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PT PT COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, XXX […](2013) XXX draft Documento de trabalho dos serviços da Direção-Geral da Concorrência que contém o projeto de Orientações da União sobre os auxílios estatais para promover os investimentos de financiamento de risco

Documento de trabalho dos serviços da Direção-Geral da ... · 3.3.1. Medidas destinadas a categorias de empresas fora do âmbito de aplicação do Regulamento Geral de Isenção

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PT PT

COMISSÃO EUROPEIA

Bruxelas, XXX […](2013) XXX draft

Documento de trabalho dos serviços da Direção-Geral da Concorrência

que contém o projeto de Orientações da União sobre os auxílios estatais para promover os investimentos de financiamento de risco

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Documento de trabalho dos serviços da Direção-Geral da Concorrência

que contém o projeto de Orientações da União sobre os auxílios estatais para promover os investimentos de financiamento de risco

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Índice

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES E DEFINIÇÕES ............................................................ 8 2.1. O teste do operador numa economia de mercado...........................................................9

2.1.1. Auxílios a investidores ..................................................................................................................... 9 2.1.2. Auxílio a um intermediário financeiro e/ou ao respetivo gestor................................................... 10 2.1.3. Auxílio às empresas beneficiárias do investimento ....................................................................... 11

2.2. Auxílios ao financiamento de risco sujeitos a notificação .............................................. 11 2.3. Definições..................................................................................................................... 13

3. APRECIAÇÃO DA COMPATIBILIDADE DOS AUXÍLIOS AO FINANCIAMENTO DE RISCO............................ 16 3.1. Princípios de apreciação comuns .................................................................................. 16 3.2. Contribuição para um objetivo comum ......................................................................... 17

3.2.1. Objetivos políticos específicos prosseguidos pela medida ............................................................ 17 3.2.2. Realização dos objetivos políticos pelos intermediários financeiros ............................................. 18

3.3. Necessidade de intervenção do Estado ......................................................................... 18 3.3.1. Medidas destinadas a categorias de empresas fora do âmbito de aplicação do Regulamento Geral de Isenção por Categoria ................................................................................................................... 20 a) Empresas que se tornam pequenas empresas de média capitalização após a primeira fase de investimento................................................................................................................................................ 20 b) Empresas de média capitalização inovadoras.................................................................................... 20 c) Empresas que recebem o investimento inicial mais de cinco anos após a sua primeira venda comercial ..................................................................................................................................................... 20 d) Empresas que necessitam de um montante de investimento total em financiamento de risco superior a [dez milhões de EUR].................................................................................................................. 21 e) Plataformas de negociação alternativas que não preenchem as condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria.................................................................................................................................. 21 3.3.2. Medidas cujos parâmetros de conceção não cumprem o Regulamento Geral de Isenção por Categoria ..................................................................................................................................................... 22 a) Medidas com participação de investidores privados inferior aos rácios previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria ................................................................................................................... 22 b) Medidas com parâmetros de conceção financeira superiores aos limites máximos previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria............................................................................................. 23 c) Medidas de seleção de investidores, intermediários financeiros e respetivos gestores que dão preferência à proteção face a evolução desfavorável em detrimento da partilha assimétrica dos lucros. 24 d) Incentivos fiscais aos investidores empresariais, incluindo os intermediários financeiros ou os respetivos gestores, que atuam como coinvestidores ................................................................................ 24

3.4. Adequação da medida de auxílio .................................................................................. 25 3.4.1. Adequação em comparação com outros instrumentos políticos e outros instrumentos de auxílio 25 3.4.2. Condições relativas aos instrumentos financeiros ........................................................................ 26 a) Investimentos de capital próprio ....................................................................................................... 27 b) Instrumentos de dívida com financiamento: empréstimos............................................................... 28 c) Instrumentos de dívida sem financiamento: garantias...................................................................... 29 3.4.3. Condições relativas aos instrumentos fiscais ................................................................................ 30 3.4.4. Condições relativas às medidas de apoio às plataformas de negociação alternativas................. 31

3.5. Efeito de incentivo do auxílio ........................................................................................ 31 3.6. Proporcionalidade dos auxílios (limitação do auxílio ao mínimo necessário) ................. 32

3.6.1. Condições relativas aos instrumentos financeiros ........................................................................ 32

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a) Limites à partilha da relação risco-retorno entre investidores públicos e privados.......................... 32 b) Remuneração dos intermediários financeiros, gestores e entidades mandatadas ........................... 33 3.6.2. Condições relativas aos instrumentos fiscais ................................................................................ 34

3.7. Evitamento de efeitos negativos significativos sobre a concorrência e o comércio ........ 34 3.8. Transparência ............................................................................................................... 38 3.9. Acumulação .................................................................................................................. 38

4. AVALIAÇÃO................................................................................................................... 39

5. DISPOSIÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 40 5.1. Entrada em vigor e aplicabilidade das regras................................................................. 40 5.2. Medidas apropriadas .................................................................................................... 40 5.3. Relatórios e acompanhamento ..................................................................................... 41 5.4. Revisão ......................................................................................................................... 41

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Declaração de exoneração de responsabilidade: a presente consulta é realizada paralelamente à consulta sobre o projeto do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, que contém disposições específicas sobre o auxílio às PME. A apreciação de todos os comentários recebidos no decorrer destas duas consultas será realizada conjuntamente no final do processo.

1. INTRODUÇÃO 1. Com base no artigo 107.º, n.º 3, alínea c), do Tratado sobre o Funcionamento da

União Europeia («Tratado»), a Comissão pode considerar compatível com o mercado interno os auxílios destinados a facilitar o desenvolvimento de certas atividades económicas, quando tais auxílios não alterem as condições das trocas comerciais de maneira que contrariem o interesse comum; Pelas razões expostas nas presentes Orientações, a Comissão considera que o desenvolvimento do mercado de financiamento de risco e a facilitação do acesso ao financiamento de risco às pequenas e médias empresas («PME»), às empresas de média capitalização e às empresas de média capitalização inovadoras constituem objetivos de interesse comum.

2. A capacidade de as PME acederem ao financiamento é de grande importância para a economia da União em geral. Incentivar o desenvolvimento e a expansão de novos negócios, especialmente no que se refere às empresas inovadoras e de elevado crescimento, poderá ter um grande potencial de criação de empregos. Por conseguinte, um mercado eficiente de financiamento de risco destinado às PME é crucial para que as empresas empreendedoras sejam capazes de aceder ao financiamento de que necessitam em cada fase do seu desenvolvimento.

3. Apesar das suas perspetivas de crescimento, as PME podem enfrentar dificuldades no acesso ao financiamento, particularmente nas fases iniciais. No âmago dessas dificuldades está um problema de informação assimétrica: as PME, especialmente quando recentes, não conseguem em muitos casos demonstrar aos investidores a sua fiabilidade creditícia nem a solidez dos seus planos de negócios. Em tais circunstâncias, o tipo de análise ativa que é realizado pelos investidores para conceder financiamento a empresas de maior porte pode não justificar o investimento no caso de operações que envolvam essas PME, pois os custos de análise são muito elevados em relação ao valor do investimento. Assim, independentemente da qualidade dos respetivos projetos e potenciais de crescimento, as PME tendem, portanto, a não conseguir aceder ao financiamento de que necessitam, pois não têm um historial comprovado nem dispõem de garantias suficientes. Em resultado desta carência de informação, os mercados financeiros empresariais podem deixar de fornecer capital ou crédito às PME recém-criadas e às PME com elevado potencial de crescimento, resultando numa imperfeição persistente do mercado de capitais que impede que a oferta satisfaça a procura a um preço aceitável para ambas as partes, o que afeta negativamente o seu crescimento. As empresas de média capitalização e as empresas de média capitalização inovadoras podem, em determinadas circunstâncias, enfrentar o mesmo tipo de falha de mercado.

4. As consequências decorrentes do facto de uma empresa não obter financiamento podem facilmente estender-se além da entidade em questão, em particular devido às

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externalidades do crescimento. Muitos setores bem-sucedidos experimentam crescimento da produtividade não porque as empresas presentes no mercado tenham obtido ganhos de produtividade, mas porque as empresas mais eficientes e mais tecnologicamente avançadas crescem à custa das menos eficientes (ou das que oferecem produtos obsoletos). Na medida em que este processo é perturbado pelo facto de as empresas com potencial para serem bem-sucedidas não conseguirem obter financiamento, as consequências de maior alcance relativamente ao crescimento da produtividade são provavelmente negativas. Permitir que um conjunto mais amplo de empresas entre no mercado pode, assim, estimular o crescimento.

5. Por conseguinte, a existência de um défice de financiamento que afeta as PME, as empresas de média capitalização e as empresas de média capitalização inovadoras pode justificar medidas de apoio público, nomeadamente através da concessão de auxílios estatais em determinadas circunstâncias limitadas. Devidamente direcionados, os auxílios estatais à concessão de financiamento de risco a essas empresas podem ser um meio eficaz para atenuar as falhas de mercado identificadas e mobilizar o capital privado.

6. O acesso das PME ao financiamento é um objetivo de interesse comum subjacente à estratégia Europa 20201. Em particular, a iniciativa emblemática «União da Inovação» tem como objetivo melhorar as condições gerais e o acesso ao financiamento para a investigação e a inovação, de modo a assegurar que as ideias inovadoras possam ser transformadas em produtos e serviços que criem crescimento e postos de trabalho. Além disso, a iniciativa emblemática «Uma política industrial para a era da globalização» destina-se a melhorar o ambiente de negócios e a apoiar o desenvolvimento de uma base industrial forte e sustentável, capaz de competir globalmente. O Roteiro para uma Europa eficiente em termos de recursos defende condições de enquadramento que visam aumentar a segurança dos investidores e melhorar o acesso ao financiamento por parte das empresas que realizam investimentos verdes considerados mais arriscados ou que têm períodos de recuperação mais longos2. Além disso, a Lei das Pequenas Empresas3 estabelece uma série de princípios orientadores para um enquadramento político abrangente no sentido de apoiar o desenvolvimento das PME. Um desses princípios é o de facilitar o acesso das PME ao financiamento. Este princípio também se reflete no Ato para o Mercado Único4.

7. Dentro deste contexto político, o plano de ação para melhorar o acesso das PME ao financiamento5 reconhece que, embora o êxito da União Europeia dependa em grande parte do crescimento das PME, estas enfrentam frequentemente dificuldades significativas na obtenção de financiamento. A fim de enfrentar este desafio, o plano de ação defende diversas políticas, incluindo a utilização de regulamentação

1 Em particular, a Comunicação da Comissão Europa 2020, Estratégia para um crescimento inteligente,

sustentável e inclusivo (COM (2010) 2020 final, de 3.3.2010) define um quadro estratégico para uma nova abordagem da política industrial, que deverá reorientar a economia da União no sentido de um crescimento dinâmico que reforce a competitividade da União Europeia. A comunicação sublinha a importância de melhorar o acesso ao financiamento por parte das empresas, especialmente as PME.

2 Comunicação da Comissão intitulada «Roteiro para uma Europa eficiente em termos de recursos» COM (2011) 571 final, 20.9.2011.

3 Comunicação da Comissão, «Think Small First», um «Small Business Act» para a Europa, COM (2008) 394 final, 25.6.2008.

4 Comunicação da Comissão, Ato para o Mercado Único, Doze alavancas para estimular o crescimento e reforçar a confiança mútua — «Juntos para um novo crescimento», COM (2011) 206 final, 13.1.2011.

5 Comunicação da Comissão, Plano de ação para melhorar o acesso das PME ao financiamento, COM (2011) 870 final, 7.12.2011.

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para tornar as PME mais visíveis junto dos investidores e dos mercados mais interessantes e acessíveis para as PME.

8. Mais recentemente, foram aprovados dois regulamentos relevantes em matéria de fundos de investimento: o Regulamento relativo aos fundos de capital de risco na União6, que permite aos fundos de capital de risco na União comercializarem os seus fundos e angariarem capital no mercado interno, e o Regulamento relativo aos fundos de investimento europeus de longo prazo7, que introduziu uma nova forma de fundo de investimento cujo desenvolvimento bem-sucedido requer um compromisso a longo prazo por parte dos investidores.

9. No que respeita à proteção dos investidores, a Diretiva relativa aos organismos de investimento coletivo em valores mobiliários («OICVM»)8 estabelece as normas de gestão e funcionamento dos fundos de investimento, sendo complementada pela Diretiva relativa aos gestores de fundos de investimento alternativos («GFIA»)9, que se aplica a fundos de investimento alternativos que não são regulamentados pela Diretiva OICVM, como é o caso dos fundos de capital de investimento.

10. Em conformidade com as presentes orientações políticas, a Comissão tem a intenção de utilizar o orçamento da União para facilitar o acesso das PME ao financiamento, visando colmatar falhas de mercado fundamentais que limitam o crescimento das PME e, para este fim, apresentou propostas destinadas a aumentar a utilização de novos instrumentos financeiros10 ao abrigo do Quadro Financeiro Plurianual 2014-2020 (QFP) 11. Em particular, os regimes de financiamento COSME12 e Horizon 202013 procurarão melhorar a utilização dos recursos públicos através de mecanismos de financiamento de partilha de risco destinados às PME nas respetivas fases de arranque, crescimento e transferência, bem como às empresas de média capitalização e às empresas de média capitalização inovadoras, com uma ênfase particular em iniciativas que visam dar um apoio contínuo desde a inovação até ao mercado, incluindo a implementação comercial de resultados de investigação e desenvolvimento («I&D»)14.

6 Regulamento (UE) 345/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de abril 2013, relativo aos

fundos de capital de risco, JO L 115 de 25.4.2013, p. 1. 7 Regulamento (UE) xxx / xxxx do Parlamento Europeu e do Conselho relativo aos Fundos de

Investimento de Longo Prazo, JO xxxxxxxxxxx. 8 Diretiva 2009/65/CE que coordena as disposições legislativas, regulamentares e administrativas

respeitantes a alguns organismos de investimento coletivo em valores mobiliários (OICVM), JO L 302 de 17.11.2009, p. 32.

9 Diretiva 2011/61/UE, de 8 de junho de 2011, relativa aos gestores de fundos de investimento alternativos, que altera as Diretivas 2003/41/CE e 2009/65/CE e os Regulamentos (CE) n.º 1060/2009 e (UE) n.º 1095/2010, JO L 174 de 1.7.2011, p. 1.

10 Os Instrumentos Financeiros (IF) abrangem os instrumentos financeiros não relacionados com subsídios, que podem assumir a forma de instrumentos de dívida (empréstimos, garantias) ou instrumentos de capital próprio (investimentos de capital puro, quase-capital ou outros instrumentos de partilha de risco).

11 Adicionar referência ao regulamento QFP final. 12 Adicionar referência ao regulamento COSME e ao programa de trabalho adotados. 13 Adicionar referência ao regulamento Horizon 2020 final e ao programa de trabalho. 14 Além disso, a fim de proporcionar um melhor acesso ao financiamento através de empréstimos, foi

criado conjuntamente pela Comissão, pelo Fundo Europeu de Investimento e pelo Banco Europeu de Investimento um instrumento de partilha de risco específico (IPR) no âmbito do Sétimo Programa-Quadro de Investigação (PQ7). Ver http://www.eif.org/what_we_do/guarantees/RSI/index.htm. O IPR presta garantias parciais aos intermediários financeiros através de um mecanismo de partilha de risco, reduzindo assim os riscos financeiros e incentivando-os a conceder empréstimos às PME que realizam I&D ou atividades em matéria de inovação.

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11. No domínio da política de coesão, o novo Quadro Estratégico Comum15 visa facilitar medidas que fazem uso de instrumentos financeiros, alargando a utilização de instrumentos de capital e de crédito e tornando o seu quadro de implementação mais simples, flexível e eficaz16.

12. Em 2012, a Comissão lançou uma consulta pública17 para recolher informações sobre a extensão da falha de mercado que afeta o financiamento das PME através de crédito e capital próprio e sobre a adequação das Orientações comunitárias relativas aos auxílios estatais e ao capital de risco a pequenas e médias empresas18 («Orientações relativas ao capital de risco»). O resultado da consulta pública revelou que os princípios fundamentais consagrados nessas orientações constituíam uma base sólida para a canalização de recursos dos Estados-Membros para as PME-alvo em causa, limitando simultaneamente os riscos de exclusão (crowding out). No entanto, as respostas à consulta pública também indicaram que as Orientações relativas ao capital de risco eram consideradas demasiado restritivas em termos de PME elegíveis, formas de financiamento, instrumentos de auxílio e estruturas de financiamento.

13. Na Comunicação de 8 de maio de 201219, a Comissão apresentou um ambicioso programa de modernização dos auxílios estatais baseado em três objetivos principais:

(a) promover o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo num mercado interno concorrencial;

(b) centrar o controlo ex ante da Comissão nos casos com maior impacto no mercado interno, reforçando simultaneamente a cooperação com os Estados-Membros para efeitos de aplicação da legislação no domínio dos auxílios estatais; e

(c) simplificar as regras e acelerar o processo de tomada de decisões.

14. À luz do exposto, considerou-se oportuno rever substancialmente o regime de auxílios estatais aplicável ao financiamento através de crédito e capital próprio por parte das PME, de modo a promover um acesso mais eficiente e eficaz a diversas formas de financiamento de risco. Nesse espírito, o âmbito do Regulamento Geral de Isenção por Categoria20 foi alargado, de modo a ter-se em conta um conjunto mais amplo de PME elegíveis e instrumentos de auxílio. Não é necessária notificação relativamente a essas medidas, pois presume-se que se destinam a resolver uma falha de mercado, que são adequadas e proporcionais, que têm num efeito de incentivo e que limitam as distorções ao mínimo.

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES E DEFINIÇÕES 15. A Comissão aplicará os princípios estabelecidos nas presentes Orientações a

medidas de financiamento de risco que não satisfaçam todas as condições previstas no Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Nesses casos, o Estado-Membro

15 Adicionar referência ao texto final. 16 Deve notar-se que vários Estados-Membros também criaram medidas de implementação de

instrumentos financeiros semelhantes, mas financiadas exclusivamente por recursos nacionais. 17 O questionário foi publicado em:

http://ec.europa.eu/competition/consultations/2012_risk_capital/questionnaire_pt.pdf 18 JO C 194 de 18.8.2006, p. 2. 19 Comunicação sobre a modernização da política da UE no domínio dos auxílios estatais (MAE), COM

(2012) 209 final, 8.5.2012. 20 Adicionar referência ao novo Regulamento Geral de Isenção por Categoria.

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deve notificar a medida, de acordo com o artigo 108.º, n.º 3, do Tratado e a Comissão realizará uma avaliação da compatibilidade substantiva, tal como estabelecido na secção 3 das presentes Orientações.

16. No entanto, os Estados-Membros podem optar por criar medidas de financiamento de risco que não constituam um auxílio estatal nos termos do artigo 107.º, n.º 1, do Tratado – por exemplo, porque satisfazem o teste do operador numa economia de mercado ou porque cumprem as condições do Regulamento de minimis21 e, assim, não necessitam de ser notificadas à Comissão.

17. Nada nas presentes Orientações deve ser considerado de forma a pôr em causa a compatibilidade dos auxílios estatais que preencham os critérios estabelecidos em quaisquer outras orientações, enquadramentos ou regulamentos. A Comissão prestará especial atenção à necessidade de impedir a utilização das presentes Orientações para contornar os princípios estabelecidos nos enquadramentos, orientações e regulamentos existentes.

2.1. O teste do operador numa economia de mercado

18. As medidas de financiamento de risco envolvem em muitos casos estruturas complexas, que criam incentivos para que um grupo de operadores económicos (os investidores) forneça financiamento de risco a outro conjunto de operadores (as empresas elegíveis). Dependendo da estrutura da medida em causa, e mesmo que a intenção das autoridades públicas possa ser apenas proporcionar benefícios ao segundo grupo, as empresas num ou em ambos os níveis podem acabar por beneficiar de auxílios estatais. Além disso, as medidas de financiamento de risco envolvem um ou mais intermediários financeiros que têm um estatuto distinto do estatuto dos investidores e dos beneficiários finais em que os investimentos são realizados. Nesses casos, também é necessário considerar se o intermediário financeiro pode estar a beneficiar de auxílios estatais.

19. A Comunicação da Comissão sobre a noção de auxílio22 estabelece os princípios gerais segundo os quais a intervenção pública não é considerada um auxílio estatal – por exemplo, por satisfazer o teste do operador numa economia de mercado. De acordo com esse teste, se forem realizadas de acordo com as condições normais de mercado, as transações económicas realizadas por órgãos públicos ou empresas públicas não dão origem a uma vantagem para a respetiva contraparte, e, assim, não constituem auxílios estatais. Esta secção oferece orientações adicionais sobre a aplicação do teste do operador numa economia de mercado (OEM) na área do financiamento de risco.

2.1.1. Auxílios a investidores

20. Em geral, a Comissão considerará que um investimento satisfaz o teste do operador numa economia de mercado e, assim, não constitui um auxílio estatal, se o investimento for efetuado pari passu entre investidores públicos e privados. Um investimento é considerado pari passu quando é realizado nos mesmos termos e condições por investidores públicos e privados, quando ambas as categorias de operadores intervêm simultaneamente e a intervenção do investidor privado tem uma importância económica real.

21 Adicionar referência ao novo Regulamento de minimis. 22 [Referência à Comunicação sobre a noção de auxílio].

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21. Na área do financiamento de risco, as transações realizadas por investidores públicos e privados são consideradas como realizadas simultaneamente se os investidores públicos e privados coinvestirem conjuntamente nos beneficiários finais através da mesma operação de investimento. No caso de investimentos através de intermediários financeiros público-privados, presume-se que os investimentos por parte dos investidores públicos e privados são realizados simultaneamente.

22. Além disso, presume-se que a transação é realizada nos mesmos termos e condições se os investidores públicos e privados partilharem os mesmos riscos e benefícios e tiverem o mesmo nível de subordinação em relação à mesma classe de risco. Se o investidor público está numa posição melhor que o investidor privado, por exemplo, porque recebe primeiramente um retorno prioritário em comparação com os investidores privados, a medida também pode ser considerada como estando em conformidade com as condições normais de mercado. Uma condição adicional é que o financiamento concedido por investidores privados, independentes das empresas em que investem, é economicamente significativo23 à luz do valor global do investimento e da exposição de cada investidor.

23. Sempre que uma medida permite que os investidores privados realizem investimento de financiamento de risco numa empresa ou num conjunto de empresas em condições mais favoráveis do que os investidores públicos que investem nas mesmas empresas, esses investidores privados podem estar a obter uma vantagem (investimentos não pari passu). Essa vantagem pode assumir diferentes formas, tais como retornos preferenciais ou menor exposição a perdas no caso de desempenho desfavorável da transação subjacente em relação aos investidores públicos.

2.1.2. Auxílio a um intermediário financeiro e/ou ao respetivo gestor

24. Em geral, a Comissão considera que um intermediário financeiro é um veículo intermediário destinado a transferir auxílios para investidores e/ou empresas objeto do investimento, em vez de ser ele próprio um beneficiário do auxílio. Quando o intermediário financeiro não tem personalidade jurídica, sendo meramente um conjunto de ativos geridos por uma sociedade de gestão independente, presume-se que o intermediário é um mero veículo, sem ser ele próprio um beneficiário do auxílio. No entanto, as medidas que envolvem transferências diretas em favor de um intermediário financeiro, ou que requerem que o beneficiário coinvista, podem constituir um auxílio, a menos que essas transferências ou coinvestimentos sejam realizados em condições que seriam aceitáveis para um operador económico normal numa economia de mercado.

25. Se os gestores do intermediário financeiro ou da sociedade de gestão forem escolhidos através de um processo de seleção aberto, transparente, não discriminatório e objetivo, ou se a remuneração do gestor refletir integralmente os

23 Por exemplo, no caso Citynet Amsterdam, a Comissão considerou que dois operadores privados que

detinham um terço do capital social total de uma empresa (considerando também a estrutura acionista global e que as suas ações são suficientes para formar uma minoria de bloqueio em relação a qualquer decisão estratégica da empresa) podem ser considerados economicamente relevantes (ver Decisão da Comissão no processo C 53/2006 Citynet Amsterdam, Países Baixos. JO L 247 de 16.09.2008, p. 27, pontos 96-100). Por outro lado, no processo N429/2010 Agricultural Bank of Greece (ATE), JO C 317 de 29.10.2011, p. 5, a participação privada apenas atingiu 10 % do investimento, em contraste com os 90 % do Estado, pelo que a Comissão concluiu que as condições pari passu não foram cumpridas, uma vez que o capital injetado pelo Estado não foi acompanhado de uma participação comparável de um acionista privado nem foi proporcional ao número de ações detidas pelo Estado.

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níveis correntes do mercado em situações comparáveis, presume-se que os gestores não recebem auxílios estatais.

26. Sempre que forem entidades públicas e não tiverem sido escolhidos através de um processo de seleção aberto, transparente, não discriminatório e objetivo, o intermediário financeiro e os seus gestores ou a sociedade de gestão não são considerados beneficiários de auxílio se operarem em condições de independência (arm’s length) do Estado e a sua remuneração refletir as condições normais do mercado e estiver associada ao desempenho. Além disso, os intermediários financeiros devem ser geridos comercialmente e os seus gestores devem tomar decisões de investimento de uma forma orientada para o lucro.

27. Se o investimento por parte do Estado no intermediário financeiro assumir a forma de empréstimos ou garantias, a fim de excluir a possibilidade de o intermediário financeiro receber um auxílio estatal, as condições estabelecidas na Comunicação sobre a taxa de referência24 e na Comunicação sobre garantias25 têm de ser respetivamente cumpridas.

28. Se o intermediário financeiro transferir a totalidade da vantagem que recebe do Estado para as empresas beneficiárias finais, não se considera que o intermediário financeiro recebe um auxílio estatal. A fim de garantir a transferência completa, a vantagem transferida para o intermediário financeiro deve ser quantificada. Além disso, deve existir um mecanismo adequado de monitorização que assegure que essa transferência possa ser verificada.

29. Considera-se que constitui meramente um efeito económico secundário da medida de auxílio, e não um auxílio aos intermediários financeiros e/ou respetivos gestores, o facto de os intermediários financeiros poderem aumentar os respetivos ativos e de os seus gestores poderem realizar maior receita por meio das respetivas comissões, em consequência da medida de financiamento de risco. No entanto, se a medida de financiamento de risco estiver estruturada de modo a canalizar os seus efeitos secundários para intermediários financeiros identificados antecipadamente, esses intermediários financeiros serão considerados recetores de um auxílio indireto.

2.1.3. Auxílio às empresas beneficiárias do investimento

30. Nos casos em que o auxílio está presente ao nível dos investidores, do intermediário financeiro ou dos respetivos gestores, a Comissão irá geralmente considerá-lo, pelo menos em parte, como repercutido nas empresas-alvo, sem prejuízo dos auxílios de minimis26. Tal ocorre mesmo quando as decisões de investimento são tomadas pelos gestores do intermediário financeiro numa lógica puramente comercial.

2.2. Auxílios ao financiamento de risco sujeitos a notificação

31. Os Estados-Membros devem notificar, nos termos do artigo 108.º, n.º 3, do Tratado, as medidas de financiamento de risco que não satisfaçam o teste do operador numa economia de mercado, que não preencham as condições do Regulamento de minimis, ou que não cumpram todas as condições estabelecidas no Regulamento Geral de Isenção por Categoria e constituam auxílios estatais. A Comissão apreciará a compatibilidade dessas medidas com o mercado interno nos termos do

24 Comunicação da Comissão relativa à revisão do método de fixação das taxas de referência e de

atualização, JO C 14 de 19.1.2008, p. 6. 25 Comunicação da Comissão relativa à aplicação dos artigos 87.º e 88.º do Tratado CE aos auxílios

estatais sob forma de garantias, JO C 155 de 20.6.2008, p. 10. 26 Referência ao novo Regulamento de minimis.

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artigo 107.º, n.º 3, alínea c), do Tratado. As presentes Orientações centram-se nas medidas de financiamento de risco com maior probabilidade de serem consideradas compatíveis com o artigo 107.º, n.º 3, alínea c), do Tratado, desde que preencham uma série de condições que serão explicadas com mais detalhe na secção 3 das presentes Orientações. Tais medidas enquadram-se nas três categorias referidas a seguir.

32. A primeira categoria abrange as medidas de financiamento de risco que visam empresas que não cumprem todos os requisitos de elegibilidade previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Relativamente a estas medidas, a Comissão requererá que o Estado-Membro realize uma avaliação ex ante em profundidade, já que deixa de se poder presumir a existência da falha de mercado que afeta as empresas elegíveis, segundo a definição do Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Esta categoria abrange, em especial, as seguintes empresas:

(a) empresas com uma dimensão tal que, após o investimento inicial sob a forma de financiamento de risco, ultrapassam os limiares fixados na definição de PME27 da União e se tornam pequenas empresas de média capitalização;

(b) empresas de média capitalização inovadoras que realizam atividades em matéria de I&D e inovação;

(c) empresas que recebem o investimento inicial sob a forma de financiamento de risco mais de cinco anos após a sua primeira venda comercial;

(d) empresas que necessitam de um investimento sob a forma de financiamento de risco superior a [10 milhões de EUR]

(e) plataformas de negociação alternativas que não preenchem as condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria.

33. A segunda categoria consiste em medidas com diferentes parâmetros estruturais, tal como estabelecido no Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Ainda se pode presumir neste caso a existência de uma falha de mercado no que se refere a estas medidas, embora se deva proceder a uma apreciação cuidadosa da estrutura da medida. Esta categoria abrange, em especial, os seguintes casos:

(a) medidas com participação de investidores privados inferior aos rácios previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria;

(b) medidas com parâmetros financeiros estruturais superiores aos limites máximos previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria;

(c) medidas que selecionam os investidores, os intermediários financeiros e os respetivos gestores, dando preferência à proteção contra as perdas potenciais [proteção face a evolução desfavorável (downside protection)] em detrimento da priorização dos retornos obtidos a partir dos lucros [incentivos à subida dos lucros (upside incentives)];.

(d) incentivos fiscais destinados a investidores empresariais, incluindo os intermediários financeiros ou os respetivos gestores que atuam como coinvestidores.

34. A terceira categoria diz respeito aos grandes regimes que, apesar de satisfazerem as condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, estão fora do âmbito do mesmo, em virtude da grande dimensão do respetivo orçamento. A notificação desses regimes é necessária, em particular, para que a Comissão possa apreciar de

27 Adicionar referência ao anexo II do novo RGIC.

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uma forma aprofundada os potenciais efeitos negativos que tais regimes podem ter nos mercados afetados. Ao proceder a essa apreciação, a Comissão também verificará se as condições previstas no Regulamento Geral de Isenção por Categoria estão satisfeitas.

35. As diferentes categorias de medidas sujeitas a notificação descritas nos pontos 32 e 33 podem ser combinadas no âmbito de uma única medida.

2.3. Definições

36. Para efeitos das presentes Orientações entende-se por:

(a) «plataforma de negociação alternativa»: um mercado de ações ou um veículo de investimento especializado na transação de ações de PME, facilitando o encontro entre os investidores e as PME-alvo;

(b) «condições de independência»: as condições da operação de investimento acordadas entre as partes contratantes não diferem das condições que seriam estabelecidas entre empresas independentes e não contêm nenhum elemento de influência do Estado;

(c) «instrumento de dívida ou de empréstimo»: um acordo que obriga o mutuante a colocar à disposição do mutuário um montante acordado de dinheiro durante um período acordado e nos termos do qual o mutuário é obrigado a reembolsar o montante no período acordado, podendo assumir a forma de empréstimos e de outros instrumentos de financiamento que proporcionam ao mutuante uma componente predominante de rendimento mínimo;

(d) «empresa elegível»: PME, empresas de média capitalização e empresas de média capitalização inovadoras, como definido pelas condições das presentes Orientações;

(e) «entidade mandatada»: uma instituição financeira, como o Banco Europeu de Investimento («BEI») e o Fundo Europeu de Investimento («FEI»), uma instituição financeira internacional, uma entidade de direito público ou uma entidade de direito privado com uma missão de serviço público, que lhe foi atribuída por um Estado-Membro para implementar uma medida de financiamento de risco;

(f) «investimento de capital próprio»: a disponibilização de capital a uma empresa, capital esse que é investido, direta ou indiretamente, por contrapartida da propriedade, total ou parcial, da referida empresa, podendo o investidor de capital assumir o controlo da gestão da empresa e participar nos lucros da empresa;

(g) «saída»: liquidação de participações realizada por um intermediário financeiro ou investidor, incluindo a venda comercial, as amortizações por perda, o reembolso de ações/empréstimos, a venda a outro intermediário financeiro ou a outro investidor, a venda a uma instituição financeira e a venda por oferta pública, incluindo uma oferta pública inicial (OPI);

(h) «beneficiário final»: uma empresa elegível que recebeu investimento no âmbito de uma medida de auxílio estatal ao financiamento de risco,

(i) «intermediário financeiro»: qualquer intermediário financeiro, independentemente da sua forma e da sua propriedade, incluindo entidades mandatadas, fundos de fundos, fundos de investimento privados, fundos de

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investimento públicos, bancos, instituições de microcrédito e sociedades de garantia;

(j) «primeira venda comercial»: a primeira venda de uma empresa num mercado de produtos ou serviços, excluindo as vendas limitadas para testar o mercado;

(k) «investimento complementar»: um investimento complementar numa empresa posteriormente a uma ou mais fases iniciais de investimento;

(l) «garantia»: um compromisso por escrito assumindo a responsabilidade pela totalidade ou parte das operações de crédito de financiamento de risco originadas por um terceiro, tais como instrumentos de dívida ou de locação, bem como instrumentos de quase-capital;

(m) «taxa de garantia»: percentagem da cobertura de perda de cada transação da carteira garantida;

(n) «investidor privado independente»: um investidor privado que é independente da PME em que investe, incluindo instituições financeiras, independentemente do seu proprietário, na medida em que assumam o risco total do seu investimento; aquando da criação de uma nova empresa, os investidores privados são considerados independentes da empresa;

(o) «empresa de média capitalização inovadora»: uma empresa de média capitalização:

(i) capaz de demonstrar, por meio de uma avaliação realizada por um perito externo, que irá num futuro previsível desenvolver produtos, serviços ou processos novos ou substancialmente melhorados em comparação com a situação da técnica na respetiva indústria, e que apresenta um risco de falha tecnológica ou industrial, ou

(ii) cujos custos de I&D representem, no mínimo, 15 % dos seus custos operacionais totais em, pelo menos, um dos três anos anteriores ao primeiro investimento no âmbito da medida de auxílio estatal ao financiamento de risco, ou, no caso de uma empresa em fase de arranque sem qualquer historial financeiro, na auditoria do seu exercício fiscal corrente, devidamente certificada por um auditor externo;

(p) «investimento»: uma ou mais fases de investimento numa empresa,

(q) «grande regime»: significa um regime de auxílios com um orçamento elevado (despesa anual planeada ou efetiva superior a 0,01 % do PIB do Estado-Membro e a um valor absoluto de 100 milhões de EUR), que satisfaz as condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, mas que está excluído do âmbito de aplicação por força do respetivo artigo 1.º, n.º 2, alínea a);

(r) «alavancagem»: o nível necessário de investimento privado, além do investimento público. É importante notar que, para os efeitos das presentes Orientações, alavancagem não é sinónimo de «efeito de alavanca», conforme a definição do artigo 140.º, n.º 2, alínea d), do Regulamento Financeiro e do artigo 32.º, n.º 2, alínea c), do Regulamento das Disposições Comuns;

(s) «empresa de capitalização intermédia»: para os efeitos das presentes Orientações, uma empresa cujo número de colaboradores não ultrapassa 1 500, incluindo pequenas empresas de média capitalização. Para efeitos da aplicação das presentes Orientações, as entidades devem ser consideradas uma única

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empresa se for preenchida qualquer uma das condições enumeradas no artigo 3.º, n.º 3, do anexo II do Regulamento Geral de Isenção por Categoria («empresas associadas»),

(t) «pessoa singular»: uma pessoa que não é uma empresa para os efeitos do artigo 107.º, n.º 1, do Tratado;

(u) «novo empréstimo»: uma operação de empréstimo recentemente iniciada para a realização de novos investimentos, excluindo o refinanciamento de empréstimos existentes;

(v) «investimento de financiamento de risco»: investimentos de capital próprio e quase-capital, empréstimos de financiamento de risco, incluindo locações, garantias, ou uma combinação destas modalidades, destinados às empresas elegíveis;

(w) «empréstimos de financiamento de risco»: empréstimos ou locações concedidos por um intermediário financeiro às empresas elegíveis, desde que o mesmo contribua para o financiamento desses empréstimos com recursos próprios, em conformidade com os rácios previstos no artigo 19.º, n.º 10, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, e desde que o intermediário financeiro seja capaz de demonstrar que a carteira de crédito apoiada no âmbito da medida de financiamento de risco inclui um número significativo de empresas que, à luz da sua política de crédito, não teriam sido financiadas sem a intervenção da medida;

(x) «pequena e média empresa (PME)»: uma empresa na aceção do anexo II do Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Para efeitos da aplicação das presentes Orientações, as entidades devem ser consideradas uma única empresa se for preenchida qualquer uma das condições enumeradas no artigo 3.º, n.º 3, do anexo II do Regulamento Geral de Isenção por Categoria («empresas associadas»);

(y) «pequena empresa de média capitalização»: uma empresa cujo número de colaboradores não excede 499 e cujo volume de negócios anual não excede os 100 milhões de EUR ou cujo balanço anual não excede 86 milhões de EUR. Para efeitos da aplicação das presentes Orientações, as entidades devem ser consideradas uma única empresa se for preenchida qualquer uma das condições enumeradas no artigo 3.º, n.º 3, do anexo II ao Regulamento Geral de Isenção por Categoria («empresas associadas»);

(z) «montante total de financiamento de risco»: o montante máximo global de investimento realizado numa empresa elegível através de uma ou mais rondas de financiamento, incluindo investimentos complementares, no âmbito de qualquer medida de auxílio estatal ao financiamento de risco;

(aa) «investimento de quase-capital»: um tipo de financiamento classificado entre capital e dívida, com um risco maior do que a dívida sénior e um risco menor do que o capital ordinário, e cujo retorno para o titular se baseia predominantemente nos lucros ou prejuízos da empresa-alvo, não sendo garantido em caso de incumprimento. Pode ser estruturado como uma dívida não garantida e subordinada e, em alguns casos, convertível em participações ou participações preferenciais;

(bb) «capital de substituição»: a aquisição de ações existentes de uma empresa por parte de um investidor ou acionista anterior;

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(cc) «PME não cotada»: uma PME não incluída na cotação oficial de uma bolsa de valores. Uma PME cotada numa plataforma de negociação alternativa é considerado não cotada.

3. APRECIAÇÃO DA COMPATIBILIDADE DOS AUXÍLIOS AO FINANCIAMENTO DE RISCO

3.1. Princípios de apreciação comuns

37. Para apreciar se uma medida de auxílio notificada pode ser considerada compatível com o mercado interno, a Comissão analisa geralmente se a estrutura do auxílio garante que o impacto positivo do auxílio que visa um objetivo de interesse comum excede os respetivos efeitos negativos potenciais sobre o comércio entre Estados-Membros e a concorrência.

38. Na Comunicação sobre a modernização dos auxílios estatais, de 8 de maio de 2012, defendeu a identificação e a definição de princípios comuns aplicáveis à apreciação da compatibilidade de todas as medidas de auxílio realizadas pela Comissão. Para o efeito, a Comissão só considerará uma medida de auxílio compatível com o Tratado se cumprir cada um dos os seguintes critérios:

(a) contribuição para um objetivo de interesse comum bem definido: uma medida de auxílio estatal deve visar um objetivo de interesse comum, de acordo com o artigo 107.º, n.º 3, do Tratado (secção 3.2);

(b) necessidade de intervenção do Estado: uma medida de auxílio estatal deve visar uma situação em que os auxílios são suscetíveis de se traduzirem numa melhoria significativa que o mercado, por si só, não poderá criar, corrigindo uma falha de mercado (secção 3.3);

(c) adequação da medida de auxílio: a medida de auxílio proposta deve ser um instrumento político adequado para atingir o objetivo de interesse comum (secção 3.4);

(d) efeito de incentivo: o auxílio deve alterar o comportamento da(s) empresa(s) em causa, induzindo-a(s) a realizar atividades adicionais que não realizaria(m) sem a intervenção do auxílio ou que realizaria(m) de forma restrita ou diferente (secção 3.5)28;

(e) proporcionalidade do auxílio (limitação do auxílio ao mínimo necessário): o auxílio deve limitar-se ao mínimo necessário para induzir investimentos ou atividades adicionais por parte das empresa(s) em causa (secção 3.6);

(f) evitamento de efeitos negativos indevidos sobre a concorrência e o comércio entre os Estados-Membros: os efeitos negativos do auxílio devem ser suficientemente limitados para que o equilíbrio global da medida seja positivo (secção 3.7);

(g) transparência do auxílio: os Estados-Membros, a Comissão, os operadores económicos e o público devem ter facilmente acesso a todos os atos relevantes

28 O efeito de incentivo engloba o princípio da adicionalidade, conforme definido pelo artigo 140.º, n.º 2,

alínea b), do Regulamento Financeiro, segundo a qual os instrumentos financeiros não devem ter como objetivo substituir os instrumentos de um Estado-Membro, o financiamento privado ou outra intervenção financeira da União.

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e informações pertinentes relativamente aos auxílios concedidos neste âmbito (secção 3.8).

39. O resultado global de determinadas categorias de regimes pode ainda ser sujeito a um requisito de avaliação ex post, conforme descrito na secção 4 das presentes Orientações. Em tais casos, a Comissão pode limitar a duração desses regimes, com a possibilidade de notificar a sua prorrogação.

40. Se uma medida de auxílio estatal ou as modalidades da sua atribuição (incluindo o seu modo de financiamento quando fizer parte integrante da medida) implicar de forma indissociável uma violação do direito da UE, o auxílio não pode ser declarado compatível com o mercado interno29.

41. Ao apreciar a compatibilidade de qualquer auxílio individual com o mercado interno, a Comissão terá em conta todos os processos por infração dos artigos 101.º ou 102.º do Tratado que possam afetar o beneficiário do auxílio e ser relevantes para a sua apreciação ao abrigo do artigo 107.º, n.º 3, do Tratado30.

3.2. Contribuição para um objetivo comum

42. Os auxílios estatais devem contribuir para a realização de um ou mais objetivos de interesse comum, na aceção que lhe é atribuída pelo artigo 107.º, n.º 3, do Tratado. No que se refere ao auxílio ao financiamento de risco, os objetivos políticos gerais são melhorar a oferta de financiamento às PME potencialmente viáveis desde o início do seu desenvolvimento, de acordo com as suas fases de crescimento e, em determinadas circunstâncias, empresas de média capitalização e empresas de média capitalização inovadoras, a longo prazo, a fim de desenvolver um mercado competitivo de financiamento das PME na União, capaz de contribuir para o crescimento económico global. A Comissão considerará que uma medida de financiamento de risco contribui para a realização de um objetivo político comum da União se a mesma satisfizer as condições estabelecidas nos pontos 43 a 47 infra.

3.2.1. Objetivos políticos específicos prosseguidos pela medida 43. A medida deve definir objetivos políticos específicos, tendo em conta os objetivos

políticos gerais conforme estabelecido no ponto 42 supra. Para o efeito, o Estado-membro deve realizar uma avaliação ex ante, a fim de identificar os objetivos políticos e definir os indicadores de desempenho relevantes. A dimensão e a duração da medida devem ser adequadas aos objetivos políticos. Em princípio, os indicadores de desempenho devem incluir:

(a) o investimento do setor privado necessário ou previsto (efeito de alavancagem),

(b) o número esperado de beneficiários finais objeto de investimento, incluindo o número de PME em fase de arranque;

(c) o número estimado de novas empresas criadas durante a aplicação da medida de financiamento de risco e em resultado dos investimentos de financiamento de risco;

29 Ver, por exemplo, Processo C-156/98 Alemanha/Comissão, Coletânea 2000, p. I-6857, n.º 78, e Processo

C-333/07 Régie Networks/Rhone Alpes Bourgogne, Coletânea 2008, p. I-10807, n.os 94-116. 30 Ver Processo C-225/91 Matra/Comissão, Coletânea 1993, p. I-3203, n.º 42.

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(d) o número de empregos criados pelas empresas beneficiárias finais entre a data do primeiro investimento de financiamento de risco no âmbito da medida de financiamento de risco e a data de saída;

(e) se for caso disso, a proporção dos investimentos realizados que satisfazem o teste do operador numa economia de mercado;

(f) os momentos e os prazos de investimento de determinados montantes ou percentagens predefinidas do orçamento;

(g) retornos/rendimento que se esperam venham a ser gerados pelos investimentos;

(h) se for caso disso, pedidos de registo de patentes realizados pelos beneficiários finais, durante a aplicação da medida de financiamento de risco.

3.2.2. Realização dos objetivos políticos pelos intermediários financeiros 44. Para garantir que realizam os objetivos políticos relevantes, os intermediários

financeiros envolvidos na medida de financiamento de risco devem cumprir as condições estabelecidas, em especial nos pontos 45 a 47 infra.

45. A estratégia de investimento do intermediário financeiro deve ser consistente com os objetivos políticos da medida. No âmbito do processo de seleção, os intermediários financeiros devem demonstrar de que modo a estratégia de investimento proposta pode contribuir para a realização dos objetivos e metas políticos.

46. A comissão de gestão dos intermediários financeiros ou dos seus gestores deve incluir incentivos baseados no desempenho e vinculados aos resultados financeiros e à realização das metas políticas. Os incentivos relacionados com a política devem constituir um equilíbrio com os incentivos de desempenho financeiro necessários para garantir uma seleção eficiente das empresas elegíveis nas quais os investimentos serão realizados. Além disso, a Comissão terá em consideração possíveis penalidades para a eventualidade de as metas políticas definidas não serem cumpridas.

47. O Estado-Membro pode garantir que a estratégia de investimento dos intermediários está permanentemente em conformidade com os objetivos políticos acordados – por exemplo, através de representação nos órgãos de representação do investidor do intermediário financeiro, como são o conselho fiscal ou o conselho consultivo. Uma estrutura de governação apropriada deve garantir que eventuais mudanças na estratégia de investimento requerem o consentimento prévio do Estado-Membro. Para que não restem dúvidas, o Estado-Membro não pode participar diretamente em decisões individuais de investimento e desinvestimento.

3.3. Necessidade de intervenção do Estado

48. Os auxílios estatais só podem justificar-se se visarem determinadas falhas de mercado que afetam a realização do objetivo comum. A Comissão considera que não há uma falha geral do mercado em relação ao acesso das PME ao financiamento, mas apenas uma falha relacionada com certos grupos de PME, em particular as que se encontram em fases iniciais que, apesar das suas perspetivas de crescimento, não conseguem demonstrar a sua fiabilidade creditícia nem a solidez dos seus planos de negócios aos investidores. O alcance de tal falha de mercado, em termos das empresas afetadas e da respetiva necessidade de capital, pode variar dependendo do setor em que essas empresas operam. Devido às assimetrias de informação, o mercado tem dificuldade em avaliar o perfil de risco/retorno de tais

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PME e a respetiva capacidade de gerar retornos ajustados pelo risco. As dificuldades que essas PME têm em partilhar informações sobre a qualidade do seu projeto, o respetivo grau de risco percebido e uma fraca fiabilidade creditícia implicam elevados custos de transação e de representação e podem agravar a aversão ao risco dos investidores. As empresas de média capitalização e as empresas de média capitalização inovadoras podem, em determinadas circunstâncias, enfrentar o mesmo tipo de falha de mercado.

49. Assim, a medida de financiamento de risco deve ser estabelecida com base numa avaliação ex ante que demonstre a existência de um défice de financiamento que afeta empresas elegíveis na área visada. A medida de financiamento de risco deve ser estruturada de modo a colmatar as deficiências demonstradas na avaliação ex ante.

50. Os problemas estruturais e cíclicos (ou seja, relacionados com a crise) que conduzem a níveis subótimos de financiamento privado devem ser analisados. Em particular, a apreciação deve produzir uma análise abrangente das fontes de financiamento disponíveis para as empresas elegíveis, tendo em conta o número de intermediários financeiros existentes na área visada, a sua natureza pública ou privada, os volumes de investimentos direcionados para o segmento de mercado relevante, o número de empresas potencialmente elegíveis e os valores médios de todas as operações. Esta análise deve basear-se em dados relativos aos [5 a 10] anos anteriores à notificação da medida de financiamento de risco e, com base nesses dados, deve estimar a natureza e a dimensão do défice de financiamento, isto é, o nível de procura não satisfeito no que se refere ao financiamento das empresas elegíveis.

51. A avaliação ex ante deve ser preferencialmente realizada por uma entidade independente, com base em critérios objetivos e dados atualizados. Alternativamente, os Estados-Membros também podem recorrer a peritos internos ou apresentar uma Avaliação do Acesso ao Mercado do Financiamento (AFMA), realizada pelo Fundo Europeu de Investimento, desde que tenha sido realizada nos três anos anteriores à notificação da medida de financiamento de risco. No caso de a medida de financiamento de risco ser financiada parcialmente pelos Fundos Estruturais e de Investimento Europeus, o Estado-Membro pode apresentar uma avaliação ex ante elaborada em conformidade com o artigo 32.º, n.º 2, do Regulamento das Disposições Comuns31, que se considerará satisfazer os requisitos estabelecidos pelas presentes Orientações. Ao analisar os resultados da avaliação ex ante, a Comissão reserva-se o direito de questionar a validade dos dados tendo em vista os elementos de prova disponíveis.

52. Para garantir que os intermediários financeiros envolvidos na medida se centram nas falhas de mercado identificadas, a sua estratégia de investimento proposta deve respeitar os requisitos de elegibilidade e as restrições de financiamento definidos à partida. Em particular, os Estados-Membros devem selecionar os intermediários financeiros que, com base numa verificação prévia, conseguem demonstrar que a sua estratégia de investimento proposta é comercialmente sólida e inclui uma política de diversificação de risco adequada, tendo como objetivo a viabilidade económica e uma escala eficiente em termos de dimensão e alcance territorial dos investimentos.

53. Além disso, tendo em conta os tipos de medidas mencionados na secção 2.2 supra, a avaliação ex ante deve ter em conta as falhas de mercado específicas enfrentadas

31 Adicionar referência à versão final do Regulamento das disposições comuns.

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pelas empresas visadas elegíveis com base nas orientações adicionais previstas nos pontos 54 a 79.

3.3.1. Medidas destinadas a categorias de empresas fora do âmbito de aplicação do Regulamento Geral de Isenção por Categoria

a) Empresas que se tornam pequenas empresas de média capitalização após a primeira fase de investimento

54. Embora o âmbito de aplicação do Regulamento Geral de Isenção por Categoria se restrinja às PME, no caso das PME cujos planos de crescimento implicam um aumento nos seus níveis de emprego após a primeira ronda de investimento no âmbito da medida de financiamento de risco, poderão ser excedidos os limiares em termos de colaboradores e os limiares financeiros estabelecidos pela definição de PME. Em determinadas circunstâncias, tais empresas podem enfrentar restrições de financiamento comparáveis às que afetam as PME.

55. Assim, pode ser necessário incentivar o investimento privado nestas empresas mesmo após a primeira ronda de investimentos realizados ao abrigo da medida de financiamento de risco, apoiando-as nas fases posteriores do seu crescimento, até disporem de um historial e garantias suficientes para atrair investimento privado sem auxílios estatais. Tal pode também estimular os investimentos e investidores privados em fases iniciais, uma vez que poderão ter uma maior probabilidade de sair com sucesso da empresa numa fase posterior de desenvolvimento. Na sua apreciação, a Comissão terá em conta a intensidade do fator trabalho e/ou do fator capital nas empresas visadas, bem como outros critérios que refletem as restrições de financiamento específicas que as afetam (por exemplo, garantias suficientes para um empréstimo de valor elevado).

56. Em face do exposto, e desde que a avaliação ex ante contenha elementos de prova económicos adequados para o efeito, pode justificar-se continuar a apoiar as empresas que se tornam pequenas empresas de média capitalização após a primeira ronda de investimento no âmbito da medida de financiamento de risco.

b) Empresas de média capitalização inovadoras

57. Em determinadas circunstâncias, as empresas de média capitalização podem também enfrentar restrições de financiamento comparáveis às que afetam as PME. Pode ser esse o caso das empresas de média capitalização que exercem atividades em matéria de I&D e inovação paralelamente ao investimento inicial em instalações de produção, incluindo replicação comercial, cujo historial não permite que os potenciais investidores assumam pressupostos relevantes no que diz respeito às perspetivas futuras dos resultados de tais atividades de mercado. Em tal caso, o acesso ao financiamento de risco pode ser necessário para que essas empresas de média capitalização inovadoras aumentem as suas capacidades de produção, alcançando uma escala sustentável.

58. Para efeitos de avaliação das medidas que visam este grupo de empresas, a avaliação ex ante deve demonstrar a natureza e a dimensão da falha de mercado.

c) Empresas que recebem o investimento inicial mais de cinco anos após a sua primeira venda comercial

59. Em princípio, o Regulamento Geral de Isenção por Categoria é restrito às PME que recebem o investimento inicial no âmbito da medida antes da primeira venda comercial num mercado ou nos cinco anos após a sua primeira venda comercial. Apenas os investimentos complementares são abrangidos pela isenção por categoria

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para lá deste período de cinco anos. No entanto, pode-se considerar que certos tipos de empresas se encontram ainda na sua fase de expansão/fase inicial em termos de crescimento se, após este período de cinco anos, ainda não tiverem demonstrado suficientemente o seu potencial de gerar retornos e/ou não dispuserem de um historial suficientemente sólido nem de garantias adequadas. Este é especialmente o caso dos setores de alto risco sem tecnologias comprovadas, das empresas inovadoras ou de determinados setores, como as indústrias da biotecnologia e as indústrias culturais e criativas. Além disso, as empresas que dispõem de capital próprio suficiente para financiar as suas atividades iniciais podem necessitar de financiamento externo apenas numa fase posterior – por exemplo, para aumentar as suas capacidades, caso não tenham experiência prévia em transformar negócios de pequena escala em negócios de maior escala. Fazê-lo pode requerer um montante de investimento mais elevado do que aquele que conseguem mobilizar a partir dos seus próprios recursos.

60. Por conseguinte, é possível conceber a autorização de medidas no âmbito das quais o investimento inicial é realizado mais de cinco anos após a primeira venda comercial da empresa-alvo. Em tais circunstâncias, a Comissão pode requerer que a medida defina claramente as empresas elegíveis, à luz dos elementos de prova apresentados na avaliação ex ante relativamente à existência de uma falha de mercado específica que afeta essas empresas, e que contenha restrições adequadas em termos de prazos (por exemplo, dez anos em vez de cinco) ou de outros critérios objetivos de natureza qualitativa, nomeadamente a utilização de definições comummente aceites de fases de desenvolvimento das PME.

d) Empresas que necessitam de um montante de investimento total em financiamento de risco superior a [dez milhões de EUR]

61. O artigo 19.º, n.º 9, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria estabelece o montante total máximo de financiamento de risco em [10 milhões] de EUR por PME, incluindo investimentos complementares. No entanto, em certas indústrias onde os custos de investigação ou investimento à partida são relativamente elevados, esse valor pode não ser suficiente para realizar os investimentos iniciais necessários e colocar a empresa no caminho do crescimento sustentável. Assim, pode justificar-se, em determinadas condições, autorizar um montante de investimento total mais elevado no que se refere às empresas elegíveis.

62. Por isso, as medidas de financiamento de risco podem apoiar o acesso a financiamento de risco num montante superior ao máximo global de [10] milhões de EUR por empresa, desde que o montante de financiamento por empresa previsto no âmbito da medida de financiamento de risco reflita a dimensão e a natureza do défice de financiamento identificado na avaliação ex ante. A Comissão terá em conta a natureza capital-intensiva dos setores visados – por exemplo, investimentos em ciências da vida ou em energia verde.

e) Plataformas de negociação alternativas que não preenchem as condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria

63. A Comissão reconhece que as plataformas de negociação alternativas são uma parte importante do mercado de financiamento das PME, pois atraem novos capitais para as PME, por um lado, e facilitam a saída dos primeiros investidores, por outro32. O

32 A Comissão reconhece a importância crescente das plataformas de financiamento coletivo

(crowdfunding) na atração de financiamento para empresas em fase de arranque. Assim, se existir uma falha de mercado identificada e nos casos em que uma plataforma de financiamento coletivo conta com um operador que é uma entidade legal separada, a Comissão pode aplicar, por analogia, as regras

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Regulamento Geral de Isenção por Categoria reconhece a sua importância, facilitando a respetiva atividade, quer através de incentivos fiscais destinados a investidores privados que investem em empresas não cotadas através destas plataformas, quer autorizando o auxílio ao arranque das próprias plataformas, sob condição de as plataformas se qualificarem como PME e não superarem os limiares estabelecidos no artigo 20.º do Regulamento Geral de Isenção por Categoria.

64. No entanto, os operadores de plataformas de negociação alternativas podem não ser necessariamente PME no momento em que são criadas. Da mesma forma, o montante máximo de auxílio admissível como auxílio ao arranque nos termos do Regulamento Geral de Isenção por Categoria pode não ser suficiente para apoiar a criação e os cinco primeiros anos de operação da plataforma. Finalmente, a plataforma pode não só incluir PME na aceção da definição de PME, mas também empresas que ultrapassem os limiares estabelecidos na definição de PME.

65. Por isso, pode justificar-se, em determinadas condições, apoiar plataformas que não sejam PME, para permitir um montante de investimento destinado à criação de plataformas de negociação alternativas superior ao previsto no Regulamento Geral de Isenção por Categoria, ou para permitir o auxílio às plataformas de negociação alternativas que transacionam predominantemente ações de PME. Tais bolsas de valores especializadas não só atraem novos investimentos privados para as empresas, como também facilitam a saída bem-sucedida dos investidores iniciais. Tal está em conformidade com o objetivo político de apoio ao acesso das PME ao financiamento através de uma cadeia de financiamento isenta de descontinuidades.

66. A avaliação ex ante deve demonstrar a existência de uma falha de mercado específica que afeta essas plataformas no mercado geográfico relevante. Além disso, a estratégia empresarial proposta para a plataforma deve mostrar que, devido a uma persistente inexistência de empresas cotadas em tais plataformas e, assim, a uma falta de liquidez, a plataforma em questão necessita de apoio no curto prazo, apesar da sua viabilidade a longo prazo.

3.3.2. Medidas cujos parâmetros de conceção não cumprem o Regulamento Geral de Isenção por Categoria

a) Medidas com participação de investidores privados inferior aos rácios previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria

67. As falhas de mercado que afetam as empresas em determinadas regiões ou Estados-Membros podem ser mais acentuadas devido ao subdesenvolvimento relativo do mercado de financiamento das PME em tais áreas, em comparação com outras regiões do mesmo Estado-Membro ou de outros Estados-Membros. Tal pode verificar-se particularmente em Estados-Membros onde não há uma presença sólida de investidores formais de capital de risco ou de investidores providenciais (business angels). Assim, o objetivo de incentivar o desenvolvimento de um mercado eficiente de financiamento das PME nessas regiões e de superar as barreiras estruturais que podem impedir o acesso eficaz ao financiamento de risco pelas PME que operam nessas regiões pode justificar uma posição mais favorável da Comissão relativamente a medidas que permitam uma participação dos

aplicáveis às plataformas de negociação alternativas. Tal aplica-se igualmente aos incentivos fiscais ao investimento através de tais plataformas de financiamento coletivo. À luz do recente surgimento do financiamento coletivo na União, as medidas de financiamento de risco envolvendo o financiamento coletivo são suscetíveis de ser objeto de uma avaliação, como mencionado na secção 4 das presentes Orientações.

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investidores privados inferior aos rácios previstos no artigo 19.º, n.º 10, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria.

68. No que se refere a medidas que visam especificamente as PME anteriormente às suas primeiras vendas comerciais, a Comissão pode aceitar que o nível requerido de participação do setor privado seja de caráter não independente. Tal ocorre se a participação privada for realizada, por exemplo, pelo proprietário da empresa beneficiária.

69. No caso dos intermediários financeiros centrados em empresas elegíveis em diferentes fases de desenvolvimento cujo nível requerido de participação do investidor privado é diferente, como previsto no artigo 19.º, n.º 10, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, os Estados-Membros podem calcular uma taxa de alavancagem tendo em conta a estratégia empresarial do intermediário financeiro e a carteira prevista, conforme definido no artigo 19.º, n.º 10, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria. Os Estados-Membros devem fiscalizar e assegurar, de forma contínua, que a taxa de alavancagem média assim calculada é respeitada.

b) Medidas com parâmetros de conceção financeira superiores aos limites máximos previstos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria

70. Nos termos do artigo 19.º, n.º 11, alíneas a) e b), do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, o benefício da isenção por categoria está reservado para medidas no âmbito das quais a partilha não pari passu de perdas entre investidores públicos e privados está estruturada de forma a limitar a primeira perda assumida pelos primeiros a [20 %] do total do investimento. Da mesma forma, no caso das garantias, a isenção por categoria só se aplica se a taxa de garantia for limitada a [50 %] e as perdas totais assumidas pelo investidor público forem limitadas a [20 %] da carteira garantida subjacente.

71. No entanto, em determinadas circunstâncias, ao assumir uma posição de financiamento mais arriscada, o financiamento público pode permitir que os investidores ou mutuantes privados disponibilizem financiamento adicional. Ao apreciar as medidas com parâmetros de conceção financeira que excedem os limites referidos no ponto 70 supra, a Comissão terá em conta uma série de fatores.

72. Em primeiro lugar, é importante o nível da estrutura de financiamento ao qual a medida visa alavancar o capital privado. Ao nível do fundo de fundos, a capacidade de atrair financiamento privado, em particular junto de investidores institucionais, pode depender de uma utilização mais extensiva de mecanismos de proteção face a evolução desfavorável. Por outro lado, uma dependência excessiva de tais mecanismos pode distorcer a seleção das empresas elegíveis e levar a resultados ineficientes, em especial nos casos em que os investidores privados intervêm ao nível do investimento nas empresas e transação a transação.

73. Em segundo lugar, para provar a necessidade de condições específicas que sustentam a conceção da medida, os Estados-Membros podem ter de apresentar provas que demonstrem que, no processo de seleção de investidores privados, todos os participantes exigiram condições para além das estabelecidas no Regulamento Geral de Isenção por Categoria, ou que o processo de seleção não foi conclusivo.

74. Em terceiro lugar, ao apreciar a necessidade da conceção específica da medida, a Comissão pode ter em conta a importância do risco residual incorrido pelos investidores privados selecionados em relação às perdas esperadas e inesperadas assumidas pelo investidor público, bem como a repartição dos retornos esperados entre o último e os primeiros. Assim, é possível aceitar-se um perfil de risco/retorno

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diferente, desde que o mesmo maximize o efeito de alavanca sem prejudicar a procura do lucro inerente às decisões de investimento.

c) Medidas de seleção de investidores, intermediários financeiros e respetivos gestores que dão preferência à proteção face a evolução desfavorável em detrimento da partilha assimétrica dos lucros

75. De acordo com o artigo 19.º, n.º 11, alínea a), do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, a seleção de investidores, intermediários financeiros e seus gestores deve basear-se num processo de seleção aberto, transparente e não discriminatório, que defina claramente os objetivos políticos prosseguidos pela medida e o tipo de parâmetros financeiros estruturados para realizar tais objetivos. Neste contexto, a seleção deve ser entendida como uma forma de escolha dos intermediários financeiros e dos seus gestores através de um procedimento aberto, transparente e não discriminatório, esperando-se que atraia os investidores com o mínimo auxílio estatal possível, ou com uma divergência mínima do princípio pari passu. Para tal, deve estabelecer-se um verdadeiro diálogo concorrencial com as entidades dispostas a comprometer recursos no âmbito da medida financiamento de risco, de modo a identificar quais seriam os tipos mais adequados de incentivo (proteção face a evolução desfavorável e incentivos à subida dos lucros) e a intensidade de tais incentivos. Em resultado desse diálogo concorrencial, o gestor seria, então, capaz de apresentar uma estratégia empresarial realista ao tentar ser selecionado.

76. Os Estados-Membros são obrigados a publicar, entre os critérios de avaliação aplicáveis aos gestores, o requisito de que «a participação nos lucros receberá preferência relativamente à proteção face a evolução desfavorável» a fim de limitar uma inclinação para a assunção de riscos excessivos pelo gestor que seleciona as empresas nas quais o investimento é realizado. Tal destina-se a garantir que, independentemente da forma do instrumento financeiro previsto pela medida, qualquer tratamento preferencial concedido aos investidores ou credores privados tem de ser pesado contra o interesse público, que consiste em assegurar a natureza renovável do capital público empenhado e a sustentabilidade financeira da medida no longo prazo.

77. Em certos casos, porém, pode ser necessário dar preferência à proteção face a evolução desfavorável, designadamente quando a medida visa determinados setores em que a taxa de incumprimento das PME jovens é elevada e/ou os retornos do capital acionista são incertos. Pode ser esse o caso, por exemplo, das medidas destinadas a PME em fase de arranque, dos setores que enfrentam importantes barreiras tecnológicas ou dos setores onde as empresas têm uma elevada dependência de projetos individuais que exigem elevado investimento inicial e que implicam uma elevada exposição ao risco, como as indústrias culturais e criativas. A preferência por mecanismos de proteção face a evolução desfavorável também pode justificar-se relativamente a medidas que operam através de um fundo de fundos e visam atrair investidores privados a este nível.

d) Incentivos fiscais aos investidores empresariais, incluindo os intermediários financeiros ou os respetivos gestores, que atuam como coinvestidores

78. Embora o Regulamento Geral de Isenção por Categoria abranja os incentivos fiscais concedidos aos investidores privados independentes que são pessoas singulares e que disponibilizam financiamento de risco às PME elegíveis direta ou indiretamente, os Estados-Membros podem considerar ser apropriado pôr em prática medidas que aplicam incentivos semelhantes aos investidores empresariais. A diferença reside no facto de estes últimos serem empresas na aceção do artigo

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107.º do Tratado, devendo, assim, estar sujeitos a restrições específicas a fim de garantir que o auxílio ao seu nível permanece proporcional e tem um efeito de incentivo eficaz. No entanto, dadas as prerrogativas de que gozam os Estados-Membros no domínio da fiscalidade direta, tais medidas podem variar consideravelmente entre os Estados-Membros. Assim, não podem ser abrangidas pelas regras de compatibilidade automática do Regulamento Geral de Isenção por Categoria e estão sujeitas a notificação individual.

79. Os intermediários financeiros e os seus gestores podem beneficiar de um incentivo fiscal na medida em que atuem como coinvestidores ou co-mutuantes. Nenhum incentivo fiscal pode ser concedido em relação aos serviços prestados pelo intermediário financeiro ou pelos seus gestores para a implementação da medida.

3.4. Adequação da medida de auxílio

3.4.1. Adequação em comparação com outros instrumentos políticos e outros instrumentos de auxílio

80. A fim de corrigir as deficiências identificadas e contribuir para a realização dos objetivos políticos prosseguidos pela medida, a medida de financiamento de risco proposta deve ser um instrumento adequado em comparação com outros instrumentos políticos que não os auxílios estatais ou outros tipos de instrumentos de auxílio estatal, e simultaneamente distorcer ao mínimo a concorrência. A escolha da medida específica em comparação com outros instrumentos políticos deve ser devidamente justificada pela avaliação ex ante.

81. Como um primeiro passo, a Comissão irá analisar se e em que grau a medida de financiamento de risco pode ser considerada um instrumento adequado em comparação com outros instrumentos políticos que visem incentivar a concessão de financiamento de risco às empresas elegíveis. Os auxílios estatais não são o único instrumento político à disposição dos Estados-Membros para facilitar a concessão de financiamento de risco às empresas elegíveis. Os Estados-Membros podem utilizar outros instrumentos políticos complementares, do lado da oferta e do lado da procura, como medidas regulamentares para facilitar o funcionamento dos mercados financeiros, medidas para melhorar o ambiente de negócios e serviços de consultoria para fomentar a propensão a investir, ou investimentos públicos que satisfazem o teste do operador numa economia de mercado.

82. A avaliação ex ante deve analisar as ações políticas nacionais e europeias existentes e, se possível, previstas, destinadas a corrigir as mesmas falhas de mercado identificadas, tendo em conta a eficácia e a eficiência de outros instrumentos políticos, economias de escala e outros efeitos das políticas. Os resultados da avaliação ex ante devem demonstrar que as falhas de mercado identificadas não podem ser adequadamente corrigidas por outros instrumentos políticos. A medida de financiamento de risco proposta deve ser consistente com o acesso global das PME à política de financiamento do Estado-Membro em causa e complementar outros instrumentos políticos que visem as mesmas necessidades do mercado.

83. Como segundo passo, a Comissão irá analisar se a medida proposta é mais adequada do que os instrumentos de auxílio estatal alternativos para lidar com a mesma falha de mercado. Os auxílios estatais para facilitar a concessão de financiamento de risco podem ser concedidos em várias formas, como instrumentos fiscais seletivos, instrumentos financeiros em condições favoráveis (sub-commercial) ou subsídios diretos. A este respeito, há uma presunção geral de que

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os instrumentos financeiros tendem a implicar menos distorção do que os empréstimos diretos, constituindo, assim, um instrumento mais apropriado. No entanto, existem vários possíveis instrumentos de capital ou de dívida ou garantias com diferentes características de risco e retorno, bem como vários modos de distribuição e estruturas de financiamento, cuja adequação depende da natureza do défice de financiamento visado.

84. Por exemplo, os Estados-Membros devem justificar que os incentivos fiscais destinados aos investidores são mais adequados do que os instrumentos financeiros para lidar com as falhas de mercado identificadas. Da mesma forma, os Estados-Membros devem justificar que a criação de um fundo regional é mais apropriada do que a criação de um fundo nacional ou de um fundo de fundos.

85. A Comissão apreciará se a medida prevê uma estrutura de captação eficiente, tendo em conta a estratégia de investimento do fundo, no sentido de garantir competências que possibilitem operações eficientes. A este respeito, a Comissão considerará favoravelmente medidas que envolvem fundos de fundos que investem em vários fundos subjacentes, desde que os custos globais de gestão resultantes da duplicação dos intermediários financeiros sejam compensados por ganhos de eficiência substanciais. Em geral, essa estrutura de financiamento pode ser mais eficiente em termos de dimensão, escala de investimentos e diversificação da carteira, e, assim, ser mais interessante para os investidores privados relativamente aos fundos menores e/ou regionais.

86. Os fundos de fundos ou as plataformas de negociação alternativas podem ser particularmente eficientes e interessante para os investidores privados se operarem em vários Estados-Membros. Assim, a Comissão considerará favoravelmente os fundos de fundos e as plataformas de negociação alternativas criadas por vários Estados-Membros.

3.4.2. Condições relativas aos instrumentos financeiros 87. Os auxílios estatais na forma de instrumentos financeiros devem mobilizar fundos

adicionais junto dos participantes do mercado e partilhar perdas e ganhos decorrentes da concessão de financiamento de risco entre os participantes públicos e privados de acordo com critérios pré-determinados. A avaliação ex ante deve, de forma razoável, estimar a alavancagem procurada em função das falhas de mercado visadas pela medida, ou seja, o potencial estimado para mobilizar fundos privados adicionais no âmbito de uma carteira ou operação a operação.

88. Rácios mínimos de alavancagem inferiores aos estabelecidos no artigo 19.º, n.º 10, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria só podem ser justificados em função de falhas de mercado mais acentuadas estabelecidas na avaliação ex ante.

89. No caso de instrumentos de capital, não se pode assumir um efeito de incentivo apenas devido ao facto de a medida atrair financiamento do mercado. Pelo contrário, haverá que demonstrar que a medida alavanca financiamento privado adicional que não teria sido concedido noutras condições ou que teria sido concedido em diferentes formas ou montantes ou em termos diferentes.

90. No caso de instrumentos de dívida, tal pode significar empréstimos a PME sem historial, ou a concessão de empréstimos a um número de PME superior ao da carteira normal de empréstimos do intermediário. Para garantir que os instrumentos de dívida não substituem produtos financeiros comerciais, a vantagem deve ser transmitida aos beneficiários finais – por exemplo, na forma de taxas de juros mais

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baixas ou termos e condições melhores do que as que de outra forma seriam aplicadas pelos intermediários.

91. A capacidade de a medida realizar o efeito de alavanca depende, em última análise, da estrutura da medida no que respeita à repartição de riscos e benefícios entre financiadores públicos e privados. A natureza exata dos incentivos deve ser determinada através de um processo aberto e não discriminatório de seleção de investidores e intermediários financeiros. Os gestores de fundos de fundos devem ser obrigados a comprometerem-se legalmente, no âmbito do seu mandato de investimento, a determinar as condições preferenciais num processo concorrencial de seleção de fundos e investidores elegíveis.

92. O intermediário financeiro ou o seu gestor pode coinvestir juntamente com o Estado-Membro um montante que é significativo em termos da base financeira do gestor, desde que se evite qualquer potencial conflito de interesses. Esse coinvestimento pode incentivar o gestor a tomar decisões de investimento adequadas, em consistência com os objetivos políticos definidos. A capacidade de o gestor investir a partir de recursos próprios deve ser um dos critérios de seleção.

93. Os Estados-Membros podem implementar um conjunto de instrumentos financeiros, tais como instrumentos de capital (investimentos de capital próprio ou quase-capital) ou instrumentos de dívida (empréstimos, incluindo empréstimos subordinados e locações) ou garantias de forma não pari passu. Nos casos em que o empréstimo acarreta riscos comparáveis aos de capital, esse financiamento deve ser considerado como um instrumento de investimento de capital próprio ou quase-capital, independentemente da sua forma jurídica (por exemplo, obrigações ou empréstimos convertíveis, ou empréstimos com warrants).

(a) Investimentos de capital próprio

94. Os instrumentos de investimento de capital podem assumir a forma de investimentos de capital próprio ou quase-capital numa empresa, através dos quais o investidor adquire a propriedade de uma parte dessa empresa.

95. Os instrumentos de capital podem ter várias características assimétricas, proporcionando um tratamento diferenciado dos investidores, já que alguns deles podem participar numa parte maior do risco ou do retorno. Para mitigar os riscos dos investidores privados, a medida pode oferecer proteção em caso de evolução favorável (upside protection) (o investidor público renuncia a uma parte do retorno), proteção contra uma parte das perdas (limitação das perdas do investidor privado), ou uma combinação das duas.

96. Como princípio geral, a Comissão dará preferência a uma partilha assimétrica dos lucros em caso de evolução favorável, em combinação com igual exposição a perdas, pois essa estrutura gera mais incentivos para que o investidor privado realize investimentos rentáveis. Tal cria uma melhor convergência de interesses entre investidores públicos e privados. Por outro lado, a proteção face a evolução desfavorável, nos termos da qual o investidor público pode ser exposto ao risco de mau desempenho, pode levar a uma divergência de interesses e a más decisões por parte dos intermediários financeiros e investidores. No entanto, a proteção face a evolução desfavorável pode ser necessária quando os beneficiários visados pertencem a categorias de alto risco.

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97. A Comissão considera que os instrumentos de capital com um limite máximo de retorno33, opção de compra34 e partilha assimétrica de retornos em numerário35 oferecem incentivos adequados, especialmente em situações de falha de mercado menos grave.

98. Os instrumentos de capital com partilha de perdas não pari passu que excedem os limites estabelecidos no Regulamento Geral de Isenção por Categoria só podem ser justificados por medidas que visem falhas de mercado graves identificadas na avaliação ex ante, como as medidas destinadas predominantemente a empresas em fase de arranque. Para evitar uma proteção alargada contra o risco de perda, deve ser estabelecido um limite máximo para o risco de primeira perda a suportar pelo investidor público36. Para garantir a convergência de interesse entre o Estado e os investidores, os intermediários financeiros devem investir na mesma tranche que sofre a primeira perda pelo menos [10 %] do valor investido pelo Estado-Membro. O Estado-Membro apenas pode investir em tranches mais seniores em condições pari passu.

(b) Instrumentos de dívida com financiamento: empréstimos 99. A medida de financiamento de risco pode prever a concessão de empréstimos ao

nível dos intermediários financeiros ou dos beneficiários finais.

100. Os instrumentos de dívida financiados podem assumir diferentes formas, nomeadamente empréstimos subordinados e empréstimos de partilha de risco de carteira. Os empréstimos subordinados podem ser concedidos a intermediários financeiros para fortalecer sua estrutura de capital, com vista à concessão de financiamento adicional às empresas elegíveis. Os empréstimos de partilha de risco de carteira são estruturados para conceder empréstimos a intermediários financeiros que se comprometem a cofinanciar uma carteira de novos empréstimos ou locações às empresas elegíveis até uma determinada taxa de cofinanciamento, em combinação com a partilha, empréstimo a empréstimo (ou locação a locação), dos riscos de crédito da carteira. Em ambos os casos, o intermediário financeiro atua como um coinvestidor nas empresas elegíveis, mas beneficia de tratamento preferencial face ao investidor/mutuante público, pois o instrumento atenua a sua própria exposição a riscos de crédito decorrentes da carteira de crédito subjacente.

101. Em geral, se as características de mitigação de risco do instrumento induzirem o investidor/mutuante público a assumir uma posição de primeira perda superior ao limite de 20 % da carteira de empréstimos subjacente, o que é exigido pelo artigo 19.º, n.º 11, alínea b), do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, a medida só pode justificar-se em caso de uma falha de mercado grave, que deve ser claramente identificada na avaliação ex ante. Na maioria dos casos, a Comissão irá considerar positivamente as medidas que preveem um limite máximo explícito relativamente às primeiras perdas assumidas pelo investidor público, nomeadamente quando esse

33 Retorno com limite máximo para o investidor público a uma taxa mínima (hurdle rate) pré-definida: se

a taxa pré-definida de retorno for excedida, todos os retornos superiores são distribuídos apenas aos investidores privados.

34 Opções de compra sobre ações públicas: aos investidores privados é concedido o direito de exercerem uma opção de compra para comprar a participação do investimento público a um preço de exercício pré-acordado.

35 Partilha assimétrica de retornos em numerário: o numerário é solicitado aos investidores públicos e privados de forma pari passu, mas os eventuais retornos são repartidos de forma assimétrica. Os investidores privados recebem uma parte mais importante das receitas distribuídas do que deveriam receber se se aplicasse a proporção das respetivas participações, até à taxa mínima pré-definida.

36 Tranche que sofre a primeira perda: a tranche de risco com menor grau hierárquico compreendendo as perdas esperadas da carteira visada.

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limite não ultrapassar [30 %]. Além disso, os instrumentos de empréstimos de partilha de risco da carteira devem garantir uma taxa de coinvestimento substancial por parte do intermediário financeiro selecionado. Presume-se ser esse o caso se tal taxa não for inferior a 40 % do valor da carteira de empréstimos subjacente.

102. Se forem usados para refinanciar empréstimos já existentes, os instrumentos de dívida financiados não são considerados geradores de um efeito de incentivo e nenhum elemento de auxílio incorporado em tais instrumentos pode ser considerado compatível com o Tratado.

(c) Instrumentos de dívida sem financiamento: garantias

103. A medida de financiamento de risco pode prever a prestação de garantias aos intermediários financeiros ou aos beneficiários finais. Fora do alcance da cláusula de proteção do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, os instrumentos de garantia em conformidade com as condições estabelecidas nos pontos 104 a 107 serão, regra geral, avaliados positivamente pela Comissão.

104. As garantias devem ser prestadas ao nível de carteira. Em casos devidamente justificados, podem ser prestadas garantias numa base de instrumento de dívida linha a linha. As transações elegíveis cobertas pela garantia devem ser novas operações de crédito de financiamento de risco elegíveis, tais como instrumentos de dívida ou de locação, assim como instrumentos de investimento de quase-capital. Os intermediários financeiros podem selecionar as transações que pretendem incluir na carteira coberta pela garantia, desde que as operações incluídas estejam em conformidade com os critérios de elegibilidade definidos pela medida de financiamento de risco. As garantias devem ser oferecidas a uma taxa que garanta um nível adequado de partilha de risco com os intermediários financeiros.

105. Em geral, os instrumentos de garantia não podem cobrir mais de [80 %] das perdas decorrentes de transações individuais cobertas pela garantia (taxa máxima de garantia). Em casos devidamente justificados, e sujeito aos resultados da avaliação ex ante, a taxa de garantia pode ser superior. Pode ser esse o caso de garantias relativamente a empréstimos ou investimentos de quase-capital em PME anteriormente à sua primeira venda comercial.

106. Apenas garantias limitadas com um limite máximo de pagamento (taxa de limite máximo) na parte garantida da carteira serão declaradas compatíveis pela Comissão. A taxa de limite máximo deve cobrir apenas as perdas esperadas e, apenas nos casos devidamente justificados, pode cobrir também perdas inesperadas. Uma taxa de limite máximo que cobre também os prejuízos inesperados deve ser fixada de forma a refletir a cobertura de risco adicional. A taxa de limite máximo não deve ultrapassar 30 %. As garantias sem limite máximo (garantias com uma taxa de garantia, mas sem taxa de limite máximo) podem ser prestadas em casos devidamente justificados e serão fixadas de modo a refletir a cobertura de risco adicional proporcionada pela garantia.

107. A duração da garantia deverá ser limitada no tempo, num máximo de [10] anos, sem prejuízo do vencimento de instrumentos de dívida individuais cobertos pela garantia, que pode ser mais longo. A garantia pode ser reduzida se o intermediário financeiro não incluir um montante mínimo de investimentos na carteira durante um período específico. Podem ser exigidas comissões de compromisso para montantes não utilizados. Deve recorrer-se a métodos, tais como comissões de compromisso, eventos de ativação ou metas, que incentivem os intermediários a realizar os montantes acordados.

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3.4.3. Condições relativas aos instrumentos fiscais 108. Como referido na secção 3.3.2, alínea d), o âmbito de aplicação do Regulamento

Geral de Isenção por Categoria é limitado aos incentivos fiscais destinados a investidores que sejam pessoas singulares. Assim, estão sujeitas a notificação à Comissão as medidas que recorrem a incentivos fiscais para induzir os investidores empresariais a concederem financiamento às empresas elegíveis, direta ou indiretamente, através da aquisição de participações num fundo específico ou de outros tipos de veículo de investimento coletivo que investem em tais empresas.

109. Como regra geral, os Estados-Membros têm de fundamentar as suas medidas fiscais com base na identificação de uma falha de mercado na avaliação ex ante e orientarem, assim, os seus instrumentos que aplicam para uma categoria claramente definida de empresas elegíveis.

110. Os incentivos fiscais para investidores empresariais podem assumir a forma de reduções fiscais sobre o rendimento e/ou reduções fiscais relativamente a rendimentos do capital e dividendos, incluindo créditos fiscais e diferimentos. Em decisões anteriores, a Comissão tem geralmente considerado compatíveis reduções fiscais sobre o rendimento que incluem limites específicos quanto à percentagem máxima do valor investido que o investidor pode reivindicar para efeitos de reduções fiscais, bem como um montante máximo de imposto que pode ser deduzido das obrigações fiscais do investidor. Além disso, as obrigações fiscais decorrentes de rendimentos de capital obtidos com a alienação de ações já existentes podem ser diferidas se os rendimentos de capital forem reinvestidos em investimentos elegíveis num determinado período, enquanto as perdas decorrentes da alienação de tais ações podem ser deduzidas dos ganhos obtidos com outras ações sujeitas ao mesmo imposto.

111. Em geral, a Comissão considera que medidas fiscais desse tipo são adequadas e, assim, têm um efeito de incentivo se o Estado-Membro puder demonstrar que a seleção das empresas elegíveis se baseia num conjunto bem estruturado de requisitos de investimento devidamente publicitados, definindo as características das empresas elegíveis que estão sujeitas a uma falha de mercado comprovada.

112. Sem prejuízo da possibilidade de prolongar a medida, os regimes fiscais devem ser limitados a dez anos. Se, após dez anos, o regime for prolongado, o Estado-membro deve realizar uma nova avaliação ex ante, juntamente com a avaliação da respetiva eficácia durante o período de execução.

113. Na sua análise, a Comissão terá em conta as características específicas do sistema fiscal nacional relevante; os objetivos do Plano de Ação para fortalecer a luta contra a fraude e a evasão fiscais37; e as duas Recomendações da Comissão relativas ao planeamento fiscal agressivo e às medidas destinadas a incentivar os países terceiros a aplicar as normas mínimas de boa governação em matéria fiscal38. Também deve assegurar-se que as regras relativas ao intercâmbio de informações fiscais entre as administrações fiscais para evitar a fraude e evasão fiscais sejam devidamente aplicadas.

114. A vantagem fiscal deve estar disponível para todos os investidores que preencham os critérios exigidos, sem discriminação quanto ao seu local de estabelecimento,

37 Plano de Ação para reforçar a luta contra a fraude e a evasão fiscais, COM (2012) 722 final 6.12.2012. 38 Recomendação da Comissão de 6.12.2012 relativa ao planeamento fiscal agressivo, C (2012) 8806

final, e Recomendação da Comissão de 6.12.2012 relativa às medidas destinadas a encorajar os países terceiros a aplicar normas mínimas de boa governação, C (2012) 8805 final.

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desde que o país cumpra os padrões mínimos de boa governação em matéria fiscal. Os Estados-Membros devem, assim, assegurar uma publicidade adequada relativamente ao alcance e parâmetros técnicos da medida. Tal deve incluir os necessários limites máximos que definem a vantagem máxima que cada investidor pode obter com a medida, bem como o montante máximo de investimento que pode ser realizado em cada PME elegível.

3.4.4. Condições relativas às medidas de apoio às plataformas de negociação alternativas

115. O apoio aos operadores de plataformas de negociação alternativas pode justificar-se se visar uma falha de mercado que afeta o acesso ao financiamento por parte das empresas elegíveis. A fim de permitir uma análise adequada do efeito de incentivo, o tipo de custos cobertos pelos auxílios estatais deve ser identificado com antecedência, para garantir que esses custos não podem ser totalmente recuperados a curto prazo atendendo ao âmbito das atividades da plataforma e das empresas elegíveis visadas pela plataforma.

116. O operador da plataforma deve apresentar um plano de negócios que demonstre que a plataforma auxiliada se pode tornar autossustentável em menos de [10] anos. Além disso, a notificação deve incluir cenários contrafactuais plausíveis que comparem as situações com as quais as empresas negociáveis seriam confrontadas, na ausência de auxílio e na presença de auxílio, em termos de acesso ao financiamento necessário.

3.5. Efeito de incentivo do auxílio

117. Os auxílios estatais só podem ser considerados compatíveis com o Tratado se gerarem um efeito de incentivo que altere o comportamento do beneficiário do auxílio, de tal forma que este realiza atividades que não realizaria não existindo auxílio ou que realizaria de forma mais restritiva devido à falha de mercado. No que se refere às empresas elegíveis, ocorre um efeito de incentivo quando o beneficiário final pode obter financiamento que de outro modo não estaria disponível em termos de forma, montante ou tempo.

118. A medida de financiamento de risco deve incentivar os investidores do mercado a concederem financiamento às empresas elegíveis potencialmente viáveis num montante superior aos níveis atuais e/ou assumir risco adicional. Considera-se que existe um efeito de incentivo se a medida de financiamento de risco mobilizar investimentos de participantes no mercado, de tal forma que o financiamento total oferecido às empresas elegíveis excede o orçamento da medida. Assim, um elemento crucial na seleção dos intermediários financeiros deve ser a sua capacidade de mobilizar investimento privado adicional.

119. Ao avaliar se existe um efeito de incentivo, há uma estreita ligação com a avaliação da falha de mercado discutida na secção 3.3. Além disso, o potencial da medida para atingir o efeito de alavanca depende, em última análise, da conceção da medida no que respeita à repartição dos riscos e benefícios entre os financiadores públicos e privados, o que também está estreitamente relacionado com a questão de saber se a medida de auxílio é apropriada. Assim, uma vez que a falha de mercado tenha sido devidamente identificada e que a medida disponha de uma conceção adequada, pode-se supor a presença de um efeito de incentivo.

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3.6. Proporcionalidade dos auxílios (limitação do auxílio ao mínimo

necessário)

120. Os auxílios estatais devem ser proporcionais à falha de mercado a corrigir para atingir os objetivos políticos. Devem ser estruturados de uma forma eficiente, em conformidade com os princípios da boa gestão financeira. Para uma medida de auxílio ser considerada proporcional, o auxílio deve ser limitado ao mínimo estritamente necessário para atrair financiamento a partir do mercado para colmatar o défice de financiamento identificado sem gerar vantagens indevidas.

121. Como regra geral, ao nível dos beneficiários finais, o auxílio de financiamento de risco é considerado proporcional se o montante total do financiamento sindicado (público e privado) prestado ao abrigo da medida é limitado à dimensão do défice de financiamento identificado na avaliação ex ante. Ao nível dos investidores, o auxílio deve ser limitado ao mínimo necessário para atrair o capital privado, a fim de alcançar o efeito de alavancagem mínimo e preencher o défice de financiamento.

122. Mais especificamente, a Comissão considera que a medida é proporcional se todas as condições estabelecidas nos pontos 123 a 137 estiverem preenchidas.

3.6.1. Condições relativas aos instrumentos financeiros (a) Limites à partilha da relação risco-retorno entre investidores públicos e

privados

123. A medida deve garantir um equilíbrio entre as condições preferenciais oferecidas por um instrumento financeiro para maximizar o efeito de alavanca e corrigir a falha de mercado identificada, por um lado, e a necessidade de o instrumento gerar retornos financeiros suficientes para se manter operacionalmente viável, por outro.

124. A Comissão considera que, sempre que os retornos ajustados pelo risco assimétricos ou a partilha assimétrica da relação risco-retorno forem estabelecidos através de um processo de seleção aberto, transparente e não discriminatório destinado a selecionar os investidores privados, esses retornos ou essa partilha são proporcionais e refletem uma taxa de remuneração justa (TRJ). A Comissão considera que um processo de seleção bem conduzido é sempre a melhor maneira de definir a TRJ.

125. Se os investidores privados não forem selecionados através de um concurso, de forma a evitar o excesso de remuneração dos investidores e dos intermediários financeiros, conforme o caso, a TRF deve ser fixada por um perito independente, recorrendo a análise de índices de referência de mercado e de risco de mercado, utilizando a metodologia de avaliação do fluxo de caixa descontado. Com base nisso, o perito independente deve calcular um nível mínimo de TRJ e adicionar-lhe a margem adequada para refletir os riscos.

126. Nesse caso, devem ser definidas regras adequadas para nomear o perito independente que irá estabelecer a TRJ. No mínimo, o perito deve estar autorizado a prestar tal aconselhamento, estar registado junto das associações profissionais relevantes, respeitar as regras deontológicas e profissionais criadas por essas associações, ser independente e ser responsável pela exatidão do seu aconselhamento. Em princípio, os peritos independentes serão selecionados através de um processo de seleção aberto, transparente e não discriminatório. Não se poderá recorrer ao mesmo perito independente duas vezes num período de [5] anos.

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127. Em face do exposto, a conceção da medida pode incluir vários investimentos públicos e privados com partilha assimétrica dos lucros ou distribuição assimétrica no tempo, desde que os retornos ajustados pelo risco esperados no que se refere aos investidores privados não ultrapassem a TRF.

(b) Remuneração dos intermediários financeiros, gestores e entidades mandatadas

128. Como princípio geral, a Comissão considera que a convergência económica dos interesses do Estado e dos intermediários financeiros, dos seus gestores ou das entidades mandatadas, conforme o caso, pode minimizar o auxílio. Os interesses em causa devem estar em convergência em termos do cumprimento das metas políticas específicas e em termos do desempenho financeiro do instrumento público.

129. A remuneração do intermediário financeiro ou do respetivo gestor, conforme o caso, deverá incluir uma componente significativa baseada no desempenho, capaz de recompensar o desempenho financeiro e a realização das metas específicas da política previamente definidas. O nível das comissões baseadas no desempenho deve justificar-se com base na prática do segmento de mercado visado e na estratégia de investimento. Os gestores devem ser remunerados não apenas por uma colocação bem-sucedida (desembolso) e pelo montante de capital privado mobilizado, mas também por retornos bem-sucedidos sobre o investimento, tais como a obtenção de receitas e de capital superior a uma determinada taxa mínima de retorno (hurdle rate).

130. O total das comissões de administração não deve exceder os custos operacionais e de administração necessários para a execução do instrumento financeiro em causa, cobrindo os custos de uma forma sustentável, em conformidade com as práticas de mercado e sem distorcer a convergência dos interesses. As comissões não podem incluir os custos de investimento.

131. Os intermediários financeiros, os seus gestores, ou as entidades mandatadas, conforme o caso, devem ser selecionados através de um processo de seleção aberto, transparente e não discriminatório. A estrutura geral das comissões do intermediário financeiro, dos seus gestores ou da entidade mandatada pode então ser avaliada como parte integrante da classificação inerente ao processo de seleção, podendo a remuneração máxima ser fixada em resultado de tal seleção.

132. Em casos devidamente justificados, a seleção do intermediário financeiro, do respetivo gestor ou da entidade mandatada pode ser realizada sem recurso a um processo de seleção aberto, podendo aqueles ser designados através de um procedimento alternativo adequado. É este, nomeadamente, o caso do BEI, do FEI ou das entidades mandatadas. Tal designação pode justificar-se quando não tenham sido apresentadas propostas adequadas na sequência de um processo de seleção aberto a entidades potenciais. Além disso, pode justificar-se um processo de negociação quando uma medida de financiamento de risco com características específicas requer um determinado tipo de entidade com competência técnica específica e elevado grau de especialização.

133. Na ausência de um procedimento de seleção aberto, os custos totais de gestão e as comissões do intermediário financeiro ou dos seus gestores ou da entidade mandatada devem ter limites máximos. No caso de instrumentos financeiros que implicam investimentos de capital próprio, a remuneração total do gestor do fundo não deve, em princípio, exceder [3] % do capital a ser contribuído para o fundo.

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3.6.2. Condições relativas aos instrumentos fiscais 134. A Comissão considera que as reduções fiscais que não preenchem todas as

condições do Regulamento Geral de Isenção por Categoria devem, para serem consideradas proporcionais, satisfizer as condições estabelecidas nos pontos 135 a 137:

135. O investimento total por cada empresa beneficiária não pode exceder [10] milhões de EUR no total.

136. Em termos de redução do imposto sobre o rendimento, os investidores que financiam empresas elegíveis podem beneficiar de uma redução fiscal até [30 %] do valor investido em investimentos elegíveis, desde que o máximo da obrigação fiscal do investidor anterior à vigência do regime de incentivo não seja excedido. As perdas com alienação de ações podem ser deduzidas ao imposto sobre o rendimento. No que se refere a reduções fiscais em matéria de dividendos, os dividendos recebidos por conta de ações elegíveis podem ser totalmente isentados de imposto sobre o rendimento. Da mesma forma, no que se refere a reduções fiscais relativamente a rendimentos do capital, qualquer ganho decorrente da venda de ações elegíveis pode ser totalmente isentado de imposto sobre rendimentos do capital. A obrigação fiscal decorrente de rendimentos do capital obtidos com a alienação de ações elegíveis existentes pode ser diferida se esses rendimentos do capital forem reinvestidos em ações elegíveis no prazo de [1] ano.

137. Independentemente do tipo de redução fiscal, as ações elegíveis devem ser novas ações ordinárias com risco total que constituam participação no capital dos beneficiários finais definidos na avaliação ex ante e devem ser mantidas pelo menos durante [3-5] anos. A redução fiscal não pode estar disponível para os investidores que não são independentes da empresa objeto do investimento.

3.7. Evitamento de efeitos negativos significativos sobre a concorrência e o comércio

138. Os auxílios estatais devem ser estruturados de forma a limitar as distorções da concorrência e a manter um mercado interno aberto e competitivo. Na prática, tal conduz à exclusão de determinadas medidas e à identificação de casos em que os efeitos negativos são suscetíveis de compensar quaisquer efeitos positivos. Em outros casos, os efeitos negativos têm de ser comparados com os efeitos positivos da medida. No caso do financiamento de medidas de risco, os potenciais efeitos negativos têm de ser apreciados em cada um dos níveis nos quais o auxílio possa estar presente: os investidores, os intermediários de investimento e os seus gestores e os beneficiários finais.

139. Para habilitar a Comissão a avaliar os eventuais efeitos negativos, o Estado-Membro pode apresentar estudos de que disponha, bem como avaliações ex post realizada para regimes semelhantes, no que se refere a empresas elegíveis, estruturas de financiamento semelhantes ou parâmetros estruturais e áreas visadas.

140. Em primeiro lugar, ao nível do mercado de concessão de financiamento de risco, os auxílios estatais podem resultar no afastamento do investimento privado. Tal pode reduzir os incentivos para que os investidores privados concedam financiamento às empresas elegíveis e incentivá-los a aguardar até que o Estado conceda auxílios a tais investimentos. Este risco torna-se mais relevante quanto maior o valor do total do financiamento destinado aos beneficiários finais, quanto maior a dimensão dessas empresas beneficiárias e quanto mais avançado for o seu estágio de

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desenvolvimento, pois o financiamento privado torna-se progressivamente disponível nessas circunstâncias. Além disso, os auxílios estatais não devem substituir o risco comercial normal dos investimentos que os investidores teriam realizado mesmo na ausência de auxílios estatais. No entanto, na medida em que a falha de mercado tenha sido devidamente definida, é menos provável que a medida de financiamento de risco resulte nesse afastamento do investimento privado.

141. Em segundo lugar, ao nível dos intermediários financeiros, o auxílio pode ter efeitos de distorção em termos de aumento ou da manutenção do poder de mercado de um intermediário – por exemplo, no que diz respeito a servir o mercado numa região particular. Mesmo que o auxílio não reforce substancialmente o poder de mercado de forma direta, poderá fazê-lo indiretamente, desencorajando a expansão dos concorrentes existentes, induzindo a saída dos mesmos do mercado ou desencorajando a entrada de novos concorrentes.

142. Em especial, quando um Estado-Membro designa um intermediário financeiro público num processo de seleção aberto, transparente e não discriminatório, a Comissão prestará especial atenção ao poder de mercado detido pelo intermediário selecionado no mercado relevante e aos potenciais efeitos negativos sobre a concorrência, particularmente os efeitos de afastamento dos intermediários financeiros privados.

143. A medida de financiamento de risco deve visar empresas orientadas para o crescimento que, apesar de serem potencialmente viáveis e de terem perspetivas de crescimento, são incapazes de mobilizar o nível adequado de financiamento a partir de recursos privados. Assim, uma medida que prevê a criação de um fundo público cujo plano de negócios não demonstra suficientemente a viabilidade das empresas elegíveis visadas, e no âmbito da qual, consequentemente, o auxílio de financiamento de risco tende a funcionar mais como um subsídio, provavelmente não satisfará o teste do equilíbrio.

144. A fim de evitar o risco de manter estruturas de mercado ineficientes, os fundos de investimento de pequena escala, com enfoque regional limitado e sem mecanismos de governação adequados, serão analisados em relação à sua eficiência. Os regimes regionais de financiamento de risco podem não ter a escala e o alcance suficientes devido a uma diversificação insuficiente, o que poderia reduzir a sua eficiência e resultar na concessão de auxílios às empresas menos viáveis devido à inexistência de um número suficiente de empresas elegíveis como objeto de investimento. Tais investimentos poderiam distorcer a concorrência e oferecer vantagens indevidas a certas empresas.

145. Em terceiro lugar, ao nível dos beneficiários finais, a Comissão irá apreciar se a medida tem efeitos de distorção nos mercados de produtos em que essas empresas competem. Por exemplo, a medida pode distorcer a concorrência se visar empresas em setores com baixo desempenho. Uma expansão substancial de capacidade induzida por um auxílio estatal num mercado de baixo desempenho pode, em particular, distorcer indevidamente a concorrência, pois a criação ou manutenção de excesso de capacidade pode levar a uma redução das margens de lucro, a uma redução de investimentos dos concorrentes ou inclusivamente à sua saída do mercado. Também pode impedir as empresas de entrar no mercado. Tal resulta em estruturas de mercado ineficientes, que também são prejudiciais para os consumidores no longo prazo. Se o mercado nos setores visados está em crescimento, há, normalmente, menos motivos de preocupação quanto à possibilidade de o auxílio afetar negativamente incentivos dinâmicos ou de impedir indevidamente a saída ou a entrada no mercado.

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146. Os auxílios estatais podem impedir que os mecanismos de mercado gerem resultados eficientes através da recompensa dos produtores mais eficientes e da imposição de pressão sobre os menos eficientes no sentido da melhoria, reestruturação ou saída do mercado. A receção de auxílio por parte de empresas ineficientes pode impedir que outras empresas entrem no mercado ou se expandam no mesmo, o que, por sua vez, pode enfraquecer os incentivos à inovação com que se deparam os concorrentes. Na medida em que as medidas de auxílio ao financiamento de risco forem estruturadas de forma a que apenas as empresas mais viáveis e promissoras sejam selecionadas, esse risco parece, no entanto, ser bastante limitado.

147. A Comissão irá também apreciar quaisquer potenciais efeitos negativos de deslocalização. A este respeito, a Comissão irá analisar se os fundos regionais são suscetíveis de incentivar a deslocalização no mercado interno. Quando as atividades do intermediário financeiro estão concentradas numa região não assistida que faz fronteira com regiões assistidas, ou com uma região que recebe maior ou igual intensidade de auxílios regionais relativamente à região visada, o risco de tal distorção é mais acentuado. Uma medida regional de financiamento de risco centrada apenas em alguns setores também pode ter efeitos negativos de deslocalização.

148. Se a medida tiver efeitos negativos, o Estado-Membro deve identificar os meios para minimizar tais distorções. Por exemplo, o Estado-Membro pode demonstrar que os efeitos negativos serão limitados ao mínimo, tendo em conta, por exemplo, a dimensão do montante global do investimento, os beneficiários esperados e as características dos setores visados. Ao pesar os efeitos positivos e negativos, a Comissão terá também em conta a magnitude dos efeitos positivos.

149. A Comissão apenas aplicará os princípios estabelecidos nas presentes Orientações a regimes de financiamento de risco. Esses princípios não serão aplicados em relação a medidas pontuais que concedam financiamento de risco a empresas individuais.

150. É importante lembrar que, com exceção dos incentivos fiscais aplicáveis aos investimentos diretos em empresas elegíveis, as medidas de auxílio ao financiamento de risco envolvem sempre intermediários financeiros. Assim, uma medida no âmbito da qual o Estado-Membro ou uma entidade pública realiza investimentos diretos em empresas sem a participação de intermediários financeiros não pode ser declarada compatível com o mercado interno nos termos das regras em matéria de auxílios estatais ao financiamento de risco.

151. Atendendo ao historial mais sólido das grandes empresas e às garantias que as mesmas acumularam ao longo do tempo, a Comissão não considera que haja uma falha geral do mercado relacionada com o respetivo acesso ao financiamento. Como referido na secção 3.3.1, alínea a), as pequenas empresas de média capitalização que já não são abrangidas pela definição de PME em consequência da concretização bem-sucedida dos seus planos de crescimento podem enfrentar restrições de financiamento iguais ou semelhantes às enfrentadas por outras PME jovens. Conforme mencionado na secção 3.3.1, alínea b), supra, as empresas de média capitalização inovadoras que realizam projetos em matéria de I&D e inovação poderão também enfrentar restrições de financiamento ao tentarem comercializar os resultados dessas atividades. Por isso, pode ser necessário permitir auxílio ao financiamento de risco nesse caso.

152. O auxílio ao financiamento de risco não pode ser atribuído a empresas oficialmente cotadas numa bolsa de valores ou num mercado regulado, uma vez que o facto de

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serem cotadas demonstra a respetiva capacidade de atrair financiamento privado. Além disso, na maioria dos casos, as empresas cotadas em bolsa de valores são geralmente grandes empresas que não são abrangidas pelas presentes Orientações.

153. Em caso de ausência total de investidores privados, as medidas de auxílio ao financiamento de risco não serão declaradas compatíveis. Nesses casos, o Estado-Membro deve considerar opções políticas alternativas que possam ser mais adequadas para realizar os mesmos objetivos e obter os mesmos resultados, tais como auxílios regionais ao investimento ou auxílios a empresas em fase de arranque.

154. Não serão declaradas compatíveis as medidas de auxílio ao financiamento de risco no âmbito das quais não é assumido um risco considerável pelos investidores privados e/ou no âmbito das quais o fluxo de benefícios é inteiramente destinado aos investidores privados. A partilha dos riscos e dos benefícios é uma condição necessária para limitar a exposição financeira do Estado e garantir um retorno justo para o Estado. É também necessário garantir que as decisões de investimento são tomadas de uma forma orientada para o lucro e que os auxílios estatais não substituem o risco normal do negócio.

155. Sem prejuízo da concessão de auxílio ao financiamento de risco na forma de apoio a capital de substituição, na aceção no artigo 19.º, n.º 6, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, o auxílio ao financiamento de risco não pode ser utilizado para financiar aquisições (buyouts).

156. Além disso, o auxílio ao financiamento de risco não será considerado compatível com o mercado interno se concedido a:

(a) empresas em dificuldade, tal como definidas pelas Orientações comunitárias relativas aos auxílios estatais de emergência e à reestruturação de empresas em dificuldade39, conforme alteradas ou substituídas;

(b) empresas que tenham recebido um auxílio estatal ilegal que não tenha sido totalmente reembolsado;

(c) empresas dos setores do carvão, do aço e das fibras sintéticas40.

157. As presentes Orientações não são aplicáveis a auxílios concedidos a atividades relacionadas com a exportação, nomeadamente auxílios diretamente associados às quantidades exportadas, à criação e funcionamento de uma rede de distribuição ou a outras despesas correntes associadas à atividade de exportação, bem como a auxílios subordinados à utilização preferencial de bens nacionais face aos bens importados.

158. A Comissão não aplicará os princípios estabelecidos nas presentes Orientações a medidas que impliquem, em si mesmas, em decorrência das condições que lhes sejam associadas ou do respetivo método de financiamento, uma violação indissociável do direito da União41, particularmente:

(a) medidas no âmbito das quais o auxílio está sujeito à obrigação de utilizar bens produzidos nacionalmente ou serviços nacionais;

39 JO C 244 de 1.10.2004, p. 2, tal como prorrogado pelo JO C 156 de 9.7.2009, p. 3 e JO C 296 de

2.10.2012, p. 3. 40 Conforme definido no anexo I do Regulamento Geral de Isenção por Categoria. 41 Ver, por exemplo, Processo C-156/98 Alemanha/Comissão, Coletânea 2000, p. I-6857, n.º 78, e

Processo C-333/07 Régie Networks/Rhone Alpes Bourgogne, Coletânea 2008, p. I-10807, n.os 94-116.

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(b) medidas que violam o artigo 49.º do Tratado sobre a liberdade de estabelecimento, quando o auxílio está sujeito à obrigação de os intermediários financeiros, os seus gestores ou os beneficiários finais terem a sua sede na área visada ou mudar a sede para essa área (região ou Estado-Membro). Tal não prejudica o requisito de que os intermediários financeiros ou os seus gestores disponham da autorização necessária para realizar atividades de investimento e gestão no Estado-Membro em causa ou de que os beneficiários finais tenham um estabelecimento na área visada e aí realizem atividades económicas;

(c) medidas que violam o artigo 63.º do Tratado sobre a livre circulação de capitais.

159. De acordo com o artigo 19.º, n.º 7, do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, não mais de 30 % do total das contribuições de capital e do capital comprometido não realizado pode ser usado para fins que não a concessão de financiamento de risco às empresas elegíveis. As medidas de financiamento de risco não podem ser declaradas compatíveis se esse limite for ultrapassado.

3.8. Transparência

160. Os Estados-Membros devem publicar num sítio Web central, ou num sítio Web único que receba informações de vários sítios Web (por exemplo, sítios Web regionais), pelo menos as seguintes informações sobre as medidas de auxílio ao financiamento de risco notificadas: o texto do regime de auxílios notificado e as suas disposições de aplicação, a autoridade que concede o auxílio, o montante total da participação do Estado na medida, as designações dos intermediários selecionados, a metodologia para o cálculo da remuneração dos gestores, bem como os custos de gestão e as comissões efetivamente pagas, as designações dos beneficiários individuais, bem como os volumes e as formas de financiamento concedidos a cada beneficiário. Essas informações devem ser publicadas após a decisão de concessão de auxílio ser tomada, conservadas durante pelo menos durante dez anos e estar disponíveis para o público em geral, sem restrições42. As regras de transparência não se aplicam a beneficiários de auxílio que sejam pessoas singulares.

3.9. Acumulação

161. O auxílio ao financiamento de risco pode ser acumulado com qualquer outro auxílio estatal com custos elegíveis identificáveis.

162. O auxílio ao financiamento de risco aprovado em conformidade com as presentes Orientações não pode ser acumulado com os auxílios de minimis, independentemente da sua forma, ou com qualquer auxílio ao financiamento de risco concedido em conformidade com os artigos 19.º, 20.º ou 21.º do Regulamento Geral de Isenção por Categoria, nem com os auxílios ao capital de risco concedidos ao abrigo do Regulamento Geral de Isenção por Categoria de 2008.

163. O auxílio ao financiamento de risco aprovado em conformidade com as presentes Orientações pode ser acumulado com outros auxílios ao financiamento de risco concedidos no âmbito de outra medida de financiamento de risco aprovada à luz das presentes Orientações, ou com uma medida de capital de risco aprovada no

42 Estas informações devem ser regularmente atualizadas (por exemplo, numa base semestral) e

disponibilizadas em formato de acesso livre.

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âmbito das Orientações relativas ao capital de risco, até ao montante global de investimento por beneficiário final aprovado em qualquer uma das respetivas medidas.

164. O financiamento da União gerido centralmente pela Comissão que não esteja, direta ou indiretamente, sob o controlo dos Estados-Membros não constitui um auxílio estatal, pelo que não deve ser tido em conta para efeitos de acumulação.

4. AVALIAÇÃO 165. Para garantir que as distorções da concorrência e do comércio são limitadas, a

Comissão pode requerer que determinados regimes estejam sujeitos a uma duração limitada (ver ponto 39) e a uma avaliação, tal como estabelecido nos pontos 166 a 167. Tal avaliação deve:

(a) apurar se os pressupostos e as condições subjacentes à avaliação ex ante que levaram à decisão de compatibilidade foram concretizados;

(b) avaliar a eficácia da medida de auxílio em função dos seus objetivos e dos indicadores gerais e específicos pré-definidos; e

(c) considerar o impacto da medida de financiamento de risco sobre os mercados e a concorrência.

166. Pode ser necessária uma avaliação relativamente aos seguintes regimes de auxílio:

(a) grandes regimes;

(b) regimes com enfoque regional;

(c) regimes com enfoque setorial muito estrito;

(d) regimes que são modificados e cuja modificação tem impacto nos critérios de elegibilidade, no montante de investimento ou noutros parâmetros de conceção financeira; a avaliação deve ser apresentada como parte da notificação;

(e) regimes com características inovadoras, em particular no que diz respeito aos canais de financiamento;

(f) regimes relativamente aos quais a Comissão solicite uma avaliação na decisão que aprova a medida, à luz dos seus potenciais efeitos negativos.

167. A avaliação deve ser realizada por um perito independente da autoridade que concede o auxílio estatal, com base numa metodologia comum43 e deve ser tornada pública. A avaliação tem de ser apresentada à Comissão atempadamente, a fim de permitir a apreciação da eventual prorrogação do regime de auxílio e, em todo o caso, no termo do regime. O âmbito exato e a metodologia a utilizar na avaliação devem ser definidos na decisão que aprova o regime de auxílio. Qualquer medida de auxílio posterior, com um objetivo semelhante, deve ter em conta os resultados dessa avaliação.

43 Essa metodologia comum pode ser fornecida pela Comissão.

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5. DISPOSIÇÕES FINAIS

5.1. Entrada em vigor e aplicabilidade das regras

168. As presentes Orientações entram em vigor no dia da sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia e, nesse dia, substituirão as Orientações relativas ao capital de risco44.

169. A Comissão aplicará os princípios contidos nas presentes Orientações para apreciar a compatibilidade de todos os auxílios ao financiamento de risco a ser concedidos após a entrada a sua em vigor. Os auxílios ao financiamento de risco concedidos ilegalmente ou a ser concedidos antes da entrada em vigor das presentes Orientações serão apreciados de acordo com as regras em vigor na data em que foi concedido o auxílio. A Comissão aplicará os princípios estabelecidos nas presentes Orientações em matéria de auxílios ao financiamento de risco até 31 de dezembro de 2020.

170. Para efeitos da aplicação das regras relativas aos auxílios estatais, no caso de medidas de financiamento de risco financeiro, a data de concessão do auxílio é a data na qual os recursos do Estado são comprometidos junto do intermediário financeiro – e não o investimento efetivo nos beneficiários finais – ou seja, a data da assinatura do acordo de financiamento com o intermediário financeiro. Assim, um intermediário financeiro que foi constituído antes da entrada em vigor das presentes Orientações, mas que obtém um compromisso adicional de recursos do Estado após a entrada em vigor das mesmas, deve investir de acordo com as regras estabelecidas nas presentes Orientações.

171. No que se refere às medidas de financiamento de risco de natureza fiscal, a data de concessão do auxílio aos investidores, aos intermediários financeiros ou aos seus gestores, quando aplicável, é a data de aplicação da redução fiscal atribuída aos investimentos elegíveis, tal como previsto na medida de financiamento de risco. Ao nível dos beneficiários finais, a data de concessão do auxílio é a data do investimento de financiamento de risco na empresa.

5.2. Medidas apropriadas

172. A Comissão prorroga as Orientações relativas ao capital de risco até 30 de junho de 2014.

173. A Comissão considera que a implementação das presentes Orientações implicará alterações substanciais nas regras em matéria de auxílios estatais aplicáveis aos auxílios ao financiamento de risco na União. Além disso, tendo em conta as condições económicas e sociais, torna-se necessário reapreciar a justificação permanente de todos os regimes de auxílio ao capital de risco, bem como a sua eficácia. Por estas razões, a Comissão propõe aos Estados-Membros as seguintes medidas adequadas nos termos do artigo 108.º, n.º 1, do Tratado:

(a) Os Estados-Membros devem alterar, quando necessário, os seus regimes existentes de auxílio ao capital de risco aprovados pela Comissão, no sentido de os tornar conformes às presentes Orientações num período de seis meses após a sua entrada em vigor;

44 JO C 194/2 de 18.8.2006.

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41

(b) Os Estados-Membros são convidados a dar o seu acordo incondicional às medidas adequadas propostas no prazo de dois meses a contar da data de entrada em vigor das presentes Orientações. Na ausência de resposta, a Comissão presumirá que o Estado-Membro em questão não concorda com as medidas propostas.

174. De acordo com a secção 5.1 supra, e no intuito de preservar os interesses dos investidores privados, a proposta de medidas adequadas não se aplica às medidas de capital de risco com estruturas de financiamento análogas às de um fundo no âmbito das quais os intermediários financeiros tenham sido constituídos e o compromisso de recursos do Estado tenha sido realizado antes da entrada em vigor das presentes Orientações, mas que continuam a operar posteriormente, sem receber qualquer compromisso adicional de recursos do Estado. Esses intermediários financeiros podem continuar a investir de acordo com as respetivas condições originais de investimento. Assim, os Estados-Membros devem aplicar as medidas adequadas em relação aos regimes que prevejam estruturas de financiamento análogas às de um fundo no âmbito das quais os intermediários financeiros tenham sido constituídos antes da entrada em vigor das presentes Orientações, mas que recebem um compromisso de recursos adicionais do Estado após a sua entrada em vigor.

5.3. Relatórios e acompanhamento

175. Em conformidade com o Regulamento (CE) n.º 659/1999 do Conselho 45e o Regulamento (CE) n.º 794/2004 da Comissão46, os Estados-Membros devem apresentar relatórios anuais à Comissão.

176. Os Estados-Membros devem conservar registos pormenorizados de todas as medidas de auxílio. Esses registos devem conter todas as informações necessárias para estabelecer que foram respeitadas as condições referentes aos custos elegíveis e às intensidades máximas de auxílio. Esses registos devem ser conservados durante 10 anos a contar da data da concessão do auxílio e devem ser apresentados à Comissão mediante pedido.

5.4. Revisão

177. A Comissão pode decidir rever ou alterar as presentes Orientações em qualquer altura, se tal for considerado necessário por razões associadas à política de concorrência ou para ter em conta outras políticas da União, compromissos internacionais e desenvolvimentos nos mercados, ou por qualquer outro motivo justificado.

45 Regulamento (CE) n.º 659/1999, de 22 de março de 1999, que estabelece as regras de execução do

artigo 93.º do Tratado CE (JO L 83 de 27.3.1999, p. 1). 46 Regulamento (CE) n.º 794/2004, de 21 de abril de 2004, relativo à aplicação do Regulamento (CE) n.º

659/1999 (JO L 140 de 30.4.2004, p. 1).