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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POSGRADUAÇÃO LATO SENSU IAVM-FACULDADE INTEGRADA PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS Pragmatismo e Neoconstitucionalismo. Por: Marcelo Luis Juarez Orientador: Professora Patrícia Portal Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Supremacia do Interesse Público alavanca a rescisão unilateral, as clausulas exorbitantes, a exceção de contrato não cumprido,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POSGRADUAÇÃO LATO SENSU IAVM-FACULDADE INTEGRADA

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS Pragmatismo e Neoconstitucionalismo.

Por: Marcelo Luis Juarez

Orientador: Professora Patrícia Portal

Rio de Janeiro 2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POSGRADUAÇÃO LATO SENSU IAVM-FACULDEDE INTEGRADA

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS Pragmatismo e Neoconstitucionalismo.

Apresentação de monografia ao IAVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Público e Tributário. Por: Marcelo Luis Juarez, Pós-graduando em Direito Público e Tributário pelo Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes.

3

AGRADECIMENTOS.

Agradeço a todos os mestres que fizeram e fazem parte da minha vida acadêmica, aos presenciais, aos on-line e aos doutrinadores que produzem e reproduzem as obras que eu li e leio.

4

DEDICATÓRIA.

A Nina, minha filhinha do coração, razão da minha vida neste abençoado País. A minha querida Rita, sem ela não teria nem pensado em abraçar o Direito.

5

RESUMO.

O tema da desconstrução dos dogmas axiológicos do Direito Administrativo

começa a surgir com o advento do Estado Democrático de Direito, e desde aí, nunca

deixou de ser motivo de debates, só que, tendo em vista as mobilizações populares

que reclamam uma nova postura do Estado Administrador, as discussões adquirem

uma singular relevância. O objetivo deste trabalho é analisar as teses que pregam

pela desconstrução destes princípios, verdadeira razão de ser do Direito

Administrativo, entendendo que neste novo horizonte do neoconstitucionalismo, este

ramo do Direito encontra sua fonte de realização. Para expor argumentos que

venham a desconstituir as teses que pugnam pela desconstrução de princípios

essenciais do Direito Administrativo, o autor propõe uma revisão à luz da escola do

Pragmatismo Jurídico, que se bem nasce nos EUA, onde o sistema jurisdicional

difere do brasileiro, vem sendo aplicado com êxito no Brasil, encontrando-se tanto na

Lei como na Jurisprudência dos Tribunais. Concomitantemente, entender a

influência do Constitucionalismo Contemporâneo, principalmente no que diz respeito

à ascensão dos princípios ao status de normas implícitas, como fonte primária do

Direito Administrativo.

6

METODOLOGIA.

A metodologia de pesquisa empregada neste trabalho, não difere das

normalmente utilizadas. A exceção da pesquisa de campo, tipo de metodologia à

qual o autor sempre lhe despertou um interesse especial dado o intimo contato entre

o interlocutor e a matéria pesquisada, as nuances do tema não requer de maior

explanação senão aquelas utilizadas numa metodologia padrão.

Assim, o autor focou seu trabalho para a pesquisa bibliográfica, que se

tratando de tema um tanto especial teve que ser selecionada de maneira cuidadosa

entre autores de relevante autoridade em Direito Administrativo e mais

especificamente, no tema abordado.

Logo o autor também se focou em artigos, principalmente extraídos das

Revistas de Direito da Procuradoria do Estado de Rio de Janeiro, vez que os

doutrinadores da bibliografia existente sobre o tema, são ou foram em sua maioria,

Procuradores do Estado.

Por ultimo o autor, pesquisou diversos artigos extraídos via internet, cujos

aportes em determinadas questões também foram esclarecedores, observando-se o

predomínio desta metodologia.

7

SUMÁRIO.

INTRODUÇÃO. -------------------------------------------------------------------------------------- 08

CAPÍTULO I A CRISE DOS PRINCÍPIOS. DESCONSTRUÇÃO E EROSÃO.

1.1 - O princípio da supremacia do interesse público. ------------------------------------- 11

1.2 - O princípio da legalidade administrativa. ----------------------------------------------- 22

CAPÍTULO II O PRAGMATISMO JURÍDICO E SUA INFLUÊNCIA NO PRINCÍPIO DA

SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. 2.1 - Breve histórico e seus fundamentos. ---------------------------------------------------- 26

2.2 - O pragmatismo jurídico no direito brasileiro. ------------------------------------------ 29

CAPÍTULO III O NEOCONSTITUCIONALISMO E SUA INFLUÊNCIA NO PRINCÍPIO DA

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA. 3.1 - A noção de neoconstitucionalismo e a nova dogmática da interpretação constitucional.------------------------------------------------------------------- 34 3.2 - A constitucionalização do Direito Administrativo e seu impacto no Princípio da Legalidade. ------------------------------------------------------------ 38

CONCLUSÃO. -------------------------------------------------------------------------------------- 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA. ------------------------------------------------------------- 45

WEBGRAFIA. -------------------------------------------------------------------------------------- 46

LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA. --------------------------------------------------------- 49

INDICE. ------------------------------------------------------------------------------------------------ 50

8

INTRODUÇÃO.

A vida profissional dos operadores do Direito é sempre carregada de todo tipo

de valorações: quantitativas, qualitativas, principiológicas, doutrinarias,

jurisprudenciais. É o mais alto pensamento técnico e intelectual posto em evidencia,

que gera todo tipo de debates e transformações em todas as áreas do Direito.

Sadias discussões que reclamam posturas firmes e bem definidas e que

fazem esta ciência nobre e apaixonante. E na época atual, o Direito Administrativo é

parte substancial deste conclave, uma vez que dita o norte daqueles que tem a difícil

tarefa de nos representar, administrar e nos fornecer a tutela jurisdicional.

No enfoque contemporâneo, onde aquelas valorações devem ser medidas

com a vara padrão do constitucionalismo, posicionamentos que põem em xeque

princípios clássicos do Direito Administrativo, como por exemplo, a supremacia do

interesse público sobre o particular e o próprio princípio da legalidade administrativa

são motivo de amplos debates e estão vigentes mais do que nunca no âmbito

jurídico, a despeito das recentes manifestações populares que reivindicam posturas

administrativas mais morais e eficientes.

Diante de uma irreverente visão política de ímpeto destrutivo e indiscriminado

que tem levado a essas manifestações sociais revestidas de um que de

racionalidade irracional, surge de novo a discussão de que se o sistema

principilógico administrativo atual se adapta ou não ao cenário do Estado

Democrático de Direito, eixo dos sistemas constitucionais pós-modernos. Afloram

então as teses que pretendem desconstruir os dogmas axiológicos do Direito

Administrativo e que colocam em xeque suas bases principiológicas.

O conceito de Legalidade, no qual o administrador é obrigado a agir de

acordo aos parâmetros que a Lei exige, deixou de ser absoluto. Será que

regredimos ao conceito de vinculação negativa em que o administrador poderá fazer

aquilo que a lei não proíbe em honor à conveniência e a oportunidade?

9

Neste contexto, lições clássicas como a de Celso Antonio Bandeira de Mello,

ficam mitigadas e até superadas, desde a nova ótica do neoconstitucionalismo:

“Assim, o princípio da legalidade é o da completa

submissão da Administração às leis. Esta deve tão

somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí

que a atividade de todos os seus agentes, desde o

que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da

República, até o modesto dos servidores, só pode ser

a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores

das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo,

pois esta é a posição que lhes compete no Direito

brasileiro1”.

No que diz respeito ao controle dos atos administrativos, o que acontece

quando a Lei é aplicada sem serem observadas as consequências do ato?

O que acontece com a Supremacia do Interesse Público Sobre o Particular,

apontada pela mais qualificada doutrina como a razão de ser do Direito

Administrativo e que traz no seu conteúdo toda uma gama de princípios destinados

a regular as relações entre administrador e administrado, quando é invocada para a

satisfação dos interesses próprios da Administração?

Neste diapasão, como fica o Princípio da Indisponibilidade do Interesse

Público, especificamente no que diz respeito aos contratos administrativos, quando a

atividade do Estado Administrador dispõe destes interesses em seu próprio

beneficio, como, por exemplo, no caso das clausulas exorbitantes e a rescisão

unilateral?

Estas questões que não querem calar são mais que nunca motivo de amplos

debates no âmbito do Direito Administrativo.

_______________

1 - MELLO, Celso Antônio Bandeira De. Curso de Direito Administrativo. 30ª edição. São Paulo:

Malheiros Editores, 2013. p. 104.

10

Neste contexto, se vislumbra uma necessidade de atualização dos dogmas do

Direito Administrativo, principalmente por que parece que na atual cojuntura não

mais atendem ao contexto social no qual estão inseridos.

A brecha entre direito e realidade é cada vez maior e é preciso um

instrumento de aproximação.

Assim, o Pragmatismo Jurídico, é visto por muitos como um instrumento

plausível de ser aplicado no Direito Administrativo, dadas suas características de

interferir nos dogmas sem alterar seu contexto, medindo sempre as consequências

do ato através dos seus fundamentos.

Por outro lado, a noção de neoconstitucionalismo, assim entendida como uma

serie de transformações ocorridas a partir de uma nova interpretação do

pensamento constitucional contemporâneo, somada à ascensão dos princípios à

categoria de normas implícitas, revela uma nova forma de agir do Estado

Administrador.

Num primeiro momento, serão analisados os princípios da supremacia do

interesse público sobre o particular e o da legalidade administrativa, que a critério do

autor, são os princípios que mais discussões geraram na doutrina administrativista.

Não serão vistos conceitos, classificações ou analisados subprincípios e sim

as peculiaridades especificas que dizem respeito a este estudo.

Seguidamente, logo após de um breve histórico para entender os

fundamentos da escola do pragmatismo jurídico, analisaremos como vem sendo

usado pelo judiciário e como este se encaixa na problemática estudada.

Já no final, antes de abordar as conclusões deste trabalho, analisaremos o

papel que cumpre o constitucionalismo contemporâneo na interpretação destes

fenômenos.

11

CAPÍTULO I.

A CRISE DOS PRINCÍPIOS. DESCONSTRUÇÃO E EROSÃO.

1.1 – O PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.

Segundo a mais ampla, dominante e tradicional doutrina, o Princípio da

Supremacia do Interesse Público, princípio implícito, uma vez que não se encontra

elencado no rol dos princípios da Administração Pública expressos no texto

constitucional, seria o alicerce no qual se apoia todo o sistema estrutural do Direito

Administrativo.

Determinadas prerrogativas da Administração Pública, como por exemplo, a

presunção de legitimidade e veracidade dos atos administrativos, o poder de

autotutela e a auto-executoriedade dos atos, encontrariam sua ratio, justamente

neste princípio2.

De tal sorte, o Princípio da Supremacia do Interesse Público, regula as

relações jurídicas entre administrador e administrado; assim, não e difícil entender

numa interpretação teórica e simples, que este princípio, alicerce estrutural do

Direito Administrativo, tende a inclinar o prato da balança para o lado mais forte da

relação, legitimando o desequilíbrio3, dadas suas prerrogativas.

Vale dizer, no que diz respeito aos contratos, por exemplo, que o Princípio da

Supremacia do Interesse Público alavanca a rescisão unilateral, as clausulas

exorbitantes, a exceção de contrato não cumprido, entre outras coisas.

Se pode ver também como opera este princípio no ato expropriatório, quando

em prol do chamado “interesse público”, restringe a propriedade privada sem direito

de defesa4.

_______________

2 - BAPTISTA, Patrícia. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003.

p.182.

3 - Idem.

4 - CRFB. Art. 182, §3º. DL nº3.365/41. Art. 20. apud. Ibidem. p.183.

12

Percebe-se, que o Princípio da Supremacia do Interesse Público tem atuado

no Direito Administrativo com certo caráter autoritário.

Neste sentido, cabe citar mais uma vez ao Em. Celso Antonio Bandeira de

Mello:

“A posição de supremacia, extremamente

importante, é muitas vezes metaforicamente expressada

através da afirmação de que vigora a verticalidade nas

relações entre Administração e particulares; ao contrario

da horizontalidade, típica das relações entre estes

últimos. Significa que o Poder Público se encontra, em

situação autoritária, de comando, relativamente aos

particulares, como indispensável condição para gerir os

interesses postos em confronto, a possibilidade, em

favor da Administração, de constituir os privados em

obrigações por meio de ato unilateral daquela5”.

Vemos então, no que diz respeito ao direito, que as relações jurídicas entre

Estado e particulares, se sobrepõem às relações entre particulares do direito

comum, dada essa horizontalidade entre estas, ao contrario da verticalidade

daquelas.

No que diz respeito ao direito comparado, para explicar as prerrogativas que a

Administração Pública detém e impõe, a doutrina francesa adotou o vocábulo

puissance ou pouvoir, potestade ou poder6.

Tendo em conta uma atitude de confiança outorgada, com a qual a

_______________

5 – MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo do regime jurídico administrativo e seu valor

metodológico. RDP, São Paulo, p.47.apud. BAPTISTA, Patrícia. Transformações do direito

administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003. p.184.

6 - NOHARA, Irene Patrícia, in: Supremacia do interesse público e outros temas relevantes do direito

administrativo/ Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Carlos Vinicius Alves Ribeiro, coordenadores. – São Paulo:

Atlas, 2010. p. 130.

13

Administração faz uso do seu poder na consecução dos interesses da coletividade, o

espanhol Garcia de Enterría fala em potestades fiduciárias; o termo prerrogativas e

sujeições é empregado por José Cretella Jr.; já, Santi Romano e Renato Alessi

utilizam o termo poder-dever e para realçar a característica de sujeição Celso

Antonio Bandeira de Mello inverte os termos e coloca dever-poder7.

Isto, por que o renomeado jurista persegue sua convicção de um Direito

Administrativo totalmente adstrito às leis, de tal sorte acredita que a inversão do

binômio poder-dever para dever-poder, atende mais a essa finalidade8.

Percebe-se então que o interesse público foi e vem sendo utilizado como

ferramenta de retensão, que outorga imunidade para a consecução daquelas

prerrogativas, e, para a imposição daquele caráter autoritário, que mantém a

Administração ao resguardo do controle do Poder Judiciário.

Foi assim, que dada a repulsa originada pela continuidade de um sistema

estanco e retrogrado aliado às antigas concepções autoritárias, que renomeados

juristas da doutrina administrativa moderna da ultima década, se insurgem numa

tentativa de desconstruir o Princípio da Supremacia do Interesse Público.

O fundamento principal é a mitigação dos direitos fundamentais postos a

disposição a mercê das arbitrariedades do Poder Público em detrimento do princípio

da dignidade da pessoa humana.

“E, como já afirmamos antes, nosso propósito no presente

ensaio é o de juntarmo-nos ao coro destes autores, não

só porque divisamos uma absoluta inadequação entre o

princípio da supremacia do interesse público e a ordem

_______________

7 – NOHARA, Irene Patrícia. O motivo no ato administrativo. São Paulo: Atlas, 2004. p.162. apud.

Idem. p.131.

8 – NOHARA, Irene Patrícia, in: Supremacia do interesse público e outros temas relevantes do direito

administrativo/ Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Carlos Vinicius Alves Ribeiro, coordenadores. – São

Paulo: Atlas, 2010. p. 131.

14

Jurídica brasileira, como também pelos riscos que sua

assunção representa para a tutela dos direitos

fundamentais. Parece-nos que o princípio em discussão

baseia-se numa compreensão equivocada da relação

entre pessoa humana e Estado, francamente incompatível

com o leitmotiv Democrático de Direito, de que as

pessoas não existem para servir aos poderes públicos ou

à sociedade política, mas, ao contrário, estes é que se

justificam como meios para a proteção e promoção dos

direitos humanos.

Tentaremos, enfim, demonstrar que a cosmovisão

subjacente ao princípio em debate apresenta

indisfarçáveis traços autoritários, que não encontram

respaldo numa ordem constitucional como a brasileira, em

cujo epicentro axiológico figura o princípio da dignidade

da pessoa humana”9.

Numa primeira impressão, esta posição da doutrina contemporânea de

juristas como Alexandre Aragão, Daniel Sarmiento, Gustavo Binenbojm, Humberto

Ávila, Paulo Ricardo Schier, entre outros, causa perplexidade nos administrativistas

clássicos, que sempre pugnaram pela preservação da supremacia do interesse

público como uma necessidade para manter incólumes os axiomas que sustentam o

Direito Administrativo, ameaçados agora por uma concepção reacionária10.

_______________

9 – ARAGON, Alexandre; SARMENTO, Daniel; BINENBOJM, Gustavo; ÁVILA Humberto e SCHIER,

Paulo Ricardo. Interesses Públicos versus Interesses Privados: Desconstruindo o Princípio de

Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. In: SARMENTO, Daniel.

Interesses Públicos vs. Interesses Privados na Perspectiva da Teoria e da Filosofia Constitucional. p.

27. apud. RODRIGUES, Wayne Vinicius Di Francisco. Desconstruindo o princípio de supremacia do

interesse público. Incompatibilidades com o sistema jurídico brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano

14, n. 2353, 10 dez. 2009. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/13992.

10 – GONZALEZ BORGES, Alice. Supremacia do interesse público: Desconstrução ou reconstrução?

In: Revista Dialogo Jurídico nº 15, Salvador - Bahia. Janeiro/Fevereiro/Março de 2007. Disponível em:

http://br.vlex.com/vid/supremacia-interesse-publico-59123218.

15

É o que se observa também no posicionamento do Prof. Marçal Justen Filho,

que em artigo para a Revista Negócios Públicos discorre: “Fundamentar decisões no

interesse público produz a adesão de todos, elimina a possibilidade de critica. Mais

ainda, a invocação do interesse público imuniza as decisões estatais ao controle e

permite que o governante faça o que ele acha que deva ser feito sem possibilidade

de uma comprovação de ser aquilo, efetivamente, o mais compatível com a

democracia e a conveniência coletiva”11.

Como dito acima, a mais ampla doutrina brasileira sustenta que o Princípio da

Supremacia do Interesse Público, se bem não está expresso no rol de princípios

elencados no texto constitucional, sua existência e aplicabilidade se devem a seu

status de princípio implícito.

De tal sorte, prevalece de fato um pensamento pacifico de que a existência e

aplicabilidade deste princípio, não tem contestação.

Como se percebe acima, um dos juristas defensor deste princípio é o

renomeado administrativista Celso Antonio Bandeira de Mello. Ele parte da

conceituação de interesse público, chegando até os efeitos gerados pela aplicação

do princípio12.

Alinha-se a Celso Antonio, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, quando aborda o

tema levando em conta a bipolarização público-privada. Enfatiza a autora em sua

obra Direito Administrativo, que mesmo diante de uma relativização da bipolarização,

não se podem deixar de lado certos axiomas, dentre eles, atender os interesses

_______________

11 - JUSTEN, Marçal Filho. O direito administrativo reescrito: Problemas do passado e temas atuais.

In: Revista Negócios Públicos, São Paulo, Ano II, n. 6, p.38-41, 2005. Disponível em:

http://justenfilho.com.br/wp-content/uploads/2008/12/O%20Direito.pdf.

12 – BINENBOJM, Gustavo. Da supremacia do interesse publico ao dever de proporcionalidade: um

novo paradigma para o direito administrativo. In: Revista da Procuradoria Geral do Estado do Rio de

Janeiro. vol. 59. 2005. p.57. Disponível em: http://www.rj.gov.br/web/pge/exibeConteudo?article-

id=760398.

16

públicos e o bem-estar coletivo13.

Di Pietro, quando reitera a relevância deste princípio, sustenta:

“Se a lei dá à Administração os poderes de desapropriar,

requisitar, de intervir, de policiar, de punir, é porque tem

em vista atender o interesse geral, que não pode ceder

diante do interesse individual”14.

Por sua vez, Hely Lopes Meirelles, da mesma forma que Celso Antonio,

vincula o Princípio da Supremacia do Interesse Público, aos privilégios e

prerrogativas da Administração Pública.

Sustenta o saudoso Hely, um dos doutrinadores mais reconhecidos da sua

época, que a principal distinção entre o Direito Público e o Privado radica nos

sujeitos que compõem a relação. Quando no Direito Privado a relação se baseia na

paridade dos sujeitos, no Direito Público a relação é pautada na supremacia do

Poder Público em face do individuo.

“Com efeito, enquanto o Direito Privado repousa sobre a

igualdade das partes na relação jurídica, o Direito Público

assenta em princípio inverso, qual seja, o da supremacia

do Poder Público sobre os cidadãos, dada a prevalência

dos interesses coletivos sobre os individuais”15.

Segundo Gustavo Binenbojm, Hely não consegue se posicionar a respeito da

problemática em questão, deixando ver que os administrativistas defensores do

princípio, sempre em determinado momento de suas argumentações, exteriorizam

_______________

13 – ZANELLA DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2004. p.69. apud.

Ibidem. p.58.

14 – ZANELLA DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2004. p.70. apud.

Idem.

15 – LOPES MEIRELLES, Hely. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros,

2001.p.43.apud. Ibidem p.59.

17

uma determinada confusão16. É o que se observa nas passagens abaixo de Hely

Lopes Meirelles.

“Sempre que entrarem em conflito o direito do individuo e

o interesse da comunidade, há de prevalecer este, uma

vez que o objetivo principal da Administração é o bem

comum. As leis administrativas visam, geralmente, a

assegurar essa supremacia do Poder Público sobre os

indivíduos, enquanto necessária à consecução dos fins da

Administração”17.

Logo após, o doutrinador elenca ideia que inverte o conceito.

“Ao aplicador da lei compete interpreta-la de modo a

estabelecer equilíbrio entre os privilégios estatais e os

direitos individuais, sem perder de vista aquela

supremacia”18.

Dos adeptos á desconstrução do Princípio da Supremacia do Interesse

Público, se apresenta com ferrenho posicionamento o professor gaucho Humberto

Bergmann Ávila, já referenciado acima. Ele questiona a própria existência do

princípio.

Aduz o professor, que carece de fundamento jurídico de validade o princípio

em aprecio. Diz que não pode ser extraído da analise sistemática do ordenamento

_______________

16 - “Aqui, em passagem singela, que por vezes pode até mesmo passar despercebida, repousa

exemplo pontual, com tudo característico da confusão que permeia o circulo administrativista, no seu

conjunto”. BINENBOJM, Gustavo. Da supremacia do interesse publico ao dever de proporcionalidade:

um novo paradigma para o direito administrativo. In: Revista da Procuradoria Geral do Estado do Rio

de Janeiro. vol. 59. 2005. p.59. Disponível em: http://www.rj.gov.br/web/pge/exibeConteudo?article-

id=760398.

17 - LOPES MEIRELLES, Hely. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros,

2001.p.43.apud. Ibidem p.60.

18 - Idem.

18

jurídico.

Para ele, se os bens jurídicos que a Constituição Brasileira protege com mais

ênfase são a liberdade, a igualdade, a cidadania, a segurança e a propriedade

privada, ao tratar de uma regra abstrata de conceito indeterminado, o faria em favor

dos interesses privados.

“A Constituição brasileira institui normas-princípios

fundamentais, também partindo da dignidade da pessoa

humana: direitos subjetivos são protegidos,

procedimentos administrativos garantidos; o

asseguramento da posição dos indivíduos e de seus

interesses privados é estabelecido frente ao concorrente

interesse público; etc. A Constituição brasileira, muito

mais do que qualquer outra, é uma Constituição cidadã,

justamente pela particular insistência com que protege a

esfera individual e pela minúcia com que define as regras

de competência da atividade estatal”19.

Distinta orientação se pode observar em voto do Ministro Celso de Mello em

Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta pela Confederação Nacional do

Comercio (CNC).

“A Constituição da República, ao fixar as diretrizes que

regem a atividade econômica e que tutelam o direito

de propriedade, proclama, como valores fundamentais a

serem respeitados, a supremacia do interesse público, os

ditames da justiça social, a redução das desigualdades

sociais, dando especial ênfase, dentro dessa perspectiva,

_______________

19 -ÁVILA, Humberto. Repensando o “Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o

Particular”. Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, v. I, nº. 7,

outubro, 2001.p.11. Disponível em: http://www.direitopublico.com.br.

19

ao princípio da solidariedade, cuja realização parece

haver sido implementada pelo Congresso Nacional ao

editar o art. 1º da Lei nº 8.441/92”20.

Já, desde outro ângulo, vale destacar o posicionamento de Fábio Medina

Osório com o qual contesta o artigo de Humberto Ávila, e que segundo Gustavo

Binenbojm, é o mais fervente defensor da existência e aplicabilidade do Princípio da

Supremacia do Interesse Público.

Osório sustenta que a supremacia do interesse público sobre o privado

emerge da leitura sistemática de diversos dispositivos da Constituição Federal, que o

lança à categoria de norma-princípio implícito.

“São múltiplas as fontes constitucionais da superioridade

do interesse público sobre o privado. Dos princípios

constitucionais que regem a Administração Pública

decorre a superioridade do interesse público em

detrimento do particular, como direção teleológica da

atuação administrativa. Resulta clara, na sequência, a

relação entre o imperativo conteúdo finalístico da ação

administrativa (consecução do interesse público) e a

existência de meios materiais e jurídicos que retratam a

supremacia do interesse público sobre o privado, é dizer,

as situações de vantagens da administração em

detrimento do particular encontram raízes na existência

de fins de utilidade pública perseguíveis pelo Poder

Público. De outro lado, a existência de bens coletivos que

reclamam proteção estatal e restrições a direitos

individuais também retrata um principio de superioridade

do interesse público sobre o particular. Nas normas cons-

_______________

20 -STF - ADI-MC: 1003 DF , Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 01/08/1994, Tribunal

Pleno, Data de Publicação: DJ 10-09-1999 PP-00002 EMENT VOL-01962-01 PP-00001.

20

titucionais protetivas desses bens e valores coletivos,

portanto, está implícita a existência do interesse publico e

sua superioridade relativamente ao privado”21.

Neste diapasão, em que doutrinadores adeptos ao Princípio da Supremacia

do Interesse Público contestam o posicionamento da moderna doutrina

administrativista, merece destaque uma passagem de Maria Sylvia Zanella Di Pietro,

ela ataca: “A doutrina que se considera inovadora ou incide em erro de acabar com

o Princípio da Supremacia do Interesse Público (o que equivaleria à negação dos

próprios fins do Estado) ou incide no erro de achar que está inovando, quando, na

realidade, está fazendo afirmações que desde longa data são amplamente aceitas

pela doutrina e pela jurisprudência. Muitos exageram intencionalmente os efeitos

funestos do princípio, para depois se apresentarem como os salvadores dos direitos

fundamentais22. (...) A doutrina que se considera inovadora compõe, sob certo

aspecto, uma ala retrograda, porque prega a volta de princípios próprios do

liberalismo, quando se protegia apenas uma classe social e inexistia a preocupação

com o bem comum, com o interesse público”23.

O Ministro Luis Roberto Barroso, como praticamente a totalidade dos

doutrinadores, ao contrario do que Ele preconiza como “pouco explorada”, adere à

clássica distinção de Renato Alessi, entre interesse público primário e interesse

público secundário.

_______________

21 - OSÓRIO, Fábio Medina. Existe uma supremacia do interesse público sobre o privado no direito

administrativo brasileiro? In: Revista de Direito Administrativo, v. 220. Rio de Janeiro: Renovar,

abr/jun. 2000. p. 87. nº 13. apud. BINENBOJM, Gustavo. Da supremacia do interesse publico ao

dever de proporcionalidade: um novo paradigma para o direito administrativo. In: Revista da

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro. vol. 59. 2005. p.61. Disponível em:

http://www.rj.gov.br/web/pge/exibeConteudo?article-id=760398.

22 - ZANELLA DI PIETRO, Maria Sylvia. O principio da supremacia do interesse público:

Sobrevivência diante dos ideais do neoliberalismo. in: Supremacia do interesse público e outros

temas relevantes do direito administrativo/ Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Carlos Vinicius Alves

Ribeiro, coordenadores. – São Paulo: Atlas, 2010. p.100.

23 - Ibidem. p.101.

21

O interesse público primário se sintetiza naqueles bens inerentes à atividade

da Administração e que o Estado tem o dever constitucional de promover: justiça,

segurança, bem estar social24.

Já, o interesse público secundário, diz respeito ao interesse da pessoa

jurídica de direito público em juízo, ou seja, o interesse do erário representado pelas

entidades estatais: União, Estado, Município e suas autarquias.

Ao trazer esta distinção, o autor se revela como defensor do Princípio da

Supremacia do Interesse Público e diz que: “o interesse público primário é a razão

de ser do Estado”25.

Em irrefutável alocução, o Ministro, diz que esta distinção, que não é estranha

à ordem jurídica brasileira, é a responsável pelas competências constitucionais do

Ministério Público, que defende o interesse público primário, e a Advocacia Pública,

que defende o secundário26.

Por ultimo, para realçar o posicionamento do constitucionalista, enfatiza que

numa possível colisão de princípios, o interesse público primário, não é passível de

ponderação, uma vez que este é o próprio parâmetro da ponderação.

“O interesse público primário desfruta de supremacia

porque não é passível de ponderação; ele é o parâmetro

da ponderação”27.

Não se pode desconsiderar o matiz político e social que envolve as

discussões sobre esta problemática. De um lado, interesses político-partidários de

trazer para si determinadas vantagens encobertas com o manto do interesse público

sem medir as consequências, por outro lado, o desconforto social que explode em

_______________

24 - BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. 4.ed. São Paulo: Saraiva. 2013. p. 92.

25 - Idem.

26 - Ibidem. P. 93.

27 - Ibidem. P. 94.

22

manifestações populares.

1.2– O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA.

O tema em aprecio, a respeito do princípio da legalidade administrativa,

segundo a moderna doutrina, tem seu cerne na necessidade de adaptação deste

princípio a uma nova realidade constitucional dos Estados contemporâneos28, em

função do fenômeno da crise da Lei formal ou também chamado de erosão do

princípio da legalidade.

Distinto ao princípio anteriormente analisado, o princípio da legalidade tem

raízes constitucionais expressas. De fato, a legalidade representa a pedra

fundamental do Direito Administrativo.

Na Constituição Brasileira, tem previsão no Art. 5º II, alem da cláusula geral

do Art. 1º (Estado de Direito), está elencado como o primeiro dos princípios que

regem a Administração pública no caput do Art. 37, também é de destaque

constitucional a legalidade auferida ao Poder Executivo, elencada nos incisos IV e VI

alíneas a e b do Art. 84.

Para entender o fenômeno acima elencado, se faz mister fazer uma breve

resenha da evolução histórica deste princípio, já que se dá com o advento do

Estado-providência, uma vez superado o Estado Liberal.

O princípio da legalidade se afirma no Estado Liberal de Direito, sob a égide

do dogma de Montesquieu da separação dos poderes29. As funções do Estado se

encontravam bem definidas; a função legislativa de criação da Lei e as funções

_______________

28 - BAPTISTA, Patrícia. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003.

p.94.

29 - Ibidem. p.95.

23

administrativa e jurisdicional, como executoras e aplicadoras do direito

respectivamente.

Na permanência deste modelo, vigorava a vinculação positiva dos atos

administrativos; eis que, na estabilidade política da Administração Pública, ao

administrador não restava alternativa da que obedecer aos desígnios do Legislativo.

Plena observância do Estado de Direito instituído na revolução liberal.

Assim, o princípio da legalidade, nasce da conjunção entre Estado de Direito

e separação dos poderes30.

Já concebido e sendo aplicado o princípio da legalidade, na Europa do século

XIX (BAPTISTA. p.96.), tomava rumos distintos.

Na França, onde primava a supremacia do Parlamento, a Lei não

representava nenhum limite à atividade administrativa; a vinculação positiva era

integral, administrar era executar a Lei31; já na Alemanha, a Lei era considerada um

limite à liberdade de agir do administrador.

Nesse país, a Administração tinha liberdade para agir, sempre que

respeitados os limites da Lei, e suas ações estejam direcionadas ao bem estar geral,

isto é, ao interesse público. Era considerada a ideia de vinculação negativa à Lei32

onde o administrador, não necessariamente deve atuar de acordo ao que a Lei

autoriza, ou seja, podia agir de acordo aos critérios de conveniência e oportunidade.

Temos, pois, num mesmo momento histórico, a convivência de duas

situações definidas pela doutrina administrativista, respectivamente, como poderes

vinculados e poderes discricionários da Administração, onde se observa que a

atividade administrativa é simultaneamente vinculada e discricionária, não existindo

_______________

30 - Ibidem. p.96.

31 - Idem.

32 - Ibidem. p.97.

24

atos puramente vinculados e atos puramente discricionários33.

Com o declínio do Estado Liberal e o surgimento do Estado-providência,

surge a necessidade de adequação do princípio da legalidade às fortes mudanças

políticas da época, passando por serias dificuldades.

Dada a politização que toma força na segunda metade do século XX, abrindo

espaço para o clientelismo e a necessidade de obtenção de todo tipo de vantagem

política, a Lei passou por um processo de desvalorização, com a consequente perda

por parte dos atores legislativos, do senso de justiça, atendendo outros interesses.

Era o começo da erosão do princípio da legalidade, instaurando-se a crise da

Lei formal.

A origem política da erosão do princípio da legalidade trouxe aparelhada toda

uma serie de situações; a Lei perde seu cunho de majestade com o qual tinha se

identificado na revolução liberal34.

Já no é mais a transmissora das aspirações do povo emanadas por seus

representantes eleitos, para se transformar num meio de realização de interesses

individuais e às vezes duvidosos; numa moeda de troca. A Lei perde seu prestigio35.

Neste diapasão, resulta evidente a superioridade do Poder Executivo, que faz

do Legislativo a fonte de realização desses interesses individuais de minorias bem

identificadas.

Concomitantemente, no ultimo quarto do século XX (BARROSO. p.266.), no

período pós-guerra, acontecem grandes transformações no direito, especialmente no

_______________

33 - COSTA, António Augusto. A erosão do principio da legalidade e a discricionariedade

administrativa. Publicações CEDIPRE online-12. Coimbra, Agosto de 2012. p.2. Disponível em:

HTTP://www.cedipre.fd.uc.pt.

34 - BAPTISTA, Patrícia. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003.

p.99.

35 - Idem.

25

Direito Constitucional. Surge o Estado Constitucional de Direito36, tendo como

principal característica, a submissão da Lei à Constituição.

Muda o funesto panorama anterior da legalidade, a Lei, não mais encontra

seu plano de realização nos interesses de uma minoria, agora, deveria

obrigatoriamente que ser filtrado seu conteúdo para medir sua compatibilidade com

a norma constitucional, sob pena de ser declarada sua inconstitucionalidade, sem

poder ingressar no mundo jurídico.

_______________

36 - BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. 4.ed. São Paulo: Saraiva. 2013. p. 266.

26

CAPÍTULO II.

O PRAGMATISMO JURÍDICO E SUA INFLUENCIA NO PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.

2.1 – BREVE HISTÓRICO E SEUS FUNDAMENTOS.

A escola do pragmatismo tem sua origem nos Estados Unidos da América,

entre final do século XIX e inicio do século XX, com os trabalhos de Charles Pierce e

o desenvolvimento de William James e John Dewey.

O pragmatismo assim concebido é considerado um movimento filosófico e

teórico, que traz a premissa de que toda decisão ou ação deve ser avaliada levando-

se em consideração suas consequências e estas consequências seriam suficientes

para justificar as decisões ou ações. De tal sorte, se busca uma ligação entre as

experiências do mundo real e suas consequências práticas37.

O Maximo expoente do pragmatismo na atualidade é o jurista americano

Richard Posner, autor da obra Law, Pragmatism and Democracy (2004) e professor

na Universidade de Chicago, destacou-se como precursor de uma corrente de

pensamento em Direito Econômico segundo a qual, os processos legais, mais do

que assegurar direitos, devem produzir a mais eficiente alocação de recursos. A

teoria de democracia de Posner inspira-se no trabalho do economista

austríaco Joseph Schumpeter38.

O pragmatismo, também sofre influência de linhas antigas de pensamento,

como o darwinismo, o ceticismo e o empirismo, daí, o fato de não existir uma única

_______________

37 - LIMA, Silvio Wanderley do Nascimento. Breves comentários sobre o pragmatismo jurídico e o

processo decisório judicial no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3218, 23 abr. 2012.

Disponível em: http://jus.com.br/artigos/21595.

38 - The Business of Democracy is Democracy - A Review of Richard Posner, 'Law, Pragmatism and

Democracy' (Harvard, 2004), and Tom Campbell and Adrienne Stone, eds, 'Law and Democracy'

(Ashgate, 2003), por Arthur J. Jacobson e John P. McCormick. Chicago John M. Olin Law &

Economics Working Paper n° 261 (2d series), p. 2. apud. WIKIPEDIA. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Posner.

27

corrente de pragmatismo, ou seja, um pragmatismo homogêneo, adquirindo

assim diversas formas de acordo com a compreensão do caso concreto39.

O pragmatismo se funda em três bases teóricas que o caracteriza e que são

comuns a qualquer das formas que adote: o antifundacionalismo, o contextualismo e

o consequêncialismo.

O antifundacionalismo, diz respeito à “rejeição à fundamentação do

pensamento e do conhecimento40”, o que implicaria também na rejeição de conceitos

abstratos, definitivos e estáticos; o direito é dinâmico, e não pode ser imune às

transformações sociais41.

O contextualismo por sua vez, diz respeito à hermenêutica, à interpretação

jurídica, o direito como prática social, deve ser interpretado de forma contextual,

prática e ordenada42.

O consequêncialismo seja talvez a característica mais importante para este

estudo; cada decisão impõe o exame axiológico da ação e deverá ser tomada

levando em conta suas consequências práticas “olhar para o futuro e não para o

passado”43.

_______________

39 - Thamy Pogrebinschi lembra que o primeiro autor a sustentar a existência de mais de um

pragmatismo foi Arthur O. Lovejoy, em 1908. POGREBINSCHI, Thamy, Pragmatismo, op. cit., p. 15,

nota 13. apud. CARVALHO REZENDE OLIVEIRA, Rafael. A releitura do direito administrativo à luz do

pragmatismo jurídico. FGV – revista de direito administrativo, rio de Janeiro, v. 256, p. 129-63,

jan./abr. 2011. p.131.

Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/8496/7245.

40 - LIMA, Silvio Wanderley do Nascimento. Idem.

41 - CARVALHO REZENDE OLIVEIRA, Rafael. Ibidem. p.132.

42 - Idem.

43 - A interpretação consequêncialista do direito administrativo é defendida por Alexandre Santos de

Aragão. ARAGÃO, Alexandre Santos de. Interpretação consequêncialista e análise econômica do

direito público à luz dos princípios constitucionais da eficiência e economicidade. In: SARMENTO,

Daniel (Org.). Vinte anos da Constituição Federal de 1988, op. cit. apud. Idem.

28

Esta escola filosófica e teórica influenciou a formação de um pensamento

jurídico que se preocupava pela obtensão da melhor solução para o caso concreto,

que venha a satisfazer as exigências da sociedade.

Assim, o desenvolvimento do pragmatismo jurídico é atribuído a Oliver

Holmes e Roscoe Pound, cuja continuidade se dá graças ao trabalho de Benjamin

Cardozo.

O trabalho de Cardozo deu prosseguimento ao pensamento de Holmes na

Suprema Corte Americana, com as preocupações e as deliberações teóricas, dando

um alerta sobre a necessidade de ver uma perspectiva realista, mitigando o

puramente jurídico.

Os juristas deviam perceber que era necessário sair das exigências

conceituas e entrar no campo da realidade da vida.

“A vida do direito não tem sido lógica mas sim

experiência. As necessidades sentidas na época, a moral

e as teorias políticas predominantes, as intenções da

política pública confessadas ou inconscientes, e até os

preconceitos que os juízes compartilham com os seus

concidadãos têm tido muito mais influencia do que o

silogismo ao determinar as regras pelas quais os homens

devem ser governados”44.

O pensamento de Holmes, era no sentido de que o político-social, não pode

estar à margem da hermenêutica jurídica. Sua lição de que o direto é mais

experiência do que lógica pura está intimamente ligada ao método sociológico da

_______________

44 - LATORRE, Angel. Introdução ao direito. Coimbra: Livraria Almedina, 1.978. p.189-190. apud.

FREITAS, Lorena de Melo. Um diálogo entre o pragmatismo e o direito: Contribuições do

Pragmatismo para a discussão da ideologia na Magistratura. p.16. Disponível em: http://www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo/cognitio_estudos/cog_estudos_v4n1/cog_est_v4n1_fre

itas_lorena_de_m.pdf.

29

Escola Sociológica do Direito de Benjamin Cardozo e Roscoe Pound. Assim, o

sentido político e social também deve ser sopesado na interpretação da Lei; o fim

era a satisfação do interesse público, superior anseio da coletividade45.

2.2 – O PRAGMATISMO JURÍDICO NO DIREITO BRASILEIRO.

Ao fazermos uma analise em nosso Ordenamento Jurídico, vamos perceber

que determinados dispositivos trazem no seu conteúdo características básicas

do pragmatismo como contextualismo, no limite do interprete, e

consequêncialismo, na preocupação do legislador por resultados futuros.

“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que

ela se dirige e às exigências do bem comum”46.

Note-se que o legislador propõe que a norma deve sofrer uma filtragem para

que o aplicador, leve em conta os fins sociais a que se destina e as possíveis

consequências, direcionando sempre a interpretação para o resultado mais benéfico

para a sociedade47, o “bem comum”.

Neste sentido, em arrojo jurisprudencial para a época, a sociedade reclamava

por uma solução nas relações patrimoniais do concubinato.

“Comprovada a existência de sociedade de fato entre os

concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a

partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”48.

Veja que a Suprema Corte, mesmo não existindo dispositivo legislado para

_______________

45 - FREITAS, Lorena de Melo. Idem.

46 - Art. 5º da Lei de introdução às normas do Direito Brasileiro.

47 - LIMA, Silvio Wanderley do Nascimento. Idem. p.4. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/21595.

48 - STF Súmula nº 380 - 03/04/1964 - DJ de 8/5/1964, p. 1237; DJ de 11/5/1964, p. 1253; DJ de

12/5/1964, p. 1277.

30

regular essas relações, valeu-se de uma interpretação de resultados para satisfazer

os interesses da sociedade.

Sem duvida, uma das aplicações mais características do consequêncialismo

no Direito Brasileiro é a modulação dos efeitos temporais da decisão proferida em

sede de controle concentrado.

“Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica

ou de excepcional interesse social, poderá o

Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços

de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração

ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito

em julgado ou de outro momento que venha a ser

fixado”49.

Se bem a modulação de efeitos temporais nasce para ser aplicada em sede

de controle concentrado, o STF já a aplicou em sede de controle difuso50.

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIOS. CÂMARA

DE VEREADORES. COMPOSIÇÃO. AUTONOMIA

MUNICIPAL. LIMITES CONSTITUCIONAIS. NÚMERO

DE VEREADORES PROPORCIONAL À POPULAÇÃO.

CF, ARTIGO 29, IV. APLICAÇÃO DE CRITÉRIO

ARITMÉTICO RÍGIDO. INVOCAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE.

INCOMPATIBILIDADE ENTRE A POPULAÇÃO E O

NÚMERO DE VEREADORES.

INCONSTITUCIONALIDADE, INCIDENTER TANTUM, DA

_______________

49 - Art. 27 da Lei 9.868 de 10 de novembro de 1.999.

50 - LIMA, Silvio Wanderley do Nascimento. Ibidem. p.5.

Disponível em: http://jus.com.br/artigos/21595.

31

NORMA MUNICIPAL. EFEITOS PARA O FUTURO.

SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. O artigo 29, inciso IV da

Constituição Federal, exige que o número de Vereadores

seja proporcional à população dos Municípios,

observados os limites mínimos e máximos fixados pelas

alíneas a, b e c. 2. Deixar a critério do legislador municipal

o estabelecimento da composição das Câmaras

Municipais, com observância apenas dos limites máximos

e mínimos do preceito (CF, artigo 29) é tornar sem sentido

a previsão constitucional expressa da proporcionalidade.

3. Situação real e contemporânea em que Municípios

menos populosos têm mais Vereadores do que outros

com um número de habitantes várias vezes maior. Casos

em que a falta de um parâmetro matemático rígido que

delimite a ação dos legislativos Municipais implica

evidente afronta ao postulado da isonomia. 4. Princípio da

razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de

norma municipal que estabelece a composição da

Câmara de Vereadores sem observância da relação

cogente de proporção com a respectiva população

configura excesso do poder de legislar, não encontrando

eco no sistema constitucional vigente. 5. Parâmetro

aritmético que atende ao comando expresso na

Constituição Federal, sem que a proporcionalidade

reclamada traduza qualquer afronta aos demais princípios

constitucionais e nem resulte formas estranhas e

distantes da realidade dos Municípios brasileiros.

Atendimento aos postulados da moralidade,

impessoalidade e economicidade dos atos administrativos

(CF, artigo 37). 6. Fronteiras da autonomia municipal

impostas pela própria Carta da República, que admite a

proporcionalidade da representação política em face do

número de habitantes. Orientação que se confirma e se

reitera segundo o modelo de composição da Câmara dos

32

Deputados e das Assembléias Legislativas (CF, artigos 27

e 45, § 1º). 7. Inconstitucionalidade, incidenter tantun, da

lei local que fixou em 11 (onze) o número de Vereadores,

dado que sua população de pouco mais de 2600

habitantes somente comporta 09 representantes. 8.

Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação

excepcional em que a declaração de nulidade, com seus

normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o

sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse

público para assegurar, em caráter de exceção,

efeitos pro futuro à declaração incidental de

inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido

e em parte provido. (Recurso Extraordinário nº 197917,

tribunal Pleno, Relator Ministro Mauricio Correa, DJ 07-

05-2004).

Outra situação característica da aplicação do pragmatismo jurídico em nossa

legislação é a que diz respeito à exigência de repercussão geral no juízo de

admissibilidade do Recurso Extraordinário ao STF.

“O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não

conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão

constitucional nele versada não oferecer repercussão

geral, nos termos deste artigo”51.

Veja como a lógica jurídica pura “acesso á tutela jurisdicional”, resta mitigada

ante a exigência do clamor social.

No mesmo sentido, o presidente de determinado tribunal, está autorizado a

suspender tutela de urgência em face do Poder Público, não apenas por motivos de

ordem jurídica, mas por questões de relevante interesse coletivo52.

_______________

51 - Art. 543-A do Código de Processo Civil.

52 - LIMA, Silvio Wanderley do Nascimento. Idem.

33

“Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o

conhecimento do respectivo recurso, suspender, em

despacho fundamentado, a execução da liminar nas

ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a

requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica

de direito público interessada, em caso de manifesto

interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para

evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à

economia públicas”53.

Pode-se perceber então, que o pragmatismo jurídico esta presente tanto em

nossa legislação, como nas decisões de nossos tribunais. Se estas decisões são

admitidas no focadas numa interpretação legal (lógica jurídica pura), e sim na lógica

do consequêncialismo, depreende-se que na seara administrativa, a tomada de

decisões que visem um resultado pratico para o futuro, deve decorrer da própria

razoabilidade e da finalidade do ato administrativo, a consecução do interesse

público. O Administrador Público deve medir, antes que nada, as consequências do

ato.

_______________

53 - Art. 4º da Lei 8.437 de 30 de junho de 1.992.

34

CAPÍTULO III.

O CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E SUA INFLUÊNCIA NO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA.

3.1 – A NOÇÃO DE NEOCONSTITUCIONALISMO E A NOVA DOGMÁTICA DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL.

Inicialmente, deve-se por bem colocar, que o termo “neoconstitucionalismo”,

vem sendo objeto de discussão por boa parte da doutrina. O próprio Luis Roberto

Barroso faz menção ao uso indiscriminado dos prefixos, assentando que alguma

coisa quer dizer, seja boa ou não.

“Na aflição dessa hora, imerso nos acontecimentos, não

pode o intérprete beneficiar-se do distanciamento crítico

em relação ao fenômeno que lhe cabe analisar. Ao

contrário, precisa operar em meio à fumaça e à espuma.

Talvez esta seja uma boa explicação para o recurso

recorrente aos prefixos pós e neo: pós-modernidade, pós-

positivismo, neoliberalismo, neoconstitucionalismo. Sabe-

se que veio depois e que tem a pretensão de ser novo.

Mas ainda não se sabe bem o que é. Tudo é ainda

incerto. Pode ser avanço. Pode ser uma volta ao passado.

Pode ser apenas um movimento circular, uma dessas

guinadas de 360 graus”54.

De fato, o termo se refere a uma serie de transformações que aconteceram

no âmbito do Direito Constitucional, que geraram o que foi chamado de

constitucionalização do direito, operando no plano da hierarquia normativa e

abrangendo todas suas áreas.

_______________

54 - BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo

tardio do Direito Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 851, 1 nov. 2005. p.1.

Disponível em: http://jus.com.br/artigos/7547.

35

“(...) a consolidação do Estado Constitucional de Direito, o

pós-positivismo, com a superioridade axiológica dos

direitos fundamentais e o retorno à observação dos

valores, e a consideração da força normativa da

Constituição geraram uma nova concepção do

Constitucionalismo, com diversas consequências

práticas”55.

O Ministro Luis Roberto Barroso, identifica como parâmetros destas

transformações, três marcos bem definidos, marco histórico, marco filosófico e

marco teórico.

O marco histórico, diz respeito ao surgimento do Estado Constitucional de

Direito, que se consolida no ultimo quarto do século XX.

O marco filosófico se dá com a reaproximação entre Direito e Ética, tendo

como foco os direitos fundamentais, no surgimento do pós-positivismo.

Já, o marco teórico, representa todo um conjunto de mudanças que inclui a

força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e o

desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional. Desse

conjunto de fenômenos resultou um processo extenso e profundo de

constitucionalização do Direito56.

Basicamente neste ponto é que será focado este estudo, especificamente, na

nova dogmática da interpretação constitucional.

O interprete, deve buscar sempre a máxima efetividade da norma, cuja

_______________

55 - SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. Neoconstitucionalismo e legalidade administrativa: A

juridicidade administrativa e sua relação com os direitos fundamentais. In: Revista da Procuradoria

Geral do Estado do Rio de Janeiro. vol. 63. 2008. p.181. Disponível em:

http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1929147/DLFE-66517.pdf/REVISTA63181.pdf.

56 - BARROSO, Luís Roberto. Ibidem p.3. apud. Idem.

36

garantia é o principal desafio da teoria constitucional contemporânea.

A doutrina da efetividade impõe ao interprete o compromisso da persecução

dos valores constitucionais, valendo-se do sistema da filtragem constitucional.

O sistema da filtragem constitucional se apoia em três premissas: a)

supremacia da constituição; b) subordinação das normas infraconstitucionais com o

consequente afastamento do Ordenamento Jurídico da norma incompatível com os

valores constitucionais e c) aplicabilidade direta da norma constitucional.

Assim, as normas constitucionais, informam o sentido e alcance destes

valores, portanto, toda norma infraconstitucional que não se subordine a sua

superioridade, deve ser barrida do Ordenamento Jurídico.

“Utiliza-se a expressão ‘Filtragem Constitucional’ em

virtude de que ela denota a ideia de um processo em que

toda a ordem jurídica, sob a perspectiva formal e material,

e assim os seus procedimentos e valores, devem passar

sempre e necessariamente pelo filtro axiológico da

Constituição Federal, impondo, a cada momento de

aplicação do Direito, uma releitura e atualização de suas

normas”57.

De tal sorte é necessário que qualquer norma do Ordenamento Jurídico seja

interpretada tendo como premissa os valores constitucionais e os Direitos

Fundamentais previstos no Estado brasileiro58.

_______________

57 - SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem constitucional: construindo uma nova dogmática jurídica.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999. p.104. apud. SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio

dos. Ibidem. p.184.

58 - SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. Neoconstitucionalismo e legalidade administrativa: A

juridicidade administrativa e sua relação com os direitos fundamentais. In: Revista da Procuradoria

Geral do Estado do Rio de Janeiro. vol. 63. 2008. p.184. Disponível em:

http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1929147/DLFE-66517.pdf/REVISTA63181.pdf.

37

A filtragem constitucional esta intimamente ligada ao fenômeno da

Constitucionalização do Direito. O Constituinte Originário de 1988 sintetizou no texto

constitucional, normas que até então faziam parte do sistema jurídico de distintas

áreas do Direito, que ao serem delimitadas pelos Direitos Fundamentais e os valores

constitucionais, promoveram uma verdadeira depuração do Ordenamento Jurídico.

Também, um fato relevante a ter em conta é o alcance das normas

programáticas.

O administrador que até então tinha suas tarefas esparsas em leis ordinárias,

encontrou no texto constitucional uma serie de objetivos a serem alcançados,

impondo incluso limites a suas atribuições funcionais59.

Outra ferramenta de interpretação que o neoconstitucionalismo trouxe, foi a

técnica de ponderação, aplicável na colição de normas ou princípios. Esta técnica se

extrai do princípio da proporcionalidade do direito alemão, e se bem não está

expresso no texto constitucional, seu fundamento decorre do devido processo legal

substantivo.

“Trata-se de um valioso instrumento de proteção dos

direitos fundamentais e do interesse público, por permitir o

controle da discricionariedade dos atos do Poder Público

e por funcionar como a medida com que uma norma deve

ser interpretada no caso concreto para a melhor

realização do fim constitucional nela embutido ou

decorrente do sistema”60.

Não acredito ser necessário para as aspirações deste trabalho, enumerar as

distintas etapas que configuram a técnica da ponderação de interesses, simplesmen-

_______________

59 - Ibidem. p.185.

60 - BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. 4.ed. São Paulo: Saraiva. 2013. p.328-329.

38

te, é mister entender como o Constitucionalismo Contemporâneo, através das novas

dogmáticas da interpretação constitucional, influenciou no princípio da legalidade

administrativa, trazendo importantes transformações no Direito Administrativo.

3.2 – A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO E SEU IMPACTO NO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.

Em torno do princípio da legalidade administrativa, se geraram discussões

acerca do avanço do poder discricionário da Administração Pública, em detrimento

da vinculação positiva à Lei.

Em efeito, quanto mais cresciam as necessidades da sociedade pela edição

de leis, o Poder Legislativo se mostrava insuficiente para atender todas essas

exigências, isso, somado a um processo legislativo demorado e influenciado pelo

Poder Executivo de turno com maioria parlamentar.

Era necessário buscar uma legitimação para o atuar de uma Administração,

que até então, atendia a uma legalidade arraigada na sua origem. As decisões

corretas do administrador seriam aquelas esculpidas na norma jurídica,

independentemente de que estas decisões possam ou não ser produto de opressão

ou violação a direitos61.

Constitui um fator relevante na transformação da Legalidade Administrativa,

sem duvida, as vicissitudes da vida moderna, num Estado que cada vez mais

precisa diversificar sua atuação62.

Assim, houve a necessidade de trazer ao campo da Administração Pública,

atores da área privada com importante participação nas políticas públicas. De tal

sorte, não pode o Estado ficar dependente da edição de uma Lei63.

_______________

61 - SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. Ibidem. p.192.

62 - BAPTISTA, Patrícia. Transformações do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar. 2003.

p.99.

63 - SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. Idem.

39

Deste panorama de ausência de normatização legislativa se depreende que a

legalidade, não pode ser mais aquela submissão aos preceitos legais e sim uma

necessidade de agir do administrador de acordo a valores maiores que possam

justificar suas escolhas.

Com a constitucionalização do Direito que trouxe a consagração da

Supremacia da Constituição e um verdadeiro arcabouço principiológico na regulação

do Direito Administrativo gerando um microssistema jurídico, somado às ferramentas

de interpretação, como o sistema de filtragem constitucional da norma e a técnica da

ponderação de interesses, houve uma grande mutação na Legalidade

Administrativa, que se traduz na derrubada do mito da Lei e o avanço das decisões

proferidas sob os critérios de conveniência e oportunidade baseadas nos valores

dos princípios constitucionais e a aplicação direta da Constituição.

“Supera-se, aqui, a ideia restrita de vinculação positiva do

administrador à lei, na leitura convencional do princípio da

legalidade, pela qual sua atuação estava pautada por

aquilo que o legislador determinasse ou autorizasse. O

administrador pode e deve atuar tendo por fundamento

direto a Constituição e independentemente, em muitos

casos, de qualquer manifestação do legislador ordinário.

O princípio da legalidade transmuda-se, assim, em

princípio da constitucionalidade ou, talvez mais

propriamente, em princípio da juridicidade,

compreendendo sua subordinação à Constituição e à lei,

nessa ordem”64.

_______________

64 - Note-se que Barroso, utiliza a expressão juridicidade, como uma mutação do princípio da

legalidade, expressão que vem sendo utilizada por vários autores, no direito pátrio.

BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do

Direito Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 851, 1 nov. 2005. p.12.

Disponível em: http://jus.com.br/artigos/7547.

40

Neste contexto, até os atos discricionários regidos pelos critérios de

oportunidade e conveniência, são subordinados aos princípios constitucionais que

possuem agora força normativa.

Todavia, mesmo não havendo Lei previa necessária para regular determinado

caso concreto, a Administração Pública não só tem o poder, senão, o dever de agir,

em prol da consecução dos objetivos fundamentais da República65.

_______________

65 - SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. Ibidem. p.196.

41

CONCLUSÃO.

Observamos que a tentativa de desconstrução do princípio da supremacia do

interesse público sobre o particular se dá por uma parte da moderna doutrina

administrativista, que se insurge ao argumento da mitigação dos Direitos

Fundamentais e da Dignidade da Pessoa Humana, e do sentido autoritário que

ainda domina certas bases do Direito Administrativo.

Em contrapartida, a doutrina clássica defende este princípio sustentando que

as leis administrativas visam, geralmente, a assegurar essa supremacia do Poder

Público sobre os indivíduos, enquanto necessária à consecução dos fins da

Administração e resaltando que se a lei dá à Administração os poderes de

desapropriar, requisitar, de intervir, de policiar, de punir, é porque tem em vista

atender o interesse geral, que não pode ceder diante do interesse individual.

Mesmo com o desconforto social produto da visão errada de autoridades

administrativas que invocam para si o interesse público para dar passo a interesses

individuais e mesquinhos que colidem com os interesses da sociedade, não pode

ser aceito a desconstrução dos modernos axiomas do Direito Administrativo sem

uma defesa apropriada, até porque, essas condutas podem ser atacadas com a

aplicação de outros princípios, como o da eficiência e o da moralidade.

Nunca o administrador público deve privilegiar interesses próprios ou de

terceiros. O Direito Administrativo Constitucional pune estas condutas e as enquadra

como desvio de finalidade ou improbidade administrativa. O administrador deve

sempre olhar para a consecução do interesse publico e o bem estar social.

Assim, o princípio da supremacia do interesse público sobre o particular deve

ser entendido como fundamento que justifique e caracterize o Direito Administrativo

como parte principal do Direito Público.

Não significa com isso que os debates ao respeito da supremacia do

interesse público estejam fechados. Há hoje uma predominância da doutrina clássica

42

pela manutenção deste princípio como dogma fundamental do Direito Administrativo,

o que não quer dizer que o sistema principilógico administrativo atual não venha a

sofrer adequações para melhor se enquadrar ao cenário do Estado Constitucional de

Direito.

Observamos também como o pragmatismo jurídico de Oliver Holmes e

Roscoe Pound, e logo após de Benjamim Cardozo, tem influenciado e influencia com

seus fundamentos e sua filosofia consequêncialista na formação da ideia de

consecução do interesse público e do bem estar da sociedade, encontrando-se

presente na Lei e na Jurisprudência Pátria.

E tanto é assim, que no atual Direito Administrativo Constitucional, não se

pode falar de ponderação em colisão de normas ou princípios sem ser consideradas

as consequências futuras como critério de legitimidade dos parâmetros na

ponderação de interesses.

De tal sorte, na necessidade de rever os dogmas axiológicos do Direito

Administrativo, certamente será feito, quem diz até de forma inconsciente, utilizando

os fundamentos da escola do pragmatismo jurídico visando sempre como resultado

prático futuro o fim da Administração Pública, ou seja, a consecução do interesse

público.

Entrando já nas discussões acerca do princípio da legalidade administrativa,

vimos que foi necessária a adaptação deste princípio ao cenário constitucional do

Estado Contemporâneo, por conta da crise da Lei formal, também chamada de

erosão do princípio da legalidade administrativa.

Observamos que este princípio se afirmou no Estado Liberal sob a égide do

dogma da separação dos poderes de Montesquieu. Neste cenário político, o

administrador não tinha mais preocupações da que aplicar a Lei de forma inconteste,

independentemente dos resultados. Vigorava a vinculação positiva do administrador

à Lei.

43

No entanto, na Alemanha, o administrador tinha liberdade para agir, sempre

que o faça visando o interesse geral. Se bem se tratava de vinculação negativa, não

existiam atos puramente vinculados, nem atos puramente discricionários.

Assim sendo, tendo em vista que a revolução liberal instaurou o Estado

Democrático de Direito, o princípio da legalidade nasce da conjunção deste com o

dogma da separação dos poderes apresentando duas facetas distintas no mesmo

momento histórico.

A crise da Lei Formal acontece com o advento do Estado Providencia, no

declínio do Estado Liberal como consequência da instabilidade política; a Lei perdeu

seu prestigio num Legislativo preocupado com interesses individuais político-

partidários.

A adequação do princípio da legalidade ao cenário constitucional do Estado

Contemporâneo se dá com o advento do Estado Constitucional de Direito no ultimo

quarto do século XX. Agora a Lei se devia submeter à Supremacia da Constituição e

seu conteúdo devia ser filtrado para ser compatível com os valores constitucionais,

sob pena de não ingressar no mundo jurídico.

Com a expansão do Estado e a complexidade da vida moderna, o Legislativo

não da conta de atender as necessidades da sociedade, somado a um processo

demorado na edição de Leis.

O fenômeno da ausência de normatização legislativa trouxe aparelhada outra

discussão, o avanço do poder discricionário da Administração Pública, em

detrimento da vinculação positiva à Lei.

Neste contexto, a justiça, não mais se encontrava no Direito positivado,

criando-se um pensamento de que sua aplicação sem um critério apurado poderia

violar Direitos Fundamentais. De tal sorte, o Direito, não se podia distanciar de suas

bases, era necessário preservar seus valores. Assim, o positivismo sai de cena,

abrindo passo para o pós-positivismo.

44

Surge o neoconstitucionalismo, impulsionando a Constitucionalização do

Direito Administrativo, e promovendo uma verdadeira mutação na Legalidade

Administrativa, contribuindo ainda para a queda do mito da vinculação positiva à Lei

e dando passo a decisões proferidas com base nos princípios constitucionais e os

valores a eles inerentes. O princípio da legalidade transmuda-se, assim, em princípio

da constitucionalidade ou, talvez mais propriamente, em princípio da juridicidade.

É notável a influencia do constitucionalismo contemporâneo na legalidade

administrativa e no cenário jurídico atual.

Percebe-se que o princípio da legalidade administrativa, foi tomando

naturalmente distintas feições de acordo ao momento histórico e político-social de

turno.

Vemos que a submissão do Poder Legislativo em mãos do Executivo é um

fato que persiste no mundo político e que influencia de forma negativa na produção

das Leis, ainda mais nos tempos atuais, tendo como contrapeso a hermenêutica

jurídica contemporânea e o controle de constitucionalidade.

Assim, no Direito Público, se por um lado a Lei perdeu seu senso de justiça

na fonte, por outro, a Constituição passou a ser fonte primaria da realização deste

Direito, tendo no seu arcabouço de normas-princípios, as bases necessárias para

sua aplicação.

45

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49

LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA.

CRFB. Art. 1º.

CRFB. Art. 5º, II.

CRFB. Art. 37.

CRFB. Art. 84, IV.

CRFB. Art. 84, VI alíneas a e b.

CRFB. Art. 182, §3º.

Lei de introdução às normas do Direito Brasileiro. Art. 5º.

Lei nº 8.441/92. Art.1º.

Lei 9.868 de 10 de novembro de 1.999. Art. 27.

Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1.973. Código de Processo Civil. Art. 543-A.

Lei 8.437 de 30 de junho de 1.992. Art. 4º.

DL nº 3.365/41. Art. 20.

STF - ADI-MC: 1003 DF , Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 01/08/1994, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 10-09-1999 PP-00002 EMENT VOL-01962-01 PP-00001.

STF - Recurso Extraordinário nº 197917, tribunal Pleno, Relator Ministro Mauricio Correa, DJ 07-05-2004.

STF - Súmula nº 380 - 03/04/1964 - DJ de 8/5/1964, p. 1237; DJ de 11/5/1964, p. 1253; DJ de 12/5/1964, p. 1277.

50

INDICE. FOLHA DE ROSTO. -----------------------------------------------------------------------------------2 AGRADECIMENTO��----------------------------------------------------------------------------------3 DEDICATÓRIA. -----------------------------------------------------------------------------------------4 RESUMO. -----------------------------------------------------------------------------------------------5 METODOLOGIA. ---------------------------------------------------------------------------------------6 SUMÁRIO. ---------------------------------------------------------------------------------------------- 7 INTRODUÇÃO. ---------------------------------------------------------------------------------------8

CAPÍTULO I A CRISE DOS PRINCÍPIOS. DESCONSTRUÇÃO E EROSÃO. ------------------------11 1.1 - O princípio da supremacia do interesse público. ------------------------------------ 11

1.2 - O princípio da legalidade administrativa. ---------------------------------------------- 22

CAPÍTULO II O PRAGMATISMO JURÍDICO E SUA INFLUÊNCIA NO PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. --------------------------------------------------26 2.1 - Breve histórico e seus fundamentos. ---------------------------------------------------- 26

2.2 - O pragmatismo jurídico no direito brasileiro. ------------------------------------------ 29

CAPÍTULO III O NEOCONSTITUCIONALISMO E SUA INFLUÊNCIA NO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA. -------------------------------------------------------------34 3.1 - A noção de neoconstitucionalismo e a nova dogmática da interpretação constitucional.------------------------------------------------------------------- 34 3.2 - A constitucionalização do Direito Administrativo e seu impacto no Princípio da Legalidade. ------------------------------------------------------------ 38

CONCLUSÃO. -------------------------------------------------------------------------------------- 41 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA. ------------------------------------------------------------- 45 WEBGRAFIA. -------------------------------------------------------------------------------------- 46 LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA. --------------------------------------------------------- 49

INDICE. ------------------------------------------------------------------------------------------------ 50