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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E
URBANISMO
Andrea Fonseca Pardini
CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DA
APLICAÇÃO DA CERTIFICAÇAO LEED E DO
CONCEITO DE CUSTOS NO CICLO DE VIDA EM
EMPREENDIMENTOS MAIS SUSTENTÁVEIS NO
BRASIL
Dissertação apresentada à Comissão de Pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, na área de concentração de Arquitetura e Construção.
Orientadora: Vanessa Gomes da Silva
Campinas
2009
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
P214c
Pardini, Andrea Fonseca Contribuição ao entendimento da aplicação da certificação LEED e do conceito de custos no ciclo de vida em empreendimentos mais sustentáveis no Brasil / Andrea Fonseca Pardini. --Campinas, SP: [s.n.], 2009. Orientador: Vanessa Gomes da Silva. Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. 1. Arquitetura sustentável. 2. Edificações . 3. Análise de custos . 4. Industria e Construção Civil - Aspectos ambientais. I. Silva, Vanessa Gomes da . II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
Título em Inglês: Contribution to the understanding of LEED certification and life
cycle costing use in sustainable buildings in Brazil Palavras-chave em Inglês: Sustainable architecture, Buildings, Analysis of costs,
Constructions industry - Environmental aspectos Área de concentração: Arquitetura e Construção Titulação: Mestre em Engenharia Civil Banca examinadora: Ariovaldo Denis Granja, Marcelo Vespoli Takaoka Data da defesa: 07/08/2009 Programa de Pós Graduação: Engenharia Civil
iii
MBA de Real Estate do Programa de Educação Continuada
iv
Dedicatória
A minha mãe e amiga, meu espelho de força
e coragem. Minha determinação vem do seu
exemplo.
v
Agradecimentos
A Vanessa Gomes, minha orientadora, por, além da amizade construída, acreditar no meu trabalho e ser “irritantemente” precisa em seus comentários e correções.
Aos membros da banca examinadora por aceitarem ao convite de participação.
A Denis Granja pelas conversas e indicações bibliográficas referentes ao estudo da LCCA.
À Método Engenharia e a todos os meus amigos que lá trabalham, no Núcleo de Sustentabilidade ou não, e que contribuíram com informações, dados e muita, muita paciência. Em especial ao Maurício Vizeu, pela compreensão, principalmente no último mês, corrida final para a defesa.
À Tishman Speyer e seus colaboradores, em especial a Luiz Henrique Ceotto, pelas informações e dados de seus belos empreendimentos.
A Sustentax e CTE pelas informações cedidas.
A todas as pessoas que participaram deste trabalho, dando sua percepção de mercado e, muitas vezes, apoio e opiniões pertinentes aos temas estudados.
Aos amigos que fiz dentro da UNICAMP, pelos diversos pontos, distintos, de vista relacionados à sustentabilidade.
A Márcia que passou a última semana revisando meu ex-incorreto abstract.
Aos meus mais que amigos fora do mundo acadêmico, meus irmãos de coração que torceram e me incentivaram na conclusão desta dissertação, mesmo reclamando minha ausência em finais de semana, feriados, festas, viagens e afins.
vi
“All the business of war and indeed all the business of life is to Endeavour to find out what you don’t know from what you know”
(Duke of Wellington).
vii
Resumo
PARDINI, Andrea Fonseca. Contribuição ao entendimento da aplicação da certificação LEED e do conceito de custos no ciclo de vida em empreendimentos mais sustentáveis no Brasil. Campinas, 2009. 210 p. Dissertação (Mestrado). UNICAMP - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.
A preocupação com a vida no planeta e com a qualidade de vida emergiu como foco de governantes, mídia e comunidades acadêmicas. No setor da indústria da construção civil, porém, o movimento neste sentido ainda é incipiente. Este trabalho tem o objetivo geral de contribuir para o entendimento da aplicação da certificação ambiental de edifícios norte-americana Leadership in Energy and Environmental Design - LEED e do conceito de custos no ciclo de vida em empreendimentos mais sustentáveis no Brasil. Para tanto, foram desenhados dois objetivos específicos a serem alcançados: (1) estudar a aplicação de uma metodologia de avaliação ambiental americana, o LEED, em empreendimentos brasileiros, entendendo as facilidades e restrições quando da aplicação para a realidade brasileira e (2) captar a percepção e entendimento referentes às edificações sustentáveis e de custos ao longo do ciclo de vida de uma edificação, por uma amostra relevante do mercado brasileiro. A partir de revisão bibliográfica detalhada foi realizada uma análise da implementação de cada ponto do sistema de certificação diante do contexto brasileiro, confrontando-a com evidências obtidas para os EUA. Finalmente, foram desenvolvidas as análises de dois estudos de casos nacionais, para posicionamento da discussão no contexto brasileiro. Os resultados obtidos confirmaram que (1) a percepção aqui no Brasil de que estas edificações têm um custo inicial maior é real, mas ainda está embasada mais em sentimento do que que em conhecimento específico; (2) alcançar a certificação LEED pode não ser uma tarefa fácil e, no Brasil, significa, em muitas vezes, saltar da completa ausência de referência para o atendimento de normas americanas; e (3) mesmo em centros avançados da construção civil brasileira, o mercado ainda não está preparado para os “selos verdes” internacionais. Existem grandes obstáculos a serem superados até que se possa desenvolver um edifício verde com a mesma eficiência de prazo e investimento que um empreendimento convencional. Apesar de suas limitações, a entrada de certificações no Brasil traz consigo uma nova forma de se enxergar os impactos gerados pelo produto da construção civil, abrindo assim a discussão para assuntos antes nunca abordados. O que se deve evitar no Brasil é que a ansiedade pela busca de certificados, resulte no risco de fragilizar o papel transformador das certificações
Palavras-chave: Edificações Sustentáveis, Análise de Custos, Ciclo de Vida, LEED.
viii
Abstract
PARDINI, Andrea Fonseca. Contribuição ao entendimento da aplicação da certificação LEED e do conceito de custos no ciclo de vida em empreendimentos mais sustentáveis no Brasil. Campinas, 2009. 210 p. Dissertação (Mestrado). UNICAMP - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.
The concern with life on the planet and with quality of life has emerged as a major focus of government, media and academic communities. However, in the Civil Construction Industry, this movement is still incipient. This research has a general objective to contribute for the understanding of the application of the North-American environmental building certification Leadership in Energy and Environmental Design - LEED and of the concept of life cycle costing to sustainable buildings in Brazil. Therefore, two specific goals were envisioned: (1) study the application of the LEED certification to Brazilian buildings, understanding the restrictions for its use in a reality different from the original American reference; and (2) get the perception and understanding related to sustainable buildings and the costs during the building life cycle, using a relevant sample of the Brazilian construction market. After a detailed literature review, implementation of the certification system in the Brazilian context was analyzed on an item by item basis, and compared with the evidences obtained from the American results. Finally, two national case studies were analyzed to put the debate in perspective. Obtained results confirmed that (1) the perception that such buildings in Brazil have higher initial costs is correct, however, such perception is based on intuition rather than on specific knowledge or historical evidence; (2) obtaining a LEED certificate is not an easy task and in Brazil it means, most of the time, jumping from complete lack of reference to follow North American standards; and (3) even in developed civil construction centers in Brazil, the market is not yet prepared for international green certification. There are huge obstacles to be overcome until green buildings are developed at the same time and cost efficiency of a conventional one. Even within these limitations, certification brings a new way of looking at civil construction impacts and opens discussion on matters never approached before in Brazil. The quest for certification in itself should be avoided. Otherwise, it may put at risk the valuable contribution building certification can bring to market transformation.
Key words: Sustainable Buildings, Cost Analysis, Life Cycle, LEED.
ix
Lista de Figuras Figura 1 – As três dimensões da sustentabilidade. 11
Figura 2 - Meio ambiente e economia: (a) modelo tradicional da inter-relação da economia,
sociedade e meio ambiente e (b) modelo “boneca russa” (Russian Doll). 31
Figura 3 – Tipologias certificáveis pela metodologia LEED (Fonte: LEED NC, versão 2.2). 41
Figura 4 - Etapas de um Processo de Tomada de Decisão. Fonte: Newnan et al (2002) 62
Figura 5 - Fluxo de caixa não convencional. Fonte: KASSAI, 2000 67
Figura 6 - Ciclo de vida de uma edificação. Adaptado de Whole Building design Guide. Acesso
em outubro / 2007. http://www.wbdg.org/resources/lcca.php 80
Figura 7 - Classificação do ciclo de vida de um produto segundo Fabrycky e Blanchard
(1991),adaptado 82
Figura 8 - Custos comprometidos, custos incorridos e facilidade de mudanças, adaptação de
Fabrycky e Blanchard (1991). 106
Figura 9 - Composição da equipe de projeto multidisciplinar. 109
x
Lista de Tabelas Tabela 1 - Prioridades e características do desenvolvimento sustentável aplicadas à construção
civil 15
Tabela 2: Estrutura "Verde" de Locação proposta por Melaver e Mueller (2009). 36
Tabela 3: Projetos Registrados e Certificados até o mês de Abril/2009. Fonte: GREEN
BUILDING FACTS (2009). Green Building by the nunbers 42
Tabela 4: Créditos, pré-requisitos e pontos possíveis na metodologia LEED, excetuando-se a
categoria Projeto e Inovações 43
Tabela 5: Projetos registrados no USGBC para certificação LEED (posição em 09/03/2009) 50
Tabela 6: Considerações para a análise do custo do ciclo de vida em cada etapa do
empreendimento 96
Tabela 7: Aplicações do LCC no processo de tomada de decisões. Fonte: Ruegg e Marshall
(1990), adaptada. 97
Tabela 8: Exemplos de aplicações do uso da LCC. 98
Tabela 9: Taxa de resposta da pesquisa de entendimento da percepção das empresas. 118
Tabela 10: Dados Básicos do Estudo de Caso A. 129
Tabela 11: Dados Básicos do Estudo de Caso B. 132
Tabela 12: Percepção de aumento de lucratividade de um Green Building pelas Empresas. 178
xi
Lista de Gráficos Gráfico 1: Número de Projetos registrados no USGBC (posição em 09/03/09). 52
Gráfico 2: Distribuição geográfica, em %, dos projetos brasileiros registrados no USGBC
(posição em 09/03/09). 53
Gráfico 3: Comportamento da taxa de desconto. 86
Gráfico 4: Freqüência de pontos, relacionada ao grau de dificuldade dos 69 pontos do LEED NC. 139
Gráfico 5: Categoria Terrenos Sustentáveis - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B
e os relatórios de referência. 173
Gráfico 6: Categoria Uso Racional da Água - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B
e os relatórios de referência. 173
Gráfico 7: Categoria Energia e Atmosfera - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e
os relatórios de referência. 174
Gráfico 8: Categoria Materiais e Recursos - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e
os relatórios de referência. 174
Gráfico 9: Categoria Qualidade do Ambiente Interno - comparação de pontos obtidos pelos
Projetos A e B e os relatórios de referência. 175
Gráfico 10: Categoria Inovação de Projeto - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B
e os relatórios de referência. 175
Gráfico 11: Percepções de aumento de custo inicial em "Green Buildings" 179
Gráfico 12: Nível de conhecimento das empresas sobre certificação de Green Buildings 181
Gráfico 13: Mudança de rotina nas incorporadoras para certificação de um empreendimento 182
Gráfico 14: Incremento de trabalho nas incorporadoras para certificação de um empreendimento 182
Gráfico 15: Análise cruzada de mudança de rotina e aumento de trabalho nas incorporadoras
para certificação de um empreendimento 183
Gráfico 16: Comparativo do grau de conhecimento declarado e percebido (apreendido pelas
respostas às questões) das incorporadoras de conhecimento de custos ao longo do ciclo
de vida de um empreendimento. 185
Gráfico 17: Aplicação dos custos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos. 187
Gráfico 18: Opinião das incorporadoras quanto ao uso dos custos de operação nos estudos de
xii
viabilidade. 188
Gráfico 19: Percepção de disponibilidade de banco de dados pelas incorporadoras. 189
xiii
Lista de Quadros Quadro 1: Principais Conselhos de Construção Sustentável e seus sistemas de certificação. 22
Quadro 2 Requisitos do LEED (Créditos e pré-requisitos) com seus respectivos objetivos. 44
Quadro 3: Passos para a elaboração da LCCA. Fonte: Marshall; Petersen (1995) 90
Quadro 4:Comparativo entre LEED NC e LEED C&S 120
Quadro 5: Créditos LEED NC 2.2 detalhados em sua freqüência nos projetos dos relatórios 1 e 2 139
Quadro 6: Matriz de freqüência de pontos, a partir de Matthiessen; Morris (2004) e Cryer et al
(2006). 142
Quadro 7: Matriz comparativa entre resultados dos Relatórios 1 e 2 e dois Estudos de Casos
nacionais (Projetos “A” e “B”). 147
Quadro 8: Comparativo ponto a ponto mercado brasileiro e norte-americano para Terrenos
Sustentáveis. 155
xiv
Siglas, acrônimos e notas de tradução
A21-CS - Agenda 21 para Construção Sustentável
A21-CSPD - Agenda 21 para Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento
LCC ou LCCA - Life-Cycle Costing Analysis
LEEDTM - Leadership in Energy and Environmental Design
UNCED - United Nation Conference on Environment and Development
USGBC - United States Green Building Council
WCED - World Commission on Environment and Development
xv
Sumário
1. Introdução 1
1.1. Contextualização e justificativas da pesquisa 1
1.2. Objetivos 4
1.3. Sumário metodológico 5
1.4. Estrutura da dissertação 6
2. Sustentabilidade na Construção Civil 8
2.1. Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil 8
2.2. Impactos gerados pela Construção Civil 11
2.3. O Mercado da Construção Civil e suas Construções Sustentáveis 15
2.3.1. Reconhecimento pelo mercado 17
2.4. Obstáculos para Construções Sustentáveis 27
2.5. Benefícios econômico-financeiros das Construções Sustentáveis 29
2.5.1. Teoria econômica neoclássica e meio ambiente 29
2.5.2. Preço e valor de uma edificação sustentável 31
2.6. Considerações sobre o capítulo 36
3. Leadership in Energy and Environmental Design – LEED 37
3.1. A certificação LEED e suas aplicações no Brasil 38
3.2. Importância do LEED no contexto ambiental 53
3.3. Preocupações relacionadas ao LEED 54
3.3.1. Uso apenas comercial do LEED, sem questionamentos 55
3.3.2. Desconsideração da agenda principal de cada país 57
3.4. Considerações sobre o capítulo 59
xvi
4. Processo de tomada de decisão na construção civil 60
4.1. Estrutura do processo de decisão 61
4.2. Considerações sobre o capítulo e sua relação com aspectos de sustentabilidade 76
5. Análise de custos de edificações ao longo do seu ciclo de vida 78
5.1. Custos ao longo do ciclo de vida de uma edificação 81
5.1.1. Ciclo de vida 83
5.1.2. Custos internos e externos: externalidades 86
5.2. Análise do custo do ciclo de vida (Life-Cycle Costing Analysis, LCCA) 87
5.2.1. Definição e origem 88
5.2.2. Procedimentos de cálculo da LCCA 89
5.2.3. Aplicações 96
5.2.4. Limitações 100
5.2.5. Limitações na teoria econômica neoclássica no contexto ambiental 102
5.2.6. Benefícios 104
5.2.7. O projeto e a LCCA 105
5.3. Considerações sobre o capítulo 111
6. Metodologia 112
6.1. Etapas da pesquisa 112
6.1.1. Discussão sobre a aplicação do LEED na realidade do mercado da construção civil brasileiro 113
6.1.2. Captura do entendimento e a percepção das incorporadoras sobre edificações sustentáveis e custos ao longo do ciclo de vida 115
6.2. Apresentação dos estudos de casos 119
6.2.1. Definição de edifícios Triple A 126
6.2.2. Estudo de Caso A 128
6.2.3. Estudo de Caso B 131
xvii
6.3. Definição da base bibliográfica de referência para análise comparativa com casos nacionais 134
6.3.1. Relatório 1: Matthiessen; Morris (2004) 135
6.3.2. Relatório 2: Cryer et al. (2006) 136
6.3.3. Relatório 3: Langdon (2007) 136
7. Resultados obtidos 138
7.1. Objetivo 1: facilidades (pontos fortes) e limitações no atendimento do LEED 138
7.1.1. Na realidade norte-americana 138
7.1.2. Análise comparativa da implementação do LEED na realidade americana e na brasileira 154
7.2. Objetivo 2: Percepção e entendimento de agentes do mercado brasileiro 175
7.2.1. Percepção sobre green building – Mercado 176
7.2.2. Percepção sobre green buildings – Obtenção de certificação 180
7.2.3. Análise de Custos 184
8. Discussão e considerações finais 190
8.1. A novidade - construções sustentáveis ou green buildings 190
8.2. A Contribuição das Certificações 191
8.3. O Papel do Poder Público 195
8.4. Mudança de Paradigma para Análise do Custo do Ciclo de Vida para Edificações 196
8.5. Novos caminhos a serem conquistados 198
9. Referências bibliográficas 200
Anexo A 210
1
1. Introdução
Faz algum tempo que a atenção pública está voltada para problemas sócio-ambientais. O tema
“desenvolvimento sustentável” passou a ser o jargão da atualidade. A preocupação não só com a
vida no planeta, mas com a qualidade de vida emergiu como foco de governantes, mídia e
comunidades acadêmicas.
O confronto entre desenvolvimento econômico e meio ambiente vem à tona a todo o momento,
como no polêmico tema da assunção de metas para a redução de emissões poluentes por países
em desenvolvimento ou países desenvolvidos e grandes emissores. Qualquer que seja o assunto,
fica no ar a interrogação se a humanidade será capaz de arcar no futuro com as conseqüências das
suas atitudes contemporâneas. As teorias relativas ao aquecimento global e seus previsíveis
efeitos começam a serem comprovadas com as alterações climáticas hoje sofridas: tufões,
enchentes, degelo etc. Todas tendo impacto direto na vida das pessoas: são milhares os
desabrigados, os que sofrem com doenças provocadas pelo transbordamento de esgotos e pelo
espalhamento do lixo. Num futuro próximo, também serão milhares de pessoas sem ter onde
morar pelo avanço do nível das águas.
1.1. Contextualização e justificativas da pesquisa
De uma forma geral, o mercado, por pressão da sociedade, se sensibilizou e começa a adotar
práticas de desenvolvimento sustentável, isto é, o crescimento econômico aliado à qualidade da
vida humana e à preservação do meio ambiente. Práticas sustentáveis passam a ter valor nas
bolsas de ações do mundo todo, Dow Jones e Bovespa criam seus próprios parâmetros de
avaliação e assim ranqueiam empresas no mercado, valorizando seus títulos.
No setor da indústria da construção civil, este movimento começa a ser sentido, principalmente
nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde grande parte das empresas
2
multinacionais tem sua sede brasileira estabelecida. A valorização e o interesse por edifícios mais
sustentáveis ambientalmente, com uma espécie de “selo verde”, começa a aumentar. No entanto,
algumas questões surgem para os estudiosos sobre o assunto, entre elas: este movimento é apenas
comercial, baseado na divulgação pela mídia de práticas mais sustentáveis de vida? O que leva os
incorporadores a decidirem por uma edificação sustentável? São de conhecimento dos
investidores os conceitos de custos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos, levando-os a
melhorarem a rentabilidade de seus investimentos e a sua interface com sustentabilidade? Qual a
responsabilidade do Poder Público na construção de edificações sustentáveis?
É certo que o desenvolvimento de empreendimentos mais sustentáveis provoca efeito positivo em
toda a sociedade, uma vez que, hoje,a indústria da construção civil é causadora de impactos tanto
na economia (maiores ainda em países em desenvolvimento), na sociedade e no meio ambiente.
Como exemplos, citam-se a influência do setor na formação do PIB, a quantidade de empregos
gerados (formal e informalmente), a grande produção de resíduos decorrentes das obras, e que
seus produtos – as edificações - duram anos e consomem boa parte da energia e água disponíveis.
A primeira motivação para inserção da discussão sobre custos no ciclo de vida neste trabalho é
que sustentabilidade é um conceito de longo prazo, porém com viabilidade atualmente medida
numa contrastante visão de curto prazo, com base em variações da análise de custo inicial. A
segunda, é que várias estratégias/tecnologias que, de fato, têm custo inicial maior, pagam-se ao
longo de mais ou menos tempo. A consideração deste aspecto poderia viabilizar a implementação
de uma abordagem mais robusta de sustentabilidade em empreendimentos, ao incluir estratégias e
tecnologias que, na visão corrente, são descartadas de imediato. A análise de custos no ciclo de
vida compõe o grupo das técnicas de gerenciamento e controle de custos - como processo de
melhoria contínua de valor, engenharia de valor verde, projeto e construção enxuta (JACOMIT;
SILVA; GRANJA, 2009; Pulaski; Horman, 2005; Lapinski; Horman; Riley, 2006), como uma
das duas grandes apostas - juntamente com processo de projeto integrado - PPI (COLE;
STERNER, 2000; REED, 2005; SILVA, FIGUEIREDO, 2008; 7 GROUP AND REED, 2009) -
para demonstração não só de viabilidade, mas também que construções com metas de
sustentabilidade não implicam necessariamente em aumento de custos em relação a construções
convencionais, podendo inclusive, se bem integrados ao processo de entrega do empreendimento,
3
chegar a redução de custos.
Construir ou não uma edificação mais sustentável deve ser uma decisão inicial do incorporador /
investidor, sustentada por um estudo de viabilidade confiável aliado à análise qualitativa do
empreendimento, os quais suportariam o processo de tomada de decisão. Estender o olhar para
toda a vida útil de um empreendimento – muitas vezes superior a 40 anos - considerando além
dos investimentos iniciais, todos os principais custos incorridos ao longo do seu ciclo de vida,
permitiria a opção embasada em fatos – ou não – por edificações mais sustentáveis não apenas
como apelo de vendas, mas como um bom negócio, de forma a aumentar sua rentabilidade.
Alterar a rotina do processo de tomada de decisões referente a empreendimentos da construção
civil com a inclusão de novos parâmetros envolvendo o ciclo de vida destas edificações significa
uma quebra de paradigmas: a criação de uma nova cultura onde todos os envolvidos, direta ou
indiretamente neste processo, sairiam de sua zona de conforto para se arriscarem num novo
ambiente com novas variáveis, nem sempre fáceis de serem previstas. Será que o mercado está
realmente preparado para este novo conceito de empreendimento?
Como iniciativa deflagrada para encorajar a transformação do mercado, nesta direção, merecem
destaque as avaliações e certificações ambientais de empreendimentos. As certificações e outras
iniciativas voluntárias, assim como instrumentos de market pull (incentivos fiscais, descontos,
liderança pelo setor público), regulamentação, pesquisa, desenvolvimento e disseminação
(P,D&D) e educação e treinamento (E&T) são, todos, ferramentas que desempenham um papel
importante para a transformação do mercado da construção civil, conservador em qualquer país.
O que não se pode perder de vista é que as iniciativas voluntárias pressupõem uma base anterior
para que se possa desenvolver plenamente, composta por P&D e transferência de conhecimento e
tecnologia ao mercado (SILVA, 2009).
Atualmente, estão presentes no mercado brasileiro dois modelos de certificação ambiental de
empreendimentos: o LEED, cuja primeira certificação nacional ocorreu em 2007, e o AQUA,
adaptação local do método francês Haute Qualité Environemental - HQE, lançada em abril de
2008. O estudo da aplicabilidade do LEED no contexto brasileiro foi selecionado por ser esta
4
uma das metodologias mais aceitas comercialmente e, no Brasil, a maior parte das edificações
interessadas na certificação ambiental está norteada por ela. No entanto, este método é embasado
em normas e legislações elaboradas nos EUA e, conseqüentemente, adaptado à realidade local,
tanto no que diz respeito a aspectos ambientais quanto sociais.
Ainda não está claro se e o quanto o segmento da construção civil brasileira estaria preparado
para abarcar estes novos conceitos e transformá-los em negócios rentáveis. Este trabalho procura
contribuir para o entendimento não apenas da implantação do LEED no Brasil, mas também, de
uma forma geral, de edificações sustentáveis, uma vez que vários dos problemas encontrados na
produção de edifícios são semelhantes em qualquer lugar, respeitando-se, evidentemente, as
características de cada região. Pretende-se, ainda, chamar atenção dos investidores e
incorporadores para a necessidade da criação de uma nova cultura que considere os possíveis
ganhos decorrentes da análise do custo do ciclo de vida, para que as edificações sustentáveis
sejam uma maneira de maximizar os lucros desejados.
1.2. Objetivos
Este trabalho tem o objetivo geral de contribuir para o entendimento da aplicação da certificação
ambiental de edifícios norte-americana Leadership in Energy and Environmental Design - LEED
e do conceito de custos no ciclo de vida em empreendimentos mais sustentáveis no Brasil.
Para tanto, foram desenhados dois objetivos específicos a serem alcançados: (1) estudar a
aplicação de uma metodologia de avaliação ambiental americana, o LEED, em empreendimentos
brasileiros, entendendo as facilidades e restrições quando da aplicação para a realidade brasileira
e (2) captar a percepção e entendimento referentes às edificações sustentáveis e de custos ao
longo do ciclo de vida de uma edificação. Esta amostra relevante do mercado brasileiro é
constituída pelas empresas incorporadoras e/ou investidoras e por profissionais de empresas de
São Paulo que já vivenciaram algum projeto em busca da certificação, com ênfase especial nas
incorporadoras, os principais agentes responsáveis pelos investimentos em empreendimentos.
5
1.3. Sumário metodológico
Para auxiliar na formação do conhecimento em torno dos objetivos focados, esta pesquisa baseia-
se em ampla revisão bibliográfica, complementada por dois estudos de casos nacionais.
Foram feitas revisões bibliográficas para o entendimento (1) das construções sustentáveis
considerando o desenvolvimento sustentável, a sua relevância, benefícios e limitações; (2) do
processo de decisão voltado para a construção civil, com o intuito de conhecer sua estrutura e os
seus critérios de seleção de alternativas e (3) da metodologia Análise de Custos do Ciclo de Vida,
como possível critério de seleção de alternativas dentro de um processo decisório. Foram feitas
consultas a fontes acadêmicas tradicionais (livros, anais de congressos, artigos, dissertações e
teses) e fontes de interesse específico, como normas internacionais, sites de organizações
voltadas ao tema abordado e ainda, revistas e jornais respeitados e de grande circulação no país.
A partir de três publicações-chave no tema custos de edifícios com metas superiores de
desempenho ambiental, dedicados ao estudo de projetos baseados na metodologia LEED (com e
sem a intenção de certificação), foi realizada uma análise da implementação de cada ponto do
sistema de certificação diante do contexto brasileiro, confrontando-a com evidências obtidas para
os EUA.
Finalmente, foram desenvolvidas as análises de dois estudos de casos nacionais, para
posicionamento da discussão no contexto brasileiro. Trata-se de edifícios de escritórios de alto
padrão, em construção e em busca da certificação LEED, nas cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro. A escolha destes dois empreendimentos foi feita por serem dois dos primeiros
empreendimentos buscando a certificação LEED no Brasil, idealizados pela mesma
incorporadora, um fundo de investimento na área imobiliária norte-americano com atuação no
Brasil e executados pela mesma construtora, com sede na cidade de São Paulo.
Os documentos de referência foram disponibilizados pela incorporadora e pela construtora, bem
como pelas empresas de consultoria em sustentabilidade responsáveis pela certificação dos
empreendimentos, como: projetos, memoriais descritivos, estudos técnicos e relatórios de
6
sustentabilidade. Ainda foram feitas entrevistas com os profissionais envolvidos em ambos os
empreendimentos como arquitetos, projetistas, gerentes de projetos, incorporador, integrantes das
equipes de obra e outros agentes relevantes.
Para a pesquisa de percepção e entendimento pelo mercado, foi realizada uma pesquisa entre as
principais incorporadoras brasileiras atuantes no estado de São Paulo. Foram enviados
questionários via e-mail com perguntas agrupadas em três assuntos distintos: contextualização
dos green buildings no mercado, certificações das edificações e ainda, sobre custos ao longo do
ciclo de vida do empreendimento.
1.4. Estrutura da dissertação
Esta dissertação está organizada em nove capítulos, como segue:
O Capítulo 1, Introdução, faz uma rápida abordagem da construção civil no contexto do
desenvolvimento sustentável e apresenta os objetivos e justificativas, bem como a metodologia
usada.
O Capítulo 2 trata com mais profundidade a relevância da indústria da construção civil para o
desenvolvimento sustentável e sua relação com os três pilares da sustentabilidade (econômico,
social e ambiental). Para tanto, expõe os impactos gerados pelo setor em seus vários aspectos:
como teve origem o conceito de construções sustentáveis, como o mercado - incluindo governos,
organizações não governamentais e empresas - está se comportando perante a este novo desafio e
quais os obstáculos e benefícios para implantação das construções sustentáveis.
O Capítulo 3 descreve a certificação norte-americana Leadership in Energy and Environmental
Design - LEED, aqui adotado como a referência comercial para caracterização de edificações
sustentáveis, por ser (1) a base de análise dos relatórios sobre custos de edificações sustentáveis
publicados até o momento, (2) a única certificação comercial atualmente presente no mercado
brasileiro com edifícios já certificados e (3) a certificação adotada pelos dois estudos de casos
7
utilizados neste trabalho.
O Capítulo 4 apresenta a estrutura, passo a passo, do processo típico de tomada de decisão na
construção civil, processo este de análise de investimentos, tendo o foco do capítulo voltado para
a seleção dos critérios de escolha das alternativas possíveis. A intenção deste capítulo é mostrar
que dentro de uma análise tradicional para a tomada de uma decisão, com os critérios hoje
usados, as construções sustentáveis não são privilegiadas. Como ocorre com qualquer inovação
mercadológica, seus custos de investimentos tendem a ser maiores, enquanto suas economias
e/ou receitas ocorrem particularmente ao longo do seu ciclo de vida, o que não é considerado no
modelo decisório tradicional.
O Capítulo 5 discorre sobre a análise de custos considerando o longo ciclo de vida das
edificações, abordando conceitos conceitos referentes ao ciclo de vida e um produto e de custos
ao longo do ciclo de vida de uma edificação. Neste capítulo também é apresentada a metodologia
Life-Cycle Costing Analysis - LCCA, que poderá ser usada dentro de um processo de decisão,
mas não exclusivamente, como critério de seleção de alternativas.
O Capítulo 6 descreve a metodologia e as características dos empreendimentos usados como
estudos de casos, bem como a estrutura de cada relatório analisado. Também consta a
metodologia empregada na análise de cada objetivo perseguido e o desenvolvimento de cada uma
delas.
O Capítulo 7 tem o intuito de expor os resultados extraídos para cada objetivo: no primeiro,
estuda as diferenças da aplicação do LEED em obras no Brasil e nos EUA, evidenciando suas
principais limitações e facilidades e edifícios sustentáveis. Para o segundo objetivo, compila e
analisa as respostas aos questionários da pesquisa de entendimento e percepção do mercado
brasileiro sobre green buildings, certificações e custos ao longo do ciclo de ida da edificação,
com empresas incorporadoras e investidoras atuantes no estado de São Paulo.
O Capítulo 8 traz as considerações finais do trabalho e recomendações para continuidade de
pesquisa. Finalmente, o Capítulo 9 lista as referências bibliográficas utilizadas ao longo do
trabalho.
8
2. Sustentabilidade na Construção Civil
O modelo econômico praticado atualmente no mundo, nos vários setores industriais e de
serviço, por um lado gera progresso, riqueza e fartura, por outro lado, provoca a destruição
do meio ambiente, conseqüência do consumo desenfreado de recursos naturais e da emissão
de poluentes na atmosfera, fazendo com que a miséria e a pobreza aumentem a cada dia. O
desafio do capitalismo global é incluir mais partes do mundo em sua generosidade e
proteger os sistemas naturais e as culturas que dependem da economia global (HART;
MILSTEIN, 2004).
Assim como todos os segmentos industriais, a construção civil também está intimamente
relacionada com a sustentabilidade do planeta, exercendo papel importante, talvez maior do
que se imagina, relacionado tanto aos impactos gerados quanto às possibilidades de
contribuição para sua minimização.
2.1. Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil
O desenvolvimento sustentável é um modelo de desenvolvimento capaz de garantir uma
evolução que dure, que se sustente através dos tempos e com a sucessão de gerações
(HERNANDES, 2006).
A definição clássica de desenvolvimento sustentável foi elaborada pela World Commission
on Environment and Development - WCED, no ano de 1987, também conhecida como
Comissão Brundthland: “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende as
necessidades presentes sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender suas
próprias necessidades” (WCED, 1987).
O conceito de desenvolvimento sustentável está apoiado em três pilares: o social, pedindo
uma sociedade mais justa em relação ao desenvolvimento humano e qualidade de vida; o
9
ambiental, solicitando equilíbrio entre a proteção e o consumo dos recursos naturais; e o
econômico requerendo acesso aos recursos e oportunidades sem ferir os limites ecológicos
e os direitos humanos. Contrário ao que se imagina, o desenvolvimento sustentável não é
um objetivo, mas um tipo de desenvolvimento necessário para atingir um estado de
sustentabilidade (AGENDA 21 CSPD, 2002).
A World Commission on Environment and Development ainda define:
“Desenvolvimento sustentável não é um estado de harmonia, mas um processo de mudanças no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais são feitas consistentemente tanto com as necessidades futuras bem como com as presentes” (WCED, 1987).
De acordo com Silva (2003), este conceito emergiu no início dos anos 70, quando foi
discutida a super exploração do ambiente pelo homem e suas conseqüências no
desenvolvimento econômico face às limitações ambientais. Mas foi a partir da década de 80
que metas ambientais passaram a ser definidas em convenções globais.
Uma das conferências mais conhecidas foi realizada em 1992 no Rio de Janeiro, a United
Nation Conference on Environment and Development (UNCED), mais conhecida como
ECO’92, resultando na publicação da Agenda 21, consolidando a
“idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do padrão tradicional de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações do final do século XX: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações” (DEGANI, 2003)
e estabelecendo uma visão de longo prazo para equilibrar necessidades econômicas e
sociais com os recursos naturais do planeta (SILVA, 2003).
Baseados nesta publicação, de acordo com Agenda 21 para Construção Sustentável em
Países em Desenvolvimento, todos os setores da sociedade se movimentaram para
interpretá-la em seus contextos específicos. A partir daí, foram criadas, em 1999, a Agenda
10
21 para Construção Sustentável (A21-CS), e, em 2000, a Agenda 21 para Construção
Sustentável em Países em Desenvolvimento (A21-CSPD), na qual participaram
representantes de países Ásia, África e América Latina.
O termo “construção sustentável” foi proposto pela primeira vez em dezembro de 1993,
pelo Prof. Charles Kibert da Universidade da Flórida, para descrever as responsabilidades
da indústria da construção civil no que diz respeito aos conceitos e objetivos da
sustentabilidade, revelando uma necessidade premente para se atingir tais objetivos
(PINTO; INÁCIO, s.d).
Já na Arquitetura, o termo green architecture, como filosofia de projeto integrado, apareceu
como primeiras referências numa publicação britânica – The Independent, no início dos
anos 90, seguido em meados deste mesmo ano, pela Architecture Magazine, revista norte-
americana (KATS, 2003)
A A21-CSPD (2000) define construção sustentável como o atendimento dos princípios do
desenvolvimento sustentável aplicados a todo o ciclo de construção, desde a extração e
beneficiamento de matérias-prima, percorrendo as fases de projeto, planejamento e
execução de edifícios e infra-estrutura até a fase final de demolição e gerenciamento dos
resíduos resultantes.
No entanto, deve-se atentar para o fato de que as prioridades de atendimento aos requisitos
da construção sustentável variam de um lugar para o outro (DEGANI, 2003), dependendo
da agenda de cada país. Esta agenda é planejada em conformidade com as características de
cada local, ligadas aos recursos naturais disponíveis, às tecnologias existentes de produção,
ao clima, às leis e regulamentações existentes, à cultura e tradições de cada país e com o
estágio de desenvolvimento em que cada um se encontra em relação às três dimensões da
sustentabilidade. Estas dimensões são a social, entendendo o grau de pobreza e educação
das pessoas, suas condições de trabalho e moradia, a ambiental, referente às políticas e
práticas locais de proteção ao meio ambiente e a econômica, relacionada ao nível do
desenvolvimento industrial, de geração e distribuição de renda.
11
Social
Meio
Ambiente
Econômico
Condições Biofísicas • Situação econômica • Educação e cultura • Condições de trabalho
• Desenvolvimento industrial • Geração de renda
Estas três dimensões da sustentabilidade formam os três pilares da sustentabilidade, como
apresentado na Figura 1, transcendendo o espaço biofísico - o impacto ambiental e
abraçando aspectos sociais e econômicos, os quais possibilitam agregar valor à qualidade
de vida dos indivíduos e à comunidade onde esta edificação está inserida (A21-CSPD).
Figura 1 – As três dimensões da sustentabilidade.
2.2. Impactos gerados pela Construção Civil
Quando se observa as cidades com suas casas, edifícios, indústrias, escolas, hospitais, bem
como toda a infra-estrutura, fica patente a importância das atividades relacionadas à
construção civil para um país. Também são visíveis os impactos por ela gerados, alguns de
caráter transitório como alterações no trânsito, poeira e barulho, outros permanentes, como
a permeabilidade do solo, mudando o regime de drenagem, causando enchentes e reduzindo
as reservas de água subterrânea (CBCS, 2007), repercutindo na vida das pessoas e,
conseqüentemente, na vida do planeta. Em países em desenvolvimento, esses impactos
tendem a ser potencialmente maiores, tendo em vista as carências habitacionais e de infra-
estrutura que, para serem supridas, demandam grande quantidade de recursos naturais
(KUHN; SATTLER; ALOYSIO, 2006)
Os números da construção civil no Brasil são expressivos. A Pesquisa Anual da Indústria
da Construção – PAIC de 2006 mostra o importante papel da indústria da construção civil
12
na economia, onde as empresas pertencentes a este segmento foram responsáveis, naquele
ano, por obras e serviços no valor de R$ 110,7 bilhões. Ainda no ano de 2006, o valor
adicionado da cadeia produtiva representou 13% do total da economia brasileira,
englobando a indústria de materiais formal e informal, construtoras formais e obras
informais, serviços auxiliares de construção (aluguel de equipamentos, incorporação de
imóveis e engenharia e arquitetura) e comércio de materiais formais e informais
(VASCONCELLOS, 2006).
A construção civil, também em 2006, gerou quase 1,5 milhões de empregos provenientes
de mais de 109 mil empresas do setor (PAIC, 2006). Para cada um milhão de reais
investidos na construção são gerados no segmento formal 20 empregos diretos e 10
indiretos, no segmento de construção residencial informal, 43 empregos diretos e 12
indiretos e em outras obras informais, 30 diretos e 14 indiretos (VASCONCELLOS, 2006).
Apesar de o setor ser um dos propulsores da economia, ele também causa grandes e
variados impactos no meio ambiente. Destacando-se:
• A construção e a manutenção da infra-estrutura do país consomem até 75% dos
recursos naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do setor a maior consumidora
destes recursos da economia (CBCS, 20071).
• A operação dos edifícios consome mais de 40% da energia total produzida no
mundo (CEOTTO, 2006);
• Edifícios residenciais, comerciais e públicos são responsáveis pelo consumo de 42%
da energia elétrica (DELBIN; SILVA, 2005) e 20% do total de energia produzida no
Brasil (CEOTTO, 2006);
• Os edifícios brasileiros gastam 21% da água consumida no país, sendo boa parte
1 CBCS – Conselho brasileiro de Construção Sustentável. Disponível em http://www.cbcs.org.br/construcaosutentavel/introducao.php?acao3_cod0=ed9c2f6d5b3899514b05b6df7844be8e acesso em 01/12/2007
13
desperdiçada (CBCS, 2007).
• Geração de 35% a 40% de todo o resíduo produzido na atividade humana
(CEOTTO, 2006);
• A quantidade de resíduos de construção e demolição é estimada em torno de 450
kg/hab.ano ou cerca de 80 milhões de toneladas por ano, impactando o ambiente
urbano e as finanças municipais. A este total devem ser somados os outros resíduos
industriais formados pela cadeia (CBCS, 2007);
• A produção de cimento gera 8% a 9% de todo o CO2 emitido no Brasil, sendo 6%
somente na descarbonatação do calcário2. Assim como o cimento, a maioria dos
insumos usados pela construção civil é produzida com alto consumo de energia e
grande liberação de CO2 (CEOTTO;2006).
Hoje, na indústria da construção civil, como em outros setores, a extração indiscriminada
de recursos naturais é prática comum na produção de bens, bem como a disposição,
também indiscriminada, dos resíduos decorrentes do processo de fabricação. Como
conseqüência, são evidentes os efeitos como: escassez de recursos naturais não renováveis;
diminuição das áreas das florestas; destruição da camada de ozônio e efeito estufa; perda da
diversidade genética; geração de resíduos; poluição do ar e chuva ácida; poluição das águas
e poluição do solo (DEGANI, 2003)
A energia, como recurso natural, é uma das maiores preocupações dos últimos tempos,
principalmente de países como os EUA, países em desenvolvimento como a China e alguns
europeus que possuem matrizes energéticas consideradas fortemente poluentes. De acordo
com a Key World Energy Statistics 2008, em 2006, a China e os EUA foram os maiores
produtores de eletricidade pela queima de carvão, com produções de 2.301 TWh e 2.128
TWh, respectivamente. Já na produção de energia pela queima de petróleo, os EUA
ocuparam o terceiro lugar com uma produção de 81Twh, ficando atrás apenas do Japão
2 Processo usado na fabricação do cimento que libera CO2.
14
(121 TWh) e Arábia Saudita (94 TWh) . Estas usinas de produção pela queima de óleo são
conhecidas como termelétricas e a utilização maciça desses recursos, além de provocar o
esgotamento dessas fontes energéticas, é a maior responsável pela emissão de gases tóxicos
e poluentes que alteram o clima mundial, acidificam águas e causam danos à saúde
(INATOMI; UDAETA, SI).
O Brasil é conhecido por ter uma matriz energética limpa, por gerar a maior parte de sua
energia em centrais hidrelétricas. Em 2005, de acordo com o Balanço Energético Nacional
(2006) a oferta brasileira de energia em fonte hidrelétrica foi de quase 75% enquanto a
mundial foi de, aproximadamente, 16%. No entanto, vale ressaltar os impactos decorrentes
da construção destas centrais, com impactos nem tão ecológicos assim. A construção de
represas interfere drasticamente no meio ambiente, provocando inundações em imensas
áreas de mata, interferindo no fluxo de rios, destruindo espécies vegetais, prejudicando a
fauna e intervindo na ocupação humana (INATOMI; UDAETA,SI). Portanto, o consumo
de energia no Brasil deve ser uma preocupação eminente não só pelos danos ambientais,
mas também pela capacidade de oferta frente à presente – e crescente – demanda interna.
Os edifícios, além de consumirem energia ao longo do seu ciclo de vida, são construídos
com materiais com alta quantidade de energia incorporada. Energia incorporada
corresponde à energia consumida ao longo do processo associado à produção de materiais e
componentes. Concreto, alumínio e aço estão entre os materiais com maior quantidade de
energia incorporada e também são responsáveis por grandes quantidades das emissões de
CO2. (BUILDING AND CLIMATE CHANGE, 2007)
Aspectos contidos no conceito de desenvolvimento sustentável – econômico, social e
ambiental – podem ser trabalhados na construção civil, considerando suas inerentes
características. A Tabela 1 relaciona estes aspectos no contexto da construção sustentável
sob um prisma prático, identificando diretrizes capazes de gerar benefícios a todas as partes
envolvidas em um projeto.
15
Tabela 1 - Prioridades e características do desenvolvimento sustentável aplicadas à construção civil
ASPECTOS DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
SOCIAL
• Grau de pobreza e educação;
• Condições de trabalho;
• Moradia e habitação;
• Cultura e tradições;
• Etc.
• Fonte de renda aos trabalhadores;
• Oportunidade de educação aos
trabalhadores;
• Qualidade de vida através do ambiente
de trabalho e do lar;
• Respeito à cultura e tradições locais
AMBIENTAL
• Políticas e práticas locais;
• Clima;
• Recursos naturais disponíveis;
• Tecnologias existentes;
• Etc.
• Incentivo à melhoria das políticas e
práticas do mercado;
• Adaptação de projeto, materiais e
tecnologias às práticas de sustentabilidade;
• Considerações de clima incorporadas ao
projeto;
• Preservação / racionalização de recursos
naturais;
• Gestão ambiental da execução das obras.
ECONÔMICO
• Desenvolvimento industrial;
• Geração e distribuição de renda;
• Recursos naturais disponíveis;
• Tecnologias existentes;
• Leis e regulamentações existentes
• Etc.
• Melhoria nos processos de produção;
• Gestão ambiental dos processos de
produção;
• Redução de custos ao longo do ciclo de
vida e conseqüente aumento de
lucratividade;
• Acesso a financiamentos especiais;
• Imagem positiva no mercado;
• Alterações de leis e regulamentações
2.3. O Mercado da Construção Civil e suas Construções Sustentáveis
O termo sustentabilidade está em pauta ultimamente. Empresas de todos os segmentos de
mercado de alguma maneira desejam estar vinculadas e alinhadas a este conceito. São
veiculadas na mídia toda e qualquer iniciativa. Pequenas ações e ações pontuais, seja no
16
campo social ou na área ambiental, muitas vezes são apresentadas como grandes feitos,
como estratégia de venda e de melhoria de imagem.
A criação, em 1999, do índice Dow Jones de Sustentabilidade - DJSI veio a corroborar com
a importância do tema em um âmbito global. Este índice ranqueia as empresas líderes de
mercado em relação a seus desempenhos quanto à sustentabilidade, orientando o mercado
quando da aquisição de ações e/ou fechamento de negócios entre organizações. Ele indica
se as empresas ranqueadas atendem a parâmetros de desenvolvimento sustentável, gerando
valor agregado e diminuindo o nível de riscos, uma vez que, de acordo com a Bovespa ,
existe uma tendência mundial dos investidores procurarem empresas socialmente
responsáveis, sustentáveis e rentáveis para aplicar seus recursos. Aqui no Brasil, seguindo a
mesma linha, foi lançado em novembro de 2005, em parceria com a International Finance
Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para projetos com a iniciativa privada, o
Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE–Bovespa. Este índice foi desenvolvido pelo
Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV), aferindo
por meio de questionário o desempenho das companhias emissoras das 150 ações mais
negociadas da Bovespa. De acordo com a Revista Bovespa (edição out/nov 2006), para o
superintendente de operações da instituição, Ricardo Pinto Nogueira, o resultado é reflexo
da soma do social, da governança corporativa e da preocupação ambiental. “O peso da
sustentabilidade faz diferença e mostra que os investidores não querem correr o risco de
comprar ações de empresas que sejam suscetíveis a problemas e demonstram confiança em
companhias sustentáveis”.
Na indústria da Construção Civil, a sustentabilidade atrelada às construções sustentáveis
começa a ser percebida como um diferencial, com maior interesse por toda a cadeia
produtiva. Está começando a surgir uma ligação entre valor de mercado e as construções
sustentáveis (DAVIES, 2005).
17
2.3.1. Reconhecimento pelo mercado
Hoje o movimento da sustentabilidade em construções é reconhecido por todos os
segmentos de desenvolvimento imobiliário, na tentativa de cortar custos, melhorar a
produtividades dos trabalhadores e minimizar os impactos no ambiente causados pelos
edifícios (CRYER, 2006). A maioria dos estudos publicados em periódicos confirma o
interesse crescente pelos edifícios verdes, no entanto, também apontam uma lacuna
existente entre as boas intenções e respectivas implantações, causada basicamente pela falta
de informação deste tipo de projeto (CALKINS, 2005).
Em estudo desenvolvido com empresas de projetos arquitetônicos de área externa, segundo
Calkins (2005), abrangendo temas de (1) proteção e recuperação do sítio, (2) materiais
ecológicos, (3) uso racional da água e tratamento de águas servidas / esgoto, (4) gestão de
águas de chuva e (5) redução de ilhas de calor, constatou-se que 85% dos entrevistados
estão adotando práticas de projeto mais sustentáveis do que há cinco anos, sendo que 22%
destes projetos foram classificados como “muito sustentáveis” e 45% incorporam alguma
estratégia sustentável.
O relatório da Turner Construction (2005) apontou a tendência de crescimento da demanda
por edifícios verdes nos três anos anteriores à publicação, tendência esta confirmada pelos
números de prédios LEED hoje certificados ou em busca de certificação no Brasil e no
mundo. Este documento foi fruto de uma pesquisa realizada com 665 executivos de
diversos tipos de organizações, envolvidas ou não em algum tipo de negócio com este tipo
de empreendimento, incluindo empresas de arquitetura, engenharia, consultorias,
incorporadores, proprietários de edifícios, usuários de edifícios corporativos próprios e
instituições educacionais.
Davies (2005) analisou 12 empreendimentos localizados nos EUA e Canadá, onde foi
identificado que o fator propulsor da concepção de projetos sustentáveis partiu em 75% dos
casos do interesse do proprietário/investidor, motivados por seus valores, seguido pelo
diferencial de mercado. Porém, as questões relacionadas à imagem da organização perante
18
a responsabilidade corporativa ambiental são de grande interesse quando do
desenvolvimento de um projeto sustentável.
Cryer et al (2006) analisou 235 projetos certificados pelo LEED-NC para novas
construções, versões 2.0 e 2.1, no período de 2000 até dezembro de 2005, com a intenção
de identificar padrões e tendências. Foi constatado um contínuo crescimento nas
certificações, de um único empreendimento certificado no ano de 2000 para 95 projetos
certificados em 2005.
Um dos fatores alavancadores do crescente número de certificações LEED nos EUA foi a
legislação local de muitos estados, que por meio de incentivos e exigência de requisitos
mínimos de sustentabilidade a prédios privados e públicos tornou mais familiar às
construtoras o processo de certificação, incluindo projeto e execução, diminuindo os riscos
associados e, conseqüentemente, os respectivos custos (CRYER et al, 2006). Mais de
quinze estados, cidades e municípios americanos desenvolveram programas para edifícios
sustentáveis (NELMS et al, 2005).
Destaca-se nos EUA o estado da Califórnia, onde se encontra a maior parte de edificações
certificadas pelo LEED. Algumas leis, chamadas “ordens executivas” (executive orders)
explicitam a preocupação existente com a sustentabilidade na indústria da construção, tanto
no desenvolvimento quanto na construção de empreendimentos.
Em 2000, a Executive Order D-16-00 do mês de agosto, o estado da Califórnia reconheceu
a oportunidade de um crescimento econômico incorporando práticas sustentáveis aos
empreendimentos por meio de investimentos e processos de gerenciamento de edifícios .
“Objetivando o terreno da obra, projeto, demolição, construção, manter edifícios modelos em uso eficiente de energia, água e materiais; provendo um ambiente interno saudável, produtivo, confortável e com benefícios a longo prazo aos californianos”
Essa lei requereu medidas de desempenho, econômicas e ambientais, LCC e uma
abordagem de sistemas integrados quando da tomada de decisões de investimento em
19
edifícios sustentáveis (KATS,2004).
Em outubro 2001 entrou em vigor a Executive Order D-46-01, reconhecendo o impacto
significativo do mercado de edifícios comerciais, dando diretrizes a um crescimento
organizado do espaço, incluindo itens como localização do empreendimento, proximidade
de transporte público, acesso de pedestres a comércio básico, utilização de locais com
significado histórico, cultural ou arquitetônico, comunicação entre proprietários, moradores
e estabelecimentos comerciais visando ao cuidado com o bairro / vizinhança.
Em dezembro 2004 foi elaborada a Executive Order S-20-04, por meio da qual o governo
da Califórnia estabeleceu que todos os edifícios pertencentes ao estado deveriam reduzir o
consumo de energia em 20% até o ano de 2015 e, para tanto, uma das medidas
estabelecidas foi de projetar, construir e operar todos os prédios novos e a serem
reformados considerando, no mínimo, a categoria prata do LEED.
De acordo com Kats (2003) a adoção de edificações sustentáveis foi fruto da preocupação
do estado com os seguintes desafios:
• Alto custo de energia elétrica;
• Problemas de suprimento de energia, associados à qualidade e disponibilidade;
• Possibilidade de racionamento de água e problemas com disposição de resíduos;
• Pressões estadual e federal para minimizar fatores poluentes;
• Preocupação crescente com o aquecimento global;
• Elevadas taxas de alergia e asma, especialmente em crianças;
• Saúde e produtividade dos trabalhadores;
20
• Efeitos do ambiente físico das escolas no aprendizado das crianças;
• Crescentes despesas na operação e manutenção dos sistemas prediais em prédios do
governo ao longo do tempo.
Outro exemplo da importância do papel do governo é Taiwan. Uma das estratégias da
promoção de edificações sustentáveis aconteceu em 2002, quando passou a ser obrigatório
o projeto sustentável, conforme metodologia local, de todos os novos edifícios do governo
central. Em 2008, Taiwan já tinha mais de 500 edifícios entre certificados e candidatos à
certificação (TAIWAN GREEN BUILDING COUNCIL, 2008).
Como posto por Silva (2009) as certificações e outras iniciativas voluntárias, assim como
instrumentos de market pull (incentivos fiscais, descontos, liderança pelo setor público),
regulamentação, pesquisa, desenvolvimento e disseminação (P,D&D) e educação e
treinamento (E&T) podem ser vistas como ferramentas de transformação do mercado da
construção civil, conservador em qualquer país.
A construção de edifícios e empreendimentos sustentáveis nos setores público e privado vai
ao encontro dos objetivos da política pública - uma vez que estas instituições são
responsáveis pela segurança pública - por meio da preservação ambiental, da melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos e da promoção da sustentabilidade na comunidade (NELMS
et al, 2005).
Não obstante normas, regulamentações e certificações, ainda há alguns incorporadores que
não procuram a certificação de maneira oficial, mas constroem edifícios levando em
consideração as diretrizes estabelecidas por uma determinada metodologia (DAVIES,
2005), demonstrando o valor agregado que trazem estas edificações.
A formação de entidades não governamentais também vem contribuindo para o incentivo
da sustentabilidade na construção civil em todo o mundo. A maioria delas tem como
objetivo gerar conhecimento, difundir e apoiar a construção sustentável em seus países,
ajudando a criar valor agregado no produto final.
21
O Quadro 1 apresenta alguns dos importantes conselhos de construção sustentável e os
respectivos sistemas de avaliação aos quais estão vinculados.
22
Quadro 1: Principais Conselhos de Construção Sustentável e seus sistemas de certificação.
PAÍS SISTEMA DE
CERTIFICAÇÃO SITUAÇÃO ATUAL
Alemanha Certificação Alemã para Edificações Sustentáveis
Desenvolvida pelo Conselho Alemão de Edficações Sustentáveis junto com o Ministério Federal de Transportes, Edificações e Urbanismo com a intenção de planejar e avaliar os edifícios em sua qualidade.
http://www.dgnb.de/en/certification/the-german-sustainable-building-certification/index.php?edit_document=1
Austrália Green Star
O Green Building Council of Austrália - GBCA foi formado em 2002, apoiado pelo governo e pelas indústrias locais com os objetivos de promover a sustentabilidade por meio de programas de construção sustentável, tecnologias, práticas de projeto e operação e integrar as iniciativas em todas as fases de projeto, construção e operação.
Brasil
Alguns edifícios em processo de certificação LEED original.
Aqua (HQE)
O Green Building Council Brasil - GBC Brasil, filiado ao World Green Building Council, lançado em julho de 2007, apóia a transformação de toda cadeia produtiva da construção civil.
Certificação dada pela Fundação Vanzolini. O sistema Aqua foi lançado em 03/04/2009 e trabalha com a metodologia francesa Haute Qualité Environnementale - HQE adaptada à realidade brasileira.
Lançado em 08/03/07 o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) tem como intuito contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio da geração e disseminação de conhecimento e da mobilização da cadeia produtiva da construção civil, de
23
seus clientes e consumidores.
Canadá LEED Canadá O Canadian Green Building Council - CGBC foi fundado em 2002. Formado pela coalisão de representantes de vários segmentos da indústria da construção tem por objetivo acelerar o projeto e construção de edifícios sustentáveis.
China Não há. Algum uso do CASBEE japonês.
O Conselho de Defesa de Recursos Naturais tem trabalhado na promoção de conselhos regionais, bem como nacional. Como exemplo, pode-se citar o de Shangai, o primeiro conselho a ser criado. Este conselho, junto com os Ministros da Construção e da Ciência e Tecnologia trabalham para fazer a adaptação do LEED para padrões locais. Este conselho ainda trabalhou com os EUA em projetos demonstrativos com atrativo das olimpíadas de 2008
Hong Kong
Hong Kong Building Environmental Assessment Method - HK-BEAM
Possui três organizações voltadas às construções sustentáveis (MADEW,2006): - Professional Green Building Council, organização não governamental, instituto de pesquisa e educação com intuito de promover um ambiente sustentável nas edificações. Formado em 2002 com a junção de profissionais de arquitetura e engenharia; - Business Environment Council – BEC, associação independente estabelecida em 1989, com o objetivo de promover o desenvolvimento ambiental e sustentável, oferecendo soluções sustentáveis e treinamento. É uma ramificação do World Business Council for Sustainable Development; - The Building Department of the Hong Kong Special Administrative Region – HKSAR (MADEW,2006). O sistema de avaliação foi adaptação do BREEAM 93 (SILVA, 2003)
24
Índia Uso licenciado do
LEED
O conselho local CII-Godrej GBC é um consórcio entre a Confederação das Indústrias da Índia, o governo do estado de Andhra Pradesh, House of Godrej, com suporte da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA. Entre os serviços oferecidos estão a implementação do LEED, ISO14001 e OHSAS18001
Japão CASBEE Formado em 1998, com objetivo principal a redução dos impactos ambientais nas construções ao longo das fases de planejamento, construção e disposição final de resíduos.
Coréia Padrão Coreano de
Construção Sustentável
Fundado para avaliar e testar o sistema de avaliação coreano, estabelecendo assim um método para medir o desempenho ambiental próprio considerando toda a edificação de uma perspectiva de ciclo de vida.
Nova Zelândia
Green Star NZ Desenvolvido pelo New Zealand Green Building Council - NZGBC junto com a indústria da construção civil.
Singapura Green Mark
O conselho ainda está em estágio inicial de formação (MADEW,2006). O sistema de certificação foi lançado em janeiro de 2005 para promover o desenvolvimento sustentável no ambiente construído, bem como difundir o conhecimento entre incorporadores, projetistas e construtores quando da concepção e execução do projeto. Abrange novas construções e edifícios existentes.
Taiwan
Ecology Environmental
Waste reduction and Health - EEWH (MADEW,2006)
Foi lançado em janeiro de 2005. O foco do conselho é o desenvolvimento da construção civil com proteção ambiental, promovendo construções sustentáveis. Estas construções têm um capítulo especial no código nacional de obras (MADEW,2006). O sistema de avaliação de avaliação próprio foi criado em 2001.
México Usa o LEED original, mas
Mexico Green Building Council é membro official do World Green Building Council - WorldGBC e afiliado ao International Initiative for a Sustainable Built Environment -
25
objetiva metodologia própria
IISBE.
Emirados Árabes
LEED
Formado em 2006 com o objetivo de de estabelecer princípios de sustentabilidade para edificações de modo a proteger o meio ambiente e assegurar a sustentabilidade nos Emirados Árabes Unidos
http://www.esoul.gohsphere.com/ABOUTUS/AboutEmiratesGBC/tabid/80/Default.aspx
Reino Unido
Building Research Environmental
Assessment Method - BREEAM
O Conselho tem por missão a melhora significativa do ambiente construído pela transformação radical na forma de planejamento, construção, manutenção e operação dos edifícios. Formado por um grupo multidisciplinar, chamado EAC (Environmental Assessment Consortium), de consultores especialistas em projetos ambientais e eficiência energética. Promovem, entre outros serviços, consultoria no uso do BREEAM. Este sistema foi o pioneiro e lançou bases de todos os sistemas de avaliação (SILVA,2003)
EUA
Leadership in Energy and
Environmental Design - LEED
Criado em 1993 com o objetivo de promover edifícios responsáveis, lucrativos e mais saudáveis para se trabalhar e viver. Participam dele todos os setores da cadeia produtiva da indústria da construção civil. O LEED é o mais comercial dos sistemas existentes, usado em vários países e foi inspirado no BREEAM do Reino Unido (SILVA, 2003).
26
No Brasil, o movimento rumo à sustentabilidade na indústria da construção civil vem
despontando aos poucos, por meio de iniciativas isoladas, mas com um nítido crescimento
no interesse pelas metodologias de avaliação existentes, bem como pelos conceitos de
construção sustentável. De acordo com Souza (2007), o Brasil vive um momento
extremamente rico em oportunidades para as empresas do setor da construção que queiram
se diferenciar e assumir práticas de sustentabilidade em seus negócios, empreendimentos e
obras.
Pode-se citar como um dos primeiros exemplos de interesse pelo conceito de edificações
sustentáveis no país, a avaliação de sustentabilidade do portfólio construído de uma
indústria de cosméticos usando a GBTool, ferramenta desenvolvida pelo Green Building
Challenge. O objetivo almejado pela indústria cosmética, quando da primeira avaliação,
ocorrida em 2004, era de criar benchmarking próprio para futuras avaliações, de maneira a
identificar pontos de melhoria no que se referem ao uso sustentável do site. A segunda
avaliação ocorreu em meados de 2006 e, baseado nos resultados obtidos, foram propostas
estratégias de, por exemplo, redução de gasto energia, usando tecnologias alternativas de
fonte de energia e a identificação dos maiores consumidores dentro da própria indústria.
Algumas destas estratégias já foram implementadas.
O primeiro caso de uma edificação certificada por um órgão internacional, conforme
reportagem publicada na Revista Exame, datada de 14/02/07, foi uma agência bancária,
localizada em Cotia (SP), construída seguindo as recomendações do LEED. Hoje são mais
de 50 projetos brasileiros registrados no USGBC, de diversas tipologias, em busca de
certificação, conforme apresentado na Tabela 5, do Capítulo 3.
Chama-se também atenção à quantidade razoável de empreendimentos imobiliários
residenciais, muitas vezes rotulados como condomínios ecológicos, com a especificação de
itens pontuais, como por exemplo, o uso de água de chuva para irrigação da área de
paisagismo na tentativa de enfocar valor agregado ao negócio.
É certo que a construção sustentável no Brasil está iniciando e pode-se afirmar que seus
27
conceitos são desconhecidos para muitos envolvidos no setor, havendo um grande espaço a
ser conquistado ao logo de toda a sua cadeia produtiva. Pode-se também afirmar que a
realização de um projeto sustentável acontece de cima para baixo, isto é, partindo sempre
do desejo do incorporador, pois são dele as diretrizes para o desenvolvimento e concepção
do projeto.
2.4. Obstáculos para Construções Sustentáveis
É clara a ascendência das construções sustentáveis no mercado internacional e, mais
lentamente, no nacional. No entanto, apesar das evidências serem cada vez mais fortes
sobre seus benefícios, ainda é questionado pelos construtores, desenvolvedores,
investidores e locatários o suposto benefício financeiro advindo deste tipo de edificação
(DAVIES, 2005).
Como todo novo conceito, com o uso de novas tecnologias e soluções diferenciadas de
projeto quando comparadas ao usualmente praticado, os edifícios verdes encontram
inúmeros obstáculos. Dentre eles, destacam-se como principais:
• Custo Inicial: o mercado tem a percepção de que este custo é muito mais alto em
edificações sustentáveis do que em edifícios convencionais (KATS,2003).
Praticamente toda a literatura existente, comparando os dois tipos de edificação,
aponta o custo inicial como o principal problema encontrado quando da decisão de
fazer ou não um projeto sustentável. Relatório da Turner Construction (2005)
apontou que o sentimento de acréscimo de custo inicial nas edificações sustentáveis
em relação às convencionais é diferente entre os executivos envolvidos com
projetos sustentáveis e os não envolvidos, sendo esta percepção de acréscimo de
13% e 18%, respectivamente. Ainda confirmando esta percepção do mercado,
entrevistas feitas com alguns incorporadores na Califórnia no ano de 2001 mostram
que as estimativas de acréscimo do custo inicial estão entre 10% e 15% para
edifícios sustentáveis (KATS, 2003). Entretanto, apesar do ceticismo e dúvida
28
existentes a respeito do tema, casos reais mostram um acréscimo mínimo de custo,
ou, até mesmo, nenhum custo (KATS, 2003). Contribuindo para a não
desmistificação de um alto investimento inicial, esbarra-se na confidencialidade de
dados dos estudos de casos publicados, comprometendo a qualidade financeira
destes dados, uma vez que proprietários e incorporadores não permitem a
divulgação de seus números absolutos. No entanto, Davies (2005) chama a atenção
para a importância da coleta e do compartilhamento de informações financeiras dos
estudos de caso.
• Falta de informação e/ou entendimento: este problema é encontrado, de diversas
formas, na cadeia produtiva do setor da construção civil. (1) A falta de
conhecimento específico, de treinamento e de familiaridade de clientes, construtoras
e fornecedores em relação ao entendimento das estratégias e conceitos de
sustentabilidade na construção (CALKINGS, 2005; DAVIES, 2005), bloqueiam
qualquer ação neste sentido da sustentabilidade, (2) o desconforto com
(relativamente) novas tecnologias, sistemas e materiais (CALKINS, 2005) intimida
construtoras e fornecedores, fazendo com que os arquitetos, projetistas e clientes
sejam conservadores em seu uso, super dimensionando os sistemas e não os
integrando na edificação como poderiam, conseqüentemente, atingindo um
desempenho menor do que o esperado (KATS, 2003) e (3) falta de estudos de custos
e dificuldade em justificar e quantificar ganhos ao longo do tempo (TURNER
CONSTRUCTION, 2005; CALKINGS, 2005). As edificações sustentáveis estão
ainda numa infância relativa e o setor ainda precisa coletar mais informações para o
entendimento e avaliação de como estes edifícios operam e quais são os impactos
envolvidos relacionados a seus custos (DAVIES, 2005). A despeito dos avanços
conhecidos, ainda se tem um número pequeno de publicações sobre o efetivo
acréscimo de custos nas edificações sustentáveis. Temos ainda (4) a falta de
conhecimento dos incorporadores de conceitos e possíveis benefícios advindos dos
empreendimentos sustentáveis (DAVIES, 2005), entrando no mérito do valor
agregado ao produto, numa possível maior alavancagem nas vendas / locação das
unidades.
29
• Falta de demanda do mercado: problema este que, na verdade, poderia recair no
tópico anterior de falta de conhecimento/ informação, pois os usuários finais não
foram instruídos a respeito dos possíveis ganhos em redução de taxas de
condomínio e qualidade ambiental, durante o uso da edificação. “Incorporadoras
desenvolvem o produto solicitado pelo mercado e não oferecem edifícios verdes aos
consumidores porque estes não sabem muito a respeito deste produto. Isto inclui os
consumidores que poderiam e pagariam por eles se tivessem chance” (DAVIES,
2005).
2.5. Benefícios econômico-financeiros das Construções Sustentáveis
Satisfazer e atender às expectativas geradas por diferentes clientes não é tarefa fácil ainda
mais quando o produto vendido é uma edificação. As particularidades do produto edifício
provocam no comprador um comportamento complexo, uma vez que estão comprando um
produto caro, com características únicas e geralmente considerado de longa duração
(MIRON; FORMOSO, 2003). Neste contexto, entender os ganhos que as edificações
sustentáveis podem trazer ou fazer com que os clientes / usuários finais compreendam seus
benefícios não é tarefa fácil, pois requer a demonstração do valor do produto e a ligação
deste com os requisitos do cliente.
O conceito de valor se refere à relação entre cliente e produto e o preço pago em um
produto é, em última instância, a expressão do reconhecimento, pelo cliente, do valor
daquele produto.
2.5.1. Teoria econômica neoclássica e meio ambiente
A teoria econômica neoclássica sugere que a alocação de recursos é determinada pela força
do mercado. Se um recurso se torna escasso, seu preço sobe (lei da oferta-demanda) e, desta
30
forma, é criada oportunidade de produção de produtos substitutos aos recursos faltantes
(MYERS, 2004). Além disso, também de acordo com esta teoria, os indivíduos
responsáveis pelas decisões selecionam uma determinada alternativa tendo por base a
racionalidade, considerando suas preferências e sabendo das conseqüências de cada opção
bem como dos seus respectivos riscos e incertezas (GLUCH; BAUMANN, 2004).
No entanto, estudos mostraram que homens não tomam decisões racionais quando as
incertezas envolvidas refletem conseqüências complexas e a longo prazo. Portanto, neste
contexto, considerando esta teoria, limitações, referentes ao uso de recursos naturais, foram
encontradas (GLUCH; BAUMANN, 2004):
• Não se pode assumir, neste contexto, um processo de decisão racional, com
incerteza genuína, uma vez que as conseqüências e os resultados são de longo
prazo;
• As alternativas são tidas sempre como disponíveis, desconsiderando mudanças
irreversíveis. Os recursos são considerados como passíveis de serem substituídos;
• Recursos que não são de propriedade de alguém são ignorados, isto é aqueles itens
que não tem valor de mercado, como o ar;
• O caráter multidimensional dos problemas ambientais é reduzido e traduzido em
unidade monetária.
Sendo assim a análise econômica voltada ao meio ambiente não aceita o ecossistema ou a
natureza meramente como outro setor da economia sujeito às leis de mercado (MYERS,
2004). Há um erro em se acreditar que a sociedade e o meio ambiente existem para servir à
economia. É patente que o comércio não existe sem a sociedade e a sociedade não existe
sem o meio ambiente (CHAMBERS; SIMMONS e WACKERNAGEL, 2000).
De fato, o meio ambiente prove todos os recursos naturais e matérias primas necessários,
como terreno, energia e água, para iniciar qualquer processo de construção. Assim, pode-se
31
concluir numa visão moderna, que a economia pode ser vista como subsistema do meio
ambiente (MYERS, 2004). Este ponto de vista traduz o modelo “boneca russa” (Figura 2)
onde a economia existe em prol dos objetivos da sociedade gerando mais qualidade de vida
(CHAMBERS; SIMMONS e WACKERNAGEL, 2000).
Figura 2 - Meio ambiente e economia: (a) modelo tradicional da inter-relação da economia, sociedade e meio ambiente e (b) modelo “boneca russa” (Russian Doll).
Os certificados disponíveis para edifícios estão fortemente focados nos aspectos ambientais
da Figura 2 (b). Os aspectos sociais do desenvolvimento sustentável nos empreendimentos,
como inter-relação do empreendimento com problemas na comunidade como qualidade
urbanística do projeto, segregação social e urbanização descontrolada ainda não foram
totalmente explorados, uma vez que tratam de problemas complexos. A valorização
comercial do empreendimento é o principal mecanismo para permitir que os aspectos
sociais e ambientais estejam alinhados com o retorno econômico (LÜTZKENDORF;
LORENZ, 2005).
2.5.2. Preço e valor de uma edificação sustentável
Os textos econômicos freqüentemente enfatizam a dificuldade de se ter um produto e/ou
32
serviço diferenciado na indústria da construção civil, seja pela qualidade ou pela
confiabilidade, tendo em vista que existe uma grande quantidade de empresas que fazem
produtos muito similares. A tendência da construção sustentável está emergindo lentamente
e conquistando construtores e clientes (MYERS, 2004).
O valor de um empreendimento tem sido julgado pela sua localização, qualidade, função e
estética e os atributos de um edifício sustentável quase sempre são invisíveis e apreciáveis
apenas depois da sua ocupação, durante a fase de uso (BARTLETT; HOWARD, 2000). No
entanto, está sendo criado um elo entre valor de mercado de edifícios e características
sustentáveis e seu respectivo desempenho (DAVIES, 2005).
É certo que o principal papel da viabilidade econômica de um empreendimento é
maximizar o ganho de valor para o investidor. Porém, valor é um conceito difícil de ser
definido, especialmente quando significa coisas diferentes para pessoas diferentes
(LANGSTON, 2005). Sendo assim, é primordial distinguir preço de valor. Os dois
conceitos estão inter-relacionados, porém não são sinônimos. Preço é uma parte do valor
percebido (LANGSTON, 2005), é a quantia pedida, oferecida ou paga por um bem ou
serviço (LÜTZKENDORF; LORENZ, 2005). Valor é relativo e não uma característica
inerente a um determinado objeto, é medido por meio de comparação com outro produto de
similar função, atratividade, custo, etc. Não pode ser atribuído isoladamente (LANGSTON,
2005). Portanto, o preço de uma determinada transação depende da percepção de valor e da
negociação dos compradores e dos vendedores (LÜTZKENDORF; LORENZ, 2005).
Para Csillag (1995), o valor real de um produto se refere ao grau de aceitabilidade pelo
cliente, depende tanto de condições locais quanto temporais e é uma entidade relativa.
Quanto maior o valor de um item sobre o outro que sirva para a mesma finalidade, maior a
probabilidade de vencer a concorrência (CSILLAG, 1995).
Fabrycky e Blanchard (1991) destacam que há dois tipos de utilização de produto: os bens
de consumo e os bens de produção. Os primeiros são aqueles que são consumidos para a
satisfação dos usuários e grande parte da sua avaliação é feita de maneira subjetiva, num
processo mental sem lógica. No segundo caso, os produtos não são utilizados diretamente,
33
mas como meio de produção e sua avaliação pode ser objetiva (FABRYCKY;
BLANCHARD, 1991). Um edifício, dependendo da sua tipologia, pode ser entendido, bem
como o valor atribuído a ele, como um bem de consumo ou um bem de produção. O
consumidor que compra um apartamento no qual irá morar entende-o como bem de
consumo e sua avaliação, muitas vezes, se dá no âmbito emocional. Já uma organização
adquire uma planta industrial ou um edifício comercial com a intenção de usá-los como
parte da produção de seu produto ou serviço.
No caso de empreendimentos imobiliários se torna fundamental a identificação das
necessidades de suas partes interessadas traduzindo-as em valor e, conseqüentemente, se
projetar um possível preço reflexo. O que representa o edifício para o investidor? Fim ou
meio? A sustentabilidade na construção civil pode ser entendida como valor dependendo do
ponto de vista da parte interessada. Bartlett e Howard (2000) identificaram quatro tipos de
partes interessadas:
• Investidor especulativo: para esta parte interessada o prédio é visto como negócio,
com a finalidade de lucro. Seus custos iniciam com a compra do terreno, passando
por projeto e construção. Seu retorno é proveniente das vendas ou locação de
unidades. A motivação para se ter um consumo de energia mais eficiente e/ou um
edifício com características sustentáveis é focada no retorno proveniente do
mercado, quando tais elemento são diferenciais e ajudam ou numa alavancagem
maior nas vendas ou quando pode-se conseguir um maior preço pelas unidades;
• Investidor institucional: para este tipo de investidor todos os custos são importantes,
a compra do terreno, a construção e a operação. Ele está interessado em manter os
locadores felizes e assim obter, com a fidelidade, baixo risco ao seu negócio;
• Proprietário – ocupante: no Reino Unido os edifícios pioneiros em termos de valor
ambiental foram erguidos por este tipo de investidor, que está menos sujeito às
normas de mercado (BORDASS, 2000). Para este caso, todos os custos iniciais e ao
longo do tempo são relevantes, independentemente do aluguel. O edifício, entendido
como meio de produção, deve ser projetado para atender às necessidades dos
34
ocupantes, relacionadas à atividade principal e
• Locador: os locadores pagam pela maioria dos custos de uso. De acordo com
Bartlett e Howard (2000) estes custos, quando analisados isoladamente, compõem
pequena parte dos custos de ocupação. No entanto, o conforto (térmico, acústico,
lumínico) dos edifícios sustentáveis tem efeitos positivos na produtividade dos
ocupantes agregando economia de custos.
O valor dado a um empreendimento pode ter vários pontos de vista e dependerá do tipo de
cliente, da contribuição deste empreendimento para a lucratividade do negócio principal e
de razões subjetivas, com imagem, identidade e outras preferências pessoais
(LÜTZKENDORF; LORENZ, 2005).
Os edifícios sustentáveis, além de contribuírem para o meio ambiente e apresentarem
custos operacionais e de manutenção inferiores aos edifícios tradicionais. Eles ainda
desempenham papéis sociais junto à comunidade, seja pelo seu aspecto cultural, de saúde,
social e cultural (HANDLER, 1970) e junto à região e/ou município no qual ele está
inserido, sendo o agente promotor da valorização da área e da geração de empregos diretos
e indiretos. Ries e Bilec (2006), em estudo de caso realizado com uma empresa de pré-
moldados na Pensilvânia, apontou ganhos em produtividade, qualidade interna do ambiente
e economia em energia. No entanto, este autor ressalta as dificuldades de mensuração
destes ganhos por falta de controle do ambiente, recorrendo neste estudo à pesquisa
qualitativa.
Davies (2005) aponta uma grande lacuna existente, de entendimento e conhecimento, entre
a indústria sustentável e as entidades (pessoas ou organizações) responsáveis pela
viabilidade de um empreendimento. De acordo com Ries e Bilec (2006), muitas áreas-
chave de negócio, como investidores e incorporadores, estão ansiosas por um entendimento
estrutural e monetário de green buildings, bem como de sua métrica. É preciso que se
encontre uma maneira de quantificar melhor o valor agregado às construções sustentáveis
na tentativa de explicitar claramente seus ganhos e o que as distingue, efetivamente, das
construções tradicionais. O valor ambiental é o inverso do resultado da soma dos impactos
35
causados durante o ciclo de vida de um edifício (BOGENSTÄTTER, 2000).
Se por um lado é de extrema importância a contabilização dos ganhos de sustentabilidade
em um projeto, por outro, é imprescindível a educação daquelas pessoas que sentirão e
usufruirão, ao longo do tempo, dos benefícios destas construções. “Se a indústria puder
convencer os consumidores usuários dos ganhos de uma construção sustentável, estas
construções se tornarão mais desejadas e, provocará uma demanda do mercado”
(DAVIES, 2005).
No setor da construção civil, procura-se arbitrar tendências de movimentos futuros de
mercado, um estado de demanda num momento mais adiante (ROCHA LIMA JR., 2004).
Portanto, a proposta de Davies (2005) é a criação desta demanda, baseada em argumentos
sólidos - aplicação de medidas de valoração consistentes – por meio da comunicação dos
benefícios de um edifício sustentável ao consumidor.
Propostas inovadoras de concepção de um novo empreendimento, no caso mais sustentável,
merecem idéias renovadas de se oferecer o mesmo produto como a Estrutura Verde de
Locação sugerida por Melaver e Mueller (2009) na qual o objetivo é transferir ou
compartilhar riscos entre locatários e locadores, como apresentado na Tabela 2
36
Tabela 2: Estrutura "Verde" de Locação proposta por Melaver e Mueller (2009).
Categoria de locação
Estrutura da Locação Riscos e Benefícios
Locação bruta
O valor recebido pelo locador é fixo (mais baixo pelas economias); O locador pode criar algum incentivo ao locatário para reduzir e/ou controlar os custos com energia.
Os riscos e benefícios são do locador. Cabendo a este, em seus cálculos, estimar as economias a serem repassadas, bem como suas variações.
Locação bruta Modificada
Estabelecimento de um baseline no primeiro ano de locação ou estabelecimento de um parâmetro base monetário (ex. R$/m²).
Transferência de algum risco de operação para o locatário. O locatário paga pelo custo de energia excedente ao baseline ou ao parâmetro base monetário estabelecido.
Locação-líquida
Pagamento ao locador de um valor-base de aluguel apenas do espaço locável, mais uma taxa de administração da operação, manutenção e gerenciamento do empreendimento. Os custos de operação são do locatário.
Os riscos e benefícios são do locatário. Indicado para um locatário exclusivo de um edifício ou inquilinos de varejo, como condomínios comerciais ou shopping centers.
2.6. Considerações sobre o capítulo
Entender o papel do edifício para o potencial comprador e/ou investidor (indivíduos, grupo
de indivíduos ou organização) faz a diferença quando da atribuição do valor àquela
transação. O enfoque dado ao edifício para um investidor especulativo é totalmente
diferente do enfoque dado por um proprietário-ocupante. Ainda neste último caso, vale
entender se a edificação é fator de produção (no caso de uma indústria), onde o projeto, em
última instância, pode afetar a competitividade de seu produto no mercado.
Uma das maneiras de se reconhecer um edifício verde é pela reunião de várias soluções de
projeto, sistemas e tecnologias que visam a minimizar o uso de recursos naturais, bem
como reduzir resíduos produzidos. No próximo capítulo será apresentada a metodologia
LEED, que requer várias características de projeto para que um edifício seja considerado
verde. Esta metodologia, além de ser a mais aceitada comercialmente, emite certificado e
foi empregada nos estudos de caso deste trabalho.
37
3. Leadership in Energy and Environmental Design – LEED
Muito se tem veiculado na mídia sobre edificações sustentáveis, construções sustentáveis e
green buildings, nomes dados ao mesmo produto porém com semânticas diferentes. A
expressão “green building”, como originalmente criada, referia-se exclusivamente à
dimensão ambiental da sustentabilidade. Porém, com o tempo acabou por identificar as
edificações no contexto de sustentabilidade. A expressão “construções sustentáveis” foi
cunhada para englobar todas as iniciativas dedicadas à criação de construções que utilizem
recursos de maneira eficiente e que tenham maior longevidade (SILVA, 2003).
Apesar das edificações sustentáveis serem um fenômeno recente, suas raízes datam de mais
de trinta anos, quando havia um movimento disperso de ambientalistas em torno do assunto
(CRYER et al, 2006). Com o passar do tempo, a definição de edificação sustentável é ainda
subjetiva e não há uma maneira aceita universalmente para comparação de atributos
sustentáveis (KATS, 2003).
O desenvolvimento das metodologias de avaliação ambiental de edifícios que surgiram na
década de 90 na Europa, EUA e Canadá foi embasado no conceito de análise do ciclo de
vida (SILVA, 2003). Atualmente, quase todos os países europeus, além dos EUA, Canadá,
Austrália, Japão e Hong Kong, possuem um sistema de avaliação ambiental de edifícios
(SILVA; AGOPYAN, 2004).
Vale ressaltar que – com exceção do SBAT, método sul-africano - todos os métodos de
avaliação de edifícios hoje existentes focam exclusivamente na dimensão ambiental, uma
vez que estão baseados em modelos elaborados por países desenvolvidos. Neles, a
sociedade já encontrou equilíbrio de qualidade de vida, igualdade social e distribuição de
renda e a prioridade passa a ser o restabelecimento dos recursos naturais destruídos
(SILVA; AGOPYAN, 2004).
38
Independente de certificações específicas, as preocupações-chave da sustentabilidade em
edificações deveriam ir além da dimensão ambiental, extrapolando-as para os problemas
sociais e variando de acordo com a realidade do país avaliado. Assim, teríamos edificações
focadas:
• no uso eficiente dos recursos naturais: água, energia e materiais brutos;
• na poluição do ar e das águas;
• na minimização dos resíduos sólidos, pela disposição correta destes e pela
reciclagem e reaproveitamento de materiais;
• na qualidade do ambiente interno e
• na preocupação com o entorno e com a comunidade local;
3.1. A certificação LEED e suas aplicações no Brasil
A avaliação do desempenho ambiental de edifícios surgiu com a constatação de que,
mesmo os países que acreditavam dominar os conceitos de projeto ecológico, não possuíam
meios para verificar o quão "verdes" eram de fato os seus edifícios. Com o consenso entre
pesquisadores e agências governamentais quanto à classificação de desempenho atrelada
aos sistemas de certificação ser um dos métodos mais eficientes para elevar o nível de
desempenho ambiental tanto do estoque construído quanto de novas edificações (SILVA,
2003).
Neste contexto, o LEED foi elaborado e publicado, pelo United States Green Building
Council (USGBC)3, na sua primeira versão, em 1999, com a finalidade de motivar e
3 USGBC é uma organização sem fins lucrativos que tem por finalidade a divulgação de práticas sustentáveis em edifícios. É formada por mais de 12.000 organizações da industria de construção, incluindo, entre outros, proprietários e usuários finais de edifícios,
39
acelerar o desenvolvimento de práticas sustentáveis por meio da criação e implementação
de critérios de desempenho e ferramentas universalmente entendidas e aceitas (USGBC,
2007). O LEED acredita que um projeto verde (green design) tem um impacto positivo não
apenas na saúde das pessoas e no ambiente, mas também reduz custos operacionais,
melhora a comercialização, potencializa a produtividade dos ocupantes e ajuda a criar uma
comunidade sustentável (LEED NC, versão 2.2).
A iniciativa de um dos fundadores do USGBC e idealizador do LEED, David Gottfried, de
criar um conselho mundial para a construção verde incentivou a criação de diversos centros
similares ao USGBC no mundo (HERNANDES, 2006).
Desde o lançamento da primeira versão outras sobrepuseram esta primeira: LEED-NC v2.0
lançado em março de 2000 e o LEED-NC v2.1 lançado em novembro de 2002, a versão
versão 2.2, lançada em outubro de 2006 e a mais recente, a versão 3 lançada dia 27/04/2009
(USGBC, 2009). Em 2004 outras metodologias LEED foram criadas, com o mesmo
embasamento no que se refere aos tópicos estudados para atender mais especificamente
diversas tipologias de construção, como segue:
• LEED para novas construções e grandes reformas (LEED NC), atendendo a projetos
de edifícios comerciais e institucionais, incluindo edifícios de escritório, centros
recreativos, plantas industriais e laboratórios. Baseado no LEED NC surgiram
ramificações para atender às diversas tipologias de obra. LEED múltiplos edifícios e
campus, usado em campus corporativo e campus universitário, podendo ser aplicado
na construção em uma única fase ou na execução em etapas da obra; LEED Escola
com requisitos específicos como acústica para as salas de aula e prevenção de mofo;
LEED Saúde com requisitos para evitar ambientes com química e poluentes e
proporcionar acesso a espaços abertos; LEED Retail, focando lojas de varejo com
características peculiares como iluminação, segurança, energia, água, etc.
• LEED para edifícios existentes (LEED EB), disponível a partir de 2004 (Green
incorporadores, operadores, projetistas, engenheiros, construtoras, fornecedores da cadeia produtiva e órgãos do governo (USGBC).
40
Building Facts, 2009) para avaliar e medir a operação e manutenção, se reportando a
tópicos como limpeza da edificação, programas de reciclagem e de manutenção
externa e a melhoria dos sistemas prediais. Pode ser aplicado também a projetos já
certificados pelo LEED NC e LEED C&S.
• LEED para interior de edifícios comerciais (LEED CI), disponível a partir de 2004
(Green Building Facts, 2009) e elaborado para atender ao locador do espaço,
certificando o alto desempenho da área interna, visando a um ambiente interno mais
saudável e produtivo para o trabalho. Pode ser aplicado também a projetos de lojas
de varejo, LEED Retail;
• LEED para fachada e núcleo (LEED C&S), desenhado e lançado em julho de 2006
(Green Building Facts, 2009) para complementar o LEED CI, englobando a
estrutura, fachada e sistema de ar-condicionado;
• LEED para residências (LEED for Homes), lançado em dezembro de 2007 (Green
Building Facts, 2009) para residências unifamiliares;
• LEED para desenvolvimento do bairro (LEED ND), desenvolvido tendo por base o
princípio de crescimento urbano estruturado. Ainda em teste piloto (Green Building
Facts, 2009)
A Figura 3 mostra a estrutura do sistema de certificação e suas ramificações, algumas ainda
em desenvolvimento.
41
Figura 3 – Tipologias certificáveis pela metodologia LEED (Fonte: LEED NC, versão 2.2).
Até o mês de abril de 2009, eram 19.524 projetos registrados no USGBC para certificação
LEED e o número de projetos certificados já somava 2.476, como apresentado na Tabela 3.
De acordo com Hernandes e Duarte (2007) quase a metade dos projetos registrados e
certificados pertencem ao governo (federal, estadual ou municipal). Registrar o projeto no
USGBC é o primeiro passo a caminho da certificação. Porém, vale ressaltar que um projeto
registrado pode ou não obter a certificação LEED.
*em desenvolvimento
42
Tabela 3: Projetos Registrados e Certificados até o mês de Abril/2009. Fonte: GREEN BUILDING FACTS (2009). Green Building by the nunbers.
LEED-
NC LEED -
CI LEED -
EB LEED -
C&S LEED -
ND
LEED- NC
Escola
LEED- NC
Retail
TOTAL
Projetos Registrados
11.597 2.047 2.490 2.488 225 713 189 19.524
Projetos Certificados
1.600 479 200 157 13 4 36 2.476
A metodologia LEED trabalha com um sistema de pontuação voluntário, dirigida ao
mercado e baseada em princípios ambientais e energéticos (do mercado norte-americano) e
procura equilibrar práticas estabelecidas com conceitos emergentes (LEED NC, versão
2.2). Quanto maior a pontuação obtida por um edifício, mais alto poderá ser o seu grau de
certificação, podendo um edifício ser certificado nas categorias prata, ouro ou platina.
No caso de um novo projeto de um empreendimento comercial a ser certificado pelo
LEED-NC v2.2 é possível atingir, no máximo, 69 pontos, distribuídos em seis diferentes
categorias e divididas por assuntos relacionados à sustentabilidade, como segue:
• Sustentabilidade do terreno
• Uso racional de água
• Energia e atmosfera
• Materiais e recursos
• Qualidade do ambiente interno
• Inovações de projeto
Para um edifício ser elegível à certificação, sete pré-requisitos devem ser obrigatoriamente
43
atendidos. Cada pré-requisito e requisito foram escritos para minimizar impacto ambiental
específico, como apresentado no Quadro 2.
Excetuando-se os pontos obtidos com a categoria Projeto e Inovação, pode-se dizer que são
avaliados de 60 pontos (53 créditos eletivos e 7 pré-requisitos) pertencentes a 5 distintas
categorias (Sustentabilidade do Terreno, Uso Racional de Água, Energia e Atmosfera,
Materiais e Recursos e Qualidade do Ambiente Interno), com a possibilidade de obtenção
de até 64 pontos, como mostra a Tabela 4.
Tabela 4: Créditos, pré-requisitos e pontos possíveis na metodologia LEED, excetuando-se a categoria Projeto e Inovações.
Categorias Avaliadas Créditos Possíveis
Pré requisitos
Pontos Possíveis
Pontos Possíveis
(%) Terrenos Sustentáveis 14 1 14 22
Uso Racional da Água 5 5 8
Energia e Atmosfera 6 3 17 27
Materiais e Recursos 13 1 13 20
Qualidade do Ambiente Interno 15 2 15 23
Total 53 7 64 100%
Vale ressaltar que na categoria Energia e Atmosfera são apresentados 6 créditos para 17
pontos, pois há uma pontuação crescente tanto no alcance do Crédito 1, com possibilidade
de obtenção de até 10 pontos dependendo do grau de otimização do desempenho de energia
atingido e no Crédito 2, com possibilidade de pontuação de até 3 pontos dependendo da
parcela de energia renovável prevista no empreendimento em questão.
44
Quadro 2: Requisitos do LEED (Créditos e pré-requisitos) com seus respectivos objetivos.
TERRENOS SUSTENTÁVEIS 14
PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Prereq 1 Prevenção de poluição durante a construção Obrigatório Reduzir a poluição ao longo da execução da obra, na vizinhança e no solo
Crédito 1 Escolha do terreno 1 Evitar uso inapropriado do terreno e reduzir o impacto ambiental causado pela implantação do empreendimento
Crédito 2 Desenvolvimento urbano e conectividade comunitária 1 Implementar empreendimentos em áreas com infra-estrutura existente, proteger habitats naturais e preservar áreas verdes
Crédito 3 Desenvolvimento imobiliário em áreas degradadas 1 Regenerar e recuperar áreas degradadas
Crédito 4.1 Acesso a transporte público 1 Reduzir impactos ambientais causados pelo uso de automóveis
Crédito 4.2 Bicicletário e vestiário 1 Reduzir impactos ambientais causados pelo uso de automóveis
Crédito 4.3 Veículos com baixa emissão e eficientes 1 Reduzir impactos ambientais causados pelo uso de automóveis
Crédito 4.4 Capacidade de estacionamento 1 Reduzir impactos ambientais causados pelo uso individual de automóveis
Crédito 5.1 Proteção e recomposição do habitat 1 Conservar áreas naturais e restaurar áreas degradadas recompondo habitats e promovendo a biodiversidade
Crédito 5.2 Desenvolvimento área externa projetada 1 Promover alta taxa de áreas abertas em relação à projeção do edifício, promovendo a biodiversidade
Crédito 6.1 Controle de águas de chuva (taxa e qualidade) 1 Limitar a interferência na hidrologia natural do terreno
Crédito 6.2 Tratamento de águas de chuva 1 Limitar a interferência e a poluição das águas do terreno
Crédito 7.1 Ilhas de calor - áreas descobertas 1 Reduzir ilhas de calor minimizando os impactos no microclima
Crédito 7.2 Ilhas de calor - áreas cobertas 1 Reduzir ilhas de calor minimizando os impactos no microclima
Crédito 8 Redução da poluição de iluminação 1 Minimizar a quantidade de luz emitida pela edificação
45
USO RACIONAL DA ÁGUA 5 PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Crédito 1.1 Uso eficiente de água para jardins, redução de 50% 1 Limitar o uso de água potável na irrigação do paisagismo
Crédito 1.2 Uso eficiente de água para jardins, não usar água potável ou não irrigação
1 Eliminar o uso de água potável na irrigação do paisagismo
Crédito 2 Tecnologia inovadoras para esgoto 1 Reduzir quantidade de efluentes e demanda por água potável
Crédito 3.1 Redução do uso de água , 20% 1 Aumentar a eficiência do uso da água
Crédito 3.2 Redução do uso de água , 30% 1 Aumentar a eficiência do uso da água
ENERGIA E ATMOSFERA 17
PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Prereq 1 Comissionamento do sistema de energia do edifício Obrigatório Verificar se o respectivo sistema está instalado, calibrado e com desempenho de acordo com o projetado
Prereq 2 Desempenho mínimo de energia Obrigatório Estabelecer um mínimo de eficiência energética
Prereq 3 Gerenciamento de gás refrigerante Obrigatório Reduzir a destruição da camada de ozônio
Crédito 1 Desempenho otimizado de energia 1 a 10 Melhorar o desempenho energético quando comparado a um desempenho básico
Crédito 2 Uso de Energia Renovável 1 a 3 Incentivar e reconhecer sistemas de auto-fornecimento de energia
Crédito 3 Comissionamento avançado 1 Iniciar o comissionamento nos estágios iniciais de projeto
Crédito 4 Gerenciamento avançado de gás refrigerante 1 Reduzir a destruição da camada de ozônio
Crédito 5 Medições e verificações 1 Prover a controlabilidade dos sistemas
Crédito 6 Energia verde 1 Incentivar o uso de energias renováveis
46
MATERIAIS E RECURSOS 13
PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Prereq 1 Coleta e estocagem de materiais recicláveis Obrigatório Reduzir os resíduos a serem gerados pelos ocupantes da edificação
Crédito 1.1 Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes)
1 Aumentar ciclo de vida, aproveitar materiais, preservar a cultura e minimizar resíduos e impactos da manufatura e transporte
Crédito 1.2 Reuso da edificação existente (manter 95% da fachada, piso e cobertura existentes)
1 Aumentar ciclo de vida, aproveitar materiais, preservar a cultura e minimizar resíduos e impactos da manufatura e transporte
Crédito 1.3 Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais)
1 Aumentar ciclo de vida, aproveitar materiais, preservar a cultura e minimizar resíduos e impactos da manufatura e transporte
Crédito 2.1 Gerenciamento de resíduos (gestão de 50% dos resíduos)
1 Redução e disposição correta dos resíduos da obra e promoção da reciclagem de materiais.
Crédito 2.2 Gerenciamento de resíduos (gestão de 75% dos resíduos)
1 Redução e disposição correta dos resíduos da obra e promoção da reciclagem de materiais.
Crédito 3.1 Reuso de materiais (5%) 1 Reaproveitar materiais e produtos
Crédito 3.2 Reuso de materiais (10%) 1 Reaproveitar materiais e produtos
Crédito 4.1 Uso de materiais com teor reciclado (10%) 1 Aumentar demanda de produtos com teor reciclado, minimizando extração e manufatura
Crédito 4.2 Uso de materiais com teor reciclado (20%) 1 Aumentar demanda de produtos com teor reciclado, minimizando extração e manufatura
Crédito 5.1 Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais)
1 Aumentar demanda de produtos extraídos e manufaturados na região do empreendimento
Crédito 5.2 Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais)
1 Aumentar demanda de produtos extraídos e manufaturados na região do empreendimento
Crédito 6 Uso de materiais rapidamente renováveis 1 Redução do uso de materiais com ciclo de vida de renovação longa
Crédito 7 Uso de madeira certificada 1 Incentivar o manejo responsável das florestas
47
QUALIDADE DO AMBIENTE INTERNO 15
PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Prereq 1 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar Obrigatório Estabelecer mínimo desempenho de qualidade do ar do ambiente interno
Prereq 2 Controle do tabaco no ambiente interno Obrigatório Minimizar a exposição ao tabaco dos ocupantes da edificação
Crédito 1 Monitoramento da entrada de ar externo 1 Prover capacidade de monitoramento do ar interno buscando o conforto dos ocupantes
Crédito 2 Aumento da ventilação 1 Prover aumento da capacidade de renovação do ar interno
Crédito 3.1 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA) durante a construção
1 Reduzir problemas de qualidade interna do ar originários na construção
Crédito 3.2 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA) pré-ocupação
1 Reduzir problemas de qualidade interna do ar originários na construção
Crédito 4.1 Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes 1 Minimizar a contaminação do ar interno
Crédito 4.2 Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz 1 Minimizar a contaminação do ar interno
Crédito 4.3 Materiais com baixa emissão – carpete 1 Minimizar a contaminação do ar interno
Crédito 4.4 Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra
1 Minimizar a contaminação do ar interno
Crédito 5 Controle de fontes de poluição interna 1 Minimizar a exposição dos ocupantes a substâncias químicas e particuladas perigosas à saúde
Crédito 6.1 Controlabilidade do sistema – iluminação 1 Prover alto controle de iluminação - individual ou em grupo
Crédito 6.2 Controlabilidade do sistema - conforto térmico 1 Prover alto controle de conforto térmico - individual ou em grupo
Crédito 7.1 Conforto térmico – projeto 1 Prover conforto térmico para o bem estar dos ocupantes
Crédito 7.2 Conforto térmico – verificação 1 Prover desempenho de conforto térmico
Crédito 8.1 Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas
1 Prover conexão entre espaço interno e externo
48
Crédito 8.2 Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas
1 Prover conexão entre espaço interno e externo
INOVAÇÃO DE PROJETO 15
PONTOS INTENÇÃO COM A OBTENÇÃO DO PONTO
Crédito 1.1 Inovação de projeto 1 Prover ao time de projeto oportunidade de ser recompensado por desempenho excepcional
Crédito 1.2 Inovação de projeto 1 Prover ao time de projeto oportunidade de ser recompensado por desempenho excepcional
Crédito 1.3 Inovação de projeto 1 Prover ao time de projeto oportunidade de ser recompensado por desempenho excepcional
Crédito 1.4 Inovação de projeto 1 Prover ao time de projeto oportunidade de ser recompensado por desempenho excepcional
Crédito 2 Profissional LEED 1 Encorajar a certificação
49
Por ser uma das metodologias mais simples existentes no mercado, com sistema de lista de
verificação (checklist), ela se tornou uma das mais reconhecidas comercialmente dentro e
fora dos EUA. Hernandes (2006) em sua dissertação de mestrado, ainda observa três outros
pontos que viabilizariam a disseminação desta metodologia no Brasil: (1) grande parte das
multinacionais tem sede nos EUA e segue as mesmas diretrizes relacionadas à política
ambiental; (2) um conselho brasileiro daria suporte à iniciativa, o que aconteceu em 2007
com a fundação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e (3) poderia
ser usada como ferramenta de marketing institucional.
No Brasil, o Green Building Council Brasil, braço brasileiro do USGBC, está trabalhando
desde 28/01/2008 na interpretação e adaptação desta ferramenta para o mercado nacional
com a colaboração de profissionais com as mais diversas experiências (GBC Brasil, 2008).
A despeito deste trabalho de “tropicalização” do LEED para as condições reais brasileiras,
até a data de 09/03/2009 eram quatro projetos certificados pelo USGBC com o selo LEED
– e constantes no site desta organização4, como segue:
• uma agência bancária na categoria Prata, no estado de São Paulo (Banco Real
Agencia Bancaria Granja Viana);
• um interior comercial na categoria Prata em São Paulo (Morgan Stanley);
• um edifício comercial na categoria certificado no Rio de Janeiro (Bracor - Brasil
Project); e
• um laboratório localizado em São Paulo e certificado na categoria Prata (Delboni
Auriemo - Dumont Villares).
Hernandes e Duarte (2007) apontam importantes projetos que estão em processo de
certificação no Brasil: dois dos conjuntos de edifícios de escritório de mais alto padrão do
4 http://www.usgbc.org/LEED/Project/CertifiedProjectList.aspx?CMSPageID=247
50
país - o Rochaverá em São Paulo e o Ventura Corporate no Rio de Janeiro, ambos
empreendimentos de uma incorporadora norte-americana; um edifício comercial de
escritórios - Primavera Green Office em Florianópolis; a Sede do Serasa e o Edifício
Eldorado Business Tower, ambos em São Paulo e a ampliação do centro de pesquisas da
Petrobrás — CENPES II, na cidade do Rio de Janeiro.
No site da USGBC constavam, até 09/03/2009, 52 projetos registrados no Brasil, incluindo
os quatro projetos já certificados. Estes projetos estão apresentados na Tabela 5, ressaltando
que estes projetos estão registrados para pleitear a certificação LEED, e poderão ou não
obtê-la.
Tabela 5: Projetos registrados no USGBC para certificação LEED (posição em 09/03/2009).
NOME DO PROJETO CIDADE ESTADO TIPOLOGIA
LEED DATA DE
REGISTRO
Aroeira Office Park Curitiba Paraná LEED CS 2.0 23/12/2008
Banco do Brasil - Agencia Pirituba São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 20/2/2009
Banco Real Agencia Bancaria Granja Viana Cotia São Paulo LEED NC 2.2 25/5/2006
Bracor - Brasil Project Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED CS 2.0 25/6/2007
CD BOMI Matec Itapevi São Paulo LEED NC 2.2 20/6/2007
Centro de Cultura Max Feffer Pardinho São Paulo LEED NC 2.2 3/5/2008
Cidade Jardim Corporate Center São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 3/12/2008
Coca Cola (CBASF) Maceio Alagoas LEED NC 2.2 3/12/2008
Colégio Cruzeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED NC 2.1 25/8/2008
Concórdia Business Tower Nova Lima Minas Gerais LEED CS 2.0 28/11/2008
Condominio Edificio Eluma São Paulo São Paulo LEED EB O&M 27/5/2008
Condominio New Century São Paulo São Paulo LEED EB O&M 27/5/2008
Curitiba Office Park Curitiba Paraná LEED CS 2.0 5/9/2007
Delboni Auriemo - Dumont Villares São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 29/5/2007
EcoLife Independencia São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 18/4/2007
Edficio Alvino Slaviero São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 20/2/2009
Edifício Cidade Jardim São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 20/2/2009
Edifício Fecomercio São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 19/2/2009
Eldorado Business Tower São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 22/8/2006
Fleury Medicina Diagnostica Rochavera São Paulo São Paulo LEED CI 2.0 19/3/2008
Iguatemi Alphaville Barueri São Paulo LEED CS 2.0 16/5/2008
Instituto Pereira Passos Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED NC 2.2 15/12/2008
Morgan Stanley São Paulo São Paulo LEED CI 2.0 31/1/2007
Morumbi São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 1/4/2008
Nova sede AEA-SJC São José dos
Campos São Paulo LEED CS 2.0 18/11/2008
Panamerica Park II São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 19/2/2009
Plaza Mayor Alto da Lapa São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 3/1/2007
Primavera Office Building Florianópolis Santa Catarina LEED NC 2.1 23/9/2005
51
NOME DO PROJETO CIDADE ESTADO TIPOLOGIA
LEED DATA DE
REGISTRO
Principe de Greenfield Porto Alegre Porto Alegre Rio Grande do
Sul LEED CS 2.0 20/8/2007
Raja Business Center Belo Horinzonte Minas Gerais LEED CS 2.0 20/2/2009
Renaissance Work Center Belo Horinzonte Minas Gerais LEED CS 2.0 28/11/2008
Rochavera Corporate Towers - Torre B São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 7/7/2006
San Pelegrino Shopping Mall Caxias Do Sul Rio Grande do
Sul LEED CS 2.0 26/2/2009
SBIBHAE - Edificio 1 São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 26/6/2007
SBIBHAE - Edificio 2 São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 26/6/2007
SBIBHAE - Edificio 3 São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 26/6/2007
SBIBHAE – Unidade Morumbi São Paulo São Paulo LEED EB 2.0 26/6/2007
SBIBHAE – Unidade Perdizes São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 26/6/2007
Sede Serasa São Paulo São Paulo LEED NC 2.2 5/10/2004
Technology Center Powetrain Hortolândia São Paulo LEED NC 2.2 19/3/2009
The Gift - Green Square São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 3/1/2007
Torre Vargas 914 Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED CS 2.0 11/7/2008
Ventura Corporate Towers - Torre Leste Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED CS 2.0 7/7/2006
Ventura Corporate Towers - Torre Oeste Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED CS 2.0 6/6/2006
Veranum Tempus Soluções São Paulo São Paulo LEED CI 2.0 30/6/2008
Vida a frente Santo André São Paulo LEED CS 2.0 26/2/2009
WT - Aguas Claras Nova Lima Minas Gerais LEED CS 2.0 26/6/2007
WT - Henrique Valadares Rio de Janeiro Rio de Janeiro LEED CS 2.0 26/6/2007
WTorre JK - Hotel São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 14/8/2008
WTorre JK - Torre II São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 1/8/2008
WTorre JK - Torre São Paulo São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 26/6/2007
WTorre Nacoes Unidas 1 e 2 São Paulo São Paulo LEED CS 2.0 26/6/2007
Dos projetos registrados, mais de 85% o foram nos dois últimos anos, como mostra o
Gráfico 1.
52
Gráfico 1: Número de Projetos registrados no USGBC (posição em 09/03/09).
Mais de 67% dos projetos registrados, correspondendo a 35 projetos (não necessariamente
novos edifícios, pois incluem alguns projetos de interiores comerciais), estão localizados no
estado de São Paulo, ficando o Rio de Janeiro e Minas Gerais nas segunda e terceira
posições, contando 7 (13% do total) e 4 (8% do total) projetos, respectivamente, como
mostra Gráfico 2. A grande maioria, 30 projetos, foi registrada na categoria Core & Shell.
Algumas pesquisas acadêmicas também já foram elaboradas no Brasil relacionadas ao tema
LEED. Como exemplo, pode-se citar o artigo dos autores Triana et al (2006) que descreve
os resultados do uso do LEED como norteador do processo de elaboração do projeto. Por
meio da integração de uma equipe multidisciplinar (arquitetos, projetistas, consultores,
construtor e empreendedor), foram desenvolvidas várias estratégias para que o projeto
estivesse apto para atingir a certificação. Se de um lado a equipe se manteve unida e
motivada com o desafio de fazer o projeto de uma edificação sustentável, por outro lado
dificuldades foram encontradas em relação à utilização de parâmetros norte-americanos na
realidade brasileira.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1
Nú
mer
o d
e P
roje
tos
2004 - 1 Projeto
2005 - 1 Projeto
2006 - 5 Projetos
2007 - 18 Projetos
2008 - 18 Projetos
2009 - 8 Projetos até Fev
53
67%
13%
2%
4%
8%4% 2%
São Paulo
Rio de Janeiro
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Paraná
Alagoas
Gráfico 2: Distribuição geográfica, em %, dos projetos brasileiros registrados no USGBC (posição em 09/03/09).
3.2. Importância do LEED no contexto ambiental
Pode-se dizer que metodologias como o LEED trouxeram à tona discussões sobre questões
ambientais relacionadas à Indústria da Construção Civil anteriormente jamais pensadas, tais
como:
• Impactos causados pela Construção Civil: (1) foram apresentados números
gigantescos referentes aos impactos causados pela construção civil, não só na fase
de produção, mas também no período de operação de uma edificação, nunca os
impactos foram tão explicitados e divulgados; (2) daí, abriu-se a discussão sobre as
responsabilidades e o papel deste segmento na preservação do planeta, de forma a se
procurar por sistemas construtivos, tecnologias e processos menos agressivos tanto
no uso de recursos naturais como a água, energia e matéria-prima, quanto na
emissão de poluentes e resíduos.
• Conceito estendido do ciclo de vida: a extensão do ciclo de vida de uma edificação
54
iniciando na extração de materiais e finalizando após o prazo de vida útil
estabelecido, apresentando a possibilidade de se trabalhar o projeto sob uma novo
perspectiva, aumentando os ganhos ambientais e econômicos a partir do
conhecimento dos custos reais;
• Desenvolvimento da cadeia produtiva: a obtenção da certificação LEED promove o
envolvimento de toda a cadeia produtiva no processo, fazendo com que haja a
disseminação de conhecimento. Projetistas, fornecedores de insumos e mão de obra
e até mesmo os clientes finais são forçados a adquirir conhecimento, não somente
do processo de certificação, mas também de questões mais amplas relacionadas a
ele.
3.3. Preocupações relacionadas ao LEED
Se por um lado o LEED e outras metodologias de avaliação do desempenho ambiental
trouxeram à tona discussões sobre o papel e responsabilidades da indústria da construção
civil no cenário mundial quanto a aspectos ambientais e de certa forma quanto a aspectos
relacionados ao impacto das construções na vida e produtividade das pessoas, por outro
lado ficam abertas preocupações como (1) o uso apenas comercial da metodologia, como
uma forma de lucratividade no ganho de imagem e propaganda gratuita sem a real
preocupação com a dimensão ambiental da sustentabilidade e (2) a aplicação generalizada
de uma metodologia norte-americana, desenhada para sanar preocupações de um país
desenvolvido, deixando de fora a agenda principal de países em desenvolvimento como o
Brasil, que possuem problemas de cunho social muito mais graves e prioritários que os de
cunho ambiental.
55
3.3.1. Uso apenas comercial do LEED, sem questionamentos
Sendo o LEED uma metodologia que visa a melhorar o desempenho ambiental das
edificações e que a atribuição de certificação representa para o mercado a constatação de
que as edificações certificadas são melhores e prejudicam menos o meio ambiente, logo, a
conclusão sobre seu uso é de que as empresas que a exigem têm uma preocupação maior
com o meio ambiente.
A lógica exposta é passível de questionamentos. A certificação demonstra uma real
preocupação em relação ao meio ambiente? Será que as edificações com certificado LEED
são mais sustentáveis? Qual a base comparativa para que estas edificações sejam
consideradas melhores em relação ao seu desempenho ambiental?
• A certificação demonstra uma real preocupação em relação ao meio ambiente?
A primeira pergunta remete à metodologia proposta pela qual é apresentada a preocupação
dos EUA com a questão relacionada ao suprimento de energia, uma vez que este é um dos
países que mais queimam combustíveis fósseis para produção de energia. Isto também fica
claro na categoria Energia e Atmosfera, que representa 27% dos pontos possíveis e premia
com maior número de pontos, nos Créditos 1 e 2, melhores desempenhos no uso da energia.
No entanto, a preocupação exacerbada com energia não quer dizer preocupação ambiental
da metodologia, uma vez que para os outros créditos não há ponderação relacionada às suas
respectivas importâncias ambientais. Como exemplo, pode-se citar o ganho de um ponto
por se prever e construir um bicicletário e vestiário (Crédito 4.2 de Terrenos Sustentáveis)
ou por reduzir em 30% o uso de água na edificação (Crédito 3.2 de Uso Racional da Água).
Os problemas ambientais são claros e vivenciados pela maior parte da população mundial,
onde é sabida e sentida a escassez de água e a não atribuição de uma importância maior aos
pontos desta categoria dá margem ao seu questionamento.
O uso generalizado em todos os países, sem alguma distinção, faz com que não levemos em
consideração as agendas particulares de cada um deles, discutindo no mesmo nível
56
problemas com gravidades distintas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A
metodologia LEED foi desenvolvida dentro dos EUA, país industrializado, onde, superadas
as preocupações com problemas básicos sociais, como suprimento de água e rede de esgoto
para toda a população, voltam-se às questões ambientais, como explicitado na categoria
Energia e Atmosfera.
Além disso, Hernandes e Duarte (2007) fizeram em seu artigo uma análise das alterações
da versão atual do LEED v.2.2, comparando-as com a versão imediatamente anterior v.2.1
e concluíram que das 26 alterações feitas, 13 delas diminuíam o grau de exigência na busca
dos seus requisitos. Isto levanta a dúvida referente ao papel desta metodologia de liderar o
mercado rumo a níveis mais elevados de desempenho ambiental, uma vez que,
aparentemente, o sistema está se adaptando ao mercado e não o inverso (HERNANDES;
DUARTE, 2007).
Ali e Nsairat (2009) chamam atenção para a importância das metodologias de avaliação que
poderiam ir mais além à convencional abordagem de minimizar impactos ambientais,
assegurando o máximo de benefícios sociais e econômicos de acordo com o contexto e
necessidades locais. Em sua pesquisa, estes autores desenvolveram uma metodologia de
avaliação para a realidade da Jordânia, chamada SABA Green Building Rating System,
baseada no LEED, CASBEE, BREEAM, e GBTool.
• Será que as edificações com certificado LEED são mais sustentáveis? Qual a base
comparativa para que estas edificações sejam consideradas melhores em relação ao
seu desempenho ambiental?
Quando se fala que uma edificação é certificada, pensa-se em um melhor desempenho
ambiental que o de edificações convencionais. Entretanto, assim como não existe acordo
sobre o que são edificações sustentáveis, não se consegue precisar o que é uma edificação
convencional uma vez que não há uma definição aplicável. O que existe são diferentes
projetos com diferentes atributos, decorrentes das preocupações únicas de cada um deles,
que podem ser, ou não, providos de um número “x” de estratégias sustentáveis.
57
Além disso, o padrão de sofisticação de um projeto de edifício decorrente do nicho de
mercado a que ele se destina tem influência direta em suas características e,
conseqüentemente, pode torna-lo mais sustentável. Por exemplo, uma empresa
incorporadora americana ou européia que quer implantar um empreendimento comercial de
alto padrão no Brasil traz consigo a concepção de caso baseada nos parâmetros do seu país
de origem, podendo utilizar tecnologias diferentes das existentes para edifícios brasileiros
de alto padrão.
Questões como escolha do terreno, controlabilidade dos sistemas, utilização de co-geração,
e uso de sistemas economizadores de água e energia podem ser concebidas em função das
práticas de mercado ou do padrão existente na empresa incorporadora. Comparar num
âmbito geral edifícios comerciais ou edifícios residenciais tradicionais e sustentáveis se
torna tarefa difícil mesmo considerando um cenário bem delimitado no que se refere aos
atributos de cada projeto e é bem provável que se incorra em erro. Finalmente, o
cumprimento de requisitos do LEED não garante um desempenho excepcional a ponto de
permitir uma classificação clara que distinguisse indiscutivelmente “edificações
sustentáveis” e “edificações convencionais”.
3.3.2. Desconsideração da agenda principal de cada país
Os efeitos das atividades econômicas afetam a sociedade de três maneiras: (1) o impacto
sobre os envolvidos na própria atividade, isto é, na mão de obra; (2) os efeitos na
comunidade local onde a atividade é locada e (3) as implicações na sociedade de uma
forma mais ampla (WELLS, 2003). Desta forma, a indústria da construção civil pode ser
analisada sob dois pontos de vista: o do produto produzido e o do processo de produção,
nas dimensões ambientais e sociais.
O produto produzido traz impactos, positivos e negativos, tanto à comunidade local quanto
aos futuros usuários da edificação. Já o processo de produção afeta tanto a comunidade
local quanto os trabalhadores nele envolvidos. Neste contexto, sob a dimensão social o
58
LEED deveria ter a preocupação em três elementos:
• Futuros usuários: as pessoas passam grande parte de seu tempo dentro de edifícios,
seja trabalhando ou vivendo e o ambiente interno afeta diretamente a sua qualidade
de vida. O LEED explicita esta preocupação por meio da mensuração da qualidade
do ambiente interno.
• Comunidade local: a preocupação com o entorno aparece de maneira tímida, na
categoria Terrenos Sustentáveis, em que a preocupação com aspectos ambientais
acaba cuidando de aspectos sociais. No entanto, atividades ligadas à
responsabilidade pela melhoria e valorização da comunidade não é mensurada nem
avaliada.
• Trabalhadores envolvidos no processo: num setor que é considerado o maior
empregador do mundo, com aproximadamente 111 milhões de empregados sendo
74% destes de países de baixa renda (AGENDA 21 CSPD, 2002), numa avaliação
de sustentabilidade. Principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, a
relevância é extrema e não pode ser desconsiderada. A maior parte dos empregos
oferecidos pela indústria da construção civil é ocupada pelas pessoas mais pobres do
mundo (WELLS, 2003). No processo de industrialização o trabalho em obras é um
tradicional ponto de entrada de trabalhadores sem muita qualificação, provenientes
de áreas rurais (INTERNATIONAL LABOUR OFFICE, 2001). Entre os anos de
1960 e 1980, o Brasil sofreu um rápido processo de urbanização, quando mais de 30
milhões de pessoas migraram das áreas rurais para as cidades e foram trabalhar na
construção civil. Só em São Paulo e Rio de Janeiro esses imigrantes representavam,
em 1985, cerca de 98% e 94% do total da mão de obra (INTERNATIONAL
LABOUR OFFICE, 2001).
O LEED, bem como a maioria das metodologias existentes, avalia exclusivamente a
dimensão ambiental, deixando de lado as questões sociais, tão importantes para países em
desenvolvimento, como o Brasil. Para se dar o nome de edificação sustentável a um
edifício, torna-se imprescindível a inclusão da dimensão social na sua avaliação.
59
3.4. Considerações sobre o capítulo
É certo que o conhecimento e entendimento detalhado da estrutura da metodologia LEED,
bem como de suas alterações ao longo dos anos traz dúvidas (1 )sobre práticas típicas e
simples nos EUA e que se tornam insanas quando trazidas para a realidade brasileira, com
grandes custos ambientais e por vezes econômicos e financeiros, como por exemplo a falta
de fornecedores e o uso de madeira maciça em vez de laminada ou aglomerada; (2)
relacionadas à sua capacidade de cumprir o seu objetivo mais relevante de ter metas
ambientais mais desafiadoras para projetos de edificações e (3) quanto ao seu uso
indiscriminado em todos os países, sem a preocupação com as agendas de cada um deles,
principalmente quando existem problemas sociais mais graves e prioritários a serem
resolvidos, como é o caso do Brasil.
Por outro lado, também é correto afirmar que todos estes questionamentos decorrentes da
introdução de uma metodologia de desempenho ambiental são apenas a ponta visível do
iceberg. Portanto, torna-se fundamental o despertar da sociedade e de toda a cadeia
produtiva do segmento da construção civil para repensar não só a metodologia LEED, mas
também o comportamento e a responsabilidade de cada um na criação de espaços urbanos
para se viver e trabalhar, realmente mais sustentáveis.
Empreender ou não uma edificação sustentável está relacionado não somente ao valor
atribuído a estas edificações, mas também ao lucro decorrente da operação investimento x
retorno. A maneira de aferir os lucros esperados num processo de tomada de decisão é
fundamental. No capítulo seguinte será analisada a estrutura de um processo de decisão e
sua influência na decisão de investir ou não em um edifício verde.
60
4. Processo de tomada de decisão na construção civil
O processo decisório de análise de investimentos no setor da construção civil encontra um
nível de complexidade mais elevado e comportamento diferente quando comparado a
outros segmentos de mercado devido às particularidades deste segmento. A grande
quantidade de variáveis trabalhadas em um modelo de decisão, como valor de mercado do
produto, velocidade de vendas e taxas de inflação e desconto, e aliadas às características do
produto final solicitam análise mais elaborada. González e Formoso (2000) destacam as
características mais importantes:
• Grande vida útil, com grande durabilidade, chegando até 50 anos;
• Fixação espacial, no que diz respeito a sua condição geográfica;
• Singularidade, tendo cada edifício um projeto único, com composições de serviços e
materiais exclusivos e, desta forma dificultando a comparação entre produtos;
• Alto custo das unidades;
• Operação com elevado prazo de maturação, fazendo com que o investidor perca
liquidez durante um longo período.
Um processo de tomada de decisão competente não se limita à escolha entre alternativas
existentes – e já conhecidas - para solucionar um determinado problema; ele deve gerar
todas as alternativas de ação possíveis e selecionar a melhor alternativa dentre as
alternativas encontradas (TAYLOR, 1980), incluindo a opção de nada fazer. Fishburn
(1964) descreve um processo decisório como a seleção de uma alternativa entre as várias
possíveis, tomada por um indivíduo e/ou grupo de indivíduos, inserido em um determinado
meio, cercado por dúvidas e incertezas quando da análise destas alternativas, na expectativa
61
de obter um determinado resultado, entre os vários possíveis.
A rotina de uma ação empresarial, do ato de “pensar” (ter uma idéia) ao ato de “fazer” (de
desenvolver um empreendimento) se vislumbra, ao meio deste caminho, um resultado que
deverá ser obtido com eficácia e eficiência por meio de um processo não subjugado às
ansiedades do decisor, mas sim apoiado em informações de qualidade (ROCHA LIMA JR,
2004). Porém, muitas vezes, o processo de decisão é tarefa árdua e limitada pelo
julgamento subjetivo dos responsáveis pela decisão (LI, SHEN; 2002), ficando esta decisão
baseada na intuição do empresário, na sua experiência e percepção das condições
momentâneas do mercado, sem ter como base uma análise criteriosa, fundamentada em
dados (GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000).
A sustentabilidade na construção civil, inserida no processo decisório, passa a ser mais um
elemento, mais uma variável. Se por um lado custos são adicionados ao produto, por outro,
ganhos podem ser percebidos de maneira tangível, como a economia na fase de operação da
edificação ou de forma mais subjetiva, como melhora na imagem da empresa e publicidade
gratuita.
4.1. Estrutura do processo de decisão
Newnan et al (2002) identificaram nove etapas essenciais em um processo complexo de
tomada de decisão, representado pela Figura 4, que podem ser traduzidas para o setor da
construção civil para o entendimento do processo decisório de um empreendimento.
1 – Reconhecimento do problema
Reconhecer um problema é o resultado da percepção de uma necessidade eminente do
mercado. É o reconhecimento das necessidades e expectativas dos usuários finais do
produto. Sob o prisma da construção civil, um problema pode ser levantado por
62
8 –Escolha da melhor alternativa
7 –Provisão de conseqüências de cada alternativa
6 – Construção de um modelo
5– Seleção dos critérios de escolha
4 – Identificação das possíveis alternativas
3 – Reunião de dados relevantes
1 – Reconhecimento do problema
2 – Definição dos objetivos
empreendedores, incorporadores, construtoras ou entidades privadas, que buscam um
empreendimento para suprir suas necessidades, sejam elas a geração de lucros ou a
construção e/ou ampliação de espaço físico para abrigar seus negócios.
Figura 4 - Etapas de um Processo de Tomada de Decisão. Fonte: Newnan et al (2002).
2 – Definição dos objetivos
O ambiente dos negócios imobiliários dentro da economia brasileira tem-se caracterizado
pela descontinuidade, apresentando oportunidades isoladas. Para aquelas empresas sem
objetivos claros e definidos, a médio e longo prazo, isso pode representar um problema
sério (GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000) e para a definição dos objetivos vale a pena
lembrar a conceituação de empreendimentos elaborada por Hirschfeld (1993) como sendo:
63
“empreendimentos são atividades, lastreadas geralmente em investimentos, objetivando
benefícios satisfatórios em prazos razoáveis”.
Um objetivo deve ser apoiado o quanto possível por instrumentos de percepção de mercado
e de avaliação da competitividade para que o empreendedor reconheça os padrões da oferta
competitiva e as pressões da demanda (ROCHA LIMA JR.;2004).
No entanto, ainda hoje existem investidores que se baseiam apenas em seus instintos ou
feeling, às vezes usando uma antiga fórmula de sucesso do passado trazida ao presente pela
sua experiência ou seguindo tendências encontradas no mercado, percebendo e aplicando o
que empresas concorrentes estão fazendo. É certo que, por questão de sorte, às vezes este
tipo de investidor tem êxito, mas também é óbvio que em outras tantas vezes o fracasso é o
fim.
De acordo com Fishburn (1964) os objetivos de uma organização são o reflexo dos valores
individuais de uma pessoa ou do grupo de pessoas responsáveis pelo processo decisório.
Este indivíduo / grupo reage em consonância com (1) a percepção do meio em que vive,
seu mundo exterior e (2) de acordo com seu mundo interior, composto por suas motivações,
interpretações e julgamentos.
A decisão da construção de uma edificação ou empreendimento sustentável está ligada,
inicialmente, aos valores culturais das organizações, compostos por percepções individuais.
Porém, mais recentemente, começa-se a relacionar este tipo de empreendimento com o
ganho de valor de mercado e imagem. Um exemplo disto é que no Brasil, principalmente
em São Paulo, empreendimentos são comercializados com o mote da sustentabilidade.
3 – Reunião de dados relevantes
Para se tomar uma boa decisão é preciso ter uma boa informação. Estas informações estão
disponíveis de várias formas:
64
• Publicações segmentadas, que podem ser adquiridas por um custo baixo ou até
mesmo de graça;
• Empresas e pessoas qualificadas e experientes em uma determinada área;
• Requerendo pesquisas específicas de mercado, sob encomenda;
• Presentes na experiência individual de cada pessoa.
Para atender às expectativas dos clientes as pesquisas podem ir além de questionários e
entrevistas com clientes potenciais com a promoção da avaliação pós-ocupação, medindo o
grau de satisfação do usuário final (MIRON; FORMOSO, 2003).
No setor da construção civil, o que se procura arbitrar são tendências de movimentos
futuros de mercado pois a resposta de um mercado, num certo momento, é um estado de
demanda que não se repetirá adiante, uma vez que o público deste certo momento não será
o mesmo público num momento futuro. Esta característica é própria do setor, em função
das características de seu produto (ROCHA LIMA JR., 2004).
Em cada decisão a ser tomada pode haver diferentes alternativas para o curso da ação e
quando a escolha se fizer sustentada por informações de qualidade, haverá maiores chances
de diminuir o impacto dos riscos nos resultados (ROCHA LIMA JR., 2004).
Também é importante se ter em mente que, ainda que se almeje por informações de
qualidade, a ausência de informações muitas vezes é uma realidade. Saber colher dados
usando a intuição e experiência adquiridas ao longo dos anos é fator preponderante para o
sucesso de um futuro empreendimento.
4 – Identificação das possíveis alternativas
O resultado da reunião e análise dos dados coletados na etapa anterior, bem como o estudo
65
do comportamento e tendências do mercado direcionam a identificação das possíveis
opções de investimento. Vale ressaltar que é importante considerar na formação das
possíveis alternativas as restrições impostas ao negócio, como restrições físicas, técnicas,
funcionais, estatutárias, código de obras, pessoais e orçamentárias (RUEGG; MARSHALL;
1990).
É necessária a ratificação de que as alternativas existentes são exeqüíveis. Uma alternativa
pode ser inviável por diversas razões. Taylor (1980) propõe a análise de cinco critérios, em
que os quatro primeiros são subjetivos e difíceis de quantificar, mas mesmo assim,
importantes, e devem ser considerados. Como segue:
• Viabilidade técnica, relacionada com a capacidade técnica de execução do produto
pensado;
• Fácil desempenho, relacionado a sua operação pelos usuários finais. Dentro da
construção civil, pode-se citar como exemplo deste segundo critério o projeto de
sistemas de controle e segurança de edifícios comerciais com alto grau de
sofisticação para realidade brasileira, dificultando a contratação de profissionais
capazes de operá-los. Depara-se então com a necessidade de treinamento cujos
custos nem sempre são viáveis para a empresa operadora do edifício. Estes sistemas
acabam trabalhando de forma sub-aproveitada, significando dinheiro mal
aproveitado;
• Humano, relacionado aos valores culturais, religiosos e morais do consumidor final;
• Legal e ético;
• Rentabilidade mínima desejada, expressa inicialmente pela TMA (Taxa Mínima de
Atratividade) do investimento, usualmente estabelecida pela política de
investimentos de cada organização (FABRYCKY; BLANCHARD,1991).
Para o setor da construção civil é necessário acrescentar mais um critério: a capacidade do
66
investidor de administrar a equação de fundos para o desenvolvimento do empreendimento
(ROCHA LIMA JR., 2004), isto é, a análise financeira do empreendimento no contexto do
sistema gerencial, estudando assim as fontes de recursos, a capacidade de endividamento do
empreendedor, os riscos vinculados à transação, o potencial de comercialização e operação
do empreendimento (ROCHA LIMA JR., 1993)
As alternativas referentes à sustentabilidade devem ser consideradas neste momento, pois
estão relacionadas ao desenvolvimento conceitual do projeto. Adaptações futuras
despendem grandes esforços e significam custos elevados. O desejo de certificação, bem
como a escolha da respectiva entidade certificadora e o grau de certificação, devem ser
apontados e estar alinhados aos objetivos organizacionais.
5 – Seleção de critérios de escolha
A tarefa principal de um processo de tomada de decisão é escolher a melhor entre as
alternativas possíveis, requerendo, para tanto, a definição do “melhor” e sabendo que este
“melhor” é sempre relativo à gama de opções existentes (NEWNAN et al, 2002).
Dentro da construção civil, as etapas 5 (Seleção dos critérios de escolha), 6 (Construção de
um modelo) e 7 (Provisão de conseqüências de cada alternativa) da estrutura do processo
decisório estão diretamente ligadas à análise de investimentos ou à análise de
empreendimentos. Um empreendimento imobiliário constitui-se numa alternativa de
investimento, cuja opção justifica-se pela previsibilidade de benefícios econômicos futuros
em detrimento de outras opções de investimento (HAUSER, 2005).
No processo decisório, é importante a consideração do “valor do dinheiro no tempo”, ou
seja, a diferença entre a disponibilidade de capital no presente e futuro (GONZÁLEZ;
FORMOSO, 2000). O valor do dinheiro no tempo remete ao uso do capital que, como o uso
de um pedaço de terra, de uma máquina ou uma casa não é gratuito (TAYLOR, 1980).
Portanto, pode-se afirmar que quantias iguais de dinheiro em períodos distintos de tempo
67
têm poder de compra diferentes (FABRYCKY; BLANCHARD, 1991).
Os modelos matemáticos de análise de viabilidade de empreendimentos são elaborados
baseados no conceito de fluxo de caixa, onde, num período de tempo são representadas
todas as entradas no caixa, ou seja, retornos, e todas as saídas, que são todos os
investimentos e custos envolvidos (KASSAI, 2000). Os retornos e investimentos
representam custos de aquisição do terreno, custos da obra e provenientes do cronograma
de desembolsos, previsão do preço e da velocidade nas vendas do empreendimento,
despesas com publicidade, vendas, corretagem e dados obtidos no mercado financeiro,
como a taxa de remuneração do capital e os custos de financiamento (HAUSER, 2005).
De acordo com Kassai (2000), os fluxos de caixa podem ser convencionais, compostos por
um investimento inicial e por uma série de retornos, ou não convencionais, pertencentes a
estes o fluxos dos empreendimentos do setor da construção civil, compostos por vários
investimentos e retornos ao longo de um período de tempo, como apresentado na Figura 5.
Figura 5 - Fluxo de caixa não convencional. Fonte: KASSAI, 2000
Onde:
R – retornos
I - investimentos
A definição da melhor alternativa está relacionada aos critérios de escolha, ou, como alguns
autores chamam, indicadores de qualidade ou viabilidade, tornando estruturado o processo
de escolha e atribuindo assim medida ao resultado de cada projeto.
É desejável que se tenha para a tomada de decisão, se possível, vários critérios de escolha,
68
sendo um critério principal e os demais, secundários. (GRANT et al, 1970).
Rocha Lima Jr. (1993) entende que dois são os indicadores universais que refletem a
qualidade da configuração de um investimento no setor da construção civil: taxa de retorno
e prazo de recuperação da capacidade de investimento ou payback. González e Formoso
(2002) apontam como indicadores comuns, em um cenário de certezas, a taxa interna de
retorno (TIR), que é uma variação da taxa de retorno, o valor presente líquido (VPL), o
período de retorno sobre investimentos e o índice de lucratividade. Hauser e Krüger (2006)
destacam que tem sido comum a adoção dos indicadores VPL e TIR, os quais dão origem a
seus respectivos métodos de análise dos fluxos de caixa.
Para a etapa de seleção de critérios, dentro da estrutura de um processo decisório voltado
para a indústria da construção civil, cabe uma descrição dos critérios (ou indicadores) mais
usados nas análises de viabilidade considerando fluxo de caixa descontado. São eles: taxa
de retorno, prazo de recuperação do capital ou payback, valor presente líquido (VPL) e o
índice de lucratividade (IL).
• Taxa de Retorno
A taxa de retorno é o índice de rentabilidade mais aceitado, medindo o sucesso econômico
de diferentes classes de oportunidade e podendo ser descrita como a taxa que promove o
equilíbrio entre investimentos e retornos, no conceito de equivalência (FABRYCKY;
BLANCHARD, 1991).
Esta taxa mede os ganhos no poder de compra do empreendedor quando da sua posição de
liquidez no momento do investimento e sua posição de liquidez no momento do retorno
(ROCHA LIMA JR.,1993). Este indicador permite uma leitura eficaz sobre a qualidade do
investimento, especialmente no sentido de fazer comparações entre empreendimentos ou
com taxas de atratividade e custo de oportunidade (ROCHA LIMA JR.,2001).
69
A taxa mínima de atratividade (TMA) é usualmente estabelecida pela política de gestão da
empresa (FABRYCKY; BLANCHARD, 1991) e serve de parâmetro mínimo para aceitação
ou rejeição de uma nova oportunidade de negócio (TAYLOR, 1980). No âmbito dos
empreendimentos do setor da construção civil deve estar situada, normalmente, acima dos
padrões de aplicações financeiras (ROCHA LIMA JR., 1996).
O custo de oportunidade (COP) está embasado no conceito de que o capital nunca está
“livre” e quando do processo decisório, decidir por uma das alternativas de investimento
significa abdicar, pelo menos em um primeiro momento, das outras alternativas disponíveis
(Taylor, 1980). O custo de oportunidade é arbitrado pela organização e está baseado numa
operação financeira isenta de risco (ROCHA LIMA JR., 1996). Quanto maior o custo de
oportunidade desta organização, maior será sua taxa de atratividade mínima, fazendo com
que o valor esperado de retorno do investimento também cresça (RUEGG; MARSHALL,
1990).
A taxa de retorno equivalente, medida com um fluxo básico, se denomina taxa interna de
retorno (TIR) equivalente e indica o poder de alavancagem do empreendimento (ROCHA
LIMA JR., 1996). É dada pela Equação 1.
Equação 1: Taxa Interna de Retorno. Fonte: KASSAI (2002)
Onde:
I = investimentos
R = retornos
ti = taxa interna de retorno
n = número de períodos
t = período
A taxa interna de retorno (TIR) corresponde à taxa de desconto para a qual o valor presente
70
líquido do fluxo de caixa é nulo. Essa é tratada como a variável dependente, ou seja, a
incógnita do fluxo de caixa quando se considera o valor presente líquido igual a zero
(HAUSER, 2005).
Para um mesmo empreendimento pode-se ter um espectro de taxas de retorno variando de
acordo com a postura gerencial do investidor perante o risco. Quanto mais agressivo for
este comportamento maior será a taxa de retorno prospectada (ROCHA LIMA JR., 1996).
• Prazo de recuperação do investimento ou payback
O prazo de recuperação do investimento pode ser definido como o tempo requerido para
que a soma dos retornos acumulados seja equivalente ao valor da soma dos investimentos
aportados em um determinado projeto, podendo ser expresso em qualquer unidade de
tempo (HUNTLEY, 1995).
Este método indica o quão rápido o custo do investimento feito em um projeto é
recuperado, porém, não mede sua rentabilidade e não leva em consideração períodos após o
prazo de recuperação do investimento, tornando-se desta forma insuficiente num processo
decisório para uma boa parte das organizações, quando usado isoladamente (LEFLEY,
1996).
No entanto, apesar das falhas existentes e das criticas, principalmente da academia, este
método continua sendo largamente usado pela indústria como critério secundário de
decisão, uma vez que o investidor / decisor trabalha com um prazo limite para recuperação
do investimento (LEFLEY, 1996). Newnan et al (2000) chama atenção para, além deste
método ter uma medida útil (prazo de recuperação do investimento), sua popularidade se
deve por ser um método simples, de fácil compreensão por aquelas pessoas não detentoras
de grandes conhecimentos na área da engenharia econômica.
71
• Valor presente líquido (VPL)
O método do VPL consiste em trazer a uma única data todos os valores do fluxo de caixa
distribuídos em datas diferentes (HAUSER, 2005). A princípio, é atendido o critério de
viabilidade econômico-financeira quando o VPL é positivo (VPL>0), o que sugere que as
entradas de capital no fluxo de caixa são superiores às saídas (HAUSER; KRÜGER, 2006).
O VPL incorpora os conceitos de dinheiro no tempo e da taxa de desconto. Esta taxa deve
ser arbitrada e representa um comportamento padrão no qual o fluxo de caixa é expandido
ao longo do tempo (HUNTLEY, 1995). A taxa de desconto tem a finalidade de tornar os
valores do fluxo de caixa equivalentes ao presente (GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000) e,
muitas vezes, é referida com TMA e COP. Porém, estes termos não são sinônimos e cada
valor depende do porte da empresa e da conjuntura momentânea da economia
(GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000).
Analisar o VPL de todas as alternativas em um mesmo ponto no tempo, isto é, numa data
referência, facilita a comparação entre elas e ajuda a minimizar os riscos, uma vez que as
decisões são tomadas tendo por base valores correntes (HUNTLEY, 1995), o que é mais
compreensível a quem tomará a decisão.
O VPL é dado pela Equação 2.
Equação 2: Valor Presente Líquido
Onde:
VPL = valor presente líquido
I = investimentos
72
R = retornos
t = taxa de desconto
n = número de períodos
t = período
• Índice de lucratividade
O índice de lucratividade é definido pela relação entre valor presente das receitas líquidas e
o valor presente dos investimentos. Se a relação resultar num índice superior à unidade,
para uma taxa de desconto equivalente ao custo de oportunidade de igual risco, o
empreendimento será considerado viável (HAUSER, 2005).
Huntley (1995) destaca que este critério é, provavelmente, o melhor critério usado em todas
as análises de investimento para medir eficiência. No entanto, ele não é suficiente quando
usado isoladamente, podendo ser usado, como, por exemplo, o payback como critério
secundário.
Além dos critérios tradicionais já usados pelo mercado, este trabalho vem chamar a atenção
para outro critério pouco divulgado: a análise do custo do ciclo de vida, o qual considera a
vida útil do empreendimento, bem como os principais custos pertencentes a ele. Este
critério será estudado à parte, no capítulo 5.
6 – Construção de um modelo
Num determinado período do processo de tomada de decisão, todos os dados, objetivos,
informações relevantes, possíveis alternativas e critérios de escolha devem ser reunidos
(NEWNAN et al, 2002) e falar de decisão e de processo de análise para decidir é falar de
teorias de comportamento geradas pela capacidade de observar e sistematizar as
73
informações disponíveis (ROCHA LIMA JR, 1998).
Decidir é escolher uma única alternativa entre as alternativas disponíveis, mas de diferentes
expectativas de desempenho associadas à configuração de riscos (ROCHA LIMA JR,
1998).
Os riscos existem pela relativa capacidade ou incapacidade de monitoramento de todas as
variáveis de comportamento errático que influenciam no desempenho do empreendimento
(ROCHA LIMA JR, 1998). Uma abordagem possível de ser praticada é considerar as
variáveis de comportamento, ou parâmetros, conhecidas ou ter confiança suficiente para
desconsiderar as variabilidades existentes (GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000).
Para apoiar a decisão, traça-se um cenário referencial arbitrando-se as variáveis que
comporão as transações para a obtenção de um possível resultado (ROCHA LIMA JR,
2004). A partir do cenário referencial, constroem-se modelos adequados para a simulação
do comportamento do cenário referencial quando da alteração dos parâmetros iniciais.
Desta forma, tem-se a análise de sensibilidade do empreendimento que, conceitualmente, é
a mensuração do impacto no empreendimento da mudança de parâmetros chave em
cenários de incertezas (RUEGG; MARSHALL; 1990).
Esta análise deve permitir ao decisor a validação de cada potencial alternativa ao confrontá-
las com parâmetros extraídos de suas metas operacionais, possibilitando a hierarquização
de possíveis alternativas por meio das seguintes análises (ROCHA LIMA JR., 2004):
• Financeira, referente ao fechamento da equação de fundos,
• Econômica, medindo indicadores de resultados (critérios) que são comparados com
expectativas e outras alternativas de investimento do empreendedor,
• Sobre a configuração do empreendimento, apresentando indicadores econômico-
financeiros associados a diferentes cenários de comportamento do empreendimento
74
e do ambiente no qual este empreendimento está inserido e indicando o fator de
segurança que o investimento oferece.
7 – Provisão de conseqüências de cada alternativa
O sucesso da mensuração dos resultados de cada alternativa é fruto da elaboração do
modelo construído na etapa anterior, bem como nas simulações de comportamento deste
modelo em cenários distintos. Grant et al (1970) ressalta que, se não houver uma maneira
de estimar os resultados das alternativas propostas, comparando-as, então não importará
qual das alternativas será escolhida.
Em um cenário referencial são arbitradas variáveis de comportamento futuro, tanto para o
empreendimento quanto para a economia. A qualidade das informações é essencial. Como
exemplo de variáveis controláveis de comportamento do empreendimento pode-se citar
andamento físico da produção, custos inicialmente orçados, velocidade de vendas das
unidades, dentre outros. E, como exemplos de variáveis econômicas não controláveis, têm-
se o preço dos insumos, impactando diretamente no custo inicialmente orçado, a taxa de
juro bancário e o rendimento decorrente de aplicações financeiras.
As estimativas feitas por meio da arbitragem de certas variáveis não se repetirão no futuro e
se alguma das variáveis for passível de alterações radicais, provavelmente o resultado
esperado para o investimento também será drasticamente diferente do previsto no cenário
referencia (GRANT et al, 1970). Conseqüentemente, poderá haver mudanças também em
relação ao resultado final do processo decisório.
Partindo-se da análise de sensibilidade dentro de um cenário referencial, pode-se configurar
situações de risco e incertezas para cada alternativa, situações estas capazes de interferir e
alterar o resultado econômico-financeiro do empreendimento. Berté (1993) faz a distinção
do significado de risco e incerteza, sendo risco a situação em que os resultados podem ser
dimensionados e previstos antecipadamente e a incerteza é a situação onde os possíveis
75
resultados futuros não podem ser previstos com antecedência. Ou seja, num cenário de
riscos, consegue-se ter controle sobre as variáveis trabalhadas, de maneira que se possa,
muitas vezes, contornar problemas futuros (variáveis do comportamento do
empreendimento) e, num cenário de incertezas, trabalha-se com variáveis sobre as quais
não se possui nenhum controle (variáveis pertencentes ao cenário macro econômico). O
conceito de incerteza reflete maior dificuldade de previsão do comportamento futuro, uma
vez que se sabe que os parâmetros podem variar, mas não quanto (GONZÁLEZ;
FORMOSO, 2000).
Portanto, haverá desvios no curso dos resultados esperados quando fatores gerenciais,
estruturais ou do ambiente escaparem dos níveis de confiança que levariam aos resultados
esperados (ROCHA LIMA JR., 2004).
Os resultados decorrentes da análise devem ser aferidos em medidas monetárias e não
monetárias (NEWNAN et al, 2002). A análise não monetária está relacionada às
conseqüências de difícil, ou não passíveis de, aferição numérica, como é o caso de
problemas causados ao meio ambiente e à comunidade instalada no entorno do
empreendimento.
É inerente à atividade econômica a decisão sob condições não perfeitamente conhecidas,
pois o comportamento futuro é de difícil modelagem (GONZÁLEZ; FORMOSO, 2000), e,
por esta razão, conhecer o intervalo de flutuação para um resultado esperado melhora a
qualidade da informação para decidir e faz a decisão numa condição de mais conforto
(ROCHA LIMA JR., 2004).
8 – Escolha da melhor alternativa
A escolha da melhor alternativa, segundo Newnan et al (2004), deve ser determinada pelo
critério de escolha adotado, levando sempre em consideração as conseqüências futuras
daquela opção, principalmente as conseqüências intangíveis, quase sempre não expressas
76
em números.
Por meio da análise de sensibilidade, o decisor tem configurações de alternativas diferentes,
algumas mais arriscadas outras menos, quando estas são confrontadas com cenários futuros.
É papel do decisor estabelecer sua condição de conforto perante o risco e decidir (ROCHA
LIMA JR., 2004). A decisão por uma alternativa não significa que as demais sejam
invalidadas, expõe apenas a característica e valores pessoais do decisor ou grupo de
indivíduos responsáveis pela decisão com tendência a uma postura mais conservadora ou
mais agressiva perante os cenários simulados.
4.2. Considerações sobre o capítulo e sua relação com aspectos de sustentabilidade
Os atuais critérios de escolha ou indicadores de qualidade dos processos decisórios dentro
da construção civil consideram investimentos e retornos advindos do custeio da produção e
da comercialização e/ou locação de unidades. O ciclo de vida do produto, do edifício, com
seus custos de manutenção e operação e com redução de despesas por uso de tecnologias
inovadoras é tratado como um problema futuro, como se não tivesse influência alguma na
geração de rentabilidade.
Se a percepção do mercado é de que empreendimentos sustentáveis possuem custo inicial
maior que os empreendimentos convencionais e é certa a afirmação de que os benefícios
gerados por estes empreendimentos podem ser mais bem percebidos ao longo do seu ciclo
de vida, vale analisar a viabilidade econômica de um empreendimento sob a ótica da sua
vida útil. Neste caso, serão levados em conta alternativas de projeto, soluções tecnológicas
e sistemas prediais, os quais definirão e caracterizarão este empreendimento, tendo por
finalidade a redução do consumo de recursos naturais como água e energia, a diminuição da
quantidade de resíduos sólidos e poluentes atmosféricos e, ao mesmo tempo, de
proporcionar um ambiente mais saudável aos usuários finais da edificação.
Cabe também ressaltar que os empreendimentos sustentáveis trazem consigo oportunidades
77
de redução de riscos empresariais, uma vez que existe uma grande cobrança da sociedade e
mídia a respeito de questões voltadas para a sustentabilidade.
Além do contexto sustentável, a análise do custo do ciclo de vida de uma edificação, tema
do próximo capítulo, pode trazer à tona uma maneira de criar espaço para a otimização da
rentabilidade do negócio, incorporando os benefícios provenientes das inovações de projeto
no resultado final do estudo da viabilidade de empreendimentos.
5. Análise de custos de edificações ao longo do seu ciclo de vida
A primeira motivação para inserção deste assunto neste trabalho é que sustentabilidade é
um conceito de longo prazo, porém com viabilidade atualmente medida numa contrastante
visão de curto prazo, com base em variações da análise de custo inicial. A segunda, é que
várias estratégias/tecnologias que, de fato, têm custo inicial maior, pagam-se ao longo de
mais ou menos tempo. Esta consideração poderia viabilizar a implementação de uma
abordagem mais robusta de sustentabilidade em empreendimentos, ao incluir estratégias e
tecnologias que, na visão corrente, são descartadas de imediato.
É fundamental entender, num contexto de desenvolvimento sustentável, o fato de que a
economia não está separada do meio ambiente e que os edifícios contribuem tanto para o
crescimento econômico quanto para a degradação do meio ambiente (LANGSTON, 2005).
A maior parte dos investimentos em real estate não considera aspectos sociais ou
ambientais relacionados ao empreendimento, uma vez que estão focados no retorno
econômico puro (LÜTZKENDORF; LORENZ, 2005).
Enxergar uma edificação ou um empreendimento de maneira não convencional, por meio
do conceito de seu ciclo de vida, onde o ponto de partida antecede à elaboração dos
projetos e o término se estende além do término das obras, pode ser considerado quebra de
paradigma.
Os estudos tradicionais de viabilidade tratam do “negócio empreendimento” até o momento
da venda/locação das unidades, computando na análise do fluxo de caixa, de acordo com
artigo publicado na revista Construção Mercado de fevereiro de 2004, além das receitas
decorrentes da venda, despesas para executá-lo, incluindo todos os custos do terreno,
construção, legalização, despesas de comercialização, corretagem e despesas jurídicas.
Dessa maneira, o ciclo de vida do produto termina quando da comercialização das
unidades, ignorando a análise da fase pós-construção.
79
Hoje os estudos de viabilidade não levam em consideração os custos provenientes da
adoção de um ou outro sistema construtivo ou da escolha de uma ou outra tecnologia.
Segundo Silva (1996), decisões da contratação de obras, como as tomadas pelo Poder
Público, adotam o critério de soluções com menor custo inicial, e se mostram inadequadas
quanto ao comportamento em uso e custos gerados, em geral elevados, quando da
manutenção destas edificações.
Dois aspectos são afetados, de forma positiva, diretamente por este novo olhar proposto: o
econômico e o ambiental. Em relação ao primeiro aspecto, percebe-se que ao considerar
custos e benefícios antes ignorados, pode-se otimizar projetos e sistemas prediais e procurar
tecnologias com o intuito de uma maior economia com gastos operacionais ao longo da
vida útil do empreendimento. Sob o aspecto econômico, Myers (2004) destaca três razões
relacionadas à sustentabilidade:
• O meio ambiente tem valor intrínseco e não deve ser estudado superficialmente;
• Com a sustentabilidade em pauta nas agendas, torna-se imprescindível a análise ao
longo do horizonte do projeto nas tomadas de decisões para que se considere a
equidade com as futuras gerações (princípio de sustentabilidade);
• A demanda deve ser entendida sob o ponto de vista do ciclo de vida do produto e,
neste contexto, produtos com duração superior a 30 anos são particularmente
importantes. (MYERS, 2004).
Sejam razões econômicas, ambientais ou relacionadas à imagem da marca, empresas que
desejam lançar no mercado “produtos verdes” devem entender o quanto de recursos
naturais é consumido no processo do seu produto e quais são os impactos deste produto
junto ao meio ambiente.
Esta é a base da análise do ciclo de vida (LCA5), onde um produto, no caso da indústria da
construção civil, o edifício, é analisado formalmente e sistematicamente em seus materiais,
componentes ou conjunto de componentes (SILVA; SILVA, 2000). Esta análise se vale dos
5 Acrônimo de Life Cycle analysis.
80
seguintes conceitos: “cradle to grave6”, onde os estágios do produto, desde sua concepção
até sua disposição final são considerados e “cradle to cradle7”, indo além do primeiro
conceito, onde é feito o fechamento do ciclo, ocorrendo o reaproveitamento dos resíduos de
uma edificação como matéria-prima para abertura de um novo ciclo de vida de uma nova
edificação. O entendimento de resíduo é amplo, variando caso a caso, podendo ir desde a
utilização da estrutura do edifício original quanto a reutilização de materiais, seja como
matéria-prima propriamente dita ou como elemento estrutural e/ou de composição do
projeto.
A Figura 6 ilustra os dois conceitos. O primeiro conceito tem início na fase de extração de
recursos e o segundo pode ter início tanto na extração de recursos quanto na reciclagem /
reuso de materiais provenientes de outro prédio indo direto aos estágios de fabricação ou de
construção.
Fase de Construção
Ocupação/Manutenção Demolição
Extração de Recursos
Reciclagem / Reuso Disposição Final
Fabricação
Figura 6 - Ciclo de vida de uma edificação. Adaptado de Whole Building design Guide. Acesso em outubro / 2007. http://www.wbdg.org/resources/lcca.php.
6 Tradução: do berço ao túmulo.
7 Tradução: do berço ao berço.
81
Quando se faz um projeto do ciclo de vida, a coleta de matérias primas, o processo de
fabricação e o transporte e distribuição do produto são considerados de forma proativa, em
que se procura antecipar – ainda na etapa de projeto – a ocorrência dos impactos ambientais
que poderão ser gerados nos diferentes estágios do ciclo de vida de um produto (SILVA;
SILVA, 2000).
A aplicação do LCA passa por três etapas (DURAIRAJ et al, 2002):
• Inventário: é a quantificação de energia e matéria prima requeridas, bem como das
emissões atmosféricas e resíduos produzidos pelo processo do produto ao longo de
todos os seus estágios;
• Análise dos impactos: é a análise e caracterização dos efeitos, tanto ecológicos
quanto sociais, associados ao uso dos recursos e das emissões produzidas ao longo
da construção do edifício;
• Análise de melhoria: é a análise das oportunidades relacionadas à análise de
impactos da fase anterior. Esta análise pode incluir medidas qualitativas e
quantitativas de melhorias.
A LCA é entendida como o perfil do desempenho ambiental dos materiais, componentes e
edifícios ao longo do tempo e foi aceita pela comunidade de pesquisadores como a única
base legítima para se comparar alternativas (COLE; STERNER , 2000).
5.1. Custos ao longo do ciclo de vida de uma edificação
Edifícios são tipicamente investimentos de longo prazo, de magnitude significante, e os
modelos de valoração existentes tendem a contabilizar os custos e benefícios da fase de
aquisição do produto (NORNES, 2005).
82
Fabrycky e Blanchard (1991), bem como o Procurement Guide do Reino Unido (2003)
classificam o ciclo de vida de um produto em duas fases básicas, no que tange custos: a de
aquisição e a de utilização.
A Figura 7 mostra os componentes das duas fases. A fase de aquisição engloba todos os
projetos e seus respectivos detalhamentos até se chegar à fase de construção. É nela que,
partindo-se das necessidades do cliente, são decididos quais requisitos essenciais o projeto
arquitetônico abrangerá, quais sistemas e tecnologias prediais serão usados, quais materiais
devem ser usados. As práticas relacionadas a esta etapa são bem conhecidas pelo mercado,
bem como seus custos. O fornecedor vende um determinado componente ou sistema e o
apoio técnico e de projeto se dá quando da sua instalação e montagem. Já os aspectos
relacionados a operação e manutenção se resumem na entrega de manual contendo
informações de uso e como proceder no caso de necessidade do uso da garantia.
Figura 7 - Classificação do ciclo de vida de um produto segundo Fabrycky e Blanchard (1991), adaptado para a construção civil.
Hoje, os profissionais de suprimentos trabalham para atingir um mínimo custo nesta fase,
porém, os custos visíveis de qualquer compra representam apenas uma pequena parte do
83
custo total do sistema em questão8. Os investimentos iniciais se referem a um percentual
pequeno quando comparados com o restante dos custos numa perspectiva de ciclo de vida.
Os custos que compõem a fase de utilização de uma edificação, ainda de acordo com a
Figura 7, quando estendidos a um período de vida que pode chegar a horizontes longínquos,
representam a maior parte do custo total do empreendimento. Johnson (1990) concluiu que
custos referentes à construção de um edifício, cuja vida útil é de 40 anos, representam
apenas 18% do custo total do ciclo de vida e que a falsa percepção - de serem mais
elevados os custos iniciais - ocorre dado o montante das quantias desembolsado num
relativo curto período de tempo, isto é durante a fase de construção.
Elaborar um projeto que atenda aos requisitos funcionais de todo o ciclo de vida significa
explicitar os valores da edificação (PROCUREMENT GUIDE DO REINO UNIDO, 2003),
considerando:
• A tradução dos valores do cliente por meio dos resultados;
• As restrições de investimentos (sabendo-se que esta consideração pode
comprometer o resultado ótimo do projeto).
Pode-se fazer a leitura de sustentabilidade destas duas diretrizes: a explicitação dos valores,
baseados nos aspectos sociais e ambientais, respeitando a questão econômica do negócio.
5.1.1. Ciclo de vida
Para se olhar qualquer edificação ao longo do seu ciclo de vida deve-se entender qual é o
seu ciclo de vida, isto é, qual tempo de duração deve ser considerado na análise.
O ciclo de vida de um edifício é o período de vida atribuído a ele e se caracteriza,
8 www.ogc.gov.uk/sdtoolkit/reference/delivertlifecycle/lifecyclecosting.html. Acesso em outubro2005
84
principalmente, pela durabilidade e vida útil de seus componentes e materiais, estrutura e
sistemas, bem como pela sua capacidade em desempenhar a função principal para a qual foi
concebido.
Em estudos de viabilidade de empreendimentos onde custos e benefícios ao longo do ciclo
de vida da edificação são considerados, a determinação da vida do edifício é questão de
fundamental importância, capaz de influenciar o resultado final da análise, chegando até
mesmo a inviabilizar o negócio pensado.
O período de tempo estudado não é, necessariamente, a vida útil do empreendimento,
podendo ser maior ou menor, dependendo da interpretação de quem toma a decisão final no
estudo (RUEGG e MARSHALL, 1990). O ciclo de vida de uma edificação é uma variável
estimada e, em conformidade com Ruegg e Marshall (1990), Araújo (1997), Gluch e
Baumann (2004), pode ser classificado em:
• Ciclo de vida econômico: refere-se ao horizonte considerado pelo investidor para o
negócio estudado, é a perspectiva de geração de renda. Por exemplo, um negócio,
por suas próprias características, tem duração de 14 anos e o edifício que o abrigará
bem como seus sistemas estão aptos a funcionarem por, no mínimo, 20 anos. Neste
caso, o ciclo considerado deve ser de 14 anos, período de rentabilidade do negócio;
• Ciclo de vida útil ou técnico: é o período de tempo durante o qual a edificação, no
que se refere aos sistemas e tecnologias empregados, lay-out e flexibilidade de
adaptação, oferece condições de abrigar as atividades para as quais foi construída.
Pode-se citar como exemplo um call center, cujo ciclo de vida é exatamente o
tempo de obsolescência da edificação e dos seus sistemas;
• Ciclo de vida útil físico ou estrutural, relacionado à resistência física e solidez da
edificação, é quando o ciclo de vida estimado coincide com a vida útil do edifício;
• Ciclo de vida do múltiplo comum do período de tempos das alternativas estudadas é
quando se tem propostas de negócio distintas, com ciclos de vida distintos. Para se
85
criar um ciclo de vida único deve-se encontrar o múltiplo comum do ciclo de vida
de cada alternativa estudada.
Apesar do reconhecimento de muitos ciclos de vida possíveis para uma edificação,
Langston (2005) afirma que o mais comum é o período de estudo coincidir com o ciclo de
vida econômico, pois é neste tempo que acontecem as contribuições financeiras positivas
para os investidores.
O estabelecimento do ciclo de vida de um empreendimento, como adverte a ASTM
Standards on Building Economic (1992), tem repercussão significativa no resultado da
LCCA e deve-se ficar atento para a escolha feita. Se um empreendimento tem ciclo de vida
reduzido, faz-se necessária a consideração do valor residual para que a comparação entre
alternativas seja real. No caso de um empreendimento com vida útil muito longa, também
se pode incorrer em erro, pois a partir do momento em que se trabalha com taxas de
descontos, para a equivalência no tempo do dinheiro, ter ciclos maiores que 40 anos tornam
os benefícios irrelevantes como conseqüência do efeito do desconto, afetando a
credibilidade da análise (LANGSTON, 2005).
O Gráfico 3 ilustra o efeito da taxa de juros adotada para períodos de estudo que variam
entre cinco e quarenta anos para uma quantia de 1.000 UM (unidades monetárias). Os
valores presentes para taxas maiores são insignificantes quando estudados em período
maiores de tempo.
86
COMPORTAMENTO TAXA DE DESCONTO EM ATÉ 40 ANOS
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1.000,00
1.200,00
0 5 10 15 20 25 30 35 40
PERÍODO DE TEMPO - ANO
UNIDADE MONETÁRIA
taxa de desconto 5%
taxa de desconto 8%
taxa de desconto 10%
taxa de desconto 12%
taxa de desconto 15%
Gráfico 3: Comportamento da taxa de desconto.
De acordo com Fabrycky e Blanchard (1991), a experiência tem mostrado que a maior
parte do ciclo de vida projetado de um dado produto ou sistema é resultado de decisões
tomadas durante a fase de planejamento. Isto quer dizer que decisões tomadas na origem,
no nascimento de um empreendimento, terão reflexos ao longo de todo o período de uso
desta mesma edificação. A composição dos custos de um empreendimento pode ter dois
aspectos: o quantitativo e o qualitativo. Os custos quantitativos podem ser representados no
período de aquisição, por exemplo, e pelo custo da metragem quadrada e das especificações
de materiais e sistemas prediais de acordo com (HANDLER, 1970). Para o período de
operação podem ser representados pelo ônus do condomínio e gastos com energia e água.
Já os custos qualitativos são menos perceptíveis aos investidores, por sua difícil apuração
em dados numéricos, porém não menos importantes. São reflexo da demanda das várias
partes interessadas no empreendimento: investidor, usuário final, sociedade, operação e até
mesmo a região/município no qual o empreendimento está inserido.
5.1.2. Custos internos e externos: externalidades
Quando se trata de sustentabilidade, refere-se, automaticamente, a um período de tempo
mais extenso e, no âmbito econômico, na produção de qualquer bem ou serviço, vale
salientar a existência de dois tipos de custos: o interno e o externo.
87
Os custos internos são aqueles conhecidos e, numa obra, se referem aos custos diretos e
indiretos. O pagamento pela execução das fundações ou a folha de salários do corpo
gerencial do projeto são exemplos destes custos.
São considerados custos externos aqueles relacionados a uma terceira parte ou vizinhança
(MYERS, 2004). São todas as conseqüências negativas produzidas, no caso da indústria da
construção civil, por uma obra, que atingem pessoas excluídas dos benefícios
proporcionados pelo processo/produto (empreendimento) que os ocasionaram
(HOHMEYER, 1994).
Problemas ambientais podem ser descritos como situações onde os custos externos
excedem aos custos internos (MYERS, 2004). Da perspectiva da sociedade como um todo,
a eficiência econômica é alcançada quando a companhia, no caso a construtora, toma
medidas para a proteção ao meio ambiente com o objetivo da redução de ambos os custos,
internos e externos (GALE; STOKOE, 2001).
Vários exemplos de custos externos negativos podem ser citados ao longo de uma obra,
como a poluição de rios, a disposição incorreta dos resíduos e a emissão de poluentes na
atmosfera.
Por outro lado, Myers (2004) lembra que os custos externos podem ser negativos, ou seja,
podem ter conseqüências positivas à sociedade. Um exemplo é a recuperação de uma área
degradada, ou a valorização de um bairro pela construção de um empreendimento.
5.2. Análise do custo do ciclo de vida (Life-Cycle Costing Analysis, LCCA)
Este método tem como uma das principais características a análise dos custos mais
significativos do produto ao longo do seu ciclo de vida. Considerando o setor da construção
civil, o produto gerado de longa duração, que pode atingir até um século, dois aspectos
podem ser explorados de forma positiva:
88
• Aspecto econômico:
Até o momento, a “compra” de uma edificação se dá pelo investimento inicial necessário a
sua aquisição. Na prática, numa concorrência, a melhor proposta é aquela que atenda às
especificações propostas por um menor custo de implantação. No entanto, outros custos,
mais significativos quando se envolve a questão do tempo, como a operação e a
manutenção, são ignorados. Há, portanto, um grande espaço a ser trabalhado com a
otimização de sistemas prediais mais eficientes, materiais mais duráveis e projetos mais
inteligentes.
• Aspecto sócio-econômico:
Com a pressão exercida pelo mercado por produtos mais sustentáveis e, considerando o
razoável impacto da indústria da construção civil no meio ambiente e na sociedade, é
imprescindível que as empresas deste segmento incluam em suas agendas e nos seus
processos de decisão formas de se tornarem mais sustentáveis. Desta forma além da
colaboração com as futuras gerações (visão mais romanceada sobre o tema), ainda terão um
real retorno com um melhor produto, economia com redução de custos operacionais e boa
imagem junto ao mercado e clientes.
5.2.1. Definição e origem
A LCCA foi desenvolvida e usada em meados dos anos 60 pelo Departamento de Defesa
dos EUA para dar suporte às compras de equipamento militar e, posteriormente, já nos anos
70, usada para comparar alternativas de projetos energéticos em edifícios (COLE E
STERNER, 2000).
Posteriormente, a LCCA passou a ser usada para avaliar alternativas de projetos de
89
edifícios de uma perspectiva técnica (JOHNSON, 1990), comparando os investimentos
requeridos para cada uma delas e analisando predominantemente os custos em moeda
equivalente (RUEGG et al, 1990; LU et al, 2000; JOHNSON, 1990; LANGSTON, 2005).
De acordo com Johnson (1990), a comparação entre alternativas deve ser feita apenas entre
custos significantes e diferenciais. A melhor alternativa entre as existentes é aquela
possuidora do menor resultado da LCCA.
A LCCA é uma estimativa monetária dos custos de investimento, projeto, construção,
operação, manutenção, reparos e, algumas vezes, da demolição de um edifício (CLIFT,
2003). De acordo com Wong, Li e Wang (2004), esta metodologia também pode ser usada
para avaliar o desempenho dos chamados “edifícios inteligentes”, que conceitualmente são
edificações que demandam maior conforto do ambiente interno por meio da maior
controlabilidade deste pelos ocupantes.
A principal diferença entre os cálculos tradicionais de investimento e a LCCA, apontada
por Gluch e Henrrick (2004), é a abordagem deste último método numa perspectiva
expandida para o ciclo de vida, considerando não apenas o investimento inicial, mas
também o custo de operação e manutenção ao longo da vida útil do empreendimento.
Solicita a previsão de quando os elementos de um edifício, e seus serviços, deteriorarão
numa certa condição onde será necessária intervenção (CLIFT, 2003).
5.2.2. Procedimentos de cálculo da LCCA
A proposta da LCCA é a determinação do custo total das alternativas estudadas, num
especifico período de tempo em busca de um melhor projeto em termos de durabilidade,
qualidade, energia, entre outros, usando um formato onde a relação entre custos inicial e
operacional sejam explicitadas (LANGSTON, 2005).
Marshall e Petersen (1995) definem dez passos para se fazer LCCA. O Quadro 3 apresenta
estes passos relacionando-os com a construção civil:
90
Quadro 3: Passos para a elaboração da LCCA. Fonte: Marshall; Petersen (1995).
Passos Descrição Considerações para Construção Civil
1. Identificar alternativas aceitáveis
Selecionar alternativas de projeto e sistemas que atendam aos requisitos mínimos solicitados pelo usuário final, mercado e/ou investidor, garantindo a equidade técnica entre soluções
2.
Estabelecer parâmetros comuns para todas as alternativas, como por exemplo, vida útil, taxa de desconto e inflação a serem consideradas
Ciclo de vida, inflação, taxa de desconto
3. Estimar todos os custos referentes a cada alternativa, bem como sua distribuição no tempo
Elaborar o fluxo de caixa da alternativa
4. Descontar a valor presente os custos futuros estimados
Usar o método do Valor Presente (VP)
5. Calcular o LCC de cada alternativa
6. Identificar a alternativa com menor LCC
7. Considerar benefícios e custos não quantificáveis
Considerar as externalidades, como por exemplo: a importância do empreendimento para a valorização do bairro, o município e a melhoria do bem estar dos usuários finais do edifício;
8. Considerar as incertezas referentes a cada alternativa, em valores monetários
A análise de sensibilidade é um método muito usado para estudar riscos na construção civil
9. Complementar a análise com indicadores de desempenho econômico para cada alternativa.
Os indicadores usados pelo mercado são taxa de retorno e índice de recuperação do investimento (payback).
10. Selecionar a melhor alternativa.
Para o cálculo do LCC, a fórmula mais conhecida é baseada na identificação dos custos
principais do produto e composta pela soma de todos os custos de investimento e daqueles
provisionados ao longo do seu ciclo de vida útil, descontados a uma taxa arbitrada, usando
o conceito de valor do dinheiro ao longo do tempo, como demonstrado nas Equação 3 e
Equação 4. Da somatória dos custos devem ser subtraídos, caso necessário, os benefícios
(economias) resultantes da alternativa em questão. Ainda deverá ser subtraído ou somado o
respectivo valor residual ou custo de uma futura disposição final.
91
LCC(VP) = ∑ I + ∑E + ∑OM&R - ∑S + ∑DF (1+i) t (1+i)t (1+i)t (1+i)t (1+i)t
LCC(VP) = I(VP) + E(VP) + OM&R(VP) - S(VP) + DF(VP)
Equação 3: Cálculo do LCC conceitual. Adequada da fonte: MARSHALL; PETERSEN,(1995)
Ou
Onde,
I(VP) = soma dos custos investidos, trazidos a valor presente;
E(VP) = soma dos custos provisionados para energia ao longo do período t, trazidos a valor presente;
OM&R(VP) = soma dos custos provisionados para operação, manutenção9 e reformas ao longo do período t, trazidos a valor presente;
S(VP) = soma dos benefícios provisionados como resultado da operação da alternativa estudada em forma de valor residual;
DF(VP) = soma dos custos provisionados para a disposição final do empreendimento;
i = taxa de desconto usada para cada elemento;
t = período de vida estabelecido.
Investimento Inicial
Num empreendimento do setor da indústria da construção civil o investimento inicial se
9 Os custos referentes à manutenção incluem custos provisionados para a substituição de peças e componentes. A literatura existente costuma separar custos referentes à manutenção e a substituição.
Equação 4: Cálculo do LCC em valor presente. Adequada da fonte: MARSHALL; PETERSEN,(1995)
92
configura com valores destinados à compra do terreno, a pagamentos de taxas e alvarás,
verbas de estudos de viabilidade e pesquisa, custos destinados à comercialização,
corretagem, propaganda e marketing e custos diretos e indiretos da execução da obra,
incluindo nestes valores projetos e equipe de obra e de apoio, esta última geralmente
alocada no escritório central da empresa. Estes custos são os custos visíveis do
empreendimento, conseqüentemente, como prática de mercado, as metas de custos a serem
alcançadas, no momento da aquisição de sistemas e elementos, estão focadas na redução
destes custos. As concorrências, tanto públicas como privadas, têm por cultura enfatizar
soluções técnicas que diminuam o custo de aquisição do projeto e não os custos decorrentes
destas soluções, tratando estes custos futuros como problema a parte.
Energia
A LCCA computa a energia usada ao longo do ciclo de vida do empreendimento, porém
Cole e Kernan (1996) identificam quatro tipos de energia ao longo do período de duração
de um edifício. São eles:
• Energia incorporada inicialmente: é a energia usada (1) na extração e
beneficiamento dos materiais em estado bruto e (2) no transporte, montagem e
instalação de sistemas quando da construção do edifício;
• Energia incorporada em manutenção e reformas: é a energia associada à
manutenção preventiva e corretiva e reparos e à reformas com a intenção de
provocar melhorias ou adequação de um ambiente ou sistema. Esta energia é usada,
com maior freqüência, em situações de manutenção e/ou reformas em ambientes
internos como reposição de portas e de acabamentos internos (pisos, forros e
revestimentos) ao contrário de itens como estrutura e fachada que têm sua energia
incorporada, em sua maior parte, na fase inicial;
• Energia incorporada na operação do edifício: é a energia usada para condicionar e
93
iluminar ambientes, em sistemas operacionais decorrentes da função principal a qual
a edificação é destinada, como instalações elétricas, instalações especiais,
elevadores, etc. Esta energia varia, consideravelmente, de acordo com padrões de
uso, clima (principalmente em países de grande extensão territorial como o Brasil,
onde as condições climáticas do norte do país diferem totalmente das do sul),
estações do ano e eficiência dos sistemas adotados. Estudo feito por estes mesmos
autores, Cole e Kernan (1996), mostram que, para um edifício com ciclo de vida de
50 anos, a energia despendida com sistemas de aquecimento, resfriamento e
iluminação representa 80% da energia total consumida neste edifício na cidade de
Vancouver 90% da energia total consumida neste edifício na cidade de Toronto,
ambas localizadas no Canadá. A energia total consumida, em fase de operação, por
edifícios situados no Canadá representa 30% da energia total consumida no país. No
Reino Unido os edifícios são responsáveis por quase a metade da energia nacional
consumida bem como pelas emissões de CO2 (HORSLEY, 2003);
• Energia incorporada na demolição: é a energia usada na demolição propriamente
dita mais a energia despendida no transporte e disposição final dos resíduos desta
demolição. Esta energia não chega a ser computada no total de energia do ciclo de
vida por não ser representativa quando comparada à energia usada nas outras fases.
A energia incorporada inicialmente e a energia incorporada na demolição não são
computadas no cálculo do LCC por duas razões: (1) são pouco significativas quando
comparadas à energia consumida no período de manutenção e operação do edifício e (2)
medir a quantidade de energia nestes dois casos é tarefa árdua e está vinculado ao uso de
LCA, e, para o mercado brasileiro, ainda não existem estes estudos.
Para estimar a energia de um prédio há modelos de simulação computacionais, variando do
mais simples ao mais complexo. A aplicabilidade de cada modelo depende do tipo de
edificação estudada, se comercial, residencial ou industrial. Estes modelos estão citados na
94
ASHARE10 Handbook of Fundamentals (JOHNSON; 1990).
Operação, manutenção e reformas
Neste item são somados todos os custos incorridos para o perfeito funcionamento dos
sistemas prediais projetados ao longo do ciclo de vida de uma edificação, com exceção da
energia que compõe um item a parte.
De acordo com a tipologia do edifício, devem ser computados custos, porém não se
limitando a eles, referentes às seguintes despesas:
• Água;
• Limpeza;
• Manutenção preventiva de equipamentos, componentes e sistemas, de acordo com
informações provenientes de cada fabricante;
• Reparos de equipamentos, componentes e sistemas, englobando consertos ou
substituições;
• Gastos com pessoal (operação de sistemas, segurança, etc.);
• Reformas, como adequações arquitetônicas, por exemplo, do lay-out de uma sala
comercial para um uso futuro diferente do atual.
10 American Society of Heating, Refrigerating, and Air-Conditioning Engineers. É uma organização internacional que executa pesquisas e determina padrões nos campos de energia e sistemas de condicionamento de ar.
95
Valor residual
Podem entrar no cálculo do LCC valores referentes aos benefícios decorrentes da
alternativa estudada, como por exemplo, um ganho extra quando da venda do
empreendimento, por um desempenho diferenciado dos sistemas (representando maior
economia ao próximo proprietário) ou por um ganho de valor futuro.
Se em alguns anos as construções sustentáveis possuírem um valor mais alto quando
comparadas às construções convencionais, este ganho extra pode ser contabilizado como
uma economia da alternativa estudada, caso ela configure uma edifício sustentável.
Disposição final
É a somatória dos custos com a possível demolição ou desmontagem do edifício. Neste
item também podem ser computadas as economias provenientes da reciclagem de algum
componente (FABRYCKY; BLANCHARD, 1991)
Dependendo do empreendimento estudado, as fases de aquisição, operação e disposição
final devem ser detalhadas. O custo do ciclo de vida de um projeto específico deve ser
desenvolvido e subsequentemente atualizado de acordo com cada etapa atingida, bem como
com a forma de contratação dos serviços (CLIFT, 2003), considerando os dados expostos
na Tabela 6.
96
Tabela 6: Considerações para a análise do custo do ciclo de vida em cada etapa do empreendimento.
Etapa de vida do empreendimento Considerações para a análise do custo do ciclo de vida
Aquisição na construção,
nova construção ou reforma
Terreno e movimento de terra
Projeto
Planejamento, regulamentações e taxas
Construção, comissionamento, mobiliário
Administração – despesas indiretas
Ou
Aquisição na compra ou no aluguel
Preço de compra
Planejamento, regulamentações e taxas
Adequações do edifício às necessidades do negócio
Administração – despesas indiretas
Operação
Manutenção, reparos, reposições de componentes e sistemas
Limpeza
Utilidades e energia
Flexibilidade (reconfigurações para acompanhar melhorias nos processos)
Segurança e gerenciamento
Receitas de operação Possíveis receitas geradas pela locação de áreas ociosas
Disposição Final Demolição
Limpeza do terreno
Receitas da disposição
Venda da edificação
Venda do terreno
Venda dos materiais de demolição
5.2.3. Aplicações
A LCCA é uma maneira de se ter uma visão mais abrangente dos custos, nas suas
diferentes fases de projeto, ao longo do ciclo de vida da edificação, possibilitando assim o
estudo e redução destes gastos de operação e uso. Esta análise é melhor aplicada na
avaliação de alternativas de empreendimentos onde os objetivos prioritários são a qualidade
e o respectivo valor ao longo do tempo (NORNES, 2005).
A análise do custo do ciclo de vida é necessária para demonstrar o valor das construções
97
sustentáveis, onde os benefícios gerados (e sua tradução em valor) são percebidos ao longo
do seu ciclo de vida. Por meio dela, metodologias de avaliação ambiental, como o LEED,
se tornam viáveis, uma vez que estratégias de projeto e materiais, sistemas e tecnologias
necessárias aos empreendimentos sustentáveis muitas vezes têm um custo superior às
convencionais e custo inferior ao longo de sua operação.
Ruegg e Marshall (1990) listam várias aplicações do LCC quando da tomada de decisão,
como mostra a Tabela 7. Ao lado de cada item está indicado com um “x” aqueles que
podem ser usados no contexto de construções sustentáveis.
Vale ressaltar que, para todos os casos, não há a mensuração econômica das alternativas
estudadas (ASTM, 1992), e, como sugere Marshall e Petersen (1995) no passo 9 da Tabela
7, a LCCA deve ser complementada com a análise de indicadores econômicos.
Tabela 7: Aplicações do LCC no processo de tomada de decisões. Fonte: Ruegg e Marshall (1990), adaptada.
Item Aplicação Abordagem Sustentabilidade
1. Aceitar ou rejeitar modificações
Compara um sistema ou um edifício com ou sem a modificação proposta
X
2. Tamanho e soluções de projeto
Compara alternativas. O menor resultado é o melhor
X
3. Localização Compara alternativas. O menor resultado é o melhor
X
4. Substituição de equipamentos ou componentes
Identifica o período de substituição de componentes onde o LCC é minimizado
X
5. Compra ou locação de um equipamento
Compara alternativas. O menor resultado é o melhor
X
6. Combinação de sistemas interdependentes
Compara grupos de sistemas e/ou soluções técnicas
X
7. Alocação de orçamento limitado
Compara os LCC das alternativas em questão, escolhendo-se o conjunto de alternativa com menor LCC
NA
Todas as abordagens descritas na Tabela 7 referem-se à comparação de custo entre
alternativas com o mesmo desempenho, ao longo de um mesmo período estudado. A LCCA
pode ser usada com a finalidade de demonstrar a viabilidade econômica de edificações
98
sustentáveis. Com exceção da aplicação 7, todas podem ser usadas neste contexto por meio
da comparação entre estas edificações e projetos tradicionais. A Tabela 8 apresenta
exemplos de aplicação do LCC.
Tabela 8: Exemplos de aplicações do uso da LCC.
Item Aplicação Exemplos
1. Aceitar ou rejeitar modificações
Decisão de instalar ou não iluminação fotovoltaica em áreas externas. A LCCA deve ser calculada para as duas situações.
2. Tamanho e soluções de projeto
Aye LU et al (2000) apresentam estudo de caso cujo objetivo é a análise das opções existentes de um edifício comercial na Austrália, com enfoque na sustentabilidade. Foram calculados os LCCs para as seguintes alternativas: “fazer nada”, reformar edifício existente, comprar e reformar, comprar terreno e construir e comprar terreno e construir edifício sustentavelmente ideal.
3. Localização
Pode decidir o melhor local de implantação de uma nova fábrica, por exemplo, em função da distância existente e seus respectivos gastos, entre esta e a residência dos futuros trabalhadores ali a serem alocados.
4. Substituição de equipamentos ou componentes
Determinados componentes, apesar de possuírem a mesma função, têm desempenhos distintos e, consequentemente, LCCs diferentes. Tomando-se uma lâmpada como exemplo: a função principal é iluminar o ambiente. Ao longo de um período de estudo, deve ser analisado a periodicidade das substituições, bem como seu gasto energético. O resultado com menor LCC é a melhor opção.
5. Compra ou locação de um equipamento
Decisão de alugar um equipamento, onde há pagamentos uniformes ao longo do ciclo de vida útil e gastos com eventuais manutenções ou comprar este mesmo equipamento. Nesta opção, há um investimento inicial, gastos com manutenção e ainda, deve ser computada receita pela venda deste equipamento no fim do ciclo de vida.
6. Combinação de sistemas interdependentes
A combinação de sistemas na busca de um desempenho mais eficiente é comum em prédios. Podem ser estudadas alternativas de fachada, como por exemplo, combinação de vidros laminados, vidros insulados e blocos de concreto mais vidro e, aferir o impacto de cada composição na carga térmica necessária ao condicionamento de ar. O sistema mais adequado será o de menor LCC, onde serão computados os custos iniciais e energia.
7. Alocação de orçamento limitado
Supondo-se que é necessário fazer cinco melhorias em um edifício: A, B, C, D e E com uma verba limitada de 5.000 UM (unidades monetárias). As LCCA, em UM, de cada uma delas ao final do período estudado foi, respectivamente, 10.000, 7.000, 7.500, 1.250 e 5.000 e o investimento inicial de 3.000, 2.000, 2.500, 500 e 2.500. As alternativas A e B serão as escolhidas.
99
No ano de 1999, Sterner (2000) promoveu na Suécia uma pesquisa sobre o uso do método
LCC por parte dos investidores (clientes públicos e privados) em projetos do setor da
construção civil. Foram enviados questionários para 94 empresas, das quais 53
responderam e, dentre estas, 35 afirmaram o uso do método. Dentre os resultados descritos
pela autora, destacam-se:
• Uso nas diversas fases do projeto: mais de 80% das organizações usam o método na
fase de projetos, mais de 50% o usam na fase de planejamento e aproximadamente
40% o utilizam nas fases de concepção e aquisição;
• Parâmetros incluídos na análise: todas as empresas incluem custos de investimento
inicial e energia elétrica; mais de 90% incluem custos de manutenção;
• Precisão: 43% consideram os resultados corretos ou corretos na maioria dos casos,
17% acreditam na falha de resultado;
• Dificuldades encontradas durante o uso: falta de experiência como o maior
obstáculo, apontando também problemas relacionados à falta de dados. Em alguns
casos, a complexidade dos modelos adotados se torna um problema.
Ainda nesta pesquisa, a autora concluiu que o custo do investimento inicial é de grande
importância e o aumento dos custos na fase de projeto é visto como empecilho pelos
empreendedores. Por outro lado, foi constatado o uso por 66% das empresas pesquisadas a
utilização no processo de tomada de decisão, de alguma forma, da perspectiva expandida
do ciclo de vida, porém, não necessariamente do LCC.
Gluch e Baumann (2003) sugerem a aplicação dos conceitos da LCCA para a inclusão de
preocupações ambientais no processo de tomada de decisão por meio da tradução das
informações relacionadas à uma dimensão monetária. Alguns estudiosos, como Reich
(2005), propõem uma LCCA ambiental que seria, conceitualmente, a análise econômico-
financeira da LCA. As externalidades de um produto - seus efeitos positivos ou negativos –
seriam computados monetariamente. No entanto, um modelo ou ferramenta muito bem
100
estruturada faria com que o processo de tomada de decisões envolvendo questões
ambientais se tornasse um processo mecânico, negligenciando os valores escondidos por
detrás das cifras.
O uso de uma metodologia de avaliação ambiental, onde todos os requisitos de um edifício
sustentável são explorados nos aspectos sociais e ambientais, assegura a qualidade do
produto dentro do contexto de sustentabilidade. O uso da LCCA pode viabilizar
economicamente o empreendimento. A análise das externalidades do projeto seria motivo
de estudo a parte.
5.2.4. Limitações
A LCCA tem sérias limitações que precisam ser entendidas para uma correta interpretação
dos resultados. A maioria delas, em todas as literaturas existentes, está relacionada a
previsões futuras.
• Imprevisibilidade
Não importa o quão sofisticada seja a LCCA, incorporando análise de riscos e
probabilidades, ainda não se pode conhecer o futuro (MORTON; JAGGER, 1995). Muitas
são as variáveis que devem ser consideradas ao longo de muitos anos: ciclo de vida,
periodicidade de manutenção, taxa de desconto, inflação, políticas de governo que poderão
afetar o empreendimento (inclusive relacionadas ao meio ambiente) e inovações
tecnológicas invalidando decisões presentes, etc.
• Dados históricos
101
Não existe banco de dados confiável e apesar de alguns proprietários possuírem dados
históricos de seus empreendimentos, freqüentemente, estes dados estão arquivados de uma
maneira difícil de usar para o cálculo do LCC (STERNER, 2000). Mesmo disponíveis, os
dados históricos de custo retratam diferentes edifícios em diferentes momentos históricos
(JOHNSON, 1990), podendo refletir a forma de operação de uma determinada organização
que tem por negócio administrar edifícios e, muitas vezes, as contratações de manutenção
se dão para um grupo de edifícios.
Silva (1996) enumera alguns fatores complicadores quando da obtenção de dados:
• Inexistência de métodos padronizados para coletar e armazenar dados de custo e
desempenho das edificações;
• O longo período entre a fase de projeto e de uso, quando os dados de custo e
operação ficam disponíveis;
• O dinamismo da fase de uso, ocorrendo alterações nos padrões de uso em intervalos
freqüentes, perdendo a linearidade e distorcendo os dados já coletados;
• Elevada variabilidade dos dados entre edificações e
• Existência de custos para coletar dados, desestimulando assim sua apuração.
A formação e/ou melhoria de banco de dados é um trabalho que, além de necessitar de um
grande esforço, é caro, não apenas na sua criação, mas também na sua manutenção e ainda
tende a não ser confiável para pessoas que não o confeccionaram (COLE; STERNER,
2000).
Por outro lado, Ferry e Flanegan (1992) apud Cole e Sterner (2000) argumentam que a
experiência e a avaliação provenientes de um “íntimo conhecimento” do tipo de edifício em
questão são suficientes para a obtenção de dados de operação e manutenção confiáveis para
o uso do LCC.
102
• Complexidade da análise
Os procedimentos para cálculo do custo do ciclo de vida são criticados por sua
complexidade (JOHNSON, 1990). A LCCA demanda uma quantidade de tempo que pode
significar profissionais mais qualificados e um valor maior de projeto (STERNER, 2000).
Dificuldades de integração, na fase de projetos, de estratégias relacionadas à operação e
manutenção e aliadas à falta de uma metodologia padrão se tornam barreiras à implantação
da técnica (CLIFT, 2003).
• Percepção dos benefícios
Culturalmente, os benefícios de longo prazo são desconsiderados. No mercado
especulativo, o custo inicial e decisões de curto prazo são a base para as decisões chave
(COLE; STERNER, 2000). Torna-se difícil persuadir o cliente a respeito da melhor
solução, considerando que, na maioria das vezes, estes clientes têm objetivos a curto prazo
e dificuldade em incorporar análises estendidas ao futuro (MORTON; JAGGER, 1995).
Além disso, a política de orçamento de muitas organizações trata separadamente
investimentos e gastos com operação (JOHNSON, 1990), eliminando a possibilidade de
trade-offs, ou seja, de aumentar o primeiro, reduzindo o segundo.
5.2.5. Limitações na teoria econômica neoclássica no contexto ambiental
De acordo com Gluch e Baumann (2004) a teoria neoclássica apresenta quatro inerentes
restrições quando das decisões relacionadas ao meio ambiente.
• Imprevisibilidade: as conseqüências de uma decisão ocorrem muito tempo depois da
própria decisão e, não necessariamente, no mesmo local (GLUCH; BAUMANN,
2004). As preocupações ambientais tendem a ser dissipadas pela presente geração
103
porque seus impactos ocorrerão num momento posterior, bem como as respectivas
ações corretivas (LANGSTON, 2005). Situações desconsideradas nos dias de hoje
podem ter um outro significado futuramente, assim como alguns problemas hoje
vividos não foram considerados no passado (GLCUCH; BAUMANN, 2004). Pode-
se usar como exemplo, no Brasil, as alterações de normas e regulamentações como
as impostas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, como as
resoluções 307 sobre a responsabilidade pelo gerenciamento de resíduos quando da
construção de edifícios e a 273, referente aos materiais e componentes utilizados
nos sistemas dos postos de gasolina. Outro exemplo brasileiro, foi o banimento de
materiais, como a proibição do uso de elementos produzidos com cimento amianto;
• Irreversibilidade: os danos ambientais podem ser irreversíveis e impossíveis de
serem reparados. As preocupações ambientais são tratadas como parte menor de um
problema, podendo ser teoricamente compensadas ou até mesmo ignoradas
(LANGSTON, 2005). Como exemplo, pode-se citar a depreciação e os danos
causados no eco-sistema por um “ajuste” topográfico de um determinado terreno
quando da execução de uma estrada ou da implantação de uma fábrica;
• Recursos naturais não têm valor de mercado: os recursos naturais são considerados
atualmente como se tivessem valor zero de mercado, uma vez que para o mercado
não têm valor itens não valorados comercialmente para compra e venda
(LANGSTON, 2005). Embora sejam fundamentais para a sobrevivência do planeta,
elementos como as águas de rios, oceanos e o ar não têm valor atribuído por não
serem propriedade privada. Numa análise de riscos, existe a preocupação com
edificações vizinhas, pois a construtora tem por obrigação indenizar seus
respectivos proprietários caso sofram algum dano. Porém, nesta mesma análise, não
são considerados impactos cotidianos ao meio ambiente, como por exemplo a
poluição do ar decorrente de um equipamento desregulado, pois não há fiscalização
nem repercussão econômica. A exceção está nas grandes tragédias onde a mídia tem
um papel importante divulgando informações sobre a extensão dos danos à
população, obrigando uma atitude mais séria dos responsáveis;
104
• Unidades monetárias: problemas ambientais são convertidos, simploriamente, a
unidades monetárias. Desta maneira, tais problemas continuam a ser irrelevantes no
processo decisório.
5.2.6. Benefícios
Apesar das muitas restrições encontradas no uso da LCCA, principalmente na aplicação da
taxa de desconto. O governo britânico11 destaca quatro benefícios principais:
• Comparação de alternativas baseada no custo do ciclo de vida de cada uma. Para
uma edificação, os maiores gastos estão presentes na fase de operação. Esta é uma
maneira de agregar valor ao projeto, uma vez que as soluções devem ser pensadas
em seu estágio inicial;
• Maior entendimento sobre os custos relacionados ao produto, fazendo com que o
esforço em busca de redução de custos recaia sobre a parcela mais significativa do
produto;
• Melhoria nas previsões, uma vez que o uso da análise obriga a estruturação de um
banco de dados confiável. Clift (2003) chama a atenção que no Reino Unido, até
pouco tempo atrás, as instituições financeiras consideravam o período de construção
como o de maior risco (condições do solo, intempéries, contratações e problemas
com a orçamentação). No entanto, com as instituições financeiras atuando com
projetos de longo prazo, concluiu-se que existem muitas incertezas ao longo da fase
de operação;
• Possibilidade de trade-offs: num processo de compras, o custo não é o único fator a
ser considerado. Os requisitos de desempenho e a qualidade dos componentes e do
11 http://www.ogc.gov.uk/implementing_plans_introduction_life_cycle_costing_.asp, acesso em 17/11/07.
105
nível de serviços também devem ser computados. O aumento do custo inicial pode
significar um melhor desempenho ou uma maior economia ao longo da operação.
Langston (2005) ainda aponta benefícios nos casos onde não há comparação de
alternativas. Estes benefícios incluem a identificação dos custos mais significativos,
estabelecimento de custo e prazo para o empreendimento, ajuda no controle de gastos e
entendimento dos custos totais comprometidos.
5.2.7. O projeto e a LCCA
A importância da fase de projeto tem sido ressaltada por muitos autores e pesquisadores
ligados ao setor da construção de edifícios em todo o mundo, seguindo a tendência
observada no meio industrial de trazer esforços em favor da qualidade para a concepção dos
processos (FONTENELLE; MELHADO, 2002). Os novos edifícios, por meio de seus
projetos, trazem uma maior parcela de responsabilidade em relação ao meio nos quais estão
inseridos, pois refletem os atuais padrões de consumo da sociedade, bem como seus ganhos
ambientais e econômicos (HORSLEY et al 2003).
A influência do processo de projeto sobre os demais processos da empresa e sobre a
qualidade do produto final sublinha sua importância estratégica para o sucesso do
empreendimento. A possibilidade de correções, ampla nas fases iniciais do seu
desenvolvimento, comporta-se de modo inverso à curva do custo acumulado de produção, e
reduz severamente as chances de ajustes de estratégia a partir de determinado ponto da fase
de projeto (AMORIM; LYRIO FILHO 2005).
A Figura 8 mostra as curvas de custo comprometido e incorrido ao longo do tempo e
apresenta a curva de capacidade de intervenção no projeto. Entendendo-se por custos
comprometidos aqueles previsíveis e imutáveis, já determinados pelas estratégias de projeto
e sistemas prediais já escolhidos e custos incorridos os custos efetivamente gastos e/ou já
contratados.
106
facilidade de
mudanças
custo incorrido
custo comprometido
0%
20%
40%
60%
80%
100%
% C
US
TO
projeto conceitual / preliminar
projeto executivo
construção
ocupação / disposição final
Figura 8 - Custos comprometidos, custos incorridos e facilidade de mudanças, adaptação de Fabrycky e Blanchard (1991).
A concepção do produto, isto é, do empreendimento, é determinada pela localização dos
terrenos disponíveis e, com base no mercado, são estabelecidos conceito e preço.
Fontenelle e Melhado (2002) destacam duas interfaces decisórias quando do
desenvolvimento do projeto: (1) interface produto-projeto: relacionada com o atendimento
dos aspectos mercadológicos do projeto, como a conceituação do empreendimento,
tipologia, definição do número de unidades, definição de equipamentos e serviços coletivos
e privativos, especificação de materiais e sistemas prediais, etc. e (2) interface projeto-
produção: relacionada aos aspectos técnico-construtivos do projeto, priorizando-se normas,
seleção tecnológica dos sistemas construtivos, resolução das interfaces entre sistemas
construtivos, etc.
Entretanto, de acordo com Fabrycky e Blanchard (1991), aplicando-se o conceito de ciclo
de vida de um produto, é fundamental entender o projeto do ponto de vista consumidor-
processo de consumo. A partir deste entendimento, deve-se acrescentar mais uma interface
decisória ao desenvolvimento de projeto, acompanhando o raciocínio exposto
anteriormente por Fontenelle e Melhado (2002), a terceira interface seria projeto-processo
de consumo: relacionada ao comportamento dos materiais e sistemas projetados ao longo
107
do ciclo de vida do empreendimento - manutenção e operação, requisitos de teste e
desempenho dos sistemas, etc.
As três interfaces decisórias do desenvolvimento de projeto se reportam à classificação do
ciclo de vida em duas fases: a de aquisição, contendo as duas primeiras interfaces, produto-
projeto e projeto-produção, e a de uso, contendo a interface projeto-processo de consumo.
No Brasil ainda se dá pouca importância à questão do planejamento do empreendimento
estar vinculado ao projeto. O que se vê, muitas vezes, é a concepção e elaboração do
projeto concomitantemente com a produção da obra. Esta prática como rotina deixa pouco
espaço para o estudo de alternativas mais eficientes e econômicas, sem a possibilidade de
averiguação se uma determinada tecnologia detentora de um maior custo inicial terá um
desempenho, ao longo do ciclo de vida do empreendimento, mais satisfatório ou mais
econômico.
A qualidade da solução de projeto é, em parte, resultante das opções de produtos realizadas
pelos projetistas e construtor e estão, quase sempre, baseadas em experiências passadas,
demonstrando assim uma certa restrição a soluções inovadoras (SILVA, 1996). Morton e
Jaggar (1995) também reafirmam esta tendência dos projetistas especificarem soluções e
materiais baseados em experiências anteriores, vendo nesta prática um lado positivo na
diminuição das horas gastas em projeto e um lado negativo na não garantia de alcance de
uma melhor solução de projeto. Weizsäcker et al. (1997), porém, ressaltam o caráter
negativo, ao relatar que esta prática é conhecida entre engenheiros canadenses como
“infectious repetitis”, e funciona de maneira super estimada, consumindo no projeto mais
investimento inicial e muita energia na fase de operação e nenhum projetista paga por isso.
Neste contexto, surgem pelo menos dois conceitos a serem analisados: (1) design to cost
(DTC) e (2) processo de projeto integrado (PPI).
O primeiro conceito, como a própria tradução propõe, é pensar nos custos quando do
desenvolvimento do projeto. Este conceito é usado como política do Departamento de
Defesa dos EUA e considera todos os custos relevantes na seleção e projetos de sistemas
108
bélicos (FABRYCKY; BLANCHARD, 1991). São considerados todos os custos
pertencentes ao ciclo de vida do produto: desenvolvimento, produção, operação e suporte e,
onde aplicável, custos com disposição final, otimizando o equilíbrio entre custo-alvo e
desempenho requerido (PULASKI; HORMAN, 2005; JACOMIT; GRANJA; GOMES,
2009).
O segundo conceito, processo de projeto integrado (PPI), institui uma nova visão de
desenvolvimento de projetos para o alcance do desempenho e custo desejados, e geralmente
requer que os projetistas saiam de sua zona de conforto e trilhem um novo caminho.
Tradicionalmente, a concepção de um projeto inicia-se obrigatoriamente com a contratação
de um arquiteto e, depois do caso básico concebido, inicia-se a contratação e o
desenvolvimento dos demais projetos. No entanto, os objetivos de alto desempenho de um
projeto iniciam-se e institucionalizam-se pela noção de time de projeto, onde todos os
participantes relevantes (incorporador, construtora, principais fornecedores, projetistas e
consultores) são engajados desde a concepção do projeto (COLE; STERNER, 2000; REED,
2005; SILVA, FIGUEIREDO, 2008; JACOMIT; SILVA; GRANJA, 2009; 7 GROUP
AND REED, 2009).
A Figura 9 mostra a composição multidisciplinar de uma equipe do projeto, formada pelo
investidor e/ou proprietário, pela construtora e pela operadora – empresa responsável pela
operação do prédio. Cada uma destas três partes responde, por meio de seus funcionários,
consultores e fornecedores, pelo sucesso do projeto. Um projeto com alta produtividade dos
recursos requer integração, não reducionismo – pensar nos desafios como um todo e não
como pequenos pedaços desintegrados (WEIZSÄCKER et al, 1997).
109
Figura 9 - Composição da equipe de projeto multidisciplinar.
Vosgueritchian (2006) entrevistou dez profissionais envolvidos com sustentabilidade da
arquitetura na cidade de Londres para sua dissertação de mestrado. Ficou explicitada a
necessidade de uma equipe multidisciplinar para lidar, interdisciplinarmente, com a grande
quantidade de informação e conhecimento disponíveis, fazendo com que o desafio de um
projeto sustentável para uma única pessoa, um único arquiteto, torne-se, além de
impossível, improdutivo.
O Procurement Guide do Departamento de Comércio do Governo Britânico (2005) vê a
garantia de um melhor projeto, com mais qualidade e de uma maior precisão na estimativa
de custos, o trabalho com uma equipe integrada desde o estágio inicial de projeto e a
interação desta equipe de projeto com os processos construtivos. Este guia ainda destaca
que o dinheiro gasto em um bom projeto pode representar economia muito maior nas etapas
construtivas e de manutenção, podendo também significar melhora em saúde e segurança,
em sustentabilidade, na qualidade do projeto, construtibilidade, redução dos entulhos
110
gerados e conseqüentemente, na redução no custo total do ciclo de vida do empreendimento
como um todo. O processo produtivo de um projeto é criatividade e técnica e, atingir a
excelência no projeto de um empreendimento é essencial para alcançar um melhor valor
agregado (CLIFT, 2003).
Sustentabilidade é um conceito de longo prazo. Porém, na construção civil a sua viabilidade
atualmente é medida numa contrastante visão de curto prazo, com base no custo inicial. É
sabido que para cada centavo gasto em construção, aproximadamente o triplo será gasto em
operação, manutenção e renovação e que 75% do custo total de propriedade ocorrem após
projeto e construção, apesar de 75% das decisões dirigindo custos acontecerem antes que o
projeto seja completado (Silva, 2009). Uma abordagem mais robusta de sustentabilidade
em empreendimentos requer que seja ampliado o leque de estratégias, tecnologias e
processos que, apesar de eventualmente terem custo inicial maior, se pagam ou têm custo
negativo ao longo do tempo (Silva, 2006).
Com base nesta consideração, Ceotto (2008 e 2009) vem reafirmando e demonstrando que
já existem benefícios claros para investidores e incorporadoras que aplicarem determinadas
tecnologias para elevar desempenho ambiental no Brasil. Cabe ressaltar que (1) boa parte
das considerações feitas seriam provavelmente aplicáveis a edifícios no segmento
comercial de escritórios, padrão Triple A e (2) estas implementações normalmente não
incorrem em mudanças conceituais significativas, já que o tipo de empreendimento
considerado na análise parte de patamares de qualidade e desempenho superiores à média
do mercado.
O passo mais importante em direção à sustentabilidade de uma edificação é dado durante a
fase de concepção de projeto, no seu planejamento e especificação, determinando neste
momento 80% da poluição ambiental (BOGENSTÄTTER, 2000). Até que a cadeia de
fornecedores (consultores, projetistas, fornecedores de materiais e serviços, etc.) incorpore
novas práticas, como o uso da LCCA como ferramenta para, não apenas reduzir os custos
de um empreendimento ao longo do tempo, mas também como um meio de elaborar
projetos mais enquadrados no conceito de edificações sustentáveis, é bem provável que, de
acordo com Fabryck e Blanchard (1991), pelo menos inicialmente, os custos de projeto
111
aumentem devido ao “efeito do aprendizado”. Neste caso, o custo da primeira unidade é
maior que o custo da segunda unidade, que é maior que o custo da quarta unidade e assim
por diante, conseqüência do processo de familiarização e absorção de novos conceitos.
5.3. Considerações sobre o capítulo
Por um lado, elaborar a análise do custo do ciclo de vida se torna uma tarefa árdua, uma vez
que se faz necessária a previsão de fatos futuros muitas vezes sem dados referência ou
dados históricos e a arbitragem de variáveis que dependem do comportamento da economia
ao longo de anos, como taxas de desconto e inflação. Por outro lado, não há como ignorar o
fato de que, dependendo da tipologia do empreendimento e dos objetivos dos investidores,
a atenção voltada ao projeto num âmbito de análise multidisciplinar entre todos os
envolvidos, repercutindo na escolha de soluções de projeto funcionais e de tecnologias mais
racionais e menos agressivas ao meio ambiente tem impacto direto na operação
investimento x retorno quando considerada a vida útil do empreendimento. Vale lembrar
que, em alguns casos, esta pode chegar a quase um século.
Uma das formas de promoção da sustentabilidade em edifícios que vai além da emoção e
sentimento é a econômica, quando refletida no lucro gerado pelo negócio. É aí que a análise
do custo do ciclo de vida é essencial.
A maneira adequada de se fazer a análise de viabilidade de um empreendimento
considerando o seu ciclo de vida, produzindo informação de qualidade para o embasamento
do processo decisório, considerando o complexo fluxo de caixa próprio do setor da
indústria da construção civil ainda precisa ser estudada, para que se encontre os melhores
critérios de escolha, tanto principais quanto secundários.
Uma mudança profunda de paradigma jamais será obtida se não vier acompanhada de uma
reconsideração igualmente profunda do modo de produção e dos critérios que governam a
viabilidade de empreendimentos (SILVA, 2009).
112
6. Metodologia
O tema sustentabilidade é ainda muito recente no mercado brasileiro e entendê-la neste
contexto é fundamental para que se tenha a fotografia do exato momento em que a
construção civil se encontra. A introdução das certificações no Brasil é um movimento que
se torna cada vez mais forte. No entanto, como o próprio tema da sustentabilidade, isto
também é uma novidade e para sair desta posição e passar a ser realmente incorporada aos
empreendimentos deve ser experimentada e vivida para depois passar a ser definitivamente
parte integral do processo do projeto, sem a necessidade de se “virar a chave”do
convencional para o sustentável.
6.1. Etapas da pesquisa
Em alinhamento aos objetivos do trabalho, o desenvolvimento do estudo aplicado foi
dividido em duas grandes fases: (1) discussão sobre a aplicação do LEED em
empreendimentos que buscam esta certificação dentro da realidade do mercado da
construção civil brasileiro, identificando facilidades e restrições de sua aplicabilidade
(objetivo 1), composta por (i) determinação da freqüência de atendimento de cada ponto,
após normalização dos dados segundo a estrutura do LEED NC 2.2 e (ii) análise qualitativa
das dificuldades existentes para atendimento ao LEED nos EUA e no Brasil e (2) captura
do entendimento e a percepção das incorporadoras sobre edificações sustentáveis e custos
ao longo do ciclo de vida (objetivo 2).
113
6.1.1. Discussão sobre a aplicação do LEED na realidade do mercado da construção
civil brasileiro
6.1.1.1. Determinação da freqüência de atendimento de cada ponto LEED
Primeiramente, foram analisados, ponto a ponto, os dados dos relatórios existentes
(Matthiessen; Morris (2004); Cryer et al (2006), aqui chamados, respectivamente, relatórios
1 e 2), quanto à freqüência do cumprimento dos requisitos LEED em empreendimentos
norte-americanos. Pela grande amostragem constante nos relatórios de referência (296
projetos no total), assumiu-se que quanto maior a freqüência de busca/obtenção de um
ponto, maior a facilidade do seu atendimento, por baixo custo, fácil implementação ou
outra razão. Esta fase teve por finalidade entender se as facilidades e limitações quanto à
aplicação destes requisitos são intrínsecos ao mercado da construção civil em si, face às
inovações de soluções de projetos e tecnológicas a serem buscadas para a certificação, ou
se são acentuados ou atenuados em função de características da indústria da construção
civil brasileira, uma vez que a aplicação da metodologia LEED é baseada em normas e
legislações dos EUA, país com características e necessidades diferentes das encontradas no
Brasil.
A freqüência de atendimento de cada crédito foi separada em quartos, sendo considerados
como “muito freqüentes” (MF), os requisitos com freqüência de ocorrência superior a 75%;
como “freqüentes” (F), os requisitos com freqüência entre 50% e 75%; como “pouco
freqüentes” (PF), os requisitos com freqüência entre 25% e 50%; e como “raros” (R),
aqueles cuja freqüência tenha sido inferior a 25%.
Com os resultados obtidos, foram elaboradas duas matrizes comparativas. A primeira delas
(Quadro 6) apresenta os resultados da freqüência do alcance de cada um dos créditos, a
partir de Matthiessen; Morris (2004) e Cryer et al (2006). A segunda, o Quadro 7, compara
o resultado da primeira matriz com a obtenção dos pontos referentes a cada requisito para
os dois empreendimentos nacionais estudados.
114
Em Matthiessen; Morris (2004), a freqüência de cada requisito é apresentada em gráficos
para cada nível de certificação LEED, agrupando-se as edificações nos níveis ouro e
platina. Apesar de não explicitado no texto, presumiu-se, a partir da data de publicação de
Matthiessen, Morris (2004), que este traga informações baseadas na versão 2.1 do LEED-
NC, fazendo-se necessária a adaptação para efeito do estudo comparativo pretendido, a
versão LEED 2.2, vigente à época de produção desta dissertação.
Já em Cryer et al (2006), os dados apresentados são referentes à versão LEED 2.2, e a
freqüência de obtenção de cada ponto é apresentada nos quatro níveis de certificação LEED
(certificado, prata, ouro e platina). Para reproduzir o agrupamento feito por Matthiessen,
Morris (2004) e tornar seus dados comparáveis com os de Cryer et al (2006), projetos nos
níveis Ouro (58 empreendimentos) e Platina (7 empreendimentos) foram somados através
de média ponderada do atendimento dos requisitos. O Quadro 6 sumariza a freqüência de
ocorrência consolidada para cada requisito LEED, no formato iniciado por Matthiessen,
Morris (2004).
Para se chegar ao resultado final de freqüência para cada requisito, a partir destas seis
freqüências parciais para cada requisito (três níveis de certificação, em dois relatórios),
adotou-se como critérios: (1) o resultado final com maior número de ocorrências parciais
(por exemplo, se um requisito obteve 4 MF e 2 PF seu resultado final foi considerado
“muito freqüente” (MF); (2) para número igual de ocorrências de resultados parciais (3 F e
3 PF), prevaleceu o resultado de menor freqüência (o mais rigoroso), neste caso “pouco
freqüente” (PF); e (3) na ocorrência de resultados parciais iguais, com o número de 2
ocorrências cada um (2MF, 2F e 2PF), como é o caso dos créditos 4.3 e 8 de Terrenos
Sustentáveis, tais requisitos foram considerados como “freqüentes” (F), indicando a
tendência central.
Finalmente, buscando efetuar uma análise dos requisitos atendidos e verificar se haveria um
padrão de atendimento entre os pontos obtidos/pleiteados por estes empreendimentos e os
casos norte-americanos registrados nos relatórios de referência, uma segunda matriz
(Quadro 7) foi elaborada, comparando os resultados norte-americanos com os dados
obtidos nos checklists enviados ao USGBC para os processos de certificação LEED dos
115
dois estudos de casos nacionais examinados nesta dissertação.
6.1.1.2. Análise qualitativa das dificuldades existentes para atendimento ao LEED
nos EUA e no Brasil
A análise qualitativa das dificuldades existentes quando da implementação das estratégias
“verdes” para atendimento ao requisitos LEED nos EUA e no Brasil foi feita com base em:
• Resultado obtido para o item 6.1.1, em comparação com Matthiessen, Morris
(2004) e Cryer et al (2006), quanto à freqüência de obtenção de cada ponto LEED;
• Langdon (2007), documento descritivo que posiciona os requisitos LEED no
contexto dos EUA;
• Análise documental, principalmente os relatórios de sustentabilidade no decorrer
das obras para o processo de certificação, elaborados pelas empresas de consultoria
para determinação dos pontos que estão sendo pleiteados em cada empreendimento;
• Pesquisa de percepção junto a agentes envolvidos nos estudos de caso nacionais,
tanto da construtora quanto da incorporadora. Foram entrevistados da construtora
(1) o diretor dos contratos, responsável pelos dois empreendimentos, (2) os gerentes
de cada projeto e (3) membros da equipe de obra. da empresa incorporadora
responsável pelo desenvolvimento dos dois projetos.
6.1.2. Captura do entendimento e a percepção das incorporadoras sobre edificações
sustentáveis e custos ao longo do ciclo de vida
Para a compreensão do mercado emergente brasileiro referente à execução de green
buildings é fundamental compreender a percepção e o entendimento sobre edificações
116
sustentáveis e custos ao longo do ciclo de vida de uma edificação do principal agente
dentro do processo de decisão quando do estudo de viabilidade de um empreendimento.
Para tanto, foi realizada pesquisa com as principais incorporadoras brasileiras atuantes no
estado de São Paulo. Este estado é responsável, de acordo com o PAIC de 2006, por 30,9%
do valor total das construções realizadas e 26,5% de participação na mão de obra ocupada
no setor da construção civil.
Foram enviados questionários via e-mail com perguntas agrupadas em três assuntos
distintos:
• Percepção sobre green buildings dentro do contexto de mercado, considerando (1) a
discussão aberta no item 2.5.2 “Preço e valor de uma edificação sustentável” desta
dissertação sobre a existência de diferentes significados de valor e preço
dependendo do tipo de investidor (parte interessada) para cada empreendimento, e
ainda dependendo do usuário final ou cliente, (2) entre os maiores impedimentos
para a construção de edificações sustentáveis, conforme item 2.4 “Obstáculos para
Construções Sustentáveis”, estão a percepção de um custo inicial maior e a falta de
informação sobre o assunto e, finalmente (3) a falta de demanda de mercado
causada pela não divulgação destes produtos pelas incorporadoras, formando um
ciclo vicioso onde o mercado não oferece green buildings pois não há procura e não
há procura pois não há divulgação pelas incorporadoras, desenvolvedoras deste
produto;
• Percepção sobre green buildings quando da obtenção de alguma certificação. Estas
questões, aliadas ao Objetivo 1 desta dissertação – que procura entender as
dificuldades de implantação dos requisitos LEED no contexto brasileiro, permitirão
que se forme uma melhor imagem da habilidade do mercado em se adequar para um
cenário de edifícios certificados;
• Aplicação dos custos ao longo do ciclo de vida das edificações no processo de
decisão, ou seja, na fase de estudo dos empreendimentos. A intenção era a busca do
entendimento do mercado em relação ao tema, bem como a maneira como estes
117
custos “pós-investimento inicial” eram vistos e considerados.
Para a seleção das incorporadoras para a participação nesta pesquisa foi utilizada o
ranqueamento das maiores incorporadoras e construtoras elaborado pela ITCnet12 no ano de
2007 (ITCnet, 2007). Neste ranqueamento estão apresentadas as empresas que mais
contribuíram na produção de área construída no Brasil, totalizando a soma de
24.027.203,08 m² naquele ano. Foram descartadas as empresas que não atuam no estado de
São Paulo, reduzindo o número de 100 para 61 companhias, as quais executaram 77% da
metragem quadrada total, correspondendo a 18.526.147,68 m². Desta amostragem, duas das
principais empresas listadas nas quarta e sexta posições foram excluídas por atuarem no
mercado exclusivamente como construtoras. Isto significa que não são responsáveis pelos
estudos de viabilidade dos empreendimentos, ficando 16.899.642,68 m², correspondendo a
70,34% da amostra inicial das 100 empresas brasileiras e a 91,22% da amostragem das
empresas que atuam também no estado de São Paulo.
Com o intuito de simplificar a quantidade de empresas pesquisadas e ainda se obter uma
amostragem significativa do mercado, partiu-se da quantidade de 16.899.642,68 m²
construídos e estabeleceu-se, como linha de corte, que deveria ser consultado um número
de empresas que correspondesse a, no mínimo, 80% do total desta área (13.519.714,14 m²).
Desta forma, foi realizado contato telefônico seguido de envio por e-mail de questionários
estruturados para 28 empresas, as primeiras do ranking ITCnet 2007. Outras oito
incorporadoras aceitaram participar desta pesquisa, sendo quatro delas investidoras com
capital de fundos estrangeiros que atuam no mercado brasileiro e possuem edifícios que
buscam a certificação, 03 incorporadoras não ranqueadas, porém reconhecidas no estado de
São Paulo; e 01 incorporadora de pequeno porte que atua na região de Ribeirão Preto (SP).
Isto totalizou o envio de 36 questionários estruturados, no período de 02/02/2009 a
05/03/2009.
Visando garantir a área construída tomada como referência inicial (correspondente às 30
12 ITC é uma empresa especializada em pesquisas de mercado relacionadas à construção civil, nos setores de edificações e obras pesadas. Atua no Brasil há mais de 28 anos, reconhecida por acompanhar a evolução do mercado da construção civil no Brasil.
118
empresas no topo do ranking ITCnet 2007), foram convidadas a participar outras 9
empresas, totalizando 15.133.683,80 m² de área construída, de acordo com o ranking
ITCnet. Dos 45 questionários enviados, foram obtidas e consideradas as 41 respostas
recebidas até dia 26/03/09 (índice de resposta de 86,7%), distribuídas em 33 empresas
ranqueadas pela ITCnet, mais as 8 incorporadoras adicionais). O nome das empresas, bem
como de seus respectivos representantes, não serão divulgados devido ao acordo de sigilo
estabelecido.
Estes questionários foram compostos por 19 perguntas, conforme Anexo A, das quais:
• 07 delas referente à percepção dos green buildings no mercado;
• 05 sobre a percepção da obtenção de certificação e
• 07 relacionadas à utilização dos custos ao longo do ciclo de vida quando do estudo
de viabilidade de um empreendimento.
A Tabela 9 apresenta o resumo de empresas pesquisadas e de respostas obtidas.
Tabela 9: Taxa de resposta da pesquisa de entendimento da percepção das empresas.
Dados Pesquisa inicial Respostas obtidas
Meta de respostas (em área construída,
base ITCnet2007) 13.519.714,14 m²
Número de empresas ITCnet 2007 39 33
Área construída (conforme ITCnet 2007) 15.133.683,80 m² 13.806.282,69 m²
Número de outras empresas 8 8
Total de empresas 47 41
Questionários enviados 45* 39*
* Como o ranking fora elaborado em 2007, no ano de 2009 duas empresas ranqueadas em posições fora do limite inicialmente estabelecido, pertenciam a duas empresas dentre as 28 primeiras. Portanto, os 28 questionários enviados totalizavam a área construída pelas 30 empresas no topo do ranking (13.784.622,11 m²).
Das 41 empresas que responderam ao questionário, 33 pertenciam ao ranqueamento do
119
ITCnet. Estas empresas foram responsáveis, no ano de 2007, por 13.806.282,69 m²
construídos, equivalendo a 74,52% da área construída naquele ano no estado de São Paulo e
a 57,45% da área construída brasileira (ITCnet, 2007).
6.2. Apresentação dos estudos de casos
Para posicionamento da discussão no contexto brasileiro, foram analisados dois edifícios
comerciais de escritórios com padrão de acabamento de alta qualidade, classificados pela
respectiva incorporadora como Triple A. Por ocasião deste trabalho, ambos estavam em
construção e em busca da certificação LEED nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A
escolha destes dois empreendimentos foi feita por se tratar de dois dos primeiros
empreendimentos buscando a certificação LEED no Brasil, idealizados pela mesma
incorporadora, um fundo de investimento na área imobiliária norte-americano com atuação
no Brasil, e executados pela mesma construtora, com sede no estado de São Paulo.
Estes estudos de casos configuram, neste trabalho, a base para aferir os pontos fortes e as
limitações encontradas na estratégia de projeto utilizada na busca do atendimento aos
requisitos LEED quando do processo de certificação dos empreendimentos. Por meio dos
resultados encontrados é possível entender se as dificuldades e facilidades da aplicação
desta metodologia se restringem ao mercado brasileiro ou se são decorrentes de uma maior
rigidez de parâmetros relacionados a um melhor e desejado desempenho ambiental,
independentemente do país que busca tal certificação.
Os dois empreendimentos estudados buscam a certificação LEED Core & Shell 2.0,
apropriada para edifícios comerciais onde o investidor loca ou vende as áreas internas dos
pavimentos, não sendo responsável pelos acabamentos internos dos andares, transferindo
aos futuros usuários esta ação. As diferenças entre o LEED NC para novas construções e o
LEED Core & Shell são pequenas (Quadro 4) e não prejudicam a comparação sugerida,
pois são abordados basicamente os mesmos assuntos, apenas em níveis de profundidade
ligeiramente distintos.
120
Quadro 4:Comparativo entre LEED NC e LEED C&S.
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente
TERRENOS SUSTENTÁVEIS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis 14 pontos 15 pontos
Prereq 1 Prevenção de poluição durante a construção
Crédito 1 Escolha do terreno
Crédito 2 Desenvolvimento urbano
Crédito 3 Desenvolvimento imobiliário em áreas degradadas
Crédito 4.1 Acesso a transporte público
Crédito 4.2 Bicicletário e vestiário
Crédito 4.3 Veículos com baixa emissão e eficientes
Crédito 4.4 Capacidade de estacionamento
Crédito 5.1 Proteção e recomposição do habitat
Crédito 5.2 Desenvolvimento de área externa projetada
Crédito 6.1 Controle de águas de chuva (taxa e qualidade)
Crédito 6.2 Tratamento de águas de chuva
Crédito 7.1 Ilhas de calor - áreas descobertas
121
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente
Crédito 7.2 Ilhas de calor - áreas cobertas
Crédito 8 Redução da poluição de iluminação
Crédito 9 LEED NC: Crédito não existente
LEED C&S: Guia de projeto e construção, para os locatários
USO RACIONAL DA ÁGUA ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis
5 pontos 5 pontos
Crédito 1.1 Uso eficiente de água para jardins. Redução de 50%
Crédito 1.2 Uso eficiente de água para jardins. Não usar água potável ou não irrigação
Crédito 2 Tecnologia inovadora para esgoto
Crédito 3.1 Redução do uso de água , 20%
Crédito 3.2 Redução do uso de água , 30%
ENERGIA E ATMOSFERA ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis
13 pontos 14 pontos
Prereq 1 Comissionamento do sistema de energia do edifício
Prereq 2 Desempenho mínimo de energia
Prereq 3 Gerenciamento de gás refrigerante
Crédito 1 Desempenho otimizado de energia LEDD NC: 10 níveis diferentes de otimização para pontuação LEED C&S: 8 níveis diferentes de otimização para pontuação
122
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente
Crédito 2 Uso de energia renovável LEDD NC: 3 níveis diferentes para pontuação
LEED C&S: 1 nível para pontuação
Crédito 3 Comissionamento avançado
Crédito 4 Gerenciamento avançado de gás refrigerante
Crédito 5 Medições e verificações LEED C&S: 5.1 Medições e verificações – para infra-estrutura
e 5.2 Medições e verificações – para locatários
Crédito 6 Energia verde
MATERIAIS E RECURSOS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis
13 pontos 11 pontos
Prereq 1 Coleta e estocagem de materiais recicláveis
Crédito 1.1 Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes)
LEED C&S: manter 25% da fachada, piso e cobertura existentes
Crédito 1.2 Reuso da edificação existente (manter 95% da fachada, piso e cobertura existentes)
LEED C&S: manter 50% da fachada, piso e cobertura existentes
Crédito 1.3 Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais)
LEED C&S: manter 75% dos elementos de interior não estruturais
Crédito 2.1 Gerenciamento de resíduos (gestão de 50% dos resíduos)
Crédito 2.2 Gerenciamento de resíduos (gestão de 75% dos resíduos)
Crédito 3.1 Reuso de materiais (5%) LEED C&S: Reuso de materiais (1%)
Crédito 3.2 Reuso de materiais (10%) LEED C&S: Crédito não existente
123
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente
Crédito 4.1 Uso de materiais com teor reciclado (10%)
Crédito 4.2 Uso de materiais com teor reciclado (20%)
Crédito 5.1 Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais)
Crédito 5.2 Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais)
Crédito 6 Uso de materiais rapidamente renováveis LEED C&S: Crédito não existente
Crédito 7 Uso de madeira certificada
QUALIDADE DO AMBIENTE INTERNO ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis
15 pontos 11 pontos
Prereq 1 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Prereq 2 Controle do tabaco no ambiente interno
Crédito 1 Monitoramento da entrada de ar externo
Crédito 2 Aumento da ventilação
Crédito 3.1 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção
Crédito 3.2 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), pré-ocupação
LEED C&S: Crédito não existente
Crédito 4.1 Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes A pontuação dos Créditos 4 foi alterada. Um ponto é dado para
cada 2 créditos cumpridos,
Crédito 4.2 Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz
124
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente
Crédito 4.3 Materiais com baixa emissão – carpete
Crédito 4.4 Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra
Crédito 5 Controle de fontes de poluição interna
Crédito 6.1 Controlabilidade do sistema – iluminação LEED C&S: Crédito não existente
Crédito 6.2 Controlabilidade do sistema - conforto térmico
Crédito 7.1 Conforto térmico – projeto
Crédito 7.2 Conforto térmico – verificação LEED C&S: Crédito não existente
Crédito 8.1 Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas
Crédito 8.2 Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas
INOVAÇÃO DE PROJETO ALTERAÇÕES ENCONTRADAS
Pontos Possíveis
5 pontos 5 pontos
Crédito 1.1 Inovação de projeto
Crédito 1.2 Inovação de projeto
Crédito 1.3 Inovação de projeto
Crédito 1.4 Inovação de projeto
Crédito 2 Profissional LEED
125
LEED NC – Novas construções LEED C&S –Núcleo e Envolvente Pontos
Possiveis 69 PONTOS 61 PONTOS
Classificação
Certificado: 26 – 32 pontos Prata: 33 a 38 pontos Ouro: 39 – 51 pontos Platina: 52 – 69 pontos
Certificado: 23 – 27 pontos Prata: 28 a 33 pontos Ouro: 34 – 44 ponto Platina: 45 - 61
126
6.2.1. Definição de edifícios Triple A
A classificação Triple A é amplamente praticada no mercado. No entanto, gera dúvidas em
relação aos seus atributos, uma vez que o critério de classificação de edifícios e a
nomenclatura utilizada não são regidos por norma oficial. Conseqüentemente, cada empresa
do segmento adota aquela que julga mais adequada (JONES LANG LASALLE, 2007).
O mercado imobiliário produz edifícios de escritório com qualidade variável para atender
aos diferentes usuários potenciais, hierarquizando-os em classes, por meio do agrupamento
de produtos semelhantes (VERONEZI, 2004).
A empresa Jones Lang LaSalle, por exemplo, analisa cerca de 160 itens técnicos dos
edifícios, atribuindo pontos a cada um deles, e adota critérios segmentados em 4 classes:
AA, A, B e C. Algumas empresas utilizam terminologias diferentes (Triple A, A+ ou
simplesmente A) para o mesmo objeto em análise (JONES LANG LASALLE, 2007).
A descrição da Classe AA definida pela consultoria Jones Lang Lasalle tem os seguintes
parâmetros:
“Ótimo aproveitamento entre área útil/carpete/privativa, área útil do andar maior que 800 m², pé-direito (do piso ao forro) superior a 2,70 m, sistema de ar-condicionado central moderno com controladores, sistema redundante de telecomunicações, piso elevado instalado, relação de vagas de estacionamento por área útil maior ou igual a 1:30 m2, sistema de supervisão e gerenciamento predial completo, alta eficiência no transporte vertical (elevadores)” (JONES LANG LASALLE, 2007).
Veronezi (2004) apresenta em sua dissertação de mestrado as diversas classificações e suas
respectivas definições, consideradas por agentes atuantes no mercado de edifícios de
escritório. Esta autora também descreve as características de um Triple A de acordo com o
ponto de vista da empresa de desenvolvimento imobiliário Brazil Realty, como segue:
• Localização: prestígio, visibilidade, segurança, diversidade de acessos e infra-
estrutura de apoio (restaurantes, prestadores de serviço, etc.). Regiões nobres como
das avenidas Nova Faria Lima e Juscelino Kubitschek na cidade de São Paulo;
127
• Área de laje superior a 800 m², sanitários dentro da área privativa, andares
divisíveis em dois conjuntos, flexibilidade para implantação de escadas internas
privativas, prumadas extras na periferia do edifício para possibilitar a construção de
sanitários adicionais;
• Heliponto com dimensão mínima de 21 x 21 m, com capacidade mínima de 4
toneladas e sala de espera de aeronaves;
• Infra-estrutura de instalações: salas privativas e condominiais (walking shafts)
independentes para passagem de prumadas de elétrica, lógica e telefonia;
• Ar condicionado: sistema composto por chillers, fancoils, central com termo-
acumulação (tanques de gelo) e caixas de VAV ligadas ao sistema de controle e
supervisão predial. Sistema ininterrupto mesmo na falta de energia elétrica através
de geradores e chillers a gás. Dimensionamento com folga;
• Energia de emergência: gerador para 100% das áreas comuns (incluindo todos os
elevadores) e espaço para gerador adicional e geradores privativos por parte dos
ocupantes;
• Segurança: controles de acesso por catraca e cancelas eletrônicas acionadas por
cartão de proximidade, sistema de CFTV em toda a área comum, elevadores
independentes para os subsolos, entrada independente para serviço e expedição com
docas e elevador de serviço. Possibilidade de instalação de sistema de segurança
privativo;
• Combate a incêndio: alarmes visuais e sonoros, escadas de emergência
pressurizadas, sprinklers, detectores de calor e fumaça, brigada de incêndio e
bombeiro de plantão;
• Sistema de supervisão predial: integra o monitoramento dos sistemas de ar
condicionado, energia elétrica, iluminação, elevadores, distribuição de água,
128
detecção e combate a incêndio, controles de acesso;
• Administração predial: por empresa especializada. Oferecimento de serviços
especiais e customizados de acordo com o interesse dos ocupantes do edifício;
• Piso elevado: de alta qualidade e durabilidade;
• Forro suspenso: modular, acústico e anti-chamas;
• Vidros da fachada: excelente isolamento térmico e acústico;
• Elevadores: dimensionados com folga, com largura superior a 1,10m, pé direito
interno da capine superior a 2,85m para sociais e 3,00m para de serviço;
• Materiais e acabamentos: de primeira qualidade e grande durabilidade;
• Relações: estacionamento de uma vaga para 30m² de escritório; alta porcentagem
de área privativa sobre área construída; alta porcentagem de área de carpete sobre
área privativa; alta porcentagem de zona A; pequena porcentagem de área de core13
sobre área privativa.
6.2.2. Estudo de Caso A
Este empreendimento (caso A) está localizado na cidade de São Paulo e é composto por um
conjunto de quatro torres, cuja incorporação pertence a uma empresa americana atuante no
segmento de investimentos imobiliários.
A execução, cuja responsabilidade foi de uma grande construtora de São Paulo (posição 19
do ranqueamento do ITCnet), foi dividida em duas fases, bem como seus respectivos
13 Core é a área onde se concentram sanitários, elevadores, escadas, copa, etc... áreas não utilizadas como escritórios.
129
processos de certificação. A primeira fase, objeto de estudo deste trabalho, engloba as
torres A e B e já está finalizada. A Torre B entrou em operação em julho de 2008 e a Torre
A, em outubro do mesmo ano. A segunda fase, a composta por outras duas torres (C e D),
teve seu início no começo de 2009, com previsão de término para 2010. Vale ressaltar que
por motivo de mercado, a Torre D ainda está na fase de estudo de viabilidade. Os dados
básicos da primeira fase deste empreendimento estão apresentados na Tabela 10.
Tabela 10: Dados Básicos do Estudo de Caso A.
DADOS BÁSICOS CASO A - FASE I
Local: São Paulo – SP
Área do terreno (total Fases I
e II): 37.730 m²
Área do terreno (Fase I): 9.400 m²
Área construída: 59.000 m²
Área Locável: 29.000 m²
Pavimentos: 03 subsolos, pavimento térreo, mezzanino, 16
pavimentos tipo, 02 pavimentos mecânicos,
cobertura e heliponto
Elevadores: 12 unidades
Vagas de estacionamento: 3.100
Área andares: de 1.600 a 2.000 m²
Versão LEED Core & Shell 2.0
Categoria LEED Ouro
É importante ressaltar que este projeto, inicialmente, não havia sido concebido dentro dos
parâmetros de certificação. Tais características foram inseridas no empreendimento num
estágio avançado de projeto, onde a concepção dos sistemas já havia nascido. Adaptações
foram feitas e os projetos foram retrabalhados para atenderem aos requisitos solicitados
pelo LEED. O processo de certificação do projeto foi acompanhado por consultoria
especializada e está registrado e em fase de análise de documentação para certificação pelo
130
USGBC.
Ainda possui as seguintes características:
• Concebido arquitetonicamente dentro dos conceitos de triple A ;
• Lobby com pé direito duplo e acabamento em granito;
• Controle de acesso e sistemas monitorados;
• Piso elevado nos pavimentos;
• Forro acústico de alto desempenho;
• Heliponto;
• Elevadores inteligentes, com distribuição de passageiros na chamada e sistema de
reaproveitamento da energia dissipada no próprio elevador
• Sistemas de irrigação com água de reuso, cujo abastecimento é feito pelo sistema
dos equipamentos de ar condicionado das torres, águas pluviais e rede pública.
• Sistemas elétricos: entrada de 2.500 KVA e 1.020 KVA de geradores;
• Ar Condicionado: três sistemas de chillers, elétricos, a absorção e a queima direta
de gás (cogeração a gás 1.000TR). Os chillers operam em paralelo e o
funcionamento do sistema é de acordo com a conveniência da operadora
(ECOGEN). Ou seja, prevalece o mais econômico, dependendo da demanda e sua
respectiva solicitação. Alem disso, ainda tem a possibilidade de backup a diesel;
• Sistema de distribuição de ar condicionado: VAV (volume de ar variável);
• Sistema de ventilação e exaustão;
131
• Sistema de proteção acústica;
• Sistema de gás combustível: rede da COMGÁS;
• Sistema de óleo diesel: 5.000 l (autonomia de 12,5 horas de consumo);
• Sistema de incêndio com detectores de fumaça, sprinklers e hidrantes;
• Sistemas de automação, supervisão e segurança predial (BMS) - Detecção e alarme
de incêndio; circuito fechado de TV, controle de acesso, sistema elétrico, sistema
hidráulico e sistema de climatização e
• Sistemas de telefonia, lógica e outros recursos de comunicação.
Para o trabalho pretendido no Objetivo 1, foram usados documentos (memoriais
descritivos, especificações técnicas, relatórios de sustentabilidade, folders promocionais,
etc) fornecidos pelas empresas incorporadora, construtora e de consultoria em
sustentabilidade envolvidas neste empreendimento. Foram entrevistados três profissionais
da construtora, entre eles o gerente do projeto na época da construção da fase I e o diretor,
além da arquiteta da incorporadora responsável pelo acompanhamento dos projetos e das
obras. Destas entrevistas foram extraídas informações referentes à percepção do esforço da
equipe em atender aos requisitos do LEED, e permitiram entender melhor o processo de
certificação de um dos primeiros empreendimentos brasileiros a buscá-la.
6.2.3. Estudo de Caso B
Localizado na área central da cidade do Rio de Janeiro, este complexo comercial é
composto por duas torres e um prédio de estacionamento e sua execução foi prevista em
duas fases (Tabela 11). A primeira fase, objeto deste trabalho, é composta por uma torre e
por 50% do prédio de estacionamento. Seu início foi no ano de 2006 e sua execução já foi
concluída em 2008. A previsão é que sua operação seja iniciada no primeiro semestre de
132
2009.
Tabela 11: Dados Básicos do Estudo de Caso B.
DADOS BÁSICOS CASO B– FASE I
Local: Rio de Janeiro – RJ
Área do terreno (total Fases I
e II): 8.500 m²
Área do terreno (Fase I): 4.250 m²
Área construída: 59.000 m² Bloco 1 + 25.000 Bloco Garagem
Área Locável: 51.000 m²
Pavimentos: 05 subsolos, pavimento térreo, mezzanino, 35
pavimentos tipo, 02 pavimentos mecânicos,
cobertura e heliponto
Elevadores: 22 unidades
Vagas de estacionamento: 800 em prédio garagem com 10 pavimentos
Área andares: 1.600 m²
Versão LEED Core & Shell 2.0
Categoria LEED Ouro
Como o caso A, este projeto nasceu somente com especificações triple A, como todos os
projetos comerciais da incorporadora detentora do seu desenvolvimento. A decisão de
torná-lo uma edificação sustentável, certificada, aconteceu num momento posterior.
Inicialmente, estava previsto ser um projeto com classificação Prata pelo LEED. Com o
passar do tempo e pelo estudo das tecnologias disponíveis, bem como custo e facilidade de
implantação, verificou-se a possibilidade de ter o projeto classificado como Ouro.
É importante dizer que, como o caso A, o processo de certificação foi acompanhado por
uma consultoria especializada em sustentabilidade (diferente da que acompanhou o caso
A). A documentação para certificação está atualmente em análise pelo USGBC.
133
• Concebido arquitetonicamente dentro dos conceitos triple A ;
• Lobby com pé direito duplo e acabamento em granito;
• Controle de acesso e sistemas monitorados;
• Piso elevado nos pavimentos;
• Forro acústico de alto desempenho, com NRC médio de até 0,90;
• Heliponto;
• Sistema de irrigação com água de reuso;
• Três geradores;
• Sistema de distribuição de ar condicionado: VAV (volume de ar variável) com três
chillers;
• Reaproveitamento do excedente da água do espelho d’água nas torres de
resfriamento do ar condicionado (por bombeamento);
• Sistema de ventilação e exaustão;
• Sistema de proteção acústica;
• Elevadores inteligentes, com distribuição de passageiros na chamada e sistema de
reaproveitamento da energia dissipada no próprio elevador;
• Sistema de incêndio com detectores de fumaça, sprinklers e hidrantes;
• Sistemas de automação, supervisão e segurança predial (BMS) - Detecção e alarme
de incêndio, circuito fechado de TV, controle de acesso, sistema elétrico, sistema
134
hidráulico, sistema de climatização;
• Sistemas de telefonia, lógica e outros recursos de comunicação e
• Atendimento a normas americanas para possibilitar aos locatários a redução do
valor do seguro.
Para alcançar o primeiro objetivo desta dissertação, foram analisados documentos
(memoriais descritivos, especificações técnicas e relatórios de sustentabilidade) fornecidos
tanto pela empresa incorporadora quanto pela construtora responsáveis pelo
empreendimento. Também foram entrevistados 03 profissionais da construtora - o gerente
do projeto, a engenheira responsável por sustentabilidade na etapa de construção, e o
diretor - além da arquiteta da incorporadora responsável pelo acompanhamento dos projetos
desta obra, sendo os dois últimos agentes também responsáveis pelo caso A. Destas
entrevistas foram extraídas informações referentes à percepção do esforço da equipe em
atender aos requisitos do LEED, entendendo até mesmo os diferentes problemas regionais
entre as cidades de São Paulo (caso A) e Rio de Janeiro.
6.3. Definição da base bibliográfica de referência para análise comparativa com
casos nacionais
Como aproximação inicial para embasar o estudo da aplicabilidade da metodologia LEED
versão 2.2 à realidade brasileira, foram selecionadas três publicações emblemáticas em
análise de custos e dificuldades de implementação de estratégias e tecnologias verdes em
construções certificadas no mercado norte-americano. Os projetos estudados serão
comparados com esta literatura, identificando, ponto a ponto, suas similaridades e
procurando entender se e quão descolado está o mercado brasileiro do norte-americano na
produção de edificações certificadas.
A literatura hoje existente sobre custo e viabilidade de edificações sustentáveis é restrita.
135
Os dados são escassos, tendo em vista que, de uma forma geral, o assunto é novo em
praticamente todo o mundo. Sendo assim, os relatórios utilizados (MATTHIESSEN;
MORRIS, 2004; CRYER et al, 2006; LANGDON, 2007) foram os documentos disponíveis
considerados com a estrutura mais adequada aos propósitos deste trabalho, apesar das
tipologias de edificações por eles analisadas não se limitarem a edifícios comerciais.
6.3.1. Relatório 1: Matthiessen; Morris (2004)
Este documento foi elaborado no ano de 2004 por uma empresa americana que trabalha na
área de consultoria de custos, em projetos voltados para a construção civil, atuando em
praticamente todos os continentes. O relatório teve por objetivo estudar os custos iniciais de
edifícios com características sustentáveis constantes na metodologia LEED, porém não
necessariamente certificados, sem atentar para uma visão mais holística voltada para o ciclo
de vida da edificação, que englobaria a análise da sua operação e manutenção.
Este estudo de custos teve três fins: (1) aferir os impactos de custos da elaboração de
projetos com características sustentáveis, (2) comparar os custos de edificações tradicionais
e mais sustentáveis, de mesma tipologia e (3) verificar qual o acréscimo de custo para se
projetar e construir edifícios mais sustentáveis.
O banco de dados desta organização, até o momento da publicação deste relatório, continha
informações de mais de 600 projetos das mais variadas tipologias, incluindo medidas
quantitativas das edificações, parâmetros de projeto e medidas de sustentabilidade, bem
como pontos do LEED a serem atingidos ou já conquistados por cada edifício.
Para a elaboração deste relatório, o centro de pesquisas desta consultoria valeu-se de 61
projetos extraídos do banco de dados, na sua maioria, referentes a bibliotecas, laboratórios e
escolas, que buscavam certificação LEED NC. A análise ponto a ponto de cada categoria
foi apresentada em forma de gráfico, mostrando o percentual de projetos que estavam em
vias de atender e/ou atenderam cada requisito em estudo.
136
6.3.2. Relatório 2: Cryer et al. (2006)
Com a finalidade de testar algumas de suas hipóteses, dentre elas a percepção por parte do
mercado de um acréscimo de custos em projetos sustentáveis quando comparados a
edificações tradicionais, pesquisadores da Anderson School of Management da
Universidade da Califórnia (UCLA) desenvolveram um estudo, ao longo dos anos de 2005
e 2006, com base em, além da literatura existente, análise estatística de todos os projetos
LEED-NC, versões 2.0 e 2.1 existentes até o mês de dezembro de 2005.
Como continuidade à elaboração deste relatório também foi realizado um workshop com
representantes de organizações ligadas ao mercado de desenvolvimento imobiliário, com ou
sem experiência em questões relacionadas à construção sustentável.
Foram estudados neste relatório 235 projetos, sendo 160 deles certificados pela versão 2.0 e
75, pela versão 2.1. Para fins desta pesquisa, também foi realizada, a exemplo do relatório
1, a adequação destes projetos à versão mais recente do LEED - 2.2. Dos projetos
analisados, 100 buscavam o nível certificado e 70, 58 e 7 projetos, respectivamente, os
níveis prata, ouro e platina.
6.3.3. Relatório 3: Langdon (2007)
Elaborado no ano de 2006 e publicado em 2007 pela mesma empresa de consultoria
americana autora do relatório 1, este relatório tem como objetivo lançar um olhar mais
atualizado sobre aquele estudo, passados três anos.
Foram estudados 221 projetos, dos quais apenas 83 buscavam a certificação LEED. Foram
consideradas pelos pesquisadores as versões LEED NC 2.1 e 2.2, mantida a adaptação para
a versão 2.2 quando necessário. Novamente, a maior parte dos edifícios abrigava
bibliotecas, escolas e laboratórios. Também foram estudados centros comunitários e
137
ambulatórios (similares no Brasil aos hospitais de rápida internação para pequenos
procedimentos cirúrgicos). Neste relatório não é apresentada a freqüência da ocorrência de
cada ponto, porém foram explicitadas as conclusões do processo de obtenção de cada um
deles.
138
7. Resultados obtidos
Os resultados obtidos neste trabalho apresentam um panorama do processo de certificação
LEED no contexto de duas realidades distintas: norte-americana e brasileira. A primeira
trilhando já há algum tempo o caminho da busca de edificações com um melhor
desempenho ambiental e a segunda, iniciando os primeiros passos para se ter edificações
mais sustentáveis, porém num contexto diferente; como país em desenvolvimento e com
outros temas tão importantes quanto o meio ambiente na sua agenda e ainda com
tecnologias e projetos de construção muitas vezes desfavoráveis à perseguição de uma
metodologia baseada em normas internacionais.
7.1. Objetivo 1: facilidades (pontos fortes) e limitações no atendimento do LEED
7.1.1. Na realidade norte-americana
O Quadro 5 descreve os créditos do LEED segundo a freqüência (muito freqüente,
freqüente, pouco freqüente e raramente) com que aparecem nos relatórios 1 (Matthiessen;
Morris (2004) e 2 (Cryer et al. (2006).
Os resultados indicam que, nos EUA, dos 69 créditos/pontos possíveis, 15 deles (22%) são
obtidos com muita freqüência, sugerindo implementação mais fácil, enquanto 18 pontos
(26%) são conquistados freqüentemente; 11 pontos (16%) são pouco freqüentes,
aparentando ter certo grau de dificuldade e os 25 pontos restantes (36%) aparecem
raramente nos projetos analisados nos dois relatórios, indicando prováveis dificuldades para
seu atendimento, como explicitado no Gráfico 4.
139
R36%
F26%PF
16%
MF22%
Gráfico 4: Freqüência de pontos, relacionada ao grau de dificuldade dos 69 pontos do LEED NC.
Neste resultado não estão computadas as dificuldades encontradas para cumprir os pré-
requisitos, uma vez que são obrigatórios.
Quadro 5: Créditos LEED NC 2.2 detalhados em sua freqüência de ocorrência nos projetos contemplados nos relatórios de Matthiessen; Morris (2004) e Cryer et al. (2006).
PONTOS MUITO FREQUENTES (MF)
Escolha do terreno (SS)
Bicicletário e vestiário (SS)
Uso eficiente de água para jardins. Redução de 50% (WE)
Redução do uso de água , 20% (WE)
Desempenho otimizado de energia - 10.5% novas construções ou 3.5% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 14% novas construções ou 7% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 17.5% novas construções ou 10.5% edifícios existentes - Reformas (EA)
Gestão dos resíduos de construção (gestão de 50% dos resíduos) (MR)
Uso de materiais com teor reciclado (10%) (MR)
Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes (EQ)
Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz (EQ)
Materiais com baixa emissão – carpete (EQ)
Inovação em projeto (ID)
Inovação em projeto (ID)
Profissional LEED (ID)
PONTOS FREQUENTES (F)
Acesso a transporte público (SS)
Capacidade de estacionamento (SS)
Desenvolvimento área externa projetada (SS)
140
Ilhas de calor - áreas descobertas (SS)
Ilhas de calor - áreas cobertas (SS)
Redução da poluição de iluminação (SS)
Uso eficiente de água para jardins, Não usar água potável ou não irrigação (WE)
Redução do uso de água, 30% (WE)
Comissionamento avançado (EA)
Gerenciamento avançado de gás refrigerante (EA)
Gestão dos resíduos de construção (gestão de 75% dos resíduos) (MR)
Uso de materiais com teor reciclado (20%) (MR)
Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais) (MR)
Monitoramento da entrada de ar externo (EQ)
Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção (EQ)
Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), pré ocupação (EQ)
Controle de fontes de poluição interna (EQ)
Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas (EQ)
PONTOS POUCO FREQUENTES (PF)
Proteção e recomposição do habitat (SS)
Controle de águas de chuva (taxa e qualidade) (SS)
Tratamento de águas de chuva (SS)
Medições e verificações (EA)
Uso de madeira certificada (MR)
Aumento da ventilação (EQ)
Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra (EQ)
Controlabilidade do sistema – iluminação (EQ)
Conforto térmico - projeto (EQ)
Conforto térmico - verificação (EQ)
Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas (EQ)
Proteção e recomposição do habitat (SS)
Controle de águas de chuva (taxa e qualidade) (SS)
Tratamento de águas de chuva (SS)
RAROS EM FREQÜENCIA (R)
Desenvolvimento urbano (SS)
Desenvolvimento de áreas contaminadas (SS)
Veículos com baixa emissão e eficientes (SS)
Tecnologia inovadora para águas usadas (WE)
141
Desempenho otimizado de energia - 21% novas construções ou 14% Edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 24.5% novas construções ou 17.5% Edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 28% novas construções ou 21% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 31.5% novas construções ou 24.5% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 35% novas construções ou 28% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 38.5% novas construções ou 31.5% edifícios existentes - Reformas (EA)
Desempenho otimizado de energia - 42% novas construções ou 35% edifícios existentes - Reformas (EA)
Uso de Energia Renovável - 2.5% Energia Renovável (EA)
Uso de Energia Renovável - 7.5% Energia Renovável (EA)
Uso de Energia Renovável - 12.5% Energia Renovável (EA)
Energia verde (EA)
Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes) (MR)
Reuso da edificação existente (manter 100% da fachada, piso e cobertura existentes) (MR)
Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais) (MR)
Reuso de materiais (5%) (MR)
Reuso de materiais (10%) (MR)
Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais) (MR)
Uso de materiais rapidamente renováveis (MR)
Controlabilidade do sistema - conforto térmico (EQ)
Inovação em projeto (ID)
Inovação em projeto (ID)
142
Quadro 6: Matriz de freqüência de pontos, a partir da consolidação de dados de Matthiessen; Morris (2004) e Cryer et al (2006).
Onde: “MF” = muito freqüentes (freqüência maior que 75%) “F” = freqüentes (freqüência entre 50 e 75%) “PF” = pouco freqüentes (freqüência entre 25 e 50%) “R” = raros (freqüência menor que 25%)
Matthiessen; Morris, (2004) (RELATÓRIO 1)
Cryer et al, (2006) RELATÓRIO 2
Freqüência ocorrência
Certificado Prata Ouro / Platina
Certificado Prata Ouro / Platina
Terrenos Sustentáveis 14 Pontos Prereq 1 Prevenção de poluição durante a construção Obrigatório
Crédito 1 Escolha do terreno 1 MF MF MF MF MF MF MF
Crédito 2 Desenvolvimento urbano 1 R PF PF R R R R
Crédito 3 Desenvolvimento de áreas contaminadas 1 R R R R R R R
Crédito 4.1 Acesso a tranporte público 1 F PF MF F F F F
Crédito 4.2 Bicicletário e vestiário 1 MF MF MF MF MF MF MF
Crédito 4.3 Veículos com baixa emissão e eficientes 1 R R R R PF PF R
Crédito 4.4 Capacidade de estacionamento 1 MF PF PF F F MF F
Crédito 5.1 Proteção e recomposição do habitat 1 PF PF PF R R F PF
Crédito 5.2 Desenvolvimento de área externa projetada 1 PF F PF F F F F
Crédito 6.1 Controle de águas de chuva (taxa e qualidade) 1 PF F F PF PF F PF
Crédito 6.2 Tratamento de águas de chuva 1 PF F F PF PF F PF
Crédito 7.1 Ilhas de calor - áreas descobertas 1 F MF F F F F F
Crédito 7.2 Ilhas de calor - áreas cobertas 1 PF F MF PF F F F
Crédito 8 Redução da poluição de iluminação 1 F MF MF PF PF F F
Uso Racional da Água 5 Pontos
143
Onde: “MF” = muito freqüentes (freqüência maior que 75%) “F” = freqüentes (freqüência entre 50 e 75%) “PF” = pouco freqüentes (freqüência entre 25 e 50%) “R” = raros (freqüência menor que 25%)
Matthiessen; Morris, (2004) (RELATÓRIO 1)
Cryer et al, (2006) RELATÓRIO 2
Freqüência ocorrência
Certificado Prata Ouro / Platina
Certificado Prata Ouro / Platina
Crédito 1.1 Uso eficiente de água para jardins. Redução de 50% 1 MF MF MF MF MF MF MF
Crédito 1.2 Uso eficiente de água para jardins. Não usar água potável ou não irrigação 1 R PF F F F MF F
Crédito 2 Tecnologia inovadora para águas usadas 1 R R F R R F R
Crédito 3.1 Redução do uso de água , 20% 1 MF MF MF F MF MF MF
Crédito 3.2 Redução do uso de água , 30% 1 R R MF PF F MF F
Energia e Atmosfera 17 Pontos
Prereq 1 Comisionamento do sistema de energia do edifício Obrigatório
Prereq 2 Desempenho mínimo de energia Obrigatório
Prereq 3 Gerenciamento de gás refrigerante Obrigatório
Crédito 1 Desempenho otimizado de energia 1 a 10
10.5% novas construções ou 3.5% edifícios existentes – Reformas 1 MF MF MF MF MF MF MF
14% novas construções ou 7% edifícios existentes – Reformas 2 F MF MF MF MF MF MF
17.5% novas construções ou 10.5% edifícios existentes – Reformas 3 R PF F MF MF MF MF
21% novas construções ou 14% edifícios existentes – Reformas 4 R R R F MF MF R
24.5% novas construções ou 17.5% edifícios existentes – Reformas 5 R R R F MF MF R
28% novas construções ou 21% edifícios existentes – Reformas 6 R R R F MF MF R
31.5% novas construções ou 24.5% edifícios existentes – Reformas 7 R R R F MF MF R
35% novas construções ou 28% edifícios existentes – Reformas 8 R R R R F MF R
38.5% novas construções ou 31.5% edifícios existentes – Reformas 9 R R R R F MF R
144
Onde: “MF” = muito freqüentes (freqüência maior que 75%) “F” = freqüentes (freqüência entre 50 e 75%) “PF” = pouco freqüentes (freqüência entre 25 e 50%) “R” = raros (freqüência menor que 25%)
Matthiessen; Morris, (2004) (RELATÓRIO 1)
Cryer et al, (2006) RELATÓRIO 2
Freqüência ocorrência
Certificado Prata Ouro / Platina
Certificado Prata Ouro / Platina
42% novas construções ou 35% edifícios existentes – Reformas 10 R R R R R PF R
Crédito 2 Uso de Energia Renovável
2.5% Energia Renovável 1 R R PF R R R R
7.5% Energia Renovável 2 R R PF R R PF R
12.5% Energia Renovável 3 R R PF R R PF R
Crédito 3 Comissionamento avançado 1 PF MF MF PF F F F
Crédito 4 Gerenciamento avançado de gás refrigerante 1 F MF MF F F F F
Crédito 5 Medições e verificações 1 R PF F PF PF PF PF
Crédito 6 Energia verde 1 R R R PF F F R
Materiais e Recursos 13 Pontos Prereq 1 Coleta e estocagem de materiais recicláveis Obrigatório
Crédito 1.1 Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes) 1 R R R R R R R
Crédito 1.2 Reuso da edificação existente (manter 95% da fachada, piso e cobertura existentes) 1 R R R R R R R
Crédito 1.3 Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais) 1 R R R R R R R
Crédito 2.1 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 50% dos resíduos) 1 MF MF MF F MF MF MF
Crédito 2.2 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 75% dos resíduos) 1 F F MF PF F F F
Crédito 3.1 Reuso de materiais (5%) 1 R R PF R R PF R
Crédito 3.2 Reuso de materiais (10%) 1 R R R R R R R
145
Onde: “MF” = muito freqüentes (freqüência maior que 75%) “F” = freqüentes (freqüência entre 50 e 75%) “PF” = pouco freqüentes (freqüência entre 25 e 50%) “R” = raros (freqüência menor que 25%)
Matthiessen; Morris, (2004) (RELATÓRIO 1)
Cryer et al, (2006) RELATÓRIO 2
Freqüência ocorrência
Certificado Prata Ouro / Platina
Certificado Prata Ouro / Platina
Crédito 4.1 Uso de materiais com teor reciclado (10%) 1 MF MF MF F MF MF MF
Crédito 4.2 Uso de materiais com teor reciclado (20%) 1 R PF F F F MF F
Crédito 5.1 Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais) 1 MF MF MF F F F F
Crédito 5.2 Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais) 1 R R F R R R R
Crédito 6 Uso de materiais rapidamente renováveis 1 R R F R R R R
Crédito 7 Uso de madeira certificada 1 PF PF F PF R PF PF
Qualidade do Ambiente Interno 15 Pontos
Prereq 1 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar Obrigatório
Prereq 2 Controle do tabaco no ambiente interno Obrigatório
Crédito 1 Monitoramento da entrada de ar externo 1 F F MF F F MF F
Crédito 2 Aumento da ventilação 1 R PF F R PF PF PF
Crédito 3.1 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção 1 MF MF MF F F F F
Crédito 3.2 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), pré ocupação 1 MF MF MF F F F F
Crédito 4.1 Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes 1 MF MF MF MF MF MF MF
Crédito 4.2 Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz 1 MF MF MF F MF MF MF
Crédito 4.3 Materiais com baixa emissão - carpete 1 MF MF MF MF MF MF MF
Crédito 4.4 Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra 1 PF F MF PF PF F PF
Crédito 5 Controle de fontes de poluição interna 1 F F F F F MF F
146
Onde: “MF” = muito freqüentes (freqüência maior que 75%) “F” = freqüentes (freqüência entre 50 e 75%) “PF” = pouco freqüentes (freqüência entre 25 e 50%) “R” = raros (freqüência menor que 25%)
Matthiessen; Morris, (2004) (RELATÓRIO 1)
Cryer et al, (2006) RELATÓRIO 2
Freqüência ocorrência
Certificado Prata Ouro / Platina
Certificado Prata Ouro / Platina
Crédito 6.1 Controlabilidade do sistema - iluminação 1 R PF F R PF PF PF
Crédito 6.2 Controlabilidade do sistema - conforto térmico 1 R PF F R R PF R
Crédito 7.1 Conforto térmico – projeto 1 R PF MF PF F MF PF
Crédito 7.2 Conforto térmico – verificação 1 R PF MF PF PF F PF
Crédito 8.1 Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas 1 PF F F PF PF F PF
Crédito 8.2 Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas 1 F F F F F MF F
Projeto e Inovação 5 Pontos
Crédito 1.1 Inovação em projeto 1 F MF MF MF MF MF MF
Crédito 1.2 Inovação em projeto 1 PF PF F MF MF MF MF
Crédito 1.3 Inovação em projeto 1 R R PF R F F R
Crédito 1.4 Inovação em projeto 1 R R R R R R R
Crédito 2 Profissional LEED 1 MF MF MF MF MF MF MF
147
Quadro 7: Matriz comparativa entre resultados dos Relatórios 1 e 2 e dois Estudos de Casos nacionais (Projetos “A” e “B”).
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
TERRENOS SUSTENTÁVEIS 13 11 15
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B 87% 73%
Prereq 1 Prevenção de poluição durante a construção Prevenção de poluição durante a construção
Crédito 1 Escolha do terreno Escolha do terreno MF 1 1
Crédito 2 Desenvolvimento urbano e conectividade comunitária
Desenvolvimento urbano e conectividade comunitária R 1 1
Crédito 3 Desenvolvimento imobiliário em terrenos contaminados
Desenvolvimento imobiliário em terrenos contaminados R 1 X
Crédito 4.1 Alternativa de transporte – acesso a transporte público
Alternativa de transporte – acesso a transporte público F 1 1
Crédito 4.2 Bicicletário e vestiário Bicicletário e vestiário MF 1 X
Crédito 4.3 Veículos com baixa emissão e eficientes Veículos com baixa emissão e eficientes R 1 1
Crédito 4.4 Capacidade de estacionamento Capacidade de estacionamento F 1 X
Crédito 5.1 Proteção e recomposição do habitat Proteção e recomposição do habitat PF X X
Crédito 5.2 Desenvolvimento de área externa projetada Desenvolvimento de área externa projetada F 1 1
Crédito 6.1 Controle de águas de chuva (taxa e qualidade)
Controle de águas de chuva (taxa e qualidade) PF 1 1
Crédito 6.2 Tratamento de águas de chuva Tratamento de águas de chuva PF X 1
148
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
Crédito 7.1 Ilhas de calor - áreas descobertas Ilhas de calor - áreas descobertas F 1 1
Crédito 7.2 Ilhas de calor - áreas cobertas Ilhas de calor - áreas cobertas F 1 1
Crédito 8 Redução da poluição de iluminação Redução da poluição de iluminação F 1 1
Crédito 9 crédito não existente Guia de projeto e construção para os locatários 1 1
USO RACIONAL DA ÁGUA
4 4 5
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B
80% 80%
Crédito 1.1 Uso eficiente de água para jardins, Redução de 50%
Uso eficiente de água para jardins, Redução de 50% MF 1 1
Crédito 1.2 Uso eficiente de água para jardins, Não usar água potável ou não irrigação
Uso eficiente de água para jardins, Não usar água potável ou não irrigação F 1 1
Crédito 2 Tecnologia inovadoras para águas usadas Tecnologia inovadoras para águas usadas R X X
Crédito 3.1 Redução do uso de água , 20% Redução do uso de água , 20% MF 1 1
Crédito 3.2 Redução do uso de água , 30% Redução do uso de água , 30% F 1 1
ENERGIA E ATMOSFERA
9 4 14
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B
64% 29%
Prereq 1 Comissionamento do sistema de energia do edifício
Comissionamento do sistema de energia do edifício
Prereq 2 Desempenho mínimo de energia Desempenho mínimo de energia
149
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
Prereq 3 Gerenciamento de gás refrigerante Gerenciamento de gás refrigerante
Crédito 1 Desempenho otimizado de energia Desempenho otimizado de energia
10.5% novas construções ou 3.5%
edifícios existentes - Reformas 10.5% novas construções ou 3.5%
edifícios existentes - Reformas MF 1 X
14% novas construções ou 7% edifícios
existentes - Reformas 14% novas construções ou 7% edifícios
existentes - Reformas MF 1 X
17.5% novas construções ou 10.5%
edifícios existentes - Reformas 17.5% novas construções ou 10.5%
edifícios existentes - Reformas MF 1 X
21% novas construções ou 14% edifícios existentes - Reformas
21% novas construções ou 14% edifícios existentes - Reformas R 1 X
24.5% novas construções ou 17.5% edifícios existentes - Reformas
24.5% novas construções ou 17.5% edifícios existentes - Reformas R 1 X
28% novas construções ou 21% edifícios existentes - Reformas
28% novas construções ou 21% edifícios existentes - Reformas R 1 X
31.5% novas construções ou 24.5% edifícios existentes - Reformas
31.5% novas construções ou 24.5% edifícios existentes - Reformas R 1 X
35% novas construções ou 28% edifícios existentes - Reformas
35% novas construções ou 28% edifícios existentes - Reformas R 1 X
38.5% novas construções ou 31.5%
edifícios existentes - Reformas crédito não existente R
42% novas construções ou 35%
edifícios existentes - Reformas crédito não existente R
Crédito 2 Uso de Energia Renovável Uso de Energia Renovável
2.5% Energia Renovável 1.5% Energia Renovável R X X
7.5% Energia Renovável crédito não existente R
150
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
12.5% Energia Renovável crédito não existente R
Crédito 3 Comissionamento avançado Comissionamento avançado F X 1
Crédito 4 Gerenciamento avançado de gás refrigerante Gerenciamento avançado de gás refrigerante F 1 1
Crédito 5 Medições e verificações Crédito 5.1 Medições e verificações – para infra-estrutura PF X 1
Crédito 5.1 Medições e verificações – para locatário PF X 1
Crédito 6 Energia verde Energia verde R X X
MATERIAIS E RECURSOS
6 6 11
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B
55% 55%
Prereq 1 Coleta e estocagem de materiais recicláveis Coleta e estocagem de materiais recicláveis
Crédito 1.1 Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes)
Reuso da edificação existente (manter 25% da fachada, piso e cobertura existentes) R X X
Crédito 1.2 Reuso da edificação existente (manter 95% da fachada, piso e cobertura existentes)
Reuso da edificação existente (manter 50% da fachada, piso e cobertura existentes) R X X
Crédito 1.3 Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais)
Reuso da edificação existente (manter 75% dos elementos de interior não estruturais) R X X
Crédito 2.1 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 50% dos resíduos)
Gestão dos resíduos de construção (gestão de 50% dos resíduos) MF 1 1
Crédito 2.2 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 75% dos resíduos)
Gestão dos resíduos de construção (gestão de 75% dos resíduos) F X X
Crédito 3.1 Reuso de materiais (5%) Reuso de materiais (1%) R X X
151
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
Crédito 3.2 Reuso de materiais (10%) crédito não existente R X X
Crédito 4.1 Uso de materiais com teor reciclado (10%) Uso de materiais com teor reciclado (10%) MF 1 1
Crédito 4.2 Uso de materiais com teor reciclado (20%) Uso de materiais com teor reciclado (20%) F 1 1
Crédito 5.1 Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais)
Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais) F 1 1
Crédito 5.2 Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais)
Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais) R 1 1
Crédito 6 Uso de materiais rapidamente renováveis crédito não existente R X X
Crédito 7 Uso de madeira certificada Uso de madeira certificada (Crédito 6) PF 1 1
QUALIDADE DO AMBIENTE INTERNO
6 7 11
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B
55% 64%
Prereq 1 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Prereq 2 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Crédito 1 Monitoramento da entrada de ar externo Monitoramento da entrada de ar externo F X 1
Crédito 2 Aumento da ventilação Aumento da ventilação PF 1 1
Crédito 3.1 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção
Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção F 1 1
Crédito 3.2 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), pré ocupação crédito não existente F - -
152
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
Crédito 4.1 Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes
Materiais com baixa emissão - adesivos e selantes MF X 0,5
Crédito 4.2 Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz
Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz MF X 0,5
Crédito 4.3 Materiais com baixa emissão - carpete Materiais com baixa emissão - carpete MF X 1
Crédito 4.4 Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra
Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra PF X X
Crédito 5 Controle de fontes de poluição interna Controle de fontes de poluição interna F X X
Crédito 6.1 Controlabilidade do sistema - iluminação crédito não existente PF - -
Crédito 6.2 Controlabilidade do sistema - conforto térmico
Controlabilidade do sistema - conforto térmico R 1 X
Crédito 7.1 Conforto térmico - projeto Conforto térmico - projeto PF 1 1
Crédito 7.2 Conforto térmico - verificação crédito não existente PF - -
Crédito 8.1 Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas
Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas PF 1 X
Crédito 8.2 Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas
Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas F 1 1
INOVAÇÃO DE PROJETO
5 5 5
% PONTOS BUSCADOS PARA PROJETOS A e B
100% 100%
Crédito 1.1 Inovação em projeto Inovação em projeto MF 1 1
Crédito 1.2 Inovação em projeto Inovação em projeto MF 1 1
153
CRÉDITOS E PREQ
LEED NC 2.2 NOVAS CONSTRUÇÕES
LEED C&S 2.0 FACHADA E NÚCLEO
FREQUENCIA PONTOS DOS
RELATÓRIOS-BASE
CASO A FASE I
CASO B FASE I
PONTOS POSSÍVEIS LEED C&S
v2.0
Crédito 1.3 Inovação em projeto Inovação em projeto R 1 1
Crédito 1.4 Inovação em projeto Inovação em projeto R 1 1
Crédito 2 Profissional LEED Profissional LEED MF 1 1
Caso A Caso B Pontos
Possíveis
TOTAL DE PONTOS 43 37 61
% 70% 61%
CATEGORIA LEED OURO OURO
154
7.1.2. Análise comparativa da implementação do LEED na realidade americana e na
brasileira
No Quadro 7, os créditos em que se notou comportamento diverso no Brasil e nos EUA
estão indicados em fonte em itálico e negrito. Na cor vermelha, estão os itens em que os
empreendimentos brasileiros não atenderam a requisitos de alta freqüência (MF e F) nos
Estados Unidos; enquanto que estão assinalados em verde os itens em que os
empreendimentos brasileiros saíram-se melhor, isto é, buscaram atender a exigências não
buscadas nos empreendimentos americanos tipicamente descritos nos relatórios de
referência.
A análise comparativa, detalhada ponto-a- ponto, do grau de dificuldade de atendimento
aos requisitos LEED no contexto original dos EUA e no Brasil está sintetizada no Quadro
8.
155
Quadro 8: Comparativo ponto-a-ponto entre contextos de mercado brasileiro e norte-americano para as categorias LEED.
TERRENOS SUSTENTÁVEIS (SUSTAINABLE SITES – SS)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE – AMERICANO
Pré-requisito Prevenção de poluição durante a construção
Algumas estratégias usadas: . Elaboração de plano de prevenção e controle da poluição ambiental da obra . Proteção de taludes com lona e tela galinheiro; . Molhar área externa para não levantamento de particulado; . Diariamente, lavagem da rua em frente ao terreno com caminhão pipa e água não potável e proteção do solo com camada de brita, visando controlar a expansão de sedimentos do empreendimento para a vizinhança; . Cobrir com lona plástica os caminhões que saem da obra para evitar sujeira no entorno; Necessidade de controle e documentação das atividades, prática incomum no dia-a-dia das obras. Comentários: . As medidas não fazem parte das práticas de execução de obra de grande parte das construtoras. No entanto, são medidas simples de serem aplicadas;
- - -
Para atender a este pré-requisito é necessária a elaboração de um plano de controle de erosão e sedimentação. Em muitos estados norte-americanos já é obrigatório (LANGDON, 2007).
Crédito 1 Escolha do terreno
Os terrenos dos dois projetos foram escolhidos antes da decisão de executar um empreendimento certificado. Comentários: . A obtenção deste ponto não está relacionada a nenhuma estratégia verde.
1 1 MF
Nos dois relatórios foram requisitos fáceis de serem atingidos. No relatório 2 este ponto foi conseguido em mais de 80% dos edifícios à procura de certificação em todos os níveis. Apesar da aparente facilidade, a escolha do terreno leva em consideração vários fatores e estudos de mercado. Conseqüentemente, a obtenção deste ponto, bem como dos próximos três requisitos, tende a ser mais um resultado casual (LANGDON, 2007) do que uma estratégia, uma vez que estão
156
desvinculados das metas de sustentabilidade a serem atingidas pelo projeto (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004).
Crédito 2 Desenvolvimento urbano e conectividade comunitária
Os dois empreendimentos estão localizados em áreas com toda a infra-estrutura já desenvolvida e fácil acesso a diversos serviços básicos, tais como bancos, restaurantes, farmácia, correios, teatro, entre outros. Comentários: . A obtenção deste ponto não está relacionada a nenhuma estratégia verde. Os projetos tiveram facilidade na obtenção dos pontos. No entanto para outras tipologias, que não residenciais sem certificação C&S, a busca deste ponto pode ser uma tarefa complicada.
1 1 R
A análise dos relatórios mostra que é um requisito difícil de ser atendido. Como o critério anterior, este é mais um resultado casual do que uma estratégia. Favorece projetos em áreas urbanas desenvolvidas, com infra-estrutura e próximas aos serviços oferecidos, como banco, lavanderia, centros médicos farmácias, supermercados, etc. (LANGDON, 2007)
Crédito 3 Desenvolvimento imobiliário em áreas degradadas
O caso A teve um trabalho grande e documentado relacionado à descontaminação do terreno. Comentários: . Como os dois créditos anteriores, a obtenção deste ponto não está relacionada com estratégia, mas sim com oportunidades de mercado, como a aquisição de um terreno com passivo ambiental por um valor interessante. Outro ponto a destacar é que não há nenhum subsídio e/ou incentivo do governo para a construção neste tipo de terreno.
1 Não atendido R
É um requisito que possui custo, em geral, elevado. As razões pelas quais um terreno contaminado é escolhido são outras que não a sustentabilidade, como a oportunidade e/ou a disponibilidade para compra. E ainda, estratégia de transporte (LANGDON, 2007).
Crédito 4.1 Acesso a transporte público
O caso A está situado nas proximidades de uma estação metropolitana de trem e é servida por mais de 50 linhas de ônibus. O caso B é atendido por ônibus e metrô. Comentários: . Como ambos os projetos são edifícios comerciais de escritórios, a tendência é a implantação destes em áreas providas com boa infra-estrutura, inclusive transporte.
1 1 F
Este crédito é mais fácil de ser obtidos em áreas urbanas e, nos casos dos terrenos serem em áreas mais afastadas, este requisito pode ser atendido provendo transporte para os ocupantes da edificação no trajeto estação de trem/ônibus – edifício (LANGDON, 2007).
Crédito 4.2 Bicicletário e vestiário
A decisão de se certificar ambos os empreendimentos foi posterior ao início da execução das obras. O caso A conseguiu a inserção do bicicletário. No caso B, pela evolução da obra, isto não foi possível. Comentários: . É um item fácil de ser implementado, sem custo quando do desenvolvimento do projeto arquitetônico. Não há garantia, porém que estes bicicletários e vestiários serão efetivamente utilizados, dado que nem sempre vêm acompanhados de infra-estrutura cicloviária que suporte esta utilização.
1 Não atendido MF
Este requisito foi considerado fácil em todas as categorias dos dois relatórios analisados. Foi o quarto requisito mais atendido no relatório 2.
Crédito 4.3 Veículos com baixa emissão e eficientes
Nos dois projetos foram providas vagas preferenciais a veículos menos poluentes. Comentários: . No Brasil, por existirem carros que utilizam combustíveis
1 1 R
Em ambos os relatórios pouquíssimos projetos conseguiram o ponto decorrente deste requisito - menos de 20% no relatório 1 e para o relatório 2, somente os projetos
157
menos agressivos ao meio ambiente é possível no cumprimento deste requisito a implementação de vagas destinadas aos veículos movidos/ abastecidos a GNV ou álcool; . Na prática, a obtenção deste ponto no Brasil é mais fácil que em outros países, pela existência de carros tipo flex.
classificados como platina tiveram ocorrência relativa. Uma das estratégias a ser considerada seria a montagem de abastecimento de combustível alternativo. Nos EUA seriam estações para carros elétricos, não considerados como tendência num futuro próximo (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004)
Crédito 4.4 Capacidade de estacionamento
A estratégia do caso A foi atender ao mínimo de vagas previstas pela legislação e ainda, prover vagas para transportes coletivos. A capacidade original do estacionamento foi diminuída. Comentários: . Vale ressaltar que está é uma estratégia que impacta na lucratividade a longo prazo do empreendimento, uma vez que não raro, há a necessidade de diminuição do número de vagas no estacionamento.
1 Não atendido F
Apesar de fácil, implica na redução da capacidade de estacionamento (LANGDON, 2007). A variação entre projetos está refletida nos resultados dos relatórios: duas ocorrências muito freqüentes, duas pouco freqüentes e duas raras. Pelo critério adotado considera-se o grau de dificuldade médio.
Crédito 5.1 Proteção e recomposição do habitat
Não atendido em ambos os casos. Comentários: . Ponto difícil de se obter, principalmente em áreas urbanas. Entra em contradição com o Crédito 2, uma vez que em áreas com alta densidade se torna inviável deixar de aproveitar o terreno disponível, principalmente em edifícios com fins comerciais, que necessitam de estacionamento.
Não atendido Não atendido PF
Difícil de ser cumprido em edificações onde há mais de um subsolo ou nas áreas urbanas, pelas limitações da área do terreno (LANGDON, 2007).
Crédito 5.2 Desenvolvimento de área externa projetada
Como o zoneamento no qual estão inseridos os dois projetos não possuem lei específica para áreas abertas, a estratégia usada nos dois casos foi o atendimento de 20% da área do terreno com área verdes livres, incluindo área das coberturas e calçadas orientadas para pedestres. Comentários: . O atendimento a este requisito aponta a possibilidade de uma mudança cultural na arquitetura das áreas externas, onde não se dava muita importância às áreas permeáveis.
1 1 F Mesmo grau de complexidade encontrado no Brasil para o atendimento a este requisito.
Crédito 6.1 Controle de águas de chuva (taxa e qualidade)
A estratégia do caso A foi o aumento da área permeável e uso de água de chuva para irrigação dos jardins. Para o caso B, foi executado um projeto de reuso das águas de chuva, prevendo uma caixa de retardo e uma caixa de reuso para o armazenamento da água pluvial e água de condensação do ar-condicionado. Comentários: . Estratégia de ter caixa de retenção de água para o alívio da quantidade da água de chuva nas redes públicas já é obrigatório em São Paulo para empreendimentos que tenham área impermeabilizada superior a 500,00 m2 (Decreto nº 41.814,
1 1 PF
Cada vez mais, estão aumentando as leis que tornam obrigatório o controle das águas de chuva. Este requisito se incorporará às exigências e passará a não ter custo adicional (LANGDON, 2007).
158
15/03/2002)
Crédito 6.2 Tratamento de águas de chuva
Para o caso B as estratégias para tratamento da água de chuva são a captação de águas pluviais e aproveitamento para irrigação e ar-condicionado. O tratamento especificado para o ar condicionado leva em consideração a neutralização de PH e correção de cloro. A remoção de 80% dos sólidos suspensos deverá ser garantida por mecanismo de decantação na caixa de retardo com seu posterior aproveitamento.
Não atendido 1 PF
Algumas leis municipais exigem que sejam filtradas as águas pluviais antes de entrarem nas redes municipais, nestes casos não há acréscimo de custo. As soluções para áreas maiores são mais fáceis de serem encontradas, por terem um menor custo. Porém, em áreas de paisagismo menores o uso de tanques e caixas separadoras de óleo é quase inevitável. (LANGDON, 2007).
Crédito 7.1 Ilhas de calor - áreas descobertas
Em ambos os empreendimentos as vagas para estacionamento estão localizadas nos subsolos. Também foram empregados materiais de cor clara e ainda sombreamento com área verde na áreas externas. Comentários . Atendimento aos requisitos de forma simples para empreendimentos que possuem vagas em subsolo, requerendo algumas especificações de materiais com índice de refletância apropriado.
1 1 F Mesmo grau de complexidade encontrado no Brasil para o atendimento a este requisito.
Crédito 7.2 Ilhas de calor - áreas cobertas
Tanto no caso A quanto no B, além da cor clara dos materiais empregados. Em algumas áreas foi usada a estratégia de telhado verde, suficiente para obtenção do ponto. Comentários: . Atender a este crédito, bem como ao 7.1 e ao 5.2, implica em projetos de áreas externas mais elaborados. A contratação destes projetos para empreendimentos menores não espelha a realidade
1 1 F Mesmo grau de complexidade encontrado no Brasil para o atendimento a este requisito.
159
Crédito 8 Redução da poluição de iluminação
Em ambos os projetos, toda a iluminação externa foi trabalhada por projeto específico de modo a atender às restrições constantes no LEED. Comentários: . Vale destacar que poucas incorporadoras contratam projetos luminotécnicos ou pessoas com capacidade técnica para elaborar especificações que atendam a este requisito.
1 1 F
Pela complexidade, Langdon (2007) ressalta que muitos empreendimentos pleiteiam este requisito, mas não o conseguem.
Crédito 9 (LEED C&S) Guia de projeto e construção para os locatários
Para atendê-lo os projetos A e B elaboraram um guia com um conjunto de recomendações feitas pelo incorporador aos futuros locatários. Comentários: . É pratica comum, para a maior parte dos empreendimentos, elaborar o chamado “manual do proprietário”. . As informações necessárias citadas seriam um complemento deste manual.
1 1 - Crédito específico da Versão C&S. Portanto, não consta nos relatórios estudados.
USO RACIONAL DA ÁGUA (WATER EFFICIENCY – WE)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE –
AMERICANO
Crédito 1.1 Uso eficiente de água para jardins, Redução de 50%
O sistema de irrigação adotado para os empreendimentos é uma mescla de aspersores e mangueira de gotejamento, visando a maior redução/eficiência no consumo de água, combinado com o uso de sensores de chuva para o controle do sistema. A especificação de plantas nativas também contribui para a redução da necessidade de irrigação do paisagismo.
1 1 MF
É um dos pontos mais pleiteados junto com o Crédito 3.1: redução do uso de água em 20% (LANGDON, 2007). No relatório 2 aparece na quinta posição dos pontos mais alcançados. As duas estratégias mais usadas são (1) o projeto inteligente de paisagismo, onde é reduzida a quantidade de grama e aumentado o uso de plantas nativas e tolerantes a secas e (2) sistema eficiente de irrigação (LANGDON, 2007).
160
Crédito 1.2 Uso eficiente de água para jardins, Não usar água potável ou não irrigação
Além do citado no crédito anterior, toda a água será proveniente do aproveitamento de água de chuva, reuso de água servida e fornecida pela concessionária para uso não potável. Comentários: . No Brasil não é comum a prática da elaboração de um projeto específico para irrigação. . Não são todos os estados brasileiros que tem à disposição água não potável fornecida pelas concessionárias.
1 1 F
De acordo com o relatório 1, os projetos que obtiveram pontuação deste requisito o fizeram com a proposta de usar água de reuso fornecida pela concessionária local. Enquanto neste primeiro relatório este requisito teve grau de dificuldade alto para os nível certificado e prata e difícil para categoria ouro/platina, no relatório 2 foi um ponto com grau de dificuldade mediano para as duas primeiras categorias e médio para categoria ouro/platina.
Crédito 2 Tecnologia inovadoras para esgoto
Não atendido em ambos os casos. Comentários: . O uso de tecnologia inovadora já é por si só um desencorajador da obtenção deste ponto; . Tem um acréscimo expressivo de custo pois precisa de sistema especial para o aproveitamento, por exemplo, das águas cinzas (vindas de chuveiros, lavatórios e lavanderias).
Não atendido Não
atendido R
São usados sistemas que precisam de filtro e tratamento especial, bem como o armazenamento em cisternas (LANGDON, 2007).
Crédito 3.1 Redução do uso de água, 20%
Uso de aparelhos economizadores como: . Bacias com duplo acionamento; . Mictórios e torneiras automáticas e . Restritores de vazão em chuveiros e torneiras
1 1 MF
A opção encontrada no mercado de louças e acessórios que proporcionam boa economia de água fazendo com que este ponto seja facilmente obtido (LANGDON, 2007).
Crédito 3.2 Redução do uso de água, 30%
Comentários: . Neste e no crédito anterior os aparelhos e metais sanitários são suficientes para atender aos dois requisitos; . As bacias de duplo acionamento (que gastam 3 e 6 litros por acionamento para dejetos líquidos e sólidos, respectivamente), podem ser comparadas às bacias simples com válvulas de descarga que podem gastar até 10 litros por acionamento.
1 1 F
Os resultados dos relatórios não demonstram um padrão, tendo 2
MFs, 2 R, 1 MF e 1 F. Assumiu-se uma tendência central (F)
161
ENERGIA E ATMOSFERA (ENERGY & ATMOSPHERE – EA)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE –
AMERICANO
Pré-requisito 1 Comisionamento básico do sistema de energia do edifício
O comissionamento dos sistemas de instalações foram documentados, constando os registros das verificações, inspeções, testes e ensaios que foram realizados pela equipe de comissionamento das instaladoras e consultores. Comentários: . O comissionamento por si só já não é prática comum em todo o mercado, exceto para os empreendimentos triple A; . O registro deste comissionamento tem que ser feito por empresa isenta para ter validade;
O LEED sugere o comissionamento, no mínimo, dos seguintes sistemas prediais: ar condicionado e ventilação, controles de iluminação, sistemas de água quente e sistemas de energia renovável (como o uso de painéis solares). O comissionamento tráz benefícios de curto e longo prazo. Em curto prazo ajuda a equipe de caso A a desenvolver projetos mais eficientes e a longo prazo pode melhorar o desempenho dos sistema e reduzir custos operacionais (LANGDON, 2007).
Pré-requisito 2 Desempenho mínimo de energia
Verificação feita nos dois projetos por simulação computacional. Comentários: . No Brasil como poucos profissionais fazem esta simulação, o cumprimento deste item ainda tem um custo elevado.
É um requisito fácil de ser atendido e, se a decisão de ter um edifício eficiente em termos de energia for tomada no início do projeto não incidirão custos adicionais ao orçamento inicial (LANGDON, 2007).
Pré-requisito 3 Gerenciamento de gás refrigerante
Não utilização de CFC (cloroflúorcarbon) no sistema de ar condicionado Comentários: . Banido por lei no Brasil.
Este item se refere à especificação de sistemas de ar-condicionado sem o uso de CFC, prejudicial à camada de ozônio e ainda incorre num mínimo custo (LANGDON, 2007). Diferente da realidade brasileira.
162
Crédito 1 Desempenho otimizado de energia
O caso A atingiu os oito níveis possíveis de otimização de energia, atingindo 35% de economia em relação ao modelo base. Não foram obtidos os documentos referentes a este processo. Comentários: . Melhoria de desempenho baseado na norma norte-americana ASHARE; . Para o LEED NC são pontuados 10 níveis de melhoria de desempenho, enquanto no LEED C&S são pontuados 8 níveis. . Na versão LEED 2.2 NC o primeiro ponto é obtido quando se reduz a quantidade de energia despendida em 10,5% para novas construções e 3,5% para edifícios existentes; . A cada 3,5% de redução, ganha-se mais um ponto.
8
Não atendido (Ver ao
lado)
3 MF, 2 F, 1 PF, 11 R
Resultados encontrados: MF para os três primeiros níveis (de 10,5% a 17,5%), R para os demais níveis. Em muitos projetos há a possibilidade de obter de dois a três pontos com pequenas alterações de projeto (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004).
Crédito 2 Uso de Energia Renovável
Ambos os projetos não atenderam Comentários: .Para o LEED NC são pontuados 3 níveis (2,5%, 7,5% e 12,5%) de uso de energia renovável, enquanto no LEED C&S o estabelecido é alcançar 1,5% desta energia.
Não atendido Não
atendido R
O resultado encontrado foi a freqüência R para todos os três níveis. Geração de energia renovável tem um alto custo de investimento e payback longo embora economias significantes a longo prazo (LANGDON, 2007).
Crédito 3 Comissionamento avançado
Para o caso B o processo de comissionamento somente será finalizado após a entrega de toda documentação final, incluindo: relatório de comissionamento, manuais de operação e manutenção, plano e registros de treinamento dos usuários e plano de recomissionamento. Comentários: . Prática não comum nos projetos brasileiros.
Não atendido 1 F
Para o relatório 1 este requisito se apresentou pouco freqüente para projetos certificados e muito freqüente para os demais. Já no relatório 2, se mostrou raro nos projetos certificados e pouco freqüente nos demais níveis de classificação. Este requisito solicita um alto nível de monitoramento, superior aos sistemas de gerenciamento de controle de edifícios disponíveis (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004).
Crédito 4 Gerenciamento avançado de gás refrigerante
Ambos os projetos atenderam Comentários: Requisito relativamente fácil de ser atendido no Brasil
1 1 F
É um ponto razoavelmente fácil de ser conseguido, uma vez que existem mais e mais fabricantes oferecendo equipamentos compatíveis a este (LANGDON, 2007).
163
Crédito 5 Medições e verificações
Dois níveis distintos no LEED C&S, como segue: . Crédito 5.1 Medições e verificações - infra-estrutura . Crédito 5.1 Medições e verificações - locatário Para o caso B, medidores de consumo de energia foram instalados no barramento de alimentação das cargas das áreas comuns, com medição remota integrada ao sistema de automação predial. As áreas locadas também terão o consumo monitorado pelo sistema. Esses dados darão suporte à calibração do modelo computacional, através do qual será identificado o consumo de energia por uso final. Os projetos elétricos já estão definidos com a medição individualizada por conjunto e leitura remota integrada ao sistema de automação Comentários: . Pratica totalmente incomum no Brasil
5.1 - Não atendido 5.2 - Não atendido
5.1 – 1 (atendido)
5.2 - 1 (atendido)
PF
Raro de ser alcançado pelos altos custos envolvidos em desenvolver e implementar um bom sistema de controlabilidade (LANGDON, 2007).
Crédito 6 Energia verde
Ambos os projetos não atenderam Comentários: . Atender à produção mínima de energia verde (como solar e eólica) está totalmente fora da realidade brasileira
Não atendido Não
atendido R
MATERIAIS E RECURSOS (MATERIALS & RESOURCES – MR)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE –
AMERICANO
Pré-requisito Coleta e estocagem de materiais recicláveis
Atendido sem dificuldades em ambos os Projetos Comentários: . A coleta e armazenagem de materiais provenientes da obra fazem parte do plano de resíduos da obra e pôde ser atendido pela construtora facilmente, uma vez que é praticado em todas as obras;
- - -
Pré-requisito pode ser atendido sem maiores dificuldades e com quase nenhum impacto de custo desde que incluído nas fases iniciais de projeto. (LANGDON, 2007).
164
Crédito 1.1 Reuso da edificação existente (manter 75% da fachada, piso e cobertura existentes)
Para o LEED C&S este ponto sofre uma pequena alteração: reuso da edificação existente (manter 25% da fachada, piso e cobertura existentes).
Não atendido Não
atendido R
Poucos projetos atendem aos requisitos relacionados ao reuso. Os três créditos relacionados ao reuso constam na lista dos 10 mais difíceis de serem atendidos no relatório 2.
Crédito 1.2 Reuso da edificação existente (manter 95% da fachada, piso e cobertura existentes)
Para o LEED C&S este ponto sofre uma pequena alteração: reuso da edificação existente (manter 50% da fachada, piso e cobertura existentes).
Não atendido Não
atendido R
Crédito 1.3 Reuso da edificação existente (manter 50% dos elementos de interior não estruturais)
Para o LEED C&S este ponto sofre uma pequena alteração: reuso da edificação existente (manter 75% dos elementos de interior não estruturais)
Não atendido Não atendido
R
Crédito 2.1 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 50% dos resíduos)
Ambos os projetos atenderam. No entanto, a disposição correta dos materiais ainda não é tão fácil, mesmo em São Paulo. No caso B, achar um “bota-fora” apropriado no Rio de Janeiro foi um dos maiores problemas de se obter a certificação. Comentários: . Esta gestão é correspondente ao CONAMA 307 que diz que todos os resíduos, bem como a respectiva disposição final, são de responsabilidade da construtora
1 1 MF
A facilidade e o custo para o atendimento deste crédito variam conforme a localização do projeto. Nos locais onde a gestão de resíduos é amplamente praticada, o custo é mínimo (LANGDON, 2007).
Crédito 2.2 Gestão dos resíduos de construção (gestão de 75% dos resíduos)
O caso B chegou a alcançar mais de 60% de gestão correta, ainda insuficiente para obter este ponto. Comentários: . Apesar da obrigatoriedade do CONAMA, muitas empresas, bem como o mercado, ainda não estão atentos a gestão dos resíduos, principalmente fora da cidade de São Paulo.
Não atendido Não
atendido F
Crédito 3.1 Reuso de materiais (5%)
Para o LEED C&S este ponto sofre uma pequena alteração: reuso de materiais (1%) Não atendido Não
atendido R
Os dois pontos possíveis relacionados ao reuso de materiais são muito difíceis de serem
165
atendidos pois não existem tantas oportunidades de reuso de materiais, mobiliário e outros produtos que, somados, alcancem o percentual estabelecido pelo LEED (LANGDON, 2007).
Crédito 3.2 Reuso de materiais (10%)
Não existe este crédito no LEED C&S - - R
Crédito 4.1 Uso de materiais com teor reciclado (10%)
Requisito atendido em ambos os projetos pelos materiais: aço, esquadria de alumínio, manta asfáltica, piso elevado, concreto entre outros. Comentários: . O teor reciclado dos materiais tem que ser comprovado e em muitos casos o próprio fornecedor não está preparado para fornecer a documentação adequada.
1 1 MF
Os fornecedores estão acostumados a dar as informações necessárias sobre o teor reciclado dos seus materiais.(LANGDON, 2007).
Crédito 4.2 Uso de materiais com teor reciclado (20%)
O caso A atingiu 20,19% de materiais com conteúdo reciclado e o caso B, mais de 30%. 1 1 F
Crédito 5.1 Uso de materiais fabricados na região (10% dos materiais)
Ambos os projetos obtiveram este ponto. Comentários: . Os projetos em questão encontram-se em lugares privilegiados, uma vez que o Sudeste do Brasil é a região mais industrializada do país; . É possível que em outros estados a dificuldade no atendimento deste e do próximo crédito fosse maior.
1 1 F Assim como no Brasil, depende da localização geográfica do projeto em relação aos centros industriais.
166
Crédito 5.2 Uso de materiais fabricados na região (20% dos materiais
Como os dois projetos atenderam a este requisito com um alto índice de materiais fabricados na região - caso A com 60,53% e caso B com 62,1%, ambos os projetos puderam pleitear mais outro ponto na categoria Inovação do Projeto.
1 1 R
Crédito 6 Uso de materiais rapidamente renováveis
Não existe este crédito no LEED C&S - - R
Considerado pelo relatório 2 um dos créditos mais difíceis de se atender. É importante informar que na versão 2.1 era solicitado o uso de 5% destes materiais. Por sua vez, na versão 2.2 são solicitados 2.5%, na tentativa de diminuir a dificuldade no atendimento do requisito. Para muitos projetos o maior obstáculo é a identificação de materiais rapidamente renováveis em quantidades suficientes para atender este requisito (LANGDON, 2007)
Crédito 7 Uso de madeira certificada
Ambos os projetos atenderam a este requisito. Foi utilizada madeira certificada FSC (Forest Stewardship Council), incluindo portas e compensados para fixação de espelhos nos banheiros. Comentários: . A madeira certificada ainda tem um custo mais alto no mercado, dificultando o atendimento deste credito em projetos menores, onde a madeira tem um grande peso relativo no custo da obra.
1 1 PF
O custo da madeira certificada varia largamente com a localização do projeto, o momento da compra e, principalmente, de acordo com a oferta e a demanda. A decisão final, de comprar ou não, está relacionada ao quão perto está o preço do orçamento.
167
QUALIDADE DO AMBIENTE INTERNO (INDOOR ENVIRONMENTAL QUALITY – EQ)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE –
AMERICANO
Pré-requisito 1 Desempenho mínimo de qualidade interna do ar
Comentários: Atender a este pré-requisito implica em atender à norma americana ASHRAE 62.1 – 2004, o que já é um empecilho para o mercado brasileiro.
Nos EUA, as normas e tecnologias solicitadas neste requisito são padrão para a maioria dos projetos, não acarretando custo significativo nem documentação onerosa (LANGDON, 2007).
Pré-requisito 2 Controle do tabaco no ambiente interno
Comentários: A proibição do fumo ou a reserva de uma área especial aos fumantes é uma prática corriqueira em muitos estados brasileiros.
Pré-requisito simples de ser atendido. (LANGDON, 2007).
Crédito 1 Monitoramento da entrada de ar externo
O caso B atendeu ao requisito, como segue: Foram instalados sensores de CO2 nas tomadas de ar externo principais e um sensor de CO2 em cada retorno de ar nos pavimentos (dois retornos por pavimento). O damper de cada pavimento é motorizado, permitindo a modulação da renovação de ar por andar. O sistema é monitorado e controlado emitindo alerta quando os níveis de CO2 em cada pavimento ultrapassarem o setpoint pré-estabelecido. O sistema também foi preparado para receber conexões de outros sensores que monitoram os espaços dos locatários. Comentários: . O sistema é totalmente novo para a maioria dos empreendimentos, não habitual nem mesmo para os projetos triple A.
Não atendido 1 F
Os padrões e tecnologias requeridas para atender a este crédito são praticados pela maioria dos projetos (LANGDON, 2007).
168
Crédito 2 Aumento da ventilação
Ambos os Projetos atenderam a este crédito Comentários: O especificado para os projetos de 27 m³/h atende a este crédito, visto que é mais do que 30% superior ao requerido pela ASHRAE 62.-2004.
1 1 PF
Apesar de não ter um incremento do custo inicial, há um significativo aumento do custo operacional, particularmente nos locais onde as temperatura e umidade externas são diferentes das condições internas.
Crédito 3.1 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a construção.
Foi considerado pela equipe do caso A como um dos pontos mais difíceis de se conquistar pelo trabalho diário envolvido. Todos os equipamentos e dutos do sistema de ar-condicionado foram corretamente protegidos contra o acúmulo de partículas em suspensão. A equipe de manutenção desta proteção esteve em constantemente em atividade, assegurando a eficácia desta medida. Execução de varrição dos pavimentos com auxílio de água, fato constatado pelos baixos índices de partículas em suspensão no interior dos espaços. Foram disponibilizados aspiradores industriais para auxilio no controle de poeira nos pavimentos e subsolos, que serão usados durante toda a obra em ambientes. Comentários: . Incontestavelmente, há um aumento na mão de obra indireta para implementar e manter as tarefas diárias; . Muitas destas tarefas devem ser incorporadas à rotina dos fornecedores, havendo, para tanto, um tempo de aprendizado.
1 1 F
Apesar de ser um requisito fácil de ser cumprido, muitos projetos falham na obtenção deste ponto. Para atender ao plano traçado, há a necessidade de muita coordenação e gerenciamento por parte do gestor do projeto, bem como o comprometimento dos membros da equipe (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004).
Crédito 3.2 Plano de gerenciamento da qualidade interna do ar (QIA), durante a pré-ocupação
Não existe este crédito no LEED C&S - - F
O sucesso na obtenção deste ponto depende do tipo de clima. Se o clima for seco, duas semanas de teste são viáveis. Porém, se a obra está localizada em local úmido, o ambiente interno do edifício fica exposto ao mofo e a outros problemas, dificultando a realização dos testes (LANGDON, 2007).
Crédito 4.1 Materiais com baixa emissão – adesivos e selantes
Comentários: . No Brasil, o maior problema ainda é encontrar produtos que atendam aos requisitos a um custo compatível às linhas usuais; . Com o aumento da demanda, estes créditos (4.1, 4.2, 4.3 e 4.4) passarão a ser mais fáceis de serem obtidos; Outro problema é o controle, muito mais rígido, dos vários fornecedores para que eles atendam ao especificado
Não atendido 1 MF
Para este requisito há a possibilidade de obtenção de quatro pontos para diferentes tipos de materiais – adesivos e selantes, pintura e verniz, carpete e composição de produtos feitos com madeiras e fibras. Os três primeiros tipos matérias são largamente encontrados, nos EUA, com baixa emissão de compostos
169
orgânicos voláteis (VOC ). Já os materiais compostos por madeiras e fibras são mais difíceis de serem encontrados. (LANGDON, 2007).
Crédito 4.2 Materiais com baixa emissão - pinturas e verniz
Não atendido Não
atendido MF
Crédito 4.3 Materiais com baixa emissão - carpete
Não atendido 1 MF
Crédito 4.4 Materiais com baixa emissão - composição de madeira e produtos em fibra
Não atendido Não atendido
PF
Crédito 5 Controle de fontes de poluição interna
Não atendido Não
atendido F
Crédito 6.1 Controlabilidade do sistema - iluminação
Não existe este crédito no LEED C&S - - PF
Muitas das estratégias para atender a este requisito podem ser incorporadas à categoria de eficiência energética. O custo pode variar de mínimo a significante, dependendo do projeto e dos controles adotados (LANGDON, 2007).
Crédito 6.2 Controlabilidade do sistema - conforto térmico
Comentários: Para o LEED C&S, pelo menos 50% dos usuários controlam seu espaço de trabalho, ajustando temperatura, umidade e entrada do ar.
Para o LEED NC, também deve-se prover os espaços ocupados
por várias pessoas, como salas de reunião e auditórios, de
controles separados aptos a se ajustarem às necessidades e
preferências dos grupos que os ocuparão.
1 Não
atendido R
A controlabilidades dos sistemas, com sistema VAV, pode ter custo significante quando comparado aos sistemas convencionais. No entanto, quando o sistema da edificação já é mais sofisticado e meticulosamente planejado, este custo pode ser significativamente mais baixo. (LANGDON, 2007).
170
Crédito 7.1 Conforto térmico - projeto
Comentários: A norma ABNT-NBR 6401, que estabelece parâmetros de conforto térmico atende aos requisitos estabelecidos na ASHRAE Standard 55–2004
1 1 PF
.Apesar de fácil, alguns projetos não obtêm este ponto ou por terem sistemas menores ou por estarem tentando reduzir energia. Diminuindo o conforto térmico, o requisito se torna complicado de ser alcançado (LANGDON, 2007).
Crédito 7.2 Conforto térmico - verificação
Não existe este crédito no LEED C&S - - PF
Crédito 8.1 Iluminação natural e vista - iluminação natural em 75% das áreas
O caso A obteve este crédito por medição no local. O mínimo de iluminação natural de 270 lux foi alcançado para as áreas regularmente ocupadas. Comentários Como a maioria dos requisitos relacionados à qualidade do ambiente interno, este também não é prática de mercado, o que o torna mais difícil de ser cumprido.
1 Não atendido
PF
É um requisito mais difícil de ser atendido do que se supõe (MATTHIESSEN; MORRIS, 2004). É difícil captar luz suficiente para o atendimento deste requisito, variando projeto a projeto, dependendo, entre outros fatores, do lay-out planejado, do tipo de vidro da orientação solar (LANGDON, 2007).
Crédito 8.2 Iluminação natural e vista - vista externa para 90% das áreas
Os edifícios dos dois projetos foram projetados com fachadas envidraçadas, favorecendo a linha direta de visão para a paisagem externa. Comentários: Em projetos menores e mais modestos, onde não são usadas cortinas de vidro nas fachadas, a obtenção deste ponto se torna bem mais difícil.
1 1 F
Este requisito pode ser atingido por arranjo interior de espaços, utilizando divisórias de vidro no caso do LEED NC (LANGDON, 2007).
171
INOVAÇÃO DE PROJETO (INOVATION IN DESIGN – ID)
REQUISITOS (CRÉDITOS) LEED NC 2.2
CONTEXTUALIZAÇÃO NOS CASOS BRASILEIROS ESTRATÉGIAS: FACILIDADES E LIMITAÇÕES
PONTOS PROJETO
A
PONTOS PROJETO
B
GRAU FREQ. FASE I
CONTEXTUALIZAÇÃO NO MERCADO NORTE –
AMERICANO
Crédito 1.1
O projeto A obteve este ponto por conta de sua localização privilegiada em relação ao acesso ao transporte público. O caso B atendeu à inovação pelo complemento do Crédito MC 4 - Uso de materiais com teor reciclado, excedendo os 20% máximos requeridos, chegando ao uso de materiais com teor reciclado em torno de 30%.
1 1 MF
Crédito 1.2
Os projetos A e B atenderam à inovação pelo complemento do Crédito MC 5 – Uso de materiais fabricados na região, excedendo os 20% máximos solicitados. O caso A teve um uso de 60,53% destes materiais e o caso B de 60,53%. Comentários: . A obtenção deste crédito só é facilitada no Brasil em cidades localizadas nas regiões Sul e Sudeste, por conta da grande concentração de fábricas de materiais de construção.
1 1 MF Exceder o limite imposto nos créditos anteriores é uma maneira de ganhar pontos nesta categoria.
Crédito 1.3
O projeto A atendeu à inovação pelo complemento do Crédito MC 6 – Uso de madeira certificada, LEED C&S, excedendo o requerido de 50%, chegando a utilizar aproximadamente 95% desta madeira no empreendimento (em portas, painéis, esquadrias em geral etc.); No caso B será elaborado e anexado junto ao manual do locatário um Plano de Gestão da Qualidade do Ar Interno durante as obras dos locatários.
1 1 R
Crédito 1.4
Este crédito obtido pelo caso A é relacionado à economia de água prevista pelos dos sistemas, em torno de 40%, excedendo o previsto nos Créditos WE 3.1 e WE 3.2 - Redução do uso de água; No caso B, este crédito é referente ao programa educacional a ser desempenhado pelo empreendimento, onde serão mostradas as qualidades de um green building, além de um tour às pessoa interessadas em conhecer o projeto.
1 1 R
172
Crédito 2 Profissional Credenciado LEED
Profissionais das consultorias contratadas representam os projetos junto ao USGBC Comentários: . Para ganhar este ponto, faz-se necessária a contratação de uma consultoria especializada ou o credenciamento de um profissional da própria empresa interessada.
1 1 MF -
173
A partir do Quadro 6, que apresenta créditos LEED conforme freqüência encontrada nos
relatórios norte-americanos, o Gráfico 5, o Gráfico 6, o Gráfico 7, o Gráfico 8, o Gráfico 9
e o Gráfico 10 posicionam os projetos brasileiros estudados.
Terrenos Sustentáveis
02468
101214
MF F PF R
Freqüência de ocorrência
Nú
mer
o d
e p
on
tos
Relatórios 1 e 2 Projeto A Projeto B
Gráfico 5: Categoria Terrenos Sustentáveis - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
Uso Racional de Água
0
1
2
3
4
5
MF F PF R
Freqüência de ocorrência
Nú
mer
o d
e p
on
tos
R elató rio s 1 e 2 P ro jeto A P ro jeto B
Gráfico 6: Categoria Uso Racional da Água - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
174
Energia e Atmosfera
0
2
4
6
8
10
12
14
16
MF F PF RFreqüência de ocorrência
Nú
mer
o de
pon
tos
R elató rio s 1 e 2 P ro jeto A P ro jeto B
Gráfico 7: Categoria Energia e Atmosfera - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
Materiais e Recursos
0
2
4
6
8
10
12
MF F PF R
Freqüência de ocorrência
Núm
ero
de p
onto
s
R elató rio s 1 e 2 P ro jeto A P ro jeto B
Gráfico 8: Categoria Materiais e Recursos - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
175
Qualidade do ambiente interno
0123456789
101112131415
MF F PF R
Freqüência de ocorrência
Nú
mer
o d
e P
on
tos
R elató rio s 1 e 2 P ro jeto A P ro jeto B
Gráfico 9: Categoria Qualidade do Ambiente Interno - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
Inovação de Projeto
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
MF F PF R
Freqüência de ocorrência
Nú
mer
o d
e po
ntos
R elató rio s 1 e 2 P ro jeto A P ro jeto B
Gráfico 10: Categoria Inovação de Projeto - comparação de pontos obtidos pelos Projetos A e B e os relatórios de referência.
7.2. Objetivo 2: Percepção e entendimento de agentes do mercado brasileiro
As respostas aos questionários distribuídos trazem a visão das incorporadoras e investidoras
imobiliárias a respeito dos assuntos abordados: green building, certificação e análise de
custos ao longo do ciclo de vida. Pode-se dizer que a compilação e análise das respostas
176
representam a fotografia atual destas empresas, que são as decisoras, o ponto de partida da
concretização da construção de edificações sustentáveis. As respostas mostram também a
postura e atitude, em termos culturais, de uma amostra significativa do mercado.
A interpretação das respostas obtidas, também foi dividida nos três diferentes grupos
relacionados a cada tema.
7.2.1. Percepção sobre green building – Mercado
Pergunta 1: Qual o conhecimento sobre o assunto? As respostas a esta pergunta indicam
que o tema não é desconhecido no mercado, pelo menos teoricamente, uma vez que não
houve respostas indicando desconhecimento sobre o tema tratado. Quase a metade das
empresas que responderam (48,72%) considera que possui conhecimento mediano do
assunto, 20,51% com pouco conhecimento e mais de 30,17% com amplo conhecimento. No
entanto, as respostas às perguntas seguintes indicam que o conhecimento retido é
superficial, impossibilitando respostas mais detalhadas e profundas, mostrando incoerência
entre a percepção de conhecimento que cada uma tem sobre o assunto e a realidade.
Pergunta 2: Há ganho para a imagem da organização construir edificações sustentáveis? De
quanto? A grande maioria das empresas, aproximadamente 95%, confirma que há ganhos
decorrentes da imagem positiva que as empresas passam para o mercado com a
preocupação sócio-ambiental e que cada vez mais será impossível dissociar a imagem das
empresas de seu compromisso ambiental. Alguns dos comentários relacionados à pergunta
citam como benefício:
• Passa imagem de uma empresa “politicamente correta”;
• Valorização pela mídia;
• Valorização pelas empresas multinacionais;
177
• Ganha o respeito e reconhecimento dos consumidores;
• Atrai profissionais de talento;
• Ganhos subjetivos e intangíveis.
Pergunta 3: Os clientes percebem o diferencial de um green building? As respostas
positivas ultrapassam 74%. Algumas observações foram feitas, como segue:
• O valor percebido varia de cliente a cliente (usuários finais). Portanto, existem
quantificações diferentes deste diferencial;
• Ainda há falta de conscientização (conhecimento dos usuários finais) sobre este tipo
de edificação. Portanto, faz-se necessário maior explicação sobre o assunto no
momento da comercialização;
• Os clientes corporativos, que procuram edifícios comerciais de alto padrão tendem a
ter uma maior percepção dos diferenciais de uma edificação sustentável;
• Os clientes finais, apesar de perceberem o diferencial, não estão dispostos a pagar
mais.
Perguntas 4 e 5: Há (comprovadamente) velocidade maior de venda? Qual a porcentagem?
E há (comprovadamente) aumento da lucratividade na venda e/ou locação das unidades?
Qual a porcentagem? As respostas para ambas as questões foram predominantemente
negativas, 71,79% e 66,67%, respectivamente.
Uma das respostas positivas sobre a velocidade de vendas, elaborada por um fundo de
investimentos internacional afirma que “a maior velocidade de venda decorre do fato de o
empreendimento ter preferência do usuário em caso de "empate" na análise com outro
empreendimento”. Outra empresa, incorporadora, e com empreendimentos registrados no
USGBC, observa que um edifício sustentável “por enquanto somente complementa uma
178
série de atributos de diferenciação”.
Sobre o aumento na lucratividade com estas edificações, os comentários e percepções são
distintos, bem como o nível de conhecimento sobre o assunto de cada empresa. Vale
ressaltar também que, apesar da pergunta solicitar um embasamento “comprovado” no caso
de resposta positiva, em muitas destas respostas, as observações descritivas foram baseadas
em certas crenças, como mostram algumas respostas da Tabela 12.
Tabela 12: Percepção de aumento de lucratividade de um Green Building pelas Empresas.
Empresa Conhecimento
em Green Building
Percepção de Aumento de
Lucratividade Observações Feitas
Empresa A (segmento residencial)
mediano de 20% a 30%
“Dos empreendimentos realizados sobre este conceito, temos maior valor agregado. Conseqüentemente, a lucratividade direta de vendas é em torno de 20 a 30% sobre o produto padrão”.
Empresa B (tipologias diversas)
amplo 15%
Empresa C (tipologias diversas)
amplo
“de uma forma geral, para clientes que reconhecem valor agregado com a sustentabilidade, há disposição em se pagar um premium price...”
Empresa D (segmentos comercial e residencial)
pequeno “existem clientes que sabem do custo a mais em projetos de sustentabilidade”
Empresa E (segmento residencial)
mediano 3% “o ganho varia com o produto e público alvo”
Empresa F (segmento residencial)
mediano 20%
Pergunta 6: Há ganhos em mídia gratuita (pela veiculação de matérias jornalísticas)? Qual é
a porcentagem? Duas empresas não responderam a esta pergunta e das demais empresas,
67,57%, acreditam que há ganhos provenientes de mídia espontânea, seja pela maior
divulgação em imprensa especializada, reportagens ou premiação, no entanto, estes ganhos
são de difícil mensuração. Uma das empresas, uma investidora estrangeira, ainda destaca
que não há economia na verba de marketing destinada a estes projetos mesmo com uma
maior exposição na mídia.
179
Pergunta 7: Há a impressão de que os green buildings custam mais do que edificações
convencionais? Qual é a porcentagem? Uma empresa não respondeu à pergunta. Das 38
respostas obtidas, todas foram unânimes em afirmar que há, certamente, um custo inicial
maior e 22 empresas indicaram suas percepções de aumento. Como estas percepções foram
variadas, foram classificadas em três grupos: empresas que acreditam ter um acréscimo de
até 5%; empresas que percebem um acréscimo de até 15% e o terceiro grupo, com
percepções maiores do que 15%. O Gráfico 11 mostra que metade das empresas crê num
incremento do custo inicial de até 5%, 32% da empresas acreditam num aumento de até
15% e o percentual restante, 18%, percebe que há um aumento de mais de 15%.
50%
32%
18%
até 5%até 15% maior que 15%
Gráfico 11: Percepções de aumento de custo inicial em "Green Buildings"
Ainda destacam-se algumas observações feitas pelos participantes da pesquisa:
• O investimento inicial é, com certeza, maior. Porém, há ganhos de desempenho
relacionados principalmente ao consumo de água e energia, que provocam a
redução do valor do condomínio;
• Edifícios de alto padrão que já partem de “boas especificações”, já atendem uma
parte das exigências devido às suas soluções tecnológicas adotadas e,
conseqüentemente, têm um custo menor. Vale ressaltar que a lógica de tal
comentário vem das respostas de três empresas. Todas elas atuam também no
180
segmento de edifícios comerciais de alto padrão, conhecidos por triple A.
7.2.2. Percepção sobre green buildings – Obtenção de certificação
Por ser um assunto mais específico, e, como muitos dos responsáveis pelo preenchimento
dos questionários informaram que não tinham experiência nem conhecimento na obtenção
de certificação, todas as respostas às cinco questões foram analisadas meticulosamente,
caso a caso. Desta forma, foram desconsideradas as empresas que, mesmo atribuindo algum
conhecimento ao processo de certificação (primeira pergunta – 8), deixaram de responder
às demais questões relacionadas ao tema, mostrando falta de proximidade dos seus
representantes com o assunto abordado.
Pergunta 8: Sua empresa tem experiência na busca de certificação de um empreendimento?
As respostas mostraram que o assunto certificação ainda é totalmente desconhecido e/ou
pouco conhecido para mais de 60% das companhias. 21% das empresas acreditam ter
conhecimento mediano sobre o tema e apenas 18% informaram ter conhecimento amplo,
como mostra o Gráfico 12.
181
40%
21%
21%
18%
nehnhum conhecimento
pouco conhecimento
conhecimento mediano
conhecimento amplo
Gráfico 12: Nível de conhecimento das empresas sobre certificação de Green Buildings
Vale ressaltar que algumas poucas empresas, mesmo sem conhecer as metodologias de
certificação existentes, demonstraram alguma forma de ação em relação à sustentabilidade.
Seja por ressaltarem que estão estudando a abordagem em algum novo empreendimento,
seja por meio de ações reconhecidas internamente ou até mesmo por prêmios recebidos do
mercado.
Para poder fazer a análise das três perguntas subseqüentes, sobre mudança de rotina e
trabalho extra nos estudos de viabilidade em empreendimentos que buscam a certificação e
sobre a necessidade da documentação exigida, foram analisadas somente as empresas que
declaram alguma experiência em certificação, compondo um número de 23 empresas.
As perguntas 9 (Mudou a rotina do estudo de viabilidade?) e 10 (Foi consumido mais
tempo do seu trabalho extra no estudo de viabilidade?) tratam da postura da empresa num
processo de certificação, e foram, portanto analisadas em conjunto.
De uma maneira geral, sob o ponto de vista das incorporadoras, responsáveis pelo estudo de
viabilidade de empreendimentos, buscar uma certificação aqui no Brasil, para a maioria das
empresas traz alguma mudança no modo operante, seja na rotina e/ou com o trabalho extra,
como mostram o Gráfico 13 e o Gráfico 14.
182
17%
30%36%
17%
nenhuma mudança
pouca mudança
mudança mediana
muita mudança
Gráfico 13: Mudança de rotina nas incorporadoras para certificação de um empreendimento
22%
35%
26%
17%
nehnhum trabalho extra
pouco trabalho extra
trabalho extra mediano
muito trabalho extra
Gráfico 14: Incremento de trabalho nas incorporadoras para certificação de um empreendimento
Fazendo uma análise cruzada entre as alterações ocorridas na rotina de trabalho e no
aumento do trabalho extra, pode-se concluir que, como mostra o Gráfico 15, (1) poucas
empresas não sofrem mudanças em seu dia-a-dia e (2) a certificação implica tanto em
questão de mudança de rotina quanto em acréscimo de horas trabalhadas.
183
9%
47%
35%
9%
nehnhuma mudança
mudou rotina e aumentou trabalho namesma proporção
mudou mais a rotina
aumentou mais o trabalho
Gráfico 15: Análise cruzada de mudança de rotina e aumento de trabalho nas incorporadoras para certificação de um empreendimento
Alguns comentários feitos pelas empresas ajudam a entender melhor as afirmações acima:
• É prática comum a contratação de empresa de consultoria ou de um profissional que
se dedique a este processo.
• Nos estudos de viabilidade são acrescidos custos iniciais antes não previstos.
Quanto aos custos ao longo do ciclo de vida do empreendimento, a maioria ainda
mantém a postura conservadora de não incluir nenhuma economia;
• Há uma curva de aprendizado, como tudo que se faz de novo. Com o passar do
tempo e com a adaptação à nova rotina a tarefa se torna mais fácil.
Destacando que esta última opinião é reforçada pela experiência descrita por Melaver e
Mueller (2009), que estimam uma curva de aprendizado de três anos para se chegar ao
ponto de desenvolver um edifício verde com a mesma eficiência de prazo e dinheiro que
um edifício convencional.
Pergunta 11: Como classificaria a necessidade de documentação? Mais de 56,52%
consideraram exagerada a quantidade de documentos solicitados. As demais empresas a
classificaram como adequada.
184
A última questão do tema certificação foi a Pergunta 12: Quais as maiores dificuldades?
Para este questionamento as respostas foram livres para empresas com ou sem experiência
no assunto, solicitadas em forma de observação. As respostas mais citadas foram agrupadas
e estão listadas abaixo.
• Adequação às normas internacionais, uma vez que as certificações foram
desenvolvidas em outros países com realidade e necessidades diferentes das
encontradas aqui no Brasil. Conseqüentemente, não é fácil encontrar fornecedores
de materiais e soluções tecnológicas para atender aos requisitos de certificação;
• Faltam conhecimento e parâmetros para ter como experiência inicial;
• Alto custo inicial, dificultando a viabilidade destes empreendimentos quando da
conciliação dos objetivos das partes envolvidas, como arquitetos, incorporadores,
investidores e usuários.
• Dificuldade de encontrar pessoas aptas a participar deste processo, sejam elas
projetistas, empreiteiros ou pessoas que componham as equipes de obra.
7.2.3. Análise de Custos
Como falado no Capítulo 2, se o preço atribuído a um produto é, em última instância, o
reconhecimento por parte do cliente pelo seu valor e considerando que um empreendimento
sustentável gera valor, em maior grau quando medido seus benefícios ao longo de seu
extenso ciclo de vida, o nível de entendimento e conhecimento das empresas
incorporadoras e investidoras sobre a análise de custos ao longo do ciclo de vida de um
empreendimento, bem como saber se esta análise faz sentido e o quanto é praticada por
estes agentes decisores, permite a compreensão da dinâmica atual da execução deste tipo de
empreendimento. As perguntas que formaram a terceira parte deste questionário foram
analisadas sob esta ótica.
185
Pergunta 13: Qual o seu conhecimento sobre análise de custos no ciclo de vida? O resultado
desta pergunta, por não espelhar, em um primeiro instante, a realidade, foi analisado pela
qualidade das respostas das Perguntas 14 (Custos de operação e manutenção são
considerados nos estudos de viabilidade de um empreendimento?), 15 (Caso da resposta a
questão 14 seja maior que zero (0): quais e/ou de que maneira?) e 16 (Caso a resposta da
questão 14 seja zero (0): por que não?).
Aparentemente, quando analisadas somente as respostas à pergunta 13, conclui-se que o
grau de conhecimento das empresas pesquisadas sobre o assunto é razoável, uma vez que
mais da metade da empresas (62%) entendem ter grau de conhecimento sobre o assunto
mediano, sendo 38% o percentual de empresas com pouco ou nenhum conhecimento.
Analisada as respostas sob a ótica das três perguntas subseqüentes percebe-se um resultado
totalmente diferente: 56,76% das empresas pesquisadas não sabem, ou não estão
familiarizadas, ou não entendem conceitualmente custos ao longo do ciclo de vida de um
empreendimento, confundindo-os, em muitos casos, com custos de manutenção de garantia,
obrigação esta prevista no código civil. O Gráfico 16 mostra a diferença dos graus de
conhecimento declarado pelas empresas e o grau de conhecimento percebido neste trabalho
a partir das respostas às perguntas.
0
5
10
15
20
25
nada pouco medio amplo
Grau de Conhecimento
Nú
mer
o d
e em
pre
sas
ARBITRADO
PERCEBIDO
Gráfico 16: Comparativo do grau de conhecimento declarado e percebido (apreendido pelas respostas às questões) das incorporadoras de conhecimento de custos ao longo do ciclo de vida de um
186
empreendimento.
As respostas às perguntas 14, 15 e 16 foram agrupadas de maneira a refletir a atitude das
incorporadoras relacionada à consideração dos custos incorridos ao longo do ciclo de vida
dos empreendimentos. O Gráfico 17 apresenta as respostas obtidas.
Das 39 empresas que responderam a este grupo de perguntas relacionadas a custo ao longo
do ciclo de vida à pesquisa, 25% delas foram consideradas como “respostas não válidas”,
ou por não terem sido respondidas, respondidas de uma forma incompreensível ou mesmo
pela afirmativa de não terem entendimento suficiente sobre este assunto. As demais
respostas foram as seguintes:
• Os custos considerados se referem a custos contigenciais para operação e
manutenção obrigatórias; algumas empresas consideram um percentual sobre o
custo de construção.
• Principalmente no segmento de empreendimentos residenciais, estes custos são
considerados como de responsabilidade dos usuários. Mesmo em empresas onde
a aferição dos ganhos ao longo do ciclo de vida do empreendimento é feita de
maneira séria, de acordo com a resposta de uma incorporadora que atua em vários
segmentos, a garantia de desempenho seria muito arriscada, uma vez que tal
abordagem é ainda muito nova e ainda depende da cultura e hábitos dos usuários.
• As empresas que declararam fazer algum estudo de análise dos custos ao longo do
ciclo de vida dos empreendimentos, os apresentam como diferencial competitivo,
não os considerando de alguma forma como potenciais maximizadores de
lucratividade.
• A consideração dos custos ao longo do ciclo de vida (LCC) de um empreendimento
ainda é pouco aplicada como forma de geração de lucro. Apenas uma empresa, um
fundo americano de investimentos na área imobiliária, declarou usar estimativas de
custos futuros de condomínio e de operação (como água, luz, manutenção de
elevadores, segurança, limpeza, manutenção preventiva do edifício e equipamentos,
187
etc.) para o cálculo da taxa de retorno dos seus empreendimentos. Outra empresa,
uma incorporadora com alguns projetos de incorporação própria, afirma que os
custos de operação são usados em todos seus empreendimentos, mas,
principalmente, em empreendimentos de base imobiliária. Uma terceira empresa
menciona que os custos de operação e manutenção são usados como garantia de
operação para o cliente. Nestes dois últimos casos, pelas respostas subseqüentes,
fica claro que a aplicação do LCC ainda é pequena, talvez apenas para a escolha das
estratégias de projetos usadas.
O Gráfico 17: Aplicação dos custos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos.
apresenta o percentual de cada resposta obtida neste grupo de perguntas.
21%
25%
21%
8%
25%problema do usuáriocusto manutenção de garantiaargumento de vendaLCCRespostas não válidas
Gráfico 17: Aplicação dos custos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos.
Como as perguntas anteriores, as perguntas 17 (No seu entendimento, haveria a
possibilidade de considerar os custos de operação - como energia, água, redução de
condomínio, etc. - no estudo de viabilidade de um empreendimento?), 18 (Caso a resposta à
questão 17 seja maior que zero (0): há banco de dados para o conhecimento da média de
gasto de energia, manutenção e operação?) e 19 (Caso a resposta à questão 17 seja zero (0):
por que não?) também foram agrupadas para serem analisadas. Das 39 empresas, uma
empresa não respondeu ao grupo de perguntas e outra somente respondeu à pergunta 17.
188
Sendo assim, partiu-se de 37 empresas nesta análise.
Sobre a possibilidade de considerar custos de operação nos estudos de viabilidade, as
opiniões ficaram bem divididas, conforme apresentado no Gráfico 18. 48% das empresas
acreditam que não há esta possibilidade ou há poucas chances, contra 52% das empresas
que vêem uma possibilidade mediana ou ampla. Entre as justificativas do primeiro grupo,
que não acreditam na possibilidade, destacam-se:
• A visão segregada de construção e operação;
• O entendimento de que clientes residenciais não dão importância aos custos de
operação;
• A necessidade de mudança de cultura para que se possa oferecer garantia de
desempenho aos clientes finais, o que hoje ainda seria muito arriscado para as
incorporadoras.
24%
24%11%
41%
Nenhuma possibilidade
Possibilidade pequena
Possibilidade mediana
Ampla possibilidade
Gráfico 18: Opinião das incorporadoras quanto ao uso dos custos de operação nos estudos de viabilidade.
Do segundo grupo, composto pelas 28 empresas que vêem a possibilidade de considerar os
custos de operação nos estudos de viabilidade, a grande maioria (68%) afirma que não há
banco de dados ou há poucas informações disponíveis, contra 18% e 14% das empresas que
acreditam ter informações em quantidade razoável e grande, respectivamente. Estes
percentuais podem ser vistos no Gráfico 19.
189
43%
25%
18%
14%
Não há banco de dados
Há poucas informações
Há quantidade razoável de informações
Há grande quantidade de informações
Gráfico 19: Percepção de disponibilidade de banco de dados pelas incorporadoras.
Se por um lado foram feitas observações de que a falta de dados se dá pela razão de que a
necessidade de banco de dados é recente e as incorporadoras, em sua maioria, não
acompanham o desempenho dos seus empreendimentos, por outro lado, foi destacada a
possibilidade de se obter dados constantes nos sistemas de registros de controle de gastos,
principalmente em edifícios comerciais.
Vale ainda ressaltar que algumas empresas acreditam que a inserção de custos de operação
nos estudos de viabilidade é restrita a alguns empreendimentos, dependendo (1) do público-
alvo (padrão social e nível cultural), (2) do objetivo final do investimento (se o
empreendimento é feito para a locação ou venda, não há razão para preocupação com a
operação, se é para o próprio uso ou gerenciamento da operação, estes custos passam a ser
importantes) e ainda (3) das tipologias de cada um (comercial, residencial, industrial, etc.).
190
8. Discussão e considerações finais
Ao longo deste trabalho pôde-se perceber como diversos temas diferentes como processo
de decisão, metodologia do LCCA e as certificações podem se entrelaçar e ir além da
sustentabilidade na construção civil, chegando a novos modelos de negócio e podendo
afetar diretamente o “bolso”das companhias.
A intenção deste último capítulo é trazer à tona a reflexão sobre esta trama de assuntos aqui
estudados, discutindo os papéis e responsabilidades de cada mecanismo e cada agente
deflagrador da sustentabilidade na construção civil no Brasil.
8.1. A novidade - construções sustentáveis ou green buildings
O assunto “sustentabilidade na construção civil” é novo e o reflexo no Brasil deste
movimento começou a dar sinais mais claros nos últimos dois ou três anos. O
conhecimento sobre as edificações sustentáveis ou green buildings ainda é superficial,
mesmo numa amostra significativa de empresas importantes, como a considerada nesta
pesquisa. Se por um lado a difícil mensuração dos benefícios ainda causa ceticismo, por
outro, não há como refutar o reconhecimento e ganhos em mídia com fortalecimento da
imagem da marca e até mesmo em competitividade atrelados à execução destas edificações.
A percepção aqui no Brasil de que estas edificações têm um custo inicial maior é real, mas
ainda esta embasada em pouco conhecimento, apenas em sentimento. Como o aprendizado
de qualquer coisa nova, existe um custo extra para se fazer as mesmas coisas de forma
diferente.
Outro fator preponderante para o sucesso destes empreendimentos é a divulgação dos
benefícios para os usuários finais. Quando explicados, estes empreendimentos são bem
191
aceitos. No entanto, a maior parte dos clientes finais não conhece conceitualmente os green
buildings e seria utopia esperar uma demanda de mercado por um valor desconhecido. Os
usuários que preferem estas edificações são aqueles que conhecem as economias
decorrentes das características de projetos, como redução de condomínio, seguro e
operação. É o caso das empresas multinacionais, que impulsionam o mercado com sua
demanda para atualização de seu portifólio de edifícios produzidos ou facilities próprias.
O desenvolvimento de um projeto integrando todos os agentes das diferentes áreas de
conhecimento, compondo uma equipe multidisciplinar, faz-se necessário para
empreendimentos sustentáveis, em que se busca um alto desempenho por meio de soluções,
muitas vezes simples, com grande dose de criatividade e eficiência.
8.2. A Contribuição das Certificações
O presente estudo mostrou que alcançar a certificação LEED pode não ser uma tarefa fácil
e, diga-se de passagem, nem deveria ser, considerando que o objetivo principal das
certificações em geral é prover distinção de práticas de mercado e que o patamar de
sustentabilidade do setor da construção nacional ainda tem muito a se desenvolver neste
aspecto. No entanto, vale lembrar que a razão pela qual o LEED foi criado era a motivação
e a aceleração do desenvolvimento de práticas ambientais e, para tanto, o consenso da
metodologia, foi baseado em padrões e normas vigentes no país de origem, os EUA.
Portanto, mesmo neste país, atender aos seus pré-requisitos e créditos pressupõe esforço e
provoca uma reflexão sobre os processos e tecnologias disponíveis e as lacunas
identificadas para a elevação contínua do desempenho ambiental de empreendimentos.
Mesmo em centros avançados da construção civil brasileira, como as cidades do Rio de
Janeiro e São Paulo, o mercado ainda não está preparado para os selos verdes
internacionais. Muitas empresas ainda desconhecem conceitualmente as certificações e
todas as empresas pioneiras no assunto (incorporadoras, construtoras e consultorias) ainda
se encontram em plena curva de aprendizado. Pela falta de profissionais nas empresas,
192
tanto incorporadoras quanto construtoras, aptos a tratarem da sustentabilidade com a
exigência requerida para se obter uma certificação LEED, o papel dos consultores é
fundamental. Isso se justifica por serem, hoje, os profissionais mais focados e prontos a
buscar soluções, orientar e controlar os processos para que a busca da certificação seja
facilitada.
Se nos EUA aplicar certificação implica em melhorias incrementais de boas práticas, já no
Brasil, significa, muitas vezes, saltar da completa ausência de referência para o atendimento
de normas americanas e, freqüentemente, estranhas aos profissionais locais, presentes não
só em pontos, mas também em pré-requisitos do sistema de certificação. Isto muitas vezes
implica num salto muito alto quando entram em questão hábitos e práticas vigentes,
tecnologias e materiais disponíveis no mercado e até mesmo qualificação exigida dos
profissionais, o que inclui as empresas de consultoria especializadas hoje atuantes neste
mercado. Muitos requisitos e pré-requisitos contidos no LEED fogem, e muito, às nossas
práticas de mercado e, para a busca de uma certificação, bem como a aplicação de práticas
mais sustentáveis na execução de edifícios, faz-se necessária a adequação de toda a
indústria da construção civil, bem como de todos os seus agentes. Esta afirmação pôde ser
observada tanto nos estudos de caso aqui realizados, quanto nas respostas aos questionários
enviados às maiores incorporadoras atuantes no estado de São Paulo, o maior mercado da
construção civil brasileira.
As limitações e facilidades no atendimento dos requisitos LEED no Brasil variam caso a
caso, dependendo de vários fatores, como:
• Localização do empreendimento, se área urbana ou rural, influenciando nas
práticas, tecnologias e mão-de-obra disponíveis;
• Localização geográfica brasileira, considerando que (1) algumas leis e normas já
estão incorporadas em alguns estados como, por exemplo, a resolução CONAMA
307, que rege a disposição dos resíduos sólidos. No entanto, boa parte das cidades
brasileiras não tem lugares adequados para se fazer a correta gestão de resíduos
exigida. (2) A distância entre os centros de produção e manufatura dos insumos
193
usados na construção civil e o local da obra, ainda mais em um país nas dimensões
do Brasil e (3) a concentração de profissionais especializados e com conhecimento e
experiência no processo de certificação ainda está em grandes centros como São
Paulo e Rio de Janeiro;
• Padrão de acabamento (econômico, médio, alto ou triple A), uma vez que nesta
última classificação muitos projetos partem de uma base mais próxima dos
conceitos norte-americanos e possuem projetos mais sofisticados, como os
específicos de paisagismo, sistema de irrigação e luminotécnica, o que facilita a
pontuação do empreendimento;
• Custo planejado para o empreendimento, uma vez que alguns empreendimentos não
conseguiram suportar custos específicos como, por exemplo, a simulação
computacional de energia e o comissionamento dos sistemas de instalações, pré-
requisitos da categoria Energia e Atmosfera, por não serem facilmente diluídos nos
demais serviços.
Desta forma, constatou-se que os estudos de caso A e B se encontram numa situação muito
mais confortável para buscar a certificação, por (1) estarem localizados nas duas maiores
cidades do Brasil, facilitando a aquisição de materiais, tecnologias e profissionais
adequados. O caso A, em particular, localizado em São Paulo, estado que fornece todas as
condições para que o CONAMA 307 seja cumprido e conta com opções para a disposição
apropriada de resíduos. (2) Por serem de grande porte e, conseqüentemente, de grande
valor; e (3) partirem conceitualmente de projetos norte-americanos. Além disso, pela
visibilidade na mídia e por serem identificados como dois dos primeiros empreendimentos
brasileiros a buscarem a certificação LEED, todos os projetistas envolvidos consideraram o
trabalho excedente necessário para a adequação aos requisitos como “investimento em
conhecimento”.
Se por um lado os projetos estudados não são representativos da massa da construção civil
brasileira, pelo menos para a grande parte das incorporadoras, eles demonstram que,
mesmo em situação tão propícia, ainda existem grandes obstáculos a serem superados.
194
Associadas às novas tecnologias e às inovações de um modo geral, há uma curva de
aprendizado.
As lições aprendidas com os projetos brasileiros analisados englobam:
• Consultores são necessários. No entanto, eles também estão em fase de
aprendizado;
• Muitos materiais e tecnologias são desconhecidos pelo mercado e os preços nem
sempre são competitivos;
• O re-trabalho em projetos foi necessário para a adequação aos objetivos pretendidos
e
• O prazo do projeto pode ficar comprometido pelas dificuldades inerentes a um novo
processo, apesar de isto não ter ocorrido nos estudos de caso.
Certificar um empreendimento é um processo e, como tal, para ser validado, requer
documentação e comprovação do atendimento aos requisitos solicitados. Pelo menos nos
primeiros empreendimentos, durante o período de curva de aprendizado, buscar a
certificação implica em mudança de rotina, comprometimento e acréscimo de trabalho para
todos os envolvidos com o empreendimento, desde os arquitetos e projetistas até os
fornecedores e sub-contratados para execução dos serviços.
Apesar de todas as limitações do LEED e de sua aplicação em contextos diferentes do seu
original, a entrada desta metodologia no Brasil traz consigo uma nova forma de se enxergar
os impactos gerados, às pessoas e ao meio ambiente, pelo produto da construção civil,
abrindo assim a discussão para assuntos antes nunca abordados.
Além disso, certificações, iniciativas voluntárias e instrumentos de market pull possuem o
importante papel de mola propulsora da transformação do mercado da construção civil na
busca da sustentabilidade. Pode-se considerar que apesar do LEED e outras metodologias
195
de avaliação elaboradas em outros países possuírem características adequadas aos
respectivos contextos de desenvolvimento, é inegável o seu papel na criação de
oportunidades para uma grande revolução, uma quebra de paradigmas em relação a
posturas e atitudes no mercado da construção civil brasileira. O que não se pode perder de
vista é que as iniciativas voluntárias pressupõem uma base anterior para que possa se
desenvolver plenamente, composta por P&D e transferência de conhecimento e tecnologia
ao mercado. O que se nota no Brasil é certa ansiedade pela busca de certificação, não
precedida por esta preparação do mercado que tanto pode funcionar - caso ele consiga
realizar estas tarefas simultaneamente à implementação das certificações – ou constituir o
risco de diminuir o papel transformador das certificações, devido a esta queima das etapas
de base a sua adequada implementação.
8.3. O Papel do Poder Público
A grande maioria das decisões está vinculada à geração de lucratividade para as empresas
incorporadoras. Para alguns créditos do LEED, o atendimento não é resultado de estratégias
sustentáveis, mas sim uma casualidade. Este é o caso da categoria Terrenos Sustentáveis
(SS), por exemplo, referentes à escolha do terreno, à área urbana ocupada, à recuperação de
áreas degradadas e ainda à facilidade de acesso ao transportes público, em que os pontos
são obtidos – ou não – quando há uma coincidência da escolha de terreno, baseada em
parâmetros de mercado, às condições requeridas pelo sistema de certificação.
Pelo exemplo recém exposto, fica clara a importância do papel do governo em relação à
sustentabilidade. Incentivos fiscais decorrentes da opção por um terreno contaminado, bem
como da comprovação de práticas mais sustentáveis, seriam um grande apelo para
investidores e incorporadores construírem empreendimentos de melhor desempenho
ambiental e com benefícios à sociedade.
Deve ficar claro que a responsabilidade pela construção de edificações menos agressivas ao
meio ambiente e mais saudáveis para seus ocupantes começa na alçada do Poder Público, a
196
exemplo de países como os EUA e Taiwan. Por meio de incentivos fiscais e também da
produção de marcos regulatórios que estabeleçam requisitos mínimos de sustentabilidade
para edificações, insumos e componentes, o Governo certamente movimentará toda a
cadeia produtiva da construção e promoverá a criação de práticas sustentáveis como rotina,
seja ao lançar mão de seu papel como grande comprador ou liderando pelo exemplo em
suas próprias instalações.
8.4. Mudança de Paradigma para Análise do Custo do Ciclo de Vida para
Edificações
No mundo atual, notam-se o surgimento de duas tendências internacionais no setor
imobiliário e de construção: a visão cada vez mais holística dos empreendimentos,
abrangendo toda a vida da edificação e a implementação de princípios de desenvolvimento
sustentável.
Entender os custos e receitas de uma edificação e considerá-los na fase de estudo de
viabilidade, sob a ótica do seu ciclo de vida, implica em ir além dos métodos tradicionais de
análise e considerar um fluxo que contenha não só investimentos iniciais e receitas
provenientes da comercialização e/ou locação de unidades, mas também que contemple
custos de operação e uso do edifício e destas unidades.
Sustentabilidade é um conceito de longo prazo e edificações com estratégias claramente
voltadas para este conceito, podem incorrer num investimento maior. No entanto, é
inegável a existência de um melhor desempenho. Os benefícios são tangíveis,
independentemente da discussão sobre quem paga a conta da melhoria de desempenho. O
LCCA abre espaço para uma comparação mais justa entre empreendimentos sustentáveis e
convencionais. No entanto, é importante ressaltar que ainda não há, comprovadamente,
correlação entre edificações sustentáveis e aumento de custo.
Provavelmente, o principal obstáculo prático para consideração de benefícios durante a
197
etapa de uso e operação são os chamados incentivos divididos, já que o agente que faz o
investimento (investidor/incorporador/construtor) não necessariamente é o agente que se
beneficia (locador/proprietário final). Uma mudança profunda de paradigma dos critérios
que dirigem viabilidade de empreendimentos se faz necessária.
A visão estendida dos custos em um empreendimento da construção civil também significa
oportunidade de crescimento de toda a cadeia produtiva, com todos os elos procurando
maneiras, seja por meio de projetos, materiais, tecnologias ou sistemas de atingir a
sustentabilidade.
No Brasil ainda não se entende realmente os conceitos de custos ao longo do ciclo de vida
das edificações. Conseqüentemente, não se consegue vislumbrar de que maneira tais
conhecimentos seriam economicamente úteis. É claro que seus benefícios são mais
explícitos para os investidores usuários e para os investidores patrimonialistas, que sentem
diretamente as economias decorrentes de um melhor projeto. Para os demais investidores,
custos de operação e manutenção ainda pertencem a quem compra ou loca as unidades do
empreendimento.
Enxergar a possibilidade de aumentar os lucros por meio de um empreendimento mais
sustentável significa ir além dos ganhos intangíveis, como a formação de uma boa imagem
da marca da incorporadora ou construtora no mercado, a atração de multinacionais para
estes empreendimentos e os ganhos em mídia gratuita, mas sim trabalhar com números
reais, abandonando a cômoda rotina e ousando com novos conceitos como:
• Inserção do conceito da análise de custos ao longo do ciclo de vida como parte do
processo de decisão e até mesmo como critério de decisão, permitindo que os
ganhos sejam efetivamente convertidos em lucro, pelo incremento no valor de
locação ou venda das unidades, por meio da comprovação e garantia de um valor de
condomínio menor ao longo da vida útil do empreendimento;
• União de departamentos de compras e manutenção dentro de uma mesma
organização, para que os custos iniciais de um empreendimento sejam vistos como
198
investimentos de longo prazo e não apenas despesas. Neste conceito, a medida do
sucesso de uma aquisição deve ser a economia gerada pelo melhor desempenho do
projeto, equipamentos e sistemas propostos;
• Remuneração dos projetistas por desempenho (contratos de incentivo), onde seria
garantida a economia de recursos na fase de projetos e, além do valor de projetos
corriqueiramente pago, seria atrelado um valor mensal a receber por um prazo pré-
estabelecido em função das economias projetadas, o que permitiria não só incentivo
a projetistas, mas a possibilidade de prover retorno a investidores, incorporadores e
construtores para recuperação (ou superação) do investimento inicial;
• Remuneração da equipe de gestão de facilidades por desempenho (contratos de
incentivo) para garantir ou superar o desempenho de projeto ao longo de toda a vida
útil da edificação, de forma semelhante à descrita acima;
• Inovação na estrutura de locação, de modo a alinhar objetivos e transferir ou
compartilhar riscos e benefícios entre locatários e locadores, de modo que o aluguel
seja percebido como investimento e não somente como despesa.
8.5. Novos caminhos a serem conquistados
É certo que não só o LEED, mas todas as metodologias de avaliação de edifícios hoje
existentes são o primeiro passo de um longo caminho, onde se faz necessária uma mudança
cultural, principalmente na maneira de se estruturar e analisar a viabilidade de um
empreendimento. Vislumbra-se valor agregado ao produto e oportunidade de maximização
do lucro quando pensado em todo o ciclo de vida do projeto, computando custos e
benefícios referentes à operação e manutenção. Sendo assim, as áreas e segmentos de
trabalho são vastos, uma vez que o movimento sustentável na construção civil no Brasil
está em seu estágio inicial. Neste contexto, percebem-se as seguintes lacunas e
oportunidades de pesquisa em continuidade ou complementação a este trabalho:
• Promoção e utilização de metodologia para avaliação/certificação de edificações
199
mais aderente à realidade brasileira;
• Estudo detalhado dos investimentos iniciais adicionais e retornos dos vários
sistemas prediais e soluções de projeto visando a elevação de
desempenho/certificação de um edifício e desenvolvimento de modelos de análise
que considerem benefícios e custos ao longo do ciclo de vida do empreendimento,
para utilização como suporte ao processo decisório de um empreendimento;
• Levantamento e estruturação de banco de dados de custos e desempenho ambiental
de edificações brasileiras para uma maior confiabilidade dos números constantes
num modelo preparado para um processo de decisão;
• Desenvolvimento de modelo conceitual para consideração adequada de análises de
custos no processo de produção e entrega de edifícios com metas mais altas de
sustentabilidade, preferencialmente com verificação de efetividade em estudos de
casos reais e
• Desenvolvimento de metodologia e ferramentas para facilitar a inserção em
processos de projeto integrado, idealmente através de BIM (building information
modelling).
200
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Anexos
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Anexo A – Questionário Incorporadores