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Davos quer desatar o mesmo do capitalismo após 50 anos

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Davos querdesatar omesmo nódo capitalismoapós 50 anos

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GESTÃO

Davos quer desataro nó do capitalismo50 anos depois0 Fórum Económico Mundial vê hoje os mesmos problemas nocapitalismo que via há 50 anos. Voltam à discussão porque o futuroda economia e das empresas está em causa, alerta o presidente.

ANA BATALHA [email protected] f propósito de

M B^V uma gestãoH HprofissionaléU servir os

clientes,acionistas e trabalhadores, talcomo as sociedades, e harmonizaros diferentes interesses dos'stakeholders'".

Este é o ponto que abre o pri-meiro manifesto assinado em Da-vos - em 1973, há quase 50 anos.Esta semana, os grandes atores daeconomia mundial relançam adiscussão em torno do mesmotema que estava em cima da mesana década de 70. Quer-se repen-sar o papel das empresas na socie-dade e os objetivos a que se pro-põem dentro do sistema capitalis-ta - questionando a primazia da

maximização do lucro e do retor-no para os acionistas. Mas se estaé uma questão tão antiga, porquevolta agora à ribalta e que razõeshá para acreditar que é agora o

tempo de mudança?Os "grandes impulsionadores"

serão os jovens, e a ativista Greta

Thunberg é dada muitas vezescomo exemplo. "Os millennials ea geração Zjá não querem traba-lhar para investir e para compraras empresas que têm falta de va-lores", defende Klaus Schwab,fundador e presidente do FórumEconómico Mundial (WEF, na

sigla em inglês), num texto de opi-nião publicado na revista Times,a 9 de dezembro.

E agora há mais formas de

pressão: "Os consumidores estão

a assumir o poder que têm através

do digital", aponta Afonso Men-donça Reis, que vai voltar a Davos

como membro dos Global Sha-

pers, uma comunidade de em-preendedores criada dentro doWEF. Paralelamente, o aumentodo populismo, causado por "as

pessoas sentirem que ávida nãoanda para a frente" com o atual sis-

tema - numa altura em que a de-

sigualdade entre a riqueza das

classes é crescente -, pode levar auma maior abertura dos deciso-

res, que temem que estes fenóme-nos abalem o "status quo".

"O cidadão pode reclamar do

capitalismo. Este sistema vai sub-sistir até que nós como indivíduos

o permitamos", defende Mendon-

ça Reis. Se o consumidor evoluir

nesse sentido, o que está em cau-sa não é a liberdade das empresase dos acionistas em determinaremos seus padrões e comportamen-tos. A questão passa a ser: "Quereso consumidor ou não?"

As empresas parecem estar areceber a mensagem. No passado

agosto, 181 CEO das grandes em-presas norte-americanas queconstituem a Business Roundta-ble assinaram um manifesto emque se comprometem a priorizara devolução de valor à sociedade.

0 aperto às empresas"Já começámos a assistir a algunssinais interessantes de pressão demercados e de agentes, nomeada-mente em matéria de financia-

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mento", aponta Clara Raposo,"dean" do Instituto Superior deEconomia e Gestão. Schwab querque os objetivos ambientais, so-ciais e de governança (ESG, na si-

gla inglesa) complementem as

métricas financeiras mas a "dean"

do ISEG avisa que "não será fácilreunir-se consenso", dada a sub-

jetividade na apreciação. A con-

sideração do nível de governançana concessão de crédito é umamedida que o professor de "gover-nance" na Nova SBE Duarte PittaFerraz prevê que passe a práticacomum.

Por um lado, o financiamento,

por outro, os trabalhadores. O"partner" da recrutadoraßoydenem Portugal, Fernando Neves de

Almeida, projeta que as dificulda-des na contratação se sintam "a

médio prazo", caso as empresasnão olhem às preocupações mais

prementes da sociedade. O"partner" nacional da Stanton &Chase, José Bancaleiro, pensa quea dificuldade se vai sentir mais nas

empresas de setores mais sofisti-cados que peçam jovens altamen-te qualificados.

Uma clivagem também em de-bate é o hiato entre o salário dos

colaboradores e dos executivos.Schwab sugere que a remunera-ção dos executivos "necessita ser

ajustada" uma vez que "disparou","alinhada" com os interesses dos

acionistas. O CEO da start-upportuguesa Unbabel, Vasco Pedro,avisa que "ao estarmos a limitar auma remuneração mais baixa, es-taremos a arriscar perder os me-lhores CEO. Isto só funcionaria se

houvesse uma mudança a nível detoda a indústria, o que será muitodifícil". Sugere antes "uma estru-tura em que todo os empregadossejam também 'stockholders'" deforma a alinhar melhor os incen-tivos. Pôr algumas variáveis ESGna avaliação de desempenho das

comissões executivas para o cál-culo da remuneração variável é

outra opção, avançada pelaBoyden, assim como o aumentodo salário médio.

O caminho é longo, mas o pró-ximo passo é legislar, concordamClara Raposo e Pitta Ferraz. Esteúltimo faz o paralelo com o im-pulso dado pela definição de quo-tas na questão da diversidade de

género: "As empresas só estão a

cumprir os padrões mínimos. E as

que não estão obrigadas, nem os

mínimos cumprem." Assim, "é na

definição das regras e do âmbitode intervenção das empresas queestará o segredo para um 'upgra-de' na qualidade do capitalismoque temos", afirma Raposo. ¦uOs millennialse a geração Z já nãoquerem trabalharpara investire para compraras empresas quetêm falta de valores.KLAUS SCHWAB

Presidente e fundadorFórum Económico Mundial

Von der Leyen, a presidente da Comissão

Portugal não estápreparado, maspode adiantar-se

"Não vejo que estejamos superbempreparados para a mudança", assi-

nala Afonso Mendonça Reis. "Res-

pondemos muito bem à crise, mas

noutros casos, não corremos sozi-

nhos", observa. Para Duarte Pitta

Ferraz, "grande parte dos gestores

portugueses não entende sequer o

tema", dada a falta de atenção queé dada à governança nas universida-

des portuguesas. 0 professor conce-

de, contudo, que há "uma evoluçãomais rápida nas grandes empresase mais lenta nas PME".

A "dean" do ISEG, Clara Raposo, as-

sinala que, no que toca a temas como

os valores ambientais, sociais e de go-

vernança, "ainda temos franjas que

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Europeia, discursou no dia do arranque do encontro que marca os 50 anos do Fórum Económico Mundial.

estão em negação e que tudo farão

para perpetuar o seu 'modus operan-di'", mas acredita que "se houver

uma alteração séria e profunda no

grau de exigência, os gestores em

Portugal estarão na linha da frente".

119MULTI MILIONÁRIOSEntre os 2.000participantes, 119

possuem fortunasde milharesde milhões dedólares.

2.000PARTICIPANTESDavos vai recebermais de 2.000participantes noencontro deste ano,provenientes de cercade 100 países.

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EDP ROUBA COROA DE COTADA MAIS GENEROSA AOS CTTRácio de payout de nove cotadas do PSI-2O considerando os dividendos ilíquidos e os lucros de operações recorrentes

Em 2018, a EDP foi a empresa do PSI-20, entre as nove sob análise, que distribuiu uma parte mais alargada dos

lucros em dividendos. 0 rácio de payout foi de 161%. Seguiram-se a Nos, a REN e a Galp. Os CTT desceram ao quin-to lugar depois de três anos como cotada mais generosa para os acionistas.

Davos recebe elitedona de fortunade 500 mil milhõesNum ano em que o modelo ca-

pitalista vai estar em discussão

em Davos, tendo em conta o

aumento das desigualdadesque se tem verificado debaixodesta corrente, o evento orga-nizado pelo Fórum Económi-co Mundial vai contar com a

presença de 119 multimilioná-rios, de acordo com aßloom-berg.

O Fórum Económico

Mundial celebra o 50.° ani-versário de 20 a 24 de janeirona cidade suíça de Davos, nos

Alpes, a localização habitual.Para o evento estão convida-dos mais de 2.000 participan-tes provenientes de cerca de100 países, que vão desde em-presários e especialistas emeconomia a políticos. Entreeles, conta-se um grupo de 119

multimilionários cujas fortu-

nas combinadas atingem os

500 mil milhões de dólares

(mais de 450 mil milhões de

euros). No grupo dos donosdas grandes fortunas estão no-mes como RayDalio, o funda-dor da Bridgewater Associa-

tes, o presidente do grupoBlackstone, Steve Schwarz-man e o CEO do JP Morganand Chase, Jamie Dimon.

O tema deste ano é

"Stakeholders para um Mun-do Sustentável e Coeso", jus-tificado pelo fundador e presi-dente do Fórum, KlausSchwab, através dos canais ofi-

ciais, da seguinte forma: "As

pessoas estão a revoltar-secontra as elites económicas,

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que acreditam que os traíram,e os nossos esforços para man-ter o aquecimento global limi-tado a 1,5 °C estão a ser peri-gosamente insuficientes."

Além dos multimilioná-rios, destacam-se outras per-sonalidades na lista de convi-dados. Da parte da Comissão

Europeia vai a presidente, Ur-sula von der Leyen. O Presi-dente norte-americano, Do-nald Trump, que lidera o ber-

ço do capitalismo, criou umimpério enquanto empresárioe retirou os Estados Unidos do

Acordo de Paris, vai estar pre-sente depois de ter falhado noano anterior. GretaThurnberg, ativista climáticade 16 anos, é outro dos nomesmais badalados.

Há portugueses na listaO Negócios confirmou a pre-sença de Francisco Soares dos

Santos, do grupo JerónimoMartins e de Carlos Gomes da

Silva, CEO da Galp. Anterior-mente, o Dinheiro Vivo noti-ciou que também CláudiaAzevedo, CEO da Sonae, JoséLuís Arnaut, do conselho con-sultivo da Goldman Sachs,António Simões, líder do ne-gócio global de banca privadado HSBC e António HortaOsório, CEO do Lloyds, vão

participar. ¦ANA BATALHA OLIVEIRA