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PLAYBOY - PLAYBOY - PLAYBOY - 66 - 06/03/07 - Composite - SCRIVELLARO - 24/02/07 00:23 - 02_CAD Com 2 km de extensão, a ilha Half Moon abriga uma grande colônia de pingüins da espécie antártica MARES REVOLTOS, PINGÜINS ALOPRADOS, ICEBERGS GIGANTES, MULHERES DE BIQUÍNI. TENDO AMYR KLINK COMO GUIA, PLAYBOY DESVENDA O CONTINENTE GELADO TEXTO E FOTOS LUIZ RIVOIRO COLABOROU CAIO VILELA 12 coisas que você precisa saber antes de ir para a

Doze coisas que você precisa saber antes de ir para a Antártida

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Com 2 km de extensão, a ilha Half Moon abriga uma grande colônia de pingüins da espécie antártica

MARES REVOLTOS, PINGÜINS ALOPRADOS, ICEBERGS GIGANTES, MULHERES DE BIQUÍNI. TENDO AMYR KLINK COMO GUIA, PLAYBOY DESVENDA O CONTINENTE GELADO TEXTO E FOTOS LUIZ RIVOIRO COLABOROU CAIO VILELA

12 coisas que você precisa saber antes de ir para a

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Por que ir tão longe? Simplesmente porque a Antártida é única. Com seus 14,2 milhões de quilômetros quadrados (caso fosse um país, seria o segundo maior do mundo, atrás da Rússia), a Antártida é o mais isolado e

inóspito continente do planeta, tendo 99,6% de seu território coberto por gelo. Navegar ao lado de icebergs de formas e tamanhos variados (alguns com até 40 metros de altura e centenas de metros de comprimento), avistar baleias de espécies como minke, jubarte, fin e orca, caminhar em meio a colônias com milhares de pingüins e sentir na pele o frio cortante trazido pelo vento polar são alguns dos motivos que justificam a viagem. Para os mais românticos, a outra razão é reviver, ainda que em mínima escala, as epopéias de grandes exploradores antárticos como Amundsen, Scott e Shackleton, que no início do século 20 arriscaram (e alguns perderam) o pescoço em busca da glória de ser o primeiro homem a desbravar esse imenso território. Ou ainda relembrar as ousadas expedições do navegador Amyr Klink, um apaixonado pela região (“Talvez eu seja o último romântico a vir para cá...”), que acredita que o turismo responsável seja a única chance de sobrevivência do continente.

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A Antártida vai acabar?Não a curto prazo. Os efeitos da ação do homem e do aquecimento global são mais evidentes no

hemisfério Norte, onde o Ártico corre o risco de der-reter até o final do século. Ainda assim, de acordo com o biólogo Jefferson Simões, veterano de expe-dições ao continente gelado, registros mostram que a temperatura vem subindo de forma acelerada na península, onde concentra-se 95% do turismo. As disputas territoriais foram encerradas pelo Tratado Antártico, que, em 1961, estabeleceu que o conti-nente deveria ter fins pacíficos e científicos. Hoje, há 59 bases científicas de 30 países (incluindo o Brasil). Em 1991, o Protocolo de Madri vetou a exploração de recursos minerais por 50 anos. Depois...

Como chegar lá?O turismo antártico começou de forma épica com pequenos veleiros em 1969. No entanto, nos úl-

timos cinco anos, visitar a Antártida tornou-se relativa-mente fácil para quem tem alguns milhares de dólares no bolso (entre 4 e 8 mil), tempo disponível (mínimo de dez dias) e disposição. Nesta temporada, 20 mil turistas embarcaram em Punta Arenas, no Chile, e Ushuaia, na Argentina, rumo ao extremo sul. Os veleiros particulares (seis a dez pessoas), nos quais o turista paga para viven-ciar os desafios e privações a bordo, continuam a ser uma opção, mas o turismo convencional se populariza a bordo de recauchutados navios de pesquisa de bandeira russa, como o Akademik Shokhalsky (60 passageiros), e embarcações norueguesas com pinta de hotel quatro estrelas, como o Nordnorge e o seu irmão gêmeo, o Nordkapp, que levam até 300 pessoas.

Quando ir? É muito frio?Diferentemente do que muitos pensam, a tem-peratura na península antártica pode ser bastan-

te agradável, com direito a banho de mar na vulcânica ilha Deception. Enquanto o inverno joga o continente na escuridão e os termômetros chegam a 50ºC nega-tivos, no verão (outubro a fevereiro) é comum o Sol brilhar por 20 horas seguidas e a temperatura chegar a 10ºC, com médias em torno dos 5ºC. Mas nem tudo é festa. Não raro, ventos derrubam essa marca em minutos, provocando reviravoltas climáticas, chu-vas e até pequenas nevascas. Outro detalhe: como a Antártida está sob o buraco da camada de ozônio, é alto o risco de queimaduras. Assim, óculos escuros e protetor solar são obrigatórios.

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Bote do tipo Zodiac navega em meio a icebergs na baía Pleneau: rápidos e ágeis, esses barcos fazem o transporte de grupos de no máximo oito turistas até o ponto de desembarque em terra

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Iceberg tabular à deriva no mar de Weddel: o que se vê acima da linha d’água (40 metros) corresponde a apenas 10% do tamanho total do gigantesco bloco de gelo

Como são os navios? Confortáveis e bem equipados. Os navios funcionam como hotéis, com cabines para duas a quatro pessoas, espaço para

bagagem e banheiro com água quente. A comilança típica dos cruzeiros brasileiros é substituída por três refeições diárias com menu diversificado (peixe, crustáceos, carne, massas, saladas, sopas). Para os mais esfomeados, os noruegueses contam com uma cafeteria que oferece bolos e bolachas de graça 24 horas. Mas não espere afetação. Dependendo do humor do chef, pode até mesmo rolar um churrasquinho no deck.

Quanto tempo leva a viagem?Dada a distância (cerca de 800 km ao sul do cabo Horn, a ponta da América) e velocidade (17 a 32 km/h), são necessá-

rios dez dias. E o começo é sempre uma pedreira: atravessar a pas-sagem do Drake (homenagem ao corsário inglês Francis Drake, que a descobriu em 1578), trecho que separa a América da Antártida, e onde o Pacífico e o Atlântico se encontram, bem como correntes marítimas e zonas de diferentes relevos e pressões. O resultado são ondas de quatro a 12 metros de altura e ventos que podem ultrapassar os 150 km/h. A travessia pode levar até dois dias, com conseqüências nefastas para estômagos mais sensíveis.

Dá para ir até o pólo Sul?O roteiro autorizado pela IAATO, entidade internacional que regula o turismo antártico, inclui, com pequenas alterações,

as ilhas Melchior, as baías Pleneau, Dalmann, Paradise e Neko, as ilhas Cuverville, Petermann (ponto mais austral do roteiro, situada em 65o10’S, próxima ao círculo polar Antártico, que fica em 66o33’S), Deception e Half Moon, além de bases científicas como a polonesa Henryk Arctowski (nas ilhas Shetland do Sul) e sítios históricos como Port Lockroy, antigo posto militar britânico que hoje funciona como museu (com direito a uma linda Marylin Monroe pintada na porta pelos solitários militares) e lojinha de souvenirs onde o turista recebe um invejável carimbo no passa-porte. A visita à base brasileira de Comandante Ferraz, também nas Shetland, depende de agendamento e da decisão do líder da expedição. Quando o tempo está bom, é possível avançar até o ponto mais alto de uma viagem ao continente gelado, segundo o navegador Amyr Klink: o mar de Weddel, verdadeira “fábrica” de icebergs tabulares onde o explorador britânico Ernest Shackleton teve seu barco, o Endurance, aprisionado pelo gelo em 1915. Já o pólo Sul, esqueça. Ainda que seja possível voar até a base norte-americana Amundsen-Scott, o fato é que ninguém em sã consciência precisa encarar o deserto mais seco (3% de umidade) e frio (até 82oC negativos) do planeta.

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FOTO [1] CAIO VILELA

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Da esq. para dir., cozinheiros filipinos servem churrasco no deck e passageiros aproveitam happy hour no bar do navio norueguês Nordnorge; em Pendulum Cove, na ilha Deception, turista italiana toma o banho de mar mais frio da sua vida ao encarar água a 5ºC antes de pisar em solo vulcânico e ganhar um certificado por seu ato de coragem

Ossos de baleia na estação polonesa Henryk Arctowski, onde vivem 30 pessoas, nas ilhas Shetland do Sul: trilhas demarcadas, elefantes-marinhos e turistas recebidos com chá e bolachas

Há pingüins tipo Happy Feet?Não. Nas ilhas e na península, onde os navios aportam, os mais comuns são os pequeninos papuas, antárticos e adélias,

que não ultrapassam os 40 centímetros e tampouco cantam ou sapateiam como seus primos imperadores, astros de Hollywood. Entre janeiro e fevereiro, é comum observar casais alimentando os filhotes. Não é permitido tocá-los. O que ninguém conta é que por trás dos rostinhos bonitos, os bichos são bastante fedidos. Por isso, é obrigatório o uso de botas de borracha (fornecidas pela tripulação) para desembarque e desinfecção no retorno a bordo. Após dois dias, no entanto, o barco inteiro já fede a pingüim.

Rola alguma balada a bordo?Nada. O lado social não vai muito além das rodas de ca-fezinho depois das refeições. Com seus laptops e câmeras

digitais, os turistas aproveitam para mostrar e trocar as fotos do dia. Para quem nunca desiste, a dica é escapar para o bar. Cer-veja, whisky, vinho, aquavit (barcos noruegueses) e vodca (russos) são os combustíveis, mas é preciso ficar atento à conta, já que os preços são em euro ou em dólar (uma pint de cerveja não sai por menos de quatro euros). Para equilibrar as finanças, a dica é abastecer a adega em terra. Outro detalhe é que os bares fecham cedo na Antártida, entre 23h e meia-noite. E não tem choro.

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Como é a rotina no navio?A vida começa cedo, entre 7h e 8h, sempre com um in-forme sobre o local onde o barco se encontra. As visitas à

terra (em média duas por dia) são organizadas pela equipe de expedição, composta por guias experientes e especialistas em aves, geologia, história e biologia de diversas nacionalidades. Em clima de escolinha, palestras e comunicados (em inglês e alemão, principalmente, às vezes em espanhol e, raramente, em portu-guês) informam sobre as características do local a ser visitado e as condições para o desembarque. As saídas são feitas em botes a motor de borracha (Zodiacs, nos barcos russos) ou metal (Polar Cirkles, nos noruegueses), com capacidade para oito passageiros. O tamanho do grupo determina o tempo de permanência em solo. Assim, enquanto grupos menores (60 integrantes) podem ficar até três horas de papo com pingüins, membros de excursões com mais de 200 pessoas se vêem obrigados a se conformar com apenas uma hora, tempo rigorosamente controlado pelos guias. Uma vez embarcado, o melhor lugar para passar o tempo é o convés. Enquanto houver luz (e ela dificilmente falta no verão), há possibilidade de avistar bandos de pingüins “voando” por sobre as águas, baleias fazendo piruetas com seus filhotes, icebergs gigantescos à deriva e até mesmo um pingüim sendo devorado por um lobo-marinho. É natureza em estado bruto.

Qual o perfil dos turistas? Mais família, impossível. Casais acima dos 50 anos com vários carimbos no passaporte – a maioria norte-americanos

e alemães, seguidos pelos ingleses, noruegueses, australianos, canadenses e, no fim da fila, alguns poucos brasileiros. Solteiros são raros e cresce o número de crianças a bordo. Mas é claro que há exceções, notadamente entre o pessoal da equipe de expedição, composta por gente mais jovem.

Como me preparar?Esqueça o sobretudo e as botas de neve. Casacos corta-ven-to impermeáveis e calçados de borracha são fornecidos pela

tripulação. Leve calças confortáveis (tipo agasalho), gorros, luvas e peças que possam ser sobrepostas. O clima é informal. Para não ficar por fora das conversas, recomenda-se algumas leituras básicas, co-mo: Endurance, de Caroline Alexander, A Pior Viagem do Mundo, de Apsley Cherry-Garrard, O Último Lugar da Terra, de Roland Huntford, Mar Sem Fim e Linha d’Água, de Amyr Klink (todos pela Companhia das Letras) e o guia Antarctica, do selo Lonely Planet.

QUEM LEVA: No Brasil, a Qualytours (11 2175-7703) e a Climb Tour (11 5052-6305) oferecem cruzeiros da norueguesa Hurtigruten (www.hurtigruten.com). A brasileira radicada na Argentina Zelfa Silva (www.antarcticacruises.com.br) trabalha com roteiros em barcos russos da norte-americana Quark Expeditions.

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Pingüins adélia em Brown Bluff: turista deve manter ao menos cinco metros de distância

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