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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
BULLYING NO COTIDIANO ESCOLAR E AS ATUAÇÕES DO
PSICOPEDAGOGO SOBRE ESSA REALIDADE
Por: Michelle de Jesus Temporim Monteiro da Silva
Orientador: Profª. Fabiane Muniz
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2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
BULLYING NO COTIDIANO ESCOLAR E AS ATUAÇÕES
DO PSICOPEDAGOGO SOBRE ESSA REALIDADE
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia Institucional
Por: Michelle de Jesus Temporim Monteiro da Silva
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter-me dado
forças quando pensava que não seria
capaz; e à minha família, por todo
apoio.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha avó
Nelcy, por todo amor e pelo apoio
financeiro que ofereceu em prol de
minha educação, desde a pré-escola
até hoje, na pós-graduação.
5
RESUMO
Observando a rotina das instituições escolares é possível visualizar
algumas dinâmicas no relacionamento interpessoal dos alunos.
Uma das situações que têm chamado a atenção de profissionais e de
estudiosos da educação nos últimos dez anos é o bullying.
Sendo caracterizado como violência física ou psicológica, regada a
palavras de deboche, insultos e\ ou agressão, o bullying pode levar suas
vítimas a sofrerem algumas consequências desastrosas tanto em curto, quanto
em médio e em longo prazo.
Por isso é imprescindível a atuação do psicopedagogo institucional.
Este profissional deve estar atualizado com as dinâmicas do bullying e
suas possíveis ramificações ou máscaras, além de estar atualizado com a
rotina escolar.
Ele precisa, para isso, conhecer e reconhecer a ascensão de novos
conceitos, sejam eles criados pela sociedade, ou pelos próprios alunos, e da
ascensão de novas tecnologias, incluindo a forma de uso que as crianças ou os
jovens fazem dela, instruindo-os como podem utilizá-las de uma forma segura
para si e para os outros.
Assim, é necessário que ele mantenha um diálogo coerente tanto com
os alunos quanto com suas famílias, o corpo docente e os funcionários da
escola, mantendo-os conscientes acerca do assunto.
Desta forma, em conjunto, o psicopedagogo pode criar atividades que
levem os alunos ao conhecimento do que pode ser caracterizado como uma
brincadeira e o que é violência, mostrando que a última, pode levar a sérias
consequências na vida das vítimas, dos agressores e dos espectadores.
Se o bullying já estiver ocorrendo no cotidiano escolar, o psicopedagogo
deve utilizar-se de atividades e ações para combatê-lo.
É de extrema urgência e importância que as instituições se valham do
trabalho do psicopedagogo para auxiliá-los a sanar problemas cotidianos, como
o bullying, de forma que não caiam no comodismo e se tornem normais e
aceitos.
6
METODOLOGIA
Esta monografia teve como base livros que tratam do Bullying no âmbito
escolar, assim como também periódicos da área da educação e sites da
Internet.
Também foram utilizados livros que retratam a rotina do ambiente
escolar, além de pesquisa exposta em site da Internet.
Os principais autores utilizados na pesquisa foram Ana Beatriz Barbosa
Silva, autora de “Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas”; Dr. Gustavo
Teixeira, autor de “Manual Antibullying para alunos, pais e professores”; Gabriel
Chalita, autor de “Bullying: O sofrimento das vítimas e dos agressores”; Jane
Middelton-Moz e Mary Lee Zawadski, autoras de “Bullying: Estratégias de
sobrevivência para crianças e adultos” e Cléo Fante e José Augusto pedra,
autores de “bullying Escolar: perguntas e respostas”.
7
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................08
Capítulo I - O Retrato do Bullying e do Ciberbullying .......................................10
1.1. Bullying ......................................................................................................11
1.2. Ciberbullying ..............................................................................................14
Capítulo II - Agentes Envolvidos no Bullying ....................................................17
2.1. O agressor .................................................................................................17
2.2. A vítima ......................................................................................................21
2.3. O espectador .............................................................................................23
2.4. Identificando a vítima de Bullying ..............................................................25
Capítulo III - Intervenções Psicopedagógicas sobre o Bullying ........................28
3.1. O psicopedagogo e a prevenção do Bullying ............................................31
3.2. Como o psicopedagogo pode tratar a ocorrência de bullying na escola ...36
Conclusão .........................................................................................................40
Anexos ..............................................................................................................42
Bibliografia ........................................................................................................45
8
INTRODUÇÃO
Atualmente a sociedade tem se deparado com situações de intolerância
sobre indivíduos que de alguma forma estão à margem das normas de conduta
ditadas pela mesma. Esses indivíduos sejam eles negros, pobres,
homossexuais, mulheres, idosos e etc., são alvos constantes de violência física
e moral.
Na sociedade escolar não tem sido diferente. É crescente o fenômeno
de rejeição e agressão àqueles indivíduos que não correspondem ao padrão
exigido por alguns.
Xingamentos, desmoralização da imagem e violência física são algumas
das situações vividas por crianças e jovens marginalizadas nas escolas em
todo mundo.
A essa situação de violência escolar dá-se o nome de bullying.
Desta forma, o tema desta monografia é a ocorrência do bullying no
ambiente escolar; suas nuances, os indivíduos envolvidos, e possíveis
conseqüências causadas pelo mesmo.
Também serão retratadas neste trabalho possíveis medidas a serem
utilizadas pelo psicopedagogo e pela sociedade escolar na intenção de
desmistificar o tema, buscando alternativas para a inibição da ocorrência de
bullying, e quando possível, sua eliminação no ambiente educacional.
Este estudo é de grande relevância, visto que, apesar de ser um tema já
recorrente no ambiente escolar desde sua fundação como instituição, tem tido
grande visibilidade atualmente, uma vez que consequências do bullying têm
surgido nos noticiários do mundo ocidental, explicitando que alunos vítimas de
bullying têm se voltado contra colegas de escola de forma violenta, chegando a
matar, na intenção de se vingar de todo mal sofrido.
Deste modo são, portanto, objetivos desta monografia retratar o bullying,
os agentes envolvidos e possíveis consequências sofridas por cada um;
pesquisar algumas alternativas de intervenção no processo de bullying cabíveis
ao trabalho do psicopedagogo na instituição escolar e apresentar
possibilidades de prevenção e combate ao mesmo.
9
Utilizando-se dessas premissas, este trabalho é dividido em três
capítulos.
No primeiro capítulo é tratado o bullying, uma possível causa para seu
surgimento e sua abrangência nas escolas brasileiras.
Também é dissertado quanto ao ciberbullying; suas abrangências e as
consequências sofridas pela vítima.
O segundo capítulo trata os envolvidos no fenômeno e o campo de
atuação de cada um.
E no terceiro capítulo trata-se as atitudes que um psicopedagogo deve
ter em relação à ocorrência de bullying nas escolas, bem como sugestões
viáveis para trabalhar a prevenção e a inibição de tal fenômeno no ambiente
escolar.
10
CAPÍTULO I
O RETRATO DO BULLYING E DO CIBERBULLYING
Neste capítulo trataremos do bullying e do ciberbullying em um
panorama geral: o que são, como ocorrem, e sua incidência nas escolas
brasileiras.
O século XXI teve início com o advento de grandes tecnologias e
modernidades que transformaram toda a dinâmica de vida e de valores da
sociedade ocidental.
Os Computadores, a telefonia celular, a ascensão de negócios
globalizados e o fato de as informações serem produzidas, reproduzidas e
transmitidas a cada segundo por todo o mundo são algumas das condições às
quais os indivíduos tiveram que se adequar.
Abaixo há o relato de Aranha sobre o processo de modernidade, que
pode ser também um vislumbre da atualidade.
“Podemos dizer que essas mudanças provocam uma crise singular,
sendo as dificuldades enfrentadas pelos adolescentes diferentes dos conflitos
de gerações de outros tempos. Ou seja, poucas vezes na história os homens
se defrontaram com uma Crise de paradigma”.
“Um paradigma é um modelo, um conjunto de idéias e valores capaz de
situar os membros de uma comunidade em determinado contexto, de maneira
a possibilitar a compreensão da realidade e a atuação a partir de valores
comuns”.(Aranha, 1996, p.235)
A partir dessa crise de paradigma pode-se observar a ascensão do
bullying como consequência, uma vez que dela provém uma fragilidade no que
diz respeito aos conceitos e valores atualmente.
11
1.1. Bullying
O registro de todo tipo de agressão e violência na escola entre alunos e
professores e entre alunos e alunos é comum de ser encontrado em relatos de
pessoas que estudaram desde 50 anos atrás, como em relatos de jovens e
crianças que estão em fase escolar atualmente.
Porém, atualmente, esse fato tem sido motivo de grande preocupação
por parte das instituições escolares e da família, visto que tem trazido grandes
prejuízos à vida das vítimas e dos agressores.
O fenômeno de violência narrado acima é chamado de bullying.
“A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De
origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar
comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de
meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões, os
assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados de maneira recorrente e
intencional por parte dos agressores”. (Silva, 2010, p.21).
Mas, como identificar o bullying? É possível que um desentendimento
entre alunos seja apenas uma brincadeira de mau gosto, uma simples
implicância entre crianças e jovens, coisas da idade, e não bullying? Para
responder a essas perguntas, é necessário conhecer o conceito de bullying e
aplicá-lo à situação problema observada.
“Nas escolas, é um fenômeno complexo, muitas vezes banalizado e
confundido com agressão e indisciplina. Exige observação atenta e presença
constante, pois, normalmente, as vítimas são aterrorizadas em áreas da escola
com pouca ou nenhuma supervisão. Estratégia premeditada, que contribui para
que a vítima seja desacreditada. Ou que a ação desencoraje a vítima a falar da
dor a outrem, ou que se passe muito tempo até que alguém perceba”.( Chalita,
2008, p. 81)
O bullying pode ser caracterizado como um tipo de agressão verbal,
moral ou física, sofrida por aqueles que não se encaixam nos estereótipos
criados no meio social em que vivem ou convivem, particularmente, no caso
deste trabalho, a escola.
12
“O bullying não é simplesmente, como muitos minimizam, um
comentário ácido ocasional feito por uma pessoa próxima na mesa do café da
manhã, um dia ruim com o chefe, crianças brigando com outras enquanto
brincam, aprender as duras lições da rivalidade entre irmãos ou a solução de
conflitos com colegas. É a crueldade freqüente e sistemática, voltada
deliberadamente a alguém, por parte de uma ou mais pessoas, com a intenção
de obter poder sobre o outro ou infligir regularmente sofrimento psicológico e/
ou físico.”( Middelton-Moz; Zawadski, 2007, p. 20).
As agressões verbais, que põe dúvidas quanto à integridade moral dos
indivíduos, ou as agressões físicas, sendo ambas infringidas por um curto
período de tempo, ou por um longo período, podem ser diagnosticadas por
bullying.
Conforme destacam os autores Fante e Pedra, são inúmeras ações que
caracterizam o bullying, entre elas: “apelidar, ofender, “zoar”,“sacanear”,
humilhar, intimidar, “encarnar”, constranger, discriminar, aterrorizar,
amedrontar, tiranizar, excluir, isolar, perseguir, chantagear, assediar, ameaçar,
difamar, insinuar, agredir, bater, chutar, empurrar, derrubar, ferir, esconder,
quebrar, furtar, roubar pertences.” (Fante; Pedra, 2008, p. 36)
E ainda, “trata-se de uma dinâmica psicossocial expansiva que envolve
um número cada vez maior de crianças e adolescentes, meninos e meninas, à
medida que muitas vítimas reproduzem a vitimização contra outros. É um
problema epidêmico, específico e destrutivo, motivo pelo qual deve ser
considerado questão de saúde pública. Portanto, requer esforços,
investimentos e ações estratégicas conjuntas, por parte de toda a comunidade
escolar e das autoridades competentes ligadas à educação, à saúde e à
segurança pública, por meio de programas preventivos e assistenciais”. (Fante;
Pedra, 2008, p.33).
Crianças e jovens são vítimas de bullying nas escolas por não estarem
de acordo com os padrões de beleza, instrução, razão social ou intelecto,
padrões esses ditados por um grupo distinto de alunos, que desmoralizam
qualquer tipo de comportamento que não os agrade. Portanto, é importante
deixar explícito que as atitudes de agressores contra alguns estudantes,
13
geralmente não apresentam motivações específicas ou justificáveis, de acordo
com Silva (2010).
Em meio à dificuldade da escola em diagnosticar e trabalhar o tema, e
da urgente necessidade de novas políticas públicas a respeito, diversas
organizações não governamentais estão se mobilizando em pesquisas e
estudos sobre o bullying.
Uma delas é a ONG Plan. Uma organização não governamental inglesa
que atua no Brasil há 70 anos, em defesa dos direitos de crianças e
adolescentes. Ela realizou em 2009 a pesquisa “Bullying no Ambiente Escolar”,
por todo o Brasil a fim de diagnosticar a incidência de bullying nas cinco
regiões brasileiras.
5.168 alunos responderam ao questionário. Também foram envolvidos
na pesquisa pais e responsáveis, e profissionais da educação.
De acordo com os dados obtidos pela pesquisa, ficou claro que os
jovens com idade entre 11 e 15 anos e os alunos da 6ª série são as que mais
sofrem ou provocam agressões nas instituições escolares.
Entre as razões para as agressões citadas por eles, está a necessidade
de afirmação entre os colegas, assim como o ganho de popularidade.
Além disso, não estão claros para eles quais são os limites entre
brincadeiras, agressões verbais e maus-tratos.
A pesquisa também levantou o dado de que tanto no bullying quanto no
ciberbullying as vítimas têm tendência a não revidarem, e elas tendem à
evasão escolar.
Também ficou salientado pelo resultado da pesquisa que as escolas
brasileiras não estão preparadas para tratar ou sanar esse mal, necessitando
de novas políticas de prevenção e erradicação.
“A violência é um fenômeno relevante nas escolas brasileiras: cerca de
70% dos alunos pesquisados informam ter visto, pelo menos uma vez, um
colega ser maltratado no ambiente escolar no ano de 2009. Quase 9% dos
alunos afirmam ter visto colegas serem maltratados várias vezes por semana e
outros 10%, que vêem esse tipo de cena todos os dias. Ou seja, cerca de 20%
dos alunos presencia atos de violência dentro da escola com uma frequência
14
muito alta, o que é um indício de que o bullying está presente
significativamente nas escolas investigadas.”
(WWW.campanhaeducacao.org.br 2009).
Há gráficos em anexo, que demonstram a ocorrência do bullying nas
regiões brasileiras e nas séries do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano.
É importante perceber que o bullying não se faz presente apenas em
escolas da rede pública de ensino, em localidades pobres ou países
subdesenvolvidos ou estados pobres. O bullying pode estar em todo e em
qualquer lugar. Pode ser visto diagnosticado em turmas de ensino fundamental
a médio, e ainda universitário. Seus agressores podem ter famílias
desestruturadas ou não, como pode ser certificado a partir dos trechos a
seguir:
“O fenômeno bullying não escolhe classe social ou econômica, escola
pública, privada, ensino fundamental ou médio, área rural ou urbana. Está
presente em grupos de crianças e de jovens, em escolas de pises e culturas
diferentes”.(Chalita, 2008, p. 81).
1.2. Ciberbullying
Como foi tratado no início deste capítulo, atualmente as informações têm
sido geradas e transmitidas em uma velocidade extraordinária, de forma
globalizada, e a ainda vêm se tornando visíveis a todos por meio do uso da
informatização.
“A que se atribui o surgimento do ciberbullying? Ao desenvolvimento e
aprimoramento dos recursos tecnológicos de comunicação e informação,
especialmente da Internet e dos telefones móveis, aliados ao despreparo ético
dos usuários em relação ao uso responsável desses recursos, ancorado no
anonimato e na certeza de impunidade, o que converteu o fenômeno num
problema social”.(Fante; Pedra, 2008, p. 66).
15
Daí surge o ciberbullying, uma ramificação do fenômeno de bullying, que
utiliza como ferramenta de coação e humilhação a tecnologia da internet e do
celular.
Com o ciberbullying a dinâmica de agressões toma maior visibilidade.
Sua abrangência não pode ser calculada, assim como suas
consequências.
“Na internet e no celular, mensagens com imagens e comentários
depreciativos se alastram rapidamente e tornam o bullying ainda mais
perverso. Como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a
vítima se sente acuada mesmo fora da escola. E o que é pior: muitas vezes,
ela não sabe de quem se defender”.(Santomauro, 2010, p.67).
No espaço virtual as provocações, os xingamentos e as agressões
verbais ocorrem sem que haja um remetente identificado, o que implica que, no
ciberbullying, os agressores se escondem por trás do completo anonimato.
“E-mails ameaçadores, mensagens negativas em sites de
relacionamento e torpedos com fotos e textos constrangedores para a vítima
foram batizados de ciberbullying. Aqui, no Brasil, vem aumentando
rapidamente o número de casos de violência desse tipo”.(Santomauro, 2010,
p.68).
Ainda, segundo Teixeira (2011), ainda com a intenção de denegrir,
ofender, humilhar e difamar, o ciberbullying se dá com a criação de sites, por
meio de bate-papos, e-mails , fóruns de discussão, como blogs e sites de
relacionamento, postagens de vídeos e fotos, de modo que fiquem visíveis a
todo mundo e a impersonalização, quando o ciberbully, o autor das ofensas,
invade contas de e-mail ou de redes sociais de sua vítima, ou vítimas, e se
passando por elas, envia mensagens a terceiros, parecendo ter sido a própria
vítima quem os enviou, fazendo-a passar por situações constrangedoras.
Diante do grande aumento na ocorrência do ciberbullying é que a
instituição escolar deve estar atualizada com as novas tecnologias e suas
abrangências.
O professor, o pedagogo, o psicopedagogo e tantos outros funcionários
da escola devem conhecer as possibilidades assumidas pela tecnologia.
16
Devem estar cientes de que seus alunos provavelmente fazem uso dela,
seja para momentos de lazer, seja em momentos em que queiram humilhar
alguém.
Estar em sintonia com os alunos e as particularidades da fase de vida
pela qual estão passando e conquistar um diálogo aberto são duas formas de
conhecê-los e aos seus interesses. Assim, será mais fácil entender a dinâmica
no uso da tecnologia, assim como as famílias.
O ciberbullying se tornou uma ferramenta poderosa para os agressores,
pois torna muito difícil identificar o autor ou os autores das agressões, que aqui
são verbais ou visuais, com fotos ou imagens que representem seu ponto de
vista sobre a vítima, que por sua vez agora já não sabe de quem se defender e
não encontra mais lugar seguro para si.
Sofrendo a violência de forma virtual, as agressões agora ultrapassam
os muros da escola e vão aonde quer que ele esteja e tenha acesso à internet.
Ou ainda mensagens e fotos podem chegar ao seu celular, ao de colega e até
de desconhecidos sem que tenha alguma forma de se defender ou se
esconder.
“No espaço virtual, os xingamentos e as provocações estão
permanentemente atormentando as vítimas. Antes, o constrangimento ficava
restrito aos momentos de convívio dentro da escola. Agora é o tempo
todo”.(Santomauro, 2010, p.68).
O agressor atua com o anonimato criando perfis falsos em sites de
relacionamentos, produzindo e reproduzindo informações preconceituosas e
mentirosas, e há a possibilidade de invadir a conta de e-mail de sua vítima para
atacá-la.
“Os praticantes de ciberbullying ou”bullying virtual” utilizam, na sua
prática, os mais atuais e modernos instrumentos da internet e de outros
avanços tecnológicos na área de informação e da comunicação (fixa ou móvel),
com o covarde intuito de constranger, humilhar e maltratar suas vítimas.” (Silva,
2010, p.126).
17
CAPÍTULO II
AGENTES ENVOLVIDOS NO BULLYING
Este capítulo trará informações a respeito dos agentes envolvidos no
bullying. Será tratado quem são o agressor, a vítima e o espectador e suas
atuações.
É a partir da percepção de que há fragilidade nos conceitos que regem a
moralidade e dos valores da sociedade atual, demonstrada anteriormente, é
possível compreender que a juventude – incluem-se crianças, adolescentes e
jovens – passa por situações propícias a cometer e sofrer atos de violência
vindos de seus “iguais”.
A seguir estão desmascarados os envolvidos no processo de bullying:
2.1. O agressor
No que se refere ao bullying e ao ciberbullying, O sujeito valente (que
pode tanto ser do sexo feminino quanto do masculino) e destemido, que impõe
respeito em seu meio social a partir do medo e de agressões verbais, morais e/
ou físicas, é conhecido como bullie, ciberbullie (se os atos violentos envolverem
os meios tecnológicos de comunicação) ou apenas, agressor.
Assim, o agressor no bullying é caracterizado como quem causa algum
tipo de violência sobre outra pessoa. Ele é o indivíduo conhecido como o
valentão da turma ou da escola, cheio de autoconfiança e auto-suficiência e
usa-se de sua capacidade de persuasão para ofender, humilhar e/ ou ferir sua
vítima e angariar apoio de seus espectadores. Uma boa forma de definir essa
peça-chave do bullying foi feita por Teixeira:
“Os autores de bullying, também chamados de bullies ou agressores,
apresentam características peculiares de comportamento, como uma
agressividade e impulsividade mais exacerbada do que a maioria dos outros
estudantes e um desejo de dominar, humilhar e subjugar os demais. Eles são
18
fisicamente mais fortes e suas posturas de confronto e desafio podem ser
também identificadas contra pais, professores e outros adultos.
Os bullies se julgam superiores e, diferentemente do que acredita o
senso comum, não possuem baixa autoestima, normalmente são muito
autoconfiantes e podem ser considerados populares por muitos estudantes.
São também mais habilidosos socialmente, isto é, mais comunicativos, mais
falantes e mais extrovertidos, principalmente quando o comportamento bullying
se desenvolve nos últimos anos do ensino fundamental e durante o ensino
médio. Dessa forma, possuem um poder maior de liderança e são mais aptos
para realizar a manipulação de alguns colegas contra outro, por exemplo.” (
Teixeira, 2011, p. 31).
Assim, o agressor é um sujeito que se vale de seu potencial de
superioridade, força ou poder sobre os demais, a fim de coagir, insultar e
agredir aqueles que não merecem seu respeito, por não se encaixarem em
padrões estabelecidos muitas vezes, por si mesmo.
A agressão que imprimi contra sua vítima não é justificável, sendo em
todos os casos atos covardes contra um oponente que visivelmente está em
desvantagem.
De acordo com Silva (2010, p. 43), [os agressores] “podem ser de
ambos os sexos. Possuem em sua personalidade traços de desrespeito e
maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um
perigoso poder de liderança que, em geral, é obtido ou legitimado através da
força física ou de intenso assédio psicológico. O agressor pode agir sozinho ou
em grupo. Quando ele está acompanhado de seus “seguidores”, seu poder de
“destruição” ganha reforço exponencial o que amplia seu território de ação e
sua capacidade de produzir mais e novas vítimas.”
O agressor usa de atos de humilhação para sobressair no grupo,
causando medo naqueles que estão à sua volta, na expectativa, de que se
houver oposição às suas ações, o opositor pode se tornar sua próxima vítima.
Assim ele conquista seguidores e espectadores. Em resumo, o agressor busca
se auto-afirmar a partir da ofensa ao outro.
19
“[O agressor] Atinge o colega com repetidas humilhações ou
depreciações porque quer ser mais popular, se sentir poderoso e obter uma
boa imagem de sis mesmo. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua
raiva em diálogo, e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele
deixar de agir. Pelo contrário, se sente satisfeito com a reação do agredido,
supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade sofrida pela
vítima”.(Santomauro, 2010, p.71).
A sociedade é um ponto importante de atuação do agressor no
fenômeno bullying, uma vez que também pode ser uma grande incentivadora e
auxiliadora para que suas investidas tenham sucesso.
É importante salientar que atualmente, em nossa sociedade, pessoas
agressivas e seus atos são, muitas vezes considerados como atos de
heroísmo, fato que corrobora com a atuação do agressor, ou bullie.
“Em uma sociedade em que bullies e pessoas agressivas são
consideradas heróis, pode haver problemas sérios. Atualmente, pessoas que
estão na prisão e assassinaram, agrediram, mutilaram, roubaram e
traumatizaram suas vítimas recebem correspondência de admiradores, dão
entrevistas em cadeia nacional de televisão e nos olham através de capas de
revistas. Filmes violentos, como atração fatal, Dormindo com o inimigo, A
guerra dos Roses e Instinto Selvagem, rendem milhões de dólares.
Personalidades da televisão, rappers, estrelas do rock, lendas do esporte e
figuras políticas que apresentam comportamento controlador, abusivo e
marcado por bullying são defendidas e, muitas vezes, protegidas das
consequências. Isso pode fortalecer as crenças distorcidas dos bullies, de que
o abuso é aceitável. Os “heróis” da mídia, que recebem recompensas em lugar
de sofrer consequências por um comportamento inaceitável, também deixam
uma impressão nas crianças que assistem, escutam e encenam suas fantasias
em brincadeiras por todo país.” ( Middelton-Moz; Zawadski, 2007, p. 125).
Assim, cabe à sociedade, em todas as suas instâncias e instituições –
família, governo, escolas, etc...– criar uma educação de respeito e paz, que
vise a valorização do que é correto e honesto, desmistificando a superioridade
e o poder de criminosos e mentes violentas.
20
Ainda é importante ressaltar que, enquanto autor de violência contra
crianças e jovens, o agressor pode se tornar um adulto com problemas e
transtornos, por falta de orientação durante sua juventude como bullie, ou por
orientação inadequada, ineficaz.
“Os autores muitas vezes se envolvem em situações anti-sociais de
risco, com drogas, álcool, tabaco e brigas. Apesar de não haver estudos
conclusivos, cogita-se a possibilidade de que esses valentões, quando não
orientados e supervisionados adequadamente, tornem-se adultos com
comportamentos violentos e até mesmo criminosos”.(Chalita, 2008, p. 86)
Assim, é de grande importância e urgência que os agressores no
bullying sejam devidamente punidos por seus atos, e recebam uma série de
orientações, para que encontrem meios de controlar seus impulsos, visando
um melhor estilo de vida no presente, enquanto ainda criança ou jovem, e na
fase adulta, como ressalta Silva:
“Tanto os adolescentes que se expressam de forma reativa (com
frenquentes atitudes agressivas) quanto os que agem passivamente (com
comportamentos submissos) apresentam problemas disfuncionais, que podem
gerar sofrimentos para si mesmos ou para os que fazem parte de seu círculo
de com vivência.
As “ferramentas” que os adultos devem utilizar para intervir, evitando as
consequências mais dramáticas nessa difícil fase de transição para a vida
adulta, são: o estímulo ao diálogo, a escuta atenta a empática, a construção de
vínculos afetivos fortes, o desenvolvimento de uma reflexão crítica, o incentivo
à participação familiar escolar, a orientação para a responsabilização por si
mesmos e pelos outros, a criação e a implementação de regras e o
estabelecimento precoce (desde os primeiros anos de vida) de limites muito
bem definidos “. ( Silva, 2010, p. 68)
Sendo assim, é importante que o agente agressor no bullying, sendo
este menino ou menina, seja desmascarado, descoberto. Uma vez
diagnosticados os seus atos e sua vítima, ou vítimas, bem como as
humilhações pelas quais ela passou, ou os atos violentos que sofreu, deve ele
arcar com as responsabilidades e consequências que seus atos produziram, de
21
forma que entenda que suas ações não podem ser consideradas como simples
brincadeiras mal interpretadas por suas vítimas, já que tanto no bullying quanto
no ciberbullying, há realmente a intenção de ferir, humilhar, ofender ou denegrir
a imagem de sua vítima.
2.2. A vítima
Em um fenômeno tão destrutivo e degradante como é o bullying, é
extremamente importante que se [re]conheça o sujeito que sofre toda a
humilhação e violência, a vítima.
Aquele que sofre abusos e humilhações, seguidos ou não de violência
física , por parte do valentão, do agressor, é identificado como a vítima de
bullying.
A vítima de bullying é um indivíduo escolhido a partir de suas condições
aparentes de não estar de acordo com as exigências impostas por seus
agressores.
Essas condições podem variar entre físicas - altura, peso, etc.;
intelectuais – os conhecidos como cdf’s, por exemplo; e até sociais – os alunos
provenientes de classes sociais de baixa renda.
“As vítima típicas são aqueles que apresentam pouca habilidade de
socialização, são retraídos ou tímidos e não dispõem de recursos, status ou
habilidades para reagir ou fazer cessar as condutas agressivas contra si.
Geralmente apresentam aspecto físico mais frágil ou algum traço ou
características que as diferencia dos demais. Demonstram insegurança,
coordenação motora pouco desenvolvida, extrema sensibilidade, passividade,
submissão, baixa auto-estima, dificuldade de auto-afirmação e de auto-
expressão, ansiedade, irritação e aspectos depressivos.” ( Fante; Pedra, 2008,
p. 59).
Além disso, as vítimas em potencial são aquelas que possuem poucos
amigos ou colegas na escola. São solitários e evitam participar de trabalhos
escolares ou de atividades esportivas em grupo.
22
“As vítimas típicas são alunos que apresentam pouca habilidade de
socialização. Em geral são tímidas ou reservadas, e não conseguem reagir aos
comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra elas. Normalmente
são mais frágeis fisicamente, ou apresentam alguma marca que as destaca da
maioria dos alunos...” (Silva, 2010, p. 37-38).
Há também outros tipos de vítimas, além das vítimas típicas,
caracterizadas acima; são elas a vítima provocadora e a vítima agressora.
A vítima provocadora é a criança ou o jovem que chama atenção para si
mesmo provocando o agressor, agindo com imaturidade, pois não tem forças
suficientes para vencê-lo.
Segundo Fante e Pedra, as vítimas provocadoras “São aqueles alunos
que agem impulsivamente, provocando os colegas e atraindo contra si reações
agressivas, contra as quais não conseguem lidar com eficiência. Por isso,
acabam vitimizados. Geralmente, são imaturos, apresentam comportamento
dispersivo e dificuldade de concentração. Alguns podem ser hiperativos,
possuem “gênio ruim”, agem de maneira provocadora aos colegas e
respondem de maneira ineficaz quando, em contrapartida, são atacados e
insultados.” ( Fante; Pedra, 2008, p. 60).
“As vítimas denominadas provocadoras são aquelas capazes de insuflar
em seus colegas reações agressivas contra si mesmas. No entanto, não
conseguem responder aos revides de forma satisfatória. Elas, em geral,
discutem, ou brigam quando são atacadas ou insultadas.” (Silva, 2010, p. 40).
Já as vítimas agressoras são aquelas que reproduzem os atos violentos
que sofre, fazendo então, tanto o papel de vítima como o de agressor,
transmitindo sofrimento agora a outras crianças ou jovens, sistematicamente
mais “fracos” que eles.
“Quem são as vítimas agressoras? São aqueles que são ou foram
vitimizados e que acabaram reproduzindo os maus tratos sofridos.” (Fante;
Pedra, 2008, p. 60).
“A vítima agressora faz valer os velhos ditos populares “Bateu, Levou”
ou “Tudo que vem tem volta”. Ela produz os maus tratos sofridos como forma
de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e
23
vulnerável, e comete contra esta todas as agressões sofridas. Isso aciona o
efeito “cascata” ou de círculo vicioso, que transforma o bullying em um
problema de difícil controle e que ganha proporções infelizes de epidemia
mundial de ameaça á saúde pública.” ( Silva, 2010, p.42).
As crianças e os jovens que sofrem bullying têm tendência a adquirirem
transtornos e doenças psicológicas e/ ou físicas, como fobias, podem até
adoecer fisicamente.
De acordo com Silva (2010), as vítimas podem sofrer com transtorno do
pânico, fobia escolar, fobia social, depressão, anorexia e bulimia, entre outros.
Muitas vezes sua vida toma uma conotação de extremo sofrimento e
depressão, precisando receber acompanhamento especializado.
É extremamente importante que o indivíduo vítima de bullying seja
acompanhado pela família e por um psicopedagogo na escola, recebendo
também apoio dos professores, na tentativa de diagnosticar e trabalhar sobre
todo o processo de sofrimento e depressão pelo qual esteja passando.
2.3. O espectador
Para que o agressor seja bem sucedido em seu intento de humilhação e
violência, regados à covardia, é necessário não só uma vítima, mas também
pessoas que estejam por perto, assistindo ou recebendo e-mails e mensagens
de celular para que saibam do que ele - o agressor - é capaz. Essa peça
importante no fenômeno de bullying é o espectador.
Espectador é o indivíduo que assiste, sem interferir positivamente em
favor da vítima de bullying ou de ciberbullying.
Normalmente se esquiva de defender a vítima, e até usa palavras de
ordem ou risadas para incentivar os agressores. Esse apoio acontece por
terem medo de se tornarem as próximas vítimas.
“Os espectadores representam a maioria dos alunos de uma escola.
Eles não sofrem nem praticam bullying, mas sofrem as suas consequências,
por presenciarem constantemente as situações de constrangimento
vivenciadas pelas vítimas. Muitos espectadores repudiam as ações dos
24
agressores, mas nada fazem para intervir. Outros as apóiam e incentivam
dando risadas, consentindo com as agressões. Outros fingem se divertir com o
sofrimento das vítimas, como estratégia de defesa. Esse comportamento é
adotado como forma de proteção, pois temem tornar-se a próxima vítima.”
(Fante; Pedra, 2008, p. 61).
Teixeira (2011) descreve os indivíduos que estão à margem do bullying,
observando, como testemunhas. Sobre esse personagem, ele descreve:
“As testemunhas são alunos que não se enquadram nem entre os
autores, nem entre os alvos do bullying, entretanto, convivem diariamente com
o medo de se tornarem as próximas vítimas das agressões. Uma vez que os
índices estimados de agressores e vítimas de bullying giram em torno de trinta
por cento dos estudantes, podemos concluir que as testemunhas representam
a grande maioria de alunos que convivem como espectadores de toda essa
violência na escola.” (Teixeira, 2011, p.37).
Há, ainda, de acordo com Silva (2010), três tipos de espectadores: os
passivos, os ativos e os neutros.
“Em geral, os telespectadores passivos assumem essa postura por
medo absoluto de se tornarem a próxima vítima. Recebem ameaças explícitas
ou veladas do tipo: “fique na sua, caso contrário a gente vai atrás de você.””
(Silva, 2010, P.45).
Quanto aos espectadores ativos, ela discorre que: “Estão inclusos nesse
grupo os alunos que, apesar de não participarem ativamente dos ataques
contra as vítimas, manifestam “apoio moral” aos agressores, com risadas e
palavras de incentivo.” (Silva, 2010, p.46).
Já os espectadores neutros são aqueles que por alguma razão cultural
ou social, decorrente da situação familiar em que vive, ou da visão de mundo
que lhe é dada, não se incomoda com as situações de bullying que presencia
ou tem conhecimento. (Silva, 2010).
Fica claro que independente da postura que toma, sendo ativo, passivo
ou neutro, o espectador tem sua parcela de responsabilidade sobre o bullying
ou o ciberbullying e precisa ser identificado e posteriormente orientado frente
sua submissão diante violências e insultos. O fato dele não tomar partido da
25
vítima, tentando defendê-la, o leva a estar ao lado do agressor, e de certa
forma “tomando partido dele”. Não há possibilidade de enxergar os
espectadores, ou testemunhas, como não tendo uma parcela de culpa, uma
vez que suas risadas ou gritos de incentivo fortalecem o poder do agressor.
Assim como seu possível silêncio diante de atos violentos, legitima as
agressões e os agressores.
“Seja lá como for, os espectadores, em sua grande maioria, se omitem
em face aos ataques de bullying. Vale a pena ressaltar que a omissão, nesses
casos, também se configura em uma ação imoral e/ ou criminosa, tal qual a
omissão de socorro diante de uma vítima de acidente de trânsito. A omissão só
faz alimentar a impunidade e contribuir para o aumento da violência por parte
de quem a pratica, ajudando a fechar a ciranda perversa de atos de bullying.”
(Silva, 2010, p.46).
2.4. Identificando a vítima de bullying
A urgência em identificar a ocorrência de bullying, seus autores, vítimas
e espectadores, se dá diante das consequências catastróficas que esse ato
violento pode trazer a seus participantes, especialmente às vítimas.
Os agressores e os espectadores devem receber uma punição cabível
por sua participação no bullying, além de receber acompanhamento da família
e de profissionais especializados, como psicólogos e psicopedagogos, no que
se refere a seus momentos na escola.
Já as vítimas de bullying, como visto anteriormente, são o agente que
passa por mais transtornos e situações de sofrimento decorrentes das
humilhações públicas e violências sofridas em todo o fenômeno. Elas correm o
risco de sofrer uma série de transtornos e problemas de saúde, que podem
levar até ao suicídio. Portanto, encontrá-las é essencial para que sejam
garantidos seus direitos, saúde e paz.
“O bullying afeta seriamente suas vítimas, causando-lhes prejuízos
físicos, mentais, emocionais, sociais e espirituais, e costuma desencadear
suicídios e atos de violência.” ( Middelton-Moz; Zawadski, 2007, p. 125).
26
“Estudos científicos evidenciam que, devido à grande série de violência
sofrida repetidamente por esses alunos, os prejuízos a longo prazo podem ser
irreparáveis.” (Teixeira, 2011, p. 55).
Sendo assim, é extremamente importante que haja harmonia na
dinâmica família-escola, para que com um trabalho em conjunto, consigam
identificar características de vítimas de bullying em seus filhos e alunos.
“Crianças e adolescentes vítimas de bullying podem apresentar insônia,
baixa autoestima, depressão e fobia escolar, um medo exagerado de
frenquentar a escola, que pode prejudicar os estudos.” (Teixeira, 2011, p. 56).
Segundo Silva (2010), uma boa alternativa para detectar a vítima é ter
um diálogo aberto e freqüente com as crianças e os jovens.
A família deve despertar em seus filhos a sensação de que são amados
e protegidos por ela. As crianças e jovens devem ter a certeza de que são
aceitos em seu círculo familiar, de forma que tenham abertura para dialogar
sobre seus sentimentos, frustrações, medos, angústias e alegrias. Deve o
ambiente familiar proporcionar momentos de conversa franca.
A partir dessa abertura será mais significativo para as vítimas de bullying
“colocarem para fora” tudo pelo que têm passado, ao invés de sofrerem
sozinhas, caladas, sufocando em suas próprias dores.
Ainda, a família deve estar atenta às mudanças de comportamento, de
apetite, isolamento, insônia, hematomas...
Já à escola, cabe a identificação da ocorrência de bullying e suas
vítimas, a partir da observação comportamental de seus alunos e seus
relacionamentos interpessoais. Fica claro que as vítimas de bullying tendem ao
isolamento, depressão, evitam trabalhos e atividades físicas em grupo, além de
desinteresse pelos estudos.
Segundo Fante e Pedra (2008), há fatores que são desencadeados nas
vítimas de bullying. Entre eles está o alto nível de estresse, baixa resistência
imunológica, anorexia, bulimia, obesidade, gastrite, úlcera, dores de cabeça,
tonturas, entre outros.
Assim, é muito importante que a dinâmica família-escola funcione. Desta
forma, perceberão aos sinais mais discretos que a criança ou o jovem pode
27
transmitir, demonstrando que tem passado ou está passando por situações de
violência.
Mudanças repentinas de humor, isolamento dos demais alunos em
momentos em que deveria estar entrosado, como o recreio e em atividades
físicas ou trabalhos em grupo, é responsabilidade da escola.
A vítima também pode ser diagnosticada pelas faltas freqüentes e
perdas constantes de seu material.
Há também a possibilidade de serem encontrados ferimentos e
hematomas por seu corpo. Mudança acentuada de apetite também pode ser
causada pelo bullying e podem ser diagnosticadas em casa. Ainda em casa, as
vítimas sofrem fisicamente com enjôos e dores de cabeça quando se aproxima
a hora da entrada na escola. Tornam-se crianças ansiosa, tristes e
depressivas.
Geralmente as vítimas de bullying sofrem em silêncio, não explicitando
claramente aos olhos da família e dos agentes da escola que têm sofrido
qualquer tipo de violência.
Por isso, é importante que a escola e a família estejam em sintonia
quanto às particularidades de cada jovem e criança, para que seja possível
encontrar as vítimas de bullying, seus agressores e espectadores, no intuito de
exterminar qualquer ato violento e sanar o sofrimento das vítimas.
28
CAPÍTULO III
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS SOBRE O
BULLYING
Neste capítulo trataremos sobre a interação necessária entre
psicopedagogo atuando na escola e com ela, família e alunos contra o bullying,
e como o primeiro pode intervir como facilitador de todo o processo antibullying
na escola, contribuindo para o bem estar das vítimas e a apuração das
responsabilidades dos agressores.
O fazer psicopedagógico é um conhecimento que vem somar no
cotidiano da escola, uma vez que o psicopedagogo atua a partir da intercessão
evidente que seu conhecimento faz entre a pedagogia e a psicopedagogia.
Assim, o psicopedagogo está não apenas interessado na dinâmica de ensino-
aprendizagem em si, mas também e especialmente, em todo o processo de
ensino-aprendizagem, em todas as questões que interferem na vida acadêmica
da criança e do jovem, não estando apenas focado no produto final, que seria o
sucesso ou o fracasso acadêmico do aluno.
“Cabe ao psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações
facilitadoras/ dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando seu
processo (incluindo na história de vida a aprendizagem) Exemplo: Como
andou? Como falou? Como se adaptou à escola? Como reagiu frente às
tarefas escolares... Posteriormente identificar o quando e o porquê.” (Noffs,
2011).
Ele, o psicopedagogo, está na escola para auxiliar professores e demais
profissionais da educação a pensar novas práticas de aprendizagem e executá-
las, não apenas objetivando o presente, mas já promovendo situações que
colaborem com o trabalho futuro. Ele assessora situações em que outros
profissionais, como os professores, talvez não tenha condição de se envolver,
resolver ou trabalhar adequadamente, seja por falta de preparo, por falta de
tempo, ou excesso de conteúdo e atividades pedagógicas.
29
Além disso, ele pode dar um suporte clínico dentro da escola, como é de
grande necessidade, em casos de bullying.
“O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e
terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das
aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar
dos problemas que podem surgir.
Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática
docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar
dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo
detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da
dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo
de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as
características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação
educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em
grupo.” (Feldmann, 2006).
Assim, diante das situações de violência e humilhação, unidas a uma
possível queda no desempenho acadêmico dos alunos envolvidos no bullying e
aos possíveis transtornos que podem sofrer em todos os aspectos de suas
vidas, é de extrema importância o apoio do psicopedagogo institucional. Seu
trabalho, unido a todo o material humano da instituição, será um trunfo
importante para o combate a esse mal.
“Cabe aos docentes observar os alunos e tentar identificar alguma
mudança, seja no comportamento ou no interesse pelas aulas.” ( Martins,
2010).
Um grande desafio que as instituições escolares precisam vencer é o de
diagnosticar a ocorrência de bullying.
Distinguir o que são brincadeiras e o que são atos de violência. O que,
muitas vezes, pode ser usados como argumentos pelos alunos envolvidos,
como sendo apenas casos em que as brincadeiras foram mal interpretadas ou
que foram apenas brincadeiras de mau gosto, deboches e não violência verbal
e moral.
30
Não se deve menosprezar a força de destruição que o bullying pode
causar a uma vida.
Palavras e gestos que denigrem a imagem ou a auto-imagem de um
indivíduo, sejam elas quais forem e em que frequência ocorram, não podem ser
tratados como mera brincadeira de crianças ou entre jovens, pois
invariavelmente trará consequências maléficas às suas vítimas.
São feridas físicas ou psicológicas que demoram muito tempo para
cicatrizar, ou em alguns casos, nunca cicatrizam.
Além disso, o sentimento de impunidade dos agressores e dos
espectadores intensifica a dor e o desconforto das vítimas, podendo levá-las à
evasão escolar.
“No Brasil, o atraso em identificar e enfrentar o problema foi enorme.
Por aqui, o tema só começou a ser abordado junto á sociedade a partir de
2000[...]”
“A ação das escolas perante o assunto ainda está em fase embrionária.
A maioria absoluta não está preparada para identificar e enfrentar a violência
entre seus alunos ou entre os alunos e o corpo acadêmico. Essa situação se
deve a muito desconhecimento, muita omissão, muito comodismo e uma dose
considerável de negação da existência do fenômeno”. (Silva, 2010, p. 161-162)
Da mesma forma que a criação de novas políticas públicas, a atuação
do psicopedagogo é de extrema importância e urgência. Ele deve intervir em
todo o processo, seja ele ainda embrionário, ou já devastador. Fica a cargo
dele promover momentos e espaços de interação entre os alunos e o tema,
confrontando ideias e comportamentos, para que auxilie, em sua prática, na
formação de uma consciência cidadã de respeito e cuidado com uns com os
outros.
“O termo intervir significa vir entre, de forma a impedir ou alterar um
curso de eventos. Confrontar uma questão é apresentar um problema de forma
que seja difícil não assumir a responsabilidade pela situação. As intervenções
devem ser planejadas com cuidado, e as confrontações, firmes, sensíveis e
específicas.” ( Middelton-Moz; Zawadski, 2007).
31
O psicopedagogo institucional deve atuar na prevenção e na erradicação
de tantos problemas que assombram o universo escolar, assim como no caso
do bullying, proporcionando um tratamento adequado aos agressores e
espectadores e favorecendo a recuperação das vítimas, minimizando seu
sofrimento.
3.1. O psicopedagogo e a prevenção do bullying
“Para começar a virar esse jogo, as escolas devem, inicialmente,
reconhecer a existência do bullying (em suas diversas formas) e tomar
consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento
socioeducacional e para a estruturação da personalidade de seus estudantes.
Bullying é um fato e não dá mais pra botar panos quentes nas evidências”.
(Silva, 2010, p. 162).
“A supervalorização da cognição tornou as relações interpessoais,
esteriotipadas e padronizadas sem espaço para incluir aquilo que não consta
do conteúdo programático ou aquele que seja fora do padrão determinado pelo
grupo”.(Chalita, 2008, p. 190).
A partir do texto acima é possível compreender a necessidade da
atuação de um psicopedagogo na instituição escolar.
Sendo o psicopedagogo um facilitador entre o fazer pedagógico e as
questões psicossociais que habitam a escola, cabe ao psicopedagogo
apresentar a todo corpo acadêmico, demais funcionários, família e comunidade
ao redor a existência do bullying, suas peculiaridades e dimensões
destruidoras.
“O primeiro passo para se obter sucesso na implantação de um
programa antibullying na escola é um trabalho psicoeducacional. Esse trabalho
consiste em oferecer informação sobre o comportamento bullying aos pais,
professores e demais profissionais da escola, incluindo todos os funcionários,
como o pessoal da limpeza, da segurança, da cozinha, dentre outros.”
(Teixeira, 2011, p. 71).
32
“A comunidade educativa precisa ser tocada, seduzida por um projeto
que deve focar o fortalecimento das relações e não o fim da violência. A
violência não tem espaço próprio. Ela só ocupa os ambientes que a amizade
não ocupou. Logo, o cultivo das relações faz que ela deixe de existir.” (Chalita,
2008, p. 197).
Isso pode ocorrer com a promoção de palestras com especialistas ou
estudos em formações continuadas. Entrega de materiais informativos também
podem ser usados.
A promoção da comunicação e do diálogo entre professores e alunos e
alunos e pais é também de extrema importância, pois daí surge o sentimento
de amizade, companheirismo, sinceridade e proximidade entre.
“A comunicação é o elemento humanizador que aproxima as pessoas,
cria identificação e cumplicidade, clarifica as semelhanças e esclarece as
diferenças. Por meio do diálogo as pessoas aprendem sobre as outras.
Aprendem a compreender e a ser compreendida, a confiar e se tornar
confiáveis. A escola precisa de professores e alunos confiáveis.” (Chalita, 2008,
p. 191).
Após a implantação um trabalho que envolva diálogo e comunicação
entre os alunos sua família e a escola, é possível dar início a um projeto
antibullying que envolva os alunos e a comunidade a que fazem parte. Esse
projeto não precisa ter data de encerramento, apenas data de início. Sua
duração pode ser o ano inteiro.
De acordo com Teixeira (2011), esse trabalho deve abranger palestras
com os pais, com os alunos, reuniões periódicas entre o corpo docente e a
coordenação pedagógica, para momentos de discussão sobre a evolução do
projeto, e ainda a confecção de uma “Constituição Antibullying”, entre outras
alternativas.
É necessário que seja realizado um trabalho específico com os alunos,
de todas as faixas etárias. O primeiro passo deve tratar a auto-aceitação e a
auto-imagem.
Os alunos devem ser levados a acreditar em seu potencial e suas
qualidades, tendo em vista que há e sempre haverá diferenças entre um
33
indivíduo e outro. Os ambientes escolares, envolvendo suas atividades
curriculares e extracurriculares e seus profissionais, devem atuar de acordo
com seu discurso. Eles devem demonstrar com seus respeito e amor que cada
aluno tem seu valor.
“Assim como os adultos, as crianças e os jovens também reagem de
acordo com os estímulos, as oportunidades e atenção recebida. Quando
recebem tratamento digno, reagem com dignidade. Quando ocorre o contrário,
é provável que por despeito, tenham vontade de desobedecer, de burlar as
ordens, de transgredir as regras, de agredir, de sumir ou de fazer sumir alguém
que os desumaniza, que os desvaloriza e que os faz sentir-se uma pessoa
inadequada.” ( Chalita, 2008, p. 192).
É importante também, que no ambiente escolar haja um trabalho de
tolerância diante das diferenças apresentadas por cada indivíduo. Ao se darem
conta que têm um valor especial, os alunos devem ser levados à percepção de
que é necessário respeitar aos outros, respeitando-se assim as características
de cada um, além das suas próprias. O respeito com a imagem dos colegas e
com a própria imagem é muito importante no trabalho antibullying.
É necessário que o psicopedagogo auxilie os alunos a chegarem à
compreensão de que as diferenças não devem servir para segregá-los, ao
contrário, devem ser motivo para uni-los. Unir os diferentes na intenção de que
haja um complemento, e que no convívio diário com seus diferentes, eles
podem ganhar, aprendendo novas culturas, ou lidando com outras formas de
pensar, crescendo psicossocialmente e se complementando.
Também é necessário levá-los à compreensão de que cada indivíduo é
um ser único e que tem direito a possuir características e escolhas próprias.
Esse ponto é fundamental para que não sejam formados os bullies, uma vez
que para eles, não existe respeito nem tolerância para quem é diferente.
“[Na educação] É preciso cuidar dos princípios, das pessoas e dos
sentimentos das pessoas”.(Chalita, 2008, p. 194).
Todo o trabalho do psicopedagogo na instituição escolar deve ser
realizado com espaço para diálogo. É importante que os alunos falem, sejam
ouvidos e compreendidos. Assim, o psicopedagogo conquistará entre os jovens
34
abertura e atenção para fazer intervenções e auxiliá-los a definirem condutas e
posturas de respeito e cuidado com o outro e aceitação de si mesmos.
Outra forma interessante de abordar o bullying nas escolas, tanto no
intuito de prevenção, quanto no de combate, é trabalhar com peças teatrais
sobre o assunto, sendo os jovens ou as crianças colocados nos papéis de
mocinhos e bandidos, isto é, de vítimas e agressores, alternadamente, para
que, ao se colocarem no lugar do outro, percebam e sintam o alcance
destrutivo do bullying.
“É importante salientar que essas dinâmicas devem ser realizadas com
muito cuidado para que não causem constrangimentos aos seus participantes.
Os profissionais responsáveis pela aplicação das vivências devem ter o
preparo adequado, dominar a técnica, e exercer controle sobre o grupo, a fim
de evitar que tais atividades sejam utilizadas de forma indevida para a prática
do próprio bullying”.(Silva, 2010, p. 164).
É papel também do psicopedagogo, na intenção de prevenir o bullying,
instruir os alunos quanto ao uso adequado das tecnologias a que têm acesso.
Auxiliá-los no uso coerente e positivo da internet, celulares, máquinas
fotográficas ou filmadoras.
Os alunos devem ser conscientizados que é importante manter certa
discrição ao usarem a tecnologia, para que não sejam alvos fáceis de possíveis
agressores.
“O aluno deve estar ciente da necessidade de limitar a divulgação de
dados pessoais nos sites de relacionamentos, o tempo de uso do computador e
os conteúdos acessados. Quanto menos exposição da intimidade e menor o
número de relações virtuais, mais seguro ele estará.” (Santomauro, 2010, p.
72).
É também muito importante para a prevenção do bullying, que outras
instituições que compõem a sociedade sejam parceiras da escola.
Família, instituições religiosas, conselhos tutelares, delegacia da criança
e do adolescente, vara da infância e da juventude são algumas delas.
O trabalho deve ser em conjunto, uma vez que todos formam a
sociedade em que os alunos estão inseridos.
35
Poderá haver situações de bullying em que o psicopedagogo deverá
instruir a escola, na figura do diretor, a encaminhar o caso ao conselho tutelar
ou a outro órgão competente. Também poderá solicitar, por meio de projetos,
que a família e as instituições religiosas apóiem tanto na prevenção quanto na
eliminação do bullying entre os jovens e as crianças.
O tema deve ser debatido e compreendido por todos como de grande
importância e periculosidade.
O bullying deve ser conhecido por toda a sociedade, para que seja
reconhecido e tratado com a seriedade que necessita quando ocorrer.
Outra frente de trabalho muito importante a ser realizado com a família
na prevenção do bullying, tanto do sujeito ser uma possível vítima, quanto um
possível agressor, é a demonstração de amor e afeto.
“A opinião comum de diversos especialistas no assunto é que os pais
devem procurar elevar a autoestima de seus filhos, ressaltando sempre suas
qualidades e capacidades.” ( Martins, 2010).
Unida a essas atitudes deve estar a imposição de limites às crianças e
jovens.
Desde muito cedo, já na fase de educação infantil, é necessário ensinar
às crianças valores como respeito às pessoas e às suas diferenças, sejam elas
diferenças de credo, etnia, ou até de temperamento.
Sendo esse trabalho realizado ou não nos primeiros anos escolares das
crianças, o psicopedagogo deve ainda assim tratar esses temas com os jovens.
Aprender a lidar e aceitar quem é diferente é um grande desafio para a
juventude de hoje, diante dos conceitos que a mídia em geral traz sobre que
tipo físico é bonito e que realmente deve ser aceito, ou de que situação
financeira deve-se ter orgulho ou vergonha. Que orientação sexual é digna de
respeito e qual deve ser caçoada, são alguns pontos importantes tratados pela
mídia muitas vezes de forma errada, impondo seus próprios conceitos.
Pode-se notar que é essa mesma atitude que os agressores do bullying
pretendem fazer, ao seu modo.
36
É então, muito importante também deixar as famílias que compõem a
escola a par do bullying, fazê-las conhecê-lo, sendo ele já uma realidade no
ambiente escolar ou não.
Dessa forma, as famílias poderão tornar-se grandes aliadas da escola a
partir do momento em que passa a ter conhecimentos que as auxiliem a
identificar o fenômeno e seus agentes, podendo preveni-lo já dentro de casa.
Impor limites, regras, e até levar novos conceitos ao relacionamento
interpessoal dos alunos é também uma atitude esperada ao psicopedagogo.
3.2. Como o psicopedagogo pode tratar a ocorrência de bullying na
escola
Talvez por não ter sido feito um trabalho como o descrito nos parágrafos
anteriores para a prevenção do bullying, ou até após o trabalho ter sido feito, o
bullying pode persistir nas instituições escolares.
Mesmo após o psicopedagogo ter instruído os profissionais da escola
sobre o bullying, após o assunto ter sido exposto às famílias, tratado em sala
de aula e em outros espaços escolares, por professores e por ele próprio - o
psicopedagogo - e pela sociedade em geral, alguns indivíduos podem insistir
em perpetuar a prática criminosa e violenta de discriminar e deteriorar quem
não se encaixa em seus padrões.
É importante agora, que sejam identificados cada um dos agentes do
bullying; o agressor, os espectadores e a vítimas. Além disso, deve-se ter
conhecimento de que tipo de violência a vítima foi exposta. Se foi humilhação,
ciberbullying, e/ ou violência física, ou uma série de situações.
Tendo ciência dos fatos e seus autores, cabe agora á escola, tomar as
providências necessárias.
Os espectadores do espetáculo violento de bullying, sejam eles
observadores reais ou virtuais, incentivadores, ou neutros, devem também ser
orientados. Eles precisam receber uma atenção especial, pois muitas vezes
foram omissos por medo de se tornarem também vítimas. Mas, ainda assim, os
alunos que estiveram envolvidos como platéia devem entender que foram
37
responsáveis pelo sofrimento da vítima, uma vez que nada fizeram em seu
socorro.
Quanto ao agressor, é necessário que ele passe por um enfrentamento.
“É importante confrontá-los com fatos concretos, seguidos de
consequências específicas. Ameaçar sem consequências, chorar ou discutir o
problema não são eficazes e podem até se transformar em desafios.
Discussões racionais com pessoas irracionais não funciona.”
(Middelton-Moz; Zawadski, 2007, p. 126).
“Identificados os indícios, é hora de conversar com a vítima e o agressor
em particular – para que não sejam expostos. A escola não pode legitimar a
atuação do agressor nem puni-lo com sansões não relacionadas ao mal que
causou, como proibi-lo de freqüentar o intervalo. Se xingou os colegas em um
site de relacionamentos, precisa retira o que disse, no mesmo meio para que a
retratação seja pública. A vítima precisa estar fortalecida e segura de que não
será mais prejudicada. Ao mesmo tempo o foco deve se voltar para a
recuperação de valores essenciais, como respeito.
“Nas situações mais extremas, é possível levar o problema a delegacias
especializadas a crimes digitais [...].” (Santomauro, 2010, p. 72)
É necessário mostrar ao bullie ou agressor, que ele foi descoberto, e que
terá que sofrer as consequências por seus atos.
“Não espere que os bullies sejam honestos quando confrontados pela
primeira vez. Se aceitarem integralmente que pode haver consequências sérias
por seu comportamento, poderão começar a lentamente a ser honestos
consigo mesmos, e então, com os outros.” (Middelton-Moz; Zawadski, 2007, p.
128).
Os agressores, não sendo descobertos e devidamente punidos e
orientados, podem continuar com sua atitude mesmo com o passar dos anos.
Assim discorre Teixeira (2011) sobre o assunto:
“[...] Os bullies acreditam que nunca serão punidos por seus atos, e isso
é algo a que professores, diretores e coordenadores pedagógicos devem estar
atentos. Uma vez que esses agressores acreditam que, por pior que sejam
essas atitudes, jamais ocorrerá uma punição escolar.” (Teixeira, 2011, p. 32).
38
Deve ser dada então, uma atenção especial á vítima, visto que é a mais
prejudicada e pode estar vivenciando alguns efeitos negativos do bullying,
como problemas alimentares e de relacionamento, por exemplo.
Ela deve se sentir segura, agora que foi descoberta como sofredora de
maus tratos por colegas, como uma vítima de bullying, para que não corra o
risco de continuar sendo vítima de violência, agora por parte de outro agressor.
Assim, ela deve receber apoio de sua família. Caso a família não tenha
sido previamente informada da situação, ou ocorrendo dela desconhecer a
vilania do bullying, deve ser posta a par de todos os acontecimentos, pelo
psicopedagogo.
E agora, a vítima e sua família devem receber instrução e apoio
psicopedagógico na escola, para que unidos, consigam sanar todo o mal que a
criança ou o jovem sofreu.
“A fim de parar o bullying e a violência no mundo de hoje, [...]
precisamos aprender a reconhecer o bullying e mostrar a seus perpretadores
que não estamos dispostos a aceitar seu abuso nem a permitir que outros
sejam vitimizados por eles em nossa presença. Precisamos respeitar a nós
mesmos e aos bullies o suficiente para esperar que eles possam encontrar
coragem e enfrentar seu sofrimento, acabando por fazer as escolhas
necessárias para mudar seu comportamento.” ( Middelton-Moz; Zawadski,
2007, p. 126).
Atualmente ainda não há no Brasil uma lei específica que trate do
bullying e do ciberbullying, porém, ainda assim, dependendo da gravidade de
um desses fenômenos violentos, o agressor pode ser encaminhado a
delegacias especializadas, como já foi dito anteriormente.
E dependendo do fator da agressão, e sofrimento causado, da falta de
apoio por parte da família às solicitações da escola em instruir o indivíduo que
comete bullying, ou da insistência do agressor em permanecer com suas
investidas contra sua vítima, e ainda, desconsiderando todo o processo de
ensino ocasionado e o espaço para diálogo que a escola forneceu a ele sobre
o assunto, tanto na fase de prevenção ao bullying, quanto na faze de
repressão, cabe então à escola, junto ao psicopedagogo, trabalhar ideia de
39
encaminhá-lo às instituições competentes, como conselho tutelar ou delegacias
especializadas. Esse seria um ato extremo.
E para encerrar esse capítulo, é interessante lembrar que o ambiente
escolar é primeiramente um espaço de troca de conhecimentos, de
aprendizagem, de descobertas e de criatividade. E os alunos o vêm como um
espaço também para mostrar sua identidade, ou para criá-la. Assim, devem se
“sentir em casa” quando estiverem desfrutando de todo o espaço físico escolar.
Por isso também é inaceitável que crianças e jovens tornem esse local um
espaço para o sofrimento e a violência.
“É o desejo de todos (pais e professores) que a dinâmica escolar
favoreça a edificação de um ambiente seguro e saudável, não admitindo que
crianças e jovens sofram violências que lhes tragam danos físicos e/ ou
psicológicos, impedindo-os de desenvolver seu potencial intelectual e social.
Também não é admissível que, mesmo quando não sofrem ameaças, sejam
obrigados a testemunhar tais fatos e a se calar para não serem os próximos a
sofrer agressões, ou o que seria ainda mais desastroso, comecem a adotar
comportamento igualmente agressivo.” ( Chalita, 2008, p. 200).
40
CONCLUSÃO
Tanto a escola quanto a família e a sociedade em geral estão
atualmente, à margem do conhecimento integral do que é bullying e quais são
suas consequências, visto que, apesar de ocorrer já há muitos anos, há pouco
tempo está recebendo a atenção e os cuidados devidos.
Por isso, é visível a falta de preparo em lidar com o assunto, que por
vezes é visto como brincadeira despretensiosa mal interpretada.
Esquece-se, neste caso, que diminuir o outro e não respeitá-lo em suas
peculiaridades não tem nada de despretensioso.
Essa falta de preparo pode levar as vítimas a serem interpretadas
como sensíveis demais e necessitadas de possuir mais malícia para entender e
participar da “brincadeira”, não recebendo o tratamento e os cuidados
necessários para vencer ou diminuir seu sofrimento. Ou, pode tentar colocar
em prática o velho ditado popular que diz que não se deve levar desaforo para
casa, e a partir daí, violência gera violência.
Nesses casos não é entendido o sofrimento das vítimas como legítimos
e reais. Ao contrário, leva-se em conta que legítimo é o direito dos agressores
de se divertirem na agressão que impõem ao outro. Ou até chega-se a culpar a
própria vítima, já que a aparência dela é mesmo o que dizem, ou que sua
condição financeira é a mesma de que debocham... E em um momento de
fragilidade ela é levada a acreditar que merece todo o sofrimento pelo que está
passando.
Por isso, cabe ao psicopedagogo a tarefa de instruir e desmistificar a
cerca do bullying diante da sociedade.
Fica a cargo dele atuar sobre o bullying frente à demanda de
conhecimento necessário à escola, à família e à sociedade. Certo de que
possui preparo para tratar tanto no que diz respeito a parte pedagógica quanto
a parte psicológica do tema, suas vertentes e consequências.
Contudo, não se deve entender esse trabalho do psicopedagogo
institucional como redentor.
41
O psicopedagogo atuará enquanto agente educacional, auxiliador das
questões escolares. Não pode ser imposto sobre ele a nobre, porém penosa
tarefa de solucionar todos os problemas da escola, incluindo o bullying.
Que não seja imposto a ele plenamente a responsabilidade sobre os
objetivos não alcançados, como a não erradicação do bullying em sua
instituição de atuação, uma vez que nesse caso específico, o psicopedagogo é
apenas um agente facilitador, auxiliador no processo. Ele precisa de outros
agentes que lhe dêem apoio, como professores, diretores, pedagogos,
funcionários em geral e especialmente das famílias que constituem a escola.
A escola sendo uma sociedade que possui uma cultura própria necessita
do apoio de todos que fazem parte dela, para que as barreiras sejam
transpostas e os alvos sejam alcançados.
A cultura do bullying precisa ser inicialmente diminuída, vislumbrando a
realidade de que é um ato de violência, seja ela física ou moral, e que é
geradora de extremo sofrimento e angústia às vítimas.
Então, posteriormente deve ser erradicada do meio escolar, permitindo
que a escola volte a ser um ambiente de aprendizagem. Aprendizagem essa
não somente de disciplinas curriculares, mas também lições de cidadania,
respeito e amor, criando assim, cidadãos conscientes na sociedade em que
vivem, atuantes para o bem estar de todos, seja dentro ou fora da escola.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo I. Ocorrência de Bullying nas Regiões Brasileiras ................................42
Anexo II. Ocorrência de Bullying nas Séries do Ensino Fundamental 2 ..........43
43
ANEXO 1
Ocorrência de bullying nas regiões brasileiras
44
ANEXO 2
Ocorrência de bullying no Ensino Fundamental 2
*Fonte:
http://arquivo.campanhaeducacao.org.br/semana/2011/pesquisa_plan_resumo.pdf
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BIBLIOGRAFIA
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46
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