Dos Pré-socráticos a Socrates

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  • 7/25/2019 Dos Pr-socrticos a Socrates

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    OS FILSOFOS NATURALISTAS E OS SOFISTAS

    O primeiro perodo da filosofia grega toma o nome de naturalista ou cosmo- lgico porque aespeculao dos filsofos voltou-se para a natureza, o mundo exterior. Esse perodo surgiu e sedesenvolveu fora da Grcia propriamente dita, nas florescentes col!nias da "sia #enor e do sul da$t%lia, tendo o seu incio nos fins do sculo &$$ e o seu trmino dois sculos depois.

    Em grego, cosmos significa 'mundo' e por isso esse perodo rece(eu o nome de cosmolgico. ) Emgrego, *ntropos significa '+omem' e por isso esse perodo rece(eu o nome de antropolgico. antiguidade, era con+ecida como "sia #enor a extremidade ocidental da "sia, em lin+as geraiscorrespondendo ao territrio do que con+ecemos +oe como /urquia.

    A ESCOLA JNICA

    primeira expresso dessa fase, inaugurando por assim dizer o pensamento ocidental, a c+amadaescola !nica, que floresceu em #ileto, na "sia #enor, ao longo do sculo &$. Os !nios procuravama su(st*ncia 0ltima de todas as coisas em uma 0nica matria, animada por uma energia interior 1da+ilozosmo, 'matria animada' ser o nome dessa doutrina2.

    3eu primeiro representante /ales de #ileto 1456-)64 a.7.2, para quem a %gua era a su(st*nciaprimordial de todas as coisas.

    8ara naximandro 149:-)6; a.7.2, tam(m de #ileto, o elemento primordial seria o apeiron 1oindeterminado, sem fim e em constante movimento2.

    er%clito 1aproximadamente )6:-6;: a.7.2, de ?feso, na

    O vir-a-ser luta, conflito de opostos, anttese de vida e morte. Esse movimento s ser% reconduzidoA esta(ilidade pela sa(edoria universal, que determina o acordo entre as oposiBes.

    8or esse motivo >er%clito considerado o pai da dialtica, a qual considera que a razo das coisasest% na constante luta dos contr%rios.

    ? de >er%clito a ideia de que o mesmo +omem no se (an+a duas vezes no mesmo rio, pois aotentar um segundo (an+o, o rio % ter% mudado, % ser% outro por conta do contnuo fluxo das %guas.E como as coisas mudam constantemente, aquele +omem % no ser% o mesmo +omem que daprimeira vez.

    PITGORAS E A ESCOLA ITLICA

    8it%goras 1);9-6C; a.7.2, fundador da escola pitagrica ou it%lica, nasceu em 3amos, uma il+a do#ar Egeu, mas pontificou nas col!nias do sul da $t%lia. 8ara ele, o princpio primordial da realidade representado pelo n0mero, ou sea, pelas relaBes matem%ticas.

    /oda a multiplicidade do mundo e o vir-a-ser explicado pelo pitagorismo por meio da luta dosopostos, da qual os n0meros pares e os mpares so paradigm%ticos. Esse conflito reconduzido aoequil(rio pela +armonia matem%tica que rege o universo todo, tanto material quanto moral. Outrosrepre- sentantes dessa escola so Dilolau de 7rtona e "rquitas de/arento.

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    XENFANES E A ESCOLA ELEATA

    Essa escola empresta o seu nome da cidade de Eleia, no sul da $t%lia, e seu fundador enfanes1cerca de );:-64: a.7.2, nascido em 7lofon, na "sia #enor.

    #as o seu maior representante 8armFnides de Eleia 1cerca de ):-64: a.7.2, para quem oelemento original das coisas o ser, uno, idFntico, imut%vel e eterno, representado como um esferasuspensa no v%cuo, sendo que o mundo sensvel no passa de iluso.

    Heno 1cerca de 6C)-6: a.7.2, tam(m de Eleia, discpulo de 8armFnides, famoso pelascontrovrsias nas quais tentava demonstrar a inexistFncia do movimento.

    A ESCOLA PLURALISTA

    Empdocles 1cerca de 6C5-6C a.7.2, de grigento, 3iclia, toma dos eleatas a doutrina daeternidade e da imuta(ilidade do ser, mas o divide em quatro ele- mentos fundamentais - a terra, a%gua, o ar e o fogo -, explicando a multiplicidade e a mudana dos fen!menos mediante as v%riasrecom(inaBes desses elementos.

    7omo >er%clito, acreditava na realidade do movimento. 8ensava, entretanto, que o amor e o dioso as duas foras primordiais que presidem a com(inao dos quatros elementos.

    istrias, de >erdoto. scidades !nicas, pertencentes A Grcia e situadas na "sia #enor, revoltaram-se contra o $mprio8ersa e foram apoiadas por algumas cidades do continente, por fim sendo lideradas por tenas.Iepois das vitrias dos gregos so(re os persas, assistimos ao triunfo de tenas, que torna-se o eixosocial, poltico e cultural do universo grego.

    ? o c+amado sculo de 8ricles, quando a democracia encontra-se em seu auge. democraciaateniense, que se tornaria fundamental para o desenvolvimento da filosofia, tem uma caractersticaessencial que a distingue da democracia moderna@ uma democracia direta, sem a mediao derepresentantes eleitos. Ora, para lograr que a sua opinio fosse acatada nas assem(leias, o cidadoprecisava ser dotado de talentos oratrios.

    qui entram os sofistas, mestres da eloqJFncia, encarregados de ensinar aos ovens das famliasdas classes mais a(astadas a arte da persuaso. 8rofessores encarregados de transmitir osprincpios da retrica e da oratria, os sofistas alegavam que os ensinamentos dos filsofoscosmologistas estavam eivados de erros, alm de no terem nen+uma utilidade para a vida da plis.

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    8ortanto, com os sofistas +% uma mudana de foco na pesquisa filosfica@ a preocupao com anatureza, que esteve no centro das atenBes dos pensadores anteriores, comea a refluir, dandolugar ao interesse pelo +umano - da tam(m o nome de antropolgica ou +umanista dado a essafase. '7om efeito, os sofistas operaram uma verdadeira revoluo espiritual, deslocando o eixo dareflexo da p+Ksis e do cosmos para o +omem e aquilo que concerne A vida do +omem comomem(ro de uma sociedade' 1LEMEN /$3EL$, 9CC:, p. ;2.

    8rot%goras 1cerca de 6=:-69: a.7.2, um dos maiores nomes da sofistica - unto com Grgias 16=6-;) a.7.2 e >pias 1cerca de 6)-6 a.7.2 -, dizia que o +omem a medida de todas as coisas. Emrelao ao perodo anterior, isso significava uma a(ertura para o su(etivismo@ dizer que o +omem a medida de todas as coisas significa dizer 'que as coisas so como l+e parecemN no, porm, comoaparecem ao +omem em geral, mas como aparecem ao +omem +ic et nunc 'aqui e agora'P@ verdadeiro - e (em - o que aparece como tal a cada qual e a cada momento' 18IO&$N73/GOM, 9C=6, p. 9:C2.

    Ia porque no raro os sofistas serem acusados de relativistas e cticos - para os relativistas, tudopode ser verdade, enquanto para os cticos no possvel alcanar a verdade.

    ? nesse contexto que aparece 3crates, como um meteoro, dividindo a filosofia grega em antes edepois dele.

    FILHO DA PARTEIRA

    ascido em tenas 16;: ou 64C a.7.2, fil+o de um escultor e de uma parteira, desde cedo 3cratesse entregou A reflexo e ao ensino filosfico, no se deixando levar pelos cuidados da vidadomstica e da poltica. o entanto, ao contr%rio dos outros filsofos, no fundou uma escola,preferindo ensinar em lugares p0(licos, como nos gin%sios, nas praas e nos mercados.

    Exerceu um enorme fascnio so(re os atenienses, especialmente os mais ovens, mas a sua ironia ea sua atitude crtica foram-l+e aos poucos graneando inimizades entre as parcelas influentes dasociedade. 8or fim, foi acusado de corromper a uventude e demonstrar impiedade diante dosdeuses da cidade. /odavia, 3crates no quis se defender.

    7ondenado A pena capital, morreu aos ;9 anos, em CC a.7., ingerindo cicuta - um venenoextremamente letal, extrado da planta de mesmo nome -, depois de ter recusado os proetos de fugapropostos por alguns de seus discpulos. 3ua morte foi o coroamento de uma vida dedicada aocon+ecimento e A virtude, % que ele se transformou no marco de algum que preferiu morrer em vezde negar suas convicBes.

    3crates no escreveu nada@ tudo que sa(emos de sua pessoa nos c+egou por meio de seusdiscpulos, como enofonte e 8lato - e no so poucos os de(ates da crtica para esta(elecer oque confi%vel nessas fontes. O certo, porm, que 3crates se (eneficia da virada antropolgicaefetuada pelos sofistas. 7ontudo, ao contr%rio destes, ele no se interessa pelo ser +umano emprico

    1o ser +umano individual, como visto e apreendido pelos sentidos2, mas pelo +umano em geral,com propsitos morais. 7omo os sofistas, ele comea por criticar o senso comum, o sa(er institudo,a opinio, a doxa, mas no para a, o que no seria mais do que um ceticismo@ ele transcende osa(er imediato em (usca do sa(er autFntico, que seria racional e perene. Esse con+ecimento estariadentro de cada um.

    8ara encontr%-lo, 3crates, um fil+o de parteira, serve-se de uma tcnica por ele c+amada demaiFutica, um mtodo que consiste em 'parir', 'dar A luz' ideias complexas a partir de perguntassimples, articuladas a partir de um determinado assunto. ssim ele explicava o seu mtodo@

    min+a arte o(sttrica tem atri(uiBes iguais As das parteiras, com a diferena de eu no partearmul+eres, porm +omens, e de acompan+ar as almas, no os corpos, em seu tra(al+o de parto.

    8orm, a grande superioridade de min+a arte consiste ...P na faculdade de con+ecer de pronto se o

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    que a alma dos ovens est% na iminFncia de conce(er alguma quimera ou faculdade ou frutolegtimo e verdadeiro. 1apud 8E>, 9CC6, p. )2.

    Ia tam(m a sua m%xima@ gnot+iseauton, 'con+ece-te a ti mesmo'. O aludido preceito socr%ticopretende mais do que orientar o indivduo ao simples con+ecimento de si prprio. 3eu alcance maior@ um convite ...P ao aprofundamento da condio +umana, do qual ...P nos desviamos quandolevados pelo con+ecimento enciclopdico so(re a natureza das coisas. 18E>, 9CC6, p. 2

    8artindo desse pressuposto, 3crates constri uma tica racionalista, na qual a virtude passa a ter

    um papel fundamental. #as em que consiste a virtudeQ ntes de mais nada, ela se identifica com ocon+ecimento.

    Os gregos c+amavam-na aret, 'significando aquilo que torna uma coisa (oa e perfeita naquilo que, ou mel+or ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeioa cada coisa, fazendo-aser aquilo que deve ser'1LEMEN /$3EL$, 9CC:, p. ==2. Iesse modo, ele nos diz que a causa domal a ignor*ncia@ se con+ecFssemos o (em, no praticaramos o mal.

    8or essa razo, o con+ecimento de si mesmo condio suficiente e necess%ria para a o(teno daaret. O autodomnio e a li(erdade so as (ases para se atingir a virtude. 8ara ele, o ser +umano oartfice da sua prpria felicidade ou infelicidade.

    #as, afinal, o que o ser +umano para 3cratesQ 'O +omem sua alma, enquanto perfeitamente

    a sua alma que o distingue especificamente de qualquer outra coisa. E, por alma, 3crates entendea nossa razo e a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante' 1LEMEN /$3EL$,9CC:, p. =;2.

    8or isso, a essFncia do ser +umano - segundo 3crates - sua psKc+. esse sentido, ele considerado o fundador da filosofia moral do Ocidente. Outra ideia relevante no pensamentosocr%tico a noo de +umildade. 3ua m%xima 's sei que nada sei' ilustrativa disso. Ruando eraelogiado por seus discpulos, ele fazia tal afirmao. 8ara demonstrar que esse era um valorincorporado em sua pr%tica cotidiana, 3crates construa suas afirmaBes a partir da relaodialgica com seus interlocutores.

    lm disso, a dialtica socr%tica perpassada pela ironia. Em sua etimologia, o conceito de ironia

    significa 'a arte de interrogar'. Ruando 3crates utilizava tal recurso, tin+a por o(etivo mostrar queaquele com quem estava dialogando na verdade estava ignorando o que ulgava con+ecer. 8or meiodesse processo, deseava tornar seu interlocutor c!nscio da prpria ignor*ncia para que ele pudessepartir em (usca da verdade.

    Dinalmente, mais que suas palavras, sua postura como filsofo mostrou-nos que a filosofia no uma forma de con+ecimento +ermtico, fec+ado, reservado somente a uma elite de iniciados@3crates interpelava os transeuntes com quem se deparava e discutia com eles os temas docotidiano. Lefletia, por exemplo, so(re a li(erdade, o amor, a amizade, a verdade - questBes que nostocam a todos.

    7omentando a morte de 3crates, #arilena 7+au afiana que ...P o maior erro dos uizes foi no

    terem ouvido o mais importante ensinamento de 3crates, isto , que todos os +omens so iguaisporque todos so capazes de ciFncia, todos so dotados de uma alma racional na qual se encontra averdade e todos so capazes de virtude. Lazo, ciFncia, verdade e virtude so universais e todos os+omens so, por natureza, capazes delas. 17>ST, 5:::, p. 9))2

    #%rtir da filosofia e da fidelidade aos seus princpios, 3crates permanece vivo at +oe, no s emseu exemplo, mas so(retudo como (ase da construo do edifcio da moral do Ocidente.