16
DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA - A NO X - Nº 110 - OUTUBRO– 2004 E DITOR : M ILTON S ALDANHA - www.jornaldance.com.br - [email protected] 10 anos Dance na Internet Agora o jornal sai completo www.jornaldance.com.br Parceria Para amar y bailar? Cuba, ora ! Edição Especial

DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

  • Upload
    vudien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA - A N O X - Nº 110 - OUTUBRO– 2004E D I T O R : MI L T O N SA L D A N H A - www.jornaldance.com.br - [email protected]

10anos

Dancena InternetAgora o jornalsai completo

www.jornaldance.com.br

Parceria

Para amar y bailar?

Cuba, ora !

EdiçãoEspecial

Page 2: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

2 Outubro/2004

O jornal Dance, circulando há 10 anos, é mensal e distribuídogratuitamente nas principais instituições de dança, públicase privadas, da Região Metropolitana da Grande São Paulo.Com tiragem de 10 mil exemplares, pode ser encontrado nasmelhores academias, bailes, casas noturnas, festivais de dan-ça, eventos, restaurantes e outros locais, inclusive não dan-çantes, como bares, padarias, lojas, etc. Está também comple-to na Internet.Editor e jornalista responsável: Milton Saldanha (MTb.3.419; matr. Sindicato dos Jornalistas 4.119-4). RepórterEspecial: Rubem Mauro Machado (Rio de Janeiro); Ilus-trações: Pedro de Carvalho Machado. Fotos: MiltonSaldanha. Colaboradores: Alexandre Barbosa da Silva(diagramação); André de Carvalho Machado. Impressão:LTJ Editora Gráfica. Reg. INPI: 820.257.311. Produção:Syntagma Comunicação Social.

Endereço: Rua Pais da Silva, 60 - Chácara Santo Antonio/Santo Amaro, São Paulo/SP. CEP 04718-020.Tels./Fax (11) 5182-3076 / 5184-0346 / 8192-3012Site: www.jornaldance.com.br. (Parceira na Internet:Agenda da Dança de Salão Brasileira)E-mail: [email protected] reprodução total ou parcial, exceto quando autorizada pelo editor.Nenhuma pessoa que não conste neste Expediente está autorizada a falar emnome do jornal.

Milton Saldanha e Rubem Mauro Machado, em Havana: 16 dias de intensas emoções

Durante 16 dias os repórteres doDance, Milton Saldanha e RubemMauro Machado, rodaram de car-

ro por Cuba, visitando Havana, Varadero,Praia Girón, Cienfuegos, Trinidad, SanctiSpiritus, Ciego de Ávila, Camaguey, San-ta Clara, Viñales e Pinar del Rio.

O resultado da viagem é esta EdiçãoEspecial, produzida com a cooperação daHavanatur, muito bem estruturada empre-sa do turismo cubano, hoje representadaem diversos países e também no Brasil, comescritório em São Paulo. Aqui, de maneirabem reduzida, em linguagem informal eleve, com textos que usam a primeira pes-soa, como numa conversa com o leitor, vocêvai conhecer um pouco sobre a dança po-pular e a dança clássica em Cuba, tantoprofissional como amadora. Terá dicas paraaulas e sobre os mais importantes lugaresonde acontecem shows animados e relu-zentes, com palcos repletos de bailarinos.No final desses espetáculos os palcos setransformam em pista de baile. Descobrirátambém que existe um inédito museu em Ha-vana, só sobre dança. Parte da edição estádedicada ao turismo na ilha, hoje superbem estruturado, com uma rede de hotéis eresorts de alto padrão, que são verdadei-ra tentação em praias de areias brancas emacias, mar azul e águas deliciosas parabanho, com temperaturas amenas. Comoinfelizmente nem tudo é festa, Dance ain-da abre espaço para denunciar um pro-blema que seus repórteres puderam conhe-cer de perto e lamentam muito: o bloqueioeconômico contra Cuba praticado há 45anos pelos Estados Unidos. Ainda que oassunto nada tenha a ver com dança, amedida em que os repórteres viajavam ese apaixonavam pelo interior de Cuba,vendo as dificuldades do povo, crescia emseus corações a convicção de que não po-deriam se calar, ao contrário do que tem

Editorial

Pelos caminhos de Cubafeito a grande imprensa brasileira nestesanos todos. Você tem no Dance uma raraoportunidade de leitura esclarecedora, ea partir daí passará a ver os problemas deCuba com outros olhos e principalmentecom outros sentimentos.

O projeto original da viagem previa ain-da as cidades de Morón, Cayo Coco, LasTunas, Holguin e Santiago de Cuba, comuma esticada até a célebre Sierra Maestra.Com isso, teriam percorrido literalmente ailha, de ponta a ponta. Ao chegar em Cubaos repórteres perceberam que o roteiro eraambicioso demais em relação ao tempo quedispunham. Reduziram a viagem e mesmoassim rodaram por mais da metade da ilha.Ao lado da imensa alegria da viagem ficouaquele gostinho de “quero mais” e a frus-tração de não ter visitado as outras cida-des, principalmente Santiago de Cuba, quesegundo todos os relatos é linda e se orgu-lha de sua hospitalidade, além de ser histó-rica. Aliás, é mais fácil perguntar o que nãoé histórico em Cuba, tanto em relação aostempos coloniais, como aos períodos deantes e depois da Revolução.

As belezas e as delícias de Cuba supe-ram qualquer expectativa. Dá uma vonta-de danada de voltar.

Se você costuma viajar pelo mundo, es-queça tudo o que já viu por aí. Cuba é dife-rente e muito especial. Só que tem um deta-lhe: é um país para turistas inteligentes,sensíveis e alegres, que gostem de música edançar, apreciem História e arquitetura.Tenham, enfim, curiosidade cultural.

Bem, quem achar que isso não é im-portante, bastam belas praias, boa comi-da e ócio, também não terá do que se quei-xar. Por toda parte há belíssimos lugarespara veraneio, e não importa a época doano, lá é sempre verão.

Ou seja: existem “cubas” para todos os gostos.Todas para muito amar y bailar!

Edição EspecialRepórteres: Milton Saldanha e RubemMauro Machado. Fotos: Milton Saldanha eDivulgação. Edição: Milton Saldanha. Pa-ginação eletrônica: Alexandre Barbosa.Roteiros em Cuba: Alberto Fernández Ca-paz, Nayat Sánchez Pi e Eleana Sarría López.

AgradecimentosO jornal Dance se sente honrado pela

parceria que iniciou com a Havanatur e agra-dece por todas as atenções e gentilezas querecebeu na agência brasileira e na matriz cu-bana. Pelo exemplar profissionalismo, para-béns e obrigado a Alberto Fernández Capaz,Pedro Alfredo Gutiérrez, Nayat Sánchez Pi,Isis Benavides Pérez, Norma AlemánGuerrero, Eleana Sarría López e VeraBerberian. O jornal agradece também a Fran-cisco Ancona Lopez, da Ancona Lopez Pu-blicidade, e à direção e funcionários da redede hotéis Sol Meliá.

O turismo é hoje a principal indústria deCuba, à frente do níquel, do açúcar e do taba-co. O país recebeu no ano passado 1,8 mi-lhão de turistas e a previsão para este ano éque este número chegue a 2 milhões. A per-manência média dos turistas se situa entresete e dez dias.

Além desta Edição Especial (nº 110), nesteoutubro está circulando também a edição nor-mal do Dance (nº 109), que destaca o 2º Con-gresso Mundial de Salsa do Brasil, que aconte-cerá em São Paulo de 12 a 15 de novembro,promoção da Conexión Caribe Cia de Dança.Outro destaque é a temporada em São Paulo,para dar workshops, de Danielle Areco, profes-sora e dançarina brasileira de salão radicada nosEstados Unidos. E, além das diversas notas,muitas outras dicas sobre dança nos anúncios,que neste jornal também cumprem ecomplementam a tarefa de manter o leitor muitobem informado. Não perca!

Não esqueça,são 2 edições doDance neste mês

Revista Salsa Cubana surpreende, com 50 páginas,toda colorida, fino tratamento gráfico. Está no sextoano, é trimestral, e editada pelo Centro de Promo-ção e Comunicação Salsa Cubana, em Havana. (537)860-8263 / 862-0673 – [email protected].

RevistaSalsa

Cubana

e

a

O melhor amigo do viajante é o mapa. Quemfor dirigir por Cuba deve procurar adquirir o“Guía de Carreteras”, um completo mapa rodo-viário, de bolso, editado pela Corporacion Cimex.Contém quadros de distâncias, indicações deatrações e parques nacionais, serras, lagos, ca-bos, praias, arquipelágos, etc. E, claro, toda ateia de estradas principais e vicinais, que emgeral são de boa qualidade, porque não são víti-mas de excesso de caminhões e de peso de carga.Você vai rodar por longas distâncias com absolu-ta tranqüilidade. Isso não dispensa, contudo, anecessidade de sempre confirmar se está na rotacerta, com o cuidado de perguntar sempre paramais de uma pessoa. O povo em geral é simpá-tico, acolhedor e atencioso, procura ajudar, mascomo dizia o poeta Mário Quintana, “seguromorreu de guarda-chuva”. Outra dica: se alguémnum cruzamento gritar por conta própria quevocê está indo para o lado errado, não dê bola. Éum artifício manjado para você parar e ele tentarvender alguma coisa.

Page 3: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

3Outubro/2004

Todas têm o mesmo nome – Casa de laMusica – e podem ser encontradas emHavana (três casas) e nas mais diversas

cidades do interior. Lembram muito as nossasgafieiras, como a famosa Estudantina, no Rio, eo saudoso Som de Cristal, em São Paulo, que aturma mais antiga conheceu muito. Detalhe cu-rioso e saboroso, que aumenta a semelhança, éque têm letreiro na entrada com regras de con-duta, exatamente como nas nossas gafieiras. NaCasa de la Musica, fazendo jus ao nome, sem-pre tem música ao vivo e de CD. Mas o nomemais apropriado seria Casa de la Dansa, porqueali se baila muito, salsa e os mais variados rit-mos cubanos, como o guaguancó, que eles gos-tam muito, com imperceptíveis diferenças paraouvidos leigos. O bolero também tem presençaforte. Na Casa de la Musica se dança o maisautêntico e popular baile cubano. O hábito maiscomum é formar uma roda de casino, mesmoentre casais que não se conhecem, improvisan-do um rápido ensaio, ali mesmo na pista, até darcerto. Em toda parte os cubanos adoram essejeito de dançar em grupo.

Na Casa de la Musica predomina o públicolocal, mas não se surpreenda se de repente che-gar um grupo de turistas. Essa história de “lugarnão turístico” é papo furado, só existe se a casafor ruim. Nenhum bom lugar, em nenhum lugardo mundo, despreza os dólares e euros dos visi-tantes... São sempre bem divulgados. Mas valeobservar que em Cuba os agentes de viagenstorcem um pouco o nariz para a Casa de laMusica, preferem indicar as boates e grandescasas noturnas do show bizz. Por causa disso apresença de turistas na Casa de la Musica serásempre bem mais rara. A maioria nem sabe queelas existem. Na bela cidade de Cienfuegos, porexemplo, participamos na Casa de la Musica deum baile 100% cubano, numa grande varanda,quase ao ar livre, rolando direto gostosa salsa.Metade da iluminação vinha do céu estrelado eda lua cheia.

Nem adianta chegar cedo. Os cubanos ado-ram a noite. São quase 11pm e a casa está vazia.Dá a impressão de fracasso. De repente começa

Associação Yorubá é boaopção para cursos de danças

Há diversas opções para fazer cursos dedanças populares em Cuba. Para os interessados apenas em salsa e outros rit-

mos caribenhos o jeito mais simples é ir numadas Casa de la Musica (há várias no país) efazer contatos. Sempre há professores disponí-veis para grupos ou aulas particulares. A des-vantagem, para efeito de currículo, é que isso émuito informal.

Para quem busca algo mais formal, que pos-sa apresentar depois como referência, e estejainteressado em ritmos variados, inclusive afros,além da salsa, uma sugestão é procurar a Asso-ciação Cultural Yorubá de Cuba, em Havana.Trata-se de um espaço cultural dedicado aosincretismo (fusão religiosa) e que trabalha comvariadas manifestações artísticas, principalmen-te aulas de dança, percussão, pintura e modela-gem. A principal especialidade é o afro-cubano.Os cursos em geral duram uma semana, comdireito a almoço no restaurante do Centro, es-pecializado em comidas cubanas e africanas. Nofinal os participantes recebem certificados.

Casa de la Musica lembra nossa gafieiraa chegar todo mundo. Meninos e meninas bemarrumadinhos, com aquele jeito de quem acaboude sair do banho. Estavam em casa recarregandoas baterias, porque a balada é agitada, exige boadose de energia.

Primeiro e invariavelmente rola um show,com cantores. Nessa hora não se dança na pista,mas alguns casais ensaiam alguns passos discre-tos nos cantos e mesas de fundos. Depois doshow liberam o baile, a pista fica cheia e...animadíssima! Não sabemos se foi sorte, mas aequipe do Dance (Milton, Rubem e Sandra) sóencontrou ótimas bandas, principalmente emCamaguey, bem no centro do país, a 533 quilô-metros de Havana. Nossa equipe se esbaldouem “La Trova”, que não faz parte da rede Casade la Musica mas é muito parecida, com baile acéu aberto, a propósito comuns em muitos lu-gares, pois lá é verão o ano todo e as noites sãogostosas, muito parecidas com aquelas do nos-so Nordeste. Por isso nossa equipe lamentoumuito quando, mesmo em raras noites, exaustadas atividades do dia e com a perspectiva deacordar cedo para cumprir agenda ou seguir via-gem, tinha que desistir da balada.

Cubanos e turistas pagam pouco na Casa dela Musica. Um peso para cubanos, três dólarespara nosotros. O ingresso geralmente dá direitoa uma Tu-Kola, a Coca-Cola cubana, uma garra-fa de rum, muito gêlo e limão, para que cada umprepare sua própria Cuba libre, que lá nuncasaiu de moda, bebe-se em toda parte, além domojito e a deliciosa piña colada geladinha, quepode ser pedida com ou sem álcool. E dê-lhesalsa. Querem saber? É impossível não dançar.

Sugestão: Casa de la Musica Egrem. 20esquina c/35. Tel. (7) 204-9898. Todos os dias,22h às 3h, com orquestra. Confirme.

Casa de la Musica no bairro Miramar, em Havana: há diversas em Cuba, com bailes populares

Casa de la Musica de Camagüey, cidade do interior, numa noite de pouco movimento

A Associação Yorubá, que existe há quatroanos, funciona o ano todo e freqüentemente temformado classes de dança folclórica, cha cha chae salsa. O presidente da entidade, AntonioCastañeda Márquez (Babalawo), garante queseus 12 professores são de alto nível, graduadosna ENA - Escola Nacional de Artes. Os interes-sados podem montar grupos específicos, de in-teresse direto, de qualquer ritmo. Todos os cur-sos são teóricos e práticos. Começam semprepela parte teórica, com pelo menos uma confe-rência. O curso de salsa é o mais procurado,sobretudo por europeus da Itália, Espanha eFrança. Esses grupos em geral variam entre 15 e20 alunos. A média mensal de alunos cubanos éem torno de 60 a 70 pessoas.

O próprio prédio da Associação Yorubá, de1900, é uma atração. Vale a pena a visita, mes-mo que não faça algum curso. Abriga tenda deartigos religiosos e CDs, muitos deles raros; bi-blioteca; galeria de arte com exposições periódi-cas. Mas sua principal atração é um impressio-nante museu do sincretismo, com imagens em

madeira de dezenas de divindades que integrama riquíssima mitologia africana, quase todassincretizadas com algum santo ou santa do ca-tolicismo, forma hábil que os negros escravosencontraram no passado para lidar com aintransigência religiosa dos brancos e padrescatequisadores.

Prado, 615 – entre Montes y Dragones,Habana Vieja. 863-5953 / 7415 / 7660. Fax 863-7484. www.cubayoruba.cult.cu –[email protected].

O grande herói de Cuba é José Martí(1853-1895) e estátuas suas espalham-sepor todas as cidades. Mistura rara de pen-sador e homem de ação, começou a lutarna guerra de independência contra os es-panhóis aos 16 anos. Poeta e escritor, suasobras completas chegam a 72 volumes.Morreu em combate.

É Cuba ou Bahia?Impressionante a semelhança de Havana, prin-

cipalmente em certos pontos do Malecón, alonga avenida beira mar, com a Bahia. No estilode cidade, na aparência das pessoas, no jeito decaminhar com uma certa preguiça que o calorimpõe. O povo cubano é extremamente pareci-do com o povo brasileiro. Se fosse possível pa-dronizar a língua e encostar a Ilha de Cuba (énome oficial, sim) com a Bahia, não tenham dú-vidas, no dia seguinte todos estariam dançandojuntos nas ruas sem ninguém saber quem é cu-bano ou baiano. Seriam denunciados, talvez, pelobalanço da salsa, de uns, e do samba e axé, deoutros.

Ao visitar numa tarde de calor sufocante aAssociação Yorubá, para ver uma liturgia afro,com batuque, dança e pessoas vestidas de bran-co, prestando homenagem aos seus protetoresnegros, mais do que nunca nossos repórteres sesentiram na Bahia. A semelhança é total tambémna força irreprimível do sincretismo.

Essa semelhança contribui para ampliar aidentidade entre brasileiros e cubanos. Só fal-tam dois detalhes: que a gente goste de beisebol,que em Cuba chamam de pelota. E que eles gos-tem de futebol.

Fotos: Milton Saldanha

O desenvolvimento da medicina cubana fazcom que o país seja procurado por um tipodiferente de visitante: os que buscam tratamen-to para determinados males. Ficou especialmentefamosa a romaria dos doentes de vitiligo, queprovoca grandes manchas brancas na pele.

Page 4: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

4 Outubro/2004

Page 5: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

5Outubro/2004

Page 6: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

6 Outubro/2004

Livi Bianco Produções convida: Baile de Tango.Dia 25 de outubro, segunda-feira, 21h. No Bastido-res, rua Canuto do Val, 97 – Santa Cecília. Músicaao vivo e DJ, com tango, bolero, seresta.Tels. 3219-0126 / 3224-0586 ou 3338-2525.

IX Festival Internacional deBallet de Havana19 a 28 de outubro – Gran Teatro de HavanaDireção: Alicia AlonsoTel. (537) [email protected]

Prêmio de Composição MusicalCasa de las Américas25 a 29 de outubro – Casa de LasAméricas – HavanaDireção: Maria Elena GonzálezTel. (537) 552706 / [email protected]

Salson Jardines Del ReyFesta da Música Cubana8 a 15 de novembroCiego de AvilaDireção: José CastroTel. (5333) [email protected]

Fiesta del Tambor (música)12 a 16 de novembro – TeatroAmadeo Roldán – HavanaDireção: Alexis Vázquez AguileraTel. (537) [email protected]

Festival Internacional deVaradero (música)17 a 21 de novembro – VaraderoDireção: Alexis Vázquez AguileraTel. (537) [email protected]

Festival de Raízes Africanas“Wemilere”23 a 30 de novembro – GuanabacoaDireção: Ada Rosa Alfonso RosalesTel. (537) 979187 / [email protected]

Baile de Tango

AGENDAPrincipais eventos de dança e música

Festival Internacional de Jazz –Jazz Plaza 200413 a 19 de dezembro -TeatroAmadeo Roldán – HavanaDireção: Roberto Chorens DotresTel. (537) [email protected]

Taller Académico de Danza(balé)27 de dezembro a 2 de janeiroCentro de Promoción de la DanzaHavanaDireção: Laura AlonsoTelfax (537) [email protected]

Festival Internacional de laTrova Pepe Sánchez (música)15 a 19 de março 2005 – Casa de laTrova – Santiago de CubaDireção: Eliades OchoaTel. (5322) [email protected]

Encuentro Internacional deAcademias para la Enseñanzadel Ballet5 de abril / 2005 - Escola Nacionalde Ballet - HavanaDireção: Marta UlloaTel. (537) [email protected]

Festival Internacional de MúsicaPopular Benny Moré5 de setembro / 2005 – CienfuegosDireção: Issac DelgadoTel. (537) [email protected]

Festival Internacional de Coros5 de novembro / 2005 – teatrosSantiago de CubaDireção: Electo SilvaTel. (5322) [email protected]

Theatro São Pedro26 de novembro, Sexta-feira

21h – R$ 30,00Organização: Nelson Lima, Carlos Estevez e Pablo Scanavino

Noite Internacional do Tango

Orquestra – Cantores - Bailarinos

Rua Barra Funda, 171 – São Paulo (SP)Vendas de ingressos na bilheteria do teatro. Tel. 3667-0499,

de quarta a domingo, das 14h às 19h.Informações: (11) 3858-2783 / 5017-7859 / 3826-8728

Page 7: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

7Outubro/2004

Na manhã quente de uma quarta-feira, numantigo casarão do centro de Havana,Cristy Dominguez Perez acompanha,

atenta e com evidente orgulho, os jovens bailari-nos e bailarinas que se exercitam vigorosamentesob as ordens de um coreógrafo. Aos 64 anos,essa ex-bailarina, alegre, irrequieta e vaidosa, tema responsabilidade de comandar o Balé da Tele-visão cubana, grupo encarregado de fornecer pes-soal e montar espetáculos para todos os progra-mas musicais da tela pequena.

Para um brasileiro pode soar um pouco es-tranho que um único grupo monte espetáculospara diferentes canais. Mas é bom lembrar queem Cuba todos os canais são estatais e portantonão concorrem entre si, no sentido comercial, etem lógica haver uma base comum para todos osshows.

A TV em Cuba começou, como no Brasil,no início da década de 50. O Balé da Televisãonasceu sob o comando e inspiração de dois gran-des coreógrafos, Alberto Alonzo e Luiz Trapaga,e hoje é um dos principais objetivos profissio-nais, ao lado de três grandes grupos clássicos - ode Alicia Alonso, o Ballet de Camagüey e oProdanza - dos bailarinos de um país que tantocultiva a dança em geral e o balé em particular.

Ecletismo destaca o Balé da TVCristy explica que o Balé da Televisão ca-

racteriza-se pelo ecletismo e trabalha com a téc-nica básica clássica, mesclada com elementos dofolclore e de danças populares. Seus 180 inte-grantes, entre rapazes e moças, têm em geralentre 18 e 25 anos e provêm das diferentes es-colas de dança espalhadas por toda a ilha, ondeingressam por volta dos nove ou dez anos. Soba direção de cinco coreógrafos permanentes, elestêm uma rotina dura mas gratificante: pela ma-nhã fazem aula, à tarde ensaiam as diferentescoreografias. Ao ingressarem na companhia, osjovens profissionais ganham durante dois anosum salário de 148 pesos cubanos, recebendodepois aumentos gradativos, que podem elevaro salário a até 690 pesos, considerado bom paraos padrões do país.

Atualmente o Balé apresenta-se em doisprogramas musicais de grande sucesso na tele-visão cubana, Expresso e Sábado Especial, alémde participar de filmes e realizar excursões peloexterior: naquele dia uma turma estava chegan-do da Alemanha.

- Precisamos ser tão bons que as pessoasnão queiram sair de casa para nos assistir – dizCristy. Pelo jeito, eles conseguem isso, com ta-lento e dedicação.

Os moradores de Havana não precisam vi-ajar ao exterior para assistir a espetácu-los como O fantasma da Ópera, Car-

men ou A casa de Bernarda Alba, musical inspi-rado na peça do poeta espanhol Garcia Lorca. ACompanhia Ballet Espanhol de Cuba, fundadaem 1988, traz ao longo do ano sua versão dealguns dos melhores musicais internacionais paraa degustação dos habaneros, que é como se cha-mam os habitantes da capital. Mas também nãose esquece de prestigiar as obras de autores cuba-nos, permitindo uma constante renovação do flu-xo criativo.

Sob a direção artística de Eduardo Vertia, nacompanhia desde 1993, onde ingressou comobailarino e coreógrafo, o grupo caracteriza-sepelo ecletismo, participando desde espetáculosde balés clássicos a apresentações de flamenco,danças folclóricas e modernas.

O Ballet apresenta-se seis vezes ao ano, emtemporadas de uma a duas semanas, no GranTeatro de La Habana, um dos mais bonitos mo-numentos arquitetônicos da capital - no estilobarroco sem similar que os cubanos inventaram,com a fachada toda trabalhada em volutas e pe-quenas sacadas enfeitadas por anjos e musas depedra – construção que ajuda a tornar o Parque

Cia. Ballet Espanhol arrasa no exterior

Central, que também abriga antigos hotéis, comoo Inglaterra, ponto de visita obrigatória paraqualquer turista.

O balé do teatro funciona também como es-cola, preparando seus versáteis bailarinos, emgeral vindos de outras escolas, em cursos de trêsanos de duração, com aulas diárias que começamàs 9 horas e se prolongam até as 19. Atualmenteconta com 28 alunos, que recebem uma subven-ção do Estado, que paga igualmente os salários deseus 27 bailarinos. Três vezes ao ano, a compa-nhia excursiona pelo interior do país. Viaja tam-bém todos os anos ao exterior, para apresenta-ções em países como México, Colômbia,Guatemala, Espanha e Costa Rica. Curiosamen-te, o grupo ganhou recentemente na Espanha umconcurso de dança espanhola. Mas talvez nãopor acaso, Vertía, formado pelo Ballet Nacionalde Cuba, fez parte de sua formação em Madri. E,por ocasião da visita da reportagem ao teatro,ensaiava um espetáculo com clássicos da músicaespanhola que estrearia no dia seguinte.

- É sagrado para nós montar pelo menos um espe-táculo novo a cada ano, quase sempre coreografadopor mim, que acrescentamos a nosso repertório – ex-plica Vertia. Ele garante ter sempre casa cheia o anotodo, ajudado pelos preços acessíveis.

As bailarinas durante ensaio e no destaque o coreógrafo Eduardo Vertia

Cristy Dominguez Perezdirige o Balé da TV, que temuma rotina de ensaios muito

intensa

Cuba já! Vai começar oFestival Internacional de Balé

Bailarinos, coreógrafos e diretores de di-versas partes do mundo, inclusive doBrasil, vão se encontrar em Havana de

28 de outubro a 6 de novembro, como partici-pantes e/ou espectadores do IX Festival Inter-nacional de Ballet de La Habana, evento do BalletNacional de Cuba, dirigido por Alícia Alonso. Ofestival será no Gran Teatro de La Habana, queestá passando por diversas reformas para estarem perfeitas condições até o final do mês.

O Gran Teatro de La Habana, em prédio queé uma das atrações arquitetônicas do centro deHavana, abriga a Sala Garcia Lorca, onde aconte-ce o evento, com companhias completas e solis-tas de prestígio, tanto cubanos como visitantes.

A Havanatur do Brasil preparou pacotespara o Festival Internacional, com preços bemvariados, incluindo passagem aérea, traslado

aeroporto-hotel-aeroporto, ingressos para de-terminados espetáculos, visita ao Museu daDança (com transporte), conferência sobre otema “A Dança em Cuba”, por historiador doBallet Nacional de Cuba, etc. Os preços variamde US$ 1025,00 a US$ 1610,00. Há 12 opçõesde hotéis, com 3, 4 e 5 estrelas, individual oupara duas pessoas. Dois desses hotéis são his-tóricos, o Nacional e o Habana Libre, e ofere-cem todo o conforto, além do charme de se hos-pedar sob as mesmas paredes que acolheramgrandes mitos mundiais. No caso do HabanaLibre, além dos muitos famosos que já passa-ram por ali, quando ainda pertencia à rede inter-nacional Hilton serviu de QG para as forçasrevolucionárias que ocuparam Havana.

Para contato com a Havanatur do Brasilconsulte anúncio na página 4.

Foto: Divulgação

O Gran Teatro Teatro de LaHabana, marco arquitetônico

e sede do Festival de Ballet

Cristóvão Colombo ao che-gar a Cuba declarou: “Esta é aterra mais bonita já vista porolhos humanos”.

Os sinais da dança estão portoda parte em Cuba. Por exem-plo, a famosa sorveteriaCoppelia, no Centro de Hava-na, ganhou esse nome inspira-do na clássica peça de balé.

Fot

os:

Mil

ton

Sal

danh

a

Page 8: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

8 Outubro/2004

Pois é, sempre ouvimos falar da boateTropicana. O que você imagina? Certamente um amplo salão com mesas de to-

alhas brancas decoradas com abajures ou casti-çais, na frente de um grande palco com aquelesholofotes no teto. No fundo, um american-bar.Certo? Erradíssimo. La Tropicana é uma grandesurpresa. Pra começo de conversa, é tudo ao arlivre. Parece mais um grande parque, e essa ima-gem não está errada, porque fica mesmo no meiode um parque. É o mais famoso cabaré de Cubadesde sua abertura, em 1939, com o nome ofici-al de Tropicana Cabaret Night Club. Seu lema é“Un paraíso bajo las estrellas”, que dispensatradução.

As mesas estão dispostas em diversos pla-nos, numa ampla área semi-circular que com-porta umas duas mil pessoas. Além do palcoprincipal, há diversas plataformas na encostade uma colina, onde de repente surgem bailari-nos e bailarinas executando performances sobefeitos de som e luz. O show tem uma partecircense, com ginastas de alta categoria, e namaior parte do tempo entra o balé, em algunsmomentos com quase cem figuras em cena, can-tores e cantoras em diferentes pontos. No alto,dominando tudo, uma completa e excelente or-questra, de dar água na boca, daquelas que dei-xam a gente com muita vontade de dançar.

O Tropicana é muito caro, de 65 a 85 dóla-res por pessoa, com direito a algum tipo de be-bida e pratinho de tira gosto. Se quiser fazerfotos terá que pagar mais US$5,00. Mesmo as-sim está sempre cheio, 99% turistas, nas suasnoites de terça a domingo, das 21h às 2h. Ape-sar do mega espetáculo, o público reage comfrieza na maior parte do tempo, aplaude pouco,e isso chega a ser irritante porque esquecem quesão artistas que estão ali fazendo seu trabalho, amaior parte com grande competência. Mesmocom todo o esquema turístico, é sempre umaemoção entrar no Tropicana, uma lenda da noitede Havana. Se estiver disposto a gastar, vá co-nhecer. Terá com certeza boas horas de movi-mentado entretenimento.

72 e/41 y 45, Marianao. Tels. (53 7) 661717/ 267-0110 ou 267-1717. Você pode solicitarreserva no balcão de atendimento turístico dohotel. Se no seu hotel não existir, basta ir numdos grandes hotéis mais próximos.

Uma noite no Tropicana, o cabaré símbolo da noite cubana

O cabaré Tropicana foi inaugurado em 1939 e funciona todas as noites, quase sempre lotado, com grande número de turistas

Você está em Havana, deseja fazer umjantar elegante, à luz de velas e com copos decristal, num salão finamente decorado emestilo mourisco? E depois dançar ritmoscalientes ao ar livre até o dia amanhecer, aosom de ótimas orquestras? Então com certe-za seu destino é o Complexo Turístico LaGiraldilla, situado em La Lisa, um dos bair-ros da capital.

O complexo, cuja construção principaldata de 1925, é formado por dois restauran-tes, piscina e uma enorme discoteca ao arlivre. Uma refeição, com o melhor da cozi-nha internacional, sai por cerca de 25 dólarese a entrada da discoteca custa 15 dólares,com direito a uma garrafa de rum para cadamesa. Aos sábados existe a tradição de seassar um búfalo inteiro, ao lado da piscina,para grupos especiais.

Refinamento e diversãoem La Giraldilla

Havana ferve dia e noite. Durante o dia ésó caminhar por La Habana Vieja e irachando ao acaso seus bares ao ar livre,

com música nas calçadas ou em jardins internosdos belos prédios herdados da arquitetura espa-nhola, com fontes e adornos. Para a noite, asopções são estonteantes. Você pode ir assistir ashows musicais, dançar numa das Casa de laMusica, ou boates, e até mesmo fazer uma ca-minhada na madrugada, com absoluta seguran-ça, ao longo do Malecón, na orla marítima, ondeencontrará muitos cubanos curtindo.

Uma boa sugestão é começar a noite com umjantar a luz de velas, som de piano e violino, norestaurante Sierra Maestra, no topo do HotelHabana Libre, bem no Centro. Lá no alto está amais bela vista da cidade, em todos os ângulos.Não se assuste, os preços são encaráveis. Dancepercorreu muitos lugares, seguindo roteiros pre-

Balada rica e variada. Difícil é escolher onde irviamente montados pela equipe da Havanatur.

O campeão dos imperdíveis é a boateParisien, no Hotel Nacional. Vá lá que seja tu-rístico, isso é o de menos, mas você não podevoltar de Havana sem ter conhecido não só aboate, mas principalmente o hotel, lindíssimo erepleto de lendas. Na boate rola um show tipi-camente internacional, com cantores, brincadei-ras com o público, muita dança. No final o palcovira pista de dança por cerca de duas horas.

No Macumba Habana não espere nada es-piritual. É só o nome. É uma ampla casa, comshow, desfile de modas, dança. Em certas noitesDJ, em outras bandas. Ambiente mais simples.Sem um guia cubano fica difícil de achar.

No Habana Café, anexo ao Hotel MeliáCohiba (avista-se do Malecón), o show é maissimples, mas muito simpático. Depois a dançarola legal. A decoração é dominada por um avião

pendurado no teto e dois reluzentes carros dosanos 50 parecendo zero km.

Turquino, no Hotel Habana Libre, é baru-lhento e só atende ao gosto da garotada que cur-te bate-estaca. Se você não tem 16 anos, fuja.

Na Marina Hemingway, distante, na saídada cidade a caminho do porto de Mariel, há bar-zinhos com música e dança, com vista para ocanal repleto de lanchas e iates.

O La Maison é show. Vale a visita. Comfreqüência apresentam desfiles de moda.

Em suma, seria impossível falar de todos aquiem detalhes. Ficam aí só algumas sugestões. Maslembre-se que nas boates com shows o tempo paradançar fica mais restrito, se esta for sua intenção.

A lista de sugestões, na página 10 é paraajudá-lo em suas incursões pela agradável noitede Havana. Sempre consulte a programação an-tes de sair. Bons périplos!

Decoração arrojada, dançarinas bonitas e intensa movimentação marcam a noite e os espetáculos das boates cubanas

Fotos: Milton Saldanha

Page 9: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

9Outubro/2004

É impossível falar de dança em Cuba sem falar emAlícia Alonso. Ela não é apenas a primeira damado balé cubano. É a eterna mestra. Até hoje em

atividade intensa, no comando do Ballet Nacional deCuba, Alícia foi sempre um rochedo de integridade, cul-tura e coragem. Já famosa e consagrada em seu país desde1943, e inconformada com a ditadura do tirano FulgêncioBatista, como protesto asilou-se em Nova York. Ficoudeliberadamente três anos sem dançar em Cuba. Só vol-tou com o triunfo da Revolução, em 1959. Parte da suahistória está no Museu Nacional da Dança, que não podedeixar de ser visitado.

Alícia ficou cega em 1941, quando era uma jovembailarina na rota de extraordinária carreira. Nem porisso abandonou as sapatilhas e os palcos. Ela eraauxiliada apenas a se posicionar para entrar em cena.Logo em seguida tomava o palco com desenvoltura eimpecável domínio do espaço. Para não se acidentar,nos ensaios decorava a marcação com todos os núme-ros de passos que o palco comportava. Nos seusespetáculos, quem não soubesse que era cega nãoacreditaria.

Casada com Fernando Alonso, outro grande nome dobalé, tinham uma escola particular de dança, que atendia

O Ballet Nacional de Cuba e Alícia Alonso, a eterna mestraem sua maioria mocinhas de famílias ricas, que entravamno balé por modismo, sem ambições de carreira. Era oBallet Alícia Alonso.

Quando tudo começou a mudar em Cuba, nem obalé ficou esquecido. Certa manhã bateram na porta eLaura Alonso, então com 12 anos, filha do casal (hojecom escola própria e coreógrafa do Cuballet), levou umsusto. Era o próprio Fidel Castro, fardado, sozinho.Pediu para falar com Fernando e foi direto ao ponto:“Vocês querem fazer um balé cubano, não é? Quantoprecisam ganhar para isso?” O ainda incrédulo Fernandopensou um pouco, fez umas continhas, e apresentouum valor. Fidel respondeu: “Pago o dobro. Mas tem queser bom!” Nasceu assim, naquela manhã, o Ballet Naci-onal de Cuba, hoje uma referência internacional.

Nestes anos todos o Ballet Nacional de Cuba, quejá se apresentou no Brasil, inclusive em gala do Festi-val de Joinville, já dançou pelos mais diversos paísesdo mundo. O sonho de entrevistar Alícia Alonso, porexemplo, frustrou-se porque a chegada dos repórteresdo Dance em Cuba coincidiu com turnê da companhiapelo exterior.

Funciona no Gran Teatro de La Habana, no Centroda cidade.

É impossível não se emocionar. Assim que vocêcruza o grande portão de entrada do Ballet deCamagüey, instalado numa verdadeira mansão

dos anos 50, rodeada por jardins, começa a entender queo amor dos cubanos pela dança, todas as danças, é muitoacima do que se possa imaginar. O Ballet de Camagüey,fundado em 1966 por Vicentina de La Torre, inicialmen-te para crianças, é um exemplo para o mundo e princi-palmente para o Brasil. Enquanto aqui só temos umaúnica companhia profissional de clássico, no Rio de Ja-neiro, Cuba tem seu segundo grande balé profissional,de clássico e contemporâneo, bem no centro do país,numa região agro-industrial, a 533 quilômetros de Hava-na. Ou seja, em tese seria um local pouco provável paraisso, já que a tendência natural é a concentração na capi-tal. No entanto, o Ballet de Camagüey, atualmente diri-gido pela jovem ex-bailarina Regina Balaguer Sánchez,tem 45 bailarinos profissionais, sendo 34 moças e 11rapazes. Eles, como nas demais companhias, têm umarotina puxada de exercícios e ensaios, sob o exigente ealtamente qualificado comando de Marilin Rodriguez,que segundo Regina “é a maior ensaiadora de Cuba”.

A companhia também tem realizado turnês pelo ex-terior. Esteve no Brasil em 1990, por um mês, passandopor São Paulo, Rio, Curitiba e Belo Horizonte. Voltouao Rio, em 1999, para participar do projeto “Dançandopara não Dançar”, voltado para crianças carentes. Suaspeças mais importantes, montadas completas, foramCoppelia, Giselle, La Fille Mal Gardée, e as contempo-râneas Carmen e Saerpil

Os primeiros bailarinos do Ballet de Camagüey sãoo bailarino Leoannis Pupo e a bailarina Sinchien ÁvilaFong.

Carretera Central, 331, Camagüey. Telfax 296535.E-mail: [email protected].

Ballet de Camagüey é o maiorexemplo do amor de Cuba pela dança

Fotos: Milton Saldanha

Um dos óleos que retratam Alícia Alonso no Museu Nacional da Dança

Primeiros bailarinos Leoannis Pupo e Sinchien Ávila Fong, no jardim do Ballet

As bailarinas, todas profissionais, são maioria em Camagüey

Regina Balaguer Sánchez dirige o Ballet de Camagüey

O Cuballet, balé cubano hoje exportado para váriospaíses, inclusive o Brasil, onde é realizado anual-mente pelo Espaço Cultural Eldorado, de São Paulo,leva em conta a anatomia do bailarino latino-america-no e as características típicas da sua expressão cor-poral. Fala nossa linguagem e não tem afinidades coma neve e sim com a areia das praias caribenhas. É umbalé bronzeado, carrega nosso swing. Trabalha comnossa emoção. Sintetiza nossos sonhos, entre eles omaior de todos, o da liberdade com paz.

Page 10: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

10 Outubro/2004

Em Havana, umencontro com o tempo

La Habana ou simplesmente, para nós brasileiros, Havana, capital e porta de entrada de Cuba, deita-se, sensual e capri-

chosa, em seus mais de 700 quilômetros qua-drados, ao longo do litoral, como se quisesse serbeijada por inteiro pelo mar. Ciumento, a vigiá-la, ergue-se altaneiro, do outro lado da baía, oForte Del Morro, que, juntamente com a curvado Malecón, a avenida litorânea, constitui o maisconhecido cartão postal da cidade. Diante doMalecón construiu-se ao longo dos séculos ocentro antigo da capital, cujo valioso conjuntoarquitetônico, formado por ruas estreitas, ve-lhos palacetes e palácios e amplas praças reple-tas de monumentos, é considerado pela ONUPatrimônio da Humanidade.

Prosseguindo-se à beira mar, chega-se àmoderna Havana, de largas avenidas arborizadase dos altos edifícios dos hotéis, com seus res-taurantes, e cafés. Entre os dois conjuntos er-gue-se o agradável bairro do Vedado, onde anti-gamente vivia a aristocracia e que hoje é o centrocomercial, também abrigando bons hotéis, in-clusive o famoso Nacional, outro postal da ci-dade, correspondendo ao que o CopacabanaPalace é para o Rio de Janeiro e que ostenta emsuas paredes painéis de fotos das muitas cele-bridades das artes e da política que ali se hospe-daram em outros tempos.

A atividade de pedestres é intensa na cidadede pouco menos de 2 milhões e meio de habitan-tes mas o tráfego rarefeito de veículos – para ospadrões das grandes cidades brasileiras – e ojeito tranqüilo dos cubanos dá ao visitante umasensação de calma, pouco comum nas metrópo-les. Os velhos carros americanos da década de50, alguns deles perfeitamente conservados, fa-zem da capital cubana um verdadeiro Museu doAutomóvel a céu aberto e deixam enlouquecidoqualquer colecionador. Também enlouquecidosdevem ficar os arquitetos e urbanistas, com aexcêntrica mistura de estilos, capaz de juntarnum único prédio elementos neo-góticos,mouriscos, neo-clássicos e o que mais possahaver e ainda assim serem bonitos e harmonio-sos. Algumas dessas edificações estão perfeita-mente conservadas, a falta de recursos impediusua recuperação de outras, que servem de resi-dência, de maneira um tanto precária, para nu-merosas famílias.

Uma das ruas mais agradáveis e movimen-tadas do centro velho é a Obispo, que liga a

maravilhosa Plaza de Armas, de antigas cons-truções, incluindo os palácios dos vice-reis es-panhóis, hoje transformados em museus, a ou-tra não menos maravilhosa praça, ainda que deestilo totalmente diferente, o Parque Central,onde estão edificações como as do Gran Teatroe de velhos e elegantes hotéis, como o Inglater-ra, em cujos alpendres pode-se sentar para to-mar uma cerveja e observar o movimento.

Ainda no centro velho, não se pode deixar devisitar dois estabelecimentos tradicionais, o LaBodeguita, boteco que serve o mesmo cardápio(de comida cubana) desde que foi fundado há maisde sessenta anos; e o La Floridita, bar freqüentadopelo escritor Ernest Hemingway. Em ambos amelhor pedida é o mojito, uma espécie de caipiri-nha feita com o maravilhoso rum cubano.

O imperdível Museu da Revolução, situa-do no prédio do antigo Palácio Presidencial,permite uma viagem pela história do país, dodescobrimento aos dias de hoje, com a descri-ção das lutas de seu povo, e exige no mínimoumas duas horas de atenção do visitante. Numanexo, pode-se ver o Granma, o mítico iate emque Fidel Castro e seus companheiros desem-barcaram na ilha em 1957 para dar início à guer-rilha. Outro passeio interessante é a uma anti-ga fábrica de charutos (feitos inteiramente amão) e a uma não menos artesanal fábrica derum (com direito a bebericos de deixar qual-quer um de perna bamba).

Seria necessário muito mais espaço do queo disponível para se falar das muitas atraçõesde Havana. A melhor recomendação que se podedar ao turista talvez seja a de simplesmentesair caminhando pelo centro, para visitar osnumerosos palácios, igrejas e museus e, sobre-tudo, para fazer contato com seu alegre e hos-pitaleiro povo. Música e dança estão por todaparte e é difícil entrar-se num restaurante oucafé sem que haja um conjunto ou orquestratocando. Ao cair da tarde, é imprescindívelcumprir outro rito e tomar um sorvete na fa-mosa Coppelia, sorveteria ao ar livre e pontode encontro dos habaneros. Nas noites quen-tes famílias inteiras e casais de namorados dis-tribuem-se ao longo dos sete quilômetros doMalecón, numa verdadeira festa popular es-pontânea, que contribui para justificar aindamais a fama da capital cubana de uma cidadealegre e romântica.

Rubem Mauro Machado

Centro de Havana, com o transporte típico do Cocotaxi

La Maison16 y 7ma. Miramar. Tel. 204-1546Club Habana5ª Av. e/188 y 192. Playa. Tel. 204-5700Café Cantante Gato TuertoO entre 17 y 19. Vedado. Tel. 866-2224KarachiK esquina a 17. Vedado. Tel. 832-3485Cabaret Las VegasInfanta y 25. Vedado. Tel. 870-7939Salón Boleros Dos Gardenias26 y 7 ma, Playa. Tel. 204-2353Jazz Café1ª y Paseo. Vedado. Tel. 55-3302IpanemaHotel Copacabana. Playa. Tel. 204-1037La Cecilia5ª Av. esq. A 110. Playa. Tel. 204-1562El CortijoHotel Vedado O 244. Vedado. Tel. 33-4072TurquinoHotel Habana Libre, L e/23 y 25. Vedado.Tel. 55-4011Habana CaféHotel Meliá Cohiba. Paseo e/1ª y 3ª.Tel. 33-3636

Sugestões para a sua noite em HavanaMacumba Habana222, esq. a 37. San Augustín. Tel. 33-0568Karaokê PlazaHotel Plaza. Neptuno y Zulueta.Tel. 860-8583ParisiénHotel Nacional. Tel. 33-3564Copa RoomHotel Riviera. Paseo e/1ª y Malecón. Vedado.Tel. 33-4051Pico BlancoO 206 e/23 y 25. Vedado. Tel. 33-3740Salón RojoHotel Capri. 21 y N, Vedado. Tel. 33-3747Chan Chan Club Marina Hemingway248 y 5ª Av. Santa Fé. Tel. 204-4698La Zorra y El Cuervo /Jazz Club23 e/N y O. Vedado. Tel. 66-2402Cocodrilo, Humor Club3ª e/10 y 12. Vedado. Tel. 53-5305Habana ClubAv. 3ª y 86. Miramar. Tel. 204-2902Delirio Habanero Piano BarTeatro Nacional. Paseo y 39. Tel. 873-5713Mi Habana Café CantanteTeatro Nacional. Paseo y 39. Tel. 873-5713

Só o amor quase exagerado à música e à dançapode explicar o fato de um país tão pequeno quan-to Cuba ter gerado tantos ritmos que ganharam omundo, como rumba, mambo,cha-cha-cha e obolero, embora alguns, como este último, tambémsejam reivindicados pelo México e outros países.

Abaixo, alguns dos ritmos que os cubanosgarantem ser seus:Sucusuco – parecido com o pasodoble espanhol.Son – é o mais tradicional dos ritmos cubanos.Cha-cha-cha – surgido nos anos 50, virou febre mundial.Rumba – de forte influência africana, tambémganhou o mundo.Guaguancó – outro ritmo de fortes raízes africanas.Guaracha – parecido com o son, mas mais agitado.Conga – para dançar a dois, é bem conhecidodos brasileiros.Pilón – imita os movimentos de semeadura do café.Mozambique – nasceu na fértil década de 60.Dengue – nada tem a ver com a doença quetanto incomoda.Danzón – é a música para dançar por excelência.Zapateo – dança camponesa.Papalote – outra dança da gente do campo.Bolero – polêmico, sua origem é disputada tam-bém pelos mexicanos.

Ilha é fábricade ritmos

Para dançarem Varadero

Uma boa dica é o bem conhecido HabanaClub, com aulas de salsa e show. Pista muitoanimada. Fica no Hotel Palma Real. 2ª Av. entre61 e 62. Tel. (45) 61-4555.

Outra é o Mambo Club, salão de dançascaribenhas. Aulas na pista e show. No Gran Ho-tel, na carretera Las Morlas. Tel. (45) 66-8230.

Há também o Cabaret Continental, no HotelInternacional. Av. Las Americas. Tel. (45) 66-7038.

Prédio do Ministério do Interior, na Praça da Revolução é um dos cartões postais de Cuba

Foto: Divulgação

Foto: Milton Saldanha

A poucos quilômetros de Santiago de Cuba,no Parque Bacanao, reserva florestal queadentra as montanhas de Sierra Maestra, exis-te um surpreeendente Vale da Pré-História,com 196 dinossauros e outros animais pré-históricos esculpidos em pedra.

O leito de uma das ruas da Plaza de Armas,em Havana, é de madeira, talvez a única dogênero no mundo. A explicação é fácil: um dosvice-reis espanhóis, perturbado em sua sestapelo barulho das rodas das carroças nas pe-dras do calçamento, mandou substituí-las.

Page 11: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

11Outubro/2004

Cuba oferece um vasto leque de atraçõesturísticas, afora o tradicional eixo Ha-vana-Varadero. É claro que a capital, com

o conjunto arquitetônico de seu centro velho,declarado Patrimônio da Humanidade pelaUnesco, seus palácios e palacetes, museus, suasbelas avenidas arborizadas, praias, centros cul-turais e fervilhante vida noturna; e Varadero,com seus refinados hotéis e praias de areia finae águas azuis sempre tépidas, são destinos in-dispensáveis aos turistas. Mas nossa pequenaequipe do Dance de dois brasileiros, depois deuma semana de desfrute desses pontos tradicio-nais, decidiu dedicar a segunda semana de via-gem à exploração do interior da ilha num carroalugado.

Pouca gente sabe, mas a Havanatur, órgãoque administra o turismo cubano, oferece umasérie de excursões temáticas pelo interior: rotei-ros especializados para ciclistas, para mergu-lhadores, para trilheiros, para observadores depássaros (que nas migrações aportam nas matasem grandes quantidades) e até para grupos depára-quedistas, para só citar alguns. Em nossocaso, interessava-nos sobretudo conhecer as ci-dades do período colonial e locais de interessehistórico. Infelizmente a insuficiência de temponos obrigou a cancelar a ida a Santiago, segundamaior cidade de Cuba e sua primeira capital, a“pérola das Antilhas” encravada nas montanhas,nas vizinhanças do Parque Nacional de SierraMaestra.

DúvidasDuas questões costumam inquietar o turis-

ta: poderá viajar com conforto, sabendo-se dasrestrições econômicas causadas pelo bloqueiode mais de quatro décadas dos Estados Unidos?E, poderá dispor de um bom carro e de boasestradas?

Depois de percorrermos mais de metade dopaís de Fidel Castro, podemos responder comsegurança sim às duas perguntas. Cuba está hojepreparada para o turismo internacional comopoucos países das Américas. Hotéis e resortsde nível internacional, em regime de parceria doEstado com a iniciativa privada (especialmentecom a cadeia espanhola Melía) espalham-se portoda a ilha, com todas as comodidades, servi-ços, programas e divertimentos que se pode es-perar de uma estação de veraneio. Nos resorts,o regime é de Boca Livre Total, isto é, os restau-rantes e bares estão abertos 24 horas, com co-mida e bebida franqueadas e em alguns bufês afartura chega a beirar o exagero. Os parques aqu-áticos são enormes. À noite a festa rola, esquen-tada pela salsa e o maravilhoso rum local.E issotudo a preços considerados como os melhoresde todo o Caribe. Pode-se pagar tudo em dólar,mesmo nos rincões mais remotos, do cinema aosupermercado.

Carros importados são fáceis de alugar e as

Interior de Cuba preserva herança colonial

estradas, asfaltadas, oscilam entre razoáveis eboas. Há porém um sério complicador para oviajante: a sinalização. Seja por motivos de se-gurança (o medo de uma invasão), por uma ques-tão cultural ou por mera economia (nenhum cu-bano foi capaz de nos explicar a causa), o fato éque as cidades e rodovias do país não têm sina-lização; e a pouca que existe é geralmente confu-sa. Isso torna qualquer passeio uma aventura.Assim, se o turista não falar espanhol e, acimade tudo, não for capaz de entender bem o espa-nhol-metralhadora típico dos cubanos, nossarecomendação é de que viaje pelo interior nosmodernos ônibus de excursão. Se insistir emfazê-lo de carro, deve contratar um motoristaou pelo menos um guia cubano, sob risco depegar a estrada errada. Outra recomendação épara que nunca viaje com menos de meio tan-que, já que os postos não são tão numerososquanto no Brasil. O preço da gasolina (para osestrangeiros) é equivalente à nossa.

HistóriaDe Havana partimos para a famosa Playa

(praia) Girón, situada na península de Zapata,muito procurada por caçadores e mergulhadores,distante 200 quilômetros e local da invasão de 1961patrocinada pelos Estados Unidos. Ao optarmos,depois de Jagüey Grande, ao invés do caminhomais fácil, por uma difícil estrada vicinal, fomosrecompensados pela visão do marco que registra oponto máximo a que os invasores conseguiramchegar. O museu de Playa Girón, com suas fotos,armamentos e documentos, permite que se tenhauma idéia da ferocidade da luta, que durou 72 ho-

ras e terminou com a derrubada de 11 aviões debombardeio, vários navios avariados, mais de 200mortos pelo lado dos invasores, mais de 100 pelolado das forças da Revolução, numerosos feridosde ambos os lados e a captura de todos os 1197atacantes remanescentes.

Jóias barrocasDe lá, sempre viajando entre o mar e a mon-

tanha, tomamos o rumo de Trinidad, jóia colo-nial fundada pelos espanhóis e que conheceuseu esplendor nos séculos 17 e 18, com a rique-za produzida pelo tabaco, açúcar e criação degado. Lembra um pouco a nossa Tiradentes mi-neira, alguns sobrados evocam São Luís doMaranhão, embora sua arquitetura barroca sejade diferente qualidade, com uma influência quea mim pareceu mourisca. São admiráveis os por-tais e balcões em ferro trabalhado de suas casase palácios, assim como o altar da catedral, ela-borado com madeiras preciosas. Declarada em1988 Patrimônio da Humanidade pela Unesco,a pacata cidade proporciona a quem passeia porsuas ruas a sensação de uma curiosa viagem pelamáquina do tempo.

Cienfuegos, a parada seguinte, nos possibili-tou a descoberta de outra encantadora cidade co-lonial, só que muito maior e cheia de vida. Únicacidade cubana fundada por franceses, plantadaao pé de uma bela baía, a “Pérola do Sul” estásemeada de palácios e palacetes em estilo neo-clássico francês. Atração imperdível é o Paláciode Valle, inacreditável construção de 1917, umamistura sem pé nem cabeça, mas ainda assim atra-ente, de estilos como neo-gótico, neo-clássico e

mourisco. O Parque José Martí (uma praça, ape-sar do nome) oferece um dos cenários urbanosmais bonitos que vimos, com o conjunto de palá-cios, catedral e o velho teatro Tomás Terry. OJardim Botânico, um dos mais completos domundo, conta com mais de 2000 espécies de plan-tas tropicais, muitas delas raras, espalhadas por93 hectares. Uma alegria inesperada foi partici-par, na manhã de domingo, de um baile ao ar livrena principal avenida da cidade, o Paseo Del Pra-do, animado por uma excelente banda formadapor músicos tão velhos quanto seus instrumen-tos. Infelizmente não pudemos retornar para obaile marcado para a tarde.

Sempre ao pé da serra de Escambray,detivemo-nos em Sancti Spíritus, fundada em1514, mais uma cidade colonial de ruas tortuo-sas. Uma das atrações é a ponte sobre o rioYayabo, em pedra de cantaria: embora inaugura-da em 1825, ela lembra uma ponte medieval. Delá rumamos para Camagüey, capital da provín-cia de mesmo nome, a maior do país. Movimen-tada cidade industrial, tem um centro moderno,com grandes praças arborizadas. Mas preferi-mos ficar num hotel no centro velho, um pito-resco labirinto de ruelas de casas de paredes deladrilho e telhas de barro. A cidade tem um co-mércio intenso e é cheia de museus. Um de seusorgulhos é o Balé de Camaguey, companhia debalé clássico que já esteve no Brasil e que seapresenta com freqüência na Europa; tivemos oprivilégio de assistir a um de seus ensaios.

Che e ViñalesNo regresso à capital, foi imprescindível

parar em Santa Clara, para visitar o MemorialErnesto Che Guevara. Em meio a um parque,ergue-se a estátua de bronze de sete metros dealtura do guerrilheiro, representado com um fu-zil na mão direita e o braço esquerdo na tipóia,exatamente como participou da última e decisi-va batalha da Revolução, em dezembro de 1958.Numa sala repousam os restos mortais de Che eseus companheiros caídos na guerrilha da Bolí-via e em outra funciona um pequeno museu.

Cruzamos depois a cidade para conhecer olocal do combate em que os guerrilheirosdescarrilaram o trem blindado que o ditadorFulgêncio Batista enviara contra eles. Medianteo pagamento de um dólar, pode-se entrar nosvagões preservados como museu e conhecerdetalhes do combate.

De volta a Havana, tiramos um dia para visi-tar o Vale de Viñales, na província de Pinar DelRio, a mais ocidental do país. O passeio éimperdível. Situada a 150 quilômetros da capital,a região, considerada produtora do melhor tabacodo mundo, ganhou da ONU o título de Reservada Biosfera, pela riqueza de suas matas e rios.Nos belos vales, semeados de palmeiras típicas eonde erguem-se montanhas de duas cordilheiras,existem diversos hotéis, destinados sobretudo aosturistas que apreciam trilhas e a integração com anatureza. Por falta de tempo, não fomos à praiade Maria La Gorda, tida como uma das mais bo-nitas do país e muito procurada para mergulho.

É bom dizer que, em todas as nossa andançaspor Cuba, praticamos intensamente o que na gírialocal se chama “coger botella” ou simplesmente“botella”: a arte de dar e pedir carona. Cada pessoaque íamos recolhendo pelo caminho significou uminteressante intercâmbio de experiências e liçõesde vida, contribuindo para enriquecer uma viagemque nunca esqueceremos. E como é bom estar numpaís em que ninguém tem medo de pedir e oferecercarona a um desconhecido!

Rubem Mauro Machado

Um tesouro chamado Trinidad

Cena cotidiana na vida calma de Cienfuegos

Page 12: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

12 Outubro/200412 /2004

Pois é, acreditem, Cuba tem um inédito museu totalmente dedicado à dança. Com horários, funcionários, guias, etc., como em qualquer outro mu-

seu. Não é uma maravilha? Alguém conhece outro museuassim no mundo?

O Museo Nacional de la Danza foi inaugurado em1998, como parte dos festejos dos 50 anos de criação daescola e companhia de balé que se tornou o Ballet Naci-onal de Cuba.

Quem teve a idéia e montou o museu foi a bailarina ecoreógrafa Alícia Alonso, contando com todo o apoio dogoverno. Ocupa um sobradão de esquina e se divide emvários ambientes, com vitrines onde aparecem figurinos,jóias e objetos usados em grandes espetáculos por cele-bridades do balé, tanto cubanas como estrangeiras, emdiferentes períodos. Há também livros, jornais e revistassobre dança, de diferentes épocas, alguns deles valiosaarte gráfica. São raridades preciosas, que acabariam per-didas e destruídas se não existisse o museu. Chama espe-cial atenção um livro antigo sobre um dos maiores baila-rinos do mundo em todos os tempos, o russo Nijnsky,com seu nome no título. Uma pena que não tenha umareprodução fotográfica, fora da urna, que se pudesse fo-lhear. Fica a idéia. Há também um programa original debalé russo de 1920.

Uma das partes mais valiosas do acervo são as pe-quenas esculturas, desenhos e pinturas com motivos ex-clusivamente de dança, tanto clássicas como populares,

de diferentes pintores e épocas. Alguns dos mais impor-tantes artistas plásticos cubanos estão representadosno museu. Os destaques são Ricardo Reymena, pintorde danças, muito conhecido na ilha, e Carlos Henrique,um dos influentes pintores contemporâneos do séculopassado. O Brasil está representado pelo pintor NilsonPenna, que morou em Cuba. E, de inestimável valor,desenhos que Picasso fez de cenários e figurinos para oBallet de Monte Carlo dançar Nijnsky. Um óleo de DorisZinkeisen retrata Ana Pavlova, que dançou três vezesem Cuba. E, como não poderiam faltar, cenas dosincretismo afro-cubano, traço fortíssimo da cultura lo-cal. A marca política, presente em quase tudo em Cuba,fica por conta de um óleo de Ricardo Reymena quereproduz cena da montagem de “Holocausto doVietnam”, pelo Ballet Nacional de Cuba, com coreogra-fia de Alberto Alonso.

A peça mais antiga e valiosa do Museo Nacional dela Danza é de 1700, um diagrama para coreografia debalé. Deve ser única no mundo. Oitenta por cento doacervo está dedicado ao balé clássico, com destaquepara o material doado por Alícia Alonso. Mas a metada diretoria é ampliar, abrangendo cada vez mais todasas danças.

O Museo Nacional de la Danza fica aberto de terçaa sábado, das 11h às 18:30. A visita custa 2 dólares, ou3 dólares com guia. Permitem fotos, com taxa de 5 dóla-res. Fica na Line esquina Calle G, Vedado, Havana.

Museu Nacional da Dança mostrararidades de inestimável valor

Museu Nacional da Dança mostrararidades de inestimável valor

Page 13: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

13Outubro/2004

Shopping Eldorado – 3º piso • Tels. (11) 3814-8667 / 3814-5017Site: www.ececursos.com.br

DON QUIXOTEEspaço Cultural Eldorado

Apresenta:

5182-3076 / 5184-0346 / 8192-3012www.jornaldance.com.br - [email protected]

10 mil exemplares,

ampla distribuição

Anuncie!10 anos divulgando e promovendo a dança

Agora também completo na Internet,incluindo anúncios

Cuballet 200510ª edição no Brasil

O maior curso de verão

Inscriçõesabertas

Outubro23, Sábado – Luiz Ayrão. O sambista está de volta

em show super dançante!26, Terça – Terça Dançante com participação

especial de Roberto Luna27, Quarta – Ritmo das Cores – samba e mulatas com

Sandrinha Sargentelli28, Quinta – Dick Danello – Uma Noite á San Remo – romantismo à italiana29, Sexta – É Halloween! É um assombro de festa!

Novembro18, Quinta – Stênio Melo – É aniversário do show man, com bolo e champagne!19, Sexta – Denilson – A “voz” está de volta ao seu palco em Sampa

E outras atrações em confirmação. Consulte nosso site.Av. Pedroso de Moraes, 261 – Pinheiros. (C/manobristas)Reservas: (11) 3813-2732 ou com Eliane & Dulce 6748-5039

www.operasaopaulo.com.br • [email protected]

PRÓXIMAS ATRAÇÕES

Divorciados e viúvosReuna-se num grupo terapêuticoespecial e gratuito. Todos os sába-dos, 17h/19h, nos Jardins.

Rua Sampaio Vidal, 1.055 – 1º andar.Inf.(11) 5528-1845, c/Sonia Maria.

27 de novembro, Sábado, 22hCom show de tango

DJR$ 10,00

Grande Baile de TangoGrande Baile de TangoGrande Baile de TangoGrande Baile de TangoGrande Baile de Tango

I EncontroI EncontroI EncontroI EncontroI Encontro

Tangueiro PaulistaTangueiro PaulistaTangueiro PaulistaTangueiro PaulistaTangueiro Paulista Salão do Centro de Dança Jaime ArôxaRua Domingos Lopes, 90 – Campo Belo

Organização: Marcelo Cunha, Karina Sabah, Nelson Lima e Márcia Mello

Page 14: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

14 Outubro/2004

Não basta visitar Cuba. É preciso tam-bém entender Cuba. Sua singularidade éabsoluta. Ostenta conquistas sociais ad-

miráveis, principalmente nos cuidados às crian-ças e idosos, e problemas que derivam, em suamaioria, de um crime internacional sem parale-los no mundo: um brutal bloqueio econômicoque se arrasta há 45 anos. Ou mais tempo, se-gundo alguns analistas cubanos. Crime pratica-do pela maior potência do mundo, os EstadosUnidos, contra uma ilha tropical de povo emsua maioria de modesta renda, muito simples,gentil e alegre, que ama dançar e preserva for-tes laços culturais com sua história e origensafro e hispânica. Ninguém precisa ser de es-querda ou direita, basta ter discernimento e ummínimo de sensibilidade social, além de voca-ção democrática, para não aceitar essaprepotência. No meu caso, como conheço deponta a ponta os Estados Unidos, país queadmiro em muitos aspectos, falo sua língua, eonde fiz grandes amigos, a incomodação foicrescendo a medida em que desbravava Hava-na e o interior cubano, porque isso me permi-tiu comparações muito claras. Trata-se de umasuper potência esmagando um pequeno país.O bloqueio contra Cuba é uma covardiainominável. Mas, por favor, em hipótese algu-ma se deve confundir povos com governos.Nem cair em generalizações perigosas. A forteoposição a Bush dentro dos EUA, principal-mente nos meios mais esclarecidos e intelectu-ais, é exemplar. (Escrevo antes das eleições).Todo mundo sabe que Bush se elegeu com frau-des na Flórida. Nunca representou, portanto,imensa parcela do povo norte-americano, for-mada por gente decente e favorável à paz. Oesclarecimento é indispensável para deixar cla-ro que aqui todas as críticas referem-se à deci-sões governamentais e não devem ser interpre-tadas como sentimentos contra cidadãos dosEstados Unidos. Há inclusive muita gente nosEstados Unidos, principalmente empresáriosprejudicados pela perda de mercados, que nãoconcordam com o bloqueio.

No próximo dia 28 de outubro a assembléiageral da ONU aprecia informe detalhado enca-minhado por Cuba ao secretário-geral KofiAnnan. Os dados são impressionantes. Quandoestávamos em Cuba, este documento foi apre-sentado pelo chanceler Felipe Pérez Roque àimprensa internacional, na TV cubana e no jor-

Bloqueio econômico

Milton Saldanha nal “Granma”. Antes de entrar em sua aprecia-ção acho interessante situar o leitor em algunsantecedentes históricos, que permitirão uma vi-são de conjunto e melhor entendimento da ques-tão cubana.

Antes da Revolução vitoriosa em 1959 Cubaera um balneário da máfia, que construiu seusgrandes hotéis e cassinos. Enquanto o povo vi-via na mais absoluta miséria e opressão, sob oregime de torturas e corrupção do ditadorFulgencio Batista, um ex-sargento que tomou opoder com um golpe em 1952, milionários eremediados norte-americanos tratavam a ilhacomo seu divertido quintal. Ali chegavam parajogar nas roletas, se deliciar nas piscinas e prai-as paradisíacas, e para perversões sexuais, so-bretudo com menores carentes. De simples ma-rinheiros, como denuncia uma foto no Museuda Revolução, em Havana, aos mais famososbandidos engravatados dos anos 40 e 50, todostinham na ilha um paraíso com mordomias eserviçais nativos ao dispor em tempo integral.

A farra acabou quando os guerrilheiros bar-budos liderados por Fidel Castro desceram daSierra Maestra e empolgaram o país de orientea ocidente, numa marcha triunfal que duroumuitos dias, entre combates ou com a simplesdeposição de armas dos desmotivados solda-dos de Batista. Na famosa festa de reveillón nopalácio presidencial, ao nascer do ano de 1959,Batista fugiu. A alta sociedade que lá estavaentrou em pânico e perdeu a compostura.Madames corriam segurando os vestidos lon-gos e deixando sapatos e chapéus pelo cami-nho. Enquanto os barões em fuga, vestidos comcasacas pretas, ligavam os motores dos seusiates e aviões, ainda com confetes da festa so-bre os ombros, já se ouviam nos bairros deHavana os tiros das colunas guerrilheiras to-mando a cidade durante a madrugada. Muitoantes da fuga Batista saqueou os cofres públi-cos. Nas dezenas de malas que já tinha enviadopara Miami não havia roupas, só dólares, emespécie. No total, Batista e os demais bandi-dos do seu governo, que foram virar prósperosempresários em Miami, além de financiadoresde terroristas, levaram US$ 424 milhões dopovo cubano. Se hoje isso é muito dinheiro,imaginem então naquela época. Restaram emcaixa menos de 100 mil pesos. O governo nor-te-americano, nas gestões Einsenhower eKennedy (1953-63), deu asilo aos ladrões eassassinos, ao invés de prendê-los e repatriar

o dinheiro. Batista ficou em Miami até morrer,numa mansão-bunker, sem trabalhar e cercadode guardas costas e muito luxo, liderando a co-lônia exilada com o estilo de vida típico dosgangsters.

Ao rodar por Cuba, como a equipe do Dan-ce fez por vários dias, percorrendo de carro maisda metade da ilha, só aí percebe-se que a lutarevolucionária foi uma verdadeira epopéia. Éimpressionante imaginar que aqueles poucosjovens, apenas 80, mal armados, com precáriosequipamentos, mas tomados de total determi-nação, de vida ou morte, tenham iniciado a lutaenfrentado tanques, aviões e um exército infini-tamente maior. Para quem conhece a História, émomento de grande emoção visitar em SantaClara o museu do trem blindado, última resis-tência significativa de Batista. O trem foi ataca-do com coquetéis molotov e descarrilado pelacoluna rebelde comandada por Che Guevara. Atropa do governo, com armamento pesado e far-ta munição, teve que se render para não morrerqueimada. Os guerrilheiros não venceram sozi-nhos. A adesão popular, camponesa e urbana,foi decisiva, sobretudo na fase final da campa-nha, a partir da vitória de Santa Clara, quando aqueda do tirano já se configurava comoirreversível.

MudançasOs Estados Unidos são o país mais demo-

crático do mundo. Desde que não se discordedos Estados Unidos. Nem se questione os inte-resses do seu capital. Cuba ousou acabar com afarra deles. Encampou suas empresas, come-çando pelas usinas de açúcar, níquel, tabaco erum, os esteios da economia da ilha antes daabertura para o turismo, hoje carro chefe. Ex-propriou fazendas e fez a reforma agrária, crian-do cooperativas agrícolas. Fechou seus cassi-nos e bordéis. Transformou mansões em hospi-tais, escolas, casas para estudantes, espaçosculturais, repartições, etc. Extirpou a especula-ção imobiliária, criando regras civilizadas para ouso da propriedade. Cerca de 85% das famíliassão donas de suas casas e não existe IPTU. Po-dem ter uma segunda propriedade para vera-neio. As demais famílias pagam aluguéis irrisó-rios, que são transformados em crédito paraaquisição do imóvel. E lá não existe essa mons-truosidade que aqui se convencionou chamarcinicamente de “morador de rua”, como se fosse

possível alguém morar na rua. Isso não significaque tenha superado o problema do déficithabitacional, um dos seus gargalos mais dramá-ticos, juntamente com o de transporte público.

Em Cuba não existe imposto sobre salário,ao contrário do nosso discutível “retido na fon-te”. Saúde e educação, em todos os níveis, desdea pré-escola, são gratuitos. Além disso, as crian-ças almoçam na escola. Existem cantinas deempresas, com bons almoços, incluindo sucos,por três ou cinco dólares mensais, ou seja, me-nos de 30 centavos por refeição em 25 dias úteis.Nas internações hospitalares, inclusive paratransplantes, além da cirurgia o paciente recebetodos os remédios de graça. Todas as famíliasrecebem uma cesta básica subsidiada, a famosalibreta, equivalente ou abaixo do preço de custo.Sim, existe racionamento, mas para que todoscomam. Sim, há escassez de muitas coisas, maslogo adiante você entenderá as razões.

Limito-me aqui ao que achei mais impor-tante e possível de resumir, mas existem muitasoutras conquistas da Revolução. O próprio PapaJoão Paulo II, quando visitou Cuba em 1998,elogiou seus indicadores sociais, além de pedir ofim do bloqueio. Problemas? Também são mui-tos, como em qualquer país. Mas não existe opior de todos, a violência. Você pode caminhartranqüilo, não há assaltos. Algo impensável noBrasil — dar carona — em Cuba acontece a cadasegundo, mesmo nos lugares mais improváveis,como estradas margeadas por matas. Para nós,de uma sociedade estressada que vive em pâni-co, isso é inacreditável. Aderimos ao hábito so-lidário em toda a viagem, com nosso carro aluga-do. Carona lá é “botella”(garrafa). Como caronaé sempre para um trecho, essa gíria vem da idéiade tomar um gole, ou dar um gole. Perdemos aconta das pessoas que pegaram “botella”conosco. As mais diferentes, como médicas,advogados, engenheiros, professoras, estudan-tes, dançarinas e bailarinas, donas de casa, apo-sentados, camponeses e até desocupados. Osmais variados perfis. Isso nos ensejou a felizoportunidade de conversar muito com o povo,fazendo sempre, claro, muitas perguntas. Oapoio a Fidel Castro é impressionante. Com achapa vermelha no carro (cor dos alugados) enosso carregado sotaque no “portunhol”, de carasempre denunciando os turistas, não haveriarazão para que mentissem. E somos jornalistas,acostumados a entrevistas, a perceber quandoalguém é sincero ou simula. Um rapaz, negro,queixou-se do racismo. Como no Brasil, é dissi-mulado, mas existe.

É bom observar que vigora a pena de morte,que não é sumária como dizem, e sim passa porlongo ritual processual em várias instâncias, comdireito a ampla defesa. Ocorrem furtos, inclusi-ve residenciais. A condição de ilha, sem frontei-ras secas, torna praticamente impossível o rou-bo de carros. Alguns pilantras, inclusivemanobristas, levam acessórios e ferramentas,sempre de bom valor para atender a predomi-nante frota de carros antigos. Se você alugar umcarro fique muito atento. Isso, comparado comnossa violência, chega a ser ingênuo. Eu trocariaum ano desses pequenos delitos por um únicodos grandes crimes diários que temos aqui.

Cuba ousou muito ao resgatar sua dignida-de como nação. O preço a pagar por tudo isso

O muro invisívelHá 45 anos os Estados Unidos impõem um pesado bloqueio eco-

nômico contra Cuba. O objetivo é semear a fome e a escassez entre opovo para desestabilizar o governo. Cuba depende de muitas impor-tações e por causa do bloqueio alguns produtos chegam a custar detrês a cinco vezes mais, inclusive medicamentos, em muitos casos dis-tribuídos gratuitamente à população. Trata-se de um crime interna-cional repetidamente denunciado na ONU, como voltará a aconte-cer no próximo dia 28 de outubro. Este tema é pouco conhecido noBrasil porque é proibido pelos patrões da grande imprensa.

Solidário com o povo cubano, Dance denuncia aqui esse escânda-lo sem paralelos no mundo e talvez até na História.

Page 15: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

15Outubro/2004

é o bloqueio. Uma covardia inqualificável quan-do se compara a ilha com os Estados Unidos,em qualquer sentido. O custo do bloqueio paraCuba é da ordem de US$ 1,8 bilhão/ano. Parauma ilha pequena, de 107.145 km quadrados,incluindo a Ilha da Juventude, e 11,2 milhõesde habitantes, é um custo absurdo. Projetadossobre 45 anos, montam no acumulado supos-tamente prejuízos de US$ 81 bilhões. É di-nheiro suficiente para financiar uma segundarevolução social e tecnológica, que já teria li-vrado os cubanos da escassez e de outros pro-blemas que ainda não conseguiram resolver. Umdeles na prospecção de petróleo, que está mui-to abaixo de suas necessidades, com reflexosmuito sérios nos transportes. Cuba vive o cha-mado “Período Especial” desde a dissoluçãoda URSS, em 1991. Como se tivessem inverti-do a roda do tempo, numa forçada volta aopassado, parte do transporte coletivo no inte-rior voltou a ser feito em carroças. Elas dispu-tam espaço nas estradas estreitas com multi-dões de ciclistas, carros, ônibus, caminhões,tratores, formando um tráfego heterogêneo,perigoso e confuso. Vendo aquelas carrocinhaspelas encantadoras cidades do interior, e a sim-plicidade do povo, a todo momento a gente seperguntava: como podem os governos dos Es-tados Unidos conspirarem tanto contra a feli-cidade dessas pessoas? Como pode o mundofechar os olhos a isto?

Os ideólogos do bloqueio não pensam emlimites para prejudicar Cuba. São muitas asrestrições, mas vou apontar só algumas maisconhecidas: Qualquer navio que aporte emCuba fica proibido de ancorar em qualquerporto dos EUA durante seis meses. Qualquerpaís que negocie com Cuba, mesmo que sejambotões de camisas, sofre pressões e retalia-ções, com riscos de perder inclusive outrosmercados, de países tutelados por Washing-ton. O Ballet Nacional de Cuba foi autorizadoa fazer turnê pelos EUA desde que não co-brasse ingressos. Deixou de faturar pelo me-nos US$ 200 mil. Cuba depende muito deimportações e tudo que compra chega por viascolaterais, que duplicam ou triplicam os pre-ços. Há casos dramáticos, de equipamentosde saúde e medicamentos que não podem en-trar. Um jovem cego teve que pagar quatro oucinco vezes mais por uma máquina de métodoBraille. Turistas norte-americanos visitamCuba, via México, mas seus passaportes nãosão carimbados. Se forem flagrados as multaspodem chegar a US$250 mil para pessoas fí-sicas e a US$1 milhão para empresas. Quemse recusar a pagar pode ser preso com penasde até dez anos. Há casos comprovados dessatruculência no país que se gaba de sua demo-cracia. Por causa dessa restrição calcula-se que6,5 milhões de norte-americanos deixaram deir a Cuba nos últimos cinco anos. Os ingres-sos teriam sido de US$4 bilhões. O país temdificuldades de acesso a créditos em bancosde fomento internacional para investimentosem infra-estrutura. Proíbe-se até o comérciocom subsidiárias de empresas norte-america-nas instaladas em outros países, em flagranteviolação aos interesses comerciais desses pa-íses. As medidas do bloqueio são fiscalizadaspor uma agência criada no governo Bush es-pecialmente para isso. O número de agentes écinco vezes maior do que o dedicado a rastrearas finanças da rede terrorista Al Qaeda. Essaagência, de 1990 a 2003, fez 10.683 investi-gações de cidadãos que viajaram a Cuba, quetotalizaram US$ 8 milhões em multas. Cubanão pode comprar medicamentos, nem vaci-nas para crianças. Repito, nem vacinas paracrianças. Uma subsidiária européia da Chiron

Co. forneceu dois tipos dessas vacinas e foimultada em US$ 168.500. Como Cuba inves-te muito em educação, sua sorte é que contacom uma medicina conceituada, que inclusivejá exportou vacinas para o Brasil e outrospaíses.

Segundo o chanceler Felipe Pérez Roque,sem o bloqueio Cuba poderia construir por ano100 mil novas moradias, beneficiando 2,5 mi-lhões de pessoas. Supriria com gás de cozinha2,4 milhões de pessoas que ainda não são aten-didas. Duplicaria a cota de frango distribuída nacesta básica. E ainda sobrariam recursos parainvestir na recuperação e ampliação da geraçãoelétrica, pondo fim aos apagões.

Outros riscosComo se tudo isso fosse pouco, existe o

permanente risco de invasão militar. Não éfantasia. As provocações são constantes, comviolação do espaço aéreo. A lei Helms-Burton,que arrochou o bloqueio econômico em 1996,foi sancionada por Bill Clinton como repre-sália depois que dois migs cubanos abateramdois aviões civis que partiram de Miami paradespejar panfletos sobre Cuba. Os pilotoseram reincidentes e já tinham sido advertidospublicamente que se voltassem seriam derru-bados.

Rezemos para que nunca aconteça. Cubanão é Granada. Uma invasão não seria um pas-seio. Espera-se que a irracionalidade de Bushou de quem estiver na Casa Branca nunca che-gue a tal ponto, pois seria um grande erro mili-tar e político. Os cubanos estão sempre pre-parados para esse risco e treinam suas táticaspelo interior até nos fins de semana. Todas aspessoas, inclusive moças, aprendem a atirar.Praia Girón, bastou uma. Espero que tenhadeixado lições definitivas. Para quem não sabe,foi a invasão em abril de 1961 de uma brigadamercenária de 1500 homens, com armamentopesado, para uma guerra de verdade, com apoioaéreo e naval. O pau foi feio. Fidel comandou adefesa e ficou célebre o tanque que operou pes-soalmente, atingindo em cheio o encouraçadoHouston. Os invasores, que pretendiam con-solidar posições na praia para novos desem-barques, e ocupar a rodovia central, dividindoe isolando o país, foram derrotados em menosde 72 horas.

O problema dos Estados Unidos com Cubanão é econômico nem militar. Os norte-america-nos vivem muito bem sem Cuba, sem o mínimotropeço em sua prosperidade. Só teriam a ga-nhar com relações amistosas e comerciais. Doponto de vista militar, Cuba só cuida da suadefesa. Seria insulto à inteligência invocar algumtipo de ameaça ao todo poderoso vizinho. Apequena ilha é um espinho cravado no pé dogigante. A questão transcende a política. É deorgulho ferido.

Sou da geração Guerra Fria. Passei anos len-do machetes de jornais que chamavam o murode Berlim como Muro da Vergonha. Nesses anostodos nunca vi uma única manchete que cha-masse o bloqueio a Cuba como Bloqueio da Ver-gonha. Este é também um muro, que tenta isolarCuba do resto do mundo e sacrificar seu povo.Uma forma não armada de genocídio, e até maiscruel e maquiavélica porque tenta matar lenta-mente pela inanição. A única diferença é quefaltam as pedras e o concreto. Até nisso estetriste muro invisível é pior, porque ao contráriodaquele da velha Berlim, este se oculta na farsada legalidade, não se consegue vê-lo nos hori-zontes e brumas do mar azul, e assim nos privada imagem da opressão que precisa ser denunci-ada como crime contra a humanidade.

Fidel festejando comsuas tropas a vitória emPraia Girón, que foiretomada em menos de72 horas depois desangrentos combatescom armas pesadas.A foto foi reproduzidade painel do MuseuGirón

Praia Girón, que ficou mundialmente famo-sa em abril de 1961, com a invasão da ilha

O tanque queFidel Castrocomandoupessoalmente eatingiu em cheioo encouraçadoHouston. Hoje émonumento nafrente do Museuda Revolução, nocentro de Havana.

O que sobrou do trem blindado, descarrilado por Che Guevara, em Santa Clara,e que decidiu o fim do ditador Batista. O local histórico agora é museu ao ar livre

Fotos: Milton Saldanha

Page 16: DISTRIBUIÇÃO INTERNA E GRATUITA NO UTUBRO EDITOR … · econômico contra Cuba praticado há 45 ... mais apropriado seria Casa de la Dansa, porque ali se baila muito, salsa e os

16 Outubro/2004

Cuba esta mais próxima de você!

Terças: Salsa e Merengue com aulas gratuitas e banda ao vivo.

Quartas: MPB ao vivo e após às 23h pista com flash back.

Quintas: Pop Rock nacional e internacional ao vivo e após às 23h pista com flash back.

Sextas: MPB ao vivo e após às 23h pista com flash back.

Sábados: Som ambiente e após às 23h pista com flash back.

Domingos: Ritmos Latinos e Zouk com aulas gratuitas.

Rua Atílio Inocentti, 780 – Vila Olímpia.Tel: 3045-5245www.buenavistaclub.com.br