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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O MARKETING E A MENTE HUMANA NO PROCESSO DE DECISÃO DA COMPRA. Por: Isabela da Silva Pereira Lima Orientador Prof. Jorge Vieira Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O MARKETING E A MENTE HUMANA NO PROCESSO DE

DECISÃO DA COMPRA.

Por: Isabela da Silva Pereira Lima

Orientador

Prof. Jorge Vieira

Rio de Janeiro

2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O MARKETING E A MENTE HUMANA NO PROCESSO DE

DECISÃO DA COMPRA.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Marketing.

Por: Isabela da Silva Pereira Lima

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai por sempre acreditar nos meus sonhos mais loucos e vibrar com minhas

vitórias. Ao meu querido irmão, que apesar da ausência prematura, deixou lições de

valor e humildade que carrego todos os dias. A uma pessoa muito especial que eu

agradeço todo o meu saber acadêmico e meus valores, minha amada Tia Hortencia.

Agradeço todos os dias pelo meu alicerce, minha base, minha guerreira – minha MÃE.

Aos meus professores pela troca de conhecimento e a quem me sustentou e protegeu

durante esse ano de curso, me dando saúde e força para não desistir nos momentos

conturbados.

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DEDICATÓRIA

Ao meu querido e amado marido, Rafael Freire

Lima, que abriu mão de suas quintas-feiras e

embarcou mais uma vez na minha viagem ao

saber.

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RESUMO

O presente trabalho aborda a influência do marketing no processo de compra, ou melhor, como essa ferramenta serve de estímulo para seu público. O tema é fundamental para uma análise de mercado, e apesar da sua prática diária; ainda hoje, é a causa de problemas, por isso a atenção especial ao estudo do marketing. Baseando-se na idéia de que todo homem possui a necessidade de consumir, foi feito um estudo desde os primeiros processos de troca e comercialização até a busca do prazer no ato da compra. Com um embasamento que envolve questão social, cultural e antropológica no sentido de manter o mercado vivo através de estratégias do marketing.

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METODOLOGIA

Este trabalho tem como premissa um estudo teórico, ou melhor, uma pesquisa a

partir de uma ideia já existente, mas ainda equivocada no mercado tradicional.

Foi usado o método dedutivo, no qual surgem idéias e dados gerais que norteiam

o desenvolvimento das etapas da monografia, servindo como reforço para os

argumentos utilizados. Os livros, revistas, artigos, filmes serviram de base para a

construção e aprimoramento na reflexão sobre o assunto tratado.

O principal método utilizado foi a pesquisa bibliográfica; porém a experiência

em pesquisa de mercado e vendas serviram como auxílio nesse projeto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – ANÁLISE DO COMPORTAMENTO HUMANO 10

1.1. Behaviorismo – Aprendizagem e a Teoria de Skinner 14

1.2. Psicologia do Consumo – Freud e as Instâncias da Personalidade Humana 18

CAPÍTULO II – GESTALT X MARKETING 23

2.1. Cognição e emoção 26 2.2. A essência do Marketing 30

CAPÍTULO III – SOCIOLOGIA DO CONSUMO 34

3.1 Status e estereótipos 37 3.2 A compra em razão do significado simbólico 40

CAPÍTULO IV – O MARKETING COMO MONITOR DE TENDÊNCIA 43

4.1 O Poder de Influência na decisão da compra 45

4.2 Crenças, valores e normas: o marketing e a sociedade 46

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53

ÍNDICE 54

FOLHA DE AVALIAÇÃO 56

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INTRODUÇÃO

Todo homem é um ser social, e para estar inserido na sociedade precisa cumprir

alguns atributos, como por exemplo: comer, vestir, falar, passear, trabalhar e comprar.

Em toda sociedade existe um mercado, é o que move o mundo, quebra barreiras,

diminui fronteiras, dissemina cultura, move ideias, estimula pessoas e cria vínculos.

Conforme o pensador Sócrates, conhece-te a ti mesmo. É a mais plena verdade, o

homem precisa se conhecer, fazer uma análise Swot de si mesmo; apontar suas forças,

fraquezas, oportunidades e ameaças; pois somente assim será capaz de conhecer e se

autocontrolar.

No mundo atual, globalizado, sem barreiras e fronteiras, com uma imensidão de

informação, tendência e novidade a cada semana; se o ser não se autocontrolar vai viver

em compulsão por objetos cada vez mais modernos; pois a tecnologia avança

diariamente.

E a busca por um espaço na sociedade muitas vezes se dá através do consumo,

dos bens adquiridos, da imagem transmitida, do ter e não ser. Porque vive-se em um

mundo tangível, palpável, de aparência.

De forma simples e detalhada será abordado no primeiro capítulo o que move o

homem a consumir, buscando explicações na psicologia; em Freud, teoria de Skinner e

no Behaviorismo.

Logo em seguida, no segundo capítulo, é trabalhado o marketing no sistema

cognitivo humano, sua influência e essência através do uso da Gestalt.

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O terceiro capítulo aborda a sociologia do consumo, o que esperar de uma

compra, os estereótipos e o significado simbólico de consumir.

O quarto e último capítulo trabalha o marketing como monitor de tendência,

como um combustível para o mercado; aquele que serve tanto para ditar a moda como

mexer com o consciente e inconsciente humano.

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CAPÍTULO I

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO HUMANO

Comprar para viver ou viver para comprar? Hoje, a atividade da compra

tornou-se tão comum, assim como atender uma necessidade básica (alimentação,

vestimenta ou moradia). E como surgiu esse processo que além de hábito virou

vício? Através de atitudes comuns criadas pela cultura do consumismo em uma

sociedade capitalista, que impõe e dita regras.

O comércio surgiu na antiguidade, a partir do processo de troca de

alimentos cultivados, ou objetos por alimentos. Cada família possuía determinada

habilidade: pesca, agricultura, pecuária, artesanato entre outras. E como

normalmente, produziam mais do que consumiam, a população começou a estocar

produtos; daí surgiu à necessidade da troca. Esse sistema se iniciou com um único

objetivo – evitar o desperdício.

As trocas eram diretas e sem valor específico, era necessário ter o poder de

barganha. Começou em forma de um produto por outro e depois houve a

necessidade de institucionalizar o processo, ou melhor, buscar um valor a pagar,

criar um modelo para dinamizar a troca. Tentou-se o sal, daí a origem da palavra

salário, depois a concha, o ouro até chegar à moeda. A ideia era unificar, ou seja,

deixar o comércio igualitário.

E assim o mercado se expandiu juntamente com as formas de comércio. Os

processos mudaram e o homem também; anteriormente a necessidade de compra era

de fatores básicos, ou seja, alimentos, roupas... A modernização transformou a

necessidade (estado de privação) em desejo (forma que a necessidade humana

assume quando se torna particularizada por determinada cultura ou pela

personalidade individual).

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Um exemplo clássico é o slogan da Sprit em tempos atrás, onde dizia,

“obedeça a sua sede”. Se fosse necessidade, qualquer líquido iria suprir sua sede,

seu estado de privação; porém ele tem sede específica, é de Sprit, logo é uma

necessidade, pois foi determinada. O ser humano se encontra entre o paradoxo do

egoísta e altruísta, pois é preciso comprar para suprir algo. É comum adquirir um

carro para se sentir poderoso e luxuoso. E dependendo da marca, como por

exemplo, quem compra um Mercedes, busca comprar elegância.

Esses desejos não pertencem à esfera da necessidade. Segundo Maslow

(psicólogo americano), que foi precursor de um estudo conhecido como hierarquia

de necessidades ou pirâmide das necessidades humanas; existiam níveis de

necessidades e que precisavam ser saciadas da base até chegar ao topo (auto-

realização) e para chegar a esse ponto é preciso que todos os níveis da pirâmide

estivessem harmônicos, pois dessa forma o indivíduo se tornaria completamente

feliz.

A base da pirâmide seria a necessidade básica, o nível 1 – comida, água,

sono, sexo, abrigo entre outros fatores. Saciado esses itens chega-se ao nível 2 :

segurança – emprego estável, casa, um plano de saúde. Nível 3: Social – amizade,

amor, afeto, família (estar inserido em um grupo). Nível 4: Estima – confiança,

conquista, respeito; está vinculada as capacidades pessoais e reconhecimento dos

outros). Nível 5: auto realização – criatividade, espontaneidade, aceitação de fatos.

Para Maslow, quando se chega ao topo é quando o homem é coerente com o que é

na realidade, ou seja, ser tudo aquilo que é capaz de ser, desenvolver todos os seus

potenciais.

Esse estudo serve de grande auxílio ao presente trabalho, pois para o

homem chegar a sua auto-realização é preciso passar por todos os níveis da cadeia

de Maslow; mas não é isso que acontece. Compra-se para satisfazer uma

necessidade, um desejo, um impulso, uma carência. É um processo complexo em

que abrange estímulos sensoriais, percepção, memória, formação de atitude,

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comportamento, além da criação de uma imagem. Pessoas que gastam mais do que

podem para se inserir em um grupo, compram um celular moderno ou um bom

carro; que deveriam estar no nível 1 e estão no 3; contudo, muitas vezes não

possuem o que comer e podem estar vivendo em ambientes degradantes para manter

uma aparência.

Voltando a Maslow, quando se fala em nível 1, consiste na premissa mais

básica da existência humana e está relacionado à manutenção da vida; comer, beber,

dormir... E subindo a pirâmide surge a questão da busca por proteção física e

mental; emprego fixo, plano de saúde, casa própria... A necessidade de afiliação

significa estar inserido em grupo, pois o homem é um ser social. A estima está

vinculada a uma necessidade pessoal e social, pois se caracteriza pelo prestígio,

respeito e reconhecimento. Além da autorrealização, seria ser o que você deseja ser

para se sentir realizado.

E mercadologicamente como se enquadraria esse estudo? No nível 1, seria

a alimentação, além de remédio, atividade física, sexual entre outras. No nível dois

seria imóvel, sistema de alarme, câmera, plano de aposentadoria... No três, o que

realmente é consumido: perfume, creme dental, vestuário da moda, cerveja... No

quatro, entram carros de luxo, uísque, relógio de marca, ouro... E no último é a

busca por conhecimento, cultura, viagens, esportes, museus.

A sociedade capitalista impõe a regra, e o marketing apenas serve como

estímulo na mente humana. Não se vende cosmético, vende-se beleza. Até alguns

anos era comum ver todo o público feminino com o cabelo alisado, a indústria das

progressivas entrou de forma agressiva no mercado, assim como o próprio produto

é, a base de formol ou ácido. E as mulheres não buscam saber o que pode ou não

acontecer, o ideal é o cabelo liso, esse é o padrão. Surgiu agora, a desprogressiva,

ou seja, voltar aos cachos. Pois surgiu um novo mercado, o do natural, voltar a ter o

“Black” é sinônimo de estilo e personalidade.

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Observa-se como o ser humano é manipulável e volátil. Há uma relação

ambígua entre os cuidados com a beleza, a promessa de estar na moda e o medo de

ser artificial. E essas dúvidas e imposições do mercado levam-o a disfunções de

consumo (compra compulsiva) e o hedonismo desenfreado por busca de satisfação

ou de inserção social. Alguns críticos sociais apontam o consumismo como uma

ameaça a própria sobrevivência humana, pois exige o uso excessivo de recursos,

muitas vezes descartados, além de levar à poluição do meio ambiente.

Sob esses aspectos é necessário entender os mecanismos que presidem o

comportamento individual no ato da compra e do consumo, utilizando da psicologia

como aparato no entendimento de algo tão enigmático, que é a mente humana. E

tentar designar o que impulsiona o consumidor. O marketing serve de apoio a isso,

tanto que as propagandas servem para mexer com o consciente e o inconsciente

humano. Em propaganda de roupa íntima são homens e mulheres belos, altos e

magros – esse é o padrão de beleza, ou melhor, de sexualidade.

E o consumidor acredita que usando aquele produto chamará atenção ou se

parecerá com aquele personagem. Cria-se uma força interna que incita o indivíduo a

comprar, direcionando a esse comportamento. Anos atrás, quando a população

americana sofreu de anemia, principalmente o público infantil, com dados altos e

não obtinha efeito os tratamentos e ensinamentos médicos. Até que surgiu a ideia de

criar um marujo pequeno, que quando comia uma lata de espinafre ganhava uma

força surreal e vencia o rival, Popaye - era o nome do desenho animado e a partir do

consumo do espinafre muitas crianças venceram a anemia.

Um comportamento pode ter como proveniente vários motivos, é natural

que dessa junção surja a compra. Momento de ansiedade, medo, raiva, insegurança:

todos esses sentimentos são controladores de ação. É normal, após a separação, um

dos cônjuges estourarem o limite do cartão de crédito, ou uma gestante de primeira

viagem, comprar tantas peças que o bebê nem consegue usar. Ou até mesmo frente a

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uma doença, com a ideia de cura busca-se médico e exames muitas vezes

desnecessários.

1.1 Behaviorismo – Aprendizagem e A Teoria de Skinner

Behaviorismo é uma palavra inglesa, que tem como significado

comportamento, conduta. O termo ficou conhecido pelo conjunto de teorias

psicológicas que postulam o comportamento humano. É definido um estudo sobre

estímulos e respostas e sua análise foi feita a partir de experiências em ambiente

experimentalmente controlado, observação no ambiente natural e relações

comportamentais orientadas por evidências empíricas.

O Behaviorismo clássico ficou conhecido pela proposta de Watson, e sua

finalidade era controlar o comportamento de todo e qualquer individuo. Esse estudo

se referia ao comportamento como uma resposta a um estímulo específico. No

mundo publicitário; pode-se dizer que o estímulo seria o marketing e a resposta a

compra. Watson acreditava que todo comportamento era consequência da influência

do meio. Abrindo um parêntese com a afirmação de Watson, essa influência do

meio sobre as pessoas foi fortemente abordada na obra O Cortiço, de Aluísio de

Azevedo, em que uma das personagens, Pombinha, menina pura e de alma boa se

corrompe por influência do meio em que vive.

O mais famoso estudioso dessa área foi Pavlov, foi o primeiro a propor um

estudo de condicionamento do comportamento, que ficou conhecido como reflexo

condicionado e era feito com cães. Ele treinou esses animais de forma que quando

determinado estímulo era oferecido acompanhado por alimento produziam a

salivação; mesmo quando não existisse o alimento, eles estavam condicionados a

salivar. Por exemplo: sino (símbolo neutro), alimento e cão. Tocava-se o sino e em

seguida oferecia o alimento, após algum tempo, apenas o ato de tocar o sino,

causava a salivação no animal, mesmo sem receber o alimento.

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Fazendo uma analogia ao mundo empresarial, no processo de compra os

estímulos podem ser: anúncios, música, imagens, cores, formatos e as possíveis

respostas provocadas por todo esse estímulo seria a compra, a preferência da marca

dentre outros fatores. Como por exemplo, é comum o uso de cores quentes em

lanchonetes e fast foods, o amarelo e o vermelho, normalmente prevalecem; pois

esses tons estimulam o apetite.

Há algumas varáveis no estudo da aprendizagem pela teoria do

condicionamento, que abrange o conceito de reforço e extinção de resposta. O

reforço é dado através da premiação, após concluir determinada atividade. A

extinção é quando ao invés do prêmio, ocorre uma frustração. A intensidade do

estímulo tende a funcionar de forma positiva, maior o estímulo, melhor a resposta.

Muitos empreendedores usam essa estratégia do reforço para manter seus

funcionários motivados, o estímulo pode ser uma promoção, homenagem ou um

simples elogio.

Um exemplo de extinção do estímulo seria a propaganda no verso do maço

de cigarros, em que são apresentadas imagens chocantes causados pelos males do

tabagismo. Essa seria uma forma de “travar” o consumidor, ou ser um fumante

consciente dos males do produto. Porém, é indiscutível que esse tipo de propaganda

serve para amedrontar o seu público e tentar reduzir o número de dependentes.

Observa-se que alguns consumidores são mais sensíveis e outros menos a esse tipo

de apelo.

Uma observação interessante é que quando dois estímulos semelhantes

costumam provocar respostas semelhantes. Pessoas tendem a reagir a uma abertura

de portfólio com a mesma aceitação ou negação. A Bombril (palha de aço conhecida

no mercado) é do mesmo fabricante do detergente Limpol, logo; o consumidor

habituado a usar palha de aço Bombril vai se identificar com o Limpol, pois se

associa que é da mesma linha de produtos. Estímulos semelhantes (mesma empresa)

respostas semelhantes (compram os dois produtos).

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O importante é que o conceito anterior não seja confundido com

condicionamento instrumental, a partir de determinado número de compras bem

sucedidas de um mesmo produto, o indivíduo passa a desenvolver uma preferência

por ele. Daí surge o consumidor leal.

Quanto mais forte o hábito, maior a probabilidade de que o indivíduo dê a mesma resposta, quando defrontado com situação similar ou igual. No contexto do comportamento de compra, a aprendizagem se produz quando o indivíduo, após realizar a compra, consome ou usa o produto. (ROCHA, 2012, p. 84).

Existe também a aprendizagem por imitação, conhecida como modelagem e

é influenciada por outras pessoas. O consumidor usa porque o outro usa, aprende

pelo meio da observação. Forma seus gostos e preferências, por espelhar-se em

outra pessoa. O consumidor está inserido em uma rede de relações nas quais

modelam os padrões de consumo. A publicidade costuma usar essa estratégia

quando convida casais respeitados na mídia para protagonizarem determinada cena.

Quem nunca sonhou com a família perfeita igual à mostrada no comercial da

Margarina?

É importante ressaltar que muitas pessoas se endividam graças a esse modo

de aprendizagem; pois muitas vezes buscam imitar uma imagem, mas que

infelizmente não cabe no orçamento. Além, é claro do cuidado que deve existir

nesse tipo de aprendizagem; pois filhos crescem nesse ambiente familiar e acabam

herdando os hábitos dos pais. Uma mãe que consome muito cosmético ou calçado

tende a ter filhos que irão gastar com o mesmo tipo de objeto.

A aprendizagem cognitiva está associada à transmissão da informação e a

assimilação dessa informação. No ano passado houve um grave problema nos

Estados Unidos, vinculado a uma informação propagada pela mídia; a campanha de

sarampo foi um fiasco, pouquíssimas crianças foram vacinadas e o ministério da

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saúde buscou respostas ao acontecimento inédito. Semanas antes tinha sido

veiculado em uma revista conhecida e conceituada que a vacina contra o sarampo

podia causar autismo, como reação em algumas crianças. A informação se espalhou

e o número de vacinados foi bem abaixo do previsto. Médicos tiveram que ir a

mídia explicar esse equívoco e complementar que o sarampo poderia causar um mal

muito maior, que seria uma doença degenerativa no cérebro, a encefalite.

A aprendizagem experimental é aquela que não pode ser codificada. Ela só

pode ser adquirida aos que sofreram a experiência. Parecido com o conceito de

conhecimento tácito, em que são aqueles adquiridos no decorrer da vida, através de

hábitos, crenças e cultura. Como por exemplo, o consumidor que vai ao parque de

diversão ou participa de um desfile na Sapucaí, só quem sofre a experiência adquire

essa aprendizagem. Está relacionado à unicidade do momento, assim como degustar

uma comida, o sabor nunca é o mesmo, chega à proximidade, mas não é algo que

consegue transmitir, é único.

Existe também a aprendizagem como custo de mudança, como hoje a

tecnologia é altamente influenciável no processo de compra, o que se observa é que

o produto de agora estará obsoleto daqui um ano. A modernidade traz muitas vezes

a repulsa, principalmente no público idoso, assusta e pode causar medo e

normalmente causam uma barreira nesse tipo de aprendizagem. Aí entraria a

questão do planejamento. Observou-se que após a invenção e comercialização do

Viagra, aumentou o índice de soro positivo na terceira idade, pois não houve uma

estratégia de treinamento e explicação sobre o uso do preservativo, produto que não

existia na época em que tinham uma vida sexual ativa.

Fazendo uma analogia sobre todas essas formas de aprendizagem e a Teoria

de Skinner, que inclusive até hoje é muito usado por pedagogos no meio acadêmico,

mostra uma forma bem próxima de estimular ou reprimir o comportamento. Essa

teoria adota que a repetição mecânica deve ser incentivada, pois a mesma leva a

memorização. Para Skinner a aprendizagem só acontece quando há aquisição de

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novos comportamentos. Apesar de muitas vezes o ser humano parecer ser moldado,

devido o incentivo ou a pressão social através de incentivos repetitivos

(comerciais), ele realmente aprende ou torna-se fiel a algo quando passa pelo

processo de experimentação e isso irá gerar um novo comportamento (compra).

1.2 Psicologia do Consumo – Freud e as Instâncias da Personalidade

Humana

Quando se discute necessidade humana não há como deixar de citar Sigmund

Freud, o pai da psicanálise e o homem que teorizou três forças internas capazes de

mover o indivíduo: o id, o ego e o superego.

O id seriam os instintos - os impulsos básicos dos indivíduos; o agir sem

pensar. O ego seria um controlador para o impulso, como um dirigente para as

atividades diárias, o filtro, o mediador do comportamento aceitável pela sociedade.

E o superego seria o que avalia o comportamento, reprime, censura, julga e pune

quem “viola” as normas de conduta.

Quando se trata da questão da compra, observa-se que existe um determinado

comportamento específico para cada força interna descrita por Freud. Por exemplo:

A compra de produtos caros, exclusivos e luxuosos está diretamente ligada ao

superego. Atua também na forma de pagamento; alguns se sentem culpados por

comprar a crédito, preferem pagar a vista, com a intenção de diminuir a culpa pela

ação de comprar. Enquanto algumas pessoas não se preocupam em pagar em mais

de 20 vezes e não se desconfortam com essa situação.

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Para facilitar o estudo, Freud distingue os três tipos de forças da seguinte

forma: personalidade erótica (id), narcisista (ego) e a personalidade obsessiva

(superego).

Vale ressaltar que todo processo de compra tem como grande fator de

influência a cultura em que se vive e é criado. Os costumes e doutrinas moldam o

comportamento humano. A cultura serve para padronizar e restringir a pessoa e até

a sociedade. O motivo da compra de determinado objeto ou de determinada ação

estão diretamente ligados a valores e normas sociais.

Muitas vezes compra-se algo para se inserir em um grupo ou até mesmo para

achar que está mais incluso. Há mecanismos psicológicos que podem interferir

nesse processo de compra. A racionalização é quando se busca justificativa para

determinada ação ou opinião; comprar um carro novo, do ano pode gerar um

sacrifício desnecessário, mas justificasse a compra pelo argumento de maior

conforto e segurança. Logo, racionalizasse a ação da compra do carro.

Há também a supressão, é quando o indivíduo reconhece o real motivo que o

levou a fazer a compra, mas prefere negá-lo. Por exemplo, quer um novo carro e

argumenta que o antigo já estava causando problema, não estava respondendo como

antes.

E existe a repressão, é quando o verdadeiro motivo da compra vira algo

inaceitável ao indivíduo; que inconscientemente o reprime. Às vezes, o consumidor

chega a desconhecer o motivo porque comprou algo. Age por impulso e isso cria um

sofrimento, um sentimento de culpa no seu subconsciente ou até mesmo uma

doença.

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Em seus estudos, Freud identificou dois tipos de forma de motivação que

influencia o ser humano a agir; seria o manifesto e o latente. E esses dois motivos

estão vinculados ao sonho, que para o estudioso estava ligado ao id. Para Freud,

sonhar é um processo de satisfação de um impulso do id; porém essa satisfação é

parcial, já que a gratificação completa é feita através de ações apropriadas e fica

impossibilitada pelo sono.

O sonho é uma fantasia da satisfação do impulso, isso constitui o conteúdo

latente, é experimentada pelo sonhador sob a forma sensorial. Freud descreveu esse

conteúdo como o do desejo inconsciente. Ele alegou em seus estudos que o homem

precisa dormir para descansar o corpo e para sonhar; seria o momento de se

“libertar” e sua consciência se desligar em partes e só assim, os desejos reprimidos

são realizados.

Para Freud, muitas pessoas sofrem traumas que vão gerar certos

comportamentos inadequados e que na verdade é consequência de desejos e

vontades reprimidos. Isso seria a possível explicação para atitudes compulsivas de

compra. No conteúdo manifesto é quando há uma criação de um relato mentiroso,

seria como buscar uma justificativa para o injustificável. O conteúdo manifesto de

um sonho esconde a verdade, é repleto de sonhos e símbolos (elementos absurdos e

confusos) que pairam na mente humana.

O verdadeiro sonho é o conteúdo latente e o conteúdo manifesto é o que se é

contado, sendo como um disfarce do verdadeiro sonho. Latente será o inconsciente e

manifesto é o consciente. O conteúdo latente seria o impulso e o manifesto é uma

imagem visual, uma fantasia que simboliza um desejo. Observe abaixo como seriam

os dois conteúdos no ato da compra de um carro.

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Motivos Manifestos Motivos Latentes

É um carro espaçoso e mais confortável. É uma demonstração do

É um carro de excelente qualidade e meu sucesso.

desempenho.

Vários amigos têm um Mercedes É um carro poderoso e

e estão satisfeitos. luxuoso, demonstra poder

Há um tempo quando surgiu o café solúvel, houve um grande índice de rejeição

em algumas donas de casa, pois se criou o estereótipo de que as mulheres que usavam

esse produto eram preguiçosas. Logo, os fabricantes iniciaram o processo de marketing

para tentar mudar essa reação e esse preconceito. Pois hoje, a mulher domina o mercado

de trabalho e precisa de utensílios práticos e rápidos. Nesse contexto, observa-se a

personalidade influenciando nos conceitos.

A personalidade influencia todo o processo de compra e de comportamento

humano. Por que consumir? Qual motivo? Mostrar o que? Para quem? Existem os

fatores utilitários e os hedônicos que motivam a pessoa a comprar. O primeiro, utilitário,

seria a compra do que realmente é necessário no dia a dia (produto de limpeza, material

escolar, alimento...) o hedônico seria como o supérfluo, está associado ao prazer

(cosméticos, roupas em excesso e caras, estética...).

Vale ressaltar que dependendo da cultura e do padrão social, o que é hedônico

para um grupo pode ser utilitário a outro e vice versa. Isso é verificado através do

próprio hábito de cada grupo; por exemplo, japoneses dormem bem menos que os

brasileiros. Franceses já perdem mais tempo nas refeições. E a partir dessas

Comprar um

Mercedes

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características, os profissionais de marketing agem em cima de conceitos culturais e

hábitos; para que uma compra seja efetuada e possa chegar a uma fidelização.

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CAPÍTULO II

GESTALT X MARKETING

A Gestalt também é conhecida como a psicologia da forma, prega que antes

de compreender as partes é necessário ter o entendimento do todo (conjunto). Na

teoria da Gestalt, o todo é maior do que a soma das partes que a constitui. Por

exemplo: uma cadeira é mais importante que suas partes individuais; como seus pés,

assento e recosto.

Para o marketing, o todo também é o principal elemento da obra. Por isso a

importância do conjunto ser harmônico. Há uma preocupação excessiva com as

cores, linhas, formas, pontos para que a obra cause o maior impacto e resultado

possível.

Os fundamentos da Gestalt também são usados em arquitetura, design e é

muito importante no marketing; desde a escolha do logo, ao formato da letra,

tamanho e cor escolhida. Pois isso faz toda a diferença para o seu público, serve

como estímulo. Normalmente, restaurantes preferem as cores quentes, pois aguçam

o apetite. Hospitais preferem cores frias, porque acalmam. As cores causam um

grande impacto na reação das pessoas.

Existem sete fundamentos básicos da Gestalt, definidos por: segregação -

seria separar as informações por hierarquia, importância na ordem de leitura.

Semelhança - quando elementos da mesma cor buscam ser agrupados, criando uma

proximidade. Unidade - vários elementos são percebidos como um todo, um único

elemento diz tudo. Proximidade - elementos próximos tendem a ser agrupados

visualmente: unidade de dentro do todo. Simplicidade - harmonia e equilíbrio

visual, ou seja, o menos é mais. Fechamento - preenchimento de lacunas, o

acabamento. Pregnância - forma, percepção; é a impressão causada ao observar

algo.

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A Teoria da Gestalt afirma que não se pode ter conhecimento do todo

através das partes, e sim das partes através do todo; que os conjuntos possuem leis

próprias e estas regem seus elementos. E através da percepção da totalidade é que o

cérebro pode perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito. Por

exemplo: uma criança que ainda não sabe ler, ao ver o “M” do McDonald’s, associa

ao hambúrguer. Ela faz essa associação devido à interpretação do todo (cores,

formas...).

A grande função do marketing é saber lidar com seus clientes; usando

diversas técnicas, assim como a Gestalt para criar valor, fixando imagens e sons na

mente do seu público. A líder mundial de refrigerantes, Coca-Cola, propaga o

simples “Sempre Coca-Cola” – sempre mata a sua sede, sempre boa acompanhante

para qualquer comida, sempre na sua vida.

O marketing está no anúncio que invade a sua TV, dá sabor a sua revista, lota sua caixa de correspondência ou alegra as páginas da internet. Em casa, na escola, no trabalho e nos locais de lazer – você está exposto ao marketing em praticamente tudo que faz. (KOTLER, 2004, p. 3).

Associando o marketing e a Gestalt pode se observar que realmente a forma

influencia de forma direta no ato da compra. Atualmente, lojas e restaurantes estão

optando por ambientes temáticos e tem feito grande sucesso no mercado, oferecendo

mais que produto e comida, mas vendendo o momento, o conjunto, o visual.

Muitos clientes observam o design, a estrutura e até a aparência de um folder

ou propaganda antes mesmo de visitar o espaço físico. Há uma moda atual em

decorar no estilo retrô. E a própria loja da Granado investiu na decoração, com a

intenção de resgatar a tradição da marca, criando um ambiente de botica dos anos de

1920; com mesa de manipulação utilizada para expor lançamentos e itens no centro da

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loja; móveis clássicos e originais; balanças, placas, embalagens antigas e fotos para

compor o ambiente; houve a extinção do balcão; tapete central de ladrilho hidráulico

para remeter ao passado; e adição de pias para gerar a experimentação de sabonetes e

esfoliantes.

Segundo Ferrell, 2016. p. 7, a definição de marketing está ligada ao processo

de criação, distribuição, promoção e precificação de bens, serviços e ideais para

facilitar a satisfação nas relações de trocas com os clientes e desenvolver e manter

relações favoráveis. Há um conjunto de fatores que devem ser harmônicos para

obter sucesso.

O ato da compra está diretamente associado à necessidade, citada no

Capítulo I, desejo e demanda. Porém, um elemento importante que o marketing

busca trazer é o valor a ser agregado pelo cliente aos benefícios e seus custos.

Buscar até quanto vale fazer o sacrifício para obter um produto ou serviço. Esse

custo está vinculado a tudo que vai abrir mão para conseguir efetuar a compra.

Para Ferrell, 2016. p.11, ao desenvolver atividades de marketing, é

importante reconhecer que os clientes recebem benefícios com base em suas

experiências. Como a entrega rápida de um produto ou um serviço bem prestado.

Voltando a Gestalt, a forma, o todo – o espaço físico hoje faz toda a diferença,

paga-se o momento, o ambiente. Essa estratégia de marketing é um dos fatores

chave para a sobrevivência e crescimento de uma empresa em um mercado global e

competitivo.

O fato de uma empresa ser bem sucedida não é garantia para o futuro. Muito ao contrário, dada a dinâmica do mercado, qualquer estratégia tende a ser superada em algum momento. As vantagens competitivas de uma empresa podem ser neutralizadas pelos concorrentes por meio da

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imitação ou superação dessas vantagens. (ROCHA, 2012, p. 3).

A tarefa do marketing, baseado nos princípios da Gestalt seria construir e

manter vantagens competitivas, usando criatividade, inovação e técnica tentando se

distinguir dos concorrentes.

2.1 Cognição e Emoção

Segundo Ferreira, 2012. p. 67, é preciso comprar e consumir para atender

uma necessidade básica, como comer e vestir; mas além disso, o ato da compra

serve para atender outros desejos, ligados ao egoísmo e altruísmo. A sensação de

mostrar o que é a partir do que tem e do poder de aquisição.

Cognição e emoção estão diretamente ligadas e são processos psicológicos

que norteiam o ser humano e geralmente estão por trás do comportamento do

consumo. Para os cognitivistas, a emoção pode influenciar uma compra, mas não

domina a mente humana. O indivíduo se situa no mundo e interage com ele a partir

dos processos cognitivos, esse processo é diretamente ligado a questão da

percepção, memória e aprendizagem.

A cognição é um processo complexo, que inclui percepção e memória. A maior parte da cognição ocorre de forma inconsciente e apenas uma pequena parcela em situação de plena consciência. (ZALTMAN, 2003, p. 77).

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Para Mital, 2008. p. 24, a percepção está envolvida com a cognição, e o ser

humano organiza e interpreta os estímulos sensoriais recebidos. No capítulo

anterior, foi citado a Teoria de Skinner e a influência do marketing no ser humano,

onde é visto pelo mercado como um ser passivo a espera de um estímulo.

A sociedade e o mercado bombardeiam o ser com propagandas, anúncios –

tudo está ligado ao marketing. O homem a todo o momento vende uma imagem - de

pai de família, bom marido, trabalhador... O indivíduo vê e interpreta o mundo que

o cerca e seu comportamento é motivado pela influência do mercado e do próprio

marketing.

Segundo Hawkins, 1995. p. 249, os estímulos sensoriais são de diversos

tipos e a capacidade de atrair indivíduos difere; e cada ser realiza uma espécie de

seleção - do que realmente é verdadeiro e necessário e do que seria apenas clichê.

Determinado público frequenta uma loja porque sua arrumação e espaço assumem

valor e significado ao seu cliente, está associado ao bem estar.

Está embutido na questão da massa, segmento e nicho. Massa seria um

público generalizado, visa à venda imediata e não cria vínculo, no ramo de calçados

pode ser exemplo a loja Di Santinni. O segmento seria algo mais específico, um

ambiente mais confortável, e um gasto maior de tempo na compra do produto, além

do preço diferenciar também; o exemplo da Mr. Cat. O nicho é o segmento do

segmento, produtos sob medida e que saem por um grande custo, o exemplo seria

loja de calçados ortopédicos, Dr. Sholl.

Cada consumidor procura o mercado que vai atender melhor sua necessidade,

quanto mais específico o público, mais custoso, porém há uma atenção e zelo maior

com o cliente. Isso envolve uma questão de poder e disposição à compra.

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Cada ser humano percebe de forma distinta um fato e também reage de forma

diferente a um estímulo, o importante é observar que a percepção e aceitação de

algo estão vinculadas as questões individuais, culturais e sociais. A empresa O

Boticário, sempre teve espírito inovador e inclusivo em suas propagandas, porém

nem sempre foi bem aceita. No último ano, prepararam um comercial para o dia dos

namorados, e exploraram todos os tipos de casais – jovens, idosos, heterossexuais e

homossexuais.

A repercussão não foi boa, em especial nas redes sociais; apesar de não

existir nada apelativo na cena, o público questionou a propaganda e a mesma foi

retirada do ar. O interessante é que no ano anterior, foi criado um comercial, em

homenagem ao dia dos pais, era mostrado um menino no orfanato esperando

comemorar seu primeiro dia dos pais com sua família adotiva. Essa propaganda foi

bem aceita pela sociedade e seu público; porém não deixa de levar a mensagem que

apoia essa nova família que surge na sociedade.

A equipe de marketing do Boticário, provavelmente não esperava uma reação

extremamente conservadora de seu público; sabia que corria o risco, porém apesar

de toda a polêmica causada, mesmo o vídeo fora dos canais abertos, foi

excessivamente visualizado nas redes sociais. Criou-se uma grande polêmica sobre

o fato. A população sabe que existe esse público, respeita, mas não apoia. Esse é o

processo de cognição - o ato de percepção, atenção, associação, memória, raciocínio,

juízo, imaginação que são trabalhados pelo marketing.

Quando se trabalha a memória hoje, diante da globalização e da era digital

observa-se que esse excesso de informação seja mais difícil de adentrar no

consciente individual. Ele recebe a mensagem, mas muitas vezes não armazena nem

associa aquela informação.

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No mundo moderno, a proliferação de produtos e mensagens de propaganda sugere que é cada vez mais difícil para determinado produto ser percebido e lembrado pelo consumidor. Como fazer com que a marca fique gravada na memória dos consumidores? Um dos maiores desafios dos executivos de marketing consiste exatamente em ultrapassar as barreiras cognitivas que se colocam entre seu produto e o consumidor. (SILVA, 2012, p. 80).

Cognição está ligada ao conhecimento e emoção se refere ao sentimento. Na

percepção cognitivista, o consumo é algo racional e o consumidor é visto como

decisor e assim estabelece a preferência em comprar ou não e por qual marca

escolher.

Para Ferreira, 2012. p. 83, na visão hedônica se baseia na emoção como

mecanismo psicológico dominante no comportamento do consumidor. E o ambiente

de compra é visto como parte hedônica; por isso muitos varejistas criam espaços de

consumo onde o cliente tem a oportunidade de experimentar e sentir, se familiarizar

com o produto ou serviço.

Nas lojas de maquiagem da MAC, há uma simulação de camarim, com

iluminação e espelhos; os vendedores são maquiadores treinados que aplicam os

produtos nos clientes e ensinam técnicas de maquiagem rápidas para o dia a dia.

Esse contato direto também cria um diferencial para o público, pois além de

comprar produtos de beleza, ganham um serviço – técnica de se maquiar.

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2.2 A Essência do Marketing

O mercado está cada vez mais competitivo, dinâmico e volátil. Para se

sustentar nesse ambiente, são necessárias muitas estratégias, por isso no marketing é

tão importante o planejamento estratégico, que segundo Kotler, seria o processo de

desenvolver e manter ajustes entre os objetivos, habilidades e recursos de uma

organização em um mercado em contínua mutação.

Para Kotler, há etapas no plano estratégico que seriam a definição e

missão da empresa, depois o estabelecimento dos objetivos e das metas da empresa,

passaria para o desenvolvimento do portfólio de negócios até chegar ao então

planejamento de marketing e outras estratégias funcionais.

Uma declaração de missão é uma declaração do propósito de uma organização – o que ela quer realizar em um ambiente maior. Uma declaração de missão clara age como uma “mão invisível” que orienta as pessoas em uma organização. (KOTLER, 2004, p. 33).

Quando se define uma missão, o ideal é ter cautela para não ser muito ampla

e nem totalmente restrita. O importante é que seja sempre realista e estar adequada

ao ambiente de mercado e dentro do cenário econômico mundial. Outra

característica seria buscar sempre uma missão motivadora, buscando aumento de

vendas e crescimento; onde o lucro apareça como consequência.

Empresas como a Walt Disney vendem “momentos inesquecíveis e

felizes”; é considerada no mercado como visionária e embora o lucro não faça parte

da missão da empresa, eles continuam com resultados favoráveis no mercado. No

Brasil, existiu o parque temático Terra Encantada; porém o público não se

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identificou com os personagens apresentados; muitas vezes sendo desconhecidos;

além dos ingressos caros, problemas com alguns brinquedos; esses foram alguns

fatores que levaram esse projeto ao declínio e falência.

O ideal é que a missão da empresa seja transformados em objetivos claros e

detalhados principalmente ao seu público interno. Não adianta existir na teoria, se

os colaboradores não conhecerem e apoiarem a ideia. Assim que a missão estiver no

“sangue” da equipe, a administração deve desenvolver o portfólio de negócios.

A principal atividade no planejamento estratégico é a análise do portfólio de negócios, por meio da qual a administração avalia os negócios que constituem a empresa. O objetivo da empresa é investir fortemente em negócios mais lucrativos e reduzir ou abandonar os investimentos em negócios mais fracos. (KOTLER, 2004, p. 37).

No portfólio de negócios é interessante a medição do que há saída,

qual custo gerado e nesse sentido foi desenvolvida a matriz de

crescimento/participação; serve como medidor. É dividida pelo produto estrela,

vaca leiteira, criança problema e abacaxi.

Segundo Kotler, 2004, p. 38, estrela seria o produto de alto crescimento e

participação, mas precisa de investimentos pesados, porém em um dado momento

ela pode se transformar em vaca leiteira; que seria o produto de baixo crescimento e

alta participação nas vendas, além de precisar de pouco investimento para continuar

no mercado. Criança-problema tem pequena participação no mercado, requer

investimento para se continuar no mercado, os administradores tentam transformá-

las em estrelas. Abacaxi é o produto de baixo crescimento e pouca participação,

consegue se manter com o dinheiro gerado, mas não traz lucro.

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O plano estratégico serve para estabelecer quais tipos de negócios a

empresa vai abordar, e os objetivos de cada negócio devem ser detalhados e com

discriminação de cada departamento e função como financeiro, marketing,

fabricação, distribuição dentre outros.

A estratégia geral da empresa e a estratégia de marketing se sobrepõem. O marketing examina as necessidades do consumidor e a capacidade da empresa de satisfazê-las; esses mesmos fatores orientam a missão e os objetivos gerais da empresa. (KOTLER, 2006, p. 41).

O papel do marketing é ajudar a alcançar os objetivos estratégicos

gerais da empresa. Para uma empresa ser bem sucedida precisa estar voltada para o

cliente, conquistando e eliminando a concorrência. Como a qualidade e tecnologia

hoje, são bem próximas, os administradores buscam alternativas de atrair seu

público, conforme foi citado na mudança de decoração da loja Granado, que apesar

de tradicional vinha perdendo mercado, assim como a MAC.

Segundo Ferrel, 2016, p. 47, assim que a estratégia de marketing é definida a

empresa está pronta para preparar seu mix de marketing; onde caracteriza as

ferramentas táticas e controláveis necessárias para produzir a resposta no mercado

alvo. O mix de marketing consiste nos 4 P’s - produto, preço, praça e promoção.

Os produtos seriam os bens que a empresa oferece ao mercado, abrange bens

tangíveis como intangíveis. Preço é quanto vale para adquirir um produto ou

serviço. Praça seriam os pontos de distribuição e promoção são as atividades de

comunicação com o intuito do convencimento da compra.

Após essa etapa da definição do mix de marketing é preciso ser feita as

funções da administração de marketing – análise, planejamento, implementação e

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controle. A análise de mercado é quando se identifica os pontos fortes e fracos. A

análise de marketing serve para oferecer informações para a função da

administração do marketing.

O planejamento de marketing implica em escolher a estratégia para chegar ao

seu objetivo fim. Para em seguida chegar à implementação, que é o processo que

transforma os planos de marketing em ação. O controle implica em avaliar os

resultados e adotar medidas corretivas quando necessária.

Há todo um processo a ser realizado gerando uma cadeia de processos e uma

regularidade de sistemas, que devem seguir uma ordem temporal para facilitar e

trazer resultados satisfatórios a empresa e seus produtos. Essa é a essência do

marketing.

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CAPÍTULO III

SOCIOLOGIA DO CONSUMO

A sociedade de consumo já foi reservada apenas para a elite. Observa-se

que consumir é algo essencial da vida, ou seja, um hábito. Na verdade, é um

fenômeno social baseado em desejos individuais ou coletivos.

Segundo Khalil, 2011. p.13, é por meio da compra que os consumidores

reafirmam sua pertinência a determinados grupos e sua diferença em relação a

outros. O consumo de luxo, por exemplo, reservado às elites, serve para demarcar a

diferença entre os que não podem arcar seus preços exorbitantes. Porém, o propósito

não é apenas possuir, mas, sobretudo ostentar a posse e o uso de bens aos quais nem

todos tem acesso.

Quanto mais rico e sofisticado for o consumidor, vai buscar uma

experiência única e exclusiva; seleto ao pequeno grupo específico. Vale ressaltar,

que o desejo de se distinguir por meio do consumo não é exclusivo dos mais ricos;

muito pelo contrário, permeia toda a sociedade.

A sociologia muito tem contribuído para o entendimento do fenômeno do

consumo. Através das questões voltadas para distinção de classe social, status,

estereótipos, decisão da compra, estilo, cultura e socialização.

O campo do marketing se baseia em duas concepções de classe social; uma

proposta por Max Weber, que fez a distinção entre status e classe social e a proposta

de Warner.

Na obra Economy and society, publicada em 1922, por Max Weber,

conceitua classe social de forma ampla, com categorias econômicas,

compreendendo as relações sociais na vida econômica. Fez a distinção entre classe

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social e status; onde status seria a estrutura de relações dentro da sociedade (ligado

à honra, poder, prestígio). Para Weber o status estava mais relacionado a estilo de

vida do que a classe social. Por exemplo: um professor pode ter um salário modesto,

porém ter um grande prestígio na sociedade.

Para o sociólogo americano Warner, classe social é aquilo hierarquizado

pelos membros de uma comunidade em posições superiores ou inferiores. O autor

estudou a linha de estrutura social e subdividiu seus estudos em seis classes sociais:

• Alta – alta : constituída por riquezas herdadas por outras gerações;

• Alta-baixa: mesmo tendo mais riqueza que a classe anterior, não provinha da

elite, não veio de “berço”;

• Média-alta: empresários e profissionais liberais, menos preocupados com a

questão da linhagem;

• Média-baixa: pequenos negociantes, profissionais em ocupação de menor

prestígio;

• Baixa-alta: trabalhadores preocupados com sua respeitabilidade;

• Baixa-baixa: pessoas desqualificadas vivem da ajuda do governo.

Para Warner, 1949. p. 82, os indivíduos pertencentes à mesma classe social

tendiam a partilhar valores, estilos de vida e aspirações dentro de um mesmo grupo.

Coleman trouxe contribuições significativas ao estudo das classes sociais no

marketing, buscando verificar o impacto no comportamento do consumidor. Seus

estudos os levaram a classificar três tipos de classes sociais a partir dos hábitos de

lazer:

• A classe mais alta – em linhas gerais tinham mais interesse em atividades de

lazer fora de casa do que as duas outras classes;

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• A classe mais alta tinha interesse em visitar museus teatros, já a classe média

preferia camping e pescaria;

• Em algumas atividades não era verificado diferenças entre classes, como

jardinagem, jogo de cartas;

• Em geral a classe mais baixa ouvia mais rádio do que as classes média e alta.

Para Bourdier, sociólogo francês, em sua obra A distinção, tratou sobre as

diferenças entre classes e o desejo do ser humano se distinguir dos demais através

da classe econômica, ligado ao rendimento, riqueza acumulada e ao capital cultural;

caracterizado por gostos e estilos de vida.

A distinção social é resultado não da classe social em si, mas do fato de as pessoas de determinada classe serem socializadas dentro de certa maneira de ver o mundo, que as leva a desejar determinados produtos e não outros. A essa forma de estruturação social ele denominou habitus, que caracterizaria pelo desejo de se cercar de certas coisas e pelas atitudes em relação às mesmas. (BOURDIER, 2007, p. 97).

O estudo de Bourdier sustenta a ideia de que classe social forma preferência

e gosto, além de moldar o estilo de vida do indivíduo. É nesse contexto que o

marketing ganha espaço; buscando acertar os desejos do seu público a partir do seu

estilo de vida.

Foi verificado que consumidores de baixo capital cultural apresentavam

valores mais materialistas associados ao consumo, buscando a felicidade e

construindo sua identidade através do poder da compra. Para mensurar a classe

social é preciso observar algumas considerações relevantes, como:

• Renda familiar: não é determinante, mas tem forte influência;

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• Instrução: nível de escolaridade e cursos;

• Ocupação: é um indicador relevante, área de trabalho;

• Área de residência: se possui água encanada, saneamento básico...;

• Capital social: rede de relacionamentos;

• Capital cultural: nível de cultura.

Vale ressaltar que tanto a quantificação do consumo quanto a análise do

comportamento de compra nas classes sociais são relevantes para o marketing das

empresas. Além, é claro, do cenário econômico mundial; em épocas de crise, como

agora, há uma desaceleração do mercado. A população está mais cautelosa e seletiva

no ato de comprar e não tão impulsiva como em tempos atrás; esse cenário além de

ser ruim para o marketing é péssimo para o mercado.

3.1 Status e estereótipos

Status está diretamente ligado ao sistema social, ou melhor, ao lugar ocupado

pelo indivíduo na sociedade. Que pode ser uma posição atribuída – nascimento

herda o poder, o status da família. Ou adquirida – pelo processo de estudo.

Para Goldthorpe, 2007. p. 514, a hierarquia do status é uma estrutura

percebida, e até aceita, de relações de superioridade, igualdade ou inferioridade

social entre indivíduos.

É natural que todo grupo social tenha suas hierarquias de status, mas nas

sociedades contemporâneas, há uma tendência em criar uma visão mais moderna e

igualitária; embora ainda exista essa questão do poder e status; observa-se que essa

cultura encontra-se enfraquecida.

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Status social está diretamente ligado ao consumo de produtos culturais, como

por exemplo, a leitura diária de um jornal ou ser assinante de uma revista semanal.

Logo, observa-se que status tem grande ligação com estilo de vida do ser; suas

preferências e hábitos tornam-se determinantes.

Nesse contexto que entra a questão dos papéis, classificado por Linton, 1945.

p. 38, atitudes, valores, comportamentos atribuídos pela sociedade a cada um e a

todos os indivíduos que ocupam certos status.

Diariamente são desempenhados papéis, na verdade diversos, no decorrer da

vida esses papéis sustentam a história de cada ser; alguns são impostos pela

sociedade e outros escolhidos pelo próprio ser.

O cumprimento dos papéis é importante, uma vez que eles asseguram cada uma das funções a serem desempenhadas para que a sociedade funcione. (FERREIRA, 2012, p. 113).

É importante ressaltar que assim como os gostos, os mercados mudam; os

papéis também mudam com o tempo. Pois sofrem pressões constantes da

multiplicidade de papéis diários em pouco período de tempo. Em casa é o patriarca,

marido e pai (papel), no trabalho (gestor, empreendedor), filho (cuidar dos pais)...

O marketing sofre influência com essas mudanças no tempo e nos gostos dos

consumidores. Alguns estudiosos definem cinco papéis de compra que os indivíduos

podem exercer:

• Iniciadores – são os que manifestam primeiro a ideia ou aquisição do

produto;

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• Influenciadores – são os que têm qualquer influência na decisão de

compra do produto;

• Decisores – os que de fato tomam a decisão da compra;

• Compradores – os que efetivam a compra;

• Usuários – os que usam ou consomem ou produto.

Vale ressaltar que um mesmo indivíduo pode exercer vários desses papéis.

Por isso para o marketing é tão importante saber quem escolhe a marca do produto.

Por exemplo, nas classes altas, quem compra produto de limpeza e alimentício são

os empregados; logo, o marketing deve ser voltado a esse público.

Estereótipo é algo totalmente voltado ao papel, ou seja, são imagens

socialmente construídas ou distorcidas de determinado grupo. Nesse contexto, o

marketing entra com a propaganda, logo que, os estereótipos existentes na sociedade

se refletem na propaganda por ser considerado um espelho para a sociedade.

Observa-se que em novelas as personagens ditam a moda, tanto feminina

como masculina. Existem os estereótipos femininos nas propagandas: mulheres em

papéis tradicionais (donas de casa), mulheres em papéis decorativos (atraentes),

mulheres em papéis não tradicionais (empreendedoras), mulheres representadas

como iguais aos homens (neutros).

Dentro desse contexto observa-se que a família é a unidade básica de

consumo da economia. Os executivos de marketing afirmam que as decisões são

tomadas pela unidade familiar. A família se subdivide por seus membros, como por

exemplo, família nuclear (pai, mãe e filhos), família estendida (tios, primos,

afilhados), família polinuclear (várias famílias nucleares vivendo juntas).

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Existem novas tendências no mercado, desaparecendo as grandes famílias

patriarcais, diminuição do número de filhos. Porém, há um fenômeno recente no

Brasil, é o prolongamento da estadia do filho de classe média na casa dos pais –

geração canguru – jovens adultos que são considerados por alguns consumistas e

hedonistas.

Normalmente os processos de compra da família focalizam a família nuclear,

e observando a participação do homem e da mulher nesse processo, alguns teóricos

do marketing consideram quatro categorias de compra:

• Decisões autônomas – tomadas por um dos membros

independentemente do outro;

• Decisões dominadas pelo marido – o marido tem o papel

predominante na tomada de decisão;

• Decisão dominada pela mulher – a mulher tem papel predominante na

tomada de decisão;

• Decisão sincráticas - os papéis desempenhados pelos membros do

casal são equilibrados e a decisão é conjunta.

A tomada de decisão no ato da compra tanto individual quanto familiar

envolve fatores relacionados a várias questões, desde personalidades, hábitos,

cultura, tradição entre outros, que servem para pautar os conceitos de status, papéis

e estereótipos da sociedade.

3.2 - A compra em razão do significado simbólico

No ato da compra é provável que o consumidor sofra algum tipo de

influência, que pode ser direta ou não, por grupos de pessoas no decorrer da vida.

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Para Krop, 2005, p. 33, os grupos de referências são aqueles que servem, para o

indivíduo, como guias ou indicadores de valores, atitudes e comportamentos.

O que se observa é que o grupo de referência influencia o consumidor no que

se refere a determinados produtos e marcas, mas com papel pouco relevante.

Segundo Rezende, 2008, p. 24, os grupos de referência podem exercer três tipos de

influência:

• Normativa – decorre do desejo de se ajustar e entender às expectativas de

outras pessoas; normalmente é exercido por familiares, amigos, colegas de

trabalho, entre outros.

• Influência informacional – deriva da percepção de outra pessoa que detêm o

conhecimento; pode ser um advogado, contador...

• Por identificação – quando o consumidor se identifica com outro grupo,

passando a imitá-lo em algum aspecto.

O que se observa é que certos consumidores são mais influenciáveis; na verdade

são considerados pelo mercado e pelo marketing como mais susceptíveis.

Normalmente se preocupam com a opinião alheia.

Segundo Mourali, 2005, p. 164, quanto maior o individualismo, menor a

susceptibilidade a influências interpessoais. E que pessoas influenciáveis são mais

comuns em sociedades com cultura coletivista. E que o poder de influência está

diretamente ligado à personalidade do indivíduo; como por exemplo: os autônomos

tendem a ter a autoestima mais elevada e se consideram competentes, são menos

influenciáveis.

Já os que possuem medo do risco, do novo, tem a tendência de consumir

baseado na opinião alheia, demonstram mais insegurança no ato da compra. Para o

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marketing entender o mercado e a personalidade do seu consumidor, é preciso

entender os grupos de referência, que se subdividem em primário (pessoas com

quem convive diariamente) e secundários (relacionamento ocasional).

Segundo Olsen, 1995, p. 267, socialização do consumidor é definida como

formas pelas quais as pessoas de qualquer idade aprendem os valores, papéis

adequados para o sucesso no mercado. A família é o principal agente de

socialização, é a base, atua de forma direta. Existe a escola que também exerce

influência e também a televisão.

As novelas da Rede Globo difundem por todo Brasil padrões e práticas de consumo das classes médias e alta, proporcionando ao brasileiro de todas as idades e classes sociais a familiarização com tais padrões e práticas. Por meio de novela e filmes, o consumidor entra na intimidade de outros, o que não seria possível de outra forma. (FERREIRA, 2012, p. 113).

Realmente há essa questão na cultura brasileira, desde a época do rádio com a

disputa entre Marlene e Emilinha; imitavam sua forma de vestir e pentear os

cabelos. E a tendência percorre até a festas temáticas, por exemplo em 2013, na

Rede Globo foi veiculada a novela Bug Hug (volta aos anos 80), houve um aumento

de festa temática dessa década.

A mídia sempre foi e será um impulsionador de ideias e estimulador de

tendências, nesses canais que o marketing usa seu potencial para captar público e

fixar modas, voltadas para os mais diversos públicos.

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CAPÍTULO IV

O MARKETING COMO MONITOR DE TENDÊNCIA

O que monitora a compra é a cultura, ou melhor, o padrão de vida que cada

ser humano carrega; dentre eles se encontram hábitos, valores... O marketing serve

como estímulo no processo da compra, ele apenas ajuda a despertar o desejo de

consumir.

Nesse contexto, observa-se que não há como falar em marketing sem fazer

uma perspectiva antropológica. Para Levy, 1981. p. 49, a cultura se insere nos

estudos do marketing como algo exótico, que explicava as diferenças dos outros,

mas que nada tinha a dizer sobre como se comportavam os consumidores.

Todo bem de consumo possui um valor agregado que carrega um

significado simbólico e a partir daí o marketing usa suas ferramentas para incutir a

vontade de comprar. E para entender os gostos exóticos, como citado no parágrafo

acima, o marketing faz uma pesquisa de campo, busca saber os gostos, o que deseja,

qual benefício com a escolha de um determinado produto.

Segundo Campbell, 2006. p. 64, o consumo na perspectiva antropológica é

o sistema de valores central na vida cotidiana e é a ideologia associada ao

individualismo. Observa-se que o consumo não é visto como algo isolado e sim

como um fenômeno cultural. Por exemplo, tentar implantar uma hanburgueria em

um país que não come carne bovina, a cultura influencia, por isso deve haver o

cuidado, a pesquisa, um estudo do ambiente e seu público.

O consumo é essencialmente um fenômeno social, embora os produtos se destinem, em sua maior parte, ao uso individual e fazer compras seja essencialmente uma experiência íntima e pessoal. (MCCRACKEN, 2003, p. 53).

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Os consumidores utilizam bens e serviços para mostrar algo para sociedade,

com intuito de reafirmar sua identidade, definir sua posição social, para distinguir-

se e hierarquizar-se (“sabe com quem está falando?”), declarar seu status dentro de

um grupo, para afirmar ou negar suas origens. Isso mostra como o consumo tem o

poder em definir/ distinguir classes.

Para Campbell, 2006. p. 51, os indivíduos se auto definem, quase sempre

pelos seus gostos. Como por exemplo: um apreciador de vinhos, queijos; define a

pessoa, sua cultura, o ambiente que frequenta. Como a própria forma de se vestir, se

alimentar, as formas de lazer, as atividades nos horários livres, os lugares

frequentados – tudo caracteriza sua cultura e seu papel na sociedade.

Para Rocha, 2006. P 15, o papel do consumo serve como estruturador de

valores que constroem identidades e regulam relações sociais, assim como definem

mapas culturais. Muitas famílias escolhem determinado produto, pensando na

segurança da família, comprando produtos de renome no mercado. Isso ocorre, em

especial, quando se trata das crianças; sempre pensam em comprar a melhor fralda,

a melhor papinha, sabão especifico para as roupas dentre outros itens de consumo.

Em algumas culturas o consumo é visto como materialismo e até

desperdício, quando ligado ao supérfluo. Para alguns, a compra deveria ser pautada

na real necessidade de determinado produto ou apenas gastar com o essencial. Em

contrapartida, entra o marketing tentando seduzir o cliente, por meio da propaganda,

tentando ditar regras de beleza, imposta por um mercado capitalista.

Padrões de consumo criam estereótipos na sociedade, como meninas muito

ricas – “patricinhas”, rapazes ricos – “playboys”. São caracterizados como

consumidores vorazes de marcas de prestígios; porém são vistos como pessoas

fúteis e vazias de conteúdo, solidariedade, altruísmo...

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Não existe uma lógica de consumo. Existem os públicos novos, ou seja, os

novos ricos; aqueles que adquiriram riquezas pelos seus próprios meios ou por

casamento. São definidos como os emergentes, surgiu até certo preconceito com o

bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, Barra da Tijuca, considerado o lugar de

destino dos novos ricos, ou melhor, os emergentes. O próprio Barra Shopping

mudou seu público, após a inserção do BRT, que também ajudou a popularizar o

mesmo. Em contra partida, o marketing entrou em ação e criou o Village Mall, na

Barra, shopping destinado à classe A.

Porém, alguns estudiosos acreditam que o consumo está impregnado na

influência familiar, histórico de vida de cada ser; por mais que se adquira riqueza, o

gosto vem de berço e não necessariamente é algo aprendizado e sim adquirido ao

longo dos anos.

Para Douglas Holt, a capacidade de transformar uma marca em ícone está

associada a um mito, conectando-se a cultura. Pois para ele o que importa é o valor

simbólico, ou seja, aquilo que a marca representa aos olhos do consumidor e não o

que o produto efetivamente é.

O consumo pode ser usado até para reconstruir identidade e não apenas

para criá-la. Observa-se que a mulher quando se divorcia, tende a se vestir melhor,

procurar salão de beleza e academia de ginástica com frequência – o intuito é

mostrar a sociedade que consegue se reerguer e se estruturar novamente e recuperar

a autoestima muitas vezes perdida nesse processo.

4.1 O Poder de Influência na decisão da compra

Para aquisição de algo é preciso o mínimo de identificação com um produto

ou serviço, entra um cenário de “conquista” - o desejo se sobrepõe a vontade que

cria uma necessidade na mente humana. Isso só acontece porque os produtos são

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portadores de significados e os consumidores se apropriam disso para criar sua

própria identidade.

Cada produto possui um tipo de valor simbólico na mente humana, e isso

serve como combustível para influenciar a compra. Por exemplo, a questão da

hierarquia - está relacionada a bens de luxo. Esses produtos podem ser puros

demarcadores, estão ligados a heranças, títulos familiares, brasões dentre outros.

Observa-se que em determinados países, como a Índia, a hierarquia é um

divisor de águas, quem nasce em família rica, ganha o status e poder nessa

sociedade; em contrapartida, quem nasce pobre, por mais que trabalhe, não

consegue ascensão social.

Os produtos podem demarcar um grupo social, como por exemplo, a forma

de se vestir e o estilo de vida dos hippies. E servem para separar as diferenças entre

os grupos. Está associada à forma de se vestir e o que consumir como forma

simbólica a classe que está inserida.

Observa-se em mulheres a necessidade de comprar bolsas de grife – pois

está associada a peças de estilo, caras; consequentemente usadas por mulheres

belas, ricas e famosas. As modelos que fazem as propagandas de bolsa tem sua

imagem voltada ao requinte, glamour, originalidade e bom gosto.

Os produtos também estão associados a demarcar comportamentos

desviantes, querendo mostrar singularidade. Está associado à pessoa que não busca

passar a imagem somente de beleza e foge um pouco dessa questão do estereótipo.

A mídia, assim como a sociedade ditam a moda e consequentemente o que é belo ou

não. Durante alguns anos a escova progressiva dominou o mercado, e não se via

mais cabelos crespos ou encaracolados. Hoje, valoriza-se a autenticidade e atitude,

cabelos crespos e ondulados voltaram.

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Mulheres que adotam o cabelo grisalho, mesmo ainda jovens, valorizam

outras qualidades que não estão associadas à estética, como o original, autêntico,

coerente e intelectual. Igualmente, pessoas que gastam muito com determinados

objetos (roupas, joias, bolsas, sapatos) e outras gastam dinheiro com teatro, cinema

entre outras atividades culturais.

Segundo Carvalho, 1997, p. 412, os produtos podem falar ainda de

passagens e rituais familiares. Como o consumo de objetos de decoração está

associado ao ciclo de vida, representando as múltiplas transformações de posição e

status: casamento, separação, relacionamentos, nascimento dos filhos... Na

antiguidade, os objetos estavam associados pelos casais a dizer algo sobre si ou sua

visão de mundo, estilo de vida adquirindo uma dimensão ritual.

Nesse contexto, encontram-se os colecionadores, amantes de arte (quadros,

pratos, tapetes...) que além de embelezarem o ambiente serviam de ostentação aos

visitantes. Há décadas passadas, no interior, existia o hábito de abrir a casa antes do

casamento para visitação; os vizinhos iam conhecer a casa, os móveis, colchas,

dentre outros objetos.

Os produtos também podem ser usados para reconstruir a identidade,

principalmente no momento de transição, como no final de um relacionamento, ou

mudança de cargo, ou chegada de um filho. Todas essas formas de representações

simbólicas de produtos servem para reafirmar o papel do marketing em criar essas

imagens e esses valores no inconsciente humano.

Para o antropólogo Grant McCracken, os bens não só são portadores de

significado, mas os mesmos movem o mundo culturalmente construído para os

produtos e destes com o consumidor.

A cultura é, por um lado, a “lente” por meio do qual o indivíduo vê e interpreta o mundo; por outro, é também “o plano de ação” que determina como ele

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transforma este mundo. Assim, o mundo culturalmente constituído é o mundo em que o indivíduo duo vive, mas que é interpretado e organizado de acordo com as ideias e valores de sua cultura, por meio de um conjunto de códigos que só pode ser plenamente compreendido por aqueles que compartilham da mesma cultura. (MCCRACKEN, 2003, p. 130).

Segundo McCrackhen, 2003, p.114, o sistema da moda está diretamente

associado à cultura e que pode atuar de três formas distintas para transferir

significado aos produtos.

A primeira forma seria similar à propaganda, a moda é apresentada pela

mídia (novela, filmes...). A segunda forma é trazida por líderes de opinião, pessoas

reconhecidas e respeitadas na sociedade. A terceira forma se manifesta da reforma

radical, ou melhor, mudanças abruptas na cultura gerada. O sistema de moda se

utiliza de vários agentes para realizar transferência de significado. Esses agentes

exercem diferentes papéis no processo de criação e difusão de significados

culturais.

4.2 Crenças, valores e normas: o marketing e a sociedade

Como foi citado no decorrer do trabalho todo produto está imbuído de

significado ao passo que deve ser transferido ao consumidor, nesse contexto entra o

marketing. E o homem é um ser social, logo convencê-lo depende de uma análise

antropológica e sociológica. O ato da compra está impregnado de sentimentos,

desejos e vontades intrínsecas do próprio ser humano como também de uma

construção de imagem e posição na sociedade através dos produtos consumidos.

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Ao trocar um carro, comprar novas roupas, melhorar a alimentação entra na

lógica de melhorar de vida ou buscar qualidade de vida, entra até a questão da

vaidade, do amor próprio, do ego. Muitos se perdem com cartões e adquirem

dívidas muitas vezes por estar em baixa autoestima, e por mais que compre, nunca

está satisfeito, não consegue saciar seus desejos.

Para um produto satisfazer o cliente, é preciso a realização de ações

simbólicas, ou seja, a manipulação do significado cultural. Podem ser classificados

como rituais. E segundo Ferreira, 2016, p. 135, são classificados em quatro tipos:

• Rituais de posse – as pessoas gastam muito tempo, reflexão e esforço para

aquisição e instalação do uso de bens. Aquisição ou decoração de uma casa.

É difícil mobiliar uma casa e decorá-la, pois a ideia é personalizá-la, de tal

modo que os móveis digam algo sobre os donos. Nesse contexto, as designs

de interiores, geralmente fazem uma entrevista com cada morador da casa e

analisa seus gostos e especificidades.

• Rituais de troca – ocasiões em que há troca de presentes, Natal, Páscoa,

aniversário, dia dos namorados dentre outras festividades. Os presentes

trazem consigo significados simbólicos servem para mostrar ao outro que

ele é presente em seus pensamentos, em sua vida mesmo. O presente acaba

sendo visto como uma expressão tangível das relações sociais, e assume

papel de comunicação, troca e até socialização.

• Rituais de arrumação – podem incluir a arrumação de si mesmo e até de

objetos. A forma de se vestir, escolhendo roupas e acessórios e até produtos

de maquiagem, requer tempo e esforço físico - querendo transferir para si as

qualidades simbólicas carregadas pelos produtos, tais como: beleza,

elegância, glamour. Também está inserido no contexto de manter a casa

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sempre arrumada e limpa e o próprio carro entra nesse contexto, partindo da

premissa que é uma extensão de cada ser.

• Rituais de despojamento – se enquadra no momento em que a pessoa se

desfaz de um bem. Antes do momento de doação é preciso se “despir” do

significado simbólico, entender porque aquele objeto foi útil por um

determinado tempo e hoje não é mais. Isso também é válido para quem

recebe a doação.

Esses rituais servem para contextualizar a ideia da compra e porque motiva o

ser a comprar e se desfazer dos produtos. A partir dos rituais surgem as tribos de

consumo, que está associada às formas de comprar. Essa tribo pode ser definida

como um microgrupo ou um macrogrupo.

Os adeptos do surfe estão associados a uma tribo, possuem até seu próprio

dialeto, como um grupo de militares, universitários, aposentados; normalmente

possuem hábitos próximos, como frequentam os mesmo lugares, compram produtos

similares.

Segundo Marcal, 2006, p. 61, um aspecto marcante das tribos urbanas é o seu

caráter fragmentado e efêmero. Pois as pessoas podem passar de uma tribo para

outra. Assim como no próprio marketing, tornou-se tão difícil captar um grupo de

clientes fiéis; logo que o mundo está cada vez mais efêmero, voltado para

inovações tecnológicas e competitivo. É difícil acompanhar esse mercado e os

gostos que surgem; a função principal do marketing hoje é atingir esse público,

tendo que se reinventar quase que diariamente para chegar ao seu objetivo fim.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou respostas sobre as indagações do mundo do

marketing, os ideais capitalistas, o homem como ser pensante e atuante no mercado de

consumo.

Finalizar um trabalho é mais difícil que iniciar, pois a sensação da ausência de

algo é grande; faltam palavras, ideias, conceitos que possam expressar como se chega a

resolução de um problema.

Partindo do pressuposto que o marketing move o mundo e que o comércio está

direcionado ao mesmo; pois é o impulsionador do mercado. Entender o seu surgimento

e a ironia de que a troca de produtos surgiu nos primórdios para evitar o desperdício; e

hoje o que se vê é um planeta ameaçado ao consumismo desenfreado.

O desenvolvimento do trabalho seguiu uma linha psicológica, tentando entender

a mente humana e o seu comportamento através de estímulos propostos pela mídia;

servindo muitas vezes como modulagem para o consumidor; que compra por imitação

ou experimentação ou mesmo por impulso.

As teorias do comportamento que moldaram os estudos do Behaviorismo

juntamente com Pavlov e Teoria de Skinner serviram de apoio para entender a relação

de público e mercado, ou melhor, estímulo - resposta.

Relacionar conceitos, abordagens teóricas e filosóficas além é claro da análise de

mercado; leva a crer que o que move o homem é o sentimento; que indiretamente

desencadeia uma ação. Compra-se por medo, por ansiedade, por insegurança, por

alegria, por raiva, por tristeza...

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Buscam-se vitórias através do poder de barganha, tendo em vista que os valores

mudaram, que a aparência prevalece e que o mercado, juntamente com o marketing se

aproveita desse pressuposto para sobreviver na sua função.

Voltar a Frankfurt e a teoria da agulha hipodérmica poderia ser viajar muito, mas

é uma analogia coerente; o mundo gira em torno da tendência da próxima estação, da

moda, das cores, do mundo sem fronteiras e sem limites; é esquecido o original, a raiz, a

cultura, a base. O contexto econômico atual, com o mercado desaquecido e desacelerado

faz com que os rumos mudem, o homem voltou a ser flexível adaptável... retornam a

Darwin.

A vida é assim, o mercado e o marketing também, cheio de altos e baixos,

vendas e quedas, com o sentido de que move o homem, como: lutar, se reinventar, se

recriar diariamente; buscando a felicidade e satisfação, pois esse é o real sentido da vida.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO HUMANO 10 1.1. Behaviorismo – Aprendizagem e a Teoria de Skinner 14 1.2. Psicologia do Consumo – Freud e as Instâncias da Personalidade Humana 18

CAPÍTULO II

GESTALT X MARKETING 23

2.1. Cognição e emoção 26 2.2. A essência do Marketing 30

CAPÍTULO III

SOCIOLOGIA DO CONSUMO 34

3.1 Status e estereótipos 37

3.2 A compra em razão do significado simbólico 40

CAPÍTULO IV O MARKETING COMO MONITOR DE TENDÊNCIA 43 4.1 O Poder de Influência na decisão da compra 45 4.2 Crenças, valores e normas: o marketing e a sociedade 46

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CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 51

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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