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resenhade Política Exterior do Brasil

Ministério das Relações Exteriores

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RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASILnúmero 72, Io semestre de 1993

ano 19, ISSN 0101 2428

A Resenha de Política Exterior do Brasil é uma publicação semestral do Ministério das Relações Exteriores,organizada pelo Centro de Documentação (CDO), do Departamento de Comunicaçõese Documentação (DCD) e editada pela Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG).

Chefe do Departamento de Comunicações e Documentação (DCD)Ministro Adolf Libert Westphalen

Chefe do Centro de Documentação (CDO)Secretária Maria Feliciana Nunes Ortigão de Sampaio

MontagemO.C. António Teixeira de Barros

RevisãoIzabel P. CarneiroMaria Aparecida de C. M. Fenerich

Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG)Embaixador João Clemente Baena Soares

Diretora de Administração GeralMinistra Irene Pessoa de Lima Câmara

Setor de Publicações da FUNAGCoordenação: Izabel Patriota Pereira Carneiro

Apoio Técnico: Ednete Moraes LessaElizabeth Maria de MattosMaria Aparecida de C. M. Fenerich

Endereço para correspondênciaFundação Alexandre de Gusmão (FUNAG)Ministério das Relações Exteriores, Anexo II, Térreo, Sala 190CEP 70170-900, Brasília, DFTelefones: (061) 211-6847,211-6857; fax: (061) 322-2931

Resenha de Política Exterior do Brasil

Ano 1 — n° 1 —junho de 1974 — Brasília, Ministériodas Relações Exteriores, 1974 -

V. semestral

1 .Brasil — Relações Exteriores — Periódicos. I. Brasil,Ministério das Relações Exteriores.

327(081)(05)R433

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SUMARIO

III Reunião de Cúpula dos Países Ibero-Americanos

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, ao receber doGoverno espanhol a Secretaria Pro-Tempore da III Reunião de Cúpula dos Países Ibero-Ame-ricanos, em Madri, em 11 de janeiro de 1993 9

Brasil e Reino Unido discutem relações comerciais

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, em almoço detrabalho promovido conjuntamente pelas Câmaras de Comércio no Brasil e no Reino Unido,em Londres, em 27 de janeiro de 1993 13

Seminário sobre Integração Latino-Americana

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na abertura doseminário organizado pela Canning House sobre Integração Latino-Americana, em Londres,em 27 de janeiro de 1993 21

O Brasil e a Integração Europeia

Conferência proferida pelo Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, noRoyal Institute for International Affairs (Chatham House) sobre o tema "O Brasil e a integraçãoeuropeia", em Londres, em 28 de janeiro de 1993 27

III Reunião da Comissão Mista Brasil-Irã

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na Sessão Plenáriada III Reunião da Comissão Mista Brasil-Irã, em Brasília, em 16 de fevereiro de 1993 39

Visita oficial do Chanceler da China ao Brasil

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, durante almoçooferecido em homenagem ao Ministro das Relações Exteriores da República Popular da China,Qian Qichen, no Palácio Itamaraty, em 5 de março de 1993 43

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deassinatura de atos com o Chanceler da República Popular da China, Qian Qichen, em Brasília,em 5 de março de 1993 44

Brasil e Japão assinam acordos sobre cooperação no setor ambiental

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deassinatura de acordos, por troca de notas, com o Governo do Japão, sobre projetos ambientaisfinanciados pelo Overseas Economic Cooperation Fund, em Brasília, em 12 de março de1993 47

Visita do Ministro Fernando Henrique Cardoso ao Chile

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, ao ser condeco-rado pelo Governo da República do Chile, em cerimónia na Academia Diplomática, com aGrã-Cruz da Ordem ao Mérito, em Santiago, em 23 de março de 1993 49

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Conferência proferida pelo Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, noHemiciclo da Antiga Câmara dos Deputados, sob o patrocínio da Academia Diplomática doChile, em Santiago, em 24 de março de 1993 54

Ministro Fernando Henrique Cardoso fala sobre a política externa brasileira na Câmarados Deputados

Apresentação do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, perantea Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 31 de marçode 1993 65

Visita oficial ao Brasil da Ministra das Relações Exteriores da Colômbia

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia decondecoração da Ministra das Relações Exteriores da República da Colômbia, Noemi Sanínde Rubio, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no Palácio Itamaraty, em13 de abril de 1993 71

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deassinatura de atos com o Governo da Colômbia, por ocasião da visita oficial ao Brasil daMinistra das Relações Exteriores da República da Colômbia, Noemi Sanín de Rubio, emBrasília, em 14 de abril de 1993 74

Seminário sobre democracia, desenvolvimento e direitos humanos

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, no Seminário«Democracia, Desenvolvimento e Direitos Humanos», realizado em Brasília, em 15 de abrilde 1993 77

Instituto Rio-Branco - formatura da turma de 1992

Discurso do Presidente da República, Itamar Franco, na cerimónia de formatura da turma de1992 do Curso de Preparação à Carreira de Diplomata, do Instituto Rio-Branco, em Brasília,em 27 de abril de 1993 79

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia decomemoração do Dia do Diplomata, no Palácio Itamaraty, em 27 de abril de 1993 83

Ministro Fernando Henrique Cardoso visita o Equador

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião debanquete oferecido pelo Chanceler do Equador, em Quito, em 29 de abril de 1993 87

Vice-Presidente da Comissão Europeia visita o Brasil

Discurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião de almoço em homenagem ao Vice-Presidente da Comissão Europeia, Manuel Marin,no palácio Itamaraty, em 4 de maio de 1993 91

XI Conferência Interparlamentar Europa-América Latina

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deencerramento da XI Conferência Interparlamentar Europa-América Latina, na sede do Parla-mento Latino-Americano, em São Paulo, em 6 de maio de 1993 95

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V Assembleia Ordinária do Parlamento Amazônico

Discurso do Presidente Itamar Franco na sessão de abertura da V Assembleia Ordinária doParlamento Amazônico, em Brasília, em 10 de maio de 1993 101

Visita Presidencial à Argentina

Discurso do Presidente Itamar Franco durante visita oficial à Argentina, em Buenos Aires, em25 de maio de 1993 105

Presidente Itamar Franco na Assembleia Geral do Uruguai

Discurso do Presidente Itamar Franco por ocasião da sessão solene na Assembleia Geral doUruguai, em Montevidéu, em 27 de maio de 1993 109

Discurso do Presidente Itamar Franco por ocasião da sessão solene realizada em sua homena-gem pela Suprema Corte de Justiça do Uruguai, em Montevidéu, em 28 de maio de 1993 .... 111

Presidente Itamar Franco visita a Associação Latino-Americana de Integração

Discurso do Presidente Itamar Franco por ocasião de sua visita à sede da Associação Latino-Americana de Integração, em Montevidéu, em 29 de maio de 1993 113

Visita do Primeiro Vice-Primeiro Ministro da China ao Brasil

Discurso do Ministro, interino, das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,em almoço oferecido ao Primeiro Vice-Primeiro Ministro da República Popular da China, ZhuRonji, no Palácio Itamaraty, em Io de junho de 1993 117

Reunião de Chanceleres sobre a situação da Guatemala

Intervenção do Ministro, interino, das Relações Exteriores, durante a Reunião ad hoc deMinistros das Relações Exteriores dos Estados membros da OEA sobre a situação política naGuatemala, em 4 de junho de 1993 121

Discurso proferido pelo Representante do Brasil junto à OEA, Embaixador Bernardo PericásNeto, por ocasião da Reunião adhoc de Ministros das Relações Exteriores sobre a situação naGuatemala, em 4 de junho de 1993 122

Reunião de Chanceleres sobre a situação no Haiti

Intervenção do Ministro, interino, das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,na Reunião ad hoc de Ministros das Relações Exteriores da OEA sobre a situação no Haiti .. 125

XXIII Período de Sessões da Assembleia Geral da OEA

Discurso do Ministro, interino, das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,no XXIII Período de Sessões da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos,em Manágua, em 7 de junho de 1993 127

Posse do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Celso Amorim

Discurso de posse do Embaixador Celso Amorim, no cargo de Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, proferido em 30 de junho de 1993 133

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Tratados, acordos e convénios

Convénios de cooperação técnica com a FINEP, visando à realização de estudos quesubsidiem atividades do Itamaraty no âmbito da diplomacia económica e do planejamentopolítico e económico 139

Ata final da III Reunião da Comissão Mista entre a República Federativa do Brasil e aRepública Islâmica do Irã 144

Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Económica e Tecnológica entre o Brasile a China 150

Acordos por troca de notas entre os governos do Brasil e do Japão sobre projetos ambientaisfinanciados pelo Overseas Economic Cooperation Fund 156

Declaração Conjunta Brasil-Chile sobre fortalecimento de relações bilaterais 160

Acordo entre a República Federativa do Brasil e a República da Colômbia sobresanidade vegetal para proteção de zonas fronteiriças e intercâmbio de seus vegetais eprodutos derivados 166

Acordo entre a República Federativa do Brasil e a República da Colômbia sobre o exercíciode atividades remuneradas por parte de dependentes do pessoal diplomático, consular, admi-nistrativo e técnico 169

Ata da Terceira Reunião da Comissão Mista Brasil-Colômbia de Cooperação Económica eTécnica -Brasília, 12, 13 e 14 de abril de 1993 171

Ata final da VI Reunião da Subcomissão Económica e Comercial Brasil-México 179

Comunicados, notas e mensagens

Itamaraty e CNPq articulam parceria com apoio do PNUD visando à competitividade mundialda indústria de software brasileira 185

Posição do Governo brasileiro sobre as negociações do novo Acordo Internacional

do Café 186

Brasil eleito para a Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas 187

Declaração do Grupo do Rio, divulgada em Santiago, em 11 de março de 1993 187

Segundo ano do Tratado de Assunção 188

Comunicado de imprensa emitido pelos Ministros das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil e da República da Colômbia 189

Artigos de jornais

Riscos e oportunidades -1 parte (Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1993) 193

Política externa: a opção universalista (O Estado de S. Paulo, 24de janeiro de 1993) 198

Brasil-EUA: maturidade do relacionamento (Correio Braziliense, Io de fevereiro de 1993) .. 201

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Primeiro passo para o desenvolvimento sustentável {Folha de S. Paulo, 24 de fevereiro

de 1993) 205

O Brasil e Clinton {Zero Hora, 28 de fevereiro de 1993) 209

Redimensionando a Ásia {O Estado de S. Paulo, 5 de março de 1993) 212

A África e o Brasil {Jornal do Brasil, 18 de março de 1993) 215

O Brasil e a lusofonia {Jornal do Brasil, 25 de abril de 1993) 219

Comunidade Europeia: modelo e desafio ( O Estado de S. Paulo, 4 de maio de 1993) 222

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III Cúpula dos PaísesIbero-Americanos

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, ao receber do Go-verno espanhol a Secretaria Pro-Tempore daIII Reunião de Cúpula dos Países Ibero-Ameri-canos, em Madri, aos 11 de janeiro de 1993

Penhor Ministro de Assuntos Exterioresda Espanha,

Senhores Chanceleres de Países daÁrea Ibero-Americana,

Senhores Representantes de Chancele-res Ibero-Americanos,

Senhores Embaixadores,

Senhores e Senhoras.

Cumpre-se hoje, conforme previstoem julho de 1992 nesta mesma Madri,capital de Espanha - cuja brilhante evolu-ção político-econômica e história milenaros povos ibero-americanos tanto admirame respeitam o ritual da passagem da Secre-taria Pró-Tempore da Conferência Ibero-Americana ao Brasil.

Senhor Ministro de Assuntos Exterio-res de Espanha,

O significativo relato que ouvimos deVossa Excelência bem reflete o acerto e aoportunidade da instituição deste foro,que complementa - sem interferências in-justificadas ou duplicações -o trabalho detantos foros internacionais de que partici-pamos, autorizados pela diversidade de

nossa geografia, a pluralidade de nos-sas opções e a multiplicidade de nossosinteresses.

O conteúdo desse informe e o interes-se que despertou assinalam o avanço im-portante na cooperação cultural, educa-cional, científica e tecnológica que empouco tempo se obteve dos trabalhos daConferência Ibero-Americana, assimcomo registram a solidariedade política eeconómica que a história compartilhadae a matriz cultural comum naturalmentepropiciam a nossos povos.

Presenciamos a retomada bem sucedi-da, a cada passo, do projeto lançado hádois anos em Guadalajara que o Brasilpretende, com seu empenho, ainda enri-quecer, durante os trabalhos que se reini-ciarão formalmente em pouco tempo nomagnífico cenário da histórica cidade deSalvador da Bahia, berço da administraçãobrasileira e representante emérita do gran-de esforço ibérico, espanhol e português aum só tempo.

À Bahia de Todos os Santos convergi-ram influências que, não obstante tão dis-tintas, sintetizam o povo brasileiro, resul-

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tante da mescla das culturas e raças doíndio, do europeu e do africano. Esse é oBrasil que se honrará em receber Chefesde Estado e Governo, Chanceleres e dig-níssimas esposas, delegados, calorosa-mente, entre 13 e 16 de julho próximo.

Naquele cenário trataremos de acen-tuar convergências, aprofundar entendi-mentos e estabelecer nova mescla, destafeita da vontade dos povos ibero-america-nos, que a antevisão de nossas liderançasse encarregou de projetar para o futuro.

Senhores Ministros e Representantes,

Estabelecemos em Guadalajara e Ma-dri as bases conceituais da ConferênciaIbero-Americana.

Sólidas, pouco há a acrescentar ao quese pactuou consensualmente nas duas oca-siões, não fora o dinamismo das relaçõesinternacionais. Marcos referenciais, ofere-cem-nos motes para glosas políticas prati-camente apenas de atualização:

Entre outros empenhos, «manifesta-mos a vontade de contribuir unidos a umfuturo comum de paz, maior bem-estar eigualdade social. Estamos comprometidoscom o desenvolvimento económico e so-cial de nossos povos, a plena vigência dosdireitos humanos, a ampliação dos cami-nhos democráticos, o fortalecimento denossos sistemas institucionais e o respeitodas normas institucionais», diz a Declara-ção de Guadalajara.

Neste contexto, «A Conferência surge(...) como foro de concertação provido decaracterísticas próprias e (...) ultrapassaconfrontações ideológicas e económicas(...). As novas condições internacionais

impulsionaram avanços em diversas áreas:desarmamento, resolução dos conflitos in-ternacionais, revitalização da ONU (...). AConferência reconhece (por outro lado)que o desenvolvimento económico e so-cial é objetivo prioritário que deve estarpresente como preocupação central naagenda de todos os foros internacionais,especialmente na Organização das NaçõesUnidas, nos planos e medidas de sua refor-ma e revitalização. (... para que desempe-nhe) o papel que lhe corresponde na novafase das relações internacionais (e respon-da mais eficazmente à vontade de todos osEstados membros). Tanto na paz e seguran-ça, como no desenvolvimento económico esocial dos povos» (registra em distintas pas-sagens a Declaração de Madri).

Senhores Chanceleres ou Represen-tantes,

O Secretário-Geral das Nações Uni-das, em seu relatório sobre o trabalho daOrganização (1992), constata que não háespaço para se deliberar diante de umaagenda para a paz sem discutir uma«Agenda para o Desenvolvimento»...

De fato, a Carta das Nações Unidasestabelece como objetivos centrais da Co-munidade Internacional por ela compro-metida «a construção da paz e do desen-volvimento», e confirmando o binómio, oslegisladores de São Francisco resumiramem seu preâmbulo esses objetivos comodirigidos a «salvar as gerações futuras doespectro da guerra» e a «promover o pro-gresso social e melhores padrões de vidacom mais liberdade».

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Por sua vez, a cooperação interna-cional constitui o mecanismo pelo quala carta, mais que vislumbra, definecomo instrumento para a realização detais objetivos.

Os povos Ibero-Americanos, por inter-médio de seus Governos, estão assim du-plamente comprometidos: primordial-mente pela carta e recentemente pela rei-teração, nas declarações de Guadalajara ede Madri.

Cumpre-nos dar consequência a tãonobres quanto dramáticos propósitos.

Senhores,

A pobreza crítica, os desequilíbrios re-gionais, as diferenças de renda, as dificul-dades de acesso a seus produtos nos mer-cados internacionais, a desvantagem nostermos de intercâmbio, as restrições à maisequitativa difusão do conhecimento tecno-lógico, a dívida externa são elementos es-truturais que não podem ser dissociadosdas conjunturas inflacionárias internas dospaíses latino-americanos e dos custos doajustamento a que se submetem nossaseconomias, no esforço de modernização eintegração internacional.

Diante desse quadro, o Governo doPresidente Itamar Franco visualiza, naConferência Ibero-Americana, foro privi-legiado para o início de novo diálogo glo-bal que avance reflexões sobre o mundoque emerge desde o fim da Guerra Fria. Ostemas tentativos da agenda assim propostanem são dogmáticos nem são exclusivos:

São apenas o enunciado de uma reali-dade que nos faz a todos igualmente res-ponsáveis pelo futuro de entendimento e

concertação que desejamos rapidamenteconcretizar.

São os valores mais caros a nossospovos tal como hoje estão definidos emnossas instituições internas e em nossoscompromissos externos, que desejamospreservar.

Queremos participar, e em graus cres-centes, da definição de nova «Agenda parao Desenvolvimento» que se baseie nosprincípios da justiça, da equidade e dademocracia. E propicie as condições deconvivência no pleno entendimento entreas Nações, elegendo por propósito a ate-nuação das desigualdades atuais, especial-mente entre Norte e Sul.

O foro multifacetado e, por que nãodizer, híbrido, da Conferência Ibero-Ame-ricana oferece a oportunidade de discutir-mos sugestões para nova linguagem glo-bal que evite, a um só tempo, a retóricadesgastada do passado, promova propos-tas objetivas e acentue as responsabilida-des do norte e do sul de maneira criativa.

Parece oportuno, Senhores Chance-leres e Representantes, que prestigiemoso esforço do Secretário-Geral da ONU,estabelecendo na Conferência de Salva-dor o marco inicial de diálogo construti-vo que enriqueça a necessária definiçãodessa «Agenda para o Desenvolvimen-to» sugerida, a par e passo que continue-mos a tratar, nos foros pertinentes, dasmatérias relevantes da paz e da seguran-ça internacionais, como preconiza a Car-ta de São Francisco.

Assim, o tema do desenvolvimentoequilibrado éjusto, de abrangência global,

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com a busca pragmática e realista da re-dução dos desníveis entre os povos, emum planeta cada vez mais integrado esolidário, deve voltar a figurar como temaprivilegiado da agenda internacional, jáagora despida dos preconceitos ideológi-cos do passado.

A Conferência Ibero-Americana podeservir-nos como ponto de intersecção deinteresses compartilhados, que se ilustramna força dos 1,3 trilhão de dólares com quecontribuímos ao Produto Mundial e, tãoimportante, na afinidade - que devemosacentuar - da matriz cultural comum a 12por cento da população global.

Senhores Chanceleres e represen-tantes,

Tratemos de fazer, igualmente, que areunião de Salvador produza realizaçõesconcretas e que a conferência constitua aoportunidade de acrescentarmos volume àcooperação que já encetamos em diversosforos internacionais.

Há programas na área da educação e dacultura, cuja evolução positiva está refle-tida no relato que acabamos de ouvir; háexperiências criativas na área da ciência eda tecnologia que podemos aprimorar; háprojetos significativos em matéria de meioambiente, saneamento e saúde que se po-dem estimular.

Do calendário que nos aguarda em Sal-vador, os Chefes de Estado e de GovernoIbero-Americanos disporão de uma tarde,no dia 15 de Julho - depois do almoço deboas-vindas no «Solar do Unhão», cons-trução histórica que simboliza a iniciativae o comércio na Bahia colonial -, para um

debate inicial sobre o «significado do de-senvolvimento», em particular o «desen-volvimento social», para os povos ibero-americanos. Na manhã do dia 14, nossosmandatários continuariam o debate, en-tão sob a ótica da cultura e da cooperaçãocultural, para a realização do desenvolvi-mento social, concluiriam seus trabalhosna tarde do mesmo dia, com uma reflexãosobre os meios, modos, foros e tempos deconcretizar o diálogo iniciado, no contex-to de uma nova «Agenda para o Desen-volvimento».

Desenvolvimento, em especial a dra-mática necessidade do desenvolvimentosocial, suas relações com a cultura e aeducação, como instrumentos e garantiade sua realização, tornam-se apenas pos-síveis pela cooperação internacional queeste foro privilegia. Eis o enunciado doexercício que poderemos desenvolverna Bahia.

O Governo brasileiro propiciará as me-lhores condições para que delegados emalto nível avancem negociações sobre do-cumentos finais na terça-feira, dia 13 dejulho, e eu pessoalmente me alegrarei emreceber meus pares, no dia 14, para deli-berações em nível de Ministros de Estado.

Trabalharemos até então em estreitacoordenação com as chancelarias dos Es-tados participantes, a Secretaria Pró-Tempore brasileira estará atenta para osinteresses de cada um e aberta às suges-tões operativas.

Sejam benvindos à Salvador da Ba-hia! Sejam benvindos ao Brasil! Muitoobrigado. •

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Brasil e Reino Unido discutemrelações comerciais

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, em almoço de tra-balho promovido conjuntamente pelas Câmarasde Comércio no Brasil e no Reino Unido, emLondres, em 27 de janeiro de 1993

Penhores Presidentes das Câmaras deComércio,

Senhores Empresários,

Senhoras e Senhores,

Minha primeira palavra é de agradeci-mento pelo convite muito honroso querecebi para participar deste almoço de tra-balho com os diretores e associados dasCâmaras de Comércio no Brasil e no Rei-no Unido. Aceitei-o por várias razões. Emprimeiro lugar, porque quis significar, nacondição de Ministro das Relações Exte-riores, a importância que o Governo brasi-leiro atribui às atividades de ambas asCâmaras como instrumentos promotoresda cooperação entre nossos países.

Também considerei ser este momentoideal para imprimir, com renovada vonta-de política, a necessária vitalidade aos nos-sos projetos comuns, seja no comércio enos investimentos, seja nas finanças e naárea de ciência e tecnologia.

Mas decidi vir, sobretudo, para trazer-lhes a mensagem de um Brasil transforma-do, de um Brasil mais confiante. Transfor-mado não em seus compromissos funda-

mentais com os valores e princípios quefazem parte de seu desenvolvimento his-tórico e se universalizam no bojo das mu-danças internacionais contemporâneas.Transformado, sim, em sua consciênciademocrática e cidadã. Transformado, sim,no fortalecimento da ética como base daação do poder público e na defesa irrestritada legalidade constitucional como âncorado Estado de direito.

A transformação, portanto, não é rup-tura, nem retrocesso. Atravessamos comserenidade e paciência, com o comporta-mento maduro de toda a sociedade, umadas experiências mais árduas em nossavida política e institucional. Comprova-mos na prática, como lição histórica dasmais fecundas para o orgulho nacional,que as instituições estão acima dos ho-mens. De uma vez por todas, estou certo,aprendemos que o Estado não pode sergerido pelas ambições pessoais. Não podeadmitir a impunidade. Não pode ser palcoda corrupção e do desmando.

Por tudo isso, o Brasil é hoje um paísmais confiante. Conseguimos nos livrar decertos mitos e falácias que, mais pelo apelo

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da retórica do que pela consciência dosatos, contribuíram para o descrédito doEstado. A crise do Estado, obviamente, éum dado da realidade, e dela Governo esociedade se conscientizaram. Mas crisenão significa aniquilamento, mas sim mu-dança, adaptação. O Estado redefine o seupapel para tornar-se mais útil à sociedade.A própria evolução do sistema capitalistanas nações mais avançadas não impediuque o Estado se mantivesse forte em algu-mas atividades. Em países como o Brasil,é certo, ele perdeu eficácia como agenteeconómico, consumiu-se em seu gigantis-mo e fez a sociedade pagar o preço daspolíticas abusivas de subsídios e do prote-cionismo empobrecedor.

Mas, por outro lado, o Estado não podedeixar de preservar as funções que lhe sãopróprias. Tem sido insubstituível na tarefada promoção do desenvolvimento social e,mesmo em setores como infra-estrutura,mantém sua importância como investidor.

Outra ilusão que felizmente se esvai noBrasil de hoje é o discurso da falsa moder-nidade. Modernidade mais proclamada doque construída nestes últimos dois anos.Modernidade em meio à recessão e aodesemprego. Modernidade que superesti-mou o económico e sacrificou o social.Como se modernidade significasse rique-za mal repartida, abundância a grassar aolado da fome e da miséria.

De 1989 a 1992, o Produto InternoBruto brasileiro caiu 3,7 por cento e, emtermos per capita, considerado o aumentoda população no mesmo período, reduziu-se em 9 por cento. Saldo lamentável deuma política que variou entre os sobressal-

tos e as aparências: o Brasil ficou maispobre, mais desigual, mais injusto, quandose acreditava no caminho do novo e domoderno.

Mas das ilusões, partimos para os com-promissos, e dos compromissos vamospara as realizações honestas e eficazes. OGoverno do Presidente Itamar Franco nãodeseja rótulos. Não é um governo de pro-messas e nem busca antecipar o julgamen-to da história. Tem consciência das limita-ções e possibilidades do país. Sabe que éum governo de travessia. Assumiu comseriedade e confiança o papel de prepararo terreno seguro, dentro da estabilidadedemocrática, para o aprofundamento dasreformas políticas, económicas e institu-cionais. A ele cabe gerir a saída da crisebrasileira e mobilizar a sociedade, compolíticas de curto e médio prazo, para aconsolidação do processo de mudanças.

Nesse contexto, a meta primordial doGoverno é a retomada não-inflacionáriado crescimento.

Uma crise de muitas faces - como é acrise brasileira, em que a inflação convivecom o debilitamento dos setores produti-vos, o desemprego com o desequilíbriodas cotas e dos fundos públicos - não háde ser solucionada apenas por instrumen-tos clássicos de estabilidade económica. OBrasil, pela sua grandeza e complexidade,não comporta simplificações. Não podeprescindir de políticas que tratem de con-ciliar objetivos económicos e de naturezasocial ou atacar simultaneamente seus pro-blemas estruturais. Por isso, o combate àinflação não deve ser prioridade que com-prometa o crescimento ao mesmo tempo

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em que o imperativo do crescimento nãodeve realimentar a cadeia inflacionária.

Como estabelecido nas diretrizes deação governamental aprovadas pelo Presi-dente da República, o Brasil não podeaguardar que se complete a estabilizaçãopara retomar seu crescimento. Conciliar oprocesso de estabilização com o gradualreaquecimento da economia é o principaldesafio que se coloca de imediato. Desafioque será possível vencer mediante o estí-mulo ao crescimento seletivo e cuidadosa-mente dosado, sem investimentos vulto-sos, de modo a evitar pressões infiacioná-rias. Medidas que favoreçam a queda dastaxas de juros e a geração de empregoscom benefícios para as classes de baixarenda são exemplos daquilo que o Gover-no pode, deve e vai fazer.

A experiência brasileira tem demons-trado que, dadas algumas condições míni-mas de quebra de inércia das expectativasinflacionárias e de restabelecimento deconfiança dos agentes económicos, o paístem uma grande capacidade de recupera-ção, superando rapidamente as crises con-junturais. Por isso, uma política macroe-conômica de caráter restritivo não é detodo incompatível com uma estratégiacautelosa de expansão de setores e áreasespecíficas.

Nessas condições, pode-se esperar,para o biénio 1993-1994, crescimentoeconómico da ordem de 5 por cento doPIB, superior à taxa de crescimento de-mográfico, com a elevação de 2 por centodo PIB per capita.

Para a implementação dessa política, oGovemo está comprometido com algunspreceitos fundamentais. A economia seráadministrada com a garantia da estabilida-de das regras e a renúncia a corretivos dechoque. Como afirmou o Presidente Ita-mar Franco, a convivência democráticanão permite o recurso a ações arbitráriasque desajustam a vida do cidadão ou osnegócios das empresas. Ademais, a inser-ção competitiva na economia mundial e aintensificação do intercâmbio com as re-giões mais dinâmicas -como é e continua-rá a ser nosso objetivo - não pode prospe-rar em ambiente de imprevisibilidade edesorganização macroeconômica. Nem acidadania brasileira, nem os nosso parcei-ros internacionais serão doravante sur-preendidos com atos unilaterais ou medi-das voluntárias, de qualquer tipo, que nãotenham sido devidamente debatidas.

Internamente, a observância dessecompromisso está assegurada pelo revigo-ramento das instituições democráticas.Nada será feito sem a participação do Con-gresso Nacional, órgão em que repousa alegitimidade da soberania popular. No pla-no externo, a tradição de diálogo e coope-ração que caracteriza a presença do Brasilno mundo, e que reflete nosso própriopadrão de sociedade democrática, plura-lista e crescentemente aberta, é o melhorpenhor dos propósitos que nos animam.

O plano económico do Governo, aves-so a fórmulas que se pretendam mágicas,apóia-se em conceitos que absolutamentenão perderam vigência: eficiência, compe-titividade, integração com a economiamundial.

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Por isso, foram mantidos os compro-missos relativos à negociação da dívidaexterna. Nossas relações com a comunida-de financeira continuarão normalizadas,do que é prova a recente aprovação peloSenado Federal do acordo com nossos cre-dores. Prossegue com resultados positivosprograma de restruturação da dívida nego-ciada com o Clube de Paris, e foi nesseâmbito que, há cerca de dez dias, assina-mos o acordo do reescalonamento da Dí-vida com o Departamento de Seguro deCrédito às importações do Governo britâ-nico, no total de 1 bilhão e 150 milhões dedólares, passo fundamental para a retoma-da dos fluxos de financiamento. Em breve,reiniciaremos as negociações com o Fun-do Monetário Internacional em torno doprograma económico.

Também como política de curto pra-zo, o Governo está determinado, comoforma de viabilizar a recuperação econó-mica em forma compatível com o comba-te à inflação, a levar avante a aprovaçãoda reforma fiscal. Seus objetivos incluemaumento da receita, a desoneração do se-tor produtivo, a simplificação da estrutu-ra tributária, o corte das despesas públi-cas e a eficiência nos gastos e na arreca-dação. A reforma fiscal diminuirá aspressões sobre o mercado financeiro.Fará baixar a inflação e as taxas de juros.Contribuirá para a racionalização da má-quina administrativa do Estado. Permiti-rá o equilíbrio das contas públicas e asse-gurará os investimentos sociais.

Tais objetivos se articulam com a es-tratégia económica de médio e longo pra-zo, voltada para a estruturação de um sis-

tema produtivo moderno e competitivo.Um sistema orientado pelo mercado e cen-trado na primazia da iniciativa privada naexploração da atividade económica. Umsistema dinamicamente inserido na econo-mia internacional, capaz de expandir-secontinuamente e de promover a moderni-zação tecnológica.

Dentro dessa estratégia gradualista,prosseguirá o processo de abertura co-mercial. Abandonaram-se os sonhos deautarquia e, com naturalidade, aceitamosa exposição criteriosa da economia brasi-leira à competição internacional. A libe-ralização do comércio é importante paraque a economia nacional absorva novastecnologias e novas formas de gerencia-mento empresarial. É importante tambémpara que incorpore referências de preçosexternos e padrões internacionais de qua-lidade como indicadores para a restrutu-ração produtiva.

O crescimento das exportações conti-nuará a ser estimulado através de umapolítica cambial realista e de mecanismosde financiamento e incentivo compatíveiscom as normas do GATT. As iniciativascomerciais bilaterais, regionais e sub-re-gionais, em especial os compromissos noMercosul, estão sendo complementadaspela definição de estratégias comerciaiscom relação aos países amazônicos e aosgrandes blocos económicos, como a Co-munidade Económica Europeia, a Améri-ca do Norte e a Bacia do Pacífico. Aomesmo tempo, pela nossa condição de glo-bal trader, manteremos a prioridade dofortalecimento do sistema multilateral de

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comércio através da conclusão rápida esatisfatória da Rodada Uruguai do GATT.

Aspecto igualmente crucial para o Bra-sil é a importância do papel do capitalestrangeiro no novo ciclo de desenvolvi-mento que pretendemos inaugurar. Nãopodemos, e não iremos, abrir mão dessacontribuição. Do Reino Unido, quintomaior investidor em nosso país, espera-mos participação revigorada nesse proces-so, inclusive através das atividades pro-mocionais das duas Câmaras de Comér-cio. O empresariado de cada país haveráde encontrar, na consistência e seriedadeda política que colocamos em marcha, onecessário estímulo para compensadoresnegócios, capazes de revitalizar o fluxo deinvestimentos em benefício da recupera-ção económica e do adensamento de nossacooperação. Um passo firme nessa direçãoestá nas negociações a serem iniciadasproximamente sobre a celebração de umacordo de garantia de investimentos recí-procos entre o Brasil e o Reino Unido.

Outro passo importante será a avalia-ção, em futuro próximo, do «Sistema dePromoção de Investimentos», que ligará oSetor Comercial da Embaixada em Lon-dres a uma rede de informações compostapor pontos focais em diversos Estados bra-sileiros. O Sistema servirá ao objetivo deaproximar investidores estrangeiros e em-presários brasileiros na identificação deoportunidades de investimentos diretos noBrasil e de transferência de tecnologia. OSIPRI constituirá assim um importanteinstrumento adicional na abertura da eco-nomia brasileira - especialmente as pe-

quenas e médias empresas - aos fluxosinternacionais e tecnologias.

Estas são tarefas em perfeita sintoniacom as aspirações da comunidade de ne-gócios e da sociedade como um todo. Go-verno e empresariado, como evidencia-mos neste encontro, devem trabalhar jun-tos. Esta sempre foi a minha convicção depolítico e homem público, que, aliás, aca-bo de colocar em prática no Ministério dasRelações Exteriores ao criar um ComitéEmpresarial Permanente para assessorar,nesta época em que se abrem tantas espe-ranças e oportunidades no Brasil, as nos-sas atividades de promoção comercial e decaptação de investimentos.

O Governo brasileiro, nesse mesmoespírito, continuará, como em toda demo-cracia, a tentar fazer das relações entre oEstado e a sociedade, não um cenário deantagonismos e suspeita, mas um vínculode cooperação e confiança.

Prosseguirá, assim, de forma aperfei-çoada, a política de privatização. O Gover-no acaba de anunciar suas novas regras emecanismos. Pretende dar-lhes agora averdadeira dimensão que deve ter no pro-cesso de soerguimento com a política in-dustrial e com a de desenvolvimento cien-tífico-tecnológico. Critérios como ingres-so de moeda corrente no pagamento dasprivatizações e flexibilização das condi-ções de participação de capital estrangeiroserão levados em conta. Serviços públicossob regime de concessão poderão dora-vante ser abrangidos pelo programa.

Toda essa ação, Senhores empresários,busca tornar o Brasil economicamente

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mais eficiente. É um objetivo que se com-plementa com o de fazer também o paíssocialmente mais justo, levando plena-mente a democracia ao campo social. Efi-ciência, justiça e igualdade de oportunida-des são metas que conferem indivisibilida-de ao processo de desenvolvimento, e apreocupação de conciliá-las representa,precisamente, o grande desafio nacional.

Prova de que essa consciência se refor-ça hoje está no papel central que a questãodo meio ambiente passou a ocupar na pro-blemática geral do desenvolvimento. AConferência do Rio representou um marcoe consagrou o conceito de «desenvolvi-mento sustentável», que define o ideal deum modelo económico que atenda as exi-gências do presente, sem comprometer oatendimento das necessidades das gera-ções futuras.

No Brasil, esta nova mentalidade dodesenvolvimento vem acompanhada hojeda expectativa de que vamos também in-gressar em uma etapa de modernizaçãopolítica. O plebiscito deste ano irá definira forma e o sistema de Governo, se repu-blicano ou monárquico, se parlamentaristaou presidencialista. Estou persuadido deque, qualquer que seja a decisão do povo,o Brasil será um país diferente, revigoradotanto em sua fé democrática quanto navitalidade das instituições. Será, também,um país mais consistente com as transfor-mações económicas e sociais. Será umpaís afinado com os princípios da funcio-nalidade do Estado e da universalidade dacidadania.

O aperfeiçoamento da sociedade brasi-leira é, em suma, fonte e destino das pre-

ocupações do Governo Itamar Franco. So-mos uma nação mais do que nunca, con-vencida das virtudes da democracia. Nelavamos preservar na busca dos objetivos deprogresso e bem-estar do nosso povo.Dela, retiramos inspiração para o reforçocontínuo em favor da cooperação sempremais estreita com nossos parceiros da co-munidade internacional.

Quando ainda vivíamos a crise do im-peachment, o próprio Presidente ItamarFranco manifestou essa convicção, com ex-pressivas palavras, ao dirigir mensagem decongratulações aos membros da CâmaraBrasileira de Comércio no Reino Unido,por ocasião de seu qiiinquagésimo aniver-sário, em outubro último. Louvou a sereni-dade da classe política brasileira, que soubetranquilizar a nação e dar-lhe a certeza deque nada se faria que pudesse emperrar aengrenagem constitucional. E assegurou,como me permito aqui relatar, que as mu-danças ocorridas no país não o afastarão desua trajetória ascendente e plenamente sin-tonizada com o mundo de hoje.

O Reino Unido - como a ComunidadeEconómica Europeia em geral - é umapeça fundamental nessa articulação estra-tégica do desenvolvimento brasileiro comas possibilidades internacionais. Nossacooperação, que já é antiga e exemplar,inclusive no campo do meio ambiente,precisa ser expandida e ampliada em seuhorizonte. A ciência e tecnologia, motoresdo crescimento, devem merecer atençãomais detida de ambos os Governos. Oavanço tecnológico de países em desen-volvimento como o Brasil não pode seralvo de suspeitas infundadas, nem de en-

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traves ou discriminações. Deve ser visto,ao contrário, como imperativo de progres-so que há de ser benefício também para ospaíses desenvolvidos. Seria fundamentalque essa cooperação pudesse intensificar-se em proveito da confiança e das vanta-gens mútuas.

O Brasil adota posição de clara trans-parência nessa área. Concluímos acordopara o uso exclusivamente pacífico daenergia nuclear com a Argentina. Firma-mos acordo conjunto de salvaguardas coma AIEA. Em breve colocaremos o Tratadode Tlatelolco em vigor. Estamos imple-mentando mais sistema abrangente decontrole de exportações, que incluirá todaa área de mísseis, onde contemplamos,inclusive, as diretrizes do MTCR.

Senhores membros das Câmaras deComércio,

Reitero muito sensibilizado minha gra-tidão por esta homenagem. Vinda de gru-

po tão seleto de integrantes da comunidadede negócios de nossos países, só poderiatomar-me de satisfação e orgulho.

Satisfação pela oportunidade de asso-ciar-me ao trabalho aqui realizado em prolda cooperação Brasil-Reino Unido e apre-ciar, na amplitude dos interesses empresa-riais aqui representados, o potencial quenos cabe ainda explorar.

E orgulho, fundamentalmente, por po-der trazer aqui - de coração aberto, comoé do bom feitio democrático (eu, Ministro,que deve agora dosar a espontaneidade dopolítico com a formalidade do diplomata)- orgulho de trazer aqui, repito, a mensa-gem de um Brasil resgatado em sua digni-dade. De um Governo que zela pela serie-dade e a exercita. De uma Nação - comodisse o Presidente que se quer sintonizadacom o mundo.

Muito obrigado.

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Seminário sobre IntegraçãoLatino-Americana

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, na abertura doseminário organizado pela Canning House so-bre Integração Latino-Americana, em Londres,em 27 de janeiro de 1993

Oenhor Presidente da Canning House,Viscount Montgomery of Alamein

Senhor Diretor-Geral, Sir MichaelSimpson,

Senhores Embaixadores,

Minhas senhoras e meus senhores,

É um grande prazer para mim inaugu-rar os trabalhos do Seminário sobre Inte-gração Latino-Americana, patrocinadopela Canning House.

Como Ministro do Exterior do Brasil,em visita de trabalho a Londres, venho aeste encontro com dupla motivação. Pri-meiramente, para homenagear os esfor-ços desta instituição que abriga o melhorda tradição de cooperação e diálogo entrea América Latina e o Reino Unido. ACanning House, ao reunir aqui qualifica-do grupo de personalidades que estudame vivem o dia-a-dia da vida política eeconómica do nosso continente, prestamais um relevante serviço à causa domaior conhecimento dos interesses lati-no-americanos na Europa e, em particu-lar, do Reino Unido.

Em segundo lugar, interpretei a inicia-tiva deste seminário como boa oportunida-de de reafirmar a visão do Governo brasi-leiro a respeito do processo de integraçãoregional. O momento é significativo dian-te das mudanças e das novas estruturas quese delineiam no mundo, tornando cada vezmais complexo o desafio da inserção com-petitiva do país e de seus vizinhos na eco-nomia internacional.

Por vocação histórica, coerência emsua conduta diplomática e por preceitoconstitucional, o Brasil participa ativa-mente dos esforços integracionistas naAmérica Latina. Foi membro fundador daALALC, em 1960, integra o órgão que asucedeu - a Aladi - desde sua instituição,em 1980, e contribui, através de múltiplasmodalidades institucionais de cooperação,para a integração física e o desenvolvi-mento harmónico na Bacia do Prata e naregião amazônica.

Hoje, o impulso dado à integração apartir do entendimento entre Brasil e Ar-gentina a partir de meados da última déca-da e, posteriormente, pela constituição doMercosul, com o Tratado de Assunção, de

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1991, é evidência do engajamento dos go-vernos e das sociedades nacionais nestaobra de grande transformação política eeconómica.

A integração latino-americana deixa,pois, de ser exercício de retórica, emboranão seja tarefa simples ou isenta de difi-culdades. Afirmou-se a partir do fortaleci-mento das instituições democráticas na re-gião o esgotamento do modelo de substi-tuição de importações que prevaleceu nocontinente ao longo de mais de quarentaanos. Nossos países estreitaram seus laçosnão só com base na identidade política quese foi revigorando na região com o fim dosregimes autoritários, mas também comoconsequência da crise económica e socialque nos parecia reservar senão um futurode marginalização.

Consolidou-se, assim, a noção do inte-resse comum diante das adversidades co-muns. Ganhou força, sob o estímulo deinteresses compartilhados, a ideia de açõesconcertadas no plano político-diplomáti-co. Abandonou-se a perspectiva indivi-dualista, centrada na competição estéril.Convergência e solidariedade crescentesfizeram das preocupações da América La-tina com a questão do desenvolvimentouma agenda de trabalho permanente, refle-tida nas diversas instâncias deliberativasque hoje nos congregam na região.

Mas foi a partir da aceleração dos fe-nómenos da globalização e da regionaliza-ção económica que a integração adquiriucomo projeto diretamente vinculado aosinteresses mais abrangentes da sociedade.Tornou-se complemento necessário doprograma de modernização de nossas eco-

nomias e de sua articulação com os gran-des mercados comuns.

Daí as dificuldades e complexidadesda integração. Ela não consiste apenas emum processo de desgravação tarifária. Amedida que se vão cumprindo as condi-ções e os prazos de uma associação cadavez mais estreita e que a realidade econó-mica internacional define determinados ti-pos de estratégia, surgem problemas comoa coordenação de políticas macro-econô-micas, compatibilização de regras fiscaise monetárias, ação conjunta em face deoutros blocos económicos.

Hoje, o Mercosul é um componentedos mais importantes de nossa atuaçãopolítica externa e, ao mesmo tempo, denossa estratégia económica no cenário in-ternacional. É instrumento valioso para adinamização do nosso relacionamentocom os pólos dinâmicos da economia in-ternacional.

Na verdade, a ordem económica mun-dial não é mais moldada apenas pela von-tade de algumas poucas economias domi-nantes: a globalização dos circuitos produ-tivos, dos fluxos de comércio e de investi-mentos cria enorme rede de interesses.

Como região em desenvolvimento, aAmérica Latina é frágil nessa interdepen-dência com o mundo, porquanto carece doacesso a capitais e fontes externas de tec-nologia moderna. Além disso, perdeu es-paço nos últimos anos, quando outras re-giões, como a Ásia, lograram definir comsucesso um modelo eficiente de participa-ção na economia mundial.

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Hoje, os desafios da América Latinacontinuam múltiplos. A persistência naimplantação das reformas internas quecumpram as exigências amplamente reco-nhecidas da revisão do papel do Estado,abertura económica, privatização é um im-perativo do qual não podemos abdicar. Aomesmo tempo, é preciso conter com eficá-cia e determinação política as ameaças arupturas da ordem democrática. Já se tor-nou um conceito largamente amadurecidoo de que, sem democracia, não há integra-ção, pois a integração não é obra dos go-vernos, mas das sociedades legitimamenterepresentadas em seus anseios e interesses.

O mundo de hoje está a exigir tambémda integração latino-americana um tipo dedefinição fundamental quanto aos seus ru-mos futuros. É a que se impõe mais e maispela formação dos grandes blocos econó-micos e das tendências que se poderiamvisualizar para seu modo de articulaçãocom a região. A influência desses blocosserá determinante tanto no processo deelaboração final das regras multilaterais decomércio, hoje sujeito às incertezas emtorno da Rodada Uruguai do GATT, quan-to ao impacto sobre as correntes de comér-cio e investimentos de cada país.

Dois assuntos adquirem, nesse sentido,especial relevância: de um lado, a entradaem vigor do mercado unificado na Europaeste ano, e sua futura fusão com a ÁreaEconómica Europeia, e, de outro, o Naftae seus efeitos no comércio latino-america-no, inclusive à luz das normas da Aladi.

Não sou dos que vêem como alarman-tes essas perspectivas da América Latina.Naturalmente, é fator de preocupação o

risco de que o mundo se transforme emblocos económicos fechados e que aumen-tem as práticas protecionistas em nívelglobal e que, na região, as iniciativas nocampo da integração hemisférica causemprejuízos diretos e indiretos para nossospaíses, sobretudo com o desvio de fluxoscomerciais e de investimentos. Daí a im-portância dos entendimentos a seremmantidos entre os países do Mercosul eos Estados Unidos no âmbito das nego-ciações 4 mais 1. Daí a importância tam-bém das consultas mantidas com a CEEtanto através do Grupo do Rio e do pró-prio Mercosul.

Mas não creio, por outro lado, que aentrada em funcionamento dos novos blo-cos seja suscetível de provocar distorçõesincontornáveis. Após uma adaptação tem-porária às novas condições, tanto na Amé-rica do Norte, quanto na Europa, os fluxosde capital e de mercadorias poderão diri-gir-se, como sempre, para as melhoresoportunidades de mercado no mundo. Enesse caso, os desafios talvez venham a serde natureza distinta: economias competi-tivas, estáveis, atraentes para os investi-mentos de fora, empenhadas na moderni-zação tecnológica estarão aptas para en-contrar o seu espaço.

Tenho plena confiança de que o Mer-cosul, com seu grande potencial, continua-rá a atrair a comunidade de negócios tantoda Europa quanto dos Estados Unidos,além de outras áreas desenvolvidas comoo Japão, tanto em termos de comércioquanto de investimentos. Uma coisa é ab-solutamente certa: não haverá uma «forta-leza» Mercosul. Os países membros, na

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formulação e defesa de suas políticas co-merciais, sempre se opuseram a conceitoscomo «comércio administrado», «unilate-ralismo», «bilateralismo». Continuaremosa nos recusar a transformar o Mercosulnum bloco fechado de livre comércio. Nãoé do nosso interesse dispor de nível eleva-do de proteção externa, sobretudo porqueo essencial de nosso comércio em benstecnológicos e nossos principais mercadosexternos estão na América do Norte, naEuropa e no Japão. Seria inconsistentecom nossos princípios em matéria de efi-ciência e competitividade estabelecer tari-fas externas restritivas ou proibitivas.

Para o Brasil, especialmente, em suacondição de global trader, é fundamentala consolidação de um sistema de comércioaberto e flexível, sem discriminações. Nãoestamos presos a parcerias excludentes,nem a opções limitadas de mercado. 30 porcento do nosso intercâmbio está concen-trado na CEE, 20 por cento nos EUA, 20por cento na América Latina, outros 20 naÁsia e os 10 restantes distribuídos entreÁfrica, Oriente Médio e Europa Oriental.

Senhores,

É compreensível, nesse contexto, queo desafio da integração latino-americana -que, em épocas remotas só podia ser vistocomo um sonho e, já há algum tempo,como realidade mais próxima - adquirehoje dimensões novas que enriquecemtoda a discussão da problemática de nossainserção económica internacional.

O próprio Mercosul não é, aliás, o úni-co empreendimento que mobiliza nossasatenções na América Latina em matéria de

integração. A rede de interesses históricosque nos ligam a todos os países da região,onde temos dez fronteiras internacionais,é extremamente vasta e complexa. Abran-ge desde os contatos humanos na fronteira,a densidade dos vínculos económicos eculturais, até grandes projetos comuns.Essa tradição de cooperação extremamen-te frutífera está demonstrada em obras degrande vulto como Itaipu e, atualmente, seconfirma com a implementação dos acor-dos de gás com a Bolívia e o projeto daHidrovia Paraguai-Paraná.

Com os países amazônicos, o Brasilacaba de deslanchar uma nova iniciativacom vistas à maior aproximação económi-ca e comercial. Propusemos aos Governosda Bolívia, da Colômbia, do Equador, doPeru, da Venezuela, da Guiana e do Suri-name o aprofundamento dos acordos co-merciais bilaterais dentro dos critériospactados com nossos sócios do Mercosul.

Esta iniciativa servirá para ampliar aspossibilidades de cooperação e de integra-ção desses países com o Brasil, ajudandoa preparar as bases de uma futura negocia-ção com o Mercado Comum, sem que seexcluam outros esforços de integração re-gional. É uma contribuição importante,em benefício de todos os países latino-americanos, para a desejada articulaçãoentre os esquemas de integração que vi-mos consolidando na região e que devemconfluir, como estabelece o Tratado deMontevidéu, de 1980, para a conformaçãode um mercado comum regional.

Identifico na chamada Iniciativa Ama-zônica - como nos progressos alcançadosno Mercosul, nas programadas negocia-

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ções 4 mais 1, nas realizações da Aladi, nodinamismo renovado do Pacto Andino -evidências concretas de que os ideais inte-gracionistas na América Latina não per-dem vigor num momento em que a confi-guração de uma nova ordem económicamundial abre grandes inquietações. Sãoprovas de que a região se propõe constan-temente buscar as respostas adequadas àsnovas situações e aos novos desafios. Econfirmam, justamente, o que disse o Pre-sidente Itamar Franco na reunião do Grupodo Rio, em dezembro último, em Buenos

Aires: «a América Latina é grande demais,e importante demais, para estar ausente daconstrução dos novos tempos».

Com essa evocação, desejo formularaos Senhores participantes do seminárioos melhores votos de êxito em seus traba-lhos e estender-lhes minha confiança deque daqui sairão contribuições muito pro-veitosas para os esforços de nossos povosem favor da causa da integração latino-americana.

Muito obrigado. •

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O Brasil e a Integração Europeia

Conferência proferida pelo Ministro das Rela-ções Exteriores, Fernando Henrique Cardoso,no Royal Institute for International Affairs(Chatham House) sobre o tema «O Brasil e aIntegração Europeia», em Londres, em 28 dejaneiro de 1993

Oenhoras e Senhores,

Quero expressar, inicialmente, meusagradecimentos pelo convite muito amá-vel para dirigir-me a tão qualificada au-diência. É para mim uma honra e umprivilégio comparecer a este encontro,sobretudo porque sei que há algum tem-po oradores brasileiros têm estado au-sentes dos ciclos de palestras aqui pro-movidos com membros da comunidadeacadémica britânica e europeia. Vive-mos uma era de mudanças e desafios, eo tipo de diálogo franco e estimulanteproporcionado pela Chatam House temcontribuído para a maior compreensãoda realidade internacional contemporâ-nea e dos problemas e aspirações demuitos países, individualmente.

Considero como grata oportunidade ade poder falar-lhes aqui, da perspectivabrasileira, sobre o tema da integração eu-ropeia. O Reino Unido, entre os países-membros da Comunidade Europeia, talvezseja aquele em que todo o processo deintegração continental, do Tratado deRoma ao Tratado de Maastricht, tenhasido debatido com maior intensidade e

paixão. Maastricht, aliás, talvez não tenhasido submetido a tão minucioso escrutíniono resto da Comunidade como o foi aqui.Além disso, o Reino Unido possui longatradição de intercâmbio e cooperação coma América Latina e, especialmente, o Bra-sil. Seu papel como potência global ecomo um dos grandes contribuintes dosfundos comunitários confere ao ReinoUnido posição privilegiada na parceria en-tre os países latino-americanos e a CEE.

Do ponto de vista do Brasil, a integra-ção europeia desempenha papel central emnossa política externa e em nossa políticaeconómica. Do seu impacto sobre o co-mércio exterior brasileiro à influência queexerce em questões como a Rodada Uru-guai do GATT, globalização económica,formação de uma nova ordem mundial e adinâmica em torno dos chamados novostemas, ou outros que se reintroduzem, naagenda internacional - direitos humanos,desenvolvimento sustentável, cooperaçãopara o desenvolvimento, transferência detecnologias, desarmamento - a Comuni-dade Europeia afirma-se como ator inter-nacional dos mais relevantes.

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Senhoras e Senhores,

Tornou-se lugar comum afirmar queatravessamos um período de transição.Não parece tão evidente, porém, que asmudanças ocorridas no mundo devam serpercebidas não apenas como oportunida-des, mas sobretudo como desafios e riscos.As mudanças em si não são fator de paz.As cenas de guerra e violência expostasdiariamente na mídia internacional mos-tram que, apesar das esperanças renovadaspor uma era de estabilidade internacional,persistem forças negativas a minarem oefeito das transformações políticas a quevimos assistindo.

O mesmo se aplica ao campo económi-co: as mudanças globais e a interdepen-dência fizeram reemergir práticas prote-cionistas, e a ameaça de guerras comer-ciais torna-se cada vez mais visível nohorizonte. A Guerra Fria e as tensões Les-te-Oeste foram substituídas por árduacompetição entre as nações e grupos denações. Esta é provavelmente a chave paraentendermos tanto a relação entre a CEE eum país como o Brasil quanto o meiointernacional como um todo.

Nesse contexto, a integração é um pro-cesso sujeito a outras tendências globais,e, como tal, a uma série de pequenas cor-reções em sua trajetória de aperfeiçoamen-to. O mundo de hoje e, provavelmente, ode amanhã evidenciam claramente que aintegração não deve significar isolamento,indiferença ou auto-suficiência. Na opi-nião do Brasil, a integração, como ummarco da era posterior ao fim da GuerraFria, vem acompanhada por outro concei-

to fundamental dos nossos tempos: a inter-dependência.

Esta é a razão pela qual penso que orelacionamento entre o Brasil e a CEE e anossa própria visão da integração europeiaserão mais bem compreendidos a partirdos principais elementos da visão brasilei-ra do atual momento de transição. Assimpenso porque as mudanças não ocorremapenas em nível internacional. Ocorremtambém dentro do nosso próprio país, afe-tando, inclusive, a maneira pela qual oBrasil vê o mundo.

O Brasil, que se volta hoje com reno-vado interesse para a CEE e a Europa emgeral, tem promovido nos últimos anos- e, seja-me permitido dizê-lo, particu-larmente nos meses mais recentes - am-plas reformas políticas e económicasque restituíram o orgulho e a confiançaao seu povo.

Nos anos oitenta, enquanto se esgota-va o modelo económico baseado na subs-tituição de importações, identificamos anecessidade de uma abertura do país àeconomia mundial, assim como aos flu-xos internacionais de capital e tecnolo-gia, de maneira abrangente, equilibrada econtínua. Hoje, o Brasil leva a cabo umcuidadoso programa de privatização.Reavalia-se o papel do Estado. Não dese-jamos nem a sua presença maciça na eco-nomia, nem o desmantelamento da má-quina administrativa.

Apesar dos problemas estruturais quetemos enfrentado, a economia brasileiraconserva sua força como a décima econo-mia no mundo e, provavelmente, uma das

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mais diversificadas entre os países em de-senvolvimento, com poderosa base indus-trial e amplo mercado a expandir-se atra-vés da integração com nossos vizinhos doCone Sul.

Somos uma economia competitiva emdiversas áreas, tanto da indústria quanto daagricultura. Somos também uma econo-mia com crescente projeção internacional:há muito que assumimos a condição deglobal trader, com presença quase univer-sal nos mercados internacionais. É naturalque tenhamos grande interesse no merca-do europeu, tanto exportador quanto im-portador, e que possamos discordar sobreas políticas que afetam nossa posição emterceiros mercados e sobre as regras docomércio global.

A democracia é outro importante ele-mento para compreender a atual situaçãobrasileira. A democracia no Brasil temfuncionado, e os acontecimentos de 1992foram decisivos para a consolidação donosso sistema político. Mas a democracia,tal como a concebemos, não é apenas umsistema político. Deve abranger também osistema social. Deve assegurar a estabili-dade social e prover a necessária base parao crescimento da economia. Temos a clarapercepção de que as questões internacio-nais afetam a sociedade brasileira de modobem diferente do que o faziam no passado.Temos a clara percepção de que um am-biente internacional justo e equilibrado épré-condição de progresso social. Não é,naturalmente, a única pré-condição, mas éprimordial.

As mudanças no Brasil não afetaramapenas a economia ou a política interna do

país. Tiveram igualmente grande impactonas questões externas.

Um exemplo foi a construção das rela-ções de confiança com a Argentina. De-mos importantes passos em matéria decooperação nuclear e de salvaguardas.Promovemos com êxito emendas técnicasao Tratado de Tlatelolco de forma a colo-cá-lo em vigor em toda a América Latina.Além de estar historicamente comprome-tido com as iniciativas no campo do desar-mamento, o Brasil avançou também nacausa da adoção de um mecanismo inter-nacional de controle de transferência detecnologias de uso dual, em bases nãodiscriminatórias, transparentes e aceitasinternacionalmente.

Outro exemplo é o processo de integra-ção no Mercosul, que criará, em espaço detempo relativamente curto, um mercadocomum de 200 milhões de habitantes, commetade do PIB da América Latina e apossibilidade de incorporar outros parcei-ros regionais.

Exemplo, ainda, é o papel ativo quetemos desempenhado nos foros multilate-rais, políticos e económicos, como as Na-ções Unidas e o GATT.

Todos estes são sinais que identificamo Brasil como país comprometido com odesenvolvimento. É um compromisso quegera renovados interesses externos e legí-timas preocupações pelo atraso que aindanos mantém distantes do ideal de umaplena democracia social e de uma podero-sa economia de mercado engajada no co-mércio internacional.

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O fim da Guerra Fria é, para nós, maisum elemento a ser levado em conta para aperfeita compreensão do mundo de hoje.As mudanças profundas que começaram aser gestadas antes da queda do Muro deBerlim e o desmembramento do bloco so-viético iniciaram o processo de configura-ção da ordem mundial do século XXI.Muitos são, do ponto de vista brasileiro, oselementos do quadro internacional, a par-tir dos quais devemos avaliar o impacto daintegração europeia sobre o resto do mun-do, e em particular sobre o Brasil: a con-solidação de vários pólos económicos etecnológicos; a construção de blocos re-gionais como a CEE e o Nafta; a ênfaserevigorada no multilateralismo não apenaspolítico - com o fortalecimento da ONU -mas também económico - através da Ro-dada Uruguai; a emergência de novos tó-picos na agenda internacional; a expansãoda democracia e dos valores da economiade mercado; as novas tensões nacionais eregionais em países do terceiro mundo ena Europa central e oriental; o ressurgi-mento diferenciado da questão Norte-Sul,com o persistente e crescente desequilíbriosocial, económico e tecnológico entre paí-ses desenvolvidos e em desenvolvimento;o predomínio da competitividade econó-mica e da eficiência tecnológica sobre acapacidade militar e estratégica.

Muitos desses elementos que acabode mencionar estão presentes, em certamedida, nos tópicos que integram o re-lacionamento entre o Brasil e a CEE. Poresta razão, ao focalizar o tema destedebate, não pude deixar de combinar

umagrande expectativa com certa frustra-ção e algum receio.

A Comunidade Económica Europeiasempre foi um modelo e um desafio paraa América Latina. Nos anos 60, acreditá-vamos que a integração se realizaria exclu-sivamente em função da vontade política.Não percebíamos naquele momento quepor trás do Tratado de Roma havia outroselementos além das cláusulas do próprioTratado. Anos de aprendizado no acompa-nhamento cuidadoso dos assuntos da Co-munidade e de sua crescente importânciacomo nosso parceiro comercial ensina-ram-nos que a integração é o coroamentode um processo progressivo de colabora-ção entre países que têm em comum algomais do que suas fronteiras.

Aprendemos que integração significamaiores fluxos de comércio, de investi-mentos e de cooperação; significa mais doque o mero acréscimo de mercados; que oprocesso de integração deve ir além daliberalização do comércio; que a integra-ção teria grande impacto sobre certos se-tores das várias economias envolvidas;que alcançaria não apenas o nível de pro-dução de bens de serviços, mas também odesenvolvimento de tecnologias; que le-varia à harmonização das políticas macro-econômicas por meio de um complexoprocesso de barganha; e que o processodeveria respeitar as soberanias nacionais,a despeito de todas as concessões voluntá-rias que eram exigidas enquanto, em mui-tos aspectos, as fronteiras desapareciam.

A Comunidade Económica Europeia,tomada como modelo, inspirou-nos a rea-

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lizar projeto similar na América do Sul.Durante anos fortalecemos o comércio in-tra-regional até que vislumbramos a pos-sibilidade de promover esse comércio eelevar a patamares crescentes os interessespor ele gerados. Nesse sentido, o Mercosul- Mercado Comum do Sul - é um desdo-bramento do esforço europeu de integra-ção. Mas não apenas nesse sentido. Quan-do a CEE mostrou-se decidida a caminharrumo ao Mercado Comum, a comunidadeinternacional ficou em alerta: a economiamundial passava por uma rápida transfor-mação e aquele poderoso bloco económi-co provavelmente desequilibraria todo osistema económico do após-guerra, mui-to antes do término da confrontação Les-te-Oeste.

A CEE foi, assim, um modelo e umalerta contra o risco de marginalização.Tal risco foi provavelmente superestima-do ao final dos anos 80, mas ele represen-tava para nós um grande desafio. Valelembrar que os anos 80 foram uma décadaperdida para o Brasil e para a maioria dospaíses latino-americanos, para não falar damaior parte do mundo em desenvolvimen-to. O Japão e os «Tigres» asiáticos davamsinais de que uma comunidade informal daÁsia e do pacífico estava em construção;os EUA e o Canadá já haviam assinado oAcordo de Livre Comércio, e a incorpora-ção do México ao que viria a ser o Naftaera apenas questão de tempo. A África ediversas ex-colônias recebiam da CEE umtratamento especial. A Europa Oriental eravista como o próximo satélite da CEE. AChina tinha, e ainda tem, seu próprio peso.O risco de marginalização era real e efeti-

vo em algumas regiões da América Lati-na. Simultaneamente com a derrocada domodelo económico anterior, baseado nasubstituição de importações e no endivi-damento externo, tal quadro levou-nos amodos diversos de ajustes estruturais e deintegração.

Ademais de ser um modelo e um desa-fio, a CEE sempre foi um importante par-ceiro - o mais importante, e o mais durotambém, para o Brasil. Somos parceiros e,força é reconhecê-lo, somos também,numa certa medida, competidores. Na ver-dade, em larga medida.

Sejamos francos a esse respeito. Te-mos de discordar, precisamente porqueestamos unidos por diversos interessese porque temos sido capazes de nos pôrde acordo em tantas questões importan-tes, tanto de natureza política quantoeconómica.

Tomemos, por exemplo, a agricultura.A política da CEE tem implicações nãoapenas sobre as economia, como a brasi-leira, que não subsidiam o setor, mas tam-bém sobre todo o processo de negociaçãoda Rodada Uruguai, como um fator signi-ficativamente negativo para que se alcanceum entendimento final, que, como se sabe,deverá ser um todo equilibrado de mútuasconcessões e de passos coletivos rumo àliberalização multilateral do comércio. Se-ria interessante apenas apresentar os cus-tos efetivos da política agrícola da Comu-nidade e sua profunda influência sobre ocomércio mundial.

Tomemos outro setor - a política in-dustrial. Causa-nos grande preocupação o

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fato de que medidas protecionistas taiscomo investigações antidumping sejamusadas como instrumentos de política in-dustrial. Subsídios para programas de altatecnologia e o rígido cartel da indústria doaço também têm impacto negativo sobre odesenvolvimento industrial e o comérciodos parceiros da CEE.

O próprio comércio é outro campo quenos preocupou. A estrutura tarifária esta-belecida pela CEE dificulta seriamente oacesso ao mercado comunitário de bensmanufaturados de outros países. Aquiloque se costuma chamar de «síndrome re-gulamentadora» de Bruxelas contribuiigualmente para o desestímulo do inter-câmbio comercial, visto que tais regras,por vezes incompreensíveis, são forte-mente protecionistas. Esse afã protecio-nista contrasta com as políticas de aberturaexecutadas pelo Brasil e por vários outrospaíses latino-americanos.

Diversas outras áreas refletem a preo-cupação que se ia tornando lugar-comumquando os Doze já se preparavam para aplena integração: o temor de que a Europase tornasse uma fortaleza, contrariando oespírito do Tratado de Roma.

Isso é verdade igualmente com relaçãoà transferência de tecnologias avançadasentre a CEE e os países em desenvolvi-mento. Pressões políticas, juntamente comuma variada gama de outras condicionan-tes, fazem-se notar aqui. Restrições aoabrigo de mecanismos de transferência detecnologia como o MTCR já não são acei-táveis, uma vez que se provou que diver-sos países ocidentais desempenharam umpapel importante no processo de desesta-

bilização, ou mesmo de conflagração,em áreas de interesse vital como o GolfoPérsico. A política de não-proliferaçãoda CEE tende, ademais, a não consideraras tendências mundiais e esforços deoutros países, sempre que se trate deproteger os interesses específicos dospaíses-membros.

Isso é verdade também com relação aosetor de transportes aéreos, onde as empre-sas aéreas nacionais dos países-membrossão fortalecidas por meio de subsídios di-retos via fundos públicos, que levam em-presas privadas como a VARIG e a BritishAirways a se confrontarem com uma du-ríssima competição ao disputarem o mer-cado do Atlântico Sul com mais de vintecompanhias estaduais.

A grande atração exercida pelas eco-nomias da Europa central e do Leste sobrea CEE é outro ponto sobre o qual talvezdiscordamos em certa medida. Reconhe-cemos os vínculos históricos e culturaisque os dois lados da Europa mantêm hádécadas, ou mesmo séculos. Reconhece-mos também que esses países, na qualida-de de vizinhos ou quase-vizinhos, tendema constituir uma fonte permanente dequestões de interesse mútuo. Mas seriajusto reconhecer igualmente que a Améri-ca Latina possui uma classe empresarialmais dinâmica, já familiarizada com nego-ciações internacionais, e contando comuma duradoura economia de mercado,onde a tecnologia, o comércio e o investi-mento estrangeiros desempenharam im-portante papel durante décadas de conti-nuado crescimento económico.

Senhoras e Senhores,

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A Comunidade Europeia é, tem sido etudo leva a crer que continuará a ser oprincipal parceiro comercial brasileiro. Enão estou falando de proporções ou cifrasmodestas: quase trinta por cento do nossocomércio exterior está concentrado naCEE, à qual, por sua vez, cabe amplaparticipação nos investimentos estrangei-ros em nosso país; nosso intercâmbio glo-bal atingiu, nos primeiros dez meses de1992, o montante de US$ 12,5 bilhões.

Sentimo-nos frustrados, porém, como fato de que, à medida que a Europaconsolida transformações institucionaisprofundas, redesenhando a própria dinâ-mica das relações internacionais, a Co-munidade não se tem revelado a parceiraque seria legítimo esperar, à luz de seusvínculos históricos com o Brasil e de suapercepção política de nosso processo dedesenvolvimento.

No âmbito dos investimentos, apesardo interesse tantas vezes manifestado peloBrasil, persistiu, nos últimos anos, claratendência à retração. É bem verdade quetal atitude decorreu, em parte, dos proble-mas provocados pelos ajustes estruturaisda economia brasileira. Mas também con-tribuiu a falta de estímulo oficial ao inves-tidor privado europeu, em contraste pro-fundo com o tratamento reservado pelaCEE ao Leste Europeu. Felizmente, já em1992, voltaram a aumentar os fluxos deinvestimento no Brasil, reforçando nossaavaliação de que, com a retomada do de-senvolvimento, ganhará novo ritmo o es-tímulo oficial europeu, em particular nosetor de pequenas e médias empresas.

A dívida externa brasileira, por suavez, assume celeremente a condição de umproblema do passado. Fechados um acor-do standyby com o Fundo Monetário In-ternacional e um outro, de reescalonamen-to, com o Clube de Paris, estamos às vés-peras de tornar operacional um acordo de-finitivo com nossos credores comerciais.Nessa área, cabe assinalar que a contribui-ção europeia em favor de esquemas denegociação mais flexíveis foi muito redu-zida, como se houvesse decisão de delegaraos Estados Unidos um protagonismo ex-clusivo na matéria. Tal atitude não é coe-rente com a presença de bancos europeusno endividamento brasileiro, nem com ovolume dos créditos oficiais a nós conce-didos. O serviço da dívida não deve ser umfim em si mesmo, mas mera condição denovos e importantes negócios.

Para nós, o acesso desimpedido à tec-nologia de ponta europeia é aporte instru-mental para nosso desenvolvimento.Compartilhamos das preocupações dospaíses detentores de tecnologia sobre anecessidade de garantias nos campos nu-clear, balístico e químico. Daí, os renova-dos compromissos internacionais do Bra-sil nessa área. E, daí, também, estarmostrabalhando pela aprovação de um sistemade proteção à propriedade intelectual.Nosso desenvolvimento endógeno, bem-sucedido em várias áreas, a diversificaçãode nossa economia, o tamanho de nossomercado e nossos compromissos interna-cionais tornam-se parceiros importantesno setor tecnológico.

No âmbito do meio ambiente, tema tãosensível à opinião pública europeia, a ação

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comunitária tem sido surpreendentementeparcimoniosa. Depois de seu papel na for-mulação doutrinária de aspectos impor-tantes da problemática ambiental, a Co-munidade chegou discreta à Conferênciado Rio, e mais discretos ainda foram osseus pledges para financiar o Projeto Pilo-to de Florestas Tropicais.

É preciso não esquecer que a simplesrealização da UNCED, que reuniu maisde 110 Chefes de Estado e de Governo eindicou soluções tão criativas, não asse-gura a superação dos principais proble-mas que seguem afetando a todos nós naárea do desenvolvimento sustentável.Precisamos passar da retórica a esforçosconjuntos. Somente assim estaremos àaltura da verdadeira consciência ecológi-ca de nossa época. Apesar das limitaçõesdo Projeto-Piloto, ele hoje se torna reali-dade, com as primeiras contribuições.Mantido o papel construtivo da CEE, omeio ambiente pode ser área de crescentecooperação com o Brasil.

Com relação aos direitos humanos,mais uma vez busca-se uma presença maisativa da Comunidade. Campanhas promo-vidas pela imprensa e por organizaçõesnão-governamentais mantêm a questãocomo prioritária perante a opinião públicaeuropeia. Mas isso é pouco. Muito aindatem de ser feito, em termos concretos. NoBrasil, o fortalecimento do regime demo-crático está-se processando conjuntamen-te com a retomada do crescimento, com areforma e a modernização de nossa capa-cidade produtiva, com a recuperação deuma sociedade desigual e injusta.

O desemprego nos países desenvolvi-dos é subemprego ou marginalização domercado de trabalho em países como oBrasil. As deficiências do sistema educa-cional em sociedades como esta são ques-tões conjunturais. No nosso caso, a agoniaé estrutural. A violência que aumenta nosgrandes centros urbanos é tão inquietantenum lado e noutro do mundo, mas osinstrumentos disponíveis para o combateàs causas profundas dessa mazela socialdiferem consideravelmente. Eis um cam-po altamente propício para a fertilizaçãoda cooperação internacional.

O projeto da retomada do crescimentono Brasil implica um importante incre-mento no seu intercâmbio com o mundo,em regime crescentemente aberto ao exte-rior. Nossa meta é atingir um patamar decomércio exterior superior aos US$ 80bilhões. Estamos seguros de que a Europaestará diretamente envolvida nesse projetoe a ele saberá dar uma resposta positiva.

Senhoras e Senhores,

O Brasil vê a integração europeiacomo um elo importante para o cresci-mento da economia mundial. Só o cresci-mento dinâmico do mundo, com aberturacomercial, poderá permitir a integraçãode países hoje excluídos do núcleo dinâ-mico da economia mundial, mas que sepreparam por suas reformas internas,para a ele aderirem.

A dimensão da economia brasileira,nossos interesses comerciais diversifica-dos, nossos parceiros múltiplos das áreasde investimento e tecnologia determinama opção universalista de nossa política ex-

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terna. A história do Brasil aproxima-nosda Europa, dos Estados Unidos, da África,da Ásia e do Oriente Médio, para nãomencionar a América Latina, nosso entor-no geográfico imediato e nosso parceiromais íntimo.

As relações do Brasil com a CEE têmde estar presididas por um encontro criati-vo de visões de mundo num horizonte decooperação crescente. A sorte do Brasil dealguma maneira está vinculada à sorte daComunidade. No momento, a economiabrasileira encontra-se à beira de dispor deinstrumentos necessários para assegurarsua estabilização, em particular a reformafiscal, e de lançar-se em novo período decrescimento. Nossos parceiros tradicio-nais, como a Europa, podem contar com arevitalização das oportunidades no Brasil,onde a economia de mercado é uma reali-dade; não um objetivo de longo prazo.

No que tange a aspectos doutrináriosde como se está processando a integraçãoeuropeia, destaco a postura britânica demanter, em boa medida, seu vigor libera-lizante nas relações comerciais, de ser umparceiro crítico das práticas distorcidas daCEE, de defender a flexibilização da posi-ção comunitária da Rodada Uruguai doGATT. Refiro-me, também, à disposiçãobritânica de estabelecer vínculos bilateraisde cooperação e pesquisa conjunta naAmazónia, atitude que, decerto, explicasua militância no âmbito do G-7 em favordo Projeto Piloto sobre Florestas Tropi-cais, que, como já indiquei, nasceu grande,mas sobrevive pequeno à espera dos recur-sos prometidos.

Cito esses exemplos de convergênciacom o Brasil para ilustrar uma visão demundo que nós, brasileiros, defendemoscom muita convicção: no pós-Guerra Fria,uma Europa fechada é prelúdio de ummundo fechado. E um mundo fechado de-verá fazer reviver o antagonismo e o con-fronto, em termos talvez mais acirrados doque antes. Nos próximos anos, ninguémprecisará moderar as divergências parapreservar alianças militares necessáriaspara conter a União Soviética.

O moderador das divergências haveráde ser, portanto, a consciência de que vi-vemos um mundo global, onde os interes-ses de uns se entrelaçam forçosamentecom os dos demais. É bem verdade quefomos mais competentes em desmontar osesquemas da Guerra Fria do que em cons-truir novas regras promitentes de convi-vência internacional. Mas ainda há tempo.As mudanças foram tão rápidas que, emmuitos casos, não sabemos se já termina-ram de ocorrer. Precisamos desenvolverjuntos uma visão de mundo que, ao reco-nhecer as individualidades, promova o in-teresse comum.

A globalização e a interdependência daeconomia, para muitos vetor decisivo nasuperação dos esquemas maniqueístas eexcludentes da Guerra Fria, conduziramtambém à universalização de valores quetendem a balizar o sistema internacional.Se o novo modelo produtivo, à base domercado e da vantagem comparativa tec-nológica, impulsionou a prosperidade e achamada terceira revolução industrial, ademocracia é o respeito mais solidário de

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tomada de decisões que haverá de conta-giar as relações entre os países.

Não se trata de valores já conquista-dos, dadas as dificuldades da grandemaioria dos países para ajustar suas eco-nomias aos novos padrões de eficiência esuas sociedades à plenitude democrática.Trata-se, antes, de valores a serem con-quistados, segundo as possibilidades decada um, em processos quase sempre pe-nosos de transição.

A dinâmica dessas mudanças releva acomplexidade do mundo contemporâneo.Aqui e ali, as opções de desenvolvimentopercorrem trajetórias distintas. De nossaparte, consideramos que essa evolução ésadia. O Brasil, embora francamente con-victo da necessidade de adaptar e moder-nizar sua capacidade produtiva, abrindo-se ao mercado externo e desregulamentan-do a presença do Estado na economia,sempre resistiu à proposta de deixar a so-ciedade entregue a sua própria sorte. Aconsciência da necessidade da retomadado crescimento avivou a consciência detoda a nação com a nossa dívida social.

Se a globalização e a interdependên-cia da economia tornaram inviáveis pos-turas isolacionistas, se o fim da GuerraFria retirou fundamento ao confronto eà intimidação, o século XXI haverá deser o século da cooperação e da integra-ção. De outra forma estaríamos voltandoa 1914, a 1939 ou a qualquer outra datada enlutada memória.

Hoje, quando se fala em «agenda paraa paz», nem sempre se tem em mente queela deve passar necessariamente por uma

«agenda para o desenvolvimento». Serápossível defender o êxito de operações depaz em países flagelados pelas causas pro-fundas do subdesenvolvimento? Em coe-rência com essa visão, as operações de pazdevem ser, acima de tudo, peace-foste-ring, e não apenas peace-keeping. Comoinsistia Willy Brandt em começos dosanos oitenta, «while hunger rules, peacecannot prevail. He who wants to ban warmust also ban poverty».

A chave para isso pode ser uma relaçãocriativa entre comércio e crescimento. Nadécada dos oitenta, o comércio aumentouduas vezes e meia mais do que o PIBmundial e, nem por isso, afastou-se o riscode uma recessão. Estudos recentes reve-lam que, mantidos os padrões atuais, o PIBmundial deverá crescer a uma taxa de2,5% ao ano até o fim do século. Nessenível, dificilmente será possível atenderaos anseios mais vocais de melhoria devida nas sociedades industrializadas,quanto mais os dos países em desenvolvi-mento. Nesse nível, também, é muito pou-co provável que o crescimento dos paísescentrais possa, adicionalmente, ativar ocrescimento dos países periféricos e, as-sim, evitar o agravamento de questõescomo as migrações maciças e seus corolá-rios - a discriminação, o racismo, a xeno-fobia, os enfrentamentos éticos.

Nesse contexto, o fechamento dos paí-ses em blocos é o caminho mais curto parao confronto, talvez até para o caos. Se ocomércio não é uma medida capaz de ace-lerar o crescimento nos níveis desejados,a opção não é proteger o comércio, o que

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desencadearia, forçosamente, uma reaçãoem cadeia, desembocando numa guerracomercial de temíveis proporções. A op-ção terá de ser investir no crescimento, eem escala internacional.

Isso é que assegurará o combate àscausas pioneiras dos conflitos entre asnações. Isso é que criará o ambiente ne-cessário para a fluidez e a harmonia dasrelações internacionais. A solução pacífi-ca de controvérsias, no plano mundial, eo encaminhamento democrático das di-vergências internas, fundamentais para aprosperidade da atividade económica,não podem mais ser contemplados sematenção prioritária aos desequilíbrios es-truturais entre países e cidadãos. Supera-da a divisão entre primeiro, segundo eterceiro mundos, no rastro do fim daGuerra Fria, estaríamos consagrando di-visão mais perversa entre países e cidadã-os de primeira e segunda classe.

O mundo fechado em blocos é o mun-do do protecionismo e do nacionalismo, éo mundo das soluções excludentes, que,como nos revela a história do pós-guerra,é um mundo que não resolve nada ouresolve muito pouco.

O mundo que precisamos construirdeve ser um mundo de cooperação. Noqual comércio e investimentos possamfluir de país para país. Onde o crescimentoeconómico seja fonte de oportunidadespara todas as nações. A Comunidade Eu-ropeia, marco industrial da cooperação in-ternacional, tem papel importante a de-sempenhar na construção desse mundo.Para tanto, o Brasil está comprometido atrabalhar junto com a Comunidade, en-quanto avança no seu caminho de refor-mas económicas e de estabilidade política.

Muito obrigado. •

• • •

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III Reunião daComissão Mista Brasil-Irã

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, na Sessão Plená-ria da III Reunião da Comissão Mista Brasil-Irã, em Brasília, em 16 de fevereiro de 1993

JlSxcelentíssimo Senhor Ministro Ali Ak-bar Velayati,

Excelentíssimos Senhores Membrosda Delegação do Irã,

Excelentíssimos Senhores Membrosda Delegação do Brasil,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com grata satisfação que estendo aoMinistro dos Negócios Estrangeiros daRepública do Irã, Sua Excelência o DoutorAli Akbar Velayati, bem como aos ilustresintegrantes da comitiva que o acompanha,as mais cordiais boas-vindas ao Brasil e,particularmente, ao Itamaraty. Sua presen-ça nos trabalhos desta Comissão Mista ésinal da importância dos projetos comunsque aproximam nossos dois países e con-firma o espírito de diálogo e de respeitomútuo com o qual buscamos sempre pau-tar nossas relações.

A nação que acolhe Vossa Excelência,Senhor Ministro, ao ensejo desta visitapara nós muito honrosa, abriga uma socie-dade profundamente revigorada em sua fédemocrática e em sua consciência ética.Esses valores dão consistência à vocação

de paz e desenvolvimento do povo brasi-leiro e revitalizam seus vínculos de coope-ração com a comunidade internacional.

Mas o Brasil que Vossa Excelênciaencontra hoje é, sobretudo, uma naçãosintonizada com os novos tempos. Umanação, como sempre, orgulhosa de suaidentidade, de seu pluralismo político ecultural, mas, principalmente, uma na-ção comprometida com a construção deseu destino.

Sabemos que as transformações domundo contemporâneo não geram apenasesperanças, mas também novos desafios enovas responsabilidades.

As esperanças são fundamentais: asideologias perderam sua força; fortalece-ram-se em escala planetária os valores daliberdade política e económica; desblo-queou-se a agenda internacional com asuperação da ordem bipolar; abriu-se oespaço para discussão de temas vitais parao futuro da humanidade - o meio ambientee o desenvolvimento sustentável, a erradi-cação das armas de destruição em massa,o acesso às tecnologias, a proteção univer-

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sal dos direitos humanos, o combate àfome e à pobreza.

Os desafios e as responsabilidades tor-nam-se, por sua vez, mais complexos. Per-sistem conflitos e ameaças à paz, a despei-to do fim da Guerra Fria. Ao mesmo tem-po, a formação de blocos económicos e aglobalização e sofisticação dos sistemasprodutivos suscitam inquietações. Há orisco de acirradas competições comerciaise o da marginalização dos países em de-senvolvimento em relação aos principaisfluxos económicos, financeiros e tecnoló-gicos do mundo.

É também fator de preocupação a ten-dência à manutenção de mecanismos de-cisórios anacrónicos, correspondentes aestruturas internacionais já superadas.Ao integrar no momento o Conselho deSegurança das Nações Unidas, na condi-ção de membro não-permanente, o Brasilse propõe a contribuir não apenas para oencaminhamento das questões que afe-tam diretamente a paz e a segurança, mastambém para o debate eficaz sobre a ne-cessidade de democratização da ordeminternacional.

Assim como aspiramos a um mundopolítica e socialmente mais equânime,perseveramos no caminho da autênticamodernidade de nosso país. Buscamos aretomada do crescimento económico comjustiça social. Trabalhamos para a plenarealização de nossas potencialidades emcolaboração com os múltiplos parceirosaos quais estamos ligados na economiainternacional, não apenas em suas áreasmais dinâmicas.

Ao Irã, com seu peso internacional esua dimensão económica, cabe inegavel-mente papel relevante no conjunto dasparcerias que unem o Brasil à região doOriente Próximo. O propósito que hojenos anima nesta reunião é justamente o deredimensioná-lo em função de nossos in-teresses recíprocos.

Na Reunião Preparatória deste encon-tro, as partes brasileira e iraniana realiza-ram um trabalho conjunto intenso e exito-so, em clima de grande cordialidade. À luzdesses resultados, creio que podemos am-bas as delegações compartilhar as melho-res expectativas quanto à significativacontribuição que esta Terceira Reunião daComissão Mista certamente trará ao aper-feiçoamento da cooperação bilateral.

Assinalo, por exemplo, que, no campodo comércio, são ativas as trocas entrenossos dois países, com amplas possibili-dades de expansão e diversificação. Aspartes brasileira e iraniana manifestaramdisposição para continuar a explorar todasas alternativas de mercado que visem aoperacionalizar esquema de pagamentoscapaz de sustentar um intercâmbio cres-cente, dinâmico e mais equilibrado.

Quanto à cooperação técnica e indus-trial, é possível identificar um vasto hori-zonte que se abre à participação de tecno-logias, equipamentos e produtos brasilei-ros em setores e projetos prioritários doprograma de desenvolvimento do Irã.

Reconhecendo a riqueza e diversidadedas culturas iraniana e brasileira, estamosconsiderando várias iniciativas para dina-mizar as relações culturais entre nossos

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dois países, aproveitando, para tal finali-dade, o marco institucional do Acordo namatéria que celebramos em 1957.

A Ata Final desta Terceira Reunião daComissão, que ainda hoje muito me hon-rarei em estar assinando com Vossa Exce-lência, recolherá nossas deliberações e seconstituirá em novo marco de avanço nacooperação entre nossos países.

Além de tratarmos de nossa coopera-ção, terei ainda grande prazer em mantercom Vossa Excelência conversações so-bre temas da atualidade da agenda políticainternacional, com ênfase da atuação denossos dois países em seus respectivoscontextos regionais. Aí, temos, segura-mente, uma rica experiência a intercam-biar e a estimular nossa própria contribui-ção aos esforços de construção da novaordem internacional.

Alegra-me especialmente, Senhor Mi-nistro, que, como parte da programaçãooficial de sua visita, Vossa Excelência serátambém recebido pelas máximas autorida-des e representantes do mundo empresa-rial do Estado de São Paulo. Aquela que áa minha terra por adoção não poderia dei-xar de estar diretamente associada, peloseu papel protagônico no processo de de-senvolvimento brasileiro, às iniciativas deambos os Governos em prol do aprimora-mento de suas relações.

Só temos motivos, portanto, para con-fiar no futuro da cooperação Brasil-Irã.Estou certo de que, a partir dos entendi-mentos que formalizaremos ao final dosnossos trabalhos, estarão delineadas, comprecisão, realismo e objetividade, as mo-dalidades de ação conjunta a explorar embenefício de nossos povos.

Muito obrigado. •

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Visita do Chancelerda China ao Brasil

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, durante almoçooferecido em homenagem ao Ministro das Rela-ções Exteriores da República Popular da China,Qian Qichen, no Palácio Itamaraty, em 5 demarço de 1993

-C/xcelentíssimo Senhor Ministro QianQichen,

Senhores Membros da Comitivachinesa,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Tenho, hoje, a honra de dar as boas-vindas ao Ministro das Relações Exterio-res da República Popular da China, QianQichen. Recebemos Vossa Excelência,Senhor Ministro, com os sentimentos degenuína amizade e admiração pelo povochinês. Acolhemos também com alegria acomitiva que acompanha Vossa Excelên-cia e fazemos votos de que tenham entrenós uma jornada de trabalho profícuo,além de momentos de prazer, no convíviocom nossa gente.

Mantivemos esta manhã reunião detrabalho em que percorremos longa agen-da. Verificamos, com satisfação, o largohorizonte de vistas coincidentes da políti-ca externa de nossos dois países. Aindahoje Vossa Excelência visitará o Presiden-te da República, Itamar Franco, e outrasautoridades dos Poderes Legislativo e Ju-

diciário. O programa de Vossa Excelênciainclui ainda encontros com autoridadesEstaduais e Municipais, nas cidades deSão Paulo e Rio de Janeiro, os dois maio-res centros industrial, económico e finan-ceiro do país.

Em seus contatos com os mais altosdirigentes da República, Vossa Excelênciapoderá colher o testemunho de nossa ad-miração pela cultura da nação chinesa e denosso apreço pelas relações com a Repú-blica Popular da China. Tais foram ossentimentos que nortearam nossa atuaçãonos 19 anos de nosso relacionamento.Nesse período, construímos vasto e ricopatrimónio, que se estende da cooperaçãopolítica, nos mais variados organismos in-ternacionais, até a arrojada cooperação emciência e tecnologia, nicho do programa deconstrução conjunta de satélites, e passapela cooperação cultural, com o intercâm-bio de estudantes.

Durante sua estada entre nós, VossaExcelência terá também a ocasião de ouviro relato direto e franco de nossas autorida-des sobre o momento atual brasileiro, de

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nossas conquistas e de nossas esperanças.Somos hoje, Senhor Ministro, uma na-ção, uma jovem nação que sente orgulhoem ver concretizar-se a promessa do ama-durecimento político. Outra não é a es-sência dos fatos ocorridos nos últimosdez anos, em que evoluímos de regime deexceção para regime de plena vigênciademocrática, em ordem, em paz e segun-do a letra da lei.

Recentemente, as instituições do nossopaís foram novamente colocadas à provae mais uma vez assistimos ao predomínioda ordem, da paz e da lei. As grandescidades brasileiras assistiram a manifesta-ções populares, de que participaram maisde meio milhão de pessoas. Não se regis-trou um só incidente.

É este Brasil, eu repito, com um novosentimento de orgulho pela solidez de suasinstituições, que hoje se apresta a retomaro curso do desenvolvimento económico.Nesse sentido, a liberalização da econo-mia corresponde à firme decisão de pro-mover maior integração com os centrosinternacionais mais dinâmicos, através doaumento dos fluxos de comércio, do inves-

timento de capitais, isoladamente ou emjoint-ventures, e da continuação de trans-ferência de tecnologia, que torna possívelo grande salto qualitativo das estruturas deprodução do país.

Senhor Ministro,

O relacionamento entre o Brasil e aChina já atingiu sua maturidade, mas estáainda longe de ter explorado e desenvolvi-do todo o seu potencial. Estamos certos deque a auspiciosa visita de Vossa Excelên-cia contribuirá de modo muito positivopara torná-lo ainda mais denso e produti-vo. Esperamos, também, que a visita deVossa excelência seja seguida, em breve,pelas reuniões dos mecanismos bilateraisconjuntos de cooperação nas áreas econô-mico-comercial, de ciência e tecnologia,cultural e política.

Com este espírito de amizade e otimis-mo, convido a todos os presentes a que meacompanhem em um brinde à saúde doMinistro Qian Qichen, a nossos visitantese ao futuro do relacionamento do Brasilcom a República Popular da China.

Muito obrigado.

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso,na cerimónia de assinatura de atos com o Chanceler da República Popular

da China, Qian Qichen, em Brasília, em 5 de março de 1993

Excelentíssimo Senhor Ministro QianQichen,

Foi com grande satisfação que assinei,com Vossa Excelência, os novos atos bi-laterais entre o Brasil e a República Popu-

lar da China, que hoje se somam aos vintee oito já existentes.

Ampliamos e aprimoramos a moldurainstitucional do relacionamento entre nos-sos dois países, conformando-a às suas

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novas realidades. Os acordos em vigorentre o Brasil e a China cobrem, assim,número crescente de áreas de interesseonde é promissora a cooperação.

Nossos países não só alcançaram ní-veis de desenvolvimento semelhantes emmuitos campos, como apresentam carac-terísticas que os aproximam, em sua di-mensão continental, abundância de recur-sos naturais e amplas variedades regio-nais. No esforço pelo nosso crescimento,desenvolvemos e provamos experiênciasque podemos compartilhar com grandeproveito mútuo.

Acabamos de assinar acordos que dis-ciplinam aspectos novos da cooperaçãobilateral e se destinam a contribuir demodo muito especial para o dinamismodesse intercâmbio.

O Ajuste Complementar sobre coope-ração em matéria de hidreletricidade deta-lha aspectos antes previstos, em sua gene-ralidade, no Acordo sobre CooperaçãoEconómica e Tecnológica, assinado porocasião da visita do Presidente YangShangkun a nosso país.

Em 1992, visitaram o Brasil dez mis-sões chinesas desejosas de conhecer a ex-periência brasileira na construção e im-plantação de usinas hidrelétricas. Tivemostambém a honra de promover a visita doPrimeiro-Ministro Li Peng a Itaipu, elepróprio engenheiro elétrico por formaçãoe com experiência de vinte anos de traba-lho no setor.

Acreditamos que este novo AjusteComplementar, fruto do esforço conjunto

das autoridades responsáveis pela área deenergia do Brasil e da China, ampliará aproveitosa troca de experiências já em cur-so entre nossos dois países e promoverá acooperação económica e industrial, funda-mentais para o desenvolvimento do setorenergético. Desejamos prestar, nessa for-ma, contribuição muito positiva ao gigan-tesco esforço do Governo chinês no apro-veitamento de seus recursos hídricos.

Na área da cooperação espacial, che-gamos felizmente a novo patamar de en-tendimento. Desejo estender minhas con-gratulações aos dirigentes e técnicos doInstituto Nacional de Pesquisas Espaciaise da Academia Chinesa de Ciências Espa-ciais pelo trabalho realizado e que ensejoua assinatura, hoje, do Protocolo Suple-mentar sobre Aprovação de Pesquisa deProdução de Satélite de Recursos da Terra.

O Brasil e a China, ao darem início aoprojeto de construção conjunta de satéli-tes, abriram um campo inédito na coope-ração em ciência e tecnologia entre asnações em desenvolvimento. Desejamosque este seja, também, um passo inicial nolongo caminho que temos à frente, para acooperação em alta tecnologia. Esperamosexpandir nossa cooperação nessa área,para incluir outros setores como a energianuclear para fins pacíficos, química fina enovos materiais.

Por auspicioso, ressalto também nestaocasião a promulgação, em 19 de fevereiropassado, do Acordo destinado a evitar aDupla Tributação e prevenir a Evasão Fis-cal em Matéria de Imposto sobre a Renda,entre o Brasil e a China.

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Senhor Ministro,

A visita de Vossa Excelência ao Bra-sil, além de criar a oportunidade para afinalização dos instrumentos que acaba-mos de assinar, foi também de grandeutilidade para amplo e proveitoso examedos grandes temas internacionais, bemcomo da agenda bilateral. Mantemos, as-sim, viva a tradição já firmemente esta-belecida da consulta política periódica,

de alto nível, entre os Governos brasileiroe chinês.

Gostaria de reiterar a Vossa Excelên-cia, em testemunho público, ser minhadisposição de realizar, tão logo seja possí-vel, viagem oficial a Pequim, em atendi-mento ao convite que Vossa Excelênciagentilmente me formulou.

Muito obrigado. •

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Brasil e Japão assinam acordossobre cooperação no setor ambiental

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deassinatura de acordos por troca de notas, como Governo do Japão, sobre projetos ambientaisfinanciados pelo Overseas Economic Coopera-tion Fund, em Brasília, aos 12 de março de 1993

motivo de grande satisfação para miniproceder à presente troca de notas com oEmbaixador do Japão, pela qual nossosgovernos acordam a contratação de finan-ciamento, em ienes, da ordem de oitocen-tos e quarenta milhões de dólares, a serestendido pelo Fundo de CooperaçãoEconómica Internacional, para a imple-mentação de três importantes projetosambientais.

Trata-se da primeira participação doFundo em empreendimento vinculado àárea de meio ambiente no Brasil. O pio-neirismo deste crédito ocorre no momen-to em que o Brasil dinamiza sua ação,interna e externa, no campo da preserva-ção ambiental, condição indispensável àconsecução do objetivo do desenvolvi-mento sustentável.

A liberação de fundos que ora forma-lizamos beneficiará dois dos mais impor-tantes Estados da Federação brasileira:São Paulo e Rio de Janeiro, cujos Gover-nadores muito nos honram - a mim pes-soalmente, e ao Itamaraty - com sua pre-sença nesta solenidade. Em São Paulo,

parte da ajuda nipônica se somará a outrosaportes financeiros negociados pelo Go-verno brasileiro para a despoluição do RioTietê, via de integração estadual e impor-tante artéria para a oxigenação do maiorcentro industrial do país.

O segundo projeto a ser financiado noEstado de São Paulo diz respeito à criaçãode uma usina de reprocessamento de lixo,que terá o duplo efeito benéfico de contri-buir, tanto para o equacionamento daquestão da limpeza urbana, quanto para aexploração de uma fonte energética alter-nativa, numa região de crescente demandapor eletricidade.

No Rio de Janeiro, os recursos do Fun-do de Cooperação irão somar-se a outroscapitais já comprometidos para os traba-lhos de despoluição da Baía da Guanabara,passo importante para a promoção da qua-lidade de vida das populações que vivemnas suas adjacências, além de incentivo àindústria carioca de turismo, fonte de ren-da relevante daquele Estado.

Este acordo é demonstrativo do vastoterreno de interesses compartilhados pelos

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dois países, que se expressam positiva-mente através da cooperação em projetosde desenvolvimento que, se já tradicio-nais nos setores agrícola e industrial,inauguram agora um trabalho conjuntona área inovadora e desafiante da prote-ção ambiental.

Do lado brasileiro, o presente acordovem coroar, no plano das relações bilate-rais, o esforço governamental de regula-rização de seus compromissos financei-ros com o Japão, evidenciando a impor-tância que o Brasil atribui ao seu relacio-namento com esse país, com quem man-tém laços especiais de amizade, magnifi-cados pelo entrosamento cada vez maiorentre seus povos.

Estou seguro de que teremos, SenhorEmbaixador, muitas outras oportunidadesde acordos como este, em futuro próximo,dada a multiplicidade de oportunidades decooperação já identificadas entre os doispaíses e o desejo sincero dos dois Gover-nos de estreitarem ainda mais o relaciona-mento bilateral, de forma criativa e politi-camente consentânea com a plena satisfa-ção de seus interesses mútuos.

Procedemos ainda, nesta ocasião, auma segunda troca de notas, não menos

importante, pela qual nossos Governosacordam atribuir status autónomo ao escri-tório do Fundo de Cooperação EconómicaInternacional no Rio de Janeiro.

O Brasil e o Fundo têm uma tradiçãode cooperação de 12 anos, consubstancia-da na implementação de projetos que vi-sam a contribuir ao aperfeiçoamento daestrutura portuária nacional, à irrigaçãode novas áreas cultiváveis no Nordestebrasileiro e em Minas Gerais, à eletrifica-ção rural e, agora, à proteção e recupera-ção ambientais.

É, portanto, muito auspiciosa a ceri-mónia de que participamos aqui, SenhorEmbaixador, na presença ilustre dos Go-vernadores de São Paulo e do Rio. Elarepresenta o coroamento de um trabalhosério e perseverante de nossas Chancela-rias, como das autoridades estaduais bra-sileiras, sempre atentas na identificaçãodas oportunidades de maior cooperaçãobilateral. Protagonizamos hoje, portanto,uma conquista significativa para o relacio-namento cada vez mais estreito e mutua-mente benéfico entre o Brasil e o Japão.

Muito obrigado. •

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Visita ao Chile do MinistroFernando Henrique Cardoso

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, ao ser condecora-do pelo Governo da República do Chile, emcerimónia na Academia Diplomática, com aGrã-Cruz da Ordem ao Mérito, em Santiago, em23 de março de 1993

.E/xcelentíssimo Senhor Ministro EnriqueSilva Cimma,

Senhores Embaixadores,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Creio não precisar dizer da emoçãocom que recebo das mãos de Vossa Exce-lência a Grã Cruz da «Ordem ao Mérito»,distinção que o Estado chileno outorgagenerosamente aos estrangeiros que con-sidera particularmente amigos.

Para expressar a gratidão que devotoao Chile e sua gente, fiz questão de atenderprontamente ao amável convite de VossaExcelência para que esta fosse minha pri-meira visita de caráter oficial ao exteriorna condição de Chanceler do Brasil.

Aqui fui acolhido da forma mais amis-tosa e fraterna quando, no Brasil, passáva-mos difíceis. Os quatro anos que vivi noChile constituíram uma das fases mais fe-cundas de minha carreira académica.Devo-a aos amigos que fiz nos círculosintelectuais, universitários e políticos des-

ta magnífica cidade de Santiago. Devo-aaos alunos que aqui tive e que me estimu-laram a aprofundar minhas pesquisas naárea da sociologia, da ciência política e dasquestões do desenvolvimento.

Como eu, muitos outros brasileiros sebeneficiaram da hospitalidade chilena, e oBrasil também recebeu, sempre de braçosabertos, os chilenos, que demandaram anossa terra por variadas circunstâncias.

Estou seguro, Senhor Chanceler, deque não é por mero acaso que a Naçãochilena desperta na sociedade brasileiraum sentimento de tão profunda afinidadee admiração.

Um dos maiores historiadores do Bra-sil, Sérgio Buarque de Holanda, em cursoque ministrou também há trinta anos naUniversidade do Chile, já notara que exis-te um notável paralelismo na evolução eformação de nossos países, expresso, entreoutros fatores, «pela adoção de fato de umregime com fortes matizes parlamenta-res». Na realidade, a normalidade política

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para nós sempre foi a democracia. Nuncanos conformamos com sua ruptura.

Sublinhava ainda Buarque de Holandaque essas coincidências exerceram in-fluência «na popularidade real, e não de-clamatória» que o Chile «desfrutou cons-tantemente no Brasil».

Ao usar a expressão «popularidadereal», quis o historiador significar que ela«não necessitou ser insuflada ou fabrica-da pelos Governos, senão que, pelo con-trário, cresceu espontaneamente de múl-tiplas raízes e está longe de representaruma criação artificial e de emergência».Essas observações parecem-nos perfeita-mente atualizadas.

Brasil e Chile possuem um importan-te património comum de afinidade e com-plementaridades que está à nossa dispo-sição, e que deve ser ampliado e melhorutilizado, nos dias de hoje, para ajudar-nos a enfrentar os desafios com que nos-sas ações se deparam.

Nos tempos em que vivemos desta-cam-se com clareza três ingentes tarefaspara nossas sociedades e Governos:

• a consolidação de uma democracia aber-ta e moderna;

• a retomada, em termos estáveis, do cres-cimento económico, para a superação dosubdesenvolvimento;

• e a busca de uma posição de força paranossa região, num cenário internacionaldominado por blocos económicos pode-rosos e crescentemente protecionistas.

Acredito não ser exagerado afirmarque um dos principais fatos ocorridos nos

últimos anos no quadro político interna-cional foi a restauração da democracia naAmérica Latina. Valorizo, sobremaneira,a consciência política de nossas nações,que puderam realizar com êxito a difíciltarefa de viabilizar regimes democráticosa despeito de condicionamentos internos eexternos extremamente desfavoráveis.

Devemos ter sempre em mente quemuitos de nossos países estão enfrentandodifíceis obstáculos, como as desigualda-des de renda, a persistência da inflação, opeso do serviço da dívida externa, fatoresesses que poderiam induzir a um desalentocom a opção pela democracia. No entanto,ao fazer uma avaliação do que já foi alcan-çado, verificamos que a realidade compro-va que a América latina já absorveu oensinamento basilar de que a democraciaé intrinsicamente superior a qualquer for-ma de autoritarismo, ainda que este acenecom benefícios materiais a curto prazo.

A democracia, ao garantir esse bemsuperior a qualquer outro, que é a liberda-de de pensamento e de iniciativa, tambémdemonstra ser tão eficiente quanto todaoutra forma de regime para a promoção dodesenvolvimento com equidade. Nos diasde hoje, em que o sucesso económico de-corre, sobretudo, da criatividade no campoda tecnologia, o regime democrático, aoestimular o florescimento das capacidadesindividuais, mostra-se particularmente in-dutivo ao progresso material.

Ademais, convém registrar duas ten-dências complementares a esta força re-democratizante que empolgou a Améri-ca Latina:

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• a solidariedade entre nossos países nadefesa de regimes democráticos amea-çados de ruptura;

• e o empenho com que buscamos aper-feiçoar e purificar nossas instituiçõespolíticas e governamentais.

Quero aqui fazer uma menção muitoespecial à maestria com que a classe polí-tica chilena conduziu com êxito o processode transição, guiada com tanta competên-cia pelo Presidente Patrício Aylwin, asses-sorado nessa tarefa por homens experien-tes, sérios e progressistas, como VossaExcelência, Senhor Ministro Silva Cim-ma, e muitos outros membros do Governochileno.

Fora de dúvida, o modelo económicoadotado pelo Chile é mais conhecido in-ternacionalmente do que suas instituiçõespolíticas. Esse modelo vem permitindo aopaís manter, já por um longo período, ele-vadas taxas de crescimento. Para a Amé-rica Latina, o sucesso económico chilenosó nos dá satisfação. Em primeiro lugar,por vermos afinal recompensados o sacri-fício e o esforço pertinazes da nação chi-lena, assim como a criatividade de suaslideranças empresariais.

Ademais, o exemplo chileno compro-va ser o continente latino-americano umadas regiões melhor dotadas para atingirtaxas elevadas de crescimento económico,desde que se estabeleçam, através de apor-te de capitais, equações corretas de com-binação dos fatores de produção, e que senos garanta o direito de competir nos mer-cados internacionais.

Infelizmente, o alcance dessas duasmetas se vê ameaçado. Em primeiro lugar,contraíram-se fortemente, nos últimosanos, as disponibilidades de capital nospaíses altamente industrializados. O fluxode investimentos para a América Latina é,assim, muito reduzido, se o compararmoscom os aportes que nos vinham nas déca-das de 50, 60 e 70.

Temos hoje de competir por capitaiscom o Leste Europeu, com os países daÁsia e até mesmo com os Estados Unidos,cujo déficit fiscal o obriga a levantar vul-tosos recursos nos mercados financeirosinternacionais. Os países do Leste Euro-peu, descapitalizados, atraem sobretudoos fundos de natureza pública, sobretudoprovenientes da Comunidade Europeia,que teme o surgimento de focos de insta-bilidade política na sua vizinhança. Quan-to à Ásia, com seus imensos mercadospotenciais e a operosidade de suas popula-ções, afinal liberadas dos conflitos ideoló-gicos que as entorpeciam, constitui umpoderoso magneto a atrair investimentosdo setor privado, sobretudo do japão, quese propõe a criar um mercado regionalalternativo para suas exportações, freadaspelos obstáculos crescentes que se lheopõem no Ocidente.

Ademais das dificuldades para a ob-tenção de investimentos sólidos, e não me-ramente especulativos, enfrentamos umrisco ainda maior, que é o da marginaliza-ção. Este risco talvez tenha sido superesti-mado, mas não devemos deixar de ter emmente que a crise no Primeiro Mundo estáintensificando tendências protecionistasque tanto nos são prejudiciais.

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Ademais da Comunidade Europeia,com sua já tradicional política protecio-nista, sobretudo na área agrícola, os Es-tados Unidos também abandonam acele-radamente a prática do livre comércio. OJapão persiste em sua política comercialdesenhada para favorecer as importaçõesde matérias-primas e desestimular as deprodutos com maior valor agregado. Ve-mos, assim, a dimensão real dos obstácu-los que se erguem contra as justas expec-tativas dos países latino-americanos deampliação e diversificação de suas pautasde exportação.

Exemplo dos efeitos nefastos decor-rentes da adoção simultânea de políticasprotecionistas é o impasse ocorrido nasnegociações da Rodada Uruguai, queameaça causar uma contração brutal docomércio internacional.

Por essa razão, o Brasil considera aintegração latino-americana como umanecessidade de natureza estratégica. Preci-samos unir-nos para criar, neste mundo deblocos económicos poderosos, um centroque tenha densidade própria, um mercadoque possa garantir uma escala mínima deprodução para nossos produtos manufatu-rados e que estimule o direcionamento deinvestimentos externos para setores dinâ-micos de nossas economias.

Nesse contexto, adquire especial rele-vância a coordenação política e económicaentre nossos países. Convido meus com-panheiros chilenos a juntos refletirmos so-bre a definição de estratégias novas para

enfrentar aqueles desafios, atuando coor-denadamente, de modo a assegurar paranossos países um processo de desenvolvi-mento auto-sustentável.

Senhor Chanceler Silva Cimma,

Brasil e Chile desenvolveram mar-cante trajetória no cenário internacional.Desde o início de suas existências comonações independentes, são amplamentereconhecidas nossas contribuições parao pacífico convívio internacional. Senti -mo-nos, portanto, com o direito de rei-vindicarmos a vigência dos postuladosdemocráticos também nas relações entreos Estados.

Devemos corrigir injustiças e desi-gualdades, tanto no campo interno comona área internacional. Recentemente, aocontribuirmos, Chile, Brasil e Argentina,para viabilizarmos a entrada em vigor doTratado de Tlatelolco, e ao nos associar-mos à iniciativa para o banimento de ar-mas químicas e biológicas, demos maisexemplos de nossa ação construtiva nes-se importante segmento do direito inter-nacional.

Não aceitamos a separação preconcei-tuosa, muitas vezes ainda praticada, entre«nações responsáveis» e «países de se-gunda classe». Aspiramos, legitimamen-te, a um tratamento digno, respeitoso etransparente.

Considero também essencial registraraqui a ação que nossas diplomacias de-senvolvem no seio das Nações Unidas,

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procurando reforçar sua capacidade paci-ficadora, ao mesmo tempo que buscamosfazer com que a ONU retome sua vocaçãode liderança para assegurar o progressoeconómico e social dos países em desen-volvimento.

Também nesse contexto, é precisonão esmorecer na aplicação dos resulta-dos da Conferência do Rio. Ali se dese-nhou uma nova estratégia para o desen-volvimento, fundada na visão renovadada cooperação internacional. Mais do queisso, operou-se um importante salto con-ceituai, ao se negar a distinção artificialentre problemas globais e problemas lo-cais. Colocaram-se as questões do desen-volvimento no mesmo plano dos proces-sos globais de comprometimento do meio

'ambiente que tanto concentram as aten-ções dos países industrializados.

Passado menos de um ano, no entan-to, já se percebe uma tendência a voltar aencarar os resultados da Conferênciacomo recaindo dentro da esfera das ques-tões meramente ambientais. O perfeitoentrosamento com que nossos paísesatuaram na Conferência será importantepara assegurar a defesa da posição ardua-mente conquistada nas negociações inter-nacionais sobre meio ambiente e desen-volvimento.

A brilhante e bem sucedida iniciativachilena, por nós apoiada desde o primeiromomento, de convocar uma Cúpula deDesenvolvimento Social, constituiu umclaro sinal de redefinição de prioridades

daquele Organismo. No mesmo sentido, oBrasil sugeriu a adoção de uma «Agendapara o Desenvolvimento», iniciativa tam-bém aprovada e que, esperamos, venha aorientar, em escala mundial, os esforçosconjuntos para a superação da pobreza.

Em suma, o grande desafio de nossostempos é o de criar, ou melhor, de trans-formar uma cultura centrada na obediên-cia, na confrontação de forças antagónicase no jogo de poder, em outra, centrada norespeito mútuo e na colaboração. Na res-ponsabilidade, e não no ocultamente Naverdade, e não na aparência.

Que tipo de sociedade desejamos? Quemodelo de Estado queremos? A que pa-drão de relacionamento humano aspira-mos? Na resposta a todas essas perguntasdesempenha papel decisivo a vontade deassumir compromissos com coerência efirmeza. Após largos períodos de oscila-ção entre fases de estabilidade e instabili-dade, tudo parece indicar que nossa histó-ria está entrando em uma nova órbita.

Juntemos nossos esforços, pois, paraestarmos à altura das justas expectativasde nossos povos em prol da liberdade,progresso e paz.

Uma vez mais, agradeço sensibilizadoao Governo do Chile pela distinção que meoutorga e pela oportunidade que me deude falar nesta Academia Diplomática, queforja, como o nosso Instituto Rio Branco,os agentes de uma diplomacia respeitada.

Muito obrigado.

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Conferência proferida pelo Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, no Hemiciclo da Antiga Câmara dos Deputados,

sob o patrocínio da Academia Diplomática do ChileSantiago, em 24 de março de 1993

Olho à minha volta neste antigo plená-rio da Câmara dos Deputados e procuroimaginar os embates de ideias que aqui setravaram. Quantos grandes momentos dahistória do Chile foram refletidos nesterecinto. E não só do Chile porque este paístão altivo, tão perceptivo, sempre projetouvisões importantes e absorveu e trabalhouas teses que marcaram a trajetória de nossoContinente.

Quem sabe se essas paredes, por algu-ma lei misteriosa, não guardarão os ecosde tantos discursos radicais, socialistas,comunistas, democratas-cristãos e tantosoutros defensores de causas diversas quenesta sala forjaram a liberdade chilena e aalta cultura política de seu povo.

Com humildade ante esses altos ante-cedentes e neles buscando inspiração gos-taria de transmitir-lhes alguns conceitos ecomentários sobre a situação presente noâmbito mundial e, em particular, sobre aparticipação dos nossos países e do nossocontinente no quadro global.

Um mundo novo, uma nova ordem?

O término da Guerra Fria criou umcenário cujas características principais po-deriam ser a unipolaridade do poder mili-tar, a formação de uma economia globalde mercado, a proeminência das políticasliberais na gestão da economia, a progres-siva organização da economia e do comér-cio internacionais em blocos regionais esub-regionais e a tendência à globalização

de problemas, como os que dizem respeitoao meio ambiente, aos direitos humanos eao abuso de entorpecentes.

A esses temas sobrepõem-se processosque nada têm de novo, mas que não perde-ram atualidade. A problemática do desen-volvimento, por exemplo, não deve serobjeto de preocupação menos global oumenos intensa do que as questões queacabo de mencionar. Afinal, o fim daGuerra Fria coincidiu com o encerramentode uma década caracterizada pela agudadeterioração da situação da maioria dospaíses em desenvolvimento. Outras ques-tões, mais antigas, como a dos nacionalis-mos ou fortalecem-se com o desapareci-mento do sistema bipolar que impunhauma certa «ordem» - mais ou menos pre-cária - sobre uma realidade que, todossabemos, é essencialmente dinâmica e re-fratária e enquadramentos dualistas.

Talvez decorra dessa junção de proble-mas novos, que apontam para o futuro, ede questões velhas, que nos prendem aopassado, a especial complexidade do mo-mento que vivemos. Multiplicam-se, emconsequência, os desafios para os formu-ladores de política externa, incumbidos dedefinir as ações que projetam o Estadocomo ator nesse sistema internacional emacelerada transformação e marcado porcontradições.

Já se ouve falar no surgimento de uma«nova ordem internacional» pós-Guerra

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Fria. Não há dúvida de que se abrem novaspossibilidades de evolução do cenário in-ternacional, mas ainda é difícil identificaro significado profundo das mudanças queocorrem. Qualquer prognóstico deve fa-zer-se com extrema cautela. O que se podedizer com certa margem de segurança éque há otimismo prematuro entre os queantevêem a rápida construção de uma novaconvivência entre os Estados, fundada nasolução pacífica de controvérsias, na de-mocratização dos processos decisórios ena cooperação para um desenvolvimentoeconómico plenamente realizado, susten-tado e universal.

A preocupação em contrapor a ordemà força nas relações entre Estados sobera-nos talvez se tenha articulado a partir dosistema de Westfália. Grócio procurou de-monstrar que a soberania não conflitavairremediavelmente com a subordinaçãodos Estados à jurisprudência. Na ausênciade uma autoridade incontrastável, capazde impor a ordem, procurou no DireitoNatural os princípios morais que seriam asnormas vinculatórias entre os Estados. Apartir de Hobbes, por outro lado, firma-seuma visão oposta: a sociabilidade, implí-cita no conceito Grociano, é negada comocondição natural. A primazia do indivi-dualismo é incompatível com a ideia dejustiça universal. A ordem internacional éconfigurada - e sua estabilidade garantida- pela distribuição de poder entre os Esta-dos de maior peso militar e económico.

Tanto o equilíbrio de poder que predo-minou entre 1815 e 1914 como a dissuasãonuclear, que marcou o período de 1945 a1989, constituíram, para dizer o mínimo,

sistemas de preservação da ordem impre-visíveis e de alto risco. A maior estabilida-de relativa lograda pela Guerra Fria deu-seao custo da «administração» dos inúmerosconflitos regionais por ela exacerbados ede uma corrida armamentista de propor-ções assombrosas, com gastos estimadosem US$ 500 bilhões anuais para as duassuperpotências, o que seguramente terácontribuído para a erosão interna e a der-rocada da União Soviética.

O multilateralismo, que tanta esperan-ça suscitou nos chamados «idealistas», emSão Francisco, como um sistema mais efi-ciente e justo de regulação da ordem inter-nacional, teve funcionamento limitado nosúltimos quarenta anos. Em alguns campos,como no de direitos humanos, ocorreram,sem dúvida, avanços notáveis. No entanto,não parece existir, ainda, dois anos após aGuerra do Golfo, uma base consensualpara a reavaliação do funcionamento e oaumento da eficácia do papel das NaçõesUnidas. Haverá por cento um difícil cami-nho a trilhar em direção a um multilatera-lismo renovado.

A legitimação generalizada da demo-cracia política e do livre mercado é apon-tada por alguns como indício da culmina-ção de um processo histórico. O capitalis-mo liberal, é verdade, não tem hoje com-petidor capaz de ameaçar-lhe a proemi-nência. Não podemos, no entanto, afirmarque o mundo esteja rumando para algo quese assemelhe a um grande consenso ouuma identidade política única. Pelo con-trário, a intensidade do processo históricopermanece inalterada no grande númerode conflitos localizados, nos embates de

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fundo étnico, cultural e religioso e na dis-juntiva entre desenvolvimento e subde-senvolvimento.

Outra característica de nossa época éum aparente descompasso entre o ritmodas transformações no campo político eno campo económico. As rupturas nojogo de poder estratégico-militar são re-lativamente recentes, embora, é claro, te-nham raízes mais profundas. Na econo-mia mundial, por sua vez, vêm-se conso-lidando há mais tempo mudanças de ca-ráter permanente e não cíclico. Num co-nhecido e polémico artigo publicado naForeign Affairs em 1986, Peter Druckerafirma que a economia mundial não «estáem mudança; ela já mudou». Aponta, emdefesa de sua tese, três aspectos: a desco-nexão entre os produtos primários e aeconomia industrial; a desconexão entreprodução e emprego na economia indus-trial; e o aparecimento dos fluxos de ca-pital como força impulsionadora da eco-nomia mundial e a relação frouxa e im-previsível entre estes e o comércio.

A capacidade de ação política dos Es-tados está, mais do que nunca, ligada àsua sobrevivência numa economia globalcada vez mais competitiva. A supremaciados Estados Unidos vê-se até certo pontoqualificada pela relativa debilitação desua economia e a afirmação de outrospólos de poder económico na Comunida-de Europeia e no Japão. A afirmação demodalidades de comércio administradoem larga escala leva a uma concentraçãodos fluxos de comércio e investimentonas áreas mais dinâmicas do planeta. Essareorganização econômico-comercial em

escala mundial, cuja velocidade poderávariar de lugar a lugar, mas que pareceirreversível, tenderá a levar, pelo menosem algumas regiões, a uma progressivadissolução do relacionamento económicobilateral dentro do conjunto maior de cadaagrupamento supranacional.

O pano de fundo para essas mudançastem sido uma profunda desordem econó-mica, cujas origens remontam aos anossetenta. A interdependência crescente, aomesmo tempo que reduz a capacidade decada país de influenciar em seu beneficioa dinâmica da economia internacional,coincide com o acirramento de práticasprotecionistas. A incerteza reinante sobreos resultados da Rodada Uruguai não per-mite ainda um diagnóstico otimista quantoao fortalecimento das regras que embasamo comércio multilateral, necessárias paraarrefecer as tendências neo-protecionistasdo momento. A taxa de crescimento dospaíses da OCDE situa-se aquém dos níveismínimos necessários para impulsionar aeconomia global, cuja gestão revela-se umexercício precário, como demonstra a per-formance do Grupo dos Sete nos seus es-forços de coordenação. O fim da GuerraFria não liberou recursos, na quantidade ena forma que muitos previam ou deseja-vam, para o soerguimento da economiainternacional. Pelo contrário, alguns deseus corolários imediatos, como o custo-síssimo processo de reunificação alemã,estão na raiz da presente situação.

A verdade parece ser que a transição paraum mundo pós-Guerra Fria apenas começae que caminhamos nessa direção carregandopesada herança de contradições.

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A renovada atualidadedo desenvolvimento

Hoje, é frequente ouvirmos a defesadas vantagens do fim do mundo bipolar emtermos quase puramente ideológicos, em-bora se tenha tornado lugar comum diag-nosticar a dissolução generalizada dasideologias que, sob variadas apresenta-ções, ocuparam nossas mentes e esporea-ram nossas ações por mais de um século.O que se vê é uma forte propensão a que oideário liberal tome o lugar dos esforçospara a superação das distorções e dos de-sequilíbrios da economia internacional.

No plano interno, as evidências de es-gotamento dos modelos autárquicos de de-senvolvimento validam, em boa medida, aadoção de políticas económicas orientadaspara o mercado, a abertura aos fluxos decomércio, a competitividade e a comple-mentariedade. Todos os nossos países, emdistintas escalas de tempo e trilhando ca-minhos nem sempre coincidentes, perfize-ram, ou ainda perfazem, ao custo que to-dos conhecemos, o caminho das reformasestruturais. Evidentemente, esses esforçosnão podem acontecer isoladamente, comose não houvesse conexão alguma entre oque acontece dentro das fronteiras nacio-nais e a economia internacional. Muitomenos pode-se esperar que os ajustes in-ternos como que transbordem, provocan-do uma espécie de ordenamento automáti-co em escala global.

Um dos grandes desafios que enfren-tamos pode ser identificado no esmaeci-mento do grande debate internacional so-bre as questões do desenvolvimento, quejá vinha perdendo fôlego nos anos oitenta

até atingir um estancamento quase com-pleto no final da década. Permanecemmais urgentes do que nunca as inúmerasquestões que afetam diretamente os paísesem desenvolvimento. O acesso aos merca-dos dos países industrializados continuasofrendo o efeito de obstáculos não-tarifá-rios, de medidas unilaterais e da discrimi-nação em favor dos próprios países desen-volvidos. Sobre nossas exportações tradi-cionais continuam a incidir a redução dedemanda e a rápida obsolescência provo-cadas por transformações tecnológicas emudanças estruturais nos padrões de pro-dução e comércio mundiais. A esse quadronegativo somam-se a reduzida taxa decrescimento dos países industrializados, apersistência de altas taxas de juros, quesuperam em muito os níveis médios noperíodo em que o atual Primeiro Mundo sedesenvolvia, o desnível tecnológico e osesquemas restritivos à transferência detecnologia e conhecimento, justamentequando a nova estrutura de produção vem-se apoiando em mais informação e conhe-cimento. Esses fatores dificultam uma in-serção dinâmica na economia mundial eacentuam a perda de participação relativana expansão global do comércio.

Outro obstáculo está centrado na ques-tão da dívida externa, ainda não definiti-vamente equacionada: a América Latinacomo um todo foi, durante dez anos, umaregião de investimento negativo. A dívidaexterna está deixando de ser matéria prio-ritária para os países desenvolvidos, comodemonstra a exclusão de seu tratamentonas reuniões do FMI e do BIRD.

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Aliado a essas dificuldades, o surgi-mento de prioridades competitivas para aaplicação de capitais, como, por exemplo,na Europa do Leste (fenómeno que já foichamado, de forma imprecisa, de inclusãodo Leste no Sul), contribui para acentuarum quadro pouco propício à atração deinvestimentos.

Os elementos que apontei, sem a pre-tensão de esgotar assunto tão complexo,indicam o quanto permanecem atuais osgrandes problemas que dominaram o diá-logo Norte-Sul, ainda que o marco dessediálogo se tenha modificado. Aceitar queuma «nova ordem internacional» pós-Guerra Fria possa colocar em segundo pla-no a cooperação internacional para o de-senvolvimento equivaleria a aceitar que ospaíses industrializados tenham plena mar-gem de ação para o ordenamento de seusinteresses e suas prioridades económicascom os países em desenvolvimento. Esta-ríamos dando livre curso a critérios, comoas barreiras à transferência de tecnologias,que apontam para uma nova divisão inter-nacional do trabalho.

O grande desafio, portanto, é o detrazer novamente para o proscénio o temado desenvolvimento, recorrente em nossadiplomacia. O primeiro passo nessa dire-ção foi dado pela Conferência das NaçõesUnidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento. Nela, consagrou-se um novoconceito - o desenvolvimento sustentá-vel - que vem resgatar alguns elementosbásicos de nossa atuação diplomática,como o direito ao desenvolvimento. OChile patrocina uma outra iniciativa quecertamente terá importância capital: a

Cúpula sobre Desenvolvimento Social, arealizar-se em 1995.

Ao retomar o debate sobre desenvolvi-mento, estaremos renovando um grandemovimento que moldou profundamente omundo a partir da UNCTAD I, em 1964,quando a feição das relações multilateraisse modifica fundamentalmente a partir docrescente número de países em desenvol-vimento que passam a ter voz ativa nadiplomacia económica multilateral.

A partir de então, assistiu-se, paralela-mente a um intenso, difícil e em boa me-dida frustrante diálogo sobre as bases deuma nova ordem económica internacional,a uma sequência de ambiciosas negocia-ções multilaterais voltadas para grandestemas como população, direito do mar,espaço. A ótica pela qual eram vistos osproblemas e as soluções propostas nemsempre correspondiam aos anseios dospaíses em desenvolvimento. Isso porqueos países ricos focalizavam sua atençãosobre uma agenda seletiva de problemas,como, por exemplo, a questão populacio-nal, sobre as quais queriam agir e reclama-vam a plena adesão do terceiro mundo. Poroutro lado, a transferência de recursos fi-nanceiros para permitir a industrialização,o estabelecimento de melhores condiçõesno comércio internacional de matérias-pri-mas e produtos agrícolas não eram vistoscomo problemas universais.

De nossa parte, embora tivéssemosplena consciência de problemas como oimpacto da industrialização - e da pobreza- sobre o meio ambiente, não aceitávamossubordinar nossas decisões essenciais aditames supranacionais. Sobretudo, não

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podíamos concordar que a agenda interna-cional fosse ocupada pelos chamados te-mas globais quando nossas reivindicaçõesno campo do desenvolvimento económiconão encontravam resposta satisfatória.

O desafio deu, na verdade, novo alentoaos países em desenvolvimento. Graças àsua intensa mobilização, a Conferência doRio constituiu a primeira grande negocia-ção global após o fim da Guerra Fria. Já sedisse que realizou, de certa forma, a aspi-ração das «negociações globais» recusa-das em Cancún, no início da década de 80,no gesto que simbolicamente marcou ofim do diálogo Norte-Sul, apadrinhadopela França de Giscard dEstaing nos anos70. Embora não tenha tido a abrangênciade todos os temas discutidos na década desetenta, ainda assim cobriu um campo vas-tíssimo. A expressão «negociações glo-bais» indica, de fato, não só que essas seefetuaram no contexto democrático da As-sembleia Geral das Nações Unidas (e nãonas instituições de Bretton Woods, ondepredomina o voto ponderado) mas tam-bém que visaram a abordar globalmentetodos os aspectos interligados da econo-mia mundial: moeda, finanças, comércio,ajuda ao desenvolvimento. Apesar da ób-via assimetria de poder, as negociaçõespermitiram uma real participação dos paí-ses em desenvolvimento e redundaram emconcessões significativas por parte dospaíses industrializados.

A primeira grande negociação interna-cional do período pós-Guerra Fria deixou,assim, um saldo positivo no que se refereao impulso renovado que deu às questõesdo desenvolvimento, com base numa nova

visão da cooperação internacional. Ogrande salto conceituai operado foi justa-mente o de trazer o desenvolvimento parao mesmo plano das grandes questões am-bientais que tanto preocupam os paísesindustrializados, responsáveis que são, de-vido aos seus elevados padrões de produ-ção e consumo, pelos principais fenóme-nos de comprometimento do meio am-biente. O êxito desse processo que se ini-cia, a velocidade em que será implantado,permanecem incertos. É certo, porém, quea comunidade internacional nunca dispôsde uma agenda ampla para o desenvolvi-mento - agora entendido como desenvol-vimento sustentável - debatida por prati-camente todos os governos, com ativa par-ticipação da sociedade civil e aprovada nomais alto nível político.

A evolução recente da América Latina

Não posso deixar de dedicar atençãoespecial, nestas reflexões, à América Lati-na. Quais seriam as condicionantes ou aslimitações fundamentais de sua inserçãono cenário internacional, cujas linhas bá-sicas procurei ressaltar?

Em nosso continente, de modo geral, areivindicação social (via populismo) e abusca de maiores oportunidades de desen-volvimento económico (via antiimperia-lismo) precederam a reivindicação pro-priamente democrática e, até certo ponto,a menosprezaram. Daí os regimes autori-tários que se multiplicam entre nós volta-dos para o fortalecimento do Estado gestore empresário.

Três circunstâncias principais levaramao desacreditamento do autoritarismo e à

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pressão democratizadora das sociedades.A primeira foi a crescente ineficiência doEstado à medida que se agigantava e sefechava ao mundo exterior. A segunda foia armadilha do ajuste à globalização daeconomia mundial via absorção dos dó-lares reciclados e o consequente endivi-damento. A terceira causa foi o própriocâncer que corrói o Estado autoritáriopela degradação dos direitos humanos,pela corrupção, pela ausência de Liberda-de, enfim.

Era natural, pois, que a opinião públicase voltasse contra o Estado e aplaudisse aspropostas tendentes a destruí-lo sem dar-se conta de que tal opção nem semprecorrespondia a seus interesses e sim a depequenos grupos internos e externos, maisou menos os mesmos que se haviam apro-veitado do Estado tentacular.

E possível que essa revolta antiestadose esteja agora matizando e que a teseliberal do «Estado mínimo» vá sendosubstituída pela do «Estado socialmentenecessário».

Temos hoje aguda consciência de quea prioridade é a universalização das vanta-gens sociais. Em nossas economias, seriafalacioso pretender que o empresariado,por si só, pudesse atender a demanda debem-estar até porque há ações que nãopodem nem devem dar lucro, devem ape-nas servir ao bem-estar comum e, por isso,não podem ser privatizadas.

Nada, porém, será conseguido se nãohouver crescimento económico baseadonum critério constante de competitividadesegundo o qual a liberdade do mercado só

poderá ser restringida quando o mercadonão tiver condições de promover o cresci-mento.

Para conduzir esse delicado equilíbrio,é preciso a conjunção de esforços do em-presário, do político e do sindicalista.

As condições para essa evolução vão-se aos poucos concretizando.

Para a maioria dos países latino-ame-ricanos, os anos oitenta foram um períodode grande evolução política e de profundacrise económica. Nos primeiros anos dadécada de noventa, vai-se generalizandoum padrão, iniciado pelo Chile, que deleainda é o melhor exemplo, de superaçãoda estagnação que marcou o continente nadécada passada. Em 1985,8 países latino-americanos apresentavam um crescimentodo PIB acima de 3%; 10 tiveram índicesmenores do que em 1984. Em 1991, 6países tiveram um crescimento do PIBabaixo de 3% e apenas 5 tiveram índicemenor do que em 1990. Os regimes buro-crático-autoritários -para usar a expressãoconhecida de Guillermo 0'Donnell - quemarcavam a paisagem na primeira metadedaquela década deram lugar aos sistemasdemocráticas, que são hoje a regra.

Haveria alguma causalidade entre aliberdade política, que pressupõe liberda-de económica, e a melhor performance daseconomias. Paralelamente, parecem hojeum tanto frustradas as esperanças que ospaíses ricos tinham de rápidos ganhos emtoda a imensa região que abandonava oplanejamento centralizado. A implantaçãoda economia de mercado na Europa doLeste faz-se mais lentamente do que pre-

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visto. O entrosamento da parte oriental daAlemanha é hoje ainda apenas uma pesa-díssima fatura e os ex-componentes daUnião Soviética padecem de graves males.É natural, portanto, que os capitais embusca de aplicação redescubram a Améri-ca Latina, sua cultura política essencial-mente ocidental e sua estabilidade relati-vamente maior num panorama em que osconflitos cruentos são exceção diminuta.

No novo quadro de generalização deregimes abertos, é visível o fortalecimentodas relações entre os países latino-ameri-canos. Curioso lembrarmos que tal, para-doxalmente, não era a situação quando, doPeru para o Sul, todos os nossos paísestinham governos militares. Uma possívelexplicação estaria exatamente na visão mi-litar estratégica que prevê alianças masque repugna a integração.

Contudo, o contexto na nova AméricaLatina continua problemático. Nada nospermite ignorar a persistência do imensodesnível entre o que se convencionou cha-mar de Norte e Sul. Professarmos a mesmafilosofia política e económica que as gran-des potência não nos iguala automatica-mente. As barreiras protecionistas comer-ciais e tecnológicas não levam em conta aadesão de um país aos princípios liberais,até porque o móvel principal é o lucro. Nãoquero dizer que não devamos perseguir aabertura dos mercados, a redução do Esta-do, o fortalecimento da iniciativa privada,mas não basta essa conversão para garantiruma simétrica abertura do mundo desen-volvido. A principal constatação que sepode fazer, portanto, é a da posição relati-vamente vulnerável de nosso continente.

Um outro engano contra o qual deve-mos precaver-nos seria tentar afastar-nosde nossa circunstância geográfica e cul-tural para buscar uma combinação com osgrandes pólos económicos. Esses doismovimentos, o de aproximação entre nósmesmos e o de inserção no mundo, nãosão excludentes. Pelo contrário, comple-mentam-se. A concertação política e aintegração económica são requisitos parauma projeção mais nítida da América La-tina no mundo.

As integrações - ideia e prática

A ideia da união, nas Américas, é maisantiga do que em qualquer outro continen-te. Por outro lado, nenhum sonho de inte-gração jamais abarcou área geográfica tãoextensa. Hoje, a América Latina encontrauma identidade comum que gradualmentese afirma por cima da grande diversidadeque nos individualiza.

As condicionantes internas de nossospaíses atuaram, nas décadas de 60,70 e 80,em sentido contrário ao da integração, en-contrando sempre alternativas como o pro-tecionismo, os subsídios e as reservas demercado. Daí decorria uma permanentedissociação entre a retórica oficial e a açãonegociadora. A desgravação tarifária e aeliminação de restrições não-tarifárias es-barravam em políticas restritivas, decor-rentes não só do modelo de desenvolvi-mento baseado na substituição de impor-tações, mas também da necessidade deajuste económico interno em consequên-cia do endividamento externo.

Nos últimos anos, os esforços de inte-gração ganharam velocidade inédita. O

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passo decisivo foi dado com a afirmaçãode maior pragmatismo nas políticas, quepassaram a deixar de lado tentativas mul-tilaterais globalizantes em favor de apro-ximações bilaterais ou por grupos de paí-ses, abrindo espaço para o surgimento desubgrupos regionais.

Um dos principais resultados dessaevolução foi o Tratado de Assunção, queestá completando seu segundo ano comum balanço onde as expressivas realiza-ções suplantam claramente o elenco deobstáculos. A trajetória do Mercosul con-solidou a percepção de que não se trata deum bloco hermético, fechado aos seus vi-zinhos ou aos outros blocos ou atores in-dividuais do cenário mundial. Pelo contrá-rio, seus objetivos são a formação de eco-nomias de escala que permitam maior in-serção dos quatro parceiros nos fluxoseconómicos e comerciais globais.

Apesar de condições internas muitasvezes adversas, o Mercosul já pôde obterêxitos significativos. Além do programade desgravação tarifária linear e automáti-ca, sua espinha dorsal, têm sido levadas acabo tarefas de harmonização e coordena-ção económicas, tanto do lado governa-mental quanto por parte do setor privado,com alto grau de compreensão e entendi-mentos mútuos. Marco significativo desseprocesso foi a fixação pelos Presidentes,em novembro de 1992, em Montevidéu,dos níveis de tarifas que orientarão con-versações para o estabelecimento, já em1995, de uma Tarifa Externa Comum queconformará a União Aduaneira entre osquatro sócios.

Os últimos anos viram também o apa-recimento de grande número de esquemasconcertados, alguns paralelos e outros su-perpostos, de liberação comercial tenden-tes ao estabelecimento de zonas de livrecomércio, de uniões aduaneiras ou merca-dos comuns. São exemplos concretos osacordos no âmbito do Grupo Andino, doGrupo dos Três, composto por Colômbia,México e Venezuela e, mais recentemente,da zona de livre comércio integrada peloMéxico e cinco países centro-americanos,bem como de acordos firmados entre Ar-gentina e Chile, entre estes dois e México,entre Argentina e Venezuela e entre Chilee Venezuela.

Os diversos acordos de formação dezonas de livre comércio apresentam umasimilitude básica em seus esforços e nosmeios para alcançá-los: a liberação pro-gressiva e linear de todo o universo tarifá-rio dentro de cronogramas predetermina-dos, a eliminação total de restrições não-tarifárias, e a harmonização de políticassetoriais para assegurar a reciprocidade debenefícios e a competição equilibrada.

Uma dimensão adicional de grandesignificado começa a marcar a paisagem.Temos dedicado especial atenção às impli-cações para a América Latina da propostanorte-americana de criação de uma áreahemisférica de livre comércio, seja no âm-bito da iniciativa para as Américas sejaatravés da possível futura extensão doNafta. Não há antagonismo nem conflitosinsuperáveis entre essa proposta e os pro-cessos de intensificação do comércio e deintegração em curso na América Latina. Énesse sentido que não identificamos in-

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compatibilidades entre o comércio dinâ-mico mantido entre Brasil e Chile e oscaminhos futuros do Chile em direção aum possível ingresso no Nafta. Foi tam-bém dentro desse espírito que o Brasil, em1991, juntamente com seus parceiros doMercosul, assinou com os Estados Unidoso chamado Acordo 4 + 1, que criou meca-nismo de consulta sobre temas económi-cos e comerciais.

O Brasil vem adotando uma postura decoerência e continuidade com relação aotema da integração hemisférica. Os Presi-dentes dos países do Mercosul já manifes-taram a disposição de iniciar, no âmbito doAcordo 4 + 1 , conversações preliminaressobre as opções comerciais que se abrema partir da nova realidade hemisférica.

Esse quadro, em grande medida, deter-minará a forma como se deverão desenro-lar, na década de noventa, as relações eco-nómicas e comerciais na América Latina.A escassa proporção do intercâmbio recí-proco no total do comércio exterior entreos países do continente parece indicar queessas relações ainda continuarão a seguirum duplo caminho: de um lado, a busca deuma crescente inserção competitiva nomercado mundial, como requisito e fatordinamizador da modernização produtiva;por outro lado, as próprias dificuldadesantepostas a essa inserção levam a umaintensificação dos esquemas de concerta-ção dentro da região, com base em crono-gramas de liberação de comércio e no iní-cio de uma efetiva coordenação de políti-cas. Essas duas vertentes - a global e aregional - são aspectos complementaresde um mesmo desafio: a ampliação de

mercados como plataforma para a moder-nização e o aumento da eficiência em ummundo cada vez mais competitivo.

Não haveria êxito na integração econó-mica nem na luta pelo acesso aos merca-dos desenvolvidos sem a contrapartida deuma necessária e renovada concertaçãopolítica. Os últimos anos foram marcadospor uma profunda mudança na intensidadee na qualidade do diálogo entre os paíseslatino-americanos, reflexo direto da con-solidação de regimes democráticos nocontinente. Foi justamente para preservaresse património democrático, duramenteconquistado, que surgiu o Grupo do Rio,cuja coordenação cabe, este ano, ao Chile.

O Grupo do Rio é um mecanismo sin-gularmente dotado para a consulta políticano mais alto nível, sua vocação fundamen-tal. Caracteriza-se por grande maleabilida-de de procedimentos e um grau mínimo deinstitucionalização. Constitui, em essên-cia, um canal para o que se poderia chamarde uma verdadeira diplomacia presiden-cial na América Latina. Não se confunde,portanto, com um simples grupo de pres-são para a apresentação de reivindicaçõesde ordem económica ou comercial. A Me-dida do êxito do Grupo do Rio é dada pelaconstatação de que nenhum país latino-americano deseja, hoje, manter-se à suamargem. Ao mesmo tempo, não há comosubestimar sua importância na contençãode processos que colocam em risco a or-dem democrática. Além disso, a AméricaLatina, representada no Grupo do Rio, éreconhecida como interlocutora de outrospaíses e agrupamentos. Participamos, as-

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sim, ativamente, das discussões sobre os não nos convém retomar o caminho dasgrandes temas da agenda internacional. ideologias. As soluções têm de ser prag-

máticas e realistas. A atuação deve ser nãoEsses e muitos outros aspectos forma- confrontacionista mas firmemente reivin-

riam um complexo mosaico da realidade dicatória. Só assim venceremos o desafiointernacional e do papel, nela, da América maior de começar o terceiro milénio semLatina. Não sei se consegui mostrar que a praga da miséria. •

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Ministro Fernando Henrique Cardosofala sobre a política externa

na Câmara dos Deputados

Apresentação do Ministro das Relações Exte-riores, Fernando Henrique Cardoso, perantea Comissão de Relações Exteriores da Câma-ra dos Deputados, em Brasília, em 31 de mar-ço de 1993

U ma Política Externa Brasileirapara os anos 90

São características centrais da diplo-macia brasileira: tradição, memória, esta-bilidade, respeito a compromissos assumi-dos, proteção dos interesses nacionais, vi-são de futuro.

A diplomacia brasileira integra-se emum todo coerente, pautado por doutrinase princípios permanentes, ditados pelosinteresses nacionais. As diretrizes deação poderão ser variáveis, em funçãodas mutações do cenário internacional.Sua execução deve, contudo, gozar sem-pre de alta credibilidade. Para tanto, éfundamental o apoio interno, baseado noconsenso, na ampla base de sustentaçãopolítico-partidária e na interação com asforças sociais do País.

A diplomacia brasileira deve agircom espírito crítico, capacidade deadaptação e anti-imobilismo. Deve veri-ficar as necessidades internas, projetá-las no plano externo e buscar oportuni-dades de atendimento.

O Brasil tem peso específico no cená-rio internacional e portanto nível razoávelde poder, mas este é limitado pelo poderdos demais países. Essa circunstânciaacarreta ameaças e oportunidades e a ne-cessidade de harmonizar interesses. A tra-dicional flexibilidade de nossas posições,a permanente busca de soluções pacíficase as boas relações que mantemos comtodos os vizinhos são um património va-lioso no atual momento internacional.

Por que uma nova política externa? Emprimeiro lugar, porque o Brasil mudou. Noplano político, passamos de uma fase au-toritária para uma fase de pleno exercíciodemocrático. No plano económico, apósum período de desenvolvimento acelera-do, entramos em uma crise que poderáconduzir à estagnação do crescimento. Noplano ideológico, ultrapassamos a etapado nacionalismo autoritário e do desenvol-vimento autóctone para buscar uma inser-ção competitiva no mundo.

Em segundo lugar, porque o mundomudou. No plano político, o final da

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Guerra Fria redesenhou o esquema de po-der. No plano económico, a tendência do-minante parece apontar no sentido da glo-balização. No plano ideológico, a demo-cracia e a economia de mercado são a regrageral.

Uma nova agenda se impõe, tanto parao Brasil como para o mundo. As relaçõesmoldadas por financiamento externoabundante e forte presença dos Estadosdeixaram de existir. As políticas de subs-tituição de importações e de proteção con-tra a competição externa, que foram posi-tivas no passado, não poderão mais renderos mesmos frutos. A estratégia de inserçãointernacional deve portanto ser redefinida.Cabe ao conjunto das nações, por outrolado, construir um novo ordenamento so-bretudo em função do fim da bipolaridade.

A conjuntura mundial enfrenta hojeum período de transição, caracterizado porindefinições e incertezas. Fatores novos eantigos convivem, forças centrífugasatuam. O cenário é complexo e aberto, oque recomenda políticas cautelosas, semguinadas abruptas.

A conjuntura brasileira também é detransição. Ainda não superamos a insta-bilidade económica e ainda buscamos ummodelo político adequado, o que se evi-dencia pelo plebiscito e pela revisãoconstitucional.

A nova agenda diplomática brasileiradeve pautar-se por elementos de continui-dade e de mudança. As características cen-trais da atuação externa permanecem asmesmas e também permanecem os mes-

mos os objetivos primordiais: paz, desen-volvimento, estabilidade internacionais.

No mundo de hoje, contudo, a palavra-chave é mudança, o que exigirá grandecapacidade de adaptação de parte do Bra-sil. Os cenários possíveis estão em aberto.Poderá cristalizar-se a tendência mais pro-vável à globalização, mas não seriam deexcluir cenários caracterizados pela regio-nalização e até mesmo fragmentação. OBrasil deverá abrir, e não fechar opções,jogar nos diferentes tabuleiros, buscar par-cerias estratégicas e parcerias localizadas,o que exige planejamento estratégico, vi-são de futuro e adaptação criativa.

Esse esforço deverá ser inspirado pelorealismo: será preciso seguir as regras dojogo, não poderemos mudar essas regras acurto prazo e não queremos ficar fora dacena. Ao mesmo tempo, deveremos perse-guir os objetivos de uma ordem internacio-nal mais justa, mais democrática e maistransparente a longo prazo.

Deveremos manter nossas coalizõestradicionais e procurar novas. Temos vo-cação universal e portanto maior facilida-de de variar nossas parcerias. Temos con-dições de conduzir uma diplomacia diver-sificada e de caráter universalista.

Nossa inserção na economia global de-penderá da estabilidade interna e da reto-mada do crescimento. Será necessário pro-mover ajustes estruturais e modernizaçãocompetitiva e eliminar ineficiências. Seránecessário manter uma política de aberturapara o exterior, para obter integração eco-nómica mais profunda, e harmonizar nos-sas políticas às prevalentes no mercado

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internacional. Tal exercício não se farásem custos, tanto em termos de adaptaçãoda estrutura produtiva, quanto no que serefere a um menor grau de liberdade deescolha e opções. Existirá um núcleo depolíticas em torno da questão da integra-ção com a economia mundial (redução debarreiras ao comércio, política industrial,modernização tecnológica, maior partici-pação do investimento estrangeiro, prote-ção adequada à tecnologia, salvaguardasna área nuclear) que deverá contar comestabilidade e refletir um amplo consensonacional, uma vez que são essenciais paraa inserção internacional do Brasil.

As medidas de liberalização não deve-rão, contudo, ser gratuitas. As concessõesdevem ter contrapartidas e ser obtidas me-diante nossa tradicional habilidade de ne-gociação. Ao lado da adaptação negociadaàs regras do jogo e da integração crescenteno mundo, deveremos ter presente o obje-tivo conformista. Assim, não poderemosperder de vista a dualidade brasileira, con-duzindo uma atuação diplomática quebusque o moderno mas também as neces-sidades do mundo em desenvolvimento,do qual fazemos parte. Essas duas verten-tes da diplomacia brasileira se unem nabusca da democratização das relações in-ternacionais, na defesa do multilateralis-mo económico com regras estáveis e trans-parentes e na construção de um novo or-denamento multilateral mais equitativo.

Paralelamente a uma ação global, im-põe-se ao Brasil procurar opções regio-nais. Nesse sentido, será preciso valorizaruma base sólida na nossa própria região,inclusive para aumentar nosso poder de

barganha. A formação de uma plataformasul-americana é favorecida pela contigui-dade geográfica e poderá ter extensões noAtlântico Sul, na América Central e noCaribe. O processo de integração econó-mica regional não poderá privilegiar vín-culos exclusivos, como tem feito o Méxicocom relação aos EUA. Seria uma opçãoempobrecedora. Essa postura não signifi-ca, contudo, abandonar a priorização denossas relações com os EUA, nosso par-ceiro individual mais importante e com oqual o Brasil tem procurado desenvolveruma agenda positiva. As alternativas daEuropa e do Pacífico devem ser enfatiza-das. A Comunidade Europeia, em con-junto, é nosso primeiro parceiro comer-cial, e o Pacífico é a área que cresce maisrapidamente no mundo atual. A regiona-lização aberta valoriza a contiguidade efavorece a globalização. Alimenta laçoscrescentes dentro de cada região, semexcluir o desenvolvimento de relaçõesinter-regionais no seio de um sistemamultilateral operante.

O Brasil pertence, ao mesmo tempo, aomundo industrializado e ao mundo emdesenvolvimento. Isso não reflete slogansou fórmulas já ultrapassadas de posiciona-mento, mas sim uma realidade política,económica e social onde coexistem a mo-dernidade e o atraso. Nossa inserção não éunidimensional. Somos um país com va-lores essencialmente ocidentais e demo-cráticos. Somos latino-americanos e pana-mericanos e compartilhamos com a Áfricanossas raízes étnicas, culturais e históricase um destino comum de transformação doAtlântico Sul em um espaço económico

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vivo de integração. Somos desenvolvidose em desenvolvimento. Somos um paísatlântico mas temos vínculos crescentescom o Pacífico. Somos um país continen-tal, mas não buscamos o fechamento, e sima integração. Somos o maior país da Amé-rica Latina, mas não nos anima a hegemo-nia, e sim a cooperação. Essas caracterís-ticas nos permitem desenvolver alianças,coalizões e parcerias em nível global, pro-curando nichos de oportunidades em di-versos quadrantes do planeta.

A problemática semelhante e os inte-resses coincidentes com outros países dedimensões continentais, como a Rússia, aChina e a índia, poderão ensejar esforçosde coordenação muito promissores parao Brasil. Parcerias estratégicas e opera-cionais podem ser desenvolvidas. As pri-meiras refletiriam maiores coincidênciasde pontos de vista e maior potencial decoordenação política. As segundas, maispontuais e temáticas, se desenvolveriama partir de interesses mais específicos decooperação.

No trato dos chamados temas globais,as diplomacias bilaterais e multilateral seconfundem cada vez mais, tornando sem-pre mais necessária a constituição de coali-zações de geometria variável para seu equa-cionamento. O Brasil, por seus interesses esua dimensões, será sempre participe demuitas dessas coalizões. Temas como nar-cotráfico, terrorismo, direitos humanos,meio ambiente, desenvolvimento sustentá-vel e não-proliferação são objeto de discus-são multilateral intensa e permanente e de-mandam atitudes abertas e não recrimina-tórias e alicerçadas na cooperação interna-

cional com base em regras multilateral-mente acordadas. Especificamente na áreade não-proliferação, são dignas de notauma série de iniciativas nos planos internoe externo: envio ao Congresso de projetode lei de controle de exportações e impor-tações de equipamento bélico, de duplouso e nuclear; entendimentos com a Ar-gentina e com a AIEA em matéria nuclear;alterações no Tratado de Tlatelolco, parapermitir sua plena entrada em vigor para oBrasil; diálogo frutífero com regimes plu-rilaterais de controles de transferências demateriais e tecnologias sensíveis. O êxitodessas iniciativas, que são componentesessenciais de uma melhor inserção inter-nacional brasileira, depende sempre doapoio do Congresso Nacional, seja em ter-mos de respaldo político, seja em termosde aprovação legislativa.

Na tentativa de estabelecimento de umnovo ordenamento internacionais, o Con-selho de Segurança assume protagonismocrescente, o que torna imperioso o debatesobre sua ampliação e a distribuição dosassentos permanentes.

O novo ordenamento internacionalnão estará imune a questionamentos, emcuja apresentação o Brasil poderá ter papelprotagônico. Nesse esforço, deveremosagir em prol da crescente democratizaçãodas relações internacionais; da retomadada agenda para o desenvolvimento no âm-bito das Nações Unidas, onde a categoriado desenvolvimento sustentável devei áconstituir o fulcro de nossas atenções; daconcessão de marcada ênfase devida àsquestões sociais; e da conexão entre de-senvolvimento e segurança. A Agenda

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para a Paz do Secretário-Geral da ONU,ora em debate, não seria de molde a resol-ver muitos conflitos regionais, que têmorigens profundas e para cuja solução odesenvolvimento sustentável harmónicopoderia contribuir de forma decisiva. Eladeve ser completada por uma Agenda parao Desenvolvimento.

A tendência à globalização, por suavez, também se depara com limites eameaças: focos internos de resistência,com interesses contrários àquela tendên-cia; disparidades regionais; forças centrí-fugas; e riscos de que as complexidades edesigualdades da conjuntura acarretem es-tímulos à regionalização, com a formaçãode blocos fechados e antagónicos, ou mes-mo à fragmentação, tendências que estãopresentes no mundo atual.

Conquanto deva estar preparada paraagir em um mundo globalizado, a diplo-macia brasileira não poderá excluir a pos-sibilidade de que as tendências à regiona-lização e à fragmentação se tornem mais

fortes. A formação de blocos económicosmais fechados é uma hipótese possível,diante da qual a opção por relações privi-legiadas com um dos grandes blocos, pre-ferencialmente o hemisfério, poderia tor-nar-se necessária. O prolongamento do pe-ríodo de transição e o agravamento dadesordem internacional também são umaforte possibilidade a ser considerada, casopredominem as forças centrífugas no sen-tido da fragmentação. Em um mundo frag-mentado, se tornam mais complexas asperspectivas para nossa integração; tam-bém é verdade que os riscos poderão sermenos graves para o Brasil e AméricaLatina, dadas as suas tradições pacíficas ede relativa homogeneidade.

Em qualquer hipótese, é fundamen-tal que a diplomacia brasileira procurecada vez mais alicerçar-se em institui-ções internas democráticas e estáveis e,nessa ordem de pensamento, a interaçãopermanente com o Congresso Nacionalé fundamental para a elaboração das li-nhas de ação futura do Itamaraty. •

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Visita oficial ao Brasil da Ministradas Relações Exteriores da Colômbia

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia decondecoração da Ministra das Relações Exte-riores da República da Colômbia, Noemi Sanínde Rubio, com a Grã-Cruz da Ordem Nacionaldo Cruzeiro do Sul, no Palácio Itamaraty, em 13de abril de 1993

Jlí/xcelentíssima Senhora Ministra NoemiSanin de Rubio,

Com grande satisfação pessoal, saúdoa presença nesta Casa da Senhora Minis-tra das Relações Exteriores da Repúblicada Colômbia, estendendo fraternos votosde boas-vindas à ilustre comitiva que aacompanha.

O Brasil recebe muito honrado a visitade Vossa Excelência. A mim, ela oferecea grata oportunidade de prosseguir o diá-logo que temos mantido no âmbito dereuniões multilaterais, especialmente doGrupo do Rio. Ao recebê-la hoje em nossopaís, antecipo que nossas conversaçõesservirão para aprofundar o clima de enten-dimento e colaboração que tradicional-mente preside o relacionamento entre oBrasil e a Colômbia. Este mesmo resulta-do haverá de ser colhido com as reuniõesda Comissão Mista de Cooperação Econó-mica e Técnica e com a primeira reuniãodo Grupo Permanente de CooperaçãoConsular, cuja realização coincide com avisita de Vossa Excelência. Sua vinda ao

Brasil empresta, assim, alta relevância po-lítica aos trabalhos dos mecanismos decooperação bilateral.

Neles, estamos empenhados em en-contrar novos interesses comuns com vis-tas ao adensamento permanente de nossasrelações bilaterais, mediante a troca cons-tante de experiências. Buscamos, destaforma, dar fundamento prático e objetivoa uma amizade que se enraíza e se amplia.

Brasil e Colômbia aproximam-se poruma notável identidade de pensamento emrelação a diversos e variados temas deinteresse mundial e regional. As afinida-des culturais, as semelhanças de formaçãocompartilhados por nossos povos espa-lham-se em grande convergência de pen-samento e de vontade política entre nossosGovernos, que se tem evidenciado em inú-meras ocasiões no âmbito internacional,onde trabalhamos lado a lado pela paz epelo desenvolvimento.

Nossos dois países identificam-se igual-mente como democracias rejuvenescidas,que, sob a égide de novas Constituições,

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buscam consolidar o espaço que lhes cabeno cenário mundial marcado por rápidastransformações. A valorização de ideaisdemocráticos contribui decisivamentepara o aperfeiçoamento do diálogo políti-co e para a intensificação de nossas rela-ções económicas e comerciais.

Senhora Ministra,

Não estivéssemos já vinculados pelatradição histórica, pela solidariedade re-gional e pelas afinidades humanas, quistambém a geografia unir-nos de maneiraindissolúvel, fazendo-nos nações amazô-nicas, herdeiras e condôminas de inesti-mável património, cujo desenvolvimentoem benefício de nossos povos devemospromover conjuntamente.

No passado, a Amazónia terá sido aexplicação por termos crescido virtual-mente de costas um para o outro, debru-çados sobre nossos litorais. Hoje, a Ama-zónia nos une. A extensa fronteira co-mum que compartilhamos por 1.645 qui-lómetros, entre os pontos extremos deTabatinga e Pedra do Cocuí, merece nos-sa atenção prioritária.

A valorização da Amazónia, para ge-rar resultados económicos duráveis, temde basear-se no conhecimento de todos osaspectos daquele imenso conjunto deecossistemas e incluir ações para seu de-senvolvimento sustentável. Requerem-seinvestimentos consideráveis em pesquisacientífica e em desenvolvimento de téc-nicas novas. A cooperação bilateral nes-te campo deverá intensificar-se paracompensar a escassez do apoio financei-ro internacional.

O programa bilateral de cooperaçãofronteiriça, já em andamento, onde sedestaca o Plano Modelo para o Desen-volvimento Integrado das ComunidadesVizinhas ao Eixo Tabatinga-Apapóris,foi o primeiro passo nessa direção. Emnossas reuniões no dia de amanhã, pre-tendemos acertar os próximos passosque nossos Governos darão para ampliaressa cooperação.

O Tratado de Cooperação Amazônica,edificado sobre os pilares da igualdade eda soberania de cada Estado, constitui pa-trimónio diplomático das nações que com-partilham o território amazônico.

Por isso mesmo, o Tratado de Coope-ração Amazônica deve ser revigorado paracorresponder a sua vocação. É preciso,sobretudo, fortalecer sua estrutura institu-cional, como maneira de adequá-lo aosdesafios de nossos dias e de melhor serviros objetivos para os quais foi concebido.É nesse sentido que deve ser entendida aproposta brasileira de criação de uma Se-cretaria Permanente em substituição àatual Secretaria Pro-Tempore do Tratado.O fortalecimento institucional do Tratadonos permitirá promover o desenvolvimen-to económico e social da região, aindamais quando a propalada preocupação in-ternacional não se traduz em iniciativas deaporte adequado.

Não haverá de correr muito tempo atéque as fronteiras que compartilhamos, ain-da desertas em muitos pontos, venham aser ocupadas pelo trabalho pacífico e or-denado de nossos cidadãos. Ali haveremosde somar, no contato direto e diário, mui-tas vezes em cidades contíguas, como já

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acontece no caso de Letícia e de Tabatin-ga, os esforços em que devemos envolver-nos desde agora.

A visita de Vossa Excelência ensejaocasião oportuna para impulsionarmos ini-ciativas importantes que tiveram início porocasião da sempre recordada visita que fezao Brasil, em setembro de 1991, o Presiden-te da República da Colômbia, Doutor CésarGaviria Trujillo. Dá-nos, igualmente, opor-tunidade para encetarmos novas ações e deperseverarmos na busca de posições co-muns em matérias de interesse mútuo,como é o caso do mercado cafeeiro. Nessesetor, acabamos de dar um exemplo deconfiança mútua e de defesa vigorosa dosinteresses dos países produtores.

Senhora Ministra,

A Iniciativa Amazônica, anunciadapelo Presidente Itamar Franco na reuniãode cúpula do Grupo do Rio em BuenosAires, em dezembro passado, constituieloquente demonstração do interesse bra-sileiro em aprofundar a integração econô-mico-comercial com os países latino-ame-ricanos. Para o Brasil, a prioridade ao Mer-cosul não tem caráter excludente. Reitero,nesta oportunidade, a firme intenção deacelerar, no âmbito da Iniciativa Amazô-nica, o processo de negociação de Acordosde Complementação Económica com ospaíses amazônicos.

Da mesma forma, o Brasil acompanhacom interesse os progressos alcançadosnos processos de integração de que parti-cipa a Colômbia, em especial o GrupoAndino e o Grupo dos Três. A exemplo doMercosul, entendemos que a dinâmica

própria dos diferentes processos sub-re-gionais representa importante contribui-ção, de caráter concreto e pragmático, àintegração latino-americana.

Não acreditamos em prosperidade iso-lada. Sabemos que o progresso de nossovizinho abrirá oportunidades para o nossopróprio desenvolvimento. Da mesma for-ma, nosso crescimento contribuirá para oprogresso de nosso vizinho. A solidarieda-de é indispensável.

O Brasil, como a Colômbia, está em-penhado em luta que não pode ser maisadiada. Estamos determinados a erradicara pobreza e a ignorância, a combater asenfermidades, a proporcionar a nossas po-pulações a certeza de um futuro melhor, aconfiança no amanhã.

Sabemos perfeitamente que obstácu-los existem e que não são poucos nem depouca monta. Mas a determinação de su-perá-los também é grande, com realismo einquebrantável determinação política.Acreditamos na lição de Unamuno, quan-do ensinava que «não devemos confor-mar-nos em sermos apenas os filhos denosso passado, mas devemos animar-nosa ser os pais de nosso futuro».

É essa mensagem de confiança quedesejo que Vossa Excelência leve de voltaaos nossos irmãos colombianos.

E é com a mesma fé no futuro decrescente cooperação entre os nossos paí-ses que cumpro aqui a honrosa tarefa, emnome do Presidente Itamar Franco, de im-por a Vossa Excelência as insígnias daGrã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro

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do Sul. Quis o Governo brasileiro conde-corá-la, nesta oportunidade, para signifi-car os sentimentos de alta estima e sinceraadmiração que nutrimos por Vossa Exce-

lência e, ao mesmo tempo, para marcarcom esta sua visita um momento singularna história do relacionamento entre o Bra-sil e a Colômbia.

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso,na cerimónia de assinatura de atos com o Governo da Colômbia,

por ocasião da visita oficial ao Brasil da Ministra das Relações Exterioresda República da Colômbia, Noemi Sanín de Rubio.

Brasília, em 14 de abril de 1993

O significado desta ocasião transcendea simples assinatura de atos protocolares,que têm lugar na oportunidade em quevisita o Brasil a Senhora Ministra das Re-lações Exteriores da vizinha e irmã Repú-blica da Colômbia.

Com efeito, os atos que acabam de serfirmados representam a firme vontade denossos Governos de ingressar em umanova e mais amadurecida fase de suasrelações bilaterais. Demonstram inequivo-camente a determinação política de nossosdois países de colocar nossas significati-vas convergências a serviço do bem-estare da melhoria das condições de vida deseus cidadãos.

Porque já não basta, Senhora Minis-tra, que nossos países constatem que nãotêm divergências sobre temas de impor-tância no cenário político mundial e que,ao contrário, coincidem em boa parte des-ses pontos.

É necessário traduzir a identidade depontos de vista, expressa nas excelentesrelações que nossos países felizmente des-

frutam, em atos cujos resultados possamser sentidos por nossos cidadãos.

A Ata da Segunda Reunião da Comis-são Mista de Cooperação Económica eTécnica é um exemplo bem claro do queacabo de dizer. Idealizada no final dadécada de 50 como instrumento para ca-nalizar a cooperação bilateral nas áreaseconómica e técnica, a Comissão não sereuniu senão uma vez, e isso há mais deuma década.

Reunida agora, os resultados do en-contro demonstram que os tempos sãodefinitivamente outros. Os trabalhos daComissão foram bem mais ambiciososque o escopo previsto em seus estatutos.Em dois dias de trabalho profícuo, forampassados em revista temas relativos àcooperação económica e técnica nasáreas de meio ambiente, agricultura, mi-neração, cooperação fronteiriça, energiaelétrica e cooperativismo, entre outrosimportantes assuntos, sempre com a mes-ma preocupação, a de melhorar, de algu-ma forma, as condições de vida de nossoscidadãos, particularmente as daqueles

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que vivem em situação tão difícil em nos-sas regiões de fronteira.

A Ata da Reunião do Grupo de Coope-ração consular reflete a mesma preocupa-ção. Pela primeira vez reuniu-se o Grupo,e os resultados de seu trabalho pronto já sefarão sentir sobre o quotidiano de nossascomunidades fronteiriças, sobretudo noque diz respeito à saúde, à agilização dostrâmites aduaneiros e à segurança.

O Acordo que acaba de ser assinadoentre Brasil e Colômbia sobre sanidadevegetal paraproteção de zonas fronteiriçase intercâmbio de seus vegetais e produtosderivados tem igualmente uma preocupa-ção bastante objetiva: decorre da cons-ciência de que existem pragas, doenças eervas daninhas exóticas, cuja presença, emqualquer dos dois países, poderia ocasio-nar graves problemas socioeconômicos. OAcordo visa reduzir ao mínimo os riscosfitossanitários no intercâmbio comercialde produtos agrícolas entre os dois países.

O último dos Atos firmados diz res-peito ao exercício de atividades remune-radas por parte de dependentes do pes-soal diplomático, consular, administrati-vo e técnico. Esse Acordo vem discipli-nar o exercício de tais atividades, esta-belecendo regras claras para a análise daconcessão da autorização pertinente porparte do Estado receptor. Diria que, damesma forma que os demais Atos hojefirmados, este Acordo preocupa-se tam-bém em sanar dificuldades, criando,portanto, condições de vida melhorespara nossos cidadãos.

Assim, Senhora Ministra, estou con-vencido de que a assinatura desses docu-mentos são um firme passo adiante, soli-dário. São um convite à cooperação conti-nuada, respaldada na certeza de uma ami-zade fortalecida, que é a base dos docu-mentos que acabamos de firmar.

Muito obrigado. •

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Seminário sobre democracia,desenvolvimento e direitos humanos

Discurso do Ministro das Relações Exterio-res, Fernando Henrique Cardoso, no Seminá-rio «Democracia, Desenvolvimento e DireitosHumanos», realizado em Brasília, em 15 deabril de 1993

.L/xcelentíssimo Senhor Ministro daJustiça,

Excelentíssimo Senhor ProfessorCelso Lafer,

Excelentíssimo Senhor Secretário-Geral,

Senhoras e Senhores.

É com grande satisfação que lhes douas boas-vindas a esta Casa, para uma refle-xão conjunta sobre Democracia, Desen-volvimento e Direitos Humanos. O pre-sente seminário responde à necessidadeimprescindível de consulta e cooperaçãoentre o Governo e a sociedade brasileira, afim de melhor prepararmos as posições aserem definidas pela delegação brasileiraà Conferência Mundial de Direitos Huma-nos, a realizar-se em Viena, de 14 a 25 dejunho próximo.

Programada na sequência da Conferên-cia do Rio de Janeiro sobre Meio-Ambientee Desenvolvimento, que o Brasil soube tãobem acolher em 1992, a Conferência deViena é o segundo conclave universal orga-nizado pelas Nações Unidas nesta décadade tantas mudanças. Sua convocação, por

resolução adotada pela Assembleia Geralem 1990, assinala a importância adquiridapelos direitos humanos como «tema glo-bal», de interesse prioritário para toda acomunidade internacional.

Se em 1990 o otimismo prevalecentenas relações internacionais com o fim daGuerra Fria tornava oportuna a convoca-ção de evento mundial para analisar osresultados alcançados e obstáculos encon-trados pela cooperação internacional emprol dos direitos humanos, hoje, com amultiplicação de focos de tensões e o re-crudescimento de práticas que todos cría-mos superadas, a Conferência se torna ain-da mais necessária. E oportuna ela é, tam-bém, pelos problemas existentes nessa es-fera, dentro da órbita interna de pratica-mente todos os países, de que não é exce-ção o Brasil.

Desde o início do processo preparató-rio da Conferência, acordaram as delega-ções participantes - entre as quais a doBrasil - que o evento deveria levar emconsideração as interrelações existentesentre a democracia, o desenvolvimento eos direitos humanos. Procurou-se, com tal

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decisão, não somente valorizar o tema daDemocracia, que esperamos ver prevale-cer no mundo pós-Guerra Fria, mas sobre-tudo evitar abordagens unilaterais e sim-plistas dos direitos humanos, que omitemreferência à realidade histórica que in-fluencia sua fruição. Se, por um lado, nãoexistem, no mundo de hoje, possibilidadesde condicionar-se a observância dos direi-tos civis e políticos à obtenção prévia deplenas condições de desenvolvimento,tampouco é plausível imaginar que os di-reitos humanos possam ser desvinculadosda situação econômico-social das popula-ções envolvidas.

O Brasil é, nesse contexto, um dosexemplos mais eloquentes. Vivemosatualmente período de ampla liberdade,jamais igualado em nossa história. Nos-sas instituições democráticas funcionamde forma plena. O Governo promove, naárea dos direitos humanos, total transpa-rência, mantendo diálogo e cooperaçãocom a sociedade civil, com organizaçõesnão-governamentais e com os órgãoscompetentes da comunidade internacio-nal. A situação dos direitos humanos nopaís, entretanto, permanece questão mui-to sensível. Incidentes como o da Casa deDetenção de Carandiru, a situação de

nossas crianças de rua, o fenómeno daviolência rural e urbana e até a ocorrênciade situações assemelhadas às de escravi-dão são registros trágicos de nossas defi-ciências, que somente poderão ser cabal-mente resolvidas com o aprimoramentodas condições económicas.

Não podemos, contudo, esmorecer. Aocontrário, devemos persistir na luta pelosdireitos humanos, em todas as suas dimen-sões, buscando aproveitar as oportunida-des e, quando possível, tentando construí-las. Neste seminário os Senhores serãoinformados da iniciativa que estamos im-pulsionando, no ensejo da Conferência deViena, em apoio às instituições do Estadode Direito. Caso bem sucedida, ela poderáconstituir importante respaldo aos direitoshumanos, particularmente nos países emdesenvolvimento.

Tenho a convicção de que as reflexõesdeste seminário serão esclarecedoras eúteis, porque representativas de diversossetores do Governo e da sociedade brasi-leira. Delas há de emergir uma posiçãonacional mais sólida para o Brasil na Con-ferência Mundial de Direitos Humanos

Muito obrigado. •

• • •

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Instituto Rio Branco- formatura da turma de 1992

Discurso do Presidente da República, ItamarFranco, na cerimónia de formatura da turma de1992 do Curso de Preparação à Carreira deDiplomata do Instituto Rio Branco, em 27 deabril de 1993

Oenhor Ministro de Estado das RelaçõesExteriores,

Senhores Chefes de Missão Diplo-mática,

Senhores Ministros de Estado,

Senhor Secretário-Geral das RelaçõesExteriores,

Senhor Diretor do Instituto RioBranco,

Senhores Diplomatas,

Senhores Formandos,

Senhoras e Senhores.

É para mim uma grande satisfaçãocomparecer ao Palácio do Itamaraty parapresidir a cerimónia de formatura dos maisnovos membros da Casa de Rio Branco.

Quer a tradição dos povos que as pas-sagens marcantes no processo de matura-ção do ser humano sejam oportunidade dejusta celebração.

Ao acolher para a vida profissionalaqueles qualificados para as diversas fren-

tes da força de trabalho, a sociedade come-mora a sua revitalização.

Inspirados nos serviços prestados aoBrasil pelo patrono da Casa, o Barão doRio Branco, e por tantos profissionais ilus-tres que o sucederam; beneficiados poruma formação sólida a que os capacitou aaprovação no exame vestibular para o Cur-so de Preparação à Carreira de Diplomata,os formandos deixam agora os desafios ea liberdade da vida académica para assu-mir a responsabilidade pragmática doagente político comprometido com a defe-sa do interesse nacional.

Os formandos do Instituto Rio Bran-co têm muito de que se orgulhar. A Casacujos quadros passam a integrar distin-gue-se, no serviço público brasileiro,pela manutenção de alto padrão de de-sempenho, alicerçado no labor coletivoe na continuidade da ação. O Itamaratytem sabido preservar uma cultura quelhe é particular, destacando-se pelo pro-cedimento a um tempo disciplinado ecriativo de seus quadros.

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Formam-se hoje vinte e um novos di-plomatas brasileiros.

Assumem a partir de agora o impor-tante compromisso de honrar as tradi-ções desta Casa.

Será preciso, de olhos postos no futuro,e tendo presentes as necessidades e a ex-pectativa da sociedade brasileira, repensara política externa à luz de um cenáriointernacional que sofreu radical transfor-mação e continua em acelerada mutação.

Senhoras e Senhores.

Mais do que nunca, são exigidas dosdiplomatas perspicácia, decisão e capaci-dade de compreender as novas configura-ções da situação internacional, bem comode propor e executar ações políticas desti-nadas a ampliar a presença do Brasil e denossa região no cenário mundial.

A construção de novas estruturas deconvivência internacional em bases jus-tas é o desafio que nos reservou a histó-ria e para o qual serão decisivos os es-forços dessa jovem geração de diploma-tas que representará o Brasil nas próxi-mas décadas.

Para inspirá-los ante esse desafio, es-colheram os formandos como patrono oDoutor Ulysses Guimarães.

Não poderia ser mais feliz a escolha.

Não é possível evocar Ulysses Guima-rães sem emoção e sem saudade.

Quanto não deve a Nação brasileira aesse idealista, que fez da coragem na de-fesa de seus valores um exemplo para to-dos nós?

A decisão de escolher Ulysses Guima-rães para patrono é muito mais que a me-recida homenagem a um grande homempúblico, que tanta falta nos faz.

Reconheço, nessa decisão, a profissãode fé nos valores da democracia como osúnicos que nos permitirão encontrar oscaminhos para retomar o desenvolvimen-to, resgatar a dívida social e construir umasociedade mais justa.

Senhoras e Senhores.

A construção dessa sociedade maisjusta é o objetivo central que dá sentido acada uma das ações de meu Governo.

É por entender que a recessão e o de-semprego nos afastam dessa meta que,desde o primeiro dia de meu mandato,questionei a falsa modernidade que sepaga com a miséria do povo ou as receitaseconómicas que implicam sempre poster-gar o desenvolvimento.

Houve quem tentasse apresentar comoapego ao passado tanto meu questiona-mento da modernização excludente, comominha convicção de que os problemas dopaís só se resolverão com a retomada docrescimento.

Nada mais longe da verdade.

Apegados ao passado estavam os queinsistiam em manter o povo à margem dosbenefícios do progresso. Eram eles os quenão entendiam que a presença de umapopulação marginalizada do progressoeconómico é característica de sociedadesdesorganizadas e de modelo arcaico.

Meu compromisso é com as reformashoje exigidas para que reencontremos o

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caminho do desenvolvimento com justi-ça social.

Confio em que as levaremos adiante,com o apoio do Congresso Nacional.

Estabilizar a economia, voltar a cres-cer, resgatar a esperança; esses objetivosreclamam verdadeira união nacional.

Em ambiente de plena liberdade demo-crática, vamos amadurecendo, em benefí-cio de todos, um novo modelo de desen-volvimento, mais aberto, mais dinâmico emais equilibrado.

O tempo de nosso ajuste é o tempo daDemocracia.

Formam-se gradualmente os consen-sos em que todos os setores da sociedadetêm voz ativa. O consenso é garantia deque nossas reformas são legítimas e serãoduradouras.

Senhoras e Senhores,

Na construção da sociedade justa aque aspiramos, a política externa tem pa-pel decisivo.

As características centrais de nossadiplomacia sempre foram a defesa dosinteresses nacionais, o respeito aos com-promissos assumidos, a tradição de umaação coerente no tempo e sobretudo avisão de futuro.

A nova agenda da política externa bra-sileira conserva esses valores, ao mesmotempo em que inaugura uma interaçãomais íntima com as forças vivas da socie-dade. Os contactos com os meios empre-sariais, académicos, políticos e culturaistêm contribuído para que a Chancelaria

expresse de modo mais fiel os interesses eanseios na Nação brasileira.

O direito soberano dos Estados, a so-lução pacífica das controvérsias, a conso-lidação da democracia, a superação dapobreza com distribuição equitativa dariqueza, o pleno respeito aos direitos hu-manos, a busca do desenvolvimento sus-tentável, a garantia de condições de com-petição internacional para nossa econo-mia, todos esses são ideais compartilha-dos pela sociedade, que nos apontam osrumos a tomar e os objetivos gerais aperseguir no plano internacional.

A capacidade de sempre atender àsnecessidades da sociedade mantém acredibilidade e a legitimidade da políticaexterna.

O final da Guerra Fria alterou a distri-buição do poder mundial. No plano políti-co, sobressaem a necessidade de maiorcooperação multilateral e a aplicação doideal democrático em nível internacional.No plano económico, a tendência à globa-lização não deve levar-nos a ignorar asdisparidades e assimetrias que distanciamos mais desenvolvidos do resto do mundo.

Ao mesmo tempo, convivemos comos riscos, por um lado, da regionalizaçãoexcludente, e, por outro, da dramática eexplosiva fragmentação de antigos espa-ços políticos.

Para atuar em consonância com o inte-resse nacional, a diplomacia brasileiradeve orientar-se pelo realismo. Precisarámobilizar a experiência acumulada e a sa-gacidade que vem caracterizando a suaação para procurar influenciar o jogo po-

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lítico e económico internacional em favorde nosso desenvolvimento.

Senhoras e Senhores,

Ao refletir sobre o que deve ser umapauta de política externa brasileira identi-fico claramente algumas prioridades:

• A defesa do tratamento multilateral enos seus foros apropriados dos grandestemas internacionais -políticos e econó-micos -, assim como uma maior trans-parência e democratização no acesso aoprocesso decisório internacional;

• O reforço do sistema multilateral decomércio, que poderá ser obtido poruma conclusão satisfatória da RodadaUruguai, para cujo sucesso já foramdedicados tantos anos de esforços ne-gociadores;

• A consolidação de nosso processo deintegração regional, que nos abre novasperspectivas e oportunidades no campoeconómico e comercial, e que deveráreforçar a base política com que podere-mos contar para o apoio a nossos pontosde vista no cenário internacional.

Essas vertentes da atuação diplomáticabrasileira se unem na construção de umnovo sistema internacional, mais equitati-vo e mais apto a atender às necessidadesdos países em desenvolvimento.

Senhoras, Diplomatas.

Somos um país que deseja a inte-gração.

Nesse sentido, será preciso valorizarnossa própria região. A América Latina,em particular a América do Sul, sempre foi

e deve continuar a ser área privilegiada deatuação de nossa política externa.

Devemos não apenas levar adiante oêxito do Mercosul em termos de aproxi-mação política entre seus membros, defortalecimento da democracia e de reforçoda competitividade, é exemplo a ser valo-rizado. Trata-se de iniciativa que não podesubordinar-se às flutuações da conjunturaeconómica ou política.

No campo regional mais amplo, temosem nossas relações bilaterais importanteacervo a ser preservado e enriquecido.

O relacionamento com os Estados Uni-dos mantém-se em patamar próprio dedensidade e importância.

O evidente peso dos Estados Unidosno cenário internacional e a intensidade denossas relações tornam fundamental queos entendimentos com esse país, hoje nos-so principal parceiro individual, sejammarcados pela fluidez e pela maturidadede diálogo.

É sólida a base de nossas relações coma Europa. O Velho Continente faz partede nossas origens. Temos, com os paíseseuropeus, relações tradicionais, e espera-mos que as perspectivas de expansão eco-nómica da Comunidade Europeia pre-nunciem novas oportunidades para o nos-so intercâmbio.

Compartilhamos com a África raízesétnicas e culturais, bem como a aspiraçãoao desenvolvimento e à transformaçãodo Atlântico Sul em um espaço vivo deintegração.

As relações com as economias emer-gentes do Pacífico devem merecer atenção

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especial. Há muito o que fazer em termosde conjugação de esforços.

Com o Japão, devemos desenvolver asmúltiplas áreas em que há claro potencialde cooperação.

Temas como desenvolvimento susten-tável, direitos humanos, desarmamento,são objeto de discussão multilateral inten-sa e permanente e demandam atitudestransparentes, abertas e não-discriminató-rias, apoiadas na cooperação internacionalcom base em regras multilateralmenteacordadas.

Os jovens diplomatas da classe de1992 têm o privilégio de começar suascarreiras sob a orientação de um Chancelerque reúne as mais altas qualificações inte-lectuais e académicas. Parlamentar expe-riente e realista, homem de diálogo, deespírito aberto e criativo, o Ministro Fer-nando Henrique Cardoso traz para a con-dução da política externa um acervo derealizações, caracterizado por um irre-preensível comportamento ético e um ina-balável compromisso com a democracia.

Os diplomatas que hoje se formam nãopoderão faltar com seu patriotismo e espí-

rito público, e, nisso, haverão de inspirar-se no exemplo da paraninfa da turma, Em-baixadora Thereza Maria Machado Quin-tella, ex-diretora do Instituto Rio Brancoe, hoje, nossa Representante em Viena.Seu reconhecido talento profissional e suaaguda sensibilidade diplomática são amarca da brilhante trajetória que a levouao ápice da carreira.

A cada um dos formandos e às suasfamílias, minhas congratulações.

Peço que aceitem, com os colegas bol-sistas da Eslováquia, do Paraguai, da Ro-ménia e do Suriname, os meus votos deêxito profissional e de felicidade pessoal.

Senhores formandos da Turma de1992,

Que no futuro possam ser os represen-tantes de uma sociedade menos desigual,mais livre e mais desenvolvida.

Que no futuro possam representar essasociedade em um mundo menos desigual,mais livre e mais desenvolvido.

Muito obrigado.

Declaro encerrada esta cerimónia.

Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso,na cerimónia de comemoração do Dia do Diplomata,

no Palácio Itamaraty, em 27 de abril de 1993

Excelentíssimo Senhor Presidente daRepública, Itamar Franco,

Excelentíssimos Senhores Chefes deMissão Diplomática,

Excelentíssimo Senhor Secretário-Ge-ral das Relações Exteriores, EmbaixadorLuiz Felipe Lampreia,

Excelentíssimo Senhor Diretor do Insti-tuto Rio Branco, Embaixador Sérgio Bath,

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Excelentíssima Senhora Embaixado-ra Thereza Quintella, Paraninfa da Turmade 1992,

Senhores Diplomatas,

Meus jovens formandos,

Minhas Senhoras ? meus Senhores,

O Itamaraty tem a honra de receberVossa Excelência, Senhor Presidente, nacomemoração do Dia do Diplomata.Confirma-se a tradição pela qual os diplo-matas recém-formados pelo Instituto RioBranco ouvem do Chefe de Estado pala-vras de orientação e de estímulo para oexercício das funções que acabam de as-sumir. Ao mesmo tempo, para orgulho dainstituição, a presença de Vossa Excelên-cia nesta cerimónia demonstra a confian-ça que a Nação deposita no profissiona-lismo, no espírito público e no patriotis-mo do corpo de servidores do Ministériodas Relações Exteriores.

Interpretamos essa confiança como re-veladora da importância de que se revestea política externa no contexto da açãoglobal do Governo de Vossa Excelência.No Brasil democrático que Vossa Exce-lência preside, não há política externa di-vorciada das demais políticas do Governo.A política é uma só, dentro e fora do País.Exprime coerência e legitimidade. Estáfundada nos interesses nacionais e nos va-lores e aspirações da cidadania. Canaliza-se através de diferentes órgãos do Estadoe de múltiplos setores representativos dasociedade.

O Itamaraty, que me cabe hoje o privi-légio de dirigir, é apenas uma peça dessaengrenagem, com responsabilidade insti-

tucional pela execução da política exte-rior. O Ministro, egresso da Universidadee do Parlamento, sente-se autorizado adar esse testemunho: a Universidade e oParlamento - como o empresariado, ossindicatos, os partidos políticos, o mundoda cultura e da ciência -mantêm com estaCasa uma tradição de diálogo e coopera-ção que só enriquece o acervo de realiza-ções do Brasil no campo das relaçõesinternacionais.

As linhas de ação que Vossa Excelên-cia definiu para a política externa brasilei-ra, e que irá mais uma vez reiterar aqui,serão seguidas por todos nós com lealdadee entusiasmo.

Ao Ministro das Relações Exteriores,incumbe dizer aos jovens diplomatas quehoje se formam o significado desta ceri-mónia para o Itamaraty. Ela traz, comoqualquer ritual, conotações de tradição ede renovação. Tradição, porque a diplo-macia está ancorada na história. Nutre-sedos ensinamentos do passado e da expe-riência de tantos servidores que engran-deceram o seu nome, muitos deles ilus-tres homens públicos e estadistas, a co-meçar por aquele que é o seu patrono, RioBranco. Renovação, porque a diplomaciacresce também na passagem das geraçõese deve sempre incorporar a perspectivado futuro.

A cada ano, nessa mesma época, novosdiplomatas passam a integrar os quadrosdo Itamaraty, após concluírem o curso doInstituto Rio Branco. É para eles e suasfamílias motivo de natural orgulho o in-gresso na carreira.

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É também para o Itamaraty motivo deenvaidecimento a cerimónia desta data.Confirma o padrão de excelência destaCasa, assegurado pela manutenção - des-de 1945, quando se criou o Instituto RioBranco - de regras objetivas, democráti-cas e transparentes de admissão, formaçãoe seleção de diplomatas.

O Ministério das Relações Exteriores,dedicado a funções de caráter essencialpara o Estado, demonstra que é possívelter um setor do aparelho burocrático compadrões de eficiência, motivação e corre-ção dos mais elevados. Mas as transforma-ções a que vimos assistindo, tanto no Bra-sil quanto no mundo, exigem o aprimora-mento contínuo da instituição e a valoriza-ção de seus recursos humanos. A essesobjetivos, tenho atribuído a mais alta prio-ridade em minha gestão como Ministrodas Relações Exteriores.

Estão prestes a concluir-se os estudosa cargo da Comissão presidida pelo Secre-tário-Geral, e a partir de junho pretendoiniciar a implementação das medidas ne-cessárias ao aperfeiçoamento das práticasadministrativas do Ministério.

Esta é uma tarefa em que toda a Casaestá colaborando, em clima de diálogo,participação e transparência. A muitos te-nho ouvido pessoalmente, de muitos tenhorecebido ideias e sugestões por escrito.Temos organizado seminários, inclusivecom a contribuição de personalidades defora da Casa, e nem mesmo dispensei aexperiência dos Embaixadores aposenta-dos e do quadro especial, a quem reuni novelho Itamaraty do Rio de Janeiro para

uma avaliação conjunta dos rumos da Ins-tituição.

Creio que, em nenhum outro períododa história do Itamaraty, tenha sido feitotamanho esforço de reflexão sobre as prio-ridades da política externa e os meios ne-cessários à sua execução.

Ao Secretário-Geral, EmbaixadorLuiz Felipe Lampreia, devo meu reconhe-cimento especial pela colaboração lúcidae competente que me tem prestado noencaminhamento dessa e de todas as de-mais questões que fazem parte do trabalhocotidiano da Casa.

O Itamaraty, Senhor Presidente, querestar afinado com os novos tempos, paramanter-se à altura de suas realizaçõeshistóricas.

Aos formandos da Turma de 1992,caberá boa parte dessa responsabilidade.A eles, meus votos de felicidade em suascarreiras e em suas vidas pessoais. A di-plomacia é uma profissão plena de atrati-vos, mas também de dificuldades. Em suasfunções, serão invariavelmente requeridasqualidades de dedicação ao serviço públi-co, de disciplina e sacrifício, de criativida-de intelectual, de capacidade de adaptaçãoa outras culturas e a outros modos de vida.

Tendo estudado nos anos de 1991 e1992 as grandes questões das relações in-ternacionais contemporâneas, os novos di-plomatas terão podido verificar direta-mente as transformações ora em curso e,ao mesmo tempo, a perplexidade que cau-saram em todo o mundo. Tudo o queaprenderam agora terá que ser submetidoao teste da prática e à evolução das condi-

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ções concretas do exercício da diplomacia,que se transformam ao longo do tempo,com as mudanças tecnológicas, económi-cas e políticas.

Mais do que conhecimentos factuais, oque o Instituto Rio Branco lhes terá ensi-nado é uma atitude crítica diante da reali-dade e uma capacidade de apreender onovo, mesmo ao preço dos mais arraiga-dos e confortáveis hábitos mentais. A ca-pacidade de aprender o novo lhes permiti-rá estar sempre em dia com o presente, masa atitude crítica lhes dará uma salutar des-confiança em relação ao que se apresentacomo definitivo.

No patrono maior da diplomacia bra-sileira, cuja memória e cuja obra reveren-ciamos nesta data, haveremos de encon-trar sempre a inspiração correta. Dele,herdamos um Brasil desenhado em seuslimites e aberto à convivência com seusvizinhos americanos. Caberá à geraçãoque hoje se inicia na diplomacia imagi-nar, desenvolver e implementar uma di-plomacia brasileira para o século XXI,em que as fronteiras deixarão de ser umfenómeno apenas geográfico para separa-rem as nações por seus diferenciais tec-nológicos ou de bem-estar.

A turma que hoje se forma escolheucomo seu patrono uma das maiores figurasde nossa vida política, um dos maiores

brasileiros deste século. Ulysses Guimarã-es foi exemplo das maiores qualidades quese pode atribuir a um político: coragem,imaginação e liderança.

Quero também felicitar os formandospela escolha de sua paraninfa, a Embaixa-dora Thereza Maria Machado Quintella,que colocou suas reconhecidas virtudesprofissionais ao serviço do Instituto RioBranco durante os quatro anos e meio emque ocupou sua direção.

Senhor Presidente,

Reitero vivamente os agradecimentosdo Itamaraty, e os meus próprios, por suapresença nesta cerimónia. A vinda de Vos-sa Excelência hoje a esta Casa coincidecom um momento de reafirmação dos ob-jetivos políticos e dos valores éticos queinspiram seu Governo, empenhado na re-tomada do crescimento económico comjustiça social.

Quero que leve deste encontro, Se-nhor Presidente, quando celebramos afesta maior da diplomacia brasileira, acerteza de que o Itamaraty e todos seusservidores - do Ministro de Estado aofuncionário mais humilde -não faltarãojamais com sua contribuição para a gran-de tarefa de resgatar a esperança do Bra-sil e de seu povo.

Muito obrigado. •

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Ministro Fernando Henrique Cardosovisita o Equador

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, por ocasião debanquete oferecido pelo Chanceler do Equador,em Quito, em 29 de abril de 1993

Penhor Ministro,

As palavras de Vossa Excelência ultra-passam o gesto de acolhida fraternal e indi-cam a determinação de preservar e fortale-cer a tradicional solidariedade entre nossasPátrias. Minha esposa e eu - e todos osmembros da delegação que me acompa-nham - guardaremos na lembrança a gratarecordação do convívio desta noite e dahospitalidade com que nos distinguiram aSenhora de Paredes e Vossa Excelência.

É grande minha emoção ao retornar àsterras do Equador, onde a beleza da natu-reza só encontra paralelo na amabilidadede sua gente.

Sinto-me especialmente honrado porretornar ao Equador como Chanceler doBrasil, atendendo ao gentil convite deVossa Excelência. Ao aceitá-lo, foi minhaintenção deixar clara a prioridade que oBrasil concede às suas relações com ospaíses da região amazônica e - entre eles- ao Equador.

Pareceu-me esta uma ocasião oportu-na, não apenas para reafirmar velha e se-gura amizade, mas também para exploraras bases de novo diálogo, fraternal, franco

e objetivo entre o Equador e o Brasil. É omomento de nossas histórias nacionaispara estreitarmos a colaboração entre nos-sos países. Estou certo, Senhor ChancelerParedes, de que nosso encontro contribui-rá para esse magno objetivo.

Na verdade, ao rever o Cotopaxi - namanhã de hoje - reafirmou-se em mim,nítida e imediata, a certeza de que o Brasile Equador estão bem próximos. A curtaviagem que me trouxe aqui desmente aimpressão de distância que nos sugeremos mapas.

A confluência de nossos interessesconfirma igualmente a proximidade denossos dois países, unidos por um destinoindivisível, como nações americanas quecompartilham interesses comuns. Todasas coincidências de herança material e es-piritual que nos avizinham e a estreitacooperação que temos desenvolvido, tantoem nossas relações bilaterais como emforos multilaterais, consolidaram a con-fiança e a solidariedade entre brasileiros eequatorianos.

É com esse espírito que venho a Quito,certo também de que devemos honrar com

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novas realizações a herança de um passadode impecáveis relações.

Senhor Ministro,

Como povos amazônicos, brasileirose equatorianos somos condóminos de va-lioso património, cujo desenvolvimentotemos o compromisso impostergável depromover.

Para esse fim, serão necessários inves-timentos consideráveis em pesquisa cien-tífica e em desenvolvimento de técnicasnovas. A cooperação bilateral neste campodeverá intensificar-se para cobrir a falta deapoio financeiro internacional que, atéaqui, não tem correspondido ao interesseque demonstraram governos e povos deoutras regiões.

O Tratado de Cooperação Amazônicatem-se constituído em foro apropriadopara a discussão de temas de interessecomum dos países amazônicos. Construí-do sobre a base sólida da igualdade e dasoberania inalienável de cada Estado Par-te sobre a porção amazônica de seus res-pectivos territórios, o TCA tem comovocação atuar como catalisador, desper-tando interesses, identificando priorida-des, multiplicando as oportunidades detrabalho em comum.

Ao renovar as bases da convivênciainternacional na Amazónia, o Tratadoveio reafirmar que não existem alterna-tivas para a cooperação, em um momen-to de relativo imobilismo e frustraçãoem muitos foros internacionais e regio-nais. Esse entendimento possibilitou aformação de posições conjuntas em re-lação a problemas comuns, exemplar-

mente recolhidas no texto da Declaraçãode Manaus com vistas à Conferência dasNações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento.

Possibilitou, igualmente, em nossosdias, Senhor Chanceler, a instalação de umsaudável clima de distensão e diálogo po-lítico entre os países da região, consen-sualmente entendido como a única formapossível de tratar problemas comuns e deencontrar soluções definitivas e mutua-mente satisfatórias para os mesmos. É esseo espírito, que o Brasil saúda entusiastica-mente e ao qual empresta sua mais irres-trita solidariedade, que preside o diálogopolítico estabelecido no mais alto nívelentre os Governos do Equador e do Peru.

Pensamos, contudo, que o Tratado deCooperação Amazônica necessita fortale-cer sua estrutura institucional, como formade adaptar-se aos desafios de nossos diase melhor cumprir os objetivos para osquais foi concebido. Estamos certos deque a Chancelaria do Equador haverá detrazer aportes importantes derivados desua experiência aos debates que, sobre estetema, terão lugar nas próximas reuniões doConselho de Cooperação Amazônica e naReunião de Chanceleres.

A propósito, quero ressaltar o reconhe-cimento do Governo brasileiro pelo traba-lho exemplar que a Chancelaria equatoria-na tem desenvolvido no exercício da Se-cretaria Pro Tempore do Tratado de Coo-peração Amazônica, ao longo dos últimostrês anos. Com efeito, coube à Chancelariado Equador gerenciar a etapa de transiçãodo TCA entre o período pioneiro e suaatual etapa de amadurecimento, com im-

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portante acervo de realizações em benefí-cio de nossos oito países.

Senhor Ministro,

Como que sedimentando nossa identi-dade de propósitos, a geografia encontrouuma maneira tão original quanto definitivade assegurar a união de nossos países, aofazer nascer, das encostas orientais do Co-topaxi e do Antisana, os mananciais docaudaloso Napo, também tributário doAmazonas, famoso por ser o rio pelo qualdesceu Orellana e pelo qual subiu PedroTeixeira, em 1657, até chegar a San Fran-cisco de Quito. É o que nos lembravaMiguel Maria Lisboa, nosso primeiro re-presentante diplomático por estas terras,em 1866. Já nos alertava então para apossibilidade de utilização dessa via comoligação entre nossos dois países, pois partedas águas que o Amazonas atira no Ocea-no Atlântico, origina-se, na verdade, emsolo equatoriano, em suas fontes, em suasneves, em suas chuvas.

Senhor Chanceler,

Tomemos, pois, a nossa unidade ama-zônica como fonte inesgotável de inspira-ção. A Chancelaria brasileira - asseguro aVossa Excelência - está sempre aberta aoexame conjunto com a Chancelaria equa-toriana, não apenas dos assuntos que nosinteressam em base mútua e bilateral, masde toda a problemática continental e mun-dial com que se defrontam nossa políticaexterna e nossa atuação diplomática. Ain-da recentemente, no início deste mês deabril, as possibilidades de ação conjugadade nossos países ficaram demonstradas de

forma inequívoca em Santa Cruz de IaSierra, na reunião do Grupo do Rio.

Exploremos juntos os terrenos abertospela revolução científica e tecnológica,nos quais se torna especialmente necessá-ria a conjugação vigorosa de esforços en-tre países da América Latina. O esforço decooperação mútua, entre nações irmãs nasnecessidades e nas aspirações mais gene-rosas, há de repousar na base de uma au-têntica solidariedade continental, requisitoindispensável da desejada integração lati-no-americana. Quero assegurar a VossaExcelência que o Brasil não se poupará noempenho de contribuir para que essa basese torne cada vez maior e mais sólida.

Foi essa preocupação que determinoua iniciativa do Presidente Itamar Franco,ao propor, no início deste ano de 1993, aassinatura de um conjunto de Acordos deComplementação Económica, no âmbitoda Aladi, com os países da Região Ama-zônica, hoje conhecida como IniciativaAmazônica.

Lembrava então, o Presidente ItamarFranco, que democracia enquanto modode vida e democracia como regime políti-co só existem, com vigor e permanência,nas sociedades em que os homens atuamcomo cidadãos, e não se reduzem apenasa consumidores. Esta concepção básicanos orienta a todos, tanto no plano internoquanto no relacionamento que infatigavel-mente temos privilegiado no contexto la-tino-americano.

A proposta brasileira da IniciativaAmazônica decorre da constatação de queo dinamismo assumido pelos esquemas

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sub-regionais de integração, que não sãoexcludentes, supõe a intensificação dosvínculos econômico-comerciais entre nos-sos países, com base nos princípios daexploração racional de recursos e da coo-peração mútua, consagrados no Tratado deCooperação Amazônica.

Trata-se de lançar desde já, com di-mensão amazônica e benefício para todosos países latino-americanos, as bases dadesejada articulação entre os esquemasde integração que viemos consolidandona região, dos quais são exemplos maio-res o Mercosul e o Pacto Andino, e quedevem confluir, como estabelece o Trata-do de Montevidéu de 1980, para a con-formação de um mercado comum latino-americano.

O decidido esforço de modernizaçãoque empreendem nossos países deve re-percutir necessariamente no plano bilate-ral, abrindo novas e promissoras perspec-tivas de cooperação. Estamos todos cons-cientes de que o intercâmbio comercialentre Brasil e Equador continua, ainda,muito abaixo de suas potencialidades. Damesma forma, as possibilidades de coope-ração técnica e científica não estão ade-quadamente exploradas.

O leque de oportunidades, contudo, éamplo. Devemos aproximar nossos ho-mens de negócios, nossas universidades,

nossas instituições científicas. A agroin-dústria, a biotecnologia, a saúde, as tele-comunicações são campos férteis para acooperação. Na área cultural, torna-se ur-gente um maior conhecimento recíprocoe uma troca mais intensa de experiências.As possibilidades de cooperação são mui-to grandes, sobretudo no que diz respeitoà educação.

Estou certo de que nosso entendi-mento continuará a ser, como sempretem sido, fluído e permanente, sobretu-do neste momento histórico em que seconsolida um consenso universal -e quefelizmente é uma realidade em nossoHemisfério - sobre os valores democrá-ticos e sobre a consecução de seus com-ponentes. Nossas Nações perseguem osmesmos caminhos em busca do progres-so de nossos concidadãos, dentro daconcórdia, do diálogo e da paz.

É com essa certeza que, em nome doPresidente Itamar Franco e em nome doGoverno brasileiro, convido a todos osque se reúnem em torno desta mesa aerguerem suas taças pela prosperidade danobre e amiga Nação equatoriana, pelocontinuado êxito de Sua Excelência oSenhor Presidente Durán Ballén e pelafelicidade pessoal de Vossa Excelência eda Senhora de Paredes. •

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Vice-Presidente da ComissãoEuropeia visita o Brasil

Discurso do Secretário-Geral das Relações Ex-teriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião de almoço em homenagem ao Vice-Pre-sidente da Comissão Europeia, Manuel Marin,no Palácio Itamaraty, em 4 de maio de 1993

uma honra poder dar-lhes as boas-vin-das em nome do Governo brasileiro. Aoreencontrá-lo aqui em Brasília, poucosdias após o proveitoso encontro entre osChanceleres do Grupo do Rio e da Comu-nidade Europeia, quero expressar a certezaque nos anima de que a visita que VossaExcelência realiza ao Brasil muito contri-buirá para avançar ainda mais as relaçõesentre o nosso país e a Comunidade.

A importância da Comunidade Euro-peia como grande ator internacional ecomo principal parceiro comercial do Bra-sil dá o tom que vai inspirar as conversa-ções que Vossa Excelência inicia hoje noBrasil. Referência e paradigma, a Comu-nidade inspira-nos em nosso próprio es-forço de integração regional e figura comointerlocutor privilegiado no mundo dehoje graças à influência que exerce nasprincipais questões que figuram na agendapolítica e económica internacional.

Joaquim Nabuco, notável figura de di-plomata e intelectual brasileiro, escreveucerta vez que os brasileiros não vamos,mas voltamos à Europa. De fato, a Europa

legou-nos não apenas uma permanente he-rança histórica, cultural e linguística, mastambém uma visão de mundo e um con-junto de valores e princípios que fazem abase do nosso próprio projeto histórico.Com seu dinamismo reencontrado atravésdo grande esforço de integração que estáconsolidando, a Europa dos Doze demons-tra que a via da integração e da cooperaçãoé a única possível num mundo interdepen-dente. Seu peso económico e político sãoa um tempo um fator de atração e ummodelo a analisar e a perseguir.

Senhor Vice-Presidente,

Hoje, as relações entre o Brasil e aEuropa têm duas dimensões complemen-tares. No plano bilateral, a Europa é nossomais importante parceiro económico e in-terlocutor de primeira grandeza para a po-lítica externa brasileira. Em um plano dis-tinto, o Brasil relaciona-se com a Comuni-dade também através do mecanismo dediálogo e cooperação estabelecido entre oMercosul e a Europa dos Doze.

O Mercosul tem na Comunidade, decerta maneira, a sua génese.

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A Comunidade foi inspiração e desa-fio. A inspiração veio já a partir de 1957,com o Tratado de Roma, que estimulou deforma inequívoca o surgimento de proces-sos congéneres de integração regional, en-tre os quais a antiga ALALC, hoje Aladi.

O desafio veio sob a forma da indica-ção inequívoca de que o mundo do limiardo século XXI seria mais interdependen-te e mais competitivo e de que seria naintegração, e não no isolamento, que seencontrariam as melhores condições paragerar escala, aumentar a produtividade eintensificar a geração e os fluxos de co-mércio, investimentos e tecnologia. Essedesafio foi crucial para que adotássemosfinalmente um curso objetivo e pragmá-tico para dar forma concreta ao velhoideal integracionista latino-americano.Hoje, falamos menos em Bolívar e maisem cronogramas, em desgravação, em ta-rifa externa comum, em prazos exíguos.E temos um novo nível de interlocuçãocom o mundo.

Em 1991, Brasil, Argentina, Paraguaie Uruguai tomaram a histórica decisãopolítica de criar o Mercado Comum do Sul- Mercosul -, que já vem estreitando seusvínculos, reforçando suas afinidades e ex-plorando juntamente com a ComunidadeEuropeia o considerável potencial de co-operação entre as duas áreas de integraçãoeconómica.

Com a assinatura, em Santiago, doAcordo Interinstitucional entre a Comis-são da CE e o Conselho do Mercado Co-mum, a cooperação Mercosul-CE temsido uma das vertentes mais dinâmicas

do relacionamento externo dos países doMercosul.

Pouco mais de um ano de vigênciadesse acordo já foi suficiente para pôr emandamento significativa gama de projetosde cooperação, abrangendo desde progra-mas de formação de pessoal até projetosde divulgação, no âmbito das instituiçõescomunitárias, dos mecanismos de coope-ração com o Mercosul.

Senhor Vice-Presidente,

O relacionamento entre o Brasil e aComunidade Europeia, por sua vez, alcan-çou notável dimensão na última década. Énatural que assim tenha sido. Somos amais forte economia latino-americana, amais diversificada e a que maior e maismaduro relacionamento económico e co-mercial mantém com a Europa dos Doze.

Apesar de nossos inegáveis problemasconjunturais, temos intensa familiaridadecom os mecanismos do mercado e com osinvestimentos estrangeiros e participamosdo comércio internacional com ânimocompetitivo e dinâmico.

O intercâmbio comercial Brasil-CEtem impacto relevante em nossa economiae sem dúvida na economia dos países-membros da Comunidade. As cifras sãoexpressivas. Os fluxos comerciais passa-ram de US$ 8,9 bilhões em 1981 paraUS$15,2 bilhões em 1992. Os investimentosda Comunidade no Brasil alcançavam, emmarço de 1991, o montante de US$ 12,8bilhões, equivalentes a 35,8% dos investi-mentos globais no país.

O Brasil tem assim um perfil equilibra-do em seu comércio internacional e atua

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de fato como um global trader com inte-resses bem distribuídos entre a Europa, aAmérica do Norte, a Ásia e o mundo emdesenvolvimento. Esse dado incide direta-mente na importância que a Comunidadetem para o Brasil e que o Brasil deve terpara a Comunidade entre seus parceirosem desenvolvimento.

Tal intensidade no intercâmbio bilate-ral, associada à ampla coincidência depontos de vista com relação a diversositens da agenda internacional, tem exigido,por parte do Governo brasileiro e da Co-munidade, um esforço renovado no senti-do de desenvolver uma moldura institu-cional adequada ao aprofundamento dosfortes laços de cooperação existentes.

Esse é o sentido da assinatura, em Bra-sília, em junho de 1992, do Acordo-Qua-dro entre o Brasil e a Comunidade, ora emtramitação no Congresso Nacional. EsseAcordo constitui moderno instrumento ju-rídico que deverá propiciar o aperfeiçoa-mento e a intensificação da cooperaçãoentre o Brasil e a Europa dos Doze, alémde traduzir, em sua forma mais avançada,o firme intento das duas partes em estabe-lecer bases institucionais sólidas para talcooperação.

A solidez e a importância dos nossoslaços nos dão condições para manter umdiálogo franco e amistoso com as Comu-nidades. Nesse diálogo, há espaço paramuitas convergências e também para di-vergências, que exploramos com sentidode pragmatismo e com a consciência daimportância recíproca.

Nesse processo voltado permanente-mente para o aperfeiçoamento das nossasrelações, a Comissão da Comunidade temum papel decisivo. Daí a importância queatribuímos à visita de Vossa Excelência eao continuado exercício de consulta, infor-mação e troca franca de impressões que elarepresenta.

É por essa razão que, em nome doGoverno brasileiro, quero uma vez maissaudar a presença de Vossa Excelênciaentre nós e expressar confiança no estrei-tamento cada vez maior das relações entreo Brasil e a Comunidade Europeia.

Com esse espírito, convido todos ospresentes a brindarem à saúde e felicidadepessoal de Vossa Excelência, ao progressodas relações entre o Brasil e as Comunida-des Europeias e ao bem-estar de todos osnossos povos.

Muito obrigado. •

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XI Conferência InterparlamentarEuropa-América Latina

Discurso do Ministro das Relações Exteriores,Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia deencerramento da XI Conferência Interparla-mentar Europa-América Latina, na sede do Par-lamento Latino-Americano, em São Paulo, em 6de maio de 1993

Penhor Presidente do Parlamento Lati-no-Americano,

Senhor Presidente do Senado Federal,

Senhores Membros do Parlamento La-tino-Americano,

Senhores Membros do Parlamento Eu-ropeu,

Senhores Membros do Corpo Diplo-mático,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Concluí hoje mais um exercício de diá-logo e coordenação parlamentar entre aEuropa e a América Latina. Em nome doExcelentíssimo Senhor Presidente da Re-pública, Doutor Itamar Franco, e no meupróprio, quero expressar o quanto o Brasilsentiu-se honrado em sediar este encontroe em contribuir para a consolidação desteforo e para o êxito de suas deliberações.

Aqui o Brasil compareceu com expres-siva delegação parlamentar, liderada peloeminente homem público e Senador Hum-berto Lucena, Presidente do Senado Fede-ral, que é minha casa de formação política

e à qual me orgulho de pertencer em repre-sentação do Estado de São Paulo.

Como um todo, a América Latina aquise fez representar com importante e di-versificada delegação. Com isso, o Parla-mento Latino-Americano mostrou que éuma realidade tangível a serviço do diá-logo entre nossos povos e do fortaleci-mento continuado da democracia em nos-so continente.

O Parlamento Europeu dignificouigualmente esta Conferência, por meio dedestacada delegação, sinal inequívoco daimportância que atribui ao diálogo com ainstituição homóloga da América Latina.

Nas diversas sessões desta Conferên-cia que hoje se encerra com êxito e brilho,parlamentares dos dois continentes apro-fundaram a análise de temas fundamentaispara o relacionamento entre a Europa e aAmérica Latina e para a própria inserçãodas nossas regiões em um mundo em ace-lerada transformação histórica.

Centrada na democracia, na integraçãoe na cooperação entre a Europa e a Amé-

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rica Latina, esta Conferência acrescentauma contribuição expressiva ao já alenta-do património de diálogo, concertação eintercâmbio construído ao longo de dezoutras Conferências InterparlamentaresEuropa-América Latina.

Neste foro que espelha o rico universoda democracia representativa em mais detrinta países, os parlamentares europeus elatino-americanos puderam, com franque-za e objetividade, trocar impressões e in-formações e avançar reflexões que serãoúteis no trabalho diário em seus respecti-vos Parlamentos. Como representantes deseus povos, é legítimo e inspirador que osparlamentares se dediquem também à ta-refa de aprimorar as relações entre os paí-ses e de buscar novas fórmulas de coope-ração e diálogo entre os Estados.

Este processo tem sido possível entrenós porque a democracia se afirmoucomo tendência universal neste final doséculo XX e porque a América Latina,antes submergida em regimes de exce-ção, antecipou a grande onda de redemo-cratização que marcou a História políticamundial. A democracia e a economia demercado foram as melhores armas na su-peração da Guerra Fria, não as armasnucleares ou as estéreis confrontaçõesideológicas e militares.

Orgulho-me, em minha condição deparlamentar, de saber que neste foro estãorepresentadas forças que, de um lado e dooutro do Atlântico, e muitas vezes comheroísmo, lutaram para fazer deste ummundo mais aberto e livre, mais sensívelaos valores do humanismo e mais atentoaos direitos humanos, às liberdades demo-

cráticas e ao pluralismo político, étnico,religioso e cultural.

Senhores Parlamentares,

Vivemos no Brasil a experiência daredemocratização com a consciência deque a democracia não é um fim em simesma, mas um instrumento da transfor-mação e do aperfeiçoamento das socieda-des. Recriamos as instituições democráti-cas com a certeza de que a elas caberiarepresentar um país transformado, maispujante economicamente, mais presentena cena mundial, mais diversificado, mastambém necessariamente mais justo.

É em ambiente de franca participaçãoque se fortalece a ideia de que a democra-cia não se resume a eleições periódicas e àalternância de partidos no poder em seusdiversos níveis. Ela é um instrumento detransformação qualitativa da sociedade.

A democracia tem seus próprios tem-pos e não seria legítimo esperar que umregime democrático atue, fora da esferapolítica, com autoritarismo, como se fossepossível separar as duas dimensões indis-sociáveis da política e da economia. Foiesse o sentido da revolução democráticacom que a América Latina antecipou o quehoje se vê como tendência irreversível emtodo o mundo.

Também no plano económico os bra-sileiros estamos completando, através deuma cuidadosa engenharia política, a re-volução de abertura e ajuste por que vempassando o continente como forma deadaptar-se às condições económicas deum mundo mudado, onde a capacidadetecnológica e a competitividade são os

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fatores efetivos na criação da riqueza e dobem-estar.

São, portanto, muito grandes os desa-fios que temos enfrentado. A eles se so-mam desajustes herdados, a dívida socialcontraída junto a grandes contingentes depopulação, as falhas em matéria de direitoshumanos, a impunidade de criminosos, afragilidade na aplicação das leis.

Por essa razão, a modernidade entrenós significa muito mais do que a aplica-ção de fórmulas macroeconômicas pagascom o sofrimento do povo e com a persis-tência dos desequilíbrios, das iniquidadese da injustiça social. Não há modernidadesem progresso social, sem a participaçãode todos nos benefícios do desenvolvi-mento económico e da riqueza. Não hámodernidade sem um Estado capaz de pro-ver educação, saúde, habitação, trabalho einfra-estrutura que permitam um desen-volvimento equilibrado, sustentável e po-liticamente estável porque baseado em cri-térios sociais justos.

Porque a dimensão do nosso desafio étão ampla, a interação com outras regiõesque experimentaram formas diversas dedesenvolvimento, com ritmos diferentes ecom diverso impacto na estrutura social, épara nós fundamental. A Europa, nessesentido, inspira e desafia, ao mesmo tempoem que oferece modelos a contemplar comvivo interesse e problemas a evitar.

Senhores Parlamentares,

Senhoras e Senhores,

A realização da Conferência Interpar-lamentar Europa-América Latina ofereceprecisamente aos parlamentares europeus

a oportunidade de, mais uma vez, presen-ciar os avanços que essa dupla revoluçãosilenciosa, a da democracia e a da transfor-mação económica, vem registrando emnosso continente.

Mantemos com a Comunidade Euro-peia um relacionamento sólido e maduro.A imensa maioria dos nossos países têmna Comunidade o seu principal parceirocomercial e sua principal fonte de investi-mentos. Nosso interesse pelo processo deconsolidação do Mercado Comum é moti-vado por uma grande variedade de pontosque nos afetam direta ou indiretamente.

As lições de pragmatismo e determina-ção da Comunidade inspiram hoje os vá-rios processos de integração regional lati-no-americana, do Mercosul ao Pacto An-dino, da América Central ao Grupo dosTrês. Estou certo de que, ao debruçar-mesobre a questão da integração, esta Confe-rência Interparlamentar terá mais uma vezdado contribuição expressiva aos nossospróprios processos de integração regionale explorado formas de acentuar ainda maisa cooperação entre a Comunidade Euro-peia e a América Latina.

Essa contribuição certamente virá jun-tar-se a outro mecanismo atuante de diálo-go e concertação entre a Comunidade Eu-ropeia e a América latina, aquela que seprocessa por meio de encontros institucio-nalizados entre os Chanceleres da Comu-nidade e os do Grupo do Rio. Em Cope-nhague, há menos de duas semanas, essemecanismo provou toda a sua utilidadecomo foro de consulta e cooperação,abrindo promissoras perspectivas para a

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intensificação das relações entre a Comu-nidade e a nossa região.

Senhores Parlamentares,

Do impacto da integração europeia so-bre o comércio exterior latino-americano,na condição de maior parceiro da grandemaioria dos países da nossa região, à in-fluência que exerce em questões como aRodada Uruguai do GATT e à projeçãoque tem no tratamento da diversificadaagenda política do mundo pós-GuerraFria, a Comunidade Europeia afirma-secomo ator internacional dos mais relevan-tes para o continente.

Sei do interesse com que o ParlamentoEuropeu se dedica a muitos dos tópicos danova agenda, como a proteção e a promo-ção dos direitos humanos, a proteção am-biental, a paz, a não-proliferação. A eles,certamente o ponto de vista latino-ameri-cano acrescenta outros, como a transferên-cia de tecnologia, a cooperação para odesenvolvimento sustentável, a superaçãodos entraves ao comércio internacional.

Em todos eles, a Comunidade Euro-peia e muito singularmente o ParlamentoEuropeu desempenharam papel de primei-ra importância como atores e como inter-locutores. Este diálogo parlamentar certa-mente constitui um instrumento comumde europeus e latino-americanos paraavançar conjuntamente na discussão e noprogresso desses temas de tão singularimportância e impacto para nós.

Não coincidimos sempre no tratamen-to desses diversos tópicos, é preciso admi-ti-lo. Podemos divergir, entretanto, porquemuitas vezes coincidimos, e podemos di-

vergir porque nos conhecemos profunda-mente, com a intimidade dada por muitasdécadas, às vezes séculos, de relaciona-mento complexo, como deve ser entre re-giões que guardam forte personalidade esão ciosas de sua independência e do papela que aspiram no concerto das Nações.

Podemos divergir, na verdade, por-que compartimos um legado comum, her-dado pela Europa de hoje através do tem-po e pela América Latina através do es-paço, que permite uma linguagem co-mum e um mesmo sistema de medida. Porisso mesmo, porque nos julgamos a nósmesmos, na América Latina e na Europa,pelos padrões mais exigentes, surgemaqui e ali divergências, críticas e cobran-ças recíprocas.

Ecoando perguntas que as nossas pró-prias sociedades se fazem, somos indaga-dos sobre o que estamos fazendo paraproteger nossos indígenas, meninos derua, trabalhadores rurais, ou o meio am-biente. Da mesma forma, de modo con-vergente, pessoas na América Latina e naEuropa se perguntam o que estaria ocor-rendo com a tradicional hospitalidade eu-ropeia, com a noção de solidariedade,com a generosidade esperável de socie-dades afluentes que podem seja ajudar àsmais frágeis seja abrir-se aos fluxos decomércio que podem revitalizar aquelassociedades do mundo em desenvolvi-mento capazes de competir no mercadointernacional.

É, portanto, esse pano de fundo co-mum de valores éticos e políticos idênticosque nos faz tão atentos uns aos outros dosdois lados do Atlântico.

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Se é a comunidade de valores que per-mite o diálogo e, portanto, inclusive adivergência, cabe aproveitá-la e aprofun-dá-la em toda a sua extensão. As socieda-des latino-americanas realizaram corajosae radical transformação de suas realidadespolíticas e económicas. Empreenderam demaneira particularmente notável o retornoà democracia e a formas mais modernas deeconomia de mercado.

Mas, devo notar, este fato históricosignificativo não foi percebido em todas assuas implicações pelo mundo desenvolvi-do, aí incluída a Europa dos Doze.

Ambos os processos, o de mudançapolítico-institucional e o de modernizaçãoeconómica, deram-se dentro de um quadrode relações internacionais de grande esta-bilidade. A paz jamais foi ameaçada porquestões territoriais ou de fronteira por-ventura remanescentes. Não temos apre-ensões ou sofrimentos provocados porconflitos étnicos. Não há preocupaçãopara a segurança internacional em torno dotema da proliferação de armas de destrui-ção em massa ou convencionais.

A América Latina pode, portanto, con-siderar-se credora de maior reconheci-mento e maior interesse por parte da co-munidade desenvolvida por sua contribui-ção ao fortalecimento da liberdade políticae económica e para a manutenção da paze da segurança internacionais.

Senhores Parlamentares,

O impacto político e as vicissitudes daentrada em vigor da fase final da integra-ção europeia, a partir do Tratado de Maas-tricht, têm ocupado a maior parte da aten-

ção que se volta para o fenómeno políticoe diplomático representado pela CE. Otemor do fechamento da Europa comuni-tária sobre si mesma, o crescimento doprotecionismo e o receio de que a partir deMaastricht a Europa unida poderá ser umelemento desestabilizador da estruturaeconómica mundial fazem parte de grandenúmero de reflexões sobre o tema.

Também o que às vezes se identificacom uma vocação intervencionista da Co-munidade Europeia chega a causar preo-cupação em nossos países, ciosos não ape-nas da sua independência e soberania, masda sua capacidade de buscar as soluçõespara os seus problemas. E o temos feitoinclusive mediante o diálogo franco econstrutivo e a cooperação com outrosGovernos, com organismos internacionaise com organizações não-governamentais.O diálogo interparlamentar, por sua pró-pria natureza, é canal privilegiado para otratamento de questões que, por suas co-notações, assumem dimensão mais formalno relacionamento entre Estados. Tam-bém nessa área esta Conferência terá tra-zido a sua contribuição.

Para nós, além disso, a questão doscontroles comunitários da imigração tor-nou-se também fator de preocupação, por-que temos convivido com as notícias qua-se diárias sobre restrições praticadas a ci-dadãos de países em desenvolvimento nosportos de entrada europeus, muitas vezespor inconfessados preconceitos ou combase meramente na presunção de ingressoou permanência ilegal em território comu-nitário. Esta é a matéria sensível em nossosParlamentos e é justo e oportuno que seja

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trazida à agenda sempre que possível paraum debate franco e objetivo.

Temos reivindicações a fazer junto àComunidade, porque como a Comunidadeestamos todos empenhados, por exemplo,no êxito da Rodada Uruguai e em um novoordenamento multilateral para o comérciointernacional de bens e serviços. Sabemostambém que tais passos adiante reverterãoem benefício do comércio internacional eterão impacto positivo sobre as economiasde todo o mundo, gerando empregos eassegurando a retomada dos níveis decrescimento de que tanto a Europa quantoa América Latina desfrutaram nos anos 60e 70. E sabemos que, sem a pressão própriados processos negociadores, pouco ounada teria sido feito pela Comunidade pre-cisamente porque interesses setoriais sãoafetados. Cabe-nos a todos mostrar que osinteresses setoriais, que tendem a ganharno curto prazo, perdem no longo prazo.

Senhores Parlamentares,

Este é um foro de pluralismo, um foroem que a liberdade é o valor supremo e ademocracia o consenso a partir do qual sedeseja construir um mundo melhor.

Estou certo de que aqui se fortaleceuainda mais essa amizade e renovou-se aconfiança recíproca.

Congratulo-me com Vossas Excelên-cias, Senhores Parlamentares, pelo êxitodo encontro, e peço-lhes a todos, latino-americanos e europeus, que sejam juntoaos seus respectivos povos, os portadoresda mensagem de amizade e afeto que lhestransmite todo o povo brasileiro, quemuito se honrou por ter podido acolhê-lose homenagear, na pessoa de Vossas Ex-celências, a instituição do parlamento,síntese da democracia e paradigma doEstado moderno.

Muito obrigado e que tenham um felizretorno. •

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V Assembleia Ordináriado Parlamento Amazonico

Discurso do Presidente Itamar Franco na ses-são de abertura da V Assembleia Ordinária doParlamento Amazonico, em Brasília, em 10 demaio de 1993

1 enho a alegria de dar-lhes as boas-vin-das a Brasília, cidade voltada para o futu-ro, como a esperança; filha da vontade, daforça e da tenacidade dos brasileiros detodo canto.

Recebi com grande honra o conviteque o amigo José Curiel Rodríguez medirigiu, na sua qualidade de Presidente doParlamento Amazonico, para participardesta Sessão Solene de Abertura da VAssembleia da Casa Parlamentar, onde es-tão representados, através dos seus Pode-res Legislativos nacionais, os povos dospaíses que ocupam o espaço da BaciaAmazônica.

Considero que minha presença aqui étestemunho do profundo apreço que temostodos os brasileiros pela instituição parla-mentar, coluna de sustentação da vida ci-vilizada, porque base da democracia.

A democracia é a pedra de toque quedá vida ao Parlamento Amazonico. O Es-tatuto desta Casa, em seu artigo primeiro,exige o modo de vida democrático comocondição essencial para permitir aos povosda Amazónia aqui se fazerem representar.Portanto, a democracia é valor fundamen-

tal que deve ser preservado, inclusive paraque exista o Parlamento Amazonico.

O povo brasileiro participou recente-mente de um extraordinário processo deafirmação da Lei e dos Poderes Consti-tuídos do Estado, e fez valer, em todo opaís, seu firme desejo de ver cumpridasas previsões constitucionais para a hipó-tese do impedimento do Chefe do PoderExecutivo.

Assim foi feito, em paz e em democra-cia plena.

É hora de recuperar também a confian-ça dos brasileiros em dias mais límpidosnos planos económico e social.

A luta inadiável contra a inflação - omais perverso dos impostos, porque cobrade quem ganha menos -, essa luta não serávencida com recessão. Ao Brasil digno,consciente de suas dimensões, conhecedorde seus problemas, a este Brasil renovadoem seus valores éticos e cívicos, ao nossopaís não se ajustam receitas económicaspadronizadas que desconheçam o impera-tivo do crescimento económico e das me-lhores condições de vida para todos os

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brasileiros. Crescimento e benefícios hoje,e não num futuro distante e incerto.

Meu Governo decidiu aplicar-se comenergia à tarefa de estabilizar a economia;mas, ao mesmo tempo, vamos ampliarrapidamente a oferta de empregos, estimu-lar a atividade de certos setores da econo-mia com grande efeito multiplicador sobreos salários de baixa renda, e combater semdescanso a fome e a miséria.

Minhas Senhoras,

Meus Senhores,

Tenho a certeza de que a implementa-ção do plano de Governo recentementeanunciado abrirá amplos caminhos para oreencontro do Brasil com o crescimentoeconómico e o desenvolvimento social.Estamos começando a recuperar o terrenoque perdemos na década de 80.

Há que redobrar os esforços de comba-te à fome, à miséria e à doença que açoitammilhões de nossos conterrâneos. Há querecuperar o sentido comum da cidadanialatino-americana, embasada na devoçãodos nossos povos à paz e à democracia,alimentada por uma cultura comum, forta-lecida pela comunhão de esforços que to-dos dedicamos, a cada dia, à superação dosubdesenvolvimento económico e social.Há que unir esforços no debate internacio-nal sobre o desenvolvimento, que quere-mos ver incluído na agenda internacionalem posição condizente com sua importân-cia na construção de uma nova ordemmundial, que não se realizará se persistir atendência à marginalização de países eregiões em desenvolvimento. A coopera-

ção estreita entre nossos países é essencialpara atingir esses objetivos.

Desde a assinatura do Tratado de Coo-peração Amazônica, em 3 de julho de1978, nossos países assumiram um com-promisso profundo no sentido de conjugarações para o desenvolvimento harmónicoda região. A esse respeito, não esqueça-mos as palavras do saudoso Arthur CezarFerreira Reis, inspirador do Instituto dePesquisa da Amazónia, que dedicou suavida à valorização e defesa da região: «ne-nhum programa se efetivará com os resul-tados definitivos se se ignora o homemcomo centro».

O Tratado de Cooperação Amazônicapermitiu que nossos países disponham,agora, do amplo leque de políticas e estra-tégias. O Tratado cumpre um importantepapel de aproximação de nossos países,por meio da institucionalização e da orien-tação das ações comuns, que levam à cris-talização de uma verdadeira consciênciaamazônica fundada nos princípios da so-berania, da cooperação, do equilíbrio entrea proteção ao meio ambiente e o desenvol-vimento económico e da absoluta igualda-de das Partes. É nesse mesmo espírito queestamos empenhados em conferir crescen-te vitalidade e agilidade ao Tratado, inclu-sive pelo estabelecimento de mecanismoexecutivo permanente em Brasília.

A cooperação na região amazônica in-sere-se no contexto maior da integraçãolatino-americana. O Brasil, inclusive porimperativo constitucional, tem como prio-ridade da sua política externa promover aintegração latino-americana. Com esseobjetivo, o Brasil esteve entre os fundado-

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res tanto da extinta Associação Latino-Americana de Livre Comércio, nos anos60, quanto da sua sucessora, a AssociaçãoLatino-Americana de Integração, no iníciodos anos 80. A integração latino-america-na é o caminho para o fortalecimento dacapacidade de negociação externa do con-junto de nossa região, a partir do aprofun-damento dos laços económicos e comer-ciais que nos unem.

Com o mesmo objetivo de impulsar aintegração do conjunto da região, assina-mos, o Brasil e a Argentina, o Tratado deIntegração bilateral de 1988.

O Tratado de Assunção, firmado em 26de março de 1991, pelo Brasil, pela Argen-tina, pelo Paraguai e pelo Uruguai repre-senta, como seu próprio texto registra,novo avanço no esforço tendente ao desen-volvimento progressivo da América Lati-na, conforme o objetivo de estabelecergradualmente um mercado comum latino-americano.

Vem o Brasil, assim, desde meados dadécada passada, buscando ampliar comos vizinhos do Sul do continente ameri-cano as dimensões dos diversos mercadosnacionais através de processos de inte-gração nos planos regional, sub-regionale bilateral. E o fazemos porque acredita-mos que essa integração é elemento fun-damental para acelerar e generalizar osprocessos de desenvolvimento económi-co, com justiça social.

Os primeiros resultados dessa emprei-tada comum já se fazem claramente visí-veis, por exemplo, no plano comercial; ointercâmbio com os demais países da re-

gião passou de 6,8 milhões de dólares em1990 para 8,8 bilhões de dólares em 1991,ou cerca de mais de 30 por cento emsomente um ano.

Mais notável é a situação entre os só-cios do Mercado Comum do Sul: o comér-cio entre eles passou de 5,1 bilhões dedólares em 1992, ou cerca de mais de 40por cento naquele curto período.

Nada permite imaginar que essas ten-dências se enfraquecerão no futuro. Aocontrário, a continuada abertura do merca-do nacional às importações - política queserá mantida sempre em benefício do con-sumidor brasileiro, como recentementedeterminei no setor farmacêutico - ofere-cerá oportunidades crescentes aos produ-tos dos nossos vizinhos.

Foi com essa convicção que, na Reu-nião de Cúpula Presidencial do Grupo doRio, em Buenos Aires, em novembro últi-mo, anunciei a chamada Iniciativa Ama-zônica, que tive a oportunidade de apre-sentar formalmente aos meus colegasmandatários dos países amazônicos.

A iniciativa tem por objetivo lançar,em termos bilaterais e no âmbito da Asso-ciação Latino-Americana de Integração,as bases comerciais e económicas para aampla avenida de cooperação que poderárepetir na Amazónia o exemplo de integra-ção que se consolida na Bacia do Prata.

Entendo que o aprofundamento dascondições favoráveis ao intercâmbio co-mercial dos países amazônicos será umpasso fundamental para a integração daAmérica do Sul, na medida que contribui-rá para articular os dois grandes sistemas

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hidrográficos. A própria dinâmica do co-mércio nos levará inevitavelmente a di-versificar e aperfeiçoar as interconexõesfísicas, de transportes e de comunicaçõesentre o Prata e o Amazonas, e favorecero fluxo de capitais, de tecnologia e depessoas entre as duas vertentes hidrográ-ficas maiores que identificam esta parteda América.

Julguei oportuno valer-me desta As-sembleia para referir-me mais detidamen-te à Iniciativa Amazônica porque entendoque este Parlamento, por sua natureza pre-cípua de foro democrático comprometidocom o desenvolvimento sustentável daAmazónia, não pode deixar de conhecê-la.Com efeito, a Iniciativa é plenamentecompatível com os objetivos desta Assem-bleia no artigo quarto de seu estatuto.

Este momento é propício para que rea-firmemos o direito inalienável dos habi-tantes da Amazónia ao desenvolvimentosocial e económico, desafio que incumbeàs nossas nações, e a todos os segmentosem cada uma delas, erigir em prioridadede suas políticas nacionais. Estamos uni-dos pelo desafio que representa o desen-volvimento sustentável desse vasto con-junto de ecossistemas sem igual no mundoe pelo imperativo de levar aos cidadãosamazônicos melhores níveis de bem-estar.Bem sabemos a importância que tem acooperação internacional para atingir es-

ses objetivos, e a ela estamos abertos. Noentanto, em que pese o grande interessedespertado pela Amazónia, essa coopera-ção não se tem feito disponível com aintensidade ou a qualidade desejáveis.

Estou convencido de que é chegada ahora de levantar, mais uma vez, uma ban-deira comum. Construímos em nossa his-tória a extraordinária capacidade de falarem uníssono, e não a podemos perder.Erigimos juntos uma cultura que se des-taca no universo pela riqueza e variedadede seu imaginário, vivificado pelos maisdiversos aportes étnicos e espelhada emuma sociedade multirracial das maisharmónicas.

Esta é a tarefa maior que temos todosos latino-americanos: o fortalecimentodo nosso consenso, a reafirmação denossa identidade própria. Somos irmãose assim queremos continuar: livres, for-tes, fraternos.

Em nome dos brasileiros, tão honradosem recebê-los, estendo a todos os partici-pantes desta V Assembleia meus melhorese mais sinceros votos de que as decisõesque aqui se alcancem contribuam paraaproximar-nos ainda mais da Amazóniaque almejamos, e da América Latina queconstruiremos, tenho fé, em liberdade eem democracia.

Muito obrigado. •

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Visita Presidencial à Argentina

Discurso do Presidente Itamar Franco duran-te visita oficial à Argentina, em Buenos Aires,em 25 de maio de 1993

amáveis palavras de boas-vindas deVossa Excelência e a hospitalidade comque somos acolhidos, em Buenos Aires,refletem a cordialidade e a simpatia quesurgem naturalmente entre brasileiros eargentinos, e as relações fraternas entrenossos Governos.

Sou-lhes profundamente grato, SenhorPresidente, pelo honroso convite de VossaExcelência, que me traz de regresso à Ar-gentina, poucos meses depois de haverparticipado, nesta bela capital, da VI Reu-nião de Cúpula do Grupo do Rio.

No grato convívio que tivemos na Ci-meira do Grupo de concertação políticadas democracias latino-americanas e emnosso encontro, em Montevidéu, durantea Cúpula do Mercosul, pude identificar emVossa Excelência a exemplar figura doestadista que vem conduzindo os destinosde seu país com sabedoria e determinação,fazendo-se credor da justa admiração dacomunidade internacional.

Sinto-me particularmente sensibiliza-do pela oportunidade que me foi dada devir a Buenos Aires no dia de maior signi-ficado cívico do calendário argentino, e decomparecer, ao lado de Vossa Excelência,às cerimónias comemorativas do 25 deMaio. Esta circunstância histórica é sim-

bólica de uma união que se intensifica, acada dia, em proveito de nossas socieda-des e de nosso Continente.

Ao participar, na manhã de hoje, dassolenidades na Casa Rosada, e ao cami-nhar até a Catedral para, juntos, rendergraças a Deus pelas conquistas do passadoargentino e pelas realizações de seu pre-sente, fizemos também profissão de fé nagrandeza de nosso futuro comum.

Ficará para sempre gravada na memó-ria de nossos povos a imagem da confiançae apreço recíprocos retratada neste 25 demaio de 1993, em que a Nação Argentinaacolheu o Presidente do Brasil como umdos seus, como um concidadão, na cele-bração de sua data maior. Esteja certoVossa Excelência de que retribuiremoscom a mesma civilidade este gesto nobre,que muito nos comove, e que imprime aesta visita oficial o significado solene deuma confraternização irrevogável.

Senhor Presidente,

Vossa Excelência acaba de me imporo grande colar da Ordem do LibertadorSan Martin. Esta insigne homenagem,que agradeço em meu nome e em nomedo povo brasileiro, representa de modoemblemático o entrelaçamento entre nos-sas nações.

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O herói da Independência, cujo nomeé sempre recordado com respeito e admi-ração no Brasil, foi escolhido para deno-minar o Décimo Nono Regimento de Ca-valaria Mecanizada - sediado em SantaRosa, no Rio Grande do Sul -, que rece-berá o nome de «Regimento San Martin»,em reconhecimento ao talento e à coragemdeste grande militar e estadista argentino.

Senhor Presidente,

Terei, por minha vez, o prazer de re-cebê-lo, dentro de poucas semanas, nacidade de Salvador, Bahia, primeira capi-tal do Brasil. Lá, em companhia da famí-lia ampliada ibero-americana, procurare-mos avançar na tarefa de implantar emnosso Continente uma ampla arquiteturaintegracionista.

Senhor Presidente da Nação Argentina,

Observa-se no Brasil um processo deconsolidação da democracia, em que oscidadãos assumem, com crescente convic-ção, suas responsabilidades individuais noesforço coletivo de articulação de umasociedade mais justa.

Meu Governo orienta o Brasil na dire-ção do desenvolvimento com justiça so-cial, mediante uma política de estabiliza-ção, pautada pelo rigor fiscal e por umesforço gradual de controle inflacionário,transparente e imune a decisões arbitrá-rias. Mantém e aprofunda o programa dedesestatização, permitindo participaçãodo capital estrangeiro - aspecto que terá,certamente, impacto positivo sobre nossacooperação com o empresariado argenti-no. Lutamos, também, contra o espectroda miséria e da fome.

Associados na busca dos mesmos ob-jetivos, Brasil e Argentina redescobremsua identidade mais profunda no processoirreversível da integração, a via natural esegura para o bem-estar de nossos povos.

Situados em uma das regiões mais pa-cíficas do mundo, argentinos e brasileirostêm sabido trabalhar sobre a folha limpade uma História que não legou nódoas nemressentimentos.

Os andaimes da nossa construção jáforam erguidos. Os acordos que assinare-mos no decorrer de minha visita, em áreasde sensibilidade e atualidade, levam-nosadiante e aperfeiçoam nossa cooperação.

Senhor Presidente,

Os esforços conjuntos de aproximaçãoempreendidos por Brasil e Argentina jáproduziram resultados notáveis. Haverápoucos exemplos de evolução tão rápida esegura de um relacionamento bilateralcomo o nosso, que se consolida em pata-mares cada vez mais elevados de aproxi-mação e entendimento.

No cenário mundial abrem-se novasoportunidades de atuação. Hoje, sabemosque a permeabilidade em nossas relaçõese suaprevisibilidade favorecem a projeçãointernacional dos dois países.

Esse quadro está solidamente assen-tado no campo económico e comercial,que manifesta, hoje, um dinamismo semprecedentes na América Latina, haven-do nosso intercâmbio bilateral alcança-do, em 1992, cifra superior a 4 bilhõesde dólares.

O nível de entrosamento a que chega-mos tem suas raízes no Tratado de Assun-

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ção, que reúne, além de nossos dois países,o Paraguai e o Uruguai.

Alguns de nossos interesses requeremcuidadosa harmonização. Estou certo,contudo, de que as dificuldades conjuntu-rais ou setoriais que venhamos a enfrentarserão sempre vencidas com as forças dodiálogo e da vontade política.

Senhor Presidente,

No momento em que os esquemas re-gionais de concertação política e integra-ção económica passam a desempenhar pa-pel crescente na definição dos rumos nasrelações internacionais, nas decisões sobredestinos de investimento, e na produçãodas empresas, o espaço comum sul-ameri-cano adquire nova importância e um po-tencial que nos cumpre valorizar.

Já tive oportunidade de afirmar nestamesma cidade de Buenos Aires, em de-zembro passado, durante a última Cúpulado Grupo do Rio: «Nossa região não éapenas um grande espaço económico,mas também - e sobretudo - um espaçodemocrático onde povos encontram suaidentidade numa cultura própria, de valoruniversal».

Senhoras e Senhores,

Ao saudar a Argentina no seu grandedia cívico, falo por um país irmão, vizinho,companheiro, para dizer a toda a Naçãoargentina que prosseguiremos com o gran-de desenho da integração. Uma integraçãosensível a todos os nossos interesses e,principalmente, exemplar em sua visão deum futuro de prosperidade e de paz.

Muito obrigado. •

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Presidente Itamar Francona Assembleia Geral do Uruguai

Discurso do Presidente Itamar Franco porocasião da sessão solene da Assembleia Geraldo Uruguai, em Montevidéu, em 27 de maiode 1993

Os's parlamentos são as mais antigas e asmais legítimas instituições do Estado.Nesta Assembleia Geral saúdo o grandepovo do Uruguai, que aqui se representa,com o seu justo orgulho pela forma de vero mundo e nele fazer a sua Pátria. Aqui avontade dos uruguaios se torna lei, e comesta lei faz a sua História.

Graças, em grande medida, à ação deparlamentares, uma realidade se sobressaina História contemporânea de nossa re-gião: a democracia, duramente reconquis-tada e corajosamente defendida na Améri-ca Latina, e que encontra a plenitude desua expressão nos trabalhos desenvolvi-dos por esta Assembleia Geral.

Senhoras e Senhores,

Trago-lhes a palavra de um Brasil quesoube, através do pleno exercício da de-mocracia, com a força das suas institui-ções, a determinação de seu povo, e asinceridade dos seus propósitos políticos,sobrepor-se à grave crise que viveu nopassado recente.

Hoje, posso falar-lhes de nosso pro-jeto democrático revigorado pela mobi-lização da sociedade brasileira em torno

de objetivos fundamentais: a retomada docrescimento, o desenvolvimento com jus-tiça social, o combate à inflação sem cho-ques arbitrários, o honrado exercício dasfunções públicas em nome do interessedo povo.

A normalização das relações com acomunidade financeira internacional che-ga à sua fase conclusiva, e já nos permiteantever uma nova era de cooperação eco-nómica com o mundo industrializado. Noplano comercial, prosseguimos com nossaPolítica de abertura, persuadidos de queagirá como estímulo à nossa produtivida-de e terá efeito benéfico sobre o conjuntode nossa ação internacional.

É com grande satisfação que vejo in-tensificarem-se os contatos entre parla-mentares latino-americanos, seja no Parla-tino, no Parlamento Amazônico, ou naComissão Parlamentar Conjunta do Mer-cosul. O Poder Legislativo passou a serparceiro do Executivo na administraçãopública e a compartilhar a responsabilida-de pela ação governamental.

O aprimoramento dos mecanismos deconsulta e concertação das democraciaslatino-americanas vem contribuindo, ade-

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mais, para a projeção internacional da re-gião. O Grupo do Rio deve ser menciona-do, neste contexto, por ser interlocutorativo e plenamente reconhecido no cenáriointernacional.

Sob a égide da democracia expandi-ram-se os horizontes de entendimento e deconvergência entre o Brasil e o Uruguai.As relações bilaterais evoluem, presente-mente, seguindo caminhos auspiciosos,em áreas que vão da cooperação fronteiri-ça ao intercâmbio comercial, da consultapolítica à cooperação cultural, científica etecnológica.

Senhores Parlamentares,

Sucedem-se, com intensidade cada vezmaior, os encontros e as visitas de Chefesde Estado e de autoridades de diferentesníveis e setores, não só do Poder Executi-vo, como do Legislativo e do Judiciário.Esses contatos são igualmente numerososnas esferas de administração regional.

A integração regional figura comproeminência entre os objetivos da polí-tica externa brasileira, preceito que seencontra consignado em nossa Constitui-ção nos seguintes termos: «A RepúblicaFederativa do Brasil buscará a integraçãoeconómica, política, social e cultural dospovos da América Latina, visando à for-mação de uma comunidade latino-ameri-cana de nações».

Com o Mercosul engajamo-nos, jun-tamente com a Argentina e o Paraguai,em um projeto de integração posto a ser-viço da ampliação da escala de nossaseconomias.

Se é verdade que as nossas metas sãoambiciosas e os prazos propostos reque-rem uma grande agilidade negociadora, étambém certo que já alcançamos o nívelde confiabilidade e de entendimento quenos levará aos objetivos traçados.

Nos países do Mercosul está a metadedo produto da América Latina. A área étambém servida por moderna infra-estru-tura, própria à circulação de bens e servi-ços. Essa rede de transporte se amplia comobras como as da hidrovia Paraguai-Para-ná e do Eixo Rodoviário que unirá o Brasilao Uruguai e à Argentina.

A integração progressiva de nossospaíses alterará a paisagem económica e omeio em que se movem os agentes produ-tivos. Esta participação integrada no co-mércio internacional aumentará nosso po-der de barganha no beneficio comum.

Senhores Membros da AssembleiaGeral,

Em julho próximo, a cidade de Salva-dor da Bahia sediará a Terceira Conferên-cia Ibero-Americana de Chefes de Estadoe de Governo. Esperamos ser mais umavez honrados com a valiosa presença doExcelentíssimo Senhor Presidente LuísAlberto Lacalle, que tem sabido conquis-tar a amizade e despertar a admiração dosbrasileiros.

O Uruguai foi o primeiro país da Amé-rica Latina a utilizar o Estado como instru-mento moderno de distribuição da rendanacional. A sua política de educação e deprevidência social, adotada nas primeirasdécadas do século, e alicerçada na defesade seus interesses económicos no mundo,

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propiciou ao seu povo elevados padrões debem-estar.

As dificuldades posteriores, ditadaspela ordem económica internacional, im-postas pelo confronto das grandes potên-cias, atingiram todos os nossos países,mas não conseguiram alquebrar no povouruguaio seu sentimento essencial de so-lidariedade.

Senhor Presidente,

Senhores Parlamentares,

Um nome, entre tantos os que construí-ram esta Nação, conduz as minhas refle-xões quando penso em nosso Continente:o de José Artigas. Ao propor, com suavisão de América, a federação meridional,Artigas sentiu que o nosso destino, para serrealmente livre, teria de ser comum. Ho-mem destes campos abertos, ele via asfronteiras como acidentes políticos, que apolítica poderia apagar um dia, quandotodos compartilhassem aquele sentimentoque o animava, o de que a pátria doshomens é o mundo, desde que nele todosos homens se sintam livres.

Artiga era o instinto, a bravura do gaú-cho, a força da espada e do laço, a herança

charrua do domínio de pampas e coxilhas,a certeza de que o homem transfere àsarmas, no combate, a sua própria honra.Sinto-me à vontade para dar o meu teste-munho de apreço a Artigas.

Artigas era gaúcho, como os nossosgaúchos. Nestes campos sem fim, os mar-cos podem separar os Estados, mas nãoseparam aqueles fortes propósitos que,para se afirmar, devem recorrer, tantasvezes, à luta. Artigas era da mesma estirpede Bento Gonçalves e Davi Canabarro,filho nestes amplos horizontes nos quaisos ventos carregam os avisos da liberdade.

Senhores Parlamentares,

A oportunidade que o destino nos pro-porciona de visitar o Uruguai e esta Casade democracia nos remete à saga da ocu-pação deste enorme Continente, para rea-firmar em nossas mentes e em nossos co-rações o grande saldo espiritual legadopelos nossos antepassados: somos irmãose assim queremos continuar, livres, fortese fraternos.

Muito obrigado.

Discurso do Presidente Itamar Franco em sessão solene realizadaem sua homenagem pela Suprema Corte de Justiça do Uruguai,

em Montevidéu, em 28 de maio de 1993

Constitui para mim motivo de eleva-da honra ser recebido nesta sessão sole-ne pelos Senhores Ministros da SupremaCorte de Justiça da República Orientaldo Uruguai.

Interpreto esta acolhida fraterna queme fazem os ilustres magistrados da maisalta Corte de Justiça do Uruguai como umahomenagem ao povo brasileiro, com aqual reafirmam a tradicional e inabalável

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amizade entre o Brasil e o Uruguai, paísesirmãos unidos por fortes vínculos históri-cos, culturais e religiosos, e pela mesmaherança ibérica.

Nossos dois países estão também liga-dos pelo respeito absoluto à independên-cia e à autonomia do Poder Judiciário,como requisito indispensável para a con-solidação e o fortalecimento da democra-cia e das liberdades públicas.

Não poderia nesta ocasião deixar delembrar as iniciativas pioneiras do Uru-guai, nos primórdios deste século, no cam-po do direito do trabalho, da previdênciasocial, dos direitos da mulher, do direitoda família e em muitos outros aspectos quecriaram neste país uma das sociedadesmais modernas, tolerantes e criativas.

O forte apego à ordem jurídica está naprópria base da existência e da indepen-dência do Uruguai. O culto do Direito,praticado internamente neste país, é disse-minado pela influência dos juristas uru-guaios.

Esta ocasião é, assim, propícia paraevocar a brilhante tradição jurídica uru-guaia. Diversos bacharéis brasileiros tive-ram a enriquecedora experiência de per-correr com imenso proveito, em seus cur-sos de graduação, as páginas eruditas deautoria de renomados juristas orientais.Ao visitar esta egrégia Corte, guardiãmaior da Carta Constitucional do Uruguai,presto reverência aos seus mestres consa-grados, que levaram o país à posição de

merecida proeminência no cenário jurídi-co internacional.

Senhor Presidente,

A aguda crise política que viveu recen-temente o Brasil foi superada dentro daestrita observância dos preceitos constitu-cionais, o que, além de evidenciar o graude amadurecimento da democracia e dasociedade brasileira, representa vivo teste-munho do papel desempenhado por umaJustiça independente e ágil. O Estado deDireito é o alicerce fundamental dos regi-mes democráticos.

A paz e a ordem social repousam sobreuma correta administração da justiça. ACorte que Vossa Excelência preside repre-senta a garantia fidedigna dos direitos dacidadania. Essa missão é intransferível econstitui a expressão mais genuína daconsciência cívica da nação oriental.

O futuro de nossos países e o êxito dosesforços que brasileiros e uruguaios em-preendem, a fim de ampliar os já intensoslaços de amizade e de cooperação, deverãocontinuar a sustentar-se sobre os princí-pios sólidos e sobre os valores do Direitoconsagrados pela História. Uma ininter-rupta conquista da liberdade, respaldadapela ordem jurídica, é a melhor chave paraprosseguir com segurança no caminho daintegração regional e para oferecer melho-res condições de vida e de bem-estar anossos povos.

Muito obrigado.

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Presidente Itamar Franco visitaa Associação Latino-Americana

de Integração

Discurso do Presidente Itamar Franco por oca-sião de sua visita à sede da Associação Latino-Americana de Integração, em Montevidéu, em29 de maio de 1993

com justificado contentamento quecompareço a este foro onde nossos paísestecem, em conjunto, a resistente malha domais importante projeto latino-americano:o da integração.

Venho a Montevidéu em momentode importantes acontecimentos no Bra-sil. Há algumas semanas, anunciei o pla-no de ação de meu Governo, as linhasmestras que balizarão os esforços de re-forma e aperfeiçoamento do Estado, daeconomia e da sociedade, com vistas aretomar o processo de desenvolvimentodo Brasil, em bases justas democráticase equitativas.

Minhas Senhoras,

Meus Senhores,

No plano de ação governamental quesubmeti à opinião pública, julguei neces-sário combinar o indispensável combate àinflação com estímulos seletivos ao cres-cimento económico.

Convencido de que o grande desafioque a sociedade brasileira enfrenta é o daconquista da equidade, procurei reorientar

um programa que descurara as carênciasdos menos favorecidos, na direção de umdesenvolvimento com ênfase na justiçasocial e no combate à fome e à miséria.

Estão nitidamente estabelecidos os pa-râmetros que guiarão o Brasil durante meumandato presidencial. Mais adiante, os ru-mos recentemente adotados ensejarão aemergência de uma nova realidade que -estou convicto - permitirá a gradual cor-reção das flagrantes disparidades distribu-tivas, o aumento do investimento produti-vo e a ampliação do consumo popular.

A dimensão latino-americana da polí-tica externa brasileira inclui obrigatoria-mente o projeto que se desenvolve nestaOrganização: o da progressiva integraçãoeconómica da região sob a égide do Trata-do de Montevidéu e dos trabalhos em-preendidos neste foro.

Aprendemos os onze sócios, em exer-cício conjunto e exemplar, a reconhecernossas potencialidades e a aumentar nos-sa capacidade de atuação regional e in-ternacional.

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Sem desobedecer aos princípios doAcordo Geral de Tarifas e Comércio, egraças à visão pragmática e à inteligênciadaqueles que conceberam o Tratado deMontevidéu, temos sido capazes de criaruma área de preferências económicas, ce-lebrar acordos regionais, multiplicar acor-dos parciais, e implementar processos deintegração sub-regionais. Demos, com to-das essas iniciativas corajosas e oportunas,nova feição à economia latino-americana.

A agenda integracionista tem sido en-riquecida, em seu conjunto, pelos aportesconceituais relacionados aos objetivos dodesenvolvimento sustentável e à preserva-ção do meio ambiente.

Áreas de competência que expandemo raio de atuação da Aladi e favorecema inserção da região na economia mun-dial incluem ciência e tecnologia, servi-ços e propriedade intelectual, além doterreno cultural.

Senhoras e Senhores,

São eloquentes os dados que demons-tram o êxito da integração:

Em 1991, o comércio entre nossospaíses alcançou 15 bilhões de dólares,ou seja, o dobro do valor observado seisanos antes.

Em 1992, o intercâmbio entre os paí-ses-membros da Aladi dobrou novamen-te, alcançando a cifra de 31 bilhões dedólares.

Nestes últimos seis anos, as exporta-ções da Aladi para todos os mercados cres-ceram 30%, ultrapassando os 100 bilhõesde dólares, enquanto o valor global do

comércio da região com seus parceiroschegou a 200 bilhões de dólares.

No caso específico do Brasil, as cifrasilustram, por si mesmas, a importância e aprioridade que atribuímos ao comérciocom os países-membros da Associaçãopara complementar o abastecimento domercado brasileiro.

O Brasil é, hoje, o mercado regionalque mais absorve produtos dos demaispaíses-membros da Associação. Além dis-so, temos consciência do significado quetem a Aladi para as nossas exportações,principalmente do ponto de vista do valoragregado das mercadorias exportadas. Em1992, mais de 80 por cento do que vende-mos na região foram produtos manufatu-rados; enquanto para o resto do mundo, nomesmo ano, essa produção não alcançava42 por cento.

Tendo em conta esse quadro promissorpara o futuro da integração regional, jul-guei oportuno lançar a Iniciativa Amazô-nica, em dezembro passado, nesta mesmaMontevidéu.

Em sua essência, a Iniciativa Amazô-nica busca intensificar as relações do Bra-sil com cada um dos parceiros na BaciaAmazônica, mediante a negociação deacordos de complementação económicabilaterais, sob a égide do Tratado de Mon-tevidéu de 1980. A mais longo prazo, se-guramente facilitará a meta final desta As-sociação: o estabelecimento do MercadoComum da América Latina.

Senhoras e Senhores,

Temos acompanhado com atenção oprocesso de negociação do Nafta, ao qual

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auguramos votos de pleno êxito. O Brasilconfia em que os integrantes do Naftasaberão valorizar as parcerias construídasno Hemisfério em torno das aspirações einteresses comuns. Desejamos que aque-la experiência, em muitos aspectos pio-neira, aponte na direção de uma interde-pendência hemisférica mais madura emutuamente benéfica.

Fortalecer nosso consenso, consolidaro imperativo da democracia, explorar oslimites de nossa potencialidade para dar atodos os nossos cidadãos uma perspectivade vida melhor, no pleno exercício das

liberdades individuais, são os grandes de-safios que devemos enfrentar unidos nestefim de século.

Com a certeza de que a via da integra-ção é a garantia de nosso melhor futuro; ecom o orgulho de pertencer a um foro quese apresenta como um virtual parlamentoda integração latino-americana, quero, aoencerrar esta intervenção, reafirmar ocompromisso inabalável do Brasil com osobjetivos da Aladi, e assegurar a cada umde nossos parceiros a nossa determinaçãoem levá-los a bom termo.

Muito obrigado. •

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Visita do PrimeiroVice-Primeiro-Ministro

da China ao Brasil

Discurso do Ministro de Estado, interino, dasRelações Exteriores, Embaixador Luiz FelipeLampreia, em almoço oferecido ao PrimeiroVice-Primeiro-Ministro da República Popularda China, Zhu Rongfi, no Palácio Itamaraty, emIo de junho de 1993

Penhor Vice-Primeiro-Ministro,

Em nome do Governo brasileiro, douas boas-vindas a Vossa Excelência e à suailustre comitiva.

A presença de Vossa Excelência entrenós, para uma extensa visita ao Brasil, émotivo de especial satisfação para o Go-verno brasileiro. Vossa Excelência certa-mente levará impressões muito positivassobre o Brasil que está conhecendo esobre o muito que as nossas relações coma República Popular da China podem ain-da avançar.

O grande esforço de Vossa Excelênciapara cumprir uma programação abrangen-te e extensa, que contempla contatos va-riados nas esferas governamental e priva-da, é sem dúvida reflexo da elevada prio-ridade que o Governo chinês confere aoBrasil. Estou certo de que a visita de VossaExcelência marcará etapa ainda mais fru-tífera das relações entre nossos países, cuja

importância se vê refletida no grande nú-mero de encontros de alto nível e na pro-missora relação de empreendimentos con-juntos que vêm ampliando de forma ex-pressiva a cooperação bilateral.

Senhor Vice-Primeiro-Ministro,

O visível progresso nas relações en-tre o Brasil e a China, de que é reflexo avisita de Vossa Excelência, se dá emetapa de particular importância nas rela-ções internacionais. O fim dabipolarida-de tornou mais remota a ameaça nucleare reafirmou as promessas de paz e segu-rança no mundo.

O cenário internacional está hoje do-minando não mais pela confrontação es-tratégica entre blocos opostos, mas pelacompetição económica, tecnológica e co-mercial. Um campo promissor se abrepara a cooperação internacional, ao mes-mo tempo em que a globalização dosmercados exige dos países novos esfor-

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ços para enfrentar os desafios da competi-tividade e da busca de progresso social eeconómico.

Nesse novo contexto, a cooperação en-tre países como o Brasil e a China, em suasvárias formas, adquire novo sentido.

Nossos países cumpriram nas últimasdécadas trajetórias de importantes con-quistas. O Brasil, em espaço de temporelativamente curto, deixou de ser umaeconomia eminentemente agrária paratornar-se uma economia industrializada,a nona na escala global, com elevado graude complexidade e uma dinâmica e equi-librada inserção internacional. No pre-sente, enfrentamos o desafio de aprofun-dar importantes ajustes económicos, pre-parando o país para nova etapa de desen-volvimento e uma inserção internacionalmais competitiva. Procedemos a uma am-pla reforma do Estado, para torná-lo maiságil e eficaz no cumprimento de suastarefas básicas. Os profundos ajustes eco-nómicos, da área fiscal à política comer-cial, começam a produzir resultados po-sitivos, que vêm sendo bem recebidospelos agentes económicos e pelos inves-tidores internacionais.

Com esse projeto em curso, não pode-ríamos deixar de olhar com admiração erespeito a profunda transformação econó-mica em curso na China, hoje a terceiraeconomia mundial, em continuado e ace-lerado crescimento. A experiência chinesae os novos padrões de inserção internacio-nal da sua economia são hoje um fatoeconómico e político de primeira grandeza

no universo das relações internacionaispós-Guerra Fria.

Senhor Vice-Primeiro Ministro,

O relacionamento entre o Brasil e aChina só poderia beneficiar-se das altera-ções que projetam um novo perfil de nos-sos países no cenário internacional.

Temos avançado muito. Estamos lon-ge, porém, de ter explorado e desenvolvi-do plenamente o enorme potencial de nos-sas economias em expansão.

Em 1992, o comércio bilateral inicioufranca recuperação, que deverá ser man-tida no corrente exercício. Alcançamos,também, novo entendimento para assegu-rar o encaminhamento do projeto con-junto para a construção de satélites demonitoramento de recursos da terra. Ce-lebramos, por ocasião da visita do Chan-celer Qian Qichen, novo acordo, discipli-nando a cooperação no setor de hidrele-tricidade, que deverá abrir nova e amplaavenida de cooperação entre nossos paí-ses, através da associação de empresasbrasileiras e chinesas.

Estamos certos, Excelência, que a aus-piciosa visita de Vossa Excelência contri-buirá de modo muito especial para aperfei-çoar e aprofundar este relacionamento,que exibe renovado dinamismo.

Esperamos também que a visita deVossa Excelência seja seguida, em breve,pela troca de missões empresariais e técni-cas e que seja também seguida pelas reu-niões dos mecanismos conjuntos de con-sultas bilaterais e de cooperação nas áreas

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econômico-comercial, de ciência e tecno- Vice-Primeiro-Ministro Zhu Rongji, àlogia, cultural e política. prosperidade dos nossos povos e ao futuro

„, , . , , promissor das relações entre o Brasil e aCom este espirito de amizade e de oti- „ , .

., , China,mismo, convido a todos os presentes a queme acompanhem em um brinde à saúde do Muito obrigado. •

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Reunião de Chanceleressobre a situação da Guatemala

Intervenção do Ministro, interino, das RelaçõesExteriores, durante a reunião ad hoc de Minis-tros das Relações Exteriores dos Estados-mem-bros da OEA sobre a situação política na Gua-temala, em 4 de junho de 1993

Penhor Presidente,

Desejo saudar, em nome do Governo edo povo brasileiros, o povo da Guatemalapelo encaminhamento pacífico e maduroda solução da crise político-institucionalque se iniciou no dia 25 de maio último,com as medidas extraconstitucionais ado-tadas pelo ex-Presidente Serrano.

2. O fato de que tenhamos aqui hoje,entre nós, uma delegação que representaum Governo guatemalteco legalmenteconstituído, é testemunha eloquente daconsciência democrática do povo da Gua-temala e de sua forma de decisão de mantero seu país afastado de aventureirismos au-toritários que pretendem substituir-se à le-gítima expressão da vontade popular.

3. É para todos nós altamente gratificanteque a OEA tenha sido capaz de prestaruma colaboração pronta e eficaz no pro-cesso de restabelecimento de uma demo-cracia representativa na Guatemala. Apronta convocação da Reunião de Chan-celeres, que se realizou no dia 3 último, emWashington, a missão de observação en-

cabeçada pelo Secretário-Geral e que tevea participação dos Senhores Chanceleresde Barbados, Nicarágua e Uruguai, e asegunda missão, sábado último, em com-panhia do Senhor Chanceler do Equador,representaram, de forma eloquente, oapoio da comunidade hemisférica à demo-cracia e ao povo da Guatemala.

4. Somada aos esforços desenvolvidospelos Presidentes dos países centro-ameri-canos, a solidariedade unânime dos Esta-dos americanos em favor da democraciarepresentativa na Guatemala representou,sem dúvida, elemento decisivo na luta dopovo guatemalteco pela recuperação dopleno exercício de seus direitos civis epolíticos e pela plena vigência do estadode direito.

5. Agradecemos, assim, a ação do SenhorSecretário-Geral, que, mais uma vez, deforma independente e imparcial, desempe-nhou importante papel no encaminhamen-to da solução para uma crise político-ins-titucional em um Estado da região.

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Discurso proferido pelo Representante do Brasil junto à OEA,Embaixador Bernardo Pericás Neto, por ocasião da Reunião ad hocde Ministros das Relações Exteriores sobre a situação na Guatemala,

em 4 de junho de 1993

Senhor Presidente,

Senhores Chanceleres,

Senhor Secretário-Geral,

Senhores Delegados,

O Governo brasileiro tomou conheci-mento, com grande preocupação, dosacontecimentos ocorridos na Guatemalaem 25 de maio último. O Presidente Ita-mar Franco, que se encontrava em visitaoficial à Argentina, expressou em notaconjunta com o Presidente Carlos Menemsua mais enérgica condenação às medidasde exceção adotadas naquele país centro-americano.

2. A ruptura da ordem constitucional naGuatemala representa grave ameaça paraa democracia no hemisfério e, em especial,na sub-região centro-americana. Por suasimplicações concretas ou potenciais, me-rece detida consideração pelos Estadosmembros da Organização dos EstadosAmericanos.

3. Ao suspender a vigência da Constitui-ção, fechar o Congresso, interferir na Su-prema Corte e na Corte Constitucional,bem como restringir os direitos e garantiasindividuais, o Presidente Serrano colocouem questão a possibilidade de a sociedadeguatemalteca chegar, por meio do diálogo,compreensão e conciliação, a uma saídapara as dificuldades internas do país quepreservasse o Estado de Direito.

4. Estamos todos plenamente conscien-tes de que tais eventos representam sinto-mas de uma crise mais ampla e profundadas instituições democráticas, que encon-tra suas raízes em causas históricas, eco-nómicas e sociais. A democracia não selimita ao exercício do direito de votar e servotado, à escolha dos governantes pelosgovernados. Ela requer também a partici-pação efetiva da sociedade na gestão polí-tica e a plena inserção de todos no processode desenvolvimento económico e social.Compreendemos plenamente, portanto, asvicissitudes enfrentadas pelo povo e Go-verno da Guatemala. No entanto, se é ver-dade que a consolidação da democraciapassa pela resolução de graves problemasestruturais, não é menos correto que apreservação das instituições representacondição indispensável para a permanên-cia e o aprimoramento de regimes abertose participativos. Apenas pela vigência dasfranquias democráticas, materializadapela divisão e equilíbrio de poderes, pelaobservância dos preceitos constitucionaise pela garantia dos direitos e deveres docidadão, é que se legitima o exercício dopoder político.

Senhor Presidente,

5. Desejo mencionar o importante papeldesempenhado pela OEA no processo debusca de uma solução para esta crise. Suaparticipação vem contribuindo decisiva-mente para o encaminhamento da questãoe reforçou a solidariedade hemisférica.

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Destaco, muito especialmente a missão doSecretário-Geral em companhia dosChanceleres de Barbados, Nicarágua eUruguai em cumprimento à resolução doConselho Permanente.

6. Quero registrar, também, o papel dosPresidentes centro-americanos que ime-diatamente se reuniram em busca de umapronta solução ao impasse político surgidona Guatemala.

7. Tendo presente a evolução daquelesacontecimentos e o empenho com que osdiversos setores da sociedade guatemalte-ca estão buscando uma solução pacífica eprópria, o Governo brasileiro participadesta reunião com o ânimo de poder con-tribuir para o pronto equacionamento daquestão, através de uma manifestação cla-ra e solidária desta Organização de reafir-mação dos valores da democracia repre-sentativa e de apoio aos esforços internosdos próprios guatemaltecos.

8. O Brasil está seguro de que o povo e oGoverno da Guatemala saberão superar odifícil momento que vivem. Por mais vi-gorosa que seja a sua ação, a OEA não

pode nem deve substituir-se às institui-ções dos Estados membros. Seu papel éestender apoio e favorecer estímulos aosEstados membros para que estes encon-trem saídas para as dificuldades que pos-sam ter no caminho da democracia e dasua consolidação.

9. Esperamos que se restaure completa-mente o funcionamento das instituiçõespolíticas e que se adotem todas as medidasnecessárias à plena vigência dos direitoshumanos na Guatemala. O Brasil apoia osesforços da OEA, através inclusive da Co-missão Interamericana de Direitos Huma-nos, no sentido de colaborar com as auto-ridades guatemaltecas na proteção e defe-sa dos direitos humanos e restauração totaldas liberdades públicas.

10.0 Brasil considera igualmente impor-tante que o Secretário-Geral continue aprestar os seus serviços e a oferecer acolaboração da Organização com o objeti-vo de apoiar a Guatemala na tarefa deassegurar a normalidade democrática e avigência plena do Estado de Direito. •

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Reunião de Chanceleressobre a situação no Haiti

Intervenção do Ministro de Estado, interino,das Relações Exteriores, Embaixador LuizFelipe Lampreia, na Reunião ad hoc de Minis-tros das Relações Exteriores da OEA sobre asituação no Haiti, realizada dia 6 de junho de1993, em Manágua

Oenhor Presidente,

Acabamos de ouvir a palavra do Presi-dente Jean Bertrand Aristide. Uma vezmais ficou evidenciada a firmeza de seuspropósitos e o seu indeclinável compro-misso com o futuro do seu povo e osdestinos da Nação haitiana.

O Brasil vem participando desde o iní-cio das atividades que, no âmbito da Or-ganização dos Estados Americanos, ospaíses deste Hemisfério vêm promovendo,em forma solidária, na busca de uma solu-ção para a crise no Haiti.

Continuamos convencidos do méritodessa proposta, que obedece a alguns pa-râmetros claros:

1. O absoluto respeito aos desejos e in-tenções manifestadas pelo Governo doPresidente Jean Bertrand Aristide, por to-dos nós reconhecido;

2. A natureza pacífica e o propósito posi-tivo das diversas medidas que adotamosem reuniões anteriores;

3. O papel de nossa Organização, agoracom o apoio do sistema das Nações Uni-

das, de promotor e facilitador de um con-senso mínimo entre os diferentes setoresda sociedade haitiana; e, sobretudo,

4. A preocupação contínua pelo respeitoda vontade soberana e pela promoção dobem estar do povo do Haiti.

Sabíamos, desde o início, que seriaminúmeros os percalços nesse caminho. Ofato de que, após mais de dois anos, aindanos defrontemos com esse tema revela, emforma dramática, quão complexa é a tarefaa que nos avocamos.

O Brasil continua comprometido comessa causa e plenamente disposto a apoiaro desenvolvimento de mecanismos quepropiciem a efetiva implementação dasmedidas já adotadas pela reunião de Chan-celeres, e mesmo a considerar eventuaisnovas medidas que se ajustem, no espíritoe na forma, aos parâmetros que têm orien-tado a atuação dos Estados membros daOEA. Em particular, reiteramos nossaconvicção de que é necessário que a mis-são especial criada pelo Conselho para averificação do embargo tenha pleno fun-cionamento. A delegação permanente do

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Brasil junto à OEA, através do Embaixa-dor Bernardo Pericás, vem postulandouma atuação vigorosa dessa Comissão e écom satisfação que registramos a existên-cia de um sentimento geral de que preci-samos agir assim.

Queria também, Senhor Presidente, re-gistrar o papel extremamente positivo queo Chanceler da Bolívia, Doutor RonaldMacLean, vem desenvolvendo na Presi-dência dessa Reunião adhoc de Ministrosdas Relações Exteriores.

Por, fim, Senhor Presidente, nuncaseria excessivo reiterar a confiança quedepositamos na figura de nosso Secretá-rio-Geral, incansável em seus esforços,fiel à causa do povo haitiano e invariavel-mente comprometido com a promoção edefesa dos regimes democráticos em nos-so Hemisfério.

Sob sua orientação e judicioso con-selho, o seu representante pessoal, Dou-tor Dante Caputo, que acaba de nos pres-tar valioso relato dos últimos desdobra-mentos das negociações em curso, deveinsistir, com a tenacidade que lhe é ca-racterística, em uma solução que atendanão só os legítimos anseios do povohaitiano, mas também reafirme os pro-pósitos e princípios da OEA, tal comoconsagrados em nossa Carta.

Trago, portanto, uma palavra dealento. O Brasil continua a crer que abusca de uma solução negociada é aindaa melhor forma de afiançar um futuromais justo e equitativo para a Naçãoamiga do Haiti. Nesse esforço, a Orga-nização dos Estados Americanos temfunção assegurada. •

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XXIII Período de Sessõesda Assembleia Geral da OEA

Discurso do Ministro de Estado, interino,das Relações Exteriores, Embaixador LuizFelipe Lampreia, no XXIII Período de Ses-sões da Assembleia Geral da Organizaçãodos Estados Americanos, em Manágua, aos7 de junho de 1993

òenhor Presidente,

Desejo, inicialmente, congratular-mecom Vossa Excelência por sua eleiçãopara presidir este XXIII Período Ordináriode Sessões da Assembleia Geral da OEA.

2. A Delegação do Brasil tem a convic-ção de que, sob sua orientação e nestahospitaleira Manágua, poderemos de-senvolver trabalho frutífero, que nospermitirá avançar no tratamento de te-mas de alta relevância para os paísesaqui representados.

3. Examinaremos, entre outros, o temafundamental da segurança hemisférica emseu contexto amplo. Trataremos da pro-moção, fortalecimento e consolidação dademocracia no continente e do progressoeconómico e social dos países americanos.Estes temas - segurança, democracia edesenvolvimento - se acham estreitamen-te vinculados e dizem respeito à questãocentral da dignidade do homem e do res-peito aos seus direitos fundamentais.

4. A Organização dos Estados America-nos, desde a sua criação, tem persistido no

desempenho da sua missão histórica deoferecer ao homem uma terra de liberda-de e um âmbito favorável para o desen-volvimento de sua personalidade e a rea-lização de suas justas aspirações. Sob adireção firme e serena do Secretário-Ge-ral, João Clemente Baena Soares, a Orga-nização tem ganho significativo alento ebuscado renovar-se, de conformidadecom os propósitos e princípios consagra-dos na sua Carta.

5. Desde a Assembleia Geral de Nas-sau, vários passos significativos foramdados na consecução dos objetivos quese propôs a OEA.

6. Recordo a realização em Washington,em dezembro de 1992, de Período Ex-traordinário de Sessões desta Assembleia,dedicado à reforma da Carta da Organiza-ção. Naquela ocasião, se adotou emendaque possibilita à OEA suspender do exer-cício de direito de participação nas suasatividades governos de Estados membrosonde vierem a ocorrer fatos que interrom-pam pela força o funcionamento do estadodemocrático. Assinou-se, então, o «Proto-

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Page 129: Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulga ... · Endereço para correspondência Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) Ministério das Relações Exteriores, Anexo

colo de Washington», no qual se procuroumanter o indispensável equilíbrio entre opropósito de promover e consolidar a de-mocracia representativa e os princípios doDireito Internacional, que nos obrigamosa respeitar como membros da OEA e dasNações Unidas. A inclusão de cláusula desuspensão na Carta refletiu, muito clara-mente, a preocupação em não afetar ocompromisso que todos temos com o res-peito à vontade soberana dos Estados e aoprincípio da não-intervenção. A moldurajurídica em que se move a OEA reflete umnecessário e delicado balanceamento entrea defesa da democracia e o pleno respeitoà personalidade dos Estados. É esta mol-dura que permitirá traçar caminho seguroa percorrer neste campo.

7. A emenda foi reforçada, por outrolado, pelo fato de neste empreendimentode reforma da Carta ter sido incluída anoção sociedades e põe em risco o próprioprocesso democrático. Com efeito, a de-mocracia requer um horizonte de aspira-ções comuns no rumo da melhoria pro-gressiva dos níveis de vida de nossos po-vos. Defender a democracia significa,como consagrado no «Protocolo de Was-hington», não só repudiar a violação daordem constitucional, mas também zelarpela saúde socioeconômica de nossas na-ções. A preocupação com a justiça socialnão se pode dissociar da manutenção e daconsolidação do Estado democrático, quedeve ter por centro o indivíduo, sua liber-dade, seu bem-estar, sua segurança.

8. Temos diante de nós a renitência quecaracteriza a situação no Haiti, onde per-siste um quadro de ilegitimidade institu-

cional, insegurança social e desproteçãodos direitos humanos. O Brasil temapoiado as resoluções adotadas pelosChanceleres das Américas a respeito dacrise haitiana, inclusive, e em toda a suaplenitude, o embargo comercial ao Hai-ti, implementado por meio do decreto doGoverno brasileiro, que torna obrigató-rio o seu cumprimento.

9. Respaldamos também as recentes de-cisões por nós tomadas aqui em Maná-gua, com a esperança e o propósito deque nossa ação conjunta possibilite apronta restauração do Governo demo-crático no Haiti.

10. Preocupou-nos, por outro lado, a inter-rupção do processo democrático na Gua-temala. Ao se associar ao consenso intera-mericano em deplorar os acontecimentosde 25 de maio último e em tomar as medi-das que nos faculta a Carta da OEA, oBrasil formulou seus votos de que a nor-malidade democrática fosse prontamenterestabelecida de forma pacífica naquelanação amiga.

11. As notícias procedentes da Guatemala,que apontam para a normalização consti-tucional do país, nos permitem agora re-gistrar, com satisfação, a eficaz e prontaação da Organização enquanto instrumen-to confiável a serviço dos princípios esta-belecidos na Carta.

12. Em particular, desejo destacar o rele-vante papel desempenhado pelo Secretá-rio-Geral, que, à frente de missão destaOrganização, integrada pelos Chanceleresde Barbados, Nicarágua e Uruguai, pôdecontribuir positiva e decisivamente no en-

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caminhamento da crise política que se ins-talara no país.

13. Igualmente, deixo registro especial -eo reconhecimento do Governo brasileiro -dos esforços dos Presidentes centro-ame-ricanos, que tiveram também importanteparticipação na busca de uma solução paraa crise política na Guatemala.

14. Tema central em nossa agenda é o dacooperação para a segurança hemisférica.Foi aprovada, em Nassau, resolução sobrea matéria copatrocinada pelo Brasil, quetratou também, numa clara compreensãoda abrangência da questão, dos aspectosnão-militares da segurança, incorporandoas preocupações sobre o desenvolvimentoeconómico e social como base indispensá-vel para que se possa atingir uma verda-deira segurança hemisférica.

15. A democracia e a segurança se apoiam,para serem estáveis e duradouras, sobre odesenvolvimento económico e sobre ajus-tiça social, e estes florescem em condiçõesde respeito à vontade da cidadania.

16. Com o fim da confrontação que do-minava o cenário internacional no perío-do da Guerra Fria, afirmam-se univer-salmente os valores da democracia e es-maece a ameaça de uma conflagraçãomilitar de grandes proporções. Parado-xalmente, em momento, pois, em que asatenções e recursos globais estariam li-berados para as tarefas de paz e da cons-trução de sociedades material e espiri-tualmente vigorosas, vemos arrefecer ogrande debate internacional sobre asquestões do desenvolvimento.

17. A prudência, o bom-senso e a visãodo futuro indicam claramente, no entan-to, que as questões da conservação am-biental, da prevenção e da repressão dotráfico de drogas e da proteção dos direi-tos humanos não podem ser tratadas forado contexto do desenvolvimento econó-mico e social das nações.

18. Aquelas questões, por sua visibilidadee inegável importância, merecem ser tra-tadas em profundidade e não podem sercorretamente equacionadas se não se levarem conta as disparidades económicas esociais que marcam as sociedades de nos-sos países.

19. Permanecem, assim, mais urgentes doque nunca numerosos problemas que atin-gem diretamente os Estados membros daOrganização. A um quadro negativo queafeta, de um modo geral, as relações co-merciais de nossos países somam-se a re-duzida taxa de crescimento dos países in-dustrializados e os esquemas restritivos atransferência de tecnologia e conhecimen-to justamente quando a nova estrutura deprodução vem-se apoiando mais e mais nainformação e no conhecimento.

20. Estes fatores dificultam uma inserçãodinâmica da maioria de nossos países naeconomia mundial e acentuam a perda departicipação relativa na expansão globaldo comércio e na prosperidade dela resul-tante. Observam-se, assim, neste hemisfé-rio, em maior grau, os sintomas de umprocesso de deterioração de estruturaseconómicas e sociais, de agravamento dasdisparidades na distribuição da renda, queleva a riscos maiores de desagregação so-cial e é generalização de episódios de vio-

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lação dos direitos humanos, de depredaçãodo ambiente, de violência e de instabilida-de política.

21. Estes elementos indicam o quanto per-manecem atuais os problemas da coopera-ção internacional para desenvolvimento.O desafogo da situação económica, dobalanço financeiro internacional da regiãoe, em especial, das situações de pobrezacrítica que nos afligem, seria sem dúvida,uma contribuição inestimável para a segu-rança deste hemisfério e para a estabilida-de de suas instituições democráticas. Asações com este propósito devem estar noalto das prioridades estratégicas que hojese definem.

22. A ênfase que dou nestes aspectos, re-ferentes ao imperativo do desenvolvimen-to, visa a apontar uma faceta essencial daquestão da estabilidade e da segurança daregião - a de que a América latina requero entendimento e o apoio da comunidadeinternacional para o êxito dos árduos es-forços que desenvolvem os Estados daregião para bem resolver os seus própriosproblemas e tornar-se fonte de paz e pro-gresso para o mundo e não teatros de ins-tabilidade e insegurança.

23.0 Grande desafio portanto, é trazernovamente para posição de relevo o temado desenvolvimento. Passos significativosnesse sentido têm sido dados no âmbito daOEA. A revisão da cooperação técnica,levada a cabo pela Organização, no senti-do de torná-la mais adequada à prioridadeque os Estados membros atribuem à elimi-nação da pobreza crítica no continente,encontra-se em estágio avançado de deli-berações. A XIX Sessão Extraordinária

desta Assembleia Geral deverá aprovarum conjunto de medidas nesse sentido,que, esperamos, possam tornar a coopera-ção técnica regional instrumento impor-tante no processo de desenvolvimento dospaíses americanos.

24. A cooperação técnica é, contudo, ummeio relativamente modesto ante a gran-deza das necessidades estruturais da maio-ria dos Estados membros. Temos, certa-mente, plena consciência de que a respon-sabilidade primordial de desenvolvimentode nossos países incumbe a nós mesmosindividualmente. É essencial, no entanto,que os árduos esforços que fazemos nessesentido não sejam afetados por fatores ex-ternos sobre os quais não temos controle.É preciso, ao contrário, que sejam apoia-dos e reforçados numa cooperação solidá-ria e de interesse real recíproco.

25. São, portanto, necessárias ações e me-didas concretas em áreas variadas que pos-sam efetivamente contribuir para a erradi-cação das causas da pobreza e do atrasoque, em maior ou menor intensidade, afe-tam todos os nossos países. Seria desejávelque essas ações e medidas fossem visuali-zadas e estabelecidas sob forma de umverdadeiro programa multifacetado e inte-grado de desenvolvimento que refletisseadequadamente os problemas a equacio-nar e a superar assim como a maneira emeios de encaminhar este grande e com-plexo desafio.

26. Apesar do muito por fazer, cabe reco-nhecer que caminhamos com passos segu-ros no longo e árduo caminho que leva àconsecução dos ideais da Organização. Acada Período de Sessões da Assembleia

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Geral vamos somando realizações. Todasfazem parte integrante e essencial da cons-trução da paz, da segurança, da justiça e daliberdade em nosso hemisfério.

27. Temos a nossa frente mais uma opor-tunidade de contribuir, com o trabalho quepartilharemos nos próximos dias, para estaconstrução. O Brasil acolhe esta oportuni-dade com ânimo e decisão.

Senhor Presidente,

28.0 Governo brasileiro teve a honra deoferecer a cidade de Belém do Pará parasede da XXIV Período Ordinário de Ses-sões desta Assembleia. Esperamos queesse convite possa contar com a aceitaçãodos Estados membros, de forma a que, nopróximo ano, tenhamos o prazer de rece-ber suas delegações naquela hospitaleiracapital amazônica.

Muito obrigado. •

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Posse do Secretário-Geraldas Relações Exteriores,

Celso Amorim

Discurso de posse do Embaixador Celso Amo-rim, no cargo de Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, proferido em 30 de junho de 1993

Oenhor Ministro de Estado, interino, dasRelações Exteriores, Embaixador Luiz Fe-lipe Lampreia,

(Parlamentares e autoridades)

Senhores Subsecretários-Gerais,

Senhores Embaixadores,

Caros colegas,

Senhoras e Senhores,

Minhas primeiras palavras são natural-mente de agradecimento ao Ministro JoséAparecido de Oliveira por me ter indicadopara ser seu principal assessor na execuçãoda política externa do Governo ItamarFranco. A ele e ao Presidente da Repúblicaminha gratidão pela confiança com que medistinguiram e a qual procurarei corres-ponder com o melhor dos meus esforços.

Quero também agradecer as palavrasdo Embaixador Luiz Felipe Lampreia edizer que me sinto honrado em receberdele o cargo de Secretário-Geral do Itama-raty, da mesma forma que fora ele quem,há cerca de um mês, me anunciara a inten-ção do Ministro José Aparecido de desig-nar-me para esta função. Unem-me aoEmbaixador Lampreia laços pessoais e

profissionais sólidos e ricos. Sempre ad-mirei a sua inteligência, o seu profissiona-lismo, o seu dom de convivência humanae o seu caráter íntegro, qualidades quefazem com que a Casa de Rio Brancopossa orgulhar-se de seu atual Ministro.

Sem entrar em confidências, não possoesquecer que em um momento crítico daminha carreira, quando buscava reinserir-me no seu leito normal, após algumasaventuras cinematográficas e científicas,foi o Embaixador Lampreia um dos que,com a boa intriga, mais contribuíram paraminha aterrissagem suave na volta à Casa.Tenho, ainda, em comum com o Embaixa-dor Lampreia a boa lembrança de ter ser-vido sob as ordens do Ministro Azeredo daSilveira, num dos momentos mais criati-vos de nossa política externa. Aproveitoessa ocasião para desejar a Felipe e Lenirque sejam felizes e sigam sua profícuacarreira em Genebra. Estou certo de queos estimulantes desafios profissionais queo Embaixador Lampreia enfrentará e quenão são pequenos não lhe deixarão muitotempo para saudades da Secretaria-Gerale do exercício do Ministério.

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Estou aqui, como sabem todos, poruma convocação do Ministro José Apare-cido, que mereceu a aprovação - honrosapara mim - do Presidente Itamar Franco.E quem conhece o Ministro Aparecidosabe que suas convocações são irresistí-veis e indeclináveis. E mesmo que assimnão fosse, não teria eu - servidor públicopor vocação e convicção - como recusareste cargo que traz consigo, ao lado desacrifícios e deveres, a honra máxima aque pode aspirar um diplomata. E a honra,nos lembra Corneille - que casualmentelia com meu filho caçula no dia da comu-nicação da minha designação - deve sem-pre prevalecer sobre o prazer, mesmo queneste se inclua o desafio intelectual deservir ao Brasil em foros tão interessantese importantes como o GATT, a Comissãode Direitos Humanos e a Conferência doDesarmamento, entre outros.

A posse de um Secretário-Geral doItamaraty é sempre uma ocasião solene,ainda que não necessariamente festiva. Nocaso, a festa está ex qfficio adiada, até queo Chanceler Aparecido seja ele próprioempossado, o que ocorrerá muito em bre-ve. Mas a solenidade subsiste. Para a Casa,este momento encerra sempre expectati-vas inerentes a toda mudança. Para quemassume, faz-se sentir, com todo seu peso,a responsabilidade de ser o elo principalentre o Itamaraty, seus anseios, sua tradi-ção, seus valores e suas percepções e oMinistro, que verdadeiramente encarna oPoder político e de quem emanam a orien-tação e a inspiração da nossa atividade.Seria tentador, mas possivelmente inapro-priado, fazer aqui alguma digressão webe-

riana sobre essas duas vocações, a do Po-lítico, tão bem encarnada pelo nosso futu-ro Chanceler e a do Diplomata profissio-nal, representada pelo Chanceler atual.

Outra tentação a que vou resistir é a deenumerar os Chefes ilustres com quemservi diretamente ou meus antecessoresneste cargo sobremodo honroso. A listaseria longa e a mera evocação de certosnomes com a aura que os cerca me fariamais temeroso de não estar a altura dastarefas que me aguardam. Mas não posso,neste momento singular da minha vidaprofissional, deixar de mencionar o Em-baixador Ovidio Melo, meu primeiro Che-fe no exterior, a quem devo inúmeras e,espero, aprendidas lições de honradez, pa-triotismo, coragem e inteligência, exerci-das por vezes em condições as mais diver-sas. A ele e a Ivony, devemos também,Ana e eu, as primeiras lições de diploma-cia prática, quando ainda jovens e algovisionários com eles servimos no Consu-lado Geral em Londres. Ao EmbaixadorOvidio Melo, rendo a homenagem, que, arigor, a História já lhe prestou.

Senhor Ministro, meus colegas.

Não desconheço as dimensões das ta-refas que vou assumir, na coordenação daSecretaria de Estado e das atividades dasnossas missões e repartições no exterior.A qualidade profissional, a lealdade e de-dicação dos quadros do Itamaraty são, en-tretanto, fator de tranquilidade. O Itamara-ty é uma casa singular. Diferentemente doque ocorre em outras instituições igual-mente respeitáveis, não pensamos nosseus integrantes como «quadros», masfundamentalmente como pessoas, como

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seres pensantes e criativos, com uma visãodo mundo própria, enriquecida por anos deconvivência com temas complexos da po-lítica e da economia internacionais e poruma experiência multifacetada, fruto daexposição a uma grande variedade de cul-turas e atitudes de vida. Daí a saudáveldiversidade de opiniões e de modos de verque caracteriza os diplomatas.

No Itamaraty toda a unidade de pen-samento, toda convergência de ideias nãose fazem por comando ou imposição. Sãofruto de reflexão e discussão coletivas,que cumpre valorizar e estimular. O pró-prio Ministro e - um grau abaixo - oSecretário-Geral podem ser (e devem ser)fontes de inspiração, mas, não de doutri-nas rigidamente estabelecidas. Aqui orespeito à autoridade, que é essencial ànatureza e funcionamento da instituição,jamais se confunde com o «argumento daautoridade», que desafia os ditames daRazão. Vejo, pois, nesta diversidade, umfator de enriquecimento e de sabedoria deque procurarei valer-me ao máximo paramelhor subsidiar as decisões do Ministrode Estado.

O intervalo de quase um mês entre aminha chegada ao Brasil e a posse, permi-tiu-me uma visão de conjunto das grandes- e, diria, até das pequenas - questões quepreocupam a nossa instituição hoje. Fiqueimesmo tentado a produzir, à moda de umpersonagem de Stendhal, um relato cir-cunstanciado sobre o «estado das coisas»no Itamaraty. Constatei, em primeiro lugar- e com satisfação -, que não há questio-namentos dentro da Casa, quanto às gran-des linhas de nossa política exterior. Há

naturalmente nuances e ênfase distintas,percepções diferenciadas sobre o momen-to para certas decisões, mas raramentepude perceber visões divergentes sobre osgrandes temas de política internacional e aatitude do Brasil diante deles. Reflete estefato, a meu ver, um amadurecimento pro-gressivo da nossa ação diplomática, cujaslinhas mestras têm sido preservadas dossolavancos por vezes bruscos do nossoquadro político. Essa continuidade ganhasignificado maior quando se tem em contaa moldura democrática de nossas institui-ções políticas, o livre e despreconceituosodebate que hoje se trava na sociedade bra-sileira sobre todos os problemas nacionais.O perfil que surge dessa atuação interna-cional firme e coerente é o de um país devocação indiscutivelmente pacífica e res-peitador das normas internacionais, fiel aomultilateralismo e à solução negociada decontrovérsias, aberto ao diálogo e comatitude transparente ante a comunidade in-ternacional. Mas um país de personalidademarcadamente própria, imune às classifi-cações simplistas e aos modismos passa-geiros, que não abdica de seu direito dedesenvolver-se económica, cultural e tec-nologicamente, ainda que isso possa trazerdesconforto para os atuais detentores dopoder mundial.

Não me cabe, hoje, naturalmente, dis-correr sobre as características da realidadeinternacional cambiante que vivemos e naqual devemos inserir-nos de forma dinâ-mica, digna e autónoma. Para responder-mos aos desafios e às oportunidades dessaordem internacional inferi - marcada pe-los riscos da ilusão da unipolaridade e dos

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nacionalismos fragmentários - o Itamara-ty tem que estar à altura do Brasil quesonhamos e das potencialidades e da cria-tividade do seu povo. Num mundo cres-centemente complexo, teremos que buscara melhor forma de nele nos inserirmos, pormeio da integração regional e da participa-ção em foros globais, entendendo sempreque, por força do nosso peso económico,nossa diversidade cultural, nosso dinamis-mo histórico, não podemos nunca sucum-bir à tentação de jogarmos um papel coad-juvante em agrupamentos sujeitos a hege-monias de qualquer espécie. Até porque -mesmo que o quiséssemos - seríamos re-jeitados. Nossa vocação é indiscutivel-mente universal, o que não exclui ênfasese prioridades, que o Ministro Aparecido -e não eu - se encarregará de definir.

Não há para o diplomata recompensamaior do que o sentido de bem servir aoBrasil. Ninguém entra para o Itamaratypara amealhar fortuna ou mesmo parafazer carreira política. No primeiro caso,o engano seria total e fatal. No segundo,haveria certamente vias mais rápidas eseguras de êxito. Mas para que possarealizar a sua tarefa, que é ao mesmotempo seu prémio, é indispensável que odiplomata tenha condições mínimas detrabalho e garantias de sobrevivência de-cente para si próprio e para sua família.Sem desconhecer o sacrifício que a atualsituação do país impõe a todos, sem dis-tinção, tenho a certeza de que com oinestimável apoio do Ministro José Apa-recido e a compreensão do PresidenteItamar Franco, lograremos repor a reali-dade orçamentaria do Itamaraty em pata-

mar condizente com a necessidade de re-presentar condignamente o nosso país.Este será um empenho permanente do Se-cretário-Geral e, estou certo, também doChanceler José Aparecido de Oliveira.

Anotei, também, para o meu aindaimaginário relato, a impressão de que oItamaraty vive no momento um grandeimpulso reformista. Este processo, desen-cadeado por iniciativa do ex-ChancelerFernando Henrique Cardoso e que contoucom ampla participação dos diplomatas daSecretaria de Estado e do Exterior, é es-sencialmente salutar. Questionam-se des-de métodos de trabalhos dos postos atésistemas de promoção e comissionamento.Há nos resultados que já pude ver compi-lados pela Comissão criada para esse fimum manancial rico de propostas e suges-tões que pretendo, após cuidadoso exame,submeter ao Ministro José Aparecido. Aformação de colegiados para as tarefas deplanejamento político e administrativobem como para as ligadas ao Serviço Ex-terior parece-me ideia a ser tida especial-mente em conta. Esses colegiados, comomonitoradores e condutores de um proces-so de reforma, que na verdade deve serpermanente, poderão dar corpo, de formainstitucional, à sabedoria coletiva da Casa,ilustrada no célebre dito do Ministro Sil-veira de que a melhor tradição do Itamara-ty é saber renovar-se.

A despeito do caráter essencialmentesaudável desse élan renovador, não meparece descabida a palavra de cautela queouvi de um amigo, homem sábio e expe-riente, e sem vínculo com a nossa institui-ção, mas que, como a maioria dos brasilei-

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ros cultos e bem informados, tem por elagrande apreço. Dizia ele, com sinceridadeamiga: «O Itamaraty é uma coisa sagradapara o Brasil. Por isso é preciso muitocuidado com as mudanças». Dito isso, nãohá como desconhecer uma certa inquieta-ção hoje existente no nosso corpo de fun-cionários. Como vencer esse sentimento,que felizmente não é generalizado, masque é preocupantemente perceptível entreos jovens, é uma tarefa primeira de qual-quer administração do Itamaraty. Comoconciliar o justo anseio dos jovens diplo-matas em galgar os postos mais altos dacarreira, com a preservação de sua nature-za essencialmente competitiva, no melhorsentido, que é a outra face da moeda daexcelência, é um desafio lógico e psicoló-gico que deve merecer toda nossa atenção.É essa uma questão que não admite solu-ções mecânicas ou simplistas. Sobretudo,não deve ser ela um fator de desunião. Nasociedade democrática em que felizmentevivemos, somente soluções consensuais,amplamente discutidas poderão sobrevi-ver. E já que mencionei a excelência -razão principal senão única dessa sacrali-dade que alguns, como meu citado amigo,nos atribuem -, não posso deixar de men-cionar a importância central do sistema derecrutamento, treinamento e aperfeiçoa-mento dos nossos quadros, notadamente,mas não apenas, o de diplomatas. A qua-

lidade humana dos funcionários do Itama-raty é o nosso bem mais precioso, mais queos vistosos palácios que eventualmente osabrigam. Não permitamos que por umailusão de ótica nos afastemos daquilo quepara nós é o mais importante: a indisputa-da e indisputável excelência do nosso ser-viço exterior.

Quando entrei para o Itamaraty, hácerca de trinta anos, mais ou menos namesma época que o Embaixador Lam-preia, o Brasil vivia um estado de embria-guez democrática. Sonhos e projetos seproduziam incessantemente, muitos delescontraditórios ou irrealistas.

Minha geração conheceu o travoamargo de ver muitos desses sonhosfrustrados e muitos desses projetos am-putados. Outros, porém, como o de umaPolítica Externa Independente, frutifica-ram. O sonho/projeto de San Tiago Dan-tas tornou-se missão do Itamaraty. Hojequando a democracia e o pluralismo seconsolidam em nosso país, quando ahonradez, a sensibilidade social e o sen-tido de dignidade nacional são as marcasde governo, falar em Política ExternaIndependente parece pleonástico. Mas amissão segue válida: contribuir para aconstrução de um país livre, dinâmico,criativo, com presença ouvida e respei-tada no concerto das nações. •

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Tratados, Acordos e Convénios

Convénios de cooperação técnica com a FINEP, visando à realizaçãode estudos que subsidiem as atividades do Itamaraty no âmbito

da diplomacia económica e do planejamento político e económico

Aos 13 dias do mês de janeiro do anode 1993, no Anexo I do Palácio do Itama-raty, na cidade de Brasília, Distrito Fede-ral, de um lado a União, por intermédio doMinistério das Relações Exteriores, dora-vante denominado Itamaraty, neste ato re-presentado pelo Ministro de Estado dasRelações Exteriores, Senador FernandoHenrique Cardoso, e do outro lado, a Fi-nanciadora de Estudos e Projetos - FI-NEP, empresa pública vinculada ao Mi-nistério da Ciência e Tecnologia, regidapelo Estatuto aprovado pelo Decreto n°92.104, de 10 de dezembro de 1985, comsede na Cidade de Brasília, Distrito Fe-deral e escritórios na Cidade do Rio deJaneiro, à Praia do Flamengo n° 200,13°andar, inscrita no CGC sob o n°33.749.086/0001-09, daqui por diante de-nominada FINEP, neste ato representadapelo seu Presidente, Senhor Lourival Car-mo Mónaco, e pelo seu Diretor, SenhorSérgio Schiller Thompson Flores,

Considerando o papel do Itamaraty noplanejamento, formulação, coordenação,implementação, acompanhamento e ava-liação da política externa brasileira;

Considerando o papel da FINEP deagência de fomento do Governo brasileiroque tem dentre seus objetivos a promoção

do desenvolvimento científico e tecnoló-gico no País;

Considerando a necessidade de se pro-mover a realização de estudos, cursos, se-minários e serviços de consultoria especia-lizados para subsidiar a formulação de po-sições brasileiras no campo das relaçõeseconómicas internacionais;

Decidem celebrar o presente convénio,que se regerá pelas cláusulas e condiçõesdescritas e de acordo com o Decreto-Lein° 2.300/86.

Cláusula Primeira

O presente convénio tem por objeti-vo promover o desenvolvimento de umprograma de cooperação técnica visandoà realização de estudos, seminários ecursos que subsidiem as atividades doItamaraty no âmbito da diplomacia eco-nómica brasileira, tendo as seguintesáreas prioritárias:

I) o sistema multilateral de comérciopós-Rodada Uruguai;

II) o acordo Norte-Americano de LivreComércio: avaliação de impacto sobreas relações económicas brasileiras -limitações e oportunidades;

III) a dinâmica do processo de integra-ção europeia: impacto e oportunidadespara o Brasil;

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IV) novos parceiros econômico-co-merciais: a Bacia do Pacífico e o LesteEuropeu;

V) a questão dos serviços no comérciointernacional: desregulamentação etendências pós-Rodada Uruguai;

VI) o sistema financeiro internacional,os fluxos de investimento e de capitais,os novos serviços financeiros;

VII) a questão tecnológica em nívelmundial: entraves e oportunidades deacesso para o Brasil;

VIII) os acordos internacionais de re-gulação de mercado para produtos debase: avaliação dos principais acordosexistentes e possibilidades futuras;

IX) a cooperação bilateral, regional emultilateral para o desenvolvimento;

X) organização e métodos e informati-zação como suporte à modernizaçãoadministrativa da Subsecretaria-Geralde Assuntos de Integração, Económi-cos e de Comércio Exterior;

XI) outras áreas que forem mutuamen-te acordadas entre as partes.

Cláusula Segunda

Para atingir os objetivos do presenteconvénio, as partes se comprometem:

a) a estabelecer um regime de consultarecíproca visando ao intercâmbio deinformações;

b) a avaliar, em conjunto, o grau deoportunidades e a capacidade técnicadas instituições brasileiras e especia-listas a serem encarregados de realizar

os estudos, cursos e seminários acor-dados;

c) a realizar conjuntamente, através decoordenadores para tal fim designa-dos, o acompanhamento e a supervisãode cada estudo, seminário ou curso;

d) a promover a divulgação dos referi-dos estudos, cursos e seminários, noque couber;

e) a FINEP, a contratar a empresa,instituição ou especialista encarregadoda realização dos estudos, semináriose cursos acordados ou a concorrer, namedida de suas disponibilidades, comos recursos para a realização dos mes-mos, no valor, em cruzeiros, de US$600,000 (seiscentos mil dólares ameri-canos), a ser aplicado no período de até2 (dois) anos;

f) o Itamaraty, a indicar os temas queserão objeto da realização de estudos,cursos e seminários de interesse doGoverno brasileiro;

g) o Itamaraty, a contribuir com meiostécnicos, administrativos e de apoio deque dispõe, para a realização dos estu-dos, seminários e cursos acordados.

Cláusula Terceira

O Itamaraty e a FINEP designarãoindividualmente um de seus funcioná-rios para atuar como coordenadores naexecução das atribuições relativas aopresente convénio.

Cláusula Quarta

O prazo de vigência deste convénio éde 2 (dois) anos a contar da data de sua

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publicação no Diário Oficial da União,podendo, entretanto, ser prorrogado, decomum acordo entre as partes, medianteTermo Aditivo.

Cláusula Quinta

O presente convénio poderá, a qual-quer tempo, ser rescindido nas seguinteshipóteses:

I - Quando ocorrer inadimplênciade qualquer de suas cláusulas contratuais;

II - Quando sobrevier fato ou dispo-sição legal que o torne impraticável;

III - Por iniciativa de qualquer daspartes mediante aviso prévio de, pelo me-nos, 90 (noventa) dias de antecedência.Nesta hipótese, fica assegurada a continui-dade dos compromissos anteriormente as-

sumidos que se encontrem em execuçãono momento da denúncia do convénio.

Cláusula Sexta

Fica eleito o foro de Brasília, DistritoFederal, para dirimir quaisquer controvér-sias originárias do presente convénio, comexclusão de qualquer outro.

E, por estarem justas e acordadas, aspartes assinam o presente CONVÉNIO em2 (duas) vias, de igual teor e forma, napresença das testemunhas abaixo.

Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exteriores

Lourival Carmo MónacoPresidente da FINEP

Sérgio Schiller Thompson FloresDiretor da FINEP

Aos 13 dias do mês de janeiro doano de 1993, no Anexo I do Palácio doItamaraty, na cidade de Brasília, Dis-trito Federal, de um lado a União, porintermédio do Ministério das RelaçõesExteriores, doravante denominadoItamaraty, neste ato representado peloMinistro de Estado das Relações Exte-riores, Senador Fernando HenriqueCardoso, e do outro lado, a Financia-dora de Estudos e Projetos - FINEP,empresa pública vinculada ao Ministé-rio da Ciência e Tecnologia, regidapelo Estatuto aprovado pelo Decreton° 92.104, de 10 de dezembro de 1985,com sede na Cidade de Brasília, Dis-trito Federal e escritórios na Cidade doRio de Janeiro, à Praia do Flamengo n°

200,13o andar, inscrita no CGC sob o n°33.749.086/0001-09, daqui por diantedenominada FINEP, neste ato repre-sentada pelo seu Presidente, SenhorLourival Carmo Mónaco, e pelo seuDiretor, Senhor Sérgio Schiller Thomp-son Flores, com a interveniência daFundação Alexandre de Gusmão, fun-dação pública vinculada ao Itamaraty,regida pelo Estatuto aprovado pelo De-creto n° 94.973, de 25 de setembro de1987, na sua atual redação, com sede naCidade de Brasília, Distrito Federal, noAnexo I do Ministério das RelaçõesExteriores, 8o andar, doravante deno-minada FUNAG, neste ato representadapelo seu Presidente, Senhor GelsonFonseca Júnior,

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Considerando a competência do Ita-íaraty para executar o planejamento, for-nulação, coordenação, implementação,acompanhamento e avaliação da políticaexterna brasileira;

Considerando o papel da FINEP deagência de fomento do Governo brasileiroque tem dentre seus objetivos a promoçãodo desenvolvimento científico e tecnoló-gico no País;

Considerando a necessidade de se pro-mover a realização de estudos, cursos, se-minários e serviços de consultoria especia-lizados para subsidiar o processo de plane-jamento da política externa brasileira;

Resolvem celebrar o presente convé-nio, mediante as seguintes cláusulas, deacordo com as normas constantes do De-creto-Lei n° 2.300, de 21 de novembro de1986, na sua atual redação:

Cláusula PrimeiraDo Objeto

Este convénio tem por objetivo promo-ver o desenvolvimento de um programa decooperação técnica, visando à realizaçãode estudos, seminários e cursos que subsi-diem as atividades do Itamaraty, no âmbi-to do planejamento político e económico,tendo as seguintes áreas prioritárias:

1.1 O Estado-Nação e a soberania;

1.2 o processo de globalização da eco-nomia: perspectivas e oportunidade parao Brasil;

1.3 a realidade nacional como um emba-samento da política externa: pobreza,meio ambiente e setor externo;

1.4 a cooperação externa para o desen-volvimento nos campos bilateral, regionale multilateral;

1.5 desenvolvimento nacional e políticaexterna;

1.6 o Brasil frente o contexto neo-liberal:constrangimentos e oportunidades;

1.7 a questão da segurança nas relaçõesinternacionais;

1.8 a reestruturação do sistema das Na-ções Unidas nos campos político e econó-mico e as questões de segurança e desen-volvimento;

1.9 organização e métodos e informati-zação como suporte à modernização admi-nistrativa da Subsecretaria-Geral de Pla-nejamento Político e Económico;

1.10 a nova ordem constitucional;

1.11o diálogo Norte-Sul: situação atual eperspectivas pós-Guerra Fria;

1.12 a questão teórica e prática do plane-jamento no contexto da chancelaria; e

1.13 outras áreas que forem mutuamenteacordadas entre as partes.

Cláusula SegundaDa Forma de Execução

Para a execução do objeto do presenteconvénio as partes convenentes acordamem elaborar estudos, seminários e eventosconjuntos que digam respeito ao objeto dopresente convénio, que serão realizadospor intermédio da FUNAG.

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Cláusula TerceiraDa Coordenação

O presente convénio será coordenadopor um representante designado pelo Ita-maraty, por intermédio da Subsecretaria-Geral de Planejamento Político e Econó-mico, por um indicado pela FINEP e poroutro indicado pela FUNAG.

Cláusula QuartaDas Obrigações das Partes

São obrigações das partes convenentes:

4.1 estabelecer um regime de consultarecíproca visando ao intercâmbio de in-formações;

4.2 avaliar em conjunto o grau de opor-tunidades e a capacidade técnica das insti-tuições brasileiras e especialistas a seremencarregados de realizar os estudos, cur-sos e seminários acordados;

4.3 realizar conjuntamente, por meio derepresentantes para tal fim designados, oacompanhamento e a supervisão de cadaestudo, seminário ou curso;

4.4 promover a divulgação dos referi-dos estudos, cursos e seminários, noque couber.

§ Io O Itamaraty se obriga a indicaros temas que serão objeto da realização deestudos, cursos e seminários de interessedo Governo brasileiro, bem assim comocontribuir com meios técnicos, adminis-trativos e de apoio de que dispõe, para arealização dos referidos estudos, cursos eseminários.

§ 2o A Finep se obriga a contratarempresa, instituição ou especialista encar-regado da realização dos estudos, cursos e

seminários acordados ou a concorrer, namedida de suas disponibilidades, com re-cursos para a realização dos mesmos.

Cláusula QuintaDos Recursos Financeiros

As obrigações assumidas no presenteconvénio serão financiadas com recursosda FINEP, não resultando para o Itamara-ty qualquer aplicação de ordem financeira.

Cláusula SextaDa Alteração

Qualquer alteração às cláusulas do pre-sente convénio poderá ser realizada de co-mum acordo entre as partes, mediante Ter-mo Aditivo.

Cláusula SétimaDa Vigência

Este convénio vigorará por 2 anos, apartir de sua assinatura e poderá serprorrogado, havendo concordância en-tre as partes.

Cláusula OitavaDa Denúncia

As partes poderão denunciar o presen-te convénio mediante notificação, compelo menos noventa dias de antecedência,ficando assegurada a continuidade doscompromissos anteriormente assumidos eque se encontrem em execução no mo-mento da denúncia.

Cláusula NonaDo Foro

Fica eleito o foro da Cidade de Bra-sília, Distrito Federal, para dirimirquaisquer controvérsias originárias do

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presente convénio, com exclusão de qual-quer outro.

Cláusula DécimaDa Publicação

O presente convénio será publicado,por extrato, no Diário Oficial da União,dentro de vinte dias a contar da data desua assinatura, às expensas das partesconvenentes.

E por estarem justas e acordadas, aspartes convenentes firmam o presente con-vénio em duas vias de igual teor e forma,para um só efeito, na presença das teste-munhas abaixo:

Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exteriores

Gelson Fonseca JúniorPresidente da FUNAG

Lourival Carmo MónacoPresidente da FINEP

Sérgio Schiller Thompson FloresDiretor da FINEP

Testemunhas:

José Israel VargasMinistro de Estado da Ciência e Tecnologia

Clodoaldo Hugueney FilhoSubsecretário-Geral de Planejamento Po-lítico e Económico do Ministério das Re-lações Exteriores

Ata final da III Reunião da Comissão Mista entrea República Federativa do Brasil e a República Islâmica do Irã

Com o objetivo de fortalecer as rela-ções bilaterais e ampliar a cooperação mú-tua entre a República Federativa do Brasile a República Islâmica do Irã, realizou-se,em Brasília, no dia 16 de fevereiro de1993, a III Reunião da Comissão Mista.

2. A Delegação brasileira foi chefiadapor sua Excelência o Senhor Senador Fer-nando Henrique Cardoso, Ministro de Es-tado das Relações Exteriores, e a Delega-ção iraniana por Sua Excelência o SenhorDoutor Ali Akbar Velayati, Ministro dosNegócios Estrangeiros. Os nomes dosmembros de ambas as Delegações estãorelacionados nos apêndices I e II.

3. Durante a sua estada em Brasília, SuaExcelência o Senhor Ministro dos Negó-

cios Estrangeiros do Irã foi recebido emaudiência por suas Excelências o SenhorPresidente da República Federativa doBrasil e o Presidente da Câmara dos De-putados.

4. Em seus discursos de abertura, ambosos Chefes de Delegação enfatizaram a im-portância que atribuem em aprofundar acooperação bilateral nos campos do co-mércio, das finanças, do transporte, datecnologia, da indústria e cultural.

5. Igualmente se referiram aos aspectosda atual agenda política mundial de maiorrelevância para as relações bilaterais.

6. Reunião Preparatória da III Reunião daComissão Mista realizou-se, em Brasília,nos dias 11 e 12 de fevereiro de 1993. A

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Delegação brasileira foi chefiada pelo Em-baixador Fernando Guimarães Reis, Sub-secretário-Geral de Assuntos Políticos, e aDelegação iraniana pelo EmbaixadorMahmoud Vaezi, Vice-Ministro para Eu-ropa e Américas. Os membros de ambasDelegações estão relacionados nos apên-dices III e IV. A Reunião Preparatóriacontou, ainda com a participação de Re-presentantes do setor privado brasileiro.

7. Os Chefes de ambas as Delegações àReunião Preparatória concordaram ematribuir respectiva tarefa aos seguintesTrês Grupos de Trabalho: I) cooperaçãoem comércio, finanças e transporte; II)cooperação técnica e industrial e III) co-operação cultural.

8. Com base nas conclusões alcançadaspelos três Grupos de Trabalho acima men-cionados, as duas Delegações trocaram asseguintes opiniões:

Cooperação em Comércio, Finançase Transportes

9. Após procederem a uma extensa ava-liação do comércio bilateral nos últimosanos, ambas as partes expressaram suaopinião no sentido de que existem reaispossibilidades para a expansão e diversifi-cação dos fluxos de exportação e importa-ção entre os dois países.

10. À luz da citada avaliação, ambas aspartes concordaram em que o comérciobilateral mais equilibrado constituirá abase para o crescimento sustentado dastrocas comerciais entre os dois países.

11. Ambas as partes também concordaramem que o crescimento sustentado do co-mércio bilateral somente será alcançado

através do aperfeiçoamento substancialdos regulamentos aplicáveis ao sistema depagamentos.

12. Em consequência, as autoridades ban-cárias de ambas as partes se encontrarãoem data e local a serem definidos em futu-ro próximo, pelos canais diplomáticos,com vistas a identificar possíveis alterna-tivas para a cooperação entre bancos, in-cluindo o estabelecimento de um sistemade pagamentos que tome em devida con-sideração as condições do mercado bancá-rio internacional.

13. Ainda para facilitar a cooperação entrebancos, ambas as partes concordaram emexaminar a possibilidade de estabelecerescritórios de representação de bancos co-merciais em cada país, de acordo com asregras e regulamentos locais.

14. Visando a contribuir à consecução domencionado objetivo de comércio maisequilibrado, a parte iraniana indicou seuinteresse em realizar compras diretas doBrasil de um volume e número apreciávelde itens, dos quais açúcar branco refina-do, produtos de soja, carnes, frango, pro-dutos de pesca, metais, aço e peças dereposição foram citados como aqueles demaior demanda no curto prazo. Contatosforam realizados com o setor exportadorbrasileiro para considerar propostas denegócios, alguns dos quais com resulta-dos concretos.

15. Ambas as partes concordaram em queas respectivas instituições de promoção deexportações, de acordo com suas regras eregulamentos, deveriam ser amplamente

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utilizadas para aperfeiçoar o comércio bi-lateral.

16. Ambas as partes concordaram emque a participação dos setores de expor-tação em feiras internacionais em cadaum dos dois países, informações de co-mércio, seminários especializados econferências serviriam ao propósito deaperfeiçoar a cooperação comercial en-tre os dois países. A parte brasileira in-dicou que a maior parte dessas ativida-des seriam desempenhadas pelo setorprivado brasileiro interessado.

17. Com o objetivo de promover o comér-cio bilateral, a parte brasileira tomou notado desejo da parte iraniana em estudar aremoção e/ou a redução, em bases recí-procas, das atuais barreiras tarifárias enão-tarifárias aplicáveis às importaçõesprovenientes do Brasil. Ademais, a parteiraniana considerará a possibilidade deintermediar operações comerciais especí-ficas entre o Brasil e os outros países-membros da «Economic Cooperation Or-ganization» (ECO).

18. Ambas as partes acolheram a sugestãode que os setores privados dos dois paísesdevam explorar meios de aperfeiçoar acooperação direta entre eles, incluindo apossibilidade de estabelecimento de umaCâmara de Comércio.

19. Ambas as partes recomendaram que ossetores privados de cada país deveriamaumentar seus contatos diretos quando darealização das Reuniões marcadas da Co-nissão Mista.

20. Ambas as partes expressaram sua sa-tisfação pelo financiamento e a participa-ção do Brasil no Projeto Karum III.

21. A parte iraniana informou que o Pro-grama de Reconstrução do Irã, através doII Plano Quinquenal de Desenvolvimento(1994-1998), continuará a oferecer opor-tunidades relevantes à participação do se-tor privado brasileiro na execução de pro-jetos específicos. A parte brasileira aco-lheu essa informação e declarou-se dispos-ta a entabular negociações sobre o assuntoquando e onde a parte iraniana estimasseapropriados.

22. Com respeito ao transporte marítimo,ambas as partes recordaram que AcordoBilateral sobre Transporte Marítimo, cujoprocesso de negociação se iniciou em1991, servirá de base para agilizar e faci-litar o tráfego marítimo entre os dois paí-ses. Ambas as partes reafirmaram seu in-teresse na matéria e recomendaram queuma Reunião entre as Autoridades Maríti-mas dos dois países se realize em 1993com o propósito de concluir a negociaçãodo Acordo, cuja assinatura seria efetuadaem data e local a serem acordados peloscanais diplomáticos.

23. Com vistas a resolver as questões pen-dentes a favor da «Islamic Republic of IranShipping Lines - IRISL», concordou-seem que as partes envolvidas («IRISL»,«Government Trading Company - GTC»and «Interbras») manterão negociaçõesdiretas conjuntas antes de trinta de julhode 1993. A esse respeito, a «Interbras»planeja enviar um representante ao Irãpara encontrar uma solução amigável paraa questão antes da citada data. A «Inter-

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bras» também acolherá a visita de repre-sentação conjunta do Irã para resolver apendência até a citada data. O resultadodas negociações será reportado ao Gover-no de ambas as partes através dos canaisdiplomáticos.

Cooperação Industrial e Tecnológica

24. Ambas as partes reiteraram a impor-tância da cooperação bilateral, nos camposda tecnologia, know-how e indústria.

25. A parte iraniana expressou seu desejoem cooperar com a parte brasileira nasáreas de troca de informações em consul-toria de engenharia e pesquisa e desenvol-vimento na indústria automotiva, em pe-ças manufaturadas, maquinário e equipa-mento para a produção de embarcações,veículos e máquinas industriais e, tam-bém, em obter transferência de tecnologiae consultoria especializada em design, en-genharia e aplicação dos projetos listadosabaixo, de acordo com esquema de buy-back, financiamento de projetosjomí ven-tures ou em outros aspectos técnicos oufinanceiros de interesse mútuo:

a) embarcações e plataformas ma-rítimas;

b) projetos agrícolas (indústria e ma-quinário), i.e., cana de açúcar, papel,cimento, óleo, ração animal;

c) equipamentos e maquinário para aindustrialização de petróleo, gás, pro-dutos petroquímicos e cimento.

A parte brasileira acolheu as propostase indicou que seriam consideradas pelasautoridades competentes, com vistas a in-

crementar a cooperação, e que seriam res-pondidas logo que possível.

26. As duas partes concordaram em incre-mentar seu relacionamento económicomediante cooperação em treinamento,pesquisa e transferência de tecnologia.Com este objetivo, o lado iraniano expres-sou seu interesse especial nos campos daindústria química e de celulose.

27. As duas partes reiteraram seu inte-resse sobre joint ventures com o objetivode incrementar a cooperação comerciale industrial.

28. A parte iraniana expressou sua dispo-sição em estabelecer joint venture para acriação de uma fábrica de alumina no Irã.A parte brasileira concordou em estudarmeios no sentido de desenvolver a coope-ração com a parte iraniana na área de pro-dução de alumina, estanho, tungsténio, fá-bricas de zinco, chumbo e ferro cromo eem outras áreas de prospecção mineroló-gica. Para este fim, contatos e negociaçõesforam imediatamente iniciados entre asduas partes.

29. A parte iraniana expressou sua dispo-sição em exportar concentrados de zinco eestanho, cromita e chumbo e zinco embarras e chumbo e zinco para o Brasil eimportar minério de ferro.

30. Ambas as partes expressaram sua dis-posição em identificar projetos nas áreasde prospecção mineral, geológica e hidro-geológica, particularmente na exploraçãomineral e geológica; prospecção geofísica,geoquímica e hidrogeológica; análise la-boratorial, cartografia, sistema de infor-mação geográfica e tecnologia mineral;

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economia mineral; intercâmbio de espe-cialistas para treinamento.

31. Ambas as partes concordaram em es-tabelecer estreita cooperação nos cam-pos da engenharia civil, planejamento,participação em feiras de material deconstrução, intercâmbio de informaçãocientífica e técnica, bem como em pro-jetos de habitação.

32. Ambas as partes reiteraram sua dispo-sição em estabelecer mecanismos que agi-lizem o cumprimento do «Memorandumof Understanding between the BrazilianEnterprise of Post and Telegraphs and thePost Company of the Islamic Republic ofIran», assinado durante a última reuniãoda Comissão Mista, ocorrida em Teerã, emnovembro de 1991.

33. Com relação a telecomunicações, aparte iraniana propôs:

a) estabelecimento de 5 (cinco) canaisdiretos de telefone, conectando os doispaíses;

b) redução do total das tarifas tele-fónicas;

c) uso pelo Brasil dos canais de trânsitotelefónico com países da área, com osquais o Irã dispõe de conexões diretasde telefonia;

d) estreita cooperação de ambos oslados nas Organizações Internacionaisrelevantes e

e) troca de informações e de especia-listas para melhoria da rede de tele-comunicações, incluindo sistemasmóveis.

O lado brasileiro acolheu as sugestõese concordou em estudá-las com vistas aincrementar a cooperação nesses campos.

34. A parte iraniana enfatizou o seu inte-resse em estabelecer com as Autoridadesbrasileiras cooperação nos campos dapesquisa espacial, em particular para aconstrução de satélites, de estações ras-treadoras e de equipamentos de teleco-municações.

O lado brasileiro tomou nota da pro-posta e concordou em referi-la à conside-ração das autoridades relevantes com vis-tas a uma resposta em breve.

35. A parte brasileira mostrou seu inte-resse em iniciar imediatamente a coope-ração no campo da pesquisa agrícolamediante transferência de know-how nasseguintes áreas:

a) fertilidade e biologia de solos;

b) manejo e conservação de solos;

c) agricultura irrigada;

d) controle biológico;

e) controle integrado de pragas edoenças;

f) fitopatologia e entomologia das cul-turas de soja e algodão;

g) melhoramento das culturas de sojae algodão;

h) produção de sementes básicas desoja, trigo, milho, arroz, feijão, algo-dão e hortaliças.

Ao mesmo tempo, manifestou interes-se em conhecer as experiências iranianasde pesquisa em culturas de pistache, uva

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de mesa, tâmaras, amêndoas, avelãs e bu-balinocultura.

A parte iraniana tomou nota dessaspropostas e concordou em responder logoque possível.

36. Ambas as partes enfatizaram os sériosesforços no sentido de implementar as pro-visões de Letter of Understanding, comdata de 2-1-1992, para a cooperação agrí-cola mútua e foi proposto que cada umadas partes determinará e informará a outrasobre as medidas executórias referentes aseus acordos sobre cooperação agrícola,particularmente sobre o cultivo e indús-trias de cana de açúcar, produção e bene-ficiamento de soja, produção de algodãode fibras longas, transferência de tecnolo-gia para a produção de fibras de sisal, noIrã, e transferência de tecnologia para aprodução de eucalipto e produção de pa-pel, a partir do eucalipto, com ênfase napesquisa e transferência de conhecimentoem cada um desses itens.

37. Ambas as partes concordaram em tro-car informações e pesquisadores a fim decooperar em captura e beneficiamento depescado, cultura de camarões, construçãoe comercialização de embarcações, co-mercialização de caviar, criação dejointventures para operações relacionadas à ati-vidade pesqueira, compra de pescado, pes-quisa e treinamento.

Para esse fim, contatos e negocia-ções iniciaram-se imediatamente entreas duas partes.

3 8. A parte brasileira reiterou seu interesseem cooperar com as autoridades iranianas

competentes sobre o projeto de construçãode usinas de açúcar no Khuzestão.

Cooperação Cultural

39. Os dois lados concordaram em que ointercâmbio cultural é campo propíciopara o aprimoramento da compreensãomútua e para a aproximação entre osdois países, considerando as diversida-des e as riquezas das duas culturas, ira-niana e brasileira.

40. A este respeito, consideram que oAcordo Cultural existente entre os doispaíses desde 1957, oferece um quadro ade-quado para essa cooperação, sobretudo,por meio de:

a) intercâmbio de professores e pesqui-sadores para os quais deverão ser opor-tunamente previstas as facilidades ade-quadas;

b) organização de seminários sobreeducação e ciências;

c) troca de informações no campo dastecnologias educacionais e intercâm-bio de teses universitárias; e

d) colaboração em matéria de esporte.

Próxima Reunião da Comissão Mista

41. Ambas as partes expressaram sua sa-tisfação pelos resultados da III Reuniãoda Comissão Mista e concordaram emrealizar a IV Reunião em 1994, em Tee-rã. A data será acordada pelos canaisdiplomáticos.

42. Sua Excelência o Senhor Ministro dosNegócios Estrangeiros do Irã estendeuconvite a Sua Excelência o Senhor Minis-tro das Relações Exteriores do Brasil para

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fazer visita oficial ao Irã. A parte brasileiraaceitou e agradeceu o convite para a citadavisita, cuja data será acordada através doscanais diplomáticos.

Feito em Brasília, aos 16 dias do mês defevereiro de 1993, em dois exemplares ori-ginais, nas línguas portuguesa, farsi e ingle-sa, sendo os três textos igualmente autênti-

cos. Em caso de divergência de interpreta-ção, prevalecerá o texto em inglês.

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores da Repú-blica Federativa do Brasil

AUAkbar VelayatiMinistro dos Negócios Estrangeiros daRepública Islâmica do Irã

Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Económicae Tecnológica entre o Brasil e a China

O Governo da República Federativa doBrasil

O Governo da República Popular daChina

(doravante denominados «Partes Con-tratantes»),

Tendo em vista a importância do setorenergético no processo de desenvolvimen-to e modernização;

Considerando o interesse recíproco emincrementar a cooperação económica etecnológica no campo da energia elétrica,incluindo a energia hidrelétrica;

Com base no Acordo de CooperaçãoEconómica e Tecnológica entre o Gover-no da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Popular da China,assinado em Brasília, em 18 de maio de1990 e na seção 4 do Ajuste Complemen-tar ao Acordo de Cooperação Científica eTecnológica entre os dois Governos, assi-nado em Pequim, em 29 de maio de 1984;

Acordam o seguinte:

Artigo I

As Partes Contratantes promoverão acooperação entre si em matéria de ener-gia elétrica, incluindo a energia hidrelé-trica, em seus aspectos económicos etecnológicos, com base no princípio debenefícios mútuos.

Artigo II

A coordenação geral e a supervisão dopresente Ajuste Complementar serão deresponsabilidade do Ministério das Minase Energia da República Federativa do Bra-sil e do Ministério da Energia da Repúbli-ca Popular da China (o Ministério encar-regado da indústria de energia elétrica). Asentidades executivas para implementaçãodo Ajuste serão, respectivamente, «Cen-trais Elétricas Brasileiras S/A - Eletro-brás», e o Departamento de CooperaçãoInternacional do Ministério de Energia,doravante denominados como «entidadesexecutoras».

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Artigo III

A cooperação de que trata o presenteAjuste Complementar far-se-á de compe-tência das Entidades Executoras, de acor-do com a legislação nacional respectiva,mediante contrastes específicos e incluirá,além de outras formas mutuamente acor-dadas, as seguintes:

• diretamente, pelas Entidades Executo-ras, serviços de assessoramento em to-dos os setores de energia elétrica, in-cluindo a energia hidrelétrica, especial-mente a realização de pesquisas e estu-dos sobre planejamento, construção,operação e administração de novas ins-talações ou organização e gerenciamen-to de instalações existentes, em seus as-pectos técnicos, administrativos, econó-micos, financeiros e comerciais;

• indiretamente, através da participaçãode empresas de projetos, construção deobras energéticas, montagem e de fabri-cação de equipamentos em concorrênciaem ambos os países.

Parágrafo único. A cooperação referi-da neste artigo deverá abranger:

a) elaboração conjunta de estudos eprojetos em todos os setores de energiaelétrica, incluindo a energia hidrelétri-ca, de acordo com as necessidades dedesenvolvimento económico de seusrespectivos países;

b) cooperação de especialistas nas fa-ses de planejamento do sistema elétri-co de ambos os países através de atua-ção conjunta das Entidades Executorase empresas de engenharia e fabricantes

de equipamentos, tanto na parte de ge-ração como de transmissão;

c) participação das empresas brasilei-ras de engenharia em associação comempresas chinesas, no desenvolvimen-to de projeto básico de usinas hidrelé-tricas e participação na fase do projetoexecutivo, oferecendo capacitação tec-nológica, bem como no planejamentoe gerenciamento de construção de em-preendimentos hidrelétricos;

d) formação de consórcios sino-brasi-leiros de empresas construtoras deobras hidrelétricas, para participaçãoem concorrências para construção deobras hidrelétricas na República Popu-lar da China, assegurando-se mecanis-mos de transferência de tecnologia nasáreas de construção e gerenciamentode obras. Para tanto, em igualdade decondições técnicas e comerciais, asse-gurar a contratação de tais consórcioscom vistas a efetivar tal intercâmbiotecnológico;

e) formação de consórcios sino-bra-sileiros de fabricantes de equipamen-tos, inclusive hidromecânicos, desti-nados à geração e transmissão deenergia elétrica;

f) oferecimento de estágios para téc-nicos em empresas de engenharia deambos os países, com programas es-pecíficos envolvendo permanênciatemporária em canteiros de obras emandamento;

g) a oferta de financiamento, tecnolo-gia e/ou equipamento para estudos deviabilidade, projetos e construção de

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instalações do setor elétrico, incluindousinas hidroelétricas, de uma a outradas partes nas formas de empréstimo einvestimento, devendo os termos deressarcimento serem acordados sepa-radamente pelas Partes Contratantes.

Artigo IV

A cooperação entre as Entidades Exe-cutoras do presente Ajuste Complementarrealizar-se-á através do intercâmbio de in-formações e documentação, missões téc-nicas, missões de estudo e estágios detreinamento para peritos, além de outrasformas de cooperação a serem acordadasentre tais Entidades Executoras.

Artigo V

1. As informações intercambiadas entreas Entidades Executoras poderão ser trans-feridas a terceiros mediante o consenti-mento por escrito da Entidade que forne-cer a informação. As Entidades Executo-ras permitirão, entretanto, a utilização, pe-las subsidiárias, das informações transfe-ridas entre si.

2. O intercâmbio de informações previs-to no presente Ajuste Complementar nãoincluirá a concessão da transferência delicença de quaisquer patentes, mesmoaquelas em utilização, e não afetará qual-quer outro direito de propriedade de pa-tentes da Entidade Executora que detéma informação.

3. Os documentos solicitados por umadas Entidades Executoras serão forneci-dos gratuitamente pela outra EntidadeExecutora, caso se trate de informação derotina. Se a elaboração do documento so-

licitado envolver despesas, a EntidadeExecutora solicitante deverá ser comuni-cada sobre o montante a ser pago, bemcomo expressar por escrito sua concordân-cia quanto ao total de tais despesas e quan-to à forma de pagamento.

4. Quando uma Entidade Executora pre-parar estudos especiais, fora da rotina detrabalho, a pedido de outra Entidade Exe-cutora, as despesas daí decorrentes, refe-rentes somente a pessoal e a uso de equi-pamentos específicos, tais como computa-dores, deverão correr por conta da Entida-de solicitante, e seu cálculo será acordadoentre as Entidades Executoras.

Artigo VI

1. Em base de reciprocidade de visitas etrocas, a parte interessada, que envia amissão, arcará com as despesas de viagemno trecho internacional, enquanto a partereceptora arcará com as despesas em seupróprio país, incluindo viagens e hospeda-gem em seu território.

2. O total das despesas relativas à partici-pação de peritos em cursos especiais seráaprovado previamente pela Entidade Exe-cutora que envia tais peritos.

3. Os técnicos e especialistas intercam-biados entre as Entidades Executoras, paraefeito de implementação do presente Ajus-te Complementar, deverão ter seus nomese currículo submetidos pela Entidade Exe-cutora que envia à Entidade Executora querecebe, com uma antecedência mínima deum mês em relação à data de início damissão ou do treinamento.

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Artigo VII

1. Uma Entidade Executora poderá colo-car especialista à disposição de outra En-tidade Executora, mediante solicitaçãodesta última, caso haja, a critério da Enti-dade Executora que envia, disponibilidadede técnicos e especialistas na área de inte-resse da Entidade Executora solicitante.

2. O período máximo de estada de umespecialista colocado à disposição da En-tidade Executora solicitante não será, emprincípio, superior a 2 anos, salvo enten-dimento em contrário entre as EntidadesExecutoras.

3. Durante o período de estada do espe-cialista, a Entidade Executora que o hou-ver requisitado pagar-lhe-á uma remune-ração pelo desempenho de serviços espe-ciais, a qual será acordada, em cada caso,entre as Entidades Executoras e o especia-lista, e especificada em contrato a ser fir-mado entre a Entidade Executora solici-tante e o especialista.

4. As formas de cooperação previstas nosArtigos III e IV do presente Ajuste Com-plementar também poderão ser realizadaspor empresas ou entidades que venham aser indicadas pela Entidade Executora so-licitada, obtendo-se, para cada indicação,o assentimento expresso da Entidade Exe-cutora solicitante. As condições de remu-neração, nesses casos, serão estabelecidasde comum acordo diretamente entre a En-tidade Executora solicitante e as empresasou entidades indicadas pela Entidade Exe-cutora solicitada.

Artigo VIII

As Entidades Executoras indicarão,cada uma, representante e um suplentecomo responsáveis pela coordenação dasmedidas a serem adotadas, pelas respecti-vas Entidades Executoras, com vistas àimplementação do presente Ajuste Com-plementar.

Artigo IX

Para a implementação do presenteAjuste Complementar, será estabelecidoum Grupo Misto de Trabalho, com a par-ticipação dos representantes e suplentesmencionados no Artigo VIII acima, que sereunirá em local e data a serem acordadospelas Partes Contratantes. O Grupo Mistode Trabalho definirá um programa de ati-vidades de cooperação que será tambémapreciado pela Comissão Mista Económi-ca e Comercial e a quem serão comunica-dos os progressos alcançados na imple-mentação do presente Ajuste Complemen-tar. Eventuais alterações no referido pro-grama de atividades, seja por cancelamen-to, seja por adição de projetos, no intervalodas reuniões da Comissão Mista, poderãoser realizadas por via diplomática.

Artigo X

O presente Ajuste Complementar po-derá ser alterado, por troca de notas diplo-máticas, mediante entendimentos entre asPartes Contratantes.

Artigo XI

1. O presente Ajuste Complementar en-trará em vigor na data de sua assinatura,terá duração de cinco anos e será automa-ticamente renovado por iguais períodos, a

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menos que uma das Partes Contratantescomunique à outra, por escrito e com an-tecedência mínima de seis meses, sua de-cisão de denunciá-lo.

2. O término do presente Ajuste Comple-mentar não afetará o desenvolvimento deprogramas, projetos e contratos em execu-

ção, previstos no presente Ajuste Comple-mentar, salvo se as Partes Contratantesconvierem de forma diversa.

Feito em Brasília, aos 5 dias do mês demarço de 1993, em dois exemplares origi-nais, nos idiomas português e chinês, sen-do ambos os textos igualmente autênticos.

Ementa de cerimónia de assinatura de ato internacional bilateral

Data: 5-3-1993

Local: Gabinete do Ministro de Estado

Hora: 12 horas

Neste momento, o Governo da Repú-blica Federativa do Brasil e o Governo daRepública Popular da China assinam doisatos bilaterais, a saber:

• Ajuste Complementar ao Acordo deCooperação Económica e Tecnológicafirmado entre os dois Governos, tendoem vista a relevância do setor energéticono processo de desenvolvimento e mo-dernização, promoverá a cooperação emmatéria de energia elétrica, incluindo aenergia hidrelétrica, em seus aspectoseconómicos e tecnológicos, com base noprincípio de benefícios mútuos;

• Protocolo Suplementar sobre Aprova-ção de Pesquisa e Produção de Satélitede Recursos da Terra.

Este Acordo tem por finalidade inten-sificar a cooperação na área espacial, en-quanto reafirma e amplia os objetivos doAjuste Complementar, de 29 de maio de1984, ao Acordo de Cooperação Científicae Tecnológica, de 25 de março de 1992.Serão envidados todos os esforços paraque o primeiro modelo de vôo do satélitesino-brasileiro de recursos da terra sejacolocado em órbita até outubro de 1996.

Assinam:

Pela República Federativa do Brasil:Sua Excelência Senador Fernando Henri-que Cardoso,Ministro de Estado das Relações Exte-riores.

Pela República Popular da China:Sua Excelência o Conselheiro de EstadoQian Qichen,Ministro dos Negócios Estrangeiros.

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Protocolo suplementar sobre aprovação de pesquisa e produção de satélitede recursos da terra, entre o Governo da República Federativa do Brasil

e o Governo da República Popular da China

O Governo da República Federativa doBrasil

O Governo da República Popular daChina

(doravante denominados «Partes»)

Tendo presente que a intensificação dacooperação na área espacial é um dos objeti-vos do Ajuste Complementar, de 29 de maiode 1984, ao Acordo de Cooperação Científicae Tecnológica, de 25 de março de 1982;

Tendo em vista os termos do Protocolosobre Aprovação de Pesquisa e Produçãode Satélite de Recursos da Terra, assinadoem Beidjing, em 6 de julho de 1988;

Expressando a sua satisfação diante dosprogressos alcançados pelo Instituto Nacio-nal de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE)e pela Academia Chinesa de Tecnologia Es-pacial (CAST) na execução do projeto paraa pesquisa e produção conjunta do SatéliteSino-Brasileiro de Recursos da Terra,

Chegaram ao seguinte entendimento:

1. As Partes decidem envidar todos osesforços necessários para que o primeiromodelo de vôo do Satélite Sino-Brasileirode Recursos da Terra seja colocado emórbita até outubro de 1996.

2. As Partes concordam em que as ativi-dades de montagem, integração e testes dosegundo modelo de vôo do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos da Terra serão rea-

lizadas no Laboratório de Integração eTestes do Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE), em condições mutua-mente acordadas.

3. A Parte brasileira arcará com todos eapenas aqueles custos adicionais decor-rentes da realização das atividades demontagem, integração e testes do segundomodelo de vôo no Instituto Nacional dePesquisas Espaciais (INPE).

4. As Partes concordam em que progres-so significativo foi alcançado sobre o con-trole em órbita do Satélite Sino-Brasileirode Recursos da Terra durante a QuartaSessão Ordinária do Comité Conjunto doProjeto e reiteram sua disposição de con-tinuar as negociações sobre esta questão.

5. As Partes concordam em que o Minis-tério da Indústria Aeroespacial da China eo Ministério da Ciência e Tecnologia doBrasil assinarão um Protocolo sobre Pon-tos Principais para o DesenvolvimentoAdicional do Satélite Sino-Brasileiro deRecursos da Terra.

6. O presente Protocolo entrará em vigorna data de sua assinatura.

Feito em Brasília, aos 5 dias do mês demarço de 1993, em dois exemplares origi-nais, nos idiomas português, chinês e in-glês, sendo todos os textos igualmente au-tênticos. Em caso de divergência de inter-pretação, prevalecerá o texto em inglês.

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Acordos por troca de notas entre os governos do Brasil e do Japão sobreprojetos ambientais financiado pelo Overseas Economic Cooperation Fund

Brasília, 12 de março de 1993.

A Sua Excelência o Senhor YasushiMurazumi, Embaixador Extraordinário ePlenipotenciário do Japão.

Senhor Embaixador,

Tenho a honra de acusar recebimentoda Nota de Vossa Excelência, data de hoje,cujo teor é o seguinte:

«Excelência,

Tenho a honra de confirmar o seguinteentendimento recentemente alcançado en-tre os representantes do Governo do Japãoe do Governo da República Federativa doBrasil, com relação a um empréstimo ja-ponês a ser concedido nos termos do Planode Reciclagem Financeira, com vistas afortalecer as relações amistosas e a coope-ração económica entre os dois países:

1. Um empréstimo em ienes japoneses,até o montante de noventa e nove bilhõese quarenta e cinco milhões de ienes [¥99.045.000.000] (doravante denominado«o Empréstimo»), será concedido ao Esta-do do Rio de Janeiro, ao Departamento deÁguas e Energia Elétrica do Estado de SãoPaulo e à Companhia de Gás de São Paulo(doravante denominados «os MutuáriosBrasileiros») pelo Fundo de CooperaçãoEconómica Ultramarina (doravante deno-minado «o Fundo»), de acordo com as leise os regulamentos japoneses pertinentes,para a implementação dos projetos enume-rados na lista em anexo (doravante deno-minada «a Lista»), de acordo com a aloca-ção específica na Lista para cada projeto.

2.(1)0 Empréstimo será tornado dispo-nível mediante acordos de empréstimo aserem firmados entre os Mutuários Bra-sileiros e o Fundo. Os termos e as con-dições do Empréstimo, assim como osprocedimentos para sua utilização, serãoregidos pelos respectivos acordos deempréstimo, que conterão, inter alia, osseguintes princípios:

a) o prazo de amortização será de de-zoito (18) anos, após um prazo de ca-rência de sete (7) anos;

b) a taxa de juros será de cinco (5) porcento ao ano. Entretanto, quando partedo empréstimo for destacada para co-brir pagamento a consultores, então ataxa de juros aplicável a essa parcelaserá de três e um quarto (3,25) porcento ao ano;

c) o período de desembolso será denove (9) anos para o projeto n° 1 dalista, seria (6) anos para o projeto n°.2 da lista, e de oito (8) anos para oprojeto n°. 3 da lista, a partir da datade entrada em vigor do acordo deempréstimo correspondente.

(2) Cada um dos acordos de empréstimomencionados no subparágrafo (1) acimaserá firmado após o Fundo se considerarsatisfeito com relação à viabilidade doprojeto, inclusive quanto às consideraçõesambientais, a que se refere o acordo deempréstimo.

(3) O período de desembolso mencio-nado no subparágrafo (l)(c) acima pode-rá ser estendido mediante a concordân-

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cia das autoridades interessadas dos doisGovernos.

3. A República Federativa do Brasil ga-rantirá a amortização do principal dos Em-préstimos concedidos para os projetosmencionados na lista, assim como o paga-mento dos juros a eles relativos.

4.(1)0 empréstimo estará disponível paracobrir pagamentos a serem efetuados pelasagências executoras brasileiras aos forne-cedores, aos empreiteiros e/ou a consulto-res de países-fonte elegíveis, em confor-midade com os contratos que tenham sidoou venham a ser firmados entre eles paraa compra de produtos e/ou serviços neces-sários à implementação dos projetos men-cionados no parágrafo 1, desde que taiscompras sejam efetuadas nos países-fonteelegíveis e se refiram a produtos fabrica-dos por esses países ou a serviços por elesfornecidos.

(2) A determinação de países-fonte elegí-veis, mencionados no subparágrafo (1)acima, será objeto de acordo entre as au-toridades interessadas dos dois Governos.

(3) Parte do empréstimo poderá ser usa-da para cobrir despesas elegíveis, emmoeda local, que sejam necessárias àimplementação dos projetos menciona-dos no parágrafo 1.

5. O Governo da República Federativa doBrasil assegurará que a aquisição dos pro-dutos e/ou serviços mencionados no sub-parágrafo (1) do parágrafo 4 obedecerá àsnormas de aquisição do Fundo, que esta-belecem, inter alia, os procedimentos delicitação internacional a serem seguidos,

exceto quando tais normas forem julgadasinaplicáveis ou inadequadas.

6. O Governo da República Federativa doBrasil isentará o Fundo de todos os impos-tos ou tributos cobrados na República Fe-derativa do Brasil com relação ao Emprés-timo e aos juros dele decorrentes.

7. Com relação ao transporte e ao seguromarítimo de produtos adquiridos nos ter-mos do Empréstimo, o Governo da Repú-blica Federativa do Brasil respeitará osprincípios da competição livre e justa entreas empresas de navegação e de seguromarítimo dos dois países, em consonânciacom os procedimentos específicos da Re-pública Federativa do Brasil.

8. Os cidadãos japoneses cujos serviçospossam vir a ser necessários na RepúblicaFederativa do Brasil, no contexto do for-necimento de produtos e/ou serviços men-cionados no subparágrafo (1) do parágrafo4, terão todas as facilidades necessárias àsua entrada e permanência na RepúblicaFederativa do Brasil, para o desempenhode suas atividades.

9. O Governo da República Federativa doBrasil buscará tomar as providências ne-cessárias para assegurar que:

a) os recursos do empréstimo serãousados de forma adequada e exclusi-vamente nos projetos relacionadosna lista, e

b) as instalações construídas no âmbitodo Empréstimo serão mantidas e usa-das convenientemente, para os fins es-tabelecidos nesses entendimentos.

10.0 Governo da República Federativa doBrasil deverá, quando assim for solicitado,

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1. Projeto de construção do sistema deesgoto da Bacia da Baía de Guanabara

2. Projeto de Despoluição da Bacia doRio Tietê

3. Projeto de Construção de Usina deTratamento de Lixo Sólido na áreaMetropolitana de São Paulo

fornecer ou providenciar que os mutuáriosbrasileiros forneçam ao Governo do Japãoas informações e os dados relativos à evo-lução da implementação dos projetos men-cionados noparágrafo 1. LISTA

11.Os doisG o v e r n o smanterão con-sultas bilate-rais quandosurgir qual-quer questãoligada aos entendimentos já citados.

Tenho igualmente a honra de proporque esta Nota e a Nota de resposta deVossa Excelência, confirmando o acimaexposto em nome do Governo da Repú-blica Federativa do Brasil, passem aconstituir Acordo entre os dois Gover-nos, o qual entrará em vigor na data dorecebimento, pelo Governo do Japão, danotificação escrita do Governo da Repú-blica Federativa do Brasil informando te-rem-se completado as providências inter-nas necessárias para a entrada em vigordo referido Acordo.

Aproveito a oportunidade para renovara Vossa Excelência meus protestos damais elevada consideração.

(em milhões de ienes)

31.475

49.427

18.143

Yasushi MurazumiEmbaixador Extraordinário e Plenipoten-ciário do Japão junto ao Governo da Re-pública Federativa do Brasil

Tenho ahonra de con-firmar, emnome do Go-verno da Re-pública Fede-rativa do Bra-sil, que o aci-ma exposto é

também o entendimento do Governo bra-sileiro, e de concordar com que a Nota deVossa Excelência e esta Nota de respostaconstituam um Acordo entre os dois Go-vernos, o qual entrará em vigor à data dorecebimento, pelo Governo do Japão, danotificação escrita, por parte do Governoda República Federativa do Brasil, de quese cumpriram as formalidades internas ne-cessárias à sua vigência.

Aproveito a oportunidade para renovara Vossa Excelência os protestos da minhaalta consideração.

Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exterio-res da República Federativa do BrasilBrasília, 12 de março de 1993.

A Sua Excelência o Senhor YasushiMurazumi, Embaixador Extraordinário ePlenipotenciário do Japão

Excelência,

Tenho a honra de acusar recebimentoda Nota, datada de hoje, de Vossa Exce-lência, cujo texto transcrevo a seguir:

«Excelência,

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Tenho a honra de referir-me às recen-tes conversações entre representantes doGoverno do Japão e do Governo da Repú-blica Federativa do Brasil a respeito doestabelecimento de um Escritório de re-presentação do Fundo de CooperaçãoEconómica Ultramarina (doravante deno-minado «OECF») e da designação de seurepresentante residente e de seus colabo-radores (doravante denominados «Funcio-nários Residentes») no Rio de Janeiro,com o objetivo de acompanhar a tramita-ção de empréstimos da Ajuda Oficial aoDesenvolvimento (ODA) do Japão conce-didos pelo OECF.

As funções pertinentes ao Escritóriodo OECF são as seguintes:

1) Participar, em caráter preliminar, denegociações que conduzam a acordosde empréstimos entre o OECF, de umlado, e o Governo ou empresas estataisou outros tomadores brasileiros (dora-vante denominados conjuntamente«Tomadores Brasileiros) de outro;

2) Negociar acordos de empréstimo eacompanhar a tramitação dos projetosem implementação, bem como o de-sembolso dos empréstimos;

3) Atuar como ligação entre o OECF eos Tomadores Brasileiros no que dizrespeito ao rápido processamento paraa implementação dos acordos de em-préstimos;

4) Recolher informações a respeito daimplementação dos acordos de em-préstimo.

Tenho ainda a honra de confirmar oentendimento alcançado nas referidas

conversações, de que o Governo da Repú-blica Federativa do Brasil concederá osseguintes privilégios ou facilidades:

1) Com respeito ao escritório do OECFno Rio de Janeiro, isenções dos direitosalfandegários e impostos sobre impor-tação ou compra de equipamento deescritório e automóveis, necessários aofuncionamento do escritório, assimcomo sua exportação, dentro de limitesaceitáveis de acordo com a legislaçãobrasileira em vigor.

2) Com respeito aos funcionários resi-dentes do OECF e suas famílias, quenão sejam nacionais ou residentes per-manentes na República Federativa doBrasil:

a) concessão, a pedido, de visto deentrada para os funcionários resi-dentes, isento de taxas consulares;

b) isenção de direitos alfandegáriose impostos de importação, num pra-zo de seis meses a partir da chegada,ou subsequente exportação de:

i) bagagem pessoal;

ii) bens pessoais, domésticos eoutros introduzidos no Brasilpara seu uso, de acordo com alegislação brasileira em vigor; e

iii) um automóvel por cada funcio-nário residente de acordo com alegislação brasileira vigente (ou al-ternativamente, a compra de umautomóvel de fabricação brasileiraisenta de IPI (Imposto sobre Produ-tos Industrializados) e de ICMS(Imposto sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços) é opcional).

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c) isenção de imposto de renda sobresalários e vantagens percebidas emremuneração de suas atividades parao OECF na República Federativa doBrasil.

3) Os bens e os automóveis menciona-dos acima poderão ser vendidos ou trans-feridos de acordo com a legislação brasi-leira vigente.

Tenho ainda a honra de propor que estaNota e a de Vossa Excelência em respostaconfirmando, em nome do Governo daRepública Federativa do Brasil, o entendi-mento acima constituam um Acordo entreos dois Governos, que vigorará a partir dorecebimento, pelo Governo do Japão, denotificação escrita do Governo da Repú-blica Federativa do Brasil de que se com-pletaram os trâmites internos necessáriosà entrada em vigor do Acordo.

Aproveito a oportunidade para renovara Vossa Excelência os protestos de minhamais alta consideração.

Yasushi MurazumiEmbaixador Extraordinário e Plenipoten-ciário do Japão junto ao Governo da Re-pública Federativa do Brasil

Tenho ainda a honra de confirmar, emnome do Governo da República Federati-va do Brasil, o entendimento constante daNota transcrita e concordar com que aNota de Vossa Excelência e esta Nota deresposta constituam um Acordo entre osdois Governos, que vigorará a partir dorecebimento, pelo Governo do Japão, denotificação escrita do Governo da Repú-blica Federativa do Brasil de que se com-pletaram os trâmites internos necessáriosà entrada em vigor do Acordo.

Aproveito a oportunidade para renovara Vossa Excelência os protestos da minhamais alta consideração.

Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exterio-res da República Federativa do Brasil

Declaração Conjunta Brasil-Chilesobre o fortalecimento das relações bilaterais

O Ministro das Relações Exteriores daRepública Federativa do Brasil, SenadorFernando Henrique Cardoso, aceitandoconvite do Ministro das Relações Exterio-res do Chile, Doutor Enrique Silva Cim-ma, realizou visita oficial ao Chile entre osdias 23 e 27 de março de 1993. O Chance-ler do Brasil veio acompanhado por suaesposa, Senhora Ruth Cardoso e por umacomitiva de alto nível.

No decurso da visita oficial, o Ministrodas Relações Exteriores da República Fe-derativa do Brasil foi recebido pelo Exce-lentíssimo Senhor Presidente da Repúbli-ca do Chile, Doutor Patrício Aylwin Azo-car. Nesse encontro, o Chefe de Estadoestendeu convite ao Presidente da Repú-blica Federativa do Brasil, Doutor ItamarFranco, para visitar oficialmente o Chiledurante o corrente ano.

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O Ministro Fernando Henrique Car-doso entrevistou-se com o Presidente doSenado, Senador Gabriel Valdés Suber-caseaux; com o Presidente da Câmara dosDeputados, Deputado José António Viei-ra-Gallo, e com os Ministros das Rela-ções Exteriores, Doutor Enrique SilvaCimma; da Fazenda, Senhor AlejandroFoxley; e da Economia, Senhor JorgeMarshall; com o Secretário-Geral do Go-verno, Senhor Enrique Corrêa; e com oSecretário-Geral da Presidência, SenhorEdgardo Boeninger.

O Ministro das Relações Exteriores doBrasil, juntamente com o Prefeito da Mu-nicipalidade de Santiago, Senhor JaimeRavinet, inaugurou, na intersecção dasAvenidas Brasil e Libertador BernardoO'Higgins, um busto do patrono da diplo-macia brasileira, o Barão do Rio Branco.

O Ministro visitante foi condecoradopelo Ministro das Relações Exterioresdo Chile com a Grã Cruz da Ordem doMérito.

Por sua vez, o Ministro Silva Cimmafoi condecorado pelo Ministro das Rela-ções Exteriores da República Federativado Brasil com a Grã-Cruz da Ordem doRio Branco.

O Reitor da Universidade do Chile, emcerimónia realizada no Salão de Honra,conferiu ao Ministro visitante o título de«Doutor Honoris Causa» daquela institui-ção de estudos superiores.

Durante a conversação, os dois Minis-tros analisaram a situação internacional eregional e trocaram pontos de vista sobreo estado da relação entre os dois países nas

esferas política, económica, social e cultu-ral. Ao reafirmar a vontade política de seusrespectivos governos de continuar desen-volvendo ações tendentes a fortalecer oentendimento recíproco nessas áreas,acordaram a seguinte Declaração Conjun-ta que registra as coincidências entre osdois Governos:

I. Fortalecimento das RelaçõesBilaterais

1. Consideraram, em primeiro lugar, oquadro global em que as relações bilateraisse desenvolvem e se congratularam pelatradição de estreita amizade e ampla coo-peração que tem caracterizado historica-mente a relação entre o Brasil e o Chiledesde o estabelecimento, em 1836, de re-lações diplomáticas entre os dois países. Apropósito, expressaram sua convicção deque o aprofundamento dessa relação re-presenta efetiva contribuição para a paz ea solidariedade da região em seu conjunto.Manifestaram, igualmente, sua decididaconvicção de manter as relações bilateraisnos mais altos níveis de excelência.

2. Constataram que, nos últimos anos, oBrasil e o Chile percorreram caminhossemelhantes nos processos de transiçãopolítica rumo à democracia e à consolida-ção de suas instituições, processo queresultou, com êxito, no fortalecimentodas instituições dos dois países, das liber-dades individuais, do respeito aos direi-tos humanos, bem como no crescimentoeconómico e no desenvolvimento socialcom equidade.

3. Assinalaram a importância significati-va do intercâmbio comercial entre os dois

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países. Reafirmaram a determinação deambos Governos de explorar conjunta-mente fórmulas que permitam o aumentoe a liberalização dos fluxos comerciais,procurando a máxima abertura dos res-pectivos mercados. Neste sentido, os Mi-nistros coincidiram na conveniência deintensificar os vínculos e a cooperaçãoeconómica entre os dois países e de assi-nar um Protocolo para a constituição deum Conselho Bilateral de Economia eComércio que sirva de referência paraaprofundar as relações económicas e ocomércio bilateral. Tal Conselho estaráencarregado, entre outras matérias, de es-tudar as negociações de um Acordo deComplementação Económica.

4. Reiteraram o que fora expressado pe-los Presidentes do Chile e do Brasil, naDeclaração Conjunta de Brasília de 1990,no sentido de impulsionar o estudo e aformulação de projetos para materializar ainterconexão rodoferroviária entre osOceanos Pacífico e Atlântico. Neste senti-do, acordaram trocar Notas Reversais des-tinadas a formalizar a constituição de umaComissão Técnica Bilateral, que se encar-regará de estudar o assunto e formularpropostas. Ambos países dão grande im-portância à viagem promocional que umtrem especial realizará entre os portos deAntotfagasta e Santos, a partir de 14 deabril próximo.

5. Reconheceram a importância e a utili-dade dos contatos estabelecidos entre am-bas Chancelarias através do atual Meca-nismo de Consultas Permanentes que de-cidiram apoiar da maneira mais plena edecidida. As duas Chancelarias coincidi-

ram em identificar tal instrumento como omeio mais efetivo para avaliar periodica-mente os avanços da relação bilateral epara colaborar com a paz, a segurança e aintegração hemisférica.

6. Anunciaram seu reconhecimento eapoio ao «Seminário Brasil-Chile na déca-da de noventa», organizado pelo Institutode Estudos Internacionais da Universida-de do Chile e realizado em Santiago, em1991, bem como à continuação desteevento, que terá lugar no Brasil, patrocina-do pela Fundação Simonsen da Federaçãode Indústrias do Estado de São Paulo. Ob-servaram que este tipo de seminários eencontros contribui efetivamente para omelhor conhecimento recíproco e para abusca de ideias que possibilitem novasáreas para a relação bilateral.

7. Expressaram sua satisfação pelosêxitos alcançados entre o Brasil e o Chi-le em matéria de cooperação técnica,pesquisa científica e intercâmbio cultu-ral e académico, que se tem dinamizadocom a execução dos respectivos acordose cuja manifestação prática se expressanos programas de ação acordados nestaoportunidade.

8. Salientaram o interesse da AcademiaDiplomática do Chile e do Instituto RioBranco em estabelecer um mecanismo decooperação mútua, que incluirá o inter-câmbio de visitas em nível de direção, deprofessores de ambas instituições acadé-micas para cursos específicos e de alunosque possam assistir a um período de estudoválido para o «curriculum» em ambas ins-tituições. Os Ministros expressaram seudecidido apoio a esta matéria.

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9. Registraram, com satisfação, o notávelincremento da cooperação entre universi-dades brasileiras e chilenas, o aumento dointercâmbio académico e o grande númerode projetos conjuntos na área do ensinosuperior. Observam que tais iniciativascontinuam frutificando e que outros acor-dos de cooperação universitária estão emvias de concretização.

10. Manifestaram seu grande interesse nodesenvolvimento deste tipo de atividade,reconhecendo, ao mesmo tempo, a auto-nomia das instituições de ensino superiordos dois países para estabelecer seus pro-gramas de intercâmbio e cooperação.

11. Neste contexto, tomam conhecimentodas negociações em andamento para con-cretizar quatro projetos de cooperação naárea universitária, indicados a seguir:

a) Intercâmbio de experiências sobrereconhecimento de títulos académicos;

b) Intercâmbio de experiências sobreorganização da pesquisa científica;

c) Criação da cátedra de estudos brasi-leiros; e

d) Edição de textos académicos de au-tores dos dois países.

12. Expressaram sua satisfação pelos tra-balhos da Comissão Mista Cultural Brasil-Chile, cuja primeira reunião se realizou emSantiago, em junho de 1990, e manifesta-ram o desejo de que a segunda reunião sejarealizada em breve, para elaborar um pro-grama de trabalho de cooperação culturalbilateral, no qual se contemple, entre ou-tras atividades, a realização de um Encon-tro Universitário Brasil-Chile.

13. Manifestaram sua satisfação pelas di-versas iniciativas conjuntas acordadas napresente visita e pela assinatura dos se-guintes documentos:

a) Protocolo para a Constituição doConselho Bilateral de Economia e Co-mércio;

b) Troca de Notas destinada a formali-zar a constituição de Comissão Técni-ca Bilateral para elaborar estudos téc-nicos para a interligação do OceanoAtlântico ao Pacífico.

c) Convénio de Cooperação Turística;

d) Acordo sobre o Exercício de Ativi-dades Remuneradas por Dependentesdo Pessoal Diplomático, Consular,Administrativo e Técnico;

Protocolos Complementares ao Acor-do Básico de Cooperação Científica, Téc-nica, e Tecnológica entre a República Fe-derativa do Brasil e a República do Chile,relativos a:

e) Programa de Ação 1993/94 em ma-téria de Cooperação Técnica.

f) Programa de Cooperação Bilateralna Área Espacial.

g) Bases de Cooperação entre o Insti-tuto de Pesquisa Económica Aplicadado Brasil (IPEA) e o Ministério dePlanejamento e Cooperação do Chile(Mideplan).

14 Expressaram sua satisfação pela cons-tituição do Comité Empresarial Brasil-Chile por empresários de ambos os países,pertencentes à Confederação da Produçãoe do Comércio do Chile e ao Conselho

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Empresarial Permanente do Ministério deRelações Exteriores do Brasil.

II. Cooperação Regional

15. Reiteraram sua convicção quanto àplena vigência do Mecanismo de Consultae Concertação Política Institucionalizadono Grupo do Rio. Neste sentido, observa-ram a notável eficácia e validade de talinstrumento que está permitindo' analisarconcertadamente os problemas de maiorrelevância que afetam nosso continente e,ao mesmo tempo, tem-se constituído eminterlocutor com outras instâncias interna-cionais, do que são exemplos os diálogosestabelecidos com a Comunidade Euro-peia e com outros países ou grupos depaíses. Ao mesmo tempo, manifestaramsua decisão de trabalhar conjuntamente napreparação da Reunião de Cúpula Presi-dencial, que terá lugar em Santiago, emoutubro próximo.

16. Reafirmaram sua vontade de continuarenvidando esforços com o objetivo de quetenha êxito a tarefa que está desenvolven-do a Missão Civil ONU/OEA no Haiti.Com esse objetivo, reiteraram seu apoio atodas as iniciativas que tem estimulado aOrganização dos Estados Americanos e aOrganização das Nações Unidas para res-tabelecer as instituições democráticas e aplena vigência dos direitos humanos na-quele país.

17. Deixaram expressa constância de seudecidido apoio às Cúpulas Ibero-America-nas realizadas em Guadalajara e em Ma-drid. Ratificaram sua firme adesão ao«Documento de Conclusões» assinado em

Madrid, em 24 de julho de 1992, na Se-gunda Reunião da Cúpula Ibero-America-na. Da mesma forma, expressaram seufirme propósito de cooperar para o êxitoda Terceira Reunião de Cúpula que terálugar no Brasil, durante o presente ano.

18. Destacaram a relevância ao Parlamen-to Latino-Americano, que constitui valio-so meio para a integração e solidariedaderegionais, congratulando-se com o Brasilpor sediar essa instituição.

19. Reiteraram sua satisfação pela adoçãodas emendas ao Tratado para a Proibiçãode Armas Nucleares na América Latina(Tlatelolco), propostas pelo Brasil, Chile,e Argentina, a fim de avançar rumo à plenavigência de tal instrumento e assinalaramos passos dados pelos três países para con-solidar a desnuclearização da região.

20. Reconhecendo a importância das tec-nologias espaciais para o desenvolvimen-to dos países e a investigação da mudançaglobal, decidiram dar seu apoio à II Con-ferência Espacial das Américas que serácelebrada em Santiago, Chile, de 26 a 30de abril de 1993. O Governo do Brasil sefará representar nessa reunião por autori-dades do mais alto nível.

III. Concertação no PlanoInternacional

21. Expressaram sua renovada adesãoaos princípios e disposições consagra-dos nas Cartas das Nações Unidas e daOrganização de Estados Americanos.Manifestaram sua decisão de fortaleceros mecanismos e instrumentos que asse-

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guram a manutenção da paz e segurançainternacionais.

22. Manifestaram sua firme adesão às ins-tituições democráticas, à plena vigênciadas liberdades fundamentais e ao respeitoaos direitos humanos. Neste sentido, ex-pressaram sua satisfação pela estreita soli-dariedade que tem surgido ante os frustra-dos intentos de alterar o sistema institucio-nal no continente.

23. Expressaram sua satisfação pelos re-sultados da Conferência das Nações Uni-das sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-mento, inclusive a adoção da Declaraçãodo Rio e a assinatura das Convenções so-bre biodiversidade e Mudança do Clima, econfirmaram sua decisão de trabalhar ati-vamente na execução dos programas daAgenda 21.

Concordaram em que, para pôr em prá-tica os acordos da Conferência do Rio e osprocessos de desenvolvimento sustentáveldeles decorrentes, é necessário que os pro-gramas económicos e sociais, bem comoaqueles de proteção e conservação am-biental dos países em desenvolvimento,contem com aportes tecnológicos ambien-talmente apropriados e recursos financei-ros adicionais.

24. Reafirmaram a importância que ambosos Governos atribuem aos esforços de li-beralização do comércio internacional e,nesse sentido, dão seu apoio às negocia-ções da Rodada Uruguai no âmbito doGATT, cuja conclusão positiva permitiráo fortalecimento da economia mundial etornará viáveis novas oportunidades para

o crescimento das economias dos paísesem desenvolvimento.

25. Confirmaram a decisão dos dois Go-vernos de apoiar, tanto no campo bilate-ral como no multilateral, os trabalhospreparatórios da Cúpula Mundial sobreDesenvolvimento Social, convocadapara 1995, pela Assembleia Geral dasNações Unidas.

26. Ao tomar nota da assinatura, no últimomês de janeiro, em Paris, da Convençãosobre a Proibição de Desenvolvimento,Produção, Armazenamento e Emprego deArmas Químicas e sobre sua Destruição,renovaram a intenção expressa no «Com-promisso de Mendoza» de contribuir ati-vamente para a proscrição total das armasde destruição maciça tanto em escala glo-bal como regional.

Por outro lado, o Governo do Chileconvidou o Governo do Brasil para parti-cipar do Seminário Regional de ArmasQuímicas, que será realizado nos dias 6 e7 de setembro próximo, na cidade de Vinadei Mar, destinado a difundir os direitos,obrigações e alcance da Convenção sobreArmas Químicas.

27. Acordaram coordenar suas posições naConferência das Nações Unidas sobre Pes-ca em Alto Mar, a fim de alcançar umregime efetivo de conservação dos recur-sos marinhos vivos, o qual contemple oespecial interesse do Estado costeiro nasespécies que se encontram nas águas adja-centes à Zona Económica Exclusiva.

28. Resolveram, ademais, aumentar a co-operação recíproca nos foros do Sistemado Tratado Antártico, mantendo estreita

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consulta acerca das negociações para oestabelecimento de uma Secretaria doTratado Antártico e para o aperfeiçoa-mento da proteção ambiental naqueledito continente.

Concordaram em intensificar a coope-ração científica antártica e a pesquisaoceânica, para o que decidiram convocaruma reunião dos organismos responsáveispelos respectivos programas científicos.

29. Congratularam-se pelo apoio mútuooferecido as diversas candidaturas apre-sentadas pelos dois países em OrganismosInternacionais, o qual reflete o alto nívelde entendimento e cooperação alcançadoentre ambas Chancelarias.

30. Destacaram a importância da candi-datura do Senhor Rafael Moreno à Dire-toria Geral da FAO, ressaltando que con-ta com o sólido apoio de toda a região daAmérica Latina e do Caribe. Neste senti-do, o Chile deixou constância de seuagradecimento pelas valiosas gestões quea diplomacia brasileira está desenvolven-do em favor desta candidatura, cuja posi-tiva conclusão contribuirá para maior

presença de nosso Continente nos organis-mos internacionais.

31. Manifestaram sua preocupação pelograve problema que constitui a produção,comercialização e consumo de drogas ilí-citas, estupefacientes e substâncias psico-trópicas, bem como o aumento do seutráfico, destacando as perniciosas conse-quências económicas e sociais que decor-rem destes fatos delituosos. Sobre esteassunto, reiteraram sua decidida vontadede cooperar na luta contra o narcotráfico,no âmbito das iniciativas da Organizaçãodas Nações Unidas e da Organização dosEstados Americanos.

O Ministro das Relações Exteriores daRepública Federativa do Brasil expressouseu especial agradecimento e o dos mem-bros de sua comitiva pelas atenções rece-bidas por parte do Governo e Povo doChile durante sua permanência no país.

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exterioresda República Federativa do Brasil

Enrique Silva CimmaMinistro das Relações Exterioresda República do Chile

Acordo entre a República Federativa do Brasil e a República da Colômbiasobre sanidade vegetal para proteção de zonas fronteiriças

e intercâmbio de seus vegetais e produtos derivados

A República Federativa do Brasil

e

A República da Colômbia

(doravante denominadas «Partes Con-tratantes»),

CONSIDERANDO:

Que existem pragas, doenças e ervasdaninhas exóticas para os dois países, ouindividualmente para cada um deles, cujapresença ocasionaria graves problemas so-cioeconômicos;

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Que um programa harmónico de lutacontra os riscos fitossanitários, entre am-bos os países e especialmente em áreas defronteira, facilitaria a tomada de decisõese a aplicação de medidas para exclusão,erradicação e manejo das pragas, doençase ervas daninhas em cultivos e produtosarmazenados;

Que é dever fundamental dos serviçospúblicos de sanidade vegetal de cada paísdiminuir ao mínimo os riscos fitossanitá-rios no intercâmbio comercial de produtosagrícolas;

Que o conhecimento das experiênciascientíficas de cada país, em matéria defítossanidade é vantajoso para o êxito dosprogramas de controle e erradicação depragas, doenças e ervas daninhas em am-bos os países,

Acordam o seguinte:

Artigo I

As Partes Contratantes estabelecerãoum programa coordenado de sanidade ve-getal por meio do qual serão fixadas ascondições fitossanitárias para importaçãoe exportação de vegetais e produtos deorigem vegetal, originários e procedentesdo território de uma das Partes Contratan-tes e destinados ao território da outra ParteContratante, assim como para o manejo deproblemas fitossanitários de interesse co-mum nas áreas de fronteira.

Artigo II

O Governo brasileiro designa, comoentidade executora do presente Acordo, oMinistério da Agricultura, do Abasteci-mento e da Reforma Agrária, por intermé-

dio do Departamento Nacional de DefesaVegetal, da Secretaria de Defesa Agrope-cuária; e o Governo colombiano designa,com a mesma finalidade, o Ministério daAgricultura, por intermédio da Divisão deSanidade Vegetal, do Instituto Colombia-no Agropecuário (ICA).

Artigo III

Os setores responsáveis pela defesasanitária vegetal de ambos os países com-prometem-se a:

1) estabelecer ação coordenada de sa-nidade vegetal, nas regiões de fronteiraentre ambos os países, com a adoçãode medidas necessárias a um eficientecontrole dos problemas fitossanitáriosde interesse comum;

2) realizar um diagnóstico fitossanitá-rio contínuo para definir as pragas,doenças e ervas daninhas de interessecomum;

3) oferecer as garantias e cumprir osrequisitos fitossanitários estabelecidospelas autoridades centrais de sanidadevegetal de cada país, para a importaçãode vegetais e produtos de origem vege-tal, conforme as condições estabeleci-das em protocolos acordados;

4) manter intercâmbio permanente deinformações fitossanitárias da regiãode fronteira, bem como de relatórios deocorrências e de metodologias adota-das para detectar e prevenir o ingressoe a disseminação de pragas e doençasdos vegetais, em seus territórios;

5) comunicar imediatamente, por viapostal ou similar, a eventual aparição,

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nas áreas de exportação, de qualquerpraga ou doença de importância qua-rentenária, pormenorizando com exa-tidão sua localização geográfica, asmedidas adotadas para sua erradicaçãoou controle, inclusive as medidas refe-rentes a garantir a exportação;

6) propor medidas de caráter fitossani-tário para o trânsito de produtos vege-tais nas zonas de fronteira, com o fimde evitar o comércio ilegal de produtosque possam colocar em risco a sanida-de de algum dos dois países;

7) promover o intercâmbio de especia-listas em sanidade vegetal, a fim detrocar experiências sobre suas realiza-ções científicas e tecnológicas em ma-téria de sanidade vegetal;

8) manter cooperação técnica nas esfe-ras relacionadas com o controle de de-fensivos agrícolas, campanhas fitossa-nitárias, diagnósticos e combate depragas e doenças, pesquisa e demaisáreas de interesse comum.

Artigo IV

As autoridades centrais das duas PartesContratantes se entenderão diretamentesobre os assuntos relacionados com a exe-cução do presente Acordo e sobre even-tuais modificações do programa de traba-lho mencionado no Artigo I deste Acordo.

Artigo V

Para facilitar a aplicação do presenteAcordo, será criada uma Comissão mis-ta, formada por representantes das enti-dades executoras indicadas no Artigo II,designados pelos respectivos Ministé-

rios da Agricultura, a qual terá as seguin-tes funções:

a) acompanhar o desenvolvimento e aaplicação do presente Acordo e propora seus respectivos Governos as medi-das que devam ser tomadas para obtermaior eficácia nas disposições desteAcordo;

b) apresentar, para aprovação de am-bos os Governos, as proposições demodificação relativas ao presenteAcordo;

c) buscar soluções para dificuldades decaráter legal que surjam da interpreta-ção deste Acordo;

d) submeter, aos respectivos Gover-nos, as propostas de cooperação sobretemas relacionados com o presenteAcordo, resultantes de critérios ema-nados de organismos internacionais re-conhecidos como competentes pelasautoridades de ambos os países.

Artigo VI

1. Cada Parte Contratante notificará àoutra o cumprimento das respectivasformalidades legais internas para a en-trada em vigor deste Acordo, o qual pas-sará a ter validade depois de recebida asegunda notificação.

2. Este Acordo terá duração de 5 (cinco)anos prorrogáveis sucessivamente porigual período, a menos que uma das Par-tes Contratantes comunique à outra, porescrito e por via diplomática, com ante-cedência de 6 (seis) meses, sua intençãode dá-lo por terminado.

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3. O término do Acordo não prejudicaráprogramas e projetos em execução e quetenham sido iniciados durante o período desua vigência, a menos que as Partes Con-tratantes decidam o contrário.

Feito em Brasília, aos 14 dias do mês deabril de 1993, em dois exemplares originais,nos idiomas português e espanhol, sendoambos os textos igualmente autênticos.

PELA REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL,Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exte-riores

PELA REPÚBLICA DA COLÔMBIA,Noemi Sanín de RubioMinistra das Relações Exteriores

Acordo entre a República Federativa do Brasil e a República da Colômbiasobre o exercício de atividades remuneradas por parte de dependentes

do pessoal diplomático, consular, administrativo e técnico

A República Federativa do Brasil

e

A República da Colômbia

(doravante denominadas «Partes Con-tratantes»)

Considerando o estágio particular-mente elevado de entendimento e com-preensão existentes entre os dois países; e,

No intuito de estabelecer novos meca-nismos para o fortalecimento das suas re-lações diplomáticas;

Acordam o seguinte:

Artigo I

Os dependentes do pessoal diplomáti-co, consular, administrativo e técnico deuma das Partes Contratantes, designadopara exercer missão oficial na outra comomembro de Missão diplomática, Reparti-

ção consular ou Missão junto a organismointernacional com sede em qualquer dosdois países, poderão receber autorizaçãopara exercer atividade remunerada no Es-tado receptor, respeitados os interesses na-cionais. A autorização poderá ser negadanos casos em que:

a) o empregador for p Estado receptor,inclusive por meio de suas autarquias,fundações, empresas públicas e socie-dades de economia mista; e

b) afetem a segurança nacional.

Artigo II

Para fins deste Acordo, são considera-dos «dependentes»:

a) cônjuge;

b) filhos solteiros menores de 21anos;

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c) filhos solteiros, menores de 25 anosque estejam estudando, em horário in-tegral, nas universidades ou centros deensino superior reconhecidos por cadaEstado; e

d) filhos solteiros com deficiências fí-sicas ou mentais.

Artigo III

1. O exercício de atividade remuneradapor dependente, no Estado receptor, de-penderá de prévia autorização de trabalhodo Governo local, por intermédio de pedi-do formulado pela Embaixada junto aoCerimonial do Ministério das RelaçõesExteriores. Após verificar se a pessoa emquestão se enquadra nas categorias defini-das no presente Acordo e após observar osdispositivos internos aplicáveis, o Ceri-monial informará oficialmente à Embai-xada que a pessoa tem permissão paraexercer atividade remunerada, sujeita à le-gislação do Estado receptor.

2. Nos casos de profissões que requei-ram qualificações especiais, o dependen-te não estará isento de preenchê-las. Asdisposições do presente Acordo não po-derão ser interpretadas como implicandoo reconhecimento, pela outra Parte Con-tratante, de títulos para os efeitos do exer-cício de sua profissão.

3. Para os dependentes que exerçam ati-vidade remunerada nos termos deste Acor-do, fica suspensa, em caráter irrevogável,a imunidade de jurisdição civil e adminis-trativa relativa a todas as questões decor-rentes da referida atividade. Nos casos emque um dependente, nos termos do presen-

te Acordo, que gozar de imunidade dejurisdição penal, de conformidade com aConvenção de Viena sobre Relações Di-plomáticas, for acusado de delito cometi-do no Estado receptor em relação a talatividade, o Estado acreditante considera-rá seriamente qualquer solicitação escritade renúncia daquela imunidade.

4. Os dependentes que exerçam atividaderemunerada nos termos deste Acordo per-derão a isenção de cumprimento das obri-gações tributárias e previdenciárias decor-rentes da referida atividade, ficando, emconsequência, sujeitos à legislação aplicá-vel às pessoas físicas residentes ou domi-ciliadas no Estado receptor.

5. A autorização para exercer atividaderemunerada por parte de um dependentecessará quando o agente diplomático,funcionário ou empregado consular oumembro do pessoal administrativo e téc-nico, do qual emana a dependência, ter-mine suas funções perante o Governoonde esteja acreditado.

Artigo IV

1. Cada Parte Contratante notificará à ou-tra o cumprimento dos respectivos requi-sitos legais internos necessários à vigênciadeste Acordo, o qual entrará em vigor 30(trinta) dias após a data do recebimento dasegunda notificação.

2. O presente Acordo terá validade deseis anos, sendo tacitamente renovado porsucessivos períodos de um ano, salvo seuma das Partes manifestar, por escrito epor via diplomática, sua intenção de de-nunciá-lo. Neste caso, a denúncia surtirá

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efeito seis meses após o recebimento danotificação.

Feito em Brasília, aos 14 dias do mêsde abril de 1993, em dois exemplaresoriginais, nos idiomas português e espa-nhol, sendo ambos os textos igualmenteautênticos.

PELA REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL,Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exteriores

PELA REPÚBLICA DA COLÔMBIA,Noemi Sanín de RubioMinistra das Relações Exteriores

Ata da Terceira Reunião da Comissão MistaBrasil-Colômbia de Cooperação Económica e Técnica

Brasília, 12,13 e 14 de abril de 1993

Paralelamente à visita oficial ao Brasilda Ministra de Relações Exteriores da Co-lômbia, Doutora Noemi Sanín de Rubio,realizou-se no Ministério das RelaçõesExteriores do Brasil, nos dias doze, trezee quatorze de abril de 1993, a III Reuniãoda Comissão Mista Brasil-Colômbia deCooperação Económica e Técnica.

A Delegação colombiana foi chefiadapelo Embaixador da Colômbia em Brasí-lia, Doutor Guillermo Alberto GonzálezMosquera, e a Delegação brasileira peloChefe do Departamento das Américas doMinistério das Relações Exteriores, Mi-nistro Luiz Felipe de Macedo Soares. Osnomes dos demais integrantes de ambas asDelegações figuram em relação anexa(Anexo 1).

Após a aprovação da Agenda (Anexo2), os Chefes das Delegações assinalarama importância da realização da III Reuniãodesta Comissão Mista, convocada depoisde longo intervalo. Expressaram o interes-se dos dois Governos em continuar a fo-mentar a cooperação económica e técnica,

explorando novos temas de interesse co-mum. O Chefe da Delegação colombianaressaltou as ações de cooperação realiza-das nas áreas de formação profissional,cooperação científica e tecnológica, inter-câmbio de experiências em matéria decooperativismo e meio ambiente. Salien-tou a importância de implementar plena-mente os acordos firmados sobre coopera-ção sanitária e sanidade animal. Em segui-da, os dois Chefes de Delegação realiza-ram um sumário das relações econômico-comerciais entre o Brasil e a Colômbia,destacando os processos de abertura co-mercial e de privatização em curso emambos os países (itens I e II da Agenda).

Item IIILinhas Gerais de CooperaçãoEconómica:

a) carvão: a Delegação colombianaassinalou que a empresa Carbones deColômbia - Carbocol está em condi-ções de exportar para o Brasil 150 miltoneladas métricas de carvão mineral(«carvão de mescla»), dando prosse-

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guimento aos acordos e entendimentosentre os dois Governos sobre a maté-ria; após ressaltar que no Brasil deixoude existir a empresa estatal que centra-lizava as importações de carvão, a De-legação brasileira tomou nota do ofe-recimento colombiano e comprome-teu-se a fazê-lo chegar aos órgãos eentidades competentes, com vistas àidentificação de compradores poten-ciais; a Delegação colombiana trans-mitiu, outrossim, proposta da Carbo-col para o desenvolvimento de um pro-jeto de transferência de tecnologia epesquisa conjunta em gaseificação epurificação de carvão, bem como paraa participação brasileira em explora-ção de jazida de carvão situada no De-partamento do Amazonas (Colômbia)e na construção de uma usina térmicacom capacidade de aproximadamente20.000 quilowatts, à base de carvão detipo lignito A.

b) petróleo: o representante da Petró-leo Brasileiro S.A. (Petrobrás) mani-festou o interesse de sua empresa emimportar petróleo colombiano do tipo«cano limón»; ressaltou que seria ne-cessário encontrar meios de tornarmais competitivos os preços do óleocru colombiano, como, por exemplo,através de esquemas de petróleo, pode-ria tornar-se instrumento capaz de pro-mover a expansão do comércio bilate-ral, em curto prazo, e, ao mesmo tem-po, concorrer para seu equilíbrio, aten-dendo, assim, à preocupação quanto aodéficit em detrimento da Colômbia,manifestada pelo lado colombiano; a

Delegação colombiana tomou nota dointeresse brasileiro em importar petró-leo colombiano e comprometeu-se atransmiti-lo à Empresa Colombiana dePetróleos (Ecopetrol);

c) cooperação no setor agropecuário:a Delegação colombiana referiu-se àimportância que seu Governo atribui àcooperação na área de sanidade ani-mal; por sua vez, a Delegação brasilei-ra assinalou a firme disposição de coo-perar com a Colômbia nesse setor erecordou que o Acordo sobre SanidadeAnimal em Áreas de Fronteira, de1985, o Acordo sobre Sanidade Ani-mal para Intercâmbio de Animais eProdutos de Origem Animal, de 1988,e o Ajuste Complementar ao Acordode Cooperação Sanitária para a RegiãoAmazônica, de 1991, foram aprovadospelo Congresso brasileiro. Sublinhouque restaria a ratificação desses acor-dos pela Colômbia para que a coope-ração contemplada em seus dispositi-vos possa ser plenamente implementa-da; a Delegação colombiana indicouque serão envidados esforços para queesses instrumentos sejam aprovados,com a maior brevidade, pelo Congres-so colombiano; ambas as Delegaçõesregistraram satisfação com a conclu-são das negociações, iniciadas por oca-sião da visita ao Brasil do PresidenteCésar Gaviria (setembro de 1991), re-ferentes ao Acordo de Sanidade Vege-tal para a Proteção e Zonas Fronteiriçase Intercâmbio de Vegetais e Deriva-dos, a ser firmado durante a visita daMinistra de Relações Exteriores da

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Colômbia. A Delegação colombianasubmeteu à consideração do Brasil asseguintes demandas de cooperação naárea agrícola: desenvolvimento de pro-jetos de comercialização de sementes,fornecimento de germoplasma, produ-ção de hortaliças, desenho de sistemasde informação em marketing agrope-cuário, melhoria da qualidade de ba-nanas e plátanos, toxicologia animale diagnóstico de agentes causadoresde mortalidade embrionária; a Dele-gação brasileira acolheu positivamen-te as propostas colombianas e identi-ficou a Empresa Brasileira de Pesqui-sa Agropecuária (Embrapa) como en-tidade de contrapartida para projetosnessas áreas.

d) pesca e piscicultura: a Colômbiapropôs a execução conjunta de um pla-no para o manejo de áreas de pesca naBacia Amazônica; solicitou assessoriapara o manejo do ciclo reprodutivo dotambaqui («cachama») e da tilápia; epropôs o intercâmbio de especialistasem patologia de peixes. O representan-te da Câmara Setorial de Pesca do Mi-nistério da Agricultura e ReformaAgrária do Brasil manifestou interessenas demandas colombianas e indicou apossibilidade de atendê-las, tendo emconta a experiência acumulada peloBrasil nas áreas indicadas.

e) turismo: a Delegação colombianapropôs o desenvolvimento de um pro-jeto para estabelecer um sistema deinformação turística entre os dois paí-ses, voltado especialmente para a zonade fronteira; ao manifestar interesse na

proposta colombiana, a Delegaçãobrasileira assinalou que a área de turis-mo está contemplada no Plano Taba-tinga-Apapóris, em cujo âmbito se po-deria desenvolver o projeto propostopela Colômbia; em seguida, a Delega-ção colombiana solicitou assessoriabrasileira em matéria de turismo eco-lógico (capacitação de recursos huma-nos em regulamentação e normativida-de, e prestação de serviços). A Delega-ção brasileira indicou que a EmpresaBrasileira de Turismo (Embratur) esta-ria em condições de prestar a assesso-ria solicitada.

Item IVEducação e Formação de RecursosHumanos

a) crédito educativo: o representantedo Ministério da Educação e Desporto(MEC) reiterou o interesse brasileiroem receber cooperação da Colômbiaem matéria de crédito educativo, con-forme entendimentos já mantidos como Instituto Colombiano de CréditoEducativo e Estudos Técnicos no Ex-terior (Icetex), pelo Senhor Ministro daEducação, Murilio Hingel, quando es-teve em Bogotá, em novembro de1992, para participar da II ConferênciaIbero-americana de Educação;

b) intercâmbio académico: a Delega-ção brasileira expôs os resultados doPrograma de Estudantes-Convênio(PEC) no quadro da cooperação com aColômbia; registrou que, em 1993, fo-ram matriculados em Universidadesbrasileiras, no âmbito do PEC, dois

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estudantes colombianos de graduaçãoe sete de pós-graduação; na conside-ração deste subitem, assinalou-se,igualmente, o interesse na constitui-ção de uma «Comissão Especial deEducação», no âmbito do Tratado deCooperação Amazônica (TCA), bemcomo no pleno aproveitamento, porinstituições de ambos os países, dasoportunidades de cooperação ofereci-das pela União das UniversidadesAmazônicas (Unamaz); a Delegaçãocolombiana manifestou, outrossim, ointeresse em desenvolver programaque possibilite o envio de docentes epesquisadores brasileiros à Universi-dade da Amazônica (Florência, De-partamento do Caquetá), bem como avinda ao Brasil de estudantes daquelaUniversidade para a realização de cur-sos de pós-graduação nas seguintesáreas: biotecnologia, eletrônica, tele-comunicações, informática, energiasolar, hidrologia e outras.

c) promoção do ensino do Português edo Espanhol: ambas as Delegaçõesressaltaram o interesse na introdução,com a maior brevidade possível, doensino do português e do espanhol noscurricula das escolas primárias e se-cundárias de cada país, conforme pre-visto no Acordo de Intercâmbio Cultu-ral, de 1963, e entendimentos sobre oassunto já iniciados entre os respecti-vos Ministérios da Educação; na opor-tunidade, a Delegação colombiana su-geriu o desenvolvimento de projetoconjunto em matéria de educação am-biental e promoção do ensino das duas

línguas, voltado especialmente para azona fronteiriça;

d) atenção integral à criança e ao ado-lescente: a Delegação colombianamanifestou a disposição de promovero intercâmbio de experiências na áreade atenção integral à infância e aoadolescente; mencionou, nesse senti-do, a experiência colombiana conhe-cida como «Escuela Nueva», queabrange desde a pré-escola (4 anos),com suplemento alimentar, até o se-cundário; a Delegação colombianatambém se referiu às experiências co-lombianas em matéria de unificação eedição de textos escolares, difusão debibliotecas escolares e emprego deprofessores aposentados em serviçoscomunitários, como alfabetização deadultos. Na consideração deste item,a Delegação brasileira mencionou aexperiência do Programa Nacional deAtenção Integral à Criança e ao Ado-lescente (Pronaica), que administra osCentros de Atenção Integral à Criançae ao Adolescente (Caies), e manifes-tou o interesse em lançar as bases deum projeto de cooperação bilateralpara trocar experiências em matériade Caies e «Escuela Nueva»;

o) formação de recursos humanos: orepresentante do Serviço Nacional deAprendizagem Industrial (Senai) fezexposição sobre os resultados da coo-peração entre sua entidade e o ServiçoNacional de Aprendizagem (Sena), daColômbia, assinalando que, entre 1981e 1992, aproximadamente uma cente-na de técnicos colombianos receberam

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treinamento na entidade brasileira, nasmais diversas áreas (curtimento decouros, manufatura de couros, têxteis,saneamento básico, microcomputaçãoe eletrônica aplicada); manifestou queo Senai está interessado em manter eampliar a cooperação com o Sena ereferiu-se a dificuldades que se teriamregistrado, do lado colombiano, para oenvio de técnicos ao Brasil, no correnteano; a Delegação colombiana reiterouo interesse em manter a cooperaçãoSena-Senai e assinalou que, em 1993,as dificuldades para o envio de técni-cos ao Brasil se deveram ao atual pro-cesso de reestruturação do Sena; umavez concluído esse processo, seria rei-niciado o envio de técnicos ao Senai;ambas as Delegações coincidiram nacaracterização da cooperação Senai-Sena como exemplo de experiênciabem sucedida, que merece amploapoio dos dois Governos.

ItemVLinhas Gerais da Cooperaçãoem Ciência e Tecnologia:

a) modernização da cooperação emCiência e Tecnologia: as duas Delega-ções coincidiram na apreciação dacrescente importância de modernizaras modalidades de cooperação emciência e da tecnologia. Nesse contex-to, recordaram atividades conjuntas noâmbito do Programa Ciência e Tecno-logia para o Desenvolvimento (Cyted)e do diálogo do Grupo do Rio com aComunidade Europeia sobre coopera-ção científica e tecnológica. Ressalta-

ram, também, a conveniência da pron-ta negociação e conclusão do Acordo-Quadro sobre Cooperação Científica eTecnológica, ora em estudo pelos paí-ses-membros da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). ADelegação brasileira relatou as ativida-des que o Brasil vem realizando paraimplantar a Rede de Informação Tec-nológica Latino-Americana (Ritla),organismo regional de desenvolvi-mento científico e tecnológico. A De-legação colombiana informou queestudará a conveniência de vir a ade-rir ao Ato Constitutivo do referidoorganismo.

b) cooperação tecnológica: no querespeita às linhas gerais da cooperaçãobilateral, acordou-se concentrar esfor-ços nas áreas indicadas abaixo.

• Qualidade e Produtividade: a Dele-gação brasileira destacou seu inte-resse nessa área, em função dos im-perativos da competitividade inter-nacional e da integração regional. ADelegação colombiana manifestouinteresse em receber cooperação daAssociação Brasileira de Controleda Qualidade no que respeita ao seucadastro nacional de consultores,bem como em estabelecer coopera-ção para o apoio aos sistemas educa-cionais que incorporem conceitos dequalidade e produtividade. Nesse se-tor, expressou especial interesse emconhecer a experiência brasileira nosetor de controle de qualidade deprodutos alimentícios.

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Incubadoras de Empresas, Planeja-mento, Prospecção e Gestão Indus-trial: a Delegação colombiana mani-festou interesse em conhecer a expe-riência brasileira nos campos da ges-tão e planejamento industrial, bemcomo na criação de incubadoras deempresas; a Delegação brasileiraidentificou amplas possibilidades decooperação nesses campos, compro-metendo-se a transmitir à parte co-lombiana modelo de procedimentosde cooperação relativa à organizaçãode incubadoras de empresas, bemcomo a identificar a entidade brasi-leira de contrapartida.

Monitoramento da Floresta Amazô-nica: a Delegação brasileira regis-trou o oferecimento à Colômbia deutilização do satélite brasileiro desensoriamento remoto, em especialem atividades que visem à uniformi-zação de metodologia para o moni-toramento do desmatamento na re-gião amazônica. O representante doInstituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (Inpe) manifestou a disposi-ção de sua entidade de receber pes-quisadores colombianos para ativi-dades de treinamento e de pesquisaconjunta, bem como de pós-gradua-ção (mestrado); assinalou, igual-mente, o interesse de associar a Co-lômbia ao projeto Panamazonia(monitoramento de áreas desmata-das); ofereceu, finalmente, coopera-ção em matéria de pesquisa sobre ofenómeno climático «El Nino». ADelegação colombiana destacou a

importância desses oferecimentos,os quais serão transmitidos ao Insti-tuto Agustin Codazzi. A Delegaçãocolombiana manifestou, igualmen-te, interesse em cooperar com oBrasil no estabelecimento de umcentro de pesquisa tropical na Ama-zónia colombiana; a Delegação bra-sileira acolheu positivamente essainiciativa.

• Gemologia e recursos minerais: asduas Delegações coincidiram naconveniência de desenvolver ativi-dades conjuntas de aperfeiçoamentode recursos humanos da área da ge-mologia, para o que o Serviço Nacio-nal de Aprendizagem Industrial (Se-nai) comunicou dispor de um centrode treinamento de nível técnico noEstado do Rio Grande do Sul.

No que respeita à cooperação na áreade minérios, as duas Delegações passaramem revista os acordos celebrados até opresente, e reconheceram ser necessárioverificar o estágio atual da cooperaçãomantida com base nesses instrumentos. ADelegação colombiana propôs o desenvol-vimento de estudos para a exploração con-junta de jazidas auríferas situadas na Ama-zónia colombiana.

• Gestão de Recursos Hídricos: a De-legação brasileira sublinhou as pos-sibilidades de cooperação sobre orecurso água; destacou a importân-cia de assegurar-se um elevado con-teúdo científico e tecnológico nasatividades cooperativas relaciona-das com a área social, a fim de ma-ximizar o seu impacto, bem como

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para evitar tendências assistencialis-tas. Ressaltou, nesse sentido, a con-veniência de uma ação concertadaentre os dois países em programas decooperação nessa área, ora em estu-dos no âmbito da Aladi e da Comu-nidade Europeia.

• Energia Elétrica: a Delegação co-lombiana manifestou interesse emestabelecer cooperação na área deperdas não-técnicas de energia elé-trica, a respeito da qual recebeu, daparte brasileira, proposta de termosde referência elaborados pelas Cen-trais Elétricas do Estado de São Pau-lo (CESP), que atuará na matéria emconjunto com o Ministério das Mi-nas e Energia do Brasil; a Delegaçãocolombiana prontificou-se a trans-mitir ao Instituto Colombiano deEnergia Elétrica (ICEL) o ofereci-mento brasileiro.

Item VILinhas Gerais da Cooperação Técnica:

a) construção de moradias populares:a Delegação colombiana ofereceu par-tilhar com a parte brasileira a experiên-cia daquele país no desenvolvimentode tecnologias de construção, com pa-râmetros elevados de produtividade ede qualidade, de moradias para popu-lações de baixa renda, com a participa-ção dos setores público (Sena) e priva-do. Nesse quadro, destacou as possibi-lidades de intercâmbio na área de mo-bilização comunitária e autoconstru-ção, mencionando a cooperação pres-tada pela Colômbia nessa matéria a

outros países; a representante do Mi-nistério do Bem-Estar Social (MBES)manifestou interesse na troca de infor-mações e experiências com a Colôm-bia, em matéria de construção de mo-radias para populações de baixa renda,assinalando que o tema também vemsendo objeto de atenção pelo ProgramaBrasileiro de Qualidade e Produtivida-de (PBQP).

b) transporte hidroviário: o represen-tante das Centrais Elétricas do Estadode São Paulo (CESP) destacou a expe-riência que sua empresa adquiriu naoperação da hidrovia Tietê-Paraná, aqual poderia ser compartilhada com aColômbia; respondendo a indagaçãoda parte colombiana, informou sobre aparticipação da iniciativa privada noaproveitamento e exploração da referi-da hidrovia, em setores como a cons-trução de portos, transporte de grãos,transporte intermodal; manifestandointeresse em explorar possibilidadesde cooperação com a CESP, a Delega-ção colombiana ressaltou a importân-cia que seu Governo atribui à execuçãode projetos bilaterais de construção decanais fluviais na zona fronteiriça;

c) cooperativismo: o representante doDepartamento Nacional de Cooperati-vismo (Denacoop) manifestou interes-se em conhecer a experiência colom-biana nas áreas de telefonia rural, ele-trificação rural e cooperativismo apli-cado ao crédito rural e urbano; a Dele-gação colombiana indicou que haveriapossibilidade de atender às demandasbrasileiras de intercâmbio nessas áreas.

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Foram apresentadas informações so-bre os resultados de recente visita deMissão colombiana ao Brasil (novem-bro e dezembro de 1992), no quadrodos programas vigentes de cooperaçãoem matéria de cooperativismo, bemcomo sobre visita de Missão brasileiraà Colômbia, a realizar-se em fins deabril de 1993, cuja organização ficaráa cargo da Federação Nacional de Ca-feicultura da Colômbia (Federacafé).

d) melhoria da qualidade da produçãoartesanal: a representante do Ministé-rio do Bem-Estar Social assinalou ointeresse do órgão em estabelecer inter-câmbio com as entidades colombianasdedicadas ao desenvolvimento e à me-lhoria da qualidade do artesanato; men-cionou os setores de normatização elegislação para apoio ao artesão, crédi-to, inovação e comercialização da pro-dução artesanal, instalação de centrosde ensino e capacitação (áreas: fibrasvegetais, couros, têxteis, cerâmica, ma-deiras); reconhecendo que a Colômbiajá tem acumulada significativa expe-riência nos setores mencionados, a De-legação colombiana prontificou-se atransmitir o interesse brasileiro à enti-dade «Artesanias de Colômbia», vincu-lada ao Ministério do DesenvolvimentoEconómico, com vistas à obtenção dainformação requerida e ao estabeleci-mento de cooperação na matéria.

Item VIIMeio Ambiente:

a) meio ambiente urbano: a Delegaçãocolombiana formulou solicitação da

assessoria brasileira no desenvolvi-mento, em 19 cidades da Colômbia, doprojeto «Assistência Técnica para Es-tabelecer Regulamentação para o Or-denamento e Gestão Ambiental Urba-na», em fase inicial de implantaçãonaquele país; a cooperação bilateralconsistiria em completar os perfis am-bientais, definir os planos e programasde gestão, e criar regulamentação paraa política ambiental voltada para essescentros urbanos; tal proposta, segundoesclareceu a Delegação colombiana,tem como objetivo principal reprodu-zir a experiência de planejamento ur-bano de Curitiba; a este respeito, oChefe da Delegação colombiana res-saltou a importância que seu Governoatribui à visita à Colômbia, em fins demaio próximo, do ex-Prefeito de Curi-tiba, Jaime Lerner, ocasião em que po-derão ser discutidas as bases da coope-ração solicitada.

b) Amazónia: a Delegação colombianareiterou o interesse na plena execuçãodos projetos contemplados no Plano deDesenvolvimento Integrado das Co-munidades Vizinhas do Eixo Tabatin-ga-Apapóris, em especial nas áreas desaneamento básico, piscicultura, ma-nejo de recursos florestais, produçãosilvopastoril, educação rural e saúde.A Delegação do Brasil coincidiu coma Delegação da Colômbia no apoio aosprojetos previstos no quadro do PlanoTabatinga-Apapóris. Ambas as Dele-gações acordaram sobre a necessidadede renovar solicitações conjuntas definanciamento a agências financeiras

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internacionais para a execução dos re-feridos projetos. Salientaram, a propó-sito, a importância da próxima reuniãodas Unidades Técnicas do Plano Taba-tinga-Apapóris e da convocação dereunião da Comissão Mista Brasil-Co-lômbia de Cooperação Amazônica, emcujo âmbito são decididas ações con-juntas referentes ao Plano citado. OChefe da Delegação colombiana mani-festou, outrossim, o interesse de seuGoverno em enviar técnicos para for-mação e treinamento no Instituto dePesquisas Amazônicas (INPA).

c) Foros Internacionais: ambas asDelegações assinalaram a importân-cia da coordenação das posições so-bre meio ambiente nos foros interna-cionais, tal como sucedeu na Confe-rência Rio-92.

Ao término dos trabalhos, a Delega-ção colombiana registrou oferecimentosadicionais de cooperação nas seguintesáreas: ordenamento territorial, adminis-tração e gestão tributária, formulação eavaliação de projetos de investimentos,prevenção de desastres e atenção primá-ria em matéria de saúde.

Finalmente, ambas as Delegações secongratularam pelos importantes resulta-dos logrados na presente Reunião.

Feita em Brasília, aos quatorze dias domês e abril de 1993, em dois exemplaresem língua portuguesa, de idêntico teor.

Luiz Filipe de Macedo SoaresChefe do Departamento das Américasdo Ministério das Relações Exteriores

Guillermo Alberto GonzálezEmbaixador da Colômbia

Ata final da VI Reunião da SubcomissãoEconómica e Comercial Brasil-México

A VI Reunião da Subcomissão Econó-mica e Comercial Brasil-México teve lu-gar em Brasília, nos dias 10 e 11 de junhode 1993. A delegação brasileira foi presi-dida pelo Embaixador Rubens AntónioBarbosa, Subsecretário-Geral de Assuntosde Integração, Económicos e Comerciaisdo Itamaraty. Por sua parte, a delegaçãomexicana foi presidida pelo LicenciadoRogélio Granguillhome, Diretor-Geral deRelações Económicas para a América La-tina da Secretaria de Relações Exteriores.Encontram-se em anexo a esta Ata a Agen-

da da Reunião, a composição de ambas asdelegações, bem como projeto destinado aformalizar mecanismo de consulta comer-cial entre Brasil e México.

Intercâmbio de Informação sobrea Evolução e Política Económicado Brasil e do México

As delegações do Brasil e do Méxicoapresentaram resumo da evolução econó-mica recente. A delegação mexicana ex-pressou que a estabilidade de preços e oequilíbrio fiscal continuam sendo propos-

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tas básicas da política económica de seupaís, para lograr crescimento e gerar recur-sos para o desenvolvimento social. A de-legação brasileira ressaltou de sua parteque o seu Governo mantém em seu planode estabilização objetivos de controle deinflação, equilíbrio nas contas públicas,abertura comercial e privatizações.

Assuntos Comerciais

A delegação brasileira manifestou aimportância de que se reveste o comérciobilateral e ressaltou as perspectivas favo-ráveis para o seu crescimento. A delegaçãomexicana manifestou sua satisfação comos crescentes níveis de intercâmbio bilate-ral, sublinhando, ao mesmo tempo, queexiste campo para uma maior diversifica-ção em termos de produtos e de incremen-to das vendas mexicanas.

Ambas as delegações ressaltaram a im-portância da participação dos setores pri-vados dos dois países no desenvolvimentodo intercâmbio bilateral. Examinaramtambém as possibilidades de novas inicia-tivas institucionais para dar maior previsi-bilidade aos operadores económicos.

Por sua parte, a delegação mexicanacomentou os resultados do comércio bila-teral, com destaque para a importância quetem para o México a exportação de produ-tos energéticos, basicamente petróleo bru-to e seus derivados. Nesse sentido, a dele-gação brasileira assinalou que, diante danova definição de buscar fontes de abaste-cimento desses produtos em nível regio-nal, o Brasil está com a melhor disposiçãode iniciar consultas com o México para

explorar as possibilidades de abastecimen-to desses produtos.

De sua parte, a representação mexica-na, tomando em conta a capacidade pro-dutiva de ambos os países, sublinhou, combase nas favoráveis perspectivas de cres-cimento da economia brasileira, a impor-tância de identificar mecanismos que per-mitam uma maior diversificação do co-mércio bilateral.

A delegação brasileira assinalou que arenegociação dos acordos firmados no âm-bito da Aladi, com vistas a compatibilizá-los com o cronograma da tarifa externacomum do Mercosul, será levada a efeitode acordo com critérios estabelecidos pe-los países integrantes do Mercosul. Nessesentido, a delegação brasileira manifes-tou-se disposta a manter conversaçõescom vistas a promover um intercâmbiotransparente de informação.

Assuntos Financeiros

A delegação mexicana apresentouum panorama geral sobre as atividadesde financiamento do desenvolvimentono México, em particular a NacionalFinanciem, SNC.

A representação mexicana manifestouseu interesse em desenvolver um progra-ma de trabalho que permita identificar me-canismos de intercâmbio de experiências,assistência técnica e capacitação, assimcomo impulsionar projetos de coinvesti-mento, alianças estratégicas e a realizaçãode negócios. Com esse propósito, a Nacio-nal Financiera informou da abertura deum escritório de representação para con-solidar sua presença no Cone Sul. Encon-

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tram-se em anexo elementos para um pro-grama de trabalho entre a Nacional Finan-ciem e suas contrapartes brasileiras.

A delegação brasileira mostrou-se in-teressada em reformular os objetivos doAcordo-Quadro de Cooperação Fazendá-rio-Financeira, à luz de desenvolvimentosem ambos os países, de modo a enriquecê-lo com temas mais concretos. A represen-tação mexicana concordou com a conve-niência de avaliar o Acordo, com vistas aincluir os temas que sejam atualmente deinteresse dos setores fazendário e financei-ro, para dinamizar as relações bilaterais,assinalando que, independentemente doAcordo, têm-se realizado reuniões e trocasde informação sobre a matéria.

A delegação mexicana prestou infor-mações sobre os resultados da recente vi-sita do Diretor-Geral do Banco Nacionalde Comércio Exterior do México ao Bra-sil. Nesse sentido, mencionaram-se os re-sultados em matéria de promoção comer-cial. No âmbito creditício, o Banco Nacio-nal de Comércio Exterior assinou com oBanco do Brasil uma linha de crédito deUSD$ 10 milhões para financiar exporta-ções de produtos e serviços mexicanos,com prazos de 6 meses a 5 anos. Essa linhade crédito é parte de um esforço de coope-ração visando à expansão do intercâmbiocomercial entre os dois países.

O Bancomext assinou, igualmente,com a Petrobrás outra linha de crédito deUSD$ 10 milhões, para servir de sustenta-ção financeira às ofertas apresentadas porempresas mexicanas em licitações de bense serviços abertas pela Petrobrás.

O Bancomext e a Petrobrás concorda-ram com o intercâmbio de missões técni-cas que permita, tão logo possível, iniciarprocesso de homologação mútua de seusrespectivos fornecedores.

A representação mexicana manifestoua disposição de iniciar no mês de novem-bro de 1993, na Cidade do México, nego-ciações sobre um acordo bilateral em ma-téria de bitributação.

Ambas as delegações sublinharam asimportantes iniciativas que vêm sendo de-senvolvidas no âmbito financeiro e suasperspectivas no curto e médio prazos.

Assuntos Energéticos

• Comercialização

No marco das relações de cooperaçãoenergética entre os dois países e com oobjetivo de incrementá-las, a Petrobrás e aPetróleos Mexicanos Internacional (PMI)acordaram o seguinte:

1) o interesse das partes em manter ocontrato de óleo cru do tipo Maya, cujovencimento está previsto para agostode 1993;

2) o interesse da Petrobrás em revisaras condições do referido contrato, demaneira a melhor refletir as caracterís-ticas do mercado brasileiro;

3) o deslocamento de missão da Petro-brás ao México, em fins de junho docorrente, ocasião em que serão exami-nadas em conjunto as propostas adian-tadas durante a presente reunião, paraa renovação do referido contrato;

4) com relação à comercialização deprodutos de petróleo, a PMI manifes-

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tou à Petrobrás a possibilidade de in-crementar o intercâmbio bilateral deprodutos destilados e residuais, apro-veitando a complementação existentequanto a qualidades e disponibilida-des;

5) no tocante à questão de crédito, aPetrobrás expressou seu interesse emque se outorgue crédito aberto parareduzir o custo das cartas de créditopara a importação de óleo cru, aexemplo do que já está sendo feitocom a comercialização de produtos.A PMI comprometeu-se a examinara questão.

• Projetos

Foram tratadas, igualmente, questõesligadas ao interesse do México, tanto emnível governamental, quanto em nível pri-vado, em vir a participar do segmentobrasileiro do projeto de Gasoduto Brasil-Bolívia, seja em termos de financiamento,seja em termos de prestação de serviços ouem associação com empresas brasileiras.Petrobrás e Banco de Comércio Exterior,do México, (Bancomext) darão seguimen-to às conversações para aprofundar o co-nhecimento das etapas do projeto com vis-tas ao exame das possibilidades de suaparticipação no empreendimento.

Assuntos de Integração Regional

A Delegação brasileira manifestou, deacordo com os compromissos no âmbitono Mercosul, a intenção de iniciar, a partirdo segundo semestre de 1993, o processode renegociação dos acordos subscritos noâmbito da Aladi, os quais sempre poderão

manter sua vigência até 31 de dezembrode 1994.

A Delegação do México, por sua vez,assinalou que, em conformidade comsua política comercial, buscará concluiracordos amplos de comércio e investi-mento que incluam os avanços alcança-dos por meio dos acordos assinados nomarco da Aladi.

A esse respeito, a Delegação do Brasilassinalou que, no mês de junho, em con-versações com os demais membros doMercosul, iniciar-se-á a definição dos cri-térios comuns para a mencionada renego-ciação. Uma vez definidos tais critérios, aDelegação brasileira estará habilitada ainiciar conversações com o México.

Nesse sentido, o México reiterou suaplena disposição de iniciar conversações,no momento em que o Brasil concluir oprocesso de definição de critérios comunsno âmbito do Mercosul.

Ambas as Delegações concordaramem sublinhar a importância de que a Aladiacelere os trabalhos destinados ao estabe-lecimento de normas comuns mínimaspara assuntos relacionados com o comér-cio, tais como, entre outros, solução decontrovérsias, salvaguardas, regime deorigem, incentivos à exportação.

Apoio ao Setor Privado

Ambas as Delegações manifestaramseu interesse em desenvolver trabalhosque permitam identificar os setores priori-tários para as relações comerciais bilate-rais e ensejar o fomento de missões comer-ciais com objetivos claramente definidos.

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Seminário Nafta e Mercosul

Considerando o interesse de ambos osGovernos em aprofundar o conhecimentorecíproco dos processos sub-regionais deque fazem parte, as duas Delegações ex-pressaram concordância com a iniciativade realizar seminários sobre o Nafta e oMercosul. Nesse contexto, a Delegação doMéxico informou que promoverá seminá-rio sobre o Nafta, na cidade de São Paulo,no próximo mês de agosto de 1993. ADelegação brasileira informou, por suavez, que, em fins de junho de 1993, enviaráuma proposta para a realização, no Méxi-co, de seminário sobre o Mercosul.

Coordenação Comercial

A delegação brasileira, levando emconta as dimensões do intercâmbio bilate-ral e suas perspectivas de crescimento,manifestou interesse em pôr em práticamecanismo de consulta permanente noâmbito comercial, com especial ênfase napossibilidade de estabelecimento, de acor-do com a proposta em anexo, de mecanis-mo ágil, em nível bilateral, para examinarqualquer tema de natureza comercial, in-clusive eventuais contenciosos bilaterais,que possam surgir entre as partes, semprejuízo do possível recurso a mecanismosde soluções de controvérsias de que ambosos países sejam partes e de conformidadecom as disposições pertinentes do AcordoGeral sobre Tarifas e Comércio.

A Delegação do México comprome-teu-se a submeter essa proposta à conside-ração das autoridades internas competen-

tes, com vistas a manifestar reação no maiscurto prazo.

Comissão Século XXI

No marco das conversações que ambosos Governos estão conduzindo com vistasà implementação da Comissão SéculoXXI, as duas Delegações sugeriram que ostemas económicos deverão centrar-se naanálise em nível multilateral e bilateral,destacando, no primeiro caso, a perspecti-va hemisférica e a incidência dos proces-sos sub-regionais e, no segundo, as pers-pectivas do Nafta e do Mercosul para aseconomias dos dois países. Concordaram,ainda, em ressaltar que os trabalhos daComissão deverão permitir contar com umequilíbrio das relações bilaterais no ano2000 e, com base nesse equilíbrio, identi-ficar as ações para aprofundar a relaçãobilateral no médio e longo prazo.

Na cidade de Brasília, aos onze dias domês de junho de mil novecentos e noventae três, em dois originais, um em portuguêse outro em espanhol, ambos igualmenteidênticos.

Pelo Brasil

Rubens António BarbosaSubsecretário-Geral de Assuntos de Inte-gração, Económicos e de Promoção Co-mercial

Pelo México

Rogélio GranguillhomeDiretor-Geral de Relações Económicascom a América Latina •

• • •

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Comunicados, Notas e Mensagens

Itamaraty e CNPq articulam parceria com apoio do PNUDvisando à competitividade mundial da indústria de software brasileira

A assinatura no Itamaraty, em 2.2.93,do Projeto «Desenvolvimento Estratégicoda Informática» constituiu o mais recenteexemplo da implantação de um novo tipode parceria entre o Ministério das Rela-ções Exteriores, as autoridades e a comu-nidade de ciência e tecnologia, e o empre-sariado nacional.

O projeto, assinado pelos MinistrosFernando Henrique Cardoso, das RelaçõesExteriores, e Israel Vargas, da Ciência eTecnologia, bem como pelo Representan-te Residente, interino, do PNUD no Brasil,Nikhil Chandavarkar, prevê apoio diretoao setor da Informática nacional.

Com um custo total estimado em apro-ximadamente US$ 28 milhões, o projetotenciona promover, nos próximos quatroanos, o fortalecimento institucional do se-tor em quatro frentes principais:

a) mudanças estruturais na indústrianacional de software;

b) apoio à pesquisa estratégica;

c) apoio à Rede Nacional de Pesquisa;e

d) articulação dos esforços nas trêsáreas supracitadas. Os beneficiários di-retos do projeto são os centros de pes-quisa e desenvolvimento, o setor pri-vado da indústria de software e as de-mais instituições brasileiras do seg-

mento de Ciência e Tecnologia da In-formática.

A formulação do referido projeto en-volveu estudos do quadro internacional einiciativas complementares dos setoresprivado e governamental. Identificaram-se, por meio delas, oportunidades para aentrada de novos atores no mercado inter-nacional de software, hoje da ordem demais de 100 bilhões de dólares e quecresce cerca de 10% ao ano. Relativa-mente desconcentrado, esse mercado re-presenta um novo paradigma industrial,que o Brasil pode aproveitar, por já disporde pré-condições básicas que o Projetovisa a levar ao nível dos principais con-correntes internacionais.

A indústria nacional de informáticaproduz anualmente cerca de 7 bilhões dedólares, o que equivale a aproximadamen-te 2% do PIB brasileiro. As empresas na-cionais conseguiram, apesar das dificulda-des do último decénio, não só estabelecer-se no mercado interno mas, de alguns ni-chos específicos, como a automação ban-cária, alcançaram níveis de competitivida-de internacional.

No momento em que a abertura domercado interno se configura como meca-nismo de estímulo à modernização com-petitiva da economia brasileira, o segmen-to da informática começa a voltar-se para

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o mundo e identificar as oportunidadesque se perfilam no mercado global.

A contribuição do Itamaraty para oProjeto, coordenada pela sua Divisão deCiência e Tecnologia, envolve a rede desetores de Ciência e Tecnologia nos Postosno Exterior, que integram o Sistema deInformação Científica e Tecnológica doExterior, Sictex. A modernização dessesistema e a renovação das modalidades decooperação internacional em ciência e tec-

nologia são importantes objetivos do De-partamento de Cooperação Científica,Técnica e Tecnológica do Itamaraty, quealém do Projeto «Desenvolvimento Estra-tégico da Informática» vem colhendo re-sultados significativos em outras frentes,como a primeira participação brasileira noProjeto Eureka, da Comunidade Europeia,e a criação de programa específico de altatecnologia com a França, primeiro a en-volver o setor privado na cooperação in-ternacional.

Posição do Governo brasileiro sobre as negociaçõesdo Novo Acordo Internacional do Café

Nota do Governo brasileiro a propó-sito da declaração conjunta sobre as ne-gociações para a conclusão de um novoAcordo Internacional do Café, emitidapelos presidentes da Colômbia, CostaRica, El Salvador, Guatemala, Hondu-ras, México, Nicarágua, Panamá e Vene-zuela, reunidos em Caracas, no dia 12 defevereiro de 1993:

«Os presidentes da Colômbia, Méxi-co, Venezuela e dos produtores centro-americanos de café, reunidos em Caracasapós a Reunião de Cúpula dos produtoreslatino-americanos de banana de Guaya-quil (11-2), decidiram emitir declaraçãoà imprensa endereçada aos países consu-midores, de apoio às negociações para aconclusão de um novo Acordo Interna-cional do Café (AIC).

2. Na declaração, os mandatários latino-americanos ressaltam os esforços envida-

dos por seus Governos para adaptar-se àsexigências formuladas pelos países consu-midores na recente reunião de Londres elamentam a reduzida flexibilidade revela-da pelos consumidores quanto ao atendi-mento dos justos pleitos dos produtores.Assinalam, igualmente, a importância doAIC como instrumento para assegurar arecuperação das economias cafeeiras daregião e a reversão da tendência da quedados preços internacionais do café, que, nosúltimos anos, atingiram seus níveis histó-ricos mais baixos.

3. O Brasil, na condição de maior produ-tor mundial de café, está ativamente envol-vido nas negociações do Acordo, em ínti-ma coordenação com os demais paísesprodutores. O Governo brasileiro partilhaintegralmente das preocupações manifes-tadas pelos presidentes reunidos em Cara-cas na declaração conjunta, que considera

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oportuna. Com efeito, como eles, pro-pugna a conclusão de um AIC equilibra-do, que reflita adequadamente as legíti-mas aspirações dos produtores, comopasso essencial para a estabilização daeconomia cafeeira mundial e, por conse-guinte, para a recuperação da economiados produtores latino-americanos, me-diante preços remunerativos.

4. A exiguidade de tempo para completar anegociação nos prazos previstos torna indis-pensável uma clara definição de compromis-so político com o Acordo, por parte dos paísesconsumidores, em geral, e dos Estados Uni-dos, maior consumidor mundial, em particu-lar, a fim de superar as dificuldades decor-rentes da pouca flexibilidade que tem carac-terizado suas posições até o momento».

Brasil eleito para a Comissãode Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

O Brasil foi eleito, em 16 de fevereiro de1993, pelo Conselho Económico e Socialdas Nações Unidas (Ecosoc) para integrar aComissão de Desenvolvimento Sustentável.A Comissão, criada durante a XLVII Sessão

da Assembleia Geral, tem por objetivoimplementar as disposições da Agenda 21,documento adotado por ocasião da Confe-rência das Nações Unidas para o MeioAmbiente e Desenvolvimento (Rio-92).

Declaração do Grupo do Rio, divulgada em Santiago,em 11 de março de 1993

«Los países integrantes dei Grupo deRio expresan su decidida condena a Iaocupación de Ia Embajada de Nicaráguaen Costa Rica por parte de un grupo arma-do y a Ia mantención, em calidad de rehe-nes, de los funcionários de esa misióndiplomática.

«Junto con reiterar el respaldo a losavances logrados en los procesos de de-mocratización y participación en Cen-troamérica, rechazan energicamente to-

dos aquellos actos de fuerza que atentencontra el Estado de Derecho y los princi-pios consagrados de Ia Carta de NacionesUnidas y de Ia Organización de EstadosAmericanos.

«Los miembros dei Grupo de Rio con-fián en que esta delicada situación serásolucionada en el más breve plazo, res-guardando debidamente Ia integridad delos rehenes y de acuerdo a Ias normasconsagradas en el Derecho Internacional».

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Segundo ano do Tratado de Assunção

O dia 26 de março de 1993 marca apassagem do segundo ano da assinatura doTratado de Assunção, celebrado em 1991.A decisão do Brasil, Argentina, Paraguaie Uruguai de constituir um mercado co-mum - o Mercosul - até o final de 1994representa o início de nova etapa nos es-forços de integração na América Latina.

O Mercosul já exibe, hoje, significati-vo acervo de realizações. De acordo como cronograma de desgravação tarifária, jáestá em vigor margem de preferência de68%. Na última reunião de cúpula, reali-zada em Montevidéu em dezembro de1992, os Presidentes dos quatro paíseschegaram a importante entendimento so-bre os princípios para o estabelecimentode tarifa externa comum.

O processo de construção do Mercosulreflete-se na expressiva dinamização dasrelações econômico-comerciais entre ospaíses membros. Em 1990, o comércio doBrasil com a Argentina, Paraguai e Uru-guai limitava-se, nos dois sentidos, a US$3,6 bilhões. No ano passado, essa cifraatingiu US$ 6,3 bilhões, o que reflete umcrescimento de 75% em dois anos. Em1992, os parceiros do Mercosul absorve-ram 11,4% das exportações brasileiras,contra 4,2% em 1990.

O Mercosul não se limita, hoje, à di-mensão econômico-comercial. No âmbitodo Tratado de Assunção, foram criadas

Reuniões de Ministros da Educação, daJustiça e da Agricultura, bem como Reu-niões Especializadas de Ciência e Tecno-logia, Cultura, Meio Ambiente e Turismo.

O engajamento do setor privado noMercosul tem sido elemento essencialpara essa mostra de vitalidade. Multipli-cam-se as iniciativas de associações, in-vestimentos diretos ejoint ventures entreempresas dos países-membros. A partir de31 de março, em iniciativa paralela aoMercosul, poderão ser formalmente cons-tituídas empresas binacionais brasileiro-argentinas.

Esses avanços não devem fazer esque-cer o fato de que, em uma iniciativa doalcance e da complexidade do Mercosul,conduzida em meio a dificuldades enfren-tadas por nossos países, é natural o apare-cimento de tensões conjunturais. No en-tanto, a vontade política no sentido deconcretizar o Mercosul contribui de formadecisiva para a superação das dificuldadesinerentes ao processo.

O Mercosul, além dos benefícios recí-procos já sentidos pelos países membros,deu novo impulso aos esforços de integra-ção da América Latina. Representa, igual-mente, contribuição altamente significati-va para a modernização de nossas econo-mias e sua inserção competitiva na econo-mia internacional.

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Comunicado de Imprensa emitido pelos Ministros das Relações Exterioresda República Federativa do Brasil e da República da Colômbia

A Ministra das Relações Exteriores daRepública da Colômbia, Doutora NoemiSanín de Rubio, realizou uma visita oficialao Brasil entre os dias 13 e 16 de abril de1993, atendendo a convite do Ministro dasRelações Exteriores da República Federa-tiva do Brasil, Senador Fernando Henri-que Cardoso.

Durante sua estada, a ilustre visitantedesenvolveu um programa de atividadesoficiais, entre as quais cabe salientar umaentrevista com o Presidente da RepúblicaFederativa do Brasil, Itamar Franco,oportunidade que lhes permitiu analisarassuntos de interesse regional e bilateral.A Ministra Sanín de Rubio manteve reu-niões de trabalho com o Ministro de Edu-cação e Desporto e com o Ministro daJustiça e realizou visitas aos Presidentesdo Senado Federal e da Câmara dos De-putados e ao Presidente do Supremo Tri-bunal Federal. O programa da Chancelercolombiana prevê ainda audiências comos Governadores dos Estados de São Pau-lo e do Rio de Janeiro, com os Prefeitosdas cidades de São Paulo e do Rio deJaneiro, além de encontros com persona-lidades e empresários.

Nas reuniões que mantiveram, os doisChanceleres expressaram seu pleno apoioà Conferência de Direitos Humanos, a rea-lizar-se em Viena, de 14 a 25 de junhopróximo. Manifestaram, a propósito, a as-piração dos respectivos Governos no sen-tido de que a Conferência, além de conso-lidar as conquistas alcançadas pelas Na-ções Unidas nos esforços de promoção e

proteção dos direitos humanos, fortaleçatais conquistas, tanto através da reafirma-ção de compromissos nessa esfera, quan-to através do estabelecimento de novasformas de cooperação internacional, in-clusive técnica e financeira, em apoio aosprojetos nacionais incidentes sobre ofortalecimento de instituições do Estadode Direito. Ressaltaram, ainda, a impor-tância de que a Conferência dedique aten-ção adequada às interrelações existentesentre direitos humanos, democracia e de-senvolvimento.

Brasil e Colômbia concordaram emque as discussões em torno da composiçãode uma «Agenda para o Desenvolvimen-to» devem constituir um dos temas cen-trais de debate na XLVIII Sessão da As-sembleia Geral das Nações Unidas. A re-novação do diálogo mundial sobre o de-senvolvimento económico é pré-requisitoindispensável da implementação, pelaONU, de uma verdadeira «Agenda para aPaz», capaz de evitar a eclosão de conflitosarmados nas próximas décadas.

Os dois Chanceleres consideraramconveniente que, ao aproximar-se o cin-quentenário das Nações Unidas, em 1995,seja realizado amplo debate sobre a ques-tão da composição do Conselho de Segu-rança das Nações Unidas, ao qual competea tarefa essencial de garantir a paz e segu-rança internacionais. Os dois Ministrosentendem que as mudanças ocorridas nomundo, a partir de 1945, recomendam aampliação do número de membros perma-nentes no Conselho, a ser regida por crité-

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rios de representatividade e equilíbrio in-ternacionais.

Os dois ministros convieram em que sedeveria buscar promover a expansão dointercâmbio comercial. Nesse sentido, ainclusão do petróleo na pauta das exporta-ções colombianas para o Brasil poderiaconstituir-se em instrumento para a conse-cução de tal objetivo a curto prazo, namedida em que aumentaria as vendas co-lombianas ao Brasil.

No tocante à cooperação na área dasnegociações multilaterais sobre café, osdois ministros lamentaram que, apesar doesforço dos países produtores e dos paísesconsumidores, não tenha sido possívelconcluir o processo negociador de umnovo Convénio Internacional do Café.

Notaram, no entanto, como importantecorolário do processo negociador a uniãoque, a partir do entendimento entre Brasile Colômbia, foi lograda entre os Produto-res em torno de uma plataforma comumnegociada na cidade do México.

Concordaram na necessidade de man-ter coordenação bilateral com vistas a evi-tar efeitos negativos das políticas nacio-nais respectivas sobre o mercado interna-cional do café, buscando a recuperação dovalor representativo do grão no mercado.

Manifestaram, ademais, firme apoiodos seus respectivos Governos à Organi-zação Internacional do Café e à sua preser-vação, introduzindo os ajustes derivadosda última negociação em Londres.

Os dois Ministros concordaram sobrea importância que assumiu para o dinamis-mo económico da região a abertura econó-

mica e o livre fluxo de bens, capitais,investimentos, serviços, informação e tec-nologia, assim como um comércio nãodiscriminatório.

Os Chanceleres oferecem seu totalapoio para estimular encontros entre em-presários de ambos países, para o mútuoconhecimento das oportunidades de in-vestimento e comércio, necessário paradinamizar o desenvolvimento e a integra-ção regional.

Destacaram a importância que têm osatuais processos de integração e coopera-ção regional em marcha como mecanis-mos adequados para assegurar uma maiorparticipação e presença da América Latinano âmbito internacional. Sublinharam aimportância da Aladi em prol da integra-ção regional e assinalaram, em particular,a relevância que atribuem ao Acordo deComplementação Económica a ser cele-brado entre o Brasil e a Colômbia.

Os Chanceleres tomaram nota das ob-servações efetuadas pelos setores importa-dores e exportadores de ambos países, re-lativas às limitações existentes atualmenteem matéria de transporte aéreo para cargae passageiros entre Colômbia e Brasil;nesse sentido, consideram que o assuntodeve continuar a ser objeto de exame porparte dos Governos dos dois países, paraalcançar com rapidez uma solução mutua-mente satisfatória para o problema.

Os Ministros encerraram a segundareunião da Comissão Mista de CooperaçãoEconómica e Técnica, onde foram avalia-dos os programas e instrumentos bilateraisexistentes, assim como a primeira reunião

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do Grupo de Cooperação Consular, quetratou de temas de interesse comum paraos dois países e avançaram nos entendi-mentos quanto à natureza e ao fonnato daComissão de Vizinhança entre os dois paí-ses; reiteraram, outrossim, a necessidadede que a mesma seja criada com a brevi-dade possível.

Os dois Chanceleres subscreveramum Acordo sobre o Exercício de Ativida-des Remuneradas por parte do PessoalDiplomático, Consular, Administrativo eTécnico, e um Acordo sobre SanidadeVegetal para a Proteção de Zonas Fron-teiriças e Intercâmbio de seus Vegetais eseus Produtos.

Determinaram reativar os trabalhos doPlano de Desenvolvimento das Comuni-dades Vizinhas ao Eixo Tabatinga-Apápo-ris, de forma a concluir a etapa de formu-lação de projetos, e sua execução, buscan-do apoio financeiro internacional.

Decidiram impulsionar os trabalhos daComissão Mista de Inspeção de Marcos daFronteira Brasileiro-Colombiana e a den-sificação de marcos sobre a fronteira edecidiram convocar a X Reunião da men-cionada Comissão para reunir-se entre osdias 24 a 28 de maio vindouro.

Os dois Chanceleres ressaltaram a im-portância do Tratado de Cooperação Ama-zônica como foro que congrega os oitopaíses aos quais pertence a maior áreaflorestal do planeta. Concordaram sobre a

necessidade de fortalecê-lo institucional-mente. Nesse sentido, reiteraram a impor-tância da próxima reunião ordinária doConselho de Cooperação Amazônica, aser realizada em junho próximo, em Quito,ocasião já prevista para tratar da criação deuma Secretaria Permanente com sede emBrasília, em substituição ao atual sistemade Secretaria Pr o Tempore do Tratado.

Em cumprimento ao Artigo XIX doAcordo Cultural firmado em Bogotá, em20 de abril de 1963, ambas as Partes acor-daram negociar, por via diplomática, umplano de trabalho, que será subscrito emprazo não maior que três meses.

O Ministro das Relações Exteriores doBrasil aceitou com satisfação o conviteformulado por sua colega, em nome doGoverno da Colômbia, para visitar essepaís, em data a ser oportunamente fixada.

A Ministra das Relações Exterioresda Colômbia, Doutora Noemi Sanín deRubio, agradeceu, em nome próprio e noda comitiva que a acompanhou, as aten-ções recebidas durante sua permanênciano Brasil.

Brasília, aos 14 de abril de 1993.

Fernando Henrique CardosoMinistro de Estado das Relações Exterio-res da República Federativa do Brasil

Noemi Sanín de RubioMinistra de Estado das Relações Exterio-res da República da Colômbia •

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Artigos de Jornais

Riscos e oportunidades(Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

J\ sociedade brasileira tem confrontadoproblemas internos de caráter económico,social e político de tal magnitude que nãotem podido conceder a necessária atençãoàs nossas relações internacionais. As mu-tações contemporâneas no sistema produ-tivo e a acelerada transformação da natu-reza mesma das interações entre os Esta-dos, entretanto, não permitem que qual-quer país possa cultivar indiferença, lenti-dão ou imobilismo em face das oportuni-dades e riscos que a conjuntura internacio-nal apresenta.

A consciência dessa necessidade dediagnosticar e avaliar em profundidade, esobretudo de agir com velocidade, torna-se a cada dia mais intensa e mais visívelno Congresso, na imprensa, na Universi-dade, nos meios empresariais e sindicais.Manifesta-se ainda de forma tópica, rea-gindo a temas de impacto direto e imediatona sociedade e na economia brasileiras,tais como a dívida externa, as negociaçõesna Rodada Uruguai, o Mercosul, a questãotecnológica e a questão ambiental. Muitasvezes são grupos específicos que se posi-cionam sobre temas de seu interesse ouque apelam para a sua sensibilidade polí-tica, ética ou cultural.

Um país das dimensões do Brasil -territoriais, demográficas, mas sobretudoeconómicas e culturais -, com seu pesoespecífico, não pode, contudo, mostrar-setímido em sua análise do momento histó-rico que atravessa o mundo. É precisoampliar o debate sobre a política externabrasileira, não só quanto a seus participan-tes -o que o Itamaraty vem buscando fazeratravés do Instituto de Pesquisa de Rela-ções Internacionais (IPRI) -, mas sobretu-do quanto a seu foco. A discussão, emsuma, deve abandonar o plano tático e ocaráter reativo, definidos pelo horizontetemporal do curto prazo, e voltar-se para onível estratégico e prospectivo, que se re-ferem ao longo prazo.

Esta mudança de foco - que não aban-dona o nível do imediato, mas o incorporaem um processo mais abrangente de refle-xão e ação -deve obrigatoriamente incluirem sua pauta a arquitetura do próprio sis-tema internacional, tanto no plano econó-mico como no político-institucional e desegurança. À diplomacia brasileira caberáum papel importante na construção de umsistema internacional mais igualitário eportanto mais pacífico. Nossa diplomaciasomente poderá alcançar sua plenitude se

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recorrer ao mesmo tempo à legitimidadede um mandato concedido pela sociedadebrasileira e à riqueza do acervo de ideias,valores e percepções de nossa cultura eexperiência histórica.

O processo de mudanças que se ini-ciou com a Constituição de 1988 e nossaagenda diplomática oferecem estímulosexcepcionais para esse exercício coleti-vo. O Brasil acaba de assumir um assentocomo membro não-permanente do Con-selho de Segurança das Nações Unidas,por um período de dois anos. Voltamosao Conselho pela sétima vez - a últimafoi de 1988 a 1989 - conscientes daépoca singular em que vivemos. Pelaprimeira vez, com o fim da Guerra Fria,a Carta das Nações Unidas e todos osórgãos por ela instituídos podem traba-lhar como previsto por seus redatores.

O Conselho, a quem cabe a responsa-bilidade principal na manutenção da paz eda segurança internacionais, vem desem-penhando papel central na solução dosmais variados conflitos regionais. A pre-sença brasileira demandará um acompa-nhamento competente e tempestivo dasdiversas questões na agenda internacionale um constante esforço de reflexão e deidentificação do interesse nacional. Esta-mos preparados para esse desafio e segu-ros de que representará uma ocasião únicapara diálogo aberto sobre nossa políticaexterna, envolvendo os mais diversos se-tores da sociedade brasileira.

Esta reflexão deve partir da constata-ção de que o fim da bipolaridade, tantomilitar como ideológica, liberou os paísesde alinhamentos e fidelidades excluden-

tes. A confrontação exigia alianças milita-res e ortodoxia ideológica. A nova conjun-tura internacional, em que o tema do douxcommerce volta a emergir, estimula o plu-ralismo de parceiros e de modelos econó-micos. As políticas externas da maioriados países deixam de ter um caráter tota-lizante, seja de origem endógena, ou exó-gena, que ocorria sob a forma de umcontrato de adesão a visões de mundohegemónicos. Passam a buscar ser a ex-pressão fiel da multiplicidade dos interes-ses nacionais nas diversas áreas do con-vívio internacional.

Essa nova maneira de fazer diplomaciaé contemporânea da nova visão do Estadotrazida pela progressiva expansão da de-mocracia e da economia de mercado. Aparticipação plena dos cidadãos na condu-ção dos negócios públicos impede a diplo-macia secreta e autocrática, as visões ex-cludentes e as decisões táticas que care-cem de legitimidade moral. A economiade mercado, por sua vez, pulveriza os cen-tros decisórios e deixa aos empresários adecisão última sobre o que comprar e ven-der, a não ser nos setores estratégicos ousensíveis. Novos padrões de competitivi-dade exigem dos países uma constanteatualização de suas técnicas gerenciais, desua ciência e tecnologia, de seu marketinge de seu desenho industrial.

A sociedade internacional passa a fun-cionar antes a partir dos mecanismos denegociação do que daqueles de coerção. Éda natureza da discussão económica atransação, a concessão, a ideia de que oganho pode ser mútuo, ainda que desigual.As negociações sobre questões de guerra

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e paz, território e soberania, que caracteri-zam a diplomacia no passado, não permi-tem grande flexibilidade política, além dese prestarem a um tratamento emocionale, às vezes, demagógico. Um dos trunfosde nossa diplomacia reside, como se sabe,no fato de o patrono do Itamaraty, o barãodo Rio Branco, nos ter legado uma pautadiplomática sem contenciosos nessa áreasensível. Todos nossos recursos diplomá-ticos podem ser direcionados para a buscade uma melhor inserção do Brasil na eco-nomia e na sociedade internacionais, semas hipotecas que gravam a atividade deoutras Chancelarias.

Essa realidade não cauciona, sabe su-blinhar, a visão simplista de que o econó-mico superou o político na vida internacio-nal. A sociedade internacional, como qual-quer sociedade, resolve suas questões atra-vés do exercício da política. Não é a ma-téria que se negocia, sua origem e motiva-ção primeiras, ou sua finalidade última, oque define a natureza da atividade, mas oprocesso que lhe dá forma e legitimidade.Qualquer negociação bilateral ou multila-teral - nas Nações Unidas, no GATT ouno FMI -, é o exercício da política porEstados nacionais que buscam resolver pa-cificamente conflitos de interesses.

O que ocorreu não foi a obsolescênciado político, mas a relativa e talvez aindaprematura ou precária obsolescência dofator militar, no plano global e estratégico,que sempre foi restrito às superpotências.Esta expectativa de um mundo liberado doequilíbrio do terror, e portanto em paz,teve que ser rapidamente matizada pelaconstatação da persistência e mesmo do

surgimento de diversos focos de tensão ede conflito no âmbito regional, que embo-ra não ameacem a sobrevivência da huma-nidade, trazia dor e sofrimento para popu-lações inteiras.

O mundo não se resume, portanto, auma paisagem onde persistem diferençasapenas na área econômico-comercial. Re-sistem ou despontam focos de tensão in-ternacional, de origem étnica, cultural oureligiosa, enquanto a fome e a pobrezarepresentam outra fonte de ameaça à esta-bilidade do sistema internacional.

Essa medida de tendências positivas eoutras carregadas de ameaça compõe aagenda internacional que a sociedade bra-sileira deve discutir.

Temos que debater como vai ser a re-lação Brasil-Estados Unidos, levando emconta que essa Nação tem presença signi-ficativa em todos os aspectos da vida in-ternacional -político, económico, militar,cultural - e que para nós, latino-america-nos, apresenta a característica adicional deintegrar nosso espaço continental. Nessecontexto, é preciso debater sem preconcei-tos a proposta norte-americana de umaintegração vertical. Frente a essa e outrasalternativas, cabe reagir com maturidade,identificando o interesse nacional no con-texto das opções que se apresentam.

Temos que aprofundar nosso relacio-namento com nossos vizinhos imediatosde forma igualitária e reciprocamente sa-tisfatória, conservando e sublinhando aidentidade da América do Sul como umaregião com características especiais naárea de paz e segurança, de cuja evidência

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crescente e por contraste com outras re-giões do mundo podemos auferir vanta-gens em termos de investimentos e tecno-logia. A vocação reiterada da América doSul e, hoje, da América Latina como umtodo para a paz, a boa vizinhança e odesenvolvimento são trunfos que não po-dem ser desperdiçados em uma conjunturainternacional marcada pela escassez de ca-pitais e pela persistente instabilidade polí-tico-militar de várias regiões.

Cabe aprofundar os processos de inte-gração e coordenação tanto na direção dosul como na direção do norte. É precisosublinhar de modo enfático que o Brasil éum só, apesar de cada região ter natural-mente suas próprias prioridades e seus re-lacionamentos económicos preferenciais.O Mercosul não é um projeto que apenasinteresse aos Estados do Sul do Brasil,assim como o Tratado de CooperaçãoAmazônica não interesse apenas aos Esta-dos do Norte. O Brasil todo tem muito aganhar com o aprofundamento desses e deoutros projetos semelhantes.

Outra região que requer uma reflexãoaprofundada é a África. Temos aí interes-ses importantes e laços afetivos e culturaisde grande relevância, sobretudo com ospaíses de fala portuguesa.

Ao Brasil se impõe praticar o que oPresidente De Gaulle chamava de estraté-gia touts azimuts - em todas as direções -,sem exclusões ou omissões. Uma dessasdireções mais relevantes é a do pacífico,onde encontramos mais próximo de nós oChile e mais adiante o Japão e a China.

Essas alusões não têm caráter exausti-vo e hierarquizante. São meras indicaçõesda multiplicidade de oportunidades que senos apresentam.

Uma estratégia multidirecional, apon-tada para todos os pontos cardeais, se re-veste, no caso brasileiro, de um caráternatural e necessário, se observarmos ascaracterísticas de nossa sociedade, de nos-sa economia, de nossa geografia e, comojá vimos antes, a própria forma de que asociedade internacional se vai revestindo.

A pluralidade étnica, cultural, políticae ideológica da sociedade brasileira invia-biliza parcerias excludentes.

A diversidade e a escala da economiabrasileira inibe qualquer tendência à con-centração em determinados mercados, pormaiores e mais dinâmicos que sejam.

Nossa geografia, ao contrário do queocorre com tantos países, também não noscondena a relacionamentos prioritários.

Finalmente, a complexidade, diver-sidade e fluidez do quadro internacionaltornam obsoletas políticas externas tota-lizantes, baseadas em fórmulas fáceis ena aplicação automática de seus pressu-postos à realidade.

Em resumo, a política externa brasilei-ra terá cada vez mais que atender à com-plexidade da sociedade brasileira em todasas suas legítimas demandas através de umaadequada compreensão e utilização dasoportunidades oferecidas por uma conjun-tura internacional igualmente complexa.

A hora não pede frases feitas ou inicia-tivas mirabolantes. A diplomacia brasilei-

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ra terá que ser ao mesmo tempo consisten- disposição para ouvir a sociedade brasilei-te e criativa, confiável e inovadora. Não ra e buscar atender a suas necessidadesserá difícil consegui-lo. Temos o patrimô- crescentes em um quadro externo de gran-nio de nossos princípios e um acervo sig- de fluidez. Estamos, em suma, abertos aonificativo de realizações comuns com nos- diálogo e à necessidade de rumos, quandosos principais parceiros. Temos também necessário.

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Política externa: a opção universalista(O Estado de S. Paulo, 24 de janeirode 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

ÍN o mundo de hoje, em que política ex-terna e política interna entrelaçam-se maisintimamente do que nunca, o esforço daretomada do crescimento e de elevação dobem-estar do povo brasileiro tem de servisto, também, do ângulo mais amplo dasrelações internacionais.

Vivemos processo de mudanças pro-fundas. Se o fim da Guerra Fria eliminouo confronto Leste-Oeste e afastou o riscodo holocausto nuclear, não gerou ainda umsistema internacional infenso a conflitos,persistindo as ameaças à paz e à segurança.Alenta-nos pensar que a superação do ma-niqueísmo ideológico de quase meio sécu-lo tenha permitido desbloquear a agendainternacional e que, agora, os temas maisrelevantes para o interesse coletivo pos-sam ser debatidos mais objetivamente,sem compromissos políticos e doutriná-rios pré-determinados e sem o tom con-frontacionista de ontem.

As novas circunstâncias, contudo, nãoforam ainda suficientes para concretizar osanseios de maior abertura e participaçãono processo decisório internacional. Parauns, uma nova ordenação do modelo dehegemonia do sistema internacional subs-tituiu a bipolaridade da Guerra Fria, pelaunipolaridade norte-americana. Para ou-tros, estaria em formação uma espécie deconsórcio de poder (EUA/Alemanha/Ja-

pão, ou os membros permanentes do Con-selho de Segurança da ONU, ou, ainda, osmembros do G-7), em cujo nível estariamsendo definidas as prioridades da agendapolítica económica. Finalmente, para al-guns, abre-se a possibilidade de articula-ção de um novo sistema internacional maisdemocrático e guiado por regras multila-teralmente acordadas.

Uma consequência imediata do des-bloqueio da agenda política foi a prioriza-ção das questões económicas. Nesse âm-bito, forças poderosas estimulam, de umlado, as tendências à globalização e à eco-nomia de mercado, em ambiente altamen-te competitivo e com ênfase crescente nosavanços tecnológicos, e, de outro, o pro-cesso de consolidação de grandes espaçoseconómicos por meio de arranjos regio-nais. Embora aqui não seja o espaço apro-priado para uma análise mais profundasobre a medida em que esses dois proces-sos se contradizem ou se complementam,o fato mais importante é que eles indicamclaramente que a alternativa do crescimen-to autárquico deve ser excluída do univer-so de opções à disposição das sociedades.

Não bastassem essas mudanças inter-nacionais, também o Brasil atravessa mo-mento de inflexão. Depois de décadas,recobramos uma democracia que reabre adiscussão sobre todos os temas da agenda

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nacional. Esse processo atingiu inclusiveo Palácio do Planalto, no governo anterior,pois também a ética na função públicapassou a motivar a agenda política, sobpressão da sociedade.

Para um país que quer retomar o cres-cimento, precisa debelar a inflação e, aomesmo tempo, resgatar sua enorme dívidasocial. O êxito dessa nova política passapelo setor externo e, nesse sentido, instru-menta-se em nossa diplomacia. Partindoda premissa de que está excluída a opçãodo desenvolvimento autárquico, torna-seinadiável avaliar qual a melhor forma degarantir esse crescimento com integraçãona economia mundial e como melhor re-forçar nossa inserção internacional.

Para um país que se pode caracterizarcomo potência média, cuja economia é adécima maior do planeta e cujo traço dis-tintivo mais marcante é a diversificação -diversificação da produção económica, dasua pauta de comércio e também diversi-ficação de interesses externos - a busca deuma nova forma de inserção no núcleodinâmico das relações internacionais écondição necessária para o desenvolvi-mento do país. Buscamos mercados, re-cursos financeiros e, especialmente, tec-nologia, num mundo onde só tem acesso aessas molas propulsoras do progressoquem tiver condições de se apresentarcomo parceiro atraente e de influir no tra-çado das regras ora em definição na cenainternacional.

Nosso peso específico na economiamundial abre-nos o caminho. Nosso de-sempenho na reconstrução da democracia,que foi fortalecido no duro teste recente do

impeachment; na questão dos direitos hu-manos, em que, apesar de episódios nega-tivos, não se pode pôr em dúvida nossofirme compromisso de sua observância; nado meio ambiente, demonstrado por nossaatuação na Rio-92, quando contribuímos,com êxito, para aproximar posições ini-cialmente tão distantes entre nós e os paí-ses desenvolvidos; na do desarmamento,com as iniciativas no setor de armas quí-micas e bacteriológicas, como a que toma-mos ainda este mês assinando o Tratadode Paris, e na da não proliferação nuclear,depois do Acordo assinado com a Argen-tina e a AIEA, situa-nos na melhor tradi-ção ocidental e, por isso, habilita-nos aparticipar ativamente na construção de umnovo sistema de relações internacionaismais equitativo e democrático.

A distribuição de nosso intercâmbiocom o mundo (31% para a CEE, 21% paraos EUA, 16% para a Ásia e 11% para aAmérica Latina) e nossa posição geopolíti-ca, como país de proporções continentais,com relações políticas e económicas comdez vizinhos, além de nossa ação solidáriano âmbito da América latina, mostram, paranossa felicidade, que não temos que fazeropções excludentes. Como parceiros glo-bais, devemos buscar nossos interessesonde quer que eles estejam.

Como global trader, o Brasil continua-rá defendendo a conclusão satisfatória daRodada Uruguai do GATT. Precisamos deregras consensuais e universais que impe-çam a desordem nos termos de intercâm-bio mundial. Como país industrializado ecriativo, temos interesse em definir as re-gras concretas para os serviços, e entre elas

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incluímos a necessidade de aprovar-seuma lei de patentes nova.

Outro dado crucial a ser levado emconta é a consagração do fator humanocomo fonte de progresso. Assim, o que seconvencionou chamar de Terceira Revo-lução Industrial consiste, em suas linhasmais elementares, na afirmação do conhe-cimento, da educação e do investimentoem ciência e tecnologia como molas mes-tras do crescimento e da prosperidade.

Ao enfatizar nossa vocação universa-lista, devemos definir com precisão nossosinteresses e prioridades. E eles nos pare-cem bem claros: a América Latina, pelavizinhança, pelo passado compartilhado epelo futuro que estamos escrevendo juntono Mercosul e na nossa fronteira norte; osEUA nosso maior parceiro económico,país com o qual compartilhamos valores einteresses e, com o novo governo Clinton,a perspectiva de uma agenda bilateral re-vitalizada; a nova Europa, com a qual jálançamos as bases de uma relação maisaberta e promissora, convictos de que sa-berá abrir-se para o mundo e superar aspressões minoritárias em sentido contrá-rio; os países da Bacia do Pacífico - áreade maior crescimento no mundo e que seabre para outras regiões, consciente desuas responsabilidades acrescidas - comos quais devemos definir novas relações,à altura das nossas potencialidades. A es-

sas parcerias regionais acrescenta-se a vi-talidade das nossas relações com um sig-nificativo grupo de países do Oriente Mé-dio, do Leste Europeu e da África, sobre-tudo a Austral.

No passado, víamos o desenvolvimen-to do Sul quase que autonomamente, ecomo um fator fundamental para a estabi-lidade, para a paz e para a segurança domundo. Hoje, embora continuando a acre-ditar que o desenvolvimento é peça essen-cial da segurança mundial, estamos con-vencidos de que o crescimento dos paísesindustrializados e nossa relação com elessão decisivos. Assim como o Brasil não éviável sem crescimento, numa economiaglobal integrada nenhum país é viável semque o conjunto - onde os países industria-lizados têm enorme peso - cresça signifi-cativamente. Isto requer, portanto, umpacto pelo crescimento, como elementoindispensável para derrotar os nacionalis-mos, o racismo, as pressões migratórias, odesemprego, a fome e a miséria, para cons-truir uma ordem internacional mais justa edemocrática. Somos um país em desenvol-vimento com graves carências sociais.Nessas circunstâncias, uma política exter-na de cunho universalista e de tradiçãoligada aos valores ocidentais deve engajar-se no esforço nacional de dar resposta aonosso maior desafio: a luta pelo desenvol-vimento com justiça social.

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Brasil-EUA: maturidadedo relacionamento{Correio Braziliense, Io de fevereirode 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

início de uma nova Administração nosEstados Unidos, com a posse do Presidentedemocrata Bill Clinton, a 20 de janeiro, éacontecimento que convida à reflexão noque tange às expectativas que possa gerarno relacionamento com o Brasil. Em pri-meiro lugar, dentro da noção de tempo dadiplomacia, não existem datas mágicas ca-pazes de alterar por si só atitudes num ounoutro lado. Há, naturalmente, uma parti-cularidade auspiciosa no fato de a transiçãonorte-americana coincidir com o começoda gestão do Presidente Itamar Francocomo titular efetivo do Governo brasileiro.Há, também, a circunstância de ocorrer emmomento internacional significativamentedistinto ao que predominou durante a maiorparte do último período republicano. Mas,em política externa, é fundamental mantero olho na conjuntura, sem perder a visão dahistória. E a história ensina que Brasil eEstados Unidos estão ligados não apenaspela comunhão dos valores democráticos,base de suas sociedades, como também poruma tradição de convivência de diálogopermanentemente amadurecida.

Não haveria, pois, que antecipar gran-des mudanças. O que já pudemos construirno passado, os progressos contínuos dacooperação bilateral, a superação de con-tenciosos, as convergências que se vão

acentuando na atuação internacional decada país, tudo configura vim patrimónioque assegura a continuidade, a fluidez e obom nível do entendimento com Washing-ton. As novas administrações nos EUA eno Brasil encontram totalmente desobs-truídos os canais de interlocução bilateral.Não se defrontam com o antigo clima dediscordâncias em matéria de dívida, co-mércio, tecnologia, temas já há algumtempo discutidos entre os dois países deforma adulta, com objetividade e franque-za. O Governo Clinton lidará com umparceiro que persiste no seu caminho pró-prio de reformas económicas e de moder-nização, no qual sobressai indiscutivel-mente a necessidade de superação dasimensas desigualdades sociais. Mas, prin-cipalmente, não deixará de nos considerarcomo o país que acaba de viver experiên-cia do ponto de vista político e institucio-nal, com um desfecho que orgulha a cida-dania brasileira e fortalece os princípios dademocracia.

De tudo quanto foi analisado a respeitoda plataforma eleitoral do Presidente Clin-ton, depreende-se justamente que a ênfasepor ele colocada no campo dos valores, emcoerência com a política tradicional doPartido Democrata, pode vir a constituirfator de aproximação revigorada. Demo-

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cracia, direitos humanos, meio ambiente,combate às drogas, não proliferação sãobandeiras comuns aos dois países. Issoporque o debate internacional dessas ques-tões assume gradativamente dimensãomais cooperativa do que confrontacionis-ta, como também o Brasil, em particular,promoveu soberanamente avanços subs-tanciais que lhe conferem credenciais in-contestáveis.

A democracia entre nós, hoje mais doque nunca com a solução da crise do im-peachment, está vigorosamente preserva-da, e exercitada em sua plenitude. Os di-reitos humanos estão protegidos não ape-nas pela lei e pela política de transparênciado Governo, inclusive com nossa adesãoàs diversas convenções internacionais queregulam a matéria, mas primordialmentepela consciência da sociedade brasileira, enenhum episódio, por mais trágico e mo-ralmente condenável que seja, como o dopresídio de Carandiru, há de afastar o Es-tado e a coletividade daquele objetivo.Com a Conferência do Rio, demos contri-buição expressiva para a promoção dosesforços internacionais na questão domeio ambiente, em torno da qual emergiuo conceito fundamental de «desenvolvi-mento sustentável» como base de um novoespírito de cooperação que desejamos fa-zer prevalecer, com a decidida participa-ção dos países desenvolvidos. Temos rea-firmado permanentemente nossa vocaçãopacífica, lastro fundamental da tradiçãodiplomática brasileira, com uma série deatos e decisões de grande importância: oacordo de salvaguardas nucleares com aArgentina, a próxima entrada em vigor do

Tratado de Tlatelolco, o Compromisso deMendoza sobre Armas Químicas, firmadocom vários países latino-americanos, alémda Convenção Mundial concluída poste-riormente sobre o mesmo assunto. O Bra-sil participou de sua negociação e irá assi-ná-la no dia 13 de janeiro, em Paris, jun-tamente com os demais Estados Partes.

Tudo isso nos assegura um diálogomuito fértil e construtivo com os EstadosUnidos, que em rigor transcende qualquerímpeto de inovação voluntarista nas rela-ções em função de mudanças de governo.Resultados de política externa não podemser submetidos a uma escala imediatista.Há, para a compreensão desse aspecto, umfator decisivo: Brasil e Estados Unidos sãoas duas maiores democracias do hemisfé-rio, e é isso que dá precisamente maturida-de e solidez ao relacionamento. E justa-mente porque temos no Brasil uma demo-cracia em plena vitalidade, com as institui-ções a funcionarem plenamente como ex-pressão legítima da vontade nacional, queos Estados Unidos devem compreender,por exemplo, que as negociações em tornoda questão da propriedade intelectual es-tão sujeitas, em nosso País, a decisão doCongresso Nacional. A ele cabe deliberardentro de suas prerrogativas constitucio-nais, sobre o projeto de lei que lhe foioportunamente submetido pelo PoderExecutivo. O cumprimento desse trâmitelegal é da essência do regime democráticoe não tenho dúvida de que haverá de enri-quecer as perspectivas de cooperação en-tre os dois países.

Além do aspecto da democracia, pre-valece entre nós a convicção de que os

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Estados Unidos representam, historica-mente, parâmetro essencial na conduçãodos esforços de desenvolvimento da socie-dade brasileira. Modernizar a nossa eco-nomia, torná-la cada vez mais competiti-va, abri-la ao comércio e aos investimen-tos pressupõe necessariamente uma estra-tégia de expansão crescente de nossas re-lações bilaterais. Mas é importante reco-nhecer que o Brasil não é um país deresponsabilidades e interesses internacio-nais limitados. Essas responsabilidades eesses interesses ultrapassam as nossasfronteiras imediatas. Vão além da Améri-ca latina e do próprio hemisfério. Quere-mos maior aproximação com os EUA,sim, mas queremos e necessitamos tam-bém de crescentes vinculações com a Co-munidade Económica Europeia e o Japão.Por várias razões, entre as quais similitu-des demográficas, territoriais e económi-cas, precisamos intensificar os laços coma índia e a China. Tampouco se pode es-quecer a África, sobretudo os países deexpressão comum, como Angola, ondetem sido destacada a nossa presença polí-tica e comercial. O Oriente Próximo éoutra área de relevo, onde o Brasil dispõede boas oportunidades em termos de co-mércio e atração de capitais.

Para a política externa brasileira, nãohá, portanto, opções excludentes. Elas sãomúltiplas e se complementam. Sabemosprivilegiar os bons sócios, valorizamosnossos parceiros principais, mas isso nãorecomenda políticas reducionistas, inclu-sive dada a diversificação de nosso comér-cio exterior. Daí a importância para o Bra-sil, em sua condição de global trader, da

conclusão satisfatória da Rodada Uruguaido GATT. Não podemos prescindir de umsistema internacional de comércio estávele aberto. Daí também, o papel do Mercosulcomo espaço económico ampliado emnossa região e seu potencial como pólo dearticulação com outros blocos económicosregionais, como a própria CEE, o Nafta eos países amazônicos, com os quais temosvínculos muito próximos e que agora pre-tendemos fortalecer ainda mais com umainiciativa própria de expansão comercialna região. Pelo mesmo motivo, preocupa-nos o fato de que medidas restritivas àsexportações brasileiras ao mercado norte-americano continuem a ser adotadas,como no caso dos produtos siderúrgicos.Por isso também é essencial para nós quesejam efetivãmente cumpridos os compro-missos financeiros assumidos na Confe-rência do Rio por parte dos países desen-volvidos, de forma a materializar os bene-fícios que haverão de ser proporcionadosà comunidade internacional como um todoa partir da consagração do conceito de«desenvolvimento sustentável».

Tenho certeza de que essa variedade deinteresses externos é reconhecida e aceitanaturalmente pelos Estados Unidos, justa-mente porque ela exprime o caráter funda-mental do Brasil como sociedade pluralis-ta, democrática e crescentemente aberta, oque representa todo um conjunto de valo-res que compartilhamos com a grande na-ção do norte. Relações tão ricas e densascomo as que mantemos com os EUA nãocomportam simplificações, nem depen-dem de receitas impostas. O Brasil, por

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exemplo, promove as suas reformas eco-nómicas em ambiente de liberdades plenase por vontade exclusiva de seu povo e desua sociedade. Se tudo isso nos aproximados Estados Unidos, só temos motivospara confiar em um futuro de entendimen-to e cooperação. Não há outro caminho emum mundo que já sepultou a confrontação

ideológica e universaliza os valores daeconomia de mercado e dos direitos huma-nos, com crescente conscientização emtorno da solução dos problemas dos desen-volvimentos em escala global, sobretudoda necessidade de erradicação da fome eda miséria.

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Primeiro passo parao desenvolvimento sustentável{Folha de S. Paulo, 24 de fevereirode 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

Xvecentemente, um grande jornal brasi-leiro, ao fazer a retrospectiva do ano de1992, dedicou não mais do que dozelinhas à Conferência das Nações Unidassobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-to. O texto acentuava o caráter não-ob-rigatório dos documentos conclusivosda Conferência.

Todos se lembram da Conferência doRio, ou Rio 92, que, em doze dias agitadosem junho do ano passado, dominou osmeios de comunicação e atraiu a atençãomundial para o Rio de Janeiro. Mais decem chefes de Estado e de Governo aquidesembarcaram para, com sua presença,realçar a importância do evento. Centenasde organizações não-governamentais tam-bém estiveram presentes.

Um registro tão sumário daquela quefoi a maior conferência internacional denossa época pareceria sugerir que tudo nãopassou de um grande evento promocional,sem maior consequência além da criaçãode mais uma instância da burocracia inter-nacional onde os países continuariam adiscutir, infindavelmente, as questões demeio ambiente e desenvolvimento.

Nada poderia estar mais longe daverdade.

Como todas as ideias renovadoras, odesenvolvimento sustentável - conceitofundamental consagrado pela Conferência- não existe apenas no plano das abstra-ções. Isto porque responde a um problematão atual que já se tornou emblemático denossa época: como produzir, consumir,criar riqueza hoje sem comprometer a ca-pacidade das gerações futuras de, por suavez, produzir, consumir e criar riqueza.Em outras palavras, como assegurar que anossa qualidade de vida não se mantenhaao custo do empobrecimento da base na-tural que a sustenta.

Ao lado da Declaração do Rio, ondeestão expressos princípios fundamen-tais, a Conferência aprovou um extensoprograma global de ação conhecidocomo Agenda 21, uma espécie de recei-tuário daquilo que é preciso fazer paratornar o desenvolvimento sustentáveluma realidade.

É bem verdade que a vastidão da tarefae os custos envolvidos tornam-na proibiti-va a curto prazo para os países que desejemagir individualmente, especialmente paí-ses em desenvolvimento como o Brasil. Acooperação internacional é, por conse-guinte, o principal caminho para a imple-mentação da Agenda 21.

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O Brasil acaba de dar um passo impor-tante nessa direção ao assinar, no últimodia 28 de dezembro, com o Uruguai, umAcordo de Cooperação em Matéria Am-biental. Trata-se do primeiro acordo inter-nacional adotado à luz da Conferência doRio e, portanto, a incorporar os principaisconceitos por ela aprovados.

Sua orientação é eminentemente prá-tica e moderna. Veja-se, por exemplo,como trata a difícil questão dos impactosambientais fronteiriços, ou seja, dos im-pactos ambientais provocados no país vi-zinho por atividades desenvolvidas dooutro lado da fronteira. Nenhum país querver seu desenvolvimento inibido por res-trições externas de qualquer ordem - en-tre essas se incluem com frequência argu-mentos relativos ao meio ambiente. Auma reclamação de que certa atividade -por exemplo, o funcionamento de umafábrica perto da fronteira - estaria preju-dicando o país vizinho, a reação que mui-tas vezes se tinha era a invocação dasoberania nacional.

O funcionamento da usina termelétri-ca de Candiota, a sessenta quilómetros dafronteira com o Uruguai, vem causandopreocupação naquele país. Haveria indí-cios de depósitos ácidos de origem at-mosférica, que poderiam ter origem nasemissões, pela usina, de óxido de enxofree nitrogénio. Ambos os países estão rea-lizando um trabalho coordenado na re-gião para conhecer a extensão do proble-ma e averiguar se realmente vem da Can-diota. Trata-se de tarefa complexa, queenvolve consideráveis recursos financei-ros e tecnológicos.

Mas, como proceder uma vez obtidosos resultados desse levantamento? A ino-vação do acordo está no fato de que trataa questão com total objetividade. As partesse comprometeram a prevenir, reduzir ecombater os impactos ambientais signifi-cativos que atividades desenvolvidas emseu território possam produzir no da outraparte. Também trocarão informações so-bre suas atividades. Uma Comissão deCooperação em Matéria Ambiental inte-grada pelos dois governos - e que teráconcurso não só de entidades universitá-rias de pesquisas públicas e privadas mastambém de representantes das comunida-des fronteiriças - elaborará uma série deparâmetros de impacto ambiental. Poderá,por exemplo, definir os níveis aceitáveisde acidez dos corpos hídricos da região. Omonitoramento permanente do ar, dos so-los, dos rios e lagos permitirá identificarquando os índices vierem a superar osparâmetros estabelecidos, entrando numafaixa que permita ao país afetado ou a umseu cidadão solicitar uma compensaçãopelo dano ocorrido, uma vez comprovadaa origem transfronteiriça desse dano.

A assinatura do acordo não significa,obviamente, que o Brasil tenha qualquerintenção de abrir mão de sua soberania.Quando um país assume livre e esponta-neamente um compromisso internacio-nal, aliena sempre um pouco de sua liber-dade individual em benefício das partesenvolvidas. Além disso, se algum proble-ma efetivamente ocorre, o que interessa écorrigi-lo, inclusive porque também esta-rão sendo afetados os brasileiros que vi-vem na região.

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O mecanismo de cooperação por danosmateriais aplicar-se-á na região fronteiri-ça, o ponto de contato de duas populações,que frequentemente compartilham osmesmos problemas. Hoje, nossa fronteirameridional é área de grande atividade, e osdois governos têm de ouvir as populaçõeslindeiras e abrir oportunidades para seudesenvolvimento. É por essa razão que oacordo dá atenção preferencial à regiãofronteiriça também como um espaço coo-perativo por excelência.

A Comissão de Cooperação em Maté-ria Ambiental cuidará de um amplo espec-tro de iniciativas que poderão ser desen-volvidas conjuntamente visando à eleva-ção dos níveis de bem-estar económicodos habitantes da região fronteiriça. Entreseus objetivos figuram a proteção da saúdehumana e animal, a gestão, conservação euso racional dos recursos naturais e a har-monização da legislação ambiental. Po-dem-se apontar exemplos específicosonde são óbvias as vantagens da coopera-ção: controle do uso de fertilizantes e de-fensivos químicos na agropecuária, inter-ligação ou estabelecimento de sistemascomuns de tratamento de resíduos, sanea-mento e águas servidas de cidades e áreasurbanas fronteiriças contíguas.

Dessa descrição do acordo depreen-dem-se duas outras características que de-correm diretamente dos princípios aprova-dos pela Conferência do Rio: em primeirolugar, a indissociabilidade da preservaçãoambiental e do desenvolvimento social eeconómico; em segundo lugar, o alto nívelde participação e informação públicas na

formulação e implementação das iniciati-vas comuns.

O acordo aplica-se também em doisoutros planos que transcendem a regiãofronteiriça: o nacional e o global. No âm-bito nacional, Brasil e Uruguai trocarãoinformações e desenvolverão programassobre questões tão variadas e importantescomo prevenção de acidentes e catástro-fes, tratamento de dejetos, substâncias no-civas ou perigosas e resíduos sólidos, de-sertificação, meio ambiente urbano, edu-cação e informação.

O plano global refere-se àqueles fenó-menos, objeto de grande preocupação naatualidade, cuja origem e efeitos não es-tão circunscritos a um quadrante determi-nado do planeta e cuja superação dependenecessariamente da ação conjunta de todaa comunidade internacional. Brasil eUruguai trocarão informações e coopera-ção na aplicação de medidas relacionadascom os esforços internacionais para aproteção da camada de ozônio, conserva-ção da diversidade biológica, atenuaçãodos processos de aquecimento da atmos-fera e controle do movimento fronteiriçode resíduos perigosos.

Diante do vasto alcance das decisõestomadas na Conferência do Rio, não sur-preende que até o indivíduo mais engajadose sinta imbuído de algum ceticismo. Afi-nal, trata-se de transformar hábitos arrai-gados e de mudar fundamentalmente nos-sa percepção imediatista dos custos e be-nefícios da atividade produtiva. A instabi-lidade provocada pelos conflitos regionaisque hoje conturbam o cenário mundial,

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bem como as limitações de uma economia biental, o Brasil e o Uruguai deram umainda à sombra das tendências recessivas exemplo, que poderá ser seguido por ou-dos últimos anos são também fatores que tros países, de como já é possível dar pas-militam contra a implementação expedita sos importantes para a superação desseda Agenda 21. No entanto, ao assinar o grande desafio que é tornar realidade oAcordo de Cooperação em Matéria Am- desenvolvimento sustentável.

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O Brasil e Clinton{Zero Hora, 28 de fevereiro de 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

Oretomo dos democratas ao poder nosEstados Unidos marca um ponto de refle-xão na política norte-americana, apósdoze anos da era republicana, e é obriga-ção da diplomacia brasileira avaliar asimplicações dessa mudança e explorá-lasem benefício das relações bilaterais.Como as duas maiores democracias dohemisfério, Brasil e EUA possuem afini-dades políticas naturais a sedimentaremum relacionamento maduro e historica-mente denso. Com a posse do PresidenteBill Clinton, esse ambiente favorável auma maior aproximação deve e podeacentuar-se ainda mais.

Sob um ângulo estritamente político,não deixa de ser benvinda a ênfase anun-ciada pelo novo Governo norte-americanoem questões como democracia, direitoshumanos, meio ambiente e - agora, comodeclarado pelo novo Secretário do Tesou-ro às autoridades da área económica bra-sileira -também no combate à pobreza naAmérica Latina. Esse tipo de bandeira sódividia os dois países no tempo dos regi-mes autoritários. Hoje, há total coincidên-cia. Ninguém mais do que os própriosbrasileiros quer a democracia preservadaentre nós - e nisso demos soberanamenteprova cabal na crise do impeachment; nin-guém mais do que nós deseja o meio am-biente protegido para proveito das gera-ções futuras, nossa juventude livre da

ameaça das drogas e os objetivos do de-senvolvimento económico e da justiça so-cial plenamente realizados.

Abre-se neste momento outra impor-tante via de diálogo e colaboração no cam-po político com a presença do Brasil noConselho de Segurança das Nações Uni-das. Queremos aproveitar nosso mandatode dois anos naquele órgão, como membronão pennanente, para tentar aprofundar adiscussão sobre a necessidade da redemo-cratização da ordem internacional. Umaordem em que os Estados Unidos convi-vem com outros significativos pólos depoder, como Japão e Alemanha, e ao mes-mo tempo com regiões em desenvolvi-mento que aspiram legitimamente a umamaior participação nos processos decisó-rios internacionais.

Do ponto de vista das relações econô-mico-comerciais, obviamente há incóg-nitas a serem esclarecidas, mesmo porquea prioridade da Administração Clintonnestes seus primeiros meses tem recaídosobre questões internas. É preciso, porexemplo, avaliar até que ponto se confir-marão os indícios mais recentes de recu-peração da economia norte-americana.Disso dependem as perspectivas de ex-pansão do próprio comércio mundialcomo um todo, sobretudo quando se pre-nunciam acirradas competições entre osgrandes blocos económicos ante as pro-

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longadas indefinições da Rodada Uruguai.É preciso saber se os Estados Unidos semanterão na prática como defensores dolivre comércio ou se não irão resistir àstentações protecionistas.

Sinal preocupante, sem dúvida, foidado pela decisão norte-americana, con-firmada nos primeiros dias da Adminis-tração Clinton, de aplicar restrições àsnossas exportações de produtos siderúr-gicos, sob a alegação de serem subsidiá-rias ou objeto de dumping. Foi uma me-dida que não visou exclusivamente aoBrasil (ao contrário, 19 países foram atin-gidos, inclusive Japão e Comunidade Eu-ropeia) e que, em nosso caso, encontroua única resposta possível: acionamos osrecursos apropriados seja no âmbito bila-teral, seja no GATT.

A questão da propriedade intelectual éoutro aspecto delicado. A legislação nor-te-americana impõe regras e prazos unila-terais, em termos quase de ultimatum, di-fícil de conciliar com as circunstâncias eparticularidades da política brasileira. Daparte do Governo brasileiro, não falta âni-mo de diálogo e entendimento. É indiscu-tível seu empenho na aprovação da novaLei de Patentes. Acabo, inclusive, de pre-sidir uma reunião de trabalho no Itamara-ty, com a presença dos Ministros da áreaeconómica, os Líderes do Governo e dosPartidos Políticos nas duas Casas do Con-gresso, além de empresários, para discutir-mos os detalhes da legislação que interessaao país adotar e colocar em prática.

Em matéria de ciência e tecnologia, oacesso às altas fontes do conhecimento é

um princípio do qual não abdicamos. Es-peramos que os EUA adotem política maisflexível nesse campo, pois do contráriomenor será nossa capacidade de aperfei-çoaremodernizarosistemaprodutivo bra-sileiro. Temos aprofundado as coincidên-cias entre os dois países em relação aostemas da não-proliferação e das tecnolo-gias sensíveis. Fizemos acordo de salva-guardas totais com a Argentina e a Agên-cia Internacional de Energia Atómica(AIEA). Estamos colocando o Tratado deTlatelolco em vigor e, ao mesmo tempo,adotando uma política na área de mísseisque deverá contemplar as normas doMTCR (Regime de Controle de Tecnolo-gia de Mísseis, adotado pelos países in-dustrializados).

A dívida externa, por sua vez, há muitodeixou de ser um problema nas relaçõesBrasil-EUA. Nosso diálogo com a comu-nidade financeira internacional está nor-malizado e rende seus dividendos práticos,como na recente visita do Ministro PauloHaddad a Washington.

Quanto ao tema muito atual da integra-ção hemisférica, esta é uma discussão quetambém ganha relevo à medida que, porum lado, avançam as iniciativas de alcanceregional com o Mercosul e o Acordo deLivre Comércio da América do Norte(Nafta) e, por outro, aumenta cada vezmais a necessidade de uma articulaçãoentre os dois processos. Para o Brasil, aconsolidação do Mercosul é a prioridade,e por isso as negociações devem fazer-se,não individualmente, mas na base 4 mais1, ou seja, Mercosul e Estados Unidos,

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estes na condição de membro mais impor-tante do Nafta.

A agenda Brasil-EUA com Clinton é,portanto, muito rica e, sem as incompreen-sões do passado, pode ser revitalizada.Não nos preocupam eventuais divergên-cias, pois elas, na verdade, são própriasdos relacionamentos caracterizados pelaamplitude de interesses recíprocos. Quan-do estive em Washington em janeiro, aconvite pessoal do Partido Democrata paracomparecer à posse do novo Presidente,pude perceber que a maturidade do rela-cionamento bilateral é algo que transcendeos governos e as correntes partidárias.Senti o melhor espírito construtivo da par-te de todos meus interlocutores que entãose preparavam para integrar a nova Admi-nistração. A busca de soluções para os

problemas atuais que enfrentamos na áreado comércio é uma tarefa perfeitamenterealizável quando existe adequado nívelde diálogo político.

Nesse sentido, o Presidente ItamarFranco, que coincidentemente iniciou suagestão poucas semanas antes da posse deClinton, tem o firme propósito de empe-nhar-se pessoalmente nesse processo derevalorização das nossas relações com osEstados Unidos. Afinal, a construção deuma democracia forte, estável e moderna,como a que desejamos para o Brasil - naqual a democracia política venha acompa-nhada de democracia económica e, sobre-tudo, democracia social - é um empreen-dimento que não pode prescindir da cola-boração daquele que é o nosso principalparceiro no mundo.

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Redimensionando a Ásia{O Estado de S. Paulo, 5 de marçode 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

.t/studos do GATT e do Banco Mun-dial/FMI confirmam ser a Ásia a regiãoque vem demonstrando maior dinamismoeconómico, quer no que diz respeito aíndices de crescimento propriamente di-tos, quer em termos de participação nocomércio mundial. Esse quadro de prospe-ridade vem se refletindo nas cifras do co-mércio exterior brasileiro: a soma do nos-so intercâmbio, nos dois sentidos, comaquela parte do mundo, que era de US$400 milhões em 1970, totalizou mais deUS$ 7,9 bilhões em 1991. Na década de80, para nos atermos a uma série históricamais próxima, o intercâmbio com a áreacresceu a índices mais elevados que os docomércio global brasileiro. Em 1990, foi omercado de destino para 16,8% das expor-tações brasileiras; em 1991, essa participa-ção alcançou 18,8%, inferior apenas à daCEE (30,9%), muito próxima da dos EUA(19,8%) e superior à representada pelomercado da América Latina (16,6%).

Ao lado desse dinamismo económico,verifica-se na região um movimento tam-bém acelerado no sentido do diálogo di-plomático e da distensão política, supe-rando-se, assim, antagonismos históricose inserindo-se o continente na nova reali-dade mundial representada pelo fim dabipolaridade. Muitos fatos recentes po-dem ilustrar essa afirmação: o prossegui-

mento, agora com a Rússia e três outrasrepúblicas limítrofes, da aproximação ini-ciada pela República Popular da ChinacomaURSS; uma«novaera» nas relaçõesentre a China e a índia; o engajamento doConselho de Segurança das Nações Uni-das - com o decidido apoio de governosda região - n a pacificação do Camboja; aretomada do diálogo entre Tóquio e Mos-cou e o início de conversações regularesentre as duas Coreias; a aproximação derivais históricos, como a China e a Coreiado Sul; as iniciativas tendentes a criar uma«comunidade económica» do Pacífico,etc. O reaquecimento do diferendo indo-paquistanês em torno de Cachemira, deconotação eminentemente regional e nãoideológica, é exceção que não chega acomprometer a tendência geral à distensãoe à estabilidade na região.

Países do continente asiático, por suavez, buscam postura mais ativa no cenáriopolítico mundial, vide o novo protagonis-mo que se verifica na política japonesa; oingresso coreano nas Nações Unidas; amaior participação australiana em temasregionais, seu papel nas negociações agrí-colas da Rodada Uruguai e a atuação dadiplomacia daquele país na questão dobanimento das armas químicas; a firmeatuação da Malásia em temas globais e emespecial, no diálogo Sul-Sul. A índia, se

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não mais conta com a liderança carismáti-ca da dinastia Nehru-Gandhi, reafirma suaposição de potência regional e despontacomo candidata natural, a exemplo do Ja-pão, à participação permanente num Con-selho de Segurança ampliado e mais repre-sentativo. A China, deixadas para trás asturbulências de Tianamen, prossegue deforma decidida no seu processo de abertu-ra económica. Os ventos liberais da priva-tização são abraçados em terras onde antesnão prosperavam: índia, Paquistão, China.

Por si só, esse cenário extremamentepositivo, dos ângulos político e económi-co, justifica a atribuição de alta prioridadeà região na política externa brasileira, so-bretudo se se levar em consideração a exis-tência de avenidas de cooperação e deentendimento ainda escassamente explo-radas com a maioria dos países da área.

Permito-me aqui repisar a premissa deque, em política externa, a colheita deresultados obedece a uma noção de tempoprópria à diplomacia, que pressupõe o pa-ciente - e por vezes aparentemente longo- trabalho de fincar raízes, de criar laçosde confiança mútua. O tradicional enten-dimento que mantemos com a índia nosforos económicos multilaterais, o patrimó-nio comum de realizações que construí-mos com o Japão - enriquecido pela di-mensão humana representada pelos movi-mentos migratórios nos dois sentidos -, oalto nível de diálogo político que atingi-mos com a China, esses são apenas algunsexemplos de que a base está montada paranovas iniciativas que correspondam efeti-

vamente às potencialidades de nosso rela-cionamento com a Ásia e a Oceânia.

No que diz respeito ao Japão -terceiropaís investidor na economia brasileira, se-gundo credor do Brasil e nosso segundoparceiro comercial e individual -, uma vezretomado o fluxo de financiamentos torna-dos possíveis pela normalização das nos-sas relações com a comunidade financeirainternacional, cabe definir, em sintoniacom outras áreas governamentais e da so-ciedade brasileira, uma nova proposta deparceria que venha a incorporar, em maiorescala, o empresariado privado nacional -até agora virtualmente ausente dos gran-des empreendimentos binacionais, marca-dos pela presença estatal. A dar densidade- e dimensão estratégica - a essa parceriareformulada, estaria o diálogo político en-tre as Chancelarias dos dois países, o queestou tratando de intensificar lançandomão do mecanismo de consultas que ne-gociamos com os japoneses em 1989.

Com a China, cuido de valorizar asrelações de cooperação na área de ciênciae tecnologia, na qual se destaca o projetosino-brasileiro de construção de satélitesde sensoriamento remoto. Na esfera co-mercial, contudo, temos de tomar provi-dências para dar novo impulso ao inter-câmbio, que momentaneamente conhececerta retração: não podemos deixar deaproveitar as oportunidades de um mer-cado de mais de 1 bilhão de consumidorese cujo nível de renda e de consumo estáem franca expansão. É nesse sentido queo Itamaraty está prestando todo o seuapoio a empresas brasileiras que lá bus-

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cam se inserir no amplo mercado de pres-tação de serviços, notadamente no setorhidrelétrico.

No tocante à índia, cabe capitalizar otradicional entendimento a que me referiem empreendimentos concretos que espa-lhem o peso dos dois países no concertodas nações. Há amplas complementarida-des a serem exploradas em ciência e tec-nologia, inclusive em setores de ponta.Possibilidades semelhantes exploraremoscom o Paquistão, com quem teremos ago-ra, momento em que ambos temos assentono Conselho de Segurança, oportunidadepara um diálogo político mais intenso.

A inserção do continente asiáticocomo um dos focos prioritários da políticaexterna brasileira passa, também, pelaconstrução de outras parcerias, mediante aintensificação do diálogo político tendenteao aproveitamento ou expansão de nichosde oportunidade nas áreas de captação deinvestimentos (aos tigres asiáticos: Hong-cong, Taiwan, Coreia e Cingapura), decooperação em ciência e tecnologia - aCoreia, com quem assinamos recentemen-te acordo nessa área, poderia tornar-se par-ceiro relevante nesse campo -, de presta-ção de serviços e de cooperação técnica etecnológica (Malásia, Tailândia, Indoné-sia e Filipinas, integrantes da Asean).

Nossos interesses com relação à áreanão se esgotam, contudo, no plano pura-mente bilateral. A diplomacia brasileira,cumprindo sua missão precipuamente po-lítica, e com responsabilidades acrescidasna cena mundial pela sua presença no Con-selho de Segurança, não pode deixar deestar atenta às grandes transformaçõesque estão ocorrendo no cenário asiático,hoje um dos eixos principais do sistemainternacional.

Não posso, por fim, deixar de ressal-tar o significado altamente positivo, parao processo de aproximação com o conti-nente asiático, das novas linhas aéreasque ligam o Brasil àquela área do mundo.Passados 20 anos, durante os quais essaligação se restringiu à pioneira linha paraTóquio, temos hoje voos regulares para aCoreia, para a Tailândia e para Hong-cong. Estamos em fase de conclusão deacordos aéreos com a Malásia e Cingapu-ra. Trata-se de gigantesco passo que emmuito facilita e facilitará não só o trânsitode pessoas como o intercâmbio de mer-cadorias com aquele continente. Esperoainda ver complementado esse processode aproximação viária com o Orienteatravés da viabilização da nossa saídaterrestre para o Pacífico.

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A África e o Brasil(Jornal do Brasil, 18 de março de 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

Us países que almejam participar do nú-cleo dinâmico das relações internacionaisestão inevitavelmente empenhados, nestemomento, na revisão e atualização de suasprioridades. É o caso do Brasil, que vemdespendendo um grande esforço paramanter o pleno domínio das situações no-vas que modificam, em grande velocida-de, o cenário mundial.

A vertigem do novo, no entanto, nãopode servir para abalar convicções quan-to a temas que vêm consistentementeocupando a agenda da nossa política ex-terna. Assim como não podemos desper-diçar as oportunidades novas que seabrem nos dias de hoje, não podemostampouco, depreciar os fatores políticose geográficos que historicamente nos fa-vorecem. Estaríamos transgredindo umaelementar regra de bom-senso se, emnome de um imediatismo míope, redese-nhássemos o mapa de nossos interessesno mundo e voltássemos as costas paratradições diplomáticas estabelecidas.

Tenho dito em outras ocasiões que apolítica externa brasileira não comportaopções excludentes: se precisamos, de umlado, estar permanentemente preparadospara a conquista de fronteiras diplomáti-cas, devemos também, com idêntico sen-tido de prioridade, valorizar o patrimóniopolítico que já conseguimos reunir.

Ao refletir sobre as relações entre oBrasil e o continente africano, essas con-siderações adquirem um vigor singular.Nossa presença na África já assume fei-ções de tradição, da qual não podemosrecuar sob pena de fazer ruir, como cas-telo de cartas, o inestimável capital deboa vontade acumulado por nossa expe-riência naquela região - da qual somosculturalmente tributários e com a qualcompartilhamos uma imensa porçãooceânica que pretendemos voltada para apaz e a cooperação.

O registro das ações mais recentes dadiplomacia brasileira demonstra que con-tinua viva, talvez mais do que nunca, aatenção que devotamos à África. Bastamencionar o papel de protagonista quelegitimamente o Brasil vem desempe-nhando em assuntos relacionados a doispaíses africanos de língua oficial portu-guesa: Angola e Moçambique.

A ação diplomática do Brasil em buscade uma solução para o presente conflitoangolano é movida por um genuíno senti-mento de solidariedade. Se Angola hojenecessita, mais do que nunca, do apoiointernacional para superar as incertezas domomento, o Brasil -primeiro país a reco-nhecer o Governo angolano, em 1975 -não poderia omitir-se. País no qual os in-teresses brasileiros se têm avolumado aolongo dos anos. Angola vem mantendo

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com o Brasil um nível exemplar de coope-ração, além de respeitar com rigor todosos compromissos assumidos. Nem mesmonos momentos mais árduos da guerra civilnaquele país, foram interrompidos os for-necimentos regulares de petróleo com osquais Angola vem saldando religiosamen-te a dívida contraída junto ao Governobrasileiro.

No Conselho de Segurança das NaçõesUnidas - onde voltamos a ocupar agoramandato de dois anos - e em contatosdiretos com diferentes países interessados,a diplomacia brasileira vem-se batendopor uma solução pacífica e democráticapara a questão angolana, com base no ple-no respeito aos acordos de paz firmadosem 1991 e às resoluções do Conselho deSegurança sobre a matéria. Não podemosaceitar que as primeiras eleições naquelepaís, realizadas em setembro de 1992, re-conhecidamente livres e justas, sejam fla-grantemente desrespeitadas pelo partidoderrotado, sob o olhar complacente da co-munidade internacional.

A expressiva presença brasileira emAngola - traduzida, neste momento, porobras de vulto, como a construção da hi-drelétrica de Capanda e a exploração depetróleo e diamantes, além de importantesprojetos de infra-estrutura - legitima esseengajamento do Brasil, que já se traduz emresultados concretos. A Resolução 804 re-centemente adotada pelo Conselho de Se-gurança reflete, em vários aspectos, o tra-balho de convencimento que a Delegaçãobrasileira realizou junto aos demais mem-bros daquele foro, e, no plano bilateral,junto aos países da chamada Linha de

Frente, aos países africanos de língua por-tuguesa e aos países observadores do pro-cesso de paz angolano -Portugal, EstadosUnidos e Federação Russa.

Por outro lado, estamos buscando nes-te momento intensificar nossa participa-ção no processo de paz de Moçambique,país devastado por uma guerra civil de 16anos, ao qual estamos unidos pela língua,por uma presença cultural ativa e por inte-resses económicos concretos, além de di-versos programas de cooperação técnica,muitos dos quais financiados por terceirasfontes. Em atendimento a convite do Se-cretário-Geral da ONU, o Governo brasi-leiro designou um Oficial-General doExército para comandar o contingente dasNações Unidas que supervisionará o pro-cesso de pacificação em curso naquelepaís. O referido convite ao Brasil certa-mente foi motivado pelo excepcional de-sempenho de nossos oficiais na missão dasNações Unidas em Angola (Unavem).Nunca é demais recordar que coube tam-bém a um General brasileiro o primeirocomando militar da Unavem.

Ainda com relação a Moçambique, de-terminei as providências necessárias paraque prestemos assistência à implantaçãoda infra-estrutura eleitoral daquele país,com vistas à realização, em futuro próxi-mo, das primeiras eleições da história mo-çambicana. Contamos, com tais medidas,acrescentar aos nossos laços significaçãopolítica maior, ao lado da presença brasi-leira no comando da operação de paz daONU. São atos concretos de apoio ao pro-cesso de democratização e pacificação da-quela nação irmã, que, somados ao reforço

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dos programas de cooperação técnica,confirmam o tipo de prioridades que, naatual conjuntura, cabe ao Brasil continuara seguir em sua política no continenteafricano, com ênfase na comunidade depaíses de expressão portuguesa.

Tanto em Angola como em Moçambi-que, nossas iniciativas não teriam atingidoo atual patamar de visibilidade e respeita-bilidade internacionais se não fossemorientadas pela estrita observância das li-nhas mestras de nossa política externa afri-cana. Tem sido determinante para o êxitode nossas postulações o peso da tradiçãodiplomática brasileira na África. O traba-lho que estamos desenvolvendo nessespaíses revitaliza a credibilidade da ação doEstado brasileiro perante a comunidadeinternacional e traz como consequênciaimediata o fortalecimento, pela via políti-ca, de nosso prestígio na África.

Fizemos, há 18 anos, uma opção clarapela África, e esta opção não tem sido enão deve ser desvirtuada - nem quandosobrevêm prioridades pontuais que pos-sam desviar nossa atenção para outras par-tes do globo. Nosso relacionamento comaquele continente ribeirinho - fronteiraoriental do Brasil - deverá florescer, ape-sar de todas as dificuldades de um e deoutro lado do Atlântico. Nenhum interesseremotamente hegemónico orientou a for-mulação da política brasileira para a Áfri-ca. Nossa presença na área sempre foiconstrutiva. Nações africanas sempre re-ceberam nosso apoio fraterno, na organi-zação de suas instituições e na luta contrao racismo remanescente. Se soubemos,sob regime autoritário, conduzir uma po-

lítica externa fundada na soberania, nanão-ingerência e na cooperação, mais ra-zão temos agora para revitalizar essesprincípios, adicionando-lhes um conteú-do democrático que nos confere aindamais autoridade como interlocutores depaíses traumatizados pela experiência co-lonial e totalitária. Deve-se levar em con-ta também, neste contexto, que a ausênciade paternalismo em nossa cooperaçãocom a África contrasta nitidamente comos diversos interesses internacionais que- seja em época de polarização, seja emtempos de desideologização - vêm con-tribuindo para perpetuar o verticalismodas relações dos países africanos com omundo desenvolvido.

A política externa brasileira reuniu, aolongo dos anos, considerável acervo deconhecimentos sobre a realidade africana,a partir de uma visão objetiva e sóbria quejá nos distingue perante a comunidade in-ternacional. Soubemos manter, no conti-nente vizinho, uma linha política consis-tente, o que nos tem habilitado a acompa-nhar, em posição privilegiada, o desfechodos processos de descolonização, de des-monte do apartheid, de pacificação emAngola e Moçambique e o abandono dosregimes unipartidários, entre outros de-senvolvimentos internos que temos tido aoportunidade de testemunhar. É nossaobrigação transferir para as gerações futu-ras a possibilidade de ampliar esse acervode conhecimentos.

Não há ação diplomática que se susten-te quando lhe falece coerência. A dimen-são africana da política externa brasileiratem sido, nesse sentido, de uma continui-

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dade admirável, a despeito das conhecidasdificuldades internas para obter financia-mentos e outros meios operacionais. Essatrajetória é sujeita a tropeços e frustrações,mas a diplomacia é uma atividade extre-mamente complexa, que demanda enormeesforço e paciência. Para alcançar seusobjetivos, é necessário que o formuladorde política externa se adapte, a cada mo-mento, a cenários em constante mutação,nos quais os êxitos pontuais são frequen-temente comprometidos por óbices impre-visíveis, que apenas o talento político con-segue transpor.

Decidi, nesse contexto, relançar a ini-ciativa brasileira da Zona de Paz e Coope-ração do Atlântico Sul, que bem expressaos interesses que compartilhamos comnossos vizinhos da região. A Zona de Paz,cabe lembrar, foi concebida em circuns-tâncias internacionais diferentes das dehoje: ainda existia a Guerra Fria; a Namí-bia estava sob a ocupação sul-africana; asreformas do regime do apartheidpareciam

um sonho; era preocupante o apoio exter-no aos protagonistas da guerra civil emAngola; o impasse em torno da questãodas Malvinas representava fator de tensão.Hoje, a percepção brasileira é a de que aZona de Paz e Cooperação do AtlânticoSul tem diversas vocações que podem edevem ser estimuladas em benefício deseus objetivos originais: a proteção domeio ambiente marinho, a formalização deum tratado de desnuclearização (como sefez com Tlatelolco em relação à AméricaLatina), a cooperação esportiva, a expan-são do comércio.

A política africana do Brasil já chegoua uma idade adulta e caberá, por isso mes-mo, adaptar-se às variações de um contex-to internacional que apresenta uma cargainédita de desafio e oportunidade. Adap-tação não significa recuo, mas aprofunda-mento - a partir de uma reflexão para aqual nos credenciam a continuidade e oamadurecimento de nossa experiência na-quele continente.

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O Brasil e a lusofonia(25 de abril de 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores,

A política externa brasileira para a Áfri-ca apresenta, como particularidade, umapreocupação constante com os PaísesAfricanos de Língua Oficial Portuguesa,os chamados PALOPs (Guiné-Bissau,Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angolae Moçambique). Desde 1975 -quando seconsumaram os traumáticos processos deindependência que se sucederam naque-les países - até esta data, as relações quevimos mantendo com os PALOPs sãomarcados pela absoluta correção de pro-pósitos e pelo crescente espírito de frater-nidade, através de um diálogo franco edireto que só é possível entre nações comindiscutíveis afinidades étnicas, culturaise históricas.

Por esses motivos, é junto àquelespaíses que encontramos a oportunidadede levar a efeito, em sua expressão maisplena, a mais rica vocação de nossa polí-tica externa: a defesa da soberania e danão ingerência e o esforço pela superaçãodo subdesenvolvimento económico e so-cial. A solidariedade inequívoca que es-tendemos aos PALOPs manifesta-se, semqualquer viés paternalista, pela via dacooperação e pelo apoio na organizaçãode suas instituições.

Tem sido determinante para o êxito denossas ações naqueles países o peso datradição diplomática brasileira na África.O trabalho que estamos desenvolvendo no

continente ribeirinho revitaliza a credibi-lidade da atuação do Estado brasileiro pe-rante a comunidade internacional e trazcomo consequência imediata o fortaleci-mento de nosso prestígio na África.

Para tornar eficazes os instrumentos denossa atuação diplomática na África, so-mos obrigados a utilizá-los de maneiradiferenciada, respeitando a diversidade ét-nica, cultural e histórica do conjunto dasnações africanas, classificadas segundocritérios que não deixam de levar em contaa identidade linguística e a natureza desuas ligações com as ex-metrópoles.

Nessa perspectiva, é natural que aosPALOPs seja reservado um espaço privi-legiado nas atenções que dedicamos aocontinente africano. Por esta razão, busca-mos acrescentar um novo instrumento deação política que se destine a pavimentare sedimentar institucionalmente nossasiniciativas junto aos países africanos lusó-fonos. Reside aí o sentido da criação deuma Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa.

A lusofonia é, de fato, uma realidadeincontestável no cenário internacional. Ospaíses de expressão portuguesa abrigamuma população superior a 200 milhões dehabitantes, e seu idioma é o terceiro maisfalado no mundo ocidental, sendo supera-do apenas pelo inglês e pelo espanhol.

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A ideia de integrar esses países sem-pre despertou interesse nos meios políti-cos, académicos e sociais: no âmbito go-vernamental, Brasil e Portugal definiramno Tratado de Amizade e Consulta, de1953, como figura de direito público, acomunidade luso-brasileira, que não ti-nha porém àquela altura a dimensão afri-cana que viria a adquirir depois que secompletou no continente vizinho o pro-cesso de descolonização.

Hoje, o reordenamento das relaçõesinternacionais que se segue ao fim daGuerra Fria cria estímulo adicional à cria-ção da Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa. Além da língua e da herançacultural comum, seus traços de união se-rão os ideais democráticos, o respeito aosdireitos humanos e o repúdio ao racismo,amparados nos princípios tradicionais daboa convivência entre os Estados: sobe-rania, integridade territorial, a não-inter-venção e solução pacífica das controvér-sias. O primeiro desafio da novel comu-nidade estará em ajudar Angola e Mo-çambique a superar o trágico processo depacificação interna, marcado ainda hojepor guerras fratricidas.

A Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa não é movida por sentimenta-lismos. Sua criação corresponde a umatendência da atual conjuntura internacio-nal, com o fim da bipolaridade, que abriuespaço para novas iniciativas de aproxi-mação entre países com afinidades, oraderivados de interesses económicos, orafundamentadas em valores políticos ouculturais. Já se tem dito que o mundo estáingressando em uma era das «coalizações

de geometria variável»; grupos de naçõesaglutinam-se em torno de temas específi-cos ou genéricos, com objetivos duradou-ros ou efémeros.

O novo foro que pretendemos criarcom a comunidade lusófona tem vocaçãotão duradoura quanto a que inspira o pro-cesso de cooperação no seio dos paísesibero-americanos - que se desenvolveucom ímpeto nestes últimos anos, tendoensejado, a partir das comemorações doDescobrimento da América, duas confe-rências de Chefes de Estado e de Governo,estando prevista uma terceira, que se rea-lizará brevemente no Brasil.

A Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa, iniciativa em tão boa horaconcebida pelo Presidente Itamar Franco,confirma, por outro lado, a diversidade dasopções de nossa diplomacia, dentro da suatradição universalista. Sem prejuízo dosinteresses e prioridades que informamnossa atuação em outros âmbitos, a comu-nidade lusófona assume nitidamente umafeição histórico-cultural que não substituias iniciativas integracionistas de naturezaeconómica ou geográfica, como o Merco-sul, os Tratados da Bacia do Prata e deCooperação Amazônica, o Grupo do Rioou a Zona de Paz e de Cooperação doAtlântico Sul. Esta última, por sinal, expri-me a essência dos vínculos que desejamosmanter e desenvolver com o continenteafricano, embora se restrinja geografica-mente a nossos parceiros banhados pelomar comum.

Foros e mecanismos de cooperaçãonão são, portanto, excludentes e sim com-plementares. Não há incompatibilidade

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entre, de um lado, o estímulo político àcooperação que deriva da identidade co-mum forjada na língua e na cultura e, deoutro, as obrigações económicas e comer-ciais decorrentes dos vínculos com outrosagrupamentos. Na common-wealth, o Rei-no Unido é membro da CEE; o Canadá, doNafta; o Zimbábue, da Comunidade deDesenvolvimento da África Austral(SADC); a Malásia, da Associação dasNações do Sudeste Asiático (Asean); eTrinidad e Tobago, da Comunidade doCaribe (Caricom). Exemplos semelhantespodemos encontrar entre os países queconstituem a «Francofonia».

A Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa tem uma vocação clara de me-canismo de concertação e consulta políti-ca, destinado a dar aos nossos países uminstrumento adicional para a coordenaçãode suas posições em torno de temas daagenda internacional, para promover emconjunto seus interesses comuns e paraavaliar, de seu próprio ponto de vista ecom uma base permanente, a evolução daconjuntura política e económica interna-cional. A concertação política, a exemplodo que já fazemos no âmbito latino-ame-ricano com o Grupo do Rio, terá papelfundamental em temas que nos dizem res-peito tão diretamente, a pacificação e ademocratização da África Austral, em quea influência da comunidade lusófona será

por certo relevante em termos políticos ediplomáticos.

Cabe reconhecer que a Comunidadeenfrentará obstáculos consideráveis emrazão da relativa fragilidade económicados citados países africanos e da incer-teza quanto à evolução dos processospolíticos por que passam Angola e Mo-çambique. Uma solução pacífica e de-mocrática para o conflito que vitima opovo angolano e a boa condução dasiniciativas de pacificação em Moçambi-que são condições importantes para oêxito do projeto comunitário.

Foi pelas razões acima expostas queo Embaixador do Brasil em Lisboa, JoséAparecido de Oliveira, foi instruído avisitar os cinco países africanos de ex-pressão portuguesa, a fim de encetar osentendimentos destinados à criação daComunidade dos Povos de Língua Por-tuguesa. A futura entidade insere-se per-feitamente na nossa postura externa paracom a África, cujas bases foram por mimdelineadas em artigo publicado, no dia18-3-1993, no Jornal do Brasil.

A Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa será também um dos temascentrais da agenda que ocupará a próximareunião de cúpula Brasil-Portugal, quandoo Presidente Itamar Franco visitar Lisboa,em julho próximo, para concretizar a IICimeira Brasil-Portugal.

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Comunidade Europeia:modelo e desafio(4 de maio de 1993)

Fernando Henrique CardosoMinistro das Relações Exteriores

\J Brasil recebe, nestes dias, a visita doComissário das Comunidades para a Amé-rica Latina, Manuel Marín. Sua visita des-perta um grande interesse no Governo bra-sileiro porque possibilita que passemos emrevista, com uma alta autoridade comuni-tária, o amplo quadro do relacionamentoBrasil-CE. Será também a ocasião de mos-trar-lhe que, apesar de inegáveis dificulda-des enfrentadas pelo Brasil, o país conti-nua sendo a mais forte economia latino-americana, a mais diversificada e a quemaior e mais maduro relacionamento eco-nómico e comercial mantém com a Europados Doze.

A visita de Marín traz também a opor-tunidade de, mais uma vez, contrastar osnossos problemas conjunturais com a tra-dição de dinamismo da nossa economia,que ainda ocupa lugar de realce entre asque mais cresceram no mundo nas últi-mas décadas, e com a familiaridade quetemos com os mecanismos do mercado,com os investimentos estrangeiros e comas formas de gerenciamento empresarialda economia.

A integração europeia desempenha pa-pel central em nossa política e em nossainserção internacional. Do seu impacto so-bre o comércio exterior brasileiro, na con-dição de nosso maior parceiro comercial,à influência que exerce em questões como

a Rodada Uruguai do GATT e à projeçãoque tem no tratamento da diversificadaagenda política do mundo pós-GuerraFria, a Comunidade Europeia afirma-secomo ator internacional dos mais relevan-tes para o Brasil.

O fim da Guerra Fria e as novas moda-lidades de convivência internacional têmressaltado cada vez mais a importância daCE como grande ator internacional cominteresses globais. Em todos os grandestemas da agenda internacional contempo-rânea, da segurança dos direitos humanos,do meio ambiente à não-proliferação, datransferência de tecnologia à cooperaçãopara o desenvolvimento, a CE é interlocu-tora de primeira importância e parceiroimprescindível. Podemos até divergir,mas não há como ignorar o peso políticocom que as Comunidades reforçam o seupoder económico no mundo de hoje.

O impacto político e as vicissitudes daentrada em vigor da fase final da integra-ção europeia, a partir do Tratado de Maas-tricht têm ocupado a maior parte da aten-ção que se volta para o fenómeno políticoe diplomático representado pela CE. Otemor do fechamento da Europa comuni-tária sobre si mesma, o crescimento doprotecionismo e o receio de que a partir deMaastricht a Europa unida poderá ser umelemento desestabilizador da estrutura

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económica mundial fazem parte de grandenúmero de reflexões sobre o tema.

Para nós, além disso, a questão doscontroles comunitários da imigração tor-nou-se também fator de preocupação, por-que temos convivido com as notícias qua-se diárias sobre as restrições praticadas acidadãos brasileiros nos portos de entradaeuropeus quando sobre eles incide a sus-peita de que tentam um ingresso ilegal emterritório comunitário.

Mas a CE não pode ser vista apenascomo preocupação e temor. O Brasil temtido um relacionamento exemplar com aComunidade, que vai muito além das na-turais diferenças de visão que surgem emqualquer relação complexa. Se é certo quedivergimos em algumas áreas e temos re-ceios recíprocos em outras, é também cer-to que podemos assumir essas diferençasporque assim o permite a maturidade e acomplexidade do nosso relacionamento.

O Brasil que hoje se relaciona com aCE é muito diferente daquele que viu nas-cer a Comunidade em 1957. Somos hojeuma complexa economia industrial quefortaleceu sua base agrícola. Somos umglobal trader não apenas porque comer-ciamos com todo o mundo, mas porque anossa pauta comercial é diversificada efazemos concorrência a diversas outraseconomias, em seus próprios mercados ouem terceiros mercados. Faz parte do rela-cionamento entre parceiros com graus ele-vados, ainda que diversos, de desenvolvi-mento, defender com afinco seus interes-ses próprios e procurar explorar áreas decoincidência. Assim é com a CE.

Quase trinta por cento do nosso comér-cio exterior está concentrado na CE, àqual, por sua vez, cabe ampla participaçãonos investimentos estrangeiros em nossopaís; nosso intercâmbio global atingiu, em1992, o montante de US$ 12,5 bilhões. Noperfil relativamente equilibrado do comér-cio exterior do Brasil, a CE aparece comoum elemento decisivo que ajuda a fazer doBrasil um país com interesses comerciaisrelativamente bem distribuídos pelos prin-cipais pólos da economia mundial.

Temos uma tradição de relacionamen-to com as Comunidades que se beneficia,sem dúvida, das boas relações que cultiva-mos sempre com cada um dos seus inte-grantes. Foi um relacionamento queamadureceu à medida em que a CE seconsolidava como espaço económico in-tegrado com intensa projeção interna-cional à medida que a economia brasilei-ra se diversificava e ampliávamos o nos-so comércio exterior tanto qualitativa-mente como espacialmente.

Desse amadurecimento, que ocorreuaqui e lá, decorreu necessariamente umaintensificação das relações e o desenvolvi-mento de áreas crescentes de convergênciae de competição entre os dois pólos.

O Brasil vê a integração europeiacomo um elo importante para o cresci-mento da economia mundial. Só o cresci-mento dinâmico do mundo, com aberturacomercial, poderá permitir a integraçãode países hoje excluídos do núcleo dinâ-mico da economia mundial, mas que sepreparam, por suas reformas internas,para a ele aderirem.

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A dimensão da economia brasileira,nossos interesses comerciais diversifica-dos, nossos parceiros múltiplos nas áreasde investimento e tecnologia determinama opção universalista de nossa política ex-terna. A história do Brasil aproxima-nosda Europa, dos Estados Unidos, da Amé-rica Latina, nosso entorno geográfico ime-diato e nosso parceiro mais íntimo.

As relações do Brasil com a CE têm deestar presididas por um encontro criativode visões do mundo num horizonte decooperação crescente. A sorte do Brasil dealguma maneira está vinculada à sorte daComunidade. No momento, a economiabrasileira encontra-se à beira de dispor dosinstrumentos necessários para assegurarsua estabilização, em particular a reformafiscal, e de lançar-se em novo período decrescimento. Nossos parceiros tradicio-nais, como a Europa, podem contar com arevitalização das oportunidades no Brasil,onde a economia de mercado é uma reali-dade, não um objetivo de longo prazo,como ocorre em outras áreas reconhecida-mente de interesse das Comunidades.

Mas não é só pela parceria comercial eeconómica que a CE exerce um atrativoespecial para o Brasil. A Comunidade Eu-ropeia sempre foi um modelo e um desafiopara a América Latina. Nos anos 60, acre-ditávamos que a integração se realizariaexclusivamente em função da vontade po-lítica. Não percebíamos naquele momentoque por trás do Tratado de Roma, que tantoinspirou a criação da antiga ALALC, ha-via outros elementos além das cláusulas dopróprio Tratado.

Anos de aprendizado no acompanha-mento cuidadoso dos assuntos da Comu-nidade e de sua crescente importânciacomo nosso parceiro comercial ensina-ram-nos que a integração é o coroamentode um processo progressivo de colabora-ção entre países que têm em comum algomais do que suas fronteiras.

Aprendemos que integração significamais do que o mero acréscimo de merca-dos; que o processo de integração deve iralém da liberalização do comércio; que aintegração teria grande impacto sobre cer-tos setores das várias economias envolvi-das; que deveria alcançar não apenas onível de produção de bens e serviços, mastambém o desenvolvimento de tecnolo-gias; que levaria à harmonização das polí-ticas macroeconômicas por meio de umcomplexo processo de barganha; e que oprocesso deveria respeitar as soberaniasnacionais, a despeito de todas as conces-sões voluntárias que eram exigidas en-quanto, em muitos aspectos, as fronteirasdesapareciam.

A Comunidade Europeia, tomadacomo modelo, inspirou-nos a realizarprojeto similar na América do Sul. Du-rante anos fortalecemos o comércio in-tra-regional até que vislumbramos a pos-sibilidade de promover esse comércio eelevar a patamares crescentes os interes-ses por ele gerados.

Nesse sentido, o Mercosul - MercadoComum do Sul - tem como referência oesforço europeu da integração. Mas nãoapenas nesse sentido. Quando a CE mos-trou-se decidida a caminhar rumo ao Mer-cado Comum, a comunidade internacional

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viu surgir os contornos de uma nova rea-lidade: a economia mundial passava poruma rápida transformação e aquele pode-roso bloco económico do após-guerra,muito antes do término da confrontaçãoLeste-Oeste, apontava os rumos que pode-rão ser a estrutura da economia mundialnas próximas décadas.

A CE foi, assim, um modelo e umalerta contra o risco de marginalização.Esse risco representava para nós um gran-de desafio, em uma conjuntura em que oBrasil e a maioria dos países latino-ameri-canos, para não falar da maior parte domundo em desenvolvimento, sofriam par-ticularmente os efeitos da sua perda devigor económico e da persistência de ele-mentos típicos do cenário mundial.

Simultaneamente com a suplantaçãodo modelo económico baseado na substi-tuição de importações e no endividamentoeterno, tomávamos consciência de que a

sobrevivência no mundo dos anos 90 de-pendia de opções corretas em matéria deabertura económica e ajuste estrutural e deboas parcerias operacionais. Entre elas,em destaque, a CE.

É sobre essa parceria operacional espe-cialmente produtiva e promissora que va-mos prosseguir no diálogo de alto nívelcom a Comunidade. São relações queapresentam numerosos elementos de per-manência e interesses de longo prazo deambas as partes. O Presidente Itamar Fran-co tem a intenção de participar pessoal-mente do relançamento das relações coma CE. A consciência que desenvolvemosem ambos os lados, no Brasil e na CE,sobre a importância relativa desse relacio-namento será instrumento para garantir asupremacia dos interesses de longo prazosobre as vicissitudes do curto prazo, e dascoincidências sobre as diferenças. •

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