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    ST3 - ndios Citadinos de Altamira e Famlias Indgenas Ribeirinhas daVolta Grande do Xingu: Aspectos Demogrficos, Socioeconmicos eCulturaisAna Corbisier, sociloga e Paulo Serpa, antroplogo

    A ltima parte dos estudos etnoecolgicos do EIA do AHE Belo Monte foi dedicadaaos indgenas desaldeados, ou seja, aqueles grupos indgenas moradores dacidade de Altamira e dos beirades da Volta Grande do Xingu. De fevereiro aagosto de 2009, uma equipe de 11 tcnicos dedicou-se a levantar as condies devida dessa populao indgena.No havia informao sobre esta populao, visto que alguns setores regionais daFundao Nacional do ndio Funai, e da Fundao Nacional de Sade Funasa,no os reconhece como ndios pelo fato de no viverem em Terras Indgenas.Mesmo o cartrio do registro civil recusa a incluso da etnia no nome dos recmnascidos. Enfim, observa-se uma situao de total invisibilidade dos indgenascitadinos e das famlias indgenas moradoras na Volta Grande do Xingu.Optou-se por reunir algumas lideranas e representaes dessa populaoindgena, integr-las equipe e por meio delas, iniciar a identificao das famlias. medida que eram localizadas, aplicavam-se questionrios de carter scio-econmico, ao mesmo tempo em que eram entrevistados os mais velhos iniciando-se a construo da genealogia das famlias. Averiguou-se que alm do movimento endgeno de recuperao cultural quemotiva atualmente a populao em estudo, alguns rgos pblicos, como aDefensoria Pblica do Estado do Par, apoiam os ndios na busca de recuperaode sua identidade. Verificou-se que esta invisibilidade pode ser entendida tambm,como uma estratgia de sobrevivncia e que, em lugar de constituir uma dispora,fortaleceu a resistncia cultural iniciada ainda na poca da misso jesuticaTawaquara, no sculo XVII.O estudo detectou 400 famlias indgenas, sendo 360 em Altamira e 40 moradorass margens do rio Xingu, a jusante da cidade. As famlias entrevistadas pertencema 17 etnias, sendo as mais numerosas os Xipaya, os Kuruaya e os Juruna. Todasessas etnias possuem Terras Indgenas com as quais se relacionamperiodicamente. Portanto, apesar das grandes distncias e da falta de meios detransporte mais rpidos, so estreitos os laos que mantm entre si as vriascomunidades. Essas relaes inter e intra comunidades so permeadas pelosvnculos sagrados que essas etnias mantm com o rio Xingu, com suas paisagens,

    cachoeiras e pedrais, onde residem e resistem as entidades mitolgicas.

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    A segunda etapa do trabalho consistiu em inventariar os impactos que, caso sejaconstruda, a usina ir provocar sobre aquela populao.O objetivo desta comunicao , portanto, trazer a pblico as informaes sobreessa populao indgena, principalmente sobre a que vive na cidade de Altamira,

    mas tambm, nos beirades da Volta Grande do Xingu, suas condies de vida,formas de insero no mundo urbano, estratgias de sobrevivncia e reproduosocial, demandas de polticas pblicas diferenciadas a que tm direito,reconhecimento tnico e, principalmente, o grau de interferncia que a UHE BeloMonte vir provocar caso a usina seja construda. Assim, esta comunicao vemtrazer elementos socioeconmicos e culturais, fundamentais para o debate sobre aeficincia e eficcia dos programas de mitigao e de compensao previstos paraessa populao indgena, historicamente abandonada a sua sorte e que, semdvida, ser o componente humano que sofrer a maior incidncia de impactosnegativos e irreversveis caso o empreendimento seja implantado.Pretende-se tambm contribuir para o debate sobre o fenmeno indgena noespao urbano, indicando as consideraes que devem ser atendidas naelaborao de polticas pblicas especficas para esse segmento social.

    MetodologiaO estudo sobre os ndios citadinos de Altamira e da Volta Grande do Xingu incluiu abusca de informaes secundrias sobre o tema, alm dos estudos ambientais jrealizados sobre o AHE Belo Monte. A coleta de dados primrios realizou-se emduas etapas abril e maio de 2009 -, sendo a primeira interrompida pela enchenteque atingiu a populao indgena que vive beira dos igaraps Panelas, Altamira e Amb, ou prxima a eles. Durante essa campanha foi realizada reunio com osmovimentos da sociedade civil organizada e entidades indgenas e com instituiescompetentes da estncia municipal, estadual e federal para integrar o trabalho ao

    universo local.Foram agregados equipe seis colaboradores indgenas locais, com experincianesse tipo de levantamento, o que foi essencial para o pleno desenvolvimento dotrabalho, tanto pelo conhecimento que possuem da complicada organizaoespacial da cidade de Altamira, como tambm, e mais importante, peloconhecimento e amizade que mantm com as famlias indgenas objeto dapesquisa.Realizou-se um censo, restando 25 famlias, identificadas, mas no localizadas,

    porque na poca se encontravam nas aldeias ou na zona rural. As informaesforam obtidas por meio de entrevistas semi-estruturadas, de carter qualitativo, e da

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    aplicao de um questionrio e de um cadastro. Priorizou-se sempre o cnjugeindgena, mas, na falta deste, foram entrevistados os cnjuges no ndios.

    1. - De Tawaquara a Altamira - Apontamentos da etnohistria do Mdio Xingu

    O vale do Mdio Xingu, rea de influncia regional do AHE Belo Monte, estlocalizado entre os rios Tapajs e Tocantins. Essa regio da Amaznia foi ocupadamuito lentamente, devido aos cursos dgua serem interrompidos por corredeiras, oque torna o rio Xingu e seus tributrios um dos rios brasileiros mais dificultosos paraa navegao.

    1.1. rea Cultural do Mdio XinguSegundo Nimuendaju (1948), os povos indgenas originrios1 dessa regio podemser caracterizados em trs grupos: povos canoeiros restritos aos rios Xingu, Iriri eCuru: Juruna, Xipaya e Arupa (extinto); povos do centro da floresta: Kuruaya, Arara2, Asurini e Tacunyape (extinto); povos das savanas, que eventualmenteinvadem a zona de floresta: Kayap do Norte3. A agricultura da mandioca foi a base da subsistncia de todos esses povos, comexceo dos Arara, que eram menos propcios ao cultivo. A unidade sociopolticaera a aldeia, e, aparentemente a descendncia era patrilinear, principalmente paraas chefias. A poligamia era rara e os laos familiares eram muito fortes. As relaesintertnicas geralmente envolviam guerras com canibalismo.Os Juruna 4, grandes bebedores de cauim, hoje autodenominados Yudj, soconhecidos como exmios canoeiros e so antigos habitantes das ilhas epennsulas do baixo e mdio Xingu. A histria oral Yudj delimita como territriooriginal toda a regio da Volta Grande at a desembocadura do rio Fresco e atribuia extino dos povos Takunyap, Arupaia e Peapaia a sua prpria ao guerreira ea seus inimigos memorveis, os Txukahame (Kayap).

    Os escritos de Nimuendaju (1981), com base em suas visitas de 1918 e 1919,informam na regio, alm dos Xipaya, grupos indgenas como os Kuruaya.

    1 Vale observar que o autor no faz referncia aos Arawet e aos Parakan. Os Arawet no eram conhecidos na poca do estudo de Nimuendaju; talvez fossem confundidos com os Asurini, porque tambm faziam uso abundante do urucum, costume que veio adenominar os Asurini (os vermelhos). Quanto aos Parakan a ausncia de referncia se deve ao fato de que, naquela poca, aindaestavam unidos; a ciso que levou uma parte do povo para o Xingu s ocorreu depois dos anos cinquenta.2 Segundo Melatti esses Arara so os mesmos que podem ser encontrados agora no baixo Iriri, afluente do rio Xingu. 3

    Incluem-se aqui todos os grupos Kayap originrios das cises histricas ocorridas nos ltimos sculos e que, grosso modo,compreendem os grupos Karara, Xikrin, Megranoti, Txukahame, entre outros.4 O etnnimo Juruna parece significar boca preta em Lngua Geral (Nhengatu) devido tatuagem que usavam quando o baixoXingu foi explorado pelo colonizador portugus.

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    Nessa rea onde predominam povos falantes do tronco Tupi, os Arara se destacampor falar uma lngua Karib5. Viviam no divisor que separa as guas que correm parao Iriri, onde passa a Transamaznica. Hoje, aps a atrao, ocupam as TerrasIndgenas Arara e Cachoeira Seca 6.

    O mosaico etnogrfico do Mdio Xingu compreende tambm os Karara e os Xikrin,povos J. Tal como os outros grupos Kayap autodenominam-se Mebengokr, quesignifica gente do buraco dgua ou gente da gua grande, em referncia aosrios Tocantins e Araguaia, cuja travessia marcou a separao do grupo ancestral(VIDAL, 1977).

    1.2. Apontamentos sobre a Etnohistria do Mdio Xingu A reconstruo da etnohistria regional vem fornecer informaes e subsdios para

    compreender a situao atual dos povos indgenas do Mdio Xingu, principalmentedaqueles grupos que lograram sobreviver em reas urbanas para onde foramempurrados pela violncia dos ciclos histrico-econmicos. Portanto, o foco dadescrio so as etnias Xipaya, Kuruaya e Juruna, por compreenderem a grandemaioria dos indgenas citadinos e das famlias indgenas moradoras na VoltaGrande.Os arranjos matrimoniais observados nas genealogias, os padres de localizaode residncias nas palafitas, os fluxos migratrios histricos dentro da bacia

    hidrogrfica do Xingu, a insero dos grupos na cidade de Altamira, oressurgimento das etnias consideradas extintas, a re-construo da identidade e doterritrio no mundo urbano, a busca de visibilidade tnica constituem o modusvivendi desenvolvido por cada etnia, principalmente no cenrio urbano. A colonizao aliada catequizao catlica realizou ao longo do sculo XVIIvr ias tentativas de escravizar e aldear os Juruna. Em 1655 os convertidos foramestabelecidos na Misso Tawaquara, acima das cachoeiras da Volta Grande(Oliveira, 1970) onde, em 1842, Adalberto da Prssia registrou a presena dos

    Juruna na Misso restabelecida.Os Juruna foram tambm observados por Von den Steinen (1884), Coudreau(1896), Nimuendaju (1918); e, este ltimo afirma que sempre mantiveram relaesde guerra e de paz com os Xipaya, Kuruaya e Arara do Iriri. Nessa pocarealizaram uma aliana por meio de casamentos intertnicos, confirmada por

    5 Nimuendaju menciona a disperso do grupo Arara quando a aldeia no rio Iriri foi atacada pelos Kayap-Gorotire em 1918. Nomesmo relato conta que em 1934 este territrio foi tomado pelos Kayap- Gorotire, obrigando os Kuruaya a se espalharem: algunsseguiram para o Tapajs, outros se dispersaram ao longo do rio Iriri e outros tantos se juntaram aos poucos Xipaia que viviam perto

    do Gorgulho do Barbado (Nimuendaju 1940). 6 No devem ser confundidos com os Arara da Volta Grande que tambm so chamados de Arara do Maia. Esse provavelmenteum subgrupo Arara de famlia lingstica Karib, que viveu na foz do rio Bacaj no sculo XIX e que pode ter se misturado com osJuruna e outros no ndios ao longo do processo de contato intertnico.

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    Coudreau (1896) quando, em visita aldeia da Cachoeira de Jurucu, registravrios casamentos entre Juruna e Xipaya (Oliveira, 1970).Os Xipaya permaneceram sem contato direto co m o mundo civilizado, na regiodos rios Iriri e Curu, apesar de terem feito contato, em 1750, com o jesuta

    Hundertpfund que visita Tawaquara e a seguir entra em contato com os Kuruaya(Nimuendaju, 1948).Os ataques dos Kayap, em 1885, levaram os Xipaya a abandonar as aldeiaslocalizadas nas cachoeiras do Iriri, estabelecendo-se no Gorgulho do Barbado,onde realizaram casamentos com os Kuruaya. Entre 1909 e 1913, os Xipaya sovisitados por Emlia Snethlage que reencontra os Kuruaya em 1918 e registra umasituao de extrema subordinao dos Xipaya e Kuruaya aos patres seringalistas. A partir de 1918 intensificam-se os ataques dos Kayap que ficam mais intensosdurante a dcada de 1950, com o avano do grupo sobre territrios dos Xipaya,Kuruaya e Juruna.Em sntese, a regio do Mdio Xingu experimentou ao longo dos ltimos sculos asfases da catequese jesutica (1655 -1760), a administrao pombalina e suacontinuidade no perodo imperial (1760 1860), o boom da borracha (1880-1945), odesenvolvimentismo e ampliao da fronteira de colonizao (1950-1980) cujoexemplo mais emblemtico a abertura da Transamaznica na dcada de 1970 e,atualmente, a fase dos mega projetos de hidreltricas, explorao de recursosminerais e vegetais e empreendimentos de colonizao privada. A presena de famlias Juruna, Xipaya e Kuruaya no espao urbano consolidadano sculo XX e est estreitamente relacionada ao auge e declnio do ciclo daborracha e da formao da vila de Altamira que j era nessa poca o principalentreposto comercial do mdio Xingu.Na primeira metade do sculo XX as fontes etnohistricas descrevem, para osXipaya e Kuruaya, uma migrao pendular, entre os rios Iriri e Curu e as margens

    do Xingu, imediaes do igarap Panelas, local da antiga aldeia-missoTawaquara. As histrias de vida dos mais velhos Xipaya, Kuruaya e Jurunaevidenciam esse movimento e a posterior fixao das famlias na cidade, poisalguns desses indi vduos nasceram nos seringais (Malocas) no Iriri-Curu; outrosnascer am no Moquio7 ou Aldeinha, assentamento indgena que posteriormentefoi incorporado pelo bairro So Sebastio, em Altamira.

    7 Segundo Maria Helena (Juruna idosa da Ilha da Fazenda), o termo moquio quer dizer monte de mato. O Dicionrio Houaissdefine o termo como habitao rstica, desprovida de conforto; casebre.

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    1.3. ndios Citadinos: desaldeados ou ressurgidos? Entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadas do sculo XX houve, portanto,uma profunda compresso das etnias no Xingu, Iriri e Curu, devido expansodos Kayap e os relatos dos indgenas mais idosos moradores de Altamira apontam

    para as mudanas ocorridas desde ento, as migraes dos grupos para outrasreas do Mdio Xingu e, principalmente, o deslocamento de aldeias inteiras para acidade de Altamira e imediaes.Por volta das dcadas de 1940-50 as doenas, as epidemias, as mortes, oscasamentos entre Xipaya, Kuruaya, Juruna e com os nordestinos, vindos para aregio como "soldados da borracha", imprimiram um novo perfil regio; assucessivas mudanas foradas e a disperso do grupo passaram a idia de que osXipaya haviam desaparecido como grupo tnico.Nas dcadas de 1970-80 os Kuruaya estavam espalhados ao longo do rio Curu,em pequenos ncleos familiares. A reorganizao social s foi possvel quando oouro aluvial atraiu indgenas e garimpeiros para as terras ocupadas; mas quando asempresas mineradoras passaram a atuar, os Kuruaya comearam a sofrer violnciafsica8 e isso os levou a empenharam-se em sua reorganizao social e territorial.Em 2002 uma portaria do Ministrio da Justia declarou a TI Kuruaya de posseindgena permanente.Os Xipaya iniciaram na dcada de 1970 um movimento que resultou nareunificao do grupo para a reconquista de seu antigo territrio. Atualmente asituao jurdica da T.I. Xipaya de declarada em demarcao segundo Portaria2.362 (Funai) publicada em 18/12/2006.Esse longo processo de pacificao e territorializao promovido pelo Estadobrasileiro gerou diversas transformaes: fixao desses grupos em reas restritasenquanto seus modos de vida baseavam-se na explorao de grandes reas. Esseprocesso levou uma parcela significativa da populao indgena a se fixar no

    ambiente urbano, apesar de continuar mantendo relaes com as terras indgenas.Existe, atualmente, um movimento para identificao de uma rea indgena nobairro de So Sebastio, que alm de comportar o territrio da antiga misso jesutica uma rea em que evidente a ocupao indgena tradicional.No sculo XX a antiga aldeia transformou-se em um bairro conhecido por Moquioou Aldeinha (Patrcio, 2003), que depois passou a ser conhecido como bairro da

    8 Nos anos 1980, os arquivos do Conselho Indigenista Missionrio (Cimi) mencionam as dificuldades enfrentadas pelos Kuruaya,

    como a situao de presso, agresso, invaso armada e risco de vida que estavam passando no rio Curu, em razo da presena dasempresas mineradoras: Espeng Minrios e Minerais LTDA, Brasinor Minerao e Comrcio LTDA (garimpo Madalena). Nos anosseguintes passaram a atuar outras empresas, como Andrade Gutierrez S/A, Mineradora Palanqueta, Minerador Souther Anaconda eMadalena Gold Corporation.

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    ona" por haver um barraco de comrcio de peles do feldeo e, at recentemente,chamava-se So Sebastio.Os relatos indgenas informam que a rea da Misso ia alm dos limites do bairroSo Sebastio, que hoje equivale aos bairros Independente I, II e Recreio; a habita

    uma parte substancial da populao indgena da cidade. As condies deocupao desta rea foram agravadas, na segunda metade do sculo XX, pelagrilagem das terras. Por ltimo, o crescimento urbano iniciado a partir da dcada de1960 e o processo de colonizao, levado a efeito na regio pelo Instituto Nacionalde Colonizao e Reforma Agrria (Incra) provocaram outros impactos negativos detal intensidade que muitas famlias migraram para outros lugares na regio (Patrcio2003).Nos primeiros anos do sculo XXI o movimento pela retomada de parte do territriourbano, que consideram seu de direito, tem sido mais presente no seio dacomunidade citadina e veementemente expresso em suas reunies e nas aesque desenvolveram com diferentes atores polticos locais (Cimi, ISA, Funai,Prefeitura, entre outros). Vale destacar o movimento de recuperao de aspectosda cultura material e imaterial, como por exemplo, o interesse em conhecer aliteratura sobre a etnia, detalhes dos grafismos usados na cermica e na pinturacorporal, os cantos tradicionais, a lngua original, alm do incentivo para recuperaras celebraes do Kari, ritual vinculado ao culto dos mortos. A perspectiva da implantao da usina de Belo Monte vem impor uma novasituao crtica para a populao indgena, como o remanejamento de centenas defamlias indgenas residentes nas palafitas, alm da possibilidade de outrosimpactos ambientais que fatalmente iro interferir no cotidiano das famliascitadinas e da Volta Grande do Xingu.

    2. A Terceira Margem do Xingu

    2.1. Ser ou no ser ndio? Um fenmeno observvel em toda a Amaznia o estreitamento das relaes entrecomunidades indgenas e centros urbanos. Nessa articulao, que ocorre desde operodo colonial, a cidade, a vila, a misso, o entreposto ou o posto militarsustentaram e sustentam as atividades ligadas ao comrcio dos produtos florestaisou dos produtos agrcolas.Na rea em estudo, os deslocamentos forados por contingncias histricasacabaram, mas observa-se que h uma intensa mobilidade, contnua e

    permanente, entre as terras indgenas situadas na regio e a cidade de Altamira.Esse fluxo observado quando dos levantamentos de campo indica que, h vrios

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    anos, famlias indgenas Xipaya e Kuruaya deslocam-se da regio do Alto9, parareencontrar os parentes instala dos a jusante, na rua10. A recproca verdadeira:os Xipaya e Kuruaya citadinos, assim como os Juruna, tambm mantm fluxocontnuo para as terras indgenas.

    margem desses deslocamentos observa-se, desde os anos 1980, outromovimento de confluncia para as cidades. O fator escolar se sobrepe a outros,levando ao deslocamento do centro de gravidade da famlia da floresta para acidade. O acesso aos servios pblicos (aposentadoria, sade) e ao comrcio, aremota possibilidade de um emprego na cidade e a perspectiva de outro modo devida fazem com que se diluam os limites entre o urbano e o rural, ou florestal, oindgena e o globalizado (Andrello, 2006).O surgimento da categoria ndio citadino cada vez mais visvel na cidade a partirde 1988, com as conquistas da democracia, que fomentaram esse fenmeno emtodo o pas. A populao indgena em questo composta por uma grande quantidade decasamentos intertnicos com no ndios e, simultaneamente, boa parte dela residente h dcadas na cidade de Altamira, tendo seus filhos nascido e sidocriados no ambiente urbano.Estas duas caractersticas - ndios misturados e ndios citadinos- que, no casoem foco se sobrepem, tm em comum o contraste com a imagem do ndio quepersiste na conscin cia nacional: vivendo na selva e com hbitos de vidaprimitivos e promscuos; andando nus ou com vestimentas rudes; fenotipicamentemarcados como exticos; praticando economia de subsistncia ou mesmopreguiosos; religies mgicas e ausncia de orde m poltica. A antropologia acabou por reafirmar este perfil extico ao afirmar que uma vez queos povos indgenas entrassem em contato com a sociedade nacional, a tendnciaseria a perda estrutural da sua condio de ndio.

    No entanto, a prpria representao popular sobre a condio do ndio reafirma, demaneira contraditria que, apesar de no poderem ser classificados como ndiosde verdade (Patrcio, 2000), apresentam persistncias sociolgicas que lhes douma condio diferenciada no cenrio regional.Os critrios de indianidade definidos pela antropologia, como a continuidadehistrica entre a populao originria e a que atualmente se identifica comoindgena, j no se sustentam em termos genticos e culturais, pois sofreu muitas

    9 Expresso que se refere s terras indgenas localizadas a montante de Altamira, entre os rios Iriri e Curu.10 A expresso rua se refere cidade propriamente dita em contraposio aldeia.

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    mudanas com as mesclas ocorridas ao longo dos anos, e no to simples de serdocumentada.No Brasil, a antropologia s vai superar os conceitos de assimilao eaculturao nos anos 1970, quando incorpora as idias de F. Barth de que grupo

    tnico tipo organizacional e no unidade portadora de cultura, e que o cdigoessencial da identidade que orienta as relaes intertnicas se exprime porcontraste. Nas dcadas seguintes, essas idias de etnicidade continuaram fortes.Definitivamente, uma cultura indgena no esttica, mas se transforma, perde eganha, esconde e mostra, conforme as relaes intertnicas. Assim, ndio aqueleindivduo que se auto-identifica enquanto tal e identificado da mesma maneirapela comunidade a que pertence (OIT conveno 169).Pioneiro nesse campo de estudo, foi o clssico Urbanismo ou TribalismodeRoberto Cardoso de Oliveira sobre os Terena nas cidades do Mato Grosso do Sul.Reflexes inovadoras sobre este tema foram elaboradas recentemente porpesquisadores como Patrcio (2000), Saraiva (2005), Andrello (2006) entre outros.Diante do contexto poltico favorvel mobilizao por direitos indgenas, a partirda promulgao da Constituio de 1988, e indo ao encontro desta novaabordagem dinmica de definio do que ser ndio, um fenmeno sociolgico sealastrou por vrias partes do pas, particularmente na regio nordeste e, maisrecentemente, em estados que compem a Amaznia Legal: o surgimento dosndios emergentes, ou, na linguagem acadmica, de processos de e tnognese.Os ndios emergentes conformam um conjunto de pessoas, fruto de processos demiscigenao histricos, que ligadas por laos de parentesco a populaes pr-colombianas e tambm de mesma origem territorial, buscam revitalizar suastradies culturais e lingusticas colocadas em situao de invisibilidade histrica epoltica, e reivindicam suas identidades coletivas de maneira oficial diante doEstado nacional.

    O caso dos Xipaya, Kuruaya e Juruna citadinos e moradores da Volta Grande doXingu se encaixa perfeitamente nestas caractersticas, como demonstraram aspesquisadoras Marlinda Patrcio (2000) e Mrcia Saraiva (2004). Alm dessa condio de ndios misturados, os trs grupos em foco tm sobre si opreconceito generalizado e arraigado na conscincia nacional e regional (inclusive,em segmentos da prpria Funai) de serem, em sua maior parte, moradores dacidade, carregando o estigma de ndios desaldeados, portanto, no sujeitos aosdireitos coletivos garantidos para aqueles que vivem em situao de aldeia.

    O conceito ndio citadino tambm aplicado aos indgenas beiradeiros, ou seja,s famlias indgenas moradoras na regio da Volta Grande do Xingu, que mesmo

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    morando fora das terras indgenas reservadas tm reivindicado, junto Funai eFunasa regionais, sua condio tnica e, portanto, os mesmos direitos especiais deassistncia.Os quadros genealgicos do conta da relao de parentesco entre os ndios

    citadinos e grupos que residem em terras indgenas. Essas informaesgenealgicas fornecero subsdios para que as famlias Xipaya, Kuruaya, Juruna,entre outras citadinas e misturadas possam acessar seus direitosconstitucionais, a comear pelo reconhecimento formal de sua condio indgena.

    2.2. Aldeias e Indgenas invisveis emergem dos igaraps padres deocupao urbana e espaos de resistncia indgena.Empurrada para as zonas mais insalubres da cidade de Altamira, a maioria dasfamlias indgenas vive hoje beira dos igaraps Altamira, Amb e Panelas e emsuas proximidades, em condies extremamente precrias e sujeita, todos os anos,s enchentes que as levam para abrigos provisrios em estdios, escolas etc.Entre as etnias residentes na cidade predominam os Xipaya, com 38,24%, seguidospelos Kuruaya, com 25,58% e pelos Juruna, com 13,83%. O total das outras etniassoma 22,35%. (ver em anexo o quadro 2.2.1)

    Grfico 2.2.1 Percentual de etnias das famlias indgenas entrevistadas emAltamira

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009

    Essas etnias esto espalhadas por vrios bairros da cidade, mas Aaizal eIndependente II so aqueles em que h mais famlias Xipaya e Kuruaya, seguidospor Boa Esperana, Aparecida, Independente I, prximos aos igaraps Altamira ePanelas. Essas aglomeraes parecem reproduzir a espacialidade das aldeias noespao urbano.

    Quanto pirmide etria, como se v no grfico, predominam as pessoas em idadeprodutiva, o que muito favorvel reproduo fsica e cultural daquelas famlias:

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    Grfico 2.2.2- Faixa etria e sexo dos entrevistados (%)

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009; (homens / mulheres )

    Entre os ndios citadinos, so muito frequentes os casamentos, tanto entre etniascomo entre ndios e no ndios. Os quadros 2.2.2 e 2.2.3 em anexo mostram estes

    casamentos interetnicos 222 em 248 casais. No parece haver qualquer restrio exogamia. Pelo contrrio, os casamentos com no ndios j ocorriam no ciclo daborracha, quando os seringueiros recebiam ou tomavam ndias em troca do apoio adeterminado povo indgena acossado por outros povos. Tais casamentos, quecontinuam acontecendo, parecem representar, hoje ainda, uma estratgia desobrevivncia, no mais como sobrevivncia fsica, mas como busca dereconhecimento social.Na Volta Grande, esta situao se repete: os casamentos mistos, principalmenteentre ndios e no ndios tambm so frequentes. De 38 casais, 34 esto nestecaso, como mostra o quadro 2.2.4 em anexo.Confirma-se a estreita relao entre a rua, as aldeias e a Volta Grande: aproximadamente 2/3 da populao indgena de Altamira (72%) tem parentes nasaldeias, assim como em outros locais, como a beira do Xingu, ou, maisespecificamente, na Volta Grande.Na Volta Grande, quase a metade das famlias afirmou ter parentes morando nasterras indgenas (48%); outros tantos afirmaram ter parentes em outras localidades.E, como em Altamira, tambm na Volta Grande a relao com as aldeias, a rua eoutras localidades da regio bastante intensa, transitando a populao nasvoadeiras pelo rio Xingu e igaraps.Reforando a demanda por terra indgena urbana na rea da antiga missoTawaquara, protocolada pelos ndios na Funai, 76,8% dos entrevistados respondeuque favorvel a esta reivindicao, 3,5% que no e 19,7% no souberamresponder.

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    2.3. Guia de sobrevivncia na anti-cidade Condies de vida e aspectos dasade e educao. As condies de vida em Altamira so precrias para quase toda a populao, noque se refere a infraestrutura, servios pblicos, emprego e renda. Mas, para a

    populao indgena so muito piores. Embora a legislao no faa nenhumadistino entre ndios citadinos e aldeados, principalmente com relao sade(Lei n 9.836/99), as famlias indgenas de Altamira no so atendidas pela Funasa. Alm de no se beneficiarem do atendimento da Funai e Funasa, as famliascitadinas, em sua maioria, no so beneficiadas pelos programas destinados populao de baixa renda, como o Bolsa Famlia (27,94%). E, das pessoas commais de 60 anos, apenas 10% recebe aposentadoria. As moradias indgenas so feitas de madeira e sobre pontais, estilo palafita, e notm sanitrios ou fossas. Cada domiclio tem em mdia trs cmodos, havendouma grande concentrao de pessoas no mesmo espao. A ausncia desaneamento bsico, especialmente de sistemas de abastecimento de gua tratadae de esgotamento sanitrio, geral e faz com que os moradores, especialmente ascrianas, sejam acometidos por diarria e gripe. Devido inexistncia de rede deesgotamento sanitrio, h um montante significativo de esgotos lanadosdiretamente nos igaraps e no rio Xingu. A precariedade da infra-estrutura urbana favorece a ocorrncia anual deinundaes em vrios pontos da cidade no perodo chuvoso. Estas inundaes,associadas falta de saneamento bsico, potencializam a ocorrncia de doenasveiculadas pela gua, por exemplo, a esquistossomose e a dengue. O grau dedegradao ambiental dos espaos urbanos particularmente sensvel para apopulao indgena devido a sua condio de extrema vulnerabilidade social.Grfico 2.3.1 Condies de moradia da populao indgena em Altamira (%)

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    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte 2009. A situao de vulnerabilidade se repete na Volta Grande, embora a vizinhana dorio Xingu, com seu grande volume de gua, e o menor adensamento populacionalatenuem um pouco a falta de infraestrutura. Por outro lado, a situao se agravadevido distncia das cidades. A estrutura de sade nestas localidades precria,e a maioria da populao recorre a Altamira, num deslocamento que leva horas,

    sendo que muitas vezes paga pelo transporte. A vulnerabilidade social agravada tanto pela alta taxa de analfabetismo entre oschefes de famlia Altamira: 25% e Volta Grande: 23,8% - quanto pelas condiesda educao escolar, uma vez que o direito educao diferenciada no respeitado e que o alto grau de preconceito discrimina os alunos indgenas,aumentando a evaso escolar devido introjeo do sentimento de inferioridade(BOGA, 1997). Acresce que cerca de um tero dos chefes de famlia (53,53% em Altamira e quase 60% na Volta Grande) tem s at a 4 srie do curso fundamental.

    Grfico 2.3.2 - Escolaridade dos chefes de famlias indgenas residentes emAltamira (%)

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009; *EJA: Educao de Jovens e Adultos

    J a nova gerao, em Altamira, est alcanando um grau de escolaridade maior,porm no de forma homognea: h estudantes universitrios, enquanto outros tmat a quarta srie, mas so analfabetos funcionais.

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    Na Volta Grande as escolas situam-se nas localidades de maior concentraopopulacional, como Ilha da Fazenda, Garimpo do Galo e Ressaca, e atendem todaa populao destas comunidades, sem que haja educao diferenciada para osindgenas. Os jovens, apesar da insistncia dos pais e devido s grandes

    distancias, tentam completar o primeiro grau, porm a grande maioria acabaabandonando a escola, o que mantm a pobreza das famlias, e no permiteperspectivas de mudana.

    2.4. Bases materiais para a reproduo sociocultural renda e trabalho.Com relao ao mercado de trabalho, a situao da populao indgena no muito diferente do que ocorre com o conjunto da populao de Altamira. Os poucosanos de estudo e a falta de qualificao profissional adequada ao mercado detrabalho da cidade, visto que os ndios da regio, tradicionalmente, esto ligados satividades de pesca e extrativismo, limita suas oportunidades de emprego e mesmode trabalho. So muitos os desempregados e aqueles que trabalham fazem, emsua maioria, servios que exigem pouca qualificao e proporcionam parcosrendimentos. A aposentadoria importante fonte de recursos das famlias, sendo a ocupaoprincipal do maior nmero (22,35% das famlias), tendo-se tornado uma importanteestratgia de sobrevivncia das famlias extensas. Em seguida, vem a construocivil, com cerca de 20% das pessoas em funes sem qualificao e de baixaremunerao. A pesca profissional ocupa cerca de 10% dos chefes de famlia; estaatividade tambm praticada pelos aposentados, desempregados e pelasmulheres, como forma de complementao da dieta familiar. O trabalho em casa defamlia o que mais ocupa as mulheres. H cerca de 5% desempregados e 5% soagricultores. Apenas trs chefes de famlia tm profisses qualificadas. No foiregistrada a ocorrncia de trabalho infantil.

    Depreende-se que a insero da populao indgena no mercado de trabalho de Altamira precria, representando um contingente mal remunerado, e apenasdisponvel para qualquer atividade que no exija qualificao.

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    Grfico 2.4.1 Renda das famlias indgenas de Altamira (%) 11

    Fonte: EIA / Rima do AHE Belo Monte, 2009.Mais de 10% dos entrevistados declarou no ter nenhuma fonte de renda. pergunta: mas, de que vivem? As respostas eram : , minha me ajuda, ou, elevai pescar. Ou seja, explicitavam o papel dos mais velhos na famlia, assim como a

    importncia da pesca em sua dieta alimentar. Mesmo somando-se o rendimento detodos os membros da famlia que esto trabalhando, 83% delas dispem de, nomximo, R$ 930,00 por ms. Considerando-se que as famlias tm, em mdia 5pessoas cada uma, verifica-se que esta uma renda muito baixa. Na Volta Grande, 27% dos chefes de famlia so garimpeiros, 21% pequenosprodutores rurais e as aposentadorias sustentam um pouco mais de 16% dasfamlias. A maioria das famlias, semelhana das que vivem em Altamira, tem atum salrio mnimo de renda mensal e apenas 30% recebe o Bolsa Famlia.

    Grfico 2.4.2 - Renda dos chefes de famlia na Volta Grande (%)

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009.

    3. Inverno e vero permanentes construo de um mito pan-xinguano?Dos trs cus que formavam com a terra um cosmos dotado de quatro andares, jcaram dois e periga cair o ltimo, derrubados por Sel em represlia aoextermnio dos povos indgenas do rio Xingu. Segundo um mito, Sel ficoufurioso e derrubou o cu, queria exterminar os Brancos. O rio havia desaparecido.Foi no tempo em que os Yudj foram extintos, estavam beira da extino, equando Sel tentou avistar o rio, no havia mais rio, e ele ficou furioso e derrubouo cu (). O sol apagou, tudo ficou escuro. Os Juruna ficaram apreensivos, os

    11 A renda foi calculada somando-se o rendimento de todos os membros de cada famlia.

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    poucos Juruna sobreviventes. () Os que se abrigaram ao p de um granderochedo, somente eles se salvaram; os que se encontravam alhures morreram,todos os Brancos, os Brancos todos morreram, os ndios morreram, os Jurunamorreram. Os que estavam abrigados sob um rochedo escavaram o cu espesso

    com um pedao de pau(). Os sobreviventes reproduziram-se. Sel disse (a umJuruna, no passado recente): assim que hei de fazer: quando os ndiosdesaparecerem, quando os ndios desaparecerem das ilhas, eu desmoronarei ocu, o ltimo cu . (Lima, 2001)Este mito Juruna parece prever o que vai acontecer caso a usina de Belo Monteseja de fato construda. Na Volta Grande que parte do territrio tradicionalJuruna - as guas do Xingu ficaro distantes das margens em que vivem asfamlias, ou muito reduzidas com o desvio do rio. De fato, esse trecho do mdioXingu ter sua vazo reduzida no inverno, devido ao desvio do curso normal paraos canais artificiais previstos no projeto de engenharia.Das 16 localidades da Volta Grande onde vivem famlias indgenas, quatro (24famlias) encontram-se na margem esquerda ou na Ilha da Fazenda, e sofreroensecamento. Outras nove localidades (19 famlias) situam-se na margem direita, beira do canal de vazo reduzida. E quatro localidades (4 famlias) situam-se amontante do eixo da barragem, onde o nvel do rio ficar permanentemente alto,caso a barragem seja construda. O mesmo ocorrer nas imediaes e nopermetro da cidade de Altamira, onde as guas permanecero sempre altas, comono vero, na poca das enchentes.Em Altamira verificou-se que, das 340 famlias indgenas cadastradas, 76 residemabaixo da cota 97 msnm que a cota de formao do reservatrio previsto para aUHE Belo Monte, ou seja, que devero ser obrigatoriamente remanejadas, caso ausina seja construida. A cota 100 msnm a chamada cota de segurana doreservatrio. Em principio as famlias que moram at esta cota tambm devero ser

    remanejadas, embora a gua no venha a atingir suas moradias. No total, cerca de200 famlias sero transferidas. Entretanto, devido topografia urbana e situaoprecria dos sistemas de escoamento das guas pluviais e de esgotamentosanitrio e como j ocorrem hoje, afloramentos pontuais em reas onde no severificam inundaes, de prever que o nmero de famlias indgenas remanejadasser mais elevado.Esta radical transformao ambiental, aliada ao impacto provocado pelo grandeafluxo de pessoas de fora, afetar a dinmica sociocultural e econmica de toda a

    regio; no caso dos povos indgenas uma possvel resposta a essastransformaes ser a criao de um novo mito apocalptico, desta vez, com um

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    carter pan-xinguano.Como soluo alternativa, caso a usina venha a ser construida, alm das polticaspblicas relativas ao atendimento sade e educao, qualificao profissional,melhoria de renda monetria e ao reconhecimento de sua identidade tnica a que

    tm direito todos, tanto os moradores de Altamira como os da Volta Grande, osndios citadinos,por intermdio de suas lideranas, pleitearam um bairro indgena,com atendimento sade e educao diferenciadas, alm de melhores condiesde acesso ao rio Xingu para atividades domsticas, econmicas e de lazer.Em seu projeto de bairro, os ndios incluiram instalaes para receber os parentesmoradores nas terras indgenas, seja para tratamento de sade, seja para continuaros estudos, seja por outras necessidades.Vale dizer que a deciso das famlias pela implementao de um bairro indgenaem Altamira no elimina e nem se confunde com a demanda pela rea indgenaTawaquara, conforme deixaram claro suas lideranas. Segundo elas, trata-se deuma reivindicao histrica que continuar a fazer parte da agenda poltica dosndios Xipaya e Kuruaya, independentemente de Belo Monte.Segundo o desejo expresso pelos ndios, o bairro dever abrigar as famliasafetadas diretamente pelo enchimento do reservatrio do Xingu (cerca de 200) oumesmo todas aquelas que vivem na cidade (estimadas em 340, mais as cerca de25 ainda no cadastradas). Para eles, o bairro dever situar-se a no menos de 3,5km e no mais de 5,0 km da cidade e dispor de acesso ao rio Xingu.Grosso modo, deve-se prever uma rea de cerca de 40 hectares, com lotes de1.000 m que permitiro s famlias, alm de morar, plantar e criar pequenosanimais. desejo das famlias que o bairro indgena seja organizado por quadrasde acordo com as diversas etnias e que haja documento nico de forma a evitarque os lotes sejam vendidos, garantindo assim a moradia das futuras geraes.No projeto expresso pelos ndios nos encontros realizados, o bairro indgena dever

    contar com: escola diferenciada, segurana indgena, hospital, moradiasadequadas, asfalto, saneamento, transporte pblico, telefone, praas, energia comtaxa social, espao cultural (oficina para artesanato, biblioteca viva, manifestaesculturais), correio, caixa eletrnico, igrejas catlica e evanglica, hospedagem paraos ndios em trnsito e para os estudantes das aldeias e da Volta Grande. A efetivao dessas reivindicaes permitir a re-significao da categoria ndiocitadino para cidado indgena.

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    4. ConclusoParadoxalmente, os estudos etnoambientais necessrios ao licenciamento do AHEBelo Monte tornaram possvel a produo, sistematizao e anlise de umconhecimento at ento inexistente sobre os ndios citadinos e residentes na Volta

    Grande do Xingu, o que tende a fortalecer o movimento indgena de recuperaoda identidade tnica hoje marcada pela invisibilidade.Para que este conhecimento seja complementado, torna-se necessrio estudar asterras indgenas Xipaya e Kuruaya e, tambm, as famlias indgenas que vivemisoladas s margens do rio Xingu, a montante de Altamira. E, at onde se sabe,estes dois estudos so parte das condies para a continuao do processo delicenciamento ambiental da usina.Como demonstraram os resultados da pesquisa, a populao indgena que vive em Altamira caracteriza-se como um contingente de baixa renda, com escasso acessoa servios pblicos bsicos. Portanto, independentemente da construo de BeloMonte, deveria ser objeto de uma ateno especial por parte do poder pblico emsuas diversas esferas, municipal, estadual e federal. A impresso que fica da anlise de todos os dados recolhidos em campo que osentrevistados que moram na cidade de Altamira gostariam de unir a aldeia e acidade a solidariedade que encontram na primeira, assim como o acesso terra, caa e pesca, ao extrativismo mineral e vegetal -, ao atendimento sade e educao e ao acesso aos bens de consumo e aos servios que a cidade,teoricamente, proporciona.Considera-se que o projeto de um bairro indgena, tal como foi proposto pelosndios citadinos, a forma mais adequada de compensar o remanejamento, masprincipalmente de resgatar o passivo histrico que foi a perda da rea da antigamisso e dessa forma tambm proporcionar-lhes, alm de condies de vida maissalubres e dignas, condies de continuar e aprofundar seu movimento de resgate

    de identidade tnica e cultural. As comunidades ribeirinhas da Volta Grande so tambm altamente vulnerveis doponto de vista fsico-espacial, dada a precariedade e/ou insuficincia de infra-estrutura. Tambm, quanto ao aspecto scio-econmico, uma vez que suaproduo no ultrapassa o nvel da subsistncia. notvel e uterina a relao de dependncia dessas famlias indgenas para com orio Xingu e seu emaranhado de igaraps. O rio, alm de ser desde temposimemoriais uma referncia simblica sempre presente, na mitologia Juruna e

    Xipaya, por excelncia o principal ecossistema de explorao e uso e tambm oprincipal meio de deslocamento para as terras indgenas e as cidades.

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    No caso da Volta Grande, o resgate do passivo histrico compreende, alm daimplementao das polticas pblicas a que os indgenas tm direito educao esade diferenciadas e etnodesenvolvimento a identificao das reas ocupadaspelas famlias e, consequentemente, sua regularizao fundiria.

    5. AgradecimentosOs autores agradecem especialmente sociloga Mayra Pascuet, pela ajuda nafinalizao do artigo e equipe multidisciplinar que, com eles, elaborou o estudoetnoecolgico do componente indgena sobre os ndios citadinos e ribeirinhos daVolta Grande do Xingu para os estudos ambientais do AHE Belo Monte: SoniaLorenz, Mirella Poccia, Luis Roberto de Paula, Fabio Ribeiro, Humberto Kzure-Cerquera, Joo Pavese, Andr Michiles, Mayra Pascuet e Samuel Medeiros Luna.E muito, e principalmente, aos colaboradores indgenas que integraram a equipe detrabalho: Elza Maria Xipaia de Carvalho, Raimundo Veriano Ferreira, MarileneCarvalho Ferreira, Darilene Xipaya Santana, Antonio Xipaya e Marly Nascimento daSilva

    Referncias

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    Anexos

    Quadro 2.2.1 Famlias indgenas entrevistadas em Altamira, segundo etnia ebairro

    Bairro Xipaya Kuruaya JurunaXipaya-Kuruaya Outras Etnias

    Total

    Independente I 23 13 1 0 1 Munduruku 38 Aaizal 15 7 13 1 Kayap 36Invaso dosPadres 6 7 2 0

    1 Guajajara, 1 Tipiniquim , 2Munduruku 19

    Braslia 5 4 31 Kayap, 1 Munduruku, 1

    Caraj, 1 Arara 16Independente II 20 14 2 3 1 Munduruku 40Sudam I 8 2 1 1 Kayap 12So Sebastio 4 0 4 1 2 Arara, 2 Kayap 13Olarias 0 3 1 2 Kayap 6Mutiro 8 4 3 0 2 Munduruku, 5 Arara 22Primavera 1 Kayap 1

    Colina 3 2 0 5Centro 10 4 0 0 4 Munduruku, 2 Kayap, 1 Arara 21

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    Bela Vista 6 3 1 1 Munduruku 11Jd. Oriente 1 1 0 2Liberdade 2 1 2 0 5

    Boa Esperana 4 7 12 Munduruku, 2 Kayap, 5 Bar,

    1 Mocorongo, 1 Anamb 23

    So Domingos 0 1 2 0 2 Munduruku, 2 Kayap, 1Wapixana 8Premem 1 0 1

    Aparecida 15 12 9

    2 Guarani, 7 Kayap, 2Tupiniquim, 5 Arara, 4 Canela, 1

    Mumduruku, 1 Caraj 58Esplanada doXingu 1 1 0 2Ivalndia 1 0 1Total 130 87 47 4 72 340

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009

    Quadro 2.2.2 Casamentos intertnicos

    Etnias/Bairros

    I n d e p e n

    d e n

    t e I

    A a

    i z a

    l

    P a

    d r e s

    B r a s

    l i a

    I n d e p e n

    d e n

    t e I I

    S u

    d a m

    I

    S o

    S e

    b a s t

    i o

    O l a r i a s

    M u

    t i r o

    P r i m a v e r a

    C o

    l i n a

    C e n

    t r o

    B e

    l a V i s t a

    J d .

    O r i e n

    t e

    L i b e r d a

    d e

    B o a

    E s p e r a n a

    S o

    D o m

    i n g o s

    P r e m e m

    A p a r e c i

    d a

    X i n g u

    I v a

    l n

    d i a

    t o t a l

    ndio/no ndio 21 26 13 14 29 8 9 4 12 1 3 8 8 1 4 13 6 1 38 2 1 222

    Xipaya/Xipaya 3 1 1 1 6Kuruaya/Kuruaya 1 1Xipaya/Juruna 1 1 2Xipaya/Kuruaya 1 1 1 3Canela/Kuruaya 1 1Guajajara/Guajajar a 1 1Munduruku/Xipaya 1 1 1 3Mund./Munduruku 1 1Kayap/Arara 1 1Kayap/Xicrim 1 1Xipaya/Canela 1 1

    Arara/Xipaya 1 1Kayap/Kayap 1 1Kayap/Juruna 1 1

    Arara/Arara 1 1Kuruaya/Kayap 1 1Total de casados 26 28 14 14 30 9 12 4 14 1 4 12 8 1 4 15 7 1 41 2 1 248

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009.

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    Quadro 2.2.3 - Distribuio por etnia e sexo dos casamentos entre ndios eno ndios

    Bairro

    ndios casados com no ndios, por sexoCasados

    entrevistados

    Xipaya Kuruaya Juruna

    Xipaya/

    Kuruaya outrosndios

    e ndios

    Totaldos

    casadosM H M H M H M H M HIndependente I 7 4 7 2 0 1 0 0 0 0 21 26 Aaizal 8 4 4 2 4 3 0 0 1 0 26 28Invaso dosPadres 4 2 2 1 2 0 0 0 2 0 13 14Braslia 3 1 3 1 1 1 0 0 2 2 14 14Independente II 11 5 6 4 1 0 2 0 0 0 29 30Sudam I 5 0 1 1 1 0 0 0 0 0 8 9So Sebastio 0 3 0 0 3 1 1 0 0 1 9 12Olarias 0 0 1 1 1 0 0 0 0 1 4 4Mutiro 1 4 2 0 1 1 0 0 2 1 12 14Primavera 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 1Colina 0 1 2 0 0 0 0 0 0 0 3 4Centro 2 2 1 1 0 0 0 0 2 0 8 12Bela Vista 3 1 2 0 1 0 0 0 1 0 8 8Jd. Oriente 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 1Liberdade 2 0 1 0 1 0 0 0 0 0 4 4Boa Esperana 0 2 3 1 0 0 0 0 2 5 13 15So Domingos 0 0 1 0 1 1 0 0 3 0 6 7Premem 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 1 Aparecida 5 7 2 6 2 0 0 0 7 9 38 41Esplanada doXingu 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2 2Ivalndia 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1Total 51 37 39 22 20 8 3 0 23 19 222 248

    Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009.

    Quadro 2.2.4 Casamentos intertnicos na Volta Grande do Xingu

    Etnias/Bairros

    A r r o z

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    t o t a l

    ndio/nondio 3 0 2 4 11 2 1 1 1 1 1 0 0 4 0 0 1 1 33Xipaya/Xipaya 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 Arara/Xipaya 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1Juruna/Arara 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1Total decasados 3 0 4 4 13 2 1 1 1 1 1 0 0 4 0 1 1 1 38Fonte: EIA/Rima do AHE Belo Monte, 2009.