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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO APLICADA NO SERVIÇO PÚBLICO Luiz Augusto Curado Júnior Brasília 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · autores de renome nas áreas de gestão de pessoas, de psicologia na ... características das fases evolutivas da Administração

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO APLICADA NO

SERVIÇO PÚBLICO

Luiz Augusto Curado Júnior

Brasília

2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO APLICADA NO

SERVIÇO PÚBLICO

OBJETIVO:

O presente trabalho pretende estudar como uma

ferramenta administrativa própria da iniciativa

privada pode ser aplicada no serviço público e sua

importância.

3

AGRADECIMENTOS

A todos os profissionais do Instituto “A Vez do

Mestre” e da Universidade Cândido Mendes.

4

DEDICATÓRIA

Dedico a presente monografia a minha noiva

Erudith, que teve muita paciência comigo,

principalmente na reta final desta caminhada.

Lembro, também, da força dada por meus pais,

minha irmã e meu amigo Rogério.

Luiz Augusto Curado Júnior

5

RESUMO

A avaliação de desempenho (AD) é uma ferramenta de gestão

originária da Administração de Empresas e típica da iniciativa privada.

Entretanto, ela foi introduzida no setor público pela Escola Gerencial de

Administração Pública.

A presente monografia objetiva estudar a evolução das fases

pelas quais passou a Administração Pública – Escola Patrimonialista, Escola

Burocrática e, finalmente, a Gerencial – e as dificuldades enfrentadas por esta

última escola na aplicação desta ferramenta administrativa.

Por fim, são apresentadas algumas soluções para que se possa

vencer os obstáculos encontrados na implantação da AD e se aproveitar ao

máximo os dados dela obtidos para a melhoria constante dos serviços

prestados à sociedade.

6

METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo deste trabalho, que é entender como

pode ser utilizada no serviço público um instrumento tipicamente da iniciativa

privada e como o seu uso correto pode trazer benefícios à sociedade, o método

utilizado é o da pesquisa de caráter exploratório em bibliografia composta por

autores de renome nas áreas de gestão de pessoas, de psicologia na

administração e de administração pública.

Além da investigação bibliográfica, foram realizadas pesquisas em

revistas especializadas e na internet.

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................ 8 Capítulo I – A Administração Pública .................................................. 10

1.1 – O que é Administração Pública ......................................... 10

1.2 – Administração Pública Patrimonialista .............................. 12

1.2.1 – Administração Pública Patrimonialista no Brasil . 14 1.3 – Administração Pública Burocrática ................................... 16 1.3.1 – Administração Pública Burocrática no Brasil ...... 19 1.4 – Administração Pública Gerencial ...................................... 20 1.4.1 – Administração Pública Gerencial no Brasil ......... 22 Capítulo 2 – A Avaliação de Desempenho (AD) .................................. 27 2.1 – Origem da AD ................................................................... 27 2.2 – Conceito e Objetivo da AD ................................................ 29 2.3 – A AD e a Gestão do Desempenho .................................... 30 2.4 – Fatores que interferem no Programa de AD ..................... 31 Capítulo 3 – A Avaliação de Desempenho na Administração Pública . 32 3.1 – A implantação da AD no serviço público e as dificuldades

enfrentadas ................................................................................

32 3.2 – Possíveis soluções para efetiva aplicação da AD ............ 35 Conclusão ............................................................................................ 38 Bibliografia............................................................................................. 39

8

INTRODUÇÃO

A Administração Pública Brasileira já passou por dois modelos de

gestão – o patrimonialista e o burocrático – e, atualmente, vivencia o gerencial.

No primeiro deles, o aparelho estatal funcionava como extensão do poder do

soberano e os cargos públicos eram distribuídos ao seu bel prazer como

instrumento de politicagem. Não havia diferenças entre a res publica e a res

principis – coisa pública e coisa privada – e, em conseqüência disso, a

corrupção e o nepotismo eram inerentes a essa modalidade de gestão.

Tendo como principal estudioso Max Weber, surge a Burocracia.

O principal objetivo desse sistema de gestão era combater e eliminar os dois

cânceres da Administração Pública Patrimonialista: o nepotismo e a corrupção.

Para isso, foram criados sistemas de controles prévios, com base no poder

racional-legal, para coibir as referidas distorções patrimonialistas. Entretanto, o

sistema burocrático acabou por se perder também. O excesso de rigidez no

controle dos atos administrativos “engessou” o Estado, gerando a ineficiência

da máquina pública na prestação de serviços aos cidadãos.

A fim de recobrar sua razão de ser, servir o cidadão, emerge a

Administração Pública Gerencial, cujo foco é a eficiência por intermédio da

redução de custos e o aumento da qualidade na prestação de serviços. A

reforma do aparelho estatal passa a ser orientada pelos valores da eficiência e

qualidade na prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma

cultura gerencial nas organizações. E é aqui que surge a preocupação com a

constante avaliação de desempenho de seu corpo funcional que é, aliás, o

tema deste trabalho.

O ponto central desta monografia é responder como o emprego

correto da avaliação de desempenho – aplicação, aferimento dos resultados e

9

adoção de medidas corretivas – no serviço público, pode contribuir para a

melhoria dos serviços prestados à população.

Para explorar melhor o tema, a presente monografia é composta

por três capítulos.

O primeiro deles, sob o título de “Administração Pública”, é

destinado a explicar o que é a Administração Pública. Ele é subdividido em três

tópicos que detalham cada uma das fases do tratamento da coisa pública no

país. O primeiro tópico trata da nossa primeira forma de administração do

Estado: o patrimonialismo. São mostradas suas origens, características e os

motivos que acarretaram a transição para um novo modelo de gestão: o

burocrático. O segundo segmento desse capítulo traz as principais marcas do

aludido modelo e explicita a necessidade da mudança para outro mais

moderno: o gerencial. A última parte, ainda do capítulo inicial, é destinada à

conceituação e detalhamento desse que é o atual método de administração da

coisa pública e que merece destaque por ser o que introduz no serviço público

a preocupação com a qualidade na prestação de serviços à sociedade. É a

Escola Gerencial que implanta a avaliação de desempenho no serviço público,

na tentativa de aproximá-lo da iniciativa privada no tocante à eficiência

O segundo capítulo vai discorrer acerca do que é a avaliação de

desempenho (AD). É traçado um histórico da AD, apresentando a evolução da

forma que a Administração enxergava o homem – funcionário deixa de ser

considerado parte integrante da máquina de produção e passa a ser respeitado

em sua individualidade – além de apresentados conceitos e sua importância

para todos os envolvidos no processo: organização, avaliador e avaliado.

O terceiro e derradeiro capítulo pretende analisar os motivos

pelos quais a Administração Pública, apesar de já possuir ferramentas

administrativas legais à sua disposição para controlar e aprimorar a qualidade

dos serviços prestados à sociedade por seus agentes, ainda não conseguiu

atingiu patamares de excelência observados na iniciativa privada.

10

CAPÍTULO I – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Para se falar da avaliação de desempenho no serviço público, é

necessário traçar algumas linhas acerca do conceito de Administração Pública

e de sua evolução histórica no mundo e, em particular, no Brasil. À conta disso,

o primeiro capítulo foi dividido em quatro tópicos, que possuem mais três

subdivisões.

O primeiro tópico trata da conceituação de Administração Pública

sob a ótica do Direito Administrativo e a doutrinadora Odete Medauar é usada

como referência. Essa ótica do Direito é complementada por uma visão

administrativa, que é trazida pela leitura da obra Administração Pública – Idéias

para um Governo Empreendedor do professor de Administração Pública José

Wilson Granjeiro.

Os três tópicos seguintes desenvolvem, brevemente, as principais

características das fases evolutivas da Administração Pública – Patrimonialista,

Burocrática e Gerencial – e possuem subdivisões que cuidam, cada uma, de

uma análise de como se deu tais fases no Brasil.

1.1 – O que é Administração Pública

Segundo Odete Medauar (2003), Administração Pública, sob o

aspecto funcional, significa um plexo de atividades do Estado que auxilia as

instituições políticas de cúpula no efetivo exercício de funções de governo, que

organizam a realização das finalidades públicas postas por tais instituições e

que produzem serviços, bens e utilidades para a população. Nessa concepção,

11

a administração pública abrange as seguintes atividades administrativas: o

fomento, a polícia administrativa, o serviço público e a intervenção

administrativa.

O fomento corresponde à atividade administrativa de incentivo à

iniciativa privada de utilidade pública. Um exemplo disso são os favorecimentos

fiscais do governo aos particulares que, em contrapartida, investem na cultura

e no esporte nacional.

A polícia administrativa é uma atividade exercida graças ao

chamado poder de polícia, que estabelece restrições ao exercício de direitos

individuais em benefício do interesse coletivo. Como exemplo dessa polícia,

citamos a fiscalização sanitária.

O serviço público abrange a atividade que a Administração

Pública executa, de forma direta e indireta, para atender os anseios públicos,

sob regime predominantemente público. Um exemplo é o serviço de

telecomunicações.

Quanto à intervenção administrativa, ela se materializa por

intermédio da regulamentação e fiscalização da atividade econômica de

natureza privada, assim como a intervenção direta do Estado na economia,

prevista constitucionalmente.

Sob a ótica organizacional, pode-se definir a Administração Pública como sendo um conjunto de órgãos e entes estatais que produzem serviços, bens e utilidades para a população, seguindo determinações das instituições políticas de governo no exercício das funções públicas.

O Estado realiza a função administrativa por meio de órgãos,

agentes e pessoas jurídicas. Para desempenhar suas funções, ele, o Estado,

adota duas formas de organização e atuação administrativas: centralização e

descentralização.

A centralização administrativa ocorre quando o Estado executa

suas tarefas diretamente, por intermédio dos órgãos e agentes integrantes da

12

Administração Direta. Aqui, os serviços são prestados diretamente pela União,

Estado ou Município, por meio de seus órgãos (ministérios, secretarias,

prefeituras).

Já a descentralização administrativa acontece quando o Estado

(União, Estado ou Município) desempenha algumas de suas funções por meio

de outras pessoas jurídicas. Aqui, pressupõe-se a existência de duas

personalidades distintas: o Estado e a entidade que executará o serviço, por ter

recebido do Estado essa atribuição por intermédio (autarquias, fundações

públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista).

Há de se ressaltar que a função administrativa é exercida,

predominantemente, pelos órgãos do Poder Executivo, mas não pode ser

confundida com ele. Ela abarca os três Poderes do Estado – Executivo,

Legislativo e Judiciário – em qualquer das três esferas políticas – Municipal,

Estadual e Federal.

A Administração Pública, segundo José Wilson Granjeiro (2008),

passou por três fases distintas: a Patrimonialista, a Burocrática e a Gerencial.

Essas mesmas serão abordadas a seguir, em tópicos diferentes, e em

subdivisões nas quais serão analisadas suas características no serviço público

brasileiro.

1.2 – Administração Pública Patrimonialista

Max Weber, o principal expoente da Escola Burocrática, em sua

obra Teoria da Burocracia (1912) fez uma leitura do regime patrimonialista de

Administração Pública por meio da análise do tipo de dominação predominante

nesse sistema: a dominação tradicional.

A dominação tradicional decorre da crença na legitimidade do

poder de quem exerce a dominação pelo fato de que sua investidura advém de

13

longa tradição, a partir de uma autoridade que sempre existiu. Era o costume

de determinada sociedade que indicava quem devia exercer o poder e também

o que garantia a legitimidade do exercício da dominação.

O indivíduo que exerce autoridade nesse sistema não era apenas

um superior hierárquico, mas, sim, um “senhor” e os seus subordinados são

mais que funcionários, eram “servidores”, dentre estes estavam os nobres, os

empregados domésticos, os clientes e os escravos. Os inferiores hierárquicos

dedicavam à autoridade, mais do que seus serviços. Ofereciam a ela suas

vidas em trocas de cargos, benesses, honrarias, privilégios e favoritismo.

A administração política é tratada pela autoridade como assunto

pessoal, assim como as riquezas auferidas pelo tesouro estatal provenientes

da arrecadação de impostos. Percebe-se, assim, que Administração Pública

era utilizada como instrumento de usurpação de poder. A res principis não se

diferenciava da res publica, ou seja, os governantes não viam limites entre

suas posses e a coisa pública.

À conta dessa desordem entre o que seria público e o que seria o

privado, a corrupção e o nepotismo tornaram-se características inerentes a

esse sistema da gestão pública. O foco do referido sistema deixou de ser a

defesa da coisa pública e a prestação de serviços à população e passou a ser

questões que privilegiavam a vontade de poucos. Os cargos públicos eram

distribuídos a inúteis nobres letrados respeitando critérios de status, parentesco

e favoritismo.

Raymundo Faoro (1957) desenvolve uma análise sobre a

estrutura patrimonialista:

O PATRIMONIALISMO, organização política básica, fecha-se sobre si

próprio com o estamento, de caráter marcadamente burocrático.

Burocracia não no sentido moderno, como aparelhamento racional,

mas da apropriação do cargo – o cargo carregado de poder próprio,

14

articulado com o príncipe, sem a anulação da esfera própria de

competência. O Estado ainda não é pirâmide autoritária, mas um

feixe de cargos, reunidos por coordenação, com respeito à

aristocracia dos subordinados. A comercialização da economia,

proporcionando ingressos em dinheiro e assegurando o pagamento

periódico das despesas, permitiu a abertura do recrutamento, sem

que ao funcionário incubissem os gastos da burocracia, financiando

os seus dependentes. Todos, cargos elevados – que davam nobreza

ou qualificavam origem aristocrática –, como os cargos modestos,

hauriam a vida e o calor do tesouro, diretamente vinculado à

vigilância do soberano. O comércio, controlado ou explorado pelo

príncipe, é, por sua vez, a fonte que alimenta a caixa da Coroa. O

modelo de governo, que daí se projeta, não postula o herói feudal,

nem o chefe dos súditos, que sobre eles vela, premiando serviços e

assegurando-lhes participação nas rendas. Um passo mais, num

reino onde todos são dependentes, evocará o pai do povo, orientado

no socorro aos pobres. Ao longe, pendente sobre a cabeça do

soberano, a auréola carismática encanta e seduz a nação. O sistema

de educação obedece à estrutura, coerentemente: a escola produzirá

os funcionários, letrados, militares e navegadores. Mas os

funcionários ocupam o lugar da velha nobreza, contraindo sua ética e

seu estilo de vida. O luxo, o gosto suntuário, a casa ostentatória são

necessários à aristocracia. O consumo improdutivo lhes transmite

prestígio, prestígio como instrumento de poder entre os pares e o

príncipe, sobre as massas, sugerindo-lhes grandeza, importância,

força.

1.2.1 – A Administração Pública Patrimonialista no Brasil

O Estado brasileiro, segundo José Wilson Granjeiro (2008),

nasceu patrimonialista graças à herança lusitana que desde o descobrimento

15

impôs o sistema de dominação tradicional nas novas terras. A administração

colonial brasileira reproduziu os mesmos vícios do Estado português,

sustentado há um bom tempo pelo progresso da expansão ultramarina, que se

traduzia na possibilidade de enriquecimento rápido e fácil, além da

necessidade de centralização e de concentração do poder real: centralização,

regulações embaralhadas e forte influência da igreja.

O advento da República dos Estados Unidos do Brasil

representou um grande avanço no cenário político-institucional da

administração pública herdada de Portugal. Nesse momento, com a

implantação do federalismo, os estados passaram a ser autônomos e criaram

seus próprios governos, câmaras legislativas e constituições, descentralizando,

dessa forma, o poder que, até então, era unitário.

Essa descentralização foi um marco importante para o Estado

brasileiro. Constituiu um grande passo para a tentativa de implantação de um

regime mais profissional e racional de gestão da coisa pública: o burocrático,

por Getúlio Vargas. Esse fato será melhor desenvolvido no próximo tópico.

Ainda sobre o sistema patrimonialista, vale destacar um trecho de

um artigo da Senadora pelo Estado do Acre, Marina Silva, publicado na Gazeta

do Rio Branco/AC e no site do Senado Federal, sob o título de “Reflexões

sobre a Independência”:

O Patrimonialismo é a apropriação privada dos bens públicos. E

quando se fala em bens públicos, não se trata apenas de bens

materiais, mas do próprio exercício do poder. Na visão

patrimonialista, o governante é um senhor – como no tempo da

colônia – que tudo pode e o Estado é como se fosse sua propriedade

particular. Consequentemente, os cidadãos não têm direitos de fato.

Recebem benesses aqui e ali, em lugar de exigir os serviços e

benefícios que são devidos à sociedade pelo poder público. Troca-se

cidadania por relações de favor pessoal. Aí morrem os direitos, a

16

justiça, a ética, o bem comum, os valores morais. E aí vicejam a

subserviência, o engodo, o banditismo político, a impunidade, o mau

uso do dinheiro público e a miséria social. (Marina Silva, Reflexões

sobre a Independência, site do Senado Federal)

1.3 – Administração Pública Burocrática

Administrar os bens de todos em benefício de poucos, deixou de

ser aceitável e, como uma resposta da sociedade ao reinado de corrupção e à

politicagem com a coisa pública, surge um novo sistema de gestão pública: a

Burocracia.

A burocracia pode ser definida como um sistema social-racional,

ou um sistema social em que a divisão do trabalho é racionalmente realizada

tendo em vista os fins visados.

O principal expoente dessa escola é Max Weber que foi o primeiro

a estudar sistematicamente as organizações burocráticas, por intermédio da já

citada obra Teoria da Burocracia (1912). Nela, Weber não se preocupou em

definir burocracia. O que ele fez foi conceituá-la por intermédio de um extenso

rol de características, que serão explicadas a seguir.

Autoridade racional-legal: a autoridade num regime burocrático

advém de um sistema de normas racionais-legais, ao invés de tradicionais. As

regras são válidas porque objetivam fins específicos e não porque são

baseadas em tradições. Aqui, a autoridade é baseada em leis e os

administradores têm à sua disposição meios coercitivos que asseguram a

obediência dos subordinados.

17

Normas são escritas e exaustivas: diante de determinadas

situações os funcionários já sabem como agir baseando-se nas diretrizes, nas

normas organizacionais e disciplinares. O comportamento dos administrados

torna-se mais previsível e, portanto, mais controlável pelo administrador.

Sistema hierárquico muito bem delineado: o subordinado obedece

o superior, embora sempre tenha a possibilidade de recorrer a uma autoridade

mais alta, quando não concordar com a ordem recebida. Numa burocracia

plena, a hierarquia seria monocrática, ou seja, existiria somente um chefe para

cada subordinado, ao invés de comissões.

Divisão horizontal do trabalho: a departamentalização era

realizada em termos de cargos abstratamente definidos e não de pessoas. Era

desenvolvida de forma impessoal. Weber acreditava que quanto mais

desumanizada a burocracia, mais profissional e efeciente ela seria,

diferentemente do que ocorria no sistema patrimonialista.

Outra marca da valorização da impessoalidade na escola

burocrática é a forma de escolha dos funcionários. Enquanto no

patrimonialismo, os administrados eram selecionados com base em critérios

irracionais (linhagem e prestígio social) e o nepotismo e o filhotismo

imperavam, no sistema burocrático, a seleção de administrados é baseada em

critérios objetivos. A burocracia prestigia o profissional especialista.

Segundo Weber, o burocrata desenvolve um espírito de

“fidelidade ao cargo”. Essa identificação é impessoal. O administrador não se

identifica com o chefe, mas sim com os objetivos organizacionais. O funcionário

não tem grau de parentesco com a chefia, é, apenas, um membro da

organização.

Administrador é profissional e remunerado como tal: ao invés de

honrarias e títulos, o administrador recebe um salário em troca de seu trabalho.

O cargo por ele ocupado, em tese, deveria ser seu único meio de se sustentar.

18

Burocrata é nomeado por um superior hierárquico: é uma forma

de fortalecer a hierarquia do sistema, que realiza concursos de admissão e

prestigia a especialidade de diplomas.

Mandato do administrador é por tempo indefinido: não quer dizer

que o cargo seja vitalício. O funcionário pode ser promovido, despedido,

transferido, a qualquer tempo. E é isso que garante ao administrador a

obediência dos subordinados.

Carreira e aposentadoria: são direitos dos funcionários e o que

lhes possibilitam trabalhar com segurança e tranquilidade, focados nos

resultados do ofício.

Vê-se, dessa forma, que é possível descrever a burocracia por

meio das seguintes características: profissionalização, idéia de carreira,

hierarquia funcional, impessoalidade e formalismo.

Esse modelo, que, em tese, era extremamente eficiente no

combate à corrupção e ao nepotismo, se deteriorou. A preocupação com a

eficiência foi abandonada e o sistema de controles administrativos se tornou o

foco da burocracia. Com isso, nasceu a desconfiança nos administradores

públicos e nos administrados que a eles dirigiam demandas. À conta disso,

tornou-se necessária a implementação de controles rígidos na contratação de

pessoal, nas compras e no atendimento às demandas.

E foi dessa forma, voltado para si mesmo, que o Estado perdeu a

noção de sua missão básica de servir à sociedade. A grande qualidade dessa

escola de gestão, a efetividade no controle dos abusos, acabou por ensejar

seus principais defeitos: ineficiência, lentidão e incapacidade de enxergar o

cidadão como cliente.

19

1.3.1- Administração Pública Burocrática no Brasil

No Brasil, a Administração Pública Burocrática surgiu a partir da

década de 30, no governo de Getúlio Vargas. Ela nasceu num contexto de

aceleração da industrialização brasileira e se traduziu na criação das primeiras

carreiras burocráticas e na adoção do concurso como forma de acesso ao

serviço público.

Foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público

(DASP), em 1936, para comandar essa modernização da Administração

Pública. J. W. Granjeiro (2008) afirma que o referido departamento foi

responsável pela tentativa de implantação da escola burocrática aos moldes

weberianos, estruturada no princípio do mérito profissional. Apesar do esforço

da valorização do concurso público e do treinamento, não se conseguiu adotar

uma política eficiente de recursos humanos. Assim, o patrimonialismo, tão

temido e principal alvo de combate da burocracia, manteve sua influência no

quadro político brasileiro, sob as figuras do clientelismo e do fisiologismo.

Visando remediar as inadequações da instauração da burocracia

no país, foi empreendida uma série de reformas administrativas nos governos

subseqüentes ao de Vargas.

Publicado em 1967, o Decreto-Lei nº 200 constituiu uma reforma

administrativa em que se almejou a flexibilização da rigidez burocrática e pode

ser considerado o início da administração gerencial no Brasil. O mencionado

diploma legal, visando obter maior dinamismo e eficiência no serviço público,

transferiu várias atividades da administração direta para a indireta (autarquias,

fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista). Apesar disso,

não se obteve sucesso no âmbito da administração burocrática central,

possibilitando a coexistência de ilhas de eficiência e competência na

administração indireta e de núcleos de ineficiência na direta ou central.

20

Na década de 70, com a criação da Secretaria de Modernização

(SEMOR), e no início dos anos 80, com a criação do Programa Nacional de

Desburocratização (PrND), foram ensaiadas reformas da burocracia a ponto de

orientá-la na direção da administração pública gerencial, por meio da agilização

das organizações estatais, da descentralização da autoridade, da melhoria e

simplificação dos processos administrativos e da promoção da eficiência.

Com a redemocratização, em meados dos anos 80, todos esses

esforços orientados para a modernização da administração burocrática foram

deixados de lado e os partidos considerados vitoriosos realizaram nova política

populista de distribuição de cargos públicos. Em 1988, a Assembléia Nacional

Constituinte, visando coibir a proliferação de tais práticas, promoveu um grande

engessamento do aparelho estatal por intermédio da nova Constituição

Federal.

Somente a partir de 1994 é que o discurso de reforma

administrativa assume nova dimensão e introduz a perspectiva de mudança

organizacional e cultural da administração pública no sentido gerencial.

1.3 – Administração Pública Gerencial

O ex-ministro da Administração Federal e Reforma do Estado

durante o período 1995/1998, Luiz Carlos Bresser Pereira (1998) narra que a

Administração Pública Gerencial surgiu na segunda metade do século XX

como uma reação à ampliação das funções econômicas e sociais do Estado e

ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial. A

reforma do aparelho estatal passou a ser orientada pelos valores da eficiência

21

e qualidade na prestação de serviços públicos e pelo surgimento de uma

cultura gerencial nas organizações.

Esse novo regime de administração constitui um misto de

evolução e rompimento com a Administração Burocrática. Entretanto, os

princípios basilares do sistema anterior não são abandonados, passam por

uma fase de flexibilização. A diferença básica entre um e outro está na forma e

controle, que deixa de atuar sobre os processos para se concentrar nos

resultados.

A avaliação sistemática, a recompensa pelo desempenho e a

capacitação permanente, que são marca da boa administração burocrática, são

mantidas e somadas aos princípios da orientação para o cidadão-cliente, do

controle por resultados e da competição administrada.

Na Administração Gerencial, a estratégia voltou-se para três

pontos:

1 – definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir

em sua unidade;

2 – garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos,

materiais e financeiros que possibilitem atingir os objetivos contratados;

3 – controle e cobrança a posteriori dos resultados.

A inspiração da Administração Pública Gerencial é a

administração de empresas. No entanto, enquanto na segunda, o cliente é visto

como fonte de lucros e o que importa é o interesse dos acionsitas, na primeira,

a Gerencial, o cidadão é encarado como contribuinte de impostos e a

preocupação é com a satisfação do interesse público.

O interesse público, aqui, é diferente daquele existente na

burocracia. Ali, esse interesse é frequentemente identificado com a afirmação

do poder do Estado, as políticas públicas são relegadas a um segundo plano.

22

Essa visão do interesse público é negada pela Administração Gerencial, que o

relaciona com o interesse da coletividade e não com o aparato do Estado.

A preocupação com a qualidade no atendimento do já

mencionado interesse público fez com que, a exemplo do que ocorre na

administração de empresas, o setor público desenvolvesse ferramentas de

avaliação de desempenho do funcionalismo. E é sobre essa temática que

desenvolveremos no capítulo 2.

1.3.1 – Administração Pública Gerencial no Brasil

Como já dito anteriormente, o primeiro esforço brasileiro rumo à

reforma gerencial na Administração Pública foi o Decreto-Lei 200/67, que tinha

como objetivo o enfrentamento das limitações do modelo burocrático. O

referido decreto, que teve como ponto alto a descentralização por conta do

fortalecimento da administração indireta, cometeu o equívoco de não se

preocupar com os mecanismos de controle, o que enfraqueceu o núcleo central

do aparelho estatal responsável pela formulação das políticas públicas.

A promulgação da Constituição Federal de 1988, apesar de ter

representado uma grande vitória democrática para o povo brasileiro, constituiu

mais um retrocesso na tentativa de se reformar a Administração Pública.

Perdeu-se a cultura de gerenciamento por resultados.

A partir de 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso

promoveu nova estratégia para a reforma da administração pública brasileira. A

Secretaria de Administração Federal (SAF) foi transformada no Ministério da

Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), que se tornou o carro-

chefe dessas mudanças.

23

O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, elaborado

por Bresser Pereira (1995), tratou de sistematizar a estratégia de

enfrentamento das principais deficiências da Administração Pública brasileira,

perdida em meio a um cenário com forte presença burocrática e práticas

patrimonialistas. Essa estratégia visava atingir 5 objetivos:

1) Focalização da ação do Estado no cidadão: os problemas do

cidadão passam a ser o centro das atenções do Estado. Todo

esforço de reforma tem como objetivos melhorar a qualidade

da prestação dos serviços públicos;

2) Reorientação dos mecanismos de controle para resultados: os

controles deixam de ser a priori para serem a posteriori e

baseados em indicadores de resultados;

3) Flexibilidade administrativa: autonomia às instituições

suficiente para o atendimento das necessidades públicas com

agilidade, sem as amarras do sistema burocrático;

4) Controle Social: transparência. O objetivo é o resgate da

cidadania e a reorientação para resultados. Esse controle não

se restringe à dimensão interna, é voltado, propositadamente,

para a perspectiva de quem usa ou se beneficia dos serviços

públicos;

5) Valorização do servidor: estímulo da capacidade

empreendedora do corpo funcional, por intermédio do

destaque do espírito público de sua missão, visando o resgate

da auto-estima e o estabelecimento de relações profissionais

de trabalho.

24

Em 1998, novos avanços rumo à reforma gerencial. Esses

progressos se materializaram na Emenda Constitucional nº 19. O referido

diploma constitucional, dentre outras inovações, incluiu na Magna Carta a

eficiência como 5º princípio basilar da administração pública – os outros quatro

são, a saber: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade – e

flexibilizou o instituto da estabilidade no serviço público.

Uma das inovações da Emenda Constitucional 19/1998 foi a

flexibilização da estabilidade no serviço público. A estabilidade é um instituto

que foi criado na escola burocrática para combater a herança patrimonialista,

baseada na prática de troca de favores e na corrupção, que colocam em risco a

lisura dos atos do agente público. Ela se justifica pela indispensável postura

neutra e imparcial exigida do agente público no exercício das funções públicas.

O comportamento ético e escorreito do servidor e a fidelidade deste para com a

Administração Pública, sempre sujeito a pressões advindas de interesses

privados, é recompensado pela garantia de seu vínculo funcional com o

Estado.

Para adquirir a estabilidade, ao servidor público bastava, segundo

texto original da Constituição Federal de 1988, além da nomeação para

provimento de cargo efetivo em virtude de aprovação em concurso público, o

decurso do prazo de dois anos de efetivo exercício. A perda do cargo só

decorreria de sentença judicial transitada em julgado ou mediante processo

administrativo em que fosse assegurada a ampla defesa ao servidor.

A Emenda Constitucional 19/98, imbuída do espírito gerencial

reformador e preocupada com a eficiência na prestação dos serviços públicos,

alterou o prazo para aquisição da estabilidade, além de incluir uma terceira

hipótese de perda do cargo: a insuficiência de desempenho do servidor aferida

por avaliação periódica, tema dessa monografia.

A redação do artigo 41 da Constituição Federal/88 era assim:

25

Art. 41. São estáveis, após dois anos de efetivo exercício, os servidores

nomeados em virtude de concurso público.

§ 1º - O servidor público estável só perderá o cargo em virtude de

sentença judicial transitada em julgado ou mediante processo

administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa.

§ 2º - Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável,

será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga reconduzido ao

cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo

ou posto em disponibilidade.

§ 3º - Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade, o servidor

estável ficará em disponibilidade remunerada, até seu adequado

aproveitamento em outro cargo.

E passou a ser assim com Emenda Constitucional 19/1998:

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

26

A avaliação de desempenho como instrumento de aferição do

grau de eficiência dos servidores/colaboradores, surgiu na Administração de

Empresas, no ambiente competitivo da iniciativa privada. No capítulo que

segue serão apresentados a origem, o conceito e a evolução dessa ferramenta

de gestão que ainda não conseguiu ser plenamente explorada na

Administração Pública, tema do terceiro capítulo.

27

II – Avaliação de Desempenho (AD)

A Avaliação de Desempenho (AD) tem sua origem ligada à

Administração de Empresas. O presente capítulo trata, além da origem dessa

ferramenta administrativa, de seu conceito, objetivo, sua gestão e os fatores

que interferem num programa de avaliação de desempenho adotado por uma

instituição. Todos esses temas são abordados em tópicos próprios.

2.1 – Origem da Avaliação de Desempenho (AD)

Originariamente, na Administração, o termo desempenho estava

ligado ao funcionamento de máquinas e equipamentos, e era percebido como

um conjunto de características ou possibilidades de atuação. Essa era a visão

que a Escola Científica, a primeira da Teoria Geral da Administração (TGA),

tinha sobre esse assunto. Frederick W. Taylor (1901), principal nome da

aludida escola, demonstrou sua preocupação com a temática por intermédio de

seus estudos acerca da padronização de procedimentos e da mensuração de

cada movimento dos operários, de modo a aumentar a capacidade de

produção das organizações e facilitar o comando, coordenação e controle do

processo produtivo.

Henry Ford, seguidor de Taylor (1863/1947), foi um dos primeiros

empresários a implantar um sistema de premiação pelo desempenho de seus

28

empregados, por meio do pagamento de excelentes salários àqueles que mais

produziam. Ford acreditava que o homem era parte integrante da máquina e

era motivado somente por incentivos financeiros.

No início do século XX surgiu uma corrente teórica que visava a

humanização dos gerentes, tornando-os mais sensíveis em relação às

necessidades dos empregados. Esse movimento, que ficou conhecido como

Escola Humanística, ou Escola das Relações Humanas, voltou as atenções da

Administração da máquina para o homem e foi verificado que o incremento da

produção estava condicionado à satisfação do funcionário, que passou a ser

visto como membro da organização. A partir dessa mudança na forma de se

tratar os empregados, surgiram várias abordagens sobre como conhecer e

medir o potencial das pessoas.

Na abordagem neoclássica da administração, que evoluiu os

pensamentos de Taylor, surgiu a administração por objetivos como método de

avaliação e controle sobre o desempenho de áreas e setores das

organizações.

A avaliação de desempenho da administração por objetivos (APO)

constituiu um processo no qual o supervisor e o subordinado estabelecem

metas e prioridades comuns à organização e ao indivíduo, que tragam

correspondência com o traçado no planejamento estratégico da empresa. Daí,

faz-se necessário acompanhar continuamente o progresso das ações do

funcionário, analisar sistematicamente os resultados alcançados e elaborar

novas metas de forma constante.

29

2.2 – Conceito e objetivo da Avaliação de Desempenho

Segundo Chiavenato (2006), a avaliação ou administração de

desempenho é um método que, visa, continuamente, estabelecer um contrato

com os funcionários referente aos resultados desejados pela organização,

acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos, quando necessário, e

avaliar os resultados conseguidos.

Benedito Rodrigues Pontes (2005), em Avaliação de

Desempenho – Nova abordagem, traz um conceito bem alinhado ao

apresentado por Chiavenato:

A avaliação de desempenho é uma apreciação sistemática do

desempenho de cada pessoa no cargo e seu potencial de

desenvolvimento futuro.

Paul E. Spector (2006), em Psicologia nas Organizações, tenta

trazer à reflexão o motivo pelo qual se realiza a avaliação de desempenho na

maioria das grandes organizações, visto que se trata de uma tarefa demorada

e a maioria dos gerentes e subordinados não gosta de realizá-la:

A razão é que os dados sobre o desempenho no trabalho podem

beneficiar os funcionários e as organizações. Eles podem ser

utilizados para efeito de decisões administrativas,

desenvolvimento e feedback aos funcionários, e também na

pesquisa para determinar a eficiência das práticas e dos

procedimentos organizacionais.

A avaliação de desempenho corretamente aplicada traz uma série

de benefícios para a organização, para o avaliador e para o avaliado. Para a

primeira, garante o atingimento das metas estipuladas no planejamento

estratégico. Quanto ao responsável pela avaliação, ela lhe garante uma melhor

compreensão dos limites e das capacidades dos membros de sua equipe. E no

30

que tange ao subordinado, este adquire, por intermédio do feedback, auto-

conhecimento de seus pontos fortes e fracos e pode adotar ações para

melhorar continuamente seu desempenho, se necessário.

Vê-se, dessa forma, que a avaliação de desempenho tem como

objetivo comparar o resultado obtido com o resultado esperado, por intermédio

de processos constantes de acompanhamento e controle.

2.3 – A Avaliação de Desempenho e Gestão do Desempenho

O mercado globalizado e extremamente competitivo desafia as

organizações a alcançar metas cada vez mais ousadas. E é por conta disso

que a avaliação de desempenho tem tanta importância. É ela que oferece os

subsídios necessários para que se possa efetuar a gestão do desempenho.

Antônio Carlos Gil (2001) afirma que esse gerenciamento do

desempenho decorre do fato de o ser humano ser a fonte de vantagem

competitiva mais decisiva na atualidade. Lawler segue na mesma direção ao

registrar que as três fontes mais significativas de vantagem competitiva

esbarram na força da mão-de-obra humana: a estrutura organizacional, a

tecnologia e as pessoas. A primeira, apesar de se tratar de uma variável

institucional, é concebida pelo homem. A segunda, a tecnologia, embora seja

uma importante ferramenta dos negócios, depende das pessoas para garantir

sua plena utilização. Pessoas, portanto, são fontes decisivas para a obtenção

da excelência. Entretanto, somente a supervisão gerencial focada nos fatores

pessoais e organizacionais consegue atingir e sustentar patamares elevados

de qualidade, de forma a obter uma redução da discrepância entre o resultado

real e o esperado.

31

Ao se considerar que nem sempre o trabalho executado

corresponde às expectativas da organização, gerenciar o desempenho significa

avaliar a extensão da discrepância, identificar os fatos geradores desta

situação e, em seguida, intervir, tomando decisões para eliminar as variáveis

constituídas em fontes de problemas. A identificação eficiente da fonte da

defasagem de desempenho é fundamental à definição da solução mais

adequada. Um desempenho aquém do esperado nem sempre depende

exclusivamente da atuação do indivíduo avaliado.

2.4 – Fatores que interferem no Programa de Avaliação de

Desempenho

A aplicação bem-sucedida de métodos de avaliação de

desempenho é fundamental. Entretanto, as organizações adotam, em muitas

situações, métodos equivocados, que apregoam práticas são inócuas e

burocráticas.. Antônio Carlos Gil (2001) revela que a definição inadequada dos

objetivos, o pouco envolvimento da alta administração, o despreparo gerencial

para gerir pessoas, a avaliação assistemática, o baixo comprometimento da

liderança e a exclusão dos avaliados do processo de planejamento, são os

fatores que dificultam o alcance dos propósitos da avaliação de desempenho.

A Administração Pública, na aplicação da avaliação de

desempenho, encontrou, além das supracitadas, outras dificuldades, que serão

detalhadas no capítulo seguinte.

32

III – A Avaliação de Desempenho (AD) na Administração Pública

Como era de se esperar, a implantação de uma ferramenta de

gestão própria da iniciativa privada no serviço público enfrentaria uma série de

barreiras. Por se tratarem de ambientes totalmente diferentes, seja pelas

naturezas diversas dos universos envolvidos (privado e público); pelos

objetivos finalísticos de cada um (empresa privada visa o lucro como resultado

e a máquina pública objetiva a prestação de serviços públicos com qualidade);

ou por seus membros (empregados e servidores públicos) as dificuldades eram

previsíveis.

Este capítulo foi dividido em dois tópicos. O primeiro revela as

dificuldades encontradas na aplicação da AD na Administração Pública e o

segundo apresenta as possíveis soluções para tais dificuldades.

3.1 – A implantação da AD no serviço público e as dificuldades

enfrentadas

Dentro da concepção da Reforma Administrativa do aparelho

estatal, se esperava que um número menor de servidores permanentes

33

qualificados fossem mais efetivos do que um volume grande de servidores

permanentes mal remunerados e menos qualificados. A idéia era fazer mais,

com menos. Prestar mais e melhores serviços, com menos recursos humanos.

Com a finalidade de se obter mão-de-obra qualificada, era preciso

oferecer boas remunerações. A simples concessão aumentos no vencimento

básico provocaria enormes impactos fiscais, pois significaria conceder aumento

para um volume muito grande de servidores ativos e inativos. E não é o que se

pretendia. O que se queria era encontrar uma maneira de se valorizar alguns

cargos tidos como estratégicos. A avaliação de desempenho foi o instrumento

de gestão que possibilitou a valorização almejada. Para isso, promoveu-se

mudanças nas legislações de cargos e carreiras, de forma que a estrutura

remuneratória do serviço público se resumia basicamente em:

a) Uma parcela fixa, vinculada ao cargo efetivo;

b) Uma parcela variável, que depende dos desempenhos

institucional e individual.

O objetivo da avaliação de desempenho era de atrelar

desempenho e remuneração como forma de estimular a meritocracia no

serviço público. No esforço de se implantar esse modelo, o governo se deparou

com as seguintes dificuldades:

a) inexistência de uma cultura de avaliação – no serviço público

essa necessidade de se avaliar era inédita. Não existia esse costume na

administração patrimonialista, marcada pelo nepotismo e apadrinhamento, nem

na burocrática, que por sua rigidez não permitia a retribuição pecuniária de

forma diferenciada por ocupantes de cargos da mesma carreira.

34

Hodiernamente, o ranço patrimonialista ainda é observado. A

publicação pelo Supremo Tribunal Federal da Súmula Vinculante nº 13 / 2008,

que coíbe a prática do nepotismo na Administração Pública é um bom exemplo:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha

reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive,

da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa

jurídica investido em cargo de direção, chefia ou

assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou

de confiança ou, ainda, de função gratificada na

administração pública direta e indireta em qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, compreendido o ajuste mediante designações

recíprocas, viola a Constituição Federal.

Não só o nepotismo, como o paternalismo, outra marca

patrimonialista, e o alto grau de tolerância e condescendência, características

essas da burocracia “às avessas” implantada no país, contribuíram muito para

a inexistência da tradição avaliativa no serviço público. Como o aumento

salarial e a progressão funcional do avaliado estão diretamente atrelados às

menções obtidas na AD pelo servidor, o despreparo gerencial dos avaliadores,

preocupados em não serem vistos como carrascos no ambiente de trabalho,

compromete a lisura de todo o processo avaliativo.

b) Reduzido interesse e comprometimento dos níveis políticos

com a função de avaliação – isso ocorre porque, na prática, a melhoria de

desempenho demora a ter resultados palpáveis e a demanda política quando

surge requer soluções de curto prazo, até mesmo por conta do caráter de

temporalidade dos cargos políticos.

35

c) Insuficiência de pessoal qualificado para a tarefa de avaliar – à

conta da inexistência da cultura avaliativa e do reduzido interesse dos níveis

políticos, essa espécie de entrave à efetividade da aplicação da avaliação de

desempenho era esperado.

Paul E. Spector (2006) registra que é da natureza do ser humano

o julgamento seja imperfeito. Segundo ele, é comum que os avaliadores

pratiquem os denominados erro de efeito halo e erro de distribuição, que, aliás,

são bem comuns no serviço público. O primeiro, erro de efeito halo, ocorre

quando um avaliador atribui ao avaliado uma mesma menção em todos os

quesitos em que é avaliado, independente de sua performance em cada um.

Ou seja, se a pessoa é classificada como excelente em determinada área, o

mesmo acaba ocorrendo em outras áreas, mesmo que a pessoa apresente um

desempenho médio ou ruim. Já o erro de distribuição ocorre quando um

avaliador tende a classificar todas as pessoas da mesma forma,

independentemente da individualidade de cada um. Este erro pode se dar

numa dimensão favorável da escala de desempenho (erro decorrente de

tolerância), desfavorável (erro decorrente de severidade) ou mediana (erro de

tendência à intermediação).

Essas foram e são algumas barreiras encontradas na aplicação

da AD no serviço público. No próximo tópico serão abordadas algumas

possíveis soluções para que a AD seja aplicada na Administração Pública com

a mesma eficácia que se percebido na iniciativa privada.

3.2 – Possíveis soluções para as dificuldades encontradas na

aplicação da AD

Assim como numa organização privada é necessário o

envolvimento de toda a instituição na AD, desde a presidência até o mais

simples operário, na Administração Pública não deve ser diferente. Ocorre que

36

o universo a ser considerado no serviço público é infinitamente maior e

diversificado daquele vivido numa empresa particular.

É imprescindível que se realize um trabalho de conscientização

em todos os níveis do setor público, envolvendo a administração direta e a

indireta, com servidores e empregados públicos, acerca da importância de se

encarar com seriedade o sistema avaliativo. Faz-se necessário extirpar da AD

o rótulo de mecanismo de apuração para punição, como muitas vezes é

conhecida, e realizar uma aproximação dessa ferramenta administrativa com

os agentes públicos, explicando a importância da AD para a sociedade.

O apoio político dos representantes dos Três Poderes (Executivo

– Presidente da República, Legislativo – Presidente do Congresso Nacional e

Judiciário – Presidente do Supremo Tribunal Federal) é de extrema importância

para transmitir a relevância e seriedade do sistema de avaliação. Ademais, o

esforço de continuidade do compromisso, independente da troca de comando

nesses Poderes, é importante, pois um sistema de avaliação não pode ser

desenvolvido no curto prazo – em regra, é necessária uma década para instituir

um sistema sólido, desenvolver as competências necessárias e montar

estruturas e sistemas administrativos capazes de fazer uso pleno dos

resultados da avaliação.

A qualificação de pessoal responsável pela avaliação é outro

ponto que merece destaque. Como informado no tópico anterior, é de fácil

constatação no setor público o cometimento, por parte do avaliador, dos erros

de efeito halo e de distribuição na aplicação da AD. Isso pode ocorrer pela falta

de compromisso deste para com o processo avaliativo, pelo desconhecimento

técnico da aplicação da AD ou, ainda, pela rançosa herança de

condescendência e tolerância que muitas vezes permeia a relação existente

entre o avaliador e o avaliado.

O resgate da função planejamento é fundamental para que a AD

possa cumprir sua finalidade de promover a efetividade, eficácia e eficiência

37

das ações governamentais. Apenas por meio de um processo coordenado e

consistente de definição de diretrizes e prioridades serão vinculados metas e

objetivos a ações implementadas, as quais poderão ser alvo de avaliação

quanto aos seus meios e resultados.

Vale ressaltar que a avaliação de desempenho é um instrumento,

um meio, e não um fim em si mesmo, conforme alerta Bergamini (1983):

[...] adotar a avaliação e desempenho somente porque é

moda, seria desvirtuar-lhe a seriedade que merece.

Igualmente inoportuno seria usá-la para punir

irresponsáveis, demitir incapazes, aumentar lucros, reduzir

gastos com pessoal e assim por diante. É preciso ter em

mente que a avaliação em si caracteriza-se como um

simples instrumento. O valor que possa vir a lhe ser

creditado depende do uso que dela se faça. Como simples

instrumento ela não tem o poder de chegar a objetivo algum,

a não ser o de facilitar o diagnóstico daqueles fatores que

estejam dificultando ou mesmo impedindo o curso dos

acontecimentos até a chegada aos objetivos

organizacionais. Somente as medidas administrativas

posteriormente adotadas é que darão o verdadeiro sentido

de sua utilidade.

Essas são algumas soluções para fazer com que a AD seja

efetivamente implementada no serviço público, vencendo os obstáculos e

dificuldades a ela inicialmente impostos. São sugestões para que os resultados

aferidos nas avaliações de desempenho possibilitem a melhoria contínua da

qualidade dos serviços públicos oferecidos à sociedade.

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CONCLUSÃO

No decorrer desta monografia, por intermédio de estudos

bibliográficos, pesquisas em revistas e na internet, pôde-se entender o que é a

avaliação de desempenho e sua importância para a Administração Pública.

Buscou-se entender o significado de Administração Pública e as

fases pelas quais passou. Foram elencadas as principais características de

cada escola administrativa até se chegar à Escola Gerencial que foi a

responsável pela adoção da AD no setor público.

Restou demonstrado que o foco da Escola Gerencial de

Administração Pública é a qualidade na prestação de serviços públicos à

sociedade. Mas para isso, faz-se necessário saber o que se deve melhorar na

oferta desses serviços e como fazer isso. A AD pretende fornecer as respostas

para essas questões. Entretanto, diante a ausência de uma cultura avaliativa

no serviço público brasileiro e da presença rançosa de traços patrimonialistas,

encontrou-se uma série de obstáculos na implantação da AD.

As dificuldades iniciais na implantação dessa ferramenta de

gestão foram relacionadas e, por fim, apresentadas algumas soluções de como

possibilitar uma melhor aceitação desse instrumento pelos administrados e

administradores.

39

BIBLIOGRAFIA

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