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1 DISFUNÇÃO NA REGULAÇÃO AUTONÔMICA VAGAL CARDÍACA EM PACIENTES COM HIPERTIREOIDISMO SUBCLÍNICO SEM CARDIOPATIA APARENTE Renata Boschi Portella Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Endocrinologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos resultados necessários à obtenção do título de Mestre em Endocrinologia. Orientador: Prof. Alexandru Buescu Co-orientador: Dr. Roberto Coury Pedrosa Rio de Janeiro Fevereiro/2006

disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

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DISFUNÇÃO NA REGULAÇÃO AUTONÔMICA VAGAL

CARDÍACA EM PACIENTES COM HIPERTIREOIDISMO

SUBCLÍNICO SEM CARDIOPATIA APARENTE

Renata Boschi Portella

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em

Endocrinologia, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

resultados necessários à obtenção do

título de Mestre em Endocrinologia.

Orientador: Prof. Alexandru Buescu

Co-orientador: Dr. Roberto Coury Pedrosa

Rio de Janeiro

Fevereiro/2006

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DISFUNÇÃO NA REGULAÇÃO AUTONÔMICA VAGAL CARDÍACA EM

PACIENTES COM HIPERTIREOIDISMO SUBCLÍNICO SEM

CARDIOPATIA APARENTE

Renata Boschi Portella

Orientador: Prof. Alexandru Buescu

Co-orientador: Dr. Roberto Coury Pedrosa

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em

Endocrinologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Endocrinologia.

Aprovada por:

_________________________________________

_____________________________________

_____________________________________

Rio de Janeiro

Fevereiro/2006

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Portella, Renata Boschi Disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes com hipertireoidismo subclínico sem cardiopatia aparente / Renata Boschi Portella. - Rio de Janeiro: UFRJ/Endocrinologia, 2006. xiii, 63f.: il.; 29,7 cm. Orientador: Alexandru Buescu Dissertação (mestrado) UFRJ/Endocrinologia, 2006. Referências Bibliográficas: f. 53-65. 1. Hipertireoidismo subclínico. 2. Disautonomia cardiovascular. I. Buescu, Alexandru. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Endocrinologia. III. Disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes com hipertireoidismo subclínico sem cardiopatia aparente.

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RESUMO

DISFUNÇÃO NA REGULAÇÃO AUTONÔMICA VAGAL CARDÍACA EM

PACIENTES COM HIPERTIREOIDISMO SUBCLÍNICO SEM CARDIOPATIA

APARENTE

Renata Boschi Portella

Orientador: Prof. Alexandru Buescu

Co-orientador: Dr. Roberto Coury Pedrosa

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-

graduação em Endocrinologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em

Endocrinologia.

O hipertireoidismo subclínico é uma condição cujo estudo é recente,

devido aos novos ensaios para dosagem de tireotropina (TSH), sendo definido

como um TSH sérico abaixo do limite inferior da normalidade, com tiroxina livre

e triiodotironina normais. Algumas alterações cardiovasculares podem ser

atribuídas ao hipertireoidismo subclínico, como alterações morfológicas

cardíacas, menor tolerância ao exercício, maior incidência de arritmias cardíacas

atriais e alteração do equilíbrio simpático-parassimpático. A disautonomia se

relaciona com um pior prognóstico nos pacientes com diabetes mellitus e pós-

infarto agudo do miocárdio. O objetivo deste estudo foi avaliar a reserva vagal e o

comportamento do vago diante de um estímulo simpático em pacientes jovens e

de meia-idade com hipertireoidismo subclínico e sem nenhum outro

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comprometimento cardiovascular. Utilizamos o teste tilt, com registro

eletrocardiográfico em repouso, durante a manobra da arritmia sinusal

respiratória (ASR) e após inclinação, para analisar a variabilidade da freqüência

cardíaca no domínio da freqüência (% alta freqüência – HF – e relação baixa/alta

freqüência – LF/HF) em 16 pacientes do sexo feminino com hipertireoidismo

subclínico há mais de 6 meses e comparamos os resultados com 16 mulheres

saudáveis, com média de idade semelhante. Encontramos diferença

estatisticamente significativa entre pacientes e controles na diferença entre %HF

durante a ASR e o repouso (respectivamente -9,4±35,8 vs 35,5±19,1, p<0,001),

que representa a reserva vagal, e na diferença entre a relação LF/HF durante a

inclinação e o repouso (respectivamente 1,8±2,8 vs 7,0±7,0, p=0,02), que

representa a modulação vagal pelo estímulo simpático. Concluímos que estas

pacientes apresentam uma alteração funcional do equilíbrio simpático-

parassimpático cardiovascular.

Palavras-chave: hipertireoidismo subclínico, disautonomia, cardiovascular,

variabilidade da freqüência cardíaca, teste tilt.

Rio de Janeiro

Fevereiro/2006

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ABSTRACT

CARDIAC AUTONOMIC VAGAL DYSFUNCTION IN PATIENTS WITH

SUBCLINICAL HYPERTHYROIDISM WITHOUT APPARENT CARDIAC DISEASE

Renata Boschi Portella

Orientador: Prof. Alexandru Buescu

Co-orientador: Dr. Roberto Coury Pedrosa

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-

graduação em Endocrinologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em

Endocrinologia.

Subclinical hyperthyroidism is a novel entity and has been studied since

the development of more sensitive thyrotropin (TSH) assays. It is defined as a low

serum TSH with normal free thyroxine and triiodothyronine. Some

cardiovascular changes may be attributed to this condition, such as morphologic

cardiac changes, exercise intolerance, a higher incidence of atrial arrhythmias

and a sympathovagal imbalance. Disautonomy is related to a worse prognosis in

diabetic patients and after acute myocardial infarction. The aim of this study was

to evaluate the vagal reserve and the vagal modulation by a sympathetic

stimulus in young and middle-aged patients with subclinical hyperthyroidism

without any other cardiovascular alteration. We used the tilt test, with

electrocardiographic register at rest, during the respiratory sinus arrhythmia

(RSA) maneuver and after tilt, to analyse the heart rate variability in the

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frequency domain (% high frequency – HF – and low/high frequency ratio –

LF/HF) in 16 female patients with at least 6 months of subclinical

hyperthyroidism compared to 16 healthy female with the same mean age. We

found a significant difference between patients and controls regarding the

difference between %HF during the RSA and at rest (respectively –9.4±35.8 vs

35.5±19.1, p<0.001), which represents a small vagal reserve in patients. Vagal

modulation after a sympathetic stimulus was also worse in patients, as

expressed by a lower difference between LF/HF ratio after tilt and at rest

(respectively 1.8±2.8 vs 7.0±7.0, p=0.02). We conclude that these patients have a

functional cardiovascular sympathovagal imbalance.

Key-words: subclinical hyperthyroidism, sympathovagal imbalance,

cardiovascular, heart rate variability, tilt test.

Rio de Janeiro

Fevereiro/2006

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que possibilitaram que este trabalho se concretizasse.

Primeiro, às pacientes, que se prontificaram a realizar exames cujo

significado era difícil de entender para leigos, mas que sabiam da importância do

estudo para o entendimento da repercussão clínica da sua doença.

Depois, aos meus orientadores, Buescu e Pedrosa, que foram incansáveis

na leitura dos milhões de arquivos com a tese, que eu modificava o tempo todo.

Buescu me deu espaço para seguir o caminho que eu achasse melhor, mas

sempre contribuiu para me direcionar através de críticas construtivas. Pedrosa

não só realizou todos os testes tilt, como me deu inúmeras aulas de

disautonomia, e foi o “consultor cardiológico” da tese.

Agradeço aos meus pais e ao meu marido, que me motivaram durante os

dois anos do mestrado a fazer tudo com o maior empenho possível.

Não poderia deixar de lembrar dos meus colegas de mestrado, que me

mandavam pacientes e sempre me ajudaram quando precisei.

E finalmente agradeço ao chefe do Serviço de Endocrinologia da UFRJ,

Prof. Mario Vaisman, que é um grande incentivador da pesquisa clínica na UFRJ

e procura integrar a Endocrinologia com as mais diversas especialidades,

enriquecendo os trabalhos e contribuindo para o avanço da Medicina.

Renata Boschi Portella

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SUMÁRIO

I. Capítulos

I. Introdução ................................................................................................ p.14

II. Hipertireoidismo Subclínico

II 1. Aspectos clínicos ........................................................................ p.17

II 2. Avaliação da interação entre os hormônios tireoideanos e o sistema

cardiovascular usando o hipertireoidismo franco como modelo ..................... p.17

II 3. Hipertireoidismo subclínico e o sistema cardiovascular ............... p.19

III. Avaliação do controle autonômico cardiovascular

III 1. Considerações gerais ................................................................. p.22

III 2. Metodologia de avaliação do controle autonômico cardiovascular

III 2.1 Análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) .... p.26

III 2.2 Teste da arritmia sinusal respiratória (ASR) ................... p.27

III 2.3 Teste de Inclinação (teste tilt) ......................................... p.29

IV. Hipertireoidismo subclínico e o sistema nervoso autônomo ..................... p.31

V. Fundamentação teórica ........................................................................... p.36

VI. Objetivo .................................................................................................. p.37

VII. Casuística e métodos

VII 1. Características do estudo ......................................................... p.37

VII 2. Seleção de indivíduos ............................................................... p.38

VII 3. Procedimentos específicos

VII 3.1 Coleta de sangue e testes hormonais ............................ p.39

VII 3.2 Exame clínico ............................................................... p.40

VII 3.3 Avaliação do envolvimento do sistema nervoso autônomo

.................................................................................................................... p.40

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VIII. Considerações éticas ............................................................................ p.43

IX. Análise estatística ................................................................................... p.44

X. Resultados

X 1. Características gerais da amostra ............................................... p.45

X 2. Resultados no domínio da freqüência no grupo de pacientes

com hipertireoidismo subclínico e no grupo controle

X 2.1 Relação entre baixa e alta freqüência (LF/HF) ................ p.45

X 2.2 Componente de alta freqüência (%HF) ............................. p.46

X 2.3 Correlações entre variáveis hormonais e clínicas dos pacientes

e as variáveis do domínio da freqüência ....................................................... p.46

XI. Discussão ............................................................................................... p.47

XII. Conclusões ............................................................................................ p.52

II. Referências bibliográficas .................................................................... p.53

III. Tabelas

Tabela 1 - Perfil clínico e laboratorial das pacientes com hipertireoidismo

subclínico .................................................................................................... p.66

Tabela 2 - Perfil clínico e laboratorial do grupo controle ............................... p.67

Tabela 3 - Resultados da análise da variabilidade da freqüência cardíaca no

domínio da freqüência através do teste tilt nas pacientes com hipertireoidismo

subclínico .................................................................................................... p.68

Tabela 4 - Resultados da análise da variabilidade da freqüência cardíaca no

domínio da freqüência através do teste tilt no grupo controle ....................... p.69

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IV. Figuras

Figura 1 – Ilustração de um teste tilt, com a indicação dos tempos em que foram

realizadas a manobra de arritmia sinusal respiratória (ASR), em posição supina,

e a inclinação da maca ................................................................................. p.70

Figura 2 – Box plot da diferença entre a relação LF/HF durante o ortostatismo e

em repouso (dif LF/HF) em pacientes com hipertireoidismo subclínico e controles

saudáveis (modulação do sistema nervoso autônomo cardiovascular sob um

estímulo simpático) ...................................................................................... p.71

Figura 3 - Box plot da diferença entre o componente de %HF durante a manobra

de arritmia sinusal respiratória e o repouso (dif %HF) em pacientes com

hipertireoidismo subclínico e controles saudáveis (reserva vagal) .................. p.72

V. Anexos

Anexo I – Ficha de Avaliação Clínica ............................................................ p.73

Anexo II – Aprovação pela Comissão de Ética e Pesquisa do HUCFF ............ p.77

VI. Lista de Siglas e Abreviaturas .............................................................. p.12

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

# - número do paciente

% HF – percentual do poder total no domínio da freqüência que corresponde à

alta freqüência

AR – artrite reumatóide

ASR – arritmia sinusal respiratória

ATP – adenosina trifosfato

Cr - creatinina

Dif %HF – diferença entre %HF durante a manobra de ASR e o repouso

Dif LF/HF – diferença entre a relação LF/HF após a inclinação e em repouso

DN – data de nascimento

DPRR – desvio-padrão dos intervalos R-R normais

ECG – eletrocardiograma

End – endereço

FC – freqüência cardíaca

GJ – glicemia em jejum

GLUT-4 – transportador de glicose transmembrana

HF – alta freqüência

HUCFF – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

Hz – Hertz

IMC – índice de massa corporal (peso em quilogramas/quadrado da altura em

metros)

INCL - inclinado

LF – baixa freqüência

MAPA – monitorização ambulatorial da pressão arterial

ms – milissegundos

Page 13: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

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PA – pressão arterial

PNN50 - percentual de batimentos consecutivos que apresentam entre si

diferença igual ou superior a 50 milissegundos

Relação baixa/alta – relação entre o componente de baixa freqüência e o de alta

freqüência no domínio da freqüência

Relação LF/HF – relação baixa/alta freqüência

REP - repouso

RMSSD - raiz quadrada da média da soma dos quadrados das diferenças entre

ciclos consecutivos no período avaliado

SIV – septo interventricular

SNA – sistema nervoso autônomo

T3 – triiodotironina

T4 - tiroxina

T4l – tiroxina livre

Tel – telefone

TSH – hormônio tireotrófico

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

ULF – freqüência ultra-baixa

VE – ventrículo esquerdo

VFC – variabilidade da freqüência cardíaca

VLF – freqüência muito baixa

VR – valor de referência

Page 14: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

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I-Introdução

Nas duas últimas décadas surgiu a disponibilidade comercial de ensaios

para o hormônio tireotrófico (TSH) de segunda e terceira gerações, capazes de

identificar diferentes graus de supressão tireotrófica (Burmeister & Flores, 2002).

Isto possibilitou a identificação do chamado hipertireoidismo subclínico, definido

como um valor de TSH abaixo do limite inferior da normalidade, com a tiroxina

livre (T4l) e a triiodotironina (T3) normais (Col et al, 2004; Helfand, 2004;

Braverman & Pearce, 2002; McDermott et al, 2003), confirmados com nova

dosagem, ou TSH ≤ 0,1 mcU/mL e T4 e T3 normais (Toft, 2001). Devem ser

excluídos o eutireóideo doente, as doenças hipotálamo-hipofisárias, a gravidez, a

idade avançada e o uso de drogas que interfiram com o TSH (por exemplo,

corticosteróides, amiodarona, dopamina), exceto a levotiroxina sódica (Surks et

al, 2004; Biondi et al, 2005). Nenhuma definição considera a presença ou não de

sintomatologia para o diagnóstico.

Ainda que apresentando critérios de diagnóstico puramente laboratoriais,

o hipertireoidismo subclínico pode cursar com alterações clínicas importantes,

desde sintomas semelhantes a um estado hiperadrenérgico (Biondi et al, 1994;

Biondi et al, 2000; Biondi et al, 2005) até repercussões no aparelho

cardiovascular (Biondi et al, 1993; Fazio et al, 1995; Biondi et al, 1996; Mercuro

et al, 2000; Sgarbi et al, 2003; Smit et al, 2005), redução da densidade mineral

óssea após a menopausa (Faber & Galloe, 1994; Uzzan et al, 1996; Foldes et al,

1993; Faber et al, 1998) com aumento do risco de fraturas nas mulheres com

TSH ≤ 0,1 mU/L (Bauer et al, 2001) e comprometimento da qualidade de vida

(Biondi et al, 1994; Biondi et al, 2000; Mercuro et al, 2000).

Por representar um distúrbio relativamente novo, há poucos estudos

acerca da mortalidade nos pacientes com hipertireoidismo subclínico. O estudo

Page 15: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

15

de Parle e cols. recrutou ao longo de um ano 1191 indivíduos livres de doença

tireoideana conhecida, sem uso de levotiroxina, com média de idade inicial de 70

anos. A mortalidade destes pacientes foi reavaliada anualmente até 10 anos após

o início do estudo, comparando-se aqueles com TSH inicial abaixo do limite

inferior da normalidade (n=71) com os indivíduos com TSH normal estudados e

com a população geral da mesma faixa etária e sexo. Na avaliação inicial, um

terço dos pacientes com TSH diminuído tinha bócio e 1/70 paciente estava em

fibrilação atrial. O grupo com TSH abaixo do limite inferior da normalidade,

mesmo quando acima de 0,1 mcU/mL, com T4l e T3l normais, apresentou maior

mortalidade por todas as causas e por doença cardiovascular até 5 anos de

acompanhamento, mas esta diferença não se manteve até o décimo ano de

análise. Apenas três pacientes apresentavam hipertireoidismo franco, mas

nenhum deles faleceu durante o estudo. Este aumento da mortalidade não tem

causa definida. Não foi descrito se houve exclusão dos pacientes eutireóideos

doentes ou com hipotireoidismo central nem quantos utilizavam drogas que

diminuíssem o TSH (Parle et al, 2001). Sessenta por cento dos pacientes com

TSH baixo evoluíram com normalização do TSH após o primeiro ano de

acompanhamento (76% daqueles com TSH baixo detectável normalizaram o TSH

e 87,5% daqueles com TSH indetectável permaneceram com TSH baixo) (Parle et

al, 1991). O estudo contemplou apenas idosos, que sabidamente estão sob maior

risco de desenvolvimento de fibrilação atrial.

Mais recentemente, Franklyn e cols. avaliaram 2668 pacientes

hipertireóideos de meia-idade e idosos após tratamento com radioiodo. A

mortalidade por arritmias ou insuficiência cardíaca daqueles que não precisaram

imediatamente de reposição de levotiroxina sódica após o radioiodo foi maior do

que a da população saudável e do que a do grupo que utilizou levotiroxina. O

TSH < 0,5 mUI/L não influenciou a mortalidade (Franklyn et al, 2005). Um

Page 16: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

16

estudo de corte transversal analisou a prevalência de coronariopatia em

pacientes com ou sem disfunção tireoideana, que não estava aumentada nos

pacientes com hipertireoidismo subclínico (Walsh et al, 2005). Uma revisão dos

estudos sobre a morbimortalidade cardiovascular em pacientes com disfunção

tireoideana apontou para evidências de aumento de morbidade cardiovascular e

de fatores de risco para mortalidade cardiovascular no hipertireoidismo franco,

mas no hipertireoidismo subclínico isto ainda é inconclusivo (Dorr & Volzke,

2005).

Alguns estudos demonstraram a presença de disautonomia cardiovascular

nos pacientes com hipertireoidismo subclínico (Faber et al, 2001; Pettreta et al,

2001; Goichot et al, 2004; Osman et al, 2004). Apesar de ser descrita a

associação entre disautonomia e morte súbita nos pacientes com diabetes

mellitus e naqueles pós-infarto agudo do miocárdio, não há avaliação sobre a

relação entre variabilidade da freqüência cardíaca e morte súbita e nem sobre o

impacto do tratamento da disautonomia sobre a mortalidade dos pacientes com

hipertireoidismo subclínico. Seriam necessários grandes e longos estudos para

avaliar tais relações.

A maioria dos pacientes com hipertireoidismo subclínico apresenta exames

complementares de avaliação cardiovascular dentro dos parâmetros da

normalidade (ecocardiograma, eletrocardiograma, MAPA, Holter 24h) – embora

alguns estudos mostrem diferenças quando comparados a controles saudáveis

(Biondi et al, 1993; Fazio et al, 1995; Mercuro et al, 2000; Sgarbi et al, 2003) –,

podendo ser considerados pacientes sem cardiopatia aparente. A baixa reserva

funcional autonômica cardiovascular pode ocorrer mesmo em pacientes sem

alterações morfológicas cardíacas, funcionando como um marcador precoce de

mortalidade por doença cardiovascular nestes pacientes?

Page 17: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

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II - Hipertireoidismo Subclínico

II 1- Aspectos clínicos

O hipertireoidismo subclínico pode ser classificado de acordo com a sua

etiologia em endógeno, quando causado por doenças da tireóide, ou exógeno,

quando provocado pelo uso excessivo intencional ou não da levotiroxina sódica

(Biondi et al, 2005). As causas endógenas mais comuns são a doença de Graves

(bócio difuso tóxico), o bócio multinodular tóxico e os adenomas

hiperfuncionantes (Papi et al, 2005). O uso da levotiroxina sódica em doses

suprafisiológicas pode ser direcionado para a terapia supressiva (na doença

nodular benigna da tireóide ou após tireoidectomia nos pacientes com carcinoma

diferenciado da tireóide) ou pode ocorrer devido ao uso excessivo para reposição

hormonal em hipotireóideos, o que acontece em 14-21% destes pacientes (Surks

et al, 2004), ou devido ao uso inadvertido pelo paciente, como nas fórmulas para

emagrecer.

A prevalência de hipertireoidismo subclínico varia, de acordo com a

população estudada, de 0,5 a 11,8%, sendo maior nos estudos com uma grande

proporção de indivíduos fazendo uso de levotiroxina sódica (Koutras, 1999). A

média em populações saudáveis é de 0,6 a 6% (Wang & Crapo, 1997).

O curso clínico é variável, podendo haver normalização do TSH em 50%

dos casos, manutenção do quadro ou evolução para hipertireoidismo franco em

5% dos casos por ano (Wiersinga, 1995). O TSH acima de 0,1 mcU/mL diminui a

chance de progressão para hipertireoidismo franco (Parle et al, 1991).

II 2 - Avaliação da interação entre os hormônios tireoideanos e o

sistema cardiovascular usando o hipertireoidismo franco como modelo

Page 18: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

18

A relação do hipertireoidismo franco com o sistema cardiovascular sempre

foi intensamente estudada. A própria fisiopatologia do hipertireoidismo explica

parte das alterações cardiovasculares, pois o aumento do metabolismo basal

imposto pelo excesso de hormônios tireoideanos circulantes leva a um aumento

da volemia, redução da resistência vascular sistêmica e redução do tempo de

circulação.

O T3 tem efeito cronotrópico direto no coração, aumentando os disparos

no nodo sinusal e reduzindo o limiar elétrico para excitação atrial e o período

refratário nos tecidos de condução, aumentando a freqüência cardíaca (FC)

(Polikar et al 1993; Woeber, 1992; Valcavi et al, 1992). No hipertireoidismo, o

controle da FC é muito mais influenciado pelo estímulo simpático do que pelo

colinérgico, ao contrário das pessoas saudáveis (Valcavi et al, 1992) Em ratos

tireotóxicos, porém, o controle da FC é mais exercido pelo vago, como uma

tentativa de compensação pelo aumento intrínseco da FC (Foley et al, 2001). Em

cães tireotóxicos, há uma diminuição da atividade parassimpática basal (White &

Zimmerman, 1976).

Os hormônios tireoideanos também geram um aumento da atividade

cálcio-ATPase no retículo sarcoplasmático e na cadeia alfa pesada da miosina,

aumentando o inotropismo (Polikar et al, 1993; Klein, 1990). O T3 tem efeito

direto também na musculatura lisa vascular, reduzindo a resistência vascular

sistêmica (Klein & Ojamaa, 1994; Klein & Ojamaa, 2001).

Assim, o aumento da pré-carga, a diminuição da pós-carga e o aumento

do cronotropismo e do inotropismo resultam no aumento do débito cardíaco

(Woeber, 1992; Klein & Ojamaa, 2001). Porém, a eficiência miocárdica está

comprometida, pois os efeitos positivos do T3 sobre a cadeia alfa pesada da

miosina, a cálcio-ATPase, a Na+-K+-ATPase, o receptor β1 adrenérgico, o GLUT-

Page 19: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

19

4, a troponina cardíaca e o fator natriurético atrial e os negativos sobre a cadeia

beta pesada da miosina e a fosfolamban, aumentando a captação de cálcio e

glicose pelo coração por efeitos na membrana, levam a uma maior velocidade de

contração e relaxamento diastólico e maior consumo de ATP. (Klein & Ojamaa,

2001; Klein & Ojamaa, 1994)

No hipertireoidismo franco, com elevação das frações livres de tiroxina (T4)

e T3, estas modificações no aparelho cardiovascular podem levar à hipertrofia

ventricular esquerda, secundária ao aumento do trabalho cardíaco (Klein, 1990;

Woeber, 1992); à intolerância ao exercício, devido à incapacidade de aumentar a

fração de ejeção com o exercício pela redução da reserva contrátil miocárdica e à

impossibilidade de incremento na vasodilatação, além da fadiga muscular (Klein,

1990); ao maior potencial de arritmias atriais (as ventriculares são raras, pois a

densidade de receptores β adrenérgicos é maior no átrio) (Polikar et al, 1993) e

até à insuficiência cardíaca de alto débito. (Woeber, 1992)

II 3 – Hipertireoidismo subclínico e o sistema cardiovascular

A cronicidade do hipertireoidismo subclínico, determinada pelo quadro

clínico frustro na maioria dos casos, também pode levar a uma morbidade

cardiovascular significativa, mesmo se tratando de uma disfunção hormonal

mais leve.

Os pacientes sintomáticos podem apresentar aumento da FC média em

24h, da incidência de arritmias atriais, da função sistólica do ventrículo

esquerdo (VE) em repouso (Biondi et al, 1993), da massa do VE - aparentemente

sem hipertrofia do VE (Dörr et al, 2005; Smit et al, 2005)-, da espessura do

septo interventricular (SIV) e da parede posterior do VE e do tempo de

relaxamento isovolumétrico e redução do diâmetro sistólico final do VE (Biondi et

Page 20: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

20

al, 1993; Fazio et al, 1995; Biondi et al, 2000; Mercuro et al, 2000; Sgarbi et al,

2003) e dos índices de função diastólica do VE (Fazio et al, 1995; Smit et al,

2005). Pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica leve a moderada e

hipertireoidismo subclínico endógeno, mesmo quando comparados a pacientes

hipertensos sem doença tireoideana, apresentam maior massa de VE (Tamer et

al, 2005).

Um estudo com pacientes oligossintomáticos, e com percentual de

indivíduos do sexo masculino bem maior do que o dos outros estudos, detectou

apenas aumento da massa do VE (Shapiro et al, 1997). Smit et al estudaram

pacientes não necessariamente sintomáticos, com mais de 10 anos de terapia

supressiva com levotiroxina sódica, e encontraram disfunção diastólica do VE

(Smit at al, 2005).

Há redução da capacidade ao exercício e da fração de ejeção com o

exercício nos pacientes sintomáticos submetidos ao teste cardiorrespiratório em

bicicleta ergométrica (Biondi et al, 1996; Mercuro et al, 2000).

Pode haver aumento da espessura média-intimal das carótidas, o que

poderia representar um aumento do risco de eventos cardiovasculares (Völzke et

al, 2005).

Não foi encontrada alteração da pressão arterial (PA) em 24h (Ching et al,

1996), mas há relato de maior PA sistólica em repouso (Mercuro et al, 2000).

Os estudos anteriormente citados tinham uma coorte de predomínio

importante do sexo feminino, de todas as faixas etárias (incluindo idosos – até 72

anos de idade), com hipertireoidismo subclínico exógeno (com exceção de duas

publicações), com média de T4l maior do que a dos grupos de controle e TSH

geralmente indetectável. A maioria dos pacientes era sintomática e tinha um

tempo de doença de 6 meses a 23 anos (> 6 meses no hipertireoidismo endógeno

e > 1 ano no exógeno). Todas estas variáveis podem ter influenciado os

Page 21: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

21

resultados: as faixas etárias muito heterogêneas, a concentração dos estudos em

torno de mulheres sintomáticas e as alterações hormonais acentuadas.

O estudo de Framingham mostrou um aumento de 3 vezes na incidência

de fibrilação atrial em idosos acompanhados por 10 anos e que apresentavam

TSH suprimido, e a associação de idade maior do que 60 anos com um TSH ≤ 0,1

mcU/mL mostrou-se fator de risco independente para o surgimento desta

arritmia (Sawin et al, 1994).

Alguns estudos demonstraram que o tratamento do hipertireoidismo

subclínico pode reduzir a sua morbidade cardiovascular. O objetivo deve ser

trazer o TSH para o mais próximo possível do normal, seja com tionamidas ou

radioiodo no hipertireoidismo subclínico endógeno ou com a redução da dose da

levotiroxina sódica no exógeno. O uso de β-bloqueadores, avaliado em um

número limitado de pacientes, sendo a maioria com sintomas de

hipertireoidismo, parece melhorar a qualidade de vida, reduzir os sintomas,

diminuir a FC média e a incidência de extra-sístoles atriais e reduzir a massa do

VE, do SIV e da parede posterior do VE, além de aumentar o tempo do

relaxamento isovolumétrico e melhorar a capacidade máxima ao exercício (Biondi

et al, 1994; Fazio et al, 1995; Biondi et al, 1996). A normalização do TSH através

do uso do metimazol ou do radioiodo leva à diminuição do débito cardíaco,

redução da FC e ao aumento da resistência vascular sistêmica (Faber et al,

2001). Um estudo que avaliou apenas o uso do metimazol mostrou redução dos

batimentos prematuros atriais e ventriculares e da FC média e normalização do

SIV, da parede posterior do VE e da massa do VE nos pacientes sintomáticos

(Sgarbi et al, 2003). A redução da dose de levotiroxina sódica diminui sintomas,

massa do VE, diâmetro do VE na diástole, espessura do SIV e da parede

posterior do VE e aumenta a capacidade ao exercício em 6 meses (maior

consumo de oxigênio no pico do exercício e melhora do limiar anaeróbio)

Page 22: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

22

(Mercuro et al, 2000). A normalização do TSH após a redução da dose da

levotiroxina sódica em indivíduos tratados para carcinoma diferenciado da

tireóide, mesmo após longo tempo de supressão (>10 anos), reverteu as

alterações da função diastólica do VE, sem redução do índice de massa do VE

(Smit et al, 2005).

Há evidências de comprometimento do equilíbrio simpático-parassimpático

em repouso no hipertireoidismo subclínico (Ching et al, 1996; Faber et al, 2001;

Pettreta et al, 2001; Goichot et al, 2004; Osman et al, 2004), mas, para que os

resultados dos trabalhos que analisaram disautonomia sejam melhor

compreendidos, faremos algumas considerações nas seções subseqüentes sobre

a metodologia para avaliação do controle autonômico cardiovascular.

III - Avaliação do controle autonômico cardiovascular

III 1- Considerações Gerais

A descarga do marcapasso nodal sinusal, a condução atrioventricular,

a excitabilidade do sistema de condução ventricular de His-Purkinje e a

contratilidade do miocárdio atrial e ventricular são diminuídas pela atividade

parassimpática cardíaca, enquanto a atividade simpática cardíaca as estimula.

Embora as ações das duas divisões do sistema nervoso autônomo (SNA) sejam

geralmente antagônicas, estas se relacionam de forma complexa, de modo que a

resposta cardíaca à atividade neural de uma das divisões depende do nível de

atividade da outra: podem ser recíprocas, independentes ou não recíprocas. O

tônus vagal, porém, predomina sobre o simpático em condições normais, de

forma que uma descarga vagal intensa supera o tônus simpático (Olshansky,

Page 23: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

23

2005). Adicionalmente, neuropeptídeos atuam na junção neuroefetora,

modulando a ação da norepinefrina e da acetilcolina (Kulbertus & Franck, 1988).

A resposta simpática ocorre mais lentamente do que a parassimpática:

a latência da modificação da FC ao estímulo vagal é de 200ms, com pico de

400ms, enquanto a resposta da FC ao estímulo simpático inicia-se cerca de um a

cinco segundos após o início do estímulo. Por outro lado, a resposta vagal é de

duração mais curta do que a simpática (Hainsworth, 1995; Talman & Benarroch,

1993).

A análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), por ser um

método não-invasivo e de fácil realização técnica, tem se popularizado como

forma indireta de medir o controle autonômico vagal cardíaco. Entretanto, a

facilidade técnica referida pode ser apenas aparente, pois trata-se de um exame

com várias medidas, cuja interpretação correta é mais complexa do que se

pensava inicialmente. Na última década, a grande quantidade de trabalhos

desenvolvidos sobre a VFC incentivou a Sociedade Européia de Cardiologia e a

Sociedade Americana de Estimulação Cardíaca e Eletrofisiologia a constituírem

um grupo de trabalho (Task Force of the European Society of Cardiology and the

North American Society of Pacing and Electrophysiology, 1996) com o objetivo de

desenvolver padrões adequados de VFC, de padronizar a nomenclatura utilizada,

de definir termos e especificar métodos de medidas. Os estudos de VFC são

voltados para o diagnóstico de alterações do controle autonômico vagal cardíaco

e suas implicações prognósticas em diversas condições clínicas, principalmente

na doença arterial coronária (Bigger et al, 1992), no diabetes mellitus (Nolan et

al, 1996) e nas cardiomiopatias (Stein et al, 1995).

A VFC consiste na quantificação das flutuações do ritmo cardíaco a

partir da detecção dos complexos QRS de registros de eletrocardiograma (ECG) e

na montagem da série temporal constituída de intervalos R-R ou tacogramas.

Page 24: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

24

Esta metodologia pressupõe a existência de flutuações rítmicas,

estacionariedade, reprodutibilidade e estabilidade na série temporal de intervalos

cardíacos do período em estudo. A mensuração da VFC pode ser feita

principalmente no domínio do tempo e no domínio da freqüência (análise

espectral).

A análise no domínio de tempo é realizada através de métodos

estatísticos que fornecem índices de cálculo simples, que avaliam a dispersão dos

intervalos entre os batimentos cardíacos em torno de uma média ou comparam a

duração de ciclos adjacentes. Em traçados de curta e longa duração, os

principais índices utilizados, segundo a Sociedade Européia de Cardiologia e a

Sociedade Americana de Estimulação Cardíaca e Eletrofisiologia, são:

a) Desvio padrão dos intervalos RR normais (DPRR) – desvio padrão de todos os

ciclos selecionados, medido em milissegundos.

b) pNN50 – percentual de batimentos consecutivos que apresentam entre si

diferença igual ou superior a 50 milissegundos.

c) rMSSD – raiz quadrada da média da soma dos quadrados das diferenças entre

ciclos consecutivos no período avaliado, medida em milissegundos.

Todos esses índices de curta duração acima mencionados (DPRR, pNN50 e

rMSSD) refletem principalmente a modulação parassimpática cardíaca.

A análise espectral informa sobre a distribuição da potência em várias

bandas de freqüência que, por sua vez, guardam correlação com mecanismos

fisiológicos de controle da FC com diferentes periodicidades. A informação

quantitativa obtida com este tipo de análise pode fornecer a potência de cada

componente, de modo que se obtém a contribuição parcial de cada faixa de

freqüência na potência total. A transformação do sinal eletrocardiográfico em

função de densidade espectral é feita através da transformação rápida de

Fourier, assumindo-se que o sinal seja periódico. A transformação de Fourier é

Page 25: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

25

um método matemático que parte do princípio de que todo sinal periódico é

composto de ondas sinusoidais de diferentes amplitudes, fases e freqüências e

seus harmônicos. A função densidade espectral mostra em um gráfico a

importância relativa de cada componente de freqüência.

Segundo a Sociedade Européia de Cardiologia e a Sociedade Americana

de Estimulação Cardíaca e Eletrofisiologia, em traçados de curta duração as

bandas de freqüência que podem ser estudadas através da transformação do

registro do sinal eletrocardiográfico são as seguintes:

a) Componentes de freqüência ultra baixa e muito baixa (ULF e VLF,

respectivamente) – são as freqüências inferiores a 0,04 Hz, disponíveis apenas

em registros de 24h ou mais e que, por esse motivo, não serão analisados neste

trabalho.

b) Componente de baixa freqüência (LF) – compreende a faixa de 0,05 a 0,15 Hz.

Segundo alguns autores, é representativa da atividade simpática sobre o nodo

sinusal, mas outros defendem que existe também influência parassimpática

nessa banda de freqüência.

c) Componente de alta freqüência (HF) – representativo da influência

parassimpática sobre o coração, compreende a banda entre 0,15 e 0,40 Hz.

Neste estudo, apenas dois parâmetros do domínio da freqüência serão

analisados: a relação baixa/alta (relação LF/HF), que é a razão entre os

componentes de baixa freqüência e alta freqüência e que representa a medida do

equilíbrio simpático/parassimpático, e o componente de alta freqüência (%HF).

Há valores de referência para as variáveis no domínio do tempo e da

freqüência em repouso (Task Force of the European Society of Cardiology and the

North American Society of Pacing and Electrophysiology, 1996), porém neste

estudo utilizaremos o grupo controle como referência, pois ainda não há valores

Page 26: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

26

padronizados para a população brasileira e nem para os parâmetros após

estímulo.

III 2- Metodologia de avaliação do controle autonômico cardiovascular

III 2-1 Análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC)

A utilização da análise da VFC no domínio da freqüência é atraente pela

possibilidade de se dividir a variância em componentes relacionados a

mecanismos fisiológicos específicos. Entretanto, existem controvérsias sobre o

significado de vários fenômenos e limitações técnicas significativas. Em

condições ideais, a análise espectral só poderia ser realizada em séries temporais

estacionárias, na presença de simetria das flutuações e total ausência de

artefatos, condições quase nunca encontradas no ser humano. Segundo alguns

autores, a ausência de uma série temporal estacionária (Weber et al, 1992; Task

Force, 1996) e a presença de artefatos e de extra-sístoles, mesmo que isoladas

(Xia et al, 1993), podem comprometer de forma importante a análise da VFC.

Ainda que alguns indiquem maior sensibilidade da análise espectral na detecção

do dano autonômico vagal cardíaco, não existem evidências concretas da

superioridade desta técnica em relação aos índices mais simples e estabelecidos,

obtidos no domínio do tempo.

Da mesma forma, o reconhecido valor prognóstico, a fácil

aplicabilidade clínica e a grande simplicidade falam a favor da utilização da

avaliação da VFC no domínio do tempo. A possibilidade dessa avaliação em

traçados rotineiros do ECG constitui vantagem atraente. Entretanto existem

limitações significativas. Embora a sensibilidade aos artefatos e a ausência de

Page 27: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

27

uma série estacionária no domínio do tempo, mesmo em registros curtos, seja

menor do que a registrada quando se emprega a análise espectral, quando se

utiliza a análise automática dos equipamentos de eletrocardiografia atualmente

disponíveis, os índices estatísticos da VFC no domínio do tempo não são

confiáveis. Adicionalmente, o significado real dos mecanismos subjacentes

presentes em cada um destes índices não é claro. No domínio do tempo, todos os

ritmos de variação da FC, no período de registro, ficam restritos a números

únicos, que resumem todas as oscilações ocorridas no dia, independentemente

dos mecanismos envolvidos (Malik & Camm, 1993; Moser et al, 1994).

Para amenizar os erros sistemáticos acima mencionados e com intuito

de obter índices próximos do fidedigno, foi utilizado neste trabalho um

equipamento com algoritmos de análise semi-automática, no qual o operador

interage com o sistema após a identificação e a classificação dos complexos QRS

em normais ou anormais seguido de uma revisão manual cuidadosa de todo o

traçado para corrigir os erros do sistema.

Em 2004 foram avaliados 653 brasileiros saudáveis com Holter 24h

para análise da VFC no domínio do tempo e da freqüência. Concluiu-se que, com

o avançar da idade, a VFC diminui (exceto a relação LF/HF), há algumas

diferenças entre sexos (índices de modulação parassimpática são maiores nas

mulheres) e o IMC não exerce influência sobre os parâmetros. (Antelmi et al,

2004)

III 2-2 Teste da arritmia sinusal respiratória (ASR)

No homem, a relação entre a variação da FC durante a inspiração

profunda respiratória e o controle vagal do coração foi reconhecida como

independente das influências simpáticas. Por isso, o teste da arritmia sinusal

Page 28: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

28

respiratória (ASR) foi considerado um método sensível, não invasivo, de curta

duração, qualitativo e reprodutível de avaliação da atividade nervosa

parassimpática (Bainbridge, 1920). Nos últimos anos, este teste vem sendo

largamente utilizado na prática clínica para a avaliação do controle

parassimpático cardíaco, geralmente associado a outras manobras autonômicas

(Baldwa & Ewing, 1977). Uma importante questão metodológica na realização do

teste da ASR refere-se à necessidade ou não de se padronizar ou controlar os

parâmetros respiratórios. Reconhece-se que os seguintes fatores podem

influenciar a magnitude da variação da freqüência cardíaca ao teste, alterando

sua capacidade de refletir o controle vagal sobre o coração:

a) Freqüência respiratória (Grossman et al, 1991) – a ASR diminui seu valor à

medida que a freqüência respiratória aumenta (acima de 12 ciclos por minuto);

b) Volume corrente (Eckberg, 1980) – a ASR é diretamente proporcional ao

volume corrente (mas se o volume corrente for superior a 40% da capacidade

vital, a influência do mesmo não é significativa);

c) Idade (Demeesman, 1993) – a ASR reduz progressivamente com o aumento da

idade.

Para alguns autores, quando se analisa a função densidade espectral

da FC, o controle da freqüência respiratória impõe perturbações significativas no

equilíbrio simpático-parassimpático, aumentando o componente vagal, o que

distorce a avaliação da VFC (Angelone & Couter, 1964; Mehlsen e cols, 1987;

Brown e cols, 1993; Novak e cols, 1993). Por outro lado, os demais autores

preconizam a necessidade de controle e padronização da freqüência respiratória

quando se utiliza o teste da ASR para avaliar o controle vagal cardíaco, tanto no

Page 29: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

29

domínio do tempo como no domínio da freqüência (Appel et al, 1989; Eckberg,

1983; Hirsh & Bishop, 1981).

A influência do volume corrente tem sido menosprezada. Na verdade,

em quase todos os estudos clínicos sobre ASR não houve nenhuma forma de

controle do volume corrente. Em revisão de 147 artigos relacionados à VFC no

domínio da freqüência, Brown e cols (Brown et al, 1993) encontraram que apenas

11% dos artigos mais citados na literatura incluíam o controle ou padronização

do volume corrente. Entretanto, existem evidências de que as variações no

volume corrente podem potencialmente interferir na reprodutibilidade da ASR e

na capacidade do teste de medir diferenças do controle vagal, entre diferentes

indivíduos (Kautzer, 1995).

Apesar do controle do volume corrente não ter sido diretamente medido

no presente trabalho, procuramos realizar as manobras respiratórias de forma a

garantir que o volume corrente do paciente permanecesse na faixa acima de 40%

da sua capacidade vital, mantendo a freqüência respiratória em torno de 12

ciclos por minuto (Ribeiro, 1996).

III 2-3 Teste de Inclinação (teste tilt)

O teste de inclinação passivo baseia-se na avaliação da sensibilidade ao

barorreflexo. Consiste na observação da resposta da FC e da PA quando se

assume passivamente a posição ortostática (Wieling et al, 1982).

A fisiologia do teste de inclinação baseia-se no reflexo de Bezold-Jarish,

embora alguns conceitos clássicos possam ser questionados à luz de novos

conhecimentos. Poucos segundos após assumir o ortostatismo, durante o teste

Page 30: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

30

da inclinação, ocorre um recrutamento de sangue nos membros inferiores, por

ação da gravidade, com conseqüente queda transitória da PA sistólica. Esta

hipotensão sistólica, associada à diminuição do retorno venoso, excitará

barorreceptores, o que, por sua vez, levará a uma descarga de catecolaminas,

além de importante queda no volume de sangue dentro do coração. A ação

desses hormônios, aumentando o inotropismo cardíaco, associada à diminuição

de seu volume sangüíneo, faz com que, dentro de 1 a 3 minutos de inclinação,

haja ativação de mecanorreceptores miocárdicos e aortopulmonares, que,

posteriormente, no indivíduo normal, irão gerar resposta vagal compensatória

com conseqüente recuperação da PA.

Outros estudos questionam a necessidade do coração “vazio” no

mecanismo fisiológico induzido pelo ortostatismo. Um mecanismo ativo para a

vasodilatação, dependente da liberação de óxido nítrico das células endoteliais,

foi recentemente demonstrado. A hipoperfusão cerebral pode estar envolvida no

mecanismo fisiológico do ortostatismo. Corroborando esta hipótese, trabalhos

utilizando ultra-sonografia com Doppler transcranial demonstraram

hipoperfusão cerebral no início da resposta vasovagal, assim como

anormalidades no eletroencefalograma. Outras substâncias endógenas parecem

participar dos mecanismos desencadeados pelo ortostatismo. A adenosina é uma

delas, provocando bradicardia, distúrbios na condução atrioventricular, mais

especificamente no nodo, e hipotensão por vasodilatação. A serotonina é outra

que, embora ainda pouco estudada, parece provocar estimulação vagal e

bradicardia.

A resposta simpática esperada nos 5 minutos iniciais de exposição ao

ortostatismo é a base conceitual para a utilização do teste da mesa de inclinação

com VFC para avaliação não-invasiva do SNA vagal. Essa avaliação é feita

comparando-se a relação LF/HF dos 5 minutos iniciais da inclinação com a

Page 31: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

31

relação LF/HF obtida com o paciente em repouso (Wieling et al, 1985). Neste

estudo utilizamos esta metodologia.

IV - Hipertireoidismo subclínico e o sistema nervoso autônomo

A interação entre os hormônios tireoideanos e o SNA é menos

compreendida. No início do século XX, o diagnóstico do hipertireoidismo

baseava-se na injeção de epinefrina subcutânea, quando os eutireóideos eram

diferenciados dos hipertireóideos através da resposta pressórica e taquicardia

(Goetsch, 1918 in Levey, 1990). Apesar da identificação histórica desta

interrelação e de os sintomas do hipertireoidismo serem semelhantes aos de um

estado hiperadrenérgico (Levey, 1990), melhorando inclusive com o β-bloqueio,

não há elevação das catecolaminas séricas ou urinárias (Coulombe et al, 1974;

Woeber, 1992; Polikar et al, 1993; Levey, 1990).

Entretanto, há um maior número de receptores β-adrenérgicos (Woeber,

1992) e aumento da responsividade do tecido cardíaco à estimulação simpática

(possível efeito pós-receptor mediado pela proteína G), com aumento da atividade

adrenérgica. Os hormônios tireoideanos podem modular a formação e a

degradação dos receptores β-adrenérgicos (Polikar et al, 1993). No coração de

ratos os hormônios tireoideanos aumentam o número e a afinidade dos

receptores β-adrenérgicos, ocorrendo o oposto no hipotireoidismo (Nilsson &

Karlberg, 1993). As catecolaminas e o TSH podem se ligar a diferentes receptores

na membrana da célula folicular, ativando a adenil ciclase e liberando hormônios

tireoideanos, mas o sistema nervoso simpático normalmente é responsável

apenas por adaptações rápidas (Nilsson & Karlberg 1983).

Page 32: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

32

A maioria dos estudos sobre disautonomia e hiperfunção tireoideana

abordou pacientes em hipertireoidismo franco:

Kollai e Kollai (Kollai & Kollai, 1988) encontraram uma menor resposta

barorreceptora em pacientes com hipertireoidismo franco sem tratamento

quando comparados a controles saudáveis. Eles analisaram esta resposta como

indicadora da excitabilidade vagal cardíaca, que estaria diminuída em pacientes

com hipertireoidismo franco.

Maciel e cols. (Maciel et al, 1990) foram os primeiros autores a utilizar a ASR

como medida da atividade parassimpática em pacientes hipertireóideos. Eles

estudaram três pacientes com doença de Graves antes e depois do tratamento

com propiltiouracil e encontraram um aumento da diferença entre FC máxima e

mínima em nove ciclos respiratórios após o tratamento.

Através da análise da VFC no domínio da freqüência e do tempo em posição

supina e durante o ortostatismo, Cacciatori e cols. (Cacciatori et al, 1996)

demonstraram que pacientes em hipertireoidismo franco, sem tratamento prévio,

apresentavam uma redução da atividade parassimpática com predomínio do

tônus simpático quando comparados a controles saudáveis, o que foi corrigido

após tratamento com metimazol. Estes pacientes também foram submetidos à

manobra de Valsalva e respiração profunda, sem diferença entre os

hipertireóideos e os controles.

A análise do componente de alta freqüência da VFC foi feita por Pitzalis e

cols. (Pitzalis et al, 1998), que realizaram teste tilt em pacientes com

hipertireoidismo franco e controles saudáveis, fazendo a manobra da ASR antes

de colocá-los em ortostatismo. Os hipertireóideos apresentaram maior FC e

menor variância dos intervalos R-R, porém o componente de alta freqüência da

VFC não foi diferente entre os grupos. Eles concluíram que não houve diferença

Page 33: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

33

na modulação vagal sobre o nodo sinusal relacionada à respiração entre

hipertireóideos e controles.

Burgraaf e cols. (Burgraaf et al, 2001) estudaram pacientes em

hipertireoidismo franco e controles saudáveis, através da análise da VFC em

traçado eletrocardiográfico no domínio do tempo e da freqüência, em posição

supina, em dois momentos: após uso de β-bloqueadores e após eutireoidismo

induzido pelo metimazol associado à levotiroxina sódica. Os hipertireóideos

apresentaram maior FC e menor VFC do que os controles saudáveis. Após o β-

bloqueio, houve redução da FC, porém a VFC aumentou apenas após o

eutireoidismo.

Girard e cols. (Girard et al, 1998) encontraram uma diminuição do

componente de alta freqüência da VFC em pacientes hipertireóideos sem

tratamento, em posição supina, quando comparados a controles saudáveis.

Inukai e cols. (Inukai et al, 1990) sugeriram, através do estudo de pacientes

com hipotireoidismo franco, hipotireoidismo subclínico e controles saudáveis,

que o hipotireoidismo também pode reduzir a VFC no domínio do tempo.

A disautonomia tem sido um assunto controverso no estudo do

hipertireoidismo subclínico, onde alguns autores falam em redução da

modulação vagal por um predomínio do sistema nervoso simpático e outros

falam em integridade do equilíbrio simpático-parassimpático (Ching et al, 1996;

Faber et al, 2001; Pettreta et al, 2001; Goichot et al, 2004; Osman et al, 2004).

O primeiro artigo científico sobre este assunto foi escrito por Ching e cols.,

em 1996, com 23 pacientes em hipertireoidismo franco pré e pós-tratamento e 11

em hipertireoidismo subclínico exógeno, e abordava inúmeros parâmetros

cardiovasculares nestes pacientes, sendo um deles o SNA. Eles avaliaram o fluxo

no antebraço através da pletismografia, a resposta da FC e da PA ao teste tilt a

60o de inclinação e a resposta pressórica após exercício isométrico e manobra de

Page 34: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

34

Valsalva. Não houve diferença entre pacientes com hipertireoidismo subclínico e

controles saudáveis.

Faber e cols. (Faber et al, 2001) avaliaram seis mulheres com

hipertireoidismo subclínico endógeno antes e depois do tratamento com

radioiodo, que levou ao eutireoidismo. As pacientes foram submetidas ao ECG

em repouso e após tilt a 60o, com avaliação indireta de variáveis hemodinâmicas

(débito cardíaco e resistência vascular sistêmica). Antes do tratamento, as

pacientes tinham maior débito cardíaco e menor resistência vascular sistêmica

deitadas do que em ortostatismo. Após o tratamento, houve uma redução da FC

e do débito cardíaco e um aumento da resistência vascular sistêmica em posição

supina e uma diminuição da FC em pé.

Petretta e cols. (Petretta et al, 2001) selecionaram 30 pacientes com

hipertireoidismo subclínico endógeno sem doença cardiovascular, 30 com

hipertireoidismo franco e 20 controles normais, sendo a grande maioria

mulheres. A VFC foi avaliada através do Holter de 24h, no domínio do tempo e da

freqüência. Com exceção da relação LF/HF, todos os parâmetros avaliados

estavam diminuídos nos pacientes com hipertireoidismo subclínico em relação

aos controles. Os pacientes com hipertireoidismo franco apresentaram todos os

parâmetros reduzidos em relação aos controles e o pNN50 e o rMSSD diminuídos

e a relação LF/HF aumentada em relação aos pacientes com hipertireoidismo

subclínico.

Mais recentemente, Goichot e cols. (Goichot et al, 2004) estudaram 12

pacientes com hipertireoidismo subclínico endógeno (não definiu tempo de

doença), 19 com hipertireoidismo franco e 32 controles saudáveis. Não foram

especificadas as comorbidades excluídas. Todos foram submetidos ao ECG

deitados e após ortostatismo ativo (manobra de estímulo simpático), com análise

da VFC no domínio da freqüência e do tempo (SDNN). Na posição supina, o

Page 35: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

35

SDNN foi menor tanto nos hipertireóideos francos quanto nos subclínicos em

comparação aos controles. O componente de alta freqüência foi menor no

hipertireoidismo franco em comparação aos controles, porém igual entre

hipertireoidismo franco e subclínico e hipertireoidismo subclínico e controles.

Após ortostatismo, houve redução do SDNN (mais evidente nos controles) e o

componente de alta freqüência diminuiu nos controles e no hipertireoidismo

subclínico e manteve-se baixo no hipertireoidismo franco. Neste estudo, os

autores concluem que o hipertireoidismo subclínico se mostrou um estado

intermediário entre o normal e o hipertireoidismo franco. O vago dos pacientes

com hipertireoidismo franco estava suprimido e assim permaneceu quando seria

para diminuir mais. Não foi utilizada nenhuma manobra de evocação vagal.

Talvez se houvesse um maior número de pacientes com hipertireoidismo

subclínico os autores pudessem ter encontrado maiores diferenças estatísticas.

Osman e cols. (Osman et al, 2004) avaliaram 110 pacientes que estavam em

hipertireoidismo franco e que evoluíram para hipertireoidismo subclínico após

tratamento com tionamidas ou radioiodo. Os pacientes estavam há 18 semanas

em hipertireoidismo subclínico endógeno e foram comparados a 440 controles

sadios. Todos foram submetidos ao Holter de 24h com análise da VFC no

domínio do tempo e da turbulência da FC (mede a aceleração e posterior

desaceleração da FC imediatamente após um batimento ventricular prematuro).

Não houve diferença no pNN50 e no rMSSD entre pacientes e controles, porém a

turbulência foi menor nos pacientes, o que sugere menor modulação vagal da FC.

Neste estudo não houve maior incidência de arritmias no hipertireoidismo

subclínico.

Page 36: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

36

V - Fundamentação teórica

A avaliação autonômica vagal cardiológica não-invasiva conta a cada

dia com novas tecnologias, de fácil execução e de custo progressivamente menor,

incorporando gradualmente o armamentário para estratificação de risco de

pacientes com diversas etiologias de cardiopatia. Os avanços da informática

facilitaram essas tecnologias e busca-se continuamente aprimorá-las para que

fiquem cada vez mais acessíveis às populações.

Dentre as várias técnicas propostas para avaliação autonômica vagal

cardíaca, a VFC oferece a vantagem da simplicidade de execução aliada a um

número relativamente pequeno de restrições no que se refere à seleção dos

pacientes. Foi desenvolvida inicialmente para avaliar o desequilíbrio autonômico

nos pacientes diabéticos e recém-infartados, e ultimamente nas cardiomiopatias.

A detecção da disautonomia vagal na ausência de outras alterações

cardiovasculares tem importantes implicações conceituais na patogênese, na

fisiopatologia e na terapêutica do hipertireoidismo subclínico. Para avaliar se o

dano funcional autonômico vagal cardíaco em pacientes com hipertireoidismo

subclínico sem cardiopatia aparente precede as alterações cardiovasculares seria

necessário um estudo prospectivo com pacientes com hipertireoidismo subclínico

sem comorbidades, documentando-se o dano funcional vagal, e rastreando o

futuro desenvolvimento de doença cardiovascular.

O presente trabalho foi desenhado com o intuito de verificar se há

disfunção funcional autonômica vagal em pacientes com hipertireoidismo

subclínico e sem outro comprometimento cardiovascular. Esta avaliação foi feita,

de modo indireto, através da identificação de uma resposta vagal na presença de

um estímulo adrenérgico (teste de inclinação) (Wieling & van Lieshout, 1990;

Andresen et al, 1995) ou na aplicação de um estímulo fisiológico, como a

Page 37: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

37

respiração (ASR) (Angelone & Coulter, 1964). Para reduzir a contribuição relativa

da presença de alterações cardiovasculares às alterações funcionais autonômicas

vagais e tornar os índices autonômicos mais robustos foram realizados

simultaneamente exames para detectar alterações cardiovasculares (teste

cardiopulmonar, Holter, ecocardiograma).

VI - Objetivo

O objetivo principal deste estudo é avaliar a presença de alterações do

controle funcional autonômico vagal cardíaco em pacientes com hipertireoidismo

subclínico sem cardiopatia aparente, quando comparados com indivíduos

normais da mesma idade e sexo.

O objetivo secundário é verificar se há correlação entre o perfil

hormonal tireoideano destes pacientes e os parâmetros de avaliação de

disautonomia.

VII - Casuística e métodos

VII 1- Características do estudo

Realizamos um estudo de corte transversal, comparando os resultados dos

testes aplicados (teste tilt com manobra de ASR) em um grupo de pacientes

portadores de hipertireoidismo subclínico com aqueles de um grupo de

indivíduos saudáveis (grupo controle).

Page 38: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

38

Este trabalho faz parte das investigações em curso sobre “Disfunção

tireoideana subclínica – avaliação clínica, laboratorial, cardiovascular e

psiquiátrica” no Serviço de Endocrinologia do HUCFF-UFRJ, em colaboração com

o Serviço de Cardiologia no que se refere à avaliação cardiovascular dos

pacientes.

VII 2- Seleção de Indivíduos

Os pacientes selecionados para este trabalho são acompanhados no

ambulatório do Serviço de Endocrinologia do HUCFF-UFRJ. Alguns pacientes

foram encaminhados após o diagnóstico do hipertireoidismo subclínico, em

tempos variáveis. O referido ambulatório presta atendimento especializado em

Endocrinologia, especialmente patologias da glândula tireóide, e recebe pacientes

já acompanhados em outros serviços do mesmo hospital ou referenciados pelos

postos de saúde.

O grupo controle (pacientes adultos com hormônios tireoideanos normais)

foi selecionado a partir de uma população não-hospitalar, do mesmo nível sócio-

econômico dos pacientes, tendo sido submetido aos mesmos critérios de

exclusão.

a) Critérios de inclusão de pacientes - adultos com hipertireoidismo subclínico

comprovadamente há pelo menos 6 meses (duas dosagens de TSH abaixo do

limite inferior da normalidade + T4l normal + T3 normal com no mínimo 6 meses

de intervalo) e que não apresentassem nenhum dos critérios de exclusão

adotados.

Page 39: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

39

b) Critérios de exclusão de pacientes e controles

� idade ≥ 60 anos (excluídos devido ao risco aumentado de arritmias atriais

naqueles com TSH < 0,4 mU/L)

� portadores de doenças cardiovasculares (incluindo hipertensão arterial

sistêmica e arritmias cardíacas)

� uso de drogas que pudessem interferir no aparecimento de arritmias, no

sistema de condução cardíaco ou no SNA

� portadores de doenças crônicas (por exemplo, insuficiência renal crônica,

pneumopatias, diabetes mellitus)

� portadores de doenças agudas que pudessem levar à síndrome do

eutireóideo doente

� usuários de medicamentos que pudessem interferir na dosagem

bioquímica e/ou na função tireoideana (por exemplo, corticosteróides em

dose alta, dopamina, dobutamina, amiodarona, lítio)

� portadores de doença hipofisária ou hipotalâmica

� gestantes

� alterações morfológicas ou de função cardíaca no ecocardiograma

� arritmias no Holter 24h

� isquemia miocárdica no teste ergométrico.

VII 3 - Procedimentos específicos

VII 3-1 Coleta de sangue e testes hormonais

Foi realizada coleta de sangue venoso periférico em jejum de 12h por

médicos do Serviço de Endocrinologia, submetendo as amostras à centrifugação

Page 40: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

40

para estoque do soro em geladeira a –70oC, com posterior dosagem bioquímica e

hormonal pelo Laboratório Central e de Hormônios do HUCFF.

O TSH foi dosado por ensaio imunométrico (IMMULITE Third Generation),

com valor de referência (VR) de 0,4 a 4,0 mUI/L, sensibilidade de 0,004 mUI/L,

variação interensaio 5,6%. O T4l foi dosado por quimioluminescência (IMMULITE

Free T4), com VR 0,8-1,9 ng/dL, sensibilidade de 0,3 ng/dL e variação

interensaio 5,7%. O T3 foi dosado por quimioluminescência (IMMULITE Total T3),

com VR 86-187 ng/dL e sensibilidade de 7 ng/dL.

VII 3-2 Exame clínico

Foram realizadas aferições de FC, PA, peso e altura, ausculta pulmonar e

cardíaca e palpação da tireóide, preenchendo-se um questionário padrão e uma

ficha que posteriormente foram utilizadas para o cadastro de cada paciente no

banco de dados (Anexo I). O exame clínico individual, assim como os outros

exames complementares, também objetivam o diagnóstico diferencial de outras

patologias cardíacas, que é um dos critérios de exclusão deste trabalho, conforme

descrito.

VII 3-3 Avaliação do envolvimento do sistema nervoso

autonômo

a- Protocolo para análise de variabilidade da

freqüência cardíaca através do teste tilt

Page 41: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

41

O teste foi realizado no período da manhã, após jejum de pelo menos

seis horas. Os pacientes eram encaminhados à sala climatizada (temperatura

ambiente de 22 a 25o C) e cortiçada e, em decúbito dorsal, recebiam os eletrodos

de prata/cloreto de prata descartáveis nas derivações ortogonais de Frank para

análise da VFC. O eletrodo terra era posicionado no 5o espaço intercostal, linha

hemiclavicular à direita. Os sinais foram coletados e armazenados em um

microcomputador.

O software utilizado para coletar e analisar os sinais foi o Sistema de

Captação de Biopotenciais, desenvolvido por Barbosa em 1997 (Barbosa et al,

2000; Barbosa, 2003), que foi gentilmente cedido pelo autor para o presente

estudo. Na sua tese de doutorado, Barbosa (Barbosa, 2003) avaliou a validade e

a reprodutibilidade da análise da VFC no domínio de tempo e de freqüência em

uma população de 221 pacientes com várias doenças (doença de Chagas, doença

arterial coronariana, hipertensão arterial sistêmica com e sem hipertrofia do VE,

síndrome da imunodeficiência adquirida) submetidos ao ECG de alta resolução,

coletando e analisando os dados em software desenvolvido por ele na COPPE-

UFRJ. O estudo mostrou resultados plenamente satisfatórios do ponto de vista

metodológico e técnico. O Sistema de Captação de Biopotenciais é um software

escrito em linguagem Turbo Basic que registra os sinais em formato *.dat para

análise da VFC. O ECG convencional foi analisado para que o observador tivesse

parâmetro para concordar ou não com a seleção de batimentos executada pelo

programa, conforme detalhado abaixo. O teste tilt foi escolhido por tratar-se de

um exame também de registro curto (60 minutos), que é mais fidedigno do que o

registro longo, como o Holter de 24h. O teste tilt também permite a avaliação da

reserva vagal, através de manobras como a ASR, e o comportamento do vago

diante de um estímulo simpático, como a inclinação.

Page 42: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

42

A PA era monitorada com equipamento não-invasivo (PNI-TEB), com

manguito de tamanho padrão para adulto, posicionado a 3 cm da fossa cubital

esquerda, programado para insuflar/desinsuflar a cada 2 minutos. No monitor

do equipamento, era possível observar PA sistólica, diastólica e média e FC.

Os sinais, inicialmente filtrados em um passa-banda de 0,05 a 300 Hz,

foram amostrados a 1000 Hz e novamente filtrados. Para a análise da VFC dos

sinais, escolheu-se uma freqüência de corte de 30 Hz e precisão de 14 bits. Este

batimento tinha manualmente determinados o início e fim do complexo QRS e da

onda T. A partir daí, os batimentos eram correlacionados e aqueles com

correlação inferior a 0,8 ou que sucedessem uma contração prematura eram

excluídos. Cada batimento da série era então analisado e mostrado ao

analisador, classificado como “Evento Aceito” ou “Evento Rejeitado”. Essa

característica do programa permite ao observador detectar visualmente eventuais

falhas de classificação dos batimentos e interferir no processo que, por esse

motivo, é denominado semi-automático.

Durante os 5 primeiros minutos, foi realizado o teste da ASR

(detalhado abaixo). Após 20 minutos de repouso em decúbito dorsal, o paciente

era submetido à inclinação passiva, em um ângulo de 70º, e permanecia nesta

posição por 40 minutos ou até que manifestasse sintomas (Figura 1). Caso

ocorressem sintomas, a mesa era colocada em posição de Trendelenburg até que

houvesse remissão dos mesmos. Na ausência de sintomas ou após a sua

cessação, os pacientes eram novamente colocados em posição supina.

Neste estudo, apenas dois parâmetros do domínio da freqüência (análise

espectral) foram analisados nos dois períodos estabelecidos (entre o 5° ao 20°

minuto de repouso e nos 5 primeiros minutos da inclinação): a relação LF/HF,

que é a razão entre os componentes de baixa freqüência e alta freqüência, e o

componente de alta freqüência (%HF). Nos 5 primeiros minutos de inclinação, a

Page 43: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

43

relação LF/HF foi observada nos seguintes tempos: 15, 45 e 60 segundos e 2, 3 e

5 minutos. O valor considerado para comparação foi o maior obtido.

b- Protocolo para análise de variabilidade da

freqüência cardíaca através do teste da

Arritmia Sinusal Respiratória (ASR)

O teste da ASR era realizado entre o 2o e o 4o minutos de decúbito

dorsal e consistiu em manter o paciente por pelo menos dois minutos de

respiração profunda controlada a doze incursões por minuto. Cada paciente foi

instigado a realizar movimentos respiratórios máximos, com comando verbal e

gestual do investigador para iniciar a inspiração e a expiração, lenta e

pausadamente o suficiente para que cada ciclo respiratório durasse 5 segundos.

Durante a inspiração, o investigador orientava o paciente a “encher lentamente

os pulmões”, contando de um a cinco, movimentando a mão aberta para cima, e

na expiração o paciente era solicitado a “soltar lentamente todo o ar dos

pulmões” enquanto o investigador contava de um a cinco e realizava um

movimento lento de cima para baixo com a mão aberta.

Após a edição manual das gravações, eliminando-se os ruídos

aleatórios, a VFC foi determinada por domínio de freqüência nos tempos entre o

2° e o 4° minuto e entre o 5° e o 20° minuto para comparação.

VIII - Considerações éticas

Foram observadas as Normas Éticas Internacionais para Pesquisas

Biomédicas Envolvendo Seres Humanos do CIOMS (Conselho para Organizações

Page 44: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

44

Internacionais de Ciências Médicas), OMS, Genebra – 1993. Os pacientes foram

esclarecidos verbalmente quanto aos procedimentos a serem adotados e

assinaram o termo de consentimento livre esclarecido, recebendo uma cópia. O

estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do HUCFF (no 012101,

de 05/04/01). (Anexo II)

IX - Análise estatística

A análise estatística foi realizada com o software Stata (versão 8.0, 2003).

A análise dos dados foi iniciada apenas após o exame da última paciente

recrutada, sem análises parciais ao longo do estudo. Os dados foram expressos

como média ± desvio-padrão. As diferenças entre as médias foram determinadas

pelo teste t ou pelo teste de Mann-Whitney, conforme apropriado.

Calculamos os coeficientes de correlação de Pearson para avaliar a

correlação entre %HF (em repouso, durante a manobra de ASR e após

ortostatismo) e as seguintes variáveis explicativas: TSH, T4l e tempo de

diagnóstico do hipertireoidismo subclínico. Também calculamos o coeficiente de

correlação de Pearson para avaliar a correlação entre as variáveis explicativas

anteriormente citadas e a variação do %HF (diferença entre %HF durante a ASR e

no repouso). Avaliamos a correlação entre a relação LF/HF (após ortostatismo e

em repouso) e as variáveis explicativas.

As transformações logarítmicas foram aplicadas quando necessário.

Um p-valor menor do que 0,05 foi considerado como significativo para

todas as análises.

Page 45: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

45

X - Resultados

X 1- Características gerais da amostra

Foram analisados os dados de 16 pacientes com hipertireoidismo

subclínico, todas do sexo feminino, sendo 4 portadoras de carcinoma

diferenciado de tireóide (após tratamento cirúrgico) usando levotiroxina sódica, 3

com bócio multinodular, 2 com adenoma hiperfuncionante e 7 com bócio difuso.

Quatro pacientes com bócio difuso nunca chegaram a ter hipertireoidismo franco

documentado e três chegaram a ter hipertireoidismo franco e foram tratadas com

radioiodo, estando todas em hipertireoidismo subclínico há pelo menos 6 meses.

A média de tempo desde o diagnóstico do hipertireoidismo subclínico foi de

5,8±4,8 anos (0,5-17 anos). A média de idade foi de 39,5±8,5 anos e a média de

IMC foi de 26,7±3,2 kg/m2. Havia apenas uma tabagista (carga tabágica 30

maços.ano). Todas eram sedentárias. A média de TSH foi 0,08±0,09 mUI/L, a de

T4l, 1,37±0,34 e a de T3 total, 148,9±25,3 ng/dL. (Tabela 1)

Foram estudadas 16 mulheres saudáveis (grupo controle), com média de

idade 37,2±8,7 anos e de IMC 25,4±5,1 (Tabela 2). Também eram sedentárias e

havia duas tabagistas (carga tabágica de 20 e 27,5 maços.ano). A média de TSH

foi 1,76±1,00 mUI/L e a média de T4l foi 1,24±0,19. Não houve diferença entre os

grupos em relação à idade (p=0,46), ao IMC (p=0,40) ou ao T4l (p=0,23). A média

do TSH das pacientes foi menor do que a das controles (p<0,001).

X 2 - Resultados no domínio da freqüência no grupo de pacientes

com hipertireoidismo subclínico e no grupo controle (Tabelas 3 e 4)

X 2.1 - Relação entre baixa e alta freqüência (LF/HF)

Page 46: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

46

Em repouso, a relação LF/HF foi menor no grupo de pacientes do que no

grupo controle (1,6±1,4 vs 2,8±2,1, p=0,03). Durante a manobra de ASR, a

relação LF/HF foi maior nas pacientes (8,0±9,2 vs 0,3±0,4, p<0,001). Após a

inclinação, a relação LF/HF foi menor nas pacientes (3,5±3,3 vs 9,8±8,1,

p=0,003).

A diferença entre a relação LF/HF na inclinação e no repouso

(representativo da modulação do parassimpático sob estímulo simpático durante

o ortostatismo) foi menor nas pacientes (1,8±2,8 vs 7,0±7,0, p=0,02). (Figura 2)

X 2.2 - Componente de alta freqüência (%HF)

Em repouso, o componente de alta freqüência (%HF) foi semelhante entre

os grupos (32,8±27,7% nas pacientes vs 19,6±12,5% nas controles, p=0,21).

Durante a manobra de ASR, a média das pacientes foi menor do que a das

controles (23,4±25,9% vs 55,1±17,5%, p<0,001). Após a inclinação, as pacientes

apresentaram um maior %HF do que as controles (23,0±22,0% vs 7,9±8,5%,

p=0,02).

A diferença entre o %HF durante a manobra de ASR e o repouso

(representativo da reserva vagal) foi menor nas pacientes do que nas controles (-

9,4±35,8 vs 35,5±19,1, p<0,001). (Figura 3)

Duas pacientes apresentaram síncope neuro-mediada após a inclinação.

X 2.3-Correlações entre variáveis hormonais e clínicas dos

pacientes e as variáveis do domínio da freqüência

Page 47: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

47

Correlacionamos a idade, o TSH, o T4l e a duração do hipertireoidismo

subclínico com a relação LF/HF (em repouso, durante a manobra de ASR e após

o ortostatismo) e com a diferença entre a relação LF/HF na inclinação e no

repouso e entre o %HF durante a manobra de ASR e o repouso. Cada variável foi

analisada separadamente com cada relação e cada diferença e não encontramos

nenhuma correlação estatisticamente significativa.

XI – Discussão

Este estudo evidencia que um grupo de pacientes jovens e de meia-

idade, do sexo feminino, com hipertireoidismo subclínico e sem cardiopatia

aparente, apresenta um forte marcador de comprometimento funcional do SNA

parassimpático, refletido pela não-evocação do vago através de um estímulo

fisiológico (manobra de ASR) e pela resposta vagal inadequada na presença de

um estímulo adrenérgico (teste de inclinação).

Quando os testes foram analisados qualitativamente, foram

confirmados estes achados, já que todo o grupo controle apresentou um teste

normal, em que o vago foi evocado durante a ASR e reduziu sua ação após

estímulo simpático, enquanto apenas três pacientes apresentaram esta resposta

(#13, #15 e #16). A maioria das pacientes teve inclusive uma redução do

componente vagal (paradoxal) durante a manobra de ASR, o que denota um

descontrole autonômico cardiovascular. Após a inclinação, a maioria das

pacientes demonstrou uma menor influência vagal, porém de forma menos

exacerbada do que as controles, o que também mostra uma incapacidade de

modulação do vago sobre o SNA.

Page 48: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

48

Esta disfunção autonômica vagal cardíaca não foi influenciada pela

duração do hipertireoidismo subclínico, sugerindo a possibilidade de que sejam

variáveis independentes. Esta hipótese poderia ser confirmada em estudos com

maior número de pacientes, já que a nossa amostra não nos permitiria excluir a

hipótese nula e tivemos uma grande variação no tempo de doença.

A idade pode influenciar o controle cardíaco vagal (Antelmi et al, 2004),

porém não houve correlação entre idade e reserva vagal ou entre idade e

modulação vagal pelo estímulo simpático.

O valor do TSH não influenciou a resposta ao teste tilt. Havia 6/16

pacientes nesta casuística com TSH > 0,1 mUI/L, e, das 3 pacientes que

conseguiram evocar o vago, duas estavam neste grupo. As outras quatro

pacientes com TSH > 0,1 mUI/L, porém, não conseguiram resposta vagal na

manobra de ASR. A duração do hipertireoidismo subclínico nas pacientes que

evocaram o vago foi variável (4 anos em duas e 11 anos na terceira). Não

separamos as pacientes em um grupo com TSH < 0,1 mUI/L e outro com TSH >

0,1 mUI/L porque não haveria número suficiente de pacientes em cada grupo

para validar a análise estatística.

O valor do T4l também não parece ter influenciado os resultados. A

média do T4l foi semelhante entre pacientes e controles, o que reforça esta falta

de correlação. Os principais trabalhos sobre alterações cardiovasculares no

hipertireoidismo subclínico mostram uma média de T4l maior entre os pacientes.

Esta diferença talvez possa ser explicada pela maior proporção de pacientes com

hipertireoidismo endógeno no nosso grupo, ao contrário dos outros, onde o

exógeno predomina. Nas nossas pacientes com hipertireoidismo subclínico

exógeno, 3/4 apresentavam T4l no terço superior da normalidade, enquanto

apenas 1/12 paciente com hipertireoidismo endógeno tinha T4l normal-alto.

Page 49: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

49

Sabe-se que a disautonomia vagal leva à maior gravidade e a um pior

prognóstico em pacientes portadores de doença cardiovascular e que o uso de β-

bloqueadores pode aumentar a modulação vagal em pacientes com desequilíbrio

do SNA. Embora o prognóstico dos pacientes com hipertireoidismo subclínico

sem cardiopatia aparente seja considerado excelente, a curto e médio prazo,

parte destes pacientes evolui para o hipertireoidismo clínico, e alguns destes

podem evoluir com alterações cardiovasculares significativas e aumento da

mortalidade por doença cardiovascular.

O significado clínico da presença da disfunção autonômica vagal

cardíaca, no teste tilt, em pacientes jovens e de meia-idade com hipertireoidismo

subclínico sem cardiopatia aparente é desconhecido. Idosos com hipertireoidismo

subclínico têm uma taxa de mortalidade cardiovascular aumentada (Parle et al,

2001). Arritmias cardíacas, particularmente a fibrilação atrial, podem contribuir

de maneira expressiva para esse aumento de mortalidade cardiovascular e/ou

cerebrovascular (Auer et al, 2001). O SNA influencia o início, o término e a

perpetuação da fibrilação atrial. Tanto o SNA simpático quanto o parassimpático

diminuem a duração do potencial de ação atrial e do período refratário efetivo

(Olshansky, 2005). Assim, existe a possibilidade da associação entre arritmias

cardíacas e disautonomia, como visto em outras cardiopatias de outras etiologias

(Cunha, 2000; Pedrosa, 1998). Estudos prospectivos são necessários para

esclarecer melhor essa associação. Porém, se estabelecida uma contribuição

autonômica nos mecanismos arritmogênicos no hipertireoidismo subclínico,

medidas terapêuticas e até profiláticas poderiam ser iniciadas no sentido de

neutralizar a progressão da disautonomia, como visto em outras cardiopatias de

outras etiologias (Pedrosa, 1998).

Apesar da inferência de que a restauração ao eutireoidismo (terapia

hormonal, radioiodoterapia ou tireoidectomia) e ao retorno ao equilíbrio

Page 50: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

50

autonômico cardíaco (uso de β-bloqueadores) no paciente com hipertireoidismo

subclínico possa prevenir o desenvolvimento de arritmias cardíacas e/ou

diminuir a mortalidade cardiovascular, estudos prospectivos deverão ser

realizados com o intuito de informar se a presença de disfunção autonômica

cardíaca vagal identifica subgrupo de pacientes com maior risco de evolução para

formas mais graves ou fatais.

Uma questão a ser analisada no presente estudo foi a indução, no teste

tilt, de síncope neuromediada, traduzindo uma exacerbação vagal, em duas

pacientes com hipertireoidismo subclínico. Uma delas conseguiu evocar o vago

durante a ASR, e a outra não. É também verdade que a indução de síncope

neuromediada pelo teste tilt tem uma taxa de falso positivo de 10% (Grubb 1997).

Além disso, três pacientes (incluindo uma das que apresentou a síncope

neuromediada) conseguiram evocar o vago. Esta questão, entretanto, não anula a

validade deste método como modelo para detecção de alteração na regulação

autonômica vagal cardíaca, pois a evocação do vago em um paciente com

hipertireoidismo subclínico sem cardiopatia aparente pode ser justificada pela

complexa relação das duas divisões do SNA, de modo que a resposta cardíaca de

uma das divisões à atividade neural depende do nível de atividade da outra (Levy,

1984). A ação independente de neuropeptídeos atuando na junção neuroefetora,

modulando a ação da acetilcolina, seria outra explicação (Levy & Warner, 1990).

Uma terceira explicação seria a existência de um efeito inibitório residual da

manobra da ASR nos minutos iniciais do teste, às vezes irreversível mesmo

quando se espera 15 minutos para inclinar o leito (Levy, 1995).

A validade dos resultados obtidos é também referendada pelo fato de

que outros estudos com pacientes com hipertireoidismo subclínico sem

cardiopatia aparente detectaram alterações do equilíbrio simpático-

parassimpático, mesmo considerando aqueles com metodologia diferente e que

Page 51: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

51

analisaram os pacientes apenas em repouso na grande maioria das vezes.

Previamente, o SNA foi estudado através de testes pouco sensíveis e reprodutíveis

(Ching et al, 1996), sem mostrar alterações, e através de parâmetros de controle

hemodinâmico (Faber et al, 2001), demonstrando algumas diferenças em relação

a pessoas normais. Quando se utilizou a análise da VFC no Holter de 24h

(Petretta et al, 2001; Osman et al, 2004), que é um traçado mais sujeito a

interferências por ser uma medida de registro longo, foram detectadas alterações

no domínio do tempo e na turbulência da FC. O único estudo que realizou a

análise da VFC no traçado eletrocardiográfico, depois sensibilizado por uma

manobra de estímulo simpático (ortostatismo ativo, que tende a gerar mais

interferências no traçado do que o ortostatismo passivo), mostrou um

componente vagal no domínio do tempo diminuído em repouso e um componente

vagal no domínio da freqüência que mantinha a capacidade de diminuir com o

ortostatismo, ao contrário do que acontecia no hipertireoidismo franco, em que

ele provavelmente já estava no seu valor mínimo (Goichot et al, 2004). Nosso

estudo foi o primeiro que analisou a reserva vagal e, simultaneamente, a

modulação do vago por um estímulo simpático (ortostatismo passivo), com o

intuito de avaliar as variáveis funcionalmente.

Por força metodológica, não foi possível correlacionar simultaneamente

os parâmetros de VFC e os níveis dos hormônios tireoideanos de cada paciente.

Isto implicaria numa monitorização contínua dos hormônios tireoideanos, o que

praticamente tornaria inviável o estudo. Optou-se, então, pela realização dos

exames num intervalo curto (questão de dias), de forma a não tirar a robustez

dos dados.

Não podemos afastar a influência do hipertireoidismo clínico prévio em

algumas pacientes, tanto por um passado de doença de Graves em fase clínica

quanto por períodos de excesso de supressão do TSH pela levotiroxina em

Page 52: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

52

pacientes que fizeram uso irregular de medicação. Tentamos minimizar este

efeito através de um período mínimo de 6 meses com o perfil laboratorial de

hipertireoidismo subclínico antes da inclusão no estudo.

Todas as provas autonômicas realizadas representam medidas indiretas

do controle cardíaco. A ausência de medidas diretas, principalmente no que se

refere ao controle vagal, poderia permitir questionamento sobre a presença de

disfunção vagal entre os pacientes com hipertireoidismo subclínico sem

cardiopatia aparente.

As possíveis implicações prognósticas dos nossos resultados poderão ser

motivo de trabalhos posteriores. Estudos prospectivos e de longo prazo poderão

esclarecer se pacientes com menos de 60 anos de idade com hipertireoidismo

subclínico apresentam aumento de mortalidade por arritmias e se o tratamento

desta condição muda a história natural da doença.

XII - Conclusões

Pacientes jovens e de meia-idade, do sexo feminino, com hipertireoidismo

subclínico, sem cardiopatia aparente, apresentam uma alteração funcional do

equilíbrio simpático-parassimpático cardiovascular, representado neste estudo

pela ausência da reserva vagal e pela modulação alterada do vago sob estímulo

simpático.

Dentre os parâmetros hormonais tireoideanos estudados, nenhum

mostrou correlação com esta disfunção autonômica.

Page 53: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

53

Referências Bibliográficas

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Page 66: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

66

Tabela 1 – Perfil clínico e laboratorial das pacientes com hipertireoidismo

subclínico

NO INICIAIS IDADE (anos)

IMC (kg/m2)

ETIOLOGIA DO HIPERTIREOIDISMO

SUBCLÍNICO

DURAÇÃO DA DOENÇA

(anos)

TSH (mU/L)

T4l (ng/dL)

T3 (ng/dL)

01 M.F.R.L. 47 30,45 Carcinoma

papilífero

17 0,019 1,90 149

02 M.S. 56 26,48 Adenoma

hiperfuncionante

6 0,302 0,87 133

03 J.A.S. 45 25,90 Adenoma

hiperfuncionante

4 0,008 1,42 167

04 M.S.M. 47 27,07 Bócio difuso 13 0,019 1,90 168

05 H.H. 45 36,14 Bócio multinodular 11 0,004 1,00 168

06 F.R.F. 28 23,94 Carcinoma

papilífero

8 0,044 1,75 150

07 V.S. 38 21,58 Bócio difuso 2 0,009 1,37 178

08 A.C.M. 28 26,56 Carcinoma

papilífero

1,8 0,009 1,86 109

09 I.C. 47 24,15 Bócio multinodular 1 0,134 0,97 111

10 A.F.F.M. 40 27,91 Bócio difuso 3,6 0,205 1,42 167

11 G.T.B. 44 26,5 Bócio difuso 1 0,012 1,39 123

12 C.S.F. 31 25,46 Bócio difuso 1,5 0,126 1,38 182

13* E.O.S. 37 27,00 Bócio difuso 4 0,145 1,37 153

14 M.S.T. 40 25,00 Bócio multinodular 4 0,025 1,06 132

15* R.L.M. 38 25,00 Carcinoma

papilífero

11 0,057 1,28 178

16* E.M.K.P. 41 24,57 Bócio difuso 4 0,185 0,98 115

* Pacientes que evocaram o vago durante a manobra de ASR. IMC – índice de massa corporal / TSH - hormônio tireoestimulante / T4l – tiroxina livre / T3 - triiodotironina

Page 67: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

67

Tabela 2 – Perfil clínico e laboratorial do grupo controle

No INICIAIS IDADE (anos)

IMC (kg/m2)

TSH (mUI/L)

T4l (ng/dL)

01 A.M.R. 53 21,18 1,200 1,67

02 D.S.O. 34 21,28 2,420 1,06

03 I.V. 32 37,53 0,914 1,20

04 J.N. 40 24,54 1,410 1,17

05 M.S.F. 31 23,80 1,030 0,96

06 R.S. 35 26,31 1,640 1,24

07 S.V.T. 52 29,32 1,430 1,09

08 S.S.C. 30 23,69 2,600 1,13

09 S.O.P. 49 26,70 3,680 1,26

10 V.S.P. 29 17,96 2,000 1,23

11 I.A. 49 25,11 0,401 1,46

12 I.F.S. 37 29,32 3,490 1,20

13 L.R. 29 28,89 1,320 1,39

14 C.A.A. 27 18,30 3,010 1,13

15 A.M.S. 35 31,75 0,576 1,18

16 C.R.L. 34 21,30 1,150 1,60

IMC – índice de massa corporal / TSH – hormônio tireoestimulante / T4l – tiroxina livre

Page 68: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

68

Tabela 3 – Resultados da análise da variabilidade da freqüência cardíaca no

domínio da freqüência através do teste tilt nas pacientes com hipertireoidismo

subclínico

No HF (ms2) ASR

%HF (%) ASR

Rel LF/HF ASR

HF (ms2) REP

%HF (%) REP

Rel LF/HF REP

HF (ms2) INCL

%HF (%) INCL

Rel LF/HF INCL

%HF ASR – %HF REP

Rel LF/HF INCL – Rel LF/HF REP

01 79,9 24,3 0,5 572,5 70,4 0,1 126,1 62,2 0,2 -46,1 0,1

02 131,2 45,6 0,3 641,1 72,6 0,1 252,9 60,0 0,1 -27,0 0

03 282,1 7,4 10,7 821,9 15,3 3,0 23,4 16,5 1,3 -7,9 -1,7

04 75,7 7,6 10,9 23,3 14,6 1,4 169,8 12,9 3,2 -7,0 1,8

05 171,8 5,9 11,9 661,1 72,6 0,1 130,8 49,5 0,3 -66,7 0,2

06 107,0 46,1 0,3 572,5 70,4 0,1 56,7 57,2 0,4 -24,3 0,3

07 15,9 4,5 10,1 133,9 17,2 1,9 15,5 31,3 1,2 -12,7 -0,7

08 240,6 6,7 11,6 584,8 71,1 0,1 29,3 27,8 1,4 -64,4 1,3

09 268,0 7,4 10,7 1051,9 13,5 1,3 194,1 5,4 8,8 -6,1 7,5

10 2,9 2,3 32,3 24,4 6,2 3,7 4,9 5,9 5,3 -3,9 1,6

11 47,2 4,2 22,7 533,8 8,9 3,5 20,9 5,8 9,2 -4,7 5,7

12 30,9 1,8 4,5 764,7 8,1 3,0 9,4 1,1 1,8 -6,3 -1,2

13* 82,7 65,3 0,1 62,2 20,7 1,4 22,9 8,0 8,9 44,6 7,5

14 80,9 20,9 0,4 239,2 36,4 0,9 61,1 13,5 4,3 -15,5 3,4

15* 94,7 36,1 1,4 95,8 11,6 3,9 308,6 5,9 6,0 24,5 2,1

16* 2594,0 88,0 0 235,4 14,7 1,3 61,4 16,0 3,0 73,3 1,7

* Pacientes que evocaram o vago durante a manobra de ASR. HF - alta freqüência / ms2 – milissegundos ao quadrado / %HF – percentual da alta freqüência / Rel LF/HF – relação entre baixa freqüência e alta freqüência / ASR – arritmia sinusal respiratória / REP – repouso / HF (%) ASR – HF (%) REP – diferença entre a HF durante a ASR e durante o repouso, representando a reserva vagal / INCL – inclinado / Rel LF/HF INCL – Rel LF/HF REP – diferença entre a Rel LF/HF durante a inclinação e a Rel LF/HF durante o repouso, representando a modulação simpática sobre o vago.

Page 69: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

69

Tabela 4 – Resultados da análise da variabilidade da freqüência cardíaca no

domínio da freqüência através do teste tilt no grupo controle

No HF (ms2) ASR

%HF (%) ASR

Rel LF/HF ASR

HF (ms2) REP

%HF (%) REP

Rel LF/HF REP

HF (ms2) INCL

%HF (%) INCL

Rel LF/HF INCL

%HF ASR – %HF REP

Rel LF/HF INCL – Rel LF/HF REP

01 468,9 50,2 0,2 38,0 11,0 2,4 4,9 1,5 7,7 39,2 5,3

02 393,7 74,6 0,1 244,7 24,4 1,5 146,4 14,8 3,5 50,2 2,0

03 935,3 87,6 0,1 212,0 9,9 3,3 38,8 3,7 9,9 77,7 6,6

04 385,3 18,1 1,9 312,5 11,2 3,5 10,6 1,74 12,1 6,9 8,6

05 690,8 73,0 0,2 302,3 20,4 1,0 115,7 8,9 2,1 52,6 1,1

06 506,0 70,9 0,1 170,7 24,7 1,2 17,2 3,3 7,1 46,2 5,9

07 193,9 38,5 0,2 126,0 20,9 1,4 44,3 7,7 5,2 17,6 3,8

08 429,2 49,6 0,3 30,0 26,5 1,4 4,9 1,5 7,7 23,1 6,3

09 504,2 60,9 0,2 168,4 24,3 2,3 31,6 5,1 12,3 36,6 10,0

10 693,7 69,5 0,2 147,7 15,1 3,1 5,2 2,4 27,7 54,4 24,6

11 197,8 39,9 0,2 56,2 5,8 8,4 37,1 3,6 12,5 34,1 4,1

12 1199,8 61,1 0,2 1503,6 47,8 0,9 85,4 16,6 2,0 13,3 1,1

13 1510,5 50,9 0,2 1745,8 43,9 0,6 345,7 34,0 1,1 7,0 0,5

14 70,0 51,3 0,3 160,5 14,7 2,6 66,0 8,6 7,4 36,6 4,8

15 310,2 39,2 0,5 86,2 9,7 4,7 90,0 4,7 10,0 29,5 5,3

16 288,3 46,1 0,2 46,2 3,3 6,2 84,3 2,7 28,7 42,8 22,5

HF - alta freqüência / ms2 – milissegundos ao quadrado / %HF – percentual da alta freqüência / Rel LF/HF – relação entre baixa freqüência e alta freqüência / ASR – arritmia sinusal respiratória / REP – repouso / HF (%) ASR – HF (%) REP – diferença entre a HF durante a ASR e durante o repouso, representando a reserva vagal / INCL – inclinado / Rel LF/HF INCL – Rel LF/HF REP – diferença entre a Rel LF/HF durante a inclinação e a Rel LF/HF durante o repouso, representando a modulação simpática sobre o vago.

Page 70: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

70

Figura 1 – Ilustração de um teste tilt, com a indicação dos tempos em que foram

realizadas a manobra de arritmia sinusal respiratória (ASR), em posição supina,

e a inclinação da maca

ASR Repouso Inclinação 0’ 5’ 20’ 60’ (Ilustração adaptada do site www.sads.org.uk - Sudden Arrhythmic Death Syndrome)

Page 71: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

71

Figura 2 – Box plot da diferença entre a relação LF/HF durante o ortostatismo e

em repouso (dif LF/HF) em pacientes com hipertireoidismo subclínico e controles

saudáveis (modulação do sistema nervoso autônomo cardiovascular sob um

estímulo simpático)

0

5

10

15

20

25

Dif LF/HF

Controles Pacientes

Page 72: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

72

Figura 3 - Box plot da diferença entre o componente de %HF durante a manobra

de arritmia sinusal respiratória e o repouso (dif %HF) em pacientes com

hipertireoidismo subclínico e controles saudáveis (reserva vagal)

dif

-100

-50

0

50

100

Dif %HF

Controles Pacientes

Page 73: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

73

Anexo I – Ficha de Avaliação Clínica

Questionário Clínico – Hipertireoidismo Subclínico

Prontuário:................................ Data:....................

Nome:.................................................................... Sexo:... Cor:.........................

DN: ...../...../..... (...... anos) Naturalidade:..........................................................

Profissão:..............................

End:.....................................................................................................................

Tel:..................................../..................................

1. O (a) sr(a) tem ou já teve alguma doença de tireóide? Qual?

..................................................................................................................

2. Se tireoidectomia, qual tipo e quando foi? ...........................................

..................................................................................................................

3. Tem alguma outra doença como hipertensão arterial, cardiopatias,

pneumopatias, diabetes, dislipidemia , lupus ,vitiligo, AR, outras doenças

hormonais, doenças psiquiátricas? ...........................................................

..................................................................................................................

4. Está em uso de alguma medicação? Qual (is)? Qual a dose? Há quanto

tempo? ......................................................................................................

..................................................................................................................

5. No caso de mulheres, já entrou na menopausa? ( ) sim ( ) não

( ) cirúrgica ( ) espontânea Quando? .............................................................

Faz reposição hormonal? Qual? .....................................................................

6. Ciclos menstruais regulares? ( ) sim ( ) não ..............................................

7. Gestas? ..... para ..... Abortamentos ......................................................

Page 74: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

74

8. Tabagismo? ( ) sim ( ) não. Carga tabágica ....... maços.ano

9. Etilismo? .................................................................................................

10. Tem história familiar de doença da tireóide ou outras doenças citadas?

Qual? ........................................................................................................

11. Pratica alguma atividade física? Qual? Com que intensidade e freqüência?

..................................................................................................................

..................................................................................................................

Exame Físico

Altura:..........m Peso:.........kg IMC:......kg/m2 Pele:.....................................

Tireóide:........................................................................................................

Olhos:................................................................... Reflexo Aquileu :................

PA:..../..... mmHg PA2:....../...... mmHg FC:......bpm

Laboratório 1: Data (.../.../...) TSH ......mUI/L T4l ....ng/dL T3 ......ng/dL

Laboratório 2: (Data:.../.../...) TSH.........mUI/L T4l:...... ng/dL T3: ..... ng/dL

GJ:......mg/dL Cr: .....mg/dL βhCG: ........

Escala de Sintomas do hipertireoidismo

Nervosismo :

0. ausente

1. ocasionalmente ansioso

2. freqüentemente ansioso

Sudorese:

0. somente com atividade

Page 75: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

75

1. em repouso

2. sudorese profusa constantemente

Tolerância ao calor:

0. tolerância normal à temperatura

1. dificuldade significante de tolerar calor, necessitando de ar condicionado

constantemente no verão

2. grande dificuldade de tolerar calor mesmo em clima frio

Hiperatividade:

0. nível de atividade normal

1. aumento da atividade, aumentando produtividade

2. aumento de produtividade, diminuindo tempo de sono

3. episódios freqüentes de atividade sem objetivo; incapaz de permanecer

sentado durante o exame

Tremor:

0. ausente

1. pouco perceptível

2. tremor marcante

Fraqueza muscular:

0. força normal

1. fraqueza subjetiva mas com tolerância normal ao exercício

2. diminuição da tolerância para subir escadas ou levantar de uma cadeira

3. fraqueza extrema - paciente mal consegue levantar objetos ou subir

escadas

Page 76: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

76

Precórdio hiperdinâmico:

0. precórdio normal, normocárdico

1. taquicardia com ritmo cardíaco regular

2. taquicardia com ritmo cardíaco irregular

Diarréia:

0. 1 evacuação por dia

1. 1 a 4 fezes amolecidas (mudança de ritmo intestinal)

2. >4 evacuações por dia

Apetite:

0. normal, sem perda de peso

1. normal, com perda de peso

2. aumentado, com perda de peso

3. diminuído, com perda de peso

Funções Diárias (graduação de incapacitação):

0. normal

1. dificuldade leve (30%)

2. dificuldade moderada (60%)

3. dificuldade severa (90%)

máximo: 24

Page 77: disfunção na regulação autonômica vagal cardíaca em pacientes

77

Anexo II – Aprovação pela Comissão de Ética e Pesquisa do HUCFF