Do Objeto Da Historia

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    Contedo

    sobre o objeto da histria ..........................................................................4

    INTRODUO ..........................................................................................4

    DO CONCEITO DE OBJETO ...................................................................6

    NOES QUANTITATIVISTAS EM HISTRIA ECONMICA ................ 8

    O DOMNIO COMO OBJETO DA HISTRIA ......................................... 11

    OBJETO IDEALVERSUS OBJETO REAL ............................................. 15

    A ECONOMIA POLTICA CLSSICA E O OBJETO DA HISTRIA ...... 22

    ANOTAES ..........................................................................................29

    REFERNCIAS .......................................................................................30

    GLOSSRIO ...........................................................................................32

    SUGESTO DE LEITURAS COMPLEMENTARES ............................... 32

    QUADRO RESUMIDO DOS PONTOS-CHAVE PARA REVISO .......... 33

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    SOBRE O AUTOR

    Moacir Jos da Silva

    Professor de Histria Econmica do Departamento de Histria daUniversidade Estadual de Maring (UEM). Graduado em Histria (UEM).Mestre em Economia (UEM). Doutor em Engenharia de Produo (UFSC).Ps-Doutor em Administrao (USP).

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    SOBRE O OBJETO DA HISTRIA1

    Moacir Jos da Silva

    INTRODUO

    Yabba-Dabba-Doooo!Wilma, cheguei, Willllllllmmmaaa!Disse ele, o nosso morador daAvenida Coblestone, 201,Bedrock. Havemo-nos todos de

    nos lembrar do famoso FredFlintstone e de seu gracejoespecial no desenho animado que

    recebeu o nome de Os Flintstones, lanado pela Hanna-Barbera no inciodos anos sessenta. Quem no se lembraria? Aqui, ouvia-se da Wilma: Ohhh, Freeeed! Acol, de Barney: Hei Fred! Uma olhadela pelas suascenas logo mostra a Idade da Pedra, na qual havia pedra-cines, bronto-burguers, pigassauros coletores de lixo, dinossauros aspiradores de p e

    brontossauros-guindaste. Entremeio s cenas, aparecia Gazu, o gnio dofuturo. Relancemo-nos a nossas prprias lembranas: no singelo desenho,a Idade da Pedra - imagem e semelhana do mundo de hoje - com todasas suas cores e paixes.

    Logo de sada, valeria a pena dizer: esse exerccio de lembranado desenho animado de Hanna-Barbera foi feito, aqui, para noslembrarmos da tendncia de entendermos o passado, impregnados pelos

    preconceitos do presente. Muitas vezes nossas opinies polticas, paixes,sistemas filosficos, conceitos, costumes, leis, etc., carreiam-se para opassado e nele depositam um rol imenso de preconceitos. Vtima torturadapelo futuro, que at ento no existia, ele perde muito a sua capacidade denos ensinar algo. Os homens do passado se nos afiguram como uma

    1 Extrado de Captulo 1. Sobre o objeto da histria econmica . In : SILVA, M. J.da. (Org.) Histria Econmica I: Teorias, Mtodos e Contedos. Maring, Eduem,2010.

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    forma tosca do presente, a sua forma tecnologicamente menosdesenvolvida, como no caso de nossa metfora do mundo moderno emformato de Idade da Pedra. No deixa de impressionar, mas tal como joguetes nas mos das crianas, o passado encaixado em algum

    sistema ou teoria que pertence exclusivamente ao mundo de hoje. Aquesto essencial? Ei-la, guisa de poucas palavras: interpretar a histria,porm, livres dos preconceitos do mundo atual.

    Este captulo dedicado a uma conversa que teremos sobre oobjeto da Histria Econmica e sobre a concepo, a partir da qual seestuda a histria dos homens. Ele diz respeito, portanto, metodologia deestudo, ao instrumental terico de anlise. De incio, fao logo clara a sua

    ideia essencial: examinar, em linhas gerais, o trabalho incansvel decentenas de geraes de definir o objeto da histria e em especial daHistria Econmica. O objetivo fazer uma pequena aproximao entrevoc, nosso leitor de hoje, e as diferentes concepes de histria, essecaptulo, portanto, no abranger maiores aprofundamentos e pormenoresdas teorias nele abordadas. Nosso objetivo, prioritariamente didtico,consiste em retomar os aspectos gerais das teorias de modo a introduzir aleitura geral deste livro. As memorveis geraes de historiadores foram

    reunidas em quatro grupos fundamentais de ideias acerca do objeto daHistria Econmica, a saber: 1) A interpretao quantitativista da histria;2) a explicao da escola de Annales , 3) A teoria marxista e, por ltimo; 4)a explicao da Escola Austraca.

    Deixaremos ao leitor, que hoje inclina pacienciosamente a atenopara este livro, decidir qual a explicao menos preconceituosa, ou seja,qual a que estaria mais livre de opinies polticas, e dos valores do modo

    prprio de viver dos dias de hoje. No seria exagero dizer que examinarestes quatro ramos de conhecimento da histria ficaria incompleto se antesno nos detivssemos no significado da palavra objeto e, inclusive, nassuas razes etimolgicas. Aps abordarmos o conceito de objeto e essesquatro ramos de conhecimento, inclinaremos o nosso olhar tambm paraalguns preconceitos que recaram particularmente sobre grande parte daHistria Econmica, devido a incompreenses sobre o que seria o homemeconmico, o egosmo e o individualismo.

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    DO CONCEITO DE OBJETO

    No restaria dvida, nem mesmo aos mais incautos, que a melhormaneira de comear um assunto pela definio das palavras neleutilizadas. Aqueles que consultarem a etimologia do termo objeto , logosabero que ele comporta vrios significados e acepes. hora depararmos, por um momento, para examinar essa questo sobre a qualinclusive no tm surgido tantas controvrsias.

    Os gregos foram os primeiros a utilizar a palavra objeto , osromanos latinizaram-na apenas. No latim clssico, objectum significava

    obstculo, no sentido de objeo. Na Idade Mdia, a mesma palavra usada para designar coisas que podem ser percebidas. O dicionrioAurlio (1999) informa queObjectu o particpio de Objicere, que significa'pr, lanar diante', 'expor'. Mais tarde, o termo objeto ganhava o sentidode coisa material, algo tangvel, visvel.

    No entanto, tanto no ingls, quando no portugus, no que se refereao conhecimento humano, houve certo consenso sobre o conceito de

    objeto como: algo que agrega traos de semelhana. A EnciclopdiaBritnica (2009) est em acordo com o Dicionrio Aurlio quando estedefine o objeto, no mbito do conhecimento e da filosofia como: O pontode convergncia de uma atividade; mira, desgnio; ou ainda: Matria,assunto.

    Quem deteve sua ateno na etimologia da palavra, consentiufacilmente que se trata de agrupamentos de coisas que guardampropriedades semelhantes entre si. Se afirmarmos que algo um assento, porque esse algo est dentro de uma categoria imensa de coisas teispara a necessidade de sentar. Para nos afastarmos judiciosamente domedo de errar, a palavra objeto ser aqui utilizada de acordo com estesentido mais convencional que tem sido adotado no campo doconhecimento.

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    Bastaria um pequeno passeio pela histria da cincia parasabermos de exemplos de definies de objetos. A capacidade de conduziro calor e a eletricidade possibilitou que se agrupasse a classe dos metaisalcalinos. Essas propriedades fsicas so comuns a esses metais e deve-

    se natureza, talvez mais do que aos prprios cientistas, a criao destetipo de objeto de estudo.

    A definio atual do fogo, tambm nos traria outro bom exemplo:trata-se de uma reao qumica que ocorre entre combustvel, comburentee uma fonte de calor. A combusto desses trs elementos umacaracterstica comum do fogo, dada pela natureza. Essas propriedadesfsicas semelhantes fazem dele um objeto de estudo.

    Molculas compostas de dois tomos de hidrognio e um deoxignio (H20) formam uma das caractersticas mais comuns da gua. Aprpria natureza neste caso agrupa, classifica e ordena, enfim, aspropriedades semelhantes que convergiro para formarem categorias deobjetos. Se a gua diferente do fogo porque suas propriedades maiscomuns so diferentes, por isso, natural que acreditemos que ambosformam objetos diferentes.

    Um giro de olhar pelo que est a nossa volta em um instante nosmostraria o quanto a natureza separa, ela prpria, os seus objetos,classificando-os em categorias diferentes, como: ar, fogo, madeira, gua,etc.. Sabemos tambm que para essa categorizao no faria muitadiferena genialidades individuais como Demstenes, Newton ou Galileu.Nem espanto, nem surpresa, quase lugar-comum dizer que a naturezaest repleta de elementos com propriedades fsicas comuns, fato queocorre, independentemente, da interpretao dos homens.

    Existe uma crena famosa de que a cincia tambm feita demuitos momentos nos quais uma pergunta singela cede lugar a milharesde reflexes complexas. Conviremos facilmente que permanece a questode saber se na histria encontraremos as mesmas facilidades da fsica eda qumica. Qual, afinal, seria o objeto da histria? Qual a caractersticacomum que serviria para analisarmos fatos, eventos, revolues, sistemasde produo, costumes, leis e instituies to diferentes entre si? Como

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    agrupar medicina, manufatura, feudos e reinados em um mesmo objeto?Como generalizar acontecimentos to diferentes? Como fazer convergir,para um nico ponto de anlise, guilhotinas, astrolbios e teceles?Provavelmente, poucos duvidariam de que seria difcil reunir uma

    caracterstica comum entre tudo isso, e mais, no seria nem mesmoousadia dizer que decifrar todas essas conexes tem sido uma tarefabastante rdua.

    Faamos, no entanto, uma pausa para vermos mais de perto comose deram algumas das tentativas de encontrar caractersticas comuns quese constituiriam em objetos da histria em geral e da Histria Econmica,em especial.

    Nos exemplos da gua, do fogo e dos metais alcalinos, vimos que anatureza agrupa objetivamente suas substncias. Ser que o mesmoocorre com o estudo da histria? Como esse agrupamento ocorre nomomento do estudo da histria, no instante em que delimitado o seuobjeto? No tardaria e teramos que admitir ser o n da questo adefinio de um objeto de estudo, porm, sem depositar sobre ele ospreconceitos do mundo de hoje. Quase que como num relance, para oslimites deste livro, que se prope a uma abordagem de natureza didtica,passaremos, ento, a examinar diferentes pontos de vista sobre o objetoda histria.

    NOES QUANTITATIVISTAS EM HISTRIA ECONMICA

    Os mares por onde os historiadores daeconomia navegam - os territrios de suasreflexes - sofreram grande influncia de uma

    tendncia de pensamento econmico inclinada aouso da matemtica e que surgiu ainda no sculoXIX. Os conhecedores do pensamento neoclssicono deixariam de concordar que a matemticaserviu de referencial para a busca pela

    uniformidade do objeto de estudo da economia e queacabou por influenciar fortemente a histria econmica. Jevons (1983) fazsaltar aos olhos a clareza desta pressuposio:

    William StanleyJevons

    (1835-1882)

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    claro que, se a Economia deve ser, em absoluto, umacincia, deve ser uma cincia matemtica. Existe muitopreconceito em relao s tentativas de introduzir os mtodos ea linguagem da Matemtica em qualquer dos ramos dascincias morais. Muitas pessoas parecem pensar que ascincias fsicas formam a esfera adequada do mtodo

    matemtico, e que as cincias morais requerem outro mtodo no sei qual. Contudo, minha teoria de Economia decarter puramente matemtico. (JEVONS, 1983, p.30).

    Um pouco mais adiante, ele resume a sua teoria:

    A teoria consiste na aplicao do clculo diferencial aosconceitos familiares de riqueza, utilidade, valor, procura, oferta,capital, juro, trabalho e todas as outras noes quantitativaspertencentes s operaes cotidianas de negcios. (JEVONS,1983, p.30).

    Walras (1983) compartilhou dosmesmos pressupostos de Jevons (1983) e,no mbito de sua tarefa de purificar aeconomia poltica - convertendo seus objetosde estudo em grandezas quantificveis -tambm mostrou sua forte inclinao para ouso da matemtica. Pertence a ele a

    seguinte formulao:

    Se a Economia Poltica Pura, ou a teoria do valor de troca e datroca, isto , a teoria da riqueza social considerada em siprpria, , como a Mecnica, como a Hidrulica, uma cinciafsico-matemtica, ela no deve temer que se empreguem omtodo e a linguagem das Matemticas. (WALRAS, 1983,p.23).

    O legado neoclssico para a Histria Econmica procurou unir seuobjeto, fazendo uso de generalizaes estatsticas e a matemtica, que,

    segundo eles, captaria a uniformidade, o ponto em comum, entre osfenmenos econmicos.

    Hicksi (1969) representou um marco importante na histria dopensamento econmico e dedicou grande parte de sua obra a mostrar queo quantitativismo trouxera srias limitaes ao estudo da HistriaEconmica. Para ele, as generalizaes estatsticas no conseguiriamabranger as excees regra, que sempre ocorrem na histria, e fez

    Lons Walras(1834-1910)

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    ganhar fora a ideia de que os nmeros ocultam e escondem as mudanasgerais e que, portanto, seu alcance limitado. Os dados de PIB, porexemplo, ocultariam as relaes entre os homens e o funcionamento dassuas instituies.

    Menger (1985), o opositor dos neoclssicos, concebia a importnciada matemtica, mas considerava que seu alcance se limitava apenas afenmenos que comportassem anlise quantitativa, tais como: aumento dapopulao, taxas de natalidade, mortalidade, etc..

    Com efeito, se fosse possvel imaginar alguma respostamatemtica para a natureza geral dos ditos de Luiz XIVii, das conquistasde William Iiii, ou dos estatutos de Eduardo I iv, nem mesmo a mente maiscriativa escaparia de transformar paixes reais, interesses polticos,riqueza e pobreza da alma humana e conflitos de interesses em algumagrandeza quantificvel e, portanto, mensurvel, por meio de equaesmatemticas.

    Uma verdade logo se mostraria a nossos olhos: a maioria doseventos da histria no poderia ser quantificada, pois o conhecimento, aspaixes, os desejos, valores, costumes dizem respeito mais a natureza

    humana do que a coisas quantificveis. O fato das quantificaes servirempara relacionarmos algumas grandezas, no significa necessariamenteque elas sirvam para explicar a essncia das prprias grandezas que elasmensuram.

    No seria demais dizer que o quantitativismo dos neoclssicosresultou numa espcie de simplificao do objeto da Histria Econmica.Como entender a Idade Mdia, em termos de comportamento do

    consumidor ou luz das curvas de demanda e consumo? indagava Hicks(1969). Vimos dezenas de geraes de intelectuais transformando homensreais em coisas quantificveis.

    No nosso intento examinar os pormenores dos traosquantitativistas da chamada Nova Histria Econmica. Neste livro,estamos apenas assinalando, a vo de pssaro, os principais paradigmashistoriogrficos. O quantitativismo na Histria Econmica marcou sua

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    presena especialmente pelos avanos da metodologia da cliometria v e daaplicao dos mtodos quantitativos desenvolvidos por North (1983) eFogel (1964), agraciados com prmios Nobel de forma partilhada em 1993.

    Dessa forma, a perspectiva quantitativista ganhou fora maiorainda, especialmente nos anos noventa. Entretanto, no momento do seuincio, ela foi to mal recebida pelos estudiosos da histria, que acabouimpulsionando o debate especialmente na London School of Economics ,entre Hicks (1969), ao lado de Thomas Ashton (1968), dentre outros, - queacabou, nos anos trinta, separando definitivamente a Economia, daHistria Econmica como disciplinas acadmicas.

    O DOMNIO COMO OBJETO DA HISTRIA

    Prosseguindo nossa caminhada paraver o esforo das geraes que, de algumaforma, identificaram um ponto desemelhana para definir um objeto para ohistoriador. Logo se v um fato, de certaforma comum: muitas vezes, uma inspiraointelectual impe-se como uma matriz depensamento para geraes inteiras. Teriasido o filsofo e historiador Jules Michelet(1798-1874), segundo Le Goff (1998), umdos principais expoentes da Histria Nova, oprofetizador dessa nova forma de estudar a histria, expandindo os seushorizontes e campos de anlise. Essa tendncia ficou conhecida comoescola de Annales , ou Nova Histria, a denominao passou por vriasmudanas em razo de questes polticas, guerras, entre outros.

    Os pesquisadores, tributrios do movimento dos Annales, trouxeram contribuies importantes para o estudo da histria. Foramnotveis os resultados dos esforos para estimular pesquisas

    Jacques Le GoffNasceu em 1924.

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    interdisciplinares envolvendo a demografia, antropologia, psicologia,psicanlise, as mentalidades, discursos, etc.. Entremeio a essainterdisciplinaridade e multiplicidade de objetos, qual seria, para osannales , o objeto da histria? Responde LE GOFF (1998):

    As histrias plurais situam-se dentro de um domnio histricocujo horizonte continua sendo o da globalidade. Esta no mais buscada principalmente na sntese, mas em objetosglobalizantes, por um lado, e, por outro, capazes de realizaruma verdadeira interdisciplinaridade margem. (LE GOFF,1998, p. 19).

    Ao contrrio do que muitas vezes se pensou, os autores mais

    representativos dos annales no negaram que a histria tinha um objeto deestudo. Talvez a grande nfase no estudo de objetos particulares taiscomo medo, morte, esttica, demografia, cultura, costumes, entre outrostemas, fizeram crer que os historiadores novos no acreditassem em umobjeto unificado para a histria.

    E qual seria, segundo os Annales , o ponto de convergncia paradefinir o objeto da histria? A primeira resposta que temos que o objetoglobal uma das principais metas do historiador. O ponto em comum que os eventos e acontecimentos da histria fazem parte de algumdomnio. O que seria um domnio da histria? Le Goff (1998) mostra que odomnio da histria abrange mudanas e transformaes que ocorrem notranscorrer do tempo.

    O fato, no entanto que para a Histria Econmica, a definio dedomnio se tornou algo abstrato, carente de definio mais concreta demodo a abarcar as instituies, o direito, os fenmenos econmicos, etc..

    Em vo, procura-se nos historiadores novos uma definio concreta dedomnio, noo essa que se assemelhou mais ao princpio abstrato,admitido mais pela sua capacidade de ampliar os campos de estudo dahistria, do que precisamente pela fora de sua definio. Trata-se mais deuma meta do que precisamente de um objeto.

    Aqueles que consultarem os historiadores novos, vero que odomnio da histria tem duas caractersticas predominantes que remetem

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    ao seu lado espiritual e material. A primeira relembrada muitas vezescomo histria das mentalidades e, a segunda, como etno-histria. Oconceito de domnio, na medida em que seu significado remeteria amudanas no tempo, tornou-se demasiadamente amplo e no pode ser

    admitido seno como um conceito abstrato em forma de meta geral. Oconceito abstrato de domnio e subdomnio foi muitas vezes utilizado paraagrupar os eventos da histria. Fato, no entanto, que a ideia de domnio,no logrou delimitar claramente algum ponto em comum concreto paraagrupar castelos, costumes, mentalidades, manufaturas, crenasreligiosas, direito, etc.. no mbito da historiografia econmica.

    A histria global, o seu domnio, seria descoberta atravs do estudo

    das particularidades, dos minidomnios, miniobjetos da histria. Dissoadvieram trs consequncias principais que vamos assinalar. A primeira,positiva, propiciou a integrao da histria com outras cincias e ampliouos seus campos de estudo, gerando uma srie de pesquisas relevantes. Asegunda, negativa, abriu o caminho para que se priorizassemacontecimentos secundrios, em detrimento dos principais utilizados naHistria Econmica. A terceira, tambm negativa, abriu o caminho paraque fosse depositado no passado muito dos preconceitos do presente.

    Talvez os escritos iniciais dos annales no priorizassem tanto osfatos secundrios quanto os mais recentes. Michelet (1961, 1971)enfatizava a histria global, detendo-se mais em estudos da histriauniversal, medieval, moderna e revoluo francesa. Por outro lado, osestudos mais recentes tm focalizado questes como o medo, o cheiro, aalimentao, o profano, o sagrado, o corpo, etc..

    O estudo das particularidades revelou-se importante para aspesquisas histricas e trouxe novos conhecimentos. No entanto, precisoobservar que muitas vezes fatos particulares, secundrios, forampriorizados em detrimento de fatos principais. Na histria existemacontecimentos que tm um alcance maior e, por isso mesmo, adquirem acapacidade de ligar uma srie de outros fatos. O estatuto de sucesso daspropriedades, de Eduardo I, teve influncia direta sobre a vida de milharesde pessoas, determinando inclusive a formao da aristocracia. Mas, se

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    fizermos uma histria do medo ou da alimentao, desvinculada do fatoprincipal, corremos um srio risco de apresentarmos uma compreensolimitada dos acontecimentos. A ordem no pode ser invertida, na medidaem que os acontecimentos particulares s importam, justamente, por

    fazerem parte de algo que os liga e que lhes confere sentido, no em umsistema criado por ns, mas no seu prprio contexto.

    O outro corolrio negativo do conceito abstrato de domnio suafalta de sentido propiciar que se depositem muitos dos preconceitos atuaissobre o prprio passado. Outra forma de dar vazo vertente espiritual dodomnio como objeto da histria foi a sua classificao em vencidos evencedores, a exemplo de Wachtel (Apud LE GOFF, 1998, p. 19).

    questionvel se o fato de rotular os homens do passado como bom oumaus, dominadores e dominados, egostas ou altrustas, vencedores ouvencidos, ajuda a entender o contexto em que eles viveram.

    O reinado de Montezuma foi vencido em relao a Ferno Cortez,mas vencedor em relao aos povos conquistados. Ser que os homensdo passado se consideraram a si prprios como vencidos ou vencedores?A prpria palavra vencer, que tem sua origem no latim vincere , no foiconhecida na ndia, nos tempos do snscrito. Os camponeses da Franaseriam vencidos em relao a Luiz XIV e vencedores em relao a LuizXVI. Vencedor e vencido! Eis que se tratam de valores muito relativos,depositados sobre o passado a pretexto de se atingir uma histria global.

    Se dissermos que a aristocracia foi vencedora ou perdedora, emque isso ajudaria a entender a histria? Ela venceu em relao aosbrbaros, perdeu em relao a Wiliam I, que decretou a sua subjugaosocial. A aristocracia foi vencedora nos momentos em que perpetuou seusprivilgios de primogenitura, e perdedora quando foi impelida a alugar ouvender estes mesmos privilgios. Para entender a natureza dos privilgiosda aristocracia europia faz pouca diferena rotul-la como vencedora,aqui, ou perdedora, acol. Os homens do passado no concebiam a siprprios em termos de ganhadores ou perdedores, ou agentes da histriada cultura material. Para os medievais, no existiu o que ns

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    denominamos de mentalidades nos dias de hoje, sequer existia essapalavra com o significado atual atribudo pela historiografia.

    Dessa forma, o fato : de acordo com os annales, a cultura material

    e a espiritualidade comporiam o objeto da histria. Entretanto, o conceitode domnio do conhecimento histrico foi to amplo e to vago, que setornou uma abstrao condutora de muitas pesquisas para o estudo defatos secundrios. E, outras vezes, condutora para o depsito depreconceitos polticos e filosficos, que nunca existiram de fato nopassado, e que se mostraram de validade questionvel para o mbito daHistria Econmica. Para a Histria Econmica interessam instituies etraos marcantes de uma poca, muito mais do que fatos especficos,

    assim, a sistemtica dos banquetes, que mediava a relao entre osgrandes proprietrios e seus vassalos importa mais do que uma histriados costumes alimentares.

    OBJETO IDEALVERSUS OBJETO REAL

    Nossa incurso panormica pelas ideias clebres em torno dabusca de um objeto para a histria ter que se voltar agora para examinaro marxismo e suas influncias nos paradigmas da historiografiaeconmica. Qual seria, segundo essa concepo, o ponto comum, o traode semelhana entre os homens e os seus acontecimentos histricos.Qual seria, em uma palavra, o objeto da histria?

    O pressuposto bsico do marxismo que todos os indivduos vivem

    em um sistema de relaes sociais de produo, tal como feudalismo,capitalismo, etc.. Os homens na verdade estariam inseridos nesse sistemaem forma de classes sociais que viveriam em constante luta e oposio deinteresses, gerando, inexoravelmente, a nova sociedade:

    A histria de todas as sociedades at o presente [...] ahistria das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrcio eplebeu, senhor feudal e servo, membro de corporao e oficial-arteso, em sntese, opressores e oprimidos estiveram em

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    constante oposio uns aos outros, travaram uma lutaininterrupta, ora dissimulada, ora aberta, que a cada vezterminava com uma reconfigurao revolucionria de toda asociedade ou com a derrocada comum das classes em luta.(MARX, K. e ENGELS, F., 1987, p. 7-8).

    Este seria o objeto da histria: asclasses sociais. Elas foram tomadas comouma espcie de motor da histria e o eloentre os homens. A inspirao para explicar ahistria humana como um luta de forascontrrias foi extrada da filosofia hegeliana. Aideia bsica do filsofo alemo Hegel (1992),que viveu entre 1770-1831, com o mtododialtico, foi mostrar que na natureza e nouniverso, tudo existe em forma decontradio. O seu famoso exemplo do ovo pressupe que a borboleta,que gerada dentro dele, a sua negao. A borboleta a negao doovo, e ela originar novos ovos, que daro sequncia negao danegao e, assim por diante, segue o esprito especulativo hegeliano. Com

    o marxismo, esse esquema filosfico serviu de referncia para explicar ahistria.

    De acordo com a teoria marxista, o objeto da histria algoconstrudo pela lgica e , por meio dela, que ele pode ser entendido.Construdo o aparato dialtico, com toda a sua lgica interna, parte-se,ento, para a explicao da histria. Houve uma grande valorizao dafilosofia da histria, do mtodo dialtico, ou seja, do materialismo dialtico,como foi denominado.

    Se a luta de classes foi concebida como uma espcie de motor dahistria, o seu combustvel foram as, denominadas, foras produtivas. Oconceito de foras produtivas foi utilizado com o mesmo significado detecnologias de produo. O desenvolvimento dessas foras realiza,segundo o iderio marxista, os eventos da histria e transforma asociedade.

    Karl Marx1818-1883

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    As foras produtivas fariam a histria mover-se no sentido dacontradio, criando sucessivos sistemas econmicos, ou modos deproduo. A sucesso entre diferentes tipos de sociedades obedeceria auma sequncia de fases necessrias, que se sucederiam inexoravelmente,

    e, assim, novas sociedades surgem. O marxismo acreditou que seriapossvel prever o futuro da histria. Para Marx (1992) o capitalismo seriainevitavelmente destrudo, ele dizia:

    A concentrao dos meios de produo e a socializao dotrabalho chegam a tal ponto que se tornam incompatveis comsua envoltura capitalista e fazem-na romper. Soou a ltimahora da propriedade privada capitalista. Os expropriadores soexpropriados. (MARX, 1992, p. 21).

    A influncia hegeliana manifestou-se nessa concepo de fasessucessivas da histria, na qual a nova sociedade gera a sua negao, eprossegue:

    O modo de apropriao capitalista que brota do modo decapitalista de produo e, portanto, a propriedade privadacapitalista a primeira negao da propriedade privadaindividual baseada no prprio trabalho. Mas a produocapitalista engendra, com a fora inexorvel de um processo danatureza, a sua prpria negao. negao da negao.(MARX, 1992, p. 21).

    O objeto da histria, os pontos de convergncia entre homens dediferentes pocas, foi construdo com base em princpios puramentefilosficos. Noutros termos: a histria seria uma sucesso inevitvel desistemas gerados pelas foras produtivas. De posse dessa tabela filosficateramos o mtodo, o materialismo dialtico, para explicar qualquer eventoou acontecimento do passado.

    Uma vez adotada a dialtica, o objeto da histria tornou-se uma

    questo de lgica. De um lado, existe o objeto real da histria, de outro, oobjeto lgico da histria, ou seja, idealizado no mundo filosfico. Muitodistante do objeto real, o objeto ideal se assemelha mais a um esquemaexplicativo de como se encandeiam e se conectam os eventos da histria.Manufaturas, castelos, imprios inteiros e religies, estariam interligadospor um sistema de classes em contradio, gerando sociedadesantagnicas. Nesse objeto ideal, estariam encaixados todos os homens,desde os que j morreram e os que esto vivendo, at os que ainda

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    nascero. Trata-se de algo maior do que uma previso do futuro, de umapredestinao filosfica para o homem.

    Um fato no deixa de causar surpresa: aqueles que se dedicaram a

    examinar a diferena entre este objeto - construdo no mundo da lgica - eo objeto real da histria, perceberam, naturalmente, tratar-se de uma teoriaque coloriu o objeto real da histria com as cores da filosofia, mas que setornou muito dissonante com os fatos reais.

    A verificao dos acontecimentos da histria mostra que forammuito tortuosos, mal comportados, surpreendentes e cheios decoincidncias, os caminhos que os homens de fato percorreram. Inmeroshistoriadores, desprevenidos, foram pegos de surpresa pelo surgimento dosocialismo em alguns pases de origem eslava. Ao contrrio do que muitasvezes se pensou, isso no se deveu a nenhum maior desenvolvimento dasforas produtivas, como preconizado no destino filosfico marxista. Aocontrrio dos pases da parte centro-oeste da Europa, na parte orientalfloresceu a chamada nobreza marcial.

    O historiador francs do sculo XIX, Monsieur Passy (1826),descreve de modo bastante singular a histria dela: trata-se de uma

    nobreza muito violenta e que conquistou um nmero reduzido de servos. Anobreza marcial eslava imps-se mais pela fora do que pelos xitos doseu governo, com isso, argumenta Passy (1826), ela ensinou o costume dadominao, fato que favoreceu que seus povos aceitassem o surgimentode lderes tirnicos. Naturalmente, existe bastante a ser estudado sobre aorigem do socialismo nos pases eslavos, mas parece haver um consensoconcernente ao fato de que grande parte deles foram, e alguns continuamsendo at hoje, tecnolgica e comercialmente, pertencente a regies emgeral menos desenvolvidas da Europa.

    Examinemos a Revoluo Francesa: Alexis de Tocquevillevi (1982),e a literatura sobre a Revoluo Francesa em geral, admite que foi acondio de penria e atraso, resultante da poltica mercantilista colbertista- que concentrou um nmero reduzido de manufaturas nas provncias maisimportantes - o fato que, conforme Quesnay (1983), economista fisiocratado sculo XVIII, relegou a Frana, praticamente inteira, condio

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    miservel. A histria francesa mostra que no foi o desenvolvimento dasforas produtivas que levou o capitalismo Frana, mas sim a falta dele.

    A histria da Inglaterra, por seu lado, contrape-se ao objeto ideal

    marxista da histria. William I subjugou a nobreza com tantas proibiesque ela acabou tomando as dores do povo e se tornando de certa formaliberal. Uma nobreza liberal ajudou a enfraquecer os monoplios feudaisda terra e, ao lado disso, havia um comrcio intenso com as colnias ecom o resto do mundo. No nosso intento tratar desse tema aqui, mas possvel registrar a existncia de consenso quanto ideia de que houve, jnos sculos XV, XVI e XVII, um clima poltico, comercial e at mesmocultural que propiciou a revoluo industrial. O desenvolvimento das foras

    produtivas, ao invs de criar inevitavelmente as condies histricas para aRevoluo Industrial, foi sim resultado delas. A tecnologia e os sistemastcnicos de produo, de per si, no produzem instituies, governos, leis,etc., so, ao contrrio, justamente os seus resultados.

    Quando se observa os acontecimentos da histria, v-se que nos o seu objeto foi idealizado pelo mundo do marxismo, mas tambm o seusujeito. Acima dos homens paira o poder inexorvel das foras produtivas,agrupando-os em classes opostas. Em lugar de indivduos e agrupamentossociais, temos classes com interesses previamente definidos ehomogneos. dado aristocracia, dominar, aos plebeus, seremdominados. Os burgueses exploram, os proletrios so explorados.

    Dificilmente se pode acreditar que a histria real tenha acontecidodessa forma. Em muitos momentos a aristocracia, a burguesia e o povoagiram contra seus prprios interesses. Luiz XV, rei da Frana, investindono populismo, conscientizou os camponeses de seus direitos e insuflou-oscontra a prpria realeza. Hitler foi eleito pelo povo e voltou-se contra ele.Houve muitas contradies dentro e fora das prprias classes. Quando seobserva os fatos reais, o conceito de classe se mostra abstrato e de certaforma restrito, frente globalidade quase infindvel de agrupamentos,subagrupamentos e segmentos de indivduos ao longo da histria.

    Seria difcil agrupar sob o conceito de luta de classes as dezenasde castas e subcastas milenares dos povos da ndia dos tempos das leis

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    de Manu. Os romanos conquistaram os territrios gauleses, o que no teriasido possvel sem a oposio de classes dominantes entre si: osdominantes romanos contra os dominantes gauleses. Neste caso, qualsociedade teria emergido como uma forma de negao produzida pelo

    desenvolvimento das foras produtivas? Quantos imprios nasceram eforam derrubados? A luta encarniada entre os burgueses manufatureirose os agricultores, assim como, a empreendida no combate aos monopliosmercantilistas, no foi, exatamente, de burgueses contra proletrios, massim, de burgueses contra burgueses.

    Essa oposio marcou a histria durante sculos e at hoje deixasuas marcas. Os fatos que aconteceram impossibilitam que se agrupem os

    homens em forma de classes, quando em luta. Para amoldar a histria aoesquema dialtico da luta de classes, muitas vezes os acontecimentosforam considerados excees regra.

    No mbito do marxismo, foi desenvolvido o conceito de formaoeconmica pr-capitalista. Essa categoria englobava tudo quanto fosseexceo. O que no pode ser includo com facilidade no velho esquema daluta de classes e foi relegado como alguma forma de existncia primitiva.O fato, entretanto, que quando se examina as excees, v-se que elasno se restringem aos chamados povos primitivos, mas se estende,como vimos, ao mundo medieval e moderno. O fortalecimento do setor deservios aps a Revoluo Industrial fortaleceu ainda mais segmentos queno seriam nem burgueses, nem proletrios. As excees vo sealastrando ainda mais no mundo de hoje. Ao final, somam-se todas asexcees e v-se, naturalmente, que elas so a prpria histria.

    Seria talvez incondizente com os acontecimentos histricos reunirtodos os interesses da aristocracia em um princpio nico. Mesmo que nofosse ele um interesse classista, seus interesses foram muito distintos eestiveram estritamente ligados a condies especficas como, porexemplo, o sistema colonial e as singularidades da sucesso depropriedades em Espanha, Inglaterra, Frana e os pases eslavos. Comoagrupar num nico adjetivo a nobreza liberal inglesa e a nobreza marcialeslava?

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    Examinemos por um momento o conceito de sistema feudal. Deacordo com Ritter (1986), a palavra feudo originou-se da palavra latina,do sculo XII, feudum , que por sua vez veio de fehu , que, em umaantiga lngua germnica, significava castelo, englobando suas riquezas e

    cercanias. Seu valioso Dicionrio de conceitos em histria, afirma que,somente nos sculos XVI e XVII, que palavra feudalismo comea a serutilizada pelos juristas para descrever alguma forma de lei geral, derelao geral entre senhores e vassalos.

    A palavra feudalismo, entendida como sistema de produo ouestgio de um modo de produo, e assim empregada no marxismo, serutilizada apenas no sculo XIX. Os estudos etimolgicos apontam que os

    homens do passado viveram todo o perodo que se sucede ao declnio doImprio Romano at o Renascimento, sem sequer conhecerem a palavrafeudalismo, especialmente com o significado que lhe foi atribudo pelosautores do marxismo. Quase mil anos de histria transcorreram, sem oconhecimento da palavra feudalismo e, como sistema de partesintegradas, talvez nunca tenha existido de fato.

    Os fatos mostram que a histria no obedece a esquemasfilosficos. Vimos reis defenderem os burgueses comerciantes, em trocade apoio na luta contra os senhores feudais. Em nome da democracia,muitos setores do empresariado apoiaram Fidel Castro. Converter o objetoda histria em luta de classes limita sobremaneira o entendimento dosacontecimentos.

    Sem sombra de dvidas, fundamento de muitos governos e teoriapopular da histria, o marxismo fez poca no campo da HistriaEconmica, legando-lhe referencial terico e metodolgico. Dentreinfindveis expresses, vale ressaltar os trabalhos de Maurice Dobb (1983)que, apesar do rigor e profundidade de anlise, tambm foi influenciadopela ideia de explicar o surgimento do capitalismo nos termosapresentados pelo marxismo. No seria nenhum exagero afirmar que ahistoriografia econmica no sculo XX sofreu grande influncia domarxismo e, muitas vezes, conduziu seus estudos por caminhosdemasiadamente deterministas, estruturalistas ou esquemticos.

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    Em suma, a concepo marxista formulou um objeto ideal parahistria, porm, ele existiu, com todas as suas caractersticas, apenas nosistema filosfico hegeliano. O sistema de Hegel (1992), atravs dadialtica, legou conceitos restritos demais para abranger o rol infinito das

    relaes humanas. Essas restries foram ainda muito influenciadas pelasopinies polticas favorveis ao socialismo. Depositou-se sobre o passadono apenas um sistema filosfico inteiro, mas tambm um rol depreconceitos socialistas que tentaram mostrar que, assim como os homensdo presente estariam construindo o socialismo, os do passado, teriamconstrudo, inexoravelmente, o capitalismo. Os eventos da histria, osdocumentos histricos e os fenmenos reais mostram tantos pontoslacunares no esquema marxista sobre o objeto da histria que tornapraticamente inaceitvel a sua validade como um todo.

    A ECONOMIA POLTICA CLSSICA E O OBJETO DA HISTRIA

    Existe um fato inconteste, depois do que foi dito at aqui: a tarefa

    de encontrar e definir um trao comum para um objeto da HistriaEconmica permanece como algo intrigante, como um assunto sobre oqual se difcil de emitir uma palavra final, cabal, conclusiva.

    Outro fato, que tambm no mereceria muita contestao, seriamas dificuldades que os estigmas acerca do conceito de homem trouxerampara o debate sobre o objeto da histria. Por vezes, ocultado por meio deuniformidades de amostras matemticas, por vezes, sujeito de um domnioabstrato da espiritualidade ou da etno-histria, ou ainda, objeto darealizao da dialtica da luta de classes, os homens do passado, noraro, foram estigmatizados. Geraes de intelectuais deixaram marcasindelveis sobre os homens de outrora, que contriburam para limitar oentendimento de suas vidas e instituies.

    Enquanto, por um lado, Jevons (1983) e Walras (1983) fizeram oargumento quantitativo voltar-se contra a prpria economia poltica

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    Friedrich August von. Hayek1899-1992

    smithiana. Menger (1985) procurou darcontinuidade a ela nos sculos XIX e inciodo XX. A base dessa tendncia deexplicao histrica dos acontecimentos

    foi o iderio do empirismo dos sculosXVI, XVII e XVIII, respectivamente, deFrancis Bacon (1988), Locke (1988) eSmith (1988). Dentre os autores maisrecentes desta linhagem de continuidade

    da economia poltica clssica, encontra-seHayek e Mises. Ambos mostraram a importncia de entender o homemcomo indivduo que age conscientemente em nome do que julga ser deseu interesse e, com isso, oportunizaram reflexes sobre o objeto daHistria Econmica. Figurando dentre os principais cones da chamadaEscola Austraca, o pensamento de Hayek-Mises legou influncia profundanos temas, questes e objetos da Histria Econmica. Dandoprosseguimento economia poltica de Adam Smith, eles enfatizaram opapel do indivduo na histria, bem como a importncia da recuperao dahistria das ideias.

    Ao contrrio do que algumas vezes foi dito, o egosmo no era,para a economia poltica clssica, o nico motivador da ao humana; nohouve tambm nenhuma espcie dehistria econmica baseadaunicamente nos interesseseconmicos dos indivduos.

    Hayek (1996) reafirmou que

    os homens agem muitas vezesmotivados pelo egosmo, mas noexclusivamente por ele, e podem agirem nome de interesses de outraspessoas, tais como amigos,familiares, grupos de pessoas afins, etc.. Por outro lado, a teoria do valorde Menger (1985) pressups que os homens esto sempre em busca de

    Adam Smith1723-1790

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    alguma forma de melhorar o seu bem-estar, de acordo com o seu julgamento individual, e no com interesses puramente econmicos.

    Se uma crena religiosa faz o indivduo atirar-se em um poo para

    obter a salvao eterna, isso foi entendido como bem-estar por ele emotivou sua atitude. Os economistas clssicos trataram da prosperidade eda riqueza, mas seria muito reducionismo dizer que eles negaram ohomem-ao em detrimento de um homem-econmico. Qualquer rpido

    exame das obras filosficas de Smith(1988), Hayek (1952) e Mises (1990)logo mostraria que seus pensamentosnunca se restringiram a homens que

    agem apenas economicamente. Noseria demasiado dizer que foi muito pelocontrrio, e que existe todo um sistemade teorias para o entendimentopsicolgico, cognitivo e sensitivo danatureza humana.

    Entender o homem como umindivduo, que toma atitudes com basenos seus julgamentos, perseguindo o

    que, em seu contexto histrico, julga serde seu interesse religioso, moral, poltico,

    egosta, filantrpico, econmico, etc., foi anunciado pela Escola Austracacomo a forma mais segura de eliminar os preconceitos que os homens dopresente tendem a depositar em suas interpretaes sobre os homens dopassado. Para Mises (2007), a histria reporta-se reao de indivduos

    perante condies especficas com base num dado juzo de valor que lhe imanente. Lancemos o olhar sobre suas prprias palavras:

    A Histria est relacionada s aes humanas, que so aesou gestos executados por indivduos e grupos de indivduos.Ela descreve as condies sob as quais as pessoas viveram eo modo como reagiram essas condies. Ela trata dos julgamentos humanos de valores e de seus objetivosorientados por esses julgamentos - meios que os homensutilizaram para, em grupo, alcanarem as finalidades almejadas

    Ludwig von Mises1881-1973

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    e o resultado de suas aes. (MISES, 2007, p. 159, traduonossa).

    Em suma, continua ele,

    A histria trata da reao consciente de homens ao estado deseu ambiente natural e social enquanto determinado pelasaes de geraes precedentes, bem como pelas de seuscontemporneos. (MISES, 2007, p 159, traduo nossa).

    O outro passo importante para a definio de um objeto para ahistria, segundo a Escola Austraca, entender que no existe umahistria independente da interpretao do homem. Lembremo-nos do jocoso filme Os deuses devem estar loucos. Quem no se lembra dafamosa cena? Caiu, do avio, a garrafa de coca-cola. Os nativos da tribo

    africana, no sabendo o que era aquilo, tentaram devolv-la aos deuses julgando tratar-se de um presente deles. A comdia de Jamie Uysexemplifica a ideia de que so os homens que atribuem significado scoisas. No se trata de dizer que eles se enganaram, pois aquilo de fatono era um refrigerante para eles. O filme ilustra a ideia de que os objetosda histria no tm significados independentes dos homens.

    Na parte inicial deste livro, vimos exemplos de como a naturezaagrupa, independentemente dos homens, muitos dos seus objetos, como ocaso do fogo e da gua. Na histria, entretanto, nosso objeto depende deatribuies de significados feitas pelo homem. A esse propsito, Hayek(1996) considerava que,

    Se quisssemos, poderamos dizer que todos esses objetosso definidos, no em termos de suas propriedades reais,mas em termos de opinies que as pessoas tm sobre eles.Em resumo, nas cincias sociais as coisas so o que aspessoas pensam que elas so. Dinheiro dinheiro, umapalavra uma palavra, um cosmtico um cosmtico, se eporque algum pensa que eles so. (HAYEK, 1996, p. 60,traduo nossa).

    Mais adiante, seu pensamento ganha mais profundidade, continua,

    Os objetos da atividade humana, ento, para os propsitos dascincias sociais, so de gneros iguais ou diferentes, oupertencem a classes iguais ou diferentes, no de acordo com oque ns, os observadores, sabemos sobre os objetos, mas de

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    acordo com o que ns pensamos que as pessoas observadassabiam sobre eles. (HAYEK, 1996, p. 60, traduo nossa).

    Na linha do tempo, o que poderia ter em comum a medicina,manufatura, escravido, linguagem, conceitos, crenas, religies, alm dofato de serem objetos das aes de indivduos que os conceberam, pelosseus prprios pensamentos, como tais? A figura 1 uma imagem deachados arqueolgicos localizados na antiga Bulgria. O que exatamenteela nos mostra? Teramos quatro potes usados como reservatrios degua? Recipientes para conservao de alimentos? Adornos, tumbas...?

    Figura 1 Jarros das runas blgaras usados para armazenar vinho.Fonte: http://www.ancient-bulgaria.com

    Em razo dos resqucios encontrados, os arquelogos deduziramtratar-se de jarros utilizados para a produo e armazenamento de vinho.Para ns, que no vivemos naquele tempo e no adotamos os mesmoscostumes, tais achados poderiam ser indecifrveis, a menos queestudssemos o significado que os homens do passado atriburam aos jarros de pedra.

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    As figuras 3 e 4 no deixam de instigar a nossa imaginao. O queseriam? primeira vista nos parecem objetos estranhos. Imagine vocprprio ter diante de si um cubo de pedra desses!

    Figura 2. Mapa Estelar.Fonte:http://www.ancient-bulgaria.com

    Figura 3. Moedas na Grcia antiga.Fonte: http://www.mlahanas.de/Greeks/Money.htm

    Essas imagens de achados de pedra do passado que se nosafiguram como coisas toscas, estranhas, foram absolutamente naturais ecertamente no causaram a menor estranheza aos homens do seu tempo.

    Talvez seja este o maior desafio para se definir um objeto para ahistria: entender que as aes do homem, no transcorrer do tempo,figuram como algo to diversificado e complexo que nenhuma teoria dehistria poderia abrang-las em sua totalidade. Talvez seja isso que tenhaimpulsionado Adam Smith e seus seguidores a no propor uma teoriainterpretativa da histria, mas sim uma percepo das leis, instituies,regras, costumes e condies gerais do passado, baseadas no significadoque os indivduos de outrora atriburam ao seu prprio passado, muitas

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    vezes por imitao ou sobrevivncia e, na maioria dos casos,inconscientes dos seus resultados histricos.

    Nesse sentido, as percepes dos homens mostram suas prprias

    condies de vida, sua forma de ser, sua natureza humana; elas do adimenso de suas instituies e dos valores que ostentaram. De acordocom isso, a histria das ideias se afigura como uma fonte essencial para oestudo da histria. Vejam as cartas de Luiz XIV para a Companhia dasndias, as famosas instrues. Ele agia como um rei, ordenava ascolnias francesas como tal, autoconcebia-se como um rei, e assim eledeve ser concebido, como realeza. Thomas Mun (1845) fez dos interessesmercantilistas o motivo de seus escritos, no sculo XVI, por esse motivo

    ele ficou para a histria como um mercantilista.

    Por meio da histria das ideias, possvel estar seguro de nodepositar bandeiras e rtulos do presente sobre os ombros dos homens dopassado, que so entendidos a partir do nosso conhecimento sobre assuas prprias ideias de si mesmos. possvel ainda saber que osindivduos no viveram suas vidas e criaram suas instituies parapreparar nenhuma nova poca da histria, nem para realizar algum anseioda filosofia.

    A histria das ideias a prpria histria dos homens. Os indivduosagem e vivem de acordo com seus julgamentos, por conseguinte, esses julgamentos so a fonte para entender como eles podem ser bons, emalguma situao, ruins, em outras, ou ainda contraditrios, egostas,iludidos, ambiciosos, altrustas, filantropos, tristes, alegres, odiosos,estpidos, geniais, enfim, humanos.

    A fim de se eleger um objeto para a Histria Econmica, o pontocomum entre os indivduos no o fato de fazerem variar um ndice dePIB, nem de compor a espiritualidade de nenhum domnio abstrato dahistria e, menos ainda, de realizar a predestinao do esquema dadialtica marxista do socialismo, mas sim o fenmeno de que eles tomamatitudes diante de um estado de coisas com base no seu julgamento, o quecria o significado de tudo quanto faa parte da sua vida.

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    Em suma, a teoria de Histria da Economia poltica focaliza osindivduos e o modo como seu pensamento expressa suas experinciasvividas. Dessa forma, ela enriquece o objeto do historiador econmico, quepassa a valorizar a histria das ideias ao lado de documentos histricos,

    antropologia, arqueologia, leis do direito etc., enfim, tudo quanto sejaimportante para entender o conjunto das atitudes dos indivduos nahistria.

    A Economia vista muito mais como uma relao humana do quecomo interrelao de quantidades de coisas, sua histria, por conseguinte,no remete mera alocao eficiente de recursos, mas ao aproveitamentodas potencialidades de conhecimento dos indivduos. De acordo com isso,

    para a Histria Econmica importam os indivduos e seus agrupamentosformando instituies planejadas ou espontneas que caracterizam umestado de coisas da sociedade e importam fenmenos e acontecimentosque influenciam toda a sociedade.

    Aqui, o conhecimento da histria ser sempre fragmentado, tantoquanto as experincias dos indivduos, as fontes de seu conhecimento. Aeconomia poltica foi a verdadeira apologia da humildade intelectual, poisentendeu que a diviso do trabalho fragmenta o conhecimento histrico,que nunca dado em sua totalidade, como histria global, a um nicoindivduo, mas se dispersa entre todos os membros da sociedade.

    ANOTAES

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    GLOSSRIO

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    Econmica, atravs do uso da estatstica e da econometria como mtodosprincipais de anlise.

    Empirismo: conjunto de concepes que valorizavam as experincias e assensaes como fontes primrias do conhecimento humano.

    Fisiocracia: Escola de pensamento que surgiu na Frana e que se ops aomercantilismo. Caracterizou-se por defender a liberdade de comrcio emdefesa da agricultura em contraposio aos monoplios das manufaturas.

    PIB: Sigla de Produto Interno Bruto, que se constitui na soma das riquezasde um pas em termos de bens, produtos e servios.

    SUGESTO DE LEITURAS COMPLEMENTARES

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    LE GOFF, J. A histria nova. So Paulo: Martins Fontes, 1998.

    SMITH, A. A riqueza das naes: investigao sobre sua natureza e suascausas. So Paulo: Nova Cultural, 1988.

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    QUADRO RESUMIDO DOS PONTOS-CHAVE PARA REVISO

    1. desejvel que, de alguma forma, as explicaes do passadoestejam desvinculadas de preconceitos dos dias de hoje, tais comoopinies polticas, convices ideolgicas e valores morais e/ouculturais.

    2. A definio de Objeto da Histria Econmica est relacionada ideia de identificar pontos de convergncia entre osacontecimentos da histria.

    3. A teoria quantitativista focaliza o objeto da Histria Econmica emtermos de relacionamentos de quantidades de coisas. Oreferencial principal de anlise so grandezas e taxas focalizandodemografias, demandas, ndices, etc.

    4. A teoria dos annales supe a existncia de um domnio da histriaque figura como uma meta a ser alcanada, por meio do estudo departicularidades da histria.

    5. O marxismo foi uma teoria que se valeu da filosofia para construirum objeto lgico para a Histria Econmica. Sob essa tica, aHistria Econmica seria o processo de fases sucessivas enecessrias de sistemas de produo movidos pela luta de classesatravs do desenvolvimento das foras produtivas.

    6. A economia poltica e a escola austraca enfatizaram o papel doindivduo na Histria Econmica e a necessidade de utilizar ahistria das ideias como fonte essencial para o entendimento dopassado, uma vez que as ideias expressam o mundo e os valoresque a geraram.

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    NOTAS

    i John Richard Hicks (1904-1989) Economista ingls recebeu PrmioNobel de Economia de 1972 e foi autor de inmeras obras em economia e histriaeconmica tais como Valor e Capital (1938), Capital e Crescimento (1965). Emhistria econmica Hicks foi adepto da noo de estgios e ciclos dedesenvolvimento.

    ii Lus XIV de Bourbon (1638-1715) monarca absolutista da Frana tendoreinado de 1643 a 1715; seus ditos eram ordenaes em forma de decretos.

    iii William I (1027-1087), conhecido como William o Conquistador foi Rei daInglaterra de 1066 a 1087.

    iv Eduardo I (1239-1307), filho de Henrique III, foi Rei da Inglaterra dadinastia Plantageneta, entre 1272 e 1307.

    v Cliometria: Tendncia de abordar a histria e, em especial a histriaeconmica, atravs do uso da estatstica e da econometria como mtodosprincipais de anlise.

    vi Alexis de Tocqueville (1805 - 1859) foi um pensador poltico, historiadore escritor francs que ficou conhecido por ser grande pesquisador sobre aRevoluo Francesa.