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Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Mestrado em Comunicação e Jornalismo 2012/2013 O Contratualismo de John Rawls Implicações diretas no código deontológico e nas práticas jornalísticas Seminário: Ética e Deontologia da Comunicação Docente: Professor Doutor Carlos Camponez

Dissertação sobre John Rawls

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Dissertação sobre John Rawls feita no âmbito do mestrado em Comunicação e Jornalismo na Universidade de Coimbra

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tica e Deontologia da ComunicaoO contratualismo de John Rawls na prtica jornalsticaFaculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Mestrado em Comunicao e Jornalismo2012/2013

O Contratualismo de John RawlsImplicaes diretas no cdigo deontolgico e nas prticas jornalsticas

Seminrio: tica e Deontologia da ComunicaoDocente: Professor Doutor Carlos Camponez

Discente: Nuno Ribeiro Margarido

Mestrado em Comunicao e JornalismoInstituto de Estudos Jornalsticos2012/2013

O Contratualismo de John RawlsImplicaes diretas no cdigo deontolgico e nas prticas jornalsticas

Seminrio: tica e Deontologia da Comunicao

Docente: Professor Doutor Carlos Camponez

Data de entrega: 14/01/2013

ndice

O Contratualismo 5 - 7Legitimidade, justia e democracia:8 - 10o novo contratualismo de RawlsO contratualismo no Jornalismo 11 - 14Os cdigos deontolgicos como contratos morais13 - 14Bibliografia15 - 16

Resumo

O presente artigo prope analisar o nfase de John Rawls nas questes de justia e do contratualismo sob o prisma crtico de um melhor desenvolvimento e produo jornalstica. Na primeira parte do artigo, apresenta-se, de forma breve, uma simples explicao e uma breve contextualizao acerca do contratualismo. Na segunda seco abordaremos a legitimidade, a justia e a democracia e os mecanismos propostos por Rawls na reforma que produziu dentro do prprio contratualismo. Na ltima parte tentaremos perceber e explanar as prticas e normas jornalsticas com os quais a Teoria da Justia interfere.

"Talvez ningum tenha explicitamente prometido obedecer; no entanto, ao juntar-se ao jogo, cada pessoa implicitamente aceita seguir as regras que tornam o jogo possvel. como se todos tivessem concordado. A moralidade assim. O jogo a vida em sociedade; derivam-nos dela enormes benefcios, e no queres abandonar esses benefcios; mas, de maneira a jogar o jogo e obter os benefcios, temos de seguir as regras." (Rachels, 2003: 224)O contratualismo

O mundo atual vive e continua procura de filosofias e teorias a partir das quais possa aprimorar as relaes humanas, polticas e sociais. Assim, e embora ainda no exista o devido reconhecimento da livre cidadania em algumas sociedades contemporneas, temas como justia, democracia ou liberdade continuam a ser amplamente discutidos. Tal atitude obriga a que ideias de pensadores, tanto clssicos como contemporneos, sejam constantemente debatidas na esperana de exponenciar padres de convivncia tico-poltica que possam levar o indivduo conquista da verdadeira cidadania e da verdadeira felicidade.Assim, o contrato social surge como uma grande narrativa onde se fundam e edificam as obrigaes da poltica moderna, obrigaes essas que foram estabelecidas por homens livres para, pelo menos para Rousseau, maximizar e no minimizar essa liberdade. Pode assim entender-se o Contratualismo como a tentativa ou a expresso de uma regulao social atravs da emancipao social, ou seja, a reproduo de meios reguladores do bem comum a partir do interesse particular de cada indivduo. Torna-se assim importante o garante da sociedade civil onde o estado social, o direito e a educao cvica tomam grande protagonismo no desenrolar e na aprimorao desse contrato social. Por outras palavras, existe uma relao mtua entre os indivduos e as instituies para exponenciar a legitimidade do Estado social, ou seja, a teoria do Contratualismo procura apresentar uma resposta racional sobre a provenincia dos governos e da fundamentao da legitimidade do poder dos mesmo.Como exemplo, poderemos considerar a opinio de Thomas Hobbes, o primeiro e um dos maiores contratualistas pr-modernos, que considerava a permanncia dos indivduos e da humanidade num perodo pr-poltico e social que se intitulava de estado de natureza. Essa estrutura fundamenta-se numa ausncia de poder poltico e social onde, a um nvel relacional, todos se encontram no mesmo patamar de igualdade. assim claramente notada a falta de meios coercitivos ou at mesmo de manuteno da paz e, consequentemente, os indivduos viveriam numa luta constante gerada pelo medo e pela desconfiana, visto que cada um procuraria defender os seus prprios interesses particulares. So estas as duas causas que levaro o homem a abandonar o seu estado de natureza efetuando um pacto que lhes permita conviver em sociedade e exponenciando a existncia de um poder soberano.

"Todos queremos viver to bem quanto possvel, mas ningum pode prosperar sem uma ordem social pacfica e cooperante. E no podemos ter uma ordem social pacfica e cooperante sem regras. As regras morais so apenas, pois, as regras necessrias para nos permitir obter os benefcios da vida em sociedade. essa a chave para a compreenso da tica e no Deus, o altrusmo ou os factos morais." (Rachels, 2003: 204)

Existe assim a necessidade de cooperao na criao de regras de convivncia generalizadas e maioritariamente aceites, assentes numa base de confiana mtua para exponenciar o bem estar individual e conjunto. Ou seja, h uma credibilizao do estado civil na qual o indivduo considera que, a partir de uma atitude e prtica de cooperao e respeito mtuo, pode obter resultados bem mais benficos para a sua vida. Outra concluso que se pode retirar que quanto mais violento ou anrquico for o estado natureza, maior ser o poder investido pelo estado proveniente do contrato social que se efetuar.Um aspeto que importa ressalvar a vantagem mais bvia que uma teoria contratualista da moral aparenta, isto , a facilidade em definir regras morais obrigatrias necessrias vida em sociedade. Torna-se assim fcil a justificao do motivo pelo qual devemos orientar-nos por essas regras, pois percetvel os benefcios que todos podem e cada um pode retirar. Ou seja, entende-se, e no de uma maneira simplesmente retrica, que ao viver em sociedade se atinjam objetivos comuns muito mais proveitosos. Um bom exemplo para ilustrar essa necessidade de cooperao o clebre "dilema do prisioneiro", que mais tarde acabou por ser desenvolvido com a chama "teoria dos jogos", onde se demonstra que uma atitude benevolente, atenta s necessidades dos outros, traz maiores benefcios que uma atitude puramente egosta. Segundo Boaventura de Souza Santos, na sua obra Reinventar a Democracia, existem trs principais critrios de incluso que, ao mesmo tempo, tambm excluem. O primeiro declara que o contrato social apenas inclui os indivduos e as suas associaes, designando tudo o que se encontra fora dele como estado de natureza. A nica natureza que importa, segundo o mesmo, a humana. O segundo critrio o da cidadania territorialmente fundada. S os cidados fazem parte do contrato social, excluindo-se estrangeiros, imigrantes, minorias tnicas, entre outros. Isto verifica-se, por exemplo, com a possibilidade de voto, que apenas permitida aos cidados e negada a estes casos especficos. O terceiro e ltimo critrio o do comrcio pblico de interesses, ou seja, limita o contrato social ao que pblico excluindo dele a vida privada e pessoal e os espaos ntimos e domsticos. So este os critrios principais que, como afirma Santos, vo "fundamentar a legitimidade da contratualizao das interaes econmicas, polticas, sociais e culturais."Esta contradio de includos/excludos o grande entrave do contrato social, uma vez que a legitimao deste se realiza atravs da ausncia destes segundos.

Legitimidade, justia e democracia: o novo contratualismo de Rawls

John Rawls retoma a teoria do contrato social, anos mais tarde depois de ter sido introduzida, enfatizando as questes de justia e no as de legitimidade. Em sntese, pode-se afirmar que Rawls desenvolveu uma teoria assumidamente contratualista da moral a partir de uma conceo de justia apresentada pelo mesmo. Ao retomar a configurao do contrato social como mtodo, o contratualista no tem como objetivo fundamentar a obedincia devida ao Estado mas introduzi-la como recurso para fundamentar um processo de eleio de princpios de justia.O autor da emblemtica obra "Uma Teoria da Justia" desenvolveu uma metodologia que, atravs de mecanismos como o contrato social, a posio original, o vu da ignorncia e o equilbrio reflexivo, procura elevar e conceder protagonismo a princpios morais gerais. Para ele, qualquer sociedade tem ou deve ter como objetivo principal a oferta de condies para o desenvolvimento dos indivduos que a constituem e fazem parte dela. Assim, torna-se imperativo que a sociedade deve cooperar na escolha de princpios de justia que definiro a maneira como se distribuiro os benefcios e encargos a recolher. percetvel ento os papis que a justia social deve assumir, visto que as instituies no devem fazer distines arbitrrias entre as pessoas, quando atribuio de direitos e deveres bsicos. (Rawls, 2000: 06)Resumidamente, segundo John Rawls, o contrato no cria a sociedade ou uma forma particular de governo. Na verdade, para o autor, o contrato tem como objeto princpios consensuais de justia que devero nortear e orientar as instituies sociais. Ou seja, pessoas livres e racionais em posio inicial de igualdade elegeriam certas regras gerais para definir os limites basilares da sua associao. assim introduzida a justia como equidade.Como referido anteriormente, existem vrios mecanismos introduzidos e adaptados por Rawls que permitem atingir essa justia como equidade. A posio original, ou estado de natureza como anteriormente considerado por Hobbes, deve ser entendida hipoteticamente, uma vez que se torna impossvel de concretizar. No entanto, esta posio original que deve conduzir os indivduos a exigida conceo de justia. Nesta situao, todos os indivduos desconhecem a sua posio e lugar na sociedade, a sua classe, status social ou at mesmo as suas habilidades naturais. Tornava-se assim possvel a mais natural e sincera escolha, da parte de indivduos ticos, de princpios de justia atravs de um conceito, tambm introduzido por Rawls, denominado por vu da ignorncia. Existia assim um garante de que ningum seria favorecido ou desfavorecido na escolha dos princpios que nortearo a sociedade da qual os indivduos faro parte, uma vez que todos os princpios de justia resultam de um consenso equitativo originrio de um "auto-esquecimento" voluntrio. importante ressalvar o conceito de "pessoas ticas", isto , aqueles indivduos racionais que, segundo Rawls, possuam todas as capacidades para um sentido de justia.O contratualista afirma tambm que "cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justia que nem mesmo o bem-estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa razo, a justia nega que a perda da liberdade de alguns se justifique pro um bem maior partilhado por outros" (Rawls, 2000: 04). Percebe-se assim que Rawls no abraava, de todo, as teorias utilitaristas, uma vez que no admite que existam consequncias minoritrias para o bem estar maioritrio. Voltando ao conceito da justia como equidade, necessrio fazer meno maneira como a teoria rawlsiana entendia a os princpios de justia que dela se originariam. Segundo Rawls, estes subdividem-se em dois: o princpio da igualdade, onde a sociedade assegura os mesmos direitos para todos os cidados, e o princpio da diferena, onde as desigualdades sociais e econmicas devem ser organizadas de maneira a que ofeream aos mais desfavorecidos as melhores perspetivas e uma justa igualdade de oportunidades. Por um lado, uma tentativa de assegurar que todos os indivduos possuam os mesmos direitos e liberdades fundamentais, encarando-as como prioritrias e independentes das desigualdades de estatuto, mas por outro, considera-se que a estas liberdades formais no valem s por si e por isso necessria existir essa ateno especial aos mais desfavorecidos. Assim, facilmente percetvel que o contratualista considera que atingindo um nvel de bem estar satisfatrio, ou seja, acima do nvel de luta pela sobrevivncia, a liberdade tem prioridade absoluta sobre o bem estar econmico ou a igualdade de oportunidades, fazendo de Rawls um liberal. As liberdades individuais, de conscincia e de pensamento so, na viso do contratualista, fundamentais. Assim torna-se imperativo que sejam protegidas e garantidas a todo e qualquer cidado para que exista um status comum de cidadania igual e para que seja possvel implementar a justia poltica. Ou seja, na perspetiva de John Rawls, o consenso contratual prope uma sociedade bem organizada na medida em que a mesma deve ser regulada por uma conceo pblica de justia.

A justia , para o contratualista, pilar primeiro das instituies sociais. Como j foi referido, a justia deve considerar injustificvel a perda de liberdade da parte de uns para corresponder com um bem maior partilhado por todos. Assim, como refere Neiva Oliveira, "as liberdades da cidadania so consideradas inviolveis e os direitos assegurados pela justia no so passveis de negociao poltica ou sujeitos ao clculo de interesses sociais." Segundo Rawls, no se pode dar mais importncia questo da legitimidade em detrimento da justia, pois podemos incorrer no erro de considerar aquilo que "legtimo" como "justo". A legitimidade permite uma certa margem de manobra a quem lidera uma instituio, no entanto, essa liderana pode no ser justa. O mesmo caso se pode aplicar para as leis, uma vez que elas podem ser aprovadas pela maioria ao mesmo tempo que correspondem com todas as exigncias dos processos democrticos, no entanto, elas podem ser questionveis do ponto de vista da justia.A distino entre justia e democracia altamente importante, contudo, obrigatrio refletir sobre o ponto de vista da justia quando se trata de julgar decises procedimentalmente legtimas. Para que possam ser legtimas, as leis no podem ser muito injustas, porque em caso contrrio elas sero, sem dvida alguma, consideradas ilegtimas. Podemos ento concluir que a justia que vai definir os limites da legitimidade democrtica.

"O jornalismo serviu para construir a comunidade. O jornalismo contribuiu para a cidadania. O jornalismo contribuiu para a democracia. Milhes de pessoas, com o poder que lhes foi concedido pelo livre fluxo de informao, envolveram-se diretamente na criao de um novo governo e de novas regras para a vida poltica, social e econmica do seu pas." (Kovach, Rosenstiel, 2004: 15)

O contratualismo no jornalismo

Desde sempre que as pessoas possuem um instinto de conhecimento, uma necessidade intrnseca de saber muito para alm daquilo com que privam diretamente, isto , uma nsia de saber muito mais acerca do mundo para alm daquele com que interagem diretamente. essa possibilidade que possumos de estar atentos corrente de acontecimentos que no podemos testemunhar que nos garantem uma maior confiana, um maior controlo e uma maior confiana para a vida em sociedade. Atribui-se assim um significado e uma importncia cvica ao jornalismo onde a procura por uma informao fivel, rigorosa e independente deve ser estabelecida para assegurar as liberdades dos cidados.Tendo em conta a importncia do jornalismo no contributo para a liberdade cvica a exercer pelos cidados, torna-se imperativo que esta profisso, como pilar fundamental do garante de uma plena democracia, atinja, intrinsecamente, uma legitimidade e uma credibilidade pblicas. Para que tal acontea, Kovach e Rosenstiel estabelecem nove pontos essenciais:

1. A primeira obrigao do jornalismo para com a verdade.2. O jornalismo deve manter-se leal, acima de tudo, aos cidados.3. A sua essncia assenta numa disciplina de verificao.4. Aqueles que o exercem devem manter a independncia s pessoas que cobrem.5. Deve servir como um controlo independente do poder.6. Deve servir de frum para a crtica e compromisso pblicos.7. Deve lutar para tornar interessante e relevante aquilo que significativo.8. Deve garantir notcias abrangentes e proporcionadas.9. Aqueles que o exercem devem ser livres de seguir a sua prpria conscincia.

(Kovach, Rosenstiel, 2004: 10)

O principal intuito e o compromisso base do jornalismo o de fornecer informao para que os cidados possam continuar a usufruir da sua liberdade e para que se consigam autogovernar. Torna-se assim essencial que a atividade jornalstica se norteie primeiramente pelo princpio da verdade. Esta a premissa necessria para a legitimao de uma profisso com consequncias reais no plano social onde est inserida. O conceito de verdade -nos apresentado como um valor to unnime quanto confuso, quando analisado a par de conceitos to diferenciados quanto exatido e imparcialidade. Assim, facilmente percetvel a possibilidade do jornalista ser imparcial e exato no relato e na descrio dos acontecimentos sem que esteja, necessariamente, a ser verdadeiro. Exige-se assim que se estabelea a diferena entre a funo da notcia e a funo da verdade. A primeira ganha sentido ao transmitir um acontecimento s pessoas. A segunda tem como funo "revelar os factos escondidos, estabelecer a relao existente entre eles e formar uma imagem da realidade com base na qual as pessoas possam atuar." (Lippmann apud Kovach, Rosenstiel)Esta verdade exigida pela sociedade. Da advm a urgncia do processo de acreditao da profisso que apenas ser alcanado atravs de um pressuposto de profissionalismo. Este processo desenvolve-se atravs da fomentao de uma formao especializada e orientada para as preocupaes deontolgicas da atividade, por parte das entidades reguladoras, dos profissionais e do prprio pblico.

Os cdigos deontolgicos como contratos morais

Os cdigos deontolgicos, linhas orientadoras que incluem todos os compromissos supracitados, assumem-se como um compromisso social e cvico. o reconhecimento do papel da profisso na sociedade e da vontade que a mesma possui em estabelecer uma ponte entre uma moral social e uma moral profissional.Como refere Carlos Camponez, na sua obra Deontologia do Jornalismo, existem cinco deveres fundamentais do jornalista, no s para consigo mesmo, mas tambm para com aqueles com quem partilha o espao meditico. Primeiramente para com a informao, que inclui a sua confirmao e retificao, a exatido, a dvida metdica, a igualdade de tratamento e a claridade de ideias. Em segundo lugar, para com a fonte de informao, fazendo referncia ao respeito pelos compromissos assumidos, tais como a proteo e citao das fontes. Para com os outros, salienta-se o respeito pela presuno da inocncia, pela privacidade e pela dor, e a no discriminao baseado na cor, na etnia, na situao social e/ou econmica. Em quarto lugar, so-nos apresentados os deveres do jornalista para com os seus pares, que pressupe a recusa de presses, a responsabilidade pelos seus trabalhos, a defesa dos direitos dos jornalistas e a no utilizao de meios ilcitos para a obteno da informao. Por ltimo, mas no menos importante, destacam-se os deveres do jornalista para consigo prprio, onde se salienta a defesa da clusula de conscincia.

Contudo, no nos podemos esquecer que os jornalistas se inserem numa organizao hierarquicamente bem definida, o que acarreta um sem nmero de presses provenientes dos proprietrios dos rgos de comunicao social. Estas organizaes respondem perante outros interesses, nomeadamente de instituies comunitrias, empresas-me, acionistas, anunciantes, entre outros. Pode ento compreender-se que o jornalista vive parte da sua profisso balanceando dois pesos: a verdade e a lealdade. Assim, numa situao de confronto entre os interesses referidos e o interesse pblico, o respeito pelo compromisso com o segundo deve prevalecer, pois "os cidados no so clientes" (Kovach, Rosenstiel, 2004: 63).

A legitimao necessria profisso , como referido acima, atingida atravs de um contrato - hipottico ou no - entre os vrios atores mediticos. Aplicando a teoria de Rawls, ao ter estas linhas como orientadoras, o jornalismo consegue atingir a sua funo de justia, possibilitando o perfeito desenvolvimento social e dando aos cidados todos os instrumentos necessrios para que sejam soberanos de si mesmos. Todas estas preocupaes e todos estes compromissos so, de sobremaneira, importantes para os destinatrios dos contedos jornalsticos, no entanto, isso no retira ao jornalismo toda e qualquer responsabilizao pelos mesmos. Como referido acima, "o jornalismo deve, acima de tudo, manter-se leal aos cidados".

Bibliografia

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