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A Exibição Humana na Exposição Antropológica Brasileira de 1882: os indígenas do Brasil sob o olhar cientificista no Museu Nacional Michele de Barcelos Agostinho 1 Este é um trabalho inicial que integra o projeto de pesquisa do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Intitulado A Exposição Antropológica Brasileira: objetos, impressos e imagens da nação, o projeto investiga a referida exposição realizada no ano de 1882 no Museu Nacional, que contou com oito salas onde foram expostos artefatos, pinturas, documentos e livros relativos aos indígenas do Brasil. Aqui, especialmente, nos deteremos na exibição humana ocorrida durante o evento e nos exames experimentais aos quais as pessoas expostas foram submetidas. Na ocasião, representantes de grupos indígenas realizaram apresentações de dança e música diante de curiosos e especialistas, tiveram seus corpos reproduzidos em moldes de gesso e papel machê e foram submetidos a testes de esforço físico devidamente medidos por João Batista de Lacerda, antropólogo físico e subdiretor do Laboratório de Fisiologia do Museu Nacional. O tempo das exibições humanas A exibição de pessoas para entretenimento e para fins de estudo não foi uma exclusividade do Museu Nacional. Essa prática remonta ao início do século XIX e se estendeu por mais de cem anos. Em 1810, Sara Baartman ou Sartjie Baartman , mais conhecida como a Vênus Hotentote, foi levada da África do Sul a Londres e, depois, a Paris. A sua forma física caracterizada pela hipertrofia do quadril e das nádegas atraía o olhar dos ingleses, que iam fascinados até o circo Piccadilly ver a apresentação da 1 Doutoranda em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Técnica em Assuntos Educacionais do Setor de Etnologia e Etnografia/Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ. Professora de História da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. <[email protected]>

do Brasil sob o olhar cientificista no Museu Nacional...da família imperial – que neste dia também comemorava o aniversário da princesa Isabel. O discurso de abertura foi pronunciado

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Page 1: do Brasil sob o olhar cientificista no Museu Nacional...da família imperial – que neste dia também comemorava o aniversário da princesa Isabel. O discurso de abertura foi pronunciado

A Exibição Humana na Exposição Antropológica Brasileira de 1882: os indígenas

do Brasil sob o olhar cientificista no Museu Nacional

Michele de Barcelos Agostinho1

Este é um trabalho inicial que integra o projeto de pesquisa do curso de

doutorado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro. Intitulado A Exposição Antropológica Brasileira: objetos,

impressos e imagens da nação, o projeto investiga a referida exposição realizada no ano

de 1882 no Museu Nacional, que contou com oito salas onde foram expostos artefatos,

pinturas, documentos e livros relativos aos indígenas do Brasil. Aqui, especialmente,

nos deteremos na exibição humana ocorrida durante o evento e nos exames

experimentais aos quais as pessoas expostas foram submetidas. Na ocasião,

representantes de grupos indígenas realizaram apresentações de dança e música diante

de curiosos e especialistas, tiveram seus corpos reproduzidos em moldes de gesso e

papel machê e foram submetidos a testes de esforço físico devidamente medidos por

João Batista de Lacerda, antropólogo físico e subdiretor do Laboratório de Fisiologia do

Museu Nacional.

O tempo das exibições humanas

A exibição de pessoas para entretenimento e para fins de estudo não foi uma

exclusividade do Museu Nacional. Essa prática remonta ao início do século XIX e se

estendeu por mais de cem anos. Em 1810, Sara Baartman – ou Sartjie Baartman –, mais

conhecida como a Vênus Hotentote, foi levada da África do Sul a Londres e, depois, a

Paris. A sua forma física caracterizada pela hipertrofia do quadril e das nádegas atraía o

olhar dos ingleses, que iam fascinados até o circo Piccadilly ver a apresentação da

1 Doutoranda em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Técnica em Assuntos

Educacionais do Setor de Etnologia e Etnografia/Departamento de Antropologia do Museu

Nacional/UFRJ. Professora de História da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro.

<[email protected]>

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selvagem khoi-san, pejorativamente chamada de hotentote. “Se durante o período em

que permaneceu na Inglaterra seu sucesso estava associado a sua exibição pública nos

freak shows, na França, o fascínio pelo seu corpo assume ares de interesse científico”

(DAMASCENO, 2008:2). Em 1815, no Jardin des Plantes de Paris, Baartman foi posta

diante dos olhar investigativo dos naturalistas do Museu de História Natural, a saber

Saint-Hilaire e Goerges Cuvier, que, interessados na singularidade do seu corpo, sobre

ele produziram desenhos, moldes, medições e escrutinaram cada detalhe de sua

anatomia. Neste mesmo ano, Sara veio a falecer. Seu corpo foi dissecado e dele foram

feitos moldes, que permitiram o estudo daquele tipo físico por homens do seu tempo – e

dos próximos. Da dissecação, conduziram o esqueleto, o cérebro e a genitália para os

salões de exposição do Museu de História Natural de Paris.2 (QURESHI, 2004).

No decorrer do século XIX, outras exibições ocorreram especialmente na

Inglaterra, França e Estados Unidos durante eventos locais para a diversão popular,

como feiras, teatros e circo, por exemplo (BLANCHARD, 2011). Mas, com o advento

das exposições universais e dos eventos científicos na segunda metade do século XIX, a

análise, o estudo e a classificação do outro deixaram os espaços circunscritos de

projeção local para se tornarem, nestas exposições de congraçamento das nações

civilizadas, importantes espetáculos raciais de projeção internacional, ampliando sua

visibilidade e popularização e servindo, consequentemente, à propaganda colonial.

Na Exposição Universal de Paris de 1867 apareceram as primeiras pessoas

vestidas em trajes tradicionais. O mesmo ocorreu nas exposições seguintes: 1876 na

Filadélfia e 1878 novamente em Paris (BLANCHARD, 2011). Em Argel, no ano de

1881, durante o Congresso da Associação Francesa para o Avanço da Ciência, um

grupo de argelinos se apresentou a estudiosos europeus que para lá foram a fim de

conhecer os costumes exóticos dos ditos selvagens. Em 1883, agora no Congresso

Antropológico de Amsterdam, nativos do Suriname e de Java serviram à análise dos

homens de ciência. Em 1889, na famosa Exposição Universal de Paris, ocorreu

concomitantemente o Congresso Internacional de Antropologia, onde populações de

diferentes continentes foram expostas nos pavilhões, cujo objetivo era a instrução do

2 Os restos mortais de Sara Baartman foram enviados para o Museu do Homem de Paris em 1937 e, em

2002, sob intervenção de Nelson Mandela, foram repatriados e sepultados na África do Sul.

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público leigo e o estudo de especialistas3. Ali, os organizadores “reproduziram as

aldeias da forma mais precisa possível, trouxeram todos os seus instrumentos e objetos

e as instruíram, por parte das autoridades coloniais, para que atuassem de acordo com

seus costumes mais pitorescos” (ARTEAGA, 2010: 278). Certamente este tipo de

apresentação contribuiu para legitimar a dominação colonial na medida em que serviu

para delimitar as fronteiras entre o bárbaro e o civilizado, reforçando no europeu, a

partir do olhar sobre o outro exótico e selvagem, a sua própria marca de superioridade.

Outro caso emblemático é o de Oto Benga, da etnia Batwa do Congo. Ele e mais

oitos homens pigmeus foram levados pelo missionário norte-americano, Samuel Philips

Verner, aos Estados Unidos. Verner, após negociar com um comerciante de escravos

local, encaminhou o grupo a Exposição Universal de 1904, realizada em Saint Louis,

Estados Unidos, cujos organizadores havia feito-lhe a encomenda. Além da referida

exposição, Oto Benga foi exposto em diferentes lugares até ser instalado no zoológico

de Bronx, Nova York, em 1906. Ali, ele dividia o espaço com um exemplar de

orangotango e fazia apresentações ao público visitante (ARTEAGA, 2010)4.

A prática de expor pessoas, classificadas como inferiores numa hierarquia onde

o europeu ocupava o topo da evolução e civilidade, perdurou até meados do século XX.

“Por mais de um século (da Vênus Hotentote, em 1810, à Segunda Guerra Mundial, em

1940), a indústria da exposição fascinou mais de um bilhão e quatrocentos milhões de

visitantes e exibiu entre trinta e trinta e cinco mil figurantes no mundo inteiro”

(BLANCHARD, 2011: 1). No Brasil, foi no ano de 1882, durante a Exposição

Antropológica Brasileira realizada no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que índios

botocudos foram exibidos para o público da Corte. Vale mencionar que os agentes

promotores do evento e pertencentes aos quadros da instituição circulavam em

diferentes espaços de ciência nacionais e internacionais e construíram ali suas redes de

sociabilidade. João Batista de Lacerda, subdiretor do Laboratório de Fisiologia e da 1ª

3 A partir de 1878, a realização de exposições universais juntamente com congressos científicos tornou-se

comum (ARTEAGA, 2010).

4 Fora do zoológico, Oto Benga passou por um asilo, um orfanato e uma fazenda de tabaco até suicidar-se

em 1916.

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Seção5 do Museu Nacional, na condição de antropologista, foi premiado com medalha

de bronze na Exposição de 1878. Além disso, o Brasil, a partir da Exposição de Londres

em 1862, passou a ter representação em pavilhões das exposições universais, as quais

contavam com a visita do imperador Pedro II. Na exposição de Chicago em 1876, por

exemplo, foram expostas no pavilhão brasileiro coleções do Museu Nacional e

fotografias de índios botocudos (NASCIMENTO, 2009). Logo, é possível que o

planejamento da exibição dos índios na exposição de antropologia do Brasil tenha se

inspirado em eventos científicos estrangeiros que a antecederam.

A Exposição Antropológica Brasileira e a invenção do outro

Em 29 julho de 1882 foi inaugurada no Museu Nacional, a época situado no

Campo de Santana, a Exposição Antropológica Brasileira. A cerimônia de abertura foi

animada pela banda musical do Asilo de Meninos Desvalidos e contou com a presença

da família imperial – que neste dia também comemorava o aniversário da princesa

Isabel. O discurso de abertura foi pronunciado por Ladislau Netto e o evento,

amplamente noticiado pela imprensa.

A exposição durou três meses. Embora não tenha sido a única exposição

temática do período, foi singular porque antropológica. Inicialmente, estava prevista

para acontecer no ano de 1881, em concomitância com a Exposição de História do

Brasil, promovida pela Biblioteca Nacional. Contudo, a aquisição dos objetos que

integraram o cenário expositivo, a qual consistiu na coleta de objetos e em empréstimo

de coleções, demandou um tempo maior de execução do então diretor do Museu

Nacional, Ladislau Netto. Inclusive, no sexto volume da revista Arquivos do Museu

Nacional, publicação de 1885 dedicada à exposição, ao prefaciar a revista Netto buscou

reforçar, talvez para se firmar diante dos pares, que a Exposição Antropológica foi um

projeto seu, concebido desde 1880 (AGOSTINHO, 2014).

Os objetos selecionados foram distribuídos em oito salas, que ganharam nomes

de personagens históricas ligadas à temática indígena. Cada sala recebeu um conjunto

5 O Museu Nacional era dividido em três seções e uma seção anexa. A 1ª Seção compreendia

Antropologia, Zoologia, Anatomia e Paleontologia Animal.

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de objetos representativos da etnografia, antropologia e arqueologia. Três salas foram

destinadas à etnografia e receberam os nomes de Sala Vaz de Caminha, Rodrigues

Ferreira e Anchieta. Para lá, foram encaminhados arcos, flechas, lanças, remos,

zarabatanas, tambores, tacapes, maracás, além de pinturas, livros, fotografias e de

moldes dos índios Xerente José e Zeferino.

As salas da arqueologia, nomeadas Sala Lery e Sala Hartt, incluíram vasos,

urnas, panelas e seus respectivos fragmentos, quando fosse o caso. A antropologia

ocupou uma única sala, denominada Lund, onde havia crânios, calotas, esqueletos,

bacias, enfim, material osteológico integral ou fragmentado. Havia ainda outras duas

salas, a Martius e a Gabriel Soares, onde havia objetos da etnografia e da arqueologia

simultaneamente: vasos, tipitis, tecidos, fumo, cachimbos, tangas, braceletes, brincos,

pentes, brinquedos, fusos, corda, colares, colheres, peneiras, abanos, redes, esteiras e

muitos outros artefatos (GUIA DA EXPOSIÇÃO, 1882).

Diante de tamanha diversidade de coisas, cuja disposição formava um cenário

que recriava o ambiente de vida nativa, inclusive com esculturas em gesso de indígenas

representando os atores desse cenário, os visitantes da Corte puderam ver e conhecer os

objetos de uso dos primitivos do Brasil e, por meio deles, imaginar as experiências não

vivenciadas em ambiente urbano e civilizado. As esculturas traziam a ideia de

movimento ao colocar os representados em íntima relação com os objetos: uma mulher

indígena trajando saia e chapéu e carregando um cesto e homens em canoas. Nas

palavras de Lacerda, “armaram-se nas salas da exposição cabanas com as redes e

apetrechos domésticos do índio, canoas e ubás, como no ato da pesca; figuras de índio

na caça, tudo por imitação do natural” (LACERDA, 1906:58).

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Marc Ferrez, 1843-1923 Exposição Antropológica Brasileira: artefatos e aspectos da vida indígena, 1882.

Biblioteca Nacional

Os visitantes puderam, também, ver in loco os atores desse cenário. Um grupo

de índios botocudos foi exposto durante o evento, o que teria causado euforia na cidade.

Afinal, os famigerados botocudos, tidos nos oitocentos como remanescentes selvagens,

os mais atrasados na escala evolutiva, a evidência da vida primitiva de outros tempos,

estavam ali, exibidos em plena Corte. Botocudo é um termo genérico e pejorativo

inventado pelos colonizadores. Referia-se aos indígenas de diversas filiações

linguísticas não tupi localizados especialmente no sul da Bahia, Espírito Santo e Minas

Gerais e que usavam como ornato os botoques (discos de madeira) labial e auricular.

Inicialmente chamados de índios bravos, eram acusados de praticarem a antropofagia e

de serem extremamente agressivos por mostrarem resistência à dominação colonial, o

que teria justificado as chamadas guerras justas (OLIVEIRA e FREIRE, 2006). À

representação do índio antropofágico e selvagem somou-se o discurso cientificista do

século XIX, o qual corroborou a imagem negativa do outro.

Os índios botocudos apresentados na exposição foram trazidos do aldeamento do

Mutum, situado na região do rio Doce, fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo.

Eles foram conduzidos até Vitória e, depois, instalados no Corpo de Bombeiros da

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Corte, na época também localizado no Campo de Santana6. Joaquim Ayres, fotógrafo

retratista, e João Cassiano de Castro Menezes7, engenheiro, acompanharam o grupo

durante o trajeto. Ayres fez o registro fotográfico dos botocudos, o qual se encontra

hoje guardado no Setor de Etnologia e Etnografia do Museu Nacional. No Guia da

Exposição Antropológica Brasileira (1882:70), item 58, consta a exposição na Sala

Anchieta de “fotografias de indígenas semicivilizados do alto rio Doce”. É possível que

as fotografias mencionadas no Guia sejam aquelas feitas por Ayres. Por meio delas,

também nos é possível visualizar aqueles que foram exibidos no evento do Museu

Nacional.

Joaquim Ayres. 1853-1918? A Botocuda na Exposição, 1882.

Setor de Etnologia e Etnografia do Museu Nacional/UFRJ

Segundo Nascimento, o deslocamento do grupo para o Rio de Janeiro não foi

tarefa fácil. Esperava-se a chegada de cerca de vinte índios. Mas, boa parte recusou-se a

partir, tendo vindo apenas sete deles: três homens, três mulheres e uma criança. Foi

6 Ofício do diretor do Museu Nacional ao diretor da Diretoria de Comércio do Ministério da Agricultura

Comércio e Obras Públicas em 2 de setembro de 1882. Livro RA 8. 1881-1885. BR.MN.RA.8. 7 Proveniente do Ceará, participou de comissões de demarcação de terras em aldeamentos indígenas do

Sergipe e Espírito Santo. Auxiliou a comissão da Exposição de História do Brasil realizada na Biblioteca

Nacional em 1881 e a comissão da Exposição Antropológica Brasileira realizada no Museu Nacional em

1882.

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preciso iludi-los para obriga-los a vir à Corte, conforme noticiaram os jornais da época

(NASCIMENTO, 1991: 105). Mantê-los tranquilos durante a estadia igualmente foi

uma árdua tarefa. Em ofício a Ladislau Netto, o ministro da agricultura pediu que fosse

“feita a distribuição de alguns brindes aos índios (que poderá ser feita à conta da

catequese) para aquietá-los até a Exposição Antropológica do Museu.”8 O interesse dos

organizadores em mantê-los na Corte era duplo. Primeiro, desejavam exibir os

indígenas ao público visitante do Museu a fim de realizarem ali demonstrações de dança

e música, pelo menos até setembro, quando retornaram para o aldeamento; segundo,

esperavam estuda-los, o que ocorreu em 20 de agosto, dia em que a exposição foi

fechada ao público (NASCIMENTO, 1991).

De acordo com o ofício de 22 de novembro de 1882 remetido por Ladislau

Netto, então diretor do Museu Nacional, a André Augusto de Pádua Fleury, Ministro da

Agricultura, Comércio e Obras Públicas – pasta a que estava vinculado o Museu

Nacional – cerca de cem mil pessoas visitaram a exposição durante os três meses em

que esteve aberta ao público9. Inclusive, o Museu, nesse período, teve um horário

especial de funcionamento, abrindo aos domingos, terças, quartas e sextas-feiras10. A

presença de oito guardas da Polícia da Corte foi solicitada por Ladislau a fim de que

zelassem pela segurança no local11. Embora não saibamos se de fato o número de

visitantes chegou a cem mil, tal solicitação indica que o trânsito de pessoas ali fora

superior ao habitual. Mas, mais importante que conhecer o número exato de pessoas que

circularam na exposição é entender que este foi um evento expressivo na Corte e

grandioso no Museu Nacional (CASTRO FARIA, 1998). Para muitos, foi este o

primeiro encontro com o outro, ocasião de descoberta daqueles a cujos costumes não se

pertencia e de percepção das diferenças de um outro em relação a si. (TODOROV,

1999).

8 Ofício do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas ao diretor do Museu Nacional em 26 de

julho de 1882. Fundo Museu Nacional. Série Diretoria. Avisos e Ofícios. Pasta 21 Doc. 148. MN.DR.AO. 9 Livro RA 8. 1881-1885. BR.MN.RA.8. 10 Ofício do diretor do Museu Nacional ao comandante geral da Polícia da Corte em 12 de agosto de

1882. Livro RA 8. 1881-1885. BR.MN.RA.8. 11 Ofícios do diretor do Museu Nacional ao comandante geral da Polícia da Corte em 26 e em 29 de julho

e 12 de agosto de 1882. Livro RA 8. 1881-1885. BR.MN.RA.8.

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A descoberta do outro durante a Exposição foi embasada num discurso

cientificista que veio reforçar as concepções negativas relativas aos índios bravos

instauradas no imaginário coletivo desde os tempos coloniais. O grupo indígena em

questão foi posto à prova em testes e exames que permitiram aos homens de ciência

classifica-los, hierarquiza-los e distingui-los da evoluída raça branca. Segundo Lacerda,

índios Xerente e Botocudo foram submetidos a diferentes tipos de experiências

científicas12 (científicas para os parâmetros da época, obviamente). E é exatamente este

episódio da exposição que nos interessa mais de perto.

Numa publicação do início do século XX – decorridos pouco mais de vinte anos

da Exposição Antropológica – Lacerda, num esforço de “resgatar” a trajetória da

instituição, elencou uma série de pessoas, fatos e informações que julgou importante

registrar na história do Museu Nacional, desde a sua fundação até aquela

contemporaneidade. Assim ele escreveu Fastos do Museu Nacional do Rio de Janeiro,

onde buscou a “rememoração de trabalhos feita com espírito histórico” (LACERDA,

1905:IV). Ali, Lacerda descreveu, recorrendo as suas próprias lembranças – o que

possivelmente conferiu maior autenticidade ao relato, já que testemunhou o fato narrado

–, os experimentos realizados com os indígenas durante a exposição.

O primeiro experimento registrado trata-se de um teste de esforço físico.

“Medidos com o dinamômetro a força muscular de indivíduos adultos (...) e o

instrumentos denunciou uma força abaixo da que se observa geralmente em indivíduos

brancos ou negros” (LACERDA, 1905:101). Depois, a partir de uma representação

gráfica, foi analisada a sua capacidade de comparação em determinada extensão e

distância, o que atestou, de acordo com aqueles parâmetros que se queria científico, a

sua inaptidão: “o desenho figurado por mais fiel que ele fosse não acordava neles a ideia

exata do objeto que a figura representava”. Lacerda também atribuiu ao grupo indígena

uma maior habilidade na audição, embora só ficasse retido no ouvido indígena “frases

musicais curtas, de pequena modulação”. Isso explicava a característica “monótona” de

seus cantos (LACERDA, 1905: 101).

12 Segundo Nascimento, os índios Xerente estiverem no Museu Nacional meses antes da exposição,

ocasião em que foram feitas a reprodução de seus corpos em moldes de papel machê. Durante a

Exposição Antropológica, apenas os botocudos foram exibidos (Nascimento, 1991).

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Um terceiro exame experimental a que o grupo indígena investigado foi

submetido diz respeito ao estudo da extensão do seu campo visual, conduzido pelo Dr.

Moura Brasil. Médico especializado em oftalmologia e um dos fundadores da

Policlínica Geral do Rio de Janeiro, naquela ocasião ele teria concluído que nos índios

botocudos “o campo da cor verde revelava-se neles mais lato do que costuma ser na

raça branca” (LACERDA, 1905: 101). Finalmente, o exame seguinte envolveu choque

elétrico. Foi utilizada uma bobina de Ruhmkorff para testar a reação diante de

“sensações desconhecidas” e de “forças ocultas”. Tal aparelho, criado em meados do

século XIX pelo alemão Heinrich D. Ruhmkorff, produzia corrente elétrica e foi muito

usado em laboratórios para o estudo da eletricidade. Na Exposição Antropológica

Brasileira de 1882 no Museu Nacional, seguindo a orientação daqueles homens de

ciência, um dos índios tocou o aparelho e teve como reação o pavor. Segundo Lacerda,

após ter tomado o choque, durante cinco minutos “o Botocudo ficou mudo, estático, o

olhar fixo com a expressão fisionômica do terror”. E acrescentou: “[o Botocudo] não

indagou o que era; mas negou-se peremptoriamente daquele momento em diante a ter

contato com a mesa sobre a qual estava o aparelho” (LACERDA, 1905:101).

Estes experimentos são igualmente mencionados na Revista da Exposição

Antropológica Brasileira, publicada no ano de 1882 em caráter comemorativo ao

evento. Nela, Lacerda iniciou o texto A força muscular e a delicadeza dos sentidos dos

nossos indígenas destacando que era a verificação experimental que de fato tornava

possível o acesso ao conhecimento, ao contrário das conclusões baseadas apenas na

observação. Ele descreveu então o teste de esforço físico feito com dois Botocudos, um

Xerente e um homem branco, a quem chamou de civilizado. Com o uso de um

instrumento científico, o dinamômetro de Mathieu13, foi possível quantificar a força

braçal realizada por cada pessoa em análise. O teste foi repetido e os resultados

regulares atestaram: a força do homem branco seria superior, chegando a 160 daquela

escala, enquanto a força dos indígenas atingiu 130. Lacerda ressaltou que aqueles índios

tinham um tipo físico “bem constituído” e o homem branco, uma “musculatura

13 Instrumento criado na França pela Casa Mathieu, sob orientação de Paul Broca, e que hoje integra o

acervo de Antropologia Biológica do Museu Nacional. No século XIX, foi usado por antropólogos físicos

interessados no estudo da força muscular (Sá, Santos, Carvalho e Silva, 2010).

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medíocre”. Para ele, embora fosse visível que “aqueles tinham os braços mais

musculosos do que estes”, o que levava equivocadamente ao asserto de que os indígenas

seriam dotados de grande força muscular, o exame experimental logo negou tal

assertiva e mostrou que “nos indígenas do Brasil a correlação, geralmente estabelecida,

entre o desenvolvimento dos músculos e a energia da contração muscular não existe”

(LACERDA, 1882: 6).

Uma dúvida, porém, ainda pairava no pensamento de Lacerda: se aquele era um

atributo “extensivo a todos os selvagens do Brasil”. Dizia ele que era esta uma questão a

conduzir os estudos dos antropologistas brasileiros, os quais precisariam

necessariamente recorrer à fisiologia na busca pela resposta. Ele ainda lamentou que,

por ser certas experiências com humanos “condenadas pela moral e pelas leis, a solução

definitiva do problema parece-nos difícil.” (LACERDA, 1882: 6). Cabe-nos destacar

que, curiosamente, o exame que envolveu choque elétrico mencionado anteriormente

não foi citado neste texto.

A questão da mão-de-obra no Brasil, que na segunda metade do século XIX foi

motivada pelos debates em torno da imigração e do abolicionismo, esteve presente nos

estudos de Lacerda. Segundo Seyferth, civilização é a palavra chave para compreender

as discussões referentes ao fim da escravidão e à vinda de colonos para o Brasil. O

trabalho livre estava associado à imigração europeia e o trabalhador ideal, obviamente,

correspondia ao europeu e não ao negro liberto (BAHIA, MENASCHE e ZANINI,

2015). Nesse sentido, os estudos de Lacerda contribuíram para alimentar tal debate na

medida em que ele afirmava ser o índio, ainda que civilizado, impróprio para o trabalho

na lavoura, tendo em vista que não produziria “a mesma quantidade de trabalho útil, no

mesmo tempo, que os indivíduos de outra raça.” E acrescentou: “o índio não poderia

substituir o negro como instrumento de trabalho; a sua produção seria descontínua,

necessitando intervalos maiores de repouso.” (LACERDA, 1882: 7). Ele não entrou no

mérito do tipo de mão-de-obra mais adequada, se escrava ou livre, mas deixou posto

que o trabalho, no Brasil, deveria ser executado por brancos ou negros. Os índios, desse

modo, não serviriam economicamente para o Brasil (LACERDA, 1882: 7).

Quanto aos exames experimentais sobre os sentidos dos indígenas, disse Lacerda

nesse mesmo texto que, em decorrência das necessidades da vida selvagem, a sua

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audição e visão eram mais “penetrantes e afinadas” em comparação a do homem

civilizado, conforme indicavam os experimentos. “Um objeto colocado à distância tal,

que escapa ao alcance da vista do homem civilizado, não escapa à vista penetrante do

selvagem. O mesmo se dá com as percepções auditivas.” (LACERDA, 1882: 7).

Entretanto, o antropologista ressaltou que, no que se refere aos detalhes de um objeto, o

sentido visual do indígena mostrou-se inferior, já que ele não seria capaz de distinguir

analiticamente as formas. Faltava-lhe, portanto, a delicadeza desse sentido. Tal

deficiência era um atributo não da raça, mas das condições de vida selvagem e refletia-

se, sobretudo, nas artes. Afirmou Lacerda que os indígenas não possuíam qualidades

artísticas, pois representavam figuras e desenhos de modo tosco, imperfeito e grotesco.

Quanto à audição, a tal delicadeza também lhe era ausente. Assim como ele afirmou

quase vinte anos depois nos Fastos do Museu Nacional, que citamos anteriormente,

aqui ele igualmente registrou a monotonia dos cantos indígenas e a dificuldade dos

selvagens em reproduzir trechos musicais de melodias fáceis (LACERDA, 1882: 7).

Algumas considerações

Ícone da modernidade e do progresso, a ciência experimental europeia

introduzida no Brasil a partir da década de 1870 tinha a fisiologia como saber

fundamental das práticas laboratoriais. Ela corroborava a imagem civilizada da nação e

afastava os atributos subjetivos da produção do conhecimento, o que era favorecido pelo

uso dos instrumentos científicos (GOMES, 2013: 12-14). Extensivas aos humanos, tais

práticas elaboraram concepções que constituíram os indígenas como racialmente

inferiores e justificaram relações de poder ao fornecer bases pretensamente científicas.

Na Exposição Antropológica Brasileira de 1882, a exibição humana aponta para

algumas questões interessantes. Primeiro, o desejo de valorizar os efeitos civilizadores

do Império, revelando, contraditoriamente, a existência do selvagem em território

nacional. Sabemos que as exposições nacionais e internacionais foram verdadeiros

espetáculos da modernidade, espaços onde se consolidaram a crença no progresso e

onde as nações mostraram seu potencial técnico e científico (PESAVENTO, 1997). No

caso da Exposição Antropológica, seus idealizadores celebraram naquele espetáculo da

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diferença a antropologia enquanto abordagem científica sobre um outro cuja evidência

material exigia uma reavaliação de sua utilidade como representante da nação moderna

(ANDERMANN, 2004: 130). Além de objetos e imagens, optou-se também por mostrar

grupos vivos que representavam o estágio mais primitivo da evolução humana: os

botocudos. Do ponto de vista dos organizadores, escolheu-se não o seu apagamento,

mas a exibição do índio concreto e real. A vida selvagem, em toda a sua materialidade,

foi recriada em ambiente expositivo. Ao mostra-la, buscou-se afirmar sua existência

como parte integrante realidade brasileira.

Por outro lado, se tal exibição de certo modo colocava em cheque os efeitos da

missão civilizadora do Império, ela também não reconhecia o outro nem como um

nacional, nem como detentor de uma ancestralidade comum com o brasileiro. Os índios

botocudos eram a evidência de uma vida primitiva remota, quase extinta e fadada ao

desaparecimento. Eles estariam, portanto, à margem da marcha da civilização e do

progresso. Conhecê-los se fazia necessário para a compreensão das origens humanas e

da sua evolução. Nesse sentido, o colecionismo dava importantes contribuições ao

permitir, por meio do estudo dos objetos colecionados, o acesso a experiências de vida

extintas ou por extinguir-se.

Não podemos ignorar o modo como as temporalidades foram justapostas na

exposição. Os índios botocudos, na condição de selvagens, faziam o elo entre os

tempos ao tornar o passado ainda presente. Tal como seus ancestrais, eles

desapareceriam do território nacional, tornando-se, no futuro, uma experiência pretérita.

Mesmo que contemporâneos àqueles homens de ciência, eram humanos fora do seu

tempo. Estavam localizados num eterno passado, o presente não lhes pertencia e o

futuro lhes era negado. De acordo com aquela antropologia cientificista, o

distanciamento espacial e temporal do outro o rebaixava e suprimia a simultaneidade do

encontro etnográfico: sob o paradigma do evolucionismo, a concepção do tempo foi

naturalizada e espacializada, a partir da qual “os esforços da antropologia em

estabelecer relações com o seu Outro por meio de mecanismos temporais sugeriram

uma afirmação da diferença como distância.” (FABIAN, 2013: 52). Nos escritos de

Lacerda, na nação não havia lugar para eles, nem no mundo do trabalho, nem no

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processo civilizador. O índio vivo, ou o selvagem, era um elemento resistente à

civilização, um remanescente do tempo passado.

Portanto, fazia-se necessário compreendê-lo. Com a consolidação dos

laboratórios na segunda metade do século XIX, estes espaços serviram igualmente aos

estudos do homem, sobretudo do homem classificado como racialmente inferior, e

asseguravam a objetividade do conhecimento humano. A criação de instrumentos

científicos foi fundamental nesse processo de objetivação do real. Através deles, tornou-

se possível mensurar os potenciais da raça para o mundo civilizado. Esses artefatos de

laboratório padronizaram as medições e permitiram estudos comparativos de pessoas e

povos, atribuindo às classificações uma linguagem matematizada e universal. Disso

resulta uma diferença cabal em relação às práticas de medição de corpos no início do

século XIX, quando, segundo Gould (2014), os dados numéricos eram rústicos, sem o

rigor de técnicas generalizadas, e anteriores ao paradigma evolucionista.

Do ponto de vista institucional, os estudos etnográficos e antropológicos dos

grupos vivos eram triplamente importantes: evidenciavam que no Brasil se fazia ciência,

critério para equipara-lo às nações civilizadas do mundo; marcavam a fronteira entre

eles, os índios, e os nacionais na conformação da identidade brasileira; contribuía para

o conhecimento universal a respeito do processo evolutivo humano. As representações

em torno do índio na exposição buscaram apresenta-lo de forma realista, seja através

das imagens – retratos e suas respectivas reproduções em desenhos –, seja através dos

testes físicos. Ao submeter indígenas à análise laboratorial, a antropologia física no

século XIX transformou o dito homem primitivo em documentos humanos, onde o

objeto humano passou a ser uma fonte de informações, portador da objetividade

necessária ao conhecimento relativo a sua origem e evolução. O discurso cientificista,

portanto, permitiu a leitura biológica do homem e justificou as classificações humanas e

a dominação do outro.

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