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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (LEI Nº 12305/10) E SUA APLICAÇÃO NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Por: Jean Alves de Andrade Orientador Prof. Jander Leal Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · enquanto outros são muito grandes, com mais de 1 milhão de habitantes. Uns apresentam arrecadação ínfima, enquanto outros são

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (LEI Nº

12305/10) E SUA APLICAÇÃO NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Por: Jean Alves de Andrade

Orientador

Prof. Jander Leal

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (LEI Nº

12305/10) E SUA APLICAÇÃO NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Ambiental

Por: Jean Alves de Andrade

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo

dom da vida. Aos meus pais, pelo amor

incondicional. A minha esposa, pelo

companheirismo irrestrito. E aos

colegas do curso e trabalho da

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

de São Gonçalo, por fazer nossa rotina

de trabalho e estudo mais suave e

prazerosa.

4

DEDICATÓRIA

Dedico a minha esposa, Marcele Netto,

por caminhar do meu lado e me incentivar

em todos os momentos.

5

RESUMO

A Lei que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei nº

12.305/10) foi sancionada em 2 de agosto de 2010 e deveria ser implantada

em até 4 anos após a data de sua publicação. Porém poucos municípios

brasileiros, na presente data, conseguiram atendê-la plenamente.

Os municípios brasileiros são muito heterogêneos e diferentes entre si.

Uns são muitos pequenos, com menos de 20 mil habitantes, por exemplo,

enquanto outros são muito grandes, com mais de 1 milhão de habitantes. Uns

apresentam arrecadação ínfima, enquanto outros são ricos e possuem

arrecadação significativa.

Estas discrepâncias podem estar relacionadas ao porquê da Lei

12.305/10, embora passados quase 5 anos, ainda não ter sido cumprida na

maior parte do território brasileiro.

Este trabalho abordará os aspectos legais referente ao gerenciamento

de resíduos sólidos no Brasil, e apresentará a situação atual dos municípios

após a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

6

METODOLOGIA

Para elaboração deste trabalho foi feito um amplo levantamento

bibliográfico em livros, artigos científicos, manuais e sites, tendo como foco

principal as Leis, Resoluções do CONAMA e até mesmo Normas Técnicas da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) relacionadas aos Resíduos

Sólidos e Meio Ambiente. Como fonte de dados das informações apresentadas

no capítulo 3, foi utilizado o "Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil - 2013",

da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais (Abrelpe).

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Os Resíduos Sólidos Urbanos 10

CAPÍTULO II - Meio Ambiente e Resíduos Sólidos - Legislação 18

CAPÍTULO III – Panorama do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nos

municípios 25

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

8

INTRODUÇÃO

O tema dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) vem assumindo papel de

destaque entre a sociedade brasileira. Seja pelos aspectos ligados à saúde

pública, no que tange a veiculação de doenças; seja nos aspectos ambientais,

pela contaminação de cursos d'água e lençóis freáticos; seja pelas questões

sociais ligadas aos catadores, principalmente em relação às crianças que

vivem nos lixões; ou ainda pelas pressões advindas das atividades turísticas.

Fato é que vários setores governamentais e da sociedade civil começam a se

mobilizar para enfrentar o problema, por muito tempo esquecido ou relegado a

segundo plano.

Considerada um dos setores do saneamento básico, a gestão dos

resíduos sólidos não tem merecido a atenção necessária por parte do poder

público. Com isso, compromete-se cada vez mais a já combalida saúde da

população, bem como degradam-se os recursos naturais, especialmente o solo

e os recursos hídricos. A interdependência dos conceitos de meio ambiente,

saúde e saneamento é hoje bastante evidente, o que reforça a necessidade de

integração das ações desses setores em prol da melhoria da qualidade de vida

da população brasileira.

Programas governamentais, nos níveis federal e estadual, vem se

consolidando, com linhas de financiamento a projetos e Planos de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos, em paralelo aos esforços para a formulação de

políticas e legislação correspondentes a esse tema.

Nesse contexto, pressionados por estas demandas, foi criada em 2010

a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12305/10) que foi um importante

marco regulatório na questão dos resíduos sólidos.

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), concedia prazo até o

mês de agosto de 2014 para que a destinação final ambientalmente adequada

dos resíduos e rejeitos fosse implantada no país. Entretanto, diferentemente do

9

que se esperava, o atual cenário vem demonstrando apenas uma tímida

evolução na gestão de resíduos e apresentando consideráveis desafios para

cumprimento das determinações legais.

Hoje, a situação da gestão dos resíduos sólidos se apresenta em cada

cidade brasileira de forma diversa, prevalecendo, entretanto, uma situação

nada alentadora.

Diante disto, este trabalho busca relatar a grave problemática quanto à

Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no país, desde sua produção, coleta e

disposição final, e do desafio colocado aos municípios e à sociedade como um

todo no equacionamento desses problemas.

O objetivo geral deste trabalho é analisar as dificuldades encontradas

pelos municípios no que tange o atendimento à Lei 12.305/10. Tendo como

objetivos específicos apresentar alternativas encontradas por alguns

municípios na resolução dos problemas relacionados aos Resíduos Sólidos

Urbanos (RSU); e Diagnosticar possíveis entraves na administração pública

que atrapalham a resolução destes problemas.

Não se pretende neste trabalho esgotar todo o assunto referente aos

resíduos sólidos, que é muito amplo e complexo, apenas descrever, de forma

inicial e sucinta, a realidade enfrentada pelos municípios no Brasil, fazendo um

diagnóstico de alguns pontos que consideramos relevantes, embora sabendo

que alguns pontos importantes não foram contemplados, como a complexa

relação dos catadores no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos.

.

10

CAPÍTULO I

Os Resíduos Sólidos Urbanos

1 - Conceitos e classificação

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em sua

NBR 10.004/2004, resíduos sólidos são:

“resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos que

resultam de atividades da comunidade, de origem

industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de

serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição

os lodos provenientes de sistemas de tratamentos de

águas e esgotos, aqueles gerados em equipamentos e

instalações de controle de poluição, bem como

determinados líquidos cujas particularidades tornem

inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou

corpos d’água ou exijam para isto soluções técnicas e

economicamente inviáveis em face a melhor tecnologia

disponível”.(ABNT – NBR 10.004)

Em relação a classificação, os resíduos sólidos são comumente

classificados quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente

e quanto à sua natureza e origem.

1.1 Quanto aos riscos de contaminação

De acordo com a mesma NBR (10.004), os resíduos sólidos podem ser

classificados em:

Classe I ou perigosos: são aqueles que, tendo em vista suas

características de inflamabilidade, corrossividade, reatividade, toxicidade ou

patogenicidade possam apresentar riscos à saúde pública causando mortes ou

11

morbidade, ou provoquem efeitos adversos ao meio ambiente quando

dispostos ou manuseados inadequadamente.

Classe II ou não-perigosos: são aqueles que não se enquadram na

classe I, se dividindo em:

Classe II A - Não-inertes: aqueles que não se enquadram nas

classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B -

Inertes, nos termos da Norma. Os resíduos classe II A – Não inertes podem ter

propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade

em água;

Classe II B - Inertes: Quaisquer resíduos que, quando amostrados de

uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007, e submetidos a um

contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura

ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não tiverem nenhum de seus

constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de

potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor,

conforme anexo G desta Norma.

1.2 Quanto à natureza e origem

Em relação a este critério, os resíduos podem ser classificados em cinco

classes: Lixo doméstico ou residencial; lixo comercial; lixo público; lixo

domiciliar especial (entulhos de obras, pilhas e baterias, lâmpadas

fluorescentes e pneus) e lixo de fontes especiais (lixo industrial, lixo radioativo,

lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, lixo agrícola e resíduos

de serviços de saúde).

1.2.1 Lixo doméstico

São aqueles gerados cotidianamente nas edificações residenciais de

maneira geral.

12

1.2.2 Lixo comercial

São os resíduos gerados em estabelecimentos comerciais, onde suas

características vão depender das atividades que são desenvolvidas nestes

estabelecimentos. Dentro deste grupo, assim como os entulhos de obra, pode

ser dividido em dois subgrupos, chamado de "pequenos geradores" e "grandes

geradores" de acordo com a quantidade de resíduos gerados por estes. De

maneira geral são os municípios que vão definir estes parâmetros, mas

comumente adota-se como parâmetro: pequeno gerador aquele

estabelecimento que gera até 120 litros de resíduos por dia, e grande gerador

aquele que gera mais de 120 litros por dia.

Se faz necessário essa classificação por parte das prefeituras, uma vez

que o grande gerador deverá ter seu lixo coletado e transportado por empresa

particular devidamente licenciada pelos órgãos ambientais (da prefeitura ou do

estado). Isto pode reduzir os custos da coleta para o município em até 20%

(MONTEIRO, et. al, 2001).

1.2.3 Lixo público

São os resíduos encontrados em todos os logradouros públicos,

geralmente oriundos da natureza, como folhas e galhos de árvores, areia e

terra, e aqueles descartados indevidamente pela população, como entulhos,

embalagens, papéis e restos de alimentos.

1.2.4 Lixo domiciliar especial

Entulho de obras: a indústria da construção civil é a que mais explora

recursos naturais e a que mais gera resíduos. Em termos quantitativos pode

chegar a corresponder a 50% dos resíduos coletados em cidades com mais de

500 mil habitantes de diversos países, inclusive o Brasil.

13

Pilhas e baterias: podem conter em suas substâncias diversos metais,

como chumbo, cádmio, mercúrio, entre outros, que possuem características de

corrosividade, reatividade e toxicidade, sendo então classificados como

resíduos perigosos (classe I).

Lâmpadas fluorescentes: também são classificadas como resíduos

perigosos, uma vez que possuem mercúrio em sua composição, metal

altamente tóxico para o ser humano, podendo atingir o sistema nervoso e

ocasionar diversos problemas fisiológicos.

Pneus: geram inúmeros problemas ambientais quando depositados

inadequadamente, podendo acumular água e servindo como local para

proliferação de vetores de doenças, como mosquitos e ratos.

1.2.5 Lixo de fontes especiais

São aqueles que em razão de suas características merecem cuidados

especiais no manuseio, estocagem, acondicionamento, transporte e destino

final, são eles:

Lixo industrial: todos os resíduos gerados pelas atividades industriais,

apresentando diferentes características de acordo com o produto

manufaturado. Podem ser classificados como classe I, classe II-A ou classe II-

B.

Lixo radioativo: são os resíduos que emitem radiações acima dos limites

estabelecidos pelas normas ambientais. São gerenciados e fiscalizados pela

Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN.

Lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários: resíduos gerados

nos aviões, navios e veículos de transportes. Seu perigo está no risco de

doenças que já podem até ter sido erradicadas no país. Sua transmissão

14

também pode se dar através de cargas contaminadas como alimentos, animais

e plantas.

Lixo agrícola: são os resíduos formados por embalagens de pesticidas e

fertilizantes utilizados na agricultura. São também classificados como resíduos

perigosos - Classe I. Muitas vezes são misturados aos resíduos comuns e vão

parar nos vazadouros dos municípios ou são queimados na áreas mais

afastadas, gerando gases tóxicos.

Resíduos de Serviços de Saúde: são os resíduos gerados nas

instituições de saúde. Apresentam classificação específica conforme a NBR

12.808, que são: Classe A, os resíduos infectantes; Classe B, os resíduos

especiais e Classe C, os resíduos comuns.

1.3 - Disposição final dos Resíduos Sólidos

A maioria das cidades brasileiras vem crescendo gradativamente, e com

isso aumentando também o desafio da limpeza urbana, que não consiste

apenas em retirar os resíduos dos logradouros e das residências, mas também

em dar uma destinação adequada destes resíduos coletados.

Essa questão é importante, pois se a prefeitura realizar a coleta dos

resíduos de forma ineficiente, logo ela será pressionada pela população, uma

vez que se trata de uma operação visível a todos, e que gera inúmeros

problemas imediatos. Porém ao se dar uma destinação inadequada dos

resíduos, poucas pessoas serão afetadas, ou será uma operação pouco

visível, não gerando a mesma pressão por parte da população.

Diante disto, os municípios que apresentam um orçamento restrito, o

que ocorre na maioria dos municípios brasileiros, não hesitarão em relegar a

disposição final para segundo plano, priorizando sempre a coleta e a limpeza

urbana.

15

O Relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais (Abrelpe), divulgado em 2013, mostrou que, atualmente,

60% das cidades encaminham seus resíduos para locais inapropriados. Além

disso, o Brasil aumentou a sua produção de lixo nos últimos anos. Veremos,

mais adiante neste trabalho, maiores detalhes a respeito dessas informações.

Antes se faz necessário definirmos as formas mais comuns de disposição dos

resíduos sólidos.

1.3.1 Lixão

O Lixão é uma forma, inadequada, de disposição final de resíduos

sólidos, sem qualquer planejamento ou medidas de proteção ao meio ambiente

ou à saúde pública. No local, os resíduos são dispostos a céu aberto, não há

nenhum controle ou monitoramento dos resíduos depositados, onde nesse

caso, resíduos domiciliares e comerciais de baixa periculosidade podem ser

depositados juntamente com os industriais e hospitalares, de alto poder

poluidor, podendo atrair vetores, além de riscos de incêndios causados pelos

gases gerados pela decomposição do lixo.

O solo não é impermeabilizado, e o chorume, líquido gerado pela

decomposição da matéria orgânica, não é coletado e tratado, podendo

penetrar na terra e contaminar o solo e o lençol freático.

Os lixões, além dos problemas sanitários com a proliferação de vetores

de doenças, também se constituem em sério problema social, porque acabam

atraindo os "catadores", indivíduos que fazem da catação do lixo um meio de

sobrevivência, muitas vezes permanecendo na área do aterro, em abrigos e

casebres, criando famílias e até mesmo formando comunidades. (MONTEIRO,

et. al, 2001)

16

1.3.2 Aterro Controlado

Segundo a NBR 8849/1985 da ABNT, o aterro controlado é uma

técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo que evita danos ou

riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais.

Esse método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos,

cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada

de descarte. Com essa técnica de disposição produz-se, em geral, poluição

localizada, não havendo impermeabilização de base (comprometendo a

qualidade do solo e das águas subterrâneas), nem sistema de tratamento de

percolado (chorume mais água de infiltração) ou de extração e queima

controlada dos gases gerados.

O aterro controlado é preferível ao lixão, mas apresenta qualidade

bastante inferior ao aterro sanitário e normalmente, é uma alternativa usada

por pequenos municípios que não têm condições de construir um aterro

sanitário, a opção mais apropriada para o descarte do lixo.

Suas principais características que o difere do lixão são:,

• A área isolada e sinalizada;

• Controle de resíduos para impedir a entrada de descartes perigosos da

classe I, que possuem inflamabilidade, corrosividade, reatividade,

toxicidade e/ou patogenicidade;

• O lixo é compactado e o solo coberto a cada jornada;

• Após a compactação, o local recebe argila e terra para o plantio de

espécies de raízes curtas;

• O aterro controlado tem drenagem pluvial para impedir o contato da

chuva com o lixo.

17

1.3.3 Aterro Sanitário

Conforme a NBR 8419/1992 da ABNT, o aterro sanitário também é uma

técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, que visa prevenir

danos à saúde pública e ao meio ambiente, minimizando os impactos

ambientais. Tal método utiliza princípios de engenharia para confinar os

resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume

permissível, recebendo tratamento no terreno (impermeabilização e selamento

da base com argila e mantas de PVC). O lençol freático e o solo ficam

protegidos da contaminação pelo chorume, que é coletado e tratado no local

ou em empresas especializadas. O gás metano também é coletado para

armazenagem ou queima.

Apesar de ser uma solução ecologicamente correta, um aterro

sanitário também precisa se adequar a exigências ambientais para funcionar.

São elas:

• Impermeabilização de base e laterais;

• Recobrimento diário dos resíduos;

• Cobertura final das plataformas de resíduos;

• Coleta, drenagem e tratamento de lixiviados (chorume e água pluvial);

• Coleta e tratamento de gases;

• Drenagem superficial;

• Monitoramento técnico e ambiental.

18

CAPÍTULO 2

Meio Ambiente e Resíduos Sólidos - Legislação

Existe, no Brasil, uma coleção numerosa de leis, decretos, resoluções e

normas que evidenciam enorme preocupação com o meio ambiente e,

especificamente na questão da limpeza urbana, há ainda iniciativas do

Legislativo municipal nas leis orgânicas e demais instrumentos legais locais.

Sem mencionar lixo, a Constituição Federal dispõe:

"A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário a ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação" (art.196);

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e as futuras gerações" (art.225);

"É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

- proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas

formas;

- promover programas de construção de moradias e a melhoria das

condições habitacionais e de saneamento básico;

- combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização

promovendo a integração social dos setores desfavorecidos" (art. 23, incisos

VI, IX e X, respectivamente).

19

Todas as atividades e empresas envolvidas no gerenciamento dos

resíduos sólidos (coleta, transporte e destinação final) deverão possuir as

devidas Licenças Ambientais.

O art. 9º, inciso IV, da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio

Ambiente), estabelece como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio

Ambiente o licenciamento e a revisão de atividades "efetiva" ou

"potencialmente poluidoras", e o art. 10 prevê que a construção, instalação,

ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de

recursos ambientais – considerados "efetivo" e "potencialmente poluidores",

bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar "degradação ambiental"

– dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente,

integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA.

O Decreto nº 99.274/90, a partir do art. 17, explica o processo de

licenciamento, determinando que as atividades efetiva ou potencialmente

poluidoras e aquelas capazes de causar degradação ambiental dependerão de

prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante do SISNAMA,

sem prejuízo de outras licenças cabíveis, repetindo o texto da Lei Política

Nacional de Meio Ambiente.

Já o art. 19 (Decreto nº 99.274/90) dispõe que o poder público, no

exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

prévia, de instalação e de operação.

2.1 A competência dos municípios

A Constituição Federal de 1988 elevou o Município à categoria de ente

político como se depreende dos arts. 1º e 18, que prevêem que a Federação

Brasileira é constituída da União, estados e municípios.

O art. 225 da Constituição Federal também ajuda a esclarecer que o

Município tem o dever de proteger o meio ambiente, uma vez que impõe ao

20

poder público (União, Estado e Município) e à coletividade o dever de defendê-

lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Logo, o Município pode

legislar sobre proteção ambiental e exercer o poder de polícia administrativa.

Os municípios já podiam legislar, prestar serviços e instituir e cobrar os

próprios tributos, além de eleger prefeito e vereadores. Além disso, os

municípios têm a competência comum – do art. 23, incisos VI e VII – de

proteger o meio ambiente, combater a poluição e preservar as florestas, a

fauna e a flora. O art. 30, inciso I, lhes permite legislar sobre interesse local,

logo elaborar leis de política municipal de meio ambiente, e pelo art. 30, inciso

II, suplementar a legislação federal e estadual, no que couber, além, do art. 30,

inciso VIII, que confere competência exclusiva para legislar sobre ordenamento

territorial, mediante planejamento e uso do solo.

Tradicionalmente, o que ocorre no Brasil é a competência do Município

sobre a gestão dos resíduos sólidos produzidos em seu território, com exceção

dos de natureza industrial, mas incluindo-se os provenientes dos serviços de

saúde.

O Município tem competência para estabelecer o uso do solo em seu

território. Assim, é ele quem emite as licenças para qualquer construção e o

alvará de localização para o funcionamento de qualquer atividade, que são

indispensáveis para a localização, construção, instalação, ampliação e

operação de qualquer empreendimento em seu território. Portanto, o Município

pode perfeitamente estabelecer parâmetros ambientais para a concessão ou

não destas licenças e alvará. A lei federal que criou o licenciamento ambiental,

quando menciona que a licença ambiental é exigível "sem prejuízo de outras

licenças exigíveis", já prevê a possibilidade de que os municípios exijam

licenças municipais.

O que define e caracteriza o "interesse local" é a predominância do

interesse do Município sobre os interesses do Estado ou da União. No que

tange aos municípios, portanto, encontram-se sob a competência dos mesmos

21

os serviços públicos essenciais, de interesse predominantemente local e, entre

esses, os serviços de limpeza urbana.

O sistema de limpeza urbana da cidade pode ser administrado das

seguintes formas:

• diretamente pelo Município;

• através de uma empresa pública específica;

• através de uma empresa de economia mista criada para desempenhar

especificamente essa função.

Independentemente disso, os serviços podem ser ainda objeto de

concessão ou terceirizados junto à iniciativa privada. As concessões e

terceirizações podem ser globais ou parciais, envolvendo um ou mais

segmentos das operações de limpeza urbana. Existe ainda a possibilidade de

consórcio com outros municípios, especialmente nas soluções para a

destinação final dos resíduos.

2.2 Resoluções CONAMA

Em relação aos resíduos sólidos existem várias Resoluções CONAMA

que tratam direta ou indiretamente sobre o assunto. A seguir estão as

principais:

008/91 - Veda a entrada no Brasil de materiais residuais destinados à

disposição final e incineração.

006/91 - Desobriga a incineração ou qualquer outro tratamento de

queima dos resíduos sólidos provenientes dos estabelecimentos de saúde,

portos e aeroportos, ressalvados os casos previstos em lei e acordos

internacionais.

22

011/86 - Altera o art. 2º da Resolução CONAMA nº 001 de 23 de janeiro

de 1986, que estabelece definições, responsabilidades, critérios básicos e

diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental

como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente.

237/97 - Dispõe sobre o sistema de licenciamento ambiental, a

regulamentação de seus aspectos na forma do estabelecido na Política

Nacional de Meio Ambiente, estabelece critério para o exercício da

competência para o licenciamento a que se refere o art. 10 da Lei nº 6.938/81

e dá outras providências.

004/95 - Cria áreas de segurança aeroportuárias – ASA – para

aeródromos, proibindo a implantação, nestas áreas, de atividades de natureza

perigosa que sirvam como foco de atração de aves.

001/86 - Define responsabilidades e critérios para avaliação de impacto

ambiental e define atividades que necessitam de Estudo de Impacto Ambiental

– EIA – e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA.

005/88 - Estabelece critérios para exigências de licenciamento para

obras de saneamento.

002/91 - Determina procedimentos para manuseio de cargas

deterioradas, contaminadas, fora de especificação ou abandonadas que serão

tratadas como fontes potenciais de risco ao meio ambiente, até manifestação

do órgão do meio ambiente competente.

257/99 - Disciplina o descarte e o gerenciamento ambientalmente

adequado de pilhas e baterias usadas, no que tange à coleta, reutilização,

reciclagem, tratamento ou disposição final.

006/88 - Dispõe sobre o processo de Licenciamento Ambiental de

Atividades Industriais, sobre os resíduos gerados e/ou existentes que deverão

ser objeto de controle específico.

258/99 - Trata da destinação final de pneumáticos inservíveis.

23

005/93 - Estabelece definições, classificação e procedimentos mínimos

para o gerenciamento de resíduos sólidos oriundos de serviços de saúde,

portos e aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários.

257/2001 - Estabelece o código de cores para os diferentes tipos de

resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem

como nas campanhas informativas para a coleta seletiva.

283/01 - Dispõe sobre o tratamento e a disposição final de resíduos de

serviços de saúde.

2.3 Normas Técnicas

Há também normas técnicas da Associação Brasileira de Normas

Técnicas – ABNT – que tratam de resíduos sólidos, quais sejam:

NBR 10.004 - Classifica resíduos sólidos quanto aos seus riscos

potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que estes resíduos

possam ter manuseio e destinação adequados.

NBR 13.896 - Fixa condições mínimas exigíveis para projeto,

implantação e operação de aterros de resíduos não perigosos, de forma a

proteger adequadamente as coleções hídricas superficiais e subterrâneas

próximas, bem como os operadores destas instalações e populações vizinhas.

NBR 1.057; NB 1.025 - Aterros de resíduos perigosos – Critérios para

projeto, construção e operação.

NBR 8.849; NB 844 - Apresentação de projetos de aterros controlados

de resíduos sólidos urbanos.

NBR 8.418; NB 842 - Apresentação de projetos de aterros de resíduos

industriais perigosos.

24

NBR 8419; NB 843 - Apresentação de projetos de aterros sanitários de

resíduos sólidos urbanos.

2.4 A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12305/10)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece princípios,

objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão e gerenciamento dos

resíduos sólidos, as responsabilidades dos geradores, do poder público, e dos

consumidores, bem como os instrumentos econômicos aplicáveis. Ela

consagra um longo processo de amadurecimento de conceitos: princípios

como o da prevenção e precaução, do poluidor-pagador, da eco-eficiência, da

responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, do

reconhecimento do resíduo como bem econômico e de valor social, do direito à

informação e ao controle social, entre outros.

A Lei estabelece uma diferenciação entre resíduo e rejeito num claro

estímulo ao reaproveitamento e reciclagem dos materiais, admitindo a

disposição final apenas dos rejeitos. Inclui entre os instrumentos da Política as

coletas seletivas, os sistemas de logística reversa, e o incentivo à criação e ao

desenvolvimento de cooperativas e outras formas de associação dos

catadores de materiais recicláveis.

No próximo capítulo abordaremos o atual cenário dos resíduos sólidos

no Brasil após a PNRS e os mecanismos envolvidos no gerenciamento

integrado dos resíduos sólidos.

25

CAPÍTULO 3

Panorama do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos

nos municípios

Os dados estatísticos da limpeza urbana são muito deficientes, pois as

prefeituras têm dificuldade em apresentá-los, já que existem diversos padrões

de aferição dos vários serviços. Com relação aos custos dos diversos serviços,

as informações também não são confiáveis, pois não há parâmetros que

permitam estabelecer valores que identifiquem cada tarefa executada, a fim de

compará-la com dados de outras cidades.

Ainda há uma grande dificuldade em se obter dados oficiais e

informações confiáveis a respeito do gerenciamento dos resíduos sólidos em

todo o território nacional. Uma das fontes mais utilizadas, e a que nos

balizaremos nesta monografia, é o último trabalho elaborado pela Associação

Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe),

denominado "Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil - 2013".

3.1 O mercado dos resíduos sólidos

Os recursos aplicados pelos municípios em 2013 para fazer frente a

todos os serviços de limpeza urbana no Brasil foram, em média, menos de

R$10,00 por habitante por mês.

Por tratar-se de serviços que demandam a utilização de mão de obra

intensiva, o número de empregos diretos no setor demonstra a sua relevância

na geração e manutenção de postos formais de trabalho, que vêm crescendo a

cada ano e em 2013 superaram 332 mil empregos diretos.

26

O mercado de limpeza urbana no país apresentou evolução, que foi

registrada em todas as regiões, e movimentou recursos da ordem de R$ 24

bilhões.

Segundo a Abrelpe em 2013 foram gerados 332.777 empregos diretos

(públicos e privados) pelo setor de limpeza urbana.

3.2 Coleta Segundo a Abrelpe, a geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil

é de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resíduos de varrição,

limpeza de logradouros e entulhos.

Algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste – como São

Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – alcançam índices de produção mais

elevados, podendo chegar a 1,3kg/hab./dia, considerando todos os resíduos

manipulados pelos serviços de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de

limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos).

Porém, grande parte dos resíduos gerados no país não é regularmente

coletada, permanecendo junto às habitações (principalmente nas áreas de

baixa renda) ou sendo vazada em logradouros públicos, terrenos baldios,

encostas e cursos d'água.

Apesar desse quadro, a coleta do lixo é o segmento que mais se

desenvolveu dentro do sistema de limpeza urbana e o que apresenta maior

abrangência de atendimento junto à população, ao mesmo tempo em que é a

atividade do sistema que demanda maior percentual de recursos por parte da

municipalidade. Esse fato se deve à pressão exercida pela população e pelo

comércio para que se execute a coleta com regularidade, evitando-se assim o

incômodo da convivência com o lixo nas ruas.

Contudo, essa pressão tem geralmente um efeito seletivo, ou seja, a

administração municipal, quando não tem meios de oferecer o serviço a toda a

população, prioriza os setores comerciais, as unidades de saúde e o

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atendimento à população de renda mais alta. A expansão da cobertura dos

serviços raramente alcança as áreas realmente carentes, até porque a

ausência de infraestrutura viária exige a adoção de sistemas alternativos, que

apresentam baixa eficiência e, portanto, custo mais elevado.

Segundo a Abrelpe, em 2013 foram coletados 189.219 ton/dia de

resíduos em todo o Brasil, gerando um índice de 0,941 kg/hab./dia. A região

sudeste continua respondendo por mais de 50% dos RSU coletados e

apresenta o maior percentual de cobertura dos serviços de coleta do país.

Em relação a abrangência da coleta de RSU, a Abrelpe apresenta para

o país e suas regiões federativas o seguinte panorama:

- Brasil: 90,41%

Regiões:

- Sudeste: 97,09%

- Sul: 94,07 %

- Centro-oeste: 93,05%

- Norte: 80,23%

- Nordeste: 78,22%

Segundo a Abrelpe, no ano de 2013, no Brasil, os recursos aplicados

somente na coleta de RSU foi de R$ 8.764 milhões, o que equivale a R$ 3,63

hab/mês. Já os recursos aplicados nos demais serviços de limpeza urbana foi

de R$14,338 bilhões em 2013, o que gera um valor equivalente por habitante

de 5,94 R$/mês.

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3.3 Coleta seletiva

A coleta seletiva foi definida na Lei Federal nº 12.305/2010, que institui a

Política Nacional de Resíduos Sólidos, como a coleta de resíduos sólidos

previamente separados de acordo com a sua constituição e composição,

devendo ser implementada por municípios como forma de encaminhar as

ações destinadas ao atendimento do principio da hierarquia na gestão de

resíduos.

É sempre importante frisar, para o correto entendimento das

informações apresentadas aqui, que em muitos municípios as atividades

praticadas de coleta seletiva não abrangem a totalidade de sua área urbana.

A pesquisa ABRELPE permitiu projetar que 3.459 municípios

apresentam iniciativas de coleta seletiva. Segundo a mesma, no Brasil 62,1%

dos municípios brasileiros apresentam alguma iniciativa de coleta seletiva.

3.4 Limpeza dos logradouros públicos

Os serviços de varrição e limpeza de logradouros também são muito

deficientes na maioria das cidades brasileiras. Apenas os municípios maiores

mantêm serviços regulares de varrição em toda a zona urbanizada, com

freqüências e roteiros predeterminados. Nos demais municípios, esse serviço

se resume à varrição apenas das ruas pavimentadas ou dos setores de

comércio da cidade, bem como à ação de equipes de trabalhadores que saem

pelas ruas e praças da cidade, em roteiros determinados de acordo com as

prioridades imediatistas, executando serviços de raspagem, capina, roçagem e

varrição dos demais logradouros públicos.

29

3.5 Tratamento e Destinação Final

Com relação ao tratamento do lixo, tem-se instaladas no Brasil algumas

unidades de compostagem/reciclagem. Essas unidades utilizam tecnologia

simplificada, com segregação manual de recicláveis em correias

transportadoras e compostagem em leiras a céu aberto, com posterior

peneiramento. Muitas unidades que foram instaladas estão hoje paralisadas e

sucateadas, por dificuldade dos municípios em operá-las e mantê-las

convenientemente. As poucas usinas de incineração existentes, utilizadas

exclusivamente para incineração de resíduos de serviços de saúde e de

aeroportos, em geral não atendem aos requisitos mínimos ambientais da

legislação brasileira. Outras unidades de tratamento térmico desses resíduos,

tais como autoclavagem, microondas e outros, vêm sendo instaladas mais

freqüentemente em algumas cidades brasileiras, mas os custos de

investimento e operacionais ainda são muito altos.

Algumas grandes unidades de tratamento de resíduos sólidos,

teoricamente incorporando tecnologia mais sofisticada de compostagem

acelerada, foram instaladas no Rio de Janeiro e também se encontram

desativadas, seja por inadequação do processo às condições locais, seja pelo

alto custo de operação e manutenção exigido.

O problema da disposição final assume uma magnitude alarmante.

Considerando apenas os resíduos urbanos e públicos, o que se percebe é uma

ação generalizada das administrações públicas locais ao longo dos anos em

apenas afastar das zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por vezes em

locais absolutamente inadequados, como encostas florestadas, manguezais,

rios, baías e vales. A grande maioria dos municípios ainda vazam seus

resíduos em locais a céu aberto, em cursos d'água ou em áreas

ambientalmente protegidas, a maioria com a presença de catadores – entre

eles crianças – denunciando os problemas sociais que a má gestão do lixo

acarreta.

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A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), implantada em 2010,

previa para agosto de 2014 o fim dos lixões, mas a pesquisa da Abrelpe

apontou que 1.569 municípios ainda utilizam lixões para descarte.

Os números relacionados à destinação final dos resíduos coletados,

revelou que 58,3 % seguiram para aterros sanitários em 2013, praticamente

sem alteração do cenário registrado no ano anterior. Nesse sentido, é

importante ressaltar que os 41,7% restantes correspondem a 79 mil toneladas

diárias, que são encaminhadas para lixões ou aterros controlados, os quais

pouco se diferenciam dos lixões, uma vez que ambos não possuem o conjunto

de sistemas e medidas necessários para proteção do meio ambiente contra

danos e degradações, conforme vimos no capítulo 1.

Mesmo com uma legislação mais restritiva e dos esforços empreendidos

em todas as esferas governamentais, a destinação inadequada de RSU se faz

presente em todas as regiões e estados brasileiros e 3.344 municípios,

correspondentes a 60,0% do total, ainda fizeram uso em 2013 de locais

impróprios para destinação final dos resíduos coletados.

Segundo a Abrelpe, em 2013, os resíduos sólidos urbanos coletados

tiveram como destinação final:

- Aterro Sanitário: 58,3%

- Aterro Controlado: 24,3%

- Lixão: 17,4%

Nas grandes metrópoles do País, existe outro problema: o esgotamento

dos espaços dos atuais aterros e a falta de terrenos para a construção de

novos.

O problema é agravado com a insuficiência de coleta seletiva,

procedimento pelo qual os resíduos recicláveis são separados dos demais

componentes do lixo urbano. Principais conseqüências desta insuficiência de

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coleta seletiva: mais emissões de gás carbônico e esgotamento mais rápido da

capacidade dos aterros sanitários.

3.6 Resíduos dos Serviços de Saúde Com relação aos resíduos dos serviços de saúde, só nos últimos anos

iniciou-se uma discussão mais consistente do problema. Algumas prefeituras já

implantaram sistemas específicos para a coleta destes resíduos, sem,

entretanto, atacar o ponto mais delicado da questão: a manipulação correta

dos resíduos dentro das unidades de trato de saúde, de forma a separar os

com real potencial de contaminação daqueles que podem ser considerados

lixo comum. A forma adequada de destinação final ainda não é consensual

entre os técnicos do setor, e a prática, na maioria dos municípios, é a

disposição final em lixões; os catadores disputam esses resíduos, tendo em

vista possuírem um percentual atrativo de materiais recicláveis.

3.7 Resíduos industriais

Por outro lado, o manejo e a disposição final dos resíduos industriais,

tema menos discutido pela população que o dos resíduos domésticos,

constituem um problema ainda maior que certamente já tem trazido e

continuará a trazer no futuro sérias conseqüências ambientais e para a saúde

da população. No Brasil, o poder público municipal não tem qualquer

responsabilidade sobre essa atividade, prevalecendo o princípio do "poluidor-

pagador". O princípio do "poluidor-pagador" encontra-se estabelecido na Lei da

Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/8/1981), isso significa

dizer que "cada gerador é responsável pela manipulação e destino final de seu

resíduo".

Os estados interferem no problema através de seus órgãos de controle

ambiental, exigindo dos geradores de resíduos perigosos (Classes I) sistemas

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de manuseio, de estocagem, de transporte e de destinação final adequados.

Contudo, nem sempre essa interferência é eficaz, o que faz com que apenas

uma pequena quantidade desses resíduos receba tratamento e/ou destinação

final adequados.

As administrações municipais podem agir nesse setor de forma

suplementar, através de seus órgãos de fiscalização, sobretudo considerando

que a determinação do uso do solo urbano é competência exclusiva dos

municípios, e assim, eles têm o direito de impedir atividades industriais

potencialmente poluidoras em seu território, seja através da proibição de

implantação, seja através da cassação do alvará de localização.

3.8 Privatização dos serviços de limpeza No tocante ao gerenciamento dos serviços de limpeza urbana nas

cidades de médio e grande portes, vem se percebendo a chamada

privatização dos serviços, modelo cada vez mais adotado no Brasil e que se

traduz, na realidade, numa terceirização dos serviços, até então executados

pela administração na maioria dos municípios.

Essa forma de prestação de serviços se dá através da contratação, pela

municipalidade, de empresas privadas, que passam a executar, com seus

próprios meios (equipamentos e pessoal), a coleta, a limpeza de logradouros, o

tratamento e a destinação final dos resíduos.

Algumas prefeituras de pequeno e médio portes vêm contratando

serviços da limpeza urbana, tanto de coleta como de limpeza de logradouros,

com cooperativas ou microempresas, o que se coloca como uma solução para

as municipalidades que têm uma política de geração de renda para pessoas de

baixa qualificação técnica e escolar.

33

3.9 Consórcios

Como a gestão de resíduos é uma atividade essencialmente municipal e

as atividades que a compõem se restringem ao território do Município, não são

muito comuns no Brasil as soluções consorciadas, a não ser quando se trata

de destinação final em aterros. Municípios com áreas mais adequadas para a

instalação dessas unidades operacionais às vezes se consorciam com cidades

vizinhas para receber os seus resíduos, negociando algumas vantagens por

serem os hospedeiros, tais como isenção do custo de vazamento ou alguma

compensação urbanística, custeada pelos outros consorciados.

Um dos exemplos mais bem-sucedidos no campo do consórcio é aquele

formado pelos municípios de Jundiaí, Campo Limpo Paulista, Cajamar,

Louveira, Várzea Paulista e Vinhedo, no Estado de São Paulo, para operar o

aterro sanitário de Várzea Paulista.

3.10 Taxas e tarifas dos serviços de limpeza

A sustentabilidade econômica dos serviços de limpeza urbana é um

importante fator para a garantia de sua qualidade. Em quase todos os

municípios brasileiros, os serviços de limpeza urbana, total ou parcialmente,

são remunerados através de uma "taxa", geralmente cobrada na mesma guia

do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU – e tendo a mesma base de

cálculo deste imposto, ou seja, a área do imóvel (área construída ou área do

terreno).

Como não pode haver mais de um tributo com a mesma base de

cálculo, essa taxa já foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal

Federal, e assim sua cobrança vem sendo contestada em muitos municípios,

que passam a não ter como arrecadar recursos para cobertura dos gastos dos

serviços, que podem chegar, algumas vezes, a mais de 15% do orçamento

municipal. De qualquer forma, em todos os municípios, a receita proveniente

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da taxa de limpeza urbana ou de coleta de lixo é sempre recolhida ao Tesouro

Municipal, nada garantindo sua aplicação no setor, a não ser a vontade política

do prefeito.

No Rio de Janeiro, a Companhia de Limpeza Urbana da Cidade do Rio

de Janeiro – COMLURB/RJ –, empresa de economia mista encarregada da

limpeza urbana do Município, praticou, até 1980, a cobrança de uma "tarifa" de

coleta de lixo – TCL –, recolhida diretamente aos seus cofres. O Supremo

Tribunal Federal, entretanto, em acórdão de 4/9/1980, decidiu que aquele

serviço, por sua ligação com a preservação da saúde pública, era um serviço

público essencial, não podendo, portanto, ser remunerado através de tarifa

(preços públicos), mas sim por meio de taxas e impostos. No ano de 2000 a

Prefeitura do Rio de Janeiro terminou com a taxa de limpeza urbana e criou a

taxa de coleta de lixo, tendo como base de cálculo a produção de lixo per

capita em cada bairro da cidade, e também o uso e a localização do imóvel.

Conseguiu-se, com a aplicação desses fatores, um diferencial de sete vezes

entre a taxa mais baixa e a mais alta cobrada no Município.

De um modo geral, a receita com a arrecadação da taxa, que raras

vezes é cobrada fora do carnê do IPTU, representa apenas um pequeno

percentual dos custos reais dos serviços, advindo daí a necessidade de

aportes complementares de recursos por parte do Tesouro Municipal. A

atualização ou correção dos valores da taxa depende da autorização da

Câmara dos Vereadores, que de um modo geral não vê com bons olhos o

aumento da carga tributária dos munícipes. A aplicação de uma taxa realista e

socialmente justa, que efetivamente cubra os custos dos serviços, dentro do

princípio de "quem pode mais paga mais", sempre implica ônus político que

nem sempre os prefeitos estão dispostos a assumir.

O resultado dessa política é desanimador: ou os serviços de limpeza

urbana recebem menos recursos que os necessários ou o Tesouro Municipal

tem que desviar verbas orçamentárias de outros setores essenciais, como

saúde e educação, para a execução dos serviços de coleta, limpeza de

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logradouros e destinação final do lixo. Em qualquer das hipóteses, fica

prejudicada a qualidade dos serviços prestados e o círculo vicioso não se

rompe: a limpeza urbana é mal realizada, pois não dispõe dos recursos

necessários, e a população não aceita um aumento das taxas por não ser

brindada com serviços de qualidade.

É sempre bom lembrar que uma forma de reduzir os custos com o

sistema de limpeza urbana, sobretudo com as atividades de coleta, tratamento

e disposição final, é sensibilizar a população a reduzir a quantidade de lixo

gerado, assim como implantar programas específicos como a segregação do

lixo na fonte geradora com fins de reciclagem, ou até mesmo a criação de

bolsas de resíduos para a reciclagem.

36

CONCLUSÃO

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12305/10) foi um

importante marco regulatório no que tange a questão do gerenciamento dos

resíduos sólidos no Brasil, definindo mecanismos de controle, promovendo a

necessidade de participação de diferentes entes envolvidos no processo, como

a população, o setor público e privado, e definido metas a serem alcançadas.

Porém, de maneira geral, o que ainda temos visto é uma gestão

ineficiente de resíduos sólidos, o que tem trazido prejuízos ambientais e

econômicos para o Brasil, pois ainda é deficitária e não tem avançado de

maneira uniforme nas diversas regiões do país.

Como exemplo dessa deficiência, observamos que uma das metas da

Lei 12305/10 era a erradicação dos lixões até agosto de 2014, o que ainda

está muito distante de ocorrer.

O Brasil, a despeito de contar com uma das legislações mais avançadas

sobre o tema, ainda carece de uma evolução institucional e priorização desse

assunto, mediante o comprometimento da sociedade, que não percebeu os

riscos de sua omissão.

Felizmente, também há de se considerar que avanços ocorreram e o

que se percebe mais recentemente é uma mudança importante na atenção

que a gestão de resíduos tem recebido das instituições públicas, em todos os

níveis de governo.

Somente através da pressão da sociedade, ou um prefeito e gestores

públicos decididamente envolvidos e engajados e conscientes da importância

do gerenciamento adequado dos resíduos sólidos para a saúde da população

e para o meio ambiente, pode se mudar o quadro de descuido com este setor.

A despeito dos esforços de muitas prefeituras na implementação de

programas, planos e ações para melhoria dos sistemas de limpeza urbana e

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de seu gerenciamento, e apesar de várias iniciativas realizadas pelas

comunidades, em especial na direção de projetos de coleta seletiva e

reciclagem, é sabido que o quadro geral é bastante grave: além de recursos,

são necessários o aprimoramento e a capacitação das administrações

municipais para enfrentar o problema.

Não há um manual ou uma fórmula que possam ser apresentados como

solução para resolução dos problemas neste setor. As soluções podem ser

distintas, para diferentes localidades, sempre se atentando que o Brasil é um

país continental, com diferentes realidades e especificidades em seus

municípios.

É preciso buscar uma resposta efetiva ao grande desafio do momento:

garantir uma gestão e um destino adequado aos materiais descartados pela

sociedade. As soluções já são amplamente conhecidas, sendo as principais: a

eliminação de “lixões”; a implantação de aterros sanitários; a efetivação de

sistemas de coleta seletiva; o estabelecimento de sistemas de logística

reversa, com responsabilidade dos produtores; e a viabilização de plantas de

recuperação e aproveitamento de resíduos.

As prefeituras, através de seus agentes, instituições e empresas

contratadas, por meio de acordos, convênios e parcerias exerce, é claro, papel

protagonista no gerenciamento integrado de todo o sistema. Porém, nós, como

cidadãos, não podemos nos eximir da responsabilidade de participar

efetivamente da mudança de paradigmas referentes ao meio ambiente, e

especificamente dos resíduos sólidos, e da execução, em sua plenitude da

Política Nacional de Resíduos Sólidos.

.

38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Resíduos Sólidos:

Classificação. NBR 10.0004, 2004.

ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2013.

Disponível em http://www.abrelpe.org.br.

CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Manuais Cempre -

Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado, 2010. Disponível em

www.cempre.org.br.

FERREIRA, J.A. Resíduos Sólidos: Perspectivas Atuais. In: Resíduos Sólidos,

Ambiente e Saúde - uma visão multidisciplinar. Editora Fiocruz, 2000.

Congresso Nacional. Lei 12305. Brasília-DF, 2010.

Congresso Nacional. Lei nº 6.938. Brasília-DF, 1981.

MONTEIRO José Henrique Penido; FIGUEIREDO, Carlos Eugênio Moutinho;

MAGALHÃES, Antônio Fernando; et al. Manual de Gerenciamento Integrado

de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM (coordenação técnica Victor Zular

Zveibil), 2001. Disponível em: http://www.resol.com.br/cartilha4/.

.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Os Resíduos Sólidos Urbanos 10

1- Conceitos e classificação 10

1.1 - Quanto aos riscos de contaminação 11

1.2 - Quanto à natureza e origem 11

1.2.1- Lixo doméstico 11

1.2.2 - Lixo comercial 12

1.2.3 - Lixo público 12

1.2.4 - Lixo domiciliar especial 12

1.2.5 - Lixo de fontes especiais 13

1.3 - Disposição final dos Resíduos Sólidos 14

1.3.1 - Lixão 15

1.3.2 - Aterro Controlado 16

1.3.3 - Aterro Sanitário 17

CAPÍTULO 2 - Meio Ambiente e Resíduos Sólidos - Legislação 18

2.1 - A competência dos municípios 19

2.2 - Resoluções Conama 21

2.3 - Normas Técnicas 23

2.4 - A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12305/10) 24

CAPÍTULO 3 - Panorama do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nos

municípios 25

40

3.1 - O mercado dos resíduos sólidos 25

3.2 - Coleta 26

3.3 - Coleta Seletiva 28

3.4 - Limpeza dos logradouros públicos 28

3.5 - Tratamento e Destinação Final 29

3.6 - Resíduos dos Serviços de Saúde 31

3.7 - Resíduos Industriais 31

3.8 - Privatização dos Serviços de Limpeza 32

3.9 - Consórcios 33

3.10 - Taxas e tarifas dos serviços de limpeza 33

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 39