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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS PREMATURAS Por: Roberta Mota Alves da Silva Orientador Profª. Marta Relvas Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · irritabilidade e a condutibilidade. Em pluricelulares mais simples, como o filo dos poríferos, ocorre a formação de células

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM EM

CRIANÇAS PREMATURAS

Por: Roberta Mota Alves da Silva

Orientador

Profª. Marta Relvas

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM EM

CRIANÇAS PREMATURAS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Roberta Mota Alves da Silva

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar, as minhas,

inicialmente colegas de sala, hoje

amigas Ana Lúcia e Renata Maia, ao

meu esposo Bruno César e minha irmã

Renata Alves pela dedicação e

colaboração para o alcance desse

titulo......

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu esposo por

se doar em parte para meu maior

comprometimento.

RESUMO

O presente trabalho retrata a importância de conhecer o funcionamento

do cérebro, bem como sua formação embrionária e amadurecimento pós natal

a fim de uma melhor compreensão do desenvolvimento de um indivíduo em

seus primeiros momentos de vida, tendo esse completado seu

desenvolvimento embrionário ou nascido antes de findar a trigésima sétima

semana gestacional sendo considerado portanto, pré-maturo ou pré-terno .

Ressaltam-se também os possíveis prejuízos apresentados e as mediações

correlacionadas a fim de minimizar ao máximo os efeitos de um nascimento

pré-terno, muitas vezes associados a um baixo peso ao nascer que pode vir a

acarretar complicações nesse desenvolvimento.

Palavras chaves: Prematuridade, pré-termo, desenvolvimento, aprendizagem.

METODOLOGIA

Para esse estudo foi realizada uma revisão bibliográfica por meio de

pesquisa no banco de dados Scielo e pubmed criteriorizando artigos

correlacionados a desenvolvimento cognitivo em prematuros. Como critério de

inclusão foram considerados os que descreviam o perfil cognitivo e motor dos

prematuros em diferentes etapas do desenvolvimento e excluídos sem

relevância acadêmica e fora do contexto do objetivo do presente estudo. Foram

escolhidos para fonte de dados do presente trabalhos os seguintes autores:

Andrade et al , Andrade & Guedes et al., Caetano et al., Colameo & Rea,

Campos et al., Linhares et al., Magalhães et al., Méio et al., Nascimento et al.,

Rodrigues et al., Rugolo, L.M., Silveira et al., Souza & Ferreira, Venancio &

Almeida, Zelkowitz, Phyllis e Zomignani et al.

Foram utilizados também livros com tema central embriologia de

autores como Moore & Persaud e Garcia & Fernandes, neurofisiologia e

neuroanatomia, fundamentos e princípios básicos da neurociência de Kandel et

al. bem como três dos livros de Antônio Damásio, e os fundamentos

neurobiológicos da educação da autora Marta Relvas.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8

CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO ............................ 10 1.1. O comando genético do estágio inicial do desenvolvimento neural e o processo de neurogênese ........................................................................................... 13

1.2. Fatores correlacionados ao nascimento prematuro ..................................... 17

CAPÍTULO II - CONSEQUÊNCIAS CORRELACIONADAS AO NASCIMENTO PRÉ-TERNO ............................................................................. 20

3.1. Estudos relacionados à Prematuridade............................................................... 30

3.2. Possíveis intervenções neonatais e familiares .............................................. 32

3.2.1. Método mãe canguru e a humanização das unidades neonatais ......... 35

3.2.2. A importância dos estímulos familiares ............................................. 37

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 40

BIBLIOGRAFIA CITADA................................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................... 43

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INTRODUÇÃO

Durante o desenvolvimento embrionário ocorrem fases que merecem ser

ressaltadas no que tange a formação do que virá a ser o sistema nervoso.

Dentre elas destaca-se como mais importante a fase da neurulação onde se

formam placas e pregas neurais a partir do nó primitivo que originarão sistema

nervoso central e periférico. Tal fase é de primordial importância para o

desenvolvimento do novo ser em formação, porém não finaliza o

amadurecimento neural. É de grande importância também, o desenvolvimento

decorrente das fases seguintes como a fase em que se iniciam os movimentos

de sucção (aprox.12 semanas após o inicio da formação das placas neurais), e

a fase em que ocorre presença do reflexo de pressão e sobressalto (24ª

semana) (sadler, 2007).

O termo prematuro ou pré-terno é utilizado para denominar crianças

nascidas antes da 37ª semana de gestação (Zelkowtz, 2012; Silveira et al.

2008 & Nascimento et al.2012). Dentre os prematuros, Zelkowtz (2012) &

Linhares et al (2000) destacam o grupo “Prematuros de alto rico” que

compreende os nacimentos ocorridos com idade gestacional igual ou inferior a

32 semanas associadas a um peso inferior a 1.500g. A OMS define como

prematuridade nascimentos ocorridos antes da 37ª semana, nascidos de baixo

peso (RNBP) como o recém-nascido com peso superior a 1000g e inferior a

2500g e os recém-nascidos de muito baixo peso(RNMBP) como os recém

nascidos com peso inferior a 1000g. CAMPOS et al. elucida que a associação

desses fatores de risco podem potencializar possíveis problemas clínicos.

A prematuridade está associada a 61,4% das causas perinatais de

mortalidade infantil, conferindo-lhe um importante papel nos óbitos infantis.

Estudar o desenvolvimento cognitivo e motor, assim como a peculiaridade

do desenvolvimento em crianças nascidas prematuras permite priorizar

adequadamente a vigilância assim como sinalizar a necessidade de

intervenção precoce, minimizar sequelas, melhorar o desenvolvimento global

da criança, sendo possível fornecer indicadores sugestivos a cerca do

9

desenvolvimento futuro aumentando suas chances de inclusão escolar e social

(Nascimento et al. 2012 & Rodrigues et al. 2011).

Tal análise, em um país como o Brasil é de crucial importância uma vez

que presenta uma expressiva população de baixa renda sem o acesso

necessário a um serviço de saúde e cumprimento do tratamento (Rodrigues et

al. 2011).

10

CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO

Em seres unicelulares, os mais primitivos na escala filogenética, observa-

se três funções fundamentais apresentadas por esses seres: contratilidade, a

irritabilidade e a condutibilidade. Em pluricelulares mais simples, como o filo

dos poríferos, ocorre a formação de células com as mesmas funções

percebidas tanto em seres mais primitivos quanto as exercidas pelas células

nervosas humanas. Nos metazoários, apresenta-se um grupo de células

diferenciadas e especializadas em conduzir estímulos percebidos pelas células

sensoriais, e responsáveis por identificar tal estímulo. Esse, quando levado ao

interior do corpo do ser, desencadeia uma resposta correlacionada ao tipo de

estímulo.

Ao longo da evolução filogenética, essas células responsáveis por

transmitir estímulos, se agrupam formando um sistema de controle corporal, o

sistema nervoso central. Tal sistema é formado por células responsáveis por

conduzir essas informações/sinais até um centro de comando, que retornará a

informação para uma resposta ou reação.

O agrupamento desses tipos de células especializadas ocorreu na

extremidade do ser. Essas células localizadas permitiram aos animais perceber

mais rapidamente as mudanças do meio, podendo elaborar respostas mais

rápidas. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e em virtude

da sua importância, foi protegido por um crânio. O encéfalo originou-se desse

aglomerado de células com as funções de contratilidade, irritabilidade e

condutibilidade. O aumento gradual desse encéfalo, formado pelo mesencéfalo,

cérebro, cerebelo e tronco encefálico alcançou, ao longo da escala filogenética,

o seu maior tamanho no ser humano (Relvas, 2009, pags: 76 a 78)

As tarefas realizadas pelo sistema nervoso amadurecido - o controle de

eferência motora, percepções de informações sensoriais e funções cognitivas

como aprendizagem e memória – são dependentes das interconexões de

milhões de células nervosas, formadas ao longo do desenvolvimento

embrionário e pós-natal.

11

A formação dessa gama de conexões nervosas são comandadas por

gens particulares em locais e períodos específicos durante tal formação. Esse

padrão espacial e temporal de expressão gênica é controlado fatores de fontes

celulares dentro do embrião e de estímulos oriundos do ambiente interno. As

influencias internas abrangem a superfície celular e moléculas secretadas que

controlam o destino das células visinhas, assim como os fatores que agem na

transcrição gênica.

Fatores ambientais incluem secreções, nutrientes, experiências sociais,

estímulos sensório entre outros. A interação existente entre os fatores internos

e externos que influenciam a expressão de gens que mediarão o

desenvolvimento integral do sistema nervoso de um indivíduo é de crucial

importância para a diferenciação de cada célula nervosa, estando essa

importância correlacionada ao correto funcionamento nesse sistema de

controle do corpo adulto.

A interação com o ambiente social e físico modifica ou consolida todas as

conexões neurais estabelecidas no início do desenvolvimento embrionário

mesmo sendo decorrentes também de interações químicas oriundos de

expressão gênicas. (KANDEL et al, 2003, pag 1015).

Mesmo em seres mais simples como os estudados para melhor

compreensão do desenvolvimento inicial do sistema nervoso, a privação de seu

ambiente natural durante o período crítico desse processo, pode correlacionar-

se as profundas consequências para posterior maturação de todo o encéfalo,

afetando diretamente o comportamento desse ser.

Estudos avançados de biologia molecular de células neurais como a

clonagem de gens específicos que codificam a interação entre fatores internos

e externos de influencia no desenvolvimento do sistema nervoso têm

possibilitado os estudos da indução de gens específicos em animais

transgênicos ou em animais que por mutação tiveram tais gens inativados.

Outros avanços consideráveis são as analises genéticas de seres mais

primitivos como a mosca da fruta (Drosophila) e o nematódio (Caenorhabtidis

elegans).

12

A filogenia do sistema nervoso prova que a maioria das moléculas-chaves

que controlam esse desenvolvimento são encontradas por organismos

separados por anos de evolução. Os programas que controlam o planejamento

do corpo, os destinos de células neurais e a conectividade neural como um

todo são conservados ao longo de todos os marcadores da evolução.

O aparato gênico carregado pelos gametas no momento da fecundação

não é suficiente para especificar todas as interconexões neurais necessárias

ao desenvolvimento do corpo desse ser humano seja durante a formação ou

após o nascimento.

O sistema nervoso diferente de outros sistemas do corpo para se

desenvolver, demanda da ativação de processos epigenéticos que ativam gens

específicos de maneira combinatória em diferentes momentos durante o

desenvolvimento. O embrião não revela-se portanto como o único responsável

pela diferenciação das células neurais, sendo também de origem ambiental as

influências epigenéticas que controlam tal diferenciação. O ambiente fornece

experiências sensoriais e sociais, aprendizagens, fatores nutritivos cujos efeitos

podem ser percebidos nas atividades neurais (Kandel et al, 2000, pag 75).

Segundo Moore & Persaud (2008) somente no ano de 1941 evidenciou-se

a possível interação do meio com os fatores do desenvolvimento. Vinte anos

após foi reportado caso de uma gestação afetada por fatores ambientais. Essa

influencia, afetaria as formações de conexões neurais não pré-estabelecidas

geneticamente.

ZOMIGNANI et al (2008) Explica de uma maneira clara como ocorre o

desenvolvimento do sistema nervoso: O Sistema nervoso central apresenta um

dinamismo muito intenso e evolutivo, para o entendimento de sua evolução e

amadurecimento, torna-se essencial a correlação entre a estrutura e a função,

ou seja, o desenvolvimento de determinada função depende do

amadurecimento de seu substrato neural anatômico correspondente. Tal

amadurecimento decorre fundamentalmente de eventos aditivos progressivos

(proliferação e migração neuronal, organização e mielinização) e

substrativos/regressivos (morte neuronal/apoptose, retração axonal e

degeneração sináptica).

13

A partir da zona ventricular e sub ventricular ocorre a proliferação

neuronal a partir de divisões das células tronco por volta do segundo ao quarto

mês de gestação, com um rápido crescimento de células nervosas. Dos três a

cinco meses de gestação ocorre o pico da atividade de migração das células

nervosas para seus locais de origem no SNC para os locais onde exercerão

funções ao longo da vida, iniciando-se nessa fase a organização das colunas

do córtex cerebral. Essa organização inicia-se no quinto mês de gestação e

continua alguns anos após o nascimento. Nesse período existem eventos de

extrema importância como: sinaptogêne, alinhamento e orientação dos

neurônios, ramificações dentricas e axoniais, morte celular e eliminação

seletiva de algumas sinapses, proliferação e diferenciação glial. A mielinação é

um processo que se inicia por volta do segundo trimestre de gravidez e tem

grande importância no processo de aprendizagem, ocorrendo

concomitantemente ao processo de diferenciação e alinhamento dos

oligodentrócitos.

O desenvolvimento cerebral em sua totalidade, conforme resume

ZOMIGNANI et al (2008) ocorre tal qual um processo, ou seja, não ocorre

individualmente e possui um tempo determinado para cada fase. Sendo assim,

um nascimento prematuro interrompe a evolução normal desses eventos e as

crianças adquirem um alto risco em relação ao neurodesenvolvimento e as

incapacidades funcionais. Ocorrendo devido a vulnerabilidade do cérebro na

ocasião do nascimento que pode acarretar anormalidades anatômicas que

consequentemente podem interferir nas capacidades funcionais

comportamentais e cognitivas, causando déficits que repercutem social e

educacionalmente.

1.1. O comando genético do estágio inicial do desenvolvimento neural e o processo de neurogênese

As células progenitoras de células neurais, oriundas das primeiras

subdivisões zigóticas, diferenciam-se em neurônios e células gliais. Esse

processo não para quando uma célula deixa o ciclo celular e se tornar um

14

neurônio. Para a célula amadurecida, em questão, funcionar, deve-se

expressar várias propriedades altamente específicas, principalmente os que

apresentarão transmissões entre outros neurônios e órgãos-alvo e os

correlacionados receptores que permitem a célula responder às aferências

sinápticas recebidas (Kandel et al. Pag. 1023 e 1024).

GARCIA E FERNANDES (2012) acrescentam a magnitude existente em

um material genético presente na gama de células totalmente diferenciadas

que realizam funções diversas e ainda assim são controlados por um mesmo

código existente em todas as células de um pluricelular. Torna-se evidente,

portanto que a expressão desse gen em diferentes células distinguem quanto a

expressão e a inibição gênica. Durante o desenvolvimento, esse grande

número de gens atua coordenadamente no tempo e no espaço a fim de

expressar fenótipos normais àquele indivíduo.

Destacam ainda, o desenvolvimento como uma escada de ascendente de

degraus de expressão ou de silenciamento que gênico que ocorre a medida

que esse desenvolvimento está por findar-se. Em um indivíduo humano estudar

essa escada ascendente de expressão e silenciamento seria muito mais

complexo. Para tanto utiliza-se dos estudos realizados em Drosofillas como

descrito posteriormente por Kandel et al. (2008).

São citados no trabalho dos autores citados anteriormente, alguns gens

que modulam o desenvolvimento embrionário como os gens seletores (ou

switch gens). Dentre eles evidenciam-se a ação dos: gens zigóticos, que

abrangem os gens de segmentação, cujo nome já diz muito sobre sua função;

os homeóticos que são responsáveis pela individualização de seguimentos

inicialmente idênticos. Esses gens não agem sozinhos, uma vez que sua

ativação inicia o controle de outros e outros até gerar a complexidade desse

sistema de comando corporal.

Estudos de genética molecular realizados com Drosophila melanogaster

permitiu uma profunda análise sobre o controle da diferenciação das células

progenitoras em um neurônio pós-mitótico.

Toda a complexidade existente na formação do sistema neural humano

mesmo em indivíduos em desenvolvimento embrionário só torna-se

15

compreensível quando analisa-se os estudos sobre a genética molecular da

neurogênese em seres mais simples como a Drosophila melanogaster descrito

por Kandel et al (2003). Após a formação dos três folhetos embrionários, para

que haja a seleção de um único neurônio, a partir da população de células

ectodermiais envolve interações celulares que restringem gradualmente o

destino de uma célula. Um grupo de células ectodermiais adquirirão o potencial

de gerar precursores neurais, sendo essa região conhecida como região pró-

neural. Dentro de cada região pró-neural, apenas algumas células tornar-se-ão

neurônio (Kandel et al. Pag. 1023 e 1024).

GARCIA & FERNANDES (2012) dividem a neurulação humana, para vias

de estudo simplificado, em quatro etapas principais: Formação da placa neural,

modelamento dessa placa, dobramento da placa para a formação do sulco

neural e fechamento do sulco para a formação do tubo neural.

A neurogênese humana assemelha-se a da Drosophila no que tange a

expressão de proteínas notch e delta importantes na sinalização entre células

adjacentes no processo de destinação neural. Essas proteínas quando

estudadas em embriões de Xenopus laevis (uma espécie de sapo) provaram

atuar inibindo ou aumentando a geração de neurônios primários. Sendo assim,

os gens relacionados a produção dessas proteínas tem um importante papel no

que tange a importância da diferenciação neuronal. Na maioria das regiões do

sistema nervoso, precursores neurais se desenvolvem tanto em neurônios

como em células glias, sendo o número dessas, excedente ao de neurônios.

Da segregação basal a partir das camadas celulares que se sobrepõe,

apresentam-se os neuroblastos que se dividem assimetricamente originando

uma célula apical maior e uma célula-mãe ganglionar basal. (Kandel et al. Pag

1023 e 1024) Forma-se assim a placa neural que dará origem ao sistema

nervoso central. Essa se apresenta alongada, correspondente em comprimento

a notocorda subjacente, cefalicamente ao nó primitivo e dorsalmente a

notocorda. Enquanto essa se alonga, a placa neural se alarga e se estense

cefalicamente ultrapassando a notocorda. Por volta do 18º dia ela envagina-se

ao longo de seu eixo central formando o sulco neural mediano com pregas

neurais em ambos os lados. As pregas neurais mostram-se proeminentes na

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extremidade cefálica do embrião, demonstrando os primeiros sinais do

desenvolvimento encefálico. No final da terceira semana as pregas neurais

aproximam-se e fundem-se, formando o tubo neural (Moore & Persaud, 2008,

Pag 63). Uma vez formado o tubo neural dorsal, uma porção de células

migratórias que emergem desse tubo se dispersa por diferentes vias na

periferia permitindo um possível diagnóstico do papel dos sinais locais no

controle dos destinos neurais e gliais.

A fusão das pregas neurais da região cefálica e o fechamento do

neuroporo formam três vesículas encefálicas primárias que formarão o

encéfalo. As vesículas originarão: o mesencéfalo (encéfalo médio) o

prosencéfalo (encéfalo anterior) e o rombencéfalo (encéfalo posterior). Como

podemos observar na imagem disponível no livro de (Moore & Persaud, 2008.

pag. 246 )

Na quinta semana gestacional, o encéfalo anterior se divide em duas

vesículas encefálicas secundárias: O telencéfalo e o diencéfalo. O encéfalo

médio na se divide, e o posterior se fraciona em metencéfalo e mielencéfalo.

Formando-se cinco vesículas encefálicas primitivas.

Das paredes do metencéfalo irão se originar o bolbo que é considerado o

centro vital, por estar relacionado a respiração e aos movimentos

cardiovasculares e a ponte, responsável por levar estímulos cerebrais do bulbo

e da medula para o córtex. Formam também o assoalho de substância cinzenta

17

do quarto ventrículo. No mielencéfalo, e no metencéfalo, os neuroblasto em

cada placa basal formam núcleos motores.

O mesencéfalo é a parte que menos sofre transformação durante o

desenvolvimento. Dessa parte do encéfalo forma-se o arqueduto cerebral que

liga o terceiro ao quarto ventrículo e grupos de neurônios responsáveis pelos

reflexos visuais e auditivos.

Do diencéfalo desenvolvem-se estruturas que originarão o epitálamo, o

tálamo e o hipotálamo. O tálamo desenvolve-se rapidamente dos dois lados, o

hipotálamo surge pela proliferação de neuroblastos na zona intermediária das

paredes diencéfalicas, o epitálamo desenvolve-se do teto e da porção dorsal da

parede lateral do diencéfalo. Dessa área desenvolve-se também a hipófise e a

glândula pineal.

O telencéfalo é constituído de uma parte mediana e dois diventrículos

laterais, as vesículas cerebrais. Tais diventrículos demostram-se como os

primórdios dos hemisférios cerebrais (Moore & Persaud, pag 242 e 243)

Todo o complexo processo de neurulação finaliza-se na quarta semana

gestacional muitas vezes antes do conhecimento da existência da gravidez. Ao

longo dessas quatro semanas todo o processo de formação de placa neurais e

pregas neurais já estão concluídos findando o processo onde muitas vezes o

embrião é conhecido como neurula com a formação do neuroporo (Moore &

Persaud, 2008)

As diversas funções do sistema nervoso maduro de um vertebrado

dependem criticamente do estabelecimento dessas subdivisões citadas, cujo

estabelecimento é um processo complexo. O padrão inicial de diferenciação

celular correlaciona-se a indução de células visinhas que direcionam posterior

localização neuronal.(Kandel et al. 2003, pag 1038)

1.2. Fatores correlacionados ao nascimento prematuro

Algumas fases do desenvolvimento embrionário merecem destaque

quando o assunto em voga é o desenvolvimento de bebês denominados

prematuros pré-ternos. Dentre elas encontram-se: A fase da neurulação onde

se formam placas e pregas neurais a partir do nó primitivo que originarão

18

sistema nervoso central e periférico, a fase em que se iniciam os movimentos

de sucção (aprox.12 semanas após o inicio da formação das placas neurais), e

a fase em que ocorre presença do reflexo de pressão e sobressalto (24ª

semana)(sadler, 2007).

O termo prematuro ou pré-terno é utilizado para denominar crianças

nascidas antes da 37ª semana de gestação (Zelkowttz, 2012; Silveira et al.

2008 & Nascimento et al.2012). O grupo de prematuros é muito heterogêneo,

Zelkowttz (2012) destaca o subgrupo “Prematuros de alto risco” que

compreende os nascimentos ocorridos com idade gestacional igual ou inferior a

32 semanas associadas a um peso inferior a 1.500g. A OMS define como

prematuridade nascimentos ocorridos antes da 37ª semana, aponta outros sub

grupos: Recém nascidos de baixo peso (RNBP) como o recém nascido com

peso superior a 1000g e inferior a 2500g e os Recém nascidos de muito baixo

peso (RNMBP) como os recém nascidos com peso inferior a 1000g.

Segundo Leone apud Zomignane et al A evolução do Recém Nascido Pré

terno (RNPT) difere-se da apresentada pela população normal em dois

aspectos fundamentais: o padrão de crescimento e o desenvolvimento pós

natal.

A mielinização, processo de grande importância na aprendizagem, inicia

sua formação nos feixes nervosos na 20ª semana gestacional, sendo

considerado um processo de formação embrionária tardio. Esse processo

encontra-se relacionado a funcionalidade desses feixes. Sendo assim, as

raízes motoras mielinizam-se antes das raízes sensitivas. Esse processo de

suma importância para o aumento na velocidade de potencial de ação neuronal

tornará as fibras nervosas com aspecto esbranquiçado decorrente do depósito

de mielina (Moore & Persad, pag 244).

Nas ultimas semanas de gestação, segundo Moore & Persaud (2008)

apreendem a capacidade de movimentos como agarrar fortemente com as

mãos, exibem orientação espontânea a luz, ganha aproximadamente 14 g por

dia, apresenta reflexo pupilar. Os autores em questão ressaltam essa como

uma etapa de finalização, como um “período de acabamento”, ou seja, é

19

quando o bebê finaliza seu desenvolvimento intrauterino, sendo essa de

primordial importância para sua vida pós-uterina.

A prematuridade não é algo que deve ser considerado isoladamente

como fator único condicionante de um déficit de desenvolvimento cognitivo

como relatado pela grande maioria das fontes pesquisadas.

No Brasil. subestima-se a prevalência de prematuridade, devido a erros

na classificação de bebês nascidos entre 34 e 36 semanas classificados como

ternos.

A etiologia do nascimento pré-terno não é multicausal. Porém muitos

fatores revelam-se desfavoráveis para o desenvolvimento intrauterino como

infecções, partos múltiplos, trabalho extenuante, baixo índice de massa

corpórea, hipertensão induzida pela gravidez, reprodução assistida, colo

uterino curto, peso insuficiente na gravidez, história anterior de nascimento pré-

terno (Nascimento et al. 2012).

Cabe ressaltar, portanto, que durante todo o desenvolvimento infantil,

fatores socioeconômicos e biológicos articulam-se complexamente. Uma vez

que o próprio déficit socioeconômico pode resultar em um acesso precário à

assistência média de qualidade, considerado fator de risco a prematuridade

(Rodrigues et al. 2011).

20

CAPÍTULO II - CONSEQUÊNCIAS CORRELACIONADAS

AO NASCIMENTO PRÉ-TERNO

Atualmente, devido ao grande avanço tecnológico, a expectativa de vida

das crianças nascidas antes de finalizada a trigésima sétima semana

gestacional têm mudado. Muito se deve ao aumento da assistência obstetrícia

e neonatal disponível. A partir da década de 90 avanços permitiram maiores

índices de sobrevivência dos prematuros, principalmente pela detecção e

reconhecimento dos possíveis déficits cognitivos e comportamentais em uma

população que já apresentava maiores riscos de adversidades durante o

desenvolvimento, tornou-se significativo em termos de qualidade futura

(NASCIMENTO et al, 2012).

Outros fatores que levaram a diminuição da taxa de mortalidade nessa

época correlaciona-se ao uso de corticoides antenatal e a terapia de reposição

sulfactante no recém-nascido. Nessa década houve um aumento na taxa de

sobre vida de recém-nascidos (Zomignani et al, 2008).

Rodrigues et al evidenciam a inevitável associação dos avanços em

estudos que obtém como foco a vida dos prematuros ao longo das variadas

etapas de seu desenvolvimento ao advento dos métodos de imagens. Devido a

esse fator, tornou-se possível a identificação das alterações cerebrais

decorrentes desse nascimento a termo.

Os autores têm seu trabalho voltado para fatores que merecem destaque

quando o assunto é a ocorrência de um nascimento anterior ao

desenvolvimento intrauterino total. Dentre os fatores que os autores

consideram “preditivos” destacam-se fatores biológicos como renda e

estabilidade familiar, brinquedos e atividades, a pobreza da família, baixa

escolaridade materna, pai ausente, condições sanitárias precárias, estimulação

doméstica.

Salientam ainda que tais variáveis associadas podem ser divididas em

distais como o nível socioeconômico, intermediárias como assistência Pré natal

e alimentação e proximais como o estado de saúde e o ambiente físico. Tal

divisão se daria ao fato de alguns fatores inferirem direta e outros

21

indiretamente. Contudo, nenhum deles pode ser considerado sinônimo de um

nascimento prematuro e sim fatores associados.

No Brasil, a taxa de sobrevida na faixa de 500g a 749g era de 9 a 44% e

na faixa de 750g a 1kg era de 66 a 73% (Zomignani et al. 2008). Silveira et al

mediante a análise de estudos realizados e publicados em 21 artigos diferentes

retrata uma prematuridade em escala crescente no Brasil. Através da

determinação das causas desse aumento, pose-se planejar intervenções que

diminuam esse aumento, mesmo que limítrofe, e consequentemente inferiorize

as taxas de mortalidade infantil.

De acordo com Rugolo (2005) na década de 90 nos Estados Unidos da

América a expectativa de sobrevida para os prematuros com peso entre 750g e

1kg era de 85% e os com peso entre 500 e 749g era de 45%. No Brasil,

segundo a autora a prevalência encontra-se em concordância com a destacada

no estudo de Zomignani et al citado anteriormente.

Muito se fala sobre a prematuridade, porém sempre associada ao baixo

peso ao nascer. Rodrigues et al aponta que mesmo que isolada a

prematuridade, quando analisa-se o desenvolvimento neuropsicológicos

mostra-se um desenvolvimento cognitivo e motor significantemente baixo

nesse grupo.

Silveira et al. destacam também trabalhos que conectam a prematuridade

a mães que trabalham em pé por longos períodos, com o baixo peso materno

pré-gestacional, os extremos das idades maternas, história prévia de natimorto,

o tabagismo, ganho de peso materno inferior a 13 kg, hipertenção,

sangramento vaginal e cinco ou menos consultas pré-natal.

Independentemente de quais sejam os fatores que corroboram ou não

para a ocorrência da prematuridade Rugolo (2005) esclarece que ainda que

não estejam corretamente esclarecidos os padrões de desenvolvimento quer

físico ou comportamental desse grupo específicos de recém-nascido, torna-se

de suma importância que para a realização de qualquer análise com esse

grupo uma correção da idade do prematuro mediante a uma subtração de seu

não completo desenvolvimento embrionário a fim de criar expectativas reais

para cada prematuro não confrontando com padrões errôneos de referência.

22

A autora indica que sequelas neurosensoriais graves, incluindo cegueira,

surdez e paralisia cerebral são detectadas em 6-20% dos recém nascidos

prematuros de extremo baixo peso, sendo essa frequência inversamente

proporcional a idade gestacional. Destaca ainda que de 20 a 30% dos

prematuros apresentam algum prejuízo motor; 7 a 17 % apresentam

deficiências neurosensoriais, um percentual igual mostram-se com paralisia

cerebral. No entanto a autora considera mais frequente o atraso cognitivo

presente de 30 a 40% dos casos. 50% dos nascidos antes de completa a

vigésima quinta semana gestacional apresentam distúrbios graves

neurosensoriais e no desenvolvimento cognitivo.

Desse grupo de recém-natos, ZELKOWITZ destaca um percentual de 10

a 20% desses com problemas graves do desenvolvimento como cegueira ou

paralisia cerebral. Um número elevado dos que não se encaixam nesses 80,

90% apresentam problemas mais sutis como as de aprendizagem e as de

comportamento. Elucida dentro desse grupo, os RNMBP (Recém nascidos de

muito baixo peso) que frequentemente apresentam deficit de atenção,

hiperatividade, timidez e retraimento excesivo.

A autora destaca ainda a fragilidade desse grupo no que diz respeito a

complicações como a síndrome do sofrimento respiratório, a hemorragias

intraventricular, e a retinopatia do prematuro que consiste em um crescimento

anormal dos vasos sanguíneos oculares. Os bebês prematuros são

particulamente sensíveis as influencias ambientais, e essas impactam mais o

comportamento do prematuro que de m bebê a terno.

ZOMIGNANI et al (2008) sob a linha metodológicos de estudos das

mudanças morfológicas cerebrais, apresenta alterações morfológicas de

substancia branca e cinzenta bem como um desenvolvimento atrasado dos

giros cerebrais. Cita ainda estudo realizado por Gimenez et al, que detectou

anormalidade no desenvolvimento do sulco orbitofrontal, apresentando-se

menos profundo devido à prematuridade , tendo tal alteração permanecido até

a adolescência uma vez considerado irreversível.

Outros estudos citados por esses autores comprovaram a diminuição

volumétrica do encéfalo de maneira global, mas com desequilíbrio entre as

23

regiões quando analisadas as partes individualmente em concordância com o

estudo de Rodrigues et al.

Magalhães et al esclarece que o comprometimento na escrita, no

desempenho acadêmico e na realizações de tarefas diárias simples advem das

falhas na coordenação motoro fina apresentada por essas crianças. Os autores

destacam essa limitação encontrada, bem como limitações na coordenação

motoras das mãos e na sensação tátil/sinestésica.

Destacaram ainda estudos realizados por Peterson et al com crianças

com idade de oito anos, sendo essas ex prematuras. Encontrando diminuição

específica em região pré-motora, meso-temporal, sensório-motora, parieto-

occipital , amígdalas, hipocampo, núcleo da base, bem como o afilamento do

corpo caloso. Elucidam também outro estudo realizado pelo mesmo grupo de

cientistas do estudo citado anteriormente que estenderam seus achados em

2003 associando tais alterações anatômicas aos prejuízos cognitivos em

crianças com as mesmas características e na mesma faixa etária.

Traduzindo em números, Inder et al apud Zomignani et al (2008)

quantificaram em 22% a taxa de diminuição de volume de substancia cinzenta

cortical e dos núcleos profundos cerebrais e de 35% a taxa de diminuição da

substância cinzenta. Observaram também aumento de volume liquorico, que

reforça a ideia de menor volume cerebral e o consequente aumento das

cavidades de armazenamento das cavidades liquoricas como ventrículos e

cisternas.

Apesar de não existir explicação totalmente elucidada a esse respeito,

existem estudos que correlacionam as alterações do desenvolvimento cerebral

em prematuros ao sexo da criança. Sabe-se que meninos são mais vulneráveis

apresentando maior morbidade e mortalidade. É sabido também que o sexo

influencia os mecanismos pelos quais um cérebro em desenvolvimento e

afetado. Estudos mostram que meninos têm maiores alterações no

desenvolvimento da substancia branca em comparação as meninas, mas

ambos apresentam alterações no volume da massa cinzenta. Zomignani et al

(2008) não só nesse estudo de correlação com o sexo mas em diversos

estudos expostos em seu trabalho demonstra a grande relação existente entre

24

as alterações neuroanatômicas do sistema nervoso central em

desenvolvimento e a idade gestacional. Relação essa que em inúmeros casos

desencadeiam déficits que podem acompanhar esse individuo ao longo da

vida.

Outro fator que merece destaque, ainda segundo a autora, é a

continuidade do desenvolvimento associados a problemas de saúde física que

frequentemente levam a visitas médicas e hospitalizações ainda no primeiro

ano de vida. Devido a essa vulnerabilidade, pode acarretar uma preocupação

extra dos pais no que relaciona-se a saúde física desse bebê.

Apesar dos constantes estudos relacionados à prematuridade, tal fator

revela-se ainda desfavorável ao desenvolvimento da criança. O

desenvolvimento global da criança é dependente do desempenho das funções

visuoperceptiva, motoras, atencionais, manifestações comportamentais e

emocionais que são resultado da integridade estrutural e funcional das

estruturas neurológicas. Sendo assim, não surpreende a ocorrência de

prejuízos relacionados ao desenvolvimento físico, cognitivo emocional e

comportamental em crianças que não completaram sua maturação neurológica.

O desenvolvimento motor está intimamente relacionado a um

desenvolvimento sequencial e cronológico. As habilidades motoras

organizadas e complexas progridem ao movimento simples e desorganizado.

Logo, o desenvolvimento motor atípico não correlaciona-se obrigatoriamente a

alterações neurológicas. Mesmo crianças que não apresentem sequelas graves

decorrentes de um nascimento pré maturo, expressam comprometimentos em

algumas áreas do desenvolvimento neuropsicomotor.

No que tange o crescimento do prematuro, torna-se difícil predizer uma

idealidade uma vez que é um processo contínuo, complexo e influenciado por

fatores ambientais, genéticos, nutricionais e hormonais. Tal grupo de crianças

que não completaram as 37 semanas gestacionais privam-se do ultimo

trimestre de gestação que está intimamente relacionado a fase crítica do

crescimento intrauterino acelerado. Quando essa privação encontra-se

associada ao extremo baixo peso, a recuperação dessa falha no crescimento

25

pode ser lenta e tardia com elevado risco de crescimento inadequado nos

primeiros anos de vida (Rugolo, L.M., 2005).

A cognição é outro fator a ser considerado quando analisa-se o

desenvolvimento global da criança e pode fornecer indicadores sugestivos no

que ecoa seu desenvolvimento futuro (Nascimento et al 2012).

Ainda condizente a cognição dos prematuros NASCIMENTO et al (2012),

esses exprimem desvantagens no âmbito escolar em relação ao desempenho,

ás dificuldades comportamentais. Podem evidenciar prejuízos

neurocomportametais como déficitis cognitivos, dificuldades de linguagem,

anormalidades neurológicas, atrasos no desenvolvimento, maior risco de

sequelas como cegueira, surdez, paralisia cerebral e convulsões.

Em relação à inteligência, Gregory salienta que possuímos ferramentas

biológicas e que os processos utilizados para o aproveitamento e utilização

dessas ferramentas provocam o comportamento inteligente, em outras palavras

a cognição. Essas habilidades e processos possuem uma história tanto

biológica como afetiva e social que poderá favorecer ou não uma melhor

utilização dos recursos e consequentemente um desenvolvimento íntegro

cognitivamente.

Cinco das treze referencias escolhidas no estudo de NASCIMENTO et al

(2012) comungam de alterações de cunho cognitivo e motor. Associam ainda a

idade gestacional e o peso ao nascimento como fatores preditivos importantes

no prognóstico do desenvolvimento infantil. Contrapondo-se a apresentação

saudável no nascimento, demosntram-se riscos de insucesso escolar e

problemas comportamentais.

Os autores ressaltam ainda que apresentam-se deficientes funções

motoras, executivas ou sensoriais como déficits intelectual, capacidade para

cálculos, memória,desenvolvimento motor, função cognitiva global,

aprendizado, função motora grossa, linguagem, planejamento, habilidades

viso-motor, pensamento racional, associativo e atenção. Sendo tais alterações

consenso entre quatro de suas referencias.

ZOMIGNANI et al (2008) destaca estudos que apesar de controvérsias

destaca um desenvolvimento atípico de áreas do sistema nervoso central,

26

apontando tais alterações como motivo para existencia de repercução funcional

e/ou cognitiva, resultando, em concordância com NACIMENTO et al 2012, em

alterações citadas anteriormente. Acrescenta também déficits nas funções de

planejamento, formação de conceitos verbais e numéricos, capacidade de

síntese, organização perceptiva, orientação espacial, memória remota.

Os autores demonstram ainda a possível associação de algumas

limitações como: Os déficits em tarefas verbais indica relação com a redução

do volume de substância branca em certas regiões dos lobos temporal e

frontal, já a deficiência em tarefas não verbais pode estar relacionado a

diminuição do volume de massa cinzenta no giro fusiforme do lobo temporal, no

lobo occipital e no hipocampo. Outra limitação correlacionada a alterações

anatômicas é a memória. Crianças pré-terno aos dois anos de idade

apresentam alterações nessa habilidade que pode estar relacionada a uma

deficiente conectividade entre as regiões cerebrais por falta de organização dos

axônios envolvidos nessa função cognitiva.

Wolke & Meyer apud Melo et al realçam que prematuros apresentam

déficits cognitivos múltiplos, envolvendo singularmente a função de

processamentos simultâneos e a função de processamento de funções

complexas que requerem raciocínio lógico e habilidades de orientação

espacial.

Algumas complicações neonatais são frequentemente apontadas como

fatores de risco para o desenvolvimento intelectual e neurológico atípicos,

destacando-se: doença de membranas hialinas tornando o recém-nascido

dependente de respiração assistida, hiperbilirrubinemia e infecções (zomignani

et al, 2008).

Cabe ainda ressaltar que o desenvolvimento da linguagem é um fator que

precisa ser criteriosamente avaliado nos primeiros anos de vida, pois quanto

menor o peso ao nascimento e a idade gestacional, maior a probabilidade de

atraso nos vários estágios no desenvolvimento da linguagem, incluindo atrasos

nos marcos pré-linguísticos como reconhecer figuras e objetos responder a um

comando verbal e executar atos simples, bem como menor vocabulário e a

capacidade de formar frases e sentenças aos 2-3 anos de idade cronológica

27

(Rugolo, L.M., 2005). Exemplificado pelo estudo de Rodrigues et al. que relatou

tal limitação.

No entanto, estudos realizados por Espírito Santo et al. apud Melo et al.

com oitenta crianças com idade gestacional inferior a 37 semanas com o

objetivo de avaliar o desenvolvimento cognitivo e comportamental de crianças

em idade pré-escolar apresentaram tais crianças com melhores resultados em

testes correlacionados a capacidade de abstração e simbolização, sendo os

menores resultados obtidos em testes relacionados a coordenação visual

motora, flexibilidade e velocidade de raciocínio.

De forma abrangente, não é fácil predizer o prognóstico do

desenvolvimento de um prematuro de extremo baixo peso, pois esse depende

de uma complexa interação de fatores ambientais e biológicos atuantes no

cérebro imaturo e vulnerável dessas crianças. Alguns fatores de risco são

levantados para alterações no neurodesenvolvimento. Dentre eles destacam-

se: baixa condição socioeconômica, pais usuários de drogas. Entretanto,

coexistem fatores de proteção como a participação afetiva dos familiares e o

temperamento da criança que podem modular o prognóstico minimizando o

estresse e ajudando a criança a superar suas limitações obtendo boa qualidade

de vida (Rugolo, L.M., 2005).

No que tange a vida escolar desses pré-ternos, segundo NASCIMENTO

et al (2012), observa-se um menor desempenho em atividades gráficas, e de

linguagem,tanto expressiva como compreensiva, aritimética, na leitura

(aprendizagem dessa), na escrita e na soletração.

Rugolo, L.M. apresenta aos prematuros a possibilidade de um

desempenho escolar condizente. No entanto elucida que com o aumentar dos

desafios intelectuais as limitações e dificuldades podem se mostrar aparentes,

podendo atenuar-se na adolescência possibilitando boa integração social na

vida adulta.

Em concordância com a autora, Campos et al salienta que mesmo as

crianças, desse grupo de pré-termo, que apresentam sinais neurológicos leves

aos seis anos de idade, demonstram piores desempenho cognitivos, problemas

comportamentais e menor aproveitamento acadêmico aos 11 anos de idade.

28

Melo et al (2004) apresenta significância em relação aos riscos na

aprendizagem devido a alterações cognitiva e comportamental, conforme

descritos polos demais autores citados. A probabilidade de afetar a percepção

e atenção refletindo em uma hiperatividade possui íntima relação com tal

insucesso escolar. Os autores destacam o estudo realizado por Brutta et al,

também citados por outros três autores, que expõe prematuros com escores

cognitivos inferiores aos de controle (a termo).

Ainda em relação ao ambiente escolar, revelam-se prematuros com

incidência duas vezes maior para desatenção, hiperatividade, problemas

comportamentais, relacionais e emocionais, além da necessidade de m tempo

maior para a realização de tarefas podendo resultar em um impacto funcionar e

consequentemente em uma lentidão para a escrita. Nota-se também atrasos no

desenvolvimento motor global, como moricidade grossa, fina e viso-motora,

expressos em evidencia durante a idade pré-escolar quando ocorre a

consolidação das habilidades motoras(NASCIMENTO et al, 2012).

ZOMIGNANI et al (2008) elucida também a baixa capacidade de

aprendizados em crianças que apresentam a prematuridade associada ao

baixo peso, com predominância de comprometimento de múltiplos domínios

acadêmicos, sendo a matemática área mais acometida. Ressalta também que

mesmo os prematuros de baixo risco com peso variando entre 200g e 2499g

apresentam as mesmas limitações descritas anteriormente por outros autores

como alterações de linguagem, nas habilidades Visio-motoras e retardo no

desenvolvimento psicomotor.

Muitos desses déficits, limitações e/ou falhas no desenvolvimento são

analisados por muitos autores citados por Zomignani et al. Em estudos

realizados com crianças e adolescentes, provando que muitas dessas

alterações no desenvolvimento serão levadas por toda a vida.

Melo et al (2004) destaca que em geral, as alterações cognitivas são

observadas tardiamente, agregam-se a problemas evolutivos e de má

organização que afetam especialmente funções cognitivas como memória e

linguagem e que podem estar ligadas a instabilidades psicomotoras.

29

Contrapondo tal ideia, Silbertin-Blanc et al citado pelos mesmos autores

apresentam tais fatores como frequentes ou demonstrados na entrada da

escola maternal, aumentando sua problemática nas futuras realizações gráficas

podendo, quando não identificadas corretamente, acarretar prejuízos

escolares, mediante a atitudes educativas coercitivas, mesmos nas que

apresentam bom desempenho intelectual.

30

CAPÍTULO III - ESTUDOS RELACIONADOS À

PREMATURIDADE E POSSÍVEIS INTERVENÇÕES

3.1. Estudos relacionados à Prematuridade

Um estudo relatado por ZEKOWITZ (2012) realizado com crianças de seis

anos de idade apresenta prevalência de 22% dos bebês que possuíam a

prematuridade associada ao muito baixo peso ao nascer na ocorrência de pelo

menos um transtorno psiquiátrico, sendo o mais frequentes o transtorno de

déficit de atenção (duas vezes mais que em crianças nascidas a terno.

A autora destaca ainda trabalhos realizados mediante a análise de

imagens obtidas por ressonância magnética que exibiam cérebros de

prematuro com volume cerebral menor que o de crianças não prematuras.

Estando aqueles relacionados a resultados cognitivos inferiores.

ZOMIGNANI et al (2008) enfatiza estudos que apresentam ex prematuros

com alterações anatômicas cerebrais que se associam a prejuizos cognitivos.

Através de neuroimagens, observaram-se regiões do sistema nervoso central

com desenvolvimento alterado como a substância cinzenta, a substância

branca, o corpo caloso, o núcleo caudado, o hipocampo e o cerebelo.

Na pesquisa realizada por Méio et al. (2004) com 79 crianças prematuras

e com peso igual ou superior a 1500g, nascidas na cidade do rio de janeiro

entre os anos de 1991 e 1993 merece destaque, uma vez que constata com

seus dados a maior probabilidade de insucesso escolar destacado por

inúmeros outros autores.

Trazendo a luz dados piores do que os relatados até a data de publicação

do trabalho (2004). Esses, denominam um maior índice de prematuros com

funcionamento intelectual limítrofe para deficitário diferente do grupo de

controle que apresentavam características comuns das crianças estudadas,

divergindo somente no que diz respeito a idade gestacional e ao peso ao

nascimento.

Barros et al apud Silveira et al 2008 destacou em seu estudos realizado

com 5914 crianças no Rio Grande do Sul um novo termo não considerado em

31

nenhuma pesquisa até o momento. Eles elucidam a incidência de 9% das

crianças eram portadoras de um desenvolvimento com restrição de

crescimento intra-uterino. Relatam ainda uma incidência de 36% dos bebês

com nascimento pré-termo.

Méio et al elucida inúmeros trabalhos que merecem destaque no que

tange a prematuridade. Dentre eles o de Muthanna et al que buscaram

desvendar o perfil comportamental de crianças denominadas por eles de

“extremamente prematuras” apresentando idade gestacional média menor que

25 semanas.

O trabalho em questão apresentou predominância dos achados de

problemas comportamentais nos meninos. Outro ponto destacado que pode ser

considerado um diferencial em relação a outros, já citados e a citar, é a

observação do que os autores chamaram de má-conduta.

Outros trabalhos citados por Méio et al. também tiveram como foco a

questão comportamental, como o de Delobel-Ayob et al. que encontrou o dobro

de prevalência de sintomas emocionais, de relacionamentos e

comportamentais associados a baixa performance cognitiva em comparação

com crianças nascidas a termo.

Outro estudo nessa mesma linha de análise comportamental, agora

associada a uma análise acrescida das habilidades cognitivas realizado por

Anderson et al. corroboraram para os demais estudos que concluem a

associação dos déficits cognitivos e comportamentais associados a

prematuridade.

A memória de trabalho também foi alvo de estudos juntamente com as

funções executivas demonstrando concordância aos demais trabalhos

apresentados por Melo et al. sendo acrescido somente maiores dificuldades na

utilização na memória de trabalho e baixos escores em testes que visam

quantificar a atenção.

Outros autores tiveram seus estudos citados por Méio et al., sendo esses

relacionados ao desenvolvimento motor. Sullivan e McGrath investigaram as

quatro dimensões do desenvolvimento motor (motor completo, motor fino,

motor grosso e integração visual) em 134 crianças pré-termo em comparação

32

ao seu grupo controle de igual número, porém nascidas após findada a terceira

semana gestacional. Nesse estudo foi destacado um risco três vezes maior

para baixo desempenho escolar em atividades motoras grossas e finas.

A deficiência nas funções motoras bem como os achados no estudo de

Sullivan e McGrath, a dificuldade viso-espaciais e sensório-motoras,

planejamento, autocontrole inibição e persistência motora que contribuem para

a dificuldade de compreensão e cognição são encontrados em prematuros em

diversos artigos.

Dentre eles, os de Marlow et al em seus dois estudos, um realizado em

2005 que visou investigar a alta prevalência de problemas neurológico e

deficiências do desenvolvimento em crianças ao longo de seus dois primeiros

anos de vida, que encontrou uma incidência de 21% em crianças prematuras e

outro realizado em 2007 que buscou investigar a contribuição dos déficits de

função neuromotora e executiva para o insucesso escolar.

Outro que merece foco foi o realizado por Tanaka et al. realizado com

crianças de cinco anos de idade que conclui a influencia dos níveis de ácido

sahexanóico, secretado no leite materno, para o desenvolvimento do cérebro

durante a primeira infância provando a importância nutricional para o

neurodesenvolvimento.

3.2. Possíveis intervenções neonatais e familiares

Independente da forma do nascimento ou do tempo destinado a formação

intrauterina, todo recém nascido possui todos os neurônio que irá necessitar

para o desenvolvimento de suas funções ao longo da vida, apesar de possuir

apenas um quarto da massa cerebral de um adulto. Formar-se-ão grandes

redes de processamento, através da organização e expansão de seus

neurônios.

Estímulos corretos direcionados a esse bebê, ainda que prematuro,

provoca a realização de conexões sinápticas, criando condições favoráveis

para o surgimento de determinadas competências e habilidades. (Relvas, 2009,

pags. 54 e 55)

33

DAMÁSIO (1996) ressalta que apresar de ser de responsabilidade do

próprio ser os controles do equilíbrio e do funcionamento dos processos

biológicos básicos. Não poderia ser considerada uma vantagem qualquer

variação desse processo.

Quando considera-se a dificuldade escolar reforçada principalmente pó

NASCIMENTO et al (2012), reforça-se a necessidade do provimento de um

estimulação adequada envolvendo-se família e escola, uma vez que

apresentam maior taxa de repetência escolar.

Estudos recentes descritos por esses autores, mostra uma atual

preocupação com o desenvolvimento intelectual desse grupo de crianças, ma

vez que a deficiência na evolução cognitiva pode interferir significativamente no

seu rendimento escolar.

Assim, é fortalecida, cada vez mais, a importância da estimulação

cognitiva correta não só de professores e educadores, mas sua crucial

importância no ambiente familiar, buscando bons resultados em seu

crescimento e desenvolvimento, mesmo antes de sua vida escolar.

Ressaltam ainda a necessidade de uma análise criteriosa tanto no

aspecto cognitivo, comportamental e motor, da observação de suas habilidades

a partir de uma abordagem dinâmica, onde diversificadas situações podem

trazer interferências em momentos específicos de seu desenvolvimento

podendo comprometer futuras aquisições ou estimular melhor desempenho nas

mesmas.

Rugolo, L.M. indica uma boa qualidade do lar repleta de estabilidade

emocional da família e participação ativa dos pais como fator condicionante de

um melhor desempenho da criança proporcionando-lhes maior qualidade de

vida.

Rodrigues et al acentua a importância de um estudo detalhado dos

fatores associados a cognição aquém do desejado em prematuros de muito

baixo peso ao nascer, permitindo priorizar adequadamente a vigilância bem

como sinalizar a necessidade de intervenção precoce em grupos específicos,

minimizando as possíveis sequelas melhorando seu desenvolvimento e

34

desempenho escolar, aumentando suas chances de inclusão quer seja escolar

ou mesmo social.

Os prematuros, ao nascer, possuem etapas do desenvolvimento

correlacionadas a habilidades próprias de cada qual. Contudo, uma correta

exposição aos cuidados neonatais e uma história atencional antecipada

obrigam a criança a ativar competências não adquirida apenas pela conclusão

de tal etapa, no tempo correto. Em outras palavras, tais posturas

sobrecarregam de forma positiva seu processo de desenvolvimento integral.

As equipes responsáveis pelos cuidados com esse bebê após sua alta

hospitalar devem estar atentas para a realização de uma coerente detecção e

posterior intervenção sempre que necessário, sendo tal avaliação de

desempenho de suma importância para o acompanhamento do

desenvolvimento desse bebê como um todo. (Gregory apud Méio et al)

As intervenções necessárias vão desde atenção, estimulação

sensorialadicinal até oferta de um pacote de serviços onde esse ser em

desenvolvimento terá a sua disposição acompanhamento médico, a fim de

remediar as comorbidades associadas, pais preparados, promoção da

competência materna, melhoria do relacionamento mãe/bebê, o atendimento

do prematuro em serviços sociais e educacionais especializados.

Ment et al apud Méio et al acentuam a importância da estimulação

cognitica acentuada em crianças que recebem altas das UTIN, em especial os

prematuros.

As especificidades da prematuridade elucida a necessidade de uma

análise criteriosa para que não sejam formulados rótulos ou que passe a tornar

sinônimo de um nascimento pré-terno o risco cognitivo e relacional.

Vários fatores corroboram para o sucesso dos prematuros, mediante a

uma observação de suas habilidades a partir de uma abordagem dinâmica,

onde diferentes situações podem vir a trazer interferências em momentos

específicos de seu desenvolvimento (Méio et al, 2004).

35

3.2.1. Método mãe canguru e a humanização das unidades neonatais

De acordo com CALAMEO & Rea (2006) Os cuidados convencionais

estipulados pelo ministério da saúde em unidades de neonatologia destinado

aos recém-nascidos de baixo peso visam prevenir e tratar problemas

relacionados a imaturidade desse corpo como um todo, em especial de uma

central de comando quer dos movimentos intencionais ou dos movimentos

involuntários e vitais para a permanência da vida.

Dentre esse grupo destaca-se em especial a habilidade apresentada ou

não no momento do nascimento de controlar a sucção e a deglutição, bem

como a temperatura corporal. Sendo nesses casos, um fator limitante os

cuidados direcionados a esse ainda na UTI neonatal, a fim de que esse

amadureça seu sistema nervoso como um todo.

Contudo, a permanência desse em um hospital e sob esses específicos

cuidados implica em um contato limitado desse com a mãe, muitas vezes por

longos períodos podendo interferir no vínculo afetivo.

Ainda segundo os autores a amamentação, nesse período crítico de

apresentação desse bebê ao mundo, além de formar um vínculo afetivo, a

curto prazo diminui a perda de peso, aumenta os níveis de glicose no sangue,

transfere anticorpos que seu sistema imunológico sozinho não consegue

formar. No entanto o maior impacto desse ato torna-se claro em uma análise a

longo prazo, pois propicia benefícios para o amadurecimento neurológico da

criança impactando consequentemente no desenvolvimento intelectual.

Destacam também que a qualidade dessa interação pode atenuar ou

acentuar as dificuldades próprias dessa condição de vulnerabilidade desse

grupo pré-termo. Sendo assim a negligencia de tal importância que pode ser

considerado maus tratos pode levar a uma acentuação do déficit cognitivo

podendo levar a um grau de retardo mental.

Devido a esse fato, a humanização das unidades de cuidados neonatais

pode ser o diferencial encontrado para justificar o flagrante declínio da

mortalidade dos recém-nascidos de baixo peso e de muito baixo peso e o

aumento da morbidade desse grupo.

36

Um dos métodos que mais se relaciona a essa humanização é o método

mãe canguru criado em 1978. Tal denominação correlaciona-se ao marsupial

cujas fêmeas possuem uma bolsa na qual o filhote que não consegue

completar seu desenvolvimento placentário, completará seu tempo de gestação

recebendo alimentação e calor até se fortalecerem e amadurecerem (Andrade

& Guedes, 2005).

No Brasil, foi normatizada apenas no ano de 2000. Esse método,

incentiva e valoriza a presença da mãe e/ou família que carregarão seus filhos

até esses se encontrarem em condições clínicas, gástricas e respiratórias que

viabilizarão uma situação estável (Andrade & Guedes, 2005 e Calameo & Rea,

2006).

Já no ano de 2004, o Ministério da Saúde disseminou em todo Brasil a

Política Nacional de Humanização que possibilitou a utilização de técnicas de

assistência humanizada inclusive no SUS (Sistema único de saúde). (Souza &

Ferreira, 2010)

Essa técnica possibilita não só a criação do vínculo afetivo, bem como as

altas taxas de amamentação, os quais tiveram os benefícios citados

anteriormente a curto e alongo prazo.

Dentre os inúmeros benefícios decorrentes dessa técnica destacam-se

algumas como: A alta que muitas vezes ocorre precocemente levando em

consideração as condições clínicas dos recém-nascidos de baixo peso; a

amamentação exclusiva, muitas vezes difícil de ser alcançada principalmente

devido ao anterior afastamento da mãe ao bebê restrito aos cuidados médicos

e da equipe de enfermagem; A posição que o bebê é colocado no corpo da

mãe ligeiramente vestido a fim de transferência de calor e estimulação do

bebê; Educação e orientação dos pais e da família aos cuidados necessários

com o pré-termo que vão desde ventiladores artificiais a uma lavagem

adequada das mãos e o acompanhamento ambulatorial para acompanhar o

crescimento e o desenvolvimento do bebê (Calameo & Rea, 2006).

Diversos procedimentos sistematizados têm sido avaliados como de

grande influencia na qualidade da interação mãe-bebê, na audição, na

comunicação, no desenvolvimento global e na adequação da alimentação.

37

Dentre esses destaca-se a ação do fonoaudiólogo anexada a equipe

multidisciplinar do ambiente escolar.

Venancio & Almeida (2004) esclarece ainda que a utilização desse

método diminui ainda as hospitalizações e reduz o choro dos bebês aos seis

meses de vida.

O método demonstra ainda a possibilidade da mãe e de outros familiares

atuarem de forma direta e integral no atendimento as necessidades do recém-

nascido que possui atrelada a prematuridade e, por conseguinte, os diversos

riscos e consequências desse que faz desse bebê o foco dessa assistência. A

atitude da mãe associada a uma ação familiar ou até mesmo uma ação correta

dessa ainda que desvinculada da família atende as necessidades desse ser

propiciando-os um crescimento e desenvolvimento adequado.

Torna-se imprescindível, portanto que qualquer que seja o indivíduo que

destinará os cuidados devidos ao recém-nascido com tal característica deve

estar afinado as metodologias de tal assistência humanizada que condiz com

uma melhor evolução principalmente a neuromotora que pode ser avaliada

nesse momento (Caetano et al, 2005).

3.2.2. A importância dos estímulos familiares

Como citado anteriormente, nos primeiros momentos da infância, os

vínculos formados, bem como os cuidados e estímulos necessários ao seu

desenvolvimento integral são nesse momento de responsabilidade da família.

Esses estímulos permeiam entre estímulos físico e afetivo social.

A qualidade desse estímulo correlaciona-se com a realidade social, ao

nível de instrução e com a dedicação possível por parte do adulto que se

responsabilizará pela educação desses. Seja em crianças a termo ou pré-

termo, a qualidade desses estímulos será o divisor de águas no realizável

desenvolvimento.

Em uma primeira etapa, os processos proximais constitui a interação que

auxilia a percepção e permita uma direção e controle de seu próprio

comportamento. Ademais, permite adquirir habilidades e conhecimentos

38

estabelecendo relações e construindo seu próprio ambiente social e físico

(Andrade et al, 2005).

Os autores em questão destacam ainda estudos que correlacionaram a

cognição à estimulação. Esses estudos mostraram mães que estimularam seus

bebes com uma variedade de experiências perceptivas com símbolos, objetos

e pessoas. Esses estímulos contribuíram para o desenvolvimento cognitivo

permitindo análises cognitivas de seus efeitos a longo prazo.

A família dentre inúmeras outras designações, funciona como mediadora

entre a criança e a sociedade. Sendo assim, possibilita sua socialização que

demonstra-se um fator essencial para o desenvolvimento cognitivo infantil.

Essa instituição, no entanto ainda que não apresente a configuração

anteriormente pré-estabelecida: pai, mãe e filhos, exprime o meio relacional

básico que conecta a criança ao mundo externa (Andrade et al, 2005).

Bronfren-brenner & Ceci apud Andrade et al (2005) elucida que as

interconexões realizadas com o ambiente imediato é complexo e dependente

da natureza das intercomunicações com os ambientes complementares

estabelecendo conexões entre os fenômenos do desenvolvimento ao mundo

social.

No ambiente a criança pode encontrar proteção ou conviver com riscos ao

seu desenvolvimento. Dentre os fatores que configuram um risco encontra-se a

fragilidade familiar e o baixo nível socioeconômico, que podem resultar

singularmente em prejuízos para a solução de problemas, linguagem, memória

e habilidades sociais. Esses fatores de risco, associados aos riscos

decorrentes de um nascimento prematuros pode ocasionar danos irreversíveis.

Zamberlan & Alves apud Andrade et al (2005) identificou níveis

psicossociais de risco ao desenvolvimento de crianças no ambiente familiar.

Foram analisados ambientes potencialmente danosos. Dentre eles incluem-se

baixos níveis interativos e de envolvimento socioemocional entre adultos e

crianças, a presença de controle punitivo e restritivo e a ausência de níveis

básicos de organização familiar.

Logo, a escolaridade materna acima de cinco anos, a organização do

ambiente físico e temporal, e a maior oportunidade na variação de estímulos

39

diários com didponibilidade de materiais e jogos adequados, bem como o maior

envolvimento emocional e verbal da mãe.

Segundo Andrade et al esses mostram-se favoráveis como fator de

proteção ao desenvolvimento saudável de um bebê, tanto global como

especificamente, como por exemplo na extenção dos vocabulários que

correlaciona-se com uma maior competencia para aprender novas palavras e

receber as informações sobre o mundo.

Torna-se evidente, a importância dos estímulos ambientais principalmente

familiares, uma vez que cabe a essa instituição mediar o conhecimento de

mundo que o pré-termo formará. Considerando que esse grupo de recém-

nascidos apresentam necessidades especiais inicialmente e posteriormente

riscos de um insucesso escolar e de desenvolvimento integral, mais importante

ainda se torna essa vivencia adequada, bem como a estabilidade financeira e

educacional dessa que se incumbirá de possibilitar a qualidade de estimulação

ambiental.

40

CONCLUSÃO

O presente trabalho evidencia a importância do entendimento não só da

formação do sistema nervoso visando a melhor compreensão dos efeitos

positivos e negativos do ambiente externo e bioquímico do corpo da mãe

durante a neurogênese, bem como suas correlacionadas consequências e/ou

sequelas do desenvolvimento integral.

O comando geral do nosso corpo quando não finalizado, amadurecido

corretamente tem como consequência diversos atrasos e limitações cognitivas

como citado em diversos estudos.

Porém, um nascimento pré-termo não pode tornar-se sinônimo de

deficiências e limitações. O conhecimento dos percentuais de insucesso

escolar e das diversas limitações e características desse nascimento que

muitas vezes encontra-se relacionado a um baixo peso ao nascer, tende a

facilitar as possíveis intervenções.

Quando estimulados corretamente e quando possível o acesso a um

atendimento especial, a esse recém-nascido, podem apresentar um

desenvolvimento íntegro e preservado, assim como um bom desempenho

motor, cognitivo e escolar.

No entanto, o aprofundamento nas consequências de um nascimento

prematuro não se encerra nesse trabalho, há muito a ser desvendado e

estimulado.

41

BIBLIOGRAFIA CITADA

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MOORE, K.L. & PERSAUD, T.V.N. Embriologia básica. 4ª edição. São Paulo: Guanabara Koogan, 1995.

44

Índice INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO ............................ 10 1.1. O comando genético do estágio inicial do desenvolvimento neural e o processo de neurogênese ........................................................................................... 13

1.2. Fatores correlacionados ao nascimento prematuro ..................................... 17

CAPÍTULO II - CONSEQUÊNCIAS CORRELACIONADAS AO NASCIMENTO PRÉ-TERNO ............................................................................. 20

3.1. Estudos relacionados à Prematuridade............................................................... 30

3.2. Possíveis intervenções neonatais e familiares .............................................. 32

3.2.1.Método mãe canguru e a humanização das unidades neonatais .......... 35

3.2.2.A importância dos estímulos familiares .............................................. 37

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 40

BIBLIOGRAFIA CITADA................................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................... 43