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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – UCAM CURSO DE PEDAGOGIA
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PROFESSOR E AS DIFICULDADES DA AVALIAÇÃO
Por:
SONIA MARIA ANDRADE GOMES
Orientador:
Prof. Dr. Fernando Gouvêa
Rio de Janeiro, 2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – UCAM CURSO DE PEDAGOGIA
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PROFESSOR E AS DIFICULDADES DA AVALIAÇÃO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Graduação em Pedagogia.
Por: Sonia Maria Andrade Gomes
Rio de Janeiro, 2008
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceder mais essa conquista; Aos professores e tutores do Projeto A Vez do Mestre, pelos ensinamentos compartilhados; e Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Gouveia, pelas valiosas sugestões que enriquecem o meu conhecimento e este trabalho.
DEDICATÓRIA
À minha irmã, Ana Maria Andrade, pela paciência de me ouvir e me aconselhar; À minha filha Débora Andrade G. Cvaigman, que sempre me deu muita força durante o curso; e Aos meus colegas de turma, que me tiraram dos grandes sufocos.
RESUMO
O tema desse estudo é o Professor e as dificuldades da avaliação. O
desenvolvimento do estudo está estruturado em capítulos, da forma como se
segue. O Capítulo 1 traz uma breve revisão histórica acerca da avaliação; o
Capítulo 2 apresenta o conceito e os diferentes tipos de avaliação; e o Capítulo
3 discute as dificuldades da avaliação na escola, analisando as ações que o
professor pode empreender para tornar a avaliação um instrumento de
valoração do processo de ensino-aprendizagem, que mostre, realmente, o que
está sendo feito em termos de troca na relação entre aluno e professor. Para
isso, ele terá que ter critérios e valores, para que possa superar as dificuldades.
METODOLOGIA
O tipo de pesquisa é bibliográfico, com revisão de literatura; e a
estratégia de coleta de dados pautou-se pela pesquisa bibliográfica em livros e
artigos, com vistas a apresentar as diferentes e mais recentes análises sobre
este tema. Para tanto, selecionamos diferentes visões a partir dos autores:
Paulo Freire (2000), Pedro Demo (1994), Mara Desordi (2008), Dias Sobrinho
(1994; 2000); Don Gardner (1994), Alessandra Jacobsen (1996) e C. Luckesi
(1999), que se destacam no âmbito nacional por suas obras sobre o tema, além
de outros autores cujas análises complementam o presente estudo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 09
CAPÍTULO I – UMA VISÃO HISTÓRICA DA AVALIAÇÃO ............................ 11
1.1 Primórdios da avaliação ............................................................... 11
1.2 Avaliação nos dias atuais.............................................................. 14
CAPÍTULO II - O QUE É AVALIAÇÃO ............................................................ 18
2.1 Conceito ......................................................................................... 18
2.2 Diferentes tipos de avaliação ....................................................... 20
2.3 A avaliação na escola ................................................................... 24
2.4 Avaliação de desempenho escolar .............................................. 27
CAPÍTULO III – AS DIFICULDADES DE AVALIAÇÃO NA ESCOLA ............. 30
3.1 As ações do professor na avaliação escolar ............................... 30
3.2 O exercício da avaliação e os critérios para avaliar ................. 32
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 40
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................. 44
Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...
Rubens Alves
INTRODUÇÃO
Vista de maneira geral, a prática da avaliação é inerente à natureza
humana, sendo frequentemente utilizada como base para a tomada de
decisões, que está presente em todas as escolhas que se faz, no nível pessoal.
No âmbito das empresas e do mundo dos negócios, a prática da avaliação visa
atrair e selecionar pessoas que compartilhem de seus valores e crenças,
aproximando assim os indivíduos que podem ter um desempenho mais
adequado e desejável para determinadas funções e tarefas. No caso das
escolas, a avaliação vem a ser um espelho dessas práticas, sendo utilizada
para que os professores tomem decisões sobre uma parcela do conhecimento
dos alunos e sobre o que foi apreendido por eles, ao mesmo tempo em que
seleciona os mais capazes e dedicados.
Para que sejam selecionados os que apresentam o melhor desempenho,
em qualquer área ou atividade, foram desenvolvidos inúmeros processos e
critérios de avaliação, que evoluem com o tempo e com as novas necessidades
que surgem em todos os ambientes, incluindo-se aí a escola.
A avaliação foi originalmente estruturada para mensurar o desempenho e
o potencial do aluno, tratando-se de uma avaliação sistemática, feita pelos
supervisores ou outros hierarquicamente superiores. Nas empresas, ela é
tradicionalmente definida como o processo que busca mensurar objetivamente o
desempenho e fornecer aos colaboradores informações sobre a própria
atuação, de forma que possam aperfeiçoá-la sem diminuir sua independência e
motivação para a realização do trabalho. O desempenho reflete-se no sucesso
da própria organização e talvez por isso é característica mais óbvia a ser
medida.
De forma semelhante, na escola, a avaliação procura mensurar o
sucesso dos alunos, o seu potencial, devendo-se observar e avaliar, ainda,
competências tais como: organização, responsabilidade, acompanhamento,
solução de problemas, iniciativa, criatividade e inovação, orientação, resultados,
auto-desenvolvimento, administração de conflitos, competências, trabalho em
equipe, conhecimentos, aprendizagem, potencial, capacidade, dentre outros.
Via de regra, no ambiente escolar, a avaliação de desempenho focada no
aluno visa, principalmente, quantificar se ele adquiriu o conhecimento
necessário e mínimo para o seu segmento. Caso tenha atingido este patamar,
ele poderá passar a outras experiências, mas se não atingiu, deverá receber
novo aprendizado para, no final, ser novamente avaliado até que atinja os
objetivos dos currículos escolares (DE SORDI, 2006).
Como Coordenadora por mais de 20 anos em uma escola na Zona Sul do
Rio de Janeiro, e formada Professora há mais de 38 anos, nossa experiência na
área de Pedagogia é vasta, e neste percurso, pudemos observar as deficiências
da avaliação, que acaba por não mostrar o que realmente o aluno está
aprendendo, o que está faltando para ele atingir os objetivos dos currículos
escolares, como o professor deve ser orientado para avaliar de forma ampla os
alunos, dentre outros aspectos correlatos a essa avaliação. Esta é a justificativa
para a escolha deste tema sempre atual e pertinente à Pedagogia.
É importante que se questione se essa avaliação reflete, de fato, o
crescimento do aluno. Para investigar este tema, o presente estudo pretende
responder à seguinte questão: qual seria o papel da avaliação na educação?
Nosso questionamento inclui, ainda, dirimir as dúvidas sobre a falta de preparo
do professor para avaliar, pois muitas vezes, a escola não prepara este
professor e não lhe mostra que a avaliação é total e interdisciplinar, ou seja,
que deve ser visto o grupo em diferentes situações.
Para responder a essa questão, o objetivo geral do estudo é identificar os
princípios da avaliação para a educação; e os objetivos específicos são: definir
e conceituar avaliação; apresentar a avaliação delimitada ao ambiente escolar e
compará-la com outros ambientes como as empresas; discutir o modelo de
avaliação para a Educação e o papel do professor face à avaliação escolar.
CAPÍTULO I
UMA VISÃO HISTÓRICA DA AVALIAÇÃO
Este capítulo apresenta uma breve revisão histórica de como a avaliação
era vista nas diferentes sociedades e no passado, até ser utilizada na
educação, como forma de se mensurar, qualitativamente, os alunos e o seu
aprendizado.
1.1 Primórdios da avaliação
Para Lea Depresbiteris, avaliar e medir são duas práticas que andam
juntas há milênios, sendo conhecida desde a civilização chinesa, em 2.205 a.C,
quando:
... um grande imperador chinês, Shun, examinava seus oficiais a cada três anos com o objetivo de promovê-los ou demiti-los. O regime competitivo nos exames na China antiga tinha como propósito principal, prover o estado com homens capacitados (DEPRESBITERIS, 1989: 5).
A prática da avaliação esteve presente em diversas sociedades antigas.
Por exemplo, no Brasil do século XVI, os Jesuítas utilizavam a avaliação na
elaboração das normas para a orientação dos estudos escolásticos, nas classes
superiores ou inferiores, definindo com rigor os procedimentos a serem levados
em conta em um ensino eficiente, que tinha por objetivo a construção da
hegemonia católica contra as possibilidades heréticas (DEPRESBITERIS,
1989).
Os jesuítas tinham uma atenção especial com o ritual das provas e
exames. Para eles, essas ocasiões eram solenes, seja pela comunicação
pública dos resultados, seja pela emulação ou pelo vitupero daí decorrente
(DEPRESBITERIS, 1989).
A prática de provas e exames escolares que conhecemos tem sua
origem na escola moderna que se sistematizou a partir dos séculos XVI e XVII.
As pedagogias jesuíticas (séc. XVI), comeniana (séc. XVII), lassalista (fins do
século XVII e início do século XVIII) são expressões das experiências
pedagógicas desse período e sistematizadoras do modo de agir com provas e
exames; e a prática que hoje se conhece é herdeira dessa época.
Segundo Hamilton Werneck (2001), o primeiro estudo de que se tem
notícia sobre o aperfeiçoamento das provas aplicadas nas escolas data de
1845, em Boston, Estados Unidos. Em decorrência da preocupação com a
melhoria da qualidade do ensino, foi constituída uma comissão para inspecionar
e verificar a qualidade do ensino ministrado nas escolas. Para a consecução de
seu objetivo, a comissão havia planejado, de início, examinar oralmente os
alunos, mas devido ao aumento da população escolar, o exame oral foi
substituído pela prova escrita. Um grupo de educadores elaborou
cuidadosamente as provas escritas, que abrangiam as matérias estudadas, e
incluíam instruções para a sua aplicação e correção. No final desse estudo
sobre a qualidade de ensino, as escolas eram classificadas de acordo com os
resultados obtidos por seus alunos.
A medida adotada em Boston influenciou Horace Mann, funcionário da
área da educação em Massachusetts, que percorreu todo o Estado visitando as
escolas públicas e fazendo um parecer da situação do ensino. Interessado em
elevar o nível de qualidade ensino no Estado, Mann divulgou o resultado de
suas observações, salientando as deficiências do trabalho escolar. Os
professores reagiram, mas acabaram concordando em submeter seus alunos a
uma prova escrita sobre as matérias lecionadas. O resultado dessa prova foi
apresentado em um artigo de Mann sobre as deficiências do ensino, sobre o
valor do método empregado para exame dos alunos e sobre as vantagens das
provas escritas sobre o exame oral (WERNECK, 2001). Esse foi o primeiro caso
registrado da aplicação de provas escritas a uma amostra de alunos do mesmo
nível de escolaridade.
Werneck (2001) recorda também que, por volta de 1910, alguns
educadores norte-americanos realizaram pesquisas sobre o subjetivismo do
critério do professor no julgamento das provas. Esses estudos consistiram na
apresentação de uma mesma prova a diversos professores, pedindo-lhes que
atribuíssem a essa prova uma nota. A comparação das diferentes notas
atribuídas à mesma prova, pelos diversos professores, revelou a falta de
fidedignidade, isto é, de consistência nas notas escolares, mostrando que elas
dependiam mais da personalidade do professor que do conhecimento que o
aluno tinha da matéria. A conclusão a que chegaram os educadores é que
deveriam ser criados instrumentos objetivos para se mensurar a avaliação
(WERNECK, 2001).
Nas primeiras décadas do século XX ocorreu grande desenvolvimento no
campo da avaliação da aprendizagem escolar, cuja maior contribuição foi de
Thorndike, psicólogo norte-americano que se interessou pelas medidas
educacionais ao estudar as diferenças individuais. Em 1904, apresentou um
estudo sobre a aplicação dos métodos estatísticos na medida das habilidades e
de outros traços do comportamento humano. Em 1941, Thorndike elaborou
vários testes, entre os quais um teste de inteligência, e os primeiros testes
padronizados de rendimento escolar, alem de organizar algumas escalas, como
uma escala para medir a qualidade da caligrafia. A partir de então, passou-se a
dar maior atenção à técnica objetiva de avaliação do rendimento escolar
(WERNECK, 2001).
De acordo com Carlos Alberto Araújo (2001), a partir da Segunda Guerra
Mundial, os avaliadores passaram da simples medida para entender, de fato, o
que é avaliar, considerando que a avaliação deveria implicar não só em
descrever, mas também emitir juízo de valor. Mesmo assim, a descrição se
difundiu pelo mundo.
Conforme leciona Otaíza Romanelli (1991), nos anos 1930, no Brasil,
surgiu a Escola Nova, que tentou mudar a Educação, trazendo novos valores,
dentre os quais, a noção de aprender através de atividades. Essa visão passou
a ser chamada de “escolanovismo”, mas manteve-se a avaliação pelo sistema
de medida. Nessa época, diversos educadores, como Fernando de Azevedo,
Anísio Teixeira e Lourenço Filho, dentre outros, foram influenciados pelos
primeiros representantes dessa noção: Montessori, Decroly e Cousinet.
O pensamento de Anísio Teixeira e do movimento escolanovista era o
que mais relacionava a educação com as novas emergências sócio-econômicas
que o país atravessava, procurando situar a educação também nas polêmicas
sobre a questão social. As duas guerras mundiais agregaram um novo valor, o
da importância da avaliação na estratégia de guerra que permite seja feita uma
analogia com a avaliação na escola (ROMANELLI, 1991).
1.2 Avaliação nos dias atuais
Nos anos de 1960 e 1970, o Brasil foi se adaptando às mudanças
culturais, sociais e comportamentais, sobretudo devendo se destacar as idéias
renovadoras de Darci Ribeiro, que levaram a Educação a ser vista como parte
do processo de formação da criança e dos jovens, e não apenas como uma
formadora de conteúdos programáticos. Chegando aos anos 1980, novas
mudanças, já fora do período de repressão política, a escola pôde ser mais
discutida, assim como os seus padrões de avaliação (ROMANELLI, 1991).
Um marco foi a Lei n. 5.692 de 1971, que conseguiu fazer valer a idéia de
que a qualidade deveria ser mais considerada que a quantidade. Alguns
regimentos escolares falavam nisso para atender às exigências dos membros
dos Conselhos Estaduais de Educação. E foi assim que a prática educacional
foi sendo influenciada, desde o final do século XX, pelo desenvolvimento de
novas técnicas de avaliação escolar, fruto do movimento científico que se
estendeu a todos os campos do conhecimento, atingindo também o campo da
Psicologia e o da Pedagogia. Segundo Vicente Martins, a Lei n. 9.394/96:
A educação em valores é uma realidade legislatória. A LDB, ao se referir à verificação do rendimento escolar, determina que nós docentes observemos os critérios de avaliação contínua e
cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais (Art. 24, V). Aspectos não são notas, mas registros de acompanhamento das atividades discentes. A avaliação contínua e cumulativa é um recado para todos professores que nenhuma avaliação deve se decidida no bimestre, trimestre ou semestre, mas deve resultar de um acompanhamento diário, negociado, transparente, entre docente e aluno, daí seu aspecto diagnóstico. Ou seja, constatada no processo de avaliação a não retenção de conhecimentos, toma-se a medida de superar a limitação de aprendizagem. (MARTINS, 2001, p. 1).
De acordo com Martins (2001), a rigor, a avaliação contínua e cumulativa
é exatamente para nos convencer que uma nota não deriva de uma eventual
prova mensal, bimestral ou semestral. A nota, quando existe, resulta de
processo de aprendizagem, em que, a partir de um pacto de convivência entre
professor e aluno, define-se a avaliação, satisfatória ou insatisfatória. Assim,
sob a perspectiva de avaliação, para Cipriano Luckesi (1999, p. 1) , “a
avaliação é um juízo de qualidade sobre dados relevantes para a tomada de
decisão”.
É neste sentido que surge, a cada dia, um novo debate sobre a questão
da avaliação, a fim de não permitir, por exemplo, que a prova seja o único
instrumento capaz de mensurar o conhecimento dos alunos. Na visão
construtivista, a prova deveria ser apenas mais um item para o corpo docente
utilizar como apoio e para detectar problemas, tentando solucioná-los. Nesta
visão, a avaliação, em todos os seguimentos do processo educativo, deveria
ocorrer continuamente com o objetivo de agregar o maior número de crianças
possível evitando assim todas as formas de reprovação (LUCKESI, 1999).
A Educação, nos dias atuais, é uma avaliação da culpa, segundo
Luckesi (1999). O último passo dos processos de avaliação não é contemplado
nas práticas de nossa educação. Trata-se da negociação: o professor avalia,
apresenta seu juízo de valor e o aluno não concorda com sua avaliação. Daí
decorre um conflito que, muitas vezes, o aluno sai perdendo. Geralmente os
educadores não gostam de rever suas avaliações, e para tornar a situação
ainda mais crítica, as instituições cobram uma certa quantia em espécie do
aluno, caso ele queira fazer a revisão de alguma prova.
Os professores sempre avaliam o aproveitamento escolar de seus
alunos. Até o século passado, os meios geralmente utilizados para avaliar eram
a prova oral e a observação do professor. A prova oral é um dos recursos mais
antigos de avaliação. Mas ela é de difícil aplicação em classes numerosas,
porque, como os alunos são avaliados individualmente, requer muito tempo
para sua realização (LUCKESI, 1999).
Com a expansão quantitativa do contingente escolar e, por conseguinte,
o aumento do número de alunos nas escolas, examinarem oralmente todos os
componentes de uma classe demandava um longo tempo, mais do que o
normalmente disponível. Era mais fácil ditar as perguntas ou escrevê-las na
lousa para que os estudantes respondessem por escrito. Isso permitia o registro
das respostas e permitia que todos os alunos fossem avaliados ao mesmo
tempo. Assim surgiram as chamadas provas de lápis e papel, isto é, as provas
escritas, que foram sendo adotadas com recurso de avaliação (LUCKESI,
1999).
É importante mencionar a atualidade da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as bases
da educação nacional vigente, reafirmando a organização do sistema de ensino,
estabelecendo competências.
Os artigos 14 e 15 tratam, respectivamente, dos sistemas de ensino,
considerando que a gestão da educação básica deve ser democrática e que
deve-se assegurar progressivos graus de autonomia pedagógica e
administrativa, sob cujo sistema se tem a avaliação.
A LDB trata da avaliação, que aparece em 24 dos 92 artigos da lei,
segundo Andrea Ramal:
1...O processo de avaliação deve ter como objetivo detectar problemas, servir como diagnóstico da realidade em função da
qualidade que se deseja atingir. Não é definitivo nem rotulador, não visa a estagnar, e sim a superar as deficiências.
O artigo 7o., em seu inciso II, é o primeiro que menciona a avaliação, e o faz vinculando-a à idéia de qualidade. Mas é nos artigos 9 e 46 que esta visão aparece com mais força. Diz o primeiro texto:
Art. 9o. - A União incumbir-se-á de:
VI. assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino (LDB, apud RAMAL, 1998, p 2).
Para esta autora, a avaliação é um direito que deve ser assegurado a
alunos, cursos, instituições e professores, todos devendo, sublinhamos, ser
avaliados, conforme o art. 9º, inciso VI, que estabelece que cabe à União
“assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar nos três
níveis do ensino nos leva a pensar na avaliação como direito, ao contrário de
como um peso ou fardo do qual o avaliado não pode escapar e que, mais cedo
ou mais tarde, deverá enfrentar” (LDB, apud RAMAL, 1998, p. 3). Dessa forma,
o entendimento de avaliação deve envolver todos os atores sociais e todas as
instituições implicadas na educação.
De acordo com a LDB 9394/96, artigo 24, inciso V, a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos
(http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=10481&chapterid=9784).
CAPÍTULO II
O QUE É AVALIAÇÃO
O presente capítulo tem como objetivo analisar especificamente o
significado de Avaliação e, para isto, inicialmente considerou-se fundamental
apresentar o conceito e, em seguida, mostrar o significado do termo para a
escola e para a empresa, estudo que se baseou nos referenciais teóricos.
2.1 Conceito
Segundo Sousa (1991), o ato de avaliar deve se basear nos seguintes
pressupostos:
a) Continuidade - a avaliação deve estar presente durante todo o processo
educacional, e não somente em períodos específicos;
b) Compatibilidade com os objetivos propostos - a avaliação deve estar em
conformidade com os objetivos definidos como norteadores do processo
educacional para que venha realmente cumprir a função de diagnóstico;
c) Amplitude - a avaliação deve estar presente em todas as perspectivas do
processo educacional, avaliando assim todos os comportamentos do
domínio (cognitivo, afetivo e psicomotor);
d) Diversidade de formas - para avaliar devemos utilizar as várias técnicas
possíveis visando também avaliar todos os comportamentos do domínio.
Assim sendo, tanto para José Dias Sobrinho (2000) e Eunice Durham
(2006), a avaliação não é um procedimento único que se restrinja a um
momento no tempo ou a um exame. Trata-se, ao contrário, de um processo
complexo, diferenciado, permanente e sujeito a um contínuo aperfeiçoamento,
que se dá em diferentes níveis e através de diversas agências e instâncias.
A avaliação é imposição de padrões, especificação de valores e
julgamento que permite atender a uma expectativa do cliente. A avaliação deve
ser vista, portanto, como instrumento capaz de gerar transformação naquilo que
estiver ineficiente ou ineficaz (DIAS SOBRINHO, 2000).
Mas, por outro lado, a avaliação, de certo modo, é uma questão
econômica e social. Do ponto de vista social, a necessidade da avaliação
dificilmente pode ser contestada, embora muitas avaliações freqüentemente não
sejam aceitas. As crises das relações entre escola, Estado e mercado e as
conseqüentes crises internas tornam inevitável à avaliação institucional, como
instrumento considerado hoje irrecusável, por distintas razões e, por esse
motivo, a década de 1990 foi chamada a década da avaliação (DIAS
SOBRINHO, 2000).
A avaliação como um instrumento de gestão permite mensurar os
esforços da organização ou da escola, sua excelência, utilidade e relevância.
Vista assim, complementa-se que a avaliação é um exame da efetividade da
instituição, independente de que tipo seja essa instituição (DIAS SOBRINHO,
2000).
Entretanto, a importância e a necessidade da avaliação não deveriam
estar resumidas na questão econômica e dos recursos, nem deveriam estar
determinadas pelas relações entre o Estado e a escola, nem só diz respeito à
garantia de qualidade e de seriedade que as instituições devem dar à
população. Afinal, pode ser também uma estratégia que o mundo acadêmico
gerou para promover sua atualização e fortalecer o desenvolvimento
institucional (DIAS SOBRINHO, 2000)
Neste sentido, a avaliação institucional deve representar um processo de
busca permanente de indicadores para o desenvolvimento institucional, em
todos os níveis de atuação e deve contar com a participação, direta ou indireta,
dos envolvidos nas diversas dimensões avaliadas. Não existe uma concepção
única de avaliação institucional, mesmo porque são muitas e contraditórias as
concepções de educação, de escola e de sociedade. (DIAS SOBRINHO, 2000).
Deve-se observar, contudo, que não há uma oposição simples entre
esses dois enfoques. Embora sejam aqui tratados separadamente, por uma
questão de facilidade de exposição, na prática eles muitas vezes se
interpenetram. Por isso, as críticas a um e outro só devem ser consideradas
quando cada um desses enfoques avaliativos tem a pretensão de ser único,
acabado e de, isoladamente, dar conta da complexidade do fenômeno a avaliar,
ou seja: deve-se afastar a tentação dos maniqueísmos (DIAS SOBRINHO,
2000).
É importante desde já insistir na idéia de que uma avaliação, qualquer
que seja, sempre se produz num espaço social de valores já existente, mas que
ela também ajuda a reforçar. A avaliação não é nada neutra, assinala Dias
Sobrinho (2000). As principais disputas sobre a avaliação institucional não são
essencialmente querelas sobre aspectos técnicos; mais propriamente, neste
caso, são concepções sobre a educação superior e sobre a sociedade que, no
fundo, estão em questão.
A avaliação é uma atividade afetada por forças políticas e que tem efeitos
políticos. E como acontece com os juízos de valor, carregado de significação
política, portanto, portadores de possibilidades de transformação, como é
sempre o caso da educação, é a construção do futuro o foco principal da
disputa. E também não é difícil entender que a questão da titularidade da
avaliação se insinue como um nó górdio dos confrontos. Mas aqui também é
necessário cautela e bom-senso (DIAS SOBRINHO, 2000).
2.2 Diferentes tipos de avaliação
Para Don Gardner (1994), são cinco os modelos básicos de avaliação em
educação: a) Avaliação como julgamento profissional; b) Avaliação como
medição; c) Avaliação como verificação da congruência entre o desempenho e
os objetivos (ou padrões de desempenho); d) Avaliação da tomada de decisão;
e e) Avaliação independente de objetivos / avaliação responsiva.
a) Avaliação como julgamento profissional
Esse modelo baseia-se no julgamento do profissional qualificado na área
ou no elemento a ser avaliado, que tece opinião especializada em relação à sua
qualidade e eficácia. O modelo como um julgamento profissional fundamenta-se
nos valores ou critérios comumente aceitos ou consensuais, onde a base está
na subjetividade e incompatibilidade Basicamente, considera-se o avaliador um
processador de informações cujo resultado emana do seu julgamento.
b) Avaliação como mensuração
A avaliação como mensuração equivale medir resultados, efeitos ou
desempenhos, utilizando-se instrumento formal. Este tipo de avaliação
fundamenta-se em atributos mensuráveis, de acordo com escala padronizada
ou comparada com objetos semelhantes em condições controladas. O avaliador
deve analisar e interpretar o resultado do modelo ou do instrumento de
medição, selecionado ou desenvolvido, do qual é especialista.
c) Avaliação da congruência entre desempenho e objetivos
Define-se esta avaliação como a relação direta que se faz entre o
desempenho ou produto com os padrões de desempenho ou objetivos
previamente planejados, verificando a existência de discrepância ou
congruência. Essa avaliação pressupõe que os objetivos tenham sido
claramente definidos, permitindo assim, descrever o desempenho independente
do nível alcançado e as razões de sucesso ou fracasso.
d) Avaliação para tomada de decisão
Este modelo baseia-se na avaliação como “o processo de delinear, obter
e fornecer informações para o julgamento de alternativas de decisão”, utilizando
o mecanismo de “feedback institucionalizado”. Tipos diferenciados de decisões
requerem informações diferenciadas. O método propõe que o avaliador seja um
especialista em sistema de informação.
e) Avaliação independente de objetivos / avaliação responsiva
Este método proposto por Scriven, segundo Elisa Wolynec (SCRIVEN,
apud WOLYNEC, 1992), trata da avaliação independente dos objetivos
determinados1. Deve a avaliação identificar e julgar os resultados reais dos
objetivos sem a limitação aos objetivos preestabelecidos, podendo coletar
informações importantes e relacionadas às normas sociais, ou a um padrão
reconhecido. Compete ao avaliador identificar importantes relações e
resultados.
A avaliação institucional já é amplamente reconhecida e aceita, até
mesmo porque foi determinada pela LDB. Para Wolynec (1992), os indicadores
gerados pelo sistema vêm sendo publicados no Anuário Estatístico desde o ano
de 1986, e os indicadores são ampliados a cada ano. Mesmo que esses
indicadores sofram de relativa falta de confiabilidade, é preciso ampliar esse
grau de confiabilidade, pois os indicadores são elementos fundamentais na
avaliação institucional. Um desses indicadores se refere ao número de alunos
matriculados, ao qual deve ser somado o número de docentes, bem como
cursos de graduação por semestre, número de matrículas por docente, etc.
1 Em inglês, Goal – Free Evaluation , ou GFE.
Na visão de Almerindo Afonso (2000), o modelo formativo, enquanto
forma de avaliação contínua, pode também significar um controle constante
sobre os alunos. Entretanto, Afonso recorda Perrenoud, quando este adverte
que alguns usos de avaliação formativa não devem ser concretizados, sob pena
de comprometerem definitivamente o seu desenvolvimento. Não se trata, como
se percebe, de uma modalidade avaliativa de aprovação consensual. No
entanto, pode-se afirmar que a avaliação formativa, enquanto dispositivo
pedagógico adequado à concretização de uma efetiva igualdade de
oportunidades de sucesso na escola ou universidade é um instrumento válido.
Para Mara De Sordi (2006), a avaliação deve pautar-se por quatro
critérios: a) leveza; b) exatidão; c) visibilidade; d) multiplicidade.
a) Leveza
Deve ser entendida como uma característica fundamental para se discutir
o tema com a comunidade, sendo um componente que garante flexibilidade na
reinterpretação das leis, maximizando seus avanços, atenuando os retrocessos
e permitindo a interpretação dos dados, além de favorecer rupturas com o
instituído.
Leveza para conduzir o processo de modo proativo, buscando a emancipação dos sujeitos envolvidos pelo respeito à autonomia da instituição para definir sua missão. Leveza para enfrentar as tensões inerentes a todo processo avaliativo, em especial aqueles regidos pela competitividade e pelo alto grau de comparação interinstitucional (DE SORDI, 2006, p. 1).
b) Exatidão
É a busca do rigor metodológico e ético, com vistas a atender aos
indicadores escolhidos como necessários à inclusão ou à manutenção de uma
instituição no sistema maior educacional.
Essa exatidão envolvendo as duas dimensões propostas justifica-se pela convicção que temos que o desrespeito a uma delas pode significar a desconsideração do papel que o ensino superior deve cumprir para fazer diferença na qualidade de vida social (DESORDI, 2006, p. 1).
c) Visibilidade
Deve ser compreendida como a explicitação do que se pretende ao
avaliar, incluindo os micros e os macros objetivos. De Sordi (2006, p. 1),
considera “imperativo ético que subjaz a avaliação evidenciar as lógicas que
orientam as opções em todos os níveis: do local ao central, do nacional ao
transnacional, do interno ao externo”.
d) Multiplicidade
É o reconhecimento da avaliação como um fenômeno plural,
multifacetado. Como conseqüência, tem-se a aceitação da avaliação “como
conceito carregado de ambigüidades, sujeito à múltiplas significações, fruto de
encontros e desencontros em que a intersubjetividade imprime sua marca”,
explica De Sordi (2006, p. 1).
2.3 A avaliação na escola
A aprendizagem já ultrapassou a sua fase conservadora, quando era
destinada a manter certas situações vigentes, o que ocorria em uma época em
que o principal desafio era responder a estímulos. Era, portanto, uma
aprendizagem reativa. Nos momento atual, a aprendizagem tem que prever os
novos rumos e agir proativamente, e ser especialmente criativa. Assim,
aprendizagem significa mudar comportamentos, especialmente para lidar com
novas situações. Vale mencionar que a aprendizagem é um processo que
ocorre formal ou informalmente, consciente ou inconscientemente, dentro ou
fora dos ambientes educacionais. Não é apenas o aluno que aprende, mas
também a sociedade, as organizações, os grupos (CARVALHO, 2001).
Para Antonio Carvalho (2001), a educação é uma reconstrução contínua
de nossa experiência pessoal, caracterizada pela observação e pela prática
cotidiana. Vista assim, cada pessoa é educada continuamente, seja pela escola,
pela família, pelo ambiente de trabalho, pelo meio em que vive, etc. Dessa
forma, este autor entende que não se pode separar o processo de treinamento
da reconstrução da experiência individual, pois a educação envolve todos os
aspectos pelos quais a pessoa adquire compreensão do mundo em que vive e
capacidade para lidar com os problemas e situações.
Esse enfoque da atividade de treinamento o identifica como sendo uma forma de Educação Especializada, uma vez que seu propósito é preparar o indivíduo para o desempenho eficiente de uma determinada tarefa que lhe é confiada. (...)
Assim, o treinamento apresenta-se como um instrumento administrativo de importância vital para o aumento da produtividade do trabalho, ao mesmo tempo que é um fator de auto-satisfação do treinando, constituindo-se num agente motivador comprovado. (CARVALHO, 2001, p. 4)
Para este autor, chama-se a educação de instrução quando se refere à
formação escolar em diversos graus, mas a instrução continua sendo parte
importante da educação, sob uma perspectiva formal, e o treinamento é que
prepara a pessoa para a vida, para o trabalho, para conviver na sociedade.
Partindo dessas observações de Carvalho e fundamentando-nos também
em Idalberto Chiavenato (1981), buscamos os pontos principais da educação
(escola), tendo em vista a educação continuada e permanente que é necessária
a todos na sociedade. Hoje, educa-se não somente para a instrução, mas
também para a vida profissional.
Chiavenato (1981, p. 12) explica que são seis os processos da gestão de
pessoas, inclusive no ambiente escolar:
a) Processos de agregar pessoas: são os processos utilizados para incluir
novas pessoas na empresa, e podem também ser chamados de processos de
provisão ou de suprimento de pessoas. Incluem recrutamento e seleção de
pessoas.
b) Processos de aplicar pessoas: são os processos utilizados para desenhar as
atividades que as pessoas irão realizar na empresa, orientar e acompanhar seu
desempenho. Inclui desenho organizacional e desenho de cargos, análise e
descrição de cargos, orientação das pessoas e avaliação do desempenho.
c) Processos de recompensar pessoas: são os processos utilizados para
incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades individuais mais elevadas.
Incluem recompensas, remuneração e benefícios e serviços sociais.
d) Processos de desenvolver pessoas: são os processos utilizados para
capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal. Incluem
treinamento e desenvolvimento das pessoas, programas de mudanças e
desenvolvimento de carreiras e programas de comunicação e consonância.
e) Processos de manter pessoas: são os processos utilizados para criar
condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das
pessoas. Incluem administração da disciplina, higiene, segurança e qualidade
de vida e manutenção de relações sindicais.
f) Processos de monitorar pessoas: são os processos utilizados para
acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar resultados.
Incluem banco de dados e sistemas de informações gerenciais. (CHIAVENATO,
1981, p. 12)
Ressaltamos o 4º processo desta listagem, o processo de desenvolver
pessoas, que se refere ao treinamento e capacitação de profissionais em uma
empresa. Para compreender melhor a relação entre treinamento e educação
(seja ela na empresa ou na escola), o Quadro abaixo mostra como se dá a
formalização do processo educativo:
Quadro 1 – Formalização do processo educativo
Fonte: baseado em Chiavenato (1981)
Para Chiavenato (1981, p. 154), “a educação deve ser entendida como
toda influência que o indivíduo recebe do ambiente social, durante toda a sua
existência, no sentido de adaptar-se às normas e valores sociais vigentes e
aceitos.” Existem semelhanças, portanto, entre a formação da escola e o
treinamento em si, seja para uma empresa ou para o aprendizado escolar, pois
ambos procuram o desenvolvimento do ser humano em função de uma dada
aprendizagem mas as diferenças não podem ser ignoradas, como se depreende
do Quadro acima.
Entretanto, existem diferenças entre o aprendizado na escola e na
empresa, conforme demonstra Chiavenato (1981) no Quadro abaixo:
Quadro 2 – Aprendizado na escola
Na escola
- o objetivo principal é aprender
- a orientação é feita com base no currículo escolar
- a aprendizagem é planejada para a educação “pura”
- a aprendizagem segue determinada programação
estritamente controlada, com currículo prévio
- os estudantes são forçados a atender o conteúdo
- a experiência do estudante é pouco relevada
- o estudante quase não tem participação na construção
do conteúdo
Fonte: CHIAVENATO, 1981, p. 156
Contínua reconstrução da experiência individual
Desempenho adequado das tarefas profissionais
Desenvolvimento integral
à
Formalização do processo educativo
Educação Instrução Treinamento
Vê-se, portanto, que o treinamento é, conforme enuncia Chiavenato
(1981, p. 156), uma forma de educação que “visa adaptar o homem para o
exercício de determinada função ou para a execução de tarefa específica”, e
nesse sentido, portanto, treinamento e desenvolvimento são partes do processo
educacional pois, ao se avaliar um aluno, ao se dar um teste ou um exercício,
está-se passando a ele um treinamento para a sua capacitação, da mesma
forma que ocorre na empresa.
2.4 Avaliação de desempenho escolar
As funções da avaliação são duas em potencial: a de classificação e a de
diagnóstico, e mesmo com os avanços da educação, não se consegue ir além
de uma perspectiva reducionista do processo educativo, centrado na
escolarização da pessoa, e visando dotá-la de conhecimentos e habilidades,
para que se torne capaz de competir com os demais membros da sociedade
(GANDIN, 1995).
Na avaliação classificatória, a ênfase é a individualidade, e para essa
forma, o processo educativo se define por conteúdos, informações,
adestramentos e atividades classificatórias, cujas etapas devem ser vencidas
(GANDIN, 1995).
Nesta forma de avaliação, as técnicas utilizam instrumentos de controle,
como provas, seleção de alunos conforme o rendimento. Muitas vezes, nesse
tipo de avaliação, a aprendizagem é confundida com memorização de
conteúdos e com repetição de exercícios. No nosso entendimento, não é uma
avaliação que deva ser estendida a todo o processo educacional, embora seja
válida para determinados segmentos dos conteúdos, como aqueles que exigem,
por sua estrutura, da memorização. Seria o caso, por exemplo, de tabuadas,
que o aluno pode decorar, mas nunca de forma mecânica. Ele pode decorar,
mas deve saber realizar outras operações por raciocínio análogo (GANDIN,
1995).
A avaliação classificatória pode ser considerada cruel, ao reprovar ou
aprovar um aluno, o que pode levar à exclusão escolar alunos que têm
capacidade de aprendizagem diferenciada, não decoram ou memorizam, mas
que realizam raciocínios lógicos eficazes para o aprendizado que, quando não
são absorvidos pelo sistema educacional, são vistos como erros de
aprendizagem (GANDIN, 1995).
Já o diagnóstico tem outra visão avaliativa, em primeiro lugar,
destacando-se que não pretende servir para classificar o conhecimento do
aluno, mas, sim, priorizar a análise do processo de construção do conhecimento
do aluno. Sob essa forma, leva-se em conta o que o aluno está conquistando,
reconhecendo-se o momento pessoal e o crescimento de cada aluno, o quanto
representa para ele cada conquista, e o quanto essa aquisição de
conhecimentos irá contribuir para sua caminhada. Dessa forma, a avaliação
reconhece e valoriza essa etapa da vida do aluno, sendo prospectiva quanto às
possibilidades futuras (GANDIN, 1995).
Avaliar diagnosticamente permite mediar novas idéias, que são
internalizadas pelos alunos, professores e comunidade na construção de um
saber que não é único e, sim, multifacetado, como analisa Danilo Gandin:
A avaliação como diagnóstico é a verificação de até que ponto uma prática é caminho para a concretização de uma idéia de um valor, ela verifica o presente para programar o futuro. Trata-se de vida e crescimento. Analisam-se as condições de determinada prática (de uma realidade) a fim de verificar quais são as alterações necessárias para que esta realidade se construa numa direção desejada e explicitada. Este tipo de avaliação está relacionado a uma prática que tenha um resultado social desejado (GANDIN,1995, p 35).
Nesse sentido, a promoção de alunos deve acompanhar o seu
desenvolvimento pleno, este sim, que deve ser privilegiado no processo
educacional. Para Gandin (1995), os conceitos que professores atribuem a
alunos não podem ser permanentes, pois um aluno com conceito não
satisfatório em um dado momento de avaliação, nunca poderá ser visto como
alguém incapaz de ultrapassar essa condição. Por isso, os alunos precisam
exercitar suas competências, interagindo com o conhecimento, pois se
considera a aprendizagem como um processo, em contínua evolução e
mudança.
CAPÍTULO III
AS DIFICULDADES DE AVALIAÇÃO NA ESCOLA
Este capítulo aproxima a questão da avaliação do olhar do professor,
procurando mostrar o que pode ser feito para uma avaliação escolar mais
compromissada com a realidade da sala de aula, onde o aluno não seja
simplesmente avaliado com uma nota por uma prova, e sim, que seja visto de
forma holística. Para isso, é necessário que também o professor se transforme,
não sendo um explicador, mas um formador e um educador, no sentido mais
amplo das expressões.
3.1 As ações do professor na avaliação escolar
O aprendizado é um processo constante, e o professor leva o aluno a ver
as informações como desafios, como uma parte de um projeto maior: a sua
formação e a sua educação. Na aprendizagem, o aluno avança e prossegue do
ponto em que parou. Nesse contexto, considerar que um aluno não aprendeu
nada, devendo começar tudo de novo, repetindo o ano, é desconsiderar a
natureza do processo educacional. Assim, só a consideração conjunta do
produto e do processo permite ao professor estabelecer interpretações
adequadas sobre o desempenho dos alunos. Dependendo desse desempenho,
às vezes é preciso rever o que foi proposto (PENNA, 1994).
Outro aspecto do processo é a discussão coletiva da avaliação realizada.
Professor e aluno podem discutir a subjetividade da apropriação do
conhecimento e o critério utilizado para o julgamento da realidade, propiciando
ao aluno a reflexão, ele cresce como pessoa, como cidadão crítico e aprende
também a assumir seus compromissos (PENNA, 1994).
Sob o ponto de vista do aluno, a qualidade principal do professor é
orientar, mas deve-se entender que orientar é também avaliar, levando o aluno
a se sentir motivado, mostrando-lhe oportunidades e destacando positivamente
sua potencialidade, seus êxitos e seus progressos (PENNA, 1994).
Neste sentido a avaliação é contínua, ou seja, é um processo em que há
o acompanhamento da aprendizagem, a identificação das conquistas, do
desenvolvimento real, a intervenção mediadora do professor na zona de
desenvolvimento proximal2 dos alunos e a busca constante do desenvolvimento
pleno do aluno (PENNA, 1994).
Entende-se, hoje, que a reprovação é um ato essencialmente político,
porque restringe o exercício da cidadania aos que conseguem a aprovação. Os
que defendem a reprovação, afirmam que ela será boa para o aluno, pois ao
repetir, ele aprenderá melhor os conteúdos. Mas é importante que o professor
se questione sobre o que está sendo aprendido em sala de aula, e o porquê do
aluno não conseguir atingir os objetivos propostos pelo professor (PENNA,
1994).
Como afirma Antonio Penna (1994), aceita-se a reprovação do aluno
como algo natural e inevitável, explicando-se a necessidade da repetência como
forma de se preservar a qualidade do ensino. Mas seria interessante, propõe o
autor, que, ao invés de se acreditar que a avaliação é sobre a capacidade do
aluno, se crê que está sendo avaliada a incapacidade do aluno, quando na
verdade, é a incapacidade da escola em alfabetizar que deve ser julgada.
Ao se deparar com a reprovação, a escola deve promover uma reflexão
profunda e que envolva todos os atores sociais, discutindo seu projeto político-
pedagógico e as metodologias usadas em sala de aula (PENNA, 1994).
Quando uma criança fracassa na aprendizagem, lhe é oferecida uma
nova oportunidade. Mas até que ponto o recomeçar é uma solução? Para a
criança, pode ser um fracasso, ter que repetir a série. Neste cenário, existem
outros pontos críticos, sobre a avaliação. Para o aluno, ele acaba por acreditar
que não consegue aprender, fica estigmatizado, passa a ter baixa auto-estima e
todo esse quadro pode comprometer o seu futuro aprendizado (PENNA, 1994).
2 A Zona de Desenvolvimento Proximal é um conceito criado por Vygotsky, segundo o qual, a Psicologia trata do desenvolvimento real do indivíduo, o que pode ser mensurado por testes e avaliações objetivas; mas existe um outro nível, próximo ou potencial, que também deve ser considerado na prática pedagógica e que não pode ser mensurado por testes. Este nível próximo ou potencial inclui a capacidade do aluno de ir além das respostas objetivas, com vistas à busca de novas soluções de forma criativa e que complementam o aprendizado.
3.2 O exercício da avaliação e os critérios para avaliar
A avaliação vista como parte do processo ensino aprendizagem, terá
uma função diagnóstica buscando investigar os conhecimentos que o aluno traz
para a sala de aula. Deverá ser formadora no sentido de acompanhar as etapas
da aprendizagem e da totalidade do percurso pessoal, identificando os
sucessos e as dificuldades de cada aluno, inclusive, para orientá-los. Deverá
ser de caráter comunitário, visando o desenvolvimento da organização e das
ações educativas subseqüentes (DEPRESBITERIS, 1989).
Partindo desses princípios o educador deverá saber que neste caso, o
eixo da avaliação deixa de girar exclusivamente em torno do aluno e da
preocupação técnica de medir seu conhecimento e rendimento dentro da escola
e passa a centrar as ações e as atenções em torno das condições em que é
oferecido o ensino, da formação dos professores, das condições de trabalho, do
currículo escolar, da cultura, da organização da escola, da postura de seus
dirigentes e demais funcionários (educadores) (DEPRESBITERIS, 1989).
Pronto para encarar todos os percalços dentro de uma instituição
educacional tendo em vista as disparidades existentes na comunidade interna
de uma escola, é necessário agir de forma participativa, procurando combinar
eficiência e eficácia em todas as ações destinadas ao processo de avaliação da
aprendizagem escolar (DEPRESBITERIS, 1989).
Procuraremos citar alguns critérios necessários para efetuar a elaboração
de um projeto de avaliação escolar segundo nossas observações do cotidiano
das escolas e das salas de aula ao longo da nossa formação acadêmica,
baseando esta observação em Depresbiteris (1989):
§ Processo de avaliação participativo associado a metas e objetivos do
desenvolvimento escolar.
§ Empenho de liderança contínua e de recursos logísticos adequados ao
desenvolvimento do sistema.
§ Garantia de participação contínua de professores e funcionários desde a
fase de planejamento e organização do processo, até às de sua
implementação, capacitação dos participantes do processo, antes do seu
inicio formal, sobre conceitos, métodos e técnicas de avaliação de
desempenho.
§ Contínuo cuidado dos avaliadores com sua capacitação para realização
desse processo.
§ Entendimento conjunto entre gestores e servidores sobre os objetivos de
desenvolvimento da escola, sua relação com a melhoria de desempenho
e respectiva avaliação.
§ A locação de tempo e atenção suficiente ao desenvolvimento do
processo de avaliação.
§ Desenvolvimento de prática de acompanhamento e feedback
sistemáticos ao desempenho de professores e funcionários.
§ Manutenção de relacionamentos interpessoais favoráveis e abertos
(DEPRESBITERIS, 1989).
Contudo, para que ocorra uma avaliação baseada nos princípios
mencionados anteriormente, a instituição deverá contar acima de tudo com a
competência de um educador que deverá ser capaz de promover mudanças,
desenvolver projetos que definam em comum acordo quais critérios devem ser
utilizados para avaliar não somente os alunos mas também todo o corpo
técnico, administrativo, profissional de educação e principalmente o corpo
docente e, visto que a avaliação do corpo docente de uma escola é um assunto
delicadíssimo, uma vez que os professores são dentro dos sistemas
pedagógicos atuais os principais expoentes para avaliar o desempenho do
aluno nas organizações educacionais (DEPRESBITERIS, 1989).
Neste sentido, podemos incluir também os demais funcionários da
escola. O gestor bem treinado e consciente de seu papel deve ser encaminhado
também a um treinamento onde possa dominar os conceitos e técnicas de
avaliação. Professores e demais funcionários devem fazer parte de um conjunto
de avaliadores. Todos devem estar familiarizados com os objetivos do processo
de avaliação e de como os instrumentos de avaliação se familiarizam com os
objetivos (DEPRESBITERIS, 1989).
Outra perspectiva bastante comum é de que a avaliação bem sucedida
dentro da escola é, de fato um processo sistemático que pode ser analisado a
partir de habilidades específicas. Neste caso, o gestor deverá criar meios para
que essas habilidades possam ser aprendidas e transferidas de um funcionário
para outro, de um professor para outro como, por exemplo, algumas habilidades
do tipo dar feedback aos alunos, estabelecer objetivos comportamentais e dar
instruções claras, facilmente observadas em alguns professores e funcionários
eficazes. Estas habilidades podem ser desenvolvidas por toda a comunidade
interna da escola, tanto os mais experientes, quanto os “mais novos” que não
demonstram estes comportamentos regularmente (DEPRESBITERIS, 1989).
Para Lea Depresbiteris (1989), é importante o educador – seja ele
professor ou coordenador - se questionar sobre qual abordagem avaliativa se
deve adotar para a melhoria do ensino. Para ela, a avaliação da aprendizagem
está diretamente relacionada à abordagem curricular, e pode-se classificar o
currículo em: acadêmico, tecnológico, humanista e de reconstrução social.
No currículo acadêmico, a avaliação apresenta meios variados, de
acordo com as disciplinas e os conteúdos dados em sala de aula. No currículo
humanista, a ênfase é no processo e não no produto, enquanto no currículo
tecnológico a avaliação se apóia no desempenho do aluno, por meio de testes
padronizados. E o currículo de reconstrução social tem a avaliação pautada
por exames abrangentes durante o ultimo ano da escola, objetivando sintetizar
e avaliar a interpretação do aluno (DEPRESBITERIS, 1989).
Neste caso, a avaliação vai além da aprendizagem, verificando efeitos da escolarização na comunidade. Não creio que se deveria radicalizar na escolha de uma ou outra abordagem, uma vez que é necessário analisar as finalidades do ensino que se deseja. Ao se falar na formação global e mais completa do
aluno, talvez se tenha de atentar para a multiplicidade de aspectos que ela deveria abarcar (DEPRESBITERIS, 1989, p. 162).
Esta autora questiona, ainda, até que ponto se tem um planejamento de
ensino e onde se inicia a avaliação da aprendizagem, mostrando que ambas
são atividades inseparáveis e que formam um processo único, no qual são
definidos os conteúdos, os objetivos, as estratégias de ensino, e as formas de
se avaliar (DEPRESBITERIS, 1989).
No entanto, ao invés de se valorizar os aspectos educacionais, da
aprendizagem do aluno, a avaliação, na maioria das vezes, visa atividades
burocráticas e formais. Neste sentido, portanto, o planejamento é o momento
chave para se refletir sobre quais objetivos se quer alcançar, como alcançá-los
e como se deve transformar a aprendizagem. Afinal, avaliar não é fazer um
registro formal e, sim, é avaliar o que se planejou. Se não se planeja um
aprendizado pleno do aluno, isto não será visto na avaliação, e se só se planeja
atividades formais e burocráticas, será isto que vai ser encontrado na avaliação
(DEPRESBITERIS, 1989).
Dessa forma, Depresbiteris (1989, p. 163) sugere que se cobre do
professor o processo de reflexão, e não o que está no papel escrito de um
planejamento, que não tem utilidade prática se for realizado com o único intuito
de ser um documento, sem que tenha nenhuma função pedagógica. Conclui a
autora afirmando que: “a avaliação, por sua vez, é vista como o registro de uma
nota, tomando-se uma atividade burocrática para o professor.”
Dentre os aspectos metodológicos que devem ser considerados, tem-se
definição de objetivos do ensino, já que são eles que orientarão o aluno no que
se espera dele, além de orientar sobre o que professor irá ensinar. Para
Depresbiteris (1989), quando se fala em objetivos do ensino, surgem algumas
dúvidas e alguns preconceitos:
Houve uma época de exageros, de extremos, em que listas e listas de verbos eram fornecidas aos professores e se eles
fugissem à redação convencionada eram cobrados por isto. Cobrava-se a forma e não o conteúdo. A operacionalização excessiva do objetivo transformava-o mais em um item de teste do que num rol de intenções. Eis um exemplo: "Dados dez nomes de animais, o aluno deverá assinalar com um x os de animais vertebrados, com 100% de acerto". O que um objetivo assim redigido produzia? Certamente um cerceamento do docente e fatalmente a mecanização da aprendizagem do aluno (DEPRESBITERIS, 1989, p. 163).
Para a autora, o objetivo deve ser uma intenção, e para isso, precisa ser
claro, explicitando o tipo de habilidade ou de conhecimento que se pretende
desenvolver. Pode-se pedir a um aluno que estude um tema em um livro e que
identifique causas, estabeleça relações e analise e sintetize o tema pesquisado.
Assim, o aluno sabe o que se espera dele, e será mais fácil para ele estudar
sabendo desses objetivos.
O que se percebe é que quanto mais se leva o aluno a atingir níveis mais complexos de raciocínio, maior grau de autonomia e participação ele consegue. Um aluno que sabe avaliar seu trabalho, certamente está muito mais preparado, em termos de aprendizagem, do que um aluno que apenas desenvolve uma tarefa sem julgá-la (DEPRESBITERIS, 1989, p. 165).
Não se pode discutir o tema da avaliação em aprendizagem sem falar da
nota. Em geral, segundo Depresbiteris (1989), existem duas posições sobre a
nota: os que a defendem e os que querem eliminá-la. Para a autora, o caminho
do meio é o mais correto, ou seja, uma posição moderada tanto evita que se
endeuse a nota, confundindo-a com a própria aprendizagem, quanto evita que
ela seja rechaçada por completo. Na primeira visão, a avaliação tem um caráter
meramente contabilístico e, na segunda perspectiva, pode-se errar ao tirar o
elemento de comunicação entre alunos, professores e os responsáveis pelo
aluno.
Em um sentido mais amplo, Depresbiteris questiona se devem avaliar
atitudes dos alunos, explicando que:
Se o aluno é um todo indivisível, certamente a avaliação de atitudes deve ocorrer; porém, devemos analisar de que modo elas devem ser avaliadas.
Em minha opinião existem atitudes que são inerentes ao próprio conhecimento de uma determinada habilidade ou experiência. São as atitudes inerentes ao trabalho, que se devem constituir em critérios de avaliação. Assim, por exemplo, a nota de uma redação deveria contemplar não só o emprego adequado de regras gramaticais, ortografia, ordem seqüencial e organização de idéias, mas também o cuidado com a apresentação que, em muitos casos, poderia ser uma atitude inerente ao trabalho. Já no caso de atitudes mais gerais, como participação, disciplina, relacionamento, dentre outras, não creio que elas devam merecer uma nota (DEPRESBITERIS, 1989, p. 168).
Para ela, a exclusão da nota se fundamenta em algumas premissas:
• a atitude é mutável - a aceitação desse fato implica maior flexibilidade nos julgamentos, quebra de preconceitos e abertura com relação aos outros;
• a atitude inclui comportamentos motivacionais - um docente dedicado, que demonstra interesse por seus alunos, que os orienta, que se atualiza constantemente, pode estimular seus alunos a atitudes favoráveis à sua disciplina;
• a atitude inclui componentes cognitivos - quanto mais informação uma pessoa tiver, mais profundamente poderá desenvolver atitudes;
• a atitude inclui comportamentos emocionais - ao emitir uma opinião sobre as atitudes dos alunos, o docente deve fazê-lo mediante acompanhamento e observação criteriosa, pois elas envolvem aspectos interiores das pessoas, os quais devem ser respeitados. (DEPRESBITERIS, 1989, p. 168).
Sendo assim, a avaliação não deve apenas registrar uma nota do aluno
mas, sim, incorporar diversas formas de avaliação do aluno continuamente
(DEPRESBITERIS, 1989).
O processo de avaliação abrange, pois, todas as facetas do ato de
educar, entendendo-se por avaliação um processo mais amplo do que a simples
aferição de conhecimento constituído pelos alunos em um determinado
momento de sua trajetória escolar.
Segundo Vygostsky (1987), o desenvolvimento de crianças e adolescente
deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, com referencia ao que está para
acontecer na trajetória de cada um. De acordo com este autor deve-se procurar
os "brotos", "as flores" ou "ramos" do desenvolvimento e seus rumos em vez de
somente seus frutos.
Normalmente a avaliação centra-se no que as crianças e adolescentes
são capazes de aprender sozinhas num dado momento, porém, a idéia de
transformação, ganha particular destaque na concepção histórico-cultural que
enfatiza o interesse em compreender, no curso do desenvolvimento, a
emergência daquilo que é novo (VYGOSTSKY, 1987).
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal aponta para a importância, no percurso do desenvolvimento de crianças e adolescentes, dos processos que estão embrionariamente presentes mas que ainda não se consolidaram.
Esta postulação traz consigo a idéia de que o professor tem o importante papel de interferir nas Zonas de Desenvolvimento Proximal de seus alunos, o que muda radicalmente o conceito de avaliação: de retrospectiva (o que o aluno realiza sozinho) para prospectiva (o que é capaz de fazer com a ajuda do professor ou de um colega mais experiente) (VYGOSTSKY,1987, p. 273)
Vygotsky (1987) trabalha explicitamente com a idéia de reconstrução, por
parte do indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural.
A constante recriação da cultura por parte de cada um de seus membros é à
base do processo histórico. Homens e mulheres recriam a cultura através de
diferentes formas de Linguagens e de Trabalho e através desta recriação,
identificando-se como membros de um grupo social e cultural, num determinado
Tempo e Espaço, transformando o Meio Ambiente físico, social e cultural em
que vivem, transformam-se a si próprios.
A constante recriação da cultura por parte de cada membro de um
determinado grupo cultural é à base do processo histórico sempre em
transformação das sociedades humanas.
Para Vygotsky (1987), construir conhecimentos implica uma ação
partilhada, já que é através dos outros que as relações sujeito e objeto do
conhecimento são estabelecidas. Constroem-se conhecimentos na historia e na
cultura. Não se poderia, portanto, avaliar os conhecimentos construídos
desvinculado-os do processo em que foram constituídos.
Por isso, a avaliação deve ser continua num processo constante que
permita ao professor identificar e criar zonas de desenvolvimento proximal. Isto
ocorrerá na medida em que os professores incentivarem os alunos a trocar
experiência entre si, confrontarem pontos de vista divergentes, dividirem tarefas
coletivamente, apoiando-se mutuamente na solução dos problemas
apresentados (VYGOSTSKY, 1987).
Ao acreditar que a diversidade é uma característica marcante em
qualquer grupo humano, deve-se levar em consideração, no ato de avaliar,
ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias pessoais que produzem
diferentes formas de agir, pensar e conhecer. Coerente com esta visão, a
avaliação deve observar a heterogeneidade de processos de construção de
conhecimentos e não apenas o seu produto final. por outro lado, a zona de
Desenvolvimento Proximal não é algo a ser medido e sim identificado e criado,
a partir de sucessivas interações entre aqueles que aprendem e o objeto do
conhecimento (VYGOSTSKY, 1987).
Uma avaliação prospectiva, respeitando a singularidade dos alunos não
pode se desvincular da ação pedagógica como um todo, logo a avaliação deve
ser realizada não apenas em diferentes momentos como também em situações
variadas, observando-se o desenvolvimento real dos alunos e criando-se
possibilidades para emergência de zona de Desenvolvimento Proximal
(VYGOSTSKY, 1987).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutindo a avaliação nas obras estudadas, este trabalho acredita ser
possível apresentar novas propostas de avaliação e de relações afetivas em
sala de aula, que despertem o aluno para novos conhecimentos,
concomitantemente à consolidação de relações emocionais e afetivas com o
“outro”.
Nos dias de hoje é fundamental para o educador repensar os meios
através dos quais se podem aprimorar os objetivos no processo ensino -
aprendizagem, para que o objetivo maior da Educação, a formação da criança e
do jovem, seja atingido.
Assim sendo, é necessário que se identifiquem os problemas da
educação, criando possibilidades de intervenção e transformação da realidade.
Esta visão confere significado às ações educativas, apresentando uma idéia
geral, mas que pode, também, ser estendida a outras realidades fora da escola,
coadunando-se com o processo mundial de globalização.
Essas decisões devem ser conjuntas com a comunidade e cabe ao
educador, ao conhecer a realidade, comprometer-se com sua superação. Para
tal é muito importante que o trabalho tenha como característica ser coletivo e
cooperativo e, por isso, requer investimentos conjuntos. O trabalho se legitima
pela participação crítica dos envolvidos, que deve orientar-se pela existência de
um coordenador que articule e organize o coletivo, reavaliando constantemente
as prioridades que devem pautar a prática pedagógica.
Nesse sentido, a revisão de literatura realizada neste estudo veio
enriquecer um saber que, na prática, já era um questionamento nosso há muitos
anos. De acordo com tudo que foi estudado, é preciso criar novos critérios para
avaliar o aluno em sala de aula, mas, sobretudo, é preciso modificar a estrutura
da nota e da avaliação.
Não se pode pretender que um aluno se desenvolva de forma plena, se
não forem dadas a ele as ferramentas adequadas para que ele possa ser o
próprio agente de transformação da sua educação. Para isso, precisa,
evidentemente, contar com os professores, coordenadores, educadores em
geral e, ainda, com a família. Afinal, a educação é uma construção coletiva, não
podendo ser creditada somente ao professor.
A situação do ensino brasileiro vem mudando, em conformidade com a
legislação, mas ainda existe um longo caminho a se percorrer. Não se pretende,
posto que é impossível, transformar o sistema educacional brasileiro, nem
tampouco a avaliação escolar, em pouco tempo. É uma tarefa árdua, lenta,
progressiva e que se constrói a pequenos passos, no dia a dia, no envolvimento
sincero e verdadeiro com os alunos.
Avaliar o que, para que, são questões que devem fazer parte do cotidiano
do professor e do coordenador escolar. O que se pretende, com a avaliação?
Responder a essas perguntas não implica em soluções imediatas, pelo
contrário. O saber que é preciso mudar o ensino em sala de aula e a avaliação
atual é que se revela como mais importante, no momento.
No nosso entendimento, a avaliação objetiva e quantitativa é necessária,
pois existe um grande número de saberes inserido nos currículos escolares que
os alunos precisam dominar, apreender. Dentre eles, podem ser citados
equações matemáticas e fórmulas, regras gramaticais. Tudo isso, por exemplo,
pode ser mensurado por meio de testes e avaliações objetivas, e o aluno
precisa dominar essas regras.
Mas, além desse domínio, existe outro mais importante ainda para o
aprendiz: ele precisa compreender para que sirvam essas regras e equações,
como poderá aplicá-las na sua vida prática, e como ele pode desenvolver
conceitos criativos sobre essas equações e regras. Não basta decorar, ele
precisa compreender.
E é nesse momento que entra a avaliação da zona de desenvolvimento
proximal do aluno, quando o professor o leva a compreender o porquê dessas
regras, como poderá aplicá-las e como elas poderão se transformar em
ferramentas para a sua vida. Se o aluno não compreender essa utilidade, ele
não será um adulto e um profissional capaz. Decorar leva a um caminho muito
curto, compreender o porquê leva o aluno a ter um conhecimento para toda a
vida.
Nesse sentido, o professor não deve, apenas, avaliar conteúdos
fechados, mas deve promover a consciência do aluno sobre o que ele está
aprendendo como ele pode utilizar esses conteúdos na sua vida, e como ele
poderá transformar esses conhecimentos em ferramentas úteis. Para isso, o
professor precisa avaliar aspectos não formais do conhecimento do aluno, como
por exemplo, a sua capacidade criativa, o seu potencial de raciocínio e a sua
articulação sobre como todos esses conhecimentos se acumulam
sucessivamente.
Assim, a conscientização do educador, para que ele seja o promotor de
mudanças profundas no ensino e na avaliação é o primeiro passo. O próximo
passo é o profundo envolvimento do educador com o aluno e com o que deve
ser ensinado. E a subseqüente conscientização do aluno, para que ele
compreenda a verdadeira importância da educação.
Transformar o ato de educar e criar uma avaliação consciente e
enriquecedora para o aluno, um sonho? Certamente, se lhe dermos o sentido
que lhe deu o educador Paulo Freire (1984), “ai de nós educadores, se
deixarmos de sonhar sonhos possíveis”.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
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