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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA SAÚDE PÚBLICA X SAÚDE SUPLEMENTAR Por: Ana Lúcia da Silva Orientador Prof.ª Flávia Martins Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Em 10 de janeiro de 1920, a recém criada Liga das Nações (futura ONU) ... Na década de 1950, com Getúlio Vargas de retorna

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

SAÚDE PÚBLICA X SAÚDE SUPLEMENTAR

Por: Ana Lúcia da Silva

Orientador

Prof.ª Flávia Martins

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

SAÚDE PÚBLICA X SAÚDE SUPLEMENTAR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Pública.

Por: Ana Lúcia da Silva

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AGRADECIMENTOS

À minha família e amigos de classe e

principalmente a orientadora Flávia

Martins por compreender minhas

limitações e inseguranças.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta Monografia a Deus e aos

meus queridos pais.

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RESUMO

O trabalho visa apresentar um panorama dos sistemas de saúde publica

e privada brasileira em sua trajetória através dos séculos até os dias de hoje

focando o papel da sociedade em toda esta questão.

Atualmente tanto a saúde pública, como parte da saúde privada são

administradas de forma precária, fato marcadamente documentado em

publicações específicas, documentos históricos e amplamente divulgada pelos

meios de comunicação.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho acadêmico foi a experiência

pessoal aliada a experiência acadêmica e principalmente a pesquisa

bibliográfica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Debate da Saúde 09

CAPÍTULO II - Os Desafios Atuais da Saúde 22

CAPÍTULO III – Análise de Dados 30

CONCLUSÃO 36

ANEXO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41

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INTRODUÇÃO

A experiência profissional de dez anos como representante de planos de

saúde, aliada com a experiência acadêmica e filmes sobre políticas de saúde,

fizeram esta aluna refletir sobre a situação da saúde pública no Brasil e como

este sistema gera insegurança a ponto das pessoas pagarem por um serviço

que lhe é garantido gratuita e qualitativamente por lei.

A migração de um contingente significativo para os planos de saúde

privados retira, consequentemente, a responsabilidade e o dever do Estado em

assumir de forma integral o atendimento da população. A experiência assistida

e muitas vezes vivenciada denuncia muita demanda e pouca eficácia das

políticas de saúde.

O primeiro capítulo tem a proposta de apresentar alguns períodos

históricos da saúde no Brasil, sempre acompanhada de lutas, mudanças,

conquistas e transformações político-econômicas no campo da saúde pública.

A atuação do neoliberalismo produzindo a quebra das políticas públicas e a

desconcentração dos serviços de saúde que descaracterizam os princípios da

integralidade e da equidade.

No segundo capítulo discorre-se sobre as conquistas adquiridas no

decorrer dos séculos e a luta para mantê-las. As mobilizações e reivindicações

refletem este esforço até os dias atuais.

O terceiro capítulo apresenta análise de dados coletados em pesquisas

especializadas e na pesquisa de campo com pessoas usuárias de planos de

saúde privados. Elas foram questionadas sobre o atendimento que receberam

da rede pública.

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CAPÍTULO I

DEBATE DA SAÚDE

1.1 – O Modelo Brasileiro de Saúde

A trajetória do modelo brasileiro da saúde está ligada ao modo de

produção e o desenvolvimento do capitalismo.

Vale destacar que, quando se fala em produção e reprodução das

relações sociais inscritas em um momento histórico, sendo a questão social

uma inflexão deste processo, trata-se de produção e reprodução – movimentos

inseparáveis na totalidade concreta – de condições de vida, de cultura e

produção de riqueza (BOSCHETTI e BEHRING, 2008, pag. 52).

No período do século XVIII, a classe pauperizada dependia da caridade

e filantropia da Igreja Católica com assistencialismo como forma de

atendimento. Houve crise no setor agrícola produzindo queda nos preços e

diminuição nas importações que consequentemente produziram mudanças na

economia e na política.

No século XIX, houve uma campanha na saúde por melhores condições

sanitárias compreendidas por saneamento básico e controle das endemias nos

portos. Essas manifestações vão produzir amadurecimento nas questões da

saúde como marco dos movimentos operários.

No principio do século XX, as condições da população permaneciam

muito precárias, apesar das expectativas de melhoras. As mudanças dos

trabalhadores do campo para áreas urbanas os fizeram passarem a viver

somente com a sua força de trabalho produzindo exploração ate o limite, eles

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foram sujeitos a duras jornadas de trabalho e ainda viviam em condições

insalubres, aglomerados sem saneamentos básicos em cidades como Rio de

Janeiro e São Paulo. Com pouca remuneração tornando insuficiente para

sustentar as suas famílias forçando-as a trabalharem para ter condições de

sustento. Devido a crise industrial muitos desses trabalhadores foram

dispensados sem qualquer direito trabalhistas, pois não tinham vinculo

empregatícios algum.

Segundo MALLOY (1986), as situações dramáticas e humilhantes as

quais os trabalhadores viviam, associadas às faltas de condições dignas fora

das fábricas produziram a organização dessa classe emergente. O inicio do

século XX foram sinalizado por greves e manifestações operárias, trazendo um

alerta de preocupação a classe da burguesia. O Brasil, signatário do Tratado

de Paz de Versalhes1 à época, comprometeu-se em fazer um esforço para

lidar com a classe operária e, em 1919, passou a integrar a Organização

Internacional do Trabalho2 (OIT), ratificando todos os seus convênios. Diante

da realidade internacional, mais mobilizações internas por melhores

remuneração e condições de vida, fizeram com que a classe burguesa

diminuísse as pressões em cima dos trabalhadores com promessa de atender

algumas de suas exigências. Era necessário manter os meios de produção,

Mas com as péssimas condições sanitárias dos centros urbanos

desencadearam surtos de doenças como varíola, febre amarela e tuberculose.

O Presidente da República Rodrigues Alves3 preocupado com a situação,

1 Assinado em 28 de junho de 1919, o Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assinado pelos países europeus, após o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Neste Tratado, a Alemanha assumiu a responsabilidade pelo conflito mundial, comprometendo-se a cumprir uma série de exigências políticas, econômicas e militares. Estas exigências foram impostas à Alemanha pelas nações vencedoras da Primeira Guerra, principalmente Inglaterra e França. Em 10 de janeiro de 1920, a recém criada Liga das Nações (futura ONU) ratificou o Tratado de Versalhes. 2 A Organização Internacional do Trabalho foi criada pela Conferência da Paz, assinada em Versalhes, em junho do ano de 1919, logo após a primeira guerra mundial, e teve como vocação promover a justiça social e, em particular, fazer respeitar os direitos humanos no mundo do trabalho. Desde a sua criação, portanto, a OIT está assente no princípio, inscrito na sua Constituição, de que não pode haver paz universal duradoura sem justiça social. 3 Francisco de Paula Rodrigues Alves - Advogado, nascido na cidade de Guaratinguetá, estado de São Paulo, em 7 de julho de 1848. (...) Por meio de eleição direta, assumiu a presidência da República em 15 de novembro de 1902. Após o período presidencial, governou o estado de São Paulo (1912 - 1916). Eleito, pela segunda vez, presidente da República em 1918, não tomou posse por motivo de saúde. Faleceu no Rio de janeiro, em 16 de janeiro de 1919.

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nomeou o médico sanitarista Oswaldo Cruz4 para assumir o Departamento

Nacional de Saúde Pública5 e buscar soluções para reverter este quadro.

Oswaldo Cruz com objetivo atender a realidades começou uma

campanha de vacinação anti-varíola obrigatória em todo território nacional e,

embora seu objetivo fosse bem intencionado, sua forma de realização ocorreu

de maneira autoritária. Aqueles que rejeitariam receber a vacina, por

desconhecimento de seus efeitos, foram agredidos. À medida que a violência

crescia, aumentavam o numero de pessoas revoltadas produzindo assim a

intervenção policial. As medidas sanitárias também incluíam a retirada da

população pobre de áreas do centro da cidade gerando mais protestos por

parte dos moradores que se negaram a sair.

Concorda-se com Braga (BRAGA e PAULA, pág. 41-42) quando ele

afirma que “a saúde emerge como ‘questão social’ no Brasil no início do século

XX, no bojo da economia capitalista exportadora cafeeira, refletindo o avanço

da divisão do trabalho, ou seja, a emergência do trabalho assalariado.”

Com essas atitudes de novas praticas, houve mudanças na vida do

trabalhador expondo-o a situações degradantes. O movimento operário

mobilizaram por melhores salários e condições de trabalho. Tanto é que, em

1923, reivindicações foram contempladas pela Lei Eloy Chaves6. Essa lei

estipulou que cada companhia ferroviária criasse um fundo para

aposentadorias e pensões. Estendeu o benefício aos estivadores e marítimos

e, em seguida, bancários, comerciários e outras categorias.

4 Oswaldo Gonçalves Cruz, médico e sanitarista, fundou a medicina experimental no Brasil. Entre seus principais feitos estão o combate ao surto de peste bubônica no litoral paulista e a erradicação da doenças endêmicas no Rio de Janeiro. Por meio de suas pesquisas, desenvolveu vacinas que erradicaram as doenças que mais matavam, na época: febre amarela e varíola. 5 Em dezembro de 1919, foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), que daria maior amplitude aos serviços sanitários federais. A partir de então, a participação e a intervenção do Estado na área de saúde pública só tendeu a se ampliar e se solidificar. 6 A Lei Eloy Chaves, que na verdade é o Decreto legislativo nº 4.682, de 24-1-1923, foi a primeira a instituir no Brasil a previdência social. Através deste diploma legal forma criadas as “caixas de aposentadorias e pensões” para os empregados das empresas ferroviárias, contemplando-os com os benefícios de aposentadoria por invalidez, aposentadoria ordinária (que seria atualmente a aposentadoria por tempo de contribuição), a pensão por morte e a assistência médica. Vale ressaltar que existia uma caixa de aposentadoria e pensão por empresa ferroviária.

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Foi criada também a Previdência Social Brasileira, responsável pelas

aposentadorias (por tempo de serviço, velhice e invalidez) e pensões para

dependentes e empregados, as chamadas CAP’s. O órgão também fornecia

medicamentos e disponibilizava pagamentos especiais para despesas com

funerais. O objetivo dessas medidas era diminuir as tensões sociais.

A partir de 1930, o governo de Getúlio Vargas, chamado inicialmente de

Governo Provisório, foi considerado populista e reconheceu a questão social

como prioritária. Ao estimular o desenvolvimento industrial, Vargas finalmente

implementa, também como uma estratégia política, a concessão dos direitos

básicos dos trabalhadores através da Constituição de 1934.

A política de saúde organiza-se em dois setores: saúde pública e

medicina previdenciária. O governo centraliza e uniformiza as estruturas de

saúde através dos Institutos de Aposentadorias e Pensões7 (IAPs) com a

contribuição e participação dos trabalhadores como seus representantes.

Em 1937, Vargas impõe ao país a ditadura do Estado Novo. A relação

com os trabalhadores passou a ser controlada pelo recém-criado Ministério do

Trabalho que instituiu normas sindicais rígidas para proibir greves ou qualquer

forma de manifestação. Outro objetivo do ministério foi salvar o sistema

previdenciário, alvo constante de desvios de dinheiro para incentivos para

indústria sob pretexto de crescimento econômico.

Na década de 1950, com Getúlio Vargas de retorna à Presidência da

República através do voto, em substituição da Educação e Saúde, foi criado o

Ministério da Saúde, que já utilizava os meios de comunicação para a

divulgação da distribuição de remédios. O novo órgão tinha como proposta a

saúde pública para toda a população. Além dos IAPs, são criadas as empresas

médicas, prestadoras de serviços de saúde.

7 Os IAPs, modelos de pensões vinculadas a gênero ou categoria profissional, foram organizados a partir de 1933 de forma a abranger as mesmas categorias em todo o território nacional.

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Apesar de o atendimento médico ser uma das prerrogativas dos

beneficiários8 da previdência desde a promulgação da Lei Eloy Chaves, as

legislações de vários IAPS revelam que os serviços de saúde tinham

importância secundária e restrições que variavam de órgão para órgão. Assim,

no Instituto dos Marítimos (IAPM), o período de intervenção era limitado a trinta

dias e a despesa do Instituto com atenção médica não poderia ultrapassar 8%

da receita do ano anterior. Em outros IAPS, como os dos industriários e dos

trabalhadores de transportes e cargas, a atenção médica poderia implicar em

contribuição suplementar. As disparidades normativas entre os IAPS

contribuíram para que surgissem reivindicações em favor de um sistema

previdenciário unificado e menos desigual. (FINKELMAN, 1998, pág. 238)

Em 1966, com os militares assumindo o Governo Federal, houve a

criação do Instituto Nacional de Previdência e Seguridade Social (INPS) com a

união dos institutos já existentes. Este novo órgão assumiu a responsabilidade

de cuidar e gerir a assistência médica de todos os trabalhadores formais.

Assumindo todos os setores de atividade econômica

Segundo BRAVO (2009), “a ditadura significou para a totalidade da

sociedade brasileira a afirmação de uma tendência de desenvolvimento

econômico-social e político que modelou um país novo. Os grandes problemas

estruturais não foram resolvidos, mas aprofundados, tornando-se mais

complexos e com uma dimensão ampla e dramática”.

O autor ainda afirma que:

“A unificação da previdência se deu atendendo a duas

características fundamentais: o crescente papel

8 O termo “beneficiário” refere-se à pessoa física, titular ou dependente, que possui direito e deveres definidos em legislação e em contrato assinado com uma operadora de planos privados de saúde, para a garantia da assistência médica-hospitalar e/ou odontológica. Como um mesmo indivíduo pode possuir mais de um plano de saúde e, portanto, mais de um veículo, o número de beneficiários é sempre superior ao de indivíduos que possuem planos privados de assistência à saúde (ANS Caderno de Informações em Saúde Suplementar)

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interventivo do Estado na sociedade e o alijamento dos

trabalhadores do jogo político, com sua exclusão na

gestão da previdência, ficando-lhes reservado apenas o

papel de financiadores. A criação do INPS, em 1966, ao

unificar os antigos IAPs, constitui-se na modernização da

máquina estatal aumentando o seu poder regulatório

sobre a sociedade além de representar um esforço de

desmobilização das forças políticas estimuladas pelo

período“populista”; trata-se, portanto, de uma

reorientação das relações entre Estado e classes

trabalhadoras. Os programas de saúde e educação se

desenvolveram com base no privilegiamento do setor

privado, reproduzindo na política social, as tendências da

nova política econômica implantada.” BRAVO (1996, pág.

30)

Com as mudanças tecnológicas ocorridas no exterior, seu tornou

necessária que a gestão da saúde assumisse características capitalistas.

Os trabalhadores não tiveram a cobertura da totalidade da assistência

médica da previdência, função do Instituto Nacional de Assistência Médica da

Previdência Social (INAMPS). Neste momento, foi necessário ampliá-la com a

contratação da rede privada, pois o governo não estava dando conta de

atender a demanda dos associados do INPS, assumindo o financiamento.

Com tendência à privatização dos serviços de saúde e dos serviços de

assistência médica, o setor responsável pelo atendimento médico (INAMPS)

pagou serviços a particulares representando 76% de seus gastos resultando

na hegemonia da mensalidade tecnocrática que vigora durante o regime

militar. SERRA (2000).

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Essa caminhada de luta descrita não atinge aqueles que encontravam á

margem dos benefícios da seguridade social e saúde. São eles os segmentos

mais pobres que se encontravam desempregados do campo e da cidade além

dos trabalhadores do setor sem carteira assinada. A trajetória para a

implementação do INPS, muitos foram os embates e as desigualdades entre

os setores. E eles permaneciam os mesmos com a criação do novo instituto.. A

falta de atenção as medidas de atenção coletiva era uma das queixas. Era

referencia a saúde na época a medicina previdenciária. BRAVO (1996).

Na segunda metade da década de 1970, o Brasil sofria com a crise

internacional do petróleo. O colapso do “milagre econômico” impelia ao povo

um grande empobrecimento com taxas, segundo o Departamento Intersindical

de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE: 1981), de 39,3% de

desempregados e subempregados. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE)9 e o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN)

apontavam que 70% da população consumia poucas calorias , quantidades

inferiores às necessidades do corpo humano e que a fome e a subnutrição

eram responsáveis por 40% da mortalidade infantil no país. Surtos epidêmicos,

como o da meningite, passaram a ocorrer. O momento crítico vivido pela

população brasileira contribuiu para o surgimento de movimentos sociais no

contexto político. Gritavam e se mobilizaram em favor de uma saúde mais

democrática em um momento de crise sanitária. SERRA (2000).

A organização dos setores progressistas de profissionais de saúde

pública, denominada posteriormente de movimento sanitário, inicia-se em

meados da década de 70, quando ocorreu no Brasil um crescimento

considerável de encontros e produção teórica na área de saúde coletiva,

incorporando o instrumental das ciências sociais. Os estudos enfatizaram a

análise das transformações ocorridas no setor saúde, relacionando-os com os

efeitos perversos da economia centralizada que agravou as condições de vida

9 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE se constitui no principal provedor de dados e informações do país, que atendem às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal.

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e higiene da população, dificultando seu acesso a bens essenciais, tornado-a

mais vulnerável às enfermidades e a outros danos à saúde. BRAVO (1996:46)

citação com tabulação.

Foi o governo do General Ernesto Geisel que a implementação da

política ocorreu de forma lenta e gradativamente. Esse trajeto produziu

aumento nas reivindicações populares por melhores qualidade de vida

(condições de vida, trabalho e saúde), com direitos de todos os cidadãos,

manifestações, movimentos feminista e estudantil.

Em 1978, foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência

Social (SIMPAS) reunindo as coordenações do INPS e do Instituto de

Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS), que

englobava a Legião Brasileira de Assistência (LBA), a Fundação Nacional de

Bem Estar do Menor (FUNABEM), a Empresa de Tecnologia e Informações da

Previdência Social (DATAPREV), a Fundação Abrigo Cristo Redentor (FACR) e

a Central de Medicamentos (CEME). Um ensaio para o início da compreensão

de um modelo de seguridade, além de aglutinar a assistência.

A década de 1980 foi marco para a sociedade, com reivindicações em

prol da construção de uma sociedade de direitos com timidez, em função da

grande pobreza e da barreira de acesso às políticas públicas, desempregos, a

má distribuição de renda. A VIII Conferência Nacional de Saúde foi marcada a

questão de saúde no Brasil realizada em 1986 e convocada pelo então

presidente da República, José Sarney. O evento contou com 4.500

participantes, tendo como ponto relevante a ausência dos setores

empresariais, firmando o princípio da conferência de saúde como do cidadão e

dever do Estado. Mostrando a sua importância como iniciativa antagônica aos

interesses da sociedade capitalista. TEIXEIRA (1989).

A VIII Conferência Nacional de Saúde foi importante com uma visão

mais transparente acenando para reestruturação do setor.

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“A saúde não é um conceito abstrato. Define-se conceito histórico de

determinada sociedade e, num dado momento do seu desenvolvimento,

devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas. Em seu

sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de

alimentação, habitação, lazer, liberdade de acesso e posse da terra e acesso a

serviços de saúde. E assim, antes de tudo, o resultado de formas de

organização social da produção, às quais podem gerar grandes dificuldades

dos níveis de vida.” (Anais da VIII Conferência Nacional de Saúda, 1987;382).

Em 1988, depois de muita reivindicação, conquista o direito a ter acesso

irrestrito todas as informações contida sobre o Sistema Único de Saúde

(SUS)10 no sentido de esclarecimentos sobre direitos constitucionais da

população. Neste momento, visualiza-se a Seguridade Social em seu tripé:

saúde, previdência e assistência, prevendo a universalidade, integralidade e

equidade como rede de proteção social.

Quando a Assembleia Nacional Constituinte foi instituída, a questão da

saúde se formou em um momento de luta política onde havia interesses

diferentes dividindo grupos empresariais, como a Federação Brasileira de

Hospitais e os defensores da reforma sanitária. Ambos os lados faziam

pressões junto aos constituintes. Neste período a sociedade estava bastante

mobilizada em função do processo constitucional. (BRAVO, 1996).

Um dos pilares da seguridade social, a saúde, é o objeto proposto como

estudo. Ela ficou definida “como direito de todos e dever do Estado”, que se

deu através da criação do Sistema Único de Saúde no texto da então nova

Constituição Federal de 1988. Era o primeiro passo para o “Estado de bem

estar social” efetivamente acontecer. A partir de 1990, este direito foi

10 O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros.

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claramente definido pela Lei 8.080/1990, lei complementar que regulamentou a

implementação do SUS adotando os princípios constitucionais da equidade,

integralidade nas ações necessárias à promoção, proteção e recuperação da

saúde. Apresentando descentralização administrativa com responsabilidades

diferenciadas para cada ente da federação, além da participação popular

através de conferências e conselhos de saúde. Para FILHO (1990), “essa

iniciativa no campo da saúde sintetiza a primeira experiência brasileira de uma

política pública universalizante”.

1.2 – O Projeto Neoliberal e a Saúde

O neoliberalismo foi um projeto que deu inicio na Inglaterra ser

implementado pelo Governo da Primeira-Ministra Margareth Thatcher,

conhecida também como a “dama de ferro”. Por suas posturas inflexíveis,

conquistou bons indicadores econômicos, uma inflação controlada e a

valorização da moeda. No entanto os desempregos não foram evitados.

O Neoliberalismo com visão de apologia à desregulamentação dos

direitos trabalhistas, diminuindo e simplificando os direitos adquiridos dos

cidadãos. Nas implementações das políticas públicas11 da área social, com

estratégia de diminuir e desestruturar o atendimento direto à população. O

resultado dessa situação é da fragmentação dos serviços, desemprego em

massa, flexibilização das leis trabalhistas, subemprego, trabalhadores

polivalentes dando início ao processo de refilantropização, organizações não-

governamentais (ONG’s)12 apresentando funções de responsabilidade do

Estado. Ao pontuar as políticas desses governos, ANDERSON (1995)

11 Políticas públicas são programas de ação governamental visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos relevantes e politicamente determinados 12 ONG é um acrônimo usado para as organizações não governamentais (sem fins lucrativos), que atuam no terceiro setor da sociedade civil. Estas organizações, de finalidade pública, atuam em diversas áreas, tais como: meio ambiente, combate à pobreza, assistência social, saúde, educação, reciclagem, desenvolvimento sustentável, entre outras.

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considera que a Inglaterra foi o país que incrementou os princípios neoliberais

de forma mais “pura”, elevou as taxas de juros (BOSCHETTI, 2008)

Esta visão neoliberal deu inicio, no Brasil na década de 1990, com o

Governo do ex-Presidente Fernando Collor de Melo, apresentando reformas no

Estado, privatizações defendendo a desregulamentação da economia de

mercado.

Como o Estado neoliberal não tem interesse algum com a questão

social, a situação da Saúde é afetada diretamente (projeto da Reforma

Sanitária). No caso do Brasil, houve o amadurecimento da orientação privatista

para o setor com o próprio Estado mudando seu perfil de atuação orientada

pela política de ajuste capitalista. O setor privado assumiu o comando de

liderar e administrar o crescimento da economia, diminuindo a oferta de

serviços e investimentos ao mínimo na área social. Na prática, representou a

quebra das políticas públicas, atendimento fragmentado e desconcentração

dos serviços de saúde. Este novo panorama vai na oposição a proposta

universalizadade do SUS ao descaracterizar o princípio da integridade e

equidade nas ações necessárias à recuperação da saúde. Outro resultado foi o

surgimento de novos sistemas de proteção, agora mercantilizados, como a

saúde suplementar13.

Segundo MINAY (2001), Com a fragilidade do estado e sua estrutura de

proteção permitiu a hegemonia da ideologia do projeto neoliberal. A crise do

modelo capitalista (inflação, crise fiscal, etc.). O contexto internacional

contribuiu a difusão do pensamento neoliberal, acenando como solução de

mudanças desse quadro, as medidas de ajustes estruturais do consenso da

Washington são utilizada para este objetivo entre elas “destacam-se a

estabilização através da tentativa de equilibrar o orçamento público através da

redução da inflação e do déficit da balança de pagamentos; ajuste estrutural

13 A saúde suplementar pode ser definida como todo atendimento privado de saúde realizado, ou não, por meio de um convênio com um plano de saúde – Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

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ao permitir a abertura comercial, desregulamentação de preços e reformas

tributárias sob pretexto de aumentar a competitividade da economia; e

privatização reformando o Estado e transferindo empresas do poder público

para grupos privados.” (RAICHEL,2000)

“(...) em lugar de ideologia, os neoliberais têm conceitos como “gastar é

ruim”, é bom ter prioridade, é ruim exigir programas, precisamos de parcerias,

não de governos fortes; exijam crescimento, não destruição.” DRABE

(1993:89)

A visão neoliberal subverte o papel da população neste novo cenário ao

transformar o cidadão de direito em consumidor de serviços, na maioria das

vezes não prestado corretamente. Os serviços oferecidos de saúde

suplementar tem causados alguns problemas aos usuários muitas das vezes.

Apresentando também características contrarias ao projeto de Reforma

Sanitária como, por exemplo, a estratégia de descentralização dos serviços de

saúde. O neoliberalismo reorienta e desfragmenta as políticas de saúde,

criando assim novos sistemas suplementares destinados à parcela da

população com condições financeiras para pagar por tais serviços. Em

contrapartida, a maioria, impossibilitada de arcar com um plano de saúde, fica

à mercê de uma rede pública de baixa qualidade.

A saúde vem sendo disputada em dois âmbitos: entre o da Reforma

Sanitária e o projeto de saúde privatista:

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PROJETOS EM DISPUTA

ITENS REFORMA SANITÁRIA PRIVATISTA

BASE Estado Democrático de

Direito Estado Mínimo

PREMISSAS Saúde: Direito Social e dever

do Estado Parcerias e Privatização

TEMAS

Ampliação das conquistas sociais; Democratização do

acesso; Déficit social; Financiamento efetivo

Focalização: Diminuição dos Gastos Sociais; Déficit Público

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

Descentralização com controle social Refilantropização

Fonte: BRAVO, MIS in: “A saúde no Brasil na Década de 90 – Projetos em disputa”

Nesta luta é possível visualizar as vantagens do projeto privatista para o

mercado diante das medidas de redução da presença do Estado. Criam-se

condições para o crescimento privado em relação a atenção a saúde,

permitindo que o controle e implementação de programas de saúde gere

despesas financeiras e, sob responsabilidade do Estado, serviços básicos para

atender àqueles que não podem pagar.

Segundo GOUVEIA (1999), esse papel de redução no orçamento

fragmentaram os serviços, reduzindo as compras de medicamentos e

tecnologias.As terceirizações produzem diminuição das qualidades dos

profissionais,assim como as remunerações.As instalações privatizadas serão

de responsabilidade e geridas pelas fundações, essa situação presente em

hospitais universitários, as vagas sendo ocupadas por entidades, quando

deveriam ser pela população em geral, produzindo diferenças em relação aos

usuários e ofertas de serviços diferenciados.

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CAPÍTULO II

OS DESAFIOS ATUAIS DA SAÚDE

A luta por um sistema de saúde universal e a manutenção das

conquistas adquiridas tem uma trajetória permanente de dificuldades.

Conforme a Lei 8.080/1990, a criação do SUS apresenta as seguintes

premissas básicas: acesso universal e igualitário às ações e serviços;

participação comunitária; rede regionalizada e hierarquizada; e

descentralização das ações de saúde que devem ser desenvolvidas de acordo

com as diretrizes previstas no artigo 19814 da Constituição Federal de 1988.

Deve ainda obedecer ao princípio da universalidade de acesso aos serviços de

saúde em todos os níveis de assistência; da integralidade, definida como um

14 Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. § 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º; II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I - os percentuais de que trata o § 2º; II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício.

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conjunto de ações e serviços preventivos, individuais e coletivos, atingindo

todos os níveis de complexidade sem restrições de atendimento, visando a

família, comunidade e indivíduo.

Reduções importantes têm ocorrido no processo de consolidação

dos princípios e diretrizes do SUS. Entre elas é a falta de integralidade no

atendimento. Outra situação presenciada é a diferença de atendimento entre o

usuário do setor público e o do setor privado, onde o último recebe muita mais

atenção. Os que não podem pagar são obrigados a utilizar serviços sub-

financiados.

Há um fluxo de transferência financeira pública para o setor privado

através de serviços terceirizados contratados. Um exemplo são os laboratórios

de análises clínicas inseridas dentro do setor público. Esta situação vem

definindo os interesses de empresas privadas bem como dos planos de saúde

e fabricantes de insumos. Prova disso foi a publicação, no dia 21 de setembro

de 2011, nos principais veículos de comunicação do país de relatórios da

Controladoria Geral da União (CGU) constatando a existência de licitações

fraudulentas e superfaturamento nos gastos de seis hospitais do Rio de

Janeiro que fazem parte da estrutura regimental do Ministério da Saúde. São

eles o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Hospital Federal

Geral de Bonsucesso (HFGB), Hospital Federal do Andaraí, Hospital Federal

da Lagoa, Hospital de Ipanema e Hospital Federal Cardoso Fontes. Estas

irregularidades causaram prejuízos estimados de R$ 16 milhões. Ainda

segundo a CGU, o Hospital dos Servidores pagou pelas refeições cinco vezes

mais que os preços da tabela de referência do mercado. Estes fatos

comprovam como as privatizações e terceirizações facilitam em muito o setor

privado.

Essa realidade de abandono da rede pública de saúde tem fortalecido

as propostas privativas:

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“No âmbito da saúde, apesar do avanço que significou o

Sistema Único de Saúde (SUS), este está sofrendo um

processo de dilapidação, e a baixa qualidade dos serviços

cria opinião favorável à redução e até à extinção da

saúde pública e universal. Por sua vez, a regulamentação

dos planos privados de saúde, em franca expansão,

esvazia o SUS, onera os usuários, mercantiliza a saúde e

favorece o empresário do setor.” BOSCHETTI (2004)

A conscientização dos direitos aos acessos garantidos pela Constituição

de 1988 será a única forma de garantir a cidadania plena, objetivo ainda não

alcançado devido à política neoliberal, responsável pela oferta e qualidade de

serviços diferenciados.

A saúde é uma das políticas de atendimento universal que abrange

todos os cidadãos independentemente da sua nacionalidade, sua etnia, se

trabalha ou não, ou seja, toda a população em geral. Situação essa impossível

de se visualizar. Através dos meios de comunicação (jornais, televisão, etc.) é

possível perceber o estado em que se encontram as instituições da rede

pública de saúde. Os usuários não encontram atendimentos às suas

necessidades: faltam médicos especializados, medicamentos; os

equipamentos em péssimas condições de uso, impossibilitando a realização de

exames próprios para a conclusão de diagnósticos; má conservação da

estrutura física, funcionários insatisfeitos devido à baixa remuneração e

condições de trabalho e superlotação de pacientes. São fatores que acabam

contribuindo para atendimentos fragmentados e interferem na ideologia do

SUS, descaracterizando o princípio da integridade e equidade nas ações

necessárias à promoção, proteção e recuperação da saúde.

“Os eleitores que frequentam os hospitais e postos

médicos de rede pública, dispersos e anônimos, não têm

condições de focalização de suas demandas. Embora,

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com frequência, apareça no noticiário, impresso ou

televisivo, sofrendo nas filas à espera de atendimento –

pode-se até aventar a hipótese de que desempenham

inocentemente o papel de comparsas de uma campanha

de desmoralização do serviço público e embora, também,

se sintam lesados como mostram pesquisas de opinião

que apontam a saúde como um dos problemas mais

urgentes, para a população não constituem pressão.”

(VIANNA, 1999, pag. 95)

Com a saúde vinculada ao mercado, fica claro que a proposta de

política de saúde conquistada na década de 1980 fora desestruturada.

2.1 – Saúde Suplementar

A regulamentação deste setor possui como marcos legais a Lei

9.656/1998, a Medida Provisória (MP) 1.661/1998 e a Lei 9.961/2000, que

criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A ANS é vinculada ao

Ministério da Saúde. Os objetivos da regulação do mercado podem ser

resumidos em alguns itens:

- As pessoas cobertas pelos planos terão suas coberturas garantidas de

forma integral.

- Controlar as condições de ingresso e de saída das operadoras e

entidades que atuam no mercado.

A questão da saúde no país é apresentada pelas necessidades

políticas, sociais e econômicas. A Constituição de 1988 define saúde como

direito e dever do Estado, situação com dificuldades de ser atendida.

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Ao longo dos anos, tanto no Brasil como em outros países, a população

tem usado os serviços privados de assistência médica, hospitalar e laboratorial

para atendimento às suas demandas de saúde devido à precariedade da rede

pública. As chamadas empresas de medicina de grupo foram as pioneiras

neste mercado, surgindo primeiramente nos Estados Unidos da América.

No território brasileiro, esse tipo de empresa iniciou suas atividades na

década de 1960, direcionadas, a princípio, aos trabalhadores do ABC15

paulista. A saúde suplementar é compreendida como necessária nos dias de

hoje devido às condições de falta de atendimento fornecido pela rede pública

conforme divulgada pela mídia.

Os contratos coletivos, individuais e familiares terão assistência aos

seus beneficiários pelas empresas privadas. Considerando a abrangência do

contrato, 1,7% dos planos de saúde (exceto os odontológicos) no Brasil

oferecem uma cesta de serviços que incluem consulta médica, exames

complementares e internação hospitalar. A distribuição desse tipo desse tipo

de plano é semelhante entre os titulares de ambos os gêneros nas diferentes

faixas etárias.

Os planos e seguros regidos por lei são:

- Seguro Saúde – são planos de custeios, isto é, livre escolha de

médicos, hospitais, através do reembolso das despesas sem prejuízo para os

segurados;

- Planos de Empresa – esta modalidade de plano é elaborada para

atender de acordo com o perfil de cada empresa;

15 O ABC paulista, Região do Grande ABC, ou ABCD, é uma região industrial formada por sete municípios da Região Metropolitana de São Paulo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B), São Caetano do Sul (C), Diadema (D), Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

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- Medicina de Grupo – sistema de criação e administração de serviços

médicos hospitalares para atendimento em larga escala com padrão

profissional e custos controlados;

- Cooperativas Médicas – elaboradas e coordenadas sob a lei do

cooperativismo16, assistência por meio de contratos coletivos e familiares e

individuais, com cobertura médico-hospitalar ampla;

- Autogestão – a empresa que formula a autogestão tem a

responsabilidade dos formatos dos planos;

Tabela 1

Distribuição dos beneficiários por modalidade assistencial no setor suplementar de saúde brasileiro – Setembro/201017

MODALIDADE EMPRESARIAL

NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS PORCENTAGEM (%)

Medicina de Grupo 16.527.239 37 Cooperativa Médica 16.041.352 36

Seguradoras Especializadas em

Saúde 5.382.076 12

Autogestão 5.288.105 12

TOTAL 44.783.766 100

Fonte: ANS, cadastro de beneficiários, Setembro de 2010

A resolução RDC nº 39 de 27/10/2010, a Agência Nacional de Saúde

Suplementar definiu e classificou as operadoras de Planos de Assistência à

Saúde no Brasil. De acordo com o Art. 1º:

16 Vem da palavra cooperação e é uma doutrina cultural e sócio-econômica que consagra os princípios fundamentais de liberdade humana, apoiada por um sistema de educação e participação permanente. O Cooperativismo surgiu como forma de organização social para a solução de problemas econômicos. 17 BESSA, Ricardo de Oliveira, Análise dos modelos de remuneração médica do setor de saúde suplementar brasileiro, São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, (2011, pag. 30)

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“ Definem-se como Operadora de Planos de Assistência à

Saúde as empresas e entidades que operam no mercado

de saúde suplementar, planos de assistência à saúde

conforme disposto na Lei 9.656/98. Parágrafo Único: Para

efeito desta resolução, define-se operar como sendo as

atividades de administração, comercialização ou

disponibilização dos planos que trata o caput deste

artigo.” (BRASIL, Resolução RDC nº 39 de 27/10/2010).

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)18 de 2008

aponta que a expansão da saúde suplementar no Brasil se deu,

principalmente, nos setores médios da sociedade. A PNAD de 1998 estipulou

38,7 milhões de brasileiros com, pelo menos, um plano de saúde19. Já em

2008, foi estimado em 49,2 milhões de usuários, o que equivale a 25,9% dos

brasileiros20.

Os princípios e aspectos organizativos da saúde suplementar se

diferenciam completamente do SUS com a população tendo acesso a

tratamentos mediante pagamento, contrapondo-se à universalidade do sistema

público. Possibilidade de segmentação de tipos de planos (ambulatorial,

hospitalar com ou sem obstetrícia e odontologia) em detrimento da

integralidade.

É a capacidade de renda e compra de planos mais abrangentes com

qualidade reconhecida de seus serviços contra o princípio da equidade.

18 Realizada anualmente por amostragem - exceção feita aos anos de Censo – se destina a investigar diversas características sócio-econômicas, umas de caráter permanente nas pesquisas, como as características básicas da população, habitação, mão-de-obra, rendimento e instrução e outras com periodicidade variável, como as características sobre fecundidade, migração, orçamentos familiares, nutrição, saúde, educação etc. 19 IBGE, Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, Cobertura por planos de saúde, 1998. 20 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Um Panorama da Saúde no Brasil, acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde, IBGE, 2008, pag. 39]

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Hoje no mercado, depara-se com uma grande variedade de planos e

seguros de saúde. Unimed, Golden Cross, Assim, Medial, Sul América,

Bradesco estão entre as principais operadoras. O diferencial entre elas é a

rede de serviços, padrão de conforto, carências e valores que serão

contratados de acordo com a opção de cada pessoa. Mas para ter acesso é

necessário cumprir algumas exigências das operadoras. Uma delas é assinar

uma declaração de saúde onde doenças pré-existentes no ato de contratação

cumprirão uma carência de vinte e quatro meses. A omissão de doenças

acarretará em prejuízos de uso ao contratante, podendo ter até mesmo ter seu

plano cancelado.

No ato da contratação, além do já mencionado, outros prazos de

carência deverão ser cumpridos de acordo com seu nível de complexidade.

Vão desde exames mais simples até os procedimentos de alta complexidade.

Dentro deste consumo de saúde suplementar, destaca-se uma parcela da

sociedade com dificuldades em adquirir planos e seguros de saúde, os idosos

devido ao excesso de procedimentos para comprovar boa saúde. As empresas

apontam os mesmos como um grande contingente consumidor de seus

serviços, segundo dados que comprovam grande adesão deste grupo.

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CAPÍTULO III

ANÁLISE DE DADOS

Segundo o IBGE, por meio da PNAD de 1998, foi identificado pela

primeira vez o tamanho e perfil da população usuária de saúde suplementar.

No referido período, estima-se que 38,7 milhões de brasileiros tenham planos

de saúde concentrados nos centros urbanos onde 95% têm renda média

familiar inferior a dez salários mínimos; 52% são jovens com uma porcentagem

de 67% com menos de quarenta anos.

Dados do setor publicados no site da ANS registram que em dezembro

de 2010, o vínculo de 45,5 milhões de beneficiários de planos de assistência

médica com ou sem cobertura odontológica21.

As informações apresentadas estão baseadas no projeto de

investigação em gestão pública. O objetivo geral é identificar motivos que

levam as pessoas a contratação dos serviços de plano de saúde.

Objetivos específicos:

- Traçar um perfil socioeconômico e cultural deste contingente da

população;

- Classificar se os mesmo têm acesso à rede pública de saúde e se já

precisaram, como foi este atendimento;

- Conhecer expectativas na contratação dos serviços de plano de saúde;

21 [Caderno de Informação da Saúde Suplementar : beneficiários, operadoras e planos, Agência Nacional de Saúde Suplementar. – Dados eletrônicos. – Rio de Janeiro : 2011, pag. 29]

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- Verificar a quantidade de vezes que essas pessoas buscaram

atendimento médico no período de um ano.

Como metodologia, a pesquisa a ser desenvolvida tem por objetivo

descrever com um enfoque dialético, por meio de abordagem qualitativa e

quantitativa, utilizando-se os instrumentos da entrevista.

Verifica-se na pesquisa, um breve perfil socioeconômico destas pessoas

que adquiriram, conforme a amostragem, planos de saúde.

Tabela 2

Usuários do Sistema de Saúde Suplementar

Fonte: Entrevistas na concessionária Novacoop – Campo Grande/RJ – Ano2012 /2013

Das pessoas entrevistadas, 40% dos que compraram planos de saúde

que estão na faixa etária entre 30 e 40 anos, fenômeno que pode ser explicado

pela inserção no mercado de trabalho ou exercendo alguma atividade

remunerada, pois adquirir este tipo de serviço acarreta em acréscimo nas

despesas financeiras do cidadão.

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Com base na tabela apresentada de alguns planos de saúde do

mercado, o usuário opta por uma rede de cobertura que será refletida no valor

da mensalidade.

Tabela 3

Valores mínimos e máximos das mensalidades por faixa etária

Faixa etária Valor mínimo (R$) Valor máximo (R$) 29-33 127,81 717 34-38 140,59 788 39-43 154,65 867,57

Valores de tabela de Janeiro2013

A amostragem anterior confirma que para possuir um plano de saúde é

necessário possuir remuneração conforme apresentado na tabela a seguir:

Tabela 4

Faixa salarial dos entrevistados (R$)

Número de Entrevistados

Número de salários mínimos

(R$) Porcentagem

3 até 2 30% 1 até 3 10% 2 até 4 20% 4 até 5 40% 0 acima de 5 0%

10 (Total) 100%

Fonte: Entrevistas na Novacoop - Campo Grande/RJ – Ano 2012/2013

Mesmo tendo batalhado para conquistar o acesso universal pelo SUS, a

lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, através do seu artigo 4º parágrafo 2º,

permite que a iniciativa privada possa participar do sistema pública em caráter

complementar. Tal situação vem sendo constatado, através dos meios de

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comunicação, a privatização de alguns serviços do SUS como, por exemplo,

do laboratório de análises clínicas.

As pessoas esperam, no ato da contratação de um plano de saúde

privado, que o serviço prestado atenda às suas expectativas. Uma amostra

disso são as declarações a seguir:

- “Espero atendimento mais rápido, diminuição do tempo de espera.”

(F.S.)

- Qualidade de atendimento com diagnóstico rápido, diminuição do

tempo de espera para consulta; disponibilidade de recursos materiais (...)” (T)

- Atendimento com agilidade porque no hospital público a espera é de

um, dois (...) meses, até um ano (...)” (L)

A rapidez no atendimento é fundamental para a recuperação de

algumas possíveis patologias (doenças). Mas nesta questão, as pessoas não

têm perspectiva de melhoras conforme constatado nas entrevistas realizadas.

Tabela 5

PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES

Fonte: Entrevistas na Novacoop - Campo Grande/RJ – Ano2012/2013

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Constata-se que 90% das pessoas encontram dificuldades de

atendimento na rede pública.

Confirmando o gráfico anterior, a próxima tabela apresenta os motivos

do não atendimento de indivíduos que procuram o serviço público de saúde em

um período de duas semanas, de acordo com estudo realizado pelo IBGE.

Tabela 6

Indivíduos que procuraram atendimento por duas semanas22

Motivos para o não atendimento (1)

Quantidade (milhares) Porcentagem (%)

Não conseguem vaga ou senha 409 40

Não havia médico ou dentista atendendo 389 38

Não havia profissional

especializado 65 6

Serviços ou equipamentos não

funcionavam 36 3

Desistência após longa espera 51 5

Outros 84 8

Total 1.034 100

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008.

Segundo a Amilpar, ao coletar dados da ANS, registrou que a taxa

média de crescimento anual do número de beneficiários, entre 2001 e 2010, foi

de 6,4%, chegando a um total de 60,4 milhões de pessoas. A empresa acredita

que, no contexto de uma possível expansão macroeconômica e consequente

22 [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Um Panorama da Saúde no Brasil, acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde, IBGE, op. cit., pag. 97]

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aumento da renda disponível e da população ocupada, o mercado de saúde

suplementar possa absorver parcela significativa daqueles que atualmente

recorrem ao serviço público de saúde.

Analisando os dados anteriores, pode-se destacar o usuário que recebe

até cinco salários mínimos tem 12,47% (Ver ANEXO 1) de sua renda

comprometida com planos de saúde privados. Este mesmo cidadão que paga

seus impostos e não tem o retorno do que seria investido em políticas públicas

de saúde. Mesmo com a implantação da extinta Contribuição Provisória sobre

Movimentação Financeira23 (CPMF), o SUS ainda não conseguiu universalizar

o atendimento.

23 A CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) é uma cobrança que incide sobre todas as movimentações bancárias, exceto negociação de ações na Bolsa, saques de aposentadorias, seguro-desemprego, salários e transferências entre contas-correntes de mesma titularidade. (...) A cobrança de 0,38% relativa à contribuição deixou de ser feita a partir do dia 1º de janeiro de 2008.

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CONCLUSÃO

Esse trabalho tem o objetivo de apresentar alguns pontos que requerem

atenção por parte dos governantes e da população, e não concluir o

diagnóstico da saúde no Brasil.

A sociedade tem sido informada pelos meios de comunicação

sobre o crescimento econômico que acontece no país. Mas tal fato não

contribuiu para o fim dos crimes contra o sistema público de saúde e as

consequentes denúncias de compras superfaturadas, medicamentos com

prazo de validade vencida, má conservação dos hospitais públicos e seus

equipamentos. Para não falar da carência de profissionais, insumos e leitos

para atender às demandas que se apresentam diariamente. A conclusão que

se chega é que os recursos são mal geridos e aplicados.

É necessário um olhar diferenciado e com compromisso por parte

dos governantes e responsáveis em formular as políticas do setor porque a

saúde deve ser tratada como prioridade porque está diretamente ligada à

qualidade de vida.

As verbas devem ser direcionadas e aplicadas para atingir as

necessidades, que não são poucas. Todos pagam impostos e muitos querem

que este dinheiro seja revertido em prol da população, principalmente dos mais

pobres, os mais necessitados dos serviços públicos.

Mas para que isso aconteça é necessária a participação das

pessoas. Vários são os debates e conferências que abrem a possibilidade de

conhecer as propostas de políticas públicas no sentido de melhorá-las.

Reflexão e engajamento são fundamentais para pensar um modelo de saúde

justo e eficaz. E não a atenção diferenciada entre os clientes de planos

privados e os dependentes do sistema público.

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A saúde, com acesso universal, igualitário e gratuito é um direito

de todos garantido pela Constituição Federal de 1988. E a população, seja rico

ou pobre, quer que o atendimento seja feito com respeito, dignidade e

responsabilidade.

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ANEXO 1

Demonstrativo

Salário mínimo: R$ 678,00

Até 5 (cinco) salários mínimos: R$ 3.390,00

Valores dos Planos de Saúde:

- Top: R$ 717,00

- Básico: R$ 127,81

- Total: R$ 844,81

Dividindo R$ 844,81 por 2 (dois) é igual a R$ 422,40, valor que corresponde a:

- 12,47% da renda do usuário que ganha até 5 (cinco) salários

mínimos.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BEHRING, Elaine Rossetti e BOSCHETTI, Ivanete. Política social,

fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2008;

MALLOY, James M. A política da previdência social no Brasil. Tradução de

Maria José Lindgren Alves. Rio de Janeiro: Graal, 1986;

FINKELMAN, Jacob. Caminhos da saúde pública no Brasil. Rio de Janeiro:

Fiocruz, 2002;

BRAVO, Maria Inês de Souza. Serviço Social e reforma sanitária: lutas sociais

e práticas profissionais. São Paulo: Cortez, 1996;

SERRA, Rose M. S.. Crise de materialidade do Serviço Social. São Paulo:

Cortez, 2000;

BRASIL. Anais da VIII Conferência Nacional de Saúde, Relatório Final.

Brasília: 1987;

TEIXEIRA, Sonia Fleury. Reflexões teóricas e reforma sanitária. São Paulo:

Cortez, 1999;

BOSCHETTI, Ivanete. Política social, fundamentos e história. São Paulo:

Cortez, 2008;

RAICHELIS, Raquel. Esfera pública e conselhos de assistência social:

caminhos da construção democrática. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000;

BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2004;

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VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. As armas que abateram a seguridade

social IN LESBAUPIN, Ivo. O desmonte da nação: balanço do governo FHC.

Petrópolis (RJ): Vozes, 1999;

BRASIL. Resolução de Diretoria Colegiada nº 39 de 27 de outubro. Brasília:

2000.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

DEBATE DA SAÚDE 09

1.1 – O Modelo Brasileiro da Saúde 09

1.2 – O Projeto Neoliberal e a Saúde 18

CAPÍTULO II

OS DESAFIOS ATUAIS DA SAÚDE 22

2.1 – Saúde Suplementar 25

CAPÍTULO III

ANÁLISE DE DADOS 30

CONCLUSÃO 36

ANEXOS 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41