga,

quanto de parte dos técnicos, de que o problema da diarréia é "normal" no Brasil.

Os dados disponíveis permitem a afirmativa de que a diarréia é responsável por uma elevada

proporção de óbitos em menores de 5 anos, e que sua maior prevalência se registra nas áreas

carentes de saneamento e onde há maior concentração de populações de reduzida condição

sócio-econômica. É premente a necessidade de se organizar um sistema capaz de colher,

registrar e analisar com suficiente agilidade os dados referentes às doenças diarréicas. Para

que isto se torne viável em futuro próximo, estas ações deverão ser simplificadas e

descentralizadas, atendendo aos interesses atuais de municipalização da Vigilância

Epidemiológica (FUNASA, 2002).

3.7.6 Ocorrência de diarréia em populações indígenas brasileiras

Os agentes etiológicos causadores da diarréia encontram um ambiente adequado para a

proliferação nas aldeias indígenas e em outras comunidades rurais que em geral carecem de

saneamento. Apesar da importância das diarréias nas populações indígenas, poucas

investigações epidemiológicas têm sido conduzidas. Um estudo realizado numa comunidade

da periferia de Manaus verificou a ocorrência de 0,2 a 4,8 episódios de diarréia por pessoa por

ano, sendo as crianças de 0 a 35 meses as mais afetadas (GIUGLIANO et al., 1986).

Entre os Karitiána de Rondônia, Coimbra Jr. et al. (1985) observaram a ocorrência de 3,9

episódios por pessoa ao ano. Os principais agentes etiológicos identificados foram bactérias

(Escherichia coli enterotoxigênica e Shigella sp.) e protozoários (Giardia lamblia e

Entamoeba histolytica).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG22

Os rotavírus figuram dentre os principais agentes que ocasionam diarréias entre os indígenas

(LINHARES, 1992, 1997, 2000). Dentre os casos melhor documentados, podem ser

mencionadas as investigações epidemiológicas realizadas entre os Suruí e Karitiána de

Rondônia (SANTOS et al. 1991) e de diversas outras comunidades amazônicas (LINHARES,

1992).

Como reportam vários autores, as precárias condições de saneamento nas comunidades

indígenas favorecem a alta incidência de infecções gastrintestinais. A elevada concentração de

indivíduos no intradomicílio, o sedentarismo, a convivência direta com animais domésticos,

aliados à falta de infra-estrutura adequada de abastecimento de água potável e coleta de

dejetos, criam um ambiente propício à propagação de enteropatógenos de veiculação hídrica e

alimentar (LINHARES, 1992; COIMBRA Jr. e MELLO, 1981, SANTOS et al. 1991;

ESCOBAR e COIMBRA Jr. 1998; COIMBRA Jr. e SANTOS, 2001).

O perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil é pouco conhecido, o que se deve à

exigüidade de investigações, à ausência de censos e de outros inquéritos regulares e à

precariedade dos sistemas de registro de informações sobre morbidade, mortalidade e

cobertura vacinal, entre outros fatores (COIMBRA Jr. e SANTOS, 2001).

Os dados sobre morbi-mortalidade dos povos indígenas no Brasil são precários, em geral não

havendo desagregação por sexo, idade ou etnia, além da ocorrência de descontinuidade e

subnotificação dos registros (ESCOBAR et al., 1998).

Diversos estudos têm demonstrado uma relação estreita entre amamentação e introdução de

novos alimentos, acarretando variações nos graus de proteção e exposição a patógenos

intestinais e, conseqüentemente, na incidência de doenças diarréicas em crianças (MOLBAK,

2000). Nos primeiros meses de vida, crianças indígenas geralmente são mantidas

exclusivamente com amamentação, o que lhes confere maior proteção. Ao iniciar o processo

de desmame e a introdução de novos alimentos, o grau de exposição a patógenos intestinais

aumenta consideravelmente (COIMBRA Jr. et al., 2003).

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3.8 Classificação ambiental de doenças relacionadas à água e ao esgoto

A classificação ambiental das doenças infecciosas (MARA e FEACHEM, 1999) denomina

como categoria "A" aquelas cuja origem se dá pela via "feco-oral, transmissão hídrica ou

relacionada com hábitos e costumes higiênicos", e para a categoria "C", as relacionadas com

geo-helmintos, cuja origem comum de contaminação são as fezes humanas em água,

alimentos, nas mãos e, comumente, em utensílios domésticos e no entorno do domicílio

(MORAES, 1996).

Para Cairncross e Feachem (1990) apud Azevedo (2003), a doença infecciosa pode ser

definida como sendo aquela causada por organismos vivos, como bactérias, vírus ou parasitas,

sendo a doença transmitida de uma pessoa para outra.

A OPAS - Organização Mundial de Saúde (2004) define doença infecciosa como "doença

clinicamente manifesta do homem ou dos animais, resultante de uma infecção".

O controle da presença de um organismo patogênico, de acordo com a engenharia, não se dá

através do estudo da sua natureza biológica nem tampouco do seu comportamento no corpo

do doente, mas no espectro do meio ambiente, onde o controle desses patógenos deverá

ocorrer, com intervenções de saneamento (CAIRNCROSS, 1984).

Entretanto, segundo Teixeira (2003), o tratamento dos doentes é uma medida de fundamental

importância para o controle das doenças mencionadas, uma vez que implica na redução do

número de patogênicos ativos e circulantes no ambiente.

As medidas de prevenção propostas para cada uma das categorias identificadas nas tabelas 3.1

e 3.2 acima, mostram-se consistentes com a classificação proposta, indo desde a melhoria na

quantidade de água disponibilizada à comunidade, a melhoria na qualidade da água fornecida

e o tratamento dos doentes, propostas como medidas de controle para as doenças de

transmissão feco-oral – com transmissão hídrica ou relacionadas com hábitos higiênicos

inadequados, até o controle da população e a redução do contato com águas contaminadas por

urina de ratos, na categoria de doenças transmitidas por roedores (TEIXEIRA, 2003).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG24

Moraes (1996) pondera que a classificação ambiental das doenças tem duas limitações. A

primeira é a falta de conhecimento sobre a transmissão de várias infecções, particularmente o

número de microrganismos necessários para infectar as pessoas susceptíveis. A segunda, a

excreção de vírus, bactérias e de protozoários difere quantitativamente e não qualitativamente

nas suas características de transmissão, o que torna fácil de agrupá-los em uma categoria

uniforme que contenha a maioria das infecções.

Pode-se ainda, acrescentar uma terceira limitação à classificação ambiental das doenças

infecciosas, a não adoção de um critério único para a divisão das categorias. Observa-se:

1. Nas categorias "Feco-oral (transmissão hídrica ou relacionada com a higiene)" e

"Relacionadas com a higiene", a classificação é realizada de acordo com a via de entrada

do agente infeccioso no organismo susceptível.

2. As categorias "Helmintos do solo" (geo-helmintos) e "Teníases" – classifica em função

da necessidade de ocorrer uma face intermediária de desenvolvimento do bioagente no

ambiente, respectivamente, solo e um hospedeiro intermediário.

3. A categoria "Doenças baseadas na água" inclui as doenças cujo bioagente patogênico

necessita de uma fase do seu ciclo na água.

4. As categorias "Doenças relacionadas com vetores insetos e roedores" contém as doenças

introduzidas no organismo susceptível por ação ou com a contribuição de um vetor

biológico infectado.

Algumas das doenças podem estar incluídas em mais de uma categoria, pelas características

que apresentam, o que pode dificultar a compreensão dos mecanismos de transmissão dessas

doenças e contribuir para subestimar o impacto da adoção de medidas de saneamento. Não

obstante, a classificação ambiental das doenças infecciosas satisfaz a necessidade de se

agruparem as enfermidades privilegiando as medidas de controle baseadas nas intervenções

em saneamento.

Esforços devem ser realizados para se buscar uma classificação que agrupe as categorias por

um único critério, que não cause dúvidas aos mecanismos de transmissão das doenças

infecciosas. Por meio do conhecimento de como ocorre o ciclo de transmissão no meio

ambiente é que serviços de saneamento poderão ser implantados para interrupção da

transmissão dessas doenças (AZEVEDO, 2003).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG25

Apesar da classificação ambiental das doenças infecciosas estar bem estabelecida, novos

conceitos e uma lógica de classificação que possa se adequar às novas descobertas da

microbiologia as novas possibilidades das ações de saneamento, controlar a transmissão de

agentes etiológicos de doenças crônicas é um esforço a ser instituído, comenta Azevedo,

(2003).

As tabelas 3.1 e 3.2 classificam as doenças relacionadas com água contaminada e ausência de

esgotamento sanitário, definindo-as por grupos, formas de transmissão e formas de prevenção.

Tabela 3.1 - Doenças relacionadas com água contaminadaGrupos de Doenças Formas de

TransmissãoPrincipais Doenças Formas de Prevenção

Transmitidas pela via feco-oral (alimentos contaminados por fezes)

O organismo patogênico (agente causador da doença) é ingerido.

Diarréias e disenterias, como a Cólera e a GiardíaseLeptospiroseAmebíaseHepatite infecciosa

Proteger e tratar as águas de abastecimento e evitar o uso de fontes contaminadas.Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal, doméstica e dos alimentos.

Controladas pela limpeza com água

A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis para sua disseminação

Infecções na pele e nos olhos, como o Tracoma e o Tifo relacionado com piolhos, e a Escabiose

Fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal e doméstica

Associadas à água (uma parte do ciclo de vida do agente infeccioso ocorre em um animal aquático)

O patogênico penetra pela pele ou é ingerido

Esquistossomose Adotar medidas adequadas para a disposição de esgotos eevitar o contato de pessoas com águas infectadas.Proteger mananciais.Combater o hospedeiro intermediário

Transmitidas por vetores que se relacionam com a água

As doenças são propagadas por insetos que nascem na água ou picam perto dela

MaláriaFebre amarelaDengueElefantíase

Eliminar condições que possam favorecer criadouros.Combater os insetos transmissores.Evitar o contato com criadouros.Utilizar meios de proteção individual

Fonte: CAIRNCROSS e FEACHEM (1990).

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Tabela 3.2 - Doenças relacionadas com a ausência de rede de esgotos sanitários

Grupos de Doenças

Formas de Transmissão Principais Doenças Formas de Prevenção

Feco-orais (não bacterianas)

Contato de pessoa para pessoa, quando não se tem higiene pessoal e doméstica adequada.

Poliomielite,Hepatite tipo A,Giardíase,Disenteria, amebiana, Diarréia por vírus

Melhorar as moradias e as instalações sanitárias. Implantar sistema de abastecimento de água. Promover a educação sanitária.

Feco-orais (bacterianas)

Contato de pessoa para pessoa. Ingestão e contato com alimentos contaminados. Contato com águas contaminadas pelas fezes.

Febre tifóideFebre paratifóideDiarréias e Disenterias bacterianas, como a Cólera

Implantar Sistema adequado de disposição de esgotos. Melhorar as moradias e as instalações sanitárias.Implantar Sistema de abastecimento de água. Promover a educação sanitária.

Helmintos transmitidos pelo solo

Ingestão de alimentos contaminados e contato da pele com o solo.

Ascaridíase (lombriga)TricuríaseAncilostomíase (amarelão)

Construir e manter limpas as instalações sanitárias. Tratar os esgotos antes da disposição no solo. Evitar contato direto da pele com o solo (usar calçado).

Tênias (solitárias) na carne de boi e de porco

Ingestão de carne mal cozida de animais infectados

TeníaseCisticercose

Construir instalações sanitárias adequadas. Tratar os esgotos antes da disposição no solo. Inspecionar a carne e ter cuidados na sua preparação.

Helmintos associados à água

Contato da pele com água contaminada

Esquistossomose Construir instalações sanitárias adequadas. Tratar os esgotos antes do lançamento em curso d’água.Controlar os caramujos. Evitar o contato com água contaminada.

Insetos vetores relacionados com as fezes

Procriação de insetos em locais contaminados pelas fezes

Filariose (elefantíase) Combater insetos transmissores. Eliminar condições que possam favorecer criadouros. Evitar o contato com criadouros e utilizar meios de proteção individual

Fonte: CAIRNCROSS e FEACHEM (1990).

3.9 Medidas de risco e de significância estatística

3.9.1 Variáveis estatísticas

Variáveis são características controladas ou manipuladas em uma pesquisa, podendo diferir

em muitos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado e na forma como podem ser

medidas (HELSEL e HIRSCH, 1992). Estes autores chamam a atenção que a maioria das

pesquisas empíricas pertence claramente a uma dessas duas categorias gerais:

1. Em uma pesquisa observacional (levantamento) o pesquisador não influencia (ou tenta

não influenciar) nenhuma variável, mas apenas as mede e procura por relações

(correlações) entre elas.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG27

2. Em uma pesquisa experimental (experimento) o pesquisador manipula algumas variáveis,

e então, mede os efeitos desta manipulação em outras variáveis. A análise dos dados em

uma pesquisa experimental também calcula "correlações" entre variáveis, especificamente

entre aquelas manipuladas e as que foram afetadas pela manipulação.

Entretanto, os dados experimentais podem demonstrar conclusivamente relações causais

(causa e efeito) entre variáveis. Por exemplo, se o pesquisador descobrir que sempre que

muda a variável A então a variável B também muda, então ele poderá concluir que A

"influencia" B. Dados de uma pesquisa correlacional podem ser apenas "interpretados" em

termos causais com base em outras teorias (não estatísticas) que o pesquisador conheça, mas

não podem conclusivamente provar causalidade (HELSEL e HIRSCH, 1992).

3.9.2 Variáveis dependentes e variáveis independentes

As variáveis independentes são aquelas manipuladas enquanto que as variáveis dependentes

são apenas medidas ou registradas. Os termos variável “dependente” e “independente”

aplicam-se principalmente à pesquisa experimental, embora também à observacional, onde

algumas variáveis são manipuladas, e, neste sentido, são "independentes" dos padrões de

reação inicial, intenções e características dos sujeitos da pesquisa (unidades experimentais).

Espera-se que outras variáveis sejam "dependentes" da manipulação ou das condições

experimentais. Ou seja, elas dependem "do que os sujeitos farão" em resposta. Contrariando

um pouco a natureza da distinção, esses termos também são usados em estudos em que não se

manipulam variáveis independentes, literalmente falando, mas apenas se designam sujeitos a

"grupos experimentais" baseados em propriedades pré-existentes dos próprios sujeitos

(MORETTIN e TOLOI, 1986).

Snedecor e Cochran (1989) recomendam ser útil dividir as variáveis, segundo as hipóteses de

estudo, em:

variáveis explicativas ou de exposição, independentes ou preditoras;

variáveis resposta, resultado de efeito ou dependentes;

variáveis intervenientes.

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A Figura abaixo clarifica a relação destas variáveis.

Figura 3.1 – Relação de variáveis estatísticas. Fonte: JEKEL et al. (1999)

3.9.3 Relações entre variáveis

Duas ou mais variáveis quaisquer estão relacionadas se, em uma amostra de observações, os

valores dessas variáveis são distribuídos de forma consistente. Em outras palavras, as

variáveis estão relacionadas, se seus valores correspondem, sistematicamente, uns aos outros

para aquela amostra de observações. Por exemplo: sexo e altura seriam relacionados se a

maioria dos homens tivesse alta estatura e a maioria das mulheres baixa estatura, ou vice-

versa; altura é relacionada ao peso porque, tipicamente, indivíduos altos são mais pesados do

que indivíduos baixos; Q.I. está relacionado ao número de erros em um teste, se pessoas com

Q.I.'s mais altos cometem menos erros (FAGUNDES, 1994).

Geralmente, o objetivo principal de toda pesquisa ou análise científica é encontrar relações

entre variáveis. A filosofia da ciência ensina que não há outro meio de representar

"significado", exceto, em termos de relações entre quantidades ou qualidades, e ambos os

casos envolvem relações entre variáveis. Assim, o avanço da ciência sempre tem que envolver

a descoberta de novas relações entre variáveis. Em pesquisas correlacionais, a medida destas

relações é feita de forma bastante direta, bem como nas pesquisas experimentais. Por

exemplo: o procedimento já mencionado de comparar altura em homens e mulheres pode ser

descrito como procura de uma correlação entre 2 variáveis: sexo e altura. A estatística nada

mais faz do que auxiliar na avaliação de relações entre variáveis (FAGUNDES, 1994).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG

Variávelexposição

Variávelresultado

Variáveis intervenientes

29

3.9.4 Aspectos básicos da relação entre variáveis

Para Priestley (1981), as duas propriedades formais mais elementares de qualquer relação

entre variáveis são a magnitude ("tamanho") e a confiabilidade da relação.

a) Magnitude → É muito mais fácil de entender e medir do que a confiabilidade. Por

exemplo, se cada homem de uma amostra tem uma altura maior do que a de qualquer mulher,

poder-se-ia dizer que a magnitude da relação entre as duas variáveis (sexo e altura) é muito

alta em nossa amostra. Em outras palavras, poder-se-ia prever uma baseada na outra (ao

menos na amostra em questão).

b) Confiabilidade → É um conceito muito menos intuitivo, mas extremamente importante.

Relaciona-se à "representatividade" do resultado encontrado em uma amostra específica de

toda a população. Em outras palavras, diz quão provável será encontrar uma relação similar se

o experimento fosse feito com outras amostras retiradas da mesma população, lembrando que

o maior interesse está na população. O interesse na amostra reside na informação que ela pode

prover sobre a população. Se o estudo atender certos critérios específicos, então a

confiabilidade de uma relação observada entre variáveis na amostra pode ser estimada

quantitativamente e representada usando uma medida padrão (chamada técnicamente de

nível-p ou nível de significância estatística).

O teste de significância estatística é fundamental para qualquer associação estudada, porque

diversos fatores, tais como, tamanho da amostra, variáveis de confusão e padrão de

distribuição de casos, podem influenciar o aparecimento de associações que, na verdade, são

inexistentes (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002). O grau de certeza de que uma

dada associação verificada corresponde à realidade equivale ao valor de p, que tem sido

convencionalmente adotado como p < 0,05 (p menor do que 5%, ou seja, espera-se menos que

5% de probabilidade que tal achado seja devido ao acaso), para dizer que uma associação é

estatisticamente significativa (JEKEL, ELMORE e KATZ, 1999).

A significância estatística de um resultado é uma medida estimada do grau em que este

resultado é "verdadeiro" no sentido de que seja realmente o que ocorre na população, ou seja

no sentido de "representatividade da população". O valor do nível-p representa um índice

decrescente da confiabilidade de um resultado. Quanto mais alto o nível-p, menos se pode

acreditar que a relação observada entre as variáveis na amostra é um indicador confiável da

relação entre as respectivas variáveis na população.

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A seleção de um nível de significância acima do qual os resultados serão rejeitados como

inválidos é arbitrária. Na prática, a decisão final depende usualmente de: se o resultado foi

previsto a “priori” ou apenas a “posteriori” no curso de muitas análises e comparações

efetuadas no conjunto de dados; no total de evidências consistentes do conjunto de dados; e

nas "tradições" existentes na área particular de pesquisa. Tipicamente, em muitas ciências,

resultados que atingem nível-p 0,05 são considerados estatisticamente significantes, mas

este nível ainda envolve uma probabilidade de erro razoável (5%). Resultados com um nível-p

0,01 são comumente considerados estatisticamente significantes, e com nível-p 0,005 ou

nível-p 0,001 são freqüentemente chamados "altamente" significantes. Estas classificações,

porém, são convenções arbitrárias e apenas informalmente baseadas em experiência geral de

pesquisa. Uma conseqüência óbvia é que um resultado considerado significante a 0,05, por

exemplo, pode não sê-lo a 0,01, (EMERSON e COLDITZ, 1983).

Desnecessário dizer que, quanto mais análises sejam realizadas em um conjunto de dados,

mais os resultados atingirão "por acaso" o nível de significância convencionado. Por exemplo,

ao calcular correlações entre dez variáveis (45 diferentes coeficientes de correlação), seria

razoável esperar encontrar, por acaso, que cerca de dois (um em cada 20) coeficientes de

correlação são significantes ao nível-p 0,05, mesmo que os valores das variáveis sejam

totalmente aleatórios, e aquelas variáveis não se correlacionem na população. Alguns métodos

estatísticos que envolvem muitas comparações e, portanto, uma boa chance para tais erros,

inclui alguma "correção" ou ajuste para o número total de comparações. Entretanto, muitos

métodos estatísticos (especialmente análises exploratórias simples de dados) não oferecem

nenhuma solução direta para este problema. Cabe, então, ao pesquisador avaliar

cuidadosamente a confiabilidade de descobertas não esperadas (JEKEL et al., 1999).

Quanto menor a relação entre as variáveis maior o tamanho de amostra necessário para prová-

la significante. Quando a magnitude do efeito aproxima-se de zero, o tamanho de amostra

necessário para prová-lo aproxima-se do infinito. Isso quer dizer que, se quase não há relação

entre duas variáveis o tamanho da amostra precisa quase ser igual ao tamanho da população,

que teoricamente é considerado infinitamente grande. A significância estatística representa a

probabilidade de que um resultado similar seja obtido se toda a população fosse testada.

Assim, qualquer coisa que fosse encontrada após testar toda a população seria, por definição,

significante ao mais alto nível possível, e isso também inclui todos os resultados de "relação

inexistente", (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).

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4 METODOLOGIA

4.1 Área de Estudo

Esta pesquisa foi estruturada para quantificar os fatores de risco para o desenvolvimento, no

universo populacional de crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses

da terra indígena Xakriabá, do agravo à saúde – diarréia - através da comparação de grupos

residentes em aldeias e sub-aldeias destituídas e providas de saneamento e ainda de hábitos

higiênicos. Foram pesquisados 1224 domicílios habitados, em 27 aldeias e 25 sub-aldeias,

cobrindo uma população de 6442 habitantes – todo o universo populacional da terra indígena

Xakriabá.

A terra indígena Xakriabá foi escolhida por reunir condições singulares de trabalho para o

autor, uma vez que, o mesmo ali desenvolveu o acompanhamento de atividades de

saneamento, por período determinado, como servidor da Fundação Nacional de Saúde. A

FUNASA mantém naquela área indígena uma estrutura de apoio logístico que permitiu o

desenvolvimento satisfatório dos trabalhos.

Considerando que a pesquisa abrangeu toda a área estudada com informações de toda a

população ali residente em 1224 domicílios, foi possível identificar a existência de 994

crianças na faixa etária compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, que habitam 614

domicílios.

Diversos autores (PEREIRA, 1995; UNICEF, 1998; CORREIA e McAULIFFE, 1999),

afirmam ser o grupo de crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses,

o mais susceptível às condições ambientais desfavoráveis.

Para Correia et al. (1999), os determinantes de morbidade mostram variação de incidência em

função da idade. Em relação à criança, os principais problemas de saúde pública

freqüentemente surgem de sua vulnerabilidade, resultante de elementos do seu processo de

formação natural das defesas imunológicas que vão se desenvolvendo com o seu crescimento,

e do ambiente em que esse processo ocorre.

Informa ainda, Correia et al. (1999), que os períodos pós-neonatal (crianças com 29 dias e

menos de um ano) e pré-escolar (crianças com um ano e menos de cinco anos) são aqueles

onde se predominam as doenças advindas do contato entre a criança e seu meio ambiente,

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG32

sendo a diarréia, as infecções respiratórias agudas e as parasitoses intestinais, alguns dos

principais agravos à saúde infantil no Brasil.

Aliado a isso, as crianças neste grupo etário desconhecem hábitos higiênicos adequados,

como o hábito de lavar as mãos depois de defecar, o hábito de lavar as mãos antes das

refeições, a necessidade do uso de calçados e, de mais a mais, costumam levar objetos à boca

(TEIXEIRA, 2003).

Diante do exposto e também levando em consideração as normas promovidas pela

Organização Mundial de Saúde - OMS que sugerem o aleitamento materno, excluindo-se até

mesmo água e outros líquidos, até a criança completar no mínimo quatro meses de idade

(CORREIA et al., 1999) foi definido como grupo etário de interesse aquele que envolve

crianças com idade entre quatro meses a cinco anos incompletos residentes na terra indígena

Xakriabá.

A Tabela 4.1 apresenta o número de domicílios e crianças estudadas, sua distribuição por

aldeia e sub-aldeia.

Tabela 4.1 – Aldeias e sub-aldeias com crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses, e número de domicílios.

Aldeias Número de Domicílios Crianças (N)Aldeia Brejo Mata Fome 31 53Aldeia Riacho Comprido 11 16Aldeia Riachinho 24 39Aldeia Imbaúba II 17 30Aldeia Pedra Redonda 5 10Aldeia Riachão 11 18Aldeia Riacho do Brejo I 47 82Aldeia Sumaré 17 25Aldeia Sumaré II 14 23Aldeia Sumaré III 9 15Aldeia Forges 3 3Aldeia Vargem I 8 15Aldeia Itacarambizinho 3 4Aldeia Cabeceira da Pindaíba 7 12Aldeia São Domingos 11 13Aldeia Santa Cruz 22 32Aldeia Morro Falhado 15 28Aldeia Sapé 10 16Aldeia Barra do Sumaré 14 19Aldeia Itapicuru 24 45Aldeia Caatinguinha 13 21Aldeia Barreiro Preto 18 27Aldeia Olhos D'Água I 9 13Aldeia Riacho dos Buritis 2 3Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG33

Tabela 4.1 – Aldeias e sub-aldeias de crianças de 4 meses a 4 anos e 11 meses,

e número de domicílios (continuação)

Aldeias Número de Domicílios Crianças (N) Aldeia Peruaçu 9 17 Aldeia Prata 26 40 Aldeia Rancharia 57 95 Sub-aldeia Olhos D'Água Grande 6 10 Sub-aldeia Imbaúba I 23 35 Sub-aldeia Olhos D'Água Grande I 12 22 Sub-aldeia Riacho do Brejo 7 13 Sub-aldeia Novo Mundo 9 15 Sub-aldeia Sumaré I 11 18 Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 4 6 Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré 4 7 Sub-aldeia Pindaíba 3 4 Sub-aldeia Vargem 13 19 Sub-aldeia Celeiro 3 6 Sub-aldeia Barra da Grota de Pedra 5 9 Sub-aldeia Itapicuru I 7 14 Sub-aldeia Caatinguinha I 6 8 Sub-aldeia Custódio 2 2 Sub-aldeia Pingo 9 14 Sub-aldeia Olhos D'Água 22 33 Sub-aldeia Veredinha 9 10 Sub-aldeia Brejinho 2 2 Sub-aldeia Poções 5 8 Sub-aldeia Riacho dos Buritis I 4 9 Sub-aldeia Pedrinhas 5 7 Sub-aldeia Dizimeiro 3 5 Sub-aldeia Boqueirão 2 3 Sub-aldeia Tenda 1 1 Total 614 994 Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

4.2 Definição dos estados "doentes" e "não-doentes"

As seguintes definições foram adotadas para a compreensão dos estudos desenvolvidos:

a) Estado de doente Criança selecionada, com idade entre 4 meses a 4 anos e 11

meses, residente na terra indígena Xakriabá, que tenha apresentado diarréia no período

de até 3 dias que antecederam a realização da entrevista.

b) Estado de não-doente Criança selecionada, com idade entre 4 meses a 4 anos e 11

meses, residente na terra indígena Xakriabá, que não tenha apresentado diarréia no

período de até 3 dias que antecederam a realização da entrevista.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG34

4.3 Definição dos estados de "exposição" e de "não-exposição"

O abastecimento de água, esgotamento sanitário, hábitos higiênicos e resíduos sólidos dos

domicílios definiram os estados de "exposição" e de "não exposição", a saber:

a) Estados de “não exposição” ou de “proteção”

Com abastecimento de água tratada (de poço tubular profundo);

Esgotamento sanitário (existência de banheiro na casa);

Oferta contínua de água tratada;

Lavar as frutas antes de comer;

Mãos lavadas antes das refeições;

Sem contato com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude;

Sem contato com água suja;

Banho diário;

Troca de roupa diária;

Armazenamento adequado da água de beber;

Recipiente de guardar água de beber tampado;

Recipiente de guardar a água de beber lavado freqüentemente;

Existência de caixa d'água;

Local adequado para fazer cocô;

Lavar as mãos depois de fazer cocô;

Não fazer uso terapêutico da urina;

Lavar as mãos antes de pegar a água para beber;

Destino adequado da água do tanque de lavar roupas;

Destino adequado da água usada no vaso sanitário;

Destino adequado da água usada no banho;

Destino adequado da água usada no lavatório de mãos;

Lixo da casa acondicionado adequadamente;

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG35

a) Estados de “não exposição” ou de “proteção” (continuação)

Destinação correta para o lixo da casa;

Local apropriado para as criações domésticas.

b) Estados de “exposição” ou de “não-proteção”

Sem abastecimento de água encanada (de poço tubular profundo);

Sem esgotamento sanitário (inexistência de banheiro na casa);

Oferta descontínua de água tratada;

Não lavar as frutas antes de comer;

Não lavar as mãos antes das refeições;

Contato com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude;

Contato com água suja;

Sem hábito de banho diário;

Sem hábito de troca de roupa diária;

Armazenamento inadequado da água de beber;

Recipiente de guardar água de beber sem tampa;

Recipiente de guardar a água de beber não é lavado freqüentemente;

Inexistência de caixa d'água;

Local inadequado para fazer cocô;

Não lavar as mãos depois de fazer cocô;

Fazer uso terapêutico da urina;

Não lavar as mãos antes de pegar a água para beber;

Destino inadequado da água do tanque de lavar roupas;

Destino inadequado da água usada no vaso sanitário;

Destino inadequado da água usada no banho;

Destino inadequado da água usada no lavatório de mãos;

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG36

b) Estados de “exposição” ou de “não-proteção” (continuação)

Lixo da casa acondicionado inadequadamente;

Destinação incorreta para o lixo da casa;

Local inapropriado para as criações domésticas.

4.4 Protocolo de entrevista

A escolha da entrevista (inquérito), como forma de colher as informações individualizadas, se

deu com o intuito de obter do entrevistado, com a maior fidelidade possível, respostas que

refletissem próximamente a realidade a ser conhecida, e teve a colaboração prestimosa dos

agentes indígenas de saúde (AIS’s), de fundamental importância para o sucesso dos trabalhos,

uma vez que são indivíduos nativos e integrados às comunidades, além de ali desenvolverem

o seu trabalho cotidiano.

A estrutura do questionário aplicado foi desenvolvida por Heller (1995) e adaptada pelo autor

e Pena (2004). Durante a fase de apresentação dos tópicos à equipe de aplicadores, todas as

questões foram discutidas e debatidas quanto aos aspectos de adaptabilidade dos quesitos à

linguagem e entendimento do público a ser inquirido. Na oportunidade, surgiram inúmeras

contribuições, tendo sido desenvolvido um processo “construtivista” para a formatação do

protocolo final, com o envolvimento de todos e manifestação espontânea de cada participante.

O modelo final foi aquele que refletiu o consenso geral e que mais se aproximou do ideal,

respeitando–se as condições e peculiaridades do povo Xakriabá.

Importa ressaltar que todo o trabalho teve a coordenação, orientação e supervisão realizadas

pelo autor e pelo então aluno do mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos

Hídricos da UFMG, João Luiz Pena, cuja dissertação foi concluída em 2004.

O questionário aplicado versou sobre os tópicos básicos a seguir relacionados, dentre outros, e

está apresentado no ANEXO A:

Termo de consentimento, Livre e Esclarecido, conforme Resolução 196⁄96 do Conselho

Nacional de Saúde;

Número de moradores;

Atividade laboral;

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG37

Renda familiar;

Procedência da água;

Hábitos e costumes higiênicos;

Destinação dos efluentes domésticos;

Destinação dos resíduos sólidos.

4.5 Treinamento da equipe de campo

Para o desenvolvimento do estudo proposto, como estratégia preliminar para obtenção dos

dados foi adotada a aplicação de inquérito domiciliar com pesquisa individualizada, sendo tal

estudo subsidiado por dados primários coletados em terra indígena, território controlado pelo

governo federal, tornou-se necessária uma articulação própria para os trabalhos e ações

desenvolvidos, culminando com o estabelecimento de logística adequada, que visou implantar

regras gerais que facilitassem a obtenção das informações, tais como:

1. Participação livre e espontânea dos agentes indígenas de saúde (AIS’s), como

entrevistadores, com remuneração de R$ 2,00 por questionário aplicado;

2. Alimentação em campo;

3. Deslocamento diário da residência até o local de trabalho e retorno;

4. Definição de roteiros de aplicação dos inquéritos, segundo a familiaridade e convívio dos

agentes indígenas de saúde (AIS’s) com as populações das aldeias e sub-aldeias;

5. Programação semanal de viaturas e monitores/supervisores;

6. Pessoal de apoio eventual,

7. Priorização de roteiros visando à cobertura mais racional.

Os quesitos necessários ao estudo foram transcritos para um inquérito em que a participação

da totalidade dos entrevistados foi espontânea. Os momentos iniciais foram de

esclarecimentos sobre a pesquisa aos órgãos públicos responsáveis pela área a ser estudada, e

solicitação de licenças para transitar na terra indígena, condição “sine qua non” para a

realização deste trabalho.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG38

Na primeira semana, foi apresentada ao grupo uma versão preliminar do inquérito, a fim de

que todos compreendessem a razão da sua aplicação e também tomassem conhecimento do

conteúdo proposto. Notou-se grande necessidade de adaptação dos quesitos, originalmente

apresentados, à compreensão do grupo de agentes.

A versão final do questionário foi, se não a melhor, a que mais se aproximou da compreensão

dos aplicadores, que em última instância, são personagens representativos daquela sociedade.

Na análise revisora dos inquéritos, as situações que demandassem intervenção imediata, como

os casos identificados de diarréia com persistência de mais de três dias nas crianças estudadas,

eram imediatamente encaminhados ao Posto de Saúde local para as providências cabíveis.

O trabalho de aplicação dos questionários teve o envolvimento direto e permanente de:

13 agentes indígenas de saúde (AIS’s);

08 agentes indígenas de saneamento (AISAN’s);

03 (três) viaturas para apoio logístico;

02 (dois) acompanhantes/supervisores de campo para as equipes de AIS’s.

O período de aplicação dos questionários transcorreu entre o dia 11 de junho de 2003 ao dia

31 de julho de 2003.

4.6 Treinamento da equipe de revisão e codificação

As informações obtidas através do inquérito domiciliar demandaram um tratamento

específico, a fim de que se tornassem apropriadas ao uso estatístico, necessitando dos

seguintes procedimentos:

Revisão individualizada das questões, num total de 137 itens por questionário, totalizando

1224 domicílios, portanto, 167.688 questões verificadas.

Codificação, para melhor funcionalidade do banco de dados.

Revisão coletiva “expedita” para confirmação da revisão individualizada.

As tarefas acima demandaram dois meses de trabalhos e envolveram oito pessoas, sendo dois

supervisores/revisores e seis revisores/codificadores.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG39

4.7 Coleta dos dados

Os agentes envolvidos no trabalho de pesquisa foram distribuídos conforme área de atuação

dos trabalhos de rotina ali já realizados, para facilitar o contato e aceitação do entrevistado.

Todas as lideranças da Terra Indígena Xakriabá foram visitadas e informadas da finalidade da

pesquisa.

A entrevista era precedida de leitura, em voz alta, do termo de consentimento, que

apresentava o seguinte conteúdo:

"Estas perguntas da Universidade Federal de Minas Gerais e da FUNASA querem saber

como está a saúde, a água, o banheiro, o lixo e os hábitos de higiene da população Xakriabá.

Estas perguntas vão ser feitas em todas as casas das aldeias. A sua participação é importante

para que as respostas possam ajudar a melhorar a vida de vocês. As perguntas serão sobre a

sua casa, as pessoas que moram nela e sobre o que você acha do trabalho da FUNAI e

FUNASA. Você aceita responder estas perguntas? Qualquer coisa que você não entender

pode procurar a liderança de sua aldeia, as pessoas citadas abaixo ou o Comitê de Ética em

Pesquisa da UFMG. Você pode responder estas perguntas? Então, por favor assine este

termo de consentimento."

Data: ....... / ....... / ........

___________________________________________________Assinatura da pessoa que está sendo entrevistada

____________________________________________Assinatura do Agente Indígena de Saúde

Telefones para contato:

Pesquisadores: Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG - COEP

Armando Macedo Chaves: (38)3213-5509 (31) 3248-9364

João Luiz Pena: (31) 3238-1889 (31) 3248-9380

Léo Heller: (31) 3238-1958

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG40

Sendo o entrevistado favorável à aplicação do questionário, o entrevistador colhia sua

assinatura, datava e assinava em duas vias. Caso o entrevistado não soubesse assinar, era

colocada a sua impressão digital, também em duas vias. Uma via era entregue ao entrevistado

e a outra mantida junto ao questionário.

Após as medidas preliminares, necessárias ao cumprimento das formalidades éticas, o

entrevistador passava a aplicar o questionário, que continha 137 questões abordando as

condições gerais de saneamento, hábitos e costumes higiênicos daquele grupo familiar, no

contexto do seu domicílio.

Em não se encontrando nenhum adulto presente naquele momento na moradia, fazia-se uma

observação no croqui, indicando que a casa deveria ser visitada novamente.

Na fase inicial de aplicação do questionário, o inquérito sofreu ajustes e adequações, na

medida em que se verificava a necessidade de retratar, com a fidelidade desejada e possível, a

realidade existente.

Ao final de cada dia de trabalho, o grupo de aplicadores se reunia com os supervisores,

momento em que eram discutidos os casos que suscitaram dúvidas, buscando, ali mesmo,

soluções de acordo com o entendimento consensual do grupo, sendo imediatamente

providenciada a sua retificação para o dia seguinte. Os questionários aplicados sofriam, ainda

no campo, revisão geral para verificação da coerência dos dados, sendo novamente

encaminhados ao mesmo aplicador, caso fosse verificada inconsistência.

Depois de verificadas todas as inconsistências passíveis de correção em campo, os

questionários eram enviados para codificação e digitação dos dados em software próprio,

passando pelas seguintes fases:

Revisão e codificação apropriada para alimentar o banco de dados específico;

Alimentação do banco de dados – programa desenvolvido para registro dos dados obtidos;

Desenvolvimento de bancos de dados variados para as diversas fases da análise estatística;

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG41

4.8 Análise dos dados

Os dados obtidos foram avaliados, segundo um critério de evolução estatística, partindo da

análise descritiva, passando pela análise univariada, até se chegar ao modelo multivariado

mais adequado, após experimentar diversos modelos multivariados.

O tratamento estatístico para o estudo epidemiológico dos dados foi desenvolvido por meio do

software SPSS (Statistical Package for Social Science) - versão 12.0, que possibilitou o

estudo da análise descritiva, análises univariada e multivariada.

Na análise descritiva dos dados, foram verificados parâmetros estatísticos importantes para

uma primeira compreensão do estado de infra-estrutura de saneamento existente, hábitos e

costumes higiênicos, sendo observadas as seguintes informações:

1. Freqüência;

2. Média;

3. Mediana;

4. Moda;

5. Desvio-padrão.

Para se proceder às análises univariada e multivariada dos dados, inicialmente foi preciso

estabelecer condições matemáticas para uso do software estatístico, com a dicotomização das

variáveis pré-definidas.

Na análise univariada, buscaram verificar associações das variáveis independentes com a

variável dependente, eliminando-se aquelas sem significância estatística ao nível esperado

de 0,25% ou menor (p 0,25).

A Tabela 4.2 apresenta a codificação das variáveis utilizadas na análise univariada, com os

respectivos nomes, siglas, códigos e seus significados, com a finalidade de melhor

compreensão.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG42

Tabela 4.2 - Codificação das categorias utilizadas na análise univariada

Variável Sigla Códigos SignificadoOrigem do abastecimento de água da casa ORIGAGU

01

PoçoOutros

Existe banheiro na casa EXISTBAN 01

Banheiro dentro ou foraSem banheiro

Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) FREFUNA2 0

1Sim, o tempo todoNão

Número de refeições diárias COMERDIA 01

Duas ou mais refeiçõesUma refeição

Frutas lavadas FRUTASLA 01

SimNão

Mãos limpas antes de comer MÃOSLICO 01

SimNão

Origem da água de beber das crianças ORIGABEB 0

1Poço (somente)Outros

Renda familiar RENDAFA2 01

> 1 s.m< = 1 s.m

A água de beber das crianças é tratada AGUABETR 0

1Sim (Hipoclorito e/ou fervida)Não

Destino das fezes das fraldas das crianças DESTFCRI 0

1privadaOutros

Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude

CONTAGRI 01

NãoSim

Contato das crianças com água suja BRINCAGS 0

1NãoSim

As crianças tomam banho todo dia BANHDIAR 0

1SimNão

As crianças trocam de roupa todo dia ROUPDIAR 0

1SimNão

As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô LAVMACOC 0

1SimNão

As crianças tiveram diarréia nesses 3 dias DOENÇA 0

1NãoSim

Armazenamento da água de beber GUARAGBE 0

1Filtro de velaOutros

A água de beber fica em lugar tampado AGBEBTAM 0

1SimNão

Lavar recipiente de água de beber LAVRECAB 0

1SimNão

Existência de caixa d'água no domicílio RESDOMIC 0

1SimNão

Local de fazer cocô LOCFAZCO 01

PrivadaOutros

Uso da urina USOURINA 01

NãoSim

Lavar as mãos antes de pegar a água de beber LAVMAÕBA 0

1SimNão

Destino da água da pia de cozinha AGPIACOZ 0

1FossaOutros

Destino da água do tanque de lavar roupas AGTLAVRO 0

1FossaOutros

Destino da água do lavatório das mãos AGLAVMÃO 0

1FossaOutros

Destino da água usada no vaso AGUAVASO 01

FossaOutros

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

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Tabela 4.2 - Codificação das categorias utilizadas na análise univariada (continuação)

Variável Sigla Códigos SignificadoDestino da água usada no banho AGUABANH 0

1FossaOutros

Lixo espalhado no quintal LIXOQUINT 01

NãoSim

Lixo da casa embalado LIXCAEMB 01

SimNão

Destino final do lixo da casa DESTLICA 01

Estrada / EnterradoOutros

Destino final do lixo do banheiro DESTLIXB 0

1Estrada / EnterradoOutros

As criações entram na casa CRIAÇCAS 01

NãoSim

As criações andam no meio do lixo ANDARLIX 0

1NãoSim

Banheiro limpo BANHLIMP 01

SimNão

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Para a análise multivariada, foram mantidas as variáveis com resultados univariados

significantes (p 0,25), utilizando-se para tanto a regressão logística binária. O nível de

significância considerado foi igual ou inferior a 0,05 (p 0,05), confirmado pela

estatística de Wald e o teste de verossimilhança. O modelo final foi aquele que apresentou

o maior número de variáveis estatisticamente significativas associadas às condições de

saneamento, hábitos e costumes higiênicos observados no grupo de estudo.

4.9 Pré-requisitos legais para ingresso na terra indígena.

Tendo em vista se tratar de estudo realizado em terra indígena, com abordagem de tema

relativo à saúde, a presente pesquisa seguiu as diretrizes da Instrução Normativa nº. 01/PRES,

de 29/11/95, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, que disciplina o ingresso em terras

indígenas com finalidade de desenvolver pesquisa científica e as determinações da Resolução

nº. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece os parâmetros regulamentadores

para pesquisas envolvendo seres humanos.

Vale esclarecer que, anteriormente à definição do tema por mim trabalhado, o então aluno do

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG,

João Luiz Pena, já havia providenciado todo o encaminhamento dos procedimentos

necessários ao desenvolvimento da pesquisa, esclarecendo que, como pré-requisito para a

obtenção da autorização de ingresso na Terra Indígena Xakriabá, a pesquisa em questão foi

submetida à FUNAI, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG44

CNPq, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – COEP, ao

Comitê Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP e aos representantes dos Conselhos Locais

de Saúde Indígena Xakriabá, segundo a ordem cronológica mostrada na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Cronologia da pesquisa junto às instituições federais, aos comitês de ética em pesquisa e ao povo Xakriabá

Instituições federais, comitês de ética em pesquisa e representantes indígenas consultados

Data da submissão

Data da aprovação

FUNAI 26/04/2002 05/12/2002CNPq 06/05/2002 12/06/2002COEP 08/07/2002 24/07/2002CONEP 07/08/2002 17/10/2002Representantes dos Conselhos Locais de Saúde Indígena Xakriabá 04/12/2002 04/12/2002

Fonte: Pena, 2002

4.10 Coleta e Análises da qualidade da água consumida

A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Coordenação Regional de Minas Gerais,

disponibilizou técnicos da Unidade Regional para o Controle da Qualidade da Água –

URCQA, para a coleta e análises bacteriológica e físico-química da água de beber consumida

pelos Xakriabá em seus domicílios, como também do(s) manancial(is) responsável(is) pelo

seu abastecimento.

Foi solicitada à FUNASA, que se procedesse a análise atendendo ao critério de sorteio entre

os domicílios onde morava pelo menos uma criança, e que fosse realizada a coleta e análise da

água em pelo menos dois domicílios, no local onde a água usada para beber estivesse

armazenada.

As análises foram realizadas nos meses de outubro a dezembro de 2003, conforme

metodologias recomendadas pelo Standard Methods, 1998.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG45

5 RESULTADOS

5.1 Características da população estudada e dos fatores de exposição

A terra indígena Xakriabá, conforme observação do autor, não difere de qualquer outra área

rural da região norte do Estado de Minas Gerais, quanto aos aspectos geográficos – relevo,

clima, hidrografia e vegetação. Entretanto, percebe-se uma estratificação sócio-econômica

naquela população, que não é suficiente para promover, na mesma proporção, hábitos e

costumes sanitários igualmente diferenciados.

As aldeias mais populosas não são, necessariamente, as que apresentam melhor infra-estrutura

geral de saneamento. Este panorama de desigualdade social é refletido com clareza nos

ambientes familiares, a começar pela estrutura geral das casas, que se mostram desde

edificações corretamente construídas quanto aos aspectos de engenharia, inclusive com

instalações sanitárias adequadas, até casebres, que são verdadeiras taperas, completamente

inseguras e insalubres.

O universo estudado nesta pesquisa foi o de todas as crianças com idade entre 4 meses a 4

anos e 11 meses, sadias e doentes, residentes em 614 domicílios distribuídos por toda a área

indígena.

A Tabela 5.1 retrata a idade das crianças estudadas, apresentando também dados de renda

familiar. A média observada para a renda é de 1,71 salários mínimos para o grupo familiar ao

qual pertence a criança. Considerando todas as crianças (n = 994), a média de idade foi de

2,12 anos, enquanto que para as crianças com diarréia (doentes) esta média foi de 1,02 anos.

Tabela 5.1 - Idade e renda familiar das crianças estudadas - Terra Indígena Xakriabá

Variável Média Mediana Moda Desvio padrãoIdade da criança (anos) 2,12 2,00 2,00 1,32

Renda familiar (sal. min.) 1,71 1,00 1,00 1,36

Idade da criança com diarréia (anos) 1,02 1,00 0,00 1,11Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

A Tabela 5.2 mostra os hábitos e costumes higiênicos das crianças que manifestam as

atividades de lavar as mãos antes das refeições, tomar banho diário, brincar em água suja,

trocar de roupa diariamente, lavar as frutas e verduras antes de serem ingeridas, entrar em

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG46

contato com água de rio, lavar as mãos depois de fazer cocô, lavar as mãos antes de pegar

água de beber e fazer uso da urina para fins diversos.

Tabela 5.2 - Hábitos e costumes higiênicos das crianças estudadas - Terra Indígena Xakriabá

Variável Crianças sem diarréia

Crianças com diarréia

Total

n % n %Lavar as mãos antes das refeições 650 94,48 38 5,52 688Tomam banho diário 879 94,72 49 5,28 928Brincam em água suja 73 89,02 09 10,98 82Troca de roupa diária 784 94,57 45 5,43 829Frutas e verduras lavadas 898 94,83 49 5,17 947Contato das crianças com água de rio 249 95,04 13 4,96 262Lavar mãos depois de fazer cocô 375 94,70 21 5,30 396Lavar mãos antes de pegar água de beber 574 95,51 27 4,49 601Uso da urina 69 75,82 22 24,18 91Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

O esgotamento sanitário disponibilizado para as crianças estudadas, mostra, através da Tabela

5.3 a situação quanto à existência de banheiro e a origem de sua construção.

Tabela 5.3 - Caracterização do Esgotamento Sanitário para domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá

Variável Crianças sem diarréia

Crianças com diarréia

Total

n % n % Banheiro padrão FUNASA 109 11,55 14 28 123 Banheiro construído pelo morador 105 11,12 06 12 111 Sem banheiro 730 77,33 30 60 760 Total 944 100 50 100 994Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Os domicílios das crianças estudadas dispõem de 148 banheiros e apresentam os seguintes

dados: noventa e três (62,84%) são completos, dispõem de vaso sanitário, lavatório e

chuveiro; trinta e nove (26,36%) têm apenas vaso sanitário; quatro (2,70%) contam com vaso

sanitário e chuveiro; duas (1,35%) só tem chuveiro; quatro (2,70%) possuem vaso sanitário e

lavatório; e em outras seis (4,05%) existem apenas o local com proteção lateral (lona de

polietileno preta ou sapé), que é utilizado para se banharem. Dentre os 148 banheiros

existentes, 77 (52,03%) módulos sanitários foram construídos pela FUNASA, e 71 (47,97%)

foram construídos pelo morador. Um banheiro feito pela FUNASA não é usado para banho,

uma vez que está faltando o chuveiro (Figura 5.1).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG47

Figura 5.1 – Tipos de instalações sanitárias encontradas no ambiente sanitário dos domicílios de crianças – Terra Indígena Xakriabá, 2003

O grupo de crianças estudadas dispõe de 148 banheiros, dos quais 120 são utilizados

plenamente, e 28 não são utilizados para as dejeções conforme apresentado na Tabela 5.4. As

motivações para a não utilização se devem: à falta de água, em 22 banheiros e,

provavelmente, o hábito de usar o terreno próximo à casa para os moradores de seis

domicílios que dispõem de banheiros completos e sem quaisquer defeitos em suas instalações

sanitárias.

Tabela 5.4 – Identificação de motivos para o não uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá

Aldeias e sub-aldeias

Intermitência/Falta de água Hábitos/Costumes higiênicosTotal geral

Construído pela FUNASA

Construídopelo

morador

Total parcial

Implantado pela FUNASA

Construídopelo

Morador

Total parcial

Aldeia Sumaré 01 01 01

Sub-aldeia Sumaré I 02 02 03 03 05

Aldeia Sumaré III 03 03 01 01 04

Aldeia Barreiro Preto

02 02 02

Sub-aldeia Pingo 03 03 03

Sub-aldeia Veredinha 05 05 05

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG48

Tabela 5.4 – Identificação de motivos para o não uso de vinte e oito banheiros, em domicílios com crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá (continuação)

Aldeias e sub-aldeias

Intermitência/Falta de água Hábitos/Costumes higiênicosTotal geralConstruído pela

FUNASA

Construídopelo

morador

Total parcial

Implantado pela FUNASA

Construídopelo

Morador

Total parcial

Aldeia Forges 01 01 01Aldeia Pedra redonda 01 01 01

Aldeia Brejo Mata Fome 03 03 03

Aldeia Prata 01 01 01Aldeia Rancharia 01 01 01 01 02

Total 11 11 22 04 02 06 28Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Na Tabela 5.5 é possível visualizar o local das dejeções, para todos os domicílios com

crianças que dispõe ou não de instalações sanitárias. Os moradores de 120 domicílios

(19,54%), que dispõem de instalações sanitárias, utilizam a privada. Os habitantes de grande

parte das outras moradias (80,46%) fazem uso do terreno próximo às suas casas.

Tabela 5.5 – Local das dejeções, por domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá

Locais das dejeções no domicílio Freqüência Porcentagem (%)

Terreno próximo a casa 482 78,50Privada 120 19,54No quintal 5 0,81Outro local não especificado 5 0,81Terreno próximo à fonte de água 2 0,34Total 614 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Foi observado para os domicílios com crianças que apresentaram diarréia, que apenas 20

tinham banheiro, e 13 deles sofrem intermitência no abastecimento de água.

Quanto às águas servidas de banhos, lavatórios, tanques e pias, para os 614 domicílios com

crianças, a Tabela 5.6 retrata que em 102 domicílios (16,61%) a água utilizada no banho

segue para a fossa e em 512 (83,39%) para outros locais (terreno, riacho); a água servida dos

lavatórios de 87 casas (14,17%) segue para a fossa e de outras 527 (85,83%) para locais como

o terreno e riacho; das 75 moradias (12,21%) que dispõem de tanques, a água servida segue

para a fossa, e para o terreno em 539 (87,79%), e por fim, a água usada nas pias de 79

(12,87%) habitações é também encaminhada para a fossa e 535 (87,13%) para o terreno.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG49

Tabela 5.6 – Disposição final das águas servidas por domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Águas servidasDestinação final

Para a fossa Para o terreno ou riachoN % N %

Banhos 102 16,61 512 83,39Lavatórios 87 14,17 527 85,83Tanques 75 12,21 539 87,79Pias 79 12,87 535 87,13

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

O abastecimento de água é demonstrado pela Tabela 5.7 que apresenta para todos os

domicílios com crianças as diversas origens da água utilizada.

Tabela 5.7 - Tipologia do Abastecimento de Água em domicílios com crianças - Terra Indígena Xakriabá

Origem da água Domicílios (N) %- Poço 309 50,33- Poço + caminhão-pipa 04 0,64- Poço + cacimba 09 1,48- Poço + Lagoa 27 4,40- Poço + mina 15 2,45- Poço + cisterna 01 0,16- Poço + rio Itacarambí 01 0,16- Poço + cacimba + riacho 01 0,16- Cacimba 04 0,64- Cacimba + riacho 03 0,48- Cacimba + caminhão-pipa 10 1,64- Cacimba + caminhão-pipa + Mina 03 0,48- Cacimba + riacho + caminhão-pipa 04 0,64- Cacimba + barragem rio Itacarambí 03 0,48- Cacimba + rio Itacarambí 02 0,32- Mina 27 4,42- Mina + riacho 02 0,32- Mina + cacimba 01 0,16- Mina + riacho + caminhão-pipa 01 0,16- Mina + caminhão-pipa 28 4,58- Rio Itacarambí 04 0,64- Rio Itacarambí + riacho 02 0,32- Rio Itacarambí + caminhão-pipa 02 0,32- Barragem rio Itacarambí 13 2,13- Barragem rio Itacarambí + caminhão-pipa 01 0,16- Rio Peruaçú 09 1,48- Rio Peruaçú + cisterna 02 0,32- Cisterna 11 1,79- Cisterna + caminhão-pipa 01 0,16- Riacho 70 11,40- Riacho + caminhão-pipa 22 3,59- Riacho + caminhão-pipa + lagoa 01 0,16- Lagoa 01 0,16- Caminhão-pipa 13 2,13- Caminhão-pipa + lagoa 07 1,14 Total 614 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Assim, dum total de 614 moradias com crianças na terra indígena Xakriabá, somente 367

(59,77%) utilizam água que, sendo de poço tubular profundo e distribuída pela FUNASA,

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG50

deveria estar de acordo com a Portaria nº 518/2004, do Ministério da Saúde, que estabelece o

padrão de potabilidade da água para consumo humano (Tabela 5.8).

Tabela 5.8 – Uso da água de poço tubular profundo nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Usos diversos da água de poço tubular profundo N %

Beber, cozinhar, tomar banho, lavar vasilhas e lavar roupas 309 84,20Beber, cozinhar, tomar banho e lavar vasilhas 4 1,09Beber, cozinhar e tomar banho 1 0,27Beber e cozinhar 51 13,90Beber 1 0,27Lavar roupas 1 0,27Total 367 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

A Tabela 5.9 informa que o fato de se utilizar água de forma diferenciada para as diversas

necessidades pode estar associado à intermitência ou não do fornecimento de água

proveniente de poço tubular profundo, ficando evidenciado que somente em 135 domicílios

(36,78%) nunca falta água. Entretanto, por motivos diversos, falta água em 232 habitações

(63,22%).

Tabela 5.9 – Intermitência da água proveniente de poço tubular profundo em domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Período que falta água no domicílio N %

Uma ou mais vezes por semana 129 35,15Nunca falta 135 36,78Pelo menos uma vez por dia 67 18,26Problema operacional (quando falta energia elétrica ou óleo ou a bomba estraga) 10 2,73Uma ou mais vezes por mês 26 7,08Total 367 100

Fonte: Inquérito domiciliar - em junho e julho de 2003.

Somente 17 moradias com crianças, situados na aldeia Sumaré, dentre todos os domicílios

abastecidos com água proveniente de poço tubular profundo, recebem água clorada.

Nos domicílios estudados, 243 (39,58%) possuem reservatórios, 234 (38,11%) dispõem de

tambor, balde ou vasilha e 137 (22,31%) não tem qualquer tipo de armazenamento de água.

Para a água de beber, observou-se o uso do pote de barro para 271 (44,14%) domicílios, o

filtro de vela em 160 (26,06%) e filtro de vela e pote de barro concomitantemente em 156

(25,41%), ainda, em 22 (3,58%) domicílios observou-se que a água é guardada em baldes,

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG51

cabaças e garrafas, e cinco (0,81%) domicílios não armazenam a água de beber, sendo que

estes recebem água proveniente de poço tubular profundo, conforme descrito na Tabela 5.10.

Tabela 5.10 – Condição do armazenamento da água consumida nos domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Tipo de armazenamento da água consumida N %

Reservatório domiciliar 243 39,58Tambor, balde ou vasilha 234 38,11Não armazena a água 137 22,31Total 614 100Pote de barro 271 44,14Filtro de vela e pote de barro 156 25,41Filtro de vela 160 26,06Outro tipo de recipiente 22 3,58Não armazena a água 5 0,81Total 614 100Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

A FUNASA realizou, durante os meses de outubro a dezembro de 2003, análises

bacteriológica e físico-química da água de mananciais abastecedores de 33 moradias com

crianças. Os resultados das análises de água encontram-se representados na Tabela 5.11, com

informações sobre os parâmetros de cloro residual livre, pH, turbidez, cor aparente,

coliformes totais e Escherichia coli

A Portaria nº 518/2004, do Ministério da Saúde, estabelece para todo o país, os padrões de

potabilidade da água para consumo humano, e define água potável como sendo “água para

consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam

ao padrão de potabilidade e que não ofereça riscos à saúde”.

Conforme demonstrado na Tabela 5.11 as amostras individuais coletadas em mananciais de

superfície utilizados para o abastecimento, indicaram a presença de coliformes totais e

Escherichia coli. Os pontos 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 26, 27 e 33

amostrados, apresentaram valores de turbidez superiores a 1,0 UT, não atendendo a

normatização brasileira para o padrão de qualidade da água para consumo humano.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG52

Tabela 5.11 – Resultados bacteriológicos e físico-químicos da água dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de 33 moradias com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Aldeiaou

subaldeiaManancial

Presença de chuva

CRL(mg/L)

pH Turbidez (UT)

Cor Aparente

(uH)

Colif.totais

Esch coli

Valor permitido pela Portaria nº 1.469/2000 0,5 < 8,0 1,0 15 A APedrinhas (1) Cacimba Sim nc 5,5 22,70 214,0 P PRiachinho (2) Lagoa Não nc 5,5 41,40 267,0 P PPeruaçú (3) Rio Peruaçú Sim nc 7,5 94,50 640,0 P PDizimeiro (4) Cisterna Sim nc 7,5 41,40 436,0 A AVeredinha (5) Cisterna Não nc 7,5 55,80 92,0 A AOlhos D'água grande I (6) Riacho Não nc 7,0 0,81 nd P POlhos D'água (7) * Riacho Não nc 7,5 1,65 23,0 P PBarra do Sumaré (8) Riacho Não nc 8,0 67,30 4,38 P PPindaíba (9) Mina Sim nc 7,0 0,80 1,0 P PPrata (10) * Mina Sim nc 7,0 2,16 27,0 P PBarra do Sumaré (11) * Riacho Não nc 7,0 47,40 10,0 P PSanta Cruz (12) Rio Itacarambí Não nc 8,0 2,86 1,81 P PPeruaçú (13) * Rio Peruaçú Sim nc 8,0 1,45 23,0 P PCustódio (14) Caminhão Pipa Sim 0,2 7,5 0,38 nd A ACaatinguinha I (15) * Poço Profundo Sim nc 8,0 0,52 nd A ARiachinho (16) Poço Profundo Não nc 8,0 1,07 7,0 A ASanta Cruz (17) Poço Profundo Não nc 7,0 9,97 66,0 A AMorro Falhado (18) * Poço Profundo Não nc 7,0 6,47 38,0 A ASapé (19) * Poço Profundo Não 1,0 7,0 0,82 6,0 A AImbaúba II (20) Poço Profundo Não 1,0 7,5 0,93 3,0 A ABoqueirão (21) Poço Profundo Sim nc 7,5 3,97 25,0 A ARancharia (22) * Poço Profundo Sim nc 7,5 1,73 7,0 A AMundo Novo (23) Poço Profundo Não nc 8,5 8,91 34,0 A ABrejo Mata Fome (24) * Poço Profundo Sim nc 9,0 0,23 nd A ASumaré III (25) Poço Profundo Não nc 7,5 0,23 nd A ABarreiro Preto (26) * Poço Profundo Não nc 7,5 2,80 85,0 A AForges (27) Poço Profundo Sim nc 8,0 1,36 2,0 A ARiacho dos Buritis (28) Poço Profundo Sim nc 7,5 0,53 nd A ASumaré I (29) * Poço Profundo Sim nc 8,0 0,23 nd A ACaatinguinha (30) * Poço Profundo Sim nc 7,5 0,23 1,0 A APedra Redonda (31) * Poço Profundo Não nc 8,0 0,51 3,0 A ARiacho Comprido (32) Poço Profundo Não nc 7,0 0,37 9,0 A ARiachinho (33) Poço Profundo Não nc 7,5 1,18 1,0 A A

Fonte: Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água da FUNASA - 2003.Notas:

CRL: Cloro Residual Livre.

UT: Unidade de turbidez (unidade de Jackson ou nefelométrica).

uH: Unidade Hazen (mg Pt-Co/L – padrão de platina-cobalto).

nc: não clorado.

P: presente em 100ml.

A: ausente em 100ml.

* : Aldeia / sub-aldeia com criança doente.

Os poços tubulares profundos que têem a água desinfetada, pontos amostrados 19 e 20,

apresentam, respectivamente, turbidez igual a 0,82 UT e 0,93 UT, não ultrapassando assim, ao

valor máximo recomendado pela Portaria nº 518/2004, bem como a cor aparente, para os

pontos amostrados 6, 8, 9, 11, 12, 14, 15, 16, 19, 20, 22, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 32 e 33

que atendem ao limite máximo de 15 uH estabelecido como aceitável para consumo humano.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG53

Importante se faz mencionar, que o teor de cloro residual livre amostrado na água fornecida

pelo caminhão-pipa foi detectado em concentração de 0,2 mg/l, não atendendo o teor mínimo

de 0,5 mg/L recomendado pela mesma Portaria.

A Tabela 5.12 mostra os resultados das análises microbiológicas realizadas em água de

torneiras, potes, filtros e baldes de plástico, usados para armazenar água de beber em nove

domicílios de crianças doentes, em Aldeias e sub-aldeias.

Tabela 5.12 – Resultados das análises microbiológicas realizadas nos recipientes usados para armazenar a água de beber de nove moradias com crianças doentes, em Aldeias e

sub-aldeias – Terra Indígena Xakriabá

Aldeia e Sub-aldeia

Coliformes totais e Escherichia coli

Recipientes Presençade ambos os parâmetros

Ausênciade ambos os parâmetros

Somente a presença de coliformes

totais

Pote de barro Cabeceira do Sumaré I 1

Pote de barro Peruaçú 1 1

Balde de plástico Barra do Sumaré 1 1

Filtro de velas Prata 1 1

Pote de barro Cabeceira da Pindaíba 1 1

Pote de barro Caatinguinha 1 1

Filtro de vela Morro Falhado 1

Torneira Sapé 1Torneira Sumaré 1Total 5 2 7Fonte: Unidade Regional de Controle da Qualidade da Água da FUNASA - 2003.

Das nove amostras de água coletadas nos recipientes que armazenam a água de beber,

somente uma acusou a presença de cloro residual livre, o que, provavelmente, indica que a

maioria dos domicílios não o utiliza.

A presença de lixo gerado pela casa e lançado no quintal, ou próximo à casa, é notória,

conforme visualizado na Tabela 5.13. Observa-se que o destino final dos resíduos sólidos em

416 domicílios (67,75%) é a queima em seus quintais e em 112 (18,24%) domicílios o

lançamento se dá no quintal, sem quaisquer procedimentos subseqüentes. Em 10 (1,63%)

moradias, a coleta é realizada pela Prefeitura Municipal de São João das Missões (MG), que

tem como destinação final, local a céu aberto. Apenas em um (0,16%) domicílio pratica-se o

enterramento do lixo, tendo ainda, um (0,16%) domicílio que joga em lote vago. As margens

da estrada são utilizadas para a destinação do lixo de um (0,16%) domicílio, enquanto 71

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG54

(11,56%) moradias tem no mato, o seu local para destinação final, sendo, por fim, dois

(0,33%) domicílios, os que lançam o seu lixo no buraco.

Tabela 5.13 – Disposição final dos resíduos sólidos gerados pela casa com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Descrição do destino dado aos resíduos sólidos Domicílios %

Lançado próximo à casa e queimado 416 67,75Lançado no quintal 112 18,25Jogado no mato 71 11,56Coletado pela prefeitura municipal – São João da Missões 10 1,63Lançado em buracos 2 0,33Enterrado 1 0,16Lançado em lote vago 1 0,16Lançado nas margens da estrada 1 0,16Total 614 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Vale observar, que o lixo gerado em 120 banheiros (usados plenamente) foi analisado

separadamente em relação aos resíduos gerados pela casa, conforme a Tabela 5.14.

Tabela 5.14 – Disposição final dos resíduos sólidos gerados pelo banheiro de domicílios com crianças – Terra Indígena Xakriabá

Descrição do destino dado aos resíduos sólidos Domicílios %

Lançado próximo à casa e queimado 107 89,17Lançado no quintal 2 1,67Jogado no mato 1 0,83Coletado pela prefeitura municipal – São João da Missões 8 6,67Lançado em buracos 1 0,83Lançado em lote vago 1 0,83Total 120 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

O lixo espalhado no quintal pôde ser percebido em 487 (79,32%) dos domicílios com

crianças, enquanto noutros 127 (20,68%) não foi notado.

Quanto aos animais domésticos, para todos os domicílios estudados, verificou-se que os

moradores de 588 casas tem criações no seu peridomicílio, com predominância para galinhas,

cachorros, porcos e gatos em relação aos demais. Em 561 (95,41%) casas, as criações se

movimentam no meio do lixo, e em outras 507 (86,22%) a elas adentram, conforme

demonstrado na Figura 5.2.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG55

Figura 5.2 – Criações que se movimentam no lixo e criações que entram na casa – Terra Indígena Xakriabá, 2003.

Em análise mais detida das informações sobre o comportamento das criações no

peridomicílio, observou-se que em 493 domicílios as criações, simultaneamente, andam no

lixo e entram na casa. Esse fluxo se dá em 42 (8,52%) casas de crianças com diarréia e em

451 (91,48%) moradias de crianças sadias.

5.2 Diarréia

Em análise dos domicílios com crianças que apresentaram diarréia (49) foi observado que, em

33 domicílios houve a presença de crianças com e sem diarréia, conforme demonstrado na

tabela 5.15.

Tabela 5.15 – Domicílios em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram simultaneamente crianças com e sem diarréia - Terra Indígena Xakriabá

Aldeias e sub-aldeias das Identificação do domicílio

Criança semdiarréia

Criança comdiarréia

Total de crianças no domicílio

Aldeia Sumaré 09 01 01 02Aldeia Sumaré 36 01 01 02Aldeia Sumaré 37 02 01 03Sub-aldeia Sumaré 13 01 01 02Sub-aldeia Sumaré 16 02 01 03Aldeia Sumaré II 10 01 01 02Sub-aldeia Vargem 16 01 01 02Sub-aldeia Caatinguinha 04 01 01 02Sub-aldeia Cabeceira da Vargem

06 01 01 02

Aldeia Barreiro 9C 01 01 02Aldeia Barreiro 10C1 01 01 02Aldeia Pedra Redonda 06 01 01 02Aldeia Cabeceira da Vargem

07 01 01 02

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG56

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.Tabela 5.15 – Domicílios em aldeias e sub-aldeias, que apresentaram simultaneamente crianças com

e sem diarréia - Terra Indígena Xakriabá (continuação)

Aldeias e sub-aldeias das Identificação do domicílio

Criança semdiarréia

Criança comdiarréia

Total de crianças no domicílio

Aldeia Riachinho 15 02 01 03Aldeia Prata 02 02 01 03Aldeia Prata 05 01 01 02Aldeia Prata 25 01 01 02Sub-aldeia Novo Mundo 17 01 01 02Aldeia Riacho Comprido 30C1 02 01 03Aldeia Itapicurú 34 02 01 03Aldeia Itapicurú 43 01 01 02Aldeia Itapicurú 49 01 01 02Aldeia Barra do Sumaré 02 01 01 02Aldeia Brejo Mata Fome 64 01 01 02Aldeia Brejo Mata Fome 76 02 01 03Aldeia Imbaúba 18 01 01 02Aldeia Sapé 06 01 01 02Aldeia Morro Falhado 19 01 01 02Aldeia Rancharia 100 01 01 02Aldeia Rancharia 146 02 01 03Aldeia Morro Falhado 25 02 01 03Aldeia Peruaçú 07 01 01 02Sub-aldeia Dizimeiro 06 01 01 02Total - 42 33 75

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

De 994 crianças com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses existentes na

terra indígena Xakriabá, 50 crianças apresentaram diarréia nos três últimos dias que

precederam a entrevista, representando 5,03% do universo pesquisado.

A Figura 5.3 retrata o número de crianças com diarréia, nas últimas 72 horas, para áreas de

exposição e de não-exposição, na Terra indígena Xakriabá, durante o período de junho e julho

de 2003.

Figura 5.3 – Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG57

Terra Indígena Xakriabá, 2003Incidência, é a freqüência de novas ocorrências de doença, isto é, o número de transições de

saudável para doente, na população estudada, durante o período de tempo que está sendo

examinado (JEKEL et al., 1999). Entretanto, para este estudo, a forma como foi concebida a

coleta dos dados, especificamente para as crianças, teve como logística de campo, a aplicação

do inquérito, de forma a percorrer os domicílios seqüencialmente, por um grupo de 12

entrevistadores. Tal procedimento impôs a condição de verificação global descontinuada para

todos os casos, não sendo, portanto, possível verificar, em tempo real, a incidência exata da

diarréia para todo o grupo estudado. Diante de tal impossibilidade técnica, foi necessário

recorrer à "estimativa de incidência média", cujo valor encontrado significou a ocorrência

média de 6,12 novos episódios de diarréia em um ano.

Em estudo realizado por Teixeira (2003) em áreas favelizadas de Juiz de Fora – MG, a

incidência observada foi igual a 21,36.

A Tabela 5.16 apresenta o número de crianças com diarréia e seu percentual, por aldeia e sub-

aldeia, na Terra indígena Xakriabá, de acordo com pesquisa realizada durante os meses de

junho e julho de 2003.

Tabela 5.16 – Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá

Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréias N %

Aldeia Brejo Mata Fome 5 10,0Aldeia Riachinho 1 2,0Aldeia Imbaúba II 1 2,0Aldeia Pedra Redonda 2 4,0Aldeia Riacho do Brejo I 3 6,0Aldeia Sumaré 4 8,0Aldeia Sumaré II 1 2,0Aldeia Itacarambizinho 1 2,0Aldeia Cabeceira da Pindaíba 2 4,0Aldeia Morro Falhado 2 4,0Aldeia Sapé 1 2,0Aldeia Barra do Sumaré 1 2,0Aldeia Itapicuru 4 8,0Aldeia Caatinguinha 1 2,0Aldeia Barreiro Preto 2 4,0Aldeia Olhos D'Água I 1 2,0Aldeia Peruaçu 1 2,0Aldeia Prata 3 6,0Aldeia Rancharia 4 8,0Sub-aldeia Mundo Novo 1 2,0Sub-aldeia Sumaré I 2 4,0

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG58

Tabela 5.16 – Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréia – Terra Indígena Xakriabá (continuação)

Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréias N %

Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 1 2,0Sub-aldeia Vargem 1 2,0Sub-aldeia Caatinguinha I 2 4,0Sub-aldeia Pingo 1 2,0Sub-aldeia Olhos D'Água 1 2,0Sub-aldeia Dizimeiro 1 2,0Total 50 100

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Ao aplicar o protocolo de pesquisa, e detectado que a criança ainda estava acometida com

diarréia, o próprio agente indígena de saúde se encarregava de conduzi-la ao posto de saúde.

Foram observadas 26 crianças que ainda estavam com a doença, no dia da pesquisa, e 24

crianças já curadas, embora tivessem apresentado o quadro de diarréia nos dois últimos dias

que antecederam a pesquisa.

Vale ressaltar que, nos domicílios que apresentaram casos de diarréia (49), não houve óbito

no período compreendido entre junho de 2002 a junho de 2003.

5.3 Análise univariada

O estudo univariado apontou para os resultados apresentados na Tabela 5.17.

Tabela 5.17 – Análise univariada - Estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística

Variável Categoria OR (IC a 95 %) p valor

Origem do abastecimento de água da casa PoçoOutros 0,683 (0,377-1,235) 0,207*

Existe banheiro na casa Banheiro dentro ou foraSem banheiro 0,425 (0,233-0,776) 0,005*

Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) Sim, o tempo todoNão 0,624 (0,333-1,172) 0,143*

Número de refeições diárias Duas ou mais refeiçõesUma refeição 1,299 (0,380-4,447) 0,676

Frutas lavadas SimNão 0,336 (0,045-2,510) 0,288

Mãos limpas antes de comer SimNão 0,672 (0,342-1,319) 0,248*

Origem da água de beber das crianças Poço (somente)Outros 0,634 (0,341-1,177) 0,149*

Renda familiar > 1 s.m< = 1 s.m 0,713 (0,321-1,584) 0,406

* Significante ao nível de 0,25

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG59

Tabela 5.17 – Análise univariada - Estimativas de OR, intervalo de confiança a 95% e significância estatística (continuação)

Variável Categoria OR (IC a 95 %) p valor

A água de beber das crianças é tratada Sim (Hipoclorito e/ou fervida)Não 1,054 (0,586-1,895) 0,861

Destino das fezes das fraldas das crianças privadaOutros 0,525 (0,263-1,048) 0,068*

Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude

NãoSim 0,873 (0,444-1,719) 0,695

Contato das crianças com água suja NãoSim 2,479 (1,134-5,421) 0,023*

As crianças tomam banho todo dia SimNão 0,281 (0,038-2,090) 0,215*

As crianças trocam de roupa todo dia SimNão 0,570 (0,220-1,475) 0,247*

As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô SimNão 0,813 (0,450-1,468) 0,492

Armazenamento da água de beber Filtro de velaOutros 1,294 (0,645-2,596) 0,468

A água de beber fica em lugar tampado SimNão 0,003 (0,000-1,9E+0,9) 0,676

Lavar recipiente de água de beber SimNão 0,634 (0,083-4,846) 0,660

Existência de caixa d'água no domicílio SimNão 0,373 (0,145-0,959) 0,041*

Local de fazer cocô PrivadaOutros 0,403 (0,217-0,747) 0,004*

Uso da urina NãoSim 3,265 (1,565-6,814) 0,002*

Lavar as mãos antes de pegar a água de beber SimNão 1,337 (0,744-2,401) 0,332

Destino da água da pia de cozinha FossaOutros 0,290 (0,150-0,561) 0,000*

Destino da água do tanque de lavar roupas FossaOutros 0,240 (0,125-0,463) 0,000*

Destino da água do lavatório das mãos FossaOutros 0,331 (0,172-0,638) 0,001*

Destino da água usada no vaso FossaOutros 0,469 (0,254-0,868) 0,016*

Destino da água usada no banho FossaOutros 0,333 (0,177-0,627) 0,001*

Banheiro limpo NãoSim 0,893 (0,276-2,886) 0,850

Lixo espalhado no quintal NãoSim 0,893 (0,443-1,800) 0,751

Lixo da casa embalado SimNão 0,911 (0,441-1,883) 0,802

Destino final do lixo da casa Estrada / EnterradoOutros 0,865 (0,108-6,900) 0,891

Destino final do lixo do banheiro Estrada / EnterradoOutros 1,082 (0,124-9,431) 0,943

As criações entram na casa NãoSim 1,290 (0,563-2,955) 0,547

As criações andam no meio do lixo NãoSim 4,857 (0,658-35,857) 0,121

* Significante ao nível de 0,25

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG60

5.4 Análise multivariada

Para verificação inicial da análise multivariada, foram consideradas todas as variáveis que

apresentaram teste de significância estatística associado a p < 0,25, conforme apresentado no

ANEXO C. As variáveis utilizadas são as apresentadas abaixo:

Origem do abastecimento de água da casa (p < 0,207)

Existe banheiro na casa (p < 0,005)

Freqüência do uso da água da FUNASA – Poço (p < 0,143)

Mãos limpas antes de comer (p < 0,248)

Origem da água de beber das crianças (p < 0,149)

Destino das fezes das fraldas das crianças (p < 0,067)

Contato das crianças com água suja (p < 0,023)

As crianças tomam banho todo dia (p < 0,215)

As crianças trocam de roupa todo dia (p < 0,247)

Existência de caixa d'água no domicílio (p < 0,041)

Local de fazer cocô (p < 0,004)

Uso da urina (p < 0,002)

Destino da água da pia de cozinha (p < 0,000)

Destino da água do tanque de lavar roupas (p < 0,001)

Destino da água do lavatório das mãos (p < 0,001)

Destino da água usada no vaso (p < 0,016)

Destino da água usada no banho (p < 0,001)

As variáveis incluídas no estudo multivariado foram testadas, sendo selecionadas aquelas cuja

significância estatística apontaram para resultados ao nível de 5% (p 0,05). A Tabela 5.18

apresenta, após várias combinações, o modelo final.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG61

Tabela 5.18 – Análise Multivariada - Estimativas de OR e intervalo de confiança a 95%

Variável Categoria OR (IC a 95 %)

As crianças brincam em água suja Sim x Não 2,265 (0,988-5,192)Uso da urina Sim x Não 2,769 (1,283-5,973)Existe banheiro na casa Não x Sim 0,412 (0,222-0,763)

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG62

6 DISCUSSÃO

6.1 Metodologia

Para o estudo desenvolvido, várias foram as exposições sócio-ambientais avaliadas para a

ocorrência da doença (diarréia). Foram considerados, para tanto, aspectos de ausência ou

deficiência da infra-estrutura de saneamento e ainda, hábitos e costumes higiênicos.

O delineamento epidemiológico adotado para o estudo foi o modelo transversal,

demonstrando que vem sendo adotado freqüentemente na medida em que se presta ao auxílio

de investigação na área de Saúde Pública (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 1999).

Pela facilidade de determinação da prevalência de fatores de risco e de doenças em uma

população, o modelo transversal, embora ofereça boas condições de avaliação

epidemiológica, apresenta-se limitado na determinação temporal entre variáveis (JEKEL, et

al., 1999).

Neste estudo, podem ser discutidos alguns possíveis vieses, pelas condições que a pesquisa

impôs e pelo delineamento adotado.

A amostra definida para o presente estudo foi equivalente à totalidade das crianças existentes

na terra indígena estudada, sendo esta a condição considerada ideal para o desenvolvimento

do delineamento transversal. Entretanto, segundo Pereira (1995), também constatado pelo

autor neste trabalho, o viés da prevalência ocorre, ao não se contabilizarem os casos

inexistentes à época da coleta das informações, seja por não estarem mais sob o estado de

"doente" ou por óbito, embora a duração e a letalidade do indicador estudado – a diarréia –

sejam baixas, o que atenua aquele viés.

Não é prudente para este estudo, que se possa desprezar o viés da validade, uma vez que

explicita a condição de que a situação de exposição verificada pode não representar

necessariamente a exposição passada, o que naturalmente poderá ter ocorrido. Entretanto,

como verificado em trabalhos anteriores (TEIXEIRA, AZEVEDO, 2003), o estado de

exposição a condições de saneamento apresenta caráter mais perene, contribuindo para

minimizar este viés.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG63

Foi observado para grupos de variáveis relativas à descrição de renda familiar, tempo de

moradia, qualidade e freqüência da água do poço, tendência de falha de memória – viés de

memória. Observou-se, entretanto, para as variáveis relacionadas à infra-estrutura do

domicílio e disposição do lixo, tendência de apresentar confiabilidade, uma vez que o

entrevistado expôs de forma clara e verdadeira as condições existentes, na expectativa que a

entrevista pudesse proporcionar melhoria da qualidade de vida para seu grupo familiar. Não

obstante as respostas obtidas para hábitos e costumes higiênicos, foi possível identificar

algumas situações em que o inquirido não informou, em verdade, a sua real condição,

observação esta feita pelo autor.

Por fim, é possível que nesta pesquisa o viés da relação temporal indefinida possa não ter

sido significante, uma vez que nos estudos epidemiológicos relacionados a intervenções em

saneamento, hábitos e costumes higiênicos, é observado o caráter de continuidade da

exposição às condições inadequadas, levando ao entendimento de que uma exposição

verificada no presente tem considerável chance de representar uma exposição passada.

(BRISCOE et al., 1986).

6.2 Análise Estatística

O resultado dos diversos estudos realizados neste trabalho teve como fator importante a

característica da amostra, pelo seu tamanho – todo o universo pesquisado, que pode ser

considerado o mais adequado para o desenvolvimento da análise estatística, quanto aos

aspectos quantitativos, confirmando Jekel, et al. (1999).

Para que o estudo pudesse se revestir de informações fidedignas, que representassem as

verdadeiras características do ambiente e suas influências sobre o estado de saúde da

população infantil com idade compreendida entre 4 meses a 4 anos e 11 meses, 1.224

questionários foram aplicados, cobrindo todos os domicílios habitados da terra indígena

Xakriabá.

A primeira etapa da análise estatística se deu com a avaliação da consistência dos dados,

desenvolvida a partir de estudo das freqüências para as variáveis adotadas, a fim de verificar e

compatibilizar as informações a serem trabalhadas.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG64

A verificação univariada ocorreu com variáveis ligadas ao saneamento, hábitos e costumes

higiênicos, onde se buscou a determinação da associação pontual de fatores de exposição com

o indicador estudado, e ainda, o intervalo de confiança das razões de prevalência.

Os modelos estatísticos multivariados podem apresentar resultados imprevisíveis quanto ao

que se espera das associações dos fatores de exposição ambiental sobre os indicadores de

saúde, uma vez que são adotados procedimentos de inserção e exclusão de variáveis pelo

próprio sistema que gerencia os cálculos estatísticos, aliados, ainda, à decisão do pesquisador

de interferir na escolha das variáveis a serem trabalhadas.

6.3 Abastecimento de água

As variáveis deste grupamento, em primeira análise (univariada), mostraram-se associadas à

variável dependente – diarréia, ao nível de significância 0,25, através de:

Origem do abastecimento de água da casa;

Freqüência do uso da água da FUNASA;

Origem da água de beber das crianças;

Existência de caixa d'água no domicílio.

A origem da água de abastecimento, de fato, faz crer ser importante quanto aos aspectos de

proteção à saúde, esperando-se que a água proveniente de manancial mais protegido (poço

tubular profundo) ofereça melhores condições físico-químicas e bacteriológicas, enquanto

outros tipos de mananciais, como por exemplo: cacimba, cisterna, rio e riacho, não

apresentam o mesmo padrão de qualidade para o consumo humano.

Wagner e Lanoix (1959) chamaram a atenção para a vulnerabilidade da qualidade da água dos

poços rasos, pela contaminação do lençol freático, a partir de sua construção até a sua

operação cotidiana.

Em princípio, os mananciais de superfície oferecem água em condições impróprias para o

consumo humano, dada a presença natural de microrganismos no solo, que terão como destino

os talvegues, quando não são lixiviados para os lençóis freáticos. Esta situação foi confirmada

por análises bacteriológicas elaboradas pela FUNASA, no período de outubro a dezembro de

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG65

2003, na Terra Indígena Xakriabá, especialmente para os 33 domicílios cujas análises foram

realizadas.

Em situação comparativa, Teixeira, (2003) relata que, de acordo com a CESAMA, a maioria

das minas e fontes naturais de água no município de Juiz de Fora – MG, é contaminada.

Pena (2004) informa que, antes do início das atividades da FUNASA na terra indígena,

apenas onze aldeias e seis sub-aldeias possuíam sistemas de abastecimento de água. Este

cenário, com aproximadamente 408 habitações que usufruíam de abastecimento de água, foi

alterado, a partir de 2000, com a implantação de novos sistemas de abastecimento de água e

melhoria dos existentes. Em 2003, o número de moradias atendidas passou para 719, o que

mostra um incremento de 76,23% no número de domicílios atendidos pela FUNASA, no

período de três anos, seja através de água canalizada até o quintal, até o banheiro ou dentro de

casa, bem como por meio de chafarizes, de 76,23%.

Foi observado, durante o período em que os dados foram coletados, que a água proveniente de

poços tubulares profundos era insuficiente para os moradores dos 58 domicílios por eles

atendidos, que faziam uso suplementar da água de córregos, rios, cacimbas1, cisternas,

barragens, lagoas ou açudes.

Pode haver risco à saúde, relacionado à intermitência no abastecimento de água, a partir de

três efeitos principais: primeiro, o consumo de água de fontes alternativas, tais como, água de

mina, cacimba, riacho, rios e água de cisternas; segundo, higiene pessoal, doméstica e dos

alimentos insuficientes; e, por último, pode implicar em contaminação da água de

abastecimento na rede de distribuição, (TEIXEIRA, 2003).

Enfim, vale salientar que não é somente a qualidade, mas também a quantidade de água

utilizada para o consumo doméstico que causa impacto na saúde do ser humano. Esrey e

Habicht (1986) referenciam 65 estudos epidemiológicos com o intuito de quantificar o efeito

do abastecimento de água e do esgotamento sanitário sobre a saúde e indicam ainda, que a

quantidade de água é freqüentemente mais importante do que a qualidade, particularmente em

ambientes fortemente contaminados, para melhorar as condições de saúde.

11 Buraco raso feito no leito seco de rios intermitentes ou em depressões úmidas, com a finalidade de obter água para usos diversos.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG66

Dentre as 108 habitações (8,82% do total de domicílios ocupados na terra indígena)

escolhidas aleatoriamente para ser realizada a análise bacteriológica e físico-química da água

consumida para beber, 77,78% das amostras apresentaram resultado positivo para coliformes

totais e/ou Escherichia coli. Além disso, entre as amostras coletadas nas moradias cuja água é

oriunda de poços profundos, 83,33% delas mostraram que a água era imprópria para o

consumo humano, (PENA, 2004).

Os índices de resultados positivos para coliformes totais e Escherichia coli na água de beber

dos nove domicílios analisados, provavelmente, estão associados aos hábitos e costumes

higiênicos. Verifica-se, que o filtro de vela é usado de forma semelhante ao pote de barro. Via

de regra, ao pegar a água do pote para beber, a mão, que normalmente se encontra suja, entra

em contato com a água do pote. Os parâmetros físicos e químicos das amostras coletadas nas

torneiras de dois domicílios das Aldeias Sapé e Sumaré, respectivamente, apresentaram

resultados negativos para coliformes totais e Escherichia coli.

A importância da existência do reservatório domiciliar coberto, na prevenção da diarréia foi

descrito por Heller (1995) que encontrou um risco relativo de 1,91 para as soluções

alternativas para o armazenamento de água, ou seja, armazenamento em vasilhames e

consumo de água direto da rua, quando comparado com a categoria que possui reservatório

coberto e com limpeza freqüente.

Em que pese a presença de coliformes totais e/ou Escherichia coli, demonstrada através de

análises bacteriológicas da água dos potes e filtros de vela, independentemente da origem da

água e freqüência de abastecimento do domicílio, e por fim, da existência de caixa d'água, o

modelo final de regressão logística (multivariada), para todos os 614 domicílios estudados,

não apresentou associação com o indicador – diarréia. Esse fato, provavelmente, se explica,

pela condição de que, embora haja intermitência no abastecimento de água dessas casas, a

grande maioria dos domicílios com crianças doentes dispõe de reservatório domiciliar, com

tampa, e é lavado freqüentemente.

6.4 Esgotamento Sanitário

Quando do estudo da análise univariada, as seguintes variáveis foram associadas à variável

dependente – diarréia, para o esgotamento sanitário:

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG67

Existe banheiro na casa;

Destino das fezes das fraldas das crianças;

Local de fazer cocô;

Destino da água da pia de cozinha;

Destino da água do tanque de lavar roupas;

Destino da água do lavatório das mãos;

Destino da água usada no vaso;

Destino da água usada no banho.

A localização dos banheiros em 23 (3,75%) domicílios com crianças, é dentro da moradia;

para outros 125 (20,36%), o banheiro é na parte externa da casa, e 466 domicílios (75,89%),

não tem banheiro.

O local usado pelos moradores de 120 (19,54%) domicílios com crianças, para dispor seus

excretas, é o vaso sanitário, cujo destino final é a fossa, enquanto que a maioria, 494 (80,46%)

domicílios não dispõe ou não faz uso do vaso, utilizando assim, área próxima à casa.

Na grande maioria dos domicílios estudados, a água servida do banho, lavatório, tanque de

lavar roupas e pia de cozinha tem como destino final o terreno próximo à casa, tornando

assim, as crianças mais expostas ao seu contato.

Carvalho (1997) relata, que anteriormente ao contato com os não-índios, os povos indígenas,

freqüentemente, se deslocavam sobre o território que habitavam, em busca “de caça, coleta e

pesca ou devido à sazonalidade agrícola, permanecendo dias, semanas ou até meses, fora”. A

alternância das instalações domésticas do grupo indígena, propiciava a interrupção dos ciclos

geohelmintos no lugar, pela ausência humana naquele espaço, o que tornava favorável o

saneamento natural do meio.

Algumas doenças infecciosas e parasitárias apresentavam-se de forma endêmica e sem

impacto negativo significativo, devido à adaptação às condições microbiológicas do ambiente

habitado pelas populações indígenas (PITHAN et al., 1991).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG68

O não uso das instalações sanitárias por alguns indivíduos tem como justificativas, a

intermitência no abastecimento de água e hábitos higiênicos. E, ainda, conforme relata Pena

(2004) alguns disseram que não o utilizam porque não têm papel higiênico em casa; outros

alegam que “descarregar no mato é mais forgado” e mais alguns fazem críticas ao tamanho e

à ventilação do módulo sanitário.

O modelo final (multivariada) contemplou apenas a variável "Existe banheiro na casa" para o

esgotamento sanitário. Neste caso, a significância encontrada foi de 0,005, sendo que, o fato

de não se ter banheiro representa fator de proteção (0,412), no intervalo de confiança de 0,222

a 0,763. Todos os procedimentos de confirmação foram adotados. Provavelmente, a variável

estudada mostrou-se significativa para a diarréia, pelo fato de que as instalações sanitárias

existentes não merecem dos seus usuários a limpeza devida, dada a freqüente intermitência no

abastecimento de água, que ocorre em 13 dos 20 banheiros dos domicílios com crianças

doentes, proporcionando, assim, um ambiente favorável ao desenvolvimento de

microrganismos causadores da patologia estudada – diarréia.

6.5 Resíduos Sólidos

Catapreta et al. (1999) assinala que os resíduos sólidos são importantes para se traçar o perfil

epidemiológico de uma população, sendo influente, ao lado de outros fatores, por exemplo, a

quantidade e qualidade da água consumida e ainda a disposição inadequada do esgotamento

sanitário, sobre a incidência das doenças.

A análise estatística dos dados sobre resíduos sólidos, confirmada pela observação "in situ" do

autor, revela que a maioria dos domicílios tem lixo espalhado no quintal, como: folhas, cascas

de frutas, sabugo de milho, ossos, papeis, plástico, garrafas plásticas e de vidro, pano e pilha.

Entretanto, uma faixa de terreno que circunda a casa mostra-se sempre limpa, uma vez que o

lixo é varrido para suas extremidades, ficando aglomerado próximo do limite do terreno,

porém ainda no quintal.

O lixo gerado nos banheiros é constituído, básicamente, de papel higiênico, papel comum,

folhas de plantas e sabugo de milho, e tem, como destino final, na sua grande maioria, a

queima.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG69

A maioria dos domicílios das crianças não acometidas pela diarréia tem como panorama

geral, o trânsito de animais domésticos entre o lixo espalhado no quintal e o interior da casa.

Em moradias de crianças com diarréia, comparativamente às casas de crianças sadias, o fluxo

estudado foi significativamente maior.

Embora tenha sido observado, através dos dados coletados, que a destinação inadequada dos

resíduos sólidos, na terra indígena, é corriqueira, nenhuma variável independente, em nível de

significância de p 0,25, foi associada à doença estudada.

6.6 Hábitos e costumes higiênicos

A diarréia é transmitida pela contaminação feco-oral (transmissão hídrica e transmissão

relacionada com a higiene) como por exemplo: ingestão de água contaminada, através de

mãos sujas, pratos e copos sujos e está fortemente associada ao nível da limpeza doméstica

(HELLER, 1995; GOLDMAN et al., 2001).

Os hábitos e costumes higiênicos considerados para o estudo de associação na análise

univariada, foram:

Mãos limpas antes de comer;

Contato das crianças com água suja;

As crianças tomam banho todo dia;

As crianças trocam de roupa todo dia;

Uso da urina.

Conforme visualizado pela Tabela 6.1, a média de indivíduos residentes em 614 domicílios

com crianças, é relativamente elevada comparativamente à média nacional brasileira, que é de

3,6 moradores por domicílio, conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2002

(IBGE, 2003a).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG70

Tabela 6.1 – Número médio de pessoas por domicílio, cômodo e dormitório – Terra Indígena Xakriabá

Descrição Freqüência Descrição Média

Número de domicílios 614 Média de pessoas por domicílio 6,4Número de cômodos 3.270 Média de cômodos por domicílio 5,3Número de dormitórios 1.367 Média de pessoas por cômodo 1,2Número de pessoas nos domicílios 3.927 Média de pessoas por dormitórios 2,9

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Para a maioria das crianças estudadas (69,2%) foi declarado o hábito de lavar as mãos antes

das refeições. Para a variável "tomar banho diário", 93,36% tomam banho todos os dias,

enquanto que, para "trocar de roupa diariamente" 83,40% tem esse hábito. O hábito de brincar

em água suja apontou para 82 (8,25%) crianças, sendo que, destas, nove crianças (10,98%)

tiveram diarréia e 73 (89,02%) não apresentaram.

Embora a análise univariada tenha apontado as variáveis independentes "Mãos limpas antes

de comer"; "As crianças tomam banho todo dia" e "As crianças trocam de roupa todo dia"

associadas em nível estatístico 0,25, ao estudá-las em associação multivariada, não houve,

para as mesmas, associação com a diarréia.

Analisando o tipo de piso dos domicílios estudados, foi constatado em 424 (69,06%)

residências piso de terra batida. Segundo Heller et al. (1995:59), o piso de terra batida ou de

tijolos dificulta a higiene doméstica, “uma das estratégias preventivas na transmissão de

doenças feco-orais e das controladas pela limpeza com água”.

O costume de usar a urina para fins higiênicos e terapêuticos identificou 91 (9,15%) crianças,

das quais 22 (24,18%) estavam acometidas com diarréia e 69 (75,82%) sem a doença.

A variável "uso da urina" confirmou associação com a diarréia na análise multivariada,

levando, provavelmente, à compreensão de que a população estudada pratique hábitos

higiênicos próprios e de há muito arraigados, que possibilitem, segundo a cultura ocidental,

risco de ocorrência de diarréia, como por exemplo: para o quadro de otites e faringites, é

freqüente o uso da urina, podendo tal procedimento agravar o estado clínico, evoluindo para

infecções parenterais e diarréia.

O contato da criança com água suja mostrou-se associado com a diarréia, levando à

compreensão de que, provavelmente, a água servida, disposta no terreno, propicia a presença

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG71

de animais domésticos que vão habitar os arredores do domicílio, onde, inevitavelmente,

mantém contato com excretas ali existentes, e as conduzem, como vetor mecânico, até o peri-

domicílio e em grande parte, até o intra-domicílio, criando, assim, condições favoráveis para a

doença, uma vez que as crianças brincam no chão, conforme observado pelo autor, o que,

certamente as coloca em situação de risco eminente frente à ocorrência da doença estudada.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG72

7 CONCLUSÕES

Pressupôs-se que, para avaliar os impactos das ações de saneamento na saúde do povo

Xakriabá, seria preciso, num primeiro momento, caracterizar o estado de saúde e as condições

de saneamento e higiene da população escolhida. Posteriormente, a associação dessas

caracterizações permitiu avaliar o impacto das intervenções no estado de saúde coletiva do

grupo populacional selecionado.

Os serviços de saneamento existentes na terra indígena Xakriabá, são, ainda, insuficientes

para a melhoria das condições gerais de saúde daquele povo, que, ainda não se apropriou dos

hábitos e práticas de higiene necessários à conduta recomendada pela OMS para uma vida

saudável, quanto aos aspectos sanitários do ambiente em que vive.

Os resultados deste estudo demonstram que as doenças diarréicas constituem importante

problema de saúde na população infantil Xakriabá, perfazendo prevalência expressiva da

morbidade em crianças, uma vez que, no período de até 72 horas que antecederam a pesquisa,

foram constatados 50 casos de crianças com diarréia.

A população da maioria das aldeias e sub-aldeias ainda não favorecidas com sistemas de

abastecimento de água utiliza-se de águas provenientes de córregos, pequenos riachos ou

cacimbas, na sua grande maioria intermitentes.

Embora as variáveis relacionadas com abastecimento de água não tenham apresentado

associação com a diarréia, observou-se, para a época da estiagem, que o abastecimento é

realizado de forma muito precária, através da utilização de água eventualmente ainda

disponível na superfície do solo ou de poços rasos escavados em leitos de mananciais de

superfície (já secos); em todos os casos a quantidade é insuficiente e a qualidade

aparentemente imprópria, conforme demonstrado, para alguns mananciais, através das

análises bacteriológicas e físico-químicas realizadas.

É notado que, apesar da disponibilização de módulos sanitários (banheiros) em muitos

domicílios, os seus moradores continuam com os mesmos hábitos higiênicos anteriores. Há

casos em que os moradores não utilizam o vaso sanitário, pelo fato de não terem

abastecimento de água convencional e contínuo. Verifica-se que alguns moradores não

utilizam o módulo sanitário, pelo fato de ser higienicamente inadequado.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG73

Os estudos estatísticos demonstram, quanto à avaliação dos sistemas de saneamento básico

disponibilizados, hábitos e costumes higiênicos, as situações que possibilitam análises

quantitativas e qualitativas importantes, podendo ser confirmadas pelas seguintes odds ratio

relacionadas à doença em crianças com idade de 4 meses a 4 anos e 11 meses:

As crianças brincam em água suja 2,265

Existe banheiro na casa 0,412

Uso da urina 2,769

Os resultados obtidos no presente estudo levam à indicação de que a infra-estrutura de

saneamento básico existente na terra indígena Xakriabá pode não ser suficiente para erradicar

ou mesmo minimizar os efeitos sobre o indicador de saúde avaliado - diarréia.

Os hábitos higiênicos observados tiveram importância significativa no modelo final, o que

sinaliza para a necessidade de se implantar e conduzir um programa próprio, sustentado e

permanente de educação sanitária para aquela população.

O protocolo de pesquisa, adaptado para as reais condições de costumes do povo Xakriabá,

possibilitou a coleta de informações importantes que poderão subsidiar os órgãos e entidades

que ali trabalham, no sentido de ensejar uma discussão que aborde o enfrentamento das

deficiências constatadas, com o envolvimento direto da população, que deverá

necessariamente ter representação em todos os níveis de decisão e de execução de programas.

Desde 1994, a FUNASA tinha como dever institucional, a promoção de saneamento nas

aldeias indígenas, entretanto, somente a partir da assinatura do Decreto n.º 3.156 de 27 de

agosto de 1999 e da Medida Provisória n.º 1.911-8, de fato, assumiu essas atribuições,

implantando 34 DSEI no Brasil.

Aspecto importante a ser considerado é que, a aceitação das melhorias sanitárias implantadas

pela FUNASA naquela terra indígena deve merecer estudo, para que possa subsidiar ações de

saneamento que sejam adequadas aos costumes e hábitos higiênicos inerentes à população

estudada.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG74

Conforme relatado na introdução deste trabalho, o povo Xakriabá habita uma região inserida

no semi-árido mineiro, com relevo que apresenta variação altimétrica de 486 m (aldeia

Rancharia) a 772 m (aldeia Prata). Esta condição topográfica impõe características diversas,

principalmente para o tipo de solo, hidrografia e vegetação presentes. É fato que a atual

cobertura de sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário convencionais é

ainda incipiente, com equipamentos insuficientes para o atendimento pleno e satisfatório

daquela população.

Importante, ainda, que o atendimento aos requisitos elementares de infra-estrutura sanitária

daquela terra indígena seja prioritário, para que a possibilidade vislumbrada de melhores

perspectivas de vida possa se concretizar através de ações próprias e peculiares às condições

ali existentes.

Por fim, não havendo mais o que esperar, deseja-se que a população Xakriabá mereça, de fato,

a atenção básica necessária à afirmação do seu desenvolvimento sócio-cultural e econômico, o

que, necessariamente, passa pela estruturação do sistema geral de saneamento em todos os

níveis, sendo factível que cada um dos domicílios ali existentes possa ser beneficiado com

ações que certamente irão impactar positivamente sobre a saúde e qualidade geral de vida dos

seus habitantes.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG75

8 RECOMENDAÇÕES

Para minimizar os efeitos do quadro de saneamento encontrado na terra indígena Xakriabá, o

presente estudo indica alguns aspectos que deverão ser observados para a contribuição da

melhoria das condições gerais de saúde, especialmente das crianças, sendo para tanto,

recomendada a implementação das seguintes medidas:

O órgão responsável pelas ações de saneamento – FUNASA, deve estruturar as equipes

que atuam na terra indígena e definir competências e responsabilidades no planejamento,

execução, fiscalização e avaliação dos serviços de saúde disponibilizados à população

Xakriabá.

Para que seja possível vislumbrar melhores condições gerais de operacionalização das

ações, faz-se necessário que a FUNASA estimule a participação harmoniosa e conjunta de

todos os setores envolvidos com as atividades praticadas pelo órgão gestor na terra

indígena, assim como instituições responsáveis por setores do meio ambiente, com a

finalidade de discutir e fomentar ações integradas.

A FUNASA, enquanto órgão vinculado ao Ministério da Saúde, não pode prescindir do

controle da qualidade da água ingerida pela população Xakriabá, devendo adotar medidas

que garantam a aplicação da Portaria n° 518/2004.

Os agentes indígenas de saneamento, responsáveis pela operação e manutenção dos

sistemas de abastecimento de água, manutenção dos módulos sanitários e desenvolvimento

de atividades de educação em saúde, precisam receber treinamento e capacitação

permanentes.

A escola é o local mais adequado para a multiplicação de informações, devendo portanto,

ser contemplada pela FUNASA com todos os equipamentos de saneamento implantados na

terra indígena, a fim de que os professores e alunos possam difundir práticas de higiene

adequadas entre os demais membros da comunidade.

A avaliação dos serviços de saneamento disponibilizados à população Xakriabá poderá

ocorrer, de forma sistemática e contínua, quando o Sistema de Informação de Saneamento

em áreas Indígenas – SISABI, entrar em vigor.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG76

É necessário que a FUNASA promova a articulação institucional com o município de São

João das Missões (MG), onde se situa a terra indígena, através de sua Prefeitura Municipal

a fim de planejar, conjuntamente, a aplicação dos recursos destinados à comunidade

Xakriabá, possibilitando, assim, a implementação das ações necessárias, como a melhoria

das estradas (muitas aldeias e sub-aldeias ficam sem acesso em época de chuvas).

Finalmente, cabe ressaltar, que as Diretrizes da Gestão da Política Nacional de Atenção à

Saúde Indígena estabelece como paradigma que "O processo de estruturação da atenção à

saúde dos povos indígenas deve contar com a participação dos próprios índios, representados

por suas lideranças e organizações nos Conselhos de Saúde locais e distritais", e que na

implantação dessa Política, devem ser respeitados seus valores culturais.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG77

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10 ANEXOS

10.1 ANEXO A

PROTOCOLO DE PESQUISA

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10.2 ANEXO B

ESTATÍSTICA DESCRITIVA

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Caracterização de exposição ambiental das crianças estudadas – expostas e não-expostas.

Figura 10.1 – Crianças em áreas expostas e não-expostas – Terra Indígena Xakriabá, 2003

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG85

Caracterização do tipo de manancial abastecedor de domicílios das crianças estudadas – doentes e não-doentes.

Figura 10.2 – Crianças com diarréia em áreas expostas e não-expostas, por tipo de manancial Terra Indígena Xakriabá, 2003

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG86

Tabela 10.1 – Distribuição espacial das crianças, por aldeia e sub-aldeia - Terra Indígena Xakriabá.

Aldeias e Sub-aldeias de crianças com diarréiasAldeia Nº Crianças Percentual (%)

Aldeia Brejo Mata Fome 5 10,0Aldeia Riachinho 1 2,0Aldeia Imbaúba II 1 2,0Aldeia Pedra Redonda 2 4,0Aldeia Riacho do Brejo I 3 6,0Aldeia Sumaré 4 8,0Aldeia Sumaré II 1 2,0Aldeia Itacarambizinho 1 2,0Aldeia Cabeceira da Pindaíba 2 4,0Aldeia Morro Falhado 2 4,0Aldeia Sapé 1 2,0Aldeia Barra do Sumaré 1 2,0Aldeia Itapicuru 4 8,0Aldeia Caatinguinha 1 2,0Aldeia Barreiro Preto 2 4,0Aldeia Olhos D'Água I 1 2,0Aldeia Peruaçu 1 2,0Aldeia Prata 3 6,0Aldeia Rancharia 4 8,0Sub-aldeia Mundo Novo 1 2,0Sub-aldeia Sumaré I 2 4,0Sub-aldeia Cabeceira do Sumaré I 1 2,0Sub-aldeia Vargem 1 2,0Sub-aldeia Caatinguinha I 2 4,0Sub-aldeia Pingo 1 2,0Sub-aldeia Olhos D'Água 1 2,0Sub-aldeia Dizimeiro 1 2,0Total 50 100,00Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

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Tabela 10.2 - Abastecimento de Água (614 domicílios e 994 crianças) – Terra Indígena Xakriabá.

Origem da águaDomicílioscrianças

sem diarréia

Crianças sem diarréia

Domicílioscrianças

com diarréia

Crianças com diarréia

- Poço 280 468 29 29- Poço + caminhão-pipa 03 08 01 01- Poço + cacimba 08 17 01 01- Poço + Lagoa 24 41 03 04- Poço + mina 15 24 - -- Poço + cisterna 01 01 - -- Poço + rio Itacarambí 01 02 - -- Poço + cacimba + riacho 01 02 - -- Cacimba 04 08 - -- Cacimba + riacho 03 04 - -- Cacimba + caminhão-pipa 10 18 - -- Cacimba + caminhão-pipa + mina 03 04 - -- Cacimba + riacho + caminhão-pipa 03 05 01 01- Cacimba + barragem rio Itacarambí 02 06 01 01- Cacimba + rio Itacarambí 01 01 01 01- Mina 27 45 - -- Mina + riacho 02 03 - -- Mina + cacimba 01 01 - -- Mina + riacho + caminhão-pipa 01 02 - -- Mina + caminhão-pipa 24 40 04 04- Rio Itacarambí 04 05 - -- Rio Itacarambí + riacho 02 03 - -- Rio Itacarambí + caminhão-pipa 02 03 - -- Barragem rio Itacarambí 11 22 02 02- Barragem rio Itacarambí + caminhão-pipa 01 01 - -- Rio Peruaçú 07 14 02 02- Rio Peruaçú + cisterna 02 04 - -- Cisterna 11 16 - -- Cisterna + caminhão-pipa 01 01 - -- Riacho 67 98 03 03- Riacho + caminhão-pipa 22 39 - -- Riacho + caminhão-pipa + lagoa 01 01 - -- Lagoa 01 02 - -- Caminhão-pipa 13 25 - -- Caminhão-pipa + lagoa 06 10 01 01

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

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10.3 ANEXO C

ANÁLISE UNIVARIADA

DOENÇA (DIARRÉIA)

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Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada – Terra indígena Xakriabá

Variável

Domicílios decrianças não-

doentesN %

Domicílios de crianças doentes

N %OR (IC a 95 %) p

Origem do abastecimento de água da casa Poço Outros

280 49,7284 50,3

29 59,220 40,8

0,683 (0,377-1,235) 0,207

Existe banheiro na casa Banheiro dentro ou

fora Sem banheiro

128 22,7

437 77,3

20 40,8

29 59,2

0,425 (0,233-0,776) 0,005

Freqüência do uso da água da FUNASA (Poço) Sim, o tempo todo Não

331 58,6234 41,4

34 69,415 30,6

0,624 (0,333-1,172) 0,143

Número de refeições diárias Duas ou mais

refeições Uma refeição

538 95,2

27 4,8

46 93,9

3 6,1

1,299 (0,380-4,447) 0,676

Frutas lavadas Sim Não

532 94,233 5,8

48 98,01 2,0

0,336 (0,045-2,510) 0,288

Mãos limpas antes de comer Sim Não

381 67,4184 32,6

37 75,512 24,5

0,672 (0,342-1,319) 0,248

Origem da água de beber das crianças Poço (somente) Outros

320 56,6245 43,4

33 67,316 32,7

0,634 (0,341-1,177) 0,149

Renda familiar 1 s.m < = 1 s.m

69 12,2496 87,8

8 16,341 83,7

0,713 (0,321-1,584) 0,406

A água de beber das crianças é tratada Sim (Hipoclorito e/ou

fervida) Não

261 46,2

304 53,8

22 44,9

27 55,1

1,054 (0,586-1,895) 0,861

Destino das fezes das fraldas das crianças privada Outros

82 14,5482 85,5

12 24,537 75,5

0,525 (0,263-1,048) 0,068

Contato das crianças com água de rio, riacho, mina, barragem, brejo, lago ou açude Não Sim

412 72,9153 27,1

37 75,512 24,5

0,873 (0,444-1,719) 0,695

Contato das crianças com água suja Não Sim

518 91,7 47 8,3

40 81,6 9 18,4

2,479 (1,134-5,421) 0,023

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG90

Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada (continuação)

VariávelDomicílios de

crianças não-doentesN %

Domicílios de crianças doentes

N %OR (IC a 95 %) p

As crianças tomam banho todo dia Sim Não

526 93,1 39 6,9

48 98,0 1 2,0

0,281 (0,038-2,090) 0,215

As crianças trocam de roupa todo dia Sim Não

471 83,4 94 16,6

44 89,8 5 10,2

0,570 (0,220-1,475) 0,247

As crianças lavam as mãos depois de fazer cocô Sim Não

214 37,9 351 62,1

21 42,9 28 57,1

0,813 (0,450-1,468) 0,492

Armazenamento da água de beber Filtro de vela Outros

154 27,3 411 72,7

11 22,4 38 77,6

1,294 (0,645-2,596) 0,468

A água de beber fica em lugar tampado Sim Não

546 96,6 19 3,4

49 100,0 - -

0,003 (0,000-1,9E+0,9) 0,676

Lavar recipiente de água de beber Sim Não

547 96,8 18 3,2

48 98,0 1 2,0

0,634 (0,083-4,846) 0,660

Existência de caixa d'água no domicílio Sim Não

433 76,6 132 23,4

44 89,8 5 10,2

0,373 (0,145-0,959) 0,041

Local de fazer cocô Privada Outros

107 18,9 458 81,1

18 36,7 31 63,3

0,403 (0,217-0,747) 0,004

Uso da urina Não Sim

519 91,9 46 8,1

38 77,6 11 22,4

3,265 (1,565-6,814) 0,002

Lavar as mãos antes de pegar a água de beber Sim Não

340 60,2 225 39,8

26 53,1 23 46,9

1,337 (0,744-2,401) 0,332

Destino da água da pia de cozinha Fossa Outros

64 11,3 501 88,7

15 30,6 34 69,4

0,290 (0,150-0,561) 0,000

Destino da água do tanque de lavar roupas Fossa Outros

59 10,4 506 89,6

16 32,7 33 67,3

0,240 (0,125-0,463) 0,000

Destino da água do tanque de lavar roupas Fossa Outros

59 10,4 506 89,6

16 32,7 33 67,3

0,240 (0,125-0,463) 0,000

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG91

Tabela 10.3 - Razões de prevalências e significâncias para domicílios de crianças doentes e não-doentes - Variáveis qualitativas – análise univariada (continuação)

VariávelDomicílios de

crianças não-doentesN %

Domicílios de crianças doentes

N %OR (IC a 95 %) p

Destino da água do lavatório das mãos Fossa Outros

72 12,7 493 87,3

15 30,6 34 69,4

0,331 (0,172-0,638) 0,001

Destino da água usada no vaso Fossa Outros

121 21,4 444 78,6

18 36,7 31 63,3 0,469 (0,254-0,868) 0,016

Destino da água usada no banho Fossa Outros

85 15,0 480 85,0

17 34,7 32 65,3

0,333 (0,177-0,627) 0,001

Banheiro limpo Sim Não

100 78,1 28 21,9

16 80,0 4 20,0

0,893 (0,276-2,886) 0,850

Lixo espalhado no quintal Não Sim

116 20,5 449 79,5

11 22,4 38 77,6

0,893 (0,443-1,800) 0,751

Lixo da casa embalado Sim Não

107 18,9 458 81,1

10 20,4 39 79,6

0,911 (0,441-1,883) 0,802

Destino final do lixo da casa Estrada / Enterrado Outros

10 1,8 555 98,2

1 2,0 48 98,0

0,865 (0,108-6,900) 0,891

Destino final do lixo do banheiro Estrada / Enterrado Outros

7 6,7 97 93,3

1 6,3 15 93,7

1,082 (0,124-9,431) 0,943

As criações entram na casa Não Sim

100 17,7 465 82,3

7 14,3 42 85,7

1,290 (0,563-2,955) 0,547

As criações andam no meio do lixo Não Sim

52 9,2 513 90,8

1 2,0 48 98,0

4,857 (0,658-35,857) 0,121

Fonte: Inquérito domiciliar - junho e julho de 2003.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG92

10.4 ANEXO D

ANÁLISE MULTIVARIADA

DOENÇA (DIARRÉIA)

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG93

10.5 ANEXO E

MAPA GEOREFERENCIADO - CRIANÇAS COM DIARRÉIA - TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG94

10.6 ANEXO F

FOTOGRAFIAS DA TERRA INDÍGENA XAKRIABÁ - MG

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG95