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Inteligênciacoletiva é otema do AgendaAraraquaradeste anoConceito será debatido por AlejandroCastañés na próxima sexta-feira;veja o que ele falou sobre o tema,em entrevista exclusiva

08h59 | 24/04/2016

Araraquara.com (http://www.araraquara.com) / Jose Manuel

Lourenço (mailto:manuel@jornalacidade.com.br)

castañé Gestor de desenvolvimentoargentino é o palestrante convidadopara o Agenda 2016

Nesta sexta-feira, o Agenda Araraquara 2016 está devolta. Seguindo com temas ligado à criatividade einovação, este ano o assunto é a inteligência coletiva ea forma como pode ser transformada em umaferramenta de melhoria da qualidade de vida nascidades. Para falar sobre isso, conversamos com ogestor de desenvolvimento Alejandro Castañé, que é opalestrante condvidado para o seminario de sexta-feira.Leia, abaixo, trechos da entrevista com ele.

Tribuna Araraquara - O que é inteligência coletiva?Alejandro Castañé - Esse conceito dialoga com váriosoutros que vêm convergindo, desde fins do séculoXVIII, quando o Marquês de Condorcet criou um célebre

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em 2015 ‘Cidades Criativas’ foi o temado primeiro módulo do AgendaAraraquara, no ano passado (FotoMarcos Leandro)

teorema (o teorema do júri), para demonstrar a forçada sabedoria coletiva. Segundo o teorema, quanto maispessoas integrarem um grupo, maiores serão asprobabilidades de que, em conjunto, cheguem a umaresposta correta.O conceito de inteligência coletiva foi popularizado porPierre Lévy, referindo-se à capacidade que um conjuntode pessoas tem de reunir e articular conscientementecompetências e conhecimentos individuais, parareelaborá-los em benefício comum. Enfim, um processocoletivo e interativo de produção de conhecimento,baseado em compartilhamento, esforço coletivo ecolaboração. Pela sua abrangência, ele pode seraplicado aos mais diversos setores - da sociobiologia àciência política e, claramente, às cidades. A partir de umgrupo de pessoas engajadas e voltadas ao coletivo épossível gerar massa crítica para responder a desafiosou transformar a cidade.

Do que elenecessita parapoder florescer?Há algunselementos comunsa todos osprocessos deinteligência coletivaque venhoestudando ou nosquais me envolvi:valorização dadiversidade (de

conhecimento, pensamento etc.), engajamento efetivo(ou seja, vontade e possibilidade de participar, em umprocesso de cidadania ativa), reflexão seguida de ação(o primeiro sem o segundo não basta),compartilhamento de informações e conhecimento,envolvimento de diversos setores (especialmentequando se trata de pastas públicas), liberdade depensamento e expressão, respeito às regras pactuadas(sejam explícitas ou tácitas) e transparência.

Que tipo de empecilhos existem atualmente para que osresultados da cocriação sejam tão escassos?Muitas vezes há uma confusão nos papéis dos atores -por exemplo, iniciativas da sociedade civil que seanunciam como substitutas (e não complementares) aopapel intrínseco do governo. Em outras ocasiões, osmovimentos são voltados a interesses específicos, comoplataformas de governos, supostamente voltadas aouvir a sociedade e que no fundo são usadas paravalidar a opinião de quem as gerencia. Há tambémcasos em que a iniciativa se esvazia por uma fogueirade vaidades e egos de alguns expoentes, gerando perdade diversidade e centralização. E, claro, há outras quenão vingam por serem desconfortáveis para interessesem jogo.

Existe a possibilidade de o conceito de inteligênciacoletiva estar superestimado?Acho que sim. Primeiro, pela quantidade de informaçãoe desinformação circulando. Muitos imaginam que issoautomaticamente implica em conexões e articulaçõespara um fim comum, o que não é verdade. Segundo,porque deve haver interesse real em agir paratransformar um contexto e às vezes, infelizmente, nãopassa de palavrório.

Que exemplos pode citar de práticas bem-sucedidas?Há vários casos interessantes no Brasil e em diversoscampos. Veja o Movimento de Cultura Digital, muitoativo no desenvolvimento de software livre ou, no setorprivado, o desenvolvimento do Fiat Mio, baseado eminovação aberta. O próprio orçamento participativo éum exemplo interessante. No exterior, vale mencionar aPoderopedia, uma plataforma que surgiu no Chile e já

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se expandiu para a Colômbia e a Venezuela, dedicada apromover transparência e prestação de contas nomundo dos negócios e da política e, claro, a revelarpotenciais relações duvidosas e conflitos de interessesentre eles. Outro caso digno de nota é o “AColaboradora”. Trata-se de uma iniciativa de ZaragozaActiva, movida pela Prefeitura de Zaragoza, paraestimular cidadania ativa, geração de emprego e rendae ferramentas para que as pessoas lidem com o novocontexto de mundo. Funciona como um misto de espaçode intercâmbio de conhecimento, geração de novosprocessos, trabalho compartilhado e trabalho pelo bemcomum, baseado em um sistema de banco de horas.

Existe alguma maneira de se medir o impacto deprojetos desse tipo?Há vários tipos de impactos e sua avaliação nemsempre passa por indicadores ou métricas. Um exemploé o “I Paid a Bribe”, projeto que surgiu na Índia hácerca de cinco anos, pelas mãos de uma ONG chamadaJanaagraha, cuja missão é melhorar a qualidade de vidaurbana. A cara visível do projeto é uma plataforma naqual os cidadãos dão informações sobre subornos dosquais participaram ou que presenciaram (localização,frequência, valores, corruptor, corrupto, beneficiários).Hoje eles já levantaram mais de 10 mil testemunhos,em mais de mil cidades e doze milhones de visitas. Osimpactos são vários, da percepção da real dimensão dacorrupção no país, ao pedido público de desculpas doresponsável pelos transportes em Bangalore, aodescobrir que seu departamento era o recordista deestatísticas de subornos na cidade.

Qual o papel do poder público no estabelecimento deprojetos que decorram da cocriação? E o doempresariado?O primeiro passo é o poder público reconhecer quequem mais conhece a cidade e cada um de seus ângulosé o cidadão. A partir disso é preciso aprender a escutaros cidadãos e estimulá-los a participar, aproveitandonão só seu conhecimento da cidade, mas seu raciocíniocrítico, sua criatividade e seu sentimento depertencimento. Há diferentes modos práticos de fazerisso, valendo-se ou não das tecnologias digitais edependendo de cada contexto - da criação deplataformas colaborativas ao apoio a iniciativas deresgate do espaço público como espaço de troca deconhecimento e geração de novas formas deaprendizagem. Mas é importante salientar queparticipação também gera responsabilidades do cidadãopara com os demais atores sociais. Muitas vezes vemosiniciativas baseados nos direitos de grupos, mas não sediscute com a mesma seriedade os deveres que cadaum de nós tem com a cidade.Com relação às empresas, há uma primeiranecessidade, que é a inclusão de seus própriosfuncionários em uma gestão mais aberta e inovadora,na qual suas ideias e ações propositivas são de fatovalorizadas, para benefício deles e da empresa. Mastambém há um mundo de oportunidades - para aempresa e para a cidade -, decorrentes de outrasformas de relacionamento com a comunidade,entendendo a cidade como um laboratório vivo demapeamento de tendências, pesquisa edesenvolvimento, validação de conceitos e testes compúblicos específicos.

O que pode ser feito para um projeto decorrente dacriação coletiva possa permanecer no tempo? Quearmadilhas devem ser evitadas?Como armadilhas, vale ficar atento à homofilia (grupode pessoas com interesses e crenças parecidas que crêrepresentar um universo mais diversificado), àdesinformação coletiva (informações falsas que sãovalidadas como conhecimento coletivo e podem levar a

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situações de estupidez coletiva), à gestão dos egos (jáque lidamos com pessoas que defendem adescentralização, mas nem sempre estão preparadaspara abrir mão do controle) e não esquecer, como diziaPaulo Freire, que estudar não é um ato de consumirideias, mas de criá-las e recriá-las.

Agenda Araraquara 2016Painel Produzir - inteligência criativaDia 29 de abril, das 8h30 às 12hSESC Araraquara - Entrada gratuita

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