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Área Temática: Jurisdição Penal Acusação (noção e espécies), tipos de crime quanto à legitimidade para o exercício da acção penal, a abstenção e o assistente Por: Vitalina do Carmo Papadakis Juíza de Direito Ana Maria Gemo Procuradora Provincial Maputo, Abril de 2008

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Área Temática: Jurisdição Penal Acusação (noção e espécies), tipos de crime quanto à

legitimidade para o exercício da acção penal, a abstenção e o assistente

Por: Vitalina do Carmo Papadakis

Juíza de Direito

Ana Maria Gemo Procuradora Provincial

Maputo, Abril de 2008

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Acusação (noção e espécies), tipos de crime quanto à legitimidade para o exercício da acção penal, a

abstenção e o assistente

1. A acusação 1.1. Noção

Acusação é a peça processual, subscrita por quem tem legitimidade para fazê-

lo, que imputa a agente(s) devidamente identificado(s), facto(s) preciso(s),

tipificado(s) pela lei como crime ou contravenção. Nas formas de processo de querela e polícia correccional a acusação é

autonomizada e será deduzida se houver “indícios suficientes da existência de um facto punível, de quem foram os seus agentes e da sua responsabilidade” (art. 349º CPP).

A acusação – que se denomina querela no processo do mesmo nome, e que se denomina acusação em processo de polícia correccional – é proferida após a instrução preparatória ou após a instrução contraditória.

É ao Ministério Público, como órgão oficial titular da acção penal, que compete o seu exercício (art.1º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945) devendo1 deduzir uma acusação sempre que se verifique o condicionalismo referido no artigo 349º do CPP.

A legitimidade do Ministério Público para acusar está, nos crimes semi-públicos, condicionada a prévia denúncia do ofendido, e, nos crimes particulares, a tal denúncia e ulterior acusação do assistente. 1.2. Espécies A acusação pode ser:

a) pública e particular

Diz-se pública a acusação deduzida por entidade estadual, o Ministério Público; particular, a formulada por cidadão(s) titular(es) do(s) interesse(s) privado(s) ofendido(s), penalmente protegido(s).

Esta pode ser condição de procedimento processual penal, tratando-se dos chamados crimes particulares

2. Funcionará, porém, como acessória, subsidiária ou afluente, no que se refere aos

denominados crimes públicos e aos crimes semi-públicos3.

1 O Ministério Público não tem qualquer discricionariedade quanto a acusar ou não acusar, pois está sujeito a um específico princípio da legalidade ou obrigatoriedade. 2 Particulares são aqueles crimes em que o procedimento, pelo Ministério Público, depende de denúncia ou acusação particular. 3 Têm natureza pública os crimes em que o Ministério Público promove, obrigatoriamente, por sua iniciativa, o procedimento penal, independentemente de denúncia ou acusação particular. Semi-públicos (ou semi-particulares) são os crimes em que a denúncia é a condição de que depende exclusivamente a investigação e a sujeição a julgamento dos seus agentes.

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b) provisória e definitiva

É provisória, ope legis, a acusação a que se siga instrução contraditória. Definitiva, é a acusação, em processo de polícia correccional ou de querela que é

exarada após a instrução contraditória ou quando esta não tem lugar, quer a pedido do Ministério Público, assistente ou arguido, quer oficiosamente4.

1.3. Tipos de crimes quanto à legitimidade para o exercício da acção Penal

Os crimes podem ser:

a) Particulares são aqueles crimes em que o procedimento, pelo Ministério Público, depende de denúncia ou acusação particular.

b) Semi-públicos (ou semi-particulares) são os crimes em que a denúncia é a

condição de que depende exclusivamente a investigação e a sujeição a julgamento dos seus agentes.

c) Têm natureza pública os crimes em que o Ministério Público promove,

obrigatoriamente, por sua iniciativa, o procedimento penal, independentemente de denúncia ou acusação particular.

1.4. Legitimidade

Nesta sede, legitimidade poderá definir-se como o poder conferido, por lei, a

certas entidades para requerer a sujeição a julgamento, nas várias formas de processo, dos agentes de crimes ou contravenções.

Detem-na, em geral, o Ministério Público, titular da acção penal (art. 1º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945).

É equiparado, para todos os efeitos, à acusação em processo penal, o envio ao tribunal, por certas entidades, dos autos de notícia por elas levantados nos termos do art. 166º do CPP.

Legitimidade para acusar é conferida ainda aos assistentes em processo penal, definidos no art. 4º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945, como auxiliares do

Ministério Público. Tratando-se de infracções particulares, a acusação do Ministério Público – a

existir, por não ser forçosa – é subordinada à do assistente. Daí que o Ministério Público – enquanto o ofendido não estiver admitido como tal ou se, tendo essa qualidade, a não deduzir – não possa, embora titular da acção penal, formulá-la, devendo os autos serem arquivados (art. 348º do CPP).

4 Quando o juiz repute necessária a realização de diligências complementares de prova, para receber ou rejeitar a acusação, pode decidir pela abertura oficiosa da instrução contraditória e neste caso, se a acusação era definitiva ela passa a ser provisória, pois no final da instrução os autos voltarão ao Ministério Público e a parte acusadora, se houver, para, nos termos do artigo 363º do CPP, manterem ou modificarem as suas acusações.

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2. A abstenção da acusação

Decorrido o prazo da instrução preparatória ou logo que tenha sido obtida prova bastante para fundamentar a acusação ou deva ter lugar, o Ministério Público encerrá-la-á, em seguida fará um exame crítico da prova conseguida e depois acusará (art. 349º, 350º, 354º, 358º, 359º, 360º CPP) ou se absterá de acusar. Neste último caso o Ministério Público proferirá um despacho de:

1. Abstenção por falta de prova: a existência ou não de indícios suficientes da prática do crime e da identidade do seu autor é problema que, finda a instrução, o Ministério Público há-de resolver segundo a sua livre convicção:

• Acusar – no caso de concluir pela afirmativa; • Abster-se de acusar – no caso de concluir pela insuficiência de indícios

existentes nos autos (ou sem prova bastante).

2. Arquivamento – art. 25º DL 35007

O arquivamento dos processos, finda a instrução preparatória, é hoje regulada, fundamentalmente, pelos arts. 25 a 29 do DL 35 007, e ainda, quanto aos processos instruídos pela Polícia de Investigação Criminal, pelos artigos 34º, nº 12º, e 44º, nº 20, do Decreto-Lei 35 042. No entanto, o artigo 343º está ainda em vigor (cfr. Redacção actual do artigo 367º do CPP).

Em face da abstenção do Ministério Público (art. 4º DL 35007), deverá o

denunciante, com legitimidade para se constituir assistente, ser notificado do despacho. O mesmo dispõe da via do recurso hierárquico como forma de controlo de tal abstenção. Trata-se de um controlo a efectuar pela própria hierarquia do Ministério Público. O certo é que a decisão do superior hierárquico do Ministério Público é também susceptível de recurso, através da cadeia hierárquica, para o órgão imediatamente superior.

2.1. Posição do juiz em face da abstenção de acusação do Ministério Público. A

competência para os despachos de arquivamento

A decisão de abstenção pertence ao Ministério Público, quer após a instrução preparatória quer após a instrução contraditória e não ao juiz, quer da instrução quer de julgamento.

O despacho de abstenção incumbirá ao Ministério Público, esgotando as funções do juiz da instrução e da causa com o encerramento da instrução preparatória e contraditória, respectivamente. Não caberá, assim, ao juiz o controlo do despacho de abstenção proferido pelo Ministério Público, pois esse controlo é hierárquico, dentro da própria magistratura do Ministério Público.

3. O assistente

3.1. Noção Os assistentes são uma categoria especial de auxiliares do Ministério Público.

Enquanto que os agentes da PIC como auxiliares do Ministério Publico intervêm directamente na feitura dos autos – quer porque os redigem quer porque realizam ou

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cooperam em diligências várias da instrução –, aos assistentes nem sequer se consente que assistam aos diversos actos processuais, a não ser quando eles mesmos sejam objecto das próprias diligências, como por exemplo acontece nas confrontações deles com os arguidos ou com as testemunhas cujos depoimentos os contrariem (a parte acusadora não pode, pelo advogado, assistir à inquirição das testemunhas durante a instrução preparatória).

O assistente é um sujeito processual que intervém no processo penal como colaborador do Ministério Público, a cuja actividade subordina a sua intervenção, com vista à investigação dos factos jurídicos com relevo criminal e à condenação dos seus autores.

O Decreto-Lei n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945 não dá qualquer definição de assistente, indicando apenas as pessoas com legitimidade para intervirem como assistentes em processo penal, a sua posição e atribuições.

O princípio geral em matéria de legitimidade para a constituição de assistente é aquele que resulta do art. 4º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945, segundo o qual “podem intervir no processo penal como assistentes: os ofendidos, considerando-se como tais os titulares dos interesses que a lei penal quis proteger com a incriminação”.

Não podem, deste modo, intervir no processo penal como assistentes, por ex. o mero detentor ou possuidor da coisa furtada ou descaminhada, uma vez que o interesse protegido pela incriminação do furto ou do abuso de confiança é só o do proprietário; o processualmente lesado por um falso testemunho, pois a incriminação só protege o interesse da boa administração da justiça; etc.

Casos há em que ninguém poderá constituir-se assistente, uma vez que o interesse protegido pela incriminação é exclusivamente público (crimes contra o Estado, contra a boa administração da justiça, contra a ordem e tranquilidade públicas, etc.), e aqueles em que qualquer pessoa pode constituir-se assistente, por se tratarem de casos em que o cidadão é particular e imediatamente ofendido pela infracção (crimes de peculato, peita, suborno, concussão e corrupção, art. 4º, n.º 5 do Decreto-Lei n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945), ou seja, traduz-se num alargamento do conceito de ofendido, justificado pelo desejo de uma colaboração de todos os particulares na detecção e processamento de tais infracções.

No artigo 4º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945, se diz quem pode intervir como assistente no processo. Trata-se de uma enumeração taxativa.

A não verificação de alguma das condições previstas no citado artigo 4º impede a legitimidade para a constituição de assistente.

A constituição de assistente é obrigatória nos crimes particulares e facultativa nos crimes públicos e semi-públicos.

Nos crimes particulares, a actividade do Ministério Público é desde logo condicionada pela própria constituição de assistente, sem a qual o procedimento não pode prosseguir para além da queixa e a sua prossecução para além da instrução preparatória depende da acusação particular do assistente.

3.2. Distinção entre assistentes e outras figuras

As figuras do assistente, ofendido, lesado e queixoso são distintas. O ofendido ou vítima é o titular do interesse que a lei especialmente quis proteger

com a incriminação e distingue-se do assistente porque não é sujeito processual (salvo se se constituir como tal, sendo que, enquanto não o fizer, é um simples participante processual).

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Já o lesado, sendo aquele que sofreu danos ocasionados pelo crime pode coincidir (e normalmente coincide) com o ofendido e, por isso, pode também constituir-se assistente (não por ser lesado, mas por ser ofendido). Em razão da sua qualidade de lesado pode apenas intervir no processo como parte civil, formulando pedido de indemnização civil (ex. aqueles que prestam auxílio a um sinistrado, vítima de atropelamento).

Quanto ao queixoso pode-se dizer que, no âmbito dos crimes semi-públicos e particulares, esta figura é determinante para o desencadeamento do procedimento criminal. Com efeito, nos crimes desta natureza, o processo criminal só se inicia com a apresentação de queixa pelos respectivos titulares desse direito (caso contrário, o Ministério Público carece de legitimidade para dar início a instrução do processo.

As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o procedimento podem constituir-se assistentes no processo (se não o fizerem não são sujeitos processuais).

3.3. Constituição de assistentes

3.3.1. Requisitos e formalidades

a) Legitimidade

Nos termos do 4º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945 podem

constituir-se assistentes no processo penal: i) Aqueles de cuja acusação ou denúncia depender o exercício da

acção penal pelo Ministério Público; ii) Os ofendidos, considerando-se como tais os titulares dos

interesses que a lei penal especialmente quis proteger com a incriminação;

iii) O marido nos processos por infracções em que seja ofendida a mulher, salvo oposição desta5;

iv) Qualquer pessoa nos processos relativos aos crimes de peculato, peita, suborno, concussão e corrupção.

b) Representação judiciária Ao abrigo do art. 5º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945 (redacção

introduzida pela Portaria n.º 17 076, de 20 de Março de 1959), os assistentes deverão ser sempre representados por advogado. Havendo vários assistentes, serão todos representados por um só advogado, e, se divergirem quanto à sua escolha, decidirá o juiz (da instrução ou de julgamento, consoante os casos).

Assim, com o requerimento que formula o pedido de admissão como assistente deve juntar-se procuração forense, sob pena de requerimento ser indeferido, por falta do pressuposto da representação judiciária do requerente, mesmo que tenha pago o imposto.

A regra segundo a qual havendo vários assistentes, são todos representados por um só advogado sofre limitações no caso de haver entre os vários assistentes interesses incompatíveis, bem como no caso de serem diferentes os crimes imputados 5 Face ao disposto o artigo 36º da Constituição da República de Moçambique considera-se discriminatória a norma do n.º 3 do art. 4º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945, por discriminar a mulher face ao homem.

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ao arguido. Neste último, é de aplicar o disposto no § 1º do artigo 21º do CPP e cada grupo de pessoas a quem a lei permitir a constituição como assistente por cada um dos crimes pode constituir um advogado, não sendo todavia lícito a cada pessoa ter mais de um representante.

c) Prazo

i. Crimes particulares A constituição de assistente é obrigatória (art. 9º do DL n.º 35.007, de 13 de

Outubro de 1945), devendo a pessoa com legitimidade para se constituir assistente declarar na denúncia que deseja constituir-se assistente (§ 3º), sob pena de o processo não prosseguir.

ii. Crimes públicos e semi-públicos

A constituição de assistente é facultativa podendo a sua intervenção dar-se em qualquer altura do processo, aceitando-o no estado em que se encontrar, desde que o requeira ao juiz até 5 dias antes da audiência de discussão e julgamento (art. 4º, § 5º, do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945).

Ou seja, se o ofendido pretender deduzir acusação por crime público ou semi-público, terá que se constituir assistente no processo. E poderá fazê-lo até 7 dias após a notificação da acusação do Ministério Público, deduzindo em simultâneo a respectiva acusação.

O ofendido poderá tão-só requerer a sua constituição como assistente e não deduzir acusação.

Para o ofendido requerer a abertura de instrução contraditória terá de constituir-se assistente, se não o tiver feito antes.

Não se constituindo assistente no devido prazo, o ofendido é apenas um mero participante processual6 (por ex. declarante).

d) Custas judiciais

A constituição de assistente dá lugar ao pagamento de taxa de justiça. A pessoa que como tal quer constituir-se requer a passagem de guias para pagamento de imposto de justiça que for devido. Como a forma de processo se determina apenas depois de deduzida a acusação, as guias são passadas para pagamento de um imposto correspondente ao devido por processo de polícia correccional, e que oportunamente será reforçado se for caso disso.

Liquidado o imposto, passadas as guias e pago aquele pelo requerente, carece ainda de fazer-se representar por advogado (art. 5º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945) para o que fará juntar a competente procuração ao processo.

e) Decisão

A decisão sobre a constituição de assistente é sempre da competência de um juiz (da instrução - art. 1º, n.º 2, al. e) da Lei n.º 2/93, de 24 de Junho - ou do

6 Sendo o lesado, entendendo-se como tal a pessoa que sofreu danos ocasionados pelo crime, poderá deduzir o pedido de indemnização civil, ainda que se não tenha constituído ou não possa constituir-se assistente (art. 32º do CPP).

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julgamento), dependendo das fases processuais em que é requerida), ou seja, a admissão dos assistentes é sempre um acto de carácter jurisdicional. 3.4. Posição Processual

Admitido o assistente, fica ocupando a posição de auxiliar do Ministério

Publico, auxiliar sui generis e de natureza diferente da dos demais auxiliares pois, na instrução preparatória, apenas lhe assiste o direito de memoriar ou requerer diligências de prova, requerimentos e memoriais que serão atendidos conforme se entenda ou não que podem contribuir para a descoberta da verdade (art. 13º, § único do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945). Trata-se afinal de uma posição similar a do arguido que, nesta fase do processo, igualmente pode memoriar e requerer tudo quanto tiver por conveniente, nas mesmas condições quanto ao possível que por ventura tiver requerido (7).

3.5. Atribuições

À medida que o fim da instrução preparatória se aproxima vão-se afirmando

os direitos do assistente, direitos que, fundamentalmente, se reduzem aos dois seguintes: a) O de deduzir a acusação - independentemente da do Ministério Público - (art. 4º, § 2º, n.º 1º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945); b) O de intervir directamente na instrução contraditória, oferecendo provas e requerendo o que tiver por conveniente (art. 4º, § 2º, n.º 2do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945).

I. Os assistentes formulam a sua acusação no mesmo prazo que o Ministério Público, devendo a mesma ser deduzida após o termo do prazo para a acusação do Ministério Público; sendo 5 dias em processo de querela e 3 dias nas demais formas de processo, quando haja réus presos (art. 350º do CPP), e quando não haja réus presos o prazo é de 8 dias em processo de querela (art. 358º do CPP) e 3 dias em processo de polícia correccional (art. 391º do CPP).

II. O facto de haver assistente no processo importa ainda uma alteração importante das regras gerais no processo no que respeita ao número de testemunhas a oferecer na acusação.

III. Dependendo a acção de acusação do assistente, só este poderá oferecer testemunhas (§ 2º do artigo 360º - processo de querela - e § 2º do art. 393º - processo de polícia correccional –, ambos do Código de Processo Penal).

IV. Acusando conjuntamente o Ministério Público e o assistente, o número de testemunhas a oferecer por ambos não pode exceder, no todo, o máximo que a Lei estabelece para cada forma de processo. Assim:

7 Memoriais caracterizam-se por constituírem simples exposições de factos ou interpretações dos mesmos. Neles nada se requer.

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• Em processo de querela, o Ministério Público poderá oferecer até catorze e o assistente mais seis (art. 360º § 1º do CPP);

• Em processo de polícia correccional, o Ministério Público poderá oferecer até

três e o assistente mais duas (art. 393º § 1º do CPP); 3.6. Extinção da posição de assistente: desistência e morte

O assistente não é obrigado a permanecer nessa qualidade até ao findar da causa. Ele pode desistir.

A posição do assistente extingue-se também com o falecimento da pessoa que a detinha.

Em tal hipótese, nos termos do art. 4º, n.º 4 do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945, "podem prosseguir na acusação penal a viúva, os descendentes, ou irmãos, mas tal direito não se transmite ipso facto ou ipso iuri: é preciso que isso se requeira em tempo oportuno, se pague o competente imposto de justiça, se faça representar por advogado e se seja admitido pelo Juiz. Não se procedendo assim, ninguém pode constitui-se assistente, nem por si próprio nem como representante do assistente falecido" (acórdão Da Relação do Porto, de 12 de Maio de 1951).

Por outro lado, deve entender-se que só pode constituir-se assistente o primeiro dentre os indivíduos indicados no n.º 4º, do artigo 4º do DL n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945 que o declarar em Juízo e que, tendo automaticamente caducado a procuração ao advogado do falecido – art. 1.363º do CC – terá o novo requerente da assistência de constituir novo advogado, que pode ser o mesmo, mas com nova procuração.

3.7. A acusação do Ministério Público e do assistente

A acentuação do carácter público da acção operada pelo Decreto-Lei n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945 determinou que a intervenção dos particulares deixasse de se operar a título principal, como partes principais (mesmo nos crimes particulares), passando a ser a sua intervenção meramente acessória, na qualidade de auxiliares ou assistentes do Ministério Público, a cuja actividade subordinam a sua intervenção no processo.

Nos crimes públicos os particulares acusam em termos distintos e por factos

diversos dos da acusação do Ministério Público (nº 1 do § 2º e § 4º do art. 4º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945) e, nos crimes particulares, a acusação particular tem um regime privilegiado em relação à acusação do Ministério Público. Pois, em tais crimes, tal acusação é não só condicionante da acusação do Ministério Público como determinante dos termos de tal acusação, só podendo este acusar «pelos factos de que tenha havido acusação particular quando desta dependa o exercício da acção penal (§ único do art. 3º do DL n.º 35 007, de 13 de Outubro de 1945).

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TRAMITAÇÃO PROCESSUAL (Esquema Simplificado)

- Forma de processo

- Comum - Querela - Polícia correccional - Transgressões - Sumário

- Especial - Processo de ausentes (art. 562º e segs CPP) - Processo por difamação, calúnia e injúria (art. 587º e segs CPP) - Processo por infracções cometidas pelos juízes de direito de 1ª instância e magistrados do Ministério Público, junto deles, no exercício das suas funções ou por causa delas (art. 595º e segs CPP) - Processo por infracções cometidas pelos juízes de direito de 1ª instância e magistrados do Ministério Público, junto deles, estranhas ao exercício das suas funções (art. 609º e segs CPP) - Processo por infracções cometidas pelos juízes do Tribunal Supremo, pelos magistrados do Ministério Público, junto deles, ou outros de igual categoria (art. 613º e segs CPP) - Processo da reforma de autos perdidos, extraviados ou destruídos (art. 617º e segs CPP)

- Natureza do crime

- Público - Semi-público (art. 6º CPP) - Particular (art. 7º CPP)

1. INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA

NOTÍCIA DO CRIME (MP) (art. 160º do CPP)

- Conhecimento directo (art. 6º DL n.º 35007, de 13 de Outubro de 1945) - Denúncia: - Obrigatória (art. 7º DL n.º 35007, de 13 de Outubro de 1945) - Facultativa (art. 8º DL n.º 35007, de 13 de Outubro de 1945) (Auto de denúncia – art. 9º DL n.º 35007, de 13 de Outubro de 1945) (Auto de notícia – art. 166º CPP) (Queixa/Denúncia)

Provas (corpo de delito – art. 170º e ss do CPP) Medidas de coacção (prisão preventiva e liberdade provisória – art. 269º e ss do CPP) Constituição de arguido (art. 251º do CPP)

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Fim da instrução preparatória (art. 326º do CPP): - Acusação (fixação do objecto do processo) - Abstenção (arquivamento ou aguarda a produção de

melhor prova)

2. ACUSAÇÃO E DEFESA Dedução da acusação (art. 349º e ss do CPP)

- Definitiva - Provisória (pedido de abertura de instrução contraditória – art. 349º, §

únido CPP)

3. INSTRUÇÃO CONTRADITÓRIA (art. 326º e ss do CPP) Fim da instrução contraditória (art. 365º e ss do CPP)

- Despacho de pronúncia - Despacho de não pronúncia (arquivamento ou aguarda a produção de

melhor prova)

4. JULGAMENTO (art. 400º e ss do CPP) Preliminares Audiência de discussão e julgamento Sentença

5. RECURSO (art. 645º e ss do CPP) a) Ordinários – São os recursos interpostos das decisões, antes do seu trânsito em julgado. a) Extraordinários – são os recursos interpostos das decisões depois do seu

trânsito em julgado. • Revisão de sentença (art. 673º do CPP) • Pedido de anulação de sentenças manifestamente injustas e ilegais (art.

17º, n.º 3, al. b) da Lei n.º 22/2007, de 01 de Agosto)

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BIBLIOGRAFIA

1. CARVALHO, Paula Marques, Manual Prático de Processo Penal, 2ª

Edição, Livraria Almedina, Coimbra, 2007. 2. ANDRÉ, Adélio Pereira, Manual de Processo Penal: Procedimento

Introdutório, Livros Horizonte, Lisboa 1983. 3. SILVA, Germano Marques da, Curso de processo Penal, Vol. I, 3ª

Edição, Editorial Verbo, 2002. 4. SOUSA, João Castro e, Tramitação do Processo Penal, 2ª Tiragem,

Coimbra Editora, Limitada, Lisboa, 1985. 5. GONÇALVES, Manuel Lopes Maia, Código de Processo Penal,

Anotado e comentado, Livraria Almedina, Coimbra ~ 1972. 6. DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Processual Penal, Vol I, Coimbra

Editora, Limitada, 1974. 7. BELEZA, Teresa Pizarro (com a colaboração de Frederico Isasca e Rui

Sá Gomes), Apontamentos de Direito Processual Penal, AAFDL, 1992