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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS ORIENTADOR (A): PROF.: PRISCILA BARCELLOS RECIFE/PE AGOSTO / 2006 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS ... retroca, pinta, repinta, entra, sai, puxa, leva, trás... É frio, é quente ... “redesabrochar”

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS

ORIENTADOR (A):

PROF.: PRISCILA BARCELLOS

RECIFE/PE

AGOSTO / 2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento.

RECIFE/PE

AGOSTO / 2006

“Fomos crianças e experimentamos... E onde ficou

esse nosso experimentar? Nem nos lembramos mais... E a

nossa fantasia? Em algum canto do nosso ser pode ter

certeza, adormecida, porém latente...

A criança brinca, enfrenta desafios e transforma em

“novo” quando troca, retroca, pinta, repinta, entra, sai, puxa,

leva, trás... É frio, é quente, é grande, é pequeno. Tudo é

brincadeira! Tudo é construção! E quando nos damos a

oportunidade de sermos espontâneos e criativos,

descobrimos aquela criança tolhida e podada em sua “trela”,

em sua “arte”, em seu construir.

Se nos esforçarmos em facilitar, para que aconteça o

“redesabrochar” da criança que fomos e que temos

esquecida no “eu” de cada um de nós, vamos encontrar o

caminho para mergulhar na verdade do mundo infantil, pois

o processo do seu crescimento é essencialmente norteado

pelo lúdico que permite à criança colocar em evidência, suas

idéias, angústias, necessidades, satisfações, resolver seus

conflitos, aprender e apreender, e, sobretudo, festejar o

prazer na autoria de construção do saber”.

Autor desconhecido

AGRADECIMENTOS

A Deus, princípio da minha vida e jamais o fim. A todos que um dia pararam

para me ouvir e que me ensinaram o necessário para seguir em frente.

Agradeço à luz que nos momentos de incerteza, colocou-se à minha frente,

dando-me forças e abrindo minha mente para novas idéias. A minha mãe que

graças a ela eu sou quem sou e a quem enalteço toda sua maestria em educar-

me.

À minha família que é meu porto seguro, especialmente ao meu

companheiro Normando Jurema pelo apoio, incentivo constante e força nas horas

difíceis. À minha orientadora Priscila Barcellos que me auxiliou na elaboração

deste trabalho com paciência e seriedade. À minha irmã Vilma pelo grande

incentivo.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste

trabalho.

RESUMO

A importância do brincar na Educação Infantil foi o tema escolhido para a

execução deste estudo que visou justificar a importância do brincar na prática

pedagógica e sua relação com o processo ensino-aprendizagem. Para

estruturação deste estudo foram utilizadas pesquisas bibliográficas privilegiando a

brincadeira como condição de todo processo evolutivo neuro-psicológico saudável

na vida da criança pequena e sua eficácia no seu dia-a-dia. Justificou-se o porquê

do professor levar a brincadeira para a sala de aula, pois durante muito tempo, o

aluno foi um agente passivo na educação e o professor um transmissor de

conteúdos. Verificou-se que seu interesse passou a ser a força que comanda o

processo da aprendizagem, suas experiências e descobertas o motor de seu

progresso e, o professor um gerador de situações estimuladoras e eficazes. É

nesse contexto que a brincadeira ganha espaço, como a ferramenta ideal de

aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse da criança,

desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social, ajuda-o a

construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e

simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de

condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. Buscou-se melhor

compreensão com a transição entre instituições assistencialista e educacional que

atendem crianças na faixa etária de zero a seis anos. Enfatizou-se a importância

do brinquedo e sua enorme influência no desenvolvimento da criança. Hoje

aprendemos que a construção do conhecimento deve partir sempre do aluno.

Dessa forma, o aluno passou a ser um desafio ao professor e ao contexto escolar,

de um modo geral. Uma das características principais do brinquedo foi

evidenciada neste trabalho, devido a brincadeira ser insubstituível, desde pequena

a criança adquire habilidades e hábitos sociais, criando uma situação imaginária

no brinquedo.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi elaborado tomando por base o método de

abordagem dedutivo, utilizando-se como técnica de pesquisa a documentação

indireta, através de pesquisa bibliográfica em livros, revistas, artigos na Internet e

monografias.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................08

1. PROPOSTA CURRICULAR: ASSISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO ................10

1.2. A CRIANÇA: EDUCAR X CUIDAR ................................................................11

2. REFLEXÃO SOBRE O BRINQUEDO ...............................................................17

2.1. LÚDICO, PRAZER E EDUCAÇÃO ................................................................18

3. BRINCADEIRA É COISA DE CRIANÇA ...........................................................21

3.1. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................22

3.2. APRENDER BRINCANDO ............................................................................25

CONCLUSÃO ........................................................................................................28

REFERÊNCIAS CITADAS ....................................................................................32

REFERÊNCIAS CONSULTADAS .........................................................................34

ÍNDICE ...................................................................................................................36

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INTRODUÇÃO

A importância do brincar na Educação Infantil foi o tema eleito para

execução desta monografia e visa justificar a importância do brincar na prática

pedagógica e na educação infantil.

De acordo com Oliveira (1995, p.15), o brincar da criança, do nascimento

aos seis anos, tem significação especial para a psicologia do desenvolvimento e

para a educação em suas ramificações e implicações, uma vez que:

- É condição de todo o processo evolutivo neuro-psicológico saudável, que

se alicerça neste começo;

- Manifesta a forma como a criança está organizando sua realidade e

lidando com suas possibilidades, limitações e conflitos, já que, muitas vezes, ela

não sabe, ou não pode, falar a respeito deles;

- Introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e eficiente ao universo

sócio-histórico-cultural;

- Abre caminho e embasa o processo de ensino-aprendizagem

favorecendo a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade.

Assim sendo, a questão central deste trabalho é investigar que fatores

favorecem ou dificultam uma prática pedagógica na educação infantil.

Objetivamos assim identificar as necessidades da brincadeira na Educação

Infantil, evidenciar os fatores que contribuem para uma prática pedagógica

satisfatória, propor algumas alternativas para os entraves detectados no dia-a-dia

em relação à Educação Infantil, evidenciar a eficácia da brincadeira no processo

de desenvolvimento da criança, descrever o atual reconhecimento do direito da

criança de brincar no seu cotidiano escolar e familiar.

No primeiro capítulo buscou-se a fundamentação teórica para melhor

compreender a transição entre instituição assistencialista e educacional, ainda

nesse capítulo buscou-se enfatizar a relação entre o cuidar e o brincar. No

segundo, apresentou-se um embasamento teórico sobre a importância da

9

brincadeira para o processo de ensino-aprendizagem e apresentou-se uma

reflexão sobre a importância da brincadeira no processo de desenvolvimento

infantil.

No terceiro capítulo buscou-se esclarecer os benefícios da brincadeira na

vida da criança, bem como justificar porque o professor deve levar a brincadeira

para sala de aula e paradigmas que impedem a utilização de atividades lúdicas

pela maioria dos professores. Explorou-se a importância do aprender brincando,

os benefícios que essa ferramenta proporciona ao educador e ao educando, por

servir de mecanismo complementar na construção do pequeno ser e do

conhecimento.

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1. PROPOSTA CURRICULAR: ASSISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO

As instituições que atendem crianças pequenas ao longo de sua história

divergem sobre sua finalidade social, pois a maioria destas instituições nasceu

com o objetivo de atender às crianças de baixa renda e tinham como objetivo

maior combater a pobreza e conseqüentemente solucionar problemas ligados à

sobrevivência das mesmas.

Levando-se em consideração sua atuação só para compensar as carências

das crianças e suas famílias estas instituições serviam como instrumento só para

pobres, estigmatizando assim, a população de baixa renda. A assistência era

entendida como um “favor” que marcava sua atuação com caracteres

assistenciais, não considerando as questões de cidadania e levando-se em conta

as idéias de liberdade e igualdade.

Para mudar esta visão assistencialista de atender as crianças pequenas é

preciso assumir as características específicas da educação infantil e rever

concepções sobre a infância, relações entre classes sociais, responsabilidades da

sociedade em geral e o papel do Estado perante as crianças que compõem a

educação infantil.

Para que haja uma educação infantil de qualidade é necessário rever a

concepção de instituição assistencial e passar a promover a integração entre os

aspectos que envolvem a criança pequena e trabalhar cada um desses aspectos

especificamente.

Esses aspectos seriam de ordem social, lúdico, econômico, emocional,

físico, afetivo e cognitivo.

As propostas curriculares para crianças pequenas devem estar vinculadas

às características sócio-culturais da comunidade na qual a instituição está

inserida, bem como suas necessidades e expectativas.

Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei 9394, promulgada em dezembro de 1996, estabeleceu de forma

11

incisiva o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a

educação, no artigo 29, que descreve o seguinte:

A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29) tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade (BRASIL, 1998, p. 11).

Nos últimos anos, a Educação Infantil vem ganhando destaque no cenário

educacional brasileiro. A instituição assistencial dá lugar no cenário nacional ao

campo educacional no que tange a Educação Infantil e constitui um espaço de

inserção de crianças pequenas nas relações éticas e morais da sociedade.

No título III do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4º, IV, afirma

que: “o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a

garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de

zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1998)

Tanto as creches para as crianças de zero a três anos como as pré-

escolas, para as de quatro a seis anos, são consideradas como instituição de

educação infantil. A distinção entre ambas é feita apenas pelo critério de faixa

etária.

1.1. A CRIANÇA: EDUCAR X CUIDAR

A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico, faz parte

de uma organização familiar inserida em sua sociedade, com determinada cultura

em um determinado momento histórico. É marcada pelo meio social em que se

desenvolve, e a família é um ponto de referência fundamental, apesar de

interações que a criança estabelece com outras instituições.

Educar é ensinar a criança a conhecer e a cuidar de seu corpo, de sua

saúde e formar hábitos. Ir mostrando a transformação das coisas realizadas

através do trabalho do homem. Auxiliando-a na exploração de seu ambiente,

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colaborando na aprendizagem e domínio da linguagem falada e escrita, ouvindo-a,

estimulando-a a contar estórias e fatos que ela vivencia. É, também, transmitir à

criança conhecimentos que já foram acumulados pela humanidade. É preciso que

a criança haja, que ela execute a ação e que ela veja, também, o resultado de sua

ação e que, se não der certo, que ela tente outra vez.

Cuidar de uma criança em um contexto educativo significa valorizar e

desenvolver habilidades. A base do cuidado humano é compreender como ajudar

o outro a se desenvolver como ser humano. As atitudes e procedimentos de

cuidados são influenciadas por crenças e valores em torno da saúde, da educação

e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades humanas básicas sejam

comuns, como alimentar-se, proteger-se, etc. podem ser modificadas e acrescidas

de outras de acordo com o contexto sócio-cultural. Pode-se dizer que além

daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são também

base para o desenvolvimento infantil. O cuidado precisa considerar, as

necessidades das crianças que quando observadas, ouvidas e respeitadas,

podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Cuidar

da criança é, sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo

crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando

e respondendo às suas necessidades.

Nas ultimas décadas, os debates apontam para a necessidade de que as

instituições de Educação Infantil incorporem as funções de educar e cuidar, não

mais diferenciando e hierarquizando os profissionais e instituições através de

concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos

sociais, ambientais, culturais, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem

elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais

variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma.

O trabalho com crianças pequenas, hoje exige uma integração dos dois

termos numa só meta: mediar o desenvolvimento sócio-cultural de nossas

crianças desde seu nascimento. Quando a criança percebe que está sendo

cuidada, sente-se segura. Aos poucos ela vai adquirindo autonomia e o que era

13

feito com o auxilio de alguém, ela começa a tentar fazer sozinha, até o momento

em que se torna independente, cuidando de si mesma. As atividades de

cuidado/educação de crianças cujos direitos são reconhecidos e respeitados pela

instituição e por seus educadores devem envolver o cultivo da identidade familiar,

do gênero e da raça. A indissociabilidade entre cuidado e educação precisa

permear todo o projeto pedagógico de uma creche, pré-escola ou escola.

Os cuidados com as crianças ganham outras amplitudes e alcances quando

a escola revela sua função, que a transformação cultural dos objetos de

conhecimento. Sem deixar de alimentá-las com comida, os adultos devem

também alimentá-las com informações sem deixar de cuida da higiene física, o

professor também cuidará da higiene mental – sua e de seus alunos, na medida

em que todos estarão em um ambiente efervescente de criação e descoberta; e os

educadores e crianças poderão conhecer e executar seus afetos em situações de

trabalho cooperativo.

A educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária, como sabemos, têm necessidade de atenção, carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam contato com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as pessoas e as coisas deste mundo e com as formas de expressão que nele ocorrer. Esta inserção das crianças no mundo não seria possível sem que atividades voltadas simultaneamente para cuidar e educar estivessem presentes. O que se tem verificado, na pratica, é que tanto os cuidados como a educação, têm sido entendidos de forma muito estreita (BUJES, 2001, p. 16).

As crianças de até seis anos têm o direito de ser cuidadas e educadas

através de uma ação conjunta da família, sociedade e Estado, tendo a

oportunidade de desenvolver sua identidade, autonomia e potencialidades, além

de exercitar seus direitos e deveres como cidadãos.

Cuidar e educar são funções que implicam observar as necessidades e

interesses da criança, levando em consideração a sua identidade, a do/a

profissional, e da instituição e a do ambiente social e cultural. A criança se

14

constitui como pessoa na relação com os adultos e com as outras crianças. É

assim que, gradativamente, vai compreendendo o meio em que vive e se torna um

ser agente de transformação, rumo a uma melhor qualidade de vida.

Uma educação que cuida da criança propõe metas valiosas e sua

aprendizagem e desenvolvimento e seleciona experiências de aprendizagem

socialmente relevantes e pessoalmente significativas.

Muitos educadores que trabalham com crianças pequenas costumam

valorizar ações copiadas de modelos escolares tradicionais nas tarefas cotidianas

que lhes propõe: atividades dirigidas usando apenas papel, tinta e lápis. Eles

conhecem apenas o modelo de organização do ambiente para ações centradas no

professor e por ele controladas e acreditam que elas têm maior resultado

pedagógico. Eles desconhecem outras formas mais adequadas de organizar

situações de vivência, aprendizagem e desenvolvimento para as crianças

pequenas. Em resposta a isso tem-se que reconhecer que a criança, desde bebê,

tem “voz” própria e deve ser ouvida, pois é produtora de conhecimento, de cultura

e de uma identidade pessoal.

Hoje em dia, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho e o conseqüente aumento de participação efetiva das instituições na educação infantil no desenvolvimento da criança, é importante que se reflita cuidadosamente sobre a necessidade de se organizar um ambiente propicio, que respeite necessidades básicas neuropsicológicas da criança como indivíduo ativo e social (OLIVEIRA, 2002, p. 103).

Os diferentes ambientes das creches e das pré-escolas devem ser

organizados de modo a propiciar às crianças oportunidades para ampliar suas

experiências no mundo da natureza e da cultura, produzir novas significações e

renovar sua cultura. Para tanto, faz-se necessário superar o modelo pedagógico

centrado no adulto e construir:

1. um ambiente aberto à exploração do lúdico;

2. lugares onde crianças e adultos possam se engajar em atividades culturais

cujos aspectos cognitivos, estéticos e éticos sejam continuamente re-

significados;

15

3. um cotidiano que integre uma postura de cuidado à educação, traduzindo

em ações os Direitos da Criança;

4. uma atmosfera de tolerância, respeito e curiosidade para com as culturas

locais, as famílias, suas comunidades e seus modos próprios de viver;

5. um ambiente onde o relacionamento das crianças e educadores possibilita

que o espaço ganhe cores e sons, cheiros e sabores, objetos e memórias;

6. a presença de materiais variados e sempre acessíveis às crianças;

7. a organização de rotinas de atividades orientadoras das ações infantis.

As mudanças mais enriquecedoras nascem no dia-a-dia das pré-escolas, que

reúnem muitos brasileirinhos. Em todo o país, propaga-se a idéia de que cabe à

creche/escola garantir não apenas o direito de brincar e receber cuidados, mas

também o de ampliar conhecimentos.

Não é uma mudança simples. Por trás dela há uma concepção sobre como

pensam essas crianças. Apesar de pouca idade as crianças já sabem muita coisa

do mundo que a cerca. O problema é que nem sempre isso é levado em conta.

A transição pela qual a Educação Infantil passa não é causada só pelas

inovações no campo pedagógico, como também pela transparência da área

assistencial para a da educação, pois até alguns anos atrás, os profissionais

tinham a preocupação de alimentar, higienizar, mas esqueciam que educar se

constitui num espaço de inserção dos pequenos nas relações éticas e morais da

sociedade.

Ao adulto cabe a importante tarefa de tornar efetivas as possibilidades de desenvolvimento da espécie, principalmente proporcionando à criança pequena um contexto de desenvolvimento que priorize formas de atividades que ela precisa realizar para aprender, que facilite os processos interativos entre as crianças e outras pessoas, que torne acessíveis todos os bens culturais que permita a experimentação e a exploração própria da idade. Enfim, que ofereça uma qualidade de ação e interação com a criança de forma que esta possa tirar o máximo proveito das mediações para o seu desenvolvimento psicológico (LIMA, 2001, p. 27).

16

Aos adultos cabe o desafio de não atrapalhar esse desenvolvimento,

estimulando a brincadeira e interferindo o menos possível. Um dos valores mais

importantes que a criança aprende brincando é que, quando perdemos, o mundo

não acaba. Para isso os adultos não devem passar à criança a impressão de que

o mais importante é vencer. Em vez disso, convém enfatizar a diversão: a criança

precisa entender que perder não a torna inferior e ganhar não demonstra

superioridade.

A brincadeira é o melhor meio para quebrar as diferenças existentes entre

as classes sociais é um eficaz meio de promoção do conhecimento e vivência dos

aspectos emocionais, constituindo um verdadeiro gerador de democracia social.

17

2. REFLEXÃO SOBRE O BRINQUEDO

Brincar é coisa séria, porque na brincadeira não há trapaça; há a

sinceridade, engajamento voluntário e doação. É brincando que a criança

mergulha na vida sentindo-a na dimensão de suas possibilidades. No espaço

criado pelo brincar, nessa aparente fantasia, acontece a expressão de uma

realidade interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às

expectativas sociais e familiares. A brincadeira espontânea proporciona

oportunidades de transferência significativa que resgatam situações conflitivas.

No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado. Embora num exame superficial possa parecer que o brinquedo tem pouca semelhança com atividades psicológicas mais complexas do ser humano, uma análise mais aprofundada revela que as ações no brinquedo são subordinadas aos significados dos objetos, contribuindo claramente para o desenvolvimento da criança (VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 1995 p. 67).

O brinquedo é um convite ao brincar. Facilita e enriquece a brincadeira,

proporcionando desafio, motivação. Ao ver o brinquedo a criança é tocada pela

sua proposta, reconhece umas coisas, descobre outras, experimenta e reinventa,

analisa, compara e cria. Sua imaginação se desenvolve e suas habilidades

também. Enriquecendo seu mundo interior, tem mais coisas a comunicar e pode,

cada vez mais, participar do mundo que a cerca.

No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca como essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma se quisermos conhecer bem as crianças, deve-se conhecer seus brinquedos e brincadeiras. No decorrer do desenvolvimento, várias maneiras de brincar aparecem. Da mesma forma que a criança adquiriu habilidades de andar, falar, escalar alturas, etc., através da prática representativa, ela passa do jogo de exercícios para o jogo simbólico, utilizando o faz-de-conta para se introduzir no mundo dos adultos. Significa que a criança progride da necessidade de experimentar alguma coisa para a habilidade de pensar sobre ela (OLIVEIRA, 2002, p.129).

O brinquedo traduz o real para a realidade infantil. Suaviza o impacto

provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de

18

impotência da criança. O brinquedo espontâneo pode ser considerado sob dois

aspectos: auto-expressão e auto-realização. A nível de auto-expressão estão as

atividades livres, construções, dramatizações, músicas, atividades plásticas etc. A

nível de auto-realização, está o brinquedo organizado, ou seja, aquele que tem

uma proposta e, portanto requer determinado desempenho. Quanto mais simples

o material, mais fantasias exige; quanto mais sofisticado, em maior desafio se

constitui, mas sempre uma oportunidade para que a criança interaja, faça

escolhas e tome decisões.

2.1. LÚDICO, PRAZER E EDUCAÇÃO

O lúdico tem sido, nos últimos tempos, foco de estudos e discussões em

diferentes espaços e instituições, surgindo, como decorrência, implicações deste

no campo do lazer, da saúde, da cultura e da educação.

O comportamento lúdico tem seu início desde o nascimento da criança,

mediante reações espontâneas e prazerosas. Assim o bebê vai respondendo ao

movimento de um objeto próximo de sua vida, seguindo-o com o olhar cujo

comportamento pode revelar expressão de prazer e de distração. A partir desses

primeiros sinais, o brincar vai se configurando ao longo da infância, incluindo a

dramatização, como uma das fases de maior significado no comportamento lúdico.

Esse posicionamento encontra apoio nas idéias de Brougère (1998, p. 11),

ao argumentar, que tais comportamentos, se iniciam já nos primeiros meses de

vida da criança. Para a criança identificar os movimentos com brincadeiras,

“considera necessário que o mesmo se manifeste livremente, embora estimulado

adequadamente pela pessoa que atenda o pequeno”. Segundo o autor, “a criança

nos seus três primeiros meses, pode divertir-se por sua própria conta, com seus

pés ou suas mãos, observando-os e movimentando-os com espontaneidade e

satisfação”.

19

Na concepção de Winnicott (1975, p. 117), “como brincar é um modo

particular de viver”, é preciso aprender a brincar com prazer e, por extensão,

aprender com prazer. A motivação para a atividade lúdica reside exatamente no

fato de correr o risco e no confronto constante com o real que implica. Este é o

trânsito que qualifica brincadeira e realidade. O início das relações entre as

crianças e o mundo se dá através do brincar. Brincando a criança se descobre,

experimenta, cria, relaciona, compreende e transforma, começa lentamente a

construir sua história.

No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca

como essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma, se

quisermos conhecer bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e

brincadeiras.

A infância é, conseqüentemente um momento de apropriação de imagens e

de representações diversas que transitam por diferentes canais. As suas fontes

são muitas. O brinquedo é, com suas especificidades, uma dessas fontes. Se ele

traz para a criança um suporte de ação, de manipulação, de conduta LÚDICA,

traz-lhe, também, forma e imagens, símbolos para serem manipulados.

Nas considerações de Brougère (1998, p.13), “não podemos subestimar a

importância do aspecto funcional do brinquedo cujas conseqüências, no nível de

desenvolvimento da criança, parecem importantes”. Considera ele que as

dimensões funcional e simbólica encontram-se imbricadas entre si. Função e

símbolo estão , na maioria das vezes, ligadas e são indissociáveis no brinquedo.

(FLAVEL, 1998, p. 61), afirma que “o enfoque piagetiano tem seu fundamento no

potencial que a criança traz consigo, como também na sua ação sobre os objetos

e pessoas e em determinadas situações que se lhe apresentam”, com os quais

nestas reflexões identifica-se com brinquedos. É através da integração da criança

com os mesmos que ela vai construindo o seu conhecimento e promovendo suas

habilidades.

Nas orientações de Vygotsky (1984, p. 10), “é o social que vai

decodificando a realidade para a criança, denotando-a e conotando-a segundo

20

sua história de vida e sua cultura”. Nesse sentido, as decisões e atribuições de

valor da criança pequena dependem muito do que ela observa ao seu redor. A

criança parece experimentar um grande prazer em desenvolver uma atividade na

qual cria, variando os processos de agir o observando os resultados. É preciso

apenas que se lhe dê condições para tanto, não interferindo.

O papel do adulto no brincar-jogar da criança é fundamental. A forma de

relação estabelecida por ele irá incidir diretamente no desenvolvimento integral da

criança, e sua postura poderá facilitar ou dificultar o processo de aprendizagem

infantil. O investimento na qualidade dessa relação é imprescindível em qualquer

espaço de educação, seja ele formal ou informal.

21

3. BRINCADEIRA É COISA DE CRIANÇA

O brincar é um direito da criança, e este direito é reconhecido em

declarações, convenções e leis, como nos mostram a Convenção Sobre os

Direitos da Criança de 1989, adotada pela Assembléia ds Nações Unidas, a

Constituição Brasileira de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990.

Todas são conquistas importantes que colocam o brincar como prioridade, sendo

direito da criança e dever do Estado, da família e da sociedade.

Essa é uma questão legal e aceita por todos. Dificilmente alguém questiona

tal direito, mas sabe-se, por outro lado, que ele não está sendo cumprido. Muitas

crianças não brincam, enquanto outras brincam pouco. E as razões desse não

brincar se manifestam de diversas formas. Muitas crianças perdem o direito de

brincar nos primeiros anos de sua infância, por deficiência física ou mental ou por

estarem hospitalizadas, e há outras ainda que trabalham para ajudar os pais no

sustento da família. A ausência do brinquedo, entretanto, não as impede de

brincar, pois elas usam a imaginação. Contudo, sabemos que o brinquedo é um

suporte material que facilita o ato de brincar.

Não se pode esquecer, no entanto, que também, as crianças das classes

média e alta muitas vezes são tolhidas em seu direito de brincar pois seus pais as

matriculam em diversos cursos (natação, dança, ginástica, música, judô, etc.)

como se isso fosse o melhor para elas, levando-as em alguns casos, ao estresse

infantil, causado pelo cansaço físico e pela ansiedade.

Um outro aspecto a citar é que a falta de espaço físico ocasionada pelo

progresso da civilização tem dificultado o ato de brincar. O planejamento urbano

esqueceu-se das praças e jardins, as casa perderam os quintais e transformaram-

se em minúsculos apartamentos, as praças e as ruas tornaram-se violentas, as

mães que tomavam conta dos filhos abraçaram o mercado de trabalho, e as

crianças ficaram com pouco espaço físico para sua ludicidade.

A expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de forma crescente nas ultimas décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a participação da mulher no

22

mercado de trabalho e as mudanças na organização e estrutura das famílias. Por outro lado, a sociedade está mais consciente da importância das experiências na primeira infância, o que motiva demandas por uma educação institucional para crianças de zero a seis anos (BRASIL, ano 1998).

É necessário considerar sempre, o brincar como um ato de grande

importância, que oportunize a criança a escolher entre os múltiplos tipos de

brinquedos oferecidos na sociedade. Podemos afirmar, que tanto as brincadeiras

de roda cantadas, as dramatizações, brinquedos artesanais, brinquedos

industrializados são todos imprescindíveis na vivência infantil. A brincadeira

utilizada como instrumento didático é concebida como preparação para

escolaridade futura. A brincadeira deve ser um dos eixos da organização do

trabalho pedagógico. Uma das características principais do brinquedo é a

motivação que ele proporciona para a criação do mundo imaginário vital para o

desenvolvimento global do ser humano. O brinquedo é o mecanismo na sua

função poética, ou seja, para além da sua função prática. Um brinquedo serve

para brincar: para desenvolver habilidades que fogem ao controle do olhar

produtivo, seja pedagógico ou econômico. Está presente no nosso meio físico e

social, pois o brincar é um modo de habitar o mundo, quando a criança brinca ela

faz cultura, atribui sentido ao viver, produz significado e contribui com a formação

de um cidadão crítico e atuante.

3.1. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Cabe ao professor, aplicar a brincadeira, não apenas pela motivação que

ela desperta, mas por todo o contexto que nela está implícito, ele deve sentir o

momento e a forma adequada de utilizar as atividades lúdicas e ter bem definido,

antes da aplicação da brincadeira, aquilo que é relevante e necessário para o que

se quer trabalhar.

23

Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a educação para as

crianças pequenas deva promover a integração entre o aspectos físicos,

emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que este é um

ser completo e indivisível, nem todas as pessoas que convivem com a criança se

preocupam com o que a mesma faz de mais importante na vida: brincar.

Repetindo brincadeiras à exaustão, a criança digere as emoções, confirma

e consolida um aprendizado. Jogando com os outros, começa a perceber regras,

sorte, possibilidade e conhece o valor da perseverança. A criança brinca

instrutivamente para descobrir o mundo e se ajustar a ele. Empilhando e

encaixando peças, ela adquire noções espaciais e faz as primeiras tentativas de

organização do mundo.

Quando produz sons batendo objetos, desenvolve conexões mentais e

corporais que vão ajudá-la a falar e a andar.

O discurso sobre o jogo está presente, mas se desenvolve sob a forma de acordo que assegura ao professor o controle dos objetivos (BROUGÈRE, 1998, p. 204).

Para Piaget, por meio da atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a

realidade a si própria, atribuindo, então ao jogo um valor educacional muito

grande. Neste sentido, propõe-se que a escola possibilite um instrumental à

criança para que, por meio de jogos, ela assimile as realidades intelectuais, a fim

de que estas mesmas realidades não permaneçam exteriores à sua inteligência

(BRENELLI, 2002, p. 21)

A perspectiva teórica do sociointeracionismo desta o papel do adulto frente

ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas

e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua auto-estima e

desenvolver suas capacidades.

A auto-estima refere-se à capacidade que o indivíduo tem de gostar de si

mesmo, condição básica para se sentir confiante, amado, respeitado. Tal

capacidade, porém, não se instala no indivíduo como num passe de mágica, mas

faz parte de um longo processo, que tem sua origem ainda na infância. Cabe ao

adulto ajudar na construção da auto-estima infantil, fornecendo à criança uma

24

imagem positiva de si mesma, aceitando-a e apoiando-a sempre que for preciso.

No entanto, algumas práticas podem ser prejudiciais ao bom andamento desse

processo, como por exemplo, a colocação de apelidos pejorativos nas crianças

(‘manhosa’, ‘maluco’, ‘burro’, etc.).

Os profissionais das escolas infantis precisam manter um comportamento

ético para com as crianças, não permitindo que estas sejam expostas ao ridículo

ou que passem por situações constrangedoras. Alguns adultos, na tentativa de

fazer com que as crianças lhes sejam obedientes, deflagram nelas sentimentos de

insegurança e desamparo, fazendo-as sentirem temerosas de perder o afeto, a

proteção e a confiança dos adultos.

Outro aspecto a ser considerado diz respeito às simpatias que os adultos

desenvolvem em relação a algumas crianças. Estas, por sua vez, também têm

suas preferências, identificando-se mais com algumas pessoas do que com

outras. No entanto, o profissional da educação deve tratar a todas com igual

distinção. Isto implica não elogiar apenas uma criança (a mais simpática, a mais

cheirosa, por exemplo), em detrimento das outras, que podem se sentir rejeitadas,

caso não recebam o mesmo tratamento. As atenções e os elogios devem ser

dados a todas, não importando a cor da pele, a condição social, se são meninas

ou meninos, se têm este ou aquele credo religioso ou ainda se pertencem à

determinada família. Os adultos também devem evitar qualquer fala ou ação que

possa dar margem a atitudes preconceituosas ou discriminatórias em relação a

pessoas ou grupos. O papel do professor é visto basicamente como o de

encorajar, estimular e apoiar a exploração e a invenção (construção).

É óbvio que o professor enquanto organizador permanece indispensável no sentido de criar as situações e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os problemas significativos à criança. Em segundo lugar, ele é necessário para proporcionar contra-exemplos que forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápidas. O que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em transmitir soluções prontas, o seu papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a iniciativa e a pesquisa (PIAGET apud WADSWORTH, 1997, p. 13).

25

3.2. APRENDER BRINCANDO

Quanto mais a criança brincar, mais saudável ela será. Pois a brincadeira

lhe prepara para a vida. Brincando a criança faz bagunça, algazarra, desordem e

isto a auxilia a resolver questões de sua vida e a mesma está aprendendo.

Muitas das descobertas que a criança faz sobre o mundo que a cerca é

enquanto brinca. Não importa se sozinha, com um amigo imaginário, com um

irmão ou vizinho, com outras crianças. Isto significa que em grupo ou só a criança

brinca e assim há possibilidade de ampliar sua experiência. Pois o brincar é

atividade própria da infância.

A brincadeira de faz-de-conta constitui um contexto onde se produz um tipo

de comunicação rica em matizes e que possibilita às crianças indagar sobre seus

próprios pensamentos e pôr à prova seus conhecimentos no uso interativo de

objeto e conversação. Ela é governada por regras ( as da imaginação ), o que

limita as crianças, mas, ao mesmo tempo, as libera, ou seja, as ajuda a dominar

impulsos imediatos e a controlar-se.

Há fatores que interferem no processo educativo das crianças pequenas,

fatores como o despreparo dos profissionais que lidam com a criança pequena. A

falta de respeito à criança pequena no sentido de conhecer seu “tempo” de

brincar. Há uma fragmentação cabeça-corpo e cognição-afeto socialmente

elaborada e incorporado por muitos educadores. Muitos educadores costumam

valorizar ações copiadas de modelos escolares tradicionais, há o problema do

espaço inadequado para as vivências da criança, restrição somente às

brincadeiras orientadas ou jogos de regras. Brincadeiras a serem vivenciadas

apenas como uma atividade para preencher o tempo de espera ou um prêmio

para o bom comportamento.

O adulto deve permitir à criança a exploração do espaço, ser mais tolerante

em propor não apenas atividades fechadas à criança, pois isso interfere no

processo de desenvolvimento infantil. O professor centraliza o processo de

26

ensino-aprendizagem, estruturado em ‘disciplinas’ que fragmentam o

conhecimento.

Em contrapartida tem-se que valorizar a criança desde bebê, pois o

aprender deve ser uma experiência significativa para ela e integrar aquilo que é

novo e ao que ela já conhece. Não confundindo a espontaneidade da criança com

práticas improvisadas e sem intencionalidade. As experiências, vivências, saberes

e interesses infantis são pontos de partida para que novos conhecimentos sejam

por ela apropriados.

O professor educa e cuida da criança pequena quando acolhe a mesma

nos momentos difíceis e a faz sentir-se confortável e segura, a orienta sempre que

necessário, organiza e dá oportunidade para que as crianças compartilhem

experiência e saberes, garante uma experiência bem-sucedida de aprendizagem

para todas as crianças com as quais trabalha, combate preconceitos e

discriminações de raça, etnia, credo e condição social, fortalece a auto-estima e a

solidariedade de todas as crianças, apresenta às crianças o que há de encantador

no mundo da música e das artes, da natureza e da sociedade.

É importante inserir no contexto escolar planejamentos didáticos, projetos,

investir no aperfeiçoamento do profissional que lida com as crianças pequenas,

proporcionar que as crianças vivenciem diferentes situações nas quais tenham

constante oportunidade de escolha, exercitem sua autonomia, conheçam as suas

próprias necessidades, preferências e desejos ligados a construção do

conhecimento e ao relacionamento interpessoal.

Considerar que as crianças necessitam envolver-se com diferentes

linguagens e valorizar o lúdico, as brincadeiras, as culturas infantis.

Reconhecer que elas aprendem coisas que lhes são muito significativas

quando interagem com companheiros da infância e que são diversos das coisas

que elas se apropriam no contato com os adultos ou com crianças já mais velhas.

A criança pode ter experiência com variados objetos da cultura por meio de

atividades como cantar, tocar instrumentos musicais, ouvir estórias, brincar com

areia e água, modelar com argila ou massa, pintar, passear, construir com blocos,

27

compor quebra-cabeças, brincar com animais e cuidar deles, realizar brincadeiras

no pátio.

Brincar de faz-de-conta é uma criação de uma situação imaginária. A tarefa

das instituições de educação infantil de garantir às crianças seu direito de viver a

infância e desenvolver-se é hoje associada a organização de situações

agradáveis, estimulantes, que assegurem a sua apropriação da cultura sendo

historicamente constituída.

Levando-se sempre em conta que o desafio não é só a escolarização, é

também com o cotidiano da criança levando-se em consideração os vários

espaços que a criança pequena ocupa, pois no conjunto desses espaços

ocupados se realizará a herança da espécie. A criança tem condições de se

apropriar da cultura e dos conhecimentos para dar continuidade ao percurso que o

ser humano realiza há muitos anos.

28

CONCLUSÃO

Nas duas últimas décadas, as expectativas da sociedade em relação aos

objetivos educacionais sofreram grandes transformações. Na escola de hoje

espera-se que a mesma seja capaz de promover o desenvolvimento de

competências para que o conhecimento contribua para uma formação abrangente,

permitindo o envolvimento da aprendizagem em todas as áreas culturais. Os

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, publicados pelo Ministério da

Educação e Cultura nos últimos anos, fornecem subsídios para promoção desse

tipo de escolaridade, na qual o espaço curricular dedicado às diferentes áreas do

conhecimento é redimensionado, apontando para sua importância na formação

integral das novas gerações.

Dentro dessa perspectiva, a brincadeira deve ser vista como um

instrumento didático indispensável como preparação para escolaridade futura,

através da sua transformação em exercícios e treinamentos. O educador usa a

brincadeira para ensinar e como forma de sedução e treinamento para a

aprendizagem. Lembrando-se sempre que o desafio não é só escolarização. É

também com o cotidiano da criança levando-se em consideração os vários

espaços que a criança pequena ocupa, pois no conjunto desses espaços

ocupados se realiza a herança da espécie.

É fundamental que se compreenda que o brincar faz parte do mundo

infantil, ele é uma atividade natural, espontânea e necessária para a criança,

constituindo-se por isso peça importantíssima na sua formação. Pois é

imprescindível a criança brincar, pois brincando a mesma experimenta, descobre,

inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade e a

autonomia proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da

concentração e da atenção. Seu papel transcende o mero controle de habilidades,

é muito mais abrangente. Sua importância é notável já que através dessas

atividades a criança constrói seu primeiro mundo. Brincar é uma atividade

essencialmente humana, principal modo de expressão da infância. É a ferramenta

29

por excelência para a criança aprender a viver, revolucionar sua experiência e

criar cultura, a criança se humaniza e se constitui como sujeito histórico-social.

Não podemos subestimar a importância do aspecto funcional do brinquedo

cujas conseqüências, no nível de desenvolvimento da criança, parecem

importantes. Considera-se que as dimensões funcionais e simbólicas encontram-

se imbricadas entre si. Função e símbolo estão, na maioria das vezes ligadas e

são indissociáveis no brinquedo.

Para finalizar ressaltamos que cabe ao adulto ampliar as experiências das

crianças, abrir caminhos a conhecimentos que não são constituídos

espontaneamente no ser humano, incentivar a narrativa em todas as suas formas,

e expressão das idéias e dos sentimentos.

Para alcançar tais objetivos é necessário, não ver a criança como um ser

incapaz, identificar as suas inúmeras capacidades e oferecer à mesma,

possibilidades de que elas sejam ampliadas, sedimentadas, desenvolvidas, no que

diz respeito a sua individualidade e da participação cultural e social.

Espera-se que as escolas de Educação Infantil sejam capazes de promover

o desenvolvimento de competências para que o conhecimento contribua para a

formação integral da criança, permitindo a ampliação dos conhecimentos em toda

a esfera educacional. Compete a essas instituições ajustar a brincadeira à

realidade da criança. Construir uma ação pedagógica que contemple este

processo didático de formação humana envolvendo adultos e crianças é, sem

dúvida, um dos grandes desafios que enfrentamos na educação infantil em todo o

mundo.

É imprescindível a criança brincar, pois brincando a mesma experimenta,

descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade

e a autonomia proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento,

da concentração e da atenção. É necessário que a escola se transforme num

espaço de produção de conhecimento e, de formação e prática inovada, gerada

pela ação do professor investigador, com uma visão crítica da realidade. Percebe-

se através do que foi exposto, o valor educativo que a prática lúdica possui e

30

conclui-se que para uma educação infantil de qualidade é preciso adequar o lúdico

aos aspectos inerentes ao desenvolvimento infantil tais como: a importância do

espaço organizado adequado para realização de tarefas conjuntas de todo grupo,

que sejam amplos e bem diferenciados. Os currículos não podem substituir, em

nenhuma situação, o valor educativo da autonomia e da iniciativa própria das

crianças. Mas, ao mesmo tempo, os professores também precisam planejar

momentos nos quais o trabalho esteja orientado para o desenvolvimento daquelas

competências específicas que constam na proposta curricular. Deve-se ter

atenção privilegiada aos aspectos emocionais pois para que haja um progresso

infantil satisfatório requer que sejam criadas oportunidades de expressão emotiva,

de maneira que as crianças, mediante os diversos mecanismos expressivos, vão

reconhecendo cada vez mais as suas emoções e sendo capaz de controlá-las

gradativamente. Tudo na educação infantil é influenciado pelos aspectos

emocionais, desde o desenvolvimento psicomotor até o intelectual, o social e o

cultural. A emoção age, principalmente, no nível de segurança das crianças, já a

insegurança provoca medo, aumenta a tendência a condutas defensivas.

É preciso, então, criar um ambiente no qual a linguagem seja a grande

protagonista, pois todos deveriam ter consciência de que a linguagem é uma das

peças-chave na Educação Infantil. É necessário que haja diferenciação de

atividades para abordar todas as dimensões do desenvolvimento e todas as

capacidades da criança. As rotinas estáveis desempenham, de uma maneira

similar aos espaços, um papel importante no momento de definir o contexto no

qual as crianças se movimentam e agem. Estas são organizadoras estruturais das

experiências cotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do

processo a ser seguido e, ainda, substituem a incerteza do futuro. Na sala de aula

os materiais devem ser diversificados e polivalentes, alguns mais formais e outros

provenientes da vida real, de alta qualidade ou descartáveis, de todas as formas e

tamanhos, etc.

Deve-se dar atenção individualizada a cada criança, sabe-se que pensar

em dar atenção a cada criança de maneira separada durante todo o tempo é uma

31

fantasia. Ainda mais em contextos onde uma única professora atende a um grupo

de 15 a 25 crianças por sala de aula. Mas parcialmente o professor deve manter

esse contato com seu aluno. Uma condição importante para o desenvolvimento de

um programa de Educação Infantil é a sistematização do processo em seu

conjunto, utilizando-se um sistema de avaliação, anotações, etc., que permitam o

acompanhamento global do grupo e de cada uma das crianças.

É de suma importância o trabalho integrado com os pais e as mães e com o

meio ambiente, pois facilitará o cumprimento de um dos objetivos básicos da

Educação Infantil, que as crianças conheçam cada vez melhor o seu meio de vida

e tornem-se donas do mesmo para ir crescendo com autonomia.

Como garantir o direito da criança brincar, se a escola, local em que as

crianças permanecem por muito tempo, pouco se brinca, e o brincar é

desprezado? Só há um caminho: educar para o brincar, como se educa para o

trabalho, para a cultura, para a adaptação social e para o aperfeiçoamento moral.

32

REFERÊNCIAS CITADAS

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34

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REVISTA VEJA. Edição Especial – Sua Criança: do nascimento até os 5 anos.

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Artes Médicas, 1995.

TECENDO A LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Recife, 2005 (monografia).

36

ÍNDICE

Folha de Rosto .......................................................................................................02

Reflexão .................................................................................................................03

Agradecimentos .....................................................................................................04

Resumo ..................................................................................................................05

Metodologia ...........................................................................................................06

Sumário ..................................................................................................................07

Introdução ..............................................................................................................08

1. Proposta Curricular: Assistencialismo e Educação ...........................................10

1.2. A Criança: Educar x Cuidar ............................................................................11

2. Reflexão Sobre o Brinquedo ..............................................................................17

2.1. Lúdico, Prazer e Educação .............................................................................18

3. Brincadeira: é coisa de criança ..........................................................................21

3.1. O Professor de Educação Infantil ...................................................................22

3.2. Aprender Brincando ........................................................................................25

Conclusão ..............................................................................................................28

Referências Citadas ...............................................................................................32

Referências Consultadas .......................................................................................34

Índice .....................................................................................................................36