90
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA Diversidade genética do Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla: Xenarthra, Mammalia) no Brasil e implicações para sua conservação. CAMILA CLOZATO LARA Belo Horizonte 2009

Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDEE MMIINNAASS GGEERRAAIISS

PPRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM GGEENNÉÉTTIICCAA

DDiivveerrssiiddaaddee ggeennééttiiccaa ddoo TTaammaanndduuáá--bbaannddeeiirraa ((MMyyrrmmeeccoopphhaaggaa ttrriiddaaccttyyllaa:: XXeennaarrtthhrraa,, MMaammmmaalliiaa)) nnoo

BBrraassiill ee iimmpplliiccaaççõõeess ppaarraa ssuuaa ccoonnsseerrvvaaççããoo..

CAMILA CLOZATO LARA

Belo Horizonte

2009

Page 2: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

2

CAMILA CLOZATO LARA

Diversidade genética do Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla: Xenarthra, Mammalia) no

Brasil e implicações para sua conservação.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Genética, Instituto de Ciências Biológicas como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Genética, área de concentração, Genética Evolutiva e de Populações.

Orientador: Fabrício Rodrigues dos Santos, PhD.

Belo Horizonte

2009

Page 4: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

3

Aos meus avós.

Page 5: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

4

AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

São muitas as pessoas, fatos e acontecimentos que me fizeram escolher o caminho que me levou a este mestrado. Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic, até a inesperada seleção de bolsista para o LBEM em 2005, quando eu estava tão confusa na graduação (novidade) que não sabia mais o que fazer do curso. A verdade é que não existe outra área da biologia que eu me imagine trabalhando além desta, e foi um prazer enorme ter descoberto este ramo precioso de estudo. As primeiras pessoas que tenho que agradecer por tudo, não só pelo mestrado, são meus avós (Maria José e Ermelindo, meus queridinhos), de quem recebi as noções mais importantes da vida, e o carinho intenso, imensurável, atemporal, infinito que me concederam. Quando me penso humana, é porque eles me ensinaram o que é isso. Agradeço também à minha família toda pela paciência (às vezes menor, às vezes maior) de apoiar o caminho que escolhi, pois como todo biólogo sabe, é um caminho longo. Agradeço muito ao Caetano, meu namorado, meu grande amigo, minha companhia infalível de cinema e pizza vegetariana, este botânico mais empolgado do mundo, o fazedor de mapas oficial dos nossos trabalhos, a quem eu amo muito e sempre mais. Agradeço ao meu orientador por ter me aceitado como aluna de mestrado e como membro do laboratório, e ao pessoal do LBEM pelo ótimo ambiente de trabalho, pela amizade e bom humor em todas (ou quase todas) as horas. Aos da velha guarda do LBEM, Sarah, Claudia, Lets, Débora, Sibelle, Josimar, Dani, Rodrigo (o co-orientador de todos os membros do LBEM e Deus sabe mais de onde), Marilza, e da “van guarda”, Augusto, Karina e Érica, e aos que passaram por pouco tempo. Ainda no LBEM, algumas pessoas em especial eu gostaria de agradecer: Babi, por ser minha amiga desde os primórdios da faculdade, e continuar comigo mesmo no LBEM, onde muitas vezes lamuriamos juntas os PCRs e seqüenciamentos que não deram certo. O Raul (dizem que o verdadeiro nome dele é Anderson, mas eu tenho minhas dúvidas), outro amigo presente desde a faculdade, por ser sempre tão prestativo à todos. Aos amigos do ICB, da 2003/02, especialmente os da R2, é claro! Tenho agradecer também aos pesquisadores que fizeram este trabalho possível por me ceder algumas amostras. São eles: Flávio Rodrigues, Rosane Collevati, Flávia Miranda, Fernanda Braga, Teresa Anacleto e ao Museu Paraense Emílio Goeldi. Á Paula Lara Ruiz, que, além de me passar o material de tamanduá-bandeira, me passou o profundo interesse pela ordem Xenarthra, e me ensinou bastante no nosso tempo de convivência. Um obrigada também à CAPES, pela bolsa de um ano concedida, e ao CNPq, que recentemente nos cedeu fundos para trabalhar melhor neste projeto e aumentar, finalmente, nossa sofrida amostragem.

Page 6: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

5

RREESSUUMMOO Neste trabalho são apresentados dados sobre a variabilidade genética em populações de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) do Brasil. A espécie se encontra ameaçada por diversos fatores, como degradação e fragmentação de habitats, ameaça antrópica e aspectos de sua história natural, e necessita de uma reavaliação de seu status de conservação. A falta de estudos genéticos sobre sua diversidade dificulta a avaliação do verdadeiro grau de risco da espécie. Neste estudo foram analisadas 77 amostras de tamanduá-bandeira, distribuídos em nove Estados brasileiros, nos biomas Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. Foram estudados dois marcadores mitocondriais (HVI e CytB), um gene autossômico (RAG2) e um íntron ligado ao Y (iAMELY). Os resultados revelaram um haplótipo comum, provavelmente relacionado ao de origem ancestral, compartilhado por todas as populações de Cerrado e por alguns indivíduos do Pantanal, indicando que seja o Cerrado o bioma onde a espécie se diversificou. As populações oriundas de Parques de Cerrado merecem atenção especial, pois podem funcionar como redutos de diversidade da espécie. Os índices de fixação revelaram uma possível estruturação entre os indivíduos de Cerrado e os de Floresta Amazônica, ressaltando a necessidade de critério e cuidado para planos de manejo. Com uma maior amostragem dentro e fora do Brasil a história filogeográfica do tamanduá-bandeira poderá ser mais bem esclarecida, e poderá ser mais bem avaliada sua situação de conservação. Palavras-chave: Myrmecophaga tridactyla, Cerrado, filogeografia.

AABBSSTTRRAACCTT This work presents genetic variability data in populations of the giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) in its distribution in Brazil. The species is threatened by several factors, such as habitat degradation and fragmentation, human threats and aspects of its natural history, and so it needs new evaluation of its conservation status. Lack of genetic studies on its diversity pours difficulty in evaluating the true degree of the species risk. 77 anteaters’ samples were analyzed in this study, distributed in nine Brazillian states, from biomes Cerrado, Pantanal and the Amazon Forest. Two mitochondrial markers were studied (HVI and CytB), besides an autossomic gene (RAG2) and an X-linked intron (iAMELY). The results show a common haplotype, likely related to the ancestral origin, shared by all Cerrado populations and some Pantanal individuals, indicating the former biome is where the species has diversified. The populations from Cerrado parks deserve special attention, as they might work as diversification spots. Fixation indexes revealed a probable structure between Cerrado and Amazon Forest individuals, stressing the requirement of care and criterion when planning the species management. With a wider sampling inside and outside Brazil, the phylogeographic history of the giant anteater will be better clarified, and its conservation status might be better evaluated. Keywords: Myrmecophaga tridactyla, Cerrado, phylogeography.

Page 7: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

6

LLIISSTTAA DDEE FFIIGGUURRAASS

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Figura 1 – Representantes dos três grandes grupos de Xenarthra (esquerda para direita): Cingulata (tatus) e Pilosa (tamanduás e preguiças, respectivamente). Fotos: Grzimek G., Animal Life Encyclopedia Vol.13....................................................................................................................................................21

Figura 2 – Área de ocorrência de Myrmecophaga tridactyla. Mapa: Fonseca & Aguiar, 2004......................................................................................................................................................23

Figura 3 – Diversos aspectos do tamanduá-bandeira no Cerrado brasileiro. Fotos: Grzimek G., Animal Life Encyclopedia Vol.13.............................................................................................................................25 MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA

Figura 4 –

Mapa com distribuição e localização dos pontos coletados. As cores dos quadrados referem-se ao texto descritivo de cada população, de acordo com seu Estado, sendo: azul claro (Cerrado de Minas Gerais, CEMG); azul escuro (Cerrado de Goiás, CEGO); cinza (Cerrado do Paraná, CEPR); rosa (Cerrado de São Paulo, CESP); laranja (Cerrado do Mato Grosso, CEMT); vermelho (Bioma Pantanal, PT) e verde (Bioma Floresta Amazônica brasileira, AM). A área sombreada de verde representa a atual extensão do bioma Cerrado brasileiro. Mapa confeccionado pelo programa ArcView..................................................................................................................................................30

Figura 5 – Posições relativas de anelamento dos primers utilizados de acordo com a organização mitocondrial. ..............................................................................................................................................................34

RREESSUULLTTAADDOOSS

Figura 6 – Gel de agarose 0.8% mostrando o produto de PCR para o fragmento do gene CytB (A) e RAG2 (B). A primeira coluna de cada linha do gel corresponde ao marcador de peso molecular 1 Kb Plus DNA Ladder, Invitrogen. ...............................................................................................................................42

Figura 7 – Leituras do seqüenciamento automático para HVI (A) e RAG2 (B), onde são mostrados um sítio homozigoto em azul, e um heterozigoto em vermelho. .......................................................................43

Figura 8 – Redes Median-Joining de haplótipos encontrados para três marcadores em M. tridactyla: (A) HVI+CytB, (B) RAG2 e (C) iAMELY. As cores representam as populações geográficas às quais pertence cada parcela dos haplótipos apresentados. CEMG = azul claro; CEGO = azul escuro; CESP = rosa; CEMT = laranja; CEPR = cinza; PT = vermelho; AM = verde. Os círculos são proporcionais às freqüências dos haplótipos, e os pontos pequenos em vermelho representam vetores intermediários hipotéticos criados pelo algoritmo para resolver a rede. Os números em vermelho são as posições de mutação entre um e outro haplótipo. ...................................................................................................60

Figura 9 – Árvore filogenética de máxima verossimilhança dos haplótipos do gene CytB, construída pelo programa phyML, modelo evolutivo F81, com 500 replicações de bootstrap, para a espécie do tamanduá-bandeira, enraizada por indivíduo de T. tetradactyla. Os números correspondem ao haplótipo, e os símbolos aos haplótipos exclusivos de cada bioma, sendo: círculo (Cerrado), triângulo (Pantanal) e quadrado (Floresta Amazônica). O símbolo losango preto representa o haplótipo compartilhado por todos os biomas. O haplótipo marcado com um asterisco (CytB CE 10*) é o de Cerrado compartilhado por dois indivíduos procedentes dos dois parques de Cerrado (PARNA Canastra e PARNA Emas), com mais proximidade com o grupo externo usado.....................................................................................................................................................63

Page 8: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

7

LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA

Tabela 1 – Seqüências, denominações e quantidade de pares de bases amplificados (Pb) dos primers para loci mitocondriais utilizados neste estudo.....................................................................................33

Tabela 2- Seqüências, denominações e quantidade aproximada de pares de bases amplificados (Pb) dos primers para loci nucleares utilizados neste estudo.......................................................................35 RREESSUULLTTAADDOOSS

Tabela 3. Distribuição das amostras e dos haplótipos encontrados: Estado brasileiro e município (ou região, como Parques Nacionais – PARNA’s – que englobam mais de um município) com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos de HVI e CytB encontrados nos 77 indivíduos estudados de Myrmecophaga tridactyla. *CE: Cerrado; AM: Floresta Amazônica; PT: Pantanal.................................................................................................................................................46

Tabela 4. Distribuição dos haplótipos reconstruídos a partir dos genótipos para o gene autossômico RAG2. Estado brasileiro e município com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos encontrados no total de 47 indivíduos (94 seqüências) estudados para o lócus......................................................................................................................................................47

Tabela 5. Distribuição dos haplótipos do íntron do gene AMELY. Estado brasileiro e município com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos encontrados no total de 34 indivíduos machos estudados para o lócus......................................................................................47

Tabela 6. Índices de diversidade molecular gerados por DNAsp 4.0 e Arlequin 3.11 para seqüências de HVI (450pb) e CytB (555pb) das populações definidas para M. tridactyla. CE MG: Cerrado de Minas Gerais (PARNA Canastra, Araxá, Uberlândia, Piumhi, Dores do Indaiá, Doresópolis); CE GO: Cerrado de Goiás (PARNA Emas e Cristalina); CE SP: Cerrado de São Paulo (São José do Rio Preto); CE MT: Cerrado de Mato Grosso (Nova Xavantina); CE PR: Cerrado do Paraná (Telêmaco Borba, Jaguariaíva e Piraí do Sul); PT: Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Poconé e Corumbá); AM: Floresta Amazônica do Mato Grosso, Pará, Roraima e Amapá (Vila Rica, Belém, Oriximiná, Ilha do Marajó, Caracaraí e Mazagão)...............................................................................................................................................49

Tabela 7. Índices de diversidade molecular gerados por DNAsp 4.0 e Arlequin 3.11 para seqüências de RAG2 (745pb) e iAMELY (583pb) das populações definidas para M. tridactyla. CE MG: Cerrado de Minas Gerais; CE GO: Cerrado de Goiás; CESP: Cerrado de São Paulo; CEMT:Cerrado de Mato Grosso; CE PR: Cerrado do Paraná; PT: Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul..........................................................................................................................................................50

Tabela 8. Resultados da análise de variância molecular (AMOVA) a partir das seqüências de mtDNA, HVI e CytB, juntos. GL= Graus de Liberdade, SQ= Soma dos Quadrados..........................................53

Tabela 9. Resultados da análise de variância molecular (AMOVA) a partir das seqüências de RAG2 e iAMELY. GL= Graus de Liberdade, SQ= Soma dos Quadrados...........................................................53

Tabela 10. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), com exclusão da população oriunda do Pantanal............................................................................................................54

Tabela 11. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), com exclusão das populações CEMG e CEGO.................................................................................................................55

Tabela 12. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), e nucleares (RAG2 e iAMELY) considerando apenas indivíduos que têm todos estes marcadores seqüenciados........................................................................................................................................57

Tabela 13. Valores de diferenciação das populações, φST, e respectivos valores de significância (p<0.05), indicados como significativos (*) ou não (-) na hemimatriz da diagonal superior, calculados pelo Arlequin 3.11 (10100 permutações) para os loci HVI e CytB, considerando as populações definidas por bioma e estado de origem. O método utilizado foi para o calculo de distância entre haplótipos foi diferenças par-a-par......................................................................................................59

Page 9: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

8

Tabela 14. Valores de diferenciação das populações, φST, e respectivos valores de significância (p<0.05), indicados como significativos (*) ou não (-) na hemimatriz da diagonal superior, calculados pelo Arlequin 3.11 (10100 permutações) para o lócus autossômico RAG2 e o íntron AMELY, considerando as populações definidas por bioma e estado de origem. O método utilizado foi para o calculo de distância entre haplótipos foi diferenças par-a-par.......................................................................................................................................................59

Page 10: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

9

LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAAÇÇÕÕEESS

LBEM – Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

HVI – Hipervariável 1

CytB – Citocromo B

RAG2 – Recombination Activation Gene 2

iAMELY – íntron da Amelogenina do cromossomo Y

iPLP – íntron da Polilipoproteína

DNA – Ácido Desoxirribonucleico

mtDNA – DNA mitocondrial

nDNA – DNA nuclear

Vol.- Volume

Ed. – Editores

CEMG – Cerrado de Minas Gerais

CEGO – Cerrado de Goiás

CEMT – Cerrado de Mato Grosso

CESP – Cerrado de São Paulo

CEPR – Cerrado do Paraná

PT – Pantanal

AM – Floresta Amazônica

PCR – Polymerase Chain Reaction

Pb – Pares de bases

KB – quilobases

MJ – Median Joining

F81 – Felsenstein, 1981

PARNA – Parque Nacional

Pop. – população, populações

AMOVA – Análise de Variância Molecular (Analysis of Molecular Variance)

IUCN – International Union for Conservation of Nature

SNP – Single Nucleotide Polymorphism

NT – Near Threatened

VU – Vulnerable

MMA – Ministério do Meio Ambiente

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

CITES – Convention on International Trades in Endengered Species

SISBIO – Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

CGEN – Conselho de Gestão do Patrimônio Genético

D.O.U – Diário Oficial da União

Page 11: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

10

SSUUMMÁÁRRIIOO

1. Introdução ..........................................................................................................................11

1.1. Biologia da conservação e a importância da variação genética .....................................11

1.2. Filogeografia ...................................................................................................................14

1.3. Marcadores moleculares: mtDNA e nDNA .....................................................................16

1.4. A ordem Pilosa: importância histórico-evolutiva .............................................................20

1.5. O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) ........................................................21

2. Objetivos.............................................................................................................................26

2.1. Objetivo geral ..................................................................................................................26

2.2. Objetivos específicos ......................................................................................................26

3. Metodologia........................................................................................................................27

3.1. Amostragem e populações estudadas ...........................................................................27

3.2. Processamento das amostras ........................................................................................31

3.3. Análise dos dados ..........................................................................................................36

4. Resultados .........................................................................................................................39

4.1. Processamento das amostras.........................................................................................39

4.2. Características das seqüências e variabilidade genética de M. tridactyla ......................42

4.3. Estruturação genética em M. tridactyla...........................................................................51

5. Discussão...........................................................................................................................63

6. Conclusão...........................................................................................................................69

7. Referências Bibliográficas..................................................................................................70

Apêndice I...............................................................................................................................85

Apêndice II .............................................................................................................................87

Page 12: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

11

11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

1.1. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA VARIAÇÃO GENÉTICA

A disciplina da conservação biológica surgiu há menos de 30 anos como

resultado de uma preocupação crescente com a crise da fauna e flora que

experimentaram aumentadas taxas de extinção nos últimos séculos. A biologia da

conservação é um novo patamar da aplicação da ciência para problemas

conservacionistas, e aborda, de forma multidisciplinar, a biologia das espécies,

comunidades e ecossistemas que sofrem ou sofreram perturbações por atividades

humanas ou outros diversos fatores. Seu principal objetivo é fornecer as ferramentas

e princípios para a preservação da diversidade biológica (Soulé, 1985). Como área

holística de estudo, reúne perspectivas de diferentes campos do conhecimento

(biogeografia, ecologia, evolução, genética de populações, paleoclimatologia entre

outros) para gerar dados mais completos e amplos das questões ambientais.

Uma das abordagens reconhecidamente úteis para aplicação no manejo da

vida selvagem é a genética de populações, uma vez que a viabilidade em longo

prazo das populações e até mesmo das comunidades depende da persistência da

diversidade genética que mantém seu potencial evolutivo.

Os estudos de viabilidade populacional com dados genéticos e suas

interações com os aspectos demográficos, geográficos e biológicos das espécies

têm crescido consideravelmente no campo da biologia da conservação e se

mostram adequados, em conjunto com estudos ecológicos, para o delineamento de

estratégias de manejo para espécies em risco de extinção (Frankham et al., 2002).

O estudo genético aplicado pode auxiliar o esforço de conservação das espécies de

diversas maneiras. Através de estudos filogenéticos sobre as relações entre táxons

hierarquicamente superiores, pode ajudar a resolver problemas taxonômicos nos

quais os dados morfológicos são contraditórios ou insuficientes (Arnason et al.,

2002; Delsuc et al., 2002; Madsen et al., 2001; Murphy et al., 2001; De Jong, 1998).

Em estudos com táxons mais próximos, dados genéticos ajudam a esclarecer

relações não resolvidas pela sistemática tradicional entre complexos de espécies e

subespécies (Bowen et al., 1991; Garcia-Rodriguez et al., 1998; Delsuc et al., 2003).

Já no nível intra-especifico, através da genética populacional e da filogeografia,

Page 13: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

12

busca-se determinar o grau e a distribuição espacial da diversidade das populações

e identificar aquelas evolutivamente importantes, cuja identidade deve ser

preservada para assegurar a continuação dos processos adaptativos e a evolução

das espécies (Moritz, 1994; Crandall et al., 2002). Além disso, há a facilidade de se

trabalhar com o DNA como ferramenta, que faz do seqüenciamento uma das

técnicas mais usadas para responder questões em diversas áreas da biologia: os

nucleotídeos são as unidades básicas de informação hereditária nos organismos; há

uma relativa facilidade de obtenção de informação sobre processos evolutivos

operando sobre as moléculas e uma grande quantidade de caracteres passível de

ser analisada (Hillis et al., 1996).

De fato, a variação genética é um dos três níveis de biodiversidade

recomendados pela World Conservation Union (IUCN) para ser estudado e mantido

para a conservação da vida silvestre (McNeely et al., 1990). Há duas razões para

esta recomendação: a diversidade genética é necessária para que populações

evoluam em resposta às mudanças ambientais, e os níveis de endogamia estão

ligados diretamente ao valor adaptativo (fitness) populacional.

A destruição e fragmentação de áreas naturais, especialmente florestas

tropicais com alta biodiversidade, está levando à extinção das espécies em uma taxa

muito maior que as taxas naturais de extinção. A conseqüente perda de habitat

reduz a cadeia trófica e o número de especialistas, de espécies de grande massa

corporal, e também afeta negativamente o sucesso reprodutivo e de dispersão, a

taxa de predação e aspectos do comportamento animal que afetam o sucesso de

forrageamento (Fahrig, 2003). À medida que as áreas naturais se tornam menores e

mais fragmentadas, é cada vez mais importante entender a dinâmica evolutiva e

ecológica de pequenas populações para manejá-las efetivamente e preservá-las,

permitindo sua expansão (Lande, 1988). Do ponto de vista da vulnerabilidade das

populações, a qualidade ambiental (os recursos como alimento, nutrientes, abrigo,

sítios de reprodução e espécies que interagem), além do tamanho da área, é um

aspecto muito importante. Muitas populações que vivem restritas a habitats ilhados,

como parques, refúgios e reservas, são incapazes de escapar para outros refúgios

quando o ambiente é deteriorado (queimadas e desmatamento, por exemplo). Como

conseqüência da perda maciça de habitat, a população sofre redução no seu

tamanho e na sua distribuição, o que pode levar à imediata extinção local e também

a uma aumentada vulnerabilidade à extinção estocástica (Gilpin & Soulé, 1986). A

Page 14: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

13

redução populacional como resultado da perda de habitat tem relação íntima com o

decréscimo da variabilidade genética das populações, além de aumentar o risco de

endogamia, que pode levar à depressão endogâmica e conseqüente diminuição do

valor adaptativo populacional. Todas as populações finitas perdem variação genética

como conseqüência da deriva genética e, ao mesmo tempo, podem se tornar

endogâmicas. Há, portanto, uma grande correlação entre tamanho populacional e

heterozigozidade (Reed & Frankham, 2003). O tamanho populacional, todavia, não

diz respeito estritamente ao censo (total de indivíduos) da população, e sim ao

tamanho efetivo (Ne) da mesma, que se refere ao tamanho de uma população ideal

que perderia variação genética na mesma taxa que a perda observada na população

real. Quantidade desigual de machos e fêmeas, variância no tamanho de famílias e

flutuações temporais no tamanho da população são fatores que resultam em um

número efetivo das populações geralmente menor do que seu tamanho real (Lande,

1988). Estudos de populações devem considerar a mínima população viável (MPV),

parâmetro que indica um limite mínimo do Ne, ou um conjunto de limiares

multivariáveis que garantam (com algum risco aceitável) que a população persistirá

em um estado viável por certo intervalo de tempo (Gilpin & Soulé, 1986). A relação

entre o tamanho das populações e a variabilidade genética presente nelas,

previamente registrada em populações experimentais (Briscoe et al., 1992) e de

animais em cativeiro (Soulé, 1980) foi também verificada em populações naturais

(Frankham, 1996 e 1998).

Tanto a variação genética quanto eventos demográficos e ambientais

determinam o destino das populações isoladas. Estima-se que geralmente um

mínimo de 500 indivíduos consiga preservar a diversidade de uma população animal

(Franklin, 1980). Porém, reservas pequenas não sustentam esta quantidade de

mamíferos de grande porte. É provável que mesmo as reservas com mais de 20.000

hectares não sejam grandes o suficiente para sustentar populações viáveis de

espécies de grande tamanho corporal que ocorrem em baixas densidades, como

predadores de topo, grandes herbívoros e insetívoros (como o tamanduá-bandeira).

A magnitude do efeito da massa corporal na densidade populacional varia com a

classe de dieta. Espécies com dietas restritas ocorrem em menores densidades do

que espécies cuja dieta as permite acessar uma variedade maior de recursos

(Redford & Robinson, 1986). Os casos mais extremos de animais com dietas

restritas na ordem Xenarthra são o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o

Page 15: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

14

tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), espécie estudada neste trabalho.

Registros destas espécies têm sido extremamente raros nos últimos tempos

(Chiarello, 2000).

A preocupação com a variabilidade genética é particularmente importante

pelo fato de que espécies ameaçadas têm, tipicamente, níveis menores de

heterozigozidade do que espécies correlatas não ameaçadas. A perda de

variabilidade genética adaptativa coloca populações selvagens em maior risco de

extinção (Frankham, 2005). Dessa forma, o estudo das populações de uma espécie

e suas relações com seu ambiente são essenciais para conhecer a verdadeira

situação do táxon, e avaliar as prioridades de conservação. Para preservar sua

diversidade adaptativa, a população que apresentar melhor a diversidade funcional

dentro da espécie deve ter maior prioridade de conservação (Crandall, 2000). Como

é, na atualidade, extremamente difícil estudar diretamente a variação adaptativa em

populações naturais, são feitos diversos estudos de genética populacional com

marcadores neutros como o DNA mitocondrial ou microssatélites para inferir a

diversidade remanescente em cada população, considerando sua história natural e

distribuição geográfica. A abordagem que avalia em detalhe a genética de

populações em termos históricos e espaciais é chamada de filogeografia, a qual tem

sido bastante utilizada nos últimos anos em populações naturais de espécies

animais e vegetais.

1.2. FILOGEOGRAFIA

A filogeografia é uma área multidisciplinar que aborda dados histórico-

geográficos e componentes filogenéticos da distribuição espacial atual de linhagens

genealógicas, visando compreender a variação estrutural de indivíduos/populações

e, então, reconstruir suas relações filogenéticas e deduzir sua história evolutiva. É

uma disciplina recente (o termo em si foi introduzido por John C. Avise e co-autores,

em 1987) que lida com a interface entre a biologia molecular, genética de

populações, demografia, paleontologia, geografia e história filogenética (Avise,

2000).

Page 16: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

15

A disciplina procura interpretar como os processos históricos e as variações

ambientais (gradientes ou não) ao longo da distribuição de uma espécie tendem a

gerar um padrão de diversidade seja através de seleção natural ou fatores

estocásticos como a deriva genética.

A abordagem filogeográfica lida com as distribuições espaciais dos alelos

cujas relações filogenéticas são conhecidas ou podem ser estimadas. Em estudos

visando à recuperação da biodiversidade, as unidades filogeográficas são

identificadas por marcadores moleculares preferencialmente neutros, pois estes

podem revelar populações com fonte de adaptações divergentes que,

preferencialmente, os conservacionistas devam preservar. Diferentes padrões

filogeográficos podem aparecer quando filogenias intra-especificas são superpostas

com interpretações geográficas, e, segundo Avise et al. (1987), podem ser

agrupados em cinco categorias diferentes cujo significado em termos de eventos

históricos é bastante amplo. São encontrados desde padrões descontínuos que

indicam barreiras ao fluxo gênico extrínsecas de longo prazo, até padrões contínuos

com fluxo gênico extensivo sem barreiras geográficas perceptíveis.

As origens dos padrões disjuntos de táxons ou populações encontrados pelas

análises filogeográficas podem ser fruto de eventos como dispersão ou vicariância.

Sob vicariância, as populações se separaram quando sua distribuição é interrompida

por eventos ambientais, como é o caso de fragmentação de habitat. Após dispersão

as populações atingiram a distribuição atual através do movimento ancestral a partir

de um centro de origem. A análise filogeográfica é capaz de interpretar a

contribuição relativa dos dois tipos de eventos. Populações historicamente isoladas

têm maior probabilidade de apresentarem diferenças em adaptações genéticas

locais porque tiveram maior tempo de exposição às pressões seletivas que sofrem

influência negativa do fluxo gênico (Avise, 2000). Porém, estudos de modelos de

coalescência (evolução reversa) e simulação de avanço no tempo (evolução direta)

mostram que mesmo em populações distribuídas continuamente podem ocorrer

quebras filogeográficas, e essa estrutura resultante pode variar bastante também

entre condições idênticas. A severidade da estrutura filogeográfica observada

depende, além dos padrões de fluxo gênico, tanto da distância média de dispersão

dos indivíduos em cada geração, quanto do número de indivíduos da espécie (Irwin,

2002).

Page 17: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

16

Através de um relógio molecular (resultado da observação de que a

divergência de seqüências entre espécies aumenta em uma taxa aproximadamente

linear ao longo do tempo), as divergências entre clados podem ser datadas, visando

entender o motivo da quebra filogeográfica através da relação temporal com eventos

da paleogeografia/paleontologia (Hedges & Kumar, 2003). Para histórias mais

antigas, marcadores de evolução mais lenta devem ser usados, enquanto para

histórias recentes, de milhares de anos apenas, marcadores mais variáveis e de

evolução mais rápida são requeridos (Emerson & Hewitt, 2007).

As relações preditas têm sido observadas, estudadas e amplamente

documentadas (especialmente em vertebrados) por Avise e seu grupo de pesquisa

durante as últimas três décadas (Avise et al.,1987; Avise, 1989, 1994, 2000).

Estudos filogeográficos de populações e espécies de mamíferos são concentrados

na fauna do Paleártico e do Neártico (Avise, 2000). Mais recentemente, estudos

filogeográficos sobre espécies de mamíferos neotropicais começaram a ser

realizadas, como trabalhos do grupo de pesquisa de J.L. Patton com pequenos

mamíferos (Patton et al., 1994, 1996; Patton & DaSilva,1997) e de nosso grupo de

pesquisa com mamíferos aquáticos (Vianna et al.,2007; Garcia et al.; 2007) e

morcegos (Redondo et al.; 2008), porém são ainda poucos os trabalhos realizados

com espécies de mamíferos terrestres neotropicais de médio e grande porte.

1.3. MARCADORES MOLECULARES: MTDNA E NDNA

O DNA mitocondrial (mtDNA) é amplamente utilizado em estudos

filogeográficos devido às suas características moleculares e evolutivas, além de sua

monofilia enquanto constituinte de organelas da célula eucariótica (Saccone et

al.,2000), que resulta em seqüências de mtDNA de diversos organismos

estritamente ortólogas, permitindo uma abordagem filogenética universal. As

principais razões para o uso deste marcador estão a seguir.

A molécula é distinta entre espécies, porém ubiquamente distribuída (o que

permite comparação entre a grande variedade de organismos). Em animais, o

mtDNA é uma molécula pequena, circular, covalentemente fechada com cerca de

16-20 quilobases. Está organizada em 37 genes e uma área chamada D-loop (alça-

Page 18: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

17

D) ou Região Controle, que exerce controle sobre a replicação do mtDNA e a

transcrição do RNA, mas não é codificante. Em geral, nos vertebrados, as duas fitas

diferem no conteúdo de bases, o que resulta numa fita “leve” (L) com maior

conteúdo de pirimidinas, e outra relativamente “pesada” (H), com maior conteúdo de

purinas (Saccone et al., 2000; Baker & Marshall, 1997).

É um genoma fácil de isolar, que está presente em todas as células em

grande quantidade de cópias; tem estrutura genética simples, ausência de DNA

repetitivo, elementos de transposição, pseudogenes e íntrons. Exibe modo direto de

transmissão genética, sem recombinação ou outros rearranjos genéticos. Grande

parte das mudanças genéticas é constituída por simples substituições de base ou

pequenas deleções ou adições. Além disso, evolui em uma taxa mais rápida, de 1-

10 vezes maior que o DNA nuclear (nDNA) de cópia única, o que permite que novos

caracteres possam emergir rapidamente com o passar de poucas gerações em uma

espécie (Avise et al., 1987).

A característica mais importante deste genoma para a filogeografia é sua

forma de herança: o mtDNA tem herança estritamente materna e virtualmente

haplóide nos animais. Portanto, ao contrário do nDNA, as mutações no DNA

mitocondrial que aparecem em diferentes indivíduos não sofrem recombinação

durante a reprodução sexual, e representam haplótipos da linhagem estudada. Por

esta razão, quando se estuda um genótipo de mtDNA os organismos individuais

podem ser considerados a unidade taxonômica operacional básica (do inglês,

Operational Taxonomic Unit – OTU) em uma reconstrução filogenética, o que é

bastante apropriado para estudos intra-específicos (Blaxter, 2005). Além disto, o

tempo de coalescência dos alelos de loci mitocondriais é menor do que o tempo de

coalescência dos alelos no DNA nuclear, por estar associado a menores tamanhos

efetivos da população (Moore, 1995). Assim, a alta taxa de substituição e um menor

tempo de coalescência dos alelos, fazem com que esta molécula seja de especial

utilidade na comparação e estudo das relações entre grupos cuja divergência é

recente (congenéricos e co-específicos) (Avise et al., 1987; Avise, 2000;

Moore,1995).

Entre os genes e regiões da molécula de mtDNA, alguns se mostram mais

apropriados para marcadores intra-específicos por apresentarem mais polimorfismos

e serem mais bem estudados. Dentre eles a região Hipervariável I da D-loop (HVI) é

uma das mais usadas. A D-loop é o maior segmento não codificante do DNA

Page 19: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

18

mitocondrial animal, e varia de 800 a 1600 pares de bases nos mamíferos. Apesar

de sua importância funcional, esta região é a parte que evolui mais rapidamente de

toda a molécula, e acumula substituições de bases em uma taxa consideravelmente

mais alta do que do DNA nuclear de cópia única (Brown, 1986). Dados indicam uma

alta taxa de substituição na área, aproximadamente uma em cada 33 gerações para

humanos. Estas observações indicam uma segregação extremamente rápida de

variantes de mtDNA ao longo das gerações (Parsons et al., 1997). Outra região

bastante utilizada é o gene do Citocromo b (Cytb). Este gene com cerca de 1200 pb

codifica para uma das mais bem conhecidas proteínas do complexo oxidativo

mitocondrial, sem aparentes diferenças de tamanho entre espécies, e demonstra ser

útil para resolver problemas filogenéticos entre mamíferos. Estudos demonstram que

linhagens de menos 15 milhões de anos podem ser identificadas com grande

certeza (Irwin et al., 1991). O marcador também apresenta vários polimorfismos,

ainda que em menores taxas quando comparado à região D-loop, pois as

substituições estão atreladas às restrições funcionais da proteína, mas é útil para

ajudar a estabelecer relações interespecíficas próximas, ou ainda intra-especificas

(Johns & Avise, 1998).

Apesar das inúmeras razões para o uso do mtDNA como marcador para

estudos populacionais intra-específicos, é necessário reconhecer algumas de suas

limitações como tal, a fim de compreender melhor os resultados dos padrões

filogeográficos encontrados. Como molécula citoplasmática, pode raramente ocorrer

heteroplasmia (condição na qual dois ou mais genótipos coexistem em um indivíduo)

na amostra, além de ser um marcador suscetível à homoplasia, fenômeno atribuído

a substituições transitórias de bases em alguns sítios (recorrência) ou a mudanças

evolutivas convergentes ou paralelas. A saturação mutacional (substituições

cumulativas recorrentes que levam à perda de informação da molécula,

principalmente em comparações de relações evolutivas antigas) também pode

comprometer a confiabilidade dos resultados. Não obstante, o genoma mitocondrial

sofre mais os efeitos da deriva genética e de flutuações demográficas, uma vez que

tem o tamanho efetivo reduzido em quatro vezes em relação ao nDNA (Ballard &

Whitlock, 2004). Por estas razões, a utilização de mais de um tipo de marcador

fornece uma melhor resolução filogenética e filogeográfica.

A abordagem multiloci é cada vez mais freqüente em estudos evolutivos, e

tem sido feita com marcadores de origem nuclear, os chamados SNPs (do inglês,

Page 20: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

19

Single Nucleotide Polymorphism). Como os SNPs são sabidamente abundantes e

espalhados pelo genoma de muitas espécies (tanto codificante, quanto não-

codificante), e evoluem de forma bem descrita por modelos de mutação simples, seu

uso em ecologia, evolução e conservação tem aumentado muito, inclusive nos

estudos de filogeografia (Morin et al., 2004). Considerando o nDNA, um fragmento

de propriedades interessantes para o estudo filogeográfico é o cromossomo Y. Este

compreende uma pequena região pseudo-autossômica que recombina com o

cromossomo X, e uma grande região haplóide que, de vários modos, se comporta

como o mtDNA. Ao contrário de loci autossômicos ou específicos de cromossomo X,

ambos mtDNA e a parte não-homóloga ao X do cromossomo Y não sofrem

recombinação. Portanto, todos os polimorfismos em uma molécula mitocondrial ou

no cromossomo Y compartilham a história da linhagem materna ou paterna,

respectivamente. Além destas características em comum, o cromossomo Y tem

algumas propriedades interessantes se comparado à mitocôndria. Primeiramente, o

Y é transmitido através da linhagem germinativa e está presente em todas as

células. Devido à degeneração do cromossomo Y dos mamíferos, a seleção natural

pode simplesmente não operar, ou operar tão fracamente ou apenas como uma

seleção purificadora que é dificilmente detectável. Pelo seu pequeno tamanho

efetivo, os genes do cromossomo Y são também muito sensíveis à deriva genética.

Polimorfismos Y-específicos devem, portanto, ser mais afetados por eventos

histórico-demográficos recentes, tais como gargalos de garrafa populacionais,

efeitos de fundador, ou expansões demográficas passadas (Petit et al., 2002).

Para uma aplicabilidade forte e ampla da abordagem filogeográfica é

necessária a habilidade de incorporar loci de fontes diferentes (nuclear autossômico,

nuclear ligado ao sexo para esclarecer diferenças históricas e demográficas entre os

sexos, e DNA mitocondrial). O primeiro marcador escolhido para uma análise

filogeográfica continua sendo o DNA mitocondrial para caracterização da estrutura

populacional, testando sua monofilia ou inferindo o fluxo gênico maternal. Estudos

deste tipo utilizam de forma complementar dados nucleares para corroborar os

resultados iniciais baseados em loci citoplasmáticos (Hare, 2001).

Page 21: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

20

1.4. ORDEM PILOSA: IMPORTÂNCIA HISTÓRICO-EVOLUTIVA

A ordem Pilosa, antiga infra-ordem de Xenarthra (esta foi elevada a magna-

ordem em 1997 por McKenna e Bell), e recentemente desmembrada da mesma

(Gardner, 2005) faz parte de uma das quatro linhagens basais de placentários que

englobam as ordens atuais de mamíferos eutérios (Springer et al., 2004). O grupo é

composto por duas grandes linhagens que correspondem a morfotipos distintos: as

preguiças arbóreas (Folivora: Megalonichidae e Bradypodidae), e os tamanduás

(Vermilingua: Myrmecophagidae). Os tatus (Cingulata: Dasypodidae) fazem parte da

ordem Cingulata, também antiga infra-ordem de Xenarthra (Fig. 1). Folivora e

Vermilíngua são sub-ordens de Pilosa, que possui uma extensa pelagem ao invés

de uma carapaça (como os tatus), e constitui grupo irmão de Cingulata (Engelmann,

1985). Todos os integrantes de Pilosa são endêmicos da América do Sul.

Figura 1 – Representantes dos três grandes grupos da magna-ordem Xenarthra (esquerda para direita): ordem Cingulata (tatus) e ordem Pilosa (tamanduás e preguiças, respectivamente). Fotos: Grzimek G., Animal Life Encyclopedia Vol.13.

A radiação evolutiva da magna-ordem Xenarthra ocorreu entre o período do

Paleoceno e o Eoceno, há cerca de 65 milhões de anos atrás, em uma época em

que a América do Sul estava isolada das outras massas continentais (Patterson &

Pascual, 1972). Ao todo, 31 espécies atuais de Xenarthra (21 tatus, 4 tamanduás e 6

preguiças) foram descritas (Anderson & Handley, 2001), o que representa apenas

um vislumbre de sua diversidade fóssil que englobava mais de 218 gêneros

reconhecidos (McKenna & Bell, 1997). A magna-ordem ainda era bastante

diversificada no Pleistoceno, quando a maioria dos gêneros se extinguiu há 10.000

anos, possivelmente pelo impacto humano (Fariña, 1996). Embora haja

controvérsias, seu registro fóssil parece ser restrito ao continente americano (Delsuc

et al., 2001).

Page 22: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

21

A monofilia da ordem é classicamente reconhecida. Todos os pilosos fósseis

e viventes exibem uma redução dental e perda do esmalte dentário, até o extremo

caso dos tamanduás que são desdentados. Uma sinapomorfia morfológica exclusiva

de da magna-ordem Xenarthra é a presença de “xenarthria”, constituída por

articulações atípicas adicionais entre as vértebras (Engelman, 1985).

Do ponto de vista molecular, a monofilia dos xenarhtros é fortemente apoiada

por uma deleção de três aminoácidos consecutivos na proteína αA-cristalina das

lentes do cristalino (Van Dijk et al., 1999), característica única entre os mamíferos

eutérios estudados. Além disso, dados de DNA mitocondrial e nuclear (Delsuc et al.,

2001) e de marcadores de elementos de retroposição (Möller-Krull et al., 2007)

confirmaram sua monofilia.

McKenna, em 1997, propôs que o grande grupo Xenarthra seria grupo irmão

de todos os outros clados de mamíferos, e deve, portanto, ser usada para enraizar

filogenias de eutérios. Entretanto, outros pesquisadores propuseram uma relação

cladística próxima entre Xenarthra e Afrotheria, sendo esta a primeira dicotomia na

árvore Mammalia, associada à separação geológica do supercontinente Gondwana,

seguido pela dispersão dos ancestrais dos outros clados (Glires e Laurasiatheria)

para o supercontinente boreal Laurasia (Murphy et al., 2001). Outros trabalhos

corroboram a hipótese e a colocam em discussão (Hallström et al., 2007; Svartman

et al., 2006), porém um resultado conclusivo ainda não foi alcançado. A magna-

ordem Xenarthra, e a ordem Pilosa são, portanto, de importância crucial para o

entendimento da filogenia dos mamíferos, e de enorme importância histórico-

evolutiva, grupo relevante para a conservação da diversidade filogenética dos

eutérios. Um conhecimento mais amplo da organização genômica, função e

evolução dos mamíferos deverá ser alcançado com a aplicação de larga-escala de

análise genômica deste grupo.

1.5. O TAMANDUÁ-BANDEIRA (MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA)

O tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla, pertence à família

Myrmecophagidae da infra-ordem Vermilingua (animais com língua fina e alongada)

Page 23: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

22

(Engelman, 1985). Tem adaptações especializadas para a mirmecofagia como perda

de dentes, língua extremamente alongada e protátil, grandes glândulas salivares

produtoras de muco que auxiliam na captura das presas e garras desenvolvidas

(Naples, 1999). É a maior das quatro espécies de tamanduá existentes, podendo

atingir 39 kg e ocupa uma grande variedade de habitats, desde florestas aos campos

limpos do Cerrado (Redford & Eisenberg, 1992). É, porém, o único representante da

família que está listado na IUCN como quase-ameaçado (NT) (Porini et al., 2006;

IUCN, 2008; www.redlist.org), embora já tenha sido classificado como vulnerável

(VU) no passado (Baillie & Groombridge, 1996). A espécie é distribuída desde o

Panamá até o sul do Brasil e nordeste da Argentina (Fig. 2), embora tenha maior

densidade (apesar do crescente declínio observado) nas áreas do Cerrado brasileiro

(Edentate Specialist Group, 1996, Messias-Costa et al., 2001), bioma que

atualmente se encontra em processo acelerado de deterioração devido ao avanço

da fronteira agropecuária, principalmente com o aumento do cultivo de soja e, mais

recentemente, dos canaviais (Ratter et al., 1997). O bioma já é considerado um

hotspot prioritário para conservação mundial, restando apenas 20% de sua

vegetação primária original (Myers et al., 2000).

Figura 2 – Área de ocorrência de Myrmecophaga tridactyla. Mapa: Fonseca & Aguiar, 2004.

O tamanduá-bandeira se encontra globalmente em declínio principalmente

devido à degradação dos biomas em que vive pelo desmatamento e uso do solo

para agricultura e pecuária, fato que é agravado pelas queimadas de origem

Page 24: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

23

antrópica. Apesar da ampla distribuição, são poucas as áreas onde é possível

observá-lo com maior freqüência, sendo desconhecido seu status na maior parte da

sua área de ocorrência (Fonseca et al., 1994). Já é reconhecida sua extinção

pontual em alguns países, como Belize, Nicarágua, Guatemala e Uruguai (Fallabrino

& Castiñeira, 2006), e, no Brasil, em alguns estados (como o Espírito Santo), que

possuem apenas espécimes de museu, com registro de última ocorrência natural

remontando há décadas (Lorenzutti & Almeida, 2006), além de ser considerado

provavelmente extinto no estado do Rio de Janeiro (Bergallo et al., 1998). Por isso, a

espécie consta também na lista nacional de espécies ameaçadas elaborada pelo

Ministério do Meio Ambiente (MMA) e IBAMA, considerada vulnerável em 19 estados

brasileiros, dentre eles Minas Gerais (IBAMA, 2003)

(http://www.ibama.gov.br/fauna/extincao.htm), além de estar listado no Apêndice II

da CITES (www.cites.org).

Além do habitat impactado, aspectos comportamentais e peculiaridades

biológicas também contribuem para o declínio populacional da espécie (Redford &

Einsenberg, 1992), como o hábito de forragear formigas e cupins, fontes alimentares

de pouco valor nutritivo, que o deixa dependente da sua densidade no ambiente,

resultando em uma baixa taxa metabólica Além disso, não fazem distinção entre

presas e detritos. Inclusive, a distribuição e abundância de presas podem determinar

a distância movida pelos tamanduás por período de atividade, influenciando dessa

forma sua área de vida em diferentes locais (Eisenberg, 1989). É estimado que sua

taxa basal metabólica chegue a apenas 34% da esperada para sua massa corporal

(McNab, 1985), e que seus pêlos tenham um papel importante no seu isolamento

térmico (Rosa, 2007). A gestação das fêmeas é lenta (até 180 dias) e dá a luz a um

único filhote de cada vez, que a mãe carrega nas costas até idade aproximada de

nove meses. São animais de hábito noturno (Eisenberg, 1989), atividade que

predomina em ambientes mais quentes, como o Brasil central. Possui hábito

solitário, o que os torna mais suscetíveis à caça antrópica. Modificações fisionômicas

da vegetação com prováveis alterações das comunidades de térmitas e formigas

utilizadas como alimento, a caça predatória e ataque de cães são alguns fatores que

contribuíram para rarefação de suas populações. O comportamento do animal

facilita a caça predatória, pois não é agressivo, é lento e tem sentidos da visão e

audição pouco desenvolvidos, permitindo aproximação fácil (Montgomery & Lubin,

1977). A área de vida estimada para os machos é de 4 a 7,4 km2, e das fêmeas

Page 25: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

24

cerca de 12 km2 (estimativa quase sempre maior que dos machos), mas estas áreas

podem estar subestimadas, e estudos mais detalhados devem ser feitos (Medri,

2005; Miranda, 2004b; Shaw et al. 1987)

Figura 3 – Diversos aspectos do tamanduá-bandeira no Cerrado brasileiro. Fotos: Grzimek G., Animal Life Encyclopedia Vol.13.

Soma-se a isto o fato de que o tamanduá-bandeira é uma das espécies mais

prejudicadas pelo alastramento de fogo em campos, pastagens e parques naturais

(PARNA das Emas e da Serra da Canastra) por sua pelagem altamente inflamável

(Silveira et al., 1999), além de ser um dos animais com alto registro de

atropelamento em estradas (Casella et al., 2006), fator o qual se acredita ter um

impacto negativo sob as populações (Mikich & Bernils, 2004). É também uma das

principais presas de carnívoros (Silveira, 1999). É agravante ainda a dificuldade da

sua criação e reprodução em cativeiro (Miranda, 2004a), onde são relatadas

diversas complicações de saúde na espécie (Diniz et al., 1995).

Poucos estudos genéticos foram feitos com o tamanduá-bandeira: em Garcia

et al., 2005, seis loci de microssatélite dinucleotídeos foram isolados para a espécie,

e em Colevatti et al., 2007 estes mesmos loci foram analisados para duas

populações de tamanduá-bandeira, uma proveniente do Parque Nacional da Serra

da Canastra e outra do Parque Nacional das Emas, para as quais foram

encontrados índices significativos de endogamia. Apesar destes estudos locais, sua

diversidade genética ainda não é conhecida em nível nacional. Atualmente

encontram-se 138 seqüências da espécie no GenBank

(www.ncbi.nlm.nih.gov/Genbank), mas estas se referem aos estudos acima ou a

estudos de filogenia da ordem Xenarthra. É possível, portanto, que esteja sendo

desconsiderada a importância da sua diversidade genética e possível grau de

estruturação populacional, uma vez que não há estudos amplos com esta espécie

nessa categoria, mas somente a análise de algumas populações locais. Ao analisar

a estrutura e diversidade genética das populações remanescentes de tamanduá-

Page 26: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

25

bandeira, será possível inferir a real situação de risco genético, bem como sugerir

estratégias de manejo mais adequadas a médio e longo prazo. Este estudo visa

contribuir com uma parcela para a adequação dos planos de manejo à espécie

referida.

Page 27: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

26

22.. OOBBJJEETTIIVVOOSS

2.1. OBJETIVO GERAL

Caracterizar, através de marcadores moleculares mitocondriais e nucleares, a

diversidade genética da espécie Myrmecophaga tridactyla no Brasil e delinear o

espectro dessa variação ao longo da sua distribuição geográfica, contribuindo para o

esclarecimento do seu status de conservação.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2.2.1. Padronizar e seqüenciar diferentes loci do mtDNA e nDNA nos diferentes

indivíduos;

2.2.2. Caracterizar haplótipos/genótipos a diversidade de populações brasileiras de

Myrmecophaga tridactyla com marcadores mitocondriais e nucleares;

2.2.3. Avaliar diferentes parâmetros de diversidade genética intra-populacional e

divergências inter-populacionais;

2.2.4. Estudar o padrão filogeográfico que caracterize a distribuição espacial das

linhagens em populações de M. tridactyla;

2.2.5. Identificar populações/áreas prioritárias para conservação da espécie que

possam constituir unidades distintas evolutivamente e requeiram manejo

diferenciado, ou que funcionem como redutos de diversidade para a espécie.

Page 28: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

27

33.. MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA

3.1. AMOSTRAGEM E POPULAÇÕES ESTUDADAS

As amostras utilizadas neste estudo foram obtidas através de parcerias ou

colaborações com pesquisadores e instituições que têm uma rotina ativa de trabalho

de campo com enfoque ecológico. Também foram utilizados tecidos provenientes de

carcaças de bichos que sofreram atropelamento nas estradas, geralmente ao redor

de unidades de conservação. Todas as amostras recebidas foram mantidas em

álcool etílico absoluto, em tubos de microcentrífuga de 1,5 ml ou tubos falcon de 15

ml, quando a quantidade de tecido era grande. O tipo de amostra variou entre

tecidos de pele, músculo, osso, sangue e pêlo. A identificação das amostras foi feita

primeiramente por identidade provisória dada pelo coletor, acoplada a informações

como data da coleta, nome do coletor e local de captura ou recolhimento do animal

(quando for o caso). Alguns indivíduos foram provenientes da coleção

mastozoológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, como especificado em tabela do

anexo 1. Todo material biológico foi mantido em condições padrão de refrigeração

antes e depois do processamento das amostras.

Todas as amostras têm autorização para atividade com finalidade científica

emitida pelo SISBIO/IBAMA sob número 15052-1.

Ao todo, foram reunidas amostras de 77 indivíduos distribuídos em 9 estados

brasileiros, a saber: Minas Gerais (MG), Goiás (GO), São Paulo (SP), Mato Grosso

(MT), Mato Grosso do Sul (MS), Paraná (PR), Pará (PA), Roraima (RR) e Amapá

(AP).

A partir de dados de distância geográfica (inferida pelas coordenadas

geográficas dos indivíduos), e dos biomas nos quais os mesmos estão inseridos,

foram definidas populações de estudo, como descritas a seguir e demonstradas no

mapa (fig. 4):

(1) População do Cerrado de Minas Gerais (CEMG):

Esta população é composta por 21 indivíduos distribuídos em 5 municípios

dos Estado de Minas Gerais (Araxá, Uberlândia, Piumhi, Dores do Indaiá,

Page 29: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

28

Doresópolis), e uma unidade de conservação, o Parque Nacional da Serra da

Canastra, que engloba mais de um município. Todas as localidades estão dentro de

três microrregiões do estado, cujas extremidades se distanciam por 280 km. A

geografia do local varia da borda da Mata Atlântica, no PARNA Canastra, para

regiões de vegetação de cerrado e formações de serras no restante de sua

extensão. A maioria dos indivíduos desta população é oriunda do PARNA Serra da

Canastra, onde são observadas as maiores densidades da espécie no Brasil, com

cerca de 1-2 indivíduos/km2 (Shaw et al., 1985).

Page 30: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

29

Figura 4 – Mapa com distribuição e localização dos pontos coletados. As cores dos quadrados referem-se ao texto descritivo de cada população, de acordo com seu Estado, sendo: azul claro (Cerrado de Minas Gerais, CEMG); azul escuro (Cerrado de Goiás, CEGO); cinza (Cerrado do Paraná, CEPR); rosa (Cerrado de São Paulo, CESP); laranja (Cerrado do Mato Grosso, CEMT); vermelho (Bioma Pantanal, PT) e verde (Bioma Floresta Amazônica brasileira, AM). A área sombreada de verde representa a atual extensão do bioma Cerrado brasileiro. Mapa confeccionado pelo programa ArcView..

Page 31: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

30

(2) População do Cerrado de Goiás (CEGO):

Esta população é composta majoritariamente por indivíduos do Parque

Nacional das Emas, totalizando 28 indivíduos. Ambiente inteiramente de cerrado, o

PARNA Emas tem aproximadamente 1.333 km2 (Miranda, 2004b) Também foi

incluído nesta população, um indivíduo do município de Cristalina.

(3) População do Cerrado de São Paulo (CESP):

Indivíduos coletados no município de São José do Rio Preto, região de

cerrado e cerradinho, compõem esta população de 6 indivíduos.

(4) População do Cerrado do Mato Grosso (CEMT):

Esta população é composta por 4 indivíduos coletados nos arredores do

município de Nova Xavantina, sudeste do Mato Grosso, região predominante de

vegetação de Cerrado, divisa com o início da vegetação de floresta, típica de região

amazônica. Segundo estudo realizado na reserva indígena dos Xavantes nas

adjacências locais, próximo ao Rio das Mortes (Leeuwenberg, 1997), o tamanduá-

bandeira é freqüentemente caçado pelos índios como recurso primário, e há uma

preocupação dos mesmos com a sustentabilidade da população do animal devido à

caça extensiva. Há estimativas de que, dentro de apenas 2.200 km2, uma média de

120 tamanduás são abatidos por ano. Esta população local pode estar sofrendo

declínio acelerado, como indicam os dados coletados.

(5) População do Cerrado do Paraná (CEPR):

População composta por 5 indivíduos oriundos de três municípios do estado:

2 de Jaguariaíva, onde há o Parque Estadual do Cerrado de Jaguariaíva, 1 de Piraí

do Sul, distanciados entre si por apenas 39 km, e 2 de Telêmaco Borba, onde há um

pequeno fragmento remanescente de Mata Atlântica, mas em sua maioria já exibe

uma gradativa savanização. Neste estado já existe uma preocupação com o declínio

observado da espécie e com a sustentabilidade de suas populações nos campos

sulinos (Braga, 2003).

(6) População do Pantanal (PT):

Algumas localidades de municípios e unidades de federação diferentes foram

agrupadas para compor esta população, que representa os indivíduos da

amostragem originários do bioma Pantanal. São dois indivíduos de Corumbá, Mato

Grosso do Sul, região do chamado “baixo Pantanal” (Pantanal sul mato-grossense),

Page 32: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

31

e três indivíduos do município Poconé, Mato Grosso, do “alto Pantanal” (centro-sul

mato-grossense). As localidades se distanciam por cerca de 300 km. No Pantanal os

sítios de Nhumirim (em Corumbá) e Poconé foram amostrados neste estudo, locais

onde já foi documentado a ocorrência da espécie (Alho & Lacher, 1991). Como o

Pantanal é rodeado a leste pelo Cerrado, e formado com uma mistura de elementos

destes dois biomas acrescidos da Floresta Amazônica, é interessante avaliar a

diversidade entre os indivíduos que ocorrem lá e sua relação com os outros biomas.

Observações de campo apontam para um declínio da população do Pantanal

principalmente devido ao grande volume de atropelamentos nas rodovias ao redor.

(7) População da Floresta Amazônica (AM):

Esta população é composta por indivíduos procedentes de localidades onde o

bioma da Floresta Amazônica é predominante. Ao todo foram coletados 8 indivíduos,

distribuídos entre os estados Pará, Amapá, Roraima, todos cedidos pelo Museu

Paraense Emílio Goeldi, além de um indivíduo do Mato Grosso, Vila Rica.

3.2. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

Extração de DNA

A extração do DNA genômico foi realizada utilizando protocolo padrão para

extração de tecido/sangue por digestão com Proteinase K (20mg/ml), seguida de

purificação com fenol:clorofórmio e precipitação com álcool isoamílico (Sambrook et

al.,1989). Para extração de fragmentos de osso foi utilizado protocolo modificado de

Holland et al. (2003), em conjunto com kit de extração de DNA, conforme

recomendação do fabricante (DNA Tissue Kit Quiagen®). Os procedimentos

mencionados se encontram detalhados na página do laboratório, disponível no

endereço de rede http://www.icb.ufmg.br/lbem/protocolos. O DNA obtido foi

quantificado em gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídio (1µl/100ml),

onde foi verificada a qualidade e quantidade do produto. A concentração do DNA foi

medida pelo método de fluorescência com kit Qubit Quant-it DNA Assay®,

Invitrogen. Após diluição e estocagem em geladeira (4°C) das amostras de trabalho,

Page 33: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

32

o restante foi registrado com número específico de banco de mamíferos e estocado

em freezer (-70°C) do banco de DNA do Laboratório de Biodiversidade e Evolução

Molecular (LBEM), registrado como Fiel Depositário do patrimônio genético no

CGEN/MMA sob o processo 02000.002032/2003-26 (publicado no D.O.U. em 14 de

Janeiro de 2004). As amostras cujo DNA revelou-se escasso ou degradado foram

depositadas em banco alternativo e mantidas com sua identidade provisória.

Amplificação por PCR

Após o processamento das amostras, foram usados iniciadores (primers) já

existentes no laboratório, específicos para espécies de Xenarthra, ou retirados de

outros trabalhos da literatura, para a amplificação por PCR (Polymerase Chain

Reaction).

Foram amplificados dois loci do mtDNA, o locus Hipervariável I (HVI) da

região controle, e o primeiro terço do gene Citocromo B (CytB), como mostrado na

figura 5. A seqüência dos primers utilizados para estes marcadores estão na tabela

1.

Tabela 1 – Seqüências, denominações e quantidade de pares de bases amplificados (Pb) dos primers para loci mitocondriais utilizados neste estudo.

Conjuntos de Primers

Região Foward (Direto) Reverse (Reverso) Pb Referência

HVI BrDiL

5'ATGACCCTGAAGAAAGAACCA3’

BrDiH

5'CCCAAAGCTGAAATTCTACTTAAACTA3’ 380

Arnason et al., 1997;

Douzery et al., 1997.

HVI ProL

5'ATTACACTGGTCTTGTAAACC3’

H16498

5'CCTGAAGTAGGAACCAGATG 3' 400

Lara-Ruiz et al.,

2008; Ward et al.,

1991.

CytB XL14733

5'CACCTACTATTCCTCCACGAAACAGG3'

CYTB-H

5' TGGTTTACAAGACCAGTGTAAT 3' 500

Lara-Ruiz et al.,

2008.

CytB CYTB-L

5'CCATGAGGACAAATATCATTCTGAGG3'

CYTB-H

5' TGGTTTACAAGACCAGTGTAAT 3' 730

Lara-Ruiz et al.,

2008.

A reação de amplificação dos fragmentos acima citados foi realizada em

volume final de 15 µl, sendo 2 µl de DNA genômico, e 13 µl de pré-mix composto por

Page 34: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

33

Pro-L

BrDi-L

BrDi-H

CytB-L

CytB-H

XL14733

H16498

Pro-L

BrDi-L

BrDi-H

CytB-L

CytB-H

XL14733

H16498

CytB-L

CytB-H

XL14733

H16498

tampão 10X (TrisKCl-MgCl2), 200 µM de dNTPs, 0,5 µM de cada primer e 1

unidade/tubo de Taq polimerase. O programa de ciclagem utilizado consistiu em um

passo de desnaturação a 94°C por 3’ seguido de 35 ciclos de 94°C por 30", 50°C por

30” e 72°C por 3’, e um passo final de extensão a 72°C por 10’.

Figura 5 – Posições relativas de anelamento dos primers utilizados de acordo com a organização mitocondrial. RC, região controle; CytB, Citocromo B; Glu, Glutamato; Thr, Treonina; Phe, fenilalanina; Val, Valina.

Foram utilizados também três loci do nDNA: uma parte intrônica do gene da

Amelogenina (iAMELY) ligado ao cromossomo Y; parte de um íntron do gene da

Polilipoproteína (iPLP) do cromossomo X, e o gene autossômico de ativação da

recombinação (Recombination Activation Gene – RAG2), presente no cromossomo

11 humano. Todos os primers usados para amplificação destes segmentos foram

retirados da literatura, conforme especificado na tabela 2.

Page 35: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

34

Tabela 2- Seqüências, denominações e quantidade aproximada de pares de bases amplificados (Pb) dos primers para loci nucleares utilizados neste estudo.

Conjuntos de Primers

Região Foward (Direto) Reverse (Reverso) Pb Ref.

iAMELY AMELY-F2

5’ AGCGTTTCTCAAATCGTTCAAT 3’

AMELY-R2

5’GGTGAGATACAGAGAATCACATTTACTT 3’ ~1500

Roca et

al., 2007.

iPLP PLP-F3

5’CCAGGACTATGAGTATCTCATCAATGT 3’

PLP-R3

5’ CTGACCCTTCAGAGATGCTACCT 3’ ~500

Roca et

al., 2007.

RAG2 RAG2-F220

5’ GATTCCTGCTAYCTYCCTCCTCT 3’

RAG2-R995

5’ CCCATGTTGCTTCCAAACCATA 3’ 665

Teeling et

al., 2000.

Para os fragmentos nucleares, a reação de amplificação teve um volume final

de 10 µl, sendo 1 µl de DNA genômico e 9 µl de pré-mix composto por tampão 10X

(TrisKCl), solução de MgCl2 1,5mM, 200 µM de dNTPs, 0,5 µM de cada primer e 0,5

unidade/tubo de Taq Platinum® Invitrogen. Modificações pontuais foram necessárias

ao decorrer dos experimentos, como alterações nas concentrações dos reagentes

acima citados, principalmente do DNA, e adição de adjuvantes à reação, como

albumina de soro bovina (Bovine Serum Albumine – BSA) a 10mg/ml e gelatina 1%,

visando maior eficiência e especificidade da PCR.

Para os marcadores iAMELY e iPLP foi utilizado um programa de ciclagem

touchdown, com um início hotstart a 95°C por 9’45”, 5-10 ciclos com passo inicial de

desnaturação a 94° por 15”, anelamento a 49-54°C por 30”, extensão a 72°C por

1’20”, e uma extensão final a 72°C por 3’. Para RAG2 o programa é iniciado com

um passo a 95°C por 5’, 35 ciclos de 95°C por 30”, 57°C por 30” e 72°C por 1’20”,

com extensão final de 72°C por 9’.

A visualização dos produtos amplificados foi feita em gel de agarose 0,8%

corado com brometo de etídio (1 µl/100 ml), conferindo a eficiência da reação de

PCR, o tamanho da banda amplificada (através de padrão molecular DNA Ladder 1

Kb Plus®, Invitrogen) e a presença/ausência de produtos inespecíficos ou de

contaminação. Para tanto, todas as reações foram acompanhadas de controle

negativo (branco).

Posteriormente, os amplicons foram submetidos à purificação de nucleotídeos

não incorporados e de bandas menores que 300 pb através de protocolo de limpeza

Page 36: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

35

com Polietilenoglicol (solução de PEG 20% e NaCl 2,5 M), e, finalmente, submetidos

ao processo de seqüenciamento automático.

O gene AMELY, encontrado no cromossomo Y, está situado na região

haplóide ou não-recombinante, mas possui um homólogo no cromossomo X.

Portanto, o gene localizado no X, denominado AMELX, é similar em estrutura e

função, porém com uma expressão mais ativa na do seu produto, o esmalte do

dente que deve estar inativo nos tamanduás. O par de primers usado na

amplificação deste fragmento foi desenhado especificamente para o Y, porém, para

garantir que o homólogo não seria amplificado em nenhum indivíduo (amplificação

cruzada), todas as amostras foram submetidas ao processo de sexagem molecular,

no qual o gene SRY (região de determinação do sexo), que ocorre somente no

cromossomo Y (machos), foi amplificado por PCR e sua presença/ausência checada

em gel de acrilamida 8%. Todo o procedimento foi realizado de acordo com Murata

& Masuda (1996), de onde foram extraídos os primers RG4 (5’-

GGTCAAGCGACCCATGAAYGCNTT-3’) e RG7 (5’-GGTCGATACTTATAGTTCGGGTA-3’) (Griffiths

& Tiwari, 1993), originalmente testados para preguiças do gênero Choloepus,

Xenarthra. As reações de PCR tiveram as mesmas características da amplificação

do DNA nuclear, e o programa de ciclagem consistiu em 40 ciclos compostos de

desnaturação por1’ a 94°C, anelamento por 1’ a 55°C e extensão de 1’ a 72°C. Os

dados gerados a partir da sexagem molecular foram comparados com as

informações, quando disponíveis, sobre o sexo dos indivíduos identificados em

campo. O procedimento como um todo é útil para a confiabilidade dos dados do

trabalho, pois a identificação de sexo entre os Xenarthra é notoriamente difícil,

principalmente do tamanduá-bandeira, que não possui dimorfismo sexual acentuado

(somente uma diferença bastante sutil de tamanho corporal), e sua genitália não é

visível exteriormente, ou mesmo facilmente distinguível entre os gêneros (Divers,

1986). Técnicas para sua sexagem baseada em PCR já foi relatada com sucesso

anteriormente na literatura (Takami et al., 1998). Com esta informação, foram

seqüenciados para o marcador iAMELY somente os machos da amostragem.

Seqüenciamento automático

O seqüenciamento dos fragmentos gerados por PCR e purificados foi

realizado utilizando-se os mesmos primers da amplificação pelo método de

Page 37: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

36

incorporação de ddNTPs (didesoxinucleotídeos) marcados com fluorescência que

inibem o alongamento da fita pela DNA polimerase (modificação da técnica

originalmente descrita por Sanger et al., 1977). As reações foram preparadas

segundo recomendações do fabricante do seqüenciador em volume final de 10µl,

sendo 2µl de produto purificado de PCR (DNA amplificado), 1 µl de primer a 0,5µM,

4µl de DYEnamic ET Kit® da Amersham Biosciences, e 3µl de água di-deionizada

(ddH2O – MILLI-Q). O programa de ciclagem teve um passo inicial de desnaturação

a 94°C por 1’, seguido por 35 ciclos de 95°C por 25”, 50-55°C por 15” e 60°C por 3’,

com extensão final a 60°C por 10’.

Toda reação de seqüenciamento foi precipitada por protocolo com Acetato de

Amônio 7,5M e Etanol 70%, e ressuspensão em solução tampão fornecida pelo

fabricante. A leitura foi feita pelo seqüenciador automático MegaBACE DNA Analysis

System 1000®. Cada indivíduo teve, para cada fragmento estudado, seqüencias de

duas leituras com o iniciador direto e duas com o reverso.

3.3. ANÁLISE DOS DADOS

A partir dos diferentes cromatogramas gerados pelo seqüenciador automático

MegaBACE, e através dos programas Phred v. 0.20425 (Ewing & Green, 1998;

Ewing et al., 1998), Phrap v.0.990319 (http://www.phrap.org/) e Consed 12.0

(Gordon et al., 1998) foram produzidas seqüências-consenso de cada indivíduo,

para cada um dos marcadores usados. Para os marcadores nucleares o programa

PolyPhred 5.04 (Nickerson et al., 2005) foi usado a fim de comparar as seqüências

dos cromatogramas e seus picos de leitura para identificar possíveis sítios

heterozigotos nas substituições nucleotídicas únicas (SNPs) em locus diplóides.

Sítios com leituras superpostas e com altura de pico até 50% do normal com alta

qualidade foram identificados como heterozigotos. Neste caso, foi usado o programa

PHASE v2.0 (Stephens & Donnely, 2003; Stephens et al., 2001) para reconstruir os

haplótipos a partir dos genótipos, e estimar, então, a fase gamética.

Os alinhamentos foram gerados com os parâmetros default do software

Clustal W (Higgins & Sharp, 1988), implementado no programa MEGA 4.0 (Kumar et

al., 2007), que também foi utilizado para a edição manual dos alinhamentos, e, por

fim, para definir os sítios polimórficos e haplótipos. Sempre que necessário o

Page 38: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

37

programa Consed foi usado para visualizar os cromatogramas e conferir a qualidade

das seqüências produzidas. O programa ModelTest 3.7 (Posada & Crandall, 1998)

em conjunto com PAUP 4.0 (Swofford, 1998) foi empregado para encontrar o

modelo de substituição nucleotídica que melhor se encaixa com os dados

observados. Esta abordagem permite testar os métodos baseados em modelos

evolutivos e explorar qual deles melhor se ajusta aos dados através de um teste

hierárquico de hipóteses.

Todos os dados gerados a partir de seqüências de DNA foram submetidos a

análises estatísticas de diversidade genética intra e inter-populacional nos indivíduos

amostrados. Com os programas Arlequim 3.11 (Excoffier et al., 2006) e DNAsp 4.0

(Rozas & Rozas, 1995) foram calculados os parâmetros: diversidade nucleotídica

(π), diversidade haplotípica (h), número de sítios segregantes (s), número e tipo de

substituições observadas (transições e transversões), composição das bases

(porcentagem do conteúdo GC/AT), índices de endogamia, e análise de variância

molecular (AMOVA) para elucidar a distribuição da diversidade genética dentro e

entre as populações amostradas de acordo com sua localidade de origem, usando a

estatística Fst e seu análogo molecular Φst. Esta análise considera as freqüências

dos haplótipos, assim como a distância filogenética entre eles para determinar os

valores de F e de componentes de variância associados, que são usados para

estimar como está distribuída a variabilidade encontrada. A significância dos

componentes foi acessada através de 10.000 permutações. Todas as análises

realizadas no Arlequin 3.11 foram feitas com distâncias entre haplótipos calculadas

como diferenças par-a-par (pairwise difference).

O teste exato de diferenciação entre as populações (análogo ao teste exato

de Fisher), implementado no Arlequin 3.11, também foi utilizado. Este teste parte da

hipótese nula de panmixia e verifica, através de uma cadeia de Markov (10.000

passos), a probabilidade de se obter uma distribuição dos haplótipos encontrados

semelhante à da amostra, se a hipótese nula fosse real.

A relação filogenética entre os haplótipos observados e sua distribuição

geográfica foi analisada e melhor visualizada pela construção de redes de haplótipos

(networks) para cada região estudada usando o algoritmo median-joining (MJ)

(Bandelt et al., 1999), que permite entrada de dados com estados múltiplos, tais

como polimorfismos de vários alelos. O algoritmo está implementado no programa

NETWORK 4.0 (http://www.fluxus-technology.com/). Este método permite visualizar

Page 39: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

38

as genealogias dos haplótipos com melhor resolução do que árvores, pois, no nível

intra-específico as relações entre alelos podem não corresponder a dicotomias

estritas, o que pode diminuir o poder das árvores em representar as verdadeiras

relações entre os haplótipos (Bandelt et al., 1995).

O programa AIS (Miller, 2005) foi utilizado para testar o isolamento por

distância e descontinuidades espaciais na diversidade genética, levando em

consideração não só os dados genéticos como também as informações de

coordenadas geográficas. O teste de Mantel (Mantel, 1967), que determina a

significância entre as distâncias geográfica e genética, e a análise de auto-

correlação espacial foram realizados.

Para a construção de árvores filogenéticas foi utilizado o programa phyML

(Guindon et al., 2005) capaz de construir filogenias a partir de seqüências de mtDNA

e nDNA utilizando o recurso da máxima verossimilhança, considerando para cada

conjunto de dados um modelo evolutivo diferente. A edição das árvores foi realizada

no software TreeExplorer, implementado também no MEGA 4.0.

Page 40: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

39

33.. RREESSUULLTTAADDOOSS

3.1. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

A extração de DNA genômico a partir das amostras de sangue e tecido foi

realizada, em sua maioria, com êxito. Porém, as amostras de osso e pêlo, assim

como aquelas oriundas de espécimes de museu, renderam muito pouco DNA. O

êxito da extração mostrou-se dependente, portanto, da qualidade do material

recebido (carcaça, no caso de atropelamento, ou pele, no caso de museu, onde as

amostras são de décadas atrás), assim como tempo e modo de estocagem, que

variam bastante. Nestes casos, o DNA foi obtido em baixas quantidades e, na

maioria das vezes, degradado, fato que restringiu o tipo de análise possível para

estas amostras (somente análise com mtDNA é possível quando há pouco DNA,

devido às múltiplas cópias da organela por célula). Em média, para cada amostra

extraída, foi obtido um volume final de 60-100 µl, com cerca de 20-100 ng/µl de DNA

genômico. Para as amostras degradadas ou com rendimento baixo, foi obtido um

volume médio de 20-50 µl, com cerca de 0,5-5 ng/µl.

Todas as amostras, quando submetidas à técnica de PCR, permitiram a

amplificação satisfatória das regiões mitocondriais HVI e CytB. A primeira foi

amplificada com os dois conjuntos de primers BrDI-L/BrDI-H e Pro-L/H16498,

gerando bandas de aproximadamente 400 pares de bases (pb). O fragmento do

gene CytB foi amplificado com os conjuntos de primers XL14766/CytB-H e CytB-

L/CytB-H, gerando bandas de cerca de 500 pares de bases (fig. 6A). Após a

padronização das reações, todas as amostras apresentaram banda única

(específica) na visualização no gel de agarose.

O seqüenciamento automático gerou leituras de boa qualidade para todas as

amostras, variando em número de 4 a 12 para cada indivíduo. Após a correção e

corte de todas as seqüências, um fragmento de 450 pb foi gerado para a região HVI,

e 555 pb para CytB, totalizando 1005 pb estudados para o genoma mitocondrial.

Um exemplo do eletroferograma com os picos correspondentes às leituras de

fluorescência para região HVI pode ser visualizado na fig. 7A.

O alinhamento das seqüências obtidas de M. tridactyla com a seqüência de

Tamandua tetradactyla, o tamanduá-mirim, organismo mais próximo à espécie

Page 41: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

40

estudada cujo genoma mitocondrial está disponível no GenBank sob número de

acesso NC004032 (Arnason et al., 2002), revelou a seguinte correspondência de

bases: para HVI, o número 1 corresponde ao número 15.854 do T. tetradactyla,

dentro da região atribuída à D-loop (região controle); e para CytB, o número 1 do

alinhamento corresponde ao 14.759 do mesmo gene para a outra espécie. Foram

observados, entre as duas espécies, alguns indels, que foram considerados quando

alinhados juntos para a finalidade da espécie T. tetradactyla servir de grupo externo

às análises de filogenia, apresentadas no decorrer dos resultados.

Os resultados para o conjunto de dados mitocondriais serão apresentados ora

separados (descrição de haplótipos encontrados para cada região), o que permite

uma análise mais descritiva da natureza do marcador, ora juntos (HVI+CytB), para

melhor entendimento e otimização dos dados, uma vez que em conjunto os

marcadores apresentam maior quantidade de informação.

Para os marcadores nucleares utilizados, a amplificação se mostrou muito

mais delicada e difícil, e nem todas as amostras foram amplificadas com sucesso,

ainda que testadas inúmeras mudanças de concentração nos reagentes e

adjuvantes. Isso forçou a exclusão de análise de alguns indivíduos de cada

população. No caso da população amazônica (AM), todos os indivíduos foram

excluídos, lembrando que, como são todos espécimes conservados em museu

(coletados há décadas atrás), o DNA obtido estava grandemente degradado, o que

implica na dificuldade de se obter moléculas de DNA íntegras para as regiões

estudas, uma vez que o nDNA tem cópia única. Ao todo, 47 indivíduos foram

amplificados com sucesso para o gene autossômico RAG2, cujo produto apresentou

cerca de 700 pb (fig. 6B).

Page 42: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

41

Figura 6 – Gel de agarose 0.8% mostrando o produto de PCR para o fragmento do gene CytB (A) e RAG2 (B). A primeira coluna de cada linha do gel corresponde ao marcador de peso molecular 1 Kb Plus DNA Ladder, Invitrogen.

Para o íntron do gene PLP, apenas 34 indivíduos foram amplificados, com produto

de aproximadamente 500 pb, e 34 indivíduos (somente os machos) para o íntron do

gene AMELY, do cromossomo Y, com produto de cerca de 600 pb, cada qual com o

conjunto de primers anteriormente descrito.

As seqüências de qualidade geradas, depois de corrigidas para possíveis

artefatos do seqüenciamento automático, e cortadas de modo a colocar todas as

seqüências de um mesmo tamanho, deram um fragmento de 745 pb para RAG2,

583 pb para iAMELY e 475 pb para iPLP. Todas as leituras de RAG2 e iPLP foram

analisadas pelo pacote phredPhrap/polyPhred/Consed, devido à possibilidade de

encontrar sítios variáveis heterozigotos (SNPs), uma vez que são genes

autossômicos. Na figura 7B pode-se visualizar um SNP (dois picos pequenos) para

um sítio de RAG2. Como são marcadores diferentes de regiões diversas, e contém

disparidade dos indivíduos que foram seqüenciados ou excluídos, estes marcadores

serão analisados separadamente.

A

B

Page 43: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

42

A

B

Figura 7 – Leituras do seqüenciamento automático para HVI (A), onde se observa uma leitura com o primer direto e outra com o primer reverso; e RAG2 (B), onde é mostrado um sítio homozigoto em azul (base marcada em azul), e um heterozigoto em vermelho (base marcada em rosa).

Como somente machos deveriam ser seqüenciados para o fragmento

iAMELY, todos os indivíduos foram sexados por métodos moleculares, e os

resultados se encontram no Anexo I (relação de todos os indivíduos). Desta forma,

somente machos foram submetidos à análise. Uma particularidade desta análise foi

a constatação, após repetidas tentativas de sexagem, de que dois indivíduos

sexados em campo como fêmeas são na verdade machos (indivíduos sublinhados

no Apêndice I), pois amplificaram, todas as vezes, o gene SRY. Esse é um erro

aparentemente possível e comum, uma vez que a genitália de tamanduás (e

também preguiças) é de difícil visualização para um diagnóstico preciso de gênero,

principalmente na fase juvenil, que é o caso de um dos tamanduás que foram

provavelmente sexados erroneamente.

3.2. CARACTERÍSTICAS DAS SEQÜÊNCIAS E VARIABILIDADE GENÉTICA DE M. TRIDACTYLA

A tabela 3 mostra a distribuição das amostras e dos haplótipos encontrados

para os fragmentos de mtDNA. Indivíduos de 21 localidades, 9 estados brasileiros

foram acessados. A região HVI revelou um total de 19 haplótipos para 77 indivíduos

estudados. O haplótipo mais comum, HVI7 apareceu na maioria das populações

Page 44: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

43

estudadas (estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul, ao longo dos biomas do Cerrado e Pantanal), incluindo 40 indivíduos. Os

únicos espécimes que não demonstraram conter este haplótipo são os procedentes

do bioma amazônico e do estado do Paraná. Dentre os outros 18 haplótipos, a

maioria é composta por haplótipos que se diferenciam do mais comum por apenas

uma mutação, sendo também na maioria únicos (apenas um indivíduo por

haplótipo).

O mesmo padrão ocorre para o fragmento do gene CytB, que revelou, ao

todo, 12 haplótipos. Já é esperado, por restrição funcional da proteína codificada,

que este gene apresente menor número de mutações, e, portanto, menos haplótipos

que a região Hipervariável I. O haplótipo mais comum englobou um total de 59

indivíduos, compartilhado entre todas as populações de todos os biomas. Os outros

haplótipos, assim como para HVI, são compostos na maioria por mutações únicas e

ocorrência em um só indivíduo.

Pode-se observar que a maioria dos haplótipos obtidos está dentro do bioma

Cerrado, uma área de grande diversidade para a espécie. Porém deve ser lembrado

que neste bioma a amostragem foi maior, portanto os resultados podem ter tido

influência da disparidade de amostras entre os biomas.

Quando os fragmentos mitocondriais foram analisados juntos (HVI+CytB =

1005pb), um total de 29 haplótipos foi encontrado. A lista dos sítios polimórficos para

os marcadores mitocondriais (assim como os nucleares) encontra-se no Apêndice II.

Apesar da ocorrência de uma defasagem amostral entre as localidades

estudadas, onde amostras do Cerrado, principalmente do Parque Nacional da Serra

da Canastra, e do Parque Nacional das Emas, são predominantes, pode-se observar

que uma alta diversidade genética foi amostrada. Com maior esforço de coleta e

maior número de amostras em localidades diferentes, é provável que se possa

capturar ainda mais desta diversidade, o que não nos impede, entretanto, de

trabalhar os dados obtidos com confiança e resguardando sua limitação..

As tabelas seguintes (4 e 5) mostram a distribuição dos haplótipos para os

marcadores nucleares RAG2 e iAMELY, além de mostrar quais indivíduos de quais

localidades foram seqüenciados. O marcador iPLP foi excluído da análise por dois

motivos: poucos indivíduos puderam ser seqüenciados, devido às dificuldades

técnicas de amplificação já mencionadas, e, além disso, a diversidade genética

encontrada para o marcador foi muito baixa (apenas dois haplótipos), o que indica

Page 45: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

44

que o fragmento em questão não é um marcador informativo para a espécie do

tamanduá-bandeira. Como este fragmento se encontra no cromossomo X, que é

altamente conservado, este resultado é realmente esperado.

No caso do marcador autossômico RAG2, a fim de mostrar os haplótipos

reconstruídos pelo programa PHASE v2.0 a partir dos genótipos seqüenciados,

todas as seqüências foram duplicadas (47 indivíduos = 94 seqüências),

considerando cada par delas representantes de um par de cromossomos

homólogos.

Page 46: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 45 -

Tabela 3. Distribuição das amostras e dos haplótipos encontrados: Estado brasileiro e município (ou região, como Parques Nacionais – PARNA’s – que englobam mais de um município) com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos de HVI e CytB encontrados nos 77 indivíduos estudados de Myrmecophaga tridactyla. *CE: Cerrado; AM: Floresta Amazônica; PT: Pantanal. Haplótipos HVI Haplótipos CytB

Estado (UF) Município Bioma* N 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1

0

1

1

1

2

1

3

1

4

1

5

1

6

1

7

1

8

1

9

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1

0

1

1

1

2

PARNA Canastra CE 16 1 9 1 2 1 1 1 13 1 1 1

Araxá CE 1 1 1

Uberlândia CE 1 1 1

Piumhi CE 1 1 1

Dores do Indaiá CE 1 1 1

Minas Gerais (MG)

Doresópolis CE 1 1 1

PARNA Emas CE 27 1 20 1 1 1 1 1 1 21 1 3 1 1 Goiás (GO)

Cristalina CE 1 1 1 São Paulo (SP) São José do Rio Preto CE 6 5 1 5 1

Vila Rica AM 1 1 1 Poconé PT 3 1 1 1 2 1 Mato Grosso (MT)

Nova Xavantina CE 4 3 1 4

Telêmaco Borba CE 2 1 1 2 Jaguariaíva CE 2 2 2 Paraná (PR)

Piraí do Sul CE 1 1 1 Mato Grosso do Sul (MS) Corumbá PT 2 1 1 1 1

Belém AM 1 1 1 Oriximiná AM 1 1 1 Pará (PA)

Ilha do Marajó AM 2 2 2 Roraima (RR) Caracaraí AM 1 1 1 Amapá (AP) Mazagão AM 2 2 1 1

9 21 3 77 9 5 1 1 1 4 40 1 2 3 1 2 1 1 1 1 1 1 1 59 1 4 1 1 1 3 1 1 2 2 1

Page 47: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 46 -

Tabela 4. Distribuição dos haplótipos reconstruídos a partir dos genótipos para o gene autossômico RAG2. Estado brasileiro e município com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos encontrados no total de 47 indivíduos (94 seqüências) estudados para o lócus. Haplótipos RAG2

Estado (UF) Município Bioma N 1 2 3 4 5 6 7 8

PARNA Canastra CE 28 22 2 1 1 1 1

Araxá CE 2 2 Minas Gerais (MG)

Doresópolis CE 2 2

PARNA Emas CE 36 26 4 4 1 1 Goiás (GO)

Cristalina CE 2 2

São Paulo (SP) São José do Rio Preto CE 10 7 2 1

Paraná (PR) Telêmaco Borba CE 2 2

Nova Xavantina CE 2 1 1 Mato Grosso (MT)

Poconé PT 6 3 1 1 1

Mato Grosso do Sul (MS) Corumbá PT 4 3 1

6 10 2 94 70 10 8 1 1 1 1 2

Tabela 5. Distribuição dos haplótipos do íntron do gene AMELY. Estado brasileiro e município com bioma oficial correspondente, número amostral, e distribuição dos haplótipos encontrados no total de 34 indivíduos machos estudados para o lócus. Haplótipos iAMELY

Estado (UF) Município Bioma N 1 2 3 4 5 6 7 8 9

PARNA Canastra CE 8 1 2 1 1 3 Araxá CE 1 1 Minas Gerais (MG)

Doresópolis CE 1 1 Goiás (GO) PARNA Emas CE 14 8 2 3 1 São Paulo (SP) São José do Rio Preto CE 4 1 1 2

Poconé PT 3 1 1 1 Mato Grosso (MT)

Nova Xavantina CE 1 1 Paraná (PR) Telêmaco Borba CE 1 1 Mato Grosso do Sul (MS) Corumbá PT 1 1

6 9 3 34 11 5 1 1 1 4 9 1 1

Como se pode observar, para estas análises, somente indivíduos do Cerrado

e Pantanal foram utilizados, totalizando 9 localidades ao longo dos estados

brasileiros. Foram encontrados 8 haplótipos para o gene RAG2, o mais comum

presente em todas as localidades acessadas. Em iAMELY, um total de 9 haplótipos

foi encontrado.

Page 48: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

47

A fim de se analisar a diversidade genética das populações e da amostra

total, foram estimados os parâmetros de diversidade genética mostrados nas

tabelas a seguir (6 e 7).

Page 49: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 48 -

Tabela 6. Índices de diversidade molecular gerados por DNAsp 4.0 e Arlequin 3.11 para seqüências de HVI (450pb) e CytB (555pb) das populações definidas para M. tridactyla. CE MG: Cerrado de Minas Gerais (PARNA Canastra, Araxá, Uberlândia, Piumhi, Dores do Indaiá, Doresópolis); CE GO: Cerrado de Goiás (PARNA Emas e Cristalina); CE SP: Cerrado de São Paulo (São José do Rio Preto); CE MT: Cerrado de Mato Grosso (Nova Xavantina); CE PR: Cerrado do Paraná (Telêmaco Borba, Jaguariaíva e Piraí do Sul); PT: Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Poconé e Corumbá); AM: Floresta Amazônica do Mato Grosso, Pará, Roraima e Amapá (Vila Rica, Belém, Oriximiná, Ilha do Marajó, Caracaraí e Mazagão).

N

1 NH

2 S

3 Ts

4 Tv

5 H

6 Π

7 K

8

HVI

CE MG 21 9 9 8 1 0,6810 +/- 0,1131 0,003471 +/- 0,002407 1,561905 +/- 0,970212

CE GO 28 9 8 7 1 0,4974 +/- 0,1166 0,002116 +/- 0,001660 0,952381 +/- 0,671099

CE SP 6 2 2 2 0 0,3333 +/- 0,2152 0,001481 +/- 0,001506 0,666667 +/- 0,586894

CE MT 4 2 1 1 0 0,5000 +/- 0,2652 0,001111 +/- 0,001378 0,500000 +/- 0,001378

CE PR 5 3 3 3 0 0.8000 +/- 0.1640 0.003111 +/- 0.002647 1,400000 +/- 1,018847

PT 5 3 4 4 0 0,8000 +/- 0,1640 0,004889 +/- 0,003768 2,200000 +/- 1,450315

AM 8 4 4 3 1 0,7857 +/- 0,1127 0,002937 +/- 0,002316 1,321429 +/- 0,914841

Total 77 19 16 13 3 0,7139 +/- 0,0538 0,003305 +/- 0,002237 1,487355 +/- 0,908463

CytB

CE MG 21 4 3 2 1 0,2714 +/- 0,1242 0,000515 +/- 0,000637 0,285714 +/- 0,316536

CE GO 28 6 9 5 4 0,4365 +/- 0,1129 0,001945 +/- 0,001470 1,079365 +/- 0,732744

CE SP 6 2 1 1 0 0,3333 +/- 0,2152 0,000601 +/- 0,000791 0,333333 +/- 0,380058

CE MT 4 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

CE PR 5 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

PT 5 4 3 3 0 0,9000 +/- 0,1610 0,002162 +/- 0,001914 1,200000 +/- 0,908496

AM 8 2 1 1 0 0,5714 +/- 0,0945 0,001030 +/- 0,001054 0,571429 +/- 0,513440

Total 77 12 14 9 5 0,4115 +/- 0,0713 0,001238 +/- 0,001055 0,686945 +/- 0,528222 1 Número amostral; 2 Número de haplótipos; 3 Número de substituições; 4 Transições ; 5 Transversões; 6 Diversidade haplotípica; 7 Diversidade nucleotídica, 8

Número médio de diferenças par-a-par.

Page 50: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

49

Tabela 7. Índices de diversidade molecular gerados por DNAsp 4.0 e Arlequin 3.11 para seqüências de RAG2 (745pb) e iAMELY (583pb) das populações definidas para M. tridactyla. CE MG: Cerrado de Minas Gerais; CE GO: Cerrado de Goiás; CESP: Cerrado de São Paulo; CEMT:Cerrado de Mato Grosso; CE PR: Cerrado do Paraná; PT: Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

1 Número amostral; 2 Número de haplótipos; 3 Número de substituições; 4 Transições ; 5 Transversões; 6 Diversidade haplotípica; 7 Diversidade nucleotídica, 8 Número médio de diferenças par-a-par.

RAG2 N1 NH

2 S

3 Ts

4 Tv

5 H

6 Π

7 K

8

CE MG 16 6 4 2 2 0,3427 +/- 0,1068 0,070901 +/- 0,073338 0,425403 +/- 0,394950

CE GO 19 5 4 4 0 0,4452 +/- 0,0933 0,082029 +/- 0,079844 0,492176 +/- 0,430558

CE SP 5 3 2 2 0 0,5111 +/- 0,1643 0,092593 +/- 0,092901 0,555556 +/- 0,490686

CE MT 1 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

CE PR 1 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

PT 5 4 3 3 0 0,6444 +/- 0,1518 0,125926 +/- 0,113512 0,755556 +/- 0,599907

Total 47 8 6 4 2 0,4306 +/- 0,0604 0,082323 +/- 0,078789 0,493937 +/- 0,426526

iAMELY N1 NH

2 S

3 Ts

4 Tv

5 H

6 Π

7 K

8

CE MG 10 5 3 3 0 0,8444 +/- 0,0796 0,002439 +/- 0,001834 1,422222 +/- 0,945660

CE GO 14 4 2 2 0 0,6484 +/- 0,1163 0,001470 +/- 0,001238 0,857143 +/- 0,642857

CE SP 4 3 2 2 0 0,8333 +/- 0,2224 0,002001 +/- 0,001901 1,166667 +/- 0,927961

CE MT 1 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

CEPR 1 1 0 0 0 0,0000 +/- 0,0000 0,000000 +/- 0,000000 0,000000 +/- 0,000000

PT 4 4 5 5 0 1,0000 +/- 0,1768 0,005146 +/- 0,004023 3,000000 +/- 1,963961

Total 34 9 5 5 0 0,8093 +/- 0,0399 0,002424 +/- 0,001691 1,413547 +/- 0,886632

Page 51: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 50 -

Como esperado, a quantidade observada de transversões foi sempre menor

que a quantidade de transições (tabelas 6 e 7), e quando ocorreu, não resultou em

mudança do grupo bioquímico ou mesmo do próprio aminoácido codificado

(mutações silenciosas), o que deve ser condizente com a condição de fragmento

codificador de parte dos marcadores (CytB e RAG2).

Em geral, a maior diversidade haplotípica entre todas as amostras foi mais

bem “capturada”, ou melhor visualizada, com os marcadores HVI e iAMELY. Este

resultado é também esperado, uma vez que ambos, por não serem seqüências

codificadoras de genes, permitem maior variação neutra ao longo de suas

seqüências.

Para as populações nas quais foi encontrado somente um haplótipo ou

somente um indivíduo (CytB: CEMT, CEPR; RAG2: CEMT, CEPR; iAMELY: CEMT,

CEPR) não foi possível o cálculo dos índices de diversidade (pois todos resultaram

em zero), mas ainda sim estes indivíduos foram incluídos nas análises de

agrupamentos de populações e/ou grupos, adiante nos resultados.

Pode-se observar, entre todos os conjuntos de dados apresentados, um

padrão entre a menor e a maior diversidade haplotípica encontrada: a menor é, na

maioria dos casos, das populações CEMT e CEPR. Devido a significância

estatística, não há diferenças concretas entre as diversidades encontradas nas

populações CEGO e CEMT.. Deve-se lembrar sempre, porém, que há um desnível

numérico entre o tamanho das populações amostradas, e que estes índices,

portanto, devem ser considerados com cuidado.

A maior diversidade haplotípica é, em todos os casos, da pequena amostra

do bioma Pantanal. Para HVI, as populações PT e as demais têm, estatisticamente,

o mesmo valor de H, porém os outros índices apontam para a população pantaneira

como a mais diversa, tendo maior diversidade nucleotídica (π), indicando mais sítios

polimórficos e diferenças entre os haplótipos, além do maior número médio de

diferenças par-a-par (K), que indica uma maior quantidade esperada de

polimorfismos entre as seqüências.

As populações com grande número amostral, CEMG e CEGO, cujas

amostras são oriundas majoritariamente de unidades de conservação, demonstram

índices de diversidade também elevados, compatíveis com a quantidade de

indivíduos analisados. É aparente que nestes locais a diversidade genética tenha

Page 52: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

51

sido bem amostrada, e que não seja necessário um aumento significativo do

número amostrado para que se atinja uma diversidade próxima do real.

3.3 – ESTRUTURAÇÃO GENÉTICA EM M. TRIDACTYLA

Foram realizados testes de AMOVA (análise de variância molecular)

considerando alguns agrupamentos entre as populações definidas, a fim de

entender melhor a partição da variação genética encontrada quando se considera

grupos que englobam populações.

Os agrupamentos, a priori, foram baseados no bioma de origem de cada

população de indivíduos, e são os seguintes: nenhum grupo, onde todas as

populações formam um só grupo; dois grupos, onde as sub-populações do Cerrado

(CEMG, CEGO, CEMT, CESP, CEPR) se agrupam formando uma só população

considerada como representante do bioma, agrupada ora com a população única do

Pantanal (CE+PT/AM), ora com a população única da Amazônia (CE+AM/PT); e

finalmente três grupos, onde cada um dos biomas constitui um grupo diferente

(CE/PT/AM).

Para os loci nucleares, RAG2 e iAMELY, somente os agrupamentos do bioma

Cerrado e do bioma Pantanal como um só grupo (CE+PT) ou como grupos

separados (CE/PT) foram possíveis, pois não há dados da população amazônica

nestes casos, uma vez que não houve sucesso no seqüenciamento dos fragmentos

dos mesmos.

Page 53: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

52

Tabela 8. Resultados da análise de variância molecular (AMOVA) a partir das seqüências de mtDNA, HVI e CytB, juntos. GL= Graus de Liberdade, SQ= Soma dos Quadrados.

Agrupamento

HVI+CytB* Fonte de Variação GL SQ

Componentes

de Variância

% da

variação

total

φST

Entre populações 6 17.244 0.19750 17.45

Dentro de populações 70 65.380 0.93400 82.55 0.17455

TOTAL 76 82.623 1.13150

Entre Grupos 1 8.665 0.48900 32.57

Entre pop. dentro de grupos 5 8.579 0.07854 5.23 0.37797

Dentro de populações 70 65.380 0.93400 62.20

TOTAL 76 82.623 1.50153

Entre Grupos 1 2.143 0.00501 0.44

Entre pop. dentro de grupos 5 15.101 0.19670 17.32 0.17761

Dentro de populações 70 65.380 0.93400 82.24

TOTAL 76 82.623 1.13571

Entre Grupos 2 10.636 0.34274 25.53

Entre pop. dentro de grupos 4 6.608 0.06578 4.90 0.30429

Dentro de populações 70 65.380 0.93400 69.57

Nenhum

CE+PT/AM

CE+AM/PT

CE/PT/AM

TOTAL 76 82.623 1.34253

*CE= Cerrado; PT= Pantanal; AM= Floresta Amazônica. Tabela 9. Resultados da análise de variância molecular (AMOVA) a partir das seqüências de RAG2 e iAMELY. GL= Graus de Liberdade, SQ= Soma dos Quadrados.

Agrupamento

RAG2* Fonte de Variação GL SQ

Componentes de

Variância

% da

variação

total

φST

Entre populações 5 0.869 -0.00590 -2.41

Dentro de populações 88 22.099 0.25113 102.41 -0.02405

TOTAL 93 22.968 0.24523

Entre Grupos 1 0.199 0.00087 0.35

Entre pop. dentro de grupos 4 0.670 -0.01414 -5.78 -0.01992 Dentro de populações 41 14.599 0.09825 105,43

Nenhum

(CE+PT)

CE/PT

TOTAL 93 22.968 0. 24622

Agrupamento

iAMELY* Fonte de Variação GL SQ

Componentes de

Variância

% da

variação

total

φST

Entre populações 5 5.102 0.07608 10.47

Dentro de populações 28 18.221 0.65077 89.53 0.10467

TOTAL 33 23.324 0.72684

Entre Grupos 1 1.057 0.00774 1.06

Entre pop. dentro de grupos 4 4.045 0.07383 10.08 0.11138

Dentro de populações 28 18.221 0.65077 88.86

Nenhum

(CE+PT)

CE/PT

TOTAL 33 23.324 0.73233

*CE= Cerrado; PT= Pantanal. Nota-se, nas tabelas 8 e 9, que para todos os casos, para todos os

marcadores e todos os agrupamentos, a percentagem da variação genética total é

muito maior dentro das populações do que fora delas, entre grupos ou entre

populações.

Page 54: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

53

Para os dados mitocondriais, onde a população amazônica pôde ser

analisada, é possível observar que os agrupamentos que encontraram maior

variação entre grupos foram os que isolaram a população da Amazônia como um

grupo separado. Em especial, a separação dos grupos CE+PT/AM pôde explicar

32,57% da variação encontrada nas amostras, enquanto que a separação em três

grupos, CE/PT/AM, revelou 25,53% da variação. Em ambos os casos, parece mais

coerente afirmar que há realmente a presença de grupos ao longo da distribuição

geográfica das amostras analisadas neste trabalho, do que considerar todas como

um só grupo, pois neste modelo (nenhum agrupamento) apenas 17,45% da

variação encontrada no mtDNA pôde ser explicada na categoria “entre populações”.

Em contrapartida, é possível observar também que as evidências para se

considerar a população do Pantanal como um grupo separado, somente pelo bioma,

são fracas (HVI+CytB= CE+AM/PT, 0,44%; RAG2 e iAMELY= CE/PT, 0,35% e

1,06%, respectivamente), e o mais coerente é considerá-la formando um só grupo

com o Cerrado.

A população do Pantanal, como foi observado até agora, é a mais diversa

geneticamente, levando em consideração o pequeno número amostral estudado.

Por esta razão, é possível que parte da variação genética fique retida nestes

indivíduos quando se analisa a partição da diferença genética. A fim de se visualizar

com mais clareza a questão do agrupamento separado das populações do Cerrado

e da população da Amazônia, uma análise de AMOVA foi realizada com a exclusão

da população do Pantanal, considerando somente o grupo CE+AM ou dois grupos,

CE/AM. Esta análise foi feita somente com os dados de mtDNA, pois para os outros

fragmentos não há seqüências da população AM. Os resultados são mostrados na

tabela 10.

Tabela 10. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), com exclusão da população oriunda do Pantanal.

% da Variação

Fonte de Variação 1 grupo CE+AM

2 grupos CE/AM

Entre populações/Entre grupos 18,47 33,79

Entre pop. dentro de grupos - 4,84

Dentro de populações 81,53 61,37

φST 0.18471 0.38628

Page 55: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

54

Observa-se que, ao retirar a população do Pantanal das análises, a

percentagem da variação genética encontrada entre grupos (CE/AM) aumenta

ligeiramente quando se divide os grupos Cerrado e Floresta Amazônica em

comparação ao mesmo agrupamento quando a população do Pantanal estava

inclusa. Da mesma forma aumenta o valor de φST encontrado (0,38628). A

quantidade de variação encontrada entre populações ao manter juntos CE+AM, por

sua vez, é bastante inferior em relação à outra hipótese, assim também como seu

φST. Os dados continuam mostrando, portanto, uma possível estruturação entre os

tamanduás da Amazônia e do Cerrado.

Para eliminar a possibilidades que estes resultados estejam sendo desviados

do real pelo viés de amostragem das populações do PARNA Serra da Canastra e

PARNA Emas, CEMG e CEGO (as mais populosas), foram feitos testes de AMOVA

com os exatos agrupamentos descritos anteriormente para os marcadores

mitocondriais, porém excluindo-se as duas populações mencionadas. Assim, a

população do grupo Cerrado, nas análises, passou a ser composta apenas das sub-

populações CEMT, CEPR e CESP, e as populações dos biomas Pantanal e

Amazônia foram preservadas. Os resultados são mostrados na tabela 11.

Tabela 11. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), com exclusão das populações CEMG e CEGO.

% da Variação

Fonte de Variação Sem

grupos 2 grupos

CE+AM/PT

2 grupos CE+PT/AM

3 grupos CE/PT/AM

Entre grupos - 16,33 17,12 20,51

Entre pop. dentro de grupos 26,83 18,00 15,75 9,91

Dentro de populações 73,17 65,67 67,13 69,58

φST 0, 26829 0, 34331 0, 32869 0, 30423

Em todos os casos, a percentagem da variação genética dentro das

populações continuou sendo muito maior do que a variação entre populações ou

entre grupos. Quando não foi assinalado nenhum grupo, a percentagem de variação

entre as populações foi maior (26,83%), do que quando se assinalou grupos.

Porém, quando se separou as populações em grupos, a maior porcentagem da

variação foi para o grupo onde a população amazônica (AM) foi separada do

Cerrado e do Pantanal (CE/PT/AM, 20,51%). Os outros valores de variação entre

Page 56: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

55

grupos foram muito similares para serem considerados como distintos. Os valores

de φST não acompanharam os maiores valores de percentagem de variação, como

aconteceu nas análises anteriores. Uma explicação para isso é que uma boa parte

dos haplótipos encontrados estavam contidos nas populações CEGO e CEMG,

principalmente oriundos de mutações únicas. Com a exclusão destas amostras, a

diversidade de haplótipos entre todas as populações, além do Cerrado, ficou melhor

distribuída.

É possível observar também que a variação entre populações dentro de

grupos aumentou comparativamente às análises de AMOVA em que as populações

CEMG e CEGO estavam incluídas. Isso pode indicar que elas talvez possam

desviar um pouco as estatísticas por conterem bastante diversidade entre seus

numerosos indivíduos.

Foi realizada também uma AMOVA com apenas os indivíduos que foram

seqüenciados para todos os marcadores (HVI+CytB, RAG2 e iAMELY), a fim de se

poder comparar diretamente os resultados obtidos sem problemas de quantidade de

amostragem entre as populações. A tabela 12 mostra os resultados obtidos.

Para os marcadores nucleares, RAG2 e iAMELY, as percentagens de

variação foram similares àquelas obtidas para as análises com todos os indivíduos,

sendo incapazes, principalmente o marcador RAG2, de demonstrar ou detectar

alguma estruturação nos grupos assinalados.

Já para os dados de DNA mitocondrial, a porcentagem da variação genética

diminuiu bastante, tanto para onde foram considerados grupos separados o Cerrado

e o Pantanal, quanto quando não se considera grupos. Neste último caso foi

constatada incapacidade total de encontrar estruturação, enquanto para o outro,

uma pequena estruturação foi encontrada (15,40% da variação genética). Os

valores numéricos mudaram quando foram considerados menos indivíduos, porém o

padrão geral ainda é concordante com os resultados de AMOVA obtidos com todos

os indivíduos seqüenciados para o mtDNA.

Page 57: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

56

Tabela 12. Resultados da análise de AMOVA para dados de mtDNA (HVI+CytB), e nucleares (RAG2 e iAMELY) considerando apenas indivíduos que têm todos estes marcadores seqüenciados.

% da Variação

Fonte de Variação 1 grupo CE+PT

2 grupos CE/PT

HVI+CytB

Entre grupos -4,63 15,40

Entre pop. dentro de grupos - -8,87

Dentro de populações 104,63 93,47 φST -0, 04629 0, 06527

RAG2

Entre grupos -2,29 -2,65

Entre pop. dentro de grupos - -1,52

Dentro de populações 102,29 104,17 φST -0, 02293 -0, 04170

iAMELY

Entre grupos 11,76 -0,49

Entre pop. dentro de grupos - 11,95

Dentro de populações 88,24 88,54 φST 0, 11758 0, 11459

Uma vez que a variação contida nas amostras é mais bem explicada pelo

grupo Cerrado e Pantanal versus Amazônia, é natural que o φST acompanhe esta

tendência, como acontece na maioria dos casos. O φST mais alto entre as tabelas 8

e 9 (0.37797) ocorreu para o agrupamento CE+PT/AM, nos dados de AMOVA

mitocondriais.

O φST também foi calculado para cada par de populações, com o objetivo de

medir a diferenciação genética entre elas. Valores significativos de φST foram

encontrados somente para os loci mitocondriais (tabela 13) e para o íntron iAMELY

(tabela 14). Os valores encontrados para RAG2 também são mostrados, mas não

foram estatisticamente significativos.

O resultado de diferenças par-a-par entre as populações mostrou,

novamente, uma estruturação com valores significativos de φST para as amostras

da Amazônia contra as populações de Cerrado e Pantanal. Foram significativos os

índices para as populações CEMG, CEGO, CESP e PT quando analisados com a

população AM, sendo o maior φST contra a população CESP, 0,44949, e o menor

para a população PT, 0,36288. Estes dados corroboram para a hipótese de

estruturação entre indivíduos da Floresta Amazônia e do grupo formado pelo

Cerrado e Pantanal. Outros valores de φST também foram significativos entre as

populações CEMT e CEPR contra as outras populações de Cerrado, enquanto não

Page 58: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

57

foram significativos entre estas populações e a Floresta Amazônica. É certo que

estas populações estão sub-amostradas e são necessários mais dados para

esclarecer de fato a relação entre elas.

O teste exato de diferenciação das populações também foi feito, e mostrou

exata correspondência com as tabelas 13 e 14 de valores de φST, inclusive quais

valores são significativos (p<0,05) e quais não são. Pela redundância de resultados,

as tabelas com dados do teste serão omitidas. Vale a pena reforçar, entretanto, que

os dados não indicam evidências fortes de diferenciação entre populações de

Cerrado como estão definidas, mas que, ainda assim, os valores pequenos

encontrados foram significativos.

Estes resultados, todavia, são bastante influenciados pela quantidade de

seqüências usadas na análise, pois quanto mais seqüências, melhor funciona o

mecanismo de permutação do teste. Para um resultado mais fiel seriam necessárias

mais amostras de cada localidade.

As análises de redes de haplótipos (networks) calculadas pelo algoritmo

Median-Joining no programa Network 4.0 também foram realizadas para melhor

entender as relações entre os haplótipos encontrados nas localidades coletadas. Os

gráficos para os loci mitocondriais (HVI+CytB), autossômicos (RAG2) e ligados ao Y

(iAMELY) são mostrados na figura 8.

Page 59: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 58 -

Tabela 13. Valores de diferenciação das populações, φST, e respectivos valores de significância (p<0.05), indicados como significativos (*) ou não (-) na hemimatriz da diagonal superior, calculados pelo Arlequin 3.11 (10100 permutações) para os loci HVI e CytB, considerando as populações definidas por bioma e estado de origem. O método utilizado foi para o calculo de distância entre haplótipos foi diferenças par-a-par.

HVI+CytB CEMG CEGO CEMT CEPR CESP PT AM

CEMG 0,00000 - * * - - *

CEGO 0,00070 0,00000 - * - - *

CEMT 0,17818 0,15034 0,00000 - * - -

CEPR 0,21758 0,22282 -0,02601 0,00000 * - -

CESP -0,05494 -0,05496 0,36970 0,32770 0,00000 - *

PT 0,03674 0,08851 0,24950 0,22078 0,03627 0,00000 *

AM 0,39636 0,39341 0,18410 0,05950 0,44949 0,36288 0,00000

Tabela 14. Valores de diferenciação das populações, φST, e respectivos valores de significância (p<0.05), indicados como significativos (*) ou não (-) na hemimatriz da diagonal superior, calculados pelo Arlequin 3.11 (10100 permutações) para o lócus autossômico RAG2 e o íntron AMELY, considerando as populações definidas por bioma e estado de origem. O método utilizado foi para o calculo de distância entre haplótipos foi diferenças par-a-par.

RAG2 CEMG CEGO CESP CEPR CEMT PT

CEMG 0,00000 - - - -

CEGO -0,01097 0,00000 - - - -

CESP -0,01032 -0,04446 0,00000 - - -

CEPR -0,30688 -0,27231 -0,25000 0,00000 - -

CEMT 0,15677 0,06517 0,03226 0,00000 0,00000 -

PT 0,00479 -0,02634 -0,09259 -0,26866 -0,03175 0,00000

iAMELY CEMG CEGO CEMT CEPR CESP PT

CEMG 0,00000 - - - - -

CEGO 0,05942 0,00000 - - * -

CEMT -0,42222 -0,50000 0,00000 - - -

CEPR 0,45299 0,60000 1,00000 0,00000 - -

CESP -0,05043 0,24884 0,06667 0,64103 0,00000 -

PT -0,04783 0,17912 -0,50000 -0,20000 -0,04167 0,00000

Page 60: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

- 59 -

Figura 8 – Redes Median-Joining de haplótipos encontrados para três marcadores em M. tridactyla: (A) HVI+CytB, (B) RAG2 e (C) iAMELY. As cores representam as populações geográficas às quais pertencem cada parcela dos haplótipos apresentados. CEMG = azul claro; CEGO = azul escuro; CESP = rosa; CEMT = laranja; CEPR = cinza; PT = vermelho; AM = verde. Os círculos são proporcionais às freqüências dos haplótipos, e os pontos pequenos em vermelho representam vetores intermediários hipotéticos criados pelo algoritmo para resolver a rede. Os números em vermelho são as posições de mutação entre um e outro haplótipo. O haplótipo da rede A indicado por um asterisco é o mesmo haplótipo marcado na árvore filogenética (fig. 9).

A

B C

*

Page 61: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

60

Os resultados das análises de redes de haplótipos para os loci mitocondriais

(fig.8A) e RAG2 (fig.8B) mostram a presença de um haplótipo predominante, mais

comum, que é provavelmente um haplótipo relacionado ao ancestral, de caráter

plesiomórfico, pelo menos para as populações do Cerrado. Observa-se que grande

parte dos indivíduos com este haplótipo relacionado ao ancestral é oriunda de

populações do Cerrado (CEMG, CEGO, CESP, CEMT, CEPR), sugerindo que a

partir deste bioma ocorreu a diversificação populacional de M. tridactyla para outros

biomas e localidades. Vale a pena chamar atenção para a diversidade encontrada

nas populações CEMG e CEGO, compostas em sua maioria pelos indivíduos do

Parque Nacional da Serra da Canastra e do Parque Nacional das Emas,

respectivamente, as quais demonstram alta diversidade relativamente às outras

localidades, embora, mencionando novamente, seja preciso uma maior amostragem

das outras localidades para confirmar estes resultados.

É interessante notar que os indivíduos provenientes do bioma Pantanal (em

vermelho) compartilham por vezes o haplótipo ancestral, tanto na matrilinhagem

como pelo nDNA, e têm haplótipos derivados deste, ou de outros indivíduos do

Cerrado, estando presentes em diversos haplogrupos. Esse modelo confirma a

grande diversidade encontrada para este bioma nas outras análises. Por outro lado,

existem haplótipos do Pantanal que não são compartilhados com o Cerrado, e que,

apenas pela amostragem de que dispusemos, não é possível saber com qual/quais

populações estes haplótipos teriam uma identidade compartilhada. Como falta

bastante amostragem na Amazônia (principalmente da Amazônia Ocidental neste

caso), e a origem do bioma Pantanal é múltipla, é difícil compreender, com apenas

estes dados, a real diversidade do bioma.

Os indivíduos provenientes do bioma amazônico mostram uma tendência

oposta, como é possível observar pela rede de haplótipos A, onde estes, em verde,

formam um aglomerado de haplótipos mais distante dos indivíduos do Cerrado e

Pantanal, com exceção somente dos indivíduos da população do Cerrado do Paraná

(CEPR), que compartilham 2 haplótipos com os amazônicos, e um do Cerrado do

Mato Grosso, que compartilha um haplótipo com os amazônicos. Os outros

haplótipos amazônicos são mais derivados e distantes dos haplogrupos do Cerrado.

Com estes dados, parecem mais fortes as evidências para uma divisão geográfica

das populações do Cerrado e da Amazônia, apesar de que o teste de Mantel, de

correlação de distância genética com distância geográfica, não foi significativo.

Page 62: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

61

A rede de haplótipos mitocondrial denota uma possível expansão recente da

população de M. tridactyla pela observação de que vários haplótipos únicos se

ramificam a partir de um haplótipo, o plesiomórfico (o tipo de rede de haplótipo com

formato de “estrela”). Para verificar esta hipótese foram realizados os testes de

neutralidade da estatística D de Tajima (Tajima, 1989) e dos índices D e FS de Fu e

Li (Fu & Li, 1993). Ambos funcionam bem para dados de seqüências curtas e sem

recombinação, e empregam um algoritmo de simulação de coalescência adaptado

de Hudson (1990). Os resultados destes testes foram significativos para os loci

mitocondriais (HVI+CytB) para todos os casos, resultando em um valor de -2,02108

(p<0,05) para o D de Tajima, -3,33370 (p<0,02) para o D de Fu e Li e -26,340

(p<0,05) para o FS de Fu e Li. Os resultados demonstram que há um excesso de

alelos raros nas seqüências mitocondriais de tamanduá-bandeira, e que, portanto,

pode ter acontecido um evento de expansão recente na espécie.

No entanto, estes testes não são significativos quando aplicados para os loci

RAG2 e iAMELY, que visivelmente apresentam menos variação genética que o

conjunto de dados do mtDNA, como é esperado.

.A hipótese de que o haplótipo mais populoso compartilhado pelas diferentes

populações do Cerrado esteja relacionado ao haplótipo ancestral na espécie, é

também apoiada pela evidência filogenética (fig. 9) quando comparada à espécie

irmã, T. tetradactyla, usada como grupo externo.

A árvore do gene CytB foi acrescentada aqui para ilustrar o fato, e mostra os

haplótipos encontrados para este gene. O haplótipo marcado com um asterisco

(CytB CE 10*) corresponde ao mesmo haplótipo marcado igualmente na rede de

haplótipos A da figura 8. O haplótipo CytB1 é o mais predominante e distribuído

(fig.8), mas é derivado de CytB CE 10, de acordo com a árvore filogenética (fig. 9).

Portanto, o Cerrado parece ser tanto o local de origem da espécie, como também o

local de origem de indivíduos em expansão populacional.

Utilizando a mesma filogenia da figura 9, foi estimado o tempo médio de

divergência entre o Tamandua tetradactyla e Myrmecophaga tridactyla. Para tanto,

as seqüências obtidas de CytB (mais confiável para estimativas de tempo do que

HVI, pela saturação de mutações do último) foram submetidas a um teste de relógio

molecular de Tajima (1993).

Page 63: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

62

Figura 9 – Árvore filogenética de máxima verossimilhança dos haplótipos do gene CytB, construída pelo programa phyML, modelo evolutivo F81, com 500 replicações de bootstrap, para a espécie do tamanduá-bandeira, enraizada por indivíduo de T. tetradactyla. Os números correspondem ao haplótipo, e os símbolos aos haplótipos exclusivos de cada bioma, sendo: círculo (Cerrado), triângulo (Pantanal) e quadrado (Floresta Amazônica). O símbolo losango preto representa o haplótipo compartilhado por todos os biomas. O haplótipo marcado com um asterisco (CytB CE 10*) é do Cerrado e é compartilhado por dois indivíduos procedentes dos dois parques de Cerrado (PARNA Canastra e PARNA Emas), com mais proximidade com o grupo externo usado. A hipótese de um relógio molecular não pode ser rejeitada considerando-se

tanto as mutações de transversão quanto de transição, com um valor estatístico de p

= 0.15730, e, portanto, uma taxa constante de evolução molecular foi assumida. A

taxa utilizada para calcular o tempo de divergência foi a taxa média de substituição

para genes mitocondriais estimada por Pesole et al. (1999). O tempo de divergência

encontrado entre os dois táxons foi de 15,5 MYA, um valor não muito distante das

estimativas de Barros et al. (2003), que encontrou 12,9 MYA utilizando o marcador

16S, e das estimativas de Delsuc et al. (2003) e Delsuc et al. (2001), que revelaram

um tempo de 7-14 MYA e 12-15MYA, respectivamente. Vale lembrar que as

estimativas neste estudo foram realizadas com seqüências de apenas uma parte (a

mais variável) do gene Citocromo B, e uma estimativa mais precisa deve ser feita

com um conjunto de dados maior.

CytB CE 12

CytB PT 8

CytB PT 9

CytB CE 7

CytB CE 2

CytB1

CytB CE 11

CytB AM 3

CytB PT 6

CytB CE 5

CytB CE 4

CytB CE 10 *

T.tetradactyla

330

252

248

0.002

Page 64: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

63

44.. DDIISSCCUUSSSSÃÃOO A espécie Myrmecophaga tridactyla apresentou uma alta diversidade nas

populações dos parques de Cerrado (Parque Nacional da Serra da Canastra e

Parque Nacional das Emas), relativamente às outras populações de Cerrado

estudadas. As populações presentes em unidades de conservação, as quais

demonstraram, inclusive, um padrão de expansão populacional, podem servir de

redutos de diversificação da espécie, onde grande parte da diversidade haplotípica

do Cerrado está contida. Os indivíduos presentes nestas populações podem servir

para recolonização de outros locais dentro do Cerrado, uma vez que se encontrou

apenas uma fraca diferenciação significativa dentro das populações deste bioma, e,

na maioria das vezes, uma menor diversidade genética.

Alternativamente, esses resultados podem ter tido alguma influência da maior

amostragem nestes locais (parques) do que nos outros, levando a uma sub-

estimativa da diversidade contida em outras populações. É necessário, portanto, um

aumento significativo da amostragem para que esta hipótese possa ser resolvida.

Uma amostragem ampla tanto em locais na Amazônia, como também em outros

parques de Cerrado onde haja populações de tamanduá-bandeira devem ser

estudados para que possamos confirmar a hipótese de que os parques de Cerrado

sirvam de redutos de diversidade da espécie no bioma.

De qualquer forma, é importante definir bem estas populações que contém

alta diversidade como populações aptas para servirem como redutos de

diversificação populacional, uma vez que uma das maiores ameaças para o

tamanduá-bandeira no Cerrado é o constante avanço das fronteiras agrícolas, que

tendem a isolar mais e mais as populações dos animais remanescentes. Com

populações diversas preservadas nos parques de Cerrado, pode ser possível uma

revitalização ou manutenção, em longo prazo, da diversidade genética da espécie

no bioma, o que pode direcionar o foco de planos de manejo.

Outra justificativa para este cuidado com as populações diversas de Cerrado

é a indicação de que a espécie tenha origem neste bioma, evidenciada pela relação

mais próxima com um grupo externo filogeneticamente mais antigo e pela rede de

haplótipos, que mostrou o mesmo padrão tanto na matrilinhagem quanto no

marcador nuclear.

Page 65: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

64

Considerando sua diversidade, as populações dos parques de Cerrado

devem ser manejadas de modo a conservar sua variação genética. É sabido que os

parques, principalmente o Parque Nacional das Emas, sofrem periodicamente

queimadas de origem natural ou antrópicas, e foi estimado que na queimada de

1994, quando todo o PARNA Emas foi afetado, um mínimo de 330 tamanduás foram

mortos (Silveira et al., 1999). Esses acontecimentos podem levar estas populações a

perderem muito de sua diversidade pelo efeito do fundador, onde somente a

diversidade genética dos indivíduos restantes na população é passada para as

gerações seguintes. Os estudos de Collevati et al. (2007) já revelaram um alto índice

de endogamia quando analisadas, através de microssatélites, amostras de

tamanduás de Emas (muitas destas amostras, inclusive, foram analisadas aqui).

Esse efeito foi atribuído, de fato, aos fogos do parque. No presente trabalho

encontramos que por vezes essa população (CEGO) apresentou menor diversidade

que sua correlata, CEMG, e é por isso que enfatizamos o cuidado e monitoramento

das mesmas. Para uma detecção fidedigna de um gargalo de garrafa populacional, é

preciso, porém, de um estudo mais detalhado, feito com esta população e a

população anterior reconstruída, para saber a real deterioração da diversidade

genética provocada pelo evento de gargalo. Naturalmente, o gargalo populacional é

somente detectado por marcadores genéticos após várias gerações decorridas a

partir do evento (Frankham et al., 2002)

Foi encontrada ao longo de todos os resultados uma alta diversidade dos

indivíduos provenientes do Pantanal. Apesar das poucas amostras coletadas, este

bioma parece ser bastante diverso e compartilhar a diversidade genética com o

Cerrado. Como o bioma Pantanal parece, de fato, ser composto por elementos

agregados de outros biomas, assim como sua fauna e flora é compartilhada com

outros ecossistemas (Prance & Schaller, 1982) estes resultados eram esperados no

sentido de confirmar a natureza mista do Pantanal. Como não há evidências de

estruturação entre as populações pantaneiras e as do Cerrado, estas podem ser

preservadas em conjunto, não há evidências fortes de barreira ao fluxo gênico entre

elas. É preciso, porém, um estudo mais detalhado em relação à identidade do bioma

Pantanal, pois existem haplótipos exclusivos neste bioma, e não sabemos os

detalhes de sua relação com populações adjacentes, como, por exemplo, a

Amazônia Ocidental. Para esclarecer estes pontos, e reforçando novamente, é

preciso aumentar a amostragem, tanto da Amazônia (principalmente Amazônia

Page 66: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

65

ocidental, em países como a Bolívia) como dos pontos ao redor, e do Pantanal em

si, onde a espécie ocorre em vários ambientes, como uma densidade de até 0,035

indivíduos/km2 (Coutinho et al., 1997) tentando capturar melhor a diversidade e

filogeografia do local.

Ao longo da distribuição geográfica amostrada neste estudo, é possível

visualizar uma diferenciação entre os indivíduos localizados no bioma Floresta

Amazônica, e das populações do próprio Cerrado e Pantanal, parecendo haver uma

barreira ao fluxo gênico entre estas duas regiões. Todos os dados demonstram que

há uma provável separação histórica entre elas e que, portanto, os tamanduás de

Cerrado e os tamanduás oriundos de floresta devam ser preservados

separadamente.

É importante lembrar que, para a confirmação desta hipótese uma maior

amostragem deve ser feita, principalmente na Amazônia, coletando mais indivíduos

de uma mesma localidade, em vários pontos, para formar populações mais robustas,

além de coletas de pontos intermediários desta distribuição, para verificar se há um

gradiente de variação genética na espécie que acompanhe a extensão geográfica da

mesma.

Os índices de diversidade genética totais encontrados para M. tridactyla pelo

marcador HVI (h = 0,7139; π = 0,003305) são intermediários aos índices

encontrados para outros taxa da ordem Xenarthra. As preguiças-de-coleira

(Bradypus torquatus), por exemplo, espécie criticamente em perigo de extinção,

distribuídas em fragmentos de Mata Atlântica isolados entre si, exibem níveis de

diversidade menor que os encontrados para o tamanduá-bandeira, revelados por

uma comparação direta feita pelo mesmo marcador (h = 0,5797; π = 0,017634) além

de demonstrarem forte estruturação genética, com índices de φST chegando ao

extremo (1,00000) (Lara-Ruiz et al., 2008), valores maiores que os de tamanduá-

bandeira, que variaram de 0, 17455 a 0,37797.

Por outro lado, os índices encontrados para a espécie deste estudo são

baixos se comparados aos valores encontrados para a espécie do tamanduá-mirim,

Tamandua tetradactyla, uma espécie fora de perigo de extinção, com uma

distribuição ampla ao longo do território brasileiro. Para esta espécie foram

relatados, a partir do mesmo marcador usado neste estudo (HVI), altos índices de

diversidade genética (h = 0,91; π = 0,009), ausência de estruturação genética e forte

evidência de expansão populacional (Batista et al,. dados não publicados). Este

Page 67: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

66

último fato se assemelha às populações de parques de Cerrado em tamanduá-

bandeira, apesar do mesmo já apresentar indícios de estruturação entre Cerrado e

Amazônia.

Nossos índices são baixos também se comparados aos índices encontrados

para a espécie Dasypus novencinctus (tatu-galinha) em sua distribuição no Paraguai

(Frutus et al. 2002). Utilizando o marcador CytB, os valores de diversidade genética

foram mais altos que os valores do mesmo marcador encontrados para M. tridactyla:

em D. novencintus a diversidade haplotípica variou de 0,68 a 0,94, enquanto a de M.

tridactyla teve uma média de 0,41, e a diversidade nucleotídica para a primeira foi de

0,003 a 0,005, enquanto para a última foi de 0,001.

Estas comparações podem indicar uma progressiva perda de diversidade

genética na espécie do tamanduá-bandeira, que já foi amplamente distribuída no

Brasil, e hoje é cada vez mais rara nas observações de campo. Esta deterioração da

diversidade pode estar acontecendo constantemente à medida que as ameaças à

espécie continuam, e, com o aumento do isolamento dos fragmentos, a tendência é

que também as populações sofram cada vez mais os efeitos desta separação, e

caminhem em direção ao padrão encontrado para a espécie de preguiça aqui

mencionada.

Assumindo que o Cerrado possui as populações mais diversas e é o local de

origem da espécie, como evidenciado pelos resultados apresentados, como na

network (fig. 8) que mostra um haplótipo freqüente compartilhado por todas as

regiões de Cerrado, e pela árvore de filogenia (fig. 9) com grupo externo agrupando

com haplogrupo de Cerrado, é possível que a espécie M. tridactyla tenha se

irradiado a partir do Cerrado para os outros biomas, como o Pantanal e ambientes

de floresta (Mata Atlântica e Floresta Amazônica). É preciso lembrar, porém, que a

extensão dos ambientes de floresta, especialmente de Mata Atlântica, era mais

abundante e homogênea no passado, e, certamente, havia conexões entre este

bioma e a Floresta Amazônica, como é evidenciado pelo compartilhamento de

diversos elementos de fauna e flora encontrados hoje como elementos que

apresentam distribuição disjunta. O motivo desta distribuição se deve muito ao

desmatamento e fragmentação que vem acontecendo nestes biomas, e a Mata

Atlântica é uma ilustração extrema do caso, devastada principalmente pela

ocupação antrópica.

Page 68: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

67

O Cerrado, à primeira vista, pode parecer uma barreira para a conectividade

entre a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, e intuitivamente podemos pensar que

existem separações claras entre os dois, mas a vegetação mostra que uma série de

fragmentos de florestas decíduas e semi-decíduas constituem uma rede de

interconexões entre esses biomas (Oliveira-Filho & Ratter, 1995; Vivo, 1997). Ao

longo do Cerrado há um mosaico de subunidades que variam de vegetação aberta à

florestas secas, e há várias ligações de floresta de galeria na região do Cerrado com

os biomas atlântico e amazônico. As florestas amazônicas e atlânticas foram,

portanto, provavelmente contínuas no passado, tornando-se separadas, de acordo

com Bigarella et al. (1975), com a crescente aridez formada por um cinturão de

formações xeromórficas.

Nos dados apresentados, encontramos um exemplo que possivelmente se

originou por conexões passadas de floresta, ao redor do bioma do Cerrado. Na

network (fig. 8A), observamos os indivíduos oriundos do Estado do Paraná

compartilhando dois haplótipos, derivados do haplogrupo de Cerrado, com

indivíduos de origem amazônica. Isso corrobora para a hipótese de uma conexão

passada, pois duas das amostras do Paraná, como descrito na metodologia, são de

áreas de fragmentos remanescentes de Mata Atlântica próximas a áreas de

Cerrado. A ocupação da espécie do tamanduá-bandeira, após sua diversificação no

Cerrado brasileiro, pode ter sido, portanto, via conexões de floresta para os outros

dois biomas.

Outros mamíferos já apresentaram este mesmo padrão, tal como pequenos

mamíferos marsupiais estudados por Costa (2003). Para discutir melhor este

resultado, é preciso coletar mais indivíduos oriundos da Mata Atlântica em si, pois a

amostragem deste bioma ficou limitada a dois indivíduos apenas.

A população proveniente do Paraná apresentou baixa diversidade nas

análises realizadas. Estes indivíduos foram coletados nas proximidades de

fragmentos remanescentes de Mata Atlântica, cada vez mais deteriorada. Já foi

documentado por Braga (2003) que a população do Estado do Paraná encontra-se

em situação de risco, e a visualização do tamanduá-bandeira é cada vez mais rara.

A devastação da Mata Atlântica, assim como a falta de unidades de conservação da

vida silvestre com grande área, capazes de abrigar grandes mamíferos (como é o

caso do tamanduá-bandeira), são apontados como possíveis causas desta baixa

diversidade.

Page 69: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

68

A diversidade genética encontrada nos indivíduos dentro do bioma amazônico

foi relativamente alta, considerando a amostragem limitada utilizada. As amostras

usadas, porém, são provenientes de espécimes de museu que estão preservados há

décadas na coleção mastozoológica. Portanto, temos que olhar com cuidado para

esta diversidade aparente, pois ela pode refletir uma diversidade encontrada na

espécie há décadas atrás, em vez de realmente representar a diversidade atual.

Além disso, estes indivíduos foram agrupados como uma população por

pertencerem ao bioma Floresta Amazônica e estarem localizados nos estados do

norte do Brasil, mas não foram analisadas sub-populações deste bioma, com

agrupamentos de indivíduos da mesma região, que poderiam apresentar parâmetros

genéticos diferentes dos encontrados. A verdadeira diversidade contida neste bioma

ainda é desconhecida, porquanto sua extensão é imensa e extravasa o território

brasileiro. O aumento da amostragem neste bioma pode ajudar a esclarecer muitas

dúvidas sobre a diversificação e estruturação da espécie tamanduá-bandeira.

Page 70: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

69

55..CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS O trabalho realizado contribuiu para um melhor entendimento da diversidade

genética de tamanduá-bandeira ao longo de sua distribuição amostrada no Brasil.

Apesar da parca amostragem, que forçou a restrição das análises e interpretações

dos resultados, podemos concluir alguns pontos importantes assinalados a seguir:

• As populações de parques de Cerrado (PARNA Serra da Canastra e PARNA

Emas) podem estar contribuindo significativamente para a manutenção da

diversidade genética da espécie, servindo como redutos de diversificação e

recolonização da espécie, para outras populações de Cerrado, ou ainda do

Pantanal. Por isso é necessário estudar outras populações oriundas de

parques do Cerrado, e verificar se existe, paralelamente, este mesmo padrão;

• Os resultados indicam que no passado remoto da espécie, esta tenha se

diversificado no bioma do Cerrado e se irradiado para os outros biomas –

Pantanal, Mata Atlântica e Floresta Amazônica;

• As populações do Cerrado e do Pantanal parecem compartilhar bastante de

sua diversidade genética, mas o Pantanal também possui haplótipos

exclusivos que podem ter diversas origens, necessitando de um estudo mais

detalhado;

• É necessário um cuidado especial ao se manejar populações provenientes de

Cerrado e provenientes da Floresta Amazônica, pois parece haver uma

barreira ao fluxo gênico entre as duas, com indícios de maior divergência

genética. Uma maior amostragem ao longo do grande bioma amazônico

poderá contribuir melhor para o entendimento dessa possível estruturação.

Page 71: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

70

66.. RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

Alho CJR & Lacher TE (1991). Mammalian conservation in the Pantanal of Brazil. In:

Mares MA & Schidly DJ (ed.) Latin American Mammology – History,

Biodiversity and Conservation. Unversity of Oklahoma Press, London.

Anderson RP & Handley CO (2001). A new species of three-toed sloth (Mammalia:

Xenarhtra) from Panamá, with a review of the genus Bradypus. Proc. Biol. Soc.

Wash. 114, 1-33.

Arnason U, Adegoke JA, Bodin K, Born EW, Esa YB, Gullberg A, Nilsson M, Short

RV, Xu X & Janke A (2002). Mammalian mitogenomic relationships and the root

of the eutherian tree. PNAS 99 (12), 8151-8156.

_________, Gullberg A, Janke A (1997). Phylogenetic analyses of mitochondrial

DNA suggest a sister group relationship between Xenarthra (Edentata) and

Ferungulates. Mol.Biol.Evol. 14 (7), 762-768.

Avise JC (1989). Gene trees and organismal histories: a phylogenetic approach to

population biology. Evolution 43 (6), 1192-1208.

________(1994). Molecular markers, Natural History and Evolution. Chapman &

Hall, New York.

________(2000). Phylogeography. The history and formation of species. Havard

University Press, Massachusetts.

________, Arnold J, Ball RM, Bermingham E, Lamb T, Neigel JE, Reeb CA,

Saunders NC (1987). Intraspecific plylogeography: The mitochondrial DNA bridge

between population genetics and systematics. Ann. Rev. Ecol. Syst. 18, 489-522.

Baillie J & Groombridge B (ed.) (1996). 1996 IUCN Red List of Threatened Animals.

IUCN, Gland, Switzerland.

Page 72: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

71

Ballard JWO & Whitlock MC (2004). The incomplete natural history of mitochondria.

Molecular Ecology 13, 729-744.

Baker AJ & Marshall D (1997). Mitochondrial control region sequences as tools for

understanding evolution. In: Mindell DP (ed.) Avian molecular evolution and

systematics. Academic Press, San Diego.

Bandelt HJ, Forster P, Röhl A (1999). Median-joining networks for inferring

intraspecific phylogenies. Mol. Biol. Evol. 16, 37-48.

_________, Forster P, Sykes BC & Richards MB (1995). Mitochondrial portraits of

human populations using median networks. Genetics 141, 743-753.

Barros MC, Sampaio I, Schneider H (2003). Phylogenetic analysis of 16S

mitochondrial DNA data in sloths and anteaters. Gen. Mol. Biol. 26 (1), 5-11.

Batista MK, Vallinoto M, Sampaio I, Santos S, Barros MC, Schneider H. Tamanduá

tetradactyla (Xenarthra): dados moleculares validam sua ampla distribuição

geográfica no Brasil. Dados não publicados.

Bergallo HG, Rocha CFD, Alves MAS & Sluys MV (1998). A fauna ameaçada de

extinção do Estado do Rio de Janeiro. Unpublished report. Programa de

Ecologia, Conservação e Manejo de Ecossistemas do Sudeste Brasileiro.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Bigarella JJ, Andrade-Lima D, Riehs PJ (1975). Considerações a respeito das

mudanças paleoambientais na distribuição de algumas espécies vegetais e

animais no Brasil. Anais da Academia Brasileira de Ciências 47, 411-464.

Blaxter M, Mann J, Chapman T, Thomas F, Whitton C, Floyd R, Abebe E

(2005).Defining operational taxonomic units using DNA barcode data. Philos.

Trans. R. Soc. Biol. Sci. 29 (360), 1935-1943.

Bowen BW, Meylen AB, Avise JC (1991). Evolutionary distinctiveness of the

endangered Kemp’s Ridley sea turtle. Nature 352, 709-711.

Page 73: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

72

Braga FG (2003). Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), espécie

criticamente em perigo: uma preocupação no Estado do Paraná. Act. Biol. Par.

33 (1,2,3,4), 193-194.

Briscoe DA, Malpica JM, Robertson A, Smith GJ, Frankham R, Banks RG & Barker

JSF (1992). Rapid loss of genetic variation in large captive populations of

Drosophila flies:implications for the genetic management of captive populations.

Cons. Biol. 6, 416-425.

Brown GG (1986). Structural conservation and variation in the D-loop-containing

region of vertebrate mitochondrial DNA. Journal of Molecular Biology 192, 503-

511.

Casella J, Cáceres NC, Goulart CS, Filho ACP (2006). Uso de sensoriamento remoto

e análise espacial na interpretação de atropelamentos de fauna entre Campo

Grande e Aquidauana, MS. Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal,

321-326.

Chiarello AG (2000). Density and population size of mammals in remnants of

Brazilian Atlantic Forest. Conservation Biology 14 (6), 1649-1657.

Collevatti RG, Leite KCE, Miranda GHB, Rodrigues FGH (2007). Evidence of high

inbreeding in a population of the endangered giant anteater, Myrmecophaga

tridactyla (Myrmecophagidae), from Emas National Park, Brazil. Genet. Mol. Biol.

30,112-120.

Costa LP (2003). The historycal bridge between the Amazon and the Atlantic forest

of Brazil: a study of molecular phylogeography with small mammals. Journal of

Biogeography 30, 71-86.

Coutinho M, Campos Z, Mourão G, Mauro R (1997). Aspectos ecológicos dos

vertebrados terrestres e semi-aquáticos no Pantanal. In: BRASIL. Plano de

Conservação da Bacia do Alto Paraguai – PCBAP. Diagnósticos dos meios

físico e biótico: meio biótico. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos

Hídricos e da Amazônia Legal, Brasília, p. 183-322.

Page 74: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

73

Crandall KA, Bininda-Emonds ORP, Mace GM, Wayne RK (2002). Considering

evolutionary processes in conservation biology. TREE 15 (7), 290-295.

De Jong WW (1998). Molecules remodel the mammalian tree. TREE 13 (7), 270-275.

Delsuc F, Catzeflis FM, Stanhope MJ, Douzery EJP (2001). The evolution of

armadillos, anteaters and sloths depicted by nuclear and mitochondrial

phylogenies: implications for the status of the enigmatic fossil Eurotamandua.

Proc. R. Soc. Lond. B. 268, 1605-1615.

________, Scally M, Madsen O, Stanhope MJ, de Jong WW, Catzeflis F, Springer

MS, Douzery EJP (2002). Molecular phylogeny of living xenarthrans and the

impact of character and taxon sampling on the placental tree rooting. Mol. Biol.

Evol. 19 (10), 1656-1671.

________, Stanhope MJ, Douzery EJP (2003). Molecular systematics of Armadillos

(Xenarthra, Dasypodidae): contribution of maximum likelihood and Bayesian

analyses of mitochondrial and nuclear genes. Mol. Phylogenet. Evol. 28, 261-275.

Diniz LSM, Costa EO, Oliveira PMA (1995). Clinical disorders observed in anteaters

(Myrmecophagidae, Edentata) in captivity. Vet. Res. Comm. 19, 409-415.

Divers BJ (1986). Edentata. In: Fowler ME (ed.). Zoo & Wild Animal Medicine. 2ª

ed. W.B. Saunders Company, Philadelphia. p. 622-630.

Douzery E & Randi E (1997). The mitochondrial control region of Cervidae:

Evolutionary patterns and phylogenetic content. Mol. Biol. Evol. 14(11), 1154-

1166.

Edentate Specialist Group (1996). Myrmecophaga tridactyla. In: IUCN (2003). 2003

IUCN Red List of Threatened Species. www.iucnredlist.org.

Eisenberg JF (1989). Order Xenarthra (Edentata). In: Mammals of the Neotropics –

The northern Neotropics. Vol.1. The University of Chicago Press, London, 50-67.

Emerson, BC & Hewitt, GM (2007). Phylogeography. Current Biology 24;15 (10),

367-371.

Page 75: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

74

Engelman GF (1985). The phylogeny of the Xenarthra. In: Montgomery GG (ed.) The

evolution and Ecology of Armadillos, Sloths and Vermilinguas. Smithsonian

Institution Press, Washington.

Ewing B & Green P (1998). Basecalling of automated sequencer traces using Phred

II: error probabilities. Genome Res. 8, 186-194.

_______, Hillier L, Wendi M & Green P (1998). Basecalling of automated sequencer

traces using Phred I: accuracy assesment. Genome Res. 8, 175-185.

Excoffier L, Smouse PE & Quattro JM (2006). Analysis of molecular variance inferred

from metric distances among DNA haplotypes: application to human

mitochondrial DNA restriction data. Genetics 131, 479-491.

Fahrig L (2003). Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annu. Rev. Ecol.

Evol. Syst. 34, 487-515.

Fallabrino A & Castiñeira E (2006). Situación de Los Edentados em Uruguay.

Edentata 7: 1-3.

Fariña RA (1996). Trophic relationships among Lujanian mammals. Evol. Theory 11,

125-134.

Fonseca GAB (1994). Livro vermelho dos mamíferos brasileiros ameaçados de

extinção. Fundação Biodiversitas.

Fonseca GAB & Aguiar JM (2004). Species summaries and species discussions.

Edentate Specialis Group. Edentata 6, 3-26.

Frankham R (1996). Relationship of genetic variation to population size in wildlife.

Conservation Biology 10 (6), 1500-1508.

__________ (1998). Inbreeding and extinction: Island populations. Conservation

Biology 12 (3), 665-675.

__________ (2005) Genetics and extinction. Biological Conservation 126, 131-140.

Page 76: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

75

__________, Ballou JD, Briscoe DA (2002). Introduction to conservation

genetics. Cambridge University Press, UK.

Franklin IR (1980). Evolutionary changes in small populations. In: Soulé ME & Wilcox

BA (ed.) Conservation biology: the science of scarcity and diversity. Sinauer

Associates Inc., Sunderland, Massachusetts. p. 135-148.

Frutus SD & Bussche RAVD (2002). Genetic diversity and gene flow in nine-banded

armadillos in Paraguay. Journal of Mammology 83 (3), 815-823.

Fu Y-X, Li W-H (1993). Statistical tests of neutrality of mutations. Genetics 133, 693-

709.

Garcia DM, Marmontel M, Rosas FW, Santos FR (2007). Conservation genetics of

the giant otter (Pteronura brasiliensis (Zimmerman, 1780)) (Carnivora,

Mustelidae). Braz. J. Biol. 67, 819-827.

Garcia JE, Vilas Boas LA, Lemos MVF, Macedo Lemos G, Contel EPB (2005).

Identification of Microsatellite DNA Markers for the Giant Anteater Myrmecophaga

tridactyla. J. Her. 96 (5), 600-602.

Garcia-Rodriguez AI, Bowen BW, Domning D, Mignucci-Giannoni AA, Marmontel M,

Montoya-Ospina RA, Morales-Vela B, Rudin M, Bonde RK & McGuire PM (1998).

Phylogeography of the West Indian manatee (Trichechus manatus): how many

populations and how many taxa? Molecular Ecology 7, 1137-1149.

Gardner AL (2005) Order Pilosa. In: Wilson DE, Reeder DM (eds.) Mammal species

of the world: a taxonomic and geographic reference. 3 ed. Baltimore, The

John Hopkins University Press, p. 98-102.

Gilpin ME & Soulé ME (1986). Minimum viable populations: processes of species

extinction. In: Soulé ME (ed.) Conservation biology: the science of scarcity

and diversity. Sinauer Associates Inc., Sunderland, Massachusetts. p. 19-34.

Page 77: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

76

Glass BP (1985). History of classification and nomenclature in Xenarthra (Edentata).

In: Montgomery GG (ed.) The evolution and Ecology of Armadillos, Sloths

and Vermilinguas. Smithsonian Institution Press, Washington.

Gordon D, Abajian C, Green P (1998). Consed: a graphical tool for sequence

finishing. Genome Res 8, 195-202.

Griffiths R & Tiwari B (1993). Primers for the differential amplification of the sex

determining region Y gene in a range of mammal species. Mol. Ecol. 2, 405-406.

Guindon S, Lethiec F, Duroux P, Gascuel A (2005). PHYML Online – a web server

for fast maximum likelihood-based phylogenetic inference. Nucleic Acids Res. 33,

557-559.

Hallström BM, Kullberg M, Nilsson MA, Janke A (2007). Phylogenomic Data

Analyses Provide Evidence that Xenarthra and Afrotheria Are Sister Groups. Mol.

Biol. Evol. 24 (9), 2059–2068.

Hare MP (2001). Prospects for nuclaear gene phylogeography. Trends in Ecol Evol.

16 (12), 700-706.

Hedges SB, Kumar S (2003). Genomic clocks and Evolutionary timescales. Trends in

Genetics, 19 (4), 200-206.

Higgins DG, Sharp PM (1988). CLUSTAL: A package for performing multiple

sequence alignment on a microcomputer. Gene 73, 237-244.

Hillis DM, Mable BK, Larson A, Davis SK & Zimmer E (1996). Nucleic Acids IV:

Sequencing and Clonning. In: Hillis D. Moritz C & Mable BK (ed.) (1996)

Molecular Systematics 2nd Ed. Sinauer Associates Inc., Sunderland,

Massachusetts.

Page 78: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

77

Holland MM, Cave CA, Holland CA, Billie TW (2003). Development of a Quality, High

Throughput DNA Analysis Procedure for Skeletal Samples to Assist with the

Identification of Victims from the World Trade Center Attacks. CMJ, 44: 264-272.

IBAMA, 2003; http://www.ibama.gov.br/fauna/extincao.htm

Irwin DE (2002). Phylogeographic breaks without geographic barriers to gene flow.

Evolution 56 (12), 2383-2394.

Irwin DM, Kocher TD & Wilson AC (1991). Evolution of the Cytochrome b gene of

mammals. Journal of Molecular Evolution 32, 128-144.

IUCN International Union for Conservation of Nature and Natural Resourses (2008).

Red list of threatened species. www.iucnredlist.org.

Johns GC & Avise JC (1998). A comparative summary of genetic distances in the

vertebrates from the mitochondrial Cytochrome b gene. Mol.Biol.Evol. 15 (11),

1481-1490.

Kumar S, Tamura K, Jakobsen IB, Nei M (2007). MEGA 4.0: Molecular Evolutionary

Genetics Analysis software. Arizona State University, Arizona.

Lande R (1988). Genetics and demography in biological conservation. Science 241,

1455-1460.

Lara-Ruiz P, Chiarello A, Santos FR (2008). Extreme population divergence and

conservation implications for the rare endangered Atlantic Forest sloth, Bradypus

torquatus (Pilosa: Bradypodidae). Biol Cons 141, 1332-1342.

Leeuwenberg F (1997). Edentata as a food resource: Subsistence hunting by

Xavante Indians, Brazil. Edentata 3 (1), 4-5.

Lorenzutti, R & Almeida AP (2006). A coleção de mamíferos do Museu Elias

Lorenzutti em Linhares, Espírito Santo, Brasil. Bol. Mus. Biol. Mello Leitão 19: 59-

74.

Page 79: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

78

McNab BK (1985). Energetics, population biology and distribution of Xenarthrans,

living and extinct. In: Montgomery GG (ed.) The evolution and ecology of

armadillos, sloths, and vermilinguas. Smithsonian Institution Press,

Washington, DC.

Madsen O, Scally M, Douady C, Kao DJ, De Bry RW, Adkins R, Amrine H, Stanhope

MJ, de Jong WW & Springer MS (2001). Parallel adaptive radiations in two major

clades of placental mammals. Nature 409 (6820), 610-614.

Mantel N (1967). The detection of disease clustering and a generalized regression

approach. Cancer Research 27, 209-220.

McNeely JAK, Miller KR, Reid WV, Mittermeier RA, Werner TB (1990). Conserving

the world's biological diversity. World Conservation Union, World Resources

Institute, Conservation International, World Wildlife Fund-US, World Bank,

Washington, D.C.

McKenna MC & Bell SK (1997). Classification of mammals above the species

level. Columbia University Press, New York.

Medri IM (2005). Home range of giant anteaters (Myrmecophaga tridactyla) in the

Pantanal wetland, Brazil. Journal of Zoology 266, 365-375.

Messias-Costa A, Beresca AM, Cassaro K, Diniz LSM, Esberard C, (2001). Order

Xenarthra (Edentata) (Sloths, Armadillos, Anteaters). In: Fowler ME, (ed.)

Biology, medicine, and surgery of South American wild animals. Iowa

University Press, Ames, 238–255.

Mikich & Bernils (2004). Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no

estado do Paraná. IAP, Curitiba.

Miller MP (2005). Alleles in space (AIS): computer software for the joint analysis of

interindividual spatial and genetic information. J. Hered. 96 (6), 722-724.

Page 80: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

79

Miranda F (2004a) Projeto Tamanduá: o grupo de trabalho pela conservação do

tamanduá no Brasil. Edentata, 5: 56-57.

Miranda GHB (2004b). Ecologia e conservação do tamanduá-bandeira

(Myrmecophaga tridactyla, Linnaeus, 1758) no Parque Nacional das Emas. Tese

de Doutorado. Universidade de Brasília, Brasília.

Möller-Krull M, Delsuc F, Churakov G, Marker C, Superina M, Brosius J, Douzery

EJP, Schmitz J (2007). Retroposed elements and their flanking regions resolve

the evolutionary history of Xenarthran mammals (Armadillos, Anteaters and

Sloths). Mol. Biol. Evol. 24 (11), 2573-2582.

Montgomery GG & Lubin YD (1977). Prey influences on movements of neotropical

anteaters. In: Philips RL & Jonkel C (eds.) Proceedings of 1975 Predator

Symposium. Missoula, University of Montana, 103-131.

Moore WS (1995). Inferring phylogenies from DNAmt variation. Mitochondrial gene

trees vs. nuclear gene trees. Evolution 49, 718-26.

Morin PA, Luikart G, Wayne RK & SNP workshop group (2004). SNPs in ecology,

evolution and conservation. Trends in Ecol. Evol. 19 (4), 208-216.

Moritz C (1994). Defining “evolutionary significant units” for conservation. TREE 9,

373-375.

Murata K & Masuda R (1996). Gender determination of the Linne’s two-toed sloth

(Choleopus didactylus) using SRY amplified from hair. J. Vet. Med. Sci. 58 (12),

1157-1159.

Murphy WJ, Eizirik E, Johnson WE, Zhang YP, Ryder OA & O’Brien SJ (2001).

Molecular phylogenetics and the origins of placental mammals. Nature 409

(6820), 614-621.

Page 81: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

80

Myers N, Mittermeier RA, Mittermeier CG, Fonseca GAB, Kent J (2000). Biodiversity

hotsposts for conservation priorities. Nature, 403: 853-858.

Naples VL (1999). Morphology, evolution and function of feeding in the giant

anteaters (Myrmecophaga tridactyla). Journal of Zoology Lond. 249, 19-41.

Nickerson DA, Tobe VO, Taylor SL (1997). PolyPhred: automating the detection and

genotyping of single nucleotide substitutions using fluorescence-based

resequencing. Nucleic Acids Res 25, 2745–2751.

Oliveira-Filho AT & Ratter JA (1995) A stydy of the origin of central Brazillian forests

by the analysis of plant species distribution patterns. Edinburgh Journal of Botany

52, 141-194.

Parsons TJ, Muniec DS, Sullivan K, Woodyatt N, Alliston-Greiner R, Wilson MR,

Berry DL, Holland KA, Weedn VW, Gill P & Holland MM (1997). A high observed

substitution rate in the human mitochondrial DNA control region. Nature Genetics

15, 363-367.

Patterson B & Pascual R (1972). The fossil mammal fauna of South America. In:

Keast A, Erk FC and Glass BP (ed.) Evolution, mammals and southern

continents, State University of New York Press, Albany, pp 247-309.

Patton JL, Da Silva MNF & Malcolm JR. (1994). Gene genealogy and differentiation

among arboreal spiny rats (Rodentia:Echimidae) of the Amazon basin: a test of

the riverine barrier hipotesis. Evolution 48, 1314-1323.

________, Da Silva MNF & Malcolm JR (1996). Hierarchical genetic structure and

gene flow in three sympatric species of Amazonian rodents. Molecular Ecology

5(2), 229-38.

Page 82: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

81

________ & Da Silva MNF (1997). Definition of species of pouched four-eyed

opossums (Didelphidae, Philander). J.Mammal. 78, 90-102.

Pesole G, Gissi C, De Chirico A & Saccone C (1999). Nucleotide substitution rate of

mammalian mitochondrial genomes. J.Mol.Evol. 48, 427-434.

Petit E, Balloux F, Excoffier L (2002). Mammalian population genetics: why not Y?

Trends in Ecol. Evol. 17 (1), 28-33.

Porini G, Rylands A, Samudio R & membros do Edentate Specialist Group (2006).

Myrmecophaga tridactyla. In: IUCN (2006). 2006 IUCN Red List of Threatened

Species. www.iucnredlist.org.

Posada D, Crandall KA (1998). Modeltest: testing the model of DNA substitution.

Bioinformatics 14, 817-818.

Prance TP & Schaller GB (1982). Preliminary study of some vegetation types of the

Pantanal, Mato Grosso, Brazil. Brittonia 34 (2), 228-251.

Ratter JA, Ribeiro JF, Bridgewater S (1997). The Brazilian Cerrado vegetation and

threats to its biodiversity. Annals of Botany 80, 223-230.

Redford KH & Eisenberg JF (1992). Mammals of the Neotropics. Vol. 2. The

University of Chicago Press, Chicago.

__________ & Robinson JG (1986). Park size and the conservation of forest

mammals in Latin America. In: Mares MA & Schidly DJ (ed.) Latin American

Mammology – History, Biodiversity and Conservation. Unversity of Oklahoma

Press, London.

Page 83: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

82

Redondo RAF, Brina LPS, França-Silva R, Ditchfield A, Santos FR (2008). Molecular

systematics of the genus Artibeus (CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE). Mol

Phyl Evol, 48: DOI 10.1016/j.ympev.2008.07.001.

Reed DH & Frankham R (2003). Correlation between fitness and genetic diversity.

Conservation Biology 17 (1), 230-237.

Roca AL, Georgiadis N, O’Brien SJ (2007). Cyto-nuclear genomic dissociation and

the African elephant species question. Quartenary International 169-170, 4-16.

Rosa ALM (2007). Efeito da temperature ambiental sobre a atividade, uso de hábitat

e temperatura corporal do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) na

fazenda Nhumirim, Pantanal. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do

Mato Grosso do Sul, Corumbá.

Rozas J & Rozas R (1995). DnaSP, DNA sequence polymorphism: an interactive

program for estimating Population Genetics parameters from DNA sequence

data. Comput. Applic. Biosci. 11, 621-625.

Saccone C, Gissi C, Lanave C, Larizza A, Pesole G & Reyes A (2000). Evolution of

the mitochondrial genetic system: an overview. Gene 261, 153-159.

Sambrook E, Fritsch F & Maniatis T (1989). Molecular clonning. Cold Spring Harbor

Press, New York.

Sanger F, Nicklon S & Coulson AR (1977). DNA sequencing with chain terminating

inhibitors. Proc. Natl. Acad. Sci. USA. 74, 5463-5467.

Shaw JH, Carter TS, Machado-Neto JC (1985). Ecology of the giant anteater

Myrmecophaga tridactyla in Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil: a pilot

study. In: Montgomery GG (ed.) The evolution and ecology of armadillos,

sloths, and vermilinguas. Smithsonian Institution Press, Washington, DC.

Page 84: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

83

Silveira L, Rodrigues FHG, Jácomo AT de A, Diniz Filho JAF (1999). Impacts of

wildfires on the megafauna of the Emas National Park, central Brazil. Oryx 33 (2),

108-114.

Soulé ME (1980). Thresholds for survival: Maintaining fitness and evolutionary

potential. In: Soulé ME & Wilcox BA (ed.) Conservation Biology: an

evolutionary-ecological perspective. Sinauer Associates Inc., Sunderland,

Massachusetts.

_________ (1985). What is conservation biology? A new synthetic discipline

addresses the dynamics and problems of perturbed species, communities, and

ecosystems. BioScience 11 (35), 727-734.

Springer MS, Stanhope MJ, Madsen O & de Jong WW (2004). Molecules consolidate

the placental mammalian tree. TREE 19 (8), 430-438.

Stephens M, Donnelly P (2003). A comparison of Bayesian methods for haplotype

reconstruction from population genotype data. Am J Hum Genet 73, 1162-1169.

Stephens M, Smith NJ, Donnelly P (2001). A new statistical method for haplotype

reconstruction from population data. Am. J. Hum. Genet. 68, 978-989.

__________, Stone G, Stanyon R (2006). The ancestral eutherian karyotype is

present in Xenarthra. PLOS Genetics, 2(7): 1-6.

Swofford DL (1998). PAUP*. Phylogenetic analysis using parsimony (*and other

methods). Version 4. Sinauer Association Inc. Sunderland, Massachusetts.

Tajima F (1989). Statistical methods to test for nucleotide mutation hypothesis by

DNA polymorphism. Genetics 123, 585-595.

Page 85: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

84

Tajima F (1993). Simple methods for testing molecular clock hypothesis. Genetics

135, 599-607.

Takami K, Yoshida M, Yoshida Y, Kojima Y (1998). Sex determination in Giant

Anteater (Myrmecophaga tridactyla) using hair roots by Polymerase Chain

Reaction amplification. Jour. Reprod. Devel. 44 (1), 73-78.

Teeling EC, Madsen O, Van Den Busshe RA, de Jong WW, Stanhope MJ, Springer

MS (2001). Microbat paraphyly and the convergent evolution of a key innovation

in Old World rhinolophoid microbats. PNAS 99 (3), 1431-1436.

Van Dijk MAM, Paradis E, Catzeflis F & De Jong W (1999). The virtues of gaps:

Xenarthran (Edentate) monophyly supported by a unique deletion in the αA-

Cystallin. Syst.Biol. 48 (1), 94-106.

Vianna JA, Bonde RK, Clark A, Caballero S, Giraldo JP, Lima RP, Marmontel M,

Morales-Vela B, Souza MJ, Parr L, Rodríguez-Lopez MA, Mignucci-Giannoni AA,

Powell JA, Santos FS (2006). Phylogeography, phylogeny and hybridization in

trichechid sirenians: Implications for manatee conservation. Molecular Ecology 2

(15), 433-447.

Vivo M (1997). Mammalian evidence of historical, ecological change in the Caatinga

semiarid vegetation of northeastern Brazil. Journal of Comparative Biology 2, 65-

73.

Ward RH, Frazier BL, Dew-Jager K & Pääbo S (1991). Extensive mitochondrial

diversity within a single amerindian tribe. Proc. Natl. Acad. Sci. USA. 88 (19),

8720-8724.

Page 86: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

85

AAPPÊÊNNDDIICCEE II

Listagem dos indivíduos de Myrmecophaga tridactyla amostrados para o presente trabalho. Todas as amostras são provenientes de doações pessoais de pesquisadores ou de instituições parceiras, e foram depositadas no banco de DNA do Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular (BD-LBEM), credenciado no CGEM/MMA. O sexo de cada indivíduo foi identificado através de sexagem molecular conforme descrito no texto (indivíduos sublinhados mencionados no texto). ID Local de Coleta UF Sexo

M0663 PARNA Serra da Canastra – Coleção PUC MG ♂

M0712 PARNA Serra da Canastra – Z.B.H. – Coleção PUC MG ♀

M0668 Araxá MG ♂

SCMT01 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT02 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT03 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT04 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT05 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT06 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT07 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT08 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT09 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT10 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT11 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT12 PARNA Serra da Canastra MG ♀

SCMT13 PARNA Serra da Canastra MG ♂

SCMT15 PARNA Serra da Canastra MG ♀

M0707 Piumhi – Coleção PUC MG ♂

M0985 Dores do Indaiá MG ♂

M0986 Doresópolis MG ♂

TBC01 PARNA Emas GO ♂

TBC02 PARNA Emas GO ♂

TBC03 PARNA Emas GO ♂

TBC04 PARNA Emas GO ♂

TBC06 PARNA Emas GO ♂

TBC07 PARNA Emas GO ♀

TBC08 PARNA Emas GO ♂♂

TBC09 PARNA Emas GO ♂♂

TBC10 PARNA Emas GO ♂

TBC11 PARNA Emas GO ♂

TBC12 PARNA Emas GO ♂

TBC13 PARNA Emas GO ♂

TBC15 PARNA Emas GO ♂

TBC16 PARNA Emas GO ♀

TBC17 PARNA Emas GO ♂

TBC20 PARNA Emas GO ♂

TBC21 PARNA Emas GO ♂

TBC22 PARNA Emas GO ♂

TBC23 PARNA Emas GO ♂

Page 87: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

86

TBC24 PARNA Emas GO ♂

TBC25 PARNA Emas GO ♂

TBC26 PARNA Emas GO ♂

TBC28 PARNA Emas GO ♂

TBC29 PARNA Emas GO ♀

TBC30 PARNA Emas GO ♀

TBC31 PARNA Emas GO ♀

Filhotefêmea

PARNA Emas GO ♀

M0681 Cristalina GO ♂

M0684 São José do Rio Preto SP ♂

M0685 São José do Rio Preto – Zoológico de São Paulo SP ♂

M0686 São José do Rio Preto SP ♂

M0687 São José do Rio Preto SP ♂

M0693 São José do Rio Preto – Zoológico de São Paulo SP ♂

M0680 São José do Rio Preto SP ♂

M0682 Poconé – SESC Pantanal MT ♂

M0696 Poconé – SESC Pantanal MT ♀

M0980 Poconé – SESC Pantanal MT ♂

M0883 Nova Xavantina – Reserva Xavante MT ♂

MTTA10 Nova Xavantina – UNEMAT MT ♂

MTTA04 Nova Xavantina – UNEMAT MT ♂

MTTA02 Nova Xavantina – UNEMAT MT ♀

M0705 Vila Rica MT ♀

M0977 Telêmaco Borba - Parque Ecológico – Fazenda Monte Alegre PR ♂

KLABIN01 Telêmaco Borba – Parque Ecológico - Fazendas Klabin PR ♂

KLABIN02 Piraí do Sul – Parque Ecológico - Fazendas Klabin PR ♂

FB01 Jaguariaíva – Parque Ecológico PR ♀

FB02 Jaguariaíva – Parque Ecológico PR ♂

M0698 Corumbá – Fazenda Nhumirim MS ♂

M0697 Corumbá – Fazenda Nhumirim MS ♀

G8887 Belém – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica PA ♂

G10211 Oriximiná – M. P. E. G. – Coleção Mastozoológica PA ♂

G565 Ilha do Marajó – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica PA ♀

G1246 Ilha do Marajó – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica PA ♀

G1741 Caracaraí – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica RR ♀

G1652 Mazagão – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica AP ♀

G1662 Mazagão – M. P. E. G – Coleção Mastozoológica AP ♀

TBR Uberlândia MG ♂

Z. B. H. – Zoológico de Belo Horizonte M.P.E.G. – Museu Paraense Emílio Goeldi

Page 88: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

87

AAPPÊÊNNDDIICCEE IIII Relação dos sítios polimórficos encontrados nos fragmentos analisados de HVI, CytB, RAG2 e iAMELY. Os nomes dos haplótipos e suas freqüências são mostrados. Os números correspondem à posição da base no alinhamento, e os pontos representam identidade em relação ao haplótipo de referência (o primeiro de cada).

00011333444444

35708024025579

21835172520345

CytB1 CTAAGACAACCACA 59

CytB2 ........CG.... 1

CytB3 ...G.......... 4

CytB4 .......G...... 1

CytB5 ......TG..G... 1

CytB6 .............G 1

CytB7 ........C..GA. 3

CytB8 ....A......... 1

CytB9 ..G........... 1

CytB10 .C............ 2

CytB11 .....G........ 2

CytB12 G............. 1

0000222222222222

5778225666677899

6377696245714146

HVI1 TCCACAGTTATGCGAC 9

HVI2 .............A.. 5

HVI3 ..........C..A.. 1

HVI4 .G.....C........ 1

HVI5 ...G..........G. 1

HVI6 ...G.....G.A.A.. 4

HVI7 ...G............ 40

HVI8 ...G........T... 1

HVI9 ...G.........A.. 2

HVI10 ...GT........A.. 3

HVI11 ...G.......A.A.. 1

HVI12 ...G.....G.A.... 2

HVI13 G..G.....G.A.... 1

HVI14 ...G.....G.....T 1

HVI15 ...G....C....... 1

HVI16 ...G..A......... 1

HVI17 ...G.G...G.A.... 1

HVI18 ..GG............ 1

HVI19 ............T... 1

37125

81611

002

AMELY1 AGCAC 11

AMELY2 ...G. 5

AMELY3 GATG. 1

AMELY4 G..G. 1

AMELY5 ...GT 1

AMELY6 G...T 4

AMELY7 ....T 9

AMELY8 G.T.. 1

AMELY9 G.... 1

223477

490100

548379

RAG1 CCAAGC 40

RAG2 ...A.T 8

RAG3 ...AA. 6

RAG4 T..A.. 1

RAG5 .G.AA. 1

RAG6 .G.A.. 1

RAG7 ..GA.. 1

RAG8 ...G.. 2

Page 89: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 90: Diversidade genética do Tamanduá-bandeira Myrmecophaga …livros01.livrosgratis.com.br/cp087306.pdf · Desde os inúmeros documentários de evolução na National Geographic , até

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo