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Inicia sonoplastia (A Origem) PARTE 1 – TRAILER (SEM SOFÁ) #arrumar puxadas em Bentinho, ele deve ficar menos tanso em cena. Bentinho ajoelhado no centro do palco. Bentinho: Prometo rezar mil padre-nossos e mil ave-marias, se José Dias arranjar que eu não vá para o seminário. Entra mãe de Bentinho e Capitu de outro. D. Glória: E você Capitu, você não acha que o nosso Bentinho dará um bom padre? Capitu: Acho que sim, senhora. Tio Cosme passa de um lado a outro na cena, dando tapinhas nas costas de Bentinho. Tio Cosme: Anda lá, rapaz, volta-me papa! Bentinho levanta-se. Bentinho: Vida de Padre é muito bonita Prima Justina: Sim, é bonita; mas o que pergunto é se você gostaria de ser padre? Bentinho: Eu gosto do que mamãe quiser. José Dias: Vá por um ano; um ano passa depressa. Se não sentir gosto nenhum, é que Deus não quer, como diz o padre, e nesse caso, meu amiguinho, o melhor remédio é a Europa. Capitu: Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no avião e ia pra Europa. Bentinho pegando em Capitu. Bentinho: Seremos felizes. Eles de mãos dadas giram, felizes, soltam as mãos e vão se afastando aos poucos, Capitu sai de cena, Bentinho fica sozinho e vai #entristecendo a medida que Capitu sai do palco. Volta a ajoelhar no chão, agora triste. Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura! Perde-se a vida, ganha-se a batalha! Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura! Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

Dom Casmurro (1)teatro

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Inicia sonoplastia (A Origem)

PARTE 1 – TRAILER (SEM SOFÁ)

#arrumar puxadas em Bentinho, ele deve ficar menos tanso em cena.

Bentinho ajoelhado no centro do palco.

Bentinho: Prometo rezar mil padre-nossos e mil ave-marias, se José Dias arranjar que eu nãová para o seminário.

Entra mãe de Bentinho e Capitu de outro.

D. Glória: E você Capitu, você não acha que o nosso Bentinho dará um bom padre?

Capitu: Acho que sim, senhora.

Tio Cosme passa de um lado a outro na cena, dando tapinhas nas costas de Bentinho.

Tio Cosme: Anda lá, rapaz, volta-me papa!

Bentinho levanta-se.

Bentinho: Vida de Padre é muito bonita

Prima Justina: Sim, é bonita; mas o que pergunto é se você gostaria de ser padre?

Bentinho: Eu gosto do que mamãe quiser.

José Dias: Vá por um ano; um ano passa depressa. Se não sentir gosto nenhum, é que Deusnão quer, como diz o padre, e nesse caso, meu amiguinho, o melhor remédio é a Europa.

Capitu: Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no avião e ia pra Europa.

Bentinho pegando em Capitu.

Bentinho: Seremos felizes.

Eles de mãos dadas giram, felizes, soltam as mãos e vão se afastando aos poucos, Capitu sai decena, Bentinho fica sozinho e vai #entristecendo a medida que Capitu sai do palco. Volta aajoelhar no chão, agora triste.

Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!

Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!

Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

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Ganha-se a vida, perde-se a batalha!

José Dias entra sorridente, Bentinho olha para ele.

José Dias: Capitu? Tem andado alegre como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto nãopegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...

Escobar entra vai até Bentinho cumprimenta-o

Escobar: Fiquemos ainda mais amigos até aqui.

#melhorar saída Maike

Escobar vai saindo de cena e encontra-se com Capitu. Bentinho olha para os dois juntos.

Capitu: Você tem medo?

Bentinho: Sou homem!

Capitu: Sim. Pergunto se você tem medo.

Bentinho: Sou homem!

Capitu: Medroso!

Bentinho: Sou homem!

Música para. Ezequiel entra em cena.

Ezequiel: Papai não faz diferença dos últimos retratos.

Blecaute.

PARTE 2, CASA BENTINHO, MÃE MANDA PARA SEMINÁRIO E BENTINHO DESCOBRE (COMSOFÁ)

Ao apagar luz, entrada do sofá. Organizar bem para não ter problema de demorar a entrada.Estão em cena Glória, José Dias, conversando algo entre si. Justina está ao lado de Glória,apenas ouvindo a conversa. Cosme está retirado, sentado fazendo de conta não estar a par daconversa. Bentinho está atrás deles, ouvindo a conversa escondido.

#demorar um pouquinho mais Sassá para começar

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José Dias: A senhora pretende colocar Bentinho no seminário mesmo D. Glória?

Glória: Se não... Porque uma pergunta dessas?

José Dias: Creio que já é tempo senhora, antes que seja tarde e lhe crie dificuldades.

Glória: Dificuldades?

José Dias: Por causa de uma garota. Ele anda muito próximo aos Pádua.

Glória: A filha dos Pádua? Capitolina?

José Dias: Os dois não se desgrudam e andam aos cantos. Se os dois pegam denamorar não há quem desgrude.

Glória: Mas Sr. José Dias, os dois são amigos desde os 5 anos de idade, é normal queestejam sempre juntos. Aliás, nunca tive motivos de desconfiar deles juntos, nunca vi algo deanormal na amizade deles. Bentinho tem apenas 15 anos, Capitolina acaba de completar 14.São dois criançolas. Mano Cosme o que você acha disso?

Cosme: Ora! (num sentido, nem vou me meter)

Glória: Viu! Acho que o senhor está enganado, mas por certo ou errado, acho que vocêtem razão, creio que já é tempo de mandá-lo ao seminário.

Cosme: Ande José Dias, vá buscar o gamão. Mana, me diga, há necessidade mesmo defazê-lo padre.

Glória: Promessa é promessa.

Cosme: Mas isso faz tanto tempo, talvez pensando um pouco mais... o que você achaprima Justina?

Justina: Eu?

Cosme: Mana Glória, cada um sabe o que é melhor para si, o menino deve ter o direitode escolher, essa sua promessa já faz tantos anos... (Glória começa a chorar) Mas que é isso delágrimas agora Mana?

Glória se levanta e sai chorando correndo para fora da cena.

Justina: Prima Glória! Prima Glória. (sai correndo atrás)

Cosme fica alguns segundos sozinho, olhando para onde elas saíram correndo, olhapara o público.

Cosme: Ora! Cadê meu gamão? (se levanta) Ô José Dias! (sai).

Música: Poli

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Bentinho sai do esconderijo, dá uns passos para frente da cena. Se não foi criado cenacorporal, criar. Música. Bentinho anda cambaleando, os outros atores vão até ele e jogam-nopara um lado e para o outro. Bentinho cada vez mais mole. Até que música para e ele ficaparado no centro do palco com todos ao redor dele. Barulho de sino de igreja, Bentinho cai decostas e é amparado pelo narrador. Todos saem de cena, narrador carrega-o até um canto esolta-o, ele fica como se desligado.

Ver momento virada do sofá.

PARTE 3 – MURO (NA RUA, ENTRE CASA DE BENTINHO E CAPITU – SOFÁ COMO MURO

Narrador: Esta foi uma célebre tarde, que nunca me foge da memória. Tive muitasoutras, verdade! Melhores, piores, mas aquela nunca me apagou do espírito. (“liga” Bentinho esai de cena). Não sei o que me marca mais, o que acabara de acontecer, ou o porvir.

Capitu entrar passando a mão no muro.

Mãe de Capitu: Capitu! (aparecendo de um canto do palco)

Capitu: Mamãe? (aparecendo do outro lado)

Mãe: Deixa de estar esburacando o muro, vem cá.

Capitu volta a escrever e entra Bentinho. Capitu, assustada, põe-se em frente àescritura. Se olham por uns segundos.

Capitu: Que é que você tem?

Bentinho: Eu? Nada.

Capitu: Nada, não. Você tem alguma coisa.

Bentinho não responde, olha para Capitu, o prego em sua mão, tenta olhar o que estáem suas costas.

Capitu: Que é que você tem?

Bentinho: Não é nada... É uma notícia.

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Capitu: Notícia de quê?

Narrador: Pensei em lhe falar do seminário e tentar perceber algo na expressão deCapitu. Se lhe espantasse, gostava de mim. Se não.

Capitu: Então?

Bentinho dá um passo para olhar o que estava escondido atrás de Capitu. Ela agarra-otentando não deixa-lo ler. Tenta apagar, mas no fim Bentinho lê.

Narrador: E neste momento, vejo escrito no muro: Bento e Capitolina.

PARTE 4 – CASA BENTINHO

Narrador: Quando morreu meu irmão, D. Glória minha mãe, ela fez uma promessa.

D. Glória: (Entra de um lado de cena e sai do outro) Se eu tiver outro filho, ele há de serpadre.

Narrador: Dito e feito. Para D. Glória não havia rio que movesse a pedra de seujuramento. Naquela tarde contei tudo o que acabara de ouvir em casa.

Capitu: Beata! Carola! Papa-missas! (muito alterada)

Bentinho: (Bentinho assustado leva alguns segundos para conseguir responder) Mas eunão quero. Não quero entrar em seminário nenhum... Não entro. Digo e pronto, não entro.

Capitu: Você? Você entra.

Bentinho: Não entro.

Capitu: Você verá se entra ou não. (Leva alguns segundos para Capitu voltar a falar demaneira mais calma) E que interesse tem José Dias em lembrar disso?

Bentinho: Acho que nenhum, fez porque é um mau caráter. Mas deixe eu ser dono dacasa pra ver se ele não vai pra rua... Mamãe é boa demais, dá-lhe atenção demais. Parece atéque chorou?

Capitu: José Dias?

Bentinho: Mamãe.

Capitu: Chorou por quê?

Bentinho: Não sei. Foi tão de repente.

Capitu: (Fica alguns segundos pensativa, olha e se aproxima de Bentinho) Se eu fosserica, você fugia, metia-se no avião e ia pra Europa.

PARTE 10 – DISCUSSÃO BENTINHO E CAPITU

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Narrador: Capitu me examinava. Aos 14, já tinha ideias atrevidas, muito menos queoutras que viriam depois, mas todas tinham um destino certo, ela sempre conquistava o quequeria.

Capitu: Mas não vejo outra senão essa alternativa.

Bentinho: Qual?

Capitu: José Dias.

Bentinho: Que tem José Dias?

Capitu: Ele é quem pode fazer sua mãe desistir de te mandar para o seminário.

Bentinho: Mas se foi ele mesmo quem falou...

Capitu: Não importa, dirá outra coisa agora. Ele gosta muito de você. Não seja covarde,lhe fale feito homem. Mostre que você será o dono da casa, mostre que quer e pode. Faça eleentender que não é um favor... Elogie ele também, ele gosta de ser elogiado. Sua mãe lhe dámuito atenção, mas isto não é o principal, é que ele, tendo de servir a você, falará com muitomais calor que outra pessoa.

Bentinho: Não acho Capitu

Capitu: Então vá para o seminário.

Bentinho: Não.

Capitu: Que custa experimentar? Lembra quando ele convenceu sua mãe de ir aoteatro pela primeira vez?

Bentinho: (Sorrindo faz sinal positivo)

Capitu: Ela não queria, mas ele tanto falou que sua mãe consentiu e ainda pagou a entrada dosdois.

PARTE 5 – CASA BENTINHO - BILHETE AO JOSÉ DIAS (COM SOFÁ)

#melhorar, melhorar, melhorar

Música Lenta:

Música. Bentinho começa a escrever em papéis que lhe são trazidos pelas pessoas.Estes são amassados por ele e jogados fora, sem que saiam das mãos do manipulador, até quedobra um destes papéis. O papel permanece no ar e Bentinho é retirado de cena no colo por

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duas pessoas, José Dias entra e este papel chega à suas mãos, ou ao seu bolso. José Dias abre opapel, olha para a plateia. Música para.

TODOS: Preciso lhe falar amanhã, sem falta.

#melhorar, melhorar, melhorar

José Dias começa a caminhar em palco, Bentinho entra e caminha ao seu lado.

PARTE 6 – PARQUE

Bentinho: Faz tempo que não venho a este parque, talvez um ano.

José Dias: Perdoe-me, não há três meses que esteve aqui com nosso vizinho Pádua.

Bentinho: Ah! Verdade, mas foi tão de passagem.

José Dias: Ouça, já que falamos nisso, não é muito bonito que você ande com os Páduana rua. Quando você era criança, tudo bem, ele podia se passar por um criado, mas agora vocêé um moço. Pádua tem uma tendência para gente reles e só anda com más companhias. Nãodigo isto porque eu não gosto dele, nem porque ele fale mal de mim...

Bentinho: Perdão, nunca ouvi que falasse mal do senhor, pelo contrário, esses dias eledisse a um sujeito que o senhor é um homem de capacidade e que sabe falar.

José Dias: (sorrindo fazendo esforço para não transparecer) Nada disso impede que eleseja o que lhe digo.

Bentinho: Vejo que o senhor não quer senão o meu bem.

José Dias: E porque seria diferente Bentinho?

Bentinho: Pois tenho um favor a lhe pedir.

José Dias: Favor? Pois mande, ordene o que seja.

Bentinho: Mamãe...

José Dias: Que é que tem mamãe? (Bentinho fica alguns segundos imóvel, semconseguir responder) Mamãe que? Bentinho? Que é que tem mamãe?

Bentinho: Mamãe quer que eu seja padre. Não posso ser padre. (José Dias ficapasmado) Não posso. Não tenho jeito. Não gosto da vida de padre. Posso ser tudo o que elaquiser; mamãe sabe que eu faço tudo o que ela manda; estou pronto a ser o que for de seuagrado, até cobrador de ônibus. Padre, não; não posso ser padre. A carreira é bonita, mas não

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é pra mim. (Bentinho fala de modo engasgado, aos pedaços). Conto com o senhor para mesalvar.

José Dias: Mas... Como assim Bentinho? O que é que eu posso fazer?

Bentinho: Pode muito, o senhor sabe que em nossa casa todos lhe estimam. Mamãepede muito de seus conselhos. Tio Cosme diz que o senhor é pessoa de talento.

José Dias: São bondades. São favores de pessoas dignas... Sua mãe é uma santa, seu tioum cavalheiro perfeitíssimo. Tenho conhecido famílias distintas, nenhuma pode vencer a suaem nobreza de sentimentos. O talento que seu tio acha que em mim, confesso que tenho, masé só um, é o talento de saber o que é bom e digno de admiração e de apreço.

Bentinho: E também o de proteger os amigos, como eu.

José Dias: Em que posso lhe valer meu anjo do céu? Não irei conseguir dissuadir suamãe. Ela é convicta, fez uma promessa séria, é uma ambição e sonho de longos anos. Aindaontem, fez-me o favor de dizer: José Dias, preciso meter Bentinho no seminário o quantoantes.

Bentinho: Você pode conseguir se o senhor quiser.

José Dias: Se eu quiser? Mas que outra coisa eu quero senão servi-lo?

Bentinho: Olhe, não é por vadiação, estou pronto pra tudo, se ela quiser que eu estudeleis, vou pra São Paulo...

José Dias: Eu acho que agora é tarde demais, Bentinho, mas vou lhe provar que não éfalta de vontade, irei falar com sua mãe.

PARTE 7 – CASA CAPITU - CENA BEIJO (COM SOFÁ)

Capitu: Alguma novidade?

Bentinho: Nada.

Capitu: José Dias ainda não falou?

Bentinho: Parece que não.

Capitu: E quando fala?

Bentinho: Disse que hoje ou amanhã. Vai tocar no assunto por cima, ver se mamãeestá decidida mesmo.

Capitu: Que tem, tem. Se realmente tivesse convicção que mudaria a cabeça de suamãe, já lhe falaria. Já nem sei mais se José Dias poderá influenciar tanto... É um inferno isto!Você teime com ele, Bentinho.

Bentinho: Teimo. Hoje mesmo ele vai falar.

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Capitu: Você jura?

Bentinho: Juro.

Bentinho: Se quiser eu penteio seus cabelos.

Capitu: Você?

Bentinho: Sim.

Capitu: Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.

Bentinho: Se embaraçar, você desembaraça depois.

Capitu: Vamos ver o grande cabelereiro.

#cena do beijo, loucuras mentais de Bentinho até acontecer o beijo

Em vez disso ela cai para trás, ele a segura, os dois ficam cara a cara. Beijo. Capituergue-se rapidamente e coloca-se olhando para o chão. Bentinho atordoado recua. D.Fortunata entra.

Capitu: Mamãe! Olhe como este senhor cabelereiro me penteou. Pediu-me paraterminar o penteado e fez isto. Veja que tranças.

Fortunata: Que tem? Tá bonito. Ninguém dirá que é de alguém que não sabe pentear.

Capitu: O que mamãe? Isto? (começa a tirar as tranças) Ora, mamãe.

Fortunata: Ora sua tola, deixe de bobiça, isso não é nada. (olha sorrindo para os dois,mas percebe que Bentinho está calado no canto, encabulado).

#mudar texto Jade: (ao perceber o menino, ela falta diz) Bentinho, acho que sua mãe mandoulhe chamar.

PARTE 8 – CASA DE BENTINHO - MASTURBAÇÃO (SOFÁ)

Bentinho sai correndo. Música. Atores entram com Bentinho para o alto. Caminhandocom ele para vários lugares no palco enquanto ele grita: Sou Homem! Tiram Bentinho de cena.Entram dando risadas D. Glória, Justina, Tio Cosme e Padre Cabral.

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#tirar o sofá

PARTE 9 – CASA BENTINHO - PROTONOTÁRIO – (SOFÁ)

Justina: Protonotário Apostólico.

Cosme: Protonotário Apostólico.

Bentinho entra.

Justina: Veja só Bentinho, Agora Padre Cabral não é mais Padre.

Cosme: Ele acabou de receber do Papa o título de Protonotário Apostólico.

Justina: Protonotário Apostólico.

Glória: Agora podes se tornar Protonotário Apostólico Bentinho.

Entra José Dias e percebe a alegria na sala, fica apenas observando sorrindo.

Justina: Protonotário Apostólico.

Glória: Veja filho, agora Sr. Cabral não é mais padre, agora ele é o ProtonotárioApostólico Cabral, estou certa?

Cabral: Veja bem, Protonotário Cabral é o suficiente.

Cosme: Protonotário Cabral.

Justina: Mas Sr. Protonotário, isto o obriga a ir para Roma?

Cabral: Não D. Justina.

Glória: Não, são só honras.

Cabral: E você Bentinho, hoje não terá aulas de latim, de darei férias.

Bentinho: Oba!

José Dias: (aproveitando o momento) Não tem que festejar a vadiação Sr. Bentinho, olatim sempre é útil, mesmo que não venha a ser padre.

Glória: Ora, que isso? Há de ser padre, e padre bonito.

Justina: Não esqueça mana Glória, Protonotário também. Protonotário apostólico.

Irmão e Padre: Protonotário Apostólico. (rindo)

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PARTE 10 – CASA? DISCUSSÃO BENTINHO E CAPITU

Bentinho e José Dias se olham preocupados, enquanto todos dão risadas. Escurece, ficaapenas uma penumbra, atores saem enquanto entra Capitu. Ficam Capitu e Bentinho.

Capitu: Você tem medo?

Bentinho: Medo?

Capitu: Sim, pergunto se você tem medo.

Bentinho: Medo de quê?

Capitu: Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar...

Bentinho: Mas... Não entendo. De apanhar?

Capitu: Sim.

Bentinho: Apanhar de quem?

Capitu: Medroso.

Bentinho: Eu? Mas...

Capitu: Não é nada Bentinho. Desculpe, hoje estou meio maluca, estou brincando comvocê...

Bentinho: Não Capitu, você não está brincando, nesta ocasião nenhum de nós temvontade de brincar.

Capitu: Se você tivesse que escolher entre mim e sua mãe, a quem escolheria?

Bentinho: Eu?

Capitu: Faz sinal que sim.

Bentinho: Eu escolheria... mas pra que escolher? Mamãe não é capaz de perguntarisso.

Capitu: Mas eu pergunto. Digamos que você está no seminário e recebe a notícia queeu vou morrer...

Bentinho: Não diga isso.

Capitu: ...ou que me mato de saudades se você não vier logo, mas sua mãe não querque eu venha. Você vem?

Bentinho: Venho!

Capitu rabisca no chão, narrador entra.

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Narrador: Naquele momento me inclinei e li a palavra MENTIROSO. Foram algunssegundos de medo. Medo que alguém olhasse o escrito, mas estávamos totalmente sozinhos.Foi então que eu tive uma ideia ruim, falei com a secreta esperança de vê-la atirando-se a mim,lavada em lágrimas.

Sai narrador.

Bentinho: A vida de padre não deve ser tão má. Acho que posso aceita-la semproblemas.

Capitu: Padre é bom, com certeza. Então eu vou estar lá na frente, ouvindo sua missa,fazendo um figurão, que todo mundo vai perguntar “Quem é aquela moça faceira com vestidotão bonito?” “Aquela é a D. Capitolina que morava na rua de Matacavalos”.

Bentinho: Morava? Então você vai se mudar?

Capitu: Quem sabe onde vou estar morando amanhã?

Bentinho: Você vai poder ouvir minha missa Capitu, mas com uma condição.

Capitu: Vossa Reverendíssima, pode falar.

Bentinho: Promete uma coisa?

Capitu: Que é?

Bentinho: Diga se promete.

Capitu: Não sabendo o que é, não prometo.

Bentinho: Na verdade são duas coisas. A primeira é que só ira se confessar comigo,para eu lhe dar penitência e absolvição. A segunda é que... (hesita)

Capitu: A primeira está prometida.

Bentinho: A segunda... sim... é que... Promete-me que eu seja o padre que case você?

Capitu: Que me case?... Não Bentinho. Seria esperar muito, não se torna padre assimde uma hora pra outra, leva muitos anos... Olhe, prometo outra coisa, prometo que irá batizaro meu primeiro filho.

#música

Mudar o clima da cena, como se fosse outro dia.

Capitu sai de cena e deixa Bentinho sozinho. Inicia música. Atores entram e começam aandar pelo palco, esbarrando em Bentinho sempre que se aproximam dele. Depois começam agolpeá-lo um de cada vez. Quem golpeia mantém seu golpe encostado em Bentinho, ao final

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da cena Bentinho está sendo golpeado por muitas pessoas. Fim da música. Capitu entra.Encosta em uma pessoa, esta pessoa sai de cena, e assim sucessivamente, até ficar sozinhacom Bentinho. Eles se olham longamente.

Bentinho: Me responda só uma coisa. Porque você me perguntou se eu tinha medo deapanhar?

Capitu: (hesita a princípio) Não foi por nada, porque se chatear com isso?

Bentinho: Seja franca. Foi por causa do seminário?

Capitu: Foi. Ouvi dizer que lá dão pancada... Não? Também não creio.

Entra narrador.

Narrador: Aquela explicação me agradou no momento, não tinha outra. Se bem aconheço, Capitu não disse a verdade, nem podia dizê-la. A mentira é dessas criadas querespondem às visitas que “a senhora saiu” quando a senhora não quer falar com ninguém. Hánessa cumplicidade um gosto particular. A verdade não saiu, ficou em casa, no coração deCapitu, cochilando o seu arrependimento. E eu não fui embora triste, zangado, achei a criadaelegante, melhor que a ama.

Sai narrador.

Bentinho: Não.

Capitu: Não o que?

Bentinho: Não há de ser assim. Dizem que não estamos em idade de casar, somoscrianças, somos dois criançolas. Já ouvi dizer criançolas. Bem! Dois ou três anos passamdepressa. Você jura uma coisa? Jura que só irá casar comigo?

Capitu: Juro. Juro. Ainda que você case com outra, cumprirei meu juramento, nãocasando nunca.

Bentinho: Que eu case com outra?

Capitu: Tudo pode ser Bentinho. Você pode achar outra moça que lhe queira, seapaixonar por ela e casar. Quem sou eu pra você lembrar de mim nessa ocasião?

Bentinho: Mas eu também juro. Juro Capitu. Juro por Deus que só casarei com você.Basta isso?

Capitu: Eu não me atrevo pedir mais. Sim, você jura... mas juremos por outro modo,juremos que nos havemos de casar um com o outro, haja o que houver.

Bentinho: Vou para o seminário, mas vou fazer de conta que é um colégio como outroqualquer. Não vou tomar ordens.

Narrador: Compreendem a diferença? A cabeça de Capitu sabia pensar claro edepressa. Realmente minha fórmula era limitada, poderíamos terminar nossas vidas dois

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solteirões, igual ao sol e a lua. A fórmula dela era melhor e tinha a vantagem de me fortalecer ocoração contra a investida eclesiástica. Eu nem temia mais o seminário.

Capitu temia a nossa separação, mas aceitou esta ideia, que era o melhor. Nãoaborrecíamos a minha mãe e o tempo correria até o ponto de nos casarmos. Ao contrário,qualquer resistência ao seminário confirmaria a denúncia de José Dias. Esta reflexão não foiminha, mas dela.

PARTE 11 – SEMINÁRIO – COM AMIGO ESCOBAR

Cena Física: Música. Bentinho entre os outros (sempre no centro) fazendo movimentose posições de ações ocorridas no seminário. Ações de rezar, estudo, rezar, estudo e passa umprofessor, rezar, estudo e Bentinho dormindo, rezar, estudo e Bentinho dormindo enquanto osoutros saem de cena e deixam Bentinho sozinho. Música desliga em fade out, Bentinho acorda.

Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!

Narrador: Há dias no seminário, esta frase me veio assim, de ímpeto. Como e porqueme saiu este verso da cabeça, não sei, saiu assim, estando eu na cama, como uma exclamaçãosolta.

Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!

Narrador: Decorei bem o verso e repetia em baixa voz. Achava-o bonito.

Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!

Narrador: Quem era a flor? Capitu, naturalmente, mas podia ser a virtude, a poesia, areligião, qualquer outro conceito que coubesse a metáfora da flor. Aguardei sair o próximoverso, recitando sempre este.

Bentinho: Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura! Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida epura!

Narrador: Lembrei que os sonetos mais gabados eram os que concluíam com chave deouro. Assim foi que determinei compor o último verso do poema, e, depois de muito suar, saiueste:

Bentinho: Perde-se a vida, ganha-se a batalha! Perde-se a vida, ganha-se a batalha!Perde-se a vida, ganha-se a batalha! Perde-se a vida, ganha-se a batalha! (Bentinho pronunciaseguidamente os versos de várias formas, sempre muito contente, com energia. Depois tentajuntar os dois versos o primeiro languidamente e o segundo com grandeza) Oh! Flor do céu!Oh! Flor cândida e pura! Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

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Narrador: A sensação que tive é que ia sair um soneto perfeito. Começar bem e acabarbem não era pouco. Então esperei vir os versos centrais do poema. Repetia o primeiro verso eesperava o segundo. O segundo não vinha, nem terceiro, nem quarto, não vinha nenhum. Tivealguns ímpetos de raiva, até que me passou pela cabeça alterar o sentido do último verso, coma transposição das duas palavras.

Bentinho: Ganha-se a vida, perde-se a batalha!

Narrador: O sentido viria a ser justamente o contrário, mas talvez isso mesmotrouxesse a inspiração para os versos centrais. Trabalhei em vão, busquei, catei, esperei, nãovieram os versos...

Entra Escobar.

Escobar: Você está bem?

Narrador: Este é Escobar. Mais velho que eu, três anos. Filho de um advogado deCuritiba. Quando nos conhecemos no seminário, fizemos grande amizade, ele me contava suashistórias e me deixava seduzido pelas suas palavras. A princípio fui tímido, mas ele fez-seentrando em minha confiança.

Bentinho: Estou.

Escobar: Estão te achando um muito distraído. Também tenho meus motivos paradistrair-me, mas tento sempre estar atento.

Bentinho: Dá pra perceber?

Escobar: Sim. Você as vezes parece que não ouve. Fica olhando para o nada.

Bentinho: Tenho motivos.

Escobar: Acredito, ninguém se distrai à toa.

Bentinho: Escobar...

Escobar: (percebe que Bentinho hesita, espera um tempo) Que é?

Bentinho: Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também. Aqui no semináriovocê é a pessoa que mais me tem entrado no coração, e lá fora, a não ser minha família, nãotenho propriamente um amigo.

Escobar: Se eu disser a mesma coisa?

Bentinho: Escobar, você guarda um segredo?

Escobar: Se perguntas é porque duvidas, então neste caso...

Bentinho: Desculpa, modo de falar... Escobar não posso ser padre, estou aqui e minhafamília acredita, esperam de mim, mas eu não posse ser padre.

Escobar: Nem eu Bentinho.

Bentinho: Nem você?

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Escobar: Segredo por segredo. Também tenho o propósito de não acabar o curso. Meudesejo é o comércio, mas não diga nada, absolutamente nada, fica entre nós.

Bentinho: Só isso?

Escobar: Que mais ia de ser?

Bentinho: Uma pessoa...

Escobar: Uma pessoa?

Narrador: Não foi preciso mais para que Escobar entendesse. Uma pessoa devia seruma moça. Então contei-lhe por alto o que podia. Bem demoradamente para ter o gosto deestar repisando no assunto. Escutou com muita atenção e no fim da nossa conversação,declarou que Capitu era segredo enterrado no cemitério.

Saem Escobar e narrador, entra José Dias.

PARTE 12 – JOSÉ DIAS VISITA NO SEMINÁRIO

Bentinho: Bom que chegastes Sr. José Dias. E como estás no plano de tirar-me daqui?

José Dias: Te acalma garoto, estou fazendo o que posso. A viagem para a Europa, é sódisso que eu preciso. Está tudo arranjado, fique tranquilo. Dentro de 2 anos viajo contigo paraa Europa e estás livre do seminário.

Bentinho: Assim tarde?

José Dias: Temos que dar tempo ao tempo Bentinho. Tenha paciência.

Bentinho: Mas Dois anos é muito tarde.

José Dias: Será este ano

Bentinho: Daqui a 3 meses.

José Dias: Ou 6.

Bentinho: Não, 3 meses.

José Dias: Pois sim. Tenho um plano melhor. Você precisa mudar de ares. Porque nãotosse?

Bentinho: Por que não tusso?

José Dias: Não digo agora, neste exato momento, mas eu te aviso quando, e aospoucos, uma tossezinha seca.

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Bentinho: Ah! Entendi! Mostrar que estou doente, que o seminário está meadoentando.

José Dias: Mostrar a verdade, porque, francamente Bentinho, eu há meses quedesconfio do seu peito. Você não anda bem do peito. Há dias que anda descorado. Não digoque pode ser o mal, mas o mal pode vir depressa...

Bentinho: E... (Bentinho hesita. José Dias olha para ele esperando que continue) ECapitu como vai?

José Dias: Ora! Tem andado alegre como sempre, é uma tontinha. Aquilo enquanto nãopegar um peralta da vizinhança, que case com ela...

PARTE 13 – SONHO DE BENTINHO

Diz e vai saindo deixando Bentinho sozinho, que sofre com a nova informação. Músicade tensão. Bentinho se deita para dormir, se vira para os lados sem conseguir dormir. Capituentra. Bentinho grita Capitu, mas música praticamente sufoca seu chamado. Bentinho seaproxima dela. Capitu fala: “Bentinho”, mas não se ouve por conta da música mais alta.Algumas pessoas vão até o casal, que está em pé, quase se beijando. Levantam Bentinho ecomeçam a levar ele para trás, bem devagar, até próximo da cama, sentam ele. Capitu então élevantada. Capitu é retirada de cena. Deitam Bentinho. Pessoas saem. Bentinho continua a sedebater na cama. Música para brusca com Bentinho acordando gritando, “Não”.

Entra Escobar.

Escobar: Como dizes não Bentinho? Deverias estar feliz, é hoje que podemos visitarnossas famílias. Olha! Não posso ir hoje, mas amanhã prometo, vou conhecer tua mãe. Etambém claro, tua amada Capitu. Vai te arruma que já é tarde, não sei como ainda não estáspronto.

Os dois saem de cena.

Entram D. Glória e seus irmãos carregando-a e colocando-a no sofá. José Dias junto.

PARTE 14 – CASA DONA GLÓRIA DOENTE

D. Glória: Busquem Bentinho o mais rápido possível.

Cosme: Mas mana Glória, assim você assusta o menino. Daqui a pouco ele deve estaraqui. Hoje é seu dia de visita.

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D. Glória: Não! Não! Busquem ele o mais rápido possível! Posso morrer e a minha almanão se salva se Bentinho não estiver ao pé de mim.

Bentinho entra com Capitu.

Bentinho: Tu irás ver Capitu, Escobar é muito amigo meu.

Capitu: Mas não é meu amigo.

Bentinho: Pode vir a ser, ele vem amanhã conhecer mamãe.

Capitu: Não me importa, você não tem direito de contar um segredo que não é só seu,mas meu também. Eu não lhe dou licença de dizer nada a pessoa nenhuma. Agora entre, meparece que sua mãe não está bem. Ela quer te ver.

Bentinho se aproxima de sua mãe com muita tristeza.

D. Glória: Que é Bentinho?

Bentinho: Mamãe...

José Dias: Não! Não! Que ideia é essa? O estado dela é gravíssimo, mas não é mal demorte. Enxugue os olhos, que é feio um mocinho da sua idade andar chorando na rua. Não háde ser nada, uma febre, assim como dão com força assim também se vão embora... Com osdedos não, onde está o lenço?

Bentinho enxuga os olhos e se ajoelha vagarosamente próximo à sua mãe.

D. Glória: Não, meu filho, levanta, levanta!

Narrador: Capitu, que observava de longe, gostou de ver a minha entrada, os meusgestos, palavras e lágrimas, segundo me disse depois, mas não suspeitou naturalmente todasas causas da minha aflição... (longa pausa) Pensei em dizer tudo a minha mãe, logo que elaficasse boa, mas sabia eu que esta era uma ação que eu nunca faria, por mais que o pecadodoesse.

Entra Escobar.

Bentinho: Ora! Se não é meu grande amigo que vem me visitar?!

Escobar: Vim ver como estás, e claramente, como está tua mãe.

Cosme: Pois olha! Então já avisem a cozinheira que irá mais um amigo se servir à mesa.

Escobar: Tanto incômodo!

Cosme: Incômodo nenhum.

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Música. Cena de jantar, risadas, brindes, danças entre todos da casa. Bentinho semprejunto de Escobar, as vezes até abraçado ombro a ombro. Tio Cosme e José Dias também riembastante, conversam entre homens. Dona Glória, adoentada fica sentada, sempre tímida, masouve a conversa e dá umas poucas risadas, nunca triste, apenas um pouco abatida. Justinasempre próxima à Glória, às vezes abraçando a irmã. Começam a sair de cena, primeira DonaGlória e Justina que sai ajudando a irmã, depois Tio Cosme e pro último quando está quaseacabando a música José Dias. Ficam apenas Bentinho e Escobar caminhando pelo palco. Atéque param no centro do palco.

Escobar: Chega a hora de nos despedirmos amigo. (Se abraçam) Obrigado pelahospitalidade.

Bentinho: A casa é tua meu amigo, estará sempre de portas abertas para quandoquiseres voltar.

Capitu: (abrindo a janela) Mas que amigo é esse que tanto se estimam?

Bentinho: Este é Escobar. E esta é Capitu.

Os três trocam olhares paralisados, durante alguns segundos. Troca de luz. Cenasfísicas de Bentinho no seminário, talvez mesmas cenas anteriores, mas agora com Escobar aolado. Termina a música, os dois com a bíblia na mão.

Escobar: Há letras inúteis e letras dispensáveis. que serviço diverso prestam o D e o T?Têm quase o mesmo som. O mesmo digo do P e o B, o mesmo o S, C e o Z, e outras letras. Sãotrapalhices caligráficas. Veja os algarismos: não há dois que façam o mesmo ofício; 4 é 4 e 7 é7. E admire a beleza com que o 4 e um 7 formam essa coisa que se exprime por 11. Agoradobre 11 e terá 22, multiplique por igual número e terá 484, e assim por diante. Mas onde aperfeição é maior é no emprego do zero. O valor do zero é, em si mesmo, nada, mas o ofíciodeste sinal negativo é aumentar. Um 5 sozinho é um 5, ponha-lhe dois zeros é 500. Assim oque ão vale nada faz valer muito, coisa que não fazem as letras dobradas, pois eu tanto aprovocom um P como com dois pês. A aprovação é a mesma, não é dobrada.

Narrador: Criado na ortografia, custava-me a ouvir tais blasfêmias, mas não ousavarefutá-lo. Contudo, um dia, proferi algumas palavras de defesa, ao que ele respondeu que eraum preconceito, e acrescentou que as ideias aritméticas podiam ao infinito, com vantagem deserem fáceis de resolver. Assim que eu não se podia resolver rapidamente um problemafilosófico ou linguístico, ao passo que ele podia somar, em três minutos quaisquer quantias.

Escobar: Olhe, dê o número de casas da sua mãe e os aluguéis de cada uma, e se eunão disser a soma total em dois... em um minutos me enforque!

Bentinho escreve no papel, demora um pouco, pensa, conta nos dedos e depois entregapara Escobar, este olha o papel fecha os olhos apertando as pálpebras pensativo e responde.

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Escobar: Dá tudo R$ 15 mil, considerando já o desconto da porcentagem que fica coma imobiliária.

Bentinho fica boquiaberto e olha para o papel tentando inutilmente fazer as contas decabeça. Observa o papel e Escobar ao mesmo tempo enquanto ele continua falando.

Escobar: Isto prova que as ideias aritméticas são mais simples, portanto mais naturais.A natureza é simples. A arte é atrapalhada.

Narrador: Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental de meu amigo que nãopude deixar de abraçá-lo. Era no pátio, outros seminaristas e padres notaram nossa efusão.

Padre: A modéstia não consente esses gestos excessivos, podem estimar-se commoderação.

Escobar: (acompanha com o olhar o Padre até sua saída de cena) Falam assim porinveja. Acho melhor nós se afastarmos por hora.

Bentinho: Não. Se é inveja, pior pra eles.

Escobar: Façamos ainda pior.

Bentinho: Mas...

Escobar: Ficamos ainda mais amigos até aqui.

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Sancha doente capítulo LXXXI

Saída do seminário

Ciúmes do mar

Um filho

Veneno

Volta de Ezequiel

Bentinho – Poli

Casmurro – Gabs

Capitu – Duda

José Dias – Sassá

Justina – Sara

Glória – Katti

Fortunata – Jade

Ezequiel – Maike

Filho – Todos, Maike

Cosme – Patrícia

Padre – Ketlin

Sancha – Eduarda

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