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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS
ORIENTADOR (A):
PROF.: PRISCILA BARCELLOS
RECIFE/PE
AGOSTO / 2006
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SUELI BEZERRA ALVES DOS SANTOS
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Especialista em Educação Infantil e
Desenvolvimento.
RECIFE/PE
AGOSTO / 2006
“Fomos crianças e experimentamos... E onde ficou
esse nosso experimentar? Nem nos lembramos mais... E a
nossa fantasia? Em algum canto do nosso ser pode ter
certeza, adormecida, porém latente...
A criança brinca, enfrenta desafios e transforma em
“novo” quando troca, retroca, pinta, repinta, entra, sai, puxa,
leva, trás... É frio, é quente, é grande, é pequeno. Tudo é
brincadeira! Tudo é construção! E quando nos damos a
oportunidade de sermos espontâneos e criativos,
descobrimos aquela criança tolhida e podada em sua “trela”,
em sua “arte”, em seu construir.
Se nos esforçarmos em facilitar, para que aconteça o
“redesabrochar” da criança que fomos e que temos
esquecida no “eu” de cada um de nós, vamos encontrar o
caminho para mergulhar na verdade do mundo infantil, pois
o processo do seu crescimento é essencialmente norteado
pelo lúdico que permite à criança colocar em evidência, suas
idéias, angústias, necessidades, satisfações, resolver seus
conflitos, aprender e apreender, e, sobretudo, festejar o
prazer na autoria de construção do saber”.
Autor desconhecido
AGRADECIMENTOS
A Deus, princípio da minha vida e jamais o fim. A todos que um dia pararam
para me ouvir e que me ensinaram o necessário para seguir em frente.
Agradeço à luz que nos momentos de incerteza, colocou-se à minha frente,
dando-me forças e abrindo minha mente para novas idéias. A minha mãe que
graças a ela eu sou quem sou e a quem enalteço toda sua maestria em educar-
me.
À minha família que é meu porto seguro, especialmente ao meu
companheiro Normando Jurema pelo apoio, incentivo constante e força nas horas
difíceis. À minha orientadora Priscila Barcellos que me auxiliou na elaboração
deste trabalho com paciência e seriedade. À minha irmã Vilma pelo grande
incentivo.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste
trabalho.
RESUMO
A importância do brincar na Educação Infantil foi o tema escolhido para a
execução deste estudo que visou justificar a importância do brincar na prática
pedagógica e sua relação com o processo ensino-aprendizagem. Para
estruturação deste estudo foram utilizadas pesquisas bibliográficas privilegiando a
brincadeira como condição de todo processo evolutivo neuro-psicológico saudável
na vida da criança pequena e sua eficácia no seu dia-a-dia. Justificou-se o porquê
do professor levar a brincadeira para a sala de aula, pois durante muito tempo, o
aluno foi um agente passivo na educação e o professor um transmissor de
conteúdos. Verificou-se que seu interesse passou a ser a força que comanda o
processo da aprendizagem, suas experiências e descobertas o motor de seu
progresso e, o professor um gerador de situações estimuladoras e eficazes. É
nesse contexto que a brincadeira ganha espaço, como a ferramenta ideal de
aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse da criança,
desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social, ajuda-o a
construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e
simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de
condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. Buscou-se melhor
compreensão com a transição entre instituições assistencialista e educacional que
atendem crianças na faixa etária de zero a seis anos. Enfatizou-se a importância
do brinquedo e sua enorme influência no desenvolvimento da criança. Hoje
aprendemos que a construção do conhecimento deve partir sempre do aluno.
Dessa forma, o aluno passou a ser um desafio ao professor e ao contexto escolar,
de um modo geral. Uma das características principais do brinquedo foi
evidenciada neste trabalho, devido a brincadeira ser insubstituível, desde pequena
a criança adquire habilidades e hábitos sociais, criando uma situação imaginária
no brinquedo.
METODOLOGIA
O presente trabalho foi elaborado tomando por base o método de
abordagem dedutivo, utilizando-se como técnica de pesquisa a documentação
indireta, através de pesquisa bibliográfica em livros, revistas, artigos na Internet e
monografias.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................08
1. PROPOSTA CURRICULAR: ASSISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO ................10
1.2. A CRIANÇA: EDUCAR X CUIDAR ................................................................11
2. REFLEXÃO SOBRE O BRINQUEDO ...............................................................17
2.1. LÚDICO, PRAZER E EDUCAÇÃO ................................................................18
3. BRINCADEIRA É COISA DE CRIANÇA ...........................................................21
3.1. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................22
3.2. APRENDER BRINCANDO ............................................................................25
CONCLUSÃO ........................................................................................................28
REFERÊNCIAS CITADAS ....................................................................................32
REFERÊNCIAS CONSULTADAS .........................................................................34
ÍNDICE ...................................................................................................................36
8
INTRODUÇÃO
A importância do brincar na Educação Infantil foi o tema eleito para
execução desta monografia e visa justificar a importância do brincar na prática
pedagógica e na educação infantil.
De acordo com Oliveira (1995, p.15), o brincar da criança, do nascimento
aos seis anos, tem significação especial para a psicologia do desenvolvimento e
para a educação em suas ramificações e implicações, uma vez que:
- É condição de todo o processo evolutivo neuro-psicológico saudável, que
se alicerça neste começo;
- Manifesta a forma como a criança está organizando sua realidade e
lidando com suas possibilidades, limitações e conflitos, já que, muitas vezes, ela
não sabe, ou não pode, falar a respeito deles;
- Introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e eficiente ao universo
sócio-histórico-cultural;
- Abre caminho e embasa o processo de ensino-aprendizagem
favorecendo a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade.
Assim sendo, a questão central deste trabalho é investigar que fatores
favorecem ou dificultam uma prática pedagógica na educação infantil.
Objetivamos assim identificar as necessidades da brincadeira na Educação
Infantil, evidenciar os fatores que contribuem para uma prática pedagógica
satisfatória, propor algumas alternativas para os entraves detectados no dia-a-dia
em relação à Educação Infantil, evidenciar a eficácia da brincadeira no processo
de desenvolvimento da criança, descrever o atual reconhecimento do direito da
criança de brincar no seu cotidiano escolar e familiar.
No primeiro capítulo buscou-se a fundamentação teórica para melhor
compreender a transição entre instituição assistencialista e educacional, ainda
nesse capítulo buscou-se enfatizar a relação entre o cuidar e o brincar. No
segundo, apresentou-se um embasamento teórico sobre a importância da
9
brincadeira para o processo de ensino-aprendizagem e apresentou-se uma
reflexão sobre a importância da brincadeira no processo de desenvolvimento
infantil.
No terceiro capítulo buscou-se esclarecer os benefícios da brincadeira na
vida da criança, bem como justificar porque o professor deve levar a brincadeira
para sala de aula e paradigmas que impedem a utilização de atividades lúdicas
pela maioria dos professores. Explorou-se a importância do aprender brincando,
os benefícios que essa ferramenta proporciona ao educador e ao educando, por
servir de mecanismo complementar na construção do pequeno ser e do
conhecimento.
10
1. PROPOSTA CURRICULAR: ASSISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO
As instituições que atendem crianças pequenas ao longo de sua história
divergem sobre sua finalidade social, pois a maioria destas instituições nasceu
com o objetivo de atender às crianças de baixa renda e tinham como objetivo
maior combater a pobreza e conseqüentemente solucionar problemas ligados à
sobrevivência das mesmas.
Levando-se em consideração sua atuação só para compensar as carências
das crianças e suas famílias estas instituições serviam como instrumento só para
pobres, estigmatizando assim, a população de baixa renda. A assistência era
entendida como um “favor” que marcava sua atuação com caracteres
assistenciais, não considerando as questões de cidadania e levando-se em conta
as idéias de liberdade e igualdade.
Para mudar esta visão assistencialista de atender as crianças pequenas é
preciso assumir as características específicas da educação infantil e rever
concepções sobre a infância, relações entre classes sociais, responsabilidades da
sociedade em geral e o papel do Estado perante as crianças que compõem a
educação infantil.
Para que haja uma educação infantil de qualidade é necessário rever a
concepção de instituição assistencial e passar a promover a integração entre os
aspectos que envolvem a criança pequena e trabalhar cada um desses aspectos
especificamente.
Esses aspectos seriam de ordem social, lúdico, econômico, emocional,
físico, afetivo e cognitivo.
As propostas curriculares para crianças pequenas devem estar vinculadas
às características sócio-culturais da comunidade na qual a instituição está
inserida, bem como suas necessidades e expectativas.
Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei 9394, promulgada em dezembro de 1996, estabeleceu de forma
11
incisiva o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a
educação, no artigo 29, que descreve o seguinte:
A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29) tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade (BRASIL, 1998, p. 11).
Nos últimos anos, a Educação Infantil vem ganhando destaque no cenário
educacional brasileiro. A instituição assistencial dá lugar no cenário nacional ao
campo educacional no que tange a Educação Infantil e constitui um espaço de
inserção de crianças pequenas nas relações éticas e morais da sociedade.
No título III do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4º, IV, afirma
que: “o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a
garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de
zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1998)
Tanto as creches para as crianças de zero a três anos como as pré-
escolas, para as de quatro a seis anos, são consideradas como instituição de
educação infantil. A distinção entre ambas é feita apenas pelo critério de faixa
etária.
1.1. A CRIANÇA: EDUCAR X CUIDAR
A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico, faz parte
de uma organização familiar inserida em sua sociedade, com determinada cultura
em um determinado momento histórico. É marcada pelo meio social em que se
desenvolve, e a família é um ponto de referência fundamental, apesar de
interações que a criança estabelece com outras instituições.
Educar é ensinar a criança a conhecer e a cuidar de seu corpo, de sua
saúde e formar hábitos. Ir mostrando a transformação das coisas realizadas
através do trabalho do homem. Auxiliando-a na exploração de seu ambiente,
12
colaborando na aprendizagem e domínio da linguagem falada e escrita, ouvindo-a,
estimulando-a a contar estórias e fatos que ela vivencia. É, também, transmitir à
criança conhecimentos que já foram acumulados pela humanidade. É preciso que
a criança haja, que ela execute a ação e que ela veja, também, o resultado de sua
ação e que, se não der certo, que ela tente outra vez.
Cuidar de uma criança em um contexto educativo significa valorizar e
desenvolver habilidades. A base do cuidado humano é compreender como ajudar
o outro a se desenvolver como ser humano. As atitudes e procedimentos de
cuidados são influenciadas por crenças e valores em torno da saúde, da educação
e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades humanas básicas sejam
comuns, como alimentar-se, proteger-se, etc. podem ser modificadas e acrescidas
de outras de acordo com o contexto sócio-cultural. Pode-se dizer que além
daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são também
base para o desenvolvimento infantil. O cuidado precisa considerar, as
necessidades das crianças que quando observadas, ouvidas e respeitadas,
podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Cuidar
da criança é, sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo
crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando
e respondendo às suas necessidades.
Nas ultimas décadas, os debates apontam para a necessidade de que as
instituições de Educação Infantil incorporem as funções de educar e cuidar, não
mais diferenciando e hierarquizando os profissionais e instituições através de
concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos
sociais, ambientais, culturais, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem
elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais
variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma.
O trabalho com crianças pequenas, hoje exige uma integração dos dois
termos numa só meta: mediar o desenvolvimento sócio-cultural de nossas
crianças desde seu nascimento. Quando a criança percebe que está sendo
cuidada, sente-se segura. Aos poucos ela vai adquirindo autonomia e o que era
13
feito com o auxilio de alguém, ela começa a tentar fazer sozinha, até o momento
em que se torna independente, cuidando de si mesma. As atividades de
cuidado/educação de crianças cujos direitos são reconhecidos e respeitados pela
instituição e por seus educadores devem envolver o cultivo da identidade familiar,
do gênero e da raça. A indissociabilidade entre cuidado e educação precisa
permear todo o projeto pedagógico de uma creche, pré-escola ou escola.
Os cuidados com as crianças ganham outras amplitudes e alcances quando
a escola revela sua função, que a transformação cultural dos objetos de
conhecimento. Sem deixar de alimentá-las com comida, os adultos devem
também alimentá-las com informações sem deixar de cuida da higiene física, o
professor também cuidará da higiene mental – sua e de seus alunos, na medida
em que todos estarão em um ambiente efervescente de criação e descoberta; e os
educadores e crianças poderão conhecer e executar seus afetos em situações de
trabalho cooperativo.
A educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária, como sabemos, têm necessidade de atenção, carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam contato com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as pessoas e as coisas deste mundo e com as formas de expressão que nele ocorrer. Esta inserção das crianças no mundo não seria possível sem que atividades voltadas simultaneamente para cuidar e educar estivessem presentes. O que se tem verificado, na pratica, é que tanto os cuidados como a educação, têm sido entendidos de forma muito estreita (BUJES, 2001, p. 16).
As crianças de até seis anos têm o direito de ser cuidadas e educadas
através de uma ação conjunta da família, sociedade e Estado, tendo a
oportunidade de desenvolver sua identidade, autonomia e potencialidades, além
de exercitar seus direitos e deveres como cidadãos.
Cuidar e educar são funções que implicam observar as necessidades e
interesses da criança, levando em consideração a sua identidade, a do/a
profissional, e da instituição e a do ambiente social e cultural. A criança se
14
constitui como pessoa na relação com os adultos e com as outras crianças. É
assim que, gradativamente, vai compreendendo o meio em que vive e se torna um
ser agente de transformação, rumo a uma melhor qualidade de vida.
Uma educação que cuida da criança propõe metas valiosas e sua
aprendizagem e desenvolvimento e seleciona experiências de aprendizagem
socialmente relevantes e pessoalmente significativas.
Muitos educadores que trabalham com crianças pequenas costumam
valorizar ações copiadas de modelos escolares tradicionais nas tarefas cotidianas
que lhes propõe: atividades dirigidas usando apenas papel, tinta e lápis. Eles
conhecem apenas o modelo de organização do ambiente para ações centradas no
professor e por ele controladas e acreditam que elas têm maior resultado
pedagógico. Eles desconhecem outras formas mais adequadas de organizar
situações de vivência, aprendizagem e desenvolvimento para as crianças
pequenas. Em resposta a isso tem-se que reconhecer que a criança, desde bebê,
tem “voz” própria e deve ser ouvida, pois é produtora de conhecimento, de cultura
e de uma identidade pessoal.
Hoje em dia, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho e o conseqüente aumento de participação efetiva das instituições na educação infantil no desenvolvimento da criança, é importante que se reflita cuidadosamente sobre a necessidade de se organizar um ambiente propicio, que respeite necessidades básicas neuropsicológicas da criança como indivíduo ativo e social (OLIVEIRA, 2002, p. 103).
Os diferentes ambientes das creches e das pré-escolas devem ser
organizados de modo a propiciar às crianças oportunidades para ampliar suas
experiências no mundo da natureza e da cultura, produzir novas significações e
renovar sua cultura. Para tanto, faz-se necessário superar o modelo pedagógico
centrado no adulto e construir:
1. um ambiente aberto à exploração do lúdico;
2. lugares onde crianças e adultos possam se engajar em atividades culturais
cujos aspectos cognitivos, estéticos e éticos sejam continuamente re-
significados;
15
3. um cotidiano que integre uma postura de cuidado à educação, traduzindo
em ações os Direitos da Criança;
4. uma atmosfera de tolerância, respeito e curiosidade para com as culturas
locais, as famílias, suas comunidades e seus modos próprios de viver;
5. um ambiente onde o relacionamento das crianças e educadores possibilita
que o espaço ganhe cores e sons, cheiros e sabores, objetos e memórias;
6. a presença de materiais variados e sempre acessíveis às crianças;
7. a organização de rotinas de atividades orientadoras das ações infantis.
As mudanças mais enriquecedoras nascem no dia-a-dia das pré-escolas, que
reúnem muitos brasileirinhos. Em todo o país, propaga-se a idéia de que cabe à
creche/escola garantir não apenas o direito de brincar e receber cuidados, mas
também o de ampliar conhecimentos.
Não é uma mudança simples. Por trás dela há uma concepção sobre como
pensam essas crianças. Apesar de pouca idade as crianças já sabem muita coisa
do mundo que a cerca. O problema é que nem sempre isso é levado em conta.
A transição pela qual a Educação Infantil passa não é causada só pelas
inovações no campo pedagógico, como também pela transparência da área
assistencial para a da educação, pois até alguns anos atrás, os profissionais
tinham a preocupação de alimentar, higienizar, mas esqueciam que educar se
constitui num espaço de inserção dos pequenos nas relações éticas e morais da
sociedade.
Ao adulto cabe a importante tarefa de tornar efetivas as possibilidades de desenvolvimento da espécie, principalmente proporcionando à criança pequena um contexto de desenvolvimento que priorize formas de atividades que ela precisa realizar para aprender, que facilite os processos interativos entre as crianças e outras pessoas, que torne acessíveis todos os bens culturais que permita a experimentação e a exploração própria da idade. Enfim, que ofereça uma qualidade de ação e interação com a criança de forma que esta possa tirar o máximo proveito das mediações para o seu desenvolvimento psicológico (LIMA, 2001, p. 27).
16
Aos adultos cabe o desafio de não atrapalhar esse desenvolvimento,
estimulando a brincadeira e interferindo o menos possível. Um dos valores mais
importantes que a criança aprende brincando é que, quando perdemos, o mundo
não acaba. Para isso os adultos não devem passar à criança a impressão de que
o mais importante é vencer. Em vez disso, convém enfatizar a diversão: a criança
precisa entender que perder não a torna inferior e ganhar não demonstra
superioridade.
A brincadeira é o melhor meio para quebrar as diferenças existentes entre
as classes sociais é um eficaz meio de promoção do conhecimento e vivência dos
aspectos emocionais, constituindo um verdadeiro gerador de democracia social.
17
2. REFLEXÃO SOBRE O BRINQUEDO
Brincar é coisa séria, porque na brincadeira não há trapaça; há a
sinceridade, engajamento voluntário e doação. É brincando que a criança
mergulha na vida sentindo-a na dimensão de suas possibilidades. No espaço
criado pelo brincar, nessa aparente fantasia, acontece a expressão de uma
realidade interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às
expectativas sociais e familiares. A brincadeira espontânea proporciona
oportunidades de transferência significativa que resgatam situações conflitivas.
No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado. Embora num exame superficial possa parecer que o brinquedo tem pouca semelhança com atividades psicológicas mais complexas do ser humano, uma análise mais aprofundada revela que as ações no brinquedo são subordinadas aos significados dos objetos, contribuindo claramente para o desenvolvimento da criança (VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 1995 p. 67).
O brinquedo é um convite ao brincar. Facilita e enriquece a brincadeira,
proporcionando desafio, motivação. Ao ver o brinquedo a criança é tocada pela
sua proposta, reconhece umas coisas, descobre outras, experimenta e reinventa,
analisa, compara e cria. Sua imaginação se desenvolve e suas habilidades
também. Enriquecendo seu mundo interior, tem mais coisas a comunicar e pode,
cada vez mais, participar do mundo que a cerca.
No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca como essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma se quisermos conhecer bem as crianças, deve-se conhecer seus brinquedos e brincadeiras. No decorrer do desenvolvimento, várias maneiras de brincar aparecem. Da mesma forma que a criança adquiriu habilidades de andar, falar, escalar alturas, etc., através da prática representativa, ela passa do jogo de exercícios para o jogo simbólico, utilizando o faz-de-conta para se introduzir no mundo dos adultos. Significa que a criança progride da necessidade de experimentar alguma coisa para a habilidade de pensar sobre ela (OLIVEIRA, 2002, p.129).
O brinquedo traduz o real para a realidade infantil. Suaviza o impacto
provocado pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de
18
impotência da criança. O brinquedo espontâneo pode ser considerado sob dois
aspectos: auto-expressão e auto-realização. A nível de auto-expressão estão as
atividades livres, construções, dramatizações, músicas, atividades plásticas etc. A
nível de auto-realização, está o brinquedo organizado, ou seja, aquele que tem
uma proposta e, portanto requer determinado desempenho. Quanto mais simples
o material, mais fantasias exige; quanto mais sofisticado, em maior desafio se
constitui, mas sempre uma oportunidade para que a criança interaja, faça
escolhas e tome decisões.
2.1. LÚDICO, PRAZER E EDUCAÇÃO
O lúdico tem sido, nos últimos tempos, foco de estudos e discussões em
diferentes espaços e instituições, surgindo, como decorrência, implicações deste
no campo do lazer, da saúde, da cultura e da educação.
O comportamento lúdico tem seu início desde o nascimento da criança,
mediante reações espontâneas e prazerosas. Assim o bebê vai respondendo ao
movimento de um objeto próximo de sua vida, seguindo-o com o olhar cujo
comportamento pode revelar expressão de prazer e de distração. A partir desses
primeiros sinais, o brincar vai se configurando ao longo da infância, incluindo a
dramatização, como uma das fases de maior significado no comportamento lúdico.
Esse posicionamento encontra apoio nas idéias de Brougère (1998, p. 11),
ao argumentar, que tais comportamentos, se iniciam já nos primeiros meses de
vida da criança. Para a criança identificar os movimentos com brincadeiras,
“considera necessário que o mesmo se manifeste livremente, embora estimulado
adequadamente pela pessoa que atenda o pequeno”. Segundo o autor, “a criança
nos seus três primeiros meses, pode divertir-se por sua própria conta, com seus
pés ou suas mãos, observando-os e movimentando-os com espontaneidade e
satisfação”.
19
Na concepção de Winnicott (1975, p. 117), “como brincar é um modo
particular de viver”, é preciso aprender a brincar com prazer e, por extensão,
aprender com prazer. A motivação para a atividade lúdica reside exatamente no
fato de correr o risco e no confronto constante com o real que implica. Este é o
trânsito que qualifica brincadeira e realidade. O início das relações entre as
crianças e o mundo se dá através do brincar. Brincando a criança se descobre,
experimenta, cria, relaciona, compreende e transforma, começa lentamente a
construir sua história.
No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca
como essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma, se
quisermos conhecer bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e
brincadeiras.
A infância é, conseqüentemente um momento de apropriação de imagens e
de representações diversas que transitam por diferentes canais. As suas fontes
são muitas. O brinquedo é, com suas especificidades, uma dessas fontes. Se ele
traz para a criança um suporte de ação, de manipulação, de conduta LÚDICA,
traz-lhe, também, forma e imagens, símbolos para serem manipulados.
Nas considerações de Brougère (1998, p.13), “não podemos subestimar a
importância do aspecto funcional do brinquedo cujas conseqüências, no nível de
desenvolvimento da criança, parecem importantes”. Considera ele que as
dimensões funcional e simbólica encontram-se imbricadas entre si. Função e
símbolo estão , na maioria das vezes, ligadas e são indissociáveis no brinquedo.
(FLAVEL, 1998, p. 61), afirma que “o enfoque piagetiano tem seu fundamento no
potencial que a criança traz consigo, como também na sua ação sobre os objetos
e pessoas e em determinadas situações que se lhe apresentam”, com os quais
nestas reflexões identifica-se com brinquedos. É através da integração da criança
com os mesmos que ela vai construindo o seu conhecimento e promovendo suas
habilidades.
Nas orientações de Vygotsky (1984, p. 10), “é o social que vai
decodificando a realidade para a criança, denotando-a e conotando-a segundo
20
sua história de vida e sua cultura”. Nesse sentido, as decisões e atribuições de
valor da criança pequena dependem muito do que ela observa ao seu redor. A
criança parece experimentar um grande prazer em desenvolver uma atividade na
qual cria, variando os processos de agir o observando os resultados. É preciso
apenas que se lhe dê condições para tanto, não interferindo.
O papel do adulto no brincar-jogar da criança é fundamental. A forma de
relação estabelecida por ele irá incidir diretamente no desenvolvimento integral da
criança, e sua postura poderá facilitar ou dificultar o processo de aprendizagem
infantil. O investimento na qualidade dessa relação é imprescindível em qualquer
espaço de educação, seja ele formal ou informal.
21
3. BRINCADEIRA É COISA DE CRIANÇA
O brincar é um direito da criança, e este direito é reconhecido em
declarações, convenções e leis, como nos mostram a Convenção Sobre os
Direitos da Criança de 1989, adotada pela Assembléia ds Nações Unidas, a
Constituição Brasileira de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990.
Todas são conquistas importantes que colocam o brincar como prioridade, sendo
direito da criança e dever do Estado, da família e da sociedade.
Essa é uma questão legal e aceita por todos. Dificilmente alguém questiona
tal direito, mas sabe-se, por outro lado, que ele não está sendo cumprido. Muitas
crianças não brincam, enquanto outras brincam pouco. E as razões desse não
brincar se manifestam de diversas formas. Muitas crianças perdem o direito de
brincar nos primeiros anos de sua infância, por deficiência física ou mental ou por
estarem hospitalizadas, e há outras ainda que trabalham para ajudar os pais no
sustento da família. A ausência do brinquedo, entretanto, não as impede de
brincar, pois elas usam a imaginação. Contudo, sabemos que o brinquedo é um
suporte material que facilita o ato de brincar.
Não se pode esquecer, no entanto, que também, as crianças das classes
média e alta muitas vezes são tolhidas em seu direito de brincar pois seus pais as
matriculam em diversos cursos (natação, dança, ginástica, música, judô, etc.)
como se isso fosse o melhor para elas, levando-as em alguns casos, ao estresse
infantil, causado pelo cansaço físico e pela ansiedade.
Um outro aspecto a citar é que a falta de espaço físico ocasionada pelo
progresso da civilização tem dificultado o ato de brincar. O planejamento urbano
esqueceu-se das praças e jardins, as casa perderam os quintais e transformaram-
se em minúsculos apartamentos, as praças e as ruas tornaram-se violentas, as
mães que tomavam conta dos filhos abraçaram o mercado de trabalho, e as
crianças ficaram com pouco espaço físico para sua ludicidade.
A expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de forma crescente nas ultimas décadas, acompanhando a intensificação da urbanização, a participação da mulher no
22
mercado de trabalho e as mudanças na organização e estrutura das famílias. Por outro lado, a sociedade está mais consciente da importância das experiências na primeira infância, o que motiva demandas por uma educação institucional para crianças de zero a seis anos (BRASIL, ano 1998).
É necessário considerar sempre, o brincar como um ato de grande
importância, que oportunize a criança a escolher entre os múltiplos tipos de
brinquedos oferecidos na sociedade. Podemos afirmar, que tanto as brincadeiras
de roda cantadas, as dramatizações, brinquedos artesanais, brinquedos
industrializados são todos imprescindíveis na vivência infantil. A brincadeira
utilizada como instrumento didático é concebida como preparação para
escolaridade futura. A brincadeira deve ser um dos eixos da organização do
trabalho pedagógico. Uma das características principais do brinquedo é a
motivação que ele proporciona para a criação do mundo imaginário vital para o
desenvolvimento global do ser humano. O brinquedo é o mecanismo na sua
função poética, ou seja, para além da sua função prática. Um brinquedo serve
para brincar: para desenvolver habilidades que fogem ao controle do olhar
produtivo, seja pedagógico ou econômico. Está presente no nosso meio físico e
social, pois o brincar é um modo de habitar o mundo, quando a criança brinca ela
faz cultura, atribui sentido ao viver, produz significado e contribui com a formação
de um cidadão crítico e atuante.
3.1. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Cabe ao professor, aplicar a brincadeira, não apenas pela motivação que
ela desperta, mas por todo o contexto que nela está implícito, ele deve sentir o
momento e a forma adequada de utilizar as atividades lúdicas e ter bem definido,
antes da aplicação da brincadeira, aquilo que é relevante e necessário para o que
se quer trabalhar.
23
Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a educação para as
crianças pequenas deva promover a integração entre o aspectos físicos,
emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que este é um
ser completo e indivisível, nem todas as pessoas que convivem com a criança se
preocupam com o que a mesma faz de mais importante na vida: brincar.
Repetindo brincadeiras à exaustão, a criança digere as emoções, confirma
e consolida um aprendizado. Jogando com os outros, começa a perceber regras,
sorte, possibilidade e conhece o valor da perseverança. A criança brinca
instrutivamente para descobrir o mundo e se ajustar a ele. Empilhando e
encaixando peças, ela adquire noções espaciais e faz as primeiras tentativas de
organização do mundo.
Quando produz sons batendo objetos, desenvolve conexões mentais e
corporais que vão ajudá-la a falar e a andar.
O discurso sobre o jogo está presente, mas se desenvolve sob a forma de acordo que assegura ao professor o controle dos objetivos (BROUGÈRE, 1998, p. 204).
Para Piaget, por meio da atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a
realidade a si própria, atribuindo, então ao jogo um valor educacional muito
grande. Neste sentido, propõe-se que a escola possibilite um instrumental à
criança para que, por meio de jogos, ela assimile as realidades intelectuais, a fim
de que estas mesmas realidades não permaneçam exteriores à sua inteligência
(BRENELLI, 2002, p. 21)
A perspectiva teórica do sociointeracionismo desta o papel do adulto frente
ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas
e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua auto-estima e
desenvolver suas capacidades.
A auto-estima refere-se à capacidade que o indivíduo tem de gostar de si
mesmo, condição básica para se sentir confiante, amado, respeitado. Tal
capacidade, porém, não se instala no indivíduo como num passe de mágica, mas
faz parte de um longo processo, que tem sua origem ainda na infância. Cabe ao
adulto ajudar na construção da auto-estima infantil, fornecendo à criança uma
24
imagem positiva de si mesma, aceitando-a e apoiando-a sempre que for preciso.
No entanto, algumas práticas podem ser prejudiciais ao bom andamento desse
processo, como por exemplo, a colocação de apelidos pejorativos nas crianças
(‘manhosa’, ‘maluco’, ‘burro’, etc.).
Os profissionais das escolas infantis precisam manter um comportamento
ético para com as crianças, não permitindo que estas sejam expostas ao ridículo
ou que passem por situações constrangedoras. Alguns adultos, na tentativa de
fazer com que as crianças lhes sejam obedientes, deflagram nelas sentimentos de
insegurança e desamparo, fazendo-as sentirem temerosas de perder o afeto, a
proteção e a confiança dos adultos.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito às simpatias que os adultos
desenvolvem em relação a algumas crianças. Estas, por sua vez, também têm
suas preferências, identificando-se mais com algumas pessoas do que com
outras. No entanto, o profissional da educação deve tratar a todas com igual
distinção. Isto implica não elogiar apenas uma criança (a mais simpática, a mais
cheirosa, por exemplo), em detrimento das outras, que podem se sentir rejeitadas,
caso não recebam o mesmo tratamento. As atenções e os elogios devem ser
dados a todas, não importando a cor da pele, a condição social, se são meninas
ou meninos, se têm este ou aquele credo religioso ou ainda se pertencem à
determinada família. Os adultos também devem evitar qualquer fala ou ação que
possa dar margem a atitudes preconceituosas ou discriminatórias em relação a
pessoas ou grupos. O papel do professor é visto basicamente como o de
encorajar, estimular e apoiar a exploração e a invenção (construção).
É óbvio que o professor enquanto organizador permanece indispensável no sentido de criar as situações e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os problemas significativos à criança. Em segundo lugar, ele é necessário para proporcionar contra-exemplos que forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápidas. O que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em transmitir soluções prontas, o seu papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a iniciativa e a pesquisa (PIAGET apud WADSWORTH, 1997, p. 13).
25
3.2. APRENDER BRINCANDO
Quanto mais a criança brincar, mais saudável ela será. Pois a brincadeira
lhe prepara para a vida. Brincando a criança faz bagunça, algazarra, desordem e
isto a auxilia a resolver questões de sua vida e a mesma está aprendendo.
Muitas das descobertas que a criança faz sobre o mundo que a cerca é
enquanto brinca. Não importa se sozinha, com um amigo imaginário, com um
irmão ou vizinho, com outras crianças. Isto significa que em grupo ou só a criança
brinca e assim há possibilidade de ampliar sua experiência. Pois o brincar é
atividade própria da infância.
A brincadeira de faz-de-conta constitui um contexto onde se produz um tipo
de comunicação rica em matizes e que possibilita às crianças indagar sobre seus
próprios pensamentos e pôr à prova seus conhecimentos no uso interativo de
objeto e conversação. Ela é governada por regras ( as da imaginação ), o que
limita as crianças, mas, ao mesmo tempo, as libera, ou seja, as ajuda a dominar
impulsos imediatos e a controlar-se.
Há fatores que interferem no processo educativo das crianças pequenas,
fatores como o despreparo dos profissionais que lidam com a criança pequena. A
falta de respeito à criança pequena no sentido de conhecer seu “tempo” de
brincar. Há uma fragmentação cabeça-corpo e cognição-afeto socialmente
elaborada e incorporado por muitos educadores. Muitos educadores costumam
valorizar ações copiadas de modelos escolares tradicionais, há o problema do
espaço inadequado para as vivências da criança, restrição somente às
brincadeiras orientadas ou jogos de regras. Brincadeiras a serem vivenciadas
apenas como uma atividade para preencher o tempo de espera ou um prêmio
para o bom comportamento.
O adulto deve permitir à criança a exploração do espaço, ser mais tolerante
em propor não apenas atividades fechadas à criança, pois isso interfere no
processo de desenvolvimento infantil. O professor centraliza o processo de
26
ensino-aprendizagem, estruturado em ‘disciplinas’ que fragmentam o
conhecimento.
Em contrapartida tem-se que valorizar a criança desde bebê, pois o
aprender deve ser uma experiência significativa para ela e integrar aquilo que é
novo e ao que ela já conhece. Não confundindo a espontaneidade da criança com
práticas improvisadas e sem intencionalidade. As experiências, vivências, saberes
e interesses infantis são pontos de partida para que novos conhecimentos sejam
por ela apropriados.
O professor educa e cuida da criança pequena quando acolhe a mesma
nos momentos difíceis e a faz sentir-se confortável e segura, a orienta sempre que
necessário, organiza e dá oportunidade para que as crianças compartilhem
experiência e saberes, garante uma experiência bem-sucedida de aprendizagem
para todas as crianças com as quais trabalha, combate preconceitos e
discriminações de raça, etnia, credo e condição social, fortalece a auto-estima e a
solidariedade de todas as crianças, apresenta às crianças o que há de encantador
no mundo da música e das artes, da natureza e da sociedade.
É importante inserir no contexto escolar planejamentos didáticos, projetos,
investir no aperfeiçoamento do profissional que lida com as crianças pequenas,
proporcionar que as crianças vivenciem diferentes situações nas quais tenham
constante oportunidade de escolha, exercitem sua autonomia, conheçam as suas
próprias necessidades, preferências e desejos ligados a construção do
conhecimento e ao relacionamento interpessoal.
Considerar que as crianças necessitam envolver-se com diferentes
linguagens e valorizar o lúdico, as brincadeiras, as culturas infantis.
Reconhecer que elas aprendem coisas que lhes são muito significativas
quando interagem com companheiros da infância e que são diversos das coisas
que elas se apropriam no contato com os adultos ou com crianças já mais velhas.
A criança pode ter experiência com variados objetos da cultura por meio de
atividades como cantar, tocar instrumentos musicais, ouvir estórias, brincar com
areia e água, modelar com argila ou massa, pintar, passear, construir com blocos,
27
compor quebra-cabeças, brincar com animais e cuidar deles, realizar brincadeiras
no pátio.
Brincar de faz-de-conta é uma criação de uma situação imaginária. A tarefa
das instituições de educação infantil de garantir às crianças seu direito de viver a
infância e desenvolver-se é hoje associada a organização de situações
agradáveis, estimulantes, que assegurem a sua apropriação da cultura sendo
historicamente constituída.
Levando-se sempre em conta que o desafio não é só a escolarização, é
também com o cotidiano da criança levando-se em consideração os vários
espaços que a criança pequena ocupa, pois no conjunto desses espaços
ocupados se realizará a herança da espécie. A criança tem condições de se
apropriar da cultura e dos conhecimentos para dar continuidade ao percurso que o
ser humano realiza há muitos anos.
28
CONCLUSÃO
Nas duas últimas décadas, as expectativas da sociedade em relação aos
objetivos educacionais sofreram grandes transformações. Na escola de hoje
espera-se que a mesma seja capaz de promover o desenvolvimento de
competências para que o conhecimento contribua para uma formação abrangente,
permitindo o envolvimento da aprendizagem em todas as áreas culturais. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, publicados pelo Ministério da
Educação e Cultura nos últimos anos, fornecem subsídios para promoção desse
tipo de escolaridade, na qual o espaço curricular dedicado às diferentes áreas do
conhecimento é redimensionado, apontando para sua importância na formação
integral das novas gerações.
Dentro dessa perspectiva, a brincadeira deve ser vista como um
instrumento didático indispensável como preparação para escolaridade futura,
através da sua transformação em exercícios e treinamentos. O educador usa a
brincadeira para ensinar e como forma de sedução e treinamento para a
aprendizagem. Lembrando-se sempre que o desafio não é só escolarização. É
também com o cotidiano da criança levando-se em consideração os vários
espaços que a criança pequena ocupa, pois no conjunto desses espaços
ocupados se realiza a herança da espécie.
É fundamental que se compreenda que o brincar faz parte do mundo
infantil, ele é uma atividade natural, espontânea e necessária para a criança,
constituindo-se por isso peça importantíssima na sua formação. Pois é
imprescindível a criança brincar, pois brincando a mesma experimenta, descobre,
inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade e a
autonomia proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da
concentração e da atenção. Seu papel transcende o mero controle de habilidades,
é muito mais abrangente. Sua importância é notável já que através dessas
atividades a criança constrói seu primeiro mundo. Brincar é uma atividade
essencialmente humana, principal modo de expressão da infância. É a ferramenta
29
por excelência para a criança aprender a viver, revolucionar sua experiência e
criar cultura, a criança se humaniza e se constitui como sujeito histórico-social.
Não podemos subestimar a importância do aspecto funcional do brinquedo
cujas conseqüências, no nível de desenvolvimento da criança, parecem
importantes. Considera-se que as dimensões funcionais e simbólicas encontram-
se imbricadas entre si. Função e símbolo estão, na maioria das vezes ligadas e
são indissociáveis no brinquedo.
Para finalizar ressaltamos que cabe ao adulto ampliar as experiências das
crianças, abrir caminhos a conhecimentos que não são constituídos
espontaneamente no ser humano, incentivar a narrativa em todas as suas formas,
e expressão das idéias e dos sentimentos.
Para alcançar tais objetivos é necessário, não ver a criança como um ser
incapaz, identificar as suas inúmeras capacidades e oferecer à mesma,
possibilidades de que elas sejam ampliadas, sedimentadas, desenvolvidas, no que
diz respeito a sua individualidade e da participação cultural e social.
Espera-se que as escolas de Educação Infantil sejam capazes de promover
o desenvolvimento de competências para que o conhecimento contribua para a
formação integral da criança, permitindo a ampliação dos conhecimentos em toda
a esfera educacional. Compete a essas instituições ajustar a brincadeira à
realidade da criança. Construir uma ação pedagógica que contemple este
processo didático de formação humana envolvendo adultos e crianças é, sem
dúvida, um dos grandes desafios que enfrentamos na educação infantil em todo o
mundo.
É imprescindível a criança brincar, pois brincando a mesma experimenta,
descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade
e a autonomia proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento,
da concentração e da atenção. É necessário que a escola se transforme num
espaço de produção de conhecimento e, de formação e prática inovada, gerada
pela ação do professor investigador, com uma visão crítica da realidade. Percebe-
se através do que foi exposto, o valor educativo que a prática lúdica possui e
30
conclui-se que para uma educação infantil de qualidade é preciso adequar o lúdico
aos aspectos inerentes ao desenvolvimento infantil tais como: a importância do
espaço organizado adequado para realização de tarefas conjuntas de todo grupo,
que sejam amplos e bem diferenciados. Os currículos não podem substituir, em
nenhuma situação, o valor educativo da autonomia e da iniciativa própria das
crianças. Mas, ao mesmo tempo, os professores também precisam planejar
momentos nos quais o trabalho esteja orientado para o desenvolvimento daquelas
competências específicas que constam na proposta curricular. Deve-se ter
atenção privilegiada aos aspectos emocionais pois para que haja um progresso
infantil satisfatório requer que sejam criadas oportunidades de expressão emotiva,
de maneira que as crianças, mediante os diversos mecanismos expressivos, vão
reconhecendo cada vez mais as suas emoções e sendo capaz de controlá-las
gradativamente. Tudo na educação infantil é influenciado pelos aspectos
emocionais, desde o desenvolvimento psicomotor até o intelectual, o social e o
cultural. A emoção age, principalmente, no nível de segurança das crianças, já a
insegurança provoca medo, aumenta a tendência a condutas defensivas.
É preciso, então, criar um ambiente no qual a linguagem seja a grande
protagonista, pois todos deveriam ter consciência de que a linguagem é uma das
peças-chave na Educação Infantil. É necessário que haja diferenciação de
atividades para abordar todas as dimensões do desenvolvimento e todas as
capacidades da criança. As rotinas estáveis desempenham, de uma maneira
similar aos espaços, um papel importante no momento de definir o contexto no
qual as crianças se movimentam e agem. Estas são organizadoras estruturais das
experiências cotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do
processo a ser seguido e, ainda, substituem a incerteza do futuro. Na sala de aula
os materiais devem ser diversificados e polivalentes, alguns mais formais e outros
provenientes da vida real, de alta qualidade ou descartáveis, de todas as formas e
tamanhos, etc.
Deve-se dar atenção individualizada a cada criança, sabe-se que pensar
em dar atenção a cada criança de maneira separada durante todo o tempo é uma
31
fantasia. Ainda mais em contextos onde uma única professora atende a um grupo
de 15 a 25 crianças por sala de aula. Mas parcialmente o professor deve manter
esse contato com seu aluno. Uma condição importante para o desenvolvimento de
um programa de Educação Infantil é a sistematização do processo em seu
conjunto, utilizando-se um sistema de avaliação, anotações, etc., que permitam o
acompanhamento global do grupo e de cada uma das crianças.
É de suma importância o trabalho integrado com os pais e as mães e com o
meio ambiente, pois facilitará o cumprimento de um dos objetivos básicos da
Educação Infantil, que as crianças conheçam cada vez melhor o seu meio de vida
e tornem-se donas do mesmo para ir crescendo com autonomia.
Como garantir o direito da criança brincar, se a escola, local em que as
crianças permanecem por muito tempo, pouco se brinca, e o brincar é
desprezado? Só há um caminho: educar para o brincar, como se educa para o
trabalho, para a cultura, para a adaptação social e para o aperfeiçoamento moral.
32
REFERÊNCIAS CITADAS
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REVISTA VEJA. Edição Especial – Sua Criança: do nascimento até os 5 anos.
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SANTOS, Marli Pires dos. Brinquedoteca: Sucata Vira Brinquedo. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995.
TECENDO A LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Recife, 2005 (monografia).
36
ÍNDICE
Folha de Rosto .......................................................................................................02
Reflexão .................................................................................................................03
Agradecimentos .....................................................................................................04
Resumo ..................................................................................................................05
Metodologia ...........................................................................................................06
Sumário ..................................................................................................................07
Introdução ..............................................................................................................08
1. Proposta Curricular: Assistencialismo e Educação ...........................................10
1.2. A Criança: Educar x Cuidar ............................................................................11
2. Reflexão Sobre o Brinquedo ..............................................................................17
2.1. Lúdico, Prazer e Educação .............................................................................18
3. Brincadeira: é coisa de criança ..........................................................................21
3.1. O Professor de Educação Infantil ...................................................................22
3.2. Aprender Brincando ........................................................................................25
Conclusão ..............................................................................................................28
Referências Citadas ...............................................................................................32
Referências Consultadas .......................................................................................34
Índice .....................................................................................................................36