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Dispositivosmoveis Luisaparaguai Intercom

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Dispositivosmoveis Luisaparaguai Intercom

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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 1 Dispositivos mveis: espaos hbridos de comunicao1 Luisa Paraguai Donati2 Universidade de Sorocaba, UNISO. Resumo Estetrabalhocontextualizaastecnologiasmveisprocurandorefletirsobresuas interfernciasnacompreensoepercepodocorpoedoespao,namedidaemque, cadavezmaisinseridasnocotidiano,vmrequisitandooutroscdigosde comportamento e evocando novos padres de comunicao. Inicialmente apresenta-se o conceitodeespacialidadehbridacomoumarefernciaparacaracterizaratecnologia emquesto,eemseguidaprocura-seconfiguraraformadeoperardacomunicao mvel. Para concluir, alguns projetos so apresentados como reflexes sobre o modo de incorporao desta tecnologia pela sociedade. Palavras-chave Mediao tecnolgica; comunicao; mobilidade; espacialidade hbrida. Introduo OcontextodastecnologiasmveisapresentaaschamadasTICs(tecnologiasda informao e comunicao) combinadas com objetos tradicionais, ou no, que passam a configurar novos dispositivos de mediao. Estestm assumido as mais diversas formas e complexidades (como celulares,pagers, PDAs, brinquedos, relgios, carros) e geram umaentidadeconceitualque,pordefinio,hbridaemsuanatureza.Estehibridismo temdeterminadoacriaodenovosprodutosculturaisque,porhabilitarem simultaneamenteosdomniosespaciaisdigitalefsicoaosusurios,vem potencializandoareconfiguraoderelaesespaciaisetemporais,transformando noesdepresenafsicaepossibilidadesdeatuao.Tecnicamentepoderamos descreverestecontextocomoambientessaturadosdecapacidadecomputacionale comunicacionalque,namaioriadasvezes,estointegradossatividadescotidianasdas pessoas. Para SATYANARAYANAN (2001, p.10) dois campos disciplinares anteriores estariam mais diretamente relacionados a estes dispositivos: os sistemas distribudos e a computaomvel.Ossistemasdistribudosemergemdaintersecodecomputadores 1TrabalhoapresentadonoVIIEncontrodosNcleosdePesquisaemComunicaoNPTecnologiasda Comunicao e Informao.2MestreeDoutoraemMultimeios,InstitutodeArtes,Unicamp.DocentenoProgramadePs-Graduaoem Comunicao e Cultura, Universidade de Sorocaba - UNISO, SP. Pesquisadora visitante convidada no CAiiA-STAR, Universidade de Plymouth, Inglaterra. [email protected] Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 2pessoais e redes locais (LAN), independentes de serem mveis ou estticos, wireless ou no,esparsosoupervasivos.Eacomputaomvelquesurgiucomacomercializao de laptopswireless,noinciodosanos90,paraatendersnecessidadesdeclientesou usuriosmveis.ParaGREENFIELD(2006,p.2)estessistemaspossuem basicamente umainfra-estruturadecomunicaowirelesseprocessadores,ondeastrocasentreo usurio e osistema computacional acontecemmuitas vezes sem a necessidade declicar em um arquivo ou acionar um boto; isto significa dizer que as interaes acontecemno contextodequalqueraodousurio,comoentrandoemumasala,sentandoemuma cadeira, aproximando-se de um objeto, o que o autor vem chamar de processamento de informao dissolvido em comportamento. A possibilidade de conexo cons tante, caracterstica dos dispositivos mveis, permite a estabilidadedacomunicaoduranteeindependentedequalquerdeslocamentofsico dosusurios.Estespermanecemdealgumaformapresentes/atuantesnoseuespao fsico em torno, enquanto as informaes so acessadas e/ou transmitidas. A diluio de limitesentreespaosfsicoseapossibilidadedecomporcomosinformacionaisvem sugeriroutrasdimensesparaainteraosocialeparaoespaourbano;estarelao entrepercepoeao(modosderelacionamento)apresenta-seenquantouma experinciafenomenolgica,poisoindivduoeoambienteestoimplicitamente considerados.Pode-sepensarqueesteespaohbridodeatuaoapresenta-seento como umlocal de comunicao e como afirma De Souza e Silva Arealidadehbridanoseopeaofsiconemaovirtual,masantesincluio virtual dentro do escopo do real. (...) Tecnologias nmades, pequenas interfaces e sensores wireless esto incorporando a realidade virtual nos espaos pblicos, no apenas por cauda da conexo com a Internet enquanto os usurios esto em movimento,masporqueestasinterfacesredefinemrealidadeaopromovera emergncia de possveis e distantes realidades dentro do contexto prximo. (De SOUZA e SILVA, 2004, p.151) TambmMANOVICH(2005,p.1)apontacomotendnciaparaestadcadaa contaminao do espao fsico pelas tecnologias computacionais em rede promovendo o quechamadecellspace3-umespaofsicoredimensionadopelofluxodedados, onde a assistncia aos usurios em suas atividades implica na possibilidade de vigilncia 3Estetermofoicriadoem1998porDavidS.Bennahum,eoriginalmentereferia-sehabilidadenovanapocade acessaremailouredewireless. Manovich no seu textoThePoeticsofAugmentedSpace:LearningfromPrada aborda este termo em um sentido mais amplo.Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 3dosmesmos.Estesdadospodemsertransmitidosderedeslocaisouglobais,oude objetoslocalizadosnoespaofsicoemtornodousurio.Segundooautor,pode-se pensar cellspace como umlayerinvisvel de informao que sobreposto ao espao fsicoequepodesercustomizadopelousurioindividualmenteapartirdedistintos artefatos.ComoafirmaGREENFIELD(2006,p.2)"avestimenta,asala,earua apresentam-se como espaos de processamento e mediao. Comunicao mvel:ritual e modos de interao conectados Paratentarcompreenderestacondiodereterritorializaodentroeatravsdas redesnomeada por STIEGLER (2003, p.5), onde o digital compe-secomterritrios fsicosapartirdousodeobjetosnmades(comooscelulares,PDAs)edesuasinfra-estruturasdefuncionamentoemrede(comoUMTSUniversalMobile Telecommunications Service) e de rastreamento global (GPS Global Position System), enfatiza-senestetexto,entreoutraspossibilidadesdeabordagem,aformaoperativa dessesartefatos.Istosignificapensarsobreaformadecomunicaomvel,queser contextualizadaaquiapartirdeinvestigaesrealizadascomcelulares,umavezque estesvmsesobressaindocadavezmaispelarpidainseroeincorporaoao cotidiano das pessoas. Aconstataodequeousodecelularestemimplicadoemoutroscontornosde sociabilidadetemconduzidoestainvestigaosobreastecnologiasmveisesua dimensoritualstica,namedidaemqueosusuriosvmperformandoosmesmos gestos corpreos e construindo laos de intimidade em um contexto social. Para tanto se cita CAREY e sua abordagem sobre comunicao a partir de duas perspectivas distintas: a transmisso e o ritual. Para o autor, a perspectiva da transmisso sugere que, a comunicao um processo pelo qual mensagens e signos so transmitidos e distribudos pelo espao para controle da distncia e das pessoas. definido por termoscomoenviar,transmitir,distribuirainformaoaosoutros....Pode-se utilizar a metfora da geografia ou transporte. (CAREY, 1985, p.14-17) De outro lado, a perspectiva do ritual sugerida por Carey implica que a comunicao direcionadanoparaaextensodasmensagensnoespao,masparaamanutenoda sociedadenotempo;nooatodetransmissodainformao,masderepresentaodas Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 4crenascompartilhadas.(ibid,p.18-19)Oautorassume,assim,quearealidadeno dada,mastransformadaemoldadapelacomunicao.Tomandoumexemplocitado por Carey, Ojornalpodesercompreendidocomouminstrumentodedisseminaode notciaeconhecimentosobopontodevistadatransmisso,enquantosoba perspectiva do ritual, a notcia no informao, mas drama. Ela no descreve o mundo, mas formaliza uma arena de foco e ateno dramtica; existe somente notempohistricoeconvidanossaparticipaoparaassumir,mesmoque vicariamente, papis sociais dentro dela. (ibid, p.20-21) Vale a pena enfatizar que para o autor a perspectiva ritualstica no exclui os processos de transmisso da informao, mas antes considera que ambas as situaes podem atuar como instrumentos para coeso e construo da ordem social. Assumindoessaabordagemtericadacomunicaonocontextodosdispositivos mveis podem-se reconhecer os atuais cdigosdecomportamentogeradosnainterao entreusurios,naturalizadosereconhecidosdentrodacomunidadecomonovas etiquetas sociais. Neste momento,considera-seimportanteapresentar a forma de operar dacomunicaomvelapartirdapesquisarealizadaporChristianLicoppeeseus colegasdaTelecomfrancesa.Estesapontamoconceitodepresenaconectadapara definir duas situaes contrastantes que eles chamam de conversationalemodosde interao conectados.Aprimeiraformadescreveumestiloondeachamadatelefnica umprocedimentoderotina,comoachamadasemanalaospaisdealgum,que geralmente ocorre em hora e dia especficos e do mesmo local de origem. Naoutraformadenominadademodosdeinteraoconectadosacomunicao aconteceempequenassesses,duranteodiatodo,atravsdevriasmdias,como telefone fixo, celular, SMS, e-mail. Para LICOPPE (apud LING, 2004, p.10) esta forma deinteraotorna-sepervasiva,ocorrendoemqualquerlugar,aqualquermomento,e emdoseshomeopticas.Umaformadeperpetuarapresenadoindivduodentrodo prpriogrupo.Reconhece-seassimumaprticaondeacomunicaodependedeuma constanteatualizao,derecorrentesdemandaseconseqentesrespostas,atuandomais comopequenasexpressespessoaisdeinteresseeateno.Autilidadesocialdas mensagensSMSenviadaspelocelularoudasmensagensscrapssalvasnosblogse orkuts, parecem corporificar as mesmas trocas realizadas pelos Trobriand Islanders, que Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 5representamsegundoMALINOWSKI(ibid,p.3)umainteraoritualsticaeajudama gerar obrigaes e laos entre os participantes de uma comunidade. Dispositivos mveis e gestualidade Ocontextodastecnologiasmveispodeserdefinidoporumaatuaoondedistintos nveis de desconexo e interconexo acontecem de forma cclica. Isto significa afirmar queosdispositivosmveis,damesmaformaquedesconectamosindivduosdeseus contextosfsicosatuais,tambmtrazemoutraspessoaseinformaesremotasparao ambienteemtorno.Anecessidadedegerenciarestasdemandas,prximasedistantes, provoca constantes movimentos de ir e vir entre o centro e a periferia de nossa ateno. Por exemplo, o procedimento de manter-se mais ou menos engajado no espao em torno durante uma chamada de celular tem promovido situaes inusitadas e evocado outros padresdesociabilidadequereconfiguramasnoesdeespaopblicoeprivado.As chamadasacontecemaqualquerhora,emqualquerlugarenacompanhiadeoutras pessoas, que passam a compartilharincondicionalmente,namaioriadasvezes,parte da conversa.Oqueeramantesconsideradasconversaspessoaispassamaacontecerem situaespblicas,ondeoslimitesdaintimidadepassamaserrecuperados,algumas vezes,porgestoseposturascorporais.Estasinteraessociaispassamassima apresentarvriasdimenses:interaoverbaleno-verbal,presenaremotaeco-presena,quecompemformasintencionaisdegestualidadecomoutros elementosno desejados, como o caso do indivduo que se v includo na conversa mesmo sem a sua anuncia. Assim,atentativadestetextoorganizarrefernciastericasquevalidemo entendimentodequenovospadrescomportamentaiscomumadimensoritualstica tm emergido desta situao. Para compreender os efeitos gerados na comunicao no-verbalpelaarticulaoentremobilidadeecomunicaopromovidapeloscelulares apresenta-se uma pesquisa realizada com celulares pela sociloga Sadie Plant em 2001, paraaempresaMotorola.Paraapesquisadoraestar/atenderaotelefonecelularem pblicoumritualqueapresentanveisdedesconexodoespaocorrenteepodeser categorizadoemtrssituaes,conformeosdiferentestiposderecepo:flighto usurioimediatamentemove-sefisicamenteparaforadasituaosocialatualpara manteraprivacidadedachamadatelefnica;suspensionousuriopermaneceno mesmoambiente,masinterrompequalqueroutraatividadeenquantoatendeachamada Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 6telefnica;persistenceousuriopermanecenomesmoambienteeprocura,tanto quanto possvel, continuar engajado com o contexto atual durante a chamada telefnica. (PLANT, 2001, p.31) Considerando a afirmao de STERNE (apud De S, 2004, p.4) sobre a existncia de umaforma moderna de ouvir e sua articulao com a histria dos objetos tcnicos de audio,entende-sequeainserodosdispositivosmveisnocotidianodaspessoas estrequerendotambmnovasformasdeusodocorpoedainscriodestedentrodo espao.Comoscelulares,oespaoacsticodecertaformaisoladoeprivadodo telefone fixo e sua especfica rea no espao da casa ou nas cabines telefnicas pblicas, desfaz-separaserparcialmenteresgatadopelosmovimentoscorporaisdousurio.Isto podeserclaramenteapontadoporPLANT(2001,p.32-33)quedefiniuasseguintes caractersticascorporaisecomportamentaisdosusurios:innieusaocelularde forma discreta. Normalmente deixa a mesa, ou desculpa-se delineando limites corporais paraestabeleceraconversatelefnica.Poderserumsimplesatodeprivacidadebem comooconhecimentodasregrasaceitaspelogrupotacitamente.Estasmicro-culturas vemocelularcomoumintrusoealgoquenodeveriaterprioridadesobreas demandasdopresente;outietemocomportamentodemostrarocelular, freqentementesocolocadossobreamesa,anunciandoapresenaeainclusodo dispositivo ao grupo. Pode ser visto como uma pequena rea do territrio ou no mnimo ummarcodentrodogrupo;combinaesdeinnieeoutiegruposondeocelular funcionacomumafontedetenso,desentendimentoeantipatia.Nestesgruposa interrupodeumachamadatelefnicatendeadividi- losefreqentementeos responsveis so excludos pela desaprovao de outros; a irritao freqente e reflete-se na linguagem corporal. Constata-seumadependnciasocialeemocionalpeloscelulareseaspessoastm respondido a esta situao comaintroduodenovosgestosemovimentoscorpreos nocomportamentodirio; osusuriostm reelaboradoamaneirana qual os dedos, os polegares,asmos,osolhos,ocorpoenfimusadoenquantofazemerecebem chamadastelefnicas.Osusuriosassumemdistintasposturascorporaisque caracterizam, segundo PLANT (ibid, p.51-52), um comportamento mais extrovertido ou introvertidonomeadorespectivamentecomospeakeasyespacemaker;os primeiros caracterizam-se por gestos extravagantes como a cabea erguida e jogada para Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 7trs, enquanto os outros incorporamgestos contidosqueprocuramrecuperar a proteo atravsdeformasarredondadas,comocasulos,enquantofalampublicamentecomo celular.Valeapenaconsiderarqueoscelularesaoseremutilizadoscomocomando vibracallimplementam,deformasimilaraoscomputadoresvestveis,umarelaode maior contato fsico com o usurio. (De S, 2004, p.9) Reconhecendoqueestastecnologiasmveisvalem-sedaaoeinterao fundamentalmente, podem-se apontar algumas perspectivas e autores da fenomenologia paraauxiliaraembasarestetrabalho.SegundoDOURISHafenomenologiatem exploradoa relao entre ao incorporada e significado e paraosfenomenologistas, como Heidegger e Merleau-Ponty, ...afontedesignificado(esignificncia)noumacoleodeentidades abstrataseidealizadas,maspodeserencontradanomundonoqualatuamose queatuaemns. ...na forma como se revela e como se torna disponvel para nossas interaes. (DOURISH, 2004, p.116)

Pode-se dizer, referenciando-seemHEIDEGGER(apudDOURISH, 2004, p.109), que estasinterfacesmveisapresentam-seoracomoextensodocorpoatuaratravs, (ready-to-hand)eoracomoobjetoparaumaatividadeespecficaatuarcom (present-at-hand).Namedidaemqueatuamosatravsdatecnologia,deixa-sede perceberaprpriamediao, enquanto que, em outros momentos o objeto materializa o prpriomeio.Essaexperinciadeseredegerarsignificados,acontecedeforma inseparvelevaideencontro,apresenta-seaomundo.MERLEAU-PONTY(ibid, p.114)porsuavez,vemtrazerparaoestudodafenomenologiaquearelao sujeito/objeto apresenta-se focada no papel do corpo em percepo quando afirma uma teoriadocorpoporsisumateoriadapercepo.Partindo-sedestaspremissas, pode-se pensar na incorporao destes dispositivos mveis pelos usurios dependente de umantimarelaoentrepercepoeao(modosderelacionamento),sendoqueo indivduo e o ambiente esto implicitamente considerados. Aidiadeincorporaofsicacomoumaspectodecompreensoeatuaodo/no mundotambmfoiexploradoporMichaelPolanyi,quedistingueosfenmenoscomo prximosedistantes;paraesteautorapesardenossasexperinciasatuaisserem prximas,nossaatenotransferidaparaumfenmenodistantepensamos Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 8globalmenteeagimoslocalmente.Porexemplo,aousarumgravetolongopara explorar algo distante entende-seapresso sentidanamocomo umabarreira presente, no prxima, no cho. (POLANYI, apud DOURISH, 2004, p.119-120) Essa abordagem aponta uma forma de leitura destes dispositivos mveis, uma vez que a condiodeusodosmesmosinvariavelmenteacessaroutrospontosgeogrficos remotamenteemdiferenciadosnveisdeinterferncia.Pareceassimque,paraabarcar essaspossibilidadesdeinterfernciasedeaesdistintasmediadas,emergea necessidadedeumareconfigurao/reorganizaodocorponasuaapresentao (direo,postura,posio,atitude)epercepo.Ogravetoaquisubstitudoporessas interfacesmveisqueatualizamacadamomentocontextosdistintosdeatuaopela possibilidadedeacessoetransmissoconstantedeinformao;prticaserespostas distintas so demandas necessrias em torno das tecnologias de comunicao mvel. Projetos Reconhecendoessanovadinmicacorporalondeosusuriosatuamsimultaneamente em diversos contextosfsicosespaciais, atual e remoto, pretende-se apresentar a seguir trsprojetos,quedeformasespecficasapontamalgunsimpactossociaise comportamentais dosusurios decelulares.Aformanopadrodeoperar destas obras procura, claramente, no endossar a produo da sociedade tecnolgica, mas gerar como afirmaMACHADO(2004,p.6)instrumentoscrticosparapensaromodocomoas sociedades contemporneas constituem-se, reproduzem-se e se mantm. SoMo, social mobilesO projeto SoMo, de 2002, do artista e designer Crispin Jones em colaborao com IDEO (http://www.ideo.com/case_studies/social_mobiles/menu.html)explorasituaesque evidenciamediscutemsobrealgumastendnciascomportamentaisdosusurios. Foram idealizados cinco modelos de celulares: electric shock mobile, speaking mobile, musical mobile,knockingmobile,catapultmobile,(FIG.1)quedeformasdistintasprocuram apontar outras solues e criticar sobre o uso intrusivo do celular no contexto social. O electric shock mobile descarrega uma choque eltrico varivel e dependente da altura dotomemqueaconversaacontece;comoresultadoinduz-se as duas partes a falarem maisbaixo.Ocatapultmobilepodeserusadoparaenviarsonsparaoutrocelular, Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 9gerandoumainvasosonoranocontextodacomunicao,umavezqueoindivduose achetambminvadidopelotomdaconversa.Ospeakingmobilenopermitea efetivaodacomunicaoverbal,implicandoassimnaemergnciadeoutralinguagem a partirdesonsqueousuriomanipulamanualmentemodificandoaintensidade,altura edurao.Comomusicalmobileousuriosconseguediscarumnmerosetocar especficasnotasmusicais.Ainclusodamsicanoambientepodegeraruma ponderaomaiorsobreserapropriadaounoarealizaodachamada.Ousuriode knocking mobile pode evidenciar ou perceber a urgncia da chamada feita ou recebida, respectivamente,atravsdeespecficosknock-knock.Aidiadoprojetono efetivarcomercialmenteessasverses,mascompartilharexperinciasquefaamas pessoasrefletiremsobreaformacomoatecnologiaeseusartefatosmuitasvezesso incorporados sem restries. Figura 1 Projeto SoMo Fonte: http://www.ideo.com/case_studies/social_mobiles/menu.html. Acesso em janeiro/2007. La Complice OgrupoCuldeSacemcolaboraocomStijnOssevoorteAndreuWorldcriaramo projetoLacomplice(http://culdesac.es/proyectos.asp?id=1&idSub=1),queexplora atravs de uma pea de mobilirio (FIG.2) as complexas implicaes do uso de celular quanta privacidade o celular nos d? qual a nossa dependncia do celular? Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 10Umasimplescadeiramodificadaprovocaareflexosobrerelaesinterpessoaisea mediaocomcelulares,umavezquebloqueiaosinaldetransmissodosmesmos. Diantedapossibilidadedesercolocadaemqualquerespaopblico,promoveuma reflexotambmsobreapoluioeletromagntica,queinvisvelapercepodos usurios no pode deixar de ser uma questo a ser avaliada. Figura 2 Projeto La complice Fonte: http://culdesac.es/proyectos.asp?id=1&idSub=1#. Acesso em janeiro/2007. AgoraPhone A artista Kelly Dobson, em 2002, instalou o projeto AgoraPhone no campus do MIT em Cambridge(http://web.media.mit.edu/~monster/AgoraPhone/)transformandoolocal emumespaodecomunicaomediadacompartilhadoportodosostranseuntes.A palavragregaagorasignificaumespaoabertoondeoscidadospodemestarjuntos paradiscutir.Oprojetoapresenta-senaformadeumelementoarquitetnicourbano (FIG.3),combinandoumaesculturacomumnmerotelefnicoquepodiaseracessado de qualquer lugar. As pessoas discando para o referido nmero conectavam-se ao espao pblico em torno daescultura,podendoexpressar-se,seremouvidos eatconversarcomumtranseunte local. O depoimento a seguirfoi retirado do website, Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 11euestavafalandocomestapessoasemconhec-la,easpessoasemtorno ouvindoanossaconversacomoseestivssemosconversandonocelular;um participante transformou a escultura em uma estao de rdio, quando passou a discarfreqentementetodososdias,nomesmohorrio,eatenderaospedidos de msicas feitos pelos transeuntes no local; alguns participantes podiam avistar dosedifciosemtornoolocaldaescultura e passaram a discar para o nmero no momento em que avistavam algum que gostariam de conversar. Figura 3 Projeto AgoraPhone Fonte:http://web.media.mit.edu/~monster/AgoraPhone/roo/roo-6.html.Acessoem janeiro/2007. Esteprojetomesmonosevalendodeumdispositivomvelapontaalgumasquestes inerentesaoprocessodecomunicaomvel,comoapossibilidadedetornarpblica umaconversatelefnica,queemprincpiodiantedeseucarterpessoalaconteciaem locais privados. Diante da forma escultrica deAgoraPhone algumas questes sobre os hbitosgestuaisjincorporadossoapontados,comoosegurareaproximar-sedo aparelho telefnico, o tom adequado da conversa, e so reformulados na medida em que os transeuntes/participantes apresentam outras posturas corporais. Algumas consideraes finais Aotentarcompreenderamaterialidadedosdispositivosmveisecontextualizarseus modos de operao, o texto procurou inicialmentecontextualizar, como escreve De S (2004, p.7), o set de foras sociais e tecnolgicas na sua dimenso hbrida deatuao paraentoassumirqueestesartefatosvminterferindonaconstruoepercepoda realidade. Esta condioespacial de viverainda noseapresenta estvel,umavezque Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXX Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Santos 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 12esta reflexo acontece imersa neste contexto, mas a necessidade de pensar sobre revela-sediantedaconstataodealgumastendnciascontemporneas,comomobilidade, acesso contnuo informao, personalizao, controle e trabalho em rede. AspesquisasrecentesdeSadiePlanteosprojetosapresentadosevidenciama elaboraodeumagestualidadecorpreaespecficaporpartedosusurioscomo respostaaosestmulosetentativadeincorporaradinmicadaespacialidadehbrida promovidapelastecnologiasmveis.Aindagaosobreoquantoestasinterferncias estoreajustandooslimitesdeatuaonomundoaindapersiste;porm,admitindo-se que toda tecnologia implica um modo de apreenso que lhe prprio e que constri seu objetoaomesmotempoemqueopera(BERGER,1976,p.19),entende-sequeas tecnologias digitais so determinantes no processo de construo de uma sensibilidade contempornea.Parareforarestacompreensoefinalizarestasconsideraescita-se RHEINGOLD(2005,p.2-3)quandoapontaquearelaoentrecomunicaomvele interao ritualstica atua como um contexto catalisador de transformaes sociais. Referncias Bibliogrficas BERGER, R. Arte y Comunicacin. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 1976. CAREY,J.CommunicationasCulture:EssaysonMediaandSociety.Boston:Unwin Hyman, 1985. 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