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DOENÇAS ISQUÊMICAS DO CORAÇÃO SÃO AS QUE MAIS MATAM Cerca de 75 paulistas morrem por dia vítimas de doenças isquêmicas do coração. De acordo com o levantamento inédito da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, tais enfermidades são a principal causa de morte em todo o Estado. Para explicar o que são essas doenças e como afetam o organismo, o médico cardiologista Marcelo Sampaio, do Instituto Dante Pazzanese, fez uma comparação com o sistema hidráulico de uma residência. “A água sai da caixa e chega por meio dos encanamentos às torneiras sem nenhum tipo de problema, não há nada obstruindo o seu caminho. Com o passar do tempo e falta de manutenção começa a haver acúmulo de sujeira e isso reduz o diâmetro dos canos. Ao girar a torneira, você percebe então que a água sai em pouca quantidade. Com o coração é a mesma coisa. Doenças isquêmicas se instalam com a formação de placas de gordura na parede das artérias, que poderiam ser os canos que citei acima. Isso dificulta a passagem de sangue e as células do coração se tornam isquêmicas, sem oxigênio suficiente, doentes”. Ainda de acordo com o especialista, quando as placas de gordura são muito grandes e obstruem totalmente o fluxo sanguíneo, o indivíduo pode enfartar. “O infarto ocorre porque essa placa, que com o passar do tempo diminui o diâmetro das artérias, dificulta a passagem de sangue. Assim, as células cardíacas morrem.” Os sintomas de alerta são dor ou pressão no peito e falta de ar, mas podem variar de pessoa para pessoa. Além desses, suor, palidez e até dor nos dentes podem ser sinal de que o coração não está bem. “A recomendação nesses casos é que o paciente procure um médico imediatamente e nunca espere a dor passar nem tome nenhum medicamento”, afirma o cardiologista. As principais causas da doença são fumo, diabetes, hipertensão e colesterol elevado. Indivíduos com histórico de problemas cardíacos na família também devem ficar atentos, principalmente se o pai ou a mãe manifestaram a doença.

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DOENAS ISQUMICAS DO CORAO SO AS QUE MAIS MATAM

Cerca de 75 paulistas morrem por dia vtimas de doenas isqumicas do corao. De acordo com o levantamento indito da Secretaria de Sade do Estado de So Paulo, tais enfermidades so a principal causa de morte em todo o Estado.Para explicar o que so essas doenas e como afetam o organismo, o mdico cardiologista Marcelo Sampaio, do Instituto Dante Pazzanese, fez uma comparao com o sistema hidrulico de uma residncia. A gua sai da caixa e chega por meio dos encanamentos s torneiras sem nenhum tipo de problema, no h nada obstruindo o seu caminho. Com o passar do tempo e falta de manuteno comea a haver acmulo de sujeira e isso reduz o dimetro dos canos. Ao girar a torneira, voc percebe ento que a gua sai em pouca quantidade. Com o corao a mesma coisa. Doenas isqumicas se instalam com a formao de placas de gordura na parede das artrias, que poderiam ser os canos que citei acima. Isso dificulta a passagem de sangue e as clulas do corao se tornam isqumicas, sem oxignio suficiente, doentes.

Ainda de acordo com o especialista, quando as placas de gordura so muito grandes e obstruem totalmente o fluxo sanguneo, o indivduo pode enfartar. Oinfartoocorre porque essa placa, que com o passar do tempo diminui o dimetro das artrias, dificulta a passagem de sangue. Assim, as clulas cardacas morrem.Os sintomas de alerta so dor ou presso no peito e falta de ar, mas podem variar de pessoa para pessoa. Alm desses, suor, palidez e at dor nos dentes podem ser sinal de que o corao no est bem. A recomendao nesses casos que o paciente procure um mdico imediatamente e nunca espere a dor passar nem tome nenhum medicamento, afirma o cardiologista.As principais causas da doena so fumo, diabetes, hipertenso e colesterol elevado. Indivduos com histrico de problemas cardacos na famlia tambm devem ficar atentos, principalmente se o pai ou a me manifestaram a doena.Antigamente, as doenas que mais matavam no Brasil eram as infecciosas. De acordo com Marcelo Sampaio, esse quadro mudou e tem relao com a melhora das condies socioeconmicas da populao. Agora, os indivduos tm acesso a alimentos que antes no podia comprar ou simplesmente no existiam. Alm disso, a nossa sociedade hoje bastante competitiva, estressada e obesa, j que no se alimenta de maneira adequada. Tudo isso est interligado ao nmero dos bitos por infarto.Apesar dos dados serem impactantes, Sampaio esclarece que possvel evitar as doenas do corao por meio de exerccios fsicos e alimentao balanceada. aquela histria que todo mundo j sabe, mas o ndice de adeso muito baixo, poucos cumprem. Mas vale reforar, j que boa alimentao e exerccios evitam presso alta, diabetes e tambm reduzem a obesidade.INFARTO DO MIOCRDIO: FATORES DE RISCODr. Edson Stefanini cardiologista, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP) e mdico do Hospital Srio-Libans de So Paulo. Drauzio-Que fatores aumentam o risco de infarto do miocrdio?Edson Stefanini O infarto do miocrdio uma doena multifatorial, ou seja, uma doena provocada por diversos fatores que agem conjunta e simultaneamente. Entre eles, destacam-se:1) hereditariedade: se na famlia existirem parentes prximos que tiveram infarto, angina ou foram operados do corao antes dos 60 anos, preciso estar atento, porque aspectos genticos so relevantes para o desenvolvimento da doena;2) presso arterial: controlar a presso arterial e mant-la em nveis adequados fundamental para prevenir doenas cardacas. Considera-se presso arterial normal a que se encontra entre a mxima de 12 e a mnima de 8;3) diabetes: o controle da glicemia (nvel de acar no sangue) indispensvel, especialmente se a pessoa j for portadora da doena. Os diabticos, s vezes, sofrem infartos subclnicos, que no provocam o sintoma convencional de dor no peito. Nesses casos, mal-estar, sudorese, nuseas e at vmitos so atribudos a algum problema de menor importncia;4) colesterol: o controle do metabolismo das gorduras tem de ser sistemtico e permanente. Existem medicamentos eficazes que ajudam manter o valor do colesterol total abaixo de 200 e elevar o nvel de sua frao protetora, o HDL, conhecido como o bom colesterol. Exerccios fsicos favorecem o aumento do HDL; o cigarro o diminui;5) triglicrides: em geral, os triglicrides sobem quando h aumento da ingesto de carboidratos;6) tabagismo: a nicotina um dos mais agressivos fatores de risco das doenas cardiovasculares. Ficar longe do cigarro a nica opo para quem quer e precisa prevenir-se.METABOLISMO DO COLESTEROLDrauzioConheci um homem fortssimo, com mais de 60 anos, que praticava halterofilismo desde menino. Seu colesterol era bem baixo: 138, se no me engano. Numa consulta, perguntou se poderia continuar comendo ovos. No vi nenhum empecilho. Seu colesterol era seguidamente controlado e nunca tinha apresentado alteraes. Por mera curiosidade, quis saber quantos ovos comia e fiquei atnito com a resposta: uma dzia por dia, porque fao muito exerccio e a protena dos ovos me ajuda a manter a musculatura. Soube depois que, desde os 25 anos, mantinha essa dieta sem reflexo algum nos valores do colesterol. Fato semelhante ocorre com algumas pessoas obesas. No entanto, encontrei gente que apresenta aumento do colesterol se comer um nico ovo ou engordar um pouquinho. O que demonstram casos como esses?Edson Stefanini Nem sempre verdadeira a ideia de que quem come muita carne, muita gordura, muito ovo, engorda ou tem colesterol elevado. Pessoas, cujo fgado metabolize bem esse excesso de gordura, no apresentam alteraes significativas nos nveis do colesterol no sangue. Entretanto, existem outras que, apesar da dieta restrita e equilibrada, possuem colesterol elevado, porque suas funes hepticas so desfavorveis ao metabolismo das gorduras. Essas precisam ser medicadas. importante deixar isso bem claro, pois falsa a ideia de que quem magro, faz exerccios e observa uma dieta pobre em gorduras no precisa avaliar a dosagem do colesterol no sangue.ESTRESSEDrauzioO estresse tambm indicado como um dos fatores responsveis pelo infarto. No entanto, como no ficar estressado se vivemos numa cidade catica, trabalhando mais de 12 horas por dia?Edson Stefanini Inmeras so as manifestaes orgnicas provocadas pelo estresse. Alm de lcera, hipertenso, queda de cabelo, o estresse pode aumentar a probabilidade de manifestao das doenas coronarianas, desde que associado a outros fatores de risco. Muitos me perguntam se estresse pode causar morte sbita por infarto. De certa forma, ele pode ser o empurrozinho que faltava. Se j existia predisposio anterior em virtude da existncia dos outros fatores, estresse muito violento pode ser fatal. Por isso, como medida preventiva, a orientao dada aos pacientes evitar situaes que habitualmente provoquem tenso. No fcil, mas possvel. Organizar melhor os horrios, tentar resolver os problemas pendentes, deixando de lado os que no conseguimos resolver, talvez seja um bom comeo.Drauzio-Diante de uma pessoa evidentemente estressada, quantas vezes no recomendei que tirasse frias, se afastasse dos problemas, procurasse viver mais tranquila. Recomendei o que no fao, porque difcil ficar indiferente ao que se passa ao redor. Entretanto, o estresse um mecanismo criado pela natureza visando sobrevivncia e a teoria da evoluo explica por que no desapareceu. Quem no se estressava ficava olhando o leo aproximar-se e era comido por ele. Hoje, a ameaa no se reduz a momentos esparsos de grande tenso. Transformou-se no cerco dirio representado por contas a pagar, promissrias a serem quitadas, cara feia do chefe, desentendimentos familiares e violncia urbana. Esse estado de presso permanente acelera o pulso, a frequncia cardaca e piora a irrigao do miocrdio. Que peso tem o exerccio fsico para reduzir o estresse j que no se consegue evitar as atribulaes do dia a dia?Edson Stefanini A experincia clnica tem demonstrado as vantagens da atividade fsica diria no controle do nvel de estresse. No h necessidade de ser um exerccio intenso como correr a maratona. Basta meia hora por dia, pelo menos quatro vezes por semana, e o nvel de tenso cai consideravelmente. Os benefcios no so apenas fsicos. Concomitantemente, ocorre um relaxamento psquico e emocional que faz as pessoas se sentirem com mais pique para encarar o dia a dia.Alm disso, estudos comprovam que a probabilidade de desenvolver doenas cardiovasculares menor em quem se exercita regularmente. Em se tratando de hipertensos, por exemplo, a atividade fsica ajuda a controlar a presso arterial. Esses pacientes, porm, precisam estar sob superviso mdica. Se o indivduo j apresenta fatores de risco coronarianos, no pode sair por a correndo ou entrar numa academia sem avaliao prvia de suas condies orgnicas. preciso verificar a presso arterial, fazer eletrocardiograma e teste ergomtrico a fim de analisar sua performance quando submetido a esforo. Alteraes importantes no eletrocardiograma e na presso arterial podem significar deficincia coronariana ou cardiopatia isqumica. Os portadores dessas patologias exigem orientao meticulosa antes de aderirem ao programa de condicionamento fsico essencial ao tratamento. Exerccios so indicados, tambm, para quem sofreu infarto agudo do miocrdio, no s como parte do processo de reabilitao, mas como prescrio teraputica durante o acompanhamento clnico posterior, que precisa ser mantido indefinidamente.TABAGISMODrauzioNo se pode contestar que o cigarro est includo entre os fatores de risco das doenas cardacas. Muitos fumantes jovens (chamo de jovens os que esto entre 35 e 50 anos) tm infarto do miocrdio. Que peso tem o cigarro nessa fatalidade?Edson Stefanini O tabagismo considerado um dos mais importantes fatores de risco do infarto. Por isso, procura-se combater, com veemncia, o cigarro, principalmente nas pessoas que alm de fumantes apresentam outros fatores de risco para as doenas coronarianas. No podemos mudar de pais nem as caractersticas que deles herdamos, mas podemos afastar os danos que o fumo traz consigo. A medicina moderna j oferece alguns recursos para combater a dependncia de nicotina.DrauzioVoc poderia explicar o que acontece com a coronria quando o fumante d uma tragada?Edson Stefanini O cigarro contribui para a acelerao da aterosclerose e para tornar mais instveis os quadros de insuficincia coronariana. A nicotina aumenta a frequncia cardaca e a probabilidade de espasmo dos vasos sanguneos. Aumenta, tambm, a predisposio da placa aterosclertica para formar cogulos. Portanto, o risco de o fumante ter infartos e anginas altssimo.Drauzio-Se uma pessoa, que fumou durante 20 anos, deixar de fumar, quanto tempo leva para desaparecerem os efeitos da nicotina sobre o corao?Edson Stefanini Os efeitos agudos da nicotina desaparecem logo. Naturalmente o fato de a pessoa ter fumado durante 20 anos deixou sequelas no organismo. Por exemplo, placas aterosclerticas podem ter-se formado, mas a probabilidade de permanecerem estveis aumenta muito, se a pessoa deixar de fumar. Por outro lado, se outros fatores de risco estiverem fora de controle, fumar acelera a desestabilizao da placa e o aparecimento de quadros agudos coronarianos, como dores no peito, angina, infarto agudo do miocrdio e at morte sbita.Drauzio importante esclarecer que fumam muito no s quem fuma dois ou trs maos, mas as pessoas que fumam mais decinco cigarros por dia. Como podem os mdicos auxiliar os pacientes a vencer a dependncia do fumo?Edson Stefanini Atualmente se procura convencer a pessoa de que no h outra sada a no ser parar de fumar. frequente ouvirmos, no consultrio, que algum fumava dois maos por dia e que agora fuma um ou outro cigarro. Infelizmente, esse propsito transitrio porque, sem que se d conta, logo ter voltado a fumar um mao, um mao e meio por dia. Por isso, a soluo no admite meios termos. preciso abandonar de vez o cigarro. Os mdicos, alm de aconselhamento e orientao psicolgica, podem intervir farmacologicamente prescrevendo medicamentos. Existem adesivos de nicotina que ajudam a diminuir os efeitos da sndrome de abstinncia. A nicotina uma droga poderosa que provoca dependncia fsica brutal. Quando o fumante para repentinamente de fumar, por alguns dias pode sentir-se muito mal, ficar ansioso, desesperado mesmo. Por isso, parar de fumar to penoso quanto se livrar de qualquer outra dependncia qumica.Drauzio revoltante pensar que o pblico alvo da publicidade do cigarro a criana. Se elas soubessem como sofrero para libertar-se dessa dependncia, jamais poriam um cigarro na boca. Toda droga tem sua armadilha; a da nicotina o primeiro cigarro.PREVENO SECUNDRIADrauzioAt este ponto da entrevista falamos mais da preveno do infarto. Fale um pouco sobre o que devem fazer os pacientes que j tiveram infarto e temem ter outro?Edson Stefanini Embora fosse maravilhoso, utpico imaginar que poderamos detectar e combater os fatores de risco na populao como um todo. Por isso, a grande batalha do cardiologista concentra-se na preveno secundria, isto , no atendimento a pessoas que j tiveram uma doena coronariana angina, arritmia, infarto do miocrdio ou fizeram cateterismo. Vencida a fase aguda da doena, elas entram num programa de preveno secundria, ou seja, identificao e controle de todos os fatores de risco. Se forem fumantes, no tm escolha: precisam parar de fumar.Hipertenso, diabetes, nveis elevados de colesterol recebem ateno e cuidados especficos. Procura-se orientar esses pacientes em relao ao nvel de estresse, pois devem redimensionar as atividades e descobrir uma forma menos desgastante de encarar os problemas do dia a dia.Pessoas com problemas coronarianos recebem obrigatoriamente um esquema de exerccios fsicos que vai desde de um programa sofisticado realizado em academias especializadas na reabilitao de doentes cardiopatas, at os mais simples, como caminhar pelas ruas ou parques. Nos dois casos, porm, o acompanhamento mdico indispensvel para estabelecer o nvel de esforo adequado para cada uma.Basicamente esse o programa a que se submete uma pessoa que j sofreu infarto agudo do miocrdio. Observ-lo fundamental, pois o controle dos fatores de risco pode prevenir um novo acidente vascular. Alm disso, tambm previne sintomas de angina que podem requerer hospitalizao, angioplastias ou cirurgias de revascularizao.DrauzioMuita gente toma o primeiro infarto como aviso de que algo grave pode acontecer a qualquer momento. Na sua experincia como cardiologista, a vida dessa gente muda radicalmente para melhor ou, como suicidas, muitos repetem os mesmos erros?Edson Stefanini Temos alguns exemplos de pessoas estressadas que viviam num redemoinho. Trabalhavam em quatro ou cinco lugares diferentes, fumavam muito, estavam acima do peso, no controlavam os nveis de colesterol nem do acar e tinham antecedentes familiares de infarto do miocrdio. Depois do primeiro infarto, felizmente pequeno e com sequelas menos significativas, essas pessoas realmente mudaram de vida. Passaram a controlar os fatores de risco, diminuram o ritmo das atividades, dedicaram pelo menos duas horas por dia ao lazer e transformaram-se em smbolos do consultrio. O problema que nem sempre assim. Muitas, passado o susto inicial, retomam os hbitos antigos e, na maioria das vezes, arcam com consequncias que poderiam ser evitadas.DrauzioCerta vez, perguntei, ao dr. Srgio Simon, mdico cancerologista, se pudesse escolher, preferiria morrer de cncer ou de infarto. Dr. Srgio respondeu que preferia morrer de cncer. E voc, como escolheria morrer?Edson Stefanini Eu preferiria no escolher nenhuma das alternativas. Todavia, tenho a impresso de que a morte sbita uma forma menos sofrida de morrer. Uma vez obrigado a escolher, acho que seria essa minha opo.CARDIOLOGIA II DOENAS DO CORAOAdib Domingos Jatene mdico cardiologista, cirurgio torcico. Criador de uma tcnica cirrgica que leva seu nome para o tratamento em recm-nascidos e do primeiro corao-pulmo artificial do HC de So Paulo, na rea da Bioengenharia esteve diretamente ligado ao desenvolvimento de aparelhos como os oxigenadores e a vlvula de disco basculante. Respeitado internacionalmente, foi duas vezes ministro da Sade do Brasil.Os primeiros anatomistas gregos, quando dissecavam artrias e veias, verificaram que estas ficavam cheias de sangue e aquelas, vazias. Imaginaram, ento, que as artrias fossem condutos, ou seja, parte de um encanamento destinado a conduzir o ar para dentro do organismo.Hoje se sabe que as artrias ficam vazias no cadver, porque a ltima batida do corao faz o sangue sair das artrias, ir para as veias e congestionar o fgado. Sabe-se tambm que o corao uma bomba que impulsiona sangue arterial, isto , o sangue oxigenado para o corpo inteiro e manda o sangue venoso carregado de gs carbnico para ser oxigenado nos pulmes e redistribudo pelo organismo.Nesse mecanismo, as estruturas anatmicas que compem o corao podem sofrer uma srie de alteraes que caracterizam as doenas cardacas.COMPONENTES DO CORAODrauzio Quais as principais caractersticas fisiolgicas do corao?Adib Jatene Costumo dividir didaticamente o corao em cinco componentes. O primeiro o componente muscular, ou seja, a parte que contrai e descontrai e o segundo, o componente valvar composto por quatro vlvulas, duas atrioventriculares e duas arteriais, que separam as vrias cavidades cardacas e fazem com que a contrao do msculo tenha consequncia e o sangue circule.O terceiro um sistema automtico de conduo que gera e conduz o estmulo e que sensvel mudana de temperatura e de concentrao de gs carbnico no sangue, ao esforo fsico, etc. Esse componente controla o ritmo cardaco.O quarto o sistema de nutrio, constitudo pelas artrias coronrias e o quinto, o sistema nervoso formado por mais ou menos 40 milhes de clulas situadas principalmente na entrada das veias pulmonares e das veias cavas. Costumo dizer que esse sistema faz o ajuste fino para que o lado direito do corao (que manda sangue para o pulmo) e o lado esquerdo (que recebe sangue do pulmo e manda para o corpo inteiro) tenham exatamente o mesmo dbito, pois um desequilbrio nessa vazo encharcaria o pulmo. Essa uma das razes pela qual o cardaco sente falta de ar quando faz esforo.Esses cinco componentes podem estar comprometidos separada ou conjuntamente, quer dizer, a pessoa pode ter doena no msculo, nas vlvulas, nas artrias coronrias, no sistema de conduo ou no sistema nervoso, como acontece na doena de Chagas, ou pode apresentar associaes desses comprometimentos.Drauzio Como esses cinco componentes podem desarticular-se?Adib Jatene Como no temos reserva de gs, precisamos fazer o sangue passar pelo pulmo para eliminar gs carbnico e absorver oxignio. A natureza organizou esse processo da seguinte maneira: o lado direito do corao recebe sangue do corpo inteiro e joga-o no pulmo; o lado esquerdo recebe sangue do pulmo e envia-o para o corpo todo. Um lado separado do outro por septos, s que o direito trabalha com presso mais baixa e o esquerdo, com presso mais alta, j que atua contra uma resistncia perifrica, haja vista que a presso que precisa fazer na aorta quatro vezes maior do que a que o lado direito faz para jogar o sangue no pulmo.A propsito, vale salientar que hipertenso no uma doena cardaca. uma doena da resistncia perifrica que obriga o sistema hidrulico a trabalhar numa presso mais alta.DOENAS CONGNITAS DO CORAODrauzio Em que consistem as doenas congnitas do corao?Adib Jatene No tero materno, o pulmo da criana no funciona. Nessa fase, para desenvolver as cavidades esquerdas do corao existem duas comunicaes principais: a comunicao interatrial entre o lado direito e esquerdo e o canal arterial entre a aorta e a artria pulmonar. Quando a criana nasce e respira, o mecanismo de vlvula no septo atrial fecha a comunicao interatrial, porque a presso do trio esquerdo fica maior. O pulmo comea a funcionar e o canal arterial entra em espasmo, tambm se fecha e separa os dois lados do corao.As doenas congnitas so defeitos que ocorrem na vida intrauterina. A criana pode nascer, por exemplo, com comunicao interatrial ou intraventricular, com falta de uma ou mais vlvulas ou com um lado do corao hipodesenvolvido. So as chamadas cardiopatias congnitas que, muitas vezes, se exteriorizam no nascimento e que hoje podem ser detectadas ainda no tero da me pela ecocardiografia fetal.Alguns defeitos e isso as famlias no conseguem entender no do demonstraes que permitam o diagnstico na primeira ou segunda semana de vida. A criana sai bem da maternidade e um ms depois diagnosticada uma comunicao interventricular. Outras vezes, nasce roxa, ciantica, sinal de que a quantidade necessria de sangue no est sendo oxigenada no pulmo e vai diretamente para a aorta.Essas doenas representam subespecialidades a cardiologia peditrica e a cirurgia cardaca peditrica e h profissionais que s tratam dessas deformidades.Existe ainda um grupo de pessoas que nasce com o corao normal, isto , com quatro cavidades, quatro vlvulas, aorta saindo do ventrculo esquerdo, a artria pulmonar saindo do ventrculo direito e lanando sangue no pulmo. So pessoas que adquirem uma doena ao longo da vida como a febre reumtica causada por amidalite, uma infeco estreptoccica que compromete as vlvulas e traz consequncias para a circulao, com estase do pulmo.Drauzio Muitas mes no gostam de dar antibiticos para as crianas com amidalite, apesar de poderem desenvolver problemas valvulares srios. Como o senhor orienta esses casos?Adib Jatene Claro que essas crianas devem ser medicadas. Felizmente, o surgimento da penicilina mudou as caractersticas da doena reumtica. Na dcada de 1950, o nmero de leses valvares por febre reumtica era alto no mundo inteiro. Depois do aparecimento da penicilina, houve queda na incidncia dessa patologia em lugares como a Europa e os Estados Unidos, mas na frica continua elevadssima.DOENAS NAS ARTRIAS DO CORAODrauzio Como se desenvolvem as doenas coronarianas?Adib Jatene A leso nas artrias coronrias, a aterosclerose coronariana, transformou-se na epidemia do sculo XX. Se a obstruo chegar ao ponto de fechar a artria, a rea do msculo cardaco que dela depende, sem circulao, pode necrosar e morrer. o infarto do miocrdio.A aterosclerose pode vir acompanhada de alguns sintomas. Durante a atividade fsica, o indivduo pode sentir desconforto, compresso precordial, dor que se irradia para o queixo, ombro e brao. Cessando o esforo, a dor tambm cessa. a angina do peito que constitui um dado importante para diagnstico da doena do corao.Muita gente acha que dor no peito sempre sinal de problemas cardacos. Para estabelecer a diferena, costumo perguntar se a dor dura minutos, segundos ou horas. Se dura segundos, certamente no dor cardaca. nevralgia intercostal. Se dura horas, problema da coluna ou da parede. A dor cardaca dura minutos, tem relao com esforo e emoo e cessa quando eles terminam. Essa sintomatologia exige avaliao urgente e por meio da coronariografia possvel identificar o tipo de leso nas artrias e como ela se comporta.A diferena fundamental entre a doena congnita valvar, as arritmias e a doena das coronrias que esta, muitas vezes, no causa sintomas e o indivduo surpreendido por infarto ou morte sbita. No raro ele fazer teste de esforo com resultado normal e, alguns dias depois, manifestar um episdio agudo. Por isso, sempre importante valorizar os sintomas quando existirem e estar atento aos fatores de risco.Drauzio Quais so os principais fatores de risco?Adib Jatene Em primeiro lugar, vem a herana gentica, que no pode ser mudada. Se pai, me, irmos, tios ou outros parentes tiveram doena coronria explcita, sofreram infartos ou foram operados do corao, a pessoa precisa ser avaliada com todo o cuidado. Sempre chamo a ateno dos filhos dos doentes que opero. Digo-lhes que tm risco gentico para a doena, o que no significa que obrigatoriamente iro desenvolv-la.Outro fator de risco a hipertenso, porque compromete as artrias e pode gerar obstrues que interferem no funcionamento cardaco. Em terceiro lugar, vem o fumo, um fator tambm envolvido numa srie de doenas como cncer de pulmo, de bexiga, de laringe, assim como em doenas das artrias coronrias e cerebrais.Em quarto lugar est a hipercolesterolemia, isto , os nveis elevados de gordura no sangue geralmente associados ingesto inadequada de alimentos.Drauzio Por isso quem tem hipertenso no pode suspender o uso dos remdios?Adib Jatene Hipertensos tm de tomar remdio sempre. O grande problema que a hipertenso no d sintomas, mas o tratamento traz consigo efeitos colaterais, alguns sobre a libido. Da, o individuo pensa eu no sentia nada e agora, com o tratamento, estou sentindo e abandona os medicamentos, expondo-se a um risco enorme, porque a hipertenso est associada aos acidentes vasculares cerebrais e disseco da aorta, doenas graves que podem ocorrer se a presso for mantida elevada por muito tempo.Drauzio O que disseco da aorta?Adib Jatene A aorta, artria principal do corao, constituda por uma camada externa, uma mdia e uma ntima que reveste a parte mais interna. Os hipertensos podem sofrer descolamento entre a camada mdia e a ntima. Como a parede da artria perde a resistncia, forma-se um aneurisma dissecante. Em outras palavras: a disseco da aorta a ruptura da camada ntima que faz o sangue entrar num caminho delaminado entre as paredes da artria, o que gera uma dilatao com consequncias muito srias.Drauzio Qual o peso da dieta no risco dos problemas cardacos?Adib Jatene Ns ingerimos hidrato de carbono, gorduras e protenas. A protena usada na reconstruo das clulas orgnicas. Por exemplo, os glbulos vermelhos do sangue no duram mais do que quatro semanas, a pele perde clulas continuamente e precisa ser reconstruda. Por isso, pessoas privadas de alimentao proteica geralmente sofrem um processo degenerativo do organismo. Prova disso o que aconteceu com as pessoas nos campos de concentrao.O hidrato de carbono no utilizado como energtico transforma-se em gordura que se acumula em vrios locais do corpo, inclusive no interior das artrias. Por isso, a dieta precisa ser equilibrada. As pessoas podem comer de tudo desde que em quantidade moderada. medida que os anos passam, porm, geralmente comem mais, embora necessitem de menos alimentos, e engordam. Na maior parte das vezes, a dislipidemia (taxa anormal de gordura no sangue) est associada ao excesso de ingesto e no a distrbios metablicos.Drauzio Qual a importncia da atividade fsica na preveno dos problemas cardacos?Adib Jatene O exerccio fsico absolutamente fundamental, mas comum, depois de certa idade, as pessoas levarem vida sedentria. O sujeito para o carro na garage do edifcio e acha que estacionou longe quando caminha 50 metros. No se exercitando, perde um mecanismo de proteo. Diferente da mquina mecnica que desgasta com o uso, a mquina humana quanto mais usada for, mais se regenera. Pessoas que mantm a atividade fsica chegam aos 70, 80 anos absolutamente hgidas e sem nenhum problema.DIABETES E DOENAS DO CORAODrauzio Qual o peso do diabetes nos problemas cardacos?Adib Jatene Diabetes um fator de risco importante que precisa ser controlado. Antes do advento da insulina, era um problema de difcil controle. Depois, com o aparecimento de drogas que substituem a insulina, principalmente no diabetes tipo II, a coisa simplificou mais ainda, e os aparelhos que medem o nvel de acar em pequenas gotas de sangue tambm facilitam monitorar a doena.O diabtico precisa de muita disciplina, em especial, disciplina na alimentao. Deve respeitar horrios e abster-se de certos alimentos. Atualmente, os endocrinologistas chamam a ateno para o nvel de acar duas horas depois da refeio. Se ele se mantiver alto, preciso ajustar a medicao.Drauzio Que diferena o senhor nota quando abre o corao de um indivduo diabtico e de um no diabtico?Adib Jatene O problema do diabetes a maneira como compromete as artrias. A aterosclerose compromete-as em suas pores proximais. O que quer dizer isso? A artria coronria sai da aorta e vai irrigar o corao. A leso proximal ocorre antes que o tronco da aorta se ramifique. J o diabetes compromete suas pores distais, o que dificulta o tratamento cirrgico, impedindo que muitos doentes sejam beneficiados por esse recurso ou pela hemodinmica intervencionista. Entretanto, h diabticos que no tm a leso difusa distal. A leso proximal. Por isso, cada caso deve ser avaliado individualmente. A medicina curativa tem esse aspecto: complicada e cara. Se a alta tecnologia aprimorou o diagnstico, em compensao, encareceu o atendimento.Drauzio O conceito popular de que o infarto fulminante em jovens e menos grave nas pessoas mais velhas verdadeiro?Adib Jatene Isso fcil de entender. Como se trata de uma doena degenerativa e progressiva, quanto mais cedo aparecer, mais grave ser.Drauzio Quem no apresenta esses fatores de risco pode ficar tranquilo?Adib Jatene importante dizer que a presena desses fatores de risco no significa que a pessoa v ter necessariamente a doena coronariana, nem que aquela que no apresenta nenhum deles no ter a doena. No conhecemos a causa da doena coronria. S sabemos que alguns fatores aumentam sua incidncia e que, controlando esses fatores, o risco muito menor e a pessoa ganha tempo de vida.DOENAS DO SISTEMA AUTOMTICO DE CONDUODrauzio Que doenas so essas?Adib Jatene So as chamadas arritmias. O corao falha, no bate direito ou bate depressa demais. H vrios tipos de arritmias. As supraventriculares geradas nos trios geralmente so mais benignas, por exemplo, e as ventriculares mais graves.Dependendo do tipo, essas doenas no necessitam de tratamento. Atualmente, para as arritmias com consequncias clnicas, existem medicamentos altamente eficientes e a possibilidade de eliminar os focos por cateterismo cardaco ou de implantar marcapassos. Nas arritmias complexas, esses aparelhos identificam taquicardias capazes de causar fibrilao ventricular e morte sbita e deflagram um choque que corrige essa alterao e mantm o doente vivo. Hoje, milhares de pacientes tm desfibriladores automticos implantados. O problema que esses aparelhos custam caro o que dificulta um pouco o tratamento.DOENAS DO SISTEMA NERVOSO DO MSCULO CARDACODrauzio Como se pode atuar sobre as doenas do sistema nervoso cardaco?Adib Jatene Nas doenas do sistema nervoso cardaco, pouca coisa se pode fazer, porque ocorre a destruio de neurnios. O tratamento apenas sintomtico.Drauzio E sobre as doenas do msculo cardaco?Adib Jatene A pessoa pode apresentar doenas no msculo cardaco, como inflamao (miocardite) que gera cicatrizes (a doena de Chagas a mais caracterstica). Essas cicatrizes provocam sequelas como infarto ou aneurisma. Em muitos casos, a causa no identificada. Trata-se da cardiopatia idioptica cujo tratamento medicamentoso evoluiu muito. Inibidores de enzimas, os betabloqueadores, so drogas que ajudam muito a manuteno desses doentes, principalmente quando tratados precocemente.Drauzio Atualmente, essas doenas no representam o mesmo risco para as pessoas que tm problemas cardacos, no ?Adib Jatene -Esse conjunto enorme de doenas do corao pode ser beneficiado por tratamento medicamentoso, cirrgico, ou por hemodinmica intervencionista, fazendo angioplastias e colocandostents(endoprteses). O arsenal teraputico cresceu extraordinariamente nas ltimas dcadas e trouxe aumento da sobrevida para quem desenvolve problemas cardacos.TRIGLICRIDES E DOENA DAS CORONRIASDrauzio VarellaH mais de quarenta anos, foi demonstrado que nveis altos de triglicrides esto associados doena das coronrias. No entanto, essas gorduras presentes no sangue tm sido consideradas menos importantes do que certas fraes do colesterol, como HDL (o colesterol protetor) ou LDL (o mau colesterol).Em 1996, uma compilao de vrios estudos demonstrou que para cada aumento de 88,5 mg na dosagem de triglicrides sanguneos, o risco de doena coronariana aumenta 37% em mulheres e 14% nos homens.Os mdicos tm considerado aconselhvel manter nveis de triglicrides abaixo de 200, mas no h unanimidade em relao a esse valor. Em 1984, o National Institute of Health, dos Estados Unidos, aceitava como desejveis valores at 250. Recentemente, o Baltimore Coronary Observation Program sugeriu que nveis acima de 100 devem ser considerados anormais. J a American Heart Association aceita valores at 150.A dieta fator crucial na relao entre triglicrides e doena coronariana.Cada vez que ingerimos gordura, o nvel de triglicrides no sangue aumenta. O grau do aumento depende dos nveis basais de triglicrides. Por exemplo, uma pessoa que em jejum tenha triglicrides igual a 80 e almocecheeseburgercom batata frita emilkshake, poder experimentar entre 15% e 20% de elevao nos triglicrides, que atingiro valores de 92 a 96, ainda dentro da normalidade. J em pessoa com valores basais de 300, o mesmo almoo elevar os nveis para mais de 350.Para obtermos resultados laboratoriais confiveis dos nveis basais de triglicrides, preciso estar pelo menos 12 horas em jejum no momento da coleta de sangue. Alm disso, existe variabilidade de 5% a 10% nos resultados de um laboratrio para outro. E, pode haver at 15% de variao de acordo com a posio em p ou deitado no momento da coleta. Esses ndices pouco afetam os resultados daqueles que apresentam resultados dentro da faixa da normalidade, mas podem ser significantes para os demais. Por isso, recomenda-se jejum de 12 horas, no mnimo, colher o exame na mesma posio e no mesmo laboratrio, sempre que possvel.Independentemente dessas variaes, triglicrides abaixo de 100 no requerem tratamento, enquanto indivduos com nveis superiores a 200 devem ser tratados. Na faixa entre 100 e 200, existe controvrsia em relao necessidade de tratamento. Neste caso, fatores como histria de ataques cardacos na famlia, concomitncia de hipertenso, diabetes, vida sedentria, tabagismo e os nveis de colesterol, devem ser levados em considerao.Modificaes de dieta so muito eficazes no controle dos triglicrides. A dieta afeta seus nveis de forma muito mais evidente do que os de colesterol. Enquanto evitar alimentos ricos em gorduras saturadas (frituras e gordura animal) reduz o colesterol de apenas 5% a 10%, os triglicrides caem 20% a 30%.Para reduzir triglicrides importante, tambm, diminuir a ingesto de acares, porque o glicerol neles presente forma o esqueleto qumico das molculas de triglicrides. Embora o lcool parea ter menor impacto nos nveis de triglicrides do que se imaginava, sua ingesto concomitante com gorduras e frituras pode aument-los substancialmente.O exerccio fsico aerbio fortemente recomendado para os que apresentam triglicrides elevados. Sua prtica reduz os nveis de 10% a 20%. Substncias como os cidos graxos mega-3, presentes no leo de peixes como o salmo, constituem fontes alimentares importantes para quem precisa reduzir triglicrides. Para que sejam ingeridas nas quantidades adequadas, entretanto, preciso comer cerca de 300 gramas de salmo por dia. Esto sendo desenvolvidas cpsulas de mega-3 que supram essas quantidades de forma menos enjoativa.Para os sedentrios em que os esforos dietticos tenham fracassado, o tratamento farmacolgico est indicado. Trs tipos de drogas so utilizados: niacina, estatinas e fibratos. A niacina reduz os nveis de triglicrides de 10% a 30%. Doses de um a dois gramas so eficazes tambm para aumentar os nveis de HDL (o colesterol protetor). Reduo do LDL, porm, requer doses mais altas do medicamento.As estatinas so usadas para reduzir LDL e, concomitantemente, os triglicrides. So especialmente eficazes quando os nveis basais de triglicrides ultrapassam 250, pois induzem 20% a 40% de reduo (contra 5% a 10% de reduo quando os nveis basais so menores do que 150). Os fibratos podem reduzir os nveis de triglicrides de 20% a 60% nos pacientes com colesterol total normal (abaixo de 200). Um grande estudo recentemente conduzido entre pessoas com colesterol normal (em mdia 175) e valores mdios de triglicrides iguais a 161 demonstrou que os fibratos reduziram o nmero de eventos cardiovasculares em 22%.Resultado impressionante, num grupo que os mdicos raramente consideram necessrio tratar.CAF E ATAQUE CARDACODrauzio Varella A+a- ImprimirComo quase tudo o que d prazer, a cafena um alcalide que provoca dependncia qumica. Por causa dela, ficamos nervosos. Muitos dizem que no conseguem raciocinar antes do caf da manh, queixam-se de intestino preso sem o cafezinho em determinadas horas, acham impossvel fazer reunio de trabalho ou aturar visita em casa sem ele.Apesar do poder aditivo da cafena, capaz de nos fazer mendigar por um gole, o cafezinho liberado em qualquer ambiente. Seu usurio respeitado, seja o padre da cidade, seja a me de famlia. a ltima droga que nos deixaram para usar sem remorsos. lgico que uma droga consumida por tantos, dotada da propriedade de provocar dependncia, acelerar o corao e excitar o sistema nervoso como a cafena, seja considerada suspeita de fazer mal para o organismo at que se prove o contrrio.Muitos estudos foram realizados para esclarecer essa questo. Com exceo da azia, dores de estmago e da insnia que o caf pode causar em pessoas sensveis ou quando ingerido em doses mais altas, at hoje a Medicina no conseguiu demonstrar que essa bebida seja nociva sade.A nica dvida que persiste em relao ao cafezinho est relacionada doena coronariana, a grande responsvel pelos ataques cardacos. Diversos pesquisadores procuraram caracterizar uma possvel associao entre consumo de caf e prevalncia de doena coronariana, mas os resultados obtidos tm sido conflitantes.A suspeita de que o caf possa aumentar o nmero de infartos do miocrdio foi recentemente reforada pela demonstrao de que tomar caf no filtrado (como o caf turco, por exemplo) faz aumentar o colesterol total e a frao LDL, conhecida como mau colesterol.Recentemente, a revista Archives of Internal Medicine, uma das mais conceituadas da literatura mdica, publicou um artigo de um grupo de pesquisadores finlandeses que considerado um dos mais completos sobre o tema, pelas seguintes razes:1) Na Finlndia, o consumo per capita de caf est entre os mais altos do mundo;2) O sistema finlands de registro das enfermidades que incidem sobre a populao bem organizado e criterioso;3) A mortalidade por doena cardaca muito alta no pas, o que permite a obteno de resultados significantes estatisticamente.No estudo, foram selecionados ao acaso 20.179 homens e mulheres de 30 a 59 anos. Os dados de cada participante foram colhidos nos anos de 1972, 1977 e 1982. Os pesquisadores incluram tambm, no trabalho, informaes sobre as doenas do passado, quantidade de caf ingerida diariamente e a presena dos fatores de risco para doena coronariana: cigarro, hipertenso, diabetes, nveis de colesterol, vida sedentria, histria familiar, etc.O grupo foi seguido por 10 anos. A evoluo de cada pessoa foi obtida por meio de consultas aos registros nacionais de altas hospitalares e de bitos.A mdia diria de xcaras de caf na populao estudada foi igual a cinco. Os resultados obtidos foram os seguintes:1) Depois de ajustar os resultados de acordo com idade e fatores de risco, os autores verificaram que a incidncia de infartos do miocrdio no fatais nos homens foi a mesma entre os que bebiam caf e os abstmios;2) Por outro lado, ainda nos homens, os infartos fatais foram mais frequentes entre os abstmios;3) Em ambos os sexos, os nveis de colesterol aumentaram com o nmero de xcaras bebidas por dia. Os autores explicam esse resultado, pela preferncia de muitos finlandeses por caf no filtrado;4) Os homens que tomavam mais do que sete xcaras de caf por dia, apresentaram ndices de mortalidade coronariana ligeiramente superiores aos dos bebedores moderados. Essa tendncia foi atribuda aos nveis mais altos de colesterol e maior nmero de cigarros consumidos por dia, encontrados entre os que tomavam mais caf;5) Nas mulheres, no s a mortalidade por infarto foi mais baixa, mas todas as formas de morte diminuram com o aumento do consumo de caf.A concluso um lenitivo para aqueles cansados dos sacrifcios impostos pelos cuidados necessrios para preservar a integridade das coronrias: cortar gordura animal, controlar a presso, diminuir o estresse, comer pouco, no fumar, beber com moderao e abandonar a vida sedentria. Pelo menos at que outro estudo demonstre o contrrio, podemos tomar at cinco cafezinhos por dia, sem culpa nenhuma. No pouco.