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REGINA LEITE DE FARIAS ILHÉUS, BAHIA 2007 Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PARQUE MUNICIPAL DA BOA ESPERANÇA, EM ILHÉUS, BAHIA, PELA COMUNIDADE DO SEU ENTORNO

Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança, em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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REGINA LEITE DE FARIAS

ILHÉUS, BAHIA

2007

Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PARQUE

MUNICIPAL DA BOA ESPERANÇA, EM ILHÉUS, BAHIA,

PELA COMUNIDADE DO SEU ENTORNO

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REGINA LEITE DE FARIAS

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PARQUE MUNICIPAL

DA BOA ESPERANÇA, EM ILHÉUS, BAHIA, PELA

COMUNIDADE DO SEU ENTORNO

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Sub-programa Universidade Estadual de Santa Cruz, como parte para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Orientador: Professor Doutor Max de Menezes

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REGINA LEITE DE FARIAS

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PARQUE MUNICIPAL DA BOA

ESPERANÇA, EM ILHÉUS, BAHIA, PELA COMUNIDADE DO SEU ENTORNO

Ilhéus, Bahia, 09 de agosto de 2007

________________________________________ Max de Menezes – DS UESC – (Orientador) ________________________________________ Eliana Nogueira – DS FAPESB ________________________________________

Neylor Calasans do Rego (Ph. D.) UESC - PRODEMA

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“A memória olha para o passado. A nova consciência

olha para o futuro. O espaço é um dado fundamental

nesta descoberta.”

Milton Santos

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DEDICATÓRIA

Dedico a todos que acreditam e se sentem capazes de mudar o mundo

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Ao vovô Fábio e vovó Regina (em

memória), o meu carinho e eterno

agradecimento.

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À amiga, Maria Helena Gramacho, pelo

seu desprendimento.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, sempre presente, e que nos momentos mais difíceis me amparou

sem restrições.

Ao meu orientador e amigo, Dr. Max de Menezes, pela sua dedicação,

ensinamentos e paciência.

A comunidade alvo dessa pesquisa, aos usuários do Parque Municipal da Boa

Esperança e aos Presidentes de Associações de Moradores, pelo seu inestimável

auxílio, sem o qual, essa pesquisa seria inviabilizada.

Aos professores, amigos e colaboradores nessa pesquisa, Ms. Maria Helena

Gramacho e Dra. Eliana Nogueira, Dr. Natanael Reis Bonfim, Dr. Salvador Trevisan,

Dr. Adolfo Lamar, Dr. Jaenes Miranda Alves e ao Economista Lindolfo Pereira dos

Santos Filho.

Aos professores e funcionários da UESC, aqui representados pelo amigo e

Coordenador do Mestrado, Dr. Neylor Calasans do Rego.

Ao Dr. Raúl René Valle, Dr. João Louis Pereira, Dr. Paulo e Simone Alvim, Suzana

Patury, Odete do Carmo, Nadine Genot, Maria Inês Carvalho, Neyde Alice Marques,

amigos irmãos, que, ao me darem as mãos, me estimularam no caminho da

perseverança e do crescimento.

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Ao Dr. Jabes Sousa Ribeiro, pela oportunidade de conhecer e trabalhar no Parque

Municipal da Boa Esperança.

A Marilene Oliveira Lapa, Mônica Suely do Vale Melo, Demósthenes Lordelo de

Carvalho, Carlos da Silva Mascarenhas, Roberto Rabat e José Correa Lavigne de

Lemos.

Ao meu Sol, que me faz brilhar, como Lua.

Aos meus vizinhos.

Aos meus amigos virtuais.

Ao Plano Espiritual, sempre presente, iluminando meus sentidos e me inspirando

bons pensamentos e calma.

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LISTA DE FIGURAS

1. Mapa geopolítico americano datado do início do século XIX 8

2. Representação Gráfica dos três pilares para o Desenvolvimento

Sustentável 24

3. Vista a jusante da barragem da Esperança, no ano de 1999 36

4. Imagem aerofotogramétrica de Ilhéus, mostrando a Av. Roberto Santos,

Rua Esperanto, parte do Parque da Esperança e o rio Fundão,

locais de estudo 41

5. Reprodução parcial do mapa de João Teixeira Albernaz (1631). Retrata

os quatro engenhos mais antigos da Capitania de São Jorge 54

6. Visita a construção da antiga ponte sobre o rio Fundão, no ano de 1926 56

7. Inauguração da antiga ponte sobre o rio Fundão, no ano de 1926 57

8. Imagem aerofotogramétrica da Cidade de Ilhéus, mostrando a Av. Roberto

Santos, Rua Esperanto, parte do Parque Municipal da Boa Esperança

e o rio Fundão 59

9. Localização da antiga Represa da Rua do Carneiro, ano de 2006 64

10. Vista do tratamento e da Represa da Esperança, ano de 1942 66

11. Vista da lamina d’água da Represa da Esperança, ano de 1942 69

12. Melhoramento do Acesso Principal a Barragem, ano de 1999 74

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LISTA DE TABELAS

1. População do Município de Ilhéus nos anos de 1920,1930 e 1935 65

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LISTA DE QUADROS

1. Sumário estatístico de área protegida para cada região no mundo 20

2. Quadro Estrutural da Pesquisa 49

3. Relação de RPPNs inseridas na região cacaueira 70

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LISTA DE GRÁFICOS

1. Qualidade de vida no bairro 84

2. Tempo de moradia no bairro – moradores 86

3. Tempo de moradia no bairro – usuários 86

4. Estado civil dos moradores 86

5. Estado civil dos usuários 86

6. Renda média familiar per capita, referente aos moradores 87

7. Renda familiar da população 88

8. Renda familiar dos usuários 88

9. Grau de instrução da população 88

10. Grau de instrução dos usuários 89

11. Idade da população 89

12. Idade dos usuários 89

13. Gênero dos usuários do Parque 91

14. Gênero dos moradores 91

15. Tipo de construção das residências 92

16. Tipo de cobertura das residências 92

17. Tipo de piso das residências 92

18. Número de janelas nas residências 92

19. Número de quartos 93

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20. Número de pessoas nos domicílios 93

21. Naturalidade dos moradores 94

22. Procedência dos usuários 95

23. Tempo de freqüentação de moradores 96

24. Freqüentação de familiares de moradores 96

25. Tempo de freqüentação de usuários ao Parque da Esperança 98

26. Freqüentação de familiares de usuários ao Parque da Esperança 98

27. Captação e tratamento de esgoto sanitário 100

28. Conhecimento sobre Unidade de Conservação – moradores 102

29. Conhecimento sobre Unidade de Conservação – usuários 102

30. Freqüência de moradores ao Parque da Esperança 103

31. Freqüência de familiares ao Parque da Esperança 103

32. Atitudes dos moradores, no interior da UC 105

33. Atitudes dos usuários, no interior da UC 105

34. Atitudes de terceiros no interior da UC, percebidas pelos moradores 106

35. Atitudes de terceiros no interior da UC, percebidas pelos usuários 106

36. Relações de Afeto com o Parque da Esperança sentida por moradores 110

37. Relações de Afeto com o Parque da Esperança sentida por usuários 110

38. Sentimento de fora para dentro para com a mata dos moradores 112

39. Sentimento de fora para dentro para com a mata dos usuários 112

40. Sentimento no interior da mata referente aos moradores 113

41. Sentimento no interior da mata referente aos usuários 114

42. Sentimento de topofilia com o Parque – moradores 115

43. Sentimento de topofilia com o Parque – usuários 116

44. Valores Ambientais atribuídos ao Parque da Esperança – moradores 117

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45. Valores Ambientais atribuídos ao Parque da Esperança – usuários 117

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

APA Área de Proteção Ambiental

CEDURB Companhia Estadual de Desenvolvimento Urbano (Estado da Bahia)

CEPEC Centro de Pesquisas do Cacau

CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira

COMAE Companhia Metropolitana de Água e Esgoto (Estado da Bahia)

CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

COELBA Companhia de Eletricidade da Bahia (Estado da Bahia)

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CRA Centro de Recursos Ambientais (Estado da Bahia)

COSEB Companhia de Saneamento do Estado da Bahia

DAP Disposição a Pagar

ECOMAN Decision Support System for Sustainable Ecosystem Management in

Atlantic Rain Forest Rural Areas

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EMBASA Empresa Baiana de Saneamento (Estado da Bahia)

FSESP Fundação Serviço Especial de Saúde Pública

FUNPAB Fundação Pau Brasil

FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBDF Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IESB Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia

IUCN União Internacional para a Proteção da Natureza e dos seus Recursos

LOMI Lei Orgânica do Município de Ilhéus

MMA Ministério do Meio Ambiente

MINAE Ministério do Ambiente e Energia (da Costa Rica)

MS Ministério da Saúde

NEA Núcleo de Educação Ambiental (do IESB)

OMS Organização Mundial de Saúde

ONG Organização Não Governamental

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PDU Plano Diretor Participativo para o Município de Ilhéus

PLAMI Plano de Desenvolvimento Integrado do Município de Ilhéus

PMI Prefeitura Municipal de Ilhéus

PPG7 Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

PUB Plano Urbanístico Básico para o Município de Ilhéus

REBIO-Una Reserva Biológica de Una

RPPNs Reservas Particulares do Patrimônio Nacional

SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgotos

SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente

SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanismo

SESEB Superintendência de Engenharia Sanitária do Estado da Bahia

SESP Serviço Especial de Saúde Pública

SINAC Sistema Nacional de Áreas de Conservação (da Costa Rica)

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

SUDEPE Superintendência de Desenvolvimento da Pesca

SUDHEVEA Superintendência da Borracha

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TRS Teoria das Representações Sociais

UC Unidade de Conservação

UESC Universidade Estadual de Santa Cruz

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

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RESUMO

A Unidade de Conservação de Proteção Integral “Parque Municipal da Boa

Esperança”, situada no perímetro urbano de Ilhéus, Bahia, Brasil, possui área de

437 ha. Desde o ano de 1927, essa área foi protegida por abrigar uma represa com

equipamentos para tratamento e adução de água potável para abastecimento de

Ilhéus. Atualmente, segundo dados científicos, esse Parque se constitui em uma

área protegida urbana por conter um fragmento de Mata Atlântica. Entretanto, pela

sua própria localização, o Parque abriga no seu entorno, diversos bairros

característicos de classes sociais de baixa renda, nos quais os vários problemas

sócio-ambientais se manifestam. Essa situação torna o Parque vulnerável a

intervenções que se contrapõem às iniciativas inadiáveis de conservação. Em vista

disso, o problema que se busca questionar é: Qual a percepção dessas

comunidades com referência ao seu espaço habitado? O sentimento de pertença

proporciona que tipo de atitude com o Parque da Esperança? À partir dessas

questões, temos como objetivo investigar as representações sociais que pautam as

relações entre o Parque Municipal da Boa Esperança e a comunidade que habita o

seu entorno. Para atingirmos nosso objetivo, foram utilizados os métodos científicos

da observação, aplicamos formulário, realizamos entrevistas e analisamos diversos

documentos. Os resultados dessa pesquisa apontaram para uma relação afetiva

muito forte entre a população, usuários e a UC e, dentre os valores ambientais,

podemos ressaltar o seu Valor de Existência. Esses resultados poderão subsidiar

projetos futuros de planejamento e gestão sócio-ambientais para a referida UC e

para a população.

Palavras-chave: Unidade de Conservação, Representações Sociais,

Desenvolvimento.

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ABSTRACT

The Integrated Unit of Protective Conservation “Municipal Park of Boa Esperança”,

located in the urban perimeter of Ilhéus, Bahia, Brazil, comprises of an area of 437

hectares. Since 1927 this area was protected, as within it is situated a dam, that

served as a reservoir, equipped to treat water supplied to the city of Ilhéus.

Presently, supported by scientific data, this Park is part of a urban protected area as

it embodies a fragment of the Atlantic Forest. However, due to its very location, the

Park is surrounded by districts characteristic of social classes of low income, in which

various socio-environmental problems are manifested. This situation causes the

Park to be extremely vulnerable to influences that oppose impertinent initiatives

towards conservation. In view of this, the problem begs the question: what is the

perception of these communities with reference to their space of occupation? Their

feeling of belonging would propose their kind of attitude with respect to the Park of

Boa Esperança? These questions leading to the objective of a need to investigate

the social representations that relate to the relationship between the Municipal Park

Boa Esperança and the community that lives in the surroundings. To reach this

objective, scientific methods of observation were used, applying a questionnaire,

undertaking interviews and analysis of diverse documents. The results of this

research pointed to a very strong effective relation between the population, users of

the Conservative Unit and, within environmental values, emphasized their Value of

Existence. These results can support future projects in planning and social-

environmental management for the referred Conservative Unit and for the population.

Key Words: Unit of Conservation, Social Representations, Development.

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS x

LISTA DE TABELAS xi

LISTA DE QUADROS xii

LISTA DE GRÁFICOS xiii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xvi

RESUMO xx

ABSTRACT xxi

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I

1. Revisão Bibliográfica 6

1.1 Áreas Protegidas 7

1.2 A Teoria das Representações Sociais 27

CAPÍTULO II

2. Metodologia 37

2.1 Caracterização 37

2.2 Procedimentos Metodológicos 41

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2.3 Definição da Amostra 43

2.4 Plano amostral para categoria moradores 44

2.5 Pré-Teste do Instrumento de Coleta de Dados 46

2.6 Análise Estatística 46

2.7 Instrumento Definitivo de Coleta de Dados 46

2.8 Aplicação do Instrumento de Coleta de Dados 47

CAPÍTULO III

3. A Organização Espacial e Temporal da Área de Estudo 50

3.1 O Desenvolvimento Urbano 51

3.2 O serviço de abastecimento de água de Ilhéus 63

3.3 A criação da UC Parque Municipal da Boa Esperança 70

CAPÍTULO IV

4. A relação entre moradores, os usuários e o Parque da Esperança 78

4.1 O processo de transformação do lugar, o Bairro, e o Parque

da Esperança 79

4.2 Atitudes, sentimentos, topofilia e valores ambientais 104

4.3 O Rio Fundão 118

4.4 Identidade Cultural 120

5. Considerações Finais 123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICE

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Introdução

Este trabalho, como toda obra, tem uma gênese e, à semelhança também de

toda gênese, nasceu de instigações e preocupações que, ao longo do seu

desenvolvimento, vontade, objetivos e expectativas deram-lhe forma e resultados. A

par disso, sua história remonta ao trabalho de gerenciamento realizado por essa

autora a partir do ano de 1997 até 2004, na Unidade de Conservação (UC) Parque

Municipal da Boa Esperança, situado em Ilhéus, Bahia, Brasil.

Atendendo solicitação do Dr. Max de Menezes, a Prefeitura Municipal de

Ilhéus disponibilizou meus serviços técnicos para a Fundação Pau Brasil – FUNPAB,

a qual tinha, por força de convênio firmado desde 1996, a administração do Parque

da Esperança, tendo como principais objetivos a administração e o desenvolvimento

de projetos voltados para a proteção desse fragmento florestal. Inicialmente, com as

nossas preocupações voltadas para a preservação dos recursos naturais no Parque

tomamos medidas emergenciais como construção de cerca, melhoramento de trilhas

e elaboração de projetos para atendimento às suas necessidades prementes.

Paulatinamente nosso trabalho foi ganhando notoriedade nas comunidades

que habitam o entorno do Parque da Esperança e novos desafios foram se abrindo.

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O enfrentamento dos conflitos verificados e provocados pelo comportamento dos

seus usuários e da comunidade que habita o seu entorno, tanto no bairro, quanto no

interior do Parque, tornou-se inevitável e, por essa razão, outras preocupações

foram sendo agregadas. Dentre esses conflitos podemos citar, no interior do

Parque, as práticas de caça, pesca, retirada de madeira (principalmente para lenha),

uso e comercialização de drogas, utilização da área para esconderijo para ladrões,

dentre outros e, nos bairros do entorno do Parque, a observação da paisagem já nos

possibilitou entrever indícios referentes à má qualidade de vida dessa população.

A legislação brasileira, nos últimos anos, definiu como áreas protegidas

aquelas destinadas a proteger a diversidade biológica e os recursos naturais e

culturais a ela associados, tanto da terra quanto do mar. Seguindo o modelo

americano de estabelecimento de áreas protegidas, o poder público instituiu essa

legislação própria visando dar proteção e definir o manejo adequado para cada área

específica. Dessa forma são criadas as UCs, as Reservas Legais, as áreas

destinadas como Reservas da Biosfera, bem como estabelecidas as áreas de

preservação permanente.

Dentre essas, as UCs ganham destaque, por permitirem a preservação (UCs

de Proteção Integral) e a conservação (UCs de Uso Sustentável) de áreas,

aumentando assim a eficácia no aspecto de concentração de esforços para

manutenção da integridade dos fragmentos, ou seja, seu manejo e fiscalização. Na

categoria das UCs de Proteção Integral está prevista a criação dos Parques

Nacionais, Estaduais e Municipais, instituídos a partir da sanção da Lei nº

9.985/2000 que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza (SNUC), permitindo assim a criação do Parque da Esperança como

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3

Unidade de Conservação incluída na categoria de Proteção Integral, embora

encravada na zona urbana de Ilhéus.

Esses pressupostos nos motivaram a fazer uma pesquisa enfocando esse

Parque Municipal, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral com área total

de 437 ha, onde está contido um fragmento de Mata Atlântica, tornando-o um

importante patrimônio genético. O fato da barragem existente naquele local ter sido

o principal manancial de abastecimento de água da Cidade de Ilhéus ao longo de 45

anos e, por ainda manter a boa qualidade dessa água, dá-lhe um status de

importância histórica e de preservação de manancial hídrico, tão valioso nos tempos

atuais. Porém, esse Parque está incrustado em uma área urbana que apresenta

sérios problemas de uso e ocupação do solo.

Dessa forma, o problema de pesquisa que se apresenta, é o da relação entre

as relações sociais de uma comunidade urbana exercidas sobre uma UC de

Proteção Integral. Inicialmente, observações não sistematizadas nos levaram a

fazer os seguintes questionamentos: Qual a percepção dessas comunidades com

referência ao seu espaço habitado? O sentimento de pertencimento proporciona

que tipo de atitude com o Parque da Esperança?

Assim, esse trabalho tem como objetivo geral compreender como as

representações sociais da UC Parque Municipal da Boa Esperança, construídas

pelos atores sociais que compõem as comunidades do seu entorno, podem

contribuir para o planejamento e gestão ambiental da UC, bem como dessa zona

perimetral urbana da Cidade.

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4

Essa investigação poderá abrir um novo caminho para uma próxima pesquisa

sobre as possibilidades de dar sustentabilidade econômica e social a essa

população, abrindo perspectivas de subsidiar projetos de planejamento e gestão

sócio-ambientais no entorno do Parque Municipal da Boa Esperança. Por outro

lado, há esperanças de que possamos então servir como modelo para outras

realidades semelhantes.

Para atingir a esse objetivo maior, dividimos a pesquisa em etapas que

correspondem respectivamente aos seguintes objetivos específicos:

1. Identificar as representações sociais dos sujeitos sobre o Parque

Municipal da Boa Esperança;

2. Interpretar as representações sociais dos sujeitos sobre o Parque

Municipal da Boa Esperança;

3. Observar e caracterizar a área em estudo no tocante à paisagem

geográfica: aspectos do bairro, das residências, das casas comerciais,

limpeza pública, condições sanitárias, condições do rio Fundão, o lazer da

comunidade, pessoas em seu locais de trabalho e as pessoas em locais

de cultos religiosos, dentre outros.

Revisando a literatura, verificamos que são poucos os estudos na área das

ciências ambientais que tratam da relação entre comunidades que habitam o

entorno das UCs e preservação de recursos naturais, dentro de uma abordagem

sócio-ambiental. Isso significa dizer, a partir das práticas sociais e das experiências

dos atores sociais no seu ambiente de vida, utilizar-se das suas representações

sociais aí construídas como forma de subsidiar projetos para o planejamento e

gestão ambiental.

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5

Dessa forma, estuda-se uma comunidade em seu modus vivendi, ou seja, em

um contexto onde, segundo o Inventário Florístico realizado no interior da UC

Esperança por botânicos do Centro de Pesquisa do Cacau (CEPEC), Universidade

Estadual de Santa Cruz (UESC) e do New York Botanical Garden, está inserido um

fragmento remanescente de Mata Atlântica, situado no perímetro urbano, a oeste da

Cidade de Ilhéus, Bahia.

Para sistematização desse estudo, no primeiro capítulo buscamos

caracterizar os procedimentos metodológicos fundamentais para o alcance dos

objetivos da pesquisa. No segundo capítulo, investigamos os processos históricos

referentes ao uso e ocupação do solo urbano e finalidades referentes ao Parque da

Boa Esperança.

Na terceira parte, realizamos o levantamento de campo e a coleta de dados

junto aos sujeitos, ou seja, investigamos os moradores da Rua Esperanto Perolato

(antiga Rua do Cano) e da Avenida Governador Roberto Santos (antiga Avenida

Esperança), situadas no entorno, vizinhanças e imediações do Parque Municipal da

Boa Esperança, bem como os usuários da UC e os Presidentes das Associações de

Moradores que atuam nessa área. Na quarta parte, descrevemos os resultados das

análises, interpretamos os depoimentos e a relação entre as representações sociais

construídas pelos atores sociais.

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Capítulo I

Revisão Bibliográfica

No século XIV, após a celebração entre si do Tratado de Tordesilhas,

Espanha e Portugal iniciaram seus preparativos para as grandes navegações,

objetivando a conquista de novas terras e de um novo mercado que saciasse a fome

de sua população. Viu-se então a derrubada do feudalismo e o surgimento de uma

nova classe social, a burguesia mercantil que financiou as grandes viagens,

resultando, na descoberta das Américas. A Europa experimentava a transição da

Idade Média para a Idade Moderna (GUSMÃO JR., 2006).

Se, de um lado, a descoberta de um novo continente fez com que emergisse

na Europa uma nova cultura, de outro, nas novas colônias, deu-se o início ao

processo de destruição dos recursos naturais e das diversas culturas encontradas.

Porém, aliado a esses fatos, novos horizontes foram abertos para cientistas e

exploradores, que adentraram a essas terras com o intuito de perpetuar os

conhecimentos científicos ali contidos, dando lugar ao surgimento de uma nova

visão acerca da natureza e das diversas culturas humanas (BRITO, 2000). Assim,

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7

nesse capítulo, trataremos das teorias que envolvem as áreas protegidas e as

representações sociais.

2.1 As Áreas Protegidas

2.1.1 Surgimento das Áreas Protegidas nas Américas do Norte e do Sul

A chegada dos espanhóis ao mar do Caribe foi o marco oficial da colonização

do Novo Mundo, as Américas. Em 1565 os espanhóis fundam o primeiro povoado

na Flórida e, apenas em 1607, os ingleses fundam sua primeira colônia na Virgínia,

Estados Unidos. Na América do Norte viviam aproximadamente 240 grupos tribais

diferentes. A paisagem, a partir dessas civilizações torna-se sua marca e sua

matriz, visto que à medida que a ciência e a tecnologia se inserem na cultura, o meio

ambiente também as absorve, formando os tons na natureza, tanto do teor de

destruição quanto do de conservação dos recursos naturais (RUNTE, 2004).

Colonizados pela Inglaterra, pagando altos impostos e sem perspectivas de

representatividade no parlamento britânico, as colônias americanas iniciaram, em

1776, a sua primeira Revolução. Por outro lado, nesse mesmo ano, uma comissão

liderada por Thomas Jefferson, redige a Declaração de Independência que defende

a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano. Esses

foram os marcos que romperam com o sistema colonial inglês. Os americanos

ganharam a guerra e surgiram os Estados, unidos em uma Confederação

(SCHILLING, 2006).

Assim foi o início de uma nova era política, onde os desentendimentos entre

os Estados não poderiam deixar de existir, até porque estavam estabelecidos de

uma forma geográfica e política, independentes entre si. Para solucionar esses

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8

problemas, foi elaborada a Constituição Federal (1789) criando os Estados Unidos

da América (op.cit., 2006).

Na verdade, os colonos americanos conseguiram a sua libertação através do

esforço e do trabalho. Nesse clima de desbravamento, trabalho e enriquecimento,

Napoleão Bonaparte vende as terras da Louisiana (1803) aos americanos,

permitindo que houvesse um avanço em direção ao oeste através do rio Missouri

(Figura 1). A conquista dessas novas terras trouxe mais notícias sobre

enriquecimento, doação de grandes extensões de terras pelo governo, exploração

de minas de ouro, construção de ferrovias, dentre outras. Com essas notícias, os

imigrantes europeus vieram para a América (SCHILLING, 2006).

Figura 1: Mapa geopolítico americano datado do início do século XIX.

Fonte: Wikipedia (2006)

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9

A América fervilhava com a expansão territorial quando, em 1832, o artista

George Catlin dedicou-se a pintar e a escrever sobre os índios e seus costumes,

criando, para posteridade, um acervo artístico e garantindo o conhecimento

antropológico referente aos ameríndios. Em sua marcha, Catlin descobre as

belezas das paisagens selvagens e propõe ao Congresso Americano a criação dos

Parques Nacionais, nascendo assim a idéia de preservação, proteção e

administração pública de áreas a serem protegidas (RUNTE, 2004).

Nesse clima de deslumbramento e sensibilidade, motivados pela proteção da

paisagem espetacular, no século XIX, Catlin propõe ao Congresso Americano a

criação do Primeiro Parque Nacional do mundo, Yellowstone, no Wyoming (1872).

No mesmo ano foi criado o Yosemite, na Califórnia. Como ambos foram

estabelecidos em terras indígenas, inevitavelmente vieram os confrontos, seguidos

da expulsão dos índios sobreviventes de suas terras. Esse é o modelo de

estabelecimento de áreas protegidas que os americanos do norte exportaram para o

mundo. Em seguida, é defendida a aquisição pública da região montanhosa de

Adirondacks, e em 1885 o Canadá cria o seu primeiro Parque Nacional, em Alberta

(op. cit, 2004).

Se na América a idéia é de preservação dos recursos naturais ainda

intocados e garantidos por Lei, na Europa, preocupados com o avanço do

desenvolvimento estabelecido pela Primeira Revolução Industrial (1760 a 1850), os

ingleses criaram o National Trust (1895), Grã-Bretanha, porém com objetivos

diferentes dos americanos. Pensavam os ingleses em adquirir terrenos urbanos

com significado cultural e histórico, objetivando a preservação do seu valor. Daí a

criação de pequenos parques locais no interior de algumas cidades (op. cit, 2004).

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10

Por força do Tratado de Tordesilhas, o leste da América do Sul foi colonizado

pelos portugueses e o oeste pelos espanhóis que se igualaram na forma rude de se

estabelecerem em terras por eles conquistadas. No Brasil, um paraíso com

abundância de riquezas naturais e culturais, os portugueses encontraram as tribos

indígenas nativas. Deu-se início a exploração da colônia (SILVA CAMPOS, 1981).

Baseado na grande propriedade rural, a colonização portuguesa voltou-se

para exportação investindo em três produtos: o pau-brasil, o açúcar e a mineração.

Como era um país muito grande e havia necessidade de agradar a muitos na corte

portuguesa, o Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias. Ali, os colonos

fundaram as vilas, construíram os engenhos e eram os responsáveis pela aplicação

das leis que eles mesmos faziam (SILVA CAMPOS, 1981). Os portugueses

iniciaram de imediato a exploração extrativista da madeira de lei, sendo a mais

cobiçada o pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam.). Esse ciclo foi seguido pelo

plantio da cana-de-açúcar e pela exploração dos recursos minerais (NOGUEIRA,

2000, p. 18, 19).

Em 1605, o rei de Portugal Filipe I sanciona a primeira lei conservacionista

brasileira, o Regimento do Pau-Brasil, que proibia, entre outros, o corte do pau-brasil

em todo país sem o devido licenciamento. Esse foi o cenário que a família real e

corte portuguesa encontraram ao chegar ao Brasil no ano de 1808.

A colônia brasileira recebeu muitos benefícios com a transferência de reinado.

Além de D.João VI ter decretado a abertura dos portos brasileiros às nações amigas,

criou o Banco do Brasil, Casa da Moeda, estabeleceu uma fábrica de pólvora,

organizou fundições de ferro, reurbanizou a cidade, fundou o ensino superior,

biblioteca, teatro lírico e o museu nacional. Criou o Jardim de Aclimação, que

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11

passou a chamar-se Real Horto, objetivando a aclimatação das especiarias vindas

das Índias Orientais. Atualmente é conhecido por Instituto de Pesquisas Jardim

Botânico do Rio de Janeiro, tornando-se um dos principais laboratórios para

experiências em botânica no país (NOGUEIRA, 2000, p. 27-35).

O século XVIII, marco das transformações tecnológicas, também conduziu a

sociedade a se organizar, norteada pelo princípio da busca da felicidade cabendo ao

governo a garantia dos direitos naturais: liberdade individual, direito de posse,

tolerância, igualdade perante a lei, dentre outras. É o período que marca o fim da

transição entre o feudalismo e o capitalismo e a doutrina do liberalismo político

substitui a noção de poder divino pela concepção do Estado. Essas transformações

políticas, econômicas e sociais, culminaram com o desenvolvimento das ciências no

século XIX, favorecendo o surgimento de vários jardins botânicos no Brasil

(NOGUEIRA, 2000, p. 34).

Motivado pelo movimento científico internacional e entusiasmado com a

criação do Parque de Yellowstone, André Rebouças (1876), propôs o

“estabelecimento de parques nacionais no Brasil (PÁDUA, 2004). Porém, só em

1912, Luis Felipe Gonzaga de Campos preparou o primeiro mapa sobre os

ecossistemas brasileiros, resultando “na criação da Reserva Florestal do Território

do Acre” (RYLANDS e BRANDON, 2005).

Muitas plantas foram coletadas, identificadas e estudadas com o objetivo de

trazer novos recursos para a ciência. No Brasil, mesmo com a partida de D. João VI

para Portugal, D. Pedro II manteve uma relação com especialistas botânicos

estrangeiros e, com a participação de iminentes estudiosos brasileiros, da Áustria e

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12

da Baviera, foi concluído um tratado botânico referente às plantas brasileiras: a

Flora Brasiliensis (NOGUEIRA, 2000, p. 53).

Com a descoberta desse laboratório natural para os estudos da botânica no

Brasil, as autoridades passaram a preocupar-se com os resultados dessas

pesquisas, uma vez que os herbários estrangeiros continham informações sobre

essa megadiversidade e os resultados não eram divididos com os pesquisadores

brasileiros (NOGUEIRA, 2000). Somente a partir do Governo Provisório de Getúlio

Vargas (1930/1934) é que a coleta de material botânico por pesquisadores

estrangeiros passou a ser regulamentada, tendo sido instituída pelo Decreto nº

22.698/1933.

A partir da década de 1930 houve uma reformulação das leis trabalhistas

brasileiras e, a indústria brasileira tomou um grande impulso com a criação da

Companhia Siderúrgica Nacional (1940), da Empresa Vale do Rio Doce (1942), da

Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945) e do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (1938), foi instaurada uma nova mentalidade em relação ao meio

ambiente, visto que a industrialização também se fez nos moldes da européia, ou

seja, não preservacionista e predatória. Outros importantes instrumentos jurídicos

foram decretados naquela época, a saber, o Código Florestal brasileiro (Decreto nº

23.793/1934) – propiciando a implantação do Parque Nacional do Itatiaia, o primeiro

do Brasil –, e o Código de Águas (Decreto n° 24.643/1934).

O Código Florestal brasileiro de 1934 fez as primeiras conceituações sobre

Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, Florestas Nacionais, Florestas

Protetoras e, estabelece as Áreas de Preservação em propriedades privadas. Em

consonância com a Constituição Brasileira de 1934, estabelecem essas áreas como

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13

monumentos públicos naturais com a finalidade de manter a sua composição

florística primitiva (Decreto nº 23.793/1934).

As terras que abrigam o Parque Nacional do Itatiaia desde 1914 haviam sido

incorporadas ao patrimônio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, local da coleta e

de estudo técnico-científico dos materiais botânicos. Os estudos realizados no

território nacional e em particular, nos jardins botânicos, deram a essas áreas uma

importância histórica para a ciência, favorecendo a decretação dos Parques

Nacionais da Serra dos Órgãos, das Sete Quedas e do Iguaçu (1939), do Araguaia,

Ubajara e Aparados da Serra (1959); criadas as florestas nacionais, Araripe-Apodi

(1946) e Caxiuanã (1961). Com a revisão do Código Florestal no ano de 1965 (Lei

4.771/1965), foram incluídas ao sistema novas categorias de conservação dos

recursos naturais.

Desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494), durante os 322 anos

como colônia de Portugal, os recursos naturais brasileiros estiveram disponíveis

para decorar as igrejas, museus e casas européias, entre outros. Mesmo com a

implementação de Tratados e Leis que visavam a proteção ao patrimônio natural,

por sua grande dimensão territorial, foi quase impossível manter uma legislação e

vigilância eficazes. E é sobre as Políticas Públicas ambientais que agora

explanaremos.

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14

2.1.2 Desenvolvimento e Políticas Públicas Ambientais voltadas para as áreas

protegidas1 no Brasil

O Brasil seguiu o modelo americano de criação de áreas protegidas. A

criação do Parque de Yellowstone, além de ter sido um importante movimento

preservacionista, com a participação de naturalistas, a exemplo de John Muir, foi o

principal marco para o estabelecimento de áreas protegidas em todo mundo. O fato

da criação do Parque ter sido decretado pelo Congresso Americano levou o assunto

para a orbe política (RUNTE, 2004).

Após o término da Segunda Grande Guerra Mundial (1939/1945), foi realizada

a Conferencia para a Proteção Internacional da Natureza, promovida por iniciativa

da Liga Suíça para Proteção da Natureza, na Basiléia, Suíça (1946), a União

Internacional para a Proteção da Natureza e dos seus Recursos – IUCN (1948), com

a missão de “[...] influenciar, encorajar e ajudar sociedades ao redor do mundo,

conservar a integridade e diversidade da natureza e assegurar que qualquer uso dos

recursos naturais é eqüitativo e ecologicamente sustentável” (WIKIPEDIA, 2006).

O Brasil também participa dessa importante união e colabora com o esforço

de manter 18,3% do seu território disponível para a preservação da

megadiversidade nele encontrada, através do estabelecimento de Unidades de

Conservação e legislação pertinentes. Atualmente a IUCN congrega 82 Estados,

111 agências governamentais, mais de 800 organizações não-governamentais,

aproximadamente 10.000 cientistas e peritos de 181 países (IUCN e UNEP, 2003).

1 Áreas Protegidas são áreas de terra e/ou mar especialmente dedicadas à proteção e manutenção da diversidade biológica, e de seus recursos naturais e culturais associados, manejadas por meio de instrumentos legais ou outros meios efetivos. (Ministério do Meio Ambiente, 2006)

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Dentre as muitas áreas protegidas decretadas em todo mundo, merece

ênfase aquelas situadas nas Américas do Sul e Central, por possuírem um papel de

destaque na conservação de seus recursos naturais através das políticas

relacionadas às áreas protegidas, resguardando parte dos territórios e guardando a

biodiversidade em suas florestas tropicais. Ainda assim, essas iniciativas são

tímidas diante das taxas de extinção de espécies apresentadas no mundo (IUCN e

UNEP, 2003).

No Brasil, desde a criação do Parque Nacional de Itatiaia em 1934, os

esforços de técnicos, ambientalistas, naturalistas e dos governos, têm sido enviados

para a criação e manutenção das áreas protegidas nacionais: esse reconhecimento

levou a elaboração e implementação das políticas públicas voltadas para a

manutenção dessas áreas, cabendo inicialmente, por força das políticas

estabelecidas por Getulio Vargas na década de 1930 (NOGUEIRA, 2000, p. 86).

Com a decretação do Código Florestal em 1965, o poder público além de se

responsabilizar pela criação dos Parques Nacionais, Estaduais, Municipais,

Reservas Biológicas, Florestas Nacionais, Estaduais, Municipais e Parques de Caça,

ampliou a categorização legal das Unidades de Conservação (UCs) no Brasil,

reforçado pela sanção da Lei de Proteção à Fauna (1967), criação do Instituto

Brasileiro do Desenvolvimento Florestal – IBDF (1967) e da Secretaria Especial do

Meio Ambiente – SEMA (1973)2.

O IBDF foi criado e vinculado ao Ministério da Agricultura com o objetivo de

formular a política florestal. Segundo Brito (2000, p. 58), foi a partir da criação desse

órgão que se estabeleceu uma “estratégia nacional global para selecionar e planejar

2 www.senado.gov.br, 2006

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16

as unidades de conservação [...], até então, justificavam-se pelas belezas cênicas

que possuíam”. Nessa época, a concepção das UCs3, parecem seguir os mesmos

conceitos estabelecidos pelos americanos, onde a relação sociedade-natureza não é

considerada. Os técnicos ofuscados pelo regime militar vigente no Brasil, talvez

ainda não tivessem a dimensão das sérias ameaças aos vários ecossistemas

nacionais, às comunidades tradicionais e ao inicio do surgimento de uma classe

social miserável.

Enquanto o IBDF estava vinculado ao Ministério da Agricultura, foi criada a

Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior, e

teve a missão de “conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos

naturais” (BRITO, 2000, p. 59, apud USP, 1991). Um grande contra-senso, vez que

o Ministério do Interior era o responsável pelas políticas relacionadas ao crescimento

econômico acelerado no interior do Brasil (op. cit. 2000, p. 59).

O ordenamento da Política Nacional de Meio Ambiente foi estabelecido pela

Lei nº 6.938/1981, que inseriu os mecanismos de formulação e aplicação da política

nacional em todas as esferas de poder público e privado criando o Sistema Nacional

do Meio Ambiente – SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA). Estava assim estabelecida uma rede nacional de comunicação, tendo o

ambiente como referência.

Durante as décadas de 1970 e 1980, foram criadas mais de 30 UCs em todo

território nacional, a partir dos esforços de Paulo Nogueira-Neto, Magnanini e Jorge

Pádua. Essa organização legal nacional teve seqüência, em seguida, através da

3 São espaços territoriais (incluindo seus recursos ambientais e as águas jurisdicionais) com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e com limites definidos, sob regime especial de administração, às quais se aplicam com garantias adequadas de proteção (Lei nº 9.985/2000, art. 2, I).

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17

decretação das Reservas Ecológicas, Áreas de Relevante Interesse Ecológico,

Reservas Extrativistas e regulamentação das Florestas Nacionais. Foram décadas

importantes, culminadas com a promulgação da nova Constituição Federal brasileira

(1988), onde o Capítulo VI, Art. 225, foi destinado ao Meio Ambiente.

Ainda na década de 1980, importantes fatos políticos aconteceram,

culminando na promulgação da Constituição. O governo militar que comandava o

país desde 1964, começou a perder a força e sob um forte movimento popular de

oposição, que reivindicava a volta da democracia, da anistia política, convocou uma

Assembléia Constituinte. Esse processo, denominado de “Abertura”, culminou com

o movimento organizado popular e com a eleição indireta do Presidente da

República, restabelecendo a democracia na nação.

Insistimos neste devir histórico, porque, a partir da promulgação da

Constituição Federal, o governo dividiu com a sociedade as responsabilidades com

a gestão do ambiente. Foram criados: o programa Nossa Natureza, estabelecendo

as diretrizes para a execução de uma política de proteção ambiental, e o Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,

composto pela fusão da Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, Superintendência da

Borracha – SUDHEVEA, Superintendência da Pesca – SUDEPE e Instituto Brasileiro

de Desenvolvimento Florestal - IBDF. Em 1990 o Ministério do Interior foi extinto.

Porém, foi a partir da realização da Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), promovida pela ONU e também

conhecida como Cúpula, ou Cimeira da Terra, ou Rio-92, que houve um clamor

social objetivando uma maior proteção aos recursos naturais. Esse foi o passo

decisivo para criação do Ministério do Meio Ambiente – MMA (1992), que nasceu

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18

como objetivo de estruturar a política do meio ambiente no Brasil e tornou o IBAMA

subalterno ao MMA, perdendo a prerrogativa de formulador e coordenador das

políticas públicas nacionais.

2.1.2.1 A instituição das Unidades de Conservação

Todos esses procedimentos jurídicos nacionais e internacionais, a exemplo

da Convenção da Diversidade Biológica, culminaram na sanção da Lei nº

9.985/2000, que regulamenta o Art. 225, §1º, incisos I, II, III, e VII da Constituição

Federal (1988), e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza – SNUC: instrumento norteador para o estabelecimento e gestão das UCs

brasileiras.

O SNUC se constituiu em um documento que norteou a implantação do

conjunto das unidades de conservação, federais, estaduais e municipais, e as dividiu

em duas categorias: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

Estabeleceu também a obrigatoriedade de elaboração do Plano de Manejo e a

constituição do Conselho Consultivo para cada Unidade criada. Aliado ao SNUC,

para sua sustentação legal, foi sancionada a Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998)

e o Decreto nº 4.340/2002, que regulamentou artigos da Lei nº 9.985/2000.

O SNUC traça no bojo das suas diretrizes, além de outras, as condições para

o envolvimento da sociedade na criação, implantação, planejamento e gestão das

UCs, ou seja, permite a intervenção social e científica em todas as etapas da

decisão político-administrativa para manter a relação sustentável entre natureza e

sociedade e mais, permite que as UCs se transformem em centro de decisões para

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19

o planejamento e ordenamento do solo rural e urbano da sua zona de

amortecimento.

2.2 Experiências em gestão de áreas protegidas no mundo

O aumento dos problemas relativos à relação sociedade-natureza tem sido

alvo de preocupações dentro de todas as esferas da sociedade, em níveis nacional

e internacional. Para o enfrentamento dos diversos problemas globais atuais como

efeito estufa, desflorestamentos, fome, miséria, etc., estímulos legais e financeiros

têm sido envidados para sua solução, dentre eles, o estabelecimento de áreas

protegidas em todo mundo.

Para ilustrar esse esforço, sabe-se que algumas iniciativas de diversos países

adotam essa forma para preservar e conservar seus recursos naturais, buscando a

conciliação entre seu desenvolvimento socioeconômico e a proteção dos recursos

naturais. O resultado da união mundial para conservação da natureza é mostrado

nos dados de Chape (2003), que apresentou as porcentagens atuais de áreas,

territoriais e marinhas, protegidas no mundo (Quadro 1):

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Quadro 1: Sumário estatístico de área protegida para cada região no mundo

Região % Região %

Antártica 0,0% Norte da África e Oriente Médio 9,7%

Austrália/NZ 9,6% Norte da América (incluindo

Groenlândia e Havaí)

18,2%

Brasil 18,3% Norte Eurásia 7,2%

Caribe 11,7% Pacífico 2,1%

América Central 24,8% América do Sul (Hispânica) 24,9%

Leste da Ásia 8,5% Sul da Ásia 6,8%

África Oriental e Sul 14,6% Sul Oriental da Ásia 14,8%

Europa 13,1% Ocidente da África Central 8,7%

Fonte: United Nations. List of Protected Areas. 2003.

Dentre as muitas áreas protegidas, podemos citar: Lobéké y Boumba

(Camarões), Parque Nacional y Patrimonio Natural Banc d’Arguin (Mauritânia),

Kahuzi-Biega (Congo), Áreas protegidas Gamba y Rabi (Gabão), Parque Nacional

Rajive Gandhi (Índia), Reserva Natural de Phong Nhá (Vietnam), Parque Nacional

Khirthar (Paquistão), Parque Nacional Tunkinsky (Rússia) e as áreas protegidas

localizadas em Bangladesh, Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia, dentre outros.

Na América do Norte, além de Yellowstone e Yosemite National Park,

podemos citar, Salinas Pueblo Missions National Monument, Sequoia & Kings

Canyon National Parks, National Capital Parks-East, National Mall & Memorial Parks,

National Park of American Samoa, National Parks of New York Harbor, Niagara

Falls, Kluane National Park, Kootenay National Park, Pacific Rim National Park

Reserve, Wood Buffalo National Park, Yoho National Park, Aniakchak National

Monument and Preserve, Bering Land Bridge National Preserve, Gates Of The Arctic

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National Park and Preserve, Glacier Bay National Park and Preserve, Kenai Fjords

National Park, Western Arctic National Parklands, etc.

Na América Central, as experiências em áreas protegidas foram bem

sucedidas, em especial na Costa Rica. Segundo dados do Projeto “Establecimiento

de un Programa para la Consolidación del Corredor Biológico Mesoamericano”

(1999), elaborado para o Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo y el

Programa de las Naciones Unidas para el Medio Ambiente, é nesse Corredor que se

encontra, 8% da biodiversidade do planeta e alto grau de endemismo. Dentro desse

Programa foram criados três eixos temáticos: a conservação da biodiversidade, a

reconversão produtiva e a valorização dos bens e serviços da biodiversidade.

Enquanto Belize se destaca na conservação de seus recursos marinhos, a

Costa Rica se destaca por ter 100% do seu território protegido por UCs, tornando-se

exemplo para o mundo, no que se refere a gestão de seus recursos naturais. Essa

gestão das áreas naturais a serem protegidas na Costa Rica compõe o Sistema

Nacional de Áreas de Conservação (SINAC). Segundo Induni (2005), o SINAC é

composto por 11 unidades administrativas regionais, 10 continentais e 1

correspondente a Ilha do Coco, situada no Oceano Pacífico.

As ações políticas governamentais relativas ao meio ambiente, na Costa Rica,

estão sob a responsabilidade do Ministério do Ambiente e Energia (MINAE), que

estabeleceu o SINAC e, juntos, têm a competência de gerir o modelo

descentralizador e participativo de sustentabilidade no manejo de todos os recursos

naturais do país. As políticas gerais para gestão das Áreas Silvestres Protegidas de

Costa Rica (SINAC-MINAE, 1997) contemplam, entre outras a participação da

sociedade civil na gestão do SINAC, melhoria de condições de trabalho,

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oportunidades de capacitação, envolvimento da sociedade civil para o desfrute dos

benefícios gerados pelas áreas silvestres protegidas.

Através desse sistema de proteção de áreas, do turismo rural e do

ecoturismo, a Costa Rica conseguiu estabelecer seu desenvolvimento econômico.

O país então foi zoneado de acordo com suas características, ou seja, segundo

Induni (2003), 46% da superfície do país foram declaradas como parques nacionais,

18% como refúgios nacionais de vida silvestre e 17% reservas florestais. As demais

áreas pertencem às categorias de zonas protetoras (12%), reservas biológicas (2%),

florestas úmidas (5%), Monumento Nacional e Monumento Natural (menos de 1%).

Por outro lado, estabelecimento de políticas públicas que contemplaram em

conjunto a legislação, a governabilidade e a participação da sociedade civil na

gestão das Áreas Protegidas definiu quatro formas de atuação sobre as distintas

áreas de manejo: a gestão governamental, a gestão conjunta (onde participam os

interessados diretos), a gestão privada e a gestão comunitária (áreas conservadas

por comunidades) (INDUNI, 2003).

Embora o modelo de gestão dos recursos naturais na Costa Rica seja

baseado na descentralização, alguns problemas socioeconômicos e políticos ainda

precisam ser trabalhados para que o sistema implantado tenha efetivo sucesso: a

população, em especial a indígena, ainda necessita de assistência para mitigar seus

problemas de subsistência. Um grande número de nicaragüenses migra de seu país

em busca de qualidade de vida e os camponeses, proprietários de suas terras,

necessitam de capacitação para que sua participação no processo de consolidação

da conservação ambiental se torne efetivo (op. cit., 2003).

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Quanto a América do Sul, possui papel de destaque na preservação/

conservação de seus recursos naturais através das políticas relacionadas às áreas

protegidas, resguardando parte do seu território para tal e guardando maior

biodiversidade mundial em suas florestas tropicais. Essas iniciativas, embora

louváveis, são tímidas diante das taxas de extinção de espécies apresentadas no

mundo. Terborgh (2002, p. 25) assinala que “se as atuais tendências continuarem

por mais cinqüenta anos, nós poderemos, queiramos ou não, habitar um mundo de

ervas daninhas.”

É na América do Sul que se encontra a maior biodiversidade terrestre e de

água doce, tendo o Brasil como principal colaborador para isso, representando

aproximadamente 40% das florestas tropicais remanescentes no mundo. A região

Andes-Amazônia, com 815 milhões de hectares, engloba o Brasil, Bolívia, Peru,

Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, onde se

encontra armazenada um quinto da água doce do planeta. No Brasil, esforços são

envidados para conservação dos biomas Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado,

Caatinga, Pantanal e Campos Sulinos, porém, todos se encontram degradados

(TERBORGH, 2002).

No Brasil, após diagnóstico da situação ambiental, foram indicados dois hot

spots, o Cerrado e a Mata Atlântica, essa, explorada desde o início da colonização

brasileira, que na atualidade está reduzida a 8% de sua mata original (MMA, 2006).

Esforços relativos à gestão pública vêm sendo envidados no sentido de integrar os

diversos aspectos de conservação, incluindo a promoção do desenvolvimento

sustentável, partindo de sua essência: sustentabilidade ambiental, social e

econômica, como mostra a Figura 2:

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Figura 2: Representação Gráfica dos três pilares para o Desenvolvimento

Sustentável

Fonte: ADAMS, W. M. (2006, p. 3)

Na busca do desenvolvimento sustentável, são elaborados e implementados

projetos que visam à promoção social e econômica das populações e busca de uma

convivência harmônica com a natureza, principalmente dentro de um hot spot.

Vários exemplos bem sucedidos podem relatados sobre esses projetos em todo

mundo, mas aqui daremos ênfase ao Projeto do Instituto de Estudos

Socioambientais do Sul da Bahia – IESB, uma organização não-governamental que

tem como Missão a “conservação da biodiversidade, promovendo o uso sustentável

dos recursos naturais e a melhoria de vida das comunidades inseridas no Corredor

Central da Mata Atlântica”4.

Com o objetivo de consolidar a Reserva Biológica de Una (REBIO-Una),

situada no Município de Una, Brasil, nos últimos 5 anos o Núcleo de Educação

Ambiental (NEA) do IESB desenvolve na Zona de Amortecimento da REBIO os

projetos “Formação de Educadores Ambientais do entorno da REBIO-Una” visando

a elaboração de Agendas Ambientais, em parceria com o Fundo Nacional do Meio

4 www.iesb.org.br (2006)

Proteção

Ambiental

Desenvolvimento Sustentável

Progresso

Social

Crescimento

Econômico

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25

Ambiente – FNMA e WWF-Brasil e a Campanha de mobilização social “Corredor

Ecológico: um caminho de vida na mata” em parceria com as ONG Conservação

Internacional – CI e RARE Center for Tropical Conservation (FANDI e GOMES, em

entrevista a autora).

O projeto de formação de educadores envolve diretamente a formação de 200

educadores da rede municipal de Una abrangendo tanto escolas do campo como

urbanas elaboração de Agendas 21 para as escolas situadas no entorno da REBIO.

“Esse trabalho envolve resgate da auto-estima, valores, questões relativas ao

pertencimento, criticidade, resgate histórico, trabalho em equipe”, afirmam as

coordenadoras do Projeto, Ana Cláudia Fandi e Ana Roberta Gomes.

Quanto à campanha de mobilização social, esta consistiu na disseminação de

informações sobre a REBIO, corredores ecológicos, ecologia de espécies

ameaçadas e endêmicas e práticas de conservação ambiental para diferentes

públicos, incluindo educadores e educandos, proprietários, agricultores e outros que,

de alguma forma, interferem naquele local (FANDI e GOMES, em entrevista a

autora).

Ações compartilhadas de mobilização e integração com organizações

governamentais, a exemplo o IBAMA, auxiliaram na implantação do Conselho

Gestor da REBIO, que há um ano e meio vem cumprindo suas funções legais para

gestão da UC. Esse Conselho é composto por 26 Instituições governamentais e

não-governamentais e seus conselheiros estão em processo de formação

continuada através de Oficinas e acompanhamento das reuniões ordinárias (FANDI

e GOMES, em entrevista a autora).

Page 49: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

26

A integração desse Programa com os outros núcleos temáticos do IESB

permitiu que fossem disseminadas, entre os produtores rurais da região, práticas de

cultivo orgânico. Em função da implantação do Corredor Ecológico REBIO-Una e

Serra das Lontras, essas práticas estão sendo viabilizadas para produtores de

outras áreas. O resultado efetivo desse trabalho já pose ser verificado na

implantação de barracas de feira para venda do produto final em Una e Ilhéus.

Importante observar que esse trabalho envolve mulheres que auxiliam no aumento

da renda familiar e no resgate da sua auto-estima (FANDI e GOMES, em entrevista

a autora).

Na atualidade, existem trabalhos sendo apresentados em Congressos,

Seminários, etc. que versam sobre o tema e se referem ao planejamento da UC e

seu entorno, a partir de assuntos relacionados à administração, manejo, política e

legislação. Esse planejamento ambiental não se dá sobre um espaço vazio, um

receptáculo puro e simples das nossas ações, ao contrário, ele parte e se exerce

sobre um espaço concreto, híbrido culturalmente, herdado e construído socialmente

e historicamente: “o homem se relaciona com uma sociedade cheia de espaços,

mas não com a natureza. Porque não há dialética do homem com algo que não tem

finalidade como a natureza. A natureza não tem finalidade, ela não busca nada”

(SANTOS, 1998).

Faz-se necessário que sejam consideradas as práticas sociais dos atores, em

especial os habitantes do entorno da UC, seus hábitos, crenças, valores, costumes,

etc. e, porque não dizer, seu modo de vida: esses são alguns elementos em que se

constitui como aqueles que compõem a Teoria das Representações Sociais.

Page 50: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

27

2.2 A Teoria das Representações Sociais

O início do século XX chegou trazendo as grandes mudanças em todo

mundo, motivadas pelas inovações inseridas na sociedade pelos dois períodos da

Revolução Industrial. Além da teoria socioeconômica estabelecida por Marx, trouxe

também o pensamento de Émile Durkheim (1858-1917), considerado o fundador da

sociologia moderna. Várias foram as contribuições de Durkheim através da sua

obra, onde merece destaque o desenvolvimento da teoria das Representações

Coletivas (1817), que ganhou destaque embasado “na reflexão e no reconhecimento

da existência de uma Consciência Coletiva”. Durkheim partiu do princípio de que

[...] o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste (ABRANCHES, 2004)

Essas significativas mudanças no fim do século XIX embasaram o arcabouço

ideológico da época, e o alemão Max Weber enriqueceu esse quadro com seus

estudos sobre as ciências sociais. Foi Weber, que a partir do rigor científico

elaborou os fundamentos da sociologia compreensiva ou interpretativa,

estabelecendo um paralelo entre as investigações nas ciências sociais e naturais.

Segundo Silva (2006),

As ciências naturais procuram explicar as relações causais entre os fenômenos, enquanto que as ciências humanas precisam compreender processos da experiência humana que são vivos, mutáveis, que precisam ser interpretados para que se extraia deles o seu sentido. Ao aplicar o método da compreensão aos fatos humanos sociais, M. Weber elabora os fundamentos de uma sociologia compreensiva ou interpretativa”.

Muitos foram os pensadores que na época tiveram preocupações com as

investigações acerca do pensamento sociopsicológico tendo como base a teoria das

representações coletivas de Durkheim: nos Estados Unidos, Wilhelm Wundt (1832-

Page 51: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

28

1920), George Herbert Mead (1863-1931), na França, Lucien Lévy-Bruhl (1857-

1939) e, na Rússia, Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934). E também a

contribuição de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e a de Carl Jung (REY, 2004).

Na década de 1930, emigraram para os Estados Unidos os psicólogos e

cientistas sociais Lazarsfeld, Adorno, Marcuse e Fromm, que muito contribuíram

para os estudos das ciências sociais em todo mundo (op.cit., 2004) e, em seguida,

após a Segunda Guerra Mundial, pode-se citar como contribuintes para os estudos

dessas ciências, G. W. Allport, Kurt Lewin e Serge Moscovici (França).

Moscovici por sua vez, apropriou-se do conceito das representações coletivas

criado por Durkheim e, ao longo de mais de 40 anos, em conjunto com seu grupo de

estudos da École dês Hautes Études em Sciences Sociales, França, Paris, avançou

e desenvolveu o estudo das Representações Sociais, difundido pela publicação

intitulada La Psychanalyse: Son Image et Son Public em 1961 (GUARESCHI e

JOVCHELOVITCH, 1997).

Nessa obra, inicialmente Moscovici estabelece a diferença entre as duas

Teorias: partindo da afirmação de Durkheim que dizia que o estudo das

representações individuais pertencia à área de estudos da psicologia e o estudo das

representações coletivas pertencia à área de estudos da sociologia, Moscovici

propôs que se tratasse essa teoria dentro da área psicológica, uma vez que se

tratava do conhecimento produzido e individual:

[...] o que nós percebemos e imaginamos, essas criaturas do pensamento, que são as representações, terminam por se constituir em um ambiente real, concreto. Através de sua autonomia e das pressões que elas exercem (mesmo que nós estejamos perfeitamente conscientes que elas não são ‘nada mais que idéias’), elas são, contudo, como se fossem realidades inquestionáveis [...] (MOSCOVICI, 2005, p. 40, grifo nosso).

Page 52: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

29

Realmente, as diferenças entre as representações coletivas e sociais não são

fáceis de serem compreendidas, como reconhece Farr (MOSCOVICI, 2005, p. 14)

quando explana que o individualismo também é uma representação coletiva da

sociedade moderna. Ao longo de mais 50 anos, essa teoria ainda caminha nas

discussões dos estudos científicos e na turbulência da transição paradigmática

(KUHN, 1998, p. 13) e só passou a ser difundida no meio acadêmico a partir do

início dos anos de 1980.

O leitor deve estar se perguntando: mas afinal o que são as representações

sociais? Farr (1995, p. 31) clareia o conceito da TRS como “uma forma sociológica

de Psicologia Social”, que Sá (2002) acrescenta:

[...] conjunto de conceitos, proposições e explicações originado [ou seja] na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. (SÁ, 2002, apud Moscovici, 1981, p. 181)

Essa afirmação sofreu a influência de Mead, ele afirmava que a linguagem

possuía uma grande importância “como forma de interação simbólica” (op.cit., 2004,

p. 75). “As palavras receberam a tarefa e o poder de ‘representar pensamento’ [...] a

linguagem representa o pensamento como o pensamento representa a si mesmo”

afirma Foucault (1992, p. 93), ou seja, o representar a si mesmo, dentro da visão

psicológica, vem carregado de um conhecimento individual, do centro da

personalidade, que expresso através linguagem, na visão sociológica, demonstra a

cultura, o senso comum, o saber popular e o conhecimento do cotidiano.

Para que Moscovici criasse o novo conceito das representações sociais,

diferente daquele proposto por Durkheim, ele propôs que a teoria fosse situada entre

o social e o psicológico, inseriu uma consistência cognitiva, delimitou o seu campo

Page 53: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

30

de ação no cotidiano, relacionou com o senso comum, com a interação social e com

a socialização (XAVIER, 2002, apud PERRUSI, 1995).

Para Oliveira & Werba (2003), Moscovici desenvolveu os estudos da TRS

dentro de um trabalho científico que partiu “das suas críticas aos pressupostos

positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de explicar a

realidade em outras dimensões...”. Essas afirmam também que, um dos elementos

fundamentais da TRS é a interligação possível entre cognição, afeto e ação no

processo de representação. Para Jodelet é “(...) uma forma de conhecimento,

socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a

construção de uma realidade comum a um conjunto social” (OLIVEIRA & WERBA,

2003, p. 106, apud JODELET, 1989).

As representações sociais são encontradas nos universos consensuais, onde

cada grupo carrega sua própria cultura, a conversação, o compartilhar, a exposição

de suas idéias, opiniões, experiência pessoal e boatos. “As representações [...]

restauram a consciência coletiva e lhe dão a forma, explicando os objetos e

acontecimentos de tal modo que eles se tornam acessíveis a qualquer um e

coincidem com os nossos interesses imediatos” (MOSCOVICI, 2005, p. 52). Por

outro lado, as representações também fazem parte do universo reificado, pela sua

necessidade das ciências e pelo fato do senso comum ter-se tornado também,

ciência.

Porém, para compreender melhor as representações sociais, é necessário

saber a respeito do paralelo entre o “familiar” e o “não familiar”, uma vez que a

“finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não familiar, ou a

própria não-familiaridade” (MOSCOVICI, 2005, p. 54). É simples e compreensível o

Page 54: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

31

fato de algo ser familiar, comum; o não-familiar intriga, desperta a curiosidade,

incomoda e ameaça. No universo reificado equivale dizer que seu objetivo é tornar

familiar o não-familiar. No universo consensual, Moscovici (2005, p. 58) nos ensina

que as representações que criamos são sempre um esforço para tornar familiar o

que não é, dando assim, sentido a não-familiaridade.

Assim, para que o não-familiar seja assimilado, evitando as sensações e

percepções que trazem desconforto, são gerados dois processos básicos: a

ancoragem e a objetivação. Como exemplo disso, nessa pesquisa a ancoragem

está na compreensão da idéia, na visão que a comunidade tem do Parque da

Esperança e a objetivação está na forma como tentamos tornar visível essa

realidade, ou seja, compreender as relações construídas pelos sujeitos que habitam

o entorno do Parque da Esperança, e os que o utilizam para variados fins, através

da TRS.

É necessário esclarecer aqui, que as representações sociais possuem um

caráter dinâmico e integra a dimensão histórica com o momento atual, com o aqui e

agora. Por isso, questões sociais podem ser identificadas através da TRS, assim

como o conteúdo dessas representações pode qualificar o grau de identidade que

esses sujeitos têm com o objeto.

Para a Teoria das Representações Sociais, o social é coletivamente edificado

e o ser humano é construído através do social (BONFIM, em entrevista a autora em

07/12/2005, na UESC). Seu estudo requer interdisciplinaridade, tanto nos métodos

de pesquisa, quanto no sentido de compartilhar saberes. Sua compreensão se dá a

partir do enfoque do conhecimento como processo e não apenas como produto.

Page 55: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

32

A literatura científica ainda é escassa no que tange aos estudos das relações

entre comunidades e Unidades de Conservação (SNUC), utilizando as

Representações Sociais dos atores construídas a partir de suas percepções com o

seu ambiente de vida. Porém, alguns estudos podem ser encontrados sobre as

percepções ambientais e pode-se citar: FERNANDES, PELISSARI, et al. (2003),

OKAMOTO (s/d), LARANJA, FERNANDES, et al. (2003). Vale registrar artigos

publicados que apresentam trabalhos científicos: ARRUDA (2002); OLIVEIRA

(2003); RAMOS & NOVO (2002); CARBONE & MENIN (2004).

Se de um lado, a Teoria das Representações Sociais nos dá o enfoque

humano, de outro, Yi-Fu Tuan (1997) nos dá a dimensão da transformação do

espaço em lugar: se de um lado, o espaço é abstrato, de outro, o lugar vem

carregado de valores agregados pela experiência de cada um. Para Milton Santos,

o espaço deve ser considerado no todo, enquanto o lugar vem com um componente

que se refere a existência, ou seja, um conjunto de objetos que trazem a “história

das relações, dos objetos sobre os quais se dão as ações humanas” (SANTOS,

1966, p. 57).

No futuro, a Teoria das Representações Sociais tende a ser mais utilizada

para atendimento ao artigo 5º do SNUC, uma vez que ela permite o conhecimento

referente ao conjunto de idéias das comunidades que vivem no entorno das UCs,

trazendo novos instrumentos para subsidiar interferências que possam promover o

desenvolvimento sustentável dessas comunidades. Faz-se necessário incorporar o

diálogo entre saberes técnicos e científicos e os saberes das práticas dos atores

sociais.

Page 56: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

33

Ao longo dos últimos 30 anos, as Unidades de Conservação vêm assumindo

o seu papel como referenciais de planejamento ambiental para suas zonas de

amortecimento, quer estejam situadas em zona rural, quer em zona urbana. Os

Planos de Manejo, instrumentos norteadores de ações no interior das UCs,

estabelecidos pelo Sistema Nacional das Unidades de Conservação (SNUC), são

elaborados com essa finalidade, ou seja, visando a promoção do desenvolvimento

sustentável tanto dessas Unidades, quanto das comunidades que habitam o seu

entorno, no caso das de categoria de Proteção Integral e das comunidades inseridas

nas áreas de conservação referentes às categorias de Uso Sustentável.

Porém, quando o SNUC define as zonas de amortecimento das UCs,

enfatizando e estabelecendo comportamentos, atitudes, para que as atividades

humanas no interior dessas Unidades sejam normatizadas, não nos deixa dúvidas

quanto ao direcionamento das políticas públicas, ou seja, a não contemplação do

homem no meio natural, e à reflexão sobre o comprometimento da sociedade para

com a natureza, diante da pobreza e miséria a que os sistemas de manutenção do

poder submetem os seres humanos que não tem oportunidades em sua vida.

Seguindo o modelo americano do norte, a gestão das áreas que compõem as

categorias do SNUC, no Brasil, está diretamente subordinada aos serviços públicos,

federal, estadual ou municipal. Esforços são envidados no sentido de inserir as

populações nessa gestão e isso torna essa estratégia de administração uma tarefa

complexa. Como exemplo, podemos citar a criação de UCs em zonas urbanas e

suas zonas de amortecimento jamais poderão ser abordadas como rurais, como é

estabelecido no SNUC, a exemplo do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

e do Parque Municipal da Boa Esperança, em Ilhéus. O apelo para preservação da

Page 57: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

34

natureza e seus recursos precisa ter a mesma ênfase que o apelo para preservação

do homem na utilização dos recursos naturais, na sua cultura, na educação, no seu

modus vivendi.

Essa é uma discussão internacional, a busca de uma gestão de áreas

protegidas descentralizadas dos governos foi, inclusive, discutida e emanada do V

Congresso Mundial de Áreas Protegidas realizado pela UICN em 2003. A Costa

Rica, um país da América Central com 100% de suas áreas protegidas, criou

condições políticas, legais e gerenciais voltadas para o interesse social com a

participação de Organizações não-governamentais (ONGs), comunidades indígenas

e campesinas, universidades, governos locais e o Estado, visando a

descentralização da gestão de suas áreas protegidas. Esse novo modelo criado pela

Costa Rica tem sido exemplo para todo mundo, em especial para o Brasil.

Se de um lado a natureza exige condições para a sua preservação, de outro,

a sociedade exige que suas necessidades humanas sejam atendidas. Preocupada

com isso a ONU, no ano 2000, elaborou um documento para traçar as diretrizes

para o desenvolvimento sustentável no mundo a partir do Século XXI, a Declaração

do Milênio das Nações Unidas (ONU, 2000) e trouxe, entre as propostas de

medidas, a reversão da perda das florestas e a redução pela metade da extrema

pobreza e da fome. Para o cumprimento dessas metas, faz-se mister visualizar os

mecanismos que regem cada grupo social e sua inter-dependência com a natureza.

Enquanto os poderes públicos de todas as esferas trabalharem as suas

políticas tendo apenas a natureza como meta e o homem como agente degradador

a ser submetido a “normas e restrições específicas” (SNUC, 2000), não haverá

possibilidade de acordo: “O homem se relaciona com uma sociedade cheia de

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35

espaços, mas não com a natureza”, afirma Milton Santos (1998). Isso nos leva a

refletir que o homem apesar de depender da natureza, com ela não dialoga e, por

sua vez, a natureza detém uma relativa capacidade de regeneração, ao tempo que

independe completamente do homem. O homem se utiliza dos recursos naturais,

dos espaços que a natureza lhe proporciona: o homem não basta a si próprio.

Sob a égide das experiências de cada grupo social, para o cumprimento de

metas inerentes à relação sociedade-natureza na busca do desenvolvimento

sustentável, faz-se necessária a investigação dessa dinâmica, dessa troca de

energia. Acredita-se que a Teoria das Representações Sociais reúna os elementos

básicos para o estudo dessas experiências a fim de compor objetivos para cada

projeto a ser implantado em UCs e que poderão ser definidos no seu Plano de

Manejo.

O estabelecimento de Unidades de Conservação tem sido um movimento

crescente em todo mundo. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (2006),

no Brasil existem 278 unidades de conservação na esfera federal e 424 na estadual,

perfazendo um total de 97.608.850,00 ha, sem contar as UCs criadas pelos diversos

municípios brasileiros (MMA, 2006). No âmbito desse arcabouço técnico, político,

jurídico e humanístico, se insere o Parque Municipal da Boa Esperança (Figura 3), o

qual se constitui objeto de análise desse trabalho.

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36

Figura 3: Vista a jusante da barragem da Esperança, no ano de 1999

Fonte: Fotos cedidas pelo CEPEC/CEPLAC, 1999

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37

Capítulo II

METODOLOGIA

A partir da compreensão sobre as ciências sociais, o estabelecimento de

áreas protegidas adquire um aspecto particular e é sob a égide dessa teoria

humanística do conhecimento científico, que buscamos delinear abaixo o nosso

caminho para realização da pesquisa.

2.1 Caracterização

2.1.1 Objeto de estudo

Para atingir as metas do projeto, elencamos os seguintes objetos de estudo:

a) Moradores

Moradores da Rua Esperanto Perolato (antiga Rua do Cano) e da Avenida

Governador Roberto Santos (antiga Avenida Esperança), ambas situadas no

entorno, vizinhas e imediatas ao Parque Municipal da Boa Esperança.

Page 61: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

38

b) Usuários da UC

Aqui entendidos como as pessoas que utilizam o Parque como área

alternativa de lazer, não se levando em conta a sua procedência.

c) Presidentes das Associações de Moradores

Através da Federação de Associações São Jorge dos Ilhéus, situada no bairro

Malhado, Ilhéus, foram identificadas e contactadas as duas associações de

moradores que atuam na área de estudos. São elas: Associação Desportiva e

Comunitária dos Amigos e Moradores da Vila Freitas e Esperança e a Associação

de Moradores da Rua Esperanto. Vale ressaltar que o Presidente da Associação de

Moradores do bairro do Basílio, vizinho ao bairro do Fundão, ao tomar conhecimento

dessa pesquisa, voluntariamente, disponibilizou-se para prestar informações sobre

as questões aqui formuladas.

d) Área de abrangência

Tomamos como área de abrangência a Rua Esperanto Perolato (antiga Rua

do Cano) e Avenida Governador Roberto Santos (antiga Avenida Esperança) (Figura

4), por além de conterem os principais acessos ao Parque, se constituem em uma

área contígua com uma inter-influência mútua.

Excluímos do campo dessa pesquisa a Rodovia Ilhéus / Vitória da Conquista,

os bairros do Banco da Vitória, Vila Nazaré, Jardim Savóia, Distrito Industrial e

fazendas vizinhas, por possuírem realidades muito diferenciadas entre si, o que

dificultaria uma generalização no âmbito de apenas um trabalho. Essa dificuldade

poderá ser sanada, a posteriori, com uma proposta de maior envergadura.

Page 62: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

39

Figura 4: Imagem aerofotogramétrica de Ilhéus, mostrando a Av. Roberto Santos,

Rua Esperanto, parte do Parque da Esperança e o rio Fundão, locais de

estudo dessa pesquisa.

Fonte: CAR/CONDER/Governo do Estado da Bahia. Época de vôo: janeiro de 1999

Rio Fundão

Barragem da Esperança P

arq

ue

da

Esp

era

nça

Antiga ponte

Rodoviária

Antiga rodovia Ilhéus/V. Conquista

R. Esperanto Perolato

Av. Gov. Roberto Santos

Page 63: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

40

e) O Município

O Município de Ilhéus possui área total de 1.847,7 km², localizada entre as

coordenadas geográficas 14° 47’ S e 39° 03’ W, temperatura que varia entre 16°C e

33°C, índice pluviométrico anual acima de 1.300 mm, apresentando fauna e flora,

típicas de Mata Atlântica. São três as importantes bacias hidrográficas que banham

a região: a dos rios Cachoeira, Almada e Santana. Na foz do rio Cachoeira há um

grande delta formado pelos rios Santana, Cachoeira e Fundão. A população total é

de 222.127 habitantes, densidade demográfica de 120,1 hab/km² e o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) do Município de Ilhéus é 0,703 (ATLAS IDH, 2000).

O principal cultivo regional é o cacau. Porém, a partir do ano de 1989 esse

cultivo teve a sua produção reduzida em função do ataque do fungo denominado

Crinipellis perniciosa, causador da doença “vassoura-de-bruxa”, que ataca aos

cacauais. Segundo técnicos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura

Cacaueira (CEPLAC), a região desde então passa por uma crise sem precedentes.

O efeito dessa doença, ao longo desse tempo foi devastador, ocasionando diversos

problemas socioeconômicos e ambientais (PEREIRA, 1989).

A título de fazermos apenas algumas pontuações a respeito, podemos, dentre

os inúmeros problemas, relacionar as condições financeiras dos fazendeiros em

manterem suas propriedades, gerando o desemprego e a exclusão educacional e

econômica agravadas pela desterritorialização de camadas da população rural, que,

sem terra para trabalhar, emigraram com suas famílias em grandes levas para as

cidades. Esse processo migratório no sentido campo-cidade(s) redundou na

ocupação desordenada das cidades de médio porte regionais, por apresentarem

melhores condições de oferta de bens e serviços públicos.

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Os alvos do processo ocupacional, via de regra, eram as áreas de

manguezais, as áreas de proteção ambiental, as matas e os morros, onde os

terrenos íngremes impediam a moradia. Foi a partir de então que, segundo relato de

moradores, a população iniciou a invasão de terrenos na área de estudo.

2.2 Procedimentos metodológicos

Utilizamos para consolidação do nosso caminho, os seguintes instrumentos:

2.2.1 Pesquisa Documental

Inicialmente, na investigação dos processos históricos que contribuíram para

a manutenção da floresta, uso e ocupação da área de estudo, e implantação do

sistema de abastecimento de água de Ilhéus e para a criação da Unidade de

Conservação, utilizamos como instrumento a análise de documentos públicos, quais

sejam:

� Diários Oficiais Municipais – foram consultados 10 jornais.

� Planos Diretores Urbanísticos do Município de Ilhéus – utilizamos os

quatro Planos Diretores elaborados e decretados nas seguintes datas:

1933, 1937, 1969 e 1979. O atual Plano Diretor, decretado em 2006, não

foi analisado, uma vez que ainda está em fase de regulamentação de seus

itens.

� Plano de Manejo do Parque Municipal da Boa Esperança.

� Legislação – consultamos toda a base de dados em nível Federal e

Municipal referente à legislação ambiental, inerente à pesquisa,

perfazendo um montante de 40 leis.

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42

Outros documentos subsidiaram a pesquisa a exemplo do Censo

Demográfico (IBGE, 2000), e material iconográfico como, fotografias aéreas, mapas

e plantas da cidade.

2.2.2 Pesquisa de levantamento em campo

Buscamos um levantamento de dados junto aos atores sociais e aplicamos

formulário e entrevistas. Na oportunidade aplicamos o método da observação não

participante, individual, na vida real, para compreensão do comportamento dos

entrevistados e com vistas a descrever fenômenos ocorridos na comunidade que,

porventura pudessem acontecer, bem como para interpretar a paisagem, à luz da

teoria de Tuan (1980).

Concomitante à observação, aplicamos o formulário sócio-demográfico para

recrutamento dos participantes potenciais, moradores e usuários do Parque da

Esperança, visando responder às questões efetivas de pesquisa (vide Anexo I).

Em seguida, a partir do universo estabelecido pelo formulário sócio-

demográfico, aplicamos a entrevista semi-estruturada, composta de questões

abertas e fechadas aos participantes, moradores e usuários do Parque da

Esperança, para apreensão dos conteúdos das representações sociais (vide Anexo

II).

Para os moradores, realizamos uma amostra sistemática feitas de 5 em 5

casas. Para os usuários, a amostra foi ocasional e a entrevista foi realizada no

portão principal de acesso à UC, situado na Av. Roberto Santos e no local onde

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43

antes havia o “cano” de adução de água bruta, que deu origem ao nome popular da

Rua Esperanto.

Identificamos os lideres comunitários e em seguida propusemos um encontro

com a participação deles, visando definir os indicadores dos conflitos sociais,

econômicos e ambientais, bem como os elementos que envolvem os conteúdos de

suas representações sociais e identificar as potencialidades sociais e econômicas da

comunidade do entorno.

Vale salientar que todas as entrevistas foram feitas por essa autora, com

período de duração de aproximadamente 50 minutos, cada uma, em local

devidamente apropriado a fim de evitar interferências externas que possivelmente

viessem causar constrangimentos aos participantes.

2.3 Definição da amostra

Buscou-se selecionar os participantes de acordo com os seguintes critérios:

1) Para categoria moradores:

a. Morar e viver na Rua Esperanto e Av. Roberto Santos;

b. Ser capaz de se exprimir oralmente, de aceitar responder as

entrevistas e participar da pesquisa.

2) Para a categoria usuários do Parque:

A partir da solicitação de participação individual, não se levando em

conta a procedência do participante.

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44

3) Para a categoria representantes das Associações de Moradores:

Identificamos dois presidentes de Associações de Moradores, que

colaboraram espontaneamente com o trabalho.

Entregamos ao entrevistado um documento para que ele assinasse e

tomasse conhecimento dos objetivos do Projeto ora proposto. O entrevistado teve

liberdade de autorizar a citação de seu nome nessa Dissertação.

2.4 Plano amostral para categoria moradores

Para dimensionamento da amostra probabilística referente a população,

considerando um nível de confiança de 90%, erro de 4,3%, e uma informação de

proporção obtida da amostra piloto referente à freqüentação de familiares de

moradores ao Parque Municipal da Boa Esperança.

A expressão matemática para esse dimensionamento, considerando o

tamanho do universo desconhecido, foi a seguinte (COSTA NETO, 2000):

onde:

n = representa o tamanho da amostra necessária

Z α / 2 = variável de distribuição normal para nível de confiança de 90%

2

Z α/2 ^ ^ n = . p 1 - p e0

Page 68: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

45

^ p = proporção da amostra piloto

e0 = erro ou precisão

No nosso trabalho, aplicando a formula acima temos:

onde:

Z α / 2 = 1,645

^ p = 0,23

e0 = 0,043

Quanto aos usuários, tendo em vista a abertura de vários acessos ao Parque

por esses, não há como termos referência numérica quanto ao número de pessoas

que freqüentam aquela UC. Por essa razão a entrevista foi realizada com as 21

pessoas que se dispuseram a participar, de livre e espontânea vontade, dessa

pesquisa. As opiniões aqui contidas referentes aos usuários refletem a opinião

desse universo (21 pessoas) pesquisado.

A minha inferência é sobre aquele público de usuários que se predispôs a

dar-me a entrevista naquele período.

2

Z α/2 ^ ^ n = . p 1 - p = e0

265

Page 69: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

46

2.5 Pré-teste do instrumento de coleta de dados

Para a elaboração do modelo definitivo das entrevistas, utilizamos como base

um pré-teste em um total de cinco entrevistas, objetivando validar as alternativas

mais relevantes para cada pergunta os quais corrigimos e adaptamos para a

entrevista final.

2.6 Análise Estatística

Para análise estatística, foi utilizado o programa estatístico SPSS para

Windows 10.0.1.

Para análise não paramétrica dos dados, ou seja, para avaliar a relação de

dependência entre as variáveis qualitativas utilizou-se o teste chi-quadrado de

Pearson, ao nível de 10% de significância.

2.7 Instrumento Definitivo de Coleta de Dados

O formulário sócio-demográfico é composto por 12 perguntas abertas e

fechadas.

O guia de entrevista semi-esturuturada com um formulário, com questões

abertas e fechadas, aplicado junto aos moradores e usuários do Parque da

Esperança foi dividido em 2 blocos: o primeiro é composto por 10 perguntas

apresentando elementos de caracterização socioeconômica dos entrevistados; e o

segundo por 15 perguntas contendo elementos das representações sociais

Page 70: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

47

referentes ao objeto de estudo: o Parque da Esperança. Ainda, efetivamos a

entrevista semi-estruturada aberta junto aos participantes lideres comunitários

composta por 7 perguntas.

A “observação” foi realizada:

� no interior das casas, atentando para a possibilidade da utilização de

produtos extraídos do parque, para as condições de vida da população e

também no intuito de captar as representações sociais dos sujeitos;

� nas ruas do bairro, observando a paisagem (tipo de edificações,

pavimentação das ruas, Iluminação publica, outdoors, urbanização das

praças, arborização de ruas, diversão (bares, salão de danças),

pichações, sobre grupos marginalizados (prostitutas, gays, usuários de

drogas), sobre lendas e boatos, criação de animais (cavalos porcos,

galinhas, etc.), outras.

As informações coletadas foram registradas em fichas adequadas partindo

das categorias apresentadas.

2.8 Aplicação do instrumento de coleta de dados

Nas residências, as entrevistas foram aplicadas individualmente durante os

meses de julho e novembro de 2006.

Para os usuários do Parque, realizamos a pesquisa na entrada principal da

UC, ao lado da ponte antiga do Fundão, e na Rua Esperanto, nos fins de semana,

quando há um fluxo maior de pessoas nessas localidades, para acesso ao Parque.

Page 71: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

48

Entrevistamos os Presidentes das Associações de Moradores, na sede da

Federação de Associações São Jorge dos Ilhéus, Malhado.

A coleta de dados se deu de forma voluntária.

Para melhor compreensão dos procedimentos metodológicos realizados,

estruturamos o Quadro 2, onde estão resumidos e delineados os instrumentos, os

tipos de pesquisa, área de abrangência, população e número de pessoas

entrevistadas, a seguir:

Page 72: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

49

Quadro 2: Quadro Estrutural da Pesquisa

Amostra Instrumentos

Tipo de Pesquisa

Área

% ou Nº

População

% ou Nº

Entrevista e aplicação

do Formulário

Sistemática

De 5 em 5 casas: na Avenida

Governador Roberto Santos e

Rua Esperanto

61 un

Moradores que habitam

nas residências

pesquisadas

265

Entrevista e aplicação

do Formulário

Semi-estruturada

Usuários do Parque da

Esperança

- - -

Usuários

21

Entrevista e aplicação

do Formulário

Sistemática

Mesma área

100%

Lideres comunitários

3

Observação

Participante

Toda área de estudos

100%

Moradores

100%

Análise de documentos

Documentos

Públicos

Legislação Federal e

Municipal, Planos Diretores,

Plano de Manejo, Diários

Oficiais

80%

- - -

55

Page 73: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

50

Capítulo III

A ocupação da área de estudo: o Espaço e o Tempo

Foi a partir do inicio do século XX que a paisagem urbana da Cidade de

Ilhéus começou a se transformar, fervilhando com a expansão da lavoura cacaueira

e presenciando a implantação de equipamentos urbanos que promoveram o

progresso da cidade (SILVA CAMPOS, 1981). Porém, no ano de 1908, em função

da incidência de doenças relacionadas com o saneamento básico, havia grande

preocupação da municipalidade com o abastecimento de água potável, o que levou

a elaboração de estudos e implantação de barragem para captação, implantação da

rede de distribuição e ligação domiciliar de água no vale do Lavadouro (atual Rua 31

de Março) (DA RIN e GONSALVES, 1933).

A geração de emprego e renda, as facilidades de locomoção, de acesso a

bens e serviços públicos, os bons negócios nacionais e internacionais

proporcionados pela lavoura cacaueira, propiciaram a expansão e,

consequentemente, a necessidade de ordenamento do espaço urbano.

Page 74: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

51

Nesse capítulo vamos tratar dos aspectos referentes à ocupação da Avenida

Governador Roberto Santos e Rua Esperanto Perolato, bem como dos aspectos

referentes a implantação do serviço de água em Ilhéus, no espaço e no tempo.

3.1 O Desenvolvimento Urbano

No seu processo de estabelecimento, se de um lado a Cidade de Ilhéus se

expandia desordenadamente sobre seus recursos naturais, de outro, problemas

relacionados a essa ocupação, começavam a surgir ainda no início do Século XX.

Para o enfrentamento dos problemas, em 1933, foi elaborado o primeiro Plano

Urbanístico, o Plano Director para a Remodelação e Expansão da Cidade de Ilhéos

(1933), sob a égide do pensamento do urbanista francês Alfredo Agache, que se

destacou pela proposta de projetar Planos que contemplassem a remodelação, o

embelezamento e a expansão das cidades (FARIAS e LAPA, 2001).

Não só em Ilhéus havia transformações, a década de 1930 no Brasil, iniciou

sob o movimento armado liderado por Getúlio Vargas, e conheceu as tensões entre

forças políticas que levaram às reformas sociais e econômicas na sociedade

brasileira e às reformas políticas do Estado até 1937, quando houve o golpe que

implantou o Estado Novo. Nesse ínterim, em Ilhéus, assume o governo municipal o

Dr. Eusínio Lavigne, homem de visão administrativa e líder político. Com a

implantação do "Estado Novo" em 1937, o governo do Dr. Lavigne também findou.

Pouco tempo após a aprovação do Plano Director (1933), foi sugerida e

iniciada a revisão desse Plano, justificada pela falta de elementos científicos e dados

técnicos que pudessem atender aos princípios do urbanismo e do saneamento. O

Page 75: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

52

Decreto Municipal nº 10.633/1938 aprovou o Novo Plano Regulador da Cidade de

Ilhéos, também conhecido como Plano Queiroz ou Plano de 37.

O Plano de 37 ficou vigente por 30 anos quando, em 1969, a municipalidade

preocupou-se com o desenvolvimento da cidade e com o início de ocupações

irregulares em morros e áreas de manguezais. Para proposição de soluções, foi

elaborado o Plano de Desenvolvimento Integrado do Município de Ilhéus (PLAMI),

financiado pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) (PLAMI,

1969).

A vigência do PLAMI durou apenas 10 anos, quando, em 1979, a Companhia

Estadual de Desenvolvimento Urbano (CEDURB), subordinada a Secretaria do

Saneamento e do Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia e Prefeitura

Municipal de Ilhéus, contratou a Empresa TECNOSAN para elaborar o Plano

Urbanístico Básico de Ilhéus (PUB). A CEDURB estabeleceu as diretrizes

metodológicas (PUB, 1979) e buscou incutir na administração municipal uma

atividade de planejamento urbano diário (PUB, 1979).

Com o fim da ditadura no Brasil, foi promulgada a Constituição Federal

(1988), ficando estabelecida a obrigatoriedade de elaboração de Planos Diretores

para as cidades com mais de vinte mil habitantes (CONSTITUIÇÃO DO BRASIL,

1988). O Estatuto da Cidade (2001) regulamentou os artigos constitucionais

destinados à execução dessas políticas, abriu caminho para criação do Ministério

das Cidades e, conseqüentemente, para o financiamento de Planos Diretores nos

diversos municípios brasileiros.

Page 76: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

53

Assim, ao apagar das luzes do ano de 2006, foi sancionada a Lei Ordinária

Municipal nº 3.265/2006 que aprovou o novo Plano Diretor Participativo de Ilhéus

(PDU) e o Sistema de Planejamento e Gestão do Desenvolvimento Urbano do

Município de Ilhéus, traçando assim a política de desenvolvimento urbano e

ambiental em todo território municipal. Foi estabelecido no Plano, além de outros, o

zoneamento ambiental, importante instrumento para traçar as políticas publicas em

consonância com a legislação estadual e federal, bem como as diretrizes para o

estabelecimento do o plano urbanístico-ambiental.

Durante a elaboração do PDU, várias reuniões foram realizadas possibilitando

a participação da comunidade e propostas foram encaminhadas aos técnicos

visando enriquecer e melhor fundamentá-lo. Assim, a equipe técnica responsável

pela elaboração do PDU tem o prazo de 240 dias para adequar e elaborar as leis

complementares referentes ao parcelamento territorial, adequação do Código de

Obras, problemas ambientais, dentre outros, para a sua efetiva consolidação.

Vale ressaltar que o PDU trouxe no Capítulo III – Do Desenvolvimento

Urbano-Ambiental, Subseção III - Das Áreas Naturais Protegidas no Município, as

diretrizes para as políticas e princípios referentes às Áreas Naturais Protegidas: lê-

se aqui o traçado para as políticas que envolvem não só o Parque da Esperança,

mas também a APA da Lagoa Encantada, as Reservas Particulares do Patrimônio

Nacional (RPPNs) e outras Unidades de Conservação que porventura venham se

inserir no município.

Page 77: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

54

3.2 A ocupação urbana da Avenida Governador Roberto Santos e Rua

Esperanto Perolato

De acordo com o Plano Director para a Remodelação e Expansão da Cidade de

Ilhéos (1933, p. 6), na época da colonização da Capitania, o rio Fundão, era

conhecido como rio Esperança, e tinha a função de limitar as áreas urbanas da

Cidade de Ilhéus na direção oeste (W), como se observa na Figura 5. O nome

Esperança foi atribuído ao rio pelos padres jesuítas do Colégio de Santo Antão,

Lisboa. (SILVA CAMPOS, 1981)

Figura 5: Reprodução parcial do mapa de João Teixeira Albernaz (1631). Retrata os

quatro engenhos mais antigos da Capitania de São Jorge.

Fonte: COELHO FILHO (2000, p. 99)

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55

Os jesuítas receberam da coroa portuguesa uma vasta extensão de terra na

Capitania e eles mesmos se encarregaram de aumentar o seu latifúndio, incluindo

“(...) o sítio “Esperança”, no rio Fundão” (op. cit., 1981). Dessa forma, percebe-se

que o rio Fundão e suas áreas adjacentes começaram a ser exploradas desde que

os colonos aqui chegaram.

Porém, essas áreas se mantiveram pouco habitadas ao longo do tempo.

Com a expansão da cacauicultura no início do século XX, e a necessidade de

beneficiar as populações rurais, as cidades interioranas e melhorar as condições de

escoamento do cacau e acesso ao Porto Internacional de Ilhéus, o Plano Director de

1933 indicou a relocação da linha férrea para a Avenida Roberto Santos visando

desafogar o tráfego no centro da cidade (DA RIN e GONSALVES, 1933).

Data da mesma época, a construção da ponte sobre o rio Fundão (1926)

(Figuras 6 e 7), consolidando o acesso à rodovia Ilhéus – Vitória da Conquista e

também a construção da barragem para captação de água nos mananciais da

Esperança (1927). Pela implantação desses equipamentos, é natural que quando

da elaboração do zoneamento da cidade, as áreas situadas no vale do rio Fundão

tenham sido destinadas para instalação de indústrias (DA RIN e GONSALVES,

1933).

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56

Figura 6: Visita a construção da antiga ponte sobre o rio Fundão, no ano de 1926.

Fonte: Fotógrafo A. Fâmula. Fotos cedidas pelo Sr. José Nazal Soub (2006).

Além disso, a implantação do serviço de abastecimento de água naquela

região oeste do município gerou novos empregos na construção da adutora, nas

ligações domiciliares, na operação dos serviços e fiscalização da área. Nessa

época, com a implantação da adutora na Rua Esperanto Perolato e com a expansão

urbana no sentido norte, foi consolidada a ocupação naquelas áreas e imediações,

incluindo a Avenida Roberto Santos.

Page 80: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

57

Figura 7: Inauguração da antiga ponte sobre o rio Fundão, no ano de 1926.

Fonte: Fotógrafo A. Fâmula. Fotos cedidas pelo Sr. José Nazal Soub, 2006.

O Brasil durante o século XX teve a sua população aumentada em quase 10

vezes, porém, esse crescimento não ocorreu em ritmo uniforme. Berquó (2001)

assinala que desde 1940 a evolução demográfica da população brasileira vem

sendo marcada por transições decorrentes de mudanças nos níveis de mortalidade

e de fecundidade: Ilhéus não fugiu a regra e, consciente dessa realidade, o PLAMI

(1969) se preocupa com os impactos dessa expansão e ocupação nas áreas

urbanas, em especial, nos morros e nos manguezais que circundam a Cidade de

Ilhéus.

Era senso comum que “as áreas de mangue são sujas, enlameadas e que

não servem para nada” (PLAMI, 1969). O que foi motivo de preocupação para os

elaboradores do Plano, tornou-se uma realidade para Ilhéus: barracos e vielas

Page 81: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

58

ocuparam essas áreas ao redor da cidade. Como mostra a Figura 8, datada do ano

de 1975, a ocupação na Avenida Roberto Santos e Rua Esperanto era reduzida e as

áreas de manguezal e ainda estavam bem conservadas. Por outro lado, verifica-se

que o traçado definitivo da Rua Esperanto ainda não havia sido definido, embora ali

tivesse iniciada a ocupação:

No lugar das casas havia mangue e o barranco vinha até o meio da rua, mais ou menos. Não tinha rua aberta. Aí foram tirando o barranco para fazer tijolos e o morro foi recuando para o local onde está. A maré vinha até a porta da cozinha. Aí nós fomos aterrando e a maré foi chegando pra trás. Aqui de primeiro aparecia caranguejo e agora não tem mais (relato de morador).

A indicação das áreas da Av. Roberto Santos para instalação de indústrias

perdeu o significado com a construção do porto internacional do Malhado no bairro

Cidade Nova e com a falta de investimentos no setor secundário da economia.

Outro fator que contribuiu para isso, por sugestão do PLAMI, foi a indicação de

implantação do Distrito Industrial nos quilômetros 6 e 7 da rodovia Ilhéus / Vitória da

Conquista (PLAMI, p. 120).

As áreas da Av. Roberto Santos ficaram sem função econômica e sua

ocupação seguiu sem um efetivo ordenamento, tendo sido caracterizado, desde

então, pela ocupação de renda baixa que construíram as ‘favelas de mangue’, que

são “aglomerados de barracões de tijolos feitos pelos próprios moradores, com a

argila apanhada no local” (PLAMI, p. 209). Relata o morador:

Em 1967, quase não tinha casas. O povo começou a invadir terreno, não tem medo de nada e depois da vassoura de bruxa invadiram todos os terrenos. Onde há o colégio hoje, naquela época, era uma horta. No local da favela era uma área de taboa para fazer esteira e hoje em dia ninguém vê mais nada. A gente não tinha colchão e dormia na taboa. A Policia Federal não existia quando viemos morar aqui (relato de morador).

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59

Figura 8: Imagem aerofotogramétrica da Cidade de Ilhéus, mostrando a Av. Roberto Santos, Rua Esperanto, parte do Parque

Municipal da Boa Esperança e o rio Fundão.

Fonte: CEPLAC/ Centro de Pesquisa do Cacau (CEPEC). Vôo realizado pela empresa Cruzeiro do Sul no ano de 1975

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60

Empenhada em ordenar o crescimento da cidade, uma vez que o PUB (Vol. I,

p. 3.21) já indica nessa época para sede da Cidade de Ilhéus uma população

estimada de 63.308 habitantes, a Prefeitura Municipal de Ilhéus através de um

levantamento domiciliar realizado pela empresa TECNOSAN, em 1978, caracteriza a

Av. Roberto Santos como: de baixa renda, predominante residencial, oferta de

serviços e existência de equipamentos urbanos precários e uma população de 1.288

habitantes (PUB, 1979).

A recomendação do PUB (1979, Vol. I, p. 4.124, 4.125) para essa área é de

ocupação integral, com a implantação de núcleos comerciais e serviços públicos,

como escolas, igrejas, etc. e, para isso, traça diretrizes para fomentar a interligação

rodoviária estimulando essa ocupação.

Antes do asfalto, a rua era de paralelepípedos. Antes do paralelepípedo era de barro vermelho. Colocaram o paralelepípedo mais ou menos há 30 anos atrás e o asfalto veio mais ou menos em 1987 e 1988, no governo de Roberto Santos, por isso o nome da rua. No local do Parque de Operações, era um morro muito alto e a Prefeitura meteu o trator e cortou (relato de morador).

Se de um lado houve um estímulo para ocupação urbana na margem

esquerda do rio Fundão, de outro, o PUB (1979), no Vol. II – Prognóstico, estimula

para criação de “áreas de proteção dos mangues e da reserva florestal da bacia da

represa de abastecimento d´água,” (PUB, 1979, p. 3.25) na margem direita do

referido rio. A essas áreas de proteção ele chama de “Parque do Mangue” e se

refere ao Projeto de paisagismo do eixo Ilhéus - Itabuna, CEDURB, TECNOSAN/

Prochnik, 1976 (não disponível na atualidade para consulta).

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61

Aliado a isso, em 1989 os técnicos da CEPLAC5 diagnosticaram na região o

surgimento da doença fúngica que ataca aos cacaueiros, vulgarmente denominada

“vassoura-de-bruxa” (Crinipellis perniciosa). Ainda atônitos e desinformados quanto

aos efeitos causados pelo fungo, os fazendeiros não tinham a dimensão do porvir. A

Cidade de Ilhéus enfrenta, desde então, a maior crise já vista pela região e é

testemunha do efeito devastador que o fungo causou. Esse fato levou a região

cacaueira a uma crise sem precedentes, com sérios problemas socioeconômicos e

ambientais (PEREIRA, 1990).

Relacionados aos problemas socioeconômicos, por um lado, a doença atacou

indiscriminadamente a lavoura e, por outro lado os fazendeiros não tiveram

condições de manter suas propriedades rurais, dando início a um processo

migratório no sentido campo-cidade, em nível regional. Problema grave que trouxe

à tona as conseqüências de um modelo de monocultura em moldes tradicionais,

concentrador de renda e excludente social. Esse êxodo rural levou famílias a

ocuparem os morros e bairros periféricos da cidade, ocasionando uma ocupação

desordenada nas cidades regionais de médio porte, assim como a marginalidade

social refletida no contexto do desemprego, do analfabetismo, da violência, ou seja,

das condições de pobreza: (FARIAS e LAPA, 1991)

A procura pela moradia em bairros periféricos onde o valor da terra é menor,

cresceu e o que se viu foi o povoamento e expansão de bairros caracterizados como

de baixa renda, a exemplo da Av. Roberto Santos, Rua Esperanto e imediações,

dentre outros.

5 Órgão Federal, gerador de recursos técnicos e financeiros destinados à lavoura cacaueira.

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Ali em frente à casa do Jessé, o mangue vinha até ali e construíram casas sobre ele. Na área da Rua da Horta tem um problema grande, causado pela construção de casas e aterro de mangue na rua Esperanto (relato de morador).

O crescimento urbano espontâneo, associado a essa forte crise da lavoura

cacaueira, tornou deficiente a qualidade de funcionamento das atividades privadas e

dos serviços públicos. Além disso, as carências de infra-estrutura, habitação e

equipamentos das populações à margem dos mercados, não foram supridas,

tornando-se então um problema complexo de difícil solução, principalmente no que

se refere à qualidade de vida da população.

A área do Parque da Esperança e suas áreas contíguas, por ainda

oferecerem recursos alimentares, madeira para construção de casas ou comércio,

caça e pesca, um estoque natural de plantas medicinais, área para lazer, para

práticas sexuais ao ar livre, uso livre de drogas, dentre outras, vem sofrendo intensa

pressão antrópica (Vide Mapa pág. 41).

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63

3.2 O serviço de abastecimento de água de Ilhéus.

As condições climáticas do Município de Ilhéus colaboraram para a sua

vocação agrícola, bem como para a manutenção da boa qualidade do manancial de

água oferecido nessa região. A farta oferta de água potável registrada na região, o

alto índice pluviométrico, os rios perenes, dentre outros fatores, motivaram os

imigrantes regionais, nacionais e internacionais para aqui se instalarem (SILVA

CAMPOS, 1981).

Ainda assim, segundo o Plano Director para a Remodelação e Expansão da

Cidade de Ilhéos (1933, p. 16), apenas em 1908 a cidade passou a ter um amplo

projeto para abastecimento de água da cidade. Anterior a essa data, em 1907, os

engenheiros Manoel Da Rin e Archimedes Gonsalves, construíram em suas terras

situadas no vale do Lavadouro (atual Rua 31 de março), um açude, com barragem

construída de pedra, barro e cimento, destinada para o abastecimento de parte da

Cidade.

Porém, em função das condições topográficas locais, ou seja, pela

localização dessa barragem na parte mais baixa do referido vale, os engenheiros

buscaram solucionar o problema com a construção de um túnel que interligasse o

vale do Lavadouro com o vale do Gameleiro (atual Rua 7 de setembro) visando a

adução de água para o centro da cidade e construíram uma estação de

bombeamento de água situada no início da rua do Filtro, para abastecer as partes

altas da cidade, como o bairro da Conquista. Ao redor desse açude, foi projetada a

criação de um parque destinado a manter a integridade desse importante manancial.

Page 87: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Havia também uma outra represa, a montante da mencionada, situada na

Rua 31 de Março, que abastecia as fazendas do Coronel Miguel Alves, onde

atualmente está instalado o Hospital Regional e a Companhia de Eletricidade da

Bahia (COELBA). Nessa represa havia um “carneiro hidráulico”, motivo de

brincadeiras das crianças que desciam para pegar água na represa, pegar caju,

goiaba, araçá, tomarem banho e espiar as mulheres tomarem banho, brincar com a

bomba d´água e espantar as vacas que ali pastavam. Segundo João Batista de

Souza (2006), colaborador nessa pesquisa, que naquele local passou a sua infância,

quando o capataz da fazenda do Coronel Miguel Alves surgia no horizonte, todas as

crianças corriam de medo. Essa barragem foi mantida em funcionamento até o ano

de 1927 e estava localizada no local indicado na foto. Observando a Figura 9,

vemos que atualmente não há vestígios da construção.

Figura 9: Localização da antiga represa localizada na R. 31 de março, ano de 2006

Fonte: Fotografada e cedida pelo Sr. José Nazal Soub, 2006.

Localização da

Antiga Barragem

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Dados da Secção de Estatística da Municipalidade, elaborado nos anos de

1920, 1930 e 1935 (PLANO QUEIROZ, p. 170), indicam que a população de Ilhéus

estava assim distribuída na Tabela 1:

Tabela 1: População do Município de Ilhéus nos anos de 1920,1930 e 1935

Ano População Total do Município

(Secção de Estatística da Municipalidade)

População Urbana

(Estatística Predial)

1920 63.013 13.972

1930 80.594 16.323

1935 90.430 18.620

Fonte: Plano Queiroz, 1937, p. 170, quadro nº 29, p. 180

Embora a população da sede da Cidade de Ilhéus fosse pequena, na época

havia uma grande incidência e morte, causada por doenças veiculadas pela falta de

saneamento básico, tais como a desenteria e a febre tifóide. Se de um lado, não

havia rede para captação de esgotos na cidade e o abastecimento de água ainda

era precário, de outro, grande parte da população utilizava água de fontes, cacimbas

e poços. A contaminação do lençol freático era inevitável, causando sérios

problemas de saúde pública (PLANO QUEIROZ, 1937, p. 193).

Em 1927, foi inaugurado o novo serviço de abastecimento de água da cidade,

abrangendo uma bacia hidrográfica com área de 437,2129 ha, denominada Mata da

Esperança e localizado no antigo engenho de Fernão Alvarez. Esse novo sistema

foi concebido e construído pelos Engenheiros Manoel Da Rin, Archimedes

Gonsalves.

Para administração do novo sistema, criou-se então a “Empresa de Águas de

Ilhéus Limitada”, que assinou com a municipalidade um contrato de concessão para

exploração do serviço de água da Cidade de Ilhéus, datado de 5 de dezembro de

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66

1927. Durante os 24 anos que se seguiram, essa empresa responsabilizou-se pelos

serviços de captação, tratamento e adução de água potável destinada para o núcleo

urbano de Ilhéus e isso preservou um fragmento de mata atlântica contido nessa

bacia.

Responsável pelos serviços de água, o engenheiro Sr. Guarany Araripe

Valença, tinha a incumbência de chefiar o escritório, dar segmento as obras da

adução e cobrar as taxas referentes ao serviço, que na época se chamava “pena

d´água”: Cada “pena” consistia na colocação de uma instalação de água

residencial. Dessa forma, a barragem da Esperança, como se vê na Figura 10,

passou a atender parte da população de Ilhéus, sendo que a outra parte, ainda

continuou abastecida por poços e nascentes.

Figura 10: Vista do tratamento e da Represa da Esperança, ano de 1942.

Fonte: Fotógrafo A. Fâmula. Fotos cedidas pelo Sr. José Nazal Soub.

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67

Após os 24 anos de instalada, a área da Esperança foi adquirida pela

municipalidade, a qual passou a administrar os serviços de abastecimento de água

de Ilhéus. Essa compra está lavrada em Escritura Pública e registrada no Cartório

de Registro de Imóveis da Comarca de Ilhéus.

Em função dessa alteração administrativa dos serviços de água, o Prefeito de

Ilhéus Pedro Vilas Boas Catalão (1951-1955), promulga a Lei Municipal nº 394/1953,

criando o Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Ilhéus (SAAE), uma autarquia

municipal que, através de convênio, passou a ser administrada pelo Serviço

Especial de Saúde Pública – SESP. O SESP foi criado pelo governo federal em

1942, a partir de um convênio assinado entre os governos do Brasil e dos Estados

Unidos, com o objetivo de atuar na Amazônia e Vale do Rio Doce para combater a

malária e a febre amarela. Seus serviços foram tão eficazes que se espalharam em

todo Brasil.

Em seguida, o Prefeito Herval Soledade promulga a Lei Municipal nº

472/1955, alterando a Lei nº 394, no que se refere ao quadro administrativo do

SAAE. O Prefeito enquadrou os servidores no Estatuto dos Funcionários Públicos

Municipais, vigente na época e o Decreto nº 224/1955, nomeou esses funcionários

de acordo com a citada Lei nº 472.

As políticas públicas nacionais para saúde começavam a se delinear. Através

da Lei nº 3.750/1960, o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP foi transformado

em Fundação, com abrangência em todo território nacional. Além disso, a Fundação

Serviço Especial de Saúde Pública – FSESP poderia firmar acordos com os

governos e com outras entidades públicas ou privadas para coordenar, organizar e

administrar, serviços de abastecimento de água e de esgotos em todo território

Page 91: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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nacional. Essa Fundação estava vinculada ao Ministério da Saúde e, desde sua

criação contribuiu muito para “o desenvolvimento de estratégias de intervenção

sanitária no Brasil” (ANDRADE, 2003).

Os anos 60 foram fundamentais para que as transformações políticas,

econômicas, culturais, dentre outras, emergissem em todo mundo, na busca de

políticas e soluções globais. No que se refere à saúde, foi nessa década que o

Brasil formulou a Política Nacional de Saúde (1961) e redefiniu a identidade do

Ministério da Saúde, colocando-o “em sintonia com os avanços verificados na esfera

econômico-social” (MS, 2006). Com a realização da III Conferência Nacional da

Saúde (1963), a tese da municipalização desses serviços começou a ser defendida.

Por essa razão, o governo federal começava a se afastar da gestão municipal e, na

verdade, a descentralizar importantes tarefas e dando aos municípios autonomia.

Em atendimento a essa demanda nacional, foi instituída a Política Nacional de

Saneamento que, dentre outros, destinou recursos para os Estados criarem suas

próprias companhias de saneamento. Para tanto, verbas foram destinadas através

do Sistema Financeiro de Saneamento, lê-se, Banco Nacional da Habitação e na

Bahia foi criada a Superintendência de Engenharia Sanitária do Estado da Bahia

(SESEB) englobando a Companhia Metropolitana de Água e esgoto – COMAE e

Companhia de Saneamento do Estado da Bahia – COSEB. A SESEB, em 1971

alterou seu nome para Empresa Baiana de Saneamento - EMBASA.

Nesse ínterim, em Ilhéus, foi sancionada a Lei Municipal nº 902/1966, que deu

uma nova organização ao sistema administrativo de Ilhéus e na Seção VI, Art. 21,

vinculou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Ilhéus à Secretaria Municipal de

Viação e Obras e, quatro anos após, a Lei Municipal nº 1022/1970, autorizou o

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Prefeito de Ilhéus a firmar convênio com a Superintendência de Engenharia

Sanitária do Estado da Bahia (SESEB) para concessão de exploração de Serviços

de Água e Esgotos Sanitários no Município de Ilhéus pelo prazo de 20 anos. O

Decreto nº 53/1970, regulamentou o Serviço de Água e Esgoto Sanitário e a Lei nº

2434/1992 renovou essa concessão por mais 20 anos, em vigor até o ano de 2012.

O manancial da Esperança, como se vê na Figura 11, com capacidade para

armazenar 300.000 m3 (trezentos mil metros cúbicos) de água para adução (PLAMI,

1969, p. 136), foi indicado para abastecer o Distrito Industrial, na época foi

recomendada a sua instalação na rodovia Ilhéus/Vitória da Conquista, além do

abastecimento de 4.100 residências com ligações residenciais, 102 comerciais e 12

industriais, representando 30% dos domicílios (PLAMI, 1969). O manancial da

Esperança abasteceu a cidade até o ano de 1972, quando foi concluído e

inaugurado o novo sistema situado no bairro do Iguape.

Figura 11: Vista da lamina de água da Represa da Esperança, ano de 1942.

Fonte: Fotógrafo A. Fâmula. Fotos cedidas pelo Sr. José Nazal Soub.

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70

3.3 A criação da UC Parque Municipal da Boa Esperança

A UC Parque Municipal da Boa Esperança, localizado em área urbana

periférica da Cidade de Ilhéus, dentro do contexto regional, está inserida em área

onde, segundo dados científicos do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC),

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e New York Botanical Garden, (s/d),

botânicos encontraram a maior biodiversidade em plantas lenhosas do mundo.

A necessidade de proteger o bioma Mata Atlântica e, em especial esse patrimônio

natural internacional incentivou a criação de áreas protegidas, e pode-se citar: as

demarcadas pelo Corredor Central da Mata Atlântica, a Reserva Biológica de Una

(REBIO-Una), Parque Estadual da Serra do Conduru (Uruçuca), APA Itacaré - Serra

Grande (Uruçuca e Itacaré), APA Lagoa Encantada (Ilhéus), incluindo também as 15

RPPNs inseridas na região ocupando uma área de 1.926,72 ha, abaixo relacionadas

(Quadro 3).

Quadro 3: Relação de RPPNs inseridas na região cacaueira

Nº Município Nome da RPPN Área (ha) Portaria/ ano Proprietário

1 Una Nova Angélica 135,17 26/06 IESB

2 Itacaré Capitão 660,08 85/05 IESB

3 Ilhéus Fazenda São João 25,00 22/97-N Regina Helena Pessoa

4 Jussari Reserva Natural da Serra do Teimoso 200,00 93/97-N Agro-Pecuária Teimoso Ltda

5 Ilhéus Reserva Salto Apepique 118,00 103/97-N Gustavo Henrique Nora

6 Ilhéus Arte Verde 10,00 114/98-N Sérgio Ramos dos Santos

7 Itacaré Araçari 110,00 138/98-N Alfio Lagnado

8 Una Ecoparque de Una 83,28 053/99 IESB

9 Uruçuca Fazenda Bom Sossego 4,70 13/99-N Eckart Robert Dross Alvarez

10 Ibicaraí Estância Manacá 95,00 36/2000 Enoc dos Reis Barbosa

11 Uruçuca Fazenda Paraíso 26,00 26/2000 Afrânio Silva Almeida

12 Itacaré Reserva Pedra do Sabiá 22,00 155/2001 Isa Maria Rincquesen

13 Una Ararauna 39,00 06/03. Julia Nuscheler e outros

14 Ilhéus Mãe da Mata 13,00 32/04 Ronaldo de Jesus Santana

15 Itacaré Reserva Ecológica Rio Capitão 385,49 24/04-N Jean Claude Lafuje

Fonte: Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), 2006,

arquivo eletrônico cedido pela PRESERVA.

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71

A área que abriga os mananciais da Esperança foi mantida e protegida

mesmo após a desativação dos serviços de abastecimento de água ali existente, a

partir do ano de 1972, quando a captação e abastecimento de água foram

transferidos para o bairro do Iguape. Embora esse manancial já fosse de

propriedade da municipalidade de Ilhéus, foi mantida sob a guarda da Empresa

Baiana de Saneamento – EMBASA (Engenheiro José Correa Lavigne de Lemos, em

entrevista a autora).

Nesse período, até 1989, a área era vigiada por uma equipe mantida pela

EMBASA, visando conter o desmatamento, a destruição das nascentes e a

integridade da represa e, por conseguinte, a boa salubridade da água:

Major Lino, da Polícia Militar, é que fazia a ronda na mata, no meu tempo. A mata tem que ser zelada, ela é a representação de Ilhéus (Relato de ex-funcionário da Prefeitura Municipal de Ilhéus).

O ano de 1989 para o Brasil foi decisivo, em especial, sob o ponto de vista

político, uma vez que os militares deixavam o poder após 24 anos de um regime

ditatorial. Dando segmento ao “processo de abertura”, como foi chamado esse

período de transição, a nova Constituição Federal do Brasil foi promulgada abrindo

os caminhos para solução de problemas nacionais e viabilizando anseios da

população, das comunidades excluídas – índios e negros – e da comunidade

científica, a discutir problemas referentes ao homem e ao meio ambiente.

O Art. 29 da Constituição Federal (1988) previu o regimento dos municípios

através das suas Leis Orgânicas. Por essa razão, em 5 de abril de 1990, é

promulgada a Lei Orgânica do Município de Ilhéus (LOMI), que no Capítulo XV, trata

da Política do Meio Ambiente e no Art. 226, cria duas áreas de conservação

ambiental municipais: a Área de Proteção Ambiental (APA) Lagoa Encantada e o

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Parque Municipal da Boa Esperança. Esse último situado em zona perimetral

urbana referente às áreas da Mata da Esperança, onde em 1927 foi instalado o

serviço público de abastecimento de água (LOMI, 1990).

Em vista dessa indicação da LOMI, a Prefeitura de Ilhéus começou a se

preocupar com a manutenção da área e o Prefeito sancionou o Decreto Municipal n°

42, de 17 de junho de 1994, criando o Jardim Botânico de Ilhéus. O Inventário

Florístico da área concluiu que naquele fragmento havia um considerável exemplar

de Mata Atlântica.

Os resultados do Inventário Fitossociológico do Parque da Esperança,

publicados no Plano de Manejo da UC (2001) com autorização do Dr. André

Maurício Vieira de Carvalho, responsável pela elaboração do mesmo, dão conta de

que dentro do transeto estudado,

Lianas totalizaram 93 indivíduos, englobando 42 táxons e atestam ser um componente importante na estrutura da mata. Na classe de diâmetro mínimo de 10 cm, foram encontrados 1.005 indivíduos distribuídos em 47 famílias e 185 espécies, permanecendo a família Myrtaceae com 22 espécies como a mais diversa (Carvalho, s/d)

Em função dessa constatação científica, em 1996, a Prefeitura Municipal de

Ilhéus vislumbrou a necessidade de parceria institucional para administrar a área,

elaborar projetos e buscar recursos financeiros. Para tanto, assinou Convênio com

a Fundação Pau Brasil (FUNPAB) que iniciou seus trabalhos objetivando a

legalização da área, sob o ponto de vista jurídico, elaborando o importante Projeto

de Implantação da Infraestrutura da UC e buscando parcerias, a exemplo do

Ministério do Meio Ambiente, Comunidade Européia e ONGs nacionais e

internacionais.

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73

A partir dessas consultas e, embasada no que reza na Lei Orgânica do

Município (1990) e na Lei Federal nº 9.985/2000, que institui o SNUC, foi proposta

ao município a Lei Complementar Municipal nº 001/2001, e legalmente criada a

Unidade de Conservação de Proteção Integral Parque Municipal da Boa Esperança.

O Art. 5º dessa Lei Complementar revogou o Decreto nº 42/1994, que criou o Jardim

Botânico de Ilhéus. Em seguida, através do Decreto Municipal nº 072/2001, foi

criado o Conselho Consultivo e o Decreto Municipal nº 076/2001 deu posse aos

Conselheiros. Seguiu-se a elaboração e decretação do Plano de Manejo – Fase 1.

O arcabouço jurídico estava formado para que ações de conservação pudessem ali

ser realizadas.

Foi iniciada então a organização física do Parque, com a construção de

escadas em pontos de difícil acesso, como se observa na Figura 12, abertura e

limpeza de trilhas e novas trilhas, construção de cerca no limite com o Banco da

Vitória e, principalmente, contatos com as comunidades do entorno visando a sua

conscientização, ao tempo em que foi elaborado um projeto com a finalidade de

implantar a infraestrutura física do Parque da Esperança.

Esse Projeto para implantação da infraestrutura física do Parque da

Esperança, elaborado por técnicos da FUNPAB, PMI, CEPLAC e Centro de

Recursos Ambientais (CRA), consistiu na reforma das construções (existentes) de

apoio à barragem, construção de guarita, melhoria do acesso principal, abertura e

melhoramento de trilhas, construção de unidades para demonstração técnico-

científica, cultural e vivência ambiental, implantação de sistema de energia elétrica,

construção de viveiro para plantas endêmicas, identificação e caracterização das

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áreas degradas e definição de estratégias para recuperação e/ou enriquecimento,

atividades de educação ambiental, dentre outras metas de projeto.

Figura 12: Melhoramento do Acesso Principal a Barragem, ano de 1999

Fonte: Fotos cedidas pelo CEPEC/CEPLAC, 1999

Aprovada sua execução e financiamento em uma parceria entre a FUNPAB,

PMI, CEPLAC e Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), Ministério do Meio

Ambiente (MMA) as obras foram iniciadas. Porém, por incapacidade administrativa

municipal em cuidar dos próprios públicos, em 2006, com muita irresponsabilidade, o

projeto foi levado por terra e junto, os anseios da comunidade. A obra, já em

andamento, sem vigilância, foi destruída e todo investimento feito pelo Governo

Federal, na ordem de aproximadamente R$500.000,00 (quinhentos mil reais),

perdidos. Vândalos levaram portas, janelas, madeiramento do telhado, telhas, etc.

Segundo relato de moradores,

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Estou revoltado! O dinheiro veio e não chegou lá. Eu estou revoltado, o dinheiro do Governo Federal chegou, fizeram a obra e o povo roubou tudo. Não tem fiscalização, não tem nada. Roubaram tudo e não colocaram segurança. Estou revoltado! No meu tempo, a mata era zelada! Segurança aqui são os pivetes (Relato de morador).

Paralelo a elaboração do Projeto para implantação da infraestrutura, contatos

com instituições nacionais e internacionais foram realizados, visando atrair

investimentos e ao mesmo tempo disponibilizar esse fragmento para estudos nas

diversas áreas do conhecimento. Isso gerou o artigo intitulado “$300,000”, publicado

na Revista World Watch, vol. 14, nº 6, p. 14, que, engajado na luta pela conservação

da Mata Atlântica, solicitou ao mundo a quantia acima para ser utilizado em diversos

trabalhos nessa UC.

Além disso, o Parque Municipal da Boa Esperança, ao longo desses anos,

vem sendo objeto de estudos das diversas áreas do conhecimento, para

pesquisadores da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e outras

universidade do país, pelo Centro de Pesquisas do Cacau – CEPEC/CEPLAC, e por

pesquisadores internacionais. Nesse aspecto podemos citar a elaboração do

Projeto Decision Support System for Sustainable Ecosystem Management in Atlantic

Rain Forest Rural Áreas (ECOMAN), financiado pela Comunidade Européia e que

contou com a participação de cinco países da Europa, com o Brasil e com a Costa

Rica. O Parque Municipal da Boa Esperança foi um hot spot desse Projeto.

Outros trabalhos técnico-científicos foram realizados na área da UC, a

exemplo de Correa (2005), onde essa autora valorou economicamente (grifo

nosso) o Parque da Boa Esperança e a Reserva Natural (RPPn) da Serra do

Teimoso (situada em Jussari/BA), bem como analisou os fatores que afetam a essa

“disposição a pagar e o valor de existência desses dois sítios ecológicos” (CORREA,

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2005). Essa autora concluiu que, em função da pressão antrópica existente no

Parque da Esperança (U$202.637.080,22 e U$85.359.196,12), seu o valor de

existência está aquém do valor de existência da RPPn Serra do Teimoso

(U$265.464.757,85 e U$115.772.084,40).

Podemos citar também o “Levantamento preliminar das espécies vegetais

com potencial econômico no Parque Municipal da Boa Esperança, Ilhéus, Bahia,

Brasil” (UESC), “Inventariamento da Fauna de Crustáceos Decápodes do Município

de Ilhéus, Bahia.” (UESC); “Composição Florística e Estrutura da Mata da Esperança

no Município de Ilhéus, BA”, (CEPLAC), “Projeto Mata Atlântica do Nordeste.”

(CEPLAC).

Em relação à fauna, relatam os moradores a ocorrência de aves e de animais

como teiú, paca, cotia, tatu, preguiça, saruê, preá, coelho, catitu, guará, ouriço-

cacheiro, porco-espinho, jibóia, sagüi, raposa, cobras (pico-de-jaca, jaracuçu), na

represa, muitos peixes e pitu. Essa etapa da pesquisa permitiu-nos resgatar

ocorrência de animais, hoje extintos na área, como o veado, suçuarana, jacaré,

capivara, tamanduá, lontra e anta.

Se de um lado o Parque Municipal da Boa Esperança exibe um sistema

natural a ser preservado e vem ao longo do tempo ganhando status de um hot spot

com reconhecimento internacional, de outro, as comunidades que habitam os

diversos bairros localizados em seu entorno não conseguem acompanhar essa

evolução. Para tanto, o Plano de Manejo contempla programas que poderão

subsidiar as futuras intervenções nessas diversas localidades, nas seguintes áreas:

de Conhecimento, de Uso Público, de Integração com a área de Influência, de

Manejo do Meio Ambiente e de Operacionalização. Assim, o Plano de Manejo do

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Parque (Decreto Municipal nº 085/2001) cumpre a sua função de regulamentar as

principais atividades de uso público indicadas para o Parque: educação ambiental e

ecoturismo.

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Capítulo IV

A relação entre os moradores, os usuários e o Parque da Esperança

Nesse capítulo, apresentaremos os resultados referentes à pesquisa de

campo, obtidos através da coleta de dados junto aos moradores, aos usuários e

Presidentes de Associações de Moradores que, além de colaborarem respondendo

com boa vontade às questões formuladas, muito contribuíram com a nossa

segurança física.

A nossa intenção nesta pesquisa não foi a de delinear o núcleo central das

Representações Sociais da comunidade que habita o entorno do Parque Municipal

da Boa Esperança e dos seus usuários, mas sim, identificar os conteúdos das

representações construídas pelos atores sociais sobre a Unidade de Conservação

(UC), através das suas relações com o Parque e com o espaço habitado.

Para subsidiar melhor esse viés, levantamos as seguintes questões: Qual a

percepção dessas comunidades com referência ao seu espaço habitado? O

sentimento de pertença proporciona que tipo de atitude com o Parque da

Esperança? É o que tentaremos responder nesse trabalho.

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4.1 O processo de transformação do lugar, o Bairro e o Parque da Esperança

Sob a luz da teoria de Yi-Fu Tuan (1997) e Milton Santos (1966) estaremos

analisando a transformação do lugar, a partir da década de 1970, quando se iniciou

a efetiva ocupação e transformação da paisagem: da Avenida Roberto Santos, Rua

Esperanto e adjacências, como foi relatado no Capítulo III, item 3.2, desse trabalho.

A efetiva ocupação urbana da área de estudos se iniciou com a doação de

uma área para instalação da Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus (1976), órgão

subordinado ao Ministério da Justiça do Brasil. Até então havia poucas residências:

“em 1967, quase não tinha casas”, afirma um morador. Nesse primeiro qüinqüênio

da década de 1970, também foi instalado o Parque de Operações da Prefeitura

Municipal de Ilhéus, onde até hoje é feito o apoio mecânico à frota de veículos do

município.

Em seguida, no ano de 1982, uma grande área foi aterrada e nesse local foi

erguida e inaugurada a Estação Rodoviária de Ilhéus, consolidando o vetor de

expansão da cidade no sentido oeste. Para minimizar o déficit habitacional na

cidade, foi erguido o Condomínio Moradas Bosque de Ilhéus e logo após, o Conjunto

Residencial Santa Bárbara.

Na década de 1990 foi instalado o Presídio Ariston Cardoso (1994), e

empresas se instalaram na Avenida Roberto Santos, a exemplo, Rota Transporte

Rodoviário Ltda., Cia. São Geraldo de Viação S/A, além de pequenos

empreendimentos familiares como bares, mercearias, oficinas mecânicas e de

pintura de automóveis, dentre outros. Na Rua Esperanto há pouca atividade

comercial, ou seja, pequenos negócios familiares como, mercado, bares, venda de

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acarajé, de verduras, etc., porém, a sua ocupação se consolidou basicamente como

residencial.

Dentre os equipamentos instalados na Av. Roberto Santos, merecem

destaque o Centro Esportivo Cornelius Rechenberg e a Escola Modelo Luiz Eduardo

Magalhães. O primeiro é sede da escola de futebol de meninos de Ilhéus, por onde

mais de 10.000 crianças e jovens passaram desde sua fundação. Atualmente a

Instituição atende 500 crianças entre 8 e 17 anos. O objetivo do projeto é o de

trabalhar a cidadania, tanto do ponto de vista social, como do esportivo. Atualmente

é freqüentada por um público que habita a periferia, como explana o Coordenador

do Centro:

Alguns desses jovens jogam em times profissionais como: Colo-Colo, Vitória, Catuense e outras equipes do Estado de São Paulo. No exterior, participam de torneios interclubes profissionais como F. C. Bayern Munique e outros. A instituição é mantida pela Human Network Internacional (Coordenador do C. E. Cornelius Rechenberg em entrevista a autora).

A Escola Modelo Luiz Eduardo Magalhães, é destinada ao ensino médio (2º

grau) sem inclusão dos cursos profissionalizantes e foi construída pelo Governo do

Estado da Bahia em 1999, possuindo 12 salas de aula, sala de vídeo, sala de língua

estrangeira (espanhol e inglês), laboratório de informática, de ciências e atualmente,

atende a 1.300 alunos nos três turnos. Pela manhã e noite, as 12 salas estão

ocupadas e, no turno da tarde, apenas quatro salas, por falta de público, embora a

escola tenha 35 (trinta e cinco) professores disponíveis nos três turnos. Freqüentam

a escola alunos dos bairros Salobrinho, Banco da Vitória, Teotônio Vilela e

redondezas. Moradores antigos testemunham uma grande transformação no bairro:

Há 26 anos atrás, a Av. Esperança era um matagal. Não tinha pavimentação. Não se podia vacilar com portas abertas, crianças não podiam ficar na porta após as 18:00 horas, por causa dos

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drogados que vinham para a nossa porta consumir drogas. Após o segundo governo de Jabes que nós tivemos mais liberdade (relato de morador).

Onde há o colégio hoje, naquela época, era uma horta. No local da favela [Vila Freitas, atrás da Escola Modelo] era uma área de taboa para fazer esteira e hoje em dia ninguém vê mais nada. A gente não tinha colchão e dormia na taboa (relato de morador).

A expansão da cidade no sentido oeste, no bairro do Fundão se deu às

margens do rio Fundão e, devagar, empresas e residências foram ocupando as

áreas ribeirinhas, os morros, até o seu (quase) adensamento. Quanto à Rua

Esperanto, ela é basicamente residencial e sua ocupação se deu a partir do aterro

do manguezal e sobre cortes do morro para confecção de tijolos:

No lugar das casas havia mangue e o barranco vinha até o meio da rua, mais ou menos. Aí foram tirando o barranco para fazer tijolos e o morro foi recuando para o local onde está. A maré vinha até a porta da cozinha. Aí nós fomos aterrando e a maré foi chegando pra trás. Aqui de primeiro aparecia caranguejo e agora não tem mais. No primeiro governo de Jabes que essa rua foi definitivamente aberta e pavimentada. De primeiro nós mesmos, os moradores, fomos abrindo a rua e depois veio a Prefeitura (relato de morador).

Podemos perceber que, ao longo dos últimos 30 anos, o tipo de ocupação

e uso do solo nessa localidade redundou em uma gradual destruição dos recursos

naturais existentes na área urbana original.

Diante dessas transformações, constatadas por observações, relatos de

moradores e pela comparação entre os levantamentos aerofotogramétricos

referentes aos anos de 1975 e 1999 (vide p. 59 e p. 41, respectivamente),

constatamos a existência de problemas referentes aos aspectos de oferta de bens

e serviços públicos prestados no bairro. Assim, os problemas foram apontados

pela população, que tiveram a liberdade de listá-los: falta de segurança pública

(84,13%), falta de áreas para lazer (73,02%), falta de transporte coletivo

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(25,40%), falta de serviços de limpeza pública e de rede de esgoto (39,68%).

Outras variáveis foram apontadas em pequena escala, como a falta de

iluminação, a falta de cobertura em pontos de ônibus, a deterioração da

pavimentação asfáltica, dentre outras.

Observamos que os principais ressentimentos da população como a falta

de segurança pública e a falta de área para lazer afetam mais a camada situada

entre as idades de 19 e 30 anos. Com relação aos aspectos de saneamento

básico, a preocupação dos presidentes das Associações de Moradores e dos

moradores nos foi revelada da forma:

Aqui falta esgoto sanitário, pavimentação de ruas [refere-se a ruas transversais], falta de áreas de lazer, melhoria da limpeza pública que às vezes a gente precisa pegar no pé da PMI, falta creche, condições de melhores moradias, de emprego, de saúde, estamos a um mês sem remédios (relato de presidente de associação).

O único lazer que temos é a ponte [refere-se à antiga ponte do Fundão] e a represa lá dentro (relato de morador).

Atrás das casas que foram construídas sobre o mangue [na Rua Esperanto], passa um riacho que virou um rio de esgoto e na realidade recebe todos os esgotos, incluindo o da rua da Horta. Isso está matando a fauna: guaiamum, caranguejo, etc. Antigamente os bichos andavam na rua e hoje não tem mais (relato de presidente de associação).

No tocante à falta de segurança pública no bairro, trata-se de um problema

nacional também verificado, em larga escala, em nível local, onde não existem

investimentos em políticas públicas voltadas para o atendimento de jovens e adultos,

objetivando resgatar-lhes a cidadania e a auto-estima:

Geralmente, as crianças de 11 anos passam a se envolver no crime e terminam deixando de ser uma pessoa do bem. O que a gente quer resgatar é isso. Queremos cursos profissionalizantes, oficinas. Nós discutimos isso e buscamos. Lá tem muitos usuários de drogas que usam e terminam vendendo. São revendedores de drogas. São vários grupos de gangs. O bairro tem constantemente roubo de

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fiação, assalto a vendas e comércio em geral, a transeuntes, e isso é uma constante para sustentação do tráfico (relato de presidente de associação).

Ora, ainda que os moradores percebam esses problemas, sofrem e sentem-

se impotentes para auxiliar na sua solução e, por essa razão, buscam desenvolver

uma atitude para convivência pacífica: o silêncio. Nesse contexto, Teixeira (2004)

nos elucida que os principais problemas que geram a violência no Brasil estão

interligados e, dentre eles: o desemprego e a miséria.

Mesmo diante desse quadro, no que se refere à qualidade de vida no bairro,

13,1% consideram a sua vida ótima, 14,8% consideram a sua vida péssima e 41,0%

consideram a vida boa e 31,1% regular. E o que isso quer dizer? Qualidade de

vida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é “a percepção do indivíduo

de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele

vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Isso

nos leva a crer que esses moradores, se sentem impotentes diante de seus

problemas inerentes ao próprio padrão de vida baixo, ao tempo em que se sentem

abandonados pelos diversos sistemas de poder, ou seja, a representação que essa

comunidade tem de felicidade ficou confinada ao estilo de vida deles.

Ao se tratar dos aspectos da segurança pública e por conseguinte, ao

aumento da violência nesse bairro, as pessoas se mostraram visivelmente

incomodadas e o assunto foi tratado, por vezes, através de gestos e olhares. Tem

essa comunidade condições básicas atendidas para acharem, na maioria, sua vida

boa ou regular, como demonstra o Gráfico 1? Podemos inferir que, o que os levou a

dizer foram as condições ambientais, referentes à natureza que os circunda, como

relata um morador:

Page 107: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

84

Espero que uma instituição séria, ou um órgão sério se unam para proteger a Mata Atlântica. Essa mata nos traz vida, saúde, nossos filhos não vão ter problema de saúde, o ar é puro (relato de morador).

Nessa rua há muito assassinato a tiro e facada, por nada. É só cismar com a sua cara (relato de morador).

Esses dois testemunhos retratam um antagonismo no conceito de felicidade

dessa população: por um lado eles a associam a natureza (Parque da Esperança)

e, talvez por isso se preocupam em preservá-la; por outro, há a desesperança que

se pode associar à infelicidade, vinculada a condição da degradação dos valores.

Gráfico 1: Qualidade de vida no bairro

13,1%

41,0%

31,1%

14,8%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Porcentagem

Otima Boa Regular Péssima

Pode-se adicionar a essa discussão sobre a qualidade de vida, um

componente básico referente à busca da felicidade, que na era pós-moderna parece

tornar-se uma obrigatoriedade. Mas, o que vem a ser essa felicidade?

Page 108: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

85

[...] se partirmos do surdo para chegar às discussões trazidas pela Pós-Modernidade, veremos que sua identidade é híbrida como a de qualquer sujeito que vive o “comportamento selvagem” sugerido pelo consumismo gerado pela Globalização e é usuário dos avanços tecnológicos (Dupret, s/d).

Isso nos reporta ao Pensamento Único, de Ramonet (1997), que expressa

que a sociedade, ou os grupos sociais, deverão estar imobilizados, rebeldes,

inibidos, desorganizados, competitivos, dentre outros e, que o indivíduo que não se

comportar dessa forma será banido, execrado da sociedade. É a sociedade do

consumo exagerado incluindo as drogas e a exploração sexual, o telefone celular,

dentre outros e Lima (2004) acrescenta, “[...] não basta ser transgressivo, ou

perverso-imoral, é preciso se construir uma justificativa “moral” para atos imorais ou

perversos”.

Embora essa comunidade esteja à margem do desenvolvimento econômico,

54,1% considera a vida no bairro entre ótima e boa, ao tempo em que se imbui de

pensamentos de felicidade plena, de conformismos, de sonhos não reais. O Brasil,

segundo dados de 2006 (Jornal O Globo, 10/11/2006), é um país com Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH de 0,72 e está colocado no ranking mundial em 69º

lugar e, quanto ao Município de Ilhéus, seu IDH é de 0,703. O que isso quer dizer?

Quer dizer sobre a desigualdade social existente entre paises ricos e pobres, quer

dizer que no Brasil, a exemplo da comunidade de estudo, não há qualidade de vida,

e que a distribuição de renda encabeça essa desigualdade. Quer dizer, por fim, que

a felicidade poderá estar subsumida pela condição econômica.

São felizes e vivem bem os moradores desse bairro? Estamos diante de uma

subordinação de inconformidade, como afirma Santos (1997, p. 107), motivada pela

impotência gerada pela pobreza e adaptação às condições de vida, por isso

enfraquecendo-os para as reivindicações, para, dentre outros, o exercício da

Page 109: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

86

cidadania. Se na pós-modernidade felicidade é consumo, como podem sentir-se

felizes e dizer ter qualidade de vida pessoas que vivem sem suas condições básicas

mínimas atendidas?

Em sua maioria (75,4%), os moradores habitam a esse bairro, por

conseguinte o entorno da UC, há mais de 10 anos: 42,6% habitam o bairro entre 11

e 30 anos e, 32,8% há mais de 31 anos. Quanto aos usuários, apenas 4,8% não

residem no entorno do Parque da Esperança e, 52,4% residem no bairro há mais de

11 anos (Gráficos 2 e 3):

Gráfico 2: Tempo de moradia no bairro - Gráfico 3: Tempo de moradia no

moradores bairro - usuários

As famílias são legalmente constituídas e estabilizadas, onde,

tradicionalmente, o homem é o chefe da unidade familiar. Chefes de família

divorciados e solteiros somam 29,5%. Quanto aos usuários, são solteiros 66,7%

deles (Gráficos 4 e 5).

21,3%

21,3%

24,6%

32,8%

Até 10 anos

11 a 20 anos

21 a 30 anos

Mais de 31 anos

4,8%

42,9%

38,1%

14,3%

Não mora no entorno

1 a 10 anos

11 a 20 anos

Mais de 20 anos

Page 110: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

87

Gráfico 4: Estado civil dos moradores Gráfico 5: Estado civil dos usuários

16,4%

3,3%

54,1%

26,2%

Casado

Solteiro

Viúvo

Divorciado

66,7%

33,3%Casado

Solteiro

Page 111: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

88

4.1.1 Aspectos socioeconômicos dos moradores do entorno e usuários do

Parque da Esperança

Embasado nos estudos de Barros (2007), que considera extrema pobreza ou

abaixo da linha de pobreza, famílias que possuem renda média familiar per capita de

até R$81,29 mensais e, de pobreza, as de renda média familiar per capita até

R$162,59 mensais, faremos agora a análise da renda.

Os moradores caracterizados como de extrema pobreza perfazem um total de

14,75% e, 40,98% estão enquadrados dentro da faixa de pobreza, ou seja, 55,73%

da população que vive no entorno do Parque da Esperança, no que se refere à

renda, é colocada à margem e está inserida no processo de exclusão social. Desse

modo, as condições de pobreza adversas são refletidas nas condições de vida

dessa população. No caso do nosso estudo, 50,8% da população tem emprego,

37,7% está desempregada e 11,5% aposentada. Assim, a renda familiar per capita,

está distribuída (Gráfico 6):

Gráfico 6: Renda média familiar per capita, referente aos moradores

14,75%

40,98%

44,26%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Porcentagem

extrema pobreza pobreza acima da linha depobreza

Renda

Page 112: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

89

Os Gráficos 7, 8, 9, 10, 11, 12, formam um quadro estrutural no tocante a

renda familiar, grau de instrução e idade, referentes à população e usuários do

Parque da Esperança, os quais estão distribuídos da seguinte forma:

Gráfico 7: Renda familiar da população Gráfico 8: Renda familiar dos usuários

Gráfico 9: Grau de instrução da população

19,7%

8,2%

52,5%

14,8%

3,3%1,6%

0

10

20

30

40

50

60

Porcentagem

Analfabeto

1º grau in

completo

1º grau co

mpleto

2º grau in

completo

2º grau co

mpleto

Superior

Escolaridade

14,76%

68,85%

16,39%

0

10

20

30

40

50

60

70

Porcentagem

< 1 SM 1 ≤ SM ≤ 3 > 3 SM

Intervalo em Salário Mínimo

23,8%

66,7%

4,8% 4,8%

0

10

20

30

40

50

60

70

Porcen

tagem

< 1 SM 1 ≤ SM ≤ 3 > 3 SM não sabe

Intervalo em Salário Mínimo

Page 113: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

90

Gráfico 10: Grau de instrução dos usuários do Parque da Esperança

66,7%

4,8%9,5%

19,0%

0

10

20

30

40

50

60

70

Porcentagem

1º grau in

completo

1º grau co

mpleto

2º grau in

completo

2º grau co

mpleto

Escolaridade

Gráfico 11: Idade da população Gráfico 12: Idade dos usuários

Com relação à renda dos usuários da UC, houve dificuldades na pesquisa

para que pudéssemos extrair dos entrevistados dados que se referem à renda

familiar per capita. Não familiarizados com questionamentos, tornaram-se arredios

não nos permitindo colher informações adicionais.

No tocante à renda familiar e grau de instrução, moradores e usuários se

aproximam. Isso é visível quando se relaciona a renda familiar, que é de 66,7%

49,2%

11,5%

39,3%19 a 30 anos

31 a 50 anos

Mais de 51 anos

28,6%

42,9%

23,8%

4,8%

até 18 anos

19 a 30 anos

31 a 50 anos

Mais de 51 anos

Page 114: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

91

para os usuários e 68,85% para os moradores, com renda situada em faixa de 1 a 3

salários mínimos.

As atuais injunções políticas e econômicas regionais causadas pela crise da

lavoura cacaueira, a falta de investimentos na indústria, aliadas às condições de vida

da comunidade e à sua baixa escolaridade permitem que se tenha a dimensão da

falta de trabalho e, por conseguinte, da exclusão social. São os moradores com

idade acima de 50 anos (48,2%) que sustentam suas famílias com o trabalho

informal e aposentadoria.

Por outro lado, a falta de políticas públicas e de projetos voltados para o

desenvolvimento de comunidades e/ou bairros urbanos vem de encontro aos

anseios dessa população que diz:

Falta capital para esse investimento. Os órgãos governamentais não ajudam com nada. Todo mundo vira as costas prá gente. Queria colocar um trailer para vender suco, sanduíche... A gente acaba acomodando por não ter nada para fazer (relato de morador).

Quanto ao grau de instrução, observa-se que 72,2% da população

pesquisada não conseguiram atingir o primeiro grau completo e desses, 19,7% são

analfabetos. Entre os usuários, 66,7% não atingiram o primeiro grau completo,

embora 42,9% estejam em faixa etária entre 19 e 30 anos, ainda em condições para

investir na própria educação. As dificuldades referentes ao avanço da idade, aliados

a baixa escolaridade e a baixa renda, são sentidas com mais intensidade entre a

população com idade entre 31 a 50 anos.

Notamos uma grande anomalia em relação à educação, quando detectamos

um alto índice de não concluintes do ensino fundamental (1ª à 8ª série). Assim,

Page 115: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

92

observamos que, em termos percentuais, essa comunidade reflete as condições de

analfabetismo e baixo índice educacional que ocorre em todo território nacional, nas

classes de baixa renda.

A faixa etária da população e usuários nesse trabalho foi dividida em quatro:

pessoas com idade até 18 anos, entre 19 a 30 anos, entre 31 a 50 anos e mais de

51 anos. O que se evidencia é que, aproximadamente, 50% da população que

habita o entorno do Parque da Esperança possui idade acima de 50 anos. Segundo

o IBGE, é considerada população em idade economicamente ativa, pessoas que

estão em faixa etária entre 15 e 64 anos.

É necessário observarmos que o Parque da Esperança é, em sua maioria,

freqüentado por usuários com idade entre 15 a 30 anos: 81% do sexo masculino e

19% do sexo feminino e, essas, são na quase total maioria menores de 21 anos de

idade, e se dirigem ao Parque para “[...] namorar e ficar tranqüilas lá dentro” (relato

de usuária). A seguir temos os Gráficos 13 e 14 que retratam a freqüência ao

Parque da Esperança, relativa ao gênero dos usuários e moradores:

Gráfico 13: Gênero dos moradores Gráfico 14: Gênero dos usuários

19,0%

81,0%

Feminino

Masculino

52,5%

47,5%

Feminino

Masculino

Page 116: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

93

Esse comportamento de gênero nos reporta para o conceito de felicidade

atual, onde na sociedade,

[...] Todos se sentem na obrigação de se divertir, [...] e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”, não importando os limites de si próprio e dos outros. [...] Todos parecem viver na “obrigação” de se cumprir uma ordem invisível, e de ser visivelmente feliz e vencedor (LIMA, 2004).

Outros fatores físicos influenciam na análise dessa comunidade, e aqui

consideraremos as condições de moradia. Assim, os Gráficos nº 15, 16, 17, 18, 19,

20 se referem às condições de vida, conforto e bem estar das habitações dessa

população:

Gráfico 15: Tipo de construção Gráfico 16: Tipo de cobertura

Gráfico 17: Tipo de piso Gráfico 18: Número de janelas

85,2%

3,3%11,5%

Alvenaria de tijolos

Madeira

Mista (tijolo emadeira)

11,5%

8,2%

13,1%

67,2%

Telha de amianto

Telha cerâmica

Laje

Laje e amianto

45,9%

42,6%

11,5%

Cerâmica

Contrapiso

Misto (Cerâmica eContrapiso)

2%12%

37%

21%

28%

0 janelas

1 janela

2 janelas

3 janelas

Mais de 4 janelas

Page 117: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

94

Gráfico 19: Número de quartos Gráfico 20: Número de pessoas nos

domicílios

As moradias refletem os dados econômicos, embora 85,2% das residências

tenham sido construídas em alvenaria de tijolos, poucas são aquelas que tiveram um

planejamento arquitetônico: o que se verifica, na maioria dessas residências, são

longos corredores de acesso aos quartos e cozinha; 72,1% delas possuem até 3

janelas; 67,2% são cobertas com telhas de amianto; 42,6% possuem o piso em

cimento; 64,0% abrigam até 4 pessoas em seu interior. Esses fatores, sob influência

do clima regional, com pouca ventilação e insolação em seu interior, tornam as

casas quentes e úmidas e com aspecto de pouca salubridade em seus interiores.

Embora a Secretaria de Saúde, tanto do Estado da Bahia, quanto do

Município de Ilhéus não possuam dados atualizados referentes a incidência de

doenças na área específica dessa pesquisa, algumas doenças foram relatadas por

funcionários da Secretaria Municipal de Saúde, com abrangência para todo

município, a exemplo da dengue, hepatite e leptospirose. Isso nos remete, mais

uma vez, ao conceito de felicidade dessa população: além deles morarem em

condições físicas precárias, estão sujeitos a incidência de doenças cuja veiculação

1,6% 8,2%

49,2%

31,1%

9,8% 0 quartos

1 quarto

2 quartos

3 quartos

Mais de 4 quartos

9,8%

3,3%

13,1%

19,7%

27,9%

9,8%

6,6%9,7%1 pessoa

2 pessoas

3 pessoas

4 pessoas

5 pessoas

6 pessoas

7 pessoas

Mais de 8pessoas

Page 118: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

95

se dá pela falta de saneamento, por vetores de doenças e, principalmente pela

ausência de políticas públicas pontuais voltadas para erradicar esses vetores de

doenças físicas. Vale salientar que essa autora observou a presença de incontável

número de ratazanas adultas transitando nas ruas, bem como nas áreas de

manguezal próximas às residências.

Quanto à naturalidade dos moradores, há uma predominância de nativos, ou

seja, 52,5% da população são naturais do Município de Ilhéus. Observamos que

75,4% dessa população estabeleceram-se nesse bairro há mais de 10 anos, tendo

já criado uma condição de experienciação e um sentimento de lugar e de pertença

com o bairro e com a natureza que o circunda (Tuan, 1980) (Gráfico 21).

Gráfico 21: Naturalidade dos moradores

52,5%

47,5%

Nativo

Não-nativo

Para uma melhor avaliação quanto à procedência dos usuários e partindo de

informações preliminares, tínhamos informações que grande parte deles habitava o

entorno do Parque da Esperança. Convencionamos estudar o item através de 3

variáveis: perto, média distância e longe.

Page 119: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

96

O usuário que freqüenta a UC é denominado:

� perto: até aproximadamente 500 m de distância da entrada principal

do Parque, ou seja, da porteira ao lado da antiga ponte da rodovia

Ilhéus/Vitória da Conquista, indicando moradores da Av. Roberto

Santos, da entrada da UC até o Colégio Modelo, bem como os

moradores da Av. Palmares;

� média distância: quem mora até aproximadamente 1.000 m, ou seja,

Rua da Horta e adjacências;

� longe: quem mora a mais de 1.000 m, em outros bairros, e nas Ruas

Esperanto e da Paz (prolongamento da Rua Esperanto).

Dessa forma, o cenário que nos abriu foi de que, a maioria dos usuários do

Parque da Esperança, ou seja, 76,2% habitam perto, 9,5% a média distância e

14,3% longe (Gráfico 22):

Gráfico 22: Procedência dos usuários do Parque da Esperança

76,2%

9,5%

14,3%Perto

Média distância

Longe

Page 120: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

97

Quanto ao tempo de freqüentação ao Parque, 63,9% da população freqüenta

o Parque da Esperança entre 0 e 10 anos e 36% freqüentam há mais de 11 anos. A

freqüência de familiares desses é baixa (23,0%), como mostram os Gráficos 23 e 24

a seguir:

Gráfico 23: Tempo de freqüentação de moradores ao Parque da Esperança

63,9%

3,3% 4,9%9,8%

18,0%

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

Porcentagem

0 anos 1 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos Mais de 30anos

Tempo

Gráfico 24: Freqüentação de familiares de moradores ao P. da Esperança

23%

77%

Sim

Não

Page 121: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

98

Esse índice alto de não freqüentação, segundo relatos, se deve a problemas

relativos à falta de fiscalização e segurança no interior da Unidade de Conservação,

como reflete a linguagem de moradores:

Ia com minha família e não vamos mais. Lá nós pescávamos e tomávamos banho na represa. Hoje não vamos mais com medo dos malandros, a maloca deles é lá (relato de morador).

Encontrei 10 ou 12 pessoas dando tiro lá dentro. Sempre ouço cachorro latir na mata, mas não sei quem é o caçador. De noite, ninguém vai lá (relato de morador).

Não tenho coragem de levar minha família por causa da malandragem (relato de morador).

A presença de malandros armados torna o local perigoso. Pela Av. Esperança só entra quem quer tomar banho na represa e pela rua do Cano só passam os vagabundos armados. Lá dentro falaram que ia construir um ponto turístico, abriram a estrada pela FERBRITA. Daí pararam a obra e os vagabundos foram lá dentro e destruíram tudo. Quebraram tudo: as telhas, colunas, levaram as ferragens (relato de morador).

Quanto aos usuários, 63,9% deles freqüentam o Parque entre 1 e 10 anos.

Esse fator se deve à pouca idade desses usuários que, geralmente, começam a

freqüentar a UC por volta dos 10 anos de idade, levados inicialmente por parentes,

amigos e pela curiosidade, como expressam os Gráficos 25 e 26.

Page 122: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

99

Gráfico 25: Tempo de freqüentação de usuários ao Parque da Esperança

66,7%

19,0%

9,5%4,8%

0

10

20

30

40

50

60

70Porcentagem

1 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos Mais de 30 anos

Tempo

1 a 10 anos

11 a 20 anos

21 a 30 anos

Mais de 30 anos

Gráfico 26: Freqüentação de familiares de usuários ao Parque da Esperança

52,4%

47,6%

Sim

Não

Page 123: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

100

Quanto ao acesso a bens e serviços públicos, 91,8% dessa comunidade vive

em casa e terreno próprios e legalizados. Os terrenos localizados às margens do rio

Fundão, em sua maioria, foram acrescidos com aterro de barro e lixo sobre as áreas

de mangue. Se de um lado, apenas 4,9% da população têm computador e acesso a

rede de Internet, de outro, 60,7% não possuem telefone residencial e 57,4%

possuem telefone celular. Esses dados atendem à Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílios - PNDA, (IBGE, 2005) que trouxe informações sobre acesso a rede de

internet e posse de telefone celular para uso pessoal, onde foi verificado que, a partir

do ano de 2005, os telefones celulares passaram a ser mais numerosos do que as

linhas fixas (PNAD, 2005).

Verificamos que 100% das residências são abastecidas com água encanada,

fornecida pela Empresa Baiana de Saneamento – EMBASA, também responsável

pelo serviço de captação e tratamento de esgotos domésticos. Porém, 52,5% das

residências, por não estarem com sua rede de esgotos ligada na rede pública,

lançam seus esgotos in natura no rio Fundão, ou se utilizam de valas nos fundos das

casas (Gráfico 27).

Page 124: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

101

Gráfico 27: Captação e tratamento de esgoto sanitário

48%

44%

8% Rede geral

Direto no rio

Vala a céu aberto

Quanto às condições sanitárias individuais das residências, em 83,6% delas

os banheiros foram construídos em seu interior e apenas 3,3% não possuem

banheiro. Todas as casas possuem energia elétrica fornecida pela Companhia

Baiana de Eletricidade - COELBA. A coleta de lixo, realizada pela Prefeitura

Municipal de Ilhéus, abrange a todo bairro, porém, 90,2% dessa comunidade se

utilizam desses serviços e, 9,8% se utilizam do rio Fundão e pontos viciados de lixo

para depositarem seus resíduos. 14,8% da população reciclam o seu lixo.

Em busca de instrumentos de participação e mobilização social –

associativismo – nessa comunidade existem duas associações de moradores

atuantes, a saber: Associação de Moradores da Rua Esperanto Perolato, a

Associação Desportiva e Comunitária dos Amigos e Moradores da Vila Freitas e

Esperança, todas agrupadas no Grupo de Associações São Jorge dos Ilhéus –

GAJI, que agrega 72 (setenta e duas) associações de moradores, representantes

dos diversos bairros da cidade e distritos de Ilhéus.

Page 125: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

102

Na atualidade, o Parque da Boa Esperança pode ser considerado como o

principal atrativo técnico-científico-cultural da Cidade de Ilhéus e, através dele

poderemos buscar intervenções para o desenvolvimento da comunidade do entorno,

dando-lhes, além do sustento, o seu bem estar. Para tanto, é necessário que as

perguntas básicas dessa pesquisa sejam respondidas.

O Parque da Esperança tem sido referência para a comunidade que vive no

entorno. Embora 74% dos moradores e 71,4% dos usuários não saibam o que vem

a ser uma Unidade de Conservação (UC), constatamos que eles têm ciência de que

a área foi Tombada e que precisa ser preservada. Um fator fundamental para esse

desconhecimento é relativo à baixa escolaridade tanto da população quanto dos

usuários. Porém, é do conhecimento de todos os objetivos da preservação

ambiental, isto é, o Parque é um lugar para ser guarnecido e vivenciado por todos,

como mostram os relatos e os Gráficos 28 e 29 a seguir:

A mata tem que ser zelada, ela é a representação de Ilhéus (relato de morador).

Tem a reserva que não pode bulir (relato de morador).

Também ela representa, dentro de Ilhéus, uma parte ecológica que pode ser divulgada na parte turística da nossa cidade (relato de presidente de associação).

No meu conhecimento, tá tombado pelo Patrimônio Histórico, sei que é Tombado e inclusive na Secretaria de Meio Ambiente vai haver ação para ver se tem gente tirando madeira aí dentro. É um lugar de preservação (relato de presidente de associação).

Sinto que [a área do Parque da Esperança] deve ser conservada para as águas não serem destruídas (relato de morador).

Page 126: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

103

Gráfico 28: Conhecimento sobre UC - Gráfico 29: Conhecimento sobre UC -

Moradores usuários

Essas relações entre a comunidade com o Parque da Esperança são em sua

maioria (86,9%) de satisfação. 21,3% dessa população vê o Parque como um

quintal de suas casas e 65,6% expressa essa satisfação na visão do Parque como

um jardim, um prolongamento de suas casas. Se de um lado a relação de afeto

entre a comunidade e o Parque é expressiva, observamos que apenas 21,3% dessa

população o freqüenta e 23% dos familiares costumam visitar a UC (Gráficos 30 e

31):

26%

74%

Sim

Não

71,4%

28,6%

Sim

Não

Page 127: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

104

Gráfico 30: Freqüência de moradores ao Parque da Esperança

21,3%

78,7%

Sim

Não

Gráfico 31: Freqüência de familiares ao Parque da Esperança

23,0%

77,0%

Sim

Não

Isso nos levou aos seguintes questionamentos: por que essas pessoas não

freqüentam a UC e por que, apenas 23,0% de seus familiares freqüentam a UC?

Um local reconhecido por todos como bom, não é freqüentado cotidianamente? A

resposta para essas indagações nos levou a observar as atitudes, sentimentos e

topofilia, tanto dos moradores quanto dos usuários no interior da UC.

Page 128: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

105

4.2 Atitudes, sentimentos, topofilia e valores ambientais

As relações entre as diversas comunidades e as áreas protegidas, em

especial, as UCs de Proteção Integral, em todo mundo, têm sido motivo de

preocupação para aqueles que detêm a responsabilidade de manter a integridade

dessas áreas e suas características naturais (paisagem, flora e fauna) preservadas

e, ao mesmo tempo, proporcionar o bem estar dos usuários dessas UCs em seu

interior e no seu entorno.

Tuan (1980, p. 68) assinala que as preferências e atitudes ambientais advêm

da história cultural e a experienciação de um determinado grupo em seu habitat

físico. Ora, sabemos que atitudes exercidas pelas populações, em especial aquelas

inerentes ao meio urbano, se constituem, na sua maior parte, em conflitos geradores

de problemas de naturezas diversas e de “posturas” ou “posições físicas” quando se

considera os seus aspectos socioeconômicos, o senso comum, a inserção física do

indivíduo na natureza, dentre outros aspectos. Segundo Bedante (2004, apud

Wilkie, 1994, p. 47-48), “[...] a palavra atitude, hoje, se refere a uma posição mental

ou uma avaliação de algo por uma pessoa”.

No caso especifico desse estudo, as atitudes foram abordadas a partir das

observações individuais referentes a: a) atitudes dos moradores no interior da UC;

b) atitudes dos usuários no interior da UC; c) atitudes de terceiros no interior da

UC, percebidas pelos moradores; e, d) atitudes de terceiros no interior da UC,

percebidas pelos usuários. Para melhor compreensão desse assunto apresentamos

os Gráficos 32, 33, 34 e 35 a seguir:

Page 129: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Gráfico 32: Atitudes dos moradores, no interior da UC

78,7%

8,2%

1,6%

6,6%4,9%

Não freqüenta

Coleta de plantas, ervas medicinais, frutas e mudas

Banho na represa

Passeio, observação da natureza, as belezas, namorar, beber

Caça, pesca, retirada de lenha

Gráfico 33: Atitudes dos usuários, no interior da UC

71,5%

19,0%

9,5%

Banho na represa

Passeio, observação da natureza, as belezas, namorar, beber

Caça, pesca, retirada de lenha

Page 130: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Gráfico 34: Atitudes de terceiros no interior da UC, percebidas pelos moradores

47,5%

29,5%

4,9%

4,9%

4,9%

6,6% 1,6%

Nada a declarar

Marginalidade, consumo de drogas, uso de armas de fogo

Abandono da área, esconderijo para ladrões

Destruição da obra realizada pelo Governo, falta de fiscalização, desistência de investimentos governamentais

Desmatamento, falta de segurança

Banho na represa, caça, pesca, mudas, frutas para comercialização

A porteira fechada e falta de acesso pela rua do Cano

Gráfico 35: Atitudes de terceiros no interior da UC, percebidas pelos usuários do

Parque da Esperança

66,7%

23,8%

9,5%

Nada a declarar

Destruição da obra realizada pelo Governo, falta de fiscalização, desistência de investimentosgovernamentaisDesmatamento, falta de segurança

Page 131: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Entre os moradores que freqüentam a UC, as atitudes, ou práticas referentes

a tomar banho na represa e coletar plantas, ervas medicinais, mudas e frutas, são

mais apreciada por pessoas com idade entre 19 a 30 anos. Podemos aceitar que, o

que falta na cidade como opção para lazer, de alguma forma, é compensado pelo

uso da UC para essa finalidade.

Por outro lado, o alto índice de não freqüência da população ao Parque da

Esperança (78,7%) reflete o desagrado com referência às atitudes de terceiros

percebidas no seu interior. Nessa altura da pesquisa, podemos dizer que essas

atitudes refletem as condições socioeconômicas da população e dos usuários do

Parque da Esperança, trazendo à tona um problema grave, tratado na comunidade

como tabu, que é o uso de drogas no interior da UC. Por ser tabu, é conversado de

maneira velada e está embutido na declaração “nada a declarar” relatada por 47,5%

da população, em detrimento dos 29,5% que, numa atitude de “coragem” declararam

não freqüentar a UC por observarem as práticas de marginalidade, consumo de

drogas e porte e uso de armas de fogo e armas brancas por outros freqüentadores:

Tanto para uso da droga quanto para fuga da policia, a Mata é utilizada (relato de presidente de associação)

Só veja aí dentro, malandro, é o que tem demais (relato de morador)

Presença de ladrão, maconheiro e tudo que não presta (relato de morador)

Eu não deixo que meus filhos freqüentem porque tem muito vagabundo aí dentro (relato de morador).

Lá dentro vai muita gente que foge da cadeia. Ali não tem segurança. De noite anda gente lá dentro, que cisma com a gente. Tem gente que vai pra lá fazer sacanagem (relato de morador).

Page 132: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Algumas atitudes são inerentes a moradores e usuários, como o banho na

represa, que é uma alternativa para a falta de lazer na cidade. Essas atitudes

revelam necessidades de prazer que vão além da freqüência ao bar e da

sensualidade expressada por eles em cada gesto, tanto no falar, no vestir, no dançar

e no comer; revelam também a busca pelo prazer através da sexualidade, o que

ficou patente na observação. Por outro lado, a atitude de indignação e ao mesmo

tempo de afeto para com o Parque, tanto de moradores quanto de usuários, diante

do abandono da área pelo poder público, foi a mesma:

As casas que fizeram lá dentro foram todas desmanchadas e ninguém tomou providências. Destruíram tudo. Aí dentro precisa ter guarda. Ficam 5, 6, sem fazer nada na presa, sem emprego. Quem administra não sabe administrar (relato de morador).

O que percebemos nessa relação entre a população e a natureza, não só na

área de estudo, mas também em toda cidade, é que não há sentimentos e

consciência para o embelezamento da cidade, ou seja, não se cultiva jardins, flores,

a arborização é precária e depredada, e poucas são as áreas verdes que

proporcione a satisfação de interação entre os moradores a cidade e com natureza

circundante.

Quando há quintais nas residências, ainda que pequeno, geralmente

sobrevivem árvores frutíferas, a maior parte plantadas nos tempos em que as casas

tinham grandes quintais, a exemplo de fruta-pão, jambo, cajá, abacateiro,

mangueira, bananeiras, e outras. Essa cultura atende a necessidades de

subsistência: tanto nas unidades familiares, quanto para a sua comercialização em

pequenos comércios ou oferecidas em carrinhos-de-mão nas praças e feiras da

cidade. Não só as frutas cultivadas em quintais têm essa finalidade, o Parque da

Page 133: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Esperança e as fazendas limítrofes a ele, também possuem essa característica de

sustentação, bem como outras plantas ornamentais e medicinais.

Tenho colegas que moram no bairro, que pegavam até mudas para vender na feira: galhos para árvores de Natal, coqueirinhos e plantas medicinais (relato de morador).

Conheço as frutas que vem de lá: jenipapo, cajá, jaca, coco, manga. Porque conheço pessoas que vão buscar essas frutas. Também tem os animais: preguiça, micos, pássaros e mais. Conheço casos de pessoas que caçam e comercializam os animais pegos na mata (relato de morador).

Embora a maioria das casas não possua jardins, aquelas que o têm não

despendem cuidados necessários para manter a sua beleza. Segundo Tuan (1980,

p. 158), “os jardins espelham certos valores cósmicos e atitudes ambientais”, nos

levando assim aos valores culturais. Moradores (65,6%) e usuários (52,4%) do

Parque da Esperança o vêem como um jardim, expressando em seus olhares a

satisfação intima de tê-lo como vizinho.

É comum o sentimento de pertença na relação da comunidade com a área do

Parque, tanto com relação aos moradores de origem nativa quanto não nativa, em

especial, para aqueles moradores que não freqüentam a UC. A forma como eles

expressam em sua linguagem esse sentimento deu-nos a sensação de que a

mesma é continuidade de suas próprias casas. Para 21,3% dessa comunidade e

33,3% dos usuários, a UC é vista como um quintal que lhes dá o alimento, ajudando-

os na sobrevivência. As relações de afeto nessa localidade, entre a sociedade e a

natureza, são fortes, interdependentes e harmoniosas (Gráficos 36 e 37).

Page 134: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Gráfico 36: Relações de Afeto com o Parque da Esperança sentida por moradores

21,3%

65,6%

4,9%

8,2%

Quintal

Jardim

Não sei

Indiferente

Gráfico 37: Relações de Afeto com o Parque da Esperança sentida por seus

usuários

33,3%

52,4%

9,5%4,8%

Quintal

Jardim

Não sei

Indiferente

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Através desse sentimento de pertencimento que população e usuários têm

com a UC percebemos o sofrimento e indignação diante da constatação feita por

eles de que o Parque é utilizado para esconderijo de ladrões, que são realizados

desmatamentos e que é um local sem segurança, onde se pratica caça, pesca,

retirada de mudas e frutas para comercialização. O roubo, a falta de fiscalização, o

descaso para com os investimentos governamentais e a destruição da obra

realizada pelo governo federal (FNMA), foram relatados pela população, indicando

aceitação com relação ao empreendimento. Outros fatores foram mencionados

como: o fechamento da porteira na entrada principal do Parque (Av. Roberto

Santos) e a falta de acesso pela Rua do Esperanto.

E, quais são essas emoções e sentimentos que envolvem tanto a comunidade

quanto os usuários em relação ao Parque da Esperança?

Percebemos assim o envolvimento emocional e familiaridade com o Parque

quando a comunidade fala de seu sentimento ao olhar o Parque de fora ou seja, um

olhar a partir da rua, de suas casas. Ainda que, parte dessa população não

freqüente a UC, o sentimento do belo, de saudade, alegria e orgulho, é observado

por todos: a população têm o sentimento de que lá dentro há tranqüilidade (42,6%),

sentimento do belo, de saudade, alegria e orgulho (37,7%) e percebem as cores, o

verde (1,6%). Dessa forma, 81,9% dessa população relaciona-se com o Parque

como uma extensão de suas residências e aprova as medidas de preservação

dessa natureza.

Usuários se somam a esse sentimento, 42,9% dos entrevistados vêem a UC

com sentimento de tranqüilidade, 4,8% percebem a nuance das cores e 33,3%

sentem a beleza, saudade, alegria e orgulho (Gráficos 38 e 39)

Page 136: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Gráfico 38: Sentimento de fora para dentro para com a UC referente aos moradores

42,6%

8,2%1,6%

37,7%

8,2% 1,6%

Tranqüilidade Insegurança

Muito verde Beleza, saudades, alegria, orgulho

Abandono da área, a destruição, desperdício Outro / Nada

Gráfico 39: Sentimento de fora para dentro para com a UC referente aos usuários

42,9%

4,8%4,8%

33,3%

14,3%

Tranqüilidade Insegurança

Muito verde Beleza, saudades, alegria, orgulho

Abandono da área, a destruição, desperdício

Page 137: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

114

E dentro do Parque da Esperança, em meio à mata? Quais são os

sentimentos da comunidade e usuários quando estão no seu interior?

Embora 49,2% da população residente nunca tenha ido ao Parque sequer

para uma visita, apenas 8,2% possuem sentimentos de insegurança em relação a

ele; 37,7% possuem sentimento de tranqüilidade e os demais nutrem sentimentos

positivos de laços afetivos. Quanto aos usuários, 71,4% se sentem integrados ao

Parque da Esperança e, lá dentro, sentem tranqüilidade (Gráficos 40 e 41).

Gráfico 40: Sentimento no interior da UC referente aos moradores

49,2%

37,7%

8,2%

1,6%

1,6%

1,6%

Nunca foi Tranqüilidade Insegurança Grandeza Não sei Nada

Page 138: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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Gráfico 41: Sentimento no interior da UC referente aos usuários

71,4%

23,8%

4,8%

Tranqüilidade Insegurança Não sei

Atitudes, afeições, sentimentos de tranqüilidade, percepção do verde, dentre

outros, inspiram o que? Quais são os valores atribuídos pela comunidade e

usuários ao Parque da Esperança?

Correa (2005, p. 42) ao valorar economicamente os recursos ambientais da

RPPn Serra do Teimoso e do Parque Municipal da Boa Esperança concluiu que

pessoas residentes nos Estados Unidos da América e na União Européia possuem

uma menor disposição a pagar (DAP) pela preservação do Parque da Esperança em

função da ação antrópica ali verificada. Isso nos leva a questionar que, se esses

mesmos entrevistados tivessem ciência da importância social e ambiental do Parque

para essa mesma comunidade que habita no seu entorno, qual seria a DAP

atribuída a esse último?

Essa pesquisa demonstrou que essa mesma comunidade que habita o

entorno dessa UC atribui a ela um alto valor de existência em função dos atributos

naturais pela presença do verde, as árvores, a água, ar puro, a represa, os

Page 139: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

116

pássaros, as frutas, o manguezal, ervas, a paisagem, a calma, a paz, a natureza, a

beleza, a neblina da manhã (87%) e entre usuários, esses mesmos atributos

perfazem um total de 85,7%. Em seus estudos, Morsello (2001, p. 131) aborda

sobre os diversos valores que as Unidades de Conservação inspiram, uma vez que

além de guardarem a biodiversidade da fauna e flora, dentre outros, elas trazem

consigo a sensação de bem-estar na sociedade, caracterizando assim o seu “valor

de existência”.

Por outro lado, Tuan (1980) caracteriza esses valores de existência com a

palavra topofilia, compartilhando nesse conceito sentimentos relacionados entre

pessoas e seu objeto de afeição, onde no nosso caso, o objeto é o Parque da

Esperança. Dessa forma, o que se observou, é que o que move essa comunidade e

os usuários do Parque, é o sentimento de conjunto de valores subjetivos que

compõe a mata (Gráficos 42 e 43)

Gráfico 42: Sentimento de topofilia com o Parque – moradores

63,7%

3,1%

3,1%

13,7%

1,5%

6,1%

1,5%7,4%

O verde, as árvores, a água, ar puro, a represa, os pássaros, as frutas, o manguezal, ervas

A neblina de manhã

Descaso das autoridades, o mau-trato, marginalidade

A paisagem, a calma, a paz, a natureza, a beleza

A caça e a pesca

A falta de movimento no interior do Parque

Não sei

Um desperdício de área que poderia ser usada para construção de casas

Page 140: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

117

Gráfico 43: Sentimento de topofilia com o Parque – usuários

61,8%

4,8%

23,8%

4,8%4,8%

O verde, as árvores, a água, ar puro, a represa, os pássaros, as frutas, o manguezal, ervas

Descaso das autoridades, o mau-trato, marginalidade

A paisagem, a calma, a paz, a natureza, a beleza

A caça e a pesca

Não sei

Embora o Parque da Esperança seja pouco freqüentado pelos moradores, o

sentimento de topofilia ficou bem caracterizado nessa pesquisa. Partindo do ponto

de vista de Santos (1998), em que ele aborda o tema sobre a relação homem-

natureza (vide Capítulo II) acredita-se que a partir da valoração desses espaços

ambientais, o homem se relaciona sim com a natureza, não a partir da dialética, mas

pela linguagem do corpo na busca do seu prazer, da felicidade. Se de um lado os

sentimentos de topofilia são declinados pela comunidade a partir de itens pontuais

os quais compõe o todo, de outro os valores, afeições, atribuídos a esses

sentimentos são plenos desse todo (Gráfico 44 e 45).

Page 141: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

118

Gráfico 44: Valores Ambientais atribuídos ao Parque da Esperança – moradores

3,3%4,9%

36,1%

6,6%

4,9%

1,6%

11,5%

13,1%

18,0%

Bem-estar Paisagem, beleza, ar puro

A represa, a água, o banho Caça e pesca

Alimento, frutas e madeira para comercialização A mata, o verde

O Lazer, o conhecer Drogas / vagabundagem

Não sei

Gráfico 45: Valores Ambientais atribuídos ao Parque da Esperança – usuários

4,8%

90,4%

4,8%

Paisagem, beleza, ar puro A represa, a água, o banho

Alimento, frutas e madeira para comercialização

Page 142: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

119

4.3 O Rio Fundão

Pelo histórico da ocupação da área de estudo, vimos que, para acomodar a

expansão da cidade visando ampliar terrenos ao longo das áreas ribeirinhas do rio

Fundão, foram realizados aterros utilizando argila retirada de cortes em morros e

lixo, incluindo aqui pneus, uma vez que a cidade não possuía área destinada para

aterro sanitário. Sobre esses aterros, as edificações foram surgindo e o que se vê

hoje é a ocupação total desses terrenos e, por conseguinte, toda área de manguezal

da margem esquerda do rio ficou comprometida.

Na minha casa teve aterro com brita, lixo e terra. Eu já tirei mais de 80 pneus da maré. Antigamente os botos vinham até aqui dentro e hoje não vem mais. Agora o rio tá tão raso que nem os peixes querem vir mais. Quem destruiu foi a Prefeitura com lixo. Nessa área de maré foi jogado muito lixo pela Prefeitura. Aqui tinha muito pescado e, porque jogaram muito barro no local de colocar a rede. Antigamente essa área era muito boa. O local onde está o Parque de Operações da PMI foi todo aterrado com lixo e com terra. Foi jogada muita terra e elevou o leito do rio. O assoreamento é grande e também o despejo na maré. Se o poder público exige preservar a natureza, a PMI e a EMBASA tem que dar condições para isso. Eu pesco tainha no rio Fundão, tenho canoa, tenho rede e aqui não falta peixe não. O que falta é o caranguejo, por causa dos aterros (relato de morador).

Dentre as famílias que habitam o entorno do rio Fundão, apenas 16,4% delas

pesca no rio, sendo que 4,9% pescam diariamente com a finalidade de consumo e

comercialização do pescado, o que se caracteriza como um reforço às necessidades

de sobrevivência dessas famílias.

Entre os usuários, 33,3% pescam no rio Fundão; de vez em quando (28,6%) e

com freqüência de 3 em 3 dias (4,8%), denotando também recurso econômico

adicional para essas pessoas. Os motivos de pesca são: diversão (9,5%), diversão

e consumo familiar (4,8%) e consumo familiar (19%).

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As agressões ao rio foram pouco relatadas. Além das citadas acima, o rio

Fundão recebe uma alta carga de matéria orgânica proveniente de despejos de

esgotos domésticos de outros bairros, além do derramamento de óleo originário de

lavagem de automóveis. Apesar da falta de informação sobre agressões, no

entanto, os usuários são conscientes da destruição da natureza, quando relatam que

o rio e o pescado estão contaminados.

Dentro desse contexto, em função das condições socioeconômicas da

população, há um contra senso: em meio a um bolsão de pobreza e a um forte

sentimento de interação com a natureza, o rio Fundão não é utilizado para minimizar

a fome dessa população. Isso nos leva a discordar dos moradores e, afirmar, que o

rio Fundão agoniza, tendo perdido a sua condição de sustentação dessa população,

ou seja, o rio não tem peixe e os crustáceos sucumbiram em função da falta de

planejamento urbano eficaz nessa região que contemple o desenvolvimento

sustentável.

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121

4.4 Identidade Cultural

Embora os itens acima estabeleçam os aspectos relativos à identidade

cultural referentes ao Parque da Boa Esperança e ao bairro, nessa etapa do

trabalho, buscamos identificar a influência das religiões estabelecidas no local como

também os mitos e as lendas relacionadas no contexto.

Esses aspectos culturais nos remetem ao Relatório de Desenvolvimento

Humano no qual é reconhecida a relação entre cultura e rendimentos. Na verdade,

acesso à cultura é um dos itens mais caros na formação de um ser social e, a sua

privação leva a uma perda absoluta da sua capacidade de estabelecer vínculos com

ela (RDH, ONU, 2004, p. 13-14).

Assim, nas entrevistas realizadas buscamos as lendas e as projeções

fantasiosas que envolvem o Parque Municipal da Boa Esperança e o seu entorno.

Na análise da linguagem da população, percebemos expressões de medo,

curiosidade, alegria e humor, que, nas suas estórias, envolvem a floresta. Dos seres

encantados da floresta, a caipora, o curupira, já foram vistos por muitos, ou deles,

muitos têm notícias:

O medo de eu entrar na mata é o curupira, que tem o olho na testa e o pé pra traz. A caipora tem um pé só e usa o cachimbo vermelho e para entrar na mata o agrado dela será: fumo de corda amarrado no arvoredo, fita vermelha, verde e branca. Desde quando mudei para aqui diziam que a mata era mal assombrada: diziam, não vá só, leve uma ou duas pessoas, mas todas as vezes – que fui na mata não tive o que dizer (relato de morador). Na Toca da Onça aparece muita coisa: aparece cachorro morto que ainda vive e muitas vozes. Também borra de vela. Também tem caipora, que me enganou lá dentro e eu me perdi lá dentro. Aí, encontrei Sr. João, o dono das matas, que bebeu cachaça comigo, fumou cigarro e perguntou “porque se perderam se tem cigarro no bolso?” Aí nós demos cigarro a ele e encontramos o caminho de volta. Até hoje eu me arrepio com isso (relato de morador)

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122

A essas criaturas os habitantes associam uma “paisagem negativa” do

Parque e também do bairro. Contam eles que em tempos atrás, no bairro, havia um

homem que virava lobisomem e animal sem cabeça, havendo comentários sobre

isso até hoje: “– Mas eu nunca vi, graças a Deus!” tranqüiliza-se o narrador.

Por outro lado, havia um homem chamado Arizinho, que “tinha parte com a

caipora”. Seu hábito de caçar portando apenas uma pequena faca de 20 cm e suas

habilidades pessoais, induziu à criação de um personagem mitológico que por muito

tempo povoou o Parque da Esperança:

[...] eu vinha pelo Banco da Vitória e tinha um cara gritando, era Arizinho se rolando pelo chão. Aí eu encontrei o irmão dele, que foi dar socorro. Arizinho tinha parte com a caipora. A caça vinha morrer no pé dele. Ele não bulia com ninguém e a caça vinha por vontade dela mesma. Ele não tinha espingarda, ele tinha um facão. Ele ficava nu na mata. Ele só caçava nu. Arizinho já morreu... Ficava 15 dias na mata. Todo mundo conhecia Arizinho, que não bulia com ninguém (relato de morador).

São também muito significativas as influências relativas aos aspectos

religiosos nessa comunidade. Estão estabelecidas nessa região, igrejas católicas,

protestantes e o candomblé, que promovem seus cultos, festas e ritos inerentes a

cada uma delas. A igreja Católica Apostólica Romana, através da Paróquia de

Santa Terezinha, além de promover eventos e festas, mantém um padre, querido na

comunidade. A igreja protestante, além de fazer um trabalho comunitário, procura

trabalhar com jovens, principalmente no que se refere ao uso de drogas e

comportamento sexual.

Os candomblés da Ialorixá Conceição e o da Ialorixá Matilde têm seus rituais.

No terreiro da Ialorixá Matilde são realizados rezas e trabalhos individuais. No

carramanchão de Da. Conceição, onde são realizadas festas no dia 2 de julho (dia

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123

dos caboclos), 25 de outubro (Crispim e Crispiniano). Outras festas são: a festa da

marujada onde tem samba e viola:

No dia dos caboclos oferecemos na mata, perto da Lagoa Encantada, porque na Mata não tivemos permissão. A área é de Da. Branca e não podemos invadir. A oferenda é grande. O candomblé só influencia no bairro quando vai tocar tambor (Ialorixá Conceição)

Page 147: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

124

Considerações Finais

Desde as primeiras abordagens americanas sobre o estabelecimento de

áreas protegidas, ainda no Século XIX, as presenças do Estado e de seus

mecanismos de poder estiveram presentes, com a criação de leis, regras de

comportamentos, elaboração de Planos de Manejo e, ainda diante disso, os

problemas inerentes à preservação e conservação dos recursos naturais não foram

resolvidos. E mais, agravam-se a cada dia os problemas sociais e econômicos das

populações urbanas, rurais, povos tradicionais, etc., enfim, hoje a relação do homem

com a natureza parece tender ao desequilíbrio.

A sociedade globalizada investe muito dinheiro em projetos de pesquisa na

busca de enriquecimentos, royalties, etc., tendo como lastro os recursos naturais.

De dentro de seus escritórios, os técnicos utilizam mapas para localizar áreas para

preservação e/ou conservação, selando assim o destino dos ocupantes daquelas

áreas, tirando-lhes a liberdade e diversidade cultural a que esses povos têm direito.

Um ponto de equilíbrio entre a preservação da natureza e a preservação do homem,

enquanto um ser cultural parece ser um bom caminho para a discussão sobre o

desenvolvimento sustentável.

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125

Porém, uma vez que o desenvolvimento sustentável pressupõe uma relação

harmônica entre homem e natureza, incutir no cidadão responsabilidade civil e

ambiental sobre essas relações, na atualidade, é uma tarefa desafiadora, pois a

sociedade apresenta valores desgastados e fragilizados pelo massacre econômico a

que está submetida. Esse caminho, não deve ser percorrido somente através da

aplicação das leis e sim, através de novas metodologias de ação, apropriadas a

cada situação.

Com relação às áreas protegidas, pela sua complexidade, a sua gestão deve

se estabelecer a partir de uma efetiva administração, a qual requer equipe técnica

multidisciplinar especializada, bom senso e vontade política, tanto por parte da

administração da UC, quanto por parte do gestor público. Por essa razão, o Parque

Municipal da Boa Esperança por suas características apresentadas, pode ser

considerado como um laboratório para a implementação de políticas públicas

voltadas para os campos social e econômico com vistas à sua preservação, bem

como da comunidade que habita o seu entorno.

Esse é o primeiro trabalho técnico-científico envolvendo as representações da

comunidade e dos usuários, relativas ao seu bairro e à UC Esperança. Assim, para

verificarmos a título de conclusão, os resultados dessa pesquisa, regataremos nesse

momento aquelas questões que se constituíram nos desafios a serem respondidos

durante o percurso do trabalho:

1. Qual a percepção dessas comunidades com referência ao seu espaço

habitado?

2. O sentimento de pertença proporciona que tipo de atitude com o Parque

da Esperança?

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126

Em relação à primeira questão, temos a dizer:

• A população mostrou perceber que ao longo dos últimos 30 anos houve

um crescimento econômico, educacional e social nos bairros, ainda que

não se possa chamar esse crescimento de desenvolvimento sustentável.

Perceberam também que, com a expansão na cidade, houve grandes

mudanças nas ruas, a destruição dos manguezais para dar lugar às

moradias, a rarefação das espécies que habitam os mangues das quais

eles costumavam se alimentar, enfim, a população está consciente da

destruição dos recursos naturais.

• Constatamos que tanto a população que habita a área de estudo quanto

os usuários, estão aptos e ansiosos por políticas públicas que contemplem

o seu próprio desenvolvimento. Verificamos que essa população tem

consciência tanto de sua exclusão social quanto do processo político, e o

são, por conta da pobreza e do abandono a que são submetidos por muito

tempo. Esse sentimento de exclusão corroeu a sua auto-estima, mas não

destruiu os seus anseios de morar melhor, de ter um emprego, de usufruir

de um lazer, enfim, da dignidade do ser.

• Vale aqui ressaltar, que o item “ausência de área para lazer” foi o mais

citado durante essa pesquisa pelos moradores. Enquanto na Rua

Esperanto há uma pequena praça, cuja manutenção é feita com recursos

dos próprios moradores e que atende principalmente às crianças e aos

usuários de drogas, a Avenida Governador Roberto Santos, para o lazer

de seus moradores, só conta com os bares existentes e com o hábito de

se sentarem em portas para prosear nos fins de tarde e de semana.

Page 150: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

127

• Outros problemas do bairro foram relatados com alusão a ocupação

desordenada do bairro e ao abandono a que estão submetidos pelo poder

público como, falta de segurança pública, precariedade de transporte,

limpeza pública e de rede de esgoto. Além disso, moradores e usuários

percebem essas mudanças no ambiente causadas pelo adensamento

populacional e foram capazes de citar a poluição do rio Fundão como

causa para o afastamento dos botos que o povoavam e de animais,

atualmente, extintos da floresta.

• Constatamos que embora a população esteja mergulhada em um mar de

problemas que degradam a sua qualidade de vida, incluindo a falta de

oferta de emprego e de saúde, eles se consideram felizes. Sem querer

estabelecer conclusões, uma vez que o conceito de felicidade é bastante

complexo e altamente subjetivo, possamos apenas aqui inferir que ele

esteja subsumido pela condição cultural e educacional, ou seja, motivado

pela impotência gerada pelo baixo poder reivindicatório e pelo pouco

conteúdo político para exercer plenamente a sua cidadania.

• Por outro lado, eles têm consciência de que a natureza que os circunda

ajuda a enfrentar a ausência de emprego e de saúde, quando dela

extraem frutas e caça para as necessidades básicas e as substâncias

ativas dos produtos naturais para cura de suas doenças. Reconhecem

também a existência da floresta como um fator determinante para o tipo de

clima local.

• No tocante às famílias, elas se mantêm organizadas dentro dos padrões

sociais vigentes. Chefes de família divorciados ou solteiros somam

apenas 29,5%.

Page 151: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

128

• Porém, dessas famílias, 14,75% são miseráveis, ou seja, estão inseridas

na faixa de renda familiar classificada como de extrema pobreza e 40,98%

são pobres. Essa pobreza é representada pelo desemprego, trabalho

informal com baixa remuneração, baixa escolaridade, condições de

moradia na sua maioria insalubres e violência. As condições físicas do

bairro refletem essa realidade.

• Ainda que a população e os usuários do Parque se ressintam dessas

condições adversas, eles anseiam por políticas públicas voltadas para o

desenvolvimento do bairro, tendo inclusive, consciência e sugestões para

o seu próprio desenvolvimento econômico familiar, bem como onde obter

financiamentos para seus próprios negócios.

• Condições adversas de vida e de moradia, aliadas a ausência de

investimentos para de controle de vetores, ao adensamento populacional,

ao desrespeito aos recursos naturais como o manguezal, o rio Fundão e

ao maciço florestal que compõe o Parque da Esperança, são causas

precípuas para o desequilíbrio a que estão submetidos tanto a sociedade

quanto a natureza.

Quanto à questão sobre o sentimento de pertencimento da população e dos

usuários em relação ao Parque da Esperança, pudemos inferir que:

• Este sentimento de pertença é comum, tanto na população quanto nos

usuários que o vêem como uma extensão de suas casas. Daí,

constatarmos uma grande indignação pelo mau uso e depredação do

Parque.

Page 152: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

129

• Constatamos que a maioria da população que habita o entorno do Parque

da Esperança (78,7%) não o freqüenta, porém, ficou patente uma forte

relação de afeto entre a população e a natureza que a circunda. 65,6%

dessa população que vive no entorno vêem o Parque como uma extensão

de sua casa, um jardim, um patrimônio natural que precisa ser cuidado e

zelado e mais, o vêem como uma necessidade para preservação de sua

própria saúde física. Essa porcentagem cai entre os usuários (52,4%)

que, pelas suas condições de pobreza e miséria, buscam o Parque para

minimizar a sua fome, ou seja, o percebem como um quintal. A retirada de

frutas para comercialização ou consumo próprio e a madeira ou lenha com

as mesmas finalidades são de importância para sua subsistência.

• Notamos na população que, ao contemplar o Parque a partir de seu

exterior, que lhes afloram os sentimentos de afinidade, de afeto e de

prazer vinculados tanto à possibilidade de usufruir dos recursos para

economia e lazer, quanto em razão da própria beleza e tranqüilidade que a

natureza lhes proporciona. Esses sentimentos são expressados no olhar,

no sorriso, no tom de voz, enfim, através dos seus sentidos e na

expressão do corpo.

• Ainda que o Parque seja pouco freqüentado pelos moradores,

constatamos que as causas dessa ausência são motivadas principalmente

pelo medo em relação a determinadas práticas de terceiros ali realizadas

por pessoas consideradas, pela população, como marginais, portadores

de armas (branca e de fogo) e consumidores de drogas. Esse é um

problema mundial e já de domínio das autoridades locais e, esse é o tabu

que encontramos na nossa pesquisa.

Page 153: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

130

• Verificamos que há uma grande expectativa da população quanto ao

ordenamento da UC, a qual facilitará a entrada e permanência de pessoas

e famílias no seu interior. Um dos indicadores dessa expectativa é a

“saudade” e as “atitudes” expressadas quando da realização da pesquisa

de campo. Notamos nas expressões dos entrevistados sentimentos de

topofilia, alegria, orgulho e do belo, o que nos remete ao conceito de

felicidade: será que é o Parque quem contribui para terem essa sensação

de felicidade, mesmo diante de tantas adversidades? Essa pergunta pode

ser respondida pelo brilho no olhar da população, quando se reporta ao

Parque.

• Essa expectativa foi dimensionada também diante da indignação dessa

comunidade com relação à destruição da obra financiada pelo governo

federal, em construção no interior do Parque da Esperança, fez com que

tivessem uma percepção de sua pobreza e conseqüente exclusão social:

um impacto grande e negativo para essas comunidades, uma negação de

seu direito ao lazer e a felicidade.

• Dentre os valores ambientais, nesse trabalho enfatizado sob o ponto de

vista social, o mais importante encontrado, foi o Valor de Existência do

Parque naquela localidade, sendo positivo tanto para moradores quanto

para os usuários. Enquanto a população atribui valor positivo à represa, a

água, ao frescor do banho e à caça e pesca (de subsistência), tenta

protegê-lo a partir do momento que nomeia como valor negativo as

drogas, dentre outros já listados. Por outro lado, usuários buscam o

parque para o lazer, atribuindo à represa, a água, o frescor do banho, sua

razão e prazer de estar naquela localidade.

Page 154: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

131

• Quanto ao rio Fundão que, pelas informações prestadas e por

observações, se encontra com a qualidade da água comprometida, e o

que se recomenda é um estudo mais aprofundado para sua revitalização.

• O elemento cultural se insere simbolicamente nos ritos, nas religiões, nas

expressões de medo, curiosidade, alegria e humor, nas estórias que

remetem aos ancestrais da população e dos usuários. Desse modo, eles

encontram no interior do Parque aquele mundo que povoa o seu

imaginário: caipora, fantasmas, curupira, lobisomem, etc. Esse elemento

cultural é pobre nessa área de pesquisa, apenas os mais idosos os citam.

É necessário o resgate da cultura popular desse lugar.

A promoção do desenvolvimento econômico e social dessa população

inerentes às políticas públicas, por conseguinte, a garantia do seu direito a inclusão

social, ao acesso a bens, pode ser iniciado com o atendimento às demandas

descritas por eles ao longo dessa pesquisa, ou seja, acesso a rede de esgoto

sanitário, limpeza de ruas, canais e do rio Fundão, acesso às políticas

governamentais de saúde, policiamento ostensivo do bairro, educação e,

principalmente, geração de emprego e renda a partir de iniciativas familiares.

Recomendamos que, a partir do momento em que essas demandas forem

sendo atendidas, uma nova pesquisa sobre as representações sociais dessa

comunidade deve ser realizada objetivando acompanhar os anseios dessa

população. Por outro lado, deverá ser estudada uma metodologia específica para

atendimento às demandas emanadas dessa comunidade urbana, bem como dos

outros bairros situados no entorno da UC.

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132

Em suma, constatamos que, ainda que o contato físico entre o Parque e os

moradores seja pouco, ficou patente nessa pesquisa que a natureza ali existente é

percebida e valorada, ou seja, há familiaridade entre os sujeitos e o objeto. Isso

quer dizer que, além do prazer visual, o Parque é objeto de experienciações para os

sujeitos em questão. O bem-estar aliado ao sentimento de pertencimento que o

Parque lhes inspira, propicia a valoração dos recursos naturais, presentes tanto no

discurso dos moradores quanto dos usuários.

População e usuários da Unidade de Conservação Parque Municipal da Boa

Esperança esperam ser aproveitados para trabalhos referentes à fiscalização, uso

do seu conhecimento acerca da fauna e flora, no apoio às diversas pesquisas, ao

atendimento aos turistas, sugerem também a criação de uma cooperativa capaz de

manter ao restaurante, artesanato, produção de mudas de nativas e capacidade de

lideranças que permeiem nos diversos bairros para que possa minimizar os impactos

causados pelas atitudes inadequadas encontradas.

A partir dos resultados dessa pesquisa constatamos que os investimentos

nessa Unidade de Conservação devem continuar, de forma a envolver e a atender

aos anseios dessa população, a qual se sente apta, porém, ainda alijada do

processo de gestão. Estamos conscientes de que atendemos ao nosso objetivo

inicial. A relação entre a população e a UC existe, está arraigada na cultura dela,

justificando assim que, cada item desse trabalho seja desenvolvido e implementado

a partir de novos projetos e de um processo de gestão aberto e efetivo.

Podemos afirmar que, há uma expectativa de futuro, um querer que tudo dê

certo e que todos se saiam bem de todas as situações, ou seja, a esperança

permeia o imaginário social e tem sido a tônica das atitudes.

Page 156: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

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APÊNDICE

Page 169: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

APÊNDICE I FORMULÁRIO SÓCIO-DEMOGRÁFICO

1. Data: ___________________

2. Nome da pessoa entrevistada: ________________________________________

3. Endereço: ____________________________, nº: ________ bairro: _________

4. Idade: ______ Sexo: M ( ) F ( )

5. Estado civil: casado(a) ( ) solteiro(a) ( ) outros: ___________________

6. Profissão/Ocupação: _______________________________________________

7. Renda familiar: abaixo de 1 salário mínimo ( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) acima de 3

salários mínimos ( )

8. Escolaridade: analfabeto ( ) 1º grau completo ( ) 1º grau incompleto ( )

2º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) Superior ( )

9. Você sabe o que é uma Unidade de Conservação?

Sim ( ) Onde ouviu falar: televisão ( ) radio ( ) Outros: ____________

Não ( )

10. Vive e mora no entorno há quanto tempo? ______________________________

11. Você conhece o Parque da Esperança? Sim ( ) Não ( ) Freqüenta? Sim ( ) Não ( )

12. Quanto tempo freqüenta o Parque da Esperança?_________________________

13. Você e seus familiares costumam ir ao Parque da Esperança?

Sim ( ) por que motivo vão ao Parque? _______________________________

Não ( ) por que motivo não vão ao Parque? __________________________

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BLOCO I - ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONOMICA DOS ENTREVISTADOS

1. Pessoas residentes no domicílio

SEXO IDADE ONDE TRABALHA

RENDA MENSAL ULTIMA SERIE CURSADA

2. O que mais gostaria de fazer para ganhar dinheiro? ______________________

3. Origem: a. ( ) Nativo b. ( ) Não nativo

4. Habitação, condições de moradia:

Nº de quartos _____ Tipo de cobertura ___________ Tipo de piso _________

Nº de janelas _____ Banheiro: interno ( ) externo ( ) Não existe: ____

Cozinha: interna ( ) externa ( ) Não existe: __________

Possui energia elétrica? ___________________ outras: ________________

Em caso de construção da casa de madeira, foi retirada de onde? ___________

Possui telefone residencial? Sim ( ) Não ( ) Internet? Sim ( ) Não ( )

Telefone celular? Sim ( ) Não ( )

5. O seu bairro tem segurança publica? Sim ( ) Não ( ) _______________

6. Condições sanitárias do domicílio:

água: rede geral ( ) poço ou nascente ( ) outro: ____

esgoto sanitário: rede geral ( ) fossa séptica ( ) direto no rio ( )

vala a céu aberto ( ) outro: ________________

lixo: coletado pela PMI ( ) não coletado ( ) lançado no rio ( ) em encostas ( )

queima ( ) outros ( ), qual: ________________________

coleta seletiva ( ) costuma reciclar o lixo? _____ de que forma? ________

7. Consumo de bens duráveis

fogão: gás ( ) lenha ( ) retirada de onde? ____________

geladeira ( ) televisão: cores ( ) preto e branco ( ) computador ( )

acesso à Internet ( ) carro ( ) moto ( ) máq. de lavar ( ), outros ____

8. Situação legal do imóvel

próprio e legalizado ( ) terreno invadido ( ) aterro de mangue ( )

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9. Indique os 3 maiores problemas do seu bairro?

a. ( ) Insegurança b. ( ) Falta de ônibus

c. ( ) Falta de escolas públicas d. ( ) Falta de áreas de lazer

e. ( ) Não sei f. ( ) Não quero responder

g. ( ) Outro: o quê? _____________________

10. Como você considera a sua vida no seu bairro?

a. ( ) Ótima b. ( ) Boa

c. ( ) Regular d. ( ) Péssima

e. ( ) Não sei f. ( ) Não quero responder

g. ( ) Outro: o quê? __________________

BLOCO II - ELEMENTOS DAS REPRESENTAÇOES SOCIAIS REFERENTES AO

OBJETO DE ESTUDO: O PARQUE DA ESPERANÇA

11. O que sente ao olhar para o Parque da Esperança daqui de fora?

a. ( ) Tranqüilidade, paz, bem-estar b. ( ) Insegurança ou medo

c. ( ) Muito verde d. ( ) Beleza

e. ( ) Não sei f. ( ) Não quero responder

12. O que mais lhe chama atenção no Parque? _____________________________

Porque? ________________________________________________________

13. O que sentiu lá dentro do Parque da Esperança?

a. ( ) Tranqüilidade, paz, bem-estar b. ( ) Insegurança ou medo

d. ( ) Não sei e. ( ) Não quero responder

14. Você ou alguém da sua família já coletou plantas ou ervas medicinais no interior do

Parque?

Sim ( ) Não ( ) Quais plantas ou ervas você trouxe? _____

Sabe de outras pessoas que tenham coletado plantas ou ervas medicinais no interior do

Parque? Sim ( ) Não ( ) Quais são as ervas? _____

Essas pessoas são:

a. do bairro ( ) b. da cidade ( )

c. de fora ( ) d. não sei ( )

e. não quero responder ( )

Page 172: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

15. Conhece algum tipo de fruta que se pode encontrar no Parque?

Sim ( ) Não ( ) Quais são as frutas? _________________________

Alguém da sua família costuma colher essas frutas no Parque?

Sim ( ) Não ( ) Quais as habituais? ___________________

Conhece outras pessoas que colhem frutas no Parque? Sim ( ) Não ( )

Essas pessoas são:

a. do bairro ( ) b. da cidade ( )

c. de fora ( ) d. não sei ( )

e. não quero responder ( )

16. O que mais atrai pessoas para o Parque? _____________________________

17. O fato do Parque estar situado nos fundos (ATRAS) da sua casa o torna:

a. ( ) Quintal da casa b. ( ) Jardim da casa

c. ( ) Indiferente d. ( ) Não sei

e. ( ) Não quero responder f. Outro: __________________

18. O que primeiro lhe ocorre quando se fala no Parque?

a. ( ) Que é uma área muito boa de se viver perto b. ( ) Que possui muitas belezas

c. ( ) Onde há muito lazer e diversão d. ( ) Outra opção, o quê? _

e. ( ) Não sei f. ( ) Não quero responder

19. Quais são os animais que mais se vê no Parque? ________________________

Você sabe de casos de pessoas que caçam e comercializam animais? Sim ( )

Não ( )

20. Você conhece alguém que crie animais silvestres, nas redondezas, em casa? Sim ( )

Não ( ) __________________________

21. Você costuma pescar no rio Fundão? Sim ( ) Não ( )

Com que freqüência? ____

Por que você pesca? diversão ( ) consumo familiar ( ) vender ( )

comer e vender ( ) outro (qual?) ___________________________

O que você pesca? __________________________________________

Você tem canoa? ____________________________________________

Vive só da pesca? Sim ( ) Não ( ) Leva os filhos Sim ( ) Não ( )

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22. O que lhe chama mais a atenção durante o dia no seu bairro?

a. ( ) O movimento e o barulho nas ruas b. ( ) A tranqüilidade

c. ( ) A beleza natural d. ( ) Não sei

e. ( ) Não quero responder f. ( ) Outro: o quê? ________

22. Para você, o que mudou no bairro onde mora, a partir da implantação do Parque?

a. ( ) Aumento da violência b. ( ) Desmatamento

c. ( ) Aumento das construções d. ( ) Construções em locais proibidos

e. ( ) Cuidado do bairro pelo Poder Publico f. ( ) Não sei

g. ( ) Não quero responder h. ( ) Outro: o quê? __________

23 Relatos livres sobre o Parque.____________________________________________

24. Conhece alguma historia (lenda) que envolva o Parque? Sim ( ) Não ( ) _____

25. Já ouviu falar em assombração no interior do Parque? Sim ( ) Não ( ) ________

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APÊNDICE II TABELAS NUMÉRICAS DE FREQÜÊNCIA

DOMICÍLIOS PESQUISADOS – MORADORES – E,

USUÁRIOS DO PARQUE MUNICIPAL DA BOA ESPERANÇA

DOMICÍLIOS PESQUISADOS - MORADORES

Nº DE ENTREVISTAS VÁLIDAS 61 CASAS

ENDEREÇO Freqüência Porcentagem Rua Esperanto 21 34,4 Avenida Governador Roberto Santos 40 65,6 Total 61 100,0

IDADE

Freqüência Porcentagem 19 a 30 anos 7 11,5 31 a 50 anos 24 39,3 Mais de 51 anos 30 49,2 Total 61 100,0

SEXO

Freqüência Porcentagem feminino 29 47,5 masculino 32 52,5 Total 61 100,0

ESTADO CIVIL

Freqüência Porcentagem casado(a) 33 54,1 solteiro(a) 16 26,2 viúvo 10 16,4 divorciado 2 3,3 Total 61 100,0

RENDA FAMILIAR

Freqüência Porcentagem abaixo de 1 SM 9 14,8 1 a 3 SM 42 68,9 acima de 3 SM 10 16,4 Total 61 100,0

ESCOLARIDADE

Freqüência Porcentagem analfabeto 12 19,7 1º G. completo 5 8,2 1º G. incompleto 32 52,5 2º G. completo 9 14,8 2º G. incompleto 2 3,3 Superior 1 1,6 Total 61 100,0

SABE O QUE É UC?

Freqüência Porcentagem Sim 16 26,2 Não 45 73,8 Total 61 100,0

CONHECE O PARQUE DA ESPERANÇA?

Freqüência Porcentagem Sim 35 57,4 Não 26 42,6 Total 61 100,0

Page 175: Dissertação “As representações sociais do Parque Municipal da Boa esperança,  em ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno”

TEMPO DE MORADIA NO ENTORNO Freqüência Porcentagem Até 10 anos 15 24,6 11 a 20 anos 13 21,3 21 a 30 anos 13 21,3 Mais de 31 anos 20 32,8 Total 61 100,0

FREQUENTA O PARQUE DA ESPERANÇA?

Freqüência Porcentagem Sim 12 19,7 Não 49 80,3 Total 61 100,0

TEMPO DE FREQUENTAÇÃO AO PARQUE DA ESPERANÇA

Freqüência Porcentagem 0 anos 39 63,9 1 a 10 anos 2 3,3 11 a 20 anos 3 4,9 21 a 30 anos 6 9,8 Mais de 30 anos 11 18,0 Total 61 100,0

FREQUENCIA DE FAMILIARES AO PARQUE DA ESPERANÇA Freqüência Porcentagem

Sim 14 23,0 Não 47 77,0 Total 61 100,0

ORIGEM

Freqüência Porcentagem Nativo 32 52,5 Não-nativo 29 47,5 Total 61 100,0

NÚMERO DE QUARTOS NO DOMICÍLIO Freqüência Porcentagem 0 1 1,6 1 5 8,2 2 30 49,2 3 19 31,1 4 5 8,2 6 1 1,6

Total 61 100,0

NUMERO DE PESSOAS NO DOMICÍLIO Freqüência Porcentagem 1 4 6,6 2 6 9,8 3 17 27,9 4 12 19,7 5 8 13,1 6 2 3,3 7 6 9,8 8 3 4,9 9 1 1,6 10 1 1,6 13 1 1,6 Total 61 100,0

TIPO DE CONSTRUÇÃO

Freqüência Porcentagem Alvenaria de tijolo 52 85,2 Madeira 7 11,5 Mista (tijolo e madeira) 2 3,3 Total 61 100,0

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TIPO DE COBERTURA DAS RESIDÊNCIAS Freqüência Porcentagem Telha de amianto 41 67,2 Telha cerâmica 8 13,1 Laje 7 11,5 Laje e amianto 5 8,2 Total 61 100,0

TIPO DE PISO Freqüência Porcentagem Cerâmica 28 45,9 Contrapiso 26 42,6 Misto (Cerâmica e Contrapiso) 7 11,5 Total 61 100,0

NÚMERO DE JANELAS NO DOMICILIO Freqüência Porcentagem 0 1 1,6 1 7 11,5 2 23 37,7 3 13 21,3 4 8 13,1 5 6 9,8 6 1 1,6 7 1 1,6 8 1 1,6

Total 61 100,0

BANHEIRO Freqüência Porcentagem Interno 51 83,6 Externo 8 13,1 Interno e externo 2 3,3 Total 61 100,0

COZINHA Freqüência Porcentagem Interna 60 98,4 Externa 1 1,6 Total 61 100,0

ENERGIA ELÉTRICA Freqüência Porcentagem

Sim 61 100,0

TELEFONE RESIDENCIAL Freqüência Porcentagem

Sim

24 39,3

Não 37 60,7 Total 61 100,0

POSSUI INTERNET

Freqüência Porcentagem Sim 3 4,9 Não 58 95,1 Total 61 100,0

TELEFONE CELULAR

Freqüência Porcentagem Sim 35 57,4 Não 26 42,6 Total 61 100,0

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POSSUI FOGÃO Freqüência Porcentagem gás 52 85,2 gás e lenha 9 14,8 Total 61 100,0

GELADEIRA

Freqüência Porcentagem Sim 56 91,8 Não 5 8,2 Total 61 100,0

TELEVISÃO

Freqüência Porcentagem cores 58 95,1 preto e branco 2 3,3 Não possui 1 1,6 Total 61 100,0

COMPUTADOR

Freqüência Porcentagem Sim 3 4,9 Não 58 95,1 Total 61 100,0

CARRO

Freqüência Porcentagem Sim 7 11,5 Não 54 88,5 Total 61 100,0

MOTO

Freqüência Porcentagem Sim 2 3,3 Não 59 96,7 Total 61 100,0

SITUAÇÃO LEGAL DO IMÓVEL

Freqüência Porcentagem Próprio e legalizado 56 91,8 Alugado 4 6,6 Não sabe 1 1,6 Total 61 100,0

PROBLEMAS NO BAIRRO FALTA DE: Freqüência Porcentagem segurança, área de lazer 38 62,3 segurança, área de lazer, transporte, violência 15 24,6 segurança, área de lazer, limpeza pública, rede de esgotos 8 13,1 Total 61 100,0

VIDA NO BAIRRO

Freqüência Porcentagem Ótima 8 13,1 Boa 25 41,0 Regular 19 31,1 Péssima 9 14,8 Total 61 100,0

SEGURANÇA PÚBLICA

Freqüência Porcentagem Sim 9 14,8 Não 52 85,2 Total 61 100,0

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ABASTECIMENTO DE ÁGUA Freqüência Porcentagem

Sim 61 100,0

ESGOTO SANITÁRIO Freqüência Porcentagem rede geral 29 47,5 direto no rio 27 44,3 vala a céu aberto 5 8,2 Total 61 100,0

LIMPEZA PÚBLICA

Freqüência Porcentagem coletado pela PMI 55 90,2 não coletado 2 3,3 lançado no rio 3 4,9 em encostas / queima 1 1,6 Total 61 100,0

RECICLAGEM DE LIXO Freqüência Porcentagem

Sim 9 14,8 Não 52 85,2 Total 61 100,0

SENTIMENTO DE FORA PARA DENTRO COM RELAÇÃO AO PARQUE

Freqüência Porcentagem Tranqüilidade 26 42,6 Insegurança 5 8,2 Muito verde 1 1,6 Beleza, saudades, alegria, orgulho 23 37,7 Abandono da área, a destruição, desperdício 5 8,2 Outro / Nada 1 1,6 Total 61 100,0

SENTIMENTO NO INTERIOR DO PARQUE

Freqüência Porcentagem Nunca foi 30 49,2 Tranqüilidade 23 37,7 Insegurança 5 8,2 Grandeza 1 1,6 Não sei 1 1,6 Nada 1 1,6 Total 61 100,0

PRÁTICAS NO INTERIOR DA UC (da pessoa entrevistada) Freqüência Porcentagem Não freqüenta 48 78,7 Coleta de plantas, ervas medicinais, frutas e mudas 5 8,2 Banho na represa 1 1,6 Passeio, observação da natureza, das belezas, namorar, beber (bebida alcoólica) 4 6,6 Caça, pesca, retirada de lenha 3 4,9 Total 61 100,0

PRÁTICAS NO INTERIOR DA UC (feitas por terceiros e observada pela pessoa entrevistada)

Freqüência Porcentagem Nada a declarar 29 47,5 Marginalidade, consumo de drogas, uso de armas de fogo 18 29,5 Abandono da área, esconderijo para ladrões 3 4,9 Destruição da obra realizada pelo governo federal, falta de fiscalização, desistência de investimentos governamentais.

3 4,9

Desmatamento, falta de segurança 3 4,9 Banho na represa, caça, pesca, mudas, frutas para comercialização. 4 6,6 A porteira fechada, falta de acesso pela rua do Cano 1 1,6 Total 61 100,0

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SENTIMENTO DE TOPOFILIA COM O PARQUE Freqüência Porcentagem O verde, as árvores, a água, ar puro, a represa, os pássaros, as frutas, o manguezal, ervas

42 68,9

A neblina de manhã 2 3,3 Descaso das autoridades, o mau-trato, marginalidade 2 3,3 A paisagem, a calma, a paz, a natureza, a beleza 9 14,8 A caça e a pesca 1 1,6 A falta de movimento no interior do Parque 4 6,6 Não sei 1 1,6 Total 61 100,0

RELAÇÃO DE AFETO Freqüência Porcentagem Quintal 13 21,3 Jardim 40 65,6 Não sei 3 4,9 Indiferente 5 8,2 Total 61 100,0

VALORES AMBIENTAIS, OU MOTIVO DE FREQÜENTAÇÃO OU ATRAÇÃO PRINCIPAL

Freqüência Porcentagem Bem-estar 2 3,3 Paisagem, beleza, ar puro 3 4,9 A represa, a água, o banho 22 36,1 A cachoeira 11 18,0 Caça e pesca 4 6,6 Alimento, frutas e madeira para comercialização 3 4,9 A mata, o verde 1 1,6 O Lazer, o conhecer 7 11,5 O rio e a ponte (refere-se à antiga ponte do Fundão) 8 13,1 Total 61 100,0

PESCA Freqüência Porcentagem sim 10 16,4 não 51 83,6 Total 61 100,0

COM QUE FREQÜÊNCIA

Freqüência Porcentagem Não pesca 51 83,6 Vez em quando 4 6,6 Raramente 1 1,6 Semana sim, semana não 2 3,3 3 em 3 dias 3 4,9 Total 61 100,0

PORQUE PESCA? Freqüência Porcentagem Diversão 51 83,6 Diversão e consumo familiar 2 3,3 Consumo familiar 5 8,2 Consumo familiar e venda 3 4,9 Total 61 100,0

AGRESSÕES AO RIO

Freqüência Porcentagem Nenhuma 57 93,4 O rio é descarga de fezes, lixo 2 3,3 O rio e o pescado estão contaminados 1 1,6 O rio recebe aterro de: brita, lixo, terra e pneus 1 1,6 Total 61 100,0

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USUÁRIOS DO PARQUE DA ESPERANÇA

NÚMERO DE PESSOAS PESQUISADAS

Nº DE ENTREVISTAS VÁLIDAS 21 PESSOAS

ENDEREÇO Freqüência Porcentagem Perto (Av. R. Santos, da entrada do parque até o Col. Modelo e Av. Palmares - até +/- 500 m da entrada do Parque)

16 76,2

Média distância (R. da Horta - 1.000 m) 2 9,5 Longe (outros bairros, R. Esperanto e R. da Paz – mais de 1.000 m) 3 14,3 Total 21 100,0

IDADE Freqüência Porcentagem Até 18 anos 6 28,6 19 a 30 anos 9 42,9 31 a 50 anos 5 23,8 Mais de 51 anos 1 4,8 Total 21 100,0

SEXO Freqüência Porcentagem feminino 4 19,0 masculino 17 81,0 Total 21 100,0

ESTADO CIVIL Freqüência Porcentagem casado(a) 7 33,3 solteiro(a) 14 66,7 Total 21 100,0

RENDA FAMILIAR Freqüência Porcentagem abaixo de 1 SM 5 23,8 1 a 3 SM 14 66,7 acima de 3 SM 1 4,8 não sabe 1 4,8 Total 21 100,0

SABE O QUE É UC? Freqüência Porcentagem Sim 6 28,6 Não 15 71,4 Total 21 100,0

ESCOLARIDADE Freqüência Porcentagem 1º G. completo 1 4,8 1º G. incompleto 14 66,7 2º G. completo 4 19,0 2º G. incompleto 2 9,5 Total 21 100,0

TEMPO DE MORADIA NO ENTORNO

Freqüência Porcentagem Não mora no entorno 1 4,8 1 a 10 anos 9 42,9 11 a 20 anos 8 38,1 Mais de 20 anos 3 14,3 Total 21 100,0

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TEMPO DE FREQÜENTAÇÃO AO PARQUE DA ESPERANÇA Freqüência Porcentagem 1 a 10 anos 14 66,7 11 a 20 anos 4 19,0 21 a 30 anos 2 9,5 Mais de 30 anos 1 4,8 Total 21 100,0

FREQÜÊNCIA DE FAMILIARES NA UC Freqüência Porcentagem Sim 10 47,6 Não 11 52,4 Total 21 100,0

SENTIMENTO DE FORA PARA DENTRO COM A MATA Freqüência Porcentagem Tranqüilidade 9 42,9 Insegurança 1 4,8 Muito verde 1 4,8 Beleza, saudades, alegria, orgulho 7 33,3 Abandono da área, a destruição, desperdício 3 14,3 Total 21 100,0

SENTIMENTO NO INTERIOR DA MATA

Freqüência Porcentagem Tranqüilidade 15 71,4 Insegurança 5 23,8 Não sei 1 4,8 Total 21 100,0

PRATICAS NO INTERIOR DA UC (pela pessoa entrevistada) Freqüência Porcentagem Banho na represa 15 71,4 Passeio, observação da natureza, as belezas, namorar, beber 4 19,0 Caça, pesca, retirada de lenha 2 9,5 Total 21 100,0

PRÁTICAS NO INTERIOR DA UC (feitas por terceiros e observada pela pessoa entrevistada) Freqüência Porcentagem Nada a declarar 14 66,7 Destruição da obra realizada pelo governo federal, falta de fiscalização, desistência de investimentos governamentais.

5 23,8

Banho na represa, caça, pesca, mudas, frutas para comercialização. 2 9,5 Total 21 100,0

SENTIMENTO DE TOPOFILIA COM O PARQUE Freqüência Porcentagem O verde, as árvores, a água, ar puro, a represa, os pássaros, as frutas, o manguezal, ervas

13 61,9

Descaso das autoridades, o mau-trato, marginalidade 1 4,8 A paisagem, a calma, a paz, a natureza, a beleza 5 23,8 A caça e a pesca 1 4,8 Não sei 1 4,8 Total 21 100,0

RELAÇÃO DE AFETO Freqüência Porcentagem Quintal 7 33,3 Jardim 11 52,4 Não sei 2 9,5 Indiferente 1 4,8 Total 21 100,0

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VALORES AMBIENTAIS, OU MOTIVO DE FREQÜENTAÇÃO OU ATRAÇÃO PRINCIPAL Freqüência Porcentagem Paisagem, beleza, ar puro 1 4,8 A represa, a água, o banho 19 90,5 Alimento, frutas e madeira para comercialização 1 4,8 Total 21 100,0

PESCA Freqüência Porcentagem Sim 7 33,3 Não 14 66,7 Total 21 100,0

FREQÜÊNCIA Freqüência Porcentagem Não pesca 14 66,7 Vez em quando 6 28,6 3 em 3 dias 1 4,8 Total 21 100,0

PORQUE PESCA Freqüência Porcentagem Diversão 14 66,7 Diversão e consumo familiar 2 9,5 Consumo familiar 1 4,8 Consumo familiar e venda 4 19,0 Total 21 100,0

AGRESSÕES AO RIO Freqüência Porcentagem Nenhuma 20 95,2 O rio e o pescado estão contaminados 1 4,8 Total 21 100,0