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Nova Época 31 de Agosto de 2014 Preço: R$ 3,00 Solidário: R$ 5,00 Dossiê Palestina ANTES DE 1946 PLANO DA ONU DE 1947 1949-1967 2010 Apresentação 5-8-2014 o seguinte dossiê especial foram N publicadas uma seleção de artigos históricos sobre a questão Palestina. O leitor encontrará um artigo intitulado “A revolução palestina e a teoria-programa da revolução permanente” que trata sobre a revolução palestina do ano 2000, uma polêmica sobre a suposta “classe operária israelense” e o artigo chamado “Párias em sua própria terra” que demonstra como se impôs na história o estado sionista-fascista de Israel como gendarme do imperialismo na região. Nesse último artigo, o leitor entenderá o processo de formação desse “porta-aviões” do imperialismo que é o estado de Israel, entrando a sangue e fogo na região, expulsando as massas palestinas de suas terras, provocando sua diáspora, condenando-as a viver em campos de refugiados no Líbano, na Síria e na Jordânia, ou ficando confinados nesses verdadeiros campos de concentração que são Gaza e Cisjordânia. Mas, as massas palestinas nunca aceitaram viver nessas condições. Sempre lutaram e resistiram como puderam contra o ocupante sionista. Desde os campos de concentração na Jordânia nos anos 70 começaram um levantamento que foi massacrado pelo exército jordano sob o mando do rei Hussein naquele país, deixando mais de 20 mil mortos. Outro massacre perpetrado às massas palestinas deu-se em 1982 no Líbano, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nas mãos da burguesia maronita libanesa com a cumplicidade do exército sírio que também estava no Líbano, e com a participação do exército sionista, que ingressou no Líbano e ocupou o sul desse país até o ano 2000. Mas, apesar dos massacres e dos confinamentos nos campos de concentração de Gaza e Cisjordânia, as massas palestinas nunca se renderam perante o ocupante sionista e sempre se negaram a reconhecê-lo. Foi assim que, nestes verdadeiros guetos, em 1987 começou a denominada “Intifada”, quer dizer, a resistência das massas palestinas contra o estado sionista-fascista de O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA O sionismo, sustentado pela cova de bandidos da ONU e do imperialismo ianque, invade e ocupa a nação palestina, massacrando e expulsando de sua terra a operários e camponeses Porta-voz do Comitê Revolucionário Operário e Juvenil pela Autoorganização (CROJA) Aderente da FLTI Coletivo pela IV Internacional [email protected] comitepelarefundacaoiv.blogspot.com- [email protected] -https://www.facebook.com/ComitePelaRefundacaoIV

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Page 1: Dossiê

Nova Época31 de Agosto

de 2014

Preço: R$ 3,00Solidário: R$ 5,00

Dossiê Palestina

ANTES DE 1946 PLANO DA ONU DE 1947 1949-1967 2010

Apresentação5-8-2014

o seguin te doss iê espec ia l foram

Npublicadas uma seleção de artigos históricos sobre a questão Palestina. O

leitor encontrará um artigo intitulado “A revolução palestina e a teoria-programa da revolução permanente” que trata sobre a revolução palestina do ano 2000, uma polêmica sobre a suposta “classe operária israelense” e o artigo chamado “Párias em sua própria terra” que demonstra como se impôs na história o estado sionista-fascista de Israel como gendarme do imperialismo na região.

Nesse último artigo, o leitor entenderá o processo de formação desse “porta-aviões” do imperialismo que é o estado de Israel, entrando a sangue e fogo na região, expulsando as massas palestinas de suas terras, provocando sua diáspora, condenando-as a viver em campos de refugiados no Líbano, na Síria e na Jordânia, ou ficando confinados nesses verdadeiros campos de concentração que são Gaza e Cisjordânia.

Mas, as massas palestinas nunca aceitaram viver

nessas condições. Sempre lutaram e resistiram como puderam contra o ocupante sionista. Desde os campos de concentração na Jordânia nos anos 70 começaram um levantamento que foi massacrado pelo exército jordano sob o mando do rei Hussein naquele país, deixando mais de 20 mil mortos. Outro massacre perpetrado às massas palestinas deu-se em 1982 no Líbano, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nas mãos da burguesia maronita libanesa com a cumplicidade do exército sírio que também estava no Líbano, e com a participação do exército sionista, que ingressou no Líbano e ocupou o sul desse país até o ano 2000.

Mas, apesar dos massacres e dos confinamentos nos campos de concentração de Gaza e Cisjordânia, as massas palestinas nunca se renderam perante o ocupante sionista e sempre se negaram a reconhecê-lo. Foi assim que, nestes verdadeiros guetos, em 1987 começou a denominada “Intifada”, quer dizer, a resistência das massas palestinas contra o estado sionista-fascista de

O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

O sionismo, sustentado pela cova de bandidos da ONU e do imperialismo ianque, invade e ocupa a nação palestina, massacrando e expulsando de sua terra a operários e camponeses

Porta-voz do ComitêRevolucionário Operário e Juvenil pelaAutoorganização(CROJA)Aderente da FLTI Coletivopela IV Internacional

c o m i t e p e l a r e f u n d a c a o i v @ y a h o o . c o m . b r - c o m i t e p e l a r e f u n d a c a o i v . b l o g s p o t . c o m -l u t a p e l a b a s e 2 0 1 3 @ g m a i l . c o m - h t t p s : / / w w w . f a c e b o o k . c o m / C o m i t e P e l a R e f u n d a c a o I V

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2Israel na última linha, sem mais armamento do que pedras – que era o que tinham em abundância – contra o quinto exército com maior poderio militar do mundo.

A burguesia palestina da OLP, que tinha se colocado na frente destes movimentos, manteve seus organismos armados e manteve todo seu armamento e arsenal separado das massas. Cuidou muito bem de que as massas ficassem desarmadas nos enfrentamentos contra o sionismo. Porque só pretendia ser uma burguesia administradora dos campos de concentração de Gaza e Cisjordânia e não a destruição de Israel e a libertação das massas palestinas. E isso se viu quando, depois da derrota sofrida no Iraque à imposição da invasão de Bush pai em 1993, Yasser Arafat – líder da OLP naquele momento – se reuniu em Oslo com o primeiro ministro israelense, sob o comando do imperialismo, e assinou um pacto que reconhecia o Estado de Israel e colocava a existência de dois estados na Palestina.

A OLP então acabou reconhecendo o estado de Israel e aceitou o plano de “dois estados”, mas as massas palestinas nunca fizeram isso. Nem reconhecem o estado de Israel, nem aceitaram os acordos de Oslo e o plano de dois estado, por isso foram contra os que o queriam impor em seu interior – a OLP e a burguesia palestina –, as massas se levantaram novamente no ano 2000 contra o invasor sionista. Mas desta vez, foram buscar as armas para enfrentá-lo. Para isso assaltaram as delegacias da OLP. Isso significa que as massas passavam da resistência para entrar em revolução, já que com suas ações independentes derrubaram o controle da burguesia palestina, se armavam e jogavam fora o plano dos “dois estados”. Enquanto, as massas palestinas no sul do Líbano se insurrecionavam e expulsavam o invasor sionista dali.

Foi uma grandiosa revolução das massas palestinas no ano 2000, que passavam da resistência à revolução, que foi depois esmagada por um golpe contrarrevolucionário direto do sionismo, sob o comando do imperialismo e, sobre essa base, tentar impor às massas palestinas o plano dos “dois estados”.

Mas, as massas palestinas continuaram – e no dia

de hoje ainda continuam – sem render-se, sem submeter-se ao plano dos “dois estados” e sem reconhecer o estado de Israel. O demostraram no ano 2006 quando derrotaram ao exército sionista no sul do Líbano. O demonstraram quando nesse ano e no ano seguinte começaram a não aceitar o submetimento à OLP, movimento que foi canalizado pelo Hamas em Gaza e pela frente popular do stalinismo apoiando a OLP e reconhecendo o estado de Israel na Cisjordânia. O demonstraram quando se negaram a assinar o reconhecimento do estado de Israel, ainda depois de anos de cerco a Gaza e ainda depois do massacre como foi o Chumbo Fundido de 2008. As massas palestinas sempre se mantiveram na resistência contra o ocupante sionista.

Isso se vê hoje: as massas palestinas resistindo o massacre e a ofensiva do sionismo, sob o comando do

imperialismo. E assim como acontecera no ano 2000, é preciso passar da resistência à revolução! É preciso tirar de cima as burguesias palestinas que reconhecem o estado de Israel e buscam pactuar com ele e aplicar o plano dos “dois estados”! É preciso conquistar o armamento generalizado para enfrentar o sionismo, e fazê-lo desde todas as frentes! Guerra total contra o o c u p a n t e s i o n i s t a ! P e l a destruição do estado sionista-fascista de Israel! Por uma Palestina livre, laica, democrática e não racista com capital em Jerusalém! É preciso levar a revolução ao triunfo sobre a base da expulsão do estado sionista do rio Jordão até o mar!

Acampamento de refugiados palestinos expulsos de suas terras pelo sionismo em 1948

Palestinos despejados de suas terras

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3O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Reproduzimos aqui extratos de um artigo publicado originalmente em Democracia Obrera Nº 11 da Argentina, do dia 16 de abril de 2002, no momento que havia começado a ofensiva contrarrevolucionária que, na forma de guerra de extermínio, o Estado de Israel lançara naquele momento para esmagar a sangue e fogo a heroica resistência palestina iniciada no ano 2000. Neste artigo, o leitor poderá encontrar a definição de nossa corrente sobre o caráter da luta nacional do povo palestino, qual é a sua força motora, e qual foi a mecânica da revolução e da contrarrevolução na Palestina a princípios do século XXI.

Abril 2002

A REVOLUÇÃO PALESTINA E A TEORIA-PROGRAMA DA REVOLUÇÃO

longa luta do povo palestino por sua libertação Anacional contra o Estado sionista-fascista de Israel que, como gendarme do imperialismo,

ocupou e usurpou a Palestina em 1948, é a expressão labiríntica da luta de uma das classes operárias mais exploradas do mundo para acabar com as condições inauditas de superexploração às quais tem sido submetidas pelo imperialismo, o sionismo, e também pelos capachos das burguesias árabes.

A força motora da luta nacional do povo palestino, que manteve essa luta viva durante mais de 50 anos, são a classe operária e os camponeses palestinos. Pelo contrário, a burguesia nacional palestina e outras burguesias árabes do Oriente Médio, sócias menores do imperialismo na exploração e submissão de suas próprias classes operárias e povos, entregaram a luta nacional do povo palestino, estabeleceram pactos e acordos com o Estado de Israel e o imperialismo, jogando um papel de controlar e manter submetido o povo palestino – como a burguesia síria e libanesa no Líbano, e a jordana, que exploram e oprimem milhões de trabalhadores palestinos que vivem nesse países em acampamentos de refugiados – e utilizando essa luta como moeda de troca nos negócios com o imperialismo por sua taxa na renda petroleira, como as burguesias egípcia, iraniana, iraquiana, etc.

Demonstra assim que a classe operária é a única classe verdadeiramente nacional, a única interessada em destruir o Estado de Israel e recuperar a terra palestina usurpada, a única que pode levar até o final – acaudilhando os camponeses e o conjunto da nação oprimida – a luta contra o Estado de Israel e o imperialismo, porque não têm nenhum interesse que as ate a eles. A luta pela libertação nacional, pela destruição do Estado Sionista e a conquista do estado palestino laico, democrático e não racista, está indissoluvelmente ligada à revolução social, à expropriação de sua própria burguesia nacional e ao imperialismo que a sustenta.

A MECÂNICA DA REVOLUÇÃO PALESTINA: DA REVOLTA À REVOLUÇÃO

Esta forma labiríntica – da luta de libertação nacional – que o combate da classe operária e os explorados palestinos adquiriu desde a imposição do Estado de Israel em 1948, se expressou, desde meados dos anos 80 e até princípios dos '90, no que se chamou a “Intifada”.

A “Intifada” foi uma revolta, isto é, uma enorme luta política de massas, mas defensiva, protagonizada pela classe operária e os explorados palestinos que resistiram historicamente, “na última trincheira”, as condições inauditas de superexploração e de escravidão impostas a sangue e fogo pelo Estado de Israel, enfrentando-se diariamente nas ruas, armados só com pedras, com as tropas genocidas do exército israelense, massas cercadas e entregues a cada passo por Arafat e a OLP.

Os acordos contrarrevolucionários de Oslo, impostos em 1993, tiveram o objetivo de submeter a Intifada e impedir

que essa persistente resistência acabasse por transformar-se em revolução aberta. Conseguiram impor às massas palestinas sob a base do triunfo contrarrevolucionário conquistado pelas potências imperialistas com a derrota militar e a destruição do Iraque com os bombardeios na guerra do Golfo em 1991, que foi um duro golpe assentado às massas palestinas e à luta antiimperialista dos trabalhadores e dos explorados de todo Oriente Médio.

Ainda assim, esse triunfo contrarrevolucionário não foi suficiente para esmagar a luta da classe operária e do povo palestino, mas sim para submeter sua heroica resistência e permitir que Arafat e a burguesia nacional palestina impusessem os acordos de Oslo sobre a base de promessas demagógicas acerca de um futuro “estado palestino”, entregando expressamente a bandeira histórica da luta pela destruição do Estado de Israel e por uma Palestina laica, democrática e não racista, reconhecendo ao Estado de Israel e aceitando transformar-se em gendarme e carcereiro de seu próprio povo.

Assim se impôs a farsa dos “territórios autônomos” controlados por Arafat e a polícia palestina. A presença imperialista direta no Oriente Médio, o estado gendarme de Israel, as burguesias síria e jordana que submetem o povo palestino no Líbano e Jordânia, acrescentou-se um novo mecanismo de coerção contra as massas palestinas: a Autoridade Nacional Palestina e sua polícia, encarregadas de garantir que a classe operária e o povo palestino vivam nesses campos de concentração que são os territórios autônomos, para que pudessem continuar sendo utilizadas como mão de obra escrava pela burguesia sionista, os monopólios imperialistas e as burguesias árabes, e que a própria burguesia palestina ficasse com uma fatia dessa exploração. Esse foi o dispositivo de controle que funcionou até setembro de 2000.

Foi precisamente contra esse dispositivo, motorizadas pelas condições selvagens de superexploração e penúrias inauditas, que se levantou nesse ano a classe operária e os explorados palestinos.

Mas desta vez, não foi uma luta defensiva, de resistência, cercadas pela direção de Arafat, senão que, rompendo o cerco e o controle de Arafat e da OLP, e inclusive do Hamas, Hezbollah e da Jihad, irromperam numa luta ofensiva, uma insurreição espontânea, enfrentando diretamente a burguesia nacional palestina, sua ANP e sua polícia: quer dizer, dando início a uma grandiosa revolução operária e camponesa contra a superexploração dos trabalhadores e do povo na Palestina e no Líbano, e anticolonial, tomando em suas mãos a luta pela destruição do Estado sionista-fascista de Israel.

A primeira fase da revolução se iniciou em maio de 2000, não na Palestina mas no sul do Líbano. Ali se levantaram os trabalhadores e o povo palestino dos acamamentos de refugiados, derrotando e desarmando as milícias cristãs – aliadas e agentes de Israel –, se armaram e obrigaram o exército sionista a fugir em debandada e humilhado, ficando o sul do Líbano sob seu controle.

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No final do mês de setembro desse ano, a revolução irrompe abertamente nos próprios territórios autônomos, com uma insurreição espontânea, com uma greve geral indefinida, com enfrentamentos nas ruas contra a polícia de Arafat, nos quais os trabalhadores e os explorados acabaram assaltando e tomando as delegacias palestinas e justiçando os agentes de inteligência do sionismo, dividindo a polícia, pegando as armas e colocando em pé suas milícias dos acampamentos.

Foi uma insurreição espontânea das massas q u e p a s s o u p o r c i m a d a s d i r e ç õ e s contrarrevolucionárias e destruiu os acordos de Oslo, suas instituições e seus mecanismos de coerção, dividiu a burguesia sionista arredor de como enfrentar e derrotar as massas, e fez ressurgir com força a luta antiimperialista das massas de Oriente Médio, que o imperialismo tinha conseguido tirar da cena desde a guerra do Golfo. No entanto, sem um plano organizado, sem objetivos claros e sem uma direção revolucionária na sua frente, a classe operária e os explorados não conseguiram fazer-se do poder, que voltou para as mãos da burguesia.

Mas, frente ao antigo aparato estatal e suas instituições destruídas, as massas estabeleceram seu próprio poder de fato nos acampamentos e cidades palestinas – o das massas armadas e suas milícias – dando lugar ao surgimento de uma situação de duplo poder. Poderíamos dizer, fazendo uma analogia – com todos os limites que isso implica – que se tratou de uma revolução de tipo “fevereiro” (pela revolução de fevereiro de 1917 na Rússia), no sentido de uma insurreição espontânea, que destruiu o poder do inimigo sem conseguir tomar o poder, e instaura um regime de duplo poder.

Assim, a grandiosa revolução palestina iniciada em 2000, irrompe desde o começo encabeçada pela classe operária acaudilhando os camponeses e o conjunto da nação oprimida, e ao deixar destruídos os acordos de Oslo, seus mecanismos de coerção da ANP e sua banda de homens armados que eram o dique de contenção do enfrentamento com o Estado de Israel, retoma imediatamente e num patamar superior a luta pela libertação nacional contra o usurpador sionista e por essa via, contra o imperialismo.

A revolução palestina concentra dessa maneira a tarefa democrático-revolucionária e antiimperialista da libertação nacional, com as tarefas da revolução contra a própria burguesia, com a classe operária acaudilhando os camponeses pobres e o povo pobre.

Precisamente porque se trata de uma grandiosa revolução operária e camponesa, a primeira grande revolução do século XXI, é que, inevitavelmente provocou no outro polo, a contrarrevolução que adquiriu a forma de uma verdadeira guerra de extermínio. Todas as correntes liquidacionista e centristas que usurpam as bandeiras da IV Internacional e que tentam ocultar essa grandiosa revolução falando de uma nova “Intifada”, como se fosse uma luta de resistência, defensiva, hoje não podem explicar o por que de semelhante ofensiva contrarrevolucionária e guerra de extermínio lançada por Israel e o imperialismo. Ao negar a revolução são incapazes de explicar que o estado sionista e o imperialismo deveram lançar a ofensiva contrarrevolucionária atual precisamente porque Arafat e a OLP se demonstraram incapazes de frear as massas e estrangular desde dentro sua revolução.

Hoje, essa tem enfrentado um momento decisivo, em sua fase de guerra civil e nacional da classe operária e do povo palestino, ao qual Israel e o imperialismo responderam com uma brutal ofensiva militar contrarrevolucionária para tentar

esmagá-la. Para derrotar esta ofensiva, é necessário armar todos os trabalhadores e o povo palestino, centralizar as milícias dos acampamentos e colocar em pé uma só revolução e guerra nacional palestina nos territórios da Palestina, Líbano e Jordânia.

Para Arafat e a burguesia nacional palestina – igualmente a burguesia árabe e o resto dos países muçulmanos da Ásia e África – são incapazes de levar adiante estas tarefas; de levar a luta nacional até a vitória, posto que isso significaria colocar em perigo não só a dominação imperialista e do estado de Israel, senão que também sua própria propriedade privada e seu domínio como sócias menores do imperialismo.

Por isso, para derrotar a contraofensiva do Estado de Israel e do imperialismo, é preciso derrotar a política das direções nacionalistas burguesas e pequeno-burguesas, romper toda subordinação a burguesia do Líbano e da Jordânia, e conquistar uma direção proletária da guerra, a única que terá as mãos livres para organizar as enormes forças dos trabalhadores e dos explorados na Palestina e em toda a região, para atacar os interesses imperialistas e das burguesias árabes, e para chamar os trabalhadores e os povos oprimidos de toda a região e levantar-se em uma só luta contra o Estado de Israel e o imperialismo.

Só com uma direção proletária da guerra – quer dizer, sob a direção da classe operária acaudilhando os camponeses e o conjunto da nação oprimida – poderá se garantir a derrota militar do Estado de Israel, sua destruição e a conquista de um estado palestino laico, democrático e não racista em todo o território histórico da Palestina onde possam conviver pacificamente os trabalhadores e camponeses de qualquer etnia e religião, o que só pode conseguir-se sob um governo operário e camponês das massas palestinas autoorganizadas e armadas.

O CARÁTER INTERNACIONAL DA REVOLUÇÃO PALESTINA

O estado sionista-fascista de Israel é o dispositivo contrarrevolucionário, o gendarme central das potências imperialistas em todo Oriente Médio. Foi criado não só para expulsar de sua terra, dividir e explorar a classe operária e o povo palestino, senão como enclave imperialista para garantir a submissão dos trabalhadores e dos povos oprimidos de toda a região, e dessa maneira, o controle por parte das potências imperialistas das enormes reservas e das rotas do petróleo, e em particular, do imperialismo ianque como potência dominante. Por isso, a tarefa da destruição desse estado enclave do imperialismo é uma tarefa não só da classe operária e do povo palestino, senão que do proletariado e dos explorados do

A burguesia palestina da OLP reconhecendo oestado de Israel nos acordos de Oslo de 1993

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5O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Oriente Médio e dos países árabes e muçulmanos da África e da Ásia.

A heroica revolução da classe operária e do povo palestino empurra a luta antiimperialista das massas exploradas de toda a região, contra o imperialismo e o Estado de Israel. Milhões de explorados do Líbano, Jordânia, Egito, Iraque, Líbia, Tunísia, Marrocos, etc., ganham as ruas exigindo armas para defender a revolução palestina, que se abram as fronteiras para irem combater, que se rompam as relações com Israel e se ataquem seus interesses e os do imperialismo. Desde o início da revolução palestina, da mesma maneira que perante a guerra contra Afeganistão, e hoje perante o choque direto da revolução e da contrarrevolução na Palestina, os trabalhadores e os explorados da região lutam por unir suas fileiras em uma só luta contra o imperialismo e o Estado de Israel. Mas, esse combate se choca a cada passo com a política das respectivas burguesias nacionais, sócias menores do imperialismo, que correram, encabeçadas pela arquireacionária burguesia saudita, a apoiar o plano contrarrevolucionário de “dois estados” da ONU para salvar o sionismo e garantir a escravização das massas palestinas e do Oriente Médio.

É assim que a revolução palestina, ao empurrar a luta antiimperialista das massas no Oriente Médio, empurra ao mesmo tempo o enfrentamento direto da classe operária desses países contra os capachos das burguesias árabes e seus regimes e governos. Quer dizer, que coloca a seu interior a transformação da luta antiimperialista em revolução social contra as burguesias nacionais, o seu derrotamento e a expropriação do imperialismo e da burguesia nativa, e a imposição de governos operários-camponeses.

O problema nacional palestino e a libertação dessa classe operária da exploração, resolve-se então não só na Palestina, senão em todo o Oriente Médio, na luta revolucionária das massas contra o imperialismo, por expulsá-lo da região e expropriá-lo, pela destruição do Estado de Israel, e por derrotar e expropriar as burguesias lacaias, impondo governos operários-camponeses em todos os países da região, no caminho de uma Federação de Repúblicas Operário-Camponesas do Oriente Médio.

A classe operária e o povo palestino fazem parte dos mais de 1500 milhões de trabalhadores e camponeses dos países árabes e muçulmanos que, desde o Norte da África até o Cáucaso e a Ásia Central, vivem sobre um território que conta com as maiores reservas de petróleo e gás do planeta, mas afundados na mais abjeta miséria e superexploração por parte do imperialismo e das burguesias nativas. Por trás do problema religioso do islamismo, se oculta a existência no Oriente Médio e na Ásia Central, de uma classe operária terrivelmente superexplorada, migrante, com operários que se trasladam país por país para trabalhar nas jazidas petroleiras e nas refinarias dos monopólios imperialistas e de seus sócios menores das burguesias árabes, vivendo em condições infra-humanas nos acampamentos, rodeados por mercenários armados até os dentes, por tropas dos exércitos das burguesias nativas ou diretamente pelas tropas imperialistas, como na Arábia Saudita. Isso é o que negam e tentam ocultar os liquidacionistas renegados do trotskismo que, com o argumento de que o islamismo seria reacionário e retrógrado, se negaram a apoiar a nação afegã oprimida frente a guerra de colonização do imperialismo anglo-ianque, como fez o LPP do Paquistão, e condenaram, por serem is lamistas , os mil ic ianos antiimperialistas que foram combater no Afeganistão, que eram precisamente esses operários migrantes e também os camponeses superexplorados.

O triunfo da revolução e da guerra civil dos trabalhadores e do povo palestino daria um enorme impulso a luta antiimperialista da classe operária e os camponeses dos países árabes e muçulmanos, e colocaria imediatamente em questão o controle das rotas do petróleo por parte do imperialismo, a presença de suas tropas e bases militares na região, e a ocupação do Afeganistão. Daria um enorme impulso a luta do povo checheno contra a opressão da grande burguesia russa, sócia menor dos monopólios imperialistas no saque das riquezas petroleiras e de gás do Cáucaso, a dos trabalhadores e explorados muçulmanos das ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central como Turcomenistão, Cazaquistão, Uzbequistão, onde o imperialismo ianque ficou com o petróleo e o gás após seu triunfo no Afeganistão. Ou seja, daria um grande impulso às massas muçulmanas dos ex-estados operários em liquidação contra a opressão da grande burguesia russa, de suas próprias burguesias, e contra a ofensiva das potências imperialistas por colonizar os antigos estados operários, o que colocaria na ordem do dia a luta pela derrota das burguesias restauracionistas, e pela restauração da ditadura do proletariado sob formas revolucionárias.

AS TAREFAS ANTIIMPERIALISTAS DA CLASSE OPERÁRIA DAS POTÊNCIAS IMPERIALISTAS FRENTE A REVOLUÇÃO E A GUERRA CIVIL E

NACIONAL PALESTINA

Mas, a tarefa da destruição do Estado de Israel é também uma tarefa fundamental da classe operária das potências imperialistas, que são as que o criaram, o sustentam e financiam como seu gendarme. Se a revolução palestina e a luta antiimperialista das massas da região é derrotada, serão as burguesias imperialistas ianque e europeias, que se fortalecerão para passar o ataque contra suas próprias classes operárias, em um nível superior aos que já aconteceram após o triunfo imperialista na guerra dos Balcãs, ou mais recentemente contra Afeganistão.(...)

Por isso, é de vida ou morte, então, para a classe operária das potências imperialistas europeias e dos Estados Unidos tomar em suas mãos a luta pelo triunfo da classe operária e do povo palestino e pela derrota militar do exército sionista genocida, isto é, pela destruição do Estado de Israel. É de vida ou morte tomar em suas mãos as tarefas antiimperialistas, cujo primeiro dever é o de enfrentar a sua própria burguesia imperialista e apoiar efetiva e ativamente a luta pela libertação nacional dos trabalhadores das colônias e semicolônias. Como diz o Programa de Transição: “Será dever do proletariado internacional ajudar os países oprimidos em sua guerra contra os opressores (...) A derrota de todo governo imperialista na luta (...) contra um país colonial é o mal menor. Os operários dos países imperialistas, no entanto, não podem ajudar a um país antiimperialista a través de seus próprios governos, sejam quais forem as relações diplomáticas e militares entre os dois países em um dado momento. Se os governos se encontram em uma aliança temporal, e pela essência mesma da questão, incerta, o proletariado do país imperialista segue permanecendo em uma oposição de classe perante seu governo, e sustenta ao 'aliado' não imperialista através de seus próprios métodos, quer dizer, pelos métodos da luta de classes internacional”. Esse é o único caminho verdadeiramente anticapitalista para a classe operária das potências imperialistas: não se pode ser anticapitalista, se não se é antiimperialista; ou seja, se não se

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enfrenta, em primeira instância, a suas próprias burguesias imperialistas. Se continuarem pelo caminho que lhes marcam as burocracias sindicais, os socialdemocratas, stalinistas, Verdes, e também os renegados do trotskismo que os chamam a apoiar a política de “paz no Oriente Médio, dois estados e intervenção da ONU”, a classe operária das potências imperialistas ficarão novamente atadas a suas próprias burguesias, e essas estarão em melhores condições para passar o ataque contra suas conquistas, com privatizações, flexibilização e demissões massivas, como as que se preparam na Europa e no Japão.

Por isso, enfrentar a sua própria burguesia imperialista significa uma guerra sem quartel contra a aristocracia e as burocracias operárias dos Estados Unidos e das potências europeias – contra a burocracia sindical da AFL-CIO norte-americana, da TUC inglesa, da CGT e da CFDT francesas, da CGIL e demais centrais italianas, da burocracia dos sindicatos alemães, contra a socialdemocracia e o stalinismo –, agentes de suas próprias burguesias imperialistas e defensoras de suas aventuras colonialistas e de rapina, posto que vivem das migalhas dos superlucros que essas obtêm da superexploração dos trabalhadores das colônias e das semicolônias.

Por isso, nós trotskistas, lutamos – seguindo a gloriosa tradição da III Internacional de Lenin e Trotsky, e da IV Internacional – para que a classe operária das potências europeias tome em suas mãos suas tarefas antiimperialistas, ou seja, em primeiro lugar para que unifique suas fileiras com os milhões de trabalhadores imigrantes árabes e muçulmanos provenientes do Oriente Médio, do Norte da África e da Ásia, que são tratados como párias nos países europeus da mesma

forma que o são seus irmãos de classe na Palestina. Para isso, lutamos para que levantem as demandas dos trabalhadores imigrantes e tomem em suas mãos, ativamente, a luta pelo triunfo da classe operária e o povo palestino, e pela derrota militar do Estado de Israel e seu exército genocida, enfrentando o plano contrarrevolucionário dos “dois estados” da ONU, e às aristocracias e burocracias operárias, aos socialdemocratas, aos stalinistas, às direções burguesas e pequeno-burguesas do movimento globalifóbico – e também aos pablistas renegados do trotskismo – que as apoiam. Da mesma maneira, lutamos para que a classe operária dos Estados Unidos retome o caminho da luta antiimperialista contra a guerra de Vietnã, detendo as perseguições aos trabalhadores de origem árabe e muçulmana, rompendo com a burocracia sindical da AFL-CIO que apoia a Bush em sua “guerra contra o terrorismo” enquanto deixa passar as milhões de demissões e a mais brutal flexibilização contra os trabalhadores norte-americanos.

Lutamos porque os trabalhadores das potências imperialistas sustentem a classe operária e o povo palestino “por seus próprios métodos” – como diz o Programa de Transição –, quer dizer, lutando por deter desde o interior das potências imperialistas a maquinaria de guerra de seu estado gendarme de Israel, paralisando mediante a greve, o boicote, a mobilização e os piquetes, todo envio de armas e mantimentos necessários para vencer. Lutamos para que o proletariado dos países imperialistas retome a tradição internacionalista da guerra civil e da revolução espanhola, tomando em suas mãos a tarefa de convocar e organizar brigadas de operários internacionalistas prontos para ir combater na Palestina.

Publicamos a seguir “Párias em sua própria terra”, artigo que foi reproduzido pela primeira vez no Boletim de Informações Operárias Internacionais Nº 1 – Segunda Época de novembro do ano 2000, mas que depois foi ampliado e publicado em sua versão definitiva no Suplemento Especial de Democracia Obrera Número 34, de janeiro de 2009. Esse artigo, então, foi finalizado em sua versão definitiva quando a questão palestina novamente voltava a colocar-se no centro do cenário mundial após o massacre do sionismo, comandado pelo açougueiro imperialista Obama, na denominada operação Chumbo Fundido.O seguinte artigo constitui uma versão e explicação desde o ponto de vista histórico da instalação do estado sionista-fascista de Israel ocupando a nação palestina e confinando seu povo nos campos de concentração de Gaza e Cisjordânia. É um artigo para contribuir na compreensão do papel do estado de Israel como gendarme do imperialismo na região e desmascarar o mito da suposta “terra prometida” e “nação judaica sem estado” que “teria direitos bíblicos para instalar-se na Palestina”, que não são mais do que enganações para justificar a existência e o acionar do estado sionista como “porta-aviões” do imperialismo na terra palestina para assegurar as rotas de petróleo e manter submetidas as massas exploradas da região.

Janeiro de 2009

OS TRABALHADORES E O POVO PALESTINO SOB A BOTA DO IMPERIALISMO E DO ESTADO SIONISTA-FASCISTA DE ISRAEL

PÁRIAS NA SUA PRÓPRIA TERRA

Sessenta anos de massacres e tentativas de extermínio pelas mãos do Estado sionista-fascista de Israel; sessenta anos de luta indomável da classe operária e do povo palestino pela libertação de sua nação ocupada

alestina foi até a metade do século XX uma Pcolônia inglesa. Mas quando o imperialismo inglês entrou em sua etapa de decadência e

começou a retirar-se de parte de seus domínios após a segunda guerra mundial, o comando passou para as mãos do imperialismo ianque. Mas ao contrário de mantê-la como protetorado, as potências imperialistas, encabeçadas pelos EUA, idearam a criação do Estado de Israel, encobrindo dessa maneira – com o manto “humanitário” de dar terra para uma suposta “nação judaica” que a teria perdido – o estabelecimento de um dispositivo militar, uma cunha para controlar as massas oprimidas do Oriente Médio e do Magreb (Norte da África) – que começavam um processo de luta revolucionária para libertar suas nações da colonização britânica e francesa – e ao mesmo tempo, assegurar o acesso e o controle das rotas do

petróleo.“Sinto que o presidente (dos Estados Unidos, NdeR)

será o novo Moisés que fará nascer o menino de Israel no deserto” (1), declarava um homem do congresso norte-americano ao sair de uma reunião com o presidente ianque.

O “novo e democrático Moisés”, o imperialismo

ianque, sustentava e sustenta econômica e militarmente a

constituição e permanência do Estado sionista-fascista de

Israel. Só nesse financiamento se baseia o mito do “milagre”

israelense. Para sua criação e sustentação, o imperialismo

apoiou-se e apoia-se no sionismo que é um movimento político

dirigido pela burguesia financeira de origem judaica, a mesma

que, no sionismo que é um movimento político dirigido pela

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7O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

burguesia financeira de origem judaica, a mesma que, como o magnata Rothschild, não duvidou em financiar o estado fascista alemão a meados do século XX.

O sionismo, surgido na Europa no final do século XIX detrás da bandeira de “um povo sem terra para uma terra sem povo” e escolhendo a Palestina sobre a base das “tradições bíblicas”, foi apoiado desde um primeiro momento pela grande burguesia financeira judaica. Essa impulsionava o estabelecimento de uma “pátria” para seus “irmãos” na Palestina porque temia que a corrente de emigração das massas judaicas, produto da fome e da miséria, desde a Europa Oriental até a Ocidental, produzissem uma onda antissemita que voltasse contra si. Ao mesmo tempo, a burguesia sionista enxergava nesta saída uma maneira de afastar essas massas pobres e despossuídas da influência e agitação revolucionárias.

O sionismo foi assim um fenômeno oposto ao dos trabalhadores e intelectuais europeus de origem judaica que abraçaram a causa da classe operária, que foram parte das lutas revolucionárias na Europa e como tais, caíram sob o fascismo e desenvolveram gestos heroicos como o de gueto de Varsóvia.

A burguesia sionista que tinha se apoiado inicialmente no imperialismo britânico (o “Moisés anterior”), consciente de que esse, ainda que vitorioso, tinha saído enfraquecido da II Guerra Mundial, vai em busca de seu “novo Moisés”, o imperialismo norte-americano que, a sangue e fogo, cira o Estado sionista-fascista, racista de Israel, impondo esse enclave imperialista armado até os dentes como gendarme na região, e concretizando a mentira sionista de “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Porque de nenhuma maneira a Palestina era “uma terra sem povo”. Por isso, para concretizar a criação do enclave sionista, era necessário expulsar a maioria dos palestinos e expropriar seus bens. “Quando ocupemos a terra... expropriaremos pouco a pouco a propriedade privada nos Estados que nos outorguem. Tentaremos desanimar a população pobre afastando-a além da fronteira, procurando emprego para ela nos países intermédios e negando-lhe qualquer emprego em nosso país... tanto o processo de expropriação quanto de eliminação dos pobres deverá levar-se adiante discretamente e com circunspecção.” Declarava Theodor Herzl, um dos fundadores do sionismo.

No dia 29 de novembro de 1947 se “legitima” a partição da Palestina e o estabelecimento do Estado israelense por meio da votação da ONU – um verdadeiro ministério de colônias do imperialismo; a mesma ONU que aprovou o ataque ao Iraque em 1991, ao Kossovo e à Sérvia, e ao Afeganistão em 2001; a mesma ONU que sustentou a invasão inglesa nas Malvinas, a

que encobre a ocupação no Haiti e sua transformação em um protetorado ianque, e a que cobre com um manto de “unidade da comunidade mundial” a defesa dos interesses de rapina do imperialismo e santifica suas sanguinárias intervenções militares em todo o mundo com o argumento da defesa da “democracia”.

A criação do Estado de Israel contou também com a colaboração da burocracia stalinista que apoiou a partição e ocupação da Palestina. Assim, a traidora burocracia cumpria fi r m e m e n t e n o O r i e n t e M é d i o , c o m o p a c t o contrarrevolucionário de Yalta assinado na saída da II Guerra Mundial com os imperialistas ianques e britânicos.

O extermínio e a expulsão do povo palestino de sua própria nação

Essa resolução e o novo plano de ocupação e estabelecimento de um Estado judaico na Palestina se realizaram sobre a base da terrível derrota sofrida pelas massas palestinas com o esmagamento da heroica insurreição que protagonizaram desde 1936 até 1939 lutando contra o domínio imperialista francês e inglês. Para esmagar esta insurreição, que começou com a greve geral que durou seis meses, o imperialismo utilizou a metade dos efetivos de todo o exército inglês, que nesse momento era um dos mais poderosos do mundo. Milhares de palestinos morreram, detidos e condenados à forca e a prisão.

Mas o povo palestino voltou a levantar-se em 1947, contra a partição e ocupação de sua nação pelo estado sionista. Sucederam-se greves e manifestações de protesto.

Para esmagar e aniquilar a resistência do povo palestino, o “novo Moisés” norte-americano e o sionismo fascista lançaram uma campanha terrorista. “A única solução é uma Palestina, ou pelo menos uma Palestina Ocidental sem árabes. E não tem outro caminho que transferir todos os árabes desde aqui aos países vizinhos, transferi-los todos: nem uma aldeia, nem uma tribo devem ficar.” (3). O plano fascista se aplicou sistematicamente, apelando às matanças massivas aldeia por aldeia, casa por casa, fábrica por fábrica. Como exemplo, no dia 31 de dezembro de 1947, na refinaria de petróleo de Haifa onde vinham se desenvolvendo lutas conjuntas de operários árabes e judeus contra a patronal imperialista, um comando do Irgun (4) jogou bombas e metralhou uma fila de operários árabes que estava na porta da refinaria lutando por trabalho. Centenas de operários foram mortos e feridos.

No dia 9 de abril de 1948, unidades especiais da Haganá (exército “extraoficial” do sionismo) tomaram a aldeia de Deir Yassin, e percorreram casa por casa, jogando granadas dentro delas, e degolando os sobreviventes, exterminaram todos os moradores civis, dos quais a maioria eram mulheres, idosos e crianças.

O líder da organização terrorista sionista Irgun, Manachem Begin, depois primeiro ministro israelense, descrevia assim esse plano de extermínio: “Todas as forças judaicas avançavam através de Haifa como faca na manteiga. Os árabes fugiam em pânico gritando: 'Deir Yassin!'... Esse êxodo massivo logo deve io em uma enlouquecida e incontrolável fuga.”

No dia 14 de maio de 1948, sobre a base do extermínio e da expulsão de milhões de palestinos, era proclamado o Estado de Israel.Tropas fascistas do sionismo na guerra de 1973

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A guerra “árabe-israelense” de 1948-49

Egito, Jordânia, Síria, Iraque e outros países árabes, declararam guerra ao estado de Israel. Ante isso, Estados Unidos, Grão Bretanha, França, com o apoio de seus serventes da burocracia stalinista, acabaram de armar até os dentes o exército sionista.

Para demonstrar sua lealdade ao pacto de Yalta e Potsdam e seu papel contrarrevolucionário, a burocracia stalinista enviou armas e aviões aos sionistas através do intermédio da Checoslováquia. Escrevia-se assim, com sangue palestino, uma das páginas mais obscuras da traição stalinista à revolução mundial. Depois de alguns meses de combate, em 1949 os exércitos convencionais dos países árabes sofriam uma humilhante derrota na guerra que foi chamada de “guerra árabe-israelense”. Como resultado, o Estado de Israel terminava de ocupar o conjunto da nação palestina, salvo uma pequena faixa da Cisjordânia e de Belém que, segundo a resolução da ONU, junto com Jerusalém Oriental, devia ficar sob a jurisdição da covarde burguesia jordana e sua sanguinária monarquia.

É que era impossível derrotar militarmente, em uma guerra de exércitos convencionais, o estado sionista armado e sustentado financeiramente por todas as potências imperialistas. Para ganhar a guerra e impedir a imposição de Israel, era necessário sublevar e armar a classe operária e as massas exploradas – e em primeiro lugar, as massas palestinas refugiadas na Jordânia, Líbano, Síria, etc. – de todo Oriente Médio, do Egito até o Iraque, em uma mesma e única guerra nacional contra o ocupante sionista e seus amos imperialistas. Mas, as covardes burguesias árabes jamais poderiam fazer isso. Como toda burguesia nacional – ou seja, classe proprietária, sócia menor do imperialismo –, as burguesias árabes temiam e temem mais a luta antiimperialista e revolucionária das massas que o imperialismo e seu gendarme sionista, porque sabem que a classe operária e os explorados armados não se limitarão em expulsar e expropriar os imperialistas e o estado sionista, senão que atacarão também sua própria propriedade privada.

Assim, as burguesias árabes davam a primeira de muitas punhaladas pelas costas do povo palestino, e o entregavam no “altar” do sistema capitalista imperialista. E não somente isso, também anexaram as únicas terras que ficavam ao povo palestino: Egito anexou a Faixa de Gaza, e Jordânia, por sua vez, ficou com a Cisjordânia.

A “Nakba” palestina

Assim, com uma verdadeira catástrofe (“Nakba”) contra o povo palestino, se fabricou a “terra sem povo” que conclamava o sionismo. Depois, o estado israelense aplicava a “lei de propriedade das pessoas ausentes”, segundo a qual o palestino que estava “ausente” perdia todas suas propriedades por estarem abandonadas.

Só pelo fato de ser palestino, se perdia o direito de ter propriedades e qualquer outro direito. Esses direitos só estavam reservados pela lei aos habitantes de origem judaica, embora nunca tenham vivido na Palestina até então, e se negava esse direito aos que tinham habitado essas terras por séculos. Converteram assim à classe operária e ao povo palestino em estrangeiros e párias em sua própria terra.

As guerras de 1967 e1973: O estado sionista em busca da terra, água e escravos palestinos

Como enclave imperialista, o Estado sionista-fascista de Israel construiu-se sobre a base da expulsão dos palestinos e

da implantação massiva da população de crença judaica e de convicção sionista transplantada artificialmente desde todos os confins da terra: desde Estados Unidos, Argentina, Alemanha, mas sobre tudo, desde os estados do Leste europeu transformados em estados operários deformados depois da segunda guerra mundial, dos quais afluíram centenas de milhares de burgueses e pequeno-burgueses de crença judaica fugindo da expropriação da burguesia nessas nações. Estes últimos judeus “ashkenazi”, conformam hoje a elite burguesa do estado sionista.

Para abrigar semelhante fluxo de população, o estado necessitava e necessita cada vez mais terra e fontes de água. Da mesma maneira, depois de expulsar ou transformar em párias despossuídos em sua própria terra os palestinos, o estado sionista necessitava dessa população como mão de obra escrava para que trabalhassem em suas fábricas, nas das transnacionais imperialistas e na construção de aquedutos, estradas, etc. e em suas terras.

Para consegui-lo e para afirmar seu papel de gendarme, este enclave imperialista impulsionou uma série de guerras. A primeira, impulsionada de maneira escusa pelo imperialismo britânico e francês, foi em 1956 contra o Egito, no momento que Nasser tinha nacionalizado o Canal de Suez. Ocupou imediatamente a península do Sinai, embora depois se retirou dela uma vez acabada a guerra.

Em 1967, o Estado de Israel lançou, contra o Egito, a chamada “guerra dos seis dias”. Nela, voltou a ocupar a península do Sinai e chegou a 100 Km do Cairo. Acabada a guerra, retrocedeu mas se apropriou da Faixa de Gaza e de sua população de refugiados palestinos assentado nos acampamentos; se apropriou também da Cisjordânia, e tomou o controle de Jerusalém Oriental, assegurando assim milhões de trabalhadores palestinos, que foram explorados como mão de obra escrava. Ao mesmo tempo, se garantiu as fontes de água mais importantes da região, ocupando o território sírio das chamadas Colinas do Golã, e na margem esquerda do rio Jordão que separa a Cisjordânia da Jordânia. O Egito burguês de Annuar Al Sadat tentou, em 1973, recuperar a Faixa de Gaza, na chamada “Guerra do Yom Kippur” (Ano novo judaico). Depois de serem derrotados pelo estado sionista armado até os dentes pelo imperialismo, Sadat acabou sendo o primeiro governante burguês de Oriente Médio a reconhecer o estado sionista-fascista de Israel. Como se isso fosse pouco, mais uma punhalada pelas costas contra o povo palestino e contra a classe operária e os explorados de todo Oriente Médio.

O papel das burguesias árabes nos massacres contra o povo palestino

Para concretizar seu plano, o estado sionista não teve problema em aliar-se com os governos burgueses árabes como os de Egito – como já temos visto –, o Líbano e Jordânia. Ao rei Houssein da Jordânia lhe corresponde ter provocado em setembro de 1970 uma chacina de 20 mil refugiados palestinos enquanto as forças israelenses, com apoio da frota ianque no Mediterrâneo, os bombardeavam.

Em 1982, cerca de 3.000 refugiados palestinos, em sua maioria idosos, mulheres e crianças, foram assassinados nos acampamentos de Sabra e Chatila em Beirute, em um operativo dirigido pelo general sionista Ariel Sharon, naquele momento Ministro de Defesa israelense, comandando a seus aliados, os milicianos falangistas organizados pela fração burguesa da minoria cristã maronita libanesa. Depois desse massacre, o estado sionista ocupou o sul do Líbano até o ano 2000.

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Acordo de Camp David em 1979 de reconhecimento do estado de Israel

9O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

1987-1993: a heroica resistência da “Intifada” e a imposição dos acordos

contrarrevolucionários de Oslo

Massacrados, desterrados, presos em verdadeiros guetos e condenados a viver como párias em sua própria terra, o genocídio do povo palestino é um dos maiores deste século. Mas também, um dos gestos mais heroicos do proletariado internacional é a indomável luta e resistência da classe operária e do povo palestino por libertar sua nação ocupada pelo gendarme sionista.

Sem dúvida, a chamada “Intifada” – guerra das pedras – iniciada em 1986-87, é um de seus episódios mais significativos. Foram quase 7 anos de luta e resistência dos explorados palestinos. Todos os dias, crianças de 8 ou 9 anos, jovens, adultos, mulheres, idosos, se enfrentavam nos acampamentos e guetos palestinos com as tropas do exército sionista. Armados só com pedras, que é a única coisa em abundância nas terras estéreis e desérticas dos “bantustões” que estão confinados.

Novamente ficou claro, na Intifada, o nefasto papel da burguesia nacional palestina, com Arafat e a OLP na cabeça. Primeiro se dedicaram a “glorificar”, do exílio na Tunísia a resistência da Intifada, mas cuidaram muito bem de garantir que as massas continuem desarmadas, e que continuassem tendo só pedras em suas mãos para enfrentar os tanques, os blindados, os fuzis, os mísseis e demais armamentos sofisticados do estado sionista. E depois, quando ainda assim não conseguiram controlar a rebelião das massas que, a cada passo, ameaçavam transformar-se em luta ofensiva e revolucionária, fincaram uma nova e decisiva punhalada pelas costas do povo palestino.

Assim, em 1993 e depois da destruição com bombardeios do Iraque na primeira guerra do Golfo, se impunham os acordos contrarrevolucionários de Oslo, nos quais Arafat e a OLP entregaram a luta histórica pela destruição do estado sionista-fascista de Israel – ou seja, a luta pela libertação palestina –, em troca de ser essa fração da burguesia palestina a encarregada de escravizar o povo palestino nos campos de concentração de Gaza e Cisjordânia, tudo isso apresentado como passos adiante na “conquista” de um “estado

palestino” convivendo com o estado sionista usurpador da terra palestina. Se impunha assim um enorme dispositivo contrarrevolucionário que se somava ao existente gendarme sionista, para estrangular a resistência palestina.

2000-2002: a magnífica revolução das massas palestinas; seu estrangulamento por parte

de Arafat e a OLP, e seu esmagamento nas mãos do exército genocida de Sharon e Bush

Esse pacto contrarrevolucionário de Oslo foi o que as massas palestinas fizeram estourar pelos ares quando em setembro de 2000, iniciaram sua heroica revolução, tomando e ocupando as delegacias da Autoridade Nacional Palestina (ANP) na Cisjordânia, desarmando a sua polícia, armando-se e retomando, por essa via, a luta nacional contra o ocupante sionista.

Essa enorme revolução que deu a luz ao século XXI foi estrangulada desde dentro pela burguesia palestina. Uma nova punhalada pelas costas à luta do povo palestino por sua libertação nacional.

Mas, o que não conseguiram Arafat e companhia com sua política conciliadora com o ocupante sionista e de colaboração de classes, era terminar de desarmar as massas palestinas dos acampamentos que, de fato, tinham estabelecido um regime de duplo poder.

Perante o fracasso de seu agente (a burguesia palestina) em desarmar as massas palestinas, foram o imperialismo ianque e o próprio exército sionista que tomaram em suas mãos essa tarefa.

Em 2002, depois de massacrar no Afeganistão e enquanto se preparava a guerra contra Iraque, o exército genocida de Sharon e Bush entrou a sangue e fogo nas cidades e acampamentos palestinos da Cisjordânia. A resistência dos combatentes dos acampamentos e cidades palestinas foi aguerrida e heroica. Mas, entregues mais uma vez pela burguesia palestina, só tinham fuzis para enfrentar os aviões, os tanques, os mísseis e a maquinaria das tropas genocidas sionistas. Jenin, Hebron e demais cidades palestinas foram reduzidas a escombros, e sob eles ficaram milhares e milhares

de combatentes, mulheres e crianças palestinas, enquanto Arafat e os “ministros” da chamada Autoridade Nacional Palestina ficavam em resguardo em sua “sede de governo” em Ramallah.

O símbolo infame do esmagamento desta heroica revolução é sem d ú v i d a o M u r o d o opróbrio que cercou o campo de concentração da Cisjordânia, construído com cimento provido ao Estado de Israel pela p r ó p r i a b u r g u e s i a palestina e levantando com suas próprias mãos pelos operários palestinos escravos custodiados por soldados fascistas do exército sionista.

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O plano da “Folha de Rota” fracassou pela atolação das tropas ianques nas mãos da

heroica resistência iraquiana

Com as tropas atoladas, as potências imperialistas, o estado sionista, junto com Arafat e Al Fatah, começaram a c o l o c a r e m p é o p l a n o p a r a u m n o v o p a c t o contrarrevolucionário: a chamada “Folha de Rota” que aprofundava o plano de impor uma caricatura de “estado palestino” na Cisjordânia e em Gaza, ou seja, em dois campos de concentração sem continuidade territorial, rodeados pelo exército sionista. Esse novo plano – apoiado não só pelos governos imperialistas, senão também, vergonhosamente, pelos renegados do trotskismo do SU (Secretariado Unificado, NdeT) que, com seus “eurodeputados” Krivine e demais, votaram a favor nesse covil de bandidos que é o “parlamento” europeu – terminou fracassando graças a heroica resistência das massas iraquianas que atolaram as tropas ianques.

A última pedra da lápide da “Folha de Rota” a colocou a guerra nacional das massas palestinas e do sul do Líbano que no ano 2006 derrotaram e fizeram fugir o exército sionista genocida.

Fascismo, frente popular e burguesias nativas pechinchando com

o imperialismo

Para impedir que a derrota militar do sionismo no sul do Líbano nas mãos das massas abrisse novamente as portas da revolução palestina, vemos em ação, novamente, a fascismo, a frente popular, e as burguesias nativas “nacionalistas” que pechincham com o imperialismo.

Assim, a partir de 2006-2007 se impôs na Cisjordânia uma administração da frente popular clássica – ou seja, com o imperialismo diretamente por trás – de Al Fatah e Abu Mazen, sustentado pelo Partido Comunista palestino, atuando como carcereiros de seu próprio povo, e pactuando com o estado sionista-fascista.

Por sua vez, em Gaza, para conter a insurreição das massas que derrotaram o Al Fatah em maio-junho de 2007, se impunha uma administração nas mãos do Hamas, ou seja, da outra fração da burguesia palestina que, lançando foguetes e controlando de forma ferrenha as massas, tentam negociar com o imperialismo e seu gendarme sionista para que lhe permitam jogar o mesmo papel de carcereiro do povo palestino que Al Fatah joga na Cisjordânia.

Frente popular na Cisjordânia; administração do campo de concentração nas mãos da burguesia nativa em Gaza, e fascismo – com o estado sionista impondo o bloqueio e cerco total contra Gaza para quebrar por fome as massas palestinas que tinham ousado derrotar e expulsar a burguesia colaboracionista de Al Fatah –; é o que vem atuando na Palestina, preparando o caminho para a atual ofensiva m a s s a c r a d o r a d o s i o n i s m o e p a r a o s p a c t o s contrarrevolucionários que hoje preparam Sarkozy, Mubarak, os aiatolás iranianos, a ONU e Obama que se apressa em ser o sucessor de Bush.

Mas, ainda sob estas terríveis condições, as indomáveis massas palestinas não se deram por vencidas. Assim, em fevereiro de 2008, a classe operária e os explorados palestinos de Gaza, desesperados após dois anos de bloqueio total, se levantaram e jogaram abaixo, com suas próprias mãos, o muro de Rafah, para poder conseguir comida, água, remédios, e para poder unir sua luta com a dos operários e explorados do Egito, que estavam protagonizando, ao mesmo tempo, um verdadeiro auge proletário contra o regime e o governo ditatorial e repressor do lacaio Mubarak.

Mais uma vez, foram as burguesias nacionais as que deram uma punhalada pelas costas. Assim, vimos as tropas do exército burguês de Mubarak junto aos milicianos de Hamas, voltando a levantar, juntos, o muro de Rafah, voltando a garantir o confinamento das massas palestinas dentro da Faixa de Gaza, um verdadeiro campo de concentração a céu aberto, que hoje foi reduzido a escombros pelo ataque genocida de Obama-Bush e o estado sionista-fascista de Israel.

NOTAS:

(1) Máxime Rodison, “Israel, a colonial-Settler State?”,

Monad Press, New York, 1973, página 102.

(2) “The Complete Diaries of Theodor Herzl”, Volume 1,

página 88.

(3) Jon Rothschild, “How the Arabs Where Out of

Palestine”, International Press, Volume 11 Nº 38, New

York, 1973, página 1206.

(4) Irgún: Organização terrorista sionista-fascista cuja

juventude gritava, marchando com camisas marrons…

“Alemanha para Hitler, Itália para Mussolini,

Palestina para nós!” (M. Rodison, “Israel…” Idem,

página 108).Notas citadas por “Revista de América”, Dezembro de 1973.

O atual presidente ianque Obama e o atual primeiro ministro de Israel Netanyahu

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11O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Publicamos a seguir uma polêmica realizada no ano 2001, ao calor da revolução palestina, com um companheiro da Romênia arredor do reconhecimento ou não da suposta “classe operária israelense” e uma “nação judaica” nas terras palestinas. Ela começa com uma carta onde se define que não existe essa tal nação israelense, senão que Israel é um estado gendarme e que a suposta classe operária israelense é uma classe média armada para esmagar os explorados palestinos – a verdadeira classe operária – com métodos de guerra civil, quer dizer, fascista. Esta carta tem um anexo por contra da revisão feita do escrito do marxismo de Abraham Leon “A concepção materialista da questão judaica” arredor do mesmo ponto da suposta “classe operária israelense”.Esta polêmica feita no ano 2001 com o companheiro da Romênia tem valor para polemizar hoje com as dezenas de organizações da esquerda no mundo que querem fazer passar uma podre e reacionária aristocracia operária, construída sobre bases fascistas, como o é o Histadrut, como representante da suposta “classe operária israelense”. Porque a burocracia contrarrevolucionária do Histadrut agrupa forças que, com as armas na mão, combatem a nação e o povo palestino submetido em campos de concentração. Ali está a única e verdadeira classe operária da nação palestina, nos guetos de Gaza e Cisjordânia, com 30% de desemprego, que trabalham como escravos nas transnacionais ianque-sionistas e estão na diáspora, como mão de obra precária, na Jordânia e no Líbano.

13 de Abril de 2001

Carta para um companheiro trotskista da Romênia confundido pelo acionar contrarrevolucionário do sionismo

Estimado camarada:

Abordamos a discussão que temos pendente com você em relação a grandiosa revolução palestina – que após 8 meses de iniciada não foi submetida – e a “questão judaica”. Efetivamente, as diferenças que separam-nos perante esse fato crucial e álgido da luta de classes mundial são profundas. Assim como você manifesta, que da resolução desse fato dependerá o futuro de nossa relação política, posto que, segundo nosso entendimento, e como temos manifestado publicamente e por escrito em diversos materiais, a revolução palestina se transformou numa divisora de águas que separa claramente revisionistas, oportunistas e centristas, dos revolucionários. Ali estão, para confirmá-lo, as correntes oportunistas que usurpam as bandeiras do trotskismo, como a LCR francesa e seu “eurodeputado” Alain Krivine, viajando para Oriente Médio para ajudar a sua própria burguesia imperialista a convencer os palestinos das “bondades” do plano contrarrevolucionário de Clinton de partição definitiva da Palestina e a criação de uma ficção de “estado palestino” ao lado do estado sionista fascista de Israel, que não seria outra coisa que um verdadeiro gueto, um campo de concentração. Assim temos visto ao deputado Altamira e o PO (Partido Obrero de Argentina, NdeT) negar-se a levantar a destruição do Estado de Israel, e ajoelhando-se diretamente ante o sionismo e o plano Clinton, por dar tão só alguns exemplos.

É uma divisora de águas posto que, ou se está pelo triunfo da revolução palestina, pela destruição do estado sionista-fascista de Israel e pela imposição de um Estado Palestino laico, democrático e não racista sob um governo operário e camponês das massas armadas e autoorganizadas; ou bem, já seja feito abertamente ou de forma oculta, se apoia uma ou outra via, pelas posições imperialistas de que existem “duas nações” e aí se acaba aos pés do plano de Clinton e do sionismo. Nós do COTP (CI) [Comitê Organizador do Trotskismo Principista – Quarta Internacional] declaramos uma verdadeira guerra contra todos aqueles que tentam sujar as limpas bandeiras da IV Internacional colocando-as aos pés do sionismo e do imperialismo.

Lamentavelmente, camarada, perante a revolução palestina, é claro que com a posição que enuncia no seu documento fica claro que você do outro lado da divisora de águas, aos pés do sionismo – posição que esperamos firmemente que seja produto da confusão, da nefasta influência da tradição das correntes centristas e oportunistas que se colocaram, há anos, aos pés do sionismo, e que tem levado a IV

Internacional à crise e degeneração, usurpando e sujando suas bandeiras. Por isso, travamos este debate, para aportar e clarificar a discussão, dissipar a nefasta influência do oportunismo e chegar na verdade.

E, diferente das caricaturas da Internacional dois e meia que o PO tenta colocar de pé, fazemos esse debate público, de cara para a vanguarda e ao movimento trotskista internacional, não só no nosso Boletim Interno de Discussão Internacional, senão também em nossos materiais públicos, reproduzindo seus documentos e nossa resposta, que como vê não sob o título de “Correspondência com um centrista da Romênia”, como você diz na sua carta. Nós trotskistas não temos nada para ocultar: se debatemos publicamente com correntes com as quais temos diferenças estratégias totais e de princípios, como é no caso de “En defensa del Marxismo” da Espanha. Como não o faríamos com um camarada como você, com o qual temos dado lutas em comum e com quem temos conquistado importantes acordos estratégicos!

Uma posição que considera o estado sionista-fascista de Israel como um estado-nação a mais de

uma suposta “nação judaica”

O primeiro que chama a atenção no seu documento é que, ao longo de seis páginas dedicadas fundamentalmente à “questão judaica”, você jamais questiona um fato qualitativo: o da criação do Estado sionista fascista de Israel em 1947-48. Como pode falar, no ano 2001, da “questão judaica” sem sequer fazer menção a criação a sangue e fogo do Estado sionista-fascista de Israel, baseado na expulsão do povo palestino de sua terra, do massacre e do esmagamento, do confisco de suas terras e moradias, do boicote aos produtores palestinos, da expulsão do proletariado palestino das fábricas em primeira instância para transformá-lo em um enorme exército industrial de reserva e, depois de alguns anos, reincorporá-lo na produção como mão de obra muito barata, em condição de escravo recuso em guetos e sob um regime de terror fascista!

Como pode falar da “questão judaica” depois de 1948 sem sequer mencionar a ocupação da Palestina por parte de um exército invasor armado até os dentes pelo imperialismo norte-americano, a criação de um estado de caráter particular: um estado artificial, enclave do imperialismo, sustentado economicamente, financeira e militarmente por ele, para que faça seu papel de gendarme na região e resguarde o controle das vitais rotas do petróleo, e para garantir o esmagamento e

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submissão do conjunto do povo palestino e do conjunto dos povos árabes!

Não pronunciar-se a respeito da gênese e do caráter do Estado de Israel, e sobre a questão nacional palestina, e dizer alegremente “estou pela destruição do estado sionista de Israel” é, no mínimo, uma total irresponsabilidade. A criação de dito estado na saída da s e g u n d a g u e r r a m u n d i a l f o i p a r t e d o p a c t o contrarrevolucionário de Yalta e Potsdam. Nesse pacto, a burocracia stalinista contrarrevolucionária jogou o papel de contenção da revolução mundial, impedindo o triunfo da revolução, na saída da guerra nos países imperialistas europeus (França, Itália, Alemanha, Grécia), e comprometendo-se a contê-la no leste da Europa.

A criação do Estado sionista-fascista de Israel como enclave do imperialismo e seu gendarme no Oriente Médio, alimentado com bilhões de dólares por ano pelo imperialismo, transformado em um estado fabricante e exportador de armas, para garantir o esmagamento do povo palestino e o controle da revolução dos povos árabes – com total acordo e apoio da burocracia stalinista – por parte de dito pacto.

Então, camarada, como pode falar hoje, a começos do século XXI, da “questão judaica” por fora disso?! Como se pode continuar discutindo o “problema nacional do povo judeu” sem tomar em conta que a burguesia sionista, apoiada, armada e financiada pelo imperialismo armou há mais de cinquenta anos esse estado gendarme?!

E, no entanto, você nem sequer menciona esses fatos inegáveis da gênese e do caráter do Estado de Israel, e se refere a ele como se fosse um “estado nacional” a mais, porque você parte da definição que teria uma suposta “nação judaica” que teria que morar.. no mesmo território que o povo palestino!!

Você coloca:“Estou pela revolução socialista na Palestina. Apoio criticamente a qualquer levante ou revolução que não seja dirigida por um partido tipo bolchevique-leninista. Estou pela destruição do Estado sionista de Israel. Estou pela livre determinação das nacionalidades. Estou pela união dos proletários de qualquer nacionalidade, para lutar contra o Estado sionista e contra as burguesias de Oriente Médio.” (negrito nosso).

Quando você fala da “livre determinação das nacionalidades”, o que está dizendo é que hoje, no território da Palestina, tem uma “nação judaica” que tem direito a estar nesse território, ao qual a grandiosa revolução palestina em sua luta por expulsar ao invasor e por destruir esse estado gendarme, estaria lesionando seu “direito à livre determinação”. Isso é, nem mais nem menos, que o mito de “Um povo sem terra” sobre a qual se baseia o sionismo!

Toda sua preocupação ao longo de seis páginas é o “direito à livre determinação” da suposta “nação judaica”!

Você, partindo do mito sionista da existência de uma “nação judaica sem terra”, considera o estado sionista fascista de Israel como um estado nacional burguês a mais, e não como o que é, um enclave do imperialismo, como são, por exemplo, as ilhas Malvinas ou Gibraltar. Perguntamos então: Por que não levanta o “direito à autodeterminação” dos kelpers nas Malvinas, os usurpadores imperialistas ingleses que estão ali a um século? Com a posição que você tem perante o Estado sionista-fascista de Israel, a guerra de Malvinas de 1982 deveria ter-se alinhado com sua Majestade e sua frota real, em defesa do “direito de autodeterminação” dos kelpers que os argentinos estariam violando ao ocupar militarmente as ilhas!!

Camarada, sobre esse ponto você tem que pronunciar-se claramente. Senão, é você quem deve demonstrar que Palestina é o território que – por “vontade divina”, por “tradição” ou sei lá qual razão estranha! Corresponderia a suposta “nação judaica” da qual você fala, posição que leva imediatamente a definir que, se tem “duas nações”, uma “judaica” e outra palestina corresponderia então que tenha “dois estados”, isto é, nem mais nem menos, que a posição do Plano Clinton.

Contra essa posição, cabe aqui corretamente colocar a afirmação de Trotsky referindo-se a África do Sul na década de 30 sob o regime britânico e do Apartheid que diz: “... as posições sul-africanas da Grã Britânia constituem um domínio só desde o ponto de vista da minoria branca. Desde o ponto de vista da maioria negra, África do Sul é uma colônia escravizada”.

Da mesma maneira, o Estado de Israel é um “estado nacional” só desde o ponto de vista do imperialismo e do sionismo, que lamentavelmente hoje também é o seu: desde o ponto de vista dos trabalhadores e o povo palestino, Palestina é hoje uma colônia escravizada.

Por essa razão, sua afirmação de que está “pela destruição do estado sionista de Israel”, não significa que está pelo triunfo da insurreição nacional dos trabalhadores e do povo palestino, pela derrota, e pela expulsão do invasor sionista, e pela imposição, sobre as ruínas desse enclave imperialista, de um Estado Palestino laico, democrático e não racista, sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas, o único sob o qual poderão conviver pacificamente os trabalhadores palestinos, judeus e de qualquer religião, questões essas que você não coloca de modo algum.

Estas consignas democrático-revolucionárias de destruição do Estado de Israel e de Palestina laica, democrática e não racista, jogam hoje o mesmo papel de motor da luta revolucionária das massas palestinas que jogou a consigna “República Negra” na África do Sul do Apartheid, o de concentrar a luta pela libertação nacional desse povo. Com certeza que estas consignas devem levantar-se como parte de um programa que se articule com as demandas mais urgentes das massas, com a necessidade de atacar a propriedade privada dos capitalistas, com a luta pelos soviets e pelo armamento do proletariado, e pela luta por um governo operário e camponês.

Mas sua negativa ao levantar estas consignas democrático-revolucionárias, sua afirmação da “unidade dos trabalhadores palestinos e judeus” em geral, sem colocar que a única possibilidade de convivência pacífica dos trabalhadores

Camisa de um soldado sionista “um tiro, dois mortos”

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13O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

de qualquer religião passa pela destruição do Estado de Israel e pela imposição de uma Palestina laica, democrática e não racista sob um governo operário e camponês, sua afirmação da necessidade de uma “revolução socialista na Palestina” em geral, é uma confirmação de que você nega o caráter nacional da revolução palestina e é uma verdadeira bofetada na cara dos heroicos trabalhadores e o povo palestino e de sua atual revolução, como desenvolvemos mais adiante. Isto é assim porque, se você fala de uma suposta “nação judaica”, se você defende seu “direito à autodeterminação”, isso não pode significar mais do que a manutenção do Estado de Israel, embora, reformando-o, tirando seu caráter sionista e confessional e transformando-o em um “estado palestino” nos atuais campos de concentração. Nem mais nem menos que a mesma posição que sustenta o altamirismo e sua internacional dois e meia, uma das correntes mais abertamente pró-sionistas que usurpam as bandeiras do trotskismo! Nem mais nem menos que aposição do Plano Clinton, que do “eurodeputado” Alain Krivine da LCR foi defender fervorosamente no Oriente Médio em nome da IV Internacional!

Assim, você rompe totalmente com a posição revolucionária que a IV Internacional levantava em 1948 frente a criação do Estado de Israel – enfrentando o stalinismo que apoiava sua criação –, que partia justamente da luta contra a divisão e ocupação da Palestina, pela expulsão do imperialismo, suas tropas e seus enviados, pela independência da Palestina, por uma Palestina de caráter nacional árabe: “Abaixo a divisão da Palestina! Por uma Palestina árabe, unida e independente, com plenos direitos de minoria nacional para a comunidade judaica! Abaixo a intervenção imperialista na Palestina! Fora do país todas as tropas estrangeiras, os 'mediadores' e 'observadores' das Nações Unidas! Pelo direito das massas de dispor delas mesmas! Pela eleição de uma Assembleia Constituinte com sufrágio universal e secreto! Pela revolução agrária!” (Quatrième Internationale, Junho de 1948). E o Grupo Trotskista Palestino, denunciando desde o começo o caráter de enclave imperialista do Estado Sionista que se tentava criar, e jamais falando de nenhuma suposta “nação judaica” dizia que “o imperialismo ianque ganhou um agente direto: a burguesia sionista que, por esse fato se tornou completamente dependente do capital americano e da política americana. Daqui em diante o imperialismo ianque terá uma justificativa para intervir militarmente no Levante cada vez que o ache conveniente (...) a consequência inevitável deste guerra será a dependência total do sionismo ao imperialismo norte-americano” (Idem).

Você diz: “me assusta comprovar que em base do acordo sobre a questão palestina e judaica, com uma posição terrivelmente equivocada, se tenha produzido a fusão entre a LOI e o CIOS, e se tenha produzido a aproximação com os camaradas estadunidenses e ucranianos”. Você se assusta com uma fusão revolucionária em base de uma posição revolucionária frente a grandiosa revolução palestina que é total e absolutamente continuidade da posição levantada pela IV Internacional de 1948, mas você não se assusta em nada que, com fundamentos similares aos quais você dá sobre a suposta “nação judaica” ou a “unidade da classe operária judaica e a classe operária palestina” – que rompem absolutamente com aquela posição da IV Internacional –, oportunistas traidores como Krivine passem pelo Oriente Médio exaltando as vantagens do Plano Clinton, o que o legislador Altamira e o PO se coloquem abertamente como a “autêntica esquerda sionista”

Por isso, lhe sugerimos que deixe de ocultar sua capitulação ao sionismo falando da “destruição do Estado sionista de Israel”, e seja coerente: se você considera que hoje

na Palestina existem duas nações e que ambas têm direito ao mesmo território, então sua posição não pode ser outra que a da “Paz”, tem que alinhar-se com o grupo sionista “Paz Agora” e com o grupo sionista altamirista de Israel, para levantar juntos a luta pelos dois estados: um estado judaico democrático e um “estado palestino” coexistindo ao seu lado no qual as massas palestinas teriam a tarefa de fazer uma revolução contra a burguesia nacionalista de Arafat, deixando em paz a burguesia sionista e o imperialismo!!!

Do altamirismo ao morenismo há somente um passo, e no companheiro romeno isso fica claro

Camarada, há menos de um ano você foi desse engendro oportunista que a falácia da Internacional dois e meia de Altamira e do PO pela porta grande, dando uma corretíssima e valente luta pública contra o método dos “acordos internacionais” diplomáticos e sem princípios que são utilizados como cobertura das capitulações nacionais respectivas do PO e dos grupos que compõem essa falácia centrista, contra o cretinismo parlamentar de Altamira e do PO, lutando por uma visão científica e um programa revolucionário para os ex-estados operários em liquidação. Lamentavelmente, hoje, frente a um feito qualitativo como é a revolução palestina, que divide águas e separa o branco do preto – como toda grande revolução – os oportunistas e centristas dos revolucionários, volta para a Internacional dois e meia de Altamira pela janela, levantando para além de alguns matizes, a mesma posição completamente capituladora ao sionismo, ao imperialismo, e ao Plano Clinton.

Mas, você não somente volta como alguém que caminhou em círculos ao ponto de partida do altamirismo, senão que de uma hora para outra se transforma no mais consequente dos morenistas. Vejamos.

A segunda questão que chama poderosamente a atenção no seu documento é que você jamais menciona o imperialismo, nem seu papel na criação e no sustento do Estado sionista fascista de Israel – do que como já explicamos, tampouco diz nada, nem a este último como gendarme e enclave do imperialismo.

Se você considera que o Estado de Israel, criado pelo imperialismo, é mais um estado nacional burguês normal, então o que está dizendo é que o capitalismo, em sua época imperialista pode resolver integra e efetivamente a “questão judaica”, dando a este “povo sem terra” uma nação própria.

Assim, de um só passo, se transforma no mais consequente dos morenistas. Nahuel Moreno revisou precisamente a teoria da revolução permanente, para terminar na sua concepção etapista da “revolução democrática” e levantou precisamente, que as potências imperialistas “democráticas” (EUA, França, Inglaterra), na segunda guerra mundial haviam tido um papel “progressivo”, combatendo ao fascismo e libertando a França e a Itália de sua ocupação. Dizia que Trotsky havia se enganado, que somente havia definido a guerra como uma guerra interimperialista e de agressão ao Estado Operário Russo por sua vez, e não quis ver que era fundamentalmente uma “guerra de regimes” de “democracia contra o fascismo”.

Você é a corroboração viva de que, do altamirismo ao morenismo há somente um passo (ainda que isto deixe loucos os altamiristas que se acham imunizados permanentemente contra o “vírus morenista”). Raciocina com o mesmo método: contra a “solução” do imperialismo alemão, “fascista”, à questão judaica, quer dizer o extermínio físico, o

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imperialismo ianque e o britânico – os imperialismos democráticos triunfantes na guerra –, deram uma saída progressiva, resolveram total e efetivamente a questão judaica, concedendo o status de “nação” e cedendo um território que, ainda que os sionistas o neguem e falem de uma “terra sem povo para um povo sem terra”, estava habitado pela nação palestina, sua legítima dona.

Isto é, você está nos dizendo que, longe de ser reação em toda a linha, o imperialismo pode jogar um papel progressivo!!! É a ruptura total com a teoria leninista do imperialismo que diz “O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, os quais introduzem em todas as partes a tendência à dominação e não à liberdade. Qualquer que seja o regime político, o resultado dessa tendência é a reação em toda a linha e uma intensificação extrema dos antagonismos neste terreno. Se intensificou notavelmente o jugo da opressão nacional e a tendência às anexações não são senão a violação do direito das nações à autodeterminação” (Lenin, O imperialismo fase superior do capitalismo, 1916, negritos nossos).

Ao invés do que afirma Lenin, você, ao considerar o Estado de Israel como um estado nacional burguês a mais, você considera que o imperialismo, com a criação deste estado, rea l izou o d i re i to da supos ta “nação juda ica” à autodeterminação. Esse fato, de partir que o imperialismo jogou um papel progressivo resolvendo a “questão judaica” com a criação do Estado de Israel, é o que faz que você reconheça a suposta “nação judaica”, e os descendentes dos sionistas usurpadores de 1948, o direito burguês de herança, quer dizer que, pelo fato de haver mantido no tempo a custa do mais feroz massacre e opressão sobre o povo palestino, e graças ao sustento das potências imperialistas, você reconhece como um “direito adquirido” de considerar-se uma “nação”!!!

De todas as maneiras, em honra à verdade cabe esclarecer que Nahuel Moreno, a pesar de sua total revisão da teoria-programa da revolução permanente, a favor da teoria semietapista da “revolução democrática”, jamais chegou no caso da questão nacional palestina e da atitude frente ao Estado de Israel a uma posição pró-sionista como a que você está levantando. Moreno levantava a luta pela destruição do estado de Israel e pela imposição de uma Palestina laica, democrática e não racista mas – com sua visão semi-etapista da revolução, com uma primeira etapa de “revolução democrática” – separava estas consignas da luta pela imposição de um governo operário e camponês baseado na auto-organização e no armamento das massas palestinas, e terminava assim capitulando à direção nacionalista burguesa palestina de Arafat e da OLP.

Você camarada, rompe com a tese marxista sobre o imperialismo para passar a visão morenista do “papel progressivo” das potências imperialistas “democráticas”, e rompe também com as resoluções revolucionárias da III Internacional que já dizia em 1920 em suas Teses e adições sobre os problemas nacional e colonial, falando especificamente da Palestina como exemplo para demonstrar que o imperialismo é incapaz de resolver as legitimas demandas das nacionalidades oprimidas: c) A necessidade de explicar infatigavelmente e desmascarar continuamente ante as grandes massas trabalhadoras de todos os países, sobre tudo dos trabalhadores, o engano que as potências imperialistas utilizam sistematicamente, as quais, sob o aspecto de estados politicamente independentes, criam na realidade estados desde

todo ponto de vista subjugados por eles no sentido econômico, financeiro e militar. Como um exemplo flagrante dos enganos praticados contra a classe trabalhadora nos países submetidos pelo esforço combinado do imperialismo dos 'aliados' e da burguesia de tal ou qual nação, podemos citar o assunto dos sionistas na palestina, país no qual, sob o pretexto de criar um estado judaico, ali onde os judeus são uma minoria insignificante, o sionismo livrou à população autóctone dos trabalhadores árabes a exploração da Inglaterra...”. (negritos nossos). Mas, sua ruptura com o marxismo revolucionário do século XX não se detém neste ponto, em seu afã de capitulação ao sionismo. Sua posição de que o imperialismo havia resolvido a “questão judaica” com a criação do Estado de Israel, rompe total e completamente com a teoria-programa da revolução permanente, que parte precisamente de que na época imperialista, as tarefas democráticas e nacionais que a burguesia deixou inconclusas – isto é, o problema agrário e o problema nacional nas colônias e semicolônias, e a “questão judaica” tanto enquanto o assentamento da época imperialista adotou e deixou inconcluso o processo de assimilação dos judeus às classes fundamentais da sociedade capitalista – só podem ser resolvidas pelo triunfo da revolução proletária e pela imposição da ditadura do proletariado. Assim, dizem as teses da dita Teoria: “Teses 2: Com respeito aos países de desenvolvimento burguês atrasado e em particular dos coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a resolução íntegra e efetiva de seus fins democráticos e de sua emancipação nacional tão somente pode conceber por meio da ditadura do proletariado, empunhando este o poder como caudilho da nação oprimida e, antes de tudo de suas massas camponesas.”

E apesar da defesa que pretende fazer de Abraham Leon em seu documento – mal interpretando-o, mudando a cada passo o conteúdo e inclusive a forma do que este diz, ignorando fatos de caráter históricos sucedidos depois que fora assassinado, como é a criação do Estado de Israel em 1948, como demonstramos em art igo a parte –, destrói sistematicamente o principal fundamento da posição marxista revolucionária frente a “questão judaica”: que esta não pode ser resolvida pelo capitalismo em sua etapa imperialista, e que somente pode ser resolvida pela revolução proletária triunfante no terreno mundial. E esta não é somente a posição de Abraham Leon, senão que é a de Lenin, Trotsky e todo o marxismo revolucionário do século XX.

Massacre do sionismo ao povo palestino de Deir Yasin, 1948

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15O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Uma posição que nega o caráter nacional da revolução palestina por sua independência

Você diz que a LOI-CI, ao sustentar que os judeus não são uma nação sustentaria que “por isso, o conflito atual do Oriente Médio não tem nenhum tipo de conotação nacional ou nacionalista”. Isto é completamente falso: isso que você chama o “conflito atual”, quer dizer, a revolução em curso e a grande luta do povo palestino por sua independência e para expulsar o usurpador e destruir o Estado de Israel, é uma luta de libertação nacional desse povo subjugado e colonizado pelo imperialismo e seu gendarme sionista. É você quem nega que há uma única nação na Palestina: os trabalhadores e o povo palestino! Esta heroica luta nacional da única nação que existe ali, a Palestina, é a que você tenta ocultar, enquanto se preocupa pelos “direitos” da suposta “nação judaica”.

E isso fica claro quando, ao longo de seis páginas do seu documento não existe para você o povo palestino, não menciona sua grande luta por sua libertação nacional, não fala de sua heroica revolução atual, não levanta a luta pelo seu triunfo.

Pelo contrario, você nos fala – como citamos mais acima – de que está por uma “revolução socialista na Palestina” em geral. Quer dizer, nos fala de uma revolução que não teria nenhum caráter nacional: Para você, portanto, não se trata de que triunfe a atual insurreição palestina, que destrua o estado sionista-fascista de Israel e imponha sobre suas ruínas um Estado de caráter nacional palestino laico, democrático e não racista – consignas democrático-revolucionárias motoras das lutas das massas palestinas depois de 1948, da mesma maneira que a IV Internacional levantava em 1948 a luta por uma Palestina Árabe, unida e independente – o que, sem dúvida, só pode conseguir sobre um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas.

Você tenta esconder-se falando de “revolução socialista na Palestina” em geral, para negar o caráter nacional palestino da revolução. Por isso, e como já vimos, renega do programa da destruição do Estado de Israel e da imposição de uma Palestina laica, democrática e não racista, uma grande tarefa estrutural antiimperialista que, na Palestina joga o mesmo papel que a luta pela libertação nacional em qualquer país semicolonial ou colonial, da mesma maneira que a consigna de “República Negra” na África do Sul do Apartheid. Assim, dizia Trotsky sobre o caráter nacional da revolução sul-africana: “Nestas condições, a república sul-africana surgirá antes de tudo como 'República Negra'; sem dúvida que isso não exclui a total igualdade para os brancos ou relações fraternais entre ambas raças; dependerá fundamentalmente da conduta que adotem os brancos, mais é obvio que a maioria predominante da população, libertada de sua dependência escravizadora, colocará seu traço no estado.

Dado que uma revolução vitoriosa mudará radicalmente não somente a relação de forças entre as classes senão que também a relação entre as raças e garantirá aos negros o lugar que lhes corresponde no estado de acordo ao seu número, a revolução social terá na África do Sul também um caráter nacional”. (Trotsky, Teses Sul-africanas, 20 de abril de 1935, negrito nosso). Da mesma maneira, a revolução social na Palestina tem um caráter nacional, posto que uma revolução vitoriosa, destruindo o estado sionista-fascista de Israel, garantirá aos trabalhadores e ao povo palestino – libertado de sua dependência escravista – o local que lhes corresponde em um estado de caráter nacional palestino, laico, democrático e não racista, que inclua a “total igualdade ou relações fraternais” com os trabalhadores judeus, cristãos ou de qualquer religião, o

qual dependerá fundamentalmente da conduta que estes últimos adotem.

Com certeza que, com dizemos no nosso BIOI Nº 1, Segunda Época, as consignas de destruição do Estado de Israel, e a imposição de um Estado Palestino laico, democrático e não racista devem levantar-se como parte de um “programa que articule junto com as demandas dos trabalhadores e as massas contra a miséria, o desemprego e seus padecimentos inauditos, com as consignas que ataquem a propriedade privada dos monopólios imperialistas e da própria burguesia palestina, o desenvolvimento dos Conselhos Operários e das milícias operárias e a necessidade de um governo operário e camponês. Se as massas se mobilizam e lutam por esse programa identificarão cada vez mais esse Estado Palestino laico, democrático e não racista com a república operária”.

Mas, da mesma forma como dizia Trotsky para África do Sul, hoje na Palestina “(...) Deixar de lado ou enfraquecer as consignas nacionais para não chocar com os chauvinistas brancos nas fileiras da classe trabalhadora – neste caso, com a suposta “classe operária judaica de Israel” – seria, com certeza, um oportunismo criminal. As teses colocam de maneira admirável que esses 'socialistas' que lutam pelos privilégios dos brancos temos que assinalá-los como os maiores inimigos da revolução” (Idem, negrito nosso).

Você, camarada, lamentavelmente, hoje, perante a revolução Palestina, tem escolhido, por agora – e, acreditamos nós que confundido, e por isso o chamamos para a reflexão – a trincheira equivocada: se colocou do lado desses “socialistas” que, como Krivine, como Altamira e seu grupo em Israel, defendem os privilégios dos sionistas; ou seja, tem-se colocado na trincheira dos maiores inimigos dessa grandiosa revolução.

A suposta “classe operária israelense”: uma camada arrogante e privilegiada de aristocracia

operária sionista, aliada ao imperialismo e à burguesia sionista e sustento de

um estado fascista

Queremos aclarar que, de par te nossa, foi completamente de propósito que colocamos nas nossas declarações que a única classe operária que existe hoje no Estado sionista-fascista de Israel é a classe operária palestina: sabíamos que era a única forma de deixar ao nu todos os pró-sionistas que usurpam as bandeiras da IV Internacional – inclusive aqueles que quiseram ocultar sua capitulação ao sionismo falando em geral sobre a “destruição do Estado de Israel” –, que iam colocar o grito no céu imediatamente em defesa dos direitos da suposta “classe operária israelense”.

Mas, vejamos então o que é essa suposta “classe operária israelense” da qual você fala. A suposta “classe operária judaica” do Estado sionista-fascista de Israel, não é senão uma camada arrogante e privilegiada de aristocratas operários sionistas, aliados ao imperialismo e à burguesia sionista, comprados e pagos com os superlucros que a burguesia sionista e os monopólios imperialistas obtêm com a superexploração da classe operária palestina, e das colônias e semicolônias, para que sustentem e defendam o Estado de Israel e sua burguesia para que estes possam cumprir seu papel de gendarmes do imperialismo na região.

Sua posição de falar em geral de uma suposta “classe operária israelense” nega o leninismo de A a Z, posto que, segundo sabemos os revolucionários, a classe operária não é uma classe homogênea, senão que a chegada da época imperialista produz o surgimento da aristocracia e da burocracia operária nas fileiras do proletariado. Assim, diz Lenin:

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“... o monopólio dá superlucros, quer dizer, um excesso de lucros por cima dos normais, acostumados, do capitalismo em todo o mundo. Os capitalistas podem gastar uma parte desses superlucros (inclusive uma parte não pequena) para corromper seus operários, criando algo assim como uma aliança (...) dos operários de um país com seus capitalistas contra os demais países (...) por uma parte, a tendência da burguesia e dos oportunistas em converterem um punhado de nações mais ricas, mais privilegiadas, nos eternos parasitas sobre o corpo do restante da humanidade, a dormir 'sobre os louros' da exploração dos negros, dos índios, etc., os mantendo sujeitos por meio do militarismo moderno, provido de uma magnífica técnica destrutora.

Por outra parte, a tendência das massas, que são mais oprimidas do que antes, que suportam todos os martírios das guerras imperialistas; tendência a jogar sobre seus ombros esse jugo, a derrubar a burguesia. A história do movimento operário se desenvolverá agora inevitavelmente na luta entre estas tendências. Porque a primeira tendência não é o resultado do acaso, senão que tem um 'fundamento econômico' (...) O mais importante é que tem maturado e se tem produzido a separação econômica de um setor da aristocracia operária para a burguesia. Esse fato econômico, esta mutação na relação entre as classes encontrará sem especial 'dificuldade' uma ou outra forma política.” (V. I. Lenin, O Imperialismo e a Cisão do Socialismo, 1916). Esse fato econômico encontrou ao longo do século XX, sua expressão política no surgimento dos partidos operários contrarrevolucionários, primeiro na socialdemocracia, depois no stalinismo, e também nas correntes centristas e oportunistas que se adaptam a eles, e por essa via, à aristocracia operária.

A criação fictícia, a sangue e fogo, do Estado sionista-fascista de Israel, implicou a compra dessa camada de aristocratas operários sionistas privilegiados, para atuarem junto à pequena burguesia sionista, como força de choque contra o proletariado palestino. Por isso, a qualificação que fazemos do Estado sionista de Israel como “fascista” – sobre a que você não se pronuncia nem faz menção –, não é uma qualificação sentimental, ditada pelo horror dos massacres, do genocídio, da reclusão dos palestinos em guetos e campos de concentração, de sua redução à escravidão e ao apartheid, senão que é uma caraterização científica: é um estado criado artificialmente sobre a base da utilização – por parte do capital financeiro imperialista e da grande burguesia sionista –, da pequena-burguesia sionista (dentre ela, os colonos judeus

fascistas) e a aristocracia operária (organizada nos sindicatos fascistas como é a Histadrut) como força de choque para esmagar a classe operária e o povo palestino.

A suposta “classe operária israelense” que você tão arduamente define, não tem nada que invejar da aristocracia operária branca na África do Sul do apartheid. Assim dizia Leon Trotsky: “o proletariado do país está constituído por párias negros atrasados, e por uma privilegiada, arrogante, casta de brancos. Aqui reside a principal dificuldade (...) O pior crime de parte dos revolucionários seria fazer a menor concessão aos privilégios e preconceitos dos brancos. Quem entregue embora o dedo mindinho ao demônio do chauvinismo, está perdido.” (Sobre as Teses sul-africanas – à seção sul-africana, 10/04/1935).

Da mesma maneira, hoje na Palestina o que tem é um proletariado constituído por párias palestinos reduzidos a escravatura, e uma privilegiada e arrogante casta de aristocracia operária sionista comprada pelo imperialismo e pela burguesia. Nestas circunstâncias, pregar a “unidade” da classe operária em geral significa fazer conceder tudo aos privilégios e preconceitos dessa aristocracia operária sionista, significa dar-lhe não o dedo mindinho, senão o braço completo ao demônio do chauvinismo, que, lamentavelmente, é o que você está fazendo hoje com a posição que sustenta no seu documento.

Uma política para submeter a classe operária e o povo palestino revolucionários à aristocracia

operária sionista que sustenta o Estado de Israel, ou um programa revolucionário para impulsionar o

surgimento dos soviets e do armamento do proletariado e para preparar a insurreição triunfante

do proletariado e do povo palestino?

Do seu documento, camarada – como já temos citado –, parece deduzir-se que você apoiaria (embora criticamente por não estar dirigida por um partido tipo bolchevique-leninista) a revolução palestina hoje em curso. Mas, como sabe todo revolucionário sério, não basta declarar o apoio geral perante uma revolução: nós trotskistas levantamos um programa revolucionário e uma estratégia para que o proletariado e os oprimidos possam levá-la ao triunfo.

E aqui está o problema mais sério com você, camarada, posto que todo o “programa” que você levanta perante essa grandiosa revolução se limita a generalidade de “revolução socialista na Palestina, destruição do Estado sionista de Israel e unidade dos trabalhadores palestinos com os judeus”. Isso não é

sério, camarada! Diga quando, perante qual revolução, o trotskismo e a IV Internacional se limitaram a levantar semelhante caricatura de “programa revolucionário”! É você quem tem que demostrar que o trotskismo interveio com um “programa” da “revolução socialista e unidade” em geral na revolução chinesa de 1925-27, na revolução espanhola de 1931-1936, na revolução francesa, na Alemanha, etc.!

Fica claro que, não nos cansaremos de repetir, a revolução palest ina – como toda grande revolução – divide águas, posto que o que define quem é revolucionário e quem não, é o programa que se levanta perante a revolução.

Intifada Palestina

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17O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Contra sua caricatura de “programa revolucionário”, os trotskistas principistas do COTP (CI) escrevemos que na Palestina os trabalhadores e o povo iniciaram uma revolução que definimos como de tipo “fevereiro”: isto é, uma insurreição revolucionária espontânea e imatura das massas que, sobrepesando suas direções desestabilizaram e quebraram as instituições e mecanismo de coerção (do Estado de Israel e seu exército, à própria ANP e sua polícia palestina), mas, sem um plano organizado, sem objetivos claros, e sem uma direção revolucionária na sua frente, as massas não conseguiram fazer-se do poder; embora sim constituíram seu próprio poder nos acampamentos e cidades palestinas, que não são mais do que as massas armadas que as controlam com suas milícias, estabelecendo uma situação de duplo poder. “Nos territórios autônomos a legalidade revolucionária choca com a legalidade política e constitucional”, se vê obrigado a reconhecer inclusive um jornal burguês imperialista como Le Monde (edição em espanhol, março de 2001).

Por isso, para que os trabalhadores e o povo palestino possam levar até o final, o seu trinfo, esta grande revolução, a chave da política e do programa dos revolucionários deve ser a luta por impulsionar e estender os organismos de duplo poder, de democracia direta das massas, e seu armamento. A chave é lutar por fortalecer esse duplo poder colocando em pé comitês operários e camponeses nos acampamentos – verdadeiros soviets –, por estender e fortalecer as milícias dos acampamentos transformando-as nas verdadeiras milícias operárias, em Gaza, na Cisjordânia, e também no Líbano e na Jordânia onde moram a maioria do povo palestino. Esse é o caminho para levar até o final a revolução que iniciou para conquistar sua independência expulsando o invasor, recuperando suas terras, suas casas, acabar com o massacre, o desemprego, a miséria e a fome, ou seja, o caminho para preparar uma insurreição consciente e organizada que destrua o Estado sionista fascista de Israel e imponha um estado palestino laico, democrático e não racista, sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas, autoorganizadas e armadas, para isso precisam ter na sua frente um partido revolucionário quartainternacionalista que enfrente às direções nacionalistas burguesas como as de Arafat, Hamas, Hezbollah, etc.

Mas, sua caricatura de programa, camarada, não diz uma palavra da luta pelos soviets. Nós estamos com Leon Trotsky, que colocara com clareza que aquele que perante o inicio de uma revolução não coloque no centro do programa a luta pelos soviets e o armamento do proletariado, é um traidor aos interesses da classe operária! Todas as direções nacionalistas burguesas que as massas palestinas têm a sua frente, são inimigas declaradas do duplo poder, da auto-organização das massas palestinas, de que estas levem até o final a revolução que iniciaram, posto que isso significa não só a destruição do Estado de Israel, a expropriação da burguesia sionista e dos monopólios imperialistas, senão também o ataque à propriedade privada da própria burguesia palestina e uma ameaça às burguesias árabes da região. Da auto-organização das massas e de seu armamento é também inimigo acérrimo – com certeza! – o sionismo, e também essa casta privilegiada de aristocratas operários sionistas que você denomina “classe operária judaica” e a qual chama a classe operária e o povo palestino a submeter-se.

Não existe tampouco em sua caricatura de “programa” a luta pelo armamento do proletariado palestino, camarada, quando os trabalhadores e o povo palestinos já se armaram – assaltando as delegacias palestinas, roubando-as do próprio exército israelense –, e

estabeleceram um duplo poder de fato com suas milícias dos acampamentos. O único que impede hoje que as massas façam uso das armas que já têm e que colocam em pé verdadeiras milícias operárias e camponesas para preparar a insurreição, são as direções nacionalistas burguesas de Al Fatah, Hezbollah, Hamas, etc., que querem continuar obrigando-as a lutar com pedras contra o quinto exército mais poderoso do mundo armado e financiado pelo imperialismo, enquanto utilizam o método do terrorismo individual como mecanismo de pressão e chantagem para que as burguesias árabes, os xeiques e os aiatolás – exploradores e opressores da classe operária e dos povos árabes – possam pechinchar em melhores condições com o imperialismo sua fatia da renda petroleira.

Por isso, para enfrentar essas direções nacionalistas burguesas, para desmascará-las perante os olhos dos trabalhadores e das massas palestinas, tem que lutar pela dissolução e o desarmamento da polícia palestinas – braço armado de Arafat e da burguesia árabe – e pelo confisco de suas armas em favor das milícias dos acampamentos; é preciso lutar por essas milícias operárias e camponesas. A todo miliciano do Al Fatah, do Tanzim, do Hamas, do Hezbollah é preciso exigir que, se diz apoiar a revolução e luta por seu triunfo, se diz lutar por destruir o Estado de Israel, se coloque imediatamente a serviço de estender e organizar as milícias operárias nas cidades e acampamentos palestinos, submetendo-se e disciplinando-se aos organismo de autodeterminação dos operários e camponeses. Assim, se negam-se a fazer isso, ficará claro perante os olhos das massas que estão a serviço da burguesia nacional palestina, cúmplice do Estado de Israel, e as massas não demorarão em fazer correr a sorte que merecem os colaboracionistas.

A chave então perante a revolução palestina, é levantar um programa revolucionário para impulsionar o surgimento dos soviets e o armamento do proletariado, lutando no seio dos organismos de democracia direta das massas por derrotar as direções nacionalistas burguesas e pequeno-burguesas que tentam impedir que essas avancem por esse caminho, e por ganhar a direção da classe operária e das massas para preparar a insurreição que destrua o Estado de Israel e imponha um estado palestino laico, democrático e não racista sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas, baseado em sua auto-organização e armamento, no caminho da conquista de uma Federação de Republicas Operário-Camponesas do Oriente Médio.

E você, camarada, que diz apoiar a revolução em curso, não diz nada disso, levanta uma caricatura de programa e se limita a colocar, uma e outra vez, a necessidade da “unidade dos trabalhadores palestinos com os trabalhadores judeus”.

Chegando neste ponto, é necessário dizer com clareza: a suposta “unidade da classe operária judaica com os trabalhadores palestinos” da que você fala, não é outra coisa do que a total e completa submissão da classe operária e do povo palestino insurretos a essa casta arrogante e privilegiada de aristocratas operários sionistas defensores do imperialismo, da burguesia sionista e de seu estado gendarme do imperialismo. E isso é assim porque para que se realize a dita “unidade” que você prega, precisa uma condição: que a classe operária e o povo palestino renuncie a sua luta histórica por sua independência, pela destruição do Estado de Israel, por uma Palestina laica, democrática e não racista e por um governo operário e camponês das massas palestinas, e reconheçam o “direito à autodeterminação” da suposta “nação judaica”, seu “direito” a usurpar o território palestino, quer dizer, que reconheçam o Estado de Israel.

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Isso é: A mesma posição de Arafat e da OLP, do sionismo e do imperialismo; a mesma posição que foi a base da imposição dos acordos contrarrevolucionários de Oslo contra os quais se insurrecionaram as massas palestinas e que com sua revolução, fizeram voar pelos ares!

A posição dos trotskistas principistas é diametralmente oposta a sua, e é continuidade do que colocava Leon Trotsky para África do Sul na década de 30: “O partido revolucionário tem que colocar para todo operário branco a seguinte alternativa: ou com o imperialismo britânico e a burguesia branca da África do Sul, ou com os trabalhadores e camponeses negros contra os senhores feudais e escravistas brancos e seus agentes nas fileiras da classe operária”.

Da mesma maneira, hoje na Palestina, para os trotskistas principistas do COTP, reconhecemos um único “direito” a essa casta arrogante de aristocratas operários sionistas: Passar imediatamente com armas e bagagens para as fileiras da classe operária e do povo palestino, ir nos guetos e campos de concentração de Gaza e Cisjordânia e colocar-se na primeira linha de combate para atirar contra sua própria burguesia sionista, para lutar e morrer pela destruição do Estado sionista fascista de Israel, pelo triunfo da insurreição palestina, pela independência da Palestina e por um estado palestino laico, democrático e não racista sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas. É a única forma revolucionária de colocar a unidade! Só assim é possível a unidade, só assim os trabalhadores e jovens judeus que abracem a causa da revolução palestina encontrarão um lugar nos comitês operários e camponeses e nas milícias operárias!

Sua visão, camarada, é uma posição completamente pacifista, que nega que toda revolução implica uma guerra civil não só contra a burguesia, senão ao interior do próprio proletariado, contra a aristocracia e a burocracia operária, agentes da burguesia no movimento operário.

Assim já o colocava a III Internacional: “Um dos maiores obstáculos para o movimento operário revolucionário nos países capitalistas mais desenvolvidos deriva do fato que, graças às possessões coloniais e à mais-valia obtida pelo capital financeiro, a burguesia conseguiu criar uma pequena aristocracia operária relativamente importante e estável. Esta se beneficia obtendo melhores retribuições e por isso, possui um estreito espírito corporativo, preconceitos capitalistas e pequeno-burgueses. Constitui o verdadeiro apoio social da Segunda Internacional, dos reformistas e centristas e no momento atual, o principal ponto de apoio da burguesia dentro do movimento operário. Não é possível uma preparação prévia

do proletariado para derrubar a burguesia sem uma luta direta, sistemática, prolongada, declarada, aberta, contra essa pequena minoria que, sem dúvida nenhuma, (como ficou demonstrado a experiência), dará muitos de seus membros para a guarda branca da burguesia depois da vitória do proletariado”. (As tarefas principais da Internacional Comunista, julho de 1920).

Por isso, a luta revolucionária da classe operária e do povo palestino pela destruição do Estado sionista-fascista de Israel, por colocar em pé os soviets e as milícias operárias e para preparar a insurreição inclui uma “luta direta, sistemática, prolongada, declarada, aberta”, uma verdadeira guerra civil também contra essa aristocracia operária e essa burocracia operária fascista da Histadrut, que deu já muitos de seus membros para a guarda branca

da burguesia sionista do Estado de Israel e do imperialismo, cujos “direitos” você defende com tanto afinco e a que você chama submeter-se a grande maioria dos párias sem direito nenhum que são os trabalhadores e explorados palestinos.

Você nega assim uma das tarefas centrais do proletariado para avançar para o triunfo da revolução socialista: a derrota da aristocracia e burocracia operária. Renega, de fato, do Programa de Transição que inclui como parte do programa para a revolução política na URSS que “É necessário expulsar dos soviets à aristocracia e à burocracia operária”. Trotsky respondia assim as objeções que fazia um militante em uma carta: “Meu correspondente – como já disse – considera que os critérios no tocante à burocracia e à aristocracia são incorretos, mal definidos, posto que conduziriam a exclusão a priori de dezenas de milhões” (no caso da suposta “classe operária israelense”, segundo sua visão, nossa posição conduziria para a exclusão a priori algumas centenas de milhares de “operários judeus”). Precisamente nisso reside o erro central do autor da carta. Não é uma questão de uma definição constitucional que se aplica sobre a base de qualificações jurídicas permanentes, senão da auto definição real dos campos em luta. Os soviets só podem surgir no curso de uma luta decisiva. Serão criados por aquelas camadas de trabalhadores que sejam arrastados ao movimento. A importância dos soviets consiste precisamente no fato de que sua composição não se determina por critérios formais, senão que pela dinâmica da luta de classes. Certas camadas da aristocracia soviética vacilaram entre o campo dos operários revolucionários e o campo da burocracia. Que essas camadas entrem nos soviets e em que momento, dependerá do desenvolvimento geral da luta e da atitude que os diferentes grupos da aristocracia soviética adotem nesta luta. Aqueles elementos da burocracia e da aristocracia que, no curso da revolução, passem ao lado dos insurretos, também encontrarão indubitavelmente um lugar nos soviets. Mas, desta vez não como burocratas e aristocratas, senão como participantes no levantamento contra a burocracia.” (Discussões sobre o Programa de Transição, “É necessário expulsar dos soviets à burocracia e à aristocracia” 04/07/1938).

Da mesma maneira, e salvando todas as distâncias da analogia, hoje na Palestina não se pode falar da “união dos proletários de qualquer nacionalidade” em geral, como faz você para tentar esconder sua defesa dos privilégios da aristocracia operária sionista, senão que a única possibilidade de unidade entre o proletariado e os explorados palestinos que estão protagonizando a revolução, e algum setor dessa aristocracia operária sionista, dependerá da “auto definição real dos

Gaza bombardeada pelo sionismo em 2014

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campos de luta” e da atitude que esta adote perante a revolução. Os elementos que, no desenrolar da revolução, passem para o lado dos insurretos – a classe operária e o povo palestino – encontrarão um lugar no combate e nos soviets e nas milícias já não como aristocratas operários sionistas senão como participantes da insurreição palestina pela destruição do estado de Israel. Pela negativa, os que fiquem defendendo o imperialismo e o estado sionista-fascista, deverão ser tratados sem nenhuma contemplação como inimigos do proletariado e do povo palestino.

Você diz “apoiar” a revolução dos trabalhadores e do povo palestino, mas em seu documento não existe a palavra “ insu r re i ção” , nem a necess idade de p repa rá - l a conscientemente. Hoje, quando o imperialismo e a burguesia sionista com Sharon na cabeça, lançou uma tentativa kornilovista para esmagar a revolução palestina, com a entrada dos tanques israelenses e as máquinas que destroem os acampamentos palestinos, com os bombardeios recorrentes, quando as milícias palestinas dos acampamentos os enfrentam, e assim começou a guerra civil aberta, continuar falando da “unidade dos trabalhadores palestinos” em geral, configura uma traição. Na guerra civil as trincheiras são claras: todo operário e jovem judeu que quisesse apoiar a revolução palestina hoje o único caminho que tem é o de desertar do campo sionista, ir aos acampamentos palestinos, integrar-se à milícia e combater contra o Estado de Israel e seu exército, por sua destruição e pelo triunfo da insurreição palestina.

E o mesmo vale para você camarada. Perante a guerra civil, acabou seu tempo: ou se coloca já, incondicionalmente, na trincheira dos trabalhadores e do povo palestino, ou ficará na outra trincheira, a dos inimigos mortais dessa revolução, e então, o que até aqui pode ter sido, da sua parte, produto da confusão, da infecção das capitulações do oportunismo ao sionismo, de cinquenta anos de crise e degenerescência da IV Internacional, se transformará em traição aberta e consciente aos interesses históricos do proletariado mundial, em sua própria “travessia do Rubicão”.

UMA POSIÇÃO QUE NEGA QUE A REVOLUÇÃO PALESTINA HOJE É A VANGUARDA DA LUTA REVOLUCIONÁRIA DE TODAS AS MASSAS ÁRABES, CONTRA O ESTADO SIONISTA FASCISTA DE ISRAEL E QUE SE NEGA A LUTAR PELA UNIDADE DAS MASSAS ÁRABES, EM UMA SÓ REVOLUÇÃO CONTRA O IMPERIALISMO, O ESTADO DE ISRAEL E A BURGUESIAS ÁRABES

Como já dissemos, você fala de uma “revolução socialista palestina” em geral, nega o caráter nacional da revolução palestina, nega as tarefas democrático-revolucionárias que são seu motor, etc., e o tempo todo voga pela “união dos trabalhadores palestinos com os judeus”.

Mas, não diz uma palavra – e isto já é um escândalo de capitulação ao sionismo, como ao imperialismo e às burguesia nacionais árabes exploradoras e opressoras – de que a primeira e grande tarefa hoje perante a revolução palestina é a luta pela unidade dos trabalhadores e o povo palestino com as massas exploradas de todas as nações árabes, posto que sua revolução é parte indissolúvel de uma mesma revolução de todas as massas árabes, contra o imperialismo e seu gendarme no Oriente Médio, e contra as burguesias nacionais lacaias e sócias menores do imperialismo na exploração e espoliação de seus povos. Como podem hoje escrever 6 páginas completas sobre a questão nacional no Oriente Médio sem mencionar isso! Como pode pretender “apoiar” a revolução atual sem colocar no centro

do programa revolucionário esta questão, sem lançar o grito de guerra de: “Uma só nação árabe, uma só revolução!!!”

Você, em seu afã de defender o direito de uma suposta “nação judaica” e de sua suposta “classe operária” nega o caráter internacional da revolução palestina. É uma posição completamente nacional-trotskista (e por isso, completamente, antitrotskista) que nega que o Estado de Israel é um enclave do imperialismo que tem o papel de atuar como seu gendarme não só contra o povo palestino, senão contra o conjunto dos povos árabes que nega que a criação de dito estado foi um golpe contrarrevolucionário terrível não só contra o povo palestino, senão contra o conjunto das massas exploradas e oprimidas das nações árabes. É uma posição que nega que essa suposta “classe operária judaica” da que você fala, essa casta arrogante e privilegiada de aristocracia operária sionista, não só em relação a classe operária palestina superexplorada e escravizada , senão também em relação ao conjunto da classe operária das nações semicoloniais árabes.

A luta pela destruição do Estado de Israel e pela expulsão das tropas imperialistas da região é uma tarefa democrático-revolucionária e antiimperialista que motoriza, faz cinquenta anos, não só a luta dos trabalhadores e do povo palestino – tanto na Palestina ocupada quanto nos acampamentos de refugiados da Jordânia e do Líbano, onde hoje se encontra a maioria do povo palestino – senão da classe operária de todas as nações árabes, do Egito, da Síria, do Iraque, do Irã, etc.

E você fala de “revolução socialista na Palestina” em geral e da “união dos trabalhadores palestinos com os judeus”! Mas, camarada, você está milhares de Km atrás das massas iraquianas que por milhões se cadastraram como voluntários para ir lutar na Palestina, das massas iemenitas, egípcias, etc., que por centenas de milhares e por milhões se mobilizaram em apoio da revolução palestina.

E hoje, quando já começou a guerra civil na Palestina, quando faz poucas semanas atrás os açougueiros imperialistas ianques e britânicos, bombardearam novamente o povo iraquiano, quando o imperialismo e o sionismo se preparam para afogar em sangue a revolução palestina, quando milícias dos acampamentos se enfrentam todos os dias com o exército assassino israelense, você, como demonstramos, não só não diz nenhuma palavra da necessidade dos soviets e do armamento generalizado dos trabalhadores e do povo palestino, senão que nem sequer luta pela unidade deles com o conjunto das massas árabes. Quando o que está posto é lutar por colocar em pé verdadeiras milícias operárias, não só nos acampamentos dentro do território da Palestina ocupada, senão também no Líbano, de onde o exército israelense teve que fugir humilhado e onde hoje todo o sul desse país está sob controle das milícias palestinas; acontece o mesmo na Jordânia onde os palestinos são 40% da população; quando está colocado chamar as organizações operárias – muito mais agora quando começou a guerra civil aberta – para que tomem em suas mãos e façam sua a vontade das massas árabes de irem combater na Palestina organizando já milícias operárias internacionais, você se cala e se dedica a pregar... “a união dos trabalhadores palestinos com os judeus”.

Dessa maneira, você se coloca não só aos pés do sionismo e do imperialismo, senão também aos pés de Arafat e das burguesias árabes da região, todas elas sustentadoras do Plano Clinton, posto que elas tremem perante a possibilidade de que a revolução dos trabalhadores e do povo palestino e a guerra civil que começou acabem por transformar-se em guerra revolucionária do conjunto das massas árabes contra o imperialismo e o sionismo, e contra as próprias burguesias

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árabes exploradoras.Sua completa capitulação fica clara perante seu

absoluto silêncio sobre o fato de que a coordenação indispensável para a unidade das massas árabes contra o imperialismo e o Estado sionista-fascista de Israel é a ruptura com as burguesias nacionais árabes exploradoras, sócias menores do imperialismo e cúmplices do estado sionista. Você se nega a lutar para que, no caminho da luta revolucionária pela destruição do Estado sionista-fascista de Israel, pela expulsão do imperialismo, pela conquista de uma Palestina laica, democrática e não racista sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas, a classe operária e os explorados do Egito, do Iraque, do Irã, da Jordânia, do Líbano e de todas as nações árabes, derrotem suas próprias burguesias nacionais, instaurem governos operários e camponeses, no caminho de uma Federação de Repúblicas Operário-Camponesas do Oriente Médio.

E você pretende que as massas palestinas e as massas árabes renunciem a tudo isso... para não ferir o “direito à autodeterminação nacional” da suposta “nação judaica”!

Camarada, nesta altura, fica claro que com a posição que levanta você não está pelo triunfo da atual revolução palestina, que, pelo contrário, você é inimigo dessa grandiosa revolução. E se essa sua posição é produto da incompreensão, produto da infecção do oportunismo que levou a degeneração à IV Internacional, revisando e destruindo sua teoria, sua estratégia e seu programa, colocando-a numa crise que já leva quase meio século, queremos com esse debate duro, mas fraternal, contribuir para que você compreenda até onde o levou sua posição: até a total e absoluta capitulação ao sionismo, ao imperialismo e às burguesias nacionais lacaias do Oriente Médio. Esperamos que esse debate contribua para que você reveja essa posição – logo, posto que o início da guerra civil aberta já não dá mais tempo –, e para que se coloque na trincheira correta, do lado do programa revolucionário do trotskismo principista.

FORA AS MÃOS DOS ALTAMIRISTAS, MORENISTAS, MANDELISTAS, E DE TODOS OS REVISIONISTAS E OPORTUNISTAS DA IV INTERNACIONAL E DO HEROICO POVO PALESTINO!

Você diz no seu documento. “É uma pena que tudo isso se produza em uma corrente trotskista que sustente que é defensora do trotskismo principista. Outros são pelo menos mais honestos, dizem: 'somos morenistas', ou 'somos

posadistas', e pelo menos assumem eles (por meio de seu 'guru') a responsabilidade. Mas vocês fazem responsáveis a Leon Trotsky e Abraham Leon”. Essa posição sua é uma grande mentira, lavando as mãos, como fazia tempo que não se escutava, dos morenistas, mandelistas, altamiristas – quer dizer, oportunistas e revisionistas usurpadores das bandeiras da IV Internacional – que andam por aí: todos eles, ao contrário do que você diz, se dizem “trotskistas”, falam em nome do trotskismo e da IV Internacional “refundada”, “reconstruída”, etc., e tentam ocultar por trás de suas bandeiras sem manchas as mais nojentas traições e capitulações, como no caso da revolução palestina, ao sionismo e ao imperialismo. Lamentavelmente, hoje você, com sua posição perante a revolução palestina, começou a caminhar sobre suas próprias pegadas.

Fica claríssimo que, como toda grande revolução, a revolução palestina tem a virtude de despejar a poeira, limpar o panorama, dividir águas e mostrar quem é quem entre os que falam em nome da IV Internacional e do trotskismo em todo o planeta. Mostra claramente que Alain Krivine e a LCR, o deputado Altamira, o PO e sua caricatura de internacional dois e meia, o PTS da Argentina que fala – como você – do “direito à autodeterminação” em geral; outros que tentam argumentos mais excêntricos como o de falar da “unidade” entre os “hebreu-falantes” e os “árabe-falantes” para tentar enfiar pela janela a mesma política de “unidade com a classe operária israelense”, todos tem a mesma posição: se alinharam com o sionismo em defesa do Estado de Israel e do plano imperialista dos “dois estados”, contra a heroica revolução dos trabalhadores e do povo palestino por sua independência, por destruir o estado sionista-fascista, por expulsar o imperialismo e conquistar um estado palestino laico, democrático e não racista sob um governo operário e camponês das massas palestinas insurretas, como um passo no caminho de uma Federação de Repúblicas Operário-Camponesas do Oriente Médio.

Sua posição, camarada, como temos demonstrado, rompe absolutamente com a Teoria-programa da revolução permanente, com as resoluções revolucionárias da IV Internacional de 1948 – antes que o câncer pablista e centrista a fizesse estourar –, rompe com a teoria leninista sobre o imperialismo e rompe também com Abraham Leon. Resulta que não deixa pedra sobre pedra do marxismo revolucionário, e coloca você, infelizmente, do lado dos Krivine e dos Altamira, aos pés do sionismo.

Claro que, perante essa situação, os acordos principistas que tínhamos começado a conseguir arredor da luta contra as caricaturas de internacionais dois e meia, contra o

cretinismo parlamentário e da tarefa da luta pela restauração da ditadura do proletariado sob formas revolucionárias são a garantia para selecionar os que não traíram o proletariado na hora da tormenta – como dizíamos, citando Lenin, em nossa luta em comum contra Altamira e sua Internacional dois e meia – , senão, e fundamentalmente, é própria revolução, perante a qual se provam hoje as teorias, os p r o g r a m a s e t a m b é m a qualidade dos revolucionários, e que delimita e separa o preto do branco, os centristas e oportunistas traidores dos revolucionários. Por isso, Líder de Hamas Mashaal abraçando o aiatolá iraniano Khamenei

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nossa luta hoje é por um reagrupamento internacional de todos aqueles que reivindicando-se do trotskismo levantam um programa revolucionário para a grande revolução palestina – além das diferenças históricas ou atuais que tenhamos em outros terrenos –, para golpear como um só punho em todo o planeta pelo triunfo da revolução, e para impedir que as limpas bandeiras da IV Internacional se misturem com as traições nojentas dos Krivine, dos Altamira e todos os oportunistas lacaios do sionismo e do Plano Clinton, essa questão é de vida o morte para a IV Internacional.

Acreditamos companheiro que, infelizmente, no último ano que passou desde que déssemos juntos uma corretíssima luta contra a caricatura de Internacional dois e meia de Altamira e do PO, você preferiu não ir até o final na luta pelo reagrupamento internacional do trotskismo principista, senão, pelo contrário, manteve sua “independência”, sendo “cortejado” por todo o mundo, não assumir compromisso nenhum de forma categórica com estratégia e o programa revolucionários.

Lamentavelmente, acreditamos que está começando a atuar sobre você a mesma lei que atuou nos últimos dez anos sobre grupos que surgiam tentando resistir aos aspectos mais direitistas e ao revisionismo exacerbado das correntes centristas usurpadoras do trotskismo das que provinham e que estouraram ao calor dos acontecimentos de 1989. Quer dizer que está atuando sobre você a lei que marca estes grupos resistentes

dispersos e isolados, que no primeiro momento tendem a ir para a esquerda, por não avançar até o final pelo caminho do trotskismo principista, da luta por um reagrupamento internacional do mesmo e do combate pela regeneração e refundação da IV Internacional, acabam voltando a girar à direita e degenerando eles mesmos. Este é o perigo que hoje se desenvolve sobre você, companheiro. Esta duríssima polêmica e discussão faz parte de uma luta infatigável para impedir isso.

Hoje, no marco do agravamento da situação mundial, da tendência mais aberta ao enfrentamento entre revolução e contrarrevolução, você está perante uma verdadeira encruzilhada, uma alternativa de ferro: ou continua priorizando sua “independência” (que, em última instância, não é mais do que ter “permissão” para se “independente”... do marxismo revolucionário), dedica-se a tomar um pouco de cada um que corteja você e acaba, como hoje perante a grandiosa revolução palestina, novamente na lama do altamirismo, do morenismo, ou de qualquer outra variante oportunista ou centrista, aos pés do sionismo, das direções traidoras e dos regimes burgueses, ou entra decididamente à luta ativa e impiedosa contra o revisionismo e o oportunismo de todo tipo, por um reagrupamento internacional do trotskismo principista que permita centralizadamente e como um só punho em todo o planeta, como um passo no caminho da regeneração e refundação da IV Internacional sobre bases principistas.

ANEXO:

FORA AS MÃOS DE ABRAHAM LEON!EM DEFESA DE SEUS ESCRITOS REVOLUCIONÁRIOS SOBRE A “QUESTÃO JUDAICA”!

Você está no seu direito de não coincidir com nossa posição; inclusive está em seu direito de levantar a posição escandalosamente pró-sionista que levanta. O que não tem direito é a falsificar as posições de Abraham Leon para fazer-lhe dizer o contrário do que ele afirma, e tentar assim que ele apareça como defensor de suas próprias posições capituladoras ao sionismo e ao imperialismo!!!

UMA CONFUSÃO, UMA PRIMEIRA FALSIFICAÇÃO FLAGRADA

ocê diz na sua carta: “Abraham Leon faz

Vreferência a emigração interna dos judeus na Polônia, das pequenas cidades e

povoados para as grandes cidades; além disso, A. Leon escreve, evidentemente, antes da proclamação do Estado Sionista. No entanto, o mesmo pode dizer-se dos judeus (sionistas) ao emigrar no século XX para Palestina (Israel). Se começam a diferenciar socialmente. Quer dizer, se criará um proletariado judeu em Israel, coisa que vocês negam que existe. Vocês negam que existe um proletariado judeu em Israel. A emigração quase em massa dos judeus para uma grande cidade como é Jerusalém, não acarreta nenhum tipo de diferenciação social? Todos se dedicam ao mesmo? Absurdo”.

Essa sua afirmação, acreditamos que parte de uma grande confusão sua, de sua incompreensão – como já explicamos em nossa resposta – da gênese e do papel do Estado sionista fascista de Israel. Abraham Leon, quando falava da “diferenciação social do povo-classe”, se referia ao surgimento de um setor do proletariado judeu nos países do Leste Europeu, na Rússia e nos Estados Unidos, e a emigração das massas judaicas para as cidades buscando uma vaga na produção sob o impulso das leis intrínsecas do capitalismo, que cria permanentemente um exército

industrial de reserva. Pelo contrário, a “emigração” dos judeus para Palestina, não se deveu às leis próprias do capitalismo: os levaram para ali a burguesia sionista e o imperialismo como parte da política contrarrevolucionaria consciente da ocupação da Palestina, da expulsão dos trabalhadores e do povo palestino e da criação de um estado sionista-fascista artificial como enclave e gendarme do imperialismo. Além disso, Abraham Leon jamais poderia ter-se referido a um suposto “proletariado judaico em Israel”, posto que em 1942, data na qual foi escrita a obra, a ocupação sionista e imperialista da Palestina não se tinha produzido ainda, e não existia, por tanto, o Estado sionista-fascista de Israel.

Até aqui podemos falar da confusão de sua parte, do uso abusivo e i r responsável dos escr i tos revolucionários de Abraham Leon. Mas, camarada, você ainda vai mais longe. Continua dizendo: “Vocês se negam a levantar a consigna da união dos trabalhadores árabes e judeus do Oriente Médio e acusam a qualquer um que tão só reconheça a existência de um proletariado judeu de capitular ao sionismo. E ao mesmo tempo, vocês afirmam que sua posição se deriva do livro de Abraham Leon. Abraham Leon era de outra opinião: 'E quando, amanhã, comecem a cair na Palestina as barreiras nacionais, não há duvida (de) que se operará uma fecunda aproximação entre trabalhadores árabes e judeus, o que produzirá uma fusão parcial ou total, (pág. 173, grifo nosso)”. E dessa afirmação de A. Leon, feita 6

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anos antes da criação do Estado de Israel, quando Palestina era colônia britânica, você infere “Abraham Leon estava pela união dos trabalhadores palestinos com os judeus no (então) futuro estado sionista” (negrito nosso).

Esta já é uma escandalosa e absoluta falsificação de Abraham Leon, que sol ici tamos que ret ire imediatamente. Na citação de Leon que você transcreve, ele referia-se a futura unidade dos trabalhadores árabes – em uma Palestina sob domínio colonial britânico –, com a minoria de trabalhadores judeus em comum e contra o colonialismo inglês, pela independência da Palestina como nação árabe. Para nada referia-se a um “futuro estado sionista”, posto que, como ele mesmo se encarrega de aclarar, considerava muito pouco provável sua instauração “não se pode excluir um sucesso relativo do sionismo no sentido da criação de uma maioria judia na Palestina e inclusive na formação de um 'Estado Judaico', quer dizer, um estado submetido à completa dominação do imperialismo inglês ou norte-americano (...) Supondo inclusive que o sonho sionista se realize e que a 'injustiça secular' seja reparada – e estamos longe disso – em nada se modificará a situação do judaísmo mundial” (pág. 164). Quer dizer, Abraham Leon, apenas seis anos antes da criação do Estado de Israel, o considerava como uma possibilidade remota, e apostava em que a revolução proletária na Palestina por sua independência nacional, contra o imperialismo inglês e contra as tentativas da burguesia sionista de criar um “estado judaico”, conquistasse a unidade da classe operária palestina com a minoria de trabalhadores judeus, e resolvesse o problema com o triunfo da revolução proletária e a instauração da ditadura do proletariado.

Voltamos a insistir, camarada: De onde você tira que Abraham Leon “estava pela união dos trabalhadores palestinos com os judeus no (então) futuro estado sionista”? Solicitamos mais uma vez que retire essa flagrante falsificação!

SEGUNDA FALSIFICAÇÃO

Sua polêmica parte de afirmar que nós continuamos sustentando que hoje, no século XX, os judeus continuam sendo um povo-classe, que – diferente do que afirmava

Abraham Leon – não vemos que a chegada do capitalismo destruiu as condições materiais pré-capitalistas que haviam permitido sua subsistência como tal durante 2000 anos e que, negando o processo de diferenciação social que começasse a sofrer, negamos porém a existência de um proletariado judeu em geral.

É sua vez de demonstrar uma só citação de tudo o que temos escrito onde nós afirmamos isso. Para nós, é claro que o capitalismo, liquidando as relações de produção pré-capitalistas, produziu um processo de diferenciação social ao interior do velho povo-classe. Como de forma brilhante explica Abraham Leon, no século XIX (fundamentalmente na segunda metade), esse começa a diferenciar-se socialmente: surge uma burguesia judia que, na Europa ocidental, tende a assimilar rapidamente, e

surge também um proletariado judeu (sobre tudo na Rússia e nos países do Leste Europeu, sendo inclusive na Polônia a princípios do século XX 25% da classe operária) que tende à unidade com o proletariado não judeu na luta comum contra a burguesia e que nutre as fileiras do movimento revolucionário. Mas, também diz Abraham Leon que a chegada da época imperialista interrompe essa tendência à assimilação – posto que o imperialismo, que é reação em toda a linha, não pode levar até o final nenhuma de suas tendências – e cria a chamada “questão judaica” no século XX, isto é, o drama de enormes massas judias que não encontram um espaço na produção, e que perambulam emigrando em massa, o que explica o surgimento do antissemitismo moderno e dá base ao surgimento do sionismo – o “retorno” para Palestina – primeiro como ideologia da pequena burguesia judia que depois é utilizada pela burguesia sionista e pelo imperialismo britânico e mais tarde pelo norte-americano.

Mas você, camarada, termina polemizando com uma posição falsa, inventada por você, para tentar ocultar que o que você está falsificando é a posição de Abraham Leon. Para isso, tenta fazer-lhe dizer ao próprio Abraham Leon – que foi assassinado em um campo de concentração nazista em 1942, seis anos antes da criação do Estado de Israel – que hoje teria, em Israel, um “proletariado judeu”!!!

1948: Milicianos palestinos

As massas palestinas combatendo contra o invasor sionista

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23O MARXISMO REVOLUCIONÁRIO E A QUESTÃO PALESTINA

Você diz, citando Abraham Leon: “Feito novo e interessante, nasce, pela primeira vez depois de séculos, um proletariado judeu. O povo classe começa a diferenciar-se socialmente.” E você agrega: “o que contradiz a teses, supostamente marxista, da LOI de que em Israel 'Não tem um proletariado judeu'!”.

A discussão estabelecida com você é sobre a existência da suposta “classe operária judia” do Estado sionista-fascista de Israel, e não sobre a existência ou não de um proletariado judeu em geral, sobre tudo nos países do Leste Europeu e na Rússia, onde existiam e existem ainda hoje, amplas camadas de proletariado de origem judaica. Abraham Leon deve estar se retorcendo na cova, ao ver que hoje, mais de cinquenta anos depois de sua morte, tenta-se utilizar a posição revolucionária e a grandiosa obra – uma joia do materialismo histórico –, de um trotskista que nasceu no gueto de Varsóvia e que morreu em um acampamento de concentração nazista, para ter levantado uma posição que justifica ao Estado sionista-fascista de Israel e à camada privilegiada de aristocratas operários sionistas que sustentam esse estado que, faz meio século, mantém os trabalhadores e o povo palestino em verdadeiros guetos e campos de concentração sob um regime de terror que não tem nada que invejar aos impostos por Hitler contra as massas judias e não judias na Alemanha e no Leste Europeu!

TERCEIRA FALSIFICAÇÃO

Você diz: “A. Leon deixou bem claro que, devido à Diáspora, cabe falar mais bem de nacionalidades judaicas e não em singular. A ocupação da Palestina pelo sionismo criará, dizia A. Leon, uma nova nacionalidade judaica, diferente das demais (sefardita, ashkenazi, estadunidense, etc.)”.

Isto já é uma total mentira: pode assinalar onde, em qual página, está isso que você faz Abraham Leon dizer?

O que diz Abraham Leon e que você nega é:

“Porém, nem assimilação nem sionismo? Não tem solução então? Não, não tem solução da questão

judaica no regime capitalista, como tampouco tem so lução a ou t ros problemas que se coloca a humanidade, sem profundas comoções sociais. As mesmas causas que fazem ilusória a emancipação judaica impossibilitam a realização do sionismo. Sem eliminar as causas profundas da questão judaica, não se poderão eliminar seus efeitos”. E mais adiante: “A vida mesma demonstra, p o i s , q u e o p r o b l e m a q u e t ã o agudamente divide o judaísmo: que assimilação ou concentração territorial, só é essencial para os senhores pequeno-burgueses. As massas judaicas não aspiram mais do que o fim do martírio. Isso só o socialismo pode lográ-lo. Mas, também deve dar aos judeus – ao igual que o fará com todos os povos – a possibilidade de assimilar-se e a de ter uma vida social particular” (...)

“O soc ia l ismo, no domín io nacional, não pode proporcionar senão a democracia mais ampla. Deve dar aos judeus a possibilidade de viver uma vida nacional em todos os países que habitem; da mesma maneira, deve dar a possibilidade de que se concentrem em um ou vários territórios, sem ferir, naturalmente, os interesses de seus habitantes. Só a mais ampla democracia proletária pode resolver o problema judaico com o mínimo dos sofrimentos”.

Você está falsificando abertamente a Abraham Leon. Ele fala de que só o socialismo poderá solucionar a questão judaica, colocando às massas judaicas todas as alternativas – assimilação, autonomia, ou inclusive território próprio – e nesse sentido poderia dizer-se que o socialismo poderá criar novas nações. Assim, diz Abraham Leon: “Não se exclui a formação de novas nações formadas pela fusão, ou inclusive pela dispersão, das nações existentes atualmente. Seja como for, neste terrento o socialismo deve limitar-se a 'deixar atuar à natureza'”.

Mas, e como já explicamos, todo isto que diz A. Leon que será tarefa do socialismo, segundo você, já o teria conseguido íntegra e efetivamente o imperialismo com a criação do Estado de Israel na Palestina. Aqui acaba de demonstrar, caso ainda tinha dúvidas, de que você rompe com o marxismo revolucionário do século XX para dar um papel progressivo e redentor ao capitalismo em sua época imperialista, de decadência e agonia do capital e de reação em toda a linha!

Você tergiversa Abraham Leon querendo fazer dizer tudo o contrário ao que efetivamente diz: quer fazer afirmar que a criação a sangue e fogo do Estado sionista-fascista por parte do imperialismo, concentrando uns quatro milhões de judeus no território usurpado dos palestinos, teria dado origem a uma nova “nação judaica” que – tal como já demonstramos no artigo central –, seria para você uma legítima nação com um legitimo direito à autodeterminação de existir sobre a terra roubada dos palestinos. Você quer fazer que Abraham Leon, inimigo mortal do sionismo e do imperialismo, se ajoelhe hoje perante eles do seu lado! Fora as mãos dos defensores do sionismo de Abraham Leon!

Explorados palestinos expulsos de suas terras por impor-se a sangue e fogo o estado sionista

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ENORMES COMBATES DA CLASSE OPERÁRIA MUNDIAL PARA PARAR O MASSACRE EM GAZA

POR UMA INTIFADA INTERNACIONAL

PARA PARAR O MASSACRE AO POVO DE GAZA E ACABAR COM O SINISTRO PLANO DE CONFINAR EM GUETOS À NAÇÃO PALESTINA!

COMITÊS DE APOIO E BRIGADAS DE TODAS

AS ORGANIZAÇÕES OPERÁRIAS PARA

ROMPER O CERCO A GAZA E IMPEDIR UM

NOVO MASSACRE!

AS MASSAS PALESTINAS E DE TODO O ORIENTE MÉDIO

GANHAM AS RUAS PARA ROMPER O CERCO DAS

MASSAS DE GAZA

Da França a Inglaterra, de Nova Iorque a Roma, da Espanha a Alemanha, da Colômbia ao Brasil, de Santiago do Chile ao Paquistão e China, e em todas as capitais do mundo milhões de trabalhadores se sublevam para derrotar o genocídio do Estado sionista-fascista de Israel, sob o comando de Obama, contra a nação palestina

JORDÂNIA

RAMALLAH

MARROCOS

IÊMEN

TÚNIS

SUÉCIA

PARIS

CHICAGO

ALEMANHA