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Dois Seculos de Pensamento Sobre a Cidade

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desenvolvimento histórico sobre o pensamento acerca da formação das cidades.

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  • Dois sculos de pensamentosobre a cidade

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    REITORA Dora Leal Rosa

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    Luiz Rogrio Bastos Leal

    EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

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  • Pedro de Almeida Vasconcelos

    SalvadorEDUFBA | EDITUS

    2012

    Dois sculos de pensamentosobre a cidade

    2 Edio Revisada

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  • EDUFBARua Baro de Jeremoabo, s/n, Campus de Ondina,

    40170-115, Salvador-BA, BrasilTel/fax: (71) 3283-6164

    www.edufba.ufba.br | [email protected]

    Editora filiada a

    2012, Pedro de Almeida VasconcelosDireitos para esta edio cedidos EDUFBA.

    Feito o depsito legal.

    1 edio: 1999, Editus

    Atualizada conforme o Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

    REVISOCarla Honorato

    PROJETO GRFICO, EDITORAO e CAPARodrigo Oyarzbal Schlabitz

    SIBI Sistema de Bibliotecas da UFBA

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    307.76V331 Vasconcelos , Pedro de Almeida

    Dois sculos de Pensamento sobre a cidade / Pedro de Almeida Vasconcelos. 2. ed. Salvador: Edufba; Ilhus: Editus, 2012.

    618 p.

    ISBN 978-85-232-0994-0

    1. Cidade e vilas - Histria. 2. Geografia urbana. 3. Planejamento urbano - Histria. I. Ttulo.

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  • Para Elisabeth

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  • AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer, antes de tudo, a acolhida, o apoio e a genti-leza do Prof. Paul Claval, destacando a maneira como trata os gegrafos brasileiros e a importncia que dedica aos trabalhos realizados no Bra-sil. Agradecer tambm os pesquisadores e colegas do Laboratoire Espace et Culture, especialmente Mme. Fontanele, Mme. Goultron e Mr. Garnier.

    O pessoal da Biblioteca do Institut de Gographie tambm teve da minha parte, um aumento do seu trabalho, considerando que meus pedi-dos eram, em sua maioria, de material guardado na Reserva, de acesso bem mais complicado que os livros correntes.

    Do outro lado do Atlntico, agradeo tambm, a meus colegas do De-partamento de Geografia e do novo Mestrado em Geografia, pela redistri-buio de nossas atividades didticas durante o perodo de afastamento. Os meus orientandos tiveram algumas perdas, creio, devido distncia e ao fato da discusso ter passado para o nvel epistolar durante o perodo.

    Um agradecimento especial vai para o colega e amigo Mauricio Abreu pela leitura cuidadosa do primeiro manuscrito, pelas correes efetuadas, pelas crticas e sugestes, e ainda pelo envio do pioneiro tra-balho de Ratzel sobre as cidades norte-americanas. Meu irmo, Adilson Vasconcelos, pela reviso das ltimas pginas acrescentadas no Brasil. O professor Milton Santos pelas sugestes de leituras, e pelo encorajamen-to dado em Paris e o colega Herbert Conceio, pela compatibilizao dos disquetes do material levantado na Frana, tornando-os compatveis aos sistemas utilizados no Brasil.

    Finalmente, agradeo a Elisabeth, minha esposa, pelo apoio per-manente, pela ajuda na entrada da maior parte do texto no computador e, sobretudo pelas crticas das primeiras verses, que nem sempre so claras e coerentes.

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  • SUMRIO

    PREFCIO / 13

    APRESENTAO / 17

    CAPTULO 1

    OS PRECURSORES DO PENSAMENTO GEOGRFICO SOBRE A CIDADE / 29

    O CONTEXTO DO PERODO 1810-1869 / 29

    OS TEXTOS DOS PRIMEIROS GEGRAFOS SOBRE A CIDADE / 32

    VISES NO-GEOGRFICAS DO PERODO / 36

    Os Socialistas Utpicos / 37Os Socialistas Revolucionrios / 40Outras vises da cidade no perodo / 45

    CAPTULO 2

    O PENSAMENTO SOBRE A CIDADE NO PERODO DA INSTITUCIONALIZAO DA GEOGRAFIA / 53

    O CONTEXTO DO PERODO 1870-1913 / 53

    A PRODUO GEOGRFICA NOS SEUS INCIOS / 55

    CONTRIBUIES DAS OUTRAS DISCIPLINAS / 85

    Arquitetos e Urbanistas / 86Socilogos, Historiadores e Estatsticos Sociais / 91

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  • CAPTULO 3

    O PENSAMENTO SOBRE A CIDADE ENTRE A PRIMEIRA E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL / 103

    O CONTEXTO DO PERODO 1914-1944 / 103

    A AFIRMAO DA GEOGRAFIA URBANA / 106

    A PRODUO DAS OUTRAS DISCIPLINAS / 155

    A Escola de Chicago / 156A Sociologia Europeia / 170A Economia Urbana / 176Os Arquitetos e Urbanistas / 179Os Historiadores / 190A Filosofia / 204

    CAPTULO 4

    A PRODUO SOBRE A CIDADE DO PERODO DO PS-GUERRA AOS INCIOS DOS ANOS 70 / 209

    CONTEXTO DO PERODO 1945-1972 / 209

    A AMPLIAO DA CONTRIBUIO GEOGRFICA / 212

    A PRODUO DAS OUTRAS DISCIPLINAS / 319

    Pluridisciplinar / 319A Sociologia Urbana / 324A Antropologia Urbana / 350A Economia Urbana / 352Os Historiadores / 354Os Urbanistas / 361

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  • CAPTULO 5

    A PRODUO ATUAL SOBRE A CIDADE / 375

    CONTEXTO DO PERODO 1973-1994 / 375

    A PRODUO ATUAL NA GEOGRAFIA / 379

    A PRODUO ATUAL NAS OUTRAS DISCIPLINAS / 529

    Pluridisciplinar / 529A Sociologia Urbana / 533A Antropologia Urbana / 540A Economia Urbana / 547Arquitetos e Urbanistas / 551Historiadores / 565A Filosofia / 570

    CONSIDERAES FINAIS / 575

    REFERNCIAS / 597

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    PREFCIO

    O livro Dois Sculos de Pensamento sobre a Cidade, do colega e amigo Pedro de Almeida Vasconcelos, fruto da grande paixo do autor pela questo urbana, sobretudo vista atravs da anlise da relao tempo-es-pao. Isso tem se expressado por uma contnua e slida produo cien-tfica, especialmente nos ltimos 15 anos, coincidindo com seu ingresso na vida acadmica, aps uma profcua atuao, durante cerca de uma dcada, no mbito do planejamento metropolitano em Salvador.

    Tive a oportunidade de conhecer mais o Prof. Pedro de Almeida Vasconcelos, ao participar em 1986, de sua banca de concurso para Pro-fessor Titular de Geografia, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ao lado dos mestres Milton Santos, Manuel Correia de Andrade, Antonio Christofoletti e Joaquim Batista Neves. A partir da, pude acompanhar bem de perto seu dedicado trabalho como professor e pesquisador no Departamento de Geografia e nos Mestrados em Arquitetura e Urbanis-mo e em Geografia, todos da UFBA. Logo aps seu ingresso na referida Universidade, tornou-se pesquisador do Conselho Nacional de Desen-volvimento Cientifico e Tecnolgico (CNPq).

    Toda a grande experincia acadmica do autor, analisada pelo n-gulo da sistematizao do pensamento sobre a cidade, culmina, portan-to, com este livro. Para tanto, o Prof. Pedro trabalhou arduamente nos ltimos anos no Brasil e na Frana, onde desfrutou de uma bolsa de ps--doutoramento no renomado Instituto de Geografia da Universidade de Paris IV.

    Assim, a comunidade cientfica brasileira est de parabns com a publicao deste livro, j que o mesmo preenche uma grande lacuna ao possibilitar para o leitor, o conhecimento detalhado da obra de numero-sos e importantes autores de vrios pases e tempos distintos, muitos dos

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    quais at agora pouco conhecidos em nosso meio. Isto assume maior sig-nificado quando se leva em considerao as ainda persistentes dificulda-des de compreenso de textos em lngua estrangeira, sobretudo por parte de estudantes de graduao e de ps-graduao, as grandes falhas em nos-sos sistemas de bibliotecas e os problemas de obteno de material biblio-grfico do Exterior, particularmente os trabalhos mais antigos.

    Portanto, este livro de grande relevncia e utilidade na pesquisa e no ensino graduado e ps-graduado no vasto campo das Cincias Hu-manas e Sociais, especialmente em Geografia, Urbanismo, Arquitetura, Planejamento Urbano e Regional, Histria, Sociologia, Economia e An-tropologia.

    O livro persegue, com sucesso, uma lgica, a de reunir e analisar criticamente toda a contribuio do pensamento sobre a cidade des-de o incio do Sculo XIX, quando ele comea a ser sistematicamente produzido na academia, at nossos dias, destacando os aspectos teri-co conceituais, metodolgicos e aplicados. A contextualizao das con-tribuies tambm faz parte desta lgica bem como a produo de uma sntese, por sinal de grande relevncia.

    Assim, trata-se, a rigor, de um livro-fonte, de leitura estimulante e agradvel, devendo certamente ser lido e consultado diversas vezes na busca de uma compreenso mais correta dos fundamentos do pen-samento sobre a cidade. Desta forma, o livro ir apoiar a realizao de muitos estudos e pesquisas.

    Ainda no caso brasileiro, preciso destacar a justa insero de au-tores nacionais na construo do pensamento sobre a cidade. Isto certa-mente contribui para sistematizar e motivar nossa produo intelectual na tentativa de responder aos enormes desafios colocados pela dinmica complexidade das cidades brasileiras. importante que nossa produo acadmica continue buscando bases cada vez mais slidas. S assim ser possvel produzir formas inovadoras de anlise e ao.

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    Finalmente, lendo o livro do Prof. Pedro de Almeida Vasconcelos, em sua apaixonada - repito - integrao da historicidade com a geografici-dade, lembro-me das palavras do poeta Augusto de Campos, em sua obra Verso, reverso, contra-verso: eu defenderei at a morte o novo por causa do antigo e at a vida o antigo por causa do novo; o antigo que j foi novo e to novo como o mais novo.

    Sylvio Bandeira de Mello e SilvaSalvador, agosto de 1999.

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    APRESENTAO

    Este livro apresenta o resultado principal de uma pesquisa realiza-da durante o perodo de um ano de ps-doutorado (1994-1995), junto ao Laboratoire Espace et Culture, dirigido pelo Prof. Paul Claval, na Universit de Paris IV, mediante bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e continuada durante mais um ano aps retorno do autor ao Brasil.

    A obra visa recuperar a contribuio do pensamento sobre a cida-de, desde o perodo da institucionalizao da geografia como disciplina universitria no incio do sculo XIX e busca, a partir do exame crtico de textos originais, destacar, por um lado, a preocupao terica, metodo-lgica e conceitual, que foi construda por nossos predecessores e desen-volvida pelos contemporneos. Por outro lado, traz informaes sobre a prpria realidade urbana, tanto ocidental como de outros contextos geogrficos, nas diferentes formas em que essa realidade foi apreendi-da pelos diversos autores, nas diferentes etapas temporais examinadas. O livro tambm possibilita que cidades variadas sejam comparadas por vises diferentes num perodo de quase dois sculos. Tanto as cidades, como a geografia, mudaram, e o interesse duplo.

    Os principais trabalhos das outras disciplinas sobre a questo urba-na foram tambm examinados, com um grau menor de aprofundamento, para servir de comparao produo geogrfica de cada perodo.

    De fato, a origem deste estudo data de 1985, quando iniciava mi-nhas atividades junto ao Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade Federal da Bahia (UFBA), participando do curso Estrutura Ur-bana e Uso do Solo, com discusses crticas sobre vrios pensadores da cidade. As comunicaes apresentadas na Terceira Semana de Urbanis-mo, em Salvador (1988) e no Primeiro Simpsio de Geografia Urbana, em So Paulo (1989), tambm foram nessa mesma linha.

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    Com a implantao da rea de Concentrao em Anlise Urbano--Regional, de responsabilidade do Departamento de Geografia junto ao referido Mestrado (1992), passei a assumir o curso Teoria em Anlise Urbano-Regional, que era uma continuidade do curso anterior, mas com uma predominncia no exame da contribuio dos gegrafos sobre o es-tudo das cidades. O referido curso teve continuidade com o novo Mestra-do em Geografia, iniciado em 1994.

    Apesar da riqueza de documentao, sobretudo sobre os anos 1950/1960, em boa parte devido ao acervo do antigo Laboratrio de Geo-morfologia e Estudos Regionais, sob a direo do Prof. Milton Santos, h grandes lacunas de material anterior, assim como posterior ao perodo dessas duas dcadas.

    A possibilidade de realizar a pesquisa em Paris permitiu o acesso Biblioteca do Institut de Gographie (e tambm Bibliothque Nationale), dotadas de um acervo bastante rico de documentao disponvel desde o final do sculo XIX. Infelizmente, alguns documentos foram encaixota-dos na Biblioteca do Instituto, tornando o acesso difcil, considerando a pouca demanda por um material que j data de mais de um sculo, como no caso do livro de Lalanne (1883), que antecipa as ideias de Christaller, e cujo extrato foi publicado em Pinchemel, Robic e Tissier (1984). Infe-lizmente, as bibliotecas francesas no mantm o sistema de livre-acesso como as norte-americanas e brasileiras, o que seria mais proveitoso, considerando que a busca de um livro pelo prprio interessado, j em si uma pesquisa, encontrando, dessa forma, outros livros de interesse, classificados e ordenados no mesmo grupo.

    Por outro lado, o fato de a pesquisa ter sido realizada na Frana, deve ter tornado o trabalho desequilibrado, com uma super-represen-tao de estudos da geografia francesa. Tentei ento aceder literatura em lngua inglesa, castelhana, portuguesa e italiana (incluindo as tradu-es disponveis), visando dar um enfoque o mais geral possvel.

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    As fontes principais foram os livros, as teses publicadas e os principais artigos sobre o assunto, inclusive os extratos de antologias disponveis, sobretudo, nas outras disciplinas. A revista Annales de Gographie foi examinada desde o seu primeiro nmero (1891) at os mais recentes (1994), assim como os relatrios dos Congressos Inter-nacionais de Geografia (1889/1988), na busca de assuntos referentes questo urbana.

    De qualquer maneira, diante do longo perodo escolhido e da cres-cente produo sobre as cidades, alm da opo de examinar autores de outras disciplinas interessados no campo urbano, foi necessrio estabe-lecer prioridades, pois cobrir a produo sobre a cidade uma tarefa im-possvel para um pesquisador, mesmo examinando a produo de ape-nas uma disciplina. Da a necessidade tambm de estabelecer limites: o principal foi o de priorizar o intraurbano como campo de conhecimento.

    Os critrios estabelecidos para a escolha dos trabalhos a serem exa-minados foram os seguintes:

    1. Na geografia, foi considerado que os estudos sobre redes urbanas, sis-temas urbanos, hierarquias urbanas e reas de influncia das cidades eram de nvel regional, o que deixou de lado trabalhos clssicos como o Die zentralen Orte in Sddeutschland, de W. Christaller (1933), sobre a teoria do lugar central, o LOrganisation urbaine de lAlsace, de M. Roche-fort (1960). Trabalhos mais recentes como City Systems in Advanced Eco-nomies, de Allan Pred (1977) e publicaes de colegas brasileiros, como O Rio de Janeiro e sua Regio, organizado por Lysia Bernardes (1964); os da equipe Sylvio B. de Mello e Silva, Barbara-Christine N. Silva e Snia de O. Leo, O Sub-sistema Urbano Regional de Feira de Santana (1985), o equivalente de Ilhus Itabuna (1987) e a publicao de Jos Alexandre F. Diniz sobre o subsistema de Aracaju, tambm de 1987;

    2. Na geografia intraurbana priorizaram-se os tempos pouco tratados, dando uma cobertura a mais exaustiva possvel aos primeiros trabalhos,

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    mesmo quando no dedicados exclusivamente s cidades, objetivando resgatar textos raros e autores pioneiros, alguns esquecidos e recuperar as propostas de mtodos e conceitos elaborados. O exame de cada um dos nmeros da revista Annales de Gographie ajudou muito nesta fase de pesquisa, por indicar nas resenhas de livros ou nas publicaes recebi-das pela revista, o que estava sendo produzido em cada perodo; No caso de textos de autores contemporneos a seletividade foi maior, considerando a gigantesca produo atual e a continuidade da produo desses autores. Da a busca apenas dos textos mais re-presentativos de cada autor. Como exemplo, os livros de Milton San-tos, Pobreza Urbana, de 1979 e O Manual de Geografia Urbana, de 1981, no foram analisados devido ao exame realizado em outros traba-lhos do mesmo autor.

    3. Quanto s escolas nacionais, houve uma tentativa de compensar a su-per-representao de estudos franceses, inclusive, evitando a anlise de maior nmero de trabalhos, como por exemplo, o estudo de Andr Franqueville, sobre Yaund, de 1994, considerando que outras cidades africanas j tinham sido analisadas por gegrafos franceses; de evi-tar o exame de textos paradidticos como os de Patrick Pigeon, Ville et environnement e o de Jacques Bonnet, Les Grandes mtropoles mondiales, ambos de 1994, mesmo com temas interessantes;

    4. Consciente dessa super representao, procurou-se cobrir as ou-tras escolas nacionais mais exaustivamente. Mesmo assim, alguns trabalhos no foram considerados, como por exemplo, a sntese bastante conhecida de J. B. Garner, Socio-Economic Models in Geogra-phy, publicada em R. Chorley e P. Haggett, no ano de 1967, com tra-duo brasileira em 1979 e o manual de M. Yeates e B. Garner, The North American City (1971), por no apresentar maior originalidade sobre o assunto;

    5. Temas especficos tambm foram evitados, mesmo na geografia. Por exemplo, no foram includos trabalhos sobre a questo fundiria, como Le March des terrains btir dans la rgion bruxelloise (1912-1968), de Christian Vandermotten (1971). Sobre a questo habitacional, como

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    o de Bernard Dorleans, Etude gographique de trois kampung a Djakar-ta, de 1976 ou sobre transportes, como a tese de Kamel Harouche, Les Transports urbains dans lagglomration dAlger, de 1987. Tambm foi considerada especfica a temtica sobre movimentos sociais urbanos, como a tese de Jos Borzacchiello da Silva, de 1987;

    6. Autores de formao multidisciplinar, mas que no se consideram ge-grafos, tambm no foram includos nos trabalhos da geografia, Ga-briel Dupuy, com sua tese Urbanisme et technique (1978); Pierre Merlin, com inmeros trabalhos sobre cidades novas ou sobre os transportes urbanos, ou ainda, Ren de Maximy com sua excelente tese Kinshasa, ville en suspens, de 1984;

    7. Quanto produo brasileira, por j contarmos com o levantamento de Maurcio Abreu, publicado em A. F. Carlos (1994), no qual esto in-cludas as principais dissertaes e teses levantadas junto aos cursos de ps-graduao em geografia no Brasil, foi preferido examinar com maior detalhe os textos antigos e a produo atual mais representativa publicada em livros;

    8. Tambm em portugus, evitamos os textos introdutrios, embora re-conhecendo sua importncia na divulgao da disciplina;

    9. Como a prioridade foi dada aos trabalhos elaborados pelos gegra-fos, os estudos dos autores das outras disciplinas s deveriam constar como comparao produo geogrfica, sendo destacados apenas os principais estudos, devido a impossibilidade de tratar o conjunto da produo acadmica. Como exemplo de levantamentos da produo sobre a cidade, P. Claval registrou 1.123 ttulos em seu livro de 1981, e P. Hall listou 1.400 textos no seu livro de 1988, tratando do planejamento urbano. Outro problema que um levantamento extenso nas outras disciplinas poderia diluir a produo da geografia, cuja inteno des-tacar. O interesse dos trabalhos nas outras disciplinas o de visualizar a relao dos trabalhos dos gegrafos com as ideias predominantes em cada perodo, sua especificidade, ou ao contrrio sua insero nos paradigmas dominantes nas cincias sociais, ou no conjunto do

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    pensamento filosfico cientfico de cada perodo. Da o maior rigor na seleo dos trabalhos fora da geografia;

    Uma explicao sobre a ausncia de alguns trabalhos necessria.Na sociologia, por exemplo, no foi includo o clssico, Sobrados e

    mucambos, de Gilberto Freyre, (1936), por considerar que o mesmo seja, sobretudo, um estudo social sobre o passado nas cidades brasileiras, do que um estudo especfico sobre as cidades. O livro A Espoliao Urbana, de Lcio Kovarick (1980) mais voltado aos fenmenos de excluso social e da migrao, do que prpria temtica urbana. Livros como Sociologie ur-baine, de Raymond Ledrut (1968), o March des terrains et socit urbaine sur la ville de Tehran, de Paul Vieille (1970), La production des grands ensembles, de Edmond Prteceille (1973) e Les promoteurs immobiliers, de Christian Topalov (1974), no foram considerados devido ao grande nmero de so-cilogos franceses analisados, embora sejam tambm representativos de suas reas.

    Na antropologia, por exemplo, o livro The View from the Barrio, de Lisa Redfield Peattie (1968), foi considerado especfico. O famoso livro The Myth of Marginality, de Janice E. Perlman (1976), traduzido para o por-tugus, foi considerado restrito temtica de habitao.

    Artigos clssicos, como por exemplo, The Cultural Role of Cities, de R. Redfield e M. Singer, Generative and Parasitic Cities, de B. Hoselitz, ambos de 1954; Latin American Squatter Settlements: a Problem and a Solution, de W. Mangin, de 1967, tambm foram evitados, por serem bastante difundidos.

    Na histria, o livro La cit grecque, de Gustave Glotz (1928) mais sobre a estrutura poltica das cidades gregas do que sobre as cidades pro-priamente ditas; o livro Fin-de-Sicle Vienne: Politics and Culture, de Carl E. Schorske, de 1961, tem apenas um captulo tratando da questo urba-nstica de Viena. Obras como La Ville au moyen ge en Occident, de Jacques Heers (1990), no foram includos para no ampliar a super representao

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    em lngua francesa; o excelente Bahia, sculo XIX. Uma Provncia no Imp-rio, de Ktia Mattoso (1991), no foi includo por sua abrangncia territo-rial ampla, embora apresente captulos sobre Salvador.

    Na arquitetura e no urbanismo, no foram examinados Storia della Citt, de Leonardo Benevolo, traduzido para o portugus em 1983. O livro mais importante por suas ilustraes do que pelo seu contedo escrito, o que dificulta a sua apreciao. Por outro lado, um livro de grande divulgao. Urban Housing in the Third World, de Geoffrey K. Payne (1977) um exemplo das inmeras publicaes sobre a temtica habitacional, considerada restrita. O que cidade, de Raquel Rolnik (1988), no foi con-siderado pelo seu carter introdutrio. O importante trabalho, Cidade no Brasil terra de quem? de Murillo Marx (1991) versa, sobretudo, sobre o pro-cesso de formao das povoaes e das cidades brasileiras.

    Quanto aos livros sobre o planejamento urbano como, o Urban and Regional Planning, de J. Brian McLoughlin (1969) ou Introduction la Plani-fication urbaine, de J.-P. Lacaze (1979), a temtica j foi coberta pelo exce-lente livro recentemente traduzido de P. Hall (1988).

    O livro Storia dellArte come Storia della Citt, do crtico de arte Giulio Argan, de 1984, rene seus escritos sobre o assunto, mas nem todos so de interesse especificamente urbano.

    Na rea do meio ambiente, temos o sempre citado livro de Ian MacHarg, Design with Nature (1969), que , em sua maior parte, de enfo-que regional.

    10. Alguns livros importantes no foram encontrados como, por exem-plo, o Ciudad del Capital, de Marino Folin1 ou o livro Princpios de Geo-grafia Humana, traduo portuguesa do original de 1922, da obra ps-tuma de Vidal de la Blache, que comenta as cidades nas suas pginas finais;

    11. Outra fonte importante sobre estudos das cidades teria sido a li-teratura, principalmente a de no-fico: o estudo de Raymond

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    Williams, The Country and the City (1973) um clssico sobre o assunto. Cidades serviram como pano de fundo para os romances de autores como V. Hugo, H. Balzac, C. Dickens e no Brasil, os de Jorge Amado. O tema cidades j inspirou diretamente vrios auto-res como Italo Calvino com La Citt invisibili (1972), ou o uruguaio Angel Rama, com La Ciudad Letrada (1984). Cidades ou partes delas so temas de romances como o famoso Berlin Alexanderplatz, de Al-fred Dblin (1929). Autores elaboraram estudos futuristas, como J. Verne na sua obra sobre Paris em 1994. Outros textos so de carter social e servem de testemunho histrico, como o clebre O Cortio, de Alusio de Azevedo (1890) ou o menos conhecido Texaco, de P. Chamoiseau (1992), que descreve a evoluo de uma favela na Mar-tinica. Mas, incluir a discusso sobre a literatura e a cidade levaria certamente a inviabilidade deste livro;

    12. Outro critrio foi o de destacar espaos pouco examinados, conside-rando tambm o material de difcil acesso no Brasil e que permite o exame de diferentes realidades urbanas, inclusive elaboradas por autores locais. Foi tentada, portanto, dar a maior abrangncia espa-cial possvel ao estudo, examinando cidades de todos os continentes, visando compensar desta maneira, o maior volume de estudos reali-zados sobre as cidades europeias;

    13. Finalmente, tentou-se equilibrar os trabalhos buscando tambm uma representatividade entre os vrios paradigmas dominantes na histria da geografia, embora sabendo que haveria uma super-re-presentao dos trabalhos clssicos, mais antigos. Dos mais novos, destacaram-se aqueles voltados s correntes mais recentes, sejam as baseadas no marxismo, na fenomenologia ou nos estudos eclticos das correntes ps-modernas.

    Outra dificuldade a questo temtica. Alguns autores participam de equipes pluridisciplinares e esto mais prximos de colegas de ou-tras disciplinas que tm um mesmo campo de trabalho, do que de outros

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    colegas da mesma profisso e da mesma instituio. A opo foi destacar a contribuio dos gegrafos, na medida em que, h um esforo acumu-lado de compreenso da complexidade urbana, que no foi ainda devi-damente colocada em destaque, sobretudo se comparar com outro cam-po em que os gegrafos tm uma maior predominncia e uma tradio mais consolidada, como o da geografia regional. Uma primeira exceo, e realizada a partir de colega de outra disciplina, o estudo de G. Montig-ny (1992), e no Brasil, pelo estudo de Mauricio Abreu (1994).

    Mas esse livro no uma antologia, havendo trabalhos exemplares sobre a cidade, nessa linha, como os de D. Pierson (1945, 1946), de Mayer e Kohn (1959), de F. Choay (1965), de Grafmeyer e Joseph (1979), de Ansay e Schoonbrodt (1989) e de Roncayolo e Paquot (1992).

    So mais prximos os trabalhos realizados sobre a questo urbana em vrias disciplinas, como os de M. Delle Donne (1979)2 e de P. Claval (1981); os sobre a sociologia urbana por D. Martindale, na apresenta-o do livro de M. Weber (1958), por Remy e Voy (1974), por M. Castells (1971), por P. Saunders (1981); sobre a antropologia urbana por U. Han-nerz (1980); sobre planejamento urbano por P. Hall (1988); e sobre a com-parao entre a sociologia urbana, a geografia urbana e estatstica social, por G. Montigny (1992).

    Na prpria geografia, temos os trabalhos parciais de G. Chabot (1948), de J. Sommer (1966), de A. Meynier (1969), de P. Claval (1969), de H. Carter (1972) e de P. Pinchemel (1983).

    Contrastando com a situao internacional, a contribuio brasi-leira na geografia urbana bem mais aprofundada, a partir do artigo de Nice L. Muller (1968) e no estudo do colega Mauricio Abreu, j menciona-do, cobrindo quase mil trabalhos realizados desde 1989 e editado apenas em 1994.

    O primeiro captulo cobre o perodo de 1810-1869, cuja produo sobre a cidade , sobretudo realizada por autores fora da disciplina

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    geogrfica, que ainda no tinha sido institucionalizada nas Universida-des. O captulo segundo dedicado ao perodo de 1870-1913 e cobre os trabalhos dos primeiros acadmicos da geografia que trataram da cida-de, em paralelo aos autores de outras disciplinas.

    O terceiro captulo sobre o perodo de 1914-1944, corresponden-do produo dos anos entre as guerras mundiais considerando as grandes rupturas causadas pelas guerras , tanto na geografia quanto nas outras disciplinas. A pesquisa foi mais exaustiva nesses perodos iniciais, tendo sido examinados inclusive trabalhos genricos, mas com captulos especficos sobre cidades. O quarto captulo cobre os trabalhos do perodo da ps-Segunda Guerra at o ano de 1972, quando aparecem as contribuies dos acadmicos da periferia do mundo desenvolvido.

    Por fim, o quinto captulo trata da produo atual, ps 1973. Esse ano serve de marco, tendo em vista as grandes transformaes mundiais que encerram um ciclo de prosperidade econmica e coincide com o de-senvolvimento da geografia urbana crtica. Considerando que a maioria dos autores, no ltimo perodo, est em plena atividade interessa mais exemplificar os novos campos temticos do que tentar cobrir a gigantes-ca produo atual.

    Cada captulo comea por um rpido contexto que procura relem-brar ao leitor os grandes eventos do perodo seguidos de comentrio sobre as correntes dominantes do pensamento e de indicao das principais pu-blicaes dos autores mais importantes nas vrias disciplinas, concluindo com informaes sobre o desenvolvimento do conjunto da geografia.

    Em seguida, a contribuio dos gegrafos urbanos examinada e os captulos so concludos com os principais aportes dos no gegra-fos interessados nas questes urbanas. No interior de cada captulo, os autores so citados na ordem cronolgica da publicao e na medida do possvel, apresentam-se informaes pessoais e acadmicas. Seguem-se pelo exame de cada texto escolhido, juntamente com a notao das pginas

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    referentes s publicaes examinadas, presentes na bibliografia. No caso de textos em lngua estrangeira foi tentada a traduo mais prxima do sentido original. Ao fim, cada exame concludo por um comentrio do autor sobre o texto apresentado.

    NOTAS

    1 A biblioteca do Institut de Gographie de Paris apresenta algumas lacunas de difcil compreenso. Por exemplo, no encontramos qualquer livro do importante gegra-fo espanhol Horacio Capel, ausncia que teve que ser compensada por emprstimo da colega Guiomar Germani, e de encomendas s livrarias de So Paulo.

    2 O livro de Marcella Delle Donne, Teorie sulla Cit (Teorias sobre a Cidade) de 1979, um exemplo da pouca importncia dada contribuio geogrfica ao conhecimen-to da cidade, em comparao com outras disciplinas citadas: o captulo Abordagem Geogrfica conta com 13 pginas de texto, num livro de 259 pginas, sendo apenas cinco dedicadas viso intraurbana. Por outro lado, o gegrafo alemo W. Christal-ler examinado no captulo Perspectiva Econmica. Na desordenada bibliografia da edio portuguesa, apenas 24 autores (dos quais nove italianos) so citados no item Geografia urbana.

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    CAPTULO 1

    OS PRECURSORES DO PENSAMENTO GEOGRFICO SOBRE A CIDADE

    O CONTEXTO DO PERODO 1810-1869

    O primeiro perodo, demarcado inicialmente pelos trabalhos de Malte-Brun e Humboldt coincide, aproximadamente, com o incio da Era Industrial (1815-1885), proposta por Paul Kennedy (1991), em que a hegemonia era britnica, as potncias mdias eram a Prssia, o Imprio dos Habsburgos e a Frana, momento que houve um eclipse no mundo no europeu.

    Este perodo reflete os impactos da independncia norte-americana (1776), da revoluo francesa e das guerras napolenicas (1789/1815), com seus resultados diretos no reordenamento da Europa (Congresso de Vie-na, 1815) e indiretos, nas independncias latino-americanas (1811-1824).

    O fato mais importante foi a revoluo industrial, iniciada por vol-ta de 1760 e teve sua primeira fase concluda em torno de 1860. A revolu-o industrial foi determinante pelo menos em quatro aspectos:

    1) hegemonia econmica e poltica do Reino Unido: atravs da bandeira do liberalismo econmico esse estado estendeu sua influn-cia ao conjunto do globo, incluindo s novas repblicas latino-ameri-canas, sia (Guerra do pio, 1839/42), a concluso da conquista da ndia (1849) e da frica (Canal de Suez, 1869), transformando grandes

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    reas em produtoras de matrias primas e consumidoras de produtos industriais. O longo reino da rainha Vitria (1837-1901) marca o apo-geu do Reino Unido. Um subproduto do liberalismo econmico foi o combate ao trfico escravo.

    2) transformaes tecnolgicas: alm da prpria produo indus-trial, essas transformaes levaram ao desenvolvimento das ferrovias (1825, primeira linha na Inglaterra) e da navegao a vapor (primeira companhia de navegao a vapor em 1840, em Liverpool). Na dcada de 1850 foi implantado o primeiro elevador seguro, tambm a vapor. Todas essas mudanas tiveram grandes implicaes nas cidades.

    3) transformaes sociais: a criao de duas novas classes, o patro-nato e o operariado, com o agravante das novas condies de trabalho bastante precrias, que levaram destruio das mquinas (Ludittas, 1811-1812) e s grandes revolues sociais de 1848.

    4) crescimento urbano: as concentraes industriais provocaram o crescimento das cidades existentes e a criao de novos ncleos indus-triais com condies de habitaes tambm precrias para o operaria-do, em grande parte migrante das reas rurais. O crescimento de Lon-dres reflete a hegemonia britnica desse perodo: passa de 1.000.000 de habitantes em 1830 para 2.500.000, em 1851, ano da primeira Expo-sio Universal. Entre 1853/1870 foram realizadas as grandes reformas haussmannianas em Paris, que contava com 500.000 habitantes em 1850.

    Regionalmente, duas guerras so importantes neste perodo: a Guerra de Secesso, nos Estados Unidos (1861-1865), que acaba com a es-cravido e unifica o mercado norte-americano e a Guerra do Paraguai (1865-1870), que pe fim a uma experincia de desenvolvimento voltado para o mercado interno na Amrica Latina.

    Este perodo marcado pela continuidade do laissez-faire na econo-mia, a partir das ideias de Adam Smith (1766), juntamente com a influn-

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    cia da viso malthusiana (1798). Em 1817, Ricardo publica os Princpios da Economia Poltica, enaltecendo a livre troca e as vantagens comparativas entre as naes. Um autor importante para a geografia: J.-H. von Th-nen, que publica o seu livro, O Estado Isolado (1826-1851).

    Na Frana foi criada a sociologia com o desdobramento das ideias de Augusto Comte, sobretudo, no seu Curso de Filosofia Positiva (1839), com a proposta de nova ordem social, uma das bases do positivismo. Outra publicao influente no perodo A Origem das Espcies, de Darwin (1859) que servir de base para as ideias evolucionistas e para o darwi-nismo social.

    As precrias condies de vida e de trabalho do proletariado leva-ram s propostas alternativas elaboradas pelos Socialistas Utpicos e ao desenvolvimento das teses dos Socialistas Revolucionrios, desta-cando-se a publicao por Marx e Engels do Manifesto do Partido Comunis-ta (1848) e o incio da publicao de O Capital (1867). Vises anarquistas tambm foram difundidas no perodo, com as publicaes de Proudhon (1840) e de Bakunin (1873).

    Na geografia, a primeira cadeira na Sorbonne, data de 1809, e em 1820 C. Ritter ocupa a primeira cadeira da disciplina na Universidade de Berlim. Foi fundada a primeira sociedade de geografia, a Socit de Go-graphie de Paris, com a publicao do seu Bulletin (1820-1821), seguida pe-las Gesellschaft fur Erdkunde zu Berlin, fundada por C. Ritter em 1828, pela Royal Geographical Society em Londres, 1830, e pela American Geographical and Statistical Society, em Nova York, 1852. Em 1855 fundado o jornal Petermanns Geographische Mittelungen, e em 1863 o Anne Gographique. No Brasil, em 1838, foi criado o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, voltado, sobretudo, s questes histricas. Destacam-se ainda, nesse pe-rodo, as publicaes da Geografia Universal Comparada, Ritter (1817-1859) e de Cosmos por Humboldt (1845-1862).1

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    OS TEXTOS DOS PRIMEIROS GEGRAFOS SOBRE A CIDADE

    Entre 1810 e 1869, apenas dois autores foram considerados nos es-tudos geogrficos. Primeiro Malte-Brun, que escreveu a primeira gran-de Geografia Universal ainda no perodo napolenico, em cuja obra, as cidades no mereceram um destaque especial. O segundo, Humboldt, grande cientista alemo, que escreveu um primoroso trabalho sobre a Nova Espanha (Mxico) no final do perodo colonial, dando ateno es-pecial cidade do Mxico.

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    Conrad Malte-Brun (1775-1826), dinamarqus, refugiado na Frana em 1799, foi o primeiro secretrio geral da Sociedade de Geografia de Paris. Escreveu a primeira geografia geral, Prcis de la Gographie universelle, du-rante o perodo de 1810 at sua morte, sendo concluda por Huot, em 1829.2 Revisada por seu filho, a obra teve nova edio publicada em 1852.

    Malte-Brun, nesta edio, aps examinar a Geografia Geral, a His-tria da Geografia, a Geografia Matemtica e a Geografia Fsica, comea no tomo IV, com a descrio dos continentes.

    Foi destacada, no tomo sobre a sia, a descrio da cidade de Pe-quim, em seis pginas, citando informaes de padres jesutas e de via-jantes: a cidade tinha forma quadrada, dividida em duas partes, ambas muradas. As ruas no eram pavimentadas. A populao, estimada entre 1,3 e 2 milhes de habitantes era dividida em trs classes: militares, co-merciantes e artesos e domsticos (p. 315-317).

    No tomo IX, ao qual descreve a Amrica, o autor reserva apenas duas pginas Nova York, que seria a segunda cidade comercial do Universo e uma das mais povoadas da Amrica, com uma populao superior a 517.000 habitantes, contando com 79 igrejas no seu territ-rio (p. 153).

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    O Brasil tratado no tomo X, tendo a cidade do Rio de Janeiro nar-rada com apenas uma pgina de observaes. Com 150.000 habitantes em dois bairros, separados pelo Campo de Santana. (p. 501) So Paulo tinha apenas 18.000 habitantes (p. 502), enquanto que Salvador ainda era a segunda cidade do Brasil, com 120.000 habitantes. Era composta por duas partes, o bairro da Praia e o outro, elevado a 200 metros [sic] acima do nvel do mar, incluiria os subrbios de Vitria e Bonfim [sic]. Menciona as casas de pedra, com vrios andares, seus balces e gelosias. (p. 511) Salvador ainda era a maior praa forte do Brasil, contando com o maior Arsenal da Marinha. (p. 512) Na mesma poca, Recife tinha 60.000 habitantes.3

    No tomo VIII, da edio de 1817, temos a descrio sobre Paris e Londres, segundo Malte-Brun.

    Das 11 pginas dedicadas a Paris, oito tratam da histria da cida-de. Paris tinha 714.000 habitantes na poca (p. 509) e sua importncia podia ser medida pelas suas 38 igrejas, 35 comunidades de mulheres, quatro congregaes masculinas e quatro seminrios. Havia tambm nove bibliotecas pblicas, clebres escolas de Direito, de Medicina e de Teologia, sete colgios, e sete escolas especiais (obras pblicas; minas, para engenheiros gegrafos; para oficiais de estado maior; msica; belas artes; lnguas orientais e politcnicas). (p. 510)

    Londres, com 10 pginas, apresenta maior quantidade de informa-es: era a [...] capital de um potente imprio, a cidade mais populosa da Europa e mais comerciante do Universo. O autor informa que cerca de 900 barcos a vapor entravam e saiam anualmente do seu porto. (p. 598) A cidade era dividida em 26 bairros (p. 601) e sua forma era completa-mente irregular, com um comprimento de sete milhas, por quatro mi-lhas na maior largura e duas milhas na menor. Enquanto o Westminster e o West-End eram a morada da nobreza e da opulncia, o East-End era habitado pelos comerciantes. Os estaleiros, e os vastos armazns

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    estavam tambm localizados no lado leste da cidade. As casas de Londres eram uniformes, quase todas com trs andares, em tijolo e revestidas de gesso. As ruas eram limpas e iluminadas a gs.

    O autor destaca os principais edifcios e palcios. (p. 602-603) Ha-via 394 igrejas, 13 teatros, 16 escolas de medicina, 18 bibliotecas pblicas, 147 hospitais e hospcios e 14 prises. Seis magnficas pontes atravessa-vam o Tmisa. A cidade tinha 1.300.000 habitantes, 160.000 casas, 8.000 ruas, 14 mercados e 70 praas. Registra, precisamente, 16.000 mendigos, 115.000 ladres (!), 3.000 receptadores, 10.000 domsticas e 30.000 mo-as pblicas (p. 604-606)4.

    O registro da obra de Malte-Brun tem sentido na medida em que inicia a srie de Geografias Universais, mas apresenta toda a fragilidade das compilaes enciclopdicas realizadas na poca, a exemplo dos en-ganos observados no caso de Salvador, devido impossibilidade para um autor de gabinete de controlar o conhecimento sobre o conjunto do Universo, mesmo naquela poca.

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    Alexander Von Humboldt (1769-1859), fundador da moderna geo-grafia fsica, escreveu sua principal obra, Cosmos, em idade j avanada (de 1845 at sua morte).

    No seu Essai Politique sur le Royaume de la Nouvelle-Espagne, publica-do em 1811, o referido autor escreveu sobre os vrios departamentos do atual Mxico.

    A antiga capital, Tenochtitlan, teria sido fundada pelos Astecas em 1325 (p. 36) e se comunicava com o continente por trs grandes diques (p. 42). A cidade era dividida em quatro bairros que correspondem aos atuais bairros de So Paulo, So Sebastio, So Joo e Santa Maria. (p. 45) Humboldt, a partir dos relatos dos conquistadores descreve a ci-dade como [...] ornada de numerosos templos (teocallis) que se elevam

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    em forma de minaretes, envolvida de gua e de diques, fundada sobre ilhas cobertas de verdura, recebendo [...] milhares de barcos, a antiga Te-nochtitlan deveria parecer com algumas cidades da Holanda, da China ou do delta [...], do baixo Egito. (p. 50)

    A cidade nova comeou a ser construda pelos espanhis, em 1524. (p. 46) O centro da cidade atual estaria a 4.500 metros de distncia do lago de Tezcuco (p. 31). A catedral est situada no mesmo local onde se encontrava o templo de Huitzilopochitli. (p. 32) As ruas atuais teriam, em grande parte, a mesma orientao das ruas anteriores. A cidade estava inteiramente em terra firme, entre dois lagos. (p. 45)

    A capital reconstruda era mais imponente e mais majestosa que a anterior. Para Humboldt, Mxico seria uma das [...] mais belas cidades que os Europeus teriam fundado nos dois hemisfrios. A arquitetura seria de um estilo bastante puro. O exterior das casas no era sobre-carregado de ornamentos e as casas tinham terraos no lugar de telha-dos. As balaustradas e as grades eram de ferro e ornamentadas de bronze (p. 51). Seria pela largura e alinhamento das ruas, pela regularidade, pela sua extenso e pela sua posio que a capital da Nova Espanha se impo-ria aos europeus. (p. 52) O referido autor atribui tambm a sua grandeza ao [...] carter imponente de seu stio e da natureza em torno. (p. 53) As ruas tinham caladas largas, eram limpas e bem iluminadas por lam-pies. (p. 55) Destaca entre os monumentos: a Catedral, a Casa da Moeda, os conventos, o Hospital, a Priso, a Escola de Minas, o Jardim Botnico, os edifcios da Universidade e a Biblioteca Pblica, a Academia de Belas Artes e a esttua equestre de Carlos IV (p. 58-59), indicando, em seguida, os restos das antiguidades astecas. (p. 65-66)

    A populao da cidade do Mxico deveria ser de 135 a 140 mil habi-tantes (p. 78), sendo divididos em 2.500 brancos europeus, 65.000 bran-cos crioulos, 33.000 indgenas, 26.500 mestios e 10.000 mulatos (p. 79) e era a cidade mais povoada do continente. Na poca tinha uma largura

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    de 3.900 metros, enquanto que Paris tinha 8.000. A cidade formava um grande quadrado, cada lado com 2.750 metros (p. 83) e estava situada a 2.277 metros de altitude. (p. 145)

    O trabalho de Humboldt sobre o Mxico foi considerado por Di-ckinson (1969, p. 28) como um marco na descrio geogrfica, com a utilizao de dados censitrios, o que contrastaria com as compilaes enciclopdicas anteriores. P. James (1972, p. 159) considera-o como [...] uma das primeiras geografias econmicas regionais. De fato, Humbol-dt, conhecendo a Amrica Latina descreveu com simpatia a cidade do Mxico e no que concerne s civilizaes pr-hispnicas, tratou-as com respeito e admirao.5

    O interesse principal dos gegrafos pr-universitrios,6 nas pri-meiras dcadas do sculo XIX, ainda era a geografia geral, cujas descri-es dos continentes eram o principal objeto. A geografia fsica apenas comeava seus avanos cientficos.

    As cidades eram descritas no interior dos estados e nas colnias, relatados dentro dos quadros dos diversos continentes. O balano sin-ttico das informaes, recolhidas em sua maioria, a partir de outros autores, mostra a preocupao de sntese da geografia, incorporando as informaes disponveis no perodo, num mundo que ainda revelava terras incgnitas aos exploradores, poca de prestgio das numerosas Sociedades de Geografia. Humboldt foi a primeira exceo. Como cien-tista, procurou observar a realidade, mas em conjunto com o exame apu-rado dos documentos existentes.

    VISES NO GEOGRFICAS DO PERODO

    Os estudos realizados por outros profissionais so basicamente resumos das vises dos socialistas utpicos. Foram analisados tambm alguns textos dos socialistas revolucionrios, destacando-se os do jovem

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    Engels, com sua aguada capacidade de observar a realidade urbana no bero da Revoluo Industrial. O captulo conclui com o exame do pri-meiro trabalho em urbanismo, do arquiteto e engenheiro espanhol Il-defonso Cerd, que procurou estabelecer as primeiras bases tericas da nova disciplina.

    Os Socialistas UtpicosOs Socialistas Utpicos tentavam dar uma resposta s difceis con-

    dies de vida dos trabalhadores urbanos, atravs de proposies ideais que procuravam solucionar as graves questes sociais e urbanas do pe-rodo, sobretudo a partir da melhoria das condies de habitao. Eram os continuadores dos pensadores sobre espaos ideais como Plato e sua Repblica; Al-Farabi e a Cidade Ideal, Thomas Morus na sua Utopia e Cam-panella e A Cidade do Sol.

    Entre os Socialistas Utpicos so destacados R. Owen, C. Fourier, V. Considrant e E. Cabet.

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    Robert Owen (1771-1858), industrial ingls, pretendia educar os operrios visando a realizao da Harmonia. Edificou a cidade mode-lo de New Lanark (Esccia) e fundou duas comunidades experimentais, uma em 1825, nos Estados Unidos em New Harmony (Indiana), e a outra no ano de 1839, em Queenwood (Hampshire), ambas fracassadas. Sua principal obra The Book of the New Moral World, de 1836 a 1844.7

    Em Relatrio para a Comisso de Assistncia aos Operrios Pobres, em 1817, o autor j prope a constituio de uma comunidade ideal: um con-junto de quadrados formados por construes para alojar 1.200 pes-soas, rodeado por 500 a 750 hectares de terras. No interior do quadrado ficariam os prdios pblicos. O prdio central conteria a cozinha pblica e os refeitrios. Outro prdio direita conteria um jardim de infncia,

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    no andar superior uma sala de conferncias e o local de culto. No prdio da esquerda haveria uma escola para crianas maiores, uma sala de reunies, e no primeiro andar uma biblioteca e uma sala para adultos. Trs lados de cada quadrado seriam ocupados por residncias de quatro cmodos. O quarto lado seria reservado aos dormitrios para crianas de mais de trs anos. Cmodos seriam reservados tambm para os supervisores, o pastor, os professores, o mdico, e para um depsito. Em torno das residncias haveria jardins e estradas. Afastados, de um lado, ficariam os prdios para atividades mecnicas e industriais, do outro lado, as oficinas de limpeza, a lavanderia e ainda mais longe, as instalaes agrcolas.

    Owen (1817), um dos socialistas utpicos que conseguiu realizar seus projetos, preferia isolar suas comunidades, pois considerava que os trabalhadores eram na sua maioria muito ignorantes e seria necessrio retir-los da influncia do meio em que viviam.8

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    Charles Fourier (1772-1837), do outro lado da Mancha, vai propor o Falanstrio, exposto no seu Trait dassociation domestique agricole, de 1822.

    Para o autor, a cidade no futuro (num sexto perodo histrico) de-veria ter trs anis concntricos: o primeiro conteria a cidade central, o segundo os subrbios (faubourgs) e as grandes fbricas e o terceiro, as avenidas e a periferia (banlieue).

    O Falanstrio, ou edifcio destinado Falange, deveria ter no seu centro o templo, a torre da ordem, o telgrafo, o pombal, o carrilho, o observatrio, o jardim de inverno, alm das salas de refeio, a sala da bolsa, o conselho, a biblioteca e a sala de estudos. Uma ala conteria as oficinas barulhentas e na segunda ficaria a hospedaria (caravansrail). Ruas-galerias fariam a comunicao interna.9

    A Falange reuniria, em apartamentos individuais de trs andares, voltados para a rua galeria, 1.500 a 1.600 pessoas de idades e fortunas

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    diferentes. Os Seristrios seriam seis locais de reunio. O autor conside-rava que a proporo de cultivadores e operrios (manufacturiers) deveria ser pelo menos, de 7/8 do total dos membros.10

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    Victor Considerant (1808-1893), engenheiro, era seguidor de Fou-rier. Ele mesmo tentou aplicar suas experincias comunitrias em duas oportunidades no Texas, uma com a ajuda de um industrial, e a outra com a de um fourierista americano. Seu livro principal a Destine sociale, de 1838 a 1844.11

    Considrant expe suas ideias do Falanstrio de forma mais clara e detalhada que seu prprio criador Fourier, no seu livro Description du Phalanstre (1840): diante do Palcio, haveria uma vasta praa, uma linha de fbricas, grandes oficinas, lojas e depsitos; e atrs, estariam localiza-dos os estabelecimentos agrcolas.

    O Falanstrio teria em seu meio, a torre da ordem, o centro de di-reo e do movimento das operaes industriais do canto; os Serist-rios (salas pblicas, cozinha etc.); os apartamentos mais caros ficariam ao lado do jardim de inverno. Haveria duas pequenas alas: uma com apartamentos modestos, alm das oficinas e escolas barulhentas e outra com apartamentos modestos e com a hotelaria para os estrangeiros. Um templo seria elevado direita e um teatro esquerda. Uma rua-galeria envolveria todo o edifcio.

    O Falanstrio conteria 300 ou 400 famlias, ou 1.800 a 2.000 pes-soas. A Falange de experimentao teria uma lgua quadrada e seria adquirida por uma companhia de acionistas onde seria alocada uma populao que realizaria os trabalhos agrcolas, de oficina, os trabalhos educativos e domsticos.12

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    Etienne Cabet (1788-1858), advogado, deputado, tambm organi-zou duas comunidades nos Estados Unidos, no Texas e no Illinois.

    No seu livro Voyage en Icarie (1840), muda de escala e prope um modelo de cidade ideal de uma uniformidade quase neurtica: a cida-de teria forma circular e seria dividida em duas partes por um rio. Cin-quenta ruas ficariam paralelas ao rio e cinquenta seriam perpendicula-res. Cada bairro teria uma escola, um hospcio para idosos, um templo, oficinas, grandes lojas e um local de reunies. As ruas teriam 16 casas de cada lado. Um plano modelo de casa serviria para o conjunto da cidade, com todas as portas e janelas iguais. Todas as casas teriam cinco anda-res, mas poderiam ter trs, quatro ou cinco janelas, seguindo o tamanho da famlia. Os cemitrios, indstrias insalubres e hospitais ficariam fora da cidade.

    As grandes oficinas e grandes lojas ficariam nas margens das ruas canais e das ruas ferrovias. As caladas seriam cobertas por vidros.

    Essa cidade uniforme no teria cafs, cabars, casas de jogo, quar-tis, nem prostitutas, bbados ou mendigos...13

    Os socialistas utpicos pretendiam resolver os problemas das con-dies de vida da populao trabalhadora das grandes cidades, atravs da negao dessas mesmas cidades e na busca de solues alternativas, em projetos utpicos situados em meio rea rural. Mas, a maioria des-ses projetos tinha um carter repressivo, disciplinar, o que certamente ajudou ao fracasso dessas tentativas.

    Os Socialistas RevolucionriosTanto Engels como Marx, separada ou conjuntamente tiveram

    a preocupao de tratar a questo urbana, sobretudo a partir da crtica das condies habitacionais dos trabalhadores.

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    Friedrich Engels (1820-1895), com apenas 25 anos, enviado por seu pai para um aprendizado nas indstrias inglesas, publicou em 1845, A situao da classe trabalhadora na Inglaterra.

    Inicialmente, Engels espanta-se com a grandiosidade de Londres, com seus 2,5 milhes de habitantes na aglomerao. (p. 35) Afirma ento: [...] quanto maior for a cidade, maiores as vantagens da aglomerao. (p. 32) Observa que na capital comercial do mundo, a multido na rua era apressada, indiferente, devido ao egosmo e atomizao, resultan-tes de uma guerra social, onde [...] cada um explora o prximo e os ca-pitalistas se apropriam de tudo. (p. 35-36) Antecede, portanto, em quase 60 anos, as observaes de Simmel sobre o homem na metrpole.

    Comenta que em Londres existiam, ao lado dos bairros das classes altas, bairros de m reputao, onde se concentrava a classe operria nas piores casas, na parte mais feia, em ruas no pavimentadas, sujas, sem esgotos. (p. 38)

    A cidade industrial de Manchester, com 400.000 habitantes (p. 56) e 350.000 operrios, na cidade e nos subrbios (p. 77), seria a primeira cidade industrial do mundo. (p. 66)

    A percepo de Engels da estrutura urbana impressionante: o centro era formado pelo bairro comercial, com escritrios e armazns, e j era desabitado. O bairro operrio rodeava a zona comercial como um cinturo. Alm desse cinturo habitava a mdia e a alta burguesia, a primeira em ruas regulares, porm prxima ao bairro operrio, enquan-to que a alta burguesia residia em habitaes com jardins, mais afasta-das, ou sobre colinas arejadas, em pleno ar puro do campo, servida por nibus que conduziam seus habitantes cidade. Ele comentou ainda que os ricos aristocratas da Finana podem atravessar os bairros oper-rios pelo caminho mais curto, em direo aos seus escritrios no centro da cidade, sem sequer notar que esto ladeados [...] pela mais srdida misria. (p. 57)

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    Os estabelecimentos industriais situavam-se beira dos trs cur-sos dgua ou dos canais.

    O autor informa que teria havido um abandono do centro de Man-chester da poca pr-industrial, enquanto os antigos habitantes haviam migrado para bairros melhor construdos, abandonando suas casas para uma populao operria de origem predominantemente irlandesa. (p. 59-60) Os bairros operrios eram locais de sujeira e uma sordidez repugnante, com banheiros sem portas. (p. 61) Vilas eram construdas pelos patres. A Pequena Irlanda era a pior parte da cidade: 4.000 pes-soas moravam em 200 casas, com apenas uma instalao sanitria para cerca de 120 pessoas. (p. 73-75)

    Engels concluiu que os operrios, na poca, nada possuam, viviam dos salrios, submetidos a privaes (p. 87), e que a burguesia no teria se instalado nas partes leste e nordeste da cidade em virtude dos ventos dominantes e das fumaas das fbricas nessas direes. (p. 72)

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    Karl Marx (1818-1883) escreveu juntamente com Friedrich Engels, em 1845-1846, A ideologia alem. No primeiro captulo os autores criticam a filosofia e o socialismo alemo e tratam das relaes cidade-campo.

    Os autores comeam o primeiro tpico discutindo a ideologia ale-m. No segundo discutem as premissas da concepo materialista da histria, quando declaram que [...] aquilo que os indivduos so depen-de [...] das condies materiais de sua produo. (p. 15)

    No terceiro tpico tratam da Produo e intercmbio, diviso do tra-balho e formas de propriedade. Para os autores, a diviso do trabalho numa nao provocaria a separao do trabalho industrial e comercial do tra-balho agrcola, e a separao da cidade e do campo. (p. 16-17) Por outro lado, as formas de propriedade seriam: 1) a tribal; 2) a comunal e estatal antiga; nessa forma, a unio de vrias tribos formaria as cidades (p. 17);

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    3) a propriedade feudal ou de estados: nas cidades haveria a propriedade corporativa e a organizao feudal dos ofcios. (p. 19)

    O quarto tpico sobre A Essncia da Concepo materialista da His-tria. Nele, os autores afirmam que no a conscincia que determina a vida, a vida que determina a conscincia. (p. 23)

    A segunda parte no apresenta tpicos de interesse sobre a cidade e na terceira, os autores discutem a questo da classe dominante e da conscincia dominante.

    A quarta parte, a mais interessante, comea pelo tpico Instru-mentos de Produo e Formas de Propriedade. No segundo tpico os autores afirmam que a [...] maior diviso do trabalho material e intelectual a separao da cidade e do campo. Com a cidade teria aparecido a neces-sidade do sistema municipal e da poltica em geral. A cidade seria a [...] realidade da concentrao da populao, dos instrumentos de produo, do capital, dos prazeres, das necessidades, ao passo que o campo torna (ria) patente [...] a realidade oposta, o isolamento e a solido. (p. 64)

    No terceiro tpico, os autores comentam a separao da produo e do intercmbio, a formao da classe dos comerciantes, e a ligao en-tre cidades, dando origem s manufaturas. (p. 68-69) Com a expanso do comrcio e da manufatura, teria havido uma acumulao do capital mvel e a criao da burguesia (p. 72).

    O quarto tpico trata de A diviso do trabalho mais extensa. A grande indstria, quando os autores comentam a criao das grandes cidades in-dustriais modernas. (p. 78)

    No sexto tpico os autores afirmam que as grandes cidades indus-triais e as comunicaes baratas e rpidas teriam sido estabelecidas pela grande indstria e os burgueses das cidades teriam se unido contra a nobreza rural. (p. 81-82)

    O dcimo tpico sobre A abolio da propriedade privada, seguido do dcimo primeiro tpico que versa sobre a Relao do Estado e do Direito

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    com a Propriedade, quando os autores afirmam a relao entre o Estado e a classe dominante.

    O texto de Marx e Engels considerado como o incio da formu-lao da concepo materialista da histria.14 De fato, os dois autores trabalharam questes tericas, numa escala, sobretudo, regional, des-tacando-se a questo das relaes entre campo e cidade. Apesar de no ser especificamente intraurbano, o texto apresenta uma ntida valoriza-o da cidade e do urbano pelos dois autores. Mas, para F. Choay (1965, p. 28), a supresso da oposio cidade campo no poderia ser simplifica-da a uma projeo espacial. Ela deveria ser entendida do ponto de vista dos desequilbrios demogrficos e das desigualdades econmicas ou cul-turais que separam os homens da cidade daqueles do campo.

    No incio do perodo seguinte (1872), Friedrich Engels escreveu trs artigos em resposta aos escritos de Proudhon e que foram publicados em forma de livro, no ano de 1887, intitulado A questo da habitao.15

    Para o autor, a crise habitacional teria sido agravada com o brusco afluxo da populao em direo s cidades, com o aumento dos aluguis e o amontoamento dos inquilinos, o que atingia tambm a pequena bur-guesia.

    Mas, a habitao seria um mal de importncia menor, do modo de produo capitalista. (p. 15-16) De fato, existiriam imveis suficientes nas grandes cidades para remediar situao. Os imveis poderiam ser desapropriados pelo Estado, medida que seria ainda mais fcil quando o proletariado conquistar o poder poltico. (p. 29) Porm, s com a abo-lio do modo de produo capitalista seria possvel resolver a questo da habitao. (p. 47)

    Engels compara as melhorias que teriam ocorrido nos piores bair-ros de Manchester, cidade analisada em 1843-1844, inclusive, com o de-saparecimento da Pequena Irlanda. Por outro lado, com a extenso da cidade, os antigos bairros aerados e limpos estavam agora [...] plenos

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    de construes, sujos e super povoados (p. 66-67), e [...] os focos de epi-demias, os pores mais imundos no teriam sido eliminados, mas ape-nas deslocados.16 (p. 68)

    Nessa viso, um Engels mais maduro coloca a impossibilidade de resoluo das questes urbanas dentro do quadro do capitalismo. inte-ressante tambm sua viso de deslocamento espacial dos problemas no resolvidos.

    Outras vises da cidade no perodoMichel Perreymond, engenheiro francs, interessado em estudos

    sobre transportes ferrovirios estava preocupado com o deslocamento do centro de Paris. Nos seus Etudes sur Paris (1842-1843),17 Perreymond constata um deslocamento do centro da cidade, a partir do movimento da alta indstria, do comrcio e dos bancos em direo ao noroeste da cidade, o que causava uma estagnao na margem esquerda do rio Sena (rive gauche) (p. 103), ao tempo em que detectava o papel dos especulado-res que se antecipavam ao movimento de deslocamento. (p. 104)

    O referido autor comenta a deliberao do Conselho Geral de Pa-ris, datada de 23/10/1839, que considerava de interesse municipal, que [...] todas as classes da populao se mantivessem espalhadas e mescla-das (p. 108), enquanto que os proprietrios tinham a segurana de ver os valores de seus terrenos triplicados a quintuplicados, em alguns anos, a partir do avano da cidade. (p. 111) Os especuladores, por sua vez, deixa-vam, muito para trs, as previses da administrao e mesmo as previ-ses da classe dos que viviam de renda (rentiers) e compravam os terrenos com seus imensos capitais, visando construo de novas habitaes, a partir da utilizao dos capitais flutuantes da sociedade. Da, o fato do autor julgar necessria a organizao do crdito. (p. 112)

    Alm da questo do deslocamento do centro, o autor menciona a existncia de 330.000 pobres em Paris os que no possuem 20 francos,

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    dos quais 63.000 formariam a [...] classe perigosa e embrutecida, ou-tros 55.000 formariam a classe viciosa, alm dos 84.000 indigentes ins-critos nos servios de assistncia e mais 15.000 pobres vergonhosos, segundo os dados oficiais (p. 114), o que lembra os dados de Malte-Brun para Londres.

    O autor considerava necessrio tornar Paris cada vez mais de-sejvel e atrativa, a partir da sua Bolsa e do seu centro comercial. Era preciso dar capital um centro de ao comum aos dois lados da cida-de e ao mesmo tempo tornar o centro estvel. Para tanto, os cais do rio Sena deveriam tornar-se sucursais dos incios das ferrovias e grandes entrepostos de mercadorias deveriam ser construdos. Seria necessrio ainda, segundo o autor, desaglomerar a populao perigosa, viciosa ou miservel dos bairros centrais. Finalmente, sendo Paris, um modelo das capitais (p. 115-116), deveria ser [...] implantada uma nova arquitetura do XIX sculo. Aqui o autor prev as grandes obras de Haussmann que seriam iniciadas na dcada seguinte.

    Os terrenos necessrios seriam disponveis a partir da demolio total dos bairros da Cit, do Palais de Justice, da Ilha de Saint-Louis [!] e da cobertura total do brao esquerdo do rio Sena (p. 117). Nem Haus-smann ousou ir to longe quanto s propostas de Perreymond, que an-tecipa, entretanto, Le Corbusier. Por outro lado este autor comeou a destacar os diferentes agentes que atuavam no deslocamento da cidade, como os especuladores.

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    O historiador Numa Fustel de Coulanges (1830-1889) foi conside-rado por Carbonell, como o mais brilhante terico da histria objetiva. Ensinou na Ecole Normale Suprieure e na Sorbonne.18

    O ttulo do seu livro La Cit antique (1864, p. 151)pode levar confu-so o prprio autor advertiu que no seu estudo, Cit era a associao

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    religiosa e poltica das famlias e tribos na Antiguidade, enquanto que Ville era o lugar de reunio, o domiclio, e, sobretudo, o santurio dessa associao.

    De fato, Fustel de Coulanges estava interessado no estudo da reli-gio para o conhecimento das instituies das sociedades grega e roma-na antigas. Inicia assim, seu estudo pelas crenas antigas, e em seguida, passa ao exame da famlia.

    O livro III dedicado Cit. Para que a associao de tribos fosse realizada era necessrio que o culto fosse respeitado, pois a ideia religio-sa era inspiradora e organizadora da sociedade. (p. 150) A cidade seria fundada para ser o santurio do culto comum. A fundao de uma cidade era um ato sagrado (p. 151): um pequeno fosso era aberto e a terra do lo-cal de origem era jogada dentro. Um arado marcava o traado do futuro muro e alguns intervalos eram deixados para a construo das portas, como no caso da fundao de Roma. (p. 154-156)

    O livro IV trata das revolues, a partir do papel dos plebeus na destruio da ordem social vigente. O autor informa que os plebeus vi-viam em aglomeraes construdas sem a realizao de cerimnias reli-giosas. (p. 279)

    No ltimo livro o autor descreve o desaparecimento do regime mu-nicipal, em grande parte como consequncia da nova religio crist, que partia de bases diferentes das religies tradicionais.

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    Ildefonso Cerd y Sunyer (1815-1876), nascido na provncia de Bar-celona, numa rica famlia de proprietrios fundirios estudou arquitetu-ra em Barcelona e engenharia em Madri. Foi autor da proposta do Plano de Extenso de Barcelona (1857) e escreveu a Teoria General de la Urbani-zacin em 1867,19 sendo considerado por Choay, no Prefcio traduo

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    do livro de Cerd (1979), como o inventor da prpria palavra urbanismo (urbanizacin) e o primeiro terico da disciplina urbanismo.

    Sua Teoria deveria ser publicada em quatro partes, mas apenas a primeira e a quarta foram editadas.

    No tomo primeiro, Cerd discute o impacto do vapor como fora motriz. Os grandes centros urbanos oporiam [...] entraves e obstculos nova civilizao, que exige espaos mais vastos, liberdade de movimen-tos [...] (e) atividade intensa, agravados, no caso espanhol, pelo imobi-lismo de sua sociedade. (p. 71-72) Da a existncia de um mal-estar nas sociedades modernas fechadas nas grandes cidades. (p. 79)

    Sugere ento, iniciar o estudo de [...] uma matria completamente nova, intacta, virgem [...], necessitando, para tanto, [...] criar e inventar palavras novas. (p. 81) Props a palavra urbanizao que designaria tanto [...] um conjunto de aes tendendo a agrupar as construes e a regularizar o seu funcionamento [...], como [...] um conjunto de prin-cpios, doutrinas e regras que preciso aplicar para que as construes e seu agrupamento [...] contribuam para favorecer seu (do homem social) desenvolvimento, assim como aumentar o bem estar individual e a feli-cidade publica. (p. 82)

    No livro I, Cerd estuda as origens da urbanizao, examinando as necessidades de habitao e da sociabilidade humana. No livro II, tra-ta do desenvolvimento da urbanizao, onde destaca que os elementos constitutivos da urbanizao seriam os abrigos, e que seu objetivo a reciprocidade de servios, e os seus meios so as vias de comunicao (p. 86). Porm, segundo o autor, [...] para a urbanizao, a forma no nada, a satisfao completa e adequada das necessidades humanas tudo. (p. 87)

    No livro III, denominado Exame analtico do estado atual da urbani-zao, o autor define urbe como um [...] conjunto de habitaes onde moram diversas famlias [...] reunidas por um sentimento de ajuda mtua.

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    (p. 97-98) Neste livro, examina as partes em que se divide o territrio de uma urbe: a regio (como seu campo de ao); os subrbios, examinando as diferentes origens (viria, industrial, administrativa, e de expanso urbana); e o ncleo urbano, definido como [...] o agrupamento formado pelas massas construdas de uma urbe, ligados pelo sistema de vias (p. 106), discutindo suas formas e limites.

    Conclui o livro III com o captulo o Exame analtico das urbes, onde se ocupa das vias urbanas e logo em seguida, das intervias, ou seja, os espaos isolados pelas vias (p. 114), equivalentes aos quarteires. Discute tambm, os terrenos para construo, destacando o papel negativo dos proprietrios de terrenos, ajudados pela administrao (p. 133), de for-ma que o interesse do especulador seria o de [...] construir um edifcio contendo o maior nmero de alojamentos possveis e cuja renda anual representa juros pr-estabelecidos e seguros para o capital-fundirio, como para o capital-construo. (p. 135) Em seguida examina a casa, os indicadores urbanos (ou seja, os nomes e signos empregados para desig-nar os agrupamentos urbanos) e o funcionamento urbano, quando exa-mina [...] as funes as partes materiais do organismo urbano que exercem [...], a fim de saber como cada uma responde ao fim pela qual ela foi instituda [...]. Conclui que [...] a vida urbana se compe de dois elementos essenciais: [...] o repouso e o movimento. (p. 149)

    O IV e ltimo livro trata das Razes filosficas do modo atual da urba-nizao, no qual discute a formao das cidades do ponto de vista das ne-cessidades e dos meios de locomoo de cada poca (pedestre, equestre, por trens, por rodas). Para Cerd, as cidades seriam [...] fragmentos das pocas passadas muito mal reunidos (p. 169) e destaca ainda, as ne-cessidades de reformas e transformaes nas urbes para preparar para a locomoo aperfeioada, numa poca em que a locomotiva ainda no tinha penetrado no interior das cidades, embora j existissem ferrovias perifricas de circundamento. (p. 137-138)

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    No tomo II, A estatstica urbana de Barcelona, Cerd considera a ur-banizao como uma verdadeira cincia: [...] bastaria conhecer uma s (cidade) para saber tudo sobre as outras, ao menos nos seus elementos constitutivos e formais. (p. 183)

    Antes de construir as bases da teoria urbana, ele considerou ne-cessrio estudar uma cidade concreta, Barcelona. Seriam examinadas, a vida material (recipiente) e a vida humana (contedo). (p. 184) Na Estats-tica de Barcelona, o recipiente seria formado por seus membros e seu or-ganismo; o contedo (ou populao) seria composto por seus membros, seu organismo e sua lei de continuidade; as relaes entre recipiente e contedo exprimiriam o funcionamento da populao na cidade. O au-tor discrimina ainda, na cidade, [...] o tecido virio, a trama viria, os ns virios, as partes da via; e a malha da rede urbana. (p. 185)

    O plano de Barcelona de Cerd foi aprovado em 1859 e considerado por Lopez de Aberasturi, na introduo do livro (1979), como o que abria as portas do urbanismo. (p. 22) O apresentador do seu livro destacou o contraste de Cerd ter concebido o urbanismo num dos pases mais atrasados da Europa na poca (p. 31), embora Barcelona estivesse na pon-ta do progresso econmico espanhol, sendo a nica abertura ao mundo industrial do pas (p. 15).

    No seria demasiado reforar o papel importante e pioneiro de Cerd na histria do pensamento sobre a cidade. Talvez, por ter escrito em castelhano, sua obra foi pouco divulgada: a antologia de Choay (1965), no o menciona. Sua obra principal s foi traduzida para o francs em 1979. Quanto contribuio de Cerd, ela vai desde a proposta de novos conceitos embora ainda busque apoio no organicismo , a um esbo-o de teoria sobre a cidade, assim como da elaborao de proposta de interveno concreta sobre a cidade de Barcelona, preservando o bairro gtico.

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    NOTAS

    1 A maior parte das informaes dos Contextos originria do livro de Duchet-Su-chaux, G. e Duchet-Suchaux, M. (1992), com adendos da trilogia de Hobsbawm so-bre o sculo XIX e do seu recente volume sobre o sculo XX.

    2 MEYNIER, 1969; PINCHEMEL, P.; ROBIC, M. -C.; TISSIER, J. L., 1984, p. 27-28.3 A biblioteca do Institut de Gographie de Paris possui os 12 primeiros tomos da obra de

    Malte-Brun, da edio de 1831-1857. O tomo 12 comea a tratar a Europa: Turquia, Rssia e a Escandinvia. Na Bibliotheque Nationalle encontrei o tomo VIII, datado de 1817, dedicado Europa.

    4 Montigny (1992, p. 147) fez um paralelo entre os comentrios de Malte-Brum sobre Paris e os de Vidal de la Blache, no Tableau de gographie de la France.

    5 Agradeo a colega Ana Fani A. Carlos pelo envio de captulo de Humboldt sobre o Mxico, em verso espanhola.

    6 Para o exame da produo da geografia no sculo XVIII, ver o livro de Numa Broc, La Gographie des philosophes (1975).

    7 PETITFILS, 1978, p. 69-85; RONCAYOLO; PAQUOT, 1992, p. 63-64. 8 OWEN in RONCAYOLO; PAQUOT, 1992, p. 65-66. Ver tambm Benevolo (1987).9 FOURIER, 1965, p. 97-104 e BENEVOLO, 1987.10 FOURIER in RONCAYOLO; PAQUOT, 1992, p. 67-68.11 RONCAYOLO; PAQUOT, 1992, p. 72-73.12 CONSIDERANT in CHOAY, 1965, p. 110-115.13 CABET, 1965; e PETITFILS, 1978, p. 118-120. Choay apresenta ainda interessantes

    resumos das obras de J. B. Godin, com seu Familistrio (1894) e de B. M. Richardson e de sua Hygeia (1876). Outra corrente do mesmo perodo no urbanismo, tratada por Choay, a dos Pr-Urbanistas Culturalistas, com os resumos de A. Pugin (1836 e 1841) e J. Ruskin (1849 e 1854).

    14 SHAW, William. Materialismo histrico. In: BOTTOMORE, T. (Ed.) Dicionrio do pensa-mento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. p. 259-263.

    15 CHOAY, 1965, p. 188-191.16 ENGELS, F. El Problema de la Vivienda. Barcelona: Gustavo Gili, 1977.17 Conforme Roncayolo e Paquot (1992, p. 102).18 CARBONELL; WALCH, 1994, p. 118 e 160.19 Conforme Lopez de Aberasturi, apresentador de Cerd (1979).

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    CAPTULO 2

    O PENSAMENTO SOBRE A CIDADE NO PERODO DA INSTITUCIONALIZAO DA GEOGRAFIA

    O CONTEXTO DO PERODO 1870-1913

    Esse perodo considerado por Duchet-Suchaux, como o Tempo dos Imprios (1872-1914)1 e por Hobsbawm, como a Era do Imperialis-mo. (1876-1918) De fato, o perodo est situado na segunda fase da Revo-luo Industrial (1860/1900), monopolista, que corresponde difuso da industrializao na Europa Ocidental, na Amrica do Norte e no Japo e a segunda grande expanso colonial.

    O incio dos anos 70 importante pela concluso da unificao da Itlia (1870) e da Alemanha (1871), aps a vitria das tropas da Prssia sobre o Imprio dos Habsburgos (1866) e sobretudo, por vencer a Frana (1871). A Prssia inova com a instituio do servio militar obrigatrio e com o estabelecimento do ensino universal.

    Tambm nesse perodo comeam as reformas Meiji, que transfor-maram o Japo numa potncia moderna. (1868-1912)

    Em 1873 ocorreu o grande crash da Bolsa de Viena iniciando um perodo de crise europeia que resultou numa migrao em massa para os Estados Unidos. Com a concorrncia industrial norte-americana e ale-m, o Reino Unido entra em sua primeira grande depresso (1873-1898). Um dos resultados dessa competio a acelerao da expanso colonial:

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    seu pice ocorre no Congresso de Berlim com a partilha da frica (1884-1885) e com a interveno internacional na China (1900).

    No Brasil, os eventos mais marcantes do perodo so a abolio da escravatura (1888) com a consequente queda do Imprio (1889), o incio da Repblica Velha, durante a qual as elites produtoras agrrias do sul passam a controlar o poder poltico e econmico e realizam as reformas urbanas no Rio de Janeiro. (1902-1906)

    Em 1882, criada a Standard Oil Company, primeiro grande trust nos Estados Unidos. Mas o grande impacto do perodo ser o desenvolvi-mento do automvel (1885), sobretudo, com a combinao dos mtodos do taylorismo (1911), com a produo em massa, fordismo (1913), com os consequentes impactos nas cidades norte-americanas, cujos primei-ros arranha-cus datam de 1891 (Chicago).

    Em 1875, Londres era a maior cidade do mundo, com 4,2 milhes de habitantes, seguida por Paris (2,2 milhes) e Nova York (1,9 milhes). Em 1900, Londres passou para 6,4 milhes, seguida agora por Nova York com 4,2 milhes e Paris 3,3 milhes. (BONNET, 1994)

    Neste perodo ocorrem novas contribuies intelectuais. Na fi-losofia destacam-se E. Boutroux, com Da contingncia das leis da natureza (1874), por ter influenciado gegrafos franceses; F. Nietzsche, com a pu-blicao de A gaia cincia (1881-1882); H. Bergson, com a A Evoluo criado-ra (1907); B. Russel com os Problemas de filosofia (1912); e E. Husserl, com as Ideias diretrizes para uma fenomenologia (1913). Na sociologia, destaca-se E. Durkheim, com as Regras do mtodo sociolgico (1894). Mas os principais autores do perodo so S. Freud com a obra Interpretao dos sonhos (1902) e A. Einstein, com sua revolucionria Teoria da Relatividade (1905).

    Na geografia, R. Meynier (1969) considera esse perodo como os Tempos da Ecloso (1872-1905) e V. Berdoulay (1981) como o da Formao da Escola Francesa de Geografia. (1870-1914) nesse perodo que a geo-grafia se consolida.

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    Em 1874, o Governo da Prssia decide estabelecer uma cadeira de geografia em cada universidade. Em 1877, La Blache comea a ensinar na Ecole Normale Suprieure de Paris e em 1890 na Sorbonne. Em 1887, inicia-se o ensino de geografia em Oxford (H. Mackinder) e criada nes-sa cidade a Geographical Association, vinculada ao ensino da geografia. Em 1888 fundada a National Geographic Society, em Washington, e em 1904 a Association of American Geographers. A Revue de Gographie fundada em 1877, os Annales de Gographie em 1891, o Geographic Journal, em 1893, sucedendo o Proceedings of the Royal Geographical Society.2

    As principais publicaes dos pais fundadores da geografia huma-na so desse perodo. O alemo F. Ratzel publica Anthropogeographie (1882-1891) e Politische Geography (1897); o francs Vidal de la Blache, Le Tableau de gographie de la France (1903); e o ingls, H. Mackinder, Britain and the British Seas (1902), que refletem as preocupaes das escolas nacionais nascentes. Aparecem no Brasil as primeiras publicaes de gegrafos profissionais, como Le Brsil mridional, de Delgado de Carvalho (1910).

    Em 1871, rene-se em Anturpia, o I Congresso Internacional de Geografia, seguido pelos congressos de Paris (1875), Veneza (1881), Paris (1889), Berna (1891), Londres (1895), Berlim (1899), em vrias cidades dos Estados Unidos (1904), Genebra (1908) e Roma (1913).

    A PRODUO GEOGRFICA NOS SEUS INCIOS

    Entre 1870 e 1913 foi implantada a geografia como disciplina uni-versitria. tambm o perodo da gerao dos pais fundadores da nova disciplina. Embora os principais trabalhos elaborados pelos gegrafos tratem de regies ou de estados nacionais, alguns estudos sobre as ci-dades foram realizados, destacando-se os do jovem Ratzel, que elaborou um dos primeiros textos sobre as cidades norte-americanas (1876), se-guido das descries de Reclus sobre as cidades, nos seus 19 volumes da

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    Nouvelle Gographie Universelle (1876-1894), assim como seu texto especfi-co sobre a cidade (1895). A primeira monografia aparece nesse perodo, j com o ttulo de geografia urbana, de A. Vacher (1904). O perodo termina com a publicao de um pequeno clssico, a monografia sobre Grenoble de R. Blanchard (1911). interessante observar a ausncia de textos es-pecficos sobre a cidade de um dos pais fundadores da disciplina, de P. Vidal de la Blache.

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    Friedrich Ratzel (1844-1904), um dos mais importantes gegrafos alemes. Graduado em zoologia, geologia e anatomia comparada em Heidelberg, em 1886, foi professor de geografia em Leipzig entre 1886 e 1904.3 O livro Politische Geographie (1897) sua obra mais conhecida.

    Ratzel publicou em 1876, o livro Stdte und Culturbilder aus Norda-merika, resultado de suas viagens nos Estados Unidos, realizadas entre 1873 e 1874, para o jormal Klnische Zeitung. O livro tem duas partes e 21 captulos e foi traduzido para o ingls em 1988.

    No prefcio, o autor afirma que a [...] vida do povo misturada, comprimida e acelerada nas cidades. (p. 3) Nos tempos modernos, afir-ma Ratzel, vrios fatores estavam diminuindo a diviso entre a cidade e o campo: melhores meios de transportes permitiam a importao de alimentos e eliminavam a necessidade das pessoas viverem o mais pr-ximo possvel para interagir. Por outro lado, as grandes cidades estavam crescendo mais rapidamente e em maior volume do que nunca. O desen-volvimento das grandes cidades e a perda das diferenas entre cidade e campo eram, para o autor, as marcas registradas do tempo em que vivia. (p. 4) Cita quatro caractersticas das grandes cidades norte-ameri-canas: 1) as ruas eram largas e retas; 2) o trfego era pesado; 3) as casas, em mdia, eram de pequenas dimenses; 4) havia uma diviso radical en-tre as reas de negcios e as de trabalho. (p. 6) O autor acrescenta ainda,

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    que as populaes das cidades eram versteis, ativas e industriosas, com a exceo das cidades do sul onde os negros eram indolentes. (p. 8)

    Na primeira parte, em sete captulos, Ratzel comenta Nova York, o rio Hudson, Saratoga, Boston, Cambridge, Filadlfia e Washington.

    No primeiro captulo, Nova York tratada em 42 pginas. O seu porto era um dos maiores e melhores, resultando de uma formao na-tural. (p. 13) A cidade, na poca, s ocupava a metade sul da ilha de Ma-nhattan, com um milho de habitantes (p. 14) e com o complexo em torno do esturio do rio Hudson alcanava dois milhes. (p. 15) Ratzel comenta a evoluo da cidade. Nova York ultrapassava as demais cidades pela sua localizao central e pelo seu porto soberbo.

    O canal Eire, aberto em 1825 (p. 16), torna-a a cidade litornea mais acessvel aos estados do Norte e do Meio-Oeste americanos. Perto de 60% das importaes e 40 a 50% das exportaes americanas j passavam por Nova York. (p. 17) Os negcios concentravam-se na parte antiga da cida-de, onde os valores do solo e das casas subiram muito e, quanto mais o valor do solo subia, mais a renda era recuperada e maior era o tamanho e a imponncia das casas. (p. 21)

    A principal rua de Nova York era a Broadway, que cruzava 180 ruas. Essa imponncia comentava Ratzel, no compensava a falta de gosto to freqente na cidade. (p. 22) Havia 19 linhas de bondes puxados por ani-mais e apenas a Quinta Avenida estava livre dessas linhas, pois foi re-servada para o tranquilo deleite dos ricos. (p. 27) Nos bondes no havia segregao dos negros, e o autor observou homens idosos darem os seus lugares para damas negras. (p. 28) Os bondes e diligncias transporta-vam, em mdia, 300.000 passageiros por dia. (p. 29)

    Alguns prdios antigos tinham at 100 pequenos apartamentos, onde faltava luz e ar. (p. 38) Os bairros pobres de Nova York eram mais densamente povoados que os de Londres. Em 1871, Nova York tinha 213.709 alunos em escolas primrias, sendo 2.185 em escolas para crianas de cor

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    (colored). (p. 43) Ratzel conclui com o papel dominante das mulheres nes-sas escolas. (p. 44)

    A capital, Washington, foi tratada em 13 pginas, no stimo cap-tulo. Era uma capital artificial e vazia. (p. 129) As pessoas proeminentes em riqueza e educao no moravam em Washington, viviam nessa ci-dade apenas os empregados do governo. (p. 130)

    Na segunda parte, em 14 captulos, o autor comenta as cidades do Sul, Richmond, Charleston, Columbia, Savannah, Assentamentos e Spas na Flrida, atravs da Gergia e Alabama, Nova Orleans, o Mississipi e o Ohio, as trs maiores cidades do Oeste, Denver, viagem na ferrovia do Pacfico, So Francisco e Runas.

    Quando trata das cidades do Sul, no oitavo captulo, Ratzel observa que o inverno muito mais severo na Gergia e Alabama do que no Sul da Itlia ou na Espanha. (p. 145) No Sul, no havia grandes centros in-dustriais ou educacionais. (p. 146) As cidades do Sul pareciam mais com Havana ou Vera Cruz, do que com Boston ou Portland. (p. 147)

    Quando comenta Richmond (nono captulo), ele afirma que [...] cus claros e povo ocioso [...] eram as marcas registradas do Sul. Richmond, ten-do sido a antiga capital da confederao sulista (p. 152), com uma populao de 50 a 60.000 habitantes (p. 151) era uma pobre cidade. (p. 153)

    Nova Orleans tratada no dcimo quinto captulo. Era uma das cidades comerciais mais importantes do mundo, graas s vantagens de sua localizao: em contato com a regio dos Grandes Lagos, com o Ca-ribe e com a Amrica Central. (p. 196) A cidade tinha trs linhas de nave-gao a vapor para Nova York, uma para Filadlfia, uma para Baltimore; trs para Liverpool, uma para Hamburgo e uma para Bremen. (p. 199) A cidade tinha a forma de meia lua em funo da curva do rio Missis-sipi. (p. 202) Sua populao de cor superava a de Charleston ou de Rich-mond, mas a distncia que a separava da populao branca era menor. Havia uma predominncia de mulatos (yellow people) e observou que os

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    franceses tinham sido menos severos com os escravos e libertos do que os anglo-americanos. O autor comentou a beleza natural de muitas mu-lheres de cor, com vantagens sobre a beleza intelectualizada das mulhe-res americanas. (p. 214)

    O dcimo stimo captulo trata das trs maiores cidades do Oes-te: a primeira, Cincinnati, no estava bem localizada. (p. 229) A cidade possua 216.239 habitantes em 1870, tendo comeado o sculo com ape-nas 750 habitantes. (p. 232) Cerca de 30.000 pessoas trabalhavam nas grandes indstrias da cidade em 1870. (p. 235) A segunda, Saint Louis, tinha uma situao geogrfica excelente, no meio das terras mais fr-teis da Amrica do Norte. (p. 236) Em 1870, com 310.923 habitantes era a maior cidade industrial do interior dos Estados Unidos (p. 239): 41.000 trabalhavam na indstria. Dos 112.000 estrangeiros da cidade em 1870, 100.000 eram alemes. (p. 242-243)

    Chicago, a terceira cidade do Oeste, cresceu de 3.000 para 300.000 habitantes entre 1836 e 1871. Era o melhor exemplo de cidade ferroviria, com 49 linhas em direo quela cidade. (p. 244) Situada num porto na-tural (Lago Michigan) (p. 245) era acessvel para pequenos navios mar-timos, tornando-se o principal centro do Noroeste americano (p. 247), regio que contava com oito milhes de habitantes. (p. 246) A cidade j era o maior mercado de cereais do mundo. (p. 248) O grande incndio de 1871 tinha destrudo 17.450 residncias. Apesar disto, em 1874, o autor j previa que Chicago se tornaria a mais rica e mais bela cidade do Oeste e do Sul dos Estados Unidos. (p. 249)

    A cidade de So Francisco tratada no vigsimo captulo como um local que possua um dos melhores portos comerciais do mundo e estava admiravelmente situada. (p. 272) As quatro linhas ferrovirias da Ca-lifrnia se dirigiam para a cidade, assim como a linha Nova York - So Francisco. (p. 273) O autor afirma que [...] a cidade no se torna primei-ramente uma metrpole por sua localizao geogrfica, mas por causa

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    da maneira como ela explora esta localizao, o que no confirma a sua viso determinista na geografia. (p. 275) A cidade tinha mais colinas que Roma. (p. 278)