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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Previdência é um direito
Por: Mariana Cordeiro Miranda
Orientador
Prof. Aleksandra Sliwowska
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Previdência é um direito
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Finanças e gestão corporativa
Por: Mariana Cordeiro Miranda
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AGRADECIMENTOS
.... Deus e famíla
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DEDICATÓRIA
Dedico tudo o que faço e me esforço à Deus e minha família amada. Vivo, trabalho por
eles.
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RESUMO
A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos
de dificuldade física ou mental para continuar a desempenhar suas atividades
do trabalho. Vem sendo atacado pela mídia e classe dominante como um peso
para as contas do governo e por isso, segundo esta mesma classe, deveria ser
cada vez mais privatizada ou um benefício a ser reduzido?
Este trabalho justifica-se pela necessidade de reforçar a análise deste
direito como um direito e não como um mero benefício (este entendido como
uma "doação" a quem não trabalha) em tempos em que vem crescendo o
número de idosos no Brasil.
Objetiva-se desmistificar a visão sobre previdência como um peso nas
contas dos governos e defendê-la como um direito. Analisar como este direito
foi atacado e como ele vem sendo conduzido atualmente.
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METODOLOGIA
Analisar dados que levem a identificar a visão atual hegemônica sobre a
previdência, através de entrevista oral e por meio de aplicativo do whatsapp a
um universo de 10 pessoas e buscando identificar o senso comum passado
pelos meios de comunicação em massa sobre o tema.
Analisar também 3 reportagens da mídia que estejam falando sobre
previdência
Identificar visões sobre a previdência os que a defendem como direito e
os que a entendem como um direito a ser reduzido ou um peso nas contas do
governo por leitura bibliográfica sobre o assunto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Políticas Sociais e visões Sociais de Mundo 10
CAPÍTULO II - Previdência no Brasil 14
2.2 Previdência complementar e previdência pública. 22
CAPÍTULO III – Reportagens e entrevistas 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52
ANEXOS 42
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INTRODUÇÃO
Este trabalho justifica-se pela necessidade de reforçar a análise
da previdência como um direito e não como um mero benefício ou uma
"doação" a quem não trabalha. Através de uma breve analise sobre o tema da
previdência no Brasil, busca-se explicitar as duas visões sociais de mundo
sobre o objeto de estudo: direito a ser defendido e ampliado X direito a ser
reduzido. Investiga-se neste trabalho como o tema vem sendo tratado nos
veículos de comunicação, especificamente nos jornais de grande circulação e a
visão da população sobre o assunto.
A hipótese é de que a previdência, defendida neste estudo como um
direito a ser mantido, vem sendo entendida, pelo “senso comum” e pelos
“intelectuais da classe dominante” (termo criado por Antônio Gramsci, 1937)
apenas como um benefício a ser adquirido pela população. Os mesmos
visualizam este “benefício” como um peso nas contas públicas e têm como
argumento o aumento do número de idosos no país e a elevação de índices de
desemprego. E Como tudo vira mercadoria na sociedade capitalista, este
direito, conquistado pelas lutas trabalhistas, também se transforma em
mercadoria a ser adquirida pelos trabalhadores através do mercado comercial.
Inicialmente, é necessário, realizar um estudo sobre as duas visões
sociais do tema, como surgem historicamente, qual a defesa de sociedade por
traz delas, de forma que, a partir daí possa-se identifica-las neste curto recorte
de realidade (analise de reportagens dos jornais e entrevistas a pessoas),
dados que serão colhidos, através do aplicativo “whatsapp” e entrevista oral, e
sistematizados, para enfim a hipótese ser confirmada ou refutada. Isto porque
as análises da realidade social estão impregnadas de visões sociais de mundo
que incluem projetos de sociedade, o mesmo acontece ao se analisar e
formular qualquer política pública/social.
Sendo assim, pretende-se no capítulo 1 identificar as correntes
ideológicas (influência das perspectivas funcionalistas, idealistas e marxistas)
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por traz dos dois entendimentos sobre este direito, no capítulo 2 fazer uma
análise histórica de como ele foi conquistado e defendido no Brasil, no terceiro
capítulo mostrar dados sistematizados da pesquisa e no último e quarto realizar
a conclusão do estudo, confirmando ou não a hipótese.
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Capítulo I
Políticas sociais e visões sociais de mundo.
As Políticas sociais, dentre elas a Previdência social, são formuladas,
pensadas e vistas baseadas de acordo com uma perspectiva, uma visão social
de mundo, que indica disputas de projetos societários. Ou seja, formula-se com
um método teórico – metodológico relacionando-se com uma direção política.
Ao ser formulada ou pensada uma política social é influenciada,
conscientemente ou não, por correntes filosóficas e políticas vigentes na
sociedade. As perspectivas mais centrais da sociologia nas quais se baseiam
as políticas sociais são: Funcionalista, Fenomenológica e Marxista. Estas três
perspectivas foram sendo refletidas, a partir do momento histórico em que
viveram seus pensadores.
A perspectiva funcionalista foi defendida por Émile Durkheim (1895).
Para ele a sociedade ou os “fatos sociais” devem ser estudados de maneira
que o pesquisador não os julgue de acordo com suas concepções filosóficas,
paixões, visões de mundo, valores. O indivíduo deve usar de seu entendimento
para investigar os fatos, saindo de si mesmo, com procedimentos semelhantes
aos usados nas ciências naturais, os acontecimentos devem ser observados
como coisas. A sociedade aqui é vista como um organismo e as instituições
como órgãos que podem ficar doentes, estado que denomina de “anomia
social”.
Nesta perspectiva as políticas públicas são feitas para ajustarem uma
sociedade que esteja em situação de anomia, a coesão social é o seu foco
nesta situação. O conflito de classes é entendido como uma fase de anomia e
é tratado como um fato natural que deve ser tratado com coesão, evitando
colapsos. A questão social, objeto das políticas sociais, seria algo natural na
sociedade burguesa.
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Durkheim entra em contradição ao defender a neutralidade no
pensamento social e ao mesmo tempo “julgar” o que seria um estado de
anomia ou um estado normal de uma sociedade. Seu pensamento contribui
para manutenção do “status quo”, já que os fatos sociais são tidos como
naturais, não se modificam pela vontade. Em contato com seu tempo de
revolução tecnológica, teoria da evolução de Darwin, Durkheim, evidentemente,
desenvolve seu pensamento marcado pelo momento histórico em que vivia,
propondo utilizar procedimentos de investigação para os “fatos sociais¨”
semelhantes aos das ciências biológicas ou naturais.
Já no pensamento idealista, ao investigar a realidade, o sujeito se
sobrepõe ao objeto. A realidade é desvendada em suas expressões, mas a sua
essência é impossível de ser descoberta. Ela é resultado da razão do ser,
através de seus valores, crenças, o pesquisador escolhe o objeto, investiga e
tira suas conclusões, assim acreditava Kant. O escravismo, o feudalismo em
meados e finais do século XIX era a organização vigente no período, neste
momento a classe dominante obriga escravos a produzirem riqueza, a
desenvolverem somente trabalho manual. Há a separação clara entre o
trabalho manual e o intelectual.
Neste quadro surge esta filosofia de que a ideia sobrepõe-se ao objeto,
a classe dominante, pensante (administração, gestão, direito) controla a
sociedade. Aqui a política social tende a focar no sujeito, este é responsável
principal por busca de melhores condições de vida dentro da sociedade
capitalista, e por isso ela tende a ser residual, focada em doações de
benefícios rasos a um determinado grupo carente, pobre, da sociedade.
Na teoria Marxiana, ao mesmo tempo em que o sujeito desvenda a
realidade ele mesmo se modifica, esta é a relação entre sujeito e objeto, utiliza-
se, o método crítico-dialético. As políticas sociais neste enfoque são processos
que se desenvolvem no âmbito da sociedade de classes, e possui
determinações ricas e complexas na relação entre Estado e sociedade. As
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políticas sociais ao mesmo tempo em que são criadas no capitalismo para
mantê-lo, elas criam possibilidades de superá-lo, ou seja, esta perspectiva vai
além da reflexão da conquista de direitos na sociedade burguesa, indicando a
impossibilidade da justiça social na organização econômica capitalista. A
previdência pública neste enfoque é defendida como um direito universal para
todos e não como um benefício aos pobres.
Para Marx, que analisou a sociedade capitalista após a Revolução
Industrial e Francesa, o ser social e a natureza são distintos e reais, ao mesmo
tempo em que o homem pensa e objetiva o que projetou na natureza
(trabalho), ele mesmo se modifica, cria novas possibilidades e novos
conhecimentos na história dos homens. O capitalismo gera desigualdade no
processo de acumulação de riqueza. Este sistema gera o lucro através da
extração da “mais-valia”, a partir da apropriação dos meios de produção, ao
trabalhador resta somente vender sua força de trabalho.
Na era feudal o artesão tinha acesso a todo o processo produtivo e aos
meios de produção, que num longo processo histórico, na transição para o
capitalismo (entre o século 11 e 18), ele os perde e a nova classe, a do
proletariado, tem apenas sua força de trabalho para vender no mercado. E
como qualquer mercadoria seu custo para o capitalista deve ser o mínimo
possível, e por isso os direitos sociais, hoje, são sucateados e têm a tendência
de virarem residuais ou meros benefícios.
No capitalismo a mais valia é a apropriação do valor a mais que a força
de trabalho produz para ela mesma se reproduzir, o trabalhador produz uma
quantia total e dela é pago o salário apenas para se manter e retornar ao
trabalho o restante do que produz é acumulado pelo capitalista. O capital extrai
o máximo quanto pode a mais-valia para acumular mais capital, repetindo este
processo continuamente. A força de trabalho como uma mercadoria tem um
custo que é decidido por leis do mercado, e calculada para ela mesmo se
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manter, se reproduzir para retornar no dia seguinte, de acordo com os
interesses do capital.
Nesta sociedade o trabalho e tudo utilizado no processo de trabalho
(máquinas, tecnologia, etc) que é resultado de tudo o que foi realizado, criado,
pela humanidade no passado, é reduzido a uma mercadoria. A exploração do
homem pelo homem não é explícita e o sucateamento de direitos é “justificado”
pela burguesia diante a crise (que é cíclica).
Todo esse processo não é claro, na sociedade burguesa tudo se
submete ao capital, é voltado para acumulação de capital, consciente ou
inconscientemente. No plano individual, por exemplo, uma vida de sucesso é
quase sempre tornar-se rico, o consumo não é para atender uma real
necessidade, mas à necessidade criada pelo capitalismo ou para se obter
status social. Ou seja, o capitalismo gera alienação, nele o trabalho, que é uma
característica humana (de projetar e executar na realidade o que projetou,
gerando conhecimento e novas possibilidades), é uma “coisa”, o ser humano é
visualizado como uma força de trabalho, o lucro é o importante ainda que gere
pobreza, desequilíbrio ambiental, miséria, sucateamento de direitos.
Diante desta realidade a classe trabalhadora luta por direitos e no pós-
guerra (1945) a política social é gestada, sem data específica, no final do
século XIX com os movimentos sociais-democratas e o Estado – Nação na
Europa Ocidental, e daí a Previdência Social.
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Capítulo 2
Previdência no Brasil.
Na segunda metade do século XIX, os trabalhadores reagiram a
exploração de sua força de trabalho com a extensa jornada de trabalho e
conquistam participação política e social. Lutaram pela socialização da riqueza
socialmente produzida, pela emancipação humana e por uma nova sociedade,
destaca-se as mobilizações na Europa em 1848. O Estado, então, dirigido pelo
capital, mas com relativa autonomia reprime protestos e mobilizações,
entretanto, inicia as regulamentações fabris
e negociações quanto a jornada de trabalho. A política social, ganha impulso
pós- crise do capitalismo concorrencial (1929- quebra da bolsa de Nova Iorque)
e é resultado de múltiplas determinações enquanto processo, destacando-se a
luta dos trabalhadores por direitos e a necessidade de intervenção do Estado
na economia para a recuperação da crise econômica. O modelo econômico
chamado de Welfare State que prevê a intervenção Estatal na economia, passa
a ser praticado na Europa ocidental, fortemente no pós-guerra, 1945, já que o
modelo do livre mercado perde legitimidade econômica e política.
Neste contexto indícios da previdência social são verificados
inicialmente com o seguro social, na Alemanha em 1883, que expressou o
reconhecimento de que a situação de incapacidade para o trabalho deveria ser
protegida. Os próprios trabalhadores começam a fazer um fundo de reserva
monetário para manter os grevistas. O chanceler alemão Otton Von Bismack
cria, como contrapartida para desmobilizar as lutas trabalhistas, o seguro
saúde nacional obrigatório em 1883. Este seguro era o pagamento de
mensalidades a trabalhadores que por velhice, doença, incapacidade para o
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trabalho no geral perdiam a capacidade laborativa. Este tipo de direito se
espalha na Europa no final do século XIX e início do XX em diversos países
que incluem seguros sociais contra doenças, desemprego, formas contributivas
para aposentadoria, sem caráter universal, cobrindo somente os contribuintes e
suas famílias.
Estes seguros foram criticados pelo “plano Beveridge” (Inglaterra,
1942) que propunha um modelo de política social universal, sem o caráter
privado dos seguros sociais. No modelo econômico Keynesiano fordista este
plano em sintonia prevê a intervenção estatal na economia e a manutenção do
pleno emprego, a responsabilidade estatal na manutenção de condições de
vida dos cidadãos através de serviços sociais universais, ampliação dos
seguros sociais, acesso a assistência médica e educação. Nasce aí a
“Seguridade Social”, hoje constituída da previdência, saúde e assistência
social.
A política Keynesiana fordista visa adotar medidas anti-cíclicas de
modo a financiar o capitalismo, manter um certo padrão de consumo ao ficar
claro que o capitalismo possui crises cíclicas, não se auto regula sem gerar
crise. O fundo público passa a financiar o capital e a reprodução da força de
trabalho.
Vale dizer que a crise é inerente ao capitalismo. Berhing e Boschetti
(2007) citam Mendel para explicitar que o sistema econômico capitalista é a
própria causa da crise, nele a expansão se dá com a intensificação da mais
valia e a diminuição de preços das matérias primas. Este quadro diminui o
exército industrial de reserva, fortalecendo o movimento operário que juntos se
organizam e lutam por direitos. A pressão trabalhista baixa a taxa de extração
da mais-valia, a evolução tecnológica diminui o emprego, por consequência o
também cai o consumo, e daí a recessão se instala. A crise no capitalismo é
cíclica, independente do governo ou partido que esteja no poder.
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No pós-guerra, inicialmente, a proteção social, incluindo a previdência
assume modelos diferentes entre os países. Na Europa mais fortemente o
modelo universal e sistemas públicos de serviços sociais, na América do Norte
um misto entre o público e o privado e no Brasil modelo de assistência aos
pobres e a previdência ao trabalhador assalariado.
No geral emprega-se uma cultura de que só tem acesso a previdência
social aquele que trabalha, ideia assimilada pelos trabalhadores ao longo dos
séculos (Mota, Ana Elizabete, 2015, p. 145).
Desde a segunda metade dos anos 70 o modelo do Welfare state é
criticado pelos neoliberais que se justificam pela crise, novamente, do
capitalismo e a falta de fundo público para o financiamento de políticas sociais.
Os países passam a adotar medidas de cortes dos gastos sociais públicos. A
tendência da nova divisão social do trabalho passa a ser a intensificação do
fracionamento dos locais de trabalho, reduzindo a força coletiva, redução dos
direitos e salários indiretos (políticas públicas) e aumento de desemprego.
No Brasil, a classe trabalhista começa a se organizar e reivindicar
melhores condições de trabalho no século XX. A crise de 1929 possibilitou no
país uma correlação de forças diferenciada, a oligarquia cafeeira perde poder
com a diminuição das exportações e a oligarquia do gado, açúcar e demais
ganham mais força econômica e política. A carne do Sul é uma delas e daí vem
Getúlio Vargas. Chegam também no poder o setor industrial. Vargas com a
“revolução de 1930”, toma o governo apoiado de militares médios e uma base
populista.
O Brasil segue com a modernização do país, chamada de
“modernização conservadora”, economia fundada na exportação, com forte
influência da oligarquia. O governo Vargas inicialmente trata a luta de classes
com polícia, mas passa a ver a classe trabalhadora como classe colaboradora,
tratando da regulação do trabalho. O Brasil segue o que ocorreu nos países
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desenvolvidos disponibilizando o auxílio doença e maternidade, o seguro
desemprego, regulação de acidentes de trabalho. Na década de 1930 foi criado
o Ministério do trabalho e a carteira de trabalho, passando a dispor de alguns
direitos quem tivesse carteira assinada, aproxima-se aí do modelo
beveridgiano.
Cabe dizer que antes deste período, em 1923, a Lei Eloy Chaves,
inaugurou a previdência no Brasil, eram as Caixas de Aposentadorias e
Pensão (CAP’s) instituídas para os empregados ferroviários e ampliadas
posteriormente para portuários e marítimos, assegurava benefícios de
aposentadorias e pensões para estes trabalhadores.
Os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s) criados na década de
1930 e é o início do sistema público previdenciário no Brasil, extingue-se as
CAP’s que eram organizações privadas por empresa- contribuição de parte de
salário dos trabalhadores e das empresas. Os IAP’s cobriam a perda laborativa
por invalidez, velhice, morte, doença e eram dirigidas por trabalhadores, o que
possibilitou uma cooptação de dirigentes sindicais pela elite. Os trabalhadores,
o governo e o Estado contribuíam para o fundo dos IAP’s sem ser de maneira
uniforme.
A Leio Orgânica da Previdência Social (1960) é criada para unificar e
uniformizar a previdência no Brasil, o que vinha sendo discutido desde o
governo Vargas. Havia uma ação de regulamentação do trabalho, reprodução
da força de trabalho, organização do mercado de trabalho e normas de
produção e consumo, mas não no mesmo ritmo que os países centrais do
capitalismo. Foi promulgada no Brasil a constituição de 1937 com a
reformulação de como o Estado passa agir com algumas categorias de
trabalhadores e em 1943 é formulada e homologada a CLT (Consolidação das
Leis do Trabalho).
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Em 1945 Vargas sai do poder após 15 anos e uma movimentação
política entra em cena, em 1946 é promulgada a Constituição de 1946, mais
democrática que as anteriores (Bering e Boschetti, 2007, p. 109). A
industrialização do país, marcado pela exportação agrária, é fortemente
estimulada, iniciada no período Vargas e continuada no Governo de Juscelino
Kubtschek. Neste período o movimento dos trabalhadores tinha mais
consciência de seus direitos e se organizou mais solidamente para reivindica-
los, de um lado o Partido Comunista Brasileiro que defendia reformas de base
que incrementariam as políticas sociais e de outro os militares que
incentivavam o desenvolvimento ligado ao capital estrangeiro. O golpe militar
de 1964 depõe João Goulart e impõe a conhecida ditadura.
Incentivada pelo capital estrangeiro, que buscava mercado com
potencial de crescimento (diante uma nova crise do capital na década de
1970), o Brasil desenvolve-se na ditadura, mas com um restrito mercado
interno. A política social no Brasil é ampliada com o intuito principal de manter
controlada a classe trabalhadora, frente a repressão, censura, tortura, havia um
misto de repressão e assistência.
Logo após a criação da Lei Orgânica da Previdência Social em 1960, o
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) é inaugurado em 1966, como
forma de efetivamente uniformizar, centralizar e unificar a previdência. Os
trabalhadores não a dirigem mais e sua gestão passa para o Estado. Os
acidentes de trabalho passam para somente para o INPS, desestimulando as
seguradoras privadas. Os trabalhadores rurais também passam a ter acesso a
previdência por meio do Funrural. Na década de 1970 a previdência passa a
alcançar também trabalhadoras domésticas, autônomos, jogadores de futebol.
Em 1974 a Renda Mensal Vitalícia é criada para idosos e pobres que
contribuíram com no mínimo um ano para a previdência.
Cria-se um Ministério que englobava a Previdência e Assistência Social
em 1974. Entre algumas instituições que compunha a Assistência Social,
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estavam neste Ministério as que compunham a previdência, como a Empresa
de Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev).
Houve uma reforma no Sistema Nacional de Assistência e Previdência
Social. Que incluía também o Instituto Nacional de Administração e Previdência
Social (IAPAS). A previdência estava ligada a assistência e a saúde, esta
última por sua vez teve, com esta associação, uma forte mercantilização com
incentivo à individualização, medicalização e mercantilização da saúde, isso de
modo que o governo pudesse impulsionar a indústria farmacêutica e venda de
equipamentos médicos em detrimento da saúde pública.
Apesar da ampliação de política pública havia no regime militar um
incentivo também ao acesso privado a serviços básicos, dentre os quais a
previdência.
No final dos anos 70 e início dos anos 1980 intensifica-se o processo
de redemocratização do país com a mobilização dos movimentos sociais e a
insatisfação da população com a ditadura e economia que ao contrário do que
pregou o “bolo” não foi dividido e a desigualdade só crescia. Houve um
endividamento do setor privado e socialização da dívida para o Estado pagar
por pressão do FMI. O governo vende títulos públicos e eleva juros, a inflação
aumenta estrondosamente, em média 200% ao ano (Bering e Boschetti, 2007,
p.139). Este quadro de mobilização política e crise culmina na Constituição de
1988 que afirma universalização de direitos, defende liberdades democráticas,
opõe-se a agenda do FMI. Mas há ao mesmo tempo uma tendência Neoliberal
e esta sai vitoriosa com a eleição de Collor.
A seguridade social englobando a Previdência, assistência social e
saúde é defendida na constituição. Pela primeira vez a política social no Brasil
se inspira no modelo Beveridgiano. Amplia-se a cobertura da previdência com
o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para idosos e deficientes, mesmo
sem serem contribuintes e aos trabalhadores rurais que passam a receber um
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salário mínimo. A licença maternidade se estende para 120 dias também para
domésticas e trabalhadores rurais, vinculação do salário mínimo ao benefício
previdenciário, pensão para maridos e companheiros, limitação da idade para
se aposentar – 60 anos para homens e 55 anos para mulheres.
2.1 – Reformas na Previdência anos de 1990 até os dias atuais.
Apesar dos avanços nos direitos sociais na Carta magna, a
Constituição de 1988, sua efetividade na prática se dificulta frente ao avanço
do Neoliberalismo no país com os governos que seguem, destaque para PSDB
com Fernando Henrique Cardoso (FHC). Este aponta como causa da crise o
Estado e seus problemas. Este governo priorizou o capital financeiro
internacional, fez ajuste fiscal, reduzindo custos do Estado social (saúde,
educação, previdência), reduziu direitos ou os limitou. Priorizou as
privatizações de grandes empresas estatais, a preços baixos para o capital
estrangeiro, e o direcionamento do fundo público para o pagamento da dívida
pública, aumenta-se o desemprego sem se preocupar com os direitos
conquistados impressos na Constituição. As políticas sociais são incentivadas
para serem implementadas por Instituições privadas, ONG’s, instituições
filantrópicas, de maneira focalizadora, residual. Com o foco nos superlucros os
encargos previdenciários se contraem.
Há um incentivo de privatizar a previdência. Existindo uma previdência
pública para os que não podem pagar por uma complementar ou para um
melhor serviço e a previdência privada para uma complementação da
aposentadoria, assim como acontece na saúde e educação. As políticas
públicas são focadas para um público mais pobre e os privados para um
público que pode pagar para um serviço menos pior e uma melhor
aposentadoria.
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A reforma da previdência iniciada em 1998, até hoje, restringiu o valor
do benefício salario família e auxilio reclusão, aumentaram o tempo de
contribuição e não incluíram os trabalhadores informais, além de desvincular o
valor do teto benefício ao salário mínimo. Enfatiza o mercado através de planos
privados de previdência, o cidadão de direitos defendido na constituinte é na
realidade majoritariamente o cidadão – consumidor.
A previdência tem um fundo de financiamento específico apesar de
estar dentro de um conceito maior que é a Seguridade social. Quem contribui
majoritariamente é o trabalhador que está inserido no mercado de trabalho,
porém as decisões quanto a ampliação do direito e gestão são realizadas pelo
aparato estatal com seus cálculos técnicos e pouco claro ao cidadão.
A Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF) foi criada em
1994 para destinar recursos a saúde e posteriormente para a previdência.
Durou até 2007. Foi substituída pelo IOF que tem alíquota de 0,38%. A maior
parte da tributação fica na União, chegando menos aos Estados e pouco aos
municípios, desrespeitando o conceito de descentralização dos recursos da
Constituição. Os trabalhadores proporcionalmente pagam mais tributos, do
consumo, do que os seus empregadores ou do que as grandes empresas.
O Fator Previdenciário é um cálculo que considera o tempo de
contribuição, a alíquota e a expectativa de sobrevida do aposentado, de acordo
com uma taxa pré-determinada que varia conforme tempo de contribuição, foi
criado em 1999 (FHC), e mantido no governo Lula e Dilma, para aumentar
arrecadação, reduzindo o valor de aposentadoria de trabalhadores mais novos.
O que não é argumentado é que há um desvio de fundos da seguridade para o
pagamento de juros da dívida com o superávit primário através da DRU
(Desvinculação de Receitas da União). Por isso os sindicatos e trabalhadores
lutam para o fim deste fator, que vem reduzindo os benefícios dos
aposentados.
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As principais alterações no governo atual foram quanto ao tempo de
contribuição e idade para se aposentar, é necessário para receber
integralmente a soma da idade e de contribuição para mulheres de 85 anos e
ara homens 95 anos.
A pensão por morte sofre alteração com relação a carência, deve haver
a contribuição de no mínimo 24 meses para que o beneficiário possa receber
pensão com exceção se a morte foi por acidente de trabalho. O valor deste
benefício passa a ser 50% do valor que o segurado receberia em caso de
aposentadoria por invalidez no momento da morte acrescido de 10% para cada
beneficiário. O valor do auxílio doença também é restringido, a uma média
aritmética dos últimos 12 meses de salário.
Essas são algumas alterações que se iniciaram no governo FHC com a
prerrogativa de que o envelhecimento da população levava a uma necessidade
de reforma da previdência com o fim de arcar com o aumento do número dos
benefícios, estas alterações continuam com o trabalhador pagando a diferença.
Segundo Behring e Boschetti (2007) foram desviados da arrecadação
de tributos para o pagamento da dívida R$45,2 bilhões, entre 2002 a 2004, que
poderiam servir para a previdência, houve um aumento de tributação, mas que
não foram direcionadas para as políticas sociais como a previdência. A redução
do valor dos benefícios leva ao trabalhador buscar pela previdência
complementar. Individualiza o acesso aos serviços e quem paga é o
trabalhador.
2.2 Previdência complementar e previdência pública.
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23
Os benefícios da previdência são: auxílio doença, aposentadoria por
idade, por tempo de contribuição e por invalidez, pensão por morte, salário-
família, salário – maternidade e auxílio reclusão. Estes benefícios estão
presentes nas modalidades da previdência pública e privadas, sobretudo na
pública. Os servidores públicos têm uma legislação específica para sua
previdência que não vamos abordar aqui. O INSS é a previdência oficial pública
do país, criado em 1990. A previdência complementar compreende a fechada e
a aberta.
A previdência complementar ou fundo de pensão, compreende 3
modalidades. A previdência que as grandes empresas pagam junto com os
empregados contribuições para a aposentadoria dos trabalhadores da
empresa, o exemplo é a PREVI dos funcionários do Banco do Brasil, em geral
pagam auxílio doença, aposentadorias e pensões.
A segunda modalidade é a previdência associativa de Sindicatos,
Associações e cooperativas que possibilitam aos associados, inclusive
trabalhadores sem vínculo de emprego a formarem um fundo para adquirirem
um benefício futuro.
A terceira modalidade é a previdência comercializada por instituições
financeiras autorizadas, como os bancos, na qual qualquer pessoa pode ter
acesso, e só quem contribui é o cliente que aderiu ao plano. A instituição faz a
gestão para principalmente proporcionar um rendimento atrativo do plano.
As duas primeiras modalidades são denominadas de fechadas e esta
última de aberta. A entidade responsável pela supervisão da previdência
complementar fechada é a Secretaria de Previdência Complementar (SPC).
A previdência aberta vem crescendo no país como forma de
complementar a aposentadoria reduzida do INSS, que além de ser baixa ainda
tem um teto máximo (fato que incentiva a privatização da previdência). O plano
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VGBL tende a ser o mais procurado, pois atende a um maior número de
pessoas que fazem a declaração de imposto de renda no modelo simplificado
ou não declaram. O desconto do IR será somente sobre o rendimento neste
plano. Já o PGBL é procurado para quem faz o modelo completo do IR, pois
este oferece um benefício fiscal de dedução de até 12% do rendimento
tributável.
A previdência fechada tende a render mais do que a previdência
aberta, pois esta tira do rendimento do beneficiário uma parcela para os
acionistas da Sociedade Anônima.
A previdência aberta é gestada por uma pessoa jurídica que tem fim
lucrativo, sendo obrigatoriamente constituída sob a forma de sociedade
anônima, é mais flexível acessada por qualquer interessado. A previdência
fechada é direcionada por trabalhadores vinculados a uma mesma empresa,
estatutários, a uma categoria profissional específica ou associados a uma
cooperativa, este tipo de previdência não possui fins lucrativos. Toda a
contribuição da fechada, deduzindo despesas administrativas, são direcionadas
ao pagamento de benefícios. A previdência aberta faz planos individuais e
coletivos (entidades vinculadas a pessoa jurídica contrata a aberta para seu
grupo de funcionários, se o segurado sair da emprega ele pode manter o plano
ou migrar para o plano individual).
Há ainda na previdência fechada o benefício definitivo acertado no
início do plano ou a contribuição definitiva onde o benefício vai depender do
rendimento do valor capitalizado.
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25
Capítulo III
Reportagens e entrevistas
Serão analisadas três reportagens e entrevistadas um universo de 10
pessoas. Com vista a identificar o pensamento dominante sobre o tema e a
consciência ou não da população do direito de acesso a previdência. Este curto
recorte da realidade poderá indicar resposta a estas questões.
A primeira a ser lembrada trata-se do período FHC quando o mesmo
disse a frase, até hoje é lembrada: "pessoas que se aposentam com menos de
50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e
miseráveis".
A reportagem abaixo foi retirada do site UOL, publicada no ano de
1998:
“RIO - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, ontem, que
"’pessoas que se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos, que se
locupletam de um país de pobres e miseráveis’. Fernando Henrique defendeu a
reforma da Previdência [...] Um dos pontos polêmicos da reforma da
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Previdência é justamente o que define os 65 anos como idade mínima para a
aposentadoria. [...]Fernando Henrique aproveitou a cerimônia de abertura da
10ª edição do Fórum Nacional, no auditório do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para fazer um balanço de seu
Governo; rebater as críticas de que teria optado pela economia, em detrimento
das questões sociais [...] ‘A pobreza e a miséria são hoje a nódoa do Brasil,
como foi a escravidão no passado’, disse o presidente, parodiando o
abolicionista Joaquim Nabuco. ‘Isso me envergonha. ’ O presidente aproveitou
para mostrar que, nas áreas em que o programa Comunidade Solidária,
conduzido por sua mulher, Ruth Cardoso, atua, houve redução da taxa de
mortalidade infantil”.
Na reportagem em destaque, o presidente, expõe uma defesa quanto ao
início da “Reforma da previdência” que iniciou em seu governo, esta reforma
deu início a uma série de redução de acesso a este direito e incentivo a
privatização.
Fica claro a visão individualista e moralista quando fala que
trabalhadores que adquiriram a aposentadoria aos 50 anos são vagabundos.
Trabalhadores que trabalharam a vida inteira e contribuíram para a previdência
para terem acesso ao direito, que na verdade é na maior parte dos casos ainda
um valor aquém do que necessitam do básico para sobreviverem. Sendo
assim, O presidente do período, se contradiz em seu discurso quando diz que
prioriza questões sociais. O mesmo ainda destaca como alternativa às
questões sociais o programa “Comunidade Solidaria”. Este programa dispõe de
uma política social de visão individualista, podendo ser detectada a visão
fenomenológica e funcionalista, pois prevê que a erradicação da miséria só
pode ser obtida com a retomada do crescimento sustentável da economia
limitando a ação do Estado a ações emergenciais. Expõe uma visão neoliberal
de Estado mínimo, priorizando a economia (voltada para o mercado financeiro
e capital estrangeiro) ao invés do povo, é uma política fragmentada, focalizada
e não universal (ao contrário do que defende a Constituição Federal de 1988),
é funcional a manutenção do sistema, do status quo. A reportagem, expressão
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da hegemonia midiática, não critica, nem é esclarecedora, passando a
população a ideia do governante, que se reelege meses depois.
A segunda reportagem a ser analisada é a publicada no jornal Folha de
São Paulo, de grande circulação e considerada de alto status de credibilidade
no jornalismo, tem alto poder de convencimento e reprodução de ideias.
“Se, como disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara,
os deputados haviam passado dos limites ao estender a política de reajuste do
salário mínimo a todos os benefícios previdenciários, o que se pode dizer dos
senadores? Na sessão de quarta-feira (8), o Senado se pôs a votar a medida
provisória 672/2015, cujo objetivo inicial era apenas prorrogar até 2019 as
regras de valorização do mínimo (hoje de R$ 788). Modificada na Câmara há
duas semanas, no entanto, a peça legislativa passou a contemplar também
aposentadorias e pensões. [...] Não se tratava apenas de um gesto populista.
Era, acima de tudo, mais uma batalha contra o governo Dilma Rousseff (PT),
travada não só pela oposição, mas também por partidos da suposta base
aliada. [...] Aprovadas as alterações, caberia à presidente escolher entre duas
opções amargas: contrariar os pensionistas com o devido veto à norma ou
aceitar um rombo adicional à já deficitária conta da Previdência, que terminou o
ano passado com R$ 56,7 bilhões no vermelho”.
A reportagem da folha de São Paulo critica a proposta de correção da
aposentadoria em alinhamento com as correções do salário mínimo com a
prerrogativa de déficit na previdência. Jornal de grande circulação passa a ideia
de que há falta de fundos na previdência e por isso os parcos benefícios não
podem ser anivelados nem mesmo ao salário mínimo. Defende o pensamento
dominante de mínimo para população e máximo para o capital, já que como
vimos, não cita o desvio da Seguridade Social para o pagamento da dívida
pública, através da DRU, nem altos salários que crescem bem acima da
inflação dos cargos do governo, dos senadores, além do baixo pagamento de
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impostos das grandes fortunas se comparado proporcionalmente com o que o
trabalhador paga no consumo.
Nesta terceira e última reportagem abaixo a ser analisada foi retirada
da revista Veja, publicada em 18/06/2015, e fala de opiniões do Ministro da
previdência sobre a nova medida de aumentar a idade e tempo de contribuição,
e usa o aumento da expectativa de vida como argumento:
“O ministro da Previdência, Carlos Gabas, afirmou nesta quinta-feira
que a solução proposta pela presidente Dilma Rousseff para alterar o fator
previdenciário é "momentânea" e que a solução definitiva só deve ser definida
durante um fórum a ser realizado entre representantes do governo,
trabalhadores e empresários. [...] Para justificar os motivos do veto, o ministro
da Previdência explicou que a população brasileira está vivendo mais, ao
mesmo tempo em que a taxa de fecundidade das mulheres está diminuindo.
‘Para a sociedade, isso significa que teremos menos pessoas trabalhando e
contribuindo em relação às pessoas idosas. É lógico que isso pressiona as
contas da Previdência Social’, afirmou Gabas. [...]”.
Esta reportagem, como as outras mostra somente uma visão sobre o
assunto, a necessidade de redução do direito, de aumento do tempo da vida do
trabalhador no trabalho, devido as contas da previdência que não fecham. Há
outros estudos que dizem o contrário.
O dinheiro da previdência é desviado através da DRU para o
pagamento da dívida, para custear projetos de grandes obras, etc. Todos os
cálculos que são efetuados para dizer que as contas da previdência não
fecham, não levam em conta os recursos desviados. Não falam em momento
algum ou em hipótese alguma em modificar, alterar a contribuição dos
empregadores, de modo que estes possam contribuir com um percentual
maior.
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Foram feitas ainda entrevista a um universo de 10 pessoas, com três
perguntas, são elas:
1) O que acha da frase: “Pessoas que se aposentam com menos de 50
anos são vagabundos, que se aproveitam de um país de pobre se miseráveis”.
2) Qual sua opinião sobre a falta de recursos do INSS?
3) Opine sobre a previdência privada.
Segue o resultado das entrevistas:
Gráfico 1
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Verifica-se
concordância com a
Henrique Cardoso. Vinc
o direito, caso contribua
Gráfico 2
O qumen
se que a maior parte dos entrevistados
m a frase manifestada pelo então presid
. Vinculam o direito a previdência com a cont
tribua.
O que acha da frase: "pessoas que se aposenos de 50 anos são vagabundos que se
de um país de pobres e miserávei
Criminosa Direito, caso tenha contribuído
30
tados não estão em
presidente Fernando
contribuição, se têm
posentam com se aproveitam áveis¨
Concorda
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O gráfico 2 explicita o resultado da opinião dos entrevistados
sobre a falta de recursos do INSS. A maioria vincula a falta de recursos devido
à má administração (40%) e a corrupção (40%). Resultado que expressa o que
é vinculado na mídia sobre o tema, somente 1% cita sobre o desvio feito pela
DRU.
Gráfico3
Opinião sobre falta de dinheiro no INSS
Má administração Desvio pela DRU Corrupçao Governo não gera emprego
[Digite aqui]
Quando pergu
entrevistados (50%) nã
privada e a outra m
organizado.
As entrevistas
formação entre ensino
Podemos verificar que
número de entrevistad
Quando os entrevistad
organização” ou é um
verifica-se a influência
dominante, vem justific
gestão por parte das en
perguntados sobre a previdência privada,
%) não sabiam responder ou não sabiam o qu
ra metade disseram que é um bom inve
istas foram realizadas a pessoas de difere
nsino médio completo, superior completo e
r que as entrevistas, ainda que feitas par
vistados, indica a influência da mídia na
vistados entendem que a previdência privada
é um “bom investimento” e a pública é “m
ncia da mídia, já que a mesma ao expressar
justificando a privatização com a ideia de q
as entidades públicas.
Opinião sobre previdência privada
Bom investimento/organizado Não sabe
32
ada, a metade dos
o que é previdência
investimento ou é
diferentes níveis de
eto e pós-graduados.
para um pequeno
a na nossa opinião.
rivada tem uma “boa
é “má administrada”
ar ideias da classe
de que há uma má
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Considerações Finais
A previdência social, parte da Seguridade Social e demais políticas
sociais, vem sendo desconstruída como um direito e vista cada vez mais como
um produto a ser consumido pelo cidadão-consumidor e não pelo cidadão de
direitos. Ela inclui-se no plano de ajustes fiscais da política Neoliberal, iniciada
no governo FHC e mantida no governo Lula e Dilma (segundo Behring e
Boschetti, 2007, estes últimos governos são menos piores quanto a expansão
da política neoliberal), direcionada pelo FMI.
A grande mídia expressa os pensamentos da classe dominante e
defende as políticas focalizadas, residuais, a privatização, incentivos as
grandes empresas, á direção do FMI. Este prevê o Estado social mínimo em
prol do Estado que defende o mercado financeiro internacional. O, mencionado
a todo momento, “Risco Brasil” diminui quanto mais reserva tem no Superávit
primário para o pagamento da dívida pública, dinheiro que poderia estar sendo
investido em políticas sociais públicas de qualidade para população. As
chamadas fundações e OS’s (organizações Sociais de Saúde) têm a proposta
de fazer a gestão para o Estado, são entidades privadas que fazem a gestão
de espaços públicos, na verdade são formas que impulsionam a terceirização e
privatização com a prerrogativa de má gestão dos serviços públicos.
Essa ideia de má gestão é passada pela mídia e absorvida pela
população, como ficou claro nas respostas, o que é público tende a ser
considerado mal organizado, o que é privado, bem organizado. Há na verdade,
um desvio do dinheiro público para o capital financeiro, é uma direção política e
de visão social de mundo escolhidas.
A Constituição atual de 1988 vem sendo, desde sua conquista,
desrespeitada e o que se vê na realidade são serviços públicos residuais e
sucateados para pobre e serviços privados para quem pode pagar. A
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34
previdência social pública é uma política pública usada por todos que vem
sendo cada vez mais sucateada e assim substituída e/ou complementada por
previdências privadas. Estas, como disseram os entrevistados não deixam de
ser realmente bons investimentos e alternativas da população de
complementar a parca aposentadoria que é ainda reduzida pelo complexo
cálculo do Fator previdenciário. O que o povo também pode ter como
alternativa é lutar junto aos movimentos sociais pelo direito de ter uma velhice
ou assistência, em caso de incapacidade para o trabalho, com boas condições
de vida. O trabalhador tem força que não conhece, é o seu trabalho que move
o sistema capitalista e juntos podem lutar e conquistar por condições sociais de
vida dignas e justas.
São desviados ano após ano recursos, por meio do DRU, e o “déficit da
previdência” é calculado sem considerar este desvio, visto que relatórios
divulgados no site do Tribunal de Contas da União informam que caso não o
houvesse, o fundo do INSS não estaria negativo. Como evidencia Behring e
Boschetti (2007, p.167), em 2005: o resultado da Seguridade Social foi de R$
250,9 bilhões, seus gastos de 265,1 bilhões, resultando num saldo negativo de
R$ 14,1 bilhões, porém seria positivo no valor de R$ 19,1 bilhões, caso não
houvesse o desvio que contribuiu para 34% do Superavit primário no exercício.
(Behring e Boschetti, 2007, apud Boschett e Salvador 2006:51).
Verifica-se no site do Senado Federal um relatório (Em anexo) que
demonstra uma meta a ser batida pela união, Estados e municípios de alcance
em bilhões de recursos para o superávit primário em 2015, que se traduz em
R$ 55,3 bilhões para União e R$ 11 bilhões para Estados e Municípios. No
mesmo relatório verifica-se que o déficit do INSS segue estável até o momento,
desde janeiro de 2015 até maio de 2015, sendo positiva a diferença entre a
receita o Tesouro Nacional (R$ 34,1 bilhões) e o INSS (R$ 27,5 bilhões) em R$
6,7 bilhões. Com o que é desviado da União, Estados e Municípios para o
superávit primário desde janeiro de 2015 estes números seriam ainda
melhores, reduziria em R$ 6,3 bilhões, o que foi alcançado pela união, mais R$
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19,3 bilhões, o que foi alcançado pelos Estados e Municípios totalizaria a mais
para as políticas públicas R$ 25,6 bilhões.
Houve uma ampliação de direitos com o Estatuto do idoso, criou-se o
BPC- benefício de prestação continuada, bem como expandiu-se a previdência
rural e urbana. Com isso necessitou-se de arrecadar mais fundos, daí a criação
da extinta CPMF e hoje as principais fontes são: Imposto de Renda, Cofins,
CSLL, IOF, entre outras (Imposto de Importação, Impostos/ Produtos
Industrializados, etc). Ainda os trabalhadores são os que mais contribuem com
desconto em folha de salário e via consumo.
A efetividade da Previdência Social, e Seguridade Social em geral, não
será alcançada com ajustes fiscais que retiram direitos e estes recursos das
políticas sociais. É necessária uma reestruturação do modelo econômico,
investimento no crescimento da economia, ampliação de empregos estáveis,
transformação dos trabalhos “flexíveis”, terceirizados, precarizados, em
trabalho formal, estável, o que aumentaria a contribuição e redistribuição das
receitas. (Behring e Boschetti, 2007, p. 173).
A reforma da previdência iniciada em 1998 e continuada até os dias
atuais, enfoca somente o déficit contábil, de maneira que não considera a
consolidação da direção democrática e de universalização de direitos impressa
na Constituição de 1988.
Esta reforma atinge todos os trabalhadores, desde os servidores
públicos (fortemente atacados, desde Collor que os chamou de “Marajás”), os
regidos pela CLT, do setor privado até os terceirizados. Inicia-se uma série de
medidas que limitam ou supram direitos, como a transformação do tempo de
serviço em tempo de contribuição, hoje aumentou ainda mais a idade para ter
acesso a aposentadoria integral (somando tempo de contribuição mais a idade
devendo-se resultar em 85 anos para mulheres e 95 anos para homens,
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36
mínimo de 55 anos para mulheres e de 60 anos para homens), como citado
anteriormente.
Em 2006 é estabelecido um teto nominal, no valor de R$ 2400,00, em
2015 este teto passou para R$ 4.663,00. O quanto vai ganhar depende também
do fator previdenciário e da média de contribuição dos últimos 20 anos, sendo
que o cálculo é feito também em cima dos tetos anteriores que eram menores,
portanto ainda não há como chegar nestes R$ 4663, 00, mas no máximo em
R$ 4516,00. Houve também, como já citado, a desvinculação do ajuste do
salário mínimo a este teto, o que fere um dos princípios da Constituição de
irredutibilidade dos benefícios.
Para os servidores públicos também se suprimiu direitos relativos a
aposentadoria, como o fim da aposentadoria especial para professores
universitários, aposentadoria compulsória aos 70 anos, implantação de regime
de previdência complementar para servidores municipais, estaduais e federais,
e o fim da aposentadoria integral em 2003.
O fundo público é pressionado pela luta de classes, disputado entre
trabalhadores e elite. Por aqueles que necessitam da verba para financiar
necessidades dignas de vida através dos direitos e políticas públicas e pela
classe dominante através de subsídios econômicos e do financiamento e
refinanciamento da dívida pública e do pagamento de juros sem fim, que
movimenta o mercado financeiro.
Verifica-se que a perspectiva funcionalista se faz presente nas
reportagens, pois elas expressam uma preocupação com o déficit da
previdência somente pela óptica técnica e contábil, sem articulação com as
relações de trabalho, a estrutura do sistema capitalista com sua inerente
desigualdade e crise cíclica. Os princípios democráticos de universalização de
direitos, pluralismo, acesso amplo a políticas públicas e de qualidade, o
atendimento de necessidades dos trabalhadores, não são considerados.
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Atende-se ao pobre, por pressão dos trabalhadores, com uma previdência
desfalcada de recursos, de maneira residual, de modo que não altere o status
quo. Prioriza-se o pagamento da dívida pública. Numa crise, quem paga são os
trabalhadores que veem seus direitos reduzidos, pode-se diminuir direitos, mas
não pode diminuir os recursos voltados para o pagamento dos juros da dívida.
Neste pensamento a sociedade é vista como um organismo que deve
manter a coesão social, evitar colapsos no mercado financeiro. Se em situação
de anomia (crise) deve-se manter e priorizar o sistema, nem que para isso
corta-se direitos. É este o pensamento expresso quando se fala somente que o
déficit da previdência vem do não fechamento de contas, por conta do aumento
da longevidade ou quando se diz que seria um absurdo um possível ajuste do
benefício ao salário mínimo.
Na primeira reportagem ao dirigir-se aos aposentados, como
vagabundos, o protagonista da reportagem expressa uma direção ideológica
funcional e individualista remetendo a uma ideologia de manutenção do
sistema financeiro em oposição aos interesses dos trabalhadores, já que em
meio à crise inicia a reforma da previdência que vem desde então reduzindo
direitos, com vistas a não diminuir recursos direcionados ao capital.
Na entrevista ao serem perguntados sobre a frase (de que os
aposentados que se aposentam antes dos 50 anos são vagabundos), verifica-
se que majoritariamente, os entrevistados não concordam com a frase e
respondem que caso tenham contribuído devem receber o direito, isso deve-se
ao tipo de política que é a previdência, contribui-se na ativa para receber
posteriormente em caso de velhice ou incapacidade para o trabalho.
A segunda pergunta sobre a falta de recursos do INSS, analisa-se que
os entrevistados respondem exatamente o que se veicula na mídia. O que se
tem mostrado todos os dias nos jornais de grande circulação é a corrupção (da
Petrobras, “Lava- jato”, etc), isso provavelmente influenciou nas respostas dos
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entrevistados, 40% respondem que a falta de dinheiro é devido a corrupção e
40% acham que é a má administração ou má gestão, como já dito, há uma
cultura de que o privado tende a ser mais bem organizado ou gerido (ideia
passada pela classe dominante) e há uma má gestão do que é público/coletivo,
o que foi um dos argumentos mais usados no período de privatização
(argumentava-se que o público era lento, burocrático, etc). O mesmo ocorre na
terceira pergunta sobre previdência privada metade respondeu que é bem
gerido, bem administrado ou um bom investimento, metade não soube
responder.
Nos anos de 1980, com a crise do Welfare state, vem sendo
disseminada uma “cultura da crise” que tem uma direção política do capital
financeiro internacional. É adotada pelos países capitalistas o modelo do
“Consenso de Washignton” formado pelo Banco Mundial, FMI, que como
alternativa a crise impõe aos países medidas de austeridade e de embate aos
trabalhadores. No entanto, isto não é fatal, há a resistência da classe
trabalhadora, a hegemonia é um processo de construção, cheio de
contradições, de luta entre a hegemonia dominante atual e a hegemonia da
classe trabalhadora.
O Consenso de Washignton explana aos países periféricos, devedores,
estratégias de enfrentamento da crise dos anos de 1980, estes adotam
padrões políticos econômicos e culturais- uma democracia consumista, quem
tem mais, pode escolher mais; individualismo e mercado consumista.
São estratégias de classe (da classe dominante), de
desregulamentação dos mercados abertura comercial e financeira, redução do
Estado e privatização, de globalização da cultura, desterritorização e
flexibilização do capital industrial e financeiro, imprimindo-as em países como o
Brasil. São medidas que intensificam a pobreza e condições ruim de vida e
trabalho, com incentivo a terceirizações e menos recursos para as políticas
sociais. Indicam para isso políticas focalizadas na pobreza: ¨’Necessidade de
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39
prestação de serviços sociais básicos aos pobres’ e à igual necessidade de
privatizar serviços destinados aos trabalhadores de melhor renda” (Banco
Mundial. Apud Mota, Ana Elizabete, 2015, p.94).
A previdência neste contexto, é objeto de disputa entre o estado, os
trabalhadores na ativa e aposentados, os bancos e os empresários. Como
vimos depois de uma constituinte a favor da Seguridade Social, houve um
embate do Estado Neoliberal contra a previdência no final do século passado.
Os aposentados se mobilizam no conhecido movimento dos 147%, por um
reajuste dos benefícios nesta percentagem.
Foi instituída já no governo Collor uma Comissão especial para estudo
da Previdência social. Um sindicalista é nomeado para ser Ministro da
Previdência, de modo que cooptasse centrais sindicais.
São expostas propostas de trabalhadores de um lado e empresários,
bancos e setor financeiro, proprietários rurais e organismos financeiros
internacionais de outro. A comissão especial resulta em um relatório, em 1992,
que conclui sobre uma crise na previdência e falta de recursos o que
inviabilizaria o reajuste de 147% reivindicado.
O relatório apresenta uma discussão sobre medidas a serem adotadas
para uma reforma da previdência e a crise na previdência considerada a pior
até aquele momento.
Este relatório afirma que as causas desta crise na previdência é a
ineficiência do Estado na gestão, excesso de burocracia, falta de agilidade,
como também pela causa conjuntural do sistema com a diminuição de
empregos e consequentemente de contribuintes e a diminuição de faturamento
das empresas e pela causa estrutural que são o esgotamento das fontes de
financiamento, ampliação de benefícios e privilégios.
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Há uma crítica com relação a seguridade social, pois ao não repassar
dinheiro para saúde e assistência a união utilizaria recursos da previdência
para estes setores.
O relatório aponta como solução diversas mudanças que já foram
citadas, dentre as quais o incentivo a previdência complementar, a
descentralização de recursos da saúde e a obrigatoriedade de empresas
pagarem seguro saúde. Aponta para a separação de fontes de custeio da
assistência, saúde e previdência o que favorece uma maior participação do
capital privado nestes dois setores.
São medidas da reforma imprimidas pela reestruturação do capital,
pelo redirecionamento da intervenção do Estado e desqualificação das
demandas dos trabalhadores. Prioriza-se a saída da crise (que é cíclica) e
desconsidera-se os projetos societários em tensão e as reivindicações dos
trabalhadores como reivindicações de classe.
Muitos trabalhadores se limitam a defender os direitos já conquistados
ou por reivindicações que evite pioras condições na crise, sindicatos são
cooptados pelo capital financeiro exercendo, muitas vezes o papel de
mediadores.
Está em disputa a defesa de direitos pautados pela Constituição de
1988. Defendidos pelos trabalhadores. Versus o modelo de assistência aos
pobres, com o enaltecimento de ONG’s e instituições filantrópicas e ainda, a
chamada “responsabilidade social” de empresas que ganham isenção fiscal e
melhoram sua imagem, privatização dos direitos com a venda de produtos de
previdência e planos de saúde aos trabalhadores que podem pagar.
A ampliação da proteção social nos anos de 1980 com a constituição é
visualizada como um peso, numa crise. As conquistas de direitos passam a ser
criticadas. A “cultura política da crise” culpabiliza a ampliação da proteção pela
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crise na previdência e Seguridade Social como um todo, defendendo a
privatização e a constituição do cidadão-consumidor (Mota, Ana Elizabete,
2015, p.213).
A chamada “reforma da previdência”, está neste contexto de
desregulamentação, limitação e diminuição de direitos que tem como
prerrogativa a crise sistêmica. Esta crise é na realidade uma crise inerente ao
sistema capitalista, assim como a desigualdade e injustiça social.
Toda as mudanças que ocorreram e vem ocorrendo na previdência e
reduzem os valores dos benefícios bem como a ampliação da proteção, citadas
neste trabalho e outras que talvez não tenham sido lembradas, fazem parte do
pacote de medidas, que se justificam pela crise econômica, indicadas por
organizações internacionais, como o FMI e BIRD. Se justificam pela
necessidade de cortes mediante a crise.
Como vimos os trabalhadores são os mais prejudicados e pagam pela
crise. Uma boa parte do fundo que é de contribuição e arrecadação de
impostos é desviado para outros fins, principalmente para o superávit primário,
fora toda corrupção.
A mídia expõe esses acontecimentos de maneira que não evidencia os
outros motivos a não ser a crise, a corrupção, a má gestão do governo. A
reserva direcionada para o superávit primário e a redução do chamado risco
Brasil são fatores naturais que devem ser objetivos a serem alcançados pelo
governo. As opiniões de intelectuais que têm credibilidade e defendem este
sistema são expostas, enquanto opiniões contrárias, de intelectuais que
acreditam em outra forma de organização social não são mostradas.
A população é influenciada dia a dia por tudo que é transmitido pela
grande mídia, que manipula, defende partidos políticos de sua escolha. Pode-
se verificar uma indicação de afirmação da hipótese inicial na explicitação do
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resultado desta pesquisa, ou seja, a mídia vem expondo opiniões de líderes,
intelectuais e governantes sobre o “déficit da previdência” somente pelo viés
contábil, sem crítica aos desvios de recursos para o capital financeiro
internacional, o que impacta na visão da população sobre o tema com falta de
informação de qualidade.
A alternativa não pode ser pelo mercado com o consumo de produtos
que deveriam ser direito, mas sim lutar junto aos movimentos sociais dos
trabalhadores por manutenção e avanços dos direitos. Divulgar o máximo
possível uma cultura diferente da cultura vigente, que coloca o interesse
coletivo, a própria vida humana, como prioridade e não o lucro. Em defesa da
previdência social, da Seguridade social em geral e de todos os direitos da
classe trabalhadora, na direção de uma sociedade justa e igualitária.
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Anexos
Indíce de anexos
Anexo 1 > Reportagens Anexo 2 > Monitor Fiscal
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Anexo 1
Reportagem 1
MENOS DE 50 ANOS
FHC chama aposentados jovens de vagabundos RIO - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, ontem, que "pessoas
que se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e miseráveis". Fernando Henrique defendeu a reforma da Previdência, que recentemente impôs uma derrota ao Governo, na Câmara, pelo voto equivocado do ex-ministro e deputado Antônio Kandir (PSDB-SP). "Quando se perde uma votação, parece que o mundo vem abaixo. Doce ilusão. Basta ter convicção, para entender o processo nacional e saber que o que se perde hoje, se ganha amanhã." Um dos pontos polêmicos da reforma da Previdência é justamente o que define os 65 anos como idade mínima para a aposentadoria.
Fernando Henrique aproveitou a cerimônia de abertura da 10ª edição do Fórum Nacional, no auditório do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para fazer um balanço de seu Governo; rebater as críticas de que teria optado pela economia, em detrimento das questões sociais; e apresentar a linha que marcará sua campanha pela reeleição.
NEO-REPUBLICANO - O presidente precisou de quase uma hora para apresentar a tese Uma utopia viável. "O que obviamente é uma contradição em termos, digo de antemão, antes que um cronista venha dizer que estou falando uma bobagem", ressalvou. A expressão, disse Fernando Henrique, foi retirada de livro do inglês Anthony Giddens, que propõe um modelo entre a esquerda e a direita, a chamada "terceira via". No discurso que levou para o BNDES, e acabou não lendo, empolgado com a chance de dar uma aula à platéia, Fernando Henrique classificava esse modelo de "neo-republicanismo", em oposição ao neoliberalismo.
Dentro de sua "utopia viável", para mostrar a diferença em relação ao neoliberalismo, o presidente afirmou que sua proposta não é um Estado mínimo, mas sim "essencial, onde as questões de saúde, educação e habitação sejam contempladas". Este Estado essencial, desenhado por Fernando Henrique, seria, no entanto, mais regulador do que intervencionista na economia. "Precisamos desprivatizar o Estado", disse o presidente, criticando as pressões do setor privado e apresentando uma lista de problemas decorrentes do clientelismo e do fisiologismo.
SOCIAL - O discurso foi diferente do que marcou a campanha de 1994, quando a economia, por conta do combate à inflação, era o centro principal da disputa, deixando de lado as questões sociais. "Em primeiro lugar, na minha visão de Estado, vem a democracia; em segundo, a questão social; e, em terceiro, a economia, porque acho que esta deve ser mesmo a ordem das coisas."
"A pobreza e a miséria são hoje a nódoa do Brasil, como foi a escravidão no passado", disse o presidente, parodiando o abolicionista Joaquim Nabuco. "Isso me envergonha." O presidente aproveitou para mostrar que, nas áreas em que o programa Comunidade Solidária, conduzido por sua mulher, Ruth Cardoso, atua, houve redução da taxa de mortalidade infantil.
O presidente também fez uma leitura nova do problema do desemprego. "O nível de emprego no Brasil está crescendo, ao mesmo tempo em que há desemprego, porque a oferta de mão-de-obra vem crescendo. E isso porque estamos sofrendo o efeito
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do crescimento demográfico de há 20 anos, quando a taxa (de natalidade) se aproximava de 3%. Hoje, está em 1,4%. No Brasil do próximo século, haverá diminuição da oferta de mão-de-obra, se mantivermos e ampliarmos o nível de desenvolvimento. Não há porque ter medo do desemprego", concluiu.
http://www2.uol.com.br/JC/_1998/1205/br1205n.htm
Reportagem 2
Teimosia
Se, como disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, os deputados haviam passado dos limites ao estender a política de reajuste do salário mínimo a todos os benefícios previdenciários, o que se pode dizer dos senadores?
Na sessão de quarta-feira (8), o Senado se pôs a votar a medida provisória 672/2015, cujo objetivo inicial era apenas prorrogar até 2019 as regras de valorização do mínimo (hoje de R$ 788). Modificada na Câmara há duas semanas, no entanto, a peça legislativa passou a contemplar também aposentadorias e pensões.
Não se tratava apenas de um gesto populista. Era, acima de tudo, mais uma batalha contra o governo Dilma Rousseff (PT), travada não só pela oposição mas também por partidos da suposta base aliada.
Aprovadas as alterações, caberia à presidente escolher entre duas opções amargas: contrariar os pensionistas com o devido veto à norma ou aceitar um rombo adicional à já deficitária conta da Previdência, que terminou o ano passado com R$ 56,7 bilhões no vermelho.
Lutas políticas obviamente pertencem ao jogo democrático, mas "é bom que se chame à consciência de que tudo tem um limite", como sustentou Eduardo Cunha –e isso dito por um peemedebista que não tem primado pela moderação à frente da Câmara.
Mesmo que a conjuntura econômica fosse mais favorável, a proposta dos deputados representaria uma insensatez. Primeiro porque os cofres públicos precisam de alívio no médio e longo prazo, e não de uma sobrecarga superior a R$ 9 bilhões por ano até 2019.
Em segundo lugar, indexar os benefícios previdenciários à correção do salário mínimo não faz o menor sentido. Deve-se, naturalmente, preservar o poder de compra dos pensionistas, mas para isso basta o reajuste pela inflação.
Diante da crise que o Brasil enfrenta, o desgaste que a Câmara dos Deputados quis impor ao Palácio do Planalto chega às raias da insanidade. Seria de esperar que o Senado, composto por figuras mais experientes e cumprindo o papel de Casa revisora, demonstrasse um mínimo de responsabilidade.
Nada disso, contudo. Os senadores tiveram tempo para refletir sobre a medida. Puderam sopesar prós e contras da decisão.
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Ainda assim, apegando-se à tão criticada tática do "quanto pior, melhor", membros da oposição e da instável base de sustentação do governo no Senado optaram pelo caminho mais nocivo ao país.
Agindo de modo irresponsável, deixaram para a presidente Dilma Rousseff o dever de anular o equívoco e zelar pela boa saúde das contas públicas presentes e futuras. Não deixa de ser uma ironia.
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/07/1653971-
teimosia-imprevidente.shtml
Reportagem 3
Mudança no fator previdenciário vai economizar R$ 50 bi,
mas é 'momentânea', dizem ministros
O ministro da Previdência, Carlos Gabas, afirmou nesta quinta-feira que a solução proposta pela presidente Dilma Rousseff para alterar o fator previdenciário é "momentânea" e que a solução definitiva só deve ser definida durante um fórum a ser realizado entre representantes do governo, trabalhadores e empresários.
"Não [resolve todos os desafios]. Essa é uma solução momentânea. A definitiva deve ser debatida no fórum nacional de previdência social", afirmou Gabas durante entrevista coletiva. Nesta quinta, a presidente Dilma escalou três ministros - Carlos Gabas (Previdência), Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) - para explicar as razões que a levaram a vetar as alterações no fator previdenciário aprovadas no Congresso, e a nova regra da aposentadoria publicada no Diário Oficial da União.
Segundo a publicação no DOU, o novo cálculo da aposentadoria segue a fórmula do 85/95 (soma de idade e de tempo de contribuição por mulheres e homens, respectivamente), que passa a ser progressiva a partir de 2017. O dispositivo prevê que a fórmula seja majorada em um ponto nas seguintes datas: 1º de janeiro de 2017, 1º de janeiro de 2019, 1º de janeiro de 2020, 1º de janeiro de 2021 e 1º de janeiro de 2022. Com isso, em 2022, a fórmula chegará a 90/100. Na prática, isso significa que o acesso à aposentadoria ficará mais difícil, em relação à fórmula aprovada pelo Congresso, acompanhando o aumento da expectativa de vida dos brasileiros.
Durante a coletiva, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que, com a inclusão da progressividade na fórmula 85/95, o governo economizará 50 bilhões de reais até 2026, melhorando a sustentabilidade da Previdência.
LEIA TAMBÉM: Previdência: com ou sem o fator, a conta não fecha Nova regra de aposentadoria torna Previdência inviável, diz ministro Para justificar os motivos do veto, o ministro da Previdência explicou que a
população brasileira está vivendo mais, ao mesmo tempo em que a taxa de fecundidade
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das mulheres está diminuindo. "Para a sociedade, isso significa que teremos menos pessoas trabalhando e contribuindo em relação às pessoas idosas. É lógico que isso pressiona as contas da Previdência Social", afirmou Gabas.
O ministro ainda disse que o aumento da expectativa de vida tem como consequência o fato de que os aposentados vão receber o benefício por mais tempo. "Aqui está o desafio da Previdência Social", disse. Entre 1998 e 2013, segundo cálculos apresentados pelo governo, a expectativa de sobrevida dos brasileiros com 50 anos de idade aumentou 4,6 anos. Em 1998, a expectativa de sobrevida dos brasileiros era de 75,2 anos, e, em 2013, subiu para 79,8 anos.
Segundo ele, a população de idosos é de 23,9 milhões atualmente. Em 2030, serão 41,4 milhões. O ministro disse ainda que, atualmente, o país tem 9,3 pessoas ativas para cada idoso, relação que, em 2030, cairá para 5,1. "Isso também impacta a Previdência Social", comentou.
Já o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que é preciso que a sociedade se prepare para essa transição demográfica. "Não estamos falando de um negócio lá longe. A relação entre trabalhadores e aposentados vai cair pela metade, e isso não é um horizonte longuíssimo. É um movimento que não para", afirmou. "Temos de olhar o que aconteceu nos últimos anos e olhar para frente".
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Anexo 2
Monitor fiscal
• O resultado primário da União até maio foi de R$ 6,3 bilhões. Trata-se do menor valor para o período desde 2002, início da série histórica divulgada pelo Banco Central.
• Para que a meta do ano seja alcançada, é necessária uma economia de R$ 49,0 bilhões (89% do total) nos meses restantes. Quanto aos demais entes, o superávit acumulado até maio superou em R$ 8,3 bilhões o valor estimado para o exercício.
• O superávit primário acumulado pelo governo central até maio corresponde a 37% do valor alcançado no mesmo período de 2014.
• Esse desempenho segue trajetória semelhante à de 2014, quando o governo encerrou o exercício com déficit primário de R$ 20,5 bilhões.
Monitor fiscal em pdf no site:
http://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/loa/2015/execucao/despesa-
fiscal-e-seguridade
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Referência Bibliográfica
BOSCHETTI, Ivanete e BEHRING, Elaine Rossetti. Política Social:
fundamentos e história. 3ª edição. São Paulo, Cortez, 2007.
LESSA, Sérgio e TONET, Ivo.1ª edição. São Paulo, Expressão popular,
2008.
MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social. 7ª edição.
São Paulo, Cortez, 2015.
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social. 3ª edição. São
Paulo, Cortez, 2009.
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