50
[Digite aqui] 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Previdência é um direito Por: Mariana Cordeiro Miranda Orientador Prof. Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Previdência é um direito

Por: Mariana Cordeiro Miranda

Orientador

Prof. Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Previdência é um direito

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Finanças e gestão corporativa

Por: Mariana Cordeiro Miranda

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

3

AGRADECIMENTOS

.... Deus e famíla

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

4

DEDICATÓRIA

Dedico tudo o que faço e me esforço à Deus e minha família amada. Vivo, trabalho por

eles.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

5

RESUMO

A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos

de dificuldade física ou mental para continuar a desempenhar suas atividades

do trabalho. Vem sendo atacado pela mídia e classe dominante como um peso

para as contas do governo e por isso, segundo esta mesma classe, deveria ser

cada vez mais privatizada ou um benefício a ser reduzido?

Este trabalho justifica-se pela necessidade de reforçar a análise deste

direito como um direito e não como um mero benefício (este entendido como

uma "doação" a quem não trabalha) em tempos em que vem crescendo o

número de idosos no Brasil.

Objetiva-se desmistificar a visão sobre previdência como um peso nas

contas dos governos e defendê-la como um direito. Analisar como este direito

foi atacado e como ele vem sendo conduzido atualmente.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

6

METODOLOGIA

Analisar dados que levem a identificar a visão atual hegemônica sobre a

previdência, através de entrevista oral e por meio de aplicativo do whatsapp a

um universo de 10 pessoas e buscando identificar o senso comum passado

pelos meios de comunicação em massa sobre o tema.

Analisar também 3 reportagens da mídia que estejam falando sobre

previdência

Identificar visões sobre a previdência os que a defendem como direito e

os que a entendem como um direito a ser reduzido ou um peso nas contas do

governo por leitura bibliográfica sobre o assunto.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Políticas Sociais e visões Sociais de Mundo 10

CAPÍTULO II - Previdência no Brasil 14

2.2 Previdência complementar e previdência pública. 22

CAPÍTULO III – Reportagens e entrevistas 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52

ANEXOS 42

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

8

INTRODUÇÃO

Este trabalho justifica-se pela necessidade de reforçar a análise

da previdência como um direito e não como um mero benefício ou uma

"doação" a quem não trabalha. Através de uma breve analise sobre o tema da

previdência no Brasil, busca-se explicitar as duas visões sociais de mundo

sobre o objeto de estudo: direito a ser defendido e ampliado X direito a ser

reduzido. Investiga-se neste trabalho como o tema vem sendo tratado nos

veículos de comunicação, especificamente nos jornais de grande circulação e a

visão da população sobre o assunto.

A hipótese é de que a previdência, defendida neste estudo como um

direito a ser mantido, vem sendo entendida, pelo “senso comum” e pelos

“intelectuais da classe dominante” (termo criado por Antônio Gramsci, 1937)

apenas como um benefício a ser adquirido pela população. Os mesmos

visualizam este “benefício” como um peso nas contas públicas e têm como

argumento o aumento do número de idosos no país e a elevação de índices de

desemprego. E Como tudo vira mercadoria na sociedade capitalista, este

direito, conquistado pelas lutas trabalhistas, também se transforma em

mercadoria a ser adquirida pelos trabalhadores através do mercado comercial.

Inicialmente, é necessário, realizar um estudo sobre as duas visões

sociais do tema, como surgem historicamente, qual a defesa de sociedade por

traz delas, de forma que, a partir daí possa-se identifica-las neste curto recorte

de realidade (analise de reportagens dos jornais e entrevistas a pessoas),

dados que serão colhidos, através do aplicativo “whatsapp” e entrevista oral, e

sistematizados, para enfim a hipótese ser confirmada ou refutada. Isto porque

as análises da realidade social estão impregnadas de visões sociais de mundo

que incluem projetos de sociedade, o mesmo acontece ao se analisar e

formular qualquer política pública/social.

Sendo assim, pretende-se no capítulo 1 identificar as correntes

ideológicas (influência das perspectivas funcionalistas, idealistas e marxistas)

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

9

por traz dos dois entendimentos sobre este direito, no capítulo 2 fazer uma

análise histórica de como ele foi conquistado e defendido no Brasil, no terceiro

capítulo mostrar dados sistematizados da pesquisa e no último e quarto realizar

a conclusão do estudo, confirmando ou não a hipótese.

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

10

Capítulo I

Políticas sociais e visões sociais de mundo.

As Políticas sociais, dentre elas a Previdência social, são formuladas,

pensadas e vistas baseadas de acordo com uma perspectiva, uma visão social

de mundo, que indica disputas de projetos societários. Ou seja, formula-se com

um método teórico – metodológico relacionando-se com uma direção política.

Ao ser formulada ou pensada uma política social é influenciada,

conscientemente ou não, por correntes filosóficas e políticas vigentes na

sociedade. As perspectivas mais centrais da sociologia nas quais se baseiam

as políticas sociais são: Funcionalista, Fenomenológica e Marxista. Estas três

perspectivas foram sendo refletidas, a partir do momento histórico em que

viveram seus pensadores.

A perspectiva funcionalista foi defendida por Émile Durkheim (1895).

Para ele a sociedade ou os “fatos sociais” devem ser estudados de maneira

que o pesquisador não os julgue de acordo com suas concepções filosóficas,

paixões, visões de mundo, valores. O indivíduo deve usar de seu entendimento

para investigar os fatos, saindo de si mesmo, com procedimentos semelhantes

aos usados nas ciências naturais, os acontecimentos devem ser observados

como coisas. A sociedade aqui é vista como um organismo e as instituições

como órgãos que podem ficar doentes, estado que denomina de “anomia

social”.

Nesta perspectiva as políticas públicas são feitas para ajustarem uma

sociedade que esteja em situação de anomia, a coesão social é o seu foco

nesta situação. O conflito de classes é entendido como uma fase de anomia e

é tratado como um fato natural que deve ser tratado com coesão, evitando

colapsos. A questão social, objeto das políticas sociais, seria algo natural na

sociedade burguesa.

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

11

Durkheim entra em contradição ao defender a neutralidade no

pensamento social e ao mesmo tempo “julgar” o que seria um estado de

anomia ou um estado normal de uma sociedade. Seu pensamento contribui

para manutenção do “status quo”, já que os fatos sociais são tidos como

naturais, não se modificam pela vontade. Em contato com seu tempo de

revolução tecnológica, teoria da evolução de Darwin, Durkheim, evidentemente,

desenvolve seu pensamento marcado pelo momento histórico em que vivia,

propondo utilizar procedimentos de investigação para os “fatos sociais¨”

semelhantes aos das ciências biológicas ou naturais.

Já no pensamento idealista, ao investigar a realidade, o sujeito se

sobrepõe ao objeto. A realidade é desvendada em suas expressões, mas a sua

essência é impossível de ser descoberta. Ela é resultado da razão do ser,

através de seus valores, crenças, o pesquisador escolhe o objeto, investiga e

tira suas conclusões, assim acreditava Kant. O escravismo, o feudalismo em

meados e finais do século XIX era a organização vigente no período, neste

momento a classe dominante obriga escravos a produzirem riqueza, a

desenvolverem somente trabalho manual. Há a separação clara entre o

trabalho manual e o intelectual.

Neste quadro surge esta filosofia de que a ideia sobrepõe-se ao objeto,

a classe dominante, pensante (administração, gestão, direito) controla a

sociedade. Aqui a política social tende a focar no sujeito, este é responsável

principal por busca de melhores condições de vida dentro da sociedade

capitalista, e por isso ela tende a ser residual, focada em doações de

benefícios rasos a um determinado grupo carente, pobre, da sociedade.

Na teoria Marxiana, ao mesmo tempo em que o sujeito desvenda a

realidade ele mesmo se modifica, esta é a relação entre sujeito e objeto, utiliza-

se, o método crítico-dialético. As políticas sociais neste enfoque são processos

que se desenvolvem no âmbito da sociedade de classes, e possui

determinações ricas e complexas na relação entre Estado e sociedade. As

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

12

políticas sociais ao mesmo tempo em que são criadas no capitalismo para

mantê-lo, elas criam possibilidades de superá-lo, ou seja, esta perspectiva vai

além da reflexão da conquista de direitos na sociedade burguesa, indicando a

impossibilidade da justiça social na organização econômica capitalista. A

previdência pública neste enfoque é defendida como um direito universal para

todos e não como um benefício aos pobres.

Para Marx, que analisou a sociedade capitalista após a Revolução

Industrial e Francesa, o ser social e a natureza são distintos e reais, ao mesmo

tempo em que o homem pensa e objetiva o que projetou na natureza

(trabalho), ele mesmo se modifica, cria novas possibilidades e novos

conhecimentos na história dos homens. O capitalismo gera desigualdade no

processo de acumulação de riqueza. Este sistema gera o lucro através da

extração da “mais-valia”, a partir da apropriação dos meios de produção, ao

trabalhador resta somente vender sua força de trabalho.

Na era feudal o artesão tinha acesso a todo o processo produtivo e aos

meios de produção, que num longo processo histórico, na transição para o

capitalismo (entre o século 11 e 18), ele os perde e a nova classe, a do

proletariado, tem apenas sua força de trabalho para vender no mercado. E

como qualquer mercadoria seu custo para o capitalista deve ser o mínimo

possível, e por isso os direitos sociais, hoje, são sucateados e têm a tendência

de virarem residuais ou meros benefícios.

No capitalismo a mais valia é a apropriação do valor a mais que a força

de trabalho produz para ela mesma se reproduzir, o trabalhador produz uma

quantia total e dela é pago o salário apenas para se manter e retornar ao

trabalho o restante do que produz é acumulado pelo capitalista. O capital extrai

o máximo quanto pode a mais-valia para acumular mais capital, repetindo este

processo continuamente. A força de trabalho como uma mercadoria tem um

custo que é decidido por leis do mercado, e calculada para ela mesmo se

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

13

manter, se reproduzir para retornar no dia seguinte, de acordo com os

interesses do capital.

Nesta sociedade o trabalho e tudo utilizado no processo de trabalho

(máquinas, tecnologia, etc) que é resultado de tudo o que foi realizado, criado,

pela humanidade no passado, é reduzido a uma mercadoria. A exploração do

homem pelo homem não é explícita e o sucateamento de direitos é “justificado”

pela burguesia diante a crise (que é cíclica).

Todo esse processo não é claro, na sociedade burguesa tudo se

submete ao capital, é voltado para acumulação de capital, consciente ou

inconscientemente. No plano individual, por exemplo, uma vida de sucesso é

quase sempre tornar-se rico, o consumo não é para atender uma real

necessidade, mas à necessidade criada pelo capitalismo ou para se obter

status social. Ou seja, o capitalismo gera alienação, nele o trabalho, que é uma

característica humana (de projetar e executar na realidade o que projetou,

gerando conhecimento e novas possibilidades), é uma “coisa”, o ser humano é

visualizado como uma força de trabalho, o lucro é o importante ainda que gere

pobreza, desequilíbrio ambiental, miséria, sucateamento de direitos.

Diante desta realidade a classe trabalhadora luta por direitos e no pós-

guerra (1945) a política social é gestada, sem data específica, no final do

século XIX com os movimentos sociais-democratas e o Estado – Nação na

Europa Ocidental, e daí a Previdência Social.

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

14

Capítulo 2

Previdência no Brasil.

Na segunda metade do século XIX, os trabalhadores reagiram a

exploração de sua força de trabalho com a extensa jornada de trabalho e

conquistam participação política e social. Lutaram pela socialização da riqueza

socialmente produzida, pela emancipação humana e por uma nova sociedade,

destaca-se as mobilizações na Europa em 1848. O Estado, então, dirigido pelo

capital, mas com relativa autonomia reprime protestos e mobilizações,

entretanto, inicia as regulamentações fabris

e negociações quanto a jornada de trabalho. A política social, ganha impulso

pós- crise do capitalismo concorrencial (1929- quebra da bolsa de Nova Iorque)

e é resultado de múltiplas determinações enquanto processo, destacando-se a

luta dos trabalhadores por direitos e a necessidade de intervenção do Estado

na economia para a recuperação da crise econômica. O modelo econômico

chamado de Welfare State que prevê a intervenção Estatal na economia, passa

a ser praticado na Europa ocidental, fortemente no pós-guerra, 1945, já que o

modelo do livre mercado perde legitimidade econômica e política.

Neste contexto indícios da previdência social são verificados

inicialmente com o seguro social, na Alemanha em 1883, que expressou o

reconhecimento de que a situação de incapacidade para o trabalho deveria ser

protegida. Os próprios trabalhadores começam a fazer um fundo de reserva

monetário para manter os grevistas. O chanceler alemão Otton Von Bismack

cria, como contrapartida para desmobilizar as lutas trabalhistas, o seguro

saúde nacional obrigatório em 1883. Este seguro era o pagamento de

mensalidades a trabalhadores que por velhice, doença, incapacidade para o

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

15

trabalho no geral perdiam a capacidade laborativa. Este tipo de direito se

espalha na Europa no final do século XIX e início do XX em diversos países

que incluem seguros sociais contra doenças, desemprego, formas contributivas

para aposentadoria, sem caráter universal, cobrindo somente os contribuintes e

suas famílias.

Estes seguros foram criticados pelo “plano Beveridge” (Inglaterra,

1942) que propunha um modelo de política social universal, sem o caráter

privado dos seguros sociais. No modelo econômico Keynesiano fordista este

plano em sintonia prevê a intervenção estatal na economia e a manutenção do

pleno emprego, a responsabilidade estatal na manutenção de condições de

vida dos cidadãos através de serviços sociais universais, ampliação dos

seguros sociais, acesso a assistência médica e educação. Nasce aí a

“Seguridade Social”, hoje constituída da previdência, saúde e assistência

social.

A política Keynesiana fordista visa adotar medidas anti-cíclicas de

modo a financiar o capitalismo, manter um certo padrão de consumo ao ficar

claro que o capitalismo possui crises cíclicas, não se auto regula sem gerar

crise. O fundo público passa a financiar o capital e a reprodução da força de

trabalho.

Vale dizer que a crise é inerente ao capitalismo. Berhing e Boschetti

(2007) citam Mendel para explicitar que o sistema econômico capitalista é a

própria causa da crise, nele a expansão se dá com a intensificação da mais

valia e a diminuição de preços das matérias primas. Este quadro diminui o

exército industrial de reserva, fortalecendo o movimento operário que juntos se

organizam e lutam por direitos. A pressão trabalhista baixa a taxa de extração

da mais-valia, a evolução tecnológica diminui o emprego, por consequência o

também cai o consumo, e daí a recessão se instala. A crise no capitalismo é

cíclica, independente do governo ou partido que esteja no poder.

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

16

No pós-guerra, inicialmente, a proteção social, incluindo a previdência

assume modelos diferentes entre os países. Na Europa mais fortemente o

modelo universal e sistemas públicos de serviços sociais, na América do Norte

um misto entre o público e o privado e no Brasil modelo de assistência aos

pobres e a previdência ao trabalhador assalariado.

No geral emprega-se uma cultura de que só tem acesso a previdência

social aquele que trabalha, ideia assimilada pelos trabalhadores ao longo dos

séculos (Mota, Ana Elizabete, 2015, p. 145).

Desde a segunda metade dos anos 70 o modelo do Welfare state é

criticado pelos neoliberais que se justificam pela crise, novamente, do

capitalismo e a falta de fundo público para o financiamento de políticas sociais.

Os países passam a adotar medidas de cortes dos gastos sociais públicos. A

tendência da nova divisão social do trabalho passa a ser a intensificação do

fracionamento dos locais de trabalho, reduzindo a força coletiva, redução dos

direitos e salários indiretos (políticas públicas) e aumento de desemprego.

No Brasil, a classe trabalhista começa a se organizar e reivindicar

melhores condições de trabalho no século XX. A crise de 1929 possibilitou no

país uma correlação de forças diferenciada, a oligarquia cafeeira perde poder

com a diminuição das exportações e a oligarquia do gado, açúcar e demais

ganham mais força econômica e política. A carne do Sul é uma delas e daí vem

Getúlio Vargas. Chegam também no poder o setor industrial. Vargas com a

“revolução de 1930”, toma o governo apoiado de militares médios e uma base

populista.

O Brasil segue com a modernização do país, chamada de

“modernização conservadora”, economia fundada na exportação, com forte

influência da oligarquia. O governo Vargas inicialmente trata a luta de classes

com polícia, mas passa a ver a classe trabalhadora como classe colaboradora,

tratando da regulação do trabalho. O Brasil segue o que ocorreu nos países

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

17

desenvolvidos disponibilizando o auxílio doença e maternidade, o seguro

desemprego, regulação de acidentes de trabalho. Na década de 1930 foi criado

o Ministério do trabalho e a carteira de trabalho, passando a dispor de alguns

direitos quem tivesse carteira assinada, aproxima-se aí do modelo

beveridgiano.

Cabe dizer que antes deste período, em 1923, a Lei Eloy Chaves,

inaugurou a previdência no Brasil, eram as Caixas de Aposentadorias e

Pensão (CAP’s) instituídas para os empregados ferroviários e ampliadas

posteriormente para portuários e marítimos, assegurava benefícios de

aposentadorias e pensões para estes trabalhadores.

Os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s) criados na década de

1930 e é o início do sistema público previdenciário no Brasil, extingue-se as

CAP’s que eram organizações privadas por empresa- contribuição de parte de

salário dos trabalhadores e das empresas. Os IAP’s cobriam a perda laborativa

por invalidez, velhice, morte, doença e eram dirigidas por trabalhadores, o que

possibilitou uma cooptação de dirigentes sindicais pela elite. Os trabalhadores,

o governo e o Estado contribuíam para o fundo dos IAP’s sem ser de maneira

uniforme.

A Leio Orgânica da Previdência Social (1960) é criada para unificar e

uniformizar a previdência no Brasil, o que vinha sendo discutido desde o

governo Vargas. Havia uma ação de regulamentação do trabalho, reprodução

da força de trabalho, organização do mercado de trabalho e normas de

produção e consumo, mas não no mesmo ritmo que os países centrais do

capitalismo. Foi promulgada no Brasil a constituição de 1937 com a

reformulação de como o Estado passa agir com algumas categorias de

trabalhadores e em 1943 é formulada e homologada a CLT (Consolidação das

Leis do Trabalho).

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

18

Em 1945 Vargas sai do poder após 15 anos e uma movimentação

política entra em cena, em 1946 é promulgada a Constituição de 1946, mais

democrática que as anteriores (Bering e Boschetti, 2007, p. 109). A

industrialização do país, marcado pela exportação agrária, é fortemente

estimulada, iniciada no período Vargas e continuada no Governo de Juscelino

Kubtschek. Neste período o movimento dos trabalhadores tinha mais

consciência de seus direitos e se organizou mais solidamente para reivindica-

los, de um lado o Partido Comunista Brasileiro que defendia reformas de base

que incrementariam as políticas sociais e de outro os militares que

incentivavam o desenvolvimento ligado ao capital estrangeiro. O golpe militar

de 1964 depõe João Goulart e impõe a conhecida ditadura.

Incentivada pelo capital estrangeiro, que buscava mercado com

potencial de crescimento (diante uma nova crise do capital na década de

1970), o Brasil desenvolve-se na ditadura, mas com um restrito mercado

interno. A política social no Brasil é ampliada com o intuito principal de manter

controlada a classe trabalhadora, frente a repressão, censura, tortura, havia um

misto de repressão e assistência.

Logo após a criação da Lei Orgânica da Previdência Social em 1960, o

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) é inaugurado em 1966, como

forma de efetivamente uniformizar, centralizar e unificar a previdência. Os

trabalhadores não a dirigem mais e sua gestão passa para o Estado. Os

acidentes de trabalho passam para somente para o INPS, desestimulando as

seguradoras privadas. Os trabalhadores rurais também passam a ter acesso a

previdência por meio do Funrural. Na década de 1970 a previdência passa a

alcançar também trabalhadoras domésticas, autônomos, jogadores de futebol.

Em 1974 a Renda Mensal Vitalícia é criada para idosos e pobres que

contribuíram com no mínimo um ano para a previdência.

Cria-se um Ministério que englobava a Previdência e Assistência Social

em 1974. Entre algumas instituições que compunha a Assistência Social,

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

19

estavam neste Ministério as que compunham a previdência, como a Empresa

de Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev).

Houve uma reforma no Sistema Nacional de Assistência e Previdência

Social. Que incluía também o Instituto Nacional de Administração e Previdência

Social (IAPAS). A previdência estava ligada a assistência e a saúde, esta

última por sua vez teve, com esta associação, uma forte mercantilização com

incentivo à individualização, medicalização e mercantilização da saúde, isso de

modo que o governo pudesse impulsionar a indústria farmacêutica e venda de

equipamentos médicos em detrimento da saúde pública.

Apesar da ampliação de política pública havia no regime militar um

incentivo também ao acesso privado a serviços básicos, dentre os quais a

previdência.

No final dos anos 70 e início dos anos 1980 intensifica-se o processo

de redemocratização do país com a mobilização dos movimentos sociais e a

insatisfação da população com a ditadura e economia que ao contrário do que

pregou o “bolo” não foi dividido e a desigualdade só crescia. Houve um

endividamento do setor privado e socialização da dívida para o Estado pagar

por pressão do FMI. O governo vende títulos públicos e eleva juros, a inflação

aumenta estrondosamente, em média 200% ao ano (Bering e Boschetti, 2007,

p.139). Este quadro de mobilização política e crise culmina na Constituição de

1988 que afirma universalização de direitos, defende liberdades democráticas,

opõe-se a agenda do FMI. Mas há ao mesmo tempo uma tendência Neoliberal

e esta sai vitoriosa com a eleição de Collor.

A seguridade social englobando a Previdência, assistência social e

saúde é defendida na constituição. Pela primeira vez a política social no Brasil

se inspira no modelo Beveridgiano. Amplia-se a cobertura da previdência com

o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para idosos e deficientes, mesmo

sem serem contribuintes e aos trabalhadores rurais que passam a receber um

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

20

salário mínimo. A licença maternidade se estende para 120 dias também para

domésticas e trabalhadores rurais, vinculação do salário mínimo ao benefício

previdenciário, pensão para maridos e companheiros, limitação da idade para

se aposentar – 60 anos para homens e 55 anos para mulheres.

2.1 – Reformas na Previdência anos de 1990 até os dias atuais.

Apesar dos avanços nos direitos sociais na Carta magna, a

Constituição de 1988, sua efetividade na prática se dificulta frente ao avanço

do Neoliberalismo no país com os governos que seguem, destaque para PSDB

com Fernando Henrique Cardoso (FHC). Este aponta como causa da crise o

Estado e seus problemas. Este governo priorizou o capital financeiro

internacional, fez ajuste fiscal, reduzindo custos do Estado social (saúde,

educação, previdência), reduziu direitos ou os limitou. Priorizou as

privatizações de grandes empresas estatais, a preços baixos para o capital

estrangeiro, e o direcionamento do fundo público para o pagamento da dívida

pública, aumenta-se o desemprego sem se preocupar com os direitos

conquistados impressos na Constituição. As políticas sociais são incentivadas

para serem implementadas por Instituições privadas, ONG’s, instituições

filantrópicas, de maneira focalizadora, residual. Com o foco nos superlucros os

encargos previdenciários se contraem.

Há um incentivo de privatizar a previdência. Existindo uma previdência

pública para os que não podem pagar por uma complementar ou para um

melhor serviço e a previdência privada para uma complementação da

aposentadoria, assim como acontece na saúde e educação. As políticas

públicas são focadas para um público mais pobre e os privados para um

público que pode pagar para um serviço menos pior e uma melhor

aposentadoria.

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

21

A reforma da previdência iniciada em 1998, até hoje, restringiu o valor

do benefício salario família e auxilio reclusão, aumentaram o tempo de

contribuição e não incluíram os trabalhadores informais, além de desvincular o

valor do teto benefício ao salário mínimo. Enfatiza o mercado através de planos

privados de previdência, o cidadão de direitos defendido na constituinte é na

realidade majoritariamente o cidadão – consumidor.

A previdência tem um fundo de financiamento específico apesar de

estar dentro de um conceito maior que é a Seguridade social. Quem contribui

majoritariamente é o trabalhador que está inserido no mercado de trabalho,

porém as decisões quanto a ampliação do direito e gestão são realizadas pelo

aparato estatal com seus cálculos técnicos e pouco claro ao cidadão.

A Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de

Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF) foi criada em

1994 para destinar recursos a saúde e posteriormente para a previdência.

Durou até 2007. Foi substituída pelo IOF que tem alíquota de 0,38%. A maior

parte da tributação fica na União, chegando menos aos Estados e pouco aos

municípios, desrespeitando o conceito de descentralização dos recursos da

Constituição. Os trabalhadores proporcionalmente pagam mais tributos, do

consumo, do que os seus empregadores ou do que as grandes empresas.

O Fator Previdenciário é um cálculo que considera o tempo de

contribuição, a alíquota e a expectativa de sobrevida do aposentado, de acordo

com uma taxa pré-determinada que varia conforme tempo de contribuição, foi

criado em 1999 (FHC), e mantido no governo Lula e Dilma, para aumentar

arrecadação, reduzindo o valor de aposentadoria de trabalhadores mais novos.

O que não é argumentado é que há um desvio de fundos da seguridade para o

pagamento de juros da dívida com o superávit primário através da DRU

(Desvinculação de Receitas da União). Por isso os sindicatos e trabalhadores

lutam para o fim deste fator, que vem reduzindo os benefícios dos

aposentados.

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

22

As principais alterações no governo atual foram quanto ao tempo de

contribuição e idade para se aposentar, é necessário para receber

integralmente a soma da idade e de contribuição para mulheres de 85 anos e

ara homens 95 anos.

A pensão por morte sofre alteração com relação a carência, deve haver

a contribuição de no mínimo 24 meses para que o beneficiário possa receber

pensão com exceção se a morte foi por acidente de trabalho. O valor deste

benefício passa a ser 50% do valor que o segurado receberia em caso de

aposentadoria por invalidez no momento da morte acrescido de 10% para cada

beneficiário. O valor do auxílio doença também é restringido, a uma média

aritmética dos últimos 12 meses de salário.

Essas são algumas alterações que se iniciaram no governo FHC com a

prerrogativa de que o envelhecimento da população levava a uma necessidade

de reforma da previdência com o fim de arcar com o aumento do número dos

benefícios, estas alterações continuam com o trabalhador pagando a diferença.

Segundo Behring e Boschetti (2007) foram desviados da arrecadação

de tributos para o pagamento da dívida R$45,2 bilhões, entre 2002 a 2004, que

poderiam servir para a previdência, houve um aumento de tributação, mas que

não foram direcionadas para as políticas sociais como a previdência. A redução

do valor dos benefícios leva ao trabalhador buscar pela previdência

complementar. Individualiza o acesso aos serviços e quem paga é o

trabalhador.

2.2 Previdência complementar e previdência pública.

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

23

Os benefícios da previdência são: auxílio doença, aposentadoria por

idade, por tempo de contribuição e por invalidez, pensão por morte, salário-

família, salário – maternidade e auxílio reclusão. Estes benefícios estão

presentes nas modalidades da previdência pública e privadas, sobretudo na

pública. Os servidores públicos têm uma legislação específica para sua

previdência que não vamos abordar aqui. O INSS é a previdência oficial pública

do país, criado em 1990. A previdência complementar compreende a fechada e

a aberta.

A previdência complementar ou fundo de pensão, compreende 3

modalidades. A previdência que as grandes empresas pagam junto com os

empregados contribuições para a aposentadoria dos trabalhadores da

empresa, o exemplo é a PREVI dos funcionários do Banco do Brasil, em geral

pagam auxílio doença, aposentadorias e pensões.

A segunda modalidade é a previdência associativa de Sindicatos,

Associações e cooperativas que possibilitam aos associados, inclusive

trabalhadores sem vínculo de emprego a formarem um fundo para adquirirem

um benefício futuro.

A terceira modalidade é a previdência comercializada por instituições

financeiras autorizadas, como os bancos, na qual qualquer pessoa pode ter

acesso, e só quem contribui é o cliente que aderiu ao plano. A instituição faz a

gestão para principalmente proporcionar um rendimento atrativo do plano.

As duas primeiras modalidades são denominadas de fechadas e esta

última de aberta. A entidade responsável pela supervisão da previdência

complementar fechada é a Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

A previdência aberta vem crescendo no país como forma de

complementar a aposentadoria reduzida do INSS, que além de ser baixa ainda

tem um teto máximo (fato que incentiva a privatização da previdência). O plano

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

24

VGBL tende a ser o mais procurado, pois atende a um maior número de

pessoas que fazem a declaração de imposto de renda no modelo simplificado

ou não declaram. O desconto do IR será somente sobre o rendimento neste

plano. Já o PGBL é procurado para quem faz o modelo completo do IR, pois

este oferece um benefício fiscal de dedução de até 12% do rendimento

tributável.

A previdência fechada tende a render mais do que a previdência

aberta, pois esta tira do rendimento do beneficiário uma parcela para os

acionistas da Sociedade Anônima.

A previdência aberta é gestada por uma pessoa jurídica que tem fim

lucrativo, sendo obrigatoriamente constituída sob a forma de sociedade

anônima, é mais flexível acessada por qualquer interessado. A previdência

fechada é direcionada por trabalhadores vinculados a uma mesma empresa,

estatutários, a uma categoria profissional específica ou associados a uma

cooperativa, este tipo de previdência não possui fins lucrativos. Toda a

contribuição da fechada, deduzindo despesas administrativas, são direcionadas

ao pagamento de benefícios. A previdência aberta faz planos individuais e

coletivos (entidades vinculadas a pessoa jurídica contrata a aberta para seu

grupo de funcionários, se o segurado sair da emprega ele pode manter o plano

ou migrar para o plano individual).

Há ainda na previdência fechada o benefício definitivo acertado no

início do plano ou a contribuição definitiva onde o benefício vai depender do

rendimento do valor capitalizado.

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

25

Capítulo III

Reportagens e entrevistas

Serão analisadas três reportagens e entrevistadas um universo de 10

pessoas. Com vista a identificar o pensamento dominante sobre o tema e a

consciência ou não da população do direito de acesso a previdência. Este curto

recorte da realidade poderá indicar resposta a estas questões.

A primeira a ser lembrada trata-se do período FHC quando o mesmo

disse a frase, até hoje é lembrada: "pessoas que se aposentam com menos de

50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e

miseráveis".

A reportagem abaixo foi retirada do site UOL, publicada no ano de

1998:

“RIO - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, ontem, que

"’pessoas que se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos, que se

locupletam de um país de pobres e miseráveis’. Fernando Henrique defendeu a

reforma da Previdência [...] Um dos pontos polêmicos da reforma da

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

26

Previdência é justamente o que define os 65 anos como idade mínima para a

aposentadoria. [...]Fernando Henrique aproveitou a cerimônia de abertura da

10ª edição do Fórum Nacional, no auditório do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para fazer um balanço de seu

Governo; rebater as críticas de que teria optado pela economia, em detrimento

das questões sociais [...] ‘A pobreza e a miséria são hoje a nódoa do Brasil,

como foi a escravidão no passado’, disse o presidente, parodiando o

abolicionista Joaquim Nabuco. ‘Isso me envergonha. ’ O presidente aproveitou

para mostrar que, nas áreas em que o programa Comunidade Solidária,

conduzido por sua mulher, Ruth Cardoso, atua, houve redução da taxa de

mortalidade infantil”.

Na reportagem em destaque, o presidente, expõe uma defesa quanto ao

início da “Reforma da previdência” que iniciou em seu governo, esta reforma

deu início a uma série de redução de acesso a este direito e incentivo a

privatização.

Fica claro a visão individualista e moralista quando fala que

trabalhadores que adquiriram a aposentadoria aos 50 anos são vagabundos.

Trabalhadores que trabalharam a vida inteira e contribuíram para a previdência

para terem acesso ao direito, que na verdade é na maior parte dos casos ainda

um valor aquém do que necessitam do básico para sobreviverem. Sendo

assim, O presidente do período, se contradiz em seu discurso quando diz que

prioriza questões sociais. O mesmo ainda destaca como alternativa às

questões sociais o programa “Comunidade Solidaria”. Este programa dispõe de

uma política social de visão individualista, podendo ser detectada a visão

fenomenológica e funcionalista, pois prevê que a erradicação da miséria só

pode ser obtida com a retomada do crescimento sustentável da economia

limitando a ação do Estado a ações emergenciais. Expõe uma visão neoliberal

de Estado mínimo, priorizando a economia (voltada para o mercado financeiro

e capital estrangeiro) ao invés do povo, é uma política fragmentada, focalizada

e não universal (ao contrário do que defende a Constituição Federal de 1988),

é funcional a manutenção do sistema, do status quo. A reportagem, expressão

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

27

da hegemonia midiática, não critica, nem é esclarecedora, passando a

população a ideia do governante, que se reelege meses depois.

A segunda reportagem a ser analisada é a publicada no jornal Folha de

São Paulo, de grande circulação e considerada de alto status de credibilidade

no jornalismo, tem alto poder de convencimento e reprodução de ideias.

“Se, como disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara,

os deputados haviam passado dos limites ao estender a política de reajuste do

salário mínimo a todos os benefícios previdenciários, o que se pode dizer dos

senadores? Na sessão de quarta-feira (8), o Senado se pôs a votar a medida

provisória 672/2015, cujo objetivo inicial era apenas prorrogar até 2019 as

regras de valorização do mínimo (hoje de R$ 788). Modificada na Câmara há

duas semanas, no entanto, a peça legislativa passou a contemplar também

aposentadorias e pensões. [...] Não se tratava apenas de um gesto populista.

Era, acima de tudo, mais uma batalha contra o governo Dilma Rousseff (PT),

travada não só pela oposição, mas também por partidos da suposta base

aliada. [...] Aprovadas as alterações, caberia à presidente escolher entre duas

opções amargas: contrariar os pensionistas com o devido veto à norma ou

aceitar um rombo adicional à já deficitária conta da Previdência, que terminou o

ano passado com R$ 56,7 bilhões no vermelho”.

A reportagem da folha de São Paulo critica a proposta de correção da

aposentadoria em alinhamento com as correções do salário mínimo com a

prerrogativa de déficit na previdência. Jornal de grande circulação passa a ideia

de que há falta de fundos na previdência e por isso os parcos benefícios não

podem ser anivelados nem mesmo ao salário mínimo. Defende o pensamento

dominante de mínimo para população e máximo para o capital, já que como

vimos, não cita o desvio da Seguridade Social para o pagamento da dívida

pública, através da DRU, nem altos salários que crescem bem acima da

inflação dos cargos do governo, dos senadores, além do baixo pagamento de

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

28

impostos das grandes fortunas se comparado proporcionalmente com o que o

trabalhador paga no consumo.

Nesta terceira e última reportagem abaixo a ser analisada foi retirada

da revista Veja, publicada em 18/06/2015, e fala de opiniões do Ministro da

previdência sobre a nova medida de aumentar a idade e tempo de contribuição,

e usa o aumento da expectativa de vida como argumento:

“O ministro da Previdência, Carlos Gabas, afirmou nesta quinta-feira

que a solução proposta pela presidente Dilma Rousseff para alterar o fator

previdenciário é "momentânea" e que a solução definitiva só deve ser definida

durante um fórum a ser realizado entre representantes do governo,

trabalhadores e empresários. [...] Para justificar os motivos do veto, o ministro

da Previdência explicou que a população brasileira está vivendo mais, ao

mesmo tempo em que a taxa de fecundidade das mulheres está diminuindo.

‘Para a sociedade, isso significa que teremos menos pessoas trabalhando e

contribuindo em relação às pessoas idosas. É lógico que isso pressiona as

contas da Previdência Social’, afirmou Gabas. [...]”.

Esta reportagem, como as outras mostra somente uma visão sobre o

assunto, a necessidade de redução do direito, de aumento do tempo da vida do

trabalhador no trabalho, devido as contas da previdência que não fecham. Há

outros estudos que dizem o contrário.

O dinheiro da previdência é desviado através da DRU para o

pagamento da dívida, para custear projetos de grandes obras, etc. Todos os

cálculos que são efetuados para dizer que as contas da previdência não

fecham, não levam em conta os recursos desviados. Não falam em momento

algum ou em hipótese alguma em modificar, alterar a contribuição dos

empregadores, de modo que estes possam contribuir com um percentual

maior.

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

29

Foram feitas ainda entrevista a um universo de 10 pessoas, com três

perguntas, são elas:

1) O que acha da frase: “Pessoas que se aposentam com menos de 50

anos são vagabundos, que se aproveitam de um país de pobre se miseráveis”.

2) Qual sua opinião sobre a falta de recursos do INSS?

3) Opine sobre a previdência privada.

Segue o resultado das entrevistas:

Gráfico 1

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

Verifica-se

concordância com a

Henrique Cardoso. Vinc

o direito, caso contribua

Gráfico 2

O qumen

se que a maior parte dos entrevistados

m a frase manifestada pelo então presid

. Vinculam o direito a previdência com a cont

tribua.

O que acha da frase: "pessoas que se aposenos de 50 anos são vagabundos que se

de um país de pobres e miserávei

Criminosa Direito, caso tenha contribuído

30

tados não estão em

presidente Fernando

contribuição, se têm

posentam com se aproveitam áveis¨

Concorda

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

31

O gráfico 2 explicita o resultado da opinião dos entrevistados

sobre a falta de recursos do INSS. A maioria vincula a falta de recursos devido

à má administração (40%) e a corrupção (40%). Resultado que expressa o que

é vinculado na mídia sobre o tema, somente 1% cita sobre o desvio feito pela

DRU.

Gráfico3

Opinião sobre falta de dinheiro no INSS

Má administração Desvio pela DRU Corrupçao Governo não gera emprego

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

Quando pergu

entrevistados (50%) nã

privada e a outra m

organizado.

As entrevistas

formação entre ensino

Podemos verificar que

número de entrevistad

Quando os entrevistad

organização” ou é um

verifica-se a influência

dominante, vem justific

gestão por parte das en

perguntados sobre a previdência privada,

%) não sabiam responder ou não sabiam o qu

ra metade disseram que é um bom inve

istas foram realizadas a pessoas de difere

nsino médio completo, superior completo e

r que as entrevistas, ainda que feitas par

vistados, indica a influência da mídia na

vistados entendem que a previdência privada

é um “bom investimento” e a pública é “m

ncia da mídia, já que a mesma ao expressar

justificando a privatização com a ideia de q

as entidades públicas.

Opinião sobre previdência privada

Bom investimento/organizado Não sabe

32

ada, a metade dos

o que é previdência

investimento ou é

diferentes níveis de

eto e pós-graduados.

para um pequeno

a na nossa opinião.

rivada tem uma “boa

é “má administrada”

ar ideias da classe

de que há uma má

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

33

Considerações Finais

A previdência social, parte da Seguridade Social e demais políticas

sociais, vem sendo desconstruída como um direito e vista cada vez mais como

um produto a ser consumido pelo cidadão-consumidor e não pelo cidadão de

direitos. Ela inclui-se no plano de ajustes fiscais da política Neoliberal, iniciada

no governo FHC e mantida no governo Lula e Dilma (segundo Behring e

Boschetti, 2007, estes últimos governos são menos piores quanto a expansão

da política neoliberal), direcionada pelo FMI.

A grande mídia expressa os pensamentos da classe dominante e

defende as políticas focalizadas, residuais, a privatização, incentivos as

grandes empresas, á direção do FMI. Este prevê o Estado social mínimo em

prol do Estado que defende o mercado financeiro internacional. O, mencionado

a todo momento, “Risco Brasil” diminui quanto mais reserva tem no Superávit

primário para o pagamento da dívida pública, dinheiro que poderia estar sendo

investido em políticas sociais públicas de qualidade para população. As

chamadas fundações e OS’s (organizações Sociais de Saúde) têm a proposta

de fazer a gestão para o Estado, são entidades privadas que fazem a gestão

de espaços públicos, na verdade são formas que impulsionam a terceirização e

privatização com a prerrogativa de má gestão dos serviços públicos.

Essa ideia de má gestão é passada pela mídia e absorvida pela

população, como ficou claro nas respostas, o que é público tende a ser

considerado mal organizado, o que é privado, bem organizado. Há na verdade,

um desvio do dinheiro público para o capital financeiro, é uma direção política e

de visão social de mundo escolhidas.

A Constituição atual de 1988 vem sendo, desde sua conquista,

desrespeitada e o que se vê na realidade são serviços públicos residuais e

sucateados para pobre e serviços privados para quem pode pagar. A

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

34

previdência social pública é uma política pública usada por todos que vem

sendo cada vez mais sucateada e assim substituída e/ou complementada por

previdências privadas. Estas, como disseram os entrevistados não deixam de

ser realmente bons investimentos e alternativas da população de

complementar a parca aposentadoria que é ainda reduzida pelo complexo

cálculo do Fator previdenciário. O que o povo também pode ter como

alternativa é lutar junto aos movimentos sociais pelo direito de ter uma velhice

ou assistência, em caso de incapacidade para o trabalho, com boas condições

de vida. O trabalhador tem força que não conhece, é o seu trabalho que move

o sistema capitalista e juntos podem lutar e conquistar por condições sociais de

vida dignas e justas.

São desviados ano após ano recursos, por meio do DRU, e o “déficit da

previdência” é calculado sem considerar este desvio, visto que relatórios

divulgados no site do Tribunal de Contas da União informam que caso não o

houvesse, o fundo do INSS não estaria negativo. Como evidencia Behring e

Boschetti (2007, p.167), em 2005: o resultado da Seguridade Social foi de R$

250,9 bilhões, seus gastos de 265,1 bilhões, resultando num saldo negativo de

R$ 14,1 bilhões, porém seria positivo no valor de R$ 19,1 bilhões, caso não

houvesse o desvio que contribuiu para 34% do Superavit primário no exercício.

(Behring e Boschetti, 2007, apud Boschett e Salvador 2006:51).

Verifica-se no site do Senado Federal um relatório (Em anexo) que

demonstra uma meta a ser batida pela união, Estados e municípios de alcance

em bilhões de recursos para o superávit primário em 2015, que se traduz em

R$ 55,3 bilhões para União e R$ 11 bilhões para Estados e Municípios. No

mesmo relatório verifica-se que o déficit do INSS segue estável até o momento,

desde janeiro de 2015 até maio de 2015, sendo positiva a diferença entre a

receita o Tesouro Nacional (R$ 34,1 bilhões) e o INSS (R$ 27,5 bilhões) em R$

6,7 bilhões. Com o que é desviado da União, Estados e Municípios para o

superávit primário desde janeiro de 2015 estes números seriam ainda

melhores, reduziria em R$ 6,3 bilhões, o que foi alcançado pela união, mais R$

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

35

19,3 bilhões, o que foi alcançado pelos Estados e Municípios totalizaria a mais

para as políticas públicas R$ 25,6 bilhões.

Houve uma ampliação de direitos com o Estatuto do idoso, criou-se o

BPC- benefício de prestação continuada, bem como expandiu-se a previdência

rural e urbana. Com isso necessitou-se de arrecadar mais fundos, daí a criação

da extinta CPMF e hoje as principais fontes são: Imposto de Renda, Cofins,

CSLL, IOF, entre outras (Imposto de Importação, Impostos/ Produtos

Industrializados, etc). Ainda os trabalhadores são os que mais contribuem com

desconto em folha de salário e via consumo.

A efetividade da Previdência Social, e Seguridade Social em geral, não

será alcançada com ajustes fiscais que retiram direitos e estes recursos das

políticas sociais. É necessária uma reestruturação do modelo econômico,

investimento no crescimento da economia, ampliação de empregos estáveis,

transformação dos trabalhos “flexíveis”, terceirizados, precarizados, em

trabalho formal, estável, o que aumentaria a contribuição e redistribuição das

receitas. (Behring e Boschetti, 2007, p. 173).

A reforma da previdência iniciada em 1998 e continuada até os dias

atuais, enfoca somente o déficit contábil, de maneira que não considera a

consolidação da direção democrática e de universalização de direitos impressa

na Constituição de 1988.

Esta reforma atinge todos os trabalhadores, desde os servidores

públicos (fortemente atacados, desde Collor que os chamou de “Marajás”), os

regidos pela CLT, do setor privado até os terceirizados. Inicia-se uma série de

medidas que limitam ou supram direitos, como a transformação do tempo de

serviço em tempo de contribuição, hoje aumentou ainda mais a idade para ter

acesso a aposentadoria integral (somando tempo de contribuição mais a idade

devendo-se resultar em 85 anos para mulheres e 95 anos para homens,

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

36

mínimo de 55 anos para mulheres e de 60 anos para homens), como citado

anteriormente.

Em 2006 é estabelecido um teto nominal, no valor de R$ 2400,00, em

2015 este teto passou para R$ 4.663,00. O quanto vai ganhar depende também

do fator previdenciário e da média de contribuição dos últimos 20 anos, sendo

que o cálculo é feito também em cima dos tetos anteriores que eram menores,

portanto ainda não há como chegar nestes R$ 4663, 00, mas no máximo em

R$ 4516,00. Houve também, como já citado, a desvinculação do ajuste do

salário mínimo a este teto, o que fere um dos princípios da Constituição de

irredutibilidade dos benefícios.

Para os servidores públicos também se suprimiu direitos relativos a

aposentadoria, como o fim da aposentadoria especial para professores

universitários, aposentadoria compulsória aos 70 anos, implantação de regime

de previdência complementar para servidores municipais, estaduais e federais,

e o fim da aposentadoria integral em 2003.

O fundo público é pressionado pela luta de classes, disputado entre

trabalhadores e elite. Por aqueles que necessitam da verba para financiar

necessidades dignas de vida através dos direitos e políticas públicas e pela

classe dominante através de subsídios econômicos e do financiamento e

refinanciamento da dívida pública e do pagamento de juros sem fim, que

movimenta o mercado financeiro.

Verifica-se que a perspectiva funcionalista se faz presente nas

reportagens, pois elas expressam uma preocupação com o déficit da

previdência somente pela óptica técnica e contábil, sem articulação com as

relações de trabalho, a estrutura do sistema capitalista com sua inerente

desigualdade e crise cíclica. Os princípios democráticos de universalização de

direitos, pluralismo, acesso amplo a políticas públicas e de qualidade, o

atendimento de necessidades dos trabalhadores, não são considerados.

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

37

Atende-se ao pobre, por pressão dos trabalhadores, com uma previdência

desfalcada de recursos, de maneira residual, de modo que não altere o status

quo. Prioriza-se o pagamento da dívida pública. Numa crise, quem paga são os

trabalhadores que veem seus direitos reduzidos, pode-se diminuir direitos, mas

não pode diminuir os recursos voltados para o pagamento dos juros da dívida.

Neste pensamento a sociedade é vista como um organismo que deve

manter a coesão social, evitar colapsos no mercado financeiro. Se em situação

de anomia (crise) deve-se manter e priorizar o sistema, nem que para isso

corta-se direitos. É este o pensamento expresso quando se fala somente que o

déficit da previdência vem do não fechamento de contas, por conta do aumento

da longevidade ou quando se diz que seria um absurdo um possível ajuste do

benefício ao salário mínimo.

Na primeira reportagem ao dirigir-se aos aposentados, como

vagabundos, o protagonista da reportagem expressa uma direção ideológica

funcional e individualista remetendo a uma ideologia de manutenção do

sistema financeiro em oposição aos interesses dos trabalhadores, já que em

meio à crise inicia a reforma da previdência que vem desde então reduzindo

direitos, com vistas a não diminuir recursos direcionados ao capital.

Na entrevista ao serem perguntados sobre a frase (de que os

aposentados que se aposentam antes dos 50 anos são vagabundos), verifica-

se que majoritariamente, os entrevistados não concordam com a frase e

respondem que caso tenham contribuído devem receber o direito, isso deve-se

ao tipo de política que é a previdência, contribui-se na ativa para receber

posteriormente em caso de velhice ou incapacidade para o trabalho.

A segunda pergunta sobre a falta de recursos do INSS, analisa-se que

os entrevistados respondem exatamente o que se veicula na mídia. O que se

tem mostrado todos os dias nos jornais de grande circulação é a corrupção (da

Petrobras, “Lava- jato”, etc), isso provavelmente influenciou nas respostas dos

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

38

entrevistados, 40% respondem que a falta de dinheiro é devido a corrupção e

40% acham que é a má administração ou má gestão, como já dito, há uma

cultura de que o privado tende a ser mais bem organizado ou gerido (ideia

passada pela classe dominante) e há uma má gestão do que é público/coletivo,

o que foi um dos argumentos mais usados no período de privatização

(argumentava-se que o público era lento, burocrático, etc). O mesmo ocorre na

terceira pergunta sobre previdência privada metade respondeu que é bem

gerido, bem administrado ou um bom investimento, metade não soube

responder.

Nos anos de 1980, com a crise do Welfare state, vem sendo

disseminada uma “cultura da crise” que tem uma direção política do capital

financeiro internacional. É adotada pelos países capitalistas o modelo do

“Consenso de Washignton” formado pelo Banco Mundial, FMI, que como

alternativa a crise impõe aos países medidas de austeridade e de embate aos

trabalhadores. No entanto, isto não é fatal, há a resistência da classe

trabalhadora, a hegemonia é um processo de construção, cheio de

contradições, de luta entre a hegemonia dominante atual e a hegemonia da

classe trabalhadora.

O Consenso de Washignton explana aos países periféricos, devedores,

estratégias de enfrentamento da crise dos anos de 1980, estes adotam

padrões políticos econômicos e culturais- uma democracia consumista, quem

tem mais, pode escolher mais; individualismo e mercado consumista.

São estratégias de classe (da classe dominante), de

desregulamentação dos mercados abertura comercial e financeira, redução do

Estado e privatização, de globalização da cultura, desterritorização e

flexibilização do capital industrial e financeiro, imprimindo-as em países como o

Brasil. São medidas que intensificam a pobreza e condições ruim de vida e

trabalho, com incentivo a terceirizações e menos recursos para as políticas

sociais. Indicam para isso políticas focalizadas na pobreza: ¨’Necessidade de

Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

39

prestação de serviços sociais básicos aos pobres’ e à igual necessidade de

privatizar serviços destinados aos trabalhadores de melhor renda” (Banco

Mundial. Apud Mota, Ana Elizabete, 2015, p.94).

A previdência neste contexto, é objeto de disputa entre o estado, os

trabalhadores na ativa e aposentados, os bancos e os empresários. Como

vimos depois de uma constituinte a favor da Seguridade Social, houve um

embate do Estado Neoliberal contra a previdência no final do século passado.

Os aposentados se mobilizam no conhecido movimento dos 147%, por um

reajuste dos benefícios nesta percentagem.

Foi instituída já no governo Collor uma Comissão especial para estudo

da Previdência social. Um sindicalista é nomeado para ser Ministro da

Previdência, de modo que cooptasse centrais sindicais.

São expostas propostas de trabalhadores de um lado e empresários,

bancos e setor financeiro, proprietários rurais e organismos financeiros

internacionais de outro. A comissão especial resulta em um relatório, em 1992,

que conclui sobre uma crise na previdência e falta de recursos o que

inviabilizaria o reajuste de 147% reivindicado.

O relatório apresenta uma discussão sobre medidas a serem adotadas

para uma reforma da previdência e a crise na previdência considerada a pior

até aquele momento.

Este relatório afirma que as causas desta crise na previdência é a

ineficiência do Estado na gestão, excesso de burocracia, falta de agilidade,

como também pela causa conjuntural do sistema com a diminuição de

empregos e consequentemente de contribuintes e a diminuição de faturamento

das empresas e pela causa estrutural que são o esgotamento das fontes de

financiamento, ampliação de benefícios e privilégios.

Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

40

Há uma crítica com relação a seguridade social, pois ao não repassar

dinheiro para saúde e assistência a união utilizaria recursos da previdência

para estes setores.

O relatório aponta como solução diversas mudanças que já foram

citadas, dentre as quais o incentivo a previdência complementar, a

descentralização de recursos da saúde e a obrigatoriedade de empresas

pagarem seguro saúde. Aponta para a separação de fontes de custeio da

assistência, saúde e previdência o que favorece uma maior participação do

capital privado nestes dois setores.

São medidas da reforma imprimidas pela reestruturação do capital,

pelo redirecionamento da intervenção do Estado e desqualificação das

demandas dos trabalhadores. Prioriza-se a saída da crise (que é cíclica) e

desconsidera-se os projetos societários em tensão e as reivindicações dos

trabalhadores como reivindicações de classe.

Muitos trabalhadores se limitam a defender os direitos já conquistados

ou por reivindicações que evite pioras condições na crise, sindicatos são

cooptados pelo capital financeiro exercendo, muitas vezes o papel de

mediadores.

Está em disputa a defesa de direitos pautados pela Constituição de

1988. Defendidos pelos trabalhadores. Versus o modelo de assistência aos

pobres, com o enaltecimento de ONG’s e instituições filantrópicas e ainda, a

chamada “responsabilidade social” de empresas que ganham isenção fiscal e

melhoram sua imagem, privatização dos direitos com a venda de produtos de

previdência e planos de saúde aos trabalhadores que podem pagar.

A ampliação da proteção social nos anos de 1980 com a constituição é

visualizada como um peso, numa crise. As conquistas de direitos passam a ser

criticadas. A “cultura política da crise” culpabiliza a ampliação da proteção pela

Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

41

crise na previdência e Seguridade Social como um todo, defendendo a

privatização e a constituição do cidadão-consumidor (Mota, Ana Elizabete,

2015, p.213).

A chamada “reforma da previdência”, está neste contexto de

desregulamentação, limitação e diminuição de direitos que tem como

prerrogativa a crise sistêmica. Esta crise é na realidade uma crise inerente ao

sistema capitalista, assim como a desigualdade e injustiça social.

Toda as mudanças que ocorreram e vem ocorrendo na previdência e

reduzem os valores dos benefícios bem como a ampliação da proteção, citadas

neste trabalho e outras que talvez não tenham sido lembradas, fazem parte do

pacote de medidas, que se justificam pela crise econômica, indicadas por

organizações internacionais, como o FMI e BIRD. Se justificam pela

necessidade de cortes mediante a crise.

Como vimos os trabalhadores são os mais prejudicados e pagam pela

crise. Uma boa parte do fundo que é de contribuição e arrecadação de

impostos é desviado para outros fins, principalmente para o superávit primário,

fora toda corrupção.

A mídia expõe esses acontecimentos de maneira que não evidencia os

outros motivos a não ser a crise, a corrupção, a má gestão do governo. A

reserva direcionada para o superávit primário e a redução do chamado risco

Brasil são fatores naturais que devem ser objetivos a serem alcançados pelo

governo. As opiniões de intelectuais que têm credibilidade e defendem este

sistema são expostas, enquanto opiniões contrárias, de intelectuais que

acreditam em outra forma de organização social não são mostradas.

A população é influenciada dia a dia por tudo que é transmitido pela

grande mídia, que manipula, defende partidos políticos de sua escolha. Pode-

se verificar uma indicação de afirmação da hipótese inicial na explicitação do

Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

42

resultado desta pesquisa, ou seja, a mídia vem expondo opiniões de líderes,

intelectuais e governantes sobre o “déficit da previdência” somente pelo viés

contábil, sem crítica aos desvios de recursos para o capital financeiro

internacional, o que impacta na visão da população sobre o tema com falta de

informação de qualidade.

A alternativa não pode ser pelo mercado com o consumo de produtos

que deveriam ser direito, mas sim lutar junto aos movimentos sociais dos

trabalhadores por manutenção e avanços dos direitos. Divulgar o máximo

possível uma cultura diferente da cultura vigente, que coloca o interesse

coletivo, a própria vida humana, como prioridade e não o lucro. Em defesa da

previdência social, da Seguridade social em geral e de todos os direitos da

classe trabalhadora, na direção de uma sociedade justa e igualitária.

Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

43

Anexos

Indíce de anexos

Anexo 1 > Reportagens Anexo 2 > Monitor Fiscal

Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

44

Anexo 1

Reportagem 1

MENOS DE 50 ANOS

FHC chama aposentados jovens de vagabundos RIO - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, ontem, que "pessoas

que se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e miseráveis". Fernando Henrique defendeu a reforma da Previdência, que recentemente impôs uma derrota ao Governo, na Câmara, pelo voto equivocado do ex-ministro e deputado Antônio Kandir (PSDB-SP). "Quando se perde uma votação, parece que o mundo vem abaixo. Doce ilusão. Basta ter convicção, para entender o processo nacional e saber que o que se perde hoje, se ganha amanhã." Um dos pontos polêmicos da reforma da Previdência é justamente o que define os 65 anos como idade mínima para a aposentadoria.

Fernando Henrique aproveitou a cerimônia de abertura da 10ª edição do Fórum Nacional, no auditório do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para fazer um balanço de seu Governo; rebater as críticas de que teria optado pela economia, em detrimento das questões sociais; e apresentar a linha que marcará sua campanha pela reeleição.

NEO-REPUBLICANO - O presidente precisou de quase uma hora para apresentar a tese Uma utopia viável. "O que obviamente é uma contradição em termos, digo de antemão, antes que um cronista venha dizer que estou falando uma bobagem", ressalvou. A expressão, disse Fernando Henrique, foi retirada de livro do inglês Anthony Giddens, que propõe um modelo entre a esquerda e a direita, a chamada "terceira via". No discurso que levou para o BNDES, e acabou não lendo, empolgado com a chance de dar uma aula à platéia, Fernando Henrique classificava esse modelo de "neo-republicanismo", em oposição ao neoliberalismo.

Dentro de sua "utopia viável", para mostrar a diferença em relação ao neoliberalismo, o presidente afirmou que sua proposta não é um Estado mínimo, mas sim "essencial, onde as questões de saúde, educação e habitação sejam contempladas". Este Estado essencial, desenhado por Fernando Henrique, seria, no entanto, mais regulador do que intervencionista na economia. "Precisamos desprivatizar o Estado", disse o presidente, criticando as pressões do setor privado e apresentando uma lista de problemas decorrentes do clientelismo e do fisiologismo.

SOCIAL - O discurso foi diferente do que marcou a campanha de 1994, quando a economia, por conta do combate à inflação, era o centro principal da disputa, deixando de lado as questões sociais. "Em primeiro lugar, na minha visão de Estado, vem a democracia; em segundo, a questão social; e, em terceiro, a economia, porque acho que esta deve ser mesmo a ordem das coisas."

"A pobreza e a miséria são hoje a nódoa do Brasil, como foi a escravidão no passado", disse o presidente, parodiando o abolicionista Joaquim Nabuco. "Isso me envergonha." O presidente aproveitou para mostrar que, nas áreas em que o programa Comunidade Solidária, conduzido por sua mulher, Ruth Cardoso, atua, houve redução da taxa de mortalidade infantil.

O presidente também fez uma leitura nova do problema do desemprego. "O nível de emprego no Brasil está crescendo, ao mesmo tempo em que há desemprego, porque a oferta de mão-de-obra vem crescendo. E isso porque estamos sofrendo o efeito

Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

45

do crescimento demográfico de há 20 anos, quando a taxa (de natalidade) se aproximava de 3%. Hoje, está em 1,4%. No Brasil do próximo século, haverá diminuição da oferta de mão-de-obra, se mantivermos e ampliarmos o nível de desenvolvimento. Não há porque ter medo do desemprego", concluiu.

http://www2.uol.com.br/JC/_1998/1205/br1205n.htm

Reportagem 2

Teimosia

Se, como disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, os deputados haviam passado dos limites ao estender a política de reajuste do salário mínimo a todos os benefícios previdenciários, o que se pode dizer dos senadores?

Na sessão de quarta-feira (8), o Senado se pôs a votar a medida provisória 672/2015, cujo objetivo inicial era apenas prorrogar até 2019 as regras de valorização do mínimo (hoje de R$ 788). Modificada na Câmara há duas semanas, no entanto, a peça legislativa passou a contemplar também aposentadorias e pensões.

Não se tratava apenas de um gesto populista. Era, acima de tudo, mais uma batalha contra o governo Dilma Rousseff (PT), travada não só pela oposição mas também por partidos da suposta base aliada.

Aprovadas as alterações, caberia à presidente escolher entre duas opções amargas: contrariar os pensionistas com o devido veto à norma ou aceitar um rombo adicional à já deficitária conta da Previdência, que terminou o ano passado com R$ 56,7 bilhões no vermelho.

Lutas políticas obviamente pertencem ao jogo democrático, mas "é bom que se chame à consciência de que tudo tem um limite", como sustentou Eduardo Cunha –e isso dito por um peemedebista que não tem primado pela moderação à frente da Câmara.

Mesmo que a conjuntura econômica fosse mais favorável, a proposta dos deputados representaria uma insensatez. Primeiro porque os cofres públicos precisam de alívio no médio e longo prazo, e não de uma sobrecarga superior a R$ 9 bilhões por ano até 2019.

Em segundo lugar, indexar os benefícios previdenciários à correção do salário mínimo não faz o menor sentido. Deve-se, naturalmente, preservar o poder de compra dos pensionistas, mas para isso basta o reajuste pela inflação.

Diante da crise que o Brasil enfrenta, o desgaste que a Câmara dos Deputados quis impor ao Palácio do Planalto chega às raias da insanidade. Seria de esperar que o Senado, composto por figuras mais experientes e cumprindo o papel de Casa revisora, demonstrasse um mínimo de responsabilidade.

Nada disso, contudo. Os senadores tiveram tempo para refletir sobre a medida. Puderam sopesar prós e contras da decisão.

Page 46: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

46

Ainda assim, apegando-se à tão criticada tática do "quanto pior, melhor", membros da oposição e da instável base de sustentação do governo no Senado optaram pelo caminho mais nocivo ao país.

Agindo de modo irresponsável, deixaram para a presidente Dilma Rousseff o dever de anular o equívoco e zelar pela boa saúde das contas públicas presentes e futuras. Não deixa de ser uma ironia.

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/07/1653971-

teimosia-imprevidente.shtml

Reportagem 3

Mudança no fator previdenciário vai economizar R$ 50 bi,

mas é 'momentânea', dizem ministros

O ministro da Previdência, Carlos Gabas, afirmou nesta quinta-feira que a solução proposta pela presidente Dilma Rousseff para alterar o fator previdenciário é "momentânea" e que a solução definitiva só deve ser definida durante um fórum a ser realizado entre representantes do governo, trabalhadores e empresários.

"Não [resolve todos os desafios]. Essa é uma solução momentânea. A definitiva deve ser debatida no fórum nacional de previdência social", afirmou Gabas durante entrevista coletiva. Nesta quinta, a presidente Dilma escalou três ministros - Carlos Gabas (Previdência), Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) - para explicar as razões que a levaram a vetar as alterações no fator previdenciário aprovadas no Congresso, e a nova regra da aposentadoria publicada no Diário Oficial da União.

Segundo a publicação no DOU, o novo cálculo da aposentadoria segue a fórmula do 85/95 (soma de idade e de tempo de contribuição por mulheres e homens, respectivamente), que passa a ser progressiva a partir de 2017. O dispositivo prevê que a fórmula seja majorada em um ponto nas seguintes datas: 1º de janeiro de 2017, 1º de janeiro de 2019, 1º de janeiro de 2020, 1º de janeiro de 2021 e 1º de janeiro de 2022. Com isso, em 2022, a fórmula chegará a 90/100. Na prática, isso significa que o acesso à aposentadoria ficará mais difícil, em relação à fórmula aprovada pelo Congresso, acompanhando o aumento da expectativa de vida dos brasileiros.

Durante a coletiva, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que, com a inclusão da progressividade na fórmula 85/95, o governo economizará 50 bilhões de reais até 2026, melhorando a sustentabilidade da Previdência.

LEIA TAMBÉM: Previdência: com ou sem o fator, a conta não fecha Nova regra de aposentadoria torna Previdência inviável, diz ministro Para justificar os motivos do veto, o ministro da Previdência explicou que a

população brasileira está vivendo mais, ao mesmo tempo em que a taxa de fecundidade

Page 47: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

47

das mulheres está diminuindo. "Para a sociedade, isso significa que teremos menos pessoas trabalhando e contribuindo em relação às pessoas idosas. É lógico que isso pressiona as contas da Previdência Social", afirmou Gabas.

O ministro ainda disse que o aumento da expectativa de vida tem como consequência o fato de que os aposentados vão receber o benefício por mais tempo. "Aqui está o desafio da Previdência Social", disse. Entre 1998 e 2013, segundo cálculos apresentados pelo governo, a expectativa de sobrevida dos brasileiros com 50 anos de idade aumentou 4,6 anos. Em 1998, a expectativa de sobrevida dos brasileiros era de 75,2 anos, e, em 2013, subiu para 79,8 anos.

Segundo ele, a população de idosos é de 23,9 milhões atualmente. Em 2030, serão 41,4 milhões. O ministro disse ainda que, atualmente, o país tem 9,3 pessoas ativas para cada idoso, relação que, em 2030, cairá para 5,1. "Isso também impacta a Previdência Social", comentou.

Já o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que é preciso que a sociedade se prepare para essa transição demográfica. "Não estamos falando de um negócio lá longe. A relação entre trabalhadores e aposentados vai cair pela metade, e isso não é um horizonte longuíssimo. É um movimento que não para", afirmou. "Temos de olhar o que aconteceu nos últimos anos e olhar para frente".

Page 48: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

48

Anexo 2

Monitor fiscal

• O resultado primário da União até maio foi de R$ 6,3 bilhões. Trata-se do menor valor para o período desde 2002, início da série histórica divulgada pelo Banco Central.

• Para que a meta do ano seja alcançada, é necessária uma economia de R$ 49,0 bilhões (89% do total) nos meses restantes. Quanto aos demais entes, o superávit acumulado até maio superou em R$ 8,3 bilhões o valor estimado para o exercício.

• O superávit primário acumulado pelo governo central até maio corresponde a 37% do valor alcançado no mesmo período de 2014.

• Esse desempenho segue trajetória semelhante à de 2014, quando o governo encerrou o exercício com déficit primário de R$ 20,5 bilhões.

Monitor fiscal em pdf no site:

http://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/loa/2015/execucao/despesa-

fiscal-e-seguridade

Page 49: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

49

Referência Bibliográfica

BOSCHETTI, Ivanete e BEHRING, Elaine Rossetti. Política Social:

fundamentos e história. 3ª edição. São Paulo, Cortez, 2007.

LESSA, Sérgio e TONET, Ivo.1ª edição. São Paulo, Expressão popular,

2008.

MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social. 7ª edição.

São Paulo, Cortez, 2015.

SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social. 3ª edição. São

Paulo, Cortez, 2009.

Page 50: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 5 RESUMO A previdência foi fruto da luta trabalhista por meio de vida em momentos de dificuldade física ou mental para continuar

[Digite aqui]

50