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01 CONTEMPORâNEO Aos 48 anos, considerado um jovem na arquitetura, o chinês Wang Shu foi o vencedor da edição de 2012 do Prê- mio Pritzker, apontado mundialmente como o Nobel da ca- tegoria. Nascido em Urumqi, na província de Xinjiang, filho de um carpinteiro amador e de uma professora primária, Shu sempre teve uma ligação próxima com o artesanato. Ele trabalhou, no início da carreira, com artesãos e profissio- nais que reconstruíam casas antigas. Pouco conhecido fora da China, onde estão todos os seus projetos, Shu afirmou ter sido uma surpresa vencer o prê- mio, criado em 1979 pela família Pritzker, proprietária da rede Hyatt Hotels. Jay A. Pritzker (1922-1999) e sua esposa Cindy, interessados no assunto justamente pela ligação com a construção de hotéis, criaram o evento para home- nagear arquitetos ainda em atividade. “Desejamos ressal- tar profissionais que, com seu trabalho, demonstrem uma combinação de talento, visão e compromisso, e que tenham produzido contribuições consistentes e significativas para a humanidade”, afirmaram na época. UMA DAS PRINCIPAIS OBRAS DE WANG SHU é O MUSEU DE HISTóRIA, LOCALIZADO EM NINGBO, NA CHINA. A EDIFICAçãO FOI DESENVOLVIDA COM MATERIAIS DE DEMOLIçãO RECICLADOS TEXTO Katia Calsavara NOBEL DA arquitetura Considerado o evento mais importante da categoria, o Prêmio Pritzker homenageia o chinês Wang Shu em 2012 e segue como parâmetro de excelência na área fotos PRITZKER/DIVULGAçãO

Docol Contemporâneo

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01 contemporâneo

Aos 48 anos, considerado um jovem na arquitetura, o

chinês Wang Shu foi o vencedor da edição de 2012 do prê-

mio pritzker, apontado mundialmente como o nobel da ca-

tegoria. nascido em Urumqi, na província de Xinjiang, filho

de um carpinteiro amador e de uma professora primária,

Shu sempre teve uma ligação próxima com o artesanato.

ele trabalhou, no início da carreira, com artesãos e profissio-

nais que reconstruíam casas antigas.

pouco conhecido fora da China, onde estão todos os seus

projetos, Shu afirmou ter sido uma surpresa vencer o prê-

mio, criado em 1979 pela família pritzker, proprietária da

rede Hyatt Hotels. Jay A. pritzker (1922-1999) e sua esposa

Cindy, interessados no assunto justamente pela ligação

com a construção de hotéis, criaram o evento para home-

nagear arquitetos ainda em atividade. “Desejamos ressal-

tar profissionais que, com seu trabalho, demonstrem uma

combinação de talento, visão e compromisso, e que tenham

produzido contribuições consistentes e significativas para a

humanidade”, afirmaram na época.

uma das principais obras de wang shu é o museu de história, localizado em ningbo, na china. a edificação foi desenvolvida com materiais de demolição reciclados

teXto Katia Calsavara

Nobel da arquitetura

Considerado o evento mais importante da categoria,

o prêmio pritzker homenageia o chinês Wang Shu em

2012 e segue como parâmetro de excelência na área

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“Shu se destaca pela combinação de força escultural com sensibilidade contextual”, diz zaha

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Shu foi escolhido não só por representar um país que chama a

atenção do mundo devido a seu crescimento econômico e urbanísti-

co, mas também por desenvolver projetos que misturam tradição mi-

lenar chinesa, sintonia com o entorno e preocupação ambiental. Entre

algumas de suas obras mais importantes estão o Museu Histórico da

cidade portuária de Ningbo, com estrutura de pedra; o campus Xian-

gshan da Academia Chinesa de Arte, com telhado feito com telhas

provindas de casas demolidas; a Biblioteca do Colégio Wenzheng,

na Universidade de Suzhou; além dos pavilhões que representaram a

China na Bienal de Veneza de 2006 e na Expo Xangai de 2010.

Martha Thorne, diretora executiva do Pritzker e membro do júri

desde 2005, reforça que o prêmio deste ano não foi concedido à

arquitetura chinesa como um todo e sim para o trabalho de Shu e seu

escritório, o Amateur Architecture Studio. O espaço, localizado em

Hangzhou, cidade a cerca de 170 quilômetros de Xangai, foi funda-

do em 1997 pelo profissional e por sua esposa, Lu Wenyu. “O júri

não tomou uma decisão com base em nacionalidade ou geografia.

Por outro lado, com a quantidade de novas construções na China

atualmente, é importante mantermos a atenção a esse território vi-

brante”, afirma Thorne.

É a segunda vez que um representante do país recebe o Pritzker. A

primeira foi em 1983, para Ieoh Ming Pei, chinês naturalizado norte-

americano, que construiu boa parte de seu trabalho fora do país, ao con-

trário de Wang Shu. Ao anunciar o prêmio, Thomas J. Pritzker, curador

da The Hyatt Foundation, afirmou: “Ao longo das próximas décadas, o

sucesso da China na área será importante para o mundo. Essa urbaniza-

ção precisa estar em harmonia com a cultura e as necessidades locais”.

A iraquiana Zaha Hadid, membro do júri e ganhadora do prêmio

em 2004, disse, durante a divulgação do vencedor, que o trabalho de

Wang Shu se destaca pela combinação de força escultural com sensibi-

lidade contextual, além do uso transformador de materiais.

contribuição para a humanidade

Como membro da comissão que organiza o prêmio, Martha Thor-

ne afirma que a importância do Pritzker se deve a uma série de fatores.

“Muitas pessoas concordam que esta é a mais notável e independente

premiação internacional concedida no ramo da arquitetura contempo-

rânea. O prêmio está estabelecido desde 1979 e já homenageou 36 ar-

quitetos. De acordo com ela, o evento promove o debate público sobre

arquitetura e reconhece o trabalho de profissionais exemplares.

O júri é formado por uma equipe de cinco a nove pessoas, incluindo

profissionais como arquitetos, críticos, editores, educadores, políticos,

ex-premiados e outros representantes da cultura que indicam nomes

para a comissão. Além disso, qualquer arquiteto licenciado pode apre-

sentar indicações por email à direção executiva para posterior aprecia-

ção do júri. Centenas de candidatos são indicados anualmente.

Lord Peter Palumbo, notório britânico patrono das artes, está à

frente do júri desde 2004. Foi presidente do Conselho das Artes da

Grã Bretanha e da Fundação Tate Gallery, entre outros. Neste ano,

além de Palumbo, participaram oito membros: o arquiteto chileno

Alejandro Aravena, o jurista norte-americano Stephen Breyer, o pro-

fessor e arquiteto chinês Yung Ho Chang, a arquiteta Zaha Hadid, o

arquiteto australiano Glenn Murcutt (Pritzker de 2002), o escritor

finlandês Juhani Pallasmaa, a editora Karen Stein, baseada em Nova

York, e Martha Thorne.

acima, biblioteca da faculdade de wenzheng: parte do prédio foi construído sobre o lago da instituição. abaixo, o arquiteto wang shu, vencedor do pritzker 2012. na página ao lado, hall do museu de história de ningbo (acima) e o prédio da faculdade de arquitetura da academia de artes da china, da qual shu é diretor e responsável pelo projeto do campus

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Quando questionada sobre quais características definiam os pre-

miados no passado e quais poderiam ser reconhecidas hoje, após 34

anos da realização do prêmio, Thorne diz que os padrões do Pritzker

não sofreram mudanças e que se mantém a ideia de honrar arquitetos

que tenham contribuído com a humanidade. “Nos últimos anos, o

júri mencionou ideias como a inovação, ampliando limites, mas ele

sempre reconhece a natureza poética da arquitetura”.

Solidez, beleza e funcionalidade

Dois arquitetos brasileiros já receberam o prêmio: o carioca Os-

car Niemeyer, em 1988, e o capixaba Paulo Mendes da Rocha, em

2006. Expoentes da arquitetura moderna e reconhecidos internacio-

nalmente, eles entraram para o seleto time de laureados, que inclui o

mexicano Luis Barragán (1980), o canadense naturalizado americano

Frank O. Gehry (1989), o português Álvaro Siza Vieira (1992), o ja-

ponês Tadao Ando (1995), o italiano Renzo Piano (1998), o inglês

Norman Foster (1999), a dupla do escritório suíço Jacques Herzog

e Pierre de Meuron (2001), o suíço Peter Zumthor (2009), Kazuyo

Sejima e Ryue Nishizawa, do grupo SANAA (2010), e o português

Eduardo Souto de Moura (2011), para citar apenas alguns.

No ano em que venceu, Niemeyer dividiu o prêmio com o norte-

americano Gordon Bunshaft, criador do Lever House (1952), em

Nova York. À época, o júri afirmou que Niemeyer “captura a essência

de sua cultura para lhe dar forma”. Mais conhecido por seu conjunto

de prédios urbanos em Brasília, foi discípulo de Le Corbusier e tem

construções históricas no currículo, como o Edifício Copan, em São

Paulo, e o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Minas Gerais.

Paulo Mendes da Rocha, de 83 anos, é autor do Museu da Escul-

tura, da Galeria Vermelho e do projeto de revitalização da Pinaco-

teca do Estado de São Paulo, entre outros. Em 1972, foi finalista no

concurso para a escolha do projeto do Centro Pompidou, em Paris.

Os arquitetos que vencem o Pritzker recebem US$ 100 mil e uma

acima, oscar niemeyer e uma de suas criações mais famosas: a capital do país, brasília. na página ao lado, o arquiteto paulo mendes da rocha, que assinou o projeto do museu da escultura (mube), em são paulo. os dois conquistaram a medalha (foto) do prêmio pritzker, em 1988 e 2006, respectivamente

medalha de bronze na qual são grafados o nome do prêmio em uma das

faces e três palavras em latim “firmitas, utilitas, venustas” (firmeza, uti-

lidade e beleza, em português) na outra. Esses princípios são atribuídos

ao romano Marcus Vitruvius Polio, considerado o pai da arquitetura.

O vencedor costuma ser anunciado no mês de março, com variações, e a

cerimônia oficial ocorre em maio em local de arquitetura marcante definido

pela família Pritzker. A celebração já foi realizada em lugares como o Caste-

lo de Praga, o Palácio de Versalhes e o Instituto de Artes de Chicago, entre

outros. Neste ano, acontece em Pequim, na China, no dia 25 de maio. d

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