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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE MESTRADO EM ORTODONTIA AVALIAÇÃO DO TRESPASSE VERTICAL INTERINCISIVOS NA DENTADURA DECÍDUA, EM PACIENTES COM CECEIO ANTERIOR E/OU PROJEÇÃO LINGUAL ANTERIOR, NA EMISSÃO DOS FONEMAS LINGUOALVEOLARES /T/, /D/, /N/ E /L/. MARCELO DE GOUVEIA SAHAD Dissertação apresentada à Universidade Cidade de São Paulo, como parte dos requisitos para concorrer ao título de Mestre em Ortodontia. São Paulo 2006

Dissertação Marcelo de Gouveia Sahadarquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/... · Dissertação apresentada à Universidade Cidade de São Paulo, como parte dos

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

CURSO DE MESTRADO EM ORTODONTIA

AVALIAÇÃO DO TRESPASSE VERTICAL INTERINCISIVOS NA DENTADURA DECÍDUA, EM PACIENTES COM CECEIO ANTERIOR

E/OU PROJEÇÃO LINGUAL ANTERIOR, NA EMISSÃO DOS FONEMAS LINGUOALVEOLARES /T/, /D/, /N/ E /L/.

MARCELO DE GOUVEIA SAHAD

Dissertação apresentada à Universidade

Cidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para concorrer ao título de

Mestre em Ortodontia.

São Paulo

2006

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

CURSO DE MESTRADO EM ORTODONTIA

AVALIAÇÃO DO TRESPASSE VERTICAL INTERINCISIVOS NA DENTADURA DECÍDUA, EM PACIENTES COM CECEIO ANTERIOR

E/OU PROJEÇÃO LINGUAL ANTERIOR, NA EMISSÃO DOS FONEMAS LINGUOALVEOLARES /T/, /D/, /N/ E /L/.

MARCELO DE GOUVEIA SAHAD

Dissertação apresentada à Universidade

Cidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para concorrer ao título de

Mestre em Ortodontia.

Orientadora:

Profª. Dra. Ana Carla Raphaelli Nahás

São Paulo

2006

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Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza S131a

Sahad, Marcelo de Gouveia. Avaliação do trespasse vertical interincisivos na dentadura decídua, em pacientes com ceceio anterior e/ou projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/,/d/, /n/ e /l/. Marcelo de Gouveia Sahad. --- São Paulo, 2006. 120p. ; anexos ; apêndices. Bibliografia Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade de São Paulo 1.Má oclusão 2.Trespasse Vertical Interincisivos 3. Ortodontia. 4.Fala I.Título.

Black 42

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADA AO AUTOR A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO. São Paulo, ____ / ____/ _____

Assinatura: _____________________________

e-mail: [email protected]

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Sahad, M.G. Avaliação do trespasse vertical interincisivos na dentadura decídua, em pacientes com ceceio anterior e/ou projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo; 2006.

São Paulo, 20/02/2006.

Banca Examinadora

1) Prof (a). Dr (a): ..................................................................................................... Julgamento: ......................................... Assinatura: .......................................

2) Prof (a). Dr (a): ..................................................................................................... Julgamento: ......................................... Assinatura: .......................................

3) Prof (a). Dr (a): ..................................................................................................... Julgamento: ......................................... Assinatura: .......................................

Resultado: .........................................................................................................

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Dedicatória

Dedico este trabalho primeiramente a Deus.

“A grandeza de um homem depende da intensidade de suas relações com Deus.” Saint-Exupéry

A Celeste Maria de Almeida Gouveia (in memorian), cirurgiã dentista, graduada no ano de 1926 pela então Escola de Pharmacia e Odontologia,

hoje Universidade de São Paulo, minha querida avó e anjo da guarda, que me inspirou nesta profissão.

Pessoa com quem não tive o prazer de conviver pessoalmente, mas que

gera em mim o orgulho e a satisfação de ser

seu neto.

“Vocês não morreram, apenas ficaram encantados.” Guimarães Rosa

Aos meus queridos pais, Moysés Elias Sahad e Dulce Regina de Almeida Gouveia Sahad, pelos exemplos dignos de vida e conduta, pelos sacrifícios em

prol de minha formação humana e profissional.

“A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes.” Khalil Gibran

Aos meus irmãos, Cláudio Cesar de Gouveia Sahad e Carlos Roberto de Gouveia Sahad,

pela amizade, incentivo e estímulo.

"É preciso permitir que alguém nos ajude, nos apóie, nos dê forças para continuar. Se aceitamos este amor com pureza e humildade, vamos entender que o Amor não é dar ou receber - é participar."

Paulo Coelho

A todos que eu amo e que fazem parte da minha vida.

“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Pessoa

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Agradecimentos especiais

Aos nossos Mestres que, mais do que dividir conosco o seu saber, souberam

ser nossos companheiros, emocionando-se com nossas vitórias e nos suportando

em nossas pelejas diárias na busca pelo saber. O meu muito obrigado àqueles que,

quando tinham a obrigação de apenas lecionar, foram amigos, e, através dessa

amizade, nos deram sua compreensão, orientação e incentivo para seguir nosso

caminho. Recebam minha admiração, reconhecimento e os meus mais sinceros

agradecimentos.

À Profa. Dra. ANA CARLA RAPHAELLI NAHÁS, orientadora deste trabalho,

pelos conhecimentos transmitidos, incentivo, apoio e pela amizade que sempre

demonstrou.

Ao Prof. Dr. HELIO SCAVONE JUNIOR, grande mestre, amigo e orientador,

pelo seu perfeccionismo, profissionalismo e dedicação na orientação e apoio que

demonstrou nos momentos importantes e decisivos.

Ao Prof. Dr. EDUARDO GUEDES-PINTO, pelo apoio, orientações e

conhecimentos transmitidos durante a realização deste trabalho.

Ao Prof. Dr. FLÁVIO VELLINI FERREIRA, coordenador do curso de Mestrado

em Ortodontia da UNICID, exemplo de sabedoria, dedicação e profissionalismo, pelo

carinho com que me recebeu.

Ao Prof. Dr. FLÁVIO AUGUSTO COTRIM FERREIRA, louvável exemplo de

conduta profissional, pela amizade e o apoio demonstrados.

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À Fonoaudióloga LUCIANA BADRA JABUR, cujos conhecimentos,

participação e incentivo foram de fundamental importância para a realização deste

trabalho.

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original."

Albert Einstein

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Agradecimentos

Aos cirurgiões dentistas e grandes amigos CONSTANTINO NICOLAU NETO,

LUIZ FERNANDO MOURA BONADIA, MARCELLO VIANA PEDROSA, CRISTIANE

YUNES LAPA, FERNANDO YUNES LAPA e ANTÔNIO AUGUSTO F. LEPORACE,

pelo carinho e apoio dedicados em momentos importantes de minha vida.

Aos Professores Doutores PAULO EDUARDO GUEDES DE CARVALHO,

RÍVEA INES FERREIRA, DANIELA GAMBA GARRERA, KARYNA MARTINS DO

VALE COROTTI e ÂNGELA MARIA MACEDO, pela amizade e pelos conhecimentos

transmitidos ao longo do curso.

Ao Prof. Dr. CELSO DE CAMARGO BARROS JR., pela cordialidade e pelas

orientações precisas durante a realização da análise estatística.

Aos colegas do curso de Mestrado MARCELO CALVO, CARLA ITO, STELLA

ANGÉLICA DE SOUZA GOUVEIA, VIVIANE SATO, ALESSANDRA MOTA,

GUILHERME PAIVA, MARIA ISABEL BARRIGA, LUIS FISHER, MAÍRA FERREIRA,

MARISA JUNQUEIRA e, especialmente, a EDUARDO LENZA e FRANCISCO

GRIECO, pela amizade, pelo convívio e por tudo que aprendemos e vivenciamos

juntos.

À Fonoaudióloga ALESSANDRA BASTOS NOGUEIRA, que participou deste

estudo, o meu reconhecimento.

Às funcionárias SUZI e LINDA, pela amabilidade e presteza de seus serviços.

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À minha fiel e responsável auxiliar FABIANA DOS SANTOS SILVA, pela

dedicação e apoio no meu dia-a-dia.

Aos pacientes, indispensáveis à minha formação profissional.

Ao Sr. UBIRAJARA RAFAEL LEME, sempre preciso na compilação dos

dados e nos recursos de informática.

"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível."

São Francisco de Assis

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Sahad, MG. Avaliação do trespasse vertical interincisivos na dentadura decídua, em pacientes com ceceio anterior e/ou projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo; 2006.

RESUMO

Mediante um levantamento epidemiológico transversal, realizado em 333 crianças

brasileiras, dos gêneros masculino (157) e feminino (176), na faixa etária dos 3 aos 6

anos de idade, matriculadas em uma escola de educação infantil na cidade de São

Paulo, este estudo visou avaliar as prevalências dos diferentes tipos de trespasse

vertical interincisivos e suas inter-relações com o ceceio anterior e/ou projeção

lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ . Todas as

crianças envolvidas foram submetidas ao exame clínico da oclusão no plano vertical

anterior e à avaliação fonoaudiológica. Além da análise estatística descritiva,

abrangendo o cálculo e a tabulação da prevalência dos quatro tipos de trespasse

vertical interincisivos (normal, aumentado, nulo e negativo), bem como a dos

problemas fonoarticulatórios estudados, efetuou-se a análise de significância

estatística, mediante o teste do Qui-quadrado, com nível de significância de 0,05

(95% de confiança), para a verificação das possíveis relações entre esses dois

fatores. Os dados quantitativos mostraram as seguintes prevalências: 1- tipos de

trespasse vertical interincisivos: 48,30% para o normal, 22,50% para o aumentado,

9,30% para o nulo e 19,80% para o negativo; 2- presença de ceceio anterior nos

tipos de trespasse vertical interincisivos: 42% para o normal, 12,50% para o

aumentado, 12,50% para o nulo e 33,30% para o negativo; e 3- presença de

projeção lingual nos tipos de trespasse vertical interincisivos: 42,10% para o normal,

14% para o aumentado, 10,50% para o nulo e 33,30% para o negativo. Os

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resultados da análise estatística mostraram que houve significância para os

portadores de ceceio anterior e de projeção lingual anterior em relação ao trespasse

vertical interincisivos negativo, e significância estatística para os não portadores de

ceceio anterior e de projeção lingual anterior em relação ao trespasse vertical

interincisivos aumentado.

Palavras-chave: Má oclusão - Trespasse vertical interincisivos - Fala - Ceceio anterior - Projeção lingual anterior.

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Sahad, MG. Vertical interincisal trespass assessment in deciduous dentition phase, in children with anterior lisping and/or anterior tongue thrust, during the articulation of the lingua-alveolar phonemes /t/, /d/, /n/ and /l/ [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo; 2006.

ABSTRACT

Through a transversal epidemiological study, conducted in 333 Brazilian children,

males (157) and females (176), aged 3 to 6 years old, enrolled in a public preschool

in the city of São Paulo, this study aimed to evaluate the prevalence of the different

kinds of vertical interincisal trespass and the relationship between these occlusal

aspects with anterior lisping and/or anterior tongue thrust in the articulation of the

lingua-alveolar phonemes /t/, /d/, /n/ and /l/. All children involved were submitted to a

vertical interincisal trespass examination and to a phonoaudiologic evaluation.

Besides the descriptive statistical analysis, including the calculation and tabulation of

prevalence of the four kinds of vertical interincisal trespass (normal overbite, deep

overbite, edge to edge and open bite), in percentual terms, the statistical significance

was analyzed through the qui-square test, at a significance level of 0.05 (95%

confidence limits), in order to check possible associations between the studied

speech problems and the different kinds of vertical interincisal trespass. The

quantitative analysis of the data demonstrated the following prevalences: 1- the

different kinds of vertical interincisal trespass: 48.30% for normal overbite, 22.50% for

deep overbite, 9.30% for edge to edge and 19.80% for open bite; 2- interdental

lisping in relationship to the different kinds of vertical interincisal trespass: 42% for

normal overbite, 12.50% for deep overbite, 12.50% for edge to edge and 33.30% for

open bite; and 3- children with anterior tongue thrust in the articulation of the lingua-

alveolar phonemes in relationship to the different kinds of vertical interincisal

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trespass: 42.10% for normal overbite, 14.% for deep overbite, 10.50% for edge to

edge and 33.30% for open bite. The statistical analysis of the data demonstrated that

there was a significance for individuals with anterior lisping and anterior tongue trust,

in the articulation of the lingua-alveolar phonemes /t/, /d/, /n/ and /l/, regarding the

open bite; and there was a statistical significance for individuals without anterior

lisping and anterior tongue trust, in the articulation of the lingua-alveolar phonemes

/t/, /d/, /n/ and /l/, regarding the deep overbite.

Key-words; Malocclusion - Vertical interincisal trespass - Speech - Anterior lisping - Anterior tongue thrust.

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LISTA DE TABELAS

p.

Tabela 5.1 - Prevalência dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos na amostra estudada ........................................................................ 65

Tabela 5.2 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de ceceio anterior ...... 66

Tabela 5.3 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.... 67

Tabela 5.4 - Resultados da análise estatística, obtidos com o teste de qui-quadrado, para a obtenção da relação dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos com o ceceio anterior e a projeção lingual anterior (P.L. anterior) na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Na tabela são mostrados os valores do qui-quadrado, valor-p, e a significância estatística dos resultados. ........................................................................................ 68

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LISTA DE GRÁFICOS

p.

Gráfico 5.1 - Prevalência dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos na amostra estudada ....................................................................... 65

Gráfico 5.2 Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de ceceio anterior (Com - presença e Sem - ausência de ceceio anterior) ................... 66

Gráfico 5.3 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (Com – presença e Sem – ausência de projeção lingual anterior)... 67

Gráfico 5.4 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos tipos de trespasse vertical interincisivos em relação ao ceceio anterior ............................................................................................. 68

Gráfico 5.5 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos tipos de trespasse vertical interincisivos em relação à projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ .............................................................................................. 69

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LISTA DE FIGURAS

p.

Figura 4.1 - Trespasse vertical interincisivos normal ............................................ 58

Figura 4.2 - Trespasse vertical interincisivos aumentado (Sobremordida profunda) ........................................................................................... 59

Figura 4.3 - Trespasse vertical interincisivos nulo (Mordida de topo) ................... 59

Figura 4.4 - Trespasse vertical interincisivos negativo (Mordida aberta anterior) . 59

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GLOSSÁRIO FONOAUDIOLÓGICO

Articulação: posição ou movimento dos órgãos fonoarticuladores durante a emissão

de um fonema. Pronunciação distinta das palavras.

Ceceio Anterior: projeção da língua entre os dentes anteriores (para fora) durante a

emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/.

Diadococinesia: ato de repetir rapidamente um movimento simples e cíclico.

Dislalia: distúrbio da palavra falada. Por dislalia pode-se subentender a alteração do

curso de linguagem falada pela deformação ou ausência de um ou mais fonemas na

elaboração das palavras devido a transtornos de articulação. As dislalias, sendo uma

alterações evolutivas do sistema de articulação, podem dividir-se, a grosso modo,

em funcionais e orgânicas e ainda em associadas, quando não são puras e

aparecem associadas.

Dispraxia: desordem da articulação que resulta na perda da capacidade de

organizar o posicionamento da musculatura da fala e de seqüencializar os

movimentos na produção espontânea de fonemas ou de uma seqüência de

fonemas; porém, essa dificuldade não é acompanhada por fraqueza ou lentidão

significativas, ou incoordenação desses músculos nos movimentos reflexos ou

automáticos.

Fonética: estudo dos fonemas, sua produção, suas características e sua percepção

pelo ouvido. Estudo dos sons e das articulações próprias de uma língua.

Fonologia: ciência dos sons da linguagem.

Fricativa: ocorrência de fricção ou que produz fricção. Consoante constritiva que se

produz com o estreitamento das partes do tubo vocal.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 5

3 PROPOSIÇÃO........................................................................................... 52

4 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................... 54

4.1 Material (Amostra) ............................................................................. 55

4.2 Métodos.............................................................................................. 55 4.2.1 Estudo Piloto ............................................................................. 56

4.2.2 Exame Clínico Odontológico ..................................................... 57

4.2.3 Avaliação Fonoaudiológica ....................................................... 60

4.2.3.1 Prova auxiliar - Contexto Pessoal................................. 60

4.2.3.2 Lista de Palavras - Monossílabos e Dissílabos ............ 60

4.2.3.3 Apresentação de Gravuras para Nomeação Espontânea 61

4.2.3.4 Avaliação Fonoarticulatória .......................................... 61

4.2.4 Análise dos dados..................................................................... 62

4.2.4.1 Armazenamento dos dados.......................................... 62

4.2.4.2 Análise estatística......................................................... 62

5 RESULTADOS .......................................................................................... 63

6 DISCUSSÃO.............................................................................................. 70

6.1 Considerações sobre o tema abordado .......................................... 71

6.2 Aspectos da amostra e metodologia ............................................... 75

6.3 Interpretação e discussão dos resultados ...................................... 77

6.4 Considerações finais......................................................................... 82

7 CONCLUSÕES.......................................................................................... 84

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 86

ANEXOS........................................................................................................ 92

APÊNDICES .................................................................................................. 101

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1 INTRODUÇÃO

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2 1 INTRODUÇÃO

É sabido que as más oclusões dentárias e as anomalias anatomofuncionais

da cavidade bucal demonstram uma notável inter-relação (TOMÉ, 2004). A ação

modeladora dos músculos sobre os arcos dentários, quando bem equilibrada e

harmoniosa, favorece uma oclusão adequada, sendo que qualquer alteração no

mecanismo funcional pode induzir a alterações no desenvolvimento ósseo. Os

músculos, ao exercerem sua função, modelam os ossos e de certo modo dirigem o

seu crescimento. Dessa maneira, a relação existente entre a cavidade bucal e o

complexo muscular bucofacial desperta a necessidade de que todos os ortodontistas

saibam identificar, além das más oclusões, também as alterações musculares e

funcionais bucofaciais, de modo a determinar a melhor fase para o encaminhamento

do paciente à clínica fonoaudiológica (JABUR, 2002).

Assim, as alterações morfológicas podem desencadear alterações funcionais,

porém nem sempre uma alteração na forma determinará a presença de distúrbios

fonoarticulatórios. Acredita-se também que o próprio organismo possui capacidade

compensatória perante as suas limitações anatômicas. Entretanto, essas limitações,

quando não compensadas adequadamente ou quando exigem um grau maior de

adaptação funcional, podem levar a distúrbios da fala. Dessa maneira, a atuação

precoce e em conjunto de ortodontistas e fonoaudiólogos, por meio da terapia

miofuncional, auxilia na prevenção, durante as dentaduras decídua e mista, de

algumas anomalias oclusais, contribuindo também para a eliminação de forças

musculares contrárias ao tratamento ortodôntico, favorecendo a estabilidade dos

tratamentos finalizados com uma oclusão funcionalmente ideal (JABUR, 2002).

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Introdução 3

Pesquisas relacionando a fala com as más oclusões dentárias

freqüentemente deixam de ser conclusivas em decorrência de esses estudos

envolverem vários fatores diferentes e de grande complexidade, tais como:

populações, idiomas, metodologias, capacidade mental, capacidade auditiva,

padrões de fala ambientais, motivação (RATHBONE, 1955) e a combinação de

várias anomalias oclusais e fonoaudiológicas em um único indivíduo (LAINE, 1992).

Contudo, problemas de fala têm sido relatados por estarem associados a diferentes

más oclusões como: Classe II de molares (BLYTH, 1959; SUBTELNY; MESTRE;

SUBTELNY, 1964), Classe III de molares (GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978;

LAINE, 1987), trespasse vertical interincisivos aumentado (BLYTH, 1959; LUBIT,

1967) e trespasse vertical interincisivos negativo (BERNSTEIN, 1954; KLECHAK;

BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978), sendo essa

última a que implica com mais freqüência em problemas de fala, pois pesquisadores

têm notado uma estreita relação entre o trespasse vertical interincisivos negativo e o

ceceio anterior (INGERVALL; SARNAS, 1962; KLECHAK; BRADLEY; WARREN,

1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER,1978; LAINE, 1987).

Como os estudos epidemiológicos demonstram que as más oclusões são

prevalentes, em média, em 50% da população (GALVÃO; PEREIRA; BELLO, 1994;

SILVA; GONÇALVES; MAIA, 1991), e sendo que as desarmonias oclusais

predispõem a alterações fonoarticulatórias, conseqüentemente essas últimas

ocorrerão com freqüência bastante elevada. Alguns autores enfatizam, inclusive, que

crianças com problemas de fala já existentes podem ter suas dificuldades

acentuadas pela presença de uma oclusão dentária deficiente (COLEMAN;

GULLIKSON; 1971).

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Introdução 4

Tendo em vista os aspectos comentados anteriormente, este estudo se

propõe a avaliar as características do trespasse vertical interincisivos e as suas

relações com a ocorrência do ceceio anterior e/ou projeção lingual anterior, na

emissão dos fonemas linguoalveolares, em crianças com três a seis anos de idade,

dos gêneros masculino e feminino, em fase de dentadura decídua, pertencentes à

Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Quintino Bocaiúva, localizada na zona

leste da cidade de São Paulo.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

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6 2 REVISÃO DE LITERATURA

Bernstein (1954) considerou vaga a afirmação de muitos fonoaudiólogos da

época de que a má oclusão é responsável por alguns problemas de fala. Sendo

assim, resolveu pesquisar essa relação pelo exame da oclusão de 437 crianças com

alterações na fala e de 446 com fala normal, todas pertencentes a uma escola

pública. O autor utilizou-se da classificação de Angle e do trespasse vertical anterior

para classificar as características oclusais. Dividiu-se em dois o grupo de crianças

com problemas de fala: com e sem más oclusões. Pela análise estatística dos dados

colhidos, o autor concluiu que: 1- as crianças com problemas de fala não possuem

maior número de más oclusões do que crianças sem esses problemas; 2- problemas

de fala geralmente não se relacionam às más oclusões, exceto a mordida aberta

anterior; 3- há uma forte relação da mordida aberta anterior com o ceceio anterior; 4-

a severidade do ceceio anterior não é proporcional ao grau da severidade das más

oclusões avaliadas, sendo necessários mais dados para uma conclusão definitiva.

Em sua pesquisa, Rathbone (1955) relacionou os problemas de fala com as

más oclusões, propondo em seu estudo um método simples para o diagnóstico e

classificação das alterações fonoarticulatórias, direcionado aos ortodontistas e

capacitando-os a executar uma simples e rápida avaliação da fala, buscando

identificar fatores etiológicos ligados às más oclusões dentárias na presença dos

problemas fonoarticulatórios. Para isso, considerou necessário o conhecimento de

alguns fatores fundamentais, como o desenvolvimento dos sons da fala,

especialmente os sons com emissões relacionadas aos dentes, anomalias dentárias

associadas aos problemas de fala, bem como o teste e a avaliação dos fonemas

emitidos de maneira incorreta. Durante a aprendizagem da fala, a emissão dos

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Revisão de literatura 7 fonemas fricativos /s/ e /z/ são os últimos a serem pronunciados de forma correta

pela criança, sendo que na média geral 75% das crianças com 5 anos de idade

emitem esses fonemas corretamente, devendo atingir os 100% de emissão correta

só por volta dos 7 anos de idade. As más oclusões que mais se relacionam com os

problemas na emissão dos fonemas, principalmente dos fricativos, são os diastemas

na região dos incisivos superiores, o palato profundo, a distância intercanina

superior diminuída, o perímetro do arco superior diminuído, a mordida aberta, a

protrusão maxilar ou mandibular, as giroversões dentárias e as Classes I, II e III

combinadas com outras más oclusões. O autor criou uma lista de frases para ser lida

pelos pacientes, em que todos os fonemas são emitidos, dando condições de

diagnosticar os problemas fonoarticulatórios. Um grupo de 10 crianças portadoras de

má oclusão foi submetido à análise de modelos de gesso dos maxilares e exames

de proficiência fonoarticulatória (lista de frases) por dois cirurgiões dentistas sem

experiência em diagnósticos ou terapias da fala. Os testes foram realizados

separadamente pelos dois profissionais, que anotaram todos os dados de interesse

relativos aos pacientes. Os resultados mostraram 91,40% de concordância do

exame realizado pelos ortodontistas com o exame fonoaudiológico em relação aos

fonemas fricativos /s/ e /z/. Essa alta porcentagem de acerto foi justificada pela

capacidade dos ortodontistas de distinguir com facilidade as alterações na emissão

dos fonemas linguodentais. Para os outros tipos de fonemas a porcentagem de

concordância caiu para 51,30%. Não foi comprovada uma relação direta entre as

más oclusões e o grau de severidade dos problemas de fala. Segundo o autor, a

melhor fase para o início do tratamento ortodôntico é quando o paciente apresenta a

emissão correta dos fonemas fricativos com a completa erupção dos incisivos

permanentes, mostrando maturidade no seu mecanismo oral. Após tratamentos

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Revisão de literatura 8 ortodônticos, raramente os problemas de fala se corrigem automaticamente, sendo

aconselhável encaminhar o paciente para o fonoaudiólogo, assegurando sua

reabilitação. A responsabilidade do ortodontista perante os problemas de fala é,

além de reconhecer os fonemas linguodentais alterados, posicionar as estruturas

bucais da melhor maneira possível, dando condições para uma total reabilitação

fonoarticulatória.

Benediktsson (1957) pesquisou cefalometricamente as relações do

posicionamento lingual e mandibular em repouso e durante a emissão do fonema /s/

em pacientes com os diferentes tipos de trespasse vertical e horizontal interincisivos.

O grupo estudado consistiu em um número de 246 indivíduos (143 do gênero

masculino e 103 do feminino), divididos em nove subgrupos, de acordo com as

combinações dos tipos de oclusão interincisivos. O grupo com a oclusão

interincisivos normal foi considerado o grupo controle. Foram feitas telerradiografias

laterais da face com os dentes em oclusão, repouso e durante a emissão do fonema

/s/, sendo utilizado contraste para a visualização do posicionamento lingual nas

tomadas radiográficas. Os resultados indicaram uma grande influência da oclusão

interincisivos nos movimentos e no posicionamento da língua e da mandíbula na

emissão do fonema /s/, encontrando-se uma tendência à compensação postural da

língua e da mandíbula nos casos de má oclusão interincisivos, no sentido de se

obter a posição mais favorável possível desses órgãos para a produção daquele

fonema.

Em Londres, Blyth (1959) avaliou a relação entre o ceceio anterior, a posição

lingual e as más oclusões, em 200 crianças, pelo exame clínico ortodôntico, exame

fonoaudiológico e análise cefalométrica (ângulo formado entre o plano palatino e o

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Revisão de literatura 9 mandibular). Concluiu-se que a morfologia esquelética apresenta pouca ou nenhuma

influência na produção do ceceio anterior, pois essas alterações geralmente são

corrigidas por uma compensação dos movimentos da musculatura da língua e da

mandíbula. Identificou-se de maneira significativa uma correlação entre a má

oclusão de Classe II, divisão 1, ceceio anterior e deglutição atípica. Contudo, o autor

afirmou que nesse tipo de má oclusão, não é a relação interincisivos, no sentido

vertical ou mesmo no horizontal, que provoca os problemas de fala, mas sim o

comportamento da língua.

Fletcher, Gasteel e Branley (1961) estudaram a relação entre deglutição

atípica, problemas na fala e idade numa população de 1.615 estudantes na faixa

etária dos 6 aos 18 anos, em escolas onde não havia programas de correção de

fala. Os resultados mostraram que de todos os estudantes avaliados, 668

apresentaram deglutição atípica, 23 distorção na emissão dos fonemas fricativos e

181 apresentaram esses problemas simultaneamente. Esses dados indicaram que

crianças com deglutição atípica apresentam maior associação com distorções na

emissão desses fonemas em relação às crianças sem esse padrão de deglutição.

Os resultados estatísticos não indicaram uma relação significativa entre a idade e os

distúrbios na emissão dos fonemas fricativos em pacientes com deglutição atípica,

porém a incidência de deglutição atípica diminuiu numericamente com o aumento da

idade. Adicionalmente, a distorção dos fonemas fricativos em indivíduos sem

deglutição atípica também se relacionou de maneira inversa com o aumento da

idade.

Ward et al. (1961) investigaram as alterações na fala associadas à deglutição

atípica e más oclusões em 358 crianças pertencentes ao primeiro (120 crianças),

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Revisão de literatura 10 segundo (122 crianças) e terceiro (116 crianças) anos do primeiro grau, em escolas

sem programa de correção de fala. Todas as crianças possuíam audição e

capacidade mental normais, e o mesmo padrão sócio-econômico. Exames

odontológicos e fonoaudiológicos da oclusão e padrão de deglutição foram

realizados. A deglutição foi dicotomizada em somática ou típica e visceral ou atípica.

Os autores encontraram em 75% do grupo estudado presença de deglutição atípica.

As incidências de más oclusões foram de 47% nos alunos do primeiro ano,

aumentando para 67% no terceiro ano. Os problemas fonoarticulatórios estiveram

presentes em 64% do grupo total, aparecendo em primeiro lugar as alterações na

emissão do fonema /l/, em segundo lugar as dos fonemas /s/ e /z/, e em terceiro

lugar as dos fonemas /t/ e /d/. A deglutição atípica apareceu como um fator

agravante na emissão incorreta dos fonemas linguoalveolares e fricativos nas

crianças estudadas, pois, na grande maioria dos casos, houve uma projeção lingual

na emissão desses fonemas. A pesquisa indicou a presença de uma síndrome,

consistindo na projeção lingual durante a emissão dos fonemas linguoalveolares e

fricativos, projeção lingual durante a deglutição e más oclusões incipientes, que

podem ser significantes na persistência das alterações fonoarticulatórias, assim

como para a determinação da idade apropriada para se dar o início à terapia

fonoaudiológica.

Ingervall e Sarnas (1962) compararam as características oclusais em crianças

portadoras e não portadoras de ceceio. Foram formados dois grupos de 82 crianças

de ambos os gêneros e com idade média de 9 anos, da seguinte maneira: 1- Grupo

experimental (com ceceio), subdividido em portadores de ceceio anterior e ceceio

lateral; e 2- Grupo controle (sem ceceio). Todas as crianças passaram por exames

fonoaudiológicos e odontológicos. A análise estatística dos dados mostrou uma

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Revisão de literatura 11 relação significante (p<0,01) entre a mordida aberta anterior e o ceceio anterior.

Diferenças entre os portadores de ceceio anterior e o grupo controle mostraram uma

provável significância (0,01<p<0,05) nos pacientes com ceceio anterior na distância

intermolares superiores diminuída, na distância intercaninos inferiores aumentada e

no comprimento do arco inferior aumentado, devido a uma postura baixa e protrusiva

da língua favorecendo o crescimento mandibular, tendendo a uma diminuição do

trespasse vertical interincisivos e da distância intermolares superiores. Não houve

diferenças entre os Grupos 1 e 2 em relação ao estágio de desenvolvimento

dentário, o que permitiu concluir que o ceceio anterior não está relacionado com o

atraso da erupção dos incisivos permanentes. Em todo o estudo, os resultados não

estabeleceram claras diferenças morfológicas oclusais entre as crianças com e sem

ceceio. Não foi considerado o ceceio um fator etiológico das más oclusões, mas sim,

em alguns casos, a postura lingual inadequada, dependendo da intensidade e

freqüência de sua força.

Em sua revisão bibliográfica, Harrington e Breinholt (1963) relacionaram as

alterações no mecanismo muscular-oral ao desenvolvimento oclusal e

fonoarticulatório. Os autores relataram que, na presença de problemas estruturais

bucais, o organismo apresenta uma compensação ou adaptação natural do padrão

de movimentação muscular, normalmente denominado de “hábitos”, mas que, na

verdade, representa um esforço para a manutenção dos padrões vegetativos de

mastigação, deglutição e fala. Em alguns casos, na presença de certas condições

(anatômicas, neurológicas e fisiológicas), a adaptação muscular pode influenciar de

maneira negativa a oclusão e a fala. As alterações de fala foram consideradas como

fatores importantes para o diagnóstico de um comportamento inadequado de todo o

mecanismo funcional. Dentre os fatores etiológicos da síndrome da disfunção do

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Revisão de literatura 12 mecanismo muscular-oral, a respiração bucal aparece em primeiro lugar, tendo

como conseqüência uma postura incorreta da língua durante a deglutição e o

repouso que, segundo os autores, pressiona os dentes de maneira indesejável. A

respiração bucal é resultante de uma obstrução nasal, normalmente gerada por

rinites alérgicas ou presença de adenóides hipertróficas, sendo essa última a

causadora de um rebaixamento postural do palato mole, limitando a sua

movimentação durante as funções do sistema estomatognático. Outro fator

etiológico de importante participação nessa síndrome é a presença de hábito de

sucção de dedos, principalmente quando este persiste além dos 5 ou 6 anos de

idade. Foi relatada uma íntima relação entre o padrão mastigatório e o de fala. Em

relação à fonoarticulação, nos portadores da síndrome do mecanismo muscular-oral,

notou-se uma grande incidência de alterações na emissão dos fonemas fricativos /s/

e /z/, relacionando a mordida aberta anterior ao ceceio anterior. Também foram

observadas projeções linguais na emissão dos fonemas /t/, /d/, /n/ e /l/ ,

pressionando vestibularmente os incisivos superiores. Além das funções do sistema

estomatognático, um minucioso diagnóstico da fonoarticulação deve ser realizado,

pois, segundo os autores, não é suficiente um correto posicionamento lingual

somente durante a deglutição, mas sim também durante a fonação. Concluindo, os

pesquisadores relataram que a persistência dos problemas de fala pode estar

relacionada aos insucessos nos tratamentos ortodônticos.

Kortsch (1963) estudou os problemas de fala em um grupo de 134 crianças

com projeção lingual, na faixa etária dos 4 aos 14 anos de idade. Desse total o autor

encontrou 64 casos com alterações fonoarticulatórias e 106 crianças com o hábito

de sucção digital. Exames fonoaudiológicos foram realizados utilizando-se a

repetição de palavras com fonemas fricativos, em virtude desses fonemas serem os

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Revisão de literatura 13 últimos a ser aprendidos. Segundo o autor, por volta dos 7 anos de idade a criança

já deveria ter fluência na emissão desses sons. Os resultados mostraram que, das

70 crianças com projeção lingual e fala normal, 51 (72,85%) chupavam o dedo; e

das 64 crianças com projeção lingual e problemas de fala, 55 (87,5%) possuíam o

mesmo hábito. Avaliando-se os grupos com e sem problemas de fala em relação às

faixas etárias, notou-se um decréscimo no hábito de sucção digital em idades mais

avançadas. O autor concluiu que a projeção lingual parece contribuir para os

problemas de fala, porém não como um fator etiológico, assim como a sucção digital,

normalmente acompanhada da projeção lingual, não apresenta relação etiológica

recíproca com os distúrbios fonoarticulatórios. A sucção digital, a projeção lingual e

os problemas de fala, quando presentes na fase adulta, parecem ser padrões

infantis que se mantiveram e que são diagnosticados como alterações funcionais.

Subtelny, Mestre e Subtelny (1964) estudaram radiograficamente e

clinicamente o padrão do comportamento da língua em repouso e durante a fala na

emissão do fonema /s/, e suas relações com as más oclusões e com a deglutição.

Para a realização dessa pesquisa, uma amostra de 81 adolescentes foi avaliada e

subdividida em 3 grupos: 1- 30 indivíduos com fala e oclusão normais; 2- 31 com fala

normal e má oclusão de Classe II, divisão 1a; e 3- 20 com alteração na emissão do

fonema /s/ e má oclusão de Classe II, divisão 1a. Os dados mostraram que os

indivíduos do grupo 1 possuíam como características fonoarticulatórias, durante a

emissão do fonema /s/: uma relação dos incisivos tendendo a ser de topo, devido a

um avanço mandibular; a ponta da língua posicionada lingualmente aos incisivos

inferiores; uma desoclusão dos dentes posteriores; o dorso da língua em íntimo

contato com o palato e com os processos alveolares; uma grande variação na

posição vertical da ponta da língua; e o osso hióide elevado 5 mm de sua posição

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Revisão de literatura 14 original. A única diferença entre os grupos 1 e 2 foi que no grupo 2 houve uma

retrusão da língua em relação aos incisivos superiores, tendo como resultado dessa

manobra um posicionamento lingual relativamente adequado à mandíbula retruída.

Os indivíduos do grupo 3 possuíam como características: a ponta da língua

projetada além dos incisivos inferiores, aproximando-se da face palatina dos

incisivos superiores protruídos; um trespasse horizontal interincisivos aumentado,

tanto em repouso quanto durante a emissão do fonema /s/; e um posicionamento

mais inferior do osso hióide. Devido à variedade de relacionamentos existentes entre

os problemas oclusais, de fala e projeção lingual, os autores alertaram que

pesquisas devem ser cuidadosamente realizadas com o objetivo de se analisar o

comportamento muscular e suas relações com estruturas específicas durante a fala

e deglutição.

Lubit (1967), com o propósito de relacionar os problemas da fala com as más

oclusões, avaliou 300 pacientes ortodônticos dos gêneros masculino (125) e

feminino (175), com 8 a 34 anos de idades. Além dos exames clínicos odontológicos

e fonoaudiológicos, foram utilizados modelos de estudo de gesso para a tomada das

dimensões dos arcos dentários e telerradiografias, em que se mediu

cefalometricamente o ângulo ANB dos pacientes. Com os resultados dos exames

realizados, o autor classificou com pontuações, dependendo da presença, ausência

ou nível de complexidade, os diversos tipos de problemas fonoarticulatórios,

características oclusais (distância inter-molares, distância inter-caninos, altura do

palato, más oclusões, trespasse vertical interincisivos, trespasse horizontal

interincisivos e diastemas superiores) e medida cefalométrica (ângulo ANB). Os

resultados mostraram que não houve diferenças estatisticamente significantes entre

as idades e os gêneros em relação aos problemas fonoarticulatórios, assim como

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Revisão de literatura 15 não se relacionaram os problemas de fala com as más oclusões. Contudo, houve

uma relação estatisticamente significante (p<0,001) entre a presença do ceceio

anterior com o trespasse vertical interincisivos aumentado (mordida profunda) e os

diastemas ântero-superiores. Segundo o autor, essas características oclusais não

influenciariam as habilidades fonoarticulatórias dos pacientes, concluindo que as

más oclusões têm um pequeno efeito sobre os problemas da fala.

Coleman e Gullikson (1971) afirmaram que os pais freqüentemente

expressam suas dúvidas em relação aos problemas da fala de seus filhos

primeiramente aos cirurgiões dentistas. Em sua revisão de literatura sobre os

problemas da fala em crianças, tiveram como objetivo fornecer melhores

informações aos odontólogos sobre esse tema, capacitando-os a melhor orientarem

os pacientes e seus responsáveis. Os autores enfatizaram que a perda precoce dos

incisivos decíduos, por volta dos 2 aos 3 anos de idade, normalmente é citada como

fonte de problemas fonoarticulatórios (ceceio anterior) e que durante a erupção dos

dentes permanentes, por volta dos 7 aos 8 anos de idade, há uma correção

espontânea do problema. Contudo, nos casos em que as más articulações da fala

persistem, a ajuda do fonoaudiólogo é de extrema importância.

Segundo Graber (1974), apesar de ser o tecido ósseo um dos mais duros do

corpo, ele é um dos mais plásticos e que mais responde às forças geradas durante

as funções.

McGlone e Proffit (1974) estudaram os padrões de pressão lingual durante a

fala em portadores de ceceio anterior e lateral, comparando-os com indivíduos com

fala normal. Para a realização dessa pesquisa os autores avaliaram os movimentos

linguais, utilizando-se de um transdutor de pressão intrabucal confeccionado

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Revisão de literatura 16 individualmente para cada criança. A amostra consistiu em 23 crianças, com idades

de 7, 9 e 11 anos, divididas em 3 grupos: 12 crianças com fala normal, 6 crianças

portadoras de ceceio anterior e 5 crianças portadoras de ceceio lateral. Após a

familiarização das crianças com o uso dos transdutores de pressão em um período

de 48 a 72 horas, para que os resultados não sofressem alterações, as crianças

foram estimuladas pelos examinadores a emitir palavras contendo os fonemas

fricativos. Os resultados indicaram que, durante a emissão dos fonemas fricativos /s/

e /z/, as crianças portadoras de ceceio lateral sofreram uma significativa pressão

lingual na região mediana do arco superior (incisivos centrais) quando comparados

com a emissão de outros fonemas. Já nos portadores de ceceio anterior as pressões

linguais foram diferentes durante a emissão de todos os fonemas avaliados quando

comparados às crianças com fala normal, mas essas diferenças foram grandes o

suficiente para mostrar uma significância estatística somente nas pressões

realizadas na região dos caninos superiores durante a emissão dos fonemas

fricativos /s/ e /z/.

Proffit (1975), em seu estudo comparando um grupo de jovens adolescentes

americanos brancos com um grupo de aborígines australianos com oclusão ideal, na

mesma faixa etária, relacionou as forças musculares geradas pela língua e pelos

lábios durante o repouso, a deglutição de saliva e a fala com o formato dos arcos

dentários e a posição dos dentes. Para a avaliação do posicionamento lingual e

labial, utilizou-se um transdutor de pressão intrabucal que registrou os pontos de

contato das estruturas musculares durante as suas movimentações e em repouso. O

autor concluiu que a forma dos arcos dentários influencia de maneira significativa o

padrão funcional muscular dos lábios e da língua, sendo que o contrário, a influência

da função sobre a forma, normalmente não acontece. Também constatou que as

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Revisão de literatura 17 forças musculares de repouso dos lábios e da língua parecem ter maior influência na

forma dos arcos dentários do que as forças encontradas durante a deglutição ou a

fala. A pesquisa indicou que as influências musculares que afetam a posição vertical

dos dentes, apesar de serem observadas clinicamente, não foram bem esclarecidas,

sendo necessários mais estudos sobre a posição lingual e as forças geradas durante

o seu repouso em comparação com a postura e as pressões resultantes durante a

fala e a deglutição. Como conclusão final de seu trabalho, o autor declarou que a

adaptação funcional à forma é muito grande, sendo que 80% a 90% dos casos de

más oclusões são tratados com sucesso e sem recidivas ou necessidade de

tratamento fonoaudiológico. Porém, o desafio maior está em descobrir as falhas da

adaptação funcional nos 10% a 20% dos casos restantes, nos quais esta não ocorre

mesmo após a correção ortodôntica das más oclusões.

Klechak, Bradley e Warren (1976) compararam as medidas da abertura da

válvula orofaríngea, durante a emissão dos fonemas fricativos /s/, /z/, /f/ e /v/, entre

indivíduos portadores de mordida aberta anterior e indivíduos com fala e oclusão

normais. Foram formados 2 grupos com 10 indivíduos cada, de ambos os gêneros e

idades entre 9 e 31 anos: Grupo 1- Fala e oclusão normais (Grupo controle); Grupo

2- Todos com mordida aberta anterior. Realizaram-se os exames odontológico e

fonoaudiológico dos dois grupos. Um sistema especial de máscaras faciais foi

confeccionado e utilizado para aferir a passagem e a pressão do ar durante a fala na

região orofaríngea. Com os dados obtidos, os autores calcularam a área de abertura

da região da válvula orofaríngea e compararam os valores entre os dois grupos,

concluindo que no grupo 1 essa área se manteve constante entre todos os

indivíduos e que no grupo 2 essa área se mostrou com a abertura aumentada

quando comparada ao grupo controle. Verificou-se uma correlação significativa,

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Revisão de literatura 18 diretamente proporcional ao tamanho da mordida aberta anterior e à abertura da

válvula orofaríngea na emissão dos fonemas, principalmente nos casos de mordidas

abertas anteriores severas (5mm ou mais), enfatizando uma correlação positiva

entre o trespasse vertical negativo e os problemas na emissão dos fonemas

fricativos.

Proffit (1978) mensurou a ação das forças musculares da língua e lábios na

região anterior dos arcos dentários, relatando valores de 50g/cm² como normais para

as forças geradas pela língua durante a deglutição, e 20g/cm² para as forças

originadas dos lábios. Em repouso, as forças são de 15g/cm² e 10g/cm²,

respectivamente. Com base nesses resultados, o autor concluiu que o equilíbrio que

define a posição dos dentes não é determinado somente pelas forças antagônicas

dos lábios e da língua, mas sim por outros fatores que devem ser levados em

consideração, como as forças de erupção e de oclusão, considerando a fala como

um componente de baixa intensidade e de curta duração dentre os fatores

envolvidos no equilíbrio da posição dos dentes.

Guay, Maxwell e Beecher (1978) analisaram radiograficamente a postura da

língua em repouso e durante a emissão do fonema /s/ em 12 adolescentes (7 do

gênero masculino e 5 do feminino), com média de idade de 13 anos, portadores de

más oclusões de Classe III, com mordida cruzada anterior. Não se avaliou a

natureza das más oclusões (esqueléticas ou dentárias) e se a relação de Classe III

era causada por deficiência de crescimento maxilar, prognatismo mandibular ou uma

combinação de ambos. Os resultados mostraram que, em estado de repouso, todos

os casos apresentaram postura lingual mais retruída e baixa que o normal e que,

durante a fala, além dos mesmos aspectos citados durante o repouso, observou-se

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Revisão de literatura 19 também uma rotação mandibular no sentido horário, com uma conseqüente

desoclusão dentária posterior, ocasionando um aumento na dimensão vertical. Fato

esse explicado pelos autores como uma tentativa de compensação funcional do

organismo para aumentar o espaço intrabucal, que é reduzido nos casos de Classe

III, e para aproximar os incisivos inferiores dos superiores, na tentativa de facilitar a

emissão do fonema /s/. Dos 12 jovens estudados, 11 possuíam alteração na

emissão do fonema /s/, sendo que apenas um caso compensou funcionalmente as

deficiências morfológicas.

Dworkin (1980) investigou as relações das forças de protrusão da

musculatura lingual e padrões de diadococinesia lingual em indivíduos portadores de

ceceio anterior, de acordo com suas severidades, na emissão dos fonemas

fricativos. Foram formados um grupo experimental, com 45 crianças portadoras de

ceceio anterior (21 do gênero masculino e 24 do feminino), e um grupo controle, com

o mesmo número de crianças com fala normal e sem histórico de problemas

fonoarticulatórios. A média de idade dos participantes foi de 8 anos. Todas as

crianças foram avaliadas individualmente, por meio de testes fonoaudiológicos, e as

portadoras de ceceio anterior foram subdivididas em 5 subgrupos, conforme a

severidade do ceceio anterior. A força protrusiva da musculatura lingual foi avaliada

e mensurada em todas as crianças, com o uso de uma mola de compressão

especificamente construída para esse fim, tendo uma escala variando de 0 a 2200

gramas. Os resultados revelaram que os portadores de ceceio anterior, quando

comparados ao grupo controle, possuem menores forças protrusivas da musculatura

lingual e a significância dessas diferenças aumenta com o grau de severidade do

ceceio anterior. Todos os portadores de ceceio anterior moderado e severo

mostraram um significativo padrão de diadococinesia lingual lento. O autor concluiu

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Revisão de literatura 20 que a separação dos portadores de ceceio anterior em subgrupos, conforme suas

severidades, anteriormente à avaliação das relações dos problemas de fala com os

fatores linguais estudados, pode oferecer uma importante informação para

diagnóstico, tratamento e prognóstico dos problemas fonoarticulatórios.

Dworkin e Culatta (1980) avaliaram as forças protrusivas geradas pela língua

e suas possíveis relações com a projeção lingual anterior, a mordida aberta anterior

e a proficiência fonoarticulatória, em dois grupos experimentais, de ambos os

gêneros. O primeiro grupo foi formado por 21 crianças portadoras de mordida aberta

anterior, ceceio anterior e projeção lingual anterior durante a deglutição; sendo o

segundo grupo, denominado de grupo controle, formado por 85 crianças com a fala,

a oclusão e a deglutição normais. A aferição da força muscular exercida pela língua

foi efetuada por meio de um aparelho medidor das pressões linguais, em que cada

criança foi avaliada individualmente. Segundo os autores, os resultados não

mostraram diferenças significativas entre os dois grupos estudados com relação às

forças protrusivas geradas pela musculatura lingual. Diferenças no tônus muscular

lingual entre os gêneros não foram significativas. Houve um significativo aumento da

força muscular lingual, diretamente proporcional ao aumento da idade, sendo que as

crianças na faixa etária dos 7 aos 9 anos apresentaram uma menor força na

musculatura da língua (x=1169gms) quando comparadas às crianças nas faixas

etárias dos 10 aos 12 anos (x=1290gms) e dos 13 aos 16 (x=1330gms). As

interações entre a proficiência fonoarticulatória e os gêneros com as forças linguais

não foram significativas. Como houve significativas diferenças entre as forças

geradas pela língua com relação ao aumento da idade, o grupo controle e o

experimental foram comparados entre as faixas etárias, independentemente do

gênero ou habilidades fonoarticulatórias, não revelando significativas diferenças, em

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Revisão de literatura 21 cada faixa etária, entre os dois grupos. Com os resultados obtidos em seu trabalho,

os autores afirmaram ter falhado em dar suporte à tese de que pressões

linguodentais associadas à projeção lingual anterior durante a deglutição fortalecem

a musculatura da língua. Em relação ao ceceio anterior, não houve diferenças

significativas nas forças linguais entre os dois grupos. Porém, observações clínicas

mostram que as terapias fonoaudiológicas, posicionando e fortalecendo a

musculatura lingual (terapia miofuncional), facilitam na remissão do ceceio. Todavia,

com os resultados obtidos nesse estudo, os autores sugerem que exercícios para o

fortalecimento lingual podem ser supérfluos para a correção da projeção lingual e o

ceceio anterior.

Em sua revisão de literatura, Keith e Schaaf (1982) esclareceram que a fala é

dividida em cinco componentes: respiração, fonação, ressonância, articulação e

integração neurológica e que, além desses fatores, a audição é um fator essencial

para um perfeito desenvolvimento da fala. Enfatizou-se também que, de todos esses

componentes, a articulação é o mais afetado pela presença das más oclusões e que

o som, para ser bem formulado e inteligível, necessita de uma boa articulação entre

a língua, lábios, dentes, alvéolos, palato duro e palato mole. Considera-se a língua o

órgão mais importante na articulação da fala, devido à sua habilidade de ter rápidas

mudanças em sua movimentação e forma. Quando algum tipo de anormalidade

impede que a língua possa realizar normalmente suas articulações com as

estruturas relacionadas, isso pode resultar em um problema de fala. Os autores

também revisaram os problemas dentários mais comuns que afetam a fala,

destacando a mordida aberta anterior e as más oclusões de Classe II e de Classe III,

concluindo que, na mordida aberta anterior, os fonemas mais freqüentemente

distorcidos são os fricativos /s/ e /z/, devido à dificuldade de se desenvolver um

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Revisão de literatura 22 estreitamento da passagem de ar no contato da língua com os incisivos superiores.

O efeito da mordida aberta anterior na produção da fala normalmente depende do

grau de severidade e da sua relação com outras más oclusões presentes e, nas más

oclusões de Classe II e de Classe III, os fonemas fricativos apresentam grande

probabilidade de ser distorcidos, sendo necessárias manobras de compensação da

musculatura envolvida para que isso não ocorra.

Laine (1986) estudou as relações entre as dimensões dos arcos dentários e

as alterações fonoarticulatórias. A pesquisa envolveu 251 estudantes universitários

finlandeses, com média de idade de 22,9 anos, sendo 71% do gênero feminino e

29% do masculino. Para a formação da amostra estudada, participaram apenas

indivíduos com, no máximo, uma perda dentária. Foram realizados os exames

fonoaudiológicos e houve nos dados colhidos uma boa consistência

interexaminadores (85% de concordância); em seguida, todos esses dados foram

classificados conforme os tipos e severidades das alterações. Por meio de

moldagem dos maxilares, modelos de gesso pedra foram confeccionados e

preparados para medição da altura do palato, e a largura e o comprimento dos arcos

dentários superiores e inferiores. De acordo com a análise de co-variância dos

dados, os indivíduos que apresentaram distorções na emissão do fonema sibilante

/s/ tenderam a apresentar um estreitamento do palato quando comparados aos

indivíduos sem essa alteração fonoarticulatória. Quando comparados os indivíduos

com fala normal aos indivíduos com a emissão dos fonemas linguoalveolares

anteriormente ou lateralmente ao ponto correto de contato nas suas emissões, esses

últimos tenderam a apresentar um comprimento da arcada dentária maxilar

diminuída, e os casos que apresentaram a produção desses fonemas

posteriormente aos pontos corretos tenderam a apresentar maiores comprimentos

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Revisão de literatura 23 dos arcos dentários superiores. A altura do palato foi ocasionalmente associada com

distorções na emissão de algumas consoantes, mas não com algum tipo definido de

disfunção lingual durante a fala. As dimensões dos arcos dentários inferiores não

foram relacionadas a nenhum tipo de alteração fonoarticulatória. O autor concluiu

que essas associações não são sistemáticas e, portanto, são numericamente

frágeis, indicando que o desvio nas dimensões das estruturas bucais é apenas um

de muitos fatores etiológicos nas alterações de fala.

Laine (1987) avaliou, em um grupo de jovens universitários finlandeses, as

associações entre problemas articulatórios da fala e as más oclusões. Foram

selecionados para a pesquisa 325 mulheres e 126 homens com média de idade de

23 anos e 4 meses. Constatou-se, de modo significativo, que a relação de molares

de Classe II foi encontrada com maior freqüência em indivíduos com distorções

articulatórias nos sons /s/ e /r/ em relação aos indivíduos que não apresentavam tais

distorções, sendo que a alteração do som /s/ foi o único problema de fala

relacionado claramente com o trespasse horizontal interincisivos. Verificaram-se

associações estatisticamente significantes entre a mordida aberta anterior e as

alterações no som /s/, porém não foram encontradas claras ligações entre a relação

molar de Classe III, trespasse vertical interincisivos aumentado e a mordida aberta

lateral com as deficiências articulatórias nos diferentes tipos de sons.

Laine, Jaroma e Linnasalo (1987) se propuseram a estudar e determinar a

associação entre a oclusão interincisivos e os problemas fonoarticulatórios em um

grupo de 451 estudantes universitários finlandeses. A amostra escolhida consistiu

em um maior número de mulheres (325) do que de homens (126), correspondendo à

mesma distribuição dos gêneros na universidade. A média de idade dos indivíduos

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Revisão de literatura 24 envolvidos na pesquisa foi de 23,4 anos, sendo que todos possuíam audição normal.

Toda a amostra foi examinada por dois fonoaudiólogos que, além do diagnóstico,

classificaram os problemas de fala em relação à necessidade de tratamento e

pontos de articulação dos fonemas. Em 85% dos casos os diagnósticos

interexaminadores foram idênticos, havendo assim uma confiabilidade nos dados.

Um cirurgião dentista examinou e anotou todos os dados de interesse para essa

pesquisa, relativos à oclusão interincisivos: trespasse horizontal, trespasse vertical,

apinhamentos e diastemas. A idade, o gênero, o número de dentes permanentes

perdidos e a história de tratamentos anteriores (fonoaudiológico e/ou ortodôntico)

também foram registrados. Porém, na análise de covariância, nenhum desses

fatores foi associado às variações no grau do trespasse horizontal interincisivos e à

ocorrência de problemas fonoarticulatórios. Já o grau do trespasse vertical

interincisivos e os problemas de fala mostraram-se diferentes entre os gêneros. As

associações entre diastemas maxilares e problemas de fala foram afetadas pelo

número de perdas dentárias. Os resultados mostraram que não houve associação

entre os problemas da fala e apinhamentos, tanto na região maxilar como

mandibular. Em relação aos diastemas entre os incisivos superiores, eles foram

associados a várias distorções dos sons da fala, inclusive distorções laterais. Os

autores também concluíram que o trespasse horizontal interincisivos aumentado e o

trespasse vertical interincisivos negativo mostraram-se estatisticamente significantes

em relação às distorções dos fonemas fricativos.

Zaldívar, Rodrigues e Pérez (1987) estudaram um grupo de 100 crianças (50

do gênero masculino e 50 do feminino) de 8 anos de idade, todas portadoras de más

oclusões, relacionando esses problemas com os transtornos de fala encontrados. O

grupo estudado foi escolhido aleatoriamente entre crianças que iniciariam o

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Revisão de literatura 25 tratamento ortodôntico. Em seguida realizou-se o exame odontológico, classificando

as más oclusões segundo Angle para posteriormente se avaliar a fonoarticulação

dos pacientes. A análise dos dados colhidos permitiu aos autores constatar que 56

crianças do total pesquisado apresentaram problemas de fala. Os pesquisadores

não encontraram diferenças significativas entre os gêneros. Os resultados

mostraram que, de cada duas crianças, uma possuía problemas de fala, sendo que

a proporção para os portadores de má oclusão de Classe I e Classe lI foi de uma

criança com problemas de fala em cada duas com esses tipos de más oclusões. Já

na presença da Classe III a relação foi de uma para uma, ou seja, 100% dessas

crianças apresentaram problemas de fala. Dentre os problemas de fala, houve um

predomínio das dislalias, afetando 66% das crianças com transtornos

fonoarticulatórios.

Na Parte II de sua pesquisa, Zaldívar, Rodrigues e Pérez (1987) analisaram

as diferentes alterações na emissão dos fonemas nas dislalias encontradas em seu

trabalho anterior. Nessa fase do trabalho, os pesquisadores consideraram que

outras anomalias, além das analisadas, poderiam influenciar a fala. Sendo assim,

examinaram-se as anomalias dentárias, dos tecidos moles, dos tecidos ósseos e

hábitos bucais deletérios. Também foram analisados os trespasses horizontal e

vertical interincisivos. Além dos resultados relatados na Parte I desse trabalho, os

autores concluíram que, dentre os fonemas emitidos, a prevalência das alterações

foram nos fonemas /r/ e /l/ (41%), seguidos dos /s/, /t/ e /d/ (34%) e outros (25%). Na

análise das más oclusões que influenciam os problemas de fala, se apresentaram: a

mordida aberta (62%), o trespasse horizontal interincisivos aumentado (55%), a

hipotonia de lábios (54%) e o palato profundo (71%). Entre os hábitos bucais, a

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Revisão de literatura 26 projeção lingual e a respiração bucal foram os que apresentaram maior relação com

os transtornos da fala.

Hanson e Barret (1988) relataram que muitas crianças com deglutição atípica

apresentam fala normal, porém um número significativo de crianças projeta a língua

entre os incisivos superiores e inferiores durante a emissão de uma ou mais

consoantes que são normalmente produzidas com a ponta da língua articulada com

o alvéolo dentário e a face palatina dos incisivos superiores. Essas consoantes são

o /s/, /z/, /t/, /d/, /n/ e /l/, entretanto, somente durante a emissão dos fonemas

fricativos /s/ e /z/, quando ocorre essa projeção lingual entre os incisivos, considera-

se uma alteração articulatória, a não ser quando a anteriorização da língua for

realmente grande na produção dos outros fonemas. Esse fenômeno de interposição

lingual entre os incisivos superiores e inferiores durante a fala na produção dos

fonemas fricativos /s/ e /z/ é denominado ceceio anterior. Em indivíduos com

deglutição atípica, a anteriorização da língua está provavelmente relacionada com

sua postura em repouso e com as características oclusais anteriores (mordida aberta

anterior e sobressaliência aumentada) que esses indivíduos apresentam,

favorecendo assim a produção do ceceio anterior, sendo a mordida aberta anterior a

condição mais favorável para o seu surgimento. Em alguns casos de mordida aberta

anterior, deglutição atípica e emissão de sons fricativos, o simples fechamento da

mordida pode corrigir as outras alterações encontradas.

Palviainen e Laine (1990) avaliaram o papel do estágio de erupção dos

dentes e as más oclusões como fatores etiológicos nos problemas de fala em 157

crianças finlandesas (90 do gênero masculino e 67 do feminino), com idade média

de 7 anos, todas com audição normal e portadoras de distúrbios fonoarticulatórios.

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Revisão de literatura 27 Foi formado um grupo controle de 130 crianças, com a mesma média de idade e de

ambos os gêneros (63 masculino, 67 feminino), sendo que nesse grupo 53% dos

integrantes apresentavam problemas de fala, 30% passaram por terapia

fonoaudiológica prévia e nenhuma das crianças havia sido submetida a tratamento

ortodôntico. Os autores observaram no grupo experimental diversos tipos de

alterações na fala e más oclusões, sendo que, em relação à essas últimas, houve

prevalência da relação molar de Classe II (30%) comparada à Classe III (2%). Além

disso, a sobressaliência aumentada (maior que 5 mm) foi a má oclusão mais

encontrada na região dentária anterior (20%), sendo que 6% das crianças

apresentaram mordida aberta anterior e 10% delas exibiam mordida aberta lateral e

mordida cruzada posterior. Não houve significância estatística em relação à

presença dos outros tipos de más oclusões. Comparando-se os dados do grupo

controle ao grupo experimental, chegou-se às seguintes conclusões: as alterações

ântero-posteriores foram igualmente prevalentes nos dois grupos estudados; as

alterações verticais e transversais foram mais prevalentes no grupo experimental

quando comparadas ao grupo controle. Com relação à produção dos fonemas

durante a fala, os dois grupos apresentaram distorções fonoarticulatórias, porém o

grupo experimental apresentou uma maior prevalência de distúrbios na emissão dos

fonemas /s/, /r/, /t/, /d/, /l/, sendo que os fonemas mais incorretamente pronunciados

foram o /s/ e o /r/. As distorções na emissão dos fonemas citados não foram

estatisticamente relacionadas com as más oclusões, idade, gênero, estágio de

desenvolvimento dos dentes ou realização de terapia fonoaudiológica prévia, com

exceção do fonema /s/, que, em relação à idade, foi a única variável com

significância estatística, apresentando coeficiente de regressão lógica negativo para

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Revisão de literatura 28 a idade, ou seja, as ocorrências de distorções do som /s/ diminuíram com o aumento

da idade.

Consignou Van Der Linden (1990) que, em oclusões normais, as forças

aplicadas aos arcos dentários durante a ação de deglutição e repouso pela língua

são maiores que aquelas produzidas pelos lábios e que, durante o crescimento

craniofacial, a posição da musculatura em repouso influencia categoricamente a

forma dos arcos dentários e a morfologia facial, devido à sua ação contínua. Isso se

deve ao fato de que, apesar de as forças exercidas durante a ação de deglutição

serem duas a três vezes maiores do que aquelas em repouso, o tempo total diário

em que estão ativas é, em média, de 10 minutos, não produzindo movimentações

dentárias. O autor também afirmou que, de maneira análoga à ação de deglutição,

os dentes também não são movimentados em resposta às forças geradas na

fonação. Porém, o autor afirmou que existe a probabilidade de que as forças

envolvidas na fonação e deglutição sejam de relevância primária na origem e

manutenção de uma mordida aberta. As forças que a língua e os lábios em repouso

podem exercer no sentido do longo eixo dos dentes (entre e contra os dentes) é

provavelmente de maior importância.

Em sua revisão de literatura sobre a fala e suas alterações na língua

portuguesa, Wertzner (1990) afirmou que a articulação dos sons da fala é uma

função que se efetua com o envolvimento dos órgãos chamados articuladores.

Esses órgãos pertencem aos aparelhos digestório e respiratório, tendo, portanto,

funções primárias correspondentes a esses aparelhos. Assim, são considerados

como órgãos articuladores (sistema sensório-motor oral): a laringe, a faringe, o

palato mole, o palato duro, a língua, os dentes, os lábios e as fossas nasais. A

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Revisão de literatura 29 articulação de cada fonema, ou seja, a sua produção, ocorre na forma em que os

órgãos articuladores se dispõem, uns em relação aos outros − como, por exemplo,

os fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ − o que significa que são emitidos com o

toque, ou aproximação, da língua nos alvéolos e/ou face palatina dos incisivos

superiores. Já nos fonemas /s/ e /z/, a zona de articulação é palatal, ou seja, o som é

emitido com o dorso da língua aproximando-se do palato duro. Porém, a função da

articulação não se reduz ao mecanismo dos órgãos articuladores. Ela depende

também dos aspectos cognitivos e psico-sociais do indivíduo. Considerando a

criança desde o seu nascimento até os 12 anos de idade, de forma geral há uma

grande prevalência de alterações da articulação da fala principalmente até os 7 anos

de idade. A maturação do sistema sensório-motor oral está relacionada à maturação

das funções neurovegetativas (respiração, sucção, mastigação e deglutição), na

medida em que os órgãos envolvidos são comuns a ambos. Muitas variáveis

relacionadas à fala têm sido estudadas por muitos autores. Dentre as mais citadas

na literatura estão: idade (os problemas com a fala decrescem com a idade), gênero

(há controvérsias sobre esse tema, porém na clínica fonoaudiológica observa-se um

maior número de meninos que apresentam alterações articulatórias e que

necessitam de tratamento) e saúde (adenóides, amídalas, ouvido, oclusão dentária e

respiração). Dentro da fonoaudiologia, o tema articulação, desde a sua promoção

até a sua reabilitação, tem sido muito pesquisado, em função da grande ocorrência

de alterações.

Segundo Moyers (1991), os dentistas não são terapeutas da fala, mas

deveriam estar familiarizados com algumas técnicas simples de análise da fonação,

de maneira que possam encaminhar as crianças com distúrbios evidentes da fala a

um fonoaudiólogo, para o diagnóstico ou terapia. A relação que se faz entre a fala e

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Revisão de literatura 30 a má oclusão é freqüentemente exacerbada, já que muitos pacientes com más

oclusões severas possuem uma fala compreensível. Devido às notáveis

características de adaptação dos lábios e da língua, uma boa dicção pode ser

produzida em indivíduos com más oclusões severas. Se for notada uma atividade

anormal da língua durante a fala, há uma pergunta básica a ser respondida: A

atividade anormal da língua é adaptativa ou etiológica da má oclusão, ou é atribuída

a uma etiologia não relacionada a ambas? Geralmente se encontrará que é

adaptativa, mas pode refletir uma etiologia comum ao defeito da fala e aos aspectos

neuromusculares da má oclusão. Os atrasos na maturação do desenvolvimento das

coordenações motoras orais, ou a existência de patologias neurais que afetem as

coordenações orais, mas que não são uma adaptação às más oclusões, podem

contribuir para elas. Por outro lado, o meio ambiente, fatores de aprendizagem ou a

surdez (periférica ou central) podem produzir uma fala anormal em um paciente com

boa oclusão. De acordo com o autor, a existência de uma alteração na articulação

da fala pode ser detectada fazendo-se o paciente repetir algumas frases chave,

designadas para ajudar na identificação das consoantes com emissões defeituosas.

Alguns pacientes, por concentração, irão produzir uma fala perfeita, no entanto,

quando falam sem serem observados, podem cometer repetidos erros. As

deficiências sensoriais orais ou a falta de habilidades motoras bucofaciais podem ser

comuns para os transtornos de deglutição e de fala, entretanto, a presença da

função anormal da língua durante a deglutição não é necessariamente uma

indicação de que esta ocorrerá durante a fala. Ao observar a fala de um paciente, o

dentista deve estar especialmente alerta para o erro articulatório nos casos de

protrusão lingual interdental visível durante a fala, mordida cruzada posterior severa,

sobressaliência aumentada e mordida aberta anterior, sendo que, na presença

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Revisão de literatura 31 dessas más oclusões, os fonemas fricativos /s/ e /z/ têm maior probabilidade de

sofrerem distorções. A posição vertical da cadeira odontológica, ou seja, com o

paciente sentado, sem que o encosto esteja reclinado, proporciona um ângulo

adequado para a observação das posições e dos movimentos linguais durante a

fala.

Bigenzahn, Fischman e Mayhofer-Krammel (1992) estudaram os efeitos da

terapia miofuncional em pacientes com disfunções orofaciais afetando a fala. A

amostra englobou 103 pacientes com 3 a 30 anos de idade (11 ± 4 anos, 39% do

gênero masculino e 61% do feminino). Todos os dados relativos ao diagnóstico

miofuncional, fonoaudiológico e ortodôntico foram anotados e incluídos no estudo.

Os pacientes foram divididos em três grupos, relativamente a seus problemas

fonoarticulatórios: 1- projeção lingual nos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/; 2-

ceceio anterior ou lateral nas fricativas /s/ e /z/; 3- uma combinação do grupo 1 com

o 2. Apenas 45 pacientes completaram a terapia miofuncional, tendo como

resultados uma significativa melhora em tonicidade e vedamento labial, respiração e

posicionamento lingual, assim como no padrão de deglutição e musculatura

orofacial. Desse total, 66% tiveram a fala normalizada e os problemas persistiram

em apenas dois casos. Os autores afirmaram que, na prática ortodôntica, a terapia

miofuncional é utilizada para reabilitar os músculos orofaciais, assim como ajudar na

normalização da oclusão, tendo grande importância na fonoaudiologia e de forma

especial no tratamento dos problemas fonoarticulatórios.

Laine (1992) procurou determinar os efeitos dos tipos particulares de más

oclusões, incluindo os efeitos das combinações dos diferentes tipos de anomalias

oclusais, em relação à fala. Foram examinados 451 estudantes universitários de

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Revisão de literatura 32 língua finlandesa com média de idade de 23 anos, sendo 325 do gênero feminino e

126 do masculino, correspondendo à média por gênero da universidade, sendo que

11% haviam recebido tratamento ortodôntico, 6% passaram por terapia

fonoaudiológica e todos apresentavam audição normal. Problemas de fala foram

diagnosticados por dois fonoaudiólogos, separadamente, sendo que os diagnósticos

foram idênticos em 85% dos casos, indicando confiabilidade. Todas as distorções

sonoras da fala foram diagnosticadas acusticamente, de acordo com o tipo de

problema sonoro e erro de localização da língua durante a emissão dos fonemas.

Dependendo do local desse posicionamento lingual, foi categorizado como anterior,

posterior, lateral ou sem classificação dos sons. A variante anterior indica que o som

foi produzido anteriormente ao lugar correto, conseqüentemente o mesmo vale para

as variações posterior e lateral (no caso das variantes sem classificação, as mesmas

são produzidas no local correto, porém são distorcidas acusticamente em todo o

contexto fonético). Os problemas fonoaudiológicos foram classificados em grau 1 e

grau 2, sendo esse último o que indica a necessidade de tratamento. Os resultados

evidenciaram que os indivíduos com relação de Classe II e III de molares,

sobressaliência aumentada, mordida aberta anterior ou mordida cruzada posterior

têm um alto risco de desenvolver problemas de fala, especialmente com as

consoantes produzidas mais anteriormente. Também mostrou que a mordida aberta

anterior encontrada sem a presença de outras más oclusões é raramente associada

a distorções na fala, porém, se isso ocorre, a alteração é branda. Contudo, a

mordida aberta anterior combinada com outras anomalias oclusais, especialmente

com a relação de Classe II de molares, é freqüentemente relacionada a severas

alterações fonoarticulatórias.

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Revisão de literatura 33

Qvarnström, Jaroma e Laine (1993) estudaram os problemas

fonoarticulatórios e os órgãos relacionados à função e à forma da cavidade bucal em

287 crianças finlandesas, estudantes do primeiro grau, divididas em dois grupos: 1-

Grupo experimental (157 crianças, 67 meninas e 90 meninos); 2- Grupo controle

(130 crianças, 67 meninas e 63 meninos); todos com idades entre 6 e 8 anos. O

grupo experimental foi formado por crianças indicadas para tratamentos

fonoarticulatórios. Questionários respondidos pelos responsáveis pelas crianças

indicaram se essas haviam sido submetidas a prévios tratamentos fonoaudiológicos.

Exames odontológicos e fonoaudiológicos foram realizados em toda a amostra e

todos os problemas foram avaliados e classificados, conforme a classificação

utilizada por Laine em 1992, comentada no parágrafo anterior. Os autores

concluíram em sua pesquisa que os sons produzidos anteriormente ao ponto de

contato fonoarticulatório indicam uma imaturidade do sistema funcional oral, ou seja,

um atraso no desenvolvimento da fala que se corrige espontaneamente com o

aumento da idade. Porém, os sons produzidos posteriormente ao ponto

fonoarticulatório correto possuem uma correlação positiva com os problemas de

coordenação dos movimentos musculares da língua, indicando uma possível

presença de dispraxia da fala. Crianças com hipotonias labiais apresentaram maior

propensão a problemas fonoarticulatórios laterais.

Jabur (1994) concluiu que há muito se admite, no estudo das más oclusões, a

importância da inter-relação entre a função e a forma, e se pergunta: é a forma que

determina a função, promovendo às vezes a sua disfunção, ou é a função que

determina a forma, alterando-a em muitos casos? Em face dessa questão,

estabelece que o importante é não dicotomizar se a forma determina a função ou

vice-versa, enfatizando que as avaliações devem ser realizadas no sentido de tratar

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Revisão de literatura 34 o problema de forma global, analisando todas as possibilidades, pois forma e função

estão intimamente relacionadas.

Junqueira (1994) avaliou 500 crianças com idades de 3 a 8 anos, sendo 250

provenientes de uma escola particular e 250 de uma escola pública, divididas por

faixas etárias com 50% provenientes de cada escola. Ambas as escolas pertencem

ao mesmo bairro da cidade de São Paulo, evitando assim o aumento no número de

possíveis variáveis. Por meio da avaliação fonoaudiológica excluíram-se dessa

seleção as crianças que usavam aparelho ortodôntico, que apresentavam fissura

labiopalatina e que mencionaram fazer ou já ter feito terapia de fala anteriormente.

Dessa forma, foram obtidos os dados necessários para a seleção das crianças,

mediante a observação direta e por meio de informações cedidas pela escola e pais

dos alunos. Cada criança foi observada e examinada individualmente pelo mesmo

examinador, com o objetivo de avaliar o trespasse vertical interincisivos e a presença

ou não de ceceio anterior na emissão do fonema /s/. Concluiu-se que, a partir dos 3

anos, o ceceio anterior diminui significativamente com o aumento da idade e, após

os 6 anos, a diminuição é mais acentuada para as crianças da escola particular,

sendo que para crianças da escola pública a diminuição se acentuou a partir dos 7

anos, fato que pode ocorrer devido a uma menor valorização de um padrão correto

da fala por parte dos pais dessas crianças. Não houve relação entre o ceceio

anterior e a presença de má oclusão na escola particular. Porém, na escola pública

encontrou-se uma associação significativa entre esses dois fatores, comprovando o

fato de que outros fatores devem interferir nessa relação. Segundo o autor, o ceceio

anterior dos 3 aos 8 anos de idade pode ser considerado uma etapa natural no

desenvolvimento da fala da criança.

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Revisão de literatura 35

Kellum et al. (1994) avaliaram as relações do hábito de sucção digital com os

desvios fonoarticulatórios durante a emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/ e com

as posturas dos lábios e a língua durante o repouso e a deglutição. Foram

examinadas 371 crianças com média de idade de 7,75 anos, todas estudantes do

primeiro grau, sendo 197 do gênero masculino e 174 do gênero feminino.

Fonoaudiólogos examinaram a acústica e os pontos fonoarticulatórios da língua

durante a emissão dos fonemas /s/ e /z/, que, quando emitidos de maneira correta,

são denominados linguoalveolares. A postura mandibular, labial e lingual, em

repouso e durante a deglutição, foi avaliada individualmente em cada criança, assim

como a presença, ou não, de hábito de sucção digital. Os resultados mostraram que

79 crianças possuíam o hábito de sucção digital (26%), 32 crianças do gênero

masculino e 47 do feminino, tendo a presença desses hábitos uma significância

estatística (p<0,05) para o gênero feminino. Em relação à acústica, os portadores de

hábito de sucção digital apresentaram um significativo maior número de distorções

na emissão dos fonemas /s/ e /z/ quando comparados às crianças sem esses

hábitos. Não houve diferenças significativas em relação aos pontos de contato da

língua durante a fonoarticulação nos dois grupos, sendo que 71% de todas as

crianças estudadas apresentaram uma postura lingual mais baixa (interdental)

durante a emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/. Com relação à postura lingual,

durante o repouso e a deglutição, considerada normal quando apresenta um

posicionamento linguoalveolar ou linguodental, os portadores de hábitos mostraram

um significativo desvio, o qual foi diagnosticado como uma postura atípica

(interdental ou linguodental inferior). Diferenças estatísticas entre idades e tipos

raciais não foram encontradas. Os autores recomendaram que futuras pesquisas

fossem realizadas em crianças na fase da dentadura permanente, especialmente

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Revisão de literatura 36 nas portadoras de mordida aberta anterior, com relação ao posicionamento lingual

durante a fonoarticulação.

Moura (1994) estudou a relação do ceceio anterior com a idade cronológica e

com o tipo de relacionamento oclusal interincisivos em 288 pré-escolares de nível

sócio-econômico médio/alto, com idades entre 3 e 7 anos. Os resultados mostraram

que houve uma grande incidência de ceceio anterior em crianças na faixa etária dos

3 anos (36%), havendo uma queda sensível na faixa dos 4 anos (19,5%), uma

manutenção aos 5 anos (36%) e uma suave queda aos 6 anos de idade (15%).

Também se observou que a maior parte das crianças de 3, 5 e 6 anos de idade com

ceceio anterior apresentou trespasse vertical interincisivos normal. Já as de 4 anos

apresentaram, em sua maioria, a mordida aberta anterior. Em relação aos tipos de

trespasses verticais interincisivos nos grupos etários de 3 e 5 anos, o trespasse

vertical negativo aparece em segundo lugar, estando em primeiro lugar no grupo

etário de 4 anos e se igualando aos outros tipos de trespasse vertical interincisivos

no grupo de 6 anos de idade. Até a idade de 6 anos, dos casos com trespasse

vertical interincisivos negativo, 48% apresentaram ceceio anterior. Após essa faixa

etária, essa porcentagem sofre um decréscimo, justificado pela autora como

resultado da eliminação de hábitos de sucção.

Pahkala, Laine e Narhi (1995), em um levantamento epidemiológico

longitudinal, avaliaram 112 crianças com idades iniciais de 6 a 8 anos e finais entre 9

e 11 anos, portadoras de severos problemas de fala, objetivando encontrar

associações entre os diferentes tipos de distúrbios orofaciais. Foi montado um grupo

controle com 107 crianças na mesma faixa etária. Todas as crianças foram

examinadas pelo mesmo fonoaudiólogo, diagnosticando as alterações da fala em

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Revisão de literatura 37 duas categorias: 1- Distorções sonoras, e 2- Local da articulação dos fonemas. A

morfologia e a função dos músculos envolvidos na fala também foram avaliadas.

Sintomas e sinais de disfunção craniomandibular, informações de prévio/atual

tratamento ortodôntico, capacidade de movimentação mandibular e as

características oclusais foram avaliadas e registradas pelo mesmo cirurgião dentista.

A análise estatística dos dados mostrou algumas anomalias oclusais como o

trespasse horizontal interincisivos aumentado, a mordida aberta anterior e mordida

cruzada posterior, e alguns sinais de disfunção craniomandibular (crepitação ou

estalidos na ATM, desvio mandibular na abertura da boca e bruxismo) foram

relacionados a problemas de fala. O trespasse vertical interincisivos positivo foi

negativamente associado aos fonemas produzidos com projeção lingual, ou seja, o

risco de problemas fonoarticulatórios aumenta quando o trespasse vertical

interincisivos caminha no sentido negativo. Apesar da maturação das habilidades

motoras orais ocorrer entre os 9 e 11 anos de idade, vários distúrbios orofaciais

parecem estar relacionados uns com os outros, provavelmente indicando uma

fixação de certos padrões fonoarticulatórios incorretos e não uma imaturidade do

controle da motricidade oral fina.

Soligo (1996) avaliou, por meio de um levantamento epidemiológico

transversal, 164 pré-escolares de ambos os gêneros, pertencentes à rede de ensino

particular, tendo como objetivo pesquisar os hábitos de sucção e suas correlações

com a oclusão, a respiração e o ceceio. Para a realização da pesquisa subdividiu-se

o grupo total de crianças em 3 grupos relativos às faixas etárias: Grupo 1- de 3 anos

e 6 meses a 4 anos e 6 meses; Grupo 2- de 4 anos e 7 meses a 5 anos e 6 meses; e

Grupo 3- de 5 anos e 7 meses a 6 anos e 7 meses. Com os resultados obtidos, a

autora concluiu que a combinação dos hábitos de sucção e respiração bucal tem

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Revisão de literatura 38 como conseqüência o surgimento do trespasse vertical interincisivos negativo antes

dos 4 anos de idade. Os hábitos de sucção mantidos até os 5 anos de idade,

associados à respiração nasal e à respiração bucal sem hábitos até os 4 anos de

idade, não podem ser considerados como fatores etiológicos das mordidas abertas.

Não houve relação significativa entre os hábitos de sucção e o ceceio, assim como

entre a mordida aberta anterior e o ceceio. Também não houve uma relação

significativa entre a respiração com a mordida aberta anterior, ou seja, o grau de

amplitude do trespasse vertical interincisivos negativo independe do modo

respiratório. Não foi constatada uma relação significativa entre a mordida aberta

anterior e o ceceio, nem mesmo na presença de respiração bucal. Não houve

dimorfismo entre os gêneros.

Lino (1997) citou que pouco se sabe sobre os fatores primários determinantes

das más oclusões, inclusive os hereditários, e que o desenho morfogenético da

oclusão dentária é herdado, na maioria das vezes, no sentido de que haja

normalidade, já que os caracteres genéticos geralmente são dominantes nesse

sentido. Contudo, na área dentofacial, os elementos que participam do

desenvolvimento, manutenção e estabilidade da normalidade são numerosos e

sensíveis, principalmente em suas inter-relações. Quando tudo ocorre dentro dos

padrões fisiológicos, advém o papel estimulador e formador desses elementos na

definição de formas e contornos. Assim sendo, qualquer modificação no mecanismo

funcional poderá alterar o efeito equilibrador e formador, determinando desvios e

conseqüentes deformidades.

Van Norman (1997) examinou 723 pacientes, sendo 721 com o hábito de

sucção digital. Verificou-se que do total examinado, 634 pacientes possuíam graus

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Revisão de literatura 39 diferentes de mordida aberta e 708 (97,9%) possuíam um padrão de deglutição

atípica, com projeção lingual. O autor explicou que nas mordidas abertas anteriores

a projeção lingual se deve à necessidade do vedamento bucal anterior durante a

deglutição, considerando a deglutição atípica, com interposição lingual, uma

adaptação fisiológica à má oclusão. Segundo sua revisão bibliográfica, o autor

relatou que, em indivíduos com projeção lingual, há uma significativa incidência de

distorções articulatórias na emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/ (ceceio anterior)

e linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, sendo que, nesse trabalho, dentre os 723

indivíduos estudados, 273 (38%) exibiram distorções articulatórias na emissão da

consoante /s/.

Na cidade de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, Farret et al. (1998)

pesquisaram a relação entre as más oclusões e os problemas fonoarticulatórios em

113 crianças com idades entre 9 a 14 anos, sendo 59 do gênero masculino e 54 do

feminino. Os exames oclusais revelaram que 12 crianças (10,62%) apresentavam

oclusão normal, 66 (66,41%) exibiam má oclusão de Classe I; 18 (15,93%) de

Classe II, divisão 1; 7 (6,19%) de Classe II, divisão 2; e 10 (8,85%) de Classe III. Os

autores também avaliaram a presença de mordida cruzada, mordida aberta,

sobressaliência, sobremordida e apinhamentos dentários. Executou-se a análise

fonoaudiológica para a detecção dos problemas na fala, utilizando-se o teste

adaptado de Yavas, Hernandorena e Lamprecht (1992), que consiste em uma lista

de palavras com todos os fonemas da língua portuguesa em todas as posições nas

palavras (inicial, medial e final). Esses fonemas, formados por contatos

linguoalveolares, labiodentais, bilabiais, palatinos e linguodentais, foram

representados por figuras, para que as crianças não fossem influenciadas pelo

examinador quando as pronunciasse. Os autores, por meio do uso de um gravador e

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Revisão de literatura 40 microfone, realizaram a gravação dos sons, podendo posteriormente analisar e

transcrever os problemas articulatórios, documentando suas presenças ou

ausências. Utilizou-se o método estatístico do qui-quadrado, sendo que para todas

as análises o nível de 5% foi considerado estatisticamente significante. O resultado

mostrou que, dos 113 casos estudados, 17,70% (20 casos) da amostra apresentou

problemas na fala, 82,30% (93 casos) possuía a fala correta, e nenhum dos 12

casos com oclusão normal apresentou alterações articulatórias. Também se verificou

que a incidência de desvios na fala variou significativamente com as diferentes

categorias do sistema de classificação de Angle: 8 dos 10 casos (80%) com a

presença de má oclusão de Classe III exibiam distúrbios de fala, sendo mais

freqüentemente encontrado nesses casos o ceceio anterior; 10 de 66 casos

(15,15%) com má oclusão de Classe I apresentaram variados problemas

fonoarticulatórios; 1 dentre 18 casos (5,56%) apresentou Classe II, divisão 1; e 1

dentre 7 casos (14,29%) evidenciou Classe II, divisão 2, sendo que dos casos com

má oclusão de Classe II, apenas 2 indivíduos apresentaram desordens na fala,

provavelmente devido às diferentes habilidades individuais de adaptação e

compensação na produção dos sons da fala, na presença de mudanças estruturais.

A análise estatística dos dados não revelou diferenças significativas entre os

gêneros em relação à classificação das más oclusões e na proficiência

fonoarticulatória.

Pereira, Silva e Cechella (1998) tiveram como objetivo de seu estudo verificar

a ocorrência de hábitos orais viciosos e distúrbios fonoarticulatórios em indivíduos

portadores de deglutição atípica. Foram estudados 30 casos, todos portadores de

deglutição atípica, com idades entre 5 e 14,5 anos, de ambos os gêneros (12

masculino e 18 feminino). Levantaram informações sobre as seguintes variáveis:

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Revisão de literatura 41 gênero, idade, presença ou ausência e tipo de hábitos orais viciosos, alterações

fonoarticulatórias e modo respiratório. Todos os indivíduos foram avaliados por meio

de anamnese e exame fonoaudiológico, dando-se ênfase aos fonemas

linguoalveolares /t/, /d/, /n/, /l/ e fricativos /s/ e /z/, por estarem freqüentemente

alterados no aspecto articulatório quando existem alterações das estruturas

orofaciais. A análise dos resultados obtidos permitiu aos autores concluir que

73,33% dos casos apresentavam hábitos orais viciosos, que a fonoarticulação foi

considerada normal em 56,67% e alterada em 43,33% dos casos, sendo os fonemas

linguoalveolares e linguodentais os de maior incidência de alterações

fonoarticulatórias (61,53%).

Tomé et al. (1998), objetivando verificar a ocorrência de alterações na função

de deglutição e na oclusão dentária em crianças com queixa de “falar errado”,

analisaram dados de 74 prontuários de pacientes dos gêneros masculino (62,16%) e

feminino (37,84%), com idade variando de 4 a 13 anos, provenientes do Serviço de

Atendimento Fonoaudiológico (SAF) da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM). Dividiram as crianças em quatro faixas etárias (de 4 anos a 5 anos e 11

meses, de 6 anos a 7 anos e 11 meses, de 8 anos a 9 anos e 11 meses, e maiores

de 10 anos), constatando uma maior prevalência de crianças com alterações

fonoarticulatórias na faixa etária de 4 a 5 anos e 11 meses (44,60%), seguindo-se a

faixa etária de 6 a 7 anos e 11meses (36,49%), mostrando uma maior incidência de

alterações de fala em crianças mais novas. Dos 74 prontuários analisados, 26

crianças foram encaminhadas pelos professores (35,13%), 16 por fonoaudiólogos

(21,62%), 15 por médicos (20,27%), 8 por dentistas (10,81%), 6 pelos responsáveis

(8,11%) e 3 por outros profissionais (4,05%), indicando que problemas de

fonoarticulação desapercebidos pela família chamaram a atenção dos professores

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Revisão de literatura 42 na escola e só então as crianças foram encaminhadas para o atendimento

especializado. Em relação à deglutição, os autores encontraram 38 crianças com

deglutição normal (51,35%) e 36 crianças com deglutição atípica (48,65%), sendo

proporcional ao número encontrado em relação à oclusão, pois 33 (44,60%)

apresentaram oclusão normal e 41 (55,40%) apresentaram má oclusão. Os autores

também constataram que do total de 146 ocorrências de alterações da fala das 74

crianças, 66 (45,20%) estavam relacionadas a alterações na emissão dos fonemas

linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, relacionando-os com problemas na oclusão dentária

e/ou na deglutição.

Faria (1999), em sua revisão bibliográfica sobre etiologias, diagnóstico e o

tratamento multidisciplinar das mordidas abertas, enfocando a associação

ortodontia/fonoaudiologia, concluiu que o correto diagnóstico e o tratamento

preventivo dos distúrbios orofaciais por parte de uma equipe multidisciplinar,

composta por ortodontistas, médicos e fonoaudiólogos, são de extrema importância

para a recuperação dos padrões normais das funções de respiração, deglutição,

mastigação e fonação, dando maior estabilidade aos casos após o tratamento das

más oclusões. Muitas vezes a incorporação do fisioterapeuta e do psicólogo a essa

equipe é necessária em virtude dos problemas posturais e psicológicos que muitos

tipos de pacientes podem apresentar.

Johnson e Sandy (1999) revisaram a literatura em busca da relação entre as

características oclusais e os problemas fonoarticulatórios. Os estudos realizados

nessa área geralmente se enquadram em três categorias: 1- estudo da fala em

indivíduos com má oclusão, 2- estudo da oclusão em indivíduos com problemas de

fala, e 3- estudo da fala e oclusão em populações escolhidas aleatoriamente. Foi

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Revisão de literatura 43 possível concluir que, apesar da posição dos dentes ter um importante papel na

produção da fala, essa relação ainda é muito controversa, pois diversos fatores

dificultam a sua investigação. Segundo esses autores, as cobaias quase não têm

lugar nas pesquisas referentes à fala, pois essa é uma habilidade inerente a seres

humanos. A última categoria de estudos oferece os benefícios da randomização,

porém esses trabalhos têm sido realizados em estudantes de graduação em

Odontologia, o que pode influenciar os resultados. Outro problema é a grande

variabilidade nos métodos utilizados para realização dos exames de fala e oclusão,

que são raramente relatados nos trabalhos. Comparações entre diferentes

populações e áreas lingüísticas também dificultam as conclusões. Em relação às

más oclusões, os autores relataram que a Classe III, a mordida aberta anterior, o

trespasse horizontal interincisivos aumentado e os diastemas generalizados estão

relacionados a problemas de fala. Todavia, esses problemas não são diretamente

proporcionais ao grau de severidade das más oclusões. A habilidade dos pacientes

para adaptar sua fala, compensando os problemas estruturais, é reconhecida por

todos, embora ainda não haja uma prova definitiva que possa relacionar as más

oclusões com o aumento dos problemas fonoarticulatórios.

Em sua revisão de literatura, Marchesan (1999) considerou, em relação à

projeção lingual, os termos “atípica” ou “adaptada” como indiferentes, sendo que o

que importa é reconhecer como a língua se adapta às formas anatômicas, como

outras funções interferem em seu posicionamento e como o aumento da idade

modifica as suas funções. A autora relatou que, na presença de mordida aberta

anterior ou nos pacientes com padrão facial alongado (dolicocéfalos), normalmente a

língua não se encontrará bem posicionada. Nos casos de ausência dos incisivos,

durante as trocas dentárias, a projeção lingual está presente com uma grande

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Revisão de literatura 44 freqüência. Segundo a autora, os fatores de importância que podem influenciar o

posicionamento lingual são: o formato da face, o tipo de oclusão, o posicionamento

da cabeça, o posicionamento do pescoço, o tipo de respiração e o tônus muscular

da língua. Concluindo, os casos a serem examinados e tratados devem ser

individualizados, evitando-se a utilização das mesmas terapias fonoaudiológicas

para todos os casos a serem tratados.

Rossi e Ávila (1999) analisaram a produção fonoarticulatória dos fonemas /t/,

/d/, /s/ e /z/ na oclusão normal e nas más oclusões, a partir de dados oriundos dos

protocolos de avaliação fonoaudiológica prévia, em 186 escolares (83 do gênero

masculino e 103 do feminino), com idades compreendidas entre 10 anos e 8 meses

e 16 anos e 9 meses. Identificaram-se os diferentes tipos de oclusão dentária,

dividindo-se as crianças em dois grupos de estudo (25 escolares com oclusão

normal e 161 com más oclusões). Computaram-se os desvios motores na produção

fonética, caracterizados pela observação da projeção da língua sobre os arcos

dentários durante a produção dos fonemas citados ou pela observação de

lateralização e anteriorização da mandíbula na emissão desses fonemas, somando-

se ainda informações acústicas (distorções) sempre que presentes. Para a análise

dos resultados, realizou-se o “Teste do Qui-quadrado” com o objetivo de estudar as

associações entre as variáveis consideradas e, em alguns casos, empregou-se o

“Teste Exato de Fisher”, ambos com o nível de confiança de 95%. Os resultados

revelaram a inexistência de diferenças estatisticamente significantes ao serem

estudadas as produções dos fonemas na oclusão normal e na má oclusão. Ao

contrário, observaram-se tanto produções normais quanto alteradas nas duas formas

de oclusão dentária pesquisadas.

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Revisão de literatura 45

Cayley et al. (2000) avaliaram, cefalometricamente e por meio da

eletropalatografia, o comportamento lingual em indivíduos com trespasse vertical

interincisivos normal e negativo. Os autores afirmaram que a mordida aberta anterior

e a projeção lingual anterior são freqüentemente associadas. Porém, suas inter-

relações ainda não estão esclarecidas. Para a realização da pesquisa foram

formados dois grupos, compostos por 8 crianças do gênero masculino, com 10 anos

de idade: 1- Crianças com mordida aberta anterior e projeção lingual anterior durante

a deglutição (grupo experimental) e 2- Crianças sem mordida aberta anterior ou

projeção lingual anterior (grupo controle). Além do exame de eletropalatografia

durante a fala e a deglutição e das telerradiografias laterais de face, as crianças

também foram avaliadas e testadas em relação à emissão dos fonemas. A análise

cefalométrica indicou, no grupo experimental, uma tendência ao padrão facial

vertical e vestibuloversão dos incisivos superiores, sendo a mordida aberta anterior a

única variável cefalométrica com significância estatística entre os dois grupos. Os

resultados da eletropalatografia apontaram diferenças significativas na emissão dos

fonemas linguoalveolares /t/ e /d/ em relação à emissão de outros fonemas, sendo

que o grupo experimental apresentou maior número de distorções nessas emissões.

O grupo controle mostrou uma maior consistência na emissão dos fonemas com

uma maior tendência ao padrão de contato palatino anterior durante a deglutição e

emissão dos fonemas. Durante a deglutição, o grupo experimental teve um menor

número de contatos palatinos quando comparado ao grupo controle.

Em sua revisão literária, Marchesan (2000) analisou as más oclusões, tipos

faciais, respiração bucal e posicionamento lingual, relacionando-os e enfatizando a

importância da terapia miofuncional no tratamento multidisciplinar dos pacientes. A

autora relatou a importância da individualização dos planos de tratamento

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Revisão de literatura 46 fonoaudiológicos, utilizando-se da máxima “cada caso é um caso” e modificando,

assim, a conduta até então adotada de se tratar casos distintos da mesma maneira.

Más oclusões afetam a musculatura facial, sendo que apenas uma função muscular

alterada pode desencadear várias alterações, uma vez que a musculatura tende a

compensar os problemas, se adaptando para realizar suas funções. O tratamento

não deve se limitar a um único alvo, mas sim envolver toda a musculatura oral.

Dentre as más oclusões citadas, a mordida aberta anterior, a Classe II e a Classe III

afetam a posição lingual, normalmente desviando-a da postura normal. Em relação

ao padrão facial, a autora citou que em indivíduos braquicéfalos as alterações na

emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/ são comuns, devido a uma diminuição do

espaço intrabucal. Nesse mesmo tipo facial, a presença de diastemas anteriores

colabora com o ceceio anterior, uma vez que, sem o aumento vertical do espaço

intrabucal e a redução dos diastemas, se torna muito difícil a correção do padrão

incorreto da fala.

Santos et al. (2000) estudaram a ocorrência de alterações de fala, alterações

do Sistema Sensório Motor Oral (SSMO) e de hábitos orais em crianças pré-

escolares e escolares da 1ª série do 1o grau, em um total de 52 crianças (31 pré-

escolares e 21 da 1ª série do 1o grau) de ambos os gêneros. Os autores

examinaram o SSMO, as estruturas orofaciais, a fonoarticulação e a audição. As

associações entre as alterações fonoarticulatórias e as alterações do SSMO foram

estudadas a partir do estudo comparativo entre o total de crianças com

fonoarticulação normal ou alterada e o total de crianças com SSMO normal ou

alterado. Das alterações de fala, houve uma preponderância das distorções no

gênero masculino (66,67%), ocorrendo nesse grupo a maior incidência de ceceio

anterior (55,56%). Ao final da pesquisa, os resultados indicaram que 50% da

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Revisão de literatura 47 população estudada apresentou algum tipo de alteração fonoarticulatória, que pode

persistir até idades mais avançadas se tratamentos não forem realizados. As

dificuldades na fala poderão interferir no aprendizado da leitura e escrita, até porque

grande parte das alterações fonoarticulatórias presentes estavam associadas a

alterações do SSMO. Apesar da presença de hábitos orais não haver sido

significativa para a ocorrência das alterações fonoarticulatórias, é correto afirmar que

a presença de hábitos orais nas faixas etárias estudadas pode causar alterações no

tônus muscular dos órgãos fonoarticulatórios, na respiração e na oclusão, levando a

alterações de fala.

Tomita et al. (2000) desenvolveram um estudo epidemiológico transversal

com a finalidade de avaliar os problemas de fala e hábitos bucais deletérios, bem

como suas relações com a oclusão dentária em pré-escolares. A amostra consistiu

de 618 crianças de ambos os gêneros, nas faixas etárias dos 3, 4 e 5 anos de idade.

A classificação de Angle foi adotada para avaliação de aspectos morfológicos da

oclusão, observando-se também os trespasses horizontal e vertical interincisivos,

diastemas, apinhamento, mordida aberta anterior, mordida cruzada total, mordida

cruzada anterior, mordida cruzada posterior uni- e bilateral. A maior prevalência de

má oclusão foi observada no grupo etário dos 3 anos, ocorrendo um decréscimo

significativo nos grupos de 4 e 5 anos de idade (p<0,05). No que concerne à fala, os

autores não relacionaram as dificuldades fonoarticulatórias com as más oclusões.

Takamura (2001) avaliou o trespasse vertical interincisivos em 130 crianças

brasileiras (58 do gênero masculino e 72 do gênero feminino) pertencentes a uma

Escola Municipal de Educação Infantil, na zona leste da cidade de São Paulo, na

faixa etária dos 4 aos 6 anos de idade, sendo que todas apresentavam somente

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Revisão de literatura 48 dentes decíduos. Objetivou-se nesse estudo, por meio de um levantamento

epidemiológico transversal, verificar as diferenças estatisticamente significantes

entre os gêneros e os vários tipos de relacionamentos interincisivos no sentido

vertical da oclusão (trespasse vertical interincisivos normal, aumentado, nulo ou

negativo) com suas respectivas prevalências. A autora concluiu que não houve

diferenças estatisticamente significantes entre os gêneros no que tange à

prevalência dos diversos tipos de trespasse vertical interincisivos, sendo que devido

a essa ausência de dimorfismo, as taxas de prevalência foram associadas em um só

grupo geral, conduzindo a índices de prevalência de 48,46% para o trespasse

vertical interincisivos normal, 11,54% para o nulo, 21,54% para o aumentado e

18,46% para a mordida aberta anterior.

Jabur (2002) relatou que os pontos tocados pela língua durante a deglutição

coincidem com os pontos tocados durante a articulação da fala. Assim, a ocorrência

da projeção lingual anterior durante a deglutição pode estar correlacionada à

projeção lingual anterior na emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/ (ceceio anterior)

e linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Entretanto, vale ressaltar que nem todo deglutidor

atípico apresenta, necessariamente, tais alterações na fala. Da mesma forma, como

nas outras funções, é possível fazer uma associação entre a articulação dos

fonemas, a má oclusão e o tipo facial. É comum observar, em indivíduos portadores

de má oclusão de Classe II esquelética, um deslize anterior da mandíbula e projeção

anterior da língua na emissão dos fonemas fricativos /s/ e /z/. Já nos portadores de

Classe III, os movimentos da ponta da língua podem ser substituídos pelo meio ou

dorso lingual na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, assim como

nas mordidas abertas anteriores se observa, com freqüência, uma projeção lingual

anterior na emissão desses mesmos fonemas. É de fundamental importância o

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Revisão de literatura 49 conhecimento das alterações miofuncionais por parte do ortodontista, evitando

recidivas nos tratamentos ortodônticos das más oclusões e tornando os seus

encaminhamentos mais precisos, assertivos e eficientes.

Vieira (2003), por meio de um levantamento epidemiológico transversal,

avaliou a prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos na dentadura

decídua em nipo-brasileiros. Para tanto, foram examinadas 310 crianças, em 19

escolas do estado de São Paulo direcionadas para esse grupo étnico, na faixa etária

dos 2 aos 6 anos de idade. Subdividiram-se as faixas etárias da amostra em dois

grupos: Grupo 1- dos 2 aos 4 anos de idade e Grupo 2- dos 5 aos 6 anos, de ambos

os gêneros, sendo a amostra total constituída de 70,60% de não miscigenados e

29,40% de miscigenados. A metodologia utilizada para a obtenção dos dados

consistiu no exame clínico direto das crianças, no próprio ambiente escolar,

anotando-se as informações em fichas desenvolvidas especificamente para esse

propósito. Classificou-se o trespasse vertical interincisivos em normal, aumentado,

nulo e negativo. Utilizou-se o teste do Qui-quadrado, com nível de confiança de 95%

(p<0,05), para se verificar as características oclusais verticais anteriores. Os

resultados evidenciaram que não houve alterações estatisticamente significantes

para as prevalências dos diversos tipos de trespasse vertical interincisivos entre as

faixas etárias dos 2 aos 4 anos e dos 5 aos 6 anos de idade, bem como para o

dimorfismo entre os gêneros, conduzindo a índices de prevalência de 60% para o

trespasse vertical interincisivos normal, 8,39% para o nulo, 27,10% para o

aumentado e 4,51% para o negativo.

No município de Itajaí-SC, Tomé et al. (2004), objetivando verificar a

ocorrência do ceceio anterior e alterações no trespasse vertical interincisivos na

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Revisão de literatura 50 dentadura decídua, examinaram 132 crianças de ambos os gêneros, na faixa etária

de 3 a 6 anos. Os critérios de inclusão no estudo foram: a idade (3 a 6 anos), a

dentadura decídua completa e íntegra, e ausência de anomalias dentárias de forma

ou tamanho. Realizou-se o exame clínico, manipulando-se a mandíbula em “Relação

Cêntrica”. A avaliação fonoaudiológica constituiu-se de uma avaliação específica da

fala (cartelas temáticas propostas por Yavas et al., 1992), fala espontânea e

repetição de palavras) e avaliação do Sistema Sensório Motor Oral (SSMO), com o

objetivo de excluir do estudo as crianças que apresentassem algum fator, além da

alteração oclusal no sentido vertical anterior, que prejudicasse ou impedisse a

produção da fala. O diagnóstico foi baseado na percepção acústica e pela inspeção

visual do movimento da língua durante a produção dos fonemas /s/ e /z/,

considerando-se como ceceio anterior a produção sistemática com projeção lingual

na região anterior da arcada dentária durante a produção de tais fonemas. Os dados

foram analisados estatisticamente com a aplicação do teste Qui-quadrado. Os

resultados indicaram que o ceceio anterior ocorreu em 51,51% das crianças

avaliadas, ao passo que 48,48% não o apresentaram. Em relação ao gênero, houve

predomínio estatisticamente significante de crianças do gênero masculino (58,82%)

com ceceio anterior. Houve, também, um predomínio estatisticamente significante de

crianças com ceceio anterior entre a faixa etária de 4 a 5 anos, enquanto houve um

decréscimo na faixa de 3 a 6 anos. Também se verificou que as alterações oclusais

no plano vertical anterior ocorreram em 50% das crianças com ceceio anterior,

sendo que a alteração oclusal mais freqüente foi a mordida aberta anterior (73,52%),

embora não estatisticamente significante. Os autores concluíram que o ceceio

anterior não demonstrou estar relacionado às alterações oclusais examinadas.

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Revisão de literatura 51 Porém, a presença de tais alterações pode determinar risco para o desenvolvimento

de ceceio na fala, mas não é determinante para a sua ocorrência.

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3 PROPOSIÇÃO

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53 3 PROPOSIÇÃO

Mediante um levantamento epidemiológico transversal em crianças

brasileiras, na faixa etária dos 3 aos 6 anos de idade, matriculadas em uma Escola

Municipal de Educação Infantil, no bairro do Tatuapé, zona leste da cidade de São

Paulo, este estudo teve como objetivos:

3.1 Determinar as prevalências dos quatro tipos de trespasse vertical interincisivos

(normal, aumentado, nulo e negativo):

3.1.1 na amostra total;

3.1.2 no grupo com ceceio anterior ; e

3.1.3 no grupo com projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas

linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.

3.2 Analisar estatisticamente as inter-relações entre as características oclusais

analisadas e as alterações fonoarticulatórias mencionadas anteriormente.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

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55 4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Material (Amostra)

Neste trabalho foram examinados 561 prontuários clínicos pertencentes ao

banco de dados do Departamento de Ortodontia da Universidade Cidade de São

Paulo - UNICID, referentes a crianças brasileiras, na faixa etária dos 3 aos 6 anos,

matriculadas na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Quintino Bocaiúva, no

bairro do Tatuapé, na zona leste da cidade de São Paulo.

Para atender aos propósitos desta pesquisa, todas as crianças incluídas

apresentavam somente dentes decíduos, sem perdas dentárias e com ausência de

cáries extensas. Os prontuários preenchidos de maneira incompleta, não contendo

todas as informações necessárias para a realização deste trabalho (total de 210),

assim como os que apresentaram diferenças superiores a seis meses na época de

realização dos exames clínicos odontológico e fonoaudiológico, bem como as

crianças com idade superior a 6 anos e 11 meses (total de 18) foram excluídos da

amostra. Dessa forma, chegou-se a um total de 333 prontuários que foram utilizados

nesta pesquisa. Desse total de 333 crianças (157 do gênero masculino e 176 do

feminino), os exames clínicos odontológico e fonoaudiológico foram realizados em

250 crianças no ano de 2000 e em 83 crianças no ano de 2003.

4.2 Métodos

Durante a realização do levantamento dos dados, que se encontram

arquivados na Disciplina de Ortodontia da Universidade Cidade de São Paulo, os

profissionais envolvidos, visando informar aos pais a importância da pesquisa

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Material e Métodos 56 científica para a saúde bucal das crianças, realizaram uma reunião onde foram

esclarecidas as dúvidas sobre a proposta de trabalho e se esclareceu como seriam

realizados os exames clínicos odontológicos e fonoaudiológicos. Após a explanação,

solicitou-se aos responsáveis sua concordância, mediante autorização por escrito,

dando-se assim andamento aos trabalhos (Anexo A).

Os materiais utilizados pelos dentistas para a realização do exame clínico

odontológico foram: luvas, aventais, gorros e máscaras (todos descartáveis) para a

paramentação dos profissionais, além de espátulas de madeira descartáveis e a

ficha clínica (Anexo B), na qual foram anotados os dados clínicos de interesse,

assim como a identificação das crianças avaliadas.

As crianças foram examinadas por duas fonoaudiólogas experientes,

pertencentes ao corpo docente da Universidade Cidade de São Paulo, para se

avaliar clinicamente a presença de distúrbios na fala, sendo de interesse particular

desta pesquisa a presença ou não de ceceio anterior e/ou projeção lingual nos

fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (Anexo C).

4.2.1 Estudo Piloto

Realizou-se um estudo piloto com o objetivo de testar a operacionalização do

método proposto para o levantamento epidemiológico, a utilização dos instrumentos

de avaliação e a aferição dos examinadores. Com esse propósito, efetuou-se um

exame inicial, englobando 20 crianças pertencentes à clínica de Ortodontia

preventiva da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. Nesse exame, sob

orientação de um professor de Ortodontia altamente experiente (examinador

padrão), a equipe de examinadores, composta por três alunas do curso de Mestrado

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Material e Métodos 57 Profissionalizante em Ortodontia dessa mesma instituição, esclareceu suas

principais dúvidas quanto aos critérios de diagnóstico e anotação dos dados

coletados. Em uma segunda etapa, após 15 dias, foi realizado um novo exame

clínico em mais 20 crianças. A repetição dos procedimentos serviu para averiguar o

grau de concordância entre os resultados colhidos pelas três cirurgiãs-dentistas que

efetuaram o exame clínico dos pacientes. Em ambas as avaliações, todas as

examinadoras observaram cada uma das crianças em questão, comparando e

discutindo posteriormente os resultados, até ser atingida a padronização da conduta

diagnóstica, minimizando as discrepâncias metodológicas na coleta de dados.

4.2.2 Exame Clínico Odontológico

Os exames clínicos dos arcos dentários foram realizados na própria escola

para avaliação do trespasse vertical interincisivos. As crianças foram comodamente

sentadas e direcionadas para uma fonte abundante de luz natural. Os profissionais,

devidamente paramentados, ao iniciar os exames solicitavam às crianças que

abrissem a boca, permitindo assim que fossem analisados os primeiros tópicos.

Posteriormente, solicitava-se que ocluíssem em posição habitual (máxima

intercuspidação) para que fossem coletados dados adicionais. Algumas crianças

demonstraram certa dificuldade em ocluir na posição habitual e, nesses casos, foi

pedido que posicionassem a ponta da língua o mais posteriormente possível no

palato e ocluíssem. Caso fosse notado que tal dificuldade devia-se a motivos

psicológicos, a avaliação nessa criança era postergada para o final, de modo que ela

tivesse oportunidade de observar o exame clínico sendo efetuado em seus colegas.

Durante todos os procedimentos de exame, houve a preocupação de que o

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Material e Métodos 58 ambiente de trabalho fosse o mais descontraído possível para que houvesse

precisão na coleta dos dados. Todas as crianças foram avaliadas em relação à

presença ou ausência de cáries, perdas dentárias, presença de dentes permanentes

e o trespasse vertical interincisivos.

Para a avaliação e classificação do trespasse vertical interincisivos, foram

utilizados os critérios abaixo:

Normal: as bordas incisais dos incisivos superiores recobrem, no máximo, um

terço da coroa dos incisivos inferiores (Figura 4.1);

Aumentado (Sobremordida profunda): as bordas incisais dos incisivos superiores

recobrem mais de um terço da coroa dos incisivos inferiores (Figura 4.2);

Nulo (Mordida de topo): a distância vertical entre as bordas incisais superiores e

inferiores é igual a zero (Figura 4.3); e

Negativo (Mordida aberta anterior): as bordas incisais dos incisivos superiores e

inferiores afastam-se verticalmente em direção apical, gerando falta de contato

oclusal entre esses dentes (Figura 4.4).

Figura 4.1 - Trespasse vertical interincisivos normal.

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Material e Métodos 59

Figura 4.2 - Trespasse vertical interincisivos aumentado (Sobremordida profunda).

Figura 4.3 - Trespasse vertical interincisivos nulo (Mordida de topo)

Figura 4.4 - Trespasse vertical interincisivos negativo (Mordida aberta anterior).

4.2.3 Avaliação Fonoaudiológica

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Material e Métodos 60

A avaliação da comunicação oral foi realizada individualmente, em cada

criança, no próprio ambiente escolar, sendo eleita uma sala considerada silenciosa,

a fim de evitar interferências externas. A seqüência de avaliação foi realizada da

seguinte maneira:

4.2.3.1 Prova auxiliar - Contexto Pessoal

Teve como objetivo atenuar, por meio de uma interação inicial, a artificialidade

da situação de exame, visando uma situação descontraída e, de maneira informal,

sugerindo perguntas que são as usualmente utilizadas nos primeiros contatos entre

adultos e crianças (BRAZ e PELLICCIOTTI, 1988).

4.2.3.2 Lista de Palavras - Monossílabos e Dissílabos

Objetivou avaliar a recepção e a emissão de vocábulos em que estão

representados os fonemas da língua portuguesa e a emissão de seqüências

fonológicas em contextos fonéticos diferentes. Essa lista foi elaborada relacionando

a extensão vocabular e é composta por grupos de vinte vocábulos, monossílabos e

dissílabos. Houve na lista um balanceamento quanto à seleção de vocábulos

oxítonos e paroxítonos com sílabas tônicas abertas e fechadas, e ainda existindo

também a preocupação com a ocorrência de todos os fonemas. Na fala espontânea,

pode haver a não ocorrência dos diversos tipos de fonemas da língua e de todas as

posições que podem ocupar na sílaba e na palavra, deixando a amostra incompleta,

por isso a necessidade de se usar uma lista de palavras. Mediante a apresentação

das palavras em ritmo regular, sem entonação enfática e com intensidade normal de

voz, foi solicitado ao examinado que as repetisse. Evitou-se fornecer o apoio visual

na emissão do examinador (BRAZ e PELLICCIOTTI, 1988).

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Material e Métodos 61

4.2.3.3 Apresentação de Gravuras para Nomeação Espontânea

A fala espontânea é um meio para a obtenção de uma amostra lingüística, de

forma a apresentar o sistema próprio da criança, sem a possibilidade do

desvirtuamento da imitação e também mostrando a produção de fonemas, sílabas e

palavras dentro de frases. As gravuras auxiliam, estimulando as crianças a nomear,

caracterizar e descrever ações. O instrumento proposto é composto de cinco

desenhos temáticos, os quais são utilizados para estimular a produção de vocábulos

que pertencem ao repertório de crianças a partir de 3 anos. Os desenhos estimulam

as crianças a produzirem sons em diferentes posições nas palavras e vocábulos,

que são diferentes quanto à estrutura silábica e quanto ao número de sílabas. Em

relação às normas de aplicação, cada gravura foi apresentada à criança, que foi

solicitada a nomear e caracterizar de forma informal. Como apoio ao examinador,

havia uma lista de palavras que deveriam ser emitidas espontaneamente, após a

visualização de cada gravura. Caso isso não ocorresse, o procedimento era repetido

até se atingirem resultados satisfatórios (YAVAS, HERNANDORENA, LAMPRECHT,

1992).

4.2.3.4 Avaliação Fonoarticulatória

Cada criança foi examinada com o auxilio de luvas e espátula de madeira

descartáveis, observando-se as estruturas do sistema estomatognático: palato,

língua, lábios, mandíbula, dando-se muita atenção ao tônus, posição habitual de

repouso e mobilidade da língua e lábios. Também se verificou a presença de

restrições de espaço intrabucais e alterações morfológicas e funcionais que

pudessem interferir na produção dos sons na fala (JABUR, 2002).

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Material e Métodos 62

4.2.4 Análise dos dados

4.2.4.1 Armazenamento dos dados

Todos as informações retiradas do banco de dados neste estudo foram

armazenadas num arquivo de dados com a utilização de Recursos Técnicos

Informatizados - Plataforma Windows XP e tabelas do Excel 97 (MicrosoftTM).

4.2.4.2 Análise estatística1

Com base nos estudos clínicos realizados, efetuou-se a análise estatística

descritiva, abrangendo o cálculo e a tabulação da prevalência dos quatro tipos de

trespasse vertical interincisivos em termos percentuais, e suas relações com o

ceceio anterior e/ou projeção lingual anterior na emissão dos fonemas /t/, /d/, /n/ e /l/.

Em uma segunda etapa, utilizou-se a análise da significância estatística,

mediante o teste do χ2 (Qui-quadrado - SPIEGEL, 1975; CHOI, 1978), com nível de

significância de 0,05 (95% de confiança) para a verificação das possíveis

associações entre os problemas fonoaudiológicos citados e os diversos

relacionamentos oclusais verticais entre os incisivos superiores e inferiores no grupo

estudado.

1 Efetuada pelo Prof. Dr. Celso de Camargo Barros Jr.

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5 RESULTADOS

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64 5 RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os dados quantitativos e estatísticos

referentes à distribuição das características oclusais verticais anteriores em relação

aos problemas fonoarticulatórios estudados na amostra total avaliada.

Ordem de apresentação:

Tabela 5.1 e Gráfico 5.1 - Prevalência dos diferentes tipos de trespasse vertical

interincisivos na amostra estudada;

Tabela 5.2 e Gráfico 5.2 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical

interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de ceceio anterior;

Tabela 5.3 e Gráfico 5.3 – Prevalência dos tipos de trespasse vertical

interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de projeção lingual

anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/;

Tabela 5.4 - Resultados da análise estatística, obtidos com o teste de qui-

quadrado, para a obtenção da relação dos diferentes tipos de trespasse vertical

interincisivos com o ceceio anterior e a projeção lingual anterior na emissão dos

fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Na tabela são mostrados os valores do

qui-quadrado, valor-p, e a significância estatística dos resultados.

Gráfico 5.4 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos

tipos de trespasse vertical interincisivos em relação ao ceceio anterior; e

Gráfico 5.5 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos

tipos de trespasse vertical interincisivos em relação à projeção lingual anterior na

emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.

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Resultados 65

Tabela 5.1 - Prevalência dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos na amostra estudada.

Tipos de trespasse vertical interincisivos n %

Normal 161 48,3

Aumentado 75 22,5

Nulo 31 9,3

Negativo 66 19,8

Total 333 100,0

Gráfico 5.1 - Prevalência dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos na amostra estudada.

48,3

22,5

9,3

19,8

05

101520253035404550

Pre

valê

ncia

(%)

Normal Aumentado Nulo Negativo

Tipos de trespasse vertical interincisivos

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Resultados 66

Tabela 5.2 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de ceceio anterior.

Crianças com Ceceio anterior Crianças sem

Ceceio anterior Tipos de Trespasse vertical Interincisivos

n % n %

Normal 37 42,0 124 50,6

Aumentado 11 12,5 64 26,1

Nulo 11 12,5 20 8,2

Negativo 29 33,3 37 15,1

Total 88 100,0 245 100,0

Gráfico 5.2 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de ceceio anterior (Com - presença e Sem - ausência de ceceio anterior).

42,0

50,6

12,5

26,1

12,5

8,2

33,3

15,1

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Prev

alên

cia

(%)

Normal Aumentado Nulo NegativoTipos de Trespasse vertical Interincisivos

ComSem

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Resultados 67

Tabela 5.3 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.

Crianças com Projeção Lingual

anterior

Crianças sem Projeção Lingual

anterior Tipos de Trespasse vertical Interincisivos

n % n %

Normal 48 42,1 113 51,6

Aumentado 16 14,0 59 26,1

Nulo 12 10,5 19 8,7

Negativo 38 33,3 28 12,8

Total 114 100,0 219 100,0

Gráfico 5.3 - Prevalência dos tipos de trespasse vertical interincisivos da amostra em relação à presença ou ausência de projeção lingual anterior, na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (Com – presença e Sem – ausência de projeção lingual anterior).

42,1

51,6

14,0

26,1

10,58,7

33,3

12,8

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Prev

alên

cia

(%)

Normal Aumentado Nulo NegativoTipos de Trespasse vertical Interincisivos

ComSem

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Resultados 68

Tabela 5.4 - Resultados da análise estatística, obtidos com o teste de qui-quadrado, para a obtenção da relação dos diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos com o ceceio anterior e a projeção lingual anterior (P.L. anterior) na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Na tabela são mostrados os valores do qui-quadrado, valor-p, e a significância estatística dos resultados.

Trespasse vertical Interincisivos Ceceio anterior P.L. anterior

Qui 1,575 2,339 p 0,209 0,126 Normal

Sig. NS NS Qui 6,127 6,435 p 0,013 0,011 Aumentado

Sig. 0,05* 0,05* Qui 0,974 0,124 p 0,324 0,724 Nulo

Sig. NS NS Qui 11,886 18,647 p 0,001 0,00001573 Negativo

Sig. 0,001* 0,001* *Diferença estatisticamente significante (p< 0,05).

Gráfico 5.4 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos tipos de trespasse vertical interincisivos em relação ao ceceio anterior.

0,209

0,013

0,324

0,001

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

p

Normal Aumentado Nulo Negativo

Trespasse vertical Interincisivos

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Resultados 69

Gráfico 5.5 - Representação gráfica mostrando a significância (valores p) nos tipos de trespasse vertical interincisivos em relação à projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.

0,126

0,011

0,724

0,00001573

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

p

Normal Aumentado Nulo Negativo

Trespasse vertical Interincisivos

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6 DISCUSSÃO

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71 6 DISCUSSÃO

Dividiu-se este capítulo em tópicos, nos quais se discorrerá sobre: a

importância do tema abordado, aspectos da amostra e metodologia, interpretação e

discussão dos resultados e considerações finais.

6.1 Considerações sobre o tema abordado

Ainda hoje, pouco se sabe sobre os fatores primários determinantes das más

oclusões. Na maioria das vezes, as características morfofuncionais da oclusão

dentária são herdadas no sentido de que haja normalidade, já que os caracteres

genéticos geralmente são dominantes. Contudo, os elementos que participam do

desenvolvimento e manutenção dessas características de normalidade são

numerosos e sensíveis, principalmente em suas inter-relações. Assim sendo,

qualquer modificação no mecanismo funcional (respiração, deglutição, fonação e

mastigação) poderá alterar a forma, bem como a forma poderá alterar a função,

determinando, conseqüentemente, desvios e deformidades morfofuncionais

(PROFFIT, 1975; JABUR, 1994, LINO, 1997; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002;

TOMÉ et al., 2004). Vale lembrar que segundo Graber (1974), apesar de ser o tecido

ósseo um dos mais duros do corpo humano, ele é um dos mais plásticos e que mais

responde às forças geradas durante as funções.

Segundo Ingervall e Sarnas (1962), Proffit (1978) e Van Der Linden (1990), as

forças musculares também influenciam o posicionamento dentário de acordo com

suas durações e intensidades. Esses autores relataram que as forças resultantes da

fonação e da deglutição, que são forças de maior intensidade e intermitentes em

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Discussão 72 relação às forças de repouso, consideradas de menor intensidade e contínuas, não

apresentam grande influência sobre os dentes. Logo, no que se refere à fala, muitas

pesquisas não obtiveram resultados conclusivos na tentativa de relacionar os

problemas fonoarticulatórios com as más oclusões e desvios nas dimensões das

estruturas bucais. Contudo, tais relações não foram totalmente descartadas,

havendo concordância entre os autores de que mais estudos devem ser realizados,

visando um maior esclarecimento dessa relação (BERNSTEIN, 1954; BLYTH, 1959;

INGERVALL; SARNAS, 1962; SUBTELNY; MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT,

1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; PROFFIT, 1975; LAINE, 1986; KELLUM et

al., 1994; SOLIGO, 1996; JOHNSON; SANDY, 1999; ROSSI; ÁVILA, 1999; CAYLEY

et al., 2000; TOMITA et al., 2000; TOMÉ et al., 2004).

Considera-se a língua o órgão mais importante na articulação da fala, devido

à sua habilidade em apresentar rápidas mudanças de movimentação e forma.

Quando algum tipo de anormalidade impede a sua articulação normal com as

estruturas relacionadas (lábios, dentes, alvéolos, palato duro e palato mole), isso

pode resultar em um problema de fala (COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KEITH;

SCHAAF, 1982; WERTZNER, 1990).

Alguns pesquisadores concluíram que o organismo humano possui uma

tendência natural de compensação postural da musculatura funcional diante de

problemas estruturais (más oclusões), no afã de se obter uma emissão correta dos

fonemas durante a fonoarticulação (BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959;

HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971;

PROFFIT, 1975; GUAY, MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982;

MOYERS, 1991; VAN NORMAN, 1997; FARRET et al., 1998; JOHSON; SANDY,

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Discussão 73 1999; MARCHESAN, 1999; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002). É importante

destacar que devem ser avaliados criteriosamente os casos em que o organismo

não consegue compensar funcionalmente as deficiências morfológicas, para a

definição de um correto diagnóstico, plano de tratamento e prognóstico, auxiliando

na realização dos tratamentos ortodônticos e evitando possíveis recidivas

(HARRINGTO; BREINHOLT, 1963; PROFFIT, 1975; GUAY; MAXWELL; BEECHER,

1978; JABUR, 2002).

Diversos autores, em seus trabalhos, têm relacionado problemas

fonoarticulatórios com diferentes tipos de más oclusões dentárias (BERNSTEIN,

1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959; WARD et al.,

1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963;

SUBTELNY, MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON,

1971; MCGLONE; PROFITT, 1974; PROFFIT, 1975, KLECHAK, BRADLEY;

WARREN, 1976; GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; PROFFIT, 1978; KEITH;

SCHAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JARONA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR;

RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; MOYERS, 1991; LAINE,

1992; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARNHI, 1995; SOLIGO, 1996; VAN

NORMAN, 1997; TOMÉ, 1998; FARIA, 1999; JOHNSON; SANDY, 1999;

MARCHESAN, 1999; CAYLEY et al., 2000; MARCHESAN, 2000; TOMÉ et al.,

2004), sendo o trespasse vertical interincisivos negativo (mordida aberta anterior) a

má oclusão mais associada à presença de ceceio anterior e projeção lingual anterior

na emissão dos fonemas linguoalveolares (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955;

INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967;

COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN; 1976; KEITH;

SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR;

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Discussão 74 RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON; BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE,

1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA;

LAINE; NARHI, 1995; VAN NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et

al., 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004).

Crianças que apresentam ceceio anterior na emissão dos fonemas fricativos

/s/ e /z/ exercem significantes pressões linguais na região dos dentes anteriores

superiores, quando comparadas a crianças com fala normal (MCGLOVE; PROFFIT,

1974). Todavia, outras pesquisas não mostraram diferenças significantes nas forças

protrusivas linguais em grupos com e sem mordida aberta anterior, ceceio anterior e

projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/

(DWORKIN; CULATTA, 1980).

Vale ressaltar que, segundo algumas pesquisas, os problemas de fala,

especificamente o ceceio anterior e a projeção lingual anterior na emissão dos

fonemas linguoalveolares, sofrem uma redução espontânea em sua prevalência,

diretamente proporcional ao avanço da idade, e na maior parte dos casos se

normalizam por volta dos sete aos nove anos de idade (RATHBONE, 1955;

FLETCHER; GASTEEL; BRANLEY, 1961; KORTSCH, 1963; COLEMAN;

GULLIKSON, 1971; PALVIAINEN; LAINE, 1990; WERTZNER, 1990;

QVARNSTRÖM; JAROMA; LAINE, 1993; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994;

PAHKALA; LAINE, NARHI, 1995; MARCHESAN, 1999; TOMÉ et al., 2004). Relatou-

se também que a persistência dos problemas de fala pode estar relacionada aos

insucessos nos tratamentos ortodônticos, sendo que as alterações de fala são

consideradas como diagnóstico de um comportamento inadequado de todo o

mecanismo funcional e a sua correção pode colaborar para a normalização da

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Discussão 75 oclusão (HARRINGTON; BRENHOLT, 1963; PROFITT, 1975; BIGENZAHN;

FISHMAN; MAYHOFER-KRAMMEL, 1992).

De acordo com Faria (1999), o diagnóstico e o tratamento preventivo das

alterações morfofuncionais bucais, realizados por uma equipe multidisciplinar

envolvendo, além de ortodontistas, cirurgiões dentistas clínicos, médicos pediatras,

otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e em algumas vezes

psicólogos, são de extrema importância na correção e manutenção dos resultados

no relacionamento entre a forma e a função, e suas influências no padrão de

crescimento esquelético craniofacial, justificando, dessa maneira, a importância do

tema abordado nesta pesquisa.

Tendo em vista os aspectos comentados anteriormente, o atual estudo se

propôs avaliar a prevalência e as inter-relações dos diferentes tipos de trespasse

vertical interincisivos, do ceceio anterior e da projeção lingual anterior na emissão

dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, na dentadura decídua.

6.2 Aspectos da amostra e metodologia

O número total da amostra foi considerado um número expressivo, sendo

superior ao das amostras utilizadas em outros trabalhos realizados na mesma linha

de pesquisa (BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH, 1959; INGERVALL; SARNAS, 1962;

KORTSH, 1963; SUBTELNY; MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967;

MCGLONE; PROFITT, 1974; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY;

MAXWELL; BEECHER, 1978; DWORKIN; CULATTA, 1980; ZALDÍVAR,

RODRIGUES; PÉREZ, 1987; LAINE, 1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990;

BIGENZAHN; FISCHMAN; MAYHOFER-KRAMMEL, 1992; QVARNSTRÖM;

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Discussão 76 JAROMA; LAINE, 1993; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; JAROMA, 1995;

PEREIRA; SILVA; CECHELLA, 1998; FARRET et al., 1998; TOMÉ et al., 1998;

ROSSI; ÁVILA, 1999; CAYLEY et al., 2000; SANTOS et al., 2000; TOMÉ et al.,

2004), gerando maior credibilidade e confiabilidade aos resultados do atual estudo.

Os métodos empregados para a coleta e a análise dos dados seguiram um

padrão semelhante aos critérios utilizados por outros pesquisadores (WARD et al.,

1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; LAINE,

1986; LAINE, 1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR;

RODRIGUES; PÉREZ, 1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990; BIGENZAHN;

FISCHMAN; MAYHOFER-KRAMMEL, 1992; LAINE, 1992; QVARNSTRÖM;

JAROMA; LAINE, 1993; JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE;

NARHI, 1995; FARRET et al., 1998; ROSSI; ÁVILA, 1999; TOMITA et al., 2000;

TOMÉ et al., 2004).

Muitos trabalhos não relacionaram estatisticamente a presença de problemas

de fala (ceceio anterior e projeção lingual anterior na emissão dos fonemas

linguoalveolares) com os gêneros e as faixas etárias estudadas (LUBIT, 1967;

DWORKIN; CULATTA, 1980; LAINE, 1986; PALVIAINEN; LAINE, 1990; ZALDÍVAR;

RODRIGUES; PÉREZ, 1994; SOLIGO, 1996; FARRET et al., 1998), confrontando-

se com os resultados de pesquisas realizadas por outros autores (MOURA, 1994;

SANTOS et al., 2000; TOMÉ et al., 2004). Porém, para a realização desta pesquisa,

optou-se pela formação de um único grupo de estudo, devido à nossa amostra não

possuir um equilíbrio na divisão por faixas etárias e gêneros.

A utilização de prontuários clínicos, pertencentes ao banco de dados da

Disciplina de Ortodontia da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID, coincide

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Discussão 77 com a metodologia utilizada em pesquisas realizadas anteriormente nessa entidade

(TAKAMURA, 2001; VIEIRA, 2003). Tomé et al. (1998) e Rossi e Ávila (1999)

também utilizaram prontuários clínicos para a realização de suas pesquisas

envolvendo problemas oclusais e suas relações com as alterações fonoarticulatórias.

6.3 Interpretação e discussão dos resultados.

É sabido que a prevalência das más oclusões atinge, em média, 50% da

população (GALVÃO; PEREIRA; BELLO, 1994; SILVA; GONÇALVES; MAIA, 1991).

Aceitando-se o fato de que as más oclusões associam-se às alterações

fonoarticulatórias, conseqüentemente essas últimas ocorrerão com uma alta

freqüência, atingindo uma média de 50% das populações estudadas (WARD et al.,

1961; ZALDÍVAR; RODIGUES; PÉREZ, 1987; TOMÉ et al., 1998; SANTOS et al.,

2000; TOMÉ et al., 2004).

Takamura (2001) estudou as prevalências dos quatro tipos de trespasse

vertical interincisivos em um grupo de 130 crianças, dos quatro aos seis anos de

idade, pertencentes ao mesmo espaço educacional onde foi realizada esta pesquisa.

Utilizando-se dos mesmos critérios de inclusão na amostra estudada, a autora

concluiu que não houve diferenças estatisticamente significantes entre os gêneros

no que tange à prevalência dos diversos tipos de trespasse vertical interincisivos,

sendo que devido a essa ausência de dimorfismo, as taxas de prevalência foram

associadas em um só grupo geral, conduzindo a índices de prevalência de 48,46%

para o trespasse vertical interincisivos normal, 21,54% para o aumentado, 11,54%

para o nulo e 18,46% para o negativo. Apesar da amostra da atual pesquisa ser de

333 crianças, superior ao dobro da amostra do trabalho de Takamura (2001), os

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Discussão 78 resultados obtidos apresentaram uma grande semelhança (48,30% para o trespasse

vertical interincisivos normal, 22,50% para o aumentado, 9,30% para o nulo e

19,80% para o negativo). Vieira (2003) realizou esse mesmo tipo de levantamento

epidemiológico citado anteriormente, porém em um grupo de 310 nipo-brasileiros,

com idades entre dois e seis anos, tendo como resultados para os índices de

prevalência do trespasse vertical interincisivos: 60% para o normal, 27,10% para o

aumentado, 8,39% para o nulo e 4,51% para o negativo. As diferenças dos

resultados encontrados por Vieira (2003) em relação a Takamura (2001) e a esta

pesquisa provavelmente estão relacionadas às diferenças étnicas e culturais dos

grupos estudados na realização das pesquisas.

Sendo a prevalência do trespasse vertical interincisivos negativo de 19,80%

neste estudo e em outras pesquisas de 18,46% (TAKAMURA, 2001) e 4,51%

(VIEIRA, 2003), e considerando-se que vários autores pressupõem existir uma

relação direta entre os problemas fonoarticulatórios e a mordida aberta anterior

(BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; WARD et al.,

1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT,

1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976;

GUAY; MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE;

JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON;

BARRET, 1988; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE;

NARHI, 1995; VAN NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al.,

2000; MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004), devemos considerar

que mesmo a prevalência de menor valor representa uma grande faixa populacional

a ser observada, orientada e tratada.

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Discussão 79

Os resultados obtidos nesta pesquisa mostraram que a prevalência do ceceio

anterior em relação à amostra total foi de 26,42%, e para os diferentes tipos de

trespasse vertical interincisivos foi de: 42% para o normal, 12,50% para o

aumentado, 12,50% para o nulo e 33,30% para o negativo. Já a prevalência da

projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em

relação à amostra total foi de 34,23%, e em relação aos tipos de trespasse vertical

interincisivos foi de: 42,10% para o normal, 14% para o aumentado, 10,50% para o

nulo e 33,30% para o negativo, sendo que na revisão bibliográfica realizada não

foram encontrados índices de prevalência das alterações de fala estudadas em

relação aos quatro diferentes tipos de trespasse vertical interincisivos.

Ward et al. (1961) encontraram, em um grupo de 358 crianças, um índice de

prevalência de 64% do grupo com ocorrência de ceceio anterior e projeção lingual

anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/. Tomé et al. (1998)

constataram em sua pesquisa que, do total das ocorrências de alterações da fala,

45,20% estavam relacionadas a alterações na emissão dos fonemas

linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/, relacionado-os com problemas na oclusão dentária.

Tomé et al. (2004), objetivando verificar a ocorrência do ceceio anterior e as

alterações no trespasse vertical interincisivos em 132 crianças, na faixa etária dos

três aos seis anos de idade, verificaram uma prevalência de 51,51% de ocorrência

de ceceio anterior em relação à amostra estudada, sendo que 50% dessas crianças

apresentaram alterações no trespasse vertical interincisivos e a mordida aberta

anterior foi a alteração de maior freqüência (73,52%) dentre esses casos, porém

sem apresentar significância estatística.

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Discussão 80

Segundo vários autores, há uma relação direta entre a presença do ceceio

anterior e da projeção lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares com

vários tipos de má oclusão, entre eles:

o trespasse horizontal interincisivos aumentado (RATHBONE, 1955; LAINE,

1987; LAINE; JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ,

1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992; PAHKALA;

LAINE; NARHI, 1995; JOHNSON; SANDY, 1999; MARCHESAN, 2000);

a má oclusão de Classe II (RATHBONE, 1955; BLYTH, 1959; GUAY;

MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; ZALDÍVAR;

RODRIGUES; PÉREZ, 1987; PALVIAINEN; LAINE, 1990; LAINE, 1992;

MARCHESAN, 2000; JABUR, 2002); e

a má oclusão de Classe III (RATHBONE, 1955; GUAY; MAXWELL; BEECHER,

1978; KEITH; SCAAF, 1982; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; LAINE,

1992; FARRET et al., 1998; JOHNSON; SANDY, 1999; MARCHESAN, 2000;

JABUR, 2002).

Entretanto, a literatura evidencia que a má oclusão que mais se relaciona com

esses problemas fonoarticulatórios é o trespasse vertical interincisivos negativo

(BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; INGERVALL; SARNAS, 1962;

HARRINGTON; BREINHOLT, 1963; LUBIT, 1967; COLEMAN; GULLIKSON, 1971;

KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE;

JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉREZ, 1987; HANSON;

BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992;

JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARNI, 1995; VAN

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Discussão 81 NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; JABUR, 2002;

TOMÉ et al., 2004), o que coincide com os resultados apresentados nesta pesquisa,

mostrando haver uma relação estatisticamente significante da mordida aberta

anterior com o ceceio anterior (p = 0,001) e a projeção lingual anterior na emissão

dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ (p = 1,573E-05). Conseqüentemente, o

atual trabalho demonstra uma redução na presença dessas alterações

fonoarticulatórias em crianças portadoras de trespasse vertical interincisivos

aumentado (ceceio anterior p = 0,013 e projeção lingual anterior na emissão dos

fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ p = 0,011), fato esse que coincide com os

resultados obtidos por Pahkala, Laine e Narhi (1995), demonstrando que o trespasse

vertical interincisivos positivo foi negativamente associado aos fonemas produzidos

com projeção lingual anterior, ou seja, o risco de problemas fonoarticulatórios

aumenta quando o trespasse vertical interincisivos caminha no sentido negativo.

Vale ressaltar que o grau de severidade do trespasse vertical interincisivos

negativo guarda uma relação direta com o grau de severidade do ceceio anterior e

da projeção lingual na emissão dos fonemas /t/, /d/, /n/ e /l/, de acordo com alguns

trabalhos (KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; DWORKIN, 1980; KEITH;

SCAAF, 1982), o que se contrapõe aos resultados apresentados por outros

pesquisadores (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; JOHNSON; SANDY, 1999),

que não encontraram relações entre o grau de severidade do trespasse vertical

interincisivos negativo e as alterações de fala.

Com relação aos tipos de trespasse vertical interincisivos normal e nulo, neste

estudo não se verificou associação estatisticamente significante com os desvios

fonoarticulatórios pesquisados (normal p = 0,209 e nulo p = 0,324), corroborando os

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Discussão 82 resultados dos trabalhos de vários autores que também não encontraram essa

relação (BERNSTEIN, 1954; RATHBONE, 1955; BENEDIKTSSON, 1957; BLYTH,

1959; WARD et al., 1961; INGERVALL; SARNAS, 1962; HARRINGTON;

BREINHOLT, 1963; SUBTELNY; MESTRE; SUBTELNY, 1964; LUBIT, 1967;

COLEMAN; GULLIKSON 1971; KLECHAK; BRADLEY; WARREN, 1976; GUAY;

MAXWELL; BEECHER, 1978; KEITH; SCAAF, 1982; LAINE, 1987; LAINE;

JAROMA; LINNASALO, 1987; ZALDÍVAR; RODRIGUES; PÉRZ, 1987; HANSON;

BARRET, 1988; PALVIAINEN; LAINE, 1990; MOYERS, 1991; LAINE, 1992;

JUNQUEIRA, 1994; MOURA, 1994; PAHKALA; LAINE; NARHI, 1995; VAN

NORMAN, 1997; JOHNSON; SANDY, 1999; CAYLEY et al., 2000; MARCHESAN,

2000; JABUR, 2002; TOMÉ et al., 2004).

6.4 Considerações finais.

Depreende-se dos resultados apresentados nesta pesquisa, bem como de

outros trabalhos aqui citados, que há uma relação direta entre os problemas

fonoarticulatórios estudados e o trespasse vertical interincisivos negativo. Já em

relação a diminuição dos problemas fonoarticulatórios na presença do trespasse

vertical interincisivos aumentado, não foram encontradas pesquisas nesta revisão de

literatura que apóie esta conclusão.

Contudo, é incorreto responsabilizar somente um tipo de má oclusão como

sendo o causador de alterações fonoarticulatórias, pois pesquisas anteriores

relataram que, normalmente, a combinação de vários tipos de más oclusões

presentes em um único indivíduo, aliados ao padrão facial genético desfavorável,

presença de hábitos bucais deletérios, o tônus da musculatura bucal alterado, o

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Discussão 83 modo de respiração e o tipo de deglutição, aumentam, em grande número, a

probabilidade do surgimento de problemas de fala (BERNSTEIN, 1954; WARD et al.,

1961; LAINE, 1992; SOLIGO, 1996; MARCHESAN, 1999; MARCHESAN, 2000). Até

mesmo porque 64,5% das crianças com ceceio anterior exibiram trespasse vertical

interincisivos normal e aumentado, demonstrando claramente a existência de outros

fatores etiológicos envolvidos na gênese deste distúrbio fonoarticulatório.

Para a obtenção de melhores resultados em pesquisas futuras, indica-se a

realização de estudos epidemiológicos longitudinais, para que se possa avaliar a

prevalência dos distúrbios fonoarticulatórios nas idades em que as alterações

estruturais já tenham ocorrido, principalmente em relação à oclusão dentária, já que

essas alterações podem favorecer a diminuição da projeção lingual anterior inclusive

na fonação (RATHBONE, 1955; FLETCHER; GASTEEL; BRANLEY, 1961;

KORTSCH, 1963; PALVIAINEN; LAINE, 1990; WERTZNER, 1990; JUNQUEIRA,

1994; MARCHESAN, 1999; TOMÉ et al., 2004).

Apesar de os resultados indicarem uma relação positiva dos problemas

fonoarticulatórios com o trespasse vertical interincisivos negativo (mordida aberta

anterior), a análise das características oclusais deve ser complementada com o

estudo de todas as estruturas orofaciais associadas e do padrão facial para se

avaliar a relação existente entre os problemas de fala e as más oclusões. Para isso,

sugere-se a utilização de métodos auxiliares de diagnóstico, como a cefalometria,

com o objetivo de se determinar o padrão facial genético, além da análise e

avaliação das estruturas orofaciais e suas dimensões por meio de modelos de

estudo, contribuindo dessa maneira para resultados mais fidedignos.

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7 CONCLUSÕES

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85 7 CONCLUSÕES

Com base nos resultados, de acordo com a amostra e a metodologia

empregadas, julga-se lícito concluir que:

7.1 As prevalências dos quatro tipos de trespasse vertical interincisivos (normal,

aumentado, nulo e negativo) foram respectivamente, de:

48,30%, 22,50%, 9,30% e 19,80% na amostra total;

42%, 12,50%, 12,50% e 33,30% no grupo com ceceio anterior; e

42,10%, 14%, 10,50% e 33,30% no grupo com projeção lingual anterior na

emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/.

7.2 A análise estatística dos dados mostrou que:

houve significância para os portadores de ceceio anterior e de projeção

lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em

relação ao trespasse vertical interincisivos negativo;

houve significância para os não portadores de ceceio anterior e de projeção

lingual anterior na emissão dos fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/ e /l/ em

relação ao trespasse vertical interincisivos aumentado; e

não houve significância nos trespasses verticais interincisivos normal e

nulo em relação às ocorrências fonoarticulatórias estudadas.

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REFERÊNCIAS

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87

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1 De acordo com o estilo Vancouver. Abreviatura de periódicos segundo Bases de Dados MEDLINE.

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ANEXOS

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Anexos 93

ANEXO A

AUTORIZAÇÃO DOS PAIS

Srs. Pais,

Hábitos bucais inadequados, como o uso prolongado de chupeta, mamadeira

ou sucção de dedo, podem provocar alterações nos arcos dentários e na fala das

crianças. Por isso, nós cirurgiões dentistas e fonoaudiólogas temos interesse em

conhecer o seu filho, pois, só assim, poderemos orientá-los quanto aos

procedimentos corretos. Para tanto estaremos realizando um trabalho na escola que

consta das seguintes etapas:

a) Autorização dos pais para avaliação odontológica e fonoaudiológica de seu

filho. Os pais também deverão preencher um questionário fornecendo

informações sobre os hábitos bucais de seu filho;

b) Palestra oferecida pelos cirurgiões dentistas e fonoaudiólogas informando os

pais sobre os efeitos dos hábitos bucais inadequados como chupeta e

mamadeira nos arcos dentários e na fala;

c) Avaliação da criança através da aplicação de uma lista de palavras e

observação da fala espontânea;

d) Avaliação clínica da posição dos dentes, realizada pelos cirurgiões dentistas;

e) Orientação às crianças quanto à higiene dos dentes.

Tendo em vista a importância deste trabalho para a saúde da criança,

solicitamos a sua autorização para que possamos realizar essas avaliações com seu

filho durante o período escolar e no interior da própria escola.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Eu, __________________________________________RG nº:___________ autorizo meu filho (a) ____________________________________________ a realizar avaliação odontológica e fonoaudiológica para fins científicos.

São Paulo, ____ de __________________ de _____

__________________________________________ Assinatura do pai e/ou responsável

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Anexos 94

ANEXO B

EXAME CLÍNICO ODONTOLÓGICO Aluno:_______________________________________________________ Idade:____anos e ____meses Sexo ( ) F ( ) M Data do preenchimento: _____/_____/_____ Telefone para contato: _________________ 1. Odontograma 2. Trespasse Vertical Interincisivos (Sobremordida ou Overbite)

( ) Normal ( ) Aumentado ( ) Nulo ( ) Negativo

Observações: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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Anexos 95

ANEXO C

AVALIAÇÃO FONOARTICULATÓRIA

1. Palato: ( ) normal ( ) atrésico ( ) profundo

2. Língua: a) Tamanho X Cavidade Oral Nl

Alterada ( ) ( )

b) Tônus ( ) normal ( ) hipotônico ( ) hipertônico

c) Aspecto: ______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Postura de repouso: ( ) além dos limites arcada dentária ( ) dentro dos limites da arcada

e) Freio ( ) normal ( ) curto no sentido vertical ( ) inserção longa

f) Mobilidade Estalo:

(interno) Ponta de língua Direita Esquerda Cima Baixo

(externo) Ponta de língua Direita Esquerda Cima Baixo

3. Lábios Postura habitual: _________________________________________________________

Tônus: _________________________________________________________________

Aspecto: ________________________________________________________________

Espelho Altman: __________________________________________________________

Mobilidade: __________________________________________________________

Protusão e Destenção (falar I e U)

Beijo: __________________________________________________________________

4. Mobilidade da Mandíbula: Abre e fecha a boca ( )

5. Fala: Imprecisão articulatória: _______________________________

Posição da língua para falar /t/ /d/ /n/ /l/

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Anexos 96

Ceceio anterior: ( ) presença ou ( ) ausência Obs.:_________________

1. Qual o seu nome? __________________________________________________

2. Quantos anos você tem? ____________________________________________

3. Quantos irmãos você tem? ___________________________________________

4. Como se chama sua mãe (seu pai, seus irmãos)? _________________________

___________________________________________________________________

5. O que você faz durante o dia? ________________________________________

___________________________________________________________________

6. Você tem amigos? Como se chamam seus melhores amigos? _______________

___________________________________________________________________

Qual a idade deles? ________________________________________________

___________________________________________________________________

7. Você gosta de TV? Qual o programa de que você gosta mais?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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Anexos 97

LISTA DE PALAVRAS

Monossílabos

SÓ TAL RÉ

CÃO CHÁ JAZ

LUZ BOI PÁ

NÓ DÓ TRÊS

MÁ VÊ CLÃ

GÁS ZUM PÉ

Dissílabos

SUCO ANZOL FARDA

FARÁ GARRA MONTA

FELIZ COFRE

TAMPA BORDA

CHOVE VIRO

JUSTA MELHOR

PERDA NABO

MANHÃ TRAÇO

DISCO NENÊ

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Anexos 98

FOLHAS DE GRAVAÇÃO

Nome: ________________________________________ data de col: ___/___/____ Idade: __________

DESENHO I - Z O O LÓ G I C O

BORBOLETA PASSARINHO

CACHORRO PEDRA

COBRA PEIXE

COMER PULAR

DOIS RABO

DRAGÃO SOL

FLOR TIGRE

FLORESTA VERDE

GRAMA ZEBRA

GRANDE ZOOLÓGICO

LATIR ORELHA

OLHAR VOAR

DESENHO II – C O Z I N H A

ABACAXI JANELA

AÇÚCAR PRATO

CAFÉ SOPRAR

ESTRELA VELA

FEIJÃO VIDRO

FOGÃO BANANA

FRIO BOLO

FRUTA FOGO

GARRAFA OVO

GELADEIRA TAMPA

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Anexos 99

DESENHO III – S A L A

BRINQUEDO PLANTA

CRUZ PREGO

DINHEIRO QUADRO

DISCO RÁDIO

GATO TAPETE

GLOBO TELEVISÃO

GUARDA-CHUVA TESOURA

IGREJA ANTENA

JORNAL BOTÃO

LÁPIS ESTANTE

LIVRO FRANJA

MARTELO POLTRONA

MESA TELHADO

PALHAÇO

DESENHO IV – B A N H E I R O

BANQUINHO SABONETE

BLUSA TOALHA

BOLSO ESPERAR

BRAÇO ARMÁRIO

CALÇA AZULEJOS

CAMISA CABELO

CHAVE CANO

CHINELO ESPELHO

DEDO MENINO

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Anexos 100

DENTE PERNA

ESCOVAR PORTA

NARIZ SAIA

PESCOÇO SAPATO

RELÓGIO TORNEIRA

DESENHO V – V E Í C U L O S

ANDAR NUVEM

BICICLETA PLACA

BRINCAR TIA / TIO

CARRO TOCAR

CRIANÇAS TRATOR

DIZER TREM

DIRIGIR ÂNCORA

ESTRADA CHAMINÉ

FRENTE NAVIO

FUMAÇA RODA

MICROFONE TRILHO

NADAR SINO

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APÊNDICES

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Apêndices 102

APÊNDICE A