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# 34 – fevereiro 2014 Boca no trombone Djavan voltou a Montevidéu m 8 de março de 1994 no extinto Cine- Teatro Plaza, Djavan fazia sua primeira apresentação em Montevidéu para um público que quase desconhecia seu trabalho. Hoje, com mais de 20 discos de carreira e reconhecimento nacional e internacional como um dos medalhões da música brasileira, ele retornou –12 de fevereiro na Sala Adela Reta– com a tournê “Rua dos Amores” e a mesma banda (Paulo Calasans e Glauton Campello nos teclados, Carlos Bala na bateria, Marcelo Mariano no baixo, Marcelo Martins no sax, Jessé Sadox em trompete, Torcuato Mariano na guitarra) que o acompanhou 20 atrás. Nascido em família pobre, em 27 de janeiro de 1949, em Maceió (AL), Djavan poderia ter virado raiz, mas a música mudou seu destino e de uma flor-de-lis brotou uma carreira cuja floração perdura por mais de 37 primaveras. Por sua originalidade e polinização de suas canções a única coisa que se pode prever a cada novo trabalho de Djavan é a sua versatilidade de tons. Filho de mãe lavadeira, ainda garoto a escutava cantarolar os sucessos de Ângela Maria e Nelson Gonçalves. Mas a música só veio a se revelar essencial para Djavan Caetano Viana na adolescência. O violão aprendeu sozinho, olhando, ouvindo e acompanhando as cifras nas revistinhas do jornaleiro. Nesta época, ganhava a vida como meio-de-campo no CSA. Aos 18 anos, formou o conjunto Luz, Som, Dimensão (LSD), que animava os bailes em clubes, praias e igrejas de Maceió. No ano seguinte, Djavan largou o futebol e passou a dedicar-se apenas à música. Foi dedilhando o violão que Djavan descobriu que podia compor. Os companheiros não o entendiam muito bem, achavam-no estranho, complexo. Mas Djavan teve logo uma certeza, que permanece verdadeira até hoje: gosta de cantar, mas precisa compor. Então, em 1973, decidiu tentar a sorte no Rio de Janeiro. O começo, é claro, foi difícil: negro, nordestino, sem nenhum conhecimento na grande cidade, o que esperar? Das desilusões iniciais, aos poucos, desejo e sina se confundiram e foram lapidando seu sonho. Com a ajuda inestimável do radialista e conterrâneo Edson Mauro, Djavan teve sua primeira oportunidade: gravar músicas de outros artistas para as novelas da TV Globo. São deste período "Alegre Menina" (Jorge Amado e Dorival Caymmi), da novela "Gabriela"; e "Calmaria e Vendaval" (Toquinho e Vinicius de Moraes), incluída na trilha de "Fogo sobre Terra". Para completar o salário, Djavan era crooner nas boates Number One (Ipanema) e 706 (Leblon). Assim, com o apoio de João Araújo (Presidente da Som Livre), Djavan pôde trazer sua família (esposa e filha) para o Rio. JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil | Editor: Leonardo Moreira Web: www.casadobrasil.com.uy | Twitter: @casadobrasiluy | Mail: [email protected] U

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# 34 – fevereiro 2014

Boca no trombone

Djavan voltou a Montevidéu

m 8 de março de 1994 no extinto Cine-

Teatro Plaza, Djavan fazia sua primeira

apresentação em Montevidéu para um

público que quase desconhecia seu trabalho.

Hoje, com mais de 20 discos de carreira e

reconhecimento nacional e internacional

como um dos medalhões da música

brasileira, ele retornou –12 de fevereiro na

Sala Adela Reta– com a tournê “Rua dos

Amores” e a mesma banda (Paulo Calasans e

Glauton Campello nos teclados, Carlos Bala

na bateria, Marcelo Mariano no baixo,

Marcelo Martins no sax, Jessé Sadox em

trompete, Torcuato Mariano na guitarra) que

o acompanhou 20 atrás.

Nascido em família pobre, em 27 de janeiro

de 1949, em Maceió (AL), Djavan poderia ter

virado raiz, mas a música mudou seu destino

e de uma flor-de-lis brotou uma carreira cuja

floração já perdura por mais de 37

primaveras. Por sua originalidade e

polinização de suas canções a única coisa

que se pode prever a cada novo trabalho de

Djavan é a sua versatilidade de tons.

Filho de mãe lavadeira, ainda garoto a

escutava cantarolar os sucessos de Ângela

Maria e Nelson Gonçalves. Mas a música só

veio a se revelar essencial para Djavan

Caetano Viana na adolescência. O violão

aprendeu sozinho, olhando, ouvindo e

acompanhando as cifras nas revistinhas do

jornaleiro. Nesta época, ganhava a vida como

meio-de-campo no CSA.

Aos 18 anos, formou o conjunto Luz, Som,

Dimensão (LSD), que animava os bailes em

clubes, praias e igrejas de Maceió. No ano

seguinte, Djavan largou o futebol e passou a

dedicar-se apenas à música. Foi dedilhando o

violão que Djavan descobriu que podia

compor. Os companheiros não o entendiam

muito bem, achavam-no estranho, complexo.

Mas Djavan teve logo uma certeza, que

permanece verdadeira até hoje: gosta de

cantar, mas precisa compor. Então, em

1973, decidiu tentar a sorte no Rio de

Janeiro.

O começo, é claro, foi difícil: negro,

nordestino, sem nenhum conhecimento na

grande cidade, o que esperar? Das

desilusões iniciais, aos poucos, desejo e sina

se confundiram e foram lapidando seu

sonho.

Com a ajuda inestimável do radialista e

conterrâneo Edson Mauro, Djavan teve sua

primeira oportunidade: gravar músicas de

outros artistas para as novelas da TV Globo.

São deste período "Alegre Menina" (Jorge

Amado e Dorival Caymmi), da novela

"Gabriela"; e "Calmaria e Vendaval" (Toquinho

e Vinicius de Moraes), incluída na trilha de

"Fogo sobre Terra". Para completar o salário,

Djavan era crooner nas boates Number One

(Ipanema) e 706 (Leblon). Assim, com o

apoio de João Araújo (Presidente da Som

Livre), Djavan pôde trazer sua família (esposa

e filha) para o Rio.

JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil | Editor: Leonardo Moreira

Web: www.casadobrasil.com.uy | Twitter: @casadobrasiluy | Mail: [email protected]

U

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# 34 – fevereiro 2014

Mas ainda era preciso compor. A chance de

mostrar seu talento como compositor

aconteceu em 1975 com o Festival Abertura.

Conquistando o segundo lugar, sua carreira

se tornou fato consumado, pelo menos a

partir daí que o próprio Djavan considera seu

início. "Fato Consumado" virou compacto e

abriu as portas para uma nova fase em sua

vida com a gravação de seu primeiro LP, em

1976. A Voz, o violão e a arte de Djavan

inscreveu "Flor de Lis" na posteridade.

No ano seguinte, Djavan assinou contrato

com a EMI-Odeon, com quem viria a gravar

três álbuns: Djavan (1978), Alumbramento

(1980) e Seduzir (1981). O primeiro nos deu

"Serrado" e "Álibi"; o segundo, "Meu bem

querer", “Lambada de Serpente” e "A Rosa",

com Chico Buarque; e o terceiro, "Seduzir" e

"Faltando um pedaço".

Artistas, público e crítica começam, então, a

reconhecer o talento de Djavan como

compositor. Nana Caymmi gravou "Dupla

Traição"; Maria Bethânia, "Álibi" e Roberto

Carlos, "A Ilha". Gal Costa soma pontos com

sua interpretação para "Açaí" e "Faltando um

pedaço", que se tornaram as mais

executadas em todo o Brasil. Mas a maior

homenagem veio de Caetano Veloso que, ao

gravar "Sina", retribuiu o verbo "caetanear"

com "djavanear". Suas músicas podiam ser

ouvidas no rádio, em shows e em discos, e

lhe renderam o prêmio de melhor compositor

por dois anos consecutivos (81 e 82) pela

Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Em 82, Djavan vai para a CBS (atual Sony

Music) já na categoria de artista consagrado.

Mesmo no hemisfério norte a Luz de Djavan

ganhava intensidade. Gravado nos Estados

Unidos, o álbum teve participação especial de

Stevie Wonder na faixa "Samurai”. Outros

destaques deste disco são "Sina", "Pétala" e

"Açaí". A importância que Djavan assume na

música brasileira pode ser medida através de

seus shows, que passaram de teatros para

ginásios e estúdios e da venda de seus

discos que passaram de 40 para 350 mil

cópias.

Logo após lançar Luz, Djavan dedicou cinco

meses à carreira de ator, vivendo um poeta-

mendigo que se apaixona pela moça rica

(Patrícia Pilar) em "Para viver um grande

amor" (1983), filme de Miguel Faria Jr.

Djavan tem grande interesse no cinema, mas

prefere contribuir com o que faz de melhor:

compor e cantar.

Lilás, faixa-título de seu álbum de 84, foi

executada mais de 1.300 vezes nas rádios

brasileiras, no dia de seu lançamento. Outro

sucesso deste LP foi "Esquinas", composta

em Los Angeles durante a gravação do disco.

A carreira de Djavan está consolidada

também nos EUA, graças aos inúmeros

shows e reverências de artistas do quilate de

Quincy Jones (editor de algumas de suas

músicas do lado de lá do Equador).

Quando todos pensavam saber o que viria a

seguir, o álbum Meu Lado foi gravado

inteiramente no Brasil e refletiu muitas

outras facetas de Djavan. Nele, marcam

presença a balada, o xote, o samba e a valsa,

postos lado-a-lado e mesclados pelo suingue

do cantor e compositor. Em 1987, Djavan

volta aos estúdios americanos em Não é azul

mas é mar, lançado lá fora com o título Bird

of Paradise. No Brasil, América, Europa ou

Japão, todos reconhecem a singularidade da

obra de Djavan.

Se de início achavam que deveria mudar seu

nome e que suas músicas eram muito

complicadas, o nome curto –como o da

maioria de suas músicas, aliás– traduz um

pouco sua arte: simples, sem, entretanto, ser

banal. O popular e o sofisticado se misturam

perfeitamente ao longo da sua carreira.

"Oceano", música que impulsiona o artista de

volta as paradas de sucesso do país, foi

incluída na trilha sonora da novela "Top

Model" trazendo o refinado violão flamenco

de Paco de Lucia. O hit está em mais um

álbum intitulado apenas Djavan, de 1989.

Como curiosidade, este disco apresenta duas

raridades de seu repertório: "Corisco"

(parceria com Gilberto Gil) e "Você bem Sabe"

(com Nelson Motta). Embora o ato de compor

seja mesmo solitário para ele, Djavan soube

concretizar excelentes parcerias, como as de

Aldir Blanc, Chico Buarque, Caetano Veloso,

Orlando Moraes, Arthur Maia e

Dominguinhos. (Continuará).

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Antenados

(20)14 dicas pra ver

Busca (Direção: Luciano Moura)

Theo Gadelha (Wagner Moura) e Branca

(Mariana Lima) são casados e

trabalham como médicos. O casal tem um

filho, Pedro (Brás Antunes), que desaparece

quando está perto de completar 15 anos.

Para piorar a situação, Theo fica sabendo que

Branca quer se separar dele e que seu

mentor (Germano Haiut) está à beira da

morte. Theo sai em busca do filho sumido e

aproveita a viagem para se redescobrir.

Bonitinha, mas Ordinária (Moacyr Góes)

Nova adaptação da famosa peça (e filmada

três vezes) de Nelson Rodrigues (ver

JornalDaCasa #8), produzida em 2008, mas

lançada cinco anos após as filmagens.

Edgard (João Miguel) trabalha como

subalterno na empresa do milionário

Werneck (Gracindo Junior) e é apaixonado

por Ritinha (Leandra Leal), uma mulher

simples que trabalha como professora para

sustentar a mãe e suas três irmãs. Um dia

Peixoto (Leon Góes), genro e funcionário de

Werneck, lhe faz uma proposta para que se

case com Maria Cecília (Letícia Colin), filha do

patrão. O motivo é que Maria Cecília foi

currada e agora precisa de um noivo, mesmo

que seja comprado. Edgard hesita, mas

aceita a proposta. A partir de então ele entra

em uma grande dúvida: deve depositar o

cheque e se casar com Maria Cecília ou ficar

com Ritinha, seu grande amor?

Casa da Mãe Joana 2 (Hugo Carvana)

Após lançar o livro "Casa da Mãe Joana",

Montanha (Antonio Pedro) está levando uma

vida tranquila como escritor de sucesso. Um

dia ele recebe um pedido de ajuda de seu

velho amigo Juca (José Wilker), que está

preso no Cafiristão e precisa urgentemente

de dinheiro para não ser enforcado.

Paralelamente, PR (Paulo Betti) segue dando

seus golpes em viúvas ricas e escolheu a

madame Pedregal (Carmem Verônica) como

seu novo alvo. Não demora muito para que

tanto Juca quanto PR se reencontrem na

mansão de Montanha, que fica muito feliz em

rever os amigos. Entretanto, o que o dono da

casa não esperava era que dona Araci (Betty

Faria), sua governante, estava tramando um

golpe para cima dele e que ele resultaria na

aparição de um fantasma gay, Zazie (Caike

Luna), que foi camareiro de Maria Antonieta

(Fabiana Karla).

Colegas (Marcelo Galvão)

Disposto a quebrar paradigmas e jogar tudo

para o alto, o diretor, produtor, editor e

roteirista Marcelo Galvão apresenta uma

aventura despretensiosa, protagonizada por

um trio de atores portadores da Síndrome de

Down. Stallone (Ariel Goldenberg), Aninha

(Rita Pook) e Márcio (Breno Viola) eram

grandes amigos e viviam juntos em um

instituto para portadores dessa síndrome, ao

lado de vários outros colegas. Um belo dia

surge a ideia de sair dali para realizar o

sonho individual de cada um e inspirados

pelos inúmeros filmes que já tinham assistido

na videoteca local, eles roubam o carro do

jardineiro (Lima Duarte) e fogem de lá. A

A

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# 34 – fevereiro 2014

imprensa começa a cobrir o caso e a polícia

não gostou nem um pouco dessa

"brincadeira". Para resolver o problema,

coloca dois policiais trapalhões no encalço

dos jovens, que só querem realizar os seus

sonhos e estão dispostos a viver essa grande

aventura, que vai se revelar repleta de

momentos inesquecíveis.

Disparos (Juliana Reis)

O filme foge do velho clichê do mocinho

contra bandido para trazer a história de um

embate moral. De um lado, o fotógrafo

arrogante (Gustavo Machado) que foi vítima

de assalto. Do outro, o policial (Sílvio

Guindane) que prolonga a investigação ao

máximo como resposta ao nariz empinado do

primeiro. É a partir deste conflito, sem uma

única bala ser disparada –o título é uma

referência ao disparo das máquinas

fotográficas e também uma certa piada em

torno da abordagem do tema principal–, que

o longa-metragem é apresentado.

Elena (Petra Costa)

Ao viajar para Nova York, Elena segue o

sonho de se tornar atriz de cinema e deixa no

Brasil uma infância vivida na clandestinidade,

devido à ditadura militar implantada no país,

e também a irmã mais nova, Petra, de

apenas sete anos. Duas décadas depois,

Petra, já atriz, embarca para Nova York atrás

da irmã. Em sua busca Petra apenas tem

algumas pistas, como cartas, diários e filmes

caseiros. Ela acaba percorrendo os passos da

irmã até encontrá-la em um lugar inesperado.

Flores Raras (Bruno Barreto)

1951, Nova York. Elizabeth Bishop (Miranda

Otto) é uma poetisa insegura e tímida, que

apenas se sente à vontade ao narrar seus

versos para o amigo Robert Lowell (Treat

Williams). Em busca de algo que a motive, ela

resolve partir para o Rio de Janeiro e passar

uns dias na casa de uma colega de

faculdade, Mary (Tracy Middendorf), que vive

com a arquiteta brasileira Lota de Macedo

Soares (Glória Pires). A princípio Elizabeth e

Lota não se dão bem, mas logo se apaixonam

uma pela outra. É o início de um romance

acompanhado bem de perto por Mary, já que

ela aceita a proposta de Lota para que

adotem uma filha.

Mato sem Cachorro (Pedro Amorim)

Deco (Bruno Gagliasso) vive jogado no sofá

de sua casa, apesar de ter bastante talento

com a música. Um dia, ele encontra dois

grandes amores de uma só vez: a radialista

Zoé (Leandra Leal) e o cachorro Guto, que

desmaia toda vez que fica muito animado.

Não demora muito para que o trio viva como

se fosse uma família. Só que, dois anos

depois, Zoé termina o namoro, fica com a

guarda de Guto e ainda por cima arranja um

novo namorado (Enrique Diaz). Motivos mais

do que suficientes para que Deco fique

revoltado e prepare uma vingança,

sequestrar Guto. Para tanto, ele conta com a

ajuda de seu primo Leléo (Danilo Gentili).

Meu Passado me Condena (Julia Rezende)

Quando Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá

Mello) se encontram, é amor à primeira vista.

Eles se casam um mês depois de se

conhecerem e decidem viajar à Europa em

um cruzeiro em lua de mel. Só que, durante a

viagem, eles encontram seus antigos

namorados, Beto (Alejandro Claveaux) e

Laura (Juliana Didone), que hoje estão juntos

e também passam sua lua de mel.

Meu Pé de Laranja Lima (Marcos Bernstein)

Zezé (João Guilherme de Ávila) tem quase

oito anos e vive com sua família pobre no

interior. Ele é sensível, precoce, um contador

de histórias. Seu esporte favorito é

transformar sua casa e a vizinhança em

cenário para suas traquinagens. E elas não

são poucas. Seu refúgio preferido é um pé de

laranja lima, que fica no quintal de sua casa.

É com ele que desabafa as coisas ruins que

lhe acontecem, que comemora uma boa

novidade ou com quem divide suas

travessuras secretas. Até que, um dia,

conhece Portuga (José de Abreu), um senhor

que passa a ajudá-lo e logo se torna seu

melhor amigo. Uma história de amor e

amizade tão tocante quanto o mais

improvável dos encontros. Baseado no

clássico romance juvenil, escrito por José

Mauro de Vasconcelos e publicado em 1968,

que marcou gerações de crianças. Não

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# 34 – fevereiro 2014

apenas por retratar o lado imaginativo em

uma vida dura, mas especialmente por

abordar a questão da morte dentro do

imaginário infantil.

O Concurso (Pedro Vasconcelos)

O gaúcho Rogério Carlos (Fábio Porchat), o

paulista Bernardinho (Rodrigo Pandolfo) e o

cearense Freitas (Anderson Di Rizzi)

conseguiram se dar bem em um concurso

público para se tornar juiz, mas ainda falta

uma última etapa, que será realizada no Rio

de Janeiro. Para isso, os três viajam para a

Cidade Maravilhosa e lá encontram o quarto

candidato, Caio (Danton Mello), um carioca

que acaba colocando todos numa tremenda

enrascada por conta da ideia de conseguir o

gabarito faltando menos de 48 horas para o

dia D. Para isso dar certo, todos precisarão

lidar com a bandidagem e um deles acaba

encontrando uma antiga namoradinha

(Sabrina Sato) dos tempos da juventude. Aí, a

confusão só aumenta e o dia da prova está

chegando. Será que eles vão conseguir se

dar bem?

O Tempo e o Vento (Jayme Monjardim)

Rio Grande do Sul, final do século XIX. As

família Amaral e Terra-Cambará são inimigas

históricas na cidade de Santa Fé. Quando o

sobrado dos Terra-Cambará é cercado pelos

Amaral, todos os integrantes da família são

obrigados a defender o local com as armas

que têm à disposição. Esta vigília dura vários

dias, o que faz com que logo a comida

escasseie. Entre eles está Bibiana (Fernanda

Montenegro), matriarca da família que recebe

a visita de seu falecido esposo, o capitão

Rodrigo (Thiago Lacerda). Juntos eles

relembram a história não apenas de seu

amor, mas de como nasceu a própria família

Terra-Cambará. Baseado na série literária do

escritor Érico Veríssimo (ver JornalDaCasa

#9), sob o ponto de vista da luta entre essas

duas famílias, o filme retrata a formação do

Rio Grande do Sul, a povoação do território

brasileiro e a demarcação de suas fronteiras,

forjada a ferro e espada pelas disputadas

entre as coroas portuguesa e espanhola.

Odeio o Dia dos Namorados (Roberto

Santucci)

Débora (Heloísa Périssé) é uma publicitária

que sempre privilegiou a carreira em

detrimento de sua vida amorosa. Entretanto,

ambas se misturam quando ela precisa

trabalhar em uma importante campanha para

o Dia dos Namorados cujo cliente é Heitor

(Daniel Boaventura), seu ex-namorado, que

foi dispensado por ela de forma humilhante.

Diante desta situação, ela ainda precisa lidar

com a inesperada visita do fantasma de seu

amigo Gilberto (Marcelo Saback), que tenta

fazer com que ela repense a vida e descubra

o que as pessoas realmente pensam dela.

Serra Pelada (Heitor Dhalia)

1980. Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim

(Júlio Andrade) são grandes amigos que

ficam empolgados ao tomar conhecimento de

Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto

do mundo, localizado no estado do Pará. A

dupla resolve deixar São Paulo e partir para o

local, sonhando com a riqueza. Só que, pouco

após chegarem, tudo muda na vida deles:

Juliano se torna um gângster, enquanto que

Joaquim deixa para trás os valores que

sempre prezou.

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# 34 – fevereiro 2014

Ao pé da letra

Sampa

ido por muitos paulistanos como o mais

belo hino à sua terra e integrante

obrigatória dos shows que Caetano

Veloso (ver JornalDaCasa #27) faz na cidade

de São Paulo, Sampa foi composta a partir de

um pedido da TV Bandeirantes. Em 1978, o

canal faria um programa sobre a capital

paulista, e o produtor Roberto de Oliveira

pediu um depoimento a Caetano. O

compositor respondeu com uma canção,

posteriormente lançada no disco Muito. Em

Sampa, Caetano relata suas primeiras

impressões ao conhecer a cidade, na década

de 1960. Nascido em 1942, na Bahia,

Caetano instalou-se na década de 1960 em

São Paulo em companhia de seus

companheiros de movimento tropicalista. A

relação com a cidade começava aí.

A letra de Sampa combina diferentes

referências à cidade e à cultura que se

desenvolvia no centro urbano. Revela a

aversão inicial do compositor, que vai se

transformando em afeição: o que primeiro

chama de mau gosto se torna atração pela

dinâmica multiplicidade da metrópole. O

retrato feito por Caetano reúne vilas e

favelas, dinheiro e fumaça, diferentes

correntes artísticas e de pensamento, como o

rock/pop nacional, representado por Rita Lee

e Os Mutantes, ao lado da vanguarda

concretista dos irmãos Augusto e Haroldo de

Campos. A frase de Ronda, de Paulo Vanzolini

(ver JornalDaCasa #27): “Que só quando

cruza a Ipiranga e a avenida São João”, é

citada por Caetano como homenagem, mas

foi entendida por Vanzolini como plágio.

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São

João

É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi

Da dura poesia concreta de tuas esquinas

Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee

A tua mais completa tradução

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São

João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu

rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau

gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho

E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Nada do que não era antes quando não somos

Mutantes

E foste um difícil começo

Afasta o que não conheço

E quem vem de outro sonho feliz de cidade

Aprende depressa a chamar-te de realidade

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas

Da força da grana que ergue e destrói coisas belas

Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas

Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços

Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba

Mais possível novo quilombo de Zumbi

E os novos baianos passeiam na tua garoa

E novos baianos te podem curtir numa boa

Discos onde ouvir Caetano Veloso – Muito (1978)

João Gilberto – João (1991)

Gilberto Gil – Unplugged (1994)

Rildo Hora – Virtuoso (1997)

Nonato Luiz – O Choro da Madeira (1999)

Yamandú Costa – Ao Vivo (2003)

T

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# 34 – fevereiro 2014

Telinhas e telonas

Allahalla... salve Jorge!

canal 12 começou 2014 estreando

uma nova novela da TV Globo, Salve

Jorge (de segunda a sexta-feira às

19hs), traduzida para o mundo hispano-

falante como La Guerrera. Trata-se da

história de Morena (Nanda Costa), uma moça

simples, moradora do Complexo do Alemão,

no Rio de Janeiro, que interrompeu seus

planos de conquistar sucesso em uma

carreira artística por conta de uma gravidez

precoce, consequência de uma decepção

amorosa. Alguns anos depois, ela vê a sua

sorte virar ao receber uma proposta para

trabalhar fora do país. Porém, a decisão de

viajar atrás de uma vida melhor para sua

família a obrigará a se afastar de Theo

(Rodrigo Lombardi), o homem que ama. Theo

é o cara certo na hora errada. Devoto fiel de

São Jorge, ele é cavaleiro do Exército. Morena

mal consegue acreditar que encontrou

alguém como Theo depois de tanta desilusão.

Mas ele vai ter que esperar. Ela não pode

deixar a chance de dar uma guinada na sua

vida, na vida de seu filho e de sua mãe.

Assim que possível, voltará para seus braços.

Mas mal sabe ela os perigos que se

escondem por trás dessa grande

oportunidade que lhe foi oferecida por Wanda

(Totia Meirelles). Como ela haveria de

desconfiar? Wanda é a pessoa que a faz

enxergar um mundo de novas possibilidades

de vida na Turquia. Na realidade, Wanda

trabalha para a perigosa Lívia Marine

(Cláudia Raia), uma mulher rica, sofisticada,

elegante e acima de qualquer suspeita. Por

trás do convite para uma vida cheia de

possibilidades fora do Brasil está uma

perigosa rede internacional de tráfico de

pessoas. E a determinada delegada Helô

(Giovanna Antonelli) está disposta a

desbaratar esta máfia custe o que custar.

As gravações no exterior se iniciaram na

rústica região da Capadócia, berço do mito de

São Jorge. Famosa por seu céu repleto de

balões coloridos e por suas formações

geológicas únicas, a Capadócia tem como

significado "terra dos belos cavalos". Foram

usados mais de 350 cavalos locais nas cenas

com os atores. Os tradicionais Vale do Amor,

Vale da Rosa e Vale Devrent (da imaginação)

foram algumas das locações escolhidas.

Depois da Capadócia, a produção da novela

se dirigiu para a cosmopolita Istambul. Como

pano de fundo das cenas, alguns dos cartões

postais mais famosos como a Basílica de

Santa Sofia, a Mesquita Azul e o Palácio

Topkapi. "Fomos muito bem recebidos pelo

O

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# 34 – fevereiro 2014

povo turco. É um país de contrastes

maravilhosos", contou em entrevista o diretor

de núcleo Marcos Schechtman, que gravou

cerca de 600 cenas na viagem, que duraram

40 dias em três localidades diferentes.

As equipes de figurino e produção de arte

trabalharam incansavelmente para retratar a

cultura turca. A produção de arte comprou no

país louças de chá e café, narguilés,

instrumentos musicais, tecidos locais,

tapetes e teares. Já a equipe de figurino

incluiu peças turcas como a salwar, calça

larga, que marca o estilo de Sarila (Bety

Gofman), uma mulher do interior da

Capadócia. Oyas (rendas turcas), ikats (peças

de tecelagem artesanal com tingimento

especial nos fios) e suzanis (peças bordadas

em seda) foram comprados durante a viagem

e compunham o guarda-roupa dos

personagens do núcleo turco.

A trilha da novela trouxe uma canção inédita

de Cazuza, Sorte ou Azar, que faria parte do

primeiro disco do Barão Vermelho, há 30

anos. Também duas gravações de Roberto

Carlos: "Esse Cara Sou Eu" e "Furdúncio".

Algumas expressões turcas que viraram

bordões na novela: allahalla (ô, meu Deus!),

babisko (paizinho), bayrun (sejam bem-

vindos), evet (sim), gule gule (tchau), hádi

(vamos, rápido), lok (não), mashallah (que

deus o proteja), mérabá (oi) e xerefé (saúde -

para brindar).

A novela de Glória Perez enfrentou a rejeição

do público e críticas por toda parte, seja pela

repetição de temas e elenco, pelo número

excessivo de personagens -quase cem-, ou

pelas dancinhas e bordões estrangeiros que

já não despertavam mais tanto interesse

como na época de O Clone (2001-2002). A

Turquia retratada em Salve Jorge pareceu

uma mistura de Marrocos (de O Clone) com a

Índia (de Caminho das Índias - 2009).

Também vale ressaltar que a novela anterior

no horário, Avenida Brasil, acostumou o

telespectador com uma trama muito mais

ágil, que causou uma verdadeira comoção

entre o público.

Salve Jorge registrou a menor média de

audiência entre as novelas das nove da

Globo até então: 34 pontos (perdendo para

Passione 35, Insensato Coração 36, Fina

Estampa e Avenida Brasil, 39). Mas a

audiência não era um fato isolado. A novela

estreou em uma época ruim, com Horário

Político, Horário de Verão, festas de fim de

ano, feriadões. E não só a novela das nove,

mas todo o horário nobre sofreu uma queda

vertiginosa na audiência no período, em

todas as emissoras. Não por acaso, a trama

das sete (Guerra dos Sexos) e a das seis

(Lado a Lado) também amargaram índices

baixos no Ibope da Grande São Paulo.

Glória Perez apelidou os usuários de mídias

sociais que criticavam sua novela de "bonde

do recalque". Chegou a sugerir que havia

gente recebendo dinheiro para falar mal da

trama. De fato, houve uma campanha contra

Salve Jorge antes de sua estreia: os

evangélicos se movimentaram para boicotar

a novela, acusando de que ela fazia apologia

às religiões afros. Mas também é certo que

Salve Jorge entrou para a história como a que

teve mais furos de roteiro: Thammy Gretchen

dançando a "Conga", travestis traficados, as

surras que a vilã Wanda levou, a seringada

no elevador, o wi-fi na caverna, viagens de

jatinho à Turquia, o "cabelo bipolar" de

Morena, a igreja 24 horas, os personagens

que sumiram, bebês dentro de bolsas,

português falado na Turquia, a repetição de

elenco e estilo, e o próprio bonde do

recalque. Mesmo assim, passada metade da

novela, Glória fisgou seu público com tipos

bem populares e temas de interesse social.

Adoção ilegal, alienação parental e tráfico de

humanos (mulheres, travestis, bebês)

estiveram na pauta durante os sete meses da

novela: o grande mérito de Salve Jorge, levar

ao conhecimento do público assuntos tão

pertinentes. Salve Jorge foi vendida como

uma trama realista, que tratava de um tema

urgente, difícil e alarmante: o tráfico de

humanos. Mas ficou difícil embarcar em uma

proposta tida como realista que acabou

tendo um desenvolvimento muitas vezes

fantasioso, com vilões caricatos, em que a

autora pedia ao seu público que voasse com

ela.