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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Efeito do Tratamento Térmico do Titânio Sobre a
Proliferação de Células Pré-Osteoblásticas
HAROLDO REIS ALVES DE MACÊDO.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior.
Natal, Agosto de 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE
MATERIAIS
Efeito do Tratamento Térmico do Titânio Sobre a
Proliferação de Células Pré-Osteoblásticas
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de
Materiais do Centro de Ciência Exata e da Terra da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Ciências e Engenharia de Materiais.
Mestrando: Haroldo Reis Alves de Macêdo
Orientador: Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior.
Natal, Agosto de 2008
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Macedo, Haroldo Reis Alves de. Efeito do tratamento térmico do titânio sobre a proliferação de células pré-osteoblásticas / Haroldo Reis Alves de Macêdo. – Natal, RN, 2008. 80 f.
Orientador: Clodomiro Alves Júnior.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais.
1. Titânio – Dissertação. 2. Titânio – Microestrutura –
Dissertação. 3. Titânio – Resposta biológica – Dissertação. I. Alves Júnior, Clodomiro. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BCZM CDU 661.882(043.3)
Dedico este trabalho a minha família e à minha
esposa Marina pelo amor, compreensão, carinho e
incentivo nas dificuldades e a todos que direta ou
indiretamente contribuíram para sua concretização.
Agradecimentos
A Deus pela sabedoria, saúde e ....
A minha mãe Teresa Cristina Avelino de Macêdo e a meu pai Haroldo Alves
Macedo pelo amor, carinho e por ter sempre ficado do meu lado nas horas mais
difíceis de minha vida.
A minha esposa, Marina, por sempre ter me ajudado nas atividades
relacionadas a este trabalho, bem como as atividades do lar que sempre soube
fazer de modo a ajudar na conclusão deste trabalho e pelo seu amor, respeito e
sinceridade.
Ao professor Dr. Clodomiro Alves Júnior pela dedicação na orientação deste
trabalho, pelo incentivo, pela amizade e por sempre estar presente.
Ao professor Dr. Ayrton de Sá Brandim por ter acreditado no meu potencial e
me incentivado a cursar uma pós graduação e pela orientação durante a graduação.
A minha sogra Maria Dalva e a meu sogro Braz Cardoso por ter me recebido
como filho e apoiado nesta nova fase de minha vida.
Aos meus irmãos Moaaby, Tamyack, Núrya e Nayra por ter acreditado em
mim e ter me apoiado quando da minha saída de casa para estudar em Natal.
A todos os professores da Engenharia de Materiais pelo apoio e competência
em ministrar as disciplinas do curso.
Aos professores Dr. Hugo Alexandre e Dra. Silvia Batistuzzo e seus alunos
pela colaboração na parte da cultura de células.
A todos os colegas do LABPLASMA pela convivência fraterna e amiga
durante todo o trabalho.
Aos professores do CEFET-PI, os quais não cito nomes para não ser injusto,
pelo apoio, incentivo e pela oportunidade oferecida de cursar as disciplinas junto
com eles.
Ao CNPq pelo apoio financeiro.
Resumo
O titânio como biomaterial é amplamente utilizado em dispositivos biomédicos
(implantes, próteses, válvulas, stents entre outros). Diversos tratamentos térmicos
são usualmente utilizados na obtenção das propriedades necessárias para as
diferentes aplicações. Este trabalho estudou a influência desses tratamentos na
microestrutura do titânio comercialmente puro e suas conseqüências no
crescimento, forma e proliferação de células pré-osteoblástica. Para tanto foram
utilizados discos de titânio submetidos a diferentes tratamentos e caracterizados por
microscopia ótica, análise de imagens, molhabilidade, rugosidade, dureza e difração
de raios-X. Após os tratamentos térmicos foram verificado modificações significantes
nestas propriedades. Padrões de imagens de superfícies do titânio antes e após a
cultura de célula foram comparados através de sobreposição para analisar a
influência da microestrutura na resposta biológica, não sendo verificadas
correlações entre a microestrutura e as preferências orientacionais das células.
Entretanto de um modo geral verificou-se que os discos que apresentaram maior
estado de tensão residual apresentaram também maior número de células em sua
superfície.
Palavras-chaves: Titânio, microestrutura do titânio, resposta biológica do titânio.
Abstract
Titanium is a biomaterial widely employed in biomedical applications (implants,
prostheses, valves, stents). Several heat treatments are usually used in order to
obtain physical properties required to different applications. This work studied the
influence of the heat treatment on microstructure of commercial pure titanium, and
their consequences in growth and proliferation of MC3T3-E1 cells. Discs of titanium
were treated in different temperatures, and characterized by optical microscopy,
image analysis, wettabillity, roughness, hardness and X-ray diffraction. After the heat
treatment, significant modifications in these properties were observed. Pattern
images of titanium, before and after the cell culture, were compared by overlapping
to analyze the influence of microstructure in biological response. It was not found
correlations between the microstructure and preferences guidance cells. However, in
general, titanium discs that showed a higher residual strength also presented an
increase of cells numbers on surface.
Keywords: Titanium, microstructure of titanium, biological response of titanium.
Lista de Figuras
Figura 2.1 – Algumas propriedades dos materiais que estão relacionadas à
biocompatibilidade (adaptado de Spencer, 2007).............................. 18
Figura 2.2 – Parâmetros superficiais e biológicos envolvidos na interação
célula/biomaterial a curto e em longo prazo. Parâmetros superficiais:
rugosidade e formação de camada de óxido. Parâmetros biológicos:
expraiamento da célula, proliferação e diferenciação celular (Anselme,
2006).................................................................................................. 20
Figura 2.3 – Influência da energia superficial do implante sobre a resposta celular.
(1) camada superficial de óxido sobre o biomaterial; (2) Ligações
moleculares superficiais e (3) célula (Spencer, 2007)........................ 21
Figura 2.4 – Gota depositada sobre uma superfície sólida. Onde Ssv, Slv e Sls são as
tensões resultantes da interação entre os três meios sólido, líquido e
vapor (Kwok, 2000). ........................................................................... 22
Figura 2.5 – Comportamento de uma gota apresentando, (a) alta molhabilidade; (b)
molhabilidade média e (c) não molhabilidade (Ferreira, 2004). ......... 23
Figura 2.6 – Formato das células osteoblástica (a) totalmente arredondada; (b) e (c)
parcialmente espraiadas e (d) totalmente espraiadas (Zhu, 2004). ... 25
Figura 2.7 – Formato da célula MC3T3-E1 na superfície de discos de titânio após 3
dias de cultura; (a) no disco polido; (b) no disco rugoso (Eisenbarth,
2002).................................................................................................. 26
Figura 2.8 – Representação esquemática dos primeiros instantes da adesão em
ordem de ocorrência. (1) interação inicial da superfície com moléculas
de água; (2) interação das moléculas de água com as proteínas e (3)
interação das proteínas com as células (Kasemo, 2002)................... 27
Figura 2.9 – Concentrações máximas permitidas para as impurezas em Ti-cp e ligas
(% em peso) (ASTM, 2000) ............................................................... 28
Figura 2.10 – Propriedades do titânio puro (Liu, 2004) ............................................ 30
Figura 2.11 – Micrografias por microscopia ótica com: (A) 200x e (B) 500x mostram
a microestrutura do titânio comercialmente puro com grãos
hexagonais alfa (Trota Filho, 2007).................................................... 30
Figura 2.12 – Transformações alotrópicas do Ti-cp, a temperatura ambiente possui
estrutura HCP e acima de 882°C possui estrutura CCC (Donachie,
1982; Flower, 1990). .......................................................................... 31
Figura 2.13 – Diagrama de fase representativo do sistema Ti-Al. Há um aumento da
temperatura de estabilização da fase α-Ti (Murray, 1986, apud Mello,
2000).................................................................................................. 33
Figura 2.14 – Diagrama de fase representativo do sistema Ti-Nb. Há uma diminuição
da temperatura de estabilização da α-Ti (Murray, 1986, apud Mello,
2000).................................................................................................. 33
Figura 2.15 – Esquema para ligas ternárias de titânio contendo estabilizadores alfa e
beta (Mello, 2000). ............................................................................. 34
Figura 2.16 – Diagrama esquemático da formação da estrutura de Widmanstäntten
na liga Ti-6Al-4V (Brooks, 1982) ........................................................ 36
Figura 2.17 – Microestrutura do titânio temperado acima da temperatura β-transus.
Apresenta no interior dos grãos hexagonais uma estrutura acicular ou
lamelar, característicos do resfriamento rápido a partir da faixa de
temperatura citada. ............................................................................ 39
Figura 3.1 - Ilustração do equipamento utilizado para determinação do ângulo de
contato (Adaptado de Costa,2006). ................................................... 44
Figura 3.2 – (a) esquema da posição dos riscos de rugosidade e (b) esquema das
marcações de microdureza................................................................ 45
Figura 3.3 – Fotografia ilustrativa da placa de 24 poços utilizada na cultura de
células................................................................................................ 46
Figura 4.1 – Micrografia do disco ST. Os três pontos escuros em forma de “ ” no
centro do disco são as marcações do local de estudo....................... 49
Figura 4.2 – Micrografia do disco TSR. .................................................................... 50
Figura 4.3 – Micrografias dos discos revenidos. (a) TR200 (b) TR300 (c) TR500. .. 51
Figura 4.4 – Microestrutura da região central dos discos de Ti-cp tratamentos
térmicos. (a) TT300 (b) TT500. .......................................................... 52
Figura 4.5 – Visualização dos contornos de grão por micrografia, (a) microestrutura
correspondente à fase alfa – grãos hexagonais, discos TR300 e (b)
microestrutura correspondente à fase martensita – grãos hexagonais
com formações lamelares no interior, discos TSR............................. 52
Figura 4.6 – Resultado do ângulo de contato para água após 60 segundos de
acomodação da gota.......................................................................... 54
Figura 4.7 – Rugosidade superficial dos discos tratados e não tratados. ................ 55
Figura 4.8 – Gráfico da microdureza dos discos de Ti-cp. ....................................... 57
Figura 4.9 – Difratograma do disco sem tratamento (ST). Há somente a presença da
fase alfa. ............................................................................................ 58
Figura 4.10 – Difratogramas dos discos tratados com têmpera e têmpera seguida de
revenimento. Em todos os difratogramas há presença de duas fases:
a fase α e αm, exceto para o caso ST que apresenta somente fase
alfa. .................................................................................................... 58
Figura 4.11 – Difratograma para os discos de Ti-cp sem tratamento e tratados
termicamente à 300° e 500° respectivamente. Há a presença somente
da fase alfa. ....................................................................................... 60
Figura 4.12 – Micrografia (800X) dos discos tratados termicamente, onde se verifica
a presença de alguns grãos contento precipitados em forma de
lamelas. (a) ST; (b) TT300 e (c) TT500.............................................. 61
Figura 4.13 – Número de células na superfície dos discos de Ti-cp tratados e não
tratados. ............................................................................................. 62
Figura 4.14 - Sobreposição das imagens da microestrutura com a das células sobre
a superfície para o disco TSR............................................................ 62
Figura 4.15 – Imagens dos discos Ti-cp revenidos. Visualização das células
orientadas sobre superfície: (a) TR300 e (b) TR500.......................... 63
Figura 4.16 – Imagens da adesão celular na região central dos discos de Ti-cp (a)
TT300; (b) TT500; (c) ST. .................................................................. 64
Figura 4.17 – Porcentagem de células por diâmetro médio em micrometros........... 65
Figura 4.18 – Porcentagem de células por razão de aspecto. ................................. 66
Figura 4.19 - Correlação do crescimento celular com a microestrutura dos discos de
Ti-cp. (a) TR200; (b) TR300 e (c) TR500. .......................................... 69
Figura 4.20 – Correlação do crescimento celular com as microestruturas dos discos
de Ti-cp tratados termicamente e não tratados. (a) TT300; (b) TT500;
(c) ST. ................................................................................................ 70
Tabela 3.1 Composição química do titânio utilizado 41
Tabela 3.2 Condições de Tratamentos e simbologia 43
Tabela 4.1 Resultado da análise da adesão celular nos discos de Ti-cp
tratados e não tratados
67
Tabela 4.2 Resumo dos resultados da análise da adesão celular nos
discos tratados e não tratados
67
Titânio comercialmente puro
Média aritmética dos picos de rugosidades
Meio de Cultura celular
Sociedade Americana para análise e padronização de Materiais
Angstron
Hexagonal Compacto
Cúbico de Corpo Centrado
Fase alfa
Fase beta m Fase Martensita
Fase Omega
TSR Temperada sem Revenimento
TR200 Temperada e Revenida a 200°C
TR300 Temperada e Revenida a 300°C
TR500 Temperada e Revenida a 500°C
TT300 Tratada termicamente a 300°C
TT500 Tratada termicamente a 500°C
ST Sem Tratamento
DRX Difratometria de Raios-x
Ângulo de contato
HA Hidroxiapatita
Sumário
1. Introdução .............................................................................................................15
2. Aspectos Teóricos.................................................................................................18
2.1. Biomateriais .......................................................................................................18
2.1.1 Interação do biomaterial com o meio biológico. ...............................................19
2.1.1.1 - Energia de superfície ..................................................................................21
2.1.1.2 – Textura da superfície .................................................................................23
2.1.1.3 – Osteoblastos ..............................................................................................25
2.1.1.4 – Interação com a água ................................................................................26
2.2. Titânio ................................................................................................................28
2.2.1. Propriedades do titânio ...................................................................................29
2.2.2. Tratamentos térmicos no titânio ......................................................................31
2.2.2.1. – Têmpera e Revenimento...........................................................................36
3. Metodologia experimental .....................................................................................41
3.1. Material utilizado ................................................................................................41
3.2. Tratamentos térmicos ........................................................................................41
3.3. Preparação metalográfica ..................................................................................42
3.4. Caracterização...................................................................................................43
3.4.1. Molhabilidade..................................................................................................43
2.4.2. Rugosidade.....................................................................................................44
3.4.3. Dureza ............................................................................................................44
3.4.3.1 Impressões....................................................................................................45
3.4.4. DRX ................................................................................................................45
3.4.5. Cultura Celular ................................................................................................45
3.4.6. Microscopia Ótica e Análise de Imagens ........................................................46
3.4.7. Análise Estatística...........................................................................................47
4. Resultados e discussão.........................................................................................49
4.1. Tratamentos Térmicos........................................................................................49
4.2. Caracterização ...................................................................................................53
4.2.1. Molhabilidade e ângulo de contato..................................................................53
4.2.2 Ensaio de Rugosidade................................................................................54
4.2.3. Dureza ............................................................................................................56
4.2.3 DRX ............................................................................................................57
4.3 Cultura de células ...........................................................................................61
4.4 Correlação microestrutura x proliferação celular.................................................67
5. Considerações finais .............................................................................................73
Referências Bibliográficas .........................................................................................75
Introdução
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
15
1. Introdução
Os biomateriais estão cada vez mais presentes em nossa vida. Dentre os
diversos materiais utilizados com finalidades biomédicas, destaca-se atualmente o
titânio e suas ligas, os mesmos têm tido aplicações crescentes e é objeto de estudo
de muitos grupos acadêmicos no Brasil e no mundo.
A reputação do titânio como material biocompatível foi baseada
principalmente em dois fatores: em sua excelente resistência à corrosão, que limita a
quantidade de íons titânio liberados nos tecidos na maioria das circunstâncias, e na
sua inatividade biológica, algumas vezes denominada “indiferença biológica”, onde
sinais da presença do metal parecem não influenciar os tecidos (Williams, 1994).
O uso de biomateriais como o titânio em aplicações biomédicas necessitam
ter suas características superficiais de tal modo que possibilitem uma maior e mais
rápida resposta biológica. No caso de implantes há a necessidade de se definir uma
superfície compatível com uma boa resposta biológica, isto é imperativo na pesquisa
básica de implantes (Amarante, 2001).
Qualquer implante, uma vez em contato com o meio biológico, é caracterizado
por mudanças dinâmicas em suas propriedades superficiais envolvendo uma
cascata de reações que ocorre entre o meio biológico e o biomaterial formando um
“filme de condicionamento” que modula as respostas celulares (Puleo, 1999).
Segundo Schneider (1994) e Macdolnad (2002) a molhabilidade e a energia
superficial exercem um importante papel na adsorção de proteínas, aumentando a
formação de adesões de osteoblastos na superfície do implante. A rugosidade e a
molhabilidade interferem nos processos de adsorção de proteínas, com isso é
possível que células sejam fortemente influenciadas por ambas, se chegarem à
superfície do implante (Rupp, 2004).
Tem sido observado que uma maior velocidade de crescimento de células
osteoblásticas pode ser alcançada pela texturização da superfície do implante
(Brunette, 1998; Sykaras, 2000). Com base no mecanismo de osseointegração
proposto por Kasemo em 2002, o real precursor do crescimento osteoblásticos é a
molhabilidade da superfície pelo líquido biológico e não a rugosidade, como se
imaginava anteriormente (Brunette, 1998). As primeiras moléculas a chegarem à
superfície do titânio são as de água. A molhabilidade superficial influencia proteínas,
Introdução
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
16
moléculas e células que chegam um pouco mais tarde (Brunette, 1998; Sykaras,
2000).
Na busca por superfícies que supram a necessidade de obter uma resposta
biológica mais rápida, várias pesquisas têm sido desenvolvidas, modificando as
propriedades de superfície pelos mais variados processos (Silva, 2005) dentre os
quais se destaca os métodos mecânicos, químicos e físicos de tratamento de
superfície, que permitem obter os mais variados graus de texturas (Xuanyong,
2004).
Os tratamentos utilizados neste trabalho foram os tratamentos térmicos em
forno resistivo por ser um dos tratamentos mais utilizados pelas indústrias. E pelas
excelentes propriedades mecânicas, estabilidade química e biocompatibilidade que
podem ser obtidas. Os tratamentos térmicos geram modificações microestruturais
que por sua vez geram modificações das propriedades mecânicas, físicas e
biológicas.
Os tratamentos realizados foram: têmpera a 1100°C; revenimento a 200°C,
300°C e 500°C e tratamento térmico a 300°C e 500°C, durante uma hora cada,
obtendo-se mudanças na fase cristalina, que foram observadas por meio de
microscopia ótica e por DRX. Essas mudanças na cristalinidade do material
proporcionaram alterações em algumas propriedades, tais como: dureza, rugosidade
e molhabilidade que foram características juntamente com as fases superficiais e
proliferação celular.
O presente trabalho teve como objetivo geral o estudo da influência da
microestrutura produzida por diferentes tratamentos térmicos na resposta à
proliferação de células osteoblásticas, tendo para isso os seguintes objetivos
específicos:
1. Estudo das propriedades do Ti-cp modificadas termicamente, tais como: fases
presentes, dureza, rugosidade, molhabilidade;
2. Estudo da resposta de células osteoblástica nessas superfícies modificadas
por tratamento térmico. Os parâmetros analisados foram: quantidade,
tamanho e forma das células, bem como se existe organização e/ou
localização preferencial das células.
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
18
2. Aspectos Teóricos
2.1. Biomateriais
Os biomateriais são usados como dispositivos médicos, sobretudo naqueles
que são temporários ou permanentemente implantados no corpo humano. O termo
biomaterial foi definido na Conferência do Instituto Nacional de Desenvolvimento de
Consenso em Saúde, em 1982 como:
“ Qualquer substância (outra que não droga) ou combinação de substâncias,
sintética ou natural em origem, que possa ser usada por um período de tempo,
completa ou parcialmente como parte de um sistema que trate, aumente ou
substitua qualquer tecido, órgão ou função do corpo” (Helmus, 1995).
A seleção do material a ser utilizado deve levar em consideração as
propriedades físicas, químicas e biológicas deste. As principais propriedades que
devem ser levadas em conta estão na figura 2.1 (Spencer, 2007).
Figura 2.1 – Algumas propriedades dos materiais que estão relacionadas à
biocompatibilidade (adaptado de Spencer, 2007).
Existem várias classificações para os materiais quanto à resposta biológica.
Considerando os materiais de maneira genérica, estes podem ser classificados em
tóxicos e não tóxicos. Quando se considera apenas os biomateriais, estes podem
ser classificados em materiais bioinertes, bioativos e biodegradáveis (Sykaras, 2000;
Silva, 2005; Santos, 2007).
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
19
Os materiais bioinertes são os materiais menos suscetíveis a causar uma
reação biológica adversa devido a sua estabilidade química em comparação com
outros materiais. Como exemplo pode-se citar: carbono, alumina e zircônia (Kohn,
1992). Os materiais bioativos são assim definidos por apresentarem propriedades
formadoras de tecido sobre a superfície e por estabelecer uma interface capaz de
suportar cargas funcionais (Kohn, 1992). O termo biodegradável é geralmente
utilizado para polímeros devido à dispersão in vivo que sofrem durante a degradação
macromolecular (Santos, 2007).
Os biomateriais metálicos podem ser divididos em três tipos quanto à sua
função: i) que apresentam resposta adversa do tecido ósseo – Cu, Ag; ii) os que
apresentam função questionável em longo prazo – CoCrMo, INOX 316L, Ti6Al4V e
iii) os que são de excelente função em longo prazo Nb, e Ti pois interagem
positivamente com o tecido ósseo (Hobkirk, 1995).
2.1.1 Interação do biomaterial com o meio biológico.
No caso de implantes ósseos integráveis, para que ocorra a formação de
tecido ósseo sobre o biomaterial é necessário que as células precursoras de
osteoblástos se diferenciem em osteoblastos e se proliferem produzindo uma matriz
extracelular não mineralizada, que será subseqüentemente calcificada (Schwartz,
1994). Estes eventos são bastante influenciados por algumas propriedades da
superfície dos biomateriais, tais como: a composição química; energia de superfície
e a textura da superfície; uma combinação entre topografia e rugosidade (Schwartz,
1994).
A figura 2.2 apresenta algumas propriedades de superfície e parâmetros
biológicos envolvidos em interações célula/biomaterial. No lado do biomaterial, a
química e rugosidade da superfície têm influência junto ao comportamento das
células. Do lado biológico, as diferentes fases podem ser distinguidas de acordo com
o tempo em cultura na resposta de células frente o material. A primeira é a fase da
adesão inicial da célula, que envolve forças eletrostáticas não específicas (por
exemplo, Van Der Waals) e formação passiva de laços de ligante-receptor. A
segunda fase concerne à proliferação e a diferenciação. A quantificação da adesão
em curto prazo, da adesão em longo prazo e da proliferação celular permitiram
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
20
estabelecer relações entre propriedades indutoras da adesão celular (por exemplo
poder de adesão) e as propriedades de superfície (Anselme, 2006).
Figura 2.2 – Parâmetros superficiais e biológicos envolvidos na interação
célula/biomaterial a curto e em longo prazo. Parâmetros superficiais: rugosidade e formação de camada de óxido. Parâmetros biológicos: expraiamento da célula,
proliferação e diferenciação celular (Anselme, 2006).
Taborelli et al. (1997) apresentaram um estudo físico-químico das
propriedades do Ti-cp submetido a vários tratamentos para otimizar sua topografia
para aplicação em implantologia osseointegrável. A rugosidade, composição química
da superfície e molhabilidade foram analisados em amostras de Ti preparados por
polimento mecânico, ataque ácido (HCl / H2SO4), jateamento de areia e plasma
spray.
Os tratamentos realizados nos estudos de Taborelli (1997) influenciaram
essencialmente a rugosidade de superfície preservando a composição química e as
propriedades de molhabilidade da camada superficial de óxido de Ti.
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
21
2.1.1.1 - Energia de superfície
Segundo Den Braber et al. (1995), vários estudos têm sido realizados para se
tentar explicar a influência da energia de superfície de um material implantável sobre
o comportamento celular (figura 2.3). Uma teoria amplamente aceita é a de que esta
propriedade tem um efeito seletivo sobre a configuração e conformação das
proteínas que são adsorvidas sobre um substrato (Baier, 1988; Uitto, 1992). Estas
proteínas desenvolvem uma importante função durante a adesão celular (Den
Braber, 1995).
Figura 2.3 – Influência da energia superficial do implante sobre a resposta celular.
(1) camada superficial de óxido sobre o biomaterial; (2) Ligações moleculares superficiais e (3) célula (Spencer, 2007).
As características das superfícies dos implantes, assim como propriedades
específicas de proteínas do meio intercelular, contribuem para a organização da
camada de proteínas adsorvidas, e a natureza desta determina a resposta celular
aos implantes (Lampin, 1997).
Neste contexto, também se observa que a energia de superfície de um
biomaterial é primariamente determinada pela natureza da camada mais externa de
átomos do material, sendo independente da natureza química ou do arranjo de
átomos e moléculas interiores (Phillips, 1991).
A energia de superfície está diretamente relacionada ao grau de
molhabilidade da superfície, pois quanto mais alto for à energia de superfície
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
22
maiores são as ocorrências de ligações moleculares superficiais. Assim a
molhabilidade é um indicativo do quanto a superfície pode interagir em termos
moleculares com o meio no qual esta sendo inserido. A medida do grau de
molhabilidade é um dos parâmetros de avaliação de biocompatibilidade de um
material (Lampin, 1997). Tal medida pode ser expressa pelo ângulo de contato que
um líquido (geralmente água) forma sobre a superfície do material (Keller, 1994;
Lampin, 1997).
O ângulo de contato de uma superfície líquida depende apenas das
propriedades físicas dos três meios de contato (sólido, líquido e vapor). A figura 2.4
ilustra uma gota de um fluido em contato com o sólido e num meio vapor (Kwok,
2000). A linha pela qual as três fases se encontram é denominada “linha de contato”.
O ângulo de contato θ é determinado a partir de um balanço de forças devido às
tensões superficiais ao longo da linha de contato e é definido por:
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −= −
lv
slsv
σσσθ 1cos
Onde: lvslsv e σσσ , são as tensões resultantes das interações entre os três
meios sólido, líquido e vapor (Kwok, 2000).
Figura 2.4 – Gota depositada sobre uma superfície sólida. Onde Ssv, Slv e Sls são as tensões resultantes da interação entre os três meios sólido, líquido e vapor (Kwok,
2000).
Apectos Teóricos
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
23
A figura 2.5 ilustra o comportamento de uma gota sobre uma superfície que
apresenta alta molhabilidade ( )0=θ , molhabilidade média ( )πθ <<0 e sem
molhabilidade ( )πθ = (Ferreira, 2004).
Figura 2.5 – Comportamento de uma gota apresentando, (a) alta molhabilidade; (b)
molhabilidade média e (c) não molhabilidade (Ferreira, 2004). As superfícies hidrofílicas apresentam, de maneira geral, uma melhor
afinidade por células e menor afinidade por proteínas do que superfícies hidrofóbicas
(Lampin, 1997, apud Xavier, 2002), e este aumento no grau de molhabilidade
melhora a interação entre a superfície do implante e o meio biológico (Baier, 1984,
apud Xavier, 2002).
2.1.1.2 – Textura da superfície
A textura superficial de um biomaterial, incluindo a microtopografia e
rugosidade, tem sido relatada por influenciar com sucesso a resposta dos implantes
osseointegráveis (Rich, 1981; Thomas, 1985). Segundo Albrektsson (1998),
diferentes pesquisadores podem apresentar opiniões contrastantes a respeito do
que seria uma superfície lisa ou rugosa.
Alguns pesquisadores defendem que a rugosidade da superfície oferece uma
melhor adesão para a rede de fibrina, por onde migram os osteoblastos para as
proximidades da superfície do implante a fim de secretar matriz óssea, dando início
à formação da interface osseointegrada (Davies, 1998; Carvalho, 2001).
Embora a microrugosidade mostre ser uma importante característica para a
resposta aos biomateriais, também há observações que indicam uma resposta
biológica às irregularidades em dimensões nanométricas (Ellingsen, 1998). A
influência da configuração microgeométrica e textura de superfície final sobre a
Apectos Teóricos
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24
resposta óssea ainda não é completamente compreendida (Kieswetter, 1996;
Cooper, 1998; Castellani, 1999; Park, 2000; Park, 2001), uma vez que existem
vários parâmetros para a medida da rugosidade superficial, no entanto o mais
utilizado é a rugosidade média (Ra). Esse parâmetro indica apenas o valor médio
aritmético e não tem nenhuma relação com a textura, assim podem existir texturas
distintas com o mesmo valor Ra.
Segundo Black (1992), as células tendem a responder mais fortemente aos
padrões de textura de superfície com dimensões aproximadas da ordem do tamanho
de uma célula, o que corresponde em geral em alguns micrômetros. Estudos in vitro
têm demonstrado que células de linhagem osteoblástica exibem características
fenotípicas de tamanho e morfologia, por exemplo, dependentes da rugosidade,
sendo que estas parecem se aderir mais rapidamente sobre superfícies com uma
microtopografia mais rugosa (Michaels, 1989, apud Xavier, 2002 e Bowers, 1992,
apud Xavier, 2002).
Ong et al. (1996) observaram que em discos de Ti-cp imersos em meio de
cultura ALFA-MEM a cultura de células osteoblásticas mostrou que a orientação
celular é dependente da topografia, sendo que as células aderidas sobre o Ti mais
liso eram mais arredondadas, enquanto as localizadas sobre a superfície mais
rugosa tinham um formato mais alongado indicando uma maior adaptação e
seguiam a orientação dos sulcos da superfície. As diferenças na orientação celular
observadas no trabalho de Ong (1996) são similares àquelas observadas em outros
estudos in vitro que utilizaram cultura de células de ratos (Inuoe, 1987, apud Xavier,
2002 e Gitto, 1994, apud Xavier, 2002).
Anselme et al. (2000) avaliaram quantitativamente a adesão de osteoblastos
humanos sobre substratos metálicos (Ti6Al4V) com várias rugosidades de superfície
obtidas a partir de tratamentos de polimento e jateamento com areia, a análise da
adesão foi feita em diferentes períodos para estudo da correlação das rugosidades
com mudanças qualitativas na expressão de proteínas de adesão.
As células se orientavam de maneira paralela nas superfícies polidas. Nas
superfícies jateadas as células não chegaram à confluência e tinham um formato
estrelado, e a camada celular não apresentava organização. A orientação da matriz
extracelular e proteínas do citoesqueleto refletiam a orientação da camada de
células. Os autores observaram uma menor adesão e proliferação celular nas
Apectos Teóricos
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25
superfícies mais rugosas e menos organizadas (jateadas). Tais resultados seriam
explicados pela formação de número e tamanho reduzidos das placas de adesão
sobre as superfícies mais caóticas (Anselme, 2000).
São células mononucleadas, completamente diferenciadas, de origem
mesenquimal responsáveis pela síntese tanto do colágeno tipo I quanto de proteínas
não colagenosas (proteoglicanos e glicoproteínas adeseivas) da matriz orgânica do
osso. São responsáveis pela mineralização, e considera-se que sejam oriundos de
células mesenquimatosas pluripotentes ou, de uma forma alternativa perisvascular.
Durante a diferenciação o osteoblasto sofre mudanças morfológicas e funcionais
(Polland, 2006).
Zhu et al. (2004) avaliaram por meio de microscopia ótica células fixadas em
discos de titânio, em seus trabalhos observaram que todas as células fixas estavam
divididas em (a) não espraiadas ou arredondadas: células ainda tinham aparências
esféricas, ainda não tendo sido produzidos protrusões ou lamelopóides; (b) e (c)
parcialmente espraiadas: nesta fase, células começaram a se espraiar lateralmente
a um ou mais lados, mas as extensões de membrana plasmática não eram
completamente confluentes; (d) completamente espraiada: extensão de membrana
plasmática para todos os lados, combinou com área de superfície distintamente
maior que nos estágios de (a) para (c) e aplainamento óbvio da célula, como
mostrado na figura 2.6 (Zhu, 2004).
Figura 2.6 – Formato das células osteoblástica (a) totalmente arredondada; (b) e (c) parcialmente espraiadas e (d) totalmente espraiadas (Zhu, 2004).
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Eisenbarth (2002) cultivou células osteoblásticas MC3T3-E1 em discos
rugosos e polidos. Após 3 dias de cultura verificou que as células se apresentam
mais espalhadas nos discos polidos (a) e que as células apresentam-se orientadas
segundo a rugosidade do disco (b), conforme a figura 2.7.
(a) (b) Figura 2.7 – Formato da célula MC3T3-E1 na superfície de discos de titânio após 3
dias de cultura; (a) no disco polido; (b) no disco rugoso (Eisenbarth, 2002)
Segundo Kasemo (2002), quando uma superfície é implantada no organismo
a primeira interação que ocorre é com as moléculas de água numa escala de poucos
nano segundos. A água é conhecida por interagir e ligar superfícies muito diferentes
dependendo das propriedades superficiais. As propriedades superficiais da água são
fatores importantes que influenciam as proteínas e outras moléculas que chegam
pouco depois. Estas biomoléculas em soluções aquosas também têm camadas de
hidratação (água) e a interação entre a camada de água da superfície com as
camadas de água biomolecular influência os processos cinéticos fundamentais e as
interfaces.
Quando as células chegam à superfície “elas vêem” a superfície coberta de
proteínas, cuja camada tem propriedades que foram determinadas inicialmente pela
pré formação da camada de água. Assim, quando se fala sobre as interações da
superfície com as células, esta está até à ultima instância inter-relacionada com as
camada inicial de água e de proteínas (Kasemo, 2002), Figura 2.8.
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Figura 2.8 – Representação esquemática dos primeiros instantes da adesão em
ordem de ocorrência. (1) interação inicial da superfície com moléculas de água; (2) interação das moléculas de água com as proteínas e (3) interação das proteínas
com as células (Kasemo, 2002).
Estudos demonstram que os materiais investigados, independentemente das
rugosidades superficiais, permitiram a adesão e proliferação celular assim como a
diferenciação dos osteoblastos. Os resultados foram capazes de identificar
comportamentos semelhantes em relação à morfologia da célula que parece não
sofrer influência direta da superfície embora tenha seu crescimento orientado pela
topografia além de confirmar a biocompatibilidade favorável do titânio como material
para uso biomédico (Rosa, 2003).
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O titânio comercialmente puro (Ti-cp) tornou-se conhecido como o metal não
nobre mais resistente à corrosão, esta propriedade se deve a formação espontânea
de uma camada de óxido sobre sua superfície. Quando exposto ao ar, o titânio
reage formando imediatamente (10-9 segundos) uma camada de óxido de titânio
que alcança a espessura de 2nm a 10nm (Einsenbarth, 2002). É esta camada
superficial de óxido que fornece a base de sua resistência à corrosão excepcional e
conseqüentemente da sua biocompatibilidade (Einsenbarth, 2002).
A produção comercial do titânio é rigidamente controlada pela Sociedade
Americana para Análise e Padronização de Materiais (ASTM), que estabelece
normas específicas para os graus de contaminação do titânio e para suas ligas,
utilizada na fabricação de implante. A figura 2.9 apresenta as diferentes
concentrações dos elementos nitrogênio, carbono, hidrogênio, ferro, oxigênio e
titânio, admitidos para os diferentes graus do Ti-cp (ASTM, 2000).
Ti grau I 0,03 0,10 0,015 0,02 0,18 Balanço
Ti grau II 0,03 0,10 0,015 0,03 0,25 Balanço
Ti grau III 0,05 0,10 0,015 0,03 0,35 Balanço
Ti grau IV 0,05 0,10 0,015 0,05 0,40 Balanço
Figura 2.9 – Concentrações máximas permitidas para as impurezas em Ti-cp e ligas (% em peso) (ASTM, 2000)
Quando usinado, o Ti-cp está sendo exposto de forma repentina a uma
atmosfera constituída de ar e substâncias lubrificantes e resfriadoras, ficando o
mesmo susceptível à dissociação das moléculas de oxigênio no ar, resultando numa
formação extremamente rápida de óxido na superfície (Kasemo, 1987).
Primeiramente, ocorre uma adsorção de moléculas de oxigênio que se dissociam
imediatamente para átomos. Após 10 nano segundos, forma-se a primeira camada
Apectos Teóricos
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monoatômica de oxigênio e dentro de aproximadamente 1 minuto, a espessura de
óxido é na ordem de 50 a 100 Å.
O titânio e suas ligas apresentam propriedades interessantes que permitem
seu uso nas mais diversas áreas, desde aeroespacial até a biomédica, dentre as
quais se destacam: i) baixa densidade (massa específica da ordem de 4,5 g/cm3); ii)
boa resistência mecânica à tração (entre 200 e 1370 MPa; iii) excelente resistência à
corrosão (garantida pela formação de uma camada passivada de TiO2) e iv) relativa
abundância na natureza (é o nono metal mais abundante), geralmente sob a forma
de minerais oxidados (Liu, 2004).
À temperatura ambiente o Ti apresenta um reticulado hexagonal compacto
(HCP, razão c/a = 1,587, parâmetro de rede = 3,3065 Å) e quando puro, acima de
882 °C transforma-se num reticulado cúbico de corpo centrado (CCC) (Liu, 2004). O
titânio puro tem ponto de fusão em 1724 °C, condutividade térmica é baixa, bem
como apresenta baixo coeficiente de expansão térmicas linear, do mesmo modo, o
titânio não é um bom condutor de energia elétrica (Liu, 2004).
O titânio é levemente paramagnético, assim como outros metais de transição,
ou seja, não é ferromagnético como o ferro-alfa (cúbico de corpo centrado). Do
ponto de vista de valência eletrônica, o titânio pode ser bi, tri ou tetravalente, ou
seja, podem ser formados íons Ti+2, Ti+3 e Ti+4. O titânio apresenta elevada
afinidade pelo oxigênio, com o qual reage em condições normais de temperatura e
pressão para formar uma série de óxidos com diferentes composições
estequiométricas desde TiO até Ti7O12, embora seja comumente encontrado sob a
forma de dióxido de titânio (TiO2). Também pode reagir com o hidrogênio para
formar hidretos do tipo TiH2. A figura 2.10 resume estas propriedades.
As propriedades de uma superfície são de fundamental relevância para a
tendência da mesma adsorver átomos ou moléculas estranhas. Diferentes
superfícies têm diferentes propriedades de adsorção, e estas diferenças estão
intimamente relacionadas com aspectos químicos de biocompatibilidade (Meachim,
1993).
Apectos Teóricos
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30
A figura 2.11 apresenta a microestrutura do titânio comercialmente puro
reveladas pelo ataque preferencial aos contornos dos grãos por uma solução
metalográfica composta de ácido fluorídrico e nítrico (HF:HNO3 – 1:3). Esta
microestrutura consiste em grãos hexagonais de fase alfa - α (Trota Filho 2007).
Numero Atômico 22 Peso Atâmico 47,90 Estrutura Cristaliona 1 α: hexagonal compacta (<882,5°C)
Estrutura Cristaliona 2 β: cúbica de corpo centrado (>882,5°C)
Cor Cinza Densidade 4,51g/cm3 Ponto de Fusão 1668±10°C Ponto de Ebulição 3260°C Dureza HBR 70 a 74 Módulo de cisalhamento 45Gpa Resistencia a Tração 520 Mpa Configuração Eletronica Externa 3d2 4s2 Coeficiente de Expanção Térmica 8064 x 10-6/°C Eletronegatividade 1,6 Resistencia Eletrica 47,8 W cm
Figura 2.10 – Propriedades do titânio puro (Liu, 2004)
Figura 2.11 – Micrografias por microscopia ótica com: (A) 200x e (B) 500x mostram a microestrutura do titânio comercialmente puro com grãos hexagonais alfa (Trota
Filho, 2007).
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31
As ligas à base de titânio possuem módulos de elasticidade baixos, da ordem
de 55 a 114GPa quando comparadas com o aço inoxidável (193GPa), porém
superior ao módulo de elasticidade do osso, obtidos por ensaio de tração, que se
encontra entre 17 e 35GPa. Por isso, os implantes de titânio apresentam vantagem
em relação aos seus concorrentes utilizados para a mesma função (RACK, 2006).
A resistência mecânica de um material está associada a características como
porosidade e microestrutura que, por sua vez, estão associadas ao tipo de
processamento utilizado na fabricação do produto. Ou seja, de acordo com o
processamento adotado, o produto final apresentará um conjunto diferente de
propriedades mecânicas.
Uma das características mais importantes do titânio é a transformação
alotrópica que ele sofre a 882°C, quando muda sua estrutura cristalina de hexagonal
compacta (HCP) chamada de fase α para uma estrutura cúbica de corpo centrado
(CCC) chamada de fase β. A figura 2.12 esquematiza as transformações alotrópicas
do titânio puro (Donachie, 1982; Flower, 1990).
Figura 2.12 – Transformações alotrópicas do Ti-cp, a temperatura ambiente possui estrutura HCP e acima de 882°C possui estrutura CCC (Donachie, 1982; Flower,
1990).
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A temperatura de transformação é fortemente influenciada por elementos
intersticiais. Metais simples dos grupos IIIA e IVA, por exemplo, Al, Ga e Sn; e os
elementos intersticiais (B, C, O e N) são denominados elementos α-estabilizadores
(ou alfagênicos) e, quando adicionados ao titânio puro, promovem o aumento da
temperatura de transformação da fase α para a fase β. Já a adição de metais, tais
como: Mo, V, Mn, Fe, Cu, Cr, Nb e Ta diminuem a temperatura desta transformação
e estes elementos são denominados β-estabilizadores (ou betagênicos) (Mello,
2000). A influência da adição de elementos α e β-estabilizadores é exemplificada
nas figuras 2.13, 2.14, através dos sistemas Ti-Al e Ti-Nb, respectivamente.
O titânio forma soluções sólidas intersticiais com elementos que possuem raio
atômico pequeno, como por exemplo, carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. O
espaço intersticial é de aproximadamente 26,5% do volume do reticulado cristalino
para o α-Ti (HCP) e de 32% para o β-Ti (CCC). A estrutura α possui 4 posições
intersticiais de raio 0,62 Å. Já a estrutura β possui 12 interstícios do tipo tetraédrico
com raio 0,44 Å e 6 do tipo octaédrico (Wasilewski, 1995, apud Bellinati, 1999).
Com exceção do hidrogênio os demais elementos intersticiais são
estabilizadores de fase α (Williams, 1981, apud Bellinati, 1999). A presença de
elementos intersticiais tende a aumentar a dureza, a resistência mecânica e diminuir
a ductilidade do material (ASM Committee, 1987, apud Bellinati, 1999). A maioria
dos produtos de titânio comercialmente puro contém traços alguns desses
elementos (ALBREKTSSON, 1983; FRAKER, 1987)..
Apectos Teóricos
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33
Figura 2.13 – Diagrama de fase representativo do sistema Ti-Al. Há um aumento da
temperatura de estabilização da fase α-Ti (Murray, 1986, apud Mello, 2000).
Figura 2.14 – Diagrama de fase representativo do sistema Ti-Nb. Há uma diminuição
da temperatura de estabilização da α-Ti (Murray, 1986, apud Mello, 2000).
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As ligas são tratadas termicamente para aumentar sua resistência mecânica,
produzindo soluções sólidas contínuas. Os elementos incorporados atuam como
estabilizadores de fase (FRAKER, 1987). É basicamente na manutenção de uma ou
outra fase em equilíbrio termodinâmico que se baseia a adição de elementos de liga.
Através de tratamentos térmicos ou termomecânicos pode-se obter grandes
variações microestruturais e, conseqüentemente, alterar de maneira significativa
suas propriedades.
Durante o resfriamento a partir de temperaturas superiores a temperatura β-
transus (882°C) ocorre uma transformação alotrópica da estrutura CCC que é
característica da fase β-Ti para a estrutura HCP que é características da fase α-Ti no
titânio comercialmente puro. A adição de elementos de liga nesta temperatura
modifica o equilíbrio entre os campos α e β implicando no aparecimento da região α
+ β (Collings, 1984).
Uma classificação ampla para o titânio é feita com referencia às linhas de
transformação martensítica inicial (Mi) e final (Mf), que são, geralmente, muito
próximas ou quase coincidentes. Assim, de acordo com a figura 2.15 as ligas de
titânio podem ser divididas em cinco classes, sempre relacionadas com a retenção
de β à temperatura ambiente, que são: ligas-α, ligas α-próximo, ligas α + β, ligas β-
próximo e ligas-β (Mello, 2000).
Figura 2.15 – Esquema para ligas ternárias de titânio contendo estabilizadores alfa e
beta (Mello, 2000).
Apectos Teóricos
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Como as temperaturas de inicio e fim das transformações martensíticas são
muito próximas, só é possível obter estruturas contendo martensita juntamente com
a fase β para um intervalo muito pequeno de composição. A transformação
martensíticas é precedida por um regime de variações estruturais chamadas de fase
ω (Colllings, 1984). A fase ω é o resultado de um resfriamento muito rápido,
existindo como um precipitado cristalino dentro de uma faixa muita estreita de
composição, nos contornos da fase martensita. A martensita αm (α’ ou α’’) possui
energia livre menor que a fase ω. Assim durante a transformação, as agulhas de
martensita consomem todos os possíveis precipitados de fase ω existentes no seu
caminho.
Os resfriamentos submetidos a altas taxas promovem uma precipitação mais
fina da fase αm, resultando na estrutura Widmanstätten e, chegando estas taxas de
resfriamento a patamares mais elevados, a difusão atômica será inibida gerando
uma estrutura martensítica (Flower, 1990). A estrutura Widmanstätten (α + β) é
característica das ligas diluídas e se apresenta como um emaranhado de agulhas
paralelas em matriz de β (Brooks, 1982). A figura 2.16 mostra o diagrama
esquemático da formação da estrutura de Widmanstätten na liga Ti-6Al-4V.
Apectos Teóricos
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Figura 2.16 – Diagrama esquemático da formação da estrutura de Widmanstäntten
na liga Ti-6Al-4V (Brooks, 1982)
A têmpera é o tratamento térmico que possui como objetivo otimizar a relação
entre microestrutura e dureza. Basicamente, a têmpera consiste em resfriar
rapidamente o material, após a temperatura de austenitização, a uma velocidade
superior à velocidade crítica (Vc), para obter uma estrutura denominada martensita.
Essa velocidade (Vc) significa uma taxa de resfriamento crítico correspondente à
menor taxa de resfriamento que pode ser utilizada para que toda a estrutura obtida
ainda seja martensítica (Moreira, 2008). A temperabilidade mede a habilidade de um
material sofrer um tratamento térmico que aumente a proporção de fase dura
Apectos Teóricos
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(martensita). Normalmente, esse processo é complementado por outro tratamento
térmico, denominado revenimento.
Segundo Moreira e Lebrão (2008) os meios utilizados para o tratamento de
têmpera podem ser água, salmoura, óleo e ar, da seguinte forma:
i) têmpera em água – este pode ser conduzido de diversas maneiras: por meio de
imersão, jatos, imersão ou jatos com água aquecida, ou ainda, misturas de água
com aditivos poliméricos;
ii) têmpera em salmoura – o termo salmoura refere-se á uma solução aquosa
contendo diferentes quantidades de cloreto de sódio (NaCl) ou cloreto de cálcio
(CaCl). As taxas de resfriamento da salmoura são superiores às obtidas em água
pura;
iii) têmpera em óleo – todos os óleos de têmpera têm como base os óleos minerais,
geralmente óleos parafínicos e são classificados de acordo com a velocidade
desejada para a têmpera, da seguinte forma: óleos de velocidade normal- para
metais de alta temperabilidade; óleos de velocidade média - para metais de média
temperabilidade; óleos de alta velocidade - para metais de baixa temperabilidade;
óleos para martêmpera e óleos laváveis em água. A maior parte dos óleos de
têmpera apresenta taxas de resfriamento menores que as obtidas em água ou em
salmoura, entretanto, nestes meios o calor é removido de modo mais uniforme,
diminuindo as distorções dimensionais e a ocorrência de trincas;
iv) têmpera em ar – como a água, o ar é um meio de tempera antigo, comum e
barato. A aplicação do ar como meio de têmpera é mais comum em metais de alta
temperabilidade. Como qualquer outro meio de têmpera, suas taxas de transferência
de calor dependem da vazão. Este tipo de têmpera é bastante empregado no
resfriamento rápido de metais não-ferrosos.
O revenimento tem como principal objetivo controlar a relação dureza e
tenacidade obtida após o processo de têmpera, reduzindo as tensões produzidas
durante esse processo e aumentando a ductilidade e a tenacidade. O revenimento é
realizado em temperaturas inferiores à zona critica com tempos de duração e
velocidades de resfriamento controladas. A martensita é muito dura, porém, muito
quebradiça e frágil. Isso ocorre devido a vários fatores que incluem a distorção do
retículo cristalino causada pelo aprisionamento dos átomos durante a têmpera. O
Apectos Teóricos
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revenimento é o tratamento térmico que permite redução do efeito quebradiço,
aumentando a ductilidade (Moreira, 2008).
As variáveis que afetam a microestrutura e propriedades mecânicas dos
metais temperados são: i) temperatura de revenimento; ii) tempo na temperatura de
revenimento; iii) velocidade de resfriamento após o revenimento e iv) composição do
metal, incluindo teor de C, elementos de liga e impurezas. Cada metal apresenta
uma correlação entre a temperatura de revenimento e as propriedades mecânicas.
As curvas de dureza versus temperatura de revenimento são normalmente
empregadas para a seleção da temperatura de revenimento de um metal. A difusão
de carbono e elementos de impureza durante o revenimento é dependente do
tempo. Verificam-se grandes alterações de dureza para diferentes tempos de
revenimento (Moreira, 2008).
A cinética de transformação da fase alfa para beta durante o resfriamento
influência as propriedades do Ti, podendo gerar fases metaestáveis que necessitam
de adição de determinados elementos em determinadas teores para estabilizar a
fase beta. O resfriamento rápido a partir do campo beta (1000 ºC, por exemplo) não
suprime a formação de fase alfa, mas forma contornos mais irregulares, resultando
em maior resistência mecânica.
A figura 2.17 apresenta a microestrutura do Ti temperado a uma temperatura
superior à temperatura β-transus (1175°C). Analisando esta figura, pode-se perceber
que devido a alta taxa de resfriamento há formações aciculares no interior dos grãos
alfa - α, são mais finas neste caso do que no caso de resfriamento lento (ASM
HANDBOOK pag 463).
Apectos Teóricos
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Figura 2.17 – Microestrutura do titânio temperado acima da temperatura β-transus.
Apresenta no interior dos grãos hexagonais uma estrutura acicular ou lamelar, característicos do resfriamento rápido a partir da faixa de temperatura citada.
Metodologia Experimental
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41
O presente trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira parte foi
realizado os tratamentos térmicos e as caracterizações dos discos de Ti-cp
para análise comparativa entre os discos tratados e não tratados. Na segunda
parte foi realizada a cultura de células sobre a superfície e as análises
microscópicas referentes à caracterização destas células nas superfícies
tratadas e não tratadas.
Neste trabalho foram utilizados 21 discos de Ti-cp, com especificação
conforme certificado de qualidade fornecido pela empresa Realum Ind. Com.
de Metais Puros e Ligas LTDA. Os discos tinham 15mm x 1,5mm (diâmetro x
espessura) e composição química de acordo com a tabela 3.1.
Composição química do titânio utilizado segundo fornecedor. Discos de Ti ASTM F67 GR1Φ 15x1,50mm.
Elementos N C H Fe O Ti
% 0,011 0,011 0,004 0,04 0,085 Balanço
Os tratamentos térmicos foram realizados em forno resistivo, mantendo-
se o patamar de temperatura por uma hora seguida de resfriamento até
temperatura ambiente. Os discos foram divididos em sete grupos de acordo
com os tratamentos conforme a tabela 3.2.
Metodologia Experimental
Haroldo Reis Alves de Macêdo,Agosto/2008
42
Tabela 3.2 – Condições de tratamentos e simbologia.
Têmpera TSR 1100°C Ar Têmpera e
revenimento a 200°C
TR200 Tempera 1100°C e revenimento 200°C
Tempera – Ar Revenimento -
forno Têmpera e
revenimento a 300°C
TR300 Tempera 1100°C e revenimento 300°C
Tempera – Ar Revenimento -
forno Têmpera e
revenimento a 500°C
TR500 Tempera 1100°C e revenimento 500°C
Tempera – Ar Revenimento -
forno Tratamento térmico
a 300°C TT300 Tratada termicamente a 300°C Forno
Tratamento térmico a 500°C TT500 Tratada termicamente a
500°C Forno
Comercial (recozida) ST Sem tratamento -
Após os tratamentos térmicos, os discos passaram por uma preparação
metalográfica de embutimento em resina poliéster, lixamento e polimento
(politriz AROTEC, modelo APL-2) com uma solução de 40% de sílica coloidal
com 60% de peróxido de hidrogênio (30%). Em seguida, os discos foram
desembutidos, marcados com três impressões de microdureza em forma de “L”
para garantir que a análise de imagens fosse feita exatamente na mesma
posição e local.
Terminada as marcações, os discos foram submetidos a um rígido
protocolo de limpeza para remoção de gorduras, sendo limpas em banho de
ultra-som por 30 minutos. Esta limpeza foi dividida em três partes de 10
minutos cada, sendo a primeira feita com detergente enzimático (EndoZime
AW plus), a segunda com álcool absoluto e finalmente com água destilada. As
amostras foram secas com secador e acondicionadas em embalagens
apropriadas para uso posterior.
Metodologia Experimental
Haroldo Reis Alves de Macêdo,Agosto/2008
43
O ataque químico utilizado para revelar os contornos de grão foi uma
solução de 10ml de ácido fluorídrico (HF), 5ml de ácido nítrico (HNO3) e 85ml
de água destilada com a qual embebeu-se o algodão e este foi posto sobre o
disco por 10 segundos (HF=0,7mol/L; HNO3=0,17mol/L).
A técnica utilizada foi a determinação do ângulo de contato estático ou
técnica da gota séssil. O aparato utilizado para tal determinação foi
desenvolvido no Laboratório de Processamento de Materiais por Plasma da
UFRN e está esquematizado na figura 3.1. Este aparato é composto por uma
base plana móvel, com movimentos no sentido vertical, uma micro-câmera,
uma pipeta de volume regulável, e uma fonte de luz difusa.
As amostras foram colocadas sobre a base plana e em seguida foi
depositado uma gota de 10μl de água sobre as superfícies dos discos. De
forma a padronizar o teste e por serem gotas muito pequenas, foram feitos
videos de acompanhamento da deposição da gota na supefície do disco, sendo
medido o ângulo de contato após completar 60 segundos de acomodação. O
software utilizado para isolar as imagens a partir do vídeo no instante 60
segundo foi o Pinnacle Studio QuickStart versão 8 e o software utilizado para
calcular o ângulo de contato foi o “surftens”, com este fez-se três marcações
para medida de cada ângulo e obtido uma média de cinco medições para a
determinação do valor de cada ângulo.
Metodologia Experimental
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44
Figura 3.1 - Ilustração do equipamento utilizado para determinação do ângulo
de contato (Adaptado de Costa,2006).
Para análise da rugosidade foi mensurado o parâmetro Ra, utilizando um
rugosímetro modelo Surtronic 25 da marca Taylor Hobson Precision com cut-off
igual a 0.25, do laboratório de caracterização de materiais da UFRN . Foram
obtidas dez medidas em cada disco. Distribuídas ao longo de toda a área
superficial dos mesmos, conforme a figura 3.2 (a).
O ensaio de microdureza teve finalidade obter os valores de dureza
Vickers (HV) no centro e na bordas dos discos a fim de verificar se havia
alguma diferença entre tais valores. O ensaio de microdureza foi feito utilizando
um microdurômetro digital HVS 1000 PANAMBRA com carga de 200g, tempo
de aplicação de carga de 15 segundos e distância entre impressões de 150μm.
Foram feitas seis medições em cada disco sendo três na borda e três no
centro, conforme a figura 3.2 (b).
Metodologia Experimental
Haroldo Reis Alves de Macêdo,Agosto/2008
45
As impressões de microdureza realizadas nos discos tiveram como
segundo objetivo marcar local e posição nos discos para posterior análise de
imagens.
(a) (b) Figura 3.2 – (a) esquema da posição dos riscos de rugosidade e (b) esquema
das marcações de microdureza.
Para análise das fases foi utilizado um difratômetro de raios-X,
Shimadzu modelo XRD-6000 do Núcleo de Ensino e Pesquisa de Petróleo e
Gás Natural da UFRN. As amostras foram analisadas com ângulos de
varredura θ~2θ entre 30° e 80° numa velocidade de 2°/min.
Após a limpeza, os discos de titânio foram autoclavadas a 120°C por 30
minutos, secos e reservados para uso posterior. As etapas posteriores aqui
descritas foram realizadas em ambiente estéril numa câmara de fluxo laminar.
O experimento iniciou quando colocou-se os disco autoclavados numa placa de
cultura de células de 24 poços (poços de 16mm de diâmetro), na proporção de
um disco por poço. Adicionou-se em seguida 1 mL do meio de cultura celular
(ALFA-MEM) e posteriormente as células pré-osteoblásticas da linhagem
MC373-E1 (40.000 células por poço). As placas ficaram em condições de
Metodologia Experimental
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46
cultura celular (5% de CO2, 37 °C) conforme a figura 3.3. Após 24 h, as células
foram fixadas nos discos com o uso de solução de Karnovsky. O material
permaneceu nessa solução a 4°C até a desidratação para visualização em
microscopia. O procedimento de desidratação foi realizado pondo-se os disco
com as células em álcool 70% a temperatura ambiente, depois de 10 minutos o
álcool 70% foi substituído por álcool a 80%, e assim por diante até álcool
absoluto. Este procedimento foi realizado no laboratório de cultura celular do
departamento de bioquímica da UFRN.
Figura 3.3 – Fotografia ilustrativa da placa de 24 poços utilizada na cultura de
células.
Foi utilizado o microscópio Olympus BX 60M com uma câmera digital
acoplada e o software Image Pro Plus que foi utilizado na aquisição e análise
de imagens. Para tal, foram obtidas fotomicrografias da superfície dos discos,
nas regiões previamente marcadas com as impressões de microdureza, em
três momentos distintos, a saber: superfície polida, superfície com as células
aderidas e finalmente da superfície atacada quimicamente – microestrutura.
O software Image Pro Plus foi utilizado na aquisição e principalmente na
contagem e caracterização de tamanho e forma das células aderidas à
superfície dos discos. Foram analisadas as imagens das superfícies que
tinham células aderidas e as microestruturas correspondentes.
Metodologia Experimental
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47
Para a contagem das células foram fotografadas três regiões próximas à
marcação central a fim de obter uma visão geral da quantidade média de
células no disco. As regiões analisadas correspondem aos campos de visão
obtidos com aumento de 500 vezes, esse aumento foi utilizado com o intuito
minimizar o erro do operador, uma vez que com um menor aumento a
visualização do limite entre uma célula e outra é dificultada. No entanto, tem-se
imagens com os aumento menores que permitem uma visão geral da
quantidade de células nas regiões predeterminadas e nas regiões vizinhas.
Para análise estatística foi utilizado o software InStat versão 3. Para tal,
utilizou-se o teste da ANOVA que mede a variabilidade entre os valores e em
seguida fez-se o teste t-student para avaliar o nível de significância estatística.
Resultados e Discussão
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49
Os discos sem tratamento (ST) apresentaram a microestrutura mostrada
na figura 4.1. Esta é compatível com a microestrutura apresentada na literatura
para o Ti-cp, conforme pode ser verificado na figura 2.9 (literatura).
Figura 4.1 – Micrografia do disco ST. Os três pontos escuros em forma de “ ”
no centro do disco são as marcações do local de estudo. Analisando a micrografia da figura 4.1 observou-se, que alguns grãos
apresentaram no seu interior regiões mais escuras e em formato de agulhas ou
lamelas como pode ser verificado observando a região 2 e grãos sem essas
estruturas e em formatos hexagonais na região 1. A diferença entre as regiões
1 e 2 desta figura podem ser atribuídas à presença de impurezas durante o
processo de fabricação dos discos.
1
2
Resultados e Discussão
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50
Os discos temperados (TSR) apresentam uma microestrutura
caracterizada por uma estrutura acicular, ou seja, por lamelas, que neste caso
apresentaram-se grandes, bem definidas e orientadas (figura 4.2.). Estas
indicam a presença de uma nova fase, a fase martensita conforme a figura
representativa desta fase que foi mostrada na figura 2.17.
Figura 4.2 – Micrografia do disco TSR.
Os resultados microestruturais obtidos com o revenimento estão
apresentados na figura 4.3. Nesta figura foi verificado que o revenimento
aliviou as tensões provocadas pela têmpera de modo que os grãos se
reorganizaram, eliminando a estrutura lamelar e dando inicio a recristalização.
Verificou-se também que os discos revenidos apresentaram diferenças
microestruturais no tamanho e forma dos grãos, que podem ser atribuídas à
diferença microestrutural inicial apresentada na figura 4.1. Estas diferenças
provocam respostas diferentes para os tratamentos térmicos.
Resultados e Discussão
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51
(a) (b)
(c)
Figura 4.3 – Micrografias dos discos revenidos. (a) TR200 (b) TR300 (c) TR500.
A figura 4.4 apresenta os resultados para os discos tratados
termicamente. Estes apresentaram microestrutura semelhante à microestrutura
dos discos não tratados mostrados na figura 4.1, com grãos pequenos e em
forma de hexágonos, bem como, apresentam grãos mais escuros com
estrutura lamelar no interior. A presença desta estrutura no interior dos grãos
pode ser atribuída à precipitação de elementos de impurezas durante o
tratamento térmico, bem como à formação de uma solução sólida pelos
elementos de impurezas presentes nos materiais e mostrados na tabela 3.1.
Resultados e Discussão
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52
(a) (b)
Figura 4.4 – Microestrutura da região central dos discos de Ti-cp tratamentos térmicos. (a) TT300 (b) TT500.
Padronizou-se neste trabalho a utilização de micrografias obtidas com
aumento de 500x. No entanto, também foram obtidas fotomicrografias dos
discos com aumento de 200x para uma melhor visualização dos contornos de
grão das duas fases presentes nos discos temperados e revenidos. Com estas
micrografias confirmou-se o formato de grãos citados na literatura e mostrados
nas figuras 2.9 e 2.17, para ambas as fases, como podem ser visto nas figuras
4.5 (a) e (b).
(a) (b)
Figura 4.5 – Visualização dos contornos de grão por micrografia, (a) microestrutura correspondente à fase alfa – grãos hexagonais, discos TR300 e (b) microestrutura correspondente à fase martensita – grãos hexagonais com
formações lamelares no interior, discos TSR.
Resultados e Discussão
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53
Os tratamentos térmicos utilizados neste trabalho permitiram a obtenção
de microestruturas diferenciadas em tamanho e forma de grãos. Percebe-se
que a têmpera provocou uma mudança na cristalinidade do material, gerando
uma estrutura acicular ou lamelar dentro da estrutura hexagonal alfa, ou seja,
gerando a estrutura correspondente a fase αm (martensita), como pôde ser
visto na figura 4.2. Enquanto que o revenimento fez com que houvesse um
retorno da estrutura da fase αm para a estrutura da fase α (Figura 4.3).
Um maior ângulo significa uma menor área de contato do liquido com a
superfície do biomaterial enquanto que o menor ângulo significa uma maior
área de contato, ou seja, que o liquido está mais espalhado na superfície do
biomaterial, ou ainda, que o biomaterial é mais molhável.
Constatou-se que os discos temperados (TSR) foram os que
apresentaram o maior ângulo de contato, ou seja, a menor molhabilidade.
Verificou-se também que entre os discos revenidos a menor ângulo de contato
se deu para os discos TR300 e o maior para os discos TR200 apresentando
uma diferença significativa, entorno de 22%. Sendo que os discos TR500
apresentaram valores intermediários entre os demais revenidos conforme pode
ser visto na figura 4.6.
Nos discos tratados termicamente a diferença também foi significativa
entorno de 25%. Sendo que os discos TT300 foram dos que apresentaram
menor ângulo de contato, ou seja, estes se apresentaram mais molháveis que
os discos TT500. Entretanto, dentre todos os 21 discos estudados a melhor
molhabilidade se deu para os discos não tratados (ST) com uma diferença de
cerca de 60% para os discos menos molháveis os TSR (figura 4.6). Observa-se
que os discos TT300 e TR300 apresentaram semelhança nos valores da
molhabilidade após os 60 segundo de acomodação do líquido.
Resultados e Discussão
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0102030405060708090
TSR TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
Figura 4.6 – Resultado do ângulo de contato para água após 60 segundos de
acomodação da gota. De acordo com Baier (1984) e Lampin (1997) de maneira geral as
células apresentam melhor afinidade por superfícies hidrofílicas melhorando
assim a interação destas superfícies com o meio biológico. Assim os discos
que se destacam por apresentarem melhor molhabilidade são os discos
TR300, TT300 e ST. O ângulo de contato indica o grau de molhabilidade dos
materiais e esta é um fator indicativo da boa resposta biológica. Portanto,
deveriam os discos anteriormente citados apresentar maior quantidade, bem
como uma melhor acomodação das células.
Outra grandeza importante a ser analisada numa superfície para fins de
utilização como biomaterial é a rugosidade. Como comentado anteriormente
verificou-se que os tratamentos térmicos produziram modificações
microestruturais gerando uma estrutura lamelar martensita. Essa estrutura por
sua vez é mais resistente ao desgaste. Assim o processo de metalografia fez
com que os discos que apresentaram essas estruturas lamelares
apresentassem por conseqüência uma maior rugosidade.
Resultados e Discussão
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55
Os discos temperados (TSR) e os discos revenidos (TR200, TR300 e
TR500) apresentaram maior valor de rugosidade Ra. Entre eles os discos TSR
e TR200 se destacaram por apresentarem os maiores valores, enquanto que
os discos revenidos (TR300 e TR500). Os tratados termicamente (TT300 e
TT500) foram os que apresentaram os menores valores para a rugosidade,
bem como apresentam uma semelhança entre estes valores, como pode ser
visto na figura 4.7.
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
TSR TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
Figura 4.7 – Rugosidade superficial dos discos tratados e não tratados.
Existe uma divergência de opiniões entre alguns pesquisadores quanto
ao valor da rugosidade (Albrektsson, 1998). Sabe-se, no entanto que os
eventos biológicos iniciais são bastante influenciados por algumas
propriedades da superfície, dentre as quais destaca-se a rugosidade
(Schwartz, 1994). Sabe-se também que os valores de rugosidade encontrados
neste trabalho estão dentro de uma faixa de valores utilizados na literatura
pelos diversos autores dentre os quais cita-se Zhu et al (2004) que utilizaram
valores para a rugosidade na faixa de 0,19 a 0,42 μm e Xavier (2003) que
utilizou valores entre 1,79 e 1,92 para a rugosidade dos discos e que obtiveram
excelentes respostas biológicas para os discos utilizados. Kasemo (2002)
relata que ainda não há uma definição quanto ao valor da rugosidade
superficial para uma melhor resposta biológica
Resultados e Discussão
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56
Comparando os resultados da molhabilidade com os da rugosidade,
tem-se a tendência de relacionar estas duas propriedades, pois se percebe
para quase todos os discos que, quanto mais rugosos menor será
molhabilidade, e quanto menos rugoso maior a molhabilidade, exceto para os
discos TT500 e ST em que esta relação não é válida, pois ocorre justamente o
inverso do comentado anteriormente. Portanto não se pode concluir nada a
cerca desta relação. Embora outros trabalhos (Rupp, 2004; Alves Jr, 2005)
tenham mostrado que essa concordância possa existir.
Um fato que deve ser levado em consideração quanto ao valor da
rugosidade Ra é que este valor pode ser o mesmo para diferentes graus de
textura superficial, ou seja, é necessário um parâmetro de rugosidade que
forneça ao mesmo tempo informação sobre a rugosidade média e a textura da
superfície. Assim de acordo com os resultados obtidos neste trabalho pode-se
afirmar que ainda serão necessários mais estudos para a definição da
rugosidade ideal para uma boa resposta biológica.
A dureza é um importante indicativo do estado de tensão residual de um
material uma vez que a tensão residual esta associada a uma instabilidade na
rede cristalina e esta instabilidade faz com que o material tenha uma maior
resistência à deformação e conseqüentemente uma maior dureza (Callister,
2002). O ensaio de microdureza mostrou que os discos somente temperados
(TSR), apresentaram maior dureza entre todos os demais discos. Esta
diferença pode ser atribuída à presença da fase martensita em todo o disco
TSR, e ao fato do revenimento ter propiciado uma diminuição da fase
martensita, bem como a não existência desta fase nos discos tratados
termicamente e nos não tratados.
Os discos revenidos apresentaram uma variação na dureza com uma
diferença considerável da ordem de 9%, sendo que entre estes os discos que
apresentaram maior dureza foram os discos TR300 enquanto que os discos
TR200 e TR500 não apresentaram diferença considerável entre si (figura 4.8).
Quanto aos valores da dureza Vickers estão de acordo com os valores
encontrados na literatura para o titânio martensítico (Santos, 2006).
Resultados e Discussão
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57
Os discos tratados termicamente também apresentaram valores de
dureza com diferença considerável da ordem de 12%, no entanto se
assemelhando muito à dureza dos discos não tratados que apresentam valores
na ordem de 150+/-30HV segundo Santos (2006), conforme pode ser
observado na figura 4.8.
0,0050,00
100,00150,00200,00250,00300,00350,00400,00450,00
TRS TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
Figura 4.8 – Gráfico da microdureza dos discos de Ti-cp.
A têmpera promove um desarranjo na orientação dos planos
cristalográficos, com isso dificulta o deslizamento destes planos e aumenta a
resistência a deformação e conseqüentemente a dureza. Já o revenimento
promove uma organização dos planos cristalográficos e com isso há uma
facilitação quanto ao deslizamento desses planos, diminuindo assim a
resistência à deformação e conseqüentemente a dureza do material. Assim
pode-se dizer que quanto maior for o grau de desarranjo dos planos
cristalográficos, ou seja, o estado de tensão do material, maior será o valor da
dureza do mesmo.
Na figura 4.9 é apresentado o difratograma obtido para os discos Ti-cp
sem tratamento. Verifica-se que a única fase presente é a fase α-Ti. Isto está
de acordo com a literatura que diz que o Ti-cp apresenta somente a fase alfa
até a temperatura de 882°C (Donachie, 1982; Flower, 1990).
Resultados e Discussão
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58
30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80-200
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
Inte
nsid
ade
2θ
Ti - αm
Figura 4.9 – Difratograma do disco sem tratamento (ST). Há somente a
presença da fase alfa. A têmpera foi realizada a 1100°C, ou seja, a uma temperatura superior a
β transus. A fase martensítica αm surge durante o resfriamento rápido quando a
tendência do Ti-cp é retornar a fase α. O aparecimento de picos nas posições
62,75° e 70,2° caracterizam o surgimento da fase αm no titânio segundo
difratograma apresentado por Pinto (2005). Na figura 4.10 são apresentados os
difratogramas dos discos de titânio temperados e revenidos.
30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
11000
12000
13000
Inte
nsid
ade
2θ
ST
TSR
TR200
TR300
TR500
Ti - αTi - αμ
Figura 4.10 – Difratogramas dos discos tratados com têmpera e têmpera
seguida de revenimento. Em todos os difratogramas há presença de duas fases: a fase α e αm, exceto para o caso ST que apresenta somente fase alfa.
Resultados e Discussão
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59
Observando o difratograma da figura 4.10, percebe-se que para os
discos TSR há picos referentes à fase alfa nas posições 35,02° e 52,84° e dois
picos referentes à fase martensítica na posição 62,75° e 70,2°.
No disco TR200 há um grande aumento na intensidade do pico na
posição 62,75° referente à fase αm e o reaparecimento do pico na posição
40,1° referente à fase α. Com isso pode-se sugerir que houve um inicio do
processo de recristalização. Nos discos TR300 e TR500 verifica-se que o pico
na posição 62,75° decresce enquanto que o pico na posição 40,1° aumenta,
como observado na figura 4.10. Isso sugere que com o aumento da
temperatura houve uma maior recristalização do material fazendo com que
houvesse uma diminuição da fase αm e aumento da fase α.
Ainda analisando o difratograma da figura 4.10 verifica-se que houve um
pequeno deslocamento de aproximadamente 0,3° para as amostras revenidas,
sugerindo o aumento das distâncias interplanares da fase α. Esse aumento
pode ter ocorrido pela inserção de átomos intersticiais na rede dessa fase.
Observa-se que embora a temperatura de tratamento seja suficiente
para que o titânio transforme-se completamente em Ti-β, ou seja, superior a β-
transus, os difratogramas apresentam somente fase alfa e alfa martensita (α e
αm), isso se deve ao fato da fase beta não ser uma fase de fácil estabilização,
sem a adição de elementos betagênicos ou facilitadores de estabilização da
fase beta, em baixas temperaturas. Entretanto, apenas com as duas fases
presentes foi possível a obtenção de microestruturas variadas.
Na figura 4.11 pode-se verificar que o tratamento térmico a 300°C fez
com que houvesse um aumento na intensidade de todos os picos, ou seja, que
houvesse uma recristalização do material em relação ao disco não tratado. Já
o tratamento térmico a 500°C pouco influenciou na cristalinidade do material
em relação ao tratamento térmico a 300°C uma vez que a intensidade dos
picos quase não se alteraram, ou seja, em termos de reordenamento
cristalográfico verifica-se que quase não houve diferença entre o tratamento
térmico a 300°C e a 500°C.
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
60
30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000 Ti - α
TT500
TT300
ST
Inte
nsid
ade
2θ
Figura 4.11 – Difratograma para os discos de Ti-cp sem tratamento e tratados termicamente à 300° e 500° respectivamente. Há a presença somente da fase
alfa. Embora o DRX mostre semelhança entre os discos tratados
termicamente a 300° e 500° foi possível perceber diferenças na rugosidade,
molhabilidade e principalmente na dureza desses dois discos.
Observando as micrografias da figura 4.12, verifica-se que alguns grãos
apresentam precipitados em forma de lamelas. Para amostras tratadas a
500°C a densidade de precipitados foi superior às amostras tratadas a 300°C.
As amostras recozidas (ST) apresentam apenas discretamente esses
precipitados. No entanto não foi possível a identificação desta fase através do DRX.
Resultados e Discussão
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61
(a) (b)
(c)
Figura 4.12 – Micrografia (800X) dos discos tratados termicamente, onde se verifica a presença de alguns grãos contento precipitados em forma de
lamelas. (a) ST; (b) TT300 e (c) TT500.
Verificou-se que os discos que apresentaram maior quantidade de
células foram os discos TSR conforme é mostrado na figura 4.13. De um modo
geral, verifica-se que para discos com maior temperatura de revenimento o
número de células é menor. Essa tendência pode ser um indicativo de que a
tensão residual no material induz a uma maior proliferação celular.
Resultados e Discussão
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62
0,020,040,060,080,0
100,0120,0140,0160,0
TSR TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
Figura 4.13 – Número de células na superfície dos discos de Ti-cp tratados e
não tratados.
Tentando-se então associar o efeito anteriormente citado com a
microestrutura exibida por esses discos fez-se a sobreposição das imagens da
cultura de células com a micrografia (figura 4.14). Caso positivo, ou seja, caso
a células sejam influenciadas pelas microestruturas, grãos martensíticos
apresentariam mais células que aqueles recristalizados. Também poderia se
observar um crescimento preferencial de células obedecendo a alinhamentos
desses precipitados. Nesse caso não é o que se observa na figura 4.14.
Verifica-se que em grãos com lamelas alinhadas numa única direção, há
crescimento celular aleatório, não obedecendo qualquer ordem.
Figura 4.14 - Sobreposição das imagens da microestrutura com a das células
sobre a superfície para o disco TSR
Resultados e Discussão
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63
Embora não verificando nenhuma relação da influência microestrutural
sobre o crescimento preferencial das células, foi observado que a proliferação
celular segue um ordenamento, cuja causa ainda é desconhecida. A figura 4.15
mostra alguns exemplos desses alinhamentos.
(a) (b)
Figura 4.15 – Imagens dos discos Ti-cp revenidos. Visualização das células orientadas sobre superfície: (a) TR300 e (b) TR500.
A análise estatística, por meio de ANOVA e t-Student, dos resultados da
quantidade de células sobre a superfície dos discos mostrou-se que houve
diferença estatística significante entre os discos tratados termicamente e os
revenidos, bem como entre os discos ST e os revenidos. Já os TSR se
destacaram em termos de significância entre todos os demais discos.
Quanto aos discos revenidos (TR200, TR300 e TR500), estes
mostraram diferença na quantidade de células, de modo que os discos
revenidos a uma maior temperatura apresentaram menor número de células.
No entanto a diferença verificada não foi de significância estatística. Da
mesma maneira, os discos tratados termicamente (TT300 e TT500). Esses
ainda, não apresentaram diferença estatística significante entre eles e em
comparação com o disco ST. No entanto, a diferença encontrada neste
trabalho para os discos pertencentes aos grupos dos revenidos e dos tratados
termicamente fornece uma visão geral da resposta biológica para os diferentes
tratamentos térmicos.
Resultados e Discussão
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64
Analisando a figura 4.13 e as imagens da figura 4.16 percebe-se que os
discos tratados termicamente e os não tratados apresentaram uma
semelhança na quantidade de células. Sendo que para os discos TT300 e os
discos ST a quantidade de células é semelhante e que os discos TT500
apresentam maior quantidade de células. Como comentado anteriormente esta
diferença não apresenta significância estatística, no entanto mostra que
mesmo em níveis menores o tratamento térmico a temperaturas baixas
influência na resposta biológico do biomaterial.
(a) (b)
(c)
Figura 4.16 – Imagens da adesão celular na região central dos discos de Ti-cp (a) TT300; (b) TT500; (c) ST.
Resultados e Discussão
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65
Fez-se a medida do tamanho médio das células nas três regiões
utilizadas para o cálculo da quantidade. Em seguida foi estabelecido duas
faixas de tamanho segundo o diâmetro médio, a primeira faixa de tamanho
abrange o tamanho médio das células osteoblásticas, ou seja, de 10μm a
20μm e a segunda faixa abrange as células que têm tamanho superior a 20μm.
Posteriormente foi realizada a análise da quantidade de células por faixa de
tamanho, conforme pode ser visto na figura 4.17.
0102030405060708090
100
TSR TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
>10 e <20 μm >20 μm
Figura 4.17 – Porcentagem de células por diâmetro médio em micrometros.
Observando a figura 4.17 tem-se que, para todos os discos a grande
maioria das células tinha tamanho entre 10μm e 20μm exceto para os discos
TR500 que apresenta maior quantidade de células com tamanhos superiores a
20μm. Analisando em termos de porcentagem no geral verifica-se que os
discos apresentaram células com tamanho entre 10 e 20 μm. Quanto aos
discos temperados e revenidos após a têmpera pode-se perceber que nos
discos TSR e TR300 mais de 80% das células tinham diâmetro médio a entre
10 e 20μm, enquanto que para os discos TR200 esse percentual cai pra 70% e
nos discos TR500 para 45%.
Analisando os discos tratados termicamente e não tratados (figura 4.17)
observa-se que os disco TT300 têm aproximadamente 87%, enquanto que nos
discos TT500 esse valor diminui para aproximadamente 79% e os discos ST
foram aproximadamente 74% de células com tamanho entre 10 e 20 μm.
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
66
Outra característica estudada foi o formato das células. Para o cálculo
do formato fez-se a razão entre os diâmetros máximos e mínimos (razão de
aspecto), assim quanto mais próximo de 1 mais arredondada seria a célula, o
resultado é apresentado na figura 4.18. Estabeleceu-se que para valores de
razão de aspecto entre 1 e 1,5 a célula seria considerada arredondada e para
valores superiores a 1,5 a célula seria espraiada (alongada), esse parâmetro
foi obtido a partir da medição da razão de aspecto das células da figura 2.4,
pois as mesmas segundo X. Zhu (2004) apresentam-se arredondadas e
espraiadas respectivamente.
0102030405060708090
100
TSR TR200 TR300 TR500 TT300 TT500 ST
>1 e <1,5 >1,5
Figura 4.18 – Porcentagem de células por razão de aspecto.
A figura 4.18 mostra que para os discos TSR, TR500 e TT500 há uma
predominância de células arredondas, com cerca de 57%, 52% e 58% das
células com este formato respectivamente. Ainda na figura 4.18 observa-se
que para os discos TR200, TT300 e ST esse perfil é semelhante, com cerca de
53%, 62% e 61% de células espraiadas respectivamente para cada tratamento.
Já para os discos TR300 houve uma semelhança na quantidade de células
arredondadas e espraiadas com cerca de 50% para cada formato.
A tabela 4.1 resume os resultados de molhabilidade, rugosidade, dureza
e fases. Já tabela 4.2 apresenta um resumo dos dados comentados
anteriormente sobre a quantidade, o formato e o tamanho das células aderidas
na superfície dos discos tratados e não tratados.
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
67
Tabela 4.1 – Resumo dos resultados de molhabilidade, rugosidade, dureza e fases para os discos com diferentes tratamentos.
Ângulo de Contato Rugosidade Dureza Fases
80,2 0,088 390,4 αm + α 54,7 0,071 344,1 αm + α 42,6 0,055 362,5 αm + α 46,2 0,057 330,5 αm + α 41,1 0,053 165 α 55,2 0,047 191,2 α 31,3 0,059 159,1 α
Tabela 4.2 – Resumo dos resultados da análise da adesão celular nos discos tratados e não tratados
122 86,5 65 108 26 101,7 60,5 67 85 30 82,7 53 53 79 19 79 44,5 42 38 47 49 18 29 39 6
54,3 54,5 42,3 45 12 49,5 20 31 34 12
No inicio deste trabalho esperava-se que houvesse uma relação entre a
proliferação celular e a microestrutura do material em questão. Diante disso
tratou-se termicamente discos de Ti-cp e cultivou-se células em suas
superfícies. Como resultado obteve-se diversas microestruturas e respostas
celulares diferentes. Para análise da influência da microestrutura sobre a
proliferação fez-se a sobreposição das imagens da microestrutura (com ataque
químico) com as imagens das células aderidas, nos casos em que a
visualização simultânea de ambas as imagem foi possível e analisou-se
separadamente as imagens que a sobreposição não permitiu a visualização
simultânea de ambas as imagens.
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
68
A sobreposição para o disco TSR foi mostrada na figura 4.14, nela foi
verificado que as células não obedecem às direções das lamelas. Para os
discos revenidos a correlação da microestrutura com o crescimento celular não
pôde ser apresentado em forma de sobreposição porque os contornos de grão
para tais discos não se apresentaram suficientemente evidenciados para que a
sobreposição pudesse ser realizada. No entanto, a figura 4.19 apresenta
separadamente a imagem da microestrutura e das células aderidas. Para
análise destas imagens tomou-se por base as marcações na região central e
analisou-se a vizinhança, não encontrando nenhuma relação entre a
organização preferencial celular e a orientação dos grãos.
(a)
(b)
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
69
(c)
Figura 4.19 - Correlação do crescimento celular com a microestrutura dos discos de Ti-cp. (a) TR200; (b) TR300 e (c) TR500.
Analisando as imagens da sobreposição dos discos TT300, TT500 e ST
na figura 4.20 – percebe-se que assim como para os discos revenidos os
discos com tratamento térmico a 300°C e 500°C e os sem tratamento não
apresentam correlação entre a microestrutura e a proliferação celular, uma vez
que os grãos nestes discos apresentaram-se menores que as células e com
isso não interferiram na orientação e formato dessas células.
(a) (b)
Resultados e Discussão
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
70
(c)
Figura 4.20 – Correlação do crescimento celular com as microestruturas dos discos de Ti-cp tratados termicamente e não tratados. (a) TT300; (b) TT500; (c)
ST.
Com base nas observações realizadas nesse trabalho, pode-se inferir
que o estado de tensão do material seja o mais importante na influência da
proliferação celular. Verificou-se que para materiais com altos níveis de tensão
(material temperado) houve maior proliferação que nos materiais com níveis de
tensão inferiores (materiais revenidos).
A amostra ST foi a que apresentou maior molhabilidade (menor ângulo
de contato). Vários trabalhos na literatura (Kasemo, 1993; Kasemo2002)
relacionam uma maior molhabilidade de uma superfície com uma maior
proliferação celular, uma vez que superfícies com essas características
possuem um contato mais intimo com o liquido biológico, o que proporciona
uma maior interação com as proteínas e, conseqüentemente, com as células.
Esperava-se, portanto, que essa amostra apresentasse maior proliferação
celular indicando que outros fatores são mais influentes.
Quanto à rugosidade o disco que apresentou maior rugosidade foi o
TSR. Alguns autores defendem que esta propriedade é de forte influência na
proliferação de células ósseas (Davies, 1998; Anselme, 2000; Carvalho, 2001).
Outros trabalhos, no entanto, mostram que tanto a molhabidade quanto a
rugosidade influenciam diretamente na resposta à cultura de células
osteoblástica, uma vez que estas estão relacionadas (Rupp, 2004). Assim o
disco que deveria ter apresentado maior quantidade de células seria o disco o
Resultados e Discussão
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71
ST, que apresenta maior rugosidade e molhabilidade, no entanto o número de
células foi o menor.
O disco que apresentou maior quantidade de células foi o disco TSR.
Este, porém, apresentou maior rugosidade e menor molhabilidade. De acordo
com o comentado anteriormente e com a literatura, este disco poderia até
apresentar maior proliferação celular, mas para isso ele deveria ter também
uma alta molhabilidade e rugosidade. Isso não foi verificado para este disco.
Comparando os resultados da microdureza com a quantidade de
células. Verificasse uma relação indireta entre estes, uma vez que o maior
número de células ocorreu para os discos de maior dureza. Sendo a dureza
uma medida indireta do grau de tensão residual do material confirma-se mais
uma vez que a tensão residual é fator influente na proliferação celular.
Para o material tratado termicamente não houve grandes variações nos
níveis de tensões, uma vez que o material recebido se encontrava no estado
recozido. Mais uma vez percebe-se a influência da tensão residual sobre a
proliferação celular, ao constatar que as três condições com baixos níveis de
tensão apresentaram valores baixos e próximos.
Considerações finais
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
73
Com base nas observações realizadas nesse trabalho, pode-se inferir
que o estado de tensão residual do material seja o mais importante fator a
influenciar a proliferação celular. Verificou-se que para materiais com altos
níveis de tensão (material temperado) houve maior proliferação que nos
materiais com níveis de tensão inferiores (materiais revenidos).
A amostra ST foi a que apresentou maior molhabilidade (menor ângulo
de contato). Vários trabalhos na literatura (Kasemo, 1993; Kasemo2002)
relacionam uma maior molhabilidade de uma superfície com uma maior
proliferação celular, uma vez que superfícies com essas características
possuem um contato mais intimo com o liquido biológico, o que proporciona
uma maior interação com as proteínas e, conseqüentemente, com as células.
Esperava-se, portanto, que essa amostra apresentasse maior proliferação
celular. Isso não foi verificado indicando que outros fatores são mais influentes.
Quanto à rugosidade o disco que apresentou maior rugosidade foi o
TSR. Alguns autores defendem que esta propriedade é de forte influência na
proliferação de células ósseas (Davies, 1998; Anselme, 2000; Carvalho, 2001).
Outros trabalhos, no entanto, mostram que tanto a molhabidade quanto a
rugosidade influenciam diretamente na resposta à cultura de células
osteoblásticas, uma vez que estas estão relacionadas (Rupp, 2004). Assim o
disco que deveria ter apresentado maior quantidade de células seria o disco o
ST, que apresenta alta rugosidade e alta molhabilidade, no entanto o número
de células foi o menor.
O disco que apresentou maior quantidade de células foi o disco TSR.
Este, porém, apresentou maior rugosidade e menor molhabilidade. De acordo
com o comentado anteriormente e com a literatura, este disco poderia até
apresentar maior proliferação celular, mas para isso ele deveria ter além de
uma alta rugosidade uma alta molhabilidade. Isso não foi verificado para este
disco.
Com isso reforça-se então o indicativo de que deve haver outro fator
além de molhabilidade e rugosidade a influenciar a resposta de células
osteoblásticas quando estas são cultivadas sobre a superfície de biomateriais,
no caso deste trabalho o titânio.
Considerações finais
Haroldo Reis Alves de Macêdo, Agosto/2008
74
Comparando os resultados da microdureza com o número de células.
Verifica-se uma relação indireta entre estes, uma vez que o maior número de
células ocorreu para os discos de maior dureza. Sendo a dureza uma medida
indireta do grau de tensão residual do material confirma-se mais uma vez que a
tensão residual é fator influente na proliferação celular, uma vez que para o
material tratado termicamente não houve grandes variações nos níveis de
tensões, pois, o material recebido se encontrava no estado recozido. Mais uma
vez percebe-se a influência da tensão residual sobre a proliferação celular, ao
constatar que as três condições com baixos níveis de tensão apresentaram
valores baixos e próximos.
Baseado no que foi proposto e realizado neste trabalho, bem como
através da avaliação dos resultados obtidos pode-se concluir que:
1. Os tratamentos térmicos realizados modificaram as propriedades de
molhabilidade, rugosidade e dureza, influenciando na proliferação
celular.
2. A proliferação celular foi maior nos discos temperados e nos revenidos
que nos disco apenas com tratamento térmico e não tratados, ou seja, a
proliferação celular foi maior nos discos que apresentaram maior estado
de tensão residual.
3. Não foi observado qualquer organização celular preferencial influenciada
pela microestrutura.
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