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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O DESAFIO E A RESPONSABILIDADE DO ORIENTADOR EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO EM TRABALHAR COM EDUCANDOS COM TDAH. Por: Lillian Trindade Machado Orientadora Profª: Flavia Cavalcanti Rio de Janeiro 2013 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · AS POSSÍVEIS CAUSAS E OS TRANSTORNOS ASSOCIADOS AO ... neurotransmissores como dopamina e a noradrenalina ( que são substâncias

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O DESAFIO E A RESPONSABILIDADE DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO EM TRABALHAR COM

EDUCANDOS COM TDAH.

Por: Lillian Trindade Machado

Orientadora

Profª: Flavia Cavalcanti

Rio de Janeiro

2013

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

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AVM FACULDADE INTEGRADA

O DESAFIO E A RESPONSABILIDADE DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO EM TRABALHAR COM

EDUCANDOS COM TDAH.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Orientação Educacional e

Pedagógica.

Por: Lillian Trindade Machado.

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CAPÍTULO II

AS POSSÍVEIS CAUSAS E OS TRANSTORNOS ASSOCIADOS AO

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE

Após apresentação do histórico e dos principais tipos e sintomas do TDAH,

pretende- se neste capítulo discutir as causas do referido transtorno.

O interesse pelo assunto não se faz presente apenas nos dias atuais, ao longo da

história, como demonstra inúmeras pesquisas, inclusive no Brasil, se busca entender

porque determinados indivíduos apresentam os sintomas que caracterizam o TDAH.

Segundo ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção), esses estudos têm

demonstrado que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões. Sendo

assim, o transtorno não pode ser considerado um transtorno secundário vinculado a

fatores culturais: como por exemplo, as práticas sociais ou o modo como os pais

educam as crianças.

Os estudos apontam que indivíduos que possuem TDAH tem alterações na

estrutura cerebral, mais precisamente no lobo frontal e suas conexões com o resto do

cérebro

Segundo Silva (2003), no passado o lobo frontal era considerado um região do

cérebro sem muita importância, porem atualmente e apontado por pesquisas como

sendo a “estrela” do comportamento humano. A autora apresenta o gráfico em anexo.

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Silva (2003), apresenta, também, os estudos realizados por Antonio R. Damisio da

Universidade de Iowa, que afirma, haver três regiões no lobo frontal comprometidas

direta e indiretamente com o raciocínio, as decisões, emoções e sentimentos. São elas a

região frontal ventromediana, a região somatossensorial e a região dorsolateral.

A autora, aponta as duas primeiras regiões citadas como sendo as que exercem

grande influência no caso do transtorno, TDAH:

A região frontal ventromediana, quando danificada, alteraria tanto o raciocínio para a tomada de decisão quanto as emoções e sentimentos, especialmente nos campos social e pessoal. Nessa região ocorreria, então, um cruzamento entre razão e emoção. A região somatossensorial, localizada no hemisfério direito, quando danificada, comprometeria também o raciocínio e a tomada de decisões, e as emoções e sentimentos.No entanto, algo mais se altera com o dano desta região: os processos de sinalização básica do corpo (os sinais vindos do nosso corpo, como taquicardia, tremores, sudorese, contração muscular etc.). (SILVA, 2003, p.101)

O lobo frontal, desta forma, é considerado uma região de interesse para

compreender o funcionamento do TDAH. A região ventromediana, segundo Silva

(2003), recebe sinais vindos do cérebro de conteúdos racionais (os pensamentos) e

sentimentais (parte racional das emoções). Já a região somatossensoria recebe conteúdo

emocional (instintivo) vindo dos sinais corporais.

A partir do que foi mencionado, existe a hipótese que nas pessoas que possuem

TDAH o lobo frontal direito é hipofuncionante. Sendo assim, características como razão

e emoção exarcebadas, dentre outras, fazem parte do perfil do indivíduo que é portador

desse distúrbio.

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Partel (2007), ressalta que o lobo frontal é a parte mais evoluída do cérebro sendo

responsável por funções executivas, tais como: observar , guiar, direcionar e / ou inibir

o comportamento, organizar, planejar e fazer a manutenção do auto –controle.

Estando o lobo frontal funcionado de modo alterado, como é caso dos portadores

de TDAH, que tem hipofuncionamento, as funções citadas ocorrem de modo

comprometido.

Silva (2003), afirma que o cérebro do TDAH nada difere dos outros em relação a

forma e aparência. A diferença segundo a autora está no íntimo dos circuitos cerebrais

que são gerenciados pelos neurotransmissores.

Muitos estudos recentes defendem a hipótese, de que nos portadores de TDAH,

neurotransmissores como dopamina e a noradrenalina ( que são substâncias que

transmitem informações entre as células nervosas) encontram-se diminuídas, fazendo

então com que a atividade do córtex pré-frontal seja menor. Segundo Mattos (2006), a

dopamina e a noradrenalina apresentam –se deficitárias nos portadores de TDAH.

Observa -se,então, que não existe uma causa perfeitamente estabelecida para o

transtorno. No entanto existem evidências que foram sendo acumuladas ao longo dos

anos através de descobertas científicas.

Dentre esses diversos fatores causais que podem estar envolvidos no

funcionamento do cérebro TDAH, autores como Silva(2003), Partel (2007) e Mattos

(2006) destacam:

● Fatores genéticos: Mattos (2006), afirma que a genética parece não ser o único

fator para o aparecimento do TDAH, mas é sem dúvida o mais importante. Silva (2003),

aponta que o distúrbio ocorre em maior incidência entre parentes de crianças com

TDAH do que em parentes de crianças não TDAH, isto foi constatado segundo a autora,

através de estudos epidemiológicos. Segundo observações, Mattos (2006), afirma que

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freqüentemente quando examina uma criança TDAH reconhece o transtorno ou alguns

sintomas no pai ou na mãe.

● Fatores ambientais – externos : já existiram inúmeras teorias para comprovar o

envolvimento de fatores externos. Porém a maioria foi abandonada, por não se mostrar

suficientemente sólida. No entanto, alguns fatores, ainda são considerados

importantes na busca para levantar evidências para as causas do TDAH. Dentre eles

podemos destacar:

• Substâncias ingeridas na gravidez: a partir de pesquisas observa-se que tanto a

nicotina quanto o álcool quando ingeridos na gestação podem causar alteração em

partes do cérebro do bebê, inclusive no lobo frontal, área do TDAH. Segundo a ABDA,

estudos indicam que mães que usam álcool têm maiores chances de terem filhos com

problemas de TDAH, porém ressalta que os estudos demonstram uma associação entre

esses fatores e não uma relação de causa e efeito.

• Sofrimento fetal: alguns estudos apontam que mulheres que tiveram problemas

no parto como: traumatismos neonatais, hipóxia e outros tinham chances de terem

filhos com TDAH. Mais uma vez, segundo ABDA, a relação de causa não é clara.

• Exposição ao chumbo: segundo ABDA, crianças pequenas que sofreram

intoxicação por chumbo podem vir apresentar sintomas semelhantes ao do TDAH. Para

identificar se a criança sofreu alguma intoxicação não há necessidade de exame de

sangue para medir aa quantidade de chumbo, pois isto pode ser observado pela história

clínica da criança.

• Problemas familiares: discórdia conjugal, baixa nível de instrução dos pais,

família com nível sócio - econômico mais baixo, são fatores que se encaixam mais nas

conseqüências do que nas causas. Afinal, inúmeros estudos ressaltam a idéia que os

problemas familiares podem piorar o quadro de TDAH, mas não causá-lo.

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São apresentados, ainda, como possíveis causas do TDAH, corante amarelo,

aditivos alimentares (conservantes); aspartame; luz artificial, fluorescente; deficiência

hormonal (principalmente da tireóide) e deficiências vitamínicas.Porém segundo a

ABDA e Mattos (2006), todas estas possíveis causas foram investigadas cientificamente

e foram desacreditadas, já que nenhuma delas se revelou suficientemente sólida.

Segundo Silva (2003), deve-se compreender que a genética não e uma fatalidade,

mas sim uma das probabilidades, de fato, uma das mais importantes. No entanto, a

autora, aponta que as manifestações sobre influências externas poderão contribuir para

que esta seja favorável ou desfavorável à vida do indivíduo.

Essa compreensão significa uma mudança radical em relação à manifestação genética da neurobiologia humana. Tudo indica que a bioquímica cerebral possui uma espécie de plasticidade que a torna passível de mudanças a cada momento vital. Assim sendo, a biologia cerebral que se possui ao nascer (com fortíssima carga genética), pode sofrer alterações de intensidades variadas em resposta ao ambiente externo. Ou seja, acontecimentos vitais, como traumas físicos ou psicológicos muito dolorosos, podem deixar “cicatrizes” no corpo, na alma e também na estrutura funcional da massa cerebral. ( SILVA, 2003, p. 181)

2.1 Tdah e as Comorbidades

O TDAH, em muitos casos não aparece apenas com os sintomas já abordados.

Segundo Silva (2003), em grande parte dos casos, o TDAH não vem sozinho.

“Ele pode vir em dupla, em trio e o que felizmente não é comum, até em bando”.

(SILVA, 2003, p. 125)

O fato que acaba de ser relatado é o que se chama em psiquiatria de

Comorbidades. Silva (2003), afirma que “comorbidades é quando existe um ou mais

transtornos psiquiátricos em coexistência com um transtorno primário (de base).”

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(SILVA, 2003, p. 125). Segundo Partel (2007), a presença de comorbidades pode

acontecer em mais de 50% dos casos e piora muito o quadro do TDAH.

No presente estudo, será destacado a seguir, os transtornos comórbidos mais

freqüentes em portadores do TDAH, que estão diretamente relacionados ao processo de

aprendizagem.

• TDAH com Ansiedade Generalizada

O transtorno de ansiedade ocorre quando passa do excesso os medos e

preocupações. A preocupação torna-se interminável, a ponto de prejudicar a vida do

indivíduo, seja no ambiente social, escolar ou familiar.

O indivíduo que tem este transtorno, por exemplo, uma criança na fase escolar

provavelmente irá preocupar-se demasiadamente com suas notas, seu desempenho

escolar. Já na vida social teme o futuro, se algo de ruim pode acontecer a sua família,

questiona se o que fez está errado.

Situações cotidianas como ir ao médico, viajar e outras, podem gerar sofrimento,

afinal tudo pode criar uma grande ansiedade.

Segundo Partel (2007), a ansiedade generalizada cronificada piora os sintomas de

falta de atenção e memória. A criança que não recebe um tratamento adequado para esse

transtorno, segundo a autora, pode transformar-se em um adulto com depressão.

Silva (2003), alerta que é preciso diferenciar o Transtorno de Ansiedade

Generalizada da ansiedade difusa e oscilante que normalmente acompanha o portador

de TDAH. Para diferenciar essas duas situações a autora afirma que se a ansiedade

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perdurar por mais de seis meses e trouxer desconforto significativo pode-se levantar

suspeita de uma comorbidade.

● TDAH com Pânico

Atualmente, este transtorno é bastante comentado, devido ao fato de muitas

pessoas que sofreram algum choque ou trauma, pela violência que cerca nossa

sociedade, o desenvolverem.

Silva (2003), caracteriza o transtorno do pânico como uma das faces mais

representativas do sofrimento humano. O transtorno é marcado por picos de ansiedade

aguda e intensa que dura vinte a trinta minutos em média. Porém, a autora ressalta, que

estes minutos tornam-se intermináveis para quem sofre deste transtorno. Sensações

como taquicardia, sudorese, náuseas, falta de ar dentre outras reações fisiológicas, são

comuns em ataques de pânico além da angústia. Segundo a autora, o transtorno se

caracteriza pela ocorrência repetida desses sintomas/ ataques.

O indivíduo que tem esse transtorno, segundo Silva (2003), possui uma

preocupação exacerbada em ter outros ataques, de modo que desenvolve uma forma de

auto monitoração. Ou seja, desde o momento que acorda, preocupa-se e fica atenta para

perceber sinais de que algo não está correto no seu organismo.

Com o portador de TDAH, o transtorno pode ocorrer, se ele por exemplo, já

possuir uma ansiedade em nível alto, predisposição biológica (alterações

serotoninérgicas) ou suscetibilidade psicológica, que segundo Silva (2003), é a

tendência a preocupar-se com doenças e morte.

Um DDA que se organize em torno de sua ansiedade, predisposto biologicamente, vulnerável psicologicamente e hiperfocando intensamente em seu corpo e em suas respectivas reações, reúne, em um infeliz somatório, todos os requisitos pra desenvolver o Transtorno do pânico. (SILVA, 2003, p.130)

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• TDAH com Fobias

Silva (2003), define fobia como sendo um medo acentuado e persistente. Quando

esse medo se atribui a objetos e situações a autora caracteriza como fobia simples. No

entanto, quando se refere a situações sociais e desempenho ela nomeia de fobia social.

Exite também a fobia específica, como por exemplo, fobias a animais; fobias a sangue e

ferimento; fobias a fenômenos naturais. E as fobias situacionais,como medo de andar

de aviões ou elevadores.

Ainda segundo a autora, assim como no pânico, os transtornos relacionados à

fobia estão associados a disfunções serotoninérgicas.

O DDA pode também ser relacionado a fobias, principalmente à social, sob outro enfoque. Não é muito difícil imaginar o porquê. Se uma pessoa que tenha DDA (TDAH) e, ao mesmo tempo, tenha vulnerabilidade biológica à fobia social, tiver crescido em um ambiente crítico e punitivo, certamente será temerosa em relação a situações de interação social. (SILVA, 2003, p.131)

O que pode –se observar é que ao longo da vida os portadores de TDAH, podem

receber sinais negativos da sociedade que os cerca, sinais esses, que podem os levar a

desenvolver uma imagem deles mesmos negativa.

Sendo assim, além da predisposição biológica, fatores sociais como críticas

externas podem se associar a baixa auto –estima do indivíduo. E este pode acabar

desenvolvendo intensos medos de situações sociais em que tenha que interagir.

Silva (2003), ressalta que um portador de TDAH que também sofra de fobia

social pode desperdiçar seu talento, pois deixará de expressar sua criatividade.

Acreditando que não tem capacidade para defender sua idéias, seu desempenho pode

diminuir, não demonstrando todas suas potencialidades. Porém a autora firma, que com

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um tratamento adequado, talentos que mantiveram –se ocultos podem ganhar o mundo

externo.

• TDAH com Transtorno Desafiador Opositor (TDO)

Segundo Partel (2007), o transtorno desafiador opositor é a maior comorbidade

encontrada em crianças e adolescentes. Segundo a autora, sua incidência pode chegar à

65% dos casos de TDAH dos quais 63% são meninos e 32% são meninas.

Silva (2003), afirma que o Transtorno Desafiador Opositivo não é tão grave

quanto o Transtorno de Conduta que será apresentado mais a frente.Destaca que se uma

criança apresentar os dois transtornos, aquele que prevalecerá e será diagnosticado será

o Transtorno de Conduta. O Transtorno Desafiador Opositivo, segundo a autora, em

muitos casos é considerado como um antecedente do Transtorno de Conduta.

Para Partel (2007), esse transtorno é caracterizado por um comportamento como o

próprio nome já diz desafiador e opositivo. Esse comportamento é apresentado

principalmente à figuras de autoridades como os pais e professores, por exemplo. Com

objetivo de desobedecer e enfrentar as autoridades, os portadores desse transtorno,

segundo a autora, podem violar regras, mentir, ser agressivos, desrespeitar limites e

direitos alheios. E quando recebem respostas punitivas por seu atos, os portadores

revidam de forma descontrolada, o que na maioria das vezes, segundo Partel (2007),

gera uma baixo auto –estima, mais agressividade, maiores taxas de disfunção escolar e

transtornos anti –sociais.

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• TDAH com Transtorno de Conduta (TC)

Partel (2007), afirma que a incidência desse transtorno com o TDAH não é tão

grande como no caso do TOD, apresentado a cima, porém ele é mais temido pelo fato

de ser bem mais grave. A seguir Silva (2003), caracteriza uma criança com o transtorno

de conduta:

A criança com Transtorno do Conduta apresenta comportamento desajustado, tais como violações de regras, agressões, podendo chegar à crueldade física,a tos delinqüentes, precocidade sexual e um padrão consistente de desrespeito ou desconsideração aos direitos e sentimentos alheios, entre outros. Além disso, essas crianças apresentam um risco de desenvolver na idade adulta o Transtorno de Personalidade Anti- Social. (SILVA, 2003,p.138)

Partel (2007), destaca que o portador desse transtorno pode ter suas relações

familiares, sociais e escolares muito deterioradas. Devido a seu comportamento,

marcado por mentiras freqüentes, fugas de casa ou até da escola, roubos, ações cruéis

com os animais e/ ou seres humanos.

Silva (2003), alerta que o portador de Transtorno de Conduta normalmente não

apresenta sentimento de culpa ou arrependimento.

• TDAH com Transtorno Bipolar de Humor

Esse transtorno é caracterizado segundo Silva (2003), “pela intensa variação de

humor, indo do poço mais fundo da depressão aos píncaros da exaltação e do

entusiasmo desarrazoados”. (p.136)

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Embora esse transtorno às vezes possa ser confundido com os sintomas do TDAH,

é importante saber identificá – lo e fazer a diferenciação. Silva (2003), destaca:

Saber diferenciá-los também é importante na medida em que há a possibilidade de uma pessoa apresentar os dois quadros. Muitas vezes, o DDA (TDAH) passara completamente despercebido por entre os sintomas muito mais floridos do transtorno Bipolar. Mas o DDA (TDAH) pode estar presente e não ser adequadamente tratado. O médico perceberá que o tratamento não estará sendo tão eficiente como costuma e poderá ter dificuldades, se não perceber os rastros deixados pelo DDA (TDAH) no solo caótico do Transtorno Bipolar. Saber identificar esses rastros é uma tarefa desafiadora que requer observação cuidadosa e dedicada.( SILVA, 2003, p.137 )

Ainda segundo a autora, apesar de ambos apresentarem alto nível de atividade e

energia, o que realmente é diferente entre os dois transtornos, é a intensidade. “O

bipolar sempre desce mais fundo e alça vôo mais alto. A amplitude entre os estados de

humor extremos é bem maior que no DDA.”(Silva 2003 p. 136)

Segundo Partel (2007), essa comorbidade, aliada ao TDAH em crianças e

adolescentes aumenta a inadequação social e o risco de suicídio. Desta forma, torna-se

extremamente importante diferenciar os dois transtornos citados para que o indivíduo

receba o tratamento adequado e alcance o bem –estar.

• TDAH com Depressão

Segundo Partel (2007), existe um alto índice de depressão em crianças e

adolescentes portadores de TDAH. Silva (2003), aponta que a depressão pode ocorrer

devido a duas condições a primeira considerada pela autora como forma secundária é o

desconforto provocado pelo próprio comportamento do portador de TDAH, e também

pode surgir primariamente, em função de alterações neuroquímicas e/ ou funcionais

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semelhantes. Como já foi mencionado,anteriormente, observa-se que o portador de

TDAH apresenta um baixa auto –estima. Ou seja, devido as críticas e respostas

negativas que recebe acaba acreditando que não é capaz. Segundo Silva (2003), o

portador de TDAH desenvolve um baixo conceito de si mesmo.

Partel (2007), afirma que o portador de TDAH com depressão torna-se marcado

por um humor triste ou muitas vezes fica irritado facilmente, apresenta fadiga,

alterações no sono e até mesmo no apetite. Começa a perder o interesse por situações

que antigamente lhe traziam prazer, seus movimentos psicomotores também sofrem

uma certa lentidão, além de culpa excessiva que carrega.

Essas características irão refletir no seu cotidiano, pois o portador de TDAH com

depressão, pode se tornar agressivo e retraído no seu convívio social. Dificuldade de ir

para escola e submissão são, para a autora, um dos exemplos do comportamento

depressivo.

Partel (2007), alerta que em crianças menores a depressão pode manifestar

sintomas como diminuição no crescimento e ganho de peso. Já em adolescentes com

depressão é necessário atenção, pois tendem abusar do álcool e consumir drogas.

Silva (2003), alerta para:

(...)o fato de que provavelmente, DDA e Depressão compartilhem alterações semelhantes. Estudos sugerem tal possibilidade, já que alguns medicamentos antidepressivos revelam-se eficazes no Distúrbio do Déficit de Atenção, quando prescritos em baixas doses. Assim, é bastante provável que as duas condições coexistam em quem seja biologicamente vulnerável. E os sintomas de uma acabem por agravar os da outra e vice -versa. ( SILVA, 2003, p.135)

Desta forma, como no caso do Transtorno Bipolar de Humor é necessário segundo

Silva (2003), “observar a consistência do quadro clínico, em contraposição à labilidade

dos estados de humor de um indivíduo com DDA.” (p. 136)

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• TDAH com Transtorno Obsessivo – Compulsivo (TOC)

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da

Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV), o TOC é um transtorno mental, que foi

incluído entre os chamados Transtornos de Ansiedade.

Segundo Silva (2003),esse transtorno apresenta características díspares das do

TDAH, porém alerta que tais características podem ser complementares.

Esse transtorno manifesta-se principalmente sob a forma de alterações do

comportamento dos pensamentos e das emoções.

A característica principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou

impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e

das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos,

realizados para reduzir a aflição que acompanha as obsessões.

Como exemplos das obsessões mais comuns, estão a preocupação excessiva com

limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Um outro

exemplo são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão).

Silva (2003), afirma, ainda, que o TOC tem uma alteração bioquímica em comum

com a depressão. Segundo a autora, portadores do TDAH acabam tendo mais

probabilidade a desenvolvê – lo do que pessoas que não possuam TDAH. Para Silva

(2003), “como o DDA é assaltado por estímulos, idéias e imagens que não conseguem

filtrar eficientemente, a probabilidade de ter pensamentos considerados desagradáveis e

desencadeadores de ansiedade aumenta dramaticamente”(p.133)

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A autora ressalta também, que o diagnóstico deve ser muito cuidadoso para que os

sintomas do TOC não mascarem os TDAH, pelo fato dos sintomas do TOC serem mais

aparentes.

• TDAH com Desordem na Comunicação

Partel (2007), afirma existir dentro da Desordem da Comunicação três categorias

distintas. Dentre elas, a primeira seria a do Distúrbio da fala também conhecido como

Disfalia, que é caracterizada pela dificuldade no controle motor da fala. Tal dificuldade

é marcada, por exemplo, pela fala acelerada, alterações articulatórias e alterações na

modulação do som da voz. Para a autora o pensamento é mais rápido do que a boca

consegue expressar.

O segundo Distúrbio seria o da Linguagem a chamada Dislexia, Mattos (2006), o

nomeia de Transtorno da Leitura. Segundo o autor, a dislexia pode variar desde a forma

mais grave, como não ocorrer a alfabetização até as formas mais leves. Segundo Partel

(2007), o indivíduo que apresenta dislexia apresenta falhas no processamento da

informação, e problemas no momento de compreender e produzir enunciados. Desta

maneira, seu vocabulário costuma ser limitado. A leitura segundo Mattos (2006), no

indivíduo disléxico é apresentada de forma silabada, aos tropeços com hesitações e

palavras lidas incorretamente.

Partel (2007), afirma que além dos sintomas do TDAH, essa comorbidade

dificulta ainda mais o rendimento na escola.

O último distúrbio citado por Partel (2007), como uma das categorias da desordem

da comunicação é a Dificuldade na Escrita, também conhecida como Disgrafia. Mattos

(2006), a caracteriza como sendo a incapacidade de se expressar por escrito, além de a

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grafia ser ruim. Como exemplos o autor cita: a produção de frases muito curtas sem

sentido, com ausência de conjunções e preposições, com ordem invertida das palavras o

que dificulta a compreensão pelos demais. Partel (2007), afirma que geralmente as

dificuldades da linguagem oral refletem-se na linguagem escrita.

Observa-se, então, que o educador através da observação do comportamento do

aluno, dos principais “erros”, pode alertar aos pais para encaminhar o educando para o

profissional especialista no transtorno associado ao TDAH. Porém se o educador

negligenciar os sinais que o educando demonstrar, o mesmo pode tornar-se excluído da

turma e não interagir demonstrando o seu potencial e superando suas dificuldades.

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CAPÍTULO III

O ALUNO TDAH NO PROCESSO ESCOLAR

“ Ele era muito sabido ele sabia de tudo

a única coisa que ele não sabia era como ficar quieto”

( ZIRALDO, 2005, p. 14)

Com as características apresentadas nos capítulos anteriores não é difícil

imaginar que o cotidiano escolar desses alunos, deve apresentar algumas dificuldades.

Dessa forma, o ideal para lidar com alunos TDAH, é que o Orientador

Pedagógico e Educacional seja criativo, flexível e crie maneiras alternativas sempre

avaliando o que funciona melhor para atuar com o aluno no ambiente escolar. Segundo

Mattos (2006), ele deve ser capaz de modificar estratégias de ensino, de modo, a

adequá-las ao estilo de aprendizagem da criança.

O educador deve perceber aquilo que interessa e motiva o aluno TDAH, pois é

nisto que o aluno ira dedicar “sua atenção”. Mattos (2006), destaca que o fato do aluno

prestar a atenção apenas àquilo que o interessa, é uma das características do transtorno

que mais facilmente se confunde com uma série de outras coisas malvistas pelos

educadores.

Desta forma, o educador deve estar atento para saber diferenciar a

incapacidade de atender as regras estabelecidas e a falta de vontade de obedecer as

regras. Como já foi mencionado, neste estudo, a coexistência de problemas

comportamentais dificulta mais essa diferenciação.

Mattos (2006), afirma que de um aluno portador de TDAH pode -se esperar

todas as possibilidades de resultado do desempenho acadêmico. Alguns podem

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conseguir bons resultados, mas muitos podem apresentar desempenho abaixo do

esperado.

Segundo o autor:

o TDAH ocorre em toda a faixa de inteligência, qualquer QI pode ser encontrado em quem tem o transtorno, desde alunos com inteligência limítrofe até os superdotados. A inteligência do portador de TDAH é provavelmente o maior determinante de quanto ele vai conseguir vencer na vida apesar do transtorno. (MATTOS, 2006, p. 97)

Dentre as principais dificuldades apresentadas por alunos portadores de TDAH

no cotidiano escolar podemos destacar a perda de parte da explicação ou dela toda,

porque estão distraídos “no mundo da lua”. Ou até mesmo, se perdem lendo um livro,

muitas vezes, parecem estar pensando em outras coisas, uma ou mais coisas ao mesmo

tempo. Esse fato causa incomodo para os interlocutores, no caso o educador, pois passa

a ver o aluno de outra forma.

Geralmente, cometem erros por distração, erros simples, o que nas avaliações

resultados inferiores, ao que realmente poderiam obter. Não esperam o educador acabar

de fazer a pergunta e já respondem logo. Isso ocorre também, quando a pergunta é

escrita, eles não acabam de ler e logo respondem. Na maioria das vezes as respostas são

dadas de maneira incorreta e inadequada. Segundo Mattos(2006), outra dificuldade

comum ao TDAH é também o esquecimento de algo que haviam estudado previamente.

O autor explica,que essa situação ocorre pois a atenção no momento em que estavam

estudando era superficial, ou seja, o material no caso não era levado corretamente para

os armazéns da memória. Segundo o autor, a atenção é o portal da memória.

Os alunos que possuem TDAH evitam tarefas muito longas e paradas que

necessitem grande concentração. O educador que desconhece o transtorno acaba

rotulando o aluno como indolente ou preguiçoso.

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As dificuldades citadas acima, em tarefas individuais acabam resultando baixos

resultados nas avaliações. Por este motivo, observa-se que muitas crianças portadoras

do TDAH não gostam de escola nem de estudar, pois já sabem que apresentam

dificuldades e necessitam se esforçar para alcançar um bom resultado, que muitas vezes

não agrada os educadores e os pais.

Para ilustrar o tema, será apresentado o caso Guilherme ( nome fictício).

Guilherme, hoje cursando Economia, PUC, enfrentou todas as dificuldades que

o TDAH pode apresentar no decorrer da sua formação, principalmente a falta de

informação por parte das escolas e dos educadores a respeito desse transtorno.

Vale ressaltar, que há anos atrás o TDAH era bem menos conhecido e ignorado

por muitos, que preferiam excluir o aluno ao invés de buscar conhecer as características

desse transtorno e propor estratégias para superar as dificuldades e obstáculos

encontrados.

Segundo a mãe de Guilherme cuja a experiência será relatada, o TDAH

antigamente, era considerado uma doença inventada pela indústria farmacêutica. O que

muitos consideravam era que o TDAH era falta de limites, culpa da educação dada a

criança.

Já para Guilherme, sua infância sempre foi marcada por frases que o

rotulavam de mal educado, sem limites e louco.

Em seu relato Guilherme,descreve que sempre foi considerado uma criança

levada, que não parava quieto e que não se concentrava em nada. Ouvia sempre as

pessoas dizendo que ele era hiperativo. O que ele não entendia é como poderia ser

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hiperativo e ficar horas parado sem piscar os olhos em frente da televisão jogando

videogame ou assistindo uma partida do Flamengo.

Ele sofria com os rótulos que lhe eram dados porém, se considerava como os

outros, pois tinha uma rotina, hábitos comuns as outras pessoas. Ele sabia que não tinha

apenas defeitos, tinha também carisma e inteligência.

Sua inteligência muitas vezes incomodava muitas pessoas; pois estas não o viam

se dedicando aos estudos e questionavam como ele poderia ter bons resultados.

Associavam esses resultados ao fato dele colar.

O menino hiperativo cresceu e tornou-se um jovem, que tinha muitos amigos,

jogava muito bem futebol, era capitão e líder do time e quando jogava se concentrava de

uma tal forma que parecia até uma pessoa “normal”. Ele se orgulhava de sua liderança

durante os jogos. Porém, “na sala de aula, parecia que a sua liderança se tornava algo

negativo, o fazia não ter forças para estudar, para prestar atenção, atrapalhava a turma,

desconcentrava os professores e criava muitas inimizades. Inimizades essas que não

acreditavam como ele podia obter bons resultados.”

A vida de Guilherme, infelizmente para ele, não era feita apenas de futebol.

Tornou -se campeão no campo, mas dentro da sala de aula, na escola, segundo ele foi

“perseguido” e excluído como um bandido. Muitas vezes não tinha direito de explicar ,

quando era pego em flagrante com sua hiperatividade e impulsividade.

Guilherme, foi reprovado em matemática cuja reprovação foi dada como um juiz

dá a sentença a um réu. Ele saiu da escola e registra: somente desta forma, a escola

começa um novo ciclo de alegria, sem ele, aquele menino que jogava bem futebol, mas

somente isso.

Esse menino, que já estava convencido que era um garoto -problema, chorou por

perder seus amigos, sua escola e principalmente perder sua auto – confiança.

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Ele já estava tornando -se um adulto e sua mãe conheceu um médico que tratava

do “déficit de atenção”. Seria mais um dos muitos tratamentos já feitos para “curá- lo”.

Receitaram um remédio chamado Ritalina, que tira fome, é ruim mas que ajudaria

concentrar mais sua atenção. Ele tomou aquele remédio sem esperanças. Porém o

tempo foi passando, ele foi para outra escola, foi vivendo sua vida e procurando seu

lugar no time de futebol.

Passados quatros anos, ele conseguiu uma vitória, se tornou capitão do time e

campeão também porque havia vencido sua ex- escola. Consegui se formar como um

dos melhores alunos da turma, com nota máxima em matemática e foi aprovado para a

faculdade. Atualmente, no curso superior, seu jeito hiperativo e desatento está

controlado e ele sabe que tem muito ainda o que viver, porém sem deixar de ser ele

mesmo.

Seu intuito é um dia, mostrar para todos que ele não era uma criança mal –

educada, um bandido, nem sem limites. Ele era somente uma criança diferente como

todas as outras, que pode e deu certo na vida.

Hoje ele é muito feliz, pois sabe o que tem e vive com a sua realidade TDAH. É

o orgulho da família e dos amigos. Seu desejo é que outras pessoas não sofram o que

ele sofreu.

“E, ai o tempo passou E, como todo mundo, o menino maluquinho cresceu cresceu e virou um cara legal! Aliás, virou o cara mais legal do mundo! Mas, um cara legal, mesmo! E foi ai que todo mundo descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho ele tinha sido um menino feliz!! ( ZIRALDO, 2005, p.107)

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Este relato que acabou de ser apresentado, infelizmente é a realidade de muitas

crianças nesse país, crianças que são rotuladas sem chances de ter assegurado sua

identidade, e nem sempre os obstáculos são vencidos como no caso de Guilherme.

“ ... Só tem um zerinho aí no tal de comportamento.” (Ziraldo, 2005 p.37)

Raramente, os profissionais da educação estão preparados para lidar com uma

criança portadora de TDAH. Segundo Andrade, psiquiatra que coordena o Ambulatório

de TDAH infantil do Instituto de Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de

São Paulo, os professores já lidam com alunos problemas e não podem se dedicar aos

alunos com TDAH. Segundo o psiquiatra, diante de uma turma com trinta alunos, é

difícil um professor conseguir dar atenção individualizada e conseguir acompanhar de

perto as dificuldades de cada um. Na correria diária de cada professor, mandar o aluno

que faz bagunça e desordem para o corredor acaba sendo a maneira mais fácil de tentar

estabelecer a ordem na turma.

Segundo a Psiquiatra Vanessa Ayrão, pesquisadora de Psiquiatria da UFRJ,

crianças portadoras de TDAH não se adaptam bem a instituições de ensino tradicional,

que apresentam um código disciplinar muito rígido.

A seguir, será apresentado mais um relato de uma criança que também sofreu o

preconceito e exclusão pelo fato dos profissionais da educação desconhecerem o

transtorno TDAH, apresentados por uma mãe no site:

http://www.upgradetreinamento.com.br/artigos/deficit-de-atencao/a-crianca-com-tdah-

e-a-escola/.

Hoje esse menino tem dez anos, e sua mãe sempre preocupada em oferecer um

ensino de qualidade para seu filho o matriculou em uma escola tradicional e cara do

estado do Rio de Janeiro. Com pouco tempo no colégio o aluno já havia levado

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repreensões leves e foi punido com castigos. Sua mãe foi chamada primeiramente para

ouvir as queixas dos professores logo depois foi chamada para uma reunião com o

diretor.

No meio do ano letivo, a mãe foi chamada na escola e comunicada que o seu

filho não poderia seguir os estudos naquele colégio. Mesmo a mãe, pedindo para que

seu filho apenas concluísse o ano letivo, eles foram implacáveis. Sendo assim a mãe

ficou sem escolha, porque o diretor afirmou que o filho dela já havia recebido várias

chances e seu comportamento comprometia o andamento da turma.

Sempre buscando uma formação boa para o filho, a mãe procurou um colégio

com o mesmo perfil do anterior. A experiência foi mais uma sem sucesso, os fatos se

repetiram. E no final do ano, a mãe foi avisada de que não poderia renovar a matrícula.

Como é de se esperar, a mãe entrou em desespero e não sabia como agir. Pois

com apenas sete anos, seu filho já havia sido expulso de duas escolas e as experiências

de fracasso só cresciam. Foi neste momento, que pai do menino, leu sobre crianças

hiperativas em reportagem e decidiu junto com a esposa procurar uma orientação

médica de psiquiatra.

A mãe relata que em apenas pouco tempo, o médico deu o diagnóstico, pois já na

primeira consulta seu filho só faltou subir pela estante do consultório. Após, as

orientações do

médico os pais do menino buscaram um escola onde a política educacional fosse mais

flexível. E logo que ele ingressou na escola, antes de qualquer reclamação, a mãe foi

conversar com a orientadora educacional. Com muita paciência, reportagens e livros

contou a história de seu filho e falou sobre o transtorno.

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Segundo a mãe do aluno, a escola foi receptiva e os professores e orientadores

apresentaram -se mais tolerantes e demonstraram mais atenção com a criança. Mas algo

que a mãe ficou surpresa com o fato da escola não ter ideia do que é o TDAH.

Como observamos, a maioria das escolas ainda não esta preparada para lidar

com o aluno portador de TDAH, pois, essa criança necessita de um meio estruturado

com regras claramente e previamente estabelecidas. O educador, Orientador Pedagógico

e Educacional, então, devem procurar manter uma rotina previsível e constante e

estabelecer os limites de comportamento, já que a criança com TDAH tem grande

dificuldade em criar essas estruturas e controle sozinha. Segundo Mattos (2006), o

educador deve evitar mudar horários e trocar as “regras do jogo” no que diz respeito a

avaliação. A criança pode ficar confusa, pois uma hora vale uma coisa, e em outra vale

outra diferente.

Segundo o autor, desde o primeiro dia, o educador deve falar claramente o que

espera dos alunos. Colocar as regras em um mural na sala de aula, é uma sugestão.

Assim como, buscar formas visuais para expressar o que foi dito, slides e pôsteres são

formas de chamar a atenção já que o aluno TDAH tem dificuldades de manutenção da

atenção.

A criança TDAH, segundo Mattos (2006), necessita de um nível um pouco mais

alto de estimulação para funcional melhor. Porém, sem exageros para não prejudicá-la.

Como foi mencionado, a rotina é importante mas introduzir em alguns momentos

novidades, torna-se interessante, desde que essas novidades não sejam apenas

improvisações sem planejamento anterior.

Incentivar e envolver as crianças nas discussões sobre as mudanças no

comportamento é muito importante, assim ela verá as mudanças como um projeto que

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ela faz parte e as atitudes do educador serão vistas por ela de forma positiva. Ouvir da

criança suas dificuldades e sugestões para melhorar também é importante.

O comportamento de uma criança TDAH não mudará de uma hora para outra, o

educador deve buscar modificar esse comportamento gradualmente, estabelecendo

metas e cumprindo-as passo a passo. Após apresentar sucesso em uma, deste momento

então, deve-se buscar alcançar outra. Simultaneamente não se deve buscar modificar os

comportamentos.

O Orientador Pedagógico e Educacional devem procurar descobrir qual a melhor

forma de usar os materiais didáticos e adaptar os conteúdos para o aluno que é portador

de TDAH.

O professor tem que saber equilibrar exigência de cumprimento das regras e flexibilização de comportamento. Mas isso é importante, quem tem TDAH pode necessitar, mais do que ninguém, aprender a obedecer a regras. Por outro lado, ele precisa entender que existe algum espaço para comportamentos diferentes do esperado. Quando houver infração a regras, por exemplo, é importante sempre estar atento à existência de fatores atenuantes. Os atenuantes, quando existirem, devem ser explicitados ao aluno e deve-se conversar sobre eles. As penas pelo não – cumprimento das regras podem estão ser abrandadas ou até mesmo retiradas, mas somente e exclusivamente quando houver atenuantes. O TDAH por si só jamais deve ser usado como atenuante para uma infração grave ou repetida; atenuantes são contextos específicos que contribuíram para uma determinada falta.(MATTOS ,2006, p. 106 )

Muitas vezes o Orientador Pedagógico e Educacional vão encontrar crianças

portadoras de TDAH, que apresentam nível de frustração muito alto, sendo assim, ele

deve de forma tranqüila rever sua posição. Para exemplificar Mattos (2006), relata que

mesmo sendo o objetivo ficar sentado, o professor observando que o aluno está

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particularmente em um dia difícil pode permitir um passeio fora da sala e ignorar que

ele levantou sem ser permitido.

Deixar o aluno compensar as falhas que comete pode ser válido para ele. Um

meio de fazer isto, é estabelecer atribuições, ser auxiliar da professora por exemplo.

Função essa, que tem seus pontos positivos, além dele poder se movimentar ao invés

de ficar sentado o tempo todo, melhora o seu relacionamento com outros alunos da sala

de aula. Além desses pontos positivos existem muitos outros para o cargo de auxiliar da

turma.

Jamais o Orientador Pedagógico e Educacional, devem deixar para o final do

dia ou do mês a resposta sobre o comportamento do aluno TDAH. Segundo Mattos

(2006), o feedback deve ser imediato sobre como o aluno esta se comportando. Pois

assim, os comportamentos que ele apresenta terão conseqüências.

Elogiar quando a criança apresenta um comportamento satisfatório é

fundamental não somente para os educadores, mas também para os pais. Infelizmente

essa ação é esquecida, lembra-se apenas de punir a criança quando ela comete algo

errado.

A partir do que foi mencionado, observa-ser que o Orientador Pedagógico e

Educacional r devem estar dispostos a auxiliar aluno portador de TDAH para que este

alcance o sucesso e não seja mais um caso de fracasso escolar. Lembrando sempre, que

as suas exigências devem começar das mais simples para as mais complicadas.

“ Na turma em

que ele andava ele era

o menorzinho o mais espertinho o mais bonitinho o mais alegrinho

o mais maluquinho” Era tantas coisas

terminadas em

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inho que os colegas não entendiam como

é que ele podia ser um companheirão.”

(ZIRALDO, 2005, p. 22)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após esse estudo, o que podemos observar é que o Transtorno do Déficit de

Atenção com Hiperatividade, o TDAH, não se trata apenas de uma invenção das

indústrias farmacêuticas ou uma desculpa para o fracasso escolar por parte de alguns

educadores. O TDAH é realmente um transtorno médico verdadeiro, reconhecido por

associações médicas internacionais bem prestigiadas.

Tal transtorno caracteriza-se pela associação de sintomas, dentre os principais

destaca-se: desatenção, impulsividade e inquietude.

O TDAH, apresenta tratamento e embora ainda não exista até o presente

momento, uma exame específico para diagnosticá-lo. Sendo assim, o diagnóstico é feito

pela observação e análise dos sintomas apresentados.

Embora, grande parte da população até mesmo a médica o desconhecerem e

ignorarem o TDAH, trata-se de um transtorno bem sério. O portador de TDAH, tem

maior probabilidade de desenvolver outros transtornos psiquiátricos associados, como

por exemplo, a ansiedade generalizada e a depressão.

Além do fato de poder desenvolver os transtornos psiquiátricos, o portador de

TDAH, na maioria das vezes, infelizmente pode apresentar problemas nos seus

relacionamentos pessoais, assim como interferir escolaridade.

Dessa forma, é importante que o TDAH seja diagnosticado e tratado o quanto

antes. Mesmo sabendo que o transtorno pode ser diagnosticado em adultos, se tratado na

infância, os sintomas, quando o indivíduo ingressa na vida adulta tendem se apresentar

de forma mais moderada.

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O Brasil, ainda não apresenta dispositivos legais para garantir os direitos dos

portadores de TDAH, porém em países como os Estados Unidos, tais direitos já são

garantidos.

Dentre os principais direitos assegurados, destacamos o direito do educando

TDAH receber atendimento especial por parte dos professores e da instituição.

Desta maneira, o educador, que lidará com uma criança TDAH deve conhecer

o transtorno e não deve associá-lo a rótulos como falta de educação, preguiça e

indolência. A atenção deve ser redobrada, limites devem ser estabelecidos de forma

clara. Porém vale ressaltar que educar uma criança TDAH pode ser incrivelmente

desafiador para qualquer adulto.

Sendo assim, o educador deverá equilibrar a atenção com o aluno TDAH às

necessidades dos outros alunos da classe. Essa pode se tornar uma difícil tarefa se a

turma for numerosa. O educador segundo Mattos (2006), deve perceber a criança

TDAH como uma pessoa em potencial (que poderá ou não desenvolver, como todo

mundo), interesses particulares, medos e dificuldades e tem que estar disposto e

interessado em ajudar realmente em seu desenvolvimento.

“ (...) E quanto mais deixavam ele criar mais o menino inventava (...)” (ZIRALDO, 2005, p. 47)

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ANEXO

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REFERÊNCIAS

MATTOS, P. No mundo da lua: perguntas e respostas sobre o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 4ª edição. São Paulo: Lemos, 2006 SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas. Editora Gente. 8ª. edição, 2003. ZIRALDO. O menino maluquinho, 2005 http://www.tdah.org.br/reportagem01.php?tipo=T PARTEL, Cleide Heloisa. www.universotdah.com.br/ , 2007