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1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA VISÃO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SABRINA GONÇALVES AGUIAR SOARES SANTA MARIA, RS, BRASIL 2014

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM –

MESTRADO

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA VISÃO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO

HOSPITALAR

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

SABRINA GONÇALVES AGUIAR SOARES

SANTA MARIA, RS, BRASIL 2014

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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA VISÃO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

por

SABRINA GONÇALVES AGUIAR SOARES

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Enfermagem.

ORIENTADORA: Enfª Profª Drª SILVIAMAR CAMPONOGARA COORIENTADORA: Enfª Profª Drª ELIANE TATSCH NEVES

SANTA MARIA, RS, BRASIL 2014

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA VISÃO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

Elaborada por Sabrina Gonçalves Aguiar Soares

Como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem

COMISSÃO EXAMINADORA:

____________________________________ Silviamar Camponogara, Dra Enfª

(Presidente/Orientador)

________________________________________ Valdecir Zavarese da Costa, Dr Enf (UNIPAMPA)

________________________________________ Carmem Lucia Colomé Beck, Dra Enfª (UFSM)

Santa Maria, 31 de março de 2014.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço...

A Deus, que sempre iluminou o meu caminho, por tudo que tens feito em minha vida, pela alegria de

viver, por minha família, pelos meus amigos, pelo ar que respiro, por me dar condições de lutar e alcançar

os objetivos pretendidos. Obrigada, Senhor, pelo refúgio, pelo amor, pelas bênçãos e pela proteção.

Ao meu namorido Eric, pelo amor, carinho, paciência, companheirismo, incentivo em todos os momentos

e assessorias de informática.

Aos meus pais Dilson (in memoriam) e Joana, por terem provocado em mim o desejo de seguir

estudando... por incentivarem meu crescimento pessoal e profissional, pelo amor, carinho e proteção. Sem

vocês nada disso teria sentido!!

Pai, pelos limites do viver humano, não pode “presenciar” a conclusão desta etapa, mas sei que onde

estiver estará torcendo por mim.... A saudade é grande!! Esteja com Deus!!

Aos meus sogros Amauri e Eliane, pelo incentivo, apoio e torcida.

Aos meus irmãos Carlos, Cezar, Suzinara, Siomara, Simone e Sandra pelo estímulo. Em especial à Suzinara,

por ser meu espelho para prosseguir nessa caminhada.

Ao meu cunhado e concunhada Fernando e Viviane, pelo estímulo e torcida.

A todos os colegas do Curso de Mestrado, turma 2012, por compartilharmos momentos de discussão e

aprendizado nas aulas a fim de fortalecermos nossos estudos. Em especial a colega e amiga Kellen, por me

ajudar a compreender a fundamentação metodológica, bem como pelo auxílio na produção dos dados

desta dissertação.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSM: docentes e funcionários, pelo apoio e o

incentivo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo suporte financeiro

oferecido como apoio para o desenvolvimento desta dissertação.

À Universidade Federal de Santa Maria, fonte de ensino na graduação e pós-graduação.

Ao Hospital Universitário de Santa Maria, por oportunizar condições para o meu crescimento pessoal e

profissional.

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Aos trabalhadores de enfermagem, que participaram do estudo, compartilhando suas experiências

referentes à responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar.

Aos membros da Banca de Qualificação de Projeto de Dissertação, Profª Drª. Silviamar Camponogara, Profª

Drª Carmem Lúcia Colomé Beck, Profª Drª Margrid Beuter, por aceitarem examinar o trabalho,

colaborando para aprimorá-lo, pelas contribuições e incentivo.

Ao Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação, Saúde, Enfermagem e Meio Ambiente, pelos momentos de

estudos, trocas de conhecimentos e contribuições nesta pesquisa. Em especial ao colega e amigo Roger,

pelo apoio pessoal e profissional.

Aos membros da Banca de Sustentação de Dissertação, pela disponibilidade que demonstraram ao meu

convite para análise do relatório final da pesquisa, e pelas contribuições ao seu aprimoramento.

Em especial...

À minha orientadora, Profª. Dra. Silviamar Camponogara, pelo carinho, amizade, confiança, estímulo

constante e sensibilidade... por compreender os meus limites, as minhas inquietações, dando-me

liberdade para escolher o caminho a percorrer, pelo desafio imposto no projeto, agora sei que valeu a

pena!! Desde a graduação, acolheu-me e confiou nas minhas ações, contribuindo com sugestões e

mostrando-me alternativas, auxiliando-me a buscar e compreender a fundamentação teórica deste

estudo. Você é um ser iluminado!!! Uma mestre sempre presente, dividindo seu saber e suas dúvidas,

mantendo sempre uma postura e ética profissional. Abdicando dos seus momentos de descansos a fim de

me conduzir ao término desse estudo. Apesar de todos os seus compromissos, sempre teve tempo de me

ouvir e me corrigir.

À minha coorientadora, Profª Dra. Eliane Tastch Neves, pelo aceite acolhedor, por acreditar que seria

capaz de vencer esse desafio, pelo apoio, otimismo e auxílio imprescindível na compreensão da

fundamentação metodológica desse estudo.

E a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse desejo...

Muito obrigada!!!

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EPÍGRAFE

Cabe ao homem compreender que, o solo fértil onde tudo que se planta dá pode secar, que o chão que dá frutos e flores pode dar ervas daninhas, que a caça se dispersa e a terra da fartura pode se

transformar na terra da penúria e da destruição. O homem precisa entender que de sua boa convivência com a natureza depende sua subsistência e que a destruição da natureza é a sua

própria destruição. Pois a sua essência é a natureza, a sua origem e o seu fim.

Autor desconhecido

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RESUMO

Dissertação de Mestrado

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Centro de Ciências da Saúde

Universidade Federal de Santa Maria

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA VISÃO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

AUTORA: Sabrina Gonçalves Aguiar Soares

ORIENTADORA: Silviamar Camponogara COORIENTADORA: Eliane Tatsch Neves

Data e local da defesa de dissertação: Santa Maria, 31 de março de 2014.

Esta investigação objetivou conhecer a percepção de meio ambiente e responsabilidade socioambiental para os trabalhadores de enfermagem de uma instituição hospitalar, bem como discutir os limites e as possibilidades para uma atuação profissional com responsabilidade socioambiental. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva. O estudo foi desenvolvido com os trabalhadores de enfermagem de unidades de internação de um Hospital Universitário. A produção de dados ocorreu por meio do método criativo sensível, com a realização de três dinâmicas de criatividade e sensibilidade, nos meses de abril a julho de 2013. Os dados foram submetidos à análise de discurso em sua corrente francesa, sendo aplicadas as ferramentas analíticas: metáfora, polissemia e paráfrase. A análise dos dados revelou que a maioria dos trabalhadores de enfermagem não sente os efeitos da problemática ambiental no seu cotidiano laboral, assim como o agir pautado no princípio da responsabilidade socioambiental não está presente no dia a dia de trabalho desses trabalhadores. Apontam como dificuldades para uma postura ambientalmente correta, a dinâmica organizacional da instituição pesquisada e fatores de ordem pessoal que são influenciados pelo modo de vida contemporâneo. Em contrapartida, desvelam algumas estratégias que poderiam ser utilizadas para conduzir esse processo, sobretudo a educação permanente. Assim sendo, os resultados indicam a necessidade dos trabalhadores de enfermagem adotar um agir coerente com a atual crise ambiental.

Descritores: Enfermagem; Meio ambiente; Ética ambiental; Hospitais.

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ABSTRACT

Master‟s Dissertation Post-Graduate Program in Nursing

Universidade Federal de Santa Maria

SOCIO-ENVIRONMENTAL RESPONSIBILITY IN THE VIEW OF NURSING WORKERS IN THE HOSPITAL CONTEXT

AUTHOR: SABRINA GONÇALVES AGUIAR SOARES

ADVISOR: PROFª ENFª DRª SILVIAMAR CAMPONOGARA CO-ADVISOR: PROFª ENFª DRª ELIANE TASTCH NEVES

Date and place of defense: Santa Maria, March 31, 2014. This research aimed to identify the perception of the environment and socio-environmental responsibility for the nursing staff of a hospital, as well as discuss the limits and possibilities for a professional performance with socio-environmental responsibility. This is a qualitative descriptive research. The study was conducted with nursing staff working in inpatient units of a university hospital. The production data occurred through the sensitive creative method, with the completion of three dynamic creativity and sensitivity in the months from April to July 2013. Data were submitted to discourse analysis its French stream, and the analytical tools being applied were metaphor, polysemy and paraphrase. Data analysis revealed that the majority of nursing staff did not feel the effects of environmental issues in their daily work, as well as guided act on the principle of socio-environmental responsibility is not present in the daily labor of these workers. They pointed out as difficulties for a environmentally correct posture, the organizational dynamic of the institution studied and factors from personal nature that are influenced by the contemporary way of life. In contrast, unveil some strategies that could be used to drive this process, especially the permanent education. Thus, the results indicate the necessity of nursing staff adopt an act coherent with the current environmental crisis.

Key-words: Nursing; Environment; Environmental Ethics; Hospitals.

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO A – Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Santa Maria.....................................................

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A – Extrato do quadro análise vertical – Dinâmica de

Criatividade e Sensibilidade Árvore do

Conhecimento.........................................................................................

127

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............. 133

APÊNDICE C – Termo de Confidencialidade......................................... 135

APÊNDICE D – Extrato de transcrição da primeira dinâmica: Tecendo

Histórias..................................................................................................

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APÊNDICE E – Quadro síntese de temas e subtemas geradores das

Dinâmicas de Criatividade e

Sensibilidade...........................................................................................

140

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Produção artística resultante da Dinâmica de Criatividade

e Sensibilidade árvore do

conhecimento...........................................................................................

84

FIGURA 2 – Produção artística resultante da Dinâmica de Criatividade

e Sensibilidade almanaque......................................................................

84

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Descrição do planejamento e organização das Dinâmicas de

Criatividade e Sensibilidade. Santa Maria, RS, 2013.....................

52

Quadro 2 - Síntese da análise desenvolvida nas três dinâmicas do estudo.

Santa Maria, RS, 2013....................................................................

57

Quadro 3 - Caracterização dos sujeitos do estudo quanto a sua descrição,

tempo de trabalho na enfermagem, no HUSM, no setor e pós-

graduação. Santa Maria, RS, 2013.................................................

60

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AD – análise de discurso

AE – auxiliar de enfermagem

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CGVAM – Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental

CNIJMA – Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

COPASAD – Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente no

Desenvolvimento Humano Sustentável

DCS – dinâmica de criatividade e sensibilidade

DEHP - dietilhexilftalato

DEPE – Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão

E - enfermeiro

EA – educação ambiental

EPA – Agência de Proteção Ambiental

EPI – equipamento de proteção individual

EQU – exame qualitativo de urina

HUSM – Hospital Universitário de Santa Maria

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

LILACS – Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MCS – Método criativo sensível

MEDLINE – Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

OPA – Organização Pan-Americana de Saúde

PCN – parâmetros curriculares nacionais

PGRSS – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

PIEA – Programa Internacional de Educação Ambiental

PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

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PPGEnf – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

PUBMED – Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América

PVC – cloreto de polivinila

QG – questão geradora de debate

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente

SUS – Sistema Único de Saúde

TE – técnico de enfermagem

UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza

UNESCO – Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

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SUMÁRIO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO............................... 17 1.1 Questão orientadora................................................................................. 21 1.2 Objetivos.................................................................................................. 21 2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................... 22 2.1 Contexto histórico que contribuiu para a construção de uma sociedade

mais sustentável.......................................................................................

22 2.2 Contexto histórico que aproximou saúde e meio

ambiente..................................................................................................

28 2.3 Trabalhadores de enfermagem e a importância da responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar.....................................................

34 2.4 Responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar: uma revisão

narrativa...................................................................................................

40 3 CAMINHO METODOLÓGICO................................................................. 49 3.1 Abordagem e Tipo de estudo................................................................... 49 3.2 Cenário do estudo.................................................................................... 49 3.3 Sujeitos do estudo.................................................................................... 51 3.4 Método de produção de dados – Método Criativo Sensível (MCS)........ 52 3.5 Aproximação com o campo e os sujeitos do estudo................................ 54 3.6 Análise e interpretação dos dados........................................................... 57 3.7 Caracterização dos sujeitos..................................................................... 58 3.8 Aspectos Éticos........................................................................................ 61 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 63 4.1 As raízes socioculturais da percepção de meio ambiente na visão de

trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto hospitalar............

63 4.1.1 Discussão................................................................................................. 68 4.2 Cotidiano de trabalho: limites e possibilidades para a responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar.....................................................

78 4.2.1 Responsabilidade socioambiental sob a ótica de trabalhadores de

enfermagem: um conhecimento ainda não desvelado.................................................................................................

79 4.2.2 Fatores limitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar.................................................................................................

83 4.2.3 Fatores facilitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar.................................................................................................

93 4.2.4 Discussão................................................................................................ 98 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 108 REFERÊNCIAS........................................................................................ 112

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“Age de tal forma que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a

permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra” (Hans Jonas)

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Nas últimas décadas, o planeta Terra tem sofrido contínuas agressões, que

desencadearam um quadro de drástica degradação do meio ambiente e redução

dos recursos naturais. Dentre esses danos, pode-se citar: a escassez de água, o

excesso de lixo, a poluição do ar, o aquecimento global do planeta, o buraco na

camada de ozônio, as chuvas ácidas, a carência de energia, o desmatamento e a

redução da biodiversidade (BRASIL, 2002).

No entanto, mesmo com este processo de degradação ambiental crescendo

aceleradamente, poucas medidas têm sido tomadas para detê-lo (CAMPONOGARA,

2008). Em parte, tal conjuntura pode ser explicada pelas circunstâncias histórico-

sociais envoltas na determinação desta problemática ambiental, visto que sua

gênese se centra em longa história de dominação da natureza pelo homem, com

raízes filosóficas assentadas desde a Idade Antiga e, reforçadas pela tônica

cartesiana/baconiana, de que o ser humano é o senhor e possuidor do mundo

(CAMPONOGARA, 2008).

Esse contexto de deterioração acentuou-se, ainda mais, com o advento da

Revolução Industrial, pois a industrialização tornou-se o eixo principal da interação

dos seres humanos com a natureza estando esta submetida, nas áreas urbanas e

rurais, à lógica de produção, que legitimou o domínio da natureza em favor da

acumulação de capital (FREITAS, 2011; CAMPONOGARA, 2008). A degradação

ambiental, o avanço da desigualdade e o consumo desenfreado, representam sinais

eloquentes da crise do mundo globalizado, que alcançou seu ápice na modernidade,

mas cujas origens remetem à concepção do mundo que serve de base à civilização

ocidental. Na atual conjuntura, a sustentabilidade assume um papel central no nosso

tempo, sendo marcado pela transição da modernidade truncada e inacabada para

uma pós-modernidade incerta, balizada pela diferença, pela diversidade, pela

democracia e pela autonomia (LEFF, 2001).

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Nesta vertente, o conceito de meio ambiente vem sofrendo uma

ressignificação, a partir da demarcação da importância da relação sociedade-

natureza. Dessa forma, tem se buscado reconhecer a sua complexidade, que

pressupõe uma inter-relação entre processos ônticos, ontológicos e epistemológicos,

deixando para trás limitações impostas por diferentes pensadores ao longo da

história (Aristóteles, Marx, Lamark, Darwin), período no qual o meio ambiente era

apenas um meio em que circulavam espécies e populações biológicas

(CAMPONOGARA, 2008).

Devido à magnitude da problemática ambiental, é imprescindível que se tenha

uma abordagem multidisciplinar e multisetorial, uma vez que se constitui em situação

complexa que afeta diversas áreas da sociedade. A área da saúde está inteiramente

envolvida nesta questão, visto que a saúde da população é diretamente afetada por

problemas decorrentes da destruição ambiental (CAMPONOGARA, 2008). De

acordo com Freitas (2003) problemas ambientais, são, concomitantemente,

problemas de saúde, já que os seres humanos e as sociedades são afetados em

múltiplas e simultâneas escalas e dimensões.

Nessa perspectiva, se faz necessário que consideremos a problemática

ambiental, também, como um problema de saúde pública, e que despertemos para a

importância de se abordar a questão da responsabilidade socioambiental, inclusive,

no contexto hospitalar. Parece óbvio dizer que uma instituição de saúde, por tratar-

se de um ambiente que promove a cura, tem a incumbência de ser um lugar

saudável para trabalhar, de não prejudicar o meio ambiente e de promover a saúde

da comunidade. No entanto, alguns hospitais não atentam para estas questões até o

momento (HANCOCK, 1999).

As instituições de saúde, como setores que prestam serviços à sociedade,

estão vinculadas a problemática ambiental. Diversos fatores, ligados à saúde da

população, têm relação direta com a questão ecológica, tangíveis não só à

prevenção de agravos e à promoção da saúde, mas também ao processo de

reabilitação (CAMPONOGARA, 2008).

Frente a esse panorama, salienta-se que maior destaque deve ser dado aos

prejuízos advindos dos serviços de saúde em decorrência das suas atividades

assistenciais, no intento de minimizar os agravos ocasionados ao meio ambiente.

Acredita-se que o adequado gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, a

redução no consumo de água e energia, a minimização dos processos de

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incineração e da utilização de produtos químicos danosos ao meio ambiente, a

implementação de uma política de compras, além da diminuição da utilização de

papéis e plásticos descartáveis em atendimentos de rotina e administração,

consistem em estratégias eficazes na redução do ambiental1.

Mediante isso, é fundamental que a enfermagem, como profissão que

compõe o campo da saúde, também se envolva nessa discussão, pois o seu fazer,

muitas vezes, repercute no meio ambiente. O fazer da enfermagem pode ser um

promotor da preservação ambiental, desde que os profissionais considerem em suas

intervenções assistenciais as vulnerabilidades ambientais, visando a minimização

dos danos humanos e ecológicos. Prevenindo o danoso ao ambiente, por exemplo,

provendo o correto gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde.

Embora o debate acerca desta temática ainda seja incipiente, torna-se

importante convidar os trabalhadores de enfermagem a realizar um processo

reflexivo sobre a problemática ambiental. Isto poderá possibilitar um repensar sobre

a sua prática laboral e um agir responsável e engajado com a preservação do meio

ambiente.

Acredita-se, portanto, que os atores sociais (sejam eles sujeitos individuais ou

coletivos, instituições, categorias profissionais) precisam protagonizar uma mudança

de postura, tanto profissional como no seu cotidiano. Isso se torna ainda mais

necessário, a partir da constatação de que a concepção de meio ambiente, deve

estar ancorada na noção de interação entre os mundos social e natural, uma vez

que é um fenômeno complexo e faz parte da vida humana (CAMPONOGARA, 2008;

CAMPONOGARA et al., 2012).

Neste contexto, para que os trabalhadores de enfermagem sintam-se

responsáveis pelo meio ambiente, faz-se necessário ressignificar de valores e

sentidos em relação a problemática ambiental. Esse processo pode auxiliar na

sensibilização desses trabalhadores em relação à temática, na busca do

desenvolvimento de ações comprometidas e críticas em relação ao tema.

Afinal, vivemos em um mundo orientado pela cultura de padrões genéricos de

cumplicidade e não responsabilidade, portanto, a mudança requer (também) um

despertar da emoção, da sensibilidade, do poético e do sentimento. E um dos

caminhos visíveis, para tal, parece estar no uso da arte e em suas múltiplas

1 Este assunto será melhor explicitado na revisão de literatura.

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possibilidades (SARI, 2012). Em concordância, Maturana (2001) reitera que, as

nossas ações somente mudarão quando o nosso emocionar também mudar. As

emoções são tipos de comportamentos relacionais que guiam, momento a momento,

o agir.

Dessa forma, para que os trabalhadores de enfermagem possam sentir-se

copartícipes desse processo, torna-se necessário uma abordagem ampla sobre a

temática ambiental, de maneira que se sensibilizem em relação ao assunto

(CAMPONOGARA, 2008).

No que concerne à responsabilidade ambiental, essa se constitui em um

imperativo ético, uma vez que implica em uma reflexão ética embasada na moral e

na emoção. Dessa forma, a responsabilidade ambiental torna-se um imperativo ao

tratarmos da relação homem–meio ambiente, sendo que esta responsabilidade

implica em uma mudança paradigmática, ou seja, na elaboração de uma ética

contempladora das mudanças em curso nos dias atuais, no qual o meio ambiente e

todos os seres vivos que dele fazem parte merecem ser considerados como dignos

de direitos (FERRARI, 2007).

De acordo com o entendimento do autor supracitado, é imprescindível

estabelecer uma relação de responsabilidade para com o espaço circundante. Sem

essa, compromete-se a existência saudável dos seres no presente e sequestrando a

possibilidade de existência de gerações futuras. Isso equivale a dizer que, uma nova

ética, embasada numa relação de responsabilidade, é um fator decisivo para a

nossa mudança de pensamento e de atitude existencial.

Esta ideia remete aos pressupostos defendidos por Hans Jonas, ao teorizar

sobre o “Princípio Responsabilidade”, o qual está baseado na gratuidade de

relações dos seres humanos entre si e com a natureza, no qual não prevaleçam os

direitos e deveres de uma ética antropocêntrica, mas o espontâneo desejo de

contribuir com a existência feliz de futuras gerações. Essa é uma responsabilidade

solidária, fraterna, de méritos naturais e criacionais, e não unicamente de méritos

pessoais (JONAS, 1995).

No tocante da responsabilidade socioambiental, por parte dos trabalhadores

de enfermagem no contexto hospitalar, a ampliação da consciência depende da

ressignificação das suas emoções, no sentido de provocar uma postura ética que

possibilite um agir e refletir fundamentado na globalidade do ser. Frente ao exposto,

acredita-se que, debater sobre a temática ambiental, com estes trabalhadores, é

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imprescindível, no intuito de possibilitar que desenvolvam práticas de saúde mais

condizentes com as necessidades socioambientais da atualidade.

No entanto, ressalta-se que não basta apenas repassar-lhes as

normatizações ou palestrar sobre o assunto. É preciso oportunizar vivências

sensibilizantes a esses trabalhadores, que possibilitem reflexões sobre o tema,

tendo por base a emoção, a sensibilidade e o sentimento de pertencimento a um

todo. Essa pode se constituir em uma estratégia eficaz para possibilitar o despertar

de reflexões sobre o atual contexto de crise ambiental, o que, por sua vez, poderá

ser um caminho para uma (re) orientação de valores e de condutas, com vistas ao

desenvolvimento de ações ambientalmente corretas.

Logo, entende-se que esta pesquisa poderá ajudar a fomentar está

discussão, tornando-se a principal contribuição desse estudo. Convém salientar,

igualmente, que o tema considerado para essa investigação, faz parte da Agenda

Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, o que por si só, justifica sua

realização (BRASIL, 2008).

Conforme exposto, tem-se como questão orientadora do estudo: Como os

trabalhadores de enfermagem percebem a responsabilidade socioambiental no

contexto do trabalho hospitalar?

Acreditamos que as respostas encontradas podem auxiliar a traçar

estratégias responsáveis com o meio ambiente, bem como despertar nos

trabalhadores de enfermagem, uma (re) orientação de atitudes no sentido de buscar

o bem estar global. Além disso, os conhecimentos advindos dessa discussão

oportunizarão a melhoria do processo de trabalho da enfermagem, minimização do

impacto ambiental advindo da assistência a saúde e ampliação do debate sobre o

tema, uma vez que se trata de uma temática ainda incipiente.

Esta investigação tem como objetivo geral:

- Analisar a percepção de responsabilidade socioambiental para trabalhadores de

enfermagem de uma instituição hospitalar.

E como objetivos específicos:

- Analisar a percepção de meio ambiente destes trabalhadores;

- Discutir os limites e as possibilidades para uma atuação profissional com

responsabilidade socioambiental no contexto do trabalho hospitalar.

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“A fragilidade do mundo e dos indivíduos nos torna mais responsáveis do que nunca de um futuro possível para as

gerações futuras” (Hans Jonas)

2 REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo tem o objetivo de apresentar a discussão sobre

responsabilidade socioambiental no âmbito dos serviços de saúde, tanto no cenário

mundial como no brasileiro. Nesse sentido, está estruturado de forma a proporcionar

uma visão geral acerca da problemática ambiental e sua relação com a saúde, bem

como a nortear à interface entre a responsabilidade socioambiental no contexto

hospitalar e os trabalhadores de enfermagem.

2.1 A construção de uma sociedade mais sustentável: contexto histórico

Nas últimas décadas, tem-se acirrado o debate acerca da problemática

ambiental, contribuindo, assim, para um maior conhecimento sobre os riscos

ambientais a que todos estão expostos (SARI, 2012). Atualmente, tem-se enfrentado

imensos desafios, pois, se por um lado o modelo capitalista trouxe progressos para

as condições de vida da população, por outro, comprometeu o meio ambiente e,

portanto, a saúde e o bem-estar de todos nós, crianças ou adultos, jovens ou idosos

(FREITAS, 2011).

Conforme o autor supracitado, nossa saúde está ameaçada por problemas

ambientais. Isto significa que, para vivermos e trabalharmos de maneira saudável,

teremos que modificar nossas atitudes (que, atualmente, se fundamentam no

consumo de bens e produtos), e o nosso modelo de produção (que se apropria dos

recursos naturais como se fossem intermináveis).

Tais premissas tem sido objeto de discussão no cenário mundial, no intuito de

auxiliar na compreensão da crise ambiental, bem como, de propor soluções

alternativas que reorientem a conduta humana, que fomenta o modo de vida

capitalista. Contudo, o interesse pela conservação do meio ambiente ainda é

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incipiente. Neste sentido, torna-se importante contextualizar como se desenrolou a

preocupação com o meio ambiente, até os dias de hoje.

O interesse pelo meio ambiente mostrou-se mais explícito na década de

1940, quando as cidades de Londres (Inglaterra) e Minamata (Japão), vivenciaram

os efeitos e consequências do descaso do homem com o meio ambiente, chegando-

se a dramáticos problemas ambientais, com enorme poluição do ar, da água e da

terra. Essa realidade tornou-se o estopim para estudos, debates, publicações e

movimentos sociais em torno do meio ambiente (BRASIL, 1998).

A partir daí, em 1948, na França, realizou-se uma Conferência Internacional

que marcou o surgimento da União Internacional para a Conservação da Natureza

(UICN), com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO). Essa Conferência foi considerada a mais importante

organização conservacionista até a criação do Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente (PNUMA), em 1972. Em 1951, a UICN publicou um estudo sobre a

“Proteção da Natureza no Mundo”, apresentando 70 relatórios de diferentes países

(BRASIL, 1998). Outra publicação importante foi feita em 1953, quando o americano

Eugene P. Odum, com a colaboração de seu irmão Howard, lançou o livro

Fundaments of Ecology (Fundamentos da Ecologia), tornando-se referência

obrigatória para os interessados em se aprofundar nas questões ambientais

(BRASIL, 1998).

Em 1962, foi lançado outro livro que se tornou o estopim de uma grande

mudança. Trata-se do livro Primavera Silenciosa, da americana Raquel Carson; o

qual alertava sobre os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o

ambiente, contribuindo para despertar a consciência pública ambiental (BRASIL,

1998).

Em 1968, na Inglaterra, criou-se o Conselho para Educação Ambiental,

reunindo-se mais de 50 organizações voltadas para temas como educação e meio

ambiente. A maior novidade deste ano, no entanto, foi quando a UNESCO realizou

um estudo sobre o meio ambiente e a escola, junto a 79 de seus países membros.

Por esse estudo, ficou claro que a Educação Ambiental (EA) não deveria se

constituir em uma disciplina específica no currículo das escolas, mas sim ter uma

abordagem interdisciplinar, haja vista sua complexidade (BRASIL, 1998).

Entretanto, a década de 1970 entrou para a história do ambientalismo

mundial, pois o mundo passou a preocupar-se mais com as questões ambientais

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devido a uma crescente mobilização social. No ano de 1972, o Clube de Roma,

fundado em 1968, por um grupo de 30 especialistas de diversas áreas, com a

intenção de discutir a crise atual e futura da humanidade, publicou o relatório The

limits of growth (Os limites do crescimento econômico). Esse relatório trouxe um

modelo inédito para a análise do que poderia acontecer se a humanidade não

mudasse seus métodos econômicos e políticos. O documento concluiu que, caso se

mantivesse o ritmo de crescimento a qualquer custo (com a busca da riqueza e do

poder sem fim, sem levar em conta o custo ambiental deste procedimento) chegar-

se-ia a um “limite de crescimento” ou, na pior das hipóteses, no colapso (BRASIL,

1998).

Ainda sob o impacto do “Clube de Roma”, a Organização das Nações Unidas

(ONU) realizou, em Estocolmo, no ano de 1972, a Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente Humano, reunindo representantes de 113 países (BRASIL,

1998). Nessa Conferência a temática ambiental foi de fato introduzida, sendo

resultante desse debate a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (PNUMA), além da recomendação de criação do Programa Internacional

de Educação Ambiental (PIEA), para ajudar a enfrentar a ameaça de crise ambiental

no planeta. No entanto, esse programa só "saiu do papel" em 1975, depois que

representantes de 65 países se reuniram, em Belgrado, para formular os princípios

orientadores da EA, na "Conferência de Belgrado" (BRASIL, 1998).

Fato também importante, ocorrido na Conferência em Estocolmo, foi o debate

centrado no direito dos seres humanos de viver em um ambiente de qualidade, que

permitisse uma vida com dignidade e bem-estar. A partir daí, alguns países

incluíram, em suas Constituições, o reconhecimento do ambiente como um direito

humano fundamental (FREITAS, 2011).

No ano de 1977, na Conferência Intergovernamental sobre Educação

Ambiental, também conhecida como Conferência de Tbilisi, é que o PIEA foi

consolidado. Neste encontro, foram estabelecidas as finalidades, os objetivos, os

princípios orientadores e as estratégias para a promoção da educação ambiental

nacional e internacional e que até hoje são, mundialmente, adotados (BRASIL,

2005). Entretanto, o Brasil não participou desse evento devido a questões

diplomáticas (BRASIL, 1998).

No cenário brasileiro, o interesse por um rápido crescimento da economia do

país, na era militar, fez com que o governo federal se manifestasse contrariamente

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às emergentes ideias acerca da sustentabilidade e a favor do progresso a qualquer

custo, sem se preocupar com o meio ambiente (SARI, 2012). No Brasil, a educação

ambiental surgiu muito antes da sua institucionalização pelo governo federal. No

início dos anos 70, ocorreu a emergência de um ambientalismo que se uniu às lutas

pelas liberdades democráticas, manifestada através da ação isolada de professores,

estudantes e escolas, prefeituras municipais e governos estaduais, os quais

desenvolveram atividades educacionais relacionadas às ações voltadas à

recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente. Neste período também

surgiram os primeiros cursos de especialização em educação ambiental (BRASIL,

2005).

Em 1973, cria-se, no Poder Executivo, a Secretaria Especial do Meio

Ambiente (SEMA), vinculada ao Ministério do Interior, caracterizando-se como o

marco inicial no processo de institucionalização da educação ambiental, no governo

federal brasileiro. A SEMA era responsável pela capacitação de recursos humanos e

sensibilização inicial da sociedade para as questões ambientais, tendo como

atribuições “o esclarecimento e a educação do povo brasileiro para o uso adequado

dos recursos naturais, com vistas a conservação do meio ambiente” (BRASIL, 2005).

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), em 1981, foi outro passo em

direção à institucionalização da educação ambiental, quando se estabeleceu a

necessidade de inclusão da educação ambiental em todos os níveis de ensino,

incluindo-se a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação

ativa na defesa do meio ambiente, e evidenciando a capilaridade que se desejava

imprimir a essa prática pedagógica. Para reforçar essa tendência, a Constituição

Federal, em 1988, estabeleceu, no inciso VI do artigo 225, a necessidade de

“promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 2005). A PNMA define

ainda, o Sistema Nacional do Meio Ambiente e a criação do Conselho Nacional do

Meio Ambiente (CONAMA), com o poder de propor normas ambientais, com força de

lei (BRASIL, 1998).

Ressalta-se que, as muitas conquistas presentes na Constituição Brasileira

decorrem do impacto do relatório da Comissão Brundtland (intitulado Nosso Futuro

Comum), uma vez que, provou, através de números e depoimentos, a existência de

uma conexão de proporção planetária entre a crise ambiental, a de desenvolvimento

e a energética. Tal relatório propôs, como solução, a adoção de um desenvolvimento

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sustentável, que exigiria uma mudança radical no modelo econômico mundial,

definindo-o como aquele “que atende às necessidades do presente, sem

comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas”

(BRASIL, 1998).

Obviamente, o documento teve um forte impacto no mundo todo, sendo, a

partir dele, definida a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, em

1992 (BRASIL, 1998). Conforme Camponogara (2008), este evento pode ser

considerado um marco importante em termos de debates sobre a problemática

ambiental, buscando desencadear um processo de comprometimento dos líderes

mundiais com a causa ecológica. Na Conferência Rio-92 foram debatidos temas

como: mudanças climáticas, biodiversidade e florestas. Também foi elaborada a

chamada Carta da Terra, que visava estabelecer princípios que seriam adotados,

pelas nações, a fim de defender o meio ambiente e promover o desenvolvimento

sustentável, a qual foi assinada por todas as nações. Por fim, criou-se a Agenda de

Ação, que passou a ser chamada de Agenda 21 devido à proximidade do século

XXI, que trouxe medidas concretas para implementar os princípios da Carta da Terra

(BRASIL, 1998).

No corrente ano, foi criado o Ministério do Meio Ambiente e instituídos, pelo

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA,

criado em 1989), os Núcleos de Educação Ambiental, em todas as suas

superintendências estaduais, cujo objetivo era operacionalizar as ações educativas

no processo de gestão ambiental, na esfera estadual (BRASIL, 2005).

No ano de 1997, aconteceu em Thessaloniki, Grécia, a Conferência

Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública

para a Sustentabilidade, organizada pela UNESCO e o governo da Grécia. Nesse

evento, foi constatado que, passados cinco anos da Conferência Rio-92, o progresso

observado era insuficiente: as recomendações e ações da Conferência de Belgrado

de Educação Ambiental (1975), da Conferência Intergovernamental de Educação

Ambiental de Tbilisi (1977), da Conferência de Educação Ambiental de Moscou

(1987) e da Conferência de Educação e Comunicação sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, realizada em Toronto (Canadá, 1992), ainda não haviam sido

totalmente exploradas (BRASIL, 1998).

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Ainda em 1997, elaboravam-se, no Brasil, os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN), que, pela primeira vez, apresentavam indicações de como

incorporar a dimensão ambiental, na forma de tema transversal, nos currículos do

ensino fundamental. Teve início, simultaneamente, a discussão sobre a inserção da

educação ambiental nos outros níveis de ensino, na perspectiva da nova Lei de

Diretrizes e Bases, nº 9.394/96, que mudou a concepção curricular do ensino formal

(BRASIL, 1998).

No ano de 1999, foi aprovada a Lei nº 9.795, que dispõe sobre a Política

Nacional de Educação Ambiental, ficando definido que, a educação ambiental é um

componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente

em todos os níveis e modalidades educativas, em caráter formal e não-formal.

Aponta ainda que todos têm direito à educação ambiental, sendo ela de incumbência

do poder público, das instituições educativas, dos órgãos integrantes do Sistema

Nacional de Meio Ambiente, dos meios de comunicação e de empresas, entidades

de classe, instituições públicas e privadas (BRASIL, 1999). Tal lei foi regulamentada

pelo Decreto nº 4.281 no ano de 2002, sendo esse um passo decisivo para a

realização das ações em Educação Ambiental no governo federal, que teve, como

primeira tarefa, assinar um Termo de Cooperação Técnica para a realização

conjunta da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA)

(BRASIL, 2007).

Em 2002, em Joanesburgo, na África do Sul, realizou-se uma nova cúpula

mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a chamada Rio+10. O objetivo principal

da Conferência seria rever as metas propostas pela Agenda 21 e direcionar as

realizações às áreas que requerem um esforço adicional para sua implementação,

assim como refletir sobre outros acordos e tratados da Rio-92. Essa nova

Conferência Mundial levaria à definição de um plano de ação global, capaz de

conciliar as necessidades legítimas de desenvolvimento econômico e social da

humanidade, com a obrigação de manter o planeta habitável para as gerações

futuras (SEQUINEL, 2002).

Passados 20 anos, em 2012, foi realizada, novamente no Brasil, a

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que

objetivou a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável,

por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões

adotadas pelas principais cúpulas, sobre o assunto, e do tratamento de temas novos

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e emergentes. A Conferência teve dois temas principais, a saber: a economia verde

no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e, a

estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012).

O documento final da Rio+20, chamado de O futuro que queremos, apontou a

pobreza como o maior desafio para que os países atinjam a excelência nos pilares

econômico, social e ambiental. O texto também frisou a necessidade do

fortalecimento do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e da criação

de um órgão político que apoie e coordene ações internacionais para o

desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012).

Contudo, diante do contexto apresentado, é sabido que, apesar dos diversos

eventos e debates acerca da importância de preservar o meio ambiente e agir de

maneira sustentável, ainda estamos carentes de ações que detenham a crise

ambiental. Apesar das vastas normatizações e regulamentações acerca do meio

ambiente, que não garantem um cidadão mais cônscio da sua responsabilidade,

ainda caminhamos a passos lentos, uma vez que tal tema perpassa todos os setores

da sociedade, precisando que esse seja trabalhado de maneira interdisciplinar já

que se trata de um assunto transversal e complexo.

2.2 A interface saúde e meio ambiente

A aproximação entre saúde e meio ambiente ocorreu-se, mais efetivamente, a

partir do século XX, quando se introduziu uma nova perspectiva de meio ambiente,

sendo esse concebido como qualidade de vida e promoção da saúde. Assim sendo,

tanto o ambiente como a sua preservação tornam-se fatores preponderantes e

necessários a essa nova concepção (SARI, 2012). Nessa vertente, alguns

movimentos surgiram objetivando ampliar à concepção de qualidade de vida. No

entanto, podemos dizer que os marcos propulsores foram a publicação do Informe

Lalonde, em 1974, no Canadá, e a realização da Conferência Internacional sobre

Atenção Primária de Saúde, em 1978, em Alma Ata (CAMPONOGARA, 2008).

Menciona-se a publicação do Informe Lalonde, em 1974, como um marco

propulsor, uma vez que apontou para a importância do viés ecossistêmico para a

avaliação e a criação de ambientes saudáveis. Esse fato foi determinante para a

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criação de uma nova mentalidade na formação profissional de saúde, pois a partir de

então, essa passou a integrar uma abordagem mais holística no trato das questões

afeitas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde da população (BRASIL,

2007).

A partir da divulgação desse documento, buscou-se um novo enfoque para

permear os processos de formação e de trabalho no campo da saúde, contrapondo-

se à perspectiva tradicional de que a assistência médica pessoal seria a fonte de

todos os avanços e, portanto, sinônimo de saúde. Tal noção hospitalocêntrica

associava o nível de saúde à qualidade da medicina, requerendo, assim, altos

investimentos destinados à cura de doenças. Tal afirmação culminou na

preocupação central do Informe Lalonde, que apontou a necessidade de se analisar,

de modo mais abrangente, as causas e os fatores predisponentes de doenças e de

problemas de saúde, pois, somente assim, se conseguiria delinear ações e

estratégias que extrapolassem as estruturas do sistema de saúde (FERREIRA,

CASTIEL e CARDOSO, 2007).

Nesse sentido, um dos desdobramentos do novo conceito de campo da saúde

seria a elevação dos elementos biologia humana, meio ambiente e estilo de vida ao

mesmo nível de importância do sistema de saúde propriamente dito, significando

que as respostas aos problemas de saúde seriam buscadas no conjunto dos quatro

elementos constitutivos do campo (FERREIRA, CASTIEL e CARDOSO, 2007).

Quatro anos depois, realizou-se a I Conferência Internacional sobre Cuidados

Primários de Saúde, considerada um dos eventos mais significativos para a saúde

pública, em termos mundiais. Tal Conferência foi convocada pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a

Infância (UNICEF), sendo realizada em 1978, na cidade de Alma Ata, tendo como

marca o estabelecimento da Atenção Primária de Saúde, como a chave para o

alcance da meta “Saúde para todos no ano 2000” (FERREIRA, CASTIEL e

CARDOSO, 2007). A Declaração de Alma Ata realçou o novo pensamento de

caracterização do processo saúde-doença, incorporando as dimensões sociais,

políticas, culturais, ambientais e econômicas como componentes indispensáveis às

ações e aos serviços de saúde (BRASIL, 2007).

Todavia, a I, a II e a III Conferências Internacionais de Promoção da Saúde,

realizadas em 1986, em Ottawa; em 1988, em Adelaide; e, em 1991 em Sundsvall,

respectivamente, representaram um grande avanço na sedimentação de novas

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propostas e em sua disseminação global (BRASIL, 2007). Esses eventos permitiram

o estabelecimento de bases conceituais e políticas contemporâneas de promoção da

saúde na sua relação com a variável ecológica, ainda que indiretamente

(CAMPONOGARA, 2008).

A Carta de Ottawa, resultante da I Conferência Internacional sobre Promoção

da Saúde, é um documento que apresenta uma série de questões, visando contribuir

para se atingir Saúde para todos no ano 2000 e anos subsequentes. Apresenta,

ainda, como condições e recursos fundamentais para a saúde: paz, habitação,

educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça

social e equidade (BRASIL, 2002). Com essa citação, fica evidente a necessidade

de se trabalhar a temática ambiental relacionando-a com a saúde, uma vez que são

temas interligados.

O documento traz, ainda, que nossas sociedades são complexas e inter-

relacionadas e que, portanto, a saúde não pode estar separada de outras metas e

objetivos, tendo em vista as inextricáveis ligações entre a população e seu meio

ambiente, que constituem a base para uma abordagem socioecológica da saúde. É

imprescindível encorajar cada um a cuidar de si próprio, do outro, da comunidade e

do meio ambiente natural, enfatizando, também, que a conservação dos recursos

naturais do mundo é de responsabilidade global. Ressalta, além disso, que, cuidado,

holístico e ecologia são temas essenciais no desenvolvimento de estratégias para a

promoção da saúde (BRASIL, 2002).

A II Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde ocorreu em

Adelaide, Austrália, em 1988. Esta Conferência reafirmou as intenções da Carta de

Ottawa, mas destacou que, políticas que promovam a saúde só terão sucesso em

ambientes que conservem os recursos naturais, mediante estratégias ecológicas de

alcance global, regional e local. Destaca, ainda, que, em nível internacional, a OMS

deve desempenhar um papel mais intensivo junto aos governos para a aceitação

desses princípios, apoiando o conceito de desenvolvimento sustentável. Além disso,

defende, como prioridade, a união de forças entre saúde pública e movimentos

ecológicos para o desenvolvimento socioeconômico e, simultaneamente, dos

limitados recursos do planeta (BRASIL, 2002).

No entanto, foi somente na III Conferência Internacional de Promoção da

Saúde ocorrida em Sundsvall, Suécia, em 1991, que se consolidou a

interdependência entre saúde e ambiente em todos os seus aspectos, não somente

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físico, mas também social, econômico, político e cultural (CAMPONOGARA, 2008).

Sendo assim, a Conferência apontou que um ambiente favorável é de extrema

importância para a saúde, e que todos são responsáveis pela criação de ambientes

favoráveis e promotores de saúde. Estabelece, ainda, que ambientes e saúde são

interdependentes e inseparáveis e, que o rápido crescimento populacional é a maior

ameaça ao desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2002). A Conferência conclui que

os temas saúde, ambiente e desenvolvimento humano não podem ser dissociados e

que desenvolvimento implica a melhoria da qualidade de vida e saúde, ao mesmo

tempo que a preservação da sustentabilidade do meio ambiente (BRASIL, 2002).

Tais pressupostos foram ratificados na IV e na V Conferência Internacional sobre

Promoção da Saúde (SARI, 2012).

No cenário brasileiro, o movimento pela Reforma Sanitária revelou-se um

marco de mudanças paradigmáticas das práticas de saúde, uma vez que a VIII

Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em 1986, guiou os constituintes de 1988,

instigando as alterações do arcabouço jurídico-institucional e a ampliação do

conceito de saúde vigente, considerando-a como resultante das condições de vida e

do meio ambiente dos povos (BRASIL, 2007).

No que concerne à legislação brasileira, podemos destacar artigos da

Constituição Federal, sendo eles: artigo 23, artigo 196, artigo 200 e artigo 225. O

artigo 23 estabelece em seus incisos II, VI e VII que, é competência da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos municípios cuidar da saúde, proteger o meio

ambiente, combater a poluição em qualquer de suas formas e preservar as florestas,

a fauna e a flora. O artigo 196 define saúde como direito de todos, sendo dever do

Estado preservá-la e promovê-la, até mesmo em termos de meio ambiente. Já os

incisos II e VIII do artigo 200 atribuem ao Sistema Único de Saúde (SUS) a

execução de ações de vigilância sanitária, epidemiológica e de saúde do

trabalhador, expondo, novamente, seu dever de proteger o meio ambiente. E por

fim, o artigo 225 aponta que, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, sendo esse bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2007).

Apesar de a legislação expor a necessidade de articulação entre saúde e

meio ambiente, o país ainda carecia de uma discussão mais profunda sobre este

novo contexto. Assim, surgiram movimentos no país a fim de estabelecer diretrizes

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que pudessem servir de guia para ações, no que se refere à saúde ambiental

(CAMPONOGARA, 2008).

Nessa conjuntura, iniciou-se a elaboração da Política Nacional de Saúde

Ambiental, em 1994, devido ao processo preparatório para a Conferência Pan-

Americana sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Humano Sustentável

(Copasad) a ser realizada em Washington, em 1995. A partir dessa Conferência foi

elaborado o primeiro documento oficial que inter-relacionava saúde e ambiente, o

Plano Nacional de Saúde e Ambiente (BRASIL, 2007). Esse documento contem

elementos básicos para atuação, no que tange à temática, que foram discutidos no

evento e serviram de esteio para políticas setoriais no Brasil. No entanto, esse plano

ainda mantinha certa distância de outros setores envolvidos na questão, dentre eles,

o próprio setor da saúde (PORTO, 1998).

Pode-se dizer que as ações do Ministério da Saúde, relacionadas com a

questão ambiental, tiveram início em 1997, com a formulação do projeto VigiSUS.

Esse teve como objetivo, entre outros, o de estruturar o Sistema Nacional de

Vigilância em Saúde Ambiental de acordo com as diretrizes do SUS, definindo, com

muita clareza, o papel da vigilância em saúde ambiental, no que se refere aos

fatores que podem acarretar riscos à saúde humana (BRASIL, 2007).

No ano de 1999, o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Políticas,

estruturou um grupo de trabalho com integrantes de universidades brasileiras,

órgãos ambientais e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), com o

intuito de elaborar uma Política Nacional de Saúde Ambiental para o setor da saúde.

Destaca-se, entre as suas diretrizes, a promoção de ambientes saudáveis, o

fortalecimento da vigilância em saúde ambiental, o fortalecimento dos sistemas de

informação ambiental, a definição das intervenções específicas nas situações de

emergência, a adequação e a ampliação da capacidade institucional, a ampliação da

participação social e a reforma da ação comunitária, o apoio ao desenvolvimento de

estudos e pesquisas e, o apoio à formação e à capacitação de recursos humanos

(RIBEIRO, 2004 apud CAMPONOGARA, 2008).

Passados cinco anos, optou-se por revisar, reformular e ampliar o texto

básico de proposição da Política de que se dispunha até então, mediante discussões

com as equipes da Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM)

e conclusões de um workshop intitulado “Saúde Ambiental no Âmbito do SUS:

Construindo a Política Nacional de Saúde Ambiental”. O documento final foi

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construído no I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental, em 2005,

momento em que foi submetido a uma ampla troca de ideias, incorporando as

conclusões do seminário, as novas consultas a fóruns intra e intersetoriais, bem

como as observações feitas em várias rodadas de discussões com técnicos da

CGVAM. Ainda neste evento, a versão alterada do texto básico foi apresentada,

sendo intitulada “Subsídios para a Construção da Política Nacional de Saúde

Ambiental”, com o intuito de estruturar a área de saúde ambiental no âmbito do SUS

(BRASIL, 2007).

Ficou estabelecido, a partir de então, que a Política Nacional de Saúde

Ambiental teria como objetivos: proteger e promover a saúde humana e colaborar na

proteção do meio ambiente, por meio de um conjunto de ações específicas e

integradas com instâncias de governo e da sociedade civil organizada, para

fortalecer sujeitos e organizações governamentais e não-governamentais no

enfrentamento dos determinantes socioambientais e na prevenção dos agravos

decorrentes da exposição humana a ambientes adversos, de modo a contribuir para

a melhoria da qualidade de vida da população sob a ótica da sustentabilidade

(BRASIL, 2007).

Em 2010, ocorreu em Brasília (DF) a Primeira Conferência Nacional de Saúde

Ambiental, que teve o objetivo de fomentar o debate sobre o tema e traçar

estratégias para a efetiva incorporação desse tema no âmbito do SUS. Também

buscou discutir sobre a interface dessa temática com o processo de formação

profissional.

Camponogara (2008) refere que, nas últimas décadas, tem ocorrido um

empenho para formular e implementar uma política de saúde ambiental que possa

ancorar micropolíticas dirigidas a distintos contextos do país. Da mesma forma,

diferentes setores da sociedade e instituições estão imbricados desta discussão,

mesmo por que, por se tratar de um tema transversal, a questão ambiental não pode

ficar restrita a um único setor. Contudo, a autora entende que o processo encontra-

se ainda em construção, e que a estruturação da política de saúde ambiental

apresenta algumas lacunas que necessitam ser melhor exploradas.

Diante desse cenário, pode-se perceber que, em nível teórico, ocorre um

avanço em termos de concepção de saúde, a qual inclui uma interdependência entre

ser humano e meio ambiente. Entretanto, em termos práticos, as ações ainda são

pouco expressivas, relacionando-se mais ao nível da atenção primária de saúde, já

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34

que os trabalhadores atuam, diretamente, em territórios com grandes problemas

socioambientais, que repercutem, mais visivelmente, na saúde das pessoas, famílias

e comunidade.

No contexto hospitalar, pode-se verificar o crescimento de um movimento que

busca estabelecer este debate, apesar de focar-se mais em termos de normatização

técnica, do que na formação de um saber ambiental. As instituições hospitalares

procuram atender a Política Nacional de Meio Ambiente em relação à gestão de

resíduos, cumprindo determinações das resoluções e normas dos órgãos

competentes, que dispõem sobre o gerenciamento de resíduos sólidos oriundos de

serviços de saúde. Assim, os serviços de saúde se vêem obrigados a atender todas

as legislações previstas, dentre elas, a que prevê punições contra crimes

ambientais, a que torna obrigatório o licenciamento ambiental, as Resoluções nº

283/2001 e nº 358/2005 do CONAMA e as Resoluções da Diretoria Colegiada

(RDCs) nº 33/2003 e nº 306/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) (CAMPONOGARA, 2008).

A autora enfatiza, ainda, que inserir a discussão sobre a problemática

ambiental no seio do contexto de trabalho hospitalar possibilita novos olhares para a

relação saúde e meio ambiente, visando minimizar a crise ambiental e ampliar o

entendimento do processo de ser saudável como resultante, também, da interação

do ser humano com o meio ambiente.

Logo, faz-se necessário, então, que as instituições hospitalares instiguem nos

seus trabalhadores à reflexão acerca da problemática ambiental, oportunizando

espaços para discussões, debates acerca da crise ecológica, da interdependência

saúde e meio ambiente, bem como dos impactos que o serviço traz ao meio

ambiente. Tal conduta poderá oportunizar a criação de estratégias de atuação

profissional, direcionadas a sensibilizar os trabalhadores e auxiliar na efetivação da

pretendida responsabilidade socioambiental, com vistas a conservar o futuro do

planeta.

2.3 Trabalhadores de enfermagem e a importância da responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar

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O trabalho realizado em nossa sociedade é determinado por complexo

entrelaçamento de relações políticas, sociais, econômicas e culturais, sendo

decorrente das necessidades do ser humano. Além das necessidades relacionadas

à reprodução e à sobrevivência do corpo biológico, o ser humano, por se constituir

em um ser social, precisa atender a uma série de necessidade para viver (SANNA,

2007).

Nesse sentido, o trabalho aparece como um operador fundamental na própria

construção do sujeito, revelando-se, também, como um mediador privilegiado, senão

único, entre inconsciente e campo social e entre ordem singular e ordem coletiva.

Não é apenas um teatro aberto ao investimento subjetivo, mas, também, um espaço

de construção do sentido e significado e, desse modo, de conquista de identidade,

da continuidade e historicização do sujeito (DEJOURS, ABDOUCHELI, 1994).

Desde as sociedades primitivas, o trabalho compõe a vida das pessoas, como

produtor de sua hominização, e vem se transformando, ao longo da história, para

dar conta e atender às demandas sociais e particulares. Assim, o trabalho vem

sendo tratado como centralidade da vida humana, pois é a partir dele que ela se

organiza (BECK, 2001). Dessa forma, o trabalho é uma ação transformadora,

especialmente, o trabalho na área da saúde, uma vez que esse se especifica pela

identidade de natureza entre os sujeitos que recebem a assistência e os cuidadores,

além da indissociabilidade entre o processo de produção e o produto do trabalho

(PIRES, 2008).

O trabalho em saúde envolve um conjunto de profissionais especializados,

sendo que o número e a composição da equipe são definidos, dentre outros

critérios, pelo tipo e complexidade do serviço prestado. Na instituição hospitalar,

atuam diversos profissionais da saúde, entre eles: médicos, enfermeiros, técnicos e

auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e outros.

Observa-se também, a inserção de trabalhadores das áreas administrativas, da

higienização, manutenção ou outras que se fizerem necessárias (MATOS e PIRES,

2006).

A dinâmica do trabalho em instituição hospitalar envolve diversas categorias

profissionais. Apesar de suas especificidades de conhecimentos e de práticas, ao

exercerem o seu trabalho no âmbito institucional, majoritariamente, os trabalhadores

o desenvolvem como parte de um trabalho coletivo. Esse trabalho envolve,

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basicamente, a avaliação de um indivíduo ou grupo, seguida da indicação e/ou

realização de uma conduta terapêutica (PIRES, 2009).

Desse modo, grande parte dos trabalhadores da saúde encontra-se

influenciada pelo modo hegemônico de produção, resultando em um círculo vicioso

em seus processos de trabalho. Esses realizam ações automatizadas e mecânicas,

desfavorecendo as relações interpessoais, tanto na produção quanto em um viver

mais humanizado e saudável. Essa forma de exercício profissional dificulta e pode

até inviabilizar a elaboração de estratégias no trabalho para promover sistemas

saudáveis e sustentáveis. Logo, observa-se que muitos destes trabalhadores estão

imersos em uma cultura de fragmentação e não se percebem integrantes dessa

rede. Tal fato parece influenciar sobremaneira o modo de estabelecerem as relações

consigo e com os outros, nas posturas diversificadas e nos diferentes modos de agir,

de assumir responsabilidades e comprometimento com a promoção da saúde e do

cuidado da vida (LUNARDI et al., 2010).

No que concerne à utilização social do trabalho da enfermagem, Pires (2009)

refere que, apesar de não haver consenso em relação à natureza do cuidado de

enfermagem, há conformidade no que diz respeito à estreita relação entre cuidado

humano e o trabalho da enfermagem. Há vários registros na literatura que destacam

a importância essencial do cuidado na sobrevivência das espécies, na promoção da

vida e na preservação do planeta.

A enfermagem é reconhecida como profissão da saúde desde a segunda

metade do século XIX, quando Florence Nightingale acrescentou atributos a um

campo de atividades de cuidado à saúde desenvolvidas, milenarmente, por

indivíduos ou grupos com diferentes qualificações e em diferentes cenários.

Florence oportunizou a reorganização do espaço terapêutico do doente, bem como a

normatização da profissão, introduzindo a ideia de que esta profissão tinha uma

característica diferente da medicina (BECK, 2001). Sendo assim, o cuidado ganhou

especificidade no conjunto da divisão do trabalho social, sendo reconhecido como

um campo de atividades especializadas e necessárias/úteis para a sociedade e que,

para o seu exercício, requer uma formação especial e a produção de conhecimentos

que fundamentem o agir profissional. Tal contexto oportunizou a legalização da

profissão de enfermagem em diversos países (PIRES, 2009).

No Brasil, a enfermagem é uma das 12 profissões de saúde, representando

cerca de 60% do conjunto das profissões de saúde e o seu exercício profissional é

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regulamentado pela Lei nº 7.498/1986 (BRASIL, 1986). É a profissão que está

presente em todas as instituições assistenciais, sendo que, na rede hospitalar, está

presente nas 24 horas de todos os 365 dias do ano. Estes dados, por si só, já

demonstram que a qualidade das ações de enfermagem interfere, diretamente, na

qualidade da assistência em saúde (PIRES, 2009).

A enfermagem como profissão é exercida por sujeitos (auxiliares, técnicos e

enfermeiros) com diferentes formações, em diferentes tempos de qualificação e

graus de complexidade. Logo, o processo de trabalho na enfermagem caracteriza-

se, predominantemente, por apresentar-se de modo que sua execução encontra-se

distribuída entre os seus vários agentes, teoricamente determinada, de acordo com

a qualificação exigida pelo grau de complexidade das tarefas que o compõe

(LUNARDI FILHO, LUNARDI e SPRICIGO, 2001).

Dessa maneira, a divisão do trabalho é pautada pela qualificação e legitimada

pela formação escolar, o que estabelece uma hierarquização de tarefas, cabendo,

aos menos qualificados aquelas consideradas como mais simples e, à medida que

se tornam mais complexas, sendo assumidas por aqueles que possuem maior grau

de qualificação, culminando com as privativas do enfermeiro. No entanto, tal forma

de divisão exige a integração destas atividades, ou seja, seu gerenciamento que

vem sendo exercido pelo enfermeiro, por ser o detentor do saber e do controle

acerca de todo o processo de trabalho da enfermagem (LUNARDI FILHO, LUNARDI

e SPRICIGO, 2001).

Ainda no que tange ao processo de trabalho de enfermagem, este se

caracteriza, intrinsecamente, como o cuidar de seres humanos, com potencial para

uma maior aproximação com as múltiplas dimensões do objeto de trabalho em

saúde. Contudo, a prática assistencial, a produção de conhecimentos e a formação

profissional têm sido fortemente influenciadas pela ciência positivista e pelos

padrões da biomedicina, de maneira que, no âmbito do trabalho coletivo em saúde,

a enfermagem tem tido pouca força para se contrapor ou diferenciar-se do modelo

hegemônico (PIRES, 2009).

Percebe-se, com esta afirmação, que o trabalho da enfermagem nas

instituições hospitalares, ainda encontra-se associado ao modelo biomédico, que

busca causas lógicas para efeitos orgânicos, em um corpo doente, refém da

medicalização e do arsenal tecnológico que reveste, particularmente, a atenção

hospitalar à saúde. Neste sentido, a ideia de um olhar integral sobre o sujeito e o

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contexto onde se insere parece afastado no fazer saúde, bem como se distanciam

das concepções sobre promoção da saúde e qualidade de vida (CAMPONOGARA,

2012). Dessa maneira, tal distanciamento reflete-se também no afastamento de

questões que envolvam o meio ambiente, uma vez que esse também implica o

processo saúde-doença. Depreende-se que esse possa ser um motivo que dificulte

uma aproximação entre o trabalhador de enfermagem e as questões ambientais,

trazendo prejuízos para uma atuação ambientalmente responsável.

De acordo com Camponogara (2008), os trabalhadores de enfermagem, no

contexto do trabalho hospitalar, podem apresentar alguma dificuldade com relação

ao desenvolvimento de ações de preservação ambiental por tratar-se de um

processo de trabalho parcelar, embora coletivo, ainda centrado no modelo

biomédico. Dessa maneira, essas características, aliadas à falta de conhecimento

sobre a questão ambiental, à sobrecarga de atividades, à falta de apoio institucional,

aos mecanismos da modernidade, aos fatores derivados do processo de

institucionalização do hospital, dificultam a formação de valores ambientalmente

corretos; ao mesmo tempo em que favorecem a alienação diante da problemática

ambiental, responsabilizando os outros pelo seu enfrentamento.

Quanto mais conhecimento científico tivermos acerca dos determinantes

ambientais e dos impactos advindos do processo laboral em saúde sobre o meio

ambiente, melhores condições teremos de tomar decisões e agir responsavelmente,

na qualidade de trabalhadores da saúde, especialmente os da enfermagem. É

imprescindível que cada trabalhador, possa, por meio de um sólido processo

reflexivo, perceber-se como ator social, adquirindo a consciência ambiental que lhe

permita um agir responsável e ambientalmente correto. Isso é essencial, pois

diferentemente há o risco de que a questão da responsabilidade com a preservação

ambiental, não ultrapasse o status de um discurso banalizado (CAMPONOGARA,

2012).

No tocante à problemática ambiental, é fundamental uma discussão do ponto

de vista ético, uma vez que demanda uma postura reflexiva sobre valores, do ponto

de vista individual e coletivo (CAMPONOGARA, 2008). A responsabilidade

ambiental é um imperativo ético, que está vinculado à moral e à emoção. Desse

modo, para ser considerada um dever, deve afetar o indivíduo de modo a motivar a

sua vontade, o que só é possível com a participação da emoção, que está na

essência de nossa moral (JONAS, 1995).

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Com isso, podemos nos remeter ao pensamento de Humberto Maturana, ao

afirmar que os argumentos racionais se fundamentam na emoção. Para ele, emoção

é definida como disposição corporal para o agir, no qual decidimos quais

pressupostos fundamentais queremos ou não abrir mão. Se negarmos o fundamento

emocional da razão estaremos negando a responsabilidade de nossas escolhas

racionais, estaremos isentando-nos por detrás da exigência de um real nunca

atingindo nem nunca provado, mas que aceito a priori, coage o pensar, o agir e o

viver coletivo (MATURANA, 1997).

Pode-se dizer que, a essência do agir ético está na responsabilidade, em que

o sujeito é autônomo, consciente, livre e, sabedor das consequências dos seus atos.

Nesse caso, pode e deve responder pelas suas consequências. Se hoje falamos de

uma ética antropocósmica é porque consideramos que a preservação e o cuidado

com a vida do planeta constituem-se condição sine qua non para que a vida humana

e extra-humana possam continuar existindo (ZANCANARO, 2007).

Zancanaro (2007) ressalta, ainda, que a ética da responsabilidade, para

Jonas, contém um novo imperativo que deve estar fundado no "sim à vida" e sua

continuidade futura, como essencial possibilidade. A nossa liberdade necessita

garantí-la por meio de ações presentes e precisa resultar em discursos capazes de

transformações efetivas nos modos de viver. É justamente neste ponto que a

importância do sentimento se torna inquestionável, na medida em que construir

laços de afetividade, de sensibilidade e uma atitude de pertencimento para com o

meio ambiente induzirá a uma forma ética e responsável de estar no mundo e com o

mundo (SARI, 2012). Ainda, quando se trata de trabalhadores hospitalares, esses

necessitam que suas ações estejam fundamentadas no princípio da

responsabilidade, uma vez que o trabalho na área da saúde requer que todas as

ações tenham uma dimensão ética, implicando valores, compromisso e

responsabilidade (BORDIGNON et al., 2011).

O sentimento de responsabilidade surge a partir da ética dos sujeitos, pois

esta constitui o fundamento do seu agir, uma vez que tem a ver com ações. O

sentimento de responsabilidade vincula-se a ética, e, possui um lado objetivo, ligado

à razão, e um lado subjetivo, ligado ao sentimento, sendo ambos complementares

(JONAS, 1995).

Estudo recente aponta que o trabalhador hospitalar, embora esteja afetado

pela atual problemática ecológica age em prol da preservação ambiental

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predominantemente pautado em preceitos normativos. Com isso, face à inexistência

de uma discussão aprofundada sobre o assunto, o desenvolvimento de ações

fundamentadas em um sentimento de responsabilidade ambiental, no contexto do

trabalho hospitalar, fica prejudicado. A incorporação dessa discussão, com base em

profunda reflexão ética, é essencial para a ampliação da consciência ecológica dos

trabalhadores hospitalares. Contudo, para que esse entendimento tenha lugar, faz-

se necessário que as instituições de saúde tenham a preservação ambiental como

uma política institucional, e que esse tema seja colocado na pauta de discussões do

processo de educação permanente dos trabalhadores (CAMPONOGARA, RAMOS,

KIRCHHOF, 2009a).

Frente ao exposto, conclui-se que, se faz necessário que as instituições de

saúde percebam a emergência de refletir sobre a problemática ambiental com os

seus trabalhadores, bem como resgatem uma postura responsável ecologicamente.

É fundamental que esses sujeitos sejam instigados a renovar seus valores de

cidadania, responsabilidade, engajamento e comprometimento, para que, assim, se

percebam como atores transformadores de um mundo ambientalmente equilibrado.

2.4 Responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar: uma revisão

narrativa2

A problemática ambiental e suas repercussões em todos os aspectos relativos

à saúde humana tem sido temática central em diversos cenários, uma vez que,

perpassa a perspectiva social, política, econômica, biológica e cultural. Dessa

maneira, especial destaque deve ser dado à área da saúde, mais especificamente

às instituições de saúde, visto que, também contribuem para o agravamento dessa

problemática. Assim, visando promover a sustentabilidade, é necessário que as

instituições de saúde tenham, como base de atuação, a preocupação com o

desenvolvimento de atividades sustentáveis na prestação da assistência a saúde.

Nessa perspectiva, é fundamental que esses serviços envolvam os

trabalhadores em discussões sobre a atual problemática ambiental, considerando

2 Este estudo foi encaminhando à apreciação da Revista Referência.

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que o seu fazer, muitas vezes, é deletério sobre o meio ambiente. Sobretudo, há a

necessidade de a equipe de enfermagem direcionar as suas atividades para as

vulnerabilidades ambientais, tendo em vista que esses profissionais atuam na linha

de frente na assistência a saúde.

As instituições de saúde necessitam convocar seus trabalhadores para um

processo de reflexão acerca da crise ambiental, oportunizando espaços para

discussões sobre o tema. Esse processo pode possibilitar que os trabalhadores

conheçam como a sua prática laboral pode ajudar a preservar ou a degradar o meio

ambiente, passando a agir de maneira mais responsável e cidadã com a

preservação ambiental.

Para que os trabalhadores da saúde sintam-se copartícipes do processo é

importante abordar a temática ambiental, promovendo uma sensibilização sobre o

assunto, não somente instituindo normatizações, em que o trabalhador apenas

obedece sem conhecer os motivos que as fizeram necessárias ou, ainda, sem ter

uma visão sobre todo o processo (CAMPONOGARA, RAMOS E KIRCHHOF,

2009a). Dessa forma, defende-se a necessidade de trabalhar a questão ambiental

nas instituições de saúde de maneira ampliada e contextualizada, para além de uma

visão meramente pontual, não correndo o risco de descontextualizá-la de toda a

complexidade que a envolve.

Entende-se, portanto, que as instituições de saúde necessitam se tornar

facilitadoras desse processo, oportunizando aos seus trabalhadores, o sentimento

de responsabilidade socioambiental, ampliando a consciência ambiental, no sentido

de permitir uma postura ética que possibilite um agir e refletir fundamentado na

globalidade do ser. Pois somente assim, construiremos uma nova racionalidade,

determinada pela necessidade de mudança e, principalmente, pela necessidade do

desenvolvimento de uma nova ética humana, uma vez que as alterações que

ocorrem no ambiente natural repercutem em nossas ações (SILVA et al., 2010).

Com esta compreensão, realizou-se um levantamento da produção científica

sobre responsabilidade socioambiental nos serviços de saúde, em nível nacional e

internacional, com a finalidade de averiguar o que tem sido produzido sobre a

questão, bem como identificar possíveis lacunas que pudessem ser melhor

exploradas.

Acredita-se que a principal contribuição do estudo é fomentar a discussão

acerca da responsabilidade socioambiental nas instituições de saúde bem como dos

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trabalhadores nelas atuantes. Além disso, apontar estratégias que possibilitem às

instituições de saúde transformar-se em locais responsáveis socioambientalmente.

Para tanto, realizou-se uma coleta de dados nas bases Literatura latino-

americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis

and Retrieval System Online (MEDLINE) e Biblioteca Nacional de Medicina dos

Estados Unidos da América (PUBMED) durante os meses de maio a junho de 2012.

Na base de dados LILACS e MEDLINE foram utilizados os seguintes descritores: ( (

( "RESPONSABILIDADE institucional" ) or "RESPONSABILIDADE legal" ) or

"RESPONSABILIDADE profissional" ) or "RESPONSABILIDADE social" [Descritor

de assunto] and ( ( ( ( ( ( "MEIO AMBIENTE" ) or "ECOLOGIA" ) or "desenvolvimento

sustentavel" ) or "desequilibrio ecologico" ) or "educacao ambiental" ) or "gestao

ambiental" ) or "residuos de servicos de saude" [Descritor de assunto]; na base

PUBMED utilizou-se as seguintes palavras-chave: Social responsability and

environment and hospital.

Não houve recorte temporal para as publicações, uma vez que se objetivou

capturar todas as produções até então publicadas. Foram utilizados como critérios

de inclusão: artigo disponível online na íntegra, gratuito e versar sobre a temática

pesquisada.

Diante disso, a partir dos critérios de inclusão foram selecionadas 13

produções científicas, 12 na PUBMED e uma na MEDLINE, das quais foi realizada a

leitura na íntegra. Os dados obtidos foram registrados em um quadro sinóptico

construído pelos pesquisadores, contemplando, dentre outros, os seguintes itens:

nome do artigo, autores, periódico, ano de publicação, país, categoria profissional

dos autores, instituição dos autores, objetivo, resultados e conclusões. A leitura foi

realizada de forma a caracterizar as publicações e a identificar as categorias

relevantes na construção do conhecimento sobre o tema, as quais sofreram um

processo de análise e interpretação.

A partir da caracterização das produções encontradas, quanto ao ano de

publicação, destaca-se que houve um maior número no ano de 2003, com três

publicações, seguido, respectivamente, por 2005, 2007 e 2010, com duas

publicações cada. Os países que mais publicam acerca da temática investigada são

Canadá e Estados Unidos da América, com cinco publicações cada. Os demais

foram Portugal, Reino Unido e Inglaterra, cada um com uma publicação apenas.

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Com relação à categoria profissional dos autores, há uma diversidade de

profissões, não sendo, necessariamente, vinculados ao setor saúde. Porém, houve

um predomínio de médicos e enfermeiros, seguido de advogados. Ressalta-se,

ainda, que não foi possível definir a categoria profissional de quatro autores. No que

tange aos periódicos, o que mais publicou acerca da temática foi o Health Progress

dos Estados Unidos da América, com três publicações.

Com base na análise dos resultados, depreende-se que, estudos voltados a

essa temática não tem sido amplamente realizados no meio acadêmico,

identificando-se uma lacuna na produção científica sobre o tema, especialmente em

nível nacional, na medida em que foram encontradas apenas 13 publicações, todas

internacionais. Diante desse panorama percebe-se que maior atenção tem sido dada

aos prejuízos advindos das atividades assistenciais de saúde em âmbito mundial, na

medida em que, alguns estudos apontam estratégias para tornar as instituições de

saúde “amigas” do meio ambiente. Entretanto, não foram identificados estudos que

tenham como foco o aprofundamento teórico conceitual, tampouco que tenham o

intuito de investigar a responsabilidade socioambiental por parte dos trabalhadores

da saúde.

Constatou-se que, de um modo geral, há várias atividades que podem ser

realizadas com o intuito de que as instituições de saúde se transformem em locais

responsáveis ambientalmente. Essas atividades perpassam pelo gerenciamento de

resíduos de serviços de saúde, do consumo de água e energia, pela minimização da

incineração, diminuindo assim as dioxinas e dietilhexilftalato (DEHP), bem como o

mercúrio das suas instalações, e pela implementação de uma política de compras.

Além da diminuição da utilização de papéis e plásticos descartáveis em

atendimentos de rotina e administração, entre outras (BRANDÃO et al., 2012; HITE,

2003; HANCOCK, 1999; PARKES e HORWITZ, 2009; GAUDRY e SHIEHAR, 2007;

FITZPATRICK, 2010; BESERRA e ALVES, 2010). Neste caso, as atividades dão

conformação à categoria Adoção de estratégias sustentáveis por parte de

instituições hospitalares.

Estudos apontam que, as instituições de saúde, ao se tornarem responsáveis

ambientalmente, não farão um benefício apenas para a saúde do meio ambiente e

das pessoas, como também terão benefícios financeiros com esta atitude.

As instituições de saúde consomem recursos significativos, gerando,

inevitavelmente, resíduos de saúde, alguns dos quais são perigosos, e todos têm o

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potencial de poluir o ambiente se não forem devidamente geridos (GAUDRY e

SHIEHAR, 2007).

Frente a isso, o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde constitui-se

na base para a sustentabilidade das instituições de saúde, tornando-se a peça-

chave para a sustentação de um sistema de saúde seguro (FITZPATRICK, 2010).

Entende-se por gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, o conjunto

de procedimentos de gestão, planejados e implementados em bases científicas e

técnicas, normativas e legais, que visa minimizar a produção e proporcionar aos

resíduos gerados um encaminhamento seguro e de forma eficiente (SISINNO e

MOREIRA, 2005). Estes procedimentos gerenciais são norteados pelas

características do resíduo, na classificação em diferentes grupos e no volume

gerado de resíduos, sendo que, no Brasil, as instituições de saúde têm, como

obrigatoriedade, a elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de

Serviços de Saúde (PGRSS), que estabeleça diretrizes de manejo desses resíduos

e contemple a segregação, o acondicionamento, a identificação, o transporte interno,

o armazenamento intermediário, o armazenamento temporário, o tratamento, o

armazenamento externo, a coleta e o transporte externos e a destinação final

(SISINNO e MOREIRA, 2005).

Contudo, para que essa cadeia de procedimentos ocorra de forma eficiente é

preciso saber se os gestores são solidários e como compreendem e valorizam o

desenvolvimento sustentável (GAUDRY e SHIEHAR, 2007). Isso implica em ter,

como meta, não apenas a implantação do seu manejo, mas sim, uma abordagem de

todo o processo de maneira ampliada e contextualizada, no intuito de que todos os

profissionais atuantes na instituição estejam adequadamente instrumentalizados

para gerenciar os resíduos resultantes do processo de assistência à saúde

(CAMPONOGARA et al., 2012).

Os problemas ambientais causados pelo inadequado gerenciamento de

resíduos sólidos acarretam consequências à saúde, fato que justifica a necessidade

de ações concretas de Promoção da Saúde integradas a diferentes ciências, dentre

elas a Enfermagem, por ser um tema importante para ser discutido juntamente com

a sociedade em busca de adotar medidas de intervenção (BESERRA e ALVES,

2010).

Aspecto não menos importante e que não deve passar despercebido é a

incineração de resíduos. Algumas instituições de saúde estão descobrindo maneiras

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de reduzir, reutilizar e reciclar o resíduo, evitando, assim, que milhares de dólares

sejam gastos com a incineração. Durante muito tempo, os hospitais utilizavam a

incineração para dar a destinação final aos resíduos gerados. No entanto, esse

procedimento dispersa um montante inaceitável de resíduos químicos tais como

dioxinas, metais pesados e outros produtos químicos tóxicos para a atmosfera

(BRANDÃO et al., 2012). Frente a essa problemática, existe uma alternativa segura

e prática que pode ser adotada, a autoclavagem (HITE, 2003).

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) ressalta que a incineração

de resíduos de saúde é a terceira maior fonte de dioxinas e a quarta maior fonte de

mercúrio liberada no ambiente, contribuindo, significativamente, para a destruição do

meio ambiente (HANCOCK, 1999).

Consideram-se dioxinas os subprodutos da incineração, dos processos

industriais e da descontrolada queima química do cloro (HITE, 2003). Nas

instituições de saúde, a principal fonte que emite dioxinas é a incineração dos

plásticos oriundos dos cuidados de saúde.

Constituem-se como principais riscos da exposição à dioxina, para os seres

humanos, a doença cardíaca, o diabetes, o câncer, os distúrbios hepáticos e do

desenvolvimento (MACLEOD e MARTIN, 2007).

Preconiza-se que para a eliminação das dioxinas e dietilhexilftalato (DEHP),

assim como do mercúrio das suas instalações, as instituições de saúde utilizem uma

melhor gestão dos resíduos de saúde, com funcionários bem treinados, bem como

desenvolva contratos de aquisição por produtos de saúde ambientalmente seguros.

Segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros, uma opção para diminuir os

danos causados ao meio ambiente, é a padronização de competências de

enfermagem em saúde ambiental, a aproximação do ensino de enfermagem em

programas ambientais, de gestão de resíduos e toxinas e eliminação segura de

resíduos (HITE, 2003).

Vale destacar que, essas mesmas instituições, podem ainda se utilizar do

poder de compra para adquirir materiais menos agressivos ao meio ambiente, bem

como atrair custos competitivos, tornando a prestação de cuidados de saúde menos

esbanjadora e poluente (HANCOCK, 1999).

No tocante a implementação de políticas de compras, essa inclui a adoção de

critérios para compra de produtos/serviços sustentáveis abrangendo as seguintes

funcionalidades: ser menos tóxicos; minimamente poluentes; com maior eficiência

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energética; seguros e saudáveis para os pacientes, trabalhadores e meio ambiente;

facilidade de reparação; facilidade de reciclagem; incorporar menos embalagem; ter

maior durabilidade (ter uma vida útil mais longa); bem como ser produzidos

localmente (viagens de curtas distâncias de transporte) (BRANDÃO et al., 2012;

HITE, 2003).

Segundo os estudos, uma ferramenta importante para a sustentabilidade das

instituições de saúde é o gerenciamento do consumo de água e energia, uma vez

que os hospitais consomem quantidades significativas de energia e água e, muitos

não dão resposta à necessidade de desenvolver eficiência energética ou utilização

de recursos renováveis (BRANDÃO et al., 2012). O acesso à água potável tem

importância global, uma vez que possui quantidade limitada e sofre influência das

mudanças climáticas, do esgotamento do lençol freático, das secas e do

derretimento das geleiras (PARKES e HORWITZ, 2009).

Além dessas, outras medidas podem ser adotadas pelas instituições de saúde

para desenvolver políticas ambientais, são elas: a utilização de recursos energéticos

renováveis e produtos sem cloreto de polivinila (PVC), sendo possível a utilização de

materiais alternativos como silicone, etileno vinil acetato, polipropileno, polietileno,

outras poliolefinas e laminados plásticos, compras reutilizáveis e a autoclavagem.

Estas escolhas não apresentam riscos para o meio ambiente, bem como para os

seres humanos durante a fase de escoamento, por não liberarem dioxinas (HITE,

2003). Outra questão, não menos importante, é a diminuição da utilização de papéis

e plásticos descartáveis em atendimento de rotina e administração, entre outras.

Assim, evidencia-se que várias medidas podem ser adotadas no sentido de

transformar as instituições de saúde em locais responsáveis ambientalmente. No

entanto, ressalta-se a necessidade dos gestores estarem sensibilizados com a

problemática ambiental bem como, a adequada sensibilização e instrumentalização

dos trabalhadores, por meio de uma abordagem ampliada e não apenas requerendo

o cumprimento de normas e rotinas pré-estabelecidas.

Outro aspecto levantado nas publicações investigadas faz menção a atuação

da equipe de enfermagem frente às questões ecológicas.

Os estudos, em geral, ressaltam que é de suma importância a enfermagem

desenvolver ações voltadas para a promoção da saúde e preservação do planeta,

revelando uma categoria relacionada ao Papel da enfermagem frente à

problemática ambiental.

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O setor da saúde necessita estar consciente do impacto das suas operações

no ambiente e deve se esforçar para ser responsável ambientalmente. Por este

motivo, os trabalhadores de enfermagem têm a responsabilidade de defender o meio

ambiente e a segurança dos seres humanos (HITE, 2003).

Cabe salientar que os trabalhadores de enfermagem podem atuar na linha de

frente das “questões ambientais”. Como o maior grupo de trabalhadores no setor da

saúde, os trabalhadores de enfermagem podem ter uma autoridade sobre esta

temática. Os trabalhadores de enfermagem estão em contato direto com os clientes

e suas famílias, podendo, portanto, ter uma forte influência sobre o desenvolvimento

de serviços que respondam às preocupações do ecossistema, saúde e bem-estar

(BRANDÃO et al., 2012).

Além disso, podem defender a redução da utilização de produtos tóxicos,

solicitando a promoção dos cuidados sem a utilização de produtos com PVC, bem

como participando ativamente no desenvolvimento das políticas relativas a compras,

a práticas de gestão de resíduos e a incineração (PARKES e HORWITZ, 2009).

Salienta-se, no entanto, que além da equipe de enfermagem, outros

profissionais da saúde podem desempenhar um papel importante, na educação de

seus colegas, sobre o impacto das alterações climáticas na saúde, as formas em

que o setor da saúde pode reduzir as emissões e proporcionar orientação

antecipatória, informações aos clientes e suas famílias sobre como evitar condições

médicas provocadas por eventos relacionados com o clima (PARKES e HORWITZ,

2009). Os enfermeiros são chamados à ação para unir forças com outros

profissionais da área da saúde, visando ajudar na atenuação, adaptação e política

em torno das alterações climáticas globais, fazendo assim, com que sua liderança

seja um componente vital para enfrentar e combater a problemática ambiental

(PARKES e HORWITZ, 2009).

Conforme as publicações analisadas, o Conselho Internacional de

Enfermeiros tem atuado incessantemente nesta questão, trabalhando fortemente na

relação enfermeiros, alteração climática e indivíduos, por meio da abordagem sobre

questões de saúde pública resultantes do impacto direto e indireto da mudança

climática (PARKES e HORWITZ, 2009).

Ainda conforme o Conselho, os trabalhadores de enfermagem devem ser

parte integrante das medidas destinadas a atenuar o impacto das alterações

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climáticas com um foco especial sobre populações particularmente vulneráveis a

doenças e ferimentos (HITE, 2003; PARKES e HORWITZ, 2009; EAGLE, 2005).

Nesse sentido, individualmente, os trabalhadores de enfermagem têm amplas

oportunidades para ajudar a reduzir os resíduos de saúde, o consumo de água e

energia, bem como a emissão de toxinas na atmosfera. Educação e assistência são

necessárias para tornar estas oportunidades uma realidade (PARKES e HORWITZ,

2009).

Frente a isso, ressalta-se a importância dos trabalhadores de enfermagem

estarem cientes da sua responsabilidade socioambiental, pois somente assim

poderão desenvolver ações visando o bem-estar global.

Com base nas publicações analisadas, aponta-se como lacuna do estudo a

ausência de estudos que abordem sobre como e/ou que estratégias podem ser

utilizadas para abordar esse tema com os trabalhadores da saúde, em especial, a

enfermagem, no sentido de buscar-se uma postura de responsabilidade

socioambiental, pautada nos princípios de cidadania e ética.

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3 CAMINHO METODOLÓGICO

Este capítulo visa apresentar os procedimentos escolhidos para a construção

do conhecimento acerca do objeto de estudo. Para responder os objetivos desta

pesquisa utilizou-se o referencial da abordagem qualitativa, uma vez que se

acredita, ser esta a que melhor responde aos objetivos delineados. A produção de

dados deu-se pelo método criativo sensível, por entender que este possibilita

compreender a subjetividade contida no objeto de estudo, no intuito de desvelar os

fenômenos complexos e únicos existentes.

3.1 Abordagem e Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa qualitativa que segundo Turato (2005), é um

método que não busca estudar o fenômeno em si, mas entender seu significado

individual ou coletivo para a vida das pessoas. A metodologia qualitativa, portanto,

se interessa pelos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes

resultantes de ação humana objetiva, apreendidos do cotidiano, da experiência e da

explicação das pessoas que o vivenciam. Responde, assim, a questões particulares

e trabalha com uma realidade não-quantificável e com um universo de significados,

crenças e valores que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis

(MINAYO et al., 2003).

Destarte, a metodologia de pesquisa escolhida para desvelar o objeto de

estudo foi o método criativo sensível, que Segundo Cabral (1998), permite gerar

conhecimento advindo de discussões e reflexões coletivas.

3.2 Cenário do estudo

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O estudo foi desenvolvido nas unidades de internação: Clínica Toco-

ginecológica, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica I e II e Clínica Pediátrica do Hospital

Universitário de Santa Maria (HUSM). A escolha por esse cenário deu-se em virtude

do fácil acesso, já que são unidades de internação e, também, por apresentarem, de

certo modo, rotinas e usuários com perfil semelhantes. Logo, acredita-se que os

trabalhadores de enfermagem tenham rotinas básicas parecidas ao realizar as suas

tarefas laborais, tornando homogêneo o perfil entre os participantes da pesquisa.

O HUSM, fundado em 1970, é um órgão da Universidade Federal de Santa

Maria, que se localiza no campus da UFSM e constitui o maior hospital público do

interior do Estado do Rio Grande do Sul. É um hospital público federal que mantém

atendimento primário, secundário e terciário, sendo referência em saúde para a

região central do Rio Grande do Sul. É um dos únicos hospitais da região centro que

atende exclusivamente pelo SUS.

A instituição é um hospital de ensino, tendo sua atenção voltada para o

desenvolvimento da assistência, do ensino, da extensão e da pesquisa. Conta com

um quadro de pessoal de 1355 servidores federais, além de pessoal terceirizado,

distribuídos nas áreas assistencial, administrativa e de apoio. O HUSM presta

serviços assistenciais em todas as especialidades médicas e serve como laboratório

de ensino para alunos de graduação e pós-graduação em Medicina, Enfermagem,

Farmácia, Fonoaudiologia e Fisioterapia.

Ressalta-se que o referido hospital tem como missão desenvolver ensino,

pesquisa e extensão promovendo assistência à saúde das pessoas contemplando

os princípios do SUS com ética, responsabilidade social e ambiental. Além disso,

tem como princípios e valores: ética, transparência e qualidade nas ações;

responsabilidade institucional; compromisso com as pessoas; respeito às

diversidades; comprometimento social e ambiental (HUSM, 2012).

As unidades pesquisadas possuem as seguintes estruturas:

-Clínica Toco-ginecológica: localizada no segundo andar, dispõe de 32 leitos (11

para a Ginecologia e 21 para a Obstetrícia), conta com sete Enfermeiros, 11

técnicos de Enfermagem, 10 auxiliares de Enfermagem distribuídos nos turnos

manhã, tarde e noite.

-Clínica Cirúrgica: localizada no terceiro andar, dispõe de 42 leitos, sendo dois de

isolamento. Conta com dez Enfermeiros, 16 técnicos de Enfermagem e 14 auxiliares

de Enfermagem distribuídos nos turnos manhã, tarde e noite.

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-Clínica Médica I: localizada no quarto andar, dispõe de 24 leitos (sendo 18 para

Hemato-oncologia e seis para Cardiologia). Conta com sete Enfermeiros, nove

técnicos de Enfermagem, dez auxiliares de Enfermagem distribuídos nos turnos

manhã, tarde e noite.

-Clínica Médica II: localizada no quinto andar, dispõe de 24 leitos divididos entre as

clínicas de Medicina Interna, Infectologia, Pneumologia, Cardiologia, Neurologia e

Gastroenterologia. Conta com sete Enfermeiros, 19 técnicos de Enfermagem e oito

auxiliares de Enfermagem distribuídos nos turnos manhã, tarde e noite.

-Clínica Pediátrica: localizada no sexto andar, dispõe de 19 leitos, sendo três para

isolamento, conta com seis Enfermeiros, 10 técnicos de Enfermagem, 12 auxiliares

de Enfermagem distribuídos nos turnos manhã, tarde e noite.

3.3 Sujeitos do estudo

Para essa investigação, foram considerados sujeitos os trabalhadores de

enfermagem atuantes nas unidades de internação do HUSM no período de estudo e

que atuassem há mais de um ano no setor. Foram excluídos da pesquisa os

trabalhadores de enfermagem que estivessem em período de férias, bem como em

qualquer tipo de licença no período de produção de dados.

Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente mediante sua disponibilidade

para participação na pesquisa, resguardando a proporcionalidade entre as diferentes

unidades. A população de trabalhadores de enfermagem atuantes nos setores é de

156 sujeitos. Para incentivar os trabalhadores de enfermagem a participarem do

estudo, realizei diversas visitas às unidades de internação do hospital visando uma

maior aproximação com esses sujeitos, bem como sensibilizá-los para a proposta do

estudo. Vale ressaltar que, mesmo demonstrando interesse em participar da

pesquisa, a maioria alegou dificuldades para se afastar da unidade em virtude de

não haver um colega que pudesse substituí-la condicionada pela falta de recursos

humanos. Os enfermeiros responsáveis por cada setor pesquisado também se

comprometeram em incentivar e facilitar a participação dos sujeitos. No entanto,

apesar de retornar, diversas vezes, às unidades para divulgar a pesquisa, poucos

demonstraram um interesse real de participação.

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Frente a isso, inúmeras vezes as DCS foram transferidas devido à falta de

participantes, configurando-se em um obstáculo para a realização do estudo. Assim

sendo, lançou-se mão da amostra por conveniência, mediante convite dos sujeitos

para participar do estudo.

Dessa maneira, 16 trabalhadores de enfermagem participaram do estudo,

sendo: sete enfermeiros, quatro técnicos de enfermagem e cinco auxiliares de

enfermagem, sendo representativos de todas as unidades de internação da

instituição.

3.4 Caracterização dos sujeitos do estudo

É inerente à análise de discurso conhecer a posição do sujeito enunciador do

discurso, ou seja, quem está falando. Para tanto, construiu-se o quadro a seguir,

visando apresentar os sujeitos participantes do estudo por meio de uma breve

caracterização.

A caracterização dos sujeitos do estudo é apresentada em um quadro

(Quadro 1) com dados referentes a questões pessoais e profissionais.

Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos do estudo quanto a sua descrição, tempo

de trabalho na enfermagem, no HUSM, no setor e pós-graduação. Santa Maria, RS,

2013.

Descrição do sujeito

Tempo de trabalho na área da Enfermagem

Tempo de atuação no

HUSM

Tempo de atuação no setor

Pós-Graduação

E1 – Enfermeira, 34 anos. Formada

há 10 anos. 10 anos 06 anos 05 anos

Mestrado em Enfermagem (em

andamento).

E2 – Enfermeira, 41 anos. Formada

há 19 anos. 19 anos 10 anos 10 anos

Mestrado em Educação.

E3 – Enfermeira, 36 anos. Formada

há 13 anos. 13 anos 10 anos 10 anos

Especialização, Mestrado em Enfermagem.

E4 – Enfermeira, 32 anos. Formada

há oito anos. 08 anos 06 anos 04 anos

Especialização em Gerontologia.

E5 – Enfermeira, 38 anos. Formada

há 20 anos. 16 anos 05 anos 05 anos

Especialização em Serviços de

Enfermagem.

E6 – Enfermeira, 07 anos 05 anos 05 anos Doutorado em

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33 anos. Formada há oito anos.

Enfermagem (em andamento).

E7 – Enfermeira, 35 anos. Formada

há 13 anos. 13 anos 10 anos 10 anos

Especialização em Controle de

Infecção Hospitalar com

ênfase em Oncologia.

TE1 – Técnica de enfermagem, 36 anos. Formada

em enfermagem há quatro anos.

13 anos 12 anos 12 anos Especialização em

Enfermagem do Trabalho.

TE2 – Técnica de enfermagem, 36 anos. Graduação em Enfermagem (em andamento)

16 anos 08 anos 08 anos Não possui

TE3 – Técnico de enfermagem, 36 anos. Formado

em enfermagem há dois anos.

14 anos 11 anos 11 anos Não possui

TE4 – Técnica de enfermagem, 57

anos. 35 anos 35 anos 22 anos Não possui

AE1 – Auxiliar de enfermagem, 46 anos. Graduação

em Psicologia (em andamento).

24 anos 19 anos 09 anos Não possui

AE2 – Auxiliar de enfermagem, 47

anos. 13 anos 12 anos 12 anos Não possui

AE3 – Auxiliar de enfermagem, 49 anos. Graduação

em Gestão Pública.

15 anos 15 anos 11 anos

Especialização em Gestão Ambiental

em Políticas Públicas.

AE4 – Auxiliar de enfermagem, 47

anos. Formado há 18 anos em Fisioterapia.

26 anos 22 anos 22 anos Especialização em

Acupuntura.

AE5 – Auxiliar de enfermagem, 45

anos. Formado há um ano em

Gestão Pública.

21 anos 21 anos 19 anos

Especialização em Gestão Ambiental

em Políticas Públicas (em andamento).

Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos do estudo quanto a sua descrição, tempo

de trabalho na enfermagem, no HUSM, no setor e pós-graduação. Santa Maria, RS,

2013.

Assim, fizeram parte desta pesquisa 16 sujeitos, sendo sete enfermeiras,

quatro técnicos de enfermagem e cinco auxiliares de enfermagem. Desses 13 eram

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do sexo feminino e três do sexo masculino, com idade variando entre 32 e 57 anos e

com uma média de idade de 40 anos. Em relação ao tempo de atuação na área de

enfermagem, os trabalhadores têm, em geral, de sete a 35 anos de tempo de

serviço.

Quanto ao tempo de atuação no HUSM, houve uma variação de cinco a 35

anos, e quanto ao tempo de atuação no setor de quatro a 22 anos. Quanto à

escolaridade, em nível de pós-graduação, duas possuem mestrado e seis possuem

especialização. Não foram contabilizadas as pós-graduações em andamento. Vale

ressaltar que, técnicos e auxiliares de enfermagem se sentem incentivados a

desenvolverem ações de capacitação e qualificação profissional devido à concessão

de acréscimos salariais decorrentes da retribuição por titulação conforme prevê o

Regime Jurídico Único vigente na instituição pesquisada.

Para preservar a identidade dos trabalhadores de enfermagem, estes foram

identificados na transcrição da primeira dinâmica com as letras E, TE e AE, que

correspondem a enfermeiro, técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem,

sendo seguidas do número cardinal em sequência crescente, conforme foram

fazendo uso da palavra. Nas dinâmicas seguintes mantiveram-se as letras de

identificação seguidas do próximo número cardinal.

3.5 Método de produção de dados – Método Criativo Sensível (MCS)

O MCS congrega dinâmicas de criatividade e sensibilidade (DCS), sendo,

inicialmente, proposto por Cabral (1998), ao introduzir na enfermagem uma nova

perspectiva de produzir dados de pesquisa qualitativa. Este método possibilita a

constituição de redes de saberes para a prática da enfermagem, com a finalidade de

entender seus múltiplos cuidados. Com base nessa metodologia, o pesquisador na

busca da verdade científica deve desenvolver uma escuta-sensível, aliando o desejo

e a emoção com o racional e o científico (SOUZA, 2007).

O MCS conjuga técnicas consolidadas de coleta de dados (entrevista coletiva,

discussão de grupo e observação participante) com dinâmicas de criatividade e

sensibilidade. As DCS são conduzidas por meio de técnicas como: recorte e

colagem, modelagem, composição de histórias, dentre outras (CABRAL, 1998).

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Segundo Cabral (1998), as DCSs proporcionam um espaço de discussão

coletiva, em que, em um entendimento dialógico, dialético, plural e, muitas vezes,

ambivalente de produções artísticas representativas das construções sobre o tema

pesquisado, o grupo ultrapassa a condição de objeto para a de sujeito na pesquisa.

Cabral (1998) aliada ao pensamento de Barbier (1993) considera que o valor

da criatividade e sensibilidade em um método de pesquisa é importante, pois o

sujeito é um ser pessoal e social ao mesmo tempo, portanto, a sua subjetividade se

manifesta no coletivo, na intersubjetividade. O que diz e pensa é reflexo de suas

ações internalizadas ao longo do processo de desenvolvimento humano; ele é o

somatório da sua razão e emoção; ele é sujeito porque está em relação com um

outro no ambiente social, havendo impossibilidade de dicotomia razão e emoção,

criação e sensibilidade (CABRAL, 1998).

Para desenvolver as dinâmicas adota-se uma variedade de técnicas grupais,

conjugadas com a criatividade e sensibilidade, cujo produto servirá como base para

reflexões e discussões coletivas no espaço dessas oficinas; ou seja, há introspecção

e expressão criativo-sensível (CABRAL, 1998). As DCSs se desenvolvem em forma

de encontros grupais, em que o despertar da sensibilidade e criatividade dos

integrantes do grupo favorece o processo de produção de dados para a pesquisa;

um momento que privilegia a integração entre o grupo, ludicidade, troca de saberes

e práticas entre sujeitos e pesquisador, proporcionando a construção e validação

conjunta de conhecimentos novos (SILVEIRA, 2011).

Na presente pesquisa, os encontros para produção de dados ocorreram entre

abril e julho de 2013 e tiveram uma média de tempo de desenvolvimento de 40

minutos. Os três encontros foram desenvolvidos em uma sala, dentro do próprio

hospital, facilitando aos sujeitos o acesso, visto que esses estavam participando da

pesquisa durante seu turno de trabalho.

As DCSs desenvolveram-se em cinco momentos. O primeiro contemplou a

disposição espacial do grupo, apresentação entre os participantes e a explicação do

pesquisador sobre o objetivo do encontro, e, com o desenvolvimento da dinâmica,

ocorreu a integração inicial, preparando os participantes para o seu

desenvolvimento. Num segundo momento, uma Questão Geradora de Debate (QG)

foi inserida pelo pesquisador, sendo disponibilizados, aos participantes, materiais

para que o grupo produzisse discursos sistematizados, sob a forma de produções

artísticas (individuais ou coletivas). Esse momento proporcionou uma imersão dos

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participantes em suas ideias vivas ou latentes (intelecto), ao mesmo tempo em que o

convidou a utilizar sua função de motricidade e destreza (corporal) e colocou a

necessidade da troca com o grupo (social), estimulando-o a mergulhar com sua

subjetividade a partir da QG proposta na tarefa de produzir algo em comum

(CABRAL, 2001).

O terceiro momento contemplou a apresentação das produções artísticas

individuais ou coletivas e socialização do que foi produzido. Durante essa etapa, o

pesquisador registrou as palavras-chave convergentes e divergentes e selecionou

os temas geradores codificados. Estes foram negociados com os participantes, que,

no quarto momento, os decodificaram em subtemas, durante a análise coletiva e a

discussão grupal. E, por último, no quinto momento realizou-se a síntese temática

dos temas e subtemas, bem como a validação dos dados (CABRAL, 1998, 2001).

Na presente pesquisa a produção dos dados ocorreu por meio do

desenvolvimento de três dinâmicas, a saber: Tecendo Histórias, Árvore do

Conhecimento e Almanaque.

A DCS Tecendo Histórias teve como objetivo trazer à tona na coletividade a

construção histórica-social-pessoal de cada um dos sujeitos sobre meio ambiente,

explicitando problemas e dificuldades individuais que possam ter raízes sociais

coletivas. Experiências e diversidade de conhecimentos construídos, até dado

momento, são a alavanca para que o tema seja refletido e transformado em um novo

conhecimento (BEUTER, 2004; DEZORZI e CROSSETTI, 2008). Esta dinâmica

utilizou como QG “Como o meio ambiente se insere na sua história?”

A DCS Árvore do Conhecimento objetiva desenvolver uma analogia com as

necessidades de uma árvore para crescer e se desenvolver bem e a prática dos

trabalhadores de enfermagem. Assim, foi solicitado aos participantes que

localizassem no esboço de uma árvore as suas atribuições de responsabilidade

socioambiental no cotidiano hospitalar. Esta dinâmica serve, segundo Cabral (1998),

como uma mediadora no processo de reflexão coletiva, codificando e,

posteriormente, descodificando a situação real que a árvore representa. Para tanto,

utilizou-se a seguinte QG: “Como você vê a responsabilidade socioambiental em

sua prática profissional de cuidado?”

A DCS Almanaque tem como característica central a produção individual de

um almanaque (cartaz) com a utilização de gravuras, recortes, palavras que

respondessem as QGs “Quais os limites para atuar profissionalmente com

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responsabilidade socioambiental no contexto do trabalho hospitalar? Quais as

possibilidades?” Esta dinâmica objetivou conhecer os limites e as possibilidades

de atuar profissionalmente com responsabilidade socioambiental no contexto do

trabalho hospitalar, através da socialização das produções individuais, identificando

situações convergentes e divergentes e proporcionando a reflexão coletiva das

situações vivenciais do grupo.

Quadro 2: Descrição do planejamento e organização das Dinâmicas de Criatividade

e Sensibilidade. Santa Maria, RS, 2013.

Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade

Participantes Questão Geradora Objetivos da

Dinâmica Materiais utilizados

Tecendo Histórias

-Uma mestranda

pesquisadora -Duas auxiliares

de pesquisa -seis sujeitos de

pesquisa

Como o meio ambiente se insere

na sua história?

Conhecer a percepção de meio ambiente para os trabalhadores de

enfermagem;

-novelo de linha -dois gravadores

-máquina fotográfica

Árvore do Conhecimento

-Uma mestranda

pesquisadora -Duas auxiliares

de pesquisa -cinco sujeitos de pesquisa

Como você vê a responsabilidade

socioambiental em sua prática

profissional de cuidado?

Conhecer a percepção de

responsabilidade socioambiental

para os trabalhadores de

enfermagem;

-papel pardo -papel cartolina

-canetas hidrocores -tesoura

-cola -dois gravadores

-máquina fotográfica

Almanaque

-Uma mestranda

pesquisadora -Duas auxiliares

de pesquisa -cinco sujeitos de pesquisa

Quais os limites para atuar

profissionalmente com

responsabilidade socioambiental no

contexto do trabalho hospitalar? Quais as

possibilidades?

Discutir os limites e as possibilidades para uma atuação profissional com responsabilidade socioambiental no

contexto do trabalho hospitalar

-papel cartolina -gravuras de

revistas -tesoura

-cola -canetas de cores

diversificadas -dois gravadores

-máquina fotográfica

3.6 Aproximação com o campo e os sujeitos do estudo

Após a autorização institucional junto a Direção de Ensino, Pesquisa e

Extensão (DEPE) do hospital para o desenvolvimento da pesquisa bem como

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aprovação da mesma pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, realizou-se o

sorteio dos nomes dos trabalhadores de enfermagem, que, posteriormente, foram

contatados para divulgação da pesquisa e convite à participação na mesma.

O contato inicial com os participantes ocorreu no hospital, onde foi exposto o

objetivo do estudo e seus procedimentos. Foram convidados os trabalhadores de

enfermagem das unidades selecionadas por meio de visita as unidades, primando

pelo contato pessoal para divulgação da pesquisa, momento em que se buscou

estabelecer o dia e horário mais propício para a realização da dinâmica, conforme

disponibilidade dos participantes. Conforme a dificuldade relatada em conseguir que

os sujeitos aceitassem participar da pesquisa, optou-se por realizar diversas visitas

às unidades de internação do hospital e, obtendo o número aceitável para a

realização da DCS, essa foi realizada nesse mesmo dia. Não sendo possível o

agendamento de data para a realização.

3.7 Análise e interpretação dos dados

Após a produção e transcrição dos dados de pesquisa foi iniciada a sua

interpretação. Por tratar-se de um estudo de cunho social e coletivo, que busca o

sentido dos discursos subjetivos na coletividade, ou seja, buscar o que é plural na

singularidade, a análise dos dados ocorreu pelo processo de análise de discurso

(AD), com corrente francesa, fundamentada nos escritos do filósofo francês Michel

Pechêaux, que fundou essa escola de análise de discurso em 1960 (MINAYO,

2010).

O ingresso da AD sistematizada no Brasil ocorreu através da pesquisadora

profª Drª Eni Orlandi (2009). Segundo a autora, o objetivo da AD de Pechêaux é

realizar uma reflexão geral sobre a significação dos textos produzidos, visando

compreender o modo de funcionamento, os princípios de organização e as formas

de produção de seus sentidos. Os sentidos que o sujeito manifesta através do seu

discurso são compreendidos através da AD. Para Orlandi (2005), o discurso significa

a “palavra em movimento”. Portanto a AD consiste na análise de unidades texto para

além da frase proferida, possibilitando a leitura de interdiscursos, valorizando os

sentidos na interação com o outro, levando em consideração sua historicidade.

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A AD se constitui como uma alternativa quando ao pesquisador interessa o

trabalho com o significado para além do verbal, atingindo os mecanismos de

produção de sentido utilizados pelos sujeitos no decorrer do discurso (GOMES,

2007). Estes mecanismos estão ligados tanto ao individual (sujeito) quanto ao social

(sociedade) que os determina em graus variados. Assim, a AD não se limita a

analisar o corpus em si, mas a inseri-lo no contexto das vivências e experiências,

bem como na representação do objeto central da enunciação e na visão de mundo

do sujeito, entre outros aspectos, que determinam o dizer e o não-dizer,

considerando a perspectiva histórica e social de quem enuncia o discurso

(ORLANDI, 2009; MINAYO, 2010).

Ao utilizar a AD, o pesquisador, faz uma leitura do texto, enfocando a posição

discursiva do sujeito, legitimada socialmente pela união do social, da história e da

ideologia, produzindo sentidos através de indicadores (CAREGNATO; MUTTI, 2006).

Esses indicadores são dispositivos analíticos da AD e são fundamentais para a

apreensão das formações discursivas presentes na produção verbal concebida.

Esses dispositivos são essenciais devido ao peso que possuem no alcance da

análise, especialmente a paráfrase, a polissemia, o interdiscurso e a metáfora

(GOMES, 2007).

A AD segue alguns passos metodológicos após a organização do corpus do

texto, a saber:

Primeiramente realiza-se a análise horizontal chamada por Orlandi (2005) de

análise superficial: Neste momento, realiza-se uma leitura atentiva, juntamente com

o áudio, conferindo a materialidade linguística ao texto, ou seja, dando-lhe

movimento, para que o leitor possa entender o como se diz, quem diz, em que

contexto. Assim o leitor tem melhores condições de acompanhar o movimento do

diálogo o mais próximo possível do que ele aconteceu. A materialidade linguística é

atribuída ao texto por meio de sinais ortográficos que neste foram utilizados os que

seguem: /: pausa reflexiva curta; //: pausa reflexiva longa; ///: pausa reflexiva muito

longa; ...: pensamento incompleto; #: interrupção da enunciação de uma pessoa por

outra pessoa, ##: interrupção da enunciação de duas pessoas; itálico - textos

acrescentados pelo pesquisador, [...]: pausa na enunciação e continuação pela

mesma pessoa; palavra em tamanho de fonte maior – significa ênfase na palavra

enunciada; leetra duplicada em uma palavra – significa que a pessoa falou de modo

meio “arrastado ou cantada” a palavra, dando maior ênfase na letra que está

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duplicada, “aspas” – significa uma frase ou título que não é de autoria de quem está

falando ou que a pessoa disse isso em outro momento e está contando agora.

Após, em um segundo momento procedeu-se a análise vertical, em que o

objeto discursivo é aprofundado, buscando-se o processo discursivo (ORLANDI,

2005), isto foi realizado com a organização do material empírico em quadros

analíticos (APÊNDICE A). Logo, procura-se compreender como se constituem os

sentidos das palavras, manifestados durante o processo discursivo. Para tanto,

empregam-se, nesta análise, as ferramentas analíticas como a metáfora, paráfrase e

a polissemia, que mostram como ocorreu o processo discursivo e os efeitos de

sentido que dele derivam.

A análise ocorreu conforme o descrito acima, tendo sido identificados na

formação discursiva dos sujeitos, temas e subtemas geradores. Após, foi elaborado

um quadro síntese para possibilitar a identificação da recorrência temática destes

temas e subtemas, originando as categorias temáticas que esta pesquisa irá

apresentar em capítulos de análise.

Frente ao exposto, pode-se dizer que a análise de discurso objetiva

compreender como um objeto simbólico produz sentidos, explicando a organização

do texto/discurso através de elementos de interpretação, que relacionam sujeito e

sentido da pesquisa, sendo o que essa pesquisa buscar identificar por meio das

dinâmicas de criatividade e sensibilidade.

Para melhor visualização do caminho percorrido para a identificação das

categorias temáticas, segue o quadro síntese de temas e subtemas geradores com

as categorias temáticas:

QUADRO SÍNTESE

DINÂMICAS TEMA GERADOR SUBTEMA CATEGORIAS TEMÁTICAS

TECENDO HISTÓRIAS

ÁRVORE DO

CONHECIMENTO

ALMANAQUE

Percepção de meio ambiente

Inserção do tema meio ambiente em

suas vidas

Inserção da temática meio ambiente na

formação escolar/acadêmica

Meio ambiente como integrante na

formação do ser humano

A importância do

meio ambiente para a formação da

cidadania

O reconhecimento

As raízes socioculturais da

percepção de meio ambiente na

visão de trabalhadores de

enfermagem atuantes no

contexto hospitalar

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Conceito de

responsabilidade socioambiental

Fatores limitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental

Fatores facilitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental

de diversos atores sociais como

corresponsáveis pela questão

ambiental

Preocupação com o meio ambiente

Modo capitalista de

produção e a prática do consumo:

consequências para o meio

ambiente

Estratégias sustentáveis que

são de conhecimento dos

participantes

Responsabilidade socioambiental por parte da instituição

pesquisada na percepção dos

sujeitos

Cotidiano de trabalho: limites e

possibilidades para a

responsabilidade socioambiental no

contexto hospitalar

Quadro 3 – Síntese da análise discursiva desenvolvida a partir do corpus das três

Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade. Santa Maria, RS, 2013.

3.8 Aspectos Éticos

O estudo proposto foi, primeiramente, submetido ao Exame de Qualificação

realizado pela banca examinadora, que foi constituída por professores do Programa

de Pós-graduação em Enfermagem – PPGEnf/UFSM e um membro externo , à

aprovação da Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão do HUSM (DEPE) e do

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP), da Universidade Federal

de Santa Maria. Somente após a tramitação de todos os requisitos exigidos foi

iniciada a produção dos dados.

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Os sujeitos da pesquisa foram selecionados aleatoriamente mediante sua

disponibilidade para participação na pesquisa. O consentimento livre e esclarecido

(APÊNDICE B) foi assinado pelas pessoas envolvidas na pesquisa, depois de

fornecidas as explicações claras e completas sobre a justificativa, os objetivos e os

benefícios da pesquisa, bem como a garantia da segurança do anonimato e do

sigilo, assegurando que não haveria qualquer ônus para quem optasse por não

participar do estudo. Após as explicações e concordância do participante, esse ficou

(após coleta de assinatura) com a posse de uma via desse documento (a outra via

ficou em posse da pesquisadora), em conformidade com a Resolução Nº 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde.

Também foi esclarecido aos participantes sobre os riscos e benefícios a que

estavam expostos durante a produção dos dados. O estudo, a princípio, não

apresentava nenhum risco direto, mas o participante poderia sentir cansaço e

desconforto pelo tempo que envolve a dinâmica do grupo, e por relembrar algumas

vivências que poderiam despertar sentimentos inativados. Caso isto viesse a

acontecer, ele poderia deixar a dinâmica a qualquer momento, acompanhado pelos

auxiliares de pesquisa, que poderiam encaminhá-lo para conversar com

profissionais vinculados a área de psicologia, integrantes do Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde, previamente contatados para esse fim.

Os benefícios do estudo, foram indiretos, estando relacionados com a

melhoria do processo de trabalho da enfermagem e minimização do impacto

ambiental advindo da assistência a saúde. Os benefícios se estendem ao processo

de produção de conhecimentos sobre o tema, uma vez que os resultados do estudo

serão publicados em eventos e periódicos científicos da área.

A pesquisadora do presente projeto se comprometeu a manter a

confidencialidade dos dados, bem como utilizá-los somente para fins de pesquisa,

de acordo com o exposto no Termo de Confidencialidade (APÊNDICE C). As

informações somente foram divulgadas na forma de códigos, por exemplo: T de

trabalhadores; e serão mantidas em um banco de dados sob o poder da

pesquisadora responsável na cidade de Santa Maria – RS, sob a guarda de

Silviamar Camponogara, no Centro de Ciências da Saúde/UFSM, sala 1305B do

prédio 26 da UFSM.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos discursos dos trabalhadores de enfermagem,

produzidos nas dinâmicas de criatividade e sensibilidade (DCS), procurou-se

analisar a percepção de responsabilidade socioambiental para os trabalhadores de

enfermagem e, consequentemente, analisar a percepção de meio ambiente destes

trabalhadores. Além disso, também, emergiram dos discursos os limites e as

possibilidades para uma atuação profissional com responsabilidade socioambiental

no contexto do trabalho hospitalar.

A seguir, os achados serão apresentados e discutidos em duas categorias, a

saber, “As raízes socioculturais da percepção de meio ambiente na visão de

trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto hospitalar” e “Cotidiano de

trabalho: limites e possibilidades para a responsabilidade socioambiental no contexto

hospitalar”, sendo que esta categoria está dividida em três subcategorias, quais

sejam: “Responsabilidade socioambiental sob a ótica de trabalhadores de

enfermagem: um conhecimento ainda não desvelado”, “Fatores limitadores de

práticas e ações de responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar” e

“Fatores facilitadores de práticas e ações de responsabilidade socioambiental no

contexto hospitalar”.

As categorias foram representadas no desenho esquemático analítico abaixo:

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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Visão

Reducionista

RAÍZES SOCIOCULTURAIS

Infância; problemática ambiental;

tecnologias; percepção de meio

ambiente

Visão Interacionista /

Interdependência

Aprofundamento do

tema

Traçar alternativas

Educação Permanente em Saúde e

Educação Ambiental

Enfermagem

Plano de Gerenciamento de Resíduos

de Saúde (separação, descarte e

reutilização)

Complexidade da temática

socioambiental Futuro

PRODUÇÃO DE AMBIENTE SAUDÁVEL

AMBIENTE HOSPITALAR

Perspectiva do sujeito

Formação

socioambiental

Perspectiva no contexto hospitalar

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4.1 As raízes socioculturais da percepção de meio ambiente na

visão de trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto

hospitalar

Com o intuito de conhecer as percepções dos trabalhadores de enfermagem

atuantes em uma instituição hospitalar, sobre meio ambiente desenvolveu-se a DCS

tecendo histórias, conforme a figura abaixo. Após a análise dos seus discursos

obteve-se os relatos a seguir, que sustentam a construção da primeira categoria de

análise desta dissertação.

Ao responderem a questão geradora de debate (QG): como o meio ambiente

se insere na sua história, os sujeitos teceram as seguintes enunciações:

E1 – Aíí / eu acho que desde que eu sou pequena por que meu pai é engenheiro agrônomo, meu irmão é engenheiro ambiental e agora com as crianças, (...) eles sóó falam em ambiente. É na escola, é em tudo. (...)/ Tenho vivenciado bastante isso com as crianças agora. // (...) e não sei, / acho que em relação a minha vida assim, / acho que a gente depende o tempo inteiro do meio ambiente, pra tudo. E2 - eu me criei para fora, era tudo natuural, era tudo diferente. (...) E3 – (...) Ia com frequência pra “fora” (...) E4 - minha infância toda foi pra “fora”. (...) então / a gente sempre “brincou muito mais / foora de casa, no meio do mato, no meio do campo”, no meio do serro. AE2 - bom, a gente criada pra “fora”, o meio ambiente sempre foi uma coisa muito showw. AE1 – o meio ambiente, acho que sempre se inseriu na minha vida. (...) através da “natureza”.

Segundo E1 desde criança o meio ambiente se inseriu na sua história, pois

seu pai é engenheiro agrônomo e seu irmão engenheiro ambiental. Relata que,

atualmente, essa inserção se dá com os filhos, já que há abordagem sobre a

preservação do meio ambiente nas escolas.

E2, E3, E4 e AE2 se remetem as suas infâncias e revelam que, foi nessa

fase, que o meio ambiente se inseriu nas suas vidas, pois foram criadas na zona

rural, ou seja, no meio do campo. Já para AE1, o meio ambiente se inseriu na sua

vida através do contato com a natureza. Embora estes depoimentos sejam

fundamentais, num primeiro momento, nos remetem a uma concepção mais aderida

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a uma visão reducionista de meio ambiente, uma vez que os sujeitos se referem,

estritamente, a aspectos naturais, não havendo menção a participação do ser

humano e de outros elementos.

Em seguida, AE1 questiona sobre que tipo de meio ambiente a pesquisa se

refere, conforme o discurso abaixo:

AE1 – (...) Assim, / eu gosto muito da natureza, eu não sei se esse meio ambiente

que tu estas te referindo é só ambiente ou as pessoas. / Isso sempre se inseriu na

minha vida, sempre foi importante e eu sempre cuuidei, zeelei. //

Frente ao questionamento de AE1 sobre a conceituação de meio ambiente,

os sujeitos foram indagados sobre o que para eles significava meio ambiente,

obtendo-se os enunciados a seguir:

AE1 – para mim meio ambiente é tudo, é o ser humano, / que é um ser vivo, / os relacionamentos, o universo todo. E1 – eu acho que são as relações também, (...) por que todas as relações fazem parte, acontecem no meio ambiente. # E4 – (...) Hoje em dia, a visão que eu tenho de meio ambiente é /, ela é um pouco mais elaborada, mas ela não éé diferente do que eu já pensavaa. Que também não é / sóó a natureza, os animais, as árvores, os rios, eu acho que é como vocês falaram, é a relação que a gente tem com tudo isso. É a relação que eu tenho com a outra pessoa, que eu tenho com o rio, com a árvore e de que forma // eu conduzo as minhas ações para preservar isso tudo. // Acho que é isso. ///

Conforme AE1, meio ambiente compreende as relações existentes entre as

pessoas e o universo. E1 concorda com a afirmação de AE1 e complementa, que as

relações fazem parte do meio ambiente, pois acontecem nele. Estes depoimentos

demonstram que, para esses trabalhadores, após alguns instantes de reflexão, meio

ambiente compreende, também, as relações interpessoais. Esses dados evidenciam

que, já há prenúncios de uma visão interacionista de meio ambiente, entre os

participantes do estudo, na medida em que esse é percebido como a interação do

ser humano, isto é, a relação social, mediada pelo contexto familiar, escolar ou de

trabalho.

E4 define como meio ambiente não somente a natureza, os animais, as

árvores, os rios, mas sim a relação que as pessoas têm com estes elementos, a

relação interpessoal e também a forma com que ela conduz as ações para preservar

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tudo isso. Essa afirmativa remete, também, a uma conceituação interacionista de

meio ambiente, uma vez que apresenta um pensamento integrado acerca da

natureza e a sociedade, constituindo uma abordagem mais ampla e complexa.

Outra questão emergida no debate foi acerca da importância da abordagem

do tema preservação do meio ambiente, durante a alfabetização, conforme ilustrado

abaixo:

E6 - nós percebemos que as crianças vêm do colégio, elas estão trazendo essa necessidade para dentro de casa (...) se lá na infância nós não temos uma base, nós não sabemos fazer esse descarte correto, não sabemos utilizar de modo racional a energia elétrica, a água. / A árvore, ela não vai ter uma sustentação tão forte quanto, se as raízes não estiverem bem protegidas (...) E2 - Eu acho importante a “conscientização nas escolas” E7 – eu acho que isso deveria ser adotado dentro da própria escola, quando começa as crianças / a alfabetizar já ensinar deesde o berço. #

E6 menciona que as crianças estão sendo sensibilizadas para a preservação

do meio ambiente nas escolas, e que estão debatendo sobre essa necessidade com

seus familiares, constituindo-se em uma estratégia eficaz para a conservação do

nosso habitat. E2 refere achar importante o trabalho de sensibilização para a

questão ambiental, desenvolvido nas escolas.

Parafrasticamente, E7 relata que é na escola, durante a alfabetização, que as

crianças devem estar sendo sensibilizadas para a preservação do meio ambiente.

Desse modo, observa-se, pelos depoimentos, que as crianças estão sendo

instigadas a refletir sobre a problemática ambiental e, que essa reflexão está sendo

ampliada com a discussão dessa temática no seio familiar. No entanto, essa questão

precisa ser analisada com cuidado, uma vez que não se pode imputar a

responsabilidade pela sustentabilidade do planeta somente às crianças, por estarem

sendo instrumentalizadas nas escolas. A responsabilidade de agir eticamente, de

acordo com a realidade ambiental contemporânea, é um imperativo de toda a

sociedade.

Ainda no que tange a abordagem ambiental nas escolas, os relatos de três

enfermeiras evidenciam que, antigamente, não havia a preocupação de abordar

esse assunto na escola. Dessa forma, isso parece se constituir em uma lacuna

durante a formação escolar e acadêmica.

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E2 – (...) as professoras estão agora, mais preconizando isso, defendendo a preservação do meio ambiente, que antes eu não lembro, da minha época, muitos anos atrás, não lembro. / Nunca vi um professor ... # E1 – não, eu também não, nunca tive na / minha formação, nem na formação acadêmica. # E3 - no coléégio também não tive essa parte educacional sobre meio ambiente, até tinha técnicas agrícolas, mas o professor só mandava nós arrancarmos as guanxumas de volta do colégio (...)

E1 e E2 apontam uma lacuna em sua formação escolar, na medida em que

temas relacionados ao meio ambiente não eram abordados. Relatam que, durante

essa fase, não viram nenhum professor defender a preservação do meio ambiente.

E3 corrobora afirmando que, durante a sua formação, também não houve conteúdos

educacionais sobre o meio ambiente.

Entretanto, sabe-se que, contemporaneamente, as ações de preservação

ambiental se encontram cada vez mais inseridas nas instituições de ensino, em

virtude de haver uma demanda urgente de ações que tenham como foco o equilíbrio

ambiental.

Mediatizada por processos metafóricos, E1 dá continuidade ao debate,

conforme o diálogo a seguir, evidenciando que a sensibilização para a preservação

ambiental na escola fez com sua filha despertasse para a possibilidade de acabar a

água no futuro.

E1 – (...) Esses dias minha filha estava num sofrimento por que se a gente não cuidar da água a água vai acabar e ela em pânico por causa disso. Ela foi tomar banho, lavar os cabelos e desligou o chuveiro para não gastar água enquanto ela lavava, por que senão os filhos dela não terão água, mas ela estava em pânico [rindo] (...)

A preocupação com o meio ambiente traduz-se, no discurso de E1, de forma

metafórica e ao mesmo tempo carregada de sentido polissêmico, por meio das

palavras sofrimento e pânico. Com isso, a possibilidade de que a água seja um

recurso natural esgotável desperta, em sua filha, sentimentos de cuidado com ações

como economizar a água na hora do banho, por exemplo.

Questões acerca da evolução dos modos de vida também se fazem presente

entre os discursos. Alguns sujeitos se remetem a sua infância e estabelecem uma

comparação entre o que se tinha e o que se tem.

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AE2 – o meio ambiente sempre foi uma coisa muito showw [risos], (...) a gente brincava, a gente corria no campo, (...) hoje os nossos, a gente tem que levar para o “campo”, a gente tem que levar / para eles poderem brincar. (...) # [...] AE2 – agora tu vais dizer para eles, vamos brincar, eles irão dizer, posso jogar no play, posso jogar no computador, eles não iram lembrar de ... # E1 – é verdade, eu lembro que a gente adorava brincar nas árvores, fazer casinha em árvore, brincar, sentia a necessidade de ter esse ambiente. Agora as crianças não percebem isso. # [...] [...] AE2 – é que envolve a tecnologia (...) agora tem os brinquedos prontos, naquela época (...) a gente não tinha tanto brinquedo, não tinha nada. #

Metaforicamente, AE2 considera o meio ambiente maravilhoso, pois, durante

a sua infância, pôde brincar, correr pelo campo, fazer coisas que, hoje em dia, os

seus filhos só terão a possibilidade de fazer, se forem levados ao campo, em meio à

natureza. De acordo com a trabalhadora, ainda assim, muitos irão optar por jogos

disponíveis no computador ou no vídeo game.

Ao lembrar-se da sua infância, E1 concorda com AE2 e relata que adorava

brincar nas árvores, fazer casinha em árvore e que sentia necessidade de usufruir

do meio ambiente. Reforça ainda que, atualmente, as crianças desconhecem essas

brincadeiras. AE2 complementa que esse desconhecimento se deve ao avanço da

tecnologia, pois, hoje em dia, existem muitos brinquedos, o que não ocorria naquela

época.

Nesse sentido, é possível evidenciar que estes discursos apontam para as

influencias do avanço tecnológico no modo de vida das pessoas, nesse caso, na

forma como as crianças brincam. Isso pode ser associado ao fato de que,

antigamente, as brincadeiras permitiam que as crianças desenvolvessem suas

habilidades, através de brincadeiras ao ar livre e do convívio com as outras crianças.

No entanto, atualmente, as crianças estão cada vez mais isoladas, dependentes da

tecnologia, já que as brincadeiras consistem, basicamente, em jogos eletrônicos.

Neste interim, observa-se que o meio ambiente ganha uma conotação ampla,

pois atua de maneira importante não somente na formação do ser humano, uma vez

que brincar contribui para a aprendizagem e para o desenvolvimento da criança,

mas também oportuniza o estabelecimento da relação de interdependência entre

homem/meio ambiente.

Frente ao contexto apresentado, depreende-se que as raízes socioculturais

da percepção de meio ambiente, entre os trabalhadores de enfermagem

investigados, têm sua origem predominantemente na rede familiar, sendo que não

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há indícios da ampliação/aprofundamento dessa percepção durante a prática

profissional. Além disso, não há evidências nos discursos de que esse entendimento

norteie os princípios e valores dos sujeitos pesquisados, bem como a sua maneira

de perceber o mundo e o seu lugar nele.

4.1.1 Discussão

A questão ambiental é, sem dúvida alguma, uma das principais demandas

que se apresentam nesse início de século XXI. Dessa maneira, torna-se imperativo

à adoção de estratégias sustentáveis, considerando a interdependência e a

unicidade entre as relações da sociedade com o meio ambiente, sendo este um

caminho importante à superação da problemática ambiental em suas diversas

emergências. Em suma, trata-se da construção de uma nova visão das relações do

homem com o seu meio e da adoção de novas posturas pessoais e coletivas

(MARCHIORI, BOER, 2007).

Corroborando com os achados desse estudo, Rodrigues e Malafaia (2009)

evidenciam a diversidade conceitual do termo meio ambiente, sendo esta muitas

vezes, influenciada pela vivência pessoal, profissional e/ou pelas informações

veiculadas pela mídia, o que possibilita diferentes interpretações. Assim sendo, o

conhecimento acerca das concepções de meio ambiente nos permitem compreender

melhor como o ser humano percebe a sua relação com a natureza. Desse modo, ao

instigar, nos trabalhadores de enfermagem, a reflexão sobre sua concepção de meio

ambiente, pôde-se constatar que esses a percebem de maneiras diferenciadas.

Logo, apresentam distintas visões acerca desse tema, que foram construídas a partir

das suas experiências pessoais, se fazendo presente, neste estudo, as visões

reducionista e interacionista.

No que tange a visão reducionista, esta é uma concepção estritamente

relacionada aos aspectos físicos naturais, que exclui o ser humano e todas as suas

intervenções no meio (RODRIGUES, MALAFAIA, 2009). Além disso, essa visão

constitui-se em um ambientalismo superficial e antropocêntrico, pois vê o homem

acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui à natureza um valor

apenas instrumental ou de uso (CAPRA, 2004).

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O antropocentrismo teve início na época do Renascimento, partindo do

pressuposto que a humanidade, representada pela figura do ser humano, deve

ocupar o centro referencial de nossos pensamentos e ações. Assim, tudo o mais se

torna possuidor de valor relevante unicamente graças à existência humana. Com

isso, advém a desvalorização de todas as outras espécies do planeta e a

degradação ambiental, já que a natureza existe para ser controlada e utilizada por

nós, seres humanos (POSSAMAI, 2009).

Pode-se dizer que a modernidade é marcada por dois aspectos do

pensamento cartesiano. O primeiro é o caráter pragmático adquirido pelo

conhecimento, no qual a natureza é vista como um recurso e o segundo é o

antropocentrismo, que coloca o homem como o centro do mundo, como sujeito em

oposição à natureza. Instrumentalizado pelo método científico, ao homem passa a

ser permitido penetrar nos mistérios da natureza e, assim, tornar-se seu senhor e

possuidor de forma a dominá-la (MARIMOTO, SALVI, 2009).

Como resultado da hegemonia do pensamento cartesiano, vivemos hoje uma

crise e, para sairmos dela, necessitamos de uma grande mudança em nosso

paradigma atual, em nosso papel no mundo e na forma como utilizamos nosso

poder e nossa responsabilidade. Se foi o ser humano e sua forma de agir no mundo

que criaram esta situação, cabe ao próprio ser humano encontrar uma saída. Não se

pode barrar os avanços científicos e tecnológicos, mas se pode controlá-los da

melhor forma possível se utilizarmos a ética a nosso favor. Atualmente, a ética

ambiental é tão importante quanto a ética “humana”, pois vivemos em um tempo

onde o poder é extremo. Logo, a responsabilidade deve ser, ela também, extrema

(POSSAMAI, 2009).

Aliando-se a ideia defendida pelo autor supracitado, acredita-se que as

definições reducionistas apresentadas pelos sujeitos do estudo estão relacionadas

diretamente ao paradigma vigente, cuja principal vertente é a concepção

antropocentrista, racionalista e utilitarista, que tende a ver a natureza apenas como

bem de uso. Contudo, frente ao atual contexto ambiental, é essencial que

repensemos nossas convicções, sendo que, um dos caminhos para reverter este

cenário está na reelaboração da nossa relação com o meio ambiente, a fim de que

reconheçamos que também temos responsabilidades para com ele.

Partindo desses pressupostos, se vislumbra um movimento que busca uma

racionalidade ambiental, com novos princípios éticos, valores culturais e potenciais

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produtivos necessários às mudanças para a sustentabilidade. Trata-se de uma

busca que visa um saber ambiental, que advém da apropriação de um mundo que

requer novos direcionamentos, uma civilização com outros sentidos, uma espécie

que precisa de espectros de pensamento reflexivos, criativos, críticos e atuantes

(GUMES, 2005).

Frente a esse ideário, o filósofo Hans Jonas aborda sobre o Princípio

Responsabilidade, cujo objetivo é puramente ético. O Princípio Responsabilidade é

um fundamento ético que estabelece um diálogo crítico em relação à civilização

tecnológica, pois a técnica, em seu uso desenfreado, acarreta um grande perigo

para a humanidade. Assim sendo, esse princípio visa à contenção e planeja evitar

que o poder descomedido e descontrolado do homem ocasione agravos irreversíveis

ao planeta e às futuras gerações. Jonas deixa claro que o Homo faber, uma criação

da técnica, colocou-se muito acima do Homo sapiens, dotado de inteligência e do

bom senso, e é aí que reside a questão da responsabilidade, o homem deve

observar atentamente suas ações e as implicações que delas derivam (JONAS,

1995).

Além disso, Jonas defende que a exploração predatória da natureza pelo

homem não é apenas um erro técnico, mas também um agir antiético. O homem é o

propulsor da destruição que vivenciamos, e é também ele o único que tem a

liberdade e a responsabilidade de agir em prol da natureza, entendendo que esta

não é um valor de uso, mas que tem um fim em si mesma. Logo, o ser humano

incumbe-se do dever de cuidar da natureza, a partir do seu querer, do poder que lhe

é implícito e do sentimento de responsabilidade que deve se antecipar a sua ação

(JONAS, 1995).

Outra questão identificada no estudo e que coaduna com os construtos

conceituais dos autores acima, é a visão interacionista de meio ambiente. Visão

essa bastante oportuna, principalmente, por atentar para a complexidade ambiental

associada à interação ser humano/meio ambiente.

A concepção interacionista de meio ambiente vem ao encontro do que

preconiza a visão de mundo holística, que Capra (2004) considera o novo

paradigma. Essa visão concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma

coleção de partes dissociadas. Segundo ele, essa percepção reconhece a

interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto

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indivíduos e sociedade estamos todos encaixados nos processos cíclicos da

natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).

Destaca-se que, esta visão holística e integradora não foi verificada de

maneira contundente entre os sujeitos, entretanto, se faz uma necessidade

premente, não só para o trabalhador de enfermagem, mas para toda a sociedade.

Essa visão permite uma forma mais complexa e ampla de enxergar o meio

ambiente, já que associa não apenas aspectos naturais, mas, também, os

resultantes das atividades humanas, decorrendo na interação de fatores biológicos,

físicos, econômicos e culturais (RODRIGUES E MALAFAIA, 2009).

Contudo, conforme já mencionado, o problema ecológico não é somente um

problema técnico, mas é também um problema ético (GRÜN, 2005). Logo, para uma

transição de paradigma não basta apenas mudanças nas percepções e nas

maneiras de pensar. A mudança de paradigmas requer uma expansão também de

nossos valores, sendo que, essa expansão só ocorrerá se cada indivíduo

reestabelecer sua relação de pertencimento com o meio ambiente e reconhecer-se

de forma ativa como parte integrante desse processo.

De fato a expansão dos valores é fundamental, pois, enquanto o paradigma

atual está baseado em valores antropocêntricos, o novo paradigma está alicerçado

em valores ecocêntricos. É uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da

vida não-humana. Todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas

ligadas umas às outras numa rede de interdependência. Quando essa percepção

holística torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema ético

radicalmente novo (CAPRA, 2004).

Dessa forma, Jonas (2006) reitera que, muitas das premissas que limitam as

questões humanas e existenciais dadas como certas na concepção antropocêntrica,

não podem ser referenciais para o modelo de vida contemporâneo, pois os antigos

preceitos éticos perderam a validade pela mudança do agir humano. Enfatiza ainda

que, nem uma ética anterior tinha de levar em consideração a condição global da

vida humana, o futuro distante e até mesmo a existência da espécie. Com a

consciência de extrema vulnerabilidade da natureza à intervenção tecnológica do

homem, surge a ecologia, cujo intuito é repensar os princípios básicos da ética. Isto

é, procurar não só o bem humano, mas também o bem de coisas – extra-humanas -,

ou seja, alargar o conhecimento dos “fins em si mesmos” para além da esfera do

homem, e fazer com que o bem humano inclua o cuidado das coisas extra-humanas

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(JONAS, 1997). Isso significa dizer que, o homem, deve sempre agir tendo como fim

também as coisas extra-humanas, e que estas nunca deverão ser usadas como

meio para se atingir qualquer objetivo.

Conforme Rovani (2010), uma ética ambiental pressupõe rechaçar a noção da

ética antropocentrista, conduzindo à assunção de que além de agente

transformador, o homem é também agente transformado e que há instâncias que

transcendem seu poder e controle. A ética ambiental, portanto, admite a relação de

dependência para com a natureza, relação que, até pouco tempo atrás, se baseava

no paradigma da dominação. É exatamente neste ponto que a importância do

desenvolvimento de uma educação ambiental dirigida não só ao coletivo dos

trabalhadores de enfermagem, mas para toda a sociedade se torna inquestionável,

pois, só a estimulação de laços de afetividade e relação de pertencimento para com

o meio ambiente são capazes de induzir o desenvolvimento de uma nova ética

humana, de acordo com a realidade ambiental atual.

A ética do meio ambiente refletirá em ações coerentes com os valores morais

e princípios da pessoa, uma vez que essas ações serão influenciadas por este novo

fundamento. Assim, o que pretende a moral do meio ambiente é formar uma nova

consciência ambiental, que limite a conduta humana na produção de riscos para

qualquer espécie. A partir dessa perspectiva, se pode afirmar que a tradicional ética

não é mais eficaz, haja vista os novos e mais complexos problemas ambientais

(ROVANI, 2010).

A análise dos discursos mostrou, também, outro entendimento, atrelado a

visão interacionista de meio ambiente, fazendo valer o pressuposto de contribuição

na formação do ser humano, por meio da forma como as crianças brincam, que foi

validado pelo grupo pesquisado. Deste modo, o meio em que a criança cresce,

assim como as brincadeiras realizadas por elas, nesse período, constitui-se em

fatores preponderantes para a formação de um sujeito mais criativo, hábil, sociável e

sensibilizado da sua dependência em relação ao meio ambiente.

Silva (2012) refere que, na sociedade contemporânea, o brincar vem se

modificando, afastando as crianças das atividades lúdicas e criativas ao ar livre e

confinando-as em recintos fechados, ladeadas pelos mais sofisticados

equipamentos de diversão tecnológica. Ressalta que o fator tempo e o lazer

direcionado, principalmente, para a televisão, vídeo game e brinquedos de controle

remoto, vem dificultando o envolvimento das crianças com atividades lúdicas.

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Brincar nas ruas foi substituído por programas televisivos, computador ou vídeo

game. Ainda que os jogos e as brincadeiras tenham sobrevivido ao avanço

tecnológico, estes se tornaram mais individualizados, ameaçando as interações

sociais. Similarmente, essas perspectivas também se fizeram presentes nos

discursos dos trabalhadores de enfermagem, uma vez que esses também

relacionam a mudança do brincar com o advento da tecnologia.

Além disso, a brincadeira é um meio que a criança utiliza para se relacionar

com o ambiente onde vive, despertando sua curiosidade e ampliando seus

conhecimentos e suas habilidades. Faz-se necessário que os pais ofereçam à

criança um ambiente de qualidade, que estimule as interações sociais entre as

crianças, seus familiares, seus amigos, bem como sua casa seja um ambiente

enriquecedor da imaginação infantil, onde a criança tenha a oportunidade de atuar

de forma autônoma e ativa. Ressalta-se, ainda, a importância dos pais na seleção e

definição de brinquedos e ambientes a serem explorados, como também, no preparo

destes ambientes (SANTOS, 2010).

Nessa perspectiva, enfatiza-se que, embora os sujeitos não tenham

mencionado esta nuance do brincar no estudo, é de suma importância a brincadeira

em meio à natureza para a formação da criança enquanto ser social, visto que esse

brincar influenciará tanto na percepção como nas ações desta criança em relação ao

meio ambiente. Neste cenário, a criança tem a possibilidade de viver experiências

concretas e desenvolver suas habilidades, mas também de aprender a valorizar e

respeitar, desde cedo, o meio ambiente e a compreender as relações do ser humano

com o seu meio.

O contato com a natureza e seus elementos, bem como com questões

relacionadas à preservação ambiental são fundamentais para as crianças, visto que

possibilita a ampliação de suas experiências e a construção de conhecimentos

diversificados sobre os meios social e natural.

No entanto, como bem citado por Klein (2007), abordar a temática ambiental

com as crianças não significa simplesmente explicar as características dos animais

(o que comem, onde vivem, como se reproduzem) e das plantas, ou então, falar

sobre as diferenças de lixo seco e lixo orgânico. Significa antes de tudo, discutir as

relações de interdependência entre diversos elementos que compõem o meio

ambiente, a ação do homem e suas atitudes diante dos problemas ambientais

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atuais, uma vez que essas serão as maneiras que contribuirão, efetivamente, para a

saúde do planeta.

A criança aprende brincando, experimentando, sentindo, vivenciando. Desse

modo, quanto mais possibilidades lhe forem dadas, quanto mais oportunidades ela

tiver de experimentar, tocar, sentir; maiores serão as chances de perceber-se como

um ser integrante, dependente e transformador do mundo em que está inserido

(KLEIN, 2007). Desse modo, é inquestionável a importância do brincar como

determinante na formação de um indivíduo mais consciente da sua relação com o

meio ambiente. Contudo, isto nos remete também, a importância da participação dos

familiares nesse processo, uma vez que, como apresentado por este estudo, as

diferentes concepções sobre meio ambiente parecem resultar das interações no

ambiente familiar, até por que, a abordagem ambiental durante a academia tem se

revelado como uma lacuna.

Para além dessa discussão, a que se sobressai como mais importante, está

relacionada à lacuna da abordagem ambiental nos diferentes cursos de formação

universitária e serviços assistenciais. Entre os participantes do estudo, fica evidente

que, não há abordagem sobre a temática ambiental no seu processo formativo. Da

mesma forma, os discursos apontam que esse tema ainda não é objeto de

discussão no seu local de trabalho.

A literatura aponta que se faz necessário que medidas nesse sentido sejam

tomadas, a fim de buscar-se a sensibilização dos trabalhadores de enfermagem e

saúde em relação à temática ambiental. Dessa maneira, se faz urgente que os

cenários do fazer saúde incorporem, paulatinamente, um processo sistemático de

educação ambiental, pois só assim haverá uma maior vinculação entre o trabalho no

contexto assistencial, o trabalhador e a preservação ambiental, o que viabilizará um

agir mais coerente e responsável (SARI, 2012). Este entendimento também é

corroborado por Bagnolo (2010), quando este afirma que a educação ambiental é a

estratégia eficaz para a emergência de uma nova consciência, pautada nas

necessidades ambientais, visto que a educação ambiental é um processo contínuo

de aprendizagem, voltado para a melhoria da qualidade de vida, no qual se aprende

a respeitar o meio ambiente e a si próprio (SCARDUA, 2009).

Todavia, Jacobi (2006) ressalta que, a educação ambiental tem que enfrentar

a fragmentação do conhecimento, desenvolvendo uma abordagem mais integradora

sobre diferentes dimensões humanas, que possibilitem entrelaçamentos de múltiplos

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saberes, a partir da noção de que o meio ambiente é um campo de conhecimento e

de significados socialmente construído. O fortalecimento de organizações sociais e

comunitárias e a participação crescente da população por meio de ações educativas

sobre a preservação ambiental são imprescindíveis, no sentido de potencializá-los

para a participação ativa neste processo.

Frente ao paradigma da degradação ambiental em que vem se apoiando o

desenvolvimento das sociedades modernas, acredita-se que especial destaque deve

ser dado aos cenários educacionais, públicos ou privados, compreendendo todos os

níveis de formação, da educação infantil à pós-graduação (SIQUEIRA-BATISTA et

al., 2009), haja vista que, a construção de uma nova consciência ambiental está,

também, condicionada a abordagem da educação ambiental nesses contextos. Não

se pode pensar em sustentabilidade sem considerar o papel estratégico da

educação, e, por isso, tal atitude constitui-se em um imperativo.

A educação é a estratégia ideal para a abertura de um espaço que possibilite

repensar práticas sociais, com base na adequada compreensão do meio ambiente,

na interdependência dos problemas e soluções e na importância da

responsabilidade de cada um neste processo (JACOBI, 2006). Certamente, a

educação ambiental pode colaborar para a efetivação dessa sensibilização

ambiental, por constituir-se em um método participativo, que contribui para a

descoberta de uma nova consciência ambiental e para a adoção de posturas

voltadas à conquista e manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado,

necessário à construção de sociedades sustentáveis (MARCHIORI e BOER, 2007).

Segundo o art. 1º da Lei Federal nº 9.795/99, entende-se por educação

ambiental “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem

valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para

a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia

qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). Convém salientar, que na

expressão “bem de uso comum do povo” utilizada no artigo 1º da referida Lei, há,

ainda, arraigada uma visão antropocêntrica em relação ao meio ambiente, o qual é

atribuído apenas um valor instrumental, de “uso”, e ao homem cabe usufruir desse

meio da melhor maneira possível. Isso, de fato, comprova a complexidade do tema e

que ainda há muito a avançar, na busca de uma racionalidade eticamente

comprometida com a preservação do planeta. Essa lógica, por certo, exige à

incorporação de amplos processos de educação ambiental, em todos os níveis de

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ensino, haja vista a necessidade de difundir na sociedade o ideário da sensibilização

ambiental.

Sendo assim, a educação ambiental deve emergir, desde a educação infantil,

contudo, reitera-se que não se deve atribuir somente para as crianças a

responsabilidade da preservação ambiental, é preciso que toda sociedade se

impregne com o ideário da responsabilidade com o meio ambiente. Ademais, a

perspectiva mais positiva é de que os adultos assumam, juntamente, com as

crianças, a responsabilidade pela preservação do planeta, motivados por um

sentimento de responsabilidade (como propõe Hans Jonas). No entanto, não se

pode desconsiderar o fato de que muitos adultos deixem que somente as crianças

assumam esta responsabilidade, entendendo que são melhor instrumentalizadas

para isso, e que são elas que sofrerão, mais intensamente, as consequências da

problemática ambiental (CAMPONOGARA, 2008).

Há que se ponderar ainda que, apesar de a responsabilidade socioambiental

ser um imperativo de toda a sociedade, se verifica uma necessidade premente de

incluir a percepção socioambiental como prática pedagógica permanente nos cursos

de graduação direcionados à área da saúde, tendo em vista a estreita relação entre

o saber ambiental e a determinação do processo saúde-doença (SENA et al., 2010).

Caso contrário, corre-se o risco de não instrumentalizar os futuros profissionais de

acordo com as demandas do contexto atual, comprometendo, assim, uma visão

mais ampliada acerca dos problemas ambientais, bem como, prejudicar a formação

de um profissional mais crítico e cônscio das suas responsabilidades.

Entende-se que, face à grandeza da tarefa da educação ambiental, a

abordagem transversal e interdisciplinar não está desvinculada dessa conjuntura,

como forma de superação da fragmentação do conhecimento. Sendo assim,

defende-se, a importância de se estimular a inserção da discussão dos conceitos

ecológicos na formação do profissional da saúde tanto com a inclusão de uma

disciplina sobre ecologia – no caso dos currículos de estrutura disciplinar -, como por

meio da transversalidade do tema meio ambiente e saúde, permitindo criar um

vínculo mais claro e objetivo, como preconizado pelas ações de saúde ambiental e

pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Embora estes últimos, os PCN,

sejam orientados somente para a Educação Básica, não há motivos para o

impedimento da aplicação dessa abordagem interdisciplinar no ensino superior.

Dessa forma, a atuação durante o processo de formação desses novos profissionais

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ocorrerá de maneira mais integrada e atualizada, permitindo que eles possam

perceber a aplicação contextualizada dos conteúdos teóricos da área de saúde no

ambiente “real” (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2009).

Na opinião de Siqueira-Batista et al. (2009), a discussão sobre a crise

ambiental deve ser obrigatória em todo projeto político-pedagógico que valorize a

cidadania na constituição do perfil profissional, já que essa perspectiva tem se

mostrado com evidente impacto sobre a saúde, não cabendo ao aparelho formador

se esquivar destes debates. Seguindo tal proposição, deve-se procurar discutir,

paulatinamente, o impacto ecológico nas ações cotidianas – enquanto profissionais

de saúde, mas, sobretudo, enquanto cidadãos, contexto extremamente salutar para

a formação acadêmica -, num movimento capaz de tornar as pessoas mais

conscientes de si e mais responsáveis com o ambiente, permitindo que a Terra

permaneça habitável e sustentável para as gerações presentes e futuras.

Convém salientar também, a importância da tomada de consciência pelos

serviços de saúde acerca da necessidade de primar por uma assistência de saúde

com o mínimo de impacto ambiental. Assim, torna-se importante que, no contexto

hospitalar, também sejam implementadas, discussões acerca de como desenvolver

uma postura profissional pautada na responsabilidade socioambiental. Dessa

maneira, é relevante que este cenário oportunize espaços para problematização

acerca da relação contexto hospitalar e problemática ambiental, por meio da

educação em serviço/educação permanente, uma vez que essa pode se constituir

em uma estratégia eficaz para o engajamento dos seus trabalhadores nessa

questão.

Por fim, o grande desafio é, pois, engajar sujeitos na construção de uma

cultura cidadã e na formação de atitudes ecológicas. Isto supõe a formação de um

sentido de responsabilidade ética e social, considerando a solidariedade e a justiça

ambiental como faces de um mesmo ideal de sociedade, justa e ambientalmente

orientada. Essa formação de atitude, voltada para a cidadania ecológica, é a que se

coaduna com os valores e pressupostos aderidos a uma visão de responsabilidade

socioambiental, com melhores condições de gerar novas predisposições para ações

e escolhas, por parte das pessoas, voltadas a sustentabilidade do planeta. Nesse

caso, mais do que apenas comportamentos isolados, estaremos em meio a um

processo de amadurecimento de valores e visões de mundo mais permanentes, o

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que requer responsabilidade individual e coletiva, em nível local, nacional e

planetário (CARVALHO, 2004b).

4.2 Cotidiano de trabalho: limites e possibilidades para a

responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar

Com o objetivo de conhecer a percepção de responsabilidade socioambiental

e discutir os limites e as possibilidades para uma atuação profissional pautada nesse

princípio, no contexto do trabalho hospitalar, foram desenvolvidas as DCS árvore do

conhecimento e almanaque com as seguintes questões geradoras (QG) de debate:

Como você vê a responsabilidade socioambiental em sua prática cotidiana de

cuidado? Quais os limites para atuar profissionalmente com responsabilidade

socioambiental no contexto do trabalho hospitalar? Quais as possibilidades? Com os

diálogos resultantes dessas QG foi construída a segunda categoria de análise desta

pesquisa, que será sustentada pelas enunciações dos sujeitos descritas a seguir.

Esta categoria foi dividida em três subcategorias, a saber, “Responsabilidade

socioambiental sob a ótica de trabalhadores de enfermagem: um conhecimento

ainda não desvelado”, “Fatores limitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar” e “Fatores facilitadores de práticas e ações

de responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar”.

4.2.1 Responsabilidade socioambiental sob a ótica de trabalhadores de

enfermagem: um conhecimento ainda não desvelado

Outra questão explorada no estudo tem relação com a percepção de

responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, os trabalhadores de enfermagem

apresentaram uma percepção vinculada ao processo de gerenciamento de resíduos

de serviços de saúde.

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AE5 – responsabilidade socioambiental é a preocupação do indivíduo com o meio / # [...] não só no meio em que tu trabalha! Com todo o meio ambiente, com o descarte de / dos resíduos / todos produzidos pelo ser humano na sua atividade diária. /// a correta utilização, descarte e reutilização desses resíduos / determina / é o determinante da responsabilidade socioambiental. Se tu descarta corretamente e tu / reaproveita corretamente os / resíduos produzidos / # TE3 – até o lixo que eu desprezo por esta no lugar certo, essas coisas assim. AE4 – por aqui, nós temos a separação do lixo # E7 – entra em todos os quesitos, esgoto, educação / o futuro! Se a gente não cuidar agora, no futuro nós não vamos ter. # nós e as próximas gerações.

Mediado por processos polissêmicos e parafrásticos, AE5 define como

responsabilidade socioambiental a preocupação do indivíduo com o meio ambiente.

Observa-se, no entanto, que AE5 toma como objeto da responsabilidade

socioambiental, apenas, a preocupação do ser humano com o descarte dos resíduos

produzidos durante a sua atividade diária. Orientados por esta mesma concepção,

TE3 e AE4 também revelam o processo de separação dos resíduos hospitalares

instituído pelo serviço de saúde como único vínculo com a responsabilidade

socioambiental. Essa questão, embora seja de suma importância, especialmente no

contexto do trabalho hospitalar, não abarca as diversas dimensões que envolvem o

conceito de responsabilidade socioambiental. Dessa forma, resultam em uma visão

mais pontual, fragmentada acerca desta concepção.

Já E7 pontua, polissemicamente, que responsabilidade socioambiental vai

além da questão dos resíduos, pois envolve também o esgoto e a educação.

Ressalta, ainda, a importância dos seres humanos unirem-se por um bem maior,

numa perspectiva de deixar um futuro para as próximas gerações. Frente a essa

afirmativa, observa-se que E7 apresenta uma visão um pouco mais ampliada acerca

da responsabilidade socioambiental, no entanto, evidencia-se que não há, ainda, um

conhecimento substancial propriamente dito sobre a temática, na medida em que,

fundamentos como a ética, a reorientação de posturas e valores não são citados

pela participante. Desse modo, pode-se dizer que, os discursos vislumbraram

apenas algumas nuances desse processo, reduzindo-o em suas possibilidades de

compreensão.

Ainda no que se refere à percepção de responsabilidade socioambiental,

surgem expressões significativas, que remetem ao pensar no futuro, ao medo da

mudança e ao dar o primeiro passo, vislumbrando, assim, a necessidade de

reorientar o agir e projetar as consequências das ações do presente no futuro.

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AE4 – o problema é que a gente vive só o hoje, a gente nunca pensa no amanhã, e lidar com o meio ambiente é pensar no amanhã / [...] a ninguém interessa reciclar lixo, guardar isso ou aquilo, / não vou estar aí amanhã, mas meus filhos e meus netos vão estar aí. AE5 (...) O tradicionalismo é aquele medo do / novo, da mudança, o medo que as coisas saiam daquela tua zona de conforto. // AE4 – ou as pessoas pensam assim, por que que eu vou fazer se os outros não fazem? / Mas alguém tem que começar! // Vai esperar pelos outros ... # AE5 – não só falar, implementar ações que incentivem / as pessoas a teer uma consciência ambiental dentro desse meio ambiente [hospital].

AE4 acredita que as pessoas são resistentes no que tange a questão

ambiental, pois vivem o momento presente, não pensam no futuro. Para ele,

sensibilizar-se para os problemas ambientais requer que se pense no futuro, nas

consequências das ações de hoje, no bem-estar futuro de todos.

AE5 refere, polissemicamente, que a resistência se dá pelo fato de que tudo

que é novo, não habitual, causa medo. Ou seja, as pessoas estão perfeitamente

acomodadas à sua rotina, em que aceitam as coisas como elas são, encontrando-

se, assim, na sua zona de conforto.

Para AE4, a desmobilização das pessoas para as iniciativas individuais de

preservação ambiental se dá devido à ideia que possuem de que para se obter

resultados positivos nessa questão é preciso haver um ideário coletivo. No contexto

do debate coletivo, AE5 discorda, pois, para ele, é preciso que a instituição

implemente ações que incentivem a conscientização ambiental, dentro do serviço

hospitalar.

É notório que, para os trabalhadores de enfermagem, o desafio da questão

ambiental está na intertemporalidade, ou seja, em aproximarmos o amanhã das

nossas decisões no hoje, assim como, na necessidade de uma revisão de posturas,

na qual as pessoas estejam dispostas a mudar seus estilos de vida em prol da

preservação ambiental. Além disso, emerge, também, a necessidade de mudança

na forma de pensar, uma vez que muitos acreditam que iniciativas individuais não

possuem força suficiente para reduzir o impacto ambiental, se fazendo presente a

ideia da necessidade do fazer coletivo. Contudo, há, ainda, aqueles que acreditam

que as ações de conscientização ambiental devem ser estimuladas, a partir do seu

local de trabalho, evidenciando, assim, ainda não estarem imbuídos da sua

responsabilidade socioambiental como cidadãos, bem como, o trabalho no hospital

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não se encontra vinculado ao pensamento ambiental como tema transversal e

necessário.

Quando questionados sobre como viam a postura dos demais trabalhadores

em seu local de trabalho no que tange a responsabilidade socioambiental, os

sujeitos foram enfáticos ao relatarem pontos que carecem ser melhorados, conforme

ilustrado a seguir:

E6 – há um movimento [responsabilidade socioambiental por parte da instituição], não vamos dizer que não, há uma preocupação, mas é aquela coisa né. # AE3 – da enfermagem não [enfaticamente]! Eu não vejo nenhum! # E6 - [...] é aquela coisa, nãoo adianta tu chegares e entregares um folderzinho ôh um folderzinho com o descarte correto do lixo, não adianta! Então, acho que tem que ter esses espaços assim para que possamos conversar e falar sobre isso. Acho interessante que tenha / em cada, assim como esta se propondo ter em cada unidade a brigada de incêndio, acho que tem que ter pessoas responsáveis por isso [gerenciamento dos resíduos] em cada unidade. # Se não tiver a coisa não anda, os processos não evoluem e aí nós ficamos sempre na mesma, achando que esta fazendo, mas não esta fazendo (...) tem que tentar ver as pessoas que /, como é que eu vou dizer, que se reconheçam com esse tipo de / atividade AE3 - os outros têm que aceitar também! É complicado, sempre tem um colega que /, de repente, joga uma casca de banana no lixo reciclável ... # [...] aí tu irás chamar a atenção, acho que é complicado, tu vais te estressa com o colega, ele vai te olhar de cara feia, vai te torcer o nariz, então ... # E5 – aí é aquela coisa que acaba no esquecimento, quando tem algum momento que estão intensificando aquilo ali, aí é aquilo ali, aí intensifica, intensifica. Aí depois esfria e volta tudo de novo a estaca zero ...

Nesse sentido, E6 refere que há uma preocupação, por parte da instituição,

em descartar corretamente os resíduos gerados. Contudo, polissemicamente, alega

que a estratégia de entregar folders com o descarte correto de resíduos sólidos nos

setores não sensibiliza os funcionários para a causa. Para ela, seria mais eficiente

se, em cada turno, nos diversos setores da instituição, houvesse uma comissão

responsável por gerenciar os resíduos sólidos no momento em que eles são

gerados. Em seguida, ela refere, ainda, que é preciso encontrar pessoas que se

reconheçam com esse tipo de atividade.

AE3, entretanto, enfaticamente, afirma que não percebe nenhuma ação

voltada para a preocupação com a questão ambiental, por parte da enfermagem.

Além disso, afirma que, supervisionar os colegas quanto à correta segregação dos

resíduos é complicado, pois pode gerar conflitos entre a equipe.

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E5 por sua vez, acredita que falta continuidade nos processos de educação

permanente. Alega que as atividades são intensificadas apenas em determinados

momentos, não havendo, assim, um processo contínuo de aprendizagem.

Diante dessa constatação, percebe-se que a instituição parece não estar

investindo suficientemente na promoção de um amplo debate acerca da relação

contexto hospitalar e a problemática ambiental. Dessa maneira, conforme

identificado nos depoimentos, a implementação do Plano de Gerenciamento de

Resíduos de Saúde é a principal política adotada na busca da minimização dos

impactos gerados ao meio ambiente.

Além disso, ainda no que tange à segregação dos resíduos, observa-se que

os trabalhadores não se encontram sensibilizados para a correta segregação destes,

bem como não relacionam as consequências que uma segregação incorreta pode

acarretar na saúde da população e no meio ambiente, haja vista que em nenhum

momento houve relatos de possíveis consequências. Do mesmo modo, há o

questionamento sobre a ineficácia das estratégias utilizadas, pela instituição, no

tocante a capacitações e dispositivos visuais utilizados para divulgação acerca da

correta segregação dos resíduos.

Com isto, percebe-se que, aparentemente, há, ainda, uma grande lacuna a

ser suprimida atinente ao desencadeamento de uma discussão mais profunda com

os trabalhadores de enfermagem sobre a relação entre o hospital e o meio

ambiente, visto que parece não haver um investimento, por parte da instituição, na

realização de um amplo debate com o objetivo de proporcionar uma reflexão acerca

dessa interface. Depreende-se, então, a necessidade de investimento em

estratégias eficazes de educação permanente, que incluam a temática ambiental, no

intuito de viabilizar o engajamento dos trabalhadores de enfermagem, sendo que,

essas devem pautar-se em um processo contínuo e sistemático, para que não seja,

meramente, inserido na prática do trabalhador como norma a ser cumprida, mas

incorporado como conhecimento e consciência ambiental.

4.2.2 Fatores limitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental no contexto hospitalar

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Na busca pelo entendimento sobre os fatores limitadores de uma prática

profissional com responsabilidade socioambiental, enquadram-se alguns discursos

significativos, que emergiram durante as DCS árvore do conhecimento e almanaque

conforme segue, tendo por base as respectivas produções artísticas, conforme

figuras apresentadas a seguir:

Figura 01: Produção artística resultante da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade

almanaque. Santa Maria. 2013.

Figura 02: Produção artística resultante da Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade

árvore do conhecimento. Santa Maria. 2013.

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Dessa maneira, tendo por base as produções artísticas, os participantes do

estudo deixaram explícitas significativas expressões que retratam o que para eles

significa ter uma postura profissional com responsabilidade socioambiental.

E6 – (...) no caule, eu coloquei a economia de água por que se / nós economizarmos água, é uma questão que também vai favorecer o crescimento dessa árvore. / (...) A roupa suja eu coloquei lá do outro lado por que eu penso que ela / prejudica o solo, o lixo ele prejudica o solo, nesse sentido. O descarte incorreto e as roupas sujas, o lixo enfim, no geral, eles prejudicam //, prejudicam no sentido de exigir mais do meio ambiente. AE3 - no caso da responsabilidade socioambiental eu também citei isso, a “economia de materiais, de água, energia”. Botei na raiz, o Brasil é um dos grandes campeões de desperdício, que nós estamos sempre lendo, desperdício de alimentos, de materiais de um modo geral, ... # que as próximas gerações, no caso, não vão poder desfrutar dessa / abundância que nós desfrutamos hoje. E5 - / E assim, eu percebo que como /, às vezes, nós temos que ter essa conscientização também de que, às vezes, em casa tu até economiza, mas aqui é ahh o goveerno paaga, não saii do meu boolso!

Referente à DCS árvore do conhecimento, E6, metaforicamente, representou

como o caule da árvore a economia de água, por entender que favorece o seu

crescimento. Isso equivale a dizer que, por tratar-se de um dos recursos naturais em

extinção, o seu consumo exagerado representa um grande problema ambiental,

assim a solução para sustentar essa problemática seria a economia de água.

Estabelece ainda uma relação entre as roupas sujas da instituição e o dano

ambiental, referindo que as roupas sujas, por despenderem do consumo de

quantidades significativas de água, e a geração de resíduo hospitalar, de maneira

inadequada, agridem o meio ambiente.

AE3 dá continuidade ao debate apontando que a economia de água, de

energia e de materiais é o alicerce para uma atuação profissional com viés da

responsabilidade socioambiental. Por isso, foi por ela representada,

metaforicamente, como a raiz da árvore. Ressalta, ainda, que o Brasil é um dos

campeões de desperdício de alimentos, de água e materiais de um modo geral, e

que se continuar assim, as próximas gerações não poderão desfrutar da abundância

que desfrutamos hoje.

E5 aponta, polissemicamente, o quanto é importante a conscientização dos

trabalhadores, no que tange as repercussões das suas atitudes, e trás a questão do

consumo exagerado na instituição, que, segundo ela, ocorre por que algumas

pessoas se sentem desobrigadas de realizar ações que visem a economia, pois

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quem custeia as despesas do serviço é o governo federal. Essa afirmativa deixa

claro que, o ato de economizar traz, apenas, benefícios econômicos e não ao meio

ambiente.

Neste contexto, percebe-se que uma atuação profissional com

responsabilidade socioambiental está atrelada a economia de água, energia e

materiais pelo trabalhador, no seu cotidiano laboral. Contudo, aparece como fator

limitador dessa prática a não conscientização de alguns trabalhadores no que se

refere a utilização dessas estratégias, no seu cotidiano de trabalho, em prol da

questão ambiental.

Ainda no tocante à economia de materiais, os discursos abaixo revelam

conteúdos significativos relacionados ao desperdício gerado durante a assistência à

saúde prestada ao usuário.

[...] TE1 – é, ainda hoje eu peguei uma caixa de meropenem e disse nossa, vou ligar para esse laboratório e perguntar se eles não tem mais nada de ecológico para inventar. # às vezes eu pego até os professores assim. Claro, eles têm que ensinar como é que vai manusear [técnica?] para o aluno, aí entra professor de fisio [fisioterapia?] faz todo mundo se paramentar com luva, não sei o que, quando só um vai tocar no paciente, aíí eu fico assim passada / Nós comentamos também que, às vezes, os médicos pedem EQU [exame qualitativo de urina] todos os dias, / mas qual é a real necessidade disso sabe. # TE2 – todos os dias! # E6 – e pensando justamente isso, tu irás coletar, irá usar luvas, irá usar o pote, o saco de lixo, / às vezes tem que sondar o paciente, então, a quantidade de material que vai aí, material estéril, ... # AE3 – e quando pedem Raio X, é raio, raio, raio. # TE1 – Raio X assim oh, aqui também é todos os dias, às vezes, são dois Raios X no dia. A minha filha teve internada lá no hospital privado teve com / uma crise aguda de / asma, ela fez um Raio X quando internou e um para dar alta e pt saudações, e aqui é ... TE2 – sem conta que a área médica é a que / mais contamina o nosso lixo se for pensar, eles largam ..., agoora que tão começando olhar o lixo AE3 – não, eles têm coisas mais importantes para pensar [rindo]

TE1 cita, polissemicamente, o caso de um medicamento antibacteriano, que,

mesmo sendo pequeno, gera muitos resíduos devido à quantidade de material com

que é embalado. Faz referência, ainda, à atuação da instituição como um hospital-

escola, que, muitas vezes, ocasiona desperdício de material assistencial, uma vez

que os alunos precisam fazer uso deste para adquirir destreza manual. Além disso,

questiona a postura dos médicos que solicitam exame qualitativo de urina (EQU)

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para o mesmo paciente todos os dias, o que é, enfaticamente, confirmado por TE2.

E6 corrobora e acrescenta que tal conduta médica faz com que se utilizem muitos

materiais. Diante dessas afirmações, acrescenta-se que essa postura profissional

impacta, negativamente, tanto o meio ambiente como a instituição, pois contribui

para o aumento da produção de resíduos hospitalares, assim como, para o aumento

de custos, tanto com a compra de novos materiais como com a sua destinação final.

AE3 toma a palavra e aponta a questão dos exames de raios-X, e TE1 afirma

que tal conduta é semelhante à solicitação de EQU’s. TE1 estabelece ainda uma

comparação entre as condutas realizadas em um hospital público e em um hospital

privado, dando como exemplo a internação de sua filha em um serviço particular.

Nessa comparação, ela cita que, no hospital onde sua filha internou, foram

realizados apenas dois raios-X, um ao internar e outro ao dar alta. Mas que, no

entanto, no hospital público a rotina se dá de maneira diferente.

Já TE2, parafraseando, cita a falta de cooperação da equipe médica em

relação à correta segregação dos resíduos sólidos de saúde. AE3 retoma a palavra

e expõe, ironicamente, que a equipe médica possui afazeres mais importantes do

que os relacionados às questões de gerenciamento de resíduos de saúde.

Ainda dentro da discussão sobre os limites para uma atuação profissional

pautada na responsabilidade socioambiental, chama a atenção depoimentos que

fazem referência ao estabelecimento de prioridades pela instituição pesquisada,

assim como, possíveis causas do não engajamento de alguns indivíduos com a

preservação ambiental, conforme os exemplos abaixo:

[...] E6 – tem as prioridades, agora a prioridade não é essa /, são outras e seempre serão outras. AE3 – talvez por que seja um assunto /, não digo noovo, mas para muita gente se preocupar com a natureza, com o meio ambiente é um assunto noovo, está na míídia ... # a sociedade toda está tendo esse conhecimento agora de uns anos para cá, e o hospital não investe nisso também. TE1 –acho que / vai além de ser um “assunto novo”, que não está tendo tanta importância sei lá, o nosso dia-a-dia. / Está tudo muito rápido hoje em dia, tu tens alguma dúvida, tu teclô pronto, abriu e deu, tu não digeres nada. É tudo muito rápido, muito ráápido. Aí tem váários banhos de leitos, tem não sei o que, tem horário para cumprir, tem a van para pegar, tem não sei o que e vai. Tudo muito atropelado assim, que tu não te inteira, não pára. E isso [trabalhar a questão ambiental] é uma coisa bem zenn, que tu tens que refletir, e hoje as informações elas estão muito prontas. Vem o folderzinho, tu diz aí esta aqui, qualquer hora eu olho. # [...] então, tem coisas muito prontas que não dá tempo de tu elaborares uma consciência, de tu / te inteirares, de interferir, (...) É uma coisa muito grande, muito além. E assim, não nos dá o retorno [estala os dedos] / imediato. Eu colocar

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a casca de banana no lixo certo não vai ser uma coisa que vão dizer êêê [bate palma], o retorno disso é a loongo prazo. É uma conscientização para daqui 20, 30, 50 anos que irá refletir. # TE3 – barreira, já engloba aquela parte do pessoal, que não é todo mundo que aceita ... # AE5 – (...) isso é barreira cultural. / uma das causas é por causa da diversidade brasileira, a diversidade cultural (...) que é a diversidade brasileira. São vários tipos de pessoas, vários tipos de lugares, cada um com uma vivência / “uma cultura diferente”, uma vivência ambiental completamente diferente / e isso causa essa “barreira” que TE3 falou, essa diversidade / causa a barreira. // (...) AE3 – não te dá um retorno visível! É a tua consciência que tem que acusar, não dá para tu esperar que alguém te elogie, tu não vai receber elogio! E5 – cada um fazendo a sua parte, mas nós só fizemos quando / sentimos que a coisa esta feia. TE4 – não interessa se amanhã não irá ter água, eu não vô estar mais aqui daqui uns 50 anos, é assim que o pessoal pensa. # é, aí já entra a “resistência”. / E7 – aí já entra resistência! #

E6 relata que, atualmente, as prioridades da instituição são outras e que

sempre serão outras. AE3 utilizando-se da paráfrase diz que, talvez, a preocupação

com o meio ambiente ainda não seja uma das prioridades da instituição, pelo fato de

tratar-se de um tema contemporâneo. Enfatiza que, ainda, a sociedade não se

encontra imbricada na questão da preservação ambiental.

Entretanto, TE1 diverge de AE3, pois acredita que a preocupação com o meio

ambiente ainda é incipiente devido ao estilo de vida atual, já que as pessoas, cada

vez mais, realizam ações sem refletir sobre elas, pois não despendem de tempo

para tal. Acrescenta que a questão ambiental requer reflexão, mas, no entanto, isso

não é possível devido às atribulações do dia a dia, o que resulta em prejuízos na

elaboração de uma consciência ambiental.

TE3 por sua vez, levanta a questão de a temática ambiental ser considerada

uma barreira. De modo polissêmico, AE5 relaciona a barreira à diversidade cultural

brasileira, onde essa se torna o empecilho para a sensibilização ambiental, já que

cada pessoa pode estabelecer um tipo de relação com o meio ambiente, e assim,

agir de uma determinada maneira.

TE1 refere, também, outra possível causa da não adesão à preservação

ambiental. Segundo ele, a não adesão se dá pelo fato de que os benefícios dessas

ações só serão sentidos em longo prazo. E AE3 acrescenta que como não há um

retorno imediato, não há também o reconhecimento pela execução da ação.

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Já para E5, a dificuldade de adesão a ações de preservação ambiental se dá

devido ao distanciamento dos problemas ambientais no contexto de vida das

pessoas, já que, a maior parte dos sujeitos toma conhecimento dos impactos

ambientais causados, em sua maioria, por meio da mídia. TE4 corrobora com tal

declaração, ao citar, como exemplo, a não preocupação da humanidade com a

escassez de água potável em um futuro próximo, pois, para ela, a percepção de não

se considerar afetado por essa problemática é o condicionante desse

distanciamento. Acrescenta ainda que, esse pensamento acarreta na resistência das

pessoas para a realização de ações sustentáveis. Essa perspectiva é confirmada

por E7.

Fica perceptível, nesses depoimentos, que os trabalhadores têm dificuldades

em atuar profissionalmente com responsabilidade socioambiental. Alegam que, tal

postura, é influenciada por determinantes da dinâmica organizacional da instituição e

por determinantes pessoais. Apontam que, a primeira se refere ao fato de a

instituição pesquisada não elencar como uma de suas prioridades gerenciais a

implementação de um debate reflexivo, com o seu trabalhador, acerca da relação

problemática ambiental e contexto hospitalar, a utilização de protocolos médicos

desnecessários e a falta de colaboração médica no gerenciamento dos resíduos de

saúde.

Já, a segunda, tem relação com o estilo de vida contemporâneo, que não

permite a elaboração de uma consciência ambiental, o tipo de relação que a pessoa

estabelece com o meio ambiente, o distanciamento com a temática, por não se

sentir afetado por ela, o fato de a ação ambientalmente correta não ocasionar um

resultado imediato e a falta de reconhecimento pela adoção de uma postura

sustentável. Dessa maneira, esses são alguns fatores que prejudicam o

engajamento do trabalhador de enfermagem com a questão ambiental, resultando

em aparente apatia.

Outro aspecto abordado pelos trabalhadores e que também se desvela como

condicionante da limitação de uma postura profissional pautada na responsabilidade

socioambiental é o desconhecimento das diversas etapas que envolvem o

gerenciamento de resíduos hospitalares.

AE5 – primeiro ponto, / se nós fizermos o controle correto / de todos os nossos resíduos / da nossa produção diária de / lixo, / ... quem garante que a segunda etapa dessa / dessa fase é correta? A gente pode fazer correto aqui / e como

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sendo lixo hospitalar tem / vários processos que têm que ser seguidos para o descarte desse lixo, / para a reutilização desse lixo. / Mesmo eu fazendo correto aqui, / a gente não tem garantia que isso continue, que essa cadeia se mantenha. AE4 – nós ter separado direitinho aqui, a gente não sabe se vão ... a partir daí o reciclado vai aonde, a gente não sabe para onde vai! A gente sabe que os perfurocortantes têm ... # TE4 – e se é realmente reaproveitado, // a gente não tem um retoorno disso. # E7 – tanto que seguidamente tu vê, não sei se vocês assistem, mas vocês já viram nas notícias, tu separa, coleta os lixos, separa direitinho aí daqui a pouco tu vê um monte de lixo hospitalar largado em qualquer canto. E7 – eu vejo uma dificuldade bem simples, (...) antes nós tínhamos todos os quartos, todas as enfermarias tinham saco de resíduo coletor branco ... # [...] hoje não são todos que têm. Aí eu vô ir lá trocar um acesso tem que sair com aquele acesso pendurado até aqui [posto de enfermagem] para colocar aqui. Por que que tiraram? Ah por que ..., daí que entram muito caro, por que para diminuir custos, só que daí / o pessoal acaba colocando lá naquele lixo mesmo [comum ou reciclável]. # “contaminando” todo o resíduo, não vai reciclar nada. #

Em seu discurso parafrástico, AE5 aponta o desconhecimento sobre as

etapas que envolvem o plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde

da instituição. Para ele, não há clareza no que tange à destinação dos resíduos

gerados por essa. Conjectura-se que esse dilema trazido por AE5 (e que foi citado

por AE4, E7 e TE4) é fator limitador e que repercute na não realização da correta

segregação dos resíduos gerados.

E7 refere ainda que, por não conhecer a destinação final dos resíduos

hospitalares gerados na instituição, pode ocorrer de, após esse resíduo ser

segregado corretamente, ser descartado em locais inapropriados, uma vez que,

frequentemente, casos como esse são veiculados pelos meios de comunicação.

Essa afirmativa além de demonstrar que não há um conhecimento sobre todo o

processo de gerenciamento dos resíduos, evidência, também, que os trabalhadores

colocam em dúvida a validade da ação de segregar corretamente os resíduos

hospitalares.

Além disso, para E7, a correta segregação no momento da geração dos

resíduos, se constitui em outra tarefa difícil, haja vista o protocolo adotado pela

instituição para a disposição das lixeiras na unidade. Conforme seu discurso, o fato

de haver somente lixeiras de resíduos comuns e recicláveis nas enfermarias, faz

com que a produção de resíduos contaminados seja elevada, já que alguns

funcionários acabam descartando o resíduo contaminado nas lixeiras

disponibilizadas nas enfermarias, logo, esses resíduos passam a ser considerados

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como resíduos contaminados. Consequentemente, os resíduos que poderiam ser

descartados sem tratamento passam a necessitar de uma destinação especial para

a sua remoção. Desse modo, eleva-se os gastos da instituição com a destinação

final desses, além de aumentar a agressão ao meio ambiente, por meio da

incineração.

Ainda conjecturando sobre os fatores limitadores, os sujeitos do estudo

debatem sobre a dificuldade de colaboração dos colegas e a necessidade do

engajamento coletivo. Também citam estratégias, que poderiam ser utilizadas no

intuito de sensibilizar esses sujeitos para o tema.

E7 – colaboração é o que a gente acabou de falar, eu pensei nisso [responsabilidade socioambiental] por que tu tem dificuldade de colaboração de todos, tantos dos colegas (...) a resistência, a dificuldade / é muito difícil tu fazer uma coisa sozinha, e aqui dentro não vai funcionar sozinho, impossível. # [...] sozinha / tu pode começar, mas aí tu irá precisar que os outros agreguem também. # tipo eu falei do lixo, de nada adianta trazer / colocar aqui se um que coloque lá, aquele lixo já não é mais reciclável, já foi, já era. Se gasta um volume muito maior. # TE4 – e não é bem gerenciado! Eu acho que se tivesse grupo, reuniões ... # reuniões de conscientização, para conscientizar o pessoal e cobrar # AE5 – (...) Para ti ter uma ideia, uma empresa, (...) fez a seguinte proposta para os funcionários: se a quantidade de copos descartáveis diminuísse a tal ponto (...) /, aquela unidade que é uma unidade empresarial ganharia // # [...] “incentivo”. Um deles, se essa determinada unidade / gastasse menos copos descartáveis, que polui demais o meio ambiente, gastasse menos papel / ganhava / um ar condicionado novo // # [...] “uma televisão” de LCD. # [...] melhoraria o meio ambiente e essas coisas refletiriam para a melhora do ambiente de trabalho. # TE3 – não, sou contra a dar alguma coisa pro pessoal! Cada um tem que ter a sua consciência! isso não é conscientizar! [...] mas depois tu vai te condicionar a fazer alguma coisa só por que tu vai ganhar # aonde começa o negócio com ganhar, tu já não esta fazendo por consciência. # E7 – mas é só para começar TE3! Se tu não começar com algum incentivo / # eu acho que é uma forma de começar por que se tu não tiver um incentivo, as pessoas não vão começar, ainda mais aqui [instituição pública]. Depois claro, as coisas vão se reduzindo. A partir do momento que todos os setores tiverem uma coleta boa, as coisas vão se tornando automáticas. / AE5 – é por que é coletivo, no coletivo se tu oferece alguma coisa, alguma vantagem para o coletivo é mais fácil. # AE5 – isso tudo passa pelo “estímulo”, isso é estimulação da ... # [...] do inconsciente, estimulação do consciente coletivo. /// E7 - De modo parafrástico, discursa sobre a dificuldade de colaboração entre os colegas para a realização de ações ambientalmente responsáveis. Considera, também, que o desenvolvimento de ações de preservação ambiental na instituição está atrelado ao fazer coletivo, devido à necessidade de convergência de esforços para a sua efetivação. Utiliza, como exemplo para tal afirmação, a questão da disponibilidade das lixeiras de resíduos contaminados, referida anteriormente.

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Entretanto, para TE4 essa colaboração não acontece, pois o gerenciamento

de resíduos sólidos, na instituição, não ocorre de maneira eficaz. Acredita que, para

sensibilizar os trabalhadores sobre o assunto, é preciso que a instituição lance mão

de estratégias, citando como exemplos, grupos e reuniões.

Nesse momento, o grupo passa a discutir sobre quais estratégias seriam mais

eficientes. AE5 conta um episódio onde uma empresa se utilizou de mecanismos de

premiação para diminuir o número de copos descartáveis e papéis utilizados pelos

seus funcionários. Alega que este mecanismo pode se constituir em uma estratégia

eficaz, pois, além de ajudar a preservar o meio ambiente e otimizar o ambiente de

trabalho, faz com que a equipe se conscientize sobre o assunto.

Contudo, TE3 de modo polissêmico, declara ser contra a este tipo de

estratégia, posto que este tipo de mecanismo não desenvolve a conscientização dos

trabalhadores para a causa em questão. Declara que, os trabalhadores apenas

realizarão as tarefas com o objetivo de serem beneficiados de alguma forma. No

entanto, E7 e AE5 afirmam tratar-se apenas de uma abordagem inicial, visto que

com o passar do tempo haverá a automatização dessas tarefas. Referem, ainda,

que essa estratégia será, talvez, a mais eficiente para estimular a consciência

coletiva para a questão ambiental.

Diante disso, evidencia-se que, para alguns sujeitos, é preciso haver,

primeiramente, uma ação institucional que estimule os trabalhadores a

desenvolverem ações de redução do impacto ambiental no serviço de saúde, visto

que, após, essas ações ocorrerão de modo automatizado. Entretanto, há outros que

acreditam na necessidade de sensibilização e conscientização sobre a importância

do desenvolvimento de ações de preservação ambiental.

Outro dado significativo, ainda relacionado aos tipos de estratégias eficazes

para a sensibilização dos trabalhadores para a questão ambiental, refere-se à

necessidade de mudança da percepção da relação homem/meio ambiente.

AE4 – tu não pode impor, tu tem que fazer com que ele se engaje no processo. Depende de como tu aborda essa situação, as pessoas acham que é uma obrigação e não fazem, ah eu sei que é certo mas eu não vou fazer, não vai fazer nada para a minha vida e pronto. Pensando no imediatismo, não pensa naquela história do futuro. #

Assim, polissemicamente, AE4 revela ser preciso criar um mecanismo que

faça com que o trabalhador mude o modo como ele percebe a sua relação com o

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meio ambiente. Acrescenta que, a imposição de determinadas ações que tenham

um caráter ambiental é prejudicial ao processo de sensibilização, pois faz com que

as pessoas não se engajem no processo, embora saibam que estão agindo

erroneamente. Ressalta que as pessoas vivem na lógica do imediatismo, e assim,

como não percebem os benefícios da realização de ações ambientalmente corretas

no seu cotidiano, acreditam ser desnecessário realizá-las.

A partir da análise dos dados acima, evidencia-se que, em geral, vários são

os fatores que impossibilitam a conduta profissional baseada no princípio da

responsabilidade socioambiental, sendo que, esses são influenciados por dois

motivos distintos: primeiramente, devido à dinâmica organizacional do serviço e,

segundo, por envolver a esfera individual, na qual o indivíduo não reconhece sua

responsabilidade com o meio ambiente. Houve também um esforço, por parte dos

trabalhadores, em desvelar estratégias de ação que conduzissem melhor o processo

de sensibilização para a causa ambiental. No entanto, pode-se afirmar que

quaisquer que sejam as estratégias utilizadas, é preciso que tenham, como foco, a

participação ativa do trabalhador, a sensibilização para a percepção da relação de

pertencimento com o meio ambiente e a incorporação do sentimento de

responsabilidade para com este, dentre outros. Ao abordar esse processo de

maneira ampliada, teremos maiores chances de obter uma conscientização sobre a

preservação ambiental e a revisão do nosso agir.

4.2.3 Fatores facilitadores de práticas e ações de responsabilidade

socioambiental

A produção de dados, por meio das DCS, evidenciou que os trabalhadores

percebem, de diversas maneiras, os fatores facilitadores de práticas e ações de

responsabilidade socioambiental que permeiam seu cotidiano laboral. Como ponto

inicial, demarca-se a capacitação em serviço atrelada à supervisão diária para a

eficácia do PGRSS, conforme os depoimentos a seguir:

E5 - Eu acho que a raiz, a primeira coisa é a capacitação de todos os funcionários sobre a questão dos // cuidados da reciclagem do lixo (...) por que tem muitas coisas que nem a gente sabe como tem que fazer, o que seria certo.

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TE1 - eu coloquei a educação, a orientação do usuário na raiz, a nossa educação, para podermos dar orientação ao usuário também. # E5 – (...) No caule, eu coloquei a conscientização por que se não tem a conscientização não adianta de nada, (...) eu acho que ela tem que ser cobrada mais, tem que ser exigida e tem que ter uma / supervisão e uma cobrança a questão da reciclagem de lixo mesmo, tem que ter sempre uma certa cobrança para que as coisas funcionem. / (...) E6 – (...) / como a E1 falou, é uma “questão de supervisão”, tem que ter supervisão diária. (...) / Pensei tambémm que, se o descarte de lixo não for adequado, então ele estará prejudicando a raiz, (...). / E acho que a falta de conscientização, / acho que é bem como a E5 colocou, acho que a “capacitação”, precisa de sensibilização, as pessoas precisam querer por que não se consegue mudar se tu não quiseres. E5 – (...) No fruto, eu coloquei a reciclagem do lixo, pois eu acho que tendo essa capacitação, tendo uma conscientização, tu terás uma reciclagem de lixo adequada, conforme tem que ser. (...) o entorno de tudo isso, eu coloquei que é um ambiente mais agradável. TE2 – o meio ambiente agradece! #

E5 representa a capacitação em serviço como a raiz da árvore, ou seja, ela

acredita que a capacitação em serviço é a base para oportunizar o processo de

conscientização, bem como melhorar o desempenho profissional dos trabalhadores

da saúde, no que tange a responsabilidade socioambiental, uma vez que não há

circularidade de conhecimento sobre o tema entre os trabalhadores. TE1 dá

continuidade ao debate, citando que, para ela, a educação está na raiz da árvore,

metaforicamente falando. Aponta também, ser primordial que os trabalhadores da

saúde sejam empoderados sobre a questão ambiental, para que assim esse

conhecimento possa ser compartilhado com os usuários do serviço.

Em seguida, E5 aponta a conscientização como o caule, que dá a

sustentação para árvore. Complementa que, no ambiente hospitalar, deve haver a

implementação de uma política de supervisão sobre o gerenciamento de resíduos

sólidos, para que assim, o PGRSS se mantenha eficaz. E6 concorda com a

afirmação e complementa, que a supervisão deve ser diária, para que assim seja

eficiente o descarte de resíduos de saúde, já que o mesmo quando é realizado de

maneira incorreta prejudica o meio ambiente. Reforça, ainda, a importância de

capacitações em serviço, para sensibilizar e estimular nos trabalhadores uma

mudança de postura no que concerne a questão ambiental.

E5 retoma a palavra e diz que a capacitação e a conscientização resultarão

na segregação adequada dos resíduos de saúde e em um ambiente mais agradável

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de viver, sendo estes representados, metaforicamente, como o fruto e o entorno da

árvore, respectivamente. Parafraseando, TE2 concorda e ratifica dizendo que o meio

ambiente irá agradecer. Está afirmação é reveladora de que este trabalhador não

reconhece a interdependência entre ser humano e natureza, haja vista que acredita

que realizar ações de preservação ambiental resultará em benefícios somente ao

meio ambiente, desconhecendo as implicações dessas ações também para as

pessoas, inclusive para a sua saúde.

Dessa forma, os trabalhadores percebem que existe alternativas que podem

ser adotadas, pela instituição, com o intuito de oportunizar uma mudança de postura

nos trabalhadores de saúde, entre elas, a capacitação em serviço atrelada a uma

supervisão contínua, constituindo-se, assim, em um fator facilitador de práticas e

ações ambientalmente responsáveis.

Ademais, outro dado importante, atrelado a possíveis fatores facilitadores,

refere-se aos cursos de qualificação profissional, integração ensino-serviço e

elaboração de um plano de ação, cujo objetivo seja a sensibilização dos

trabalhadores para a questão ambiental, sobretudo, o gerenciamento dos resíduos

hospitalares.

TE3 – (...) / dificuldade de traçar estratégias que a gente tem que ter para poder // melhorar o meio ambiente. / tipo // os cursos, ensinando o pessoal, qualificando. / vocês virem aqui e passar para nós. Fazer palestras, alguém passar no andares. # AE5 - Estratéégia, primeiro estratégia, / traçar um plano de ação para // otimizar primeiro a // conscientização e não / só a coleta, realmente o que que é feito da ... # [...] da “destinação” desses resíduos. De tu saber da cadeia, / desde o começo até aonde ela é finalizada, como é processada essa cadeia e te dá um retorno a respeito disso. Disponibiliza no site da / do hospital, na internet. # E7 – site! Acho que principalmente seria o site por que ... # [...] senão é mais papel, é mais gasto ainda. [...] AE5 – colocava ali responsabilidade socioambiental, aí clicava e te dava um / um apanhado geral de tudo que esta sendo feito para // tu ia te engajar nessa luta. A partir do momento que tu sabe o que que é feito dali em diante, tu pode / participa muito mais disso. / TE3 – mas não adianta por que o pessoal não vai olhar o site! # AE4 – o site é mais fácil de olhar do que as palestras. // AE5 – não, mas a partir do momento que tu faz a avaliação da instituição, / ter alguma pergunta relacionada a isso. # a instituição vai ser avaliada, dentro dessa avaliação passa por dentro da // ter perguntas relativas a isso, a / se tu foi no site, se passo pelo site, se tu ... # se tu viu ou teve alguma informação a respeito disso que esta disponibilizado no site.

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TE3 – mas tem já alguma coisa nessa avaliação institucional, mas pouco de questão ambiental. # AE5 – muito “pouco”! É mais de EPI’s. /

Ao explanar sobre a primeira palavra colada no almanaque produzido pelo

grupo, TE3 expõe o motivo de ter escolhido a palavra “estratégias”. Para ele, há uma

dificuldade em elaborar estratégias que visem à preservação do meio ambiente. E

acrescenta que a adoção, pela instituição, de estratégias como, cursos de

qualificação profissional (capacitação em serviço), integração ensino-serviço, isto é,

pessoas que trabalhem com a temática no ensino interajam com os profissionais

lotados na instituição, por meio de palestras ou visitas nos setores, facilitaria o

processo.

Já AE5, polissemicamente, acredita que, primeiramente, deveria ser traçado

um plano de ação cujo objetivo fosse desenvolver a conscientização dos

funcionários para a causa do gerenciamento dos resíduos de saúde, em que fossem

abordados os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento,

coleta, armazenamento, transporte, tratamento e, principalmente, a disposição final.

Para ele, essas informações deveriam estar disponibilizadas no site da instituição.

E7 concorda e acrescenta que a disponibilidade via site proporciona a economia de

papel. AE5 retoma a palavra e complementa que tal estratégia faria com que mais

pessoas se engajassem na questão dos resíduos hospitalares.

No entanto, TE3 refere que, mesmo que a instituição adote esta ideia, esta

não se constitui em uma estratégia eficaz, uma vez que os funcionários não iriam se

inteirar do assunto mesmo este estando disponibilizado no site. AE4 rebate referindo

que a utilização do site é mais abrangente do que as palestras. E AE5 esclarece

que, se a instituição disponibilizar todas as informações acerca do gerenciamento de

resíduos de saúde no site e, anualmente, na avaliação institucional abordar

questões mais abrangentes do que apenas o uso de equipamentos de proteção

individual (EPI’s), essa se constituirá sim em uma estratégia eficaz.

Contudo, há aqueles que acreditam que as estratégias mais eficientes

consistem no investimento de publicidade e de produtos que otimizem a preservação

dos recursos naturais.

TE4 – acho que tinha que investir mais em propaganda! / conscientização da população! #

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AE4 – aqui no HUSM a gente ... # falando em meio ambiente, se tu for pensar na água aqui. Aqui devia ter torneiras com partidas para economizar água, não tem! Abre a torneira para lavar as mãos, gasta um moonte de água, atéé pegar o papel e fechar. Já com as torneiras com partida / #

TE4, parafraseando, cita que se deve investir mais em publicidade, para que

haja uma maior conscientização da população. Em outras palavras, é preciso que os

meios de comunicação de massa aumentem as propagandas, que visem influenciar

as atitudes das pessoas para a construção de uma nova ética, embasada numa

relação de responsabilidade com o planeta.

Por outro lado, AE4, polissemicamente, refere-se ao contexto hospitalar ao

abordar a questão da economia de água. Para ele, devido ao imperativo da redução

do manancial de água potável, um comportamento socialmente responsável com o

meio ambiente, que poderia ser adotado pelo cenário da pesquisa, seria o uso de

torneiras automáticas nas suas instalações, pois, assim, seriam poupadas

quantidades significativas de água, durante a higienização das mãos.

Entretanto, para outros, existem diferentes fatores que podem implicar em

uma postura profissional condizente ao atual contexto ambiental, sendo eles: o

relacionamento interpessoal de longa data, o conhecimento técnico-científico e o

fato de haver pessoas sensibilizadas para a questão ambiental já atuando no

contexto hospitalar.

AE5 - Como o AE4 disse, tem uma “rede” / de companheirismo, solidariedade coom o meio ambiente, coom as vivências do hospital, / (...) com as necessidades não só ambiental no // de maneira global, mas dentro do hospital, que a gente se conhece há bastante tempo, trabalha todo mundo háá bastante tempo, que a gente tem a possibilidade de se cobrar sem se ofender. / Isso seria uma das facilidades. # [...] TE3 – (...) Por isso que eu acho que tudo tem que ter um embasamento teórico-científico, provando que aquilo ali é isso ... # AE5 – (...) Tem umas pessoas que aceitam maais facilmente as ideias novas e tem umas que são bastante resistentes. Eu acho que essas pessoas que são mais flexíveis / tem que /, como é que eu vou te dizer, (...) / tem que ser os vetores, tem que ser os multiplicadores da / dessas demandas da / questão ambiental.

Frente à produção artística realizada pelo grupo, AE5 relata que colou as

palavras “bons companheiros”, pois, no setor onde atua, há um bom relacionamento

entre os funcionários, devido trabalharem juntos há muitos anos. Assim, acredita que

o relacionamento interpessoal de longa data se constitui em um fator facilitador para

questionar atitudes e comportamentos simples da equipe, principalmente, no que

tange a questão ambiental. Porém, TE3 aponta como um facilitador o conhecimento

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técnico-científico, pois segundo ele será o conhecimento que respaldará a ação. Já

para AE5, é importante que haja pessoas sensibilizadas com a questão ambiental

dentro da instituição hospitalar, para que essas possam ser os multiplicadores de um

agir ético com o meio ambiente.

Com base nos depoimentos acima, pode-se concluir que os trabalhadores de

enfermagem não vislumbram uma ação institucional que lhes permita imprimir a

prática de preservação ambiental no cotidiano de trabalho. Dessa maneira, os

trabalhadores desvelam diferentes formas de estabelecer esse processo, sendo a

capacitação em serviço a peça-chave. Enfatiza-se, no entanto, que ações isoladas

no ambiente laboral não asseguram uma postura profissional responsável com o

meio ambiente, se faz necessário que os sujeitos busquem conhecer e refletir sobre

o tema, para que assim, se estabeleça uma relação mais sólida entre trabalhador,

contexto hospitalar e preservação ambiental.

Por fim, depreende-se que o trabalhador de enfermagem, na sua maioria, não

sente os efeitos da problemática ambiental no seu cotidiano laboral, embora

apontem dificuldades e facilidades para um agir eticamente responsável com o meio

ambiente. Isso demonstra a complexidade na abordagem desse tema, uma vez que

o reconhecimento da sua implicação é que garantirá uma reorientação no seu modo

de agir. De uma forma geral, percebe-se que muitos aspectos atuam como

limitadores de um agir ético com o meio ambiente, enquanto outros, pontuados pelos

próprios trabalhadores, revelam-se como potencializadores de uma postura

profissional responsável ambientalmente.

4.2.4 Discussão

Como vimos, uma grave crise ambiental acomete o planeta. Em vista disso, o

debate acerca de suas causas e consequências tem permeado os diversos setores

da sociedade e em diferentes contextos. Sob o olhar de Hans Jonas, esta crise está

atrelada ao advento do progresso da tecnociência e seu uso perverso, que fez do

homem uma ameaça não apenas a natureza, mas a toda a humanidade, já que há

uma falta de limites e de ética que norteiem os avanços desenfreados da ciência e

da tecnologia (JONAS 2006).

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Esse filósofo de forma alguma nega a importância das inovações tecno-

científicas, apenas repudia o uso inescrupuloso e o descuido em relação às

consequências de nossas ações. Tendo em vista as proporções alcançadas pelo

agir humano, Jonas percebe que a ética antropocêntrica, é incapaz de mediar as

demandas advindas da situação agora vivenciada pelo homem. Dessa forma, um

comportamento ético diferenciado faz-se necessário.

Frente a isso, Jonas elege o Princípio Responsabilidade como o princípio

capaz de nortear as ações da sociedade contemporânea. Recebe esse nome, pois

Jonas (2006) aponta a necessidade de termos responsabilidade com as gerações

futuras como um princípio baseado na reciprocidade, em que não prevaleçam os

direitos e deveres de uma ética antropocêntrica, mas que se efetive uma ética

baseada em valores de solidariedade. O dever para com as gerações futuras é um

dever para com a humanidade em sua existência, independente se os seres são

nossos descendentes ou não.

Assim, o Princípio Responsabilidade fundamenta-se, segundo Hans Jonas,

nas relações dos seres humanos entre si e com a natureza. A natureza como uma

responsabilidade humana é seguramente um novum, sobre o qual uma nova teoria

ética deve ser pensada. Essa ética consiste em compreender que, os mundos

animal, vegetal e mineral, a biosfera e a estratosfera, fazem parte da esfera da

responsabilidade. Dessa maneira, nós como seres humanos somos convocados a

renunciar nossa ética antropocêntrica, em favor do cuidado ao meio ambiente

(JONAS, 2006).

De acordo com Maturana et al. (2009), ética significa uma dinâmica relacional

humana, que todos podemos constatar no viver cotidiano, ao abstrair as situações

nas quais chamamos de condutas éticas. Uma pessoa tem conduta ética quando ela

se conduz escolhendo seus fazeres de modo a não causar dano a si mesmo e ao

outro, em seu âmbito social e ecológico, porque esta pessoa se importa com o que

possa acontecer ao outro, com o que ela fizer ou deixar de fazer, simplesmente

porque este outro é importante para ela. Quer dizer que, não se move cuidando da

relação com os outros a partir do respeito a normas, e sim, porque as pessoas lhe

interessam. O autor distingue, ainda, ética de moral. Segundo ele, a ética tem um

fundamento biológico, dada nossa história evolutiva humana de seres sociais, nos

importa e comove espontaneamente o que acontece ao outro; na ética, as pessoas

me importam a partir de que as pessoas são importantes para mim, sem

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justificativas racionais. Enquanto na moral, o que nos interessa são as normas,

portanto, o fundamento da moral é cultural e existem tantas morais distintas quantos

critérios culturas, enquanto ética existe uma só.

É no modo de considerarmos, de sentirmos o outro que a questão ética se

configura para Maturana. Ética implica nos importarmos com o que se passa com os

outros. Seu fundamento não é racional, mas emocional. Quando estou na emoção

de aceitação do outro, o que lhe acontece possui significado e presença para mim.

Inversamente, quando o outro não pertence ao meu espaço de aceitação, o que lhe

acontece não me toca, não me diz respeito (MATURANA et al., 2009). Sendo assim,

a dificuldade para a realização de ações ambientalmente sustentáveis tem como

determinante a falta de reconhecimento do significado que o meio ambiente tem na

vida das pessoas, ou seja, o desconhecimento das pessoas em relação a

necessidade de estar implicado eticamente na relação homem – meio ambiente.

Deste modo, para que a ética de responsabilidade com o meio ambiente seja

um imperativo na sociedade contemporânea, é preciso que essa reconheça a

relação de interdependência existente entre os seres humanos e a natureza, posto

que a ética consiste no reconhecimento e aceitação do outro. E isso só ocorrerá

quando nós, seres humanos, estivermos implicados emocionalmente com as

questões ambientais, pois o fundamento do agir ético é emocional. Dessa maneira,

se torna premente levarmos em conta as consequências do nosso agir no meio

ambiente, para que assim, possamos agir a partir da decisão de querer ou não, tais

consequências.

Um foco importante deste debate também se relaciona ao contexto da área

da saúde, uma vez que a prática em saúde encontra-se, na atualidade, fortemente

influenciada pela chamada racionalidade biomédica. O saber biomédico vigente tem,

como propósito, a cura de doenças e a recuperação da saúde, dessa forma, imprime

nos cenários do fazer saúde características mecanicistas, biologicistas,

individualizantes, de medicalização e de alta tecnologia. Assim sendo, ao privilegiar

o corpo doente, desconsidera diversas outras dimensões do processo saúde-

doença, inclusive a socioambiental (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF, 2011).

Contudo, diante das críticas empreendidas a este modelo, surgem reflexões

sobre novas formas de conceber o processo saúde-doença e a prática no campo da

saúde. Além disso, novas tendências têm surgido, trazendo uma concepção mais

ampliada para o campo da saúde, notadamente relacionada aos conceitos de

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promoção da saúde e da qualidade de vida, incluindo a incorporação da dimensão

ambiental na concepção de saúde (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF; 2011).

Corroborando com o exposto, Vargas e Oliveira (2007) também sinalizam que

alguns passos estão sendo dados no sentido de aproximar a temática ambiental do

movimento de promoção da saúde, o que possibilita a introdução desse debate

dentro dos serviços de saúde.

Contudo, conforme evidenciado nos depoimentos dos trabalhadores de

enfermagem, a vinculação do trabalho no contexto hospitalar com a atual

problemática ambiental, ainda não está incorporada ao cotidiano laboral dos

trabalhadores de saúde. Assim sendo, não se pode deixar de considerar alguns

aspectos intervenientes, imbricados nessa relação, tais como: questões típicas do

modo de vida contemporâneo, o processo histórico de surgimento dos hospitais e o

modelo hegemônico de produção de conhecimento na área, o estilo gerencial

tradicionalmente empregado na gestão hospitalar e os processos de subjetivação a

que são submetidos os trabalhadores.

Estes fatores possibilitam visualizar um panorama em que o trabalhador

mantém uma relação de distanciamento com a problemática ambiental, sendo a

normatização sobre o gerenciamento de resíduos sólidos o principal viés de

aproximação com o tema (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF, 2009b). Faz-se

importante ressaltar que, se há um distanciamento do trabalhador de saúde com a

problemática ambiental, consequentemente, o envolvimento emocional deste

trabalhador com questões que permeiam esta problemática fica comprometido, logo,

uma imbricação ética de responsabilidade com o meio ambiente fica fragilizada.

No que tange a abordagem da questão ambiental nos serviços de saúde, de

fato, há uma série de normatizações que tem obrigado estes serviços a adequarem-

se à meta de minimização de danos ambientais por eles provocados. No entanto,

essas normatizações referem-se, particularmente, ao gerenciamento de resíduos

sólidos (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF, 2011).

Entretanto, destaca-se que, o gerenciamento de resíduos é apenas uma

nuance de todo o processo, logo, se faz necessário que os serviços de saúde

ampliem a sua visão para outras questões que tangenciam a temática ambiental e,

assim, desenvolvam um sólido processo de conhecimento e consciência ambiental

com os seus trabalhadores. Como apontado por este estudo, a simples

normatização não implica na sensibilização dos trabalhadores, não produz um

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conhecimento aprofundando acerca de todas as questões que perpassam pelo

gerenciamento de resíduos, bem como não dá ao trabalhador subsídios para

relacionar os efeitos da ação de segregar incorretamente na saúde da população e

no meio ambiente.

Conforme Camponogara (2012), os reflexos da discussão sobre o aporte

legislativo imposto às instituições parecem não estarem tão evidenciados na prática

profissional em saúde e, particularmente, da enfermagem. Essa constatação nos

revela alguns desafios, entre eles, o de tornar esses elementos parte da formação e

do trabalho em saúde e, o de buscar um agir ecológico consciente no contexto do

trabalho de enfermagem e da saúde.

Para a autora supracitada, o pressuposto de uma atitude ecológica é mais do

que a soma de bons comportamentos, ter uma consciência ecológica pressupõe

saber por que agir ou não agir, ou seja, as motivações para determinada atitude.

Ademais, cita que o agir envolve a tomada de decisões e que não é algo que está

apenas na esfera da racionalidade, mas envolve também sentimentos. Com base

nisso, depreende que a construção de uma consciência ecológica por parte de

profissionais de enfermagem e da saúde não é algo fácil, que possa ser prescrito,

nem tampouco se restringe ao cumprimento de tarefas e normas.

Maturana também acredita que apenas a racionalidade não tem domínio

sobre o agir, para ele as racionalizações não nos convencem se não estivermos

emocionalmente comprometidos, dispostos, envolvidos. Além disso, a

disponibilidade para incluir o outro, neste caso, o meio ambiente, em nossas

preocupações éticas tem fundamento emocional. Argumentos racionais referentes à

ética só têm poder de convencimento sobre os que já se acham convencidos, sobre

os que aceitam as premissas que fundamentam o discurso em pauta (MATURANA,

1998).

A emoção guia o fluxo do viver, rompe com dicotomias próprias de nossa

cultura, apresenta-nos emoções e ações como intimamente imbricadas. Maturana

entende as emoções como disposições corporais dinâmicas, que especificam os

domínios de ações nos quais os animais, em geral, e nós seres humanos, em

particular, operamos num dado instante (MATURANA, 2006) e nos desafia a tomar o

nosso próprio emocional de maneira reflexiva. Segundo ele, se assumirmos as

emoções como alvo de nossa mirada, se nos fizermos atentos a elas, poderemos

agir de modo mais responsável, decidir se as desejamos ou não. Tal atitude

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possibilitará um novo curso às nossas ações, permitirá que repensemos as

consequências de nossos atos e optemos por sua manutenção ou mudança. Ao nos

darmos conta do papel da emoção como fundamento de qualquer sistema racional,

obtemos, ainda que nos pareça estranho, o significado efetivo da razão na

compreensão do humano.

Certamente, as emoções, os desejos e as preferências determinam os

argumentos racionais que usamos para fazer ou não fazer alguma coisa, assim, a

confiança mútua deve ser o fundamento vital da convivência humana. Ao

desacreditar, negar e invalidar a possibilidade de que a preocupação, o cuidado com

meio o ambiente e a conduta ética estejam no centro de nosso atuar individual e

social espontâneo, nos frustramos da nossa própria potência como criadores de

mundos e inviabilizamos qualquer projeto global de desenvolvimento sustentável

(MATURANA et al., 2009).

Assim sendo, precisamos enfrentar, atualmente, a questão de nossos

desejos, repensar sobre o nosso agir, bem como sobre que futuro queremos deixar

para a humanidade, definir se queremos ou não assumir nossa responsabilidade

para com o meio ambiente. Dizer-se neutro é só uma maneira de isentar-se da

responsabilidade do mundo que é um imperativo de toda a sociedade. Ou

reconhecemos os direitos da natureza ou vamos continuar rumando para a

aniquilação do planeta.

Tangenciando essa questão, depreende-se que, há uma grande lacuna a ser

suprimida atinente a não observância da premência de um debate mais amplo

acerca de mecanismos que associem as atividades realizadas no contexto hospitalar

e a problemática ambiental, o que reflete no prejuízo do desenvolvimento de ações

de preservação ambiental pelo trabalhador hospitalar, como também do

reconhecimento de sua responsabilidade para com o meio ambiente. Em

concordância, Camponogara, Ramos e Kirchhof (2011), referem que o

desenvolvimento de reflexões sobre o tema é a base para que o trabalhador possa,

ao compreender mais amplamente a atual problemática ambiental e suas interfaces

com o trabalho hospitalar, desenvolver ações responsáveis com relação à

preservação ambiental. Além disso, destacam que, a reflexão ética sobre o tema e

uma marcante política institucional vinculada ao assunto, são fundamentais para a

efetiva conscientização sobre a problemática ambiental.

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Contudo, esse processo não é simples, nem tampouco fácil. É algo que não

pode ser simplesmente prescrito, como tarefa a ser cumprida. Ao contrário, tendo

em vista sua estreita relação com questões ligadas a valores individuais, deve ter

como fundamento uma profunda reflexão ética (CAMPONOGARA, 2012).

Para tanto, é preciso que, desde a sua formação, o profissional de saúde, em

geral, e de enfermagem, em particular, entre em contato com a reflexão e a

discussão sobre a problemática ambiental como condição sine qua non (VARGAS,

OLIVEIRA, 2007), para a construção de uma consciência ambiental sólida e efetiva.

Destarte, o conhecimento sobre determinado assunto e a reflexão sobre isso

pode se constituir em estímulo fomentador da motivação para a ação, para a

reordenação de determinada prática social, caso contrário, pode resultar em

automatismo. Ademais, quando são oportunizadas estratégias de obtenção de

conhecimento sobre a problemática ambiental ou minimização de impactos

ambientais, os sujeitos têm maiores subsídios para reflexão sobre seus próprios

comportamentos, motivando-os para a construção de ações responsáveis com o

meio ambiente (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF 2009a).

Com base nisso, cabe salientar que, a elaboração de uma consciência

ambiental, a adoção de ações responsáveis e o reconhecimento da

responsabilidade com o meio ambiente é um imperativo ético, e como tal, exige

reflexões aprofundadas. Desse modo, a ampliação da consciência ecológica, por

parte do trabalhador hospitalar, depende da desconstrução/reconstrução de

significados, no sentido de permitir uma postura ética de responsabilidade com a

preservação ambiental (CAMPONOGARA, RAMOS, KIRCHHOF, 2009b).

Em decorrência do que foi exposto até o momento, destaca-se que, entre os

trabalhadores de enfermagem, não foi evidenciado um conhecimento substancial

acerca da percepção de responsabilidade ambiental, assim como não há um

reconhecimento sobre a imbricação com esta. Entretanto, se faz necessário que os

trabalhadores de enfermagem deixem de considerar o cuidado, categoria inerente à

prática profissional na enfermagem, como um ato de assistência individual e passem

a transformá-lo numa atitude ética na defesa da vida em todas suas formas e

estágios (VARGAS, OLIVEIRA, 2007).

A ampliação da consciência/responsabilidade ambiental no contexto do

trabalho em saúde pressupõe compreender que a problemática ambiental é um

evento complexo, socialmente construído, que exige esforços individuais e coletivos

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para sua resolutividade, tendo importante impacto sobre o processo saúde-doença.

Dessa maneira, a obtenção e a construção de conhecimentos sobre o tema, bem

como a realização de reflexão ética sobre o assunto, são fundamentais para a

efetiva incorporação da interface saúde e meio ambiente no trabalho em saúde, com

vistas à busca da promoção da saúde e de melhor qualidade de vida, à otimização

do processo de cura e reabilitação, e à minimização do impacto ambiental advindo

do processo de trabalho em saúde (CAMPONOGARA, 2012). Desse modo, haverá

mais chances de cortar as amarras que ainda atam os trabalhadores de saúde a

uma prática profissional pouco resolutiva, acrítica e descontextualizada da realidade

(VARGAS, OLIVEIRA, 2007).

Em relação à concepção de responsabilidade com o meio ambiente, Jonas

(1995) destaca que a responsabilidade de preservar o planeta para as futuras

gerações é um imperativo de toda a sociedade, devendo assim, nortear o agir

humano com vistas à sobrevivência planetária. Ademais, essa discussão assume

um caráter, essencialmente, ético, já que implica em uma reflexão sobre conceitos e

valores, imbricados na importante tarefa de preservar o planeta para as futuras

gerações, demandando essa responsabilidade para todos os sujeitos. O autor refere

ainda que, em face das terríveis intervenções do homem sobre a natureza, atitudes

urgentes são necessárias, uma vez que as gerações futuras não podem ser

ignoradas e tampouco a qualidade do meio ambiente.

Contudo, é relevante destacar que, para refletirmos sobre o nosso agir no

contexto laboral de saúde se faz necessário termos a teoria antes da prática, para

que possamos refletir acerca da ação a ser feita. Somente assim, a reflexão será

consciente e a responsabilidade será de cunho essencial para uma ética do nosso

tempo, uma ética da responsabilidade (BATTESTIN, 2008).

De fato só poderemos refletir acerca daquilo que temos conhecimento. Desse

modo, fatores como a constatação de que os trabalhadores de enfermagem não

obtiveram abordagens sobre questões ambientais nos seus processos formativos,

nem tão pouco são estimulados a refletirem sobre o tema pela instituição onde

trabalham, colaboram de maneira significativa para uma prática profissional pautada

no fazer técnico, sem um processo de reflexão sobre ela própria. Esse dado

respalda os achados deste estudo, quando os trabalhadores de enfermagem

referem que vários são os fatores que inviabilizam uma postura profissional baseada

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no refletir ecológico e sugestionam como potencializadores de um agir responsável

com o meio ambiente a priori a educação permanente em saúde.

A educação permanente em saúde insere-se na perspectiva de mudança do

modelo assistencial hegemônico de saúde, pois possibilita o questionamento da

realidade, o desenvolvimento de suas metas por meio de propostas e projetos que

viabilizem a mudança de práticas vigentes e operem realidades vivas permeadas

pelos saberes e conexões atualizados, pelas atividades desenvolvidas dos

diferentes atores sociais e pela responsabilidade com o coletivo (MERHY,

FEURERWERKER, CECCIM, 2006).

Segundo Cecim (2005), a educação permanente em saúde está trazendo a

definição pedagógica para o processo educativo que coloca o cotidiano do trabalho

ou da formação em saúde em análise, que se permeabiliza pelas relações concretas

que operam realidades e que possibilita construir espaços coletivos para a reflexão e

avaliação de sentido dos atos produzidos no cotidiano.

Considera-se como educação permanente em saúde, o aprendizado no

trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações

e ao trabalho. A educação permanente se baseia na aprendizagem significativa e na

possibilidade de transformar as práticas profissionais, levando em consideração o

conhecimento e as experiências que as pessoas já possuem. Assim, os processos

de educação dos trabalhadores da saúde devem ser realizados a partir da

problematização do processo de trabalho, onde as necessidades de formação e

desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde

das pessoas e da população (BRASIL, 2009).

A educação permanente, conforme Jacondino et al. (2010), contribui para a

ampliação do saber teórico e respalda a prática profissional. Nesse sentido,

constitui-se como uma estratégia que permite o desenvolvimento do trabalhador,

para que seja capaz de transformar seu ambiente de trabalho pelo processo de

aprendizagem em um movimento dinâmico e complexo, mediado por valores

(RICALDONI, SENA, 2006). Assim sendo, ações educativas objetivam não só a

capacitação desses sujeitos, como também contribui para estimular a sua

capacidade crítica (MACIEL, 2009).

Logo, acredita-se que a problematização de questões ambientais no processo

de trabalho hospitalar, por meio da educação permanente em saúde permitirá aos

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trabalhadores a reflexão sobre sua postura profissional, bem como poderá gerar

mudanças que representarão um progresso no fazer em saúde.

Como bem pontuado por Camponogara (2008), somente a problematização

de questões como educação ambiental e a minimização de impactos ambientais –

ancorada em base que integre conhecimento/ética/ação -, irá possibilitar vislumbrar

pontos essenciais no contexto das instituições e do conjunto de atores sociais que a

compõem, no sentido de buscar o efetivo engajamento com a sustentabilidade

socioambiental. Somente com a utilização de estratégias de obtenção de

conhecimento acerca da crise ambiental ou da minimização de seus impactos, a

partir do local de trabalho, é que os sujeitos terão maiores subsídios para refletir

sobre seus próprios comportamentos, com “possibilidade” de maior motivação para a

construção de uma ação responsável para com o meio ambiente. Sem dúvida, no

âmbito do contexto laboral em saúde, a partir da circularidade de informações sobre

essas questões, haverá maiores possibilidades de desenvolvimento de ações mais

responsáveis por parte dos trabalhadores (CAMPONOGARA, 2008).

A guisa de finalização observa-se muitos avanços em torno das discussões

sobre meio ambiente, sustentabilidade e educação ambiental. Entretanto, há muito

que avançar nessa caminhada, especialmente, no tocante as instituições do fazer

saúde. Segundo Maturana et al. (2009), esse avanço tem a ver com estarmos

tomando consciência do dano que temos estado a gerar tanto para a biosfera como

para a antroposfera, e que, em última instância, sempre nos é devolvido, dada a

natureza sistêmica-sistêmica dos processos biológico-culturais. Hoje em dia nos

encontramos numa encruzilhada entre duas eras psíquicas diferentes e estamos às

portas da possibilidade de uma nova mudança cultural, em que a preocupação ética

pelas pessoas, pelas comunidades e pela biosfera inteira é ponto cardeal em torno

do qual tudo o mais pode mudar, se é que temos o desejo e a consciência

adequada.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise e discussão dos resultados pode-se dizer que o agir pautado no

princípio da responsabilidade socioambiental não esta presente no cotidiano laboral

dos participantes desse estudo. Estes trabalhadores reconhecem algumas

atividades diárias que poderiam ser entendidas como um agir responsável

ambientalmente, no entanto, parecem ter dificuldades para executá-las.

A percepção de meio ambiente dos trabalhadores de enfermagem possui

suas raízes nas matrizes socioculturais da família, sendo que não houve indicativos

da ampliação/aprofundamento dessa percepção ao longo da formação escolar e

acadêmica, nem tampouco durante a prática profissional. Ademais, os discursos dos

trabalhadores não evidenciaram que esse entendimento oriente seus princípios e

valores, assim como a sua maneira de perceber o mundo e o seu lugar nele. Desse

modo, constata-se que a percepção de meio ambiente não é solidificada no decorrer

da vida pessoal e profissional dos trabalhadores de enfermagem.

Destaca-se, aqui, a importância da formação acadêmica na preparação dos

futuros profissionais para uma atuação pautada no princípio da responsabilidade

socioambiental, uma vez que a construção de uma nova consciência/ética ambiental

está atrelada a problematização desse tema nesses cenários. A educação

permanente nas instituições de saúde também tem papel imprescindível,

contribuindo para a instrumentalização e engajamento dos trabalhadores de

enfermagem na redução dos impactos ambientais causados pela assistência à

saúde.

No tocante a percepção de responsabilidade socioambiental, constatou-se

que os trabalhadores de enfermagem não possuem um conhecimento propriamente

dito acerca desta percepção, tendo em vista que fundamentos como ética e valores

não são mencionados pelos trabalhadores. Isso se configura como uma limitação do

estudo, visto que a dificuldade para elaboração da concepção de responsabilidade

socioambiental restringiu depoimentos mais elaborados sobre o assunto, bem como

limitou os relatos sobre as dificuldades e facilidades para uma atuação eticamente

responsável.

Os trabalhadores de enfermagem ressaltam que a reflexão acerca da questão

ambiental é um grande desafio para a sociedade contemporânea, pois envolve a

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preocupação com o futuro, revisão de posturas, de estilos de vida, de pensamentos

e de agir coletivamente, uma vez que a maioria acredita que iniciativas singulares

não são suficientes para minimizar os prejuízos causados ao meio ambiente.

Foi possível evidenciar, também, que, os trabalhadores de enfermagem não

se encontram empoderados do princípio de responsabilidade socioambiental

enquanto profissionais de saúde, igualmente, o cotidiano de trabalho hospitalar

parece não estar atrelado à problemática ambiental. Frente a isso, observou-se a

existência de uma lacuna concernente a problematização acerca da interface

hospital e meio ambiente com os trabalhadores de enfermagem, tendo em vista que,

supostamente, não há uma incitação por parte da instituição no desenvolvimento de

estratégias que viabilizem a reflexão sobre essa relação, como também oportunizem

o engajamento do trabalhador nessa questão.

Os resultados deste estudo mostram, ainda, que uma prática profissional

pautada no princípio da responsabilidade socioambiental está condicionada a

realização de determinadas ações pontuais, como economizar água, energia e

materiais durante o turno de trabalho. Entretanto, os sujeitos alegam alguns fatores

limitadores para a realização dessas ações, entre eles, a falta de conscientização,

principalmente.

Além disso, este estudo assinala outras inúmeras dificuldades para um agir

ético ambientalmente, como a suposta ausência de um debate reflexivo sobre a

interface problemática ambiental e cotidiano hospitalar, o uso de protocolos médicos

dispensáveis e a falta de colaboração médica no gerenciamento de resíduos sólidos.

Os sujeitos referem também que, o moderno estilo de vida prejudica a construção de

uma nova ética/consciência ambiental, pois distancia o ser humano do meio

ambiente, e assim, este não se sente afetado pela problemática ambiental. Ademais,

o fato de que o agir ambientalmente correto trás benefícios em longo prazo e não

proporciona reconhecimento pela prática dessa ação resulta no não engajamento do

trabalhador de enfermagem e na sua impassibilidade com a questão ambiental, pois

a lógica do imediatismo é a que impera no cotidiano.

Por outro lado, diversas estratégias foram apontadas pelos trabalhadores

para conduzir o processo de conhecimento e consciência ambiental, sendo a

educação permanente peça de destaque entre os discursos. Enfatiza-se, contudo,

que quaisquer que sejam os mecanismos utilizados, é fundamental que esses

tenham como objetivo a reflexão do trabalhador acerca da percepção da relação de

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pertencimento com o meio ambiente, assim como a incorporação do sentimento de

responsabilidade para com este, entre outros. Acredita-se que, somente, com uma

abordagem ampliada e contextualizada é possível efetivar o engajamento do

trabalhador de saúde para a causa ambiental, bem como consolidar a relação entre

trabalhador, contexto hospitalar e preservação ambiental.

Os achados dessa investigação revelam, ainda, que, a maioria dos

trabalhadores de enfermagem não sente os efeitos da problemática ambiental no

seu cotidiano laboral, contribuindo assim para reforçar a complexidade de trabalhar

este tema, já que exige a desconstrução/reconstrução de significados, sentimentos,

valores, dentre outros. Isso reforça a necessidade de explorar este assunto sob o

viés de um referencial metodológico como o Método Criativo Sensível aliado aos

constructos de Hans Jonas e Humberto Maturana, visto que ambos compreendem

que o agir humano resulta do somatório da razão e da emoção. Logo, entendem que

o ser humano é um reflexo dos seus sentimentos. Assim, aponta-se para a

necessidade de desenvolvimento de mais estudos que estimulem a imersão na

subjetividade do sujeito, como o Método Criativo Sensível, tendo em vista que este

proporciona a reflexão e a transformação do conhecimento.

Em suma, espera-se que este estudo possa contribuir para a ampliação do

debate entre a relação trabalhadores de enfermagem, contexto hospitalar,

problemática ambiental e responsabilidade socioambiental, favorecendo a

construção de uma nova ética ambiental, a partir da oportunidade de reflexão

incutida no seio do processo de trabalho em saúde. Nesse sentido, sugere-se que

as instituições de saúde vejam a educação permanente como uma importante

ferramenta capaz de transformar os trabalhadores de enfermagem em sujeitos

ativos, sensíveis e sensibilizados com o atual cenário ambiental.

Assim sendo, esta dissertação tem a pretensão de auxiliar os trabalhadores

de enfermagem na construção de um agir mais coerente e responsável com a atual

problemática ambiental, no sentido de oferecer subsídios para o debate acerca

desse tema. Além disso, espera-se com este estudo suscitar nos centros de

formação em saúde a reflexão acerca deste importante debate, bem como contribuir

para o fomento deste tema no campo da pesquisa, haja vista a escassez de estudos

que abordam essa relação.

Por fim, entende-se que a construção de uma racionalidade ambiental é um

grande desafio, contudo, precisamos compreender que, frente às características do

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mundo contemporâneo, essa se faz premente, não apenas para os trabalhadores de

enfermagem, mas para toda a sociedade.

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ZANCANARO, L. Ética Ambiental e Responsabilidade Antropocósmica.

Philosophica, Lisboa, v.29, p. 125-143, 2007.

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ANEXOS

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Anexo A

Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Santa Maria

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

Extrato do quadro análise vertical – DCS Árvore do Conhecimento

QUADRO ANALÍTICO 4

Data: 27/04/2013 Local: Sala de Apoio: 2009/2º Andar, HUSM/UFSM Coordenadora/Pesquisadora: Sabrina Gonçalves Aguiar Soares Nome dos auxiliares de pesquisa DCS: Viviane Segabinazzi Saldanha Duração: início às 18h e término às 18h 35min. Tempo de duração: 35 min. Legenda dos recursos utilizados para dar materialidade linguística ao texto: /: pausa reflexiva curta //: pausa reflexiva longa ///: pausa reflexiva muito longa ...: pensamento incompleto (...): retirada de uma parte da fala #: interrupção da enunciação de uma pessoa por outra ##: interrupção da enunciação de duas pessoas [...]: pausa na enunciação e continuação pela mesma pessoa itálico - textos acrescentados pelo pesquisador Palavra em tamanho de fonte maior – significa ênfase na palavra enunciada Leetra duplicada em uma palavra – significa que a pessoa falou de modo meio “arrastado ou cantada” a palavra, dando maior ênfase na letra que está duplicada. “aspas” – significa uma frase ou título que não é de autoria de quem está falando ou que a pessoa disse isso em outro momento e está contando agora. QG: como você vê a responsabilidade socioambiental em sua prática cotidiana de cuidado? Caracterização dos sujeitos: E – Enfermeiro, TE – técnico de enfermagem, AE – auxiliar de enfermagem

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Efeito metafórico (metáfora) Efeito polissêmico (polissemia) Efeito parafrástico (paráfrase)

Situação existencial Tema gerador Subtema Recodific

ação temática

Comentário analítico

TERCEIRO E QUARTO MOMENTO – APRESENTAÇÃO DA PA E DEBATE então, por isso que eu coloquei a primeira

coisa a capacitação., o porquê, / por exemplo, não pode ter tal material por que o controle de

infecção não permite. Então, eu acho que primeiro nós precisamos ter uma noção de

tudo, uma capacitação de todas essas questões pra gente estar a par e não fazer algo errado, até pra gente também cobrar / dos familiares, principalmente a questão do

lixo, que a gente vê que é uma mistura geral. Então, / por isso que eu coloquei na raiz. (...) E5 – é, por que, às vezes, nem nós sabemos [remete à postura da instituição, quais suas

ações para efetivação desse conhecimento?]. #

TE1 – eu acho que eu fui na onda da E5,

pode fazer 500 capacitações, mas se não

tem a conscientização / não irá resolver de nada. // [...] E5 – eu acho que já vem assim,

uma é a questão cultural. A cuultura já éé um pouco complicada e /. Pois não adianta, brasileiro é assim, tem que estar sempre

sendo cobrado para / que ele faça. Então,

se deixar meio ... ah quando ver já esta tudo na estaca zero,

Se não tiver a supervisão ... tem que tá supervisionando diariamente, se não tiver a cobrança as pessoas não praticam (...)/ No

E5 - Eu acho que a raiz, a primeira coisa é a capacitação

de todos os funcionários sobre a questão dos //

cuidados da reciclagem do lixo (...) Por que tem muitas

coisas que nem a gente sabe como tem que fazer, o que

seria certo. TE1 - eu coloquei a educação,

a orientação do usuário na raiz, a nossa educação, para podermos dar orientação ao

usuário também. # E5 – (...) No caule, eu

coloquei a conscientização por que se não tem a

conscientização não adianta de nada, (...) eu acho que ela

tem que ser cobrada mais, tem que ser exigida e tem que

ter uma / supervisão e uma

cobrança a questão da reciclagem de lixo mesmo,

tem que ter sempre uma certa cobrança para que as coisas

Fatores facilitadore

s de práticas e ações de

responsabilidade

socioambiental

(Capacitação em

serviço)

Metaforicamente, E5 representa a capacitação em serviço como a raiz da

árvore. Dessa maneira, ela acredita que a capacitação em serviço é a base para

oportunizar o processo de construção do conhecimento, bem como melhorar o

desempenho profissional dos trabalhadores da saúde no que tange a responsabilidade

socioambiental, uma vez que, não há circularidade de conhecimento sobre a

temática entre os trabalhadores. TE1 dá continuidade ao debate, citando que é primordial que os trabalhadores da

saúde sejam empoderados sobre a temática ambiental para que assim esse conhecimento possa ser compartilhado

com os usuários do serviço. Em seguida, metaforicamente, E5 aponta a

conscientização como o caule, que dá a sustentação para árvore. E complementa que no ambiente hospitalar deve haver a

implementação de uma política de supervisão sobre o gerenciamento de resíduos sólidos. E6 concorda com a

afirmação e complementa, que a supervisão deve ser diária para que assim

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momento que / tu te dispõe a querer, aí são outros 500, aí a / história muda de figura (...) E6 – (...) Pensei que o descarte de lixo, ele estaria lá na raiz por que / se a raiz, (...)mas

por consequência, se ele for descartado corretamente, essa árvore irá crescer.

[...] TE1 – é, / depois no caule eu coloquei o descarte adequado do lixo, / que é bemm

importante.

funcionem. / (...) E6 – (...) / como a E1 falou, é uma “questão de supervisão”, tem que ter supervisão diária. (...) / Pensei tambémm que, se o descarte de lixo não for adequado, então ele estará

prejudicando a raiz, (...). E6 – (...) / E acho que a falta de

conscientização, / acho que é bem como a E5 colocou, acho

que a “capacitação”,

precisam de sensibilização, as

pessoas precisam querer por

que não se consegue mudar se tu não quiseres.

E5 – (...) No fruto, eu coloquei a reciclagem do lixo, pois eu

acho que tendo essa capacitação, tendo uma

conscientização, tu terás uma reciclagem de lixo adequada,

conforme tem que ser. (...)

seja efetivo o descarte de resíduos de saúde, já que o mesmo quando é realizado

de maneira incorreta prejudica o meio ambiente. Reforça ainda a importância de

capacitações em serviço para sensibilizar e estimular nos trabalhadores uma mudança

de postura no que concerne a questão ambiental.

E5 retoma a palavra e diz que a capacitação e a conscientização resultarão na segregação adequada dos resíduos de

saúde, sendo esta representada, metaforicamente, como o fruto da árvore.

TE1 – (...) E lá como fruto, a economia de materiais, baixo consumo também / para o ambiente esteja mais saudável, o ambiente

mais ... # TE2 – (...) Economia de materiais eu coloquei

por que eu acho que é um / grande desperdício, meuu Deuus, fraalda /, assim em

abundância ... [raiz] # [...] TE2 – até estou louca que entre essa empresa logo para dar

uma enxugada assim oh, por que é muita

E6 – (...) no caule, eu coloquei a economia de água por que se / nós economizarmos água, é uma questão que também vai favorecer o crescimento dessa árvore. / Coloquei lá próximo dos frutos a questão da luz, a economia da luz. (...) Então, pensei que a economia

Fatores limitadores de práticas e ações de responsabil

idade socioambie

ntal

Para TE1 e TE2 a economia de materiais foi representada, metaforicamente, como o

fruto da árvore. Já E6 representou como o caule da árvore a economia de água devido ela favorecer o

crescimento da árvore. E como o fruto, a economia de energia. Estabelece ainda uma relação entre as roupas sujas da

instituição e o dano ambiental, referindo

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coisa gurias! # [...] TE2 – então, entrando acho que reduziria muito assim! #

E6 – (...) Então, pensando já nos raios / do sol que vem iluminar o fruto, e esse fruto ele vai amadurecer, na medida da quantidade de luz

que ele receber. [apesar de uma boa luminosidade natural, as luzes continuam

acessas durante o dia]. Eu sou uma que já vou passando e vou cuidando as luzes e já

vou orientando os familiares vamos desligar a luz, / acho que essas questões.. / Coloquei

próximo da árvore, mas coloquei lá do ladinho, não coloquei ela no entorno da

árvore, como um todo, por que ela é umaa, / É isso! /

AE3 – é, eu também pensei, mais ou menos a mesma coisa, AE3 – “a água”. Então, eu

penso que na raiz, tipo de baixo para cima as coisas, Mas se nós economizarmos hoje, de

modo geral, eu fiz assim bem amplo, de modo geral só citei esse até. Pensando assim,

pensando no futuro, no que nós vamos deixar no caso. /

tem uma luz acessa, tu estas lá desligando e dizendo oh fulano tem uma luz lá ligada, por

que esta ligada, vamos desligar. Tem torneira, por que esta aberta,

de luz, ela é necessária, aqui no hospital que nós percebemos quantas enfermarias que tem luminosidade e que também tem luz. E6 – (...) A roupa suja eu coloquei lá do outro lado por que eu penso que ela / prejudica o solo, o lixo ele prejudica o solo nesse sentido. O descarte incorreto e as roupas sujas, o lixo enfim, no geral, eles prejudicam //, prejudicam no sentido de exigir mais do meio ambiente.

AE3 - no caso da responsabilidade socioambiental eu também citei isso, a “economia de materiais, de água, energia”. Botei na raiz, o Brasil é um dos grandes campeões de desperdício, que nós estamos sempre lendo, desperdício de alimentos, de materiais de um modo geral, ... # que as próximas gerações, no caso, não vão poder desfrutar dessa / abundância que nós desfrutamos hoje.

E1 - / E assim, eu percebo que como /, às vezes, nós temos que ter essa

que as roupas sujas e o resíduo hospitalar agridem o meio ambiente.

AE3 dá continuidade ao debate apontando que a economia de água, de energia e de materiais é o alicerce para uma atuação

profissional com viés da responsabilidade socioambiental. Por isso, foi por ela

representada, metaforicamente, como a raiz da árvore. Ressalta ainda que o Brasil

é um dos campeões de desperdício de alimentos, de água e materiais de um modo

geral. E que se continuar assim, as próximas gerações não poderão desfrutar

da abundância que desfrutamos hoje. E5 aponta, polissemicamente, o quanto é importante a conscientização das pessoas sobre as repercussões das suas atitudes e trás a questão do consumo exagerado na

instituição, que segundo ela, ocorre por que algumas pessoas acreditam que por o

governo custear os gastos, não precisam estar se preocupando em economizar.

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conscientização também de que, às vezes, em casa tu até economiza, mas aqui é ahh o goveerno paaga, não saii do meu boolso!

E5 – (...) E com tudo isso,. Com certeza, nós teremos um ambiente bem / mais / agradável

de connviver até dentro do ambiente hospitalar. //

E5 - o entorno de tudo isso, eu coloquei que é um

ambiente mais agradável. TE2 – o meio ambiente

agradece! #

No entorno da árvore, metaforicamente, E5 representa um ambiente mais agradável de viver. Atribui a isso, o somatório dos fatores já citados, como a capacitação em serviço,

a conscientização e a segregação adequada dos resíduos de saúde.

Parafraseando, TE2 concorda e ratifica dizendo que o meio ambiente irá

agradecer. Pois vem uma tremenda de uma caixa, que

vem em um saquinho, dentro de outro saco e mais tanãnã e mais a tampinha plástica. Eu

vou ligar para eles para ver se eles têm consciência ecológica, por que não fazer uma

coisa mais compacta? passada [tom de tristeza]. Por que nós sabemos que irá faltar

para nós depois quando nós formos usar. Quando nós precisarmos trocar uma fralda

não irá ter luva, / pois todos usaram. [...] TE1 – pelo amoor de Deus, não dá nem tempo do bicho se desenvolver que já estão

... [solicitando EQU] # E agora com a moda da reposição da sonda então, o paciente se arranca, / a cada quinze

minutos estão fazendo raio x. [compara o serviço público com o privado] #

agoora que tão começando olhar o lixo, o saquinho branco e tal ... # AE3 – não lavam a mão!

[...] TE1 – é, ainda hoje eu peguei uma caixa de

meropenem e disse nossa, vou ligar para esse laboratório e perguntar se eles não tem mais nada de ecológico para

inventar . # TE1 – às vezes eu pego até os professores

assim. Claro, eles têm que ensinar como é que vai manusear [técnica?] para o aluno, aí entra professor de fisio [fisioterapia?] faz todo mundo se paramentar com luva, não sei o que, quando só um vai tocar no paciente, aíí eu fico assim passada / Nós comentamos também

Fatores limitadores de práticas e ações de responsabil

idade socioambie

ntal

TE1 cita, polissemicamente, o caso de um medicamento antibacteriano, que mesmo

sendo pequeno gera muitos resíduos devido à quantidade de material com que é embalado. Faz referencia ainda a atuação

da instituição como um hospital-escola, que, muitas vezes, ocasiona desperdício de material, uma vez que, os alunos precisam

fazer uso desse para adquirir destreza manual. Além disso, questiona a postura

dos médicos que solicitam exame qualitativo de urina (EQU) para o mesmo

paciente todos os dias, o que é, enfaticamente, confirmado por TE2. E6 corrobora e acrescenta que tal conduta médica faz com que se utilizem muitos materiais. Acrescento que essa postura

produzirá uma quantidade significativa de

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E5 – é um que outro que às vezes pergunta “onde que eu coloco isso aqui?”, mas são

raaros, a maioria ... [despreza em qualquer lugar?] #

TE2 – é, “a maioria” ... # [ou seja, gerenciamento de resíduos

hospitalares não é algo importante]. #

que, às vezes, os médicos pedem EQU [exame qualitativo de urina] todos os dias, / mas qual é a real necessidade disso sabe. #

TE2 – todos os dias! # E6 – e pensando justamente isso, tu irás coletar, irá

usar luvas, irá usar o pote, o saco de lixo, / às vezes tem que sondar o paciente, então, a quantidade de material que vai aí, material estéril, ... #

AE3 – e quando pedem raio x, é raio, raio, raio. # TE1 – raio x assim oh, aqui também é todos os dias, às

vezes, são dois raios x no dia. TE1 – a minha filha teve

internada lá no caridade, teve com / uma crise aguda de /

asma, ela fez um raio x quando internou e um para dar alta e pt saudações, e

aqui é ... TE2 – sem conta que a área

médica é a que / mais contamina o nosso lixo se for

pensar, eles largam ..., AE3 – não, eles têm coisas

mais importantes para pensar [rindo]

resíduos, além do aumento de custos da instituição.

AE3 toma a palavra e trás a questão dos exames de raios-X, e TE1 afirma que tal conduta é semelhante à solicitação de

EQU’s. TE1 estabelece ainda uma comparação

entre as condutas realizadas em um hospital público e em um hospital particular, dando como exemplo a internação de sua

filha em um serviço particular. Nessa comparação, ela cita que no hospital onde sua filha internou foram realizados apenas dois raios-X, um ao internar e outro ao dar

alta. Mas que, no entanto, no hospital público a rotina se dá de maneira diferente.

Já TE2, parafraseando, cita a falta de cooperação da equipe médica em relação à correta segregação dos resíduos sólidos de

saúde. AE3 retoma a palavra e expõe, ironicamente, que a equipe médica possui

afazeres mais importantes do que os relacionados às questões de

gerenciamento de resíduos de saúde.

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APÊNDICE B

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM - MESTRADO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

PESQUISADORA: Enfª Mda Sabrina Gonçalves Aguiar Soares

ORIENTADORA: Enfª Profª Drª. Silviamar Camponogara

COORIENTADORA: Enfª Profª Drª Eliane Tatsch Neves

PESQUISA: Responsabilidade socioambiental na visão de trabalhadores de

enfermagem no contexto hospitalar

Eu, ______________________________________________, confirmo que recebi as informações necessárias para entender porque e como este estudo está sendo realizado. Compreendi que: -seu objetivo é conhecer a percepção de trabalhadores de enfermagem sobre meio ambiente, responsabilidade socioambiental bem como discutir as dificuldades e possibilidades para uma atuação profissional com responsabilidade socioambiental no contexto do trabalho hospitalar. Esta pesquisa se justifica pela contribuição dos conhecimentos advindos dessa discussão que oportunizarão a melhoria do processo de trabalho da enfermagem, minimização do impacto ambiental advindo da assistência à saúde e ampliação do debate sobre o tema, uma vez que trata-se de uma temática ainda incipiente. -não sou obrigado (a) a participar na pesquisa. Depois de minha autorização, se quiser desistir a minha vontade (liberdade) será respeitada, em qualquer momento da pesquisa, sem quaisquer represálias atuais ou futuras, podendo retirar meu consentimento em qualquer etapa do estudo. A minha decisão em não participar ou desistir da pesquisa a qualquer momento será respeitada sem nenhum tipo de penalização ou prejuízo; -será realizada uma dinâmica de criatividade e sensibilidade comigo que será gravada em um gravador digital e, posteriormente digitado (transcrito), as quais serão guardadas em um banco de dados no arquivo confidencial no computador pessoal da pesquisadora. Caso eu não deseje que seja gravada a dinâmica de criatividade e sensibilidade, a minha vontade será respeitada; -não sofrerei, a princípio, nenhum risco, mas poderei sentir cansaço e desconforto pelo tempo que envolve a dinâmica do grupo, e por relembrar algumas vivências que poderão despertar sentimentos inativados. Caso isto venha acontecer, poderei deixar a dinâmica a qualquer momento, acompanhado pelos auxiliares de pesquisa que irão me encaminhar para conversar com profissionais vinculados a área de psicologia, integrantes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, previamente contatados para esse fim, caso deseje; -os benefícios desta pesquisa estão relacionados com a melhoria do processo de trabalho da enfermagem, minimização do impacto ambiental advindo da assistência

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a saúde e ampliação do debate sobre o tema, uma vez que trata-se de uma temática incipiente; os benefícios se estendem ao processo de produção de conhecimentos sobre o tema, uma vez que os resultados do estudo serão publicados em eventos e periódicos científicos da área. -ao fim desta pesquisa, os resultados serão divulgados e publicados. Terei acesso a essas informações, mas sei que na divulgação desses resultados, o meu nome não aparecerá, pois receberei um código (por exemplo, T1, T2, T3, ...). Assim, ninguém poderá descobrir quem eu sou, o que protege a minha identidade, privacidade, a proteção da minha imagem e a não estigmatização; -este estudo poderá contribuir com novas investigações que abordem aspectos relativos à temática saúde e meio ambiente; -se eu tiver dúvidas sobre o estudo, poderei telefonar a cobrar para a pesquisadora responsável Dra Silviamar Camponogara (55) 32208263. Nesses termos e considerando-me livre e esclarecido (a), consinto em participar da pesquisa proposta, resguardando à autora do projeto a propriedade intelectual das informações geradas e expressando a concordância com a divulgação pública dos resultados. Este documento foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP), da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria/RS ___, __________________ de 2013. Nome do participante:_____________________________________________ Nome da pesquisadora:____________________________________________ Assinatura:______________________________ Assinatura:______________________________ Data: _______/_______/2013. Data: _______/_______/2013.

_________________________________________ COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFSM

Avenida Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria – 2º andar - Sala Comitê de Ética Cidade Universitária - Bairro Camobi

97105-900 - Santa Maria - RS Tel.: (55)32209362 - Fax: (55)32208009

e-mail: [email protected]

Uma cópia deste documento será guardada pela pesquisadora e a outra ficará com o responsável que autorizou a participação na pesquisa. Foi desenvolvido respeitando a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

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APÊNDICE C

Termo de Confidencialidade

Título do projeto: Responsabilidade socioambiental na visão de trabalhadores de

enfermagem no contexto hospitalar

Pesquisador responsável: Profª Enfª Dra Silviamar Camponogara

Instituição/Departamento: UFSM – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

- Mestrado

Telefone para contato: (55)32208263

Local da produção de dados: Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) –

Clínica Tocoginecologia, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica I e II e Clínica Pediátrica.

Os pesquisadores do presente projeto se comprometem a preservar a privacidade

dos participantes cujos dados serão coletados através de dinâmicas de criatividade

e sensibilidade que se desenvolvem em forma de encontros grupais, no próprio

cenário, no horário de trabalho e em um ambiente reservado. Concordam,

igualmente, que estas informações ficarão armazenadas em um banco de dados e

serão utilizadas única e exclusivamente para pesquisas científicas. As informações

somente poderão ser divulgadas de forma anônima e serão mantidas no estado do

RS, na cidade de Santa Maria, sob a responsabilidade da Sra Silviamar

Camponogara no Centro de Ciências da Saúde/UFSM, sala 1305B do prédio 26 da

UFSM. Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da UFSM em ___/___/___, com o número do CAAE ________________.

Santa Maria, de outubro de 2012.

_____________________________________________

Silviamar Camponogara

CI: 8043999090

Coren–RS: 58899

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APÊNDICE D

Extrato de transcrição da primeira dinâmica: Tecendo Histórias

Data: 27/04/2013 Local: Sala de Apoio: 2009/2º Andar, HUSM/UFSM Coordenadora/Pesquisadora: Sabrina Gonçalves Aguiar Soares Nome dos auxiliares de pesquisa DCS: Kellen Cervo Zamberlan, Viviane Segabinazzi Saldanha Duração: início às 12h e término às 12h 30min. Tempo de duração: 30 min. Legenda dos recursos utilizados para dar materialidade linguística ao texto: /: pausa reflexiva curta //: pausa reflexiva longa ///: pausa reflexiva muito longa ...: pensamento incompleto (...): retirada de uma parte da fala #: interrupção da enunciação de uma pessoa por outra ##: interrupção da enunciação de duas pessoas [...]: pausa na enunciação e continuação pela mesma pessoa itálico - textos acrescentados pelo pesquisador Palavra em tamanho de fonte maior – significa ênfase na palavra enunciada Leetra duplicada em uma palavra – significa que a pessoa falou de modo meio “arrastado ou cantada” a palavra, dando maior ênfase na letra que está duplicada. “aspas” – significa uma frase ou título que não é de autoria de quem está falando ou que a pessoa disse isso em outro momento e está contando agora. QG: como o meio ambiente se insere na sua história? Caracterização dos sujeitos: E – Enfermeiro, AE – auxiliar de enfermagem Primeiro momento: apresentação dos objetivos do encontro, explicação sobre como se dará a dinâmica, assinatura do TCLE e apresentação dos sujeitos. Segundo momento: inserção da questão geradora de debate: como o meio ambiente se insere na sua história? Terceiro momento: a dinâmica propriamente dita. Pesquisador: como que o meio ambiente se insere na tua história E1? E1 – Aíí / eu acho que desde que eu sou pequena por que meu pai é engenheiro agrônomo, meu irmão é engenheiro ambiental e agora com as crianças, que eu

tenho três filhos, e eles sóó falam em ambiente. É na escola, é em tudo. Esses dias

minha filha estava num sofrimento por que se a gente não cuidar da água a água vai acabar e ela em pânico por causa disso [falando ironicamente]. Ela foi toma banho, lavar os cabelos e desligou o chuveiro para não gastar água enquanto ela lavava, por que senão os filhos dela não terão água, mas ela estava em pânico [rindo] e não sei, / acho que em relação a minha vida assim, / acho que a gente depende o tempo inteiro do meio ambiente, pra tudo. E acho que essa questão da educação [de preservação do meio ambiente] é bem importante por que as crianças deesde pequenininhas tem trabalhado isso. / Tenho vivenciado bastante isso com as crianças agora. // Pesquisador: o que o grupo acha disso?

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E2 - Eu acho importante a “conscientização nas escolas” também por que a tua filha

trouxe da escola esse conhecimento, as professoras estão agora, mais

preconizando isso, defendendo a preservação do meio ambiente, que antes eu não lembro, da minha época, muitos anos atrás, não lembro. / Nunca vi um professor ... [preconizar a questão ambiental] #

E1 – não, eu também não, nunca tive na / minha formação, nem na formação

acadêmica. # AE1 – e agora até na hora de escovar os dentes eles cuidam, se tu deixar uma torneira aberta, quem tem criança esta vivenciando bastante isso agora, que “a escola esta colocando bem o presente”. // “Eles cuidam a água”, cuidam as plantas, cuidam os animais ee falam para nós também, estão sempre falando para os adultos. # [...] E1 - o meu marido também “deixa a torneira aberta” e a minha filha passa brigando com ele por causa disso. [rindo] # [...] AE1 – todos nós, por que eu também, às vezes, “esqueço uma torneirinha aberta”. // # E3 - E ao mesmo tempo eles gostam de água, quando chega o verão ... [...] AE1 - vão para o chuveiro esquecem das regras do meio ambiente [risos] [refere que mesmo que eles briguem para não gastar água, eles não se importam em gastar quando é para alguma coisa que eles gostem]. /// Pesquisador: alguma coisa a mais? E3 - O que eu vejo é assim, mais empenho da população do que dos governantes. Por exemplo, Santa Maria, por que eu sou de Santa Maria, tem gente que pode não ser [refere pois talvez alguém que esta na sala não seja de Santa Maria], o cadena esta na mesma situação de sempre [se refere a poluição do rio Cadena que corta Santa Maria]. # E1 - de sempre. # [...] E3 - Então assim, é um trabalho individual, / trabalho educacional, de conscientização, que esta “sendo mais empenhado na escola”. Claro que, realmente é um futuro, para a gente ir auxiliando em casa. Mas ao visível, por parte de governante, eu não vejo quase nada [fala categoricamente, parecendo indignada com essa situação]. A coleta seletiva poucos locais tem, muitas vezes, os containers estão transbordando. Eu moro em camobi e não tem coleta seletiva, então, se eu quero guardar um óleo, alguma coisa, eu vou ter que localizar a pessoa que faz esse serviço. A parte de / da reciclagem de / informática também, a parte tecnológica, tu tens que tentar descobrir alguma coisa, em algum momento específico, tem uma coleta lá naquele local, naquela rua, tal dia [entrevistada se refere a campanhas que algum estabelecimento eventualmente faz]. Mas a coisa não é bem assim, tu também tens os teus compromissos [entendo que ela queira dizer que esses lugares já devam estar pré-estabelecidos para facilitar a organização da sua rotina]. # E1 – É que nem os medicamentos, / eu queria trazer uns medicamentos para cá e não queriam que eu trouxesse os medicamentos para cá que estão vencidos. # AE2 – não pode! [...] E1 - Mas e onde eu vou colocar? Eu estou lá com um saco cheio de medicamento vencido e não sei o que fazer [se refere ao fato do hospital não aceitar que funcionários tragam medicamentos vencidos de suas residências para que ele dê a destinação final correta, bem como refere não saber o que fazer e onde depositar os medicamentos vencidos.]. # AE2 – nas farmácias tem, eu acho, tem algumas farmácias que já tem [tom de dúvida]. #

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(...) [todas começam a falar nomes de farmácia que disponibilizam esse serviço - burburinho] # [...] E1 – É, mas eu acho o fim, a gente trabalha dentro de um hospital por que que a

gente não pode trazer os medicamentos para cá? [inconformada] #

[...] AE2 – É que eles pagam por quilo, é pago, uma vez o pessoal explicou. Depois eles pesam aquele lixo e pagam. [entrevistada tenta explicar que a administração não aceita medicamentos vencidos devido ser um serviço que demanda recurso financeiro para sua destinação] # [...] E1 – mas mesmo que seja [ainda inconformada]. # [...] AE2 – sim, exatamente. # [...] E1 – pior é tu colocar no lixo comum, / no vaso sanitário, no esgoto [consciência dos efeitos que esses medicamentos trarão para a saúde das pessoas e para o meio ambiente??]. # (...) [todas começam a falar juntas novamente] #

E3 – não! Se fores fazer uma pesquisa da água quanto ao resíduo de medicamentos, meeu Deus do céu [risos], / já deve ter horrores, se a gente que é um pouco mais esclarecida jáá // ... [se refere ao fato da instituição não ter um plano de gerenciamento de resíduos líquidos uma vez que os funcionários desprezam restos de medicações nas pias dos postos de enfermagem, bem como se supõe que a entrevistada quis dizer que apesar de ter estudo não realiza (não se preocupa com) o destino correto quem dirá então as pessoas menos esclarecidas] # [...] E3 – mas agora fiquei pensando, que farmácia será que tem? # (...) [voltaram a falar nomes de farmácias que recebem medicamentos vencidos - burburinho] # [...] AE2 – é, acho que agora todas as farmácias já têm. # E1 – vou ter que ver isso. # (...) AE2 - e elas também devem pagar [referindo que as farmácias, assim como o hospital, devem pagar para a dispensação de medicamentos vencidos], agora não prestei atenção, mas no supermercado eu vi que tem para pilhas e baterias. Mas agora que eu me dei conta que, tem uns que tem mais de um furo, de repente até já tenha para / colocar medicamentos [se referindo aos postos de coleta]. A recém está começando a inventar essas coisas. // # AE1 - e cada vez parece que aumenta mais o lixo, taanto lixo, eu nunca vi tanto lixo reciclável que sai. Antigamente, não saia tanto assim. Teu lixo, se tu fores dividir em casa, tu vê que 80%, 90% é reciclável. [relação com o modo capitalista de produção, onde as coisas são feitas para não durar, bem como o estímulo ao consumismo através da mídia, etc] # E2 – eu divido na minha casa [segregação dos resíduos em casa]. # E1 – tu divides? eu não! # AE2 – “eu divido lá também” [divide os resíduos em casa também]. # [...] E1 - Eu sei que eu sou errada, mas acaba que não dá tempo. [entrevistada ciente de que deveria realizar a segregação dos resíduos domésticos, no entanto, atribui a isso o fato de estar sempre atribulada com outros afazeres] # E3 – “eu consigo dividir só o seco do orgânico” / por que, de vez em quando, passa até alguns catadores, eu separo uns papelões para eles, deixo ali. Cuido o tempo

para ver se não vai chover, mas vidro eles nem querem mais. #

AE1 – mas se tu te inscreveres na prefeitura, eu me inscrevi, aí passa o caminhão da prefeitura [se refere à parceria da prefeitura de Santa Maria com a ASMAR]. # (...) [todas falam juntas novamente - burburinho]

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[...] AE1 – aí tu podes colocar atéé objetos domésticos, que daí eles arrumam e dão para as pessoas que precisam. # E3 – pois é, mas não é uma divulgação tão clara, não é uma coisa divulgada [questiona a divulgação desse serviço pela prefeitura]. # [burburinho] [...] AE1 – não, “não é uma coisa divulgada” [concorda que não é um serviço amplamente divulgado], mas aí tu tens que ligar umas duas ou três vezes para eles virem [explica como deve fazer para solicitar o serviço] (...). Agora eles estão indo todas as sextas-feiras, mas também já teve gente que ligou e eles não passaram. Se tu não ficar insistindo até eles virem. // [avisa que se deve insistir para obter o serviço, pois às vezes eles não vão até o local] # E2 – a caixinha de leite tu tens que lavar, cortar e lavar para eles, então eu não sei, lá em casa eu tenho três idosas que moram junto, que é a minha madrinha e a minha mãe, então eu não sei [dá trabalho??]. Eu estou, muito mais, vendo essa

decadência que esta o nosso meio ambiente, eu me criei pra fora [visão naturalizada?] e não era assim, era diferente. Então, elas se preocupam, elas têm tempo também para fazer isso. [entrevistada diz enxergar os impactos causados ao meio ambiente, no entanto deixa claro que em sua residência só ocorre a segregação de resíduos devido ela morar com pessoas idosas (aposentadas?) que têm tempo para se dedicar a esse serviço já que é um serviço trabalhoso] # E1 – é, elas têm tempo de parar ... [concorda que é preciso despender de tempo para realizar essa tarefa] # (...) [começam novamente a falar juntas - burburinho] [...] E2 – senão, não sei como é que faria [entrevistada refere não saber como faria para realizar a segregação]. //

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APÊNDICE E

Quadro síntese de temas e subtemas geradores das DCS

QUADRO SÍNTESE

DINÂMICAS TEMA GERADOR SUBTEMA CATEGORIAS TEMÁTICAS

TECENDO HISTÓRIAS

ÁRVORE DO

CONHECIMENTO

ALMANAQUE

Percepção de meio ambiente

Inserção do tema meio

ambiente em suas vidas

Conceito de responsabilidade socioambiental

Fatores limitadores de

práticas e ações de responsabilidade socioambiental

Fatores facilitadores de

práticas e ações de responsabilidade socioambiental

Meio ambiente como integrante na formação

do ser humano

A importância do meio ambiente para a

formação da cidadania

Preocupação com o meio ambiente

Inserção da temática

meio ambiente na formação

escolar/acadêmica

O reconhecimento de diversos atores sociais como corresponsáveis pela questão ambiental

Responsabilidade

socioambiental por parte da instituição pesquisada

na percepção dos sujeitos

Modo capitalista de

produção e a prática do consumo: consequências

para o meio ambiente

Estratégias sustentáveis que são de

conhecimento dos participantes

As raízes socioculturais da

percepção de meio ambiente na visão de

trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto hospitalar

Cotidiano de trabalho:

limites e possibilidades para a

responsabilidade socioambiental no contexto hospitalar