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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO DO MEDIADOR
PARA O PROCESSO DE MEDIAÇÃO
Sônia Rooke Las Casas
ORIENTADOR:
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro - 2018
DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em Mediação de Conflitos com ênfase em Família. Por: Sônia Rooke Las Casas
A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO DO MEDIADOR
PARA O PROCESSO DE MEDIAÇÃO
Rio de Janeiro - 2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço as minhas grandes amigas, Leda e
Gláucia pela colaboração e incentivo à realização
desse trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho ao meu esposo,
companheiro de todos os momentos, NELSON
SOARES DE REZENDE pelo carinho, incentivo e
apoio na elaboração desse trabalho.
RESUMO
O presente trabalho trata da importância do autoconhecimento do
Mediador para o processo de mediação e para as partes envolvidas no conflito.
Preliminarmente, situa o autoconhecimento a partir da compreensão
de que o conflito é intrínseco ao convívio humano, sendo uma força natural
necessária ao crescimento e transformação das relações interpessoais.
Em seguida, aborda a mediação como um dos métodos mais
adequados para solucionar a disputa e traça considerações sobre os princípios
que regem o processo de mediação e a atuação do mediador.
Finalmente, destaca a necessidade de o mediador buscar o
conhecimento de sua essência de forma consciente e assertiva, conhecer suas
próprias dificuldades e limitações, para se empenhar continuamente no
desenvolvimento de diversas áreas de competência e conduzir o processo de
mediação, com maior tranquilidade, segurança e efetividade.
Palavras-chave: Conflito. Mediação. Autoconhecimento. Mediador.
Princípios. Competências.
Abstract
This article deals with the importance of the self-knowledge of the
mediator for the mediation process and the parties involved in the conflict.
Preliminarily, locates self-knowledge from the understanding that
conflict is intrinsic to human conviviality, being a natural force necessary for the
growth and transformation of interpersonal relationships.
METODOLOGIA
Durante mais de nove anos trabalhando como mediadora judicial do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e atuando nos CEJUSCs da Capital, dos
Fóruns Regionais de Campo Grande e da Leopoldina e na Câmara de
Mediação Institucional da OABRJ, observei que tenho necessidade, assim
como os demais mediadores, de investir em uma formação continuada em
Mediação de Conflitos.
O trabalho do mediador tem por objetivo auxiliar as partes
(mediandos) a perceberem seus reais interesses e necessidades e a
encontrarem soluções para melhor resolvê-los.
Desde o início de minha trajetória como mediadora e supervisora de
mediadores certificados e/ou em formação, percebi que a maioria deles não
reconhece suas habilidades e nem as dificuldades em lidar com suas próprias
fraquezas.
Diante dessa constatação, iniciei uma busca pelo meu
autoconhecimento e aperfeiçoamento como pessoa e como profissional.
Inicialmente, fui ao encontro de minha paz interior através da leitura
do livro “ATENÇÃO PLENA – Mindfulness – Como encontrar a paz em um
mundo frenético”, escrito por Mark Williams e Danny Penman.
Com a prática da meditação, magistralmente orientada pelos autores
nessa obra, percebi que o ser humano, em geral, tem a necessidade de
aprender a administrar o estresse do dia a dia e de encontrar a serenidade,
apreendendo técnicas de meditação para alcançar o equilíbrio físico, mental,
emocional e espiritual e de ser capaz de modificar suas reações negativas às
atitudes dos outros, aos seus gatilhos,
Através da obra FOCO – A atenção e seu papel fundamental para o
sucesso - do renomado autor, Daniel Goleman, observei a necessidade de me
conectar com meu “leme interno” (bússola interior) e de conhecer meus
próprios objetivos e valores, para, através da escuta de mim mesma,
desenvolver a escuta ativa dos mediandos, ferramenta essencial ao processo
de mediação.
A leitura das obras citadas na Bibliografia agregou informações
necessárias e importantes para a realização desse trabalho, em especial o livro
de Gaiarsa, “O Espelho Mágico”, que me levou a conhecer e a compreender a
linguagem não verbal e sua importância para a mediação de conflitos.
Os princípios da mediação e os que envolvem a atuação do
mediador, as habilidades e competências e principalmente o autoconhecimento
e a autoconsciência fazem parte do trabalho contínuo que realizo com
mediadores judiciais, supervisionados por mim, nos Centros Judiciários de
Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - CEJUSCs.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... 1
DEDICATÓRIA ................................................................................................................... 3
RESUMO ............................................................................................................................ 4
METODOLOGIA ................................................................................................................. 6
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9
CAPÍTULO I .......................................................................................................................10
O Conflito ..........................................................................................................................10
1.1 Conceito ....................................................................................................................10
1.2 Aspectos do conflito ..................................................................................................11
CAPÍTULO II ......................................................................................................................12
A Mediação .......................................................................................................................12
2.1 Conceito ....................................................................................................................12
2.2 Princípios relacionados à mediação ..........................................................................12
CAPÍTULO III .....................................................................................................................15
O Mediador .......................................................................................................................15
3.1 Conceito e atuação do mediador ...............................................................................15
3.2 Princípios relacionados à atuação do mediador ........................................................15
3.3 Competências do Mediador .......................................................................................16
3.3.1 Competências abordadas no Manual de Mediação Judicial.............................16
3.3.2 Competências definidas por Friedrich Glasl ....................................................18
CAPÍTULO IV.....................................................................................................................21
O Autoconhecimento ........................................................................................................21
4.1 Aspectos subjetivos e objetivos do autoconhecimento ............................................21
4.2 A importância do autoconhecimento do mediador para o processo de mediação ....24
4.3 Autoconsciência ........................................................................................................25
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................29
9
INTRODUÇÃO
“Conhece-te a ti mesmo...”
Sócrates
A motivação pela escolha desse tema advém da percepção de que o
mediador deve ter em mente a necessidade de se conhecer melhor, compreender
que suas habilidades podem ser aprimoradas e que suas dificuldades devem ser
identificadas, aceitas e trabalhadas e de que é possível desenvolver habilidades
complementares que ainda não possui.
O autoconhecimento do mediador é abordado nesse artigo sob os
aspectos subjetivo e objetivo. Subjetivo, como fonte necessária para desvendar suas
luzes e sombras, reconhecer suas forças e fraquezas, adquirir segurança em si
mesmo e habilidades de acolhimento e empatia. Sob o enfoque objetivo, o
autoconhecimento do mediador é tratado no sentido de conhecer e aceitar suas
próprias limitações técnicas, reconhecer a necessidade de se desenvolver
continuamente, agregando ao seu perfil profissional competências metodológica,
temática e contextual, dentre outras e incorporando o pensamento analítico e
sintético as suas faculdades cognitivas.
Conquanto esse artigo tenha por objetivo o estudo do autoconhecimento
do mediador, afigura-se necessário traçar breves considerações acerca do conflito,
da mediação, como um dos métodos autocompositivos mais eficazes para
solucioná-lo, e principalmente a respeito do papel do mediador - instrumento
fundamental na condução do processo de mediação.
10
CAPÍTULO I
O Conflito
1.1 Conceito
Nisha Nair1, citando (JENH, 1997; PONDY, 1967)2, afirma que Conflito é
tradicionalmente visto como algo a ser evitado e com uma conotação negativa.
March e Simon (1958, p. 112)3 se referem a Conflito como “uma quebra
nos mecanismos normais de tomada de decisão.” Desde esta visão inicial de conflito
ligada à tomada de decisões, a definição de conflito se deslocou para
incompatibilidades em metas.
Vários significados têm sido atribuídos ao conflito sem uma definição clara
emergente. Pondy (1967, p. 298)4 cita que:
[. . .] O termo conflito tem sido utilizado uma vez ou outra na literatura para
descrever: (1) condições antecedentes (por exemplo escassez de recursos,
diferenças de políticas) de comportamento conflituosa; (2) estados afetivos
(por exemplo, stress, tensão, hostilidade, ansiedade, etc.) dos indivíduos
envolvidos; (3) estados cognitivos dos indivíduos (ou seja, a sua percepção
ou consciência de situações conflituosas); e (4) o comportamento
conflituoso, variando da resistência passiva à agressão aberta.
Segundo André Gomma de Azevedo (2016, p. 49) “O conflito é um
processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas,
interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis.”5
Atualmente, Ana Maria M. Gonçalves conceitua o conflito como “qualquer
situação em que as pessoas têm interesses, objetivos, princípios, ou sentimentos
incompatíveis.”6
1 NAIR, Nisha. Towards understanding the role of emotions in conflict: a review and future directions, International Journal of Conflict Management, 2008. Vol. 19 Issue: 4, pp.359-381,
https://doi.org/10.1108/10444060810909301 2 JEHN, K. A. apud (NAIR, 2008, p. 359). 3 March, J.G. and Simon, H.A. apud (NAIR, 2008, p. 359). 4 Pondy, L.R. apud (NAIR, 2008, p. 359). 5 AZEVEDO, A. G.; et al. Manual de Mediação Judicial 2016. 6ª ed. Brasília: CNJ, 2016. p. 49. 6 GONÇALVES, A. M. M.; CDP - Conflict Dynamics Profile - 2018
11
1.2 Aspectos do conflito
Para Diogo A. Rezende de Almeida e Fernanda Medina Pantoja (2016,
p.87-97)7, o conflito é intrínseco ao convívio humano e encontra-se presente em
todas as espécies de relações e em todos os níveis sociais.
Estes autores afirmam também que a presença do conflito no cotidiano é
responsável pela evolução do homem, de sua cultura e de seu aprendizado.
Segundo Parkinson (2016, p.32): “o conflito em si não é positivo nem
negativo: é uma força natural necessária ao crescimento e transformação das
relações humanas.” 8
No entendimento desta autora, “o importante é a forma como o conflito é
tratado, pois, se bem-resolvido, beneficia as partes envolvidas, uma vez que a
energia por ele produzida é canalizada construtivamente e não destrutivamente.”9
Para que um conflito seja adequadamente tratado, afigura-se necessária
uma criteriosa análise das especificidades do caso, de forma a embasar uma
escolha consciente dos métodos de resolução consensual ou adversarial, que se
mostrar mais adequado.
Como um dos métodos consensuais de resolução de disputas, aborda-se
nesse estudo a mediação, os princípios que a norteiam e consequentemente a figura
do mediador, como instrumento fundamental na sua condução.
7 ALMEIDA, D. A. R.; PANTOJA, F. M. Natureza da Mediação de Conflitos: In: Mediação de Conflitos para Iniciantes, Praticantes e Docentes. Coordenadoras: Tânia Almeida, Samantha
Pelajo e Eva Jonathan. 1ª ed. Bahia: Ed. JusPODIVM, 2016. p. 87-97 8 PARKINSON, L. Mediação Familiar. 1ª ed. Minas Gerais: Ed. Del Rey, 2016. p.32. 9 PARKINSON, L. op, cit. p. 85
12
CAPÍTULO II
A Mediação
2.1 Conceito
Segundo Diogo A. Rezende de Almeida e Fernanda Medina Pantoja
(2016, p.88):
A mediação é um processo dinâmico de negociação assistida, no qual o
mediador, terceiro imparcial e sem poder decisório, auxilia as partes a
refletirem sobre os seus reais interesses, a resgatarem o diálogo e a
criarem, em coautoria, alternativas de benefício mútuo, que contemplem as
necessidades e possibilidades de todos os envolvidos, sempre sob uma
perspectiva voltada ao futuro da relação10.
Para Christopher W. Moore (1998, p. 28) mediação é:
a interferência em uma negociação ou em um conflito de uma terceira parte
aceitável, tendo um poder de decisão limitado ou não-autoritário, e que
ajuda as partes envolvidas a chegarem voluntariamente a um acordo,
mutuamente aceitável, com relação às questões em disputa11.
2.2 Princípios relacionados à mediação
Os princípios fundamentais estabelecidos na Lei da Mediação, no Código
de Processo Civil e no Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem
– CONIMA foram compilados e organizados didaticamente neste artigo em
Princípios relacionados à Mediação e Princípios relacionados à atuação do
Mediador.
De acordo com o art. 2º da Lei nº 13.140/201512 (Lei da Mediação); com
o que preceitua o art. 166 da Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil)13; com as
10 ALMEIDA, A. R.; PANTOJA, F. M. Natureza da Mediação de Conflitos : In: Mediação de Conflitos para Iniciantes, Praticantes e Docentes. Coordenadoras: Tânia Almeida, Samantha Pelajo e Eva
Jonathan. 1ª ed. Bahia: Ed. JusPODIVM, 2016. p. 88. 11 MOORE, C. W. O Processo de Mediação: Estratégias Práticas para a Resolução de Conflitos. Tradução: Magda França Lopes. 2ª ed. Porto Alegre: Editora ArTmed, 1998. p. 28. 12 Lei nº 13.140/2015 - Art. 2º. A mediação será orientada pelos seguintes princípios: I – imparcialidade do mediador; II - isonomia entre as partes; III - oralidade; IV - informalidade; V - autonomia da vontade das partes; VI - busca do consenso; VII - confidencialidade; VIII - boa-fé.
13
disposições do Anexo III da Resolução 125/2010, do CNJ14, segundo as normas do
Código de Ética dos Mediadores do CONIMA (2010)15, e de acordo com a obra
Mediação de Conflitos para Iniciantes, Praticantes e Docentes (ALMEIDA e
PANTOJA, 2016, p. 103-107), são princípios relacionados à mediação, dentre
outros:
a) Princípio da autonomia da vontade: é pautado na liberdade que as partes
dispõem de transacionarem direitos patrimoniais disponíveis, ou seja, que não
contrariem os princípios da ordem pública;
b) Princípio da voluntariedade: segundo o qual as partes devem participar da
mediação de forma livre, tendo a possibilidade de rejeitar propostas que não
atendam seus interesses;
c) Princípio da confidencialidade: de acordo com esse princípio as
informações partilhadas durante a mediação só podem ser de conhecimento
do mediador, dos mediandos e de seus respectivos advogados, ressalvadas
algumas exceções que forem autorizadas pelas próprias partes;
d) Princípio da decisão informada: segundo o qual, as partes são esclarecidas
sobre as regras da mediação e a preservação de seus direitos para que se
sintam aptas a tomar decisões que satisfaçam suas necessidades;
e) Princípio da Boa-fé: segundo esse princípio os mediandos devem apresentar
suas perspectivas na mediação, pautando sua atuação na confiança e na
ética de forma a conferir transparência a todo o processo;
f) Princípio da informalidade e da oralidade: de acordo com esses princípios
a mediação é um procedimento informal, porque não possui normas pré-
estabelecidas e há predominância do diálogo em todo o processo.
g) Princípio da flexibilidade do processo: pelo qual a mediação pode ser
conduzida de varias formas, inclusive com a aplicação de técnicas negociais
13 Lei nº 13.105/2015 - Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da
independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. 14 CNJ – Conselho Nacional de Justiça.
14
que proporcionem um ambiente favorável à comunicação e à
autocomposição;
15 CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem. Disponível em: http://www.conima.org.br. Acessado em: 05 mar. 2018.
15
CAPÍTULO III
O Mediador
3.1 Conceito e atuação do mediador
Segundo Christopher W. Moore (1998, p. 28) “Um mediador é uma
terceira parte, uma pessoa indiretamente envolvida na disputa.”16
De acordo com o Código de Ética de Mediadores, do CONIMA17, o
mediador:
é um terceiro imparcial que, por meio de uma série de procedimentos
próprios, auxilia as partes a identificar os seus conflitos e interesses, e a
construir, em conjunto, alternativas de solução visando o consenso e a
realização do acordo.
O CPC/2015 estabelece em seu art. 165, § 3º, normas para a atuação do
mediador, como auxiliar da justiça, ao dispor que:
Art. 165.
[...]
§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver
vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender
as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo
restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções
consensuais que gerem benefícios mútuos.
3.2 Princípios relacionados à atuação do mediador
Os princípios relacionados neste item foram catalogados e compilados a
partir da leitura do Código de Ética do CONIMA, do art. 2º da Lei da Mediação, do
CPC/2015, da obra de Lisa Parkinson – Mediação Familiar (2016, p. 49-54), do
artigo Princípios da Mediação de Conflitos, (ALMEIDA e PANTOJA, 2016, p.101-
110) e do Manual de Mediação Judicial (GOMMA et.al, 2016, p.250-253):
a) Princípio da imparcialidade: de acordo com esse princípio, o mediador
deve cuidar para que sua conduta não demonstre favorecimento a
qualquer uma das partes envolvidas no conflito. Também não é permitido
16 MOORE, C. W. O Processo de Mediação: Estratégias Práticas para a Resolução de Conflitos. Tradução: Magda França Lopes. 2ª ed. Porto Alegre: Editora ArTmed, 1998. p. 28. 17 http://www.conima.org.br/codigo_etica_med. Acessado em: 05 mar. 2018.
16
aconselhar, apresentar parecer e tampouco sugerir soluções aos
mediandos;
b) Princípio da competência: segundo esse princípio, o mediador deve
qualificar-se e aperfeiçoar-se continuamente, além de preservar por meio
de sua conduta, a ética e a credibilidade no instituto da Mediação;
c) Princípio da credibilidade: para manter a credibilidade perante as partes,
o mediador deve ser independente, franco e coerente;
d) Princípio da diligência: o mediador deve ter cuidado e prudência na
condução da mediação, velando pela aplicação de seus princípios
fundamentais;
e) Princípio do respeito à ordem pública e às leis vigentes: o mediador
deve cuidar para que eventual acordo entre os envolvidos não viole a
ordem pública, nem contrarie as leis vigentes;
f) Princípio da independência e autonomia: segundo esse princípio o
mediador atua com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou
externa, sendo-lhe permitido recusar, suspender ou interromper a
mediação, se ausentes as condições necessárias para seu bom
desenvolvimento, podendo ainda se desobrigar de redigir acordo ilegal ou
inexequível.
3.3 Competências do Mediador
Para melhor compreensão do autoconhecimento, aborda-se a seguir duas
classificações de competências autocompositivas que o mediador deve ter ou
desenvolver continuamente para se tornar um profissional experiente e melhor
capacitado para auxiliar os mediandos na resolução de seus conflitos.
3.3.1 Competências abordadas no Manual de Mediação Judicial
O Manual de Mediação Judicial (GOMMA, 2016, p. 91-100) apresenta
competências autocompositivas que objetivam definir um plano de treinamento para
a capacitação continuada do mediador.
17
De acordo com este Manual ao conhecer suas próprias dificuldades e
limitações, o mediador compreende a necessidade de desenvolver as seguintes
competências autocompositivas:
a) Competência cognitiva: o mediador compreende que o conflito é natural,
inevitável e que pode ser uma força positiva para o crescimento. Consegue
identificar comportamentos de pacificação e de despacificação e estimular os
mediandos a optarem por ações pacificadoras;
b) Competência perceptiva: o mediador compreende a importância de
desenvolver a humildade, aceitando o fato de que nem sempre está certo e
consegue identificar suas ideias preconcebidas a respeito de pessoas e
circunstâncias fáticas;
c) Competência emocional: o mediador consegue cuidar da forma como
processa o conjunto de estímulos emocionais ao qual se expõe e reconhece
seus sentimentos de raiva, frustração e temor. Assume a responsabilidade
por suas emoções expressando-as adequadamente, para que possa aceitar e
validar as emoções e percepções dos outros;
d) Competência comunicativa: o mediador compreende que cada um deve se
responsabilizar pela forma com que suas mensagens são compreendidas e
também se responsabilizar pela forma como compreende as mensagens
daqueles com quem se comunica;
e) Competência de pensamento criativo: O mediador estimula os mediandos a
buscarem soluções para seus conflitos, através de caminhos inovadores,
originais e alternativos, auxiliando-os a identificar seus interesses e a gerar
ideias para solucionar problemas ou questões;
f) Competência de pensamento crítico: o mediador percebe que os
mediandos podem ter um senso de justiça diferente do seu e deve estimulá-
los a fazer escolhas conscientes dentre as várias soluções identificadas na
mediação;
18
g) Competência de negociação: o mediador deve entender que quase toda
interação é uma negociação e estimular as partes a negociarem de forma
mais técnica e estruturada.
3.3.2 Competências definidas por Friedrich Glasl
De acordo com o entendimento de Glasl18, para qualificar-se
continuamente o mediador precisa conhecer e cultivar diversas áreas de
competência e saber que o nível de desenvolvimento e a importância de cada uma
delas dependem da área em que pretende concentrar sua prática.
Ao expor sua teoria, Glasl utiliza o método das “rodas de competência”19
para representar graficamente as áreas de competência pessoal e profissional que o
mediador deve desenvolver, como mostra a Figura 1.
As seis competências mostradas na figura 1 encontram-se abaixo
definidas:
a) Competência pessoal: O mediador como o instrumento mais importante da
mediação, precisa conhecer suas luzes e sombras, conscientizar-se das
próprias forças e fraquezas, ter segurança em si mesmo, habilidade da
empatia, alto grau de inteligência emocional, ser capaz de agregar às
18 GLASL, F. Mediación, entre exigência y realidad: Um inventario personal. In: Mediación em Alemania: Mediación Familar y Comercial. Editor Siegfried Rapp. Tradução: Marion Hohn Abad. Ed. winwin verlag, 2013. e-book, pos. 69. 19 “Roda de competência é uma ferramenta de Coaching que ajuda a pessoa a fazer uma autoavalia- ção de suas habilidades”. Disponível em http://www.jrmcoaching.com.br/blog/conheca-a-roda-das-competencias-e-como-esta-ferramenta-pode-ser-utilizada/. Acessado em 26 abr. 2018.
Figura 1: Rodas de Competência, segundo Glasl
19
faculdades cognitivas o pensar analítico e sintético, além de ter uma atitude
ética, clara e confiável;
b) Competência social: O mediador deve aprimorar sua capacidade
empática, suas habilidades comunicativas elevando seu nível de
sociabilidade. Deve desenvolver a capacidade de tomar, dirigir e conduzir
iniciativas de forma eficaz, adotando muitas regras e sendo flexível em sua
aplicação;
c) Competência metodológica: o mediador deve conhecer e saber utilizar
muitos métodos e técnicas, necessários para reunir temas, deixar que os
mediandos expressem distintas formas de ver as coisas, reconheçam suas
necessidades, gerem e escolham opções de solução;
d) Competência temática: o mediador deve compreender a necessidade de
se especializar em algum tema como conflitos sobre questões estratégicas,
estruturais, interpessoais, financeiras, etc. Em relação aos conflitos
interculturais e inter-religiosos é fundamental que o mediador tenha uma
elevada competência social, além de conhecimentos especiais sobre as
culturas, suas raízes e origens;
e) Competência sobre sistemas: o mediador deve compreender que pode
resultar problemático trasladar experiências e métodos usados numa
mediação, para outra que envolva organizações mais complexas, sem
previamente submetê-los a uma revisão, sendo necessário para isto
desenvolver capacidades especiais.
f) Competência contextual: para trabalhar com determinados sistemas é útil
que o mediador tenha uma compreensão básica suficiente acerca do
contexto em que opera o sistema em questão. Por exemplo, para se
trabalhar com o sistema “hospital” é importante saber como funciona o
sistema de saúde. Para trabalhar com sistema educativo, o mediador deve
conhecer o que há de novo no modelo educacional.
Segundo Glasl, todo mediador precisa ter bem desenvolvidas as
competências definidas nas alíneas “a”, “b” e “c”: pessoal, social e metodológica,
20
denominadas por ele como competências de base; enquanto que a profundidade do
desenvolvimento das competências descritas nas alíneas “d”, “e” e “f”: temática,
contextual e competência sobre sistema, denominadas “competências de primeira
categoria”20, dependem da importância e do foco que o mediador dê a estas
competências.
20 GLASL, F. op. cit. e-book, pos. 335.
21
CAPÍTULO IV
O Autoconhecimento
Aborda-se o autoconhecimento do mediador sob os aspectos subjetivo e
objetivo. Subjetivo, como fonte necessária para aprimorar suas competências:
pessoal, social, cognitiva, emocional, perceptiva e comunicativa e, sob o enfoque
objetivo, como fonte para o desenvolvimento das competências: metodológica,
temática, contextual, negocial, de pensamento criativo e de pensamento crítico21.
4.1 Aspectos subjetivos e objetivos do autoconhecimento
Segundo William Ury, “os maiores obstáculos para conseguir o que
queremos na vida não são as outras partes, por mais intratáveis que sejam os
adversários, mas, sim, nós mesmos. Nós nos sabotamos, reagindo de maneira
incompatível com os próprios interesses.” 22
É comum a pessoa expressar um pedido através de uma atitude negativa
para com o outro, no entanto ela não percebe que agindo dessa forma pode afastar
o outro de si, impedindo-lhe de compreender suas próprias necessidades e
interesses.
Isso acontece muitas vezes sem que a pessoa tenha consciência do
próprio comportamento e para compreendê-lo é necessário conhecer suas reações
às situações de conflito. É necessário se autoconhecer.
Segundo a psicologia23, autoconhecimento significa o conhecimento de
um indivíduo sobre si mesmo, sobre sua própria essência.
Afirma o psicólogo Skinner24 que “o auto-conhecimento tem um valor
especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si
mesma’, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em condições de prever e
controlar seu próprio comportamento.”25
A prática de se conhecer melhor desperta no indivíduo a capacidade de
ter controle sobre as próprias emoções, independentemente de serem positivas ou
21 Competências do Mediador, abordadas no item 3.3. 22 URY, William. Como Chegar ao Sim com Você Mesmo. Tradução Afonso Celso da Cunha. 1ª ed.
Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2015. e-book, pos. 75. 23 DANTAS, G. C. S. Autoconhecimento. Brasil Escola . Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/autoconhecimento.htm. Acessado em 28 mar. 2018. 24 SKINNER, B.F. Professor do Departamento de Psicologia de Harvard – 1950. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner. Acessado em 26 mar. 2018 25 Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTAyMjk3Mg/. Acessado em 26 mar. 2018
22
não26 e, por conseguinte, contribui para o pleno domínio de si mesmo: em
pensamentos, desejos, esperanças, e crenças.27
O controle emocional que advém do autoconhecimento auxilia a pessoa a
evitar as consequências danosas resultantes de sentimentos negativos, como baixa
autoestima, inquietude, frustração, ansiedade, instabilidade emocional e também
contribui para resoluções produtivas e conscientes dos mais variados problemas.28
Conhecer a si mesmo não é uma tarefa fácil, mas necessária a qualquer
pessoa. Em se tratando de mediador de conflitos, o autoconhecimento é de
fundamental importância para si e para o processo de mediação, porque lhe
proporciona maior tranquilidade e segurança para transitar em meio aos conflitos
densos com os quais diariamente se defronta em seu mister.
Ao conhecer suas respostas positivas e negativas em situações de
conflitos, além de seus gatilhos29, o mediador tem a possibilidade de evitar uma
comunicação truncada, inadequada e de compreender as prováveis reações de seu
interlocutor as suas palavras e ações e principalmente a sua expressão não verbal.
Diz José Ângelo Gaiarsa que “depois de um encontro ou de uma
conversa, sempre achamos que dissemos exatamente o que queríamos.”30 No seu
entender, nove vezes em cada dez, essa convicção é falsa. Afirma, ainda, o
psiquiatra que expressamos apenas “nossa opinião”, isto é, pronunciamos as
palavras que temos em mente, sem nos preocupar com gesto, tom de voz, olhar ou
qualquer expressão corporal.
Na opinião de Gaiarsa31, quando se fala com alguém importante, cuida-se
um pouco de tudo isso, todavia, essa forma de agir, não habitual, causa desconforto
e mal-estar que demonstram o quanto nos custa ter consciência de nossa
comunicação não verbal.
Gaiarsa também afirma que, não raras vezes, temos “absoluta certeza”
que dissemos exatamente o que pretendíamos, porém, nossa linguagem corporal
comunicou o oposto do que gostaríamos que nosso interlocutor ouvisse e
26 DANTAS, loc. cit. 27 Disponível em: https://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/o -que-e-o-autoconhecimento-
e-porque-ele-e-tao-importante-para-o-nosso-crescimento/83203/. Acessado em 28 mar. 2018 28 DANTAS, op. cit. 29 Gatilhos: são tipos de pessoas ou situações que podem perturbar alguém e causar-lhe potencial-
mente a ocorrência de conflito – CDP – Conflict Dynamics Profile 30 GAIARSA, op. cit. e-book, pos. 33/82 31 GAIARSA, op. cit. e-book, pos. 28.
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entendesse, e este talvez não tenha ouvido uma palavra sequer acerca de tudo o
que foi dito, limitando-se a nos fotografar por dentro, com base em nossos gestos.
Para Gaiarsa, “enquanto as pessoas falam face a face, o gesto e a voz
dizem mais e diferem muito do que as palavras estão afirmando – e do que a pessoa
considera sua intenção.”32 Quando isso acontece, o mal-entendido é irremediável
porque, não raras vezes, seu interlocutor percebe o descompasso entre as palavras
e a linguagem corporal.
As pessoas têm um precário controle sobre suas expressões não verbais,
afirma Gaiarsa ao dizer que: “quase ninguém acha importante conhecer o próprio
rosto e ninguém se dá conta da importância dessas coisas. Mas, para o outro, nossa
face é muito importante. É para ela que ele olha o tempo todo,”33 o gesto e o tom de
voz dizem mais do que as palavras estão afirmando.
Reich34, citado por Gaiarsa, entende que “a pessoa esconde pouco ou
nada de seus sentimentos e intenções”. Para ele “nossos sentimentos alteram
nossas expressões e nossos gestos, ou provocam em nós esforços destinados a
contê-los, controlá-los, escondê-los”. Acrescenta Reich que: “para quem tem olhos
de ver, todos estão NUS.”35
Em se tratando do mediador, que na maioria das vezes se encontra face a
face com os mediandos, é necessário que ele tenha consciência de seus
sentimentos, emoções e principalmente da sua expressão não verbal, para não se
colocar NU perante os envolvidos no conflito que medeia.
O autoconhecimento do mediador compreende a percepção das suas
emoções positivas e daquelas que precisam ser reconhecidas e melhor trabalhadas,
além do aprimoramento de suas habilidades e competências profissionais.
Segundo a metodologia desenvolvida por Glasl as competências são
divididas em dois grupos: “competências básicas” e “competências de primeira
categoria”.
No que tange as competências de base: pessoal, social e temática, já
analisadas anteriormente no item 4.3.2, o autor afirma que estas competências
32 GAIARSA, op. cit. e-book, pos. 29. 33 GAIARSA, op. cit. e-book, pos. 31. 34 Wilhelm Reich (Dobzau, Austria, 24 de março de 1897 — Lewisburg, Pensilvânia, 3 de novembro de 1957). Médico, psicanalista e cientista natural. Ex-colaborador de Sigmund Freud, rompeu com
este para dar prosseguimento à elaboração de suas próprias ideias no campo da psicanálise. - Wikipédia – enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Reich. Acessado em 30 mar 2018.
24
devem ser desenvolvidas com profundidade pelo mediador e se este pretende
alcançar um papel de destaque na mediação deve desenvolver as denominadas
“competências de primeira categoria”: temática, sobre sistemas e contextual36.
Entende, ainda, Glasl que a prática tem demonstrado que os mediadores
que desenvolveram apenas “competências básicas” tiveram grande dificuldade para
adentrar ao mercado da mediação. Isto porque, continua o autor, os clientes buscam
certa segurança e esta lhes é transmitida quando podem notar que o mediador
dispõe de outros conhecimentos e habilidades necessários para mediar situações de
conflitos específicas.
4.2 A importância do autoconhecimento do mediador para o processo de
mediação
Como bem observado por Ariane Gontijo Lopes Leandro e outros37,
quando os mediandos apresentam seus conflitos e demandas ao mediador, revela
histórias que trazem consigo um mundo de experiências e memórias que tornam o
espaço da mediação propício à manifestação de muitas emoções como raiva, o
amor, o medo e a angústia, entre outros.
Através do autoconhecimento o mediador desenvolve a capacidade de
controlar suas próprias emoções, mantendo-se equidistante do conflito, com maior
controle sobre suas reações, para não se deixar contagiar pelas emoções das
partes.
Nesse contexto, o autoconhecimento do mediador é fundamental para
que possa escutar e transitar por todos os sentimentos e emoções vivenciados pelas
partes sem que sua imparcialidade no processo seja comprometida.
Pode-se concluir, assim, que para o bom desempenho de sua função, o
mediador precisa estar comprometido com um processo contínuo de
autoconhecimento, não só para saber lidar com seus pontos fortes, pontos fracos e
gatilhos, mas também para ser capaz de identificar e reconhecer onde necessita se
aprimorar no domínio de técnicas e ferramentas da mediação e negociação, que lhe
35 REICH, apud GAIARSA, op. cit. e-book, pos. 36. 36 GLASL, op. cit. e-book, pos. 335-336 37 LEANDRO, A; FARIA, F; MENDES, F. A formação no âmbito do Programa Mediação de Conflitos
em Minas Gerais: In: Mediação de Conflitos para Iniciantes, Praticantes e Docentes. Coordenadoras: Tânia Almeida, Samantha Pelajo e Eva Jonathan. 1ª ed. Bahia: Ed. JusPODIVM, 2016. p. 836-838
25
permitam atuar de forma tranquila, segura, produtiva e eficaz na condução do
processo.
4.3 Autoconsciência
O autoconhecimento é o conhecimento de si mesmo, é o conhecimento
da própria essência, adquirido através da autoconsciência.
Segundo Mark Manson38, “Autoconsciência é a habilidade de pensar
sobre as coisas que você pensa. É a capacidade de ter sentimentos sobre seus
sentimentos. Ter opiniões sobre as suas opiniões.” O que significa dizer que ao
reagir a uma atitude de outra pessoa, o ser humano é influenciado pelo julgamento
que anteriormente fez dessa pessoa, deixando muitas vezes de analisar
conscientemente tal atitude. Pode-se, por exemplo, descrever uma pessoa de forma
negativa: José é egoísta, ou de forma positiva: Maria é simpática, inserindo as
pessoas em certas definições de acordo com as ações que delas se observa.
Dizer que uma pessoa é desagradável e consequentemente tratá-la com
indiferença, respondê-la sem paciência ou falar mal dela para outras pessoas
demonstra falta de consciência das próprias ações. Esse tipo de atitude gera
percepções ruins acerca de quem fala e alimenta um ciclo negativo sem a intenção
de fazê-lo.
A autoconsciência funciona como uma crítica construtiva para quem a faz.
Quando a pessoa consegue se distanciar de certas situações e olhar com mais
atenção para seus pensamentos, passa a perceber o quanto é preconceituosa,
injusta e mistura emoções nas decisões que deveriam ser racionais.
Para Goleman, “a autoconsciência representa um foco essencial que
sintoniza a pessoa aos sutis murmúrios internos que podem ajudá-la a guiar seu
caminho pela vida.”39
Afirma esse autor, que pessoas com elevado nível de autoconsciência
reconhecem como seus sentimentos afetam a elas próprias, às outras pessoas e ao
seu desempenho profissional. Goleman esclarece também que a pessoa conhece
seus valores primeiro, sentindo o que parece certo e o que não parece para depois
38 Citado no sítio eletrônico autoconsciência
http://www.barrichelo.com.br/blog/trechos.asp?id=188, acessado em 19/08/2018 39 GOLEMAN, D. FOCO – A Atenção e seu papel fundamental para o sucesso. 1ª ed. Tradução:
Cássia Zanon: Ed. Objetiva Ltda. 2014. p.67
26
articular, no íntimo essas sensações. Segundo Goleman, a autoconsciência é o
segredo para decodificar a voz interior dos murmúrios do corpo.
A autoconsciência também está ligada à compreensão que as pessoas
tem de seus próprios valores e metas. Alguém muito autoconsciente sabe para onde
está indo e por que, e suas decisões se harmonizam com seus valores.
Em sua obra FOCO, Goleman afirma que a “atenção regula a emoção” e
que a atenção seletiva tem o poder de acalmar a amigdala40 agitada, traduzindo na
capacidade de autorregulação emocional do ser humano.”
Aduz, ainda, o autor que a pessoa é capaz de demonstrar “controle
esforçado”, ou seja, de se concentrar segundo a própria vontade, ignorando
distrações e inibindo os impulsos, sendo igualmente capaz de administrar seus
sentimentos perturbadores e ignorar seus caprichos para se manter focada num
único objetivo.
Assevera Goleman que:
“nossa mente utiliza a autoconsciência para manter tudo o que fazemos
nos trilhos: a metacognição – pensar sobre pensar – permite que saibamos
como estão indo nossas operações mentais e possamos ajudá-las conforme
for necessário; a metaemoção faz a mesma coisa, regulando o fluxo de
sentimentos e impulsos.”41
Goleman conclui que: “no design da mente, a autoconsciência tem a
função de regular nossas próprias emoções, bem como perceber como os outros
estão se sentindo.”
40 Amigdala: pequena estrutura em forma de amêndoa, situada dentro da região antero-inferior do lobo temporal, na qual primam as emoções básicas como a raiva, o medo e o instinto de
sobrevivência – conceito encontrado no site: https://amenteemaravilhosa.com.br/amigdala- sentinela-das-emocoes/ acessado em 19/08/2018. 41 GOLEMAN, d. op.cit. p.80
27
CONCLUSÃO
Neste artigo procurou-se demonstrar que o mediador, como instrumento
fundamental da mediação, tem necessidade de buscar continuamente o seu
autoconhecimento de forma a perceber que suas habilidades podem ser
aprimoradas e que suas fragilidades devem ser identificadas, reconhecidas e
trabalhadas, para impedir que suas emoções influenciem sua capacidade de
compreender os interesses e necessidades dos mediandos.
Infere-se do que foi demonstrado neste artigo, que o mediador, como
instrumento fundamental da mediação, deve buscar o autoconhecimento de forma
consciente e assertiva, e desenvolver o pleno domínio de si mesmo considerando
suas crenças, pensamentos, desejos, esperanças e frustrações.
É importante que o mediador reconheça a necessidade de se conectar
com seu “leme interno”, de ter consciência de seus objetivos e valores.
O que permite a alguém ter uma bússola interna tão forte, um norte que o
guie pela vida, de acordo com seus valores e objetivos mais profundos, é a
autoconsciência, especialmente a habilidade para decodificar a voz interior que
advém dos sinais emitidos pelo próprio corpo.
Conhecem-se primeiro os valores sentindo o que parece certo e o que
não parece para depois articular, no íntimo, essas sensações.
O mediador precisa estar sintonizado com os menores sinais emocionais
transmitidos pelos mediandos. Ler pistas sutis que não são percebidas por outras
pessoas, como uma ligeira dilatação da íris, uma sobrancelha levantada, ou uma
mudança na postura, tem fundamental importância na condução do processo de
mediação, levando o mediador a perceber como os mediandos estão se sentindo.
A leitura de metamensagens e canais não verbais ocorre instantânea,
inconsciente e automaticamente. Tudo aquilo em que prestamos atenção em outra
pessoa gera significado num nível inconsciente. Mensagens escondidas tem
impactos poderosos.
28
A leitura supersensível de sinais emocionais representa o auge da
empatia cognitiva42, uma das três principais formas de focar no que as outras
pessoas estão vivendo.
A empatia cognitiva nos dá a capacidade de compreender as maneiras de
ver e pensar de outras pessoas. Ver através dos olhos dos outros e seguir a linha de
pensamento deles ajuda a escolher uma linguagem apropriada à forma de
compreensão alheia 100
Por fim, conclui-se que o mediador deve saber se interpretar, se
compreender e se empenhar no desenvolvimento e no aperfeiçoamento contínuo de
suas competências, além de se aprofundar no domínio das técnicas e ferramentas a
serem utilizadas, para conduzir com efetividade o processo de mediação e, assim,
contribuir para a pacificação social.
42 Empatia cognitiva: capacidade de se permitir assumir a perspectiva de outra pessoa. Goleman, D. op.it. p. 99.
29
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